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Cultura Visual / Estudos Históricos / 2021
[Cultura visual] | Foto: Plataforma 9 |
Este dossiê da Revista Estudos Históricos dedica-se ao tema da Cultura Visual.
Para a sua composição optamos por seguir os caminhos que começaram a ser traçados na origem desse campo, adotando uma perspectiva interdisciplinar e marcadamente política. A Cultura Visual enquanto campo de investigação e estudo institucionaliza-se entre as décadas de 1980 e 1990, quando teóricos ligados aos Estudos Culturais, seguindo os passos de Stuart Hall, passam a interrogar dentro de centros universitários as imagens e a visualidade modernas. Se essas duas décadas podem ser entendidas como o marco inicial do campo, vamos assistir nos anos seguintes a uma verdadeira explosão dos estudos das imagens. A Cultura Visual, ou melhor, as questões da visualidade, não são mais — isso podemos afirmar com certeza — domínio exclusivo da História da Arte. Os estudos visuais infiltraram-se e parecem ter criado raízes em áreas como a Antropologia, a História e a Sociologia.
A amplitude do campo foi o grande desafio que este dossiê precisou enfrentar. Como apresentar no reduzido espaço da revista um universo tão vasto? Como contemplar a diversidade de abordagens metodológicas e a heterogeneidade dos objetos estudados? Cabe lembrar que a Cultura Visual se interessa pelas imagens que habitam nosso cotidiano em seus mais variados formatos (fotografia, cinema, publicidade, televisão etc.), sejam elas imagens do passado que assombram o presente ou imagens do presente que conformam valores e identidades.
Na tentativa de enfrentar esse desafio acolhemos artigos que apresentam diferentes pontos de vista sobre objetos variados, mas que partilham um princípio comum: interrogam, sobretudo, a política das imagens. Na origem do campo da Cultura Visual está uma concepção construtivista da noção de representação. Como coloca Stuart Hall no clássico Cultura e representação (2016), no domínio da representação há sempre alguém que ganha e alguém que perde, alguém que ascende e alguém que descende, incluídos e excluídos (Hall, 2016).
Em meio à diversidade do campo da Cultura Visual identificamos um entendimento que permanece: as imagens são historicamente construídas e politicamente comprometidas. Para a composição do dossiê tentamos, na medida do possível, contemplar a multiplicidade do campo sem perder de vista esse princípio comum.
Os artigos que integram este número apresentam estudos de caso originais sobre o domínio do cinema, da fotografia, da história em quadrinhos, da televisão, da arquitetura, e desta nova modalidade de imagens desencarnadas, os memes. O primeiro bloco de artigos volta-se às imagens do passado. Transitando entre a História e os Estudos Visuais, as autoras e autores presentes nesse bloco examinam a origem, a circulação e a sobrevivência das imagens em arquivos físicos e imaginários. Um segundo conjunto de textos coloca questões às imagens do contemporâneo, seus modos de produção e suas vinculações identitárias.
Para encerrar o dossiê realizamos uma entrevista inédita com os pesquisadores Ana Maria Mauad e Maurício Lissovsky, referências nos estudos das imagens. Na entrevista, intitulada “Imagens Selvagens”, os pesquisadores abordam o percurso dos estudos visuais no Brasil, questionam o próprio conceito de Cultura Visual e apresentam-nos uma reflexão, por vezes ácida e provocadora, sobre o papel das imagens enquanto sujeitos da história no Brasil de 2020.
Desejamos a todas e todos uma excelente leitura.
Referências
HALL, S. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2016.
BLANK, Thais. Cultura visual. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vl 34, n.72, p.1-3, jan./abr. 2021.