Imagens Interditas: censura e criação artística no espaço ibérico contemporâneo | Diálogos | 2022

Detalhe de capa do Diccionario del Franquismo
Detalhe de capa do Diccionario del Franquismo (2019), de Manuel Vazquez Montalban (Autor) e Miguel Brieva (Ilustrador)

O presente dossiê resulta do primeiro Congresso Internacional Imagens Interditas. Cinema e literatura no espaço ibérico – séculos XX e XXI, que decorreu a 12, 13 e 14 de Abril de 2021, numa organização do CEComp – Centro de Estudos Comparatistas (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), em colaboração com o IHA – Instituto de História da Arte (Universidade NOVA de Lisboa) e o CHAM – Centro de Humanidades (Universidade NOVA de Lisboa, Universidade dos Açores).

O evento contou com 33 comunicações de 38 participantes de 15 universidades (Universidade de Lisboa, Universidade NOVA de Lisboa, Universidade de Coimbra, Universidade do Minho, Universidade Lusíada, UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia, Universidade de Brasília, University of the Western Cape, Université Sorbonne Nouvelle Paris 3, Université Paris Nanterre, Universidad de Alcalá, Universitat Pompeu Fabra, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidad de Málaga e Universidade de Bergen) de seis países (Portugal, Espanha, Brasil, França, Noruega e África do Sul). Contámos ainda com comunicações de um editor e de um realizador de cinema. As duas conferências plenárias do evento foram proferidas por Ana Cabrera (Universidade NOVA de Lisboa) e Josefina Martinez Alvarez (UNED – Universidad Nacional de Educación a Distancia). Leia Mais

Diálogos. Maringá, v.26, n.1, 2022.

Dialogos UEM

Dossiê: Imagens Interditas: censura e criação artística no espaço ibérico contemporâneo

Editorial

Dossiê

Artigos

Publicado: 2022-04-18

Revista Escrita da História. [?], v.8, n.15, jan./jun., 2021

Escrita da Historia

História e Linguagens: História. Ficção. Literatura

EDITORIAL

APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ: HISTÓRIA E LINGUAGENS: HISTÓRIA. FICÇÃO. LITERATURA

ARTIGOS LIVRES

PUBLICADO: 17.04.2022

Manual de sobrevivência para divulgar ciência e saúde | Catarina Chagas e Luisa Massarani

Catarina Chagas e Luisa Massarani
Catarina Chagas e Luisa Massarani | Imagens: COVID19 DivulgAção Científica

A pandemia decorrente da covid-19, doença causada por vírus, impactou nossas rotinas, que precisaram ser redimensionadas para viver o momento complexo e desafiador. Tivemos que ficar em isolamento social, o que nos desafiou a trabalhar em home office e, além disso, adaptar-nos ou mesmo conhecer os artefatos tecnológicos propostos pela internet. A comunicação científica ganhou protagonismo em um momento em que foi preciso informar a todos como se mover dentro desse novo mundo.

Nesse quadro brevemente descrito, a divulgação científica feita por cientistas e divulgadores é a ação que maior realce oferece à comunicação de ciência. Ela passa a ocupar mais espaços nas plataformas digitais por meio das redes sociais, em especial Instagram, Facebook, YouTube e Twitter e, ainda, os podcasts , que ganharam mais produtores e ouvintes. De acordo com Lemos (2021) , um dos mais relevantes fenômenos atuais é a plataformização, que apresenta uma miríade de artefatos e age a partir de viabilidades. Além da internet, a divulgação de ciência esteve presente na mídia massiva, como é o caso de TV, rádio e jornais. Leia Mais

Laboratorios en la selva: campesinos mexicanos/proyectos nacionales y la creación de la píldora anticonceptiva | Gabriela Soto Laveaga

Gabriela Soto Laveaga Imagem Duke University
Gabriela Soto Laveaga | Imagem: Duke University

La producción global de hormonas esteroides sintéticas entre las décadas de 1940 y 1970 alteraron de manera profunda la medicina moderna, posibilitaron importantes avances en la terapéutica de diferentes enfermedades y permitieron que millones de mujeres asumieran el control de su reproducción debido a la fabricación de anticonceptivos orales. En este cuidadoso y original estudio, publicado por primera vez en inglés en 2009, Gabriela Soto Laveaga analiza con detalle y detenimiento cómo múltiples actores formaron parte de la búsqueda, comercialización, traslado y transformación del barbasco en la materia prima para la producción de hormonas esteroides a nivel global durante buena parte del siglo pasado. Presta cuidadosa atención a las labores, disputas y negociaciones entre diferentes laboratorios y compañías farmacéuticas mexicanas e internacionales, estudia los trabajos realizados por químicos, biólogos, botánicos, médicos y otros científicos de diferentes nacionalidades en torno al barbasco y las hormonas esteroides sintéticas, y sobre todo, destaca la cotidiana y creciente participación de miles de campesinos procedentes de algunos de los estados más pobres de México, los que durante años buscaron, recolectaron y comercializaron el barbasco.

Laboratorios en la selvaUn argumento central de este importante estudio es que los cambios y las innovaciones científicas en torno a los esteroides sintéticos difícilmente habrían acontecido sin la participación de los habitantes de las regiones húmedas y tropicales de los estados de Veracruz, Tabasco, Chiapas, y en particular los de Oaxaca. La autora narra y expone con claridad cómo los campesinos de esos estados conocían las condiciones del suelo, los ciclos de crecimiento del barbasco y, en ocasiones imperceptibles, las distinciones entre las diferentes especies de tubérculos que crecían abundantemente en esos estados. Lo anterior la llevó a cuestionar la centralidad que la historia de la ciencia ha otorgado al trabajo al interior del laboratorio y a la investigación científica en general, así como a destacar la importancia que reviste considerar y analizar el “poder social maleable y transformativo de la ciencia una vez que deja los confines del laboratorio” ( Soto Laveaga, 2020 , p.24). Asimismo, y a lo largo de su estudio, cuestiona una afirmación de larguísima historia: la “ciencia solo se podía copiar, más no producir en América Latina, una región que para muchos se encontraba en el mejor de los casos en la periferia de la generación de conocimiento” ( Cueto, 1989 , p.18). Leia Mais

Capital científica: práticas da ciência em Lisboa e a história contemporânea de Portugal | Marta Macedo e Tiago Saraiva

Observatorio Astronomico de Lisboa Imagem OALWiki
Observatório Astronômico de Lisboa | Imagem: OAL/Wiki

Este volume colectivo explora a dimensão urbana das práticas científicas em Lisboa entre meados do século XIX e meados do século XX, assim como a sua relevância para a história de Portugal. O livro apresenta dez casos de estudo divididos em três partes com uma periodização política canónica (Regeneração, República e Estado Novo). O objetivo dessa organização é duplo: por um lado, os editores procuram estabelecer diálogo com a historiografia contemporânea de Portugal e, por outro, vêm problematizar as continuidades e discontinuidades da ação de cientistas e engenheiros entre esses diferentes regimes políticos.

Capital CientificaNa primeira parte (“Ciência e Regeneração”), Marta Macedo estuda a forma como as práticas epistemologicamente renovadas do ensino “politécnico”, a par das operações de crédito que financiaram as infraestruturas projetadas pela elite de engenheiros regeneradores saint-simonianos, construíram a cidade em diferentes níveis, desde a arquitetura da Escola Politécnica e da Escola do Exército até a expansão urbana da avenida da Liberdade. Pedro Raposo trata do Observatório Astronómico de Lisboa na Tapada da Ajuda e de como a construção de um tempo estandarizado por meio da determinação astronómica da hora oficial e a sua transmissão telegráfica (porto, comboios, faróis) possibilitou uma gestão coordenada dos crescentes fluxos materiais do capitalismo. Teresa Salomé Mota, Ana Carneiro e Vanda Leitão olham para os espaços e as práticas científicas dos serviços geológicos, analisando o papel das cartas geológicas como instrumentos de construção do Estado liberal, por meio da sua capacidade de reestruturação territorial (caminhos de ferro, recursos minerais, florestação etc.). Finalmente, Tiago Saraiva e Ana Cardoso de Matos mobilizam elementos aparentemente heterogéneos, como os sistemas de iluminação a gás, a noite dos proletários (Jacques Rancière), as fábricas do bairro de Boavista, o ensino técnico no Instituto Industrial de Lisboa, os poetas flâneurs da modernidade lisboeta (Cesário Verde), os cafés e as óperas da sociabilidade burguesa, ou a estética do sublime tecnológico, para reescrever a história do romantismo português a partir da tecnologia, das ideologias liberais e da transformação urbana de Lisboa. Leia Mais

Corps noirs et médecins blancs: la fabrique du préjugé racial/ XIXe-XXe siècles | Delphine Peiretti-Courtis

Delphine Peiretti Courtis Imagem Acervo da autora
Delphine Peiretti-Courtis | Imagem: Acervo da autora

Corpos negros e médicos brancos ( Corps noirs et médecins blancs ) é o título do novo livro da historiadora francesa Delphine Peiretti-Courtis, cuja tese de doutorado aprovada no final de 2014 aparece, agora, para público mais amplo. Depois de um lustro de tempo para poder revisar a tese e torná-la acessível ao público em geral, foi ainda necessário sintetizá-la e reduzir pela metade seu tamanho (de quase 700 páginas). O plano foi igualmente alterado. Originalmente temático, ganhou nova estrutura (cronológica) para demonstrar de forma mais detalhada o processo de construção e a evolução desse conhecimento médico sobre corpos negros. Publicado em 2021 pela editora La Découverte, esse livro faz parte das novas pesquisas sobre a interseccionalidade na construção de estereótipos de raça, sexo e gênero, notadamente no campo da história da medicina. O livro vem somar-se a uma rica historiografia francesa em torno dos discursos médicos e do racismo “científico” durante a era colonial ( Le Cour Grandmaison, 2014 ; Bouyahia, 2011 ; Dorlin, 2006 ).

Corps noirs et medecins blancs Delphine Peiretti-Courtis ensina na Universidade de Aix-Marseille e é pesquisadora junto ao laboratório TELEMMe (Temps, Espaces, Langages, Europe Méridionale, Méditerranée). Suas pesquisas recentes tratam da construção de estereótipos raciais e sexuais sobre corpos negros na literatura médica do final do século XVIII até meados do século XX. Após ter feito toda a sua formação acadêmica numa França pós-colonial, a historiadora desenvolve a sua pesquisa sobre as vias de mão dupla que entrecruzam as hierarquias sociais, de raça e de gênero e da medicina na época dos impérios coloniais. Seu livro contém uma síntese acurada das principais questões que interpelavam os médicos franceses, especialmente aqueles cuja experiência com a alteridade negra se inscrevia nos quadros da medicina militar, da medicina tropical ou da medicina colonial.

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La ciencia de la erradicación: modernidad urbana y neoliberalismo en Chile/1973-1990 | César Leyton Robinson

Cesar Leyton Robinson Imagem Werken TV2
César Leyton Robinson | Imagem: Werken TV2

Dentro de la historiografía que ha renovado el estudio de fenómenos y procesos incipientemente incorporados al análisis más clásico, se encuentra aquella que se ha fijado en la intervención de la ciencia en la elaboración de lo social. Desde el siglo XIX, en Occidente, los “saberes normativos” como la medicina y sus derivas, darwinista, degeneracionista, alienista, eugenésica e higienista, entre otras, se desplegaron como “árbitros de la realidad” ( Vallejo, 2010 , p.75), ejemplo evidente del clivaje saber/poder. Sin embargo, el positivismo científico legitimó su discurso definiéndose como neutral en lo político y objetivo en la construcción del conocimiento. La que podríamos llamar “nueva historia” de las ciencias, ha logrado desmitificar esta pretendida neutralidad. Precisamente, es el aporte que nos entrega el libro La ciencia de la erradicación: modernidad urbana y neoliberalismo en Chile, 1973-1990 , de César Leyton Robinson (2020).

ROBINSON C La ciencia de la erradicacionEn el contexto de la dictadura militar de Pinochet, el libro describe y analiza la intervención socio sanitaria de radicación y erradicación de los campamentos habitados por la población más pobre del país, iniciado a partir de 1979. Luego, profundiza en el proceso histórico que explica la praxis sociopolítica de la dictadura en cuanto al orden y la salubridad pública, remontándose a la tradición de orden higienista y médica del último tercio del siglo XIX, encarnada en Chile en el intendente de Santiago (1872-1875) Benjamín Vicuña Mackenna y el médico alienista Augusto Orrego Luco (1849-1933). El análisis es problematizado por un elemento distintivo colocado por el autor: los principios higienistas y el darwinismo social, desplegados para limpiar, segregar, aislar, controlar y someter a la población pobre y al conjunto de la sociedad, fueron implementados por los militares que derrocaron al presidente Salvador Allende (1973) como parte de una experimentación neoliberal, que despojó a la población de sus derechos sociales, que privatizó la economía y fomentó el individualismo extremo. Higiene, geopolítica y mercado, según el autor, serían los tres ejes de esta intervención. Leia Mais

Carta Internacional. Belo Horizonte, v.17, n.1, 2022.

Ecos do Atlântico Sul | Omar Ribeiro

Em 1993 participei de uma reunião social na qual estavam presentes: um padre jesuíta do Timor, um professor de história da Universidade de Lisboa (nascido em Moçambique), um professor de literatura luso-americano judeu e eu, socióloga brasileira, carioca. Sentados na sala de uma casa de estilo new-england, em Providence, Rhode Island, conversávamos em português. De repente fui tomada pelo ineditismo daquela situação e pelo sentimento de espanto diante da extensão e da sobrevivência do que fora o império português. Aquilo se chocava com o imaginário do senso comum brasileiro, e meu também, que pensava Portugal como a “terra do avozinho”, bonitinha, atrasadinha, sem importância, uma peça da memória folclórica… Foi então, com esse novo registro, que assisti a algumas apresentações da pesquisa de Omar Ribeiro Thomaz e li, com o maior interesse, o seu livro Ecos do Atlântico Sul.

A área de pesquisa de Omar, seu saber sobre Portugal e África, é maior do que o tamanho desse livro. Penso que deve ter havido um enorme esforço para encaixar na narrativa a história portuguesa, a trajetória da antropologia, as múltiplas preocupações relativas aos Estados nacionais remanescentes do antigo império português e às culturas de seus povos. Ao dizer isso não quero diminuir o valor do livro, e sim aguçar nosso interesse por outros textos que certamente o autor irá publicar. Leia Mais

A irresponsabilidade médica | Philippe Meyer || Contra a desumanização da medicina: crítica sociológica das práticas médicas modernas | Paulo Henrique Martins

No último século, a medicina sofreu profundas transformações, fruto da incorporação de recursos diagnósticos e terapêuticos inimagináveis ao final do século XIX. Da eletrocardiografia à tomografia computadorizada, da descoberta da penicilina aos modernos marcapassos cardíacos, muitas das melhorias foram aplicações diretas da física, da química e da biologia ao ato médico de cuidar dos enfermos. A medicina adquiriu status de ciência e, antes de tudo, alcançou uma eficácia anteriormente imprevista na capacidade de curar, aumentar o tempo de vida e fazer viver melhor.

Com sucesso variável, cada nação desenvolveu seus esforços de universalização do acesso da população a tais recursos, cada vez mais caros e eficazes. Formou-se, assim, um mercado consumidor de produtos farmacêuticos, médico-hospitalares e serviços de saúde, movimentando hoje gigantescos orçamentos públicos e privados. O ato médico passou a ser objeto de interesses econômicos e, por que não dizer, ditado também por uma dinâmica de mercado. O conhecimento de como funciona a medicina e, principalmente, a definição de como ela deve funcionar deixou de ser interesse da classe médica e passou a ser objeto de atenção de toda a sociedade. Leia Mais

Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888) | José Augusto Pádua

Cerca de cinqüenta autores escreveram em torno de 150 textos que José Augusto Pádua usou como fontes primárias para escrever um livro inédito na produção de história e de ciência política no Brasil: Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). Na verdade, trata-se da bem cuidada tese de doutoramento de Pádua, agora apresentada sob forma de livro de acessível leitura, sem jamais abrir mão do rigor da pesquisa acadêmica.

Logo no princípio, o autor reconhece quatro grandes visões de natureza. A primeira desvaloriza a natureza não-humana — não se incomodando com sua destruição, quer por indiferença ou pela desqualificação —, ao considerar a natureza tropical inferior à temperada. Esta concepção foi mais vivida que pensada no Brasil pelo pragmatismo dos proprietários rurais, apenas interessados em extrair do ambiente o máximo que ele pudesse lhes render. A segunda reconhece a importância da natureza não-humana, mas a considera um obstáculo ao pleno desenvolvimento das antropossociedades. A terceira tece loas à natureza não-humana, mas entende a sua destruição como um ônus a ser pago pelo país que deseja se desenvolver. Pádua aponta o poema ‘O ermo’, de Bernardo Guimarães, como exemplo desta postura. A quarta, típica do romantismo, louva intensamente a natureza, mas não se engaja em qualquer luta política para defendê-la. Leia Mais

Gripe, a história da pandemia de 1918 | Gina Kolata

Nos últimos anos, a historiografia nacional foi farta em trabalhos sobre os efeitos da pandemia de gripe espanhola de 1918 nas principais cidades brasileiras.1 Vários autores debruçaram-se sobre diversos aspectos do evento, analisando as modificações cotidianas geradas pelo contexto epidêmico, as práticas dos profissionais do campo médico em relação à epidemia, a atuação dos serviços de saúde pública e, até mesmo, o conjunto de sentimentos da população no conturbado contexto que se apresentava. A americana Gina Kolata mostra que nos Estados Unidos foi diferente, explicando que em sua terra a literatura sobre o tema quase que se resume ao livro America’s forgotten pandemic, de Alfred W. Crosby, e que essa escassez de literatura sobre o tema incentivou-a a escrever. Gina Kolata é jornalista científica, formada em microbiologia, e estudiosa de biologia molecular. Já escreveu vários textos sobre temas científicos, destacando-se o livro Clone: os caminhos para Dolly e as implicações éticas, espirituais e científicas (Rio de Janeiro, Campus, 1998), fruto de seu sistemático acompanhamento, para o New York Times, da trajetória que culminou com o nascimento da ovelha Dolly. Seu livro, Gripe, a história da pandemia de 1918, caracteriza-se como um abrangente relato dos esforços da ciência em busca de compreender as causas da doença e evitar o seu possível retorno. Na verdade, o título original da obra, Flu: the history of the great influenza pandemic of 1918 and the search for the vírus that caused it, revela muito mais do que a tradução nacional que, ao suprimir toda a parte do subtítulo, dá a entender tratar-se de um relato centrado nos eventos de 1918. Segundo a própria autora, trata-se de uma história de mistério envolvendo ciência, política, pesquisadores e um vírus assassino. História de acasos e surpresas que merecia ser contada, tanto pelo drama da narrativa, como por suas implicações, pois a solução do mistério poderia ajudar os cientistas a evitar uma possível volta do microscópico vilão. Leia Mais

Febre amarela: a doença e a vacina/ uma história inacabada | Jaime Larry Benchimol

A historiografia das doenças e das ciências médico-biológicas no Brasil ainda prima por realizar pesquisas que, de regra, isolam algumas poucas variáveis, na tarefa explicativa do objeto estudado, convergindo para a produção de versões simplificadoras e caricaturais da realidade científica e médico-sanitária nacional. Postando-se contra esta cômoda tendência, a obra coordenada por Jaime Larry Benchimol lança a cada página a seguinte questão de escopo teórico-metodológico: quais são os pilares científicos, organizacionais, políticos e sociais necessários para se arquitetar a história conseqüente de uma doença e de sua vacina?

Benchimol, que já nos premiou com outro estudo de envergadura (Dos micróbios aos mosquitos: febre amarela e revolução pasteuriana no Brasil, Rio de Janeiro, Fiocruz/Editora da UFRJ, 1999), volta à febre amarela, agora abordando a perspectiva da presença em “longa duração” da doença no Brasil e dos empenhos científicos, administrativos e políticos para controlar a disseminação da enfermidade pelo combate ao vetor e a obtenção de um imunoterápico eficiente. Nesta senda repleta de ramais e desvios, o ponto de partida da obra em pauta consiste no enfoque das primeiras menções à febre amarela como ameaça epidêmica no território brasileiro, datadas de meados do século XIX. Leia Mais

Boletim Cearense de Educação e História da Matemática. Fortaleza, v.9, n.26, 2022.

Educacao e Historia da Matematica

Número Especial – V Seminário Cearense de História da Matemática

ARTIGOS DO V SCHM

PUBLICADO: 2022-04-11

Relações internacionais do Brasil: temas e agendas | Henrique Altemani de Oliveira e Antônio Carlos Lessa

Terreno antes ocupado quase que exclusivamente pela produção estrangeira, o campo editorial brasileiro das relações internacionais vem ganhando, nos últimos anos, adições importantes por parte dos próprios pesquisadores e professores brasileiros dessa área. Ademais da nova edição livro coordenado pelo professor do Irel-UnB, José Flávio Sombra Saraiva, História das relações internacionais contemporâneas: da sociedade global do século XIX à era da globalização (publicado pela primeira vez em 1997, uma segunda vez pelo IBRI, em 2001, e revista pela Saraiva, em 2007, em edição), estes dois volumes sobre os temas e agendas das relações internacionais do Brasil, organizado pelos professores Henrique Altemani e Antonio Carlos Lessa, coordenadores de cursos na PUC-SP e na UnB, constituem o mais recente exemplo de como a produção nacional tem avançado na última década e meia, aproximadamente. Eles constituem, sem dúvida alguma, um complemento importante à bibliografia disponível e parecem destinados a figurar, provavelmente de modo compulsório, nas leituras exigidas nos cursos de relações internacionais e nos concursos de ingresso à carreira diplomática (e talvez tenham sido concebidos expressamente com essa intenção). Leia Mais

Fronteiras – Revista de História. Dourados, v.23, n.42, 2021.

Fronteiras Revista de Historia

Histórias marginais, alteridades e críticas epistêmicas

EDITORIAL

APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ 18: HISTORIAS MARGINAIS, ALTERIDADES E CRÍTICAS EPISTÉMICAS

ARTIGOS LIVRES

DIVULGAÇÃO

PUBLICADO: 11/04/2022

Mobilidade e materialidade dos textos. Traduzir nos séculos XVI e XVII | Roger Chartier

Debruçar-se sobre livros centenários não nos permite acessar o mundo de onde vieram, a menos que consigamos traçar a história de suas formas de existência ao longo do tempo, ou seja, de suas diferentes vidas. Mas quantas vidas afinal pode ter uma obra? De acordo com Roger Chartier, a Brevissima relacíon de la destruycíon de las Indias, de Bartolomé de las Casas, por exemplo, tem sete vidas, referentes às sete diferentes edições publicadas em circunstâncias e espaços distintos entre os séculos XVI e XIX. E quando uma obra ganha outras formas de circulação, ao ser representada, adaptada, reescrita? Daí suas numerosas vidas podem garantir-lhe a posteridade ou mesmo a imortalidade. Em Mobilidade e materialidade. Traduzir nos séculos XVI e XVII, publicado no Brasil em 2020 pelas editoras Argos e EDUFBA, com tradução de Marlon Salomon e Raquel Campos, Roger Chartier oferece uma nova faceta de seus estudos realizados na Biblioteca da Universidade da Pensilvânia, onde tem atuado como professor visitante. Em seu livro intitulado La main de l’auteur et l’esprit de l’imprimeur, de 2015, Chartier apresentou análises das coleções consultadas nessa mesma biblioteca, a partir das quais destacou o papel do autor e do impressor nas significações adquiridas pelas obras. No livro recentemente traduzido no Brasil, são a materialidade e a mobilidade de obras que ocupam o plano central de sua investigação, sendo realçadas na própria organização do volume, que conta com cinco capítulos distribuídos sob as seguintes designações: Publicar; Representar; Traduzir; Adaptar e Epílogo: reescrever. Leia Mais

Varia Historia. Belo Horizonte, v.38, n76, 2022.

Varia Historia4

Outras Fronteiras. Cuiabá. v.8, n.2, 2021.

Outras Fronteiras

POVOS E CULTURAS DA REGIÃO AMAZÔNICA: IMIGRAÇÃO, TRABALHO E LUTA

Dossiê Temático

Artigos

Trabalhos de Iniciação Científica (PIBIC e VIC) e Docência (PIBID)

Publicado: 2022-04-07

Povos e culturas da região Amazônica: imigração, trabalho e luta | Outras Fronteiras | 2021

Itacoatiara AM Imagem Rede AmazonicaG1
Itacoatiara – AM | Imagem: Rede Amazônica/G1

O dom de despertar no passado as centelhas de esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. 2

O momento atual é crucial para aprofundar o conhecimento sobre a Amazônia e refletir acerca do seu processo histórico através das muitas concepções teóricas à disposição. Como pensála de outro modo em História? Dos estudos culturais com enfoque nos inúmeros povos, etnias e identidades ali engendradas, aos estudos sociais e econômicos que compreendem a expansão das frentes pioneiras, os processos migratórios, as formas de exploração sob a égide e inserção do capitalismo predatório e rudimentar, é preciso abarcar outras possibilidades. O presente e o futuro requerem para a Amazônia estudos históricos do tempo presente, da história do clima, da história ambiental…

A partir do golpe de 1964 no Brasil, a expansão da fronteira Amazônica se processou dentro de uma lógica singular mediada pelo Estado por meio da Doutrina de Segurança Nacional, onde o Poder Público se colocou como mediador dos interesses da grande empresa privada e do capital internacional, no intuito de promover um crescimento econômico rápido e a qualquer preço. De acordo com Berta Becker,3 para realizar seu projeto, o Estado impôs uma nova malha técnico-política que incorpora as tendências expansionistas e transformadoras já existentes nas sociedades próximas dos grandes centros políticos e econômicos na Amazônia, por meio das concepções ideológicas trazidas pelos milhares de migrantes que chegavam à região a partir dos projetos de colonização autoritários. Na fronteira, desenvolveu-se um jogo simbólico denso e dramático da nação com seus propósitos. É preciso compreender e conhecer objetivamente a fronteira para além das concepções ideológicas simplificadoras do processo autoritário de ocupação, que é incapaz de captar a magnitude e a complexidade em curso na sociedade brasileira. Mais que uma definição geográfica, a fronteira é uma categoria histórica. De acordo com José de Souza Martins, a história contemporânea da fronteira no Brasil é marcada pelas lutas étnicas e sociais. Neste sentido, a Fronteira é eminentemente o lugar da alteridade. É o local de descoberta do outro e do desencontro. Desencontro de povos que vivem em regimes de temporalidade diferentes.4 Leia Mais

Vestígios. Belo Horizonte, v. 14 n. 2 (2020)

APRESENTAÇÃO

ARTIGOS

DOI: https://doi.org/10.31239/vtg.v14i2

PUBLICADO: 2022-04-05

Vestígios. Belo Horizonte, v.14, n.2, 2020.

Conservação em Arqueologia Histórica

Expediente

APRESENTAÇÃO

ARTIGOS

PUBLICADO: 2022-04-05

Revista Brasileira de Filosofia e História. Pombal, v.11, n.2, 2022.

Artigos

Publicado: 2022-10-04

Tempo. Niterói, v. 28, n.1, 2022.

TEMPO3
  • Cartas ao Pará: vida privada, cotidiano e política na correspondência pessoal do negociante Antônio José de Miranda (Portugal, 1828-1831) Artigo
  • Gonçalves, Andréa Lisly
  • Resumo: EN PT
  • Texto: PT
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  • Comemorar o centenário da Revolução de 1817: o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e a republicanização da memória nacional Artigo
  • Costa, Bruno Balbino Aires da
  • Resumo: EN PT
  • Texto: PT
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  • “Quatro dias em setembro”: o sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick e as negociações entre Brasil e Estados Unidos Artigo
  • Resende, Pâmela de Almeida
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  • Monumento às Bandeiras: processo de construção e ressignificação simbólica Artigo
  • Coelho, George Leonardo Seabra
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  • Texto: PT
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  • No rastro do Museu do Carnaval Tia Dodô da Portela: por uma proposta decolonial Artigo
  • Almeida, Angélica Ferrarez de
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  • A Polícia Federal no processo de transição: o desafio da Justiça de Transição e da superação dos valores autoritários, analisados a partir da gestão do delegado Romeu Tuma Artigo
  • Brandão, Priscila
  • Resumo: EN PT
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  • A visita de quatro escritores brasileiros aos Estados Unidos em tempos de guerra (1941-1946) Artigo
  • Morinaka, Eliza Mitiyo
  • Resumo: EN PT
  • Texto: PT
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  • A história ambiental do capitalismo no mundo colonial, séc. XV ao XIX Dossiê
  • Marques, LeonardoRocha, Gabriel de Avilez
  • Resumo: EN PT
  • Texto: PT
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  • Lançando a rede: início da atividade pesqueira no Atlântico e expansão colonial, séculos XV-XVI Dossiê – A História Ambiental Do Capitalismo No Mundo Colonial, Séc. Xv-Xix
  • Bouchard, Jack
  • Resumo: EN PT
  • Texto: EN
  • PDF: EN
  • A formação e consolidação de um grupo de produtores de açúcar da nobreza da terra. Capitania de Pernambuco, séculos XVI-XVIII Dossiê – A História Ambiental Do Capitalismo No Mundo Colonial, Séc. Xv-Xix
  • Morais, Ana Lunara da Silva
  • Resumo: EN PT
  • Texto: PT
  • PDF: PT
  • Capitalismo e natureza no Brasil colonial: a pecuária bovina no Ceará e a continentalidade do jogo das trocas (ca. 1680-1750) Dossiê – A História Ambiental Do Capitalismo No Mundo Colonial, Séc. Xv-Xix
  • Oliveira, Tiago Kramer deOliveira, Antonio José Alves de
  • Resumo: EN PT
  • Texto: PT
  • PDF: PT
  • Fronteiras oceânicas: baleação e ambiente marinho na era do capitalismo industrial, 1740-1850 Dossiê – A História Ambiental Do Capitalismo No Mundo Colonial, Séc. Xv-Xix
  • Castellucci Junior, Wellington
  • Resumo: EN PT
  • Texto: PT
  • PDF: PT
  • Colonialismo e espoliação em Wallmapu, sul do Chile: expansão territorial e capitalismo na segunda metade do século XIX Dossiê – A História Ambiental Do Capitalismo No Mundo Colonial, Séc. Xv-Xix
  • Escalona-Ulloa, MiguelOlea-Peñaloza, Jorge
  • Resumo: ES PT
  • Texto: ES
  • PDF: ES
  • Mapeamento e relações interétnicas na formação das fronteiras Resenha
  • Moura, Denise A. S. de
  • Resumo: EN PT
  • Texto: PT
  • PDF: PT

 

Where caciques and mapmakers met: border making in eighteenth-century South America | Jeffrey Alan Erbig Júnior

John Fea Lucy Barnhouse e Jeffrey Alan Erbig Junior Imagem Current
John Fea,  Lucy Barnhouse e Jeffrey Alan Erbig Júnior | Imagem: Current

Bons livros, nas ciências humanas ou na literatura, são aqueles que fisgam o leitor com personagens ou situações paradoxais. Assim faz Where caciques and mapmakers met: border making in eighteenth-century South America. Em cinco capítulos originados de um périplo de dez anos de pesquisas por 27 arquivos e sete países, Jeffrey Erbig Jr. mostra como o processo de territorialização dos Estados ibéricos na fronteira luso-platina da América ocorreu em estreita dependência e subordinação às relações e permissões dos grupos indígenas locais autônomos.

Where caciques and mapmakers metNos últimos vinte anos várias têm sido as contribuições para a discussão de processos como esse (Guy, Sheridan, 1998Adelman, Aron; 1999Gil, 2007Garcia, 2007Herzog, 2015Prado, 2009Lennox, 2017) e o livro de Erbig Jr., atualmente professor no Departamento de Estudos Latinos e Latino-americanos da Universidade da Califórnia,1 soma novos inquéritos e respostas a essa literatura. Leia Mais

A história ambiental do capitalismo no mundo colonial, séc. XV-XIX | Tempo | 2022

Colonizacao extinguiu metade das cobras e lagartos de arquipelago no Caribe Jose Francisco Dos Santos EyeEmGetty Images
Colonização extinguiu metade das cobras e lagartos de arquipélago no Caribe | Jose Francisco Dos Santos / EyeEm/Getty Images

História ambiental

Um espectro ronda a formação da história ambiental como campo disciplinar: o espectro da crise ecológica planetária. Ao longo de um pós-guerra marcado pela crescente hegemonia do capital financeiro ocidental, a intensificação de processos de extração e industrialização e o aumento exponencial da população mundial, certos movimentos sociais de cunho “ambientalista” se consolidaram com base em grupos da classe média e alta em países industrializados norte-americanos e europeus. Porta-vozes, polemistas e manifestantes ambientalistas no pós-guerra conscientizaram seus públicos sobre questões de biodiversidade e sustentabilidade, pressionando a elite político-administrativa de vários órgãos governamentais a legislar e estabelecer ordens regulatórias voltadas à “proteção ambiental”, como foi o caso nos Estados Unidos. Com exceção dos movimentos mais diversos e radicais de Environmental Justice (cf. Pellow, 2017), inicialmente as manifestações principais do movimento ambientalista norte-americano, tendo em conta obras de referência como as de Rachel Carson e Garrett Hardin, articulavam seus objetivos dentro das estruturas do Estado-nação. Com frequência, medidas rumo à sustentabilidade ecológica foram imaginadas tanto por ambientalistas quanto por governantes como formas de remediar danos perpetrados por coletivos humanos nem sempre claramente definidos, reconhecidos, porém, como ameaças à viabilidade de conglomerações não humanas imaginadas como “natureza”, separadas ontologicamente da esfera humana. Tais ameaças à ordem ecológica eram vistas – e continuam sendo vistas – em múltiplas escalas temporais e cronológicas: o choque de um cataclismo nuclear, o desgaste nocivo da poluição agroindustrial, a extração desinibida de recursos naturais precipitando extinções de espécies diversas, o esgotamento de recursos naturais necessários para o sustento da vida no planeta. Ao movimento ambientalista do pós-guerra, por fim, não faltavam narrativas de declínio ou apocalipse planetário; faltavam historiadores. Não foi por acaso, portanto, que o campo conhecido como história ambiental se cristalizou na historiografia internacional ao longo das últimas décadas do século XX. Leia Mais

As Alegrias da Maternidade | Buchi Emecheta

O livro “As Alegrias da Maternidade”, de Buchi Emecheta, foi publicado pela primeira vez em 1979 na Inglaterra. No entanto, recebeu a sua primeira tradução para o português brasileiro pela editora Tag Livros em 2017, através do clube de assinatura “Tag Curadoria” que tem a intenção de publicar obras inéditas no Brasil. Contudo, como a editora em questão possui circulação restrita aos assinantes, a editora Dublinense lançou outra versão da obra em 2018, ambas as publicações são frutos da tradução de Heloísa Jahn. As notas aqui apontadas, resultam da leitura dessa edição.

Florence Onyebuchi “Buchi” Emecheta foi uma autora e intelectual nigeriana, nascida em 1944 em Lagos. Ao longo da sua infância estudou em colégios cristãos sendo que, aos 11 anos de idade, se tornou órfã, tendo que ir morar em sua comunidade ancestral com parentes. Em 1962, já casada desde os 16 anos, mudou-se com esposo e filhos para a Inglaterra em busca de trabalho. O casamento perduraria até 1966, quando se separou de seu marido abusivo e violento, e criando sozinha seus cinco filhos, em um país estrangeiro. Mesmo com tantas responsabilidades e dificuldades, Emecheta conseguiu se graduar em Sociologia em 1974, realizar o mestrado em 1976 e em 1991, concluir seu doutorado em Educação, na Universidade de Londres. Ao ganhar reconhecimento pela sua obra, a autora foi convidada para lecionar em várias universidades estadunidenses. Aos 72 anos, Buchi Emecheta faleceu vítima de uma demência. Leia Mais

Maconha: os diversos aspectos, da história ao uso | Luciana Saddi e Maria de Lurdes de Souza Zemel

Maconha Foto Gustavo Carneiro
Maconha | Foto: Gustavo Carneiro/Grupo Folha

A obra “Maconha: os diversos aspectos, da história ao uso” (2021) é uma coletânea composta por 14 textos de divulgação científica, organizados por Luciana Saddi e Maria de Lourdes S. Zemel, ambas psicólogas com experiência no estudo da relação entre família e abuso de drogas, dentre elas, o alcoolismo. Diferente de seu predecessor (Fumo Negro: a criminalização da maconha no pós-abolição), “Maconha: os diversos aspectos, da história ao uso” chega em um momento social e histórico marcado por diversos processos de flexibilização dessa substância em todo continente americano, assim como pela adesão de parte da sociedade civil brasileira a esse debate. Essa mudança de conjuntura amplifica o seu potencial como objeto de informação a ser agregado a essas discussões.

Na condição de historiador, abordamos a obra a partir de dois aspectos que estão diretamente associados ao tema: a ousadia na escolha do tema, sua abrangência e direcionamento a um público não especializado, e a relação que o conjunto de textos constrói com a historicidade do tema. Também registramos o impacto das teses do livro. Embora não exista um momento de síntese, ponto negativo da obra, é possível concluir que o objeto não é a planta ou substância designada “maconha”, mas as formas com as quais nos relacionamos com ela (de ordem pessoal, familiar, comunitária ou institucional). Cabe apontar que determinados modos de lidar não são as melhores alternativas. Elas devem ser revisadas, principalmente as que retiram a autonomia dos indivíduos no tratar com essas substâncias, como é o caso da política de guerra às drogas, pouco eficiente e baseada em lógica coercitiva. Outra conclusão possível é a de que a comunicação e a informação se configuram como as melhores saídas para lidar com os problemas de abuso, implicando, inclusive, em questões-chave como a prevenção e a redução de danos.

A obra quer compartilhar informações científicas para além da bolha acadêmica. Nesse sentido, foi composto por textos objetivos com linguagem de fácil compreensão, educando por meio de conhecimento racionalmente constituído, orientando novas práticas sociais frente à maconha. Seus textos podem ser classificados em dois grupos. O primeiro toma como centralidade as relações que se desenvolvem entre os usuários e as suas comunidades de pertencimento, demonstrando os estigmas normalmente mobilizados  e as suas consequências. Assim é escrito o texto “As famílias e o uso de maconha”, de Silva Brasiliano. A autora propõe uma série de novas formas de agir que colocam o indivíduo e a sua subjetividade como alvo das comunicações, a fim de amplificar o diálogo entre os pais e seus filhos, evitando a sua marginalização a partir do lar. Não se trata de achar culpados, mas de estabelecer uma lógica de cuidados a partir do núcleo familiar.

Em “O uso da maconha por adolescentes: entre prazeres e riscos, 1o barato que sai caro!'”, Maria Fátima Olivier Sudbrack observa as relações estabelecidas entre os adolescentes e os grupos  integrados por eles como forma de compreender quadros de abuso de substâncias. A autora chama atenção para a necessidade voltar o olhar para os motivadores desse contato e de seus possíveis abusos, partindo de questões como a produção do desejo em torno da maconha, assim como necessidades de alívio rápido, característicos das estruturas do Capitalismo. A autora afirma que essas questões devem ser tratadas pelo viés da educação, a fim de constituir autonomia, levando aquele que faz uso a se posicionar frente aos seus comportamentos, e não pela via da criminalização. Leia Mais

Esclavitud: una historia de la humanidade | M. Zeuske

Na historiografia sobre os mundos do trabalho está cada vez mais evidente a necessidade de discutir alguns limites dos conceitos relacionados a “trabalho livre” e “escravidão” em perspectiva global e local. As temporalidades históricas dessas relações de trabalho também constituem elementos condicionantes do debate. Michael Zeuske, professor de História Ibérica e Latino-Americana na Universidade de Colônia (Alemanha), em estudo ambicioso e instigante, traz importantes contribuições para arejar essa contenda. Nos seis capítulos de Esclavitud: una historia de la humanidad (2018) – tradução espanhola do original em alemão publicado no mesmo ano –, o historiador, apoiado em sólida pesquisa documental e bibliográfica, parte da premissa de que a história da escravidão se confunde com a história da humanidade e lança luz sobre alguns silêncios historiográficos, em busca de uma abordagem mais integradora da História, condição essencial para desenvolver sua hipótese de trabalho.

Zeuske observa a coexistência de vários tipos de relações laborais no marco do desenvolvimento capitalista, e mesmo antes, chamando a atenção para a centralidade de diversos mecanismos de coerção extraeconômica no momento de recrutar e fixar a mão de obra em diferentes épocas e contextos históricos. Sua abrangente definição “histórico-antropológica” da escravidão – “a disponibilidade sobre corpos humanos baseada em uma violência real exercida sobre esses mesmos corpos e a degradação do status” – e dos escravos “como capital de corpos humanos” (p. 36) – ultrapassa as dimensões jurídicas vinculadas ao direito romano e tenta englobar todas as modalidades em que a apropriação e o recrutamento de força de trabalho se realizam através da violência e da coerção direta. Aponta ainda os quatro motivos principais de escravidão: autoescravização ou entrega (a princípio ligadas ao endividamento), guerra, comércio e nascimento como pessoa escravizada. Leia Mais

Historia Agraria de América Latina. Santiago, v.3, n.1, april, 2022.

Artículos

Reseñas

História Militar. Rio de Janeiro, Edição 31, Ano XIII, abril de 2022.

Edição 31, Ano XIII, abril de 2022.

  • A corporação de fontoura sob o signo das nações unidas: Os relatos orais da participação pioneira de policiais paraenses na operação de paz em moçambique – onumoz (1993 – 1994)
  • Lucas Carnevale Machado
  • O saque de Dinant: A morte de uma cidade belga
  • Carlos Roberto Carvalho Daróz
  • A cooperação internacional em segurança marítima para o oceano atlântico
  • Michael Scheffer
  • Aristóteles como espectador da guerra: Apontamentos críticos sobre a política
  • Thales Britto Cantalice
  • O movimento da coluna prestes como um falso sísifo: A alegoria histórica de ineficácia da coluna na formação republicana do brasil
  • Karla Beatriz de Melo Lima, Lucas Gomes, Ronald Cavalcante Castelo Branco
  • Panorama da aerostação no exército brasileiro: Da teoria à tentativa da prática (1905-1908)
  • Bruno de Melo Oliveira

Historia Crítica. Bogotá, Núm. 84 (2022)

Artículos de investigación

Artículos de investigación

Publicado abril 1, 2022

Escravidão e liberdade no Brasil independente | Revista Transversos | 2022

O ano de 2022 é marcado pelas celebrações dos centenários de importantes eventos da História do Brasil, entre eles os 200 anos da Independência política e os 100 anos da Semana de Arte moderna. O mote dos centenários também deve ser usado para celebrar a vida de duas personalidades negras da nossa cultura: os 100 anos da sambista Dona Ivone Lara e os de morte do escritor Lima Barreto. Essas últimas efemérides nos remete a uma população negra pouco valorizada nas celebrações dos grandes eventos, um reflexo do último século da história do Brasil. Um país recém saído da escravidão e que procurava construir uma identidade que não poderia ser remetida a um passado, colonial e escravista. Em 1822 a independência ocorreu sem abalar a estrutura escravista e nem questionar o lugar social e político de homens e mulheres, negros e pobres. Em 1922, ao rememorar essa independência, a República reproduziu o esquecimento, e não lembrou dos egressos da escravidão e seus descendentes, que ocupavam as ruas das cidades brasileiras trabalhando e tentando sobreviver cultural e politicamente no regime republicano, apesar das crônicas de Barreto que alertavam para a crescente desigualdade social e a falta de oportunidades para homens como ele, negro e da periferia da República. Em 2022 é preciso lembrar e discutir o passado em dois tempos, o da independência e durante o Império, e o da República, que celebrou os cem anos da independência no pós-abolição.

Ao pensarmos nos diferentes tipos de eventos que ocorreriam em 2022 para celebrar o bicentenário da independência, achamos importante organizar um dossiê que desse espaço para a publicação de pesquisas que pensem a escravidão e o pós-abolição, temas distantes dos eventos oficiais organizados por instituições públicas e pelo governo federal. Diante disso, esse dossiê representa um esforço em pensar o pós-abolição articulado aos 100 anos da independência, e o passado escravista, principalmente sob o viés da luta de homens e mulheres escravizados. Temáticas fundamentais para compreender a história do Brasil e suas conexões. Se a liberdade e a independência que se celebravam em 1922 não os mencionam, ao mesmo tempo eles propunham outras formas de celebrar a vida, seja na cultura com o nascimento do samba, seja por meio da história e da literatura, dentre outras maneiras. Nesse sentido, os artigos publicados nos fornecem elementos para perceber, nuances de um pano de fundo no qual foi assentada a independência do Brasil, onde esses sujeitos emergem percorrendo caminhos áridos em busca de sua cidadania. Entre as questões trazidas pelos pesquisadores talvez uma ganhe maior destaque – as limitações da liberdade – e as estratégias legais e políticas para guiar os destinos dos ex-cativos diante das transformações e rumos políticos que a sociedade brasileira buscou seguir frente à independência. Leia Mais

Revista TransVersos. Rio de Janeiro, n.24, 2022.

ESCRAVIDÃO E LIBERDADE NO BRASIL INDEPENDENTE

EXPEDIENTE

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APRESENTAÇÃO

ARTIGOS LIVRES

Resenha Crítica. Aracaju & Crato, v.2, n.12, 16 mar. 2022.

1o de marco Estatua de cera do presidente russo Vladimir Putin sendo embalada em uma caixa antes de ser armazenada no museu Grevin em Paris Arte sobre Foto de Julien de RosaAFP
1º de março - Estátua de cera do presidente russo Vladimir Putin sendo embalada em uma caixa antes de ser armazenada no museu Grévin, em Paris | Arte sobre Foto de Julien de Rosa/AFP

 

Resenha Crítica. Aracaju & Crato, v.2, n.12, 16 mar. 2022. ISSN 2764-0302

Colegas,

No mês de fevereiro, colhemos dossiês sobre negacionismos, história da historiografia, autoria e autoridade na escrita da História e feminismos na literatura.

Das novas aquisições, destacamos a incorporação de periódicos especializados em História da Arte e História Agrária e de uma revista discente voltada à pesquisa histórica.

As resenhas ainda estão em período de entressafra, comum nos meses de janeiro e fevereiro. Nesta edição, contabilizamos nove textos que exploram ditadura militar, histórias do trabalho, da Arquitetura, do Meio Ambiente, dos imigrantes italianos e dos apagadores de incêndio da cidade de Natal. As resenhas também avaliam manuais para a construção de autobiografias e um livro infantil ilustrado, onde Emicida conta histórias do medo.

Saúde e trabalho para todos nós!

Itamar Freitas e Jane Semeão (Editores)

 

(*) Para receber a listagem de todas as nossas publicações, mensalmente e sem custos, faça o seu cadastro aqui.


Resenhas


Dossiês


Sumários


Periódicos recentemente incorporados ao acervo


Conheça a totalidade do acervo

Para adequado uso do espaço na página inicial deste blog, destacamos apenas algumas resenhas, dossiês, sumários e apresentações de periódicos recentemente incorporados ao acervo em cada edição mensal do Resenha Crítica.

A quantidade de textos, porém, se altera à medida que incorporamos novos periódicos, retroativamente, aos nossos bancos de dados.

Para conhecer a totalidade das aquisições de resenhas, apresentações de dossiês e sumários, publicados originalmente no período 1839-2021, utilize os filtros da barra lateral.

 


Resenha Crítica. Aracaju & Crato, v.2, n.12, 16 mar. 2022.

ISSN: 2764-0302

Resenha Crítica CAPA v2 n12

La revista Historia de América. Silvio Zavala y la red de estudios americanistas/1938-1948 | María del Carmen Grillo, Alexandra Pita González

Hace más de treinta años que la historia intelectual y de los intelectuales ha ampliado sus objetivos, métodos y horizontes, dando como resultado nuevas investigaciones que han permitido superar las limitaciones de la tradicional historia de las ideas. Actualmente, la historia intelectual consiste en una práctica interdisciplinaria, capaz de seguir los itinerarios intelectuales, las sociabilidades y las prácticas de individuos y grupos a través de sus diversas producciones culturales, de manera que ofrece explicaciones sobre las prácticas y representaciones que orientan nuestras nociones sobre el mundo. Justamente en este espectro se encuentra La revista Historia de América. Silvio Zavala y la red de estudios americanistas, 1938-1948, la investigación de María del Carmen Grillo y Alexandra Pita González quienes a través de un rico, interesante y novedoso estudio de la primera década de la revista Historia de América del Instituto Panamericano de Geografía Historia (IPGH), ofrecen al lector el retrato de parte del panorama intelectual americano del periodo de entreguerras. Leia Mais

Political Thought in the French Wars of Religion | Sophie Nicholls

Sophie Nicholls Imagem University of
Sophie Nicholls | Imagem: University of Oxford

The book series ‘Ideas in Context’, published by Cambridge University Press since 1984, has played a major role in establishing the history of political thought as a prominent field of research and debate. Although the series’ roots lie in the so-called Cambridge school of intellectual history associated with J.G.A. Pocock, Quentin Skinner, and others, its volumes have always set out to break down any ‘artificial distinctions between the history of philosophy, of the various sciences, of society and politics, and of literature’.(1)  It is perhaps surprising that until now no volumes in the series have focused on the political thought of the French Wars of Religion (c.1562-c.1598), a period known not only for confessional violence, dynastic crisis, and social rupture, but also for major controversies over questions of authority and resistance, liberty and rights, and other issues that are crucial to the study of early modern political thought.(2)  Nevertheless, path-breaking studies of the political thought of Jean Bodin, François Hotman, and key figures in sixteenth-century French intellectual history published with Cambridge University Press by Julian Franklin, Ralph Giesey, and J.H. Salmon all preceded the series and perhaps helped to establish its terms.(3)

Political Thought in the french Wars of religionThirty-seven years after the ‘Ideas in Context’ series was founded, these important new books by Emma Claussen and Sophie Nicholls both advance the series in new directions and bring it back to its roots in the intellectual history of sixteenth-century France. Their complementary approaches engage closely with established interpretations in the field, but also overcome them by offering new readings of key texts and alternative ways to interpret them, breaking down disciplinary distinctions between the history of literature, philosophy, and politics. Claussen’s eloquent and innovative book explores the uses and ambiguities of the term politique throughout the Wars of Religion, and gives a new history of this keyword that traces its movement from a disciplinary descriptor of political science in the 1560s and 1570s to a polemical weapon of partisan abuse. Leia Mais

Estudos sobre a personalidade autoritária | Theodor W. Adorno

Theodor W. Adorno Imagem DW
Theodor W. Adorno | Imagem: DW

A ascensão de movimentos de extrema-direita antidemocráticos pelo mundo trouxe consigo a edição e reedição de diversos livros sobre autoritarismo. Entre esses, o clássico de Theodor W. Adorno em conjunto com outros pesquisadores, Estudos sobre a personalidade autoritária, traduzido competentemente pela primeira vez para o português em edição da Editora UNESP. Apesar de seus mais de 50 anos, a edição em português veio em boa hora: o livro é peça essencial para se compreender fenômenos que não morreram em 1945, como o fascismo e o antissemitismo. Não sem motivo foi tema de mais de “2 mil estudos sobre autoritarismo entre os anos de 1950 e 1990”1.

Estudos sobre a personalidade autoritariaUm projeto que teve início ainda durante a Guerra, com um grupo em grande parte composto por exilados, Personalidade autoritária se baseia em duas premissas básicas: o fascismo não é exclusivo da Alemanha e existem aspectos sociais e psicológicos que favorecem sua ascensão. Para realizar isso, mescla vários campos do saber. Da mesma forma que o próprio Adorno o era, este livro trafega na interdisciplinaridade, de uma forma que seu conteúdo é útil e recomendável a qualquer pesquisador interessado no pensamento da direita/extrema-direita, seja um psicanalista, um cientista político, um sociólogo, entre outros. Leia Mais

Humanidades digitais pós-coloniais/decoloniais e o ensino de história | CLIO – Revista de Pesquisa Histórica | 2022

Humanidades digitales Imagem Projects Grinugr
Humanidades digitales  | Imagem: Projects Grinugr

O presente dossiê teve como propósito disseminar diferentes experiências, práticas e abordagens sobre o Ensino de História em suas relações com as Humanidades Digitais. Uma busca nas principais plataformas permite concluir que esta última expressão tem ganhado espaço nos debates do campo nos últimos anos, conquanto outras opções terminológicas (TIC’s, TDIC’s, NTE, ODA’s, História Digital etc.) por vezes ocultem produtivos diálogos ou até mesmo propostas que se dirigem para direções opostas.

Dito isso, vale alertar que, ao optar por este ou aquele em suas reflexões, os(as) autores(as) nem sempre conferem a historicidade do termo, o que formataria uma crítica de seus propósitos de criação e uso. Consequentemente, iniciativas ingênuas e bem intencionadas podem ser usadas (e não raro são) em projetos educacionais e/ou políticos que se afastam das intenções originais de seus criadores i. Leia Mais

CLIO – Revista de Pesquisa Histórica. Recife, v.40, n.1, jan./jun. 2022.

Clio Revista de Pesquisa Historica

Jan-Jun. Dossiê: Humanidades digitais pós-coloniais/decoloniais e o ensino de história

Apresentação

  • Apresentação
  • Aline Benvegnú dos Santos, Carlos Eduardo da Costa Campos, Renan Marques Birro
  • PDF

Dossiê

Artigos Livres

Resenhas

Sobre a Revista

Diacronie. Studi di Storia Contemporanea. Bologna, n.50 | giugno 2022.

Miscellaneo

  • A cura della redazione
  • N°50, 2 | 2022 | Diacronie. Studi di Storia Contemporanea

ARTICOLI

CLIOLUDICA

III. RECENSIONI. CLIOLUDICA

RECENSIONI

¡Presente! la política de la presencia | Diana Taylor

Enquanto caminha pelo tempo e pelo espaço com, para e entre artistas e ativistas políticos do continente americano, Diana Taylor narra suas experiências e nos desafia a pensar como estar ¡presentes! em um mundo saturado de impossibilidades. Em ¡Presente! la política de la presencia (2020), a autora enfatiza a importância do posicionamento político e ético diante da questão “o que posso fazer quando não há nada o que fazer e o fazer nada não é uma opção?”. Analisando criticamente o seu posicionamento frente as cercas, em cima das cercas, ao transpassar as cercas e ao tentar derrubar as cercas que nos separam, ela expõe as narrativas de suas vivências, sentidos e afetos diante das performances experimentadas.

O projeto, concebido simultaneamente em espanhol e em inglês, foi lançado originalmente pela Duke University Press em agosto de 2020, e em dezembro do mesmo ano pela Ediciones Universidad Alberto Hurtado, versão traduzida pela historiadora australiana Ana Stervenson. O ¡presente! como tema central é abordado como algo que está para além da presença em si, e a palavra/ato segue a grafia em espanhol também na edição inglesa, na tentativa de enfatizar a sua potência pelos dois pontos de exclamação que a acompanha. Leia Mais

Ensino de História: tempos de crise, resistências e utopia | História Hoje | 2022

Serie Revolta dos Males de Belisario Franca e Jeferson De Imagem GirosSESC TV
Série “Revolta dos Malês”, de Belisario Franca e Jeferson De | Imagem: Giros/SESC TV

O Ensino de História, seja associado ao trabalho e ao cotidiano docente no chão da escola ou entendido como campo de pesquisas e investigações situado na interface com a educação e a história produzidas na Universidade, vem sendo atravessado, ao longo dos anos, por reflexões sobre crises que impactam sujeitos, práticas, saberes e culturas. Crises que provocam resistências, conflitos, confrontos, assim como alimentam sonhos e utopias. Neste dossiê temático, propomos abordar o Ensino de História a partir dessa perspectiva, reunindo resultados de pesquisas que refletiram a partir desse enfoque e que contemplaram a crise em seus mais variados aspectos: histórias do Ensino de História, formação de professores, materiais didáticos, memórias docentes e discentes; bem como as resistências de todos os tipos, tais como os questionamentos aos modelos curriculares, relações acadêmicas que geram narrativas uniformes, materiais didáticos com propostas restritas, cerceamento ao trabalho docente e perseguição a professores. Em todos há uma preocupação em inscrever a reflexão no tempo presente, que, em função da pandemia da Covid-19 e da crise da democracia brasileira, instaurou novos arranjos nos processos de ensino-aprendizagem de História. Leia Mais

História Hoje. São Paulo, v.11, n.22, 2022.

Historia Hoje1

Janeiro-Junho

DOI: https://doi.org/10.20949/rhhj.v11i22

Sumário

Editorial

Dossiê

Artigos

Entrevista

E-Storia

História Hoje na sala de aula

 

 

América Latina en la Historia Económica. México, v.29, n.1, jan./apr. 2022.

Articles

PolHis. Buenos Aires, n.28, v.14, 2022.

Editorial

Artículos

Resúmenes de Tesis

Publicado: 2022-03-31

Boletim do Tempo Presente. Recife, v.11, n.03, 2022.

Artigos

Resenhas

Notas de Pesquisa

Publicado: 2022-03-31

Práticas de pesquisa em história | Tania Regina de Luca

Scenes de la vie des arrageois au XVIe siecle
Scènes de la vie des arrageois au XVIe siècle – Charles Hoffbauer  (Detalhe de capa de Práticas de pesquisa em História | Imagem: Domínio Público

Como iniciar uma pesquisa em História? Qual a diferença entre documento e fonte? O que é método? Qual enquadramento teórico-conceitual devemos utilizar na pesquisa? Como se define um recorte cronológico? E o recorte temático? Como chegar a um problema de pesquisa? Essas são algumas perguntas, entre muitas outras insondáveis, que todo(a) pesquisador(a) de História se faz no momento em que a realidade da pesquisa científica se avizinha. À tais dúvidas que assomam nossas mentes, e que constituem verdadeiros enigmas, a professora Tânia Regina de Luca procura responder em Práticas de Pesquisa em História.

O livro, cabe destacar, integra o projeto da Editora Contexto intitulado “História na Universidade”. O objetivo da coleção, que aborda períodos históricos que vão da Antiguidade à História Contemporânea, passando pela História da África e da Idade Média, entre outros, é divulgar pesquisas acadêmicas para um público amplo, ultrapassando os muros da universidade. Leia Mais

Historiar. São Cristóvão, v.9, n.1, jan./mar. 2022.

Historiar UFS

Resenhas

Education and the Body in Europe (1900-1950) | Simonetta Polenghi, András Németh e Tomás Kasper

O livro intitulado “Education and the Body in Europe (1900-1950): Movements, public health, pedagogical and rules and cultural ideas”, escrito em inglês, publicado em 2021 pela editora Peter Lang, é uma obra de importante reflexão realizada pelos editores: professora Doutora Simonetta Polenghi, professor Doutor András Németh, e professor Doutor Tomáš Kasper. A publicação compila 14 capítulos sobre a história do corpo em diferentes países da Europa, a saber: Inglaterra, Bélgica, Alemanha, Hungria, República Checa, França, Suíça, Itália e Espanha.

A primeira parte é composta por 5 capítulos, no qual são: o capítulo “Bodies of the Future – life reform and education as instruments of human evolution” escrito por Ehrenhard Skiera. Os autores Janka Balogh e András Németh produziram o capítulo “Life reform and new body concept of the art of movement”. O capítulo “Body education in the youth movement” foi elaborado pela autora Agnes Trattner. Os autores Dorina Szente e András Németh foram responsáveis pelo capítulo “Changes in women’s body perception and education in the first decade of the twentieth century in the light of Hungarian women’s journals. E a autora Ilaria Mattioni teve o capítulo entitulado “Women’s body, dresses and fashion in Italy. Leia Mais

História da Educação. São Leopoldo, v.26, 2022.

Editorial

Artigo / Article / Artículo

Entrevista / Interview / Entrevista

Tradução – Translation

Dossiê “Historia de la Educación y Organismos Internacionales: nuevas líneas de trabajo en perspectiva transnacional”

Publicado: 2022-03-29

Historia de la educación y organismos internacionales: nuevas líneas de trabajo en perspectiva transnacional | História da Educação | 2022

PRESENTACIÓN1

Hace varias décadas que el campo de la Historia de la Educación ha dedicado amplios esfuerzos a investigar la importancia que tuvieron diferentes procesos de carácter internacional en el nacimiento o reconfiguración de los sistemas nacionales de educación. El origen y despliegue de este tipo de estudio seguramente haya que situarlos en el ámbito anglosajón. Quizá, el que primero causó un importante impacto sobre la Historia de la Educación fue el trabajo del profesor James A. Mangan (1978). Dicha investigación, se centró en analizar la influencia que habían tenido los centros de educativos británicos para las élites (Public Schools) en el desarrollo del sistema educativo de la India. El propósito del este trabajo estaba en descifrar en qué medida los procesos de colonización del Imperio Británico habían influido también en el establecimiento de modelos educativos en diferentes colonias.

El objetivo último fue desentrañar cómo se habían producido los procesos de transferencia educativa desde el “centro” a la “periferia”. Es decir, captar cómo la educación también había servido como red institucional a la hora de establecer el dominio del imperio sobre sus colonias. Con el paso del tiempo, este tipo de trabajo se amplió. Ahora, no se trataba exclusivamente de captar las formas de dominio. Otras perspectivas de análisis comenzaron a ser importantes. Cabe destacar aquí, aquellas investigaciones que comenzaron a estudiar la construcción de redes de personas, el intercambio de ideas, los procesos de formación de especialistas educativos locales en el propio imperio o los procesos de hibridación educativa entre unos modelos y otros (MCCULLOCH y LOWE, 2003; BRUNO-JOFRÉ y SCHRIEWER, 2012). Leia Mais

The Press and the People: Cheap Print and Society in Scotland/ 1500-1785 | Adam Fox

The Press and the People
The Press and the People | Detalhe de capa

Early modern Scotland was awash with cheap print. Adam Fox, in the first dedicated study of the phenomenon in Scotland, gives readers some startling figures. Andro Hart, one of Edinburgh’s leading booksellers, died in 1622. In his possession, according to his inventory, were 42,300 unbound copies of English books printed on his own presses. John Wreittoun, also Edinburgh based, had in stock at his death in 1640 what Fox estimates to be 7,680 ‘waist littell scheittis of paper’, printed up as ‘littell pamphlettis and balladis’, and averaging a sale price of just 3d Scots (pp. 70-2). The inventory of Robert Drummond, drawn up, again in Edinburgh, in 1752, recorded a quantity of printed ‘small phamphlets’ and ‘ballads’ that Fox estimates amounted to 174,000 separate copies ready to go to market (p. 107). While historians of early modern print are well aware that the number of works we know about was once far surpassed by those now no longer extant, Fox’s examination of the inventories of Scotland’s printers and booksellers confirms the scale of the loss. It shows that Scottish printers were not predominantly producers of books and exposes a ‘vastly’ larger market for cheap print ‘than has ever been realised’ (p. 11). Leia Mais

Public Opinion in Early Modern Scotland/ c.1560–1707 | Karin Bowie

This is Karin Bowie’s second book about the history of public opinion in Scotland. Her first, in 2007, examined the period 1699-1707 in depth, covering the debate leading up to the Union of Parliaments.(1) The present book deals with a longer period, and has no single focus like the Union. Instead it discusses a larger range of political debates – and some religious debates, at least to the extent that these affected politics. Nevertheless, the questions driving the new book are similar. What was ‘public opinion‘, and how was it expressed? Or, what were people’s opinions, and how did they express them? The ‘public’ is never a singular thing that has a single opinion. Bowie’s book is thus about debate, and about processes of debate.

When historians discuss public opinion, what often interests us is the balance of opinion on debated topics. Was a given topic ‘popular’ or ‘unpopular’? Would a majority of the population have voted for or against (say) the Reformation at the time when it was being proposed? Historians of the early modern period cannot conduct opinion polls, but we recognise that the opinions that such polls would have measured did exist in some way. When we write of the ‘popularity’ of the Reformation, or indeed of its ‘unpopularity’, we are making statements that are to some extent psephological. Leia Mais

Revistas ibero-americanas de História

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Legenda

(*) - Revista produzida por discentes.
(**) - Revista produzida por discentes e docentes.
(***) - Revista descontinuada.
(...) - Revista produzida em conjunto por mais de duas instituições.

Para reportar erros

Copie o trecho errado e o envie para nós, acompanhado da informação correta. Se conhecer algum periódico de História ausente no nosso acervo, por favor, nos informe pelo mesmo endereço: contato@resenhacritica.com.br

 


Para citar esta tabela

FREITAS, I.; SEMEÃO, J. Tabela 1 - Periódicos latino-americanos de História ordenados por título, instituição, país, cidade, unidade federativa e ano de fundação - 1838-2022. In.: Sinopse estatística das revistas ibero-americanas de História 2019-2022. Resenha Crítica, Aracaju/Crato, mar/abr. 2022. Disponível em<https://www.resenhacritica.com.br/todas-as-categorias/teste-tabela/>.

Acessar todas as revistas de História em mosaico.


Para conhecer outra listagem de periódicos brasileiros de História, consulte:

Fórum de Editores de Periódicos da área de História – ANPUH-BRASIL

Mapeamento de periódicos científicos brasileiros, da área de História, on-line, em atividade (que publicaram a no máximo 2 anos atrás - 2019) (2022-05-09)

Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília, v65, n.1, 2022

  • ·        Corporate influence and the global pandemic – reflections from the mining sector Special Issue: Beyond Covid-19: Global Health In The Spotlight
  • Campbell, Bonnie
  • Resumo: EN
  • Texto: EN
  • PDF: EN
  • ·        Promoting health diplomacy in the fight against COVID-19: the case of Vietnam Special Section: Beyond Covid-19: Global Health In The Spotlight
  • Tinh, Le DinhThanh, Nguyen Tien
  • Resumo: EN
  • Texto: EN
  • PDF: EN

Ícone. Porto Alegre, v.6, n.7, 2021.

Expediente

A Capa

Artigos

Publicado: 2022-03-23

In the shadow of Enoch Powell: Race/ locality and resistance | Shirin Hirsch

Shirin Hirsch
Shirin Hirsch | Imagem: MEN

In the spring of 1968, Enoch Powell gave his infamous ‘Rivers of Blood’ speech (p 1). In the shadow of Enoch Powell: Race, locality and resistance explores its aftermath, successfully synthesising histories of Powell as a political figure, the local community of Wolverhampton, and, to a lesser extent, the nation.

The greatest strength of the book is its nuanced approach to this history. It adds complexity to our understanding of this period of British history by exploring the contradictory ambiguities present in daily lives. Hirsch writes that Powell’s populist racism was ‘challenged by the realities of work and changes within the trade union movement’ (p 92). Reflecting experiences of the racialised migrant communities of Wolverhampton, the book brings to light the interconnected histories of antiracism and of fear (p 112). Hirsch balances moments of racial tensions with moments of joy and solidarity throughout. She presents a positive history of Black people in Britain, a celebration of antiracist resistance, and an assertion that this is important British history. Leia Mais

Clichês baratos: Sexo e humor na imprensa ilustrada carioca do início do século XX | Cristiana Schettini

Cristiana Schettini
Cristiana Schettini | Imagem: Café História

Como se dava a relação da sociedade carioca da Primeira República com as questões sexuais? Quais eram as possibilidades para o consumo do erótico em uma cidade recém-saída da escravidão, com um novo regime político cuja ideia de modernidade estava presente nos discursos de diferentes grupos sociais? E por fim, o que uma investigação das sociabilidades noturnas masculinas pode revelar sobre o modo pelo qual homens e mulheres negociavam hierarquias sociais e morais no Rio de Janeiro? O livro Clichês Baratos: Sexo e humor na imprensa ilustrada carioca do início do século XX, de Cristiana Schettini, busca justamente examinar as conexões entre o processo de mercantilização das diversões, a sociabilidade noturna, o humor e a sexualidade.

A maneira como as pessoas se divertiam já vem sendo interesse de pesquisas de história social desde as décadas de 1970 e 1980, quando se aproximaram os diálogos entre a Antropologia e a História. Trabalhos sobre o carnaval, as festividades religiosas, o teatro e outras formas de sociabilidade vêm trazendo para a historiografia novas contribuições para se entender as disputas políticas e sociais no país. Trabalhos como o de Cristiana Schettini têm sido fundamentais para a compreensão de quais fantasias e desejos sexuais ocupavam um lugar essencial na vida noturna do Rio de Janeiro do início do século XX. Leia Mais

Cadernos Pagu. Campinas, n.64, 2022.

Pagu3

 

América Latina no século XIX: cultura, política e sociedade | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2022

Vivemos um tempo em que as inquietações e demandas do presente parecem nos consumir, ou mesmo, nos devorar. Enfrentamos a maior pandemia dos últimos cem anos, aliada a um quadro de crise política em que imperam ameaças antidemocráticas e que está marcado por um crescente processo de destruição ambiental, pelo aumento visível da miséria e das desigualdades, pelos ataques constantes aos debates sobre as questões de gênero e pelo desmonte do investimento público em áreas tão fundamentais como a saúde, a educação, a cultura, a ciência e a tecnologia. Assim, voltar-se para o século XIX latinoamericano seria, então, algo demasiadamente distante e pouco atrativo?

A História, entretanto, nos ajuda a refletir com mais pertinência sobre esse presente por vezes tão complexo e incompreensível. Mesmo não sendo necessariamente a “mestra da vida”, como defendia o célebre orador romano Cícero, a História caminha conosco, de mãos dadas, nos apontando uma série de caminhos perigosos já percorridos por muitos que nos precederam, mas deixando também evidente que é possível ter esperança e seguir alentando alguma utopia. Quem estuda História sabe que ela é prenhe de rupturas, mudanças e transformações, mesmo que estas se deem, como dissera Marx em um de seus textos mais inspirados, não da maneira como querem os indivíduos. Não por acaso, é sempre vista com desconfiança pelos defensores do status quo e, mais que isso, como um perigo para os que acalentam projetos autoritários. Leia Mais

Dancing with the revolution: Power, Politics, and Privilege in Cuba | Elizabeth Schwall

Nos últimos anos, historiadores e historiadoras dedicadas à História de Cuba têm analisado a Revolução, iniciada em 1959, para além de paradigmas predominantemente econômicos e políticos. Essa corrente historiográfica, defensora do estudo da “Revolução a partir de dentro” (BUSTAMANTE; LAMBE, 2019), tem abarcado uma série de temáticas ligadas às políticas culturais, ao papel de marcadores sociais da diferença e do cotidiano para entender a história do país após a ascensão do Movimento 26 de julho ao poder. Entre as obras que se enquadram nesta perspectiva está Dancing with the Revolution: power, policts and privilegie in Cuba, da historiadora Elizabeth B. Schwall.

Lançado em 2021, o livro é um dos novos volumes da coleção Envisioning Cuba (The University of North Carolina Press), sendo resultado da tese de doutorado em História da autora, defendida na Columbia University. Docente da Northern Arizona University, Schwall é especialista nas relações entre arte e revolução e possui, para além de vasta produção, a experiência como dançarina, o que lhe permite um olhar sensível ao tomar como objeto de análise o balé, a dança folclórica e a dança moderna em Cuba ao longo do século XX. A partir de uma perspectiva historiográfica, que transita entre a História Social e a Cultural, a autora analisa de que forma os três estilos de dança foram mobilizados entre os anos 1930 e 1990 por sujeitos, pelo Estado e pela sociedade cubana. Leia Mais

O médico e o monstro: uma leitura do progressismo latino-americano e seus opostos | Fabio Luis Barbosa dos Santos e Daniel Feldmann

O livro do historiador Fabio Santos e do economista Daniel Feldmann, ambos professores da Universidade Federal de São Paulo, trata da América Latina contemporânea, apontando para atores individuais e coletivos e seus projetos de sustentação da lógica de dominação. A obra é uma daquelas publicações necessárias pelas polêmicas que traz, pelo desconforto que provoca, pelo deslocamento do lugar comum das interpretações hegemônicas, daí inclusive a publicação sair por uma editora alternativa que surgiu com a proposta de publicar pensamentos contra-hegemônicos sobre a América Latina. Os autores são provocadores no melhor dos estilos, artístico e interpretativo, desde o título, que tomam emprestado da novela “O médico e o monstro” – escrita pelo escocês Robert Stevenson no final do século XIX – aos traços artísticos que desenham as figuras de capa e contracapa representando a dualidade do “progressismo” no Brasil e na América Latina, no século XXI. A escrita fluente, a forma ensaística da narrativa que sustenta as interpretações (e aqui entende-se ensaio não como algo menor) permitem uma liberdade necessária aos autores para fazer perceber a dualidade, distanciamentos e aproximações entre projetos e políticas de governos que se apresentam como contrapostos. Leia Mais

Percorrendo o vazio: intelectuais e a construção da Argentina no século XIX | José Alves de Freitas Netos

A história é amplamente conhecida. Durante a ditadura de Rosas, na Argentina, um grupo de jovens intelectuais, de formação liberal, mesclados a uma larga audiência, se reúne numa livraria para discutir literatura e filosofia, e acabam falando sobre a política de seu país e fundando um grupo que ficaria conhecido como a Geração de 1837. Esse salão literário não era o primeiro, nem o único a funcionar em Buenos Aires. Ele seria o embrião de outras organizações intelectuais e políticas platinas e seus principais membros conheceriam o exílio, perseguidos pelo governo que criticavam. Do degredo, escreveram manifestos políticos, poesia e prosa que fundaram longa tradição na Argentina. Essa literatura teria como principal tópica a dualidade que deu subtítulo ao livro de Domingo Sarmiento, “civilização ou barbárie”. O cerne desse argumento seria que os federalistas/rosistas/conservadores defenderiam valores bárbaros, de uma Argentina descentralizada, dividida em facções em constante defesa de interesses regionais, particulares e personalistas. Por oposição, os unitários/liberais defenderiam um país coeso, uniforme, cioso de suas particularidades (como o imenso território “selvagem” que era, ao mesmo tempo, benção e maldição), mas ciente de que deveria integrar a marcha universal da História, alinhando-se à “civilização” de matriz europeia, com ideais republicanos de base liberal. Ao retornarem do desterro, quando da queda do ditador em 1852, assumiram cargos públicos e magistraturas. Sarmiento seria presidente da República. Leia Mais

Revista Eletrônica da ANPHLAC. São Paulo, v.22, n.32, 2022.

Dossiê Especial: América Latina-Moçambique

Apresentação

Dossiê

Entrevistas

Publicado: 2022-03-17

Diálogos – Revista Electrónica de Historia. San Jose, v.26, n.3, 2022.

Mitologias e história: entre antigos e modernos

Editorial

Dossiê

Artigos

Publicado: 2023-03-14

Teorias da História

Bem-vindos

Colegas, esta é a página que armazena e distribui o material a ser lido, produzido e avaliado, relativo ao curso de Teoria da História.

O curso é ministrado em dois módulos independentes, onde serão explorados diferentes perspectivas de Teoria da História em sua configuração como campo de pesquisa e disciplina formadora no ensino superior de História, partindo da ementa prescrita pelo Profhistória.


Professores

Andreza Maynard, Itamar Freitas e José Vieira


Ementa

O estatuto epistemológico da história. História, historiografia e historicidade. Tempo histórico e experiência. Usos do contexto. Objetividade e subjetividade em história. O particular e o geral. História, verdade e prova. Retórica e conhecimento histórico. História e memória. História e identidades sociais. A narrativa histórica. O método histórico. O uso dos conceitos pelo historiador. A construção do objeto histórico. A operação historiográfica: lugar social, práticas e texto. Arquivo, compreensão/explicação e representação. Os conceitos antigo e moderno de história. A históriaproblema. Escalas de análise. Teorias e filosofias da história. A disciplinarização da história. A história como ciência social.


Unidade I

Professora: Andreza Maynard

Carga horária: 20h

Expectativas de ensino e aprendizagem:

O objetivo desta unidade é discutir os aspectos básicos da operação historiográfica.

Ao final da unidade, vocês deverão ser capazes de assinalar como se estrutura a metodologia e a narrativa histórica.

Estratégias de ensino e aprendizagem

Neste módulo, daremos primazia às técnicas de investigação historiográfica, discutindo noções de pesquisa como a importância do fato histórico, bem como discutir as questões feitas pelo historiador, visando o desenvolvimento de habilidades de e conhecimentos sobre a construção do texto voltado para o campo do Ensino de História.

Estratégias de avaliação

Os alunos serão avaliados em termos de desenvolvimento das habilidades de criar problemas, constituir uma série documental, analisá-la e construir uma narrativa histórica. Os créditos desta unidade serão facultados aos alunos que obtiverem um desempenho satisfatório em trabalhos do tipo individual.

Atividades e calendário

Encontro 1 – Recepção do curso aos alunos [Participação remota ou presencial no auditório da didática VII] 14/03/2022.

Encontro 2 – Capítulos III e IV do livro Doze lições sobre a história, de Antoine Prost [os fatos e a crítica histórica/as questões do historiador] 21/03/2022.

PROST, Antoine. Doze lições sobre a História. Trad. Guilherme de Freitas Teixeira. B. Horizonte, Autentica, 2008.

Encontro 3 – Capítulos VII e XII do livro Doze lições sobre a história, de Antoine Prost [A história como compreensão/A história se escreve] 28/03/2022.

PROST, Antoine. Doze lições sobre a História. Trad. Guilherme de Freitas Teixeira. B. Horizonte, Autentica, 2008.

Encontro 4 – Capítulo II do livro A Escrita da História, de Michel de Certeau [A operação historiográfica] 04/04/2022.

DE CERTEAU, Michel. A Escrita da História. trad. bras. S. Paulo, Forense Universitaria, 1981.

Encontro 5 – Avaliação [Análise comparativa de dois documentos e construção de um texto a partir das discussões realizadas nas aulas anteriores] 11/04/2022.


Unidade II

Professores: Itamar Freitas e José Vieira

Carga horária: 40h

Expectativas de ensino e aprendizagem:

O objetivo desta unidade conhecer e aplicar conceitos e procedimentos de Teoria da História em projetos de pesquisa e ensino de História.

Ao final da unidade, vocês deverão ser capazes de identificar e criticar elementos de Teoria da História em obras que tratem de Ensino de História.

Estratégias de ensino e aprendizagem

Neste módulo, daremos primazia à leitura de textos de síntese e à crítica de textos analíticos. Ambos, professores e alunos, farão exposições orais.

Estratégias de avaliação

Os alunos serão avaliados em termos de desenvolvimento das habilidades de compreensão e crítica de textos. O instrumento de avaliação é a produção de uma resenha sobre livros de História publicados entre 2020 e 2022. As resenhas, elaboradas em duplas, devem atribuir valor às obras sob ponto de vista dos significados, dos elementos e dos usos reais e/ou potenciais de Teoria da História. As resenhas serão avaliadas colaborativamente (alunos avaliam alunos) e publicadas na revista Crítica Historiográfica. Acesse as regras de produção e de avaliação Link.

Atividades e calendário

Encontro 6 – Leitura e discussão dos significados de Teoria da História veiculados em livros de “Teoria da História”

Textos de síntese sobre Teoria da História para livre consulta, além dos textos nacionais que os alunos têm em mãos.

Encontro 7 – Leitura e discussão dos significados, elementos e usos de Teoria da História veiculados em livros de “Teoria da História”.

Texto de livre escolha dos alunos - Práticas de pesquisa em história. Tania Regina de Luca.

Encontro 8 – Leitura e discussão dos significados, elementos e usos de Teoria da História veiculados em “livros didáticos de História”.

Texto de livre escolha dos alunos - História, Sociedade & Cidadania (A. Boulos) Link - meet.google.com/nzs-tqai-wbk

Encontro 9 – Leitura e discussão dos significados, elementos e usos de Teoria da História veiculados em Dissertação sobre Ensino de História.

Texto de livre escolha dos alunos.

 

Encontros 10, 11 e 12 – Sob condução do professor José Vieira.

Encontros 13, 14 e 15 – Espaço reservado à produção e avaliação das resenhas.

Acesse aqui as orientações para a elaboração da sua resenha

Acesse aqui o formulário para enviar sua resenha.


Referências básicas I

PROST, Antoine. Doze lições sobre a História. Trad. Guilherme de Freitas Teixeira. B. Horizonte, Autentica, 2008. Link 

DE CERTEAU, Michel. A Escrita da História. trad. bras. S. Paulo, Forense Universitária, 1981. Link

FREITAS, Itamar. Conclusões. In: Introdução às teorias da História. Aracaju: Criação, 2021. p.145-158. Link

Referências básicas II

Todas as indicações coletivas em termos de teóricos da história, organizadores de coletâneas, livros didáticos e dissertações.

Fontes Documentais. Aracaju, v.4, n. Ed. Especial, 2021.

Fontes Documentais1

Revista Fontes Documentais – Edição especial I EBBUP

  • Nesta edição especial, trazemos textos completos no formato de artigos das palestras e comunicações apresentadas durante o I ENCONTRO BAIANO DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS PÚBLICAS (I EBBUP), organizado pelo Sistema Universitário de Bibliotecas da Universidade Federal da Bahia (SIBI/UFBA), realizado entre os dias 05 e 07 de outubro de 2020, na UFBA, sendo totalmente on-line, transmitido pelo Canal do SIBI/UFBA no YouTube.  O 1º EBBUP trouxe importantes discussões, a nível estadual, referentes aos saberes, fazeres e inovações desenvolvidos no âmbito das bibliotecas universitárias existentes nas Instituições públicas de Ensino Superior (IES) localizadas no Estado da Bahia. Convidou a todos os presentes para uma reflexão acerca das práxis profissionais dos bibliotecários, técnicos, auxiliares e demais profissionais da informação atuantes nesses espaços, inseridos em um contexto emergente de construção e desconstrução de saberes e práticas constituídas.

Expediente

Editorial

  • ·        Editorial
  • Ivana Aparecida Borges Lins, Jamilli Cristina da Silva Quaresma, Salim Silva Souza
  •  PDF

SESSÃO DE ABERTURA

EIXO 1: Gestão de Bibliotecas Universitárias

EIXO 2: Serviços e Produtos de Informação em Bibliotecas Universitárias

CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO

Publicado: 2022-03-12

Teoria da História | Fênix – Revista de História e Estudos Culturais | 2006

Os Irmaos Grimm
Cena de Os Irmãos Grimm – Filme de Terry Gilliam (2005) | Imagem: Boca do Inferno

Poucos campos da ciência histórica permanecem com fronteiras tão livres e francas quanto a teoria da história. Eu disse teoria da história? Alguns a lêem como historiografia, como debate historiográfico, outros tantos como metodologia. E isto se reflete na prática diária do ofício do historiador, quando, por vezes, a definição do que é teoria fica um tanto capenga. Em certo sentido, é evidente que cada historiador precisa, sem adiamentos ou postergações, pensar no que faz.

Mas não é curioso que algo que deveria ser um imperativo – pensar no que se faz – permaneça sendo algo indefinido, imaturo, precário? Ora, ninguém duvida, dentro da filosofia, da existência de uma área denominada epistemologia, ou de uma outra classificada como estética. Os filósofos, sistemáticos e hierárquicos por natureza de ofício, reconhecem-lhes as obras clássicas, permitindo o ultrapasse destas fronteiras, sabendo que recebem em suas casas uma nobre visita. E pouco mais do que isso. Leia Mais

Revista Escrita da História. [?], v.7, n.14, jul./dez., 2020.

Historiografia crítica em revista: um balanço temático

EDIÇÃO COMPLETA

EDITORIAL

APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ: HISTORIOGRAFIA CRÍTICA EM REVISTA: UM BALANÇO TEMÁTICO

ARTIGOS LIVRES

RESENHAS

PUBLICADO: 12.03.2022

The Crisis of the Meritocracy: Britain’s Transition to Mass Education since the Second World War | Peter Mandler

Peter Mandler
Peter Mandle | Imagem: Historical Association

Britain has never been a meritocracy. Despite the concept’s widely-evoked vision of a ‘fair’ or ‘just’ social order, one where individuals rise or fall according to their ‘talents’ or ‘efforts’, the rise of the meritocracy has continually been scuppered by the perseverance of inherited privilege or democratic pressure. In part, it is meritocracy’s unrealised status that keeps bringing the nation’s political leaders back to the concept, especially in recent decades. Confounded by growing levels of inequality, successive generations of politicians have sought solace in the popular enthusiasm for education as an arbiter of ‘earned’ social status and a marker of individual responsibility, talent and effort. The contemporary moment feels different, however. It is impossible to browse the shelves in a bookshop or visit a news website without stumbling across several volumes or articles decrying meritocracy’s impact on democracy, its role in the populist backlash of Brexit and Trump, or its collusion with the forces of neoliberalism.(1) Beyond the truism that the word ‘meritocracy’ was coined to describe a dystopia and yet has somehow become a positive vision of a ‘classless’ social hierarchy, these accounts all lack a sense of history. Therefore, Peter Mandler’s latest book, The Crisis of the Meritocracy: Britain’s Transition to Mass Education Since The Second World War, could not be more timely. Leia Mais

Four Nations Approaches to Modern ‘British’ History: A (Dis)united Kingdom | Naomi Lloyd-Jones e Margaret M. Scull

Naomi Lloyd Jones
Naomi Lloyd-Jones | Imagem: Royal Historical Society

Four Nations Approaches, as the editors acknowledge from the start, follows in the footsteps of a very solid tradition of edited collections, brought about by the rise of ‘New British History’ in the 1990s and early 2000s. Unlike the majority of that scholarship, however, this volume focuses on the modern rather than the early modern period: the stated aim of this chronology is that it allows the historian to transcend the discussion of ‘state formation’ (p. 5, and see also p. 62). Hugh Kearney’s ‘four nations’ label is adopted here to highlight the fact that ‘the extent to which’ England, Scotland, Ireland, and Wales ‘shared a “British” history is interrogated, rather than assumed’ (p. 6), and the approach remains ‘pluralistic’ rather than ‘wholeistic’ (p. 5). ‘Interactions’, instead of ‘integration’, form the focus of analysis (p. 5).

On the whole, there are two dangers that the volume sets out to avoid: the Anglocentrism which is residual in J. G. A. Pocock’s work, and, almost inevitably, in many political and state-centred histories; and a backstaging of the differences and peculiarities of each nation in an effort to look at how they fit into a British ‘whole’. This backstaging usually leaves behind especially Wales, tacitly subsumed into England, and—as Krishan Kumar has most eloquently noted—England itself, whose supposed essence is often reduced to positional dominance in the Union and in the Empire.(1)  In this historical moment, however, an explicitly dis-homogenising historiographical approach is made most relevant by the post-2016 trajectories not of Wales and England, but of Scotland and Northern Ireland (pp. 15-18). Lloyd-Jones and Scull are very aware of the risks of hindsight-thinking. That of coming to see the United Kingdom as less of a historical reality merely because of its present disgregation was an issue with which historians had to grapple already in the 1990s. (2) Yet in firmly choosing the Four Nations framework, and determinedly bypassing not only Anglocentric paradigms, but the very idea of ‘Britishness’, this book may well be riding an early wave of what will become the politically mainstream understanding of ‘British’ history. Leia Mais

Na transversal do tempo: natureza e cultura à prova da história | Ana Carolina Barbosa Pereira

Na transversal do tempo: natureza e cultura à prova da história encara “o desafio de propor um diálogo entre a teoria da história e a etnologia” (Pereira, 2019, p. 24). Ana Carolina Barbosa Pereira, professora na Universidade Federal da Bahia, aponta de saída que “se a etnologia fala exclusivamente aos(às), etnólogos(as), a teoria da história tampouco apresenta disposição para ouvi-los(as)” (Pereira, 2019, p. 24). E se o diálogo entre esses campos já é inusual, as vozes que a autora convoca para travar a conversação não parecem menos estranhas umas às outras: de um lado, o perspectivismo ameríndio; do outro, o historicismo alemão.

A rigor, o que a obra enseja não é bem uma conversa, mas um jogo (de cartas); ou ainda, como sugere a autora, “uma séria e desafiadora brincadeira” (Pereira, 2019, p. 24). Não há melhor modo de compreender um jogo do que jogando-o; de experimentar a seriedade de uma brincadeira do que brincando-a. Pois bem: valendo!

Como colocar-se na transversal do tempo? Em relação a que tempo uma determinada história se poria na transversal? Ou, ao revés, em relação a que história um tempo determinado estaria na transversal? Como dar conta desses atravessamentos recíprocos? E o que se diz através dessa operação?

Antes de abordar essas questões – e como em qualquer jogo -, é preciso aceitar o conjunto de regras proposto. Elas são poucas, relativamente simples e têm o fito de seguir lance a lance o argumento do livro, que é dividido em três grandes partes. Na primeira, as cartas serão dispostas segundo seus naipes e viradas para cima, de modo a explicitarem quais delas conferem vantagem desleal (porque não relacional) a quem as mobiliza(r). A despeito dessa propriedade distintiva, do ponto de vista formal, não se distinguem das demais. Daí o título do capítulo: “Um jogo de cartas conceituais (não) marcadas”.

Isso feito, na segunda parte acompanhamos a autora “Embaralhando as cartas conceituais”. O propósito aqui é deixar manifesta que vantagem posicional permanente não é contingente, mas arbitrária e, do ponto de vista conceitual, uma impostura. Na língua dos jogos – e no jogo das línguas – dir-se-ia que se trata de mera convenção. Como tal, em tese e sem nenhum prejuízo à natureza da atividade, poderia ser repactuada pelos participantes.

A terceira e última parte é, por assim dizer, um pseudoamistoso: uma tentativa de demonstrar como poderia se dar a dinâmica do jogo – entre as categorias “cultura”, “tempo”, “natureza” e “história” – se a interação entre elas fosse conduzida segundo o design conceitual esboçado a partir de uma redistribuição das cartas conceituais, orientado pelo conjunto de reflexões elaboradas ao longo do livro.

CARTAS CONCEITUAIS (NÃO) MARCADAS: TELEOLOGIA FORMALISTA

A História como discurso acadêmico profissional repousa sobre um consenso disciplinar acerca da obsolescência conceitual de abordagens teórico-metodológicas à moda teleológica das chamadas “velhas filosofias da história”. No lugar delas, a historiografia desenvolveu um campo próprio de reflexões e o batizou com o substantivo mais afeito ao propósito de constituir a História como ciência social dotada de critérios específicos de positividade: teoria.

Nesse sentido, uma das tarefas fundantes da teoria da história é, efetivamente e como argumenta a autora, “esvaziar o conteúdo das filosofias da história” (Pereira, 2019, p. 21). O primeiro giro de pensamento exigido para pôr-se na transversal do tempo é depreender em que medida, apesar de ter seu conteúdo esvaziado na e pela teoria da história, o cerne conceitual das filosofias da história – a saber, seu caráter teleológico – segue formalmente ativo, ou seja, atua na forma da forma.

Repare: não se trata de dizer, como de hábito, que há discrepância ou desconformidade entre conteúdo e forma. Muito menos se trata de delinear aspectos que comprovariam quanto a forma escamoteia o conteúdo que traz a efeito. Ou, pior do que isso, de construir esse escamoteamento como condição sine qua non da própria relação entre forma e conteúdo da história. Não se trata, em suma, de supor que a teoria da história não pareça, não tenha a forma, não se apresente como teleológica, mas, na verdade, o seja. Na transversal do tempo, a teoria da história parece, tem a forma, se apresenta como teleológica… e o é.

Uma empreitada conceitual empenhada em demonstrar que algo não é outra coisa senão precisamente o que parece ser pode ver-se obrigada, ao menos provisoriamente, a conceder que alguma noção deve estar sendo empregada de maneira “controversa”. No caso de Na transversal do tempo, a “controvérsia” se dá com a noção de teleologia. Pereira (2019, p. 21) explica que “por teleologia se entende aqui o descompasso entre o desenvolvimento e a consciência deste mesmo desenvolvimento”.

O exercício desse descompasso é, sem tirar nem pôr, a marca patente do que – o mais tardar desde a célebre formulação de Jürgen Habermas (1988) – veio a ser batizado como “discurso filosófico da modernidade”. O inaugurador deste discurso? Hegel. “Controverso” é, pois, o inverso do adjetivo mais apropriado para insinuar a homologia entre os modos de pensar filosoficamente a modernidade e a inclinação às teleologias à la Hegel, isto é, indelevelmente finalistas, mas, dado seu assentamento no contingente, à prova da acusação de determinismos tacanhos.

Na transversal do tempo traça um dos percursos possíveis para entender essa trama no campo da teoria da história. Aqui, assinala dois pontos de inflexão. O primeiro, em Newton e sua mecânica clássica, responsável pela noção de espaço e tempo absolutos e verdadeiros em si mesmos (Pereira, 2019, p. 30). O segundo, na “revolução copernicana” de Kant, que atribuiu uma dupla natureza a esses pressupostos, de sorte a transmutá-los em “grandezas ontológicas e transcendentais” também do espírito: espaço e tempo transmutados em “formas puras da intuição sensível”, que se constituem como condição de possibilidade do conhecer e, nesse sentido, “conteriam, anteriormente a toda experiência, os princípios de suas relações” (Pereira, 2019, p. 31-32).

O caráter absoluto, contínuo e homogêneo do “tempo em si”, herdado das acepções newtoniana e kantiana, operará por dentro do discurso filosófico da modernidade até ganhar a forma do que Na transversal do tempo (se) apresenta como “continuum temporal.

Aceitando a tese de que o germe filosófico que inaugura a modernidade é o pensar teleológico que deriva do investimento incessante em suprimir o descompasso entre o que já é (ou seria) e o que se é capaz de pensar que ainda é (ou venha a ser), pode-se dizer, acompanhando o argumento de Pereira, que, a partir dessa matriz, tudo quanto viermos a chamar de interpretação histórica “moderna” (a despeito de assumir a forma de teoria da história ou de historiografia) consistirá na diferenciação desse continuum através de um processo que ela denomina “dinâmica da insciência/consciência do tempo” (Pereira, 2019, p. 65).

A teoria da história de extração alemã será o campo de prova desta hipótese. Aqui, pensando com Manuela Carneiro da Cunha, a autora efetua uma “recuperação das cosmologias ocidentais como objeto de estudo antropológico” (Pereira, 2019, p. 208) e empreende uma densa análise cujo fito é delinear afinidades conceituais. Tais afinidades, para usar uma metáfora antropológica afim, funcionam como um verdadeiro deslinde das estruturas elementares de parentesco de dois dos mais importantes expoentes contemporâneos da teoria da história, Reinhart Koselleck e Jörn Rüsen – entre si e com seus conterrâneos e antecessores, a saber, Wilhelm Dilthey e Gustav Droysen -, num primeiro galho genealógico; e, em passado ainda mais recuado, os vínculos de todos com a filosofia de Kant, de Herder e de Hegel.

Visto nessa perspectiva, e parafraseando Lévi-Strauss ([1958] 2008, pp. 32 e 39), o “continuum temporal” faz as vezes da natureza enquanto a “consciência histórica”, tal qual a proibição do incesto, se apresenta como o ponto de passagem (ou mecanismo de articulação) entre natureza e cultura. Ou ainda, na mesma chave, o “continuum temporal”, do qual a etnóloga tentar se aproximar através da consideração de suas expressões mais ou menos conscientes, equivale a uma “condição inconsciente” (da teoria da história).

A partir de uma engenhosa reconstrução do arcabouço analítico de Reinhart Koselleck, cuja formulação mais célebre é a díade espaço de experiência/horizonte de expectativa, “arriscando uma síntese”, Pereira (2019, p. 78) conclui que “o conceito de ‘tempo histórico’ participa da Historik de Koselleck, ora como condição transcendental das histórias, ora como indicador do processo de tomada de consciência do tempo em si mesmo”. Submetendo o pensamento de Jörn Rüsen a escrutínio semelhante, a autora diagnostica, em sua “razão histórica”, outra variante deste movimento que vai da insciência à consciência do tempo.

Em suma, tanto um como o outro “concordam em relação ao essencial”, isto é, mantêm a prerrogativa de um continuum temporal “natural” que, diferenciado pela ação da consciência, faz emergir o tempo propriamente histórico. É esse o arranjo que Na transversal do tempo (se) apresenta correta e peremptoriamente como uma “teleologia formalista” (Pereira, 2019, p. 86): um tempo que faz as vezes de natureza (o continuum temporal), espécie de unidade originária ainda indiferenciada, é submetido à ação reflexiva do pensamento humano e, nesse processo, que pode ser também descrito como “desenvolvimento da consciência do tempo em si mesmo”, se transmuta em algo intencionalmente diferenciado e, nesse sentido, histórico. E é nessa forma que “consciência histórica” e “tempo histórico” passaram a ocupar um lugar irremovível não apenas na teoria, mas na ciência da história.

Por essa razão, como sugere Pedro Caldas (2004, p. 11), ao se considerar que “pensar historicamente é pensar teleologicamente”, não se está “ressuscitando um cadáver” conceitual. Muito pelo contrário. Vista Na transversal do tempo, esse tipo de “teleologia formalista” – constituída pela relação mimética entre tempo natural e tempo histórico ou consciência histórica – oferece régua e compasso para “esclarecer qual a finalidade do saber histórico, ou seja, […] explicitar seu método, seus limites, funções, normas” e, nesse sentido, representa “o esforço para o estabelecimento de uma autonomia do conhecimento histórico” (Caldas, 2004, p. 11).

“Teleologizar” pressuporia, portanto, manter a excepcionalidade relacional de categorias desenvolvidas a partir de uma experiência particular da consciência do tempo que, em sua própria consecução como cânone de um campo de saber, se projetou como imprescindível à “interpretação humana do tempo e consequente construção histórica de sentido” (Pereira, 2019, p. 21).

EMBARALHANDO AS CARTAS: FUTURO SEM DEVIR HISTÓRICO

O embaralhar de cartas tem como objetivo expandir a superfície de contato da contingência e, assim, aumentar o nível de dificuldade de controle de um jogo. Parte fundamental da arte de jogar cartas, aliás, consiste em dominar as formas de embaralhamento e, não menos, torná-las objeto de admiração e fascínio. Quem nunca terá visto algo do tipo nas apologias hollywoodianas dos cassinos e da jogatina? A propósito e não por acaso, a prática é também uma modalidade distintiva no mundo da mágica.

Vão longe as analogias possíveis entre o que a magia faz com os sentidos, sobretudo o da visão, e o que a teoria faz com o sentido das palavras e das coisas. Com isso em mente, consideremos que o embaralhamento conceitual que Na transversal realizará pretende nos fazer compreender que, “alheia e indiferente ao princípio da insciência/consciência do tempo, a consciência histórica ameríndia não é um devir histórico” (Pereira, 2019, p. 156). Para chegar à tese, a autora nos conduz por um longo percurso conceitual. Sintetizo-o em duas manobras.

Primeiro, ela mobiliza o perspectivismo ameríndio para replicar, dentro da teoria da história, a “inversão multinaturalista” que produz um tipo específico de deslocamento da disposição relacional entre natureza e cultura, a saber, “a cultura ou o sujeito seriam aqui a forma do universal; a natureza ou o objeto, a forma do particular” (Viveiros de Castro, [2002] 2017, p. 303). Assim, fica neutralizada de saída aquela “carta marcada” da ontologia da modernidade, isto é, a persistente oposição entre natureza e cultura, e produz-se algum desarranjo na correspondência entre seus correlatos simétricos universal/dado/objetivo/fato versus particular/construído/subjetivo/valor (Viveiros de Castro, 2017, p. 303).

O segundo movimento consiste em produzir um tipo análogo de deslocamento relacional no que diz respeito à noção de indivíduo em sua relação com a sociedade. Aqui, Pereira (2019, p. 98) lança mão da noção do conceito de “personitude fractal”, termo desenvolvido por José Luciani para estabelecer o “fio da relacionalidade, isto é, a constituição relacional de pessoas e contextos” através da descrição do processo pelo qual se dá “tanto o encerramento de pessoas inteiras em partes de pessoas quanto a replicação de relações entre Eus [selves] e Outros [alters] em diferentes escalas (intrapessoal, interpessoal e intergrupal)” nas sociedades indígenas (Luciani, 2001, p. 97).

O primeiro deslocamento, entre natureza e cultura, é fundamental para que se entenda que qualquer ente pode participar da configuração de um campo relacional: um animal, um objeto, um espírito e, claro, pessoas, mesmo as completamente estranhas a um dado grupo. Aqui, a natureza do vínculo não decorre nem depende da identificação com o semelhante (na forma de corpo humano) e sim do estabelecimento de uma relação de afinidade na qual o corpo não é, em primeira linha, compleição material, traço físico, mas, antes, “feixe de afecções” – um conjunto de capacidades e comportamentos típicos de um ser (Viveiros de Castro, 2017, p. 128). Instituída nesses termos, a afinidade assume, portanto, “a função de matriz relacional cósmica” e “constitui-se, virtualmente, como o modo genérico da relação social” ou, usando o conceito de Viveiros de Castro (2017, p. 108) Na transversal, constitui-se como “afinidade potencial”.

Um exemplo de caráter intergrupal pode ser bem elucidativo para entender o modo como a categoria tempo entra – via personitude fractal – nesse arranjo conceitual e fecha o nó do ser e do tempo que nós chamamos de história. Falando dos tupinambás, Viveiros de Castro (1992, p. 291 apud Luciani, 2001, p. 105) analisa o modo como se estabelece um “momento crucial de mútua identificação” entre cativo e captor/matador, de sorte que “o cativo representa o futuro do matador (ser executado pelo inimigo) e o matador representa o passado do cativo (que foi um matador)”.

Em trabalho de campo etnográfico conduzido junto aos Yamináwa, Pereira reconhece traços desses mesmos princípios – afinidade potencial e personitude fractal – na relação entre tempo e pessoa. As estratégias de reprodução de nomes e dos termos entre os Yamináwa, ela explica, na medida em que tendem à replicação entre eus e outros em escala temporal, criam uma estrutura dinâmica e propriamente fractal do tempo (Pereira, 2019, p. 151). A partir dessa conclusão, ela convida: “especulemos por conta própria”.

Se é possível instalar-se no passado e/ou futuro conforme o princípio da reversibilidade, isso se deve, ao que parece, à existência de um fundo virtual de temporalidade não-marcada. A própria dinâmica da fractalidade é indicativa dessa relação de dependência. Aqui, é a simultaneidade (potencial) que impõe a não simultaneidade de “antes” e “depois”. Passado, presente e futuro correspondem justamente àquela dimensão não marcada da história que, por isso, deve ser atualizada (Pereira, 2019, p. 151).

A história assim atualizada é, portanto, ela também potencial, e seu traço fundamental, por conseguinte, é a relacionalidade: “Se o tempo histórico ameríndio é o tempo do parentesco e este é fabricado a partir da afinidade potencial, o mesmo se dá com o tempo como atualização de uma história potencial (Pereira, 2019, p. 153).

E assim, para fechar esta seção retomando o fio do raciocínio, compreende-se o que significa dizer que a “história potencial ameríndia” não pressupõe nenhum vínculo apriorístico “entre passado, presente e futuro que deva ser diferenciado por meio da consciência histórica”; ou seja, que “não é um devir histórico”.

REDISTRIBUIR AS CARTAS: HISTÓRIA MULTIVERSAL DA DIFERENÇA

Tendo, primeiro, deslocado as noções de “tempo histórico” e “consciência histórica” de sua posição não marcada e, em seguida, aguçado nossa compreensão da história rumo a uma relacionalidade radical via perspectivismo ameríndio, Pereira volta aos alemães na terceira (e última) parte do livro, mais precisamente ao projeto de história intercultural – ou humanismo moderno – de Jörn Rüsen.

Para que cheguemos a esse ponto bem equipados, um importante contorno epistemológico é feito: estabelecer a posição relacional da própria história Yamináwa, isto é, da história dos povos indígenas, em um quadro que tem o Acre como pano de fundo, mas que é bastante ampliado. Se usarmos aqui a própria noção de fractal – no que ela serve como recurso visual para imaginar o padrão de repetição de um fenômeno em diferentes escalas -, veremos a história do Acre como uma iteração ampliada da narrativa mestra que estrutura também, a um só tempo, o “paradigma da formação” da nação (no Brasil) e a evolução da modernidade (no Ocidente). Em síntese, produz-se uma epopeia acreana como capítulo particular da marcha universal e inexorável do progresso e da civilização, na qual os povos indígenas ou não figuram ou apenas aparecem para confirmar uma suposta incapacidade inata de oferecer qualquer resistência à ação colonizadora (Pereira, 2019, p. 175).

Isto é feito para que entendamos o excurso político que Na Transversal nos propõe quando traz a ideia de “florestania”. Fusão de “floresta” e “cidadania”, o termo pretendia, historicamente, enfatizar o protagonismo dos povos indígenas e, politicamente, sintetizar um caminho para a superação do antropocentrismo, preconizando um regime de igualdade de direitos entre todos os elementos da natureza, inclusive, naturalmente, os seres humanos. No fim, degenerou em “mero slogan”, de todo desvinculado da ambição originária, calcada numa mudança radical de paradigma (Pereira, 2019, p. 182).

Nessa altura, somos reconduzidos ao que Jörn Rüsen preconiza ao falar de um conceito de história intercultural que “deve vencer o próprio etnocentrismo e contribuir para uma nova cultura do reconhecimento mútuo das diferenças” (Pereira, 2019, p. 185).

Como Na Transversal apresenta essa aspiração em seus pressupostos, entendemos também em que medida a “cultura do reconhecimento mútuo das diferenças”, como critério normativo de validade universal na teoria da história de Rüsen, acaba desempenhando um papel análogo ao da “florestania” como princípio orientador da política, ou seja, o de “mero slogan”. Ambas, cada qual em sua seara, não apenas não operam o giro paradigmático que anunciam, mas, ao revés, atuam como vetor da primazia do moderno.

À luz do que essa modernidade tem sido até aqui para os povos indígenas, a saber, um processo contínuo de reprodução do genocídio como cerne da dinâmica de interação, Pereira (2019, p. 203) conclui que o argumento da “razão inclusiva” subjacente ao humanismo moderno de Rüsen “soa no mínimo ofensivo”. Mas, se não a nobre e bem-intencionada “inclusão”, então o quê? Hora de, finalmente, redistribuir as cartas conceituais.

As narrativas de contato dos Yamináwa – a exemplo da de outros povos indígenas, como os Arara e Manchineri – são dispostas de maneira tal que, embora os brancos sejam acomodados em lugares pré-marcados, isso não impede o surgimento de reordenações cosmológicas que derivam de uma “constante reelaboração do contingente como experiência inédita de algo conhecido de antemão”. Orientada pela “afinidade potencial”, a incorporação do outro se dá, via de regra, “em sua e pela sua diferença”. A história que assim se conta, portanto, “não é uma narrativa post festum, ela é o fundo virtual que prefigura toda a experiência, um veículo para a realização e simbolização de relações efetivas” (Pereira, 2019, pp. 143-144).

Em termos mais abstratos, dir-se-ia que o princípio de reconhecimento mútuo da diferença do qual Rüsen lança mão opera com base em uma lógica de diferenciação ancorada nas categorias tipológicas da semelhança, da oposição, da analogia e da identidade. Daí seus critérios de inclusão acabarem desandando sempre no taxonômico e classificatório, em um movimento que não cessa de repor as regulações hierárquicas que tenciona deslocar (Pereira, 2019, p. 203).

As matrizes de pensamento ameríndias, por sua vez, operam através de uma “síntese disjuntiva” cujo princípio de diferenciação é precisamente o não taxonômico e não substancial. Sua dinâmica relacional de individuação conduz, por isso, à constante “atualização do virtual”. Para retomar a metáfora geométrica, em vez de uma “ontologia plana”, corolária de uma lógica inclusiva da diferença, na qual existir pressupõe a identidade como causa ou como finalidade, poderíamos arriscar uma “‘ontologia fractal’ em que existir significa diferir: diferença intensiva, diferença das diferenças”. Assim, trocando em miúdos historiográficos, em vez de uma “história universal da identidade” construiríamos uma “história multiversal da diferença” (Pereira, 2019, pp. 204 e 207).

AFINIDADE (TEÓRICA) POTENCIAL

“Conhecemos a história de um autômato construído de tal modo que podia responder a cada lance de um jogador de xadrez com um contralance, que lhe assegurava a vitória.” (Benjamin, 1996, p. 222). É assim, imaginando um jogo, que Walter Benjamin principia seu célebre “Sobre o conceito de história”.

O alvo declarado da crítica de Benjamin é um historicismo composto por dois traços fundantes: 1) a aspiração de representar o passado como “ele de fato foi” e que, como tal, 2) “culmina legitimamente na história universal” (Benjamin, 1996, pp. 224 e 231). No limite, Benjamin (1996, p. 231) provoca, o historicismo possibilita o paradoxo de apresentar uma “imagem ‘eterna’ do passado”, o que só é possível porque ele “faz da história objeto de uma construção cujo lugar é um tempo homogêneo e vazio” que se manifesta como “o continuum da história” (Benjamin, 1996, p. 229).

O materialismo histórico benjaminiano desejava explodir esse continuum (Benjamin, 1996, p. 230). Se seguirmos Na transversal do tempo, podemos fazer algo afim. Há (parece) uma afinidade potencial entre o jogo do tempo e da história de Ana Carolina B. Pereira e de Walter Benjamin.

Não obstante, é a diferença que os vincula: o tempo de Benjamin é monológico, intrassubjetivo e messiânico; está impregnado de um salvacionismo cuja virtuosidade parece imanente e, mormente, dado a “revolucionário”. O de Pereira é dialógico, intersubjetivo e contingente; de saída, desconfiado da própria virtude e avesso às epifanias da salvação.

Entre Pereira e Benjamim, a metáfora do jogo interpõe um elo dissonante. Na imagem que Benjamin (2020, p. 66) constrói há um elemento fundamental: “através de um sistema de espelhos criava-se a ilusão de que a mesa era transparente por todos os lados” e, assim, ocultava o espírito que animava o jogo (o anão corcunda da teologia). O truque, portanto, não consiste unicamente em ser guiado pela mente do mestre (de xadrez), mas garantir que – por intermédio da transparência – sua onipresente efetividade na condução dos eventos transcorra na forma da ausência e iluda quem entrar na contenda. Pereira, por sua vez, não quer parecer transparente, não aposta no logro do outro; seu jogo não demanda repor a consciência alheia a partir de uma posição declaradamente misteriosa.

O caso é que, e eis o nó, ao acenar com o estratagema da consciência escondida como guia – a transparência como opacidade -, Benjamin parece adotar prumo mais afeito à assimetria de poder, pois pretende equipar melhor quem joga em franca desvantagem. No que concerne à Pereira, ao revés, quem joga limitado por injustiças dadas de saída segue algo exposto, precisando contar, antes, com a abertura (ou transparência) de um outro que agora – não mais a despeito, mas dada a sua opacidade finalmente declarada – encerraria uma virtuosidade intrínseca e, mormente, capaz de engendrar uma dinâmica de supressão gradual de assimetrias que poderia ser tomada como o início de um tímido processo de reparação.

Que jogo teríamos se o corcunda de Benjamin aprendesse a jogar com as cartas ora embaralhadas e redistribuídas por Ana Carolina B. Pereira?

Referências

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Obras Escolhidas. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996. pp. 222-243.

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história: edição crítica. São Paulo: Alameda, 2020.

CALDAS, Pedro Spinola Pereira. Que significa pensar historicamente: uma interpretação da teoria da história de Johann Gustav Droysen. Tese (Doutorado em História) – Departamento de História, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2004. 215 f.

HABERMAS, Jürgen. Der Philosophische Diskurse der Moderne. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1988.

LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. São Paulo: Cosac Naify, 2008 [1958].

LUCIANI, José Antônio Kelly. Fractalidade e troca de perspectivas. Mana, v. 7, n. 2, pp. 95-132, 2001.

PEREIRA, Ana Carolina Barbosa. Na transversal do tempo: natureza e cultura à prova da história. Salvador: EDUFBA, 2019.

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A inconstância da alma selvagem. São Paulo: Ubu Editora, 2017 [2002].

VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. From the Enemy’s Point of View: Humanity and Divinity in an Amazonian Society. Chicago: Chicago University Press, 1992.


Resenhista

Fernando Baldraia – Freie Universität Berlin, Berlim, Alemanha. E-mail: fbaldraia@gmail.com  https://orcid.org/0000-0002-0140-757X


Referências desta Resenha

PEREIRA, Ana Carolina Barbosa. Na transversal do tempo: natureza e cultura à prova da história. Salvador: EDUFBA, 2019. Resenha de: BALDRAIA, Fernando. O jogo da afinidade.  Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 42, n. 89, 2022. Acessar publicação original [DR]

Mestiça cientificidade: três leitores franceses de Gilberto Freyre e a sua máxima consagração no exterior | Giselle Martins Venancio e André Furtado

A Editora da Universidade Federal Fluminense acaba de lançar Mestiça cientificidade: três leitores franceses de Gilberto Freyre e a sua máxima consagração no exterior (2020). O livro de Giselle Martins Venancio e André Furtado é uma importante contribuição para interpretar a recepção da obra de Gilberto Freyre no exterior, em especial na França do pós-guerra. Compreender as condições de leitura de autores canônicos como Fernand Braudel, Roger Bastide e Lucien Febvre – os leitores franceses estudados no livro – não é trivial, pois a consagração de Casa-grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre (1900-1987), não dependeu apenas do próprio texto, nem da argumentação e da pesquisa contidas nele, mas de uma série de questões que povoam o mundo dos leitores.

Mestiça cientificidade aprofunda o entendimento acerca da recepção francesa de Casa-grande nas décadas de 1940 e 1950. Funciona também como iniciação à obra de Gilberto Freyre para estudantes, jovens pesquisadores e interessados em um dos autores brasileiros mais importantes do século XX, o de maior repercussão internacional, objeto ainda hoje de acalorado debate público. Sem perder a potência da pesquisa e dos debates acadêmicos contemporâneos, o livro em questão não deixa de praticar história pública. Leia Mais

Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos: “os brancos eram uns pelos outros, por isso os negros também deviam fazer o mesmo” | Wagner de Azevedo Pedroso

Nas Américas, em particular, a escravidão na grande lavoura foi ao mesmo tempo um sistema de trabalho, um modo de dominação racial e a base para o surgimento de uma classe dominante bem caracterizada (Foner, 1988, p. 17).

A assertiva de Eric Foner presente na introdução da ainda pertinente obra Nada além da liberdade parece ser das mais adequadas para iniciarmos a presente discussão acerca do livro Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos. Wagner de Azevedo Pedroso está inscrito em um grupo maior de pesquisadores e pesquisadoras que há pelo menos vinte anos vem produzindo, nos diferentes espaços de pesquisa do Rio Grande do Sul, um substancial trabalho acerca da região à época do escravismo e logo após o seu término. A reflexão proposta por Pedroso está inserida no contexto de produção de obras como, por exemplo, a de Thiago Leitão de Araújo, Escravidão, fronteira e liberdade: políticas de domínio, trabalho e luta em um contexto produtivo agropecuário (Vila da Cruz Alta, Província do Rio Grande de São Pedro, 1834-1884) (2008), a de Vinicius Pereira de Oliveira, A presença negra no porto de Rio Grande (2009), a de Gabriel Santos Berute, Dos escravos que partem para os portos do sul: características do tráfico negreiro do Rio Grande de São Pedro do Sul, c. 1790-c.1825 (2006), a de Melina Kleinert Perussatto, Arautos da liberdade: educação, trabalho e cidadania no pós-abolição a partir do jornal O Exemplo de Porto Alegre (c.1892-c.1911) (2013), a de Rodrigo de Azevedo Weimer, Os nomes da liberdade: experiências de autonomia e práticas de nomeação em um município da serra rio-grandense nas duas últimas décadas do século XIX (2007) e a de Fernanda Oliveira Silva, Os negros, a constituição de espaços para os seus e o entrelaçamento desses espaços: associações e identidades negras em Pelotas (1820-1943) (2011). Trabalhos estes, em grande medida, aglutinados em torno do GT Emancipações e Pós-Abolição da Associação Nacional de História (GTEP/ANPUH), do GT Emancipação e Pós-Abolição da ANPUH-RS e dos encontros “Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional”, vinculado ao Grupo de Pesquisa do CNPq, e “A experiência dos africanos e seus descendentes no Brasil”.

A perspectiva que aproxima estes diferentes trabalhos e vários outros produzidos neste ambiente, segundo se entende aqui, é a compreensão da agência das pessoas escravizadas, considerando-se as formas ativas como elas atuavam sobre seus destinos em um contexto muito pouco favorável. Um último e pertinente exemplo deste cenário intelectual é a obra Pessoas comuns, Histórias incríveis (2017), texto coletivo produzido por Fernanda Oliveira da Silva, Jardélia Rodrigues de Sá, Luciano Costa Gomes, Marcus Vinicius de Freitas Rosa, Melina Kleinert Perussato, Sarah Calvi Amaral Silva e Sherol dos Santos, voltado ao grande público, notadamente o escolar, que traz a lume outra história do Rio Grande do Sul a partir da perspectiva de pessoas negras, evidenciando a já mencionada busca pela compreensão da atuação, em um cenário quase sempre adverso, tanto das pessoas escravizadas quando da população negra após o término do escravismo.

O trabalho de Pedroso dialoga com a obra de Hebe Mattos Das cores do silêncio (1998) e com as produções de Paulo Roberto Staudt Moreira Sobre fronteira e liberdade (1998), Os cativos e os homens de bem (2003), Entre o deboche e a rapina (2009). As obras de Helen Osório, Fronteira, escravidão e pecuária (2005), e de Regina Célia Lima Xavier, A conquista da liberdade (1996) e Religiosidade e escravidão, século XIX (2008), também são mobilizadas com destaque pelo autor. Um dos pontos centrais de sua discussão é a problematização da agência das pessoas escravizadas. O seu esforço de compreender como as pessoas escravizadas “jogavam” um “jogo” cujas regras lhes eram consideravelmente desfavoráveis se estabelece a partir de um uso profícuo, sobretudo, das considerações de Eduardo Silva e João José Reis expressas em Negociação e conflito (1989), como se verá adiante.

Pedroso traz a lume, em Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos, discussões resultantes de sua dissertação de mestrado, defendida em 2013 no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob o título de Escravos, senhores, posses, partilhas e um plano insurrecional da Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos, RS (1863).

Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos conta com um prefácio assinado por Regina Célia Lima Xavier. Das considerações de Xavier destaca-se aqui a sua observação acerca de como a pesquisa de Pedroso traz algo relativamente inovador nas pesquisas sobre as insurreições do período: a predominância de pessoas escravizadas nascidas no Brasil envolvidas com uma revolta ou tentativa de revolta. A revolta e/ou a tentativa de revolta de pessoas escravizadas na primeira metade do século XIX, com a predominância de pessoas nascidas no Brasil, é um elemento de certa novidade, pois as investigações sobre o período revelam alta taxa de africanidade nas insurreições então ocorridas. O livro está organizado em três capítulos. O primeiro, denominado “Entre conversas e caminhadas: os escravizados e a Aldeia dos Anjos”, é dedicado a investigar a divulgação do plano de insurgência, denotando a articulação e a mobilidade da comunidade de pessoas escravizadas no contexto da Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos, uma localidade que produzia para o mercado interno, detentora de escravarias relativamente pequenas (em comparação, por exemplo, com a produção cafeeira do Sudeste), empregadas em um rol bastante vasto de atividades.

Já o segundo capítulo, “Entre senhores e escravizados: os senhores moços e a força do sistema escravista”, concentra-se nos objetivos da rebelião. Neste capítulo, o rico entrecruzamento de fontes permite visualizar as alterações na forma de dominação e a entrada dos padrões de controle dos senhores moços. As páginas do segundo capítulo trazem a possibilidade de melhor compreendermos a imbricada teia de relações sociais da camada senhorial da região, bem como de percebermos como essas relações, apesar, evidentemente, das particularidades regionais, estavam articuladas à realidade maior do Império. Assim, as alterações na dinâmica imperial a partir, sobretudo, da década de 1850, tiveram implicações sobre a camada senhorial, e as modificações na camada senhorial trouxeram mudanças para a vida das pessoas escravizadas. O terceiro capítulo, “Entre a escravidão e a liberdade: da delação ao retorno ao cotidiano”, tem como foco acompanhar o destino das pessoas envolvidas com a elaboração da tentativa de revolta após o seu malogro. Da repressão senhorial ao retorno às rotinas de um determinado cotidiano, o capítulo revela o tênue equilíbrio construído sobre a base da negociação e do conflito.

Pedroso menciona, no início da sua obra, o quanto o livro de Carlo Ginzburg O queijo e os vermes (1987) foi importante para motivá-lo a ir ao arquivo pesquisar e encontrar o seu Menocchio. Em suas buscas no Arquivo Público do Rio Grande do Sul, o autor não encontrou um Menocchio, todavia, ele encontrou o processo-crime de uma tentativa de insurreição de pessoas escravizadas na Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos, a qual se localizava entre os atuais territórios dos municípios de Viamão e Gravataí. Charles Sidarta Machado Domingos, na contracapa, localiza tal freguesia no atual território de Gravataí. De fato, até onde se sabe, houve alterações no limite territorial da Aldeia dos Anjos ao longo do tempo, de modo a ser viável pensar que ambas as informações sobre a localização da freguesia são plausíveis.

Se Pedroso teve sua inspiração inicial em Ginzburg, aqui ela vem de Foner, uma vez que, ao se ler Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos, é possível localizarmos muito mais que uma tentativa “de uma revolta” da mão de obra escravizada. Encontra-se no texto um relato fundamental sobre as transições econômicas e sociais do Brasil imperial na década de 1860. Destaca-se a alteração na forma de dominação escravocrata dos denominados “senhores moços” em relação aos antigos senhores. Os primeiros, devido às alterações no fluxo de pessoas escravizadas -oferta de mão de obra que diminui -, passaram a ter que extrair muito mais de suas escravarias, em comparação com os senhores antigos. Desta forma, “direitos costumeiros” das pessoas escravizadas passam a ser revogados. Em regiões como a da Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos, essas mudanças sócio-econômicas resultam em uma grande quantidade de pessoas escravizadas em uma área espacial relativamente reduzida.

Esta grande concentração de pessoas escravizadas resultou, segundo a análise de Pedroso, em um contingente de pessoas aparentadas. Somando-se a isso a mobilidade desses indivíduos, característica importante das escravarias da região – aspecto também destacado pelo autor -, tem-se uma comunidade muito bem articulada. A constatação concernente à articulação das pessoas escravizadas já não causa espanto na comunidade de pesquisadoras e pesquisadores desde muito tempo. Todavia, fora dela isso ainda é algo “novo”. O fato de a comunidade ser bastante aparentada revela também traços de uma reprodução endógena; ou seja, toda essa gente é, em sua maioria, nascida no Brasil.

Pedroso indica com perspicácia em seu texto que, se há uma articulação forte entre as pessoas escravizadas, o mesmo se dá nas camadas senhoriais. Os senhores moços sabem que, devido ao fim do tráfico internacional, a oferta de mão de obra escravizada diminuíra, reduzindo-se ao mercado interno; e neste, os proprietários e as proprietárias de pessoas escravizadas do Rio Grande do Sul não tinham recursos para competir com as demandas do Sudeste. Assim, restava à camada senhorial rio-grandense, de modo geral, manter as suas escravarias e, se possível, fazê-las se reproduzirem endogenamente. Estas situações levam os senhores moços a praticarem outras formas de dominação em comparação, por exemplo, com seus pais.

Esta “nova” dominação, ou esse outro tipo de dominação, cria tensões enormes no equilíbrio tênue da sociedade escravocrata brasileira e rio-grandense. Neste ponto da argumentação proposta por Pedroso fica nítida a utilização profícua e aguçada das sugestões e considerações de Eduardo Silva e João José Reis, presentes no clássico moderno Negociação e conflito. Existe uma máxima segundo a qual só possível burlarem-se as regras quando se tem domínio das mesmas. É difícil passar pelas páginas de Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos sem que essa máxima emerja. Tomada em conjunto com as considerações de Silva e Reis, esta máxima convida-nos a pensar que a comunidade de pessoas escravizadas possuía o domínio das regras de negociação e conflito dentro do padrão de dominação dos senhores velhos. Tais pessoas, mesmo em condições de jogo muito desiguais, sabiam como jogar, como se posicionar. Entretanto, a transição para um novo tipo de dominação traz novas regras, retira destas pessoas o “domínio” que possuíam dos mecanismos que regiam suas existências. Uma resposta a isso seria a revolta.

Se o ambiente é de negociação e conflito, a revolta das pessoas escravizadas, ao contrário de uma primeira impressão, podia visar não a conquista a liberdade, mas sim a manutenção de determinado padrão nas relações de dominação. Não parece ser exagero, muito menos descabido, lembrarmos que, para se fugir – sobretudo no período escravocrata -, era preciso saber para onde, caso contrário, fugir não seria uma alternativa. Os insurgentes da Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos não tinham na fuga uma ideia mote: a ideia mote parecia ser mesmo a de alcançar a liberdade. Mas, a liberdade onde? Na própria região? Como o plano de insurgência malogrou, a fuga surgiu como uma opção para os revoltosos. No entanto, fuga para onde? Para a fronteira. A fronteira representava um ideário relevante de liberdade neste contexto, pois, à época, tanto as Províncias Unidas (atual Argentina) quanto a Banda Oriental (atual Uruguai) tinham abolido a escravidão. Contudo, essa fuga era de fato impossível, pois se tratava de viajar cerca de 500 quilômetros no mundo escravocrata na condição de escravo fugido. Desta forma, outra maneira de os insurgentes reagirem ao malogro da revolta foi a tentativa de recorrerem ao apadrinhamento.

Pedroso, ao discutir o apadrinhamento como uma alternativa, traz muitos elementos de como se efetivava a sociabilidade neste ambiente. Visando a diminuição das punições pela tentativa de insurgência, buscava-se o apadrinhamento; recorria-se a um senhor ou a uma senhora para que esta pessoa da camada senhorial interviesse em favor da pessoa escravizada. As perguntas imediatas ao nos depararmos com tal situação são: porque um senhor ou uma senhora fariam isso? E por que uma pessoa escravizada procuraria a ajuda das pessoas que seriam os alvos da sua revolta?

O equilíbrio tênue de regiões como a Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos permite pensarmos que as pessoas escravizadas possuíam bastante nitidez de seu valor e importância para o funcionamento da região. Com escravarias compostas em média por quatro a cinco pessoas, como Pedroso indica no que diz respeito à região em questão, pode-se pensar que as duas pontas chegavam, por caminhos diferentes, a conclusões semelhantes: executar, aprisionar ou inutilizar para o trabalho uma pessoa escravizada era um prejuízo insuperável. É válido focarmos em outra informação muito relevante trazida por Pedroso: ao analisar os inventários post-mortem, ele percebe que, para muitos senhores e senhoras da região, seu “bem” de maior valor eram as pessoas escravizadas. Se a hipótese aqui esposada estiver minimamente correta, as regras do jogo eram conhecidas por todas as pessoas. Desta forma, buscar apadrinhamento era uma opção das mais válidas. Como as regras deste jogo de tênue equilíbrio eram de conhecimento comum, torna-se válido mencionarmos que era de conhecimento das pessoas escravizadas que, após uma tentativa de insurreição, viriam punições. Assim, estava em jogo não a ausência de punição, mas sim o seu tipo. Pedroso enfatiza que a punição pela tentativa de insurreição recaiu sobre toda a comunidade de pessoas escravizadas, muito provavelmente até sobre quem delatou os planos de revolta.

O resultado da tentativa de insurreição é conhecido desde o começo do texto: as lideranças foram presas e julgadas, com exceção daquelas que morreram no confronto com as “autoridades”; caso de Nazário, tomado como o grande elaborador e articulador da ação, como se pode verificar no processo-crime contra os insurretos. No que concerne ao processo-crime, podemos destacar outro aspecto essencial da obra Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos: o cruzamento de diferentes tipos de fontes – além dos processos-crimes, inventários, listas nominais de nascimento, casamento, batismo, morte. Manuscritos que não foram de forma alguma produzidos para a historiadora, para o historiador. A pessoa que se encanta com o ofício de historiar tem que conversar com essa documentação – uma conversa crítica, dura, rígida.

A elaboração de Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos, além de contar com um trabalho bastante relevante de cruzamento de fontes, também apresenta um uso muito criativo da bibliografia recente produzida sobre o tema. O diálogo do autor com a produção recente indica o quão profícuo vem sendo o já citado grupo de pesquisadores e pesquisadoras que, como também já mencionado, vem, há pelo menos vinte anos, produzindo trabalhos fundamentais para um melhor entendimento do Brasil sob o regime escravista, bem como sobre a forma como o país se organizou nos primeiros momentos pós-escravismo. No que diz respeito à colaboração desta obra para um melhor entendimento do Brasil escravista, é importante mencionarmos que ainda é comum, de modo mais amplo, as pessoas associarem a escravidão à grande lavoura, à monocultura voltada à exportação; de certo modo, uma leitura menos atenta da epígrafe selecionada para este texto poderia, inclusive, colaborar para essa impressão. Contudo, a obra Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos demonstra justamente a importância das pessoas escravizadas na dinâmica de um mercado interno, na produção de itens voltados ao consumo na própria região – atividade esta que produzia certa riqueza, evidentemente não a mesma riqueza dos cafeicultores do Sudeste, mas que não era, de forma alguma, irrelevante. Assim, o texto de Pedroso está alinhado à produção historiográfica disposta a rever algumas “verdades” intocáveis sobre os padrões de riqueza no Brasil imperial, bem como sobre as dinâmicas do mercado interno.

Este texto se encerra com argumentos acerca da edição de Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos. Almejando, segundo compreendemos, atingir um público tanto de especialistas quanto de não especialistas, a obra conta com uma diagramação bastante oportuna, trazendo, em suas páginas, caixas explicativas de determinados termos, conceitos e eventos, bem como referenciando autoras e autores estudiosos do tema. Uma opção das mais felizes. Outra opção acertada foi a mencionada logo no início desta argumentação: de narrar fluidamente como funciona o ofício de historiar. A casa editorial que abriga a obra tem por nome Editora Coragem, fundada no ano 2020. Não poderia haver nome mais pertinente. Muito possivelmente foi a coragem, em várias de suas vertentes, que manteve todas as pessoas escravizadas na Freguesia de Nossa Senhora da Aldeia dos Anjos – como em todos os quase 400 anos de escravidão no Brasil – firmes e perseverantes, mesmo vivendo em um tênue equilíbrio.

Referências

ARAÚJO, Thiago Leitão de. Escravidão, fronteira e liberdade: políticas de domínio, trabalho e luta em um contexto produtivo agropecuário (Vila da Cruz Alta, Província do Rio Grande de São Pedro, 1834-1884). Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008.

BERUTE, Gabriel Santos. Dos escravos que partem para os portos do sul: características do tráfico negreiro do Rio Grande de São Pedro do Sul, c. 1790-c. 1825. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2006.

FONER, Eric. Nada além da liberdade: a emancipação e seu legado. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Brasília: CNPq, 1988. 186 p.

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela Inquisição. Tradução de Maria Betânia Amoroso. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. 274 p.

MATTOS, Hebe Maria. Das cores do silêncio: os significados da liberdade no sudeste escravista, Brasil século XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998.

MOREIRA, Paulo Roberto Staudt. Sobre fronteira e liberdade – representações e práticas dos escravos gaúchos na Guerra do Paraguai (1864-1870). Anos 90, Porto Alegre, v. 6, n. 9, pp. 119-149, jul. 1998.

MOREIRA, Paulo Roberto Staudt. Os cativos e os homens de bem: experiências negras no espaço urbano. Porto Alegre 1858-1888. Porto Alegre: EST Edições, 2003.

MOREIRA, Paulo Roberto Staudt. Entre o deboche e a rapina: os cenários sociais da criminalidade popular em Porto Alegre. Porto Alegre: Armazém Digital, 2009.

OLIVEIRA, Vinicius Pereira de. A presença negra no porto de Rio Grande. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2009.

OSÓRIO, Helen. Fronteira, escravidão e pecuária: Rio Grande do Sul no período colonial. JORNADAS DE HISTÓRIA REGIONAL COMPARADA, II. In: TARGA, Luiz Roberto; HERRLEIN JÚNIOR, Ronaldo; MERTZ, Marli Marlene (Orgs.). Anais: II Jornadas de História Regional Comparada; I Jornadas de Economia Regional Comparada. Porto Alegre: PUC-RS, 2005. pp. 1-16.

PEDROSO, Wagner de Azevedo. Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos: “os brancos eram uns pelos outros, por isso os negros também deviam fazer o mesmo”. Porto Alegre: Coragem, 2020. 168 p.

PERUSSATTO, Melina Kleinert. Arautos da liberdade: educação, trabalho e cidadania no pós-abolição a partir do jornal O Exemplo de Porto Alegre (c.1892-c.1911) Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2013.

REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras , 1989. 154 p.

SILVA, Fernanda Oliveira da et al. Pessoas comuns, histórias incríveis: a construção da liberdade na sociedade sul-rio-grandense. Porto Alegre: Ed. UFRGS; EST Edições, 2017. 112p.

SILVA, Fernanda Oliveira da. Os negros, a constituição de espaços para os seus e o entrelaçamento desses espaços: associações e identidades negras em Pelotas (1820-1943). Dissertação (Mestrado em História) – Faculdade De Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2011.

XAVIER, Regina Célia Lima. A conquista da liberdade: libertos em Campinas na segunda metade do século XIX. Campinas: Centro de Memória da Unicamp, 1996.

XAVIER, Regina Célia Lima. Religiosidade e escravidão, século XIX: mestre Tito. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008.

WEIMER, Rodrigo de Azevedo. Os nomes da liberdade: experiências de autonomia e práticas de nomeação em um município da serra rio-grandense nas duas últimas décadas do século XIX. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós Graduação em História, Universidade do Vale do Rio dos Sinos. São Leopoldo, 2007.


Resenhista

Hilton Costa – Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: hcosta@uem.br


Referências desta Resenha

PEDROSO, Wagner de Azevedo. Nazário e um plano de rebelião escrava na Aldeia dos Anjos: “os brancos eram uns pelos outros, por isso os negros também deviam fazer o mesmo”. Porto Alegre: Coragem, 2020. Resenha de: COSTA, Hilton. Tênue equilíbrio: a vida de pessoas escravizadas no Brasil oitocentista. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 42, n. 89, 2022. Acessar publicação original [DR]

Brasil em projetos: história dos sucessos políticos e planos de melhoramentos do reino. Da Ilustração portuguesa à Independência do Brasil | Jurandir Malerba

Toda administração e todo governo de negócios e de Estados carece de projetos. De planos elaborados com vistas a atingir determinados objetivos; definindo problemas, metas, estratégias e ações com níveis desejados de controle, autonomia e negociação capazes de garantir sua condução com êxito. Além de conhecê-los, é fundamental saber dos homens que os propõem e os executam. Em Brasil em projetos, Jurandir Malerba, professor titular de Teoria e Metodologia da História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, procura inventariar os projetos para o Brasil desde a Ilustração até a Independência, realizando uma síntese minuciosa que não trata apenas daqueles projetos, mas também da própria historiografia em torno deles, com uma escrita clara e acessível para os públicos leigo e universitário.

Em um momento histórico dramático, marcado por uma pandemia global, há uma pergunta que é constantemente feita na imprensa e nos círculos intelectuais brasileiros: o governo Bolsonaro tem um projeto para o Brasil? Não poucos analistas apontam a existência de um plano autoritário em curso, de esgarçamento social, de favorecimento a políticas armamentistas, de privatização de ativos e empresas estatais, de retirada de direitos sociais e trabalhistas em consonância com uma agenda neoliberal que valoriza a exportação de commodities e o capital financeiro. E uma palavra que surge em muitos diagnósticos é retrocesso. Seria este o projeto de Bolsonaro, um governo à serviço do atraso e do conservadorismo? Para responder a estas perguntas, conhecer projetos políticos do passado pode ser um bom caminho. Leia Mais

Revista Brasileira de História. São Paulo, v.42, n.89, 2022.

 

 

Meninos de zinco | Svetlana Aleksiévitch

Svetlana Aleksievitch
Svetlana Aleksiévitch | Imagem: Estadão

Svetlana Aleksiévitch é jornalista e escritora bielorrussa, nascida em 1948, quarta geração de uma família de professores rurais e vencedora do prêmio Nobel de literatura em 2015. Seus livros formam o projeto literário intitulado “As vozes da utopia”, um retrato desde o pós-guerra (Segunda Guerra Mundial) até a dissolução da União Soviética.

Em entrevista concedida durante a Festa Literária Internacional de Paraty, em 2016, Aleksiévitch contou sobre o processo de criação dos seus livros. Os relatos são gravados pois, segundo ela, não seria possível expressar os sentimentos de uma pessoa no papel, “cada ser humano tem que gritar a sua verdade”. Para que essa verdade venha à tona, a autora diz que não realiza entrevistas, mas conversas com entonação de amizade sobre a vida. Leia Mais

Alteridades em tempos de (in)certeza: escutas sensíveis | Miriam hermeto, Gabriel Amato e Carolina Dellamore

Gabriel Amato e Miriam Hermeto
Gabriel Amato e Miriam Hermeto | Imagem: UFMG

Sentados diante de um Outro, tentamos atribuir sentido a ele. Ou enquadrá-lo, nas palavras de Judith Butler (2018). No instante dessa “cena do reconhecimento”, as molduras que usamos vêm de relações de poder que extrapolam esse momento. Ao reconhecê-lo como outro, reconhecemos também a nós mesmos. Há semelhanças, mas também há diferenças.

Já nos vimos antes ou esse é o primeiro contato? É uma mulher, assim como eu? Ou talvez é um homem e ainda mais velho? Há confiança suficiente entre nós para que o que ela está para me dizer seja enunciado? Tais características constituem uma barreira ou um conector entre nós? Os pesquisadores que já estiveram em entrevistas de história oral sabem que as respostas a cada uma dessas perguntas – e a inúmeras outras – podem levar, a nós e a nossas pesquisas, para rumos diversos, muitas vezes inesperados. Leia Mais

Entre vozes femininas: História Oral e memória no Amazonas contemporâneo | Patrícia Rodrigues da Silva

Entre vozes femininas
Entre vozes femininas | Detalhe de capa

Lançada em 2020, a obra Entre vozes femininas: História Oral e memória no Amazonas contemporâneo é organizada por Patrícia Rodrigues da Silva e faz parte da Coleção PPGH, que tem como objetivo divulgar pesquisas do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (PPGH-UFAM).

Precedido por outros três títulos também lançados em 2020 pela Editora CRV, este volume 4 é o primeiro a se debruçar especificamente sobre o contexto amazonense, o fazendo, sobretudo, por meio dos relatos e das escritas femininas – dos oito artigos que compõem o livro, seis deles são escritos por mulheres. Leia Mais

História oral, gênero e interseccionalidade | História Oral | 2022

Interseccionalidade Patricia Hill
Interseccionalidade, livro de Patricia H. Collins e Sirma Bilge (Detalhe de capa)

O tema deste dossiê evidencia um movimento acadêmico e político na elaboração de conhecimento, voltado à escuta de vozes dissonantes em uma sociedade hegemonicamente branca, sexista e cis heteronormativa. Esse posicionamento se insere no que poderíamos denominar de “uma virada epistêmica” (Veiga, 2020), um “giro decolonial” (Ballestrin, 2013), ou ainda um “giro afetivo” (Lara; Enciso, 2013), produto e produtor de mudanças analíticas implicadas e afetadas (no sentido de afeto e de afetação) por demandas sociais e identitárias e pela entrada de “sujeitos improváveis” em uma universidade historicamente distanciada do perfil da maioria da população brasileira. As políticas públicas de ação afirmativa favoreceram o acesso de negras/os, indígenas, população LGBTQIA+, filhas e filhos da classe trabalhadora, assim como de pessoas que vivem nas mais diversas margens deste país desigual, a um espaço muitas vezes visto como um lugar inalcançável para tais populações.

Essa circulação de sujeitas/os em instituições de ensino e pesquisa, antes deles distanciadas, assim como debates intelectuais posicionados advindos dos feminismos negros e indígenas e dos chamados estudos queer, têm possibilitado e ampliado questionamentos relativos às colonialidades de saber, de ser e de gênero que orientam a ciência e atuam no apagamento ou no silenciamento de classe, gênero e raça. Como afirmou María Lugones, para que se desconstruam as relações de poder que perpassam o conhecimento científico e as próprias lutas políticas, é preciso “viajar entre mundos”, ou seja, habitar mais de um território, reconhecer os (entre)lugares de fala (Ribeiro, 2017) e compreender as diferenças subjetivas, raciais, identitárias e sociais como problemas a serem enfrentados na elaboração do conhecimento, visibilizados e postos ao debate público. Leia Mais

América Latina – Moçambique / Moçambique – América Latina  | Revista Eletrônica da ANPHLAC | 2022

Com o objetivo de caracterizar a produção acadêmica de História da América Latina e do Caribe no Brasil, entre 1981 e 2018, a pesquisa desenvolvida pelos historiadores Eric Brasil e Kaick da Silva, e o sociólogo Leonardo Nascimento identificou que na área das revistas especializadas em história das Américas, a Revista Eletrônica da ANPHLAC dedicou especial atenção à publicação de artigos relacionados às experiências e aos contextos históricos das populações de ascendência africana no continente.3 O dossiê História do Caribe (partes I e II, n. 20 e 21, 2016), com artigos dedicados às experiências afro-americanas em Cuba, Haiti e Trinidad e, mais recentemente, o dossiê Afro-Américas (n. 27, 2019), correspondem a importantes marcos na ampliação do campo da história das Américas e no aprofundamento das análises das conexões com os mundos que os africanos e africanas construíram a partir de suas diásporas no continente americano.

Como fica evidente, encontramos na Revista variadas colaborações dedicadas ao aprofundamento das análises sobre o mundo que os africanos, africanas e seus descendentes construíram nas Américas, incorporando nas interpretações sobre as dinâmicas caribenhas e latino-americanas uma série de práticas e realidades afro-americanas. No entanto, o campo historiográfico das diásporas africanas não corresponde, necessariamente, ao da história da África.4 Nesse sentido, ao restringirmos especificamente nossa busca na Revista ao campo da história da África, dos 31 números publicados pela revista, entre 2001 e 2021, contabilizando um total de cerca de 322 textos, conseguimos encontrar um artigo que analisou com atenção detalhada as experiências, aproximações e relações entre as Américas e a África, a partir das perspectivas historiográficas específicas do campo dos estudos do continente africano.5 Leia Mais

História Oral. [São Paulo], v.25, n.1, 2022.

HISTORIA ORAL

História oral, gênero e interseccionalidade

DOI: https://doi.org/10.51880/ho.v25i1

APRESENTAÇÃO

  • Editorial
  • Ricardo Santhiago; Bernardo Borges Buarque de Hollanda
  • PDF

DOSSIÊ

ARTIGOS VARIADOS (TEMAS LIVRES)

RESENHAS

PUBLICADO: 2022-03-07

Archivos de historia del movimiento obrero y la izquierda. Buenos Aires, v.10, n.20, marzo 2022 / agosto, 2022.

Presentación

Dossier: Estética y política, nuevas indagaciones en la cultura de izquierdas

Artículos libres

Reseñas

Publicado: 2022-03-04

Archivos de historia del movimiento obrero y la izquierda. Buenos Aires, v.10, n.20, marzo 2022 / agosto 2022.

Presentación

Dossier: Estética y política, nuevas indagaciones en la cultura de izquierdas

Artículos libres

Reseñas

Publicado: 2022-03-04

Estética y política, nuevas indagaciones en la cultura de izquierdas | Archivos de Historia del Movimiento Obrero y la Izquierda | 2022

El 27 de abril de 1934, Walter Benjamin dicta, en el Instituto para el Estudio del Fascismo, con sede en París, una conferencia cuyo texto conocemos hoy con el título de “El autor como productor” y que resulta un buen punto de partida para reflexionar en torno al problema teórico, historiográfico y crítico que propone este dossier: el de las relaciones entre estética y política en la cultura de izquierdas en la Argentina de las décadas del 20 y 30.

En el inicio de ese texto, Benjamin retoma el viejo tema platónico de la expulsión de los poetas de la polis, en vistas de aclarar un problema fundamental para comenzar a plantear las relaciones entre estética y política: el de la autonomía. De acuerdo a Benjamin, si Platón prohíbe a los poetas residir en su proyecto de Estado no es porque desestimara a la poesía sino, al contrario, por tener un “alto concepto de su poder” (Benjamin, 2019, p. 101). Este tópico del “derecho a la existencia del poeta”, afirma el autor, no ha vuelto a plantearse hasta la actualidad, aunque ahora, en términos diferentes a los platónicos, se presenta como la cuestión acerca de la autonomía. Desde el punto de vista de un artista o escritor que ha tomado posición en la lucha de clases a favor del proletariado, no es posible, señala Benjamin, postular ninguna autonomía de la estética, es decir, la libertad del artista o del escritor para crear “lo que quiera” (p. 101). Por el contrario, quedaría demostrado que incluso el arte burgués, que se quiere libre de determinaciones, simplemente recreativo, se encuentra en realidad al servicio de los intereses de esa clase a la que sirve de entretenimiento: la burguesía. En contraste, todo artista progresista, que parte del reconocimiento de que la autonomía es una ilusión burguesa, sabe que, en la coyuntura en la que se encuentra, su deber radica en orientar su actividad “según lo que sea útil para el proletariado en la lucha de clases” (p. 101). Leia Mais

Alberto Flores Galindo. Utopía/ historia y revolución | Carlos Aguirre e Charles Walker

El nombre de Alberto Flores Galindo (1949-1990) evoca una de las más destacadas expresiones de la historiografía y la intelectualidad de izquierda del Perú de la segunda mitad del siglo XX, que entrelazó las dimensiones del investigador universitario, del prolífico autor, del polemista, periodista y militante socialista, y del animador teórico-cultural. Es oportuna y valiosa, entonces, la aparición de este libro de Carlos Aguirre y Charles Walker, dedicado al perfil del intelectual peruano, a quien recuerdan por “el rigor académico, la pasión por la historia, una incesante curiosidad intelectual, y una tenaz intervención en el debate político”. Aguirre, docente-investigador en la Universidad de Oregon, es reconocido por sus estudios sobre la esclavitud, el crimen y el castigo, y la historia intelectual y cultural, de Perú y América Latina en los siglos XIX y XX. Walker, de la Universidad de California (Davis), es especialista en la sociedad peruana de los siglos XVIII y XIX, en la transición de la colonia a la república y en la rebelión de Tupac Amaru. Ambos entablaron relación con Flores Galindo en los años 1980, cuando éste enseñaba en la Universidad Católica del Perú, mostrando una destreza infrecuente para una historización amplia del país andino, en sus períodos prehispánico, colonial, republicano y contemporáneo.

¿En qué registro se puede leer este libro? Es una contribución a la historia intelectual, política y cultural de un individuo y su época. Se estructura en seis capítulos, referidos a ciertos ejes significativos de la vida, la obra y las ideas de Flores Galindo, incluyendo los que menos tratamiento habían merecido anteriormente. El primero, “Entre la utopía andina y la utopía socialista”, había sido publicado por los autores para prologar la edición en inglés del más aclamado libro de Flores Galindo, Buscando un inca: identidad y utopía en los Andes. Esas páginas son eficaces para iniciar un recorrido global de los textos (y sus contextos) del historiador nacido en El Callao. Leia Mais

La Guerra Civil española. Sus dimensiones internacionales | Nadia de Cristóforis

Los estudios históricos sobre Guerra Civil española y franquismo plantean numerosas variables de análisis entre las que se incorporan sus repercusiones internacionales. En este libro, Nadia De Cristóforis coordina nueve capítulos que apuestan a una renovada búsqueda de interrogantes en escenarios por fuera de España. Es una obra de valioso aporte en la que se compilan investigaciones recientes de diversos autores, reunidos a partir de las tareas emprendidas por el Instituto de Historia de España Dr. Claudio Sánchez-Albornoz (UBA). Su coordinadora se distingue por un amplio recorrido en los estudios sobre los impactos de la Guerra Civil española en Argentina, particularmente en las prácticas asociativas de entidades gallegas y el apoyo al franquismo.

A priori, una lectura general de sus capítulos, nos presenta distintos registros de análisis en los que se introducen fuentes de sugestivo valor heurístico para revisitar temas en torno al exilio republicano, las izquierdas, las derechas, las asociaciones republicanas, las tramas intelectuales, entre otros. Todos ellos presentan, como hilo conductor, un intento por calibrar nuevas preguntas y problemáticas a partir de las cuales construyen su propias periodizaciones y rasgos metodológicos. Sobre estos aspectos, De Cristóforis, realiza el ordenamiento del libro. Leia Mais

Historia de una relación impensada. El catolicismo en los sindicatos durante el peronismo | Jessica Blanco

Con este libro, la historiadora cordobesa Jessica Blanco revisita la historia del catolicismo argentino de las décadas centrales del siglo XX. Recorre la temática a través de algunos tópicos clásicos –los procesos de secularización y laicidad, la relación entre el peronismo y la Iglesia, y entre esta y la sociedad– con una mirada centrada en la actuación del laicado católico en el terreno sindical. Ciertamente, son pocos los estudios que han asumido el desafío de abordar las influencias e identidades religiosas de los trabajadores, sus dirigencias y organizaciones.

El presente volumen sintetiza los trabajos de la autora sobre la acción política y gremial del catolicismo cordobés en el segundo tercio del siglo XX, la Juventud Obrera Católica (JOC) y, más recientemente, el universo sindical de las izquierdas tanto en Córdoba como en Mendoza. Su mérito consiste, justamente, en volver sobre esas preocupaciones clásicas desde una perspectiva que reconoce diferencias regionales y adopta un movimiento descendente; así, desplaza la mirada desde las jerarquías hacia el catolicismo social, desde las instituciones del laicado católico intervinientes hacia los trabajadores asociados, y desde las dirigencias hacia las bases sindicales. Leia Mais

Feminismos para la revolución. Antología de 14 mujeres que desafiaron los límites de las izquierdas | Laura Fernández

Si cada generación debe reescribir la historia en base a las nuevas coordenadas ideológicas de su tiempo, es indudable que en estos últimos años tienen un lugar preponderante las transformaciones historiográficas alrededor de las perspectivas de género. No otra cosa sucede con la antología que reseñamos, que desde el título nos anticipa un cruce múltiple: feminismos, en plural, descartando una visión unívoca de esta concepción, y aceptando su sentido más amplio, referido a una denuncia del estatus social de las mujeres y un reclamo por lograr una solución, sea cual fuere el lugar que quienes escriben le otorgan a esa reivindicación en su propio universo ideológico. Pero la especificación llega con el complemento final: “para la revolución”. Es decir que, de todos los feminismos, se recogerán algunos (no todos) que hayan buscado una solución radical para la situación de la mujer. Como veremos, se apunta a escritos sediciosos, aunque no necesariamente (no solamente) dirigidos a favorecer o acompañar una revolución política, proletaria o comunista. Los textos nos hablan de una sedición política, pero también moral, a veces escrituraria, que intenta transformar la sociedad pero también la vida cotidiana de los lectores y, sobre todo, las lectoras.

Para acompañar esta lectura, Fernández Cordero se ha reservado un lugar secundario en la presentación de los escritos: no narra una biografía comprensiva de las autoras, sino que nos presenta, con brevedad y precisión, una personalidad, alternando apreciaciones generales con las informaciones sustanciales que necesitan los lectores interesados para entender la vida y las circunstancias en que fue producido el escrito. Tampoco la “Introducción” pretende ser una explicitación de las ideas feministas de la compiladora. Al revés, allí se aclara que la antología es el registro de un largo diálogo entre los feminismos y las izquierdas, diálogo donde hablan los dos y ambos escuchan, ya que la antología “busca contrapesar el efecto de novedad de la marea feminista”. Es decir: no se piense que el feminismo nació hace diez años, no se piense que el feminismo es el único que puede intervenir en la elaboración de un proyecto social. Leia Mais

Los trotskistas bajo el terror nazi. Una historia de la IV Internacional durante la Segunda Guerra Mundial | Velia Luparello

El libro Los trotskistas bajo el terror nazi. Una historia de la IV Internacional durante la Segunda Guerra Mundial de Velia Luparello es un gran aporte en el descubrimiento de un período histórico poco investigado y una contribución al estudio del convulsionado origen del trotskismo. Ha compartido trabajos sobre esta misma temática junto a Daniel Gaido, investigador de la Universidad Nacional de Córdoba. La autora pudo recabar fuentes primarias, como los boletines internos que se encuentran en el International Institute of Social History (IISH) de Ámsterdam. Restauró así el debate sobre la cuestión nacional (desde 1940), entre las dos organizaciones más importantes de Francia: el Partido Obrero Internacionalista (POI) y el Comité Comunista Internacionalista (CCI), y los diálogos con secciones nacionales de Bélgica, Estados Unidos, Gran Bretaña, Italia y Grecia. El libro llega hasta el segundo congreso de la IV Internacional (1948), antes del cisma del “pablismo” (1951-1953). La importancia del trabajo es que compendia las estrategias del trotskismo internacional en un período de enormes desafíos históricos que puso a prueba a la IV Internacional.

Los trotskistas… se estructura en siete capítulos, desde los primeros esbozos programáticos del trotskismo internacional sobre la guerra, luego que quedara “huérfano” por el asesinato de Trotsky en 1940. Los trotskistas tratan de interpretar la “línea de militarización” de Trotsky presente en el “Manifiesto de Alarma” de mayo de 1940, y la defensa del “patriotismo de los oprimidos” del Programa de transición de 1938. Derivado de esto, el debate sobre la cuestión nacional es tratado en los dos primeros capítulos. Leia Mais

Palavras ABEHrtas. Ponta Grossa, v.5, n.5, 2022.

PALAVRAS ABERTAS2 2

Desafios e dilemas da profissão docente

Provocações

Vice-versa

Publicado: 2022-03-03

Expedições. Morrinhos, v.14, n. Fluxo Cont, 2022.

 

Tópicos em História | Historiæ | 2021

No segundo número de 2021 Historiæ apresenta o dossiê “Tópicos em História” buscando compreender o fazer histórico e o fazer historiográfico por parte de historiadoras e historiadores e, igualmente, estabelecer um diálogo com pesquisadores de outras áreas que contribuem para a construção da História.

O objetivo deste número é apresentar uma diversidade de objetos, temas, metodologias e teorias que compõe a riqueza da pesquisa histórica. Assim, subvertemos a lógica de um dossiê temático para compor um “dossiê multitemático”, valorizando as pesquisas de fluxo contínuo submetidas na plataforma da revista. Leia Mais

Historiae. Rio Grande, v.12, n.2, 2021.

Tópicos em História

Dossiê

Publicado: 2022-03-03

Gênero, sexualidade e redes sociais: a desigualdade social “curtida” e “compartilhada” | Rafael Morato

Genero
Gênero, sexualidade e redes sociais | Detalhe de capa

O livro aqui resenhado foi publicado em 2019, mas as questões que ele nos traz fazem pensar que estamos séculos atrás. Como é possível ainda nos depararmos com o fato de que a nossa sociedade vive para criticar e aprovar a sexualidade e os comportamentos do outro? Estamos na chamada era digital, em que as redes sociais atuam com força e protagonismo nas interações humanas, cada curtida ou compartilhamento feito nesses meios digitais carrega consigo uma carga ideológica muito grande, julgando comportamentos e influenciando opiniões.

Nesse universo de possibilidades que a vida, o corpo humano e as relações sociais nos apresentam, há inúmeras formas de ser e de viver os gêneros e a sexualidade. No entanto, o que se percebe através de redes sociais como o Facebook, por exemplo, é que continuamos nos apegando a críticas pautadas na dualidade, que giram em torno de um modelo de homem e de mulher socialmente construídos, e de uma sexualidade baseada na heteronormatividade, invisibilizando – e muitas vezes condenando – outras formas possíveis de ser e de se relacionar emocional e sexualmente. Leia Mais

Direitos LGBT: a LGBTfobia estrutural e a diversidade sexual e de gênero no direito brasileiro | Caio Benevides Pedra

Caio Benevides Pedra
Caio Benevides Pedra | Imagem: DIVERSO/UFMG

O livro Direitos LGBT: a LGBTfobia estrutural e a diversidade sexual e de gênero no direito brasileiro (2019) é resultado da dissertação de mestrado em direito, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais, por Caio Benevides Pedra, professor, advogado, ativista em direitos humanos e pesquisador de questões relacionadas à cidadania da população LGBT.

A partir da análise da atuação do Estado e do Direito na garantia de direitos a essa população, o volume objetiva facilitar a compreensão de quatro conceitos introdutórios e fundamentais para os debates atuais sobre gênero e diversidade: identidade de gênero, expressão de gênero, orientação sexual e sexo biológico, pois, diante das divergências que se apresentam na sociedade e no mundo jurídico, a compreensão desses conceitos possibilita uma atuação mais adequada dos operadores do Direito, no Brasil. Leia Mais

Zona de promesas. Cinco discusiones fundamentales entre los feminismos y la política | Florencia Angilletta

Florencia Angilletta
Florencia Angilletta | Foto: Marcelo Arias/LPO

 | “‘Gender’ is about asking historical questions;

It is not a programmatic or methodological treatise.” (Joan SCOTT, 2008, p. 1423).

Jacques Lacan y Simone de Beauvoir sostuvieron que La Mujer no existía. Para Julia Kristeva (1981, p. 30), el psicoanalista se refería a su inexistencia en tanto unidad mítica, no tan diferente de “una mujer no nace, se hace” (DE BEAUVOIR, 2005 [1949]), tesis amplia y profundamente retomada por feministas en el mundo. Podemos trasladar esta idea a que el Feminismo tampoco existe, cuyo “origen” suele ser situado en la Revolución Francesa. Esta ha sido una suerte de primera piedra en la construcción de – en términos de Griselda Pollock (2010) – un museo virtual feminista en donde la hermana ilustrada, bastarda decapitada, dedo en las llagas de la izquierda y olvido del progresismo ha elaborado sus propios documentos culturales. Zona de promesas. Cinco discusiones fundamentales entre los feminismos y la política (Florencia ANGILLETTA, 2021) es una revisión de estos documentos sobre un presente denominado cuarta ola feminista1, la última de la cronología de las olas2.

En la Argentina, la primera convocatoria del Ni Una Menos (NUM) inauguró una serie de acontecimientos que han sido englobados con este término, desde y sobre el cual ha habido una prolífica producción intelectual, en la que me permito incluir esta obra. Si bien, en el país sudamericano, el feminismo existió propiamente desde finales del siglo XIX, es difícil pensar otro momento que pueda equiparársele, puesto que, por primera vez, se ha convertido en “un significante disponible – y en disputa – de modo cada vez más masivo y masificado” (ANGILLETTA, 2021, p. 19). Fuente de sentidos y escenario de ríspidos y fecundos debates, una de las particularidades de aquella casa de las diferencias ha sido sustituir feminismo por feminismos. La autora reconoce que, aunque su mediatización expande sus condiciones de posibilidad, ésta va de la mano con el reto de su fetichización (ANGILLETTA, 2021, p. 77). Leia Mais

Feminismo camponês e popular: reflexões a partir de experiências no Movimento de Mulheres Camponesas | Adriana Mezadri, Justina Cima, Noeli Taborda, Sirlei Gaspareto e Zenaide Collet

Justina Cima
Justina Cima | Foto: Elaine Schmitt

Essa é uma obra coletiva, contendo 13 artigos, escrita por 32 militantes do Movimento de Mulheres Camponesa (MMC). Tem por objetivo trazer elementos e concepções que foram construídos a partir da organização, formação e lutas do Movimento no Brasil. Suas vozes diferem da história oficial. Elas ousaram lutar contra o sistema capitalista, patriarcal e racista. Consideram-se um Movimento autônomo, feminista, camponês e socialista.

O livro conta a história do MMC que tem mais de 37 anos e tira as mulheres camponesas da invisibilidade; contempla as mulheres indígenas; se espelha nas ligas camponesas; confronta o racismo; enaltece as sementes crioulas e a segurança e soberania alimentares; exalta a alimentação saudável; critica a divisão sexual de trabalhos, o patriarcado e a violência contra as mulheres; torna visível a renda produzida pelas mulheres; fala da diversidade sexual; e finaliza com a importância da Mística para o Movimento. Sendo um livro didático, contém repetições. Leia Mais