Posts com a Tag ‘América – Brasil’
A modernização seletiva: uma reinterpretação do dilema Brasileiro | Jessé Souza
Resenhista
Artur Oliveira Alfaix Assis – Graduado em História pela UFG e mestrando em História na Universidade de Brasília.
Referências desta Resenha
SOUZA, Jessé. A modernização seletiva: uma reinterpretação do dilema Brasileiro. Brasília: Editora UnB, 2000. Resenha de: ASSIS, Artur Oliveira Alfaix. História Revista. Goiânia, v.6, n.1, p.227-235, jan./jun.2001. Acesso apenas pelo link original [DR]
Brasil-Estados Unidos / Estudos Históricos / 2001
Anarquia e organização | Nestor Makhno
Aqueles que pesquisam sobre o movimento operário no Brasil durante e República Velha freqüentemente se deparam com propostas anarquistas e sua posição frente à Revolução Soviética. Não raro, contudo, os textos específicos do ideário (ou ideários) anarquista(s) que servem de parâmetro para interpretação da conduta dos militantes limitam-se a excertos pinçados dos chamados “grandes teóricos”: Proudhon, Bakunin, Kropotkin, Reclus. Creio que isso ocorre por dois motivos. Um deles seria a ausência de instâncias organizativas em meio ao movimento anarquista capazes de definir com clareza o ideário. Com efeito, na ausência de um partido – mesmo que não de cunho eleitoral – efetuando congressos com certa freqüência, é difícil dizer qual seria a auto-definida como correta posição anarquista: em suma, é difícil definir o que seria a ortodoxia anarquista (se é que isso faz sentido). O outro motivo seria a ausência de textos em português, ou, de qualquer modo, mais acessíveis, de autores anarquistas explicitando seu pensamento. É certo que a coletânea de George Woodcock cumpre parcialmente essa função de prover um volume em português o suficiente denso de textos e contextualizações que sirvam de guia para a interpretação. Contudo, alguns problemas de tradução dessa coletânea interferem, por exemplo, na apreciação da relação que anarquismo e sindicalismo mantiveram durante o Congresso de Amsterdam, de 1907. 1
A coletânea aqui resenhada não resolve esse tipo de problema, mas tem dois grandes méritos. O primeiro é trazer textos anarquistas contextualizados e tematicamente organizados capazes de responder a uma questão específica: quais foram os efeitos da derrota anarquista na Revolução Soviética sobre a forma desses militantes pensarem seus modelos de organização? O segundo mérito é trazer textos praticamente inacessíveis aos que não têm acesso a bibliotecas e edições estrangeiras. Leia Mais
Rompendo o silêncio: uma fenomenologia feminista do mal. | Ivone Gebara
Quero em primeiro lugar saudar Ivone Gebara por sua coragem de Romper o Silêncio sobre a história social das mulheres e, sobretudo, destacar a inovação de uma teóloga mulher que se contrapõe de forma contundente às injustiças e às desigualdades. Quero destacar, sobretudo, o papel político desta obra.
Ao situar as mulheres no mundo da história da teologia, a autora estabelece uma relação fundamental entre a teologia e a vida social, na medida em que a teologia reflete as contradições do mundo social, onde a malignidade, muitas vezes, aparece, como coloca Gebara, como destino, desígnio de Deus, ou castigo pelos pecados ocultos, ou ainda, pelos pecados não purgados.
A fenomenologia do mal feminino aparece na dialética das malignidades identificadas pela autora como quatro formas do mal: o mal de não ter, não poder, não saber, não valer. Estes males atingem as mulheres e se manifestam com maior ou menor intensidade de acordo com suas inserções sociais.
O feminino como mal de não ter. Como satisfazer às suas necessidades e, sobretudo, efetivar as atividades de produção e reprodução da vida; como gerar e criar os filhos e filhas, administrar a vida doméstica e familiar em toda sua complexidade, papéis estes designados às mulheres. Como diz Gebara: “A vida das mulheres parece estar ligada a este aspecto primordial ou primário da manutenção da vida. Por conseguinte, o mal de não ter ou a falta do essencial para viver as atinge de modo particular”(p. 49).
O feminino como mal do não poder. Representado através da experiência de Violeta Parra, (p.60) que vivencia o seu não poder ao se filiar a um partido político de esquerda para participar do movimento de libertação do seu país e, paradoxalmente, vivencia sua luta pela liberdade às custas de sua própria liberdade. Isto nos remete a refletir sobre a saída das mulheres do mundo privado (do doméstico) para o mundo público (da política) que, no caso de Violeta Parra e de grande parte das mulheres que fazem este percurso via partidos políticos ou movimentos sociais, não experimentam uma mudança significativa no exercício dos papéis designados a elas, o que faz com que passem a exercer nesses novos espaços as mesmas atividades caracterizadas como femininas – de organização, manutenção entre outras – não conseguindo, na maioria das vezes, uma posição de igualdade na distribuição dos poderes com seus companheiros homens. Sendo reproduzidas no espaço público as situações de desigualdades e subordinações das mulheres nos espaços privados.
O feminino como mal de não saber. Gebara ilustra muito bem esse mal apoiando-se no exemplo da Irmã Joana Inês da Cruz, (p.62) do convento de São Jerônimo, no México, no século XVII. Qual o grande pecado dessa freira? Imiscuir-se no mundo das letras, querer provar das fontes do conhecimento – lugar eminentemente masculino, dirigido pela eclesiástica patriarcal romana, cuja divisão social do trabalho, sempre colocou para a mulher, o servir, a abnegação e a renuncia à capacidade de pensar. Pois bem, a Irmã Joana Inês da Cruz obteve como redenção o exílio do estudo e do conhecimento, com a sua adequação ao papel de serva, cuidando das atividades domésticas e das irmãs enfermas atingidas pela peste.
O feminino como mal de não valer. O valor é um lugar de dor para as mulheres. Mulheres valem como objetos, de prazer ou de ódio. A sociedade hierarquiza os seres humanos e multiplamente pune as mulheres, e as pune por sua condição de gênero, por sua condição de classe e pela cor de sua pele. As mulheres interiorizam esta hierarquização, onde elas estão em uma posição inferior, e purgam o seu sofrimento na malignidade de suas condições. É necessário que se leve em conta a extensão destas desigualdades entre os seres humanos e também as diferenças existentes entre as mulheres em suas vivências cotidianas. Deste modo, em diferentes classes sociais, em diferentes lugares e situações geracionais e étnicas, vivenciam-se diferentes situações de exploração da mulher.
Da realidade que coloca Gebara, existe uma tensão dialética que perpassa a construção da humanidade. Uma construção que decorre da consciência que cada ser tem do seu valor. Nos termos da autora “Quando o valor faz falta, as pessoas vivem um mal. “(p. 81) Existe uma confusão permanente entre as pessoas quanto à extensão e às possibilidades de afirmação do seu valor. Os carecimentos, as debilidades quanto ao acesso ao poder, o desconhecimento, a falta de reconhecimento e de pertencimento, fazem com que o mal se confunda com o bem e, como a autora coloca: ”No cotidiano de sua vida, o mal para elas parece ser a ausência de possibilidades de vida, a violência com a qual elas são tratadas, a insegurança à qual estão sujeitas, as faltas de calor e de afeição que caracterizam sua existência”. (p. 81/82)
Desde esta realidade, é necessário compreender o lugar das mulheres e as incompreensões que povoam o seu pensar e o seu agir, que dizem respeito ao bem e ao mal. Neste sentido, esta obra de Gebara é uma grata surpresa, pois só o olhar de uma teóloga feminista é capaz de discernir o mal travestido de bem, porque o mal de que Gebara nos fala, é um mal que anula as mulheres, impossibilitando a sua plenitude enquanto ser, quando nos deixa sem poder em nome do poder, quando nos deixa sem saber em nome do conhecimento, quando nos desvaloriza para gerar valor.
Esta leitura teológica feminista, considerando a mediação de gênero, revela o lugar subordinado das mulheres numa hierarquia social produzida por preconceitos que mesmo num discurso de igualdade de princípios como é o caso das teologias, mantiveram uma visão que desqualifica as mulheres.
Gebara cita, entre outras teóricas feministas, Joan Scott. A definição de gênero que faz Scott, constitui-se de duas partes e várias sub-partes, cujo núcleo essencial da definição baseia-se na conexão de duas proposições: “o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primária de significar as relações de poder”.[1] Prosseguindo a definição de Scott, o gênero se constitui num contexto simbólico de múltiplas representações, tem efeitos normativos, fixa relações binárias e produz noções de subjetividade.
Neste sentido o homem e a mulher são construídos socialmente, desde uma cultura historicamente situada no tempo e dentro das circunstâncias possíveis, determinadas por essa temporalidade. Sujeitos de seu tempo, imersos em um conjunto específico de relações sociais historicamente situadas, cada ser mulher e homem, tem um grupo originário e está submetido às regras de comportamento que se firmam desde a ética hegemônica. Se em geral é assim, desde o ponto de vista da construção de sua especificidade de homem e mulher, são determinantes sua classe, raça, religião e a forma de inserção social na sociedade. Deste modo, a partir dessas variáveis fundamentais, constroem-se o ser mulher e o ser homem.
Na história do feminismo, principalmente a partir dos anos 60, houve uma busca sistemática de uma identidade coletiva das mulheres, tentando forçar sua legitimidade política. Neste curso, a busca por uma identidade coletiva única não respondia às cismas e dissidências dentro do movimento. Assim, as especificidades que transversalizaram a vida cotidiana das mulheres (por exemplo, etnia, classe, gênero, sexualidade, religião, etc.,) colocaram em dúvida a possibilidade de um sujeito universal desprovido de suas vivências específicas. Coube ao movimento repensar o novo sujeito contextualizado historicamente e, portando, diferenciado internamente.
Essa situação suscitou polêmicas no seio do feminismo. Sem embargo, em nossa compreensão, unir as mulheres em uma identidade de gênero única, crendo que todas as mulheres vivem as mesmas situações é ocultar a existência de distintas formas de vivenciar a opressão e, ao mesmo tempo, negar a existência de hierarquias existentes nas relações de poder entre mulheres que pertencem a diferentes classes sociais, grupos étnicos distintos e culturas diversas.
Um acontecimento importante dos anos oitenta, no nível da teorização, foi a constatação de que categorias como mulher, homem, masculino, feminino, possuem conteúdos históricos específicos e se toma analiticamente problemático tentar aplicar a estas categorias uma universalidade, sob pena de cometermos os mesmos erros que temos criticado. Estas preocupações são as mesmas trazidas por Gebara e suscitam o debate que se encontra na ordem dia do pensar feminista.
Considerando estas preocupações, nas quais a autora chama a atenção quanto ao uso da categoria gênero, que é não absolutizar a opressão das mulheres e o receio de se cair em construções utópicas universalizantes, que se mostraram incapazes de dar conta desta múltipla realidade, levando-nos a uma revisão de práticas e teorias.
Rompendo o silêncio. Uma fenomenologia feminista do mal é uma leitura instigante do início ao fim, possibilitando novas reflexões sobre o mal humano, particularmente o mal que atinge as mulheres.
Nota
1. SCOTI, Joan, Gênero: uma categoria útil para a análise histórica, Tradução: Christine Rufino Dabat, Maria Betânia Ávila, Recife, SOS Corpo, 1996, p. 11.
Maria de Fátima Guimarães – Professora Visitante do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco UFPE.
GEBARA, Ivone. Rompendo o silêncio: uma fenomenologia feminista do mal. Petrópolis: Vozes, 2000. Resenha de: GUIMARÃES, Maria de Fátima. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.19, n.1, p.221-224, jan./dez. 2001. Acessar publicação original [DR]
Dos micróbios aos mosquitos/ febre amarela e revolução pasteuriana no Brasil | Jaime Larry Benchimol
Há ainda uma certa historiografia da medicina que costuma tratar daqueles feitos que abriram novos caminhos e possibilitaram desco-bertas de grande importância. A medicina é analisada segundo a perspectiva do “progresso”, da descoberta de tal remédio ou instrumento que tenha salvado mais vidas e/ou minimizado o sofrimento das pessoas. Nesta abordagem, quando trata de personalidades importantes na história da medicina, só há lugar para aqueles cujos trabalhos científicos sejam considerados como contribuições ao que se chama de “avanço” da medicina.
Nestes termos, o livro de Jaime Larry Benchimol, Dos micróbios aos mosquitos, febre amarela e revolução pasteuriana no Brasil, vem no sentido contrário desta corrente, no que é muito bem-vindo. Traz um tema que para o leitor moderno, do mundo ocidental e urbano, tornou-se desconhecido: o da realidade da “peste”, no seu sentido mais amplo de doença mortal que se propaga, ceifadora de vidas numa proporção que já esquecemos tanto sua dimensão quanto seu significado. Leia Mais
O Brasil descobre a pesquisa científica: os museus e as ciências naturais do século XIX | Maria Margaret Lopes
Margaret Lopes apresenta uma importante contribuição para a história da ciência no Brasil, um livro indicado para o prêmio Jabuti em 1999, cujos méritos são muitos, a começar pela clareza de exposição. O livro divide-se em cinco capítulos, cada um deles subdividido, o que torna sua leitura mais fácil e agradável. Logo na introdução (pp. 11-24), expõe a sua tese essencial, em consonância com as novas posturas metodológicas de entendimento amplo da história das ciências, segundo a qual os museus brasileiros estiveram atuantes e institucionalizaram as ciências naturais e suas especializações, já no século XIX, em contraposição à historiografia corrente.
O primeiro capítulo trata dos antecedentes, constituição e primeiros anos do Museu Nacional do Rio de Janeiro (pp. 25-84). A partir da Casa de História Natural, ou Casa dos Pássaros, criada em 1784 para colecionar, armazenar e preparar produtos naturais e adornos indígenas para enviar a Lisboa, criou-se em 1818 o Museu Real do Rio de Janeiro. O museu inseria-se nos gabinetes-museus da época como um verdadeiro museu metropolitano, centro receptor de produtos das províncias e possessões do “ultramar”, mantenedor de intercâmbios internacionais e decidido a organizar coleções de caráter universal. Logo transformado em Museu Imperial, com a independência, o museu, em seguida, passou a contar com cinco divisões: produtos zoológicos, botânicos, orictognósticos, belas-artes e objetos relativos aos diversos povos. O museu teve uma atuação simbólica e concreta como centro de ciência e cultura na Corte, mantendo estreitos vínculos com as demais instituições culturais e científicas do país, em especial interagindo com o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, criado em 1838. Leia Mais
Coleções e expedições vigiadas: os etnólogos no Conselho de Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas no Brasil | Luís Donisete Benzi Grupioni
A memória histórica, principalmente a biográfica, que se construiu acerca da década de 1930, buscou, quase sempre, apagar rastros de envolvimentos com a política repressora do governo Vargas. Diversos trabalhos realizados sobre esse período procuram apontar uma tendência do referido governo em buscar um projeto que o identificasse com os interesses da população. Em alguns desses trabalhos, propõe-se a associação do projeto estadonovista aos valores do passado, como estratégia para recuperar a verdadeira origem da história do Brasil. A idéia do mito Vargas é então reforçada pela demonstração da relação íntima entre cultura e política, relação por meio da qual se tenta buscar um elo entre memória e tradição.
O projeto político e ideológico formulado nesse período passava pela formação de homens saudáveis e orgulhosos de seu país, forma do governo tentar construir uma nova imagem para o Estado brasileiro. Diversos órgãos foram, então, criados, com o intuito de auxiliar na implementação do projeto nacionalista de construção de uma unidade nacional. A articulação dos aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais das diversas regiões do Brasil culminou num rearranjo do espaço brasileiro, marcando até hoje a vida do país. Leia Mais
Negotiating national identity: immigrants/ minorities/ and the strugle for ethnicity in Brazil | Jeffrey Lesser
Negotiating national identity é o mais recente livro de Jeffrey Lesser, historiador norte-americano que construiu uma justificada reputação como especialista no tema da imigração, ocorrida entre finais do século XIX e primeira metade do XX, para o Brasil. Nesse livro, Lesser examina como imigrantes não-europeus e seus descendentes negociaram publicamente suas identidades como brasileiros. Examinando suas posições, expressas em língua portuguesa, Lesser mostra de que maneira e com que objetivos esses imigrantes e seus descendentes debateram com políticos e intelectuais brasileiros.
Assim, os agentes engajados neste debate são lideranças políticas e intelectuais, tanto brasileiras quanto imigrantes, que se debruçaram sobre uma variedade de temas e problemas. Os primeiros perguntavam-se sobre o quanto era desejável a imigração de determinadas populações para o Brasil, refletiam sobre a capacidade de assimilar determinadas populações, julgavam-nas do ponto de vista de raça e civilização etc. Para os últimos, esteve em jogo a defesa de um lugar positivo para si na economia e na sociedade brasileiras, as reformulações das noções de “brasilidade”, a valorização dos laços, reais ou imaginários, estabelecidos com o Brasil etc. Leia Mais
As profissões imperiais: medicina/ engenharia e advocacia no Rio de Janeiro (1822-1930) | Edmundo Campos Coelho
A primeira coisa a dizer sobre o livro é que ele encanta pela qualidade da escrita, que não submerge aos ditames do ‘sociologuês’ corrente e nos apresenta um texto claro, fácil e agradável. Mas ele também é louvável pela qualidade da pesquisa realizada, ampla e completa. O autor soube reunir extensa documentação e informação bibliográfica da melhor qualidade para produzir um quadro rico em nuanças das nossas profissões clássicas em início de carreira. Nesse estudo, Edmundo Campos Coelho propõe-se a expor a sua própria “versão do processo de constituição das profissões tradicionais (medicina, advocacia e engenharia) ao longo do século XIX e das primeiras décadas do seguinte” (p. 34). A ênfase do autor recai sobre a dimensão institucional do processo no sentido amplo, isto é, procurando esclarecer as teias de relações sociais que fornecem as bases institucionais para a definição da posição dos grupos profissionais. As histórias da Academia Imperial de Medicina, do Instituto dos Advogados Brasileiros e do Instituto Politécnico Brasileiro, dos consensos e conflitos em torno dessas instituições e de suas sucessoras, compõem uma trama complexa dentro da qual o Estado tem papel destacado – “é o fio que unifica a trama e lhe dá alguma unidade” – sem ser o responsável exclusivo pelo desenrolar da mesma. Leia Mais
Famílias Abandonadas: Assistência à criança de camadas populares no Rio de Janeiro e em Salvador – séculos XVIII e XIX | Renato Pinto Venâncio
A infância como objeto de pesquisa dos historiadores só apareceu com o livro de Philippe Ariès, L’enfant et la vie familiale sous l’Ancien Régime (Paris: 1960). Na seqüência dos estudos relativos à criança, surge o interesse pela história das crianças enjeitadas ou abandonadas, como nos referimos atualmente.
Na década de setenta, refletindo a atenção que historiadores e principalmente historiadores-demógrafos davam ao tema da criança (abandonada ou não), foi publicado pela Societé de Démographie Historique um número consagrado ao novo campo de investigação que se abria: a história da infância. Leia Mais
Perspectivas: Brasil e Argentina | José María LLadós
O livro reúne vinte e cinco estudos de acadêmicos, técnicos, diplomatas e autoridades governamentais. Os autores, brasileiros e argentinos em número equilibrado, expõem o conhecimento com a autoridade de quem está familiarizado com os temas, senão mesmo de quem é protagonista na área de ação. O estilo formal e documentado das contribuições em nada se assemelha a conferências, mas sim a trabalhos escritos para fins de publicação científica. Contudo, os textos foram previamente discutidos em seminário binacional promovido pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. O livro se insere em uma série de publicações desse Instituto, cuja finalidade precípua é a de apoiar a Presidência da República e as autoridades setoriais do Governo nas responsabilidades de formulação de estratégias políticas.
O livro estuda os progressos e as possibilidades da economia, da vida política e da sociedade, no Brasil e na Argentina. Duas preocupações norteiam as análises, feitas por especialistas no respectivo setor: as convergências que aproximam as realidades internas de cada país e lhes conferem certa unidade de feição e as diferenças que as distinguem e lhes conferem perfil próprio. Esses traços resultam provavelmente da orientação metodológica que os organizadores transmitiram aos autores, cujos textos foram encomendados. O livro foi escrito com a finalidade de exibir um diagnóstico exaustivo das duas comunidades, nas dimensões horizontal e vertical. A finalidade cognitiva é óbvia, tanto quanto a normativa. Sem diagnósticos corretos, as possibilidades de cooperação bilateral e o próprio processo de integração inevitavelmente incorrem em erros de decisão, o que provoca ressentimentos e reações imprevisíveis, como se tem observado nos anos recentes. Leia Mais
Cronologia das Relações Internacionais do Brasil || O Brasil e a Liga das Nações (1919–1926) | Eugênio Vargas Garcia
Um jovem autor, Eugênio Vargas Garcia, lança quase que simultaneamente dois trabalhos de relevância para o estudo da política externa brasileira e da inserção do país no cenário internacional. O primeiro é Cronologia das Relações Internacionais do Brasil, um pequeno grande livro que consegue o prodígio de, em pouco mais de duzentas páginas, fixar, em seus marcos essenciais, a trajetória do Brasil em relação ao exterior, dos primórdios da colonização portuguesa ao ano de 1998.
Pode-se dizer que a mais expressiva contribuição oferecida por essa obra reside naquilo que, ao próprio autor, pode parecer algo menor, como se depreende de suas palavras apresentadas na Nota Introdutória. Refiro-me à recuperação do “fato histórico” como elemento insubstituível a um bem estruturado trabalho de interpretação. Com efeito, ao apontar os males de que padece qualquer cronologia, Garcia menciona o factualismo de origem, a arbitrariedade na seleção e no ordenamento dos fatos e a inevitável simplificação que acomete esse tipo de trabalho. Leia Mais
A construção do Terceiro Mundo. Teorias do subdesenvolvimento na Romênia e no Brasil | Joseph L. Love
Como os economistas e outros autores de persuasão estruturalista do desenvolvimento têm teorizado os complexos e comuns problemas do atraso ou subdesenvolvimento na Europa centro-oriental e na América Latina e Caribe (durante o século XX), em comparação com as economias centrais, industrializadas e capitalistas do Ocidente, parece ser a questão central que orienta o recente trabalho do destacado historiador norte-americano Joseph L. Love.
Joseph Love é professor da Universidade de Illinois (EUA), especialista em história contemporânea e regional do Brasil. Seus primeiros trabalhos sobre a história de Brasil datam da década de 1970. Love oferece-nos no momento um sólido trabalho de pesquisa que podemos localizar especificamente no âmbito da história das idéias. De maneira mais específica, estamos diante de um estudo sobre a evolução das idéias do desenvolvimento em duas regiões consideradas atrasadas. Também as características e os fatores que definem a condição periférica e, ainda, a recuperação das contribuições dos autores romenos, brasileiros e de outras nacionalidades são postas em evidência. O conjunto é utilizado para compreender, interpretar, atuar e, eventualmente, sugerir vias de superação da situação de subdesenvolvimento econômico, sócio-político e tecnológico, no contexto de expansão do sistema capitalista mundial. Leia Mais
Brasil e Israel: diplomacia e sociedades | Norma Breda dos Santos
A Professora Norma Breda, da Universidade de Brasília, adicionou a ainda pouco desenvolvida bibliografia de estudos diplomáticos brasileiros uma valiosa coletânea dedicada às relações entre Brasil e Israel. Ela não somente organizou a coletânea e lhe escreveu o prefácio, como produziu também o mais extenso e abrangente estudo incluído no livro, enriquecido ainda pela substanciosa “Apresentação”, assinada pelo Professor Amado Luiz Cervo, diretor da Coleção Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
No seu texto, Norma Breda acompanha com astúcia as posições, em relação a Israel, assumidas por diplomatas brasileiros, durante cinco décadas, nos inúmeros debates em torno da questão árabe-israelense, ocorridos nas Nações Unidas. Cabe aqui ressaltar que, até os anos setenta, tal era o contexto mental em que se pensavam, no Itamaraty, os problemas associados à existência de Israel: O mundo dos Estados árabes reagindo ao aparecimento entre eles do Estado judeu. O Brasil, que possuía bem agregado na sua população um forte contingente de judeus e grandes colônias árabes, tinha todo interesse em manter-se imparcial no conflito, vendo-se inclusive como candidato a mediador em eventual impasse. A autora registra, no contexto da preparação da famosa Resolução n° 242, análises do delegado brasileiro ao Conselho de Segurança, demonstrando a auto-satisfação com a contribuição dada pelo Brasil, forçando as partes a abandonarem suas posições inflexíveis e tornando possível o compromisso encerrado na Resolução. Leia Mais
Brasil-Alemanha: fases de uma parceria (1964-1999) | Christian Lohbauer
O cientista político Christian Lohbauer, após a conclusão de seu doutoramento em 1999, junto à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, reformula sua tese e elabora Brasil-Alemanha: fases de uma parceria (1964-1999). Publicado sob os auspícios da Fundação Konrad Adenauer e da editora da USP, o texto dedica-se ao estudo evolutivo das relações bilaterais do Brasil com a República Federal da Alemanha e, após 1990, com a Alemanha unificada. Ressalta as políticas nacionais e internacionais dos dois países, bem como suas abrangências no contexto internacional. Dentro da ordem internacional vigente no período, também prioriza as interações do Brasil e da República Alemã com os Estados Unidos.
Partindo do paradigma da “aliança especial com os Estados Unidos” e do paradigma “globalista” para explicar a atuação do Ministério das Relações Exteriores ao longo da história republicana do Brasil, Lohbauer adota o segundo, mesmo reconhecendo que o Brasil teve os Estados Unidos como aliado especial entre 1964 e 1967 e entre 1990 e 1992. O paradigma “globalista” tem como base a posição mais autônoma do Brasil no mundo, na busca de uma política externa visando sua melhor inserção no cenário internacional. Assim, as relações bilaterais entre o Brasil e a RFA destacaram e destacam-se por marcar a tentativa brasileira de obter uma maior autonomia no panorama mundial e de conquistar um expressivo poder de barganha frente aos países desenvolvidos, principalmente em relação aos Estados Unidos. Leia Mais
Projeto emissão: o movimento folclórico brasileiro 1947-1964 | Luís Rodolfo Vilhena
Resenhista
Maria Amélia Garcia de Alencar – Professora dos Departamentos de História da Universidade Federal de Goiás e da Universidade Católica de Goiás. Doutoranda em História no Programa de Pós-Graduação da Universidade de Brasília – UnB.
Referências desta Resenha
VILHENA, Luís Rodolfo. Projeto emissão: o movimento folclórico brasileiro 1947-1964. Rio de Janeiro: Funarte; Fundação Getúlio Vargas, 1997. Resenha de: ALENCAR, Maria Amélia Garcia de. História Revista. Goiânia, v.5, n.1-2, p.193-196, jan./dez.2000. Acesso apenas pelo link original [DR]
Depois das Caravelas. As relações entre Portugal e Brasil/ 1808-2000 | Amado Luiz Cervo e José Calvet de Magalhães
Depois das Caravelas, obra publicada na Coleção Relações Internacionais da Editora Universidade de Brasília, representa um trabalho de grande importância para as relações bilaterais entre Portugal e sua ex-colônia, o Brasil. Com seu enfoque nos últimos duzentos anos, o livro preenche uma grande lacuna na literatura acadêmica sobre as relações entre os dois países, que tende a focalizar, sobretudo no ano do V Centenário do Descobrimento do Brasil, o próprio descobrimento e o período colonial. O livro soma os esforços de scholars dos dois países, como que simbolicamente representando a nova qualidade das relações bilaterais. A obra contém duas partes. Na primeira (151 páginas) o historiador brasileiro Amado Luiz Cervo analisa as relações entre Portugal e Brasil no século XIX. Segue um capítulo sobre as relações culturais no século XIX, escrito pelas duas historiadoras cariocas Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz Ferreira e Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves, ambas especialistas em história cultural do Brasil (30 páginas). A segunda parte do livro trata das relações bilaterais do início do século XX até os tempos mais recentes (122 páginas). O autor, José Calvet de Magalhães, é diplomata português e especialista em história diplomática do seu país. O livro conta ainda com uma apresentação, escrita por Dário Moreira de Castro Alves, que oferece, em 50 páginas, um resumo de seu conteúdo. Finalmente, são reproduzidos em anexo os três mais importantes tratados entre Portugal e Brasil. Leia Mais
O Brasil e as novas dimensões da segurança internacional | Gilberto Dupas e Tullo Vigevani
O Brasil e as novas dimensões da segurança internacional, coletânea organizada por Gilberto Dupas e Tullo Vigevani, tem origem em um seminário realizado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, em 1998. Trata-se de um sério esforço de estudiosos brasileiros no sentido de pensar sobre o lugar do Brasil no mundo pós-bipolar, em que a distribuição de poder, como adverte M.-C. Smouts, parece mais próxima dos relógios moles de Dali do que de qualquer fórmula geométrica. Tarefa difícil, pois, é esta de compreender o funcionamento da era pós-Guerra Fria e dos possíveis caminhos para a inserção do Brasil.
No primeiro capítulo, Gelson Fonseca Jr. situa o enfoque realista no espectro interpretativo sobre o sistema internacional, atualizando-o com vistas a definir o tipo de relações de poder que substituiu a bipolaridade. Das poucas certezas que temos, afirma o autor, provavelmente a mais indiscutível é a de que os Estados Unidos são pólo que se diferencia por seus recursos de poder, e questiona: “em uma ordem que combina concerto e multipolaridade, quais seriam as posições do Brasil?” Compartilhamos dos valores do concerto, como a democracia, os direitos humanos, etc, e, se persiste tal configuração de poder, a resposta estaria em “como aumentar a nossa capacidade de influência”. Leia Mais
Sob a sombra de Mussolini: os italianos de São Paulo e a luta contra o fascismo, 1919-1945 | João Fábio Bertonha
A emergência e afirmação de regimes políticos autoritários, impulsionados por idéias e princípios antidemocráticos, constituíram duas das características mais evidentes do entreguerras, a tal ponto que o “breve século XX” de Eric Hobsbawm já tinha sido batizado de “século das ideologias” por diversos historiadores que o precederam. Nesse conjunto de regimes autocráticos, o regime fascista inaugurado por Mussolini representou, sem dúvida, um paradigma do antiliberalismo, representando tanto do ponto de vista prático como teórico o protótipo do que ele mesmo chamou de “Estado totalitário”, termo depois estendido por Hannah Arendt para cobrir a modalidade soviética de poder político absoluto. Muitos historiadores e cientistas políticos, entre eles François Furet de O passado de uma ilusão, consideram aliás que o fascismo se desenvolveu especificamente em reação ao bolchevismo, dele retirando entretanto diversos elementos substantivos e formais, pois que combinando o estatismo do planejamento socialista e o monopólio do poder pelo partido único com uma ideologia anticapitalista e supostamente igualitária, como no caso da ideologia marxista. Leia Mais
The Paraguayan War (1864-1870) | Leslie Bethell || História do Cone Sul | Amado Luiz Cervo e Mário Raport || A guerra contra o Paraguai | Júlio J. Chiavenato || A espada de Dâmocles: O exército/ a guerra do Paraguai e a crise do Império | Wilma Peres Costa || A Guerra do Paraguai | Francisco Doratioto || Guerra do Paraguai: como construímos o conflito | Alfredo da Mota Menezes
Até onde as relações entre os Estados processam-se em virtude do confronto dos interesses independentes de cada um deles? Em que medida a História de um povo ou de um conflito pode ser pensada como um contexto autônomo frente ao contato com outras nações? As respostas para estas perguntas são múltiplas, mas, divergentes ou não, há algo que as torna semelhantes: a cada forma de contar a História das relações internacionais corresponde um projeto – pessoal ou mais comumente coletivo , de manter ou de transformar a situação atual da convivência entre os povos. Em outras palavras, o conhecimento produzido sobre o mundo não costuma estar desvinculado de um conjunto específico de interesses.
O tema da Guerra do Paraguai é perfeito para explicitar essas questões. Realmente, diversas pesquisas têm sido realizadas recentemente sobre o assunto e isso não é por acaso, já que aquele conflito representa um divisor de águas na história do Cone Sul. Numa época em que a globalização e o Mercosul dão o tom dos debates políticos e acadêmicos envolvendo o relacionamento dos países sul-americanos, discutir as origens da guerra e o real peso de influências externas ao sub-continente nas mesmas torna-se um exercício fundamental. Leia Mais
Navegantes/ bandeirantes/ diplomatas: um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil | Synesio Sampaio Goes Filho
O livro de Synesio Sampaio aborda um tema relevante para um campo de experiências particularmente férteis no Continente Americano, a saber o processo de formação de fronteiras. Neste livro o autor apresenta a formação das fronteiras brasileiras dentro de um contexto complexo, marcado pelas especificidades de um processo histórico de descoberta e colonização européias. Os assuntos desenvolvidos são: descobrimento, ocupação e fronteira, respectivamente relacionados aos navegantes, bandeirantes e diplomatas, assinalando o papel desses três agentes sociais, dotando-os de singularidade à medida que o livro seleciona alguns e salienta seus nomes e histórias particulares, apresentando seus feitos e obras.
O livro está estruturalmente divido em três partes. A primeira designada “A descoberta do Continente”, a segunda, “A ocupação do território brasileiro”, a terceira, “As negociações dos limites terrestres”. Leia Mais
Saúde e democracia: a luta do Cebes | Sonia Fleury
Lançada há pouco mais de um ano, durante as comemorações dos 21 anos de fundação do Cebes, esta coletânea reúne um conjunto de artigos que nos permitem uma aproximação da gradativa especialização que vem se processando no campo da saúde pública nestes últimos anos. Enfoca diferentes aspectos relativos à reforma sanitária, ao processo de implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a temas como: gestão em saúde, determinantes epidemiológicos, recursos humanos, assistência hospitalar, saúde mental e produção farmacêutica e de imunobiológicos, entre outros.
Apesar da diversidade temática, a preocupação de articular as especificidades da saúde pública ao tema da democracia na sociedade brasileira se define como a questão central do livro, presente ao longo dos diferentes artigos. É evidente o claro objetivo de retomar o debate acerca do papel do Estado na esfera das políticas públicas de saúde, considerando as recentes transformações ocorridas neste campo, e este deve ser considerado o principal mérito da publicação, ou seja, sua intenção de articular os problemas recentes enfrentados pela saúde aos princípios que propiciaram movimentos transformadores nesta área. Leia Mais
As barbas do imperador: dom Pedro II, um monarca nos trópicos | Lília Moritz Schwarcz
O novo livro de Lilia Moritz Schwarcz, intitulado As barbas do imperador: dom Pedro II, um monarca nos trópicos, busca fazer uma reconstrução da figura e do papel simbólico ocupado pelo imperador Pedro II durante esse momento fulcral da história brasileira que foi o século XIX.
Entre a herança colonial e o país moderno, o tempo do império foi aquele em que as contradições da passagem do estatuto de colônia ao de país soberano solidificaram-se em instituições que até hoje marcam a vida brasileira: o favor, o beletrismo, as dúbias fronteiras entre as esferas do público e do privado são algumas das heranças que nos legou o império. Leia Mais
Preconceito de marca: as relações raciais em Itapetininga | Oracy Nogueira
Ao iniciar minha graduação em história, deparei-me, pela primeira vez, com estudos que desmistificavam noções, ainda freqüentes nos compêndios e livros didáticos, sobre a organização social brasileira. Trabalho importante fora, sem dúvida, Relativizando, de Roberto DaMatta (Rio de Janeiro, Rocco, 1990), por seu caráter introdutório e iconoclasta, no que concerne às relações interétnicas vigentes. Com o tempo, o acesso a uma tradição sociológica, antropológica e histórica, que, há muito, já tinha posto em xeque as premissas de uma “democracia racial à brasileira”, me permitiu a visualização desta ideologia de longa duração e o seu isolamento como objeto de análise.
No item ‘Digressão: a fábula das três raças ou o problema do racismo à brasileira’ (idem, ibidem, pp. 58-85), DaMatta realça o caráter colonial brasileiro, profundamente marcado por um sistema hierarquizado, implementado pelo branco, português, e definidor de uma lógica jurídica, política e socialmente discriminatória. Apesar de substituído, no decorrer do processo de independência e de abolição, não apenas deixaria marcas ‘tradicionais’ na nossa cultura, como teria a sua continuidade confirmada por uma ideologia, que traduziria a supremacia do branco frente aos outros grupos étnicos, consubstanciando, assim, o “racismo à brasileira”. Leia Mais
Projeto e missão: o movimento folclórico brasileiro 1947-1964 | Luís Rodolfo Vilhena
Ao escrever sobre o folclore e o movimento folclorista no Brasil dos anos de 1947 a 1964, Luís Rodolfo Vilhena retomou um dos temas polêmicos de nossa tradição de pensamento: a construção da idéia de nação brasileira. Fez isso de maneira criativa e corajosa porque escolheu examinar o assunto, investigando o sentido que os folcloristas davam aos estudos sobre as tradições populares, tema habitualmente pouco valorizado pelos cientistas sociais, ainda mais no contexto da institucionalização das ciências sociais na década de 1950, quando foi objeto de críticas severas.
No livro, a reconstituição do projeto dos folcloristas da década de 1950 leva Luís Rodolfo a questionar um conjunto de problemas relevantes da vida intelectual brasileira. Começa perscrutando o significado da criação da Comissão Nacional do Folclore (CNFL) em 1947, vinculada ao Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura do Ministério das Relações Exteriores. Discute os limites das escolhas feitas pelos cientistas sociais no processo de institucionalização de suas disciplinas, a excluir campos do saber como o folclore, em nome de uma concepção rigorosa de ciência. Finalmente, revela a qualidade da missão dos folcloristas e analisa o estilo solidário e fraternal que imprimem a suas atividades. Leia Mais
A era do saneamento: as bases da política de saúde pública no Brasil | Gilberto Hochman
As temáticas relacionadas ao campo da saúde pública e da medicina têm merecido, nas últimas duas décadas, crescente atenção de historiadores e sociólogos brasileiros. Este fenômeno, aliás, não é circunscrito ao nosso país: trata-se de uma tendência internacional. De fato, nos Estados Unidos a tradição de utilizar abordagens das ciências humanas no estudo da medicina e saúde pública é mais antiga. Rats, lice and history, por exemplo, uma reflexão sobre o impacto das epidemias nas sociedades humanas, foi escrito em 1934 pelo bacteriologista Hans Zinsser (1984), que se dizia impressionado com a “negligência quase completa de historiadores e sociólogos” no estudo do papel desempenhado pelas epidemias no “destino das nações”. Se Zinsser foi um solitário na década de 1930, na de 1950 já existia uma tradição de estudos neste campo, onde se destacavam homens como George Rosen, com seu clássico A history of public health, de 1958, e Erwin Ackerknectht, e seu A short history of medicine, de 1955. Leia Mais
Os indesejáveis: desclassificados da modernidade. Protesto, crime e expulsão na capital federal (1890-1930) | Lená Medeiros de Menezes
MENEZES, Lená Medeiros de. Os indesejáveis: desclassificados da modernidade. Protesto, crime e expulsão na capital federal (1890-1930). Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996. Resenha de: NEVES, Lúcia Maria Bastos P. das. Revista Maracanan. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.134-136, 1999.
Acesso apenas pelo link original [DR]
Colônia e nativismo: a história como “biografia da nação” | Rogério Forastiere da Silva
Uma essência nacional que esteja presente qualquer que seja a situação histórica do Brasil, no passado, no presente e no futuro: essa é a base do pensamento nacionalista construído a partir de cima, usuário da história e de seu ensino para fazer-se presente na memória coletiva. Isso fica claro – exemplo banal, mas com o mérito de ser contemporâneo – na propaganda da Rede Globo para as comemorações dos 500 anos do descobrimento, que não são chamadas dessa maneira. Diversamente, o locutor não se cansa de repetir todos os dias: faltam tantos dias para os 500 anos do Brasil. Não do descobrimento ou do que lhe equivalha. Sem outras palavras, a história que aí se ensina pondera que o Brasil é um ente trazido definitivamente à luz por Cabral e que, a partir daí, existe de forma cada vez mais completa e complexa, alcançando-nos no presente.
Esse olhar sobre a história nacional toma o seu objeto central, a nação, como um corpo, como um sujeito no tempo: existe potencialmente no passado como um embrião, nasce com a chegada dos portugueses à costa, emancipa-se com a Independência e alcança a maturidade num passado bem recente. Segundo Forastieri da Silva, a partir de Antonio Gramsci, essa é a perspectiva que lê a história como biografia da nação, como se a mesma fosse uma vontade ou um desígnio homogêneo, e por isso silencia todos os eventos em que essa unidade é posta à prova. Silencia ou integra, modificando o seu sentido e integrando-o a uma marcha em que tudo conduz, inexoravelmente, para o que há hoje. Leia Mais
Nem tudo era italiano. São Paulo e pobreza (1890-1915) | Carlos José Ferreira dos Santos
A primeira impressão que o livro de Carlos José suscita é de espanto. Será possível que ele pretenda refutar a imensa influência da imigração européia no crescimento e na transformação da cidade de São Paulo entre fins do século XIX e início do XX? Mais especificadamente, será que ele pretende negar a esmagadora presença física e cultural dos italianos na população paulistana e o seu papel decisivo na industrialização e nas lutas operárias daquele momento, conforme décadas de trabalho historiográfico tem demonstrado? [1]
Essa impressão se desvanece com facilidade na leitura do trabalho. Longe de negar o poder do dilúvio italiano que mudou profundamente a vida da cidade naquele período, ele procura anexar a este contexto um dado novo e relativamente pouco explorado: a presença de uma população de trabalhadores pobres nacionais, via de regra negros, que deram uma contribuição decisiva à vida da cidade daqueles anos, mas que permanecem escondidos nas brumas da História. Leia Mais
Multidões em cena: propaganda política no varguismo e peronismo | Maria Helena Rolim Capelato
Conhecida pela sua larga produção intelectual, a profª. Maria Helena Capelato é autora de O Bravo Matutino, Imprensa e ldeologia: O Jornal ”O Estado de São Paulo”, (em co-autoria com Maria Lígia Prado), O movimento de 1932: A causa Paulista, (em co-autoria com Carlos Guilherme Mota), Imprensa e História do Brasil, e Os Arautos do Liberalismo: Imprensa Paulista 1920-l94. Como se pode notar, teve sua preocupação centrada nos anos 30 e em especial no Estado Novo e na análise da imprensa no período, e agora apresenta-nos mais este livro, que é um estudo sobre o varguismo e o peronismo.
Multidões em cena tem como objeto o estudo comparado entre o varguismo e o peronismo no tocante ao significado da propaganda política idealizada e posta em prática, tanto pelo Estado Novo (1937) como pelo Peronismo (1945-1955). Estes regimes, por sua vez, inspiram-se nos métodos de propaganda nazista e fascista, adaptados para a realidade histórica brasileira e argentina, pois, nesse período, estes países têm necessidades de projetar-se enquanto Estado-Nação, e dessa maneira, nada mais adequado do que inspirar-se nas nações ditas civilizadas, daí, a inter-relação de idéias que havia no período do entre-guerras nos países que adotaram políticas antiliberais. Leia Mais
Negros e brancos em São Paulo (1888-1988) | George Reid Andrews
Resenhista
Heliane Prudente Nunes – Professora do departamento de História da UFG. Doutora em História Econômica pela USP em 1996.
Referências desta Resenha
ANDREWS, George Reid. Negros e brancos em São Paulo (1888-1988). Trad. Magda Lopes. Revisão técnica e apresentação de Maria Lígia Coelho Prado. Bauru, São Paulo: EDUSC, 1998. Resenha de: NUNES, Heliane Prudente. História Revista. Goiânia, v.4, n.1-2, p.133-136, jan./dez.1999. Acesso apenas pelo link original [DR]
As formas do mesmo: ensaios sobre o pensamento historiográfico de Varnhagen e Oliveira Viana | Nilo Odália
Resenhista
João Alberto Costa Pinto – Professor Assistente do Departamento de História da UFG.
Referências desta Resenha
ODÁLIA, Nilo. As formas do mesmo: ensaios sobre o pensamento historiográfico de Varnhagen e Oliveira Viana. São Paulo: Fundação Editora UNESP, 1997. Resenha de: PINTO, João Alberto Costa. História Revista. Goiânia, v.4, n.1-2, p. 137-143, jan./dez.1999. Acesso apenas pelo link original [DR]
João VI | Anais do Museu Histórico Nacional | 1999
Organizador
Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga. Mestre em História Universidade de São Paulo. Professora da Universidade do Rio de Janeiro (UNI-Rio). Diretora do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.31, 1999. Acesso apenas no link original [DR]
Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889) | Lucia Maria Paschoal Guimarães
GUIMARÃES, Lucia Maria Paschoal. Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Rio de Janeiro: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1997. Resenha de: MOREL, Marco. Revista Maracanan. Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.137-138, 1999.
Angola e Brasil nas rotas do Atlântico Sul | Selma Pantoja e José Flávio S. Saraiva
A obra organizada pelos dois historiadores das relações internacionais da Universidade de Brasília traz o Atlântico Sul para o centro das preocupações relativas à inserção externa do Brasil neste final de século. Área privilegiada para a articulação da política africana do Brasil, a porção atlântica ao sul do Equador é explorada em sua dimensão histórica, em particular em seu conjunto de vínculos e relacionamentos que unem o Brasil a Angola dos tempos do grande comércio de escravos até os desdobramentos das atuais relações bilaterais entre os dois Estados. Os organizadores, no entanto, nos alertam, já na apresentação do livro, que a “riqueza das relações das duas margens do Atlântico” não se reduz à lógica do tráfico atlântico de escravos. Intercâmbios diversificados proporcionaram uma vida bastante mais arrojada e múltipla à convivência de angolanos e brasileiros no Atlântico Sul.
Os autores utilizam a brecha aberta pelos debates acadêmicos em torno dos quinhentos anos da chegada dos portuguesas ao Brasil para explorar o ângulo das motivações que tornaram brasileiros, portugueses e angolanos competidores ou colaboradores no espaço atlântico. Vereda de intensa movimentação comercial bem como de intercâmbio de idéias, experimentos políticos e culturais comuns, as rotas do Atlântico são apresentadas nos sete capítulos que compõem a obra como uma área de construção civilizacional. Reivindicam os autores a noção de um espaço de construção civilizacional como, em certa medida, acostumamo-nos a perceber o Mediterrâneo euro-africano. Leia Mais
O Brasil e o Multilateralismo Econômico | Paulo Roberto de Almeida
Poucos são os trabalhos sobre política econômica externa do Brasil que destacam o papel de entidades como a OCDE ou a UNCTAD no processo de inserção internacional do país. O diplomata e historiador Paulo Roberto de Almeida apresenta neste trabalho um estudo inédito acerca da trajetória do Brasil em foros normalmente negligenciados em obras do gênero, tais como a OCDE e a UNCTAD. O livro aborda, por meio de uma perspectiva histórica, o papel das organizações multilaterais no sistema econômico contemporâneo e como uma ativa interação do Brasil com essas entidades pode facilitar uma melhor inserção internacional do país no cenário da globalização.
Essas relações são vistas em uma perspectiva global e de uma maneira evolutiva, tanto em busca do passado como em uma discussão sobre os problemas atuais da agenda econômica e política do Brasil. A análise faz-se ao abrigo da noção de interdependência, que é o conceito-chave para a compreensão da formação da ordem econômica mundial contemporânea. Leia Mais
O Estudo das Relações Internacionais do Brasil | Paulo Roberto de Almeida
Estudantes e estudiosos das relações internacionais do Brasil e de sua política externa têm, a partir de agora, uma preocupação a menos. O lançamento de Paulo Roberto de Almeida expõe o estado do conhecimento e as tendências atuais da área de estudo das relações internacionais no Brasil. A obra, com características de manual prático e introdutório, preenche uma lacuna há muito constatada.
Em seu primeiro capítulo “O Brasil no contexto econômico mundial: 1820-1992” , as relações econômicas internacionais do Brasil constituem o eixo norteador do rápido retrato traçado sobre as relações externas do país, em uma perspectiva comparada. Em termos de crescimento do PIB, a experiência brasileira foi uma das de maior dinamismo do século XX, mas, no entanto, foi acompanhada por uma alta taxa de crescimento demográfico, a “bomba demográfica”, responsável pela diluição dos frutos da expansão do produto interno bruto. Nestes últimos anos, com o plano de estabilização, iniciado em 1994, os índices de crescimento econômico não repetiram desempenhos anteriores e a inserção do país na globalização financeira geraram turbulências financeiras e uma certa inquietação em relação ao futuro mais imediato. Leia Mais
Diplomacia Brasileira – Palavras, Contextos e Razões | Luiz Felipe Lampreia
A diplomacia brasileira foi sempre um tema reservado para um grupo restrito de pessoas. O hermetismo do debate fez com que as relações internacionais, por muito tempo, não fossem tema de campanhas eleitorais, não ganhassem destaque na mídia nacional, nem mesmo sendo prioridade nos debates do Congresso brasileiro. Essa realidade, porém, vem sendo transformada desde o início da década de 90. O mais recente exemplo da democratização do debate da política exterior do país é o lançamento da obra Diplomacia Brasileira Palavras, Contextos e Razões, de autoria do Chanceler Luiz Felipe Lampreia.
O livro, da Lacerda Editores, reúne os principais discursos do ministro, com o cuidado de apresentar, de forma coerente, as diretrizes da atuação externa do Brasil nos últimos anos do século XX. Dois são os objetivos da obra: a apresentação das prioridades externas do país e a avaliação das posições tomadas pela diplomacia com relação aos principais temas da agenda internacional.
Sempre com a perspectiva da “busca do desenvolvimento econômico nacional, em todos os seus múltiplos aspectos”, Lampreia aponta os principais eixos externos do país. Entre eles, destaca-se a consolidação do Mercosul, a defesa dos interesses na integração hemisférica, a aproximação à União Européia, as negociações na OMC, a proteção aos direitos humanos, o meio ambiente e a não-proliferação de armas de destruição em massa.
A obra é dividida em quatro partes e cada discurso é precedido por uma introdução, contextualizando o tema e identificando os interesses nacionais. Na primeira parte, o Chanceler apresenta a plataforma completa da política externa do país durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), marcada pelo resgate das “hipotecas” do país perante à comunidade internacional. Por meio da análises desses discursos, fica evidente a preocupação dos formuladores da política externa nacional por uma inserção plena no sistema internacional, seja ao aderir a acordos multilaterais seja ao consolidar, internamente, políticas de apoio aos direitos humanos e à proteção ambiental.
A segunda seção da obra é dedicada à análise das principais relações bilaterais do Brasil, seja com países do Oriente Médio, África e Europa, seja com os vizinhos. Para o autor, a diversidade de parcerias é um “ativo estratégico” para os interesses brasileiros.
As negociações econômico-comerciais multilaterais (OMC, Mercosul e Alca) estão apresentadas na terceira parte. Lampreia, embora reconheça que a iniciativa de uma Área de Livre-Comércio das Américas (Alca) seja uma proposta norte-americana, aponta o importante paradigma que se estabeleceu na diplomacia brasileira com a ampla e significativa participação da sociedade nos debates sobre o futuro do continente.
Tendo seu ápice durante a reunião ministerial de Belo Horizonte, de 1997, o envolvimento de representantes do setor produtivo, de sindicados e acadêmicos não apenas deu maior legitimidade ao processo decisório da política externa nacional como também estabeleceu um novo parâmetro de relacionamento entre os negociadores brasileiros e os diversos setores da sociedade.
O Chanceler brasileiro, porém, não deixa de destacar que, para que a Alca tenha efeitos positivos para todos os países da região, um tempo necessário de adequação será vital, não apenas para as economias nacionais, mas também para a consolidação da integração sub-regional no Cone Sul.
De fato, o Mercosul é um dos temas que pode ser encontrado em diversos discursos, nem todos direcionados a aspectos econômicos das relações exteriores do país. Lampreia classifica a relação com o principal parceiro do bloco a Argentina , como “um exemplo de pragmatismo e bom senso”, reconhecendo a existência de uma dinâmica que envolve, ao mesmo tempo, cooperação e competição.
Os contenciosos que a relação bilateral enfrenta, no ano de 1999, são, segundo o Chanceler, resultado do esgotamento do ciclo inicial de expansão. A solução ocorrerá apenas com a superação das assimetrias de percepções, valorizando a complementaridade das economias da região.
Lampreia não deixa de chamar a atenção, ainda no campo das negociações econômicas internacionais, para o fato de que a proteção da propriedade intelectual foi uma das mudanças mais importante nessa área para a credibilidade do Brasil no exterior.
O Chanceler conclui o livro com a análise de temas políticos e da postura adotada pelo país na ONU, que podem ser resumidas em dois aspectos: a permanente busca pela reforma da instituição e a mudança de atitude do Brasil, seja no cenário interno direitos humanos e meio ambiente , seja no ambiente internacional, principalmente com a assinatura do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.
Entre as características do autor, uma das mais evidentes é o realismo que o Chanceler imprime em sua ações. Avesso a “fosforescências fáceis”, Lampreia vem sendo capaz de ver o processo de globalização não apenas como uma ameaça, mas como uma oportunidade para uma inserção positiva do Brasil no cenário internacional.
O autor ressalta que “não podemos mais ignorar o mundo exterior, porque ele chega, queiramos ou não”. De fato, a fronteira entre nacional e internacional vem se diluindo cada vez mais. Porém, ainda ficaremos à espera de que, no futuro, Lampreia, já distanciado desses anos marcantes para a política externa brasileira, nos apresente os bastidores da postura internacional que o país adotou em um momento em que o novo sistema internacional ganha novos contornos.
Resenhista
Jamil Cezar Chade
Referências desta Resenha
LAMPREIA, Luiz Felipe. Diplomacia Brasileira – Palavras, Contextos e Razões. Rio de Janeiro: Lacerda Editores, 1999. Resenha de: CHADE, Jamil Cezar. Revista Brasileira de Política Internacional, v.42, n.2, 1999. Acessar publicação original [DR]
Médicos italianos em São Paulo (1890-1930): um projeto de ascensão social | Maria do Rosário Rolfsen
Alfonso Bovero, Antonio Carini, Alfonso Splendore, Alessandro Donati, Carlos Foá, Mário Artom, Archimede Busacca, Carlos Brunetti e tantos outros deixaram suas marcas na saúde pública de São Paulo e no curso de medicina da Faculdade de Medicina de São Paulo. Todos eram médicos italianos vindos para São Paulo no final do século XIX e começo do século XX.
O livro de Maria do Rosário Rolfsen Salles responde a nossa curiosidade em saber por que esses e outros médicos deslocaram-se para São Paulo e como se inseriram no mercado de trabalho, ou melhor, em que setores eles desenvolveram suas carreiras para cumprirem o objetivo da ascensão social. O livro soma-se ao de Carlos da Silva Lacaz, Médicos italianos em São Paulo: trajetória em busca de uma nova pátria —, e traz novos elementos à história da saúde pública e da ciência médica em São Paulo. Leia Mais
Fome: uma (re) leitura de Josué de Castro | Rosana Magalhães
A consciência de que a fome é um dos mais importantes problemas nacionais emergiu com força em período recente de nossa história, sob a liderança carismática de Hebert de Souza, o saudoso Betinho. A despeito do aparente consenso em torno da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, identificamos conflitos e ambigüidades no tratamento de um tema delicado e perigoso, como a ele se referiu Josué de Castro na década de 1940. No momento em que avaliamos o quanto este tema revela um país ainda marcado por profundas desigualdades sociais, e rediscutimos os papéis do Estado e da sociedade civil na sua superação, torna-se imperativo lembrar que a visão da fome como problema social resultou de um processo em que se articularam discurso científico, militância intelectual e contextos políticos.
Ações destinadas a alterar o quadro de carência alimentar nas diferentes áreas geográficas passaram a integrar a agenda política do país em grande parte devido à militância de Josué de Castro. Esse intelectual pernambucano que, das décadas de 1930 a 1960, foi pioneiro nos estudos de nutrição e na criação de agências estatais voltadas para políticas de alimentação, raramente é lembrado, entretanto, nos estudos sobre o pensamento social brasileiro. Revisitar e valorizar sua obra, chamando atenção para as relações entre debate intelectual e constituição de uma agenda de problemas de natureza pública, consiste numa importante contribuição do livro de Rosana Magalhães. Leia Mais
Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginação social no Brasil | Carlos Fico
Resenhistas
Ana Lúcia da Silva
Referências desta Resenha
FICO, Carlos. Reinventando o otimismo: ditadura, propaganda e imaginação social no Brasil. Resenha de: SILVA, Ana Lúcia da. Diálogos. Maringá, v.2, n.1, 217 -220, 1998. Sem acesso a publicação original [DR]
Caminhos de Goiás: da construção da “decadência” aos limites da “modernidade” | Nasr Nagib Fayad Chaul
Resenhista
José Carlos Sebe Bom Meihy – Professor livre-docente do Departamento de História da USP.
Referências desta Resenha
CHAUL, Nasr Nagib Fayad. Caminhos de Goiás: da construção da “decadência” aos limites da “modernidade”. Goiânia: Editora da UFG; Editora da UCG, 1997. Resenha de: MEIHY, José Carlos Sebe Bom. História Revista. Goiânia, v.3, n.1-2, p.127-130, jan./dez.1998. Acesso apenas pelo link original [DR]
Estado e Agricultura no Brasil | Wenceslau Gonçalves Neto
Resenhista
Barsanufo Gomides Borges – Doutor em História Econômica pela USP e Professor Titular do Programa de Mestrado em História das Sociedades Agrárias da Universidade Federal de Goiás.
Referências desta Resenha
NETO, Wenceslau Gonçalves. Estado e Agricultura no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1997. Resenha de: BORGES, Barsanufo Gomides. História Revista. Goiânia, v.3, n.1-2, p.131-137, jan./dez.1998. Acesso apenas pelo link original [DR]
O universo indistinto: Estado e sociedade nas Minas setecentistas (1735-1808) | Marco Silveira Antônio
Resenhista
Ramir Curado – Mestrando do Programa de Mestrado em História das Sociedades Agrárias da Universidade Federal de Goiás.
Referências desta Resenha
SILVEIRA, Marco Antônio. O universo indistinto: Estado e sociedade nas Minas setecentistas (1735-1808). São Paulo: Hucitec, 1997. Resenha de: CURADO, Ramir. História Revista. Goiânia, v.3, n.1-2, p. 139-142, jan./dez.1998. Acesso apenas pelo link original [DR]
Bicentenário de D. Pedro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1998
Organizador
Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga. Mestre em História Universidade de São Paulo. Professora de Heráldica e Genealogia Universidade do Rio de Janeiro. Diretora do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.30, 1998. Acesso apenas no link original [DR]
Naissance du Brésil moderne: 1500-1808 | Katia de Queirós Mattoso
Pesquisadores franceses e brasileiros participaram, em março de 1997, de um colóquio organizado pelo Institut de Recherches sur les Civilisations de l’Occident Moderne e pelo Centre d’Études sur le Brésil da Universidade de Paris IV, Sorbonne, no qual debateram, durante dois dias, o “nascimento” do Brasil, a partir de uma grande diversidade de fontes e de enfoques.
O livro Naissance du Brésil moderne traz o resultado deste encontro, sob a forma de 17 artigos, com introdução de Katia de Queirós Mattoso e conclusão de Dennis Rolland. Trata-se de uma contribuição extremamente rica à análise de questões relativas à identidade, às visões do Outro e à construção de discursos e de imagens. Leia Mais
Guerra do Paraguai: como construímos o conflito | Alfredo da Mota Menezes
Em Guerra do Paraguai: como construímos o conflito, Alfredo Menezes, professor titular de História da América da Universidade Federal de Mato Grosso, promove uma significativa contribuição para a historiografia brasileira com relação a Guerra do Paraguai.
Estudioso do tema há vários anos, o autor traz à discussão sobre a Guerra do Paraguai uma contribuição valiosa ao estudar o contexto regional, em uma abordagem pouco usual na literatura brasileira disponível, dado que chama a atenção para a intrincada conjuntura política dos países envolvidos no conflito nos anos anteriores à guerra. Sua análise parte, portanto, da averiguação das motivações regionais que desembocaram na tragédia platina do século passado. Leia Mais
Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização | Paulo Roberto de Almeida || A política externa do regime militar brasileiro: multilateralização/ desenvolvimento e construção de uma potência média (1964-1985) | Paulo G. Fagundes Vizentini || Mercosul: fundamentos e perspectivas | Paulo Roberto de Almeida
As relações internacionais enquanto objeto de estudo vêm desenvolvendo-se de maneira amplamente satisfatória nos últimos anos no Brasil, com o acúmulo quantitativo e o progresso qualitativo dos trabalhos divulgados nesse campo. Muito desse avanço é devido ao surgimento de cursos de pós-graduação nem todos stricto sensu que colocam as relações internacionais de modo geral e a inserção externa do Brasil de modo particular no centro das preocupações de pesquisa e de elaboração de monografias. Outro tanto pode ser visto como o resultado de iniciativas propriamente editoriais, com a tradução de bons livros publicados no exterior e a publicação, isoladamente ou em coleções especializadas, dos trabalhos produzidos por cientistas sociais e historiadores do Brasil.
Os dois primeiros livros aqui resenhados inauguram, precisamente, uma nova coleção editorial, a “relações internacionais e integração” da UFGRS, ao passo que o terceiro é veiculado por uma editora mais tradicional no campo das letras jurídicas. Os dois autores militam, um de modo pleno, o outro em tempo parcial, nas pesquisas e na docência acadêmica, combinando a interpretação sociológica com uma visão histórica das relações internacionais do Brasil. Essa visão histórica é mais centrada no caso da pesquisa de Paulo Vizentini, enfocando a política externa do regime militar no Brasil entre 1964 e 1985, e mais dispersa no caso de Paulo Almeida, indo dos séculos XV-XVI (“diplomacia dos descobrimentos”), passando pela emergência do multilateralismo contemporâneo, a partir do século XIX, até o recente surgimento (1995) da Organização Mundial de Comércio (“diplomacia do desenvolvimento”). Leia Mais
A proteção internacional dos direitos humanos e o Brasil | Antônio Augusto Cançado Trindade
O eminente jurista internacional, o Professor Antônio Augusto Cançado Trindade, apresenta neste trabalho um estudo organizado e inédito acerca da trajetória cinqüentenária da proteção internacional dos direitos humanos sob mira da posição brasileira, e, desde logo, vislumbra um enfoque pioneiro da matéria quanto a sua evolução e aperfeiçoamento.
Quando trata da “Generalização da Proteção Internacional dos Direitos Humanos”, o nobre professor assinala que este processo desencadeou-se no plano internacional a partir da adoção em 1948 das Declarações Universal e Americana dos Direitos Humanos e que contou com a participação do Brasil, nos planos global (Nações Unidas) e regional (sistema interamericano). Leia Mais
Le Brésil et le Monde: pour une histoire des relations internationales des puissances émergentes | Denis Rolland
Sabe-se que as relações culturais, políticas e econômicas entre os países são, em boa medida, expressão dos níveis de conhecimento recíproco que apresentam as sociedades acerca das realidades e tradições políticas e culturais, das mentalidades e da história do “outro”. Nesse sentido, registra-se com satisfação o discreto renascimento do interesse sobre a realidade brasileira em alguns dos mais tradicionais centros acadêmicos do mundo ocidental, tomando a forma de núcleos ou cátedras dedicados ao estudo dos assuntos nacionais, em suas mais distintas vertentes, voltando-se à tarefa de ensinar e pesquisar, formar pesquisadores de alto nível e produzir e difundir conhecimentos sobre o Brasil.
O trabalho ora apresentado é uma das manifestações de um dos mais dinâmicos pólos de geração de inteligência sobre o Brasil existentes na Europa, o Centro de Estudos sobre o Brasil, da Universidade de Paris IV (Paris-Sorbonne), criado e animado por Katia de Queirós Mattoso em torno da única cátedra de História do Brasil existente em universidades francesas. Com efeito, Le Brésil et le monde, livro organizado por Denis Rolland, professor da Universidade de Rennes 2 e co-fundador do Centro, cumpre à perfeição com o que se espera de um trabalho de apresentação (ou de reapresentação) da história das relações internacionais do Brasil contemporâneo à sociedade e aos meios universitários da França. Leia Mais
Brasil de Getúlio a Itamar: quatro décadas de história vivida | Heinz F. Dressel
DRESSEL, Heinz F. Brasil de Getúlio a Itamar: quatro décadas de história vivida. Ijuí: Editora Unijuí, 1997. Resenha de: SANTOS, Ana Maria Barros dos. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.17, n.1, p.201-202, jan./dez. 1998.
Liberais e Liberais: guerras civis em Pernambuco no século XIX | Socorro Ferraz
FERRAZ, Socorro. Liberais e Liberais: guerras civis em Pernambuco no século XIX. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1996. Resenha de: ALVES, Tarcísio Marcos. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.18, n.1, p.195-199, jan./dez. 1998.
Jurisdição e conflitos: aspectos da administração colonial | Vera Lúcia Costa Acioli
ACIOLI, Vera Lúcia Costa. Jurisdição e conflitos: aspectos da administração colonial. Resenha de: ASSIS, Virgínia Maria Almoêdo de. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.18, n.1, p.201-203, jan./dez. 1998.
Poder e saúde: as epidemias e a formação dos serviços de saúde em São Paulo | Rodolpho Telarolli Júnior
Nas duas últimas décadas no Brasil, foram produzidos vários estudos históricos e sociológicos sobre o tema da saúde pública na Primeira República. Esses trabalhos tiveram fundamental importância no desenvolvimento da história da saúde e da ciência no país. Algumas dessas obras constituem leituras obrigatórias para este período de nossa história: os modelos econômicos e políticos, os movimentos pela reforma da saúde e seus líderes, as ideologias da ordem ou de mudança, os diferentes níveis de centralização ou descentralização do poder político, o processo político decisório que produziu instituições de saúde pública no Brasil. Por abordar alguns desses tópicos, Poder e saúde constitui, sem dúvida, uma contribuição importante à literatura republicana.
Rodolpho Telarolli Junior apresenta um estudo sobre a história da saúde pública na Primeira República, em especial, sobre o processo de criação de políticas públicas na área de saúde e a formação das práticas sanitárias no estado de São Paulo, no contexto mais amplo da organização política, econômica e social. Leia Mais
Expedição Langsdorff: acervo e fontes histórica | Boris Komissarov
O livro de Boris Komissarov se propõe a fazer uma apresentação, em língua portuguesa, das fontes disponíveis na Rússia sobre a Expedição Langsdorff, que percorreu o Brasil de 1822 a 1829 a serviço do império russo. Trata-se, essencialmente, do vasto material produzido pela expedição ao longo dos quase 17 mil quilômetros palmilhados pelo chefe do grupo, o barão Georg Heinrich von Langsdorff, então ministro plenipotenciário da Rússia no Brasil, e demais participantes: Nester Rubtsov (cartógrafo), Hercule Florence, Adrien Taunay e Moritz Rugendas (desenhistas), Ludwig Riedel (botânico) e Edouard Ménétriès (zoólogo e antropólogo).
De início, cabe elogiar a iniciativa do autor, da Associação Internacional de Estudos Langsdorff e da Editora da Unesp, ao tornarem disponíveis dados preciosos e por largo tempo desconhecidos dos pesquisadores brasileiros em função mesmo da história do acervo. Infelizmente, esse tipo de instrumento de pesquisa ainda é pouco freqüente entre nós. Leia Mais
A majestade do Xingu Z Moacyr Scliar
O novo romance de Moacyr Scliar, A majestade do Xingu, parece ser, a princípio, uma biografia romanceada do médico sanitarista Noel Nutels, imigrante russo de origem judaica que dedicou vida e profissão a cuidar dos índios brasileiros. Até aí não haveria nada de especial a destacar, uma vez que o romance seria unicamente a moldura que permitiria narrar a vida do biografado. A literatura seria apenas o expediente para cativar o leitor, e o interesse do texto reduzir-se-ia às peripécias da vida do médico. Mas, felizmente para a literatura, para a medicina e especialmente para o leitor, estamos diante de um texto que vai muito além de qualquer mecanismo mercadológico daquela espécie.
Felizmente para a literatura porque, ao invés de ser uma biografia romanceada, o livro constitui, antes de tudo, um romance, em que a biografia funciona como um catalisador, um ponto de partida e não de chegada. A diferença é vital: mais do que a vida do “médico dos índios”, o que importa ao autor são as relações dessa vida com o mundo que a cerca e, por extensão, com o mundo que nos cerca, a nós leitores. Não por acaso, a figura do narrador, um homem comum no leito de morte, meditando sobre sua vicia, ganha muito mais vulto do que a personagem de Noel Nutels. O médico paira sobre o texto, mas nunca é o seu centro absoluto, servindo antes de contraponto à vida e à narrativa desse moribundo, de onde emerge uma reflexão sobre a própria condição humana. Leia Mais
Cidade febril: cortiços epidemias na corte imperial | Sidney Chalhoub || Salud/ cultura y sociedad en America Latina: nuevas, perspectivas históricas | Marcos Cueto
O interesse pela história da medicina tropical tem crescido muito, em virtude de numerosas injunções políticas e acadêmicas. O imperialismo, por exemplo, voltou a ser objeto de estudos acadêmicos, levando-nos a indagar sobre a importância que os impérios tiveram para a ciência e a medicina, e vice-versa, seguido do estímulo fornecido pelos estudos sobre o período pós-colonial, dos quais derivam questões acerca do papel crítico desempenhado pelas colônias na constituição ou genealogia da ciência e medicina nos centros metropolitanos. Problemas contemporâneos também contribuem para o crescente interesse pela história da medicina tropical. A persistência de doenças como a malária, o retorno de ‘antigas’ doenças, outrora consideradas quase vencidas, como o cólera, assim como o surgimento de novas enfermidades letais, como a causada pelo vírus Ebola, levam-nos a investigar a geografia e economia política das doenças, bem como os estilos que a medicina tropical ganhou nesses diversos cenários. O cólera e a malária já foram, é claro, doenças comuns na Europa, mas, no início do século XX, tinham sido requalificadas como essencialmente “tropicais”. Tal redefinição nos leva a indagar: em que consiste a tropicalidade das doenças tropicais? Leia Mais
As ciências geológicas no Brasil: uma história social e institucional, 1875-1934 | Silvia Figueirôa
Todo historiador tem um quê de detetive. A afirmação pode soar provocativa, mas basta acompanhar um historiador no seu cotidiano, dentro de bibliotecas ou arquivos, rodeado por livros e manuscritos, perseguindo rastros às vezes muito tênues, para observar este aspecto inseparável do ofício, e a atração que deve exercer sobre o profissional que a ele se dedica. De fato, melhor seria esclarecer desde já que esta faceta envolvida no ofício da história pode atrair, tanto quanto assustar — ainda mais no caso da história das ciências, onde quase tudo resta a ser feito.
O livro de Silvia Figueirôa, As ciências geológicas no Brasil: uma história social e institucional, 1875-1934, resultado de pesquisas realizadas durante os cursos de mestrado e doutorado em história da ciência na Universidade de São Paulo (USP), pode ser visto sob esta ótica, como um exaustivo e brilhante trabalho de uma historiadora-detetive, que conhece os desafios de seu ofício, e não recusou enfrentá-los. Afinal, como a própria autora lembra em nota especial no capítulo introdutório, as condições de preservação, organização e acesso aos documentos no Brasil estão longe do ideal, dificultando o trabalho. Por outro lado, no seu caso particular, devido ao fato de muitos cientistas investigados serem estrangeiros, a pesquisa acabou conduzindo a arquivos também no exterior, como nos Estados Unidos e na Alemanha. Leia Mais
O sertão prometido: o massacre de Canudos | Robert Levine
Resenhista
Candice Vidal e Souza – Mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília.
Referências desta Resenha
LEVINE, Robert. O sertão prometido: o massacre de Canudos. São Paulo: Edusp, 1995. Resenha de: SOUZA, Candice Vidal e. História Revista. Goiânia, v.2, n.2, p.183-189, jul./dez.1997. Acesso apenas pelo link original [DR]
O Contencioso Brasil x Estados Unidos da Informática: uma análise sobre formulação da política exterior | Tullo Vigevani || Propriedade intelectual de setores emergentes: biotecnologia/ fármacos e informática | Marcelo Dias Varella
O objetivo do livro de Tullo Vigevani está colocado claramente pelo autor em sua introdução: estudar uma questão de grande relevância intrínseca para a inserção econômica internacional do Brasil a disputa “informática”, na verdade uma disputa de poder, entre o Brasil e os Estados Unidos e refletir sobre pontos fundamentais para as relações internacionais contemporâneas. Buscou o autor, com muita proficiência, “ampliar a compreensão de como são tomadas as decisões no Brasil no que se refere à política exterior”. Devo confessar, como acadêmico em tempo parcial e diplomata em tempo integral, que sempre me interroguei sobre a validade propriamente científica, a coerência argumentativa e a legitimidade heurística dos estudos tipicamente acadêmicos sobre mecanismos de tomada de decisão em política internacional e na política externa brasileira em particular. Os pesquisadores universitários geralmente partem de um modelo teórico e de um esquema conceitual muito bem construídos, passam a entrevistar diplomatas e outros atores relevantes numa análise de caso bem delimitado e terminam por tirar conclusões sobre a “eficácia weberiana” de seu tipo-ideal de processo decisório, no caso aplicado a um exemplo concreto das relações políticas entre as nações.
Os resultados costumam ser insatisfatórios ou frustrantes, seja porque o pesquisador parte de um modelo de racionalidade ideal de conduta diplomática que não costuma encontrar-se na realidade, seja porque os próprios atores racionalizam a posteriori sua atuação no caso, de molde a justificar os resultados alcançados, “que só poderiam ser” aqueles efetivamente obtidos. Como diriam os franceses, CQFD, ou seja, eis o que era preciso demonstrar. Não é o caso, devo logo adiantar, deste precioso estudo sobre mecanismos de decisão aplicados ao caso do contencioso informático entre o Brasil e seu principal parceiro ocidental, o império norte-americano da informática. Leia Mais
Argentina y Brasil: enfrentando el Siglo XXI | Felipe A. M. de la Balze || Processos de integração regional e sociedade: o sindicalismo na Argentina/ Brasil/ México e Venezuela Hélio Zylberstain, Iram J. Rodrigues e Maria S. P. de Castro || MERCOSUL: direito da integração | Ana C. P. Pereira || Sistema de Solução de Controvérsia no MERCOSUL: perspectivas para a construção de um modelo institucional permanente | Luizella G. B. branco || A ordem jurídica do MERCOSUL | Deisy F. L. Ventura || MERCOSUL: acordos e protocolos na área jurídica |
A produção acadêmica e a literatura especializada sobre os processos de integração regional na América Latina e, em especial, sobre o Mercosul e o processo Brasil-Argentina, parecem finalmente estar encontrando, no Brasil, uma “velocidade de cruzeiro”. As obras que são discutidas a seguir tratam todas dos desafios jurídicos, político-institucionais e econômicos da construção da integração regional, demonstrando que, se a sua marcha econômico-comercial adota o estilo andante-veloce, o ritmo jurídico-institucional conhece, por motivos diversos, um certo compasso de espera. Se os teóricos e “juristas” da integração impacientam-se com a “resistência anticomunitária” dos burocratas governamentais, os empresários, agricultores e sindicatos operários manifestam visível preocupação com uma certa “pressa livre-cambista” que vigoraria sobretudo no vizinho do Prata.
É precisamente da Argentina que nos vem o primeiro dos livros compulsados neste artigo-resenha, aliás o único da meia dúzia de obras aqui discutidas, confirmando plenamente a fama de boa qualidade analítica dos estudos publicados na outra margem do Prata. Ele foi organizado por Felipe de la Balze para o CARI, o Conselho Argentino de Relações Internacionais. Leia Mais
O lugar da África: a dimensão atlântica da política externa brasileira (de 1946 a nossos dias) | José Flávio Sombra Saraiva
A coleção Relações Internacionais (da Editora da Universidade de Brasília), coordenada pelo professor Amado Luiz Cervo, acaba de lançar uma importante obra sobre a política africana do Brasil e as relações Brasil-África, de autoria do africanista e especialista em relações internacionais José Flávio Sombra Saraiva. Este livro vem, em primeiro lugar, cobrir uma grave lacuna existente sobre o tema em nossos manuais universitários, atualizando, aprofundando e inovando o trabalho iniciado pelo professor José Honório Rodrigues com Brasil e África, outro horizonte (2 volumes) e pelo diplomata Adolpho Justo Bezerra de Menezes com Ásia, África e a Política Independente do Brasil e O Brasil e o mundo ásio-africano, todos eles trabalhos publicados no início dos anos 60.
Evidentemente os cursos de Pós-Graduação de Relações Internacionais, História e Ciência Política têm propiciado a elaboração de vários estudos específicos sobre este tema, mas não um abrangente, de síntese. Neste caso, merece referência o excelente trabalho geral do diplomata Fernando Marroni de Abreu, L’évolution de la politique africaine du Brésil, tese defendida na Sorbonne em 1988, mas não publicada. Assim, o livro recém lançado pelo Dr. Flávio Saraiva constitui o primeiro manual universitário sobre o conjunto das relações contemporâneas do Brasil com a África. Não se trata, contudo, de um simples manual, pois, se está apresentado com este perfil, nem por isso deixa de constituir uma obra de análise aprofundada, baseada também numa ampla documentação, bibliografia e entrevistas realizadas tanto no Brasil como na África. Leia Mais
O protesto do trabalho: histórias das lutas sociais dos trabalhadores rurais do Paraná: 1954-1964 | Ângelo Priori
Em seu livro O protesto do trabalho: histórias das lutas sociais dos trabalhadores rurais do Paraná: 1954-1964, Angelo Priori vai além de uma simples interpretação das lutas e conflitos sociais envolvendo os trabalhadores rurais do Paraná, à medida em que correlaciona as experiências cotidianas vivenciadas pelos trabalhadores, articulando simultaneamente o contexto histórico e suas relações de forças. O autor contempla uma densa reflexão em torno dos conceitos e mediações que perpassam a abordagem dos movimentos sociais. Seu estudo revela e desvela as dimensões contraditórias dos processos de planejamento sociais relacionados ao Estado e às questões regionais.
Priori contribui sensivelmente com a história dos movimentos sociais no campo, priorizando os debates que envolveram os trabalhadores rurais, empregados, sindicalistas, advogados, magistrados da justiça, padres e a imprensa acerca da legislação social e da formação dos sindicatos rurais do Estado do Paraná durante as décadas de 50 e 60. O autor demonstra através de uma extensa documentação que os trabalhadores coloraram para sua inclusão na legislação. Leia Mais
A formação das almas: o imaginário da República no Brasil | José Murilo de Carvalho
Ao ler A formação das almas: o imaginário da república no Brasil, de José Murilo de Carvalho – oportunamente relançado no final de 1995 -, tem-se a impressão de que a obra merece um subtítulo mais extenso, uma vez que não nos fala sobre um (ou “o”) imaginário da República, porém sobre o embate dinâmico para a construção de imaginários e seus respectivos símbolos. Esse sentido, aliás, é fundamental no desenrolar do texto, que procura mostrar sempre as mediações e os conflitos existentes na criação e consolidação dos principais símbolos republicanos.
O livro, mesmo sendo composto por alguns ensaios já publicados, ao lado de artigos inéditos, apresenta uma ótima coerência interna, explorando muito bem o objeto proposto. Inicia a análise pelos modelos políticos e filosóficos norteadores do positivismo, esmiuçando tanto a aplicação prática destes no Brasil, como a adaptação sofrida neste processo. Em seguida, o autor discute as diversas proclamações da República e o conseqüente impasse simbólico – proveniente das lutas pela criação de um imaginário social entre as diferentes vertentes político-filosóficas – externado nas figuras-símbolo de Deodoro, Floriano Peixoto e Benjamim Constant. Depois de abordar o imaginário do “fato” (a proclamação), José Murilo explora a construção de um mito de origem da República brasileira – Tiradentes – e suas diversas apropriações por diferentes (e até mesmo antagônicos) grupos sociais. A etapa seguinte, apresentada pelo livro, é a tentativa (frustrada) da criação de uma simbologia para a própria República, capaz de aproximar Estado e Nação, República e Brasil: a transposição do modelo francês “Marianne”, muitas vezes travestido da musa comtiana Clotilde de Vaux. O autor aborda, então, a criação (ou reciclagem) dos símbolos formais da bandeira do hino nacional, exigidos para qualquer Estado, os quais acabaram por tornar-se muito mais representativos da Nação (Brasil) do que do Estado (República). A obra se encerra com a retomada das questões anteriores, principalmente a aplicação dos modelos filosóficos comtianos no Brasil, visando promover uma reflexão sobre a construção de um imaginário da República capaz amalgamar o Brasil enquanto Nação, isto é: enquanto comunidade de sentido, segundo Bazco (1985), ou comunidade imaginada, segundo Anderson (1989). Leia Mais
Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular no Brasil | Marilena Chauí
Marilena Chauí escreveu este livro em 1985, inicialmente para um público estrangeiro, só publicando em nosso país no ano seguinte. Focaliza a Cultura Popular no Brasil, procurando definí-la e compreender sua dinâmica.
Em um primeiro momento, Chauí aborda as dificuldades de definição da expressão Cultura Popular, discutindo o conceito de “cultura”, procurando precisar o conceito de “popular”, sobretudo em suas formas predominantes no Brasil, originadas nos pontos de vista “romântico” e “ilustrado”. Contrapondo-se à identificação entre “Cultura de Massa” e “Cultura Popular” – encontrada tanto entre os “liberais” norte-americanos das décadas de 50 e 60, quanto entre os frankfurtianos -, Marilena propõe distinguí-las, relacionando Cultura de Massa à classe dominante (que a elabora e impõe) e Cultura Popular à classe dominada. Analisa o comportamento da segunda diante da primeira, em termos de estratégias de aceitação e recusa; assim, enfatiza “a dimensão cultural popular como prática local e temporalmente determinada, como atividade dispersa no interior da cultura dominante, como mescla de conformismo e resistência”. (p.43) Leia Mais
A História no Brasil (1980-1989) | Carlos Fico e Ronald Polito
Com o segundo volume de A história no Brasil, dos Profs. Carlos Fico e Ronald Polito, da Universidade Federal de Ouro Preto, completa-se a publicação de um ousado empreendimento de pesquisa e análise historiográfica no Brasil. Dando continuidade ao trabalho fundamental de sistematização de informações e crítica, operado até então por alguns poucos mas importantes nomes como Amaral Lapa, Francisco Iglésias e Carlos Guilherme Mota, Fico e Polito fundaram sua avaliação historiográfica brasileira da década de 1980 numa ampla pesquisa sobre os mais variados meios de sua produção/circulação/ consumo, assim como num renovado conceito de historiografia.
A falta de trabalhos de balanço dessa natureza era um mal crônico de que nos ressentíamos os historiadores brasileiros. As análises de maior fôlego, datadas da década de 1970 e início dos 80, tenderam a incidir quase sempre sobre recortes temáticos ou cronológicos da história brasileira, sem pretenderem ou conseguirem proporcionar uma visão mais ampla das principais tendências da produção do conhecimento histórico no Brasil. Certamente tais limitações decorriam da falta de eficazes instrumentos de pesquisa, já acusada por historiodadores como Varnhagen, Oliveira Lima, José Honório Rodrigues, Iglésias e Lapa. Leia Mais
Millenarian vision, capitalist reality: Brazil’s Contestado Rebellion, 1912-1916 | Todd A. Diacon
Resenhista
Maria Amélia Alencar – Professora do Departamento de História da Universidade Federal de Goiás.
Referências desta Resenha
DIACON, Todd A. Millenarian vision, capitalist reality: Brazil’s Contestado Rebellion, 1912-1916. Durham and London: Duke University Press, 1995. Resenha de: ALENCAR, Maria Amélia. História Revista. Goiânia, v.2, n.1, p. 161-165, jan./jun.1997. Acesso apenas pelo link original [DR]
Mendigos, moleques e vadios na Bahia do século XIX | Walter Fraga Filho
Resenhista
Danilo Rabelo Rabelo – Professor do CEPAE/UFG e Mestrando em História pela Universidade Federal de Goiás.
Referências desta Resenha
FRAGA FILHO, Walter. Mendigos, moleques e vadios na Bahia do século XIX. São Paulo: Hucitec. Salvador: EDUFBA, 1996. Resenha de: RABELO, Danilo Rabelo. História Revista. Goiânia, v.2, n.1, p. 167-170, jan./jun.1997. Acesso apenas pelo link original [DR]
ultura portuguesa na Terra de Santa Cruz | Maria Beatriz Nizza da Silva
Resenhista
André Figueiredo Rodrigues – Graduando em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e Bolsista de Iniciação Científica pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Referências desta Resenha
SILVA, Maria Beatriz Nizza da (Coord.). Cultura portuguesa na Terra de Santa Cruz. Lisboa: Estampa, 1995. História de Portugal, 14. Resenha de: RODRIGUES, André Figueiredo. História Revista. Goiânia, v.2, n.1, p. 171-173, jan./jun.1997. Acesso apenas pelo link original [DR]
Setenta… 75 anos de Fundação do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 1997
Organizador
Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga. Mestre em História Universidade de São Paulo. Diretora do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.29, 1997. Acesso apenas no link original [DR]
A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira | Warren Dean
Há exatamente 137 anos iniciava-se o primeiro programa de reflorestamento da Mata Atlântica com a recomposição das florestas da Tijuca e Paineiras, no Rio de Janeiro, que à época já apresentavam suas constituições florísticas originais consideravelmente degradadas em decorrência de intensa atividade antrópica. Assim como esses, outros segmentos da vasta formação florestal que originalmente recobria a costa leste do Brasil entre 8° e 28° de latitude sul e se estendia para o interior cerca de 100km em sua porção norte e mais de 500km na sul, mostravam-se também sensivelmente depauperados, especialmente em áreas do Nordeste e Minas Gerais. A continuada devastação do bioma Mata Atlântica acabou por reduzir sua constituição original a menos de 10% da área coberta originalmente, o que, independentemente de perdas relativas à sua fitofisionomia e diversidade zoológica, provocou também severas alterações climáticas e pedológicas, notadamente na região nordestina.
O historiador e brasilianista norte-americano Warren Dean, ao discorrer nos 15 capítulos que compõem sua obra sobre a história das relações entre o homem e um dos mais importantes ecossistemas mundiais — a Mata Atlântica —, avalia, através de um estudo pioneiro, as várias fases da interferência humana sobre esse ecossistema único, apontando as trágicas, e muitas vezes irreversíveis, conseqüências do processo. Tal panorama, mostra o autor, só começa a se modificar recentemente com o movimento universal de conscientização ecológica, que tem induzido a criação de legislação de proteção e programas de reflorestamento, educação ambiental e manejo da floresta. Leia Mais
O Brasil e a questão judaica: imigração, diplomacia e preconceito | Jeffrey Lesser
As sociedades conformam determinadas noções através das quais se identificam, reconhecem-se e são reconhecidas, conferem sentido e legitimidade a si mesmas, às suas estruturas, às suas instituições, às práticas e às relações dos indivíduos que as compõem. O processo de imposição e de generalização, de produção da adesão a essas noções, é concomitante ao de sua naturalização, isto é, de negação do seu caráter histórico e social. É como crenças, portanto, que elas se afirmam e operam, orientando as percepções e as ações dos indivíduos.
O que têm feito as ciências sociais, em boa medida, é relativizar algumas dessas noções, desencantá-las restituindo seus vínculos históricos, remetendo-as aos espaços e às relações sociais a partir dos quais são produzidas e que, ao mesmo tempo, contribuem para produzir. É preciso reconhecer, entretanto, que nem sempre este exercício de relativização se mostra possível, incorporando também o cientista social noções impostas que, desse modo, terminam por se constituir em obstáculos a uma efetiva compreensão dos processos sobre os quais se volta. Leia Mais
Tributo a Vênus: a luta contra a sífilis no Brasil, da passagem do século aos anos 40 | Sérgio Carrara
O trabalho de Carrara aborda as estratégias de combate à sífilis no Brasil ao longo de um período de quase cinqüenta anos, do final do século XIX à década de 1940. Operando metodologicamente a partir da perspectiva da história social, o autor analisou uma série extensa de documentos, produzindo um retrato a um tempo abrangente e profundo do seu objeto de estudo.
Este objeto, aparentemente singelo, desdobrou-se numa série de inter-relações, configurando um campo amplo e complexo. Um primeiro ponto a ser observado diz respeito à própria sífilis; ainda que conhecida por centenas de anos já àquela época, a sífilis parece recrudescer, senão em termos epidemiológicos, pelo menos em termos de sua percepção por parte da coletividade. Vários fatores cooperam na retomada de importância deste mal venéreo; a configuração moderna da doença, atribuída a um agente transmissível na esteira dos triunfos alcançados pela bacteriologia em fins do século passado (ainda que o treponema só venha a ser identificado em 1905) e prontamente transformado em objeto de um teste laboratorial, a reação de Wassermann, constituiu uma ameaça capaz de alcançar vários órgãos e sistemas do corpo e mesmo a descendência dos indivíduos acometidos pelas suas formas “hereditárias” (hoje diríamos congênitas), espectro pairando por sobre toda a população. Leia Mais
Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII: estratégias de resistência através dos testamentos | Eduardo França Paiva
Resenhista
Tarcísio Rodrigues Botelho – Professor Assistente do Departamento de História da UFG. Doutorando em História Social pela USP.
Referências desta Resenha
PAIVA, Eduardo França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII: estratégias de resistência através dos testamentos. São Paulo: Annablume, Belo Horizonte: Faculdades Integradas Newton Paiva, 1995. Resenha de: BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. História Revista. Goiânia, v.1, n.2, p.135-138, jul./dez.1996. Acesso apenas pelo link original [DR]
Ciência e sociedade na terra dos bandeirantes: a trajetória do Instituto Pasteur de São Paulo no período de 1903 a 1916 | Luiz Antônio Teixeira
A história das ciências no Brasil, apesar do desenvolvimento significativo dos últimos anos, é uma área incipiente. Em especial, muitas das instituições científicas brasileiras estão ainda à espera de pesquisadores que se dediquem ao estudo de sua trajetória.
É com grande satisfação que vemos editado o livro de Luiz Antônio Teixeira, Ciência e sociedade na terra dos bandeirantes: a trajetória do Instituto Pasteur de São Paulo no período de 1903 a 1916, resultado de sua pesquisa para o mestrado realizada no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Leia Mais
História de Goiás em documentos I. Colônia | Luis Palacín, Ledonias Franco Garcia e Janaína Amado
Resenhista
Dulce Amarante Oliveira Santos
Referências desta Resenha
PALACÍN, Luis; GARCIA, Ledonias Franco; AMADO, Janaína. História de Goiás em documentos I. Colônia. Goiânia: Editora da UFG, 1995. Documentos Goiano, 29. Resenha de: SANTOS, Dulce Amarante Oliveira. História Revista. Goiânia, v.1, n.1, p.145-146, jan./jun.1996. Acesso apenas pelo link original [DR]
Engenheiros do tempo e as visões de Agamenon: História e Memória
Engenheiros do tempo e as visões de Agamenon: História e Memória. Resenha de: VANDERLEI, Kalina. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.16, n.1, p. 167-173, jan./dez. 1996.
A medicalização da raça: médicos, educadores e discurso eugênico | Vera Regina Beltrão Marques || Higiene mental e eugenia: o projeto de “regeneração nacional” da Liga Brasileira de Higiene Mental (1920-30) | José Roberto Franco Reis
Quando Foucault organiza seu quadro conceituai, ele tem em mente uma dimensão analítica do objeto a ser estudado. O que lhe interessa é saber de que maneira engendraram-se os dispositivos e as disciplinas. Para atingir este objetivo, ele recorre sistematicamente à arqueologia — dos saberes, dos poderes, dos prazeres —, buscando identificar, nos discursos, as táticas e estratégias desenvolvidas ao longo de diferentes processos históricos.
Como método historiográfico, Foucault utiliza-se dos discursos produzidos durante o período estudado, privilegiando os discursos científicos e tomando-os como o principal lugar de articulação dos dispositivos e das disciplinas. Leia Mais
Carne, moral e pecado no século XVI. O Ocidente e a repressão aos “delitos” por cúpula “ilícita” | Ruston Lemos de Barros
Resenhista
José Ernesto Pimentel Filho
Referências desta Resenha
BARROS, Ruston Lemos de. Carne, moral e pecado no século XVI. O Ocidente e a repressão aos “delitos” por cúpula “ilícita”. São Paulo: USP, 1993. Resenha de: PIMENTEL FILHO, José Ernesto. A sexualidade, a Igreja e o Santo Ofício no Brasil. SÆCULUM – Revista de História. João Pessoa, n. 1, p. 139-143, jul./dez. 1995.
Acesso apenas pelo link original [DR]
País jovem com cabelos branco: a saúde do idoso no Brasil | Renato Veras
É parte do senso comum a idéia de que a estrutura etária da população brasileira situa-nos como um ‘país jovem’. Ao contrário desta suposição ingênua, contudo, a queda da mortalidade infantil e a progressiva diminuição da fecundidade em nosso meio já nos garantem uma considerável população de idosos, que, projetada para 2025, nos colocará àquela altura como o sexto país do mundo em número de idosos. Este aparente paradoxo é uma questão central do livro de Renato Veras, indicada já na escolha mesmo de seu título. Assim como com outros indicadores sócio-demográficos, pouco a pouco a estrutura etária da população brasileira aproxima-se do perfil dos países centrais (ainda que vários indicadores, como por exemplo a mortalidade infantil, continuem mostrando a gravidade da questão social do Brasil) sem que se produzam alterações correspondentes na qualidade de vida da população, colocando-nos frente aos problemas gerados por um contingente crescente de idosos sem que haja adequada provisão de fundos sociais para fazer frente às suas demandas.
Os impactos desta transição nas políticas públicas já se fazem sentir, com a virtual inviabilização da seguridade social pela situação de ‘cobertor curto’ criada pelo sistema de financiamento em bases correntes da previdência pública associado à iníqua distribuição de renda que se agrava cada vez mais. Não equacionamos a desnutrição e as verminoses e nos vimos frente ao crescimento das doenças cardiovasculares e das neoplasias; da mesma forma, não logramos dar conta das necessidades de crianças e adolescentes e já não temos, com os recursos ora disponíveis, como enfrentar adequadamente o desafio de uma população em processo de envelhecimento. Ainda temos tempo — não muito — para equacionar as demandas que certamente surgirão e/ou se ampliarão a partir deste novo quadro populacional. Leia Mais
Guerra e Paz: casa-grande & senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30 | Ricardo Benzaquem Araújo || O Brasil visto de fora | Thomas Skidmore
Há quase um século as imagens sobre a suposta singularidade das relações raciais no Brasil têm como um de seus principais marcos constitutivos a experiência norte-americana. Processos distintos de implantação do sistema escravocrata e de sua posterior extinção, maior ou menor grau de miscigenação e seus efeitos sociais, sociedade multirracial versus sociedade birracial, mecanismos legais ou informais de discriminação racial foram alguns dos parâmetros utilizados para definir as diferenças entre as duas sociedades.
Apesar do denominado mito da democracia racial ter sido elaborado no século XIX, seu refinamento, sem dúvida, contou com a colaboração imprescindível de cientistas sociais tanto brasileiros quanto norte-americanos, especialmente nas décadas de 1930 e 1940. Gilberto Freyre e Donald Pierson são exemplos representativos desse momento. Leia Mais
O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870-1930 | Lília Mouritz Schwarcz
Raça pertence àquela classe de conceitos que muitos gostariam que fosse definitivamente abandonado devido a sua generalidade, mas que, não com pouca freqüência, retoma ao centro das discussões. Sua longevidade impressiona: questões ligadas a raça eram centrais em debates acadêmicos do século XIX (e mesmo bem antes). Os debates persistem em uma época em que a ênfase volta-se para o seqüenciamento do genoma humano, um projeto que catalisa os interesses da biologia moderna.
Obviamente, o tópico ‘raça’ não se esgota no domínio das ciências biológicas, possivelmente daí derivando sua persistência e dos significados a ele associados através dos tempos. Não é nosso objetivo aqui aprofundar certas questões, mas é preciso mencionar que raça, em sua vertente biológica, social ou mais freqüentemente no intercruzamento de ambas, tem reiteradamente influenciado ideologias de perseguição e exclusão de segmentos sociais específicos em todo o mundo. Leia Mais
O Marquês de Paraná: inícios de uma carreira política num momento crítico da história da nacionalidade | Aldo Janotti
JANOTTI, Aldo. O Marquês de Paraná: inícios de uma carreira política num momento crítico da história da nacionalidade. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1990. Coleção reconquista do Brasil. 2.série, v.159. Resenha de: BARBOSA, Bartira Ferraz. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.15, n.1, p.225-227, jan./dez. 1994.
Visões da liberdade, uma história das últimas décadas da escravidão na Corte | Sidney Chalhoub
CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade, uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. Resenha de: MONTEIRO, Marília Pessoa. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.14, n.1, p.245-246, jan./dez. 1993.
In pursuit of honor and power, Noblemen of the southern in Nineteenth-Century Brazil | Eul-Soo Pang
PANG, Eul-Soo. In pursuit of honor and power, Noblemen of the southern in Nineteenth-Century Brazil. Tuscalooza and London Press: University of Alabama Press, 1988. Resenha de: CARVALHO, Marcus J.M. de. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.13, n.1, p.151-152, jan./dez. 1990.
Acesso apenas pelo link original [DR]
CHALHOUB Sidney (Aut), Visões da liberdade/ uma história das últimas décadas da escravidão na Corte (T), Companhia das Letras (E), MONTEIRO Marília Pessoa (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Escravidão, Liberadade, América – Brasil, Séc. 19
CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade, uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. Resenha de: MONTEIRO, Marília Pessoa. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.14, n.1, p.245-246, jan./dez. 1993.
Acesso apenas pelo link original [DR]
JANOTTI Aldo (Aut), O Marquês de Paraná: inícios de uma carreira política num momento crítico da história da nacionalidade (T), Itatiaia (E), Editora da Universidade de São Paulo (E), BARBOSA Bartira Ferraz (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Marquês de Paraná, Biografia, Honório Hermeto Carneiro de Leão, América – Brasil, Séc. 19
JANOTTI, Aldo. O Marquês de Paraná: inícios de uma carreira política num momento crítico da história da nacionalidade. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1990. Coleção reconquista do Brasil. 2.série, v.159. Resenha de: BARBOSA, Bartira Ferraz. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.15, n.1, p.225-227, jan./dez. 1994.
Acesso apenas pelo link original [DR]
WEYRAUCH Cléia Schiavo (Org-introd), ZETTEL Jaime (Org-introd), Memória/ cidade/ cultura (T), WEYRAUCH Cléia Schiavo (Res), Clio – UFPE (CRPHr),, Memória, Cidade, Cultura, Europa -, América -, Ásia, Séc. 19-20
WEYRAUCH, Cléia Schiavo; ZETTEL, Jaime. Organização e introdução. Memória, cidade, cultura. Resenha de: WEYRAUCH, Cléia Schiavo. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.16, n.1, p.159-165, jan./dez. 1996.
Acesso apenas pelo link original [DR]
Engenheiros do tempo e as visões de Agamenon: História e Memória (T), VANDERLEI Kalina (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Agamenon Magalhães, Engenheiros, Memórias, Estado de Pernambuco, América – Brasil, Séc. 20
Engenheiros do tempo e as visões de Agamenon: História e Memória. Resenha de: VANDERLEI, Kalina. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.16, n.1, p. 167-173, jan./dez. 1996.
Acesso apenas pelo link original [DR]
FUNARI Pedro Paulo A. (Aut), Antiguidade Clássica. A história e a cultura a partir dos documentos (T), Editora da UNICAMP (E), MARTIN Gabriela (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Antiguidade Clássica, Europa – Itália, Europa – Grécia, Séc. (a.C) 08-01, Séc. 01-05
FUNARI, Pedro Paulo A. Antiguidade Clássica. A história e a cultura a partir dos documentos. Campinas: Editora da UNICAMP, 1995. Resenha de: MARTIN, Gabriela. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.16, n.1, p. 175-176, jan./dez. 1996.
Acesso apenas pelo link original [DR]
DRESSEL Heinz F. (Aut), Brasil de Getúlio a Itamar: quatro décadas de história vivida (T), Editora Unijuí (E), SANTOS Ana Maria Barros dos (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Getúlio Vargas, Itamar Franco, História do Brasil, Séc. 20, América – Brasil
DRESSEL, Heinz F. Brasil de Getúlio a Itamar: quatro décadas de história vivida. Ijuí: Editora Unijuí, 1997. Resenha de: SANTOS, Ana Maria Barros dos. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.17, n.1, p.201-202, jan./dez. 1998.
Acesso apenas pelo link original [DR]
FERRAZ Socorro (Aut), Liberais e Liberais: guerras civis em Pernambuco no século XIX (T), Editora Universitária da UFPE (E), ALVES Tarcísio Marcos (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Liberais, Guerras Civis, Província de Pernambuco, Séc. 19, América – Brasil
FERRAZ, Socorro. Liberais e Liberais: guerras civis em Pernambuco no século XIX. Recife: Editora Universitária da UFPE, 1996. Resenha de: ALVES, Tarcísio Marcos. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.18, n.1, p.195-199, jan./dez. 1998.
Acesso apenas pelo link original [DR]
ACIOLI Vera Lúcia Costa (Aut), Jurisdição e conflitos: aspectos da administração colonial (T), ASSIS Virgínia Maria Almoêdo de (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Administração Colonial, América – Brasil, Séc. 16-18
ACIOLI, Vera Lúcia Costa. Jurisdição e conflitos: aspectos da administração colonial. Resenha de: ASSIS, Virgínia Maria Almoêdo de. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.18, n.1, p.201-203, jan./dez. 1998.
Acesso apenas pelo link original [DR]
GEBARA Ivone (Aut), Rompendo o silêncio: uma fenomenologia feminista do mal (T), Vozes (E), GUIMARÃES Maria de Fátima (Res), Clio – UFPE (CRPHr), História Social das Mulheres, Feminismo, Teologia, América – México, América – Brasil, Séc. 17, Séc. 20
Quero em primeiro lugar saudar Ivone Gebara por sua coragem de Romper o Silêncio sobre a história social das mulheres e, sobretudo, destacar a inovação de uma teóloga mulher que se contrapõe de forma contundente às injustiças e às desigualdades. Quero destacar, sobretudo, o papel político desta obra.
Ao situar as mulheres no mundo da história da teologia, a autora estabelece uma relação fundamental entre a teologia e a vida social, na medida em que a teologia reflete as contradições do mundo social, onde a malignidade, muitas vezes, aparece, como coloca Gebara, como destino, desígnio de Deus, ou castigo pelos pecados ocultos, ou ainda, pelos pecados não purgados.
A fenomenologia do mal feminino aparece na dialética das malignidades identificadas pela autora como quatro formas do mal: o mal de não ter, não poder, não saber, não valer. Estes males atingem as mulheres e se manifestam com maior ou menor intensidade de acordo com suas inserções sociais.
O feminino como mal de não ter. Como satisfazer às suas necessidades e, sobretudo, efetivar as atividades de produção e reprodução da vida; como gerar e criar os filhos e filhas, administrar a vida doméstica e familiar em toda sua complexidade, papéis estes designados às mulheres. Como diz Gebara: “A vida das mulheres parece estar ligada a este aspecto primordial ou primário da manutenção da vida. Por conseguinte, o mal de não ter ou a falta do essencial para viver as atinge de modo particular”(p. 49).
O feminino como mal do não poder. Representado através da experiência de Violeta Parra, (p.60) que vivencia o seu não poder ao se filiar a um partido político de esquerda para participar do movimento de libertação do seu país e, paradoxalmente, vivencia sua luta pela liberdade às custas de sua própria liberdade. Isto nos remete a refletir sobre a saída das mulheres do mundo privado (do doméstico) para o mundo público (da política) que, no caso de Violeta Parra e de grande parte das mulheres que fazem este percurso via partidos políticos ou movimentos sociais, não experimentam uma mudança significativa no exercício dos papéis designados a elas, o que faz com que passem a exercer nesses novos espaços as mesmas atividades caracterizadas como femininas – de organização, manutenção entre outras – não conseguindo, na maioria das vezes, uma posição de igualdade na distribuição dos poderes com seus companheiros homens. Sendo reproduzidas no espaço público as situações de desigualdades e subordinações das mulheres nos espaços privados.
O feminino como mal de não saber. Gebara ilustra muito bem esse mal apoiando-se no exemplo da Irmã Joana Inês da Cruz, (p.62) do convento de São Jerônimo, no México, no século XVII. Qual o grande pecado dessa freira? Imiscuir-se no mundo das letras, querer provar das fontes do conhecimento – lugar eminentemente masculino, dirigido pela eclesiástica patriarcal romana, cuja divisão social do trabalho, sempre colocou para a mulher, o servir, a abnegação e a renuncia à capacidade de pensar. Pois bem, a Irmã Joana Inês da Cruz obteve como redenção o exílio do estudo e do conhecimento, com a sua adequação ao papel de serva, cuidando das atividades domésticas e das irmãs enfermas atingidas pela peste.
O feminino como mal de não valer. O valor é um lugar de dor para as mulheres. Mulheres valem como objetos, de prazer ou de ódio. A sociedade hierarquiza os seres humanos e multiplamente pune as mulheres, e as pune por sua condição de gênero, por sua condição de classe e pela cor de sua pele. As mulheres interiorizam esta hierarquização, onde elas estão em uma posição inferior, e purgam o seu sofrimento na malignidade de suas condições. É necessário que se leve em conta a extensão destas desigualdades entre os seres humanos e também as diferenças existentes entre as mulheres em suas vivências cotidianas. Deste modo, em diferentes classes sociais, em diferentes lugares e situações geracionais e étnicas, vivenciam-se diferentes situações de exploração da mulher.
Da realidade que coloca Gebara, existe uma tensão dialética que perpassa a construção da humanidade. Uma construção que decorre da consciência que cada ser tem do seu valor. Nos termos da autora “Quando o valor faz falta, as pessoas vivem um mal. “(p. 81) Existe uma confusão permanente entre as pessoas quanto à extensão e às possibilidades de afirmação do seu valor. Os carecimentos, as debilidades quanto ao acesso ao poder, o desconhecimento, a falta de reconhecimento e de pertencimento, fazem com que o mal se confunda com o bem e, como a autora coloca: ”No cotidiano de sua vida, o mal para elas parece ser a ausência de possibilidades de vida, a violência com a qual elas são tratadas, a insegurança à qual estão sujeitas, as faltas de calor e de afeição que caracterizam sua existência”. (p. 81/82)
Desde esta realidade, é necessário compreender o lugar das mulheres e as incompreensões que povoam o seu pensar e o seu agir, que dizem respeito ao bem e ao mal. Neste sentido, esta obra de Gebara é uma grata surpresa, pois só o olhar de uma teóloga feminista é capaz de discernir o mal travestido de bem, porque o mal de que Gebara nos fala, é um mal que anula as mulheres, impossibilitando a sua plenitude enquanto ser, quando nos deixa sem poder em nome do poder, quando nos deixa sem saber em nome do conhecimento, quando nos desvaloriza para gerar valor.
Esta leitura teológica feminista, considerando a mediação de gênero, revela o lugar subordinado das mulheres numa hierarquia social produzida por preconceitos que mesmo num discurso de igualdade de princípios como é o caso das teologias, mantiveram uma visão que desqualifica as mulheres.
Gebara cita, entre outras teóricas feministas, Joan Scott. A definição de gênero que faz Scott, constitui-se de duas partes e várias sub-partes, cujo núcleo essencial da definição baseia-se na conexão de duas proposições: “o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primária de significar as relações de poder”.1 Prosseguindo a definição de Scott, o gênero se constitui num contexto simbólico de múltiplas representações, tem efeitos normativos, fixa relações binárias e produz noções de subjetividade.
Neste sentido o homem e a mulher são construídos socialmente, desde uma cultura historicamente situada no tempo e dentro das circunstâncias possíveis, determinadas por essa temporalidade. Sujeitos de seu tempo, imersos em um conjunto específico de relações sociais historicamente situadas, cada ser mulher e homem, tem um grupo originário e está submetido às regras de comportamento que se firmam desde a ética hegemônica. Se em geral é assim, desde o ponto de vista da construção de sua especificidade de homem e mulher, são determinantes sua classe, raça, religião e a forma de inserção social na sociedade. Deste modo, a partir dessas variáveis fundamentais, constroem-se o ser mulher e o ser homem.
Na história do feminismo, principalmente a partir dos anos 60, houve uma busca sistemática de uma identidade coletiva das mulheres, tentando forçar sua legitimidade política. Neste curso, a busca por uma identidade coletiva única não respondia às cismas e dissidências dentro do movimento. Assim, as especificidades que transversalizaram a vida cotidiana das mulheres (por exemplo, etnia, classe, gênero, sexualidade, religião, etc.,) colocaram em dúvida a possibilidade de um sujeito universal desprovido de suas vivências específicas. Coube ao movimento repensar o novo sujeito contextualizado historicamente e, portando, diferenciado internamente.
Essa situação suscitou polêmicas no seio do feminismo. Sem embargo, em nossa compreensão, unir as mulheres em uma identidade de gênero única, crendo que todas as mulheres vivem as mesmas situações é ocultar a existência de distintas formas de vivenciar a opressão e, ao mesmo tempo, negar a existência de hierarquias existentes nas relações de poder entre mulheres que pertencem a diferentes classes sociais, grupos étnicos distintos e culturas diversas.
Um acontecimento importante dos anos oitenta, no nível da teorização, foi a constatação de que categorias como mulher, homem, masculino, feminino, possuem conteúdos históricos específicos e se toma analiticamente problemático tentar aplicar a estas categorias uma universalidade, sob pena de cometermos os mesmos erros que temos criticado. Estas preocupações são as mesmas trazidas por Gebara e suscitam o debate que se encontra na ordem dia do pensar feminista.
Considerando estas preocupações, nas quais a autora chama a atenção quanto ao uso da categoria gênero, que é não absolutizar a opressão das mulheres e o receio de se cair em construções utópicas universalizantes, que se mostraram incapazes de dar conta desta múltipla realidade, levando-nos a uma revisão de práticas e teorias.
Rompendo o silêncio. Uma fenomenologia feminista do mal é uma leitura instigante do início ao fim, possibilitando novas reflexões sobre o mal humano, particularmente o mal que atinge as mulheres.
Nota
1SCOTI, Joan, Gênero: uma categoria útil para a análise histórica, Tradução: Christine Rufino Dabat, Maria Betânia Ávila, Recife, SOS Corpo, 1996, p. 11.
Maria de Fátima Guimarães – Professora Visitante do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco UFPE.
GEBARA, Ivone. Rompendo o silêncio: uma fenomenologia feminista do mal. Petrópolis: Vozes, 2000. Resenha de: GUIMARÃES, Maria de Fátima. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.19, n.1, p.221-224, jan./dez. 2001. Acessar publicação original [DR]
ELIAS Nobert (Aut), Sobre o Tempo (T), Jorge Zahar Editora (E), REZENDE Antônio Paulo (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Tempo, Duração, Passado
A concepção de tempo acompanha, sempre, a reflexão do historiador. No cotidiano, muitas vezes, não percebemos o quanto ela é valiosa, para que se possa organizar a vida e estruturar as possíveis identidades culturais da sociedade. O livro de Nobert Elias é um ensaio que traz subsídios importantes para se pensar o tempo como uma construção social. A dimensão simbólica do tempo é ressaltada o que ajuda a ver os objetos da cultura permeados pelas mudanças e permanências que marcam a construção da história. Elias critica a perspectiva newtoniana, mostrando que o tempo não é dado objetivo, mas também não embarca na perspectiva kantiana que vê o tempo como uma estrutura a priori do espírito. Seus encaminhamentos teórico-metodológicos levam a estabelecer um rico diálogo da história com a sociologia do conhecimento.
Nobert Elias tem uma obra vasta. Muitos dos seus livros já foram publicados no Brasil, entre eles A Sociedade dos Indivíduos, Os Alemães e dois volumes do consagrado O Processo Civilizador. É inegável a erudição de Elias e suas contribuições para se compreender a modernidade. Suas reflexões têm esse propósito básico de investigar os rumos históricos da cultura, nas suas buscas por um sentido que a entrelaçasse. Nesse livro, ele não foge dessa perspectiva, destacando a complexidade social e lógica que está conectada com a invenção da concepção de tempo, predominante na sociedade contemporânea. Para isso, traça comparações com culturas de formações diferentes, inclusive de sociedades indígenas da América. Seu foco privilegiado é a cultura ocidental.
Pensar o tempo como uma relação social permite relativizar o discurso que estimulou a apologia do progresso, empobrecendo as interpretações do iluminismo, preocupado em demonstrar a riqueza social a partir da produção de mercadorias. A concepção de tempo não está dissociada das relações de poder que, inclusive, procuram naturalizá-Ia. As conquistas culturais não são feitas sem conflitos e têm fortes ligações com os interesses de cada grupo. Elias ressalta que o conceito tempo pressupõe um nível elevado de síntese e capacidade criadora dos indivíduos. Ele não é o resultado, apenas, da imaginação genial de algum pensador, mas resultado de um patrimônio cultural sofisticado, sobretudo se o relacionamos com a modernização ocorrida na chamada civilização ocidental.
“Todo indivíduo, por maior que seja sua contribuição criadora constrói a partir de um patrimônio de saber já adquirido, o qual ele contribui para aumentar”, essa é uma afirmativa que sustenta o alicerce do ensaio de Elias. Mas ele não deixa de destacar a importância da coerção social. Diz ele: ” A transformação da coerção exerci da de fora para dentro pela instituição social do tempo num sistema de autodisciplina que abarque toda existência do indivíduo ilustra, explicitamente, a maneira como processo civilizador para formar os hábitos sociais que são partes integrantes de qualquer estrutura de personalidade”. É inegável que Elias dialoga com maestria com a obra de Freud. A cultura não é o território exclusivo da construção do prazer, do fluxo contínuo do desejo. Sem repressão, sem controle e regra social seria impossível se pensar a convivência entre os seres humanos. Eles buscam um equilíbrio que nunca alcançam na sua plenitude.
Mesmo com o projeto vitorioso da modernidade ocidental, as temporalidades continuam existindo na multiplicidade. Quem lê O Labirinto da Solidão, do escritor Octavio Paz, verifica como as diversas as maneiras de conceber o tempo são importantes para construção de identidade social de um povo. As marcas da magia e da religiosidade estarão, sempre, presentes no cotidiano, por mais que se racionalizem as práticas sociais. Elias mostra, com vários exemplos, como o conflito entre a objetividade e a subjetividade deve ser compreendido para que as estruturas temporais de uma sociedade possam ser interpretadas. Dentro da sua perspectiva evolucionista, as instituições vão ganhando complexidade e a concepção de tempo hegemônica, na sociedade ocidental, é resultado dessa relação dinâmica.
A rica análise de Elias apresenta, porém, já no seu final, um comentário interessante. Diz o autor: ”Nada é mais freqüente do que ver historiadores erigirem-se em juízes dos homens do passado, que já não têm como se defender, tomando por norma os valores de sua própria época”(p. 148). Realmente, não se pode negar a existência dos julgamentos, dos juízos de valor presente em obras de historiadores. Não são apenas os historiadores que cometem esse tipo de pecado. Elias, no seu argumento mais geral, fortalece a idéia que sua análise está mais próxima da verdade, pois consegue captar as mudanças e permanências, percebendo com mais clareza o desenvolvimento das instituições sociais. Acrescenta: “Em suma a história dos historiadores é a história a curto prazo” (p.148). Sua afirmação é equivocada. Nem todos os historiadores dedicam-se a estudos localizados e privilegiam a curta duração. Esquece de toda contribuição trazida pela Escola dos Annales e das reflexões teóricas de Braudel e sua obra centrada na longa duração.
As conclusões críticas de Elias parecem retomar a polêmica entre Sociologia e História. A questão da produção da verdade ainda está presente na elaboração das pesquisas. Ela continua fundamental, mas não podemos isolá-Ia em determinados campos do saber. Cabe ao historiador não abandonar o diálogo entre passado e presente, com critérios definidos. Não há verdades definitivas. Ela é sempre relativa, mas isso não impede que se indiquem os caminhos da sua formulação e seus limites. As críticas ao positivismo não significam o fim dos critérios científicos, mas uma maneira diferente de se pensar a ciência.
Há, atualmente, uma troca de informações e teorias nas diversas áreas de produção do conhecimento, sem a adoção de hierarquias. O próprio ensaio de Elias revela essa dimensão, como também toda a trajetória da pesquisa história mais recente. Tanto o sociólogo quanto o historiador vivem dificuldades na articulação dos seus saberes. Não há como nomeá-Ios de maneira homogênea, pois as trilhas de cada um exigem também invenção e criatividade. Na História, a Escola dos Annales ressaltou a necessidade de procurar diálogo com os outros saberes para poder desvendar a complexidade do social.
Existe muita generalização, por parte de Elias, quando enfatiza: “Que a maioria dos historiadores, até o momento, deixe de levar em conta os processos sociais a longo prazo parece-me decorrer, em parte, de uma falta de reflexão sistemática sobre os problemas com que grupos humanos se confrontaram no passado e continuam a se confrontar no presente”(p.157). Mesmo quando se preocupa com a curta duração ou a micro-história, o trabalho do historiador não perde de vista uma reflexão sobre o tempo, as diferenças entre as suas dimensões. O perigo de uniformizar as experiências não é só do historiador mas de qualquer intérprete do social. O historiador não é apenas um sistematizador de fontes. Sua reflexão sobre a experiência humana está presente na construção da metodologia e nas conclusões da sua pesquisa.
É importante assinalar que “Sobre o Tempo” é melhor entendido quando o atrelamos a uma compreensão da modernidade, enquanto projeto civilizatório. Não podemos esquecer, porém, que esse projeto é construído sob o signo de confrontos. Existe um projeto que conseguiu se tornar vencedor, mas as resistências continuam, apesar da presença da cultura de massas. Outros projetos também buscam seus espaços, defendem a liberdade e autonomia, não desprezam a crítica e a dúvida como bases para fundação do conhecimento, no entanto se recusam a aceitar o mundo instalado pelo capitalismo, também ele herdeiro das aventuras da modernidade. A concepção de tempo hegemônica diz muito desses choques e dessas diferenças e nos leva a refletir sobre algumas conclusões otimistas de Elias, dentro de uma perspectiva evolucionista, de aperfeiçoamento das instituições sociais. Uma delas merece, com certeza, que o leitor retome suas peregrinações pela história, sem desprezar a complexidade que a envolve. Diz Elias: “Passo a passo, ao longo de uma evolução milenar, o problema do calendário, outrora irritante, foi mais ou menos resolvido. E como atualmente, os calendários já não criam muitas dificuldades, as pessoas esvaziam da memória as antigas épocas em que ainda causavam problemas”. Nem tudo está tão resolvido com parece entender Elias.
Os tempos históricos terminam por se condensar no presente, segundo reflexões de Santo Agostinho. O presente é síntese, mas também memória, utopia, sonho, resistência. As leituras do contemporâneo nos permitem constatar a diversidade de vivências temporais. Não é apenas o tempo dos calendários que nos domina. Lembramos, outra vez, o ensaio O Labirinto da Solidão que faz uma construção preciosa sobre as aventuras da modernidade, a partir da sociedade mexicana, trazendo também uma reflexão sobre tempo e sua dimensão mítica ainda presente. Se a linearidade dos calendários ajuda a modernizar as relações sociais, ela também revela toda uma estruturação de poder, que silencia as diferenças e busca o homogêneo. Esse tempo da produção das mercadorias, da eficiência técnica se confronta com outras maneiras de querer viver a vida e desfazer o peso de cultura tecnicista. O próprio exemplo dado por Elias de um ritual dos Índios americanos acena para a força das singularidades de cada cultura. O projeto civilizador continua sem esmagar todas as diferenças. Ainda bem, pois garante a possibilidade de reinventar a história e traçar travessias não muito previsíveis.
Antônio Paulo Rezende – Professor do Departamento de História da UFPE.
ELIAS, Nobert. Sobre o Tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1998. Resenha de: REZENDE, Antônio Paulo. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.19, n.1, p. 225-228, jan./dez. 2001. Acessar publicação original [DR]
NARO Nancy Priscilla (Aut), A Slaves Place/a Master’s World: Fashioning Dependency in Rural Brazil (T), Continuum (E), HOFFNAGEL Marc Jay (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Escravidão, Abolição da Escravidão, América – Brasil, Rio de Janeiro, Séc. 19
NARO, Nancy Priscilla. A Slaves Place, a Master’s World: Fashioning Dependency in Rural Brazil. London: Continuum, 2000. Resenha de: HOFFNAGEL, Marc Jay. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.20, n.1, p.301-304, jan./dez. 2002.
Acesso apenas pelo link original [DR]
CASTORIADIS Cornelius (Aut), Figuras do Pensável – As Encruzilhadas do Labirinto VI (T), Civilização Brasileira (E), REZENDE Antônio Paulo (Res), Clio – UFPE (CRPHr), História da Sociedade, Conceito de Imaginário, Conceito de Autonomia, Séc. (a.C) 05-01, Séc. 01-20
CASTORIADIS, Cornelius. Figuras do Pensável – As Encruzilhadas do Labirinto VI. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. Resenha de: REZENDE, Antônio Paulo. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.21, n.1, p.327-331, jan./dez. 2003.
Acesso apenas pelo link original [DR]
LINDOSO Dirceu (Aut), A Utopia Arpada – rebeliões de pobres nas matas do Tombo Real (1832-1850) (T), Paz e Terra (E), FERRAZ Maria do Socorro (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Rebelições, Pobres, Matas do Tombo Real, Séc. 19, Guerra dos Cabanos, Província de Pernambuco, América – Brasil
LINDOSO, Dirceu. A Utopia Arpada – rebeliões de pobres nas matas do Tombo Real (1832-1850). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. Resenha de: FERRAZ, Maria do Socorro. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.21, n.1, p. 333-336, jan./dez. 2003.
Acesso apenas pelo link original [DR]
MINTZ Sidney W. (Aut), O poder amargo do açúcar: produtores escravizados/ consumidores proletarizados (T), Editora Universitária da UFPE (E), MACIEL Caio Augusto Amorim (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Produtores de Açúcar, Consumidores de Açúcar, América – Brasil, América – São Domingos, América – Haiti, América – Jamaica, América – Caribe, América – Antilhas, Proletário, Conceito de Plantation, Séc. 16-19
MINTZ, Sidney W. O poder amargo do açúcar: produtores escravizados, consumidores proletarizados. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2003. Resenha de: MACIEL, Caio Augusto Amorim. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.22, n.1, p.363-366, jan./dez. 2004.
Acesso apenas pelo link original [DR]
ECO Umberto (Aut), A misteriosa chama da Rainha Loana (T), Record (E), NEVES Lucilia de Almeida (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Umberto Eco, Romance, Autobiografia, Séc. 20, Europa – Itália
ECO, Umberto. A misteriosa chama da Rainha Loana. Romance ilustrado. Rio de Janeiro: Record, 2005. Resenha de: NEVES, Lucilia de Almeida. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.24, n.1, p.307-311, jan./jun. 2006.
Acesso apenas pelo link original [DR]
FERREIRA Marieta de Moraes (Coord), João Goulart: entre a memória e a história (T), Editora FGV (E), MONTENEGRO Antônio Torres (Res), Clio – UFPE (CRPHr), João Goulart, Memória, Séc. 20, América – Brasil
FERREIRA, Marieta de Moraes (Coord.). João Goulart: entre a memória e a história. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. Resenha de: MONTENEGRO, Antônio Torres. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.24, n.1, p. 313-317, jan./jun. 2006.
Acesso apenas pelo link original [DR]
BUCHET Christian (Dir), VERGÉ-FRANCESCHI Michel (Dir), La Mer/ la france et l´Amérique Latine (T), PUPS (E), RIBEIRO Marília de Azambuja (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Marinha, Diplomacia, Economia, Europa – França, Séc. 16-19
BUCHET, Christian; VERGÉ-FRANCESCHI, Michel (Dir.). La Mer, la france et l´Amérique Latine. Paris: PUPS, 2006. Resenha de: RIBEIRO, Marília de Azambuja. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.24, n.2, p.333-336, jul./dez. 2006.
Acesso apenas pelo link original [DR]
ALVES Tarcísio Marcos de (Aut), A Santa Cruz do deserto: a comunidade igualitária do Caldeirão: 1920 – 1937 (T), Néctar (E), SILVA Edson (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Comunidade do Caldeirão, Santa Cruz do Deserto, Séc. 20, Estado do Ceará, América – Brasil
ALVES, Tarcísio Marcos de. A Santa Cruz do deserto: a comunidade igualitária do Caldeirão: 1920 – 1937. Recife: Néctar, 2008. Resenha de: SILVA, Edson. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.25, n.2, p.349-354, jul./dez. 2007.
Acesso apenas pelo link original [DR]
DABAT Christine Rufino (Aut), Moradores de Engenho: relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco segundo a literatura/ a academia e os próprios atores sociais (T), Editora Universitária da UFPE (E), Clio – UFPE (CRPHr), Relações de Trabalho, Condições de Vida, Trabalhadores Rurais, Zona Canavieira, Estado de Pernambuco, América – Brasil,
O objetivo de uma resenha é despertar o desejo de ler uma obra, destacando seus aspectos principais e traços originais que possam propiciar aos leitores descoberta, enriquecimento, reflexão, revisão das idéias já consolidadas, num processo de diálogo com o (a) autor (a), possibilitando utilidade e prazer intelectual associados. Tratando-se de “Moradores de Engenho”, de Christine Rufino Dabat, lançado pela Editora Universitária da UFPE em 2007, o principal desafio a ser superado reside na dimensão do livro (800 páginas) numa época cibernética durante a qual se acostumou os leitores a breves e sucessivas leituras de materiais eletrônicos consoantes com a aceleração e a fragmentação do tempo; por se tratar de uma tese de doutoramento em História, pode enfrentar também uma desconfiança face ao caráter especializado e técnico-acadêmico da obra, dificultando a ampla divulgação do livro. Em face desses dois freios iniciais, proponho-me mostrar que o leitor, que superar esse costume e essa desconfiança, terá a fruição do prazer e da utilidade ao ler a muito bem cuidada edição da tese de doutoramento de Christine Rufino Dabat: Moradores de Engenho: relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco segundo a literatura, a academia e os próprios atores sociais.
Inicialmente, destaco algumas facilidades que a qualidade da edição propicia ao leitor: o sumário é extremamente detalhado, permitindo acompanhar o encadeamento e o conteúdo de cada um dos oito capítulos distribuídos em três partes. No texto, encontram-se notas de rodapé referenciais, explicativas e complementares que permitem uma leitura fluente do conteúdo central enriquecido aqui, acolá por quadros. A bibliografia estende-se sobre 40 laudas e constitui-se num acervo extraordinário para estudiosos da sociedade da cana-de-açúcar.
O autor dessa resenha não é historiador, mas geógrafo; participou como examinador externo da banca de Doutorado, que, sob a presidência da Profª Maria do Socorro Ferraz Barbosa – orientadora, examinou o trabalho acadêmico e foi unânime em destacar a originalidade e a contribuição que essa tese trouxe para a reinterpretação radical da zona canavieira de Pernambuco, objeto de inúmeros estudos anteriores. Para historiadores há muitas possibilidades de abordar as múltiplas técnicas de fazer história presentes na obra: relações com fontes literárias, organização e tratamento da historiografia, uso de arquivos, incursões no campo da antropologia, coleta e repasse da memória viva dos trabalhadores rurais, cada um desses diversos passos sendo objeto de muitas e debatidas polêmicas metodológicas no âmbito da História. Nada disso, portanto, será tema dessa resenha, pelo simples fato da identidade disciplinar do seu autor.
Mas, além das tecnicalidades disciplinares, a autora propõe uma tese: destaca um evento, “um episódio identificado como singular na evolução das relações de trabalho no campo”, isto é, a saída dos moradores dos engenhos para as “pontas de rua” das cidades da zona canavieira de Pernambuco, para afirmar que se trata de uma inflexão na longa história da exploração dos trabalhadores da cana-de-açúcar, inflexão que foi interpretada pelos setores dominantes da sociedade, através da literatura e da produção acadêmica, como uma mudança dificultando a identificação do “continuum” da incrível exploração do trabalho, desde a escravidão até nossos dias, que caracteriza a zona canavieira de Pernambuco entre as poucas regiões do mundo sem rupturas. É na memória viva das vitimas dessa exploração, que a autora encontra uma interpretação histórica capaz de recuperar esse “continuum”, e de situar o evento na longa duração da exploração e nas lutas políticas, sindicais e culturais do presente. A quais interesses afinal servem os recortes históricos e a afirmação da sucessão de mudanças senão àqueles que se beneficiaram dessa exploração contínua?
A obra de Christine Rufino Dabat não é de um pesquisador iniciante, como o é, hoje em dia, comum, tratando-se de tese de doutoramento. Longamente amadurecida, resulta de um itinerário afetivo, intelectual e militante de cerca de trinta anos. Entre idas e vindas na problemática das relações de trabalho vinculadas à “plantation” canavieira destaca-se a descoberta da obra de Sidney W. Mintz, disponibilizada em português numa coletânea organizada pela autora e publicada em 2003 pela Editora Universitária da UFPE, sob o título “O poder amargo do açúcar. Produtores escravizados, consumidores proletarizados.” Nesse autor, “involuntário farol intelectual de uma jornada acadêmica em forma de labirinto”, Christine Rufino Dabat encontrou o fio de Ariadne para debater e superar os entendimentos consagrados na historiografia nacional acerca da “Morada”; em “Moradores de Engenho” reinsere essa condição no contexto da “economia mundo” de Immanuel Wallerstein e mostra como as relações de trabalho e produção de açúcar são desde o início marcadas pela “modernidade precoce” (p. 388 a 434) relativizando e interpretando, à luz do eurocentrismo, o longo percurso historiográfico nacional do feudal ao capitalismo mercantil e ao capitalismo industrial.
Essa análise historiográfica desenvolvida no capítulo 5 constitui, junto com o capítulo anterior, a 2ª parte do livro. Em “Interpretações da morada”, a autora, após ter situado numa 1ª parte o contexto histórico do episódio que é objeto do trabalho, reserva cerca de 110 páginas a um estudo das visões da morada em José Lins do Rego e Gilberto Freyre, mostrando como a produção cultural foi capaz de criar representações duráveis e fundas, além dos debates acadêmicos norteados pelo evolucionismo cultural. Ao jovem leitor, além da releitura das obras de Lins do Rego e Freyre guiada pela desconstrução empreendida por Christine Rufino Dabat, aconselha-se assistir ao filme de Cláudio Assis “O Baixio das Bestas” que, filmado na zona canavieira de Pernambuco, assume também um caráter universal ao representar a total e brutal desumanização e instrumentalização das relações no período atual da “economia mundo”.
A 3ª parte de “Moradores de Engenho”, estende-se sobre mais da metade do livro e propõe uma reconstrução da história sob o título “A morada na experiência dos moradores”. São abordadas sucessivamente, as condições de vida dos trabalhadores rurais na época da morada, as condições de trabalho e as condições políticas denominadas “violência e cidadania”. Os textos resgatam falas dos trabalhadores e interpretações da autora remetendo sempre a outros estudiosos que se dedicaram ao estudo da vida, das relações de trabalho e da política na zona canavieira. Trata-se de uma minuciosa reconstituição, ficando claro o intuito da autora de dar prioridade à memória viva dos trabalhadores de modo a romper com a “lei do silêncio”, que afeta essa parte dos agentes da região em contraste com a abundância das produções culturais e acadêmicas recuperadas na parte anterior. Christine Rufino Dabat constrói respeitosamente, com os trabalhadores, uma história renovada pela empatia que sustenta a longa militância com os entrevistados, que revelam não ter saudade do passado mesmo se o presente continua marcado pela exploração. Reexamina assim, junto com eles, “a interpretação dada ao desenvolvimento histórico da região”.
Ao ler essa parte, lembrei de um texto do escritor nascido na Martinica, também terra de plantações criadas na “modernidade precoce”, Edouard Glissant, que procuro traduzir aqui:
O significado (a “história”) da paisagem ou da Natureza é a clareza revelada do processo através do qual uma comunidade cortada dos seus laços ou de suas raízes (e, talvez mesmo desde o início, de quaisquer possibilidades de enraizamento) pouco a pouco vem sofrendo a paisagem, merecendo sua natureza e conhecendo seu país” (…) ”Aprofundar esse significado é levar essa clareza à consciência. O esforço teimoso em direção à terra é um esforço para a história. (GLISSANT E., L’intention poétique. Paris: Gallimard, 1997).
Tradução livre de:
La signification (l’”histoire”) du paysage ou de La Nature, c’est La clarté révelée du processus par quoi une communauté coupée de ses liens et de see racines (et, peut-être même au départ, de toutes possibilités d’enracinement) peu à peu souffre le paysage, merite sa nature, connaît son pays. » (…) Approfondir la signification c’est porter cette clarté à la consciência. L’effort ardu vers la terre est un effort vers l’histoire. »
Jan Bitoun – Professor do Departamento de Ciências Geográficas da UFPE.
DABAT, Christine Rufino. Moradores de Engenho: relações de trabalho e condições de vida dos trabalhadores rurais na zona canavieira de Pernambuco segundo a literatura, a academia e os próprios atores sociais. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2007. Resenha de: BITOUN, Jan. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.26, n.1, p.257-261, jan./jun. 2008. Acessar publicação original [DR]
CARDOSO Ciro Flamario (Aut), Um historiador fala de teoria e metodologia/ Ensaios (T), Edusp (E), SILVA Severino Vicente da (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Teoria da História, Filosofia da História, Epistemologia Historia, Metodologia da História, História da Historiografia
São poucos os historiadores brasileiros que podem apresentar uma produção tão rica e diversificada quanto o professor Ciro Flamarion Cardoso. Parte de sua vida foi vivida fora do Brasil, à época da ditadura militar e, contudo a sua presença foi marcante na formação de uma geração que leu e refletiu o Métodos da História, seus escritos sobre o trabalho escravo na antiguidade e Uma Teoria da História. Em suas obras nota-se uma constante critica à pequena importância que o estudo da filosofia tem recebido na formação dos historiadores no Brasil. Essa preocupação teórica o levou a refletir, com outros autores, em Caminhos da História.
Após os eventos do final dos anos oitenta, ocorreu a debandada dos historiadores para fora dos caminhos da interpretação marxista da história. Ciro Flamarion é um dos raros que mantém a sua adesão àquele método de estudo, àquela filosofia explicativa da história. Assim, não surpreende a edição desses ensaios, produzido ao longo de doze anos, resultado de suas reflexões e perplexidades, advindas de sua prática docente.
Pouco avesso aos salameques e ao culto das novidades por serem novidades, o autor de Um Historiador fala de teoria e metodologia, continua fiel ao viés fundamental de sua obra. Ciro nos mostra como ele continua capaz de dialogar com o mundo e apresenta o marxismo como ainda capaz de dar conta da complexidade que estudos setoriais não conseguem, segundo ele, enfrentar plenamente.
Dividido em quatro partes, o livro organiza didaticamente os grandes temas que estudos históricos enfrentam atualmente. Na primeira parte, composta por dois capítulos, o Autor dedica-se a debater as novas perspectivas e compreensão do Tempo e do Espaço para a História, dedicando um capítulo para o debate sobre a construção do espaço, nesses novos tempos em que as realidades parecem estar cada vez compressas e em que os limites geográficos, definidos matemática e geometricamente no final do século XIX, mostram-se ineficazes para a compreensão das políticas atuais dos países e estados.
A segunda parte é dedicada ao acompanhamento do debate epistemológico atual, com destaque especial ao anti-realismo do pensamento histórico contemporâneo e sobre a influência negativa que o Autor entende que as teorias do conhecimento exercem na atual produção histórica no Brasil. Talvez seja a sua adesão incondicional ao marxismo que o impeça de olhar com maior simpatia a atual produção vinda dos programas de pós-graduação das universidades, talvez muito ávidas por aceitar as novidades conseqüentes das contradições européias, aceitas sem o respaldo de um estudo filosófico que seja capaz de assumir as novas tendências sem superar simples macaqueação própria do novidadeirismo.
A terceira parte é dedicada à reflexão do pensamento histórico e ao debate historiográfico contemporâneo. Embora instigante, essa parte pode ser apontada como frustrante por limitar esse debate apenas até os anos trinta. Esperava-se mais, na reflexão sobre a atual produção, essa que vem desde a segunda metade do século. Mas, talvez, com esse enorme hiato, o autor queira nos dizer que não ocorreu ainda uma real e nova interpretação da história brasileira, nem universal, além daquelas que foram apresentadas nas primeiras décadas do século XX, pouco importando que seja uma história produzida nos limites do Brasil ou além deles. Seria isso produzido pela quebra dos paradigmas, pela queda física, antes da metáfora, do muro que separavam as duas maiores experiências políticas ideológicas do século findo há quase uma década, ou a duas décadas, como quer um outro historiador marxista, Eric Hobsbawm. Interessante capítulo, desta parte, é quando nosso Autor quase se transforma em perscrutador do futuro ao discorrer sobre “que história convirá ao século 21” e reflete sobre como a crise dos paradigmas, o cultivo quase niilista da dúvida permanente e da certeza de que só a dúvida existe pode levar os historiadores a perder a perspectiva, atolando-se nos mais diversos solipsismos.
A parte quarta desse livro é dedicada a debater questões mais setorizadas tanto quanto à teoria quanto ao método histórico. No nono capítulo estão abordadas questões atuais no debate sociológico, político e histórico, referindo-se mais diretamente às questões étnicas, tão pungentes e atraentes numa globalização na qual para não se tornarem massas liquidas, voltam-se a paradigmas pré-modernos vestidos em vistosas roupagens pós-modernosas, escondendo nas colorações cintilantes, ranços de racismos que podem fazer retornar com mais tragicidade situações aparentemente vencidas em meados do século XIX. Capítulo muito interessante é o dedicado à chamada História das Religiões, uma quase ciência e uma quase teologia, ou uma teologia que não quer dizer-se como tal. Para ele muitos dos que se dizem historiadores das religiões, deixaram-se seduzir pelos mistérios que atraem os crentes, esquecendo-se dos problemas que são os verdadeiros interesses do historiador, do cientista. Ao crente basta a admiração e contemplação da verdade religiosa, ao historiador a admiração serve apenas de pretexto para iniciar a busca do entendimento de porque homens e mulheres, em determinados tempos e lugares, criaram sistemas e necessitaram afirmar que esses sistemas foram doados gratuitamente por alguma entidade não humana, mas superior aos homens e mulheres Tais adesões à pseudociência História das religiões só é possível pela negativa em abordar os problemas humanos a partir de sua materialidade.
A leitura dos Ensaios contidos em Um historiador fala de teoria e metodologia é interessante àquele que já se encontra na militância da história, seja como professor apenas, seja como professor, pesquisador e historiador. Para os que estão iniciando-se nos afazeres do historiador, essa é uma leitura obrigatória. Nela ocorrerá o encontro com um permanente estudioso da história, e um constante enamorado pelas criações dos homens que vivem as contradições das sociedades que criam e na qual vivem.
Severino Vicente da Silva – Professor adjunto, atuante no programa de pós-graduação do Departamento de História da UFPE.
CARDOSO, Ciro Flamario. Um historiador fala de teoria e metodologia, Ensaios. Bauru, SP: Edusp, 2005. Resenha de: SILVA, Severino Vicente da. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.26, n.1, p. 262-265, jan./jun. 2008. Acessar publicação original [DR]
LIAUZU Claude (Dir), Dictionnaire de la colonisation française (T), TOPOR Hélène d’Almeida (Cons-cient), BROCHEUX Pierre (Cons-cient), COTTIAS Myriam (Cons-cient), REGNAULT Jean-Marc (Cons-cient), Larousse (E), DABAT Christine Rufino (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Dicionário, Colonização Francesa, Europa – França, Séc. 19-20, Ásia – Vietnam, África – Argélia, África – Margreb, América, África, Ásia – Oriente Próximo
Entre as muitas obras recentes que tratam do passado colonial da França, o Dicionário da colonização francesa destaca-se pela abrangência das temáticas e análises, numa época de grandes debates no campo desta história. Falecido no ano da publicação deste dicionário, o grande historiador Claude Liauzu o organizou com a preocupação central de valorizar a seriedade na determinação dos fatos e respeitar a pluralidade das interpretações. Ele introduz o volume « A colonização em questões » (p. 9-25) expondo suas ambições e limites.
Os grandes embates que ocupam a fábrica da história colonial na França dos séculos XIX e XX, e sua eventual instrumentalização pelos poderes políticos, torna o assunto atual. Claude Liauzu e sua equipe de dezenas de colaboradores (entre os quais pesquisadores oriundos dos países antigamentes colonizados) decidiram encarar o desafio, afirmando a necessidade de oferecer aos leitores pontos de referência seguros a partir dos quais eles possam definir uma opinião informada no fogo cruzado das « guerras de memória ». Daí a forma de dicionário. São setecentos e setenta e cinco entradas que dizem respeito a pessoas, eventos, mas também categorias de análise histórica. « Tempos fortes », que antecedem sequência alfabética, estabelecem a periodização do assunto. Dezoito mapas e uma bibliografia (dividida tematicamente), no fim da obra, além de diversos índices (de pessoas, lugares e temas, disponíveis na internet) ajudam o leitor a se situar. Os nomes que, nos textos, remetem a artigos próprios são assinalados por asterisco e setas associam outros relacionados.
São tratados aspectos variados, destacando-se a definição do próprio título « colonização » com vários desdobramentos: etimológicos (« colônia », p. 200-201, e « colônia penal » p. 201) ; sociais e políticos como o dossiê « colonos – brancos pobres e ´franceses majorados » (p. 202-210) com várias seções, inclusive o « colono visto pelo colonizado » ; geográficos, mostrando as dimensões políticas, em cada região em que atuou, América, África, Ásia, Próximo Oriente ; culturais, revelando os diversos olhares sobre o fenômeno, « escola colonial » (p. 258), « a escola do colonizado » (p. 259-263), « professores primários » (p. 381), « estudantes colonizados » (p. 280), e mesmo as prestigiosas instituições acadêmicas como a « Escola francesa do Extremo Oriente » (p. 263), focada em aspectos tocando diretamente à historiografia. « As colônias na escola » (p. 265) complementada pelo dossiê « criança e propaganda colonial – Convencer os jovens da metrópole » (p. 269) e o artigo « Propaganda colonial oficial » (p. 538-539), expõe a maneira como a colonização foi ensinada pelos manuais e outros meios de divulgação, desde a criação da escola pública, laica, gratuita e obrigatória, pelos próprios governos da IIIa. República, que promoviam ambas.
« Escritores e colonização » trata da literatura acerca deste fenômeno, seguindo uma entrada rápida sobre o papel de editoras como as Éditions de Minuit, que publicaram grandes textos de combate contra a colonização, em particular A questão, de Henri Alleg, denunciando a tortura utilizada pelo exército francês durante a guerra – que não dizia seu nome – da Argélia. Enfim, « palavras e colonização », (p. 482), « migrações e colonização » (p. 470). « República e colonização – Relações ambíguas » (p. 552-557), faz objeto de um dos numerosos dossiês analíticos que pontuam a obra, com um subtítulo « colonização e civilização », onde são tratados os grandes traços do discurso dominante a respeito do assunto. Outro dossiê, « Capitalismo e colonização. Um debate » (p. 168-172), mostra como se articulam império e prosperidade na metrópole, ao longo dos séculos. « Cristianismo, missões e colonização » (p. 185-191) seguido de « Cristianismo e descolonização » (p. 191-193) focam no papel dos religiosos, numa empresa estatal cuja fase republicana foi marcada pelo anti-clericalismo.
Outros conjuntos de artigos poderiam assim ser singularizados, particularmente em torno dos artigos-dossiês que propõem uma síntese sobre dado assunto, tentando equilibrar o tratamento dos diversos espaços geográficos que, através de quatro continentes, sofreram a marca da empresa colonial francesa : por exemplo, a Nova Caledônia (p. 501-505), complementada por outros artigos como « religiões da Oceânia », (p. 551) « Oceânia » (p. 506-507) « Novas Hébridas Vanuatu » (p. 505) e assuntos, às vezes esquecidos, como o de Moruroa, atol onde os franceses efetuaram seus experimentos nucleares (p. 481).
Em « Raça » incluindo « a política das raças », « racismo » (p. 545-548), Liauzu, autor do maior número de entradas, evoca um campo que detalhou no seu notável estudo Raça e civilização. O outro na civilização ocidental (Paris: Syros, 1992). Ao lado dos artigos esperados sobre a « escravidão – quatro séculos de história da colonização » (p.272-277) e sua abrogação, com a figura emblemática de Victor Schoelcher (p. 579), os autores não se furtam a mencionar eventos recentes, como a Lei Taubira (2001), que confere ao tráfico negreiro o estatuto de crime contra a humanidade (« Comitê para a memória da escravidão » p. 210) e a mal afamada lei de 2005, posteriormente abrogada sob pressão dos meios acadêmicos e mais amplamente cidadãos, que pretendia obrigar ao ensino dos « aspectos positivos » da colonização francesa (p. 533).
Os autores utilizam conceitos atuais como os « lugares de memória » (p. 409-413), complementado em « imaginário e espaços » (p. 364-366), e lugares, simplesmente, inclusive presídios famosos (« Poulo Condor », no Vietnam, p. 536) ou manifestações físicas importantes como o « Mediterrâneo » (p. 460), ou ainda espaços situados no tempo como o artigo « O Magreb na véspera da colonização – Blocagens e tentativas de reforma ». (p. 437-440), ou « o grande deserto do Sahara » (p. 568).
Entre os assuntos tratados em si podem ser citados como exemplos as grandes temáticas do « povoamento » (p. 527), « campesinato » (p. 524), « industrialização » (p. 379), assim como conceitos: « negritude » (p. 495), « nacionalismos » (p. 488). As posições das grandes forças políticas são detalhadas (« Internacional Comunista » (p. 383); « OAS » (p. 506) « FLN » (p. 299) com seus desdobramentos: « chefes históricos », « Federação de França do FLN »; « Pan-africanismo » (p. 514). Personalidades de destaque como Ahmed Messali Hadj, nacionalista argelino do século XX, Ho Chi Minh (p. 359) ou Solitude (p. 586) heroina da resistência ao restabelecimento da escravidão nas Antilhas são tratados com particular cuidado assim como as « resistências à conquista » (p. 557) e grandes rebeliões, como a Kanak, em 1878 (p. 393) ou a insurreição em Madagascar de 1947 (p. 435) e as diversas organizações (partidos e movimentos armados, mas também confrarias e outras) de resistência dos povos colonizados pela França. Entre os personagens mencionados, pode-se destacar os resistentes à colonização, inclusive franceses como Camille Pelletan que denunciava no seu jornal, A justiça, a maneira como as autoridades republicanas francesas impunham sua civilização « por meio de canhões » (p. 526). Em obra póstuma de Claude Liauzu, História do anti-colonialismo na França do século XVI a nossos dias (Paris: Colin, 2007), este aspecto ganha vulto.
Obviamente, aspectos econômicos da empresa colonial estão presentes : as companhias que recebiam concessões da potência colonial (p. 213-216), « cultura de seringueira na Indochina » (p. 358) etc. Também é tratada a dimensão propriamente militar, os métodos de conquista e administração – « governo colonial » (p. 315-319) ; « ministério das colônias » (p. 472-473) – de vastos espaços e populações numerosas em âmbitos geográficos diversos e longínquos, embora nenhuma predominância seja dedicada a estes assuntos clássicos. No entanto, menciona-se aspectos peculiares como, sob o título « Marinha, Marinheiros – o seu papel na expansão colonial » (p. 444), evocando a situação difícil destes, muitas vezes oriundos de territórios colonizados. O maior destaque é dedicado aos conflitos de descolonização, sobretudo na Argélia, que se desdobra em dois dossiês: « guerra de Argélia – Uma guerra que não diz seu nome » (p. 321-335) e « guerra de Argélia e liberdades – Estado de sítio e poderes especiais » (p. 340); para garantir o equilíbrio no tratamento, há também : « Guerra de Indochina – A primeira guerra de descolonização» (p. 341-350).
Aspectos culturais têm, em compensação, muito destaque, desde « festas » (p. 297), « canção » (p. 179), como testemunho da cultura popular, refletindo preconceitos sob os apetrechos do exotismo, mas também nas dimensões de resistência como o anti-militarismo. Famosos artistas são retratados, como Josephine Baker (p. 130-131), cujo sucesso revelou visões metropolitanas da coisa tropical, por assim dizer, e influenciou numa mudança, surpreendentemente recente, nas mentalidades. « Fotografia – a colocação em imagens das colônias » (p. 529), « pintura orientalista » (p. 510) e « Cinema » (p. 194-200), tratam tanto de documentos fotografados encenados ou não, documentários e ficções, mostrando também os esforços de alguns autores para romper com os clichês coloniais, como o premiado « Indígenas », de Rachid Bouchareb (Cannes 2006). A literatura abrange as representações, inclusive populares, como a personagem bretã « Bécassine e suas aventuras coloniais » (p. 140) mas também as produções de criadores de horizontes diversos : literatura da África negra, magrebina, da Nova Caledônia, da Polinésia, « Indochina : edição e literatura » (p. 374) e enfim, « literatura e colonização » (p. 421), seguida de um artigo curioso : « literatura, romance policial e descolonização » (p. 422), mencionando sobretudo obras recentes que tratam de episódios de repressão na própria metrópole contra pessoas oriundas das (ex)colônias.
Muitos atores da descolonização, em várias áreas, literatura e política em particular, fazem parte do elenco biografado: como Leopoldo Sedar Senghor (p. 584), Albert Memmi (p. 461-462), Aimé Césaire (p. 176), desaparecido recentemente. Eles dividem páginas com autores franceses cuja obra e engajamento lhes estão ligados ou opostos: SaintJohn Perse (p. 572), Jean Paul Sartre (p. 578), Céline (p. 174), Camus (p. 163-164), André Malraux (p. 441). Outros autores, cuja obra fez evoluir consideravelmente os instrumentos do pensar da coisa colonial, são mencionados, por exemplo, Marcel Mauss (p. 458), Jean Dresch (251), Cheikh Anta Diop (p. 183), Frantz Fanon (286) e Maxime Rodinson (p. 565), além de revistas como « Presença africana », que marcou as gerações da descolonização fazendo « a ligação com os intelectuais franceses » (p. 538), bem como editores como François Maspéro (p. 455) que abasteceu os militantes anti-colonialistas com obras de Castro, Ho Chi Minh, Basil Davidson e tantos outros.
Entre as dimensões culturais, poderia se singularizar a questão das línguas criadas pela própria colonização « pidgin » (p. 532), « petit nègre » (p. 527) , « pataouète » (p. 523) e « sabir » (p. 568), assim como seu impacto sobre o francês : termos próprios à história colonial ou por ela gerados como « força negra » (p. 302) « spahis » (p. 587) « méharistes », os policiais do deserto (p. 461); ou ainda « bled » palavra oriunda do árabe falado na Argélia que passsou na língua francesa para designar o campo ; « bidonville » (clássica tradução de favela), cuja origem é marroquina ; « béké », termo das Antilhas, até hoje empregado para os descendentes de plantadores ; « cafre » termo utilizado na ilha da Réunion para designar as populações mestiças (p. 160).
O artigo « folie et psychiatrie » (p. 302) evoca a obra pioneira de Frantz Fanon e a recém formada sociedade franco-argelina de psiquiatria, cujo primeiro congresso (2003) consagrou o reconhecimento científico dos traumas resultantes da colonização e guerras de libertação. O dossiê « Saúde » (p. 575-577) trata da epidemiologia, mas sobretudo do imaginário e da justificação da exploração colonial apresentada como compensada pela assistência primária à saúde das populações colonizadas:« Institutos Pasteur » (p. 381) ; « Médicos » (p. 459) « quinine » (p. 544). Os autores do Dicionário não hesitam em abordar assuntos difíceis como o dossiê sobre « mestiçagens e uniões mistas – Da marginalidade à pluralidade incontornável » (p. 465-470); « homossexualidade » (p. 361); « corpos – realidades e imaginários » (p. 223-227) « prostitutas » (p. 539), ao qual corresponde o artigo «masculinidade colonial » (p. 454-455). Embora haja um dossiê importante « mulheres – elas também têm uma história » (p. 287- 295) associado ao artigo « moças – Um novo tipo social nascido da colonização » (p. 387-389), sua presença, esparsa em outras entradas, inclusive biográficas (poucas), é discreta.
Em suma, Dicionário da colonização francesa é uma obra que prima pela coragem dos autores, abrangência e atualidade dos assuntos e sobriedade benvinda no tratamento.
Christine Rufino Dabat – Professora do Departamento de História da UFPE.
LIAUZU, Claude (Dir.). Dictionnaire de la colonisation française. Conselho científico: Hélène d’Almeida Topor, Pierre Brocheux, Myriam Cottias, Jean-Marc Regnault. Paris: Larousse, 2007. Resenha de: DABAT, Christine Rufino. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.26, n.1, p. 266-271, jan./jun. 2008. Acessar publicação original [DR]
GOMES Edvânia Torres Aguiar (Aut), Recortes de Paisagens na Cidade do Recife. Uma Abordagem Geográfica (T), Massangana (E), SERNA Aura González (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Natureza, Paisagem Cidade do Recife, Séc. 20, América – Brasil
Este trabalho produzido originariamente sob a forma de tese em 1997 pode ser considerado de vanguarda em diversas acepções, analisando o seu conteúdo e suas advertências no plano das novidades que cercam a discussão contemporânea sobre Paisagem. Pode-se argumentar que se trata de um trabalho clássico na revisão dos conceitos mais primevos dos primeiros entendimentos sobre paisagem, desde a escola alemã, passando por alguns desdobramentos disciplinares inclusive para além da Geografia. Por outro lado, pode ser considerado crítico na perspectiva sócio-ambiental, ao se utilizar este trabalho no âmbito do urbanismo. Verifica-se o efeito denúncia que marca os embates entre o idealizado e o realizado, entre a cidade e o meio. A voz de distintos segmentos da sociedade se expressa através dos 600 questionários trabalhados, capturando as vertentes da representação da cidade no final do século passado. Através dessas falas são reveladas as idealizações e representações da cidade, podendo subsidiar o urbanismo e a gestão dos espaços públicos na metrópole recifense. Essa mescla guarda nexos marcados pelo esforço transversal, enunciando que não existe novidade na feitura das práticas e interesses – principalmente quando se trata de um mundo confeccionado colonialmente, que se busca num jogo de espelhos – e sim, que o mundo é permanentemente (re)criado. Este trabalho é uma excelente maneira de afirmar que não é por natureza que se compreendem e se estabelecem múltiplas aproximações ao objeto do saber. É preciso sentir, estar apaixonado, em conexão com referentes que historicamente constituem elos estruturadores da cidade, mas, e, principalmente, priorizar na escolha por tornar visíveis experiências vividas, na fala de seus usuários, identificando sentimentos profundos do povo na relação com trechos da cidade, para descobrir neles os elementos, mesmo confusos, que podem impulsionar relações de respeito por representações culturais fundamentais que reflitam, na paisagem, as necessidades humanas que a reproduzem. Trata-se de uma pesquisa instigante, qualitativa, e quantitativa de corte teórico e empírico, que passando pela apropriação fenomenológica, subsidiada por um rico elenco de fotografias, mapas, gráficos e gravuras conseguiu preservar a coerência entre o método de pesquisa e a apresentação da realidade estudada. A autora partindo das contribuições da geografia alemã leva-nos de passeio, pela trajetória da paisagem, aproveitando aportes de diversas disciplinas, em legados de historiadores, psicólogos, antropólogos, poetas, filósofos para analisar a composição da paisagem: o meio físico e o meio social, em estreito nexo com as percepções, o imaginário, a atividade humana constituída por atos, com os quais visa algo. A pesquisa tem como campo empírico o dilema na perspectiva das coexistências do planejador, do artista, do político, do cientista, do simples habitantes em uma cidade anfíbia, marcada por atributos da natureza e engenharia humana. As águas dos rios e dos manguezais que configuram o sítio da cidade são enfatizadas a luz desses diferentes segmentos da sociedade em suas práticas. No contemporâneo, até olhares menos atentos registram evidentes provas de agressão como negação a presença das águas na cidade, subestimando a sua morfologia genuína. Através de uma linguagem simples e dialogando com imagens, letras de músicas, poesias, o trabalho nos ajuda a entender que em função da subordinação à lógica da acumulação de riqueza, este processo de construir os espaços vividos se faz à custa de uma decadente condição da sociedade, singularizando alguns resultados que impactam os modos vida dos seus habitantes. Nesse campo, a autora dialoga com reflexões realizadas por renomados geógrafos como Josué de Castro, Milton Santos, Manoel Correia de Andrade, Rachel Caldas Lins e Jan Bitoun, bem como com poetas como Bento Teixeira, Augusto dos Anjos, João Cabral de Melo Neto, Chico Science, consegue ilustrar faces desses impactos no sítio urbano natural do Recife. Os historiadores, urbanistas, engenheiros pesquisados em suas obras propiciam apoio para firmar a posição da autora em suas críticas aos processos de planejamentos da cidade, com a adoção de mudanças que priorizam a técnica aplicada a demandas pseudo uníssonas, tornadas homogeneizantes na leitura de escala global. Como através de um painel, passando pelos primeiros esboços da cidade Mauricia até os dias atuais, com base nos trabalhos comparativos, Edvânia propicia uma revisão da concepção da paisagem idealizada para a cidade e refletida na estrutura do planejamento e suas práticas ao longo da história. O trabalho utiliza três eixos espaciais como referências para cotejar Recife à luz de algumas questões urbanas significativas e que dizem respeito ao cotidiano daqueles que animam a cidade do Recife. As variáveis eleitas espelham a história do presente e do futuro, revelando aproximações entre as representações das paisagens instituídas e divulgadas do Recife e as representações contidas nas falas e depoimentos de alguns usuários de seus espaços. As inquietações da autora são marcas indeléveis que saltam nas páginas deste livro realizando um arco interdisciplinar no sentido acadêmico, mas também no sentido da vivência. De um lado essas inquietações remontam as vivências cotidianas de lembranças primordiais de vida familiar percorrendo a cidade, mas também as interpelações da vida profissional na passagem como técnica em Órgãos de Planejamento Urbano Ambiental na cidade do Recife e, continuando como intelectual, no ideário Gramsciano que inspira as conexões entre intelectuais e o povo-nação. Evidencia-se, assim, a novidade do trabalho, no movimento que incorpora e o inspira, como uma importante contribuição da autora, que se tornará cada vez mais necessária para nos ajudar a recolocar na ordem do dia a agenda do meio físico e do meio ambiental nos espaços da vida urbana, numa cidade de referência histórica para a reprodução das culturas. Edvânia o manifesta nas inquietações finais: “Afinal o que é natureza? Esta pergunta aparentemente tão simples de responder não encontra eco plausível na história da confecção de Paisagens de nossas cidades. Os pilares sobre os quais foram edificados os espaços urbanos não contemplam entendimentos nítidos acerca da existência da natureza possível. No “mundo da engenharia e da técnica” ideologicamente os elementos físico-naturais são convertidos em acessórios subliminares até o surgimento de protótipos que os substituam”. A obra finaliza como se estivesse iniciando pela carga de provocações que evoca e pelas inquietações que ultrapassam a leitura e fazem vagar o pensamento. Nesse sentido, cabe concluir essa resenha retomando mais um importante atributo desse trabalho que é a forma como ele se encontra estruturado em seqüência ascendente partindo da teoria, história e a parte empírica. Dividido em blocos que podem ser lidos de forma solta, enfim degustados, o livro é uma referência sem dúvidas para aqueles que querem aprender a paisagem e apreender as paisagens e a história da cidade do Recife enquanto registro e nova metodologia.
Aura González Serna – Doutora em Serviço Social pela UFPE, (2005). Docente Pesquisadora, na direção do Grupo Território na “Universidad Pontificia Bolivarianam-UPB”. Campus de Laureles. Medellín, Colômbia. E-mail: aura.gonzalez@upb.edu.co
GOMES, Edvânia Torres Aguiar. Recortes de Paisagens na Cidade do Recife. Uma Abordagem Geográfica. Recife: Massangana, 2007. Resenha de: SERNA, Aura González. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.26, n.2, p.375-378, jul./dez. 2008. Acessar publicação original [DR]
ELLIOTT John H. (Aut), Impérios del mundo atlántico: España y Gran Bretaña en América (1492-1830) (T), Taurus (E), SOUZA George F. Cabral de (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Império Inglês, Império Espanhol, América, Séc. 16-19
Ao longo de muitas décadas de minuciosa pesquisa, John Elliott, autor de El Conde-Duque de Olivares e La España Imperial, entre outras importantes obras, se destacou como um dos mais renomados especialistas na história da Espanha. Mais recentemente seu interesse deslocou-se também para os cenários coloniais da monarquia hispânica. O leitor brasileiro em geral conhece de John Elliot apenas os excelentes textos presentes na monumental História da América Latina da Universidade de Cambridge, organizada por Leslie Bethell e publicada no Brasil no final da década de 90. No seu último livro, Imperios del Mundo Atlántico, que como o restante da obra de Elliott ainda não teve tradução brasileira, realiza uma abordagem comparativa da história do continente americano.
O método comparativo em história não é prática inédita no Brasil, mas devido a sua alta complexidade, infelizmente não logrou reunir muitos adeptos. O exemplo mais conhecido é o da obra clássica de Sérgio Buarque de Hollanda (Raízes do Brasil), na qual ele ensaiou algumas comparações entre os diferentes colonizadores do continente americano, concretamente entre portugueses, espanhóis e holandeses, atribuindo de forma um tanto intuitiva, características de fundo psicológico a cada um deles. Em 1939, Herbert Bolton lançava a questão: as Américas têm um história comum? A pergunta, proposta a modo de desafio, provocou reações, embora as dificuldades subjacentes a este tipo de análise tenham desanimado os historiadores. Realizar estudos comparativos expõe o historiador ao duro dilema de ter que escolher entre trabalhar dados secundários para ampliar o universo de análise ou reduzi-lo a patamares bastante limitados, se deseja trabalhar com fontes primárias. Uma obra clássica na qual se utilizou o método comparativo surgiu nos anos 70, quando James Lang advogava em Conquest and Commerce que a principal diferença entre os dois impérios seria o perfil de conquista do colonizador espanhol, ao passo que o inglês se inclinaria, sobretudo, pela tentativa de estabelecer redes comerciais em suas novas possessões.
Em Impérios del Mundo Atlántico, Elliot empreende a difícil tarefa de estabelecer comparações entre os impérios espanhol e inglês na América. O hispanista inglês consegue em seu trabalho (fruto de anos de experiência como pesquisador e professor em várias universidades européias), equacionar bem o problema da abordagem comparativa, embora tenha que esquivar o desafio de incluir também o Império Português. Este aparece apenas em algumas passagens específicas, quando a menção às suas características ajuda a esclarecer aspectos concretos, como por exemplo, o da utilização da mão-de-obra escrava africana. O autor reconhece que incluir a América portuguesa no espectro de análise agigantaria a tarefa de forma a torná-la por demais ampla para os limites de um volume. Não obstante, a opção por centrar-se nas áreas de colonização espanhola e britânica não desmerece a obra. O livro foi estruturado em três partes (La ocupación, La consolidación e La emancipación) formadas por quatro capítulos cada. Ao longo de suas mais de 800 páginas, o autor trabalha com uma ampla gama de eixos temáticos. Sua abordagem se interessa pelos aspectos relacionados com a adaptação do colonizador aos recursos alimentícios disponíveis no novo mundo, a postura do europeu frente aos nativos, os posicionamentos frente à mestiçagem em suas várias facetas, as variantes na organização da produção e da utilização da mão-de-obra, as práticas político-administrativas e os processos de desagregação dos vínculos coloniais. Elliott, graças aos seus amplos conhecimentos de história moderna, transcende os aspectos propriamente locais na sua abordagem, conectando as manifestações da experiência colonial no novo mundo com as estruturas mentais e as práticas políticas e culturais de origem dos colonizadores. Na opinião do autor, são as experiências européias destes colonizadores que fizeram com que os espanhóis recorressem freqüentemente à figura do mouro para caracterizar os indígenas (sobretudo os das áreas de maior desenvolvimento civilizacional) ao passo que ingleses os relacionassem com os irlandeses. É através deste olhar mais amplo, que o autor pode, por exemplo, tecer esclarecedores comentários acerca das formas como colonizadores britânicos e espanhóis entendiam a questão da cristianização dos nativos. No caso britânico, o esforço missionário, tão característico da colonização espanhola no Novo Mundo, se viu embaraçado seja pela falta de uma política estatal de catequese pungente, seja pela concepção da predestinação que regia a cultura religiosa de muitos dos colonos puritanos. Entre os colonizadores espanhóis, Elliott detecta o envolvimento direto da coroa no mister de cristianizar os nativos. A instituição do padroado régio, se por um lado dava ao monarca espanhol amplos poderes em matéria eclesiástica no Novo Mundo, por outro o obrigava a empenhar-se na salvação das almas dos indígenas, sob pena de ter sua consciência maculada. Também nesse caso o cenário europeu interfere diretamente nas realidades construídas no além-mar: os missionários católicos chegados ao continente depois das reformas tridentinas entendiam o objeto de sua atuação de forma bastante diferente dos primeiros missionários da “fase heróica” da catequese. Em relação aos aspectos políticos, Elliott esquadrinha inteligentemente de que formas os conflitos políticos seiscentistas da Inglaterra influenciaram a cultura política dos colonos britânicos, traçando um interessante paralelo entre estes e os colonos espanhóis durante o processo de desagregação dos respectivos vínculos coloniais.
A mais recente obra de Elliott disponibiliza ainda uma longa lista de bibliografia que inclui contribuições monográficas sobre a história da América colonial publicadas após o ano 2000. O primoroso estilo do autor e a excelente tradução (monitorada pelo próprio Elliott, profundo conhecedor do idioma castelhano) garantem uma leitura agradável, ao passo que um bem elaborado índice analítico facilita as consultas mais pontuais. A tradução ao português desta e de outras obras suas representaria inegavelmente um poderoso estímulo aos estudiosos do período colonial da América portuguesa para romper as tradicionais barreiras que atualmente setorizam o estudo das experiências coloniais no Novo Mundo.
George F. Cabral de Souza – Professor no Departamento de História da UFPE. Pesquisador financiado pela FACEPE. Membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.
ELLIOTT, John H. Impérios del mundo atlántico: España y Gran Bretaña en América (1492-1830). Madrid: Taurus, 2006. Resenha de: SOUZA, George F. Cabral de. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.26, n.2, p. 379-382, jul./dez. 2008. Acessar publicação original [DR]
MARZAL Manuel (Ed), BACIGALUPO Luis (Ed), Los jesuitas y la modernidad en Iberoamérica (1549-1773) (T), Fondo Editorial de la Pontificia Universidad Católica del Perú (E), Universidad del Pacífico (E), Instituto Francés de Estudios Andinos (IFEA) (E),DIAS Camila Loureiro (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Jesuítas, Modernidade, América Ibérica, América Latina, América -, Sec. 16-18
Desde a renovação historiográfica de que a Companhia de Jesus foi objeto − agora há mais de vinte anos −, sua história esteve especialmente relacionada à questão da modernidade. Isso porque o movimento que consistiu no désenclavement1 da história da Ordem (até então controlada quase exclusivamente por seus membros e limitada a um enquadramento nacional de cunho apologético) resultou em sua apropriação por historiadores leigos, na qualidade de um “observatório” do período moderno. O que se procura, desde então, não é mensurar a contribuição dos jesuítas, mas antes questionar a modernidade por meio da história da Companhia de Jesus. Instituição essa que, de fato, se apresenta como campo privilegiado de observação, por uma dupla razão: seu apostolado universalista, e a sua organização institucional responsável pela formação de um corpus documental contínuo, capaz de trazer elementos de resposta a muitas das questões sobre o período moderno2.
Esse renovamento atendeu em parte ao anseio de abordar a história moderna da Europa a partir de um espaço supranacional, correspondendo à identidade e forma de operação da Ordem inaciana3. Contudo, se teve ares programáticos primordialmente na França e Itália, rapidamente o debate adquiriu uma dimensão internacional e, dos vários campos em que se desenvolveu, sem dúvida o da história da ciência e educação e o das missões e evangelização confirmaram-se os mais dinâmicos4.
Assim, a pergunta que de imediato se coloca a respeito de uma publicação que leva o nome de “Los jesuitas y la modernidad en iberoamérica” é a de saber qual a sua relação com esse contexto de renovação historiográfica. O livro foi publicado em 2007, e traz a lume as atas de um colóquio internacional de mesmo nome realizado no Peru, em 2003. A proposta dos organizadores − um dos quais ele próprio jesuíta5 − aos participantes do encontro era a de avaliar a contribuição da Companhia de Jesus para o desenvolvimento da modernidade na América. Em outras palavras, solicitou-se aos colaboradores a tarefa de delinear algumas características da modernidade na tradição cultural americana, a partir dos diferentes âmbitos em que atuaram os jesuítas, partindo da hipótese inicial segundo a qual a produção intelectual e a atividade educacional e missionária de “alguns padres” da Companhia de Jesus teriam representado o “primeiro e decisivo resplendor da cultura moderna no mundo católico”6. Colocada nesses termos, a questão de fato não parece atender ao novo delineamento metodológico acima referido. Porém, como se explicita na própria introdução, ela foi superada pelas contribuições que, em muitos casos, fizeram realmente valer os ganhos da, ainda recente, renovação. Optou-se então por uma organização da publicação em função das questões levantadas no encontro, e é justamente esse o aspecto mais interessante do livro a se observar.
A obra tem dois volumes: o primeiro, um impresso de portentosas dimensões (pouco mais de quinhentas páginas), conta com uma introdução e vinte e dois artigos. O segundo, em suporte eletrônico (mini-cd) que acompanha o volume impresso, conta com dezessete artigos, além de um apêndice onde foram publicados dois documentos de interesse para os estudiosos da Companhia de Jesus na América Latina: uma apresentação do projeto de reconstituição do acervo histórico da Universidade Javeriana de Bogotá e uma extensa bibliografia sobre os jesuítas na história do Peru. Em ambos os tomos, os artigos foram distribuídos em três seções. A primeira pretende ser uma relação dos textos que tratam dos aspectos teológicos e filosóficos da contribuição jesuíta à construção da modernidade (Los jesuitas y la razón moderna). A segunda reúne os artigos que tratam, em seus múltiplos âmbitos de atuação − ciências naturais e humanas, educação, missão, tecnologia, economia, arte, arquitetura etc. −, a inserção “multifacetada” dos jesuítas no contexto histórico e cultural das colônias americanas (Los jesuitas y la patria criolla). Por fim, a terceira seção agrupa artigos que abordam temas relacionados à expulsão dos jesuítas das colônias americanas, englobando aspectos econômicos, políticos e culturais (Los jesuitas y la crisis de la expulsión).
É compreensível que numa obra que traz a contribuição de quase quarenta autores, de várias áreas e relações diversas com a instituição objeto do debate, as visões sobre a mesma questão sejam defasadas, e revelem a presença tanto de autores que se vêem diretamente engajados nessa renovação historiográfica quanto de outros que lhe são visivelmente alheios. Com efeito, é difícil encontrar nesse livro um eixo que dê realmente conta de todas as contribuições. Mas o fato é que, independentemente da qualidade desigual dos artigos, essa publicação permite-nos esboçar algumas tendências na maneira como a história da Companhia de Jesus vem sendo emprestada pelos pesquisadores interessados na modernidade, especificamente ibero-americana.
Modernidade é, pois, o conceito-chave deste livro. A partir daí, dois problemas de definição se apresentam: um relativo à sua cronologia, e outro, ao delineamento dos seus principais traços característicos. Cada autor opera com uma concepção distinta da modernidade, ora associando-a ao Renascimento, ora à Ilustração, e às vezes ao século XVII. Alguns não consideram o problema, outros o colocam claramente, explicitando seu posicionamento, outros, ainda, o tomam como principal objeto de reflexão. Porém, para Luis Bacigalupo, autor da introdução, o termo moderno abarca menos o sentido do período que se inicia no fim da Idade Média e termina com a Revolução Francesa do que aquilo que representa o pensamento questionador do consuetudinário, sendo que a modernidade se caracteriza, então, como uma era da “cultura em crise” (p. 24). Ainda segundo o organizador, um dos seus principais traços característicos é o fato de ser expansiva, isto é, de tender a aplicar os êxitos da razão a todos os campos do conhecimento e das atividades humanas; a ciência e a educação revelando-se, pois, âmbitos importantes de sua definição e veiculação. Assim, o eixo escolhido no livro para caracterizá-la é o da tensa relação entre princípios de ações divergentes: se por um lado, a razão moderna impele o homem a se emancipar das irracionalidades que o “escravizavam”, por outro, estimula o Estado a ações que visam o seu fortalecimento, pela expansão comercial, industrial e burocrática, gerando forças paradoxais entre a liberdade do indivíduo e a soberania do Estado.
Nessa encruzilhada, a Companhia de Jesus que, justamente por conta do seu apostolado universal, sempre ocupou um lugar central, do ponto de vista social, político e cultural, no processo de expansão do velho mundo e de formação das novas sociedades americanas7, desempenhou um papel importante, tanto na sistematização de estruturas do colonialismo quanto na formação dos quadros que posteriormente foram responsáveis pela emancipação das colônias. Entendida nesses termos, a atuação da Companhia de Jesus na América revela uma contradição crucial para a modernidade americana, na sua relação com a Europa, e parece ser esse paradoxismo do sistema colonial o eixo em torno do qual se reúnem as questões colocadas pelas diversas, e heterogêneas, contribuições.
Em uma apreciação alheia à distribuição dos artigos nas seções definidas pelos organizadores, é possível notar a presença marcante de duas classes de contribuições: artigos que aproximam o tema da modernidade ao da formação das sociedades coloniais, e outros que determinam ênfase na construção da “pátria criolla”. Quanto a esta última, duas questões são nomeadamente abordadas: a responsabilidade dos jesuítas na educação da elite nativa e seu papel na construção de uma identidade nacional.
Assim, o debate teológico-jurídico, que por uma reavaliação do aristotelismo, procurou justificar moralmente a escravidão, é explorado nos artigos de Josep Ignasi Saranyana e de Francisco Moreno Rejón. No que concerne à formulação de um modelo e aos aspectos relacionados à empresa missionária propriamente dita há que se conferir, por exemplo, as contribuições de Jeffrey Klaiber, S.J., Javier Baptista, S.J., Ignacio del Río e Norberto Levinton. Já o texto de Antonella Romano − que se destaca por chamar a atenção para a missão como espaço de produção de ciência, por conta da mobilização de técnicas e saberes que visavam ao domínio territorial − submete a relação entre centro e periferia a uma perspectiva mais ampla, mostrando que a América não somente importou e mestiçou, mas também foi protagonista na construção da cultura moderna. Nesse mesmo sentido vai o argumento de Carmen Salazar-Soler, em seu artigo sobre o desenvolvimento de técnicas mineradoras no Peru nos séculos XVI e XVII.
O tema das atividades educativas dos colégios administrados pelos jesuítas é especialmente mobilizado pelos autores desse livro, e responde a interrogações de enquadramento nacional, desde a abordagem da educação dos caciques, por Monique Alaperrine-Bouyer, até a organização e consolidação de uma estrutura de ensino e formação dos espanhóis e filhos de espanhóis. Nesse sentido, para Maria Cristina Torales Pacheco, os jesuítas teriam assentado na Nova Espanha as bases de uma “esfera pública burguesa”8, na qual se teria formado a geração que posteriormente foi responsável pela emancipação política “e construção do México como país independente” (p. 158).
Porém, adverte Pacheco, não foi apenas na formação de uma classe social que a Companhia de Jesus desempenhou um papel importante: os jesuítas também se implicaram diretamente na construção da identidade nacional. É o que procuram revelar, por exemplo, os estudos sobre os conflitos no seio da própria Ordem, entre os jesuítas nativos e aqueles oriundos da Europa. Bernard Lavallé demonstra que, embora tenha tentado, a cúria generalícia romana não conseguiu coibir a entrada, na instituição, de membros americanos, que acabaram se impondo: pouco tempo depois da chegada dos jesuítas, conclui o autor, os criollos instruídos em seus colégios chegaram a dominar os postos do clero secular em suas respectivas dioceses, gerando conflitos. Pedro Guibovich Pérez identifica no Poema hispano-latino, do jesuíta peruano Rodrigo de Valdés (1619-1682), uma exaltação nacionalista: evidenciando as disputas entre nativos e estrangeiros dentro da própria Companhia, segundo o autor, Valdés mostrava erudição como estratégia de defesa da capacidade intelectual dos criollos, e fazia uso do gênero corográfico como instrumento de exaltação da “pátria chica”.
Também Clavijero (1731-1787) é apresentado, por Beatriz Domingues, como um dos construtores do “patriotismo” mexicano. Como ele, outros jesuítas exilados na Itália, após as expulsões de 1767, contribuíram à construção de uma identidade nacional ao contradizer as teorias de Buffon e De Pauw sobre a degenerescência da natureza americana. Este mesmo assunto passa por vários outros artigos, um dos quais trata especificamente do jesuíta Juan de Velasco, com relação à história equatoriana (Carmen-José Alejos Grau). Quanto a isso, é de se notar as referências obrigatórias aos estudos de Antonello Gerbi e Miguel Batlori9.
A questão dos nacionalismos levantada pela análise da “literatura de exílio” aproxima-nos então de outro importante tema tratado em artigos que também lhe fazem referência, e que acabou originando uma seção à parte: os contextos das expulsões (José del Rey Fajardo, S.J., Francisco de Borja Medina, S.J., Manuel Marzal, S.J., Sandra Negro). Porém, não só essa literatura do exílio, como igualmente aspectos econômicos da expulsão (Guillermo Bravo Acevedo e Kendall W. Brown), relativos aos conflitos no Paraguai (Martín Maria Morales, S.J. e Barbara Ganso) e à definição das fronteiras amazônicas (Fernando Rosas Moscoso) são assuntos levantados, deixando patente a predominância da questão nacional no tratamento da história da Companhia de Jesus na América.
Ora, a correspondência dos marcos cronológicos da história do período moderno e da colonização da América com os da história dos jesuítas (1540-1773) não é fruto de mera coincidência. Se a história da Companhia de Jesus nos momentos de sua fundação e consolidação institucional possibilita questionar o período moderno por um enquadramento supranacional, entretanto, no contexto da sua supressão, a história da Ordem proporciona fecundo campo de análise da questão nacional. E, se o debate franco-italiano privilegiou os séculos XVI e XVII − de construção da identidade jesuíta e definição do apostolado universalista e missionário −, abrindo espaço para a análise da atuação dos padres no âmbito das ciências e das missões, nos meios acadêmicos hispano-americanos (onde aliás a presença de jesuítas historiadores se faz notar de maneira mais evidente), os temas permanecem associados sobretudo ao século XVIII, contexto em que se encadeou uma série de fenômenos que desembocaram na expulsão dos jesuítas dos domínios imperiais europeus e, por fim, na supressão da Ordem. Sob o aspecto historiográfico, então, o livro “Los jesuitas y la modernidad en iberoamérica”, parece confirmar uma tendência própria ao debate hispânico, em que as circunstâncias, causas e conseqüências das expulsões constituem objetos privilegiados de estudo10.
Não é de pouco interesse notar, quanto a isso, um desequilíbrio na publicação que, se reúne na sua maior parte textos referentes à história do México e Peru, conta apenas com a colaboração de Rafael Chambouleyron no que diz respeito aos jesuítas na América portuguesa (embora a baliza cronológica da publicação se inicie em 1549, ano da fundação, no Brasil, da primeira missão jesuíta americana). Se incorporasse a vertente brasileira desse debate, o livro talvez apresentasse um outro tom − contudo ainda em vias de se delinear11.
Notas
1 Termo que, em francês, significa desenclausuração; foi cunhado por Luce Giard, curadora de um volume considerado marco desse novo significado conferido aos estudos jesuítas. Les jésuites à la Renaissance. Système éducatif et production du savoir, dir. Luce GIARD, Paris: Presses universitaires de France, 1995.
2 ROMANO, Antonella & FABRE Pierre-Antoine, Présentation, in Revue de Synthèse. Les jésuites dans le monde moderne. Nouvelles approches. T. 20, n. 2-3, avril-septembre 1999, pp. 247-260.
3 CANTÚ, Francesca. I gesuiti tra vecchio e nuovo mondo. Note sulla recente storiografia, in Carlo OSSOLA, Marcello VERGA & Maria Antonietta VISCEGLIA (eds.), Religione cultura e política nell’Europa dell’età moderna. Studi offerti a Mario Rosa dagli amici, Firenze: Leo S. Olschki, 2003, pp.173-187.
4 FABRE, Pierre-Antoine. L’histoire des jésuites hors les murs. L’état de la recherche em France. Annali di storia dell’esegesi. Anatomia di un corpo religioso: l’identità dei gesuiti in età moderna, 19/2, 2002, pp. 357-367. Citamos apenas algumas das publicações coletivas mais recentes sobre missão, ensino e ciência: CAROLINO, Luis Miguel & CAMENIETZKI, Carlos Ziller (coord.), Jesuítas, Ensino e Ciência. Séculos XVI-XVIII, Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2007. CHINCHILLA, Perla & ROMANO, Antonella (coord.), Escrituras de la modernidad. Los jesuitas entre cultura retórica y cultura científica, Cidade do México: Universidad Iberoamericana, 2008; FABRE, Pierre-Antoine & VINCENT, Bernard (comp.), Missions religieuses modernes. “Notre lieu est le monde”, Roma: École française de Rome, 2007. Não se pode deixar de mencionar a contribuição dos Estados Unidos a esse renovamento historiográfico, da qual podemos citar, ainda restringindo-nos a publicações coletivas, O’MALLEY, J., BAUILEY, G.A., HARRIS, S.J. & KENNEDY, T.F. (eds.), The Jesuits: Cultures, Sciences and the Arts, 1540-1773, Toronto/Buffalo/London: University of Toronto Press, 1999 e, dos mesmos organizadores, The Jesuits II: Cultures, Sciences and the Arts, 1540-1773, Toronto/Buffalo/London: University of Toronto Press, 2006. Também na relação entre poder e religião, a Companhia de Jesus inspirou sólidas pesquisas, como se pode conferir em MOLINIÉ, Annie, MERLE, Alexandra & GUILLAUMEALONSO, Aracelo (dir.), Les jésuites en Espagne et en Amérique. Jeux et enjeux du pouvoir (XVIe-XVIIIe siècles), Paris: PUPS, 2007.
5 Esse colóquio foi organizado pela Universidade Católica do Peru, por Luis Bacigalupo e Manuel Marzal Fuentes, S.J. († 2005).
6 “La hipótesis general que motivó la convocatoria a este coloquio es que la producción intelectual y la obra educativa y misionera de algunos padres da Compañía de Jesús habrían sido el primer y decisivo resplandor de la cultura moderna en el mundo católico. Para explorar esa hipótesis, la comisión organizadora del coloquio invitó a académicos de prestigio, quienes aceptaron delinear algunas características de la modernidad en la tradición cultural iberoamericana, partiendo de los diferentes ámbitos en que actuaron los jesuitas entre 1549 y1773”, BACIGALUPO, Luis E. Introducción, in Los jesuitas y la modernidad en Iberoamérica. 1549 y 1773, p.15.
7 ROMANO, Antonella & FABRE Pierre-Antoine, “Présentation”, in Revue de Synthèse. Les jésuites dans le monde moderne. Nouvelles approches. T. 20, n. 2-3, avril-septembre 1999, p. 255.
8 No seu artigo intitulado “Los jesuítas novohispanos, la modernidad y el espacio público ilustrado”, a autora se diz tributária dos estudos de Roger Chartier e Jürgen Habermas.
9 BATLORI, Miguel. La cultura hispano-italiana de los jesuítas expulsos, Madrid: Biblioteca Românica Hispánica 1966. GERBI, Antonello. La disputa del Nuovo Mondo. Storia de una polemica. 1750-1900, Milano-Napoli, Ricciardi, 1955.
10 De fato, os organizadores do livro Les jésuites en Espagne et en Amérique (cf. supra n. 4) notam que temas relacionados ao destino dos jesuítas no século XVIII ou as missões do Paraguai constituem uma parte importante dos estudos referentes à influência da Companhia de Jesus no mundo ibero-americano. Alguns trabalhos recentemente têm procurado outros caminhos: além do livro em questão, ver, por exemplo, Julian J. LOZANO NAVARRO. La Compañía de Jesús y el poder en la España de los Austrias, Madrid: Cátedra, 2005.
11 Embora pesquisadores brasileiros se dediquem aos estudos jesuítas há vários anos, os empreendimentos coletivos são bastante recentes. Em 2007, também foram publicadas no Brasil as atas de um colóquio referente à Companhia de Jesus, por iniciativa dos próprios jesuítas: BINGEMER, M. C. L., MAC DOWEL, J. A. & NEUTZLING, I. (orgs.), A Globalização e os Jesuítas: origens, história e impactos. Anais do Seminário Internacional realizado entre 25 e 29 de setembro de 2006 na PUC-RJ, Unisinos-RS e na Faculdade Jesuítica de Filosofia e Teologia (FAGE), de Belo Horizonte, São Paulo: Loyola, 2007. Apesar de o próprio título da publicação expressar uma diferença importante com relação ao debate hispano-americano, não é suficiente para definir o tom das discussões brasileiras. Acompanhado deste presente volume e da edição, que deve sair em breve, das atas do colóquio internacional realizado em 2007 na Universidade de São Paulo, “Contextos missionários: religião e poder no Império português”, seus contornos se tornarão mais claros. Este último colóquio, embora não estivesse centrado especificamente nos jesuítas, contou com a colaboração de alguns importantes especialistas em história da Companhia de Jesus. De todo modo, importa aqui salientar o recorte imperial atribuído ao objeto, como indicado no próprio título do encontro.
Camila Loureiro Dias – Doutoranda EHESS, Paris.
MARZAL, Manuel; BACIGALUPO, Luis (Eds.) Los jesuitas y la modernidad en Iberoamérica (1549-1773). Lima: Fondo Editorial de la Pontificia Universidad Católica del Perú; Universidad del Pacífico; Instituto Francés de Estudios Andinos (IFEA), 2007. Resenha de: DIAS, Camila Loureiro. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.27, n.1, p. 417-425, jan./jun. 2009. Acessar publicação original [DR]
RICUPERO Rodrigo (Aut), A formação da elite colonial. Brasil (c. 1530 – c. 1630) (T), Alameda (E), SOUZA George Félix Cabral de (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Elite Colonial, Séc. 16-17, América – Brasil
Os momentos iniciais da efetiva conquista e ocupação dos territórios americanos do império português são de fundamental importância para todo o posterior desenvolvimento histórico do Brasil. Durante estes anos se desenharam os traços básicos da distribuição espacial da América portuguesa, traços que repercutem até hoje nas dinâmicas do país. Vem dessa época também algumas das principais feições sociais do país, bem como uma parcela importante do caldo sociológico que compõe suas culturas políticas. Apesar de sua importância, poucos são os historiadores que ousam mergulhar nestas águas profundas, nesta fase ao mesmo tempo tão longínqua e tão presente de nossa história. As razões para isso em geral giram em torno do problema das fontes. Essa é uma questão que se repete para outros objetos do período colonial, o que faz desta fase a menos conhecida de nossa história, pese seu caráter fundante.
A obra em tela enfrenta estas limitações e ousa incursionar no primeiro século de colonização. Sua baliza cronológica inicial é 1530, momento em que a política da coroa em relação às terras que lhe cabiam pelo Tratado de Tordesilhas “dá um salto de qualidade, com a iniciativa do povoamento das terras da costa do Brasil”. O fechamento do período do estudo é a invasão de Pernambuco pela West Indische Compagnie, em 1630, fase em que a conjuntura externa foi sacudida pela entrada em cena de novas potências e pela crise geral do século XVII. Do ponto de vista geográfico, o estudo abrange toda a área costeira da colônia, salientando o autor, que a repartição do estado do Maranhão somente se efetivou a partir de 1626.
As fontes foram magistralmente reunidas por Ricupero, que revisitou um vasto material transcrito e publicado em vários veículos como os Anais e a Coleção de Documentos da Biblioteca Nacional, as revistas de vários Institutos Históricos, inúmeras crônicas, relatórios, descrições, sumários, memórias e compêndios publicados no Brasil e em Portugal. As fontes manuscritas consultadas também foram variadas e numerosas. Ricupero utilizou-se de cartas régias, consultas, processos de disputa de terras, registros de chancelaria régia e das ordens militares, processos inquisitoriais e códices diversos depositados em Lisboa, no Porto e em Évora. No Brasil, consultou fundos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. A relação das fontes e bibliografia ocupa sessenta e sete páginas e se constitui por si só num importante guia de pesquisa.
O trabalho se divide em três partes: “Honras e mercês”, “Conquista e Governo” e “Terra, Trabalho e Poder”. Ao longo destas três seções estão distribuídos nove capítulos. Os primeiros dois capítulos, inseridos na seção “Honras e Mercês” discutem como, a partir da concepção de que a principal tarefa da realeza é a distribuição da justiça, as práticas de recompensas por serviços prestados desempenharam um papel importante na atração de colonizadores e no pagamento de suas ações em prol da consolidação dos primeiros núcleos de colonização. O autor elenca um farto rol de exemplos de como a pressa em recompensar e a vagareza em castigar eram elementos indispensáveis no trato com os primeiros colonizadores.
Três capítulos formam a segunda parte do trabalho. Nela o autor esquadrinha as ações iniciais de ocupação efetiva do território, afrontando a presença cada vez mais intensa de outros europeus, sobretudo franceses. Os aspectos legais, militares, econômicos e administrativos são abordados. Destaca-se a necessidade de mais estudos sobre a administração colonial e dos ocupantes dos cargos nesse período. A montagem do Estado colonial nesta fase é analisada sob o prisma da legislação da época e dos provimentos passados aos designados para os cargos da governança. Não se descuida, entretanto, do papel que as redes familiares e clientelares tiveram na formação de uma elite de poder, na qual as principais figuras incrementavam seu raio de influência exatamente pelo controle das indicações e nomeações para os postos de mando.
A terceira e última parte, “Terra, trabalho e poder”, referência direta ao texto da Profa. Vera Lúcia Amaral Ferlini, orientadora do trabalho, é a mais extensa do livro, contendo quatro capítulos. Nesta seção o autor analisa como a ocupação dos cargos de governo permitia um acesso direto aos mecanismos de distribuição de terras e, conseqüentemente, na formação de dilatados patrimônios. Em paralelo, especialmente nos primeiros anos do período em estudo, o acesso privilegiado a outros bens explorados na imensa costa atlântica do continente representava uma considerável possibilidade de ganhos para aqueles que ocupavam posições cimeiras na administração local ou para seus apaniguados. Freqüentemente, esses ganhos e vantagens eram conseguidos ao arrepio da lei. Seja pelo trato ilícito, seja pelo açambarcamento de determinadas atividades, vários são os exemplos de como as autoridades se valiam dos poderes que lhe foram investidos para sacar proveito próprio de recursos que deveriam ser exclusivos do monarca ou que poderiam beneficiar um maior número de colonizadores.
Entra nesta questão, além da terra, o indispensável aporte de mão-de-obra. Neste campo, o autor demonstra como os dilatados poderes concedidos aos representantes do poder real na colônia acabaram permitindo que os mesmos consolidassem suas redes clientelares através do controle da divisão do contingente humano indígena entre as propriedades de parentes ou achegados. Coloca-se em relevo a atuação dos jesuítas na arregimentação de indígenas, bem como as reações dos colonizadores as interferências inacianas e à legislação regulamentadora emanada de Lisboa e Madri.
Os dois últimos capítulos, “O patrimônio fundiário I e II” oferecem abundante informação sobre o processo de ocupação das terras pelas unidades produtivas nas capitanias, iniciando-se pela Bahia, seguida pelas capitanias do centro-sul, Pernambuco e Itamaracá, Paraíba e Sergipe e finalmente a costa leste-oeste. Nestes capítulos figuram cinco interessantes tabelas que reúnem e sistematizam dados sobre os senhores de engenho do Recôncavo Baiano e de Pernambuco e Itamaracá, apontando informações sobre sua participação na governança colonial e seu estatuto social.
Ao longo de todo o texto, Ricupero dá ao poder central um papel de relevo e de controle sobre o processo de ocupação da nova colônia. Esta inclinação deriva diretamente da opção que faz pela idéia de que a colonização se realiza dentro dos quadros do Antigo Sistema Colonial. Daí também o seu empenho em tentar afirmar a existência de um senso de unidade territorial e centralidade administrativa e a sua crítica à idéia de “América Portuguesa”, alegando sua ausência na documentação consultada. O autor faz questão, entretanto, de expressar sua negação à vinculação automática retroativa ao Estado que se formaria a posteriori.
Apesar deste posicionamento, no decorrer do seu trabalho, o autor menciona dezenas de exemplos de como as brechas da autoridade régia permitiam que os componentes das primeiras gerações da “elite brasileira” lograssem, em direto afrontamento às normais emanadas do centro, sacar vantagens para interesses próprios. Pese as afirmações do autor no sentido de dar um papel de relevo à coroa – como cabeça e impulsionadora do aparelho de dominação sobre a colônia através de seus representantes, máxime o Governador-geral – a impressão que fica do livro é de que ao contrário de defender os interesses da coroa, os seus oficiais instrumentalizam os poderes que lhe eram delegados para beneficiar a si próprios e a suas redes clientelares. O desvirtuamento das normativas sobre os indígenas é um bom exemplo disso.
Os mecanismos de formação das elites no eixo centro-sul, descritos por Fragoso e outros autores em trabalhos recentes, emergem claramente dos casos estudados por Ricupero, apesar de algumas discordâncias do autor em relação à interpretação da formas e intenções das concessões de mercês régias. Na própria referência ao que entende por elite (nota 43, página 22), o autor se remete às discussões propostas por Bicalho. Por isso soa “estranha” a defesa feita pelo autor, diretamente em duas ocasiões (na introdução e nas considerações finais) e indiretamente em algumas passagens ao longo do texto, da concepção do Antigo Sistema Colonial como chave interpretativa para a formação de uma elite brasileira.
A abordagem do autor sobre as esparsas fontes do período inicial da colonização lança indagações atuais sobre um material que se revela extremamente rico em informações históricas. O laborioso trabalho de pesquisa vem apresentado em um texto claro e de agradável leitura, e se beneficia ainda de um primoroso trabalho de edição. Os capítulos finais seriam ainda mais informativos se acompanhados de mapas para orientação espacial do leitor. Ricupero apresenta assim uma sólida contribuição para a crescente produção científica sobre o período colonial e nos oferece interessantes elementos para o salutar debate historiográfico em torno à suas interpretações. Seu livro integra, indiscutivelmente, o rol de obras obrigatórias para o estudo do nosso período fundacional.
George Félix Cabral de Souza – Universidade Federal de Pernambuco.
RICUPERO, Rodrigo. A formação da elite colonial. Brasil (c. 1530 – c. 1630). São Paulo: Alameda, 2009. Resenha de: SOUZA, George Félix Cabral de. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.27, n.2, p.329-333, jul./dez. 2009. Acessar publicação original [DR]
SERRERA Ramón María (Aut), La América de los Habsburgo (1517-1700) (T), Universidad de Sevilla (E), Fundación Real Maestranza de Caballería de Sevilla (E), SÁNCHEZ Carlos Alberto González (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Dinastia dos Habsburgo, Europa -, América -, Europa – Espanha, Séc. 15-17
Reseñar un libro no en pocas ocasiones puede llegar a ser una labor aburrida y tediosa, sobre todo cuando no es el fruto de una decisión personal sino de una obligación editorial, un compromiso o cualquier otra de las componendas propias de la vida académica. La tarea puede complicarse aun más si la obra no es del gusto del reseñador; o su temática no cuadra con sus aficiones y preocupaciones científicas, ni su calidad alcanza un mínimo de solvencia. Bien saben los implicados en estas lides los sinsabores e ingratitudes que puede plantear la redacción de una crítica negativa, aunque fuere constructiva, sobre trabajos en los que, en el peor de los casos, siquiera se ha vertido tiempo, alguna ilusión y esfuerzo. Por ello soy de la opinión, como Cervantes, de que todo libro merece respeto, pues algo bueno siempre guardan. No en vano don Miguel leía hasta los papeles tirados en las calles.
No es éste el pleito del que ahora me ocupa, todo un alarde de reposado saber, rigor y sutileza historiográfica. Resultado de muchos y calmos años de investigación y reflexión; de una vida dada al empeño de comprender y hacer saber a los demás acerca del impacto de América en el devenir histórico de la España, y Europa en general, del Antiguo Régimen. Ya decía Erasmo que es el mejor sabio-profesor quien se da con fruición al estudio para a la postre regalar el provecho a sus alumnos y a todo aquel con deseos de aprender. Créanme si les digo que semejante cometido siempre ha sido la meta de don Ramón María Serrera, catedrático de Historia de América de la Universidad de Sevilla. Basta con interrogar al numeroso y premiado alumnado que ha tenido la suerte de disfrutar de su minerva durante su ya dilatada carrera profesional. A ellos va dedicado el libro al que ahora doy la bienvenida y enhorabuena; ¿quieren mejor refrendo de lo dicho, mayor prueba de generosidad docente y personal? Alguno, resuelto en desconfianza y recelos, podría atribuir mi juicio, por interesado y subjetivo, a la admiración y amistad que, desde hace largo tiempo, profeso al autor. Cierto es, pero les aseguro que ambos estados anímicos son una agradecida consecuencia de lo mucho y bueno que me ha enseñado de viva voz o en letra impresa; no solo de historia, también de arte y música, de ética y honradez, humana e intelectual. De la cultura en definitiva. Decían los clásicos que el cariño, el trato, la conversación y los hechos conservan las amistades.
Pues bien, el libro en cierne, La América de los Habsburgo (1517-1700) –título acertado por lo inusual de Habsburgo en otros de cariz similar-, está concebido como un manual universitario, un útil de consulta para el estudio de una de las asignaturas que el Profesor Serrera viene impartiendo desde tiempo atrás (América en la Edad Moderna). De ahí que para la dilatada elaboración del texto se haya servido de las fuentes documentales, manuscritas e impresas, antiguas y modernas, actualizadas y repensadas, que distinguen su diverso cúmulo de saberes, maná indispensable al adecuado conocimiento de una materia tratada e interpretada con rigurosos criterios científicoacadémicos. Por ello no es uno más de los manuales al uso que suelen exhibir una suma informativa sin apenas introspección del historiador, es decir, la casi simple secuencia de los hechos y personajes, de variopinta naturaleza, correspondientes a la época de referencia, con frecuencia realizada a partir de los manuales precedentes. No olvidemos que estas iniciativas suelen tener su origen en propuestas editoriales, cuyas miras con frecuencia giran en torno a la oportunidad de un determinado producto en el mercado. Así, los autores se ven apremiados por una ajustada programación empresarial, la que, a su vez, delimita de forma precisa la ejecución de la obra en la forma prevista y en un tiempo determinado.
La de don Ramón, en cambio, fue una decisión personal, tomada, hace 20 años, sin otro ánimo crematístico que poner a prueba sus conocimientos y capacidad comunicativa –de sobra magistral- en la confección de un texto, a modo de guía de estudio y alta divulgación, capaz de ofertar a propios y extraños un panorama analítico de la América Española en los siglos XVI y XVII, desde una perspectiva total e integradora, o sea, afrontando cada una de las manifestaciones que definen una época y su humanidad (geografía, economía, sociedad, política, cultura y civilización). Porque abomina la actual especialización de la historiografía en temáticas acotadas y exclusivistas fuera de las cuales no se sabe nada: el virus mortal de las humanidades. De ahí la importancia que concede, entre otras muchas variables, al arte, y a la cultura en última instancia; parámetros que le ayudan a definir mejor sus objetos de estudio, exquisitamente plasmados en las cuantiosas imágenes que ilustran las páginas del libro. Una especie de treta afortunada con la que nos quiere delatar la importancia de la imagen como documento histórico, vestigios del pasado en el presente, no mudos sino elocuentes, a la par que los escritos, dotados de una preciosa información esencial para la mejor comprensión de la época en la que surgen y se expresan.
El cometido del libro, por tanto, requirió atención esmerada y trabajo pausado; no menos, audacia, ingenio y, sobre todo, sapiencia acrecentada. A la larga, como se ha demostrado, llegaría la hora de la cuestión editorial. Esta manera de proceder y de buen hacer ha dado a luz una magnífica síntesis interpretativa en la que quedan virtuosamente equilibradas la información factual y la reflexión crítica, la profundidad y la difusión; al mejor estilo de don Antonio Domínguez Ortiz y don Guillermo Céspedes, próvidos historiadores a los que nuestro autor profesa una inteligente consideración. Si a ello le unimos el alarde de exquisitez plasmado en su prosa, sencilla y elegante a la vez, colorista y expresiva sin necesidad de artificios retóricos, las mercedes del libro están servidas por doquier en el texto.
Una de sus mejores cualidades, sin duda, es la pericia historiográfica del autor, arraigada en la mesura y el sentido común, el tiento y la prudencia. Garantes de una aproximación a los procesos históricos tratados al margen de juicios y evaluaciones éticos, una manera de ejercer el oficio que él mismo estima antihistórica y propensa a descontextualizar los fenómenos en estudio, o lo que es igual, a abordarlos fuera de las coordenadas culturales y mentales dentro de las cuales se desarrollan. No por casualidad su relato se distancia de aquella historiografía, en tiempos dominante, presa de una concepción eurocéntrica, y chovinista por defecto, en la que adquiere un exagerado protagonismo el hombre blanco a costa de las civilizaciones autóctonas. La de don Ramón en cambio enfatiza en el desarrollo de una trayectoria histórica resultado de las grandes migraciones atlánticas y del contacto multicultural entre europeos, indígenas y africanos, dentro de un orden colonial -un sistema de dominio- desplegado a través de una red intercontinental de circuitos comerciales, intelectuales, culturales y políticos. Ello tampoco le impide ignorar la diversidad ni las grandes diferencias de estructura y experiencia histórica entre Europa y el Mundo Atlántico, o admitir que la cultura americana no fue una réplica exacta de la europea. Del mismo modo huye de teorías totalizadoras en la interpretación del pasado, consciente del determinismo y relativismo que propician, dejando escaso margen de acción a la irracionalidad y libertad del hombre, factores en nada incompatibles con los estructurales.
La forma de hacer historia del profesor Serrera, obvio es, facilita la reflexión y el debate mediante el despliegue de problemas y líneas de investigación de cara a los posibles interesados en este menester. Más aun cuando aborda cuestiones controvertidas o desfiguradas por tópicos carentes de escrúpulos científicos, sea el caso de los distintos episodios que tienen que ver con la leyenda negra todavía vigente y, lo que es peor, a menudo encorsetados en discursos oficiales a este y el otro lado del Atlántico. Cuita que, a la par, no le predispone hacia una leyenda rosa o dorada, sino hacia otra gris claro, el color que nos ayude a asumir nuestra historia tal como fue, sin complejos de madrastra ni sentimientos de culpa descontextualizados y al albur de quienes los manipulan depositando en ellos fines espurios e interesados.
Este gran libro en todos los órdenes, como fuere, transita por una silva de conocimientos -auxiliada de un encomiable y auxiliar piélago de gráficos y mapas-, entre 1517, año de la llegada al trono de Carlos I, y 1700, fecha del óbito de Carlos II sin herederos y del fin de la dinastía de los Austrias en España. He aquí una cronología que precipita la razón principal del título de una obra cuyo argumento se divide en tres grandes apartados. El primero cubre una etapa crucial de la historia de las Indias españolas (1517-1542), correspondiente al ciclo de la conquista de aquel Nuevo Mundo, en el que se dirimen con maestría cuestiones tan trascendentes como el “choque cultural”, concepto que, dados los efectos desestructuradores de la acción conquistadora, el autor aprecia más coherente que los de “aculturación”, “occidentalización” o “transculturación”. También el proceso de dominación militar y su justificación teológica, la resistencia, activa y pasiva, de la población indígena, para terminar con un precioso capítulo de historia cultural imbuido en las novedades, y su asimilación por los europeos, que empezaron a exhibir unas tierras demasiado lejanas y extrañas: la dietética, la flora, la fauna, el medio ambiente y un sinfín de otras albricias que empezaron a transmitir las plumas de los primeros pobladores españoles. Gentes a la ventura que, conforme a su utillaje mental y referente simbólico, solían ver lo que escriben y no al contrario.
El segundo bloque temático afronta el periodo coincidente con la reorganización del sistema colonial, que nuestro historiador extiende de 1542 a 1598. Casi medio siglo en el que América va dejando de ser el espacio ideal del conquistador, el fraile y el encomendero para convertirse en el ecumene del colono, el funcionario y el cura. Porque es la época del nacimiento de una población multicultural y, como consecuencia inmediata, del impacto de los mestizajes a causa de un continuo tránsito, además de humano, de conocimientos, prácticas e imaginarios, germen del enfrentamiento de modos de vida, tradiciones y sistemas de pensamientos diferentes que la apertura de los nuevos mundos provocó. Son los años de la emergencia de un nuevo orden social, de un método de explotación de los recursos, con los metales preciosos y la Carrera de Indias como ejes, catalizador de una economía-mundo que algunos ven cual principios de la globalización actual; del despliegue del poder real y su centralizadora maquinaria burocrática-institucional. Atrás no queda, en medio de la Contrarreforma, la formación de la Iglesia Indiana, expresión de un catolicismo militante que tendrá en la misión y el control de las conciencias (la Inquisición y la extirpación de idolatrías) una de sus principales señas de identidad, patente de igual manera en un arte y una cultura concebidos como retórica cristiana.
Llegamos así a la última de las partes del libro, dedicada a poner de relieve la consolidación de la personalidad continental de América durante el Seiscientos, un siglo de crisis en Europa que exhala una coyuntura opuesta, o diferente (reajustes, cambios, transformaciones), en unas Indias atlánticas que empiezan a afianzar su autoidentidad. Es por ello que el profesor Serrera nos aperciba aquí, con esmero y agudeza, de los riesgos que conlleva ensayar la historia de América desde una perspectiva exclusivamente metropolitana; pues podemos caer en una visión reduccionista, alejada de la realidad y, peor aun, muy cercana a los postulados ideológicos del gobernante peninsular del XVII. Con este presupuesto metodológico se incide en la autonomía y autosuficiencia, en parte consecuencia de la postración de la Metrópoli, que irá desarrollando el Nuevo Continente. El fenómeno, como bien pone de manifiesto el autor, se dejará sentir en las diferentes facetas de la vida colonial, ya sea a través del progresivo protagonismo de la economía rural (la hacienda) frente a la minería y el tráfico oceánico; de las tensiones de una sociedad multiétnica, del auge de la Iglesia Nacional (la expansión conventual), del incremento del poder criollo y las lacras de la política colonial (corrupción, clientelismo, venalidad). Todo ello enmarcado en una cultura barroca cuya criollización le presta un perfil sincrético y sui generis.
En fin, creo que no es poco el abismo de sugerentes ideas, hechos y especulaciones que el libro sometido a mi opinión nos ofrece. Confío que en poco tiempo nos referiremos a él como “el Serrera”, cual se alude al “Elliott” o al “Domínguez Ortiz”, una simbiosis entre autor y título que sin más denota calidad, fama, familiaridad y asiduidad de uso. Pero hora ya va siendo de dar la palabra, escrita o hablada, a los posibles y agraciados lectores, a quienes don Ramón les ha dado en breve la cosecha que ha sudado en muchos años. Espero que sus opiniones mejoren la mía, según dije, quizás sesgada por el afecto y la admiración. En cualquier caso nadie quedará defraudado de internarse en semejante copia de aciertos y bonanzas. Si falta hallaren, súplanla con discreción, porque ha de ser leve y sobre asunto muy dudoso, más dadas las muchas generalidades y particularidades, de tan varios sucesos, labradas. O traigan a la memoria al Inca Garcilaso, quien en uno de sus prefacios pide al lector el aprecio de una su traducción haciéndole saber, que hasta que no tuviere hijos de esta talla y no supiere lo que cuesta criarlos y ponerlos en tal estado, no desdeñase su trabajo. A buen seguro no caeremos en trampa tan ingrata delante de un historiador, don Ramón María Serrera, en el que coinciden grandeza de persona, ingenio y saber. Arte es saber buscar a estos hombres, y suerte topar con ellos.
Carlos Alberto González Sánchez – Universidad de Sevilla.
SERRERA, Ramón María. La América de los Habsburgo (1517-1700). Sevilla: Universidad de Sevilla; Fundación Real Maestranza de Caballería de Sevilla, 2011. Resenha de: SÁNCHEZ, Carlos Alberto González. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.29, n.1, jan./jun. 2011. Acessar publicação original [DR]
SILVEIRA Marcus Marciano Gonçalves da (Aut), Templos modernos/ templos ao chão: a trajetória da arquitetura religiosa modernista e a demolição de antigos templos católicos no Brasil (T), Autêntica Editora (E), RIBEIRO Marília de Azambuja (Res), BOTELHO Angélica Cristina de Paula (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Arquitetura Religiosa, Modernismo, Demolição de Templos, Catolicismo, América – Brasil, Séc. 20
Desde a independência política do Brasil, já durante o período monárquico, surgiu a preocupação com a criação de uma identidade artístico-arquitetônica para o novo estado em vias de formação. Foi no contexto da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, por exemplo, que Manuel José Araújo de Porto Alegre encetou os primeiros debates acerca de um estilo arquitetônico nacional.
Entretanto, é somente a partir do movimento modernista e da institucionalização de uma política patrimonial para o país, com a criação do Sphan (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), durante o Estado Novo, que estratégias mais incisivas em torno da criação de um modelo artístico identitário nacional começaram a ser colocadas em prática.
Na verdade, seriam os mesmos arquitetos promotores do movimento modernista aqueles que a parir do final da década de 1930, ajudariam o governo Vargas a forjar a política patrimonial do Sphan e a elaborar a “versão oficial” da memória patrimonial e artística do Brasil.
O paradoxo que caracterizou a trajetória desse grupo de arquitetos-intelectuais, marcada pelo seu envolvimento direto tanto nas políticas de preservação do “Barroco Colonial” – em especial o “Barroco Mineiro” – elevado por eles à condição de símbolo da identidade artística nacional, quanto no projeto de criação de novo “estilo brasileiro”, o moderno, também por eles legitimado, é o ponto de partida do estudo de Marcus Marciano Gonçalves da Silveira.
O livro consiste na publicação da Dissertação de Mestrado em História e Culturas Políticas do autor, junto a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nele, a partir do caso da cidade de Ferros (MG) – cuja Igreja Matriz dedicada a Santa Ana, originariamente em estilo colonial, foi demolida, na década de 1960, para a construção de um edifício em estilo modernista –, o autor procura estabelecer relações entre o processo de difusão da arquitetura religiosa modernista no Brasil, nas décadas de 1940 a 1960, com uma ideologia estatal de cunho desenvolvimentista e a escolha de políticas “modernizantes” por parte de determinados setores da Igreja Católica.
Diante do silêncio das principais narrativas sobre a história da arquitetura modernista no Brasil que, centradas na arquitetura civil, geralmente, só mencionam duas obras de arquitetura eclesiástica: a Capela da Pampulha e a Catedral de Brasília de Oscar Niemeyer, o autor se propõe a tirar da obscuridade outros projetos arquitetônicos modernistas para edifícios religiosos.
Para tanto, faz um levantamento dos projetos de igrejas em estilo modernista publicados nas principais revistas brasileiras de arquitetura entre as décadas de 40 e 60 (leia-se: Acrópole; Habitat; Arquitetura e Engenharia; Arquitetura; e, Arquitetura, Engenharia e Belas Artes).
Todavia, apesar do título do primeiro capítulo “A trajetória da arquitetura religiosa modernista e a demolição de antigos templos católicos no Brasil” somente ao seu final (pp. 88-97) encontraremos uma lista e algumas imagens de projetos e de igrejas efetivamente construídas. Mesmo somando-se a esses, os projetos colocados – sem razão evidente – no Anexo A, o autor está longe de fazer um levantamento sistemático sobre o assunto: os exemplos mencionados, praticamente, só dizem respeito ao sudeste e, em número menor, ao sul do país e, além disso, o autor não se preocupa em destacar quais projetos efetivamente saíram do papel.
A primeira parte do livro, na verdade, se ocupa muito mais dos fatores ideológicos e políticos que legitimaram a destruição dos edifícios antigos e sua substituição por templos modernos.
O autor procura investigar de que forma o modernismo conseguiu fomentar a associação entre passado e atraso, e entre modernidade e progresso. O modernismo coloca-se como alternativa a um passado atrasado, não pelo seu valor histórico e estilístico, mas por ser carregado de estrangeirismos.
Neste sentido, “o projeto modernista” vincularia a idéia de retrógrado, de ultrapassado, sobretudo, aos chamados “estilos históricos”, a partir de uma construção discursiva que também reverberaria na política do próprio Sphan, uma vez que houve pouquíssimos tombamentos de edifícios em estilo eclético neste período.
Segue-se uma reconstrução da rede de interesses que uniu os arquitetos modernistas e alguns setores da Igreja. A Igreja buscava fugir de sua “identidade museológica”, a partir da retirada dos elementos decorativos que preenchiam todo o corpo do templo, tirando a atenção do altar. Assim, a ânsia de alguns setores do clero por uma renovação litúrgica que adequasse os templos à sua funcionalidade ajudou nessa aproximação.
No que tange, por exemplo, o caso da Matriz de Ferros, segundo o autor, a preocupação com o estado deplorável do templo era muito mais centrada na sua falta de funcionalidade do que no seu valor enquanto patrimônio histórico.
Neste sentido, a ausência de posicionamento do Sphan em relação à proposta de demolição da Matriz de Sant’Ana, ratifica a afirmação do autor de que o estilo “Barroco Nacional” legitimado pelos modernistas, foi praticamente o único padrão artístico que despertava o interesse da instituição, a qual deixava na mão da Igreja a responsabilidade absoluta sobre aqueles templos que “fugiam da norma”, incluídos aqueles em estilo colonial tardio.
Desta forma, a aproximação entre religiosos e arquitetos e a inércia/desinteresse dos órgãos institucionais, segundo o autor, teriam ajudado o modernismo a se colocar como a possibilidade arquitetônica capaz de atender aos desejos do clero por novas formas litúrgicas, mais adequadas ao espírito desenvolvimentista no qual o país estava mergulhado.
Na segunda parte do livro, o autor desenvolve seu estudo de caso, reconstruindo, com rica documentação, todo o processo que conduziu a demolição da antiga e a ereção da nova Matriz.
Ele destrincha toda a polêmica acerca da demolição, o Movimento Verde – pró- modernismo –, seus antagonistas, os pontos de vista, os discursos, o papel da imprensa, a decisão por meio de plebiscito, a atuação da Igreja – mais especificamente do Movimento Litúrgico –, o desinteresse dos órgãos de salvaguarda do Estado, etc.. As imagens colocadas no Anexo B muito enriquecem a percepção do leitor acerca da importância e do impacto que todo o processo teve para a cidade.
Assim, partindo de um plano mais geral, o da consolidação do modernismo como proposta mais conveniente a um Estado cujo programa político estava voltado para a “modernização” do país, o autor chega às conseqüências – a seu ver, nefastas – que a colocação em prática desta política de renovação teve para a pequena cidade de Ferros, no interior de Minas Gerais.
Destaca-se, nesta parte, a força narrativa com a qual o autor constrói seu discurso acerca da falência do projeto “modernizador” dos modernistas. Tocante é seu relato acerca de como o contraste entre o fórum – em estilo colonial – e a nova igreja representavam a memória de um arrependimento coletivo.
A imagem da estrutura arquitetônica modernista – hoje já não mais “moderna” – transformou-se assim no vestígio vivo de uma “modernidade” que não veio. A crença na eficácia da inferência arquitetônica como propulsora do progresso mostrou-se vã.
O estudo da dissolução da “paisagem tradicional mineira” na cidade de Ferros, deste modo, torna-se uma importante reflexão sobre a ausência de preocupação com o restante da paisagem urbana que caracterizou o “projeto modernista”, bem como uma lição para aqueles que fazem e implantam políticas patrimoniais neste país.
A eleição de uma ou outra forma patrimonial como mais “legítima”, em detrimento de outras, consideradas retrógradas, via de regra, acaba por retirar das gerações vindouras o direito de conhecer o seu próprio passado.
Marília de Azambuja Ribeiro – Departamento de História, UFPE.
Angélica Cristina de Paula Botelho – Bolsista PIBIC (Propesq/UFPE) do Projeto Espaço urbano, arquitetura eclesiástica e cultura tridentina da Professora Doutora Marília de Azambuja Ribeiro (Departamento de História, UFPE).
SILVEIRA, Marcus Marciano Gonçalves da. Templos modernos, templos ao chão: a trajetória da arquitetura religiosa modernista e a demolição de antigos templos católicos no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. Resenha de: RIBEIRO, Marília de Azambuja; BOTELHO, Angélica Cristina de Paula. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.29, n.1, jan./jun. 2011. Acessar publicação original [DR]
ZANETTI Valéria (Aut), Calabouço urbano. Escravos e libertos em Porto Alegre. (1840-1860), (T), MAESTRI Mário (Apres), Editora Universitária (E), Universidade de Passo Fundo (E), BERNARDES Denis Antônio de Mendonça (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Escravos, Libertos, Cidade de Porto Alegre, Séc. 19, América – Brasil
Em nossa formação como nação, como povo e como Estado a colonização e a escravidão foram fundamentais e sob muitos aspectos ainda estão presentes em seus prolongamentos. A escravidão permanecendo bem além da constituição do Estado nacional e do surgimento de um novo ente político, cultural, social e econômico: a Nação brasileira.
Sob as mais diversas visões interpretativas e com maior ou menor solidez de pesquisa documental, ambas – colonização e escravidão – foram desde logo objeto de estudos históricos muitos dos quais se tornaram referências obrigatórias na historiografia brasileira. Não podia ser diferente, mesmo de um ponto de vista teoricamente pouco ambicioso, devido, entre outros fatores, a união intrínseca entre colonização e escravidão e a longa duração de ambas por mais de quatro séculos para a primeira e quase cinco séculos para a segunda. A escravidão sobreviveu ao fim do Antigo Sistema Colonial e continuou sendo o fundamento das relações sociais de produção do Império do Brasil. Todas as tentativas iniciais feitas para desvincular a nova Nação da escravidão fracassaram sob a força avassaladora da herança colonial escravista. Assim o Império do Brasil assentou sua modernidade na manutenção de uma estrutura econômica e social arcaica. Conheceu uma nova inserção na economia internacional absorvendo várias das inovações tecnológicas oriundas da revolução industrial: navegação a vapor, estradas de ferro, cabo submarino para a comunicação com a Europa e a América do Norte, fotografia, telefone, imprensa de massa. No plano político nasceu como uma nação constitucional, com divisão de poderes, limitações ao poder imperial, declaração de direitos de cidadania, liberdade de imprensa, vida social e cultural burguesa. Mas, convivendo com tudo isto no plano das estruturas materiais e das estruturas da política e da cultura, lá estava presente a escravidão. Não é, naturalmente, fortuito, que o final do Império tenha se dado pouco depois do fim da escravidão, embora esta quase coincidência não possa e não deva ser vista como uma causalidade mecânica. A relação entre os dois acontecimentos é mais profunda e, sob muitos aspectos, não deve ser tomada em desfavor das realizações reformistas do Império. Mas esta questão nos levaria longe do objeto e do objetivo desta resenha: a escravidão urbana em Porto Alegre e, por extensão no Brasil, a partir do livro de Valéria Zanetti, aqui examinado.
A grande teia das relações escravistas que cobriu, com intensidade diversa, todo o território colonial e nacional até sua extinção tinha duas grandes expressões espaciais: a rural e a urbana. A primeira numericamente mais importante propiciou a inserção da colônia e depois do Império independente, na economia mundial. Foi, em sua fase colonial, essencial para o enriquecimento da metrópole e de suas camadas mercantis, burocráticas clericais e fradescas e do Estado monárquico português. Foi, ainda, fundamental no processo de acumulação primitiva que está na base da formação do capitalismo e da eclosão da revolução industrial do século XVIII. A escravidão urbana, mais voltada para a acumulação interna, foi, sobretudo, a escravidão dos indispensáveis serviços domésticos quando a tecnologia do cotidiano dependia em larga medida da força física: abastecimento de água e lenha, limpeza dos excrementos humanos, limpeza do lixo, transporte de alimentos, de diversas mercadorias, de móveis e mesmo de pessoas. Mas ela esteve, também, presente, no comércio urbano de miudezas, de alimentos, de bebidas. No transporte costeiro e fluvial. Produtores de renda para seus senhores, escravos e escravas urbanos foram utilizados sob a dupla forma de escravos de aluguel e de escravos de ganho. Vista no longo prazo percebemos que, ao contrário de arrefecer com a Independência e com o crescimento de uma vida urbana de recorte mais burguês, ela se intensificou. O auge da escravidão urbana no Brasil corresponde justamente aos anos de consolidação do Império e ao seu apogeu.
Durante anos, mais ou menos ignorada pela historiografia ou mitificada como mais suave, a escravidão urbana no Brasil tem sido objeto de novos e importantes estudos, que tem promovido uma verdadeira renovação do conhecimento da história brasileira em seu conjunto. Neste processo de renovação muitos são os autores e livros a serem citados. Para não cometer injustiças e omissões deixamos de mencioná-los aqui, mas o leitor encontrará boa parte deles nas referências presentes no livro de Valéria Zanetti. Que passaremos agora a examinar mais detidamente. Situando-se com originalidade na renovadora historiografia da escravidão no Brasil Valéria Zanetti nos deu um livro vigoroso, solidamente fundamentado em pesquisas de ricas fontes primárias e utilizando o melhor das referências então disponíveis. Com pleno domínio da boa escrita histórica. O que significa que a leitura é feita com agrado, além de proveito, tanto por especialistas quanto por não especialistas, o que não é pouco.
Com este livro tomamos conhecimento da escravidão urbana na Porto Alegre e arredores entre os anos 1840-1860. A autora reforça a revisão de um equívoco por vezes ainda corrente: a da pouca presença do escravo no Rio Grande do Sul. Para tanto os dados quantitativos são, naturalmente, essenciais. Ficamos assim sabendo que mesmo após o fim do tráfico a partir de 1850, o número de escravos no Rio Grande do Sul aumentou. Informação importante que significa a existência de um dinamismo econômico que necessitava do aporte de mão de obra escrava através do comércio interprovincial de escravos. Mas, os essenciais dados quantitativos são aqui a base de uma trama qualitativa de grande riqueza. Para tanto contribui em muito o uso de depoimentos de viajantes e observadores locais, do noticiário dos jornais e dos processos judiciais. As ilustrações foram escolhidas com critério, enriquecem o texto, complementando-o.
Acomodação, negociação, alimentação, vestuário, doenças, folguedos, ofícios e ocupações de escravos e escravas, feitiçarias, estupros prostituição, devoção, controle, traições, atração erótica da mulher negra, assassinatos, conflito violência, criminalidade, roubos, suicídios, resistência, sob as mais diversas formas, (in) justiça senhorial, são algumas expressões e temas estudados ao longo do livro e que registram com acuidade a presença e o modo da presença de escravos e escravas no meio urbano de Porto Alegre de meados do século XIX. Expressões e temas que podem ser aplicados às principais cidades brasileiras do período, o que situa este livro não apenas como uma valiosa contribuição para a história de Porto Alegre, mas para a história do Brasil. A enunciação dos títulos dos seus vários capítulos dará ao leitor uma idéia dos diversos aspectos da escravidão em Porto Alegre no período estudado por Valéria Zanetti: 1. O gado, a terra e o homem, 2. Porto Alegre: origem e povoamento, 3. Violência no passado, amenidades no presente: as visões da historiografia acerca do escravo urbano, 4. Crimes de escravos e libertos em Porto Alegre, 5. Vivendo em conflito e em solidariedade, 6. Vida amorosa, familiar e manifestações culturais de escravos e libertos em Porto Alegre, 7. Poder e contrapoder: resistência do escravo urbano.
Finalizemos esta breve resenha com um trecho do livro para que o leitor tenha a vontade, da qual não se arrependerá, de conhecer o livro em sua inteireza:
“A visão de que os cativos urbanos eram bem alimentados, vestiam-se adequadamente e viviam em harmonia com os senhores não combina com a informação documental. Involuntariamente, os anúncios sobre fugas na imprensa denunciam a verdadeira condição de existência civil. Arsène Isabelle esteve na província e não partilhou da visão otimista, registrando em seu diário as violências cometidas pelos senhores. Segundo Isabelle, os senhores gaúchos tratavam seus cativos como se tratavam os cães: ‘Começam por insultá-los. Se não vêm imediatamente, recebem duas ou três bofetadas da mão delicada de sua senhora […] ou ainda um rude soco, um brutal pontapé de seu grosseiro amo. Se resmungam, são ligados ao primeiro poste e então o senhor e senhora vêm com grande alegria no coração, para ver como são flagelados, até verterem sangue aqueles que não têm, muitas vezes, outro erro que a inocência de não ter sabido adivinhar os caprichos de seus senhores e patrões’.
Ao percorrer as páginas deste livro, sob muitos aspectos fascinantes, não podemos deixar de pensar que muitos dos antigos males da escravidão não compõe apenas o nosso passado. Renovam-se cotidianamente em nossa (in) justiça de classe, ainda senhorial, na precariedade das diversas formas de trabalho nas áreas rurais e urbanas, na precariedade dos direitos, nas discriminações de gênero, na exploração do trabalho infantil, em renovadas formas de trabalho escravo, na violência a que está submetida a população pobre do campo e das cidades, especialmente dos descendentes diretos dos antigos escravos, nos privilégios incrustados no Estado, na sua captura pelos interesses privados.
Livros como este mostram como a boa história é sempre libertadora e não faz uma limitada e equivocada separação entre o passado e o presente. Por isso a grande mídia conservadora a ignora, promovendo best sellers que veiculam uma visão pitoresca e caricatural do nosso passado. Visão que serve apenas para acomodar os leitores na visão de que nada mudou e nada mudará.
Nota
1 Home Page: www.upf.tche.br/editora. E-mail: editora@upf.tche.br
Denis Antônio de Mendonça Bernardes – Universidade Federal de Pernambuco.
ZANETTI, Valéria. Calabouço urbano. Escravos e libertos em Porto Alegre. (1840-1860). Apresentação de Mário Maestri. Passo Fundo: Editora Universitária; Universidade de Passo Fundo1, 2002. (Coleção Malungo, 6). Resenha de: BERNARDES, Denis Antônio de Mendonça. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.29, n.2, jul./dez. 2011. Acessar publicação original [DR]
VAREJÃO Marcela da Silva (Aut), Il positivismo dall’Italia al Brasile: sociologia giuridica/ giuristi e legislazione (1822 – 1935) (T), Giuffrè (E), DANTAS Laércio Albuquerque (Res), Clio – UFPE (CRPHr), Positivismo, América – Brasil, Europa – Itália, Séc. 19-20
A geração de 1870 é um dos temas de grande interesse e relevância para muitos dos intelectuais que se propõem ou propuseram a estudar a história das idéias no Brasil. A essa geração deve-se, parafraseando Sílvio Romero, o “surto de idéias novas” que passou a contestar as estruturas do Estado monárquico brasileiro. A chamada Escola do Recife, muito contribuiu, de acordo com essa mesma historiografia das idéias, para a recepção do positivismo e evolucionismo europeus e suas manifestações críticas em campos diversos como filosofia, direito, política e sociologia.
Essa autoproclamada escola, pois foi nomeada por um de seus membros, Sílvio Romero, e outros a perpetuaram, definia-se como uma orientação filosófica progressiva e que permitia a cada um ter suas idéias e investigações. Seus membros se formaram na mesma Faculdade, a de Direito do Recife, e compartilharam o mesmo ambiente acadêmico.
Entretanto, não existe unanimidade entre aqueles que enveredaram pelo estudo desse grupo de intelectuais quanto à formação de uma escola de pensamento, nem tão pouco dos membros que faziam parte desse grupo. Por outro lado, mesmo que se questione a existência de uma escola ou quem são seus membros, é inegável que eles tiveram um papel importante nos diversos campos pelos quais a chamada Escola enveredou.
O livro de Marcela Varejão, Il positivismo dall’Italia al Brasile: sociologia Del diritto, giuristi e legislazione (1822 – 1935), tem como tema mais circunscrito a relação entre os membros da Escola do Recife e os intelectuais italianos através da recepção, por parte dos primeiros, do pensamento positivista elaborado pelos segundos. O livro é o resultado da pesquisa de doutorado da autora, defendida no ano de 1999 em Milão, mas foi publicado em forma de livro apenas em 2005. A distância entre a conclusão da escrita e a publicação do livro pode deixar o leitor com a sensação de que a bibliografia utilizada é desatualizada, mas, com essa distância em mente, a leitura se torna mais indulgente nesse quesito.
O trabalho da autora consiste em rastrear a recepção do positivismo no Brasil focando na Escola do Recife através, principalmente, de sua faceta jurídica. Nesse sentido, o trabalho de Varejão se preocupa em fazer uma história das idéias sóciojurídicas com pouco ou quase nenhum contato destas com o ambiente político-social no qual elas, as idéias, e aqueles que as recepcionam e reelaboram, os intelectuais, estão inseridos.
O livro, por ser escrito e publicado na Itália e por ter os italianos como público alvo, procura nos dois primeiros capítulos inserir o leitor no contexto da recepção das idéias positivistas na América do Sul. A primeira parte do livro é dedicada a todas as nações sul-americanas. A Argentina é tomada como principal receptora e divulgadora, já os demais países, com exceção do Brasil, são tratados em separado e com pouca atenção. Nesse momento a autora se utilizou de uma bibliografia da história das idéias para a América Latina pouco atual (o livro mais recente é de 1987) e poucos trabalhos da historiografia dos países por ela trabalhados.
Já no Brasil são destacados os intelectuais que tiveram contato com o positivismo dedicando-se atenção especial ao positivismo ortodoxo capitaneado pela Igreja Positivista sediada no Rio de janeiro. A primeira parte funciona apenas como uma introdução confusa ao pensamento positivista sul-americano, o que, de qualquer maneira, se aproxima do que pareceu ser a intenção da autora.
A partir da segunda parte do livro, após mais de um terço do mesmo, Varejão inicia a sua pesquisa com profundidade. É nesse momento que ela passa a trabalhar com os membros da Escola do Recife como Tobias Barreto, Silvio Romero, Clóvis Beviláqua, Artur Orlando e João Vieira de Araújo, além de dedicar um capítulo especial à relação entre Nina Rodrigues, a Antropologia Criminal, Lombroso e sua filha, Gina Lombroso.
Daí em diante o trabalho ganha em riqueza com a análise das discussões, apropriações e rejeições das idéias de um sem número de intelectuais, principalmente os italianos. A análise da autora começa de uma dimensão mais ampla, ou seja, a introdução das idéias positivistas na Escola do Recife, em especial com Tobias Barreto, passando pelo nascimento de uma sociologia jurídica no Brasil, onde além de Barreto Varejão inclui Silvio Romero e Artur Orlando, terminando em Vieira de Araújo e sua relação entre as reformas da legislação penal de 1890 e o pensamento jurídico penal positivista italiano.
O trabalho de pesquisa de fontes realizado por Varejão é muito bem feito, entendendo-se como fontes aquelas que têm relevância dentro de uma história do pensamento jurídico-penal feita por uma jurista. Em capítulos como o último que trata de João Vieira de Araújo, por exemplo, encontra-se o ante projecto de nova edição do código criminal e o parecer de Assis Martins, exemplar raro, e até os estudos italianos do mesmo autor, também raríssimo. Entretanto, fontes de outros tipos, como jornais ou opúsculos, por exemplo, apesar de figurarem no texto são pouco explorados.
Não é à toa que a autora não se preocupa muito com esse tipo de fonte. As leituras que Varejão fez estão ligadas a uma tradição de história das idéias no Brasil associada a filósofos e juristas de renome que já trabalharam com a mesma temática, como Antônio Paim, Machado Neto, Vamireh Chacon, Nelson Saldanha, entre outros. A proposta e interesse da autora se alinham com os deles.
É a partir dessa tradição que na segunda parte ao trabalhar com Tobias Barreto é mostrado ao leitor como o próprio Barreto concebia o direito: como uma luta da humanidade contra a natureza que produziria a cultura na qual o direito estaria incluso. Essa visão de direito, por sua vez, seria derivada da leitura e refutação ou aceitação do pensamento de intelectuais italianos. Um exemplo disso foi a negação da teoria do atavismo de Lombroso por ser biologizante demais e negar a luta humana pela cultura.
Exemplos dessa relação não faltam durante todo o trabalho. Na quarta parte, quando Varejão passa a se dedicar a Artur Orlando, a autora mostrará que a concepção de direito dele estava intimamente ligada à sua percepção da sociedade. Para Orlando a Antropologia era a ciência por excelência para conhecer o homem, e o direito seria uma espécie de antropo-técnica que não poderia prescindir da Antropologia. Criticava Lombroso pelos seus exageros de querer submeter uma, o direito, à outra, a Antropologia.
O que fica claro na tese da autora é que a visão de sociedade de cada um dos membros da Escola do Recife influenciou profundamente na forma como recepcionaram as idéias positivistas italianas. Estas, por sua vez, eram em sua maioria ligadas às novas discussões jurídico-penais presentes em terreno europeu, como a Antropologia Criminal, a Sociologia Criminal e a Terceira Escola de Direito Penal. Mas não há explicação do porquê destas teorias terem despertado tanto interesse a ponto de serem abordadas por vários dos intelectuais mais importantes daquele período ligados ao direito no Brasil. É certo que a autora assinala o pertencimento destes intelectuais a uma linha evolucionista positivista em pelo menos algum momento de suas vidas, mas fora do mundo das idéias não há explicação para tal fenômeno na pesquisa proposta.
O trabalho de Marcela Varejão possui todos os méritos por se propor a fazer uma pesquisa inovadora de rastrear a recepção das idéias sócio-jurídicas nos integrantes da Escola do Recife e por dar continuidade à tradição de pesquisa de autores importantes como Antonio Paim e Miguel Reale. Acredito que cumpre muito bem com seu objetivo, como a própria banca da sua tese registrou. A autora deixou, no entanto, para outro pesquisador a tarefa de enveredar pelos caminhos ainda pouco explorados da recepção das idéias sócio-jurídicas e suas relações com o mundo social ou político.
Laércio Albuquerque Dantas – Universidade Federal de Pernambuco.
VAREJÃO, Marcela da Silva. Il positivismo dall’Italia al Brasile: sociologia giuridica, giuristi e legislazione (1822 – 1935). Milão: Giuffrè, 2005. Resenha de: DANTAS, Laércio Albuquerque. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.29, n.2, jul./dez. 2011. Acessar publicação original [DR]
IV Centenário do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1965
Organizador
Josué Montello – Diretor do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
MONTELLO, Josué. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.15, 1965. Acesso apenas no link original [DR]
Documentário Iconográfico de Cidades e Monumentos do Brasil | Anais do Museu Histórico Nacional | 1953
Organizador
Gustavo Barroso – Diretor do M. H. N.
Referências desta apresentação
BARROSO, Gustavo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v. 7, 1953. Acesso apenas pelo link original [DR]
Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: moedas da República 1889-1946 | Anais do Museu Histórico Nacional | 1950
Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: moedas da República 1889-1946 | Anais do Museu Histórico Nacional | 1950, BARROSO Gustavo (Org d), Moedas (d), América – Brasil, Séc. 19-20, Museu Histórico Nacional (d),
Referências desta apresentação
[Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: modas da República 1889-1946]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.11, 1950.Acessar dossiê [DR]
IV Centenário do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1965
IV Centenário do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1965, MONTELLO Josué (Org d), Centenário do Rio de Janeiro IV (d), América – Brasil, Séc. 20
Organizador
Josué Montello – Diretor do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
MONTELLO, Josué. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.15, 1965. Acesso apenas no link original [DR]
1º Centenário da Batalha do Tuiuti | Anais do Museu Histórico Nacional | 1967, Centenário da Batalha do Tuiuti I (d),
1º Centenário da Batalha do Tuiuti | Anais do Museu Histórico Nacional | 1967
Referências desta apresentação
[1º Centenário da Batalha do Tuiuti]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.17, 1967. Acessar dossiê [DR]Imperador D. Pedro II | Anais do Museu Histórico Nacional | 1975
Imperador D. Pedro II | Anais do Museu Histórico Nacional | 1975, Imperador D. Pedro II (d), América – Brasil, Séc. 19
Referências desta apresentação
Editorial. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.26, 1975. Acesso apenas no link original [DR]
OBS: No editorial não apresenta o autor (a)
75 anos de Fundação do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 1997
75 anos de Fundação do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 1997, Museu Histórico Nacional (d), América – Brasil, Séc. 20, TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d)
Organizador
Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga. Mestre em História Universidade de São Paulo. Diretora do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.29, 1997. Acesso apenas no link original [DR]
Bicentenário de D. Pedro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1998
Bicentenário de D. Pedro | Anais do Museu Histórico Nacional | 1998, Bicentenário de D. Pedro (d), América – Brasil, Séc. 19, TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d)
Organizador
Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga. Mestre em História Universidade de São Paulo. Professora de Heráldica e Genealogia Universidade do Rio de Janeiro. Diretora do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.30, 1998. Acesso apenas no link original [DR]
- João VI | Anais do Museu Histórico Nacional | 1999
- João VI | Anais do Museu Histórico Nacional | 1999, TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d), D João VI (d), América – Brasil, Séc. 19
Organizador
Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga. Mestre em História Universidade de São Paulo. Professora da Universidade do Rio de Janeiro (UNI-Rio). Diretora do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.31, 1999. Acesso apenas no link original [DR]
Fotografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2000
Fotografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2000, MAUAD Ana Maria (Org d), Fotografia (d)
Organizador
Ana Maria Mauad – Doutora em História. Professora Adjunta Universidade Federal Fluminense.
Referências desta apresentação
MAUAD, Ana Maria. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.32, p.10-14, 2000. Acesso apenas pelo link original [DR]
Expressões da expansão Luso-Atlântica no Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2000
Expressões da expansão Luso-Atlântica no Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2000
Referências desta apresentação
[Expressões da expansão Luso-Atlântica no Museu Histórico Nacional]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.32, 2000.Acessar dossiê [DR]
Coleção | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001
Coleção | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001, Coleção (d), KNAUSS Paulo (Org d)
Organizador
Paulo Knauss
Referências desta apresentação
KNAUSS, Paulo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.33, p.19-22, 2001. Acesso apenas no link original [DR]
Centro de Referência Luso-Brasileira 2000-2001 | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001
Centro de Referência Luso-Brasileira 2000-2001 | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001, BITTENCOURT José (Org d), Centro de Referência luso-Brasileira (d), Séc. 20-21
Organizador
José Bittencourt
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.33, p.155-159, 2001. Acesso apenas no link original [DR]
Acervos-indumentária | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001
Acervos-indumentária | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001, LIMA Vera Lúcia (Org d), Acervos (d), Indumentária (d)
Organizador
Vera Lúcia Lima – Museóloga. Pesquisadora do Museu Histórico Nacional. Curadora da Coleção de indumentária do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
LIMA, Vera Lúcia. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.33, p.237-240, 2001. Acesso apenas no link original [DR]
Arquitetura | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002
Referências desta apresentação
Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.7-10, 2002. Acesso apenas no link original [DR]
Arquitetura | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002
Arquitetura | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, KESSEL Carlos (Org d), Arquitetura (d)
Organizador
Carlos Kessel – Arquiteto e Historiador pesquisador associado do Centro de Referência Luso-Brasileira do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
KESSEL, Carlos. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.19-20, 2002. Acesso apenas no link original [DR]
Historiografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002
Historiografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, GUIMARÃES Manoel Luís Salgado (Org d), Historiografia (d)
Organizador
Manoel Luís Salgado Guimarães – Historiador. Professor Adjunto departamento de História UFRJ.
Referências desta apresentação
GUIMARÃES, Manoel Luís Salgado. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.67-70, 2002. Acesso apenas no link original [DR]
Museografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002
Museografia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, BITTENCOURT José Neves (Org d), Museografia (d)
Organizador
José Neves Bittencourt
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.149-152, 2002. Acesso apenas no link original [DR]
Potencialidades | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002
Potencialidades | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, ALMEIDA Cícero Antônio Fonseca de (Org d)
Organizador
Cícero Antônio Fonseca de Almeida
Referências desta apresentação
ALMEIDA, Cícero Antônio Fonseca de. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p.223-226, 2002. Acesso apenas no link original [DR]
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002, BITTENCOURT José Neves (Org d), Acervos (d)
Organizador
José Neves Bittencourt
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p. p.295-296, 2002. Acesso apenas no link original [DR]
Cidade do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003
Cidade do Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, TAVARES Luiz Edmundo (Org d), Cidade do Rio de Janeiro (d), América – Brasil
Organizador
Luiz Edmundo Tavares
Referências desta apresentação
TAVARES, Luiz Edmundo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.13-14, 2003. Acesso apenas no link original [DR]
O papel dos Museus na melhoria de vida no Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003
O papel dos Museus na melhoria de vida no Rio de Janeiro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, BITTENCOURT José Neves (Org d), BITTENCOURT José Neves (Org d); TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d)
Organizadores
José Neves Bittencourt
Vera Lúcia Bottrel Tostes
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José Neves; TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.105-106, 2003. Acesso apenas no link original [DR]
Olhares sobre Gustavo Barroso | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003
Olhares sobre Gustavo Barroso | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Gustavo Barroso, América – Brasil, Séc. 20
Organizador
Aline Montenegro Magalhães
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.177-178, 2003. Acesso apenas no link original [DR]
O Rio no acervo do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003
O Rio no acervo do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, BITTENCOURT José Neves (Org d), Rio de Janeiro (d), Acervo (d), Museu Histórico Nacional (d)
Organizador
José Neves Bittencourt
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.267-270, 2003. Acesso apenas no link original [DR]
Olhares sobre o Mundo Lusófono | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003
Olhares sobre o Mundo Lusófono | Anais do Museu Histórico Nacional | 2003, FREIXO Adriano de (Org d), Mundo Lusófono (d)
Organizador
Adriano de Freixo
Referências desta apresentação
FREIXO, Adriano de. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.35, p.387-388, 2003. Acesso apenas no link original [DR]
Museologia na prática | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004
Museologia na prática | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004, FERNANDES Lia Silvia Peres (Org d), Museologia (d)
Organizador
Lia Silvia Peres Fernandes
Referências desta apresentação
FERNANDES, Lia Silvia Peres. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.36, p.21-24, 2004. Acesso apenas no link original [DR]
Anais, nova série-dez volumes de sucesso | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004
Anais, nova série-dez volumes de sucesso | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004, BITTENCOURT José Neves (Org d), Anais do Museu Histórico Nacional (d)
Organizador
José Neves Bittencourt
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.36, p.99-102, 2004. Acesso apenas no link original [DR]
Cultura Material-MHN | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004
Cultura Material-MHN | Anais do Museu Histórico Nacional | 2004, BITTENCOURT José Neves (Org d), Cultura Material (d), Museu Histórico Nacional (d)
Organizador
José Neves Bittencourt
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.36, p.205-208, 2004. Acesso apenas no link original [DR]
Trajetórias do Patrimônio | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005
Trajetórias do Patrimônio | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Patrimônio (d)
Organizador
Aline Montenegro Magalhães
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.37, p.38-40, 2005. Acesso apenas no link original [DR]
Museus e Tecnologia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005
Museus e Tecnologia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005, GOUVEIA Inês (Org d), Museus (d), Tecnologia (d)
Organizador
Inês Gouveia
Referências desta apresentação
GOUVEIA, Inês. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.37, p.100-103, 2005. Acesso apenas no link original [DR]
Objetos e construções simbólicas | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005
Objetos e construções simbólicas | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005, BITTENCOURT José Neves (Org d), Objetos (d), Construções Simbólicas (d)
Organizador
José Neves Bittencourt
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.37, p.154-157, 2005. Acesso apenas no link original [DR]
Cultura Material no Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005
Cultura Material no Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2005, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Cultura Material (d), Museu Histórico Nacional (d)
Organizador
Aline Montenegro Magalhães
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.37, p.222-225, 2005. Acesso apenas no link original [DR]
Arqueologia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006
Arqueologia | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006, LIMA Pablo Luiz de Oliveira (Org d), Arqueologia (d)
Organizador
Pablo Luiz de Oliveira Lima
Referências desta apresentação
LIMA, Pablo Luiz de Oliveira. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.38, p.20-24, 2006. Acesso apenas no link original [DR]
Numismática | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006
Numismática | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006, VIEIRA Rejane Maria Lobo (Org d), Numismática (d)
Organizador
Rejane Maria Lobo Vieira
Referências desta apresentação
VIEIRA, Rejane Maria Lobo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.38, p.130-132, 2006. Acesso apenas no link original [DR]
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006, BEZERRA Rafael Zamorano (Org d), Acervos (d)
Organizador
Rafael Zamorano Bezerra
Referências desta apresentação
BEZERRA, Rafael Zamorano. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.38, p.208-211, 2006. Acesso apenas no link original [DR]
Reserva técnica dos Anais | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006
Reserva técnica dos Anais | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006, BITTENCOURT José Neves (Org d), Reserva Técnica (d), Anais do Museu Histórico Nacional (d)
Organizador
José Neves Bittencourt
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.38, p.250-252, 2006. Acesso apenas no link original [DR]
Pintura de História | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007
Pintura de História | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, CHRISTO Maraliz de Castro Vieira (Org d), Pintura de História (d)
Organizador
Maraliz de Castro Vieira Christo
Referências desta apresentação
CHRISTO, Maraliz de Castro Vieira. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.44-48, 2007. Acesso apenas no link original [DR]
Museus e Público Jovem | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007
Museus e Público Jovem | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d); PEREIRA Marcelle R. N. (Org d), Museus (d), Público Jovem (d)
Organizadores
Aline Montenegro Magalhães
Marcelle R. N. Pereira
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro; PEREIRA, Marcelle R. N. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.242-244, 2007. Acesso apenas no link original [DR]
Conservação e Restauro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007
Conservação e Restauro | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, CESTARI Jussara Faria (Org d), Conservação (d), Restauro (d)
Organizador
Jussara Faria Cestari
Referências desta apresentação
CESTARI, Jussara Faria. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.364-366, 2007. Acesso apenas no link original [DR]
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Acervos (d)
Organizador
Aline Montenegro Magalhães
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.416-420, 2007. Acesso apenas no link original [DR]
Reserva técnica dos Anais do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007
Reserva técnica dos Anais do Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007, BEZERRA Rafael Zamorano (Org d), Reserva Técnica (d), Anais do Museu Histórico Nacional (d)
Organizador
Rafael Zamorano Bezerra – Historiador. Mestre em Ciência Política pela UFRJ. Pesquisador e editor dos Anais do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
BEZERRA, Rafael Zamorano. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.512-521, 2007. Acesso apenas no link original [DR]
Comemorações | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008
Comemorações | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008, ABREU Marcelo Santos (Org d), Comemorações (d)
Organizador
Marcelo Santos Abreu – Universidade de Uberlândia. Professor Assistente de História da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ.
Referências desta apresentação
ABREU, Marcelo Santos. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.30-33, 2008. Acesso apenas no link original [DR]
Representação dos Negros em museus | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008
Representação dos Negros em museus | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008, BARBOSA Nila Rodrigues (Org d), Representação (d), Negros (d), Museus (d)
Organizador
Nila Rodrigues Barbosa – Bacharel em História. Especialista em Organização de Arquivos. Especialista em Estudos Africanos e Afro-brasileiros. Membro da equipe técnica do Museu Abílio Barreto da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte.
Referências desta apresentação
BARBOSA, Nila Rodrigues. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.144-147, 2008. Acesso apenas no link original [DR]
Patrimônio Lusófono: ações educativas de valorização | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008
Patrimônio Lusófono: ações educativas de valorização | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Patrimônio Lusófono (d), Ações Educativas (d)
Organizador
Aline Montenegro Magalhães – Historiadora. Mestre em História Social pela UFRJ e doutoranda pela mesma universidade. Coordenadora do Centro de Referência Luso-Brasileira do Museu Histórico.
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.278-281, 2008. Acesso apenas no link original [DR]
Conservação e Restauro. Uma abordagem metodológica e conceituação | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008
Conservação e Restauro. Uma abordagem metodológica e conceituação | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008
Organizador
Rafael Zamorano Bezerra – Historiador. Mestre em Ciência Política. Pesquisador do Museu Histórico Nacional.
BEZERRA Rafael Zamorano (Org d)
Referências desta apresentação
BEZERRA, Rafael Zamorano. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.346-349, 2008. Acesso apenas no link original [DR]
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d), Acervos (d)
Organizador
Aline Montenegro Magalhães – Historiadora. Mestre em História Social pela UFRJ e doutoranda pela mesma universidade. Coordenadora do Centro de Referência Luso-Brasileira do Museu Histórico.
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.432-435, 2008. Acesso apenas no link original [DR]
José de Alencar | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009
José de Alencar | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009, PELOGGIO Marcelo (Org d), José de Alencar (d)
Organizador
Marcelo Peloggio – Professor Adjunto de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Ceará. Possui Graduação em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1996). Mestrado em Letras pela Universidade Federal Fluminense (2001). E doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense (2006).
Referências desta apresentação
PELOGGIO, Marcelo. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.41, p.24-28, 2009. Acesso apenas no link original [DR]
Estudos sobre Imigração no Brasil | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009
Estudos sobre Imigração no Brasil | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009, BENCHETRIT Sarah Fassa (Org d), Estudos sobre Imigração (d), América – Brasil (d)
Organizador
Sarah Fassa Benchetrit – Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo. Mestrado em Sociologia na Universidade Hebraica de Jerusalém. Assessora da Direção do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
BENCHETRIT, Sarah Fassa. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.41, p.178-184, 2009. Acesso apenas no link original [DR]
Museus e Museologia em Foco | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009
Museus e Museologia em Foco | Anais do Museu Histórico Nacional | 2009, Museus (d), Museologia (d)
[Museus e Museologia em Foco]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.41, 2009. Acessar dossiê [DR]Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2010
Museu Histórico Nacional | Anais do Museu Histórico Nacional | 2010, Museu Histórico Nacional (d)
Referências desta apresentação
[Museu Histórico Nacional]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.42, 2010. Acessar dossiê [DR]Museus e Turismo | Anais do Museu Histórico Nacional | 2010
Museus e Turismo | Anais do Museu Histórico Nacional | 2010, Museus (d), Turismo (d)
[Museus e Turismo]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.42, p.105-106, 2010. Acessar dossiê [DR]Perspectivas Teóricas sobre Museus, Patrimônios e Coleções | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011
Perspectivas Teóricas sobre Museus, Patrimônios e Coleções | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011, Teorias sobre Museus (d), Patrimônios (d), Coleções (d)
Referências desta apresentação
[Perspectivas Teóricas sobre Museus, Patrimônios e Coleções]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.43, 2011. Acessar dossiê [DR]Museus e Coleções | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011
Museus e Coleções | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011, Museus (d), Coleções (d)
Referências desta apresentação
[Museus e Coleções]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.43, 2011. Acessar dossiê [DR]Estudos Temáticos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011
Estudos Temáticos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2011
Referências desta apresentação
[Estudos Temáticos]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.43, 2011. Acessar dossiê [DR]O patrimônio cultural coreano | Anais do Museu Histórico Nacional | 2013
O patrimônio cultural coreano | Anais do Museu Histórico Nacional | 2013, TOSTES Vera Lúcia Bottrel (Org d), Patrimônio Cultural Coreano (d), Ásia – Coréia
A história da institucionalização das práticas patrimoniais do mundo ocidental é bastante conhecida no universo acadêmico brasileiro, principalmente graças ao trabalho de historiadores do calibre de Dominique Poulot e Françoise Choay. No Brasil a trajetória das práticas patrimoniais foi objeto de estudos de historiadores como Márcia Chuva, Lúcia Lippi, Aline Montenegro, Leila Bianchi, entre outros. Todos os autores que se debruçam sobre o tema afirmam que o patrimônio cultural configura-se como um fenômeno mundial, estando relacionado com as transformações dos modos de vida tradicionais e da modernização resultante das revoluções industriais e tecnológicas das últimas décadas.
A característica dessa “razão patrimonial”, usando aqui o termo cunhado por Poulot, leva o filósofo francês Henry Pierre Jeudy a considerar que as cidades modernas, ao passar por processos de revitalização em seus centros históricos, acabam contraditoriamente se tornando mais homogêneas e menos interessantes, configurando aquilo que ele considera uma petrificação e estetização das cidades.
Todavia, a instauração dos patrimônios culturais está intimamente relacionada com os projetos nacionais e políticos de cada país, suas experiências históricas, estratégias de afirmação de identidades, relações internacionais, entre outros. Conhecer as práticas patrimoniais distantes da nossa realidade latino-americana é um caminho para pensar como o patrimônio cultural configura-se como um fenômeno global e local, fruto das relações históricas e políticas que marcam cada nação.
Assim, os Anais do Museu Histórico Nacional, v. 45, ano 2013, apresentam um dossiê cuja temática é inédita no Brasil: o patrimônio cultural coreano. A oportunidade é ímpar, uma vez que neste ano comemora-se o 50o aniversário da imigração coreana ao Brasil. O dossiê é formado por textos de autores novos e consagrados como a professora da Universidade da Califórnia, Hyung Il Pai, autora de Constructing “Korean” origins, um dos maiores best-sellers sobre o patrimônio coreano, e que gentilmente nos autorizou a traduzir um artigo seu para este volume, o pesquisador norte-americano Roger Janelli, a curadora coreana Hyeon Mi Chung, o professor italiano Andrea De Benedittis da universidade de Ca’ Foscari, o filipino Gian Carlo e o pesquisador do MHN e organizador do dossiê Rafael Zamorano Bezerra.
No ano de 2012, o historiador Rafael Zamorano Bezerra foi contemplado com uma bolsa para intercâmbio com o Korean Folk Museum, em Seul. Compartilhar conhecimentos possibilitou, além da experiência pessoal do funcionário, o estreitamento das relações museológicas entre as duas instituições. Constitui, portanto, especial satisfação inserir o dossiê dedicado ao patrimônio cultural coreano no volume 45 dos Anais, conjugando a celebração do aniversário com o reconhecimento ao acolhimento do funcionário do Museu Histórico Nacional.
Em harmonia com esse dossiê apresentamos artigos sobre práticas patrimoniais em cidades e museus brasileiros, artigos esses enviados gentilmente pelos autores para avaliação dos nossos pareceristas. A leitura do volume abre uma série de possibilidades e estudos sobre a história das trajetórias de patrimonialização em dois países que, apesar de distantes geograficamente, encontram saberes e práticas na visão do patrimônio.
Organizador
Vera Lúcia Bottrel Tostes – Museóloga e diretora do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.45, p.8-10, 2013. Acessar publicação original [DR]
André Desvallées: entre museologias | Anais do Museu Histórico Nacional | 2015
André Desvallées: entre museologias | Anais do Museu Histórico Nacional | 2015, BRULON Bruno (Org d), André Desvallées (d), Museologias (d)
Existem, talvez, duas maneiras de se conhecer uma pessoa: a partir dos resultados de seu trabalho e pessoalmente. Eu conheci André Desvallées, primeiro, a partir do seu trabalho no Comitê Internacional de Museologia – ICOFOM e de sua trajetória emblemática no contexto dos museus franceses. Enquanto estudante da graduação em museologia, no início dos anos 2000, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, eu conheci a figura de André Desvallées por meio de suas obras, e em particular seus inúmeros textos no ICOFOM Study Series, publicação anual do Comitê de Museologia, desde os anos 1980. Em seguida, aprendi a respeitar e admirar o trabalho desse comitê graças aos grandes nomes da museologia mundial que estavam associados a ele. Nesse primeiro contato, eu conheci o Desvallées “do papel”, por meio de sua boa escrita, do amor pelos museus e, sobretudo, do amor por uma museologia renovada, investida da prática e da teoria críticas.
Com o passar dos anos, André Desvallées, o ICOFOM e as ideias da “nova museologia” se tornaram parte do meu objeto de estudo, quando eu começava a traçar um caminho pela pesquisa em museologia no Brasil. Mas foi somente em 2006, no primeiro simpósio do ICOFOM em que participei, em Córdoba e Alta Gracia, na Argentina, que eu conheci André Desvallées pessoalmente. Nesse primeiro encontro trocamos apenas algumas palavras e ele já sugeria leituras direcionadas para a minha pesquisa de mestrado. Alguns anos mais tarde, em 2011, quando eu estava em Paris para a pesquisa de doutorado, ele se tornaria o principal ator de uma tese em construção. Na França, eu tinha muitas questões e André Desvallées me deu não apenas as respostas, mas outras questões fundamentais e indispensáveis para a reflexão sobre o meu objeto de estudo. Nos meses em que permaneci em Paris, entre 2011 e 2012, eu conheci Desvallées, o professor, o informante generoso, o verdadeiro museólogo e pensador por detrás do papel.
A proposta inicial de organizar um dossiê em torno da obra escrita de André Desvallées para ser publicado nos Anais do Museu Histórico Nacional surgiu do próprio desejo desse autor de ver os seus pontos de vista sobre a museologia traduzidos ao português em um periódico brasileiro. A partir de uma entrevista realizada no dia 30 de março de 2012, em Paris, e de diversos outros encontros, trocas de e-mails, envios de documentos, o próprio Desvallées sugeriu que organizássemos juntos uma só entrevista para ser traduzida ao português e publicada no Brasil. A partir de sua ideia, e da generosa oferta de se organizar um dossiê por parte dos editores dos Anais do Museu Histórico Nacional, teve início um processo de seleção de outros textos para que fossem traduzidos compondo a presente obra.
Da seleção dos textos – processo do qual participou Desvallées ativamente e em todas as etapas – pode-se dizer que muitas podiam ter sido as escolhas e os caminhos tomados na museologia desvalleéesiana. Sua obra escrita é correspondente à vastidão mesma de sua atuação no campo da museologia e dos museus. Da museografia tradicional aos ecomuseus, da expografia (termo este criado por ele) à comunicação do patrimônio global… André Desvallées atuou no limiar entre museologias que se pensavam distintas e que foram moldadas e renovadas por suas próprias ideias e práticas, que influenciaram diversos seguidores ao longo dos anos e que fizeram aflorar uma só museologia, praticada e reconhecida nos quatro cantos do mundo, debatida criticamente nos textos aqui apresentados.
Para a seleção final dos textos, considerou-se, preponderantemente, o que havia de mais relevante – ainda que pontual – para duas trajetórias específicas que estes trabalhos devem testemunhar: de uma lado a própria trajetória pessoal e profissional de André Desvallées, que ao lado de Georges Henri Rivière, atuando como responsável pela realização das galerias do Musée national des Arts et Traditions populaires, teve a sua entrada no mundo da museologia marcada por um olhar questionador sobre os próprios modelos e conceitos fundadores desse campo profissional e disciplinar; de outro, há a trajetória da própria museologia, atravessada pela eclosão do movimento da Nova Museologia (anos 1980) que Desvallées ajudou a criar e pelo advento dos ecomuseus, que se tornaram objetos de sua investigação ao passar a fazer parte da Inspeção Geral de Museus – IGM, a partir do final da década de 1970.
O que se pretendeu foi marcar os diversos momentos da história da museologia em que as contribuições desse autor – que nunca se definiu como um teórico, mas como um homem “da prática” em suas próprias palavras – alteraram significativamente a ordem da museologia internacional, ou instauraram uma nova. O primeiro breve artigo, O ecomuseu: museu grau zero ou museu fora das paredes?, de 1985, publicado na renomada revista de etnologia Terrain, foi escrito com o propósito de questionar as próprias limitações da compreensão da noção de ecomuseu, mas também tem valor de manifesto, uma vez que foi publicado no momento em que Desvallées reivindicava o apoio do Ministério da Cultura francês a esse novo tipo de instituição.
O segundo texto, do mesmo ano, intitulado Museologia Nova (1985), e publicado pelo ICOFOM no boletim Nouvelles muséologiques, n. 8, editado por esse comitê, é o registro de uma conferência proferida por Desvallées em 1984, a pedido do ICOM, respondendo aos idealizadores do Movimento Internacional por uma Nova Museologia – MINOM, que reivindicavam a criação de um comitê, no ICOM, sobre ecomuseus, e, paralelamente, o reconhecimento do MINOM como organização associada. Nessa ocasião, Desvallées explica como criou o termo “nova museologia”, proposto inicialmente como “museologia (nova)” na sua atualização do verbete de Germain Bazin para a Encyclopedia Universalis de 1981. O texto original de 1981, segundo o próprio autor, não apresenta nada de revolucionário, e ele mesmo me desencorajou a traduzi-lo para o presente volume. O segundo texto, aqui traduzido, não apenas apresenta o termo explicitando o sentido proposto por seu idealizador, como também evidencia os seus antecedentes históricos, chamando a atenção para a falta de legitimidade de um discurso que pregava a ruptura entre uma museologia ampla e crítica estudada pelo ICOFOM, e a “nova museologia”, ou a “ecomuseologia” – correntes essas que foram disseminadas em primeiro lugar dentro desse mesmo comitê, e que se basearam nas ideias geminais de Georges Henri Rivière e Hugues de Varine, os principais responsáveis em lhes conferir algum sentido.
Uma das características mais marcantes da museologia, segundo André Desvallées, é exatamente a ausência de rupturas e de oposições revolucionárias que tenham interrompido o curso de uma só museologia contínua, em sua prática e na teoria. Nessa vertente, as mudanças são parte inerente do curso dos processos museais (no termo mais usado por Desvallées – seriam “museológicos” no Brasil) e se mostram flagrantes tanto na museologia quanto na museografia das últimas décadas do século 20. No artigo publicado em 1987 na revista Brises, Desvallées faz referência a Uma virada da Museologia, que teria levado à concepção de novos modelos teóricos e práticos. Como agente nesse campo de mudanças, ele aponta a evidente confusão terminológica que atesta o processo de estruturação da museologia. E fica claro, nesse sentido, que a virada a que se refere diz respeito a um movimento de (re)contextualização dos museus e dos objetos que eles expõem, seguindo a vertente contextual da museologia francesa que, como ele demonstra, não está completamente distante da via de pensamento aberta pelos teóricos do leste europeu. Nessa perspectiva, é então apresentada ao leitor uma revisão do que se reconhecia como a teoria da museologia na época e a diversidade de novos termos para designar as formas adotadas pelos museus. Desvallées realiza um tipo de análise terminológica cuja preocupação principal é com a historicidade dos conceitos, que é semelhante a que se veria de modo ampliado mais tarde na sua busca incansável pela definição de uma terminologia da museologia, e no Dictionnaire encyclopédique de muséologie, que organizaria junto com o seu mais atuante discípulo, François Mairesse1.
Podemos dizer, com certa precisão, que foi a sua “museologia (nova)” que levou Desvallées a perseguir o exercício de investigar os conceitos por detrás dos termos, exercício este que ele assume como constante a partir de então – e sobretudo em sua atuação no ICOFOM. Com efeito, a sua produção textual ao longo das décadas de 1980 e 1990 se vê marcada pela busca de um historicismo e de uma terminologia para o campo. Na Apresentação escrita para a coletânea sobre textos da Nova Museologia publicada com o título de Vagues, Une anthologie de la Nouvelle muséologie, Desvallées descreve com precisão de testemunho o contexto em que surgiu o movimento ao tentar historicizar os seus antecedentes. A partir dos textos coletados para sua “antologia”, inédita em seu propósito congregador dos olhares sobre a “nova museologia”, e que haviam sido publicados pelos diversos autores ao longo do processo de revisão da museologia que se deu nos anos 1970 e 1980, Desvallées torna evidente em sua análise os limites supostos de um movimento cuja definição exata não estava clara para muitos.
Tais fronteiras definidoras da museologia contemporânea são novamente mencionadas e reafirmadas no texto final desse dossiê, que reúne as informações necessárias para que o leitor comece a desenvolver uma plena percepção histórica e geopolítica do campo da museologia no mundo. A entrevista, realizada em 2012, traz para a atualidade a confirmação dos fundamentos da museologia (nova) – e a atual – proposta por Desvallées nos anos 1980. A instauração dos novos modelos de museus experimentais, as correntes de pensamento que os sustentavam, as idiossincrasias da política de museus na França e a constituição do Comitê de Museologia são alguns dos temas abordados por ele nessa conversa entre dois museólogos, saindo dos confins de suas próprias museologias para investigar as suas bases.
Entre as ondas de uma museologia que é pensada como una por um de seus maiores transgressores, contempla-se o conjunto de correntes e influências que levaram à estruturação de um campo disciplinar a partir do alargamento dos seus ideais e dos princípios que, segundo Desvallées, já estavam na base da museologia com a qual alguns desavisados pretendiam romper. Na perspectiva desse museólogo (no sentido mais amplo dado ao termo pelos franceses), a museologia, em suas formas de diferenciação ou de assimilação de novas correntes teóricas e práticas, é composta por confluências e afluências que a conduzem a desembocar sempre no mesmo oceano, ainda que alterado.
Nota
1 Cf. DESVALLÉES, André & MAIRESSE, François. Dictionnaire encyclopédique de muséologie. Paris: Armand Colin. 2011.
Organizador
Bruno Brulon – Professor de Museologia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
BRULON Bruno (Org d)
Referências desta apresentação
BRULON, Bruno. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.47, p. 9-14, 2015. Acessar publicação original [DR]
Mídias | Anais do Museu Histórico Nacional | 2017
Mídias | Anais do Museu Histórico Nacional | 2017, MONTEIRO Christiano Britto (Org d); PEREIRA Wagner Pinheiro (Org d), Mídias (d)
Cinema, games e museus: meios, usos e mediações dos acervos históricos na era das audiovisualidades
O presente dossiê apresenta um conjunto representativo de algumas das pesquisas mais atuais e instigantes sobre as relações entre história, cinema, games e museus na constituição das interfaces, interdisciplinaridades e especificidades dos “meios, usos e mediações”1 dos acervos históricos na “Era das Audiovisualidades”.
Na primeira metade do século XX, os estudiosos da chamada Escola de Frankfurt – como Theodor Adorno2, Max Horkheimer3, Walter Benjamin4, seguidos mais à frente por pesquisadores contemporâneos como Guy Debord5, Jean Baudrillard6, Douglas Kellner7, Néstor García Canclini8, Jesús MartinBarbero9, Pierre Lévy10, dentre outros, têm refletido sobre a sociedade de massas na “Era do espetáculo dos meios de comunicação” e avaliado o papel das novas mídias nas práticas sociais e culturais que, cada vez mais, tem valorizado uma postura interativa do público espectador frente às “obras de arte na época da sua reprodutibilidade técnica”.11
Indubitavelmente, a emergência de uma cultura da mídia e o desenvolvimento tecnológico das audiovisualidades, em pleno processo dialético com suas sociedades massificadas, representou um paradigma para as formas de construção da narrativa da História e da configuração das representações da memória histórica. Neste sentido, o presente dossiê objetiva congregar estudos que apresentem propostas e experiências de teorias, metodologias e pesquisas que, marcadas pelo caráter multidisciplinar, discutam como a cultura das audiovisualidades gerou mudanças comportamentais que afetam a noção de tempo, de espaço e dos dados históricos, conceitos fundamentais para o trabalho historiográfico, assim como reflitam acerca da forma como o espaço da memória histórica de museus e seus acervos são incorporados, ressignificados e trabalhados pelos recursos das audiovisualidades: cinema, televisão, games, vídeos, aplicativos, smartphones e as demais tecnologias de informação e comunicação (TICs).
Refletir sobre as possíveis conexões, convergências, diálogos e interações entre as novas tecnologias midiáticas dos séculos XX e XXI e os museus, acervos e patrimônios históricos possibilita aprofundar, potencializar e incorporar os instigantes debates contemplados nestas distintas áreas. O intuito é problematizar o intercâmbio do conhecimento sobre novas mídias, bem como viabilizar novas metodologias de divulgação e ludicidade aplicadas aos acervos museológicos.
Os artigos do dossiê estão agrupados de acordo com uma ótica estrutural organizada em três eixos temáticos principais, a saber:
O primeiro grupo contempla os artigos dedicados às diferentes fontes e temáticas que envolvem as relações História, Cinema e Televisão.
O artigo “Meridional Filmes: trajetórias desconhecidas do cinema pernambucano durante o Estado Novo (1937-1945)”, do doutorando em História pela UFPE, Arthur Gustavo Lira do Nascimento, realiza uma análise das produções da empresa cinematográfica Meridional Filmes, contratada diversas vezes pelo governador pernambucano Agamenon Magalhães para realizar filmes sobre as ações políticas do Estado Novo em Pernambuco.
O artigo de Quezia Brandão, Mestra em História Social pela USP, apresenta uma análise sobre “A poética cinematográfica latino-americana de Glauber Rocha: Uma análise do filme A Idade da Terra (1980)”. Partindo do estudo do roteiro cinematográfico nunca produzido de “América Nuestra” (1965), a historiadora investiga as transformações sofridas pelo projeto original de Glauber Rocha até a produção do filme A Idade da Terra, considerado por Quezia Brandão como a “obra síntese” da filmografia do cineasta baiano Glauber Rocha. Para auxiliar o leitor a decifrar o “filme maldito” e mais incompreendido do maior expoente do Cinema Novo Brasileiro, a autora discute aspectos externos que envolveram a produção cinematográfica, assim como se dedica, com sensibilidade, a desvendar a linguagem estética e as alegorias crísticas presentes no último filme de Glauber Rocha.
Concluímos este primeiro bloco com o artigo “Controle e Espetáculo: Imagens cinematográficas da televisão dos anos 1990”, de Thiago Henrique Felício, doutorando em História pela UFPR, que através do estudo dos filmes O Efeito Ilha (dir. Luiz Alberto Pereira, 1994), Como Nascem os Anjos (dir. Murilo Salles, 1996) e Um Céu de Estrelas (dir. Tata Amaral, 1996), discute como essas produções refletiram sobre algumas das questões e dilemas da década de 1990. Segundo expõe o autor, essas obras foram bastante críticas, pois procuraram apontar para uma certa banalização da cultura pelas imagens, bem como para a alienação e para o controle provocados e exercidos através dos melodramas televisivos, que se tornavam cada vez mais onipresentes com a repetição das suas mensagens nos mais diferentes meios de divulgação.
Estes dois últimos artigos auxiliam a compreensão das relações da produção de cinema e TV com a transição da ditadura civil-militar para o período democrático no Brasil República.
O segundo grupo temático reúne artigos que refletem sobre as questões que permeiam as relações entre História e videogames.
Em “O espaço virtual da reconstituição histórica em Assassin’s Creed III (2012)”, Robson Scarassati Bello, doutorando em História Social pela USP, levando em conta que os jogos de videogame apresentam uma nova forma de representar e simular a realidade histórica através do espaço virtual, reflete como o jogo Assassin’s Creed III representou a Guerra Franco-Indígena e a Revolução Americana (1776), transformando os eventos históricos em uma espécie de parque de diversões.
Também trabalhando com a cultura dos games, temos o artigo de Diogo Trindade Alves de Carvalho, doutorando em História pela UFBA, que se debruçou na análise temática “Civilizados, Incivilizados e Primitivos no jogo Victoria 2 (2010): uma análise dos diários de desenvolvimento publicados no fórum da Paradox”. Neste artigo, o autor aponta que o jogo Victoria 2 reproduz um discurso eurocêntrico e racista na busca de glorificar a visão conservadora de um passado glorioso para da história do Império Britânico, entre 1836-1946, período no qual o jogo transcorre e que constrói a memória em torno de eventos históricos e objetos museológicos.
O terceiro bloco é composto por textos que debatem as relações da História com cinema, games e museus, que também perpassam a educação e suas influências na forma de trabalho e de percepção dos artefatos e objetos museológicos.
Nesta senda, o artigo “Um salão de belas novidades: um olho no cinematógrafo, outro no museu!”, de Geyzon Bezerra Dantas, mestre em Letras (Literatura e Cultura) pela UFPB, reconstitui através da história da primeira sala de cinema instalada no Rio de Janeiro, no final do século XIX, como o advento da novidade tecnológica produziu efeitos no imaginário e na vida cultural carioca. À margem das instituições museais que também se formavam no período, surge no contexto do entretenimento popular um museu integrado ao espetáculo cinematográfico. Dessa forma, o autor analisa a presença desse museu popular, na primeira época do cinema brasileiro (1896- 1912), destacando ainda o aspecto de confluência entre a exibição de filmes e a exposição de objetos durante a Exposição Nacional de 1908.
Na sequência, Marta Dile Robalinho, pós-graduanda em História do Brasil pós-30 pela UFF, no artigo “Museu, objeto e o digital no Ensino de História”, reflete sobre como podemos pensar o ensino de História a partir da leitura de objetos museais através do digital. Para isso, a autora realiza uma pesquisa de objetos pertencentes ao século XIX da exposição do Museu da República, no Rio de Janeiro, e da forma como eles podem ser trabalhados com alunos do Ensino Fundamental II de uma escola pública. A partir desse exercício, a autora nos apresenta subsídios para a elaboração do roteiro de atividades em aplicativo para smartphone e tablet.
Já “Produção de Museu Virtual na Escola: uma experiência didático-pedagógica para estudos africanos”, artigo de produção conjunta dos autores Larissa de Souza Reis, doutoranda em Educação e Contemporaneidade da UNEB, Alfredo Eurico Rodrigues Matta, doutor em Educação pela UFBA/ Université Laval (Canadá), e Francisca de Paula Santos, doutora em Educação pela UFBA, dedica-se a apresentar o processo de construção do Museu Virtual de Contos Africanos e Itan (MUCAI), resultante da pesquisa decorrente da Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade da UNEB, desenvolvida no período de 2015 a 2017 e patenteada em uma escola municipal de Salvador, com turmas do 4º ano do Ensino Fundamental I. Para isso, os autores utilizaram-se de “contações de histórias”, oficinas de produções artísticas com desenhos e teatro, além da criação do portal resultante das práticas pedagógicas, o que possibilita a realização de um relevante diálogo em torno do currículo da Educação das Relações Étnico-Raciais, além do compartilhamento deste material didático-pedagógico com profissionais da área e demais interessados pela valorização da História e da Cultura Afro-Brasileira.
O penúltimo artigo “Experiências sensoriais: o Museu do Festival de Cinema de Gramado na perspectiva das novas tecnologias”, obra conjunta de autoria de Daniel Luciano Gevehr, doutor em História pela UNISINOS, Franciele Berti, doutoranda em Turismo pela UCS, e Roger Pierre Vidal, mestre em Desenvolvimento Regional pela FACCAT, investiga o processo que envolveu a criação e a reformulação do Museu do Festival de Cinema de Gramado (MFCG), no Rio Grande do Sul, que após passar por um trabalho de reconfiguração de suas ambiências, buscando se aproximar da ideia de museu interativo, valeu-se, segundo demonstrado pelos autores, de novas tecnologias visuais, que permitem a interação do público com os recursos disponíveis na expografia do museu, dedicada a contar a história do cinema brasileiro e da trajetória percorrida pelo Festival de Cinema de Gramado, explorando, para tanto, a exposição de imagens – fotografia a audiovisual – que permitem a veiculação das narrativas visuais.
O último artigo do dossiê, “O século XXI e a educação histórica: Patrimônio Cultural, Museus e Jogos Eletrônicos”, de autoria de Paulo Sérgio Micali Junior, mestre em História pela UEL, elabora uma proposta educativa aos moldes de aula-oficina, amparada em mediadores culturais e tendo em vista o avanço tecnológico e a liquefação das relações humanas, com a finalidade de desenvolver uma prática educacional que envolva dos preparativos que antecedem a visita museal ao emprego de gameplays para estimular os alunos acerca dos elementos dotados de patrimonialidade.
Diante desta breve apresentação, é possível ao leitor perceber que encontrará neste dossiê uma reunião de artigos que, através da pluralidade de olhares de seus autores e dos recortes temáticos de suas pesquisas, apresenta interessantes e intrigantes formas de se relacionar as audiovisualidades com os museus e a educação. Dessa forma, o leitor verá contemplada uma vasta gama de temas, fontes e abordagens teórico-metodológicas, que possibilitam traçar um panorama da cultura audiovisual contemporânea.
Gostaríamos de finalizar essa apresentação do dossiê agradecendo a significativa contribuição de todos os autores que colaboraram nesta presente edição, assim como a dedicação dos editores dos Anais do Museu Histórico Nacional, que nos possibilitou apresentar ao público leitor um conjunto diversificado, sério e atualizado da produção acadêmica dedicada aos estudos das audiovisualidades e de suas relações com a História e os museus. Temos convicção de que o público leitor apreciará os artigos deste dossiê. Uma excelente leitura!
Notas
1 Expressão de: MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2009.
2 HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor W. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
3 HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor W. “A indústria cultural. O Iluminismo como mistificação de massa”. In: LIMA, Luis Costa (org.). Teoria da Cultura de Massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010. p.169-214.
4 BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Primeira Versão”. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras escolhidas – volume 1. São Paulo: Brasiliense, 1986. p.165-196.
5 DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo / Comentários Sobre a Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto Editora, 1997.
6 BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Elfos, 1995.
7 KELLNER, Douglas. A Cultura da Mídia. Identidade Política Entre o Moderno e o Pós-moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
8 GARCIA CANCLINI, Néstor. Consumidores e Cidadãos. Conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2001.
9 MARTIN-BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2009.
10 LÉVY, Pierre. Que é o Virtual? Rio de Janeiro: Editora 34, 2003.
11 Expressão cunhada pelo filósofo alemão Walter Benjamin, no texto “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica” Op. cit.
Organizadores
Christiano Britto Monteiro – Doutor em História e professor adjunto da Universidade Federal Fluminense (UFF). Autor da dissertação “Medal of Honor e a construção da memória da Segunda Guerra Mundial”, pelo PPGH – UFF e da tese “Medal of Honor e Call of Duty: uma comparação entre missões do videogame e eventos históricos”, pelo PPGHC/UFRJ.
Wagner Pinheiro Pereira – Doutor (2008) em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), onde também realizou o Pós-Doutorado (2010). Atualmente é professor adjunto de História da América e História do Audiovisual nos cursos de Bacharelado em História e de Bacharelado em Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Referências desta apresentação
MONTEIRO Christiano Britto; PEREIRA Wagner Pinheiro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.49, n.1, p.6-12, 2017. Acessar publicação original [DR]
Museus, sujeitos e itinerários | Anais do Museu Histórico Nacional | 2018
Museus, sujeitos e itinerários | Anais do Museu Histórico Nacional | 2018, FARIA Ana Carolina Gelmini de (Org d); POSSAMAI Zita Rosane (Org d), Museus (d), Sujeitos (d), Biografias (d)
O dossiê “Museus, sujeitos e itinerários” reúne estudos que investigam as relações entre sujeitos, seus itinerários biográficos e profissionais e os museus, especialmente em perspectiva histórica. Campo, intelectual, mediador e rede de sociabilidade são algumas das categorias operacionais utilizadas na bibliografia brasileira e internacional sobre museus e Museologia, oferecendo oportunidades de conhecer as ideias e práticas de indivíduos no âmbito da formação de coleções, do funcionamento dos museus e na conformação disciplinar da Museologia.
Naturalistas, artistas, historiadores, arquitetos, conservadores de museus, educadores, escritores, advogados, entre outros povoam esse universo no Brasil. Entretanto, alguns personagens são constantemente visitados pelos pesquisadores, a ponto de haver identificação entre as instituições museológicas e seus gestores. Isso decorre de uma história dos museus que privilegia a atuação de seus diretores, majoritariamente homens. E como é característico das operações da memória, na visibilidade de determinados sujeitos, outros são deixados na penumbra.
Portanto, este dossiê traz um duplo desafio: propor novas abordagens sobre personagens cujas atuações já foram investigadas; e dar visibilidade a sujeitos, homens, mulheres, LGBT+, ainda parcamente conhecidos no âmbito da Museologia e da história dos museus.
Abrem o dossiê dois artigos que miram um espaço de interações específicas vinculadas à Museologia e aos museus. Essa abordagem permite compreender, por um lado, a conformação de um campo particular de atuação e, por outro, a invisibilidade de profissionais que atuam em determinado ofício.
Assim, o artigo “O campo dos museus no Brasil: indícios das relações instituídas em meados do século XX”, de autoria das organizadoras deste número especial, propõe caracterizar a configuração de um campo dos museus no Brasil entre as décadas de 1930 e 1950. Nesse campo homens, mulheres e organizações compartilhavam um espaço de disputas e negociações relacionadas às questões museológicas, entre os quais foram identificados naturalistas, conservadores de museus, artistas, entre outros. Para as autoras, no contexto em estudo o conceito de campo apresentou-se como adequado para abordar processos marcados por relações entre inúmeros sujeitos, em vez de uma abordagem que privilegia a ação solitária de determinadas personalidades.
No mesmo sentido, o artigo “Sujeitos ocultos dos museus: os profissionais dos Laboratórios de Conservação e Restauração do Museu Imperial e do Museu de Astronomia e Ciências Afins”, de Marcus Granato, Eliane Marchesini Zanatta e Cláudia Penha dos Santos, aborda os profissionais vinculados a aspectos específicos da cadeia operatória museológica e que dividem um espaço de atuação relativo a práticas e saberes compartilhados. Como o título sugere, o estudo focaliza os profissionais ligados especialmente à conservação nos laboratórios do Museu Imperial e do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Os autores almejam valorizar esses sujeitos invisíveis, por considerarem seus ofícios e atuação inestimáveis para a existência dos acervos e para o cumprimento da missão dos museus. Ao comparar dois museus com características diversas, os autores concluem que a “invisibilidade” desses profissionais se manifesta independentemente dessas diferenças.
Pesquisar o itinerário de determinados indivíduos implica no esforço de buscar e cruzar documentos e arquivos localizados em países diversos, como é o caso do artigo “Domingos Vandelli: mediador de dois mundos”, de Letícia Julião, Marta Eloísa Melgaço Neves e Verona Campos Segantini. As autoras analisam a trajetória de Domingos Vandelli, compreendendo-a como estruturante e referencial de práticas colecionistas engendradas no império luso-brasileiro. Por meio de uma mirada cruzada entre documentos provenientes do velho e do novo continente e ainda pouco explorados pela historiografia, as autoras propõem considerar Vandelli como mediador entre dois mundos, por ter proporcionado o intercâmbio entre o centro colecionador português e os domínios colonizados a serem explorados. No pensamento museológico do naturalista, a filosofia natural iluminista articulava-se ao projeto político pombalino.
Para além do período colonial, o desenvolvimento científico e a consolidação das instituições museológicas no Brasil foram marcados pela presença de inúmeros pesquisadores estrangeiros. Em “O legado de Betty Meggers na constituição de acervos museológicos no Brasil”, Camilo de Mello Vasconcellos e Mariana Moraes de Oliveira Sombrio lançam um olhar sobre as coleções reunidas pela arqueóloga norte-americana Betty Jane Meggers (1921-2012), provenientes das expedições arqueológicas realizadas por ela e seu esposo, Clifford Evans, na região do Baixo Amazonas, entre os anos de 1948 e 1949. Os autores analisam os critérios de divisão, documentação, organização e trabalho com essas coleções no Museu Nacional e no Museu Paraense Emílio Goeldi, e Anais do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, vol. enfatizam os trânsitos, itinerários e relações envoltas na circulação desses objetos. A análise dos artefatos coletados por Meggers e Evans proporcionou interpretações sobre o modo de vida de grupos já extintos que habitaram a antiga Amazônia e continuam sendo referências fundamentais dos conhecimentos arqueológicos sobre a região.
O artigo de Vasconcellos e Sombrio também dá a ver a presença e atuação das mulheres nos museus, podendo ser inserido nas recentes abordagens com foco em relações de gênero na Museologia brasileira. Diferente de pesquisar as representações da mulher nas coleções, abordagem necessária para compreender o lugar da mulher na sociedade brasileira, neste dossiê as mulheres são consideradas protagonistas, seja como cientistas, seja como gestoras dos museus, e compartilham um espaço de interações predominantemente masculino.
Essa perspectiva é adotada por Ana Lúcia de Abreu Gomes e Maria Margaret Lopes no artigo “Agentes e agências na proteção do patrimônio antes do Patrimônio: Heloisa Alberto Torres e o Museu Nacional”, no qual abordam o protagonismo de Heloisa Alberto Torres, primeira mulher a ingressar como professora no Museu Nacional e a assumir a direção daquela instituição, cargo que ocupou entre 1938 e 1955. As autoras analisam a resposta de Heloisa Alberto Torres à consulta solicitada por Rodrigo Melo Franco sobre o anteprojeto elaborado por Mário de Andrade para a criação do Serviço do Patrimônio Artístico Nacional (Span). Em carta 9 de maio de 1936, Heloisa expõe sua discordância em relação à proposta apresentada por desmembrar as coleções científicas do Museu Nacional, ameaçando sua integralidade. Para as autoras, compreender determinados itinerários biográficos exige conhecer as questões práticas das ações de homens e mulheres. Por outro lado, nas palavras de Gomes e Lopes “(…) retomar aqui o protagonismo de Heloisa Alberto Torres na construção do Sphan busca reforçar que também as construções sobre o patrimônio no país dependeram muito mais das ações, disputas e contradições entre diversos agentes e agências do que foram obras de algum homem-monumento”.
Além das mulheres, o dossiê abre espaço para a presença LGBT+ nos museus e na Museologia, por meio do artigo “Clóvis Bornay: memória de um centenário esquecido!”, de Ivan Coelho de Sá, Anna Laudicea Itaborai Echternacht e Raquel Villagrán Reimão Mello Seoane. Os autores procuram valorizar a memória do carnavalesco e museólogo Clóvis Bornay, explorando a contradição entre uma imagem pública perpetuada por intensa atuação no carnaval brasileiro e o apagamento de sua importante trajetória como museólogo. Além disso, os autores buscam valorizar a memória LGBT+ presente na Museologia e muito pouco conhecida.
Essa pequena amostra de estudos aqui apresentados sobre os sujeitos que habitaram e habitam nossos museus e a Museologia no Brasil não pretende constituir um inventário, nem esgotar as possibilidades de pesquisa. Ao contrário, almeja inspirar e suscitar novos olhares para documentos e museus constantemente visitados ou ainda a serem descobertos, a partir dos quais a ação de homens e mulheres possa ser conhecida.
Organizadores
Ana Carolina Gelmini de Faria – Graduada em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), mestre e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Docente do curso de Museologia da UFRGS. E-mail: carolina.gelmini@ufrgs.br
Zita Rosane Possamai – Graduada, mestre e doutora em História pela UFRGS. Docente do curso de Museologia, do Programa de Pós-Graduação em Educação e do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, todos da UFRGS. E-mail: zitapossamai@gmail.com
Referências desta apresentação
FARIA, Ana Carolina Gelmini de; POSSAMAI, Zita Rosane. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.50, p.8-12, 2018. Acessar publicação original [DR]
Educar e aprender em museus. Perspectivas para o ensino de História | Anais do Museu Histórico Nacional | 2019
Educar e aprender em museus. Perspectivas para o ensino de História | Anais do Museu Histórico Nacional | 2019, MAGALHÃES Aline Montenegro (Org d); COSTA Carina Martins (Org d); RAMOS Francisco Regis Lopes (Org d), Educar (d), Aprender (d), Museus (d)
As pesquisas sobre educação em museus cresceram enormemente nas últimas duas décadas, ainda que a área de História não ocupe um lugar de proeminência, sendo subsumida pelas Ciências Naturais e pelas Artes. Ademais, o universo dos museus e suas práticas monológicas e lineares foram intensamente bombardeados tanto pelos movimentos sociais, como por pesquisadores/as e profissionais desse campo, ensejando rupturas e densidades nas narrativas museais, tendo na educação, muitas vezes, a plataforma para atualização memorial e diálogo com as diferentes demandas sociais.
É possível perceber, assim, uma inflexão ético-política no debate sobre representações históricas nos museus, que se aprofunda nas reflexões sobre nossa própria capacidade de historicizar e narrar experiências tão diversas em relação à temporalidade. Evidentemente, tal debate também questiona a possibilidade dos museus atuarem como atores importantes nas disputas memoriais e na projeção (ou mesmo alargamento) de novos horizontes de experiência, tão estrangulado pelo presentismo e pelas demandas consumistas da contemporaneidade.
O esforço de reunir pesquisadores/as pertencentes a diferentes gerações e campos de atuação visa ainda subsidiar novas estratégias de apropriação dos museus pela História, transcendendo diagnósticos pessimistas acerca da relação entre poder e memória, vitalizando, dessa forma, novas possibilidades de exercitar o poder da memória. Da mesma forma, a compreensão transdisciplinar promove uma rica reflexão para o ensino de História, por meio dos olhares advindos da Educação, da Museologia, da Antropologia, da Arte e da História. O respeito à diversidade, coerente com as escolhas temáticas do dossiê, coaduna com o esforço em reunir pesquisadores de diferentes regiões do Brasil, com representatividade indiciária para pensar a agenda das pesquisas recentes em ensino de História nos museus. A contribuição de uma pesquisadora argentina atuando no Canadá busca internacionalizar os diálogos propostos.
Dessa forma, o dossiê abarca três dimensões articuladas ao “boom” da memória e das demandas por História — em primeiro lugar, historicizar os projetos de educação em museus, com o objetivo de mapear sujeitos, narrativas e práticas. Nessa perspectiva, o artigo “Educar em museus históricos: entre deveres e devires da memória”, de Carina Martins Costa, destaca ações educativas realizadas no Museu Mariano Procópio (Juiz de Fora-MG), durante parte da gestão da diretora Geralda Armond. Trata-se de um projeto de ensino da história posto em prática sob a égide de uma “pedagogia de coturno”, que lamentavelmente, encontra ressonância nos tempos atuais. Francisco Régis Lopes Ramos, por sua vez, no artigo “A pedagogia dos antiquários: Gustavo Barroso e o passado que objetos e palavras podem conter”, propõe uma reflexão sobre uma “pedagogia antiquária” identificada na escrita da história de Gustavo Barroso, na qual o primeiro diretor do Museu Histórico Nacional estabelece relações entre passado e presente mediadas por objetos e representadas na tensa fronteira entre História e ficção. Já o artigo “Notas sobre a Diáspora Africana na exposição e nas ações educativas do Museu Histórico Nacional”, escrito por Aline Montenegro Magalhães, Erika Azevedo, Fernanda Castro e Stephanie Santana traz uma contribuição profícua, oriunda do encontro entre olhares e diálogos dos núcleos de pesquisa e educação do Museu Histórico Nacional. Ao abordarem as narrativas sobre negros/negras na exposição, demonstram evidências de ignorância, desconhecimento, reiteração de estereótipos e invisibilização, transmutadas, pela ação de pesquisa e educação, em conhecimento, problematização e protagonismos.
A segunda dimensão visa aprofundar o debate sobre a diversidade nos museus, com um olhar apurado para práticas museais relacionadas ao gênero, ao debate étnico-racial e às memórias silenciadas. Em conexão com o artigo anterior, Valdemar de Assis Lima e Elisom Paim, no artigo “Educação museal e educação escolar: diálogos para uma sociedade antirracista”, exploram, ancorados na interculturalidade crítica e na perspectiva decolonial de educação, as narrativas de professoras e educadoras museais sobre as experiências de situação de visita dos públicos escolares, aos museus que preservam acervos de matriz cultural africana e afro-brasileira. A pesquisadora Andrea Roca, no artigo “Os usos do patrimônio e dos museus no ensino da História”, traz uma importante contribuição sobre experiências de problematização da história oficial argentina em relação ao povo indígena Mapuche, encetadas no Museu Etnográfico de Buenos Aires entre 2000 e 2010. Face à ausência de materiais escolares e de divulgação científica em contexto de ataques aos direitos indígenas, a autora demonstra a potência das ações educativas do museu e a importância de sua conexão com o tempo presente.
A terceira dimensão propõe-se a refletir sobre a apropriação de professores/as e alunos sobre narrativas e linguagem museal. Neste sentido, a compreensão do artefato, da expografia e da tecnologia museal torna-se ferramenta para a construção de outras linguagens e reflexões, incluindo aqui desvios e interpretações a contrapelo de narrativas consideradas oficiais. Marcele R. N. Pereira, no artigo “Museus Escolares: trajetória histórica e desafios à luz da museologia social”, historiciza os museus escolares e, sob a perspectiva da museologia social e da educação museal contemporâneas, aponta para possibilidades de um novo tipo de museu escolar, comprometido com a comunidade a que pertence. Já os artigos “Museu e imaginação histórica”, de Isabella Carvalho de Menezes e Lana Mara de Castro Siman, e “Do patrimônio musealizado à produção de exposições por estudantes de escolas públicas, de Alyne Mendes Fabro Selano e Benílson Mario Iecker Sancho, apresentam ações educativas nas quais os estudantes foram diretamente envolvidos como protagonistas na produção de material pedagógico e exposições mobilizados para o ensino de História em museus. No primeiro caso, inspiradas na noção de imaginação histórica, de Robin Collingwood, as autoras analisam a criação de um jogo de cartas produzidas com base no acervo do Museu do Ouro (MG), cuja trama foi elaborada pelos alunos. Já no segundo, o foco é dado a duas exposições protagonizadas por estudantes do nono ano do Ensino Fundamental de escolas públicas. Experiências pedagógicas que se constituíram na interface entre escola, museu e universidade, desenvolvidas pelos autores, no âmbito do Mestrado Profissional em Ensino de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Nesse dossiê sobre educar e aprender nos e com os museus, procuramos reunir variadas formas de aproximação e de leitura que articulam, em perspectivas teóricometodológicas diversas, o material ao imaterial, o local ao global, os processos de silenciamento aos gritos, a cronologia ocidental às temporalidades decoloniais. Assim, esperamos oferecer uma contribuição aos/às professores/as e aos/às pesquisadores/as do ensino de História.
Organizadores
Aline Montenegro Magalhães – Doutora em História Social pelo PPGHIS/UFRJ. Bolsista de pós-doutorado sênior do CNPq e pesquisadora no Museu Histórico Nacional. Professora do MBA em Gestão de Museus da UCAM e do PROFHISTÓRIA da Unirio. E-mail: aline.magalhaes@museus.gov.br
Carina Martins Costa – Doutora em História, Política e Bens Culturais (FGV-CPDOC), mestre em Projetos Sociais e Bens Culturais (FGV- CPDOC), mestra em Educação (UFJF) e licenciada em História (UFJF). Professora adjunta na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ESDI-DAU). E-mail: martinsgaruda@gmail.com
Francisco Regis Lopes Ramos – Professor Titular do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC). Pesquisador do CNPq (bolsa produtividade nível 2). E-mail: regisufc@hotmail.com
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro; COSTA, Carina Martins; RAMOS, Francisco Regis Lopes. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.51, p.7-10, 2019. Acessar publicação original [DR]
Educação Museal | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020
Educação Museal | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020, CASTRO Fernanda Santana Rabello de (Org d), Educação Museal (d)
Em 2018 celebraram-se os sessenta anos da realização do Seminário Regional da Unesco sobre a função educativa dos museus, sediado no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, em setembro de 1958. O evento e o seu relatório1 produzido por Georges Henry Rivière representam um marco internacional para a educação museal, que mereceu ser destacado em seu sexagésimo aniversário, especialmente por manter-se ainda atual.
Por sugestão da Rede de Educadores em Museus e Centros Culturais do Rio de Janeiro (REM-RJ), que comemorou seus quinze anos de fundação, esse tema pautou a realização de dois seminários em uma parceria que envolveu a REM-RJ, o Museu Histórico Nacional e o Museu da República. Sendo parte das atividades da 12a Primavera dos Museus, as celebrações começaram com o seminário A Função Educacional dos Museus 60 anos depois, realizado no Museu da República, no Museu Imperial, no Museu de Arte Moderna, no Museu das Remoções e no Museu Histórico Nacional, incluindo mesas redondas, conferências e visitas técnicas, entre os dias 18 e 21 de setembro de 2018.
Na sequência, encerrando as atividades da parceria, ocorreu entre os dias 9 e 11 de outubro de 2018, o Seminário Museu e Educação: 60 anos da Declaração do Rio de Janeiro.2 Essa versão do Seminário Internacional do Museu Histórico Nacional, que celebra em outubro o aniversário do museu, contou com convidados internacionais e nacionais. Foram realizadas quatro conferências, duas mesas redondas, além de quatro painéis temáticos com a apresentação de 43 comunicações orais, e de uma mesa de relatos de experiências nos museus do Ibram.3 O evento contou ainda com uma exposição sobre a história da educação museal no Brasil, que reuniu acervo bibliográfico do Museu Histórico Nacional e de educadores colaboradores.
Este dossiê dos Anais do Museu Histórico Nacional é uma edição especial que contém artigos com os temas das apresentações dos conferencistas e palestrantes do seminário realizado no MHN. Na conferência de abertura, Mário Chagas, museólogo, poeta e professor, refletiu sobre o tema do seminário, e aqui seu artigo “O Seminário Regional da Unesco sobre a função educativa dos museus (1958): sessenta anos depois” abre o dossiê. Baseado na fala do autor, ele analisa o contexto e os bastidores do evento de 1958, sua composição, resultados e documentos históricos de referência.
Em seguida, na primeira mesa redonda, Andrea Costa, educadora museal da Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional e professora da Escola de Museologia da Unirio, abordou a contribuição do Museu Nacional para a constituição da história e da memória dos projetos e ações em educação museal no Brasil. No artigo “A educação museal no Brasil pré-seminário de 1958: a atuação precursora do Museu Nacional”, escrito em coautoria com a professora do Programa de Pós-Graduação em Educação, Guaracira Gouvêa, as autoras ressaltam a atuação intelectual e prática de educadores e demais profissionais de museus que atuaram no período anterior a 1958.
Na mesma mesa, Maria Esther Alvarez Valente, pesquisadora da Coordenação de Educação em Ciências do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e docente do curso de pós-graduação Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia (PPACTMAST), apresentou um panorama histórico do desenvolvimento da educação museal no Brasil. Seu artigo, “Panorama da história da educação museal no Brasil: uma reflexão”, aborda aspectos educativos que prevaleceram nos museus nos séculos XIX e XX, com especial atenção às décadas que antecederam o seminário de 1958 e destacando a relação museu-escola.
No mesmo debate, Milene Chiovatto, educadora coordenadora do Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo e, naquele momento do evento, presidente do Comitê de Educação e Ação Cultural (CECA) do Conselho Internacional de Museus (ICOM), narra em “CECA- ICOM: suas raízes, historias, atividades e dilemas contemporâneos” os atos de criação do ICOM e do CECA que se deram no contexto do seminário de 1958. Sublinha influências e permanências nos dias atuais das discussões realizadas por essas organizações, evidenciando a importância dos desdobramentos do evento na constituição das instituições e suas práticas, e de todo o pensamento museal na segunda metade do século XX, e, ainda hoje, com destaque para as ideias de cultura, democracia cultural e educação que engendraram.
Na segunda mesa redonda, Fernanda Castro, educadora do Museu Histórico Nacional e gestora da Rede de Educadores em Museus do Brasil, expôs um panorama das políticas públicas de educação museal no Brasil. No artigo “História das políticas públicas de educação museal no Brasil” ilumina a participação da sociedade civil organizada na formação dos campos político, profissional e prático da educação museal, pontuando que a prática e atuação dos educadores museais historicamente orientou a constituição de políticas públicas para a área, e que as sugestões do evento de 1958 refletem-se ainda nas políticas contemporâneas. Toma por base uma análise comparativa entre o relatório daquele seminário regional e a Política Nacional de Educação Museal (PNEM), definida em 2017 pelo IBRAM.
Por fim, Francisco Régis Lopes Ramos, docente da área de História, na Universidade Federal do Ceará, traz-nos um artigo referente à conferência de encerramento do Seminário do MHN. Em “A história sem vergonha do tempo: uma leitura da Política Nacional de Educação Museal (PNEM)”, brindando-nos com uma mescla de literatura, história e memória da trajetória de educação museal no Brasil até a constituição da PNEM. Num exercício de interdisciplinaridade, o artigo nos leva a experimentar etimologias, pesquisas, instituições e lembranças afetivas da conformação de uma prática educativa que tem tanto dos profissionais, quanto dos próprios seres viventes das experiências educativas em museus.
Portanto, trazemos ao volume 52 dos Anais do Museu Histórico Nacional uma degustação memorial do que foi o Seminário Museu e Educação: 60 anos da Declaração do Rio de Janeiro. Esperamos que os textos aqui apresentados contribuam para a consolidação do campo da educação museal, sua história e trajetória política, estabelecendo pontes entre o passado e o presente. Acreditamos que este dossiê colabore para a difusão do conhecimento específico produzido e que sirva para a constante reflexão sobre a prática educativa museal, apoiando sua profissionalização e o fortalecimento de um campo científico próprio pautado na prática, na teoria e na ação política.
Notas
1 A primeira versão completa do relatório de Georges Henry Rivière foi traduzida em português no livro publicado pelo Museu da República, fruto do seminário realizado em setembro nessa parceria: CHAGAS, M. e MACRI, M. (orgs.). A função educacional dos museus: 60 anos do Seminário Regional da Unesco. Disponível no link: http://museudarepublica.museus.gov.br/wpcontent/uploads/2019/05/Livro_seminario_WEB.pdf.
2 O nome do seminário do MHN merece uma nota. Em meio às pesquisas que deram base à organização do seminário, surgiu uma dúvida quanto à nomeação de um texto intitulado “Declaração do Rio de Janeiro”, publicado em coletânea sobre a legislação de museus, organizada pela Câmara dos Deputados: Legislação sobre museus (recurso eletrônico). Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012, disponível em: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/14599/legislacao_museus.pdf?sequence=5. O texto em questão é um extrato do relatório do evento de 1958, de George Henry Rivière, traduzido por M. Pierina Camargo e por Maria Cristina Bruno. Esta última contatada por nós, afirmou que não deu esse título à tradução, apenas traduziu o trecho selecionado, remetendo-o ao solicitante, o Instituto Brasileiro de Museus. Acreditamos que o editor da publicação criou um título para o trecho traduzido, sem fazer a necessária menção de que o relatório de Georges Henry Rivière não apresentava esse título.
3 Os resumos expandidos dos trabalhos apresentados nos painéis temáticos e na mesa de relatos de experiências integram o Caderno de Resumos do Seminário Museu e Educação de 2018, disponível na biblioteca virtual do Museu Histórico Nacional, na base Docpro.
Organizador
Fernanda Santana Rabello de Castro – Doutora em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação pela UFF, professora do PROFHISTÓRIA/UNIRIO, educadora museal no Museu Histórico Nacional/IBRAM e integrante do Comitê Gestor da Rede de Educadores em Museus do Brasil. E-mail: fernanda.castro@museus.gov.br
Referências desta apresentação
CASTRO Fernanda Santana Rabello de. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.52, p.6-10, 2020. Acessar publicação original [DR]
Do Rio para o mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete) | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020
Do Rio para o mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete) | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020, TELLES Angela (Org d), Rio de Janeiro (d), Café (d), Real Gabinete de Leitura (d)
No intuito de realizar um encontro de pesquisadores interessados na história do café no Segundo Reinado, o Polo de Pesquisas Luso-Brasileiras (PPLB), vinculado ao Centro de Estudos do Real Gabinete Português de Leitura, promoveu nos dias 12 e 13 de setembro de 2019, o seminário Do Rio para o mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete).
O Real Gabinete Português de Leitura conserva importante acervo documental relativo às exposições nacionais e internacionais de café organizadas pelo Centro da Lavoura e Comércio (1881-1884), sediado no Rio de Janeiro. O centro era uma associação não-governamental, considerada o principal elo entre os cafeicultores brasileiros e os consumidores internacionais. Tal acervo pode ser explicado pelo fato de os comerciantes portugueses Eduardo Lemos e Joaquim Ramalho Ortigão terem sido membros fundadores do Centro da Lavoura e Comércio e, ao mesmo tempo, presidentes do Real Gabinete Português de Leitura. Ambos foram, também, responsáveis pela construção do atual prédio desta biblioteca, cujo teto traz em relevo ramos de café. Dentre as obras relativas à história do café no Brasil cabe destacar os Relatórios da primeira e segunda exposição de café (1881-1882), publicados pelo referido centro, bem como o Catálogo da Exposição de Amsterdã (1883), de autoria de Eduardo Lemos, e que serviu de modelo para Paranhos Júnior, futuro Barão do Rio Branco, quando da exposição de café, em São Petersburgo.
Importante apontar que no final do século XIX foi dado um grande impulso no campo do comércio internacional. Tratados e convenções bilaterais passaram a ser firmados além de serem padronizadas as regras de intercâmbio diplomático e econômico. O Centro da Lavoura e Comércio, a convite do governo imperial, apresentou propostas econômicas que foram aceitas e implementadas. Além disso, percebia-se como eram fundamentais as exposições internacionais e as bolsas de café. Sabe-se que os EUA eram o maior importador de café do Brasil, tendo sido criada, em 1882, a bolsa de café em Nova Iorque. Como pode-se observar no Catálogo da Exposição de Amsterdã, organizado por Eduardo Lemos, “Decidiu-se, em princípio, somente se ocupar dos cafés chamados ‘Rio’, e abriram-se as operações afixando dois boletins recebidos do Rio de Janeiro por cabo, indicando a situação no mercado da capital brasileira”.1
O período era de remodelação do sistema capitalista mundial entre 1873 a 1896, considerado uma reviravolta decisiva da economia mundial. Discutia-se, naquele momento no Brasil, a substituição da mão de obra escravizada, ao mesmo tempo em que os grandes produtores do Vale do Paraíba no Rio investiam em maquinário sofisticado para o beneficiamento do café. Vivia-se sobre o impacto das transformações produzidas pela segunda revolução industrial. Um mundo que passou a ser movido a vapor. Um mundo mais interconectado através de cabos submarinos, que possibilitaram a criação de uma bolsa de café em Nova York, só para negociar o café “Rio”.
A região do Vale do Paraíba fluminense foi suplantada pela produção paulista somente a partir de 1890. Era o café “Rio” que alavancava a economia brasileira no exterior. Sabe-se que cerca de 80% da produção mundial de café no século XIX deveu-se ao Brasil.
Pode-se observar que os trabalhos apresentados no seminário Do Rio para o Mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete) revelaram uma história do café encoberta e esquecida por grande parte da historiografia nos últimos setenta anos. Apesar da relevância das exposições de café para a compreensão da política comercial do país no final do império, não há estudos sobre essas mostras, nem seus autores. Percebe-se que a historiografia sobre o assunto, depois da obra clássica de Taunay (A História do Café no Brasil, 1939), silenciou-se. Salvo a historiografia diplomática que, preocupada com a memória de Rio Branco, focaliza a exposição de café do Brasil na Rússia,. Destaca-se na historiografia diplomática: a Biografia de Rio Branco (1945), de Álvaro Lins; o trabalho de S. Topick, publicado em Rio Branco: a América do Sul e a modernização do Brasil (2002), organizado por Carlos Henrique Cardim e João Almino; e a documentação da exposição de São Petersburgo do próprio Barão do Rio Branco, conservada no Arquivo Histórico do Itamaraty, divulgada nos Cadernos do CHDD (2012).
Breve comentário sobre os artigos derivados dos trabalhos apresentados no seminário Importante observar que os trabalhos de Humberto Fernandes Machado (UFF), “Rio de Janeiro: sede da Corte e dos primeiros cafezais”, e de João Marcos Mesquita (UFF), “Negócios oitocentistas: Manoel Pinto da Fonseca e o enriquecimento no Rio de Janeiro (1835-1850)”, abordam as primeiras décadas do império brasileiro, em que o café estava começando a se expandir no Vale do Paraíba fluminense, onde a mão de obra escravizada sofreu um aumento em sua demanda. Os demais trabalhos irão focalizar a última década do império, momento em que se discutia a crise mundial que impactava a economia cafeeira e a substituição da mão de obra escravizada. Foi o momento das exposições internacionais de café, organizadas pelo Centro da Lavoura e Comércio, que propiciaram a divulgação do produto mundo afora, vinculando definitivamente o nome do café ao país.
No artigo “Do Rio para o mundo: as exposições de café organizadas pelo Centro da Lavoura e Comércio na década de 1880” pode-se verificar que os documentos disponíveis relativos à história do café no Brasil Imperial, conservados no acervo do Real Gabinete, forneceram pistas que auxiliaram na compreensão do papel de comerciantes e financistas na condução da política imperial relacionada à economia cafeeira em um momento de grande reviravolta na economia mundial. Lemos e Ortigão fizeram parte de um grupo de empresários do café sediados no Rio, que tiveram um papel relevante na organização e realização das mostras nacionais e internacionais de café do Brasil, bem como na condução da política referente ao comércio exterior no final do império, que tinha como mola propulsora o café. Verificou-se também que o café “Rio” foi o mais valorizado internacionalmente até o final desse período. Além disso, pode-se observar que várias mulheres eram administradoras de fazendas, produzindo café de alta qualidade, participando das exposições nacionais e internacionais do Brasil. Sabe-se que o porto do Rio de Janeiro até o final do império era o de maior movimentação comercial do Brasil, por onde se escoava o grosso das exportações de café. Partia do Rio de Janeiro a rota das exposições internacionais de café (1881-1884) organizadas pelo Centro da Lavoura e Comércio.
Maria Pace Chiavari (UFRJ), no trabalho “Vistas das de fazendas de café encomendadas ao pintor Facchinetti para as exposições de propaganda do produto”, focaliza as pinturas das fazendas de café realizadas pelo artista ítalo brasileiro Nicolò Facchinetti (1824-1900), que respondiam ao propósito de resgatar a sofisticação no uso da linguagem adotada pelos organizadores das exposições nacionais e internacionais na promoção do seu produto. Segundo Maria Pace, a partir da forma de divulgação, é possível evidenciar o espírito empreendedor e a nova lógica que regula o sistema de tal produção agrícola, indícios do desenvolvimento do estado do Rio de Janeiro no final do século XIX e de seu ingresso na modernidade.
Em “A fazenda do Lordello e a aristocracia cafeeira: a marquesa do Paraná”, Ana Pessoa (FCRB) comenta, por meio de cartas e depoimentos, a trajetória da austera Maria Henriqueta Carneiro Leão (1809-1887), a marquesa do Paraná, e sua atuação como administradora de uma grande propriedade de café, a fazenda do Lordello, em Sapucaia, Rio de Janeiro.
No artigo “Entre os mundos da fazenda e da Corte: trajetória da baronesa de Paraná”, Ana Lucia Vieira dos Santos (UFF) analisa o papel de Zeferina Carneiro Leão, baronesa de Paraná. Zeferina esteve ligada durante toda a sua vida ao mundo rural do cultivo de café, seja na fazenda Cortiço, onde nasceu, seja na fazenda Lordello, de propriedade dos marqueses de Paraná, herdada por seu marido. Por outro lado, teve participação ativa na vida da Corte, no Rio de Janeiro. A baronesa de Paraná atuou também em obras sociais, tendo sido uma das financiadoras dos cursos femininos implantados no Liceu de Artes e Ofícios. Atuou ainda na promoção de jovens artistas e de eventos de artes plásticas, participando, com aquarelas e trabalhos manuais, de exposições destinadas à difusão do café brasileiro.
Otto Reuter Lima (UFF), em “O Congresso Agrícola (1878) e a crise do capitalismo mundial (1873-1896)”, enfoca temas discutidos no Congresso Agrícola de 1878, como a substituição da mão de obra escravizada, o crédito agrícola, uma reforma tributária, a criação de um banco nacional para a agricultura e “o problema dos ingênuos”. Otto salienta que o congresso fez parte dos anseios de uma classe agrícola brasileira que enfrentava momentos de dificuldades ocasionados pelo processo de fim da escravidão e por uma crise do sistema capitalista global. Nas palavras de Otto Lima, o centro capitalista global, até então latino-americano, foi transferido, no final do século XIX, para o sudeste asiático devido a fluxos e refluxos globais, não só do capital, mas também de mão de obra.
Nota
1 LEMOS, Eduardo. Catálogo da Exposição de Amsterdã, 1883.
Organizador
Angela Telles – Doutora em História. Diretora da Biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura, integrante do polo de pesquisa sobre relações luso-brasileiras e professora auxiliar da Universidade Estácio de Sá nos cursos de História e Relações Internacionais. E-mail: angela_telles@yahoo.com.br
Referências desta apresentação
TELLES, Angela. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.53, p.7-11, 2020. Acessar publicação original [DR]
Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: moedas da República 1889-1946 | Anais do Museu Histórico Nacional | 1950
Referências desta apresentação
[Catálogo das moedas brasileiras do Museu Histórico Nacional: modas da República 1889-1946]. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.11, 1950.Acessar dossiê [DR]