Clichês baratos: Sexo e humor na imprensa ilustrada carioca do início do século XX | Cristiana Schettini

Cristiana Schettini
Cristiana Schettini | Imagem: Café História

Como se dava a relação da sociedade carioca da Primeira República com as questões sexuais? Quais eram as possibilidades para o consumo do erótico em uma cidade recém-saída da escravidão, com um novo regime político cuja ideia de modernidade estava presente nos discursos de diferentes grupos sociais? E por fim, o que uma investigação das sociabilidades noturnas masculinas pode revelar sobre o modo pelo qual homens e mulheres negociavam hierarquias sociais e morais no Rio de Janeiro? O livro Clichês Baratos: Sexo e humor na imprensa ilustrada carioca do início do século XX, de Cristiana Schettini, busca justamente examinar as conexões entre o processo de mercantilização das diversões, a sociabilidade noturna, o humor e a sexualidade.

A maneira como as pessoas se divertiam já vem sendo interesse de pesquisas de história social desde as décadas de 1970 e 1980, quando se aproximaram os diálogos entre a Antropologia e a História. Trabalhos sobre o carnaval, as festividades religiosas, o teatro e outras formas de sociabilidade vêm trazendo para a historiografia novas contribuições para se entender as disputas políticas e sociais no país. Trabalhos como o de Cristiana Schettini têm sido fundamentais para a compreensão de quais fantasias e desejos sexuais ocupavam um lugar essencial na vida noturna do Rio de Janeiro do início do século XX. Leia Mais

Dancing with the revolution: Power, Politics, and Privilege in Cuba | Elizabeth Schwall

Nos últimos anos, historiadores e historiadoras dedicadas à História de Cuba têm analisado a Revolução, iniciada em 1959, para além de paradigmas predominantemente econômicos e políticos. Essa corrente historiográfica, defensora do estudo da “Revolução a partir de dentro” (BUSTAMANTE; LAMBE, 2019), tem abarcado uma série de temáticas ligadas às políticas culturais, ao papel de marcadores sociais da diferença e do cotidiano para entender a história do país após a ascensão do Movimento 26 de julho ao poder. Entre as obras que se enquadram nesta perspectiva está Dancing with the Revolution: power, policts and privilegie in Cuba, da historiadora Elizabeth B. Schwall.

Lançado em 2021, o livro é um dos novos volumes da coleção Envisioning Cuba (The University of North Carolina Press), sendo resultado da tese de doutorado em História da autora, defendida na Columbia University. Docente da Northern Arizona University, Schwall é especialista nas relações entre arte e revolução e possui, para além de vasta produção, a experiência como dançarina, o que lhe permite um olhar sensível ao tomar como objeto de análise o balé, a dança folclórica e a dança moderna em Cuba ao longo do século XX. A partir de uma perspectiva historiográfica, que transita entre a História Social e a Cultural, a autora analisa de que forma os três estilos de dança foram mobilizados entre os anos 1930 e 1990 por sujeitos, pelo Estado e pela sociedade cubana. Leia Mais

O médico e o monstro: uma leitura do progressismo latino-americano e seus opostos | Fabio Luis Barbosa dos Santos e Daniel Feldmann

O livro do historiador Fabio Santos e do economista Daniel Feldmann, ambos professores da Universidade Federal de São Paulo, trata da América Latina contemporânea, apontando para atores individuais e coletivos e seus projetos de sustentação da lógica de dominação. A obra é uma daquelas publicações necessárias pelas polêmicas que traz, pelo desconforto que provoca, pelo deslocamento do lugar comum das interpretações hegemônicas, daí inclusive a publicação sair por uma editora alternativa que surgiu com a proposta de publicar pensamentos contra-hegemônicos sobre a América Latina. Os autores são provocadores no melhor dos estilos, artístico e interpretativo, desde o título, que tomam emprestado da novela “O médico e o monstro” – escrita pelo escocês Robert Stevenson no final do século XIX – aos traços artísticos que desenham as figuras de capa e contracapa representando a dualidade do “progressismo” no Brasil e na América Latina, no século XXI. A escrita fluente, a forma ensaística da narrativa que sustenta as interpretações (e aqui entende-se ensaio não como algo menor) permitem uma liberdade necessária aos autores para fazer perceber a dualidade, distanciamentos e aproximações entre projetos e políticas de governos que se apresentam como contrapostos. Leia Mais

Percorrendo o vazio: intelectuais e a construção da Argentina no século XIX | José Alves de Freitas Netos

A história é amplamente conhecida. Durante a ditadura de Rosas, na Argentina, um grupo de jovens intelectuais, de formação liberal, mesclados a uma larga audiência, se reúne numa livraria para discutir literatura e filosofia, e acabam falando sobre a política de seu país e fundando um grupo que ficaria conhecido como a Geração de 1837. Esse salão literário não era o primeiro, nem o único a funcionar em Buenos Aires. Ele seria o embrião de outras organizações intelectuais e políticas platinas e seus principais membros conheceriam o exílio, perseguidos pelo governo que criticavam. Do degredo, escreveram manifestos políticos, poesia e prosa que fundaram longa tradição na Argentina. Essa literatura teria como principal tópica a dualidade que deu subtítulo ao livro de Domingo Sarmiento, “civilização ou barbárie”. O cerne desse argumento seria que os federalistas/rosistas/conservadores defenderiam valores bárbaros, de uma Argentina descentralizada, dividida em facções em constante defesa de interesses regionais, particulares e personalistas. Por oposição, os unitários/liberais defenderiam um país coeso, uniforme, cioso de suas particularidades (como o imenso território “selvagem” que era, ao mesmo tempo, benção e maldição), mas ciente de que deveria integrar a marcha universal da História, alinhando-se à “civilização” de matriz europeia, com ideais republicanos de base liberal. Ao retornarem do desterro, quando da queda do ditador em 1852, assumiram cargos públicos e magistraturas. Sarmiento seria presidente da República. Leia Mais

The Crisis of the Meritocracy: Britain’s Transition to Mass Education since the Second World War | Peter Mandler

Peter Mandler
Peter Mandle | Imagem: Historical Association

Britain has never been a meritocracy. Despite the concept’s widely-evoked vision of a ‘fair’ or ‘just’ social order, one where individuals rise or fall according to their ‘talents’ or ‘efforts’, the rise of the meritocracy has continually been scuppered by the perseverance of inherited privilege or democratic pressure. In part, it is meritocracy’s unrealised status that keeps bringing the nation’s political leaders back to the concept, especially in recent decades. Confounded by growing levels of inequality, successive generations of politicians have sought solace in the popular enthusiasm for education as an arbiter of ‘earned’ social status and a marker of individual responsibility, talent and effort. The contemporary moment feels different, however. It is impossible to browse the shelves in a bookshop or visit a news website without stumbling across several volumes or articles decrying meritocracy’s impact on democracy, its role in the populist backlash of Brexit and Trump, or its collusion with the forces of neoliberalism.(1) Beyond the truism that the word ‘meritocracy’ was coined to describe a dystopia and yet has somehow become a positive vision of a ‘classless’ social hierarchy, these accounts all lack a sense of history. Therefore, Peter Mandler’s latest book, The Crisis of the Meritocracy: Britain’s Transition to Mass Education Since The Second World War, could not be more timely. Leia Mais

Four Nations Approaches to Modern ‘British’ History: A (Dis)united Kingdom | Naomi Lloyd-Jones e Margaret M. Scull

Naomi Lloyd Jones
Naomi Lloyd-Jones | Imagem: Royal Historical Society

Four Nations Approaches, as the editors acknowledge from the start, follows in the footsteps of a very solid tradition of edited collections, brought about by the rise of ‘New British History’ in the 1990s and early 2000s. Unlike the majority of that scholarship, however, this volume focuses on the modern rather than the early modern period: the stated aim of this chronology is that it allows the historian to transcend the discussion of ‘state formation’ (p. 5, and see also p. 62). Hugh Kearney’s ‘four nations’ label is adopted here to highlight the fact that ‘the extent to which’ England, Scotland, Ireland, and Wales ‘shared a “British” history is interrogated, rather than assumed’ (p. 6), and the approach remains ‘pluralistic’ rather than ‘wholeistic’ (p. 5). ‘Interactions’, instead of ‘integration’, form the focus of analysis (p. 5).

On the whole, there are two dangers that the volume sets out to avoid: the Anglocentrism which is residual in J. G. A. Pocock’s work, and, almost inevitably, in many political and state-centred histories; and a backstaging of the differences and peculiarities of each nation in an effort to look at how they fit into a British ‘whole’. This backstaging usually leaves behind especially Wales, tacitly subsumed into England, and—as Krishan Kumar has most eloquently noted—England itself, whose supposed essence is often reduced to positional dominance in the Union and in the Empire.(1)  In this historical moment, however, an explicitly dis-homogenising historiographical approach is made most relevant by the post-2016 trajectories not of Wales and England, but of Scotland and Northern Ireland (pp. 15-18). Lloyd-Jones and Scull are very aware of the risks of hindsight-thinking. That of coming to see the United Kingdom as less of a historical reality merely because of its present disgregation was an issue with which historians had to grapple already in the 1990s. (2) Yet in firmly choosing the Four Nations framework, and determinedly bypassing not only Anglocentric paradigms, but the very idea of ‘Britishness’, this book may well be riding an early wave of what will become the politically mainstream understanding of ‘British’ history. Leia Mais

Na transversal do tempo: natureza e cultura à prova da história | Ana Carolina Barbosa Pereira

Na transversal do tempo: natureza e cultura à prova da história encara “o desafio de propor um diálogo entre a teoria da história e a etnologia” (Pereira, 2019, p. 24). Ana Carolina Barbosa Pereira, professora na Universidade Federal da Bahia, aponta de saída que “se a etnologia fala exclusivamente aos(às), etnólogos(as), a teoria da história tampouco apresenta disposição para ouvi-los(as)” (Pereira, 2019, p. 24). E se o diálogo entre esses campos já é inusual, as vozes que a autora convoca para travar a conversação não parecem menos estranhas umas às outras: de um lado, o perspectivismo ameríndio; do outro, o historicismo alemão.

A rigor, o que a obra enseja não é bem uma conversa, mas um jogo (de cartas); ou ainda, como sugere a autora, “uma séria e desafiadora brincadeira” (Pereira, 2019, p. 24). Não há melhor modo de compreender um jogo do que jogando-o; de experimentar a seriedade de uma brincadeira do que brincando-a. Pois bem: valendo!

Como colocar-se na transversal do tempo? Em relação a que tempo uma determinada história se poria na transversal? Ou, ao revés, em relação a que história um tempo determinado estaria na transversal? Como dar conta desses atravessamentos recíprocos? E o que se diz através dessa operação?

Antes de abordar essas questões – e como em qualquer jogo -, é preciso aceitar o conjunto de regras proposto. Elas são poucas, relativamente simples e têm o fito de seguir lance a lance o argumento do livro, que é dividido em três grandes partes. Na primeira, as cartas serão dispostas segundo seus naipes e viradas para cima, de modo a explicitarem quais delas conferem vantagem desleal (porque não relacional) a quem as mobiliza(r). A despeito dessa propriedade distintiva, do ponto de vista formal, não se distinguem das demais. Daí o título do capítulo: “Um jogo de cartas conceituais (não) marcadas”.

Isso feito, na segunda parte acompanhamos a autora “Embaralhando as cartas conceituais”. O propósito aqui é deixar manifesta que vantagem posicional permanente não é contingente, mas arbitrária e, do ponto de vista conceitual, uma impostura. Na língua dos jogos – e no jogo das línguas – dir-se-ia que se trata de mera convenção. Como tal, em tese e sem nenhum prejuízo à natureza da atividade, poderia ser repactuada pelos participantes.

A terceira e última parte é, por assim dizer, um pseudoamistoso: uma tentativa de demonstrar como poderia se dar a dinâmica do jogo – entre as categorias “cultura”, “tempo”, “natureza” e “história” – se a interação entre elas fosse conduzida segundo o design conceitual esboçado a partir de uma redistribuição das cartas conceituais, orientado pelo conjunto de reflexões elaboradas ao longo do livro.

CARTAS CONCEITUAIS (NÃO) MARCADAS: TELEOLOGIA FORMALISTA

A História como discurso acadêmico profissional repousa sobre um consenso disciplinar acerca da obsolescência conceitual de abordagens teórico-metodológicas à moda teleológica das chamadas “velhas filosofias da história”. No lugar delas, a historiografia desenvolveu um campo próprio de reflexões e o batizou com o substantivo mais afeito ao propósito de constituir a História como ciência social dotada de critérios específicos de positividade: teoria.

Nesse sentido, uma das tarefas fundantes da teoria da história é, efetivamente e como argumenta a autora, “esvaziar o conteúdo das filosofias da história” (Pereira, 2019, p. 21). O primeiro giro de pensamento exigido para pôr-se na transversal do tempo é depreender em que medida, apesar de ter seu conteúdo esvaziado na e pela teoria da história, o cerne conceitual das filosofias da história – a saber, seu caráter teleológico – segue formalmente ativo, ou seja, atua na forma da forma.

Repare: não se trata de dizer, como de hábito, que há discrepância ou desconformidade entre conteúdo e forma. Muito menos se trata de delinear aspectos que comprovariam quanto a forma escamoteia o conteúdo que traz a efeito. Ou, pior do que isso, de construir esse escamoteamento como condição sine qua non da própria relação entre forma e conteúdo da história. Não se trata, em suma, de supor que a teoria da história não pareça, não tenha a forma, não se apresente como teleológica, mas, na verdade, o seja. Na transversal do tempo, a teoria da história parece, tem a forma, se apresenta como teleológica… e o é.

Uma empreitada conceitual empenhada em demonstrar que algo não é outra coisa senão precisamente o que parece ser pode ver-se obrigada, ao menos provisoriamente, a conceder que alguma noção deve estar sendo empregada de maneira “controversa”. No caso de Na transversal do tempo, a “controvérsia” se dá com a noção de teleologia. Pereira (2019, p. 21) explica que “por teleologia se entende aqui o descompasso entre o desenvolvimento e a consciência deste mesmo desenvolvimento”.

O exercício desse descompasso é, sem tirar nem pôr, a marca patente do que – o mais tardar desde a célebre formulação de Jürgen Habermas (1988) – veio a ser batizado como “discurso filosófico da modernidade”. O inaugurador deste discurso? Hegel. “Controverso” é, pois, o inverso do adjetivo mais apropriado para insinuar a homologia entre os modos de pensar filosoficamente a modernidade e a inclinação às teleologias à la Hegel, isto é, indelevelmente finalistas, mas, dado seu assentamento no contingente, à prova da acusação de determinismos tacanhos.

Na transversal do tempo traça um dos percursos possíveis para entender essa trama no campo da teoria da história. Aqui, assinala dois pontos de inflexão. O primeiro, em Newton e sua mecânica clássica, responsável pela noção de espaço e tempo absolutos e verdadeiros em si mesmos (Pereira, 2019, p. 30). O segundo, na “revolução copernicana” de Kant, que atribuiu uma dupla natureza a esses pressupostos, de sorte a transmutá-los em “grandezas ontológicas e transcendentais” também do espírito: espaço e tempo transmutados em “formas puras da intuição sensível”, que se constituem como condição de possibilidade do conhecer e, nesse sentido, “conteriam, anteriormente a toda experiência, os princípios de suas relações” (Pereira, 2019, p. 31-32).

O caráter absoluto, contínuo e homogêneo do “tempo em si”, herdado das acepções newtoniana e kantiana, operará por dentro do discurso filosófico da modernidade até ganhar a forma do que Na transversal do tempo (se) apresenta como “continuum temporal.

Aceitando a tese de que o germe filosófico que inaugura a modernidade é o pensar teleológico que deriva do investimento incessante em suprimir o descompasso entre o que já é (ou seria) e o que se é capaz de pensar que ainda é (ou venha a ser), pode-se dizer, acompanhando o argumento de Pereira, que, a partir dessa matriz, tudo quanto viermos a chamar de interpretação histórica “moderna” (a despeito de assumir a forma de teoria da história ou de historiografia) consistirá na diferenciação desse continuum através de um processo que ela denomina “dinâmica da insciência/consciência do tempo” (Pereira, 2019, p. 65).

A teoria da história de extração alemã será o campo de prova desta hipótese. Aqui, pensando com Manuela Carneiro da Cunha, a autora efetua uma “recuperação das cosmologias ocidentais como objeto de estudo antropológico” (Pereira, 2019, p. 208) e empreende uma densa análise cujo fito é delinear afinidades conceituais. Tais afinidades, para usar uma metáfora antropológica afim, funcionam como um verdadeiro deslinde das estruturas elementares de parentesco de dois dos mais importantes expoentes contemporâneos da teoria da história, Reinhart Koselleck e Jörn Rüsen – entre si e com seus conterrâneos e antecessores, a saber, Wilhelm Dilthey e Gustav Droysen -, num primeiro galho genealógico; e, em passado ainda mais recuado, os vínculos de todos com a filosofia de Kant, de Herder e de Hegel.

Visto nessa perspectiva, e parafraseando Lévi-Strauss ([1958] 2008, pp. 32 e 39), o “continuum temporal” faz as vezes da natureza enquanto a “consciência histórica”, tal qual a proibição do incesto, se apresenta como o ponto de passagem (ou mecanismo de articulação) entre natureza e cultura. Ou ainda, na mesma chave, o “continuum temporal”, do qual a etnóloga tentar se aproximar através da consideração de suas expressões mais ou menos conscientes, equivale a uma “condição inconsciente” (da teoria da história).

A partir de uma engenhosa reconstrução do arcabouço analítico de Reinhart Koselleck, cuja formulação mais célebre é a díade espaço de experiência/horizonte de expectativa, “arriscando uma síntese”, Pereira (2019, p. 78) conclui que “o conceito de ‘tempo histórico’ participa da Historik de Koselleck, ora como condição transcendental das histórias, ora como indicador do processo de tomada de consciência do tempo em si mesmo”. Submetendo o pensamento de Jörn Rüsen a escrutínio semelhante, a autora diagnostica, em sua “razão histórica”, outra variante deste movimento que vai da insciência à consciência do tempo.

Em suma, tanto um como o outro “concordam em relação ao essencial”, isto é, mantêm a prerrogativa de um continuum temporal “natural” que, diferenciado pela ação da consciência, faz emergir o tempo propriamente histórico. É esse o arranjo que Na transversal do tempo (se) apresenta correta e peremptoriamente como uma “teleologia formalista” (Pereira, 2019, p. 86): um tempo que faz as vezes de natureza (o continuum temporal), espécie de unidade originária ainda indiferenciada, é submetido à ação reflexiva do pensamento humano e, nesse processo, que pode ser também descrito como “desenvolvimento da consciência do tempo em si mesmo”, se transmuta em algo intencionalmente diferenciado e, nesse sentido, histórico. E é nessa forma que “consciência histórica” e “tempo histórico” passaram a ocupar um lugar irremovível não apenas na teoria, mas na ciência da história.

Por essa razão, como sugere Pedro Caldas (2004, p. 11), ao se considerar que “pensar historicamente é pensar teleologicamente”, não se está “ressuscitando um cadáver” conceitual. Muito pelo contrário. Vista Na transversal do tempo, esse tipo de “teleologia formalista” – constituída pela relação mimética entre tempo natural e tempo histórico ou consciência histórica – oferece régua e compasso para “esclarecer qual a finalidade do saber histórico, ou seja, […] explicitar seu método, seus limites, funções, normas” e, nesse sentido, representa “o esforço para o estabelecimento de uma autonomia do conhecimento histórico” (Caldas, 2004, p. 11).

“Teleologizar” pressuporia, portanto, manter a excepcionalidade relacional de categorias desenvolvidas a partir de uma experiência particular da consciência do tempo que, em sua própria consecução como cânone de um campo de saber, se projetou como imprescindível à “interpretação humana do tempo e consequente construção histórica de sentido” (Pereira, 2019, p. 21).

EMBARALHANDO AS CARTAS: FUTURO SEM DEVIR HISTÓRICO

O embaralhar de cartas tem como objetivo expandir a superfície de contato da contingência e, assim, aumentar o nível de dificuldade de controle de um jogo. Parte fundamental da arte de jogar cartas, aliás, consiste em dominar as formas de embaralhamento e, não menos, torná-las objeto de admiração e fascínio. Quem nunca terá visto algo do tipo nas apologias hollywoodianas dos cassinos e da jogatina? A propósito e não por acaso, a prática é também uma modalidade distintiva no mundo da mágica.

Vão longe as analogias possíveis entre o que a magia faz com os sentidos, sobretudo o da visão, e o que a teoria faz com o sentido das palavras e das coisas. Com isso em mente, consideremos que o embaralhamento conceitual que Na transversal realizará pretende nos fazer compreender que, “alheia e indiferente ao princípio da insciência/consciência do tempo, a consciência histórica ameríndia não é um devir histórico” (Pereira, 2019, p. 156). Para chegar à tese, a autora nos conduz por um longo percurso conceitual. Sintetizo-o em duas manobras.

Primeiro, ela mobiliza o perspectivismo ameríndio para replicar, dentro da teoria da história, a “inversão multinaturalista” que produz um tipo específico de deslocamento da disposição relacional entre natureza e cultura, a saber, “a cultura ou o sujeito seriam aqui a forma do universal; a natureza ou o objeto, a forma do particular” (Viveiros de Castro, [2002] 2017, p. 303). Assim, fica neutralizada de saída aquela “carta marcada” da ontologia da modernidade, isto é, a persistente oposição entre natureza e cultura, e produz-se algum desarranjo na correspondência entre seus correlatos simétricos universal/dado/objetivo/fato versus particular/construído/subjetivo/valor (Viveiros de Castro, 2017, p. 303).

O segundo movimento consiste em produzir um tipo análogo de deslocamento relacional no que diz respeito à noção de indivíduo em sua relação com a sociedade. Aqui, Pereira (2019, p. 98) lança mão da noção do conceito de “personitude fractal”, termo desenvolvido por José Luciani para estabelecer o “fio da relacionalidade, isto é, a constituição relacional de pessoas e contextos” através da descrição do processo pelo qual se dá “tanto o encerramento de pessoas inteiras em partes de pessoas quanto a replicação de relações entre Eus [selves] e Outros [alters] em diferentes escalas (intrapessoal, interpessoal e intergrupal)” nas sociedades indígenas (Luciani, 2001, p. 97).

O primeiro deslocamento, entre natureza e cultura, é fundamental para que se entenda que qualquer ente pode participar da configuração de um campo relacional: um animal, um objeto, um espírito e, claro, pessoas, mesmo as completamente estranhas a um dado grupo. Aqui, a natureza do vínculo não decorre nem depende da identificação com o semelhante (na forma de corpo humano) e sim do estabelecimento de uma relação de afinidade na qual o corpo não é, em primeira linha, compleição material, traço físico, mas, antes, “feixe de afecções” – um conjunto de capacidades e comportamentos típicos de um ser (Viveiros de Castro, 2017, p. 128). Instituída nesses termos, a afinidade assume, portanto, “a função de matriz relacional cósmica” e “constitui-se, virtualmente, como o modo genérico da relação social” ou, usando o conceito de Viveiros de Castro (2017, p. 108) Na transversal, constitui-se como “afinidade potencial”.

Um exemplo de caráter intergrupal pode ser bem elucidativo para entender o modo como a categoria tempo entra – via personitude fractal – nesse arranjo conceitual e fecha o nó do ser e do tempo que nós chamamos de história. Falando dos tupinambás, Viveiros de Castro (1992, p. 291 apud Luciani, 2001, p. 105) analisa o modo como se estabelece um “momento crucial de mútua identificação” entre cativo e captor/matador, de sorte que “o cativo representa o futuro do matador (ser executado pelo inimigo) e o matador representa o passado do cativo (que foi um matador)”.

Em trabalho de campo etnográfico conduzido junto aos Yamináwa, Pereira reconhece traços desses mesmos princípios – afinidade potencial e personitude fractal – na relação entre tempo e pessoa. As estratégias de reprodução de nomes e dos termos entre os Yamináwa, ela explica, na medida em que tendem à replicação entre eus e outros em escala temporal, criam uma estrutura dinâmica e propriamente fractal do tempo (Pereira, 2019, p. 151). A partir dessa conclusão, ela convida: “especulemos por conta própria”.

Se é possível instalar-se no passado e/ou futuro conforme o princípio da reversibilidade, isso se deve, ao que parece, à existência de um fundo virtual de temporalidade não-marcada. A própria dinâmica da fractalidade é indicativa dessa relação de dependência. Aqui, é a simultaneidade (potencial) que impõe a não simultaneidade de “antes” e “depois”. Passado, presente e futuro correspondem justamente àquela dimensão não marcada da história que, por isso, deve ser atualizada (Pereira, 2019, p. 151).

A história assim atualizada é, portanto, ela também potencial, e seu traço fundamental, por conseguinte, é a relacionalidade: “Se o tempo histórico ameríndio é o tempo do parentesco e este é fabricado a partir da afinidade potencial, o mesmo se dá com o tempo como atualização de uma história potencial (Pereira, 2019, p. 153).

E assim, para fechar esta seção retomando o fio do raciocínio, compreende-se o que significa dizer que a “história potencial ameríndia” não pressupõe nenhum vínculo apriorístico “entre passado, presente e futuro que deva ser diferenciado por meio da consciência histórica”; ou seja, que “não é um devir histórico”.

REDISTRIBUIR AS CARTAS: HISTÓRIA MULTIVERSAL DA DIFERENÇA

Tendo, primeiro, deslocado as noções de “tempo histórico” e “consciência histórica” de sua posição não marcada e, em seguida, aguçado nossa compreensão da história rumo a uma relacionalidade radical via perspectivismo ameríndio, Pereira volta aos alemães na terceira (e última) parte do livro, mais precisamente ao projeto de história intercultural – ou humanismo moderno – de Jörn Rüsen.

Para que cheguemos a esse ponto bem equipados, um importante contorno epistemológico é feito: estabelecer a posição relacional da própria história Yamináwa, isto é, da história dos povos indígenas, em um quadro que tem o Acre como pano de fundo, mas que é bastante ampliado. Se usarmos aqui a própria noção de fractal – no que ela serve como recurso visual para imaginar o padrão de repetição de um fenômeno em diferentes escalas -, veremos a história do Acre como uma iteração ampliada da narrativa mestra que estrutura também, a um só tempo, o “paradigma da formação” da nação (no Brasil) e a evolução da modernidade (no Ocidente). Em síntese, produz-se uma epopeia acreana como capítulo particular da marcha universal e inexorável do progresso e da civilização, na qual os povos indígenas ou não figuram ou apenas aparecem para confirmar uma suposta incapacidade inata de oferecer qualquer resistência à ação colonizadora (Pereira, 2019, p. 175).

Isto é feito para que entendamos o excurso político que Na Transversal nos propõe quando traz a ideia de “florestania”. Fusão de “floresta” e “cidadania”, o termo pretendia, historicamente, enfatizar o protagonismo dos povos indígenas e, politicamente, sintetizar um caminho para a superação do antropocentrismo, preconizando um regime de igualdade de direitos entre todos os elementos da natureza, inclusive, naturalmente, os seres humanos. No fim, degenerou em “mero slogan”, de todo desvinculado da ambição originária, calcada numa mudança radical de paradigma (Pereira, 2019, p. 182).

Nessa altura, somos reconduzidos ao que Jörn Rüsen preconiza ao falar de um conceito de história intercultural que “deve vencer o próprio etnocentrismo e contribuir para uma nova cultura do reconhecimento mútuo das diferenças” (Pereira, 2019, p. 185).

Como Na Transversal apresenta essa aspiração em seus pressupostos, entendemos também em que medida a “cultura do reconhecimento mútuo das diferenças”, como critério normativo de validade universal na teoria da história de Rüsen, acaba desempenhando um papel análogo ao da “florestania” como princípio orientador da política, ou seja, o de “mero slogan”. Ambas, cada qual em sua seara, não apenas não operam o giro paradigmático que anunciam, mas, ao revés, atuam como vetor da primazia do moderno.

À luz do que essa modernidade tem sido até aqui para os povos indígenas, a saber, um processo contínuo de reprodução do genocídio como cerne da dinâmica de interação, Pereira (2019, p. 203) conclui que o argumento da “razão inclusiva” subjacente ao humanismo moderno de Rüsen “soa no mínimo ofensivo”. Mas, se não a nobre e bem-intencionada “inclusão”, então o quê? Hora de, finalmente, redistribuir as cartas conceituais.

As narrativas de contato dos Yamináwa – a exemplo da de outros povos indígenas, como os Arara e Manchineri – são dispostas de maneira tal que, embora os brancos sejam acomodados em lugares pré-marcados, isso não impede o surgimento de reordenações cosmológicas que derivam de uma “constante reelaboração do contingente como experiência inédita de algo conhecido de antemão”. Orientada pela “afinidade potencial”, a incorporação do outro se dá, via de regra, “em sua e pela sua diferença”. A história que assim se conta, portanto, “não é uma narrativa post festum, ela é o fundo virtual que prefigura toda a experiência, um veículo para a realização e simbolização de relações efetivas” (Pereira, 2019, pp. 143-144).

Em termos mais abstratos, dir-se-ia que o princípio de reconhecimento mútuo da diferença do qual Rüsen lança mão opera com base em uma lógica de diferenciação ancorada nas categorias tipológicas da semelhança, da oposição, da analogia e da identidade. Daí seus critérios de inclusão acabarem desandando sempre no taxonômico e classificatório, em um movimento que não cessa de repor as regulações hierárquicas que tenciona deslocar (Pereira, 2019, p. 203).

As matrizes de pensamento ameríndias, por sua vez, operam através de uma “síntese disjuntiva” cujo princípio de diferenciação é precisamente o não taxonômico e não substancial. Sua dinâmica relacional de individuação conduz, por isso, à constante “atualização do virtual”. Para retomar a metáfora geométrica, em vez de uma “ontologia plana”, corolária de uma lógica inclusiva da diferença, na qual existir pressupõe a identidade como causa ou como finalidade, poderíamos arriscar uma “‘ontologia fractal’ em que existir significa diferir: diferença intensiva, diferença das diferenças”. Assim, trocando em miúdos historiográficos, em vez de uma “história universal da identidade” construiríamos uma “história multiversal da diferença” (Pereira, 2019, pp. 204 e 207).

AFINIDADE (TEÓRICA) POTENCIAL

“Conhecemos a história de um autômato construído de tal modo que podia responder a cada lance de um jogador de xadrez com um contralance, que lhe assegurava a vitória.” (Benjamin, 1996, p. 222). É assim, imaginando um jogo, que Walter Benjamin principia seu célebre “Sobre o conceito de história”.

O alvo declarado da crítica de Benjamin é um historicismo composto por dois traços fundantes: 1) a aspiração de representar o passado como “ele de fato foi” e que, como tal, 2) “culmina legitimamente na história universal” (Benjamin, 1996, pp. 224 e 231). No limite, Benjamin (1996, p. 231) provoca, o historicismo possibilita o paradoxo de apresentar uma “imagem ‘eterna’ do passado”, o que só é possível porque ele “faz da história objeto de uma construção cujo lugar é um tempo homogêneo e vazio” que se manifesta como “o continuum da história” (Benjamin, 1996, p. 229).

O materialismo histórico benjaminiano desejava explodir esse continuum (Benjamin, 1996, p. 230). Se seguirmos Na transversal do tempo, podemos fazer algo afim. Há (parece) uma afinidade potencial entre o jogo do tempo e da história de Ana Carolina B. Pereira e de Walter Benjamin.

Não obstante, é a diferença que os vincula: o tempo de Benjamin é monológico, intrassubjetivo e messiânico; está impregnado de um salvacionismo cuja virtuosidade parece imanente e, mormente, dado a “revolucionário”. O de Pereira é dialógico, intersubjetivo e contingente; de saída, desconfiado da própria virtude e avesso às epifanias da salvação.

Entre Pereira e Benjamim, a metáfora do jogo interpõe um elo dissonante. Na imagem que Benjamin (2020, p. 66) constrói há um elemento fundamental: “através de um sistema de espelhos criava-se a ilusão de que a mesa era transparente por todos os lados” e, assim, ocultava o espírito que animava o jogo (o anão corcunda da teologia). O truque, portanto, não consiste unicamente em ser guiado pela mente do mestre (de xadrez), mas garantir que – por intermédio da transparência – sua onipresente efetividade na condução dos eventos transcorra na forma da ausência e iluda quem entrar na contenda. Pereira, por sua vez, não quer parecer transparente, não aposta no logro do outro; seu jogo não demanda repor a consciência alheia a partir de uma posição declaradamente misteriosa.

O caso é que, e eis o nó, ao acenar com o estratagema da consciência escondida como guia – a transparência como opacidade -, Benjamin parece adotar prumo mais afeito à assimetria de poder, pois pretende equipar melhor quem joga em franca desvantagem. No que concerne à Pereira, ao revés, quem joga limitado por injustiças dadas de saída segue algo exposto, precisando contar, antes, com a abertura (ou transparência) de um outro que agora – não mais a despeito, mas dada a sua opacidade finalmente declarada – encerraria uma virtuosidade intrínseca e, mormente, capaz de engendrar uma dinâmica de supressão gradual de assimetrias que poderia ser tomada como o início de um tímido processo de reparação.

Que jogo teríamos se o corcunda de Benjamin aprendesse a jogar com as cartas ora embaralhadas e redistribuídas por Ana Carolina B. Pereira?

Referências

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Obras Escolhidas. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996. pp. 222-243.

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história: edição crítica. São Paulo: Alameda, 2020.

CALDAS, Pedro Spinola Pereira. Que significa pensar historicamente: uma interpretação da teoria da história de Johann Gustav Droysen. Tese (Doutorado em História) – Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2004. 215 f.

HABERMAS, Jürgen. Der Philosophische Diskurse der Moderne. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1988.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2008 [1958].

LUCIANI, José Antônio Kelly. Fractalidade e troca de perspectivas. Mana, v. 7, n. 2, pp. 95-132, 2001.

PEREIRA, Ana Carolina Barbosa. Na transversal do tempo: natureza e cultura à prova da história. Salvador: EDUFBA, 2019.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Ubu Editora, 2017 [2002].

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. From the Enemy’s Point of View: Humanity and Divinity in an Amazonian Society. Chicago: Chicago University Press, 1992.


Resenhista

Fernando Baldraia – Freie Universität Berlin, Berlim, Alemanha. E-mail: fbaldraia@gmail.com  https://orcid.org/0000-0002-0140-757X


Referências desta Resenha

PEREIRA, Ana Carolina Barbosa. Na transversal do tempo: natureza e cultura à prova da história. Salvador: EDUFBA, 2019. Resenha de: BALDRAIA, Fernando. O jogo da afinidade.  Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 42, n. 89, 2022. Acessar publicação original [DR]

Mestiça cientificidade: três leitores franceses de Gilberto Freyre e a sua máxima consagração no exterior | Giselle Martins Venancio e André Furtado

A Editora da Universidade Federal Fluminense acaba de lançar Mestiça cientificidade: três leitores franceses de Gilberto Freyre e a sua máxima consagração no exterior (2020). O livro de Giselle Martins Venancio e André Furtado é uma importante contribuição para interpretar a recepção da obra de Gilberto Freyre no exterior, em especial na França do pós-guerra. Compreender as condições de leitura de autores canônicos como Fernand Braudel, Roger Bastide e Lucien Febvre – os leitores franceses estudados no livro – não é trivial, pois a consagração de Casa-grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre (1900-1987), não dependeu apenas do próprio texto, nem da argumentação e da pesquisa contidas nele, mas de uma série de questões que povoam o mundo dos leitores.

Mestiça cientificidade aprofunda o entendimento acerca da recepção francesa de Casa-grande nas décadas de 1940 e 1950. Funciona também como iniciação à obra de Gilberto Freyre para estudantes, jovens pesquisadores e interessados em um dos autores brasileiros mais importantes do século XX, o de maior repercussão internacional, objeto ainda hoje de acalorado debate público. Sem perder a potência da pesquisa e dos debates acadêmicos contemporâneos, o livro em questão não deixa de praticar história pública. Leia Mais

Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos: “os brancos eram uns pelos outros, por isso os negros também deviam fazer o mesmo” | Wagner de Azevedo Pedroso

Nas Américas, em particular, a escravidão na grande lavoura foi ao mesmo tempo um sistema de trabalho, um modo de dominação racial e a base para o surgimento de uma classe dominante bem caracterizada (Foner, 1988, p. 17).

A assertiva de Eric Foner presente na introdução da ainda pertinente obra Nada além da liberdade parece ser das mais adequadas para iniciarmos a presente discussão acerca do livro Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos. Wagner de Azevedo Pedroso está inscrito em um grupo maior de pesquisadores e pesquisadoras que há pelo menos vinte anos vem produzindo, nos diferentes espaços de pesquisa do Rio Grande do Sul, um substancial trabalho acerca da região à época do escravismo e logo após o seu término. A reflexão proposta por Pedroso está inserida no contexto de produção de obras como, por exemplo, a de Thiago Leitão de Araújo, Escravidão, fronteira e liberdade: políticas de domínio, trabalho e luta em um contexto produtivo agropecuário (Vila da Cruz Alta, Província do Rio Grande de São Pedro, 1834-1884) (2008), a de Vinicius Pereira de Oliveira, A presença negra no porto de Rio Grande (2009), a de Gabriel Santos Berute, Dos escravos que partem para os portos do sul: características do tráfico negreiro do Rio Grande de São Pedro do Sul, c. 1790-c.1825 (2006), a de Melina Kleinert Perussatto, Arautos da liberdade: educação, trabalho e cidadania no pós-abolição a partir do jornal O Exemplo de Porto Alegre (c.1892-c.1911) (2013), a de Rodrigo de Azevedo Weimer, Os nomes da liberdade: experiências de autonomia e práticas de nomeação em um município da serra rio-grandense nas duas últimas décadas do século XIX (2007) e a de Fernanda Oliveira Silva, Os negros, a constituição de espaços para os seus e o entrelaçamento desses espaços: associações e identidades negras em Pelotas (1820-1943) (2011). Trabalhos estes, em grande medida, aglutinados em torno do GT Emancipações e Pós-Abolição da Associação Nacional de História (GTEP/ANPUH), do GT Emancipação e Pós-Abolição da ANPUH-RS e dos encontros “Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional”, vinculado ao Grupo de Pesquisa do CNPq, e “A experiência dos africanos e seus descendentes no Brasil”.

A perspectiva que aproxima estes diferentes trabalhos e vários outros produzidos neste ambiente, segundo se entende aqui, é a compreensão da agência das pessoas escravizadas, considerando-se as formas ativas como elas atuavam sobre seus destinos em um contexto muito pouco favorável. Um último e pertinente exemplo deste cenário intelectual é a obra Pessoas comuns, Histórias incríveis (2017), texto coletivo produzido por Fernanda Oliveira da Silva, Jardélia Rodrigues de Sá, Luciano Costa Gomes, Marcus Vinicius de Freitas Rosa, Melina Kleinert Perussato, Sarah Calvi Amaral Silva e Sherol dos Santos, voltado ao grande público, notadamente o escolar, que traz a lume outra história do Rio Grande do Sul a partir da perspectiva de pessoas negras, evidenciando a já mencionada busca pela compreensão da atuação, em um cenário quase sempre adverso, tanto das pessoas escravizadas quando da população negra após o término do escravismo.

O trabalho de Pedroso dialoga com a obra de Hebe Mattos Das cores do silêncio (1998) e com as produções de Paulo Roberto Staudt Moreira Sobre fronteira e liberdade (1998), Os cativos e os homens de bem (2003), Entre o deboche e a rapina (2009). As obras de Helen Osório, Fronteira, escravidão e pecuária (2005), e de Regina Célia Lima Xavier, A conquista da liberdade (1996) e Religiosidade e escravidão, século XIX (2008), também são mobilizadas com destaque pelo autor. Um dos pontos centrais de sua discussão é a problematização da agência das pessoas escravizadas. O seu esforço de compreender como as pessoas escravizadas “jogavam” um “jogo” cujas regras lhes eram consideravelmente desfavoráveis se estabelece a partir de um uso profícuo, sobretudo, das considerações de Eduardo Silva e João José Reis expressas em Negociação e conflito (1989), como se verá adiante.

Pedroso traz a lume, em Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos, discussões resultantes de sua dissertação de mestrado, defendida em 2013 no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob o título de Escravos, senhores, posses, partilhas e um plano insurrecional da Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos, RS (1863).

Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos conta com um prefácio assinado por Regina Célia Lima Xavier. Das considerações de Xavier destaca-se aqui a sua observação acerca de como a pesquisa de Pedroso traz algo relativamente inovador nas pesquisas sobre as insurreições do período: a predominância de pessoas escravizadas nascidas no Brasil envolvidas com uma revolta ou tentativa de revolta. A revolta e/ou a tentativa de revolta de pessoas escravizadas na primeira metade do século XIX, com a predominância de pessoas nascidas no Brasil, é um elemento de certa novidade, pois as investigações sobre o período revelam alta taxa de africanidade nas insurreições então ocorridas. O livro está organizado em três capítulos. O primeiro, denominado “Entre conversas e caminhadas: os escravizados e a Aldeia dos Anjos”, é dedicado a investigar a divulgação do plano de insurgência, denotando a articulação e a mobilidade da comunidade de pessoas escravizadas no contexto da Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos, uma localidade que produzia para o mercado interno, detentora de escravarias relativamente pequenas (em comparação, por exemplo, com a produção cafeeira do Sudeste), empregadas em um rol bastante vasto de atividades.

Já o segundo capítulo, “Entre senhores e escravizados: os senhores moços e a força do sistema escravista”, concentra-se nos objetivos da rebelião. Neste capítulo, o rico entrecruzamento de fontes permite visualizar as alterações na forma de dominação e a entrada dos padrões de controle dos senhores moços. As páginas do segundo capítulo trazem a possibilidade de melhor compreendermos a imbricada teia de relações sociais da camada senhorial da região, bem como de percebermos como essas relações, apesar, evidentemente, das particularidades regionais, estavam articuladas à realidade maior do Império. Assim, as alterações na dinâmica imperial a partir, sobretudo, da década de 1850, tiveram implicações sobre a camada senhorial, e as modificações na camada senhorial trouxeram mudanças para a vida das pessoas escravizadas. O terceiro capítulo, “Entre a escravidão e a liberdade: da delação ao retorno ao cotidiano”, tem como foco acompanhar o destino das pessoas envolvidas com a elaboração da tentativa de revolta após o seu malogro. Da repressão senhorial ao retorno às rotinas de um determinado cotidiano, o capítulo revela o tênue equilíbrio construído sobre a base da negociação e do conflito.

Pedroso menciona, no início da sua obra, o quanto o livro de Carlo Ginzburg O queijo e os vermes (1987) foi importante para motivá-lo a ir ao arquivo pesquisar e encontrar o seu Menocchio. Em suas buscas no Arquivo Público do Rio Grande do Sul, o autor não encontrou um Menocchio, todavia, ele encontrou o processo-crime de uma tentativa de insurreição de pessoas escravizadas na Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos, a qual se localizava entre os atuais territórios dos municípios de Viamão e Gravataí. Charles Sidarta Machado Domingos, na contracapa, localiza tal freguesia no atual território de Gravataí. De fato, até onde se sabe, houve alterações no limite territorial da Aldeia dos Anjos ao longo do tempo, de modo a ser viável pensar que ambas as informações sobre a localização da freguesia são plausíveis.

Se Pedroso teve sua inspiração inicial em Ginzburg, aqui ela vem de Foner, uma vez que, ao se ler Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos, é possível localizarmos muito mais que uma tentativa “de uma revolta” da mão de obra escravizada. Encontra-se no texto um relato fundamental sobre as transições econômicas e sociais do Brasil imperial na década de 1860. Destaca-se a alteração na forma de dominação escravocrata dos denominados “senhores moços” em relação aos antigos senhores. Os primeiros, devido às alterações no fluxo de pessoas escravizadas -oferta de mão de obra que diminui -, passaram a ter que extrair muito mais de suas escravarias, em comparação com os senhores antigos. Desta forma, “direitos costumeiros” das pessoas escravizadas passam a ser revogados. Em regiões como a da Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos, essas mudanças sócio-econômicas resultam em uma grande quantidade de pessoas escravizadas em uma área espacial relativamente reduzida.

Esta grande concentração de pessoas escravizadas resultou, segundo a análise de Pedroso, em um contingente de pessoas aparentadas. Somando-se a isso a mobilidade desses indivíduos, característica importante das escravarias da região – aspecto também destacado pelo autor -, tem-se uma comunidade muito bem articulada. A constatação concernente à articulação das pessoas escravizadas já não causa espanto na comunidade de pesquisadoras e pesquisadores desde muito tempo. Todavia, fora dela isso ainda é algo “novo”. O fato de a comunidade ser bastante aparentada revela também traços de uma reprodução endógena; ou seja, toda essa gente é, em sua maioria, nascida no Brasil.

Pedroso indica com perspicácia em seu texto que, se há uma articulação forte entre as pessoas escravizadas, o mesmo se dá nas camadas senhoriais. Os senhores moços sabem que, devido ao fim do tráfico internacional, a oferta de mão de obra escravizada diminuíra, reduzindo-se ao mercado interno; e neste, os proprietários e as proprietárias de pessoas escravizadas do Rio Grande do Sul não tinham recursos para competir com as demandas do Sudeste. Assim, restava à camada senhorial rio-grandense, de modo geral, manter as suas escravarias e, se possível, fazê-las se reproduzirem endogenamente. Estas situações levam os senhores moços a praticarem outras formas de dominação em comparação, por exemplo, com seus pais.

Esta “nova” dominação, ou esse outro tipo de dominação, cria tensões enormes no equilíbrio tênue da sociedade escravocrata brasileira e rio-grandense. Neste ponto da argumentação proposta por Pedroso fica nítida a utilização profícua e aguçada das sugestões e considerações de Eduardo Silva e João José Reis, presentes no clássico moderno Negociação e conflito. Existe uma máxima segundo a qual só possível burlarem-se as regras quando se tem domínio das mesmas. É difícil passar pelas páginas de Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos sem que essa máxima emerja. Tomada em conjunto com as considerações de Silva e Reis, esta máxima convida-nos a pensar que a comunidade de pessoas escravizadas possuía o domínio das regras de negociação e conflito dentro do padrão de dominação dos senhores velhos. Tais pessoas, mesmo em condições de jogo muito desiguais, sabiam como jogar, como se posicionar. Entretanto, a transição para um novo tipo de dominação traz novas regras, retira destas pessoas o “domínio” que possuíam dos mecanismos que regiam suas existências. Uma resposta a isso seria a revolta.

Se o ambiente é de negociação e conflito, a revolta das pessoas escravizadas, ao contrário de uma primeira impressão, podia visar não a conquista a liberdade, mas sim a manutenção de determinado padrão nas relações de dominação. Não parece ser exagero, muito menos descabido, lembrarmos que, para se fugir – sobretudo no período escravocrata -, era preciso saber para onde, caso contrário, fugir não seria uma alternativa. Os insurgentes da Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos não tinham na fuga uma ideia mote: a ideia mote parecia ser mesmo a de alcançar a liberdade. Mas, a liberdade onde? Na própria região? Como o plano de insurgência malogrou, a fuga surgiu como uma opção para os revoltosos. No entanto, fuga para onde? Para a fronteira. A fronteira representava um ideário relevante de liberdade neste contexto, pois, à época, tanto as Províncias Unidas (atual Argentina) quanto a Banda Oriental (atual Uruguai) tinham abolido a escravidão. Contudo, essa fuga era de fato impossível, pois se tratava de viajar cerca de 500 quilômetros no mundo escravocrata na condição de escravo fugido. Desta forma, outra maneira de os insurgentes reagirem ao malogro da revolta foi a tentativa de recorrerem ao apadrinhamento.

Pedroso, ao discutir o apadrinhamento como uma alternativa, traz muitos elementos de como se efetivava a sociabilidade neste ambiente. Visando a diminuição das punições pela tentativa de insurgência, buscava-se o apadrinhamento; recorria-se a um senhor ou a uma senhora para que esta pessoa da camada senhorial interviesse em favor da pessoa escravizada. As perguntas imediatas ao nos depararmos com tal situação são: porque um senhor ou uma senhora fariam isso? E por que uma pessoa escravizada procuraria a ajuda das pessoas que seriam os alvos da sua revolta?

O equilíbrio tênue de regiões como a Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos permite pensarmos que as pessoas escravizadas possuíam bastante nitidez de seu valor e importância para o funcionamento da região. Com escravarias compostas em média por quatro a cinco pessoas, como Pedroso indica no que diz respeito à região em questão, pode-se pensar que as duas pontas chegavam, por caminhos diferentes, a conclusões semelhantes: executar, aprisionar ou inutilizar para o trabalho uma pessoa escravizada era um prejuízo insuperável. É válido focarmos em outra informação muito relevante trazida por Pedroso: ao analisar os inventários post-mortem, ele percebe que, para muitos senhores e senhoras da região, seu “bem” de maior valor eram as pessoas escravizadas. Se a hipótese aqui esposada estiver minimamente correta, as regras do jogo eram conhecidas por todas as pessoas. Desta forma, buscar apadrinhamento era uma opção das mais válidas. Como as regras deste jogo de tênue equilíbrio eram de conhecimento comum, torna-se válido mencionarmos que era de conhecimento das pessoas escravizadas que, após uma tentativa de insurreição, viriam punições. Assim, estava em jogo não a ausência de punição, mas sim o seu tipo. Pedroso enfatiza que a punição pela tentativa de insurreição recaiu sobre toda a comunidade de pessoas escravizadas, muito provavelmente até sobre quem delatou os planos de revolta.

O resultado da tentativa de insurreição é conhecido desde o começo do texto: as lideranças foram presas e julgadas, com exceção daquelas que morreram no confronto com as “autoridades”; caso de Nazário, tomado como o grande elaborador e articulador da ação, como se pode verificar no processo-crime contra os insurretos. No que concerne ao processo-crime, podemos destacar outro aspecto essencial da obra Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos: o cruzamento de diferentes tipos de fontes – além dos processos-crimes, inventários, listas nominais de nascimento, casamento, batismo, morte. Manuscritos que não foram de forma alguma produzidos para a historiadora, para o historiador. A pessoa que se encanta com o ofício de historiar tem que conversar com essa documentação – uma conversa crítica, dura, rígida.

A elaboração de Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos, além de contar com um trabalho bastante relevante de cruzamento de fontes, também apresenta um uso muito criativo da bibliografia recente produzida sobre o tema. O diálogo do autor com a produção recente indica o quão profícuo vem sendo o já citado grupo de pesquisadores e pesquisadoras que, como também já mencionado, vem, há pelo menos vinte anos, produzindo trabalhos fundamentais para um melhor entendimento do Brasil sob o regime escravista, bem como sobre a forma como o país se organizou nos primeiros momentos pós-escravismo. No que diz respeito à colaboração desta obra para um melhor entendimento do Brasil escravista, é importante mencionarmos que ainda é comum, de modo mais amplo, as pessoas associarem a escravidão à grande lavoura, à monocultura voltada à exportação; de certo modo, uma leitura menos atenta da epígrafe selecionada para este texto poderia, inclusive, colaborar para essa impressão. Contudo, a obra Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos demonstra justamente a importância das pessoas escravizadas na dinâmica de um mercado interno, na produção de itens voltados ao consumo na própria região – atividade esta que produzia certa riqueza, evidentemente não a mesma riqueza dos cafeicultores do Sudeste, mas que não era, de forma alguma, irrelevante. Assim, o texto de Pedroso está alinhado à produção historiográfica disposta a rever algumas “verdades” intocáveis sobre os padrões de riqueza no Brasil imperial, bem como sobre as dinâmicas do mercado interno.

Este texto se encerra com argumentos acerca da edição de Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos. Almejando, segundo compreendemos, atingir um público tanto de especialistas quanto de não especialistas, a obra conta com uma diagramação bastante oportuna, trazendo, em suas páginas, caixas explicativas de determinados termos, conceitos e eventos, bem como referenciando autoras e autores estudiosos do tema. Uma opção das mais felizes. Outra opção acertada foi a mencionada logo no início desta argumentação: de narrar fluidamente como funciona o ofício de historiar. A casa editorial que abriga a obra tem por nome Editora Coragem, fundada no ano 2020. Não poderia haver nome mais pertinente. Muito possivelmente foi a coragem, em várias de suas vertentes, que manteve todas as pessoas escravizadas na Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos – como em todos os quase 400 anos de escravidão no Brasil – firmes e perseverantes, mesmo vivendo em um tênue equilíbrio.

Referências

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BERUTE, Gabriel Santos. Dos escravos que partem para os portos do sul: características do tráfico negreiro do Rio Grande de São Pedro do Sul, c. 1790-c. 1825. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2006.

FONER, Eric. Nada além da liberdade: a emancipação e seu legado. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Brasília: CNPq, 1988. 186 p.

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. Tradução de Maria Betânia Amoroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. 274 p.

MATTOS, Hebe Maria. Das cores do silêncio: os significados da liberdade no sudeste escravista, Brasil século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

MOREIRA, Paulo Roberto Staudt. Sobre fronteira e liberdade – representações e práticas dos escravos gaúchos na Guerra do Paraguai (1864-1870). Anos 90, Porto Alegre, v. 6, n. 9, pp. 119-149, jul. 1998.

MOREIRA, Paulo Roberto Staudt. Os cativos e os homens de bem: experiências negras no espaço urbano. Porto Alegre 1858-1888. Porto Alegre: EST Edições, 2003.

MOREIRA, Paulo Roberto Staudt. Entre o deboche e a rapina: os cenários sociais da criminalidade popular em Porto Alegre. Porto Alegre: Armazém Digital, 2009.

OLIVEIRA, Vinicius Pereira de. A presença negra no porto de Rio Grande. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009.

OSÓRIO, Helen. Fronteira, escravidão e pecuária: Rio Grande do Sul no período colonial. JORNADAS DE HISTÓRIA REGIONAL COMPARADA, II. In: TARGA, Luiz Roberto; HERRLEIN JÚNIOR, Ronaldo; MERTZ, Marli Marlene (Orgs.). Anais: II Jornadas de História Regional Comparada; I Jornadas de Economia Regional Comparada. Porto Alegre: PUC-RS, 2005. pp. 1-16.

PEDROSO, Wagner de Azevedo. Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos: “os brancos eram uns pelos outros, por isso os negros também deviam fazer o mesmo”. Porto Alegre: Coragem, 2020. 168 p.

PERUSSATTO, Melina Kleinert. Arautos da liberdade: educação, trabalho e cidadania no pós-abolição a partir do jornal O Exemplo de Porto Alegre (c.1892-c.1911) Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013.

REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras , 1989. 154 p.

SILVA, Fernanda Oliveira da et al. Pessoas comuns, histórias incríveis: a construção da liberdade na sociedade sul-rio-grandense. Porto Alegre: Ed. UFRGS; EST Edições, 2017. 112p.

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XAVIER, Regina Célia Lima. A conquista da liberdade: libertos em Campinas na segunda metade do século XIX. Campinas: Centro de Memória da Unicamp, 1996.

XAVIER, Regina Célia Lima. Religiosidade e escravidão, século XIX: mestre Tito. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

WEIMER, Rodrigo de Azevedo. Os nomes da liberdade: experiências de autonomia e práticas de nomeação em um município da serra rio-grandense nas duas últimas décadas do século XIX. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em História, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo, 2007.


Resenhista

Hilton Costa – Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: hcosta@uem.br


Referências desta Resenha

PEDROSO, Wagner de Azevedo. Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos: “os brancos eram uns pelos outros, por isso os negros também deviam fazer o mesmo”. Porto Alegre: Coragem, 2020. Resenha de: COSTA, Hilton. Tênue equilíbrio: a vida de pessoas escravizadas no Brasil oitocentista. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 42, n. 89, 2022. Acessar publicação original [DR]

Brasil em projetos: história dos sucessos políticos e planos de melhoramentos do reino. Da Ilustração portuguesa à Independência do Brasil | Jurandir Malerba

Toda administração e todo governo de negócios e de Estados carece de projetos. De planos elaborados com vistas a atingir determinados objetivos; definindo problemas, metas, estratégias e ações com níveis desejados de controle, autonomia e negociação capazes de garantir sua condução com êxito. Além de conhecê-los, é fundamental saber dos homens que os propõem e os executam. Em Brasil em projetos, Jurandir Malerba, professor titular de Teoria e Metodologia da História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, procura inventariar os projetos para o Brasil desde a Ilustração até a Independência, realizando uma síntese minuciosa que não trata apenas daqueles projetos, mas também da própria historiografia em torno deles, com uma escrita clara e acessível para os públicos leigo e universitário.

Em um momento histórico dramático, marcado por uma pandemia global, há uma pergunta que é constantemente feita na imprensa e nos círculos intelectuais brasileiros: o governo Bolsonaro tem um projeto para o Brasil? Não poucos analistas apontam a existência de um plano autoritário em curso, de esgarçamento social, de favorecimento a políticas armamentistas, de privatização de ativos e empresas estatais, de retirada de direitos sociais e trabalhistas em consonância com uma agenda neoliberal que valoriza a exportação de commodities e o capital financeiro. E uma palavra que surge em muitos diagnósticos é retrocesso. Seria este o projeto de Bolsonaro, um governo à serviço do atraso e do conservadorismo? Para responder a estas perguntas, conhecer projetos políticos do passado pode ser um bom caminho. Leia Mais

Meninos de zinco | Svetlana Aleksiévitch

Svetlana Aleksievitch
Svetlana Aleksiévitch | Imagem: Estadão

Svetlana Aleksiévitch é jornalista e escritora bielorrussa, nascida em 1948, quarta geração de uma família de professores rurais e vencedora do prêmio Nobel de literatura em 2015. Seus livros formam o projeto literário intitulado “As vozes da utopia”, um retrato desde o pós-guerra (Segunda Guerra Mundial) até a dissolução da União Soviética.

Em entrevista concedida durante a Festa Literária Internacional de Paraty, em 2016, Aleksiévitch contou sobre o processo de criação dos seus livros. Os relatos são gravados pois, segundo ela, não seria possível expressar os sentimentos de uma pessoa no papel, “cada ser humano tem que gritar a sua verdade”. Para que essa verdade venha à tona, a autora diz que não realiza entrevistas, mas conversas com entonação de amizade sobre a vida. Leia Mais

Alteridades em tempos de (in)certeza: escutas sensíveis | Miriam hermeto, Gabriel Amato e Carolina Dellamore

Gabriel Amato e Miriam Hermeto
Gabriel Amato e Miriam Hermeto | Imagem: UFMG

Sentados diante de um Outro, tentamos atribuir sentido a ele. Ou enquadrá-lo, nas palavras de Judith Butler (2018). No instante dessa “cena do reconhecimento”, as molduras que usamos vêm de relações de poder que extrapolam esse momento. Ao reconhecê-lo como outro, reconhecemos também a nós mesmos. Há semelhanças, mas também há diferenças.

Já nos vimos antes ou esse é o primeiro contato? É uma mulher, assim como eu? Ou talvez é um homem e ainda mais velho? Há confiança suficiente entre nós para que o que ela está para me dizer seja enunciado? Tais características constituem uma barreira ou um conector entre nós? Os pesquisadores que já estiveram em entrevistas de história oral sabem que as respostas a cada uma dessas perguntas – e a inúmeras outras – podem levar, a nós e a nossas pesquisas, para rumos diversos, muitas vezes inesperados. Leia Mais

Entre vozes femininas: História Oral e memória no Amazonas contemporâneo | Patrícia Rodrigues da Silva

Entre vozes femininas
Entre vozes femininas | Detalhe de capa

Lançada em 2020, a obra Entre vozes femininas: História Oral e memória no Amazonas contemporâneo é organizada por Patrícia Rodrigues da Silva e faz parte da Coleção PPGH, que tem como objetivo divulgar pesquisas do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (PPGH-UFAM).

Precedido por outros três títulos também lançados em 2020 pela Editora CRV, este volume 4 é o primeiro a se debruçar especificamente sobre o contexto amazonense, o fazendo, sobretudo, por meio dos relatos e das escritas femininas – dos oito artigos que compõem o livro, seis deles são escritos por mulheres. Leia Mais

Alberto Flores Galindo. Utopía/ historia y revolución | Carlos Aguirre e Charles Walker

El nombre de Alberto Flores Galindo (1949-1990) evoca una de las más destacadas expresiones de la historiografía y la intelectualidad de izquierda del Perú de la segunda mitad del siglo XX, que entrelazó las dimensiones del investigador universitario, del prolífico autor, del polemista, periodista y militante socialista, y del animador teórico-cultural. Es oportuna y valiosa, entonces, la aparición de este libro de Carlos Aguirre y Charles Walker, dedicado al perfil del intelectual peruano, a quien recuerdan por “el rigor académico, la pasión por la historia, una incesante curiosidad intelectual, y una tenaz intervención en el debate político”. Aguirre, docente-investigador en la Universidad de Oregon, es reconocido por sus estudios sobre la esclavitud, el crimen y el castigo, y la historia intelectual y cultural, de Perú y América Latina en los siglos XIX y XX. Walker, de la Universidad de California (Davis), es especialista en la sociedad peruana de los siglos XVIII y XIX, en la transición de la colonia a la república y en la rebelión de Tupac Amaru. Ambos entablaron relación con Flores Galindo en los años 1980, cuando éste enseñaba en la Universidad Católica del Perú, mostrando una destreza infrecuente para una historización amplia del país andino, en sus períodos prehispánico, colonial, republicano y contemporáneo.

¿En qué registro se puede leer este libro? Es una contribución a la historia intelectual, política y cultural de un individuo y su época. Se estructura en seis capítulos, referidos a ciertos ejes significativos de la vida, la obra y las ideas de Flores Galindo, incluyendo los que menos tratamiento habían merecido anteriormente. El primero, “Entre la utopía andina y la utopía socialista”, había sido publicado por los autores para prologar la edición en inglés del más aclamado libro de Flores Galindo, Buscando un inca: identidad y utopía en los Andes. Esas páginas son eficaces para iniciar un recorrido global de los textos (y sus contextos) del historiador nacido en El Callao. Leia Mais

La Guerra Civil española. Sus dimensiones internacionales | Nadia de Cristóforis

Los estudios históricos sobre Guerra Civil española y franquismo plantean numerosas variables de análisis entre las que se incorporan sus repercusiones internacionales. En este libro, Nadia De Cristóforis coordina nueve capítulos que apuestan a una renovada búsqueda de interrogantes en escenarios por fuera de España. Es una obra de valioso aporte en la que se compilan investigaciones recientes de diversos autores, reunidos a partir de las tareas emprendidas por el Instituto de Historia de España Dr. Claudio Sánchez-Albornoz (UBA). Su coordinadora se distingue por un amplio recorrido en los estudios sobre los impactos de la Guerra Civil española en Argentina, particularmente en las prácticas asociativas de entidades gallegas y el apoyo al franquismo.

A priori, una lectura general de sus capítulos, nos presenta distintos registros de análisis en los que se introducen fuentes de sugestivo valor heurístico para revisitar temas en torno al exilio republicano, las izquierdas, las derechas, las asociaciones republicanas, las tramas intelectuales, entre otros. Todos ellos presentan, como hilo conductor, un intento por calibrar nuevas preguntas y problemáticas a partir de las cuales construyen su propias periodizaciones y rasgos metodológicos. Sobre estos aspectos, De Cristóforis, realiza el ordenamiento del libro. Leia Mais

Historia de una relación impensada. El catolicismo en los sindicatos durante el peronismo | Jessica Blanco

Con este libro, la historiadora cordobesa Jessica Blanco revisita la historia del catolicismo argentino de las décadas centrales del siglo XX. Recorre la temática a través de algunos tópicos clásicos –los procesos de secularización y laicidad, la relación entre el peronismo y la Iglesia, y entre esta y la sociedad– con una mirada centrada en la actuación del laicado católico en el terreno sindical. Ciertamente, son pocos los estudios que han asumido el desafío de abordar las influencias e identidades religiosas de los trabajadores, sus dirigencias y organizaciones.

El presente volumen sintetiza los trabajos de la autora sobre la acción política y gremial del catolicismo cordobés en el segundo tercio del siglo XX, la Juventud Obrera Católica (JOC) y, más recientemente, el universo sindical de las izquierdas tanto en Córdoba como en Mendoza. Su mérito consiste, justamente, en volver sobre esas preocupaciones clásicas desde una perspectiva que reconoce diferencias regionales y adopta un movimiento descendente; así, desplaza la mirada desde las jerarquías hacia el catolicismo social, desde las instituciones del laicado católico intervinientes hacia los trabajadores asociados, y desde las dirigencias hacia las bases sindicales. Leia Mais

Feminismos para la revolución. Antología de 14 mujeres que desafiaron los límites de las izquierdas | Laura Fernández

Si cada generación debe reescribir la historia en base a las nuevas coordenadas ideológicas de su tiempo, es indudable que en estos últimos años tienen un lugar preponderante las transformaciones historiográficas alrededor de las perspectivas de género. No otra cosa sucede con la antología que reseñamos, que desde el título nos anticipa un cruce múltiple: feminismos, en plural, descartando una visión unívoca de esta concepción, y aceptando su sentido más amplio, referido a una denuncia del estatus social de las mujeres y un reclamo por lograr una solución, sea cual fuere el lugar que quienes escriben le otorgan a esa reivindicación en su propio universo ideológico. Pero la especificación llega con el complemento final: “para la revolución”. Es decir que, de todos los feminismos, se recogerán algunos (no todos) que hayan buscado una solución radical para la situación de la mujer. Como veremos, se apunta a escritos sediciosos, aunque no necesariamente (no solamente) dirigidos a favorecer o acompañar una revolución política, proletaria o comunista. Los textos nos hablan de una sedición política, pero también moral, a veces escrituraria, que intenta transformar la sociedad pero también la vida cotidiana de los lectores y, sobre todo, las lectoras.

Para acompañar esta lectura, Fernández Cordero se ha reservado un lugar secundario en la presentación de los escritos: no narra una biografía comprensiva de las autoras, sino que nos presenta, con brevedad y precisión, una personalidad, alternando apreciaciones generales con las informaciones sustanciales que necesitan los lectores interesados para entender la vida y las circunstancias en que fue producido el escrito. Tampoco la “Introducción” pretende ser una explicitación de las ideas feministas de la compiladora. Al revés, allí se aclara que la antología es el registro de un largo diálogo entre los feminismos y las izquierdas, diálogo donde hablan los dos y ambos escuchan, ya que la antología “busca contrapesar el efecto de novedad de la marea feminista”. Es decir: no se piense que el feminismo nació hace diez años, no se piense que el feminismo es el único que puede intervenir en la elaboración de un proyecto social. Leia Mais

Los trotskistas bajo el terror nazi. Una historia de la IV Internacional durante la Segunda Guerra Mundial | Velia Luparello

El libro Los trotskistas bajo el terror nazi. Una historia de la IV Internacional durante la Segunda Guerra Mundial de Velia Luparello es un gran aporte en el descubrimiento de un período histórico poco investigado y una contribución al estudio del convulsionado origen del trotskismo. Ha compartido trabajos sobre esta misma temática junto a Daniel Gaido, investigador de la Universidad Nacional de Córdoba. La autora pudo recabar fuentes primarias, como los boletines internos que se encuentran en el International Institute of Social History (IISH) de Ámsterdam. Restauró así el debate sobre la cuestión nacional (desde 1940), entre las dos organizaciones más importantes de Francia: el Partido Obrero Internacionalista (POI) y el Comité Comunista Internacionalista (CCI), y los diálogos con secciones nacionales de Bélgica, Estados Unidos, Gran Bretaña, Italia y Grecia. El libro llega hasta el segundo congreso de la IV Internacional (1948), antes del cisma del “pablismo” (1951-1953). La importancia del trabajo es que compendia las estrategias del trotskismo internacional en un período de enormes desafíos históricos que puso a prueba a la IV Internacional.

Los trotskistas… se estructura en siete capítulos, desde los primeros esbozos programáticos del trotskismo internacional sobre la guerra, luego que quedara “huérfano” por el asesinato de Trotsky en 1940. Los trotskistas tratan de interpretar la “línea de militarización” de Trotsky presente en el “Manifiesto de Alarma” de mayo de 1940, y la defensa del “patriotismo de los oprimidos” del Programa de transición de 1938. Derivado de esto, el debate sobre la cuestión nacional es tratado en los dos primeros capítulos. Leia Mais

Gênero, sexualidade e redes sociais: a desigualdade social “curtida” e “compartilhada” | Rafael Morato

Genero
Gênero, sexualidade e redes sociais | Detalhe de capa

O livro aqui resenhado foi publicado em 2019, mas as questões que ele nos traz fazem pensar que estamos séculos atrás. Como é possível ainda nos depararmos com o fato de que a nossa sociedade vive para criticar e aprovar a sexualidade e os comportamentos do outro? Estamos na chamada era digital, em que as redes sociais atuam com força e protagonismo nas interações humanas, cada curtida ou compartilhamento feito nesses meios digitais carrega consigo uma carga ideológica muito grande, julgando comportamentos e influenciando opiniões.

Nesse universo de possibilidades que a vida, o corpo humano e as relações sociais nos apresentam, há inúmeras formas de ser e de viver os gêneros e a sexualidade. No entanto, o que se percebe através de redes sociais como o Facebook, por exemplo, é que continuamos nos apegando a críticas pautadas na dualidade, que giram em torno de um modelo de homem e de mulher socialmente construídos, e de uma sexualidade baseada na heteronormatividade, invisibilizando – e muitas vezes condenando – outras formas possíveis de ser e de se relacionar emocional e sexualmente. Leia Mais

Direitos LGBT: a LGBTfobia estrutural e a diversidade sexual e de gênero no direito brasileiro | Caio Benevides Pedra

Caio Benevides Pedra
Caio Benevides Pedra | Imagem: DIVERSO/UFMG

O livro Direitos LGBT: a LGBTfobia estrutural e a diversidade sexual e de gênero no direito brasileiro (2019) é resultado da dissertação de mestrado em direito, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, por Caio Benevides Pedra, professor, advogado, ativista em direitos humanos e pesquisador de questões relacionadas à cidadania da população LGBT.

A partir da análise da atuação do Estado e do Direito na garantia de direitos a essa população, o volume objetiva facilitar a compreensão de quatro conceitos introdutórios e fundamentais para os debates atuais sobre gênero e diversidade: identidade de gênero, expressão de gênero, orientação sexual e sexo biológico, pois, diante das divergências que se apresentam na sociedade e no mundo jurídico, a compreensão desses conceitos possibilita uma atuação mais adequada dos operadores do Direito, no Brasil. Leia Mais

Zona de promesas. Cinco discusiones fundamentales entre los feminismos y la política | Florencia Angilletta

Florencia Angilletta
Florencia Angilletta | Foto: Marcelo Arias/LPO

 | “‘Gender’ is about asking historical questions;

It is not a programmatic or methodological treatise.” (Joan SCOTT, 2008, p. 1423).

Jacques Lacan y Simone de Beauvoir sostuvieron que La Mujer no existía. Para Julia Kristeva (1981, p. 30), el psicoanalista se refería a su inexistencia en tanto unidad mítica, no tan diferente de “una mujer no nace, se hace” (DE BEAUVOIR, 2005 [1949]), tesis amplia y profundamente retomada por feministas en el mundo. Podemos trasladar esta idea a que el Feminismo tampoco existe, cuyo “origen” suele ser situado en la Revolución Francesa. Esta ha sido una suerte de primera piedra en la construcción de – en términos de Griselda Pollock (2010) – un museo virtual feminista en donde la hermana ilustrada, bastarda decapitada, dedo en las llagas de la izquierda y olvido del progresismo ha elaborado sus propios documentos culturales. Zona de promesas. Cinco discusiones fundamentales entre los feminismos y la política (Florencia ANGILLETTA, 2021) es una revisión de estos documentos sobre un presente denominado cuarta ola feminista1, la última de la cronología de las olas2.

En la Argentina, la primera convocatoria del Ni Una Menos (NUM) inauguró una serie de acontecimientos que han sido englobados con este término, desde y sobre el cual ha habido una prolífica producción intelectual, en la que me permito incluir esta obra. Si bien, en el país sudamericano, el feminismo existió propiamente desde finales del siglo XIX, es difícil pensar otro momento que pueda equiparársele, puesto que, por primera vez, se ha convertido en “un significante disponible – y en disputa – de modo cada vez más masivo y masificado” (ANGILLETTA, 2021, p. 19). Fuente de sentidos y escenario de ríspidos y fecundos debates, una de las particularidades de aquella casa de las diferencias ha sido sustituir feminismo por feminismos. La autora reconoce que, aunque su mediatización expande sus condiciones de posibilidad, ésta va de la mano con el reto de su fetichización (ANGILLETTA, 2021, p. 77). Leia Mais

Feminismo camponês e popular: reflexões a partir de experiências no Movimento de Mulheres Camponesas | Adriana Mezadri, Justina Cima, Noeli Taborda, Sirlei Gaspareto e Zenaide Collet

Justina Cima
Justina Cima | Foto: Elaine Schmitt

Essa é uma obra coletiva, contendo 13 artigos, escrita por 32 militantes do Movimento de Mulheres Camponesa (MMC). Tem por objetivo trazer elementos e concepções que foram construídos a partir da organização, formação e lutas do Movimento no Brasil. Suas vozes diferem da história oficial. Elas ousaram lutar contra o sistema capitalista, patriarcal e racista. Consideram-se um Movimento autônomo, feminista, camponês e socialista.

O livro conta a história do MMC que tem mais de 37 anos e tira as mulheres camponesas da invisibilidade; contempla as mulheres indígenas; se espelha nas ligas camponesas; confronta o racismo; enaltece as sementes crioulas e a segurança e soberania alimentares; exalta a alimentação saudável; critica a divisão sexual de trabalhos, o patriarcado e a violência contra as mulheres; torna visível a renda produzida pelas mulheres; fala da diversidade sexual; e finaliza com a importância da Mística para o Movimento. Sendo um livro didático, contém repetições. Leia Mais

Teoria feminista: da margem ao centro | Bell Hooks

Bel Hooks
Bell Hooks | Imagem: Editora Elefante

Teoria feminista: da margem ao centro foi escrito por Bell Hooks em 1984, porém traduzido e publicado no Brasil apenas em 2019. A obra faz a crítica do feminismo branco burguês, trazendo para o debate feminista a discussão interseccional, atravessada pelas questões de classe, raça, gênero e sexualidade. A autora nos revela que o livro emerge da necessidade de criar uma teoria voltada para as populações empobrecidas e subalternizadas, uma teoria feminista radical que abarcasse a experiência das mulheres negras e das não brancas empobrecidas.

Bell Hooks, escritora, professora e ativista estadunidense, é considerada uma das mais importantes intelectuais da atualidade, publicou mais de trinta livros, vários deles traduzidos recentemente para o português. Por meio de uma linguagem acessível, a autora aborda temas profundos, expressando um pensamento complexo, que recusa binarismos e não cabe em formulações simplistas. Leia Mais

Pariremos com prazer | Casilda Rodrigáñez Bustos

Casilda Rodriganez
Charla Casilda Rodrigáñez Bustos | Imagem: Instituto Europeo de Salud Mental Perinatal

Casilda Rodrigañez Bustos nasceu na cidade de Madrid na Espanha, em 16 de maio de 1945. bióloga, escritora e feminista, em seus livros ela abordou questões sobre o corpo das mulheres, o parto, a maternidade, as culturas pré-patriarcais, a análise crítica do patriarcado relacionando a desconexão das mulheres com seus corpos, entre outros assuntos dessa natureza. No Brasil, dois de seus livros foram publicados pela Editora Luas: A Matrística: aqui e agora e o livro resenhado. Dentre suas obras, escreveu El asalto al HadesLa sexualidad y el funcionamiento de la dominaciónLa Represión del deseo materno y la génesis del estado de sumisión inconsciente, além de vários artigos e ensaios – todos estes ainda sem tradução para o português brasileiro. Os originais desses textos encontram-se disponíveis no site da autora: https://sites.google.com/site/casildarodriganez/.

Pariremos com prazer aborda positivamente o útero como potência de vida, reconectando-o ao prazer e anunciando os meandros da invenção do parto com dor. O livro engloba as discussões: “Pariremos com prazer”, “Parto orgásmico: testemunho de mulher e explicação fisiológica” e “Estender a teia”. Na primeira parte do livro, “Pariremos com prazer”, Casilda apresenta a tese do parto com prazer e a renúncia à dor no parto como significado de reapropriação feminista do poder fisiológico do útero descontraído e exercitado para o orgasmo. Em “Parto orgásmico: testemunho de mulher e explicação fisiológica”, analisa a capacidade autoerótica das mulheres nos antigos rituais voltados para o exercício uterino e a preparação para o parto natural. Ela analisa, em imagens artísticas, a aparição destes rituais. E, finalmente, “Estender a teia” aborda a reconquista e o reaprendizado dos movimentos uterinos, tais como sentir sua pulsação e cadenciar seu fluxo em todo o corpo para recuperar a maternidade como local de afeto e de empoderamento. Para apresentar a tradução, a Editora Luas convidou a ginecologista feminista Halana Faria e a terapeuta reichiana Cláudia Rodrigues para escreverem o Prefácio. Leia Mais

Being Born: Birth and Philosophy | Alison Stone

Natalidade
Natalidade | Foto: Wesley Almeida/Canção Nova

Alison Stone é uma filósofa inglesa, professora da Universidade de Lancaster e especialista em filosofia continental com destaque para o idealismo alemão e teoria feminista. Ela é autora de livros como Petrified intelligence: nature in Hegel’s philosophy (2004, SUNY Press), Luce Irigaray and The Philosophy of Sexual Difference (2006, pela Cambridge Press) e An Introduction to Feminist Philosophy (2007, pela Polity Press), e coeditora da coletânea Routledge Companion to Feminist Philosophy (2017, Routledge).

Seu livro de 2019, Being Born: Birth and Philosophy amplia algumas noções contidas no sexto capítulo de An Introduction to Feminist Philosophy (Alison STONE, 2007), tendo como objetivo mostrar que a natalidade é “uma dimensão estruturante de nossa existência”1 (Alison STONE, 2019, p. 231). No volume, Stone nos apresenta sete capítulos, nos quais analisa elementos distintos que decorrem do fato de sermos nascidas. O primeiro capítulo explora como o nascimento foi pensado pelas filósofas feministas Luce Irigaray, Adriana Cavarero e Grace Jantzen; os três capítulos seguintes exploram aspectos da condição humana que estão, segundo a autora, conectados ao fato de nascermos: historicidade, vulnerabilidade, dependência, relacionalidade, o fato de nos emaranharmos em redes de poder e nosso caráter situacional resultante. A autora também inclui nesta lista a contingência radical de ser nascida; os dois capítulos seguintes exploram elementos próximos à filosofia existencialista como a angústia causada pelo nascimento e a conexão entre mortalidade e natalidade. O último capítulo se dedica a pensar o nascimento como dádiva a partir do sentido maussiano do conceito. O livro contribui para uma ontologia do nascimento e da relacionalidade constitutiva da existência humana, discute a interseccionalidade em termos de nossas origens natais e dialoga com as teorias contemporâneas sobre o luto. Leia Mais

A potência feminista ou o desejo de transformar tudo | Verónica Gago

Veronica Gago
Verónica Gago | Imagem: Verso Books

“A potência feminista” é um programa de ação e um artifício à medida que traz, desde o título, o signo do movimento. Nesse sentido, a potência feminista é entendida como uma teoria alternativa do poder (Verónica GAGO, 2020, p. 10), tratando-se “da força do processo protagonizado pelos feminismos nos últimos anos” (GAGO, 2020, p. 291). Esse desenho teórico dá pistas da configuração de produção do livro cuja autora, docente da Universidade de Buenos Aires e da Universidade de San Martin, tem a trajetória acadêmica marcada pela colaboração com os coletivos Situaciones e NiUnaMenos.

Esse movimento é feito por meio da greve como uma lente em dois sentidos – analítico e prático -, pelos quais é possível pensá-la como “[…] uma ferramenta prática de investigação política e um processo capaz de construir a transversalidade entre corpos, conflitos e territórios” (GAGO, 2020, p. 15). Leia Mais

Guia de fósseis da Bacia do Araripe | Antônio Álamo Feitosa de Saraiva, Flaviana Jorge de Lima, Olga A. Barros e Renan Bantin

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Antônio Álamo Feitosa Saraiva | Foto: Acervo pessoal

Foi lançado em novembro último o Guia de fósseis da Bacia do Araripe, um trabalho de fôlego que reúne pesquisas publicadas nos últimos 10 anos sobre a matéria, organizado  pelos professores Antônio Álamo Feitosa Saraiva, Olga Alcântara Barros, Renan Alfredo Machado Bantin, atuantes na Universidade Regional do Cariri – URCA, e Flaviana Jorge de Lima, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.

Guia de Fosseis da Bacia do AraripeComo o próprio título anuncia, trata-se de um Guia, um instrumento de pesquisa que orienta os trabalhadores envolvidos com o estudo dos fósseis nas tarefas de identificação, descrição, classificação e avaliação de material paleontológico encontrável na região. Para Alexander Kellner, paleógrafo e diretor do Museu Nacional (RJ), o guia expressa a qualidade do trabalho dos pesquisadores das universidades federais de Campina Grande, do Ceará, da Rural de Pernambuco e do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens (além das já citadas URCA e UFPE), a riqueza singular do material paleontológico encontrado na região e a oportunidade de combater o tráfico de fósseis com ações educativas de amplo alcance comunitário.

Adiantemos o nosso veredicto quanto ao cumprimento dos objetivos: a obra, efetivamente, cumpre a função projetada. Leigos na matéria (mas conhecedores de princípios científicos) vão se sentir atraídos e confortáveis ao folhear o livro. São vinte capítulos, dezesseis dos quais dedicados ao objeto primeiro (os fósseis), de modo sistemático: designação, ilustração primeira da espécie, locais onde são encontrados, “dicas de identificação”, fotografia do original, desenho correspondente à fotografia e referências das obras consultadas na descrição/classificação. Leia Mais

Guia de fósseis da Bacia do Araripe | Antônio Álamo Feitosa de Saraiva, Flaviana Jorge de Lima, Olga A. Barros e Renan Bantin

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Antônio Álamo Feitosa de Saraiva | Foto: Acervo pessoal

O livro Guia de fósseis da Bacia do Araripe, organizado por Antônio Álamo Feitosa Saraiva, Flaviana Jorge de Lima, Olga Alcântara Barros e Renan Alfredo Machado Bantim, além de trazer a descrição dos vários tipos de fósseis do Período Cretáceo, como: plantas, fungos, moluscos, crustáceos, pterossauros, dinossauros e lagartos, é uma excelente referência a ser usada por professores da área de Ciências Humanas na educação básica, inclusive no Ensino Médio, considerada como Ciências Sociais Aplicadas, mesmo que essa não tenha sido a intenção dos seus autores.

Guia de Fosseis da Bacia do AraripeOs estudos de paleontologia, tendo à frente os autores do livro, vêm se destacando na região do Cariri (Ceará, Piauí e Pernambuco), principalmente pelo seu caráter de preservação da riqueza fossilífera da região bem como pela  preocupação em combater o tráfico de fósseis encontrados nas encostas da Chapada do Araripe. As pesquisas para localização e identificação das mais variadas espécies que habitaram a Bacia do Araripe, desenvolvidas pelo Laboratório de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (LPU/URCA) e lideradas pelo professor Álamo Saraiva, são fundamentais para preservação do importante patrimônio científico e cultural da humanidade. Como reconhecimento internacional destas pesquisas pela comunidade científica internacional, destaca-se a criação do primeiro Geopark no Brasil (Geopark Araripe), o que fortalece ainda mais as identidades regionais e cultiva os necessários valores para o pensamento e a prática preservacionista.

O Guia é uma atualização de outras versões (2010, 2013 e 2015), aprimorado pela inserção de novas descobertas e por uma editoração gráfica bastante atrativa, principalmente pelas fotos e ilustrações em cor que dialogam com os textos descritivos. São escritos objetivos e detalhados de cada espécie que viveu na região há milhões de anos, em uma área que se estende por 12.000 Km².

Embora o objetivo do “Guia” seja a identificação dos fósseis encontrados pelos paleontólogos na vasta região do Cariri, as imagens e escritos trazem uma excelente possibilidade para a melhor compreensão dos estudos básicos de taxonomia de fósseis, paleontologia e geologia, notadamente no contexto de diferentes cenários paleográficos da evolução geológica das bacias do nordeste do Brasil entre o Devoniano Superior e o início do Cretáceo. Mas, é também um instrumento para a educação regular no Ensino Médio, como tratarei ao final desta resenha.

Dois capítulos antecedem a descrição das espécies. Ainda que tenham um caráter introdutório, as descrições são importantes referências para estudos aplicados à educação básica. O primeiro capítulo, “A geologia da Bacia do Araripe”, escrito por Renan Bantim, Flaviana Lima e Álamo Saraiva, traz um mapa geológico com a localização das dez unidades geológicas: a Sequência Paleozóica, com a formação Cariri; a Supersequência Pré-Rife, com as formações Brejo Santo e Missão Velha; a Supersequência Rifte, com a formação Abaiara; a Supersequência Pós-Rifte, constituída pelas formação Barbalha, Crato, Ipubi e Romualdo; temos, ainda, as formações de Araripina e Exu.

Mapa geologico da Bacia Sedimentar do Araripe

Mapa geológico da Bacia Sedimentar do Araripe. Modificado de Mário Assine (Saraiva et. al, 2021, p.15)

No segundo capítulo, os mesmos autores fazem um “breve histórico das pesquisas paleontológicas na Bacia do Araripe”. Descrevem, de forma cronológica, o desenvolvimento da paleontologia, desde que as petrificações de peixes e anfíbios geraram interesses nos cientistas alemães Spix e von Martius, ainda no início do século XIX. Segundo os autores, no relatório dos dois viajantes consta a primeira ilustração de um fóssil encontrado naquele local. Os autores citam Cope, Woodard e Jordan & Brannder como pesquisadores que também se interessaram pelos fósseis do Araripe. No século XX, os estudos sobre a Bacia do Araripe ganharam status de preocupação oficial do estado brasileiro, por meio da Inspetoria de Obras contra as Secas, tendo sido importantes os trabalhos de Crandall, em 1910, e Horace, em 1913.

O capítulo 3, organizado pelas pesquisadoras Flaviana Jorge de Lima, Ana Maria de Souza Alves e Alita Maria Neves Ribeiro, é dedicado à descrição da paleoflora da Bacia do Araripe. A maior preservação se encontra na formação rochosas do Grupo Santana, especialmente as formações Crato e Romualdo, predominando as gimnospermas. É possível, todavia, encontrá-las na Formação Missão Velha, Barbalha e Ipubi. Também já foram localizadas e descritas plantas pteridófilas e angiospermas. Após a rápida introdução do capítulo, as autoras apresentam as plantas divididas em Filicófita; Coníferas; Gnetales; Gimnosperma Incertae sedis; Angiospermas. Cada planta é descrita pelo nome da espécie, local de custódia do Holótipo, sítio de ocorrência mais comum e dicas de identificação, juntamente com uma imagem do espécime (holótipo). Esse esquema de apresentação do conteúdo se repete nos demais capítulos.

O Capítulo 4, de  Álamo Saraiva, é dedicado aos fungos, representados pelo espécime Gondwanagaricites magnificus. Sua descrição segue o padrão: espécie, Holótipo, Ocorrência, Dicas de identificação e imagem acompanhada de escala. Já o capítulo 5 trata dos Moluscos e foi organizado por Damares Ribeiro Alencar e Sílvio Felipe Barbosa de Lima. Os moluscos fósseis da Bacia do Araripe são frequentes desde o Jurássico Superior até o Cretáceo Inferior, respectivamente, nas formações Brejo Santo e Romualdo.

O capítulo 6, organizado por Damares Ribeiro Alencar e Olga Alcântara Barros, aborda os crustáceos, divididos em: camarões, caranguejos e microcrustáceos que, por sua vez, são subdivididos em Copépodes, Ostracodas e Conchostráceos. O capítulo 7, dedicado às miriápodes, foi escrito por Elis Maria Gomes Santana e Renan Alfredo Machado Bantim. Ao menos três espécies foram encontradas na formação Crato e descritas a partir de holótipos depositados em Museus da Alemanha. Também são registradas as ocorrências de cada espécie, acompanhadas de datação cronológica e “dicas de identificação”. Elis Maria Gomes Santana e Edilson Bezerra dos Santos Filho (capítulo 8) escreveram sobre a identificação dos aracnídeos, mais bem preservados na formação Crato. Seu trabalho privilegia dois escorpiões, um Uropígio, um Amblipígio, um Solífugo, um Ácaro e cinco aranhas.

O capítulo 9, composto por Edilson Bezerra dos Santos Filho e Gustavo Gomes Pinho, traz a maior diversidade fóssil da Bacia do Araripe, os Insetos, predominando, quase exclusivamente, na Formação Crato, na qual foram descritas 14 famílias e 53 espécies. O Guia apresenta descrição detalhada de 27 insetos, no mesmo padrão das demais descrições (p. 163-189), além de quadro com as 387 espécies, distribuídas em 22 famílias e 17 ordens, que já foram descritas para a Bacia do Araripe (p. 191-207).

O capítulo 10, escrito por Damares Ribeiro Alencar e Antônio Álamo Feitosa Saraiva, trata dos Equinodermas. A ocorrência desses animais fósseis é mais frequente na Formação Romualdo, sendo importante evidência de ambientes marinhos com elevada salinidade. O Guia traz a descrição de quatro espécies de equinodermas, seguindo o mesmo padrão com o nome da espécie e a localização dos holótipos (2), espécime (1) e Lectótipo (1).

O texto de Thatiany Alencar Batista e José Lúcio e Silva (capítulo 11) trata dos peixes encontrados nas Formações Brejo Santo, Barbalha, Crato, Ipubi e Romualdo. Ao todo, são 35 espécies são descritas no guia. Já o Capítulo 12, escrito por Thatiany Alencar Batista e José Lúcio e Silva, descreve seis espécies de anfíbios. Em seguida, vem o capítulo 13 com 4 espécies de tartarugas, cuja descrição ficou a cargo de Gustavo Ribeiro Oliveira e Thatiany Alencar Batista.

Renan Alfredo Machado Bantim foi responsável pela escrita dos quatro capítulos seguintes. Os capítulos 14 e 15 descrevem, respectivamente, três crocodilos e quatro lagartos. Os pterossauros, comuns na Formação Romualdo e Crato, são o objeto do capítulo 16. Pelo menos dois grupos desses pterossauros são abundantes na região: os Anhangueridae e os Tapejaridae. O Guia nos apresenta oito espécies do grupo dos Anhanguerida; cinco espécies dos Anhagueria; cinco dos Tapejarinae; e dez espécies dos Thalassodrominae. Até agora, já foram descritas 30 espécies de pterossauros para a Bacia do Araripe, sendo seis da Formação Crato e 24 da formação Romualdo.

O capítulo 17 trata dos Dinossauros e Aves. Ao todo são sete espécies descritas, merecendo destaque o Santanrator placidus, pelo seu estado de preservação pouco comum no mundo, possuindo partes de tecidos moles, como peles, vasos sanguíneos e fibras musculares. Vale destacar que o fóssil recebe este nome em homenagem ao Reitor Plácido Cidade Nuvens, criador do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, atualmente importante equipamento de pesquisa no campo da paleontologia. O penúltimo capítulo (capítulo 19) é dedicado ao Museu e seu fundador.

O capítulo 18, escrito por Edilson Bezerra dos Santos Filho e Thatiany Alencar Batista, traz a descrição de onze Icnofósseis, resultantes das atividades deixadas por organismos através da biotubação, biorosão, fezes, ovos ou nidificação. Este e todos os capítulos destinados à descrição dos fósseis são acompanhados de referências bibliográficas.

 

Fosseis do Araripe Crocodilos

(Esquerda) A) Crocodilomorfo Aripesuchus gomessi (AMNH 24450) da Formação Romualdo. B) Espécime SMNK PAL 6404, da Formação Crato | Fotos: Rodrigo Giesta Figureiredo. (Direita) Ovo de Crocodiliforme da Formação Romualdo (parte e contraparte do espécime MDJ Ic-069 | Foto: Paulo Victor de Oliveira || (Saraiva et. al. 2021, p.285, 348)

O capítulo 19, como já dito, é dedicado ao Museu de Paleontologia que atualmente recebe o nome de seu fundador, Plácido Cidade Nuvens (MPPCN). O Museu foi inaugurado em julho de 1988, com o objetivo de guardar e preservar os fósseis, crescentemente tornados alvo de contrabando na região, principalmente do município de Santana do Cariri, cujo prefeito, à época, era o mesmo  professor Cidade Nuvens. Em 1991, o então reitor da Universidade Regional do Cariri (URCA), José Teodoro Soares, firmou o termo de comodato para que o Museu pertencesse à URCA. Classificado como Museu de Ciências Naturais e História Natural, ele expõe vários fósseis descritos no Guia. O Museu também conta com reserva técnica com mais de 7.000 fósseis, resultantes de doações, coletas e escavações realizadas pelo Laboratório de Paleontologia da URCA. Anualmente, o MPPCN recebe visita de mais de 25.000 pessoas, entre os quais figuram estudiosos provenientes de vários países.

O último capítulo do Guia é dedicado ao Laboratório de Paleontologia da URCA (LPU). Criado em 2003 para atender às necessidades de estudos dos cursos de graduação e pós-graduação da URCA, o LPU, hoje, se destaca no âmbito nacional e internacional pelas pesquisas que realiza na Bacia do Araripe. O Laboratório é responsável pela maior quantidade de pesquisas paleontológicas do Ceará. Sempre que possível, o LPU faz exposições itinerantes junto às comunidades das cidades localizadas na Bacia do Araripe  com vistas à conscientização sobre a importância de preservar o patrimônio fossilífero da região. O LPU mantém parcerias com diversos laboratórios nacionais e internacionais e seus membros já publicaram em revistas renomadas no cenário científico mundial. Não por acaso, o Museu de Paleontologia e o Laboratório de Paleontologia da URCA são roteiros fundamentais das visitas guiadas do Geopark Araripe.

A descrição panorâmica que fiz até aqui expressa a quantidade e a qualidade do trabalho dos pesquisadores de várias universidades nordestinas no campo da Paleontologia, mas não esgota o valor do Guia no que diz respeito aos seus usos. Na condição de profissional formador, com experiência de mais de duas décadas no Ensino Médio, gostaria de destacar algumas possibilidades dessa publicação. Evidentemente, não se trata de um livro didático por destinação. Mas, pode muito bem ser transformado em livro didático quando for manuseado na bancada de cada laboratório, biblioteca ou repositório digital das escolas estaduais do Ceará, Piauí, Pernambuco e Paraíba e demais estados brasileiros.

Um professor de Geografia, por exemplo, pode usar o Guia para trabalhar com localização geográfica e a formação de relevos, principalmente a partir do Capítulo 1 (p. 14-15) que trata da “Geologia da Bacia da Chapada”. O professor pode usar as excelentes imagens desse capítulo para demonstrar as diversas camadas de rochas e estratificação do relevo.

O professor de Biologia terá a oportunidade de usar os estudos apresentados pelo guia como ferramenta de compreensão da evolução dos seres vivos, fazendo trabalho interdisciplinar com a Geografia, ao desenvolver fundamentos básicos de Economia com atividades que envolvam o uso de combustíveis fósseis, a preservação do meio ambiente e poluição das camadas atmosféricas.

O professor de Matemática, igualmente, pode ser inserido nestes debates para trabalhar com operações básicas (como regra de três) e escalas gráficas, a transformação de grandezas em centímetros, milímetros e quilômetros, fornecendo uma dimensão mais significativa das distâncias de tempo que nos separam dos fósseis e uma melhor compreensão melhor do que vem a ser proporção. Este diálogo entre a Matemática e a Biologia poderá favorecer a compreensão da dimensão de tempo que separa os grandes ecossistemas da atualidade dos ecossistemas mais remotos.  Pondo a Geografia nesse trabalho, o professor demonstrará como os fósseis são importantes ferramentas na compreensão da datação e ordenação das sequências sedimentares, notadamente da Bacia do Araripe.

Na mesma direção, o Guia pode estimular a reflexão sobre a origem dos humanos e sua relação com a natureza nos tempos atuais já que a Paleontologia, como ciência, não escapa à Filosofia, como testemunham Xenófanes (570-475 a.C), ao estudar fósseis marinhos submersos, e Curvier, com seus estudos de anatomia comparada de fósseis – uma das principais referências na obra filosófica do Michel Foucault, de As palavras e as coisas (2016).

O diálogo se estende às Ciências Sociais, podendo ajudar a questionar paradigmas como o mito de origem humana e como as sociedades de forma geral utilizavam,  utilizam e significam esses fósseis, por exemplo, como adornos para os próprios corpos ou em suas habitações na atualidade. Certamente, seria uma ótima oportunidade para debater os conceitos de identidade e pertencimento e questionar sobre o lugar dos fósseis: eles estariam melhor situados no museu ou enfeitando estantes mundo a fora?

Por fim, o professor de História pode fazer parte deste projeto, refletindo com estudantes da Educação Básica sobre os viajantes do século XIX, suas necessidades científicas na perspectiva da colonialidade e como esse fenômeno está presente na região com as práticas de contrabando dos fósseis da região do Cariri.

Em síntese, considerando as metas estabelecidas e cumpridas pelo LP/URCA e os usos potenciais na formação dos alunos do Ensino Médio, considero que o Guia de Fósseis da Bacia do Araripe é leitura obrigatória para os que se propõem à prática de pesquisa em Paleontologia e Geologia na Bacia do Cariri, como também para os professores da educação básica, especialmente, na região do Cariri-CE. Com toda certeza, será uma ferramenta a mais na luta pelo conhecimento e preservação do rico patrimônio paleontológico, arqueológico, histórico e cultural da região. Parafraseando o prefaciador do Guia, Alexander Kellner, quem conhece e preserva não aceita o contrabando e o tráfico ilícito de suas riquezas naturais e culturais.


Sumário do Guia de fósseis da bacia do Araripe

  • Prefácio
  • Autores
  • Apresentação
  • A geologia da bacia do Araripe | Renan Alfredo Machado Bantim, Flaviana Jorge de Lima e Antônio Álamo Feitosa Saraiva
  • Breve histórico das pesquisas paleontológicas na bacia do Araripe | Renan Alfredo Machado Bantim, Flaviana Jorge de Lima e Antônio Álamo Feitosa Saraiva
    1. Plantas | Flaviana Jorge de Lima, Ana Maria de Souza Alves e Alita Maria Neves Ribeiro
    2. Fungos | Antônio Álamo Feitosa Saraiva
    3. Moluscos | Damares Ribeiro Alencar e Silvio Felipe Barbosa de Lima
    4. Crustáceos | Damares Ribeiro Alencar e Olga Alcântara Barros
    5. Miriápodes | Elis Maria Gomes Santana e Renan Alfredo Machado Bantim
    6. Aracnídeos | Elis Maria Gomes Santana e Edilson Bezerra dos Santos Filho
    7. Insetos | Edilson Bezerra dos Santos Filho e Gustavo Gomes Pinho
    8. Equinodermas | Damares Ribeiro Alencar e Antônio Álamo Feitosa Saraiva
    9. Peixes | Thatiany Alencar Batista e José Lucio e Silva
    10. Anfíbios | Thatiany Alencar Batista e José Lucio e Silva
    11. Tartarugas | Gustavo Ribeiro Oliveira e Thatiany Alencar Batista
    12. Crocodilos | Renan Alfredo Machado Bantim
    13. Lagartos | Renan Alfredo Machado Bantim
    14. Pterossauros | Renan Alfredo Machado Bantim
    15. Dinossauros e aves | Renan Alfredo Machado Bantim
    16. Iconofósseis | Edilson Bezerra dos Santos Filho e Thatiany Alencar Batista
    17. O Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens | Antony Thierry de Oliveira Salú e José Lucio e Silva
    18. O Laboratório de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri – LPU | Antônio Álamo Feitosa Saraiva

Vídeo de apresentação do Guia de fósseis da bacia do Araripe por um dos seus organizadores Link


Resenhista

Francisco Egberto de MeloFrancisco Egberto de Melo – Doutor em Educação (PPGE/UFC), professor do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri (DH/URCA) é líder do Núcleo de Pesquisa Ensino, História e Cidadania (NUPHISC/URCA). Publicou, entre outros trabalhos, “Toda a História em cinco minutos! História pública e ensino – considerações sobre o passado ensinado no Youtube”, em coautoria com Sônia Meneses (2021), “Vamos saudar o Brasil: civismo, autoritarismo e ensino de História” (2021) e “Base Nacional Comum Curricular e Documento Curricular Referencial do Ceará para o ensino de História: prescrição e resistência no tratamento das relações de gênero, étnicas e raciais” (2021) e “Biopoder e saber médico: normatização, vigilância e controle de corpos tuberculosos (Brasil, 1920 – 1970)”, em coautoria com Raiza Amanda Gonçalves de Souza e Deyvillanne Santos Oliveira dos Anjos. ID: https://orcid.org/0000-0003-0749-136X; E-mailfrancisco.melo@urca.br; Instagram: https://www.instagram.com/melo.egberto/; Facebook: facebook.com/egbertomelo13 


Para citar esta resenha

SARAIVA, Antônio Álamo Feitosa de; LIMA, Flaviana Jorge de; BARROS, Olga A.; BANTIM, Renan (org.). Guia de fósseis da Bacia do Araripe. Crato: Olga Alcântara Barros; Governo do Estado do Ceará, 2021. 378p.  Resenha de: MELO, Francisco Egberto de. Formação básica para a Paleontologia e Ensino Médio. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.4, p.11-16, mar./abr. 2022. Consultar publicação original.

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© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

E foi a assim que eu e a escuridão ficamos amigas | Emicida

Emicida Leandro Roque de Oliveira Imagem Divulgacao
Emicida (Leandro Roque de Oliveira) | Imagem: Divulgação

E se um livro pudesse acalantar o coração de uma criança que tem medo do escuro? E se esse livro contasse uma história em formato de poema e não só convencesse os pequenos que o receio é comum e que até os adultos o sentem em certos momentos, mas também os encantasse com os versos rimados a cada virar de página? É dessa forma que Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, rapper, cantor, letrista, compositor e autor da obra “E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas” brinca com a imaginação e conta uma bela história em forma de poesia.

Emicida é muito assertivo com a escolha do tema do seu livro: o medo e este, relacionado ao escuro, é uma vivência muito comum na infância. Debater este assunto em um livro infantil em formato de poesia é uma sacada muito positiva do autor. Para deixar a história ainda mais convincente, o livro de Emicida conta com belíssimas ilustrações de Aldo Fabrini que fogem do comum e trazem traços bastante originais dando ainda mais vivacidade aos momentos que se intercalam entre o medo e a coragem. Leia Mais

A Cidade em Chamas: O Serviço de Extinção de Incêndios em Natal/RN (1917-1955) | Flademir Gonçalves Dantas

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Flademir Gonçalves Dantas | Foto: Acervo do autor

A Cidade em Chamas: O Serviço de Extinção de Incêndios em Natal/RN (1917-1955), doravante A Cidade em Chamas, foi escrita por Flademir Gonçalves Dantas, que possui duas graduações (História e Direito), especialização em Direito Público e mestrado em História, todas estas formações pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Trata-se do primeiro volume de uma trilogia que contará a história do serviço de extinção e prevenção de incêndios, atualmente Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte – CBMRN, em três recortes cronológicos lineares. O segundo e o terceiro volumes, ainda a serem publicados, abarcarão, respectivamente, os recortes entre 1955-1976 e de 1976 a 2002. A obra é prefaciada pelo Professor Emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN, Carlos Roberto de Miranda Gomes, que também se anuncia membro das Academias ANRL, AML, ALEJURN, ABROL, IHGRN, UBE-RN e MHV da OAB/RN. Conta também com uma apresentação de autoria de Luiz Monteiro da Silva Junior, comandante geral do Corpo de Bombeiros do Estado potiguar.

O livro está organizado em dez capítulos, sendo que o primeiro o introduz e comunica o objetivo, notas discretas sobre a escolha teórico-metodológica e a discussão bibliográfica. Este último exercício denota sobretudo o silêncio e a raridade dos trabalhos a respeito da temática no âmbito da sociedade norte-rio-grandense, elemento que serve de justificativa a produção ensejada. O objetivo central é “estimular as novas gerações de bombeiros a conhecerem o […] rico passado” (p. 22) da corporação e se ancora dentro de uma história institucional militar, com ênfase na experiência dos seus membros, “sem descartar o caráter utilitário da história enquanto ferramenta para aprender com o passado” (p. 22). Leia Mais

Écrire ses memóires: astuces et conseils pour transformer ses souvenirs en un livre | Marie -Gaëlle Le Perff || Aspectos teóricos de la autobiografia | Edgar Velásquez Rivera

Marie Gaelle Le Perff e Edgar Velasquez Rivera
Marie-Gaëlle Le Perff e Edgar Velásquez Rivera | Imagens: Narrovita e Proclama

Dois manuais recentes sobre a elaboração de autobiografias foram lançados em línguas francesa e espanhola com abordagens e destinatários diferenciados. Não apresentam inovações  na área, mas vale a pena submetê-los à crítica como indicador da bibliografia circulante para o interessado na temática. Eles são: Écrire ses memóires: astuces et conseils pour transformer ses souvenirs en un livre, de Marie-Gaëlle Le Perff, e Aspectos teóricos de la autobiografia, de Edgar Velásquez Rivera.

Écrire ses mémoires é um singelo manual introdutório às artes dos escritos de vida (biografias, autobiografias e memórias). Foi publicado em 2020 com a meta de auxiliar pessoas comuns a escreverem suas lembranças, por si mesmas, dando a conhecer questões e conceitos típicos da investigação do gênero e da publicação independente. Sua autora, Marie-Gaëlle Le Perff, é formada em Jornalismo (Paris 7) e Biologia (Poitiers) e se apresenta como redatora da revista Vie Chrétienne, biógrafa familiar e especialista na cobertura de assuntos da saúde. Leia Mais

Entre a Itália e o Brasil Meridional: História Oral e narrativas de imigrantes | Antonio de Ruggiero e Leonardo de Oliveira Conedera

Antonio de Ruggiero 2

Antonio de Ruggiero | Imagem: PUC-RS / Acervo pessoal do autor

Entre a Itália e o Brasil Meridional: História Oral e narrativas de imigrantes, organizado por Antonio de Ruggiero e Leonardo de Oliveira Conedera, apresenta estudos de caso de pesquisadores brasileiros sobre a temática da História da Imigração Italiana a partir de fontes orais que, ao possibilitarem uma variação de escalas entre a história individual e a grande história, permitiriam compreender a memória coletiva como a lembrança de um passado comum dentro de uma comunidade que constrói e reconstrói identidade compartilhada.

Segundo Maria Lusitana Santos (2012, p.161), a memória seria um tema popular na produção cultural de sociedades desenvolvidas. Podemos dizer que a memória ascendeu como importante fonte no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em virtude das tentativas de se apagar as fontes oficiais. Os testemunhos do vivido por vítimas dos campos de concentração e extermínios, por exemplo, surgem como um registro de um passado que não poderia ser esquecido, conferindo à História Oral um dos expedientes empregáveis para pesquisadores de História. Leia Mais

Uma Casa de Educação Literária: 150 anos do Atheneu Sergipense | Eva Maria Siqueira Alves, João Paulo Gama Oliveira e Rosemeire Marcedo Costa

As efemérides constituem relevantes espaços de celebração e de construção de análises que tendem a avaliar as experiências tecidas na malha do tempo. Nos idos de 2020, em pleno contexto dilacerado pelos dilemas da pandemia, ocorreram as celebrações alusivas ao bicentenário da emancipação política de Sergipe e do sesquicentenário da mais longeva instituição educacional do estado, o portentoso Atheneu Sergipense. Infelizmente, em decorrência das necessárias ações de isolamento social, as ruas e os auditórios estiveram vazios, desprovidos de festejos, de eventos e da presença de sujeitos que enfaixam sentidos, vivem e narram as histórias. Entretanto, nem tudo foi silêncio. No dia 19 de outubro, uma live reuniu um considerável número de historiadores da Educação no efusivo lançamento da coleção “Uma Casa de Educação Literária: 150 anos do Atheneu Sergipense”. Trata-se de uma coleção que reúne dez livros que têm como escopo a trajetória da velha instituição de ensino secundário de Sergipe.

Certamente, o evento de lançamento pode ser entendido como o principal episódio das aludidas celebrações. Além disso, a coleção se tornou o marco, o registro historiográfico que investiga o passado do Atheneu Sergipense em seus variados aspectos. Assim, os discípulos de Clio cumpriram seu compromisso com a memória, ao reunir esforços para demarcar o tempo com uma produção que amplifica a visibilidade do ensino secundário sergipano. Leia Mais

Escola no Rio Grande do Sul (1889-1950): ensino/culturas e práticas escolares | Jsé Edimar de Souza

A obra Escola no Rio Grande do Sul (1889-1950): ensino, culturas e práticas escolares (Caxias do Sul, editora Educs, 2020, 476 páginas, e-book), organizada pelo professor e pesquisador José Edimar de Souza evidencia o esforço do seu organizador em contribuir para o campo da história da educação no Rio Grande do Sul. O livro está estruturado em quatro eixos de abordagem, os quais serão explorados no decorrer desta resenha. Ao compor a obra desta forma, o autor nos propicia estabelecer um panorama das produções acadêmicas sobre instituições escolares no estado. Da mesma forma, entendemos que tal organização permite ao leitor perceber os diferentes rumos e segmentos que a pesquisa sobre instituições pode tomar. A obra é prefaciada pelo professor António Gomes Ferreira, da Universidade de Coimbra, cujos estudos se dedicam ao campo da História da Educação, Políticas educacionais e Educação Comparada. Leia Mais

Colegio Santa Isabel de Hungría: 60 años al Servicio e la Educación Chilena con Carisma Franciscano | Jaime Caiceo Escudero

El texto en comento es una obra que ha surgido en honor a los 60 años del Colegio Santa Isabel de Hungría, el cual ha estado al servicio de la Educación Chilena con Carisma Franciscano durante todo ese tiempo, cuya fundadora fue la Madre Teresa Ortúzar Ovalle (1882-1969). La investigación realizada para efectuar este libro se divide en dos partes; la primera realizada con motivo de las bodas de oro del Colegio Santa Isabel de Hungría : 1961-2011 y la segunda con el motivo antes referido. Esta obra consta de prólogo, introducción, 6 capítulos, conclusiones, fuentes de consulta y anexos.

El Prólogo lo realiza la Superiora de la Congregación, Hna. Bernarda Madariaga Urzúa, agradeciendo a Dios el tiempo en el cual el colegio ha ido creciendo y mejorando en la atención a los niños, niñas y jóvenes de la zona sur de Santiago, especialmente de recursos medios y bajos, cumpliendo con los deseos de la Fundadora. Textualmente, señala: “Quien lea este libro, se dará cuenta la fuerza y el amor del autor y podrá compaginar con sorprendente naturalidad las huellas de gestación de estos 60 años de luces y sombras que entretejió esta mujer religiosa con pasta de santidad, junto a sus hijas religiosas y a muchos laicos que creyeron en esta locura de amor, que supo amalgamar entre el cielo y la tierra un itinerario de vida, para que fuera un aporte de paz y bien a la Sociedad Chilena”. Leia Mais

Escola nova em circuito internacional: cem anos da New Education Fellowship | Rafaela Silva Rabelo

Recompor o mosaico dessas narrativas, atando aquilo que se foi produzindo como separado, envolve uma virada epistemológica, a busca de outros referenciais de análise que, abdicando de colocar em primazia os contextos nacionais, se sensibilize por uma abordagem de cariz transnacional (VIDAL, 2021, p.11-12).

A New Education Fellowship (NEF), conhecida também como Ligue Internationale Pour L’Education Nouvelle, foi criada há 100 anos, em congresso realizado na cidade de Calais, na França. Baillie-Weaver foi nomeado como presidente, Beatrice Ensor assumiu como diretora organizadora, e Elizabeth Rotten e Adolphe Ferrière foram nomeados como diretores (VIDAL; RABELO, 2019). Com sede fixada em Londres, a NEF “emergiu como um movimento internacional desenhado para agregar pessoas de diferentes países em torno da renovação da educação e da escola”, reunindo “tanto educadores e profissionais ligados à educação quanto leigos” (RABELO; VIDAL, 2018, p. 03). Tendo por intuito difundir e promover discussões referentes aos diferentes aspectos da educação nova, a NEF organizou conferências bianuais, realizadas em diferentes países, assim como teve associada a publicação de três revistas: The New Era, editada por Beatrice Ensor, Pour L’Ere Nouvelle, por Adolphe Ferrière e Das Werdende Zeitatter, por Elizabeth Rotten1 (VIDAL; RABELO, 2019). Essa mobilização a favor da renovação da escola e da educação contribuiu, ou mesmo reafirmou, com o que é denominado na historiografia da educação como o Movimento da Escola Nova. Leia Mais

Espaço e lugar privilegiado para formação de professores: Instituto de Educação “Fernando Costa” (1953-1975) | Aline de Novaes Conceição

A presente obra é fruto de uma dissertação de mestrado defendida em 2017 no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília. Neste livro, Aline de Novaes Conceição pesquisa como o Instituto de Educação (I.E) “Fernando Costa”, instalado em Presidente Prudente/SP, desenvolveu suas atividades, sobretudo, as finalidades previstas no Código de Educação do Estado de São Paulo.

O livro foi prefaciado por Macioniro Celeste Filho, professor permanente do Programa de Pós-graduação em Educação, da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP, campus de Marília. A obra é dividida em três capítulos que analisam os diversos aspectos da formação de docente no I.E “Fernando Costa”. Leia Mais

A educação soviética | Marisa Bittar e Amarilio Ferreira Junior

A história da escola e da pedagogia soviéticas eram parte da história da sociedade soviética organicamente conectada a ela. (Bittar; Ferreira Junior, 2021, p.100)

A epígrafe que abre essa resenha foi citada no livro “A educação soviética” de Marisa Bittar e Amarilio Ferreira Junior, lançado em 25 de agosto de 2021 pela EduFSCar. Mostra que para o estudo da escola real construída após a Revolução de 1917, incluindo seus antecedentes situados no Império czarista e os desenvolvimentos posteriores até 1991 com o fim da União Soviética, é necessário situar historicamente as características e princípios que a nortearam. É o que fazem os autores, ao longo de quase 300 páginas oferecendo aos leitores a oportunidade de conhecer não apenas o chão da escola soviética, mas também compreender a gênese do pensamento educacional soviético por meio dos protagonistas das diversas etapas dessa experiência pedagógica radical que percorreu 74 anos da história do século XX. Para enfrentar esse tema, que até então não havia sido tratado nos estudos do campo da educação em língua portuguesa, os autores mobilizaram um rico instrumental teórico e metodológico que foi complementado com conhecimentos adquiridos durante a primeira metade da década de 1980, quando tiveram a oportunidade de estudarem no Instituto de Ciências Sociais de Moscou. Essa estadia de um ano para frequentar um curso teórico e realizar trabalho voluntário fazia parte da política de formação de quadros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi assim que os então professores do ensino secundário público no Brasil puderam conhecer o sistema educacional da Rússia soviética. Tais vivências formam o pano de fundo que contribuiu para elaboração desse livro. Quem ganha com isso é o leitor. Leia Mais

Uma década de prosa: impressos e impressões da professora e jornalista Maria Mariá (1953- 1959) | Hebelyanne Pimentel da Silva

A jovem pesquisadora Hebelyanne Pimentel da Silva, graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Alagoas apresenta, nesse livro, o resultado de um estudo em que analisa aspectos da trajetória de Maria Mariá de Castro Sarmento (1917-1993), professora e jornalista que viveu e atuou na cidade de União dos Palmares, situada ao norte do estado de Alagoas. Apoiando-se na micro-história, especificamente nos estudos de Carlo Ginzburg (2006) e em diálogo com Arlette Farge, Michelle Perrot, Joan Scott e outros, a autora se dedica, por um lado, a contribuir com a construção da história da educação em Alagoas e, por outro, a dar visibilidade a uma personagem que, conforme tantas outras mulheres, tiveram suas ações e a própria existência relegadas ao esquecimento (PERROT, 2018).

A pesquisa foi realizada em diferentes acervos locais: Casa Museu Maria Mariá, Secretaria de Cultura Palmarina, Biblioteca Municipal Jorge de Lima e Escola Estadual Rocha Cavalcanti. Foram também consultados acervos estaduais: Arquivo Público de Alagoas (APA), Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL) e Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos (BPEGR), além da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O seu resultado é organizado em duas partes: na primeira, em três capítulos, apresenta o aporte teórico e o diálogo com outros estudos que apresentam mulheres letradas de diversas regiões brasileiras e de outros países, que realizaram ações em prol da difusão da leitura e do desenvolvimento da educação e cultura. Apresenta também o perfil da jornalista Maria Mariá e busca aproximações e distanciamentos com o movimento da Escola Nova. Na segunda parte, a autora apresenta a transcrição de 57 textos de autoria de Mariá, constituídos por notícias locais e regionais, crônicas e textos de opinião – seu grande achado -, publicados no período de 1953 a 1959 no Jornal de Alagoas, periódico impresso em Maceió1. Essa característica particular da obra demonstra a generosidade da autora em compartilhar fontes inéditas por ela “garimpadas”, possibilitando novas interlocuções, além de proporcionar, efetivamente, maior visibilidade à personagem em estudo. Leia Mais

Experiências formativas não escolares: História & Teoria da Educação | Matheus da Cruz Zica

A proposta do ebook “Experiências formativas não escolares: história & teoria da Educação”, lançado em 2021, é colocar em evidência outras instituições que promovem a educação não legitimada, como é o caso da instituição escolar, mas que contribuem para a formação dos indivíduos, das suas subjetividades. Essas outras instituições são: o Estado, a medicina, o meio de comunicação jornalístico impresso, os livros, instituições religiosas, o meio social, como a família, a vizinhança etc. O ebook está dividido em três partes, com sete capítulos, onde os autores/pesquisadores corroboraram com a temática principal de pensar a educação e sua história a partir de lugares comuns, ou seja, fora da escola. Organizado pelo historiador, pesquisador e professor Matheus da Cruz e Zica, que tem estudado a “formação” dos indivíduos nos mais diferentes espaços, este ebook apresenta justamente este aspecto formativo das subjetividades em lugares inimaginados.

Assim, na parte I são destacadas as experiências que “a morte” pode proporcionar nesse lugar incomum, fora dos espaços escolares propriamente ditos. De autoria de Thiago Rafael Oliveira, o primeiro capítulo intitula-se “A desinstrução do corpo antes da chegada a Auschwitz: a emergência do homo läger nas narrativas de Primo Levi e Miklós Nyszli (1935-1944)”. Ao traçar um contraponto entre as tristes lembranças dos sobreviventes de Auschwitz e o esfacelamento das bases humanas construídas no decorrer da vida, o autor destaca como o Estado também participa da formação da subjetividade humana. Amparado em Foucault, Oliveira afirma que “em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes muito apertados” e que, por vezes, o Estado busca produzir “corpos submissos”. Leia Mais

Educação não escolar: Religiosidade e modos de fazer de uma curadora | Márcio Barradas Sousa e Maria betânia B. Albuquerque

A obra é resultado da dissertação de mestrado defendida em 2015 no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (UEPA). No livro, Márcio Barradas Sousa e Maria Betânia B. Albuquerque analisam os saberes e as práticas educativas cotidianas presentes no atendimento de pessoas submetidas às orações e tratamento de cura realizada por Odinéia dos Santos Barbosa, na comunidade quilombola de Abacatal, em Ananindeua, no Pará. Dona Dionéia, como costumava ser chamada, era conhecida como benzedeira que tratava os males espirituais provocados pelos seres habitantes das matas. Como aporte teórico metodológico os autores buscaram alicerçar-se nos pressupostos da história cultural, cuja abordagem historiográfica volta-se para a vida cotidiana, objetos e temas ligados à vida social dos homens e mulheres no tempo. Além disso, utilizaram-se do método da história oral e da técnica da entrevista semiestruturada, bem como características da pesquisa etnográfica.

Nesse movimento analítico os autores demonstraram o protagonismo de dona Dionéia e conferiram-lhe o status de exímia educadora ao revelar que esta, ao mudar de religião, criou uma metodologia própria de prática de cura ressignificando os processos educativos que utilizava no enfrentamento de doenças espirituais das pessoas que a procuravam. Nesse aspecto, tratava-se de processos educativos de natureza não escolar identificado pelos autores nas tessituras cotidianas das práticas de dona Dionéia e seus educandos, cuja relação era perpassada pelo processo de ensino e aprendizagem, na qual era mediadora de múltiplos saberes, disseminados pelo método da oração e da terapia de cura. Leia Mais

Construir soberanía. Una interpretación económica de y para América Latina | Theotonio dos Santos

La presente antología presenta un conjunto de textos sobre el científico social brasilero Theotonio Dos Santos (1963-2018), especialmente sus aportes sobre la formación económica y social de Brasil como latinoamericana a partir del marxismo nacionalizado que adoptó en sus análisis. Como destaca Mónica Bruckman en una introducción a la obra, los escritos del brasilero pueden datarse en cuatro momentos cronológicos: la apropiación del marxismo, la dinámica de la dependencia, el papel de la revolución científico-técnica y las preocupaciones sobre la economía mundial. Estos ejes que atraviesan la obra de Dos Santos, se tornan de especial importancia en nuestros días teniendo en cuenta los problemas de desarrollo, integración política y lucha contra la desigualdad que enfrentará la región luego de la pandemia por COVID-19.

A partir de los años 1960 Dos Santos comenzó a formarse en el marxismo y a vincularse con importantes intelectuales como Aníbal Quijano, Fernando Enrique Cardoso, Francisco Weffort, Pedro Paz, entre otros. Aquí se sitúan sus primeros análisis y publicaciones en torno a las clases sociales en Brasil y el desarrollo desde un punto de vista político. Luego vinieron los años en la Universidad de Brasilia donde Dos Santos se apropiará de la teoría marxista de la dependencia y su posterior exilio a Chile tras el golpe de 1964 donde seguiría trabajando con reconocidas figuras como Ruy Mauro Marini y André Gunder Frank. En una tercera etapa iniciada con el golpe de Estado en Chile en 1973 vino la desarticulación de los estudiosos de la dependencia y el exilio a México para desempeñar labores en la Universidad Nacional Autónoma de México donde se dedicó a estudiar la revolución científica tecnológica y su impacto en el desarrollo de las fuerzas productivas a nivel global. Fueron los años en que Dos Santos aportó al conocimiento del capitalismo global y al papel de la ciencia en el desarrollo de industrias y la intervención el Estado en ese proceso. Por último, viene el núcleo de estudios en torno al desarrollo y el proceso civilizatorio desde perspectivas históricas donde profundizó el enfoque de Kondrátiev y cuestionó a teóricos de renombre como a Immanuel Wallerstein y a Giovanni Arrighi en torno a la formación capitalista mundial. Leia Mais

Plínio Salgado: Biografia Política (1895-1975) | João Fábio Bertonha

Joao Fabio Bertonha Imagem FacebookJornal Opcao

João Fábio Bertonha é um dos principais historiadores brasileiros especializado no estudo das experiências autoritárias no Brasil do século XX, especialmente no que se refere ao Integralismo Brasileiro. Seu último trabalho publicado, cuja presente resenha irá analisar, é a construção de um perfil biográfico do expoente máximo do Integralismo Brasileiro: Plínio Salgado. Apesar de associação imediata de Salgado com o Integralismo, Bertonha mostra ao leitor aspectos outros de sua trajetória. Além disso, traça paralelos importantes com o tempo no qual ele esteve inserido, o que ajuda a compreender melhor as transformações e escolhas feitas em diferentes momentos por Plínio Salgado ao longo de sua vida.

O livro foi divido em quatro partes, com 13 capítulos. Na primeira delas, composta por quatro capítulos, o autor se debruça no processo de formação de Plínio Salgado enquanto intelectual e sua inserção no mundo da política. A segunda parte, que vai dos capítulos 5 ao 8, focou na construção da AIB (Ação Integralista Brasileira) e a experiência de Salgado a frente do movimento até sua derrocada, após a tentativa frustrada de um golpe de Estado. Os capítulos 9, 10 e 11 compõe a terceira parte do livro e dizem respeito a fase de exílio de Plínio e sua família em Portugal; seu retorno ao Brasil após o fim do Estado Novo e seu retorno a vida política no período da redemocratização pós 1945. Por fim, a última parte do trabalho analisa o envolvimento de Salgado com o golpe de 1964 e com o governo ditatorial, seus últimos anos e a sobrevivência simbólica de Plínio Salgado. Leia Mais

Micro-Spatial Histories of Global Labour | C. G. De Vito e A. Gerritsen

Anne Gerritsen Imagem The Britsh Academy
Anne Gerritsen | Imagem: The Britsh Academy

A obra “Micro-Spatial Histories of Global Labour” foi publicada pela editora londrina Palgrave Macmillan no ano de 2018, sob organização de Christian De Vito (pesquisador associado da Universidade de Leicester, Reino Unido) e Anne Gerritsen (professora vinculada ao Departamento de História da Universidade de Warwick, Reino Unido). Organizados em ordem cronológica, os doze textos – alguns em coautoria – foram escritos por historiadores e historiadoras de diferentes origens, sendo oito italianos, duas inglesas, um austríaco, um iraniano e uma autora grega. Tal publicação é essencial para pensarmos as relações e possibilidades de pesquisa envolvendo a história global e a micro-história sob temática do mundo do trabalho.

De Vito e Gerritsen abrem o prefácio com um episódio envolvendo a apresentação de Hans Medick, em Pequim, sobre uma remota aldeia suábia que tentava manter técnicas tecelãs e agrícolas dentro de sua comunidade. Os questionamentos levantados após o final da exposição acabaram por conectar a localidade na Alemanha com os estudos de padrão de desenvolvimento no delta de Yangtze, na região de Xangai. Ainda que inicialmente não houvesse a intenção de conectar Yangtze com a Alemanha, a metodologia micro-histórica empregada por Medick possibilitou integrações em uma perspectiva global. Dessa maneira, os autores mencionam que a partir de 2010, estudos que combinavam as abordagens micro e global começaram a ser empreendidos por uma série de pesquisadores dentro da história do trabalho, como aqueles produzidos por Francesca Trivellato, John-Paul Ghobrial e Lara Putnam. Leia Mais

História Ambiental: configurações do humano e tessituras teórico-metodológicas | Ilsyane do Rocio Kmitta, Suzana Arakaki e Tânia Regina Zimmermann

Suzana Arakaki Imagem Dourados News
Suzana Arakaki | Imagem: Dourados News

A obra História ambiental: configurações do humano e tessituras teórico-metodológicas, organizada pelas historiadoras Ilsyane do Rocio Kmitta, Suzana Arakaki, Tania Regina Zimmermann, professoras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, foi publicada em 2020, pela editora Milfontes. Os oito capítulos que compõem o livro são escritos por pesquisadores de diferentes regiões do país, o que, como mencionado por Susana Cesco na apresentação da obra, indica para a descentralização das pesquisas em história ambiental, que vem se fortalecendo no Brasil. Considerando os capítulos em conjunto, permitem ao leitor que conheça importantes aspectos da área de pesquisa, bem como levantam reflexões a respeito do seu papel tanto no ensino básico quanto no superior.

Ao longo do primeiro capítulo, intitulado História ambiental: alguns desafios conceituais e políticos, os historiadores Eurípedes Antonio Funes e Kenia Sousa Rios, professores da Universidade Federal do Ceará, apresentam algumas provocações em torno da ideia de natureza como um fato dado. Para eles, as noções de natureza são historicamente construídas, sendo influenciadas pelas variadas experiências temporais. Assim, exemplificam que a concepção de natureza como um recurso a ser dominado, inclusive no campo científico, remete ao século XIX. Nesse contexto, os autores apontam que o nordeste brasileiro passa a ser concebido como uma natureza inóspita, onde a seca se torna um obstáculo para a modernização do sertão. Leia Mais

Arquitertúlia: Prosa em construção – Contos de humor não edificantes | Manoel Vaz Gomes Corrêa

Arte sobre a capa de Arquiteertulia de Manoel Vaz 2
Arte sobre a capa de Arquiteertulia, de Manoel Vaz

Há pouco tempo, 25/08/2021, recebi um e.mail de um antigo colega de ginásio no Colégio dos Maristas no Rio de Janeiro. Manoel Vaz Gomes Corrêa, o Nel Vaz, carioca, 75 anos, arquiteto, cartunista e ilustrador. Casado, dois filhos, três netos. Em função das quarentenas e isolamentos provocados pela pandemia são vários os ex-alunos que nos procuram via remota São palavras do autor Manoel Vaz:

“Um livro (já sinto suas contrações), era o que faltava, pois na prancheta, fiz muitas plantas, que estão aí até hoje, regando ou não regando. Quanto a plantar na terra, lembro-me de que na instituição onde trabalhei, em cada projeto inaugurado, plantávamos mudas de pau-brasil, pra compensar o que levaram na marra. Desse modo, posso dizer também que já fui uma espécie de pau pra toda obra”. Leia Mais

Caminhos para a teoria da história da filosofia das historicidades e a questão da justiça histórica | Berber Bevernage

Berber Bevernage é um jovem e atua como professor de Teoria da História na Universidade de Gante, Bélgica. Além disso, é co-fundador da Rede Internacional de Teoria da História (International Network for Theory of History) criada em 2012 com o objetivo de promover a colaboração de teóricos por meio da divulgação e circulação de eventos e publicações na área. Atualmente também coordena o Grupo de Pesquisa TAPAS (Thinking about the past), onde promove iniciativas voltadas a pensar as múltiplas formas de relação com o passado que ocorrem dentro e fora do espaço acadêmico-universitário. Leia Mais

Estrela de Luz | Izoldino Resende, Ismael

Inicio esta resenha apresentando brevemente o seguimento doutrinário – o Espiritismo – que fundamenta o gênero literário (romance) da obra “Estrela de Luz”, bem como um sucinto histórico deste livro e dos seus autores, Izoldino Resende e Ismael, visando à assimilação do contexto geral da elaboração do manuscrito para, posteriormente, explanar o teor dos escritos. Leia Mais

De Hollywood a Aracaju: antinazismo e cinema durante a Segunda Guerra Mundial | Andreza Maynard

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é um tema bastante explorado pelas produções cinematográficas. Filmes sobre as batalhas contra o nazismo, os horrores dos campos de concentração e histórias de sobreviventes e personagens importantes do período são lançados, constantemente, conquistando o público e premiações como o Oscar e o Globo de Ouro. II O fato é que o cinema tem a capacidade de transportar os telespectadores para diferentes tempos e espaços, servindo como divertimento, fonte de informação e despertando a curiosidade e os sentidos.

Tais características estiveram presentes ao longo da história do cinema, destacadamente, durante a Segunda Guerra Mundial, quando inúmeras películas foram produzidas para retratar o horror da guerra e combater o nazismo. E é justamente disso que trata o livro De Hollywood a Aracaju (2021) da historiadora Andreza Maynard. III Fruto da sua tese de doutorado, a obra analisa a recepção dos filmes antinazistas em Aracaju durante a Segunda Guerra, discutindo “o processo de construção de sentido a respeito do conflito e dos inimigos do Brasil, os nazistas, durante os anos da Guerra” IV Leia Mais

Oswaldo Corrêa Gonçalves, arquiteto cidadão | Gino Caldatto Barbosa

Gino Caldatto Babosa Foto Matheus Tage
Gino Caldatto Babosa | Foto: Matheus Tagé

Para a apresentação deste minucioso trabalho sobre a vida e a obra de Oswaldo Correa Gonçalves, meu caro colega e amigo, realizado pelos jovens Ruy Eduardo Debbs Franco e Gino Caldatto Barbosa, penso em esboçar uma lembrança pessoal, pois conheci o arquiteto praticamente desde que cursei a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.

Para isso, reuni as mais importantes imagens que guardei de Oswaldo, e que podem ser resumidas em quatro retratos parciais de sua e de minha vida. Aliás, embora ambos tenhamos nos modificado ao longo desses sessenta anos, essas imagens demonstram que, curiosamente, permanecemos idênticos: afinal, não sou capaz de lembrar de visões e atitudes desde a minha mais longínqua infância? O mesmo pode ser dito de nosso biografado. Pretendo, por fim, apresentar a síntese dessas imagens. Leia Mais

Os bispos e a ditadura militar brasileira (1971-1980): a visão da espionagem | Paulo César Gomes

Paulo Cesar Gomes Imagem Jornal Opcao 2
Paulo César Gomes | Imagem: Jornal Opção

Com a expansão dos Programas de Pós-Graduação em História no Brasil, especialmente a partir da década de 1990, dezenas de novos objetos, abordagens, temáticas e problemas passaram a ser privilegiados. Segundo o historiador Carlos Fico (2004, p. 21), nesse período, a produção histórica brasileira deu uma verdadeira “guinada”: a predominância de estudos que recaía sobre o período colonial deslocou-se para a fase republicana.

Nessa dinamização dos cursos de pós-graduação, um objeto que deu uma considerável alavancada foi o estudo da ditadura militar brasileira. A partir dos anos 1990, inúmeros trabalhos foram realizados sobre esse tema enfocando diversos prismas, olhares, agentes, recortes e espaços. Entre os inúmeros assuntos abordados dentro da grande temática ditadura militar, que vão de planos econômicos a organizações clandestinas, destaca-se o estudo sobre a Igreja Católica. Engana-se quem pensa que as pesquisas sobre esse assunto se esgotaram ou que não é mais possível originalidade e avanço sobre ele. Em relação à Igreja Católica, embora hoje sejam bastante conhecidos, notadamente, dois aspectos, o papel dos grupos católicos conservadores nas “Marchas da Família com Deus pela Liberdade” durante o pré-golpe de 1964 e a atuação da ala “progressista” na oposição à ditadura e em defesa dos direitos humanos entre os anos 1970-80, importa dizer que ainda há muito a ser descoberto, analisado, (re) discutido e revelado. A obra de Paulo César Gomes, Os bispos católicos e a ditadura militar brasileira é uma prova disso. Leia Mais

Arendt: entre o amor e o mal: uma biografia | Ann Heberlein

Em 2021, a editora Companhia das Letras traduziu o livro [Arendt: Om kärlek och ondska] publicado em 2020 de autoria da sueca Dra. Ann Helen Heberlein, que, pouco conhecida no campo da História brasileira, produziu uma biografia sobre Hannah Arendt. Ainda que não dotada de singularidades abruptas, a biografia expõe duas categorias como chave de leitura para a narrativa de vida de Arendt: contexto e situação-limite. Nesta resenha, portanto, o caro leitor encontrará três setores de informações: a) uma leitura comparativa entre a biografia escrita por Heberlein e outras já consagradas; b) uma síntese geral da narrativa, focando em alguns capítulos-chave; e c) reflexão e apreciação das duas categorias mencionadas.

Heberlein nasceu em 22 de junho de 1970 na Suécia. Estudou Teologia na Lund University, para onde voltou a fim de ser professora-pesquisadora a partir de 2007. Sua dissertação, defendida em 2005 e intitulada Kränkningar och förlatelse (Abusos e perdão), ganhou destaque nacional. A partir de então, começou a discutir sobre culpa, vergonha, responsabilidade, moral, abusos e perdão. Passou a integrar o corpo docente da Universidade de Estocolmo a partir de 2009, além de ter trabalhado como colunista nos jornais Sydsvenskan e Dagens Nyheter. O destaque internacional veio após a publicação, em 2008, de seu relato autobiográfico sobre como é a vida com transtorno bipolar, intitulado Jag vill inte dö, jag vill bara inte leva. Contudo, o primeiro livro traduzido para o português ocorreu em 2012 com Det var inte mitt fel! Om konsten att ta ansvar – traduzido para Não foi culpa minha. A arte de assumir a responsabilidade. Leia Mais

O império das repúblicas: projetos políticos republicanos no Espírito Santo/ 1870-1908 | Karulliny Silverol Siqueira

Karulliny Silverol Siqueira Imagem
Karulliny Silverol Siqueira | Imagem: Históriacapixaba.com

Os estudos acerca das identidades políticas no Império, do ingresso do republicanismo na cultura política nacional e do estabelecimento da República em solo brasileiro ganharam diversas nuances na historiografia, graças à crescente catalogação de documentos inéditos e a disponibilização digital de fontes históricas, assim como novas abordagens teóricas e metodológicas. Os avanços permitiram ultrapassar a percepção do Brasil desde o centro nacional, a dizer, no Rio de Janeiro, as novas percepções regionais trouxeram pluralidade à compreensão do Brasil no século XIX.

A obra O Império das Repúblicas, da historiadora Karulliny Siqueira, participa do movimento de renovação, especialmente, porque apresenta à historiografia nova percepção regional, identificando na província do Espírito Santo aspectos da transformação da cultura política imperial para o regime republicano. Buscou-se compreender os valores republicanos em circulação no país, abrindo a pesquisa à identificação das tendências políticas em diferentes localidades da província. O resultado do empreendimento apresenta um quadro do republicanismo mais plural e diversificado, se comparado às clássicas abordagens da historiografia. Karulliny Siqueira, utilizando-se dos parâmetros adotados por José Murilo de Carvalho em sua clássica obra A Construção da Ordem (1988), mapeia as características da elite provincial, através da prosopografia, para identificar a intervenção particular sobre as ideias de república em trânsito no país. Leia Mais

Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro | Valdei Lopes de Araujo, Bruna Stutz Klem e Mateus Henrique de Faria Pereira

Do fake ao fato: Des(atualizando) Bolsonaro” foi pensado e organizado pelos professores doutores Valdei Lopes de Araujo, Mateus Henrique de Faria Pereira – ambos vinculados à Universidade Federal de Ouro Preto – e por Bruna Stutz Klem, mestra em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Ouro Preto.

Escrito para aqueles que desejam entender a política brasileira contemporânea, bem como até onde essa onda1 bolsonarista pode nos levar, “Do fake ao fato: Des(atualizando) Bolsonaro” é um livro instigante e esclarecedor. Composto por artigos bem fundamentados e de leitura leve, a obra traz à tona importantes debates políticos e sociais. Leia Mais

Ensino de História do Holocausto: itinerários de pesquisas | Boletim do Tempo Presente | 2022

Memorial do Holocausto

Os textos aqui reunidos nesse Dossiê foram selecionados e avaliados a partir do I Congresso Internacional sobre Ensino do Holocausto e Educação em Direitos Humanos, organizado pelo Museu do Holocausto de Curitiba em parceria com a Universidade de Pernambuco e a Universidade Federal do Paraná. Em colaboração com o Boletim do Tempo Presente, da Rede de Estudos do Tempo Presente/Brasil, optamos por fazer a divulgação dos textos num periódico acadêmico, ao invés do modelo tradicional de anais. Acreditamos que esse formato dará aos textos maior visibilidade e acesso. Foram selecionados vinte textos de autores(as) de diversas regiões do país que compõem o que aqui chamamos de “novos itinerários” de pesquisas sobre o Holocausto no Brasil. Os textos foram editados por eixo temático e serão publicados em quatro edições do Boletim do Tempo Presente, sendo essa a primeira edição de 2022. Leia Mais

The Last Turtlemen of the Caribbean | Sharika Crawford

Sharika Crawford
Sharika Crawford | Imagem: University of Pittsburgh

La gran mayoría de los colombianos vive entre paisajes andinos y pisando siempre tierra firme. Los intelectuales de “la” costa (así conocida, aunque no tenemos una sino dos) llevan décadas insistiendo en que el país no es solo andino sino también caribeño. Nos han recordado que, para aprehender cabalmente nuestro territorio y reconocer quiénes somos, debemos tener en cuenta las complejas redes que desde el siglo XVI le han dado forma al Gran Caribe insular y continental. Para quienes, como yo, estamos alejados del mar en cuerpo y espíritu (por hermoso que nos parezca), el libro The Last Turtlemen de Sharika Crawford nos sumerge en el territorio acuático del Caribe y nos permite pensar a Colombia desde una perspectiva inusual: de la mano de los cazadores de tortugas oriundos de las Islas Caimán. Esta perspectiva ubica a Providencia, aquella hermosa isla devastada hace poco por el huracán Iota, y no a Cartagena de Indias, en el centro de esa otra Colombia. Pero una mirada parroquial no hace justicia a este fascinante libro que relata la saga de un grupo de afrodescendientes que, tras acabar con las tortugas marinas de sus islas, se dedicaron, entre 1880 y 1960, a atraparlas en distintas localidades del Caribe. Leia Mais

Caminhos do sertão: ocupação territorial, sistema viário e intercâmbios coloniais dos sertões da Bahia | Erivaldo Fagundes Neves e Antonieta Miguel

Na primeira metade do século XX, os caminhos antigos foram profusamente pesquisados por autores como Capistrano de Abreu, Alfredo Ellis Júnior, Felisbello Freire, Basílio de Magalhães, Afonso Taunay e Mafalda Zemella. O enfoque era o da formação territorial brasileira, então compreendida como uma relação entre a exploração sertanista, o povoamento brasílico e os caminhos de circulação – é esse, de fato, o título de uma das obras de Capistrano de Abreu, que produziu páginas que estão entre as mais belas sobre o avanço da fronteira de colonização brasílica dos sertões.1

Somando-se a esses historiadores, de renome nacional, pesquisadores regionais e locais detalhavam o conhecimento do tema, esmiuçando os roteiros e a ação de sertanistas paulistas, baianos e reinóis. É esse o caso de autores como Salomão de Vasconcelos, Urbino Vianna, Pedro Calmon, Borges de Barros, Moacir Silva, Enéas Martins Filho e Dermeval José Pimenta. Leia Mais

África sem luz | Maria Archer

Maria Emilia Archer Eyrolles Baltazar Moreira
Maria Emília Archer Eyrolles Baltazar Moreira | Imagem: DebathGraph.Org

Introdução

Este artigo tem por propósito discutir o conto “Legítima defesa” da escritora portuguesa Maria Archer. A história se passa em Luanda, em meados do século XX, um período de maior presença portuguesa, bem como de angolanos vindos do interior, gerando assim um aumento das segregações e tensões sociais e raciais, que repercutiu na produção literária tanto dos escritores portugueses, quanto dos angolanos.

Fruto de suas viagens e presença em Luanda, ele apresenta um limite tênue entre história, memória e ficção, sendo, portanto, resultado das histórias que a autora ouvira quando de sua estadia na capital de Angola na década de trinta, nos permitindo assim perceber as diferentes trocas culturais e os jogos de poder entre a população endógena e os europeus pois mesmo a fala sendo de uma autora portuguesas, o texto é polifônico e revela uma serie de vozes que vão para além do olhar colonial. Leia Mais

The Caravan: Abdallah ‘Azzam and the rise of the global jihad | Thomas Hegghammer

O livro The Caravan: Abdallah ‘Azzam and the rise of the global jihad, publicado no início de 2020, une dois nomes que pesquisadoras e pesquisadores interessados pelo movimento jihadistas irão, em algum momento, se deparar: Thomas Hegghammer e Abdallah ‘Azzam (1941-1989). Hegghammer é doutor em Ciência Política e um dos principais autores sobre jihad; seus trabalhos versam sobre a jihad na Arábia Saudita (2007; 2010), o fenômeno dos combatentes estrangeiros no islã (2006; 2009; 2010; 2013; 2020) e, mais recentemente, a cultura jihadista (2017). ‘Azzam, doutor em princípios da jurisprudência islâmica, foi um dos mais importantes teóricos jihadistas do século XX e, por sua atuação na Guerra do Afeganistão (1979-1989), ficou conhecido como o “pai dos mujahidins” – combatentes da jihad. A obra explora uma miríade de eventos e processos, tendo como fio condutor a trajetória do clérigo. O objetivo de Hegghammer é examinar a relação entre ‘Azzam, o mundo em que esteve inserido e a globalização da jihad.

Por jihad global entende-se o fenômeno de mudança na percepção de inimigo em organizações jihadistas; dos regimes locais à declaração de guerra contra os EUA e o Ocidente. É importante ressaltar que o conceito religioso de jihad precede em séculos a ideia de nação e foi utilizado como parte da expansão religiosa desde o século VII. Contudo, a partir dos anos de 1960, a jihad foi proposta como forma de resistência aos regimes seculares no mundo muçulmano, especialmente, no Egito (COOK, 2005). Leia Mais

Contribuição à Crítica da Historiografia Revisionista | Carlos Zacarias de Sena Júnior, Demian Bezerra de Melo e Gilberto Grassi Calil

Dando continuidade ao projeto iniciado em 2014 com a publicação de A miséria da historiografia, organizado por Demian Bezerra de Melo, (MELO, 2014), o livro ora resenhado objetiva escrutinar as implicações sociais da historiografia revisionista, especialmente, a brasileira. A hipótese geral que atravessa todos os artigos reunidos no livro vincula-se à posição de que os desdobramentos teóricos e historiográficos do revisionismo possuem relações diretas com as disputas políticas cotidianas.

Valendo-nos de um rápido exemplo sobre essas relações, o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, em ocasião do evento que tratava dos “30 anos da Constituição Federal de 1988”, na Faculdade de Direito da USP, e após a polêmica nomeação do general da reserva Fernando Azevedo e Silva para assessorá-lo na presidência do STF, alegou que os desdobramentos político-militares de 1964 não são entendidos por ele como “golpe” ou “revolução”, mas como “movimento de 1964”, buscando responsabilizar tanto o suposto “radicalismo” de esquerda como o de direita como os verdadeiros motivadores da ação militar daquele período. Pata tais afirmações, dizia estar embasado na obra do historiador Daniel Aarão Reis Filho (TERRA, 2018), cujas produções mais emblemáticas e polêmicas estão circunscritas na temática revisionista. Muito embora o referido historiador da Universidade Federal Fluminense (UFF) tenha negado de forma veemente as relações entre a sua produção e a fala de Toffoli, o conjunto de sua obra retém significados que possibilitam interpretações análogas. Leia Mais

Por uma Revisão Crítica – Ditadura e Sociedade no Brasil | Denise Rollemberg e Janaína Cordeiro

Poucos temas têm ganhado tanto espaço na academia e na mídia quanto o negacionismo. As razões para isso são óbvias, é claro, bastando olharmos para a situação de calamidade nacional em que nos encontramos para entendermos a extensão dos males que o negacionismo pode acarretar à sociedade. Dentre os tantos negacionismos com que temos que lidar, o negacionismo histórico acerca da ditadura instaurada no país em 1964 se mostrou um dos mais fecundos e corriqueiros, tornando-se “senso comum” em sites e perfis em redes sociais que alimentam “certos” grupos no aplicativo WhatsApp.

O negacionismo da ditadura ressoou recentemente nas declarações de dois ministros de Estado que, chamados a depor no Congresso, externaram de forma indiferente suas crenças. O ministro da Defesa, general Braga Netto, afirmou que não considera ter havido ditadura e que, “Se houvesse ditadura, talvez muitas pessoas não estariam aqui” (MENDONÇA, [2021]). Já o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretária-geral, afirmou que o uso do termo ditadura é puramente de ordem semântica, preferindo a expressão “regime militar de exceção, muito forte” (GULLINO, [2021]). Em ambos os casos, não se contesta a “força” do regime, mas se argumenta que ela seria necessária diante do contexto da Guerra Fria, e que o Congresso operava “normalmente”, o que caracterizaria a democracia. Para além de um entendimento simplista de democracia, nega-se, dessa forma, fatos e eventos que estavam no centro da ruptura da ordem democrática e da legitimidade do regime quando do golpe de 1964. Nega-se, por exemplo, o respaldo democrático do governo Goulart,2 além de se negar a desfiguração do próprio Congresso, as cassações, perseguições e exílios, a violência e a repressão que impossibilitavam atuações políticas plenamente democráticas. Leia Mais

El que no tiene de ingá/ tiene de mandinga. Honor y mestizaje en los mundos americanos | Sarah Albiez-Wieck, Lina Mercedes Cruz Lira e Antonio Fuentes Barragán

Sarah Albiez Wieck
Sarah Albiez-Wieck | Imagem: Universitâtzu Köln

Es una buena noticia editorial el libro editado por Sarah Albiez-Wieck, Lina Mercedes Cruz Lira y Antonio Fuentes Barragán. Como bien señala Jean-Paul Zúñiga en el prefacio, se trata de una contribución colectiva —polifónica, la llama la editorial—, donde la conjunción de autores nóveles y expertos, de distinta procedencia y formación, lejos de resultar un obstáculo, ha sido tal vez uno de los valores a resaltar de la publicación. El libro trata de las relaciones entre honor y mestizaje en una perspectiva dinámica que resalta lo cambiante en la historia. Todos los autores hacen gala del valor de la comparación en el análisis, mostrando evidencias y situaciones de diversos lugares de la América colonial hispana, combinando además estudios del mundo rural y del urbano. Hay también una lectura transversal de género que enriquece la perspectiva general. No se puede pedir todo a una publicación ya ambiciosa desde el diseño, pero una ausencia notable en los capítulos, a pesar de que se habla del virreinato del Perú, es la ciudad de Lima. El libro tiene estudios de México, Buenos Aires, Santiago, Bogotá y otras ciudades, pero la “zamba vieja”, como la llamaban los patriotas en la lucha por la independencia, está, desgraciadamente, ausente. Curioso teniendo en cuenta que el dicho “el que no tiene de inga tiene de mandinga”, que se usa para titular el libro, es del tradicionalista limeño Ricardo Palma, algo que en ninguna parte se menciona. Estudios como los de Karen Graubart darán cuenta de lo mucho que ese espacio podía ofrecer a la reflexión general del libro. A este entender, bien hubiera venido que las y el editor, o alguno de ellos, hubiesen elaborado una introducción que nos hablara de la génesis de esta empresa colectiva y sus objetivos. Leia Mais

De la geografía a la geopolítica: discurso geográfico y cartografía a mediados del siglo XIX en Colombia | Luciía Duque Muñoz

Lucia Duque Munoz

Los nombres de Francisco José de Caldas y de Agustín Codazzi son claramente reconocidos por sus escritos, perfiles altitudinales y producción cartográfica sobre la geografía del actual territorio colombiano. Sin embargo, tal como nos lo muestra Lucía Duque, ellos fueron apenas algunos de los actores que contribuyeron a la cartografía y a los estudios geográficos del siglo xix en el país. Precisamente, la autora resalta el papel que, entre 1840 y 1860, muchos otros actores jugaron —del Gobierno, intelectuales influyentes, políticos y diplomáticos— en la generación y divulgación de un acervo de información geográfica, y cómo este conocimiento se producía y comunicaba con una intención muy clara de contribuir a la consolidación de un proyecto de país federal y a la construcción de una identidad nacional. Entre estos actores, Duque resalta el protagonismo de figuras como José María Samper, Santiago Pérez, Joaquín Acosta, Tomás Cipriano de Mosquera, Carlos Segismundo de Greiff, entre muchos otros, quienes con sus mapas y escritos geográficos buscaban redefinir el significado del territorio colonial heredado de los españoles en el contexto republicano. Tal como lo plantea la autora en la introducción del libro: “Nuestro interés en esta problemática busca indagar los vínculos, directos o indirectos, que los textos geográficos y trazados cartográficos mantienen con los procesos de organización y resignificación territorial en el contexto de diversos intentos de implementación del modelo federal” (p. 16). Duque, muy en la línea de los estudios de cartografía crítica, aborda el tema teniendo en cuenta que los mapas y estudios geográficos, más que ser visiones objetivas de la realidad del territorio, contribuyen a construirlo. Leia Mais

Voces del archivo. El documento burocrático como relato literário | Alfonso Rubio

Alfonso Rubio
Alfonso Rubio | Imagem: Universidad del Valle

Resulta complejo y, al mismo tiempo, fascinante abordar el nuevo libro de Alfonso Rubio, especialista en archivos de toda índole —preferentemente coloniales y del Nuevo Reino de Granada—, profesor titular del Departamento de Historia de la Universidad del Valle e impulsor de la historia de la cultura escrita en Colombia.

En esta obra hay un lazo invisible que la une al autor en una característica muy personal y que le brinda sentido a estas voces del arcano archivístico: su dimensión como poeta y creador de la lengua. En este texto el autor emprende el sendero de su propio tiempo encontrado: la intencionalidad manifiesta de tomar como objeto de estudio al archivo en su interrelación con la literatura. Leia Mais

Lugareños, patriotas y cosmopolitas. Un estudio de los conceptos de patria y nación en el siglo XIX colombiano | Liliana María López Lopera

Liliana Maria Lopez Lopera
Liliana María López Lopera | Imagem: Universidad EAFIT

El libro de Liliana María López Lopera es, sin duda, un aporte sustancial a la comprensión de nuestro siglo xix. Su principal valor radica en cuestionar y deconstruir algunos de los presupuestos categoriales que soportan diciplinas como la Ciencia Política, el Derecho y algunas corrientes historiográficas. Más aún, por esta vía plantea una crítica profunda a las bases sobre las cuales se ha construido nuestro relato nacional.

François-Xavier Guerra1 había adelantado esta labor al demostrar que la Independencia no fue el resultado de la conciencia adquirida por identidades nacionales preexistentes. Por el contrario, la nación se situó en el punto de llegada y no en el de partida de la conformación de nuevos Estados en lo que era el imperio español. Parte del aporte de López Lopera en este libro es ubicar la formación del sentido dominante de nación —como comunidad identitaria homogénea— a finales del siglo XIX a partir de la irrupción de una sensibilidad en torno al uso de la lengua castellana, la patria literaria, que encontró en los valores hispanistas —entre estos la religión católica— los elementos factuales de una identidad nacional. Leia Mais

El Trienio Liberal. Revolución e independencia (1820-1823) | Pedro Rújula e Manuel Chust

Pedro Rujula
Pedro Rújula | Foto: José Miguel Marco

Sobre el pronunciamiento de Riego en enero de 1820 y sobre el Trienio Liberal que le siguió no existía una obra especializada como la que ahora ofrecen los historiadores Pedro Rújula y Manuel Chust. Su narrativa se enmarca entre la rebelión de Riego en Las Bocas de San Juan y el Manifiesto de Fernando VII el 1.º de octubre de 1823. En esa ocasión el rey suspendió la Constitución y anuló lo realizado por los gobiernos liberales desde el 7 de marzo de 1820.

En este libro predomina una documentada narrativa. Se incorporan algunos elementos analíticos. Se presentan los hechos que configuraron lo que puede considerarse como el preámbulo del Trienio Liberal: desde el 1° de enero de 1820 hasta el juramento ante el repuesto ayuntamiento madrileño, periodo durante el cual la revolución aparecía bajo pronóstico incierto. Riego audazmente tomó como prisionero al general en jefe, conde de Calderón, y a su estado mayor. El coronel Antonio Quiroga ordenó el levantamiento de cuerpos del ejército y se fortaleció en la Isla de León, que controlaba a Cádiz. Entonces las fuerzas militares leales al absolutismo se plantearon aplastar el levantamiento liberal.1 Leia Mais

Tráfico de saberes. Agencia feminina, hechicería e Inquisición en Cartagena de Indias (1610-1614) | Ana María Díaz Burgos

Ana Maria Diaz Burgos
Ana María Díaz Burgos | Imagem: Oberlin College & Conservatory

Uno de los propósitos centrales de este libro es explorar las formas cotidianas en que circulaban los saberes y prácticas heterodoxas a comienzos del siglo xvii en un puerto comercial como el de Cartagena de Indias. A partir del análisis detallado de uno de los pocos procesos inquisitoriales cartageneros que se encuentran completos y de las relaciones de causas asociadas a este, la autora busca resaltar las redes sociales y procesos de agenciamiento de mujeres criollas de élite encausadas por este tribunal. Dentro de la gran variedad de perspectivas que se puede encontrar en la amplia historiografía inquisitorial, esta investigación enfoca su mirada desde la microhistoria, los estudios culturales y literarios. Sus aportes podrían ser reseñados en consonancia con otras investigaciones recientes publicadas de forma casi paralela en la misma colección editorial, y que invitan a ver la Inquisición desde “abajo”, desde las testificaciones, desde la “gente corriente”.1 Leia Mais

Uma latente filosofia do tempo | Reinhart Koselleck

Com relativo atraso, as principais obras de Koselleck encontram-se traduzidas no Brasil. Crítica e crise (2009 [1959]), O futuro passado (2006a [1979]), Estratos do tempo (2014 [2000]) e Histórias de conceitos (2020 [2006]), publicados pela Editora Contraponto, reúnem os textos principais do autor, na diversidade de direções em que ele desenvolve suas ideias. O trabalho de tradução é quase sempre excelente, com uma linguagem clara, notas explicativas e didáticas, que esclarecem as dificuldades inerentes à tradução de textos que envolvem discussões históricas e etimológicas complexas, como é o caso em Koselleck. Crítica e crise, o primeiro livro da série, faria uma exceção ao grupo, pois consta com frases alteradas, abreviadas e fundidas com outras, o que exigiria uma revisão completa para deixar o texto mais fiel ao original. A parte boa é que se trata de uma exceção no conjunto.

Dado esse passo importante, é natural que agora se abra o caminho para textos menos conhecidos, avulsos ou presentes em coletâneas fora do campo dos livros principais do autor. Essa é a via seguida por Uma latente filosofia do tempo, publicado pela Editora Unesp, com organização de Hans Ulrich Gumbrecht e Thamara de Oliveira Rodrigues (que também assina um excelente prefácio) e tradução de Luiz Costa Lima. O livro é composto por quatro textos: “Estruturas de repetição na linguagem e na história”, “Sobre o sentido e o não sentido da história”, “Ficção e realidade histórica” e “Para que ainda investigação histórica?”, retirados de uma obra publicada postumamente, em 2010, pela Suhrkamp, com titulo Sobre o sentido e o não sentido da história, na qual estão reunidos trabalhos que abarcam 40 anos da produção de Koselleck, alguns deles inéditos. A seleção de Gumbrecht e Thamara Rodrigues é inteligente e apresenta-nos um Koselleck heterogêneo e heterodoxo, defensor de uma variedade de teses, esquemas, sugestões e observações com os quais sempre aprendemos muito. Leia Mais

Sociedade e cultura na África romana: oito ensaios e duas traduçõe | Júlio César Magalhães de Oliveira

Júlio César Magalhães de Oliveira, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), apresenta uma original coletânea de ensaios sobre a sociedade e a cultura na África romana, após sua tese já clássica Potestas populi: participation populaire et action collective dans les villes de l’Afrique romaine tardive (vers 300-430 apr. J.-C.), de 2012, coincidindo com a publicação de Late antiquity: the age of crowds?, um artigo que, apesar de recém-divulgado – 2020 – no periódico Past & Present, já repercute. O aparecimento do volume em português deve ser saudado por permitir o acesso de um público mais amplo ao tema, em particular de estudantes ávidos de leituras recentes, inovadoras e produzidas aqui mesmo, no Brasil. Neste aspecto, convém enfatizar a clareza e a facilidade da leitura, assim como o seu estilo envolvente. Mapas, plantas, imagens de época e fotos completam a preocupação de Oliveira com a fácil compreensão do leitor, assim como o uso de notas de pé de página, que apresentam referências e comentários de aprofundamento, mas podemos ler o texto principal de forma direta para melhor aprendermos os argumentos. Tais recursos incentivam a tão necessária segunda leitura, que possibilita o aproveitamento pleno das informações e discussões trabalhadas pelo autor.

Em termos teóricos ou de perspectiva, são discutidas seis polaridades, que estão disseminadas por todo o volume:

  • Resistência/integração;
  • Estudo da tradição textual/cultura material (Arqueologia);
  • Modelos normativos/teoria pós-colonial (conflitos);
  • Restrição às elites/subalternos vistos de baixo;
  • Historiografia: produção mais antiga/recente;
  • Modelos baseados em dicotomias/ênfase na interação.

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Representação dos árabes e muçulmanos na televisão brasileira | César Henrique de Queiroz Porto

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César Henrique de Queiroz Porto | Imagem: Arquivo pessoal/UNIMONTES

A telenovela tem uma importância transcendental para a cultura brasileira. No ar há quase 70 anos2, o Brasil já se viu, por muitas vezes, representado nas inúmeras narrativas ficcionais produzidas e exibidas pelas emissoras brasileiras de televisão. Contudo, não foram apenas as telenovelas com enredos repletos de brasilidade que acompanhamos nesse longo período de teledramaturgia brasileira, haja vista que – dada a originalidade dos novelistas3 – também pudemos acompanhar tramas que trouxeram ao telespectador culturas e costumes de outros povos como, por exemplo, a telenovela O Clone, de autoria de Glória Perez, produzida e exibida entre 2001 e 2002, pela TV Globo.

O Clone foi exibida no emblemático ano de 2001, marcado não apenas pelo início do século XXI, mas também pelos ataques terroristas contra os Estados Unidos, promovidos pela organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda, liderada pelo saudita Osama Bin Laden. No dia 11 de setembro de 2001, os terroristas lançaram ataques suicidas – através de aeronaves – contra os prédios do Pentágono, em Washington, e no World Trade Center (também conhecido como Torres Gêmeas), em Nova York, resultando na morte de mais de três mil pessoas. Foi nesse contexto histórico que vinte dias após o atentado terrorista, em 01 de outubro de 2001, estreou a telenovela O Clone, trazendo em sua espinha dorsal toda a cultura muçulmana, além de outros temas tabus como clonagem humana e dependência química. Leia Mais

Transvaloração e redenção na filosofia de Nietzsche: o niilismo tornado história | Ildenilson Meireles

Ildenilson Meireles
Ildenilson Meireles | Imagem: PPGDS/UNIMONTES

O que torna um texto entendível? Existe relação entre inteligibilidade e qualidade de uma obra? Por que aparenta que nem sempre filósofos fazem questão de se compreender? Não são essas perguntas que se quer responder aqui, mas elas têm ligação com a forma dada à narrativa produzida por Ildenilson Meireles ao publicar como livro o resultado de seu doutoramento, em 2009, pela Universidade Federal de São Carlos.

Anos após a defesa da tese, a obra Transvaloração e Redenção na Filosofia de Nietzsche: o niilismo tornado história, pode ser uma potente ferramenta de “tradução”, talvez até de “simplificação”, de elementos que compuseram parte da filosofia nietzscheana que, por vezes, é colocada como coisa “nebulosa”, rodeada por entraves e complicações, “coisa para poucos”. Como bem reconhece Meireles, a publicação vai a público como “uma necessidade de devolver a estudantes de graduação, pelo menos, o fruto de um trabalho acadêmico sobre um Nietzsche que ainda se pode ler com interesse e curiosidade” (p. 10). Parece ser esse, inclusive, o sentido da circularidade e repetição, ao longo da narrativa, de algumas noções que antes já haviam sido explicitadas por ele. Repetir não para fixar ou ser redundante, mas para esmiuçar mais, por cuidado com quem lê. Não se trata, porém, de “mastigar”, de “pegar na mão” do leitor. Trata-se, sim, de conduzir a leitura, de apresentar conceitos e termos, de destacar como tal noção se apresenta em tal obra de determinado período, de ir e voltar quando convém, de passar por outros nomes que, de algum modo, atravessam o entendimento da filosofia de Nietzsche. Leia Mais

Lazos rotos. La inmigración, el matrimonio y las emociones en la Argentina entre los siglos XIX y XX | María Bjerg

La inmigración implica desafíos y esfuerzos que suelen redundar en una mejora para los inmigrantes y sus seres queridos; si bien esas historias suelen dejar espacios para momentos menos afortunados, en última instancia siempre se presume un final feliz. Sin embargo, la novedad de las historias de vida que se relatan en este libro radica justamente en que no son historias felices. Por eso, en la parte introductoria de la obra, su autora, María Bjerg, reconocida especialista en estudios migratorios de Argentina, propone recomponer algunas experiencias de familias cuyos vínculos se quebrantaron cuando uno de los cónyuges, por lo general el marido, decidió emigrar de Italia o España hacia el Cono Sur. El derrotero de estas familias de inmigrantes entre los siglos XIX y XX no tuvo el final más esperable, esto es, que la familia se reuniera en América, luego de que el esposo pudiera ahorrar, afincarse y acomodarse económicamente, o bien, que este regresara con ahorros para mejorar su calidad de vida en Europa. Al contrario, el reencuentro estuvo más bien marcado por la llegada de algunas mujeres que, por rumores de bigamia, decidieron afrontar solas el cruce del Atlántico sorteando las trabas judiciales y burocráticas para comprobar la veracidad de los dichos e iniciar denuncias por la ilegalidad del vínculo contraído por el esposo en Argentina. Otras en cambio, por la frustración y la miseria en la que vivían por los sueños de progreso truncado, al llegar al nuevo país, o antes de hacerlo, entablaban relaciones ilícitas con otros hombres, lo cual supuso para algunas terminar encarceladas y despojadas de sus ahorros, e incluso muertas por la violencia de sus esposos legítimos. Leia Mais

Desenfrenada lujuria. Una historia de la sodomía a finales del periodo colonial | Pablo Bedoya Molina

En Colombia, las investigaciones sobre historia de la sexualidad son relativamente recientes. Esto, como se sabe, es una consecuencia de la notable acogida que las historias e historiografías en torno a mentalidades, familia y vida cotidiana alcanzaron a partir de las décadas de 1980 y 1990. La producción sobre el tema, no obstante, es limitada y en su momento inicial se centró en las relaciones heterosexuales y las transgresiones al honor y la honra. En la década del 2000, se presentaron algunos trabajos con una dimensión diferente, también centrada en los archivos judiciales, pero interesada en explorar prácticas “menos comunes”, como el homoerotismo.1 Los textos producidos a lo largo de la última década son más interdisciplinares y se han centrado menos en la práctica para enfocarse en robustecer los discursos sobre las construcciones sociales y culturales acerca de la sexualidad y los individuos en sociedad, lo que ha propiciado una importante reivindicación de los sujetos y grupos con identidades sexuales y de género no heteronormativas. Desenfrenada lujuria. Una historia de la sodomía a finales del periodo colonial se inscribe en estas propuestas. Leia Mais

Marijuana Boom. The Rise and Fall of Colombia’s First Drug Paradise | Lina Britto

Escribir sobre narcotráfico en Colombia no es una tarea fácil. En primer lugar, tener acceso a fuentes primarias o secundarias puede ser un reto en muchos casos insuperable. En segundo lugar, dos literaturas dispares, pero que comparten ciertos rasgos, han dominado las descripciones sobre el fenómeno. Ya frente a lo primero, Andrés López Restrepo y Álvaro Camacho Guizado llamaban la atención sobre la poca literatura académica que existe en torno a la producción de drogas.1 En contraste, predomina una literatura para públicos amplios, con autobiografías y biografías de exnarcotraficantes, en las que por supuesto destacan la figura de Pablo Escobar y los llamados carteles de Medellín y Cali. En esta literatura, se entiende a los “carteles” como grupos que producen acciones racionales muy a la manera del Homo economicus, teoría que los economistas que han dominado la discusión sobre el tráfico de drogas han impuesto a la interpretación de dicho fenómeno. Por otra parte, el llamado periodo de los carteles tiene un lugar preponderante en los relatos sobre el tráfico de drogas en Colombia, mientras que pocos autores se han propuesto conocer su “prehistoria”.2 Paradójicamente, pese a su importancia en el imaginario popular, hasta ahora pocos trabajos se han propuesto investigar a profundidad un periodo clave para el desarrollo de este delito en el país: la Bonanza Marimbera, la cual marcó sin duda un parteaguas en el involucramiento de los colombianos en el circuito transnacional de drogas ilegales, ya que hasta ese momento habían ocupado un lugar marginal, principalmente como “mulas”.3 Leia Mais

Valparaíso. Estudio del proceso de poblamiento de sus quebradas y cerros/ 1536- 1900 | Nelson Olivares Basualto

La historia de Valparaíso y su identidad, en gran medida, ha estado conformada por su condición portuaria y sus cerros. Su historia, desde una perspectiva “portuaria”, se ha desarrollado profusamente por aporte de diversos historiadores, que con sus trabajos han permitido develar los complejos procesos que constituyen a Valparaíso como un puerto principal. En cambio, la historia de los cerros y poblamiento de sus quebradas pasó inadvertida por mucho tiempo desde una perspectiva historiográfica. El profesor Nelson Olivares, busca precisamente revelar dicho proceso y hacerse cargo de dicha falta.

Valparaíso. Estudio… es resultado, primero, de una tesis de magíster en la Universidad de Valparaíso. Olivares se plantea en esta obra reconocer cómo fue el proceso de poblamiento de los cerros y quebradas porteños y entregar líneas interpretativas de cuáles habrían sido las principales motivaciones, ocupándose de comprender el desarrollo demográfico con el fin de explicar el porqué del poblamiento en cerros y quebradas. El autor propone que a diferencia de lo que se cree, el poblamiento en altura se inició en las quebradas y no en los cerros (27), y que estuvo conducida mayoritariamente por los pobladores que “pertenecían a estratos más bajos de la formación económica”. Leia Mais

Empecinado filósofo de la esperanza: biobibliografía anotada de Arturo Andrés Roig | Elisabeth Roig

El libro cuyos datos quedan enunciados es de inminente publicación. Más que una reseña o comentario crítico el Comité Editorial de la revista Estudios y los responsables de la convocatoria del número especial dedicado a Arturo Andrés Roig en el centenario de su natalicio, han decidido, en este espacio, ofrecer un adelanto de publicación. El mismo ha sido construido con fragmentos del Prólogo de Adriana María Arpini y de la introducción de la propia autora, Elisabeth Roig. El propósito es dar a conocer el enorme y a la vez delicado trabajo de componer una biobibliografía, la cual se convertirá en referencia obligatoria de los estudiosos de la Historia de las ideas, de la Filosofía latinoamericana, así como de la obra y la trayectoria de Arturo Andrés Roig. Leia Mais

Recorridos alternativos de la modernidade. Derivaciones de la crítica en el pensamiento contemporâneo | Dante Ramaglia

Digámoslo de entrada, Recorridos alternativos de la modernidad es un libro destinado a convertirse de consulta indispensable en la materia. Tematiza y despliega su objeto de análisis con cuotas bien dosificadas de erudición y compromiso. Por si fuera poco, presenta una notable articulación entre la diversidad de posturas que convoca y la unidad de problemas en que confluye. Ahora bien, si se me permite, no quisiera hacer un recorrido lineal del texto, que por otro parte no supliría el esfuerzo de ulteriores lecturas. Leia Mais

Emotions and Temporalities | Margrit Pernau

Dos giros tuvieron lugar el último tercio del pasado siglo y marcaron un parteaguas en los supuestos epistemológicos y ontológicos de las ciencias sociales. Problematizando la concepción sociológica de la teoría de la elección racional y del funcionalismo, el giro cultural introdujo en la comprensión de la realidad la dimensión interpretativa de la acción social, atendiendo para ello los símbolos expresivos, las estructuras de significado y las experiencias rituales. La cultura dentro de este marco no se agota en las “elevadas expresiones del espíritu”, como denominabaa Jacob Burckhardt a los productos culturales destinados al consumo de las élites aristocráticas y burguesas; lo mismo es cierto para las expresiones de los subalternos como las tradiciones y las festividades, eso que Mijaíl Bajtín dio en llamar “la cultura popular”. El constructivismo reencausó las reflexiones sobre la cultura, acercándola más a “los movimientos del alma” de Simmel, para ahora aprehenderla como el mundo en general a la manera de un “texto”, conformado por símbolos y significados (Clifford Geertz); como un conjunto de “paisajes de sentido” en los que interactúan espacios, instituciones y actores sociales (Isaac Reed); o como la vida cotidiana de la gente, los objetos de los que se rodea y sus formas de percibir e imaginar el mundo (Robert Darnton). Leia Mais

The Globe on Paper. Writing Histories of the World in Renaissance Europe and the Americas | Giuseppe Marcocci

En 2015, la historiadora Lynn Hunt presentó una conferencia en la Universidad de Chicago que arrancaba con una premisa que ella misma calificó como objetable: las teorías sociales y culturales que han estimulado la escritura de la historia desde los años cincuenta han perdido su vitalidad.1 Por teorías sociales y culturales, aclaró, se refería al abanico de paradigmas historiográficos que en su momento dinamizaron los estudios del pasado -la historia cultural, el giro lingüístico, los estudios culturales, el postmodernismo, el posestructuralismo e incluso el postcolonialismo. Todas ellas, comentaba Hunt, tienen una relevancia incontestable, evidenciada por el lugar central que tienen en el canon de estudios de posgrado de cualquier programa de historia, pero corren el riesgo de perder su vigencia al mantenerse restringidas al terreno del estado-nación, desatendiendo así la complejidad de realidades transnacionales. Para contrarrestar esta camisa de fuerza, invitaba con insistencia a pensar globalmente el pasado. Es decir, a entender que las más de las veces, las realidades que estudian las historiadoras se caracterizan por intercambios y circunstancias interconectadas e interdependientes. Leia Mais

Repensar el anarquismo en América Latina. Historias/ epistemes/ luchas y otras formas de organización | Javier Ruiz

Los estudios contemporáneos sobre anarquismo latinoamericano, comienzan a hacerse cargo sobre una de sus principales falencias: la falta de una mirada en perspectiva descolonizadora en sus categorías de análisis. No nos detendremos aquí a repasar las cuestiones ya consabidas del anarquismo, esto es, que se trata de una ideología relativamente reciente en occidente, proveniente de la lucha de obreros y artesanos de fines del siglo XVIII y comienzos del XIX, hija de la revolución francesa y la revolución industrial, etc. Leia Mais

Lexicón de formas discursivas cultivadas por la Compañía de Jesús | Perla Chinchilla

Leer implica mucho más que pasar la vista por encima de un texto. Leer es una acción comparable con un viaje que requiere planeación, sueños, movimientos, desplazamientos, objetos, voces y silencios. La obra titulada Lexicón de formas discursivas cultivadas por la Compañía de Jesús parte, precisamente, de esta certeza, donde la lectura y el proceso de comunicación entre autores e interlocutores comienza antes de que las palabras levanten el vuelo para ser comprendidas por el lector, por medio de la expectativa de quien toma una obra impresa, la reconoce y la acepta.

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Embajadoras culturales. Mujeres latinoamericanas y vida diplomática/1860-1960 | P. Bruno, A. Pita, M. Alvarado

El título Embajadoras culturales no es una frase azarosa. Es una elección adrede y consciente realizada por Paula Bruno para referirse al conjunto de nueve mujeres cuyas trayectorias se analizan en este libro. Esa denominación responde al doble cariz de la tarea emprendida por ellas: en primer lugar, en tanto negociadoras y activas participantes de la vida diplomática, pues muchas veces se las ha caracterizado con el apelativo de “embajadoras” a pesar de no ostentar, en la mayoría de los casos, cargo oficial alguno; en segundo lugar, en tanto fieles exponentes de la cultura, como de los valores e intereses del país de origen al que pertenecían y representaban mediante su rol de constructoras de vínculos sociales y mediadoras en el ámbito político y diplomático. Leia Mais

State Formation in the Liberal Era. Capitalisms and Claims of Citizenship in Mexico and Peru | B. Fallaw, D. Nugent

State Formation in the Liberal Era se inserta en una línea de investigaciones que desde los años noventa ha profundizado en las dimensiones más experienciales y cotidianas, tanto materiales como simbólicas, de los procesos de formación estatal en los países de la región. Esto ha derivado en diversos proyectos de indagación en torno a las modalidades de imaginar al estado, sus múltiples apariencias, las maneras en que el poder ha sido ejercido, así como su impacto diferencial en la sociedad. Estas reflexiones sobre el estado, a su vez, han tendido a privilegiar una aproximación “desde abajo” a las dinámicas estatales, poniendo en evidencia las resistencias, pero también las apropiaciones y las adhesiones, a la conformación de un orden estatal liberal y capitalista. Leia Mais

Egypt and the Augustan Cultural Revolution. An Interpretative Archaeological Overview | M. Van Aerde

La presente obra, versión editada de la disertación doctoral de la autora, presenta los avances de su investigación sobre Egipto en tiempos de Augusto, dando cuenta de la recepción en la ciudad de Roma que tuvo la anexión de Egipto al Imperio romano tras la batalla de Accio en diferentes espacios como casas, la geografía urbana y elementos de uso cotidiano. Lo que la autora propone es realizar una visión general sobre las manifestaciones de Egipto en la cultura material de la ciudad de Roma en tiempo de Augusto. Encontramos tres libros que resultan de influencia para la autora desde las primeras páginas y que resultan ser claves para el desarrollo de su propuesta: La revolución romana de Ronald Syme, Augusto y el poder de las imágenes de Paul Zanker y Roman Cultural Revolution de Andrew Wallace-Hadrill. Lo que la autora pretende a lo largo del libro y la selección de fuentes es encontrar la vinculación entre Egipto y la ciudad de Roma, cambiando la perspectiva del Egipto exótico y distante por una de un Egipto integrado al imperio. Leia Mais

Tres estudios de historiografía argentina | J. D. Cesano

Es de celebrar la aparición de publicaciones que contribuyan al enriquecimiento de lo ya sabido o poco explorado acerca de las dinámicas intelectuales, políticas y epistemológicas de la historia de la trama historiográfica en diferentes escalas. El texto que se reseña constituye un acercamiento monográfico a tres figuras/autores que escribieron historia entre finales del siglo XIX y la primera mitad del XX en la Argentina, a los efectos de observar lo que el autor denomina “labor historiográfica”, más concretamente “desde el interior del país”. Para el abordaje de Ramón J. Cárcano, Enrique Martínez Paz y Juan Álvarez y algunas de sus respectivas escrituras, Daniel Cesano resuelve con pericia un diálogo interesante entre algunos materiales primarios y secundarios, estos últimos actualizados. Sin embargo, los estratos de la información pierden de vista la pluralidad analítica entre registros de distinta naturaleza y construcciones historiográficas más o menos actuales, que remiten a bases teóricas muchas veces divergentes. Leia Mais

Extrema derecha 2.0. Qué es y cómo combatirla | S. Forti

El libro publicado por Editorial Siglo XXI, Extrema derecha 2.0. Qué es y cómo combatirla, del historiador italiano Steven Forti, se enmarca en un contexto de ascenso de las formaciones de derecha no convencionales a escala global. En los últimos años esta temática fue abordada por varios autores que, dando perspectiva histórica al fenómeno, ofrecieron distintas interpretaciones que trazaron sus elementos comunes con las experiencias fascistas del siglo XX, aunque sin caer en el reduccionismo de catalogar a la derecha actual bajo esta definición. Leia Mais

Arqueología del mestizaje. Colonialismo y racialización | L. Catelli

Este libro reclama, por derecho propio, un lugar entre los textos que constituyen un campo y al mismo tiempo abren la temática a la que convocan. Catelli ofrece un recorrido arqueológico del mestizaje –en una sutil evocación foucaultiana– para dar cuenta de cómo este se desenvuelve en tanto dispositivo que permite comprender, en la larga duración, los modos en que las violencias coloniales se trasvasan a la nación criolla. Leia Mais

Digital humanities in Latin America | H. F. L’Hoeste, J. C. Rodríguez

Editado pela University of Florida Press e organizado por Héctor Fernández L’Hoeste e Juan Carlos Rodríguez, respectivamente, professores da Georgia State University e Georgia Institute of Technology, em Atlanta, nos Estados Unidos (EE.UU), Digital humanities in Latin America é uma coleção de ensaios produzidos com suporte no simpósio Latin/o American Media Studies in the Age of Digital Humanities, realizado em março de 2015 pelas instituições supracitadas. O livro traz críticas contingenciais correntes das humanidades digitais que atestam a produção de conhecimento como um processo neutro, enfatizando, em seus 15 capítulos, que o sujeito é moldado por forças políticas, econômicas e culturais, tese similar às compreensões latinas sobre “mediação” (mediation). Além de organizarem o livro, Héctor Fernández L’Hoeste e Juan Carlos Rodríguez assinam um capítulo cada um, além de participarem da última seção do livro como entrevistadores de Gimena del Río Riande, Ana Lígia Silva Medeiros e Isabel Galina Russell. Leia Mais

Comunidades/historia local e historia de pueblos. Huellas de su formación | Mirta Zaida Lobato

Desde una perspectiva local y por medio de la participación de varios/as historiadores/as, Comunidades, historia local e historia de pueblos… se propone hallar las huellas de formación de comunidades en el marco de la sociedad capitalista; abarca un extenso período desde mediados del siglo XIX hasta las últimas décadas del siglo XX. Leia Mais

Embajadoras culturales. Mujeres latinoamericanas y vida diplomática/1860-1960 | Paula Bruno, Alexandra Pita, Marina Alvarado

Este libro reúne los trabajos de Paula Bruno, Marina Alvarado y Alexandra Pita quienes se han propuesto analizar las singularidades, experiencias y agencias de la vida diplomática de mujeres argentinas, chilenas y mexicanas entre 1860 y 1960, a partir de reflexiones e interrogantes que nutren y complejizan los estudios sobre la Nueva Historia Diplomática. Leia Mais

Embajadoras culturales. Mujeres latinoamericanas y vida diplomática/1860-1960 | Paula Bruno, Alexandra Pita, Marina Alvarado

Como indica Paula Bruno en las primeras páginas, los estudios históricos que vinculan mujeres y vida diplomática constituyen un campo emergente en América Latina. Esa afirmación es la premisa disparadora de Embajadoras culturales. Mujeres latinoamericanas y vida diplomática, 1860-1960. El objetivo de la obra, emprendida por Bruno junto a Marina Alvarado y Alexandra Pita, es la observación de trayectorias y experiencias de un puñado de mujeres latinoamericanas que ejercieron diplomacia en diferentes variantes entre la segunda mitad del siglo XIX y la primera del XX. Leia Mais

La Confederación Argentina y sus subalternos: Integración estatal/ política y derechos en el Buenos Aires posindependiente (1820-1860) | Ricardo Salvatore

Elaborado como una síntesis de sus trabajos sobre el rosismo, este nuevo libro avanza sobre distintos sectores sociales: afroporteños, indígenas, mujeres y soldados unitarios. Para ello, el autor propone una reconstrucción de las experiencias de cada uno de estos grupos basada en literatura de la época, memorias y relatos, causas criminales y correspondencia, todas ellas leídas en clave subalterna. El resultado es un texto ameno que, a medida que organiza balances sobre aspectos ya conocidos del orden rosista, abre interrogantes sobre la relación de estos sujetos con el Estado. Leia Mais

En el nombre de la patria. Juventud/nacionalismos cotidianos y emociones patrióticas (Argentina, 1955-1979) | Mónica Inés Bartolucci, Bettina Alejandra Favero

En el nombre de la patria es un escrito con múltiples puntos de vista sobre las formas de sentir y manifestar la nación, entre los y las jóvenes de la Argentina de los años sesenta y setenta. Propone estudiar grupos, prácticas y experiencias juveniles que construyeron, a su manera, variedades de patriotismo ligadas a diversas cuestiones públicas: la soberanía nacional y las Malvinas, el Servicio Militar Obligatorio, el transcurso del conflicto por el Canal de Beagle; la educación y la investigación científica; el fútbol, la religión y las formas de habitar la Iglesia Católica. Los siete capítulos que hacen a la compilación proponen un abordaje especial para ese tema: las acciones cotidianas, las emociones, las relaciones personales con ese “amor a la patria”, que puede tener tantos significados concretos como habitantes hayan pisado su suelo. Tal como el Prólogo (a cargo del español Xosé Núñez Seixas) y la Introducción señalan, el libro elabora sus preguntas con una perspectiva “desde abajo”, que busca reconstruir la relación de los sujetos con la nación a través de sus acciones concretas (individuales y colectivas), sus emociones y recuerdos, sus creencias, sus miedos y orgullos. Leia Mais

Entre Ríos/siglo XIX. Lenguajes y prácticas, en un imaginario político dinámico y cambiante | Griselda Pressel, Fabián Herrero

El interés general y renovado que ha evidenciado la historiografía rioplatense del siglo XIX –sobre todo de la primera mitad– en atender las experiencias de construcción de institucionalidad, llevadas adelante por los Estados provinciales, da cuenta de una serie de aspectos complejos y cruces múltiples que, a pesar de encontrar paralelismos, adquieren, a su vez, en los diferentes espacios, características particulares. Precisamente, es desde esta perspectiva que, como sostiene Sonia Tedeschi, “resulta interesante observar cómo se estructura y desarrolla la experiencia de una sociedad pequeña situada […] casi en la periferia de los grandes centros políticos: los Entre Ríos” (2022, p. 185). Leia Mais

La desmesura revolucionaria. Cultura y política en los orígenes del PARA | Martín Bergel

En los últimos años, la producción académica del historiador Martín Bergel, investigador del CONICET y docente de la Universidad Nacional de San Martín, se concentró en una particular mirada sobre protagonistas latinoamericanos. En ella, y sin que implique una contradicción con esa idea de concentración, se articularon de modo heterogéneo y amplio textos sobre la recepción de hechos o problemáticas internacionales, la circulación de ideas por los países del sur de América, las percepciones en América Latina de fenómenos extra o intrarregionales. Estos temas hicieron juego con su producción previa sobre el orientalismo y el tercermundismo, convergiendo en un cruce de prensa periódica y revistas culturales, intelectuales y políticos, donde términos como revolución, populismo, latinoamericanismo aparecieron en sitios clave y donde el caso de la peruana Alianza Popular Revolucionaria Americana (APRA) tuvo un lugar destacado. Leia Mais

Historia de un vasco. Cartas contra el olvido | Iñaki Arteta

En Historias de un vasco. Cartas contra el olvido, el director, guionista y productor cinematográfico Iñaki Arteta nos ofrece una obra valiente y vivencial en la que aborda de manera crítica la forma en que tanto él como la sociedad vasca se enfrentó a ETA. El libro no se limita cronológicamente al tiempo en que la citada organización terrorista permaneció activa. Por el contrario, nos acerca el escenario presente en el cual se aprecia un rasgo que va contra todo parámetro ético y moral: “en esta tierra que piso, los que eligieron el mal lo practicaron sin ningún tipo de escrúpulo. Ahora, los que celebran las hazañas macabras con champán se confunden con los demás en las calles tranquilas de nuestros pueblos y ciudades. Como un cáncer imposible de extirpar” (p. 239). Leia Mais

A coleção Adandozan do Museu Nacional Brasil Daomé/ 1818-2018 | Mariza de Carvalho Soares

Os primeiros anos de graduação são tempos de intensas paixões. A cada semestre, elegemos alguns autores com os quais passamos anos a fio, sempre citando e revisitando, como se sua obra se tornasse uma régua de qualidade que será usada para tudo que vier depois. Então, por força de currículos eurocêntricos, que ainda predominam em muitas universidades, os primeiros a terem este amor são os europeus, muitos destes medievalistas; e assim, com suas abordagens, eles se tornam, também, o paradigma de sucesso a ser alcançado. Leia Mais

Paseos por el siglo XV andaluz | Miguel Ángel Ladero Quesada

Con el objetivo de avanzar en un camino de investigación, iniciado en 1964, para conocer y explicar la historia de Andalucía en los últimos siglos medievales y en el marco de la Corona de Castilla, Miguel Ángel Ladero Quesada reúne en su reciente libro Paseos por el siglo XV andaluz una selección de veinticuatro textos escritos sobre el pasado medieval de dicha región. Cada uno de ellos, algunos sintetizadores y otros monográficos, son fruto de su momento y circunstancia, en donde el autor muestra los cambios en sus perspectivas, centros de interés y métodos, desde la década de 1970 hasta la actualidad. Esta obra se encuentra dividida en cuatro grandes secciones, que pasan por los aspectos generales, al espacio y la economía, siguiendo por las cuestiones políticas y sociales hasta la relación con el Atlántico, con un anexo final, que contiene sus publicaciones sobre temas andaluces. Leia Mais

International Recognition. A Historical and Political Perspective | Warren Pezé, Daniel R. Rojas

Mao Tsé-Tung e Henry Kissinger se cumprimentando sorridentes ilustram a capa do interessante e provocativo livro International recognition: a historical and political perspective, organizado por Warren Pezé e Daniel R. Rojas. A histórica fotografia registrou o momento em que o governo dos EUA, em plena Guerra Fria, reconheceu o governo comunista da China e estabeleceu relações diplomáticas. Esta escolha editorial sistematiza as principais questões levantadas pela obra: como se dão os esforços de um novo país, ou de um novo regime, para se inserir no sistema internacional? Como se dá o processo de reconhecimento pelos outros atores internacionais? Sob quais condições? Como este processo se alterou ao longo do tempo? Quais características de longa duração podem ser observadas? Leia Mais

IV Jornadas Académicas de Historia de la Educación Argentina Reciente: Investigaciones y Enseñanzas

Luego de su forzosa postergación en 2021 por la pandemia de COVID-19, las IV Jornadas Académicas de Historia de la Educación Argentina Reciente se llevaron a cabo en La Plata durante el 10 y 11 de marzo de 2022, acompañando así la reiniciación de las actividades presenciales en el ámbito universitario. Leia Mais