Althusser y Sacristán. Itinerarios de dos comunistas críticos | Juan Dal Maso e Ariel Petruccelli

Althusser y Sacristán. Itinerario de dos comunistas críticos es un estudio profundo que constituye una recuperación justa y a la vez crítica de la obra de ambos intelectuales. Justa porque recupera la obra de un filósofo muy poco conocido como Manuel Sacristán, que ha tenido una elaboración muy lúcida y original en torno a problemas de interés y debate contemporáneo. También porque presenta una lectura alternativa a las canónicas sobre Althusser, que repara en su propia visión autocrítica de madurez y que no cae en el reduccionismo de limitar su pensamiento a la etapa “estructuralista”, o la visión que de él presenta E.P. Thompson en Miseria de la teoría. Por otro lado, es una recuperación crítica porque intenta leer las producciones de ambos autores en sus propios términos, encontrando sus nudos y contradicciones, las posibles soluciones que le quisieron dar a los problemas políticos de su tiempo y las lagunas que inherentemente todo pensamiento tiene. Desde esta perspectiva, la obra es tanto una muy buena introducción general al pensamiento de ambos autores como un aporte a la historia intelectual de los marxismos de la posguerra.

La obra está divida en tres apartados generales. El primero, “Las batallas de Althusser” y el segundo “El realismo revolucionario de Manuel Sacristán”, están dedicados a las trayectorias de ambos filósofos, sus obras e intervenciones políticas. Por último, “Teoría y praxis en dos filósofos marxistas de la segunda posguerra” aborda comparativamente algunos aspectos específicos de sus producciones intelectuales: la noción de ciencia en el marxismo, sus lecturas de Antonio Gramsci y las bases desde las cuales propusieron repensar el marxismo y la política de los PC en Europa. Leia Mais

Uberização: a nova onda do trabalho precarizado / Tom Slee

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Tom Slee / Foto: Sally Montana – Divulgação /

Sobre a obra

O fenômeno da economia do compartilhamento − que se populariza pela propaganda de um negócio em escala local, que conecta proprietários de dados recursos com pessoas em necessidade desses bens − é retratado na obra de SLEE (2017). Através de intensa pesquisa em fontes jornalísticas e utilização de bancos de dados públicos, o autor analisa a atuação de empresas no setor de economia do compartilhamento e desmistifica a propaganda que levou essas corporações a assumirem proporções gigantescas. Ocupando uma significativa proporção no mercado de Wall Street, corporações, como Rappi, Ifood, Lyft, TaskRabbit, WeWork e Airbnb, promoveram lobby nos setores financeiro, jurídico e imobiliário visando à garantia da flexibilização do vínculo trabalhista adotado por essas empresas.

O estudo minucioso de Slee (2017) pode ser tomado como referência para além dos casos descritos pelo autor. Assim, seria possível o extravasamento dessa análise fazendo paralelos com iniciativas atuais de flexibilização dos vínculos trabalhistas em setores nos quais esse impacto ainda é mais tímido, como, por exemplo, no setor educacional. Além do exemplo da massificação de cursos online no Ensino Superior (SLEE, 2017, p 52), nos últimos anos, a categoria do magistério assistiu à implementação de flexibilização do trabalho docente no setor público através da criação do vínculo empregatício de professor eventual. Esse tipo de vínculo não oferece ao trabalhador uma renda fixa, sua remuneração é calculada mediante à demanda por seu trabalho. Dessa forma, o professor eventual trabalha substituindo faltas ou licenças de professores efetivos, recebendo por aulas lecionadas (VENCO, 2018, p 9). Um vínculo empregatício com características que se enquadram no fenômeno de economia do compartilhamento (SLEE, 2017, p14-16) ou uberização do trabalho (FONTES, 2017, p 54). Ainda no campo educacional, as projeções para os próximos anos se relacionam com o desafio da garantia de direitos trabalhistas do magistério a longo prazo. Após a pandemia provocada pela Covid-19, expandiu-se a compra do uso de plataformas para veiculação de atividades pedagógicas por acesso remoto. Essa conjuntura fomenta incertezas sobre a continuidade dos programas de oferecimento de atividades pedagógicas não presenciais fora do período da pandemia. Aponta-se que em uma eventual decisão de continuidade dessas políticas de acesso remoto, estas seriam beneficiadas pela estrutura utilizada no período da Covid-19. Além disso, há receio sobre o investimento no vínculo de trabalho docente por tutoria remota em detrimento da promoção de editais de concurso público para sanar o déficit de professores nas redes públicas de ensino. Dessa maneira, o estudo de caso das corporações da economia do compartilhamento de Slee (2017) permite a extrapolação dessa análise a outras iniciativas que adotam esse mesmo modelo de flexibilização dos vínculos trabalhistas. Nesse sentido, a obra apresenta relevância para o campo das humanidades por sua análise de um fenômeno atual e em corrente expansão. O livro divide-se em nove capítulos que serão descritos a seguir.

Nas notas de edição, por Tadeu Breda e João Peres, e no prefácio à edição brasileira, de Ricardo Abramovay, fica explícito, que no original, Tom Slee (2017) não se utiliza do termo “uberização”. Esse emprego poderia restringir o fenômeno da economia do compartilhamento a apenas essa corporação. O autor utiliza os termos economia do compartilhamento (sharing economy), economia dos bicos (gig economy), consumo colaborativo (collaborative consumption), economia em rede (mesh economy), economia sob demanda (on-demand economy) e plataformas igual para igual (peer-to-peer plataforms) para definir a atuação dessa modalidade de negócios. Dessa maneira, o título original em inglês, What’s yours is mine: against the sharing economy (O que é seu é meu: contra a economia do compartilhamento), não foi traduzido de maneira literal para o português. Essa foi uma opção assumida pelos tradutores por compreenderem que a discussão sobre economia do compartilhamento no Brasil se intensifica a partir da popularização da Uber nas principais capitais nacionais.

O primeiro capítulo da obra de Slee (2017), intitulado “A economia do compartilhamento”, introduz a temática e apresenta o discurso sedutor de propaganda desse setor. A economia do compartilhamento se autodefine como plataformas de conexão de pequenos grupos de compartilhamento com foco comunitário. Contudo, as pequenas empresas que se enquadrariam nesse perfil ou foram compradas ou serviram de transferência de clientes para grandes empresas. Já as grandes corporações desoneram-se de sua responsabilidade com os trabalhadores que empregam, conclamando-se como intermediadores entre aqueles que prestam o serviço e aqueles que o demandam. Ainda no primeiro capítulo, são apresentadas a sequência e a segmentação da obra, a justificativa para sua elaboração e a defesa sobre o perigo da desregulação trabalhista trajada sob o discurso da sustentabilidade e empreendedorismo individual.

O segundo capítulo, intitulado “O cenário da economia do compartilhamento”, apresenta alguns mecanismos que as corporações utilizaram para manterem seus interesses. A organização Peers teve protagonismo na representação das corporações da economia do compartilhamento. Em específico, sobre a promoção de lobby nos setores legislativos e no movimento pela desregulação. A Peers atuou nas disputas judiciais entre a Airbnb contra ações mobilizadas pelo ramo da hotelaria de distintas cidades, assim como atuou na flexibilização de regras para o setor de transporte no estado da Califórnia, o que beneficiou a Uber. Tom Slee afirma que os três setores mais expressivos na economia do compartilhamento seriam o setor de hospedagem (43%), transporte (28%) e educação (17%) (SLEE, 2017, p 55). Em relação ao setor educacional, mostra-se plausível a hipótese de que seu percentual pode ser maximizado a partir da oferta de atividades pedagógicas não presenciais em virtude da pandemia pela Covid- 19. Período no qual houve grande expansão da venda de plataformas para vinculação de aulas online.

O terceiro capítulo, intitulado “Airbnb, um lugar para ficar”, dedica-se à descrição da origem do Airbnb até seu crescimento exponencial, alterando a mobilidade nos centros urbanos de cidades turísticas como Paris. Entre 2013 e 2015, o Airbnb em Nova York contava com 40% de seus anunciadores sendo proprietários de mais de um imóvel. Os anúncios desses proprietários representavam 43% das reservas efetivadas pela plataforma. Fato que invalida o discurso da empresa de representar pessoas comuns, compartilhando acomodações em seus apartamentos com turistas que buscam reservas temporárias. Da mesma maneira, a narrativa Airbnb contra o monopólio de grandes hotéis torna-se retórica vazia diante do investimento de grandes empresas hoteleiras no setor da economia do compartilhamento (SLEE, 2017, p 83). Se há algum prejuízo no setor de hospedagens, este tem sido acumulado por pequenos hotéis independentes com o maior gasto com taxas e regulações. O que torna desigual a competição entre essas acomodações com aquelas que não arcam com os custos da regulação (SLEE, 2017, p 84).

O capítulo 4, intitulado “De rolê com a Uber”, é dedicado à atuação do setor de transporte na economia do compartilhamento. O autor aponta que o manual de redação da agência de notícias Associated Press afirma que o termo economia do compartilhamento não deveria ser usado para descrever as ações da Uber, designando o serviço prestado pela empresa como “serviço de viagem chamada” (SLEE, 2017, p 102). Como a Uber se beneficiou da atuação da Peers e como a relação que a empresa estabelece com seus motoristas enquadra-se nos moldes da desregulação, Slee localiza a empresa no setor da economia do compartilhamento, ao lado da Zip car e Lift. A Uber, ainda que não tenha se associado diretamente aos lobistas da Peers, beneficiou-se de uma campanha promovida por essa associação na Califórnia. Este estado criou, em 2013, uma regulação específica para o setor de Empresas de Rede de Transporte. Esse segmento conta com motoristas sem registro na prefeitura, que não precisam submeter seus veículos ao mesmo tipo de inspeção pelo qual passam as empresas de táxi, por exemplo. Para além da atuação da Uber lucrando mediante a não garantia de direitos trabalhistas e da dispensa de gastos com regulação, a empresa também se mostrou falha na seleção de seus motoristas a partir de critérios de idoneidade que garantam a segurança dos passageiros (SLEE, 2017, p 132).

No capítulo 5, intitulado “Vizinhos ajudando vizinhos”, o autor se dedica a analisar as plataformas que oferecem serviços domésticos de limpeza, trabalhos de manutenção e entregas de supermercado, como a Taskrabbit, Instacart, homejoy e handy. Apesar de serem menos conhecidas no Brasil, são empresas comumente acessadas nos Estados Unidos. A receita é bem parecida com a dos outros setores da economia do compartilhamento: uma plataforma se populariza com o slogan de conectar pessoas que precisam de um serviço e aquelas dispostas a oferecê-lo. Contanto que aqueles que oferecem o serviço aceitem que o deslocamento, que as ferramentas e que os recursos para realização do trabalho sejam custeadas pelo próprio trabalhador. Enquanto, por exemplo, a plataforma homejoy que oferece o serviço, recebeu 40 milhões de fundos de investimento da google (SLEE, 2017, p 166-167).

O capítulo 6, intitulado “Estranhos confiando em estranhos, dedica-se ao trato dos sistemas de avaliação das plataformas como um mecanismo que aferiria confiabilidade. Slee (2017) aponta que o sistema de avaliação pode refletir como o usuário avalia a eficiência do serviço prestado, como o conforto ou presença de lençóis limpos em uma diária de hospedagem.

Contudo, a maioria dos hóspedes não conseguiria avaliar se a acomodação respeita as prescrições de prevenção e combate a incêndio ou se os alimentos a serem consumidos foram manipulados com higiene (SLEE, 2017, p 181-182). Ou seja, o sistema de avaliação dos aplicativos não consegue cobrir questões referentes à regulação do serviço prestado. O sentido de avaliação das plataformas baseia-se em um sistema de reputação sem critérios prévios que orientem a avaliação. Portanto, de maneira subjetiva e informal, em uma sociedade fortemente estruturada pela estratificação social, misoginia e racismo. Como não considerar que esses elementos incidam sobre essas avaliações? Para além disso, Slee aponta para uma tendência no sistema de avaliações, evidenciando a relação frágil entre qualidade do serviço e as notas recebidas (SLEE, 2017, p 189-190).

O capítulo 7, intitulado “Uma breve história da abertura, assim como o capítulo 8, traça um panorama do ambiente digital do qual emergiu a economia do compartilhamento. Slee afirma que a política de dados abertos em vez de produzir mais equidade, substituiu um conjunto de instituições poderosas por outro (SLEE, 2017, p 207). A abertura não poderia ser considerada uma alternativa ao mercado comercial ao passo que convive com este. Por exemplo, o Youtube, ao mesmo tempo que compartilha conteúdo gratuito, também, gera lucro a uma grande empresa (SLEE, 2017, p 210). Assim, o autor aponta que a abertura apresenta uma tendência a criar “mercados menos competitivos e negócios mais poderosos” (SLEE, 2017, p 211).

O capítulo 8, intitulado “Escancarado, analisa a combinação entre lucro e a evocação de um caráter mais pessoal advindo da noção de compartilhamento, manifesto através da internet. O livro encerra-se com a conclusão de Slee (2017), já anunciada no título do capítulo 9 “O que é seu é meu. O autor afirma que os valores não comerciais na economia do compartilhamento foram deixados de lado em prol da expansão do livre mercado. A evocação de um modelo mais humano para o universo corporativo resultou em uma forma mais agressiva do capitalismo, com desregulação das garantias trabalhistas e uma nova onda de trabalho precarizado (SLEE, 2017, p 297).

Síntese

A obra de Slee (2017) brinda a literatura do campo das humanidades ao apresentar um texto que sumariza a gênese e a atuação das corporações da economia do compartilhamento, fenômeno recente e em crescente expansão. O estudo de caso das corporações retratadas permite a extrapolação dessa análise a outras iniciativas que adotam flexibilização dos vínculos trabalhistas em setores em que esse impacto ainda é mais tímido. Como, por exemplo, no setor educacional. Aqui, infere-se que esse setor pode apresentar significativa expansão dentro da economia do compartilhamento a partir da compra em larga escala de pacotes de vinculação de aulas remotas em plataformas online, em virtude da suspensão de atividades pedagógicas presenciais como uma das medidas de contenção do espalhamento da Covid-19, durante o ano letivo de 2020.

Referências

FONTES, Virgínia. Capitalismo em tempos de uberização: do emprego ao trabalho. Marx e o Marxismo, v. 5, n. 8, jan./jun. 2017. Disponível em: http://www.niepmarx.blog.br/revistadoniep/index.php/MM/article/view/220/177. Acesso em: 09/07/2020.

SLEE, Tom. Uberização: a nova onda do trabalho precarizado. Tradução de João Peres. São Paulo: Editora Elefante, 2017.

VENCO, Selma. Situação de quasi-uberização dos docentes paulistas? Revista da ABET,v. 17, n. 1, janeiro a junho de 2018. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/abet/article/view/41167. Acesso em: 09/07/2020.

Regina Lucia Fernandes Albuquerque – Doutoranda no Programa de Pós graduação em Educação, Conhecimento e Inclusão Social da Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre pelo Programa de Pós graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora da Rede Estadual de Educação do Rio de Janeiro na modalidade técnica de Formação de Professores. Atua com pesquisa em Sociologia da Educação.


SLEE, Tom. Uberização: a nova onda do trabalho precarizado. São Paulo: Editora Elefante, 2017. Tradução de João Peres. Resenha de: ALBUQUERQUE, Regina Lucia Fernandes. Cantareira, [Niterói], v.34, p.678-683, jan./jun. 2021. Acessar publicação original [IF].

 

Sobre o autoritarismo brasileiro | Lilia Moritz Schwarcz

Um país historicamente caracterizado por uma cidadania incompleta e falha, marcado por políticas de mandonismo, patrimonialismo, várias formas de racismo, sexismo, discriminação e violência. Uma nação que, apesar de vivenciar o maior período de vigência do estado de direito democrático desde 1988, não conseguiu constituir uma cultura democrática efetiva e nem uma república plena, combater de fato suas desigualdades e a concentração de renda, a discriminação contra negros e indígenas, e eliminar as práticas de violência de gênero. Resultantes de contradições estruturais e históricas, esses problemas continuam basicamente inalterados e tendem a reaparecer – à semelhança de um fantasma para nos assombrar – em momentos de crise política, econômica e social, de polarização política e da ascensão de governantes autoritários eleitos com base no uso das mídias sociais.

É o Brasil do início do século XXI – seus males, problemas e raízes históricas – e o incontestável ressurgimento do conservadorismo e do autoritarismo com a eleição de Jair Messias Bolsonaro que a historiadora Lilia M. Schwartz discute em seu livro Sobre o Autoritarismo Brasileiro, em diálogo com as reflexões de seu livro anterior Brasil: Uma Biografia2 – escrito em conjunto com a historiadora Heloísa M. Starling – e inspirado nas reflexões sobre o Brasil contemporâneo em sua coluna quinzenal no Jornal Nexo. Leia Mais

1968 – 50 anos depois: Culturas – artes – políticas: utopias e distopias do mundo contemporâneo | Alcides Freire Ramos e Rosangela Patriota

Em história, é abstrata toda “doutrina” que recalca sua relação com a sociedade. Ela nega aquilo em função de que se elabora. Sofre, então, os efeitos de distorção devidos à eliminação daquilo que a situa de fato, sem que ela o diga ou o saiba: o poder que tem sua lógica; o lugar que sustenta e “mantém” uma disciplina no seu desdobramento em obras sucessivas, etc. O discurso “científico” que não fala de sua relação com o corpo social é, precisamente, o objeto da história. Não se poderia tratar dela sem questionar o próprio discurso historiográfico. Michel de Certeau

Po di Sangui 1, filme de Flora Gomes, discute questões amplas sobre a produção do conhecimento racionalista e a magia espiritual de Guiné-Bissau. Na aldeia Amanha Lundju, sempre que uma criança nasce, os demais adultos plantam uma árvore para simbolizar o seu crescimento espiritual. A árvore cumpre a função de duplo, de extensão corpórea e existencial, que em muitos casos opera na posição de escuta dos sofrimentos do sujeito, gerando um efeito terapêutico que dilui a agonia interna. A dramatização é desfeita pela fala, dissemelhante, por exemplo, ao drama vivido por Willy Loman, no filme Death of a Salesman 2, de Volker Schlöndorff, que sofre internamente sem a presença de um outro que o pudesse escutar para a elaboração dos seus sofrimentos, ponto dramático que o leva ao trágico falecimento/suicídio. Leia Mais

Foucault e a teoria queer: seguido de Ágape e êxtase: orientações pós-seculares | Tamsin Spargo

[…] tanto investimento na crença de que a sexualidade é natural não significa que ela seja.

Spargo, 2017, p. 15.

Nos últimos anos, os estudos queer no Brasil ganharam destaque para além do que se costumava ver diante dos estudos da área de Educação, Psicologia e das Ciências Sociais. Ganhou força na História, desenvolvendo-se em seus processos autocríticos, de forma a jogar luz em recortes que atravessam gênero, raça, sexualidade e classe social. A construção do campo dos estudos das relações de gênero tomou novas cores e sabores com as percepções das teorias de gênero, as quais se convencionaram chamar de queer, adentrando áreas do conhecimento ainda conservadoras. Leia Mais

História & Teoria Queer | Miguel Rodrigues Sousa Neto

História & Teoria Queer, publicado em 2018 pela editora Devires, é uma das primeiras obras publicadas no Brasil que busca apresentar a potencialidade, os usos e as apropriações da Teoria Queer (PÉREZ NAVARRO, 2019) pelo saber histórico. Com prefácio da socióloga Berenice Bento1 e posfácio de Alessandra Ramos2, a coletânea soma 13 capítulos, divididos em duas partes.

Na primeira, intitulada “Teoria queer e historiografia: contribuições ao debate”, focaliza-se os jogos de (in)visibilidade de temas como as homossexualidades, as transgeneridades e a relação da alteridade na escrita da história. Genealogicamente, a Teoria Queer chegou ao âmbito acadêmico brasileiro no início dos anos 2000 por caminhos diversos como a Educação (LOURO, 2001), a Linguística (LUGARINHO, 2001) e as Ciências Sociais (BENTO, 2006). Todavia, ainda tem uma presença tímida no campo historiográfico (SOUZA e BENETTI, 2012; REA e AMANCIO, 2018). Leia Mais

Poesia completa | Maya Angelou

A produção poética de Maya Angelou, recém-lançada pela editora Alto astral, constitui-se por mais de cem poemas onde a poetisa nos contempla com uma forma elevada da voz de uma das mulheres mais influentes da cultura e da literatura afro-americana. O que se designa como a voz e a vida de Maya Angelou alcança rapidamente o elo que torna algumas das vivências das mulheres negras estadunidenses um coro em uníssono. Tratarei aqui, nesta resenha, de alguns dos pontos em comum que podemos visualizar através da leitura de teóricas feministas negras como, por exemplo, Bell Hooks e Patricia Hill Collins.

É necessário ressaltar que muitos dos poemas que utilizarei aqui serão recortados visto que a poetisa apresenta uma característica preponderante relacionada ao desenvolvimento de poemas longos. Entretanto, essa característica não denota que a autora faça uso de uma linguagem tida como hermética, pelo contrário, sua poesia de versos livres almeja ser compreendida em sua própria naturalidade, a qual está intrinsecamente relacionada ao perceber-se e sentir-se negra em um país como os Estados Unidos. Nesse sentido, o poema Estados Unidos da América apresenta trechos como: “O ouro de sua promessa nunca foi extraído/O limite de sua justiça não está bem definido/Suas colheitas abundantes a fruta e o grão/Não alimentaram os famintos nem aliviaram sua dor profunda/Suas promessas orgulhosas são folhas ao vento/Sua orientação segregacionista é amiga da morte de negros/Descubra este país os séculos mortos choram (ANGELOU, 2020, p. 99)”. Leia Mais

Decentering History: Local Stories and Cultural Crossings in a Global World | Natalie Zemon Davies

O presente trabalho é uma resenha sobre o ensaio intitulado Decentering History: Local Stories and Cultural Crossings in a Global World2, de autoria de Natalie Zemon Davis, e que foi primeiramente apresentado, no ano de 2010, durante o Ludwig Holberg Prize Sumposium, em Bergen, na Noruega.

Natalie Zemon Davis é uma historiadora estadunidense e canadense, nascida na cidade de Detroit, no estado de Michigan, Estados Unidos. Após ter realizado a sua graduação no Smith College e o seu mestrado no Radcliffe College, no ano de 1959 ela conclui seu doutoramento na Universidade de Michigan. Foi professora em diferentes universidades como a Universidade de Princeton, a Universidade Brown, a Universidade da Califórnia e a Universidade de Toronto. Suas pesquisas, enquanto historiadora, incluem trabalhos importantes como Trickster Travels3, The Gift in Sixteenth-Century France4, The Return of Martin Guerre5 e Women on the Margins: Three Seventeenth-Century Lives6. Davis recebeu diversos prêmios e reconhecimentos como o grau honorário da Universidade de St. Andrews e a National Humanities Medal. Ambas as condecorações lhe foram entregues no ano de 2013. Leia Mais

Filosofia Africana: ancestralidade e encantamento como inspirações formativas para o ensino das africanidades | Adilbênia Freire Machado

Dentre as ações afirmativas, a filosofia africana começa a ocupar um espaço importante no âmbito das discussões acadêmicas, em sinal de inquietação com os efeitos nocivos da pedagogia eurocentrada vigentes até a atualidade. Daí a expectativa diante de pesquisas realizadas em busca de respostas a determinadas questões. Então, qual o lugar da filosofia africana nesta diáspora científica? O que esperar dessa ciência em termos de reparação cognitiva? Em que medida pode gerar benefícios ao ensino? Qual o engajamento político-pedagógico de gestores em ações inclusivas? Estaria o sistema educacional brasileiro atualizado a partir dos cursos de formação de professores?

Reflexões sobre essas e outras questões estão no livro Filosofia Africana: ancestralidade e encantamento como inspirações formativas para o ensino das africanidades, de Adilbênia Freire Machado, resultado da pesquisa desenvolvida no curso de mestrado em Educação pela Universidade Federal da Bahia. A abordagem etnográfica foi elaborada a partir da vivência no componente curricular optativo História e Cultura Africana e Afro-Brasileira do curso de Pedagogia (EDCB79). Sem dúvida, um volume para leitura crítica nos debates, nas rodas de conversa e nos estudos etnológicos sobre relações étnico-raciais que tratam das ações afirmativas. Leia Mais

Como será o passado? História, historiadores e a Comissão Nacional da Verdade

A obra Como será o passado? História, historiadores e a Comissão Nacional da Verdade é o resultado de um projeto de pesquisa da autora, Caroline Silveira Bauer, “Um estudo sobre os usos políticos do passado através dos debates em torno da Comissão Nacional da Verdade (Brasil, 2008-2014)”, sendo este apenas um dos muitos projetos envolvendo a ditadura civil-militar, os direitos humanos e a Comissão Nacional da Verdade nos quais a autora se envolveu. Antes da publicação deste livro, Bauer havia analisado comparativamente políticas de memória no Brasil e na Argentina, e mais recentemente integra um projeto de pesquisa sobre os usos políticos do passado. Além disso, entre 2011 e 2013 foi consultora na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Portanto, dado o domínio da autora sobre o tema e sua familiaridade com tantas questões que o tangenciam, não é de surpreender que se trate de uma leitura tão interessante e instigante.

Segundo afirmado pela historiadora na introdução do livro, seu objetivo era o de “fomentar o debate sobre fazeres e práticas dos historiadores comprometidos com uma escrita da história que fundamenta suas análises no pensaras possibilidades de intervenção no mundo”1 , que considero ser seguro afirmar, a obra cumpre com maestria, trazendo à luz questionamentos sobre o papel de organizações como a CNV no estudo de história, bem como o papel de historiadores e historiadoras no que diz respeito à estes órgãos. A autora admite, contudo, que o livro pode ser considerado “inoportuno, insistente ou rancoroso”2 por quem critica o anacronismo da Comissão da Verdade, que deveria ter existido em outro momento, mas é justamente este um dos pontos da obra: compreender se esta comissão foi capaz de apaziguar os ânimos no que diz respeito a memória da ditadura civil-militar. Leia Mais

Peronismo: como explicar lo inexplicable | Santiago Farrell

Nesse livro, mais do que teorizações acadêmicas, a ideia é pensar, a partir de memórias e histórias, um fenômeno localizado e complexo: o peronismo. Já na introdução da coletânea, o organizador afirma que “o peronismo é fácil de entender, mas impossível de se explicar”. “Les he preguntado sobre el peronismo a varios argentinos a los que conosco y ningun me respondió lo mismo”, diz o organizador, continuando, “aunque todos tenían una opinión formada, a veces parecía que hablaban de cosas diferentes” (SANTIAGO, 2016, p. 11). E é nesse sentido que o livro se constrói, juntando interpretações e “variações” de Peronismo, inclusive em relação aos pontos de partida. O norte-americano Joe Horowitz, estudioso da história argentina, é o autor do primeiro capítulo, “Un fenómeno cultural más que una ideologia”. Para ele o fenômeno cultural se sobrepõe, até porque o Peronismo, mesmo que alguns digam o contrário, nunca teve uma cara muito definida em termos ideológicos. Isso mesmo enquanto Juan Perón, o fundador esteve no poder na Argentina: sua postura e suas ações sempre foram muito mais pragmáticas, inclusive nos momentos em que ele teve que negociar ou angariar aliados para suas “causas”. Leia Mais

Une histoire sociale de l’industrie en France 1830-1930 / Pierre Judet

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Audrey Milltet e Pierre Judet / Foto: Académie François Bourdon /

JUDET P Une histoire sociale de lindustrie en France UberizaçãoPierre Judet, maître de conférences émérite d’histoire contemporaine à l’Université Grenoble-Alpes, explore, dans cet ouvrage de synthèse, l’histoire sociale des mondes ouvriers des années 1830 aux années 1930 en France. Cet ouvrage s’inscrit, comme il est indiqué dès l’avant-propos, dans le cadre de la nouvelle question d’histoire contemporaine au programme du CAPES, du CAFEP et des agrégations externes intitulée « Le travail en Europe occidentale des années 1830 aux années 1930 » et est une version remaniée d’un cours que Pierre Judet professé à l’université de Grenoble. Cet ouvrage fait le tour de la question ouvrière en mobilisant une historiographie vaste et mise à jour et en traitant d’un très grand nombre de thèmes concernant cette question. Il parvient à remettre en perspective les mondes ouvriers français dans le contexte européen et multiplie les comparaisons avec les autres pays d’Europe occidentale.

Pierre Judet est un spécialiste du monde ouvrier et de l’industrie, en particulier en France ; il a travaillé sur les systèmes productifs industriels locaux (notamment montagnards), objets qu’il mobilise de nombreuses fois comme exemples dans son ouvrage. Sa thèse, publiée dans la même collection en 2004, pourrait également s’avérer très utile aux étudiants des concours car riche en exemples locaux et au cœur des bornes chronologiques du programme (Horlogeries et horlogers du Faucigny (1849-1934). Les métamorphoses d’une identité sociale et politique, PUG, La pierre et l’écrit, 2004).

Même si cet ouvrage est avant tout centré sur la France, il reste très utile aux préparationnaires des concours qui pourront y trouver des connaissances, des chiffres, une vaste bibliographie bien organisée mais surtout des exemples pertinents et intéressants. Quant aux enseignants d’histoire-géographie, ils pourront le mobiliser aussi bien au collège et au lycée qu’en classes préparatoires ou à l’université, notamment grâce aux nombreuses statistiques et aux documents proposés. En quatrième, il offre ainsi une bonne lecture pour les collègues abordant le thème 2 du programme : « L’Europe et le monde au XIXe siècle » et notamment le premier chapitre : « l’Europe et la Révolution industrielle » puisque Pierre Judet revient largement sur l’historiographie autour de cette notion de « révolution industrielle ». Les collègues enseignant en classe de 1re professionnelle pourront aussi utiliser l’ouvrage dans le cadre du premier thème sur les « hommes et femmes au travail du début du XIXe au début du XXe siècle ». Ils trouveront des exemples détaillés et originaux intéressants pour les lycéens : le compagnonnage, le corps et la santé des ouvriers, les crises sanitaires notamment la crise du choléra de 1832… Ensuite, les collègues enseignant en première générale ou technologique pourraient se servir de l’ouvrage pour le chapitre sur l’industrialisation et l’accélération des transformations économiques et sociales en France, l’ouvrage traitant de l’ensemble des problématiques au cœur du programme de première (transformation des modes de production, importance du monde rural, la question sociale…). Encore une fois, des études de documents intéressantes et originales pourraient être prises dans cet ouvrage : le tableau du nombre des indigents à Lille de 1825 à 1833 (p.130) et le texte qui suit extrait des mémoires de Martin Nadaud (p. 131) pourraient ainsi être étudiés par des élèves de première. Enfin, les collègues du supérieur y trouveront une synthèse mise à jour historiographiquement par un des spécialistes français de la question, ainsi qu’une riche bibliographie et des exemples pertinents à étudier avec leurs étudiants.

Classiquement, cet ouvrage suit une progression chronologique. Il est découpé en deux grandes périodes : des années 1830 aux années 1870, Pierre Judet traite « des classes dangereuses à la classe ouvrière » puis des années 1880 aux années 1930 « l’industrie et ses mains d’œuvre industrielles ». A l’intérieur de ces parties, les chapitres thématiques (et parfois chronologiques) permettent une vision d’ensemble de la question. Avant ces deux parties, une introduction revient sur le sujet, ses acteurs, son historiographie et les principales problématiques au cœur de la question.

Tout d’abord, la première partie est consacrée au passage des classes dangereuses à la classe ouvrière des années 1830 aux années 1930. Le premier chapitre revient sur la notion de « révolution industrielle », son historiographie et les avancées récentes sur la question, puis petit à petit sur la manière dont la France a vécu et a adapté cette révolution industrielle. Plus original, le deuxième chapitre part de l’épidémie de choléra de 1832 et est profondément un chapitre d’histoire sociale, il est l’un des chapitres les plus intéressants du livre aussi bien pour les préparationnaires que pour les enseignants qui peuvent en faire une étude de cas pour comprendre les enjeux sociaux de la révolution industrielle au début de la période. Le troisième chapitre, s’il semble très statistique, revient aussi sur le quotidien des ouvriers : leurs métiers, la pluriactivité, les lieux du travail. Enfin, le dernier chapitre de cette première partie revient sur le passage du paupérisme à la question sociale durant la période en insistant sur le rôle des acteurs : les ouvriers, les patrons, l’Etat. Cette première partie est riche en documents statistiques précieux pour les préparationnaires (notamment des statistiques comparatives avec le reste de l’Europe occidentale). Elle revient sur des points classiques mais mis à jour historiographiquement (par exemple sur les ouvrières, la place et la vie dans les usines…) mais aussi plus originaux : l’hygiénisme en France, la vision des élites de la pluriactivité, des exemples de systèmes productifs locaux au début du XIXe siècle, le compagnonnage.

La seconde partie est consacrée à l’industrie et à ses mains-d’œuvre des années 1880 aux années 1930 ; cette partie est largement plus chronologique. La partie commence par une réflexion très présente dans l’historiographie sur le « triomphe de l’usine ». En revenant classiquement sur cette question, l’auteur aborde des exemples intéressants, sur les banlieues industrielles avec Saint-Denis ou, de manière plus originale, sur la houille blanche dans les Alpes tout en présentant de nombreux acteurs du monde ouvrier (le vagabond…). Les réflexions portées sur l’immigration et les étrangers dans le monde ouvrier sont particulièrement intéressantes et entourées de documents statistiques précieux pour le préparationnaire. Le chapitre suivant s’interroge sur « l’affirmation de la classe ouvrière et la construction du champ social » en abordant des points classiques (les grèves, le syndicalisme, le tournant social de la Troisième République). Ce chapitre synthétique serait intéressant pour les collègues de première travaillant sur le thème 3 du programme sur la Troisième République avant 1914. Ensuite, le septième chapitre sur « la guerre et les mains-d’œuvre industrielles » est particulièrement pertinent, aussi bien pour les préparationnaires que les collègues de troisième ou de première (générale ou professionnelle). Cette synthèse sur la définition, le rôle et les caractéristiques de la main-d’œuvre durant la Grande Guerre est complète et permet, une nouvelle fois encore, des perspectives stimulantes avec les élèves. La fin du chapitre est consacrée à la Réforme et la protection sociale (notamment sur les grèves durant la guerre). L’avant-dernier chapitre sur les années 1920 « des mondes ouvriers en mutation » et le dernier chapitre sur « crises, espoir et déception » sont plus chronologiques et synthétiques, mais permettent une compréhension rapide des mondes ouvriers lors de ces deux décennies clés.

Pour conclure, cet ouvrage particulièrement fluide, bien écrit, organisé et problématisé, constitue un bon complément pour les préparationnaires de la question « le travail en Europe occidentale des années 1830 aux années 1930 », il permet de compléter les cours et les manuels avec des exemples classiques mais aussi originaux, tout en mettant à jour les données statistiques. Les préparationnaires regretteront, mais ce n’était pas l’objectif du livre, la concentration uniquement sur l’exemple français. Pour les enseignants, cet ouvrage est synthétique et bien mis à jour, s’il n’est pas révolutionnaire dans son contenu, il permet au professeur d’avoir accès à un grand nombre d’informations sur le sujet. Enfin, on peut féliciter la qualité matérielle de l’ouvrage qui rend la lecture encore plus fluide, mais qui explique son prix relativement élevé (39 euros).

Louis Andouche – Professeur d’histoire-géographie au Lycée Sainte-Marie de Beaucamps-Ligny.


JUDET, Pierre. Une histoire sociale de l’industrie en France. Du Choléra à la Grande crise (Années 1830-1930). PUG, 2020.Resenha de: ANDOUCHE, Louis. Association des Professeurs d’Histoire et de Géographie (APHG). 18 déc. 2020. Consultar publicação original

Lésbicas e Professoras. O Gênero na Docência | Patrícia Daniela Maciel

Um livro traz reflexão e novas compreensões sobre uma temática. Diante da necessidade de dar voz e visibilidade para a questão da lesbianidade na escola, Patricia Maciel escreveu o livro intitulado como “Lésbicas e Professoras. O Gênero na Docência” por ora resenhado.

A 1ª edição foi lançada em Curitiba, no ano de 2017 pela editora Appris. Suas 197 páginas destacam as questões que fogem a norma com o intuito de compreender as relações dos sistemas discursivos hegemônicos dentro da escola. O interesse da autora é romper com sistemas de controle e de assujeitamento dos corpos diante das questões que envolvem a sexualidade, assim, têm como ponto de análise as falas do ser docente lésbico e como rompem com o discurso heteronormativo em sua vida pessoal e profissional, e como confrontam e avaliam essas experiências em torno dos padrões de gênero ao longo da sua carreira profissional.

A forma de subjetivação e de enfrentamento dos padrões patriarcais na atuação profissional das lésbicas é o foco central do livro. Nesse aspecto, os cinco capítulos discorrem sobre atitudes de resistência contra os processos de subordinação heteronormativos e para embasamento, é utilizado Tereza de Lauretis, Judith Butler, Monique Wittig e Margareth Rago visando refletir sobre a representação social do corpo feminino lésbico no ambiente escolar e sua multiplicidade de atuação contra a heteronormatividade.

Para delimitar o objeto da pesquisa, a autora realizou a busca por docentes que se encaixavam no perfil da temática via email por um período de duas semanas. Nove docentes demonstram interesse em participar, contudo, a investigação ocorreu somente com sete que aceitaram realizar as entrevistas. Assim, o ponto inicial do livro visa a autocompreensão subjetiva das docentes lésbicas em torno da relação da escola e gênero. Para isso, destaca a multiplicidade de definições acerca da diversidade e o autorreconhecimento da sexualidade que foi encontrado, entendendo que, ser docente e lésbica não homogeneíza a visão das entrevistadas. Ao conceituar os resultados concomitante as ideias de Jorge Larossa, a autora do texto ora resenhado, discorre que a prática de conhecimento é uma condição de ascese para a experiência de existência.

Como resultado, é destacado três grupos de análise: O primeiro, as docentes podiam falar de si como lésbicas nas escolas. O segundo tem como foco a evidencia das lutas e os enfrentamentos contra os processos de condutas patriarcais no ambiente escolar e a valorização de suas experiências como lésbicas. Por fim, o último grupo de análise destaca como docentes reconstroem a feminilidade fora do padrão heteronormativo no ambiente escolar.

Para reconhecer a heterogeneidade das entrevistadas, a pesquisadora destaca no primeiro capítulo o perfil de cada através da autodescrição. O segundo capítulo descreve o efeito dos discursos de gênero na construção docente. Vale ressaltar que a autora ao se basear nos estudos de Michel Foucault, Judith Butler, Tereza de Lauretis, Linda Nickolson, Paul Beatriz Preciado e Guacira Lopes Louro, os conceitos de sexo/gênero utilizados ultrapassam os conceitos binários e tem como ideia central o dispositivo da sexualidade para descrever os discursos, enfatizando assim, as singularidades dos relatos e experiências sobre gênero de cada docente lésbica.

Tendo como referência as ideias de Foucault, o livro destaca o entendimento sobre o sexo como um poder que ganha legitimidade pela linguagem e práticas e leva o indivíduo a pensar de acordo com determinados domínios do saber. Entender o sexo/gênero como uma tecnologia discursiva que controla o campo das significações sociais e que produzem no sujeito algumas significações é destacado no decorrer da obra a ideia que, a partir das tecnologias dos discursos, se forma uma ideia do “eu” que se conhece e se controla através da sexualidade.

Cabe salientar que a autora respaldada em Louro (2008), descreve a forma que as professoras falam de si mesmas como uma forma de atravessar limites e fazer seu próprio obstáculo para penetrá-los, superá-los e transpô-los e assim, pensar fora da lógica imposta e viverem a sexualidade. Nesse aspecto, incita uma reflexão sobre a instabilidade profissional e pessoal causada pela escola por utilizar a heterossexualidade compulsória como normalizador das condutas sociais do ambiente escolar que reprime as professoras lésbicas para exercerem sua profissão.

Outra singularidade observada é sobre o significado que a escola atribui ao gênero e a forma que influi na relação das professoras com seus alunos. O tom e o sentido que as entrevistadas dão às suas trajetórias como professoras interferem no seu reconhecimento como lésbica. Mesmo que as entrevistadas não falem de forma explicita na escola sobre sua sexualidade elas garantem através do enfrentamento das normas sexistas, a defesa dos alunos gays e das alunas lésbicas, mas isto não garante que a escola fale de forma aberta sobre gênero.

Através dos relatos das professoras é notório que a hegemonia patriarcal no ambiente escolar ainda vigora de forma impositiva e normalizadora. Fugir à regra hegemônica é resistência, desafiar as regras de controle dos corpos é dar voz aos sujeitos em formação que são inferiorizados e marginalizados pelas estruturas sexistas dominantes tão enraizadas e que podem acarretar em danos irreversíveis na vida dos estudantes LGBTQIA+.

Nesse sentido, o cap. 3 descreve sobre os efeitos das experiências de si e do ser docente dentro da perspectiva da multiplicidade do discurso de gênero que dá forma ao sujeito. É destacado que as professoras pesquisadas ressignificam a docência e produzem uma ética de si para ser usada no campo educativo, assim, a forma que conduzem suas experiências como mulheres e a forma que vivem a sua sexualidade são vista como um ascese, uma episteme para pensar a partir da singularização e no modo como elas se relacionam com o mundo e com os seus alunos. Através dessas experiências elas tentaram introduzir novos espaços e novos modos de mudanças na cultura e na sociedade.

O penúltimo capítulo descreve sobre a produção dos femininos na escola mediante os discursos performativos e como as entrevistadas se auto afirmam individualmente como mulheres, professoras e lésbicas. A reflexão baseia-se nas relações de poder em torno dos discursos entre o ideal de mulher e os discursos flexibilizadores das suas escolhas.

Ao descrever como são produzidos os femininos e corrobar com os estudos de Hall (2000), o livro mostra que as identidades não são iguais, nem mesmo em meio a uma cultura histórica do povo. Assim, ao mostrar como se produz os femininos nas falas das professoras, a autora destacou os processos políticos universais que visam construir os discursos com o intuito de criar as desigualdades. Dessa forma, é observado nas entrevistas como funcionam os discursos de gênero e como estes constroem a si por meio da diferença. As falas das docentes demonstram que muitas vezes as estruturas de poder não dão às professoras lésbicas um essencialismo identitário aceitável, pois estas estruturas estão sempre em alerta em relação ao gênero da mulher e o que é visto como aceitável em relação à prática da feminilidade no mundo heteronormativo, mas mesmo diante de tantos obstáculos, elas assumiram uma forma de desconstruir os discursos binários baseados na lesbianidade.

Cabe salientar que apesar das professoras problematizarem sobre gênero na escola a partir das suas experiências como seres engendrados, algumas apresentaram receio e insegurança no tratamento dos alunos na escola. Um exemplo é o discurso da professora Ana que relata a mudança no seu jeito de tratar os alunos da educação infantil dos alunos dos anos iniciais e fundamental por receio de ser mal interpretada, ou seja, ela deixa que o padrão heteronormativo influencie na sua relação interpessoal onde a homossexualidade não é aceita, pois a escola nega tais relações como um de seus rígidos referentes culturais. “Em relação a isso, posso afirmar que: 1) os alunos têm dificuldades para significar as estéticas, os comportamentos e as posturas das professoras pesquisadas; 2) a escola não lhes proporciona condições para que eles possam pensar em outros tipos de feminilidades” (p. 178).

No último capítulo a autora termina suas considerações sobre a pesquisa destacando o redimensionamento da sua experiência como pesquisadora que as narrativas das docentes lhe oportunizaram. Ao relembrar como as professoras são envoltas diariamente por relações de poder através do dispositivo de gênero e como elas precisam interpretar, negar, afirmar e transformar esses discursos em sua vida para continuar sua vida pessoal por serem corpos sociais, é o ponto de destaque do livro e que norteia toda a reflexão do livro.

Ao realizar a leitura, percebi que caminhar para um processo de normalização do gênero nas escolas é uma busca que ainda necessita de longos caminhos, principalmente nas escolas públicas onde os sujeitos são invisibilizados e envoltos por questões políticas e de controle tradicional dos corpos. Mas a potência dos discursos das professoras tem dado voz para a desconstrução dos padrões sexistas que envolve o ambiente de atuação profissional.

Através da utilização de seus corpos como impulso para subverter a ordem binária instituída no ambiente escolar, as docentes lésbicas veem em seu trabalho uma forma de reestruturar as percepções sociais, mesmo sendo muitas vezes oprimidas pela heteronormatividade. Desta forma é notória a emergência no apoio e multiplicação das lutas contra determinismos falocêntricos para um maior reconhecimento dos sujeitos LGBTQIA+, bem como a necessidade de pesquisas que envolvam a temática da lesbianidade no ambiente escolar, pois desta forma, conseguiremos voz e um novo olhar para debates sobre gênero e sexualidade que ainda é invisibilizados e vista como um tabu científico no meio social, mas principalmente, nas escolas.

Mayana Morbeck Coelho –  Pedagoga. Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidade – PPFREC/UESB/Jequié. https://orcid.org/0000-0003-2720-5930 Email: mmorbeckcoelho@gmail.com. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB)


MACIEL, Patricia Daniela. Lésbicas e Professoras. O Gênero na Docência. Ed. Appris. 2018, p. 197. Resenha de: COELHO, Mayana Morbeck. Subvertendo padrões de gênero na docência. Abatirá. Eunápolis, v.1, n.2, p.150-154, jul./dez., 2020. Acessar publicação original [IF]

I sepolti vivi / Gianni Rodari e Silvia Rocchi

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Giane Rodari nell’ URSS, 1979. La Repubblica /

RODARI G I sepolti vivi Uberização“Sotto terra va il minatore, /Dove è buio a tutte le ore “. Sono versi di Gianni Rodari inseriti in I luoghi dei mestieri, ( Torino, Einaudi, 1960), una filastrocca fatta per i bambini, per la scuola, per imparare e anche per divertire. Ma alle spalle di quei versi, come spesso gli accadeva, c’era una storia vera. Alcuni anni prima, nel 1952, nelle vesti di cronista del settimanale “Vie nuove”,  egli aveva raccontato lo sciopero dei minatori di Cabernardi, provincia di Ancona, la più grande miniera di zolfo d’Europa. Lì 300 persone si erano asserragliate a 500 metri di profondità per difendere il loro lavoro.  Con la diligenza del cronista il giovane Rodari indica i fatti, elenca i numeri,  traccia un quadro della politica industriale del colosso Montecatini nel contesto della nuova Europa: produttività, modernizzazione…

Ma a un certo punto del racconto abbandona il filo della cronaca e segue la storia di Ernesto e Maria, due giovani sposi, separati dallo sciopero. Lui chiuso nelle viscere della terra, lei tenuta lontana dalle cure per il loro bambino e per il vecchio padre, ma anche dalla pressione delle forze dell’ordine che impedivano contatti diretti, rendendo pesante perfino la consegna del cibo. Rodari concentra l’attenzione su come quei giovani stessero vivendo non un’avventura, né una disgrazia, ma l’impegno per fare del proprio lavoro il mezzo con cui costruire Il loro futuro. Ma anche il loro disperato bisogno di vedersi, solo per uno sguardo, per una parola e immagina Ernesto rischiare la lunga, faticosa e pericolosa risalita per una ’uscita di sicurezza’ dalla miniera, non controllata dalla polizia perché ritenuta impraticabile. Un cunicolo da percorrere a tratti strisciando, fatto di gradini appena accennati e addirittura di arrampicate con funi, lungo un percorso che sembrava non finire mai e sempre con un rischio incombente.  Scrive Rodari : “Cinque ore di strada per nulla fece Ernesto Donini, un giovane minatore di Pergola, domenica, ventidue giugno. Voleva rivedere la moglie, dopo ventiquattro giorni, almeno per un istante. Maria non c’era. Ernesto gridò a qualcuno che l’andasse a chiamare, forse stava attorno alla miniera. Ma  alla fine dovette rassegnarsi e ridiscendere”. Per trovarsi all’appuntamento convenuto, la giovane moglie aveva lasciato il bambino di un anno al vecchio padre dalla salute malferma e aveva percorro 12 km a piedi. Ma, al momento opportuno, la polizia impedì loro di incontrarsi e anche solo di parlarsi.

Così Rodari racconta ciò che non era visibile della lotta operaia: l’umiliazione, con cui chi ha il potere cerca di sfibrare la resistenza di chi potere non ne ha.Hanno fatto bene Ciro Saltarelli e Silvia Rocchi a riprendere e valorizzare questo vecchio reportage, costruendo un libro ( Gianni Rodari, Sepolti vivi, da un’idea di Ciro Saltarelli e illustrazioni di Silvia Rocchi, con un pensiero di Gad Lerner, Torino, Einaudi, 2020)  che grazie ai disegni di Silvia Rocchi permette di tornare a riflettere con più calma sul senso del lavoro di Rodari. Perché questo libro non parla del passato. L’umiliazione come strumento di oppressione, oggi più che mai, è all’ordine del giorno in tutte le latitudini della terra. Ma attuale è anche l’impegno per combatterla. E su questo versante l’opera di Rodari è preziosa.  Per comprendere l’importanza di quello che era pur sempre uno dei tantissimi episodi di conflittualità economico-sociale dei cruciali anni 50, occorre ricordare che erano passati solo pochi anni dall’entrata in vigore della Costituzione repubblicana con al primo articolo il suo fondamento nel lavoro.Se per difendere il salario era necessario ricorrere a forme di lotta che mettevano a rischio la salute e la vita; se la polizia interveniva rendendo più difficile la resistenza, parteggiando così per una delle parti in conflitto, allora cos’era cambiato rispetto al fascismo? Quale discontinuità aveva introdotto l’assetto repubblicano? Qual era il senso vero della Repubblica fondata sul lavoro?Era chiaro che le recenti conquiste politiche non erano la fine, ma solo l’inizio di un nuovo cammino. Di un lungo cammino, per il quale necessitavano forze nuove e nuovi strumenti. Era questo il fronte su cui Rodari impegnò tutta la sua forza creativa. Lo disse espressamente presentando La grammatica della fantasia (1972): insegnare “tutte le parole a tutti, non perché tutti siano artisti, ma perché nessuno sia schiavo”.

Il senso politico del lavoro narrativo dedicato ai bambini di Rodari non sta nel denunciare ingiustizie dolore e umiliazione di chi lavora, né di dare voce a chi non l’ha mai avuta. Molto più radicalmente egli elabora strumenti di lotta, mezzi che servano a chi li usa per difendersi e contrastare chi fa della parola e della cultura uno strumento di dominio. E come campo di battaglia scelse, lui maestro elementare, la scuola e i bambini che la vivevano. A loro ha dedicato la vita, scrivendo cose la cui bellezza da sola testimonia amore e dedizione. Così come, in questo testo, le tavole di Silvia Rocchi.

Franco Martina

Link per acquisto del libro: https://www.edizioniel.com/prodotto/i-sepolti-vivi-9788866566243/


RODARI, Gianni. I sepolti vivi. Da un’idea di Ciro Saltarelli. Illustrazioni di Silvia Rocchi. Resenha de: MARTINA, Franco. L’attualità di Gianni Rodari: “Insegnare le parole a tutti, perché nessuno sia schiavo”. Clio’92, 13 dic. 2020. Acessar publicação original

História das crianças no Brasil meridional | CARDOZO José Carlos da Silva Cardozo, Jonathan Fachini da Silva, Tiago da Silva Cesar, Paulo Roberto Staudt Moreira e Ana Silva Volpi Scott

O livro História das crianças no Brasil meridional, organizado pelos historiadores José Carlos da Silva Cardozo, Jonathan Fachini da Silva, Tiago da Silva Cesar, Paulo Roberto Staudt Moreira e Ana Silva Volpi Scott, publicado há quatro anos pela Editora Oikos em parceria com a Editora da UNISINOS, teve destaque no Prêmio Açoriano de Literatura em 2016. Agora, as Editoras supracitadas brindam o público leitor no ano de 2020 com uma segunda edição do livro em formato e-book, possibilitando uma maior circulação do conhecimento. Frisa-se, ainda, que a obra em tela é indiscutivelmente um referencial bibliográfico fundamental e determinante no campo da história social.

A obra descortina as várias histórias de pequenos indivíduos, meninos e meninas que, até então, estavam escondidos e esquecidos em documentos produzidos por adultos de múltiplas temporalidades. Tais fontes encontram-se espalhadas em arquivos de muitas regiões do Brasil, com uma presença maior da região Sul. Assim, a coletânea apresenta textos que pavimentam e pavimentarão o processo de consolidação da história da criança na América Latina. Leia Mais

AI Narratives / Stephen Cave, Kanta Dihal e Sarah Dillon

DIHAL Kanta Uberização
Kanta Dihal / Foto: Media & Press /

DIHAL K Al narratives UberizaçãoArtificial intelligence (AI)’ is a loaded term, rife with connotative contradiction that inspires debate, disagreement, and disillusion. But what is AI, really? How have our expectations of computational capability, and even a robot Armageddon, come to be? Why does it matter how we talk about increasingly sophisticated technology, not just in expository prose, but also in fiction? How might visual and cinematic representations of AI technologies reflect and contribute to particular understandings and potentialities? AI Narratives: A History of Imaginative Thinking about Intelligent Machines is an ambitious effort to prompt widespread critical consideration not of AI itself, but of the stories—particularly fictional stories—surrounding this pervasive but still largely misunderstood technology. Comprising 16 chapters by scholars from various disciplines, AI Narratives offers a panoramic snapshot of a land still largely unexplored: AI humanities. Leia Mais

O Vestir e o Despir na História | Veredas da História | 2020

Em 2020, o contexto pandêmico transformou radicalmente nossa forma de relacionamento com os outros e nos condicionou a utilizar cotidianamente acessórios corporais antes usados de modo esporádico, tais como luvas, máscaras faciais, álcool em gel, face shield, entre outros. O uso destes objetos, ainda que instituídos de forma obrigatória para acessar determinados locais, dada a conjuntura sanitária, nos fez (re)pensar sua função social no espaço global. É interessante indicar que há um século, por volta de 1918 a 1920, a gripe espanhola também condicionou grande parte da população mundial às novas formas de se relacionar com os demais, bem como impôs acessórios com a finalidade de proteção contra a doença que foram absorvidos pelos movimentos da Moda, tornando-se tendências momentâneas.

Para além destes objetos pandêmicos e de suas apropriações, também podemos refletir os movimentos da Moda neste e em outros séculos, e os usos de certas indumentárias e acessórios por parte de indivíduos que, em micro ou macro escala, provocaram manifestações das mais diversas. Leia Mais

The War of Words: The Language of British Elections / Luke Blaxill

BLAXILL Luke Uberização
Luke Blaxill / Foto: University of Birmingham /

BLAXILL L The war of words UberizaçãoLuke Blaxill’s book deserves to be seminal. Its unassuming title conceals a bracing methodological challenge: an argument for the application of specific digital techniques to the study of electoral politics. It deploys ‘corpus linguistics’—the computerised compilation and interrogation of massive databases of millions of words—to intervene in a series of debates about the language of the platform in late-Victorian and Edwardian Britain. And it does so with enormous conviction. The War of Words builds its case so patiently, carefully, and politely, that even the most hardened traditionalists may find themselves struggling to dig up objections. Certainly, the public language of parliamentary candidates is a genre peculiarly suited to the analytical tools Blaxill deploys, and work on other spheres of politics may not be able to benefit from the sustained application of ‘text-mining’ methods to the same extent. But the book offers an object lesson in how to present an argument about method.

The War of Words has been trailed in a series of journal articles and book chapters over the last decade, so some readers will already be familiar with the techniques involved, and a number of the more striking reinterpretations the book offers. But having everything presented together—and supported by an imposing array of statistical tables (36) and figures (44), a ‘technical glossary’, and 68 pages of methodological and statistical appendices—lends the research a powerful cumulative effect. As this suggests, the volume’s embrace of digital methods goes well beyond the searches for ‘hits’ on particular keywords, and the Google Ngrams, which are already part of the historian’s armoury. What does the book mean to do? Leia Mais

1968: Eles só queriam mudar o mundo | Regina Zappa e Ernesto Soto

Em um mundo onde movimentos sociais ainda engatinham precariamente, posto que são sufocados por regimes autoritários, exclusão das minorias e opressão exercida pela classe dominante, os jornalistas Regina Zappa e Ernesto Soto, em sua obra “1968: Eles só queriam mudar o mundo”, discorrem sobre os elementos artísticos, culturais e sociais que marcaram o referido ano no Brasil e no mundo. Buscando resgatar experiências e relatos no período, os autores ressaltam memórias e fatos que influenciaram os desencadeamentos dos movimentos sociais no final da década de ‘60 e a busca pela liberdade coletiva.

Dividido em 12 capítulos nomeados seguidamente conforme os meses do ano, o livro busca, através de uma série de imagens, depoimentos, composições artísticas e relatos de pessoas que estiveram presentes em 1968, discutir as consequências (in)diretas de vários acontecimentos históricos, como a Guerra do Vietnã, os Panteras Negras, os desdobramentos dos AI-5 no Brasil, as agitações na França e as mortes de Martin Luther King e John Kennedy, problematizando, assim, tais eventos e recuperando as lutas travadas a partir das insatisfações populares, desprezos e preconceitos. Leia Mais

Sociabilidades e territorialidade: A construção de sociedades de afrodescendentes no sul de Santa Catarina (1903/1950) | Júlio César da Rosa

O passado de Santa Catarina, cunhado nos discursos oficiais e acadêmicos do século XX, foi atrelado a uma memória, pautada, exclusivamente no imigrante europeu. Memórias formuladas e manuseadas, através de coordenadas ideológicas hegemônicas da sociedade moderna ao longo do tempo, fixaram a imagem de uma Santa Catarina branca e civilizada, incipiente ou quase inexistente da presença outros sujeitos, experiências e culturas que enfrentavam o quotidiano das cidades e das zonas rurais, marcadamente por diversos modos de vida.

Ocorre que, apesar dos territórios da região sul do Brasil e em vários países da América, receberem um contingente significativo de africanos, suas memórias e dinâmicas sociais angariadas no mundo diaspórico, não foram levadas em conta nas narrativas das fundações e desenvolvimento de cidades catarinense, relegando-as uma invisibilidade histórica. Leia Mais

Fugas | Sonia Marques e Eliane Lordello

Caros leitores,

Ouso tomar emprestado aqui o título de um filme de Jean Luc-Godard, de 1967, ano em que nasci, para falar um pouco sobre como vim a ser a ilustradora destes dois livros de poemas de Sonia Marques: Fugas e Viagens.

A exitosa carreira da arquiteta pernambucana Sonia Marques na pesquisa e na docência, já é bastante conhecida, e reconhecida. Aqui no Espírito Santo, nos anos 1980, quando cursava Arquitetura na Ufes, eu já conhecia a produção acadêmica de Sonia, inclusive através de seus colegas na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco, o casal Fernando e Ione Marroquim. Nesse tempo, eu era aluna de Ione e estagiária do escritório Marroquim Arquitetos. Leia Mais

Bexiga em três tempos. Patrimônio cultural e desenvolvimento sustentável | Nadia Somekh e José Geraldo Simões Júnior

O Bexiga, coração da Bela Vista, se acomoda em um pequeno vale que acolhe as águas de chuva que descem da encosta da avenida Paulista e do Morro dos Ingleses para desembocar na avenida 9 de Julho, lugar de direito do pequeno rio Saracura. Com platibandas, arcos, frontões, varandas diminutas, paredes desgastadas pelo tempo ou pintadas em cores vibrantes e alegres, o casario alinha-se rente às calçadas das ruas pacatas (1).

Homens consertam automóveis estacionados no meio-fio, mulheres cultivam flores plantadas em vasos dispostos na calçada. Em cômodo da casa aberto para a rua, muitos trabalham: mecânicos, manicures, barbeiros, cabelereiras, sapateiros, carpinteiros, serralheiros, costureiras, alfaiates, ofícios extintos em outros lugares da cidade. Atividades mais afamadas – bares, restaurantes, cantinas e padarias – disputam o endereço com depósitos de material de construção e ferro-velho, frequentados por carroças que trafegam com anacrônica lentidão pelas ruas estreitas da localidade. Leia Mais

Libertação animal, libertação humana: veganismo, política e conexões no Brasil | Ana Gabriea Mota e Kauan William dos Santos

Desde seu início, o veganismo adotou uma ideologia abolicionista, revolucionária e interseccional. Porém, a lógica do capitalismo fez com ele o que sempre fez com qualquer movimento social: se apropriou, retirou sua base revolucionária, elitizou através dos altos preços de produtos veganos industrializados (criados pela própria indústria de alimentos com origem animal), e o vendeu como uma dieta sofisticada que só pode ser comprada por uma classe social com alto poder aquisitivo, restando para as classes menos abastadas os resíduos de alimentos de origem animal danosos à saúde dos indivíduos e à do planeta.

Não há como falar de libertação animal sem falar também de libertação humana. Não há como falar em antiespecismo sem falar de feminismo, de lutas por direito a terra, de inacessibilidade às classes marginalizadas e do movimento negro. É isso que o livro organizado por Ana Gabriela Mota e Kauan William dos Santos se propõe a (re)colocar em discussão. Através de oito textos escritos por diversos autores, representantes das causas acima citadas, o livro faz as conexões entre especismo e feminismo, racismo e exclusão social e de terras, conexões essas que muitas vezes passam desapercebidas ao olhar menos atento de quem vê por fora o movimento vegano. Leia Mais

Arquitetura rural na Serra da Mantiqueira | Marcelo Carvalho Ferraz

“Difícil fotografar o silêncio. Entretanto tentei”.
Manoel de Barros, O fotógrafo

Gosto muito de bichos com um olho de cada lado da cara, como as galinhas e os peixes porque me apresentam um jeito indiscernível de ver o mundo, certamente mais alargado. Gosto também dos bichos com dois olhos frontais, como os macacos, que nos encaram de frente, apresentando escancaradamente nosso parentesco próximo – olhares como os humanos.

Aqui Marcelo Carvalho Ferraz nos entrega algo de seu. Apresentado em um livro que pode ser contemplado vagarosamente numa tarde chuvosa, em postura contemplativa, meditativa; mas principalmente podemos retornar a ele a vida inteira. Não se esgotarão as miradas destas páginas jamais. Leia Mais

Revolucionário e gay: a vida extraordinária de Herbert Daniel – pioneiro na luta pela democracia/ diversidade e inclusão | James N. Green

James N. Green nasceu no ano de 1951 em Baltimore nos EUA e é atualmente professor de História Latino-Americana na Brown University, além de ativista de causas políticas e LGBTQ+. Green é diretor de um dos mais importantes centros de estudos sobre o Brasil no exterior, e está à frente do Projeto Opening Archives, programa que tem milhares de documentos sobre o período da ditadura militar brasileira. Green é homossexual e um dos maiores brasilianistas dos EUA, características que se refletem em suas obras.

O livro “Revolucionário e Gay: A vida extraordinária de Herbert Daniel – Pioneiro na luta pela democracia, diversidade e inclusão”, lançado no ano de 2018, é uma obra biográfica sobre Herbert Eustáquio de Carvalho, mais conhecido como Herbert Daniel (Daniel era um de seus codinomes) – um complexo personagem da esquerda revolucionária no contexto político da década de 1960, falecido em 1992. Intelectual e guerrilheiro, Daniel fez parte de diversos grupos políticos, como Colina, VAR-Palmares, e VPR. Leia Mais

Celso Furtado | Intellèctus | 2020

Este Dossiê, composto por nove artigos que abordam o pensamento furtadiano, insere-se no projeto Celso Furtado 100 Anos. Um projeto iniciado em 2019 pelo Núcleo de Identidade Brasileira e História Contemporânea (NIBRAHC) com a realização de uma série de seminários sobre Celso Furtado em razão do seu centenário de nascimento que viria a ser comemorado neste ano de 2020. Os seminários, chamados de “PréCelso”, foram realizados através da parceria do NIBRAHC com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), com o Centro Internacional Celso Furtado (CICEF), com o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ (IFCH), com o Programa de Pós-graduação em História (PPGH) e com o Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais do Estado do Rio de Janeiro (SINTUPERJ).

A publicação do Dossiê Celso Furtado pela Revista Intellèctus se apresenta como o coroamento do centenário deste pensador, cujas justas homenagens foram realizadas com o Congresso Internacional Celso Furtado 100 Anos, organizado pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da UERJ (PR3), UERJ, NIBRAHC, IFCH, PPGH e SINTUPERJ. Foram cinco dias de conferências, abordando o pensamento furtadiano e proporcionando reflexões intelectuais sobre a atual situação econômica e social. Reflexões que prosseguirão através da leitura dos artigos deste Dossiê. Leia Mais

The Sovereign Consumer. A New Intellectual History of Neoliberalism | Kiklas Olsen

In the last two decades, there has been a great number of books on the history of neoliberalism. As most scholars in this debate recognize it, the literature is divided into three currents: the first understands neoliberalism as a “scheme” designed by the elites in a time that their profits declined, being the retreat of the State a remedy to that situation (exemplified by 2005 A Brief History of Neoliberalism of British Marxist professor David Harvey); the second is the Foucauldian strain that focuses on neoliberalism as governmentality, a new mode of subjectification that takes the individual as an enterprise and the third takes neoliberalism as an intellectual project, or a network of individuals with similar ideals united through a series of institutions that emerged in the twentieth century.

Niklas Olsen also recognizes these three trends in the introduction of his book but wants to steer us away from them. As a biographer and admirer of the German historian Reinhart Koselleck, Olsen puts in motion the method of Begriffsgeschichte (conceptual history), pioneered by Koselleck, to analyze the emergence of neoliberalism. As the author explains it, he “analyzes social-political concepts as reflecting phenomena that are shaped in historically concrete situations by historical actors who use concepts to make sense of and order the world, employing them as tools or weapons to meet their political visions”. (OLSEN, 2019, 7) Leia Mais

Las aguas de Santiago de Chile 1541-1999. Tomo I: Los primeros doscientos años 1541-1741 | Gonzalo Piwonka Figueroa

Desde hace mucho esperábamos un libro que, como el que se nos ofrece en esta oportunidad, nos permita hablar de un tema tan importante como lo es la evolución en los usos y abusos del agua. De la mano del experimentado historiador Gonzalo Piwonka disfrutamos ahora de una obra que nos introduce en el complicado tema de cómo se llevó a cabo el uso de este elemento referido a un servicio público tan elemental, enfocándolo, como debe estarlo todo análisis histórico, con fuerte imaginación, con talento, paciencia, laboriosidad y mucho trabajo.

Siendo el agua una entidad última como se pensó en la Antigüedad y en la Edad Media, Piwonka ha asumido una osada tarea, puesto que ha tomado valientemente como tema de su análisis histórico una de las partes constituyentes de la realidad material que nos rodea. No obstante, consciente de su osadía equilibrándose en esta amplísima realidad y buscando la manera de aterrizar lo más airosamente posible, ha escogido solo un aspecto de aquel elemento, el más humano y sencillo como lo es el que analiza el uso que puede hacerse de él, tomando el problema de la bebida de la población, en este caso, de la población de Santiago de Chile. Leia Mais

Campo de Poder dos grandes projetos urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte | Daniel M. de Freitas


Resenhista

Leonardo Gonçalves Ferreira


Referências desta resenha

FREITAS, Daniel M. de. Campo de Poder dos grandes projetos urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte. São Paulo: Annablume, 2017.  Resenha de: FERREIRA, Leonardo Gonçalves. Uma análise bourdiana sobre os grandes projetos urbanos da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte. Belo Horizonte, v.7, p.358-362, 2020. Disponível apenas pelo link original.

Flávio Koutzii: Biografia de um militante revolucionário. De 1943 a 1984 | Bento B. Schmidt

Com o estudo a respeito da trajetória do militante revolucionário gaúcho Flávio Koutzii, o historiador e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Benito Schmidt consagra-se como uma referência importante na historiografia especializada no campo biográfico. Após 10 anos de pesquisas com consultas a sete arquivos, (além do acervo pessoal do biografado), a 20 periódicos e cerca de 60 entrevistas, Schmidt constrói a história de vida do seu personagem, até o seu quadragésimo primeiro ano de vida, quando Koutzii retornou definitivamente para o Brasil e reconstruiu sua vida pessoal e política na sua terra natal, Porto Alegre. Em 20 de março de 2020 Flávio Koutzii completou 77 anos e eventualmente opina sobre os grandes temas nacionais, a partir de um ponto de vista marxista que consolidou ao longo de sua vida.

O texto de Schmidt é dividido em cinco partes, contando ainda com uma introdução – onde faz uma discussão teórica sobre o gênero biográfico – uma conclusão e um posfácio escrito pelo próprio Koutzii. O livro traz, ainda, uma contribuição de Guilherme Cassel (ministro do Governo Lula e companheiro de partido de Koutzii) e uma lista das fontes consultadas e entrevistas realizadas, bem como a bibliografia. Todo o projeto de pesquisa foi financiado pela CNPQ-CAPES, FAPERGS e foi desenvolvido com apoio de bolsistas ligados à graduação e à pós-graduação do Departamento de história da UFRGS. Leia Mais

Corpos em Aliança: Diálogos Interdisciplinares sobre gênero, raça e sexualidade | Ana Claudia Martins e Elias Ferreira Veras

Nas últimas décadas, temos testemunhados constantes transformações sociais, históricas, políticas e culturais, que abalaram as estruturas cishetonormativas dos antigos padrões de gênero, raça e sexualidade. As lutas feministas, as conquistas LGBTQIA+, os movimentos trabalhistas e a descolonização dos países africanos, por exemplo, que perpassaram o século passado, desdobrando-se até os dias atuais, culminam em novas formas contemporâneas de fazer política e ciência.

A obra Corpos em Aliança: Diálogos Interdisciplinares sobre gênero, raça e sexualidade, organizada por Elias Ferreira Veras e Ana Claudia Aymoré Martins, professor/a da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), aparece nesse contexto teórico-metodológico-político de transformações, sendo oriundo dos debates realizados durante o II Colóquio diálogos interdisciplinares sobre gênero, raça e sexualidade: corpos em aliança, organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em História, Gênero e Sexualidade (GEPHGS/CNPq), do Curso de História da UFAL – com apoio do CNPq -, em Maceió (AL), no mês de maio de 2019. Leia Mais

Oltre il giardino: filosofía di paesaggio | Massimo Venturi Ferriolo

En la obra Oltre il giardino: filosofía di paesaggio (“Más allá del jardín: filosofía del paisaje” –traducción propia–), el filósofo italiano Massimo Venturi Ferriolo se propone, con un estilo ensayístico, abordar al jardín como útero de la vida, propuesta que retomará un mito y metáfora vivos en Occidente. Él parte del argumento de que la filosofía del jardín se nos presenta como un “antídoto a los venenos de nuestro tiempo” (p. 5), en referencia a los modelos económicos liberales y neoliberales, a la vez que a los modelos obsesionados con la idea de desarrollo. Leia Mais

La peste nella storia / William McNeill

McNEILL William H Uberização
William Hardy McNeill  / Foto: Wikipedia /

McNEILL W La Peste nella storia UberizaçãoQuesto libro di William Hardy McNeill, scrittore canadese, storico ed esponente della global history (1917-2016), propone un’ampia ricostruzione degli incontri dell’umanità con le malattie infettive al fine di dimostrare come il variare della circolazione epidemica abbia da sempre influito sulle vicende umane e come il ruolo di tali malattie sia stato e rimanga fondamentale per l’equilibrio della Natura.

L’ analisi è basata sul parallelismo tra il microparassitismo degli agenti patogeni e il macroparassitismo dei grossi predatori, i più importanti fra i quali sono sempre stati gli esseri umani. Sia i micro che i macroparassiti hanno interesse a spremere risorse dalle loro vittime. Ma quando esagerano e le uccidono, finiscono per soccombere, a loro volta, per mancanza di cibo.

Le civiltà devono dunque trovare e mantenere il giusto equilibrio tra queste due categorie di parassiti, ripristinandolo quanto prima, in caso di alterazioni dall’esterno, pena la loro estinzione.

Le sofferenze e l’annientamento di intere popolazioni a causa delle pandemie sono documentate fin dai tempi più antichi da fonti provenienti da civiltà come quelle mesopotamiche, quella egizia e quella cinese. McNeill ne fa un’analisi approfondita compensando con ipotesi e speculazioni ben argomentate la mancanza di sufficienti prove relative ad alcune aree del mondo e scegliendo una periodizzazione che dal Paleolitico si articola in sei fasi, corrispondenti ad altrettanti capitoli del testo, corredati ciascuno da un notevole apparato di citazioni bibliografiche. Un’interessante introduzione spiega la genesi del libro a partire dagli interrogativi posti dalla conquista spagnola dell’impero Azteco da parte di un esiguo gruppo di uomini. In appendice un elenco di epidemie verificatesi in varie zone della Cina dal 243 a.C.al 1911 d.C.

L’uomo cacciatore

L’habitat naturale dei primi uomini del Paleolitico era quello delle foreste pluviali africane, popolate da molti parassiti monocellulari capaci di vivere in modo indipendente, senza bisogno di sfruttare l’organismo di un qualunque ospite. Tali ambienti mantennero un buon equilibrio naturale tra predatori e prede, fino all’acquisizione da parte degli esseri umani di nuove tecniche che, condivisibili grazie all’acquisizione del linguaggio, permettevano loro di organizzarsi in gruppo e di cacciare i grossi predatori erbivori delle savane africane. Lo sfruttamento di risorse prima inaccessibili proiettò gli esseri umani al vertice della catena alimentare, senza mutare radicalmente il sistema dentro al quale si erano evoluti. Risultati molto più evidenti si verificarono quando si spostarono in ambienti caratterizzati da climi freddi e asciutti, dove il problema non era rappresentato dai microparassiti, molto meno numerosi ma dai macroparassiti.

I cacciatori riuscirono a sopravvivere imparando ad addomesticare il fuoco e a coprirsi con le pelli degli animali, ma quando le risorse di selvaggina si esaurirono, inevitabili furono le crisi di sopravvivenza in varie parti del mondo, crisi rese ancor più gravi da radicali mutamenti climatici a partire dal 20.000 a.C. L’ingegnosità umana trovò allora nuove strategie per vivere: lo sfruttamento delle coste marine con lo sviluppo della pesca e la raccolta di semi commestibili diede poi vita all’agricoltura, permettendo un rapido aumento demografico e favorendo in breve tempo la nascita di centri urbani.

L’affiorare alla storia

Pastori e agricoltori alterarono gradualmente i diversi ambienti, riducendone la varietà biologica ed accorciando le catene alimentari con il conseguente aumento dei microorganismi patogeni, invisibili all’occhio umano, a differenza dei macrorganismi.

Le colture irrigue ad esempio crearono una situazione climatica simile a quella delle foreste pluviali favorevole alla trasmissione di parassiti patogeni alla popolazione rurale.

L’intelligenza umana si attivò anche in questo caso elaborando prescrizioni dietetiche, come il divieto di mangiare carne di maiale presso ebrei e musulmani, e sanitarie, come l’espulsione dei lebbrosi dai villaggi, nel tentativo di arginare le malattie infettive.

La maggior parte di esse, il morbillo ad esempio, il vaiolo o l’influenza, furono trasmesse alle popolazioni umane da animali domestici oppure furono la conseguenza dell’inserirsi degli umani in un processo patologico presente fra gli animali selvatici, come nel caso della peste bubbonica, della febbre gialla e dell’idrofobia.

Dopo un lungo e continuativo contatto tra gli agenti patogeni e l’uomo, le infezioni virali e batteriche divennero endemiche in alcune società che acquisirono la capacità di resistere ai contagi (immunità di gregge), ottenendo in tal modo un grande vantaggio nell’ incontro con altri gruppi umani più semplici e sani destinati a soccombere per l’azione associata della malattia e della guerra.

Fusione dei serbatoi di virus delle aree civili dell’Eurasia: 500 a.C. -1200 d.C.

Durante il primo millennio a.C. si verificò una stabile condizione di equilibrio fra macro e microparassitismo nei tre più importanti centri di insediamento umano: la Cina, l’India e il bacino del Mediterraneo. Ciò permise una costante crescita demografica e un’espansione territoriale a ciascuna di queste civiltà, che avevano sviluppato un proprio serbatoio di virus capace di diventare letale solo se libero di diffondersi presso popolazioni prive di immunità.

Questo accadde a partire dal I secolo d.C. quando i viaggi di terra e di mare dalla Cina e dall’India fino al Mediterraneo divennero sempre più frequenti, con il conseguente scambio non solo di merci, ma anche di infezioni tra le varie civiltà. L’esposizione a nuovi agenti patogeni ebbe ben poco effetto in India, in Cina o anche nelle zone insulari del mondo, mentre l’incessante verificarsi di scoppi di gravi pestilenze fu una delle concause ad esempio della caduta dell’Impero Romano d’Occidente.

Il Mediterraneo, i cui porti furono regolarmente colpiti dalle pestilenze, fu successivamente sostituito come centro di civiltà dai paesi europei più settentrionali, meno depauperati delle proprie risorse e avvantaggiati da una serie di innovazioni delle tecniche agricole che favorirono un notevole aumento della popolazione.

L’influsso dell’impero mongolo sul mutamento degli equilibri delle malattie:1200-1500

La peste nera del 1346 ridusse di un terzo la popolazione europea. Responsabile di tale infezione era la Pasteurella pestis, bacillo scoperto solo nel 1894, trasmesso agli umani dalle pulci dei roditori presenti nelle steppe euroasiatiche che ne erano cronicamente infette.

La peste giunse in Europa grazie alle piste carovaniere che attraversavano l’Asia, percorse da mercanti, corrieri postali ed eserciti. Dalla Crimea il bacillo salì poi a bordo delle navi, si diffuse in tutti i porti del Medio Oriente e d’Europa e da lì verso l’entroterra.

Molte furono le conseguenze di questa epidemia: psicologiche (paura della morte, colpevolizzazione degli Ebrei, ricorso a rituali o processioni come quelle dei flagellanti), culturali (la decadenza del latino in seguito alla morte di molti chierici e la diffusione delle lingue vernacolari, la danza macabra come tema ricorrente in pittura, una nuova spinta al misticismo), economiche (aspri scontri fra classi sociali).

Ebbe inoltre inizio un nuovo processo culturale attraverso il quale gli uomini impararono a ridurre al minimo i rischi dell’infezione: norme sulla quarantena da rispettare nei porti e altre regole introdotte dai governi delle città-stato specialmente in Italia e Germania. La stessa cosa non accadde nel mondo musulmano che, condizionato da una visione fatalista della malattia, guardava con diffidenza alle misure sanitarie proposte dai cristiani.

Le infezioni bubboniche continuarono ciclicamente a manifestarsi nell’Europa orientale determinando un progressivo disgregamento sociale e una spartizione delle steppe euroasiatiche fra gli imperi agricoli confinanti di Russia e Cina.

Scambi transoceanici tra il 1500 e il 1700

Gli incontri con le malattie infettive, irrilevanti prima dell’arrivo delle popolazioni europee e africane nel Nuovo Mondo, provocarono un imponente disastro demografico fra gli Amerindi sterminati dal vaiolo più che dalle armi degli invasori.

Senza questa malattia, sconosciuta alle popolazioni del Nuovo Mondo e interpretata come punizione divina, gli Spagnoli non sarebbero riusciti a conseguire la vittoria sugli Aztechi in Messico e sugli Inca in Perù. Dio sembrava favorire i bianchi e arrendersi alla superiorità spagnola, convertendosi poi alla loro religione, era la sola reazione possibile.

Altre epidemie si succedettero in quei territori che non raggiunsero mai una stabilità epidemiologica.

In Europa invece, tra 1300 e il 1700, si giunse a un progresso fondamentale: la “domesticazione” delle malattie epidemiche, che si trasformarono in malattie infantili, divenendo progressivamente endemiche e garantendo un regolare aumento della popolazione.

Va considerato inoltre il fatto che l’introduzione di piante e animali del Vecchio Mondo danneggiò gli equilibri ecologici preesistenti nelle Americhe, mentre le piante da lì esportate verso l’Europa garantirono la possibilità di produrre quantità supplementari di cibo.

McNeill insiste nel sottolineare come questa sia una vicenda esemplare per dimostrare il ruolo avuto dalle malattie infettive nel modellare la storia umana. Gli Europei acquisirono la tecnica della navigazione transoceanica e conquistarono molte regioni del mondo, ma la batteriologia fu importante almeno quanto la tecnologia nel decretare la loro supremazia.

L’influsso della scienza medica e dell’organizzazione sanitaria sull’ecologia a partire dal 1700

La creazione di nuovi equilibri ecologici si verificò soltanto nelle aree del mondo caratterizzate da stabilità politica e dalla possibilità di espandere la propria produzione agricola in modo da garantire un regolare aumento demografico.

Un maggiore ricorso all’allevamento del bestiame comportò ad esempio una maggiore assunzione di proteine nella dieta umana e un potenziamento nella formazione di anticorpi contro le infezioni.

Fra il 1200 e il 1700 i medici europei acquisirono nuove competenze grazie alle scuole di medicina e agli ospedali dove potevano osservare ripetutamente i sintomi e il decorso di una patologia.

Ma fu solo a partire dalla fine del XIX secolo che la ricerca medica riuscì ad isolare i germi delle varie malattie infettive ancora capaci di provocare milioni di morti come ad esempio il colera, procedendo anche alla realizzazione dei vaccini, come quello del vaiolo.

I primi decenni del XX secolo videro poi la nascita della medicina preventiva che perseguiva soprattutto il miglioramento delle condizioni igieniche delle case, dei servizi sociali, delle riserve idriche.

Va sottolineato l’importante ruolo dell’amministrazione sanitaria militare preoccupata di tutelare la salute degli eserciti, elemento fondamentale per l’affermazione dello Stato nel continente europeo.

Nonostante i continui progressi, la tecnica e la scienza non hanno ancora liberato l’umanità dalla sua antichissima condizione che la rende vulnerabile ai microparassiti e per il futuro immediato rimane evidente che stiamo attraversando uno dei più grandi sconvolgimenti ecologici mai conosciuti dal nostro pianeta.

Livia Tiazzoldi


McNEILL, William Hardy. La peste nella storia. L’impatto delle pestilenze e delle epidemie nella storia dell’umanità. Milano: Res Gestae, 2012 (1975). 282p. Resenha de: TIAZZOLDI, Livia. Il Bollettino di Clio, n.14, p.149-152, dic., 2020. Acessar publicação original 

Crisi. Come rinascono le nazioni / Jared Diamond

DIAMONT Jared Uberização
Jared Diamond / Foto: Lavin Agency /

DIAMOND J Crisi UberizaçãoJared Diamond, noto geografo, antropologo, ornitologo americano, meglio noto al pubblico italiano per il suo volume più famoso, Armi, acciaio e malattie. Breve storia del mondo negli ultimi tredicimila anni, pubblicato nel 1997, si è costruito con questo testo, a pieno diritto, anche la fama di storico e di divulgatore. In seguito adottando un metodo di analisi multidisciplinare, da lui stesso definito pensiero orizzontale, che dispone lo scienziato all’integrazione di ambiti apparentemente separati, si è applicato allo studio della questione ambientale con il volume Il collasso (2005).

Nell’ultimo suo lavoro, di cui diremo in questa recensione, l’autore spostando la sua attenzione sulla storia più recente, ha analizzato il concetto di crisi attraverso lo studio di sette casi, riguardanti la Finlandia nel periodo della guerra con l’Urss, il Giappone nel periodo Meiji, il Cile di Pinochet, l’Indonesia degli anni Sessanta, la Germania e l’Australia del secondo dopoguerra, gli Stati Uniti nel periodo storico attuale. Il volume intitolato Crisi. Come rinascono le nazioni è stato pubblicato nel 2019 dall’editore Einaudi.

Il termine crisi, utilizzato in molteplici accezioni e quindi applicabile in diversi ambiti, nella sua origine etimologica greca afferisce “all’area semantica di separare, decidere, distinguere. Quindi potremmo pensare alla crisi come a un momento di verità, un punto di svolta in cui la differenza fra la realtà che precede quel momento e la realtà che lo segue è molto più marcata che nella maggior parte degli altri momenti” (pag. XIX).

Questa è la definizione dalla quale prende spunto Diamond. Ma l’aspetto più originale di questo corposo lavoro risiede nella scelta dell’autore di adottare la prospettiva delle crisi individuali, che capitano ad ognuno di noi nel corso della vita, per applicarla alle crisi delle nazioni. E lo fa in modo coerentemente scientifico, accogliendo le tesi della cosiddetta terapia della crisi, una teoria ed una pratica terapeutica ideata dallo psichiatra Erich Lindemann che si sforzava di risolvere in tempi brevi le angosciose condizioni di crisi esistenziali dei propri pazienti.

Diamond, partendo da alcuni fattori che possono rivelarsi utili al superamento delle crisi individuali, costruisce a specchio un elenco di fattori che dovrebbero consentire di rispondere alle crisi collettive di livello nazionale e sovranazionale. Ma guardiamoli più da vicini questi fattori (a sinistra quelli che riguardano l’individuo, a destra quelli che riguardano invece le nazioni:

  1. Riconoscimento dello stato di crisi / consenso circa lo stato di crisi nazionale. / accettazione della responsabilità nazionale.
  2. Tracciare un confine / confini chiari per delineare i problemi nazionali da risolvere.
  3. Chiedere aiuto agli altri / richiesta di aiuto materiale ed economico ad altre nazioni.
  4. Gli altri come modello / le altre nazioni come modello per la risoluzione dei problemi.
  5. Forza dell’io / identità nazionale.
  6. Capacità autocritica / capacità di autovalutazione nazionale onesta.
  7. Esperienze di crisi pregresse / esperienza storica di crisi nazionali precedenti.
  8. Pazienza / presa in carico del fallimento nazionale.
  9. Flessibilità / flessibilità nazionale in situazioni specifiche.
  10. Valori fondanti / valori fondanti nazionali.
  11. Libertà dalle costrizioni / libertà da costrizioni geopolitiche.

Possono i fattori individuali adattati e applicati alla storia delle nazioni rivelarsi utili per la comprensione degli esiti delle crisi nazionali?  Come è facilmente comprensibile l’adattamento a specchio dei fattori di crisi dall’individuo alle nazioni non si rivela così automatico e tuttavia il tentativo portato avanti da Diamond è in grado di suscitare la curiosità dei lettori e non è privo di interesse per lo storico.

Per portare avanti le sue tesi l’autore prende in considerazione i sette casi di crisi che abbiamo anticipato in precedenza che hanno caratteristiche diverse e riguardano nazioni le cui storie sono molto differenti tra loro.

Non abbiamo modo in questa recensione di esaminarli tutti nel dettaglio, anche per non togliere al lettore il piacere di seguire Diamond nelle sue analisi. Ci soffermeremo quindi solo sull’esempio della storia del Giappone.

Fino al 1853 questo paese somigliava molto all’Europa medievale con una struttura gerarchica di tipo feudale, controllata al vertice dallo shogun, proprietario di larga parte delle terre e dai signori, i daimyo, soggetti a lui. L’imperatore, figura fantoccio, era sostanzialmente privo di potere reale. Rispetto agli stranieri il Giappone mantenne, fino alla metà dell’Ottocento contatti limitati e sufficientemente controllati dal governo. Questo equilibrio si ruppe con l’intervento militare degli Usa che cercavano di rompere l’isolamento degli shogun. Si apriva quella che può essere considerata una fase di crisi acuta per la nazione nipponica che durò circa quindici anni e si tradusse in un capovolgimento dei rapporti interni di potere, un cambiamento dei rapporti del Giappone con il mondo esterno e più in generale una trasformazione del paese. Fu ripristinato il potere reale dell’imperatore, fu avviata una politica di riforme di stampo occidentale e fu progressivamente attenuato l’isolazionismo commerciale del Giappone.

Al termine della sua narrazione degli eventi e dei processi che interessarono questa nazione dal periodo dello shogunato al periodo cosiddetto Meiji Diamond ci mostra anche quali, tra gli indicatori del suo modello, possono aiutarci a comprendere il comportamento adottato dalla nazione nipponica per uscire dalla crisi di quegli anni.

Il Giappone si distingue, più degli altri paesi presi in considerazione, per aver saputo prendere come modello le altre nazioni per la risoluzione dei problemi (Fattore n.5 dell’elenco). La Costituzione come l’organizzazione militare e il codice civile prendono infatti spunto dai modelli tedeschi, inglesi, americani. Riesce inoltre a mettere in atto una capacità di autovalutazione nazionale realistica e onesta (Fattore n.7 dell’elenco) riconoscendo che “i barbari erano molto più forti e che l’unico modo per rafforzarsi era proprio imparare da loro”. Dimostrò infine di essere in grado “di tracciare un confine e di adottare il cambiamento in modo selettivo (Fattore n.3). Molti furono infatti gli ambiti della società nipponica interessati dal rinnovamento, da quello economico a quello giuridico, militare, politico, sociale e tecnologico; ma il Periodo Meiji seppe anche conservare importanti prerogative del Giappone tradizionale, come l’etica confuciana, la venerazione nei confronti dell’imperatore, l’omogeneità etnica, la pietà filiale, lo scintoismo e il sistema di scrittura nazionale”.

Con lo stesso metodo di narrazione storica, di spiegazione e di interpretazione comparativa l’autore si avvicina alla storia degli altri paesi presi in considerazione. E non si può non osservare la sua abilità di scrittura, un piacevole e pacato tono espositivo, la tendenza a mescolare esperienze personali e private con argomentazioni di ordine generale che mantengono viva l’attenzione del lettore.

Ma non è solo sulla storia passata che Diamond mette alla prova il suo modello interpretativo. Nella terza parte del libro prende in considerazione le crisi in corso su scala nazionale del Giappone e degli Stati uniti e le sfide che il mondo nella sua dimensione globale dovrà affrontare per evitare nuove crisi.

Emergono così, in tutta la loro evidenza problemi ben noti nel presente e che riguardano per il Giappone il debito pubblico, il ruolo della donna in una società avanzata, il calo e l’invecchiamento demografico, il rapporto con la Cina e la Corea, la gestione delle risorse naturali, mentre per gli Usa l’autore sottolinea in particolare “il crescente e preoccupante deterioramento della nostra capacità di raggiungere il compromesso politico” causa di “una polarizzazione, di una intolleranza e litigiosità della società americana” partita dalla classe politica per estendersi all’elettorato e in tutti gli ambiti della vita sociale.

L’analisi dei fattori di crisi si estende infine, nell’ultima parte del libro, ai possibili scenari futuri e ai fattori che “minacciano le popolazioni della terra e i nostri standard di vita in generale…e rischiano di minacciare a livello globale la sopravvivenza stessa della civiltà.” Diamond ritiene di identificare questi fattori di potenziale crisi nell’impiego di armi nucleari, nei cambiamenti climatici, nell’esaurimento delle risorse del pianeta e nelle disuguaglianze negli standard di vita.

Diamond ha scritto questo libro nel 2019 a breve distanza dallo scoppio della drammatica crisi pandemica che ha colpito non le singole nazioni ma l’intero pianeta. Ci potremmo chiedere se questo modello di interpretazione della storia, alla luce del concetto di crisi, ci potrà essere utile anche per il superamento di questa crisi pandemica. La risposta ci viene dallo stesso autore in una serie di articoli pubblicati negli ultimi mesi sulla stampa internazionale e italiana. I fattori di potenziale crisi nel prossimo futuro, dianzi esposti, e cioè armi nucleari, clima, risorse del pianeta e disuguaglianze, sono ben più importanti che la pandemia: il Covid-19 non è che un piccolo cruccio momentaneo, ben più importanti saranno le conseguenze di un fattore di crisi come ad esempio il cambiamento climatico. Il saldo delle vittime umane provocate dal clima che cambia è già più pesante rispetto al saldo attuale delle vittime del Covid-19 e non basterà un vaccino per risolvere la crisi o meglio le crisi che il clima è in grado di produrre. Perché l’allarme su questo aspetto non è almeno pari a quello generato dal virus? Le pagine finali del libro, sempre sul filo della comparazione storica e dei possibili scenari futuri del mondo, pongono al lettore un interrogativo se cioè “le nazioni hanno sempre bisogno di una crisi per sentirsi motivate ad agire o sanno anche agire in modo preventivo”. Gli esempi proposti da Diamond in questo libro non risolvono la questione, nel senso che talvolta le nazioni hanno avuto la necessità di attraversare una crisi prima di adottare cambiamenti, talvolta invece hanno prevenuto la crisi adottando scelte che hanno permesso di evitarla. D’altronde è ciò che accade ai singoli individui che di fronte ad una possibile crisi nella loro esistenza talvolta giocano d’anticipo, talvolta riescono a reagire solo quando la crisi ci ha già travolti come ricorda un aforisma di Samuel Johnson:  “Credetemi, signore, quando un uomo sa che nel giro di due settimane sarà impiccato, la sua mente si concentra in modo meraviglioso”.

Giuseppe Di Tonto


DIAMOND, Jared. Crisi. Come rinascono le nazioni. Torino: Einaudi, 2019. 450p. Resenha de: DI TONTO, Giuseppe. Il Bollettino di Clio, n.14, p.153-156, dic., 2020.  Acessar publicação original

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La Spagnola in Italia 1918-1919 / Eugenia Tognotti

TOGNOTTI E Eugenia Uberização
Eugenia Tognotti / Foto: La Stampa /

TOGNOTTI E La Spagnola in Italia UberizaçãoMisure di distanziamento sociale, sospensione delle riunioni pubbliche, divieto di assembramento, limitazione all’uso dei mezzi di trasporto, chiusura di scuole, chiese e teatri: il lockdown di un secolo fa. La storia delle pandemie ci riporta, con il libro di Eugenia Tognotti, al biennio 1918-’19, nel pieno della terribile Spagnola; in effetti, gli echi di una malattia che sembrava sfuggire a ogni possibilità di intervento umano non sono poi così differenti da quelli riportati dai media oggi. La difficoltà diagnostica legata alla scarsa specificità del quadro sintomatico, simile a quello di altre malattie influenzali, ma ben più letale, l’elevato potenziale contagioso, la concomitanza con la guerra fecero rapidamente delinearsi il quadro di una tragedia collettiva.

“… Fame, peste, guerra. In tutta Italia vi è una grande epidemia chiamata febbre spagnola che anche capitò a Monterosso, non vi potete immaginare quanta gioventù muore, se dura ancora non restiamo nessuno […]. Si muore come l’animali senza il conforto di parenti e amici”. Il tono tragico di questa come di altre lettere, inviate da cittadini italiani a congiunti e amici residenti all’estero e richiamate nel volume, non lascia dubbi sulla gravità della situazione venutasi a creare a seguito della diffusione della Spagnola. Tuttavia, la documentazione ufficiale di quegli anni non fornisce un riscontro corrispondente, né permette di rilevare le reali dimensioni del problema; anzi, ci restituisce l’immagine di un dramma che si delinea a tinte flebili, almeno nella prima fase. E se anche oggi non è raro trovare memoria orale della terribile malattia, meno presente e più sfumata è la versione dei canali divulgativi ufficiali, apparati ministeriali, trattati scientifici, organi di informazione; tanto che molti interrogativi ancora rimangono in attesa di una risposta. Sui giornali dell’epoca le tracce della prima ondata dell’epidemia sono ineffabili, la tragedia che si consuma ha ancora tratti deboli e contorni sfocati. Quasi nulla riesce a trapelare della reale diffusione, delle incertezze del mondo accademico e scientifico, delle disfunzioni del sistema sanitario.

Come mai tale silenzio? Evidentemente, c’erano buoni motivi perché la realtà fosse taciuta o sottostimata. Nell’Italia lacerata dal primo conflitto mondiale, la morsa della censura dello Stato che proibiva la pubblicazione di informazioni militari si strinse, nel momento più drammatico della guerra, anche attorno alla Spagnola, la guerra sanitaria: fornire al nemico austro-ungarico informazioni sulla gravità della situazione reale era considerato contrario agli interessi nazionali, soprattutto nel momento in cui si stava preparando l’offensiva decisiva. Le direttive governative erano ferree per quanto riguarda il controllo dell’informazione: prevedevano addirittura il sequestro per le testate che avessero pubblicato articoli esplicativi. In realtà, ben prima dell’arrivo della Spagnola i giornali si erano esercitati a tacere ogni notizia che potesse avere un effetto demoralizzante sulla popolazione, aggredita già da diverse malattie epidemiche, come il colera, il tifo e il vaiolo.

Dopo il negazionismo del primo periodo – tutt’al più trafiletti tranquillizzanti, brevi note dai tratti ironici sulle pagine locali – finalizzato al consenso e al sostegno al mondo economico e produttivo necessario per la gestione della contingenza bellica, si rileva l’evidente difficoltà delle agenzie governative nel controllo e nell’orientamento della stampa; il diritto del cittadino all’informazione rimase, comunque, fortemente limitato, anche se risultò impossibile nascondere totalmente la realtà quando l’epidemia raggiunse l’acme.

Il saggio di Eugenia Tognotti, pubblicato nel 2002 e aggiornato nell’edizione del 2015, fornisce nuove conoscenze sulla pandemia influenzale del 1918. L’autrice ricorre a una molteplicità di fonti per ricostruire gli aspetti epidemiologici e socio-sanitari, ripercorrendo la cronologia di quegli anni: carteggi amministrativi, provvedimenti delle Autorità sanitarie, relazioni ministeriali. Ma sono presenti e riccamente documentati, grazie alla ricerca effettuata sui quotidiani dell’epoca e negli archivi di scrittura popolare, anche altri tratti che possono efficacemente contribuire alla costruzione del quadro storico del periodo, come le relazioni sociali, i comportamenti dei soggetti, le credenze e le idee ricorrenti: l’impatto che il dilagare della malattia esercitò sull’immaginario e che trovano, in modo sorprendente, una forma di continuità nelle crisi epidemiche, dai tempi lontani alla contemporaneità.

Chi non ricorda la mesta colonna dei carri militari diretti al cimitero di Bergamo, recentemente proposta dai media? Allo stesso modo, le immagini delle salme trasportate con mezzi speciali, delle inumazioni senza la presenza delle famiglie, dei depositi di feretri presso il cimitero monumentale e la stazione tranviaria di Porta Romana di Milano ebbero, negli anni 1918-’19, un enorme impatto sociale. “Non più preti, non più croci, non più campane” riferiva desolata una donna foggiana al genero. Le principali componenti dei rituali funebri, le cerimonie per elaborare il lutto, la condivisione del dolore nell’ambito familiare, l’intreccio fra la dimensione privata e quella pubblica erano cancellati dalla morte per Spagnola. Le fonti epistolari esprimono lo sconvolgimento del vissuto, lo smarrimento e l’angoscia di fronte ai divieti. “E’ una malattia brutta e schifosa che non ti portano nemmeno in Chiesa”, scriveva un abitante di Bedonia in una lettera diretta a New York. Ancora più della morte, sembrava incutere paura la desacralizzazione del corpo, il suo essere considerato un fardello pericoloso di cui disfarsi prima possibile.

Sono stati “i prigionieri dell’isola dell’Asinara a portare il tifo, il colera e altre malattie contagiose. Le autorità non erano riuscite a isolarle come avrebbero dovuto”; quindi, “i venditori ambulanti che bazzicavano di nascosto gli appartamenti” li introducono nelle case. Le parole del prefetto di Alghero nell’anno 1915 ci ricordano che, anche prima che si manifestasse la Spagnola, un’epidemia assume i tratti del dispositivo di emarginazione. Accade oggi, succedeva in un passato ben più lontano, avvenne anche in quel difficile biennio. La necessità dell’igiene e della disinfezione diventava un’ossessione e, almeno in alcuni strati della società, nascondeva la fobia del contatto con quelle parti sociali – quasi sempre gli abitanti dei quartieri popolari delle città – che si sottraevano all’imperativo delle norme igieniche e che venivano, quindi, considerate a rischio. Si trattava dei soggetti socialmente fragili, che occupavano misere case e angusti tuguri, in vie marginali e cosparse di rifiuti. Se non era più possibile, in pieno XX secolo, l’allontanamento coatto delle masse minacciose dei derelitti fuori del contesto urbano, rimaneva, però, lo stigma contro i portatori di germi, pericolosi vettori della Spagnola, incapaci di adeguarsi alle norme igieniche dominanti.

In realtà, scrive la Tognotti, l’aggressione epidemica del 1918 costituisce un’eccezione a una costante sociale: non operò distinzioni di classe. Tuttavia, la prospettiva storica ci restituisce una novità sul piano demografico e sociale: particolarmente bersagliate dalla malattia, con una mortalità superiore a quella degli uomini, erano le donne. L’epidemia non si era incaricata di porre rimedio all’ineguaglianza di fronte ad una morte di genere, quella in guerra, che mieteva solo vittime maschili; altrove dovevano essere ricercate le ragioni di un fenomeno che colpiva la comunità ma che, all’epoca, non furono subito chiare: l’epidemia infierì in modo particolare sulle giovani donne e sulle ragazze che si erano appropriate quasi in esclusiva del compito di assistenza e di cura dei malati, nelle famiglie e fuori. Una rilevante presenza femminile si stagliava con forza sullo scenario pubblico e si concretizzava nella partecipazione alle riunioni operative, nella distribuzione dei generi alimentari, nel confezionamento dei dispositivi di protezione civile. Le donne, inoltre, supplivano la componente lavorativa maschile impiegata nella guerra, assicurando una funzione insostituibile nelle attività produttive: erano perciò particolarmente esposte al rischio del contagio.

La Spagnola, nelle tre ondate con le quali infierì su buona parte della popolazione mondiale, mieté quasi 20 milioni di vittime; una tragedia che si aggiunse a quella della guerra, nel cui contesto – le linee dei diversi fronti, nella loro condizione di debilitazione e di malnutrizione – trovò l’ambiente giusto per prosperare. Una tragedia, tuttavia, che, come si è detto, ha lasciato scarse tracce di sé nella storiografia; per questo ha un particolare valore il libro della Tognotti. La sua documentatissima ricerca può risultare utile innanzitutto alla storia della medicina, come fa notare Gilberto Corbellini nella presentazione del volume; può rendere consapevole il futuro medico che a monte delle conoscenze e delle pratiche correnti esiste un bagaglio straordinario di esperienze, fatto sia di successi sia di errori, e che egli stesso deve essere pronto a cambiare per apprendere le nuove spiegazioni a fronte dei progressi continui del sapere e delle connessioni fra le discipline mediche. L’autrice mette in evidenza il fatto che molti interrogativi sulla patogenesi, sulle caratteristiche epidemiologiche, sui modelli di mortalità specifica per età restano ancora senza risposta, mentre la comunità scientifica pone la sua attenzione all’emergere di virus influenzali percepiti come minacce capaci di sconvolgere il mondo globale e di renderlo ancora più vulnerabile sul piano economico e sociale. La comparazione con l’attualità proposta implicitamente dal volume contribuisce a formare un clima di consapevolezza culturale in relazione alle conquiste della scienza medica, ma anche alle correlazioni che vengono a istituirsi tra medicina e vivere sociale.

Il volume della Tognotti guarda al passato e centra l’attenzione sul nostro Paese, senza dimenticare le istanze che, necessariamente, una pandemia pone sul piano mondiale. E questo è senz’altro uno dei suoi elementi di forza anche sul piano formativo, allorché si voglia ricostruire eventi trascorsi per facilitare la comprensione di ciò che può accadere in caso di riproposizione del fenomeno. Si tratta di un progetto educativo ambizioso – fa notare ancora Corbellini -, che mira a reintegrare il valore culturale ed etico-sociale della medicina attraverso il recupero della dimensione storica del sapere medico. In effetti, le dinamiche delle pandemie influenzali sembrano essere esempi emblematici di come un interesse storico, articolato a più livelli, dalle ricerche paleomicrobiologiche alle reazioni socio-culturali, possa avere ricadute sul presente.

La ricerca della Tognotti contribuisce a colmare le zone d’ombra conseguenti alla rimozione della memoria, di cui molti manuali sono esempi. Fornisce una magistrale dimostrazione di come si elabora e diffonde sapere storiografico, dal momento che le origini e le caratteristiche della crisi pandemica forse più grave dell’umanità vengono ricostruite attraverso un’approfondita ricerca d’archivio, un attento esame della letteratura medica e un’estesa ricognizione dei mezzi d’informazione; il risultato è di sicuro interesse e fruibilità da parte del mondo della scuola. Mettendo in luce il rapporto tra guerra e malattie infettive, il libro mostra come i conflitti siano luoghi dell’esistenza che travalicano ogni linea di confine per intaccare le esistenze di tutti.

Le pandemie sono eventi che si ripetono nel tempo e ricorrono spesso con le stesse modalità, anche se mai in maniera del tutto uguale: il libro fornisce utili strumenti di analisi interpretativa e permette una riflessione approfondita e a tutto tondo su un argomento di grande attualità e di interesse globale.

Enrica Dondero


TOGNOTTI, Eugenia. La Spagnola in Italia. Storia dell’influenza che fece temere la fine del mondo (1918-19). Milano: FrancoAngeli, 2015. Resenha de: DONDERO, Enrica. Il Bollettino di Clio, n.14, p.157-160, dic., 2020. Acessar publicação original 

Queer in the Tropics: Gender and Sexuality in the Global South | Pedro Paulo Gomes Pereira

Queer in the Tropics: Gender and Sexuality in the Global South, de Pedro Paulo Gomes Pereira, é apresentado pelo autor como um livro-experiência. São vidas e teorias que tecem trajetórias e(m) afetos. Pedro Paulo vai incorporando seus encontros com experiências-outras, e aqui o uso do gerúndio se faz necessário, posto que o movimento e o devir são constituintes de um caminhar que segue abalando as teorias que viajaram aos trópicos, ao Sul Global. O livro constrói uma análise que, a partir da teoria queer, convida à interpelação da configuração sexo/gênero como parte do projeto colonial.

Ensaio passos entre mundos e teorias, daqui do interior, com um olhar caipira de quem desconfia de muita coisa: o encontro com o livro me afetou de modo a querer contar umas histórias com Pedro Paulo. Mas, no meio do caminho tinha uma pedra1. Não bastasse Richard Miskolci ter escrito a apresentação, Judith Butler escrevera o prefácio do livro. Para que eu adentraria nessa prosa? Leia Mais

Statelessness: A Modern History / Mira Siegelberg

SIEGELBERG Mira Uberização
Mira Siegelberg / Foto: TAUVOD /

SIEGELBERG M Statelessness 2 UberizaçãoMira Siegelberg’s important monograph retrieves and explores the debates in a range of different forums on a subject of fundamental significance: how, in the author’s words, ‘the problem of statelessness informed theories of rights, sovereignty, international legal order, and cosmopolitan justice, theories developed when the conceptual and political contours of the modern interstate order were being worked out, against the background of some of the most violent and catastrophic events in modern history’. With this bold opening statement, Siegelberg promises to cast fresh light on the history of the 20th century. The result is a scintillating display of erudition and an abundance of original insight on a subject that demands close scrutiny.

One way of telling the history of statelessness is to trace the origin of international agreements, notably the adoption by the United Nations General Assembly in 1954 of the Convention Relating to the Status of Stateless Persons in 1954, according to which a stateless person is anyone ‘who is not considered as a national by any State under the operation of its law’. Siegelberg does not dispute the importance of such a foundational moment—it forms part of her final chapter—but she insists upon the need for a non-teleological and more nuanced perspective, based upon a close reading of texts that emanated from multiple actors, including but not confined to a relatively small cast of international lawyers. These texts had consequences for the prospects of countless men and women. Statelessness thus becomes a touchstone for thinking about the relationship between the state, the international legal order, and the individual, and how that relationship was constantly reimagined. Leia Mais

Infographie de la Rome antique / John Scheid e Nocolas Guillerat

SCHEID J Infographie de la Rome DETALHE1 Uberização
Detalhe de capa de Infographie de la Rome antique /

GUILHERAT N Inforgraphie de la Rome antique UberizaçãoDeux ans après l’Infographie de la Seconde Guerre mondiale, la maison d’édition Passés Composés publie L’Infographie de la Rome antique en octobre 2020. C’est la première fois que l’histoire romaine est racontée par le recours à la datavisualisation. Cet ouvrage est le fruit du travail de John Scheid, appuyé par Milan Melocco et Nicolas Guillerat qui s’est occupé du data design.

John Scheid est professeur émérite au Collège de France, responsable de la chaire « Religion, institutions et société de la Rome antique » de 2001 à 2016. Il est l’auteur de nombreux ouvrages qui ont marqué l’étude de la religion et de la pratique religieuse à Rome, comme récemment Rites et religions à Rome en 2019. Milan Melocco, ancien élève de l’École normale supérieure et agrégé d’histoire, est doctorant à Sorbonne Université et réalise une thèse intitulée « Histoire d’une route de l’Attique à l’Hellespont. L’impérialisme athénien et l’intégration d’un espace maritime du VIe s. av. J.-C. au Haut-Empire romain ». Nicolas Guillerat est data-designer, déjà aux commandes de la précédente infographie publiée chez Passés Composés.

Ce livre intéressera un public divers : aussi bien les non-spécialistes pour faire une mise au point sur l’histoire romaine, les professeurs pour avoir accès à des documents fiables et inédits utilisables avec les élèves et surtout les étudiants de licence et de CPGE, les candidats aux concours de l’enseignement qui peuvent y trouver à la fois un moyen de se mettre à niveau sur l’histoire romaine et des documents à utiliser dans les épreuves didactiques ; et enfin évidemment tout passionné d’histoire romaine.

L’avant-propos de l’ouvrage rappelle quelques problèmes spécifiques à l’histoire romaine. L’un des premiers repose sur le choix d’une chronologie précise à l’intérieur d’une histoire romaine très longue allant de sa fondation supposée en 753 av. J.-.C. jusqu’à la chute de Constantinople en 1453. Les auteurs ont décidé de se consacrer « essentiellement à l’État de Rome, la Res publica du peuple romain, comment les habitants du monde romain se définissaient ». Une fois le cadre chronologique arrêté, Ve s. av. J.-C. au IVe s. apr. J.-C., se pose la question des sources spécifiques à l’histoire romaine. De fait, les sources pour les périodes les plus anciennes sont peu nombreuses et peu compatibles avec une utilisation chiffrée. Cette spécificité explique donc un traitement « sommaire et rapide » des premiers siècles de Rome. A partir IVe s. av. J.-C., les sources deviennent plus nombreuses et plus fiables permettant à l’historien de les exploiter dans plusieurs domaines. Toutefois, à la différence de la Seconde Guerre mondiale, les sources pour la période romaine sont avares en informations chiffrées et il est difficile d’évaluer la fiabilité de celles qui nous sont parvenues.
Malgré les limites posées par les sources pour la réalisation de cet exercice, l’ouvrage, d’une belle facture comme le précédent, est divisé en trois parties thématiques, elles-mêmes divisées en plusieurs chapitres. La première partie s’intitule « Territoires et populations de l’Empire », la deuxième « Gouverner, vénérer les dieux, pourvoir aux besoins », et la troisième « La puissance militaire romaine ».

La première partie pose le cadre de l’histoire romaine en mettant en évidence la croissance du pouvoir et du monde romain. Le premier chapitre porte sur le passage progressif d’une cité-état à la constitution d’un véritable empire territorial. L’ouvrage offre plusieurs cartes intéressantes pour montrer l’évolution de la superficie de Rome et des territoires contrôlées par l’Vrbs au fil des années . Il y a également un développement centré uniquement sur l’Vrbs avec une carte de la ville de Rome au IVe siècle ap. J.-C. accompagnée d’une présentation des différentes régions urbaines. Il y a également une partie sur les fora de Rome avec une carte p. 21 très intéressante qui présente les bâtiments et la nature de ceux-ci dans les différentes places.

Le deuxième chapitre revient sur la constitution multiforme de ce que l’on peut appeler par commodité le « peuple romain », mais qui est surtout marqué par une profonde diversité. Il y a tout d’abord une présentation de l’évolution de la population de Rome qui ne met pas de côté les difficultés et les débats de la démographie antique. Une deuxième partie s’intéresse aux différents statuts juridiques avec une infographie sur les droits corrélés aux statuts civiques dans l’empire. Ce document est plus qu’utile pour faire comprendre ces différences aux étudiants de licence, mais il peut également être utilisé, en simplifiant peut-être certains éléments, avec des élèves de lycée. Une troisième partie bienvenue porte sur les clientèles sociales et politiques, phénomène particulier du fonctionnement romain, parfois difficile d’accès.

L’illustration proposée est d’ailleurs limpide permettant une bonne compréhension avec le développement écrit. Ce deuxième chapitre se termine par une présentation des structures sociales du « peuple romain ». Nous saluons l’infographie p. 32 intitulée « Les saisons de la vie d’une femme romaine » permettant de mieux comprendre le destin de la femme romaine au sein de cette société présentée comme patriarcale.
Le dernier chapitre composé d’une double page explique l’expression devenue courante de « mosaïque de cités » en remplaçant dans son contexte historique cette notion spécifique de la cité antique à travers deux exemples : la Gaule et de la Gaule Belgique.

La deuxième partie est consacrée au fonctionnement de ce vaste ensemble, en commençant par les institutions de Rome sous la République et l’Empire, sans oublier la figure si spécifique de l’empereur romain. Le premier chapitre explique le système politique romain d’un point de vue chronologique. Nous retenons l’infographie p. 39 qui permet d’expliquer clairement le fonctionnement des comices et des élections. C’est là aussi un document qui sera utile pour les étudiants. L’infographie sur la double page 42 et 43 porte sur « La naissance d’une loi sous la République et l’Empire ». Celle-ci est magnifiquement réalisée permettant de mieux comprendre ce phénomène complexe du droit romain faisant appel à toutes les composantes de la société, illustrant l’imbrication entre politique et religieux. Une dernière partie revient sur le cursus honorum.

Le deuxième chapitre porte plus précisément sur le pouvoir impérial. Il débute par une analyse de la titulature impériale et donc de l’analyse des pouvoirs de l’empereur, à partir de l’exemple de Trajan, faisant écho aux exercices d’épigraphie réalisés en histoire romaine. Il y a ensuite une explication du fonctionnement de l’administration impériale, de la garde prétorienne, devenue centrale au fil des ans, et une présentation des résidences impériales témoignant de l’évolution de l’Empire. La fin de ce chapitre est consacrée à une présentation des principales dynasties impériales par des arbres généalogiques permettant de mieux saisir les relations entre chaque empereur.

Le troisième chapitre porte sur les religions avec une présentation très savante. Ce chapitre intéressera grandement les étudiants préparant les concours de l’enseignement pour réviser certains points, mais surtout comme réservoir de documents utilisables à l’oral. Il y a tout d’abord une présentation essentielle des cultes publics et privés, ainsi que des principales divinités romaines et leur apparition d’un point de vue chronologique. La double page 60 et 61 propose une synthèse riche et claire des principaux officiants romains dans les cultes. Il y a également une étude de cas sur les Jeux séculaires qui peut s’avérer utile pour les concours. Enfin, la dernière partie s’intéresse aux monothéismes dans l’empire romain : le judaïsme et le christianisme.

Le dernier chapitre présente l’économie romaine, souvent déroutante pour le lecteur contemporain et au cœur de débats historiographiques. Ce chapitre arrive à rendre clair et accessible des spécificités romaines parfois obscures. Le premier temps explique le fonctionnement de l’économie romaine, il y a ensuite une description des besoins de Rome, de l’Italie et de l’Empire. La double page 72 et 73 offre une magnifique carte présentant les principales voies de communication ainsi que les ressources de l’Empire.

La troisième partie analyse « La puissance militaire romaine ». C’est également la partie la plus développée de cet ouvrage (environ 50 pages). Le premier chapitre revient sur les légions comme instrument de la domination romaine en commençant par un aperçu chronologique du fonctionnement de l’armée romaine des premiers siècles jusqu’à l’empire. Là encore, cette double page (p. 78-79), sera utile pour faire comprendre ce fonctionnement aux étudiants, notamment les changements qui s’opèrent à la fin de la République. Il y a également toute une description des camps et du fonctionnement d’une légion au combat qui raviront les connaisseurs d’histoire militaire. Ensuite, l’ouvrage présente les légionnaires, les cavaliers et leurs panoplies. La carte sur la double page 96-97 offre au lecteur une présentation de la répartition des légions romaines sur le territoire impérial jusqu’en 215 ap. J.-C.

Le deuxième chapitre analyse la force maritime de Rome qui a dû la développer « par la force des choses » (p. 100). Le chapitre s’ouvre sur une présentation toujours intéressante des familles des navires antiques. La page 104 porte exclusivement sur la bataille d’Actium de 31 av. J. C.

Le dernier chapitre de l’ouvrage, le dixième, revient sur les différentes guerres et campagnes qui ont marqué l’histoire de Rome. Il n’est donc pas étonnant que ce chapitre s’ouvre par un retour sur les guerres civiles romaines de l’époque républicaine avec une présentation simple, mais claire, des optimates et des populares. Il y a ensuite une analyse des guerres contre Carthage, moments également centraux dans l’histoire de la République romaine, avec une double page p. 112-113 offrant une carte retraçant les trois guerres puniques. La guerre des Gaules est également développée à la suite des guerres puniques avec une présentation cartographique et chronologique des campagnes de César. Enfin, l’ouvrage se termine sur la campagne contre Spartacus, aussi appelée troisième guerre servile, de 73 à 71 av. J.-C.

Les dernières pages de l’ouvrage proposent une bibliographie succincte pour les néophytes qui souhaiteraient approfondir certains aspects mentionnés dans cette infographie.

En définitive, cet ouvrage propose un savoir toujours savant et érudit présenté sous forme pédagogique et accessible. Il constitue une lecture agréable et stimulante pour ceux qui cherchent à approfondir leurs connaissances sur l’histoire romaine. Mais c’est aussi un outil de travail formidable pour l’enseignement et rendre accessible les spécificités de l’histoire romaine. La qualité graphique est indéniable ainsi que la volonté de donner le plus d’informations, au risque parfois de proposer des infographies un peu chargées. Ce livre offre ainsi une nouvelle façon, aussi érudite que ludique, de présenter l’histoire de Rome.

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Et pour lire des extraits en ligne sur le site de l’éditeur, c’est par ici !

Noémie Lemennais – Professeure agrégée en lycée, doctorat en histoire romaine à l’Université de Lille, membre du bureau de la régionale APHG Nord-Pas-de-Calais.


SCHEID, John; GUILLERAT, Nicolas. Infographie de la Rome antique. Passés composés, 2020. Resenha de: LEMENNAIS, Noémie. Association des Professeurs d’Histoire et de Géographie (APHG). 27 nov. 2020. Disponível em: <https://www.aphg.fr/John-Scheid-Infographie-de-la-Rome-antique-Passes-Composes-2020>Consultado em 11 jan. 2021. Consultar publicação original

Práticas de pesquisa em História | Tania Regina de Luca

Práticas de Pesquisa em História (2020), escrito pela Profª. Drª Tania Regina de Luca (UNESP), finaliza a coleção História na Universidade (2020), da Editora Contexto, que teve, em seu conselho, De Luca, Prof. Dr. Paulo Miceli (UNICAMP) e Profª. Drª. Raquel Glezer (USP). Mestre e Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo, professora de cursos de graduação e do programa de pós-graduação em História da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Assis, e, pela Contexto, “[…] é organizadora dos livros História da imprensa no Brasil e O historiador e suas fontes e coautora dos livros Nova História das mulheres no Brasil, Fontes históricas e História da cidadania” (DE LUCA, 2020, Orelha do livro), nesta obra, à convite da editora, De Luca busca responder: por onde começar uma nova pesquisa em História?

Voltada ao público de graduação, sem pretensão de ser, ou tornar-se, um receituário de História, a obra convida o leitor a

[…] percorrer um amplo panorama que tem por finalidade apresentar, de forma didática, procedimentos e métodos que distinguem a produção do conhecimento historiográfico e, desse modo, incentivá-lo a participar ativamente desse instigante desafio que é escrever História, elaborando e executando seu próprio projeto de pesquisa (DE LUCA, 2020, p. 11). Leia Mais

Atlas de la France médiévale. Hommes, pouvoirs et espaces du Ve au XVe siècle – Antoine Destemberg

DESTEMBERG Antoine Uberização
Antoine Destemberg / Foto: Book Note /

DESTEMBERT A Atlas de la France medievale UberizaçãoDESTEMBERG, Antoine. Atlas de la France médiévale. Hommes, pouvoirs et espaces du Ve au XVe siècle. Paris: Autrement, 2017. rééd. 2020. 96 p. Resenha de: PIERROT, Loïc. Association des Professeurs d’Histoire et de Géographie (APHG) 20 nov. 2020. Disponível em: Disponível em < https://www.aphg.fr/Antoine-Destemberg-Atlas-de-la-France-medievale-Hommes-pouvoirs-et-espaces-du>Consultado em 11 jan. 2021.

Parmi le flot de publications de la rentrée académique, on a pu apercevoir une nouvelle édition de l’Atlas de la France médiévale conçu en 2017 par Antoine Destemberg, maître de conférences en histoire médiévale à l’Université d’Artois, en collaboration avec le cartographe Fabrice Le Goff. La première édition avait en effet connu un juste succès et appelait un nouveau tirage. L’édition de 2020 comporte peu de modifications hormis quelques actualisations de la bibliographie, mais l’occasion est bonne pour rappeler la qualité de ce travail de synthèse riche de près de soixante-dix cartes.

Conçu dès l’origine comme un complément de l’Atlas de la France médiévale (2005) d’Olivier Guyotjeannin et Guillaume Balavoine, l’Atlas d’Antoine Destemberg propose de parcourir les dix siècles du Moyen Âge en se focalisant sur les aspects politique, économique, social et culturel de la période. Les cartes se distinguent par leur précision et leur clarté que complètent habilement quelques graphiques soignés. L’historien et le cartographe proposent une approche multiscalaire en donnant à voir aussi bien des cartes régionales que locales, voire quelques plans simplifiés de bâti. Ces derniers ne concernent toutefois que des espaces bien connus des médiévistes – ainsi l’Île de la Cité à Paris, le palais des papes d’Avignon ou l’abbaye de Cluny – et, en dépit de leur intérêt pédagogique, on regrette que d’autres tentatives de représentation à une échelle locale n’aient pas été esquissées. Quoi qu’il en soit, la conception de l’Atlas ne manque pas de recul critique et rend compte de la difficulté d’appréhender l’espace au Moyen Âge. Le jeu d’échelles cartographiques, commenté au fil des pages par A. Destemberg, permet de faire remarquer que les notions de « territoire » et de « frontière » n’étaient pas aussi nettement définies au Moyen Âge qu’aujourd’hui. Il rappelle aussi que toute production cartographique a son histoire et sa perspective et que ni la carte ni les concepts ne sont anodins. Il faut ainsi souligner l’efficacité du dialogue entre les figurés et les explications historiques : c’est là que l’atlas trouve sa pertinence et son utilité. Les textes se veulent accessibles à un
public large, historien ou non, et l’ensemble peut servir de matériau solide pour les étudiants et les enseignants. Antoine Destemberg se dit conscient des limites de son ouvrage, ayant renoncé ici et là à l’exhaustivité en privilégiant l’intelligibilité de la synthèse, mais cet aveu l’honore : c’est bien d’un plaidoyer pour une vulgarisation scientifique avertie dont il s’agit. Une de ces entreprises éditoriales dont notre discipline a besoin, autant que des études scientifiques de fond.

Loïc Pierrot – Élève à l’École nationale des Chartes, étudiant à l’École normale supérieure de Paris.

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Leaders assassinés en Afrique centrale 1958-1961 – Karine Ramondy

RAMONDY K Leaders assanines DETALHE Uberização
Detalhe de Capa de Leadrs assassinés en Afrique centrale 1958-1961 / Karine Ramondy /

RAMONDY K Leaders assanines Uberização RAMONDY, Karine. Leaders assassinés en Afrique centrale 1958-1961: Entre construction nationale et régulation des relations internationales. Paris: L’Harmattan, 2020. 537 p. Resenha de: BELLA, Sihem. Association des Professeurs d’Histoire et de Géographie (APHG). 20 nov. 2020. Disponível em < https://www.aphg.fr/Karine-Ramondy-Leaders-assassines-en-Afrique-centrale-1958-1961>Consultado em 11 jan. 2021.

En suivant la trajectoire de quatre leaders d’Afrique centrale au temps des indépendances, Barthélémy Boganda (République centrafricaine), Patrice Lumumba (République du Congo), Félix Moumié et Ruben Um Nyobè (Cameroun), Karine Ramondy interroge l’assassinat politique comme moyen de réguler les relations internationales et comme fondement de la construction nationale. Elle contribue par ce travail au renouvellement de l’historiographie des indépendances et l’histoire des mémoires en Afrique centrale.

Karine Ramondy, chercheuse associée à l’UMR Sirice de l’université Paris-I, est spécialiste de l’histoire de l’Afrique dans les relations internationales au XX e siècle, de l’histoire des violences coloniales et postcoloniales et de l’anthropologie historique du combattant. Son ouvrage, Leaders assassinés en Afrique centrale 1958-1961 : entre construction nationale et régulation des relations internationales, paru aux éditions L’Harmattan en 2020, suit la trajectoire de quatre leaders d’Afrique centrale des indépendances, Barthélémy Boganda (République centrafricaine), Patrice Lumumba (République du Congo), Félix Moumié et Ruben Um Nyobè (Cameroun). Au prisme de leur assassinat politique – défini comme le « meurtre intentionnel d’une victime, perpétré pour des raisons liées à sa position publique éminente, commis à des fins politiques » (p. 17), Karine Ramondy défriche l’histoire de trois États en croisant les échelles durant près d’une décennie, sans pour autant essentialiser « l’Afrique centrale ». L’ouvrage contribue au renouvellement de ce champ historiographique initié depuis les années 1980, dans le sillage des travaux de Jean-François Bayart, Béatrice Hibo, Florence Bernault, Rémy Bazenguissa, Françoise Blum ou encore Daniel Abwa.

Avec la tâche délicate de travailler à la première étude historique sur le sujet, l’historienne s’est appuyée sur des sources variées mais dispersées : des archives étatiques des anciens pays colonisateurs, des entretiens de « témoins », des archives de la commission de tutelle de l’ONU ou encore des archives de partis, dirigeants et personnalités du temps de l’indépendance. Certaines de ses sources figurent d’ailleurs dans une partie annexe très riche, comportant des photographies, des extraits de correspondance ou encore des documents d’archives, publiques ou privées. La recherche adopte une approche biographique combinée à une approche comparative, de manière à « cerner des connexions à l’échelle globale » (p. 20). Il s’agit de s’interroger sur des invariants potentiels, mais aussi sur le rôle des puissances occidentales et les complicités liés à ces assassinats. L’ouvrage se divise en quatre parties. Si les deux premières parties se concentrent sur l’émergence de ces self-made men et les processus qui conduisent à leurs morts, les deux dernières élargissent la focale et les font revenir « à la vie » pour évoquer, dans le cadre des relations internationales, les synergies qui ont favorisé leur disparition.

Des leaders encombrants

Dans une première partie, Karine Ramondy commence par étudier la « fabrique du leader », étape préalable pour montrer en quoi les leaders apparaissent rapidement comme « encombrants » (p. 39) – pour leurs rivaux locaux comme pour les puissances occidentales qui échouent à les influencer. Une situation qu’elle résume en ces mots, inspirés par l’écrivain Albert Memmi : « à vouloir s’asseoir sur deux chaises, on est assis nulle part » (p.41). L’enfance et l’éducation des leaders est d’abord évoquée : ils sont des « enfants des
marges, orphelins ou délaissés par leurs parents d’origine très modeste dont aucun n’est issu d’un lignage ou d’une chefferie prestigieuse » (p. 41). L’importance de l’école pour ces élites, dont les membres étaient appelés « évolués », est soulignée : il s’agissait d’en faire, « des auxiliaires de qualité mais sans trop de qualités » aux yeux des colons (p. 43). Patrice Lumumba, Ruben Um Nyobè, Félix Moumié et Barthélémy Boganda étaient considérés comme « évolués » car européanisés, une situation que l’historienne décrit comme difficile : ils étaient « détachés de leurs racines et ancrés dans un nouvel univers qui leur est hostile » (p. 63).

Karine Ramondy explore également leurs relations avec les femmes, révélatrices de leurs tiraillements et de leurs contradictions. Elle évoque notamment le rôle de la mobilisation des femmes pour l’indépendance, prenant l’exemple de Ruben Um Nyobè et de son épouse Marthe Ngo Mayack, qui prennent le maquis en famille (p. 69), ou encore le décalage entre le discours officiel des révolutionnaires sur l’égalité des sexes et la persistance de la sujétion de leurs épouses dans la sphère domestique, prenant l’exemple de Léonie Abo, mariée de force et soumise aux décisions de Mulele (p. 70). Les leaders étudiés, qui doivent leur réussite à leur volonté et à leur force de travail hors norme, se sont attachés à forger un leadership « à l’africaine », incarnation de la modernité et du développement (p. 74). Dans des pages passionnantes, Karine Ramondy étudie les références à la sorcellerie et aux forces occultes dans le discours des opposants aux leaders, dont se jouent parfois ces derniers ; ainsi Boganda détourne sa réputation de « possédé » (p. 76), alors que son statut de prêtre semble avoir facilité le syncrétisme entre pratiques de sorcellerie et christianisme aux yeux des Centrafricains.

Sur les circonstances et les contextes rapprochés des assassinats, Karine Ramondy montre que les leaders ont été chassés comme des animaux, faisant écho aux travaux de Lancelot Arzel sur la pratique de la chasse coloniale (p. 92). L’animalisation des leaders a en effet été très largement relayée par les médias, comme pour la traque de Ruben Um Nyobè, réfugié dans le maquis en 1955 (p. 96). Dans le cas de Patrice Lumumba, des photographies de son cadavre ont été diffusées ; ainsi, le leader devient trophée, « doublement tué, une première fois par l’arme à feu, une seconde par l’objectif de la caméra » (p. 99). Sur la question de la responsabilité des assassinats, Karine Ramondy a examiné les enquêtes menées comme des précédents significatifs pour l’histoire des crimes politiques, en montrant aussi leurs failles. Elle étudie notamment le rapport Bellonte sur l’accident d’avion ayant causé la mort de Boganda, en mettant en évidence les négligences de la commission d’enquête belge – avec toutefois l’idée qu’elle est un modèle du genre, l’équivalent n’ayant jamais été réalisé par le gouvernement français.

Éliminer les leaders

L’historienne s’intéresse dans une deuxième partie de l’ouvrage aux processus d’« élimination politique, physique et mémorielle » (p. 137) communs aux leaders étudiés. Ces processus reposent sur l’usage de la justice et des médias ; une fois morts, les dépouilles et les mémoires des leaders sont malmenées, ce qui n’empêche pas qu’ils soient pour la plupart devenus des icônes dans leurs pays respectifs. Les procédures judiciaires menées à l’encontre des leaders sont envisagées par l’historienne comme des armes politiques – « défensives ou offensives, dissuasives ou factices » (p. 139), utilisées dans le maintien de la mainmise du lobby colonial sur les « indigènes ». Les procès à l’encontre des leaders ont un triple objectif : paralyser, museler, décrédibiliser (p. 140). Ainsi, l’acharnement judiciaire contraint Ruben Um Nyobè à prendre le maquis pour fuir la prison ; la volonté de briser l’immunité parlementaire des leaders poursuit le même but.
Concernant la défense des leaders, Karine Ramondy porte une attention particulière aux réseaux d’avocats. Souvent financé par les partis communistes, le recours aux avocats occidentaux a pour conséquence le renforcement des suspicions d’accointance avec l’URSS, dans le contexte de la guerre froide. L’exemple des stratégies de défense employées par Marie-Louise Jacquier-Cachin, l’une des avocates de Ruben Um Nyobè en 1955, est particulièrement saisissant (p. 167). Avocate communiste ayant participé à la défense des ouvriers de l’usine Renault en grève, à celle de Duong Bach Maï à Saïgon ou
encore de militants poursuivis pendant la guerre d’Algérie, elle appuie sa défense sur l’idée selon laquelle les garanties de l’État de droit ne seraient pas respectées, cherchant à faire reconnaître la nature politique et non criminelle de ces actes liés à la lutte pour l’indépendance.

Comme l’arme judiciaire, l’arme médiatique participe pleinement de la volonté de nuire aux leaders. Pour décrédibiliser leurs actions, la presse comme la radio ont été largement employées pour attaquer leur image, ou censurer leurs idées aux échelles nationales mais aussi internationales. Leur irresponsabilité, leur incompétence, les accusations de débauche qui leur sont faites ont participé à leur diabolisation voire à leur animalisation. Parfois, des rumeurs ont annoncé leur décès avant leur véritable mort (p. 176). Cependant, les médias peuvent aussi être envisagés comme au service du leadership. Ainsi, le journalisme a
souvent été conçu comme un tremplin politique au moment des indépendances, de manière à rétablir l’équité de l’information. Des journaux d’opinion ont permis d’accompagner la lutte pour la souveraineté, comme La Voix du Cameroun ou encore L’Étoile, fondés par l’Union des populations du Cameroun (p. 206). L’élimination mémorielle des leaders, au-delà de leur mort, est l’objet d’un long développement : comme pour la damnatio memoriae dans la Rome antique, la mémoire des leaders est visée par un acharnement visant à priver ceux-ci des honneurs dus aux dépouilles : les corps sont violentés et privés de sépulture. Ainsi, le corps de Ruben Um Nyobè fut traîné, ensanglanté et son visage défiguré ; celui de Patrice Lumumba est quant à lui entièrement dissous dans la soude (p. 218 et 219). Bien que l’intention fût d’éviter la renaissance mémorielle des leaders, ces outrages ont favorisé l’émergence du statut d’icônes mémorielles, qui subsiste jusqu’à aujourd’hui dans le cas de Lumumba, Boganda et Nyobè (p. 232).

Les espoirs déçus de l’ONU et du panafricanisme

La troisième partie est consacrée aux entreprises politiques et diplomatiques des leaders impliquant l’ONU et les acteurs du panafricanisme, qui se sont souvent soldées par des désillusions. L’ONU s’est grandement souciée des indépendances des colonies dans les années 1955-1965 dans la mesure où celles-ci ont modifié l’équilibre des puissances. Le recours à l’organisation a d’abord fait l’objet d’espoirs pour les leaders, dans la perspective d’un rapprochement entre idéaux de la décolonisation et droits de l’homme. L’Assemblée générale, bien plus que le Conseil de sécurité dont ils étaient exclus, a constitué pour eux une tribune pour exprimer leurs idées et rechercher des soutiens. Cependant, l’inexpérience des leaders, les entraves qui leur ont été opposées ou les attaques du lobby colonialiste ont eu globalement raison des espoirs placés en l’ONU. Ces tentatives des leaders ne sont cependant pas restées vaines ; Nyobé tire par exemple une certaine légitimité de son déplacement à l’ONU au moment de son retour au Cameroun (p. 262). Dans l’accompagnement de l’émergence de la jeune République du Congo, l’action de l’ONU est devenue un cas d’école en relations internationales. L’assassinat de Lumumba n’a pas été évité, mais la réaction de l’ONU est aujourd’hui reconnue comme l’une des actions les plus abouties de la force onusienne (p. 282). Malgré cela, c’est l’inaction qui caractérise globalement le bilan de l’action onusienne pendant les indépendances.

Le panafricanisme a lui aussi suscité une certaine exaltation des leaders, puisque synonyme pour eux de grand retour des Africains dans l’histoire intellectuelle et politique des relations internationales (p. 301). Les projets d’union et de solidarité régionales et continentales ont cependant échoué eux aussi, l’Organisation de l’unité́ africaine (OUA) créée en mai 1963 n’aboutissant qu’à un simple organe de coopération étatique. Le projet de Boganda d’unir l’Afrique centrale latine a également connu l’échec, à cause notamment de ses difficultés à constituer une élite politique. Enfin, le panafricanisme a été éprouvé par la crise congolaise (1958-1960), alors que la conférence des peuples africains d’Accra le 5 décembre 1958 était vue comme un évènement matriciel de la solidarité africaine (p. 340). Cette conférence appuie le leadership de Patrice Lumumba, dont la formation politique est stimulée par son amitié avec Frantz Fanon, partisan comme lui de l’unité africaine (p. 357). Pourtant, comme pour le recours à l’ONU, le passage « de la théorie à la pratique panafricaine » (p. 365) se solde par un échec, incarné par la mort de Lumumba.

Une géopolitique néfaste aux leaders

La quatrième et dernière partie évoque une géopolitique néfaste pour les leaders et leur survie, due aux effets négatifs de la bipolarisation des relations internationales pour les indépendances africaines conjuguée à la persistance du néocolonialisme. Pour l’historienne, les archives ont remis en question la place des leaders africains, longtemps sous-estimés et considérés comme passifs (p. 371). Ils ont en effet été capable de s’affirmer dans un monde bipolaire, et l’étude de cette affirmation contribue à accorder à l’Afrique une historicisation et une spécificité. Karine Ramondy étudie notamment la perception des leaders africains par les dirigeants des grandes puissances, notant par exemple que Staline les juge défavorablement contrairement à Khrouchtchev, qui accepte leur neutralisme en se contentant de leur anti-impérialisme (p. 374). Les Soviétiques considèrent les leaders africains avec prudence, dans certains cas plus que d’autres : par exemple, chez Barthélémy Boganda, le rejet du communisme était constitutif de son identité politique. A l’inverse, Félix Moumié a cultivé une ambiguïté avec le communisme (p. 400) – des liens ont pu être fatals pour Karine Ramondy, selon laquelle « l’injonction à être communiste a tué les leaders » (p. 410).

Le rôle des renseignements occidentaux pour « favoriser les hasards » (p. 411) est longuement appréhendé dans le dernier chapitre de l’ouvrage. Sous le sceau du secret d’État, leur but est idéologique, correspondant à une volonté de contrôle. Ainsi, les services secrets du Royaume-Uni, des États-Unis ou encore de la France comptent parmi les plus actifs pour favoriser la place des puissances occidentales en Afrique centrale. En France, le nom de Jacques Foccart, souvent associé à la Françafrique, apparaît inévitablement, tout comme la figure du barbouze défini par Karine Ramondy par son action secrète, son fervent gaullisme et anticommunisme et son « sens du devoir » (p. 417). Foccart, qui, régulièrement informé sur Moumié, a sans aucun doute donné un « feu orange » à son assassinat (p. 459). Les réseaux semi-officiels et officieux, comme celui des appuis locaux – Fulbert Youlou en AEF ou encore Houphouët-Boigny en AOF par exemple – ont déployé de nombreux efforts pour étouffer les aspirations des leaders. Fulbert Youlou, qualifié de « fossoyeur de l’idéal
centrafricain » (p. 417), a cherché à déstabiliser les tenants de la souveraineté centrafricaine au profit des puissances coloniales. Les leaders avaient ainsi peu de chance de rester en vie : officiellement et officieusement, tout a été fait pour entraver leurs actions, qui se heurtaient aux intérêts français, belges, britanniques, ou américains en Afrique centrale mais aussi aux intérêts d’acteurs africains souvent proches des leaders.

Les leaders étudiés, considérés aujourd’hui comme les pères des nations
indépendantes, restent des références au sein des sentiments nationaux qu’ils ont eu à cœur de créer (p. 463). Lorsque Karine Ramondy explique que pour certains Africains, les malheurs que connaissent la République centrafricaine et la République démocratique du Congo s’expliquent par l’outrage fait à leurs pères fondateurs (p. 243), il apparaît clairement qu’à défaut d’être des prismes de lecture uniques des destins nationaux, il est indispensable de faire l’histoire de ces assassinats politiques. Encore très présents dans les esprits, un retour sur ces assassinats est essentiel pour les constructions nationales. L’ouverture d’archives, comme celles des gouvernements Ahidjo et Biya pour le Cameroun, permettra sans doute de nourrir d’autres recherches en ce sens. Le travail de Karine Ramondy ouvre également des possibilités de recherche sur d’autres contextes plus ou moins lointains – le Maroc et l’assassinat de Mehdi Ben Barka (1965) par exemple, ou encore, plus récemment, celui de Laurent-Désiré Kabilé au Congo-Zaïre (2001).

Liens utiles:

La présentation de l’ouvrage sur le site de l’éditeur

Quelques podcasts de RFI portant sur les recherches de Karine Ramondy :
1) https://www.rfi.fr/fr/emission/2018…
affaire-internationale
2) https://www.rfi.fr/fr/podcasts/2020…és-lumumba-à-um-nyobe-spéciale-
indépendance-rdc
3) https://www.rfi.fr/fr/podcasts/2020…
4) http://www.rfi.fr/fr/podcasts/20200…
%C3%A9tait-leader-g%C3%AAnant-les-fran%C3%A7ais

Sihem Bella – Professeure au lycée Jean Moulin (Roubaix)

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Wittgenstein e os filósofos: “semelhanças de família” / Mauro L L Condé

Acaba de vir a público o livro com o título Wittgenstein e os filósofos: “semelhanças de família”, de Mauro Lúcio Leitão Condé, professor e pesquisador em Epistemologia, Filosofia e História das Ciências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O livro é uma escolha de Mauro Condé de artigos e capítulos de livros publicados em coletâneas e periódicos brasileiros, em diferentes momentos de sua trajetória intelectual, entre os anos de 1993 e 2018. Seu propósito é corajoso e sua premissa, clara: usar o método wittgensteiniano das “semelhanças de família” (Familienänhlichkeiten) para compreender a ciência, a história, e filósofos como Fleck, Kuhn, Koyré, Nietzsche e Maquiavel.

A Apresentação explicita qual a intenção de Condé (p. 15) com o seu livro:

Sempre vi em Wittgenstein uma possibilidade de ler outros autores ou de lidar com diferentes problemas filosóficos. Assim, em certo sentido, tornei-me ‘usuário’ do pensamento de Wittgenstein, isto é, a partir do autor das Investigações Filosóficas, procurei explorar problemas filosóficos – não necessariamente os mesmos abordados por ele – ou contrapor sua filosofia à de outros pensadores com a finalidade de elucidar tais problemas. (…) O que apresento aqui é exatamente essa parte em que analisei autores e problemas explicitamente a partir da obra de Wittgenstein. Neste exercício de reunir esses textos não foi propriamente a minha intenção expor um ponto de convergência nas abordagens dos diferentes autores e problemas analisados, mas simplesmente ter a possibilidade de expor em um único trabalho estas várias ‘semelhanças de família’ – e também dessemelhanças – do pensador austríaco com esses filósofos e problemas filosóficos pouco visitados por exegetas da obra wittgensteiniana.

Também especifica um dos objetivos centrais de Condé (p. 16): o autor usa o método wittgensteiniano das “semelhanças de família” para constituir uma “teoria da ciência”, para pensar elementos de uma “teoria da história”, e para aproximar Wittgenstein de cinco importantes filósofos: Fleck, Kuhn, Koyré, Nietzsche e Maquiavel.

Na Apresentação encontramos ainda os pensadores e temas que sempre interessaram Condé ao longo de seus anos de pesquisas e como ele fez para mantê-los unidos numa obra coerente. A leitura que Condé nos convida a fazer de seus ensaios é contextual, que procura devolver os textos ao seu momento de produção, mas também interna, uma vez que persegue os conceitos inerentes ao objeto nos muitos “labirintos da linguagem”. Esse tipo de leitura nos mostra no fim o longo caminho de pesquisa que Condé percorreu para fazer aparecer o seu objeto, assim como as questões que colocou, os problemas teóricos que enfrentou, e tudo isso sem deixar de lado o rigor metodológico.

No Capítulo I, intitulado “Wittgenstein e a gramática da ciência”, Condé aborda a possível constituição de um novo “modelo de racionalidade científica” com o método das “semelhanças de família” explicitado pela filosofia da linguagem-epistemológica-social do segundo Wittgenstein. Ao reconduzir a racionalidade científica moderna à noção de gramática das Investigações Filosóficas, que encontra na dimensão filosófica da linguagem as formas de se desenvolver para além dos limites da gramática normativa de uma língua em especial, Condé (p. 27) propõe uma abordagem original da ciência contemporânea, baseada no que ele chama de “gramática da ciência” ou “conjunto das regras, das práticas e dos resultados científicos” e nas relações entre os conceitos wittgensteinianos de “uso”, “jogos de linguagem”, “semelhanças de família” e “regras”.

No Capítulo II, intitulado “A gramática da história: Wittgenstein, a pragmática da linguagem e o conhecimento histórico”, Condé (p. 34) faz uma interpretação da questão da temporalidade nas Investigações Filosóficas, com base no próprio método wittgensteiniano das “semelhanças de família”, e sugere uma nova teoria da história no segundo Wittgenstein, cujo núcleo é o que ele conceitua como “‘gramática do tempo’ ou dos processos históricos, isto é, ‘gramática da história’”. Além disso, o conceito de “gramática da história” de Condé (p. 41) também pode servir para compreender a ciência da história, seu modus operandi, suas múltiplas interações sociais e culturais, portanto, “as possiblidades gramaticais do fenômeno histórico”.

No Capítulo III, intitulado “Ciência e linguagem: Ludwik Fleck e Ludwig Wittgenstein”, Condé estabelece aproximações entre a epistemologia de Fleck e a filosofia da linguagem do segundo Wittgenstein, frisando os elementos motivadores das uniões entre os dois pensadores em que toda a discussão do capítulo se baseia: aqueles do estilo de pensamento e da gramática. Condé (p. 53) analisa as convergências da dimensão filosófica da linguagem de Wittgenstein com a teoria da ciência de Fleck por meio do método wittgensteiniano das “semelhanças de família”: com ele, as uniões entre os dois pensadores são demonstradas e contrastadas com a “epistemologia do neopositivismo até então vigente”. É essa chave metodológica que Condé (p. 54) usa para tratar as correspondências entre os estilos de pensamento científicos em Fleck e a gramática da ciência em Wittgenstein, e também para delinear a concepção de realidade pertinente a ambos os pensadores, uma realidade que certamente não possui um “fundamento metafísico”, mas sim está “ancorada nas diferentes ‘situações’ com as quais nos deparamos”.

No Capítulo IV, intitulado “Léxico versus gramática na ciência: a virada linguística de Kuhn e o segundo Wittgenstein”, Condé mantém aberto o caminho para um estudo das similaridades entre o conceito de léxico de Kuhn e a noção de gramática do segundo Wittgenstein. Condé (p. 86) diz que “a virada linguística de Kuhn tenta resolver antigos problemas apresentados em sua teoria da ciência anterior, estabelecida em A Estrutura das Revoluções Científicas”. Diz também que, com a inflexão linguística de Kuhn, “o conceito de revolução científica deve agora ser visto não como uma ruptura radical, mas como uma mudança de linguagem” (p. 86). Segundo Condé (p. 86), essa mudança de linguagem é tanto conceitual como da realidade, é ela que possibilita o conceito de léxico, o qual serve para solucionar os problemas da incomensurabilidade da ciência e do mundo, isto é, “as dificuldades de linguagem de diferentes grupos ou entre teorias científicas do presente e do passado”. Condé desenvolve e prolonga essa perspectiva na primeira metade da discussão e concentra-se em mostrar as similaridades entre o conceito kuhniano de léxico e a noção wittgensteiniana de gramática contida nas Investigações Filosóficas na segunda metade do capítulo. Para Condé, ao formular sua teoria do léxico, Kuhn assimila conceitos da gramática de Wittgenstein, como “uso”, “jogos de linguagem”, “semelhanças de família” e “regras”. Com esses conceitos, Kuhn cria uma nova epistemologia da ciência, mais completa e aberta às diversas realidades. Nesse longo capítulo, Condé convence-nos do funcionamento do método wittgensteiniano das “semelhanças de família” para especificar, conhecer e aprofundar as similaridades entre os pensadores e os temas de que vêm tratando em seu livro.

No Capítulo V, intitulado “Koyré e Wittgenstein: o internalismo reconsiderado a partir de uma perspectiva pragmática”, Condé segue o fio condutor do livro e interpreta a concepção de história da ciência de Koyré com o método das “semelhanças de família” do segundo Wittgenstein. A análise da história da ciência koyreriana sob o ponto de vista da filosofia da linguagem wittgensteiniana permite que Condé identifique os pontos em comum entre os dois pensadores. Para Condé (p. 117), a identificação entre os dois pensadores se dá por meio do internalismo da história da ciência de Koyré, que estabelece a autonomia da ciência, e a pragmática e gramática da linguagem de Wittgenstein, que estabelece a ideia de autonomia da gramática. Aqui, a ideia nova e estimulante de Condé (p. 118) é a que diz respeito ao terceiro momento do capítulo, a qual culmina com a sua proposta de “reconsideração do internalismo de Koyré superando os seus aspectos negativos e o requalificando para que ele possa ser entendido como a afirmação da autonomia da ciência e não o isolamento entre ciência e sociedade”. A discussão de Condé(p. 142-143) provém sobretudo da compreensão de que “a ciência, mesmo sendo um produto social – portanto, sujeita às influências externas –, possui regras próprias de comportamento que lhe conferem autonomia em relação a esses mesmos fatores sociais”. É nesse sentido que Condé (p. 143) consegue estabelecer correspondências e parentescos entre Koyré e Wittgenstein:

se, por um lado, a partir de Wittgenstein podemos ter boas razões para ver a ciência como instituição, ou um tipo de gramática que emerge das práticas sociais, por outro, o internalismo de Koyré, pelo menos em parte, ainda parece atual na medida em que nos alerta para a necessidade de pensarmos a autonomia da ciência com relação a essas práticas sociais.

Condé (p. 143) considera que os pressupostos essencialistas da história da ciência de Koyré são os pressupostos gramaticais ou institucionais da ciência na filosofia da linguagem de Wittgenstein, e ele vê nisso a unidade fundamental das concepções de ciência dos dois pensadores.

No Capítulo VI, intitulado “Nietzsche e Wittgenstein: semelhanças de família”, Condé passa à análise da obra de Nietzsche tentando encontrar filiações entre este filósofo e a filosofia da linguagem da segunda fase de Wittgenstein. Por meio do método wittgensteiniano das “semelhanças de família”, Condé aborda uma temática difícil em Nietzsche, e em alguns momentos de sua obra oscilante, que é a questão da linguagem e a concepção de racionalidade que ela envolve. A filiação entre Nietzsche e Wittgenstein, dois pensadores de tradições filosóficas completamente diferentes, é vista por Condé (p.157) em dois pontos:

tanto Nietzsche quanto Wittgenstein não iniciaram suas carreiras diretamente na filosofia, mas foram conduzidos a filosofar, a partir de algumas questões colocadas por eles; (…) e o filosofar de ambos recusa o caminho da escrita acadêmica e das formas canônicas de pensar institucionalizado para um pensar que se expressa nos ‘aforismos’, nas ‘sátiras’ e nas ‘paródias’.

Além disso, Condé (p. 158) vê filiação entre os dois filósofos em suas tentativas de “destruição da metafísica”. Enfim, para Condé (p. 163), Nietzsche e Wittgenstein concebem a linguagem em uma perspectiva pragmática e moral e a usam para criticar a própria linguagem em sua acepção essencialista, e também a realidade em sua representação metafísica, o primeiro mais do que o segundo.

No Capítulo VII, intitulado “Maquiavel e Wittgenstein: a astúcia da linguagem”, Condé desenrola um parentesco entre a filosofia da linguagem do segundo Wittgenstein e a filosofia política de Maquiavel, pelo método wittgensteiniano das “semelhanças de família”, que percebe claramente dimensões que escapam a simples esquemas analíticos da história da filosofia ocidental. Desse parentesco, Condé (p. 176) ressalta dois aspectos, o primeiro é que

Maquiavel constrói uma crítica à ideia de uma essência do político defendida, grosso modo, pela filosofia política clássica. Wittgenstein, por sua vez, critica radicalmente a ideia de uma essência da linguagem buscada pela filosofia da linguagem tradicional.

O segundo aspecto de que nos fala Condé (p. 176) é que

ao construir uma filosofia política sem essências, Maquiavel enfatizará a importância do discurso, isto é, a importância da linguagem na dimensão do político antecipando, assim, alguns aspectos dos desenvolvimentos posteriores da filosofia da linguagem ocorridos no século XX, sobretudo a partir de Wittgenstein.

Para Condé, portanto, essas duas “semelhanças de família” unem Wittgenstein e Maquiavel, além de certa atitude pragmática com relação à realidade. Condé entra nos mecanismos da obra O Príncipe, de Maquiavel, e examina, por meio da noção de gramática contida nas Investigações Filosóficas, de Wittgenstein, as diferentes possibilidades do político. Condé constata que a filosofia política de Maquiavel não se restringe a mostrar os fatos, ela é uma discussão totalmente conceitual, a nível das representações do político, muito próxima então da filosofia da linguagem da segunda fase de Wittgenstein.

Aqui, acabamos de avaliar o livro Wittgenstein e os filósofos: “semelhanças de família”, de Mauro Condé. Sem dúvida, o método wittgensteiniano das “semelhanças de família”, que o autor usa nos sete ensaios, abre uma perspectiva singular de interpretação das relações de Wittgenstein com a ciência, com a história, e com filósofos como Fleck, Kuhn, Koyré, Nietzsche e Maquiavel. O resultado satisfatório não depende só do método wittgensteiniano, mas também da maneira como Condé o emprega: a aproximação a que o autor submete esses diferentes pensadores o permite confrontar filosofias e conceitos e encontrar os vínculos que os enlaçam. O livro de Condé nos surpreende exatamente por isso. Mas a maior de todas as surpresas do livro foi encontrar, no capítulo sobre uma possível teoria da história em Wittgenstein, um modelo diferente de investigação do passado, que poderia responder muito bem às exigências das diferenças temporais que não conseguimos conformar juntas sem cometer anacronismos: um modelo fundamentado na multiplicidade dos tempos da história.

Entendemos que o livro de Condé pode ser lido como um texto que trata de método e ensina a usá-lo de forma criativa e como instrumento de análise crítica, procurando compreender como funcionam as dimensões da linguagem, os modelos teóricos da ciência, da história, e como se constituem as filosofias de diversos pensadores, suas visões de ciência e da realidade. Podemos dizer que o livro de Condé serve como uma utilíssima aula de método e seus usos na pesquisa filosófica e histórica. Nesse sentido, acreditamos que filósofos e historiadores deveriam apreciá-lo.

Raylane Marques Souza – Doutoranda em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília (PPGHIS-UnB). Mestre em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGHIS-UFMG, 2016). Graduada em História, na modalidade licenciatura, pela Universidade Federal do Ceará (UFC, 2013). Foi bolsista do PET – Programa de Educação Tutorial (2011-2013) e do CNPq (2014-2016). É bolsista Capes (2017- ). Tem experiência e interesse de pesquisa nas áreas de Teoria e Filosofia da História, Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência, História da Historiografia e História das Ideias e Intelectual, com destaque para os seguintes temas: Friedrich Nietzsche e seu contexto intelectual; história do conhecimento histórico; filosofia do conhecimento científico e da vida; teoria, história e filosofia dos conceitos; teorias e filosofias da história; história da historiografia alemã (sécs.19-20); epistemologias e temporalidades. É pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Ludwig Feuerbach (GPLF-UFC), do Grupo de Estudos Marxistas (GEM-UFC) e do Grupo de Leitura Hegel (GLH-UFC), todos cadastrados na plataforma do CNPq. Também é membro da SBTHH – Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia (desde 2013).


CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Wittgenstein e os filósofos: “semelhanças de família”. 1. ed. – Belo Horizonte [MG]: Fino Traço, 2020, 194p. Resenha de: SOUZA, Raylane Marques. Sete usos do método Wittgensteiniano das “Semelhanças de Família” HH Magazine – Humanidades em Rede. 11 nov. 2020. Acessar publicação original [IF].

 

Guerra do lugares. A colonização da terra e da moradia na era das finanças | Raquel Rolnik

Há livros que chamam a atenção em uma primeira vista. Em 2016, quando ganhei o livro Guerra dos lugares – colonização da terra e da moradia na era das finanças, escrito por Raquel Rolnik e lançado em dezembro de 2015 pela editora Boitempo, me interessei logo por sua capa. A capa vermelha com uma foto do projeto “Mulheres são heroínas” – ação na favela do morro da Providência, Rio de Janeiro – já prenunciava um fato: a guerra dos lugares também é uma disputa de narrativas sobre as cidades, as políticas públicas territoriais e os rumos possíveis para a democratização do espaço urbano (1).

Sinal óbvio dessa disputa está logo na apresentação do livro, quando a autora narra uma das visitas oficiais que fez como relatora especial para o Direito à Moradia Adequada da Organização das Nações Unidas – ONU ao Reino Unido. A vista aconteceu em um momento de questionamento de políticas de austeridade fiscal e da reforma do sistema de bem-estar social do país. A visita de Raquel Rolnik representando a ONU, que tinha como foco análises de condições de moradia e direitos humanos, era vista como um apoio à campanha anti-bedroom tax, ação do governo que tirava subsídios e excluía indivíduos ativos que moravam em apartamento com quartos “sobrando”. Segundo a relatora quem sofria com isso eram “os mais pobres, doentes mentais, loucos, pessoas com deficiência física” (p. 10), que perderiam a estabilidade e segurança garantidos pela política de bem-estar social. Leia Mais

40 novelas | Luigi Pirandelo

“Pirandellismo, aquela espécie de furor delirante e lúcido”
Alberto Moravia, O homem como fim

Há clássicos da literatura universal que refletem sobre todos os dramas humanos, como a vingança (Hamlet), o ciúme (Dom Casmurro), o desejo incontrolável de ascensão social (O vermelho e o negro) etc. Na academia – como já fiz –, pode-se usar a Antígone para discutir, no direito, a relação entre direito natural e direito positivo; na ciência ambiental, Um inimigo do povo, de Ibsen, para analisar o papel social do ambientalista; um pequeno texto de Borges em Ficções (“Do rigor na ciência”) para refletir sobre as escalas geográficas que, quando equivocadas, fazem com que a carta seja abandonada “às inclemências do sol e dos invernos” etc.

Sobre as fake news ou os factóides políticos – que começam a inundar as redes sociais em ano de eleição – também há uma obra literária fundamental, que parece não ser muito lida hoje, o que é uma pena. Trata-se da peça do escritor italiano Luigi Pirandello (1867-1936) chamada Assim é (se lhe parece) (1) que discute verdade e aparência, mas, sobretudo, a interpretação subjetiva de fatos e a tirania da curiosidade pública sobre a intimidade alheia. Leia Mais

Iconografia da paisagem brasileira | Orlando Graeff

Classificar faz parte dos naturais anseios humanos. Em seu afã de entender a organização dos distintos mundos que compõem o mundo, o homem classifica animais, plantas, rochas. Classifica geoformas, solos e ambientes.

Com as paisagens não é diferente. Em seu esforço de definir – ou descobrir – como as paisagens podem ser distinguidas por algum perfil ou algum conjunto de características, em geral artificialmente estabelecido, ele busca critérios que possam trazer alguma coerência sistêmica. Na dinâmica que rege as correntes científicas, há propostas em evolução permanente para se poder definir o que é uma paisagem e o que é a outra! E, lógico, com o desenvolvimento científico-tecnológico, tais sistemas vão se tornando cada vez mais sofisticados. Existem formas antes impensáveis de se definir a taxonomia de uma determinada paisagem. Até mesmo a partir dos sons, bióticos e abióticos, que delas emanam. Sim, as paisagens têm uma assinatura sonora que as individualiza! Para nosso deleite, os novos métodos científicos não têm sido excludentes. Hoje, para um levantamento paisagístico se usa um drone altamente sofisticado, mas que pode ser considerado como uma câmera fotográfica convencional, só que voadora. Leia Mais

Lelé: diálogos com Neutra e Prouvé | André Marques

Um novo livro é sempre motivo para comemorar. Em tempos de cerco ferrenho à área da cultura, torna-se motivo para a reflexão. O livro que aqui se apresenta – Lelé: diálogos com Neutra e Prouvé, de André Marques – é fruto de pesquisa desenvolvida na FAU Mackenzie (1), que resultou em dissertação de mestrado (2). Coube a mim o privilégio de acompanhar sua confecção, oficialmente como orientador, na prática como interlocutor entusiasmado pelo tema. Os diálogos imaginários travados por João Filgueiras Lima com Richard Neutra e Jean Prouvé refletem a interlocução de bastidores entre pesquisador e orientador, mas também mediações variadas, como a discussão intertextual com outros pesquisadores, o diálogo frequente com o arquiteto transformado em objeto de estudo, o bate-papo descontraído com colegas, o debate apaixonado com os membros da banca de qualificação. Leia Mais

Por dentro do III Reich. Os anos de glória | Albert Speer

Creio ser a quarta vez que leio esse catatau em letras miúdas, intitulado Por dentro do III Reich, de Albert Speer, o arquiteto e depois ministro do armamento de Hitler. Não se pode confiar nesse livro que, mesmo sem exagero, procura dar uma visão positiva do autor. Esconde, por exemplo, que Speer expulsou 75000 judeus e que sabia do Holocausto.  O que me interessa, porém, não é a imagem que Speer constrói de si mesmo, imagem de um tecnocrata apolítico, ou do “bom nazista”, já que assim foi chamado, mas o modo como ele narra suas relações na ascensão de Hitler, e as intrigas internas da corte em volta do Fuhrer.

“Talvez ainda apareça alguém que pense de um modo simples. Atualmente, o pensamento está muito complicado. Um homem inculto, sem base, solucionaria esta situação de uma maneira muito mais fácil, justamente por não estar ainda corrompido. Esse homem disporia também da energia suficiente para concretizar suas concepções simples.” Essa observação, pragmática em seu fundo, parecia-nos poder ser aplicável, precisamente, a Hitler”. Leia Mais

Devastación. Violencia civilizada contra los indios de las llanuras del Plata y Sur de Chile (Siglos XVI a XIX) | Sebastián Leandro Alioto e Juan Francisco Jiménez

Cuando se intentaba un levantamiento contra los españoles, los impulsores enviaban a sus posibles aliados una flecha que simbolizaba la intención de iniciar la guerra; “la aceptación del envío implicaba el acuerdo en participar, y quien acordaba podía a su vez promover la adhesión de otras reducciones, haciendo circular el objeto del mismo modo”, explica Sebastián Alioto (Alioto et al., 2018: 353) en el decimoquinto capítulo de Devastación… En este sentido, se puede pensar a este libro como una flecha que circula sutilmente, de mano en mano, por universidades, bibliotecas, institutos, espacios de militancia y activismo indígenas, hogares de familiares de víctimas de la violencia Estatal y de personas ajenas a la academia interesadas en la Historia.

Coordinado por Daniel Villar, Juan Francisco Jiménez y Sebastián Alioto, este volumen aborda las distintas formas de violencia que tanto el Estado Imperial español, como aquellas formaciones políticas pos-coloniales emergidas de las luchas independentistas, y los Estados Nacionales, practicaron contra los pueblos indígenas de la Araucanía, las Pampas y la Patagonia Norte, entre los siglos XVI y XIX. Su objetivo consiste en realizar “un tributo al conocimiento de las maneras en que se desarrollaron y variaron los episodios de violencia inter-étnica” (Alioto et al., 2018: 18) en estas regiones dentro del rango temporal mencionado; con el “propósito adicional” de establecer si las prácticas llevadas adelante en dichas ocasiones pueden calificarse de genocidas, en tanto buscaban exterminar a un determinado grupo étnico, y “masivamente violentas, en el sentido de que las vidas de mujeres, niños y demás no combatientes fueron irrespetadas, algunas veces en desobediencia a las órdenes superiores, pero otras en cumplimiento estricto de las mismas” (Alioto et al., 2018: 18). Leia Mais

Historia y justicia. Cultura/ política y sociedad en el Río de la Plata (Siglos XVI-XIX) | Darío Barriera

Darío Barriera escribió un libro sobre historia y justicia de los siglos modernos en tierras extensamente rioplatenses, y lo hizo tanto desde la objetividad científica como desde la subjetividad del investigador; un lujo que no cualquiera puede darse, solo quien esté en condiciones de respaldar cada palabra expresada.

La objetividad científica no está definida por un tema sino por un método. Como si fuera un científico decimonónico, de aquellos que tomaban diferentes puntos de abordaje porque el parroquialismo disciplinar todavía no existía, Barriera no se limitó a un recorrido o a una sola trama epistemológica sino que puso a prueba su objeto de estudio, abordándolo desde todos los ángulos posibles, formulando preguntas, desde las más -aparentemente- sencillas a las historiográficamente más complejas. Complejas, porque están construidas por sucesivas capas aluvionales de indagaciones dialógicas, en las que cada pregunta o cada formulación está atada a numerosos debates, trucos y retrucos de decenas de discusiones entre académicos de diferentes tiempos y latitudes. Sencillas, en apariencia, porque utiliza palabras corrientes con figurada candidez –¿cuánto es lejos?, ¿cuánto es cerca?– para poner a los discursos frente a sus propias contradicciones o, mejor dicho, frente a sus móviles no explicitados. El poder nunca muestra sus arcanos. Leia Mais

Matters of Justice: Pueblos/ the Judiciary/ and Agrarian Reform in Revolutionary Mexico | Helga Baitenmann

Resenhista

Kevan Antonio Aguilar – University of California. San Diego.


Referências desta Resenha

BAITENMANN, Helga. Matters of Justice: Pueblos, the Judiciary, and Agrarian Reform in Revolutionary Mexico. Lincoln: University of Nebraska Press, 2020. Resenha de: AGUILAR, Kevan Antonio. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 130-133, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

La cuestión agraria y los gobiernos de izquierda en América Latina. Campesinos/ agronegocio y neodesarrollismo | Cristóbal Kay e Leandro Vergara-Camus

Resenhista

Elisa Botella – Departamento de Economía e Historia Económica e Instituto de Iberoamérica. Universidad de Salamanca.


Referências desta Resenha

KAY, Cristóbal; VERGARA-CAMUS, Leandro (Compiladores). La cuestión agraria y los gobiernos de izquierda en América Latina. Campesinos, agronegocio y neodesarrollismo. Buenos Aires: CLACSO, 2018. Resenha de: BOTELLA, Elisa. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 134-137, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

Ciencia/tecnología y producción agropecuaria. Historia de la cooperación bilateral entre Alemania y Uruguay (1856-2018) | Gerardo Caetano

 

Resenhista

Eduardo Gallardo – Centro de Estudios de Historia Agraria de América Latina (CEHAL).


Referências desta Resenha

CAETANO, Gerardo (Org.). Ciencia, tecnología y producción agropecuaria. Historia de la cooperación bilateral entre Alemania y Uruguay (1856-2018). Montevideo: Editorial Planeta, 2019. Resenha de: GALLARDO, E. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 138-141, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

El Programa Indigenista Andino/1951-1973. Las mujeres en los ensambles estatales del desarrollo | Mercedes Prieto

 

Resenhista

Rosa Huayre Cochachin – FLASCO. Sede Ecuardor.


Referências desta Resenha

PRIETO, Mercedes (Comp.). El Programa Indigenista Andino, 1951-1973. Las mujeres en los ensambles estatales del desarrollo. Quito: FLACSO Ecuador-IEP, 2017. Resenha de: HUAYRE COCHACHIN, Rosa. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 142-145, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original

Agrarian Revolt in the Sierra of Chihuahua/ 1959-1964 | Elizabeth Henson

 

Resenhista

Sara Kozameh – Postdoctoral Research Fellow. Shelby Cullom Davis Center for Historical Studies Princeton University.


Referências desta Resenha

HENSON, Elizabeth. Agrarian Revolt in the Sierra of Chihuahua, 1959-1964. Tucson: University of Arizona Press, 2019. Resenha de: KOZAMEH, Sara. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 146-148, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

Tierra/ trabajo y formas de poblamiento agrario: Lobos en los siglos XIX y XX | Gloria Cucullu e Miguel Murmis

 

Resenhista

Rocío Pérez Gañán – Universidad de Olviedo y Universitat Rovira i Virgili.


Referências desta Resenha

CUCULLU, Gloria; MURMIS, Miguel. Tierra, trabajo y formas de poblamiento agrario: Lobos en los siglos XIX y XX. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes, Argentina, 2017. Resenha de: PÉREZ GAÑÁN, Rocío. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 149-152, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

From the Grounds Up. Building an Export Economy in Southern Mexico | Casey Marina Lurtz

 

Resenhista

María Cecilia Zuleta – El Colegio de México.


Referências desta Resenha

LURTZ, Casey Marina. From the Grounds Up. Building an Export Economy in Southern Mexico. Stanford, California: Stanford University Press, 2019. Resenha de: ZULETA, María Cecilia. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 153-161, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

Na lei e na guerra: políticas indígenas e indigenistas no Ceará (1798-1845) | João Paulo Peixoto Costa

O minado campo de disputas envolvendo o protagonismo da escrita e, consequentemente, as escolhas assumidas ao longo do percurso acadêmico, continua a colocar em “prova de fogo” a relevância histórica de diversas obras produzidas sobre os povos indígenas no Brasil, e, essencialmente, na Região Nordeste. O exotismo buscado por vários pesquisadores coloca em questão a legitimidade das mobilizações em busca de direitos, amparadas em legislações e vultosos eventos militares ocorridos entre os séculos XVIII e XIX, definidores do Estado nacional brasileiro.

Não faria sentido, pois, escrever uma história indígena ou tratar os índios na História, desvencilhando-a do presente, mesmo sendo remetida aos últimos dois séculos, diante da ausência de imparcialidade na escrita, em grande medida, utilizada como instrumento de denúncia às injustiças sociais ocorridas com os “silenciados” e “soterrados” pelas narrativas hegemônicas. A partir de “novas lentes”, o texto ora resenhado, procurou evidenciar a participação dos indígenas como protagonistas da/na história, através de um fecundo e frondoso caminho fragmentado, micro-histórico. Leia Mais

Rites et religion à Rome – SCHEID (APHG)

SCHEID, John. Rites et religion à Rome. Paris: CNRS Editions, 2019. Resenha de: LAMNNAIS, Noémie. Association des Professeurs d’Histoire et de Géographie (APHG). 24 aoüt 2020. Disponível em: <https://www.aphg.fr/John-Scheid-Rites-et-religion-a-Rome-CNRS-Editions-Paris-2019>Consultado em 11 jan. 2021.

John Scheid, professeur émérite au Collège de France, responsable de la chaire « Religion, institutions et société de la Rome antique » de 2001 à 2016, est l’auteur de nombreux ouvrages qui ont marqué l’étude de la religion et de la pratique religieuse à Rome : Quand faire c’est croire. Les rites sacrificiels des Romains (2011) et Les dieux, l’État et l’individu. Réflexions sur la religion civique à Rome (2013). Depuis sa thèse d’État, publiée en 1990, Romulus et ses frères, la plus grande partie de son travail porte ainsi sur la religion et les rituels des Romains.

En 2019, John Scheid a publié un nouveau livre : Rites et religion à Rome aux éditions CNRS. Sa publication résonne avec la nouvelle question d’histoire romaine au programme de l’agrégation d’histoire : « Religions et pouvoir dans le monde romain de 218 av. J.-C. à 235 ap. J. C. ». Cela en fait un ouvrage intéressant pour les candidats aux concours. John Scheid offre au lecteur une analyse très fine sur l’univers rituel singulier de la Rome antique, en s’appuyant notamment sur les sources archéologiques, ce qui permet d’aller au-delà des sources littéraires, souvent reflets des élites. L’ouvrage de John Scheid a pour ambition d’abandonner l’approche traditionnelle du ritualisme romain qui vide les rites de leur sens. À la place, il offre une mise au point renouvelée et appuyée sur un corpus de sources diverses pour approcher au mieux « le rite qui constituait l’essence des systèmes religieux du monde gréco romain » (p.9).

La très riche introduction du livre propose d’utiles rappels historiographiques et étymologiques sur la place et le sens des rites dans la religion romaine.

Des pages 10 à 14, John Scheid offre une réflexion étymologique sur le mot ritus, dont le sens latin premier est difficile à percevoir, tant il a été dévoyé par le sens moderne. Il insiste sur l’apparente difficulté à traduire ce terme à cause de l’imprécision des dictionnaires. Si l’on suit Varron, il semble que « la notion de cérémonie religieuse, c’est-à-dire du rite au sens moderne, n’est pas contenue dans ritus, mais dans sacra ou des termes semblables (caerimoniaereligiones), et que ritus signifie « manière traditionnelle de faire, coutume » (p. 10). Le terme de « rite » est ainsi l’objet de discussions et de débats entre les historiens faisant émerger une opposition entre le rite de l’époque de Cicéron et le rite à l’époque primitive : le premier est assimilé à une idole ancienne, tandis que le deuxième est réalisé pour sa signification religieuse.

Dans la deuxième partie, intitulée « Rite et religion », John Scheid revient sur les changements historiographiques et plus précisément sur la construction d’une théorie générale de l’évolution religieuse faisant du rite un symbole vidé de son sens. Il commence par présenter les travaux des « primitivistes », alimentés par Georg Rohde notamment, qui ont pour point commun d’avoir évacué la question de la signification des rites vers l’époque primitive. Cette position, bien que combattue « en Allemagne par Walter F. Otto et ses élèves, ou par Karola Valhert, et en France par Georges Dumézil » (p.17), survit dans les études ultérieures de façon plus ou moins consciente. Il explique ensuite l’analyse évolutionniste proposée par Willima Fowler qui estime que le système rituel romain « était fossilisé et n’exprimait qu’un conservatisme exacerbé qui vidait la religion traditionnelle de toute substance » (p.18). À l’arrière-plan de cette théorie, on devine l’influence des théories romantiques, représentées par Ludwig Preller et Karl Otfried Müller, qui distinguent trois phases successives dans la formation de la religion romaine : la religion de la nature animée, l’institution par le roi Numa des règles cultuelles et une troisième phase introduite par les Tarquins et Servius Tullius. Dans cette théorie, les rites sont nés à l’époque la plus reculée de l’histoire romaine et ont perdu leur sens à mesure que se constituent les peuples.

Dans une troisième partie, John Scheid continue sa quête historiographique en interrogeant la primitivité du rite. Il présente donc l’analyse primitiviste de Kurt Latte qui conduit à une aporie : le problème du sens est renvoyé vers le passé, mais on le donne toujours vivant. Face à cette école, il y a la position des sociologues, représentée par James Ellen Harrison, qui va dans le sens d’une théorie symbolique des rites et du mythe. Cette approche très féconde, mais qui a connu un relatif échec à cause du mépris envers le rite, ouvre la « voie qui permet d’expliquer le ritualisme antique dans son présent historique, sans devoir projeter celui-ci dans les temps inaccessibles des origines en le privant ainsi de tout contenu spirituel » (p.25).

Dans la dernière partie, John Scheid revient longuement sur les travaux novateurs de Georges Dumézil, dont la « démarche a clairement rompu avec l’anti-ritualisme traditionnel » (p. 29), et ceux de Jean-Pierre Vernant, et de Walter Burkert. Les travaux de Georges Dumézil ont clairement révolutionné la perception et l’analyse du rite, grâce à son projet de recherche de structures idéologiques (trifonctionnelle ou non) « qui le poussait à accorder une grande importance aux actes et à leur interprétation » (p. 30). Dumézil conteste le fait que les Romains ne comprenaient plus du tout le sens de ce qu’ils faisaient, prenant le contre-pied de l’école primitiviste, en analysant en détail tout ce qui concerne le rite sacrificiel et le statut des animaux sacrifiés. Pour lui, « il existerait une homologie entre les énoncés des rites et ceux des mythes ou des théologies. Le rite ne transcrit pas le mythe, il n’est ni antérieur ni postérieur à celui-ci. Il existe à coté des récits […] » (p.33). On peut néanmoins s’interroger sur la capacité d’une société à conserver intacte pendant des millénaires la signification de ces rites. Les travaux de Dumézil sont rejoints par ceux de Jean Pierre Vernant sur le sacrifice grec, analysé comme un partage et constituant le groupe social tout en énonçant également le système des choses. Ces travaux ont participé au développement de l’anthropologie des images et donc des représentations des rites.

Ainsi, l’introduction de cet ouvrage, d’une très grande richesse, propose une mise au point scientifique bienvenue sur un sujet qui permet d’appréhender au mieux la piété romaine dans son ensemble. Il s’agit clairement de pages à lire et les candidats aux concours gagneront à s’en imprégner.

Plan du livre

La première partie du livre, intitulée « À la redécouverte du rite », dresse un tableau général des attitudes rituelles des Romains, ainsi qu’une explication du sens des rites. John Scheid rappelle que la religion des Romains est intrinsèquement différente des religions modernes, et non simplement « plus primitive ». Elle est différente parce qu’elle est fondée sur le rite, qu’elle n’exige aucune croyance explicite et conforme à une doctrine (p. 41). Toutes ces caractéristiques expliquent qu’il est plus pertinent de parler de « religions » au pluriel plutôt que de « religion » au singulier. Cette précision est utile pour les candidats aux concours puisque le sujet porte sur « les religions ». De fait, la pratique religieuse diffère en fonction du groupe social, de la cité, de l’unité militaire, de la famille, voire même du collège d’artisans. Il ne peut donc qu’être question de religions romaines et non de la religion romaine. Dans le deuxième chapitre, John Scheid cherche à savoir si un système religieux fondé sur le rituel peut générer des croyances, et si les rites des Romains avaient un sens pour eux mêmes. (p. 60).

Dans la deuxième partie, « Quand le geste compte », John Scheid défend l’idée d’une archéologie du rite en intégrant les avancées les plus récentes de l’archéologie dans ce domaine. De fait, les chances de voir apparaître un texte nouveau sont faibles, tandis que l’archéologie s’adapte aux nouvelles perspectives et permet d’apporter des témoignages neufs et consistants sur les ritualismes antiques (p. 86). John Scheid offre également une réflexion sur le ritus Graecus, perçu traditionnellement comme un nouveau rite et une nouvelle piété issue d’une influence étrangère qui aurait complètement transformé la religion traditionnelle. Néanmoins, cette analyse ne tient pas face à une étude attentive des sources, car « cette nouvelle manière de célébrer sacrifices et fêtes ne peut être ni dissociée du ritualisme romain, ni simplement rattachée au processus de l’hellénisation » (p. 98). De fait, les sources ne témoignent que de rites et d’une représentation traditionnelle des relations avec les dieux.

La troisième partie est celle qui pourrait intéresser le plus le candidat aux concours, puisqu’elle porte sur « Le rite, reflet de la hiérarchie sociale » à travers cinq chapitres qui rappellent les fondements du fonctionnement de la religion romaine : « Le sacrifice de l’animal et le système des êtres à Rome », « La mise à mort de la victime sacrificielle. À propos de quelques interprétations antiques du sacrifice romain », « Les offrandes végétales dans les rites sacrificiels des Romains », « Les espaces cultuels et leur interprétation », et enfin « Épigraphie et rituel. De quelques formulations ambiguës relatives au culte impérial ». Ces cinq chapitres enrichiront la réflexion de la relation entre « religions et pouvoir » en abordant l’organisation de la vie religieuse publique impliquant l’ensemble des citoyens dans la pratique rituelle, et sur les institutions civiques ayant contrôle et décision en matière religieuse. De fait, toute consommation de viande ou d’un végétal, organisée autour d’un banquet formel, était liée à un rituel de partage avec les dieux. Ces modalités sacrificielles donnaient pendant le sacrifice une illustration cohérente de la « hiérarchie « sociale » de ce monde-ci, et définissaient implicitement la nature de la divinité » (p.131). Enfin, les espaces cultuels offrent un témoignage intéressant des ces implicites du rite par leurs aménagements. L’intention de cette organisation est de représenter l’ordre des choses. Le dernier chapitre étudie l’épigraphie et les formulations relatives au culte impérial, chapitre qui sera d’une grande utilité pour les candidats. Les analyses de nombreuses sources dans cette partie permettront aux candidats de constituer une série d’exemples intéressants à reprendre dans la préparation du concours.

La quatrième et dernière partie s’interroge sur « Le culte dans le cadre privé » en articulant les pratiques collectives et personnelles dans le domaine religieux. Cette partie est composée de deux chapitres : « Les rites dans la famille des vivants » et « Contraria facere, faire le contraire de tout. Renversement et déplacements dans les rites funéraires ». Dans le cadre domestique, « c’est l’individu qui détient le pouvoir religieux et gère ces obligations qui en découlent » (p.193). John Scheid propose donc une analyse de ce pouvoir en revenant sur plusieurs étapes : le passage à l’âge adulte, le mariage, les vœux et le culte quotidien. Le dernier chapitre est réservé à l’attitude des Romains face à la mort, étudiée à l’origine dans une perspective évolutionniste et dont « la finalité consistait à éclairer l’apparition et le développement de la croyance à l’immortalité de l’âme » (p.233). Selon John Scheid, c’est une perspective qu’il faut dépasser en abordant l’attitude romaine face à la mort à travers le rituel funéraire et en mettant de côté l’idée de l’immortalité de l’âme, problème bien secondaire pour les Romains de cette période.

Conclusion

En définitive, le livre de John Scheid est essentiel pour qui s’intéresse à la religion romaine puisqu’il offre une description des principales conduites rituelles des Romains, mais aussi des réflexions sur le sens des rites dans la religion romaine. Il interroge également la manière dont il convient d’aborder les sources qui les décrivent. John Scheid livre une analyse des principaux rites romains, en commençant par les rites sacrificiels et leur arrière-plan théologique, dans le culte d’État et dans les cultes privés, en essayant aussi de démontrer, à l’aide des espaces cultuels, que tous les éléments du dispositif rituel entraient dans les sens transmis par les rites.

Enfin, ce livre intéressera tous les candidats aux concours de l’enseignement (CAPES et Agrégation) parce qu’il permet d’étoffer la réflexion sur la question d’histoire romaine « Religions et pouvoir dans le monde romain de 218 av. J.-C. à 250 ap. J.-C. (235 ap. J.-C. pour l’agrégation) ». Les différents chapitres explorent les interactions entre la religion publique, la religion privée, les différentes pratiques associées, et enfin les rapports des individus avec les dieux. La lettre de cadrage de la question mentionnant les « gestes pratiqués comme dans les relations codifiées, présidées et contrôlées par les magistrats et le sénat, sous la conduite des collèges sacerdotaux », il est donc important pour les candidats d’avoir une bonne connaissance de ce que sont concrètement les rites. Le glossaire et la bibliographie en fin d’ouvrage constituent des outils toujours utiles pour les candidats.

Noémie Lemennais – Professeure d’histoire-géographie au lycée Maxence Van der Meersch de Roubaix, doctorante en histoire romaine, HALMA – UMR 8164, Université de Lille.

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The Identitarians: The Movement Against Globalism and Islam in Europe | José Pedro Zúquete

Em 2010, às vésperas da avalanche de protestos provocada pela crise econômica de dois anos antes, José Pedro Zúquete, pesquisador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, publicou Struggle for the World: Liberation Movements for the 21th Century (Zúquete e Lindholm 2010). Escrito em parceria com o antropólogo norte americano Charles Lindholm, o livro traça um grande panorama dos principais movimentos sociais e organizações políticas que se opunham ao que os autores chamam de globalização capitalista. Fossem de esquerda, como os zapatistas no México, ou de extrema direita, como o Front National francês, a publicação destaca como esses grupos operavam a partir de uma forte crítica ao estrangulamento dos modos de vida e de identidades locais.

As duas décadas que se seguiram ao fim da Guerra Fria foram marcadas pela integração do mundo em blocos regionais e pela criação de instituições supranacionais para administrá-los. Até que a expansão progressiva e desenfreada sofreu inesperadamente um grande choque. As fissuras na ordem estabelecida já existiam, é verdade, mas elas nunca ficaram tão claras quanto nos anos que se seguiram à crise de 2008. E foi seguindo personagens que viviam nessas fissuras que Zúquete passou a acompanhar a atuação de grupos políticos radicais contemporâneos. Em artigos e livros dedicados a grupos tão diversos como os praticantes da tática black block e skinheads portugueses, o sociólogo português construiu uma obra robusta sobre alguns dos principais movimentos de contestação no mundo hoje. Leia Mais

Intellectuals In The Latin Space During The Era Of Fascism: Crossing Borders | Valeria GAlimi e Annarita Gori

Na década de 2010, especialmente após a onda internacional de protestos que teve início com a Primavera Árabe em 2011, tornou-se clara uma ascensão de movimentos, ideologias, culturas políticas, partidos e governos de extrema-direita, alguns abertamente (neo)fascistas, com um poder de influência sobre a política europeia que não era visto desde os anos 1930 (Löwy 2015, 653). Nos Estados Unidos, o cenário das eleições presidenciais de 2016, em que foi eleito o candidato republicano Donald Trump, também se caracterizou pela emergência de grupos de direita radicais que vão desde a direita institucionalizada com o Tea Party do Partido Republicano, até discursos mais radicais na alternative right e nos movimentos neofascistas/neonazistas, que se tornaram atores da mais alta relevância sob o governo Trump (Alexander 2018, 1009). No Brasil, a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 demarcou essa guinada à direita radical, armamentista, evangélica e tecnológica que se difunde rapidamente pela internet.

Entre hoje e o século passado, as direitas radicais, e especialmente os fascismos e neofascismos, guardam em comum o nacionalismo chauvinista e xenófobo, articulado para a exploração dos “pânicos de identidade” que surgem nos campos conservadores, com a violência cultural com que o capitalismo transforma estruturas socioeconômicas e formas de vida, gerando sentimentos “antissistema”, “anti-cosmopolitas”, “antidemocráticos”, “anti-pluralistas”, “anticomunistas”, “anti-globalistas”, etc. Majoritariamente, são favoráveis a políticas autoritárias de segurança pública, como a introdução ou reabilitação da pena de morte. (Löwy 2015, 654). Em resumo, para utilizarmos uma expressão de Francisco Carlos Teixeira da Silva (2000, 179) inspirada na interpretação de Zeev Sternhell (Cf.: Sternhell 1995, 3-35) do fascismo como cultura política, a “negação do outro” continua a ser a tônica dos discursos e práticas fascistas ao longo do tempo. Leia Mais

História, catolicismo e educação | Pedro Vilarinho Castelo Branco e Maria Dalva Fontenele Cerqueira

O entendimento de que vivemos em uma sociedade marcada por experiências culturais que atribuem múltiplos sentidos e significados às vivências humanas constitui-se em expressão de reconhecimento dos fenômenos sociais existentes. A noção de pensar sobre os processos educativos institucionalizados no contexto brasileiro se deu, inicialmente, a partir da criação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), na década de 1930, junto ao movimento que ficou denominado como “Nova Escola” e como uma das primeiras tentativas de organização do sistema educacional brasileiro. A reflexão sobre as crenças, em especial as religiosas, adquire relevância, igualmente, a partir da ascensão desse tipo de estudos no campo da filosofia das religiões. O objetivo do presente texto é apresentar resenha da obra “História, catolicismo e educação”, escrita por muitas mãos de jovens e experientes pesquisadores e organizada pelos professores Pedro Vilarinho Castelo Branco e Maria Dalva Fontenele Cerqueira, publicada em 2019, pela Editora da Universidade Federal do Piauí (EDUFPI). A obra está dividida em onze capítulos que dialogam entre si, a partir dos temas centrais da proposta: história, educação e catolicismo. É a partir das relações estabelecidas entre os campos da História, da Educação e da História da Educação, portanto, que a obra preocupa-se em dirigir sua mirada, em especial para as relações estabelecidas entre o catolicismo na educação escolar ao longo da historiografia brasileira. Leia Mais

Memória ferroviária e cultura do trabalho: Balanços teóricos e metodológicos de registros de bens ferroviários numa perspectiva multidisciplinar | Eduardo Romero Oliveira

A obra aqui analisada é fruto de um trabalho coletivo na qual encontramos uma pluralidade de temas, profissionais, enquadramentos metodológicos e pesquisas concluídas e em curso. Seu organizador é Doutor em Filosofia pela USP (2003). Atualmente é Professor Assistente da Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho, onde nos últimos anos tem se dedicado ao estudo do patrimônio, da história e da cultura dos transportes, especialmente do ferroviário. Vale ressaltar de antemão que esse é um livro multidisciplinar, especialmente pelas filiações de seus colaboradores; bem como um trabalho genuinamente interdisciplinar pelos diversos enquadramentos adotados ao longo de suas exposições.

Como salientado pelo Dr. José Manuel Lopes Cordeiro, autor do prefácio, esse empreendimento é o resultado da segunda edição do projeto PMF (Projeto Memória Ferroviária) cuja primeira obra foi publicada em 2017 (Balanço 2012-2015). O novo livro reúne resultados referentes ao triênio 2017-2019, beneficiado pelo apoio da FAPESP, CAPES e CNPq. Ainda de acordo com o investigador “[…] estamos perante um livro que amplia substancialmente a produção científica e, consequentemente, o conhecimento sobre os sistemas de transporte ferroviário do Estado de São Paulo, nas suas múltiplas vertentes” (Oliveira 2019, 19). Na apresentação, intitulada Memória Ferroviária: Esforço de revisão crítica da memória histórica sobre ferrovia e seu valor patrimonial, o organizador da obra reafirma a importância do empreendimento e atesta a longevidade desse projeto iniciado oficialmente em 2009, mas que remonta suas primeiras atividades ao ano de 2007. Leia Mais

A nova direita anti-sistema: o caso do Chega | Riccardo Marchi

O livro A nova direita anti-sistema: o caso Chega, de autoria de Riccardo Marchi é um estudo do partido que retirou Portugal da pequena lista de países europeus que não tinham representação parlamentar de partidos enquadrados como de extrema direita. Isto se deu com a eleição do deputado único do Chega, André Ventura, para a Assembleia da República nas eleições legislativas de 2019. Ventura se desponta não apenas como deputado único, mas também como principal liderança de seu partido, passando a ocupar importante parcela do debate público português, assim como da grande mídia de seu país.

Riccardo Marchi parte da história de vida de Ventura, iniciando o livro ao falar de sua infância e adolescência em Algueirão, no concelho de Sintra, uma freguesia de classe média baixa, marcada por construções decadentes, uma grande população de origem imigrante, e como tal cenário influenciou seu futuro posicionamento político. A criação católica e sua vivência na Faculdade de Direito também são elementos de destaque na parte inicial do livro. Ainda na adolescência, André Ventura deu início a suas atividades políticas, fazendo parte da seção juvenil do Partido Social Democrático (PSD), quando era aluno do Liceu. Leia Mais

A descolonizar las metodologías: investigación y pueblos indígena | Linda Tuhiwai Smith

Professora de educação da Universidade de Waikato (Nova Zelândia), Linda Tuhiwai Smith dedica-se especialmente ao estudo das comunidades indígenas, em particular dos maoris, povos nativos da Nova Zelândia. Seu estudo sobre o papel da pesquisa ocidental voltada às comunidades indígenas no contexto da colonização e da neocolonização, aqui resenhado, foi traduzido para diversas línguas, tendo recebido o prêmio New Year Honours (2013), em seu país de origem. Publicado pela primeira vez, em inglês, em 1999, foi traduzido para o espanhol, nesta edição chilena, por Kathryn Lehman.

Sem se preocupar exatamente com o método, mas com o contexto em que os problemas de investigação são pensados e projetados, bem como com as implicações da pesquisa para o investigador e o investigado (em especial os indígenas), a autora propõe tratar das relações entre um conhecimento colonizador e povos colonizados. Daí entender, de início, a investigação como “um conjunto de ideias, práticas e privilégios que está embutido no expansionismo imperial e na colonização, e institucionalizado nas disciplinas acadêmicas, escolas, currículos, universidades e poder” (SMITH, 2016, p. 13). Desse modo, não se trata de ir contra a investigação ou o conhecimento, mas de propor novas maneiras de conhecer e descobrir, novas maneiras de pensar a investigação com povos indígenas. Leia Mais

Rules and Rituals in Medieval Power Games. A German Perspective – ALTHOFF (FR)

ALTHOFF Gerd Uberização
Gerd Althoff /

ALTHOFF G Rules and rituals in medieval power games UberizaçãoALTHOFF, Gerd. Rules and Rituals in Medieval Power Games. A German Perspective. Leiden (Brill Academic Publishers) 2019. 282p. Resenha de: HUFFMAN, Joseph P. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

This collection of 15 articles from the prolific opus of Gerd Althoff represents yet another effort to provide Anglophone scholars access to his seminal concept of »Spielregeln« or »rules of the game« in the power politics of the East Frankish-German realm during the Ottonian, Salian, and early Hohenstaufen dynasties (ca. 800–1200). The volume is therefore designed to provide some German-language historiography on the »pre-state society« of medieval Germany. Yet since three of the articles are previously unpublished English-language conference papers (Oxford in 2005, Durham in 2015, and Rome in 2016) and another three of the articles had already been published in English elsewhere, only nine (or 60%) of this volume’s articles are peer-reviewed Althoff scholarship newly available in English. And as in all such reprint editions of scholarly articles and conference papers, there is much redundancy, periodic thinly sourced assertions, and an ex post facto opportunity to address his critics.

Nonetheless, this volume is a welcome contribution. Gerd Althoff is a major German historian of the early Middle Ages whose generation of scholars developed a new perspective on German political history. As a whole, they overturned long-held certitudes about an easily discerned formation and disintegration of a medieval German Staat (nation state), and replaced this Deutsche Kaiserzeit historiography with one that »others« medieval German society. The early medieval German kingdom appears instead to be an unfamiliar »pre-state society« with mentalities, beliefs, customs, and institutions that are actually quite foreign to the modern world of nation states and national historiographies. Indeed, medieval German society followed entirely different political rules than today. From an Anglophone (and French) perspective, one could describe this as a German version of the »cultural turn«, in which politics are no longer understood through the lens of legal historians and their constitutional preoccupations but rather through the lens of social and cultural phenomena.

As Althoff himself recognizes in the preface, even this late-20th-century historiographical movement has become historical, being now increasingly overshadowed by new turns toward trans-cultural and global historiographies. Yet he rightly sees a common thread between his generation’s cultural turn historiography and the new post-cultural-turn historiography: both have replaced nationalistic concepts of history by rewriting parts of Germany’s national history as social and cultural formations. And so for Althoff the origins of the medieval German kingdom are not to be found in constitutions and legal codes, but rather in the cultural code of conduct – the »rules of the game« – for power politics and political communication among its monarchs, aristocracy, and princely churchmen1. The articles in this volume therefore serve as a retrospective reiteration of the Spielregeln thesis, illustrated with studies of various illustrative passages in medieval German chronicles and letter collections. The volume is ordered with the following themes:

Part I: Rules

Part II: Rituals

Part III: Gregorian Revolution

Part IV: History in Literature

Part I begins with a fulsome reiteration of the Spielregeln thesis. Though not as explicit »rules« in the sense of games like chess or a sport, medieval German noble society still maintained and implicitly understood a set of cultural norms for power politics and the public communication of that power. These norms were never fixed in written or governmental forms any more than clothing style or good manners or deportment; rather, they were taught and sustained in oral communication. Such Spielregeln were more important for the maintenance of order in medieval society than in contemporary western society, as the latter contains a comprehensive, written legal basis for political gaming (i. e. constitutions) which are fully sanctioned by the power of the modern nation-state. Medieval German nobles instead held their society together with rules that reinforced trust through rituals of kinship, friendship, and status affirmation (i. e. rank and honor). Such Spielregeln were adaptable enough to be used not only to resolve conflicts but also to extend into novel conundrums by a process of collective counsel and judgment. Finally, the historian can discern the Spielregeln through rituals, accounts of which survive in chronicle sources and letter collections. And though these accounts are literary constructions, Althoff fully embraces them as »reliable evidence« since his focus is on the cultural norms themselves instead of the factual veracity of the narrative accounts. Again, this is cultural history, not narrative political history of events2.

Part II considers the rules of the game themselves, best expressed in rituals serving as a vehicle for symbolic communication of political acts which maintained or restored public order. Rituals therefore did not so much illustrate already existing reality, but rather they created it themselves by their performance. Such public performances at court reinforced and protected the order of rank (e. g. seating at table, order in processions, proximity to those with power – political or sacral). The fusion of noble warrior culture and Christian values were thus expressed in the code of chivalry, filled as it was with ritual acts and gestures of virtue (e. g. humiliatioclementia) defined by the unspoken Spielregeln.

The articles in Part II catalog the core purposes inherent in the unwritten rules or code of Spielregeln: regulation of the use of violence (both royal and noble); regulation of royal mercy and restoration of friendship as a means of preserving noble rank; regulation of conflict resolution through satisfactio and deditio to restore wounded honor; regulation of secret and/or open colloquia through familiares who lobbied for peaceful solutions acceptable to all; the evolving regulation of bishops from mediators to arbitrators between monarch and nobility. In essence, the Spielregeln provided a means to resolve conflict and preserve rank in order to save the honor of all – both those whose honor had been wounded as well as the peaceful return of those who had wounded. A peaceful equilibrium within the nobility was the ultimate goal of the Spielregeln.

Part III provides studies of specific rituals themselves that inscribed the reality of the long-for peace and restoration of rank. These included participation in convivia (public feasting together) as moments of bonding and alliance fashioning through ritual gestures and non-verbal signs (from smiles to eye contact) as well as verbal negotiations; the ritual of surrender (deditio) with all its theatrical expression of self-accusation and pleading for mercy (e. g. rent clothing, arriving barefoot, sometimes carrying a switch or sword for punishment), prostration; the equally theatrical ritual of pardon after deditio with its raising up of the prostrate penitent (with varying degrees of mercy thereafter); rituals of clementia, misericordia, and iustitia preceding the coronation ceremony of a king; the ritual of gift-giving with theatrical expressions of both honor and reciprocity (we find here the origins of wrapped gifts). We are reminded that in all these acts and gestures, »He who dominated the rituals also mastered the scene« (p. 111). Indeed, Althoff rejects the social scientific analyses of Weber, Habermas, Cassirer and others that rituals were »empty«, »dim«, and »irrational« cultural expressions. Rather, he sees elaborate staging and scripting of rituals with specific, rational acts tailored to specific needs of the moment (though again, there are no surviving accounts of such pre-event staging or scripting negotiations behind the scenes). Just how staged or spontaneous a particular ritual act was still remains a debated point though, since its performance unavoidably allowed for personal agency and »upstaging« others.

Such public rituals took on the cast of legally binding events (not unlike a marriage), as an audience had witnessed the ritual and its attendant gestures, words, and acts. No need for written documentation here, though by the 13th century such was indeed sought as a memorializing of the ritual (e. g. alliances of amicitia). In spite of this development, Althoff still concludes that »Ritual behavior had the same function and created the same obligations as an oath or a written treaty« (p. 141). Such public rituals have the hegemonic power to enable cross-cultural communication, as evidenced by the Polish and Bohemian nobility; yet what seems to have been missed here is that these Slavic communities had recently been Christianized and so had learned cultural cues of Christian Saxons and Bavarians. Other non-Christian Slavic peoples were not invited to participate in such cross-cultural communication in an effort to bind ethnic communities together in alliances and marriages.

Althoff’s final article in this section addresses the critical issue of the ambiguity of symbolic actions. Though rituals and symbols can and were interpreted differently by observers, there is no evidence anywhere that medieval folk felt this ambiguity was a problem; indeed, ambiguity provided the space necessary to establish a broad enough consensus to enable peace and to restore broken bonds between the powerful. Only when written documents from the mid-12th century onward demanded increasing specificity was this interpersonal space of ambiguity compromised and a formal governmental negotiating process entered into the ambiguous space with notions of diplomacy as a conversation of government power.

Part IV takes a major departure from the core theme of the volume, with its focus made clear in the title »Gregorian Revolution«. Here Althoff provides three articles exploring and explaining the radical Gregorian agenda (a preoccupation of German historians since Gerd Tellenbach), from the use of biblical texts as justification for Gregory VII’s claims to obedience of all bishops and monarchs, to the appearance and contested resilience of said claims in subsequent canon law collections (the libelli de lite as the primary conduit), to subsequent papal use of Gregorian claims (again not entirely unchallenged) to justify papal use of violence on behalf of the Church »to pursue their interests« (e. g. to call crusades and to punish recalcitrant kings, schismatics, and heretics). How these articles advance the volume’s avowed study of German noble Spielregeln remains unclear except to give the volume the needed size for publication.

Equally puzzling, though more rewarding, are the articles in Part V. This concluding set of two essays were originally published in German literary studies. Here we see the by now obvious affinity of Althoff’s cultural history approach to chronicle and letter narratives with the narratological and poetics of literary scholars. In the first essay Althoff poses the question, »Do Poets Play with the Rules of Society?« and concludes that indeed they do for dramatic narrative or poetic purposes. Here he considers literary fiction like the »Ruodlieb« and the »Nibelungenlied« as a »broader source base« for historiographical purposes. In the second article he assesses the fictive poem of Duke Ernst and his violent breach of the Spielregeln in an attempt to assassinate a rather tyrannical version of the emperor Otto I.

Then Otto himself breaks the rules of the game by publicly repenting of his harshness toward the duke once Ernst returns seeking restoration after years away on a crusading pilgrimage. What is most salient in Althoff’s analysis, however, is not an analysis of the literary work itself, but his assertion that – in real history – this peculiar poem had been sponsored by the bishop of Bamberg in 1208 just after the actual assassination there of the Hohenstaufen king Philip (of Swabia) by Count Palatine Otto of Wittelsbach. The poem appears to have been an episcopal attempt to legitimate the regicide of a tyrant. The line between literary fiction and historical reality remains smudgy in this section of the volume.

The inclusion of literary fiction as a source for the historical study of unwritten Spielregeln in actual noble society begs the perennial question inherent in Althoff’s thesis. How do we know if the chroniclers of noble rituals have played with them in the same fashion as the poets, and for the same type of rhetorical or political effects? Are we in fact observing actual Spielregeln at work in rituals, or are we reading a literary representation of them by chroniclers with an ulterior purpose in mind? In this volume and generally in all his individual articles Althoff does not systematically present a set of codified political rules as a coherent subject of historical study, but he has instead presented them as evocative yet incompletely unpacked vignettes of intriguing themes.

To his credit, Althoff acknowledges the unavoidable conditional clause for his entire source analysis methodology: »if the representations of many [chronicle] authors are not totally misleading« (p. 115). He then addresses Johannes Fried’s same critique of his methodology (one of many disputes between the two historians over the years), by concluding: »After much discussion about this question I here and now contend, without repeating the arguments for the position, that little or nothing speaks for the assumption that the world of descriptions should be fundamentally different from the world of real customs of communication« (p. 115).

But elsewhere he concedes much less confidently, »It may be doubtful that the [chronicle] authors describe the scenes as they happened, although it is not possible to prove this one way or another. Nevertheless, the stories told by medieval authors can be used in our questions about the forms and functions of public communication, because the authors telling these stories had to consider the common rules and customs governing behavior if they wanted their contemporaries to believe them. […] On the whole, the description had to correspond to the usual practices of communication. These stories can be used for the investigation of these practices, but not for the history of events« (p. 142). So for Althoff’s cultural history, the method serves only a formal analysis of political rules with the goal being »to strive to regain the point of view from which medieval contemporaries looked at ritual. This is a necessary first step, after which we should of course add our own evaluation« (p. 142).

Whether historians, Anglophone or otherwise, will be satisfied with relying on chronicle and letter narratives as sources for a narrowly crafted cultural history of the social history of medieval political history will depend on the type of history they prefer to pursue. The Spielregeln thesis is a fascinating starting point for navigating parts further removed, yet the fundamental source analysis of the discipline of history is different in kind from analysis of literary fiction and for good reason. Yet the value of the cultural turn as found in the work of Gerd Althoff and his generation of historians has provided a signal service – most especially in German historiography – of separating medieval German history from the awfully destructive legacy of an intense nationalistic modern historiography centered on the German state. For helping provide this specific »German Perspective« we are in his debt and can appreciate the import of this volume in his honor. Still to be done is testing the Spielregeln thesis beyond medieval Germany through a comparative study of other European kingdoms and their noble societies and cultures, both before and after the dawn of administrative kingship in the 12th century.

[Notas]

1 His Spielregeln thesis first emerged in the last chapter of: Gerd Althoff, Verwandte, Freunde und Getreue. Zum politischen Stellenwert der Gruppenbindungen im früheren Mittelalter, Darmstadt 1990, translated into English by Christopher Carroll: Family, Friends, and Followers. Political and Social Bonds in Early Medieval Europe, Cambridge 2004. It was then more fully articulated in: Gerd Althoff,Spielregeln der Politik im Mittelalter: Kommunikation in Frieden und Fehde, Darmstadt 1997; 2nd ed. 2014 – a collection of eleven papers and conference papers delivered between 1989–1996. Althoff then explored the historiographical implications of Spielgregeln in medieval political chronicles in his monograph: Inszenierte Herrschaft. Geschichtsschreibung und politisches Handeln im Mittelalter,Darmstadt 2003. He also applied this Spielregeln thesis to his analysis of the emperor Otto III in his biography: Otto III., Darmstadt 1996 (Gestalten des Mittelalters und der Renaissance); translated into English by Phyllis G. Jestice: Otto III, University Park 2003.

2 This thesis has sparked a controversial international discussion, and many have been the objections to this loosely defined »know it when you see it« anthropological methodology. See for example: Johannes Fried, Wissenschaft und Phantasie. Das Beispiel der Geschichte, in: Historische Zeitschrift 263 (1996), p. 291–316; Philippe Buc, The Dangers of Ritual. Between Early Medieval Texts and Social Scientific Theory, Princeton 2001; Warren Brown, The Use of Norms in Disputes in Early Medieval Bavaria, in: Viator 30 (1999), p. 15–40; and id., Violence in Medieval Europe, Harlow 2011, p. 137–139.

Joseph P. Huffman – Mechanicsburg, PA.

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Infectious change: reinventing Chinese public health after an epidemic | Katherine A. Mason

Between 2002 and 2003, a coronavirus epidemic broke out in China and spread across the world, infecting more than 8,000 people and causing approximately 10% of this contingent to die. In the months when the Severe Acute Respiratory Syndrome (SARS) was active in China, severe sanitary measures were adopted, such as quarantines, isolation, the closing of public places, the use of large-scale diagnostic tests, and the construction of isolated health units in record time. The world has witnessed very similar protocols in China’s current fight against the SARS-Cov-2 epidemic in 2020.

The 2002-2003 epidemic drastically changed the structure of China’s health services. And the book Infectious change: reinventing Chinese public health after an epidemic , by Katherine A. Mason, published in 2016 by Stanford University Press, was written to bring to light and analyze these transformations and their impacts on public health in that country. Leia Mais

Science and society in Latin America: peripheral modernities | Pablo Kreimer

La preocupación central de Science and society in Latin America: peripheral modernities , el último libro de Pablo Kreimer (2019) , es el estudio de las particularidades de los procesos de producción y uso del conocimiento científico y tecnológico en América Latina como región periférica. El texto es una síntesis, una rendición de cuentas, de 25 años de investigación en el campo de la sociología política e histórica de la ciencia.

Primero, el autor comparte confesiones y anécdotas personales como acertada excusa para pasar revista, en América Latina, a algunos de los tópicos más importantes de los estudios sociales de la ciencia y la tecnología – o campo Ciencia, Tecnología y Sociedad (CTS). A partir de su encuentro con Jean-Jacques Salomon, su director de tesis doctoral y un cómplice en sus preocupaciones políticas, estudia el rol de las políticas de ciencia y tecnología (PCT) en el desarrollo de la región. Lo también anecdótico es que para muchos de los recién llegados al campo CTS en América Latina las preocupaciones políticas y el estudio de las PCT han sido un punto de paso obligatorio o una suerte de rito de iniciación. Luego, bajo la inspiración de Latour y Woolgar (1979) , inicia un segundo gran momento de trabajo. El autor pasó por varios laboratorios de biología molecular de Francia, Londres y Argentina para observar cómo los científicos producen conocimiento. Es decir, para trabajar “a lo Latour”. Años después llega a un tercer encuentro crucial. Kreimer, bajo la inspiración de Hebe Vessuri, pionera del campo CTS en la región, inicia sus investigaciones sobre ciencia periférica. Leia Mais

Una historia de la verdad en Occidente: ciencia, arte, religión y política en la conformación de la cosmología moderna | Mauricio Nieto Olarte

Un destacado historiador de la ciencia es el autor de este libro, un colombiano quien previamente había producido valiosos análisis sobre las expediciones científicas y el naturalismo en España y América en las postrimerías del período colonial ( Nieto Olarte, 2006 , 2007 ). En este ambicioso trabajo analiza el desarrollo del conocimiento racional y la emergencia del eurocentrismo político, cultural y científico a partir del siglo XVIII. La mayoría de los 21 capítulos de este estudio se concentran en los saberes producidos en Europa durante la Edad Moderna (1492-1789). Es decir, se ocupan de temas como el Renacimiento italiano, la astronomía de Galileo, el empirismo de Francis Bacon y la física de Isaac Newton. Los capítulos iniciales se remontan a las discusiones filosóficas de Platón y Aristóteles sobre los límites y la esencia del conocimiento, así como a la noción de una única verdad del monoteísmo cristiano. En sus capítulos finales aborda la construcción del carácter enciclopédico de la obra de Alexander von Humboldt y hace un recuento del positivismo de Auguste Comte. Para encontrar una obra de envergadura parecida en América Latina es necesario remontarse a Aldo Mieli (1952) , el inmigrante italiano que publicó en varios volúmenes una historia de la ciencia europea en la Argentina de los años 1950. Luego de este esfuerzo, la mayoría de los historiadores latinoamericanos de la ciencia y de la medicina nos ocupamos de la recepción, la negociación y la participación de investigadores latinoamericanos en circuitos internacionales del conocimiento. Leia Mais

Genealogías de la reforma sanitaria en España | José Martínez-Pérez e Enrique Perdiguero-Gil

La reforma del sector de la salud hay que entenderla, en sus principios programáticos generales, como un proceso cuyo objetivo es mejorar la equidad, la calidad y la eficiencia mediante cambios en la organización y financiación de los servicios de salud. El análisis histórico de los sistemas sanitarios contemporáneos nos permite valorar y entender el modo como los distintos países se enfrentaron a los formidables retos planteados para hacer frente a la salud y enfermedad de las poblaciones. Este es el núcleo en torno al cual se articula el libro Genealogías de la reforma sanitaria en España, intentando responder a las preguntas del por qué, el cuándo y el cómo tuvo lugar ese proceso en el Estado español de la segunda mitad del siglo XX. El interés de una obra de estas características, coordinada por dos historiadores de reconocida valía y dilatada trayectoria investigadora, reside, en gran medida, en la singularidad de su enfoque, en la potencialidad de las fuentes utilizadas, en la novedad de muchos de sus contenidos, que hacen que su lectura rebase con mucho las fronteras de un estudio país para transformarse en un modelo de trabajo que sin duda va a ser de utilidad a nivel internacional. Examinemos brevemente el contexto político y social en el que el libro se desenvuelve. Leia Mais

Simon de Montfort (c. 1170–1218). Le croisé, son lignage et son temps – AUREL et al (FR)

AUREL, Martin; LIPPIATT, Gregory; MACÉ, Laurent (dir.). Simon de Montfort (c. 1170–1218). Le croisé, son lignage et son temps. Turnhout (Brepols) 2020. 286p. Resenha de: BALARD, Michel. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

Figure controversée de son temps et jusqu’au nôtre, Simon de Montfort méritait incontestablement que les historiens d’aujourd’hui reprennent en toute sérénité l’étude de son action dans la croisade albigeoise, de son lignage tant en France qu’en Angleterre, et des idéaux à la base de ses faits et gestes. Un colloque tenu à Poitiers en mai 2018 y pourvut et les communications qui y furent présentées constituent le présent ouvrage, conçu en trois parties: la croisade albigeoise, l’homme, son entourage et ses représentations, enfin le lignage et sa culture.

Jean-Louis Biget, spécialiste reconnu de l’histoire religieuse en Occitanie, analyse la croisade contre les Albigeois, à partir du 15 août 1209, date à laquelle Simon de Montfort en prend la direction. Ce fut une guerre sans merci, mue par un esprit de croisade, de réforme morale et de purification spirituelle, qui cherche à éliminer les hérétiques, jugés pires que les Sarrasins. L’auteur montre les difficultés de la conquête, dues au manque d’effectifs et de moyens financiers, rendant illusoire le gouvernement des villes et des territoires conquis. Aux années triomphales (1214–1215) conclues par le IVe concile du Latran qui accorde au vainqueur tout le pays conquis, succède l’échec marqué par l’incapacité d’occuper le territoire occitan, la révolte de Toulouse et la mort de Simon devant la ville qu’il assiégeait (1218). D’heureuses cartes permettent de suivre la marche des croisés et l’organisation de leurs conquêtes.

C’est à cette tâche que dès 1212 le vainqueur s’adonne en faisant publier par un parlement croisé les »Statuts de Pamiers«. Largement inspiré de la réforme morale néo-grégorienne, ce texte cherche à imposer au Midi occitan la coutume française en matière de fief, de mariage, de statut des clercs, de corvées et de taille, tout en interdisant l’ordalie, la vengeance privée et les exactions seigneuriales. Gregory Lippiatt en compare les clauses avec d’autres textes contemporains, les »Assises d’Antioche«(avant 1219), le »Livre au Roi« (vers 1200) la »Bulle d’or« promulguée en 1222 par le roi André II de Hongrie ou les »Assises de Capoue« dues à Frédéric II (et non à Frédéric Ier, p. 43). À la différence de ces derniers, les »Statuts de Pamiers« établissent avec la »Bulle d’or« une étroite connexion entre croisade et réforme morale, mais ils n’auront qu’une éphémère application.

Martin Alvira retrace les rapports entre Simon de Montfort et Pierre II d’Aragon, depuis leur première rencontre en novembre 1209, jusqu’à la bataille de Muret (13 septembre 1213) où le »comte du Christ«, comme le dénomment certains chroniqueurs, serait venu s’apitoyer sur le cadavre du roi d’Aragon, tué par des chevaliers croisés. Le désir de revanche animera désormais les vaincus, faisant de Simon le bourreau de leur peuple.

La mort de Pierre II fait de son jeune fils, Jacques, otage de Simon de Montfort dès avant Muret, l’héritier du trône d’Aragon. Le légat pontifical, Pierre de Bénévent, recueille le jeune prince et en assure la protection face au conseil de régence. Damian Smith montre comment les nobles aragonais vont se préoccuper plutôt de leurs intérêts dans le Sud de la péninsule, face aux Almohades, que de leur implication dans les affaires de l’Occitanie.

Les démêlés de Simon de Montfort en Angleterre font l’objet de l’exposé, quelque peu confus, de Nicholas Vincent. Comte de Leicester jusqu’en 1209, Simon est privé de ses droits sur son comté par Jean sans Terre, les retrouve en plusieurs occasions, les perd à nouveau, de sorte qu’il devient l’inspirateur des barons anglais hostiles au roi. L’engagement de Simon dans la croisade albigeoise serait la conséquence directe de ses déboires concernant le comté de Leicester. Son fils, Simon VI, bénéficie à son tour de la faveur des barons anglais, en cultivant le souvenir et les relations de son père.

Laurent Macé étudie ensuite les sceaux successifs du lignage des Montfort, dont il donne des descriptions précises, sans malheureusement montrer autre chose que deux petites illustrations. Son exposé ainsi que le précédent (p. 125–126), auraient nécessité plusieurs clichés des types sigillaires successivement adoptés par Simon de Montfort et ses descendants.

Que devient la croisade après la mort de son chef devant les murs de Toulouse en 1218? Daniel Power, déplorant des sources moins nombreuses sur les événements postérieurs, rappelle la mort de Guy de Montfort lors du siège de Castelnaudary en 1220, la prise de Montréal par les Toulousains en février 1221, la participation d’Hugues de Lusignan, la fondation de l’ordre de la Foi en Jésus-Christ, puis en 1224 la trêve conclue avec les comtes de Toulouse et de Foix, par Amaury de Montfort, laissant au roi Louis VIII le soin de poursuivre la croisade dans le Midi.

Les relations des Montfort avec les Capétiens sont rendues difficiles par leur position ambivalente entre France et Angleterre. Lindy Grant retrace l’ascension du lignage depuis Simon Ier (entre 1060 et 1087): à partir d’une petite seigneurie dans la forêt royale des Yvelines (Montfort), la famille grâce à des mariages heureux acquiert le comté d’Évreux, puis celui de Leicester, mais est victime du conflit entre Capétiens et Plantagenêt. Renonçant à ses droits sur le Languedoc en 1224, Amaury, fils de Simon, est accueilli à la cour de Louis VIII, cède ses possessions anglaises à son frère Simon VI, et devient l’un des principaux conseillers de Blanche de Castille, durant sa régence. Il participe en 1239 à la croisade des barons dans le royaume de Jérusalem, est fait prisonnier en Égypte. Racheté, il meurt en Pouille sur la route du retour.

Sophie Ambler s’attache ensuite à décrire l’influence prépondérante de Simon V sur son fils Simon VI. Mu par les mêmes idéaux, faisant de la guerre sainte sa raison d’être, adoptant un sceau semblable à celui de son père (p. 199: pas d’illustration), Simon VI devient le leader de la révolution menée par les barons anglais contre le roi Henri III et son fils Édouard, mais est tué par les fidèles du roi à la bataille d’Evesham le 4 août 1265.

C’est à son expérience de gouverneur de la Gascogne anglaise que s’intéresse Amicie Pélissié du Rausas. Ayant épousé Éléanor, sœur d’Henri III, Simon VI en 1248 est dépêché par le souverain en Gascogne en pleine anarchie. Conscient d’une mission politico-religieuse et d’un souci de bon gouvernement, mais s’opposant avec violence aux coutumes et aux droits ancestraux des Gascons, Montfort se met rapidement à dos les seigneurs locaux, le peuple et l’archevêque de Bordeaux, Géraud de Malemort. Rappelé à Londres en 1252, à la suite des »dépositions gasconnes« rédigées contre lui, il est désavoué par le roi, ce qui explique sans doute son rapprochement avec les barons anglais hostiles au souverain.

Pendant moins d’un an (1265), le comté de Chester est devenu possession de Simon VI. Soutenu par des propriétaires terriens locaux, mais rejeté en raison de son gouvernement autocratique, comme le montre Rodolphe Billaud, Montfort le perd définitivement à sa mort en août 1265, au profit du futur Édouard Ier, suffisamment habile pour s’imposer en confirmant les droits et coutumes du comté.

Le dernier article, dû à Caterina Girber, étudie l’héraldique imaginaire des Montfort, oscillant entre flatteries et diffamations dans le roman arthurien ou dans deux manuscrits de l’Apocalypse.

Vient enfin une lumineuse conclusion de l’ouvrage par Martin Aurell qui développe trois thèmes illustrant la vie du lignage: Simon V et son fils représentent deux figures controversées qu’il convient de comprendre en les situant dans la société de leur temps. Mus par une ambition princière, écartelés entre Capétiens et Plantagenêt, ils échouent à garder un domaine de part et d’autre de la Manche. Aurell insiste enfin sur la ferveur religieuse du lignage, embu d’un idéal chevaleresque cléricalisé, mais aussi lieu de transmission de savoirs et de valeurs culturelles. L’extrême ambition de ses membres, pour lesquels la guerre sainte est une affaire de famille et un moyen d’expansion territoriale, les place dans une situation inconfortable, tantôt au service des souverains, tantôt à la tête d’une conjuration hostile au pouvoir royal.

De ce bel ouvrage émerge une image nuancée de Simon V et de ses descendants. Il est dommage qu’il y manque un exposé sur leurs participations aux croisades d’Orient (1204 pour Simon V, croisade des barons pour Amaury). Un tableau généalogique aurait été d’une grande utilité pour suivre la stratégie matrimoniale, moyen de leur ascension. On peut enfin déplorer la quasi absence de toute illustration et d’un index indispensable dans tout ouvrage de cette qualité.

Michel Balard – Paris.

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Troyes 1420. Un roi pour deux couronnes – BAUDIN; TOUREILLE (FR)

BAUDIN, Arnaud; TOUREILLE, Valérie (dir.). Troyes 1420. Un roi pour deux couronnes. Gand (snoeck), 2020. 408p. Resenha de: OBERSTE, Jörg. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

Am 21. Mai 1420 wurde in der Kathedrale von Troyes ein Friedensvertrag zwischen England und Frankreich besiegelt, der schon von den französischen Zeitgenossen mit gemischten Gefühlen aufgenommen und von der französischen Historiografie seit dem 18. Jahrhundert als »honteux traité« disqualifiziert wurde. Die Ergebnisse dieses Staatsaktes waren für alle Beteiligten, insbesondere die Königshäuser der Valois und Lancaster, aber auch für die Position Herzog Philipps des Guten von Burgund von unmittelbarer und einschneidender Wirkung: Der Dauphin verlor seinen Erbanspruch auf den französischen Thron; der in der Schlacht von Azincourt 1415 siegreiche englische Herrscher, Heinrich V., übernahm als »Regent in Frankreich« faktisch die Regierungsgeschäfte in Paris; die in Troyes vereinbarte und wenige Wochen darauf vollzogene Ehe Heinrichs mit Katharina von Valois sollte den Grundstein für eine neue Dynastie englisch-französischer Doppelmonarchen legen; der Herzog von Burgund schließlich gewann durch sein Bündnis mit den Lancaster eine bis dahin ungekannte und autonome Machtstellung in Frankreich.

Bis heute erfreuen sich der Vertrag von Troyes und die darauf folgende Phase der englischen Besetzung größerer Teile Frankreichs einschließlich der Hauptstadt Paris einer deutlich breiteren Resonanz in der englischen und internationalen Forschung als in der französischen. Daher ist es hervorzuheben, dass dieses Ereignisses am Ort des Geschehens unter der wissenschaftlichen Leitung von Valérie Toureille (Université de Cergy-Pontoise) und Arnaud Baudin (Université Paris 1) in einer großen Ausstellung (vom 4. September 2020 bis 3. Januar 2021) gedacht wird. Zu diesem Anlass wurde ein wissenschaftlicher Katalog vorgelegt, in dem die politischen, sozio-ökonomischen und kulturellen Kontexte des Vertrags von führenden französischen und internationalen Forscherinnen und Forschern aufgedeckt und zugleich die vielfältigen Exponate der Schau großformatig in beeindruckender Qualität gezeigt werden.

Während sich die drei einführenden Beiträge von Philippe Pichery, dem Präsidenten des Conseil départemental de l’Aube, den wissenschaftlichen Organisatoren sowie von Philippe Contamine mit der höchst unterschiedlichen Rezeption und Interpretation des Geschehens von Mai 1420 in seinen Auswirkungen auf das zeitgenössische Machtgefüge in Europa und in der langen Perspektive bis heute befassen, folgt die weitere Einteilung des über 400 Seiten umfassenden Bandes den Sektionen der Ausstellung: »Der politische Kontext (1407–1419)«, »Der Vertrag von Troyes«, »Leben in der Champagne in der ersten Hälfte des 15. Jahrhunderts«, »Krieg und Rückeroberung« sowie abschließend: »Die Erinnerung an den Vertrag von Troyes«.

Mit Anne Curry und Christopher Allmand sind zwei herausragende Vertreter der englischen Forschung an der Rekonstruktion der Kontexte beteiligt: Zunächst verfolgt Édouard Bouyé skizzenhaft die lang währende englische Obsession einer englisch-französischen Doppelmonarchie von der Zeit König Eduards III. (1327–1377) bis ins frühe 19. Jahrhundert. Vor diesem Hintergrund wird klarer, dass die Ereignisse von Troyes den Punkt in einer Jahrhunderte währenden Beziehung markieren, an dem zum einzigen Mal eine Realisierung dieser Idee greifbar nahe schien.

Bertrand Schnerb übernimmt es, die korrodierende Herrschaft in Frankreich in den späten Jahren König Karls VI. zu umreißen, die von Attentaten in der Königsfamilie, dem eskalierenden Bürgerkrieg zwischen Bourgignons und Armagnacs und von der zunehmenden Unfähigkeit Karls VI., seine Herrschaft auszuüben, geprägt war. Ein wichtiges Resultat dieses Beitrags liegt in der Erkenntnis, dass bereits vor der Niederlage von Azincourt der Herzog von Burgund zur bestimmenden Figur der französischen Politik avanciert war.

Christopher Thomas Allmand stellt in seinem Beitrag klar, dass bereits die zeitgenössischen Bewertungen der Ursachen der »guerre de Cent Ans« durchaus variierten: als Lehnskonflikt zwischen dem französischen Lehnsherrn und seinem rebellischen Lehnsmann auf dem englischen Thron, als Erbfolgekonflikt um den französischen Thron oder als Territorialkonflikt zweier aufstrebender europäischer Nachbarreiche. In seinem Fazit hebt er die besonderen militärischen Talente und Erfolge Heinrichs V. als Hauptursache für die dynamischen politischen Entwicklungen der Jahre 1415–1420 hervor. Alain Marchandisse verfolgt schließlich die Rolle der burgundischen Herzöge im Umfeld des Vertrags von Troyes. Dieser Teil wird abgeschlossen durch insgesamt 14 knappe Objektskizzen zu so unterschiedlichen Exponaten wie dem Schädel des 1419 ermordeten Herzogs Johann Ohnefurcht oder einem Portrait Heinrichs V. aus dem frühen 16. Jahrhundert.

Das eigentliche Geschehen im Mai 1420 in Troyes ordnen Cléo Rager, Anne Curry, Martin Kintzinger, Ghislain Brunel, Philippe Contamine und andere ein. Die Präsenz der unterschiedlichen Höfe, die aus Troyes die Kulisse für einen bedeutenden europäischen Staatsakt machte, wird hier ebenso beleuchtet wie das politische Tauziehen um einzelne Klauseln oder diplomatische und archivalische Aspekte der beiden überlieferten Vertragstexte (in französischer und lateinischer Sprache).

Unter den eindrücklichen Exponaten, die jeweils im Mittelpunkt eines Beitrags stehen, ragt unter anderem eine durch Anne Curry besprochene Truppenliste mit Verstärkungen für König Heinrich V. von Frühjahr 1420 hervor, die eindringlich klar macht, dass die englische Position trotz des Siegs von Azincourt und der burgundischen Unterstützung keineswegs unangefochten war. Ein anderes Leitobjekt stellt eine Goldmünze König Heinrichs VI. mit dem charakteristischen Doppelwappen aus fleurs de lys und den Lancaster-Löwen auf dem Revers dar. Zur Herrschaft dieses ersten und einzigen englisch-französischen Doppelmonarchen (1431–1435) gibt es außer einer kurzen Bildbesprechung leider keinen weiteren Beitrag.

Mit der regionalen Perspektive auf die burgundische Champagne im frühen 15. Jahrhundert führt der Band vom vorrangig politischen Interesse am Staatsakt von 1420 weg und leistet eine breite sozial-, wirtschafts- und kulturhistorische Einführung anhand einer großen Bandbreite von Exponaten und Dokumenten: Arnaud Baudin widmet sich der historischen Landschaft Champagne, Aurélie Gauthier der blühenden urbanen Kultur, Élisabeth Lusset der Kirchenorganisation, Véronique Beaulande-Barraud der Frömmigkeitspraxis und eine Reihe weiterer Beiträge und Objektskizzen der reichen materiellen Kultur und Schriftüberlieferung.

Auch die folgende Sektion zu »Guerre et Reconquête« geht von der besonderen Lage der Champagne zwischen den burgundischen Kernterritorien und der Île-de-France aus. Laurent Vissière, Olivier Renaudeau, Brice Collet, Alain Morgat und Aleksandr Lobanov beleuchten zunächst militärische Aspekte wie die Ausstattung der rivalisierenden Heere mit Waffen oder den Aufbau eines Netzes englischer Garnisonen in der Champagne. Zu den zentralen politischen Episoden in der Folge des Vertrags von Troyes zählen die Regentschaft des Herzogs Johann von Bedford in Frankreich, der in diesem Amt seinen 1422 in Vincennes verstorbenen königlichen Bruder beerbt, sowie das Auftreten Johannas von Orléans und das Wiedererstarken der Valois. Mit Anne Curry und Valérie Toureille kommen hier zwei der besten Kennerinnen der Materie zum Zuge. Unter den vielfältigen Exponaten beeindruckt der erhaltene Krönungsbaldachin Karls VII., dessen politische Ikonografie Élisabeth Antoine-König als »anti-traité de Troyes« charakterisiert.

Mit der Rezeption des Vertrags von Troyes schließlich befassen sich vier abschließende Beiträge, die so unterschiedliche Themenfelder eröffnen wie den Blick auf Heinrich V. im Werk William Shakespears (Line Cottegnies), den Frieden von Amiens im März 1802 zwischen Großbritannien und dem napoleonischen Fankreich (Patrice Gueniffey), das französisch-englische Bündnis von Juni 1940 (Jenny Raflik) oder den Hundertjährigen Krieg im Kino (François Amy de La Bretagne).

Ein etwa 100 Jahre altes Foto vom Vorplatz der Kathedrale von Troyes erinnert an die Feierlichkeiten zu Ehren von Jeanne d’Arc, die hier 500 Jahre zuvor begeistert empfangen worden war. Nach dem Ersten Weltkrieg trug die Pucelle zur Versöhnung von Republikanern und Katholiken in Frankreich bei, wie Nicolas Dohrmann ausführt. Sorgfältige Register und eine Bibliografie runden diesen aufwändig gestalteten Katalogband ab, der die wissenschaftlichen Perspektiven und materiellen Überlieferungen zu einem wichtigen Datum der europäischen Geschichte auf eindrucksvolle Weise zusammenführt.

Jörg Oberste – Regensburg.

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Logistics of the First Crusade. Acquiring Supplies Amid Chaos – BELL (FR)

BELL, Gregory D. Logistics of the First Crusade. Acquiring Supplies Amid Chaos. Lanham, Boulder, New York, London: Lexington Books, 2019. 226p. Resenha de: BALARD, Michel. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

La première croisade a fait l’objet d’une pléthore d’études. Était-il indispensable d’en publier une nouvelle? Oui, sans doute, car le thème choisi par l’auteur a trop longtemps été délaissé: comment une troupe disparate de plusieurs dizaines de milliers de combattants et de non-combattants a-t-elle pu s’approvisionner pendant un voyage de plus de 25 mois, à plusieurs milliers de kilomètres de son point de départ, et réussir à s’emparer de Jérusalem, alors que la faim et la soif la tenaillaient pendant de longues semaines et que tout au long de son parcours la maladie, la mort, la désertion amoindrissaient le nombre des croisés en état de combattre? Pour l’auteur, leur succès repose sur une logistique réfléchie et flexible: loin d’être désorganisés, avides et violents, les chefs de la croisade ont su prévoir les modes d’approvisionnement en marche et pendant les sièges de Nicée, d’Antioche et de Jérusalem.

Pour le démontrer, l’auteur organise son propos en dix chapitres qui suivent les principales étapes de la croisade. Il s’appuie sur une large palette de chroniqueurs, sur quelques lettres écrites par les croisés et sur les chartes et cartulaires faisant mémoire des financements obtenus par les participants, avant le départ de l’expédition. Le fait que le pape Urbain II ait promu celle-ci comme un pèlerinage vers Jérusalem aurait été fondamental pour calmer les ardeurs guerrières lors de la traversée des Balkans et même de l’Anatolie. Plutôt que de se livrer au pillage systématique pour trouver des approvisionnements, les chefs de la croisade auraient cherché à acheter leurs subsistances sur les marchés locaux, en ayant pris soin d’en avertir les responsables à l’avance. Pour ce faire, ils auraient emporté d’importantes sommes d’argent et aidé en cours de route les plus pauvres des croisés, dépourvus de moyens.

Cette méthode nécessite d’intenses préparations logistiques, dès que fut connu l’appel du pape à Clermont. Monastères et églises accordent des prêts aux participants ou leur achètent des biens fonciers, les juifs sont victimes d’extorsions d’argent, particulièrement dans les villes rhénanes, les villes portuaires sont invitées à préparer des flottes d’appui à l’expédition. Puis vient le départ, d’abord de la croisade populaire dont la violence et l’anarchie sont dues à l’absence d’un chef prééminent, puis des cinq troupes dirigées par des princes soucieux de négocier des transactions pacifiques et ne recourant au pillage qu’en dernier recours. Leurs relations avec Alexis Ier Comnène auraient mérité une étude plus précise, en ce qui concerne le serment exigé par le basileus ou les dons d’argent et d’aide que celui-ci offrait.

Le volume des approvisionnements nécessaires dépend bien sûr du nombre de croisés. À la suite des historiennes et historiens qui l’ont précédé, l’auteur discute les chiffres cités par les chroniqueurs, en acceptant non sans hésitation que l’armée ait compté près de 100 000 hommes lors du siège de Nicée, un maximum dans l’histoire de la croisade. L’aide byzantine décide alors de la victoire. La traversée de l’Anatolie, en terre ennemie, accroît les problèmes de subsistances: le ravitaillement, le fourrage et l’eau manquent et il faut recourir à des pillages systématiques, qui ne cessent qu’à l’arrivée des croisés dans des régions peuplées majoritairement d’Arméniens. L’armée se divise alors: Baudouin et Tancrède partent à la conquête des villes littorales de Cilicie, puis d’Édesse pour le premier, tandis que l’armée principale gagne difficilement Antioche et qu’une flotte anglaise ou byzantine (?) approche de Port Saint-Syméon, à quelques lieues d’Antioche. L’auteur penche pour une synchronisation entre forces terrestres et navales, sans vraiment le prouver.

La perspective d’un long siège pose à nouveau de redoutables problèmes d’approvisionnement. En comptant 60 000 hommes dans l’armée assiégeante et un bon millier de chevaux, l’auteur estime les besoins journaliers à 110 tonnes de grain pour les hommes, à plus de 10 pour les chevaux. Où les trouver? Les flottes nordiques, byzantines et génoises peuvent se fournir en Chypre et aborder à Port Saint-Syméon, mais le manque de charrettes et les attaques musulmanes empêchent la distribution des provisions. La disette s’installe dès la fin de l’année 1097, et ce n’est qu’après avoir construit au printemps 1098 trois fortifications pour empêcher les sorties des assiégés que les croisés peuvent enfin recourir aux ressources locales. Ils s’emparent d’Antioche au début juin, mais l’arrivée de l’armée de Kerbogha, atabeg de Mossoul, les enferme dans la ville et les condamne pendant 26 jours à une famine intense, jusqu’à ce qu’une sortie heureuse les délivre des assiégeants.

De juillet 1098 à mai 1099, les croisés restent sur place à Antioche, dans l’attente d’une aide navale les aidant à progresser vers le sud. Après quelques mois d’approvisionnements, de nouveau, dès l’hiver, la faim les tenaille. Ils effectuent quelques expéditions: conquêtes d’Albara, d’Arqa et de Ma’arrat-an-Numan où ont lieu des scènes de cannibalisme longuement analysées par Michel Rouche dans un article que l’auteur ignore.

Sous la pression des pauvres, les chefs décident au printemps de marcher rapidement vers Jérusalem, en suivant la route côtière, jalonnée de villes qui leur livrent des subsistances pour éviter d’être pillées. Le 7 juin 1099, l’armée arrive devant Jérusalem et doit agir vite sous une chaleur accablante, par manque d’eau et de provisions. Un premier assaut échoue. Une flottille génoise, arrivée à Jaffa, apporte subsistances et matériel de siège qui permettent la prise de la ville sainte le 15 juillet 1099.

Le récit, on le voit, ne s’écarte guère des nombreuses histoires de la première croisade disponibles à ce jour, sauf pour insister sur les difficultés de ravitaillement de l’armée croisée et sur les méthodes employées pour y faire face. Dire que les chefs auraient eu un plan d’action coordonné entre l’avance des troupes et l’arrivée des flottes de secours n’est guère démontré par les textes, et l’insistance de l’auteur sur la discipline et l’ordre imposés par les chefs pour contrôler la fourniture des approvisionnements me paraît bien optimiste, face à une pénurie empreinte de violences que les chroniqueurs évoquent constamment.

L’ouvrage de Gregory Bell n’est pas exempt de maintes imperfections: »Nance« pour Nantes (p. 9), »Turkic« pour Turkish (p. 84 et 90), »Meragone« pour Maragone (p. 152), »Mans et Puy« pour »Le Mans et Le Puy« (p. 159). Les cartes sont trop petites et peu lisibles, celle d’Antioche est mal orientée et contredit les directions indiquées par le texte (p. 126–128). Surtout la quasi-ignorance de toute bibliographie qui ne soit pas anglo-saxonne frappe le lecteur: six ouvrages en français cités, mais aucune mention des actes des deux colloques de Clermont en 1095, ni du livre de Guy Lobrichon; aucun ouvrage allemand, sauf l’étude de Carl Erdmann qui date de 1935, mais ici dans sa traduction anglaise (1977); de même Cardini et Musarra, spécialistes italiens des croisades, sont totalement ignorés. L’histoire des croisades serait-elle désormais une chasse gardée des Anglo-Saxons?

Michel Balard – Paris.

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La trace et l’aura. Vies posthumes d’Ambroise de Milan (IVe–XVIe siècle) – BOUCHERON (FR)

BOUCHERON, Patrick. La trace et l’aura. Vies posthumes d’Ambroise de Milan (IVe–XVIe siècle). Paris: Éditions du Seuil, 2019. 533p. Resenha de: HERBERS, Klaus. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

Patrick Boucheron legt unter dem zunächst kryptisch wirkenden Titel eine monumentale Geschichte Mailands und des Ambrosiuskultes vor. Erst am Ende seines Buches im »Post-Scriptum« enthüllt er mit Bezug auf Walter Benjamin, was es mit dem Titel auf sich hat. Die Spur (la trace) bedeutet die Erscheinung in der Nähe, und die Aura bedeutet die Erscheinung von etwas Entfernten. Damit ist zugleich das theoretische Spannungsfeld des Autors angedeutet. Patrick Boucheron, der vor allen Dingen mit Studien zum spätmittelalterlichen Italien hervorgetreten ist, will mit seinem Werk verständlich machen, wie die Mailänder im Laufe des gesamten Mittelalters ihre Identität mithilfe der Erinnerung an den heiligen Ambrosius konstruierten und rekonstruierten.

Insofern ist es verständlich, dass er sein Buch mit Fragen der Mailänder kommunalen Verwaltung im späten Mittelalter beginnt, um dann in literarisch brillanter Form auf verschiedene Aspekte der früheren Epochen einzugehen. Hierzu nutzt er vielfältige Methoden, zum Beispiel die klassischen Untersuchungsmethoden der Hagiografie von écriture und réécriture, aber auch Fragen zum remploi, zur Erinnerung in Monumenten, Schriften und Verhaltensweisen. Der Rückbezug auf viele philosophische und soziologische Größen durchzieht den Band. So spielen nicht nur Walter Benjamin und Roland Barthes, sondern auch Jacques Derrida und andere eine wichtige Rolle, um historische Phänomene immer wieder in umfassendere Zusammenhänge einzuordnen.

Mailand ist mit Ambrosius eng verbunden, Ambrosius ist eng mit Augustinus verbunden. Nach kurzen Bemerkungen zur Vita des Ambrosius nimmt Boucheron die Anliegen von Ambrosius und Augustinus, wie sie sich in den Jahren 384 bis 386 manifestierten, in den Blick. Etwas später datiert die wichtigste Vita des Bischofs Ambrosius, die von Paulinus von Mailand verfasst und später immer wieder herangezogen und verworfen, adaptiert und erneut verwendet wurde. Gab es hier also nur eine ganz normale Heiligenvita wie sonst auch?

In einem zweiten großen Abschnitt, den Boucheron mit der »Besetzung der Orte« (l’occupation des sols) überschreibt, geht es um die verschiedenen topografischen Punkte, die in Basiliken und sakralen Bauten das Andenken des Ambrosius dokumentierten, festigten und beispielsweise auch seinen Kampf gegen die Homöer deutlich machten. Basilika und Baptisterium, die Konstruktion eines christlichen Raums in der Stadt, entwickelten sich gleichsam in seinen Worten zu einer »Erinnerungsmaschine« (machine de mémoire). Vieles kulminierte in der Errichtung des goldenen Altars in karolingischer Zeit, der gleichsam die schriftlichen Erinnerungssplitter monumental verdichtete.

Der dritte Abschnitt, eine Geschichte der Zeit des 4. bis 12. Jahrhunderts, betrifft die sogenannten Phantome der Erinnerung an Ambrosius. Hier geht es in einer subtilen Weise zum Beispiel um die Frage, warum Ambrosius in Canossa nicht gegenwärtig und doch gegenwärtig war. Das vierte Großkapitel zeigt, welche verschiedenen Methoden Ambrosius immer wieder am Leben erhielten. Im 13. und 14. Jahrhundert war es die Figur des heiligen Ritters, außerdem die Gestalt des Vorkämpfers für die Freiheit und viele andere Dinge mehr.

In einem letzten (fünften) Abschnitt, der »ambrosianische Anamnesen« genannt wird, geht es um Fragen von Liturgie und die Bedeutung, die Karl Borromäus in der Frühen Neuzeit für Mailand und den ambrosianischen Kult einnahm. Der ambrosianische Ritus – einer der wenigen Sonderriten, die nicht romanisiert wurden – verkörpert bis heute das Selbstbewusstsein Mailands als eigenständiger Wurzelgrund des westlichen Christentums.

Mit dem Buch ist Patrick Boucheron sicher ein großer Wurf gelungen, die Geschichte einer Stadt und einer ganzen Landschaft vom Heiligenkult und dessen verschiedenen Facetten her zu rekonstruieren und zu entwerfen. Fragen der Auseinandersetzungen mit Rom, mit Nordafrika und Augustinus sowie mit der bedeutenden Königsstadt Pavia werden in den verschiedensten Abschnitten deutlich. Auch die einzelnen Parteiungen in der spätmittelalterlichen Kommune beriefen sich in vielfacher Weise allein durch ihre Namen auf den heiligen Ambrosius. Es gibt wenige Kulte, die dies vergleichend in ähnlicher Weise so breit verdeutlichen könnten, nimmt man einmal Petrus und Rom, Jakobus und Compostela, Markus und Venedig aus. Italien ist allein aufgrund der kommunalen Traditionen besonders reich an ähnlichen Beispielen, wie seit den Studien von Hans Conrad Peyer bekannt ist.

Natürlich musste Boucheron manchmal mit einem etwas größeren Pinsel zeichnen, denn die Beobachtungen über mehr als 1000 Jahre können nicht in vollem Maße immer auf eigener Forschung basieren. Der Autor bietet aber einen ausgesprochen erfrischenden Blick auf den ambrosianischen Kult, der von Fragen zur mailändischen Kommune im 14. und 15. Jahrhundert ausgeht. Insofern bietet das Mailand dieser Zeit dem Autor gleichsam eine Art Plattform, von der aus er die verschiedenen Sondierungen unternimmt und damit zeigt, was historische Arbeit bedeutet. Denn die Kontextualisierung eines Kultes in den verschiedenen Epochen zeigt eindrücklich, wie sehr das Mittelalter sich selbst durch diese Heiligenkulte verschiedene Identitäten konstruierte, verwarf und anverwandelte.

So liefert Boucheron auch einen Beitrag zur generellen Frage, wie lebendig und wie wirkmächtig Heiligenkulte waren. An einer Stelle bemerkt er gleichsam am Rande, dass die Humanisten die Antike als Vergangenheit erfunden hätten und damit das Material vernichteten, das im Mittelalter immer wieder verwendet, verändert, neu kontextualisiert und »konvertiert« worden sei (S. 28). Konversion bedeutet für ihn zugleich eine Form der Mission (S. 26). Diese und andere Facetten des Umgangs mit einem lebendigen Erinnerungsmaterial hat uns Boucheron in seinem monumentalen Werk bestens vorgeführt.

 Klaus Herbers – Erlangen

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¿Por qué funciona el populismo? El discurso que sabe construir explicaciones convincentes en un mundo en crisis | María Esperanza Casullo

Nunca son suficientes las figuras evocadas para hablar de populismo; ya sea como el fantasma que recorre el mundo, el eterno retorno de una anomalía, una tentación o, incluso, el más peligroso de los virus, un sinnúmero de experiencias política contemporáneas no dejan de ser caracterizadas como populistas. Como es sabido, muchos de estos tópicos han estado siempre a la orden del día, especialmente en Argentina, donde en años recientes la producción académica sobre el tema ha alcanzado un punto álgido de saturación. Es en el más reciente clivaje político argentino, en medio de la caída (electoral) del macrismo y del surgimiento político de Alberto Fernández en 2019, que María Esperanza Casullo cristaliza una particular contribución sobre la cuestión populista. Leia Mais

Medios/agendas y periodismo en la construcción de la realidade | Sandra Poliszuk, Ariel Barbieri

En Medios, agendas y periodismo en la construcción de la realidad, Sandra Poliszuk y Ariel Barbieri compilan una serie de trabajos que dan cuenta de la tarea de distintos investigadores y equipos de investigación en comunicación de universidades públicas de la Argentina, de una universidad de Chile y de la Defensoría del Público de Servicios de Comunicación Audiovisual de nuestro país. En este sentido, los artículos reunidos exponen avances y resultados de proyectos de investigación, las perspectivas de estudio y los desarrollos conceptuales que las sustentan, o con los que debaten, las metodologías y herramientas utilizadas para el abordaje y el análisis de los objetos, y comparten reflexiones de sus autores. Leia Mais

The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith – Workers and Race before Liberation Theology | Ricardo Cubas Ramacciotti

O livro “The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884-1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology”, deRicardo D. Cubas Ramacciotti, publicado em 2018, chegou em boa hora. Abrange uma temática importante para o campo dos estudos sobre a história do catolicismo na América Latina na virada do século XIX para o XX.

Destacamos, ainda, a alta relevância que os temas relacionados à relação entre religião e política têm tido nas últimas décadas. Não se trata mais tão somente de conflitos localizados, na Irlanda, na Palestina, nos Balcãs, como o noticiário internacional tornara rotineiros no último quartel do século XX. Para compreender e analisar a conjuntura política internacional, nacional ou regional tornou-se indispensável nos despirmos das fantasias iluministas. As interpretações iluministas consideraram os espectros da irracionalidade produzidos por séculos de predominância da dominação religiosa e da sacralização do poder como superados, dado o avanço do desencantamento do mundo.

À relevância da obra que apresentamos aos leitores de Almanack, junte-se a qualidade de sua edição, publicado na coleção Religion in the Americas Series da prestigiada editora Brill, criada em 1683 em Lieden, nos Países Baixos, e que tem sede também em Boston, nos EUA [3]. Em português tem por título: “A política da religião e a ascensão do catolicismo social no Peru (1884-1935): Fé, Operários e Raça antes da Teologia da Libertação”. Tendo realizado estudos de mestrado e doutorado na Universidade de Cambridge na Inglaterra, o historiador havia feito sua graduação em História na Universidade Católica do Peru. Atualmente, é professor associado na Universidad de los Andes, em Santiago do Chile.

Ricardo Cubas optou pela metodologia e pelas técnicas de pesquisa da história das ideias (selecionando e organizando conteúdos temáticos). Estamos diante de um livro potente, que cobre uma lacuna para os estudos da história do pensamento católico na América Latina. E, diga-se de passagem, “Latina”, porque constituía a América que rezava em latim, na percepção dos maçons das lojas de Londres e da Filadélfia, tão atuantes que foram nos processos de independência dos países ao Sul do rio Grande (do México até a Patagônia). A nosso ver, mais importante do que destacar as disputas entre Inglaterra e França pelo espólio dos impérios ibéricos no século XIX, convém atentar para o olhar colonial dos agentes dos novos impérios, que levou os franceses a proclamarem suas afinidades com a latinidade para justificar suas ambições imperialistas. Entretanto, as associações entre a catolicidade da América Latina e o “atraso” e outras desqualificações intelectuais e morais se apresentaram no palco destas disputas e estão a produzir efeitos políticos e ideológicos que ecoam até o tempo presente. [4]

O livro aborda a problemática da relação entre religião e política no contexto mais amplo do conflito entre o catolicismo e os movimentos de secularização da sociedade peruana. Analisa o processo de renovação do mundo católico, face às transformações socioeconômicas da expansão global do capitalismo industrial a partir da década de 1860. A temporalidade enfocada vai de o fim da Guerra do Pacífico (1879-1884) até os anos imediatamente posteriores a crise mundial de 1929 e a queda do regime de Augusto B. Leguía em 1930. Neste período, a formação histórica peruana iniciou um processo de reconstrução nacional caracterizada pela aplicação de novos modelos de crescimento econômico e desenvolvimento urbano.

Entretanto, os processos históricos transnacionais não implicaram tão somente questões referidas à expansão econômica e modernização urbano-industrial. Em toda esta temporalidade abrangida pelo livro em tela, ocorreram disputas entre a reação conservadora (do fundamentalismo católico ultramontano) e o processo de modernização e reforma do catolicismo. Durante o papado de Pio IX (entre 1846-1878) ocorreu uma forte reação conservadora que promoveu a devoção ao Sagrado Coração e estimulou a revivificação [5] da teologia tomista, atualizando o neotomismo das reformas religiosas do século XVI (também conhecido como segunda escolástica). No papado seguinte, Leão XIII promulgou a encíclica Aeterni Patris que, mais do que qualquer outro documento, forneceu uma carta para a atualização histórica do tomismo – o sistema teológico medieval baseado no pensamento de Tomás de Aquino (século XIII) que fora atualizado no século XVI; e que se tornou oficial e tido como sistema filosófico e teológico da Igreja Católica na virada para o século XX. Deveria ser normativo não apenas no treinamento de padres nos seminários da igreja, mas também na educação dos leigos nas universidades. Por outro lado, introduziu na igreja de Roma, através da encíclica Rerum Novarum (de 1891), a reflexão sobre a “questão social”, que convocou os católicos a pensarem e agirem diante do avanço do movimento operário organizado internacionalmente (Associação Internacional dos Trabalhadores, de 1864, e II Internacional Socialista, de 1889, marcada pela reorganização após a forte repressão política aos movimentos operários depois da Comuna de Paris, de 1871). Estavam dadas as condições históricas de avanço e consolidação das duas posições políticas que dividem o campo político do catolicismo romano desde o último quartel do século XIX: o integrismo e o solidarismo.

Temos no livro de Ricardo Cubas um enquadramento da circulação de ideias entre Europa e América Latina, que foi tratada em sua complexidade e abrangência, envolvendo tanto um processo de expansão da internacionalização do capitalismo, quanto uma retomada vigorosa do catolicismo e do tomismo [6], que constitui também um processo inscrito no plano internacional. Afinal, “católico” é sinônimo de “universal”.

O livro de Cubas Ramacciotti analisa como ocorreram mudanças no catolicismo em termos globais e como manifestaram-se no caso peruano, onde a secularização do poder implicou um processo de transição de um governo confessional que proibia a culto público de credos não católicos ao reconhecimento legal de diferentes religiões, especialmente a partir de 1915, e, posterior à separação entre igreja e Estado. Também implicou uma influência eclesiástica decrescente sobre a legislação peruana, especialmente sobre temas relacionados à educação pública e à concepção católica de direito natural, família e casamento. O capítulo dedicado a estas questões está muito bem construído.[7] Ocorreram, ainda, a eliminação de tribunais corporativos especiais para o clero e o deslocamento gradual da Igreja de funções que passaram para o controle estatal, como o registro civil, o bem-estar social e a saúde pública. Outra característica, que não é o foco principal de estudo neste livro, mas está bem colocado no livro, foi a transformação das relações econômicas entre igreja e Estado, incluindo uma expropriação antecipada de algumas propriedades eclesiásticas e uma redução gradual – embora não a eliminação – de certos privilégios fiscais e subsídios públicos à Igreja.

Do ponto de vista sociopolítico, a secularização foi caracterizada pela influência de novos atores: liberais, maçons e positivistas, que, por razões muito diferentes, desafiaram a hegemonia cultural e social do catolicismo no Peru. Por outro lado, os protestantes visavam alcançar maior tolerância religiosa para expandir seus projetos pastorais e educacionais. Marxistas e apristas questionaram as estruturas econômicas e sociais do país como um todo e defendiam uma revolução radical. O livro aborda, portanto, um universo de três tópicos interconectados: a resposta eclesiástica à secularização da política, a revitalização interna da Igreja no Peru e a ascensão do catolicismo social. Paradoxalmente, essa situação permitiu à Igreja promover várias iniciativas pastorais, sociais, educacionais e políticas que, por sua vez, foram fundamentais para preservar e expandir a presença católica na sociedade peruana.

A interpretação de Ricardo Cubas é de que a aplicação do pensamento social católico no Peru teve que ser adaptada à realidade específica do país e apresentou respostas distintas daquelas implementadas na Europa. O livro analisa, assim, uma tendência dentro do catolicismo peruano algumas décadas antes do surgimento da Teologia da Libertação, que foi moldada por diferentes paradigmas teológicos e políticos. Tal situação avançou com uma agenda reformista, mas anti-revolucionária, que abordava a nova política social, incluindo os trabalhadores urbanos e as populações indígenas. Essa agenda englobava uma defesa dos direitos individuais e corporativos de trabalhadores e dos índios contra seus detratores e exploradores. Demandava também mudanças legais e institucionais para proteger esses direitos; iniciativas de bem-estar; uma reavaliação de culturas e línguas nativas; e esforços para integrar as populações indígenas.

Na organização dos capítulos, o livro inicia com informações históricas sobre o regalismo no mundo hispano-americano, de fins do século XVIII, que deu suporte à monarquia católica. Situou o Absolutismo Ilustrado e suas reformas até a independência política, provocando uma crise eclesial que ficou sujeita às pressões da Santa Aliança e tudo que implicou de afirmação da reação conservadora, na América Latina, tanto quanto na Europa.

As Parte II e III do livro são as melhores que o autor nos apresenta, seja pela pesquisa que aparece em sua plenitude na narrativa histórica empreendia pelo autor, seja pelas novidades que aporta. Nelas o livro se desprende da formatação de pesquisa de tese de doutorado que deixava transparecer até então. Os subtítulos são sugestivos: A revivificação católica (The Catholic Revival) [8] e Catolicismo Social (Social Catholicism) [9]. Nesta parte III, não podemos deixar de ressaltar o tratamento dado à criação dos círculos operários [10], uma estratégia global da igreja romana. Paralelamente à formação intelectual do laicato através de uma política educacional, o catolicismo social voltou-se para o operariado dos centros urbanos latino-americanos (no Peru, e no Brasil). [11]

Entre os pontos altos do livro está a forma como Ricardo Cubas pontua numa cadência bem distribuídas as forças políticas divergentes no interior do catolicismo romano. Analisa, por exemplo, o renascimento da educação católica, e aqui estamos traduzindo literalmente a expressão utilizada no original do texto de tese: “The rebirth of Catholic Education”.[12] No Brasil, a historiografia tem usado outra terminologia para referir-se à reforma católica do final do século XIX: recristianização pelo novo esforço de evangelização e repovoamento das diferentes regiões que compõem o país. A nosso ver, esta outra conceituação é mais adequada, pois, de fato, os episódios analisados envolvem a evangelização promovida durante o período colonial e a estratégia de conversão abrangente através dos colégios dos jesuítas. Com a expulsão dos jesuítas da Europa (que atingiu também as áreas colonizadas nas Américas), no século XVIII, e com o avanço do processo de secularização produzido pela radicalidade da revolução burguesa na França, mas não só, seria demasiado e historicamente impróprio denominar a reforma religiosa de modernização do catolicismo em fins do século XIX de “renascimento da Educação católica”. No Peru, como também no Brasil, ocorreu, desde então, uma pregação religiosa de que o Estado não é capaz de manter escolas públicas de qualidade [13]. De fato, a estratégia tão bem descrita por Ricardo Cubas, para o caso do Peru, mas que também ocorre em outras formações históricas da América Latina, foi o “repovoamento da Igreja”, com a vinda de educadores missionários para criação de colégios confessionais católicos, com motivações claras na direção de formação do laicato urbano, letrado e moderno.[14]

Para o caso do Peru, Ricardo Cubas destaca a força política da Educação católica, tendo em vista uma atuação política diante da separação entre igreja e Estado. Muitos colégios foram criados (tal como no Brasil), e ressalta a importância da Congregação dos Sagrados Corações (de Jesus e de Maria), que chegou no Peru em 188815, sendo muito prestigiada pela elite católica peruana. A Congregação havia sido criada em Paris, na Rue Picpus, em 1800.

Não por acaso, a efervescência política e excelência da produção intelectual peruana neste período é notável, pelas possibilidades de elaboração de uma reflexão marxista original e de peso teórico na pena de José Carlos Mariátegui (em seu livro, “Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana”, de 1924); tanto quanto a criação de condições históricas para a elaboração mais acabada da Teologia da Libertação de Gustavo Gutiérrez, monge dominicano de ascendência quéchua. Tanto o revolucionário, quanto o teólogo estudaram na mais antiga universidade das Américas, a Universidad Nacional de San Marcos. O livro mais conhecido de Gutiérrez, “A Teologia da Libertação: História, Política e Salvação”, de 1971, responde ao movimento mais amplo emergido no Segundo Pós-Guerra (décadas de 1950-60) que resultou na convocação das conferências episcopais latino-americanas16, cujos primeiros resultados influíram diretamente na inclusão da pauta de justiça social e opção preferencial pelos pobres.

Notas

3. CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology, Lieden/ Boston: Brill, 2018, 311 p.

4. NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Sobre o Conceito de América Latina: Uma Proposta para Repercutir nos Festejos do Bicentenário. Revista Pilquen. Sección Ciencias Sociales, v. XII, p. 1-7, 2010.

5. Empregamos aqui a expressão “revivificação” retirada do livro de Carl Schorske: SHCORSKE, Carl. A revivificação medieval e seu conteúdo moderno: Coleridge, Pugin e Disraeli, In Pensando com a História. Indagações na Passagens para o Modernismo, São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 88-107.

6. Temos referido a este movimento de revigoramento do tomismo que avança pelo século XX, como “terceira escolástica”. Nem tanto pela “revivificação” neotomista do medievalismo da reação conservadora e do conservadorismo romântico, mas, sobretudo, pela reforma religiosa de modernização e inclusão da “questão social” no pensamento católico, em sua incidência sobre o campo jurídico. NEDER, Gizlene. Duas Margens. Ideias Jurídicas e Sentimentos Políticos na Passagem à Modernidade no Brasil e em Portugal, Rio de Janeiro: Revan, 2011.

7. Parte I, capítulo 2: The Secularisation Process during the Aristocratic Republic (1884–1919), p. 49-68. O tema é importantíssimo. O debate sobre o casamento civil no Brasil arrastou-se por longos anos onde a confrontação entre o catolicismo ultramontano (que concebia o casamento como um sacramento, indissolúvel) e o catolicismo ilustrado (defensor da modernização do direito de família) criou impasse que resultou no uso dos dispositivos legais das Ordenações do Reino (livro IV, Ordenações Filipinas de 1603) por quase um século depois da independência do país de Portugal (1822) e 27 anos depois da república proclamada. NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Ideias Jurídicas e Autoridade na Família, Rio de Janeiro: Revan, 2007.

8. CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology, Parte II, p. 99-168.

9. Ibidem, Parte III, p. 169-200.

10. Ibidem, p. 184.

11. Os círculos operários no Brasil foram pesquisados e interpretados no trabalho pioneiro de Jessie Jane de Sousa Vieira. SOUSA, Jessie Jane Vieira de. Círculos Operários- a Igreja Católica e o mundo do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2002.

12. Ibidem, p. 144-145.

13. Ibidem, p. 145.

14. GOMES, Francisco José. Le projet de néo-chrétienté dans le diocèse de Rio de Janeiro de 1869 à 1915. Tese de Doutorado. Toulouse: UTM, 1991. GOMES, Francisco José Silva. De súdito a cidadão: os católicos no Império e na República,.In: MARTINS, Ismênia de Lima; IOKOI, Zilda Márcia Grícoli e SÁ, Rodrigo Patto de. (Orgs.). História e Cidadania. São Paulo: Humanitas Publicações/FFLCH-USP, ANPUH, 1998. pp. 315-326.

15. No Brasil, a Congregação dos Sagrados Corações chegou em 1911.

16. Rio de Janeiro (1955), seguida da de Medellín, Colômbia (1968) e Puebla, no México (1979), as mais importantes.

Referências

CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884-1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology, Lieden/ Boston: Brill, 2018, 311 p.

GOMES, Francisco Jose Silva. De sudito a cidadao: os catolicos no Imperio e na Republica, In: MARTINS, Ismenia de Lima; IOKOI, Zilda Marcia Gricoli e SA, Rodrigo Patto de. (Orgs.). Historia e Cidadania. Sao Paulo: Humanitas Publicacoes/FFLCH-USP, ANPUH, 1998. pp. 315-326.

GOMES, Francisco Jose. Le projet de neo-chretiente dans le diocese de Rio de Janeiro de 1869 a 1915. Tese de Doutorado. Toulouse: UTM, 1991.

NEDER, Gizlene. Duas Margens. Ideias Juridicas e Sentimentos Politicos na Passagem a Modernidade no Brasil e em Portugal, Rio de Janeiro: Revan, 2011.

NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO FILHO, Gisalio. Ideias Juridicas e Autoridade na Familia, Rio de Janeiro: Revan, 2007.

NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO, Gisalio. Sobre o Conceito de America Latina: Uma Proposta para Repercutir nos Festejos do Bicentenário. Revista Pilquen. Seccion Ciencias Sociales, v. XII, p. 1-7, 2010.

SHCORSKE, Carl. A revivificacao medieval e seu conteudo moderno: Coleridge, Pugin e Disraeli, In Pensando com a Historia. Indagacoes na Passagens para o Modernismo, Sao Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 88-107.

SOUSA, Jessie Jane Vieira de. Circulos Operarios- a Igreja Catolica e o mundo do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2002

Gizlene Neder1;2 – Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói – Rio de Janeiro – Brasil. Professora Titular de História da Universidade Federal Fluminense. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). E-mail: gizlene.neder@gmail.com


CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology. Lieden/ Boston: Brill, 2018. Resenha de: NEDER, Gizlene. Secularização e reforma católica no Peru na virada para o século XX. Almanack, Guarulhos, n.26, 2020. Acessar publicação original [DR]

El Trienio Liberal. Revolución e independencia (1820-1823)

O bicentenário do triênio liberal (1820-1823-2020-2023) espanhol ensejou comemorações e lançamentos menores do que o impacto dos eventos de duzentos anos atrás. Se ninguém mais afirma, como Menéndez Pelayo, que foi um tempo “patológico” na história espanhola [3], a atenção concedida ainda é pequena, principalmente se comparada aos conflitos atlânticos da década anterior.

A “Espanha de Fernando VII” voltou a ser estudada com afinco ao menos desde a célebre obra de Artola, [4] mas o triênio liberal ainda tinha como seu livro mais conhecido um opúsculo do começo da década de 80, a síntese de Alberto Gil Novales [5]. Desde então, houve uma renovação historiográfica gigantesca, principalmente na história política. Ganharam maior fôlego os estudos sobre territórios específicos, sobre a imprensa, novas sociabilidades e, principalmente, aqueles que “desnacionalizavam” os episódios [6].

Dentro dessa perspectiva “internacionalista”, o triênio liberal tem dois atrativos únicos. O primeiro é seu inegável impacto europeu, pois o levantamiento de Riego foi feito numa Europa que, no começo de 1820, era dominada pela Santa Aliança e pelas monarquias restauradas. Ao impulso espanhol, houve também revoluções importantes em Portugal e nos territórios italianos. O segundo é sua faceta atlântica. Se no começo da década de 20 se concretizaram as independências na América, também foi naqueles anos que mais uma vez se colocou em jogo a possibilidade de uma nação atlântica, experiência fundamental tanto para o mundo hispânico quanto para oportuguês [7]:

La revolución española de 1820 tuvo desde el inicio una repercusión que trascendía al espacio peninsular. En primer lugar, porque habiendo estallado en el seno de las tropas reunidas en Andalucía para combatir la insurrección de los territorios de ultramar, su triunfo supuso la paralización de la política de expediciones militares que pretendía devolver los territorios de América a la obediencia de la monarquía española. (…) Y, en segundo lugar, porque el triunfo del movimiento en España colocó en el primer plano de la actualidad el valor de la Constitución de 1812 como instrumento para transformar las monarquías en regímenes liberales. (p. 155)

É justamente no esforço de desnacionalizar o período que a nova obra de Pedro Rújula e Manuel Chust faz sua maior contribuição ao condensar em poucas páginas um apanhado das últimas contribuições historiográficas dos dois lados do Atlântico. A envergadura espacial da obra também resulta, em parte, das trajetórias individuais dos dois autores. Ao passo que Chust tem enveredado pelo tema americano, Rújula é especialista nas questões aragonesas entre o triênio liberal e as guerras carlistas [8].

O resultado é um livro único que atualiza o objetivo de Gil Novales nos anos 80, o de fazer uma obra de referência para os estudos do triênio liberal, agora juntando a questão americana, antes ausente. De fato, não apenas adiciona o tema das independências, mas o toma como um dos mais importantes para definir os rumos do Triênio.

Há um esforço de distanciamento dos antigos preconceitos acerca do Triênio, de ter sido um intervalo liberal de pouca profundidade, com baixa popularidade entre as classes populares e tomado pelo caos das facções. Para isso, enfatiza principalmente a experiência política que significou, extrapolando o caráter parlamentar e difundindo novas culturas políticas tanto entre os liberais – exaltados e moderados [9] – como entre os absolutistas:

el marco constitucional establecido por la revolución de 1820 permitió la aparición de una esfera pública donde los ciudadanos comenzaron a participar según sus posibilidades y sus intereses. El Gobierno moderado hubiera deseado que la política se hiciera en el seno de las instituciones, pero existían otros actores que habían experimentado la posibilidad de actuar en el terreno político y que no estaban dispuestos a renunciar a potenciales parcelas de poder. El debate fue muy intenso. (p. 46)

Como é negada a tese reacionária de que a Constituição de 12 e o primeiro liberalismo eram ideias importadas, exógenas à Espanha, resta aos autores pincelar respostas a questões inevitáveis para o triênio. Por que fracassou? Qual a relação entre os liberais e as independências na América?

A resposta que os autores oferecem para explicar o “fracasso liberal” passa pela atuação do rei Fernando VII e pela reação estrangeira. A tentativa liberal de reformar a monarquia, desde as propostas moderadas de instituir uma segunda câmara, tendo os exemplos ingleses e franceses como mote, até as mais revolucionárias, com as Sociedades Patrióticas e a diminuição do poder da nobreza e da Igreja, criava uma ameaça institucional permanente às monarquias mais absolutistas. Daí que foi justamente a Rússia a dar maior apoio a Fernando VII para abolir qualquer tipo de Constituição. Ao mesmo tempo, a invasão francesa de 1823 servia para reposicionar a monarquia bourbônica na balança internacional de poder, enfraquecida como estava após as derrotas napoleônicas.

É perceptível que a resposta de Chust e Rújula nega a própria ideia de “fracasso liberal”. O triênio acabou não por seus erros internos, mas por um verdadeiro golpe reacionário europeu. A inversão procedida pelos autores também é uma negação da historiografia que visava mais as questões socioeconômicas da época, muitas vezes crítica à ineficiência prática das medidas liberais. [10]

Quanto à questão americana, os autores também se alinham com a nova história política, principalmente na negação das nacionalidades pré-existentes [11]. Logo, não se poderia explicar as independências como luta da nação mexicana para se libertar da Espanha. Com a tomada do poder pelos liberais, os autores também negam que houvesse uma arbitrariedade por parte da Espanha em relação aos americanos, visto que a igualdade estava concedida pela Constituição, que transformava o Império num gigantesco Estado-Nação. Essa tese igualitária tem mais oponentes historiográficos, como Portillo Váldes.[12]

Recusando as explicações tradicionais, os autores mais uma vez se voltam às questões políticas, pensando principalmente o caso novohispano, o de maior repercussão ao longo do Triênio e também aquele sobre o qual Manuel Chust tem mais familiaridade.[13] Com base na análise do Plano de Iguala [14], a conclusão do livro é que um dos principais motivos para a independência foi o caráter revolucionário da Constituição de Cádis, que tirava poder da elite Criolla para distribuir a outros setores sociais, com destaque para o voto indígena. Sendo assim, a independência ganhava contornos moderados e até reacionários, em perspectiva já ensaiada também para o caso brasileiro:

Para la insurgencia fue mucho más difícil enfrentarse políticamente al liberalismo doceañista que al monarquismo absolutista, dado que ahora podían participar de los mismos presupuestos ideológicos, pero no políticos ni nacionales. Y además estaban los intereses particulares de las diversas fracciones del criollismo, cada vez más proclives a la independencia. No porque esta solo estaba ganando por las armas, sino porque su creciente moderantismo le podía asegurar un control social y político que el liberalismo doceañista podía poner en duda al ser más progresista en bastantes medidas políticas y sociales como, por ejemplo, dar voto a los indígenas universalmente (p. 112).

Livro de entrada nos estudos do período e de síntese de uma nova perspectiva política, El Trienio Liberal é uma defesa do período do liberalismo espanhol do início do século XIX. É notável a simpatia dos autores com os protagonistas estudados, como se escrever a história deles fosse também escrever a defesa de sua luta. Poucas épocas hispânicas foram vividas tão passionalmente quanto aqueles anos, daí que esse resgate histórico não deixa de ser um tributo àqueles sonhos e ilusões.

Notas

3MENÉNDEZ PELAYO, Marcelino. Historia de los heterodoxos españoles. Alicante: Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 2003, p. 1362. Vide DURÁN LÓPEZ, Fernando. “Menéndez Pelayo contra Blanco White, o la heterodoxia como patología.” TEJA, Ramón; ACERBI, Silvia. (org.). Historia de los heterodoxos Españoles”. Estudios. Santander: PubliCan, Ediciones de la Universidad de Cantabria, 2012.

4. ARTOLA, Miguel. La España de Fernando VII. Madri: Espasa, 1999 [1968].

5. GIL NOVALES, AlbertoEl trienio liberal. Madri: Siglo XXI, 1980.

6. ROCA VERNET, JordiPolítica, liberalisme i revolució. Barcelona, 1820-1823. 840 f. Tese (Doutorado em História Moderna e Contemporânea). Universitat autònoma de Barcelona, Barcelona, 2007; El argonauta español, nº 17, 2020. Exemplar dedicado a “El trienio liberal en la prensa contemporánea (1820-1823); RUIZ JIMÉNEZ, MartaEl liberalismo exaltado. La confederación de comuneros españoles durante el trienio liberal. Madri: Fundamentos, 2007. LA PARRA, Emílio. RAMÍREZ ALEDÓN, Germán (coord.) El primer liberalismo: España y Europa, una perspectiva comparada. Valencia: Colección literaria, 2003.

7. BERBEL, Márcia Regina. “A constituição espanhola no mundo luso-americano (1820-1823). Revista de Indias, vol. LXVIII, nº 242, 2008.

8. HUST, Manuel. La cuestión nacional americana en las Cortes de Cádiz. Valencia: Centro Francisco Tomás y Valiente UNED Alzira-Valencia. Fundación Instituto Historia Social/ Instituto de Investigaciones Históricas de la Universidad Nacional Autónoma de México, 1999; Pedro Victor Rújula. Constitución o muerte: el Trienio Liberal y los levantamientos realistas en Aragón (1820-1823). Zaragoza: Edizións de l’Astral, 2000.

9. pesar dos nomes já consagrados, os estudos específicos sobre cada um desses “liberalismos”, inclusive para apontar seus muitos pontos de fricção internos, são bastante recentes. Vide MORANGE, ClaudeEn los Orígenes del moderantismo decimonónico. El Censor (1820-1822): promotores, doctrina e índice. Salamanca: Universidad de Salamanca, 2019; e BUSTOS, SophieLa nación no es patrimonio de nadie. El liberalismo exaltado en el Madrid del trienio liberal (1820-1823): Cortes, Gobierno y Opinión Pública. Tese (Doutorado em História). Universidad Autónoma de Madrid, Madri, 2017.

10. A crítica vinha desde os próprios liberais exilados, passando depois por Marx e sua famosa análise: “en la época de las Cortes, España se encontró dividida en dos partes. En la Isla de León, ideas sin acción; en el resto de España, acción sin ideas”. New York Daily Tribune, 27/10/1854. Disponível em MARX, Karl; ENGELES, Friederich. La Revolución española. Artículos y crónicas, 1854-1873. Madri: AKAL, 2017. A crítica foi atualizada para os termos mais técnicos da historiografia na influente visão de FONTANA, JosepLa crisis del Antiguo Régimen, 1808-1823. Barcelona: Crítica, 1979.

11. As referências para o assunto, por vezes em vieses muito diferentes, são GUERRA, François-XavierModernidad e independencias. Ensayos sobre las revoluciones hispánicas. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica e Fundación MAPFRE, 1992; e RODRÍGUEZ, JaimeThe independence of Spanish America. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

12. PORTILLO VÁLDES, José MaríaCrisis Atlántica – Autonomía e independencia en la crisis de la monarquía. Madri: Marcial Pons Historia, 2006.

13. Embora Chust tenha organizado livros sobre a independência em toda a América, nos artigos costuma trabalhar mais com a do México, como emCHUST, Manuel; SERRANO, José Antonio. “El ocaso de la monarquía: conflictos, guerra y liberalismo en Nueva España. Veracruz, 1750-1820”. Ayer, nº 74, 2009.

14. Sobre o Plan de Iguala, em abordagem também bi-hemisférica, vide FRASQUET, Ivan. Las caras del águila. Del liberalismo gaditano a la república federal mexicana. Castellón: Universitat Jaume I – Instituto Mora – Universidad Autónoma de México – Universidad Veracruzana, 2008.

Referências

ARTOLA, Miguel. La Espana de Fernando VII. Madri: Espasa, 1999.

BERBEL, Marcia Regina. “A constituicao espanhola no mundo luso-americano (1820-1823). Revista de Indias, vol. LXVIII, nº 242, 2008.

BUSTOS, Sophie. La nacion no es patrimonio de nadie. El liberalismo exaltado en el Madrid del trienio liberal (1820-1823): Cortes, Gobierno y Opinion Publica. Tese (Doutorado em Historia). Universidad Autonoma de Madrid, Madri, 2017.

FONTANA, Josep. La crisis del Antiguo Regimen, 1808-1823. Barcelona: Critica, 1979.

GIL NOVALES, Alberto. El trienio liberal. Madri: Siglo XXI, 1980.

GUERRA, Francois-Xavier. Modernidad e independencias. Ensayos sobre las revoluciones hispanicas. Cidade do Mexico: Fondo de Cultura Economica e Fundacion MAPFRE, 1992;

LA PARRA, Emílio RAMIREZ, ALEDON, German(coord.) El primer liberalismo: Espana y Europa, una perspectiva comparada. Valencia: Coleccion literaria, 2003.

MORANGE, Claude. En los Origenes del moderantismo decimononico. El Censor (1820-1822): promotores, doctrina e indice. Salamanca: Universidad de Salamanca, 2019.

PORTILLO VALDES, Jose Maria. Crisis Atlantica – Autonomia e independencia en la crisis de la monarquía. Madri: Marcial Pons Historia, 2006.

ROCA VERNET, Jordi. Política, liberalisme i revolucio. Barcelona, 1820-1823. 840 f. Tese (Doutorado em Historia Moderna e Contemporanea). Universitat autonoma de Barcelona, Barcelona, 2007.

RODRIGUEZ, Jaime. The independence of Spanish America. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

RUIZ JIMENEZ, Marta. El liberalismo exaltado. La confederacion de comuneros espanoles durante el trienio liberal. Madri: Fundamentos, 2007.

Lucas Soares Chnaiderman1;2 – Possui graduação em História – Universidade de São Paulo, mestrado em história pela mesma universidade (2015) e atualmente cursa o doutorado. Universidade de São Paulo. São Paulo – São Paulo – Brasil.


RÚJULA, Pedro; CHUST, Manuel. El Trienio Liberal. Revolución e independencia (1820-1823). Madri: Catarata, 2020. Resenha de: CHNAIDERMAN, Lucas Soares. Em defesa da experiência liberal. Almanack, Guarulhos, n.25, 2020. Acessar publicação original [DR]

Regalismo no Brasil colonial: a Coroa portuguesa e a Ordem do Carmo – Rio de Janeiro 1750-1808 | Leandro F. L. Silva

Superando a tradicional concentração de estudos nas atividades da Companhia de Jesus, as historiografias portuguesa e brasileira produziram nas últimas décadas uma quantidade significativa de trabalhos sobre a atuação de outras ordens religiosas na Época Moderna.[3] Apesar disso, no que tange ao impacto das medidas adotadas na segunda metade do século XVIII para reforçar a autoridade da Coroa face às corporações regulares, o caso paradigmático da expulsão dos jesuítas dos territórios lusitanos em 1759 continua a ser visto como evento quase exclusivo da prática regalista naquela esfera. Nesse quadro, o trabalho de Leandro Ferreira Lima da Silva oferece novas luzes para a compreensão mais ampla das medidas de controle da Coroa portuguesa sobre as ordens religiosas daquele período. Defendida originalmente em 2013 como Dissertação de Mestrado no Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade de São Paulo, a obra foi contemplada em 2016 com o prêmio História Social do referido Programa.

Duas características se destacam na investigação do autor: a abrangência da análise e o caráter minucioso da reconstituição de diferentes contextos que atravessam o período em exame. A consequência é o ambicioso plano da obra, desdobrando-se em quinze capítulos divididos em cinco partes, num total de 556 páginas. A matéria-prima para a análise proveio de diferentes acervos documentais. Devido à perda de grande parte da documentação da antiga Província Carmelitana Fluminense, o autor montou um repertório documental procurando recompor um quebra-cabeça cujas fontes estavam dispersas em arquivos tão distintos e distantes como o Arquivo Central da Província Carmelitana de Santo Elias, em Belo Horizonte; o Arquivo Nacional, o Arquivo Geral da Cidade e o Arquivo da Cúria Metropolitana, no Rio de Janeiro; e diferentes fundos documentais digitalizados do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. A impressão que fica é que o autor praticamente esgotou as fontes disponíveis no Brasil, restando por analisar apenas os arquivos europeus.

A historiografia também recebeu cobertura extensiva no livro. Dialogando com as obras de Evergton Sales Souza e José Pedro Paiva, para mencionar apenas alguns, Leandro Silva se mostra atualizado com relação à produção luso-brasileira sobre as questões da Igreja católica, da Ilustração, da Coroa e da colonização portuguesas no século XVIII. Com base na historiografia, Leandro Silva define o regalismo praticado nos domínios portugueses na segunda metade do século XVIII segundo uma dupla dimensão: a subordinação da Igreja e do clero aos poderes temporais da Coroa, “erradicando privilégios e imunidades”; e a manutenção do catolicismo como religião oficial do Estado, livrando-se, não obstante, das pressões da Santa Sé (p. 27). O tema da reforma regalista na Província do Carmo do Rio de Janeiro não é novo na historiografia. Inaugurado por Francisco Benedetti Filho, foi continuado por Sandra Rita Molina, cuja leitura o rigoroso escrutínio do autor deixou escapar.[4] As questões da administração dos bens da Província, da limitação do quantitativo de religiosos e do relaxamento moral dos carmelitas atravessam as três investigações sobre o tema. Mais recentemente, outro trabalho de Sandra Molina estendeu a análise dos referidos pontos até o final do período imperial, mostrando a continuidade da política regalista do Império do Brasil em relação às medidas adotadas anteriormente pela Coroa portuguesa.[5]

O diálogo com a historiografia internacional é relativamente pequeno na obra de Leandro Silva. Em que pese a lembrança do importante livro coletivo organizado por Ulrich Lehner e Michael Print, como também do já clássico estudo de Samuel Miller, o trabalho carece de referências mais amplas sobre o impacto de medidas de teor regalista que, adotadas por diferentes monarquias europeias na segunda metade do Setecentos, tiveram consequências diretas sobre as atividades das ordens religiosas em seus territórios.[6] Por fim, não existe a tentativa de efetuar um balanço historiográfico das mudanças estimuladas pelas reformas bourbônicas no campo da administração eclesiástica dos domínios hispano-americanos, cujo exame comparativo poderia constituir uma frutífera via de análise para o autor.Mesmo assim, o trabalho possui abrangência e profundidade incomuns para um projeto desenvolvido no âmbito do Mestrado. É o momento de se retomar essa dupla característica, aproximando-se agora do objeto. Trata-se de uma pesquisa que tem como objetivo assinalar os efeitos de diferentes medidas regalistas tomadas pela Coroa portuguesa com relação à Província do Carmo do Rio de Janeiro. Fundada em 1720, a Província do Carmo do Rio de Janeiro constituía desde 1595 uma vice-província que se encontrava até então dependente da Província de Portugal. A fundação fluminense abrangia os conventos do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, de Angra dos Reis, de Santos, de São Paulo e de Mogi das Cruzes, bem como o hospício de Itu. Em informação remetida à Corte em 1763, o bispo do Rio de Janeiro denunciava que a própria fundação da Província ocorrera “com o dinheiro angariado através de negociações nas Minas e em outras regiões do Brasil”, com cujos recursos fr. Francisco da Purificação, o primeiro provincial, “soube merecer o agrado dos religiosos de Roma, onde tudo se compra” (p. 146, grifos do autor).

O recorte necessariamente monográfico da pesquisa não impede comparações com outros contextos. O autor traz à análise a recepção de medidas de teor análogo ocorridas nas províncias do Carmo da Bahia e na reformada de Pernambuco. Paralelamente, no que tange à capitania do Rio de Janeiro, o autor discute seu tema à luz de outros quadros, como as medidas de reforma empreendidas pela Coroa junto aos frades capuchos da Província Franciscana da Imaculada Conceição e o papel de carmelitas e franciscanos no mencionado território após o afastamento dos missionários jesuítas. A primeira parte da obra, abrangendo um único capítulo intitulado “A mentalidade regalista setecentista e o clero regular no Império Português”, anuncia o caráter amplo da abordagem do autor. Nessa parte, busca em textos basilares da Ilustração portuguesa, como o Testamento político de D. Luís da Cunha, um conjunto de argumentos que depois seriam postos em prática, ao longo dos reinados de D. José I e de D. Maria I, para o controle das corporações regulares. No discurso dos estrangeirados, a ênfase recai sobre o acúmulo de bens efetuado pelas ordens religiosas, quase sempre pela via de legados testamentários; o ingresso muito numeroso de noviços nas fundações conventuais; a ociosidade dos religiosos; as isenções relativas aos poderes seculares; e a falta de observância das regras. No processo da reforma dos frades carmelitas do Rio de Janeiro, tais pontos reapareceram com força nas ações das autoridades da Província.

A fina reconstituição dos contextos representa o que há de mais valioso no trabalho de Leandro Silva. A segunda parte, a maior da obra e que abrange seis capítulos, intitula-se “A Província de Nossa Senhora do Carmo do Rio de Janeiro e o ‘tímido’ regalismo pombalino (1750-1778)”. Na verdade, o material tratado no capítulo é mais amplo do que o indicado no recorte cronológico. O autor examina inicialmente a sublevação ocorrida no Convento do Carmo do Rio de Janeiro em 1743, quando lutas de facções davam o tom da administração da Província, dividindo ocupantes dos cargos em dois grupos opostos: os “filhos do Rio”, que abrangiam os religiosos naturais da referida capitania, e os “filhos de fora”, que, em sua maior parte, agrupavam os religiosos nascidos em Portugal e nas demais capitanias da Colônia (p. 106). Ao longo da segunda parte, o autor desenvolve um argumento muito convincente. Apesar da existência de sérios conflitos na Ordem, e da edição de numerosas medidas que, idealizadas por Sebastião José de Carvalho e Melo na década de 1760, destinavam-se a limitar a entrada de noviços e a diminuir o volume dos bens que ingressavam nas corporações regulares, ao longo do reinado de D. José I as diferentes autoridades coloniais não tomaram medidas rígidas de controle sobre os frades carmelitas do Rio de Janeiro. No contexto em pauta, os poderes coloniais sediados na capitania encontravam-se inteiramente envolvidos nas disputas de limites com a Espanha na região sul da Colônia, que foram apenas solucionados com o Tratado de Santo Ildefonso, em 1777.

A terceira parte da obra abrange dois capítulos. Conforme o seu argumento principal, “se o consulado pombalino deu embasamento teórico às políticas regalistas e aos poderes dos bispos na Igreja nacional e frente à Santa Sé, no reinado mariano a Coroa aprofundou essas posições”. (p. 378). Seguindo, assim, as tendências da historiografia mais recente, o autor não identificou mudanças significativas na política regalista após a saída do Marquês de Pombal, em 1777. Além disso, as autoridades coloniais encontravam-se na ocasião já desembaraçadas dos problemas nas fronteiras do sul. Após a suspensão das eleições da Província em 1783, o vice-rei do Estado do Brasil apresentou à rainha D. Maria I um dossiê, “para fazer conceito do miserável estado em que se acha uma Corporação Religiosa que só serve de descrédito à Religião e de peso e mau exemplo ao Estado” (p. 259). No documento, que pautou os rumos da reforma que seria iniciada dois anos depois, acusa-se uma sucessiva quebra das regras religiosas e dos fundamentos da economia da Província: religiosos adquiriam em Roma ou em Lisboa privilégios honoríficos, afastando-se dos atos litúrgicos e do trabalho em comum; possuíam grande número de escravos pessoais para lhes servir, em contrariedade aos votos de pobreza; e tinham até concubinas, por vezes estabelecidas publicamente em residências próximas às sedes dos conventos, contrariando os votos de castidade. O vasto patrimônio imobiliário da Província, constituído por dezenas de moradias urbanas e fazendas, era mal administrado, chegando ao ponto de não produzir alimento suficiente para os próprios religiosos.

A quarta parte da obra estende-se por cinco capítulos. Após o envio da denúncia do vice-rei à Corte, D. José Joaquim Mascarenhas Castelo Branco, o bispo do Rio de Janeiro, foi nomedo como visitador e reformador da Província do Carmo. A atuação reformadora deste se direcionou principalmente a combater as irregularidades já apontadas pelo vice-rei. Suas ações visaram aprimorar o rendimento econômico das fazendas dos conventos, combater a concessão de distinções pessoais de caráter honorífico e regulamentar as atividades da comunidade, obrigando os frades à celebração dos atos litúrgicos e à assistência no refeitório coletivo. Além da intervenção direta de poderes externos à Ordem, a reforma na Província do Carmo do Rio de Janeiro se distinguiu por sua longa duração se comparada a iniciativas semelhantes introduzidas em outras ordens regulares. Após a resistência dos religiosos, e em aliança com poderes locais, como a Câmara do Rio de Janeiro, a reforma foi encerrada em 1800. A atuação do bispo promoveu um verdadeiro expurgo nos quadros da Província. Seu quadro de religiosos passou de 180 para 47 entre 1780 e 1799.Da perspectiva metodológica, a obra leva em conta que as inúmeras cartas produzidas pelos agentes administrativos envolvidos na reforma da Província Carmelita Fluminense – tais como o bispo do Rio de Janeiro, o vice-rei, os frades representantes da Província, o Senado da Câmara e o Conselho Ultramarino – podem ser vistas simultaneamente como instrumento de dominação da Coroa e como veículo “de negociação de súditos instalados nos mais longínquos pontos do ultramar” (p. 47). Recentemente, essa linha de estudos se revelou importante para um expressivo conjunto de historiadores, que sistematizou o funcionamento dos canais de comunicação política que uniam os diferentes poderes em funcionamento na monarquia portuguesa, nos dois lados do Atlântico.[7]

Introduzida na América Portuguesa em 1580 para cuidar da catequização do gentio e atender demandas espirituais dos colonos moradores na capitania de Pernambuco8, a Ordem do Carmo estabelecida no Rio de Janeiro não foi mais considerada capaz de realizar aquelas tarefas na segunda metade do século XVIII. Analisando os avanços e recuos das iniciativas de reforma, as relações estabelecidas entre os agentes seculares e eclesiásticos, bem como as bases teológicas e canônicas que fundamentaram a iniciativa da Coroa, a obra de Leandro Silva merece figurar ao lado de outras que constituem pontos de partida obrigatórios para o tema, como o clássico trabalho de Caio César Boschi, ou a recente coletânea organizada por Francisco Falcon e Cláudia Rodrigues.9

Notas

3. Com relação à América Portuguesa, a título ilustrativo: AMORIM, Maria Adelina. Os franciscanos no Grão-Pará e no Maranhão: missão e cultura na primeira metade de Seiscentos. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa: Universidade Católica Portuguesa, 2005; SOUZA, Jorge Victor de Araújo. Para além do claustro: uma história social da inserção beneditina na América portuguesa, c. 1580 – c. 1690. Niterói: Eduff, 2014.

4. BENEDETTI FILHO, Francisco. A reforma da Província Carmelitana Fluminense (1785-1800). 1990. 190f. Dissertação (Mestrado em História), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1990. MOLINA, Sandra Rita. (Des)obediência, barganha e confronto: a luta da Província Carmelita Fluminense pela sobrevivência (1780-1836). 1998. 338f. Dissertação (Mestrado em História), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998.

5. MOLINA, Sandra Rita. A morte da tradição: a Ordem do Carmo e os escravos da Santa contra o Império do Brasil (1850-1889). Jundiaí: Paco Editorial, 2016. Esta obra foi resenhada por BARBI, Rafael José. Catolicismo, escravidão e a resistência ao Império: Um outro olhar. Almanack, n. 15, 2017, pp. 366-370.

6. LEHNER, Ulrich L.; PRINT, Michael (Dir.). A Companion to the Catholic Enlightenment in Europe. Leiden: Brill, 2010; MILLER, Samuel J. Portugal and Rome (c. 1748-1830). An Aspect of the Catholic Enlightenment. Roma: Universitá Gregoriana Editrice, 1978; BEALES, Derek. Prosperity and Plun der. European Catholic Monasteries in the Age of Revolution, 1650-1815. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

7. FRAGOSO, João; MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Um Reino e suas repúblicas no Atlântico: comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

8. HONOR, André Cabral. Envio dos carmelitas à América portuguesa em 1580: a carta de Frei João Cayado como diretriz de atuação. Tempo, v. 20, 2014, p. 1-19.

9. BOSCHI, Caio César. Os leigos e o poder: irmandades leigas e política colonizadora em Minas Gerais. São Paulo: Ática, 1986; FALCON, Francisco; RODRIGUES, Cláudia (Orgs.). A “época pombalina” no mundo luso-brasileiro. Rio de Janeiro: FGV: Faperj, 2015.

Referências

AMORIM, Maria Adelina. Os franciscanos no Grao-Para e no Maranhao: missao e cultura na primeira metade de Seiscentos. Lisboa: Centro de Estudos de Historia Religiosa: Universidade Catolica Portuguesa, 2005.

BARBI, Rafael Jose. Catolicismo, escravidao e a resistência ao Imperio: Um outro olhar. Almanack, n. 15, 2017, pp. 366-370.

BEALES, Derek. Prosperity and Plunder. European Catholic Monasteries in the Age of Revolution, 1650-1815. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

BENEDETTI FILHO, Francisco. A reforma da Provincia Carmelitana Fluminense (1785-1800). 1990. 190f. Dissertacao (Mestrado em Historia), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 1990.

BOSCHI, Caio Cesar. Os leigos e o poder: irmandades leigas e politica colonizadora em Minas Gerais. Sao Paulo: Atica, 1986.

FALCON, Francisco; RODRIGUES, Claudia (Orgs.). A “epoca pombalina” no mundo luso-brasileiro. Rio de Janeiro: FGV: Faperj, 2015.

FRAGOSO, Joao; MONTEIRO, Nuno Goncalo. Um Reino e suas republicas no Atlântico: comunicacoes politicas entre Portugal, Brasil e Angola nos seculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilizacao Brasileira, 2017.

HONOR, Andre Cabral. Envio dos carmelitas a America portuguesa em 1580: a carta de Frei Joao Cayado como diretriz de atuacao. Tempo, v. 20, 2014, p. 1-19.

LEHNER, Ulrich L.; PRINT, Michael (Dir.). A Companion to the Catholic Enlightenment in Europe. Leiden: Brill, 2010.

MILLER, Samuel J. Portugal and Rome (c. 1748-1830). An Aspect of the Catholic Enlightenment. Roma: Universita Gregoriana Editrice, 1978.

MOLINA, Sandra Rita. A morte da tradicao: a Ordem do Carmo e os escravos da Santa contra o Imperio do Brasil (1850-1889). Jundiai: Paco Editorial, 2016.

MOLINA, Sandra Rita. (Des)obediência, barganha e confronto: a luta da Provincia Carmelita Fluminense pela sobrevivência (1780-1836). 1998. 338f. Dissertacao (Mestrado em Historia), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998.

SOUZA, Jorge Victor de Araujo. Para alem do claustro: uma historia social da insercao beneditina na America portuguesa, c. 1580 – c. 1690. Niteroi: Eduff, 2014.

William de Souza Martins – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro – RJ – Brasil. Professor Associado da Área de História Moderna do Instituto de História da UFRJ, onde atualmente ocupa a função de vice-diretor. Membro permanente do Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ, atuando como editor associado da Topoi: Revista de História. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (2001) com a tese Membros do corpo místico: ordens terceiras no Rio de Janeiro (c. 1700 – 1822), que foi publicada em 2009 pela Edusp. Participa dos grupos de pesquisa Ecclesia (UNIRIO), ART (Antigo Regime nos Trópícos – UFRJ) e Sacralidades (UFRJ).


SILVA, Leandro Ferreira Lima da. Regalismo no Brasil colonial: a Coroa portuguesa e a Ordem do Carmo, Rio de Janeiro, 1750-1808. São Paulo: Intermeios/USP; Brasília: CAPES, 2018. Resenha de: MARTINS, William de Souza. Monarquia portuguesa e política regalista: ordens religiosas no final do setecentos. Almanack, Guarulhos, n.25, 2020. Acessar publicação original [DR]

Rio legal. Ensaios sobre uma cidade em movimento | David Cardeman e Rogerio Goldfeld Cardeman

Ao andar por cidades brasileiras, um observador atento perceberá edificações de diferentes épocas, formas, tamanhos e tipologias. Um urbanista poderá reconhecer que esta diversidade não é aleatória, mas sim resultado da sucessão de planos e regras vigentes em cada momento em cada região da cidade. E, na cidade do Rio de Janeiro, ninguém melhor do que David e Rogerio Cardeman para explicar os detalhes desta transformação ao longo do tempo, explicando a história do desenvolvimento urbano da cidade através das suas leis urbanísticas, arquitetônicas e construtivas.

O olhar apurado e o entendimento profundo dos autores sobre a evolução da regulação urbana na cidade do Rio de Janeiro nos permitem entender como a sucessão de planos e leis interferiram na forma edificada em todas suas nuances que, por sua vez, impactou retroativamente no desenvolvimento da cidade. Como surgiram os grandes embasamentos para automóveis? Os afastamentos frontais separando as edificações das calçadas? As varandas em balanço? As áreas de recreação nos condomínios? Ao contrário da imaginação popular, tais resultados formais não se devem necessariamente às decisões individuais de arquitetos ou incorporadores, e algumas das respostas são desvendadas no histórico legislativo da cidade. Leia Mais

Brasil Arquitetura. Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, projetos 2005-2020 | Abilio Guerra, Marcos Grinspum Ferraz e Silvana Romano Santos

Taí um livro que não carece de resenha. Dado que se constitui em si mesmo, sem necessária tradução ou reforço teórico, crítico ou explicativo; vamos começar pelo começo, por puro e respeitoso apreço e deleite.

É um lindo corpo físico – que bom poder sentir o peso do volume nas mãos e folheá-lo, percorrendo página a página, composta cada uma a sua vez de texto e imagem com medida apurada. Quase, mas não perfeitamente quadrado – a proporção nos atinge de primeiro, sem racionalização, não é mesmo? – e assim ele fica de pé, posto que tem um tantinho mais de altura do que largura. Mas se deita, também, sobre um plano qualquer e nos espera, ao expor seu rosto de chofre, claro, sincero. Um ser encarnado. Leia Mais

Rolê pela CEI. Um Guia Afetivo De Ceilândia. Primeiro Volume | Elane Ribeiro Peixoto e Julia Mazzutti Bastian Solé

Este é um guia atípico. Não foi feito pensando em turistas que desejam curtir um lugar em seu período de férias ou viajantes que pretendam aumentar seu nível cultural colecionando conhecimento de obras e monumentos já de reconhecido valor histórico ou artístico (que receberam o selo do tombamento patrimonial, por exemplo). É claro que tais turistas e viajantes com interesses culturais poderão aprender muito com o “rolê pela CEI”. Mas, propõe-se aqui algo distinto: revelar tanto um lugar usualmente não contemplado por guias como também vivências e percepções pouco conhecidas, provenientes de alunos e professores da Ceilândia. Leia Mais

Cuerpos al límite: tortura, subjetividad y memoria en Colombia (1977-1982) | Juan Pablo Aranguren Romero

La tortura pretende desdibujar al sujeto, anhela escindirle de su cuerpo y reducirle a un objeto de represión que muestre su implacabilidad. Sin embargo, aun en condiciones de sufrimiento, el lazo social que conforma su identidad corporal, muchas veces, le permite resistir e incluso vencer. Este es el principal postulado que expone el psicólogo e historiador Juan Pablo Aranguren en Cuerpos al límite, un libro sobre la disposición de los cuerpos ante las prácticas de tortura en Colombia a finales de los años setenta y principios de los ochenta. Para su estudio el autor utiliza diversas fuentes entre las cuales incluye leyes, decretos, periódicos, revistas militares, manuales de contrainsurgencia, informes de Amnistía Internacional y entrevistas con personas que fueron torturadas. La publicación no se concentra únicamente en el cuerpo torturado y doliente, pues Aranguren profundiza en la experiencia corporal y subjetiva. Por tanto, analiza de forma paralela el cuerpo social y político, el cuerpo militante y el cuerpo militar. Así, Cuerpos al límite muestra cómo el gobierno de la época concibió a la sociedad a partir de una lógica inmunológica que pretendía defender al país del virus del comunismo, lo cual provocó la criminalización de la protesta, la represión de los movimientos sociales y la militarización de la vida cotidiana.

Aranguren se plantea tres objetivos principales por desarrollar en su trabajo. El primero, y más evidente, es indagar por la relación entre cuerpo, subjetividad y memoria, estableciendo una conexión entre estos conceptos. El segundo, es analizar la constitución del marco en el que se inscribió la práctica de la tortura, estudiando cómo se conformó un aparato que propendía por la escisión entre cuerpo y sujeto. El tercero, y quizá el más importante, es rescatar al sujeto, pues para el autor la separación entre análisis de tipo macro y micro, en los estudios sobre violencia política, ha llevado a que este sea desdibujado y borrado de las investigaciones. De esta forma, el autor, siguiendo la línea investigativa propuesta por Michel de Certeau en La invención de cotidiano1, considera que no solo basta con analizar el marco o el aparato en el que se inscribe el sujeto, sino que también es necesario rescatar sus prácticas cotidianas, pues la estructura no siempre ha sido exitosa; es decir, los sujetos han escapado a los marcos en que estaban inscritos a partir de formas particulares de actuar. Por ende, los “modos de hacer” presentados por Aranguren en Cuerpos al límite, bien sea desde la resistencia o desde la duda y el desamparo, son la evidencia de “un sujeto que no se narra aquí como cuerpo sufriente ni se reduce a los actos infligidos contra su ser”2. En ese sentido, el autor analiza la constitución de un sujeto que se enuncia más allá de la lógica determinada por la maquinaria y emprende un recorrido por los cuerpos en el que pretende revelar la forma en que la tortura se inscribió en ellos. Leia Mais

Las guerras de la agricultura colombiana: 1980- 2010 | Darío Fajardo

Si existiera reforma agraria en Colombia, la hacienda [El Ubérrimo]

podría repartirse y albergar sin problemas a 300 familias campesinas,

cada una con un lote de cinco hectáreas.

Salomón Kalmanovitz, “La riqueza de Álvaro Uribe”

En agosto de 2013, el expresidente Juan Manuel Santos afirmó que “el tal paro nacional agrario no existe” y que, por el contrario, se trataba de una protesta de ciertos sectores del campesinado colombiano en la que se habían infiltrado vándalos y criminales1. Lo que empezó como bloqueos, marchas y asesinatos tanto a líderes campesinos como a miembros de la fuerza pública, se convirtió en una verdadera crisis del sector agrario, que puso en evidencia, no sólo su capacidad de agencia, sino la debilidad y la ineficacia del Estado y sus aparatos institucionales para llevar a cabo reformas agrarias, aún en deuda hoy.

Este es el marco político y social en el que se desarrolla Las guerras de la agricultura colombiana 1980-2010, del antropólogo e investigador colombiano Darío Fajardo, uno de los primeros gestores de la política denominada zonas de reserva campesina que el gobierno central, a finales de la década de los noventa, trató de impulsar con la Ley 160 de 1994. ¿Cuál es, en efecto, el tema principal del libro? Podría decirse que se divide en dos partes: en primer lugar, se trata de “las transformaciones ocurridas en la agricultura colombiana durante el periodo comprendido entre finales de la década de 1980 y 2012”2 , que ponen en escena la fallida serie de intentos por implementar reformas agrarias en el contexto de una elevada concentración monopólica de la propiedad rural, la carencia de una infraestructura sólida en materia de transporte, comercio y tecnificación de la producción agrícola y la exacerbación del conflicto armado a raíz de las medidas neoliberales asumidas por el Estado a finales del siglo pasado. En segundo lugar, se analizan “las políticas públicas dirigidas hacia el agro y sus efectos en el abastecimiento alimentario, los conflictos que han rodeado a estas transformaciones agrícolas y las expresiones de resistencia de las poblaciones rurales a estas políticas”3 . Leia Mais

Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares | Laurentino Gomes

Laurentino Gomes, autor de 1808, 1822 e 1889, lançou em 2019 seu novo trabalho: Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares, volume 1. Trata-se do primeiro volume de uma trilogia, fruto de uma pesquisa de seis anos que passou por três continentes (África, América e Europa). Seu objetivo é narrar a história da escravidão pelo viés de longa duração, apresentando diferentes perspectivas historiográficas, a pluralidade de sujeitos históricos e polêmicas. A narrativa de Gomes é marcada pela comunhão de revisão bibliográfica temática com escrita jornalística, conectando apontamentos fundamentais do tempo historiográfico à fluidez narrativa. O foco territorial passa pelas histórias do continente africano (enfatizando Angola), Brasil e Portugal. Seu ponto de partida é o primeiro leilão de escravos em Portugal, em 1444, e finaliza com a mudança de ênfase do trabalho escravo no Brasil no século XVIII, o qual passou do cenário da lida com cana-de-açúcar para a mineração de ouro. Leia Mais

Ideias para adiar o fim do mundo | Ailton Krenak

O livro Ideias para adiar o fim do mundo (2019), resulta da adaptação de duas palestras e uma entrevista, realizadas em Portugal por Ailton Krenak. Detentor do título doutor honoris causa concedido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o autor, nascido na região leste do estado de Minas Gerais, possui uma importante trajetória na luta pelos direitos das populações indígenas no Brasil e pertence ao grupo étnico Krenak, que habita o Vale do Rio Doce. Os capítulos da obra receberam os títulos dos respectivos trabalhos em que foram baseados: “Ideias para adiar o fim do mundo”, ministrado em uma apresentação no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, em março de 2019; “Do sonho e da Terra”, apresentado em maio de 2017 no Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa – publicado inicialmente pela revista Flauta de luz (n. 6, 2019); e, por fim, “A humanidade que pensamos ser”, a partir de entrevista concedida também em maio de 2017, em Lisboa, cujo texto foi produzido inicialmente para o catálogo da conferência-dançada Antropocenas (2017). Leia Mais

Feminismos e Democracia | Joana Maria Pedro e Jair Zandoná

Publicado em 2019, o livro organizado por Joana Maria Pedro e Jair Zandoná conta com dezoito capítulos estruturados em sínteses-soma. Engloba temas diversos para repensarmos a amplitude entre os Feminismos, Democracia –ou na ausência dela- e a própria História. Discorre-se, com isso, o quão plural é o Feminismo -por isso Feminismos- (PAULA; GALHERA, 2019) e a importância das reivindicações e dos debates, tanto em períodos ditatoriais, como em períodos democráticos no sub- Continente. Assim, Dora Barrancos, Olga G. Duhart, Roselane Neckel, Mariana Joffily e Maurício Cardoso evidenciam a relação entre Feminismos e Democracia nos dias atuais. Cristina Scheibe Wolff, Soraia C. de Mello, Jair Zandoná, Heloneida Studart, Ana R. Fonteles Duarte e Lorena Zomer os analisam diante do cenário ditatorial na América Latina. Já Cintia Lima Crescêncio por meio da perspectiva do humor, Elias Ferreira Veras pela operação historiográfica, Claudia Regina Niching pelo Direito, Karina J. Woitowicz diante do Jornalismo, Silvana Maria Pereira pela Medicina, História e Gênero, Ana Maria Marques e Giseli Origuela Umbelino finalizam pela perspectiva do estudo das mulheres na História dentro das escolas. Uma obra que reflete, sem dúvidas, acerca dos Feminismos na História de ontem e de hoje, com debates dos mais diversos Feminismos existentes. Leia Mais

Marx Selvagem | Jean Tible

A relação entre o pensamento marxiano e as cosmopolíticas indígenas ainda não foi suficientemente escrutinada nas ciências sociais ou na historiografia brasileiras por um conjunto de razões: primeiro, as sociedades indígenas não foram levadas a sério durante muito tempo; segundo, o alegado caráter eurocêntrico das análises de Marx. Por fim, cabe observar que o marxismo não é uma base teórica usualmente empregada pelos historiadores da “Nova História Indígena”.

Mas é justamente este diálogo improvável que encontramos no livro Marx Selvagem, de Jean Tible. Originalmente tese de doutorado, Marx Selvagem foi publicado pela primeira vez em 2011, conhecendo acolhida positiva. Em 2018 foi publicada a terceira edição do livro, revista e ampliada. Leia Mais

¿Pactos de sumisión o actos de rebelión? – Rolf Foerster

FOERSTER, Rolf. ¿Pactos de sumisión o actos de rebelión?
Rolf Foerster (centro) e Camilo Rapu (direita) / twitter.com/rapucamilo/status.

FOERSTER R Pactos de sumision o actos de rebelion UberizaçãoFOERSTER, Rolf. ¿Pactos de sumisión o actos de rebelión? Una aproximación histórica y antropológica a los mapuches de la costa de Arauco. Santiago de Chile: Pehuén Editores, 2018. Resenha de: GONZÁLEZ, Damián Gálvez. Estudios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.65, set., 2020.

Varios años tuvieron que pasar para que este libro finalmente se volviera a publicar. En el intervalo, numerosas fueron las intervenciones en las que Foerster expuso un sólido trabajo intelectual respecto a la situación de los pueblos indígenas en Chile, colocando especial énfasis en las relaciones interculturales y en la problemática mapuche actual. Las funciones del parentesco, las organizaciones políticas, las luchas por el reconocimiento y el colonialismo del Estado chileno sobre los mapuche son los temas principales que le dan cuerpo a su programa de investigación, así como a este indispensable volumen que la editorial Pehuén ha hecho bien en publicar. Análisis, observación y convivencia con los mapuche lafkenche de la costa de Arauco grabados en una excelente reedición de su tesis de doctorado.

Los cruces entre antropología e historia son obligados en toda la lectura del libro. En ese gesto resalta la potencia de una tradición que se funda y se define en la profundidad del tiempo, entre la fragilidad del presente y la fragmentación del pasado. Probablemente, el núcleo de esta voluntad analítica se condense en la hipótesis de trabajo que propone el autor:

en primer lugar, se trata de una reflexión diacrónica que parte del supuesto que los actuales conflictos con el Estado nacional -que generan las demandas de reconocimiento por parte de los mapuche- están en una relación de continuidad con el pasado colonial y con la peculiar forma con que la sociedad indígena ha encarado el asunto del poder (p. 20).

En mi opinión, el mérito más importante de esta conjetura, clara y precisa en su formulación, es que aborda las “transformaciones y las continuidades históricas de la sociedad mapuche” (p. 26), y junto con ello, desvela procesos de largo aliento que tratan de explicar la dinámica política que ha desplegado el movimiento mapuche, en las diversas modalidades de su gama, para relacionarse con el poder estatal, las fuerzas del capital y la sociedad chilena en general.

El libro consta de cinco capítulos y de un prólogo firmado por Fernando Pairican. En el capítulo primero, el autor construye un argumento profusamente bien documentado en torno a la estructura social de los mapuche antes de mezclarse con la administración colonial española. Leamos el siguiente pasaje que ilustra con exactitud el sentido de este apartado. “Hemos configurado una imagen de la sociedad reche-mapuche, previa al contacto, que nos debería servir para lograr una mejor comprensión de lo que va a acontecer en el siglo XVI y XVII, cuando los reche se enfrentan por segunda vez a una sociedad con Estado” (p. 88). Podríamos decir que su análisis es, sobre todo, para explicar desde el pasado remoto las conexiones más actuales entre identidad, cultura y territorio.

Otro aspecto relevante del libro es el lúcido tratamiento historiográfico con el que Foerster describe las continuidades y rupturas que se dieron al interior de las comunidades mapuche lafkenche, antes y después de la construcción de una nueva comunidad política en forma de república. Respecto al objetivo general del capítulo segundo, Foerster dice:

Aquí el centro de nuestro interés es, por un lado, analizar la política hispana en el mundo mapuche con especial énfasis en la zona de Arauco, y por otro, ver cómo la sociedad reche reacciona vía la aculturación negativa. Se trata de observar el peso o solidez de sus reestructuraciones territoriales (los ayllarehue, el butalmapu) y el efecto especular del ‘pacto colonial’ como forma de poner fin a la guerra y al establecimiento de la frontera (p. 21).

La vida social y cultural mapuche se transformó de manera irreversible luego de la ocupación militar del Wallmapu en la segunda mitad del siglo XIX. Como lo muestra Foerster en el capítulo tercero, el proceso de colonización que impulsó el Estado-nación chileno produjo un quiebre en lo que atañe a las relaciones interétnicas que se habían cultivado durante el régimen colonial español.

Dos hechos grafican esta situación. En primer lugar, el abandono de una política de regulación de la frontera, es decir con esa suerte de pacto que se sellaba en los parlamentos, en las que intervenían tanto las autoridades hispano criollas como indígenas […]. En segundo lugar, se transitó de un reconocimiento del territorio indígena al sistema reduccional, que si bien entregó medio millón de hectáreas, prácticamente pulverizó la propiedad indígena en un amplio archipiélago a lo largo de la región de La Araucanía (p. 224).

He aquí otro elemento importante que permite visualizar el flujo de los cambios en la vasta frontera del sur y que culminará con la “subordinación de los mapuche al Estado chileno como campesinos” (p. 27).

A partir de un marco temporal que abarca casi todo el siglo pasado, en los capítulos cuarto y quinto Foerster profundiza en una constelación de temáticas destinadas a desvelar el mundo de las reducciones, la pérdida del territorio, la reforma agraria en la provincia de Arauco, las violaciones a los derechos humanos durante la dictadura cívico-militar, la expansión de las empresas forestales en un momento de globalización económica, los conflictos ambientales y las diferentes modalidades de acción colectiva que ha adoptado el movimiento mapuche una vez iniciada la transición a la democracia. Este último aspecto es significativo para abordar dos dimensiones que están profundamente conectadas. Por una parte, los procesos de articulación política que los mapuche lafkenche han desplegado para reivindicar su derecho al territorio y a la autodeterminación como pueblo autónomo. Y por otra, los alcances y las limitaciones del multiculturalismo y las políticas de reconocimiento en un contexto de hegemonía neoliberal.

¿Pactos de sumisión o actos de rebelión?, en definitiva, es un libro que merece ser leído con atención para poder comprender mejor una larga y compleja historia de conflictos no resueltos entre la sociedad mapuche y el poder estatal que siguen estando presentes en el Chile de hoy.

Damián Gálvez González – Lateinamerika Institut, Freie Universität Berlin, ALEMANIA. Email: dgalvezfu@zedat.fu-berlin.de. Centro de Estudios Interculturales e Indígenas (CIIR), Santiago, CHILE.

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La diffusion numérique des données en SHS: guide des bonnes pratiques éthiques et juridiques | Véronique Ginoves, Isabelle Gras

Em um artigo intitulado “Comment s’élabore la mémoire collective sur le web”, a socióloga francesa Valérie Beaudouin, ao estudar sites, blogs e fóruns on-line sobre a Primeira Guerra mundial, constata que a memória coletiva é escrita na internet pelos mais diversos atores e se apoia majoritariamente em documentos (textos, fotos, filmes) provenientes, em sua grande maioria, de fundos de arquivos públicos (Beaudouin, 2019). O estudo demonstra que a digitalização de documentos de arquivo e sua difusão na internet é, hoje, um fato que revela, igualmente, a diversificação dos usos e usuários dos arquivos. Ainda que esses documentos sejam descontextualizados, como conclui o estudo de Leyoudeck (2015). Leia Mais

The Work of History: Constructivism and a Politics of the Past / Kalle Pihlainen

Copia de SCHEIDER Henrique Uberização
Kalle Pihlainen / Foto: ExpertiseInHistory /
In 2000 at the 19th International Congress of Historical Sciences in Oslo, I attended a session titled “The Historical Sublime,” which featured presentations by Hayden White, Frank Ankersmit, and others. It was a marvelous and inspiring session attended by some seventy people. White and Ankersmit in particular stimulated the audience to ask questions and to comment on their essays. Referring to Kant’s concept of the sublime, White explained that the historical sublime is the unexpected moment in which one faces the unrepresentable and vast chaos of the past while at the same time feeling the limits of understanding. White’s statements reminded me of the bewilderment I once experienced while reading some of Franz Kafka’s stories. Indeed, one experiences the historical sublime when a previously familiar past is suddenly disrupted, revealing its complete strangeness. For White, encountering the strangeness and unknowability of the past can—in the words of Amy J. Elias—“only be comprehended through narrative but … can never be reduced to narrative, which is always shaped by rhetoric and ideology.”1 Preventing the historiographical habit of attempting to master a supposedly complete past requires an ambiguous way of historical writing and a refusal to provide closure.In The Work of History: Constructivism and a Politics of the Past, Kalle Pihlainen pays tribute to White’s work on narrative constructivism through a comprehensive and critical evaluation of his work. The book, however, only briefly discusses the historical sublime even though—at least in my view—this topic was very important to White. Throughout the book, Pihlainen addresses three core aspects of the term “history” and the historical discipline: the artefact, the practice, and the effects and consequences of that practice (xiv). The Work of History is timely in light of some world political leaders’ apparent immunity to facts, their use of history, and the role of power, as Pihlainen also discusses the ethics and politics of historical construction—more particularly, “narrative constructivism” (xiii). At the same time, the book is “a meta‐critical enterprise,” as White states in his foreword (x): it scrutinizes and explains White’s work and its reception, including debates on the production of knowledge, the ontological status of historiography, the various representations of history, and the kinds of audiences historians envision. Although narrative constructivism is a bit passé, Pihlainen wants to further elaborate this theoretical approach in order to counteract some fundamental misconceptions about it that he believes have not been adequately recognized. In fact, the general aims of his book are to clarify the practical and ethical consequences of this radical theoretical shift in the historical discipline and to disentangle misconceptions about truth and meaning, particularly in the fact‐fiction debate.
The first misconception about narrative constructivism, according to Pihlainen, results from a superficial misreading of narrativism in the academic field of history that leads scholars to neglect constructivism’s and poststructuralism’s ethical impulses (xx). I wonder, though, if this is not an exaggerated view, especially given the many profound studies in historical research that include terms such as “invented” or “constructed” in their titles. Second, Pihlainen notices that the “excessive” focus on narrative, representation, and language (xv) has stimulated in the philosophy of history a longing for experience, presence, and direct access to the past, or attempts to bring “the real” back into discussions about the theory of history. He emphasizes that the constructivist debate is not “only” about language or reality (xv). He considers these views as caricatures of constructivist theory, which he prefers to call “narrative theory of history,” “narrative constructivism,” or just “constructivism” (xvi). A third concern is the idea of history as fiction, which many historians attribute to White and other experts in narrative theory of history and which Pihlainen describes as “equating history writing with literary fiction even on an epistemological level” (xviii). Pihlainen gives the example of how historian David Carr wrongly framed White as a “’discontinuity view’ theorist” (xviii), suggesting that White would have argued that there is no continuity between reality and narratives. The fundamental claim of constructivism, however, is that sense or meaning is a construction and that meaning is not “out there” to be discovered as some kind of truth (xxi). Moreover, attributing meaning is a process that always takes place in a wider discursive context. Pihlainen also stresses that, epistemologically, constructivism does not imply an antirealist position and that historians are bound to reference and make clear arguments in their writings. Equally important is the fact that constructivism reveals the ultimate political and ethical character of history writing. Historians’ awareness of history writing’s constructedness directs them to acknowledge the ethical‐political character of their history practice. This observation is crucial for facing the current challenges in the globalizing historical culture and corresponds with what Hans‐Georg Gadamer has called wirkungsgeschichtliches Bewusstsein, or “historically effected consciousness”—a consciousness that is aware of both the historicity of the past and the historicity of the conceptual and interpretive framework of the subject.2 Historically effected consciousness includes a metahistorical dimension, or an awareness of the relativity and limitations of one’s own historicity.3The Work of History consists of seven chapters that are based on previously published and reworked essays, all of which were inspired by White’s work. The book starts with Pihlainen’s 2013 essay on narrative truth and ends with his 2006 essay on the confines of the form. Probably one of the reasons for this composition is that the first chapter, “Narrative Truth,” functions as a kind of umbrella text that discusses three key issues related to truth: realism and representation, falsification, and the position of the readers. Pihlainen considers narrative truth as the core of White’s constructivism. Taking this concept as his starting point, Pihlainen rejects ontological realism and the notion of a truth that is somehow unproblematically “out there.” A related misunderstanding of this notion, according to Pihlainen, is that narratives themselves are “real,” as if they exist independent of meaning‐construction (5). Following White, Pihlainen suggests that creating narratives, or representations as form and process, is a way of making sense of the world as well as an ongoing meaning‐making practice. Hence, he has hesitations about Ankersmit’s recent work on unmediated access to reality in terms of phenomenological experience. According to Pihlainen, Ankersmit assumes that the world reveals representational truth about itself; truth can be found in the world and even announces itself (5). For Ankersmit, however, the condition is such that the “self‐relevation of reality always needs to be ‘triggered’ by representation, … for if left to itself reality will remain under the veil hiding it from us.”4

Although narrative forms can be viewed as essential cognitive tools, Pihlainen claims it is a “curious mistake to extend this same centrality to historical narratives” because we cannot have direct historical experience (6). Thus, narrative as a sense‐making strategy does not hold for historical narratives. This statement remains a bit unelaborate and vague until later in the book, particularly in chapters 4 and 5, when it becomes clear that Pihlainen refers not to fictional creation but rather to the tension between truth and reference. Because of historians’ commitment to representing a past reality by means of referentiality, Pihlainen claims, “[h]istorical narratives—as narratives—are fundamentally disturbed” (63). So, there are two competing and conflicting positions in contemporary historiography: on the one hand, the writing of history always involves the use of a narrative form, transcending the level of separate propositions; on the other hand, the narrative is incompatible with epistemological evaluation. It is curious that at this point in his book Pihlainen does not refer to Paul Ricoeur. The making of historical narratives is a process of what Ricoeur has called “productive imagination,” or the configuration of scattered past events, persons, intentions, goals, and causes into a synthetic whole by means of emplotment.5 The overarching thesis of his three‐volume Time and Narrative is that the temporality of human experience unfolds by narrative. Moreover, Ricoeur also includes the role of the reader, which is an important element of Pihlainen’s book. Narrating history is a process of configuring time—that is, the shaping of temporal aspects that are prefigured in acting. The temporal configuration occurs in plots that give coherence to a diversity of individual events from the past.6 This configurable dimension, Ricoeur explains, makes the story intelligible and traceable. Yet for the audience to be able to follow a story, there has to be an endpoint from which the story can be seen as a whole, a kind of conclusion where expectation in the beginning finds its fulfillment.7 Following the narrative (such as through reading or hearing) implies a refiguration of temporal experiences. In the act of reading, the receiver plays with the narrative constraints and makes the plot work.

However it may be, the aforementioned tension that Pihlainen invokes is the often discussed and unresolved dilemma, as mentioned by Paul A. Roth, “between either epistemic standards inapplicable to histories or nonepistemic narrative theorizing.”8 Interestingly enough, Pihlainen does not dwell on this dilemma but rather, referring to White, suggests that the constructed nature of meaning makes all participants in “the work of history” ethically and politically involved (10). Historians, publishers, and readers have to take responsibility for the making, consequences, and reception of the narrative. There is no escape: meaning cannot be distilled from facts or reality “out there,” and historians cannot rely on some objective or acknowledged method. This ethical and political issue also touches the presence of history in people’s daily lives and the ways that interpretations of the past thrive outside of the academic field of history. Pihlainen explains that this public practice of history has nothing to do with the “presence” of the past or any mystical appeal of historical traces, nor does it have anything to do with experiences of—or direct contact with—the past (28).9 He obviously dislikes the presence paradigm, especially considering his statement that “the idea of the presence of ‘history’ does not seem to lead anywhere” (28). But it is possible, Pihlainen continues, that encounters with historical sources in the archives or experiences in popular genres (such as literature, theater, and film) might generate corrections on the level of factual statements, consequently undermining the coherence of a narrative. In that case, “the disruptive potential” defamiliarizes the “glossing and colonizing impact of narrativization.” The resulting increased fragmentation can stimulate “the disruption of narration and its control of meaning” (29).

In line with this argument, and inspired by Nancy Partner’s work, Pihlainen advocates in chapters 3 and 6 that historians should become more involved with the world and should pay serious attention to “popular appropriations of the past” (52).10 Indeed, academic historians increasingly acknowledge—although sometimes reluctantly—the importance of popular media and public memory in building representations of the past (99). Popular media and genres also include performative articulations like historical reenactments, museum exhibitions, street views with augmented reality, and interactive media.11 Telling examples of this are digital games about the Second World War, which have become a prominent method of cultural expression reaching millions of people all over the world. By allowing players to engage actively with the Second World War, this body of commercial digital entertainment games can significantly co‐configure how the history of this war is understood. These video games often create immersive experiences, but they can also stimulate informal historical learning.12 Digital games and augmented reality are current trends that can fundamentally change how we think and write about the past, hence even influencing historical scholarship.

In chapter 5, Pihlainen explicitly argues for historiography that avoids noncommittal attitudes toward the past (50). It is time, he urges, that historians and theorists find ways to become politically committed in their writings and to challenge their readers to do the same (58). Based on this reasoning, the social responsibility of those involved in the work of history also applies to the current global protests of the Black Lives Matter movement and the fierce conflicts about the content and form of narratives and other representations of the history of slavery, colonialism, and racism. Just like engaged citizens, educators, and policy makers, academic historians cannot remain aloof in public debates. The current removal of statues that deliberately represent white supremacy is understandable, as is the call for rewriting history. But there is also the understandable fear of cleansing the past, of destroying culture and denying that “[a]ll societies are palimpsests.”13 What we need is an open conversation about the history of these representations so that opposing parties can learn. But we also need more.

No less crucial is avoiding the closure of a narrative and the judgments inevitably involved (96), including—in my view—counter‐narratives such as gender history, the history of black slavery, or colonial history. White particularly warned that the realist closure tends to domesticate and normalize the presentation of past events. The absence of closure reveals a narrative’s constructive and ideological nature, but it also provides room for reflection and discussion. That is why, Pihlainen explains, White can suggest that the goal of historical representation should be “to create perplexity in the face of the real” (11); it is also why, in his later works, he appreciated modernist and experimental representational forms that “refuse the kinds of closures attributed to more conventionalist realist as well as propagandic representations” (12). In the case of material representations, a closure—in the sense of a fixed representation—can be avoided by “counter‐monuments,” a term coined by James E. Young.14 Counter‐monuments represent a shift from the heroic, self‐aggrandizing figurative icons that were erected mainly in the nineteenth century to the antiheroic, often‐ironic, and self‐effacing postmodern conceptual installations of the late twentieth century. These often‐abstract monuments are dialogical and interactive by nature. Examples include the Holocaust monument in Berlin and the bronze sculpture by Zadkine in Rotterdam, which commemorates the bombing of the city on May 14, 1940. Counter‐monuments deal in various ways with “the unimaginable, the unspeakable and unrepresentable horror” of the Holocaust or other genocides.15 They can create feelings of perplexity, functioning as Kafka’s ax in literature, “for the frozen sea within us.”16

Pihlainen argues in chapter 5 that complexity creates a space where the text is not simply a given but becomes a space for communication in which readers and other participants are involved (91). For White, this complexity provides a way to make the past present—that is, to actualize it for readers. His view on the historical sublime, Pihlainen continues, “aimed at an experience that makes ‘real’ without imposing closure” and at the same time saves history from domestication (91). Although the demand for complexity and open‐ended representations seems incompatible with the historian’s responsibility and commitment, it is exactly the responsibility of historians, White emphasized, to resist the inclination to make a closure, particularly given all its implicated judgments. This responsibility includes the world around us, the impact of presenting ourselves as historians, and our interpretations and actions as readers (94). Yet Pihlainen is not happy with the way that White deals with the consequences of this complexity (108). These narratives and other representations, he suggests, risk becoming unreadable and unapproachable. Readers expect coherent and appealing historical narratives. Complex histories are more difficult to understand and might lack the emotional impact that audiences expect.

In his book, Pihlainen refutes the equation of “constructivism with unconstrained relativism” (66). He makes a strong and convincing argument for the political character of history writing from a constructivist point of view, and he encourages historians to challenge their readers to question received interpretations and to recognize historiography’s ideological elements (87). His emphasis on the role of readers and the communicative aspects of the work of history is most important. But Pihlainen’s constructivist perspective implies that historiography is not only political but also normative, often in relation to the political dimension. Contemporary discussions about the past do not just incite historians to put different historical narratives in perspective; they also require historians to distinguish which narratives are better than others, be it in terms of accuracy or morality. What, then, are the criteria for these choices? Which answers can constructivism provide to this question without resorting to realist ontologies or moral realism? Pihlainen does not pose such questions. I regret that the book sometimes reads too much like an exegesis of White’s work, in turn limiting Pihlainen’s voice a bit. Another disturbing element is that many of Pihlainen’s arguments are repeated. But it is beyond dispute that this book is worthwhile reading and that it truly encourages critical thinking about the “work of history.”

Notes

1. Amy J. Elias, “The Voices of Hayden White,” Los Angeles Review of Books, April 22, 2018, https://lareviewofbooks.org/article/the-voices-of-hayden-white/.

2. Hans‐Georg Gadamer, Truth and Method, transl. Joel Weinsheimer and Donald G. Marshall, 2nd ed., rev. ed. (1975; repr. London: Continuum, 2006), 336.

3. Maria Grever and Robbert‐Jan Adriaansen, “Historical Consciousness: The Enigma of Different Paradigms,” Journal of Curriculum Studies 51, no. 6 (2019), 814–830.

4. Frank Ankersmit, “Representation as a Cognitive Instrument,” History and Theory 52, no. 2 (2013), 184.

5. Paul Ricoeur, Time and Narrative, transl. Kathleen McLaughlin and David Pellauer, vol. 1 (Chicago: Chicago University Press, 1984), ix. See also Ricoeur, “Life in Quest of Narrative,” in On Paul Ricoeur: Narrative and Interpretation, ed. David Wood (London: Routledge, 1991), 20–33.

6. Ricoeur, Time and Narrative, 1:65–68.

7. Ibid., 1:56. This actually implies the diachronic character of every narrated story.

8. See Paul A. Roth, “Back to the Future: Postnarrative Historiography and Analytic Philosophy of History,” History and Theory 55, no. 2 (2016), 271.

9. See Hans Ulrich Gumbrecht, Production of Presence: What Meaning Cannot Convey (Stanford: Stanford University Press, 2004); Frank Ankersmit, Sublime Historical Experience (Stanford: Stanford University Press, 2005); Eelco Runia, “Presence,” History and Theory 45, no. 1 (2006), 1–29.

10. See Nancy Partner, “Historicity in an Age of Reality‐Fictions,” in A New Philosophy of History, ed. Frank Ankersmit and Hans Kellner (Chicago: Chicago University Press, 1995), 21–39.

11. See Maria Grever and Karel van Nieuwenhuyse, “Popular Uses of Violent Pasts and Enhancing Historical Thinking,” in “Popular Uses of Violent Pasts in Educational Settings,” ed. Maria Grever and Karel van Nieuwenhuyse, special issue, Journal for the Study of Education and Development 43, no. 3 (2020, forthcoming).

12. See, for instance, Pieter van den Heede, “Experience the Second World War Like Never Before!’ Game Paratextuality between Transnational Branding and Informal Learning,” in eds. Grever and van Nieuwenhuyse, “Popular Uses of Violent Pasts,” special issue, Journal for the Study of Education and Development 43, no. 3 (2020, forthcoming).

13 Jonathan Lis, “Colston Row: It’s about Discussing History, Not Rewriting It,” Politics.co.uk, June 10, 2020, www.politics.co.uk/comment-analysis/2020/06/10/colston-row-it-s-about-discussing-history-not-rewriting-it.

14. James E. Young, “The Counter‐Monument: Memory against Itself in Germany Today,” Critical Inquiry 18, no. 2 (1992), 267–292. See also Andreas Huyssen, “Monument and Memory in a Postmodern Age,” in The Art of Memory: Holocaust Memorials in History, ed. James E. Young (New York: Prestel, 1994), 9–18.

15. Huyssen, “Monument and Memory,” 16. On this subject, see also Ethan Kleinberg, Haunting History: For a Deconstructive Approach to the Past (Stanford: Stanford University Press, 2017).

16. Ibid., 17.

Maria Grever


PIHLAINEN, Kalle. The Work of History: Constructivism and a Politics of the Past. New York: Routledge, 2017. 144p. Resenha de: GREVER, Maria. History writing without closure. History and Theory. Middletown, v.59, n. 3, p.490-496, set. 2020. Acessar publicação original [IF].

El final del silencio. Dictadura, sociedad y derechos humanos en la transición (Argentina, 1979- 1983) | Marina Franco

Acostumbrados/as a textos problematizadores, otra vez más, la historiadora Marina Franco nos acerca una nueva contribución que complejiza el conocimiento de diferentes aspectos de la sociedad argentina reciente. En esta oportunidad, con un estudio que se centra en la emergencia, configuración y visibilización del accionar de la represión y de la violación a los derechos humanos en el último tramo de la dictadura militar de 1976-1983.

La propuesta analiza un lapso que ha concitado el interés de las ciencias sociales en las últimas décadas. A decir verdad, la periodización del libro reconoce su inicio en la emergencia política del problema represivo, que toma como hito la visita de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos a Argentina en 1979 y señala como corte la autoamnistía militar y las elecciones de 1983. En ese marco temporal, la investigación aborda la trayectoria de los principales actores que participaron, de algún modo visible, en la cuestión represiva. Si bien el acento principal está puesto en la Junta Militar y las Fuerzas Armadas, también la mirada se detiene en los partidos políticos, los medios de prensa, la iglesia católica, el Poder Judicial y las organizaciones de derechos humanos. Leia Mais

Martín Balza. Un general argentino. Entre la república y la democracia | Germán Soprano

Escribir una biografía, que merezca ser leída o al menos consultada, supone no solo el dominio de los datos personales y las trayectorias de vida del protagonista, sino un claro sentido sobre el propósito de la obra y las implicancias que contextualizan y explican los escenarios donde los hechos ocurrieron. No menos importante es la condición de contemporaneidad y pervivencia del personaje, ya que la distancia cronológica y la muerte -que no es este el caso- otorgarían mayor libertad de expresión y tornarían admisibles ciertos juicios críticos que la figura de un hombre público como Martín Antonio Balza siempre alientan. Ambas circunstancias son ampliamente superadas por Germán Soprano en este libro, ya que logra dar cuenta de un hombre y su tiempo sin caer en la vulgaridad apologética, además de desplegar los hechos con objetividad, más allá de la asumida admiración del autor por su biografiado.

Lo anterior es posible porque Soprano establece en forma clara, ya en la introducción, la multiplicidad de fines que persigue con este texto y que dan forma a través de la vida de Balza a una manifestación sobre las relaciones entre el Ejército y la sociedad, pero también cuál ha sido y podría ser el rol del instrumento militar terrestre en el marco de la Defensa Nacional. Para ello, el autor recurre a un infatigable trabajo de archivo y relevamiento documental que deja clara la dimensión heurística que apoya el relato metódico que estos dos tomos –por cierto bien justificados– entregan al lector. Leia Mais

History in the age of abundance? How the web is transforming historical research | Ian Milligan

En History of the age of abundance? How the web is transforming historical research, Ian Milligan sostiene que enfrentamos un cambio de escala en el registro histórico que fue afectado, sobre todo, por la llegada de los repositorios nacidos digitales. En términos del autor, la edad de la abundancia o la era de la Big Data implican un acceso a los datos de una magnitud inabordable con los métodos tradicionales, pues actualmente son incluidas en la web los relatos de millones de personas que antaño quedaban por fuera de la historiografía. La preocupación de Milligan se encuentra en relación con sus trabajos previos sobre la historia canadiense y las fuentes digitales. En efecto, el libro presenta un estilo de escritura en la que predominan ejemplos de pesquisas que ponen de manifiesto los desafíos del trabajo histórico.

Los primeros dos capítulos de la obra están centrados en un problema fundante de los estudios históricos de Internet: la naturaleza moderna, dinámica y personalizada de la web elude inherentemente la preservación. En Exploding the Library, el primer capítulo, Milligan presenta de manera acotada, pero precisa, conceptos claves como Internet, web, hipertexto y lenguaje de marcado, siempre acompañados de una breve genealogía de los mismos. La web es definida como un conjunto de documentos conectados que pierde su efectividad si se la considera a partir de secciones pequeñas y aisladas, de allí la principal dificultad en su conservación. Según el autor, el trabajo con archivos web involucra el manejo de ciertos conocimientos técnicos ya que si no se archivan todas las páginas que se encuentran por detrás de los enlaces de un sitio, gran parte de la información se pierde. Lo mismo sucede con el lenguaje de marcado HTML que permite entender de qué manera se escriben las páginas web, ya que es aquello que codifica los recursos multimedia que se muestran en los navegadores. Sin embargo, esto no es ninguna novedad para la historia, dice Milligan, pues aprender a leer el código de marcado es similar a los estudiosos clásicos que aprenden griego o latín para comprender sus fuentes. Leia Mais

The politics of vaccination: a global history | Christine Holmberg, Stuart Blume e Paul Greenough

A literatura recente do campo da saúde tem se dedicado amplamente ao debate sobre a relação entre proposições que ganham o tom de “medidas globais” e as tensões referentes à aplicação de tais modelos em nível local. A ideia de que determinados agravos e temas podem ser pensados em termos de uma “saúde global” impõe a gestores, profissionais da ponta e pesquisadores reflexões sobre os limites da relação entre o aspecto local das práticas de saúde e suas conexões com outras instâncias. Nesse sentido, um ponto central parece emergir: como articular estratégias globais a contingências e caracteres locais? Ou melhor, quais os limites das políticas e práticas no contexto da saúde global? As perguntas são importantes em um momento no qual as vacinas estão no centro de críticas e ataques de grupos negacionistas, sobretudo religiosos. Ponderações eloquentes a esses questionamentos e ao negacionismo científico contemporâneo estão na base da coletânea The politics of vaccination: a global history , organizada por Christine Holmberg, Stuart Blume e Paul Greenough.

O livro é dividido em três partes temáticas e prioriza estudos que versam sobre as décadas de 1950 em diante, abrangendo, assim, experiências de regiões pertencentes a Ásia Oriental, África Ocidental, Américas e Europa. A primeira seção, “Vaccination and national identity”, acompanha políticas de vacinação e sua contribuição para o fortalecimento das identidades nacionais. Nela se destacam três estudos. Paul Grennough investiga a contribuição do combate à varíola no Paquistão Oriental em 1958, durante a Guerra Fria, para o modelo de erradicação global da doença. Em seguida, Niels Brimnes contextualiza os movimentos de oposição à campanha contra tuberculose (BCG) na Índia nos anos seguintes à independência. Posteriormente, Dora Vargha Examina a ação dos Estados comunistas da Europa Oriental e aponta como o combate contra a poliomielite na Hungria, em 1959, serviu de inspiração à OMS, no ano seguinte. Leia Mais

The World Health Organization: a history | Marcos Cueto e Theodore M. Brown

La obra es el resultado de la colaboración estrecha, a través de casi dos décadas, de tres historiadores importantes, de dilatada y fecunda trayectoria, que han confluido felizmente para realizar un trabajo de alta calidad y envergadura, hasta tal punto que constituye una referencia obligada no solo para el estudio del organismo sanitario stricto sensu sino, a lo largo de todo el periodo histórico que abarca de la salud internacional todas sus facetas y, aún más, de la historia, los cambios en las políticas de carácter global, como señala Randall Packard en la contraportada. Y una ausencia dolorosa: la de Elizabeth Fee, fallecida cuando la obra ya estaba completa, pero que ha dejado su impronta en la misma.

Políticos, gestores, diplomáticos, sanitarios, son actores privilegiados de esta historia. Una historia que los autores se encargan bien pronto de decir que no se trata de una historia oficial o semioficial, como las que abarcando los diferentes decenios de la Organización Mundial de la Salud se han ido publicando. El estudio se apoya en muy abundantes y muy bien escogidas fuentes primarias – muchas archivísticas e inéditas (una relación de las cuales se encuentra en p.341-351), incluyendo testimonios orales de personalidades tan emblemáticas cono Halfdan Mahler o Ilona Kickbusch. Leia Mais

A formação da coleção latino-americana do MoMA: Arte, cultura e política (1931- 1943) | Eustáquio Ornelas Cota Junior

Publicada pela Paco Editorial em 2019, a obra Formação da Coleção Latino-Americana do MoMA: Arte, cultura e política (1931-1943), propõe historicizar os primeiros anos de funcionamento do Museu de Arte Moderna de Nova York, refletindo sobre a criação e trajetória do acervo de obras latino-americanas da instituição. O livro em questão é uma versão revisada da dissertação de Eustáquio Ornelas Cota Jr., defendida no Programa de Pós-graduação em História da Universidade de São Paulo em 2016. Mobilizando um grande levantamento de documentos institucionais do MoMA, o historiador problematiza a constituição da coleção latino-americana do museu, entrecruzando esse processo às dimensões culturais e políticas das relações entre Estados Unidos e América Latina.

Eustáquio Ornelas Cota Jr. defende a articulação da instituição com a política da Boa Vizinhança, especialmente pela atuação da família Rockfeller, tendo Nelson Rockfeller sido presidente do MoMA. Além da relação política e consonância com um projeto de imperialismo estadunidense instaurado na gestão de Franklin D. Roosevelt, o historiador também aborda a problemática das identidades latino-americanas ao considerar que a formação dessa coleção de arte foi fundamental para a construção de discursos e representações sobre as culturas latinas sob a perspectiva dos Estados Unidos. Como tese central, a obra defende “a confluência entre as diretrizes da chamada política da Boa Vizinhança vigente nos Estados Unidos desde 1933 e a decisão de ampliar a inicial coleção de arte moderna mexicana, transformando-a em latino-americana”. (p. 215).

Estruturada em três capítulos, para além de introdução e conclusão, a obra se insere no campo da História da Arte nas Américas, em interface com a História Cultural e a nova História Política. A partir dos estudos de Peter Burke, Eustáquio Ornelas Cota Jr. considera que a arte não pode ser “desconectada do contexto e dos conflitos culturais do momento histórico, nem tampouco ela se configure apenas como um mero reflexo do contexto social. A arte atua para a construção de sentidos e se torna um importante testemunho do processo histórico” (p. 19). Neste sentido, sua abordagem parte de um estudo ampliado da arte, considerando-a como uma produção humana e um produto de seu tempo, mas que é constantemente ressignificada sob o olhar e a ação do “presente” dos sujeitos que a mobilizam. Essa perspectiva, parte de leituras contemporâneas do historiador da arte Georges Didi-Huberman, influenciada pelas teorias da montagem de Aby Warburg, compreendendo a existência de múltiplas relações entre imagem e tempo.1 Como destaca Maria Bernardete Ramos Flores, essa abordagem considera que “as imagens têm uma história, mas o que elas são, seu movimento próprio, seu poder específico, só aparecem na história como ‘sintoma’ de durações heterogêneas: a abertura repentina para um tempo pretérito e a aparição de uma latência ou de uma sobrevivência; da estranha conjugação entre diferença e repetição”. 2

O primeiro capítulo da obra, “O MoMA e a formação de sua coleção latino-americana”, aborda a criação do projeto do Museu de Arte Moderna de Nova York a partir de documentos institucionais disponíveis no próprio acervo da instituição, como press releases e publicações oficiais. Ao analisar o início do projeto do museu, Cota Jr. defende o protagonismo feminino na fundação, com destaque para três mulheres da elite estadunidense: Lillie P. Bliss, Mary Quinn Sullivan, Abby Aldrich Rockefeller. O MoMA, que abriu as portas oficialmente em 07 de novembro de 1929, tinha como pretensão ser uma das instituições de referência mundiais sobre arte moderna, projeto que foi capitaneado pelo historiador da arte Alfred Barr Jr., convidado a ser o primeiro diretor do museu. Segundo o autor, Alfred Barr Jr. possuía uma visão bastante ampla sobre o que seria a arte moderna, defendendo que as características desta classificação só poderiam ser percebidas pelas próprias obras.

Alfred Barr foi central para o estabelecimento do projeto do MoMA como um espaço aberto a experimentações artísticas, o que afastou o museu de outras instituições já consolidadas na mesma cidade como o Metropolitan Museum of Art. Apesar desse perfil, isso não significou que o MoMA estivesse fora de seu contexto social e político. Mesmo com o financiamento de elites locais e o apoio da família Rockfeller, o museu foi criado em um período de recessão econômica e da crise de 1929, o que contribuiu para que se criassem projetos de exposições temporárias e circulares em diferentes regiões do país e do continente americano. A ideia das exposições de circulação foi fundamental, segundo o historiador, não apenas para a manutenção financeira da instituição, mas também para a divulgação do MoMA e, principalmente, para constituição de seu acervo criado a partir de dois perfis de aquisição de obras: doações e compras.

Neste primeiro capítulo, Eustáquio Ornelas aborda os primeiros passos da constituição da coleção latino-americana do MoMA, iniciada em 1935 com a doação da obra Subway de Orozco pela Sra. John D. Rockefeller. Destacando a aquisição de obras de países como México e Brasil, o historiador aponta para o alinhamento da formação da coleção com as diretrizes da política externa estadunidense para o continente latino-americano. Uma das contribuições principais do autor neste capítulo é a observação da tentativa de construção de representações sobre a América Latina visando a trabalhar um imaginário sobre as culturas latino-americanas pela população (em especial a elite) estadunidense. Além disso, o acervo do museu (que continha também obras de artistas estadunidenses) foi utilizado na criação de exposições itinerantes específicas para a América Latina, integrando os projetos do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs.

O segundo capítulo da obra, intitulado “O catálogo da coleção e a história da arte latinoamericana contada por Lincoln Kirstein” analisa a principal fonte na qual se baseia o estudo: o catálogo da exposição “The Latin-American Collection of the Museum of Modern Art” (1943). A partir da publicação, o historiador problematiza a narrativa e o projeto cultural de criação da coleção latino-americana no MoMA, com destaque para o ensaio sobre a história da arte latina publicado por Lincoln Kirstein, consultor de arte latino-americana, no catálogo. Reflete-se sobre a construção do próprio acervo, e da equipe que dirigia o museu em 1943, defendendo que tal formação não pode ser vista como um empreendimento individual ou excluído de seu contexto, para em seguida se pensar quais eram os principais países representados no MoMA.

Países como México e Brasil seguiram ocupando as primeiras posições na nacionalidade das obras presentes na coleção, mas foi registrado um crescimento no número de obras argentinas e cubanas. Ao analisar os países de origem das obras, Cota Jr. considera que a coleção em 1943 estava “longe de ser um conjunto amplamente representativo no que se refere à arte produzida nos países da América Latina” (p. 104). Esse aspecto problemático é um dos pontos de tensão entre o acervo existente e o discurso que o próprio museu procurava elaborar, no qual se defendia um “empreendimento pioneiro” da instituição e do qual a instituição seria referência global.

Com relação à análise do texto de Lincoln Kirstein, intitulado “Latin-American Art”, o historiador afirma que sua publicação no catálogo “possui grande importância para os nossos estudos, pois as ideias nele contidas colaboraram substancialmente para embasar as visões da instituição sobre o tema, afinal, o editor era o consultor de arte latino-americana do MoMA na época”. (p. 106). Dividido em nove partes e em dois recortes temporais (antes e após as independências latino-americanas), o texto de Kirstein abordaria as produções de artistas latino-americanos, juntamente aos norte-americanos e europeus. Essa aproximação com artistas estadunidenses e europeus ocorria, principalmente, como forma de comparação e relação visando a explicar a arte latino-americana, produzindo uma representação sobre as identidades culturais e artísticas do continente. Um dos principais aspectos a esse respeito é a construção de uma visão dicotômica, apesar de por vezes aproximadas, entre latinos e estadunidenses, referenciados muitas vezes como “nós” e “eles” ou “os daqui” e “os de lá”.

Em “A arte moderna na América Latina”, terceiro e último capítulo, o autor prossegue com a análise do catálogo The Latin American Collection of The Museum of Modern Art, com foco nas análises de Lincoln Kerstein sobre a arte moderna na América Latina. O texto de Kerstein, que parte das próprias obras do acervo, é analisado por Cota Jr. juntamente as imagens presentes no catálogo, em articulação com outras fontes institucionais como relatórios e comunicados. Como questão central, o autor problematiza as “escolhas realizadas para compor a coleção, preferencialmente as indicações de artistas e obras ressaltadas nos textos e imagens no documento e que justificaram artisticamente o empreendimento do MoMA”. (p. 159). O historiador observa também a construção de textos específicos para definir a arte moderna em cada país da América Latina, que foram construídos a partir de biografias, comparações e relações de influência entre a arte latino-americana e o que seria definido como uma arte “mundial”, visando a orientar o leitor do catálogo e o visitante das exposições que usaram dessa coleção nos debates.

Segundo Cota Jr., os escritos de Lincoln Kerstein sobre a arte moderna na América Latina procuraram pontuar aspectos gerais e datas marcantes dos movimentos em cada país, como no caso do muralismo mexicano. Sobre as obras de artistas como Diego Rivera, José Clemente Orozco e David Alfaro Siqueiros, o responsável pelo departamento de arte latinoamericana do MoMA construiu uma narrativa que “demonstra a preocupação do autor em indicar a relação entre a produção artística mexicana e o processo histórico ocorrido a partir de 1910”. (p. 166). Ainda sobre o México, o autor destaca que, na perspectiva do catálogo produzido pelo MoMA, os Estados Unidos seriam os principais colecionadores e consumidores de arte mexicana, conferindo ao país um lugar de patrono e principal divulgador desse gênero.

Tais aspectos, problemáticas e contradições sobre a representação da arte latinoamericana são observados também nas análises sobre outros países como Brasil, Argentina e Cuba. Neste sentido, Cota Jr. percebe a dimensão não apenas discursiva presente na constituição da coleção, mas também a centralidade da curadoria no processo de seleção e aquisição de obras que foram “guiadas pela avaliação do MoMA sobre a relação entre os países e seus respectivos estágios de desenvolvimento e produção da arte moderna local, considerando as opiniões dos principais especialistas representantes do museu, que definiam o que deveria ou não ser valorizado na arte moderna de cada país”. (p. 178). A respeito dos processos de curadoria e da própria coleção, o autor encerra o capítulo analisando três conjuntos do acervo: o muralismo mexicano, as obras de Candido Portinari e as “novas” perspectivas para a arte moderna.

O livro de Eustáquio Ornelas Cota Jr. contribuiu diretamente para os estudos sobre a História das Américas e da Arte Latino-americana. Ao tematizar a formação de uma coleção do MoMA a obra possibilita perceber as relações entre arte, política e construção das representações de identidades latino-americanas nos Estados Unidos como forma de problematizar as relações entre o país e o restante do continente. Destaca-se, em especial, o esforço do autor em demonstrar que, como um projeto das elites que integrou as políticas da Boa Vizinhança e do imperialismo estadunidense, o MoMA contribuiu diretamente para formação de imaginários sobre as Américas a partir da arte, sendo a função da curadoria e a reflexão sobre a arte moderna elementos centrais de reflexão.

Notas

1 Cf.: DIDI-HUBERMAN, Georges. Ante el tiempo: historia del arte y anacronismo de las imágenes. Buenos Aires: Adriana Hidalgo, 2015.

FLORES, Maria Bernardete Ramos. Olhar para as imagens como arquivos de histórias. Territórios e Fronteiras (Online), v. 8, p. 239-255, 2015, p. 250.

Igor Lemos Moreira – Doutorando no Programa de Pós-graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestre e Licenciado em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina. E-mail: igorlemoreira@gmail.com  https://orcid.org/0000-0001-6353-7540 http://lattes.cnpq.br/2889830742673964  O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, Brasil. Código de Financiamento 001.


COTA JUNIOR, Eustáquio Ornelas. A formação da coleção latino-americana do MoMA: Arte, cultura e política (1931- 1943). Jundiaí, SP: Paco, 2019. Resenha de: MOREIRA, Igor Lemos. Revista Maracanan. Rio de Janeiro, n. 25, p. 397-401, set./dez. 2020. Acessar publicação original [DR]

Perdas e ganhos: exilados e expatriados na história do conhecimento na Europa e nas Américas, 1500-2000 | Peter Burke

Em Perdas e ganhos: exilados e expatriados na história do conhecimento na Europa e nas Américas, 1500-2000, o historiador inglês Peter Burke retoma temáticas já aventadas em seus estudos anteriores, buscando discutir as contribuições de sujeitos exilados e expatriados para a história do conhecimento. Publicada em 2017 pela editora Unesp, a obra procura compreender os impactos sociais e culturais da migração em diferentes contextos, espaços e motivações. O autor – professor emérito da Universidade de Cambridge e autor de obras como Cultura popular na Idade Moderna: Europa, 1500-1800, A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV e Testemunha ocular – é reconhecido por suas pesquisas na área de História Moderna, História da Mídia e História Cultural. Em sua mais recente publicação no Brasil, o historiador parte de conceitos como trânsitos culturais, mediações, transculturação e hibridismo para compreender o local social desses sujeitos.

Apesar de reunir reflexões e conferências apresentadas pelo autor em diferentes momentos de sua carreira, o livro não é apenas uma obra motivada pela pesquisa acadêmica. Na apresentação da obra, o historiador destaca que muitas das questões levantadas e o foco nas noções de “exilados” e “expatriados” vieram de sua trajetória pessoal e de contatos durante a formação e atuação profissional com sujeitos que se identificavam com uma ou ambas as categorias. Apesar do recorte temporal e espacial bastante extenso – quase 500 anos de trajetórias de indivíduos migrantes –, a obra elenca temas centrais e algumas trajetórias em específico, focando nos sujeitos e em suas contribuições e/ou enfrentamentos muito mais do que na visão totalizante da história. Leia Mais

Trofei e prigionieri: una foto ricordo della colonizzazione in Brasile | Piero Brunello

O livro Trofei e prigionieri: una foto ricordo della colonizzazione in Brasile, do historiador italiano Piero Brunello, publicado em 2020 pela Editora Cierre Edizione, tem muito a nos dizer sobre Santa Catarina, a imigração dos italianos no Sul de nosso estado (mais precisamente nas colônias de Urussanga, Grão-Pará, e Nova Veneza), o rapto de crianças indígenas e as expedições que massacraram a população dos Botocudos/Laklãnõ-Xokleng na região, durante o final do século XIX e início do século XX. Mas, essas não são afirmações genéricas do nosso passado, na tentativa de buscar responder ausências no que tange à região e que, muitas vezes, foram compartimentadas em temáticas pela nossa historiografia. A ideia aqui se apresenta muito mais do que fazer uma história da colonização, da imigração italiana ou da história de como os Botocudos/Laklãnõ-Xokleng foram perseguidos durante a colonização de Santa Catarina; já que é o encontro entre todas essas dinâmicas e temáticas que dá o tom do livro.

Piero Brunello é um historiador italiano e professor aposentado de História Social da Università Ca’ Foscari di Venezia. Durante sua trajetória profissional, pesquisou sobre diversos temas: emigração/imigração, escrita, história urbana, cultura popular, música e anarquismo. Entre as diferentes publicações de sua carreira, encontram- -se, principalmente, Pionieri: gli italiani in Brasile e il mito della fronteira (1994), Storie di anarchici e di spie: polizia e politica nell’Italia liberale (2009) e Colpi di scena: La rivoluzione del Quarantotto a Venezia (2018). Apesar de ter estudos sobre o Brasil e a emigração/imigração de italianos no nosso país, nenhuma de suas obras foi traduzida para o português. Por esta via, o interesse de um historiador italiano por Santa Catarina pode suscitar críticas, positivas ou desfavoráveis, uma vez que um olhar estrangeiro pode trazer tanto uma contribuição interessante às questões que não foram pensadas ou ditas pela historiografia catarinense, quanto assustar, por poder representar mais uma perspectiva europeia interessada no “excepcional”. Leia Mais

O Brasil na Guerra Fria Cultural: o pós-guerra em releitura | Elizabeth Cancelli

Brasil na Guerra Fria Cultural: o pós-guerra em releitura, da historiadora do Departamento de História da Universidade de São Paulo, Elizabeth Cancelli, é realização de uma década de sólida pesquisa de documentos inéditos em arquivos do Brasil e dos Estados Unidos. Esforço que já resultou, entre trabalhos publicados no país e no exterior, no livro O Brasil e os outros: o poder das ideias (CANCELLI, 2012).

Neste novo lançamento, a autora aprofunda um tópico de investigação persistente na sua obra recente. Mais amiúde, as finalidades e o percurso de construção, durante a Guerra Fria, de três lugares-comuns da historiografia sobre o Brasil República, que são, além disso, também temas duradouros de nossa tradição de pensamento político: primeiramente, o exotismo brasileiro no interior da modernidade ocidental, tema através do qual vem sendo preenchidas de conteúdos as noções de “falta”, de “atraso” e de “subdesenvolvimento” nacional; em segundo, a defesa, para sanar essa condição de “minoridade” internacional do Brasil, de um ideal de missão intelectual cuja tarefa seja a adequação do país e do brasileiro a padrões hegemônicos de vida social e econômica; em terceiro, o destaque, nessas propostas de alinhamento, à acelerada transformação do Homem, equilibrada através da estabilidade da vida política e das esferas de poder. Leia Mais