Ingeniería militar en el Nuevo Reino de Granada. Defensa/ poder y sociedad en el Caribe sur (1739-1811) | Manuel Gámez Casado

a obra Ingeniería militar en el Nuevo Reino de Granada es autoría del Dr. Manuel Gámez Casado, profesor ayudante doctor en el Departamento de Historia del Arte de la Universidad de Sevilla, España. El Dr. Gámez Casado es un especialista en el análisis de aspectos militares y arquitectónicos del Nuevo Reino de Granada, especialmente de la ciudad de Cartagena de Indias, temáticas sobre las cuales ha publicado diversas monografías, participado de capítulos de libros en obras colectivas y publicado artículos de investigación en diferentes revistas nacionales e internacionales de reconocido prestigio.1 Leia Mais

Mar de tormentas: uma história dos furacões no Caribe, de Colombo ao Katrina | Stuart B. Schwartz

Filme sobre o furacao Katrina e exibido pelo SBT Reproducao El PaisUOL
Filme sobre o furacão Katrina é exibido pelo SBT (Reprodução: El País)/UOL

Corria o ano de 1780, a Revolução Americana encontrava-se em pleno desenrolar e o vizinho mar do Caribe estava cheio de tropas e navios. Entre os dias 10 e 16 de outubro, aquele que ficou conhecido como o “grande furacão” varreu a região, deixando um rastro de mais de vinte mil mortos. Todos os impérios europeus tiveram suas possessões afetadas. Com ventos que podem ter alcançado uma velocidade superior a 300 quilômetros por hora, a tempestade atingiu primeiro Barbados, arrasando a capital, onde quase nenhuma casa resistiu. Somente na Martinica, o naufrágio de uma frota francesa ancorada em Fort Royal fez quatro mil vítimas. Na cidade de Saint-Pierre, mais ao norte, um vagalhão de oito metros de altura lambeu uma centena e meia de casas, o hospital desabou e todas as quase cem freiras e noviças do convento de Saint-Esprit morreram. Para tornar tudo mais difícil, o grande furacão de outubro não veio sozinho, naquele ano houve pelo menos oito tempestades devastadoras na região. As plantações de cana-de-açúcar sofreram um duro golpe, a produção de alimentos ficou arruinada e os pescadores perderam seus barcos. Quando a temporada dos furacões acabou, os sobreviventes estavam desabrigados e a fome e as doenças tinham se instalado. Leia Mais

The Last Turtlemen of the Caribbean | Sharika Crawford

Sharika Crawford
Sharika Crawford | Imagem: University of Pittsburgh

La gran mayoría de los colombianos vive entre paisajes andinos y pisando siempre tierra firme. Los intelectuales de “la” costa (así conocida, aunque no tenemos una sino dos) llevan décadas insistiendo en que el país no es solo andino sino también caribeño. Nos han recordado que, para aprehender cabalmente nuestro territorio y reconocer quiénes somos, debemos tener en cuenta las complejas redes que desde el siglo XVI le han dado forma al Gran Caribe insular y continental. Para quienes, como yo, estamos alejados del mar en cuerpo y espíritu (por hermoso que nos parezca), el libro The Last Turtlemen de Sharika Crawford nos sumerge en el territorio acuático del Caribe y nos permite pensar a Colombia desde una perspectiva inusual: de la mano de los cazadores de tortugas oriundos de las Islas Caimán. Esta perspectiva ubica a Providencia, aquella hermosa isla devastada hace poco por el huracán Iota, y no a Cartagena de Indias, en el centro de esa otra Colombia. Pero una mirada parroquial no hace justicia a este fascinante libro que relata la saga de un grupo de afrodescendientes que, tras acabar con las tortugas marinas de sus islas, se dedicaron, entre 1880 y 1960, a atraparlas en distintas localidades del Caribe. Leia Mais

Gênese da Saúde Global: a Fundação Rockefeller no Caribe e na América Latina | Steven Palmer

PALMER Steven
Steven Palmer | Foto: University of Windsor/DailyNews

PALMER Gense da SaudeIntrodução

Em 1927, Roquette-Pinto, o antropólogo e então Diretor do Museu Nacional, dedicou um capítulo de seu livro Seixos rolados: estudos brasileiros a Carl Friedrich Philipp von Martius, o pesquisador e taxonomista alemão que, no século XIX, se debruçou sobre a região da Amazônia no Brasil e publicou, na Revista do IHGB, diversos artigos e monografias acerca da natureza, doenças e raças encontradas em suas etnografias. Roquette-Pinto destaca alguns desses títulos encontrados na Revista do Instituto entre 1828-1844, tais como “Contribuições para a Ethnographia”, “A Natureza, as Doenças, a Medicina e os Remédios dos Primitivos Habitantes do Brasil”, guias sobre história, hábitos, usos e costumes regionais, e “um programma rigorosamente scientifico para quem desejasse escrever a historia desta nacionalidade [4]”. Celebrando as contribuições e a simpatia de von Martius pelo Brasil, o antropólogo brasileiro ressalta que “Falando aos descendentes de portuguezes escravocratas do meiado do seculo XIX, [von Martius] ousou dizer aos senhores que a historia patria havia de levar em conta o esforço dos seus captivos como elemento civilizador do paiz [5]”. Leia Mais

Inmigración pensamiento y nación: 1880- 1930 | Aquiles Castro e Ana Félix (R)

De acuerdo con Maria Ligia Coelho Prado, la idea de unidad regional nace con la propia emancipación. Pugna por borrar las diferencias y rechazar los conflictos en pro de una identidad homogénea favorable al dominio político. La pregunta por quiénes somos estaba presente en la Carta de Jamaica (1815), la respuesta originales y autónomos. Este horizonte modeló las tradiciones nacionales e inspiró a políticos, intelectuales y artistas que se manifestaron sobre el futuro ideal y la legitimidad de la nación emergente (PRADO, 2008, p. 597).

El nacionalismo de finales del siglo XIX, presente en la historiografía, el periodismo, la literatura y el arte, procuró la adhesión social a un proyecto común de nación mediante símbolos e imágenes nacionales. La élite intelectual, blanca y letrada, consideraba que “los negros, los indios, los mestizos, los pobres, las mujeres, los no propietarios, los campesinos” eran incapaces de entender la dimensión del proyecto político (PRADO, 2008, p. 600). Lo no blanco era considerado inferior, y la pigmentación de la epidermis, sinónimo de barbarie. Leia Mais

The Common Wind: Afro-American Currents in the Age of the Haitian Revolution | Julius S. Scott (R)

Copia de SCOTT The common wind
Julius Sherrard Scott / Foto: Scholars and Publics /

SCOTT The common windProfessor emérito do Departamento de Estudos Afro-Americanos e Africanos da University of Michigan, nos Estados Unidos, Julius Sherrard Scott III doutorou- -se em 1986 na Duke University, em Ann Arbor, com a tese intitulada The Common Wind: Currents of Afro-American Communication in the Era of the Haitian Revolution. Com uma ligeira mudança no subtítulo, a tese ganhou o formato de livro em 2018: The Common Wind: Afro-American Currents in the Age of the Haitian Revolution. Os mesmos cinco capítulos da tese compõem o livro, acrescido de um prefácio escrito por Marcus Rediker, [1] professor da University of Pittsburgh, já bem conhecido do leitor brasileiro, com quem o diálogo e a perspectiva teórica da história vista de baixo são evidentes.

É difícil entender o intervalo de mais de trinta anos entre a defesa da tese e a impressão do livro, sobretudo porque o conteúdo manteve-se praticamente inalterado, porque o assunto é relevante e a narrativa é bem construída. Desinteresse editorial, desejo do autor em rever sua obra ou espera por um momento oportuno para reavivar a lembrança coletiva de que o Haiti ainda existe, como o terremoto de 2010, talvez possam ser elencados como hipóteses possíveis para essa longa espera. A bibliografia sobre o Haiti e, de forma mais ampla, o Grande Caribe, como Scott aborda no livro, não é extensa em inglês e é praticamente inexistente em português. [2] Por isso, talvez o primeiro ponto a ser destacado nesta resenha seja a necessária iniciativa de traduzir esse livro no Brasil, sem esperar a passagem de outras três décadas para que os leitores possam acessar uma experiência tão próxima à história colonial e imperial do país e tão inspiradora para os estudos históricos sobre a formação cultural brasileira e a história marítima ainda pouco praticada por aqui.

Chama a atenção a profusão e diversidade de materiais de que Scott se valeu para a escrita de sua história da circulação de ideias revolucionárias no Caribe setecentista: manuscritos oficiais de agentes da Coroa em arquivos espanhóis e cubanos, o mesmo tipo de fontes para a administração britânica em Londres e nas Índias Ocidentais, documentos de fundos privados em coleções estadunidenses, baladas cantadas por marinheiros negros e brancos em circulação por aquelas águas, narrativas de viajantes, propaganda abolicionista e jornais editados na América do Norte, nas Antilhas, no Reino Unido e na França. Exceto por periódicos que circularam em Portau-Prince e Cap Français, as fontes haitianas são praticamente ausentes do estudo, sinal de seu desaparecimento ou inacessibilidade ao longo da conturbada história humana e natural do país desde o século XVIII. “Pandora’s Box: The Masterless Caribbean at The End of the 18th Century”, o capítulo inicial, anuncia o contexto da ação revolucionária no Caribe. A perspectiva não é exatamente comparativa, mas leva em conta a diversidade de experiências coloniais e a grande expansão econômica baseada no boom da produção de açúcar na região. Aqui são consideradas também as formas de dominação oriundas de diferentes autoridades europeias a partir da vitória contra os piratas, bucaneiros e renegados que ocupavam aquelas ilhas e se organizavam por meio de regras próprias. Foi ao longo do século XVIII que a presença de escravizados africanos passou a se dar no Caribe de forma massiva – o que, se veio a transformar substantivamente a região, ao mesmo tempo manteve a imagem daquelas ilhas como lugares atrativos para desertores, escravos fugidos e toda a multidão de gente espoliada que pretendia viver sem obedecer às ordens de senhores.

O capítulo 2, “Negroes in Foreign Bottoms’: Sailors, Slaves, and Communication”, remete à visão de mundo de escravizados e seus senhores. Ambos reconheciam o potencial transformador do conhecimento das técnicas e formas de navegação. Tratava-se de algo perigoso e que criava homens insolentes, na visão senhorial, e que tendia para a construção de uma igualdade, no entendimento dos escravos. Olaudah Equiano, escravo marinheiro em meados do século XVIII e autor de uma celebrada autobiografia que parece guiar o capítulo, percebeu claramente que a mobilidade advinda dessa ocupação permitia certa igualdade com seus senhores, e não hesitou em “dizê-lo para sua mente”. Desgraçadamente para os senhores, muitos escravos com dificuldades de aceitar a disciplina que se lhes queria impor se engajaram no mundo do trabalho marítimo, inclusive porque seus senhores queriam se ver livres deles justamente por serem indisciplinados.

O terceiro capítulo, “The Suspense Is Dangerous in a Thousand Shapes’: News, Rumor, and Politics on the Eve of the Haitian Revolution”, pretende dar um aporte maior ao entendimento da revolucionária década de 1790 considerando seus antecedentes. O foco está dirigido à mobilidade de escravos, homens livres de cor e desertores militares e da marinha mercante que circulavam entre uma propriedade e outra, entre o campo e as cidades e entre as diversas ilhas, colocando em questão o controle social e a autoridade imperial. Ao fazer isso, alimentaram uma tradição de “resistência móvel” construída ao longo do Setecentos e que se radicalizaria nas décadas finais daquele século e no início do Oitocentos. As reações e tentativas de controle social mais severo por parte de autoridades metropolitanas e coloniais inglesas, espanholas e francesas são apresentadas nesse capítulo.

O capítulo 4, “Ideas of Liberty Have Sunk So Deep’: Communication and Revolution, 1789-93”, lança novas luzes sobre a repercussão da Revolução no Haiti nas demais ilhas. Ideias revolucionárias circularam não apenas em busca de adeptos, mas também como estratégia das autoridades imperiais em interação repressiva. Além de informações, oficiais baseados em uma ilha trocavam, com seus homólogos de outras Coroas, ajuda de todo tipo, militar inclusive. Os da Martinica pediram tropas ao governador de Cuba em 1790, diante das desordens que enfrentavam naquela colônia e da confusão revolucionária em que a própria metrópole francesa mergulhara em 1789, inviabilizando o envio de qualquer apoio. A causa da manutenção do controle social ultrapassava fronteiras linguísticas, imperiais e senhoriais. Mas os acontecimentos de 1789 e 1790 no Caribe, como afirma Scott, também ativaram as redes de comunicação afro-americanas. Se autoridades e proprietários ingleses, espanhóis e franceses construíram diálogos e articularam ações para se autopreservarem no Caribe ao longo do tempo, os escravos e homens livres de cor fizeram o mesmo.

O quinto capítulo, “Knows Your Interests’: Saint-Domingue and the Americas, 1793-1800”, concentra-se no impacto pós- -revolucionário nos impérios coloniais remanescentes e nos Estados Unidos. Porém, a amplitude geográfica do capítulo é menor do que o título promete. Houve mobilização militar nas colônias, num esforço para manter a ordem. Os escravos, por sua vez, mobilizaram- se e articularam ações que não foram apenas respostas ao aumento da severidade e da vigilância, mas que diziam respeito às suas próprias tradições organizativas. Esse processo foi intenso em Cuba [3], na porção oriental de Hispaniola, na Venezuela, em Curaçao e na Luisiana, apenas para mencionar algumas colônias em que a escravidão era a base da exploração dos trabalhadores. Desafortunadamente, a América portuguesa, maior colônia escravista do continente, ficou fora do quadro comparativo, decerto pela falta de domínio da língua portuguesa por parte do autor e pela reduzida bibliografia sobre a repercussão da Revolução Haitiana produzida no Brasil e em Portugal.

A circulação ou mobilidade espacial é o grande tema do livro. Negros africanos ou nascidos no Caribe e mestiços iam de uma colônia às outras, navegando distâncias que, embora relativamente curtas, lhes davam acesso a comunidades estrangeiras, com diferentes línguas e experiências de escravização e resistência. As oportunidades de disseminar conhecimentos e ideias e trocar informações objetivas não foram perdidas por aqueles escravos que se ganharam o mar e o mundo além do horizonte. O movimento dos navios e dos marinheiros oferecia não só oportunidades de desenvolver habilidades ou viabilizar fugas, mas criava formas de comunicação de longa distância e permitia que os afro-americanos transportassem, física e simbolicamente, seus modos de enfrentar as adversidades do cativeiro a outras partes, construindo resistências e concepções de liberdade globais.

A cultura marítima no Caribe era multirracial e multinacional. Escravos africanos ou nascidos nas colônias americanas eram partes importantes do contingente de trabalhadores do mar, mas o “submundo dos marinheiros” na região ao fim do século XVIII era formado também por milhares de britânicos e franceses. Tratava-se de uma população instável e que, por vezes, em razão de questões de mercado de trabalho ou de saúde, se estabelecia em alguma ilha à espera de melhores condições, enraizando- -se na cultura local de transitoriedade e de exposição às informações que circulavam rapidamente para os padrões daqueles tempos. No Caribe sabia-se dos acontecimentos das ilhas vizinhas, da Europa e da América do Norte: ali era a encruzilhada do mundo Ocidental, mais especificamente do hemisfério Norte, graças às correntes de comunicação estimuladas pela relativa proximidade, pelas facilidades da navegação e pelo aumento da atividade agroexportadora caribenha ao longo do século XVIII.

O axioma segundo o qual marinheiros eram desordeiros em terra encontrava plena comprovação no Caribe. Milhares de homens em trânsito representavam um problema para as autoridades locais responsáveis pela manutenção da ordem. Inúmeras leis foram postas em vigor para discipliná-los, do mesmo modo como se fazia para tentar regular a conduta dos escravos. Em tempos mais explicitamente conflituosos, como na Guerra dos Dez Anos (1780-1790), chegou-se a proibir que marujos britânicos nas Índias Ocidentais servissem a príncipes ou Estados estrangeiros. A proibição mostrou-se ineficaz.

A comparação entre escravos e marinheiros não é aleatória no trabalho de Scott. Ele nos deixa ver como ambos tiveram experiências em comum e causas pelas quais militavam juntos: o engajamento compulsório independentemente da condição, a submissão a punições arbitrárias, a pressão para embarcarem em navios mercantes contra sua vontade e a visão sobre ambos como perturbadores da ordem pública. Bom exemplo foi um ato policial de 1789, em Granada, prevendo penalizar escravos, mestiços livres e marinheiros que atentassem contra a própria saúde e a moral, porque seus comportamentos, vistos como dissolutos, eventualmente seduziam pessoas de outras condições.

Escravos e marinheiros conviviam a bordo, como tripulantes dos mesmos navios, mas a experiência também replicava em terra. Marinheiros eram os consumidores naturais das roças escravas caribenhas e, apesar do empenho policial, era difícil impedir que escravos lavradores ou em fuga fizessem comércio com marinheiros famintos e fragilizados depois de uma longa viagem, ávidos sobretudo por frutas e outros alimentos frescos. O contato e o convívio entre marinheiros e negros naquelas ilhas não tiveram apenas consequências econômicas, mas também forjaram elementos da cultura: muitas canções de trabalho populares no mar, disseminadas por marujos britânicos pelo mundo afora no século XIX, têm extraordinária semelhança com as canções escravas do Caribe. Scott afirma haver evidências consideráveis de que muitas canções podem ter se originado da interação de marinheiros e negros nas docas das Índias Ocidentais e que a teoria da origem e desenvolvimento das línguas crioulas no Caribe enfatiza o contato entre marinheiros europeus e escravos africanos e africano-americanos.

O ponto de intersecção de toda essa gente trabalhando em trânsito era Saint-Domingue, lugar de extraordinária diversidade de grupos de marinheiros europeus, a julgar pelos relatos do próprio ministério da Marinha francês na década de 1790. Mesmo com os monopólios coloniais e suas diferentes nomenclaturas (a flota espanhola, o exclusif francês, o British Navigation Act inglês), o contrabando grassava por ali, pondo em contato colonos europeus, marinheiros de diferentes metrópoles e escravos caribenhos e de variadas origens africanas. A razão dessa diversidade também entre os escravos, para além do tráfico direto com a África, era a sede por mão de obra em Saint-Domingue, o que fazia daquela colônia francesa um repositório de escravos fugidos a partir de 1770, vindos de Jamaica, Curaçao e, a julgar pela língua de alguns deles, também do Brasil. Muitos desses escravos em fuga se engajaram ativamente em rebeliões antes mesmo de 1789 e desempenharam papéis relevantes nos anos revolucionários – por exemplo Henry Christophe, segundo presidente do Haiti independente, nascido em St. Kitts, nas Índias Ocidentais britânicas.

O comércio e a circulação de marinheiros por aquelas bandas não só traziam notícias de fora como transmitiam ao resto do mundo o que se passava em Saint-Domingue. Scott reconhece que as revoltas de negros no Caribe em fins do século XVIII inspiraram os escravos nos Estados Unidos e em muitas das Antilhas. Em termos materiais, a afirmação encontra base no volume comercial entre Estados Unidos e Saint-Domingue em 1790: o montante das trocas, nessa altura, excedia aquelas feitas com todo o restante do continente americano, e era superado apenas pelo comércio com a Grã-Bretanha.

Scott foi um dos primeiros historiadores a identificar na mobilidade espacial advinda da navegação um importante indicador de autonomia e, eventualmente, liberdade para os cativos que conseguissem trilhar esse caminho. Os navios carregados de açúcar e rum circulando pelo Caribe possibilitavam escapar do rigoroso controle social existente nas sociedades escravistas e principalmente os navios menores eram vistos como instrumentos de fuga. Problemas diplomáticos e policiais decorriam dessa mobilidade não autorizada, mas o foco do autor se firma nos marinheiros e escravos desertores que elegeram as ilhas caribenhas como seus locais preferidos.

No Atlântico, mais do que em outros oceanos, e no Caribe, de forma concentrada, o comércio marítimo de longa distância e de cabotagem envolvia homens escravos e livres de cor. No caso dos escravos, envolvia também perspectivas de autonomia e liberdade dadas não só pela mobilidade como também pelas chances de se diluir em meio à multidão reunida nos portos, formada por indivíduos que, ao serem observados, não podiam ser definidos como livres ou cativos apenas pela cor de suas peles. Os mesmos jornais jamaicanos que publicavam anúncios de senhores vendendo negros especializados em trabalhos marítimos também publicavam anúncios de fuga de gente que certamente usara o mar como rota para desaparecer das vistas de seus senhores. Scott interpreta a “mística do mar” nas sociedades escravistas insulares do Caribe, ao salientar a vida a bordo de um pequeno navio de cabotagem ou do comércio intercolonial como uma alternativa atrativa à vida marcada pela hierarquia severa nas lavouras açucareiras. Mesmo escravos sem experiência marítima podiam conhecer alguns termos náuticos graças aos versos das canções populares e fingirem serem marinheiros livres. Ávidos por força de trabalho, os capitães dos navios quase nunca inquiriam cuidadosamente cada marinheiro engajado. Durante a década de 1790, antes e depois da Revolução de Saint-Domingue, sujeitos envolvidos no mundo do trabalho marítimo – marinheiros da navegação de longa distância, de pequenos navios de cabotagem no comércio intercolonial, escravos fugidos, marujos desertores brancos e negros – assumiram o centro do palco. No mar ou em terra, homens e mulheres sem senhores desempenharam um papel vital, espalhando rumores, reportando notícias e atuando como correia de transmissão de movimentos antiescravistas e, finalmente, da revolução republicana em curso na Europa.

A Revolução do Haiti tornou-se lendária não só porque foi a primeira experiência de liberdade coletiva e de construção de uma nação por ex-escravizados que retiraram à força seus senhores de cena, mas também pelo que representou como possibilidade na imaginação de escravos e senhores espalhados pelo mundo ocidental onde a escravidão era a base da acumulação de riquezas. A crença na determinação histórica, fruto da autocondescendência pela suposta descoberta de modelos explicativos eficazes, encontra nesta encruzilhada do Ocidente um incômodo para os historiadores mais seguros de suas opções teóricas. O passado torna-se sempre mais complexo quando é considerado da perspectiva de seus agentes.

Referências

ANDRADE, Everaldo de Oliveira. Haiti, dois séculos de história. São Paulo: Alameda, 2019.

FERRER, Ada. A sociedade escravista cubana e a Revolução Haitiana. Almanack, n. 3, p.37-53, jun. 2012.

FERRER, Ada. A sociedade escravista cubana na época da Revolução Haitiana. In: CUNHA, Olívia Maria Gomes da.

Outras ilhas: espaços, temporalidades e transformações em Cuba. Rio de Janeiro: Aeropolano/FAPERJ, 2010. p. 37-64.

GRONDIN, Marcelo. Haiti. Col. Tudo é História. São Paulo: Brasiliense, 1985.

JAMES, Cyril Lionel Robert [1938]. Os jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture e a revolução de São Domingos. São Paulo: Boitempo, 2000.

REDIKER, Marcus. O navio negreiro: uma história humana. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

REDIKER, Marcus; LINEBAUGH, Peter. A hidra de muitas cabeças: marinheiros, plebeus e a história oculta do Atlântico revolucionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

SCOTT, Julius S. The Common Wind: Afro- American Currents in the Age of the Haitian Revolution. Londres; Nova York: Verso, 2018.

Notas

  1. Autor de A hidra de muitas cabeças: marinheiros, plebeus e a história oculta do Atlântico revolucionário (em parceria com Peter Linebaugh) (2008) e O navio negreiro: uma história humana (2011).
  2. Exceções são os livros de Grondin (1985); de Andrade (2019) e, é claro, a tradução muito tardia de James (2000), editada pela primeira vez em 1938.
  3. O impacto da Revolução do Haiti em Cuba pode ser conhecido pelo leitor brasileiro com mais detalhes pelos trabalhos já traduzidos de Ada Ferrer (2010 e 2012).

Jaime Rodrigues – Professor da Universidade Federal de São Paulo / Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas / Departamento de História, Guarulhos/SP – Brasil. E-mail: rodriguesjaime@gmail.com.


SCOTT, Julius S. The Common Wind: Afro-American Currents in the Age of the Haitian Revolution. Londres; Nova York: Verso, 2018. 246p. Resenha de: RODRIGUES, Jaime. Uma encruzilhada do Ocidente: o Caribe setecentista como espaço histórico Topoi. Rio de Janeiro, v.22, n.46, jan./abr. 2021. Acessar publicação original [IF].

 

Un leviatán tropical: las redes clientelares de Trujillo en América Latina y el Caribe | Eliades Acosta Matos

El libro Un leviatán tropical: las redes clientelares de Trujillo en América Latina y el Caribe constituye un desdoblamiento de La telaraña cubana de Trujillo publicada por el historiador Eliades Acosta Matos en 2012.1 En ambos casos se destaca el interés por problematizar el estudio de las dictaduras con un enfoque de redes: una apuesta bastante productiva que permite comprender de manera más compleja las relaciones internacionales en el continente. En efecto, en Un leviatán tropical Acosta extiende su análisis a los conflictos, cooperación y relaciones del régimen con otras dictaduras y gobiernos democráticos de la región.

En la historiografía iberoamericana analizar las relaciones internacionales de los regímenes dictatoriales no es una propuesta nueva. Una revisión no exhaustiva permite localizar un interés creciente desde los años ochenta, posterior a la fundación de la revista Relations Internationales (1974) de Jean-Baptiste Duroselle y Jacques Freymond. En este sentido, se puede destacar el análisis sobre los conflictos y cooperación entre Argentina y Brasil o las alianzas entre Franco y Perón.2 En la misma línea, sobresalen las reflexiones sobre la propaganda y la acción o las relaciones exteriores del franquismo.3 Leia Mais

Narradoras del Caribe hispano – CENTENO AÑESES (REF)

CENTENO AÑESES, Carmen. Narradoras del Caribe hispano. Río Piedras, Puerto Rico: Publicaciones Gaviota, 2018. 134 p. Resenha de: ORSANIC, Lúcia. Voces feministas y disidentes en el Caribe hispano. Revista Estududos Feministas, Florianópolis, v.27, n.2, 2019.

Los aportes intelectuales de Carmen Centeno Añeses han sido muy relevantes para la inserción de Puerto Rico en el mapa de la crítica literaria. Su fluidez tanto en el campo académico como de divulgación científica queda demostrada por una serie de publicaciones en terrenos diversos, que van desde libros de carácter académico y artículos en revistas especializadas hasta trabajos de índole ensayístico, mayormente publicados en periódicos puertorriqueños y cubanos. Pese a la variedad de los temas que ha abarcado a lo largo de su vasta trayectoria, la escritura de Centeno Añeses es coherente en cuanto a sus intereses: los derechos humanos en general y los derechos de las mujeres en particular, la descolonización de Puerto Rico, la importancia del ensayo puertorriqueño en materia de independencia, el lugar de las mujeres en la tradición ensayística local, los discursos patriarcales que han dominado la historia de la literatura y la crítica literaria, la educación, entre otros temas.

Su más reciente libro, Narradoras del Caribe hispano, dialoga en cierta medida con una publicación inmediatamente anterior, Intelectuales y ensayo (2017). En este sentido, Narradoras… podría ser visto como una continuación de su labor interpretativa desde una perspectiva feminista. Si entre los intelectuales que trataba en su obra anterior, Centeno Añeses había hecho hincapié en la importancia del ensayo femenino y feminista en Puerto Rico – a través de figuras como Nilita Vientós Gascón, Áurea María Sotomayor y Marta Ponte Alsina -, ahora se adentra en el análisis narratológico de una serie de escritoras caribeñas, extendiendo el hilo feminista que las (nos) une y reúne en torno a una serie de prácticas contrahegemónicas. Y aunque no aparece explícitamente el término sororidad en las páginas de las Narradoras…, Centeno Añeses deja entrever que eso es lo que la mueve, dando lugar a una polifonía femenina pero sobre todo feminista. Leia Mais

Antologia del Pensamiento Crítico Caribeño Contemporáneo (West Indies, Antillas Francesas y Antillas Holandesas) | Félix Valdés Garcia

O Caribe se constitui num imenso mosaico multidimensional (cultural, político, intelectual) marcado por uma ampla diversidade de dominações, colonizações, influências, resistências e reelaborações, que estão explicitadas em suas diversas denominações. Desta forma, uma parte da região, o Caribe hispânico é chamado de ‘El Caribe’, nas ilhas anglófonas é denominado de ‘West Indies ou The Caribbean’, na zona francesa é apontado como ‘Les Antilles’ ou ‘La Caraíbes’ e na área holandesa é designado como ‘Dansk Vestindien’.

Estas diferentes denominações demonstram o caráter uno e diverso da região, combinados dialeticamente, que explicitam, de uma ou outra forma, toda sua diversidade e potencialidade.

Desta forma, apesar de partilharmos com o Caribe uma história comum, que antecede a colonização européia, e dos laços históricos, econômicos e culturais desenvolvidos há séculos tal região e, principalmente, o pensamento crítico caribenho seguem ignorados ou apontados (ainda) pelo exotismo, já que a centralidade intelectual dos países do norte, principalmente em sua vertente anglo-saxã, continua condicionando nosso olhar e nossa reflexão sobre uma região tão próxima e, ao mesmo tempo, tão distante.

Sendo assim, pode-se afirmar que, apesar de alguns avanços, a maior parte da produção intelectual caribenha, e de seu pensamento crítico, segue desconhecida, com raras exceções, e a elaboração, as temáticas e concepções desenvolvidas por intelectuais caribenhos ainda se constitui num vasto campo a ser explorado e divulgado.

Neste sentido, esta obra se constitui num trabalho fundamental, e muito instigante, para o (re) conhecimento do pensamento crítico caribenho e seus laços com a realidade brasileira, principalmente das populações originárias e dos afrodescendentes, e a construção de alternativas para uma sociedade mais justa e equitativa.

A obra é parte integrante da série ‘Países’ da coleção de Antologías del Pensamiento Social Latinoamericano y Caribeño, publicada pelo Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO)2, na qual já foram divulgadas a produção crítica contemporânea de Uruguai, Panamá, El Salvador, Nicarágua, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Cuba, México, República Dominicana, Peru, Paraguai e Venezuela, sendo que, em breve, novos volumes sobre outros países devem ser lançados.

A coleção é composta por cinco séries: Trayectorias, Países, Pensamientos Silenciados, Miradas Lejanas e CLACSO/SIGLO XXI (publicação conjunta), cujos textos podem ser considerados essenciais para conhecer e compreender o pensamento social latino-americano e caribenho, clássico e contemporâneo.

Desde o seu surgimento, CLACSO se tornou um espaço de reflexão autônoma das questões latino-americanas, de desenvolvimento do pensamento social e crítico e do compromisso com a superação da pobreza e desigualdade, através da construção de um caminho alternativo próprio. Neste sentido, as coleções produzidas realçam a importância desta para a construção e difusão do pensamento latino-americano3, procurando incentivar a produção própria, a compreensão autônoma e a construção de um caminho latino-americano para o desenvolvimento das ciências e, principalmente, das sociedades latino-americanas.

Este trabalho foi organizado pelo professor cubano Félix Valdés Garcia, membro da Cátedra sobre o Caribe da Universidade de Havana, da Associação de Estudos do Caribe (AEC) e do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO).

Esta obra, como a região retratada, é marcada pela diversidade de temáticas e perspectivas e se insere na dinâmica da coleção, procurando retratar uma ampla gama de autores e abordagens que possuem como fio condutor um pensamento crítico, alicerçado nas condições e desafios que a região enfrenta desde a colonização, apresentando tanto autores clássicos do pensamento caribenho como Frantz Fannon, Aimé Césaire, Eric Willians, Cyril Lionel Robert James, Edward Kamau Brathwaite e Maurice Bishop, como autores contemporâneos como Sir William Arthur Lewis, Kari Polanyi Levitt y Lloyd A. Best, Sylvia Wynter, Jean Bernabé, Patrick Chamoiseau e Raphaël Confiant.

Desta forma, o livro adquire uma coerência e uma relativa unidade, mesmo na diversidade, pois os autores apresentados conseguem demonstrar a profunda relação entre suas análises e a dinâmica social, política e econômica de seus países e região, produzindo um pensamento que procura contribuir para a transformação social, em suas diversas formas e movimentos, superando os colonialismos, em todas as suas manifestações e atualizações.

Além disto, o trabalho está marcado por uma abordagem multidisciplinar e pelo diálogo frutífero de um conjunto de correntes, relacionadas ao pensamento crítico, no qual se destacam três tradições. Primeiro, o pensamento marxista, utilizado de forma criativa e distanciado de dogmatismo e esquematismo, associado ao marxismo ocidental e, principalmente, ao impulso renovador e originário intentado pela Revolução Cubana e pelas releituras marxistas desenvolvidas na África e na América Latina ao longo das últimas décadas. Além dele, se destaca o pensamento negro, originário da diáspora africana, e sua releitura da colonização e da escravidão, bem como da condição dos negros no mundo contemporâneo, procurando resgatar suas raízes, originalidade e relevância para a superação da condição subalterna e subdesenvolvida.

Por fim, emergem os trabalhos que, mantendo um diálogo com as perspectivas anteriores, incorporam as contribuições do pensamento decolonial, anti-colonial ou póscolonial, procurando descontruir a modernidade eurocêntrica, suas lógicas e determinações, resgatando os diversos elementos (culturais, políticos, sociais, econômicos, religiosos, …) associados a negritude, as populações originárias e as mulheres, dentre outras, que nos permitem repensar a condição colonial e, principalmente, a dependência e o desenvolvimento (econômico e social) da região.

Neste sentido, podemos apontar que a obra pode ser analisada a partir de cinco eixos fundamentais, que se entrecruzam e se desdobram em inúmeras reflexões.

O primeiro eixo, que perpassa toda a obra, está associado a temática do colonialismo, tanto em sua dimensão temporal como nos efeitos políticos, econômicos e culturais, ao promover um quadro de dominação econômica, política e cultural, associado a colonialidade do saber e do poder nesta região e em toda a América Latina. Neste sentido, se destacam as análises, que podem ser consideradas clássicas, de Frantz Fanon (“Los condenados de la tierra”- fragmentos) e de Aimé Césaire (“Discurso sobre el colonialismo”) e o trabalho, mais recente, de Sylvia Winter (“1492: Una nueva visión del mundo”), embora os demais textos do livro possam ser considerados um desdobramento deste eixo primordial e continuem, a seu modo, discutindo tal temática.

O segundo eixo é caracterizado pelo debate sobre a dependência e a condição periférica dos estados caribenhos, além dos desafios para a criação de uma dinâmica efetiva de desenvolvimento econômico e social. Neste sentido, são apresentados os trabalhos de Eric Willians (“Capitalismo y esclavitud” y “El futuro del Caribe”), Kari Polanyi Levitt y Lloyd A.

Best (“Un enfoque histórico e institucional del desarrollo económico caribeño” y “Bosquejo de una teoría general de la economía del Caribe” e Sir William Arthur Lewis (“La agonía de las ocho”- Teoría para el desarrollo económico y social del Caribe), dentre outros.

O terceiro eixo, presente em boa parte dos trabalhos, é relacionado a questão da negritude e da condição ‘criolla’, discutidas em múltiplas dimensões, em que se destacam os elementos culturais e políticos. No primeiro caso, estão presentes trabalhos que revisam o tema da escravidão, em sua implicação social e cultural, analisam a emergência da noção de negritude, em sua relação com o pan-africanismo, e, mais recentemente, da noção de ‘creolidad’, destacando-se os trabalhos de Edward Kamau Brathwaite (“La criollización en las Antillas de lengua inglesa”), de George Lamming (“Los placeres del exilio”) e de Jean Bernabé, Patrick chamoiseau y Raphaël confiant (“Elogio de la creolidad”- fragmentos).

No plano político e social, destacam-se trabalhos que discutem a emergência do movimento negro e de uma consciência e mobilização social regional como os trabalhos de Édouard Glissant (“El discurso antillano”), de Walter Rodney (“El Black Power. Su relevancia en el Caribe”) ou de Brian Meeks (Radical Caribbean: From Black Power to Abu Baker/ Caribe radical. Del Black Power a Abu Bakr), dentre outros.

O quarto eixo relaciona-se ao impacto das Revoluções, passadas e presentes, na constituição e desenvolvimento de um pensamento revolucionário e libertário, que incorpora as tradições culturais, africanas e ameríndias presentes na região, e procura desenvolver um projeto político-cultural que combine justiça social e valorização destas tradições subalternizadas ao longo da história caribenha. Neste sentido, diversos trabalhos promovem um contato e um diálogo com o impulso libertário da Revolução Cubana e dos processos de descolonização e independência na África, a partir dos anos 60, dos quais podemos destacar os textos de Cyril Lionel Robert James (“De Toussaint L’Ouverture a Fidel Castro”, extraído de ‘Os jacobinos negros’), de Maurice Bishop (“¡Siempre adelante! Contra el imperialismo y hacia la independencia nacional legítima y el poder del pueblo”) e de Lloyd A. Best (“Pensamiento independiente y libertad caribeña”), dentre outros.

O último eixo se relaciona a temáticas emergentes, dentre as quais se destacam as questões culturais e de gênero, que procuram, a partir da condição caribenha, redefinir o papel e a organização destas sociedades e, no segundo caso, revisar a condição subalterna das mulheres no mundo ocidental e contribuir para a superação desta condição e do empoderamento feminino. Neste sentido, se destacam os trabalhos de Elsa Goveia (“Estudio de la historiografía de las Antillas inglesas hasta finales del siglo XIX”), de Terry Agerkop (“Las culturas tradicionales y la identidad cultural en Surinam”) e, principalmente, de Alissa Trotz (“Género, generación y memorias: tener presente un Caribe futuro”).

Além dos aspectos já mencionados, outros elementos emergem da leitura desta obra. Como demonstram os textos, os diversos autores conseguem captar, com acerto, a dicotomia entre a unidade e a diversidade que caracterizam o Caribe, principalmente, ao destacar suas diversas tradições, mas que convergem para uma história e destinos comuns, além de revelar a dinâmica política e social das pequenas nações. Além disto, demonstram que tais autores procuram associar compromisso e sensibilidade social com rigor intelectual, tornando-se relevantes para o desenvolvimento de um pensamento próprio, caribenho e latino-americano, fundamentado tanto na realidade particular de cada ilha como nos desafios comuns que marcam a região e, de certa forma, toda a América Latina.

Neste sentido, também pode ser destacado que os textos são marcados pela convergência frutífera entre uma abordagem multidisciplinar, com destaque para história, economia, as ciências sociais e os estudos culturais e a utilização de múltiplos enfoques metodológicos e culturais, enriquecendo e ampliando o escopo analítico. Finalmente, vale mencionar que a obra contribui para o desenvolvimento de estudos comparados, produzindo um panorama (político, cultural, social e econômico) que consegue combinar o global e o regional, o regional e o local e uma análise multidimensional da conjuntura para compreender as sociedades caribenhas, seu passado e presente, com suas heranças estruturais e desafios atuais.

Entretanto, como toda coletânea, resultado de opções do organizador e dos limites da publicação, embora possua inúmeros méritos e tratar-se de um trabalho muito importante, possui limitações relacionadas, principalmente, a ausência de alguns pensadores e de algumas temáticas, como a análise das instituições e da dinâmica contemporânea da Integração Regional caribenha, as relações recentes com a herança e o continente africano, o agravamento de problemas sociais e ambientais, a emergência de novas formas de organização cultural e política e o papel das novas gerações na construção de um pensamento crítico caribenho, dentre outras.

Apesar disto, é possível apontar que a obra, assim como toda a coleção de CLACSO, ao apresentar as trajetórias fundamentais do pensamento latino-americano contemporâneo, é fundamental para o conhecimento da América Latina e do Caribe, em sua unidade e diversidade, dos problemas recorrentes e seculares que afetam a região (desigualdade, dominação, submissão, silenciamentos,…) e das possibilidades de construção de alternativas, alicerçadas na construção de direitos efetivos, de respeito as culturas e povos originários, de desenvolvimento económico e social, de democracia participativa e inclusiva e justiça social.

Neste sentido, conforme aponta o organizador Félix Valdés Garcia: Así, más allá de la obra de Jamaica, Trinidad y Tobago, Martinica o Barbados, los textos reunidos expresan el cuestionamiento de una totalidad mayor, dada con mayor frecuencia en las lenguas de Próspero que en creole, papiamento o sranang tongo, pero tan agudo como la plaga roja que Caliban pronunciara a Próspero. Ella expresa la unidad de lo diverso, de lo individual y lo universal de una experiencia, de islas que se repiten una y otra vez, sin ser iguales ni siquiera consigo mismas, más allá de la proximidad física, la fragilidad, la continuidad fáctica que la historia puso a merced de antojos imperiales y de experimentos sociales y culturales más impensados de la civilización occidental. Sirva la presente selección para rebasar las divisiones, el desconocimiento de pueblos que comparten una misma suerte, semejantes herencias y un mismo sol insular y de Nuestra América (GARCIA, 2017, p. 34).

À todos, boa leitura!!!

Notas

2. O Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO) é uma instituição não-governamental, criada em 1967 e associada a UNESCO, que reúne cerca de 394 centros de pesquisa, programas de pós-graduação ou instituições em ciências humanas e sociais de 26 países da América Latina. Além deste, também são filiadas diversas instituições de EUA, Europa, África e Ásia que se dedicam ao estudo de temas latino-americanos. Para conhecer a entidade pode-se acessar: http://www.clacso.org.ar 3 O Brasil possui, até o momento, cerca de 51 instituições, programas de pós-graduação ou centros de pesquisa filiados.

Marcos Antonio da Silva – Universidade Federal da Grande Dourados, Brasil.

 

VALDÉS GARCIA, Félix (org.). “Antologia del Pensamiento Crítico Caribeño Contemporáneo (West Indies, Antillas Francesas y Antillas Holandesas)”. Buenos Aires: CLACSO, 2017. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/se/20170707025855/AntologiaDePensamientoCriticoCaribeno.pdf. Resenha de: SILVA, Marcos Antonio da. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.19, n.37, p.149-153, jul./dez., 2018. Acessar publicação original. [IF].

The reinvention of Atlantic slavery: technology – labor – race and capitalism in the Greater Caribbean | Daniel B. Rood

There has been a revival of the capitalism in the United States since the great recession of 2008. The New Historians of Capitalism (NHC) have created new academic programs and departments at Harvard, Cornell, Brown and the New School for Social Research. This is welcome relief from the “linguistic turn”, returning historical inquiry to the systematic investigation of social and economic structures. However, the New Historians insist that in order to reinvent the study of capitalism, they must abandon any attempt to specify what they mean by capitalism [3]. However, as Althusser argued – “silences are not innocent” -, the New Historians do have an implicit conceptualization of capitalism. Essentially, they adapt Adam Smith’s notion of “commercial society” [4], where capitalism is any economy geared toward profit maximization through productive specialization and market exchange. They also include among capitalism’s features as warfare, finance and legal-physical coercion in the appropriation of surplus labor. Put another way, the New History of Capitalism identifies capitalism with social processes like trade, finance and violence, which have existed for most of the last eight to ten thousand years.

This implicit understanding of capitalism contrasts with most Marxian accounts which view capitalism as a distinctive set of social property relations (social relations of production) with specific rules of reproduction (laws of motion) [5]. From this perspective, capitalism is the first form of social labor in which both non-producers (capitalists) and producers (workers) reproduce themselves through market competition. Capitalists are thus compelled to specialize output, continually introduce labor-saving technology, and accumulate capital in order to reduce costs and maximize profits in a competitive “war of all against all.”

Not surprisingly, the New History of Capitalism has radically altered the study of new world plantation slavery. Walter Johnson, Edward Baptist and Sven Beckert [6] argue that new world slavery was not some atavistic throwback to pre-capitalist societies, but a thoroughly capitalist form that was the foundation to the development of industrial capitalism in both Britain and the United States in the late eighteenth and early nineteenth century. Despite their commonalities, there is considerable debate among these historians about the respective role of physical coercion and technological innovation in the increases in productivity of slave labor, in particular in the harvesting of cotton in the antebellum United States [7]. Daniel Rood’s The reinvention of Atlantic slavery clearly situates itself in the emerging cannon of the New History of Capitalism on plantation slavery, while coming down clearly on the side of those who argue that the master-slave relation was no obstacle to the introduction of labor-saving technology during the “second slavery” of the nineteenth century.

The “second slavery” refers to the revival of plantation slavery in the nineteenth century, after the “colonial slavery” of the seventeenth and eighteenth centuries ended with the Haitian Revolution, the British attempt to suppress the Atlantic slave trade, and the gradual emancipation of slaves in the Jamaica and other British colonies. Most studies of the “second slavery” focus on the US slave produced cotton providing the raw material for British industrialization [8] and Cuban and Louisiana plantations providing the sugar that began to substitute for other, more nutritious and expensive foods in the diets of British workers [9] Rood broadens this discussion by incorporating the “Great Caribbean” nexus between Cuba, Brazil and the upper US South, in particular Virginia.

Faced with sharpening competition from European beat sugar producers and US and British tariffs, Cuban cane sugar planters “responded by adapting European industrial technologies, combining planting with finance, taking control of modern transport infrastructure, and vanquishing small landholders to grab a larger share of the market” (p. 2). The transformation of Cuban slavery forged new connections with the upper US South, which provided extensive engineering and technical expertise to build mills and railways and slave cultivated wheat to feed the island. Simultaneously, the shift in Brazilian slavery from declining sugar plantations in the northeast to more dynamic coffee cultivation in the southeast created new ties with Virginia wheat planters and railway engineers. Throughout this “Great Caribbean” nexus, new labor-saving technology was applied to both production and transportation, and the “race management” of labor was transformed as African slaves’ practical knowledge was appropriated to “creolize” new machinery, and planters began to use new forms of coerced labor, in particular Chinese indentured servants.

Rood begins by retelling the now familiar story of the transformation of the Cuban sugar refining mills and the construction of railroads during the 1830s and 1840s [10]. Faced with increased global competition, Cuban sugar planters built railroads to quickly transport cut cane to the mills from their ever expanding plantations before it spoiled, introduced steam powered crushing of the cane, and replaced the labor-intensive Jamaica train with the vacuum pan in the refining of white sugar. Rood breaks new ground with his investigation of innovations in the preservation of white sugar, where racially ‘tinged” science that assigned manual labor to “darker” people is linked to the struggle to preserve the “purity” of sugar for the US and European markets. His discussion of the transformation of the port of Havana is especially insightful. Havana had experienced a shift from the dominance of middling merchants, whose profits depended upon storage fees, and sales commissions, to a “new generation of Spanish-born elite merchant-planters” whose income came “from buying and selling sugar on the world market, financing illegal slaving voyages, and underwriting sugar-mill operations” (p. 67). To facilitate their new role in the global sugar trade, these merchant planters rebuilt the ports in Havana, introducing railway depots, constructing new warehouses and mechanizing the ports in order to keep “sugar in gentle but unceasing movement” (p. 67). While profiting from the increased speed of circulation, the merchants also remade the port work force replacing black (free and slave) workers with Europeans and Chinese laborers.

Railroad construction in both Cuba and Brazil in the mid-nineteenth century created new connections with the upper South. Rood details how Virginia construction engineers and their slaves were essential to the construction and operation of railroads in new, tropical terrains in the “Great Caribbean”. Skilled slaves were crucial, in the upper US South, Cuba and Brazil in constructing rail lines and operating them – despite widespread planter and merchant fear of relying upon these bonded, racialized workers. The spread of railways also created a new, modern iron industry in the upper South. The Tredgar Iron Mills in Richmond, Virginia was one of the largest and most technologically advanced iron producers in the US, relying on the labor of slaves leased by the mill owners from their owners.

The mid-nineteenth century also saw the shift in the center of Brazilian slavery from the increasingly uncompetitive sugar plantations in the northeast to the highly profitable coffee plantations in the southeast, the hinterland of Rio de Janeiro. Again, railroad construction, often by US trained engineers, was central to the expansion of the coffee frontier. As the population of Rio grew, and more and more lands were shifted from the production of foodstuffs for domestic consumption to the cultivation of coffee for export, a new market emerged for the fine white flour produced in Virginia. In the early nineteenth century, Virginia planters began to shift from tobacco to wheat, breaking up their plantations and selling off excess slaves to the booming cotton frontier of the US southwest. By the 1840s and 1850s, the growing Brazilian demand for high quality white flour transformed both flour-milling technology and the preservation and storage of white flour in the Richmond area. The Richmond mills continued to rely on water-power but were relatively capital-intensive and utilized the labor of skilled, leased slaves.

The deepening Virginia-Rio nexus also transformed the harvesting of wheat in Virginia. Rood reveals how the expanding wheat farms of the Shenandoah Valley were the incubator for Cyrus McCormick development of his mechanized grain reaper in the 1830s and 1840s. Ripened wheat has an especially short window before it spoils, placing tremendous pressure on wheat producers to harvest and thresh the wheat as quickly as possible. Rood outlines how McCormick relied on the labor of skilled slave black smiths, wheat cradlers, and carpenters in the development of the harvesting machine that would radically transform US small grain agriculture in the mid-nineteenth century.

Rood’s book bring important new insights to the history of the “second slavery” by broadening its scope beyond the US cotton-Cuban sugar-British textile industry node, to include the “Great Caribbean” nexus of Cuban sugar-upper South technical expertise, iron and wheat-Brazilian coffee. His accounts of the transformation of the port of Havana, and of wheat cultivation and processing in Virginia are important additions to our historical knowledge. However, the book suffers from a number of conceptual and historical problems.

First, Rood uses the term “creolization” to discuss the adaptation of technologies to specific production processes in specific geographic-ecological locations. While Rood reestablishes the role of slaves in the adaptation of existing techniques in railroad construction, flour milling and farm implement construction, he sometimes implies that there is something unique about the pragmatic sharing of experimental information on technology among agricultural and industrial producers. This was actually quite typical of technical innovation before the late nineteenth century, when miners, skilled artisans and midwives were often the most important figures in the development and application of scientific knowledge [11]. It was only during the second industrial revolution (steel, chemicals, electrical power-machinery) of the 1890s, that capital took control of scientific research with the proliferation of “research and development” departments in major corporations.

Rood’s use of “race management” is also problematic. As developed by David Roediger and Elizabeth Esch [12], race management referred to the pragmatic way in which the ideological notion of race (the division of humanity into groups with distinct and unchangeable characteristics) is used to classify and distribute workers into various positions in the production of commodities. These categories were highly flexible in light of the ever-changing demands of the market-driven production of commodities. Rood tends to emphasize the racial anxieties experienced by slave owners as technology changed labor-requirements, but has little to say about how they adapted their “racial theories” to meet the new requirements of production. This often goes hand in hand with important errors in analyzing the impact of new techniques on labor requirements. Specifically, Rood reiterates Moreno Fraginals’ claim that the introduction of the vacuum pan raised the level of skill and knowledge required in the refining of sugar, creating a crisis of “racial management.” As Dale Tomich points out [13], it was the earlier technology – the Jamaica Train – that relied heavily on the intelligence and experience of skilled slaves. The vacuum pan, by automating the process of sugar refining, actually deskilled labor in that phase of sugar production.

The greatest problems with Rood’s analysis flow from his uncritical acceptance of the New Historians’ common sense that slavery was a capitalist form of production. There is no question that slave-owners in the US were, for the most part, subject to “market compulsion.” Slave holders throughout the new world had to borrow capital to purchase their basic means of production – land and slaves. In the British colonies and most of the southern United States faced the loss of land and slaves if they failed to pay these debts. Put in another way, they were subject to what John Clegg has called “credit market discipline” [14] – they had to successfully compete in the global market in order to preserve (no less expand) their ownership of land and slaves. Rood never makes the case that Cuban planters faced these constraints, or whether, like French colonial planters, they were exempt from the loss of land and slaves for the failure to pay debts [15] Clearly, those planters subject to “credit market discipline” sought to cut costs in order to remain competitive – they sought to adapt the most up to date innovations in crop varieties, fertilizers, tools and methods.

The master-slave social property relation, however, prevented the planters from continually adapting the latest, labor-saving tools and methods [16]. The obstacle to the continuous adaptation of labor-saving techniques was not any lack of motivation or skill on the part of their bonded laborers. Instead, it was the reality that slave-holders did not purchase the labor-power of the slaves (their ability to work for a set period of time), but the laborers as “means of production in human form”. Put in another way, the slave was a form of fixed capital – a constant element of the production process that could not easily be expelled from production in order to facilitate the relatively continuous introduction of techniques that improved labor productivity. So, if planters introduced cost-cutting techniques that saved labor, they would not be able, like their capitalist counterparts, to simply lay that labor off. They would be stuck with continuing ownership of the laborer(s), having to keep them around until they could find purchasers for their surplus slaves.

It is true that, like other non-capitalist forms of social labor, slavery did bring about episodic improvements in productivity. However, unlike under capitalism, which tends to spur more or less ongoing technical change, innovation under slavery had a “once and for all” character [17]. Thus, the introduction of labor-saving techniques in Cuban sugar production and shipping, or in Virginia wheat cultivation did not set off a process of continuous technical innovation. Like other technical innovations under slavery, they corresponded to the introduction of new products or the movement of production to a new frontier. Once established, these new labor-processes remained relatively unchanged until new products were introduced, new geographic regions were brought under production, or slavery as a form of social labor was abolished. Those industries where there was continuous technical innovation, Virginia’s iron works and Rio’s bakeries, utilized leased slaves. Leased slaves were, like indentured servants, a form of legally coerced wage labor. Those who leased slaves essentially purchased their labor-power for a set period of time, and could easily expel that labor when new, more productive tools and methods became available.

The limitations the master-slave social property relation on continuous technical innovation is most evident in the case of the mechanized reaper. While Rood’s discussion of how McCormick’s initial motivation was to revolutionize Virginia’s wheat harvests is quite insightful, he never poses the question of why McCormick abandoned Virginia for Chicago when he turned to mass producing his mechanical reaper. Rood recognizes that there were serious obstacles to the diffusion and generalized adaptation of the reaper in Virginia’s slave based agriculture. Rood acknowledges that two large wheat planters who adapted the reaper found themselves “burdened by the presence of too many workers” (p. 189). Unlike wage laborers who could easily be laid-off when they were no longer needed, slave owners had to maintain their slaves in order to preserve their value as “means of production in human form”. While the wheat producers of Virginia were a relatively narrow market for the mechanical reaper, the petty-capitalist family farmers of north were an ever expanding market for the reaper and other labor-saving tools and machinery18. Not surprisingly, despite his personal sympathy for slavery, McCormick relocated his factory to be closer to his customers in the dynamic capitalist north.

Referência

ROOD, Daniel B. The reinvention of Atlantic slavery: technology, labor, race and capitalism in the Greater Caribbean. New York: Oxford University Press, 2017

Notas

3. ROCKHMAN, Seth. What makes the history of capitalism newsworthy? Journal of the Early Republic, n. 34, p. 442, Fall 2014. Similar arguments are made by most of the participants, including BECKERT, Sven. Interchange: the history of capitalism. Journal of American History, 101, n. 2, p. 503-36, September 2014.

4. SMITH, Adam An inquiry into the nature and causes of the wealth of nations. New York: Modern Library, 1937 [1776].

5. The concepts of social-property relations and rules of reproduction are derived from the work of BRENNER, Robert. Property and progress: where Adam Smith went wrong. In: WICKHAM, Chris (ed.). Marxist history-writing for the twenty-first century. London: British Academy/Oxford University Press, 2007. p. 49-111. Brenner’s work, of course, is rooted in Marx’s mature work in the three volumes of Capital.

6. JOHNSON, Walter. River of dark dreams: slavery and empire in the cotton kingdom. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2013; BAPTIST, Edward. The half has never been told: slavery and the making of American capitalism. New York: Basic Books, 2014; BECKERT, Sven Empire of cotton: a global history. New York: Alfred A. Knopf, 2014. For a lengthy discussion of the strengths and weaknesses of these works, see POST, Charles. Slavery and the New History of Capitalism. Catalyst, 1, n. 1, p. 173-192, Spring 2017.

7. Baptist (2014) is the most articulate exponent of the physical coercion/torture thesis, while Alan J. Olmstead and Paul W. Rhode make a convincing case for the role of technical innovation in raising the productivity of slave labor in cotton harvests, in OLMSTEAD, Alan J.; RHODE, Paul W. Biological innovation and productivity growth in the antebellum cotton south. Journal of Economic History, 68, n. 4, p. 1123–71, 2008.

8. Beckert (2014) summarizes this literature.

9. MINTZ, Sidney. Sweetness and power: the place of sugar in modern history. Harmondsworth: Penguin Books, 1985.

10. FRAGINAL, Manuel Moreno. The sugarmill: the socioeconomic complex of sugar in Cuba, 1760- 1860. New York: Monthly Review Press, 1976.

11. CONNOR, Clifford D. A people’s history of science: miners, midwives, and low mechanicks. New York: Nation Books, 2005.

12. ROEDIGER, David; ESCH, Elizabeth. The production of difference: race and the management of labor in U.S. history. New York: Oxford University Press, 2012.

13. TOMICH, Dale. Slavery in the circuit of sugar: Martinique in the world economy, 1830-1848. Baltimore: The Johns Hopkins University Press, 1990. p. 199-201, 221-225.

14. CLEGG, John J. Credit market discipline and capitalist slavery in antebellum south Carolina. Social Science History 42, n. 2, p. 343-376, 2018. As it will become clear, I do not believe that market dependence made slaveholders capitalists.

15. BLACKBURN, Robin. The making of new world slavery: from the baroque to the modern. London: Verso, 1997. p. 282-83, 444-45.

16. The following is a summary of my argument in POST, Charles. The American road to capitalism: studies in class structure, economic development and political conflict, 1620-1877. Chicago: Haymarket Books, 2012. Chapter 2.

17. BRENNER, Robert P. The origins of capitalist development: a critique of neo-smithian Marxism. New Left Review 104, p. 36-37, July–August 1977.

18. POST, Charles, 2012. p. 94-97.

Charles Post – University of New York – New York – United States of America. Professor, Sociology, borough of Manhattan Community College and the Graduate Center-City University of New York. E-mail: cpost@bmcc.cuny.edu


ROOD, Daniel B. The reinvention of Atlantic slavery: technology, labor, race and capitalism in the Greater Caribbean. New York: Oxford University Press, 2017. Resenha de: POST, Charles. Capitalist slavery in the great Caribbean? Almanack, Guarulhos, n.19, p. 321-330, maio/ago., 2018. Acessar publicação original [DR]

Capital/ power/ and inequality in Latin America and the Caribbean | R. L. Harris e J. Nef

A América Latina e Caribe são amplamente discutidos neste livro clássico para o pensamento social internacionalista, por meio de uma compreensiva e integrada coletânea de capítulos comparativos que ilustram de maneira sistemática três temas que são transversais, capital, poder e a desigualdade, os quais são forças estruturantes de longa duração na região.

Ao longo desta nova edição alicerçada em teorias críticas trazidas, principalmente, por premissas marxistas, uma profunda investigação de problemas atuais desvela a história cristalizada, ao longo do tempo, de muitos dos países da América Latina e Caribe, revelando o ritmo e o espaço das mais recentes forças de globalização que incidem sobre a região em sua inserção na integração do sistema-mundo. Leia Mais

Antologia do pensamento crítico contemporâneo | Antologias do Pensamento Social Latino-Americano e Caribenho

Apesar dos avanços recentes boa parte da sociedade brasileira desconhece ou ignora a América Latina. Apesar da (suposta) especificidade brasileira, tal desconhecimento se relaciona ao distanciamento histórico de nosso país em relação à região, alicerçado em diversas causas (políticas, econômicas, culturais, geopolíticas, …), determinado pelo que Francisco de Oliveira chamou de “Fronteiras Invisíveis” que sempre foram mais sutis, profundas e eficazes que as fronteiras oficiais1.

Da mesma forma ao longo dos últimos dois séculos surgiram importantes pensadores que buscaram a produção e o desenvolvimento próprio (latino-americano) e adquiriram relevância mundial (Mariátegui, Dussel, Quijano, entre outros). Apesar disto, tal pensamento continua, apesar de raríssimas exceções, desconhecido ou ignorado pelo pensamento social e a academia brasileira. Leia Mais

Another Black Like Me: the construction of identities and solidarity in the African diaspora / Nielson R. Bezerra

Another Black Like me, editado por Elaine Rocha e Nielson Bezerra, discute a questão racial, na América Latina e no Caribe, a partir da perspectiva dos negros, sejam estes escravizados ou descendentes de pessoas que passaram pelo cativeiro. Para tanto, os autores ressaltam que é de negros, e não de afrodescendentes, que estão tratando. E o fazem como forma de pontuar e trazer para o debate as complexidades e subjetividades às quais a percepção da negritude esteve submetida, desde o início da diáspora africana até os tempos atuais. Procurando contemplar uma ampla gama de recortes temporais e conceituais, o livro abrange temáticas diversas, que vão, desde o gênero até a resistência, passando por questões ligadas à territorialidade, mobilidade espacial, abolicionismo e identidade.

Esse livro é fruto do esforço de seus dois editores em unir perspectivas e abordagens, das mais diversas, acerca da diáspora africana na América Latina. Oferecendo uma abordagem sólida para tais questões, essa obra consegue agregar artigos que dialogam e fazem sentido quando unidos. Os pesquisadores ora reunidos, apesar de oriundos de diferentes instituições e formações, convergem em uma direção que dá sentido à obra, que é o que toda coletânea precisa (e deveria) ter.

Como é de se esperar em um trabalho feito a muitas mãos, as fontes utilizadas são das mais diversas. Destaco o uso de relatos de viajantes que, nessa obra, servem a diferentes análises. Ygor Rocha Cavalcante os utiliza para identificar os locais de esconderijo dos escravos fugidos bem como para visualizar o cotidiano das localidades por ele analisadas; já Luciana da Cruz Brito acessa tais relatos como forma de analisar a percepção internacional sobre a mítica democracia racial brasileira. Além de tais fontes, o livro ainda apresenta trabalhos que contam com o uso da literatura, história oral, fontes processuais, registros cartoriais, entre outras.

Another Black Llike me nos leva, então, do Brasil à Porto Rico, passando pelo Caribe Britânico e, de volta à África, até Gana. Apesar do livro não possuir nenhuma divisão em partes ou seções, ao lê-lo, consigo identificar dois eixos norteadores do trabalho. Estes correspondem, também, a uma divisão temporal, que pode ser marcada pelo progressivo fim do escravismo nos países da América Latina. Dois momentos, por assim dizer, que se organizaram de diferentes maneiras, nas diferentes sociedades ora abordadas, mas que guardam convergências e similaridades e permitem aproximação em uma única obra.

Dessa forma, esse livro apresenta um primeiro eixo, que corresponde a uma América Latina pós-escravista, que precisa lidar – tanto política, como social e economicamente – com suas questões raciais, suas desigualdades e pertencimentos. E um segundo eixo, que trata dos séculos XVIII e XIX, correspondente ao período escravista da América Latina. Lidando com resistências, construções de identidades e com o abolicionismo, esse segundo eixo trata, principalmente, do Brasil e dos desdobramentos das questões afro-brasileiras.

Analisando o livro nessa chave de leitura, o primeiro eixo que identifico, neste trabalho, compreende os quatro primeiros artigos, de autoria de Elaine Rocha, Ronald Harpelle, Victor C. Simpson e Rhonda Collier. Rocha debate a identificação dos afrodescendentes na América Latina, seja ela imposta ou escolhida. A autora discute questões ligadas à identificação racial, e às formas como essa identificação foi (e tem sido) utilizada, tanto de forma positiva, quanto de forma negativa. Harpelle lida com os grupos de descendentes de africanos na América Central que, na metade do século XX, não sabiam quais eram suas origens, que também não eram conhecidas pelas autoridades britânicas que, no século anterior, controlaram a imigração para muitas das ilhas Caribenhas, de onde a maior parte dos imigrantes saíram para a América Central continental. Simpson delineia a taxonomia racial em Porto Rico e no Caribe Anglófono, buscando, na experiência histórica da diáspora africana e do domínio colonial europeu, as raízes que, depois de séculos de interação, dominação e exclusão, deram origem às designações de cor naquelas localidades. Assim como em grande parte da América Latina, tais denominações não se resumem apenas a negro e branco, possuindo uma enorme gama de outras gradações entre essas duas. Tais divisões não se resumem apenas a tons de pele, sendo influenciadas por questões sociais e econômicas. Collier examina as condições de vida de mulheres cubanas, de ascendência africana, no século XX, enfatizando as dificuldades pelas quais passam, devido à cor de sua pele, e as consequências que os estereótipos por elas enfrentados trazem para suas vidas, como a pobreza e a prostituição. Muitas dessas mulheres são o único sustento de suas famílias, o que as empurra ainda mais fundo para essas condições.

Neste primeiro momento do trabalho, destaco o artigo de Rhonda Collier. Analisando as duras condições sociais às quais uma grande maioria de mulheres cubanas foi submetida, no final do século XX, com a queda da União Soviética e as dificuldades econômicas enfrentadas por Cuba, Collier aponta que a única saída que muitas encontravam, para sobreviver e prover a sobrevivência de suas famílias, era a prostituição. Isso gerou um estereótipo relacionado às mulheres cubanas de ascendência africana, que persiste até os dias de hoje.

A autora explora obras de poetisas cubanas, em fins do século XX, que denunciavam as condições às quais tais mulheres eram expostas, bem como o fato de que a revolução socialista, em Cuba, teria feito com que a pobreza levasse, cada vez mais, mulheres para a prostituição. Em oposição à prostituta, que se havia tornado peça de mercado, no turismo cubano, a figura que deveria emergir em seu lugar seria, então, a da mãe, valorizando o país, enquanto pátria que nutre seus filhos e filhas. A África seria, nessa visão, a mãe, na qual Cuba deveria se espelhar. Collier demonstra, nesse artigo, como a identidade da mulher cubana foi palco de disputas, por representatividade e reconhecimento, bem como por participação social e econômica.

O segundo eixo do livro, por sua vez, está articulado em torno das questões ligadas à escravidão, sem perder de vista o foco nas identidades e representações dos negros nas sociedades. Esse segundo momento do trabalho conta com cinco artigos, escritos por Flávio dos Santos Gomes, Ygor Rocha Cavalcante, Nielson Rosa Bezerra, Luciana da Cruz Brito e Marco Aurelio Schaumloeffel. Gomes analisa as experiências de fugas, nas fronteiras do Brasil colonial e da Guiana Francesa, nos séculos XVIII e XIX, atentando para as trocas culturais atlânticas, as experiências coletivas e as formas de resistência delas advindas. O autor enfatiza que as fronteiras coloniais não estabeleciam limites para tais trocas, demonstrando que as ideias circulavam entre os escravos, possibilitando, além das fugas, a migração ou a formação de mocambos, comunidades de escravos fugidos. Cavalcante também trabalha com a questão espacial, ao examinar a resistência escrava na fronteira amazônica do século XIX. Numa região marcada pelo povoamento indígena – nas regiões afastadas das cidades, pela interação entre indígenas e mestiços livres ou vivendo em diversas formas de dependência, e também pelo cultivo e preparo da borracha, atividade que exigia mobilidade – o trabalho escravo se organizava de maneiras diferentes daquelas encontradas no Sul e Sudeste, e até mesmo das regiões açucareiras do Nordeste. Dessa forma, a ação dos escravos e suas experiências acumuladas também se organizam de maneira própria. Bezerra analisa a trajetória de Mohammed Gardo Baquaqua, africano apreendido na África Ocidental e vendido como escravo, no século XIX, que, após uma verdadeira odisseia atlântica, com passagem pelo Brasil, Estados Unidos, Haiti e Canadá, conseguiu a liberdade, estabeleceu-se nos Estados Unidos e lá escreveu suas memórias, em forma de relato autobiográfico. Bezerra examina, então, a mobilidade espacial e a sociabilidade de Baquaqua, bem como seu relato, a fim de demonstrar como as pessoas escravizadas lidavam com os limites impostos pela escravidão. Brito analisa as perspectivas dos abolicionistas, dos Estados Unidos do século XIX, no tocante às relações raciais no Brasil. A autora aponta como o mito da democracia racial afetou a visão que se tinha sobre os direitos e o tratamento dado aos ex-escravos no Brasil, mostrando como tal mito espalhou-se e ganhou força mundo a fora, sendo utilizado como argumento, em querelas referentes aos direitos das pessoas de ascendência africana. Schaumloeffel encerra o livro, analisando a diáspora afro-brasileira, na África, com o caso dos Tabom em Gana. Esse grupo era formado por brasileiros descendentes de africanos que decidiram, espontaneamente, imigrar para a África, bem como por outros que, após se revoltarem, foram banidos para a África Ocidental. O autor toca nas questões relativas à formação de identidade desse grupo, bem como sua organização familiar política.

O artigo de Nielson Bezerra merece destaque, por demonstrar um exercício metodológico bastante interessante, ao preencher as lacunas da vida de Baquaqua com uma perspectiva historiográfica, a fim de entender o contexto brasileiro vivido por aquele africano. É importante notar, que o foco de Bezerra é o período que Baquaqua passou no Brasil, vivendo nas províncias de Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande. Assim, esse artigo não apenas descreve a vida de Baquaqua e o que pode ser encontrado em seu relato autobiográfico, como também analisa as relações escravistas, naquelas províncias, e seu impacto na vida dos africanos escravizados.

O uso de biografias de africanos, como fonte, é algo bastante recorrente na historiografia sobre a escravidão na América do Norte. Para o caso brasileiro, entretanto, o relato de Baquaqua é, até o momento, o único encontrado. Nesse sentido, o artigo de Bezerra pode servir, também, de reflexão, para pensarmos em outras formas de analisar trajetórias de africanos e africanas no Brasil: na ausência de relatos autobiográficos, a historiografia brasileira vem reconstruindo essas histórias, a partir de diversos tipos de fontes, como registros cartoriais, policiais e eclesiásticos. Convergir essa metodologia, com a análise feita por Bezerra, pode ser um exercício metodológico interessante.

Another Black Like Me pode ser lido, então, como um bom exercício de história social. Com sólido embasamento nas fontes, todos os nove artigos apresentam perspectivas que possibilitam compreender as pessoas escravizadas e suas descendentes como sujeitos ativos, ainda que limitados, por suas condições sociais, políticas, econômicas e históricas. Além disso, é um livro que lida com a identidade dos africanos e seus descendentes, entendidos no contexto da diáspora, no interior das formações e transformações de suas identidades, entendidas no contexto da longa história do negro na América Latina.

Daniela Carvalho Cavalheiro – Doutoranda em História Social da Cultura/UNICAMP. Campinas/São Paulo/Brasil. E-mail: daniela.cavalheiro@gmail.com.


BEZERRA, Nielson Rosa; ROCHA, Elaine (Org.). Another Black Like Me: the construction of identities and solidarity in the African diaspora. Newcastle upon Tyne, UK: Cambridge Scholars Publishing, 2015. 230 p. Resenha de: CAVALHEIRO, Daniela Carvalho. Identidades em questão: escravidão, liberdade e pertencimento no mundo atlântico. Outros Tempos, São Luís, v.12, n.19, p.268-272, 2015. Acessar publicação original. [IF].

Ciudades Portuarias en la gran cuenca del Caribe – VIDAL; CARO (M-RDHAC)

VIDAL, Antonino Vidal; CARO, Jorge Enrique Elias (Editores). Ciudades Portuarias en la gran cuenca del Caribe. Resenha de: LÁZARO, Julián. Resena de: Memorias – Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe, Barranquilla, n.13 Barranquilla jul./dez. 2010.

Si bien es cierto que en la actualidad la dinámica del capitalismo ha impuesto un modelo de organización en el que las redes a escala global constituyen la esencia misma de las relaciones entre los distintos puntos del planeta, ya sean corporaciones, ciudades, regiones o países, dando con ello vida a lo que conocemos como “Globalización”, tampoco lo es menos que desde hace ya muchos siglos los hombres se han preocupado por establecer nexos entre las distintas comunidades que han conformado. En este sentido, las comunicaciones entre grupos humanos, en ocasiones muy distintos y muy distantes, han fluido a través de los diferentes entornos naturales, superando incluso las adversidades naturales a través de la organización de sus recursos, tanto materiales como humanos. En el mar, desde la antigüedad, esos notables navegantes que fueron los fenicios supieron -así como muchas otras civilizaciones que tuvieron como espacio de desarrollo al océano-, adquirir la destreza suficiente para utilizar a su favor dicho entorno. Siguiendo la senda marítima, que es la que nos interesa para efectos de esta reseña, es preciso destacar que la complejidad que adquirieron los sistemas de navegación, como consecuencia de los requerimientos también complejos de las sociedades, hicieron necesaria la implementación de una infraestructura cada vez más elaborada que correspondiera al ritmo de las actividades y exigencia de la navegación marítima.

Un componente central de la estructura general de los sistemas de navegación es el de los puertos. Para seguir con el ejemplo de la antigüedad, se pasó de la utilización de sencillas pero óptimas bahías que requerían unas condiciones mínimas (protección contra vientos desfavorables, poca profundidad para embarcaciones de poco calado, etc.) a obras de ingeniería mucho más elaboradas, como el célebre puerto de Cartago, que en su momento satisfizo de manera adecuada las necesidades de dicha potencia marítima.

Para los cartagineses el puerto encarnaba la esencia misma de su ethos, pues era el espacio a partir del cual se desarrollaba y expandía su civilización, tanto a través del mar Mediterráneo como en el Atlántico. En este mismo sentido, aunque ya mucho más adelante en el tiempo, para ser más preciso a partir del siglo XVI y en el Caribe, los puertos se convirtieron en el entorno natural de desarrollo de muchas comunidades (y también de regiones enteras), las cuales vivieron un proceso de crecimiento cultural y económico (y también, en no pocos casos, de posterior retroceso y debacle) que ha motivado el estudio y despertado el interés de numerosos investigadores desde las distintas áreas del conocimiento humanístico.

La obra que me propongo presentar de manera breve titulada Ciudades portuarias en la Gran Cuenca del Caribe: Visión histórica, que tiene como editores a dos estudiosos de los temas relacionados con la historia del Caribe, Antonino Vidal y Jorge Enrique Elias Caro, consiste en un conjunto de 17 textos elaborados por 17 autores distintos sobre diversos ámbitos de la historia de los puertos caribeños, como la economía, la cultura y la sociedad. Entre los autores que hacen sus aportes en esta obra, que incluye trabajos tanto de los puertos de Tierra Firme como de algunas Antillas están: Franklin W. Knight, Sergio Paolo Solano, Christian Cwik, Rosario Marquez y Raul Roman Romero.

Ya entrando en detalle acerca de la composición del texto en algunos de sus capítulos, es preciso señalar que inicia con el trabajo de Franklin Knigth, profesor de la John Hopkins University, titulado “La construcción social de las ciudades portuarias en las Antillas del Caribe antes de 1850”, en el que se aborda la forma como se llevó a cabo la construcción y desarrollo de las sociedades de puertos de Jamaica, Cuba, Haiti y Guadalupe, teniendo en cuenta el rol que en el ya mencionado desarrollo tuvieron ámbitos como la economía y la cultura.

Otro de los trabajos incluidos en el texto es el de Rosario Márquez, de la Universidad de Huelva, que lleva como título “La actividad cultural de los puertos del Caribe en el siglo XVIII. El caso del comercio de libros.”, en el que la autora hace una descripción de las principales características de los libros que, partiendo desde España, llegaban al Caribe, señalando por ejemplo los lugares de envío, quienes los traían y los temas que algunos de estos textos abordaban, con lo que la profesora Márquez logra trazar en líneas generales una imagen de este interesante aspecto de la historia cultural del Caribe.

Integra también la obra reseñada un trabajo de la profesora Mayabel Ranero Castro, de la Facultad de Sociología de la Universidad Veracruzana, titulado “Políticas nosológicas en dos puertos caribeños: Veracruz y La Habana”, en el cual la autora se ocupa describir y analizar los procesos médicos y sanitarios implementados en los dos puertos durante el periodo colonial, en gran parte como consecuencia de su importancia estratégica para efectos económicos y militares en el Caribe, lo que los convertía en puntos neurálgicos del sistema administrativo español con una permanente presencia de peninsulares que requerían de unas condiciones médicas y de salubridad óptimas.

Por su parte, el historiador Germán Cardozo Galue, de la Universidad del Zulia, en un capitulo de su autoría titulado “Maracaibo: génesis y desarrollo de un puerto caribeño”, hace un análisis del proceso de desarrollo que tuvo uno de los principales centros comerciales del Caribe durante gran parte del periodo colonial. La ubicación geográfica de Maracaibo, señala el autor, fue fundamental para su constitución como gran puerto a través del cual eran exportados los productos de la actividad agrícola de la “región marabina”, la cual ya antes de la llegada de los españoles había contado en sus costas con núcleos de población aborigen dedicados al intercambio, sentando un precedente para los posteriores centros urbanos erigidos por los españoles que les sirvieron para controlar económica y administrativamente el occidente venezolano.

Otro de los temas desarrollados en las páginas de Ciudades portuarias en la Gran Cuenca del Caribe: Visión histórica, es el del contrabando. El historiador Christian Cwik, en el capitulo “Curazao y Riohacha en el marco del contrabando judío (1650-1750)”, analiza el comercio ilegal llevado a cabo, entre otros, por judíos holandeses y conversos provenientes de Portugal, quienes establecieron su base principal de operaciones en la isla de Curazao, desde donde ampliaron su radio de acción por el Caribe y llevaron sus actividades comerciales hasta Riohacha, punto de penetración a territorio de la Nueva Granada.

Además de los anteriores y de acuerdo a lo que se señaló al inicio de esta breve descripción de la obra Ciudades portuarias en la Gran Cuenca del Caribe: Visión histórica, otros tantos autores se ocupan de las más diversas temáticas, entre ellos: Bernardo Díaz, de la Universidad Veracruzana, con el capitulo “El puerto de Veracruz en la mirada de viajeros extranjeros”; Mercedes García es autora de “La Real Compañía de Comercio de La Habana. Su actividad por el puerto de Carenas”; Raúl Román Romero realiza su aporte a la historia del Caribe a través del trabajo “La crisis del puerto de Cartagena de Indias: Conflictos y fracasos de sus proyectos de desarrollo (1830-1848)”; Sergio Paolo Solano lo hace con “Un problema de escala: La configuración social del puerto en las ciudades del Caribe colombiano (1850-1930)”; y Elizet Payne presenta “Inmigración y capital: familias y empresas en el puerto de Trujillo, Honduras (1890-1930)”.

El conjunto de capítulos que componen el texto presentado en esta reseña lo integran también los trabajos “El puerto de La Habana: de principal enclave del comercio indiano a cabecera de una economía de plantación”, “La conformación del circuito mercantil trasatlántico entre Cádiz, Tenerife, La Habana y Veracruz (1750-1850)” y “El puerto de Veracruz: de garganta de los reinos a circuito caribeño privilegiado”, de los autores Arturo Sorhegui (Universidad de La Habana) Abel Juárez Martínez y Feliciano García Aguirre (ambos de la Universidad Veracruzana), respectivamente.

Los editores del texto, Antonino Vidal y Jorge Elias Caro, contribuyen con dos trabajos, “Cartagena de Indias la ciudad-puerto y los hombres entre 1600 y 1650” y “El puerto de Santa Marta: determinantes de crecimiento y desarrollo de una ciudad caribeña (1818-1860).

El texto, en su parte final, presenta trabajos que se ocupan de procesos mucho más cercanos en el tiempo y que constituyen ejercicios de análisis sobre temas y problemas de actualidad: “Del mar a la montaña, de la montaña al mar: breve historia de las conexiones del puerto caribeño de Turbo, Golfo de Urabá (1831-2009)”, del profesor de la Universidad del Magdalena Juan Ricardo Gaviria, y “Los puertos del Caribe occidental: del mare nostrum al al mare clausum”, de Francisco Avella Esquivel.

Como puede apreciarse en esta descripción general del texto Ciudades portuarias en la Gran Cuenca del Caribe: Visión histórica, éste trabajo contiene una notable variedad de temas desde los cuales el lector puede acercarse a los procesos sociales, culturales y económicos de varias de las principales ciudades portuarias de la región, en un periodo de tiempo que va desde la Colonia hasta la actualidad, permitiendo apreciar, por una parte, procesos específicos de cada puerto, pero también procesos generales de la región.

Todos estos esfuerzos por estudiar una región específica, como es el Gran Caribe, a pesar de la controversia entre las diferentes posturas que aducen argumentos en contra y a favor de la existencia de la misma, resultan especialmente relevantes en el marco de la dinámica globalizadora actual que se ha encaminado hacia la formación de bloques regionales de países con intereses económicos, culturales y políticos en común. En este sentido, la comprensión de los procesos históricos es solo una parte del proceso de construcción de una identidad como región, pero una parte fundamental para consolidar un proyecto regional fuerte de cara a la competencia que desde otras latitudes se impone.

Julián Lázaro – Historiador

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Bananas: How the United Fruit Company Shaped the World – CHAPMAN (M-RDHAC)

CHAPMAN, Peter. Bananas: How the United Fruit Company Shaped the World. 2019. Resenha de: ORTEGA, Antonino Vidal. Memorias – Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe, Barranquilla, n.13 Barranquilla jul./dez. 2010.

En torno a la década de los años 60 del siglo XIX un joven ingeniero norteamericano llamado Minor Keith, destinó sus energías a la labor de construir los primeros ferrocarriles en América Central, en concreto en Costa Rica. Al desarrollar su labor intuyó la inmensa oportunidad que las selvas de este pedazo de América le ofrecían para establecer un imperio comercial y así surgió la United Fruit Company, que comenzó al lado de la línea del ferrocarril y se convirtió en un poder mundial.

La compañía construyó un imperio a partir de las bananas y como bien nos cuenta el autor del libro Peter Chapman, se la conoció bajo muchos nombres: la frutera, el Yunai, el Pulpo o sencillamente la Compañía. Entre sus prácticas mercantiles, además de su éxito capitalista, se destacó por llevar a cabo prácticas económicas de dudosa legalidad que sometía a la competencia, esquilmaba a los pequeños gobiernos de América Central y explotaba indiscriminadamente a sus trabajadores. De ahí nació la expresión República Bananera que dura hasta nuestros días y que se asocia a la idea de resaltar las deficientes gestiones políticas y económicas de un país, con el ingrediente generalizado de la corrupción y de la dependencia de alguna fuerza externa, y desde luego la connotación de una alta carga despectiva con la que se denominó a una gran parte de los países de la gran cuenca del Caribe.

A través del libro se sugiere que esta gran empresa pionera de la importación masiva sentó el precedente para la codicia institucionalizada de las multinacionales de hoy en día, que dejaron de lado toda ética, en pos del lucro y la acumulación de capital, violando sistemáticamente legislaciones y derechos en países con institucionalidad débil. Interesante y valioso trabajo que nos hace reflexionar sobre el mundo actual y sobre el pasado siglo, y la expansión norteamericana en la región del Caribe, ya que la vida de la multinacional acabó en el 1975 con el suicidio en Manhattan de Eli Black el hombre que regía los destinos de United Brands una enorme corporación que cinco años antes había apropiado de la UFC.

La United dividió el mundo Caribe en dos zonas. Una, la de los países en donde se instalaban las plantaciones; y otra, la de los que ofrecían la mano de obra. Grosso modo los primeros fueron los países de los litorales continentales y los segundos las Antillas grandes y pequeñas tierras herederas de las antiguas plantaciones esclavistas del azúcar y el tabaco. Motivo de fuertes flujos migratorios que oscurecieron racialmente los litorales del Caribe centroamericano.

A lo largo del trabajo Peter Chapman nos reconstruye las acciones de la Compañía en golpes de Estado y presiones a los gobiernos de Honduras, Guatemala, El Salvador, Panamá, Costa Rica y Colombia. También la valiosa actividad de la misma en la II Guerra Mundial e incluso la participación en la fallida invasión de Cuba en Bahía Cochinos. Todo un itinerario increíble de intervenciones políticas que en más de una ocasión llegó a incomodar al departamento de Estado. El general una radiografía de la Geopolítica del imperio y sus corporaciones en la región.

Quisiera comentar que la UFC también tuvo un fuerte protagonismo en esta parte del Caribe y que en el litoral colombiano hubo un enclave de la compañía que se hizo famoso en la historia por la mención que Gabriel García Márquez hizo en Cien años de soledad de la masacre que a finales 1928 el ejército colombiano, por orden del gobierno central, llevó a cabo en la población de Ciénaga en el departamento del Magdalena

A raíz de la novela se organizó una discusión sobre el alcance de la dicha matanza, llegando a sostener la historiografía más conservadora que todo fue un exageración de literatura y la prensa ideologizada de la época y que los muertos no fueron más de una docena, sostenido por historiadores de reconocido prestigio. Ahora, en esta historia que nos presenta Peter Chapman reconstruida desde fuentes de información anglosajonas, tenemos la certeza de lo involucrada que estuvo la compañía y de cómo influyó en el desenlace final de la huelga que de todas formas había tomado un carácter violento con la quema de algunas instalaciones de la UFC. El miedo a la revolución bolchevique justificó la intervención y no hubo medias tintas.

A pesar de ser una época de bonanza y prosperidad en el mercado bananero y la economía en general, los trabajadores realizaban su labor en unas condiciones poco dignas. La compañía desestimó todas las peticiones de los trabajadores y consideró que todo era fruto de instigaciones políticas de comunistas y anarquistas solicitando al gobierno que el ejército ocupara la zona bananera. En la noche del día 6 de diciembre en la plaza de la localidad de Ciénaga hubo una gran concentración de trabajadores para manifestar sus reivindicaciones laborales. Las tropas instalaron ametralladoras en las azoteas de varios edificios y según un telegrama enviado al Secretario de Estado del gobierno del presidente Calvin Coolidge, Frank Kellogg se decía que los militares tenían órdenes de sus altos mandos de no ahorrar munición al enfrentar a los obreros. Se abrió fuego y en una primera información se habló de cincuenta muertos. Más tarde la propia embajada de los Estados Unidos corrigió la cifra y habló de quinientos a seiscientos muertos. Sólo un soldado fue asesinado. Por último un despacho de la embajada dirigido al secretario de Estado a mediado de enero de 1929 reportaba que el número de huelguistas asesinados por el ejército colombiano excedía el millar y este último conteo provenía de la UFC (pag.104). Muchos responsables, pocas responsabilidades y total impunidad. Así podría quedar zanjada la discusión historiográfica a cerca del número de obreros masacrados.

Para concluir, el autor Peter Chapman en la actualidad escribe para Financial Time y fue durante años corresponsal en América Central y México para Latin American Letters, The Guardians y BBC. El libro tiene un ritmo rápido, está muy bien documentado y como dijo Publishers Weekly en su reseña crítica es un relato impactante y aleccionador sobre las perversidades que puedan surgir de las corporaciones superpoderosas y la globalización sin límite.

Antonino Vidal Ortega – Universidad del Norte

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Conexões Afro-Atlânticas – Caribe Literatura Pós-colonial / Revista Brasileira do Caribe / 2009

A Revista Brasileira do Caribe alcança sua maturidade com uma alta qualidade nos autores e artigos selecionados. Os artigos têm sido reunidos neste vol. IX, nº 18 na forma de dossiê, também temos incorporado ao sumário a divisão por seções, ficando os artigos agrupados em uma delas. As instruções para o envio dos artigos têm sido colocadas ao final do fascículo assim como os dados dos autores, como constam no sumário. A possibilidade do contato fica garantida porque além do e-mail dos autores está indicada a instituição onde este labora.

Alguns especialistas que vêm participando da revista e dos simpósios internacionais do Caribe foram incorporados ao seu Comitê Editorial para garantir a abrangência geográfica e institucional desta.

Dentre os colaboradores da revista e dos simpósios do Caribe, temos convidado ao conselho editorial dois novos especialistas de currículo expressivo: Stephen Baines, UnB, estuda as problemáticas das fronteiras do Brasil com o Caribe e Maria Antonieta Antonacci, PUC-SP, coordena um grupo de pesquisa sobre a diáspora africana.

O Conselho Consultivo da revista está representado por autores de diversas partes do Caribe, México, Espanha, Escócia (UK), Estados Unidos e Brasil. Temos incorporado também consultores Ad Hoc. O Conselho Editorial tem buscado seu aperfeiçoamento com especialistas que participem ativamente na realização da revista. Por enquanto, temos introduzido a experiência de convidar editores, especialistas em determinada temática, para a organização de dossiês.

Para a divulgação da revista entre nossos pares brasileiros e estrangeiros, um novo site foi criado, com um novo provedor para melhor acesso: www.revistabrasileiradocaribe.org. Todos os números da revista encontram-se digitalizados e disponíveis para consulta neste site. Já temos incluído em inglês, português, espanhol e francês as instruções para publicação dos artigos assim como a missão da revista.

O perfil da Revista Brasileira do Caribe não se corresponde com as visões tradicionais geopolíticas criadas pelos impérios coloniais. Nossa interpretação apóia-se na presença das culturas negras no Caribe e no estudo das relações, interconexões, comparações e perspectivas ocasionados pela Diáspora Africana que afetou o Brasil e outras regiões da América, a Afro-América, a Neo América ou o Caribe.

O presente fascículo da Revista Brasileira do Caribe agrupou os artigos num dossiê sob o título: Conexões Afro-Atlânticas/Caribe Literatura Pós-colonial. A primeira parte do dossiê está integrada por sete artigos que aludem às conexões Afro-Atlânticas entre países, expressões culturais, performances, etc. O primeiro dos artigos dessa primeira parte, “La construcción de una identidad imaginada: El Caribe” de Luis A. Várguez Pasos, aborda a diversidade e a riqueza cultural que fica escurecida sob os estereótipos gerados pela propaganda turística sobre o Caribe. O segundo e terceiro artigos, de Milton Moura, “Notas sobre a presença da música caribenha em Salvador, Bahia” e de Yukio Agerkop, “Fronteiras e movimento cultural entre o Caribe e Salvador: o samba-reggae, o merengue e o reggae”, desde perspectivas diferentes, estudam a penetração da música caribenha em Salvador. O primeiro autor apóia-se na historicidade dessas influências e o segundo, musicólogo, exprime sua divergência das versões dos criadores de Salvador e afirma a presença da música caribenha nas composições musicais da cidade.

Outros três artigos focalizam o estudo do Reggae, dos Rastafaris e de seus símbolos. Leonardo Alvares Vidigal no artigo “A Jamaica é aqui”: relações entre música e território no audiovisual” analisa em um documentário os vínculos de Maranhão com uma Jamaica recriada popularmente, Maristane Sousa Rosa em “Repensar a História: Visual dreadlocks” apresenta a revitalização de símbolos africanos na cultura Rastafari, no entanto, Donna Hope no artigo “Eu venho para ocupar o meu lugar” mostra como os discursos contemporâneos rastafaris na cultura popular jamaicana são veiculados pelos símbolos da masculinidade. Por último “ Direitos de autor e o comércio musical em Jamaica – Proteção para quem?” de Denis Howard fecha esta primeira parte do dossiê com um tema pouco abordado como é o dos direitos autorais e os ocultos interesses, nestes, das potencias coloniais.

A segunda parte do dossiê Caribe Literatura Pós-colonial outorga visibilidade e historicidade ao “outro” mediante a criação de novas relações. No artigo de Renaud Malavialle, “Historia y cuerpo en El siglo de las luces de Alejo Carpentier, o cómo combatir el esencialismo”, tem a originalidade de apresentar com novas luzes o problema dos contatos e relações do branco com o negro. A partir das reações e sensações dos corpos, no conhecido romance, El siglo de las luces, o autor estuda a presença e persistência de estereótipos paralisantes no encontro dos corpos separados pela racialidade. Mas, esse encontro da branca Sofia com o médico negro Ogé, durante a doença do primo daquela, revela também que serão nos corpos onde poderão acontecer os processos da libertação de preconceitos.

Adlai Murdoch em “Trazando Africa en Jamaica: Etnicidade, gênero e identidade pós-colonial” na magnífica interpretação do romance Abeng de Clift aborda as conexões entre história e literatura no paralelismo entre os caminhos seguidos pela protagonista mestiça na busca de sua problemática identidade racial entre África e Europa e o complexo processo identitário jamaicano. O violento processo de auto afirmação também como mulher traça uma ativa apropriação em uma sugestiva rede da interação de influências multiculturais que impactam seu potencial pessoal como agente político. Por outra parte, “Pós-colonialidade e Resistência no romance de Earl Lovelace The Wine of Astonishment e The Dragon Can’t Dance” por Mawuena Logan, oferece uma visão diferente das reducionistas colonialistas. Os sujeitos “outros” caribenhos emergem como protagonistas ficcionais, cujas ações ficam ancoradas na sua própria história. E por último, para fechar a seção de artigos, Françoise Cévaër em “Enfrentando a irracionalidade no romance policial da África e nas Américas” estabelece um paralelo entre o destino histórico dos povos do Sul, brasileiros, caribenhos e africanos utilizando a irracionalidade como conceito que permite a interpretação da literatura policial mediante uma aproximação histórica aos contextos.

Convidamos à leitura.

Olga Cabrera


CABRERA, Olga. Conexões Afro-Atlânticas/Caribe Literatura Pós-colonial. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.9, n.19, p.331-334, jan./jun. 2009. Acessar publicação original . [IF].

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Tan lejos de Dios… Ensayos sobre las relaciones del Caribe con Estados Unidos | Antonio Gaztambide-Géigel

Tan Lejos de Dios… é o instigante título do livro de Antônio Gaztambide, uma co-edição, lançada simultaneamente (2006) em Porto Rico e Cuba. O historiador, no prefácio, completa a expressão que dá nome ao conjunto de ensaios: “Tan lejos de Dios… y tan cerca de los Estados Unidos”.

A anedota política tem origem mexicana, onde era precedida de um lamento: “Pobre México…”. Difundida em outras sociedades, a expressão reflete a experiência caribenha em sua dimensão de região. A proximidade com o poderoso vizinho tem influência na dinâmica de identidades e trocas regionais, fato diretamente relacionado às definições de Caribe. Reside aí a maior originalidade da abordagem, pensar o Caribe como categoria histórica. O livro se desdobra, então, num duplo movimento, investigar as políticas norteamericanas para a região no contexto das contradições internas àquele país, e, desde um lugar de fala demarcado, nuestra región, nela descortinar relações políticas e simbólicas, com ênfase no século passado. Tarefa cumprida com a autoridade de quem, como educador e pesquisador acostumado a construir pontes entre insularidades, conhece muito bem aquelas águas.

O primeiro ensaio, “A invenção do Caribe a partir de 1898”, nos remete à questão das concepções colonialistas, desde afuera, mas também à apropriação e redefinição conduzida regionalmente, desde adentro. A invenção tardia do Caribe seria resultado de arrafjos naquela “fronteira imperial”, que culminaram na hegemonia estadunidense. Não que a palavra fosse nova, havia sido empregada já por Colombo, para distinguir etnias que ‘resistiam à conquista’ e depois por ingleses (caribby). Porém, Antilhas e West Indies eram as designações mais comuns em diferentes concepções da região até o século XX. A partir daí emerge o signo Caribe e, no sentido de suas múltiplas definições, é que Gaztambide nos sugere pensar em muchos Caribes.

Duas tendências são discutidas no viés geopolítico. A primeira marca o período da intervenção militar norte-americana, iniciada com a ocupação de Cuba, ao fim da “Guerra Cubano-Hispano-Estadunidense” (p. 214) e com a anexação de Porto Rico. Este Caribe, aceito por boa parte da historiografia, reunia a princípio as Antilhas (quatro ilhas maiores) e o continente, de Belize ao Panamá, e, depois de 1945, todo o Caribe insular. A outra tendência propõe pensar um Grande Caribe, com a presença de México, Colômbia, Venezuela, originada em parte por interesses intrarregionais, mas também desde afuera, como ilustra a “contra-ofensiva” dos EUA sobre a Cuenca del Caribe. De maior complexidade são as definições menos territorializadas, o Caribe “etnohistórico” e o “cultural”. Trata-se de relações entre as Antilhas, sobretudo as hispanófonas (Cuba, República Dominicana e Porto Rico) e as repúblicas das West Indies, antes colônias inglesas, neerlandesas ou francesas, sempre associadas às Guianas e a Belize. No interior de cada um desses universos e entre eles, a afirmação de uma identidade caribenha permanece coftroversa: basta indicar que para uma dúzia de tarritórios a descolonização sequer se completou.

Os ensaios “A geopolítica do antilhanismo de fins do século XIX” e “Identidades internacionais e cooperação regional no Caribe” ampliam o debate anterior, sem perder de vista que as palavras “estão carregadas de histórias e, portanto, de ideologias e discursos, de imaginários”. Somos apresentados ao pensamento republicano e antilhanista de Ramón Betances e Eugenio Hostos, nascidos em Porto Rico, e às idéias do poeta e revolucionário cubano José Martí; ambos lutaram pela emancipação de Porto Rico e de Cuba. A proposta de Confederación de las Antillas surgiria em manifesto pioneiro de Betances, de 1867, logo partilhada, com nuanças, por Hostos. De um antilhanismo concebido para Cuba, República Dominicana, Porto Rico e Haiti, caminhava-se para a categoria Hispano-América; tendiam a excluir o Brasil, uma monarquia escravista. José Martí propõe uma categoria particular, Nuestra América. Ele postula, a partir da rejeição de modelos sociais e raciais derivados das metrópoles, a independência política e econômica diante da Europa e dos Estados Unidos. Mais tarde, Martí teria uma práxis mais antilhanista, com a fundação do Partido Revolucionário Cubano, em 1892.

As relações internacionais entre Estados Unidos e Caribe são o tema dos demais ensaios. Gaztambide defende uma história internacional que transcenda os espaços governamentais e a diplomacia, incluindo “classes, interesses e grupos culturais e étnicos” que atravessam as fronteiras nacionais.

O terceiro e o quarto estudo situam essas relações a partir da irrupção dos EUA como potência colonial ultramarina no fim do século XIX, passando pela(s) Política(s) de Boa Vizinhança, até 1945. As resistências internas não conseguiriam impedir a ambigüidade de um discurso anticolonial acompanhado de freqüentes agressões aos países vizinhos, tais como as intervenções no Haiti (1915) e na República Dominicana (1916). A luta pelo poder econômico e político sobre o Caribe continuaria mesmo sob a face da Buena Vecindad. Poucos “tratados de reciprocidade” repercutiram, de fato, nas economias do Caribe, mas o governo de Roosevelt, a partir da entrada na segunda grande guerra, ampliou a cooperação cultural e militar, “aparentando apoiar um sistema formal de Estados iguais” (p. 127).

“Hacia una historia social de las relaciones latinoamericanas” e “Estados Unidos, la idea de desarrollo y el Gran Caribe”, por sua vez, são parte, como se anuncia, de um próximo livro: “Camino al Desarrollismo”. Constituem uma análise profunda dos embates no interior da elite que conduz a política exterior norte-americana, e da transição para o imperialismo hegemônico.

Os confrontos entre corporações predominantemente nacionais, de um lado, e a burguesia internacional do Nordeste dos EUA, mais voltada para as articulações multinacionais, de outro, refletiam posições diferentes quanto à industrialização do continente. Nessa época, vemos surgir a política do “Bom Sócio”, nome genérico que se dá a vários ajustes a partir da Guerra Fria, marcada pelo combate ao desenvolvimento independente e ao comunismo, que implicaram ora em intervenções abertas, ora em apoio encoberto a regimes ditatoriais. Também surgem iniciativas no sentido de construir um modelo de desenvolvimento periférico. O autor destaca aí a trajetória da Comissão Econômica para América Latina (CEPAL), criada em 1948. O segundo livro de Gaztambide, certamente, trará análises ainda mais valiosas sobre esses fenômenos, centrais para uma história contemporânea do Caribe.

Trata-se, por tudo isso, de leitura proveitosa para os estudiosos das relações internacionais e da história caribenha. Os historiadores brasileiros, mais acostumados a olhar o Caribe desde o Brasil,1 provavelmente sentirão falta da presença brasileira no cenário das relações internacionais abordado pelo autor. Particularmente, na discussão sobre o Caribe cultural, baseada na concepção de Charles Wagley de esferas culturais americanas. Uma dessas esferas, relativa às heranças da empresa açucareira escravista (plantation), em que se inclui o Brasil, é adotada no livro para fundamentar a definição do Caribe como “Afro-América”. Embora outros autores pensem o Caribe nessa dimensão ampliada, Gaztambide enfatiza que seu entendimento do Caribe cultural é como “Afro-América Central”: ao sul dos Estados Unidos e ao norte do Brasil, “porém sem incluí-los” (p. 53). A pesquisa histórica, de outro modo, vem revelando, cada vez mais, os “matizes caribenhos” (cf.Maria T. Negrão de Mello) de realidades brasileiras, no passado e no presente.

A perspectiva cultural será enriquecida, como penso, quando integrar o Brasil na compreensão desses muchos Caribes. Afinal, Tan lejos de Dios nos alerta para a impossibilidade de uma definição inequívoca de Caribe. O mais importante para fazer avançar o debate será o esclarecimento, em cada contexto, de que Caribe se está falando e por quê.

Notas

1 Refiro-me, especialmente, aos inúmeros diálogos entre o Brasil e o Caribe presentes em alguns livros recentes e na Revista Brasileira do Caribe, organizados pelo Centro de Estudos do Caribe no Brasil, com a participação de pesquisadores como Olga Cabrera, Jaime de Almeida e Maria T. Negrão de Mello, entre outros.

Alex de Oliveira – Doutorando do PPGHIS/UnB.


GAZTAMBIDE-GÉIGEL, Antonio. Tan lejos de Dios… Ensayos sobre las relaciones del Caribe con Estados Unidos. San Juan: Ediciones Callejón; La Habana: Centro de Investigación y Desarrollo de la Cultura Cubana Juan Marinello, 2006. Resenha de: OLIVEIRA, Alex de. Tan lejos de Dios. Textos de História, Brasília, v.16, n.1, p.189-192, 2008. Acessar publicação original. [IF]

Tan lejos de Dios… Ensayos sobre las relaciones del Caribe con Estados Unidos | Antonio Gaztambide-Geigel

Ao nomear ensaios aparentemente dispersos sob o título de um dito popular, ainda mais estando este incompleto, uma idéia de unidade se entrelaça com o omitido e suspenso pelas reticências: “… e tão perto dos Estados Unidos”. A invocação de um dito popular não se dá de forma gratuita, dela decorre um sentido que expressa a novidade deste trabalho. Mesmo o dito sendo de origem mexicana, como Gaztambide-Geigel faz questão de ressaltar, este dito expressa uma condição de existência comum a países do continente meso e sul americano: a proximidade física em relação aos Estados Unidos, potência esta que teve uma sobressalente mudança hierárquica no cenário econômico mundial, na qual se elevara ao avatar de maior poderio atual. E a novidade deste trabalho é justamente se adentrar no conjunto de relações que presidiram o processo de emergência da potência norte americana em relação aos vizinhos do sul, particularmente os antilhanos. A atualidade do dito faz-se clara.

Seu sentido coloca em xeque o paradoxo implicado na bandeira política norte americana: um imperialismo salvífico quase natural que na prática é muito distante disso—a recente investida democrática em terras iraquianas é exemplo atual de peso. Além levar este paradoxo acerca da política americana com meticulosidade, e se servir de um avantajado corpo material, a apresentação do presente trabalho se releva não só entre os pesquisadores caribenhos, radicados no Brasil ou não, como também para interessados no tema da “identidade” na contemporaneidade.

É certo que as discussões identitárias provêem de pesquisas inscritas metodicamente no campo dos estudos culturais. Entretanto, o conceito de identidade não deixou de se atravessar por objetos os mais distintos, oriundos de outros campos de saber. De modo que tal temática fora incorporada nas ciências humanas, em geral, história, antropologia, sociologia, geografia e mesmo, a filosofia. O que atesta seu estatuto de relevante acontecimento no pensamento das ditas “ciências humanas”. Todavia, seria uma ingenuidade supor que seus métodos permaneceriam os mesmos submetidos a objetos tão singulares. Hoje oferece tal diversidade, que consuma ainda mais o seu valor analítico. São muitas as perspectivas de utilização.

E, apoiado em uma massa documentária de fôlego e decorrente de vários anos de pesquisa, Gaztambide-Geigel abordou tal temática numa dimensão bem delimitada. Seu problema foi como se construiu o termo Caribe em relação à política internacional norteamericana para os vizinhos antilhanos. Desse modo, se se pode falar de um tema central coordenador dos setes ensaios constituintes da presente coletânea, este sem dúvida é o jogo implícito em vista das circunstâncias pelas quais se forma o conceito Caribe, ou melhor, se formam as identidades postas em jogo ao evocar os Caribes.

No primeiro ensaio, “La invención del Caribe a partir de 1898”, submete o termo Caribe à sua análise historiográfica. Situa seu caráter enquanto invenção. Desse modo, tomado como invenção, o Caribe não é um objeto fixo e estático, que bastaria ao historiador expor suas formas e conteúdos, e sim um objeto inventado, que não cessa de se recriar e reiterar-se. E ao inquirir quanto às relações políticas embutidas no momento de sua construção, busca-se ver justamente as circunstâncias em jogo no momento de sua criação, as contingências e encontros que marcaram sua emergência.

O que o jogo em torno da criação do termo Caribe revela é que não há um Caribe, pronto e acabado, e sim como houve, e há, vários Caribes de maneira que, em cada situação histórica em que é invocado, o termo não se refere às mesmas coisas, não falam dos mesmos objetos. Em vista disso, o autor propôs uma historicização do termo, e pôde ver suas diversas usagens mediante as situações próprias e específicas à história antilhana: de um arquipélago atlântico fragmentado submisso à metrópoles coloniais ao “Gran Caribe” em vias de emancipação cultural, foram decorridas enunciações bem diversas para o conceito “caribe”.

Por conseguinte, Gaztambide cunhou quatro momentos que são decisivos para a significação do termo caribe, do final do século XIX aos dias atuais: o caribe insular, o caribe geopolítico, o Gran Caribe ou Cuenca del Caribe e o caribe cultural.

No segundo ensaio, “La geopolítica del antillanismo de fines del siglo XIX”, procura-se destacar as forças motrizes do latinoamericanismo, sob as luzes antilhanas. Mostra como, por volta da metade do século XIX, começa-se a convergir às idéias de hispanoamericanismo e de latinoamericanismo, numa engrenagem à qual as Antilhas estariam em função otimizada, dado sua localização estratégica em relação ao mercado mundial internacional. Assim, as Antilhas espanholas, Cuba, Porto Rico e República Dominicana, encabeçariam o sonho da “nuestra América”. Situação que muda, já na década de 90 deste mesmo século, diante da ameaça imperial norteamericana.

Gaztambide avalia as idéias antilhanas a partir de figuras históricas inseridas no redemoinho hispanoamericano e antilhano: Marti, Hostos e Betonces. Personagens que dedicaram à luta emancipatória dos territórios coloniais da metrópole espanhola.

Mesmo que uma primeira onda de independência arrebatara o continente décadas antes, persistia uma colonialidade já dita como “cultural” e combatida pelos libertários antilhanos. O papel deles expressam um movimento, cujo sentido atravessaria a história latinoamericana. E a emancipação devia ser alçada nem tanto em relação aos velhos impérios europeus, bem como devia ser buscada em vista da potência emergente: a República norte americana. A política imperial desta potência emergente aos fins do século XIX, que a partir da compra da Lousiana começou a deferir ações com finalidade de expandir sua soberania, estava constituída às voltas de ambigüidades visíveis. E a emergência dos Estados Unidos, como defende Gaztambide, foi fator de grande determinação no caso de invenção do Caribe, já que é das ambigüidades geradas no interior da política imperial americana a razão das variações acerca deste processo de invenção.

E explorar as ambigüidades por detrás das políticas internacionais norte americana é o tema central do terceiro ensaio: “El imperio ‘bueno’ del 98”. Pois ao mesmo tempo em que o final do século XIX foi marcado por projetos políticos de cunho expansionista, encontrava-se também mostras de uma ação não imperialista, defendida como verdadeira representante do ideal republicano. São ambigüidades deste tipo que se alocam no cerne da campanha norte americana rumo à ascensão econômica e que foi aplicada aos vizinhos do Sul, continentais e antilhanos. O conceito de ambigüidade, como atributo qualitativo da política externa norte americana, marca de maneira decisiva a postura específica de seu imperialismo.

Em “La Buena vencidad y populismo”, como o título mesmo diz, trata das relações da política internacional norte americana, posta em prática no terço inicial do século XX e alterada com o término da Segunda Guerra Mundial, com a práxis política do populismo. Ressaltando a particularidade do populismo caribenho, seguindo assim o exemplo do populismo de Porto Rico, este ensaio propõe a hipótese de como os efeitos da política de boa vizinhança fizeram valer no modo de organização interno dos países atingidos por tal postura ambígua.

Entretanto, passada a Segunda Guerra Mundial e com a efetivação do poderio norte americano, a política da boa vizinhança cede lugar à política do bom sócio. Essa transição é o tema dos ensaios “Hacia uma historia social de las relaciones interamericanas: El camino del desarrollismo: 1946-1960” e “Estados Unidos, la idea del desarrolismo y el Caribe: Los orígenes”. A política do bom sócio nada mais é que a adaptação da política externa norte americana no momento em que esta nação acede ao topo econômico da economia mundial. O projeto desenvolvimentista que esta política visa suplantar nos sócios do sul adapta-os aos moldes do capitalismo mundial integrado sob a égide do desenvolvimento econômico, ajustando de forma a assegurar ainda mais a supremacia americana.

O tema do ultimo ensaio, “Identidades internacionales y cooperación regional en el Caribe”, é o modo como a política do bom sócio criou um imaginário internacional que abaixo suas variações locais possibilitou a criação de identidades multiculturais, o Gran Caribe e o latinoamericano.

Desse modo o que o trajeto destes ensaios evidenciam é como as políticas internacionais não são exercidas de forma aleatória, e sim são efeitos da historicidade que perpassam as formações históricas. E também que não é simplesmente a modulação dos estratos interiores de uma sociedade por um fora, e sim o que se dá é um complexo jogo no qual relações de forças heterogêneas se interagem incessantemente.

Leonardo de Melo Rodrigues


GAZTAMBIDE-GEIGEL, Antonio. Tan lejos de Dios… Ensayos sobre las relaciones del Caribe con Estados Unidos. San Ruan: Edicines Callejón, Porto Rico; 2006. 242 p. Resenha de: RODRIGUES, Leonardo Melo Rodrigues. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.8, n.15, p.283-287, 2007. Acessar publicação original. [IF].

 

Représentations des Noir(e)s dans les pratiques discursives et culturelles em Caraïbes | Victorien Lavou Zoungbo

A obra Représentations des Noir(e)s dans les pratiques discursives et culturelles en Caraïbes editado por Victorien Lavou Zoungbo, Coordenador do Grupo de Etudes sur lês Noirs d´Amérique Latine (GRENAL), editada no ano de 2006 em Perpignan, France, reúne vários autores com artigos sobre os negros como sujeitos históricos em Cuba, Costa Rica, Colômbia, México, Argentina e Brasil. No prólogo o editor destaca as dificuldades para escrever sobre representações negras quando existem estereótipos, ideologias que dominam esses discursos. A análise dos autores que trabalham com a temática passa pela desconstrução dos discursos, transformando-se em um complicador para o especialista.

Nos primeiros quatro artigos da coletânea, três desenvolvem suas idéias em torno ao conceito transculturação de Fernando Ortiz.

A cubana Nancy Morejón defende a atualidade do conceito em “Para una poética de los altares”, no entanto, este é criticado pelas autoras Danielle Ada Ondo em “De la transculturation dans Paradiso de José Lezama Lima et dans Lês três tristes tigres de Guillermo Cabrera Infante” e Amandine Semat em: ”Identities dans la Caraïbe, transculturation et creolisation: Points de repére”. Apoiados nos ensaios e conceitos de Edouard Glissant, as autoras assinalam o caráter fixo do conceito transculturação e sua familiaridade com um outro conceito muito criticado na obra, mestiçagem.

Este último tem servido para ocultar a historicidade do negro e também para mascarar as teorias do branqueamento, O artigo de Victorien Lavou Zoungbo, ”Représentations identitaires e creolisation en Caraïbe” questiona as construções do Caribe pelos latinoamericanistas brancos que procuram ocultar a presença histórica do negro. Destaca o conceito crioulização face a mestiçagem e crioulidade. Para o autor este conceito permite estudar a relação afastando-se dos enfoques generalizantes e extremos, tanto o da latinidade quanto o da negritude. Faltou, porém, explicitar melhor esta questão tão debatida e que resulta de grande interesse para o Brasil, cuja identidade caribenha é reconhecida por todos os autores do volume. A neo América, sustantivo utilizado por Glissant, é a Afro América ou o Caribe, que abrange Brasil, as Guianas, Colômbia, Venezuela, uma grande parte de América Central e de México, sul de Estados Unidos, além das ilhas.

Cinco artigos estudam o espaço do negro em Costa Rica: “Sur le ritme d´ un calypso, analyse du roman Calypso de la costariciense Tatiana Lobo (1996)” de Brigitte Robert; “Manuels scolaires de lecture au Costa Rica: pratiques et enjeux de la représentation dês Noir(e)s”, de Marlene Marty; “Los cuatro espejos de Quince Duncan et Limon blues d´Ana Cristina Rossi ou une double recherche identitaire dês noirs constariciens” de Mariannick Guennec; “Medición com referencia a normas: declaracion pública de un naufrágio educativo” de Lady Meléndez Rodríguez e “Limon blues: Uma novela de Ana Cristina Rossi” de Iván Molina Jiménez. Todos estes artigos recriam a ausência dos negros de Limón, Costa Rica, na literatura e ne historiografia. Alguns estudam o papel da educação formal no processo de estigmatização, na marginalização e na reprodução da pobreza nestas comunidades caribenhas. Mais grave ainda, é a submissão destas populações à violência simbólica imposta pelo estado através da educação formal. Não é aceita pela escola pública a língua creole materna e que é a única usada para a comunicação nas comunidades negras de Limón. Outros autores estudam através de alguns romances históricos, a situação de exclusão dos negros, carentes de direitos cidadãos. Outro aspecto contido nos estudos citados é a invisibilidade a que ficam submetidos os povos que morão na região quando apenas se estuda a geografia da costa Atlântica de Costa Rica nos textos escolares.

Outros dois artigos estudam o Haiti desde visões diferentes.

O primeiro de Sabine Manigat “Se nommer, se qualificar-affirmation et alienation dans parler em Haiti une lecture historique” e ‘Le noir haitien dans la societé dominicain: l´exemplo da “Corte” de Milka Valentin-Humbert. Os conceitos negro e haitiano, segundo as autoras, têm servido de mola unificadora e de agente de ocultação da diferenciação no Haití. As definições em base a cor da pele, no Haiti, são eminentemente políticas porque marcaram as representações sociais. As imagens e a linguagem traduzem também a imagem auto-degradante que os discursos nascidos no Haiti, durante a luta pela independência, tentaram destruir. Essas permanências estão relacionadas às representações degradantes do negro, criadas no vizinho país, vinculando raça e nação. Os dominicanos negam qualquer herança africana na sua formação. Por sua parte, o trabalhador haitiano internalizou que o fenótipo predispõe a exploração, sem atender à presença de profundas diferenças sociais entre os haitianos, sejam de uma ou outra cor.

Juliette Smeralda em “L´interculturalidade comme strategia d´ascension sócio racial: l´exemplo du choix de partenaire féminin de l´homme noir” relaciona a criação das construções da inferioridade do negro ao colonialismo A presença das culturas afros em dois carnavais o de Barranquilla (Colômbia) e o de Salvador (Brasil) evocam os quilombos e a religiosidade, segundo as autoras Martha Lizcano e Joseania de Freitas no artigo “Afro carnaval no Caribe: Barranquilla (Colombia) e Salvador (Brasil)”; Rafael Perechalá Alumá no artigo “La salsa: síntesis de la música afroamericana” resgata a afroamericanidade do ritmo e atribui sua decadência aos controles exercidos por alguns grupos no exílio cubano. Em “Afromexicanité: quelques pieste pour une nouvelle lecture dês identités au Méxique” Sébastien Lefevre se utiliza do conceito traços-memória de Glissant para abordar a presença afro nas comunidades de Costa Chica no México. Entretando, o autor rejeita a idéia de um novo resultado, uma outra cultura, a mestiça responsável da invisibilidade das culturas afros. A leitura do romance “El interprete: sous lê signe du blanc et du noir” permite a Maryse Renaud-Mai penetrar no estudo das relações raciais na Argentina do século XIX e da herança negra que vislumbra-se não apenas no tango. A peculiaridade da discriminação racial no Brasil é estudada no artigo “Violência racial a subjetividade em discussão” de Nara Corte Andrade e Marcus Vinicius de Oliveira Silva.

E por último a maneira de épilogo, uma argumentada crítica ao antropólogo cubano Fernando Ortiz e ao seu conceito culinário ajiaco é desenvolvida por Victorien Lavou Zoungbo no artigo “Metaphore culinaire et discours sur l’ìdentité em Caraibe, um ethnocentrisme naturalisé. Lê cãs de F Ortiz à Cuba. Um état de la reflexion du GRENAL (instituição que agrupa a estudiosos sobre a temática afro americana.).

A obra no seu conjunto é de indispensável consulta para os estudiosos das temáticas afroamericanas.

Olga Cabrera


LAVOU ZOUNGBO, Victorien. (Ed.) Représentations des Noir(e)s dans les pratiques discursives et culturelles em Caraïbes. Perpignan: GRILAUP – Presses Universitaires de Perpingan, 2006. Resenha de: CABRERA, Olga. Revista Brasileira do Caribe, São Luís, v.7, n.13, jul./dez., p.289-292, 2006. Acessar publicação original. [IF]

Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe | Gilberto Hochman e Diego Armus

O livro Cuidar, controlar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe, formado de 14 capítulos, é apresentado e introduzido por textos de seus organizadores. Segundo Gilberto Hochmann – pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz (Brasil) – e Diego Armus – professor do Swarthmore College (EUA), a idéia inicial que motivou a organização da coletânea ora apresentada era oferecer ao leitor brasileiro uma obra que instigasse à reflexão “sobre as relações entre saúde, doença e sociedade na América Latina em perspectiva histórica, espelhando o estado da arte neste campo emergente e constituindo uma referência, e mesmo um livro-texto para profissionais, professores e estudantes das áreas de história, saúde coletiva, medicina, ciências sociais e humanidades em geral” (p.09). Porém, a coletânea apresentada certamente extrapolará os objetivos territoriais de seus organizadores, na medida em que traz informações e reflexões importantes para todos aqueles que, de um modo ou de outro e independentemente da nacionalidade, estão envolvidos com o campo temático, especialmente se for levado em conta que o livro contém textos já publicados – alguns dos quais já consagrados como referências, tanto no Brasil quando no exterior –, adaptados ou atualizados, e textos inéditos, encomendados especialmente para esta publicação. Leia Mais