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Capitais sonhadas, capitais abandonadas / História (Unesp) / 2011
A revista História (São Paulo), periódico sob a responsabilidade dos Cursos e da Pós-graduação em História, da Unesp de Assis e de Franca, neste volume 30, número 1, do primeiro semestre de 2011, traz para os leitores da infovia, significativo conjunto de 20 textos, no formato de artigos e resenhas, de autores da França, Canadá, Chile, Colombia e do Brasil que debateram temas inovadores e instigantes que certamente propiciarão aportes importantes para novas pesquisas.
O dossiê organizado, a convite, por Laurent Vidal, de L’Université de la Rochelle, agrega 11 textos de intelectuais que discutem, sob diferentes enfoques, o tema “capitais sonhadas, capitais abandonadas” – de Províncias, Estados e países. Os autores exploraram as estratégias e disputas presentes em diversos níveis, para fixar e garantir a legitimidade de certas escolhas na criação de capitais e no abandono de outras, ora justificadas pela importância econômica e de localização desses espaços, destinados a assumir funções administrativas, ora por suas dimensões simbólicas. A instalação ou abandono dessas capitais se constitui em momentos únicos, nem sempre consensuais, por seus atributos de “representação” do poder e de lugar que requer legitimação decorrente dessa própria especificidade. As justificativas para esses deslocamentos e pretensões oscilaram entre a “afirmação e a ruptura de tradições”, em nome de grupos no poder ou daqueles que almejavam a fixação da memória de suas próprias experiências ou de seus descendentes. Essas situações foram vivenciadas nos Estados Unidos, Canadá e Brasil de forma recorrente. Mas, independente de suas especificidades históricas e das diferenças, existem elementos comuns que unificam a temática.
Já os textos aglutinados na sessão “Artigos”, trazem significativas contribuições de intelectuais do Chile, Colombia / Texas (EUA) e Brasil que analisaram experiências de ocupação colonial nas Américas como foi o caso dos franceses em Cuba, com suas contribuições técnicas na fabricação de embarcações cujo modelo, – por sua forma unitária e centralizadora, por oposição à forma dispersiva da tática espanhola – constituiu-se em diferencial para a continuidade dos espanhóis na região. Outro aporte de significativa relevância evidencia-se no texto seguinte, que analisou o papel das instituições científicas inglesas que formularam teorias “científicas” posteriormente usadas para justificar e legitimar políticas imperialistas de submissão do outro, ao seu domínio.
Deslocando-se para os textos de autores brasileiros, vários assuntos foram tratados, como por exemplo, dimensões da história da historiografia presente nas reflexões sobre o livro de Richard White, The Middle Ground e a (re)escrita da história da América do Norte Colonial, situando sua importância no contexto de renovação historiográfica norte-americana do final dos anos 1970, que redefiniu a compreensão das relações entre índios e brancos no período colonial, ao evidenciar importantes trocas e negociações entre esses protagonistas, do período colonial às primeiras décadas da República; as práticas econômicas sobre o fenômeno do tropeirismo oitocentista das Minas Gerais, a partir de narrativas dos viajantes estrangeiros que, na perspectiva dos autores, ajudaram a compreender certos sentidos sociais e culturais de suas atividades que atravessaram o tempo e chegaram ao século XX; o debate historiográfico sobre a etno-história enquanto campo conceitual; a retórica da imagem memorialística de evento político ocorrido em São Paulo, em 1932, nomeado de “Revolução Constitucionalista” que foi discutida a partir da produção imagética veiculada durante a sublevação, cujas marcas e tensões perpassam, também, a historiografia e, segundo o autor, ela apareceu cindida em posições mais críticas ou aclamativas, reproduzindo, de certo modo, as polêmicas nascidas no próprio confronto; e a memória escolar, no Sul do país, expressa em imagens fotográficas.
Este número de História (São Paulo) contempla ainda resenhas, cujos focos foram o último dia de uma capital – o Rio de Janeiro – e a caricatura no México, que teve papel significativo de fustigação e confronto com governos ditatoriais que encarceravam os seus opositores e cercearam a liberdade de expressão. Apesar de constantemente impedidos de se expressar, os caricaturistas, com sua teimosia, conseguiram romper o cerco e constituíram esfera pública própria utilizando-se de elementos simbólicos específicos, para questionar os abusos do poder. O mote dessa crítica foi à figura dos Presidentes (e sua cadeira), com o objetivo de estilhaçar as barreiras dos interditos.
Os editores entendem que essas pesquisas de intelectuais de reconhecida experiência, do exterior e do Brasil, certamente, propiciarão aos leitores momentos singulares de reflexões e conhecimentos. Cabe, ainda, um agradecimento especial ao editor do dossiê, pelo entusiasmo e dedicação com que se entregou ao projeto proposto.
Assis, 30 junho de 2011
Zélia Lopes da SILVA – UNESP- Campus de Assis / SP-Brasil
Marcia Pereira da SILVA – UNESP- Campus de Franca / SP-Brasil
Editores
SILVA, Márcia Pereira da; SILVA, Zélia Lopes da. Apresentação. História (São Paulo), Franca, v.30, n.1, 2011. Acessar publicação original [DR]