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Classificação em Arqueologia – DUNNELL (CA)
DUNNELL, Robert C. Classificação em Arqueologia. Trad. Astolfo G. M. Araujo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. 264 p. Resenha de: CISNEIROS, Daniela. Clio Arqueológico, Recife, v.29, n.2, 2014.
Araujo, ganha em sua apropriada tradução um título mais abrangente: Classificação em Arqueologia. Porém, é importante lembrar que Dunnell referese durante todo o texto à Pré-História.
Com a primeira edição datada de 1971, continua atual. É a expressão de um trabalho meticuloso que pretende analisar e esclarecer os princípios da classificação e formação de unidades dentro da ciência arqueológica. No atual cenário acadêmico brasileiro, com a ampliação de cursos de Graduação e Pós-graduação em Arqueologia, o livro ganha singular relevância, ao trazer um conjunto de refexões de complexas abordagens para o tratamento do problema científico que abrange o artefato e a cultura.
O livro traduzido está estruturado a partir do prefácio, seguido por uma introdução e um texto decomposto em duas partes: Parte I – Sistemática Geral, composta por quatro capítulos de abordagens conceituais (Definições versus descrição, Classificação, Tipos de classificação e Arranjo não classificatório), abrange sistemáticas gerais e tipos de sistemas classificatórios; e Parte II – A Sistemática na Arqueologia, composta por mais quatro capítulos de abordagens específicas e exemplificações (Arqueologia, Classificação em Arqueologia, Agrupamento em Arqueologia e Resumo), em que apresenta um conjunto de termos e procedimentos a serem aplicados em Arqueologia Pré-histórica. Traz ainda uma pequena, mas importante seção com noções ou termos definidos que foram apresentados nos capítulos; e, por )m, referências bibliográficas. No corpo do livro, estão apresentados quadros e diagramas que têm o objetivo de sintetizar a discussão processada.
A obra tem início com um prefácio, em que o autor de)ne a quem se destina o conteúdo da obra e os porquês na abordagem de um tema que muitas vezes é varrido para debaixo do tapete acadêmico em favor de aspectos mais atrativos e fascinantes da disciplina (p. 13).
Assim, são expostos os temas a serem discutidos no livro ciência, teoria, explanação, hipótese e métodos. Na introdução, o autor expõe a disciplina arqueológica e sua trajetória de mudanças quanto à abordagem e natureza. Trajetória essa marcada muitas vezes por sinais de rivalidades entre a Arqueologia Tradicional e a Nova Arqueologia. Apresenta aqui as competências de cada natureza e a clara distinção entre o que chamará de arqueografia e disciplina acadêmica – Arqueologia (Pré-História).
A primeira parte do livro, Sistemática Geral, traz o capítulo Noções Preliminares, que visa fornecer os métodos para a construção da base formal de compreensão para disciplinas cientí)cas. São apresentados conceitos e pressupostos teóricos que se iniciam com a discussão de ciência e sistemática. Seguido da explanação de conceito, teoria, método, técnica e hipótese.
No capítulo Classificação, essa é vista e descrita como um tipo de arranjo que leva à sistemática na ciência. Esse arranjo deve ser realizado necessariamente de maneira explícita para que possa ser transmitido, não apenas o modo como foi realizado, mas a sua razão. Para tanto, define classificação, seus agrupamentos e produtos, discutindo classe e grupo. O autor expõe algumas afirmações axiomáticas de forma pormenorizada para a apreciação da classificação.
No capítulo Tipos de Classificação, estabelece uma relação crítica à tendência em tratar todos os tipos de classificação como sendo a mesma coisa, propondo uma classificação das classificações, expostas a partir de dois tipos de significata (condições necessárias e suficientes para associação em uma classe (p. 83)): classificação taxonômica e classificação paradigmática.
Nessa primeira parte da obra, Dunnell, apresenta ainda um capítulo Arranjo Não Classificatório, que, para o próprio autor, resulta-se deslocado a partir da abordagem principal, mas que pretende expor a relação que esse tipo de arranjo mantém com a classificação.
Na segunda parte da obra, a Sistemática na Arqueologia, no capítulo Arqueologia, o autor cita em essência sua definição de Arqueologia como ciência dos artefatos e das relações entre artefatos, conduzida em termos dos conceitos de cultura (p. 152). A partir dessa apresentação, estipula para Arqueologia e seu tipo de estudo (ciência) o principal componente conceitual: cultura e a maneira com que os fenômenos devem ser concebidos 171 (artefatos). Assim, segue-se o exame conceitual pormenorizado de ciência, artefato e cultura sobre o véu da Arqueologia.
Para o capítulo Classificação em Arqueologia, Dunnell aborda a sistemática comum a todas as ciências, porém a torna específica nas unidades empregadas. Assim, os tipos de escolhas e tomadas de decisões são diferentes para as ciências. O problema aqui relacionado está em como os dados são estruturados para serem tratados pela Arqueologia. Explora, por conseguinte, três aspectos: o locus, os meios e a escala.
Em Agrupamento em Arqueologia, discute grupos foco do estudo científico, deixando explícito que suas considerações estão relacionadas a agrupamentos utilizados ou sugeridos na Arqueologia para criar unidade, apresentando quais as características do seu uso e os problemas resultantes.
No Resumo, ao fim, volta à discussão entre Arqueologia Tradicional e Nova Arqueologia, em que tanto a tradicional quanto a nova são acusadas de desvio de processo classificatório.
Para a tradicional, os créditos são por essa ter fornecido mais do que sabemos sobre a Pré- História. Para a nova, os créditos são para as tentativas de explicar a Pré-História. Assim, reflete e discute suas relações no que tange aos componentes da ciência e aos problemas contraídos ao seguir um modelo para uma ciência do Homem.
A proposta desse livro é não apenas apresentar a sistemática e a classificação como recursos essenciais para a disciplina arqueológica, como também analisar a construção do pensamento científico. As diferentes acepções dos conceitos de ciência, teoria, sistemática e classificação são trabalhadas em profundidade.
Classificação em Arqueologia não pretende ser uma obra de fácil abordagem, trata-se de um livro denso pela quantidade de informações e conceitos, exigindo uma constante atenção do leitor. Porém, Dunnell, com seu caráter didático, impõe ao leitor o desejo de avançar e alcançar as ferramentas necessárias para fazer uma boa arqueologia e ser um bom arqueólogo.
Uma leitura cuidadosa e crítica de Classificação em Arqueologia é indispensável para o conhecimento dos novos questionamentos científicos que se apresentam hoje para a Arqueologia. Os conceitos abordados em profundidade, relacionando razão e sistemática, ecoam sobre as definições superficiais e as terminologias confusas.
Por mais familiarizados que possamos estar com algumas das definições em Arqueologia, a leitura de Classificação em Arqueologia amplia os horizontes para uma discussão do papel da Arqueologia Pré-histórica como ciência. Dunnell expressa que a compreensão 172 dos artefatos é o objetivo da Pré-História. Os artefatos devem ser explicados em termos de cultura como um dado adquirido, o que nos permite discutir a explicação de artefatos como objeto de estudo da Arqueologia ou como dados para explicar a cultura. Assim, leitura indispensável a estudantes de Graduação e Pós-graduação e a todos os arqueólogos que apreciam a construção do método científico.
Um pouco sobre o autor: Robert Chester Dunnell (1947–2010) foi um arqueólogo conhecido por sua contribuição em Systematics in Prehistory (Classicação em Arqueologia). Seu interesse pela teoria explicativa originou em parte de uma insatisfação com entendimentos tradicionais da Arqueologia Pré-histórica. Dedicou grande parte da vida acadêmica às abordagens evolucionárias na Arqueologia, defendendo o modelo evolucionista para explicar variação. Expôs os perigos do uso de analogia para explicar eventos históricos. Porém, suas contribuições para Arqueologia estão além da arqueologia teórica. Seus interesses se estendiam à metodologia de trabalho de campo e a análises laboratoriais. Defendia que a compreensão completa dos artefatos requer o conhecimento de física e química, o que o levou a abraçar o campo de Arqueometria.
Outros livros recomendado do mesmo autor: Dunnell, Robert C. Style and Function: A Fundamental Dichotomy. American Antiquity, n. 43 (2), 1978, p. 192–202.
Dunnell, Robert C. Evolutionary Beory and Archaeology. Advances in Archaeological Method and %eory, n. 3, 1980, p. 35–99.
Dunnell, Robert C. Systematics in Prehistory. Caldwell, NJ: Blackburn Press. 2002.
Daniela Cisneiros – Departamente de Arqueologia, UFPE.
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