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Acervos: (re) leituras possíveis | Anais do Museu Histórico Nacional | 2021
Em 2022, o MHN completa seu primeiro centenário e o Brasil os 200 anos de sua independência de Portugal, dando curso a um projeto de nação iniciado nas primeiras décadas do século XIX e que segue ainda hoje.
O MHN insere-se nesse projeto, já que há 100 anos comemorava-se o primeiro centenário da Independência, e a criação de um museu de história no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, fazia parte dessas comemorações. A criação dos Anais do Museu Histórico Nacional estava prevista como uma das funções do MHN desde sua fundação, embora o primeiro exemplar dos AMHN seja de 1940. Leia Mais
As várias faces dos feminismos: memória, história, acervos/Acervo/2020
Feminismo anarquista, feminismo negro, feminismo cristão, feminismo islâmico, ecofeminismo, feminismo decolonial (ou descolonial), feminismo latino-americano, feminismo imigrante… Em tempos e espaços diversos, empunhando várias bandeiras de luta, enfrentando violentas críticas e embates, perpassados por tensões teóricas e políticas fragmentadoras, os feminismos estão presentes em todos os continentes e cumprem um papel fundamental na sociedade contemporânea. Mas, para melhor compreendê-los em sua historicidade e complexidade, torna-se cada vez mais necessário refletir sobre a importância da preservação de acervos que guardam as memórias do engajamento feminino em lutas políticas fundamentais pelos direitos das mulheres, contra as discriminações e os preconceitos de gênero, contra a escravidão de africanas(os), contra o racismo e as desigualdades sociais e econômicas, pela democracia, entre muitas outras. Leia Mais
História oral: narrativas de memória, acervos e a pesquisa em História da Educação / Cadernos de História da Educação / 2016
“Será preciso, contudo, não esquecer que tudo tem início não nos
arquivos, mas com o testemunho, e que, apesar da carência
principal de confiabilidade do testemunho, não temos nada melhor
que o testemunho, em última análise, para assegurar-nos de que algo aconteceu.” (RICOEUR, 2007, p. 156).
A afirmativa de Ricoeur propõe a reflexão acerca do valor da memória oral no processo de produção da narrativa historiográfica. No meio acadêmico, percebemos o quanto pode ser potente pesquisar a História da Educação, tendo como aporte metodológico a História Oral. Tal evidência nos mobilizou a organizar esse dossiê que reúne uma comunidade de pesquisadoras que se preocupam em pensar a educação, tendo como principal referente a memória oral como documento.
Entendemos que essa metodologia se constitui em um importante recurso para compreensão de tempos pretéritos. Por meio dela, podem ser investigadas múltiplas questões, sobretudo relacionadas à apropriação e difusão de modelos pedagógicos, práticas educativas e aspectos que tratem, de modo geral, dos itinerários dos agentes da educação.
Qual a importância da História Oral na contemporaneidade? O que significa trabalhar nessa perspectiva? Em um passado recente, preponderava um entendimento de que através dessa metodologia seria possível recuperar o passado por meio da voz dos oprimidos, daqueles relegados ao silêncio, devolvendo a eles o lugar que lhes havia sido negado nas tramas da História. Nas últimas décadas, diante das discussões propostas pela História Cultural, com relação à ampliação da noção de documento, ressignificou- se o papel da História Oral na pesquisa historiográfica. As concepções iniciais, importantes naquele contexto, foram problematizadas, em especial, o poder irrefutável conferido ao testemunho em primeira pessoa. Beatriz Sarlo questiona essa infalibilidade, mas defende a legitimidade da História Oral, afinada às perspectivas da História Social e Cultural. Neste sentido, desloca-se o foco das pesquisas “para as margens das sociedades modernas, modificando a noção de sujeito e a hierarquia dos fatos, destacando os pormenores cotidianos, articulados numa poética do detalhe e do concreto” (Sarlo, 2007). Portanto, o que constituiu a História Oral no passado não precisa ser descartado em sua totalidade, ou seja, há que se dizer que o trabalho com essa metodologia, por estar atrelado às subjetividades de cada sujeito entrevistado, traz consigo o princípio de democratização dos agentes da História.
No segundo quartel do século XX, os debates sobre narrativas de memória e sua relação com a História da Educação adquiriram certa visibilidade e, paulatinamente, ofereceram perspectivas de inteligibilidade para o passado das instituições escolares, das práticas educativas, do cotidiano da sala de aula, das memórias de professores e alunos, entre outros temas. A História da Educação, como zona de fronteira que se aproxima das teorias da História, busca construir sua identidade disciplinar, reforçar suas ligações com outras ciências, abrir-se às novas realidades e diversificar as abordagens. Atualmente, a pesquisa neste campo de conhecimento inova em relação à sua compreensão do passado recente e, nesse contexto, são valorizadas as memórias orais da educação / escolarização.
Em uma tentativa de articular a História da Educação e os pressupostos que norteiam a História Oral, apresentamos a ideia de um dossiê que tematize as questões mencionadas. A proposta é publicar estudos que examinem a complexidade da memória produzida pela oralidade, em suas distintas interfaces com a História da Educação. Desse modo, tem-se como objetivo oportunizar espaço de diálogo para que pesquisadores possam expor suas investigações inseridas nessas interfaces.
Alícia Civera, por meio das narrativas de três professores exilados pela Ditadura Franquista, analisa a construção de uma memória escolar relacionada aos modelos pedagógicos da Escola Normal Espanhola, nos anos quarenta do século XX. Ao mobilizar aspectos relacionados às especificidades da História Oral, a autora considera essa metodologia um modo de capturar as tradições pedagógicas, sem que necessariamente haja uma explicitação racional a respeito. No entanto, percebe que essas tradições e formas de atuar dos estudantes estão representadas em suas identidades, em seus afetos.
Com o objetivo de analisar itinerários formativos e práticas educativas vivenciadas no ensino primário em escolas de Caxias do Sul / RS, Terciane Luchese, a partir das memórias de docentes nascidos nas duas primeiras décadas do século XX, busca compreender os fazeres e os saberes de cinco professoras, todas elas formadas para atuarem no ensino primário. As memórias, somadas a outros documentos, compõem o campo empírico que, com o apoio teórico da História Cultural, permitem tematizar as práticas educativas de docentes entre os anos 1920 e 1960.
O acervo de fontes orais intitulado “Projeto Memória Lassalista”, o qual integra as coleções de documentos sob a guarda do Museu Histórico La Salle (MAHLS) do Unilasalle Canoas, é o objeto de estudo de Cleusa Garbin. Nessa pesquisa, a autora problematiza o depositário da coleção, as bases históricas e teóricas do Projeto, a sua constituição e operacionalização e as possibilidades de utilização. Além disso, estabelece uma discussão acerca das perspectivas futuras do Projeto. As complexidades e os desafios em relação à produção, tratamento, preservação e socialização de acervos orais são tematizados no artigo.
Claricia Otto, no período que compreende os anos 1930 e 1960, discute os resultados de uma pesquisa sobre a ação docente de religiosas da atual Congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas (CICAF), em escolas primárias de Santa Catarina. Para tanto, se vale de memórias de dez religiosas, professoras aposentadas dessa Congregação. A análise evidenciou aspectos do cotidiano escolar daquele período e entendeu que as professoras tiveram papel fundamental na constituição de determinada cultura escolar, especialmente no que concerne ao vínculo com a religião católica na escola laica.
Uma discussão acerca de professores leigos que atuaram em escolas isoladas e multisseriadas nas décadas de 1940-1960 no município de Pelotas / RS é o que propõem Patrícia Weiduschadt e Giana Lange do Amaral. A análise se constituiu a partir de quatro entrevistas que tematizam o pertencimento docente à etnia pomerana alemã e a religião luterana. Neste sentido, os conceitos de memória e identidade problematizam as memórias coletivas, reelaboradas no tempo presente.
Por fim, o artigo “Memórias de escola em colônias agrícolas judaicas no Rio Grande do Sul: narrativas orais do acervo do Instituto Cultural Marc Chagal (1904 – 1930)” investiga alguns aspectos acerca dos processos de escolarização dos primeiros imigrantes judeus fixados em colônias agrícolas no RS. Por meio das narrativas de memória de sujeitos que viveram sua infância naquelas comunidades, procura-se recompor uma História acerca das primeiras escolas naqueles espaço e tempo determinados. As narrativas visibilizam elementos, tais como o significado da escola para o povo judeu, as dificuldades de acesso e locomoção à escola, a presença de crianças de origem não judia na escola e, sobretudo, o papel da Jewish Colonization Association, conhecida no Brasil como ICA, e seu papel determinante no apoio aos processos de escolarização do Imigrantes Judeus.
Referências
RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Cia. das Letras, 2007.
Dóris Bittencourt Almeida – Doutora em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Professora Adjunta IV de História da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E-mail: almeida.doris@gmail.com
Luciane Sgarbi S. Grazziotin – Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. E-mail: lsgarbi@unisinos.br
ALMEIDA, Dóris Bittencourt; GRAZZIOTIN, Luciane Sgarbi S. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 15, n.3, set. / dez., 2016. Acessar publicação original [DR]
Acervos de pesquisa / Esboços / 2014
Acervos de pesquisa fazem parte da rotina de trabalho dos profissionais e estudantes das Ciências Humanas, historiadores, arquivistas, educadores. Pensar como esses territórios de pesquisa são explorados, mas também como são organizados e têm seu acesso disponibilizado ao público, ou ainda como imbricam-se às práticas de investigação feitas sobre seus documentos, parece ser uma tarefa bastante simples. No entanto, a própria concepção de acervo de pesquisa vem passando por transformações ao longo das últimas décadas, principalmente diante das possibilidades e dos desafios lançados pelo domínio da tecnologia de informação, que ganha centralidade na relação entre investigadores, seus objetos e o próprio chão de pesquisa – aqui representado pelos arquivos que comportam esses acervos. Locais misteriosos, máquinas domáveis, observatório social cuja ambiência deve ser desfrutada pela sensibilidade do pesquisador, segundo a análise de Arlette Farge.
Entendendo este debate como imprescindível para se pensar a prática historiográfica e suas relações interdisciplinares, a Esboços – revista do Programa de Pós-Graduação em História da UFSC – oferece ao seu público leitor o dossiê “Acervos de Pesquisa”, que faz dialogar autores e autoras de diversas áreas, entre elas História, Educação, Antropologia e Comunicação. Seus textos transitam entre pesquisas, conceitualizações e práticas de constituição e preservação de acervos, também elaboram sua contribuição no processo de construção do conhecimento científico e ainda discutem as vantagens e os desafios tanto da salvaguarda do material quanto das possibilidades e meios de sua divulgação aos pesquisadores e ao público mais amplo.
A proposta temática deste dossiê surgiu das inquietações de suas organizadoras diante das demandas atuais de se pensar os contornos da pesquisa histórica nos últimos anos e a necessidade de se guardar um tempo/espaço de autorreflexão sobre o fazer historiográfico e seus entrelaçamentos. O ritmo vertiginoso das descobertas e inovações tecnológicas nos remetem à ideia de uma aceleração no próprio tempo da pesquisa, que resulta dinamizado com a informatização de boa parte dos acervos de pesquisa, com esforços para lançar também nossas práticas à contemporaneidade dessas inovações que, por um lado, podem otimizar o tempo, mas que não nos deixam perder de vista os cuidados relativos à atenção sobre o material coletado ou produzido, seus meios de armazenamento e disposição para consulta. A perenidade da documentação histórica passa a ser questionada quando sua preservação torna-se dependente de tecnologias informáticas, digitais e seus repositórios, que cada vez mais se tornam virtuais. A coexistência de modalidades diferentes de suportes nos acervos, sua acessibilidade e as transformações que isso acarreta aos métodos de pesquisa nos convidam ao debate e à leitura daquilo que os profissionais/ pesquisadores têm a dizer sobre o tema.
Para oferecer um ponto de partida, sugerimos a leitura dos artigos que se seguem em três eixos distintos e interrelacionados, muito embora os textos não estejam dispostos separadamente na sequência do dossiê, que privilegia a fluência, a compreensão e o diálogo entre os artigos.
O primeiro grupo é composto por artigos que apresentam trabalhos de organização de acervos, historicizando suas composições e apontando os motivos teóricos e metodológicos que balizam a sua organização e apresentação pública.
Nele, encontram-se trabalhos como o de Katya Mitsuko Zuquim Braghini, Raquel Quirino Pinãs e Ricardo Tomasiello Pedro sobre a coleção de instrumentos científicos, objetos didáticos, do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, instituição tida como a mais antiga do ensino secundário da cidade. Por meio de dois movimentos narrativos, demonstram como se deu historicamente a constituição de tal coleção, evidenciando as práticas didáticas dos professores no museu escolar e, posteriormente, nos laboratórios científicos; indicam ainda os primeiros movimentos de organização e manutenção da coleção, pensando na ação de inventariação e catalogação das peças, além das dificuldades encontradas para a salvaguarda desse patrimônio, ao mesmo tempo científico e escolar.
Outro texto que dialoga com a organização e manutenção de acervos é o de Lorena Almeida Gill e Beatriz Ana Loner, que historicizam a formação do Núcleo de Documentação Histórica da Universidade Federal de Pelotas – RS, onde estão depositados os acervos da Delegacia Regional do Trabalho, os processos da Justiça do Trabalho da 4ª região, os documentos da Laneira Brasileira S.A, e entrevistas do Laboratório de História Oral (LaHO) daquela universidade. As autoras evidenciam algumas dificuldades de ordem teórica e metodológica para a construção de pesquisas voltadas ao mundo do trabalho. Trata-se da apresentação de documentos guardados por órgãos oficias ou instituições privadas que expressam a visão de quem detém o poder diante da organização do próprio trabalho. Por outro lado, a montagem das pesquisas frente aos documentos esbarra na inoperância de uma correta política arquivística de descarte, assim como na inadequação dos espaços de armazenamento e pesquisa.
O terceiro artigo que dialoga com esse eixo é o de Ana Carla Sabino Fernandes, que trabalha com a ideia de “memória arquívistica” como resultado de uma obsessão pelo arquivo, local cujo estoque material guarda aquilo de que não conseguimos nos lembrar. O arquivo torna-se, para a autora, uma organização política da memória, constituído por lutas de representações, vontade de indivíduos, interesses coletivos, prescrições legais, normativas. Em foco está o Arquivo Público do Estado do Ceará, historicizado a partir da atuação de seu diretor Eusébio Néri de Souza entre os anos 1932 e 1942; destaca-se a forma particularizada de organização do acervo empreendida por ele. A relação entre o principal responsável pelo arquivo e a organização por ele estipulada, não nos deixa esquecer que o resultado de uma pesquisa historiográfica tem a ver com a dominação dos vestígios do poder que estão incrustadas na memória que o próprio acervo guarda.
O eixo seguinte trata da apresentação de resultados de pesquisas ou de projetos em desenvolvimento e sua articulação com arquivos.
Cláudia Beatriz Heynemann registra como a exploração de produtos naturais no Brasil durante o século XVIII, realizada de forma extensiva e objetiva, foi fruto de uma política racionalizada, dentro de um programa ilustrado ibérico. Descobre o processo de construção de uma identidade comum, chamada “luso-tropical”, que perpassa as experiências de viajantes – cientistas, pesquisadores de gabinetes, técnicos, comerciantes, administradores locais, membros de instituições de pesquisa entre Brasil e Portugal -, no conhecimento do mundo natural, na relação entre pessoas e mercadorias. A documentação usada circunscreve a História Natural, com destaque para os documentos da Secretaria de Estado do Brasil, da Provedoria da Fazenda, da Marinha e Domínios Ultramarinos, localizados no Arquivo Nacional.
Outra pesquisa que envolve acervos em relação ao desenvolvimento de projetos é tema do artigo de Marcus Aurelio Taborda de Oliveira, Luísa Cecília Belotti Oscar e Caroline Maria Ferreira Drummond. O artigo trabalha parcialmente o projeto intitulado A educação dos sentidos na história: o tempo livre como possibilidade de formação (entre os anos finais do séc. XIX e os anos iniciais do séc. XXI), desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais. Trata-se do mapeamento, identificação e catalogação de fontes, destacando os trabalhos feitos no Arquivo Público Mineiro, na Hemeroteca e no Setor de Obras Raras da Biblioteca Pública Luiz de Bessa, e ainda na Biblioteca da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O artigo apresenta o investimento teórico feito em torno de conceitos-chaves ligados ao projeto e ao desenvolvimento de pesquisas científicas do grupo, tais como “sensibilidades”, “sentidos”, “formação”, “educação social”, “tempo livre”, “trabalho”, “labor”, ao mesmo tempo em que aponta para uma organização direcionada e raciocinada das fontes disponíveis na localidade para possíveis e futuras investigações.
Também integra este grupo o texto de Andrea Andújar, da Universidad de Buenos Aires (UBA). A pesquisadora se debruça sobre a história social, marcadamente de tradição marxista e britânica, e os estudos de gênero. Em seu artigo, Andújar percorre um indício oferecido por um militante do Partido Comunista da Argentina (PCA) nos anos 1930, quando este cita Ana Decheff, uma mulher que, de maneira inesperada, dinamiza os questionamentos sobre as relações de gênero na formação da classe operária argentina, mais especificamente na comunidade petrolífera de Comodoro Rivadávia – região da Patagônia. Paulatinamente, a autora nos desvela parte de sua trajetória de pesquisa, que teve bases importantes na história oral, e também suas experiências no confrontamento dos diversos arquivos, fundos e documentos por ela investigados durante a perseguição desse “nome de mulher”. Entre os principais estão o Arquivo Histórico Provincial de Rawson, o Museu Histórico Policial, o Museu Histórico Municipal de Comodoro Rivadávia, o Museu da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF) e a Hemeroteca da Universidade Nacional da Patagônia.
O terceiro e último eixo proposto pelo dossiê traz discussões conceituais, pedagógicas e metodológicas sobre a importância e a constituição dos acervos de pesquisa.
Abrindo este conjunto de trabalhos, temos o artigo de Eduardo Victorio Morettin, da Escola de Comunicações e Artes da USP, cujas pesquisas relacionam as áreas da História e do Cinema. Este autor traça um panorama didático em torno dos cuidados que envolvem a pesquisa histórica de imagens em movimento, apontando alguns caminhos e precisões metodológicas promovidas durante a investigação histórica do cinema. O artigo se volta às ponderações em torno da acessibilidade dada pela web, levando em conta sua historicidade; aos cuidados metodológicos, considerando a especificidade do uso de filmes para a pesquisa; ao entendimento da análise fílmica pela observação de um quadro geral mais amplo, histórico, político, cultural, social; à percepção de que acervos fílmicos pensam em preservação, à medida que difundem o passado do cinema. Trata-se, portanto, de uma reflexão em torno de aspectos metodológicos e patrimoniais.
Ana Maria Veiga, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), propõe uma reflexão sobre “acervos acadêmicos de pesquisa”, como coleções de documentos acumulados e produzidos por grupos e núcleos de pesquisa dentro das universidades ao longo do desenvolvimento de suas próprias investigações. Tais acervos são pouco estudados, tanto como possibilidades de pesquisa histórica, quanto como objeto da arquivística, pensando em seus critérios de guarda, organização e disponibilização de fontes. Sua composição apresenta diferentes documentações, com suportes variados, que podem ser: transferidas de outros arquivos, produzidas pelos grupos, adquiridas por compra ou doação. Portanto, o esforço do artigo se concentra tanto nas discussões teóricas, sobre a relação dos historiadores com os arquivos e o significado destes como instituições, quanto metodológicas, isto é, considerando os elementos técnicos, formais, para a organização de tais documentos e sua respectiva apresentação à comunidade, seja ela acadêmica ou não, o que resulta em um debate político em torno da função social e pública de tais acervos.
Na sequência, o artigo de Andréa Ferreira Delgado e Beatriz Gallotti Mamigonian apresenta a constituição e o funcionamento do Programa Santa Afro Catarina, pensado como ação de ensino, pesquisa e extensão, e que acontece como projeto pedagógico no curso de História da UFSC, por meio do trabalho de três núcleos de pesquisa: Núcleo de Conteúdos Específicos, Núcleo dos Conteúdos Pedagógicos e Núcleo da Prática Profissional. O projeto trata da composição de um acervo sobre a presença de africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina e tem como objetivo estimular a produção do conhecimento histórico, a partir de uma “educação patrimonial”. Busca, por um lado, a valorização e a difusão do patrimônio cultural relacionado à história e à memória dos africanos e afrodescendentes no âmbito de uma história local e, por outro, o questionamento crítico a uma historiografia que materializa as práticas culturais açorianas como únicas vivências constituidoras da identidade histórica na mencionada Ilha.
Por fim, Mário Martins Viana Júnior e Antonio Gilberto Ramos Nogueira, ambos atuando na Universidade Federal do Ceará (UFC), constatam os desafios atuais para a ampliação de um fazer historiográfico criativo, diante da precarização dos arquivos de seu estado e de uma deficiência que percebem na formação de pesquisadores no âmbito da graduação em História. A preocupação do artigo recai, portanto, na formação desses sujeitos e nos apresenta projetos bem sucedidos, organizados com o objetivo de oferecer conhecimento teórico-metodológico em três níveis: o descritivo-organizativo de acervos; o descritivo de documentações voltadas principalmente à escravidão na província do Ceará; o produtivo-organizativo, que se utiliza da metodologia da história oral para a constituição de acervos de memória e a preservação do patrimônio cultural. Registram, com esse trabalho, a ideia de que tais ações favorecem o desenvolvimento de uma “consciência histórica”, que possibilita a autonomia – elemento fundamental durante a construção do objeto de pesquisa.
Com a indicação de algumas chaves de compreensão, sugeridas acima, esperamos que os leitores e leitoras aproveitem o diálogo proposto pelo dossiê, e as reflexões levantadas a partir dele, para pensar o lugar dos acervos de pesquisa em seus próprios trabalhos, tendo em conta as maneiras como podemos situá-los conceitual e metodologicamente. Boa leitura.
Ana Maria Veiga Katya
Mitsuko Zuquim Braghini
Organizadoras
Acervos / História – Debates e Tendências / 2008
RECKZIEGEL, Ana Luiza Setti. Editorial. História – Debates e Tendências, Passo Fundo- RS, v.8, n.2, jul / dez, 2008. Acesso apenas pelo link original [DR]
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2008
Organizador
Aline Montenegro Magalhães – Historiadora. Mestre em História Social pela UFRJ e doutoranda pela mesma universidade. Coordenadora do Centro de Referência Luso-Brasileira do Museu Histórico.
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.40, p.432-435, 2008. Acesso apenas no link original [DR]
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2007
Organizador
Aline Montenegro Magalhães
Referências desta apresentação
MAGALHÃES, Aline Montenegro. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.39, p.416-420, 2007. Acesso apenas no link original [DR]
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2006
Organizador
Rafael Zamorano Bezerra
Referências desta apresentação
BEZERRA, Rafael Zamorano. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.38, p.208-211, 2006. Acesso apenas no link original [DR]
Acervos | Anais do Museu Histórico Nacional | 2002
Organizador
José Neves Bittencourt
Referências desta apresentação
BITTENCOURT, José Neves. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.34, p. p.295-296, 2002. Acesso apenas no link original [DR]
Acervos-indumentária | Anais do Museu Histórico Nacional | 2001
Organizador
Vera Lúcia Lima – Museóloga. Pesquisadora do Museu Histórico Nacional. Curadora da Coleção de indumentária do Museu Histórico Nacional.
Referências desta apresentação
LIMA, Vera Lúcia. Apresentação. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio de Janeiro, v.33, p.237-240, 2001. Acesso apenas no link original [DR]