Biografias, Memórias e Trajetórias / História (Unesp) / 2014

O presente fascículo da revista História (São Paulo) é iniciado pelo dossiê Biografias, Memórias e Trajetórias, organizado pelo professor Wilton Carlos Lima da Silva, do Departamento de História da Unesp / Assis. Esse dossiê é composto por autores do Brasil e de Portugal interessados no estudo dos condicionamentos políticos e culturais que incidem na construção dos relatos biográficos, na busca por fontes inovadoras para a pesquisa biográfica, assim como na reflexão do ofício do historiador dedicado à biografia.

Iara Lis Schiavinatto analisa o papel desempenhado pela imagem na consagração pública dos governantes luso-brasileiros, especialmente os participantes das Cortes Constituintes de 1820, a partir do exame de coleções de retratos confeccionados para fixar a memória oficial. A pintura também é tema do texto de Cristina Meneghello, a qual se debruça sobre a obra do pintor paranaense Eugenio de Proença Sigaud, com o propósito de reavaliar o legado de Sigaud pela confrontação da tradicional crítica artística com novos elementos aportados pela pesquisa histórica. A questão do exílio português é o centro dos dois textos seguintes. Heloísa Paulo discute as dificuldades e armadilhas metodológicas envolvidas na pesquisa biográfica dos exilados portugueses durante o Salazarismo e aponta para a necessidade de superar os relatos lineares e as memórias estabelecidas. Em seguida, Luiz Nuno Rodrigues analisa o exílio do general Antonio de Spinola, primeiro presidente da República de Portugal após a Revolução dos Cravos, que se refugiou no Brasil depois de se demitir do cargo e tentar voltar ao poder por meio de um frustrado golpe de Estado. Portugal ainda comparece em outro texto, de Elsa Lechner, dedicado a relatar a pesquisa biográfica de imigrantes que vivem atualmente nesse país e a refletir sobre as potencialidades e limites deste tipo de investigação. Quanto à Argentina, país prolífico na construção de mitos históricos, tem dois destes, dos mais proeminentes – Eva Perón e Ernesto Che Guevara – , examinados por Cecília López Badano, a qual procura compreender como a ficcionalização das suas biografias reconfigurou a percepção social, transformando-os em heróis martirizados. O dossiê é finalizado pela estimulante reflexão de Benito Bisso Schmidt a respeito das implicações éticas do trabalho do historiador biógrafo.

A seção de artigos livres traz duas contribuições relativas à história da administração da monarquia portuguesa. Armando Norte examina a formação do estamento burocrático nos séculos iniciais do Reino de Portugal, ao passo que Francismar Lopes de Carvalho se detém nas tensas relações dos funcionários e colonos da capitania de Mato Grosso com a Coroa portuguesa. Os setores populares são tematizados sob duas diferentes perspectivas. Beatriz Ana Loner estuda como a primeira extração da Loteria do Ipiranga, em 1880, incidiu sobre a vida de um conjunto de escravos e trabalhadores livres rio-grandenses. Por sua vez, Luis Reznik e Rui Aniceto Fernandes examinam as instituições que recebiam os imigrantes nas Américas, dedicando especial atenção ao Rio de Janeiro, em fins do século XIX. O Chile merece a atenção de dois autores. Manuel Loyola focaliza a chamada Buena Prensa, uma iniciativa do Vaticano para modernizar a imprensa católica no mundo, e analisa os seus desdobramentos na sociedade chilena. Por sua vez, Carlos Dominguez Ávila propõem uma original interpretação da repercussão internacional do golpe contra o governo de Salvador Allende, com base na documentação diplomática do Ministério de Relações Exteriores do Brasil. A seção é encerrada pelo artigo de Carimo Mohomed, dedicado a explorar o complexo papel desempenhado pelas correntes islâmicas na formação do estado paquistanês.

Este número é completado por uma resenha de livro a respeito da Espanha visigótica e por uma tradução de artigo do historiador espanhol Jaume Aurell, o qual dialoga com a temática do dossiê, em sua reflexão, a respeito das autobiografias elaboradas pelos historiadores.

Agradecemos pelo apoio do CNPq, da Pró-Reitoria de Pesquisa e dos Programas de Pós-Graduação em História da UNESP, que viabilizaram a tradução dos artigos e as diversas fases da editoração deste número.

José Luis Bendicho Beired

Jean Marcel Carvalho França

Editores


BEIRED, José Luis Bendicho; FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Apresentação. História (São Paulo), Franca, v.33, n.1, 2014. Acessar publicação original [DR]

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