A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965 | José Oscar Beozzo

Resenhista

Márcio de Souza Porto – Universidade Federal do Ceará.

Referências desta Resenha

BEOZZO, José Oscar. A Igreja do Brasil no Concílio Vaticano II: 1959-1965. São Paulo: Paulinas, 2005. Resenha de: PORTO, Márcio de Souza. Trajetos. Fortaleza, v.4, n. 8, 2006.

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Economia internacional: teoria e experiência brasileira | Renato Bauman e Otaviano Canuto || Organizações internacionais: história e práticas | Mônica Hers e Andrea Ribeiro Hoffmann || Teoria das relações internacionais: correntes e debates | João

Não se faz necessário grande exercício analítico para perceber que a área de Relações Internacionais no Brasil sofreu um importante processo de evolução nos últimos quinze anos. De uma rápida leitura dos jornais diários, até um passeio em qualquer grande livraria dos centros comerciais das metrópoles brasileiras, percebe-se ao mesmo tempo o aumento da atenção da sociedade pelos temas atinentes da disciplina e o nível variado de relevância e qualidade de certas reflexões.

Esses dois fenômenos foram acompanhados de um acontecimento marcante no ensino de Relações Internacionais no país: a explosão dos cursos de graduação no país, notadamente na região sudeste e sul. Esse movimento, por seu turno, também significou na área do ensino uma pulverização e falta de consistência disciplinar no tratamento da literatura reverberada pelas dezenas de programas que foram criados e sustentados sem uma boa literatura de apoio. Leia Mais

João Goulart: entre a memória e a história | Marieta de Moraes Ferreira

FERREIRA, Marieta de Moraes (Coord.). João Goulart: entre a memória e a história. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. Resenha de: MONTENEGRO, Antônio Torres. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.24, n.1, p. 313-317, jan./jun. 2006.

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Quilombos do Brasil Central: violência e resistência escrava | Martiniano José Silva

Resenhista

Maria Lemke Loiola – Bacharel e licenciada em história pela UFG.

Referências desta Resenha

SILVA, Martiniano José. Quilombos do Brasil Central: violência e resistência escrava. Goiânia: Kelps, 2003. Resenha de: LOIOLA, Maria Lemke. História Revista. Goiânia, v.10, n.2, p.377-383, jul./dez.2005. Acesso apenas pelo link original [DR]

A Guerra dos Bárbaros: resistência e conflitos no Nordeste colonial | Maria Idalina da Cruz Pires

Resenhista

Anna Maria Ribeiro F. Moreira da Costa – Pesquisadora da Fundação Nacional do índio. Professora do Centro Universitário – UNIVAG, Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso. Doutoranda em História pela Universidade Federal de Pernambuco.

Referências desta Resenha

PIRES, Maria Idalina da Cruz. A Guerra dos Bárbaros: resistência e conflitos no Nordeste colonial. Recife: Editora da Universidade Federal de Pernambuco, 2002. Resenha de: COSTA, Anna Maria Ribeiro F. Moreira da. História Revista. Goiânia, v.10, n.1, p. 187-193, jan./jun.2005. Acesso apenas pelo link original [DR]

Brasil e Argentina: um ensaio de história comparada (1850-2002) | Boris Fausto e Fernando J. Devoto

Brasil e Argentina padecem de certa insuficiência de desenvolvimento econômico e social, sendo a maior parte dos problemas derivada de erros de gestão macroeconômica e de escolhas infelizes de suas elites políticas ao longo dos anos de formação das nações respectivas e dos momentos de ajuste aos desafios externos, no decorrer do século XX. Durante muito tempo, prevaleceu no Brasil a noção de que a Argentina era bem mais desenvolvida, graças a um maior componente “europeu” na sua formação étnica e aos maiores cuidados com a educação do seu povo. Depois, prevaleceu na Argentina a noção de que o Brasil foi mais bem sucedido na industrialização e no fortalecimento da base econômica, graças ao maior envolvimento de seu Estado na gestão macroeconômica, em lugar do liberalismo praticado naquelas margens da bacia do Prata. Hoje, se pretende avançar no desenvolvimento conjunto, mediante o Mercosul, mas as salvaguardas e os desvios ao livre comércio demonstram os limites da integração econômica.

Essas visões, parcialmente corretas, decorrem de uma complexa realidade, que é examinada, com lentes cuidadosamente focadas nas particularidades nacionais, por um historiador de cada um desses dois países, que colocam em perspectiva comparada, mas não necessariamente em paralelo, duas trajetórias comparáveis, na forma e no conteúdo. Eles se baseiam, neste empreendimento inédito na historiografia regional, em metodologia proposta há muitos anos pelo historiador francês Marc Bloch, que recomendava o estudo de sociedades próximas no espaço e no tempo, buscando não apenas as semelhanças, mas também as diferenças. Este “ensaio de história comparada” começa, justamente, por um excelente capítulo introdutório que discute as vantagens e modalidades do comparatismo em história. Leia Mais

MARKWALD Ricardo (Org), Obstáculos ao crescimento das exportações: Sugestões para uma Política Comercial (T), IPRI (E), ITABORAHY Felipe B. (Res), Meridiano (Mrr), Exportações, Política Comercial | Celso Lafer

No livro A Identidade Internacional do Brasil e a Política Externa Brasileira: passado presente e futuro Celso Lafer coloca que, em análise da política externa, a visão do país sobre o mundo em que vive e seu funcionamento deve ser considerada o ponto de partida do analista para que este compreenda com maior nitidez seu objeto de estudo. O autor discute no capítulo primeiro o significado de identidade internacional em um mundo globalizado. Grosso modo, a identidade é trabalhada em termos coletivos e lastreada na idéia de um bem ou interesse comum. Além disso, a identidade (inter)nacional de um país tomaria forma e daria vida ao sistema internacional, no contato e na interação com os outros Estados. Sendo assim, ele argumenta que o termo identidade pode ser entendido como “um conjunto mais ou menos ordenado de predicados por meio dos quais se responde à pergunta: quem sois?” (p.15).

Consoante Lafer, a lógica da identidade que assinala uma especificidade para cada um, diferenciando um Estado do outro, interage no sistema internacional com a lógica da globalização que dilui a fronteira entre o interno e o externo; reescrevendo em novos termos o jogo dialético de implicação mútua entre a “História do eu” e a “História do outro”. O autor reconhece que uma multiciplicidade de atores integra o campo das interações no plano internacional. Ele admite, numa alusão a Aron, que as relações internacionais contemporâneas já não se fazem apenas com “diplomatas e soldados” – símbolos da soberania – como preconiza a visão realista. Não obstante, como diplomata que é, acredita que o Estado e as nações ainda mantêm papel importante na dinâmica internacional. Pois, argumenta que a legitimação dos governos apoia-se cada vez mais na capacidade destes de em atender as necessidades e aspirações dos povos que representam, tanto na instancia interna como na externa. Destarte, a política externa nada mais é do que uma política pública orientada para “traduzir necessidades internas em possibilidades externas para ampliar o poder de controle da sociedade sobre seu destino” (p.16). Leia Mais

As Garras do Condor. Como as ditaduras militares da Argentina/ do Chile/ do Uruguai/ do Brasil/ da Bolívia e do Paraguai se associaram para eliminar adversários políticos | Nilson Cesar Mariano

Uma exposição da covardia da ditadura, assim deve ser caracterizado o livro-reportagem de Mariano, jornalista do jornal Zero Hora. O livro é uma obra advinda de sua pesquisa sobre a cooperação entre as ditaduras militares do Cone Sul, desde 1993. O jornalista foi honrado com os principais prêmios jornalísticos, como o Esso e o Vladimir Herzog. O autor pretende informar que a perseguição no período das ditaduras do Cone Sul, entre 1954 a 1989, ultrapassou fronteiras, porque as ditaduras cooperaram entre si para prender os opositores de seus regimes, sem respeitar qualquer tratado de proteção a refugiados e órgãos internacionais, como o ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Dentre a cooperação, destacou-se a Operação Condor que foi idealizada pelo General Contreras, do Chile, tendo entrado em vigor em 1975.

O autor expõe fatos que fazem com que o leitor veja a ditadura nos países do Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai) de forma bem mais crítica. É bastante conhecida a perseguição de opositores dos militares no período, entretanto o tratamento desumano a que essas pessoas foram submetidas não é muito mencionado. Para as relações internacionais, é demonstrado o fim das fronteiras geográficas e a ascensão das fronteiras ideológicas, algo que foi constante na Guerra Fria, mas pouco discutido na esfera sul-americana. A teoria das fronteiras ideológicas consiste na idéia de que para se alcançar objetivos não houve barreiras fronteiriças entre ditaduras, de forma que elas se uniram para combater seu inimigo comum, os comunistas. Leia Mais

Em guarda contra o “perigo vermelho”: O anticomunismo no Brasil (1917-1964) | Rodrigo Patto Sá Motta

Os trabalhos que discutem com propriedade o anticomunismo no Brasil, em sua maioria, são recentes. A dificuldade de acesso às fontes primárias e a preferência por estudos ligados aos movimentos de esquerda foram os maiores obstáculos para o crescimento desta vertente de pesquisa. No Brasil, ainda não existe uma historiografia consolidada sobre o ideário anticomunista, mas existem trabalhos interessantes e importantes para os historiadores que se interessam pelo tema – como, por exemplo, o livro de Rodrigo Patto Sá Motta. O autor procura estudar o anticomunismo entre 1917 e 1964, concentrando-se nos períodos de 1935-1937 e 1961-1964, alegando haver neles uma maior intensidade das manifestações anticomunistas.

Em relação à década de 1930, o autor identifica o manifesto escrito por Luiz Carlos Prestes – em maio de 1930, onde declarava sua adesão ao marxismo-leninismo e à causa do proletariado – como uma das primeiras influências de relevo no aumento do temor ao comunismo e, simultaneamente, dos sentimentos anticomunistas. Este aumento pode ser constatado, segundo ele, pela considerável expansão na publicação de livros anticomunistas. Além disto, o surgimento de várias greves, em 1934, em algumas capitais brasileiras, contribuiu para a criação de instrumentos repressivos legais, que se tornaram úteis ao governo na medida em que a esquerda ampliava a sua atuação. Entre 1930 e 1935, tais sentimentos estiveram ligados à percepção de que era necessária uma ofensiva em defesa da ordem, intensificada sobremaneira pela tentativa revolucionária comandada pelo PCB, em 1935, e pela Guerra Civil Espanhola, em 1936. Leia Mais

Luta subterrânea. O PCB em 1937-1938 | Dainis Karepovs

Só muito recentemente os historiadores brasileiros tomaram a si a tarefa de estudar a história dos partidos políticos no Brasil, área, até então, essencialmente ocupada por sociólogos e cientistas políticos. Em que pese este fato, demasiado relevante para as ciências humanas e sociais, tendo em vista as possibilidades metodológicas que se abriram com os estudos destes profissionais, são ainda poucos os trabalhos que recortam o tema à maneira dos historiadores. Ainda que se deva destacar o mérito do pioneirismo com que sociólogos e cientistas políticos promoveram tais estudos ao primeiro plano das grandes temáticas e preocupações da academia, não deixa de surpreender positivamente quando um pesquisador renuncia ao uso corrente de categorias funcionais, tipos ideais ou explicações essencialmente macroestruturais, numa investigação sobre as atividades e o pensamento de um partido político como o PCB, certamente o mais pesquisado do Brasil e um dos mais conhecidos entre os Partidos Comunistas do mundo, para mergulhar no universo pouco conhecido dos pormenores da produção intelectual e política dos seus principais dirigentes. Leia Mais

Da substituição de importações a substituição de exportações: a política de comércio exterior brasileira de 1945 a 1979 | Heloisa Machado Silva

O Modelo Substitutivo de Importações constituiu um conceito analítico “consagrado” de análise do processo de desenvolvimento brasileiro no século XX, em especial após a Revolução de 1930 e do período pós-Segunda Guerra Mundial. Também foi um modelo perseguido pelos sucessivos governos nesse mesmo período, impulsionado pelo desenvolvimento do capitalismo brasileiro. Entretanto, seus impasses e vicissitudes não haviam ainda sido inteiramente analisados, bem como sua alteração para um Modelo Substitutivo de Exportações, quando o amadurecimento do desenvolvimentismo brasileiro. Nesse sentido, o livro da professora de Relações Internacionais Heloísa Machado da Silva procura desvendar as articulações entre modelo de desenvolvimento, política externa e comércio exterior, a partir dos conceitos de Substituição de Importações e Substituição de Exportações.

O livro, baseado na tese de doutorado da autora, defendida na UnB, inicia com um prefácio de Amado Cervo, que orientou a pesquisa. Conciso e provocador, o prefácio abre, de forma contundente, o debate-guia do livro (e, portanto, da pesquisa) de Heloísa Machado. Na introdução, a autora desvela as correntes teóricas sobre comércio internacional e desenvolvimento, dos clássicos aos neoclássicos, passando pelos keinesianos e cepalinos. O fio condutor é tentar observar as principais teses que orientam os governos nas conseqüências e resultados da política de comércio exterior. Leia Mais

O crescimento das Relações Internacionais no Brasil | José Flávio Sobra Saraiva

O Instituto Brasileiro de Relações Internacionais IBRI, instituição que há muito se dedica ao campo de estudo das Relações Internacionais, e em cujo rol de publicações figura esta Revista Brasileira de Política Internacional, celebrou o seu cinqüentenário, alcançado em 2004, com a publicação de O crescimento das Relações Internacionais no Brasil.José Flávio Sombra Saraiva e Amado Luiz Cervo organizam a obra que pretende capturar as nuances de uma história, longa e multifacetada, focada essencialmente no Estado e na construção da Política Exterior do Brasil (PEB), mas em cujas linhas mais recentes se escreve também a evolução da disciplina e da pesquisa em Relações Internacionais no país. Essa última, observada segundo o ângulo do “conhecimento e ensino das Relações Internacionais no Brasil”, é a que inicia o debate que divide o livro em quatro partes. A segunda se dedica ao tema do “poder nacional e segurança”; a terceira parte centra-se nos “brasileiros e o mundo: fluxos humanos, de idéias e de conhecimento”; e a última parte instiga a reflexão sobre “o Brasil e as estruturas econômicas internacionais”.

Ao analisar o construto intelectual da disciplina no Brasil, Paulo Fagundes Vizentini e Antonio Carlos Lessa dividem-se em caminhos distintos, mas complementares. O primeiro observa a evolução da produção intelectual e dos estudos acadêmicos da área no País. Assim, ele perpassa desde o seu surgimento, em meados da década de 1970, até a consolidação do campo, da profissão e do seu universo editorial. Ao notar o início difícil e de pouca produção nacional sobre temas internacionais, Vizentini ajuda-nos a revelar a importância do trabalho do IBRI para o crescimento e fortalecimento da área no Brasil. Hoje, vale registrar, parte fundamental da produção nacional é chancelada pela instituição. Leia Mais

Racismo à Brasileira: uma nova perspectiva sociológica | Edward Telles

Edward Telles nasceu nos Estados Unidos, onde atualmente é professor de Sociologia na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Viveu no Brasil alguns anos, lecionando como professor-visitante na Unicamp e, posteriormente (1997-2000), trabalhando como Assistente do Programa de Direitos Humanos da Fundação Ford, no Rio de Janeiro. Após publicar diversos artigos em periódicos nacionais e internacionais acerca das relações raciais no Brasil, publica o livro Racismo à Brasileira: uma nova perspectiva sociológica.

A obra está dividida em dez capítulos (Da supremacia branca à democracia racial; Da democracia racial à ação afirmativa; Classificação racial; Casamentos inter-raciais; Segregação residencial; A persistência da desigualdade racial; Discriminação racial; Formulando políticas adequadas; Repensando as relações no Brasil). Seu objetivo é reexaminar os argumentos apresentados na história dos estudos das relações raciais no Brasil; elucidar a lógica interna de funcionamento do sistema racial brasileiro e fazer uma análise comparativa do modelo racial daqui com o dos Estados Unidos (e, em menor escala, com o da África do Sul), por intermédio, sobretudo, do método quantitativo. O livro é fartamente amparado por tabelas e dados estatísticos. Leia Mais

Mulheres do Brasil: Beja, Carmen e Dolores | ArtCultura | 2005

Organizadora

Kátia Rodrigues Paranhos – Editora.

Referências desta apresentação

PARANHOS, Kátia Rodrigues. Apresentação. ArtCultura. Uberlândia, v.7, n. 10, jan./jun. 2005. Acesso apenas pelo link original [DR]

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Economia Internacional: teoria e experiência brasileira | Renato Baumann, Otaviano CAnuto e Reinaldo Gonçalves

Presente, com considerável importância, em toda a história brasileira e notoriamente a partir do processo de abertura ocorrido no início dos anos 90, as relações econômicas com o resto do mundo adquirem indiscutível relevância tanto na promoção de políticas públicas quanto no cotidiano dos indivíduos. O fato de que, atualmente, o comportamento de uma outra economia pode afetar as taxas de juros internas rapidamente e de que é possível adquirir facilmente bens e serviços de outros países – através da internet, por exemplo – relevam a importância da compreensão dos conceitos e das teorias sobre economia internacional.

A obra escrita por Renato Baumann, Otaviano Canuto e Reinaldo Gonçalves dirige-se, principalmente, para cursos de graduação e de pós-graduação de economia internacional. Encaixa-se na recente demanda por parte do setor público, do setor privado e da academia por indivíduos qualificados em compreender o meio internacional. Em que se reconhece a inegável preponderância do caráter econômico. Como se observa, por exemplo, no papel fundamental que tiveram as relações econômicas como fator estimulante e balizador das relações entre a sociedade internacional européia do século XIX e o resto do mundo, originando o sistema interdependente em vários aspectos que hoje se observa. Leia Mais

Brasil e EUA no novo milênio | Marcos Guedes de Oliveira

O estudo das relações Brasil-Estados Unidos e do reconhecimento do outro dentro do cenário internacional vem gradativamente fornecendo concretos trabalhos e trazendo interesse para os pesquisadores de diversas áreas, principalmente em Relações Internacionais, dada sua multi e interdisciplinaridade. Nesse sentido, a obra organizada por Marcos Guedes de Oliveira busca contribuir para a redução de eventuais desconhecimentos acerca do outro, procurando demonstrar que muito do que se pensa a respeito dos EUA confunde-se com resquícios preconceituosos presentes no imaginário popular.

A primeira parte da obra, composta por textos de Eduardo Viola e Carlos Pio (Doutrinarismo e Realismo na Percepção do Interesse Nacional), Shiguenoli Miyamoto e Paulo César Manduca (Segurança Hemisférica, Uma Agenda Inconclusa) e Antônio Jorge Ramalho (Entre Redes e Hierarquias, Entre Regras Internas e Regras Internacionais: A Projeção dos Interesses dos EUA na Alca), busca trazer à tona questões de extrema complexidade no cenário político-internacional atual, quais sejam, a percepção do outro em um cenário de mudanças, as questões relativas à segurança do hemisfério e a dificuldade de se implementar uma política de segurança comum para o continente, além das disputas políticas e econômicas na formulação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Leia Mais

A aliança não escrita: o Barão do Rio Branco e as relações Brasil-Estados Unidos | Bradford Burns

A obra de Bradford Burns, editada em 1966, examina a aliança não escrita entre o Brasil e os Estados Unidos no início do século XX. Ainda como fruto das comemorações do centenário da gestão do Barão do Rio Branco no Itamaraty, o trabalho traduzido pelo embaixador Sérgio Bath, em 2003, vem contribuir para um melhor entendimento das relações bilaterais entre as duas nações no primeiro decênio do século passado. Dessa forma, auxilia sobremaneira a compreensão acerca da formação do eixo estruturante das relações internacionais do Brasil, bem como o funcionamento inicial das denominadas relações especiais.

Organizada em nove capítulos, a obra de Bradford Burns utiliza-se dos mais variados assuntos para explicar as relações Brasil-Estados Unidos, percorrendo desde o perfil pessoal da formação do Barão a sua aceitação da Doutrina Monroe e do Pan-Americanismo. O autor perfaz a história desse relacionamento desde a suspeição, que emoldurou o início da amizade, às futuras recompensas que de fato ele trouxe para o Brasil. Leia Mais

O imaginário da cidade. Visões literárias do urbano | Sandra Jathay Pesavento

Gravuras, desenhos e fotografias mostrando os vários lugares e espaços originais das cidades de Paris, Rio de Janeiro e Porto Alegre, em meados do século XIX e inícios do XX, compõem o livro Imaginário da Cidade. Visões literárias do urbano, de Sandra Jatahy Pesavento2. Algumas dessas imagens nos remetem à Paris de 1739 a 1876, aos sobrados sombrios das ruas Marmousets, Pirouette e de la Colombe – hoje desaparecidas em função das reformas urbanas. Outras revelam paisagens de Porto Alegre (no início do século XX) e do Rio de Janeiro (na segunda metade do século XIX). O mercado público, as praças e as ruas da capital gaúcha são flagrados em sua modesta suntuosidade por fotógrafos desconhecidos. A modernidade da Avenida Central da cidade carioca, com seus suntuosos palacetes, se justapõe aos registros de moradias populares (como os cortiços) e da destruição de morros da cidade – cenas captadas pelas lentes das câmeras de Victor Frond, Marc Ferrez e Augusto Malta. Leia Mais

Bastardos do Império: Família e sociedade em Mato Grosso no século XIX | Maria Adenir Peraro

A publicação de “Bastardos do Império: Família e sociedade em Mato Grosso no século XIX”, de Maria Adenir Peraro, é motivo de honra e orgulho múltiplos, quer por parte do Programa de Pós-Graduação em História, da UFPr, de cujos bancos escolares a obra é resultado de tese de Doutorado, quer para o Programa de Pós-Graduação em História, da UFMT, do qual a pesquisadora é integrante. Não bastasse isto, a obra expressa uma política editorial corajosa e encorajadora no sentido de abrigar publicações ditas “regionais”, conotação esta que tem dificultado a inserção acadêmica de temas e objetos relevantes e pertinentes e que extrapolam o caráter “local”. Particularmente, os centros de pesquisa cujo foco reside nas questões de fronteira, populações, territórios e identidades, foram os grandes beneficiados, pois a obra vem chancelar, não apenas um grandioso esforço na preservação de fontes paroquiais, mas, sobretudo, um importante patrocínio institucional à pesquisa da história da família. Neste sentido, imprescindível reconhecer o apoio da Cúria Metropolitana de Cuiabá, que facilitou o acesso ao seu acervo documental. Leia Mais

Correspondência cordial: Capistrano de Abreu e Guilherme Studart | Eduardo Lúcio Guilherme Amaral

“HÁ MUITO TEMPO DESEJO-LHE ESCREVER…”:

ITINERÁRIOS HISTORIOGRÁFICOS NA ESCRITA DE CARTAS

Poucas figuras proeminentes do cenário intelectual brasileiro no séc. XIX tiveram sua imagem pública tão dissecada quanto João Capistrano de Abreu. De fato, as peripécias e infortúnios que cercam a vida deste historiador cearense serviram de matéria a um número vultoso de estudos e publicações. Espírito reservado, temperamento forte, estilo irônico, inteligência aguda, compulsão pela leitura, aversão a homenagens e honrarias, desmazelo nos cuidados com a aparência pessoal são algumas das características que tornaram Capistrano uma fonte quase inexaurível de situações inusitadas, oscilando em movimento pendular, do cômico ao trágico. Durante muito tempo, suas correspondências com amigos, parentes e colegas forneceram uma cornucópia de curiosidades, ensejando a difusão de anedotário que hoje praticamente se funde à personalidade do escritor. Leia Mais

Roteiro bibliogáfico do pensamento político-social brasileiro (1870-1965) | Wanderley Guilherme dos Santos

Neste livro estão reunidos dois trabalhos de Wanderley Guilherme dos Santos. Um é o Roteiro bibliográfico do pensamento político-social brasileiro (1870-1965), levantamento das principais obras do pensamento brasileiro, realizado há 36 anos e nunca antes publicado; o outro é uma reflexão sobre nossa história das idéias e já se tornou um texto clássico: Paradigma e história: a ordem burguesa na imaginação social brasileira. O levantamento bibliográfico fala por si mesmo. No entanto, vale a pena ressaltar a originalidade dos critérios de seleção que o orientaram. Concebida originalmente em 1966 para orientar uma pesquisa sobre a Imaginação político-social brasileira, a seleção bibliográfica privilegiou fontes e temas em que se evidenciava a forte relação entre história política e história intelectual e concentrou-se nos estudos cuja ênfase recai sobre questões econômicas e sociais. Aliado a Paradigma e história, trabalho nele baseado, esse Roteiro bibliográfico é ferramenta indispensável para os que se dedicam ao estudo da história do pensamento social brasileiro. Leia Mais

Caminhos da saúde pública no Brasil | Jacobo Finkelman

Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo

(Gabriel Garcia Marques, Cem anos de solidão).

Bem se poderia introduzir o livro Caminhos da saúde pública no Brasil pelo título talvez mais conhecido do escritor colombiano Garcia Marques, Cem anos de solidão. Este livro dá, em alguma medida, um termo de comparação às histórias das doenças públicas que coabitam o território brasileiro junto com suas diversas populações. Seja porque se pode dizer que Garcia Marques trazia em suas raízes uma relação cotidiana com diferentes processos de saúde e doença que fica aparente no livro — seu pai era proprietário de uma farmácia homeopática —, seja porque a América Latina, região não-imaginária de que fala o livro, também estabeleceu muito das suas relações internas e de vizinhança como um espaço de experimentação sobre a doença e a saúde, por exemplo como sede de um dos primeiros organismos internacionais de cooperação a atuarem no mundo, especialmente nessa área, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), criada em 19021. Leia Mais

História e ensino de história | Thaís Nívia de Lima Fonseca

Resenhista

Karina Ribeiro Caldas – Mestranda em História na Universidade Federal de Goiás.

Referências desta Resenha

FONSECA, Thaís Nivía de Lima e. História e ensino de história. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. Resenha de: CALDAS, Karina Ribeiro. História Revista. Goiânia, v.9, n.1, p.145-149, jan./jun.2004. Acesso apenas pelo link original [DR]

O Império do Brasil | Lucia Bastos P. das Neves

NEVES, Lucia Maria Bastos Pereira; MACHADO, Humberto. O Império do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Resenha de: VAINFAS, Ronaldo. Revista Maracanan. Rio de Janeiro, v.2, n.2, p.186-189, 2004.

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Chico Buarque & Vianinha: Arte e Política no Brasil Contemporâneo | Fênix – Revista de História e Estudos Culturais | 2004

O Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura (NEHAC), da Universidade Federal de Uberlândia, completou, em 2004, dez anos de existência. Ao longo desse período, o NEHAC fomentou pesquisas voltadas para o estudo das relações existentes entre História e Linguagens Artísticas, especialmente no que se refere às interlocuções com Teatro, Cinema, Literatura e Música. Nesse sentido, desenvolveu trabalhos ao nível de monografias de conclusão de curso, iniciação científica, mestrado que, integrados aos projetos dos professores Rosangela Patriota e Alcides Freire Ramos, têm contribuído tanto para a formação de profissionais da área de História, quanto com oportunas reflexões sobre o Brasil Contemporâneo sob o olhar da História Cultural.

As expectativas do NEHAC, porém, não se restringiram somente à produção de conhecimento. Pelo contrário, esse grupo de pesquisa participa ativamente de congressos científicos e desenvolve uma produção bibliográfica com o objetivo de tornar públicas essas investigações. Como resultado dessa empreitada, além de publicações especializadas, o Núcleo de Estudos em História Social da Arte e da Cultura assina uma coluna semanal – NEHAC – no Caderno Revista, do jornal Correio, de Uberlândia, além de contribuir, quinzenalmente, no mesmo periódico, com a coluna de cinema intitulada Script Tease. Ambas podem ser acessadas pelo site http://www.jornalcorreio.com.br. Leia Mais

O poder amargo do açúcar: produtores escravizados, consumidores proletarizados | Sidney W. Mintz

MINTZ, Sidney W. O poder amargo do açúcar: produtores escravizados, consumidores proletarizados. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2003. Resenha de: MACIEL, Caio Augusto Amorim. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.22, n.1, p.363-366, jan./dez. 2004.

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Palácio para guardar doidos: uma história das lutas pela construção do hospital de alienados e da psiquiatria no Rio Grande do Sul | Yonissa Marmitt Wadi || Arquivos da loucura: Juliano Moreira e a descontinuidade histórica da psiquiatria | Vera Portocarrero

O tema da constituição da psiquiatria no Brasil, que há algumas décadas vem sendo estudado em diferentes áreas — da psiquiatria às ciências sociais —, ganha agora mais duas contribuições importantes: Palácio para guardar doidos, de Yonissa Marmitt Wadi, e Juliano Moreira e a descontinuidade histórica da psiquiatria, de Vera Portocarrero. Os dois trabalhos são, respectivamente, frutos de dissertações de mestrado na área da história e da filosofia, abordando os desenvolvimentos da psiquiatria em cidades e períodos históricos distintos. O livro de Wadi trata do processo de construção do primeiro hospício da província de São Pedro do Rio Grande do Sul — que culminou em 1884 com a criação do Hospício São Pedro. Analisa o lugar que a medicina ocupou nesse processo e em seus desenvolvimentos até os anos 1940. Já a dissertação de Portocarrero — defendida em 1980, e agora felizmente publicada através da iniciativa da Coleção Loucura & Civilização — toma como objeto a transformação da ciência e da assistência psiquiátrica no Brasil, no início do século XX, representada no pensamento do psiquiatra baiano Juliano Moreira. Leia Mais

Homo brasilis: aspectos genéticos, lingüísticos, históricos e socioantropológicos da formação do povo brasileiro | Sérgio J. Pena

És samba e jongo, xiba e fado, cujosAcordes são desejos e orfandadesDe selvagens, cativos e marujos;E em nostalgias e paixões consistesLasciva dor, beijo de três saudades,Flor amorosa de três raças tristes. Olavo Bilac, Música brasileira

A descoberta, em 1953, da estrutura físico-química do DNA e, conseqüentemente, do gene, abriu possibilidades antes inimagináveis para vários campos do conhecimento sobre a vida. Da zoologia à botânica, da fisiologia à embriologia, da paleontologia à microbiologia, da anatomia à medicina, da biogeografia à evolução, da etologia à psicologia etc. — todas essas ciências receberam substanciais impulsos uma vez que a comparação entre a linguagem dos genes das mais diferentes espécies e variedades tornou-se acessível. O estudo sobre a formação das populações humanas (da espécie Homo sapiens) também sofreu essa influência. Como as populações humanas fazem parte de uma espécie biológica, os DNAs contidos nas células humanas podem ser analisados a partir de técnicas e conceitos moleculares com vistas a descrever e compreender melhor a constituição e formação genética de cada um dos diferentes tipos de população humana que povoaram e povoam este planeta. Leia Mais

Fundação Ataulpho de Paiva — Liga Brasileira contra a Tuberculose: um século de luta | Dilene Raimundo Nascimento

O livro de Dilene Nascimento acompanha a trajetória da Fundação Ataulpho de Paiva ao longo de um século de existência, desde o surgimento da Liga Brasileira contra a Tuberculose, em 4 de agosto de 1900, até o tempo presente, apontando suas perspectivas. Contudo, muito mais que “conhecer” a história da luta contra a tuberculose no início do século XX, seu trabalho nos permite refletir sobre a relação entre a filantropia, a assistência médica e o Estado ao longo deste período.

A Liga Brasileira contra a Tuberculose, criada no Rio de Janeiro, reunia médicos, higienistas, intelectuais, membros da alta sociedade carioca que buscavam a cura desta doença, bem como sua profilaxia. O debate em torno desta doença era grande desde o final do século XIX, tanto na Academia de Medicina quanto na imprensa quotidiana. Nesta época, foi criada uma comissão chefiada por Domingos Freire para ir à Alemanha estudar a eficácia terapêutica da tuberculina de Koch, recém-descoberta (1890) e, logo depois, o Jornal do Commercio patrocinou experiências com a tuberculina de Koch nas enfermarias da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Toda esta ambiência criou um espaço propício para a reunião de um grupo de médicos e intelectuais em torno da idéia, lançada em 1899 por Cypriano de Freitas na Academia de Medicina, de se fundar um órgão específico para o combate da tuberculose. Deste “marco zero” à atuação contemporânea da Fundação Ataulpho de Paiva, é uma longa jornada. Leia Mais

Corumbá de todas as graças | Augusto César Proença

Augusto César Gomes da Silva, mais conhecido pelo nome literário Augusto César Proença, é um escritor corumbaense que publicou diversas obras desde a década de 1970, entre elas os contos Snack Bar (1979), A Sesta (1993), A Condução (1993), Para Qualquer Lugar (1995), a novela Raízes do Pantanal, (1989), o livro Pantanal: Gente Tradição e História (1993) e o conto Nessa Poeira Não Vem Mais Seu Pai (1996), adaptado para o teatro pelo grupo Anteato de Artes Cênicas e roteirizado em 1999 para o filme de curta-metragem pelo cineasta Tito Teijido. Nota-se que o autor possui uma variedade de obras que não lhe confere a designação de um simples memorialista. Contudo, no seu mais recente livro Corumbá de todas as graças está intrínseca a exaltação de um passado, um dos traços comuns da memória enquanto representação.

Em Corumbá de todas as graças Proença traçou parte da trajetória histórica daquela cidade, destacando não só o comércio fluvial internacional como também suas festas e seus costumes. Trata-se de uma narrativa sem o compromisso de análise e sem muito rigor cronológico. Nela o autor descreveu tanto o período colonial quanto os primeiros anos do século atual e intercalou na história de Corumbá a presença dos salesianos. Leia Mais

Educação e Sociedade na Primeira República | Jorge Nagle

No ano de 2001, à guisa de comemoração do terceiro milênio, a DP&A Editora brindou estudiosos, professores de história da educação brasileira e aos demais interessados com a publicação da obra do Prof. Jorge Nagle, Educação e Sociedade na Primeira República. Sua primeira edição (1974), bem como, a reimpressão (1976), resultado de uma parceria entre a Fundação Nacional de Material Escolar/MEC (Rio de Janeiro) e a Editora Pedagógica Universitária (São Paulo), estavam esgotadas há muito tempo. Tal situação forçava as pessoas, por necessidade de ofício, a violar os direitos autorais, xerocopiando a obra no todo ou em partes.

Trata-se de uma obra ímpar na interpretação da educação brasileira, no período da Primeira República. O Autor cunhou as categorias “entusiasmo pela educação” e “otimismo pedagógico”, para explicar a efervescência dos debates e disputas teóricas sobre a trajetória da educação, num momento em que a sociedade brasileira passava pela transição de uma sociedade agrário-comercial por outra, urbano-industrial. Leia Mais

Corumbá de todas as graças | Augusto César Proença

Augusto César Gomes da Silva, mais conhecido pelo nome literário Augusto César Proença, é um escritor corumbaense que publicou diversas obras desde a década de 1970, entre elas os contos Snack Bar (1979), A Sesta (1993), A Condução (1993), Para Qualquer Lugar (1995), a novela Raízes do Pantanal, (1989), o livro Pantanal: Gente Tradição e História (1993) e o conto Nessa Poeira Não Vem Mais Seu Pai (1996), adaptado para o teatro pelo grupo Anteato de Artes Cênicas e roteirizado em 1999 para o filme de curta-metragem pelo cineasta Tito Teijido. Nota-se que o autor possui uma variedade de obras que não lhe confere a designação de um simples memorialista. Contudo, no seu mais recente livro Corumbá de todas as graças está intrínseca a exaltação de um passado, um dos traços comuns da memória enquanto representação.

Em Corumbá de todas as graças Proença traçou parte da trajetória histórica daquela cidade, destacando não só o comércio fluvial internacional como também suas festas e seus costumes. Trata-se de uma narrativa sem o compromisso de análise e sem muito rigor cronológico. Nela o autor descreveu tanto o período colonial quanto os primeiros anos do século atual e intercalou na história de Corumbá a presença dos salesianos. Leia Mais

Brasil e o Mundo: novas visões | Clóvis Brigadão e Domício Proença Junior

“Esta coletânea reúne trabalhos inéditos sobre questões relativas à inserção internacional do Brasil. Trata-se de questão de importância crescente, mas, ainda assim, de esforço exploratório”(p. 09). É dessa forma que Domício Proença Jr. e Clóvis Brigagão apresentam mais um importante empreendimento acadêmico brasileiro, no campo da paz e da segurança. Em Brasil e o Mundo destaca-se o empenho de dois grandes pesquisadores brasileiros na sistematização do conhecimento nacional na área.

Parte de um ambicioso projeto, o livro Brasil e o Mundo representa mais do que a concretização de um plano de trabalho. O motor dessa iniciativa encontra significado maior na perspectiva de fazer “ruir o imobilismo” de um país que, ainda hoje, mostra-se indiferente ao tema. Leia Mais

O Rio em movimento — quadros médicos e (m) história: 1890-1920 | Myriam Bahia Lopes

Para um leitor, como a autora desta resenha, que não é nenhum especialista em história, o livro de Myriam Bahia Lopes, O Rio em movimento — quadros médicos e(m) história: 1890-1920, reserva surpresas instigantes. Embora trate de um período relativamente curto, de um episódio singular, a Revolta da Vacina, e restrito ao Rio de Janeiro, a obra levanta questões que dizem respeito tanto à representação do passado quanto à representação da especificidade brasileira sobre esse passado. O questionamento historiográfico salutar leva o leitor, atento à voz crítica que ali se articula certamente com discrição, mas com firmeza, a se perguntar se alguns lugares-comuns sobre a interpretação do Brasil de hoje não poderiam igualmente ser chacoalhados com proveito.

Desde o início, Myriam Bahia define seu livro como um ensaio, isto é, uma tentativa ou, como ela também diz, uma luta. O livro apresenta um momento histórico preciso, um acontecimento singular, mas, ao mesmo tempo e de forma inseparável, também procede a uma constante auto-reflexão sobre as categorias empregadas nessa apresentação, categorias como “modernidade” (versus “atraso”), civilização, “regeneração” (versus “decadência”). Essa “luta implícita contra a rigidez das palavras”, segundo Myriam, faz desse texto um pequeno laboratório de indagações preciosas sobre algumas idéias prontas, mesmo que bem-intencionadas e progressistas, que circulam a respeito de nossa “triste realidade nacional”, como se diz, e que impedem que se tenha uma percepção mais atenta de sua complexidade, de seus paradoxos, talvez até de suas contradições e também de suas possibilidades insuspeitas. Leia Mais

Ciência/ civilização e império nos trópicos | Alda Heizer

O desenvolvimento das práticas científicas e sua consolidação em museus e instituições de pesquisa, e ainda a criação de redes de cientistas e mecanismos de intercâmbio e divulgação, constituem uma parte fascinante da história do século XIX brasileiro, à espera de ser contada. O fascínio, seja para o historiador ou para o leigo, está na complexa teia de relações que as ciências ali estabelecem com a história social e econômica, com o desenvolvimento das artes e das letras, e também com os meandros políticos e culturais da nação em formação. Não eram apenas as ciências que se estruturavam nos trópicos, mas o próprio país, o que torna o campo de estudo mais intrincado e, por isso mesmo, mais instigante. Dois são os motivos básicos para que essa história não esteja de todo contada: a história social e material do nosso século XIX — ponto de partida para os historiadores das ciências — ainda possui grandes lacunas; e a formação de uma cultura histórica das ciências é fato recente entre nós. Assim, os historiadores das ciências que se debruçam sobre o Império brasileiro acabam desenvolvendo simultaneamente duas frentes de trabalho. Talvez pela necessidade mesma desse múltiplo embate, esses historiadores especializados estão entre os que mais têm contribuído para uma reavaliação global do tempo do Império.

Nada mais oportuno, portanto, do que a publicação do volume Ciência, civilização e império nos trópicos, organizado por Alda Heizer, pesquisadora do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST/MCT), e Antônio Augusto Passos Videira, professor de epistemologia e história da ciência na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a partir das conferências apresentadas no colóquio Ciência, Civilização e Império nos Trópicos, que teve lugar no Rio Janeiro, em 7 e 8 de novembro de 2000, sob a direção do MAST/MCT e da UERJ, com patrocínio da FAPERJ. Leia Mais

Rio Branco, a América do Sul e a modernização do Brasil | Carlos Henrique Cardin e João Almino

Para comemorar o primeiro centenário da posse do barão do Rio Branco como Ministro das Relações Exteriores, a Funag, o Instituto Rio Branco e o Ipri organizaram um seminário no IRBr nos dias 28 e 29 de agosto de 2002. O encontro analisou a atuação de Rio Branco por meio de cinco enfoques: sua visão do Brasil e do mundo, seus contemporâneos, o trabalho pela modernização do Brasil, a política para as Américas e a política brasileira para o Prata. Os textos apresentados foram reunidos por Carlos Henrique Cardim e João Almino, dando origem ao livro lançado, em 2002, pela EMC Edições, prefaciado por Fernando Henrique Cardoso.

Na abertura dos trabalhos, Celso Lafer realçou a relação entre a tradição de uma diplomacia brasileira ancorada à história e à herança paradigmática do fazer diplomático do Barão como diretriz e orientação para as decisões do país. Leia Mais

A diplomacia do interesse nacional: a política externa do governo Médici | Cíntia Souto || As mudanças da política externa brasileira nos anos 80: uma potência média recém industrializada | Ricardo Sennes || A política externa do governo Sarney: a nova república diante do reordenamento internacional (1985-1990) | Analúcia Pereira

Esses são os três primeiros títulos da coleção Estudos Internacionais, coordenada pelo Professor Paulo Fagundes Vizentini e editada pelo Núcleo de Estudos de Estratégia e Relações Internacionais (Nerint) do Instituto Latino-Americano de Estudos Avançados da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em parceria com a Editora da Universidade/UFRGS. A coleção é destinada a divulgar estudos, teses, dissertações e seminários produzidos ou orientados pelos pesquisadores do núcleo, bem como textos relevantes na área de relações internacionais.

Embora trabalhando com temporalidades diferenciadas, de certa forma os três livros têm uma linha de continuidade, pois discutem a mesma matriz de inserção internacional, formulada nos anos 1970 no Brasil e que vigorou até o final da década de 1980, mais conhecida pelo seu ápice, o Pragmatismo Responsável do governo Geisel. Mas a estruturação dessa matriz já vinha ocorrendo no período do Governo Médici, assim como, embora o regime militar tenha formalmente acabado em 1985, seu modelo de inserção internacional duraria até 1990. Nesse sentido, esses autores trabalham com os seus primeiros ensaios (no Governo Médici) e sua crise (já no final do governo Sarney). Leia Mais

Privilégios e imunidades diplomáticos | Sérgio Eduardo Moreira Lima || A imunidade de jurisdição e o Judiciário brasileiro | Márcio Garcia e Antenor Maragna Guimarães Lessa || A renúncia à imunidade de jurisdição pelo Estado brasileiro e o novo direito da imunidade de jurisdição | Antenor Pereira Madruga Filho

Durante o século XX, o direito diplomático experimentou mudanças substanciais, especialmente no que concerne aos privilégios e imunidades, que passaram a ser mais limitados, repercutindo diretamente sobre os agentes das missões diplomáticas e repartições consulares. A codificação das regras relativas às prerrogativas diplomáticas e consulares expressas na Convenção sobre Relações Diplomáticas de 1961 e na Convenção sobre Relações Consulares de 1963, ambas concluídas em Viena, possibilitou um tratamento mais uniforme sobre a matéria. Ademais, observou-se o papel da opinião pública internacional em demandar maior restrição às prerrogativas diplomáticas e consulares sempre que essas contrariassem o direito interno dos países acreditantes.

Essa evolução do costume para a codificação das normas de direito internacional tem tido efeito direto sobre os Poderes da União. No Legislativo, nota-se um movimento na elaboração de Immunity Acts, ou seja, leis que versam sobre os privilégios e imunidades dos agentes diplomáticos e consulares. No Executivo, observa-se o cuidado das Chancelarias em instruir as missões diplomáticas e repartições consulares em respeitar as jurisdições internas dos países acreditantes. No Judiciário, o Supremo Tribunal Federal, que manteve por décadas a posição de reconhecer a imunidade absoluta de jurisdição e de execução dos agentes diplomáticos, mudou sua postura no começo da década de 1990, também como conseqüência das inovações trazidas pela Constituição Federal de 1988, que teve impacto direto sobre as questões trabalhistas envolvendo os Estados acreditados e seus funcionários locais. Paralelamente, a distinção entre os chamados atos de império – ação em que o Estado age como entidade soberana e os atos de gestão – quando o Estado se equipara ao particular, em atos de natureza trabalhista ou comercial – contribuiu para a relativização de imunidade de jurisdição. Leia Mais

Política externa da Primeira República: os anos de apogeu (1902 a 1918) | Clodoaldo Bueno

Nas últimas décadas, o grande historiador Clodoaldo Bueno vem se destacando como um dos mais abalizados sobre a política externa brasileira, fenômeno que agora se repete com o lançamento de sua mais nova obra. Esta já surge como leitura essencial para os que militam no campo da história das relações internacionais, uma vez que o autor, demonstrando amplo conhecimento do tema em questão, narra, de forma celebrável, o desenrolar da formulação da política externa nos anos seguintes à década do nascedouro da República brasileira. O prefácio do professor Amado Luiz Cervo fala por si: a obra “compõe, ademais, a tríade de obras hoje indispensáveis ao conhecimento da evolução da política exterior durante a denominada República Velha”, juntamente com outro livro de Bueno, A República e sua política exterior, 1889-1902 (São Paulo: Ed. Unesp, 1995) e a Tese de Doutorado defendida por Eugênio Vargas Garcia, Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 (Universidade deBrasília, 2001).

Apresentando recorte temporal de 1902 a 1918, Bueno seduz o leitor com a forma que o argumento principal de seu livro é exposto. Tendo como desafio principal “reconstruir o sistema de idéias de Rio Branco” (p. 23), o autor a ele dedica a parte mais longeva da obra, sem que haja, no entanto, a ausência de uma correta exploração da formulação da política externa brasileira nos anos que antecederam e precederam a chancelaria do Barão (1902-1912). Leia Mais

A Era dos Festivais – Uma Parábola | Zuza Homem de Mello

Os festivais da canção realizados ao longo das décadas de 1960 e 1970 constituem, sem dúvida, marcos significativos na trajetória da história da música brasileira. Nesse período, novos talentos foram descobertos, movimentos musicais se renovaram e redimensionaram a música popular brasileira. Uma revisão do conceito de MPB impulsionou intensos debates acerca das relações entre a música e a política, fomentou discussões sobre a estética e suas articulações com o social. No bojo dessa efervescência cultural, compositores, músicos e intérpretes se depararam com as limitações impostas pelo regime militar, seus atos de exceção e, principalmente, pela ação censória. Não por acaso, muitos dos artistas envolvidos nos embates estéticos e políticos do período foram exilados, perseguidos e presos.

A Era dos Festivais – Uma Parábola reporta o leitor à magia dos festivais e o coloca diante da euforia do público, da competitividade entre os participantes, dos bastidores dos eventos musicais. O volume que integra a coleção “Todos os Cantos”, publicada pela Editora 34, se mostra envolvente como uma crônica, mas alia à narrativa romanceada uma vasta documentação, capaz de suscitar múltiplos interesses e chamar a atenção das mais distintas gerações. Zuza Homem de Mello atua como “testemunho ocular da história” – parafraseando o locutor do memorável programa Repórter Esso; envereda pela atmosfera agitada daqueles anos e apresenta versões controvertidas de casos pitorescos flagrados durante a realização dos festivais. Leia Mais

Relações internacionais: visões do Brasil e da América Latina | Estevão Chaves de Rezende Martins || A construção da Europa: a última utopia das relações internacionais | Antônio Carlos Lessa || Relações internacionais: economia política e globalização | Carlos Pio || Relações internacionais: teorias e agendas  | Antônio Jorge Ramalho da Rocha || Cooperação/ integração e processo negociador: a construção do Mercosul | Alcides Costa Vaz || Relações internacionais: cultura e poder | Estevão Chaves de Rezende Martins || Relações internacionais da América Latina: velhos e novos paradigmas | Amado Luiz Cervo || Relações internacionais e temas sociais: a década das conferências | José Augusto Lindgren Alves || Relações internacionais: dois séculos de história | José Flávio Sobra Saraiva

Com a publicação de mais quatro volumes, completa-se a coleção “Relações Internacionais”, do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (Ibri), organizada pelo diretor desse, José Flávio Sombra Saraiva. Com o apoio da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e o patrocínio da Petrobrás, a coleção vem ao encontro e confirma, ao mesmo tempo, a maturidade que tem alcançado a produção acadêmica brasileira na área de relações internacionais.

O volume organizado por Estevão Chaves de Rezende Martins, Relações internacionais: visões do Brasil e da América Latina, reúne uma série de trabalhos sobre diversos temas importantes, escritos por especialistas brasileiros, argentinos e europeus. O livro é uma bela e mais do que merecida homenagem a Amado Luiz Cervo, editor desta Revista, que tem uma produção acadêmica notável no âmbito da história das relações internacionais, particularmente da política externa brasileira. Leia Mais

Brasil, Argentina e Estados Unidos: conflito e integração na América do Sul (Da Tríplice Aliança ao Mercosul, 1870-2003) | Luiz Alberto Moniz Bandeira

Moniz Bandeira, mais uma vez, surpreende. Sua nova obra, fruto de trabalho intelectual iniciado há 27 anos, consolida e desdobra suas reflexões acerca da inserção internacional do Brasil, já presentes, em grande parte, em outros trabalhos de igual fôlego como O expansionismo brasileiro e a formação dos Estados na Bacia do Prata (1980); Estado nacional e política internacional na América Latina: o continente através das relações Argentina-Brasil, 1930-1992 (1995); e Relações Brasil-EUA no contexto da globalização: rivalidade emergente (1999).

A referência aos seus trabalhos anteriores não exclui a originalidade do novo texto, que consubstancia um conhecimento resultante de três décadas de pesquisa. Ademais, Moniz Bandeira analisa a inserção internacional do Brasil no período mais recente da história das relações internacionais da mudança da conjuntura mundial em 1989-1991 aos dias atuais e comenta, sucintamente, os marcos teóricos que orientam sua reflexão, elemento praticamente ausente nos trabalhos anteriores. Leia Mais

Relações Internacionais do Brasil: de Vargas a Lula | Paulo Fagundes Vizentini

O estudo da política externa brasileira tem se valido dos avanços positivos experimentados por esse campo do conhecimento como um reflexo direto de programas de pesquisa cada vez mais consolidados e do incentivo à produção acadêmica provenientes das esferas pública e privada. Esses avanços, contudo, não representam um esgotamento dos temas a serem apreciados e das questões a serem resolvidas. Pelo contrário, o próprio caráter dinâmico da história faz com que o aperfeiçoamento do conhecimento seja a tarefa a ser buscada, o que de fato é exigido do estudo da história da política exterior do Brasil e dentro do qual o livro Relações Internacionais do Brasil: de Vargas a Lula é produto direto dessa preocupação eminentemente acadêmica.

A obra de Paulo Fagundes Vizentini responde às necessidades quase obsediantes daqueles diplomatas, professores, estudantes ávidos pelo conhecimento dos fatos mais relevantes da nossa história política contemporânea. Nesse sentido, destaque para a quarta parte do livro, na qual o autor enfoca o período de 1990 a 2002, apreciando e relacionando os impactos da globalização neoliberal com o culto irrestrito ao americanismo na passagem dos dois “Fernandos” pela presidência do Brasil, o que teria profundas repercussões sobre os rumos da política exterior do país. Além disso, procura demonstrar a fragilidade do Mercosul enquanto estratégia de inserção internacional, ao mesmo tempo em que aponta para o abandono do projeto nacional, que havia se amparado sobre o nacional-desenvolvimentismo no período anterior. Leia Mais

Chica da Silva e o contratador dos diamantes. O outro lado do mito | Júnia Ferreira Furtado

O mais novo livro de Júnia Ferreira Furtado, Chica da Silva e o contratador dos diamantes, conquanto possa ser lido como uma unidade discreta no interior da produção historiográfica da estudiosa mineira, alcança seu pleno sentido quando lido como parte integrante de uma pesquisa coerente sobre o avanço da colonização lusitana para o interior da América portuguesa e a implantação de núcleos de povoamento que possibilitaram a reprodução das estruturas de poder do Estado português em lugares cada vez mais distantes do centro de deliberação por excelência, a Metrópole.

Em livro publicado em 1998, Homens de negócio, a autora discutiu o importante papel que coube ao comércio como mecanismo propiciador da interiorização da Metrópole nas regiões em que os paulistas descobriram ouro. A necessidade de criação de novas rotas comerciais visando ao abastecimento dos novos núcleos urbanos afastados do litoral conduziu à organização do comércio de abastecimento que entrelaçava interesses de reinóis àqueles de muitos colonos que se lhes associaram. Segundo Júnia Ferreira Furtado, “o controle do mercado de abastecimento, essencial para sustentar uma população urbana que crescia; a cobrança de impostos sobre a atividade mercantil, como forma suplementar de arrecadação de metais; e o mecanismo de endividamento da população local, que ficava nas mãos dos comerciantes, foram algumas das estratégias de expansão dos interesses metropolitanos nas Minas, por meio da atividade mercantil”. Para além dos interesses propriamente mercantis, muitos comerciantes reinóis, prepostos de grandes casas de comércio lusas na América portuguesa, acabavam por dedicar-se à agricultura, à pecuária, à mineração, adquirindo terras, escravos, fixando-se à terra a ponto dos seus interesses não se diferenciarem dos interesses do colonato em geral. Leia Mais

Velhos Amigos | Ecléa Bosi

Ouvir o que os velhos têm a dizer sobre o passado raramente é experimentado e entendido como uma atividade aprazível. Identificar a poesia e a beleza contidas no conteúdo das narrativas memoriais é, ainda mais, uma tarefa de difícil realização. A exceção fica por conta dos interessados em estudar a memória, a oralidade, a narratividade e outros temas que vicejam nos campos acadêmicos, cultivados por pesquisadores, intelectuais e similares. Desde a modernidade que a memória parece relegada ao plano dos estudos, se descolando da característica de atividade construtiva do cotidiano humano.

Mas a professora Ecléa Bosi, ao conceber e escrever Velhos Amigos, não se deteve nessas questões, felizmente! Velhos Amigos tem ares de reencontro com narradores do ontem e do hoje, exibindo as fímbrias da teia que estabelecem os elos entre passado e presente. Esse texto estabelece o retorno a Memória e Sociedade; lembranças de velhos, tese de livre-docência da autora, publicada em 1973. Na apresentação do trabalho – originalmente a argüição a tese –, Marilena Chauí, a certa altura, escreveu que “o pensamento compartilhado. Outrora, a filosofia o nomeava: diálogo” (p. XXI). Ao terminar a leitura de Velhos amigos, recordei dessa afirmação esclarecedora. Fui conferi-la e criei a impressão de que Ecléa Bosi constrói essa interlocução de forma saborosa no livro em tela. Leia Mais

Educação e Sociedade na Primeira República | Jorge Nagle

No ano de 2001, à guisa de comemoração do terceiro milênio, a DP&A Editora brindou estudiosos, professores de história da educação brasileira e aos demais interessados com a publicação da obra do Prof. Jorge Nagle, Educação e Sociedade na Primeira República. Sua primeira edição (1974), bem como, a reimpressão (1976), resultado de uma parceria entre a Fundação Nacional de Material Escolar/MEC (Rio de Janeiro) e a Editora Pedagógica Universitária (São Paulo), estavam esgotadas há muito tempo. Tal situação forçava as pessoas, por necessidade de ofício, a violar os direitos autorais, xerocopiando a obra no todo ou em partes.

Trata-se de uma obra ímpar na interpretação da educação brasileira, no período da Primeira República. O Autor cunhou as categorias “entusiasmo pela educação” e “otimismo pedagógico”, para explicar a efervescência dos debates e disputas teóricas sobre a trajetória da educação, num momento em que a sociedade brasileira passava pela transição de uma sociedade agrário-comercial por outra, urbano-industrial. Leia Mais

Norte-americanos no Brasil: uma história da Fundação Rockefeller na Universidade de São Paulo (1934-1952) | María Gabriela S. M. C. Marinho

En los últimos años han parecido varios y valiosos estudios sobre el papel de la Fundación Rockefeller, una institución creada en 1913, en la organización del conocimiento científico, la reforma de la enseñanza médica y la ejecución de campañas de salud internacionales. Originalmente, las primeros investigaciones se concentraban en el lado emisor, o norteamericano, y enfatizaban las motivaciones del mismo. Las motivaciones mas tradicionales eran las humanitarias y filantrópicas y las explicaciones mas críticas presentaban el programa de la Rockefeller como un medio más sofisticado para proteger e incrementar la productividad de las economías ligadas al capitalismo norteamericano y controlar a las élites locales a través de los sutiles mecanismos de la hegemonía cultural. Sin embargo, desde hace algunos pocos años los estudios sobre la relación entre la fundación y la ciencia se extendieron a varios países del mundo donde nuevos estudios empezaron a enfatizar el papel de la Rockefeller en los procesos locales de recepción, negociación y diferenciación entre grupos profesionales competitivos. Este importante libro de Marinho es ciertamente una contribución notable a esta renovada perspectiva de estudiar el impacto de la Rockefeller desde lo local. Leia Mais

O livro de ouro da história do Brasil | Mary del Priore

Resenhista

Cristiano Alencar Pereira Anais – Doutorando em História pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Referências desta Resenha

PRIORE, Mary del; VENÂNCIO, Renato P. O livro de ouro da história do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. Resenha de: ANAIS, Cristiano Alencar Pereira. História Revista. Goiânia, v.8, 1-2, p.159-162, jan./dez.2003. Acesso apenas pelo link original [DR]

Cidade do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003

Organizador

Luiz Edmundo Tavares

Referências desta apresentação

TAVARES, Luiz Edmundo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.13-14, 2003. Acesso apenas no link original [DR]

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Olhares sobre Gustavo Barroso | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003

Organizador

Aline Montenegro Magalhães

Referências desta apresentação

MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.177-178, 2003. Acesso apenas no link original [DR]

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O Rio no acervo do Museu Histórico Nacional  | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003

Velhos Amigos | Ecléa Bosi

Ouvir o que os velhos têm a dizer sobre o passado raramente é experimentado e entendido como uma atividade aprazível. Identificar a poesia e a beleza contidas no conteúdo das narrativas memoriais é, ainda mais, uma tarefa de difícil realização. A exceção fica por conta dos interessados em estudar a memória, a oralidade, a narratividade e outros temas que vicejam nos campos acadêmicos, cultivados por pesquisadores, intelectuais e similares. Desde a modernidade que a memória parece relegada ao plano dos estudos, se descolando da característica de atividade construtiva do cotidiano humano.

Mas a professora Ecléa Bosi, ao conceber e escrever Velhos Amigos, não se deteve nessas questões, felizmente! Velhos Amigos tem ares de reencontro com narradores do ontem e do hoje, exibindo as fímbrias da teia que estabelecem os elos entre passado e presente. Esse texto estabelece o retorno a Memória e Sociedade; lembranças de velhos, tese de livre-docência da autora, publicada em 1973. Na apresentação do trabalho – originalmente a argüição a tese –, Marilena Chauí, a certa altura, escreveu que “o pensamento compartilhado. Outrora, a filosofia o nomeava: diálogo” (p. XXI). Ao terminar a leitura de Velhos amigos, recordei dessa afirmação esclarecedora. Fui conferi-la e criei a impressão de que Ecléa Bosi constrói essa interlocução de forma saborosa no livro em tela. Leia Mais

Fronteira Rebelde: A Vida e a Época dos Últimos Caudilhos Gaúchos | John Charles Chasteen

O livro é resultado da tese de doutorado de John Charles Chasteen, publicada em 1995 pela University of New Mexico com o título “Heroes on Horseback: a Life and Times of the Last Gaucho Caudillos” 3. O texto é prefaciado pela professora Helga Iracema Landgraf Piccolo, que ressalta a importância da pesquisa realizada pelo historiador norte-americano relativa à fronteira do Rio Grande o Sul e do Uruguai enquanto um espaço privilegiado para a ação dos caudilhos, no caso os irmãos Gumercindo e Aparício Saraiva/Saravia.

Como ressalta o autor no capítulo introdutório “Caudilhos”, o livro está organizado em dois conjuntos de capítulos intercalados. Nos capítulos narrativos, intitulados por datas, são descritas as trajetórias pessoais dos irmãos Saraiva/Saravia, com os principais episódios políticos e militares em que estiveram envolvidos; de “Janeiro de 1893” até “Janeiro a Agosto de 1894” o teatro da narrativa é a Revolução Federalista de 1893, e o grande protagonista é chefe maragato Gumercindo, o mais velho, tendo Aparício um papel secundário; de “Outubro de 1895” até “Março de 1897 a Setembro de 1904” as atenções voltam-se para as últimas ações armadas promovidas pelos blancos uruguaios comandados por Aparício. Leia Mais

A Utopia Arpada – rebeliões de pobres nas matas do Tombo Real (1832-1850) | Dirceu Lindoso

LINDOSO, Dirceu. A Utopia Arpada – rebeliões de pobres nas matas do Tombo Real (1832-1850). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. Resenha de: FERRAZ, Maria do Socorro. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.21, n.1, p. 333-336, jan./dez. 2003.

Acesso apenas pelo link original [DR]

Espaços da ciência no Brasil: 1800-1930 | Maria Amélia M. Dantes

Organizado pela professora Maria Amélia M. Dantes, docente do programa de pós-graduação em história social da Universidade de São Paulo (USP), a presente publicação abrange sete estudos que integraram um amplo projeto, financiado parcialmente pelo CNPq, no qual foram analisadas a constituição de diferentes instituições científicas brasileiras, seus modelos organizacionais e práticas estabelecidas.

Como resultado deste projeto, além dos trabalhos de pós-graduação relacionados, surge esta publicação que deverá ocupar lugar importante na historiografia sobre as atividades científicas realizadas no país. Leia Mais

Race/ Place/ and Medicine:The Idea of the Tropics in Nineteenth-Century Brazilian Medicine | Julyan G. Peard

Esse livro oportuno e bem escrito ilumina partes da ciência brasileira que até recentemente haviam permanecido esquecidas — tal como a Escola Tropicalista Bahiana que constitui o centro da pesquisa —, apesar mesmo da considerável bibliografia já produzida sobre a ciência e a medicina coloniais, quase sempre sinônimo de medicina tropical, que entretanto raramente consideraram os países latino-americanos pois já eram nações independentes nos períodos focalizados por essa historiografia.

Julyan Peard rejeita a antiga interpretação de que a ciência no Brasil era inexistente ou pouco significativa anteriormente ao século XX. Com uma respeitável coleção de fontes primárias e secundárias, ela conta aos leitores uma história diferente e agradável sobre a Escola Tropicalista Bahiana, que se iniciou previamente à revolução bacteriológica e à grande expansão colonial européia. Em suas palavras: “um grupo de médicos no século XIX no Brasil, visando adaptar a medicina ocidental para melhor atacar questões específicas desse país tropical, buscaram novas respostas para a velha questão de se as doenças de climas quentes seriam ou não distintas daquelas da Europa temperada. Em sua busca, usaram os instrumentos da própria medicina ocidental para se contrapor às idéias a respeito da fatalidade dos trópicos e de seus povos, e reivindicaram a competência brasileira”. Leia Mais

A vida cotidiana no Brasil moderno: a energia elétrica e a sociedade brasileira (1880-1930) | Centro de Memória da Eletricidade no Brasil

O Centro de Memória da Eletricidade no Brasil, criado em 1986 com o objetivo de promover a preservação do patrimônio histórico da energia elétrica no Brasil, dedica-se, entre outras atividades, à produção de uma historiografia voltada para a compreensão do processo de implantação da energia elétrica e de seu desenvolvimento no país. Essa produção tem chamado a atenção pela qualidade em termos de informações iconográficas e textuais sobre o tema; citando como exemplos mais recentes: Cidade em movimento: energia elétrica e meios de transporte na cidade do Rio de Janeiro (2001); Energia elétrica no Brasil ¾ 500 anos (2000); e Reflexos da cidade: a iluminação pública na cidade do Rio de Janeiro (1565-1930) (1999).

Em outubro de 2001, comemorando o seu 15º aniversário, a instituição lançou A vida cotidiana no Brasil moderno: a energia elétrica e a sociedade brasileira (1880-1930). Esse último lançamento realizado “no apagar das luzes”, num momento em que a ordem do dia era o racionamento de energia elétrica como conseqüência da crise no setor, explicita a atualidade do tema. Vale ressaltar a formação da equipe de autores da obra, constituída em grande parte por historiadores e museólogos. Leia Mais

Os delírios da razão: médicos/ loucos e hospícios — Rio de Janeiro/ 1830-1930 | Magali Gouveia Engel

As reflexões sobre o campo médico-psiquiátrico no Brasil servem de instrumento para trazer à baila questões que envolvem dispositivos de poder e disciplina, na constituição de um saber que acabou por monopolizar a ‘verdade’ sobre a doença mental; além disso, tais considerações podem incidir sobre outros discursos, de modo a permitir verificar e, mesmo, desconstruir estratégias desenvolvidas ao longo de diferentes processos históricos. Afinal, “O discurso não é simplesmente o que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas este porque, este por meio de que luta, o poder de que se busca apoderar-se” (Michel Foucault, A ordem do discurso, Paris, Gallimard, 1971, p. 12).

Desse modo, cada vez mais despontam historiadores e outros pensadores da cultura que se debruçam sobre a história das disciplinas que tratam do mental. O Império, por exemplo, passou a ser objeto de interesse para aqueles que indagam a respeito dos processos de consolidação do campo psi — campo que abarca as disciplinas que se debruçam sobre o psiquismo — e das abordagens sobre a loucura. Do mesmo modo, os períodos pós-colonial e as repúblicas são objeto de crescente atenção, como via de acesso às temáticas acerca do papel crítico que as novas metrópoles tiveram para a delimitação do campo psi, e o papel das políticas de saúde do Estado, das universidades etc. daí decorrentes. As atuais discussões antimanicomiais, as questões estabelecidas pela hipermedicalização do mal-estar psíquico, bem como as mais novas teorias genéticas, entre tantos outros objetos que confrontam o campo psi hoje, exigem uma realocação da arquitetura da saúde mental, assim como um novo tracejamento das disciplinas que tratam do irracional, da desrazão, do destempero, da vesânia, do delírio, das intensidades, do inconsciente e da pulsão em nossas bandas.   Dando um rumo singular a essas questões, Os delírios da razão: médicos, loucos e hospícios — Rio de Janeiro, 1830-1930, de Magali Gouveia Engel, é extremamente bem-vindo. Constitui material precioso para os que se interessam pela pesquisa genealógica e/ou os que intentam pensar o que se convencionou chamar de campo psi  as diversas disciplinas que trabalham com os fenômenos psíquicos hoje no Brasil. Leia Mais

História do Rio Grande do Sul dos dois primeiros séculos | Carls Teschauer

A reedição da historiografia colonial há muito esgotada é um dos desafios do presente para o setor editorial acadêmico brasileiro, pois a maioria das bibliotecas não possui acervos completos. Esse é um dos fatores que influenciam no desequilíbrio entre as pesquisas realizadas sobre cada um dos períodos em que tradicionalmente é dividida a História do Brasil (colônia, império e república), na qual os estudos coloniais detêm um percentual médio de 14% nas últimas duas décadas. Certamente, com bibliotecas bem abastecidas, existiria mais incentivo para atrair novos talentos e aumentar a produção da historiografia colonial, cuja renovação e construção são muito necessárias.

Contribuindo para superar os limites da escassez de obras antigas, a Editora da Unisinos presta mais um grande serviço ao publicar a segunda edição da obra magna de Carlos Teschauer, considerado o pai da história gaúcha pela historiografia tradicional. Publicada originalmente no intervalo de 5 anos, veio ao lume em 1918 (406 p.), 1921 (446 p.) e 1922 (509 p.), sendo um marco editorial no Rio Grande do Sul e mesmo no Brasil, onde poucas obras dessa envergadura haviam sido publicadas. Sua importância, além do conteúdo, foi a criação de uma narrativa baseada em vasta quantidade de documentos inéditos, muitos publicados ali pela primeira vez, levantados em diversos arquivos do Brasil, Argentina e Uruguai. Também pelo uso das principais obras sobre o tema, as quais foram tratadas com uma perspectiva bastante crítica e rara para a época, conforme declara Teschauer na introdução da obra: “Grande parte dos nossos historiadores ainda está – o que parece incrível e não tem razão de ser – sob a influência e pressão da historiografia do século XVIII. Esta levantou, no correr dos tempos, uma espécie de muralha de inverdades, inexatidões e prevenções e criou uma tradição falseada quase insuperável, que se alteia entre o nosso tempo e a verdade histórica”. Leia Mais

História do Rio Grande do Sul dos dois primeiros séculos | Carlos Teschauer

A reedição da historiografia colonial há muito esgotada é um dos desafios do presente para o setor editorial acadêmico brasileiro, pois a maioria das bibliotecas não possui acervos completos. Esse é um dos fatores que influenciam no desequilíbrio entre as pesquisas realizadas sobre cada um dos períodos em que tradicionalmente é dividida a História do Brasil (colônia, império e república), na qual os estudos coloniais detêm um percentual médio de 14% nas últimas duas décadas. Certamente, com bibliotecas bem abastecidas, existiria mais incentivo para atrair novos talentos e aumentar a produção da historiografia colonial, cuja renovação e construção são muito necessárias.

Contribuindo para superar os limites da escassez de obras antigas, a Editora da Unisinos presta mais um grande serviço ao publicar a segunda edição da obra magna de Carlos Teschauer, considerado o pai da história gaúcha pela historiografia tradicional. Publicada originalmente no intervalo de 5 anos, veio ao lume em 1918 (406 p.), 1921 (446 p.) e 1922 (509 p.), sendo um marco editorial no Rio Grande do Sul e mesmo no Brasil, onde poucas obras dessa envergadura haviam sido publicadas. Sua importância, além do conteúdo, foi a criação de uma narrativa baseada em vasta quantidade de documentos inéditos, muitos publicados ali pela primeira vez, levantados em diversos arquivos do Brasil, Argentina e Uruguai. Também pelo uso das principais obras sobre o tema, as quais foram tratadas com uma perspectiva bastante crítica e rara para a época, conforme declara Teschauer na introdução da obra: “Grande parte dos nossos historiadores ainda está – o que parece incrível e não tem razão de ser – sob a influência e pressão da historiografia do século XVIII. Esta levantou, no correr dos tempos, uma espécie de muralha de inverdades, inexatidões e prevenções e criou uma tradição falseada quase insuperável, que se alteia entre o nosso tempo e a verdade histórica”. Leia Mais

Ser médico no Brasil: o presente no passado | André Faria de Pereira Neto

O livro Ser médico no Brasil: o presente no passado, de André de Faria Pereira Neto, examina de forma muito original como elites médicas se mobilizaram no início do século XX, com o objetivo de avançar o processo de profissionalização dessas carreiras no país.

Esmiuçando os debates ocorridos entre participantes de um congresso de médicos realizado em 1922, o autor destaca no passado vários aspectos que continuam marcando a prática médica nos dias de hoje, dando novo significado às situações que presenciamos no cotidiano da medicina. Seu primeiro achado foi destacar o Congresso Nacional dos Práticos como o evento relevante a ser analisado. Esta opção, entre vários outros caminhos que ele poderia ter tomado para pesquisar o tema, abordou com criatividade o mundo dos médicos às voltas com o profissionalismo. Assim, escolheu a dedo um evento que melhor lhe permitiria pesquisar as preocupações dos médicos com a profissão em um contexto de mudanças nas formas de se exercer a atividade. Leia Mais

Breve painel etno-histórico de Mato Grosso do Sul | Gilson Rodolfo Martins

A década de 1990 testemunhou o florescimento de obras de divulgação sobre povos indígenas no Brasil, feitas por antropólogos, historiadores e arqueólogos profissionais. Em grande medida, esses livros levaram ao grande público informações básicas e corretas, suplantando uma série de erros e má interpretações perpetradas e reproduzidas pela maioria dos livros didáticos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Outra contribuição importante desses trabalhos é a difusão de conteúdos politicamente orientados, visando levar ao público conhecimentos que auxiliem na formação de opiniões humanitárias e democráticas baseadas na ética e na justiça social, tanto para reduzir o preconceito e etnocentrismo arraigados contra os povos indígenas, quanto para que se possa ponderar adequadamente sobre os diversos conflitos interétnicos, especialmente em relação à luta pela manutenção e/ou reconquista de territórios tradicionais. Leia Mais

Pré-História do Brasil: As origens do homem brasileiro; O Brasil antes de Cabral; Descobertas arqueológicas recentes | Pedro Paulo Funari e Francisco Noelli

Até princípios do século XX, a história das populações pré-históricas aborígenes que habitaram o atual território brasileiro era um tema pouco conhecido e sobre o qual não existia interesse maior. Afortunadamente, estas concepções, que silenciavam a rica e complexa História desses povos, paulatinamente foram ficando para trás. Precisamente, “Pré-história do Brasil…”, escrita por dois importantes arqueólogos brasileiros, resulta ser uma obra clara e simples que permite ao leitor obter uma idéia geral sobre o processo de ocupação humana do território onde hoje está o Brasil. Por sua vez, possui uma linguagem amena, que evita terminologias complexas, próprias do jargão arqueológico, fazendo com que o livro possa chegar a um público amplo e heterogêneo. Leia Mais

Em busca do Povo Brasileiro – Artistas da revolução, do CPC à era da TV | Marcelo Ridenti

A utopia de uma efetiva aproximação entre os intelectuais, os artistas e o povo brasileiro é o tema central desse livro de Marcelo Ridente, que, em última instância, trata da produção cultural inspirada no âmbito da então sonhada Revolução Brasileira. Apesar das especificidades de cada uma das áreas artísticas abordadas, é possível observar, através do estudo proposto, as diversas problemáticas que nortearam a produção cultural brasileira, em meados dos anos 60 e 70 – um período de intensos debates sobre a viabilidade do projeto de modernização do País. Nessa direção, o estudo privilegia a análise de obras, cuja proposta não escamoteia a intenção do artista em revelar ao espectador a história de sua gente, analisar o presente e projetar o futuro da sociedade brasileira.

A pesquisa de Ridente se insere no âmbito das preocupações que se aproximam dos pressupostos teóricos e metodológicos da chamada História Nova, capaz de reconhecer, em todas as marcas da inteligência humana, objetos de estudo para a disciplina. A história – asseguraria Jacques Le Goff, um dos expoentes da Escola dos Annales – deve perscrutar as fábulas, os mitos, os sonhos da imaginação (1990, p. 107). Nesse sentido, os historiadores, no decorrer do século XX, propuseram a superação das premissas positivistas, responsáveis pelo confinamento das pesquisas aos documentos escritos, e muitas vezes, oficiais. A terceira geração dos Annales ampliou as possibilidades da escrita da história, propondo a utilização de tipos de fontes diferenciadas: documentos que abarcam formas de linguagem não escrita, depoimentos orais, registros judiciais, artísticos, literários, entre outros. Leia Mais

História da Política Exterior do Brasil. Brasília | Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno

É fato que o pensamento brasileiro de relações internacionais conhece já há mais de duas décadas uma renovação que não encontra paralelos em outras áreas das ciências sociais, tocado de perto pela importância crescente do Brasil no cenário internacional mas, especialmente, arejado pelo dinamismo de uma produção científico-acadêmica que mostrou-se muito mais pujante do que a criação de programas de formação de recursos humanos para a área. Com efeito, ao longo desse período, a existência de duas únicas experiências de capacitação de quadros para a pesquisa e para o ensino (na forma dos programas de pós-graduação da Universidade de Brasília e da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), poderia indicar que a reflexão especializada continuaria sendo por bom tempo ainda negócio entregue a diplomatas ociosos, a acadêmicos deslocados e a militares dedicados. Nesse sentido, não há dúvidas de que tal dinamismo é fruto especialmente da realização de visões estratégicas que se adiantaram ao surgimento de uma demanda que não era tão facilmente percebida, e que somente ganhou formas complexas no adiantar dos anos noventa. Leia Mais

A identidade internacional do Brasil e a política externa brasileira: passado, presente e futuro | Celso Lafer

“… um balanço de minhas pesquisas e reflexões de muitos anos sobre a política externa brasileira, adensado pela minha experiência diplomática na década de 1990.” Assim define Celso Lafer seu mais recente livro, intitulado “A identidade internacional do Brasil e a política externa brasileira: passado, presente e futuro”, que se junta, assim, a sua profícua produção intelectual.

Com efeito, além de conhecido pelas importantes funções que tem exercido – foi Ministro das Relações Exteriores em 1992, chefe da Missão Permanente do Brasil junto às Nações Unidas e à Organização Mundial do Comércio de 1995 a 1998, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio em 1999, e chefe do Itamaraty novamente a partir de janeiro de 2001 –, Celso Lafer é autor de estudos importantes nas áreas de Ciência Política e Direito. Dentre eles, para nos limitarmos a poucas referências, destaquemos sua tese de doutoramento The Planning Process and the Political System in Brazil: a Study of Kubitschek’s Target Plan, 1956-1961 (1970), passagem obrigatória para quem estuda a implementação da política desenvolvimentista do período JK, e Uma interpretação do sistema das relações internacionais do Brasil (Revista Brasileira de Política Internacional, 1967), análise sistêmica que enfoca as articulações entre a esfera nacional e a política exterior do Brasil com o nível global e regional, até os anos 1960. E os mais recentes “A OMC e a regulamentação do comércio internacional: uma visão brasileira” (1998) e “Comércio, desarmamento, direitos humanosreflexões sobre uma experiência diplomática” (1999). Além disso, num tipo de exercício em que poucos se sobressaem, Celso Lafer se destaca: quantos de nós já não tivemos o prazer de abrir um livro e nos depararmos com seus prefácios, guias seguros e argutos de leitura, que muito enriquecem os trabalhos daqueles que tiveram a sorte de poder contar com esse precioso convite à leitura de seus estudos. Lembremos, dentre tantos, os primorosos prefácios aos livros O governo Kubitschekdesenvolvimento econômico e estabilidade política, 1956-1961 (1976), de Maria Victória Benevides, e A legitimidade e outras questões internacionais (1999), de Gelson Fonseca Júnior.

A identidade internacional do Brasil e a política externa brasileira é uma obra sintética que abarca diversos aspectos da História do Brasil, ainda que se proponha mais especificamente “buscar e apreender as tendências inerentes à `duração longa’ da diplomacia brasileira”. Nela está muito presente a preocupação do autor com o sentido último e verdadeiro da construção da nação brasileira. É a leitura de Lafer sobre a especificidade brasileira, valendo-se de autores diversos que se debruçaram sobre a mesma reflexão, de um ponto de vista mais geral, como Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, ou de um prisma mais pontual.

Entendendo como tarefa da política externa “traduzir necessidades internas em possibilidades externas para ampliar o poder de controle da sociedade sobre o seu destino”, Lafer começa seu estudo chamando a atenção para a crescente diluição entre as esferas interna e externa, do “nós” e do “outro”, que têm mudado a dinâmica das relações internacionais e a própria definição do campo de atuação da política externa e do que poderíamos chamar de seus insumos. Chama também a atenção para a importância do Itamaraty como depositário da memória da diplomacia do Brasil, conferindo à atuação diplomática coerência e continuidade, e para “fatores de persistência” que explicariam em larga medida a identidade internacional do Brasil: “o dado geográfico da América do Sul; a escala continental; o relacionamento com muitos países vizinhos; a unidade lingüística; a menor proximidade, desde a independência em 1822, dos focos de tensão presentes no centro do cenário internacional; o tema da estratificação mundial e o desafio do desenvolvimento”.

Tendo essas definições e argumentos maiores em mente, o capítulo “O Brasil como um país de escala continental …” enfoca a consolidação do extenso espaço territorial nacional, componente identitário bastante valorizado pelo autor. De fato, a busca da construção da escala continental do Brasil é considerada como “um dos sentidos da história do Brasil” e o “primeiro vetor da política externa brasileira”, que prevalece no período monárquico e adentra o período republicano, indo até o momento em que Rio Branco dirige a diplomacia brasileira (1902-1912). Rio Branco, “com virtù e fortuna“, equaciona as questões fronteiriças pendentes no começo do século XX e terá papel fundamental na fixação de padrões da atuação diplomática brasileira, que se caracteriza pelo realismo, ou pragmatismo, temperado pelo pacifismo e pelo jurisdicismo. Esse traço da diplomacia encontrará sua expressão maior no relacionamento com os vizinhos da América do Sul, tema do capítulo “O contexto da vizinhança…”.

O contraponto ao eixo de simetria das relações do Brasil com os países sul-americanos, em que vigora uma relativa igualdade, é a relação assimétrica com as grandes potências mundiais, sobretudo com os Estados Unidos (Rubens Ricupero). O capítulo “O Brasil no eixo assimétrico do sistema internacional …” trata dessa questão, que é outra condicionante do tipo de inserção internacional do País. Potência média, o Brasil tem, assim, apostado desde o começo do século XX – pensemos aqui em Rui Barbosa em Haia – na via multilateral como compensadora das assimetrias do sistema internacional. Nesse âmbito, sem dúvida alguma o tema do desenvolvimento é mais um elemento marcante da política externa brasileira, que teve, inclusive, um papel bastante ativo na inserção da ideologia do desenvolvimento no sistema da ONU. Esses são assuntos tratados no capítulo “A busca do desenvolvimento do espaço nacional: o nacionalismo de fins e a diplomacia da inserção controlada no mundo”.

A partir desses traços de identidade, qual política externa para o século XXI? Celso Lafer busca responder à questão no capítulo “O desafio do século XXI …”, último capítulo do livro. A resposta passa pela continuidade da disposição negociadora do Brasil, o aproveitamento dos foros multilaterais e a “internalização” do mundo, já que “mudanças significativas do funcionamento do mundo provocam e exigem de um país uma mudança da visão de seu papel, o que pode alterar significativamente sua identidade internacional”.

Enfim, a reflexão de Celso Lafer, lastreada que está em sua trajetória intelectual e de homem de Estado, busca a “coerência profunda” de nossa política externa, não se preocupando com as “incoerências conjunturais”. Ao leitor, no entanto, resta a impressão de que a concepção histórica que permeia a obra se enriqueceria com a contradição, a visão crítica; a tentativa de compreender por que, apesar de sua coerência, a política externa brasileira não conseguiu responder adequadamente ao interesse nacional prioritário, e imperativo, que é o desenvolvimento. Com efeito, parece possível combinar as palavras de Joaquim Nabuco, citado por Lafer como leitura norteadora – “O Brasil teve consciência do seu tamanho e tem sido governado por um sentimento do seu futuro” –, com a idéia de pluralidade. Transpor os mitos e encarar a história como campo de possibilidades.


Resenhista

Norma Breda dos Santos


Referências desta Resenha

LAFER, Celso. A identidade internacional do Brasil e a política externa brasileira: passado, presente e futuro. São Paulo: Perspectiva, 2001. Resenha de: SANTOS, Norma Breda dos. Revista Brasileira de Política Internacional, v.45, n.1, 2002. Acessar publicação original [DR]

Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas | Paulo Roberto de Almeida

A área acadêmica das relações internacionais no Brasil não carece de manuais de estudo, recentemente publicados Há manuais apresentando a disciplina do ponto de vista do Brasil, além de outros manuais traduzidos de línguas estrangeiras. O livro em questão do diplomata Paulo Roberto de Almeida não conforma um manual no sentido clássico do termo para atender às necessidades dos muitos cursos de relações internacionais que apareceram nos últimos anos em nosso país. Mas ele corresponde a uma aproximação do que se espera seja a discussão dessa problemática a partir das preocupações e dos problemas brasileiros.

Paulo Roberto de Almeida tem se distinguido, desde o começo dos anos 1990, por uma produção constante e de reconhecida qualidade no campo da história diplomática e das relações internacionais do Brasil. Em novembro de 2001, coroando uma já longa lista de livros anteriores sobre o Mercosul ou a política exterior do Brasil (que ele divulga em seu website pessoal: www.pralmeida.org), Paulo Almeida lançou um grosso volume de pesquisa histórica sobre os fundamentos da diplomacia brasileira na área econômica: Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (São Paulo: Senac-Funag, 2001), que faz o balanço da inserção econômica internacional do Brasil ao longo do século XIX. Leia Mais

Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais do Império | Paulo Roberto de Almeida

Globalização, patentes, OMC e aviões brasileiros são alguns dos temas com crescente aparição nos meios de comunicação. Este fato já seria suficiente para que o leitor voltasse sua curiosidade para estes assuntos. Ainda, se considerarmos que a compreensão destes tópicos é essencial para um melhor posicionamento do Brasil em um contexto de crescente internacionalização das sociedades, será fácil concluir que todo esforço na criação de uma opinião pública melhor informada deva ser bem recebido. A publicação de Formação da diplomacia econômica no Brasil – as relações econômicas internacionais no Império de Paulo Roberto de Almeida é uma dessas tentativas.

Edição conjunta da Editora SENAC e FUNAG (Fundação Alexandre de Gusmão), este livro é o primeiro de uma projetada trilogia que pretende avançar o estudo do tema até o presente. Apesar disso, verifica-se que este primeiro volume editado em 2001 é um livro que se auto-sustenta tanto em conteúdo como pela suas quase 680 páginas. Leia Mais

Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai | Francisco Doratioto

A 7 de dezembro de 1864, o diplomata Edward Thornton, representante britânico na Argentina e Paraguai, escreveu ao chanceler paraguaio José Berges uma carta que comprova o desinteresse da Grã-Bretanha na eclosão de uma guerra entre o Paraguai e seus vizinhos. No documento, Thornton afirma textualmente: “V.E. sabe que a Inglaterra também está em atritos com o Brasil, de modo que tanto por esse motivo, como pela falta de instruções de meu governo, não poderia fazer nada de oficial com seu governo; mas particularmente sim, se puder servir, no mínimo que seja, para contribuir para a reconciliação dos dois países, espero que V.E. não hesite em me utilizar”.

A disposição do representante britânico de colaborar para evitar o conflito entre Brasil e Paraguai é uma das muitas surpresas guardadas na obra do historiador Francisco Doratioto, que desfaz um dos maiores mitos a respeito da Guerra do Paraguai: o de uma guerra que teria sido provocada pelos interesses “imperialistas” britânicos. Construído inicialmente pelo revisionismo histórico paraguaio, a valorização da figura de Solano López chegou ao paroxismo no final dos anos 1960, quando intelectuais nacionalistas e de esquerda o elevaram à condição de líder antiimperialista. Uma geração inteira de brasileiros concluiu seus estudos secundários e mesmo de nível superior acreditando que o Paraguai alcançou um bom nível de desenvolvimento após a independência, possuía um projeto autônomo e equilibrado de crescimento e que foi destruído pela Tríplice Aliança, por representar uma ameaça aos interesses ingleses na região. A Grã-Bretanha teria se utilizado do Brasil, da Argentina e do Uruguai para pôr fim ao projeto paraguaio. Leia Mais

Argentinos e brasileiros: encontros, imagens e estereótipos | Alejandro Frigerio e Gustavo Ribeiro Lins

Revista Brasileira de Política Internacional tem informado seus leitores, nos últimos anos, acerca da volumosa literatura lançada pelo mercado editorial do Mercosul sob a forma de estudos coletivos empreendidos, sobretudo, por brasileiros e argentinos. Esses estudos fizeram avançar o conhecimento do outro, constituindo contribuição importante da academia aos tomadores de decisão no âmbito das relações bilaterais e do processo de integração.

Dois renomados acadêmicos, um argentino, Alejandro Frigerio, e outro brasileiro, Gustavo Lins Ribeiro, inscrevem-se nessa linhagem de lideranças intelectuais capazes de compor grupos mercosulinos de estudo e nos brindam com uma análise original de interações concretas, revelando aspectos antropológicos da convivência dos povos do Cone Sul. Leia Mais

Breve painel etno-histórico de Mato Grosso do Sul | Gilson Rodolfo Martins

A década de 1990 testemunhou o florescimento de obras de divulgação sobre povos indígenas no Brasil, feitas por antropólogos, historiadores e arqueólogos profissionais. Em grande medida, esses livros levaram ao grande público informações básicas e corretas, suplantando uma série de erros e má interpretações perpetradas e reproduzidas pela maioria dos livros didáticos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Outra contribuição importante desses trabalhos é a difusão de conteúdos politicamente orientados, visando levar ao público conhecimentos que auxiliem na formação de opiniões humanitárias e democráticas baseadas na ética e na justiça social, tanto para reduzir o preconceito e etnocentrismo arraigados contra os povos indígenas, quanto para que se possa ponderar adequadamente sobre os diversos conflitos interétnicos, especialmente em relação à luta pela manutenção e/ou reconquista de territórios tradicionais.

De forma simpática e concisa, porém crítica e cientificamente consistente, Gilson Rodolfo Martins traça um completo painel sobre as populações indígenas situadas no território do Estado do Mato Grosso do Sul. Trata-se de uma segunda edição, revista e ampliada, que resume com clareza a Pré-História das populações que ocuparam a região a partir de, pelo menos, 10 mil anos atrás, conforme as inúmeras evidências e pesquisas arqueológicas realizadas nas últimas duas décadas. Na seqüência apresenta as populações da região desde os primeiros contatos com os europeus até o presente, destacando alguns aspectos marcantes das suas sociedades, das suas culturas materiais e dos seus imaginários, destacando a composição multiétnica dos povos indígenas. Leia Mais

Breve painel etno-histórico de Mato Grosso do Sul | Gilson Rodolfo Martins

A década de 1990 testemunhou o florescimento de obras de divulgação sobre povos indígenas no Brasil, feitas por antropólogos, historiadores e arqueólogos profissionais. Em grande medida, esses livros levaram ao grande público informações básicas e corretas, suplantando uma série de erros e má interpretações perpetradas e reproduzidas pela maioria dos livros didáticos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Outra contribuição importante desses trabalhos é a difusão de conteúdos politicamente orientados, visando levar ao público conhecimentos que auxiliem na formação de opiniões humanitárias e democráticas baseadas na ética e na justiça social, tanto para reduzir o preconceito e etnocentrismo arraigados contra os povos indígenas, quanto para que se possa ponderar adequadamente sobre os diversos conflitos interétnicos, especialmente em relação à luta pela manutenção e/ou reconquista de territórios tradicionais. Leia Mais

Projeto e Missão: o Movimento Folclórico Brasileiro (1947-1964) | Luís Rodolfo Vilhena

VILHENA, Luís Rodolfo. Projeto e Missão: o Movimento Folclórico Brasileiro (1947-1964). Rio de Janeiro: FGV, 1997. Resenha de: COSTA, Michel DalCol; SANTOS, Estilaque Ferreira dos. O Movimento Folclórico Brasileiro (1947-1964) e o Debate Atual Sobre Folclore. Dimensões. Vitória, n.14, p.521-525, 2002. Acesso apenas pelo link original [DR]

Natureza em Boiões: medicinas e boticários no Brasil setecentista | Vera Regina Beltrão Marques

O universo dos saberes e das práticas medicinais no período colonial vem sendo tema de importantes trabalhos. Somando-se à recente pesquisa de Márcia Moisés Ribeiro – que resultou no livro A ciência dos trópicos: a arte médica no Brasil do século XVIII –, Natureza em Boiões: medicinas e boticários no Brasil setecentista, de Vera Regina Beltrão Marques, oferece-nos uma contribuição original ao estudo do problema.

Natureza em Boiões apresenta uma questão fundamental: a diversidade das raízes culturais das populações aqui residentes, mais do que a falta de médicos, teria sido crucial para a persistência de práticas de curas plurais nos trópicos. Em última instância, parte dos medicamentos receitados pelos doutos coimbrãos seria constituída por fórmulas resultantes da aproximação das culturas presentes no Brasil. Mesmo vulgarizados, muitos desses saberes provinham da intuição e do uso secular daqueles curandeiros e pajés conhecedores das matas, em caminhos nunca dantes palmilhados pelos colonizadores. Saberes muitas vezes relegados no plano do discurso por parte dos colonizadores, na prática, teriam sido fundamentais para a constituição da ciência farmacêutica moderna do Ocidente. Leia Mais

Mulheres da floresta: uma história – Alto Juruá/ Acre (1890-1945) | Cristina Scheibe Wolff

A historiografia costuma descrever a história da Amazônia a partir do surgimento da exploração comercial do látex da seringueira e da grande quantidade de nordestinos que passaram a migrar para a região, principalmente após as secas da década de 1870. Para exemplificar este tipo de abordagem onde a economia da borracha e suas ligações com o mercado externo aparecem com destaque, podemos citar a numerosa obra de Arthur Cesar Ferreira Reis. Entretanto, o livro Mulheres da floresta: uma história – Alto Juruá, Acre (1890-1845) de Cristina Scheibe Wolff aponta em outra direção. A autora critica esta perspectiva, a qual denominou de “fetichização da mercadoria”, e ressalta as relações sociais e as experiências vividas por indivíduos, especialmente por mulheres, no cotidiano da floresta.

Para tanto, Cristina Wolff reuniu fontes variadas como, por exemplo, processos civis e criminais (encontrados no Fórum de Cruzeiro do Sul), jornais, relatórios, textos e diários de viajantes (como Constantin Tastevin, Craveiro Costa, Euclides da Cunha, Chandless, Belarmino Mendonça, entre outros). Ao cruzar dados diversos, obteve informações acerca das idades em que os matrimônios se realizavam, seus motivos, a profissão dos envolvidos, as causas de defloramento e assassinato de mulheres, que iluminaram suas conclusões acerca das relações familiares e do cotidiano. Todo este trabalho documental foi somado a um significativo acervo de fontes orais, composto por 26 depoimentos gravados e transcritos, na maioria de mulheres entre sessenta e noventa anos, produzidos em 1995, durante o ano em que a historiadora viveu entre os seringueiros. Leia Mais

Vizinhos distantes: universidade e ciência na Argentina e no Brasil | Hugo Lovisolo

O livro de Hugo Lovisolo, escrito numa prosa clara, fluente e não uniforme, ao mesmo tempo que conceitualmente precisa, parte de um tema rico e de um problema oportuno: realizar um estudo comparativo entre o desenvolvimento científico da Argentina e do Brasil, que, apesar das muitas semelhanças, seguiram caminhos distintos. O autor se pergunta, já desde o início, o que interessa às comunidades científicas de muitos países, particularmente as latino-americanas: “historicamente, desde a conquista, os vizinhos próximos herdaram tradições religiosas, políticas, culturais e posições econômicas estruturais bem mais semelhantes do que na comparação com os vizinhos distantes … . Diante do pano de fundo das semelhanças, emerge então com naturalidade a questão geral: como e por que foram geradas as diferenças” (p. 9). O período tratado vai, grosso modo, de 1900 a 1970, mas o século XIX acaba sendo englobado por conta da análise, imprescindível, da influência do positivismo, com suas nuanças e matizes, em ambos os países.

As 132 páginas dividem-se em cinco capítulos, além da ‘Introdução’, na qual o autor apresenta o livro, suas intenções e premissas, e adiciona os agradecimentos. Sua premissa básica é que, em princípio, desenvolvimento econômico e desenvolvimento científico e cultural caminham juntos. Nos dois casos sob análise essa relação não é direta, o que conduz a um paradoxo que terá função heurística, como explica o autor já na primeira página. Outra premissa importante é que comparações com não-vizinhos, principalmente com os freqüentemente citados Estados Unidos, Inglaterra e França, por haverem sido já muito exploradas, estariam agora, de certo modo, esgotadas como desafio intelectual, e portanto valeria a pena apostar na comparação com a América Latina. Leia Mais

A Slaves Place, a Master’s World: Fashioning Dependency in Rural Brazil | Nancy Priscilla Naro

NARO, Nancy Priscilla. A Slaves Place, a Master’s World: Fashioning Dependency in Rural Brazil. London: Continuum, 2000. Resenha de: HOFFNAGEL, Marc Jay. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.20, n.1, p.301-304, jan./dez. 2002.

Acesso apenas pelo link original [DR]

O imperialismo sedutor: a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra | Antônio Pedro Tota || Guerra sem guerra: a mobilização e o cotidiano em São Paulo durante a Segunda Guerra Mundial | Roney Cytrynowicz

Os trabalhos de Roney Cytrynowicz e Antônio Pedro Tota têm em comum o fato de analisarem a história brasileira durante a Segunda Guerra Mundial. Entretanto, suas abordagens e enfoques são bastante diversos, refletindo também preocupações temáticas e conceituais e, naturalmente, escolha de fontes e bibliografia.

O livro de Antônio Tota aborda um tema fascinante e, ao mesmo tempo, pouco estudado pelos historiadores nacionais: a ofensiva cultural realizada pelo governo americano no Brasil, dentro do espírito da ‘política da boa vizinhança’. São poucos os trabalhos sobre o tema — a começar pelo já clássico livro de Gerson Moura Tio Sam chega ao Brasil (1984). Este fato torna-se ainda mais evidente quando comparamos a produção nacional com o grande número de trabalhos americanos sobre o tema: basta conferirmos a própria bibliografia utilizada por Tota. O autor, além de trabalhar com uma vasta bibliografia norte-americana sobre seu tema, utilizou fontes textuais, sonoras e iconográficas, tiradas de arquivos norte-americanos e brasileiros. Suas fontes são, principalmente, governamentais, o que naturalmente reflete o recorte de seu objeto: a ação do Office of Coordinatior of Inter-American Affairs (OCIIA) no Brasil, com o objetivo de “seduzir” os brasileiros para uma aliança com os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar da inexistência de referências explícitas, a linguagem e a estrutura do livro nos fazem acreditar que se trata originalmente de uma tese de doutoramento. Leia Mais

As ilusões da liberdade: a Escola Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil | Mariza Corrêa

Não causa espanto a quantidade de trabalhos acadêmicos que, poste- riormente à tese de Mariza Corrêa, tomou como problema central de pesquisa a trajetória ou as atividades do médico maranhense Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906). Nesses quase vinte anos posteriores ao trabalho da autora, algumas gerações de cientistas sociais e historiadores continuam a se defrontar com esse que é considerado há algum tempo um dos grandes ícones da história da medicina em nosso país. Pode-se considerar que Mariza chamou a atenção de todos nós, em sua obra — que é leitura obrigatória sobre o tema —, para a existência de um daqueles personagens sui generis que, ao serem observados sociológica ou historicamente, parecem dizer tanto mais de seu tempo como de si mesmos.

Na verdade, não considero tarefa simples enquadrar em seu tempo a personagem central da obra de Côrreao próprio Nina Rodrigues. Desde a partida de sua terra natal, por volta de1882, até seu estabelecimento na Bahia, passando ainda pela Corte do Rio de Janeiro, a trajetória do médico não só permanecia nebulosa como também não era ainda considerada, tal como é hoje, um símbolo privilegiado tanto para a compreensão da história da medicina como do pensamento social no nosso país. A autora, nesse sentido, pode ser vista como uma das grandes responsáveis pela emergência de Nina Rodrigues como objeto de análise para todos aqueles que tiveram a oportunidade de ter contato direto ou indireto com sua tese, consagrada e de ampla circulação no mundo acadêmico. Leia Mais

Em defesa da honra: moralidade/ modernidade e nação no Rio de Janeiro (1918-1940) | Sueann Caulfield

Os leitores que já conheciam os artigos de Sueann Caulfield editados no Brasil certamente aguardavam com ansiedade a publicação completa do seu estudo, elaborado originalmente como uma tese de doutorado na New York University. No livro Em defesa da honra: moralidade, modernidade e nação no Rio de Janeiro (1918-1940), mais uma vez temos a expressão da sensibilidade da autora — que em antropologia poderíamos arriscar chamar de etnográfica — para tratar de temas como a honra e também de sua grande capacidade de articular inúmeras fontes e referências bibliográficas. Vale mencionar que o tipo de abordagem empreendido aproxima esse estudo de uma série de outros que nos últimos anos têm se caracterizado por privilegiar uma relação profícua entre história e antropologia. A natureza das questões propostas e a perspicácia na análise dos dados tornam a leitura do livro obrigatória não apenas para aqueles que se interessam pela história a partir da perspectiva das relações de gênero, mas para todos que querem compreender com mais profundidade o Brasil da primeira metade do século XX.

O estudo trata da honra sexual a partir do grande interesse que esse tema provocava na primeira metade do século XX no Brasil. Esse interesse aparecia expresso em diversos debates públicos e também, de uma forma mais particular, nas queixas que chegavam ao sistema jurídico-policial envolvendo vários tipos de delitos que contrariavam a moral sexual vigente. Para se ter uma idéia da magnitude do fenômeno, Caulfield revela que durante as décadas de 1920 e 1930, anualmente, cerca de quinhentas famílias procuravam a polícia da cidade do Rio de Janeiro para denunciar o defloramento de suas filhas e tentar algum tipo de reparação do mal. Os casos, sobretudo aqueles mais violentos, atraíam a atenção não apenas dos juristas, policiais, advogados, mas também da opinião pública em geral. E, se a importância da honra sexual parecia inquestionável, as concepções sobre o que ela de fato representava variavam bastante. Leia Mais

Vera: A Princesinha do Nortão. Uma contribuição ao estudo da ocupação da Amazônia Mato-grossense | Alexandre Panosso Netto

Vera: A Princesinha do Nortão. Uma contribuição ao estudo da ocupação da Amazônia Mato-grossense, de autoria de Alexandre Panosso Netto, licenciado em Filosofia e bacharel em Turismo pela Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande-MS e Especialista e Mestre em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Dourados.

Seu primeiro livro buscou resgatar a memória da cidade de Vera-MT, que se caracteriza como primeiro núcleo de colonização da Amazônia Mato-grossense a receber incentivos fiscais do Governo Federal após a criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária -INCRA. Leia Mais

O índio brasileiro e a Revolução Francesa: as origens brasileiras da teoria da bondade natural | Afonso Arinos de Melo Franco

Resenhista

Libertad Borges Bittencourt – Professora Doutora do Departamento de História da Universidade Federal de Goiás-

Referências desta Resenha

FRANCO, Afonso Arinos de Melo. O índio brasileiro e a Revolução Francesa: as origens brasileiras da teoria da bondade natural. Introdução de Alberto Venâncio Filho. Prefácio de Sérgio Paulo Rouanet. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000. Resenha de: BITTENCOURT, Libertad Borges. História Revista. Goiânia, v.6, n.2, p.179-185, jul./dez.2001. Acesso apenas pelo link original [DR]

A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850) | Mary Karasch

Desde o século XIX, o tema da escravidão tem sido central nos estudos sociológicos e históricos sobre a formação do Brasil. Como objeto de investigação, teve um percurso variado. A produção intelectual brasileira voltou-se para o tema a partir de diversas perspectivas e, logicamente, chegou a diferentes conclusões. Sem dúvida, a obra de Gilberto Freyre, da década de 1930, destaca-se pelo êxito em termos de apresentação e circulação de suas idéias (Pinheiro, 1999). Na década de 1950, também sobressaíram vários estudos,1 que, procurando ir contra a idéia de uma escravidão branda, acabavam por considerar os escravos como vítimas passivas do sistema — abordagem já bastante criticada pela historiografia brasileira da década de 1980 (Chalhoub, 1990).

Um esforço no sentido de resgatar os grupos subalternos, inclusive os escravos, como agentes de sua própria história (Machado, 1988; Slenes, 1999), pode ser identificado nas historiografias européia e norte-americana entre o final da década de 1960 e o início da de 1970. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850), de Mary Karasch, originou-se da tese de doutorado defendida pela autora em 1972, estando inserida nesse período de renovação. Leia Mais

Medicina/ leis e moral: pensamento médico e comportamento no Brasil (1870-1930) | José Leopoldo Ferreira

Houve, de fato, um processo de medicalização da sociedade brasileira? Ou o que aconteceu foi uma socialização da medicina? Se houve, como tal processo se deu? Essas são as questões que José Leopoldo procura analisar em seu livro, levando-se em consideração a forma trabalhada por outros autores na investigação desse processo, tais como Jurandir Freire Costa, em Ordem médica e norma familiar, e Roberto Machado et alii de Danação da norma. Qual o papel da medicina legal nessa trajetória?

O livro é dividido em seis capítulos, nos quais se procurou analisar como o pensamento médico foi direcionado para objetos da vida social, tais como o crime, o sexo e a morte. O corte cronológico escolhido para análise e consideração pelo autor foi o período da Belle Époque, por possuir ampla e criteriosa reflexão científica sobre tais temas na literatura médica, tendo os médicos nesse momento feito da medicina uma ‘ciência da moral’. Leia Mais

Capanema: o ministro e seu ministério | Angela de Castro Gomes

Entre as personagens políticas do primeiro governo Getúlio Vargas, e mais especificamente do Estado Novo, o ministro da Educação e Saúde entre 1934 e 1945, Gustavo Capanema, é uma figura central na definição ideológica e nas políticas públicas implementadas. Seu ministério tinha, entre outras atribuições, a de formular um projeto cívico-pedagógico para engendrar um “novo homem brasileiro”. A reforma do Estado, da sociedade e do homem eram projetos que deveriam caminhar juntos. Educação, saúde e cultura eram pilares para a execução deste ideário. As interpretações mais difundidas sobre as idéias e ações de Capanema têm se apoiado em imagens cuja força, enquanto ícones de uma época, sobrepõem-se às tentativas de uma análise mais apurada. Dois podem ser os fatores determinantes destas interpretações.

Em primeiro lugar, Capanema foi político e intelectual dos mais complexos e de difícil apreensão, mesmo no contexto do ideário conservador. Ele mantinha uma teia de relações pessoais e de colaboradores, que incluía intelectuais de esquerda em pleno Estado Novo. Desta colaboração resultou a obra maior, segundo o ministro, que foi o edifício sede do Ministério da Educação no Rio de Janeiro, considerado um emblema da arquitetura modernista no país. A convivência entre a ditadura e o modernismo tem permanecido sob uma áurea quase enigmática. Leia Mais

Vera: A Princesinha do Nortão. Uma contribuição ao estudo da ocupação da Amazônia Mato-grossense | Alexandre Panosso Netto

Vera: A Princesinha do Nortão. Uma contribuição ao estudo da ocupação da Amazônia Mato-grossense, de autoria de Alexandre Panosso Netto, licenciado em Filosofia e bacharel em Turismo pela Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande-MS e Especialista e Mestre em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus de Dourados.

Seu primeiro livro buscou resgatar a memória da cidade de Vera-MT, que se caracteriza como primeiro núcleo de colonização da Amazônia Mato-grossense a receber incentivos fiscais do Governo Federal após a criação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária -INCRA. Leia Mais

As artes de curar: medicina/ religião/ magia e positivismo na República Rio-Grandense – 1889-1928 | Beatriz Teixeira Weber

Na paisagem sociocultural do século XX, as profissões apareceram como criaturas naturais, dotadas de legítima autoridade para influenciar ou mesmo dirigir os negócios humanos. Cada expertise reivindicava especial competência técnico-científica sobre a definição, avaliação e solução de nossos problemas cotidianos em áreas cada vez mais amplas. A medicina era geralmente apresentada como o arquétipo das profissões. Nela encontraríamos a forma mais bem-acabada de poder profissional. A demonstração da espetacular simbiose entre razão científica e ética de serviço tem sido a tônica de toda uma tradição historiográfica voltada a cultuar e justificar a autoridade que ela hoje goza, como sistema de conhecimentos e práticas dedicado a evitar, curar ou atenuar doenças.

Muita tinta tem sido gasta também na denúncia dessas formas de poder secular que se espalharam pelas sociedades modernas como contraponto do fenômeno que Weber cunhou como desencantamento do mundo. Da inspirada boutade de Oscar Wilde, para quem “toda profissão é uma conspiração contra os leigos” à “sociedade disciplinar” de Foucault, excelentes análises revelaram como as profissões lograram monopolizar o acesso e a aplicação do conhecimento que haviam adquirido, tendo em vista a preservação do status e de privilégios por elas reclamados. Dessa forma, toda uma vertente de estudos históricos e sociológicos dedicou-se à análise da influência política e cultural das profissões, buscando esclarecer a relação entre as profissões, as elites políticas e econômicas e o Estado; as relações entre elas, o mercado e o sistema de classes no mundo moderno. Leia Mais

Físicos/ mésons e política: a dinâmica da ciência na sociedade | Ana Maria Ribeiro de Andrade

O ofício de historiador talvez possa ser comparado com aquele do encenador. Tem-se os fatos e os documentos, assim como as peças, até que, em uma nova iniciativa, alguém resolva recontar a história ou resgatar um texto dramatúrgico ao proscênio. Em ambos, a matéria está ali, mas a cada nova interpretação ou encenação tem-se uma nova visão, uma nova problematização, recorte ou idealização, a qual se juntam novos artefatos, sejam documentos, entrevistas ou, no caso do teatro, novos recursos cênicos. Essas ‘remontagens’ muitas vezes lançam novas perspectivas e entendimentos sobre fatos e textos, ainda não pensados ou vislumbrados, gerando um inesgotável manancial que, no caso da história, forma-se em historiografia.

Recontar a trajetória da formação da física no Brasil e os desdobramentos que levaram à criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), no ambiente das conseqüências da Segunda Guerra Mundial, tanto no campo internacional quanto no nacional, é o que se propõe a autora da obra em questão. Assim, embora já exista fornida bibliografia sobre o tema e, mais particularmente, sobre a criação do CNPq, o livro de Ana Maria Andrade revela uma nova visão, um novo olhar, ao esmiuçar e tecer as intricadas relações entre militares, cientistas e políticos que levaram à criação dos dois organismos. Leia Mais

O poder e a peste | Lira Neto

A produção editorial acerca da história da saúde pública no Brasil tem sido bastante expressiva nas duas últimas décadas. O tema vem sendo visitado freqüentemente por cientistas sociais e historiadores, psicólogos e médicos, preocupados tanto com questões mais localizadas, como também o surgimento de amplos debates sobre o papel do Estado nas políticas públicas de saúde. Vale ressaltar que há muitas publicações acerca de epidemias de febre amarela, cólera e varíola no século XIX, e as ações de médicos, farmacêuticos e autoridades governamentais, já no século XX, todos empenhados em combatê-las (Chaloub, 1996; Hochman, 1998; Beltrão, 1999; Fernandes, 1999).

O livro do jornalista Lira Neto é mais uma excelente iniciativa em ambas as direções. Conta a história do farmacêutico baiano Rodolfo Marcos Teófilo (1853-1932), e sua trajetória junto à população da cidade de Fortaleza, assolada por sucessivas epidemias de cólera e varíola, ao longo da segunda metade do século XIX. Leia Mais

Anarquia e organização | Mary Del Priore

Resenhista

Edgar Rodrigues Barbosa Neto – Acadêmico de História ICH/UFPEL.

Referências desta Resenha

PRIORE, Mary Del. Festas e utopias no Brasil Colonial. São Paulo: Brasiliense, 1994. Resenha de: BARBOSA NETO, Edgar Rodrigues. História em Revista. Pelotas, v.2, p. 261-265, 1996. Acesso apenas pelo link original [DR]

Iluminismo jurídico-penal luso-brasileiro: obediência e submissão | Gizlene Neder

Neste trabalho, Gizlene Neder centra suas atenções na história das idéias políticas e do poder na constituição do mundo moderno, tendo como referência a Península Ibérica. Procurando empreender uma análise que contemple a compreensão histórica e não uma explicação evolucionária, se propõe a deslindar uma série de aspectos que envolvem a trajetória histórica luso-brasileira.

Numa perspectiva dinamista de compreender o processo histórico, problematiza a modernidade trilhada pelos lusitanos, logo não fica presa à idéia de que as sociedades ibéricas são atrasadas ou inferiores em relação aos povos além-Pireneus. Aliás, para a autora, devemos é olhar a “escolha política” desses povos e, a partir daí, compreender os aspectos econômicos, sociais e jurídicos e suas possíveis implicações na contemporaneidade. Leia Mais

Uri e Wãxi: estudos interdisciplinares dos kaingang | Lucio Tadeu Mota

Aponta caminhos é o que se pode dizer de partida sobre o livro Uri e Wãxi: estudos interdisciplinares dos kaingang, organizado pelos professores Lúcio Tadeu Mota (UEM), Francisco Noelli (UEM) e Kimiye Tommasino (UEL).

Trata-se de uma coletânea de artigos diversos, alguns muito maduros, outros ousados; vários, poéticos e inovadores pela garra comum a todos os textos. É um mérito dos organizadores? Não há dúvida de que também o é. Este livro, elaborado a partir do encontro periódico de diversos pesquisadores dos grupos indígenas jê do Sul do Brasil, nasce pelo seu conteúdo e intenções reveladas como um indicador de caminhos de pesquisa. Ele marca a criação do Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etnoistória da Universidade Estadual de Maringá (UEM), congregando pesquisadores de várias áreas, envolvidos com trabalhos de caráter prático e teórico. Leia Mais

Fruitless Trees – Portuguese Conservation and Brazil’s Colonial Timber | Shawn William Miller

Os usos e abusos das florestas tropicais brasileiras na era colonial são tema de mais um livro em língua inglesa. Este texto de Shawn William Miller, professor assistente de história da Brigham Young University (EUA), pode ser lido como complemento ao merecidamente famoso With Broadax and Firebrand, de Warren Dean (já traduzido para o português, com o título A Ferro e Fogo, pela Companhia das Letras, em 1996). Fruitless Trees, embora monográfico e menos ambicioso que o livro de Dean, é bem focalizado, ricamente documentado, bem escrito e fácil de ler. Além do mais, tem uma tese central que deverá gerar polêmica – a de que o monopólio real português sobre as “madeiras de lei” do Brasil foi o principal fator de destruição florestal no Brasil colonial. Ou seja, a “proteção” governamental causou a devastação. Leia Mais

Política I | Denis Fontes de Souza || O gás natural no Mercosul: uma perspectiva brasileira | Francisco Mauro Brasil de Holanda || Timor Leste: origens e evolução | João Solano Carneiro da Cunha

A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) é uma fundação vinculada ao Itamaraty. Instituída em 1971, está voltada para a discussão e a divulgação de questões ligadas às relações internacionais e à política externa brasileira, através da promoção de estudos e pesquisas, a realização de foros de discussão e reflexão, bem como a publicação de obras que são referência obrigatória à comunidade especializada em Relações Internacionais do Brasil e que auxiliam o leitor não especializado na compreensão dos desafios da inserção do Brasil no contexto mundial. Entre as publicações da FUNAG, encontram-se, por exemplo, algumas séries de documentos oficiais, como a Resenha de Política Exterior do Brasil, que reúne desde 1974 documentos diplomáticos publicados pelo Itamaraty, essenciais para o acompanhamento da prática diplomática brasileira. A série “Cadernos do IPRI” é uma coleção de pequenas monografias sobre a política exterior brasileira e a cena internacional contemporânea, organizada pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, órgão da FUNAG. “Política exterior do Brasil”, por sua vez, agrupa títulos específicos sobre o assunto, entre os quais Temas de Política Externa II, organizado por Gelson Fonseca Júnior e Sérgio H. N. de Castro, e o utilíssimo A palavra do Brasil nas Nações Unidas (1946-1995), que reúne os pronunciamentos brasileiros nas sessões de abertura da Assembléia Geral da ONU, acompanhados das preciosas notas de contextualização histórica preparadas pelo Embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa. Leia Mais

Argentina: visões brasileiras | Alemanha: visões brasileiras | Estados Unidos: visões brasileiras | África do Sul: visões brasileiras | Samuel Pinheiro Guimarães

A obra organizada pelo Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Itamaraty compreende quatro volumes de textos de autores e pesquisadores brasileiros de destaque no âmbito político, diplomático e acadêmico. A coleção teve dois objetivos: em primeiro lugar, aumentar no Brasil o conhecimento acerca das relações internacionais de seus principais parceiros e, em segundo lugar, estimular estudos sobre outros países importantes. E uma abordagem: desenvolver análises das relações internacionais desses países sob o ângulo diplomático, político, econômico e estratégico, mas numa ótica de interpretação desde a perspectiva brasileira. Embora a obra apresente uma análise sincronizada e evolutiva desde a década de 1940 à atualidade, a ênfase foi posta na conjuntura recente, a década de 1990.

Os colaboradores foram, para o estudo da Argentina: Amado Luiz Cervo (A política exterior da Argentina: 1945-2000); Pedro Motta Pinto Coelho (Observações sobre a visão argentina da política internacional de 1945 até hoje); Ricardo Markwald e Roberto Iglesias (A política externa econômica da Argentina: uma visão dos anos 90). Para o estudo dos Estados Unidos: Cesar Guimarães (Envolvimento e ampliação: a política externa dos Estados Unidos); José Tavares de Araújo (A política econômica externa dos Estados Unidos nos anos 90); Mauro Mendes de Azeredo (Visão americana da política internacional de 45 até hoje). Para o estudo da Alemanha: Amaury Banhos Porto de Oliveira (A questão alemã desgasta a paz americana); Luiz Alberto Moniz Bandeira (A política exterior da Alemanha); Theotônio dos Santos (A política econômica externa da Alemanha). Para o estudo da África do Sul: Hélio Magalhães de Mendonça (Política externa da África do Sul (1945-1999); Luiz Henrique Nunes Bahia (A política Externa da África do Sul: da internacionalização à globalização); Paul Israel Singer (A política econômica externa da África do Sul). Leia Mais

Os sucessores do Barão: relações exteriores do Brasil, 1912-1964 | Fernando P. de Mello Barreto

O livro de Fernando de Mello Barreto cumpre de maneira satisfatória o papel de informação geral sobre os eventos e processos que marcam as relações exteriores do Brasil desde a morte do Barão do Rio Branco até o advento da república dos generais. Mello Barreto adota um esquema cronológico, organizando seu racconto storico de meio século de vida diplomática republicana de acordo com as gestões dos chanceleres que, desde Lauro Muller até Araújo Castro, sucederam-se na cadeira do Barão. Os principais lances da política externa brasileira de 1912 a 1964 são seguidos ano a ano, em re-compilação exaustiva dos eventos, apresentados em cinco partes: a República velha, a era Vargas, a Guerra Fria, JK e a Operação Pan-Americana e a Política Externa Independente.

O livro confirma as qualidades da história factual e seu caráter indispensável ao pesquisador que pretenda realizar a inserção desses fatos na trama mais ampla das relações internacionais do Brasil, sobretudo em sua vertente econômica externa. Cabe, com efeito, destacar que, ao início de cada seção, Fernando de Mello Barreto apresenta informações objetivas, tabelas estatísticas, gráficos seriais ou quadros analíticos apresentando a situação econômica do país naquela conjuntura (comércio exterior, dívida, reservas, investimentos estrangeiros etc.). Leia Mais

Brazil’s Second Chance: En Route toward the First World | Lincoln Gordon

Mr. Gordon, um americano conhecido direta ou indiretamente de todos os brasileiros que estudaram nossa route para a ditadura militar, é um simpático e atento espectador de todos os encontros sobre o Brasil realizados na capital do império americano. Com mais de 45 anos dedicados aos estudos sobre o Brasil, ele deve ser considerado um intérprete realista do itinerário econômico e político brasileiro das últimas décadas, e, a julgar pelo livro aqui resenhado, um crítico sincero de questões sociais tão velhas quanto a República.

Segunda Chance do Brasil estava no forno há pelo menos uma década e meia. Como confessa o próprio Mr. Gordon, as chances desse livro ser concluído tinham simplesmente desaparecido do cenário durante a década perdida de desarticulação macroeconômica dos anos oitenta e começo dos noventa. Ele foi salvo pelo rum creosotado do Plano Real, que devolveu ao país a esperança de sonhar com a retomada do crescimento e de aspirar ao eventual salto para o Primeiro Mundo, na interpretação do antigo embaixador americano nos governos João Goulart e Castelo Branco. Para aqueles que esperam ver no livro novas revelações sobre o envolvimento americano no golpe militar de 1964, a impressão é de um déjà vu again, pois o texto, a despeito de um relato circunstanciado dos eventos que levaram ao golpe, contempla, como documentos novos, tão somente uma troca de telegramas, nos dias 30 e 31 de março daquele ano, sobre as expectativas de Washington e a disposição da Embaixada no Rio de Janeiro em garantir um mínimo de legitimidade política aos conspiradores brasileiros contra Goulart, o que habilita Gordon a reafirmar sua convicção de que o golpe foi “100% brasileiro”. Leia Mais

Nordestino: uma invenção do falo – uma história do gênero masculino (Nordeste – 1920/1940) | Durval Muniz de Albuquerque Junior

Resenhista

Sander Castelo

Referências desta Resenha

ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. Nordestino: uma invenção do falo – uma história do gênero masculino (Nordeste – 1920/1940). Maceió: Edições Catavento, 2003. Resenha de: CASTELO, Sander. Trajetos. Fortaleza, v.2, n. 4, 2003.

Acesso apenas no link original [DR]

As Relações entre o Brasil e o Paraguai (1889-1930): do afastamento pragmático à reaproximação cautelosa | Francisco M. Doratioto || José Martí e Domingo Sarmento: duas idéias de construção da hispano-América | Dinair A. Silva || Segurança Coletiva e Segurança Nacional: a Colômbia entre 1950-1982 | César Miguel Torres Del Rio || Entre Mitos/ Utopia e Razão: os olhares franceses sobre o Brasil (século XVI a XVIII) | Carmen L. P. Almeida || A Parceria Bloqueada: as relações entre França e Brasil/ 1945-2000 | Antônio C. M. Lessa || Políticas Semelhantes em Momentos Diferentes: exame e comparação entre a Política Externa Independente (1961-1964) e o Pragmatismo Responsável (1974-1979) | Luiz F. Ligiéro || Dimensões Culturais nas Relações Sindicais entre o Brasil e a Itália (1968-1995) | Adriano Sandri || Opinião Pública e Política Exterior nos governos Jânio Quadros e João Goulart (1961-1964) | Tânia M. P. G. Manzur || O Parlamento e a Política Externa Brasileira (1961- 1967) | Antônio J. Barbosa || Los Palestinos: historia de una guerra sin fin y de una paz ilusoria en el cercano oriente | Cristina R. Sivolella || Do Pragmatismo Consciente à Parceria Estratégica: as relações Brasil-África do Sul (1918-2000) | Pio Penna Filho || Entre América e Europa: a política externa brasileira na década de 1920 | Eugênio V. Garcia

As relações internacionais, enquanto objeto de estudo, vêm se desenvolvendo de maneira satisfatória nos últimos anos no Brasil. Parte desse avanço é devido ao surgimento de cursos de pós-graduação na área, que colocam o estudo das relações internacionais, de modo geral, e a inserção externa do Brasil, em particular, no centro das preocupações de pesquisa. O primeiro programa de pós-graduação em História das Relações Internacionais na América do Sul foi criado na Universidade de Brasília, em 1976. Em torno desse Programa formou-se uma tradição brasiliense de estudo de relações internacionais. Ao longo de mais de vinte anos de atuação, o Programa produziu cerca de sessenta dissertações de mestrado e, com a implantação do doutorado em 1994, doze teses.

Uma particularidade das teses de doutorado do Programa é a diversidade temática. A ampliação dessa linha de pesquisa permitiu a modernização da História das Relações Internacionais. Assim, junto com os estudos que privilegiam as relações bilaterais do Brasil, inseriram-se novos temas e objetos de investigação. Com efeito, há estudos que aprofundam a análise das parcerias estratégicas, a opinião pública, a imagem, a segurança internacional, o pensamento político, as relações internacionais do Brasil e as relações internacionais contemporâneas. Tais estudos evidenciam a diversificação de olhares sobre a inserção internacional do Brasil. Leia Mais

Argentina: visões brasileiras | Samuel Pinheiro Guimarães

O projeto Anuário de Política Internacional, elaborado pelo IPRI e patrocinado pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-CAPES, tem por fim a elaboração “de uma visão brasileira sobre as principais sociedades e Estados” parceiros do Brasil. O livro organizado por Samuel Pinheiro Guimarães, parte integrante desse projeto, recolhe uma interpretação do pensamento brasileiro sobre a Argentina. O texto percebe a Argentina como um ator influente na história regional sul-americana, razão porque aprofunda as linhas gerais de sua história e de sua política exterior entre 1945 e 2000, dando ênfase à década dos noventa, ou seja, ao Governo de Carlos Saúl Menem. Tudo sob a visão dos brasileiros.

O livro está dividido em três grandes partes. A primeira, a cargo do internacionalista historiador Amado Luiz Cervo, corresponde à visão política, a segunda, a cargo do diplomata Pedro Mota Pinto Coelho, à visão diplomática, e, enfim, a terceira esteve sob a responsabilidade dos economistas Ricardo Markwald e Roberto Iglesias. Leia Mais

A Licentious Liberty in a Brazilian Gold-Mining Region. Slavery/ Gender and Social control in Eighteenth-Century Sabará/ Minas Gerais | Kathleen J. Higgins

Resenhista

Ernest Pijning – Historiador brazilianista em professor da Minor State University, Dakota do Norte (EUA).

Referências desta Resenha

HIGGINS, Kathleen J. A Licentious Liberty in a Brazilian Gold-Mining Region. Slavery, Gender and Social control in Eighteenth-Century Sabará, Minas Gerais. University Park, PA: University of Pennsylvania Press, 1999. Resenha de: PIJNING, Ernest. História Revista. Goiânia, v.6, n.1, p.223-225, jan./jun.2001. Acesso apenas pelo link original [DR]