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História e Literatura: ficção e verdade (II) / Intelligere – Revista de História Intelectual / 2017
Nesta edição de Intelligere temos o prazer de apresentar a segunda e última parte do dossiê “História e literatura: ficção e verdade”, dando continuidade aos debates que abrimos no número anterior sobre as múltiplas e instigantes relações entre a história e o universo ficcional.
A segunda parte do dossiê é composta por cinco artigos e um texto da seção “Pesquisa”. Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba parte de autores como Michel Foucault, Jacques Derrida e Silviano Santiago para pensar o problema da colonização brasileira e a questão das identidades nacionais na América latina. Margareth dos Santos propõe uma leitura da poética de Ángel González sobre a Espanha durante a ditadura de Franco, mostrando como essa literatura é um ponto de referência para se compreender a experiência sombria do franquismo. Rogério de Almeida e Fábio Takao Masuda tratam das relações entre ficção e história por meio da literatura de Clarice Lispector, explicitando como aspectos da realidade social brasileira aparecem como partes constitutivas dos dramas íntimos de seus personagens. Camila Rodrigues explora os manuscritos de Guimarães Rosa, nos quais encontra questionamentos acerca do devir histórico, mostrando o quão fecunda é a proposta de Carlo Ginzburg para a análise das obras literárias. Flávia Maria Corradin apresenta um estudo sobre as obras de Vasco Pereira da Costa e Rosa Lobato de Faria, dois autores portugueses contemporâneos, para apontar a força das relações entre história, mito e literatura. Na seção “Pesquisa”, Michelly Cristina da Silva compara dois livros de Ricardo Piglia para explorar o tema do relato policial e sua narrativa.
A segunda parte do dossiê “História e Literatura” aparece apenas poucos dias após o anúncio da morte do escritor argentino Ricardo Piglia, que foi tema de dois artigos aqui publicados. Manifestamos nosso reconhecimento à sua obra e legado.
“A história é o lugar em que se vê que as coisas podem mudar e se transformar. Nos momentos em que parece que nada muda, que tudo está enclausurado e que o pesadelo do presente parece eterno, a história (…) prova que houve outras situações iguais, enclausuradas, nas quais se terminou por encontrar uma saída. Os rastros do futuro estão no passado, o fluir manso da água da história gasta as pedras mais duras.”
Ricardo Piglia, Crítica y ficción
Júlio Pimentel Pinto (USP),
Francine Iegelski (UFF),
Stefania Chiarelli (UFF).
Os coordenadores do dossiê
PINTO, Julio Pimentel; IEGELSKI, Francine; CHIARELLI, Stefania. Apresentação. Intelligere – Revista de História Intelectual. São Paulo, v. 3, n. 1, 2017. Acessar publicação original [DR]
História e Literatura: ficção e verdade (I) / Intelligere – Revista de História Intelectual / 2016
“O que me interessa não é tanto a relação do texto com a sociedade, é a transformação da sociedade em texto.” [1]
Faz décadas que críticos literários, historiadores, antropólogos, filósofos e sociólogos participam, juntos, do debate interdisciplinar sobre as relações entre história e ficção. Essa discussão assumiu diversas formas: sondou as aproximações da história com a(s) verdade(s); explorou as textualizações da vida social; refletiu sobre mecanismos de construção e invenção de contextos; reconheceu diferenças e semelhanças nos procedimentos narrativos; percebeu a contaminação que todo diálogo implica; reiterou a autonomia conceitual e estética das representações ficcionais e historiográficas.
Intelligere propõe-se a contribuir para esse debate: neste número e no próximo – dois dossiês – a revista apresenta textos que percorrem obras ficcionais e historiográficas, que partilham a inquietação, a angústia e o fascínio de contrastar perspectivas diferentes, perceber como elas se encontram e divergem, do mesmo modo que se constroem reciprocamente.
O primeiro dossiê é composto por sete textos e uma entrevista. Na entrevista (inédita), o escritor Milton Hatoum discute aspectos da construção literária, seus vínculos com a memória e a história e o lugar da ficção no mundo, seus esforços e compromissos. Júlio Pimentel Pinto reflete sobre os signos da arte e o trabalho da memória num romance de Milton Hatoum. Francine Iegelski interpreta as diversas faces do tempo, particularmente a trágica e a melancólica, a partir da literatura de Raduan Nassar e de Milton Hatoum. Stefania Chiarelli propõe uma visão da presença dos emigrantes em determinadas obras da literatura brasileira, percebendo como estas narrativas contribuem para promover um ponto de vista específico sobre o próprio conceito de nação. Ingrid Robyn analisa barroquismo e maravilha na obra do cubano Alejo Carpentier e do brasileiro Euclides da Cunha. Alberto Schneider apresenta um estudo sobre as polêmicas entre Silvio Romero e Machado de Assis, lançando luz sobre o ambiente intelectual brasileiro do fim do século XIX. Daniel Puglia e Débora Reis Tavares tratam de textos de George Orwell que estabelecem nexos entre história, socialismo e literatura no entre-guerras. Eduardo Ferraz Felippe explora as relações entre futuro, experiência e sentido na obra do argentino Ricardo Piglia.
No próximo número, a discussão continua. Inclusive porque Intelligere sabe que ela é longa, necessária e prazerosamente infinita.
Nota
1. Antonio Candido. Entrevista 30 / 09 / 1996. In: Luiz Carlos Jackson. A tradição esquecida: Os parceiros do rio Bonito e a Sociologia de Antonio Candido. Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2002. p. 170.
Julio Pimentel Pinto (USP)
Francine Iegelski (UFF)
Stefania Chiarelli (UFF)
Comitê organizador
PINTO, Julio Pimentel; IEGELSKI, Francine; CHIARELLI, Stefania. Apresentação. Intelligere – Revista de História Intelectual. São Paulo, v. 2, n. 2, 2016. Acessar publicação original [DR]