Estrecho de Magallanes. Cinco siglos de Cartografía (1520-2020) | Mateo Martinic

Mateo Martnic Imagem Arquivo Publico do Espirito Santo

Mateo Martnic | Imagem: Arquivo Público do Espírito Santo

Si algún día la cartografía histórica llega a ocupar un lugar reconocible y destacado en la producción historiográfica de Chile, con varios investigadores especializados en su cultivo, una producción abundante y diversa, cátedras universitarias dedicadas a la formación de nuevos exponentes y eventos académicos regulares en los que se compartan y discutan sus avances, Rodrigo Moreno Jeria deberá ser considerado entre sus principales artífices.

La reciente publicación de Estrecho de Magallanes. Cinco siglos de Cartografía (1520-2020), en conjunto con el erudito austral Mateo Martinic, no es casualidad ni fruto de un esfuerzo aislado. El profesor Rodrigo Moreno lleva más de una década poniendo a disposición del público recopilaciones cartográficas muy bien cuidadas, resultado de su trabajo en repositorios del país y del extranjero y, lo que es valioso, siempre en colaboración con los principales especialistas en los temas y territorios que aborda. Esto permite acompañar sus trabajos con certeros estudios sobre el contexto en que fueron producidos los mapas, planos y grabados que presenta, lo que otorga a estas piezas un sentido que excede con mucho el valor estético que dejan en una primera impresión. Leia Mais

De la geografía a la geopolítica: discurso geográfico y cartografía a mediados del siglo XIX en Colombia | Luciía Duque Muñoz

Lucia Duque Munoz

Los nombres de Francisco José de Caldas y de Agustín Codazzi son claramente reconocidos por sus escritos, perfiles altitudinales y producción cartográfica sobre la geografía del actual territorio colombiano. Sin embargo, tal como nos lo muestra Lucía Duque, ellos fueron apenas algunos de los actores que contribuyeron a la cartografía y a los estudios geográficos del siglo xix en el país. Precisamente, la autora resalta el papel que, entre 1840 y 1860, muchos otros actores jugaron —del Gobierno, intelectuales influyentes, políticos y diplomáticos— en la generación y divulgación de un acervo de información geográfica, y cómo este conocimiento se producía y comunicaba con una intención muy clara de contribuir a la consolidación de un proyecto de país federal y a la construcción de una identidad nacional. Entre estos actores, Duque resalta el protagonismo de figuras como José María Samper, Santiago Pérez, Joaquín Acosta, Tomás Cipriano de Mosquera, Carlos Segismundo de Greiff, entre muchos otros, quienes con sus mapas y escritos geográficos buscaban redefinir el significado del territorio colonial heredado de los españoles en el contexto republicano. Tal como lo plantea la autora en la introducción del libro: “Nuestro interés en esta problemática busca indagar los vínculos, directos o indirectos, que los textos geográficos y trazados cartográficos mantienen con los procesos de organización y resignificación territorial en el contexto de diversos intentos de implementación del modelo federal” (p. 16). Duque, muy en la línea de los estudios de cartografía crítica, aborda el tema teniendo en cuenta que los mapas y estudios geográficos, más que ser visiones objetivas de la realidad del territorio, contribuyen a construirlo. Leia Mais

Cartografia da promessa. Potosi e o Brasil num continente chamado Peruana

1 Certos livros, passadas décadas de sua publicação, continuam seminais. Visão do paraíso, de Sérgio Buarque de Holanda, é um desses casos. O texto de titularidade do historiador é denso, erudito, com uma tese instigante que continua a movimentar a leitura e o debate mesmo 60 e poucos anos depois de seu surgimento.

2 Em Visão, Sérgio Buarque afirma que lhe interessava fazer a “biografia de uma ideia”, de como se forjou uma visão do Brasil como terra edênica. No longo e sinuoso percurso para construir seu argumento, ele advoga que os portugueses, no Brasil, deixaram a maravilha de lado em nome da experiência, da concretude de uma terra sem os achados de riqueza dos vizinhos espanhóis. Por antítese, os espanhóis, pródigos em minas de ouro e prata, abraçaram o discurso do maravilhoso. Ademais, ele constatou que, nos mapas portugueses, o Brasil aparece não como uma separata, mas como um complemento à montanha de prata de Potosí. Leia Mais

Le monde en cartes: Méthodologie de la Cartographie – CHABERT (APHG)

CHABERT, Christophe; ALFRÉ, Mathieu. Le monde en cartes: Méthodologie de la Cartographie. Autrement, 2019. Resenha de: GUIMONNET, Christine. Association des Professeurs d’Histoire et de Géographie (APHG). 29 août 2020.  Disponível em: <https://www.aphg.fr/Le-Monde-en-cartes-methodologie-de-la-cartographie>Consultado em 11 jan. 2021.

La carte et le croquis, langages de la géographie, sont au cœur des démarches pédagogiques. Cet ouvrage de Méthodologie de la cartographie conçu par Christophe Chabert et Mathieu Alfré, et publié chez Autrement, s’adresse en priorité aux étudiants préparant les concours (ENS, écoles de commerce, CAPES et agrégations) mais devrait trouver sa place dans les labos d’histoire-géographie des collègues, auxquels il fournit aussi bien un solide appui méthodologique que des cartes ressources pour de nombreux chapitres des programmes. Leia Mais

A cartografia no ensino de geografia: a aprendizagem mediada | Mafalda Nesi Francischett

1   INTRODUÇÃO

Este texto apresenta a síntese da obra intitulada “A cartografia no ensino de Geografia”, resultado da tese de doutoramento da Professora Mafalda Nesi Francischett. A tese foi defendida em 2004, no Programa de Doutorado em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente. A temática pesquisada foi o ensino de Cartografia por meio de maquetes no curso de Geografia. Desenvolveu a pesquisa por meio da pesquisa-ação, que permitiu à pesquisadora envolver-se com o trabalho, analisar, avaliar e refletir enquanto os caminhos da pesquisa se delineavam. O é de obra grande importância pelo método de pesquisa – pesquisa-ação – que evidencia o comprometimento da autora com o processo formativo de professores para a educação básica e também porque aborda a importância da Cartografia como ciência que, aliada à Geografia, tem grande potencial para o ensino da espacialidade.

O objetivo central da pesquisa foi evidenciar como, por meio da maquete, se pode ensinar os conceitos fundamentais da Cartografia, de tal modo que o processo de aprendizagem se torne significativo e se reverta em apropriações conceituais para os estudantes. Leia Mais

A cartografia no ensino de geografia: a aprendizagem mediada | Mafalda Francischett

1 INTRODUÇÃO

Este texto apresenta a síntese da obra intitulada “A cartografia no ensino de Geografia”, resultado da tese de doutoramento da Professora Mafalda Nesi Francischett. A tese foi defendida em 2004, no Programa de Doutorado em Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista, campus de Presidente Prudente. A temática pesquisada foi o ensino de Cartografia por meio de maquetes no curso de Geografia. Desenvolveu a pesquisa por meio da pesquisa-ação, que permitiu à pesquisadora envolver-se com o trabalho, analisar, avaliar e refletir enquanto os caminhos da pesquisa se delineavam. O é de obra grande importância pelo método de pesquisa – pesquisa-ação – que evidencia o comprometimento da autora com o processo formativo de professores para a educação básica e também porque aborda a importância da Cartografia como ciência que, aliada à Geografia, tem grande potencial para o ensino da espacialidade.

O objetivo central da pesquisa foi evidenciar como, por meio da maquete, se pode ensinar os conceitos fundamentais da Cartografia, de tal modo que o processo de aprendizagem se torne significativo e se reverta em apropriações conceituais para os estudantes. Leia Mais

Dengue no Brasil: abordagem geográfica na escala nacional – CATÃO (Ge)

CATÃO, Rafael de Castro. Dengue no Brasil: abordagem geográfica na escala nacional. [Sn.]: Cultura Acadêmica; Editora da UNESP’, 2012. Resenha de: MAGALHÃES, Suellen Silva Araújo; MACHADO, Carla Jorge. Em busca de um elo entre geografia e saúde. Geografias, Belo Horizonte, 01 de Julho – 31 de Dezembro de 2013.

Lançado em 2012, o livro ‘Dengue no Brasil: abordagem geográfica na escala nacional’, editado pela Cultura Acadêmica/Editora UNESP, é uma publicação oportuna e bem vinda. O autor, Rafael de Castro Catão, é geógrafo graduado pela Universidade de Brasília em 2007 e mestre pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho em 2011. Sua experiência, entre outras, é nas áreas, de geografia da saúde e cartografia, o que lhe permite habilmente entremear esses conhecimentos na produção de um panorama e de um arcabouço teórico conceitual, marcado pelo pensamento geográfico, para o estudo da Dengue no Brasil.

O livro consta de três capítulos, antecedidos pelo Prefácio e pela Introdução; e sucedidos pelas Considerações Finais e Recomendações e pelas Referências Bibliográficas. O Prefácio, escrito pelo professor Raul Borges Guimarães da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, estabelece a premência de obras como a de Catão ante a crise do modelo hegemônico da epidemiologia clínica, a reemergência de uma gama de doenças infecciosas e o aumento da pós-graduação em geografia, a qual permitiu captar demandas sociais, entre as quais àquelas por melhores condições de saúde. Assim, abre o caminho para que o leitor se sinta desejoso de conhecer como o aporte da geografia pode contribuir para elucidar a temática de uma doença transmissível.

Na Introdução o autor relata mudanças socioespaciais ocorridas após a Segunda Guerra Mundial, que desencadearam um novo padrão de epidemias, quais sejam: mais frequentes e mais abrangentes.

Rafael Catão parte de Milton Santos e de sua teoria espacial para analisar mudanças socioespaciais da dengue, na tentativa – bem sucedida – de relacionar o padrão da doença, sua emergência e expansão mundial, além do surgimento e a intensificação de casos mais graves à mudança do período e a produção desse novo meio geográfico. Enfoca, ainda, o caso do Brasil, onde houve erradicação, mas posterior reinfestação e, deste modo, estabelece a questão chave do livro: se a consolidação e expansão do meio técnico-científico-informacional – um dos mais conhecidos conceitos na geografia no Brasil (MAIA, 2012) – e a ampliação dos processos de urbanização, aliados a expansão mundial da doença, forneceram as condições socioespaciais que fizeram a dengue emergir nos dias atuais como um dos principais problemas de saúde pública do país. É também na Introdução que o autor explica o impacto do sistema de técnicas aplicado à natureza e causador de mudanças à saúde utilizando, entre outros, o exemplo do uso de vacinas no auxilio da imunização. Comenta ainda sobre a expansão das fronteiras agrícolas e econômicas que permitiu e permite a expansão dos meios de transporte e das telecomunicações interligando lugares e pessoas com maior circulação da informação. O autor conclui, então, que a atual configuração no espaço geográfico da doença depende das relações interdependentes estabelecidas entre o homem (social e biológico, individual e coletivo, imune e suscetível) com os vetores (gênero Aedes), o vírus (sorotipos e genótipos) e o meio técnico-cientifíco-informacional, inovando acerca da tradicional tríade epidemiológica meio ambiente, agente, hospedeiro.

O Capítulo 1 ‘Dengue: Emergência e Reemergência’ perpassa pela etiologia da dengue em seus quatro sorotipos, pelas teorias acerca da origem geográfica dos vírus e de seus sorotipos e pelos principais vetores. Os ciclos de transmissão também são abordados dado que seu conhecimento é fundamental para que sejam tomadas medidas de saúde pública e de vigilância de saúde em escala global: o autor ressalta o ciclo urbano endêmico/epidêmico. Finalmente, o autor aborda a difusão mundial da dengue.

O Capítulo 2 ‘Difusão do dengue no Brasil’ trata, entre outros aspectos, do retorno do Aedes aegypti e da dengue ao território nacional: em 1976 o país foi reinfestado, permanecendo desta forma ainda hoje. Nesse capítulo está um belo e oportuno detalhamento cartográfico da reemergência da dengue no Brasil, o que permite ao autor estabelecer uma análise do conjunto do País, onde, após a dispersão geográfica do vetor, as interações espaciais existentes em áreas com circulação viral permitiram e mantiveram até hoje a entrada de novos sorotipos em áreas indenes e infestadas. O papel da cidade reside nesse contexto, ao concentrarem indivíduos e bens, com fluxo intenso e veloz, que difunde e mantém o vírus.

‘Uso do território e o dengue no Brasil’ é o Capítulo 3, que trata dos fatores determinantes da transmissão dos vírus da dengue e do papel do Estado na contenção de epidemias. Rafael Catão faz um relato elegante sobre as formas de abordagem desses fatores determinantes da dengue na literatura brasileira, bem como sobre as fontes de dados. O mapeamento dos determinantes em escala nacional e uma síntese da situação recente da dengue no território também são realizados. Ao final do capítulo, o autor faz uma proposta de tipologia da dengue para a primeira década do século XXI no Brasil: os locais com baixa notificação dos casos de dengue normalmente apresentam uma média de temperatura anual mais baixa, baixa densidade de povoamento, baixo índice pluviométrico, políticas públicas mais eficientes, população mais consciente e poucas rodovias de fluxo intenso que ligam várias cidades. Após o capítulo, seguem as Considerações Finais e Recomendações, nas quais o autor deixa claro que, para compreender em plenitude o fenômeno da epidemia da dengue, perguntas tais como: ‘qual o contexto do dengue em sua área de influência?’ ou ‘como foi o processo de consolidação do dengue nessa localidade?’ necessitam ser feitas e suas respostas procuradas.

Além disso, o autor faz uma comparação crítica da atuação das técnicas de cartografia de síntese e das técnicas de geoprocessamento.

Ao final do livro, fica em evidência a constatação de BARCELLOS (2000): epidemiologia e geografia têm em comum crises ocorridas pelo esgotamento de modelos teóricos ou crises advindas da superação desses modelos em razão de novas realidades. Uma das novas realidades é a reemergência de doenças transmissíveis no Brasil e no Mundo – como a dengue. A obra de Rafael de Castro Catão incorpora o espaço explicitamente na análise da dengue, tornando o elo entre a geografia e a saúde visível e utilizável a pesquisadores das mais variadas áreas do conhecimento.

Referências

BARCELLOS, Christovam. Elos entre geografia e epidemiologia. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.16, n.3, Setembro 2000. Disponível em: http:// www.scielo.br/scielo. php?pid=S0102- 311X2000000300004 &script=sci_arttext

CATÃO, Rafael de Castro. Dengue no Brasil – Abordagem geográfica na escala nacional. São Paulo: Cultura Acadêmica/Editora UNESP, 2012.

MAIA, Lucas. O conceito de meio técnico-científicoinformacional em Milton Santos e a não visão da luta de classes. Ateliê Geográfico Goiânia- GO v. 6, n. 4 Dez/2012 p.175-196 Disponível em: http://www.revistas. ufg.br/index.php/atelie/article/view/15642

Suellen Silva Araújo Magalhães – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG.

Carla Jorge Machado – Departamento de Medicina Preventiva e Social.

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Cartografias imaginárias: estudos sobre a construção da história do espaço nacional brasileiro e a relação história e espaço – PEIXOTO (HH)

PEIXOTO, Renato Amado. Cartografias imaginárias: estudos sobre a construção da história do espaço nacional brasileiro e a relação história e espaço. Natal: EDUFRN; Campina Grande: EDUEPB, 2011, 182 p. Resenha de: OLIVEIRA, Adriana Mara Vaz de. Margens e interstícios do espaço. História da Historiografia. Ouro Preto, n. 7, p.345-349, nov./dez. 2011.

Enviado em: 29/9/2011 Aprovado em: 23/10/2011 345 Margens e interstícios do espaço 346 Tratar o espaço requer cautela e definição de abordagem. O espaço se amplifica na percepção e compreensão, ao mesmo tempo em que implica dicotomia de interpretação, sugerindo posições diversas e complementares como lugar ou território. Para Certeau (1994), em Invenção do cotidiano, o espaço é um lugar praticado, porque envolve vetores como tempo, direção e velocidade, ao contrário da estabilidade do lugar. Para o mesmo autor, “o espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais” (CERTEAU 1994, p. 202).

Desse modo, as práticas espaciais refletem a junção de objetos e operações que se traduzem em vários tipos de estruturas narrativas, como relatos e mapas. Os produtos gerados a partir das práticas condensam informações que as expressam. “Pensar o espaço não é apenas entender sua representação, considerar sua inscrição, perscrutar sua construção; é também necessário buscar suas conexões” (PEIXOTO 2011, p. 157).

Na direção dessas reflexões, o livro Cartografias imaginárias de Renato Amado Peixoto descortina uma edificante abordagem do espaço com base na cartografia. Para o autor, a cartografia deve ser problematizada para além da sua escrita, enveredando mais […] em torno dos processos cognitivos que a originam e dos métodos em que se investe sua inscrição. Para se pensar o espaço é necessário considerar antes um espaço imaginário onde se produz uma linguagem através de múltiplas experiências de outras linguagens; é preciso pensar os pressupostos que possibilitaram as condições de composição da gramática e da sintaxe dessas linguagens; entender cada um dos mapas das imaginações e das geografias pessoais que extrapolaram em um dado momento seus limites para constituir uma gramática e uma sintaxe cartográfica. Pensar o espaço significa investigar uma construção humana que só existe enquanto parte de um campo de forças no qual a energia é o falante e a linguagem seu gerador […] (PEIXOTO 2011, p. 159, grifos do autor).

Ao encontro de tal referencial teórico, Peixoto apresenta seus oito artigos.

O que se mostra, em princípio, como fomento ao debate dentro do Programa de Pós-Graduação da qual faz parte, extrapola-o. Segundo o autor, os quatro primeiros artigos discutem a construção do espaço nacional, objeto de sua tese de doutoramento, em consonância com as proposições da linha de pesquisa Literatura, Espaço e História. Os demais artigos explicitam a sua posição teórica no debate de ideias do Programa, articulando as contribuições de Jacques Derrida e Michel Foucault, assim como as reinterpretações de Karl Marx na interlocução entre sujeito e ideologia na produção do espaço. Em todos eles, o fio condutor são o espaço e a cartografia.

A problematização da cartografia desdobra-se em estudos de caso que elucidam a urdidura de circunstâncias que extrapolam as configurações materiais e iconográficas dos mapas. A atuação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e o seu papel na construção da história do espaço nacional no século XIX oferecem a oportunidade de averiguar o jogo de interesses e de poder que os envolve. No seu primeiro texto, “Enformando a nação”, Peixoto se esmera nos desdobramentos que direcionam os olhares para a relação espaço e identidade nacional. Essas reflexões se completam nos textos posteriores “A produção do espaço no Terceiro Conselho de Estado (1842-1848)”, “Impertinentes, desinteressados ou sem escolha”, “O espelho de Jacobina”, “O mapa antes do território” e “Os dromedários e as borboletas”.

Na construção da memória nacional, como afirma Sandes (2000), o IHGB precisava se apoiar nos referenciais espaciais. Afinal, como bem avaliou Halbawchs (1990), não há memória coletiva que não se desenvolva num quadro espacial. Nesse sentido, estabelece-se uma tessitura, ainda que não explícita, entre o IHGB, a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros (SENE) e o Conselho de Estado. É nessa trama que se localiza a cartografia, pois é um processo coletivo, qualificado e de múltiplas etapas que incluía planejamento estratégico, execução no campo e confecção no gabinete e atelier gráfico, realizado, muitas vezes, em conjunto pelo Estado e pela iniciativa privada, dado o seu grau de complexidade (PEIXOTO 2011, p. 18).

No empenho em desenredar essa trama, o autor expõe premissas para o estudo cartográfico em face da pesquisa histórica: 1) Expor, investigar e questionar os processos cognitivos e as relações de forças que constituem e resultam em determinado saber cartográfico ou atividade cartográfica; 2) Entender esta atividade cartográfica não como um fim, mas enquanto um processo mesmo, que depende da formação de um saber sobre o espaço e que se desdobra a partir de suas estratégias e práticas; 3) Compreender que a investigação da atividade cartográfica não se resume ao trabalho sobre o mapa, mas que antes deve resgatar um regime da exequilibilidade dos mapas que nos permite discernir certas continuidades ou descontinuidades, especialmente no que tange ao agenciamento das técnicas e das condições da escrita e à distribuição e atribuição de tarefas […]; 4) Analisar os produtos cartográficos cuidando de entender que suas particularidades, estilos, especificidades técnicas e características de mercado das quais se revestem ou são investidos emprestam novos sentidos à compreensão desses produtos […]; 5) Buscar uma leitura hermenêutica dos produtos cartográficos por meio de uma investigação semiológica e iconológica dos elementos disponibilizados no mapa (símbolos, colorações, legendas etc.) e a sua volta (decoração, ilustrações, grafismos etc.), considerando o contexto cultural e social dos seus produtores; 6) Entender o espaço registrado nos mapas como um campo sobre o qual são rebatidos enunciados e discursos, que se revelam nos enquadramentos utilizados […] e nos silêncios ou silenciamentos […]; 7) Procurar perscrutar os usos e as funções que estes produtos assumem inclusive procurando-se entender sua disseminação em outros produtos cartográficos ou mesmo outros saberes, sua divulgação e circulação (PEIXOTO 2011, p. 19-20, grifos do autor).

Observa-se a construção de uma metodologia que ampara o uso da cartografia como fonte na pesquisa histórica. Jeremy Black, em seu livro Mapas e história: construindo imagens do passado (2005), cujo original é de 1997, já dava mostras da potencialidade dos mapas como fonte das investigações históricas. Contudo, o que se sobressai nessa metodologia é a compreensão de que a produção do espaço depende de um jogo de significados e ressignificações do próprio espaço instituídos por quem a manipula.

Apesar de uma tênue aproximação com Lefebvre (1991), quando diz que a produção do espaço deve ser entendida dentro da estrutura social, abarcando- -a em toda sua complexidade, Peixoto afirma seu suporte em Roger Chartier, no seu livro À beira da falésia, que defende a análise epistemológica em que os dispositivos de representação desencadeiam modos de compreensão dos discursos dos que os sustentam e de quem os atribui. Essa postura articulada por Chartier sustenta a aproximação da história em relação à filosofia e à crítica literária, posição endossada por Peixoto.

Em “O mapa antes do território”, Peixoto afirma que “o mapa é construído, a priori, no conjunto das representações culturais dos narradores e está sujeito a constantes reinvenções, que são também reelaborações de sua identidade”, ou seja, “mapear o território significa inscrevê-lo num determinado espaço e, ao mesmo tempo, possibilitar que a escrita desse território possa transformar o mapa” (PEIXOTO 2011, p. 111).

Dessa forma, o autor transita com maestria pela literatura e sua crítica, bem como pela filosofia, referendando Chartier. Essa interlocução é conduzida nos textos “Impertinentes, desinteressados ou sem escolha”, “O espelho de Jacobina”, “Por uma análise crítica das políticas do espaço” e “Espaços imaginários” que se apoiam em narrativas de H. P. Lovecraft e de Machado de Assis, bem como no pensamento de Arthur Schopenhauer, Ludwig Wittgenstein, Jacques Derrida e Michel Foucault. Destacam-se especialmente os diálogos com Foucault sobre as relações de poder e de Schopenhauer acerca da representação, aplicado nos seus objetos de estudo, especificamente, a construção do espaço e da identidade nacional no século XIX ou no século XX.

Para a compreensão dos jogos do poder e as relações com a construção dos mapas, apoiado no conceito de biopoder de Foucault, Renato Peixoto discute a geopolítica como um saber sobre o espaço, amplificando o seu conceito para as políticas de espaço dela derivadas. Nessa articulação constitui-se uma cartografia desses saberes e políticas descortinando sobreposições de mapas com linguagens autônomas e passíveis de compreensão. Aqui, nomeia essa discussão como geopoder e oferece caminhos metodológicos para os que se interessam em investigar as dinâmicas do espaço desencadeadas com base nos grupos que exercem políticas de poder ancoradas nos saberes espaciais.

Concentra-se ainda no encontro das desrazões foucaultianas ao lado das razões implícitas na elaboração dos mapas e, por conseguinte, da condução da cartografia. Os espaços e mapas imaginários imprimem-se naqueles materiais e visíveis. Para tal, contextualiza a questão do espaço em relação à própria obra de Foucault, em especial aquela que tece observações sobre Antonin Artaud.

Ao final, Peixoto empreende uma síntese em que coloca o historiador dos espaços como cartógrafo. O exercício da cartografia que defende é aquele em que se reconhecem os interstícios e as margens dos mapas, mas também a economia de suas linguagens, que está na sua produção e reelaboração. Em certo sentido, reconhece-se a argumentação de Sueli Rolnik (1989, p. 65) que diz que “o cartógrafo é um verdadeiro antropófago: vive de expropriar, se apropriar, devorar e desovar”.

Referências

BLACK, Jeremy. Mapas e história: construindo imagens do passado. Tradução de Cleide Rapucci. Bauru: Edusc, 2005.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1994.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Tradução de Laurent Leon Shaffter. São Paulo: Vértice; Ed. Revista dos Tribunais, 1990.

LEFEBVRE, Henri. The production of space. Translated by Donald N. Smith. Blackwell Publishing, 1991.

ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 1989.

SANDES, Noé Freire. A invenção da nação: entre a Monarquia e a República. Goiânia: Ed. UFG; Agepel, 2000.

Adriana Mara Vaz de Oliveira – Professora adjunta Universidade Federal de Goiás. E-mail: amvoliveira@uol.com.br Rua 5, 361/601, Condomínio Veladero – Setor Oeste 74115-115 – Goiânia – GO Brasil.

Helsinki – Helsingfors – Historic Town Atlas. Scandinavian Altas of Historic Towns – HIETELA et al (LH)

HIETELA, Marjatta; HELMINEN, Martin; LAHTINEN, Merja. Helsinki – Helsingfors – Historic Town Atlas. Scandinavian Altas of Historic Towns. Comissão Internacional de História das Cidades, 2009. (Plano detalhado de Helsingfors stadt de 1:2500 de 1878). Resenha de: PINHEIRO, Magda. Ler História, n.59, p. 288-291, 2010.

1 O Atlas de Helsínquia e da sua região, da autoria de Marjatta-Hietala, Martin Helminen e Merja Lahtinen, insere-se num projecto internacional de Atlas das Cidades promovido pela Comissão Internacional para a História das Cidades. Dada esta circunstância é prefaciado pelo seu presidente, Michel Pauly, da Universidade do Luxemburgo.

2 Publicar a cartografia das diversas fases da evolução do tecido urbano nas cidades europeias foi desde o início desígnio muito importante da Comissão Internacional para a História das Cidades. Em 1955, quando a associação foi fundada, muitas cidades europeias ainda tinham sinais evidentes da destruição causada pela II Guerra Mundial e o debate sobre a reconstrução nem sempre se saldava na opção por manter o tecido urbano pré-existente aos bombardeamentos. O estudo das estruturas urbanas na sua longa duração implicava a existência de instrumentos de trabalho disponibilizáveis para os investigadores e para os técnicos, assim como a sua comparabilidade. Em 1968, no congresso realizado em Oxford, as linhas comuns foram formuladas de forma flexível através do estabelecimento de alguns itens indispensáveis a cada volume publicado. Logo em 1969 saiu o British Atlas of Historic Towns. Nas últimas quatro décadas foram publicados atlas de cidades alemãs, escandinavas, belgas, francesas, Islandesas, Irlandesas Italianas, austríacas e suecas. Novos projectos de publicação envolveram nos anos 90 a Polónia, a Roménia, a República Checa e a Suíça. Já no século XXI, na Alemanha, Croácia, Hungria e Grécia prepararam-se novas publicações. A coordenação tem sido assegurada por Anngret Simms e Ferdinand Ollp, constituindo um grupo dentro da ICHT. Até 2008, um total de 400 atlas de cidades foram produzidos no âmbito deste projecto1.

3 Espanha e Portugal têm permanecido alheios a este movimento, razão pela qual Howard B. Clarcke, da Royal Irish Academy, publicou um memorando de aconselhamento para a Península Ibérica que discute as bases de comparabilidade estabelecidas nos anos 60 e os ajustamentos a que têm sido sujeitas. Fora da organização internacional, foi publicado pelo Centro de Cultura Contemporânea da Universidade de Barcelona, em conjunto com a Universidade Politécnica da Catalunha, um Altas Histórico das Cidades Europeias que inclui as cidades de Lisboa e Porto mas não assegura a comparabilidade.

4 A comparabilidade assegurada pela organização internacional prende-se com a existência da publicação de peças tipo, de que um mapa cadastral na escala de 2500 por 1000, apresentando a cidade pré-industrial é o elemento essencial. A data considerada ideal para este mapa é 1830, mas isso depende das circunstâncias locais, visto que o mapa publicado não é uma reconstituição. Deve ser um plano cadastral da época. Ainda do mesmo tipo será o mapa regional de uma escala inferior 25 por 1000 ou, na sua inexistência, de 100 por 1000 também geralmente da primeira metade do século XIX. A publicação inclui necessariamente um mapa actual de referência, preparado pelo organismo oficial com essa atribuição em cada país. Mapas interpretativos sobre as fases de crescimento urbano, mapas de épocas anteriores, ilustrações e outros mapas exprimindo informação sócio-topográfica, de distribuição, económica ou de outra natureza também são desejáveis.

5 Na verdade muitas cidades conheceram fortes remodelações antes de 1830, este é evidentemente o caso de Lisboa. Os mapas existentes ou reconstruídos de períodos anteriores podem e devem ser elementos importantes nestas publicações. As fotografias aéreas podem também ser relevantes elucidando sobre a evolução do tecido urbano. Os Atlas comportam ainda um texto histórico explicativo com elementos fotográficos relacionados com a evolução do tecido urbano. No caso da cidade de Helsínquia, este estudo conta com a colaboração da conhecida historiadora Marjatta Hietala.

6 Alguns dos atlas publicados procuraram uma dimensão regional o que torna o financiamento mais fácil e fornece um enquadramento desejável. Nas cidades que se tornaram metrópoles, naturalmente, este aspecto foi contemplado. O Altas Histórico de Helsínquia, que aqui recenseamos, tem essas características e é um volume inserido na colecção de atlas das cidades escandinavas. Trata-se de um infolio cujos estudos são publicados em inglês e finlandês.

7 Publicado no aniversário do grande fogo de Helsínquia de 1808, este atlas contem informação sobre a cidade desde 1550. Em Helsínquia os vestígios desse período são apenas arqueológicos e o primeiro plano contendo a divisão das propriedades corresponde ao período de 1696/1707.

8 Naturalmente o mapa dos quarteirões atingidos pelo incêndio tem destaque no atlas por estar na origem dos planos que configuraram o actual coração da cidade antiga. O texto do atlas compreende um largo espectro de informações sobre o desenvolvimento da cidade. Nesse estudo são abordados os problemas do urbanismo sem esquecer elementos como a habitação e da sua precariedade. A existência em 1850, nas margens do plano aprovado em 1825, de habitação precária e degradada é referida. O aumento das despesas públicas da cidade entre finais do século XIX e princípios do século XX é associado às melhores condições de vida oferecidas aos habitantes cujo número cresceu após a construção da primeira gare ferroviária, em 1862. O porto com docas secas foi ligado à rede ferroviária em 1895. Os primeiros sinais de suburbanização, fora dos limites administrativos da cidade, estavam então a manifestar-se.

9 Foi então que as divergências sobre o urbanismo se manifestaram pondo em confronto os defensores das «beautifull street vistas» e os da eficiência das redes de transporte. A primeira escola valorizava os princípios estéticos e a diversidade. As novas ideias chegaram a Helsínquia através de viagens, exposições e leituras sobretudo das obras de Camillo de Sitte2. Em 1898 um primeiro concurso público de ideias para o plano de Helsínquia teve lugar.

10 O planeamento enfatizou edifícios públicos e comunicações mas a cidade veio encontrar limites na especulação imobiliária pelo que começou a comprar terrenos para poder implementar o seu planeamento. Em 1917, Helsínquia transformara-se na capital do novo país, em 1916-18 o plano da área metropolitana foi elaborado por Elie Sarinen e Jung.

11 As destruições devidas à II Guerra Mundial, muito sentidas, parecem ter sido limitadas e a cidade retomou o seu crescimento no pós-guerra. Lotes de terreno foram então distribuídos aos veteranos, viúvas e órfãos. Os limites administrativos foram alargados em 1946. Uma evolução evidenciada no mapa. O Atlas de Helsínquia traça a história do planeamento da área metropolitana assim como do crescimento da forma urbana e da inovação arquitectónica, aspectos de que a Finlândia se orgulha particularmente. Este traço marca aliás a identidade urbana nos seus aspectos estratégicos.

12 Helsínquia, que tinha crescido rapidamente até aos anos 20 do século XIX, conheceu dificuldades no período posterior à II Guerra Mundial, quando a Finlândia teve de pagar pesadas indemnizações à União Soviética. Na segunda metade dos anos 50, porém, a cidade recomeçou a crescer. Para documentar as transformações das vivências do espaço urbano posteriores a este período, são eleitas algumas ruas. Graças a esta abordagem documenta-se a evolução da ocupação das áreas centrais com as modificações do uso das áreas construídas. Merece também particular destaque o estudo do desenvolvimento área portuária, situada na ilha de Katapanokka, que recebeu actividades provenientes de zonas agora ocupadas pelos russos.

13 A emergência de novas centralidades representadas por shopping centers é também documentada, iniciando-se o seu estudo com a abertura, em 1950, da primeira loja em regime de self-service. Uma realidade que substituiu progressivamente a dos Departments Stores. Estes, em Helsínquia, situavam-se na antiga zona central anexa à Esplanade, existindo desde finais do século XIX.

14 Está também documentada através de mapas e imagens a história das redes de transporte colectivo na cidade e na metrópole. Ainda aqui enfatiza-se a qualidade arquitectónica de equipamentos, como a gare Central do arquitecto Elie Saarinen, datada de 1914.

15 Naturalmente é visível a influência da obra de Marjatta Hietala neste trabalho, pois estão amplamente descritas e documentadas em capítulos especiais as evoluções e localizações de serviços sociais, como a educação, a religião, as bibliotecas e os teatros, os jardins infantis e as instituições de saúde3.

16 Parece-nos assim particularmente importante que os historiadores portugueses possibilitem uma história comparada das cidades portuguesas integrando esta rede que estabelece sobre bases sólidas uma história comparada das cidades.

Notas

1 Howard B. Clarke, «Joining the Club: a Spanish Historic Town Atlas?», Royal Irish Academy, p. 23.

2 P. 60.

3 Hietala, Marjatta, 1987, Services and Urbanization at the turno f the century, the diffusion of Inn (…)

Magda Pinheiro – CEHC – ISCTE-IUL

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