Posts com a Tag ‘BRITO Fábio Leonardo Castelo Branco (Org d)’
Existência e Resistências: História, Cultura e Sensibilidades/Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade/2023
A insurreição é da ordem da cólera e da alegria,
não da angústia ou do tédio.
Peter Pál Pelbart Leia Mais
Usos e desusos das linguagens artísticas/Revista Eletrônica Trilhas da História/2022
As linguagens artísticas estão presentes em diversos setores da sociedade, suscitando problematizações que envolvem a reflexão de seus usos enquanto ferramentas de poder, de discurso, por questões sociopolíticas e expressões culturais. Este dossiê compreende que as linguagens artísticas são instrumentos de sujeitos em seu tempo histórico e que a partir dessas produções – que nesta edição contempla fontes sobretudo musicais, mas também literária e imagética –, se tornam e se transformam em ferramentas e documentações para a investigação de historiadores e demais estudiosos do tema, e por isso, suscitam novos usos. Leia Mais
A vertigem das artes no Sul global | PerCursos | 2021
Capa da coletânea ‘100 Anos de Gonzagão’ Bento Andreato/Divulgação | Imagem: Veja São Paulo, 2019
Viajando pela Vertigem das Artes no Tempo Presente do Sul Global
Nas últimas décadas, as artes têm sido tradutoras de muitos dos dilemas sociais no Sul Global (GUERRA, 2021a). Através delas, inúmeros artistas têm expressado suas opiniões e tecido críticas e/ou elogios aos poderes instituídos. Múltiplas formas de arte têm sido dedicadas às vivências quotidianas insurgentes. Essas expressões artísticas são também atos de cidadania ativa, na medida em que envolvem uma afirmação ou luta por direitos ou espaço: daí, ser “urgente analisarmos os sons e os espaços como formas de agenciamento das vidas e das cidades”, daí destacarmos a importância das “sociabilidades urbanas” (GUERRA, 2021b: 173). O simples ato de criação questiona o instituído, produz inovação e propõe transformação social. É através de processos criativos e de produção e consumo estéticos que os jovens (GUERRA, 2020), em particular, se dedicam a causas sociais, a movimentos alternativos de resistência aos poderes dominantes, à constituição de políticas de identidade em torno do gênero, da etnia, etc.; nesse sentido, aponta-se o importante papel político das culturas do-ityourself (DIY) (GUERRA, 2018) ou do ativismo cultural (GUERRA, 2019). O conceito de artivismo surge, entre outros, na literatura acadêmica, para dar conta de toda esta dinâmica entre criatividade simbólica e agência política. O artivismo pode ser descrito como uma nova linguagem baseada numa relação orgânica entre arte e ativismo, que apela à antiga ligação entre arte e política. Sublinha-se a sua relação profunda com as práticas de ocupação do espaço público e os emergentes movimentos sociais, apontando necessariamente para a decolonização da ciência e da arte. Leia Mais
Artes, estéticas e vanguardas no Brasil: cultura, subjetividades e representações / Fato & Versões / 2019
Consideramos isso história, mas não nos esqueçamos de que são apenas palavras em uma página, palavras que foram parar lá por causa de certas regras para encontrar evidências, produzir mais palavras de nossa própria autoria e aceitar a noção de que elas nos dizem algo sobre o que é importante no terreno extinto do passado.
Robert A. Rosenstone
A História nos filmes, os filmes na História
Nas últimas décadas, a historiografia brasileira tornou-se um espaço propício para que debates novos se conformassem, notadamente no campo da chamada História Cultural. Na medida em que a ampliação das fontes históricas, a partir das décadas de 1970 e 1980, ousou contemplar objetos tais como filmes, jornais experimentais, produções musicais, peças de teatro, obras de artes plásticas, histórias em quadrinhos, campanhas publicitárias, etc., no Brasil, experiências históricas tais como os movimentos de vanguardas estéticas, notadamente aquelas que emergiam nos séculos XIX e XX, ocuparam espaço em trabalhos acadêmicos e demais obras que concernem ao ofício da História.
Trata-se, pois, de um campo que, a despeito de sua aparente especificidade, contempla caminhos que perpassam a conformação de grupos, conflitos sociais, movimentações cotidianas, relações familiares e de gênero, questões micro e macropolíticas, e, necessariamente, ajudam a demarcar diferentes experiências do tempo. Nas inúmeras pesquisas dessa ampla área de conhecimento, os objetos artísticos são elencados como elementos capazes de subjetivar uma dada realidade, possibilitando, a partir deles, a compreensão de processos históricos que ali se desdobravam.
Os artigos apresentados nesse dossiê demonstram a pluralidade de possibilidades advindas pela escolha em se trabalhar no campo da História Cultural, especificamente com as linguagens artísticas. Apesar das especificidades, observa-se que o elemento interdisciplinar entremeia cada um dos escritos aqui apresentados ao público, em um exercício crítico de acuidade teórico-metodológica de pesquisadores de diferentes instituições de ensino brasileira. Tal como a musa Clio, que tece o tecido da história com os fios colhidos em outras disciplinas, os objetos artísticos apresentados pelos autores demonstram as potencialidades de se dialogar com outros campos de conhecimento, estabelecendo-se trocas, diálogos, possibilidades, etc. sem que se perca, no meio do caminho, as especificidades do metier do campo historiográfico.
Sendo assim, há um duplo desafio a ser enfrentado nesse tipo de pesquisa. Por um lado, é necessário se compreender as particularidades da produção / elaboração dos objetos artísticos elencados, tanto no que diz respeito à sua natureza (cinema, teatro, moda, etc.), quanto ao seu contexto, recepção, autoria, temática. Por outro lado, é preciso compreender os desdobramentos teóricos e metodológicos advindos pela escolha dessa documentação, a fim de se possa delinear, a partir do olhar do historiador de ofício, os diálogos estabelecidos entre os binômios Arte e Sociedade, História e Cultura.
Tendo em vista essas e outras inquietações, o artigo “‘Lutar com o Super-8 é luta mais vã’: O Palhaço Degolado (1977) ou a maquiagem sorridente de um corpo sem cabeça”, de Fábio Leonardo Castelo Branco Brito, apresenta uma interessante análise do película do pernambucano Jomard Muniz de Britto a partir de um referencial teórico constituído a partir de autores tais como Georges Didi-Huberman, Gilles Deleuze, Félix Guattari, Michel Foucault e Paul Veyne.
Por sua vez, a historiadora Grace Campos Costa, em “Diálogos entre moda e cinema: Prêt-à-Porter (1994) de Robert Altman”, amplia o binômio Cinema / História ao trazer para o campo de discussão os diálogos estabelecidos entre o campo da moda e sua representação cinematográfica, em um duplo processo de influência. Sendo assim, o artigo tem como objetivo demonstrar que esses dois campos de produção são constantemente entrelaçados, seja porquê os filmes influenciam hábitos e vestimentas, seja porquê a indústria da moda serve, constantemente, como temática de diferentes películas, as quais se propõem pensar os impactos da mesma nos diversos campos da sociedade.
Ainda no campo dos estudos cinematográficos, a pesquisadora Lais Gaspar Leite, em seu artigo “O corpo do Vagabundo e o contraste com o Tempo Moderno”, apresenta aos leitores uma possibilidade da análise da personagem Carlitos, mundialmente conhecida pela produção de Charlie Chaplin em Tempos Modernos. A autora, em suas reflexões, busca estabelecer as relações existentes entre a commedia dell’arte e a produção cinematográfica chapliniana, a fim de demonstrar as marcas desse diálogo na construção da personagem vagabundo, especialmente na obra acima referenciada.
Tal como para Chaplin, observa-se nas produções do grupo carioca Dzi Croquettes uma grande influência dos vaudevilles e comédias populares. A criação do seu primeiro espetáculo, Dzi L’Internacionalli, é o objeto de análise do artigo produzido pela historiadora Talitta Tatiane Martins Freitas, no qual ela se propõe discutir a estrutura, as escolhas estéticas, bem como os índices de recepção da referida obra teatral. Sendo assim, em “Dzi L’Internacionalli: as ambiguidades sócio e cênica dos Croquettes em seu primeiro espetáculo”, os leitores poderão ter contato com o impacto produzido por esse grupo de 13 homens que, ao longo dos anos 1970, levaram para os palcos do Brasil e da Europa uma estética considerada transgressora por mesclar elementos femininos e masculinos, questionando os constructos sociais de gênero e de sexualidade.
Fechando o dossiê, a pesquisadora Stéfany Marquis de Barros Silva apresenta, nas páginas do artigo “As travessuras históricas da Curtinália teresinense: Sensibilidades e corporalidades urbanas em Teresina na década de 1970”, as condições históricas que propiciaram o surgimento do grupo de jovens Curtinália, o qual colocava em xeque os discursos normatizadores da sociedade teresinense em meados dos anos 1970. Analisando os escritos e filmes experimentais produzidos pelo referido grupo, a autora busca desvelar a maneira como esses jovens problematizaram os códigos de gênero e sexualidade estabelecidos socialmente, decodificando os seus corpos e relações para além dos moldes tradicionais de pensamento.
A partir dessas breves apresentações, esperamos que a diversidade e riqueza de análises reunidas neste dossiê possam encantar e inspirar nossos leitores. Uma boa leitura a todos!
Fábio Leonardo Castelo Branco Brito
Talitta Tatiane Martins Freitas
BRITO, Fábio Leonardo Castelo Branco; FREITAS, Talitta Tatiane Martins. Apresentação. Fatos e Versões, Campo Grande – MS, v.11, n.21, 2019. Acessar publicação original [DR]