Africanidades e Amazônia | Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará | 2020

 

[…] Contínuas a ser a mesma virgem de Loanda, Cantando e sapateando no batuque, correndo o frasco na macumba, quando chega o Ogum, no seu cavalo de vento, varando pelos quilombos

Quanto Sinhô e Sinhá-Moça Chupou teu sangue, Mãe Preta?!

Agora como ontem, és a festeira do Divino, a Maria Tereza dos quitutes com pimenta e com dendê. És, finalmente, a procreadora côr da noite, Que desde o nascimento do Brasil Te fizeste ‘Mãe de Leite’.

(BRUNO DE MENEZES 1,1956)

O Instituto Histórico e Geográfico do Pará desde a sua fundação em 1900 vem produzindo trabalhos e debates envolvendo a história e a cultura do Brasil e, de maneira mais efetiva da Amazônia, através de seus sócios. Reuniões, palestras, publicações, exposições e eventos são disponibilizados para a sociedade. Este ano, em comemoração ao mês da Consciência Negra e não podendo fugir dos debates correntes na sociedade acerca das questões relativas aos problemas raciais, lança um dossiê de trabalhos acadêmicos sobre a questão das africanidades. Leia Mais

Africanidades e Interculturalidade / Tempo Amazônico / 2020

Esta edição da Revista Tempo Amazônico é composta pelo dossiê Africanidades e Interculturalidade, organizado pelos professores Marcos Vinicius de Freitas Reis, Sérgio Junqueira e David Junior de Souza SidfccA proposta deste dossiê foi reunir trabalhos que examinassem as relações interculturais que envolvem as culturas afro-brasileiras, especialmente relacionadas aos sistemas de representação social e cultural instituídos na esfera pública, como instituições jornalísticas e educacionais.

Assim, foram convocados trabalhos da ordem de etnografias de processos culturais, identitários e territoriais de comunidades quilombolas e de comunidades de terreiros. As religiosidades, festividades e fronteiras culturais foram estabelecidas como eixos para estas pesquisas etnográficas.

Complementariamente, foram convocados trabalhos que contribuíssem para um mapeamento das relações entre culturas tradicionais afro-brasileiras e os sistemas culturais da mídia e da esfera pública e dos sistemas de ensino escolar e universitário. Os temas da intolerância religiosa, da educação para as relações etnicorraciais, da implementação da lei 10639 / 2003 e da educação intercultural quilombola estruturam as referências conceituais básicas para este eixo do dossiê.

O dossiê é aberto pelo artigo Festa de São Sebastião de Carmo do Macacoari: na ótica de mulheres negras mais velhas de Maria das Dores do Rosário Almeida, Descendente da Vila do Carmo do Macacoari. Mestra em Desenvolvimento Sustentável junto aos Povos e Terras Tradicionais pela Universidade de Brasília (UnB). Este artigo é uma reflexão sobre relações conflituosas que eventualmente ocorrem na Festa de São Sebastião e sobre as transformações sofridas ao longo dos anos, a partir das experiências de mulheres negras mais velhas do lugar. O texto utiliza a interessante e original metodologia do Resgate das Canoas, uma pesquisa e cunho etnográfico e de história oral. A pesquisa desenvolve importantes reflexões sobre as relações entre as dimensões religiosas e profanas da festa e recupera elementos do passado da comunidade de grande importância para a identidade coletiva e individual dos moradores.

O segundo texto intitula-se Uma etnografia da festa de São Benedito na comunidade Quilombola do Barranco em Manaus-AM, de autoria de Vinícius Alves da Rosa, professor da Rede municipal de Educação de Manaus e Mestre em Ciências Humanas (UEA). Trata-se de uma festa tradicional entre a comunidade, realizada com vínculo forte com a memória da ex-escrava alforriada Maria Severo Nascimento Fonseca, fundadora da comunidade. A pesquisa enfoca a dimensão cultural da comunidade presente nas narrativas orais, na memória dos idosos, nas celebrações que atravessam o tempo, bem como os rituais de afirmação, as crenças, e a religiosidade, que têm um significado especial para os devotos e para a identidade étnica da comunidade.

Em seguida temos o texto Fronteiras fluidas, religiosidade e os desafios contemporâneos da professora Georgia Pereira Lima, da Universidade Federal do Acre. Este texto trata, na tríplice fronteira Brasil–Peru–Bolívia, da chamada “comunidade brasiviana”, nome pelo qual são as conhecidas as famílias brasileiras moradoras em território boliviano. A vivência destas famílias neste contexto transfronteiriço, para o qual levam sua religiosidade, de religião protestante, engendra um fenômeno religioso bastante complexo, no qual a igreja atravessa os limites territoriais oficiais dos países.

O terceiro texto, Intolerância a religiões de matriz africana: abordagem de casos na mídia brasileira, de Alessandro Ricardo Pinheiro Brandão, Mestrando em História, e de Raquel Schorn de Oliveira, Mestre em Extensão Rural, investiga práticas de intolerância religiosa realizados por atores da mídia brasileira. Os autores analisam dois casos empiricamente em que a forma com que a mídia noticiou eventos denotam intolerância religiosa, pelo uso das palavras e pelo viés dado às reportagens.

Três textos neste dossiê tratam de temas relacionados à lei 10639 / 2003. O texto “A caixa sagrada” e a formação continuada de professores dos anos iniciais: um debate entre o uso da cultura material e o ensino de africanidades, de Júlio Santos da Silva, doutorando em História pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), aborda o problema da criação de metodologias e ações pedagógicas para a concretização do ensino de cultura Afro-Brasileira e Africana. O autor reflete então sobre experiências pedagógicas realizadas com professores da rede municipal de formação continuada de professores para a concretização deste ensino.

Por sua vez, o texto Contribuições e impactos na educação escolar por meio da Lei nº 10.639 / 2003, de Rosangela Siqueira da Silva, Doutora em Ciências da religião, e de Telma Heloísa de Alencar Félix, licenciada em Filosofia, reflete sobre as ações do Projeto de Formação Continuada para educadores da rede municipal da Cidade de Manaus / AM, e sobre o sentdo deste projeto como ação direicionada a reconstrução da identidade negra e afrodescendente, enfrentando o racismo e a discriminação.

O texto de autoria Eliane Quaresma da Silva, professora da Rede Pública Estadual de Ensino do Amapá, intitulado A educação para as relações étnico-raciais na Escola Estadual Professora Risalva Freitas do Amaral, em Macapá-AP, investiga as ações pedagógicas e conteúdos curriculares trabalhados pela referida escola na implementação da Lei 10.639 / 03, sobre o Ensino de História e Cultura afro-brasileira. A conclusão é que a Escola realiza ações para a visibilidade da cultura negra e afrodescendente, porém a ausência de uma formação continuada e de um Projeto Político Pedagógico norteador dessas ações tendem a retardar o efeito positivo que se objetiva com implementação desta lei: o reconhecimento e valorização da cultura afrodescendente.

O texto de autoria de Maria da Penha Lima da Silva, mestra em Ciências da Religião, Daniel Marcos Gomes de Lelis, Doutorando em Ciências da Religião, e Maria José Torres Holmes, Doutoranda em Ciências da Religião, intitulado Expressões do sagrado: da teoria à práxis, para além da sala de aula, trata-se de um relato de experiência realizada com os educandos de quinto e sexo ano do Ensino Fundamental. A experiência pedagógica em pauta teve como objetivo de levar os educandos ao entendimento de como os lugares se tornam sagrados e qual a sua importância para as tradições religiosas e para o ser humano. Nas visitas realizadas a templos históricos de João pessoa foi buscado sensibilizar os estudantes também para a presença do fenômeno religioso na construção da cidade.

Encerra o dossiê o texto O Ensino de História e Educação Escolar Quilombola: entre santos, crenças e festividades, de autoria de Raimundo Erundino Santos Diniz. Este artigo realiza a reflexão sobre elementos culturais da visão de mundo das comunidades quilombolas, como rituais religiosos, práticas socioculturais, territorialidades, crenças, festividades e identidade, em sua relação com as exigências específicas para ensino de história na educação escolar quilombola, valorizando as diretrizes específicas da educação intercultural quilombola.

Iniciando a seção de artigos livres deste número o texto O evolucionismo social e a “integração dos refugiados à sociedade brasileira”, do advogado e mestre em antropologia Gabriel Dourado Rocha, realiza uma reflexão crítica sobre a Convenção de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados, e problematiza a questão se esta integração preza pela autodeterminação do refugiado ou se remonta ao caráter racista do Estado Brasileiro. Por fim, o texto defende que a integração seja realizada por um paradigma intercultural, que considere e respeite a alteridade.

O texto de Diego Darlisson dos Santos Sousa, Igreja do Evangelho Quadrangular em Santarém – Pará. Sistema de crenças, “batalha espiritual” e socioespacialidade no Baixo e Médio Amazonas, versa sobre a relação entre o sistema de crenças e o modelo de células da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ), em Santarém, Pará. Na pesquisa o autor conclui que o uso da estratégia chamada “batalha espiritual” tem sido eficaz para expansão da igreja por espaços da cidade onde não tinha influência.

Em seguida o texto Elementos para a análise sociogeográfica dos Movimentos Indígenas, de David Junior de Souza Silva, constitui-se em uma proposta metodológica de intersecção entre o conceito sociológico de movimento social e o conceito geográfico de sentido de território para compreensão da realidade dos movimentos indígenas na Amazônia brasileira.

Encerrando este número o texto de Marcos Paulo Torres Pereira e Nilva Oliveira dos Santo, intitulado Eu sou um ser humano – uma leitura acerca da atualidade da obra de Hannah Arendt, faz uma reflexão sobre a obra da autora, especialmente as relações entre poder e estado e política se ser humano. A análise demonstra como preconceitos étnicos e raciais perpetuam o ódio e potencializam a negação das diversidades e alteridades.

Convidamos a todos para uma boa leitura.

David Junior de Souza Silva (UNIFAP)

Marcos Vinicius de Freitas Reis (UNIFAP)

Sérgio Junqueira (IPFER).


SILVA, David Junior de Souza; REIS, Marcos Vinicius de Freitas; JUNQUEIRA, Sérgio. Apresentação. Tempo Amazônico, Macapá, v.7, n.2, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Africanidades, Artes e Saberes / Tempo Amazônico / 2020

Esta edição da Revista Tempo Amazônico é composta pelo dossiê Africanidades, Artes e Saberes, organizado pelos professores Marcos Vinicius de Freitas Reis, Sérgio Junqueira e David Junior de Souza Silva.

O objetivo deste dossiê é reunir trabalhos que versem sobre as interfaces entre as religiões afro-brasileiras e a produção de saberes, considerando a arte como um campo de saberes ao lado dos saberes medicinais e científicos. O dossiê convocou trabalhos que fizessem a reflexão sobre como as religiões afro-brasileiras são retratadas no campo científico e como são representadas nas modernas e tradicionais linguagens artísticas – como o grafite e o artesanato.

Ao mesmo tempo, o dossiê convocou reflexões que tratem dos conflitos epistemológicos entre a matriz de visão de mundo africana e afro-brasileira, expressas em suas muitas expressões religiosas, e a visão de mundo eurocêntrica, conflitos que quase nunca tomam forma na dimensão epistemológica, mas na dimensão religiosa, configurando os fenômenos que chamamos racismo religioso e intolerância religiosa.

O texto de Taissa Tavernard de Luca, professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião (UEPA) e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (UFPA), e de Valter dos Santos Vieira, mestre em Ciência da Religião, Arte e expressão religiosa no Amapá: um olhar a partir do grafismo, investiga o uso da arte como expressão religiosa dentro de um terreiro de candomblé, em Macapá. O respectivo terreiro, templo religioso da Nação Angola, usa imagens feitas pela técnica artística do grafite como meio de representação do sagrado. As imagens representam divindades do panteão africano, santos católicos e caboclos do tambor e mina maranhense.

Quatro textos do dossiê dedicam-se a compreender o fenômeno do racismo religioso. O primeiro, Repensando os ataques às Religiões Afro: uma breve discussão sobre o conceito de racismo religioso no Candomblé, de Ozaias da Silva Rodrigues, Doutorando em Antropologia Social, reflete sobre os usos científicos dos conceitos de racismo religioso e de intolerância religiosa em relação aos religiosos candomblecistas, e tipifica diferentes sentidos com que o conceito racismo religioso aparece nas falas dos candomblecistas para se referir à discriminação que a religião sofre.

O segundo, Tipos de Racismo Religioso: Padrões Comportamentais do Racismo Religioso, de Roberto José Nery Moraes, professor do curso de Direito Unifap, visa discutir a teoria geral do racismo religioso, como forma de comportamento aprendido que enseja na intolerância religiosa. A realidade empírica em qual se baseia a discussão teórica do autor é a das comunidades tradicionais de terreiro do Amapá, expressão religiosa, conforme o autor, de grande contribuição para a formação da identidade étnico-ambiental-religiosa do povo amapaense.

O texto de Pedro Henrique de Oliveira Germano de Lima, doutorando em Antropologia pela UFPE, O campo das religiões afrobrasileiras visto pelas teorias: balanço e crítica de normatizações, tem como objetivo a compreensão de como os cientistas sociais se debruçam sobre o fenômeno religioso, examinado a troca e circulação de conceitos entre os campos colocados em interação nesta tarefa científica: o campo das ciências sociais e o campo das religiões indo-afro-brasileiras. O texto defende o postulado de que as religiões eventualmente podem ser legitimadas pelo binômio autenticidade-falsidade, a ciência social não deve adotar este binômio como recurso heurístico. A ciência social deve afastar-se desta discussão sobre autenticidade, e investigar como as tradições religiosas são criadas pelos devotos.

O texto Catalogação dos Remédios Naturais Amazônicos – Santana AP, de autoria de Rodrigo Reis Lastra Cid, Afrânio Patrocínio de Andrade, ambos professores da licenciatura em Filosofia da Unifap, e Marlon Viana de Almeida Junior, graduando em Filosofia, trata-se pesquisa realizada com curandeiros da cidade de Santana, objetivando catalogar suas práticas e receitas, e suas crenças com relação à mística de suas garrafadas.

Concluindo o dossiê, o texto A tradição ceramista como guarda do Mistério Amazônico, de autoria da mestra em Ciência da Religião Roseane Barbosa Ferreira, realiza pesquisa de campo com cinco oleiros, que renovam a tradição da confecção das peças em cerâmicas no bairro do Paracuri, no município de Icoaraci, no Pará. A pesquisa conclui que mesmo na produção artesanal contemporânea dos artefatos cerâmicos a mediação principal ser um sentido econômico para a atividade, a religiosidade se faz presente na atividade, da qual não se esquece ser herança dos mitos e encantarias da região.

A seção artigos livres começa com a compreensão histórica da dinâmica da economia capitalista no período de vigência do Welfare State, no artigo intitulado Acumulação Capitalista, Welfare State e Taxa de Mais Valor, de autoria de Ednéia Alves De Oliveira e Gustavo Giovanny Dos Reis Apóstolos. O texto examina as relações que existem entre as políticas de aumento de renda aos trabalhadores, da matriz econômica keynesiana, e a extração ampliada da mais valia possibilitada pelo modo de organização da produção taylorista.

O texto Sociologia e Modernidade: entre o mundo pré-moderno e o póstradicional, de David Junior de Souza Silva também tematiza processos de longa duração, como os que foram a passagem do sistema feudal para a sociedade moderna industrial. Este artigo investiga as relações recíprocas entre Sociologia e Modernidade.

Outra contribuição sociológica a este número é o texto A recepção de José Carlos Mariátegui no brasil: ausência e presença de Glaucia Maria Tinoco Barbosa. Este texto é uma reflexão no campo da Sociologia Latino-americana, investigando as características específicas da nacionalização da teoria social de Mariátegui no Brasil e sua aplicação a compreensão da sociedade brasileira.

O ensino de história é tema do artigo intitulado Heavy Metal em sala de aula: a Inquisição Católica nas músicas do Iron Maiden de Diogo Tomaz Pereira, Mestre em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. O texto, colocando-se o objetivo de elaborar inovações metodológicas para o ensino de história, trabalha a possibilidade da utilização de composições musicais do gênero heavy metal como ferramentas nas aulas de história.

Concluindo este número, o texto de Eliane Vasquez, intitulado Movimento de reforma das prisões e ciência penitenciária no século XIX, reflete sobre o processo institucionalização da ciência penitenciária na segunda metade do século XIX compreendido a partir da perspectiva da história da ciência e em suas relações com o movimento de reforma penitenciaria, que emergia como questão social no período.

David Junior de Souza Silva (Unifap)

Marcos Vinicius de Freitas Reis (Unifap)

Sérgio Junqueira (IPFER)


SILVA, David Junior de Souza; REIS, Marcos Vinicius de Freitas; JUNQUEIRA, Sérgio. Apresentação. Tempo Amazônico, Macapá, v.8, n.1, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Africanidades Transatlânticas | Revista do Arquivo Público do Estado do Espirito Santo | 2018

Africanidades Transatlânticas Cultura, história e memórias afro-brasileiras a partir do Espírito Santo

O presente número da Revista do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo é uma edição especial que tem por objetivo lançar o projeto de pesquisa “Africanidades Transatlânticas: cultura, história e memórias afro-brasileiras a partir do Espírito Santo”, a ser desenvolvido entre agosto de 2018 e dezembro de 2019. Este é um projeto institucional envolvendo parcerias entre a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), o própro Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) e a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Ele está sob a minha coordenação e tem como principal equipe o antropólogo Sandro José da Silva e o historiador Flávio Gomes. Leia Mais

História, África & Africanidades / Vozes Pretérito & Devir / 2016

O dossiê “História, África e Africanidades” está bastante convidativo à leitura, com textos escritos por pesquisadores brasileiros e um cubano. De um modo geral, estão centrados no campo da história social e refletem sobre as experiências cotidianas, condições de vida e atividades de trabalhadores negros escravizados no século XIX com expressivas reflexões sobre África e as africanidades no Brasil, nas Américas e Caribe. Textos esses, calcados nos diálogos com a historiografia mais recente, onde a história, a partir de sua aproximação com áreas como a antropologia e a sociologia, passa a compor um movimento de superação das dicotomias no campo da história do trabalho e dos trabalhadores.

Dessa forma, os sujeitos imersos nas trajetórias vida, nas relações cotidianas e práticas socioculturais, em suas mais diversas possibilidades, evidenciam as redes de sociabilidade, a partir das suas experiências, quer seja em suas instâncias individuais ou coletivas e como sujeitos históricos ativos. Em “Violência e resistência: o cotidiano da mulher escrava no Piauí Oitocentista”; a partir da leitura de processos crimes, a autora Francisca Raquel da Costa trata das denúncias de violência feitas por uma mulher negra escravizada, como também as fugas de trabalhadores negros contra o regime brutal e desumano do escravismo. Outro texto que segue essa linha é o de Iraneide Soares Silva e Célia Rocha Calvo: A Quem Pertence a Cidade? Experiências de negros / as nos espaços urbanos da cidade de São Luís / MA Oitocentista. Ao seguir os caminhos da experiência a partir das memórias deixadas por trabalhadores e trabalhadoras negras num espaço urbano do século XIX, as ações de resistência e luta pela liberdade, desvelam a cidade negra de São Luís. Ana Priscila de Sousa Sá analisa as medidas propostas por Francisco Adolfo de Varnhagen em seu Memorial Orgânico (1849 / 1850), visando a extinção do tráfico de escravos e queda de braço dos governos envolvidos e beneficiados pelo mesmo em meados do século XIX.

Contemplando a temática África e Africanidades, temos o artigo de José Francisco dos Santos, o qual aborda parte da historiografia relacionada à metodologia em História da África, em especifico a História Oral e a Tradição Oral, considerando suas contradições e possibilidades. Sobre as diversidades religiosas, temos “Agô: o campo de pesquisa em uma história oral de candomblecistas”, de Leandro Seawright Alonso e Aline Baliberdin, autores que desenvolvem, pelos itinerários da história oral, um estudo em diálogo com a antropologia a respeito do candomblé e experiências vividas por seus praticantes, valorizando sobretudo as memórias coletivas, não se limitando a identidade religiosa. Márcio Douglas de Carvalho e Silva, por sua vez, nos presenteia com o texto: “Irmandades religiosas e devoção a santos negros no Brasil escravocrata”. Nesse trabalho de pesquisa, ele verifica como se deu o processo de instrução catequética dos negros africanos e afro-brasileiros no Brasil escravocrata, os métodos utilizados pela igreja católica, assim como a importância das irmandades religiosas para o trabalho de aproximação do negro à religião cristã, com enfoque na devoção a São Benedito. Já o historiador Igor Maciel da Silva apresenta “Em nome das deusas pretas: a festa das divindades femininas no Candomblé de uma casa-de-santo em Contagem (Minas Gerais, Brasil)”, um texto também importante neste dossiê, por nos permitir substantivas reflexões sobre a festa que acontece na cidade de Contagem de Minas / MG, dedicada às divindades femininas do Candomblé de uma casa-de-santo de nação Angola.

As africanidades e as múltiplas linguagens e memórias das “Áfricas” também estão presentes neste dossiê, especialmente nos textos de Carmélio Ferreira da Silva, com: “A contribuição da cultura afrodescendente para o samba como parte da identidade musical brasileira”; Antônio Marcos dos Santos Cajé, com: “Contos afro-brasileiros de Mestre Didi: ensinando história e cultura”; Andreia Sousa da Silva com o artigo: ”Linguagem e Africanidades: a contribuição de termos linguísticos africanos na construção histórica do vocábulo brasileiro”; Cristiane Mare da Silva com: “Na encruzilhada entre história e literatura: biografias de Nelson Mandela” e Elio Ferreira com “O Bumba-Meu-Boi do Piauí: poesia afro-brasileira, cantigas, gênese, memórias e narrativas de fundação do Boi de Né Preto de Floriano Piauí”.

Esses artigos, assim como todos listados até então são de grande valia para o nosso dossiê, sobretudo por suscitar possibilidades de investigação e aprofundamento no que tange às temáticas de Áfricas e de brasilidades. Em todos, é possível deparar-se com o trajeto de homens e mulheres negras nas mais diversas condições vida: jurídicas, civil, resistindo, se fazendo presentes, marcando a história do Brasil em todas as linhas. Por fim, e não menos importantes, temos os textos do cubano, Pedro Alexander Cubas Hernandez: “A propósito da discussão sobre como aplicar a Lei no. 10.639 / 03 no Brasil: As experiências vivenciadas por um intelectual cubano (2007-2010)” que que trata de uma experiência com a aplicação da Lei Federal 10.639 / 03, na cidade de Criciúma / SC, numa análise comparativa Brasil / Cuba, bem como as possibilidades reflexivas como o imaginário social sobre a África que se aprende a partir da mídia massiva. Ou seja, a implementação dos artigos 26A e 79B da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, os quais institui a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no currículo da educação básica. Elcimar Simão Martinse e Elisangela André da Silva segue esta nesta linha reflexiva em pensar as relações Brasil / África com o artigo: “A UNILAB e os desafios da integração internacional: uma reflexão sobre África e Africanidades na formação de professores”.

Além das variedades e riquezas temáticas ofertadas através do dossiê temático desta edição, ainda contamos com a contribuições de Idelmar Gomes Cavalcante Júnior, com o artigo “Impertinência em cena: A fragmentação do teatro pernambucano nas décadas de 1960 e 1970”, no qual se discute as transformações políticas e socioculturais no Brasil e nordeste tendo como ponto de perspectiva a modernização do teatro pernambucano, emergente nos anos sessenta. Na seção especial temos a publicação do “Auto de manifestação popular e aclamação da República Federal Brazileira na Vila de São Raymundo Nonato”, fonte inédita divulgada pela jovem pesquisadora Nayanne Magna Ribeiro Viana. Fechando esta edição, ainda contamos com a resenha feita pelo historiador Carlos Eduardo Zlatic da obra: “Do pacto e seus rompimentos: os Castros Galegos e a condição de traidor na Guerra dos Cem Anos” de autoria da historiadora medievalista Fátima Regina Fernandes.

Assim encontra-se a sexta edição da Revista Vozes Pretérito & Devir, a qual nos traz, a partir de uma temática contemporânea e necessária para compreendermos os mundos que vivemos, ricas narrativas, com muitas histórias e memórias de homens e mulheres negras. E com isso, as possibilidades de estudos e pesquisas mais aprofundadas sobre História, África e Africanidades em suas diversidades, promovendo diálogos reflexivos com os mais variados campos do conhecimento. Mais uma vez, convidamos todos e todas à leitura!

Iraneide Soares da Silva – Professora Doutora (UESPI).


SILVA, Iraneide Soares da. Apresentação. Vozes Pretérito & Devir. Teresina, v.6, n.1, 2016. Acessar publicação original [DR]

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Africanidades / Mnemosine Revista / 2014

A escravidão e seus vestígios

Passados mais de 126 anos desde o final oficial da escravidão no Brasil, com a assinatura da Lei Áurea, pela princesa Isabel, em 13 de maio de 1888, ainda sentimos, nos dias de hoje, os reflexos de termos sido o último país das Américas a abrir mão do trabalho forçado, em que algumas pessoas da sociedade detinham o direito de propriedade sobre outras pessoas.

A abolição da escravidão, por se celebrar na pompa oficial com um feriado nacional, mascara um passado que se quer esconder: o permeado por histórias de tragédias, preconceitos, injustiças e violência nas relações econômico-sociais, em que centenas de milhares de negros passaram, da noite para o dia, de um regime de dor, exploração e humilhação, para um regime pré-democrático, em que a igualdade de direitos e oportunidades deveria prevalecer.

A História, infelizmente, conta-nos outro enredo: aquele em que os negros e os seus descendentes foram alijados e / ou não adequadamente integrados às regras de uma sociedade baseada no trabalho assalariado.

Com base no Censo de 2010, é-nos permitido saber que a população negra soma hoje 50,1% dos cidadãos brasileiros e que existe – ou melhor, que ainda persiste – um abismo entre brancos e negros difícil de ser ultrapassado. Sem ficar nos números, que podem ser consultados no site do IBGE (www.ibge.gov.br), basta observar o acesso aos serviços básicos de saúde, saneamento e educação, e as informações econômicas relacionadas à renda e ao emprego, para percebermos que muito ainda temos que avançar rumo a tão propalada democracia racial.

Mesmo com as marcas visíveis deixadas pela escravidão e os fenômenos relacionados a ela na formação da sociedade brasileira, muitas pessoas e pesquisadores das Ciências Humanas fazem seus escritos como se no Brasil nunca tivesse existido escravidão. Dentro da necessidade de se ampliar ou de não se fazer esconder o passado que nos toca, é que este Dossiê – “A escravidão e seus vestígios” – foi organizado.

Em seus pouco mais de “500 anos de história”, o Brasil contou com o sistema escravista nada menos que 388 anos. Neste período, como nos ensinou Luiz Felipe de Alencastro, em O trato dos viventes, “a escravidão não dizia respeito apenas ao escravo e ao senhor, mas gangrenava a sociedade toda”, criando um padrão de relações sociais e de trato político que deixou marcas graves na sociedade brasileira.

Stuart Schwartz, em Segredos internos, mostrou-nos que em decorrência da escravidão, no período colonial, a organização social resultou em uma sociedade de múltiplas hierarquias de honra e considerações, de múltiplas categorias de trabalho, de complexa divisão de cor e de formas variadas de mobilidade e mudança.

Pensando-se na máxima transmitida por Luiz Felipe de Alencastro, de que o Brasil foi um país criado na concepção de que o trabalho é escravidão, iniciamos o Dossiê com o artigo de André Figueiredo Rodrigues (Universidade Estadual Paulista – UNESP, câmpus de Assis), que investiga os escravos como força de trabalho dominante, nas fazendas e lavras de alguns dos homens mais ricos do final do século XVIII, em Minas Gerais, os proprietários da comarca do Rio das Mortes envolvidos na Inconfidência Mineira (1788-1792). Dora Celton, Mónica Ghirardi e Federico Sartori, todos da Universidad Nacional de Córdoba, desvendam, por meio da perspectiva sócio- demográfica, o universo do trabalho escravo em uma área rural administrada conjuntamente por jesuítas e franciscanos, em Córdoba del Tucumán, na Argentina, durante a segunda metade do século XVIII.

Esses dois textos iniciais demonstram que a escravidão, em qualquer lugar ou tempo, visava a diversas finalidades, entre as quais as econômicas. E, todas exerceram, em graus diversos, importantes influências. Neste cenário, praticamente existente em quase toda a América, onde a escravidão tornou-se a forma predominante de organização do trabalho, o cativo, em sua luta diária, procurava criar condições para flexibilizar o sistema, com a criação de espaços de autonomia.

Espaços de autonomia foram buscados, por exemplo, nos festejos realizados pelas irmandades de escravos, que se utilizavam dessa oportunidade para reforçar laços de identidade e para construir um ideal de vida para além do cativeiro, como nos mostra o texto de Alisson Eugênio (Universidade Federal de Alfenas, UNIFAL). Reafirmando a existência desses espaços de autonomia e das ambiguidades, que podem ser observadas na segunda metade do século XIX, Marcelo Eduardo Leite (Universidade Federal do Cariri, UFCA, câmpus de Juazeiro do Norte) nos apresenta, por intermédio de fotografias, cenas da escravidão que ilustram um Brasil real e um Brasil que se pretendia esconder, através de discursos civilizatórios propagandeados pelo Segundo Império.

O Segundo Império, no avançar da segunda metade do século XIX, viu florescer ações de resistência e se consolidar autonomias. Revoltas pipocavam por todo o país e eram abafadas por ações governamentais. Ocorriam fugas em massa e a queima de fazendas, criando um clima de ansiedade, tanto no campo quanto nas cidades. A polícia não tinha condições para controlar esses movimentos, que não foram poucos e esparsos, e o clima de incerteza rodeava a população. Neste contexto, Lucia Helena Oliveira Silva (Universidade Estadual Paulista – UNESP, câmpus de Assis) nos leva a conhecer as diversas maneiras de luta pela liberdade proporcionadas por mulheres no período final da escravidão, na região de Campinas, no Estado de São Paulo. Em semelhança a este assunto, Régia Agostinho da Silva (Universidade Federal do Maranhão – UFMA) apresenta as “falas” sobre escravidão e abolição, no Maranhão, mediadas pelas poesias de Gonçalves Dias (1823-1864) e Trajano Galvão (1830- 1864).

Ariosvalber de Souza Oliveira (mestre pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG) vai ao Rio de Janeiro, na segunda metade do oitocentos, resgatar as ressonâncias escravistas traçadas e criticadas por Machado de Assis no conto “Pai contra a mãe”.

Em continuidade às críticas contra a política escravista imperial, o artigo de Milton Carlos Costa (Universidade Estadual Paulista – UNESP, câmpus de Assis) analisa o movimento pelo fim da escravidão na pena de Joaquim Nabuco (1849-1910), o maior líder abolicionista brasileiro.

No tocante a abolição, Iraci del Nero da Costa e Julio Manuel Pires, ambos da Universidade de São Paulo (USP) trazem à tona, em caráter comparativo, discussão sobre a supressão do capital-escravista mercantil e a eclosão de movimentos abolicionistas em diversas partes da América, notadamente Haiti, Canadá, Guianas, Antilhas, Bolívia, Argentina, Peru, Equador, Uruguai, México, Paraguai, Estados Unidos, Cuba e o Brasil.

Ainda no cenário internacional comparativo, regressamos as relações atlânticas envolvendo o Brasil, a Guiné Equatorial e Cuba, pela ótica de Pedro Acosta-Leyva (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, câmpus dos Malês, na Bahia), no que diz respeito às negociações, intercâmbios e mediações que definiram a territorialidade brasileira e de Guiné Equatorial, e a dinamização da sociedade cubana em relação ao tráfico, ao desenvolvimento cultural-religioso e a indústria açucareira.

Na contemporaneidade, vestígios da escravidão serão lidos por Margarita Aurora Vargas Canales (Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM) em crítica literária que realiza a cinco romances do martiniquenho Édouard Glissant (19282011), um dos mais importantes escritores do Caribe francês, permitindo-nos conhecer a experiência de uma pessoa que buscou nas raízes africanas os sentimentos de valorização da cultura nascida nas Antilhas.

Francisca Pereira Araújo (mestranda em História na Universidade Federal de Campina Grande – UFCG), a quem cabe o desfecho do Dossiê, mostra as formas de sobrevivência de afro-brasileiros na cidade de Campina Grande, entre 1945 e 1964, ao recuperar, por meio de relatos orais de idosos negros e não negros, as modificações observadas na cidade em relação ao mundo do trabalho, ou melhor, na recuperação de vestígios escravistas que marcam profundamente a economia, e por que não dizer a cultura e a política nacionais, desde o final da escravidão no Brasil. Nada mais atual que as palavras, em tom de presságio, escritas em sermão, na segunda metade do século XVII, pelo padre Antônio Vieira (1608-1697): “A liberdade é um estado de isenção que, uma vez perdido, nunca mais se recupera; quem foi cativo uma vez, sempre ficou cativo, porque ou o libertam do cativeiro ou não; se o não libertam, continua a ser cativo do tirano; se o libertam, passa a ser cativo do libertador.”

Boa leitura!

André Figueiredo Rodrigues – Professor do Departamento de História da Faculdade de Ciências e Letras, da Universidade Estadual Paulo (UNESP), câmpus de Assis.


RODRIGUES, André Figueiredo. Apresentação. Mnemosine Revista. Campina Grande, v.5, n.1, jan. / jun., 2014. Acessar publicação original [DR]

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História e Africanidades  | SÆCULUM – Revista de História | 2011

A revista Saeculum, com o dossiê “História e Africanidades”, traz à comunidade acadêmica e, esperamos, a um público não acadêmico, questões sobre a história e as populações negras, procurando reconhecer, valorizar e (re)significar as práticas culturais africanas no território brasileiro.

Os autores e as autoras dos estudos presentes nesse dossiê utilizam intensamente do diálogo da História com outras áreas do conhecimento – Antropologia, Pedagogia, Direito e Sociologia –, assim temos dez artigos de diferentes regiões do Brasil, que utilizaram de temas e abordagens diversas para evidenciar as características da escravidão no Brasil; biografias de intelectuais negros e ações pedagógicas do Movimento Negro na contemporaneidade. Do exterior temos um artigo sobre a catedral do Congo, um “lugar mítico” com uma memória, que contribuiu, na atualidade, para formação de identidades culturais. Leia Mais

História e Africanidades / Sæculum / 2011

A revista Saeculum, com o dossiê “História e Africanidades”, traz à comunidade acadêmica e, esperamos, a um público não acadêmico, questões sobre a história e as populações negras, procurando reconhecer, valorizar e (re)significar as práticas culturais africanas no território brasileiro.

Os autores e as autoras dos estudos presentes nesse dossiê utilizam intensamente do diálogo da História com outras áreas do conhecimento – Antropologia, Pedagogia, Direito e Sociologia –, assim temos dez artigos de diferentes regiões do Brasil, que utilizaram de temas e abordagens diversas para evidenciar as características da escravidão no Brasil; biografias de intelectuais negros e ações pedagógicas do Movimento Negro na contemporaneidade. Do exterior temos um artigo sobre a catedral do Congo, um “lugar mítico” com uma memória, que contribuiu, na atualidade, para formação de identidades culturais.

São duas as resenhas que compõem o presente dossiê, cujos livros são O Navio Negreiro, de autoria de Marcus Rediker, e Ações Afirmativas: a questão das cotas, organizado por Renato Ferreira, ambos foram publicados em 2011 e tratam de assuntos envolvendo as relações raciais do Brasil. O primeiro aborda o tráfico transatlântico que possibilitou a formação da sociedade brasileira, forjada com base na exploração da mão-de-obra de africanos escravizados e de seus descendentes. Uma história ainda presente na atualidade, uma vez que, o “passado escravista” não passou e retoma-se a questão da “herança escravista” como um dos elementos para se compreender as desigualdades raciais no Brasil. Sendo que ativistas da luta antirracista e seus aliados têm defendido as políticas de ações afirmativas no ensino superior como um dos caminhos para minimizar as assimetrias raciais. Desde então, no debate público muitas polêmicas foram evidenciadas e formaram movimentos favoráveis e contra as Ações Afirmativas, assim, a publicação do livro de Ferreira contribui ao trazer ao público visões jurídicas sobre o tema aludido, nos mostrando como o Brasil avançou na formalização de direitos, contudo, precisamos transformar os discursos legais favoráveis à igualdade social em oportunidades para que as pessoas negras possam superar as injustiças sociais / raciais.

Dando continuidade à discussão do tema das relações raciais brasileira, temos a entrevista com o professor José Jorge de Carvalho, da UnB, que aborda temas variados, como a religião afro-brasileira, o folclore, a mestiçagem na América Latina, o “racismo no ensino superior”, a intelectualidade negra e os movimentos políticos negros, destacando, assim, vários elementos que propiciam reflexões sobre a identidade brasileira e as injustiças sociais na contemporaneidade.

Finalizando, desejamos a todo(a)s uma boa leitura e reflexões sobre as relações raciais nesse início do século XXI e, ao contrário de muitos de nossos antepassados, não vamos ignorar ou negar a ideologia da democracia racial presente em nossa contemporaneidade. Vamos enfrentar esse debate, tão necessário para a ampliação da cidadania.

Os Editores


Editores. Editorial. Sæculum, João Pessoa, n.25, 2011. Acessar publicação original [DR]

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