Histórias ambientais do clima e as baixas temperaturas: perspectivas diante do antropoceno | História Unisinos | 2022

Greta Thunberg Foto Michael CampanellaGetty ImagesVeja

Greta Thunberg | Foto: Michael Campanella/Getty Images/Veja

A história ambiental produzida, tematizada e difundida no e a partir do Brasil tem sido extremamente exitosa. O número de pesquisadores aumentou exponencialmente na mesma medida em que a relevância dos temas ambientais invadiu as sensibilidades sociais e as vozes daqueles que clamavam por relações sustentáveis ou amigáveis com a natureza têm sido minimamente ouvidas. Passando ao largo dos temas clássicos de mobilização social pelo meio ambiente como o desmatamento e a poluição, o clima parece não ter ainda formado um horizonte de trabalho para muitos especialistas envolvidos na arena da história ambiental, pelo menos no Brasil – de onde escrevemos. Em que pese a centralidade desse tema na discussão internacional – representado, principalmente, pela criação, em 1988, do Intergovernmental Panel for Climate Change da ONU e pelo tratado Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima de 1992 e replicado pelas frequentes conferências das partes (COPs) – e na agenda do ativismo (vide o sucesso do movimento Fridays for Future de Greta Thunberg, por exemplo), o clima não logrou alterar significativamente as pesquisas na seara da História. Em geral, a relação climática com a sociedade se manteve no interior das ciências climatológicas, sem que ela assim propusesse um diálogo com conceitos e temas-chave da análise histórica como, por exemplo, colonialismo, gênero, migrações, capitalismo, etc. Leia Mais

Esclavitud: una historia de la humanidade | M. Zeuske

Na historiografia sobre os mundos do trabalho está cada vez mais evidente a necessidade de discutir alguns limites dos conceitos relacionados a “trabalho livre” e “escravidão” em perspectiva global e local. As temporalidades históricas dessas relações de trabalho também constituem elementos condicionantes do debate. Michael Zeuske, professor de História Ibérica e Latino-Americana na Universidade de Colônia (Alemanha), em estudo ambicioso e instigante, traz importantes contribuições para arejar essa contenda. Nos seis capítulos de Esclavitud: una historia de la humanidad (2018) – tradução espanhola do original em alemão publicado no mesmo ano –, o historiador, apoiado em sólida pesquisa documental e bibliográfica, parte da premissa de que a história da escravidão se confunde com a história da humanidade e lança luz sobre alguns silêncios historiográficos, em busca de uma abordagem mais integradora da História, condição essencial para desenvolver sua hipótese de trabalho.

Zeuske observa a coexistência de vários tipos de relações laborais no marco do desenvolvimento capitalista, e mesmo antes, chamando a atenção para a centralidade de diversos mecanismos de coerção extraeconômica no momento de recrutar e fixar a mão de obra em diferentes épocas e contextos históricos. Sua abrangente definição “histórico-antropológica” da escravidão – “a disponibilidade sobre corpos humanos baseada em uma violência real exercida sobre esses mesmos corpos e a degradação do status” – e dos escravos “como capital de corpos humanos” (p. 36) – ultrapassa as dimensões jurídicas vinculadas ao direito romano e tenta englobar todas as modalidades em que a apropriação e o recrutamento de força de trabalho se realizam através da violência e da coerção direta. Aponta ainda os quatro motivos principais de escravidão: autoescravização ou entrega (a princípio ligadas ao endividamento), guerra, comércio e nascimento como pessoa escravizada. Leia Mais

Guia de fósseis da Bacia do Araripe | Antônio Álamo Feitosa de Saraiva, Flaviana Jorge de Lima, Olga A. Barros e Renan Bantin

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Antônio Álamo Feitosa Saraiva | Foto: Acervo pessoal

Foi lançado em novembro último o Guia de fósseis da Bacia do Araripe, um trabalho de fôlego que reúne pesquisas publicadas nos últimos 10 anos sobre a matéria, organizado  pelos professores Antônio Álamo Feitosa Saraiva, Olga Alcântara Barros, Renan Alfredo Machado Bantin, atuantes na Universidade Regional do Cariri – URCA, e Flaviana Jorge de Lima, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.

Guia de Fosseis da Bacia do AraripeComo o próprio título anuncia, trata-se de um Guia, um instrumento de pesquisa que orienta os trabalhadores envolvidos com o estudo dos fósseis nas tarefas de identificação, descrição, classificação e avaliação de material paleontológico encontrável na região. Para Alexander Kellner, paleógrafo e diretor do Museu Nacional (RJ), o guia expressa a qualidade do trabalho dos pesquisadores das universidades federais de Campina Grande, do Ceará, da Rural de Pernambuco e do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens (além das já citadas URCA e UFPE), a riqueza singular do material paleontológico encontrado na região e a oportunidade de combater o tráfico de fósseis com ações educativas de amplo alcance comunitário.

Adiantemos o nosso veredicto quanto ao cumprimento dos objetivos: a obra, efetivamente, cumpre a função projetada. Leigos na matéria (mas conhecedores de princípios científicos) vão se sentir atraídos e confortáveis ao folhear o livro. São vinte capítulos, dezesseis dos quais dedicados ao objeto primeiro (os fósseis), de modo sistemático: designação, ilustração primeira da espécie, locais onde são encontrados, “dicas de identificação”, fotografia do original, desenho correspondente à fotografia e referências das obras consultadas na descrição/classificação. Leia Mais

Guia de fósseis da Bacia do Araripe | Antônio Álamo Feitosa de Saraiva, Flaviana Jorge de Lima, Olga A. Barros e Renan Bantin

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Antônio Álamo Feitosa de Saraiva | Foto: Acervo pessoal

O livro Guia de fósseis da Bacia do Araripe, organizado por Antônio Álamo Feitosa Saraiva, Flaviana Jorge de Lima, Olga Alcântara Barros e Renan Alfredo Machado Bantim, além de trazer a descrição dos vários tipos de fósseis do Período Cretáceo, como: plantas, fungos, moluscos, crustáceos, pterossauros, dinossauros e lagartos, é uma excelente referência a ser usada por professores da área de Ciências Humanas na educação básica, inclusive no Ensino Médio, considerada como Ciências Sociais Aplicadas, mesmo que essa não tenha sido a intenção dos seus autores.

Guia de Fosseis da Bacia do AraripeOs estudos de paleontologia, tendo à frente os autores do livro, vêm se destacando na região do Cariri (Ceará, Piauí e Pernambuco), principalmente pelo seu caráter de preservação da riqueza fossilífera da região bem como pela  preocupação em combater o tráfico de fósseis encontrados nas encostas da Chapada do Araripe. As pesquisas para localização e identificação das mais variadas espécies que habitaram a Bacia do Araripe, desenvolvidas pelo Laboratório de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri (LPU/URCA) e lideradas pelo professor Álamo Saraiva, são fundamentais para preservação do importante patrimônio científico e cultural da humanidade. Como reconhecimento internacional destas pesquisas pela comunidade científica internacional, destaca-se a criação do primeiro Geopark no Brasil (Geopark Araripe), o que fortalece ainda mais as identidades regionais e cultiva os necessários valores para o pensamento e a prática preservacionista.

O Guia é uma atualização de outras versões (2010, 2013 e 2015), aprimorado pela inserção de novas descobertas e por uma editoração gráfica bastante atrativa, principalmente pelas fotos e ilustrações em cor que dialogam com os textos descritivos. São escritos objetivos e detalhados de cada espécie que viveu na região há milhões de anos, em uma área que se estende por 12.000 Km².

Embora o objetivo do “Guia” seja a identificação dos fósseis encontrados pelos paleontólogos na vasta região do Cariri, as imagens e escritos trazem uma excelente possibilidade para a melhor compreensão dos estudos básicos de taxonomia de fósseis, paleontologia e geologia, notadamente no contexto de diferentes cenários paleográficos da evolução geológica das bacias do nordeste do Brasil entre o Devoniano Superior e o início do Cretáceo. Mas, é também um instrumento para a educação regular no Ensino Médio, como tratarei ao final desta resenha.

Dois capítulos antecedem a descrição das espécies. Ainda que tenham um caráter introdutório, as descrições são importantes referências para estudos aplicados à educação básica. O primeiro capítulo, “A geologia da Bacia do Araripe”, escrito por Renan Bantim, Flaviana Lima e Álamo Saraiva, traz um mapa geológico com a localização das dez unidades geológicas: a Sequência Paleozóica, com a formação Cariri; a Supersequência Pré-Rife, com as formações Brejo Santo e Missão Velha; a Supersequência Rifte, com a formação Abaiara; a Supersequência Pós-Rifte, constituída pelas formação Barbalha, Crato, Ipubi e Romualdo; temos, ainda, as formações de Araripina e Exu.

Mapa geologico da Bacia Sedimentar do Araripe

Mapa geológico da Bacia Sedimentar do Araripe. Modificado de Mário Assine (Saraiva et. al, 2021, p.15)

No segundo capítulo, os mesmos autores fazem um “breve histórico das pesquisas paleontológicas na Bacia do Araripe”. Descrevem, de forma cronológica, o desenvolvimento da paleontologia, desde que as petrificações de peixes e anfíbios geraram interesses nos cientistas alemães Spix e von Martius, ainda no início do século XIX. Segundo os autores, no relatório dos dois viajantes consta a primeira ilustração de um fóssil encontrado naquele local. Os autores citam Cope, Woodard e Jordan & Brannder como pesquisadores que também se interessaram pelos fósseis do Araripe. No século XX, os estudos sobre a Bacia do Araripe ganharam status de preocupação oficial do estado brasileiro, por meio da Inspetoria de Obras contra as Secas, tendo sido importantes os trabalhos de Crandall, em 1910, e Horace, em 1913.

O capítulo 3, organizado pelas pesquisadoras Flaviana Jorge de Lima, Ana Maria de Souza Alves e Alita Maria Neves Ribeiro, é dedicado à descrição da paleoflora da Bacia do Araripe. A maior preservação se encontra na formação rochosas do Grupo Santana, especialmente as formações Crato e Romualdo, predominando as gimnospermas. É possível, todavia, encontrá-las na Formação Missão Velha, Barbalha e Ipubi. Também já foram localizadas e descritas plantas pteridófilas e angiospermas. Após a rápida introdução do capítulo, as autoras apresentam as plantas divididas em Filicófita; Coníferas; Gnetales; Gimnosperma Incertae sedis; Angiospermas. Cada planta é descrita pelo nome da espécie, local de custódia do Holótipo, sítio de ocorrência mais comum e dicas de identificação, juntamente com uma imagem do espécime (holótipo). Esse esquema de apresentação do conteúdo se repete nos demais capítulos.

O Capítulo 4, de  Álamo Saraiva, é dedicado aos fungos, representados pelo espécime Gondwanagaricites magnificus. Sua descrição segue o padrão: espécie, Holótipo, Ocorrência, Dicas de identificação e imagem acompanhada de escala. Já o capítulo 5 trata dos Moluscos e foi organizado por Damares Ribeiro Alencar e Sílvio Felipe Barbosa de Lima. Os moluscos fósseis da Bacia do Araripe são frequentes desde o Jurássico Superior até o Cretáceo Inferior, respectivamente, nas formações Brejo Santo e Romualdo.

O capítulo 6, organizado por Damares Ribeiro Alencar e Olga Alcântara Barros, aborda os crustáceos, divididos em: camarões, caranguejos e microcrustáceos que, por sua vez, são subdivididos em Copépodes, Ostracodas e Conchostráceos. O capítulo 7, dedicado às miriápodes, foi escrito por Elis Maria Gomes Santana e Renan Alfredo Machado Bantim. Ao menos três espécies foram encontradas na formação Crato e descritas a partir de holótipos depositados em Museus da Alemanha. Também são registradas as ocorrências de cada espécie, acompanhadas de datação cronológica e “dicas de identificação”. Elis Maria Gomes Santana e Edilson Bezerra dos Santos Filho (capítulo 8) escreveram sobre a identificação dos aracnídeos, mais bem preservados na formação Crato. Seu trabalho privilegia dois escorpiões, um Uropígio, um Amblipígio, um Solífugo, um Ácaro e cinco aranhas.

O capítulo 9, composto por Edilson Bezerra dos Santos Filho e Gustavo Gomes Pinho, traz a maior diversidade fóssil da Bacia do Araripe, os Insetos, predominando, quase exclusivamente, na Formação Crato, na qual foram descritas 14 famílias e 53 espécies. O Guia apresenta descrição detalhada de 27 insetos, no mesmo padrão das demais descrições (p. 163-189), além de quadro com as 387 espécies, distribuídas em 22 famílias e 17 ordens, que já foram descritas para a Bacia do Araripe (p. 191-207).

O capítulo 10, escrito por Damares Ribeiro Alencar e Antônio Álamo Feitosa Saraiva, trata dos Equinodermas. A ocorrência desses animais fósseis é mais frequente na Formação Romualdo, sendo importante evidência de ambientes marinhos com elevada salinidade. O Guia traz a descrição de quatro espécies de equinodermas, seguindo o mesmo padrão com o nome da espécie e a localização dos holótipos (2), espécime (1) e Lectótipo (1).

O texto de Thatiany Alencar Batista e José Lúcio e Silva (capítulo 11) trata dos peixes encontrados nas Formações Brejo Santo, Barbalha, Crato, Ipubi e Romualdo. Ao todo, são 35 espécies são descritas no guia. Já o Capítulo 12, escrito por Thatiany Alencar Batista e José Lúcio e Silva, descreve seis espécies de anfíbios. Em seguida, vem o capítulo 13 com 4 espécies de tartarugas, cuja descrição ficou a cargo de Gustavo Ribeiro Oliveira e Thatiany Alencar Batista.

Renan Alfredo Machado Bantim foi responsável pela escrita dos quatro capítulos seguintes. Os capítulos 14 e 15 descrevem, respectivamente, três crocodilos e quatro lagartos. Os pterossauros, comuns na Formação Romualdo e Crato, são o objeto do capítulo 16. Pelo menos dois grupos desses pterossauros são abundantes na região: os Anhangueridae e os Tapejaridae. O Guia nos apresenta oito espécies do grupo dos Anhanguerida; cinco espécies dos Anhagueria; cinco dos Tapejarinae; e dez espécies dos Thalassodrominae. Até agora, já foram descritas 30 espécies de pterossauros para a Bacia do Araripe, sendo seis da Formação Crato e 24 da formação Romualdo.

O capítulo 17 trata dos Dinossauros e Aves. Ao todo são sete espécies descritas, merecendo destaque o Santanrator placidus, pelo seu estado de preservação pouco comum no mundo, possuindo partes de tecidos moles, como peles, vasos sanguíneos e fibras musculares. Vale destacar que o fóssil recebe este nome em homenagem ao Reitor Plácido Cidade Nuvens, criador do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri, atualmente importante equipamento de pesquisa no campo da paleontologia. O penúltimo capítulo (capítulo 19) é dedicado ao Museu e seu fundador.

O capítulo 18, escrito por Edilson Bezerra dos Santos Filho e Thatiany Alencar Batista, traz a descrição de onze Icnofósseis, resultantes das atividades deixadas por organismos através da biotubação, biorosão, fezes, ovos ou nidificação. Este e todos os capítulos destinados à descrição dos fósseis são acompanhados de referências bibliográficas.

 

Fosseis do Araripe Crocodilos

(Esquerda) A) Crocodilomorfo Aripesuchus gomessi (AMNH 24450) da Formação Romualdo. B) Espécime SMNK PAL 6404, da Formação Crato | Fotos: Rodrigo Giesta Figureiredo. (Direita) Ovo de Crocodiliforme da Formação Romualdo (parte e contraparte do espécime MDJ Ic-069 | Foto: Paulo Victor de Oliveira || (Saraiva et. al. 2021, p.285, 348)

O capítulo 19, como já dito, é dedicado ao Museu de Paleontologia que atualmente recebe o nome de seu fundador, Plácido Cidade Nuvens (MPPCN). O Museu foi inaugurado em julho de 1988, com o objetivo de guardar e preservar os fósseis, crescentemente tornados alvo de contrabando na região, principalmente do município de Santana do Cariri, cujo prefeito, à época, era o mesmo  professor Cidade Nuvens. Em 1991, o então reitor da Universidade Regional do Cariri (URCA), José Teodoro Soares, firmou o termo de comodato para que o Museu pertencesse à URCA. Classificado como Museu de Ciências Naturais e História Natural, ele expõe vários fósseis descritos no Guia. O Museu também conta com reserva técnica com mais de 7.000 fósseis, resultantes de doações, coletas e escavações realizadas pelo Laboratório de Paleontologia da URCA. Anualmente, o MPPCN recebe visita de mais de 25.000 pessoas, entre os quais figuram estudiosos provenientes de vários países.

O último capítulo do Guia é dedicado ao Laboratório de Paleontologia da URCA (LPU). Criado em 2003 para atender às necessidades de estudos dos cursos de graduação e pós-graduação da URCA, o LPU, hoje, se destaca no âmbito nacional e internacional pelas pesquisas que realiza na Bacia do Araripe. O Laboratório é responsável pela maior quantidade de pesquisas paleontológicas do Ceará. Sempre que possível, o LPU faz exposições itinerantes junto às comunidades das cidades localizadas na Bacia do Araripe  com vistas à conscientização sobre a importância de preservar o patrimônio fossilífero da região. O LPU mantém parcerias com diversos laboratórios nacionais e internacionais e seus membros já publicaram em revistas renomadas no cenário científico mundial. Não por acaso, o Museu de Paleontologia e o Laboratório de Paleontologia da URCA são roteiros fundamentais das visitas guiadas do Geopark Araripe.

A descrição panorâmica que fiz até aqui expressa a quantidade e a qualidade do trabalho dos pesquisadores de várias universidades nordestinas no campo da Paleontologia, mas não esgota o valor do Guia no que diz respeito aos seus usos. Na condição de profissional formador, com experiência de mais de duas décadas no Ensino Médio, gostaria de destacar algumas possibilidades dessa publicação. Evidentemente, não se trata de um livro didático por destinação. Mas, pode muito bem ser transformado em livro didático quando for manuseado na bancada de cada laboratório, biblioteca ou repositório digital das escolas estaduais do Ceará, Piauí, Pernambuco e Paraíba e demais estados brasileiros.

Um professor de Geografia, por exemplo, pode usar o Guia para trabalhar com localização geográfica e a formação de relevos, principalmente a partir do Capítulo 1 (p. 14-15) que trata da “Geologia da Bacia da Chapada”. O professor pode usar as excelentes imagens desse capítulo para demonstrar as diversas camadas de rochas e estratificação do relevo.

O professor de Biologia terá a oportunidade de usar os estudos apresentados pelo guia como ferramenta de compreensão da evolução dos seres vivos, fazendo trabalho interdisciplinar com a Geografia, ao desenvolver fundamentos básicos de Economia com atividades que envolvam o uso de combustíveis fósseis, a preservação do meio ambiente e poluição das camadas atmosféricas.

O professor de Matemática, igualmente, pode ser inserido nestes debates para trabalhar com operações básicas (como regra de três) e escalas gráficas, a transformação de grandezas em centímetros, milímetros e quilômetros, fornecendo uma dimensão mais significativa das distâncias de tempo que nos separam dos fósseis e uma melhor compreensão melhor do que vem a ser proporção. Este diálogo entre a Matemática e a Biologia poderá favorecer a compreensão da dimensão de tempo que separa os grandes ecossistemas da atualidade dos ecossistemas mais remotos.  Pondo a Geografia nesse trabalho, o professor demonstrará como os fósseis são importantes ferramentas na compreensão da datação e ordenação das sequências sedimentares, notadamente da Bacia do Araripe.

Na mesma direção, o Guia pode estimular a reflexão sobre a origem dos humanos e sua relação com a natureza nos tempos atuais já que a Paleontologia, como ciência, não escapa à Filosofia, como testemunham Xenófanes (570-475 a.C), ao estudar fósseis marinhos submersos, e Curvier, com seus estudos de anatomia comparada de fósseis – uma das principais referências na obra filosófica do Michel Foucault, de As palavras e as coisas (2016).

O diálogo se estende às Ciências Sociais, podendo ajudar a questionar paradigmas como o mito de origem humana e como as sociedades de forma geral utilizavam,  utilizam e significam esses fósseis, por exemplo, como adornos para os próprios corpos ou em suas habitações na atualidade. Certamente, seria uma ótima oportunidade para debater os conceitos de identidade e pertencimento e questionar sobre o lugar dos fósseis: eles estariam melhor situados no museu ou enfeitando estantes mundo a fora?

Por fim, o professor de História pode fazer parte deste projeto, refletindo com estudantes da Educação Básica sobre os viajantes do século XIX, suas necessidades científicas na perspectiva da colonialidade e como esse fenômeno está presente na região com as práticas de contrabando dos fósseis da região do Cariri.

Em síntese, considerando as metas estabelecidas e cumpridas pelo LP/URCA e os usos potenciais na formação dos alunos do Ensino Médio, considero que o Guia de Fósseis da Bacia do Araripe é leitura obrigatória para os que se propõem à prática de pesquisa em Paleontologia e Geologia na Bacia do Cariri, como também para os professores da educação básica, especialmente, na região do Cariri-CE. Com toda certeza, será uma ferramenta a mais na luta pelo conhecimento e preservação do rico patrimônio paleontológico, arqueológico, histórico e cultural da região. Parafraseando o prefaciador do Guia, Alexander Kellner, quem conhece e preserva não aceita o contrabando e o tráfico ilícito de suas riquezas naturais e culturais.


Sumário do Guia de fósseis da bacia do Araripe

  • Prefácio
  • Autores
  • Apresentação
  • A geologia da bacia do Araripe | Renan Alfredo Machado Bantim, Flaviana Jorge de Lima e Antônio Álamo Feitosa Saraiva
  • Breve histórico das pesquisas paleontológicas na bacia do Araripe | Renan Alfredo Machado Bantim, Flaviana Jorge de Lima e Antônio Álamo Feitosa Saraiva
    1. Plantas | Flaviana Jorge de Lima, Ana Maria de Souza Alves e Alita Maria Neves Ribeiro
    2. Fungos | Antônio Álamo Feitosa Saraiva
    3. Moluscos | Damares Ribeiro Alencar e Silvio Felipe Barbosa de Lima
    4. Crustáceos | Damares Ribeiro Alencar e Olga Alcântara Barros
    5. Miriápodes | Elis Maria Gomes Santana e Renan Alfredo Machado Bantim
    6. Aracnídeos | Elis Maria Gomes Santana e Edilson Bezerra dos Santos Filho
    7. Insetos | Edilson Bezerra dos Santos Filho e Gustavo Gomes Pinho
    8. Equinodermas | Damares Ribeiro Alencar e Antônio Álamo Feitosa Saraiva
    9. Peixes | Thatiany Alencar Batista e José Lucio e Silva
    10. Anfíbios | Thatiany Alencar Batista e José Lucio e Silva
    11. Tartarugas | Gustavo Ribeiro Oliveira e Thatiany Alencar Batista
    12. Crocodilos | Renan Alfredo Machado Bantim
    13. Lagartos | Renan Alfredo Machado Bantim
    14. Pterossauros | Renan Alfredo Machado Bantim
    15. Dinossauros e aves | Renan Alfredo Machado Bantim
    16. Iconofósseis | Edilson Bezerra dos Santos Filho e Thatiany Alencar Batista
    17. O Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens | Antony Thierry de Oliveira Salú e José Lucio e Silva
    18. O Laboratório de Paleontologia da Universidade Regional do Cariri – LPU | Antônio Álamo Feitosa Saraiva

Vídeo de apresentação do Guia de fósseis da bacia do Araripe por um dos seus organizadores Link


Resenhista

Francisco Egberto de MeloFrancisco Egberto de Melo – Doutor em Educação (PPGE/UFC), professor do Departamento de História da Universidade Regional do Cariri (DH/URCA) é líder do Núcleo de Pesquisa Ensino, História e Cidadania (NUPHISC/URCA). Publicou, entre outros trabalhos, “Toda a História em cinco minutos! História pública e ensino – considerações sobre o passado ensinado no Youtube”, em coautoria com Sônia Meneses (2021), “Vamos saudar o Brasil: civismo, autoritarismo e ensino de História” (2021) e “Base Nacional Comum Curricular e Documento Curricular Referencial do Ceará para o ensino de História: prescrição e resistência no tratamento das relações de gênero, étnicas e raciais” (2021) e “Biopoder e saber médico: normatização, vigilância e controle de corpos tuberculosos (Brasil, 1920 – 1970)”, em coautoria com Raiza Amanda Gonçalves de Souza e Deyvillanne Santos Oliveira dos Anjos. ID: https://orcid.org/0000-0003-0749-136X; E-mailfrancisco.melo@urca.br; Instagram: https://www.instagram.com/melo.egberto/; Facebook: facebook.com/egbertomelo13 


Para citar esta resenha

SARAIVA, Antônio Álamo Feitosa de; LIMA, Flaviana Jorge de; BARROS, Olga A.; BANTIM, Renan (org.). Guia de fósseis da Bacia do Araripe. Crato: Olga Alcântara Barros; Governo do Estado do Ceará, 2021. 378p.  Resenha de: MELO, Francisco Egberto de. Formação básica para a Paleontologia e Ensino Médio. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.4, p.11-16, mar./abr. 2022. Consultar publicação original.

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© – Os autores que publicam em Crítica Historiográfica concordam com a distribuição, remixagem, adaptação e criação a partir dos seus textos, mesmo para fins comerciais, desde que lhe sejam garantidos os devidos créditos pelas criações originais. (CC BY-SA).

História Ancestral do Brasil | Revista Nordestina de História do Brasil | 2020

HISTÓRIA ANCESTRAL E O PASSADO MAIS ANTIGO DO BRASIL

Quando fomos convidados pela Revista Nordestina de História do Brasil para coordenar e prefaciar o número temático História Ancestral do Brasil, não deixamos de nos perguntar, como arqueólogos e historiadores, o que se entenderia por ancestral no contexto epistemológico. De início, pensamos em temas relativos à pré-história, termo consagrado mundialmente desde o século XIX, quando Sir Daniel Wilson a utiliza pela primeira (Prehistoric Annals of Scotland, 1851, e Prehistoric man, 1862) e por Sir John Lubbock, na sua valorizada obra Pre-historic Times (1865). O termo não seria substituído com êxito por nenhuma outra expressão, mas, seria ele suficiente dentro do espírito da Revista que é primordialmente de História do Brasil? Até onde chegaria essa ancestralidade? Vemos, pelos diversos significados da palavra, que ancestral pode ser tudo o que seja anterior a nossa contemporaneidade, embora com o suficiente peso ou significado histórico para haver influído na formação do nosso futuro.

O estudo da pré-história do Brasil nos seus fundamentos básicos pretende conhecer as origens do povoamento, as tradições culturais dos caçadores-coletores e dos agricultores, as estratégias de sobrevivência dos diferentes grupos que povoaram a região desde o fim do pleistoceno e a sua evolução para o estágio agrícola e sedentário até o contato com o europeu1.

A integração das populações indígenas na história colonial assinala também o final da pré-história, independentemente do fator cronológico, mas a ancestralidade dos novos brasileiros não será apenas europeia, pois ficará também atrelada ao elemento indígena a partir do contato. No primeiro documento oficial da história do Brasil, o cronista da expedição de Cabral fez um retrato ameno dos indígenas avistados, num relato quase bucólico do que infelizmente seria o prelúdio da tragédia anunciada, que para os povos indígenas foi a Conquista. A visão reducionista e eurocêntrica fez dos indígenas americanos seres homogêneos desde o ponto de vista cultural sob a dominação genérica de índios, mas a realidade era completamente diferente, uma vez que o elemento indígena nos tempos da Colonização compreendia a maior densidade de línguas diferentes do mundo e os grupos étnicos apresentavam categorias socioculturais que abrangiam desde bandos de caçadores nômades a Estados teocráticos2.

O que se pode entender por História Ancestral? Se buscarmos em um buscador, como o Google, fica claro que o termo se refere a questões biológicas. Se nos voltamos para o adjetivo ancestral, em particular, ainda prevalece os sentidos biológicos. Nas humanidades e ciências sociais, usa-se para terra ancestral3 ou patrimônio, em referência a comunidades indígenas ou aborígenes. Ancestrais são usados para designar objetos culturais, como as máscaras dos ancestrais na antiguidade romana, de maneira a alcançar não só nativos, mas diversos povos do passado. O termo ancestral é muito produtivo, desde sua origem: ―ir antes‖, ―precedente‖, do latim antecedere (vir antes), com o prefixo ante- e o infinitivo cedere (ceder, ir). Refere-se aos que vieram antes, como em Shakespeare (Júlio César, I, 3, 506-510; fala de Cássio):

Pouco importa quem seja. Hoje ainda, são dotados os romanos de músculos e membros como os de seus ancestrais; mas, ai que tempo!; bem morto está o espírito de nossos pais, governa-nos o espírito de nossas mães. Nosso jugo e sofrimento mostram-nos efeminados. (Tradução dos autores).

Ancestral significa ―em relação aos predecessores, pessoas e lugares (Fernando Pessoa):

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —

Eterna verdade vazia e perfeita!

Ó macio Tejo ancestral e mudo,

Pequena verdade onde o céu se reflecte!

Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!

Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

[Fernando Pessoa, Lisbon Revisited (1923), Lisboa revisitada].

Este é o contexto para entender o uso, aqui, de História Ancestral. Refere-se a todos os humanos que viveram antes de nós e são, por isso, parte de nós, não só em termos genéticos, mas também como cultura. Este é um conceito abrangente, na medida em que todos são considerados de igual relevância, em qualquer época ou lugar. Todos que estudam nossos ancestrais mais antigos partilham a atenção e reconhecimento que os caçadores-coletores são dignos de interesse como quais outros seres humanos. No caso do Brasil, estudos genéticos indicam que:

Em conclusão, nosso estudo de mtDNA de uma mostra ao acaso de brasileiros brancos revelaram uma surpreendente alta contribuição matrilinear de ameríndios e africanos. Os brasileiros atuais, assim, carregam a marca genética da colonização mais antiga: a população pioneira colonial tinha, em geral, ancestralidade ameríndia e, depois de algumas gerações, com maior presença africana, sempre do lado materno. Mas, com ancestralidade portuguesa na linha paterna (como refletido por marcadores do cromossoma Y).4 (Tradução dos autores).

Frequência

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul

Ameríndios 33 54 22 33 22

Africanos 28 15 44 34 12

Europeus 39 31 34 31 66

Os genes dos ameríndios são, pois, bem difundidos5, mas talvez o mais importante seja a onipresença de sua contribuição cultural, da língua à culinária e muito mais6 . Entretanto, a História do Brasil é ainda considerada, mesmo em departamentos de História, como tendo início com a chegada dos portugueses, em 1500. Tanto assim, que pré-historiadores são ainda raros nos departamentos de História, com a resultante ausência de formação dos futuros professores de História, nas licenciaturas, quanto à História Ancestral. A Pré-História está bem representada em graduações e pós-graduação em Arqueologia, mas os arqueólogos não são formados em licenciaturas, mas em bacharelado, pelo que não podem ser professores no ensino fundamental e médio.

Há, ainda, um amplo espaço para a Pré-História, de modo que os licenciados em História possam aprender, de primeira mão, sobre os milhares de anos de ocupação humana da América do Sul. Este número da Revista busca contribuir para superar alguns desses desafios ao focar na História Ancestral mais antiga, a pré-histórica. Além disso, volta-se para o público mundial, de modo a alcançar um público mais amplo.

Os autores dos artigos que integram o presente número temático são todos pesquisadores experimentados e como não poderia deixar de ser, tiveram total liberdade nas escolhas dos temas apresentados, embora como num acordo não assinado, a linha do tempo foi marcada por trabalhos de cunho pré-histórico e outros nos quais o elemento indígena aparece em contato ou confronto com o português. Por decisão dos editores da Revista, a sequência de autores é alfabética e não segue assim uma ordem cronológica nem temática, mas demonstra a riqueza dos temas ligados ao mundo indígena na visão científica e pessoal dos seus autores.

O primeiro artigo, Archéologie: Du passe au présent, dês paysages au territoire, assinado por Agueda e Denis Vialou, não poderia ser mais oportuno para o início deste número da Revista. Está dedicado às ocupações do final do Pleistoceno e do Holoceno numa região onde nascem as bacias hidrográficas do Amazonas e do Paraguai-Paraná, região de dispersão de grupos étnicos que depois estarão separados por milhares de quilômetros. Roquette-Pinto7 no livro Rondônia, já comentava que quem atravessa o Mato Grosso vê, lado a lado, arroios orientados para o Norte e outros que vão se perder no Paraguai. O parágrafo final do artigo é ilustrativo e resume a importância dos registros rupestres pré-históricos como marcadores de identidades: “Les représentations rupestres reflètent la modernité dessociétés préhistoriques dans leurs irréductibles identités symboliques, confiées à la nature, aucœur de leurs territoires”

Alexandre Navarro, Dayse Marinho e João Costa Gouveia Neto são os autores de um belíssimo texto sob o título O imaginário do mundo das águas: lendas, narrativas e histórias ancestrais sobre a vida dos povos das estearias, no qual, e a partir dos assentamentos lacustres do Maranhão, recolhem as lendas que o imaginário popular teceu ao longo dos anos que se seguiram quando os construtores das estearias já as tinham abandonado há décadas. Cabe destacar, que as estearias do Maranhão significam um mundo intermediário entre as populações do litoral nordestino e as da bacia amazônica.

A longa trajetória do arqueólogo e pesquisador da Bahia Carlos Etchevarne está resumida, em parte, no seu trabalho A história da Bahia antes da colonização portuguesa, com ênfase nas populações sedentárias ou semi-sedentárias de agricultores Aratu e Tupi. A importância dos registros rupestres, tão abundantes na Bahia, é também ressaltada como indicadora da variedade de etnias indígenas que povoaram a região.

Fábio Borges entendeu qual era o espírito do dossiê temático da Revista na sua Proposta para uma abordagem arqueológica da etno-história do Seridó – RN/PB. Pernambucano de Olinda, Fábio Borges é hoje um seridoense por adoção e mérito próprio, pesquisador e professor da UFRN no campus de Caicó, suas pesquisas na Região do Seridó têm contribuído ao entendimento de uma ancestralidade indígena potiguar que se remonta desde milênios AP até o século XVII, através da conjunção dos dados fornecidos pela gloto-linguística, a etno-história e o registro arqueológico.

O artigo apresentado por Michel Justamand, Albérico Nogueira de Queiroz e Gabriel Frechiani de Oliveira, As representações rupestres de biomorfos no Parque Nacional Serra da Capivara – PI: um estudo de caso é, mais uma vez, a demonstração da importância que a interdisciplinaridade tem em Arqueologia. Os três pesquisadores estão ligados às pesquisas sobre arte rupestre, particularmente ao conjunto ímpar do Parque Nacional Serra da Capivara, embora cada um, pela sua formação, tenha um viés metodológico diferente. Dá-se especial evidência neste trabalho às figuras que representariam a transição da forma humana para a animal ou vice-versa. Não podemos deixar de evocar a figura do homem pássaro representada nos sítios rupestres dos sertões nordestinos e mais uma vez refletir sobre as identidades ancestrais que representam os nossos registros rupestres pré-históricos.

Nanci Vieira de Oliveira em Pescadores – Coletores do Litoral Fluminense: Novos olhares, velhos problemas inicia a sua contribuição ao tema básico deste número da Revista com uma reflexão acertada dos conceitos, ultrapassados às vezes, do que se entende por nomadismo e sedentarismo na arqueologia tradicional. Utilizando-se de um neologismo certeiro, – as pesquisas pronapianas – , referindo-se aos pesquisadores que integraram o famoso PRONAPA, põe em tela de juízo os horizontes culturais em que foram divididas as ocupações humanas pré-históricas entre sítios précerâmicos e sítios cerâmicos, sem aparente ligação entre eles. A pesquisadora propõe um novo olhar na procura de identidades étnicas e processos culturais capazes de identificar a atividade humana no médio da massa de materiais e fases arqueológicas que a mascaram. Os novos olhares metodológicos abrem uma nova janela ao entendimento das populações litorânea, as primeiras a serem avistadas e que sofreriam os primeiros impactos da conquista portuguesa. Para finalizar a nossa contribuição, só nos resta parabenizar a feliz iniciativa da RNHB dedicando um número temático às mais antigas origens do povo multiétnico brasileiro.

Notas

1. Cf.: MARTIN, Gabriela. Quando os índios não eram índios: reflexão sobre as origens do homem pré-histórico no Brasil. CLIO Arqueológica, Recife, n. 15, p. 1-27, 2002.

2. TOVAR, Antonio. Catálogo de las lenguas de América del Sur. 2. ed. Madrid: Ed. Gredos, 1984.

3. Cf.: TUMINEZ, Astrid S. This Land is Our Land: Moro Ancestral Domain and Its Implications for Peace and Development in the Southern Philippines. SAIS Review of International Affairs, v. 27 n. 2, p. 77-91, 2007. Project MUSE. DOI: 10.1353/sais.2007.0044; ROTARANGI, S. J. Planted forests on ancestral land: the experiences and resilience of Māori land owners. 2012. Thesis (Doctor of Philosophy) – University of Otago. Retrieved from: http://hdl.handle.net/10523/2221; DI GIMINIANI, P. The becoming of ancestral land: Place and property in Mapuche land claims. American Ethnologist, 42, p. 490-503, 2015. DOI: 10.1111/amet.12143.

4. ALVES-SILVA, J.; SILVA SANTOS, M. Da; GUIMARAES, P. E.; FERREIRA, A. C.; BANDELT, H. J.; PENA, S. D.; PRADO, V. F. The Ancestry of Brazilian mtDNA Lineages. Am J Hum Genet, n. 67, p. 444-461, 2000.

5. PENA, Sérgio D. J.; BORTOLINI, Maria Cátira. Pode a genética definir quem deve se beneficiar das cotas universitárias e demais ações afirmativas? Estud. av., São Paulo, v. 18, n. 50, p. 31-50, apr. 2004. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100004&lng=en&nrm=iso. Access on: 10 jun. 2020. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40142004000100004.

6. FUNARI, P. P. A.; PINON, A. A temática indígena na escola: subsídios para os professores. São Paulo: Contexto, 2011.

7. ROQUETTE-PINTO, Edgard. Rondônia: anthropologia-ethnografia. Rio de Janeiro: Coedições ABL, 2005.

Gabriela Martin –  Doutora em História Antiga pela Universitat de València (Espanha) Professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Recife, PE, Brasil. E-mail: gabrielamartinavila@gmail.com

Pedro Paulo A. Funari –  Doutor em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP) Professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Campinas, SP, Brasil. E-mail:  ppfunari@uol.com.br  Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0183-7622


MARTIN, Gabriela; FUNARI, Pedro Paulo A. Apresentação. Revista Nordestina de História do Brasil. Cachoeira, v.2, n.4, p.7-12, jan./jun. 2020. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê [DR]

 

A evolução improvável / William von Hippel

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William von Hippel / Foto: UQ School Psychology /

HIPPEL W A Evolucao improvavelEm seu primeiro livro publicado, o psicólogo social William von Hippel (1963-) consegue se inserir na recente e já tão marcante coleção de obras que articulam os resultados de inumeráveis experimentos de laboratório, pesquisas em psicologia social e teoria da evolução. Com a primeira publicação no final de 2018 e tradução para o português em 2019, “A evolução improvável”[2] (“The Social Leap”, no original) busca utilizar as recentes descobertas da ciência evolutiva e pesquisas relacionadas para compreender vários aspectos da vida cotidiana e da história do ser humano, passando por questões aparentemente banais como o arremesso de pedras e chegando à grandes perguntas sobre a felicidade e as contradições da existência humana.

Professor de psicologia e pesquisador da Universidade de Queensland, Austrália, von Hippel estruturou seu livro de modo didático, partindo de questões mais abrangentes nos primeiros capítulos, e, aos poucos, a obra irá filtrando temas e situações específicas da vida humana que demandam mais atenção e cuidado na análise. Tais construções tornam-se nítidas já no prólogo, quando o autor utiliza três estudos de caso para responder, de antemão, uma pergunta que ele mesmo se coloca (imaginando, acertadamente, que os leitores em algum instante perguntariam), “como sabemos o que sabemos?”.

Essa pergunta, que pode parecer trivial, dialoga com o estado em que se encontra a Psicologia evolutiva no cenário acadêmico. Criada recentemente, nas décadas de 1980-1990 (com pesquisas no Brasil a partir de 2004), a Psicologia Evolutiva [3] vem enfrentando desde seu nascimento muitas críticas relacionadas a seus limites explicativos e especulativos [4], além das questões de rigor científico e de suas problemáticas interpretações morais [5]. Algumas dessas dúvidas, porém, são logo retiradas de cena quando von Hippel demonstra como a “contagem de mutações no código genético” de piolhos de diferentes tipos pode sugerir quando começamos a usar roupas (há 70 mil anos); ou como fontes históricas de registros de casamentos e mortes feitas por igrejas luteranas servem de evidência para analisar o papel das avós na história evolutiva dos humanos; e por fim, como a utilização de análises da presença de diferentes composições de estrôncio em dentes fossilizados sugerem que as fêmeas dos Australopithecus africanus abandonavam seu grupo de origem em certa idade para evitar a reprodução entre parentes próximos (evitando a endogamia).

A partir dessa breve elucidação metodológica, o livro se divide em dez capítulos, que estão, por sua vez, organizados em três partes. A primeira parte [“como nos tornamos quem somos”], será um esforço de releitura da trajetória evolutiva do Australopithecus até o Homo sapiens, destacando situações marcantes que influenciaram nossa formação evolutiva.

A nossa descida das árvores para as savanas, causada pela mudança gradual da vegetação a partir do movimento de placas tectônicas que elevou as regiões do Quênia, Tanzânia e Etiópia, secando boa parte do Vale do Rift, é um evento em destaque, pois mudou completamente a forma como convivíamos uns com os outros e com a natureza ao nosso redor, tornando a cooperação e o fortalecimento de grupos as nossas principais armas evolutivas.

O arremesso de pedra, por exemplo, dos Australopithecus afarensis, possibilitou nossas primeiras experiências de cooperação e trabalho coletivo. A evolução da esclerótica branca dos nossos olhos possibilitando uma “atenção partilhada” mais forte entre membros de um grupo, e a criação da divisão de trabalho pelo Homo erectus na produção das pedras acheulianas (mais pontiagudas e com dois gumes) fortaleceu os laços cooperativos e colaborativos humanos. Com o Homo erectus também vemos o alvorecer da maturidade evolutiva dos humanos, porque é partir de então que o ‘amanhã’ importará mais que o ‘hoje’ em nossas vidas, fato que ainda hoje nos caracteriza com ansiedades e preocupações quase sempre associadas às incertezas do “amanhã”, mas que em suas origens correspondiam à planejamentos e a uma consciência de estocar e carregar coisas para um uso futuro.

Assim, a hipótese do cérebro social é um dos principais conceitos da primeira parte, e de todo o livro, pois sugere que a nossa evolução cognitiva se deve a nossa crescente sociabilidade adquirida depois que passamos a viver nas savanas, dando margem para desenvolvermos a Teoria da Mente, a compreensão de que o outro pensa diferente de mim. Isso possibilitou maior capacidade de ensinar e aprender, como também aprimorou nossa habilidade de abstração e imaginação.

Salta aos olhos a quantidade de experiências que o autor cita ao longo do livro, o que representa uma estratégia argumentativa de nunca levantar hipóteses explicativas sem ter em mãos algumas evidências concretas para corroborá-las. Desse modo, na segunda parte [“usando o passado para compreender o presente”] von Hippel torna inteligível as vantagens evolutivas do autocontrole, mas também do autoengano, destaca nossa capacidade inventiva (Homo innovatio), inerentes a todos nós, mas que em geral se dão em inovações sociais (resolver problemas a partir de relações sociais) e com menos frequência em inovações técnicas (resolver problemas com criação de técnicas/tecnologias); e isso se explica pela nossa história evolutiva de hipersociabilidade, que nos ensinou a valorizar tanto as interações sociais com membros de nosso grupo (Homo socialis), mas não com outros grupos.

William von Hippel analisa como os riscos da interação entre grupos há milhões de anos pode ter evoluído à uma tendência de evitarmos a interação entre grupos, mesmo que valorizássemos a coesão interna do nosso grupo. Isso possui, segundo o autor, origens patogênicas além das rivalidades territoriais. Nosso organismo se adapta aos patógenos com os quais toma contato ao longo da vida do indivíduo e da história de sua genealogia, dessa maneira, o contato com grupos isolados pode trazer sérias consequências [6]. O autor amplia a análise e sugere até mesmo que essa seria a possível explicação de existir nos trópicos uma quantidade tão grande de religiões e línguas distintas, pois nessas localidades a grande quantidade de doenças gera uma maior resistência relacionada ao contato entre grupos; e continua: “Dessa forma, é provável que ameaças de patógenos sejam a fonte subjacente do que é conhecido como preconceito simbólico, ou a animosidade com grupos com práticas e crenças diferentes das nossas” [7].

Ainda na segunda parte, von Hippel estuda as implicações políticas da nossa evolução, apresentando o elefante e o babuíno como metáforas dos “tipos” de políticos mais democráticos e abnegados, e aquelas mais autoritários e individualistas, respectivamente. Esses “tipos” políticos ganham significados mais definidos com a ruptura político-social e psicológica que foi a Revolução Agrícola (estudada na primeira parte do livro).

A Revolução Agrícola transformou nossa psicologia, dando ensejo a uma série de armadilhas constituintes da nossa realidade como a propriedade privada, a desigualdade de gênero e a “normalização” da desigualdade econômica, porque só com a agricultura tais mudanças e acúmulos possuíam algum sentido e vantagem evolutiva. Assim, tal como o historiador Yuval N. Harari [8], von Hippel enxerga a Revolução Agrícola como um engodo ou a “grande fraude da história humana”, que nos trouxe vários benefícios, mas também inúmeros problemas [9].

Apesar disso, von Hippel utiliza os estudos de Steven Pinker para afirmar que a violência humana diminui significativamente ao longo dos séculos, e hoje apresenta seu menor índice em termos mundiais, em função da acelerada industrialização das cidades e do poder crescente de intervenção do Estado nas relações sociais dos indivíduos e seus conflitos.

Na última parte, denominada “usando o conhecimento do passado para construir um futuro melhor”, o autor coloca a “felicidade” no centro da discussão, e arrisca refletir sobre como podemos usar todos os conhecimentos que foram apresentados ao longo do livro para vivermos melhor. E por alguns instantes o autor parece escrever um capítulo de autoajuda, dando algumas ‘dicas’ e sugerindo ‘passos’ para uma vida mais feliz. Esse caminho é apenas uma escolha de estilo, pois desde o início von Hippel propõe ser bastante acessível e didático em sua construção intelectual, e nos últimos capítulos ele se esforça em reunir tudo que já foi dito para sintetizar as descobertas científicas recentes em lições que podem de fato nos ajudar no cotidiano, alertando principalmente para o que chama de indulgências fenotípicas, que “embora prazerosos, são apenas substitutos para nossas preferências evoluídas” [10] (p. ex.: filmes, drogas, masturbação etc.).

Desse modo, o autor não faz uso de clichês ou caminhos fáceis, e logo afirma que a felicidade não pode ser permanente, além de que, em nossa história evolutiva, sua razão de ser corresponde a sua finitude; e não só isso: a conquista da felicidade é relativa a cada pessoa, grupo e sociedade, mas todos possuem certas características biológico-evolutivas que podem ser úteis para nos conhecermos mais e assim vivermos de forma mais proveitosa. E essas características constituintes de nossa espécie são reunidas pelo autor em “dez passos fáceis”, abordando em forma de “lições” os principais pontos trabalhados nos dez capítulos do livro: (1) Permaneça no presente; (2) Busque momentos doces; (3) Projeta sua felicidade para permanecer saudável; (4) Acumule experiências, não coisas; (5) Dê prioridade a comida, amigos e relações sexuais; (6) Coopere; (7) Entranhe-se na comunidade; (8) Aprenda coisas novas; (9) Use suas forças (suas habilidades específicas); e (10) Busque a fonte original (não se satisfaça apenas com as indulgências fenotípicas) [11].

Por fim, percebemos que von Hippel foi bem sucedido em seu objetivo de apresentar uma história evolutiva humana que fosse capaz de fornecer conceitos explicativos sobre nossas vidas na contemporaneidade, permitindo-nos acessar um conhecimento prático-reflexivo, demonstrando assim a grande aplicabilidade dos estudos da evolução e da genética nas ciências sociais e humanas12, proporcionando uma compreensão dos comportamentos e das culturas humanas sob a perspectiva biológica, mas sem deixar de lado as influências e determinações associadas ao ambiente em que vivem os indivíduos e as sociedades florescem.

Notas

2. Infelizmente, a tradução do título para o português não resgatou o sentido do original, que, numa tradução livre, poderia ser “O salto social”, mais próximo do ponto central da obra que é demonstrar a importância seminal da sociabilidade para a evolução da nossa espécie; e com “salto” poderíamos interpretar a descida das árvores para as planícies das savanas, que nos obrigou a sermos mais cooperativos e sociais, marcando a separação definitiva entre nós e os outros primatas.

3. Que tem sua origem mais distante nas obras de Darwin a partir de 1859, mas surgiu como campo de estudo definido a partir da matriz da Sociobiologia de meados do século XX.

4. Ver: VERNAL, Javier. As explicações da psicologia evolutiva. Investigação Filosófica: vol. E1, artigo digital 4, 2011.

5. HATTORI, Wellisen Tadashi; YAMAMOTO, Maria Emília. Evolução do comportamento humano: Psicologia evolutiva. Estud. Biol., Ambiente Divers. 2012 jul./dez., 34(82), p. 101-112.

6. O que para a história do continente americano não é nenhuma novidade, vide o genocídio dos autóctones pela invasão dos europeus ser principalmente causado pela transmissão de patógenos não existentes neste continente. (HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 16-19).

7. HIPPEL, William von. A evolução improvável. – Tradução de Alexandre Martins. – 1. Ed. – Rio de Janeiro: Haper Collins, 2019, p. 207.

8. HARARI, Yuval Noah. A Revolução Agrícola. In: _____. Sapiens: uma breve história da humanidade. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2018, p. 113-219.

9. “Quando comparamos os custos e benefícios, vemos que a agricultura permitiu a nossos ancestrais algumas garantias contra a fome, mas ao custo de diversas novas doenças, menos estatura e longevidade, uma halitose repulsiva e com frequência um dia de trabalho muito mais longo. O resultado final foi que os primeiros fazendeiros trabalhavam mais para ter uma vida pior que a de seus antepassados” (HIPPEL, op. cit., 73).

10. Ibidem, p. 265-268.

11. Ibidem., p. 238.

12. Um exemplo seria a recente obra de Francis Fukuyama, As origens da ordem política, que na primeira parte do livro utiliza os resultados de pesquisas em genética e teoria da evolução para explicar certos estágios e eventos fundamentais de nossas história política, usando também conceitos e raciocínios próprios da antropologia e da arqueologia socio-evolutiva. (FUKUYAMA, Francis. Antes do Estado. In:______. As origens da ordem política: dos tempos pré-históricos a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Rocco, 2011, p. 17-115).

Agenor Manoel da Silva Filho – Graduando em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Correio eletrônico: manoel0agenor@gmail.com.


HIPPEL, William von. A evolução improvável. Tradução de Alexandre Martins. 1. Ed. Rio de Janeiro: Haper Collins, 2019. 304, p. Resenha de: SILVA FILHO, Agenor Manoel. A revolução diferenciada. História.Com. Cachoeira, v.7, n.13, p.125-129, 2020. Acessar publicação original [IF].

Os antigos habitantes do Brasil | Pedro Paulo Abreu Funari

FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Os antigos habitantes do Brasil. 2. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2019. Resenha de: SILVA, Filipe Noe da. Arqueologia para uma outra história do Brasil. Revista Nordestina de História do Brasil. Cachoeira, v. 2, n. 4, p. 243-247, jan./jun. 2020.

Mesmo se considerarmos o abismo provocado pela desigualdade social, ainda nos parece possível afirmar que o vastíssimo (e diverso) universo escolar brasileiro, nos dias atuais, funciona a partir de metodologias e ferramentas de ensino bastante variadas. Apesar da paulatina informatização do ensino, com o uso cada vez mais frequente de videoaulas, canais e redes sociais, as apostilas e livros didáticos de todas as disciplinas ainda constituem suportes informativos de ampla difusão no quotidiano das escolas brasileiras1. Em muitos casos, pode-se mesmo conjecturar que o material didático é o primeiro livro da vida de muitos de nossos estudantes, e permanece como “[…] o principal instrumento do qual se podem valer os professores” 2.

No ensino de História, em particular, os livros didáticos e paradidáticos coexistem com documentos que, a priori, não foram elaborados com finalidades pedagógicas, mas que são empregados na sala de aula para tal fim: filmes, músicas, imagens, fotografias, documentários, obras de arte, poemas e artefatos arqueológicos, com frequência, são convertidos em documentos de grande valia para o estudo da História3. Do mesmo modo, narrativas pessoais e memórias orais, igualmente convertidas em fontes históricas, têm revelado aos(às) jovens estudantes as percepções daqueles e daquelas que, em muitos casos, testemunharam as inúmeras transformações, invenções e rupturas que atingiram suas sociedades no último século4.

São muitas as investigações sobre os discursos históricos apresentados pelos livros didáticos do presente e do passado: além das tradicionais memórias nacionais, temas referentes às questões étnico-raciais, às relações de gênero e ao silenciamento das populações subalternas, em geral, têm colocado em evidência os propósitos políticos e identitários das publicações didáticas mundo afora5.

Como no caso do estudo da Antiguidade, cujos livros didáticos apresentam “[…] anacronismos, erros, simplificações, juízos de valor e, principalmente, falta de atualização dos assuntos tratados” 6, não é raro encontrarmos, em muitos materiais voltados ao ensino da História, narrativas eurocêntricas, elitistas e baseadas em uma perspectiva “civilizadora” dos colonizadores. Dentro dessa perspectiva histórica, como constatou Francisco Silva Noelli7, a experiência dos povos indígenas do Brasil, por vezes, figura de maneira apenas preambular nos livros escolares: “[…] se compararmos o status desses temas com os demais conteúdos do currículo básico de História do Brasil e das Histórias Regionais, facilmente constataremos que eles são irrisórios em termos quantitativos”8.

Apesar de não ser um livro didático stricto sensu9, a segunda edição d’Os antigos habitantes do Brasil, de Pedro Paulo Funari, docente da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), oferece uma alternativa valiosa para o atual ensino da História das populações indígenas do território brasileiro. Em consonância com as teorias sociais pós-colonialistas, sua narrativa constitui uma ferramenta pedagógica fundamental para a superação do senso comum e dos muitos estereótipos racistas e etnocêntricos associados a esses povos. Ao demonstrar, por exemplo, que a ocupação humana no Brasil extrapola os 10 mil anos, a referida publicação coloca em xeque a hipótese, ainda vigente em âmbito escolar, de que não existe História onde inexiste a escrita. Frente à escassez de documentos escritos, por sua vez, o autor recorre à Arqueologia, ao estudo da cultura material produzida de maneira espontânea e quotidiana pelos próprios indígenas.

Reconhecida no Brasil e em âmbito internacional, a trajetória acadêmica do professor Funari promove uma profícua (e original) amalgamação de estudos sobre História Antiga (com ênfase nas camadas populares sob uma perspectiva da História Cultural), Antropologia e Arqueologia: reflexo de uma formação híbrida e da abertura, por parte do autor, ao diálogo e à interdisciplinaridade. Ao converter tal erudição em uma linguagem acessível e agradável aos estudantes de nível Fundamental e Médio, Funari, em seu livro sobre Os antigos habitantes do Brasil, aproxima seus leitores e leitoras de temas particularmente complexos à História e à Arqueologia contemporâneas, tais como a origem das populações ameríndias e as transformações (territoriais, sociais e faunísticas) decorrentes das mudanças climáticas.

A relação entre os seres humanos e o meio-ambiente, fonte fundamental de sobrevivência às populações indígenas, não é apresentada de maneira determinista, como se as populações nativas fossem apenas submissas e passivas frente às imposições da natureza hostil. Ao contrário, com o intuito de evidenciar o protagonismo e a originalidade desses povos, o autor demonstra, de maneira sutil e didática, que atividades como a caça, a coleta e a pesca teriam coexistido com a agricultura no território brasileiro desde antes da chegada dos portugueses.

Devido às escolhas curriculares, é bastante usual nas escolas brasileiras que a agricultura seja apresentada enquanto um apanágio restrito às civilizações localizadas no Crescente Fértil mesopotâmico, e que dali teria se difundido a outros povos e lugares. Nas escolas do estado de São Paulo, por exemplo, o desenvolvimento da agricultura, outrora denominado por Vere Gordon Childe como “Revolução Neolítica”, ou simplesmente a “[…] progressiva utilização de técnicas para a produção de alimento (agricultura e criação de gado) em substituição das técnicas da simples exploração (caça e coleta) de tudo quanto já estava presente na natureza”10 tem integrado, ainda que de maneira subordinada ao tema do “Oriente Próximo”, o grupo de habilidades e competências previstas para o 4º e 6º anos do Ensino Fundamental e à 1ª série do Ensino Médio. Em nenhum dos currículos11 (2010 ou 2019), no entanto, há qualquer referência aos processos de desenvolvimento agrícola ocorridos de maneira independente no continente americano em períodos pré-coloniais, ou noutras localidades do planeta12.

Sobre a chegada dos primeiros seres humanos à América, em particular, o autor apresenta duas hipóteses principais: por um lado, os ameríndios seriam descendentes de asiáticos que teriam atravessado os noventa quilômetros do chamado Estreito de Bering em uma época em que o nível das águas teria sido mais baixo. Por outro lado, devido à presença de restos mortais de indivíduos oriundos da Oceania, outras possibilidades de povoamento, seus limites e incertezas, também são apresentadas de maneira didática e elucidativa. O uso de mapas e ilustrações na explicação das duas hipóteses também constitui uma boa opção pedagógica acerca do tema.

Por meio da cultura material produzida pelos indígenas, Funari demonstra toda a diversidade, autonomia e criatividade das etnias espalhadas pelo Brasil. Entre tupis e marajoaras, a cerâmica, as habitações, os sambaquis, os artefatos líticos e as pinturas, todos ilustrados pelos belíssimos traços de Isabel Voegeli Stever, aproximam alunos e alunas de civilizações complexas e cuja produção material, segundo o próprio autor, nada deixaria a desejar se comparada àquela dos gregos e egípcios da Antiguidade, por exemplo. Sem prescindir do rigor necessário às investigações sobre o passado, os inúmeros artefatos arqueológicos são apresentados em fotografias de alta resolução e suas descrições convidam os(as) estudantes a tecerem suas próprias interpretações sobre esses objetos.

Para além do eventual diálogo com as teorias pós-processualistas da Arqueologia13 e sua respectiva ênfase na subjetividade do conhecimento arqueológico, também julgamos pertinente uma aproximação às considerações do educador Paulo Freire sobre o respeito às formas de conhecimento trazidas pelos(as) discentes como forma de respeito e estímulo à autonomia intelectual:

Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela – saberes socialmente construídos na prática comunitária (…). Por que não estabelecer uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm dos indivíduos?14

Temas contemporâneos, como a divisão social do trabalho e o protagonismo das mulheres nas sociedades indígenas, ajudam a compor um livro que, embora verse preponderantemente sobre o passado, fá-lo a partir das demandas e reivindicações sociais do tempo presente. Conforme consta na recente Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a compreensão sobre “Os povos indígenas originários do atual território brasileiro e seus hábitos culturais e sociais”15 constitui um objeto de estudo a ser explorado nas aulas de História do 6º Ano do Ensino Fundamental. Se for este, de fato, o documento fundamental que norteará os rumos da educação básica no Brasil durante os próximos anos, o livro Os antigos habitantes do Brasil, uma vez inserido nos currículos estaduais e municipais, parece-nos profundamente necessário e atual, principalmente porque apresenta uma perspectiva democrática e inclusiva sobre a História dos indígenas a todos os estudantes brasileiros.

Notas

1. CHOPPIN, Alain. História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 549-566, set./dez. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v30n3/a12v30n3.pdf  Acesso em: 12 abr. 2020; BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de História. Fundamentos e Métodos. São Paulo: Editora Cortez, 2005.

2. SILVA, Glaydson José. Os avanços da História Antiga no Brasil. SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 26., 2011, São Paulo. Anais eletrônicos […]. São Paulo: ANPUH, 2011.

3. BITTENCOURT, op. cit.

4. Sobre este tema, em particular, vide: BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade. Lembranças de velhos. São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 1979.

5. CHOPPIN, op. cit., p. 554.

6. SILVA, Semíramis Corsi. Aspectos do Ensino de História Antiga no Brasil: algumas observações. Alétheia: Revista de estudos sobre Antiguidade e Medievo, São Paulo, v. 1, p. 145-155, jan./jul. 2010. Disponível em: https://periodicos.unipampa.edu.br/index.php/Aletheia/article/view/73/62. Acesso em: 12 abr. 2020.

7. NOELLI, Francisco Silva. Resenha: Os antigos habitantes do Brasil. Educ. Soc, Campinas, v. 24, n. 82, p. 341-342, abr. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302003000100027.  Acesso em: 12 abr. 2020.

8. Ibidem, p. 341.

9. De acordo com Circe Bittencourt, os livros didáticos convencionais estariam sujeitos a interesses editoriais e de mercado: “[…] Como produto cultural fabricado por técnicos que determinam seus aspectos materiais, o livro didático caracteriza-se, nessa dimensão material, por ser uma mercadoria ligada ao mundo editorial e à lógica da indústria cultural do sistema capitalista”. Ver: BITTENCOURT, op. cit., p. 301.

10. LIVERANI, Mario. Antigo Oriente. História, Sociedade e Economia. São Paulo: EDUSP, 2016. p. 71.

11. No antigo currículo (2010), o tema do “Oriente Próximo” integrava os estudos de História do 6º Ano do Ensino Fundamental e 1ª Série do Ensino Médio. Conferir: SÃO PAULO. Currículo do Estado de São Paulo. Ciências Humanas e suas tecnologias. São Paulo: Secretaria da Educação, 2010. Já o novo Currículo Paulista aborda o tema da Agricultura de maneira genérica por meio do objeto de conhecimento: “A ação das pessoas, grupos sociais e comunidades no tempo e no espaço: nomadismo, agricultura, escrita, navegações, indústrias, entre outras”. Cf.: SÃO PAULO. Currículo Paulista. São Paulo, 2019. p. 466.

12. Para uma síntese desses processos, vide: MAZOYER, Marcel; ROUDART, Laurence. História das agriculturas no mundo. Do neolítico à crise contemporânea. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. p. 66-67.

13. HODDER, Ian. Interpretación en Arqueología. Barcelona: Crítica, 1994. p. 195; TRIGGER, Bruce Graham. História do Pensamento Arqueológico. São Paulo: Editora Odysseus, 2004. p. 373.

14. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora Paz & Terra, 2011. p. 21-22.

15. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Ensino Fundamental. Brasília: MEC, 2018.

Filipe Noe da Silva –  Doutorando em História pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Professor das Faculdades Integradas Maria Imaculada (FIMI) Mogi Guaçu, SP, Brasil. E-mail: filipe.hadrian@gmail.com  Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5075-0131

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Việt Nam – A History from Earliest Times to the Present | Bem Kiernan

Os estudos asiáticos no Brasil vêm desenvolvendo nos últimos anos, com algum fôlego, boas produções acadêmicas. Alguns departamentos, com maior frequência aqueles de língua, cultura e civilização estrangeiras, têm se esforçado para criar e manter centros de estudo sobre a Ásia. Os departamentos de História, por sua vez, com esforços igualmente louváveis, vêm já há algumas décadas envidando esforços no sentido de contribuir para uma abordagem mais matizada e vertical dos temas asiáticos, retirando-os assim de um destino quase sempre panorâmico da visada internacionalista interessada, mais imediatamente, nas conjunturas político-econômicas da ordem do dia.

Nesse contexto de abertura e consolidação de uma área de especialização, os estudos asiáticos quase sempre são sinônimo, no volume da produção acadêmica brasileira, de estudos sobre China, Japão e, com menos incidência, Coreia do Sul. As relações históricas mais próximas do Brasil com esses três países acabam, de alguma forma, condicionando e dirigindo o interesse do pesquisador brasileiro por temas ligados àqueles momentos em que estabelecemos relação mais direta com esses três representantes do extremo leste. Leia Mais

Ecología y subsistencia de los cazadores-recolectores en el Campo de Dunas del Centro Pampeano – NAHUEL (IA)

SCHEIFLER Nahuel A noticiasdoce.com .ar 2014

SCHEIFLER Nahuel A. Scheifler/noticiasdoce.com.ar/2014.

SCHIFLER N A Ecologia y subsistencia de los cazadores recolectoresSCHEIFLER A. Nahuel. Ecología y subsistencia de los cazadores-recolectores en el Campo de Dunas del Centro Pampeano. Buenos Aires. Sociedad Argentina de Antropología, 2019. 272p. Resenha de: FRONTINI, Romina. Zooarqueología en el Campo de Dunas del Centro Pampeano: nuevos aportes para comprender la subsistencia durante el Holoceno medio y tardio. Intersecciones en Antropología, Buenos Aires, v.1, n.21, p.113-114, 2020.

El libro Ecología y subsistencia de los cazadores-recolectores en el Campo de Dunas del Centro Pampeano, de Nahuel Scheifler, deriva de un trabajo de investigación de cinco años como parte de la tesis doctoral del autor. En él se aborda la subsistencia de los grupos nativos durante el Holoceno medio y tardío en el sistema Lagunar Hinojo-Las Tunas y en la Depresión de Vallimanca, sectores en los que las investigaciones sistemáticas eran escasas hasta el momento.

El libro se estructura en diez capítulos. En el capítulo 1, el autor realiza el planteo general del tema ubicándolo espacial y temporalmente. Sintetiza los antecedentes de las primeras investigaciones en el sector de estudio, desarrolladas a partir de la década de 1930, y enuncia los objetivos de la investigación. La aproximación al tema de estudio es realizada desde la zooarqueología, con énfasis en la tafonomía, lo que permite evaluar el grado de resolución e integridad de los ensambles bajo estudio.

En el capítulo 2, Scheifler expone que la ecología del comportamiento humano y, específicamente, el modelo clásico de amplitud de la dieta constituye el marco teórico y conceptual a partir del cual serán interpretados los datos. Este marco teórico, ampliamente desarrollado en arqueología, resulta operativo para evaluar las estrategias de adaptación de los grupos que habitaron el Campo de Dunas Pampeano en relación con las características y fluctuaciones del ambiente. De este modo, y sobre la base de información ambiental, biológica y etnográfica, el autor formula una jerarquización de los recursos animales de la Región Pampeana, en la cual el guanaco es la especie de mayor importancia, seguida por el venado de las pampas, el ñandú, el armadillo y otras especies de menor porte.

En el capítulo 3 se desarrollan la caracterización geomorfológica y ambiental del sector bajo estudio y las variaciones de las condiciones ambientales durante el Holoceno. Esta información es articulada con la historia del poblamiento humano en la Región Pampeana (Capítulo 4) y con la jerarquización de los recursos faunísticos presentada en el capítulo 2, para formular las hipótesis de trabajo (Capítulo 5).

La descripción de la metodología del análisis arqueofaunístico y tafonómico se presenta en el capítulo 6, e incluye una serie de herramientas metodológicas (índices de riqueza, heterogeneidad y equitatividad taxonómica) apropiadas para dar respuesta a las preguntas de investigación. En el capítulo 7, el autor presenta la información estratigráfica, cronológica y del contexto arqueológico de los tres sitios estudiados: La Susana 1, Huencú Nazar y Laguna Cabeza de Buey 1. Para cada uno de ellos se presenta apoyatura gráfica (esquemas de plantas de excavación, fotos de paisaje, gráficos de distribución de materiales) que facilitan el acceso a la información.

La integridad y resolución de los conjuntos arqueológicos es abordada a partir de la comparación de diferentes variables tafonómicas que permitieron establecer variabilidad en los conjuntos en relación con los procesos culturales y naturales de formación de los sitios (Capítulo 8). De este modo, el autor pudo identificar claramente el origen humano de ciertos restos y el rol mixto en la depositación de especies pequeñas.

En el capítulo 9 se desarrolla la contrastación de las hipótesis sobre la base de la información presentada, a partir de la comparación inter- e intrasitio desde una perspectiva temporal. De este modo, el autor da cuenta de las variaciones temporales ocurridas en la amplitud de la dieta de los grupos cazadores recolectores y su vinculación con las fluctuaciones en el clima y en la disponibilidad de los recursos de mayor rango.

En el capítulo 10, integra la información novedosa generada en este libro con los antecedentes regionales y discute, a la luz de las nuevas evidencias, los modelos de subsistencia propuestos para la región.

Múltiples aspectos de esta obra son destacables. Uno de ellos es que permite diversos niveles de lectura. Un primer nivel está vinculado estrictamente con la información arqueofaunística original presentada en este volumen, minuciosamente descripta y que resulta muy valiosa para llenar un vacío de información en las investigaciones de la Región Pampeana. De esta manera, la obra contribuye a avanzar en el conocimiento de los modos de vida de los grupos nativos durante el Holoceno. De las interpretaciones realizadas se pone de manifiesto que la relación de los grupos con su ambiente debe ser abordada y comprendida en rangos espaciales significativos para los hombres y que las unidades de análisis tomadas son pertinentes para dar cuenta de los mecanismos adaptativos en un área particular. Las decisiones humanas en el pasado generaron adaptaciones múltiples de acuerdo con las circunstancias puntuales.

Otro nivel de lectura, más general y que puede ser de interés para un público amplio y no especialista, está dado por la síntesis de la información arqueológica disponible sobre el poblamiento de la Región Pampeana. La manera de organizar la información constituye una adaptación de la propuesta de Zangrando (2009) e incluye una división de la historia en tres grandes etapas: Ocupación pionera, Regionalización e Intensificación, que resultan operativas para sistematizar la información disponible. De este modo, el texto resulta en un capítulo de síntesis actualizado y relevante para un público amplio que puede incluir estudiantes y jóvenes en formación.

Otro aspecto para destacar es que esta obra, tal como lo expresa el autor, no está cerrada, sino que constituye un punto de partida. Es el inicio, con sólidas bases, de propuestas interpretativas que contribuyen al conocimiento de la arqueología de la Región Pampeana pero que deben ser contrastadas y redefinidas con el avance de las investigaciones. Celebro las expectativas del autor para repensar sus propuestas cuando exista nueva información que ponga de relieve la característica dinámica del conocimiento científico.

Por último, tengo la convicción de que esta obra tendrá un rol destacado en la historia de las investigaciones en la Región Pampeana y se transformará en un texto de consulta permanente, y en un referente por su sistematicidad y claridad en la expresión de las ideas. Resulta un aporte de excelencia para la arqueología regional, ¡los invito a disfrutarla!

Romina Frontini – frontiniromina@gmail.com Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Departamento de Humanidades, Universidad Nacional del Sur, Argentina Zooarqueología en el Campo de Dunas del Centro Pampeano: nuevos aportes para comprender la subsistencia durante el Holoceno medio y tardío Intersecciones en Antropología, vol. 21, núm. 1, 2020 Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires

Referencias

Zangrando, A. F. (2009). Historia evolutiva y subsistencia de cazadores-recolectores marítimos de Tierra del Fuego. Sociedad Argentina de Antropología.

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Mil 1499: O Brasil Antes de Cabral – LOPES (RA)

LOPES, Reinaldo José. 1499: O Brasil Antes de Cabral. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2017. 248p. Resenha de SOUZA, João Carlos Moreno de. Resenha de: SOUZA, João Carlos Moreno. Revista de Arqueologia, v.31, n.1, 2018.

Reinaldo José Lopes é jornalista científico, escreve para a Folha de São Paulo e é autor do blog ‘Darwin e Deus’. A publicação de matérias de temas arqueológicos é muito frequente, e tornam o autor um dos maiores divulgadores do conhecimento arqueológico para o grande público a nível nacional, e ‘1499: O Brasil Antes de Cabral’ é uma prova disso.

O livro se propõe a realizar um apanhado geral da história pré-colonial do território atualmente conhecido como Brasil. O autor, no entanto, pouco escreve sobre as ocupações mais antigas que 14 mil anos atrás ou sobre o povoamento inicial da Américas, provavelmente para evitar ir de frente ao consenso da arqueologia norte-americana, começando a retratar a (pré-) história do Brasil a partir de 13.500 anos antes do presente. É importante notar que as idades mencionadas no livro são idades calibradas e podem dar a impressão de serem equivocadamente mais antigas do que costumamos ver em outras obras não acadêmicas, quando na verdade foram representadas de uma forma mais acurada.

A introdução do da obra realça o fato de que o entendimento que possuímos atualmente sobre o passado da humanidade é nitidamente diferente e muito mais detalhado do que tínhamos há poucos anos atrás e explicita a importância que os estudos sobre o passado humano têm nas sociedades atuais. Os próximos seis capítulos do livro são focados em realizar um apanhado cronológico dos grupos de primeiros habitantes do território brasileiro.

O primeiro capítulo trata sobre os grupos caçadores-coletores da transição Pleistoceno-Holoceno e Holoceno Inicial. Por um lado, o Lopes retrata muito bem aspectos biológicos destas antigas populações. Por outro lado, ignora os aspectos culturais. As únicas (e raras) menções às mais antigas indústrias líticas e representações rupestres brasileiras são todas relacionadas à microrregião de Lagoa Santa, em Minas Gerais, deixando de lado a associações de diferentes conjuntos de cultura material a diferentes grupos humanos.

Já o segundo capítulo é totalmente voltado aos grupos litorâneos, especialmente os Sambaquis. Mais uma vez, o autor se preocupa em retratar a biologia e a idade destes grupos humanos, mas ignora quase que totalmente os aspectos culturais e materiais destas sociedades. Não são retratadas as indústrias de artefatos de pedra e osso, é mencionada apenas brevemente a construção dos sambaquis, os zoólitos e os aspectos simbólicos dos sepultamentos.

Posteriormente, o terceiro capítulo retrata o início do manejo e domesticação das plantas, com foco na Amazônia. O autor descreve bem as principais hipóteses sobre os processos que iniciaram a domesticação das plantas, mas volta a ignorar a cultura material que acompanha esse novo modo de vida nas populações pré-cabralinas.

O quarto e o quinto capítulo também são voltados à “queridinha” da pré-história brasileira: a Amazônia. Ambos os capítulos, mais uma vez, retratam muito bem as discussões teóricas de complexidade social, política e econômica sobre as populações que ali viviam durante o Holoceno Tardio, e desta vez menciona alguns importantes aspectos de cultura material, como as estruturas de montículos e geoglifos, e a cerâmica tupi-guarani e marajoara.

Ainda, Reinaldo José Lopes, no sexto capítulo, trata de descrever a dispersão dos grupos ameríndios em território brasileiro, baseando-se nas famílias linguísticas destes mesmos grupos. Mais uma vez, o autor se prende na Amazônia, tendo como exceção uma menção aos estudos de grupos Jê em Santa Catarina.

Por fim, Lopes encerra o livro com um epílogo, em que discute como a chegada dos colonizadores (invasores) europeus causou diversos problemas para a sobrevivência das populações que vieram a ser referidas como indígenas, e como a relação entre as sociedades indígenas e a sociedade “moderna” poderia ter sido diferente desde o começo.

A obra não é voltada ao público acadêmico, mas a um público muito mais abrangente. O autor escreve de forma pela qual a leitura flui facilmente, evitando o uso de termos técnicos os quais apenas arqueólogos e outros cientistas entendem. No entanto quando o faz, o autor busca explicá-los de uma forma simples, porém acurada, para que o leitor os compreenda. Quando o autor entende que o assunto tratado no livro é muito complexo para a maioria dos leitores, ele se dá ao direito de realizar pausas para “explicações técnicas” e elucida estes mesmos assuntos, tais como datação radiocarbônica, análise genética, análise isotópica e estudos de complexidade social. Apesar de não ser um arqueólogo, Lopes, enquanto jornalista científico, toma o cuidado para respeitar e utilizar termos que evitam a propagação de estereótipos pré-históricos. Um exemplo disso é a aplicação correta do termo “humanos anatomicamente modernos”, ao invés de Homo sapiens, para se referir aos seres humanos atuais em certos momentos.

As principais falhas do autor estão em retratar a pré-história brasileira com um foco quase que limitado aos aspectos biológicos dos primeiros grupos humanos do atual território brasileiro, e no foco quase que limitado à Amazônia ao tratar de grupos menos antigos. Lopes é muito preciso no apanhado que realiza sobre a pré-história, mas esta poderia ser muito mais acurada se ele tivesse descrito os principais conjuntos de materiais (representações rupestres e indústrias de artefatos líticos e cerâmicos) que levaram arqueólogas e arqueólogos a identificar diferenças culturais em todo o território brasileiro. Talvez em uma segunda edição da obra algumas páginas que descrevam resumidamente a diversidade de cultura material pré-histórica brasileira seja possível.

Apesar das falhas em sua obra, Reinaldo José Lopes claramente tem uma noção excelente da importância da arqueologia para as sociedades atuais e é muito feliz em transmitir esta mensagem. O último trecho da obra é a prova disso, sendo uma perfeita resposta à questão da importância dos estudos de arqueologia pré-histórica brasileira: “A pré-história é a chave para entender estas condições iniciais [de contato de indígenas e europeus] e para demonstrar que o passado profundo do Brasil é tão rico e complexo quanto o do Velho Mundo. Em nome dos herdeiros dele, convém não esquecê-lo” (p. 232). Enfim, ‘1499’ é uma obra que definitivamente despertará o interesse de muitas pessoas à pré-história brasileira e convém ser lida por acadêmicos não arqueólogos que buscam ter uma mínima noção no tema.

João Carlos Moreno de Sousa – PPGArq, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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La frontera sur de Buenos Aires en la larga duración – Victoria Pedrotta e Sol Lantieri

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Victoria Pedrotta /norbertomollo.blogspot /

PEDROTTA V La fronrera sur de Buenos Aires en larga duracionDesde la perspectiva de los estudios de frontera, este libro tiene la particularidad de integrar un diverso conjunto de miradas, que de forma separada e independiente, se han venido desarrollando en relación al estudio de los distintos procesos que tuvieron lugar en la frontera sur de la Provincia de Buenos Aires, particularmente en la zona comprendida por los actuales partidos de Azul, Tapalqué y Olavarría. Gracias a la iniciativa allá por el 2013 de las directoras del libro, Victoria Pedrotta y Sol Lanteri, la obra es fruto de un estrecho trabajo de colaboración entre especialistas provenientes de la antropología social, la arqueología y la historia.

El libro se compone de siete capítulos, para cuya articulación las directoras pensaron en dos ejes temáticos, espacio y territorio, abordados desde una perspectiva multidisciplinar y de larga duración. De este modo, se fijó como propósito general del texto la puesta al día de las investigaciones sobre los procesos de construcción del espacio y el territorio de la frontera sur bonaerense desde tiempos prehispánicos hasta la actualidad. Como veremos a continuación, a través de los sucesivos capítulos el lector podrá interiorizarse en los cambios, las continuidades, los actores sociales, sus prácticas y en la multiplicidad de representaciones de dichos procesos.

El Capítulo 1 “El uso del espacio, la movilidad y los territorios en grupos cazadores-recolectores pre-hispánicos del centro de los pastizales pampeanos” escrito por Pablo G. Messineo, inaugura la obra con un exhaustivo análisis y discusión crítica de la información arqueológica relativa al uso del espacio, la movilidad y los territorios a lo largo del tiempo, por parte de las poblaciones cazadoras-recolectoras en el centro de los pastizales pampeanos. Uno de los aportes más importantes que ofrece este capítulo es, precisamente, la perspectiva espacialmente amplia y de larga duración con la que el autor presenta y discute la evidencia arqueológica.

De este modo, Messineo evalúa las estrategias de los grupos humanos en función de los tres ejes de discusión propuestos al comienzo del capítulo. Para ello considera distintos modelos –económicos, sociales e ideológicos- para dar cuenta de la territorialidad, abarcando desde el Holoceno temprano hasta el período post-contacto y sin perder nunca de vista los cambios resultantes de la dinámica paleoambiental. El enfoque del autor contempla así las tres etapas cronológicas en las que se segmenta el Holoceno, empleando múltiples líneas de evidencia recuperadas a lo largo del tiempo mediante investigaciones arqueológicas en los partidos de Olavarría, Azul y Tapalqué, sumando a esto los contextos de áreas adyacentes.

Victoria Pedrotta en el Capítulo 2 “Recursos, espacio y territorio en las sierras del Cayrú (siglos XVI-XIX, región pampeana argentina)” examina y discute en profundidad la territorialidad y las formas en que ocuparon el espacio las poblaciones indígenas e hispano-criollas de la región pampeana.

Desde un enfoque holístico, la autora presta especial atención a los cambios ecológicos, económicos, sociales y simbólicos resultantes de la introducción de los recursos faunísticos y vegetales por parte de los europeos desde el siglo XVI en adelante. Su área de estudio comprende las denominadas sierras del Cayrú -topónimo que se remonta a mediados del siglo XVIII- y cuya ubicación corresponde al extremo occidental del Sistema serrano de Tandilia (Provincia de Buenos Aires). Es significativo señalar la importancia estratégica que esta área tuvo en las rutas de circulación y en las redes de intercambio y comercio interétnico a lo largo del tiempo. Subrayamos asimismo, la elección de la perspectiva geográfica para definir y abordar los conceptos de territorio y territorialidad, enfatizando el carácter complejo, dinámico y relacional de los mismos. Desde un punto de vista metodológico, es destacable la multiplicidad de fuentes de evidencia de las que se vale la autora para abordar su problemática de investigación. En este sentido, a través de un riguroso y exhaustivo análisis, Pedrotta confronta críticamente variados registros documentales, que incluyen distintos tipos de fuentes escritas así como cartográficas.

Este abordaje se completa a partir del análisis de la diversa evidencia arqueológica disponible para el área de estudio. La articulación entre el enfoque teórico y la perspectiva metodológica seleccionados, imprimen una complejidad y una riqueza indispensables al análisis realizado por la autora y permiten comprender los procesos experimentados y representados por las sociedades indígenas e hispano-criollas en el centro de la Provincia de Buenos Aires.

En el Capítulo 3 “Colonización oficial en la frontera. Azul en el siglo XIX”, Sol Lanteri analiza en detalle las condiciones y los mecanismos implementados, en principio por el gobierno rosista, para poner en práctica la colonización, poblamiento y defensa del actual partido de Azul, sin dejar de discutir los cambios y continuidades de dichas políticas hasta fines del siglo XIX. Como bien señala la autora la expansión hacia el sur de la campaña bonaerense tuvo por finalidad consolidar el dominio del Estado provincial y articular las tierras en un modelo productivo de carácter predominantemente ganadero.

Para llevar adelante su análisis, Lanteri considera de forma conjunta las primeras trazas del pueblo y ejido, el área rural y la política de relaciones interétnicas en el marco del “Negocio Pacífico” con los indígenas. En el caso particular de Azul, como en otras áreas, implicó negociaciones para reubicar las tolderías de los “Indios Amigos” en otras zonas y fomentar la colonización criolla, aunque especialmente allí los grupos catrieleros tuvieron un largo arraigo territorial. Se destaca la claridad de la autora para analizar cómo fue este complejo proceso de territorialización y colonización interna.

Así, Lanteri describe la peculiar modalidad de distribución de la tierras fiscales mediante las denominadas “donaciones condicionadas” de suertes de estancias, sin perder de vista el marco normativo, la praxis social y los derechos de propiedad en la mediana duración.

Laura Carolina Belloni en el Capítulo 4 “La política indígena del Estado de Buenos Aires en la frontera sur. Azul y Tapalqué entre 1852 y 1862”, ofrece, a partir de un acercamiento micro-regional, un análisis de las políticas de fronteras e indígenas desarrolladas en la dinámica y conflictiva década que va desde la caída de Juan Manuel Rosas (1852) hasta la asunción al poder nacional de Bartolomé Mitre (1862). A través de la aguda mirada de la autora es posible entrever los vaivenes de las políticas y las relaciones entre el Estado de Buenos Aires y los grupos indígenas en las áreas de Azul y Tapalqué. De este modo, con gran precisión, Belloni expone las marchas y las contramarchas asociadas al manejo de las fronteras, expresadas en la oscilación entre el fracaso de políticas militares ofensivas y la concertación a regañadientes de tratados pacíficos con los indígenas y sus caciques principales, como Catriel, Cachul, Calfucurá y Yanquetruz, entre otros. Si una cosa queda clara a partir del análisis, es la incompetencia del Estado de Buenos Aires, luego de la caída de Rosas, para manejar las relaciones de poder con las parcialidades indígenas. En ello no solo tuvo que ver la subestimación del poder de choque de los indígenas, sino también la inexperiencia de los funcionarios para el trato con éstos y la escasez de fuerzas militares, así como de suministros y armamento para las mismas.

El Capítulo 5 “La Pampa del Siglo XIX vista desde el camino de los chilenos” elaborado por Julio Merlo y María del Carmen Langiano, viene a ser un complemento perfecto del capítulo anterior, por cuanto los autores ofrecen al lector una detallada síntesis de las investigaciones arqueológicas en una serie de fuertes y fortines en la Provincia de Buenos Aires. Creados durante las variables condiciones políticas en el siglo XIX, una de las particularidades de estos asentamientos de carácter predominantemente militar, es que se encontraban situados en el “Camino de los indios a las salinas” o “Camino de los chilenos”, entre otras denominaciones dadas al camino que unía las tierras al sur del río Salado con los pasos bajos de Chile. De este modo, los sitios arqueológicos analizados corresponden a: Fuerte Blanca Grande, Localidad El Perdido, Fortín Arroyo Corto, Fuerte Lavalle Sur, Fortín La Parva, Fortín Fe y Fuerte San Martín.

Dado que todos ellos se situaron en sectores del espacio previamente ocupados por pueblos originarios, los autores evalúan, a partir del registro histórico y arqueológico, los cambios –ambientales, sociales y materiales- producidos en el paisaje fronterizo pampeano bonaerense, así como en las relaciones interétnicas a medida que el estado argentino iba avanzando y apropiándose del territorio indígena. En todos los casos de estudio, Merlo y Langiano dan cuenta del abordaje metodológico y los resultados principales del análisis de múltiples líneas de evidencia arqueológica.

Carlos A. Paz, Ludmila D. Adad y Alicia G. Villafañe presentan un giro temático en el Capítulo 6 en relación a los apartados anteriores. Dicho capítulo se titula “Culturas del trabajo y cambios territoriales. El rescate de la memoria histórica como estrategia de recuperación de las formas de vida, oficios y tradiciones técnicas de la minería del Partido de Olavarría”, tiene como propósito general describir y contextualizar el desarrollo de la producción minera –cal y cemento principalmente- en las Sierras de Olavarría. Para ello, los autores adoptan un enfoque multidisciplinario donde se integran las miradas de la antropología, la historia y el patrimonio con el objeto de comprender los cambios paisajísticos, productivos y sociales en el área de estudio a lo largo de 140 años. Es destacable el desarrollo del abordaje teórico y los conceptos de territorio y paisaje cultural, empleados para aprehender desde lo social, lo económico y lo simbólico las particularidades asociadas al desarrollo de la actividad minera en Olavarría desde 1870 hasta el presente, actividad que habría sido introducida de la mano de inmigrantes europeos, italianos principalmente. Como bien lo establecen los autores, el paisaje minero fue fundamental en el proceso de construcción identitaria de la localidad.

Finalmente, la obra concluye con el Capítulo 7 “Des-historias del centro bonaerense” de Ariel Gravano, quien desde una perspectiva histórica-antropológica pone en evidencia las maneras en las que el pasado, el presente y el futuro se imbrican en la construcción de los imaginarios identitarios propios de los actuales centros urbanos de la región central de la Provincia de Buenos Aires. El autor pone el eje de discusión en “lo regional” y reflexiona acerca de la funcionalidad de las idealizaciones hegemónicas sobre el pasado y el futuro en el presente, donde la homogeneidad y la integración prevalecen por encima de la heterogeneidad y las contradicciones históricas, culturales, económicas y políticas. Con una profunda agudeza analítica y de la mano de Canal-Feijóo, Gravano pone al descubierto, entre otras cosas, los dispositivos discursivos y representacionales empleados para distorsionar, desplazar y negar del pasado regional a los actores indígenas y sus prácticas, en pos de anclar los orígenes de la región central bonaerense en la “civilización urbana”. En este proceso de des-historización y de re-invención del pasado, es donde la épica de frontera adquiere mayor fuerza, asentando sus cimientos en un imaginario que naturaliza y legitima la avanzada eurocriolla en un “desierto” imaginado, fundamento medular de la construcción del moderno Estado-Nación argentino.

Para finalizar esta Reseña, creo importante señalar que si uno es un lector –ya sea especialista o no- ávido de conocimientos sobre los procesos ocurridos en la frontera sur de la Provincia de Buenos Aires, entonces la lectura de esta obra resulta indispensable en tanto fuente de consulta sobre el pasado regional de un área clave a lo largo del tiempo, tanto para las poblaciones indígenas como para las europeas y criollas de nuestro país. Sin temor a equivocarme, me atrevo a asegurar que este libro habría sido motivo de orgullo para el querido maestro Raúl Mandrini (1943-2015).

Silvana Buscaglia – Instituto Multidisciplinario de Historia y Ciencias Humanas (IMHICIHU), CONICET. Saavedra 15, 5° piso (1083) Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina. E-mail: silvana_buscaglia@yahoo.com.ar

PEDROTTA, Victoria; LANTERI, Sol (Dir.). La frontera sur de Buenos Aires en la larga duración. Una perspectiva multidisciplinar. La Plata: Asociación Amigos del Archivo Histórico de la Provincia de Buenos Aires, 2015. 315p. Resenha de: BUSCAGLIA, Silvana. Arqueología, Buenos Aires, v.23, n.1, p.141-143, enero-abril, 2017. Acessar publicação original

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Los primeiros andinos, Tecnología lítica de los habitantes de Chile trece mil años atrás – MÉNDEZ (EA)

MÉNDEZ, César. Los primeiros andinos, Tecnología lítica de los habitantes de Chile trece mil años atrás. [Lima]: Fondo Editorial de La Pontificia Universidad Católica del Perú, 20q15. Resenha de: ATENCIO, Lautaro Núñez. Estudios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.54, 2017.

El colega César Méndez Melgar fue el primer Doctor graduado del Programa acreditado de Antropología de la alianza UCN-UTA con una defensa sobresaliente efectuada en el año 2010 y que hoy se difunde a raíz de un impecable aporte del Fondo Editorial de la Pontificia Universidad Católica del Perú (Colección Estudios Andinos 2015). A través de 251 páginas, 35 figuras, 36 tablas y 387 referencias bibliográficas, el autor nos conduce desde una visión sudamericana a un análisis original sustentado en componentes líticos contextualizados, derivados de excavaciones cronoestratigráficas extendidas y confiables, llevadas a cabo en el centro-norte del país.

En sus propias palabras: “En este libro nos preguntamos cómo se configuró la organización socio-tecnológica de los grupos que poblaron el centro de Chile durante el Pleistoceno terminal (en adelante 11.100 a 10.000 años 14CAP. o ~ 13.000 a 11.500 años cal. AP). Se propone realizar una evaluación crítica de la tecnología lítica de los conjuntos asignados con fechados radiocarbónicos de este lapso temporal. Pensamos que uno de los aportes principales ha sido desarrollar un proyecto metodológico capaz de generar y contestar preguntas relativas a cómo los humanos organizaron su espacio habitado, mediado por decisiones relativas a cómo implementar su tecnología” (p. 23).

Se observará como se reconstituyen los paisajes líticos en la costa de Los Vilos, Caimanes-Tilama en el Chile se-miárido, Taguatagua-Estero Zamorano en la región mediterránea del centro, muy apoyado de la data faunística, geológica y petrográfica, previas intensas exploraciones y largos terrenos, siempre rodeados de alumnos, en sitios que no se abandonan de un día para otro. Una vez centrada su hipótesis a lo largo del valle longitudinal, se concentra en los ambientes paleolacustres, canteras y campamentos, con el fin de identificar ritmos sociales en la gestión de las materias primas, cadenas operativas, gestos tecnológicos, productivos, huellas de uso y descarte lítico. Estos indicadores los advierte derivados de la interacción entre los espacios de ocupación, el paisaje lítico y los patrones de movilidad, sin dejar de entrever los efectos paleoclimáticos y cómo la sociedad del fin del Pleistoceno se adaptó a los dramáticos cambios paleoambientales en el tránsito al Holoceno Temprano.

En general, se nota un tratamiento muy cuidadoso en términos de vincular sus evidencias duras con propuestas interpretativas bien acotadas, de modo que desde las rocas humanizadas logra con seguridad construir el mapa de los paisajes ocupados y los patrones de movilidad que articulan la funcionalidad de sitios y el abastecimiento de recursos líticos. En este sentido, la presentación horizontal de los pisos de ocupación con la locación de las evidencias culturales y faunísticas se contrasta con las columnas estratigráficas verticales y sus respectivos miembros sedimentológicos que permiten sellar las evidencias in situ. De esta manera logra revelar cómo se inició la habitabilidad en las tierras bajas de la depresión intermedia, en un escenario distinto al actual que nos ayuda a localizar dónde y cuándo los recursos bióticos estaban asociados al manejo de los humanos.

Así la tecnología y las cadenas operativas le señalan los atributos particulares y los ritmos de interacción social y espacial, logros poco comunes en las publicaciones sobre los tempranos poblamientos sudamericanos. En efecto, logró caracterizar los contextos líticos, su gestión tecnológica, la variabilidad y funcionalidad de los instrumentos y como corolario: la naturaleza de las cadenas operativas representadas en sitios diferenciados.

Al final ya está en condiciones de reconstituir la gestión de los recursos, los patrones comunes que definen conductas tecnológicas, la función diferenciada de los sitios y el control de espacios específicos. De modo que desde el utillaje lítico logra entender cómo se organizaron los espacios de subsistencia y aprovisionamiento, hasta destacar dos “pulsos” ocupacionales diferenciados cronológicamente que permiten postular distintos conocimientos del paisaje ocupado.

El Prof. Dr. Méndez Melgar ha logrado integrar y estimular a los colectivos científicos donde operan estas experiencias en torno a los primeros poblamientos, portando y optimizando los análisis interdisciplinarios que compartiera con su querido compañero Donald Jackson.

Ambos herederos de esa forma de encarar los yacimientos finipleistocénicos a través de excavaciones con escalas amplias, como las pioneras de Quereo y Taguatagua.

Ahora se desplaza desde el centro-norte a la Patagonia con un manejo documental lúcido, colocando el protagonismo en aquéllos que investiga: los primeros andinos. Él está consciente de que las tecnologías subyacen en las epopeyas que implicaron estas primeras colonizaciones a lo largo de este extraño territorio que los recibiera por los desiertos del norte hasta las frías y húmedas tierras del fin del mundo. Definitivamente, es una obra indispensable para quienes abordan los primeros poblamientos del Cono Sur de América.

No es extraño que hoy sea director de investigaciones y publicaciones de la Facultad de Ciencias Sociales y un genuino académico del Departamento de Antropología de la Universidad de Chile, su Alma Mater por excelencia. Representa a ese ideario científico que crea conocimientos sólidos y perdurables desde proyectos en trayectoria, asociados a revistas de estándares internacionales, pero que profesa a su vez este afecto irresistible por los libros.

Lautaro Núñez A. – Instituto de Investigaciones Arqueológicas y Museo, Universidad Católica del Norte, San Pedro de Atacama. Chile

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El Cercano Oriente Antiguo: nuevas miradas sobre viejos problemas / Cristina de Bernardi e Jorge S. Castillo

Lejos del estereotipo que los asocia a un saber inmóvil, los estudios históricos sobre las sociedades del Cercano Oriente antiguo constituyen un ámbito que asiste a una permanente renovación, tanto desde el punto de vista de las temáticas como de las fuentes y los principios teórico-metodológicos puestos en juego para una comprensión más profunda de la historia y la cultura de aquellas sociedades. El libro El Cercano Oriente Antiguo: nuevas miradas sobre viejos problemas, una compilación organizada por Cristina De Bernardi y Jorge Silva Castillo –dos distinguidos historiadores de la antigüedad oriental de Argentina y México respectivamente–, constituye un fiel retrato de esta renovación de los intereses de los historiadores dedicados a esta subdisciplina, preocupados por desligarse del paradigma marcadamente eurocéntrico, colonialista y racista que animó el surgimiento de la disciplina y sigue aún vigente a pesar de haber sido fuertemente discutido en el contexto de las ciencias sociales, así como también por aportar nuevos planteos sobre aspectos territoriales, sociales económicos, culturales y simbólicos y dar cuenta de manera global y holística quiénes eran y cómo vivieron los antiguos habitantes de esas regiones. Se trata de una obra destinada a reunir las ponencias discutidas en una mesa dedicada a la historia antigua del Próximo Oriente en el marco del XI Congreso Internacional de la Asociación Latinoamericana de Estudios de Asia y África (ALADAA), llevado a cabo en la Universidad Nacional Autónoma de México a finales del año 2003, así como sumar los aportes de otros investigadores iberoamericanos también especializados en la temática que, a pesar de su activa trayectoria de participación en los distintos encuentros internacionales organizados por la Asociación, no pudieron presentar sus avances en aquel congreso por diversos motivos coyunturales. Como resultado final de la convocatoria, disponemos de una nueva compilación de trabajos que cubren una variedad de problemáticas acerca de las características y modos de funcionamiento de las diversas sociedades del Cercano Oriente antiguo, resultado a su vez de un conjunto muy heterogéneo de proyectos de investigación. Por tanto, el futuro lector no deberá esperar hallar en esta novedosa propuesta editorial un libro en el que las contribuciones de los autores respondan a una sola pregunta de investigación, ni mucho menos que cubran el mismo horizonte temático, espacial, temporal y cultural.

Sin embargo, una rápida mirada de conjunto obliga a plantear que los diversos trabajos que aquí se publican comparten dos características que, desde nuestra perspectiva, otorgan consistencia interna –si no homogeneidad– a la presente compilación. Por un lado, la presencia de modos historiográficos de aproximación al pasado que, además de obedecer a enfoques y metodologías particulares, cargan con el “sesgo local de los problemas epistemológicos”1, en la medida que las condiciones locales de producción y transmisión de las investigaciones sobre el antiguo Cercano Oriente dentro del ámbito latinoamericano no sólo influyen decisivamente en las posibilidades y límites para abordar ciertos problemas de la trayectoria histórica de esos antiguos pueblos, sino también en la mirada que indefectiblemente se imprime sobre tales empresas del conocimiento histórico. En efecto, cada uno de los artículos comprueba el camino de investigadores que, armados con todo el protocolo del rigor científico del campo, pero trascendiendo el peso arrogante de las tradiciones académicas centrales, han insistido en la necesidad epistemológica de construir progresivamente una labor investigativa autónoma, reflexiva y crítica desde los márgenes, capaz de sustanciarse en estudios tanto empíricos como teóricos, rebosantes de aportes y conclusiones claramente señeras y en dialogo con la producción académica internacional. En esa dirección, la obra refleja el estado en que se encuentran las diversas líneas de estudio e investigación sobre las sociedades antiguas del Próximo Oriente que existen en España y América Latina, pero particularmente en Argentina, país del cual proceden la mayoría de los autores que escriben aquí y que –huelga decirlo– son dignos representantes de un grupo de académicos universitarios bien afianzado en el ámbito argentino y con amplio reconocimiento y proyección en varios centros de investigación de prestigio mundial.

Y por otro lado, una insatisfacción respecto de las posiciones predominantes dentro de la historiografía antiguo-oriental sobre ciertos temas ya clásicos, como el surgimiento de centros urbanos y estatales, los vínculos entre Estados y comunidades aldeanas y grupos nómadas, los fenómenos de expansión territorial y contacto intercultural, las experiencias religiosas y modos de representación del mundo, el funcionamiento de los primeros mecanismos de control social, etc. Esos viejos problemas necesitan replantearse, por cuanto urge apartarse del pesado legado historiográfico que, al traducir esas realidades pretéritas en un pasado exótico, glorioso y monumental, reproduce el estereotipo de que tal área de investigación conforma una “historia de anticuarios”, sin conexiones con el presente o las realidades locales. De esa forma, los trabajos exploran viejos terrenos de debate y polémica –relacionados con las instituciones políticas y jurídicas, las economía políticas y campesinas, las relaciones interculturales, las formas de dominación y control social, las creencias religiosas y las representaciones simbólicas– desde enfoques novedosos –asociados con la historia social y política, los estudios étnicos, la antropología política y económica, los estudios subalternos, la perspectiva de género, la arqueología histórica y las investigaciones sobre la memoria social–, proveyendo resultados y sugerencias importantes para poner en jaque muchos de los supuestos en que se basaba la caracterización socio-antropológica e histórica de los modos de vida y pensamiento existentes en las sociedades del Cercano Oriente antiguo.

Conforme a estos ejes y criterios, un primer núcleo de trabajos se centra, indudablemente, en los diversos procesos sociohistóricos de cambio que condujeron al urbanismo y a la concomitantemente aparición y afianzamiento del Estado en las sociedades del Próximo Oriente Antiguo, aportando elementos significativos –tanto a nivel empírico como conceptual– para discutir el modo con que tradicionalmente han sido retratados tales fenómenos y ofrecer una reconstrucción alternativa. En su artículo, el historiador Marcelo Campagno (UBA-CONICET, Argentina) plantea que lejos de lo que propone la imagen tradicional acerca de la instauración de dinámicas estatales en el antiguo Egipto, ésta experiencia parece haber sido menos monolítica y menos distante del patrón policéntrico y fragmentario que caracterizó la formación estatal en la Baja Mesopotamia. Amparándose en los recientes avances arqueológicos y discutiendo críticamente la categoría proto-Estado, esa suerte de “significante vacío” por su indefinición teórica y paradójica referencia histórica dentro de la egiptología, el autor demuestra la existencia de tres entidades sociopolíticas en el valle del Nilo del último tercio del IV milenio a. C. y repropone el lugar que les cupo en la formación de un único centro de poder en el Alto Egipto que, en su progresiva consolidación y expansión, terminaría definiendo el Estado faraónico. En una línea compatible con el capítulo anterior, la contribución de la arqueóloga Walburga Ma. Wiesheu (ENAH, México) busca desconstruir la vieja y arraigada tesis en las investigaciones sobre el contexto urbano de la Mesopotamia del Dinástico Temprano que indican la presencia de Estados teocráticos altamente centralizados, cuyas instituciones más representativas –el palacio y el templo- no sólo controlaban virtualmente cada una de las dimensiones de la vida de las ciudades-Estados, sino que además tenían una amplia capacidad y fuerza para concentrar prácticamente todos los recursos económicos de las comunidades locales para luego, idealmente, redistribuirlos. A partir de una relectura del material arqueológico y epigráfico disponible y confrontación de distintas posiciones historiográficas, la autora restituye un retrato histórico de la Mesopotamia protodinástica con un paisaje social sumamente heterogéneo y complejo, en el que además de comprobar la supervivencia de varios e importantes grupos de parentesco en las zonas urbanas y rurales, emergen indicios de la estructuración de intrincadas redes de dependencia que, a partir del afianzamiento del dispositivo estatal, incidieron negativamente en la trama de solidaridades de los grupos familiares locales y provocaron su lastimoso desmembramiento, lo que a su vez se tradujo en la configuración de nuevos vínculos de patronazgo en torno a aquellas instituciones urbanas que caracterizaron a las diversas sociedades mesopotámicas del Dinástico Temprano.

Un segundo núcleo de trabajos se ocupa del análisis de las diferentes modalidades que adquirieron las relaciones entre las sociedades del Cercano Oriente antiguo, tanto en sus dimensiones sociales como simbólicas. En esta senda, Cristina De Bernardi (UNR, Argentina) y Jorge Silva Castillo (El Colegio de México, México) contribuyen con un artículo cuyo objetivo principal es recuperar la indagación de las relaciones interétnicas entre sumerios, acadios y amorreos en la Mesopotamia del III milenio a. C., problemática que había permanecido largamente desatendida en la agenda investigativa de los estudios antiguo- orientales, al punto de que numerosos abordajes tradicionales sobre estas antiguas poblaciones o bien reproducían los estereotipos culturales acuñados por los propios actores, o bien los presentaban como mundos sociales totalmente al margen unos de otros, sin intercomunicación y en permanente conflicto. Los autores matizan las perspectivas vigentes y revelan la existencia de múltiples dinámicas de contacto e interrelación entre grupos con identidades étnicas distintas, pero siempre conviviendo en el marco de centros urbanos multiculturales y pluriétnicos desde el protodinástico al período neosumerio, puntualizando que las fricciones interétnicas habrían sido inducidas por los fenómenos de centralización del poder estatal que significaron la preeminencia sociopolítica de una etnia por sobre las demás, los consecuentes procesos de victimización y la profundización de las tensiones intersocietales. En su sucinto capítulo, el arqueólogo Ianir Milevski (Israel Antiquities Authority, Israel) se ocupa de los vínculos sociopolíticos que se configuraron en el Levante durante el Bronce Medio desde un registro de análisis centrado en la iconografía. Partiendo de la tesis de que en general la glíptica expresa los discursos de las clases dominantes a partir de una serie de artefactos ideológico-manipulativos elaborados por especialistas, este autor presenta un detallado análisis, descripción y comparación de las evidencias que proporciona un grupo de cilindros sello palestinenses, apuntando que a diferencia de los escarabajos que indican una expresión política influenciada por Egipto, aquellos parecen más bien reflejar una iconografía de autoridades locales de no tal alto rango en la constelación de gobernantes cananeos que no sólo dejarían impresos ciertos rasgos de su particular identidad étnica sino también, en una probable actitud de rebeldía, su decisión de identificarse o permanecer bajo influencia de los grandes centros del norte mesopotámico.

El estudio de las ideologías religiosas, las prácticas rituales y su articulación con distintas expresiones políticas constituye otro núcleo seleccionado por los trabajos del volumen. El aporte de Ana Fund Patrón de Smith (UBA, Argentina), entraña la intención de exponer que las narrativas bíblicas fueron construidas de forma tal que, operación política mediante, la historia se adaptara al mito. Sin desechar las tesis que han comprobado la presencia de varios tropos vinculados a las tradiciones y mitologías mesopotámicas dentro del discurso bíblico, esta historiadora –verdadera pionera en las investigaciones antiguo-orientales de Argentina– argumenta que también es posible identificar algunas referencias de la cosmología egipcia que evocan y resinifican los compositores de los primeros textos del Antiguo Testamento. Asimismo, Fund Patrón apela a las variables de “legitimación” y “descalificación” para demostrar que los escribas, en su doble pertenencia e identificación – hacia las elites que los empleaban y hacia el conjunto social al cual pertenecían–, enfatizaron la autoctonía, pureza y singularidad tanto de pueblo como de un linaje con rasgos étnicos difícilmente distintivos y específicos en una región geográfica e históricamente multiétnica, como la de Cannán, para de este modo justificar posiciones políticas de aquel entonces, las cuales –recuerda la autora– continúan siendo evocadas en el presente para sustentar ciertas políticas y violencias contemporáneas. También en la línea de las pesquisas sobre las tradiciones histórico-míticas conservadas en el relato testamentario, el historiador Bernardo Gandulla (UBA/UNLu, Argentina) nos provee un importante análisis filológico y material de las peculiares figulinas denominadas terafim y sus diversos usos en diferentes acontecimientos narrados a lo largo del Génesis. Este autor pone de manifiesto que tales artefactos no pueden ser asociados en todos los casos a pequeños objetos de culto familiar a los antepasados, ya que su repetida mención en contextos diferentes no autorizan a plantear la unicidad del significado, y que en aquellos casos en que la presencia de los mismos ocurre en el trasfondo de disputas legales, es posible detectar semejanzas y paralelismos con prácticas jurídicas extrabíblicas procedentes de Emar y Nuzi. Con ello, Gandulla no sólo postula la existencia de un fondo cultural común hurro-amorreo sino también sugiere la posible estrategia político-ideológica empleada por los redactores tardíos del Antiguo Testamento de emplear tales costumbres para hacer inteligibles acontecimientos remotos transmitidos por la memoria colectiva. De la pluma de Susana B. Murphy (UBA/UNLu, Argentina) contamos con un trabajo sobre la ideología del poder real en Asiria y las diferentes prácticas y representaciones que rodeaban la figura del monarca. Recurriendo al concepto “tradición” provenientes la sociología weberiana y a la noción de “costumbre” del historiador inglés E. P. Thompson, devela que los gobernantes del imperio neoasirio supieron elaborar un complejo sistema simbólico en el que retomaron buena parte de los fundamentos introducidos por los gobernantes amorreos de la Mesopotamia del II milenio a. C., transformando a las genealogías, la evocación de la memoria de los ancestros y los rituales en los principales mecanismos a través de los cuales la autoridad suprema seguía en manos del dinasta reinante y garantizar la fidelidad de las distintas facciones que existían dentro del ámbito palatino.

Cierra la compilación un artículo del historiador José Carlos Castañeda Reyes (UAM, México), en el cual indaga el papel que jugaron las mujeres a lo largo de la historia social del Egipto antiguo desde una posición teórico-metodológica que parte de la influencia de la escuela historiográfica francesa contemporánea de los Annales, centrándose particularmente en los momentos que no han sido ampliamente estudiados en el campo de la egiptología, como los episodios de tensión, crisis y rebelión. Sin embargo, de todos los trabajos que integran el volumen, éste en especial se involucra en un problemática que, consideramos, el autor no logra resolver satisfactoriamente. Si bien este investigador plantea su oposición a las visiones estereotipadas y superficiales sobre la experiencia de las mujeres en la sociedad egipcia mediante un recorrido con cierto detenimiento por sus diferentes espacios de actuación, arriba a una conclusión tan o más controversial que la sostenida por las aproximaciones tradicionales, ya que señala de una manera poco convincente que las mujeres egipcias –a pesar de los numerosos condicionantes y limitaciones– se destacaron por una posición de mayor participación y trascendencia comparada con otros casos históricos de la antigüedad.

Después del recorrido de lectura que propusimos de esta compilación, queda en claro que se trata de una obra que congrega trabajos animados por opciones temáticas y teórico- metodológicas diferentes, pero que comparten los objetivos de identificar los límites de las concepciones vigentes en la historiografía del Cercano Oriente antiguo, desarmarlas a la luz de los nuevos planteos y poner al alcance del lector perspectivas actualizadas y rigurosas. Lejos de agotar los interrogantes sobre esa amplia diversidad de procesos históricos y formaciones sociales y culturales, los trabajos que se incluyen en esta colección deben considerarse como intentos que apuntan a una serie de objetos de análisis y enfoques que sería necesario continuar y profundizar. Importantes preguntas han sido respondidas, pero otras cuestiones seguramente permanecen sin resolver, ya que se trata de las experiencias históricas de múltiples sociedades que, desde el temprano poblamiento del espacio, enfrentaron los desafíos de un entorno a veces hostil, elaboraron respuestas originales, diversificaron sus modos de vida, reorganizaron muchas veces sus organizaciones políticas y económicas y produjeron complejos sistemas simbólicos. Menos explícito, pero no menos firme, es el otro objetivo que persiguen este libro y sus compiladores: despertar la curiosidad, interés y esfuerzo intelectual de otros investigadores latinoamericanos preocupados por generar nuevos debates, aportar sus propias perspectivas y alcanzar una mejor comprensión de esas antiguas sociedades, sus historias y sus culturas desde estas latitudes académicas.

Horacio Miguel Hernán Zapata – Docente-Investigador. Universidad Nacional del Nordeste (UNNE) / Universidad Nacional del Chaco Austral (UNCAus) / Instituto de Formación Docente “Profesor Agustín Gómez” (IFDPAG), Argentina. E-mail: horazapatajotinsky@hotmail.com.


DE BERNARDI, Cristina; SILVA CASTILLO, Jorge (Comp.) El Cercano Oriente Antiguo: nuevas miradas sobre viejos problemas. Rosario: Facultad de Humanidades y Artes – Universidad Nacional de Rosario / Centro de EStudios de Asia y África – El Colegio de México, 2005. 152p. Resenha de: ZAPATA, Horacio Miguel Hernán. Viejos problemas, nuevas miradas. Los estúdios sobre las sociedades del Cercano Oriente Antiguo desde una perspectiva historiográfica latino-americana. Em Tempo de Histórias, n.28, p.187-193, jan./jul, 2016.Brasília, Acessar publicação original. [IF].

 

Os biomas e as sociedades humanas na Pré-História da região do Parque Nacional Serra da Capivara, Brasil. Vol. II A-B – PESSIS et al (CA)

PESSIS, Anne- Marie; MARTIN, Gabriela; GUIDON, Niéde (Org.). Os biomas e as sociedades humanas na Pré-História da região do Parque Nacional Serra da Capivara, Brasil. Vol. II A-B, Fundação Museu do Homem Americano – FUMDHAM: São Paulo: IPSIS Gráfica e Editora, 2014. 852p. Resenha de: MAIOR, Paulo Souto. Clio Arqueológica, Recife, v. 30, n.2, p.241-249, 2015.

O projeto, Síntese dos biomas e sociedades humanas da região do Parque Nacional Serra da Capivara, no Sudeste do Piauí, apoiado e financiado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia do Brasil, abre um espaço editorial destinado a divulgar o conhecimento resultante do trabalho dos pesquisadores da Fundação Museu do Homem Americano – Fumdham – e outras entidades científicas associadas em rede no decorrer de três décadas de pesquisa nessa região.

Cabe lembrar que inicialmente as pesquisas no Parque Nacional estiveram centradas nos sítios com pinturas rupestres pré-históricas em razão do seu extraordinário acervo, tanto pelo número de sítios achados, como sua densa concentração e seu estado de conservação. Em 1991, por essa riqueza gráfica e cultural, a Unesco inscreve o Parque Nacional Serra da Capivara na Lista do Patrimônio Mundial de Humanidade. As escavações arqueológicas foram no começo realizadas em função da procura de informações complementares sobre esse patrimônio cultural, mas rapidamente as descobertas extrapolam as metas e as expectativas formuladas. A inesperada antiguidade da presença humana na região requer, para desvendar esse universo desconhecido, uma abordagem de pesquisa interdisciplinar. Desde a criação do Projeto, em 1986, o tema de pesquisa proposto pela Fumdham foi definido como a interação do homem com o ambiente, desde a Pré-História até os dias atuais. Varias gerações de pesquisadores brasileiros e estrangeiros sucederam-se num fluxo contínuo de trabalhos interdisciplinares para configurar um mapa multidisciplinar que enquadrasse o tema central das pesquisas no Parque Nacional. A participação das diversas disciplinas na pesquisa evoluiu de maneira diferenciada, o que se traduz num grau distinto das colaborações. Algumas salientam o estado da arte, outras a evolução da pesquisa, outras, também, os aspectos inovativos e a introdução de novos dispositivos técnicos dentro do dispositivo de pesquisa.

Até agora, foram publicados três volumes, sendo que é no volume II, dividido nos tomos A e B, que se resenha aqui e integra artigos com uma diversidade temática salientando a importância da interdisciplinaridade entre as ciências que interagem na formulação de um objetivo comum. O volume II reúne trabalhos inéditos de 42 autores em artigos individuais ou em equipe, apresentando uma amostragem representativa do trabalho realizado naquela região.

Dividido em oito temas, a obra abre com um breve histórico introdutório, desde a chegada dos primeiros pesquisadores numa região praticamente desconhecida.

Niède Guidon relata essa trajetória, de forma sucinta e quase coloquial, com o texto: A Fundação Museu do Homem Americano e o Parque Nacional Serra da Capivara. Relato sucinto de três décadas de pesquisa.

O primeiro tema tratado considera o ambiente e paleoambiente na região do Parque Nacional Serra da Capivara com as contribuições de três artigos.

Apresentam-se os resultados de pesquisas paleoambientais que tiveram um sólido avanço, ampliando o conhecimento das drenagens e dos vales arcaicos. As escavações arqueológicas e paleontológicas evidenciaram perfis estratigráficos, viabilizando a extração de amostras de sedimentos que forneceram informações palinológicas e antracológicas, datações que permitiram compreender os processos deposicionais e contextualizar os vestígios arqueológicos subsedimentares nos sítios. Para entender a interação entre os grupos humanos e a paisagem no decorrer do tempo, requer inserir os vestígios arqueológicos e paleontológicos nos contextos estratigráfico, cronológico e cultural da paisagem.

A reconstituição dos contextos faz com que as pesquisas arqueológicas e paleoambientais sejam interdependentes. Dados obtidos nas escavações das lagoas fósseis e sondagens realizadas nas redes de drenagem permitiram demonstrar que o clima da região foi tropical úmido até há cerca de 10.000 anos. No alto da planície, dominava a floresta amazônica e, na planície, a mata atlântica. Hoje, apesar de a caatinga ter coberto a região, nos vales mais úmidos, ainda existem espécies animais e vegetais desses dois biomas.

O segundo tema apresenta, com duas contribuições, os resultados da pesquisa em Paleontologia. Os fósseis da região da Serra da Capivara foram descobertos ao longo das últimas décadas através das escavações e sondagens realizadas nas numerosas lagoas da região. As datações absolutas permitiram posicionar as associações fossilíferas dentro do limite Pleistoceno final/Holoceno. Uma síntese do conhecimento atual dessas associações apresenta-se nos dois capítulos. Novas espécies foram descritas pelos paleontólogos que participam das pesquisas desde os anos oitenta do século XX.

A Biologia e Antropologia Física compõem o terceiro tema apresentado. No decorrer de décadas de pesquisa, os dados coletados permitiram realizar importantes contribuições ao conhecimento nas áreas da Biologia, Zoologia e Botânica graças à estreita colaboração entre pesquisadores da Fiocruz e da Fumdham. A descoberta de vestígios de ancilostomídeo nas populações préhistóricas do Piauí, há pelo menos 7.000 anos, rompeu o paradigma de que a ancilostomíase havia sido trazida da Europa e da África para América pelos colonizadores. Também ficou evidenciado que os piolhos chegaram a América com seus hospedeiros humanos muito antes dos europeus. A pesquisa de parasitos de animais em coprólitos humanos revelou os hábitos alimentares do Homo sapiens pré-histórico a partir da identificação, nas fezes humanas, de parasitos específicos de animais, utilizados como alimento. São quatro os artigos que apresentam o estado da arte da Biologia.

Em Antropologia Física, foi revelada a diversidade morfocraniana dos remanescentes ósseos humanos, acrescentando dados significativos ao estudo da evolução humana e da origem do homem americano. Na dimensão de biodiversidade de fauna existente com os resultados da pesquisa, foi possível identificar uma fauna de vertebrados composta aproximadamente de 370 espécies.

A floral local formada por vegetação xerofítica é decídua e adaptada à seca. A flora de caatinga atual e os restos da mata atlântica e de espécies amazônicas permitiram identificar os diferentes ambientes em que os grupos humanos viveram durante milênios.

A caracterização do ambiente apresentado nos três primeiros temas é fundamental para contextualizar os temas relativos às populações pré-históricas, que se estruturam em torno da sua evolução tecnológica e que aparecem nas manufaturas líticas, nos grupos ceramistas, nos registros gráficos rupestres, nas escolhas dos espaços ocupados e nos processos rituais fúnebres.

O Homem na Pré-História do Parque Nacional Serra da Capivara é o título do tema 4, que aborda assim a longa sequência cultural que caracteriza as ocupações humanas pré-históricas da região, desde o Pleistoceno Superior até a extinção das etnias indígenas. Um longo caminho de adaptação às limitações imposta pela evolução ambiental, para o qual as populações humanas inovaram tecnologicamente para se defender, coexistir e se afastar dos perigos como os da presença da megafauna, com a qual coexistiram cronologicamente. Eram observadores da mudança climática e da extinção da fauna de grande porte, multiplicando-se a fauna de pequeno porte, roedores, pequenos mamíferos, peixes que passaram a participar da suas novas dietas. A inovação na manufatura cerâmica, as primeiras roças de subsistência, o aumento das terras disponíveis para seus assentamentos provocados pela seca e sua consequente diminuição do volume das águas.

A pesquisa sobre a manufatura cerâmica não se formula para analisar os detalhes do procedimento técnico de sua elaboração, mas como meio de chegar ao conhecimento das populações que a fabricaram e utilizaram; interessa a funcionalidade e o uso da cerâmica pré-histórica. Nas análises dos perfis técnicos das cerâmicas é seguramente onde mais se tem avançado a nível regional.

Constata-se que a cerâmica utilitária em nada difere da utilizada nos rituais fúnebres.

O tema 5 trata dos materiais líticos pré-históricos, e as pesquisas contam com duas colaborações que coincidem com dois momentos metodológicos. O primeiro elaborado para o estudo da Toca do Sítio do Boqueirão da Pedra Furada, em que se estuda e relaciona os produtos líticos finalizados, com ou sem marcas de uso.

Utiliza-se uma classificação analítica dos implementos desse sítio segundo a estratigrafia do Pleistoceno superior ao Holoceno antigo. O segundo tempo metodológico trabalha com os processos de realização dos produtos líticos a partir de um grupo de sítios apresentando a evolução dos implementos líticos nas diferentes fases, por níveis estratigráficos da ocupação pré-histórica.

O sexto tema trata dos registros gráficos rupestres do Parque Nacional, que foram objeto do primeiro volume dessa Síntese, apresentando os primeiros resultados dos sítios descobertos e fornecendo uma proposta preliminar classificatória do acervo de pinturas e de gravuras. O número de sítios pintados ou gravados documentados experimentou, nas últimas décadas, um crescimento surpreendente permitindo dispor de um acervo de registros gráficos maior para uma mesma área e enriquecer o banco de dados imagéticos do Parque Nacional. Hoje, os novos aportes da pesquisa sobre as pinturas e gravuras rupestres, que fazem a diferença na última década, são de natureza técnico-metodológica. Sua aplicação atinge o grau de precisão do registro documentário imagético, permitindo obter um documento final, exaustivo e preciso dos sítios. Viabiliza a criação de bancos de dados imagéticos georreferenciados, tanto bidimensionais como tridimensionais.

No plano analítico dos registros rupestres, a introdução de novas técnicas de medição permite aceder a um espaço analítico ampliado para o estudo e a interpretação dos registros imagéticos. Essas contribuições são verdadeiros instrumentos para formular diagnósticos, planejar intervenções preventivas para a conservação das primeiras obras gráficas da humanidade O sétimo tema trata das pesquisas em Metrologia Arqueológica e Patrimonial desenvolvidas pelo grupo de pesquisa (UFPE/CNPq), que está especializado na análise de elementos-traços em amostras arqueológicas e geológicas e na datação de sedimentos, vestígios cerâmicos e dentes através de métodos de Termoluminescência (TL), Luminescência Opticamente Estimulada (LOE) e Ressonância Paramagnética Eletrônica (EPR). As técnicas apresentadas estão acompanhadas por um estudo de caso, sendo que um deles trata das análises dos pigmentos das pinturas rupestres do Parque Nacional Serra da Capivara. Esse grupo de pesquisa trabalha de forma articulada com as equipes arqueológicas da Fumdham no desenvolvimento de novas metodologias, buscando uma maior precisão nos resultados e adequação ás necessidades da pesquisa.

Finalmente, no oitavo tema, abre-se um espaço para a consideração do fim do mundo indígena e o começo dos tempos históricos. Nele, são apresentadas duas colaborações evidenciando a carência de documentos históricos que tratem do fenômeno indígena ou a existência de documentos históricos deturpados, apresentados pelo filtro dos valores dos três primeiros séculos da presença de europeus no Brasil. A imagem do indígena construída segundo a funcionalidade às necessidades da conquista, da colônia e do valor da produtividade. O indígena sem valor algum em relação ao escravo africano, que tem um preço de compra e um potencial de produtor de bens. O indígena protegido em certa forma da escravidão e do sistema desaparece gradativa e silenciosamente.

Os resultados de trabalhos de impacto social, desenvolvidos paralelamente à pesquisa científica, estão incluídos no volume III da Síntese, que, sob o título Arqueologia, Ambiente e Inclusão Social no Plano Diretor de São Raimundo Nonato, PI, estará disponível no decorrer do ano 2015.__

Paulo Souto Maior – Departamento de Arqueologia, UFPE.

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The Rock Basins of Serra do Cume: Azores megalithic rocks and enigmatic inscriptions rearrange the old Atlantic geography / Maria Antonieta Costa

A formação vulcânica do arquipélago dos Açores apresenta uma admirável variedade de litologias (composições rochosas) com propriedades mineralógicas interessantes – assim começa o Abstract introdutório do livro. E continua: no que respeita à formação geológica da ilha Terceira encontram-se presentes quantidades notáveis de sílica, elemento que parece ser fundamental também na composição das construções megalíticas do continente europeu. Seja ou não uma coincidência esse fato dá a impressão de ser ele a razão explicativa segundo a qual os indícios (sinais) encontrados na ilha Terceira, tais como marcas em forma de cortes e de taças, construções megalíticas, “inscrições”, sugerindo que intercâmbios semelhantes entre seres humanos e seu ambiente, que se sabe ocorrerem no continente, podem surgir em lugares mais improváveis, como no meio do Oceano Atlântico. A escolha de tais rochas para construir as ocorrências descritas também implica a existência de um “plano” anterior à sua implantação.

Até aqui o Abstract. O projeto desta investigação faz parte das atividades da Autora na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde atua em estágio de pós-doutorado, e onde conta com o apoio da Professora Doutora Alice Duarte, tutora do projeto. Embora a presença de formações rochosas de configuração incomum, e em grande quantidade, desde longa data tenha despertado a atenção de moradores e visitantes da ilha Terceira nunca um estudo sistemático fora empreendido, até que Maria Antonieta Costa, pesquisadora de História da Cultura, resolveu dedicar-se ao tema. Para levar a cabo uma investigação detalhada, cuidadosa, e em larga escala, ela convidou geólogos e arqueólogos, e pesquisadores de áreas afins, e com eles fez o levantamento completo de todo o conjunto. Uma vez que não se encontraram (ainda) vestígios de ocupação humana anteriores à presença portuguesa a atenção voltou-se para definir a sua maior probabilidade através de dois caminhos: comparação com sítios arqueológicos similares em outros locais da Europa (quase todos na Escandinávia), e a análise/interpretação do conjunto em termos de Antropologia do Espaço, ou Antropologia da paisagem cultural. Segundo este ponto de vista certas configurações do ambiente natural (flora, geologia) oferecem à observação um potencial de imaginário cultural que atraem a presença humana, ou, quando menos, a suspeita fundamentada dessa presença.

Uma das questões mais destacadas pela autora é a forte presença de sílica na composição rochosa da Serra do Cume: essa presença não existe em outros locais dos Açores, mas é conhecida em rochas de outros lugares do mundo, onde as propriedades “mágicas” (curativas) da sílica fazem as populações atribuir poderes sobrenaturais às formações rochosas. Há ainda outros aspectos (sinais) destacados no texto e muitos deles fotografados: os riscos e sulcos nas rochas, as formações que lembram animais, ou humanos, as construções de pedras sobrepostas em muros, as taças aparentemente esculpidas na pedra, e o conjunto todo dessas rochas, algumas das quais dificilmente se podem imaginar sem a ação humana, que parece demonstrar uma intencionalidade na sua disposição.

Redigindo a conclusão do livro (agosto de 2014) a Autora afirma que as taças na rocha (rock basins), que foram o pretexto inicial para conduzir a pesquisa, passaram a segundo plano perante a importância que entretanto se revelou no conjunto. Ao preparar uma nova etapa da pesquisa, com o apoio de mais especialistas, e ampliando o campo de ação, Costa já estava também iniciando outras abordagens e consolidações do projeto: o convite a antropólogos europeus para visitarem a Serra do Cume, e a publicação de crônicas em jornais locais – em ambos os casos com a intenção de captar a atenção e o interesse do público, estudiosos, e autoridades, e garantir meios de investigação e credibilidade aos seus resultados.

Sir Barry Cunliffe, professor em Oxford, é um dos antropólogos europeus mais respeitados da atualidade;nos últimos anos ele vem defendendo a hipótese da existência de uma cultura megalítica atlântica muito anterior (nove mil anos a.C.) à suposta “chegada” dos celtas ao extremo ocidente europeu. Pelo contrário, segundo ele – no que é secundado, senão antecipado, por investigadores espanhóis como Ramon Sainero – teria sido nesse extremo ocidente que se teria originado a cultura depois conhecida como celta. Não é pois de admirar que Sir Barry Cunliffe atendesse prontamente o convite, visitasse a Serra do Cume, e no dia 15 de outubro de 2014, ao proferir palestra na Câmara de Vereadores de Angra do Heroísmo (Terceira) se mostrasse muito favorável à continuação das pesquisas. Além disso indicou o antropólogo George Nash para também ele visitar a ilha Terceira, o que o professor britânico aceitou, permanecendo na ilha de 15 a 25 de fevereiro de 2015, e apresentando relatório com suas conclusões.

George Nash percorreu os locais e observou as evidências rochosas mais destacadas: grutas, petroglifos, muros de pedra, rochas zoomórficas, sulcos nas lajes do solo, e concluiu que há possibilidade de serem sinais de ação humana. Constatou, porém, que não há nenhuma prova concreta da presença humanas na ilha anterior aos europeus (portugueses e flamengos); e que o pote de moedas fenícias e cartaginesas encontrado na ilha do Corvo (distante da Terceira) em 1749 só por si não garante que os fenícios tenham visitado as ilhas – as moedas podem ter sido um trote, colocado lá intencionalmente. Por isso ele recomenda que se realize um amplo projeto paleoambiental, procurando, por exemplo, sinais de pólen exótico, ou indícios de corte de floresta; mas aceita a viabilidade de resultados positivos, ao concluir pelo seu engajamento nesse futuro projeto.

As crônicas, onde a autora traduz e detalha diversos aspetos do livro, foram iniciadas no final de novembro de 2014, e no início de abril de 2015 somavam 17 textos publicados, quase todos de cerca de uma página, e sempre com o mesmo título: “Crónicas de uma causa mal-amada” – mal amada porque tem sido rejeitada, ou pelo menos desconsiderada pelo público açoriano. Pelos moradores, que dizem: “Quem gostaria de vir de longe, ver pedras?” (Crónica 9); pelas autoridades, particularmente do Geoparque dos Açores, que se mostram “relutantes” e mesmo “irredutíveis” a propor a candidatura do local investigado para ser classificado de forma diferenciada (Crónica 10); e pelos especialistas, nomeadamente arqueólogos, que têm sido “cegos” (Crónica 11) para as evidências que contrariam a história oficial: a de que o arquipélago era desabitado e não tinha recebido presença humana antes da chegada dos portugueses. Mas, tanto as crônicas como o livro destacam a colaboração que a A. tem recebido de profissionais e especialistas, não só no levantamento completo do sítio (mapas, fotografias, descrições) como na análise e interpretação de alguns aspetos e no seu enquadramento teórico mais amplo. Contudo essas colaborações voluntárias, e os esforços da autora – apresentando-se em congressos, fazendo palestras, e seriados na televisão – não alcançaram ainda um objetivo fundamental do projeto: o de ter aprovada a realização de uma pesquisa arqueológica profunda e vasta, e com ela o reconhecimento da importância do sítio pelas autoridades e público interessados. É notável, porém, que uma obra composta numa ilha no meio do Atlântico, com pouco mais de cinqüenta páginas de texto, e 90 fotografias, tenha despertado a atenção de uma editora alemã e o interesse de dois importantes antropólogos europeus. Há nele certamente mais do que uma ingênua curiosidade, duas qualidades que fazem de Maria Antonieta uma descobridora de mundos novos, ou de novas maneiras de ver o mundo.

João Lupi – Docente do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas. Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: lupi@cfh.ufsc.br.


COSTA, Maria Antonieta. The Rock Basins of Serra do Cume: Azores megalithic rocks and enigmatic inscriptions rearrange the old Atlantic geography. Saarbrücken: LAP/Lambert Publ., 2014, 73p. Resenha de: Brathair – Revista de Estudos Celtas e Germânicos. São Luis, v.15, n.2, 2015. Acessar publicação original. [IF]

Sítios de pesca Lacustre em Rio Grande, RS – SCHMITZ (CL)

SCHMITZ, Pedro Ignácio. Sítios de pesca Lacustre em Rio Grande, RS. [Porto Alegre:] 2011. Resenha de: RIBEIRO, Bruno Leonardo Ricardo. Cadernos do LEPAARQ – Textos de Antropologia, Arqueologia e Patrimônio, Campinas, v.11, n.22, 2014.

A obra em análise é, ainda hoje, referência primordial no que tange o estudo de grupos caçadores– coletores–pescadores cerriteiros na costa do Rio Grande do Sul e regiões adjacentes, e sua reedição é parte integrante do segundo volume da série “Clássicos da Arqueologia”, promovida pela Sociedade de Arqueologia Brasileira (SAB) e lançado durante a realização do XVI congresso da SAB em conjunto com o XVI congresso Mundial da UISPP, em Florianópolis/SC. Cabe também salientar que esta obra se trata de uma versão condensada da tese apresentada pelo autor em 1976 para obtenção do título de Livre-docente na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS.

Além de contar com apresentação de Rossano Lopes Bastos, então Secretário Geral do evento e prefácio de Jairo Henrique Rogge, onde ambos ressaltam a importância deste autor não só para a construção do pensamento Arqueológico Brasileiro, mas também seu papel fundamental no estabelecimento da disciplina no Brasil como tal, o livro é estruturado em nove capítulos que abarcam desde uma introdução ao objeto de pesquisa, a uma proposta de caracterização dos sítios escavados. Os três primeiros capítulos da obra são dedicados as descrições ambientais, histórico das pesquisas desenvolvidas na região e as culturas dentro do escopo do projeto; o quarto capítulo, à apresentação dos sítios estudados. Os capítulos cinco a oito, por sua vez, são dedicados a apresentação dos vestígios arqueológicos recuperados e toda sua variabilidade: cerâmicos, líticos, malacológicos e faunísticos, além dos restos alimentares.

Finalmente, no capítulo nove o autor apresenta uma proposta de caracterização para os sítios estudados em sua totalidade, por ele entendidos, em sua maioria, primariamente como assentamentos de pesca sazonal ocupados durante a primavera e o verão, uma vez que a grande maioria dos vestígios alimentares remete à predação de peixes dessas estações, mas sobretudo, assentamentos de múltipla função, diante do longo espaço de tempo durante os quais foram recorrentemente ocupados e pelas diferentes ocorrências de vestígios arqueológicos verificados ao longo destas ocupações.

De acordo com o autor, as datações obtidas por C14 garantem à área pesquisada uma antiguidade que remete a mais de 2.000 anos A.P, e se encerraria com a chegada do Europeu na região entre os séculos XVII e XVIII, então ocupada por grupos indígenas Guarani, Minuano e Charrua. A saber, o período mais antigo, pré-cerâmico, atestado pela presença de artefatos líticos lascados e polidos/picoteados nos extratos mais baixos, além de instrumentos elaborados sobre ossos e conchas, se iniciaria em meados do ultimo milênio antes da era cristã e se encerraria com o início desta, dando lugar então às primeiras ocupações ceramistas, que perdurariam até a conquista. Quatorze foram os sítios abarcados no projeto e nenhum deles teria se apresentado exclusivamente pré-cerâmico (lítico) nem apresentado elementos associáveis a culturas europeias.

Como dito anteriormente, o autor procura, nos capítulos iniciais de sua tese, contextualizar a pesquisa desenvolvida na região de Rio Grande/RS, e é quando são apresentadas densas descrições das características geomorfológicas e ecológicas da área pesquisada. Ênfase é dedicada às variações climáticas e ambientais verificadas durante a transição pleistoceno/holoceno e seu impacto sobre a fauna e a flora local, assim como entre os diferentes terraços relacionados a estes períodos. As rotas de migração e a presença sazonal de aves, peixes, frutos e outros vegetais na região também não escaparam ao escrutínio, objetivando identificar a já citada variabilidade de recursos alimentícios disponíveis aos grupos humanos que primeiro ocuparam a região ao longo do ano. Ainda, é neste momento que o autor apresenta toda uma revisão histórica da presença ibérica, iniciada no século XVII, e bibliográfica, não só das pesquisas já realizadas na região, mas também dos grupos indígenas que ali residiam quando da chegada dos povos europeus.

Ainda, são apresentados os aportes teórico-metodológicos utilizados pelo autor, fortemente marcados por uma perspectiva histórico-culturalista, embasada na elaboração de seriações de fundamento tecno-tipológicas dos vestígios arqueológicos identificados, visando à inserção destes sítios dentro de sequências culturais já estabelecidas, as ditas tradições e/ou fases culturais. Para tanto, os métodos de escavação se restringiram a realização de sondagens teste e/ou cortes estratigráficos escavados por níveis artificiais e coletas superficiais, sempre objetivando a obtenção da maior quantidade possível de vestígios e informações de valor amostral. A pesquisa realizada partiu de estudos iniciados durante o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) – cujo objetivo era a elaboração de um panorama geral e sistemático da história dos povos autóctones anteriores à conquista ibérica, partindo exatamente do levantamento de dados amostrais – portanto, foi fortemente influenciada pelo “métier” norte-americano.

Em relação à morfologia dos sítios, são em sua maioria de forma arredondada ou elíptica, de área entre 800 e 11.000m2, e altura atual variando entre 30 e 125cm. Quanto à caracterização e constituição destes montículos, o autor os define da seguinte forma: […] pequenos cômoros, acumulados pelo homem, constituídos de sedimentos arenosos, escuros, com grande quantidade de restos de alimento de origem animal, em menor quantidade de origem vegetal, localizados sobre os terraços holocênicos da margem ocidental da Lagoa dos Patos, na parte mais próxima à sua barra. Excepcionalmente se encontram os mesmos sítios sobre o barranco do Pleistoceno […]. Os sítios sobressaem do terreno circundante, razão por que são localmente conhecidos como cerritos […] (SCHMITZ, 2011, p.81).

Devo ressaltar que, com o avanço das pesquisas relacionadas a sítios arqueológicos sobre cerritos nas ultimas décadas, tem se questionado se tais montículos seriam resultado apenas do produto residual destas longas e constantes reocupações, como propõe o autor, ou construções idealizadas pelos grupos que deles faziam uso, compondo projetos monumentais relativos a espaços funerários; Se seriam uma resposta à variação do nível d’água na Laguna dos Patos, ao longo das estações do ano, ou marcadores territoriais e simbólicos, além de outros tantos questionamentos (mais detalhes em MAZZ, BRACCO, 20102). Todavia, tais discussões não cabem aqui. Fato é que sobre estes montículos a grande maioria dos vestígios culturais identificados foi cerâmica, com baixa representatividade de vestígios líticos e ósseos, os últimos de tão baixa frequência que o autor não se dispõe a ir além de uma simples descrição das peças resgatadas e apenas em alguns casos, inferir sobre prováveis usos ou funções para tais. Ossadas e indícios de sepultamentos humanos, quando identificados, não foram suficientes para incutir, no autor, ideias sobre possíveis usos simbólicos para os referidos sítios.

Para a análise dos vestígios cerâmicos a metodologia adotada por Schmitz teve por enfoque o exame de características morfológicas e tecnológicas, através da qual pretendia verificar a presença de culturas/sociedades diferentes ou mesmo a apropriação de técnicas culturais externas, através do contato entre sociedades distintas. Assim, além do estudo de bordas de potes e extrapolação de possíveis formas, traços como textura e elementos constituintes da argila; coloração do núcleo das paredes e tipo de queima aplicada; características das superfícies internas e externas dos potes, como coloração, tratamento superficial e aplicação ou não de motivos decorativos também foram levados em consideração.

Diante dos resultados obtidos através destas análises, aplicadas a todas as coleções, o autor estabeleceu dois grandes grupos de vestígios cerâmicos. O primeiro deles, verificado em níveis mais inferiores, é composto por vasilhames pequenos e pouco profundos, de contornos simples e pasta apresentando elementos antiplásticos minerais, em sua grande maioria sem indícios de maior dedicação aos acabamentos de superfície e poucos motivos decorados plásticos ou pintados, salvo algumas exceções. O segundo grupo, verificado em camadas mais superficiais das escavações e em apenas alguns sítios, apresenta vasilhames de tamanhos mais variados e formas e contornos mais complexos. Além dos antiplásticos minerais, nestas cerâmicas também é recorrente o acréscimo de cacos moídos de outros potes cerâmicos e a presença de motivos decorados nas paredes são mais frequentes, com padrões mais imbricados, alisamentos mais finos e maior recorrência de decorações pintadas e plásticas, como impressão de dedos, unhas, além de outros.

O primeiro grande grupo, de acordo com as designações estabelecidas pelo PRONAPA, se enquadra na dita Tradição Vieira, subtradição Vieira e pode ser dividida, ainda, em outras duas fases apenas por variações pontuais: Fase Torotama (mais escassa e verificada imediatamente acima, ou associada à camada pré-cerâmica) e Fase Vieira (mais frequente e presente em níveis mais superiores). O segundo grupo se enquadra na Tradição Tupiguarani, subtradição Corrugada, Fase Camaquã, com datações que remetem a chegada desta tradição cerâmica à região em algum momento próximo ao fim do primeiro milênio A.D. O autor não dedica muitas páginas de seu livro a esta nova população a adentrar o território, mas deixa claro que em sua opinião, este grupo – já dominante da horticultura e de organização social e padrões de assentamento bem diferenciados em relação aos grupos em foco – manteve contato direto e prolongado com os produtores da cerâmica da Fase Vieira, e exerceram influencia direta sobre eles.

Difusionista, Schmitz associa à chegada e ao contato com estes povos uma intensificação da horticultura na região e certo grau de “refinamento” na produção cerâmica da Fase Vieira, ressaltando que após o contato com os Tupiguarani surge um novo padrão decorativo dentre estas cerâmicas, que ele denomina negativo de cestaria. Especula também sobre certa imposição de restrições espaciais aos cerriteiros, partindo da premissa que com os Tupiguarani vieram novos saberes, mas também novos limites territoriais que restringiriam o uso do espaço e dos recursos locais pelos grupos associados à cerâmica Vieira, por ele entendidos, até então, como organizados em pequenos bandos de alta mobilidade territorial, agora forçados à intensificação de práticas horticultoras e certa reorganização social.

A cerâmica, na ótica adotada pelo autor, é entendida como o principal vestígio cultural de determinada sociedade. De caráter puramente tecnológico e indicador de estágios evolutivos da tradição Vieira, caracterizada como “sociedade marginal”. Sequer é aventada, nas profundas análises realizadas pelo autor, a relação entre possíveis funções ou representações associadas a estes potes cerâmicos. Para ele, a simplicidade verificada nas técnicas de produção e nas formas das cerâmicas da Fase Torotama, por exemplo, assim como a manutenção de certas características por longo período temporal, seriam reflexo de uma sociedade dotada de um sistema cultural simplista e estático.

Parece lhe escapar a possibilidade que, talvez, o nível de complexidade presente nos grupos produtores das cerâmicas da Tradição Vieira estivesse testemunhado em outras formas de cultura material, como nos próprios cerritos, e que neste contexto a cerâmica não desempenharia mais que papel secundário.

E há de se destacar, por fim, que a tese de Schmitz (defendida em 1976), passou a ser a principal referência teórica e o modelo interpretativo mais robusto sobre as ocupações dos grupos construtores de cerritos do pampa, tendo forte impacto sobre a arqueologia do Mercosul. Dessa forma, foi o principal alvo de críticas, sobretudo da Arqueologia uruguaia, quando essa se reoxigenou sob um viés processualista, ao longo dos anos 1990, o que demonstra a grandiosidade da obra, discutida e rediscutida nos últimos 40 anos.

Nota

2 MAZZ, J.M.L.; BRACCO, D. Minuanos. Apuntes y notas para la historia y la arqueología del territorio Guenoa-Minuan (Indígenas de Uruguay, Argentina y Brasil). Montevideo: Linardi y Risso, 2010.

Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro – Graduando do curso de Bacharelado em Antropologia/Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Brasil. Pesquisador Associado ao Laboratório de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal de Pelotas (LEPAARQ – UFPel), Brasil.

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[MLPDB]

 

La espacialidad en Arqueología. Enfoques, métodos y aplicación – GORDILLO; VAQUER (A-UBA)

GORDILLO, Inés; VAQUER, José María (Ed). La espacialidad en Arqueología. Enfoques, métodos y aplicación. Quito: ABYA YALA, 2013. 389p. Resenha de: QUESADA, Marcos N. Arqueología, Buenos Aires, v. 19, n. 1, p.211-213, 2013.

No muchas líneas de investigación han cobrado el impulso que en las últimas décadas tuvieron aquellos enfoques interesados en comprender las lógicas de las formas espacia­les de la cultura (o mejor, de las formas culturales de la espacialidad), que solemos eng­lobar bajo la denominación de Arqueología del Paisaje. Ya se sabe que se trata de una denominación que aporta poco para definir una línea de trabajo homogénea, al contra­rio, más bien esconde una notable variedad de aproximaciones teóricas, metodológicas y técnicas, y por supuesto, que están animadas desde distintos posicionamientos ideológicos y políticos. Esa variedad es precisamente una de las primeras impresiones que provoca la lectura del volumen que estoy Reseñando.

Se trata de una cuidada edición a cargo de Inés Gordillo y José María Vaquer que reúne trabajos que habían sido presentados en el marco de un simposio organizado por ellos mismos en el XVII Congreso Nacional de Arqueología Argentina realizado en octubre de 2010 en la ciudad de Mendoza. Tuve la oportunidad de participar en ese simposio y recuerdo el notable grado de interés y parti­cipación que los temas presentados desperta­ban en los participantes. El libro es igual de convocante.

Inicia con un capítulo introductorio de los editores que propone un breve relato de los principales aportes de distintos autores, principalmente anglosajones, a la configuración actual de la arqueología del paisaje y una presentación general de los nueve capítulos que integran el volumen. El libro está organizado en tres grupos de trabajos. Los dos primeros se relacionan a la espacialización de ciertas representaciones plásticas en dos casos muy diferentes. En primer lugar, Natalia Carden explora a través de las condiciones de empla­zamiento y visibilidad de dos grupos de dise­ños rupestres -curvilíneos y manos negativas- las lógicas implicadas en la producción del espacio ritual hacia el final del Holoceno me­dio y el tardío en un sector de la meseta pata­gónica. En el tercer capítulo Alexandre Guida Navarro destaca las diferencias en las formas de representación del motivo de la serpiente emplumada en Chichén Itzá y nota la vincu­lación de esta variabilidad con la organización arquitectónica de la ciudad maya. La princi­pal hipótesis de Navarro para comprender esta distribución es que las distintas formas de representación de la serpiente codificaron sentidos particulares para los diferentes sec­tores de la ciudad al tiempo que expresaron la autoridad política de un importante rey maya siendo metáfora del nuevo orden social que este encarnaba.

Los siguientes cuatro capítulos están des­tinados al estudio de los paisajes agrarios. Alejandro Díaz, autor del cuarto capítulo del volumen, se interesa por el grado de autono­mía que las familias campesinas de Laguna Blanca (Catamarca) mantuvieron sobre la or­ganización del trabajo agrícola durante el pri­mer milenio de nuestra era. Para ello adapta eficazmente el estudio del diseño de las redes de riego a su caso lo que le permite propo­ner que la gestión de la tecnología agrícola se realizó a escala doméstica en un contexto sociopolítico descentralizado. En el capítulo cinco Alina Álvarez Larraín y Sonia Lanzelotti se concentran en los paisajes arqueológicos de Mesada de Agua Salada y Terraza de Andalhuala-Banda en el sur de Yokavil (Catamarca) que registran ocupaciones agrícolas y residenciales a los largo de los períodos agroalfareros temprano y tardío. Su análisis busca desagregar las racionalidades subyacentes a la construcción de los paisajes a lo largo del tiempo y en efecto, en base a la sistematización de diversa información de campo su­gieren la existencia de una racionalidad tem­prana, orientada a una apropiación doméstica de la producción, que es luego reemplazada, durante el período tardío, por una racionalidad orientada a la generación de excedentes. Trabajando también en espacios arqueológicos de larga duración, Martín Orgaz y Norma Ratto caracterizan distintos paisajes agrícolas de la región de Fiambalá (Catamarca) que se remontan a los primeros momentos del pe­riodo agroalfarero pero que, algunos de ellos, fueron luego ocupados durante los periodos tardío e inca. El interés de los autores está en incorporar en estas caracterizaciones elemen­tos del paisaje que, proponen, se vinculan a la construcción de la memoria social y la apro­piación de los espacios de producción. Así, piedras grabadas, cerros y tumbas, elementos significativos de las geografías andinas, son pensados en términos de ancestralidad, cosmología y materialización de la apropiación. En alguna medida el siguiente capítulo, a cargo de Juan Pablo Guagliardo, retoma estos temas. El autor propone una metodología de análisis locacional basada en el empleo de SIG para reconstruir los paisajes agrarios de Villa Candelaria (Lípez, Bolivia) y reconocer cambios y continuidades en su configuración a través de los periodos prehispánico tardío, inca y colonial. Encuentra que existió en tiempos prehispánicos cierta continuidad en una lógica de construcción del paisaje orientado a una administración colectiva de los medios de producción, lo que le sugiere la perdura­ción de códigos compartidos en relación a la autoridad de los ancestros materializados en las chullpas. En cambio, propone una marca­da ruptura en el período colonial cuando los espacios agrícolas comienzan a subdividirse y delimitarse de modo individual.

Un tercer grupo de capítulos está destinado a comprender la organización de los espa­cios aldeanos y de las prácticas sociales que tomaban lugar allí. José María Vaquer, autor del octavo capítulo del volumen, se pregunta de qué modo pudo reproducirse un habitus corporativo, como propone que se organiza­ba la sociedad de Cruz Vinto (Lipez, Bolivia) en un espacio arquitectónico que parece es­tar organizado por la agregación de unida­des domésticas. Encuentra la respuesta con el descubrimiento de que algunas activida­des domésticas, particularmente el consu­mo de alimentos, tomaban lugar en espacios con mínimas restricciones a la percepción y acceso de otros pobladores del pukara y de los ancestros-chullpas, lo cual, postula el autor, les permitía participar directa o indi­rectamente de esas comidas generando me­diante la repetición de esas prácticas un ha­bitus corporativo. Luego, Adriana Callegari, María Elena Gonaldi, Gisela Spengler y Eugenia Aciar analizan la arquitectura de La Cuestecilla (La Rioja, Argentina) distin­guiendo los espacios públicos, domésticos y productivos. Centrándose en los primeros, en su organización espacial, arquitectura mo­numental y relaciones con otras aldeas más menos próximas, interpretan La Cuestecilla como un centro de culto regional. El último capítulo del volumen cuya autoría es de Inés Gordillo aborda un tema relativamente poco tratado: los procesos de abandono. La autora es convincente cuando destaca la importan­cia histórica de estos procesos y por lo tanto de su estudio arqueológico y aún más cuando lo ejemplifica con los notables contextos de abandono de los sitios Aguada del valle de Ambato (Catamarca, Argentina).

Debo advertir que el lector no tendrá en sus manos un libro de teoría, aunque ningún capí­tulo carece de esta. Ni será un libro de meto­dología y técnicas para el análisis del espacio, aunque todos los capítulos dan cuenta de una notable creatividad para el desarrollo, incor­poración y adaptación de distintos enfoques y estrategias de observación para el estudio de la espacialidad. Tampoco se trata de una compilación de casos de estudio, aunque los autores se esfuerzan en informar sobre la im­portancia del caso para la comprensión de las respectivas historias regionales. En cambio, los distintos trabajos incluidos en el volumen pueden ser considerados ensayos que atravie­san todos estos niveles de análisis problema­tizando, en relación a los lugares y momentos históricos particulares, diferentes aspectos o concepciones de ese fenómeno que llamamos espacio, muchas veces complejizándolo me­diante la incorporación de otros procesos y conceptos como tiempo, memoria, ancestrali­dad, apropiación, etc., explorando, con mayor o menor éxito, formas de aproximarse a su caso de estudio e implementando estrategias y técnicas de observación en distintas mate­rialidades y, muchas veces, sugiriendo temas y problemas para futuras agendas. A mi juicio es justamente esta transversalidad lo que man­tiene la vitalidad de esta línea de investigación, la arqueología del paisaje, en estas latitudes.

Pienso en lo frustrante que resulta terminar una lectura con la sensación de que nada ha pasado. No es este el caso. Personalmente, La Espacialidad en Arqueología. Enfoques, Métodos y Aplicación me resultó una lectu­ra estimulante. Me llevó a distintos lugares y momentos del continente. Me acercó resul­tados de investigaciones sobre temas a los cuales no estoy muy vinculado y me permitió profundizar en otros que me son más próxi­mos. Me sugirió repensar temas y problemas asumidos y, ya sea por acuerdo o disenso, me inspiró nuevas formas de acercarme a aspec­tos de mi propia investigación. No puedo de­jar de recomendar su lectura.

Marcos N. Quesada – CONICET  Escuela deArqueología  Universidad Nacional deCatamarca  Av. Belgrano300 (CP K4700AAP)  SanFernandodel ValledeCatamarca. E-mail:  mkesada@yahoo.com.ar

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Arqueología prehistórica en la localidad arroyo Catalán Chico: investigaciones pasadas, replanteo y avances recientes – SUÁREZ (CL)

SUÁREZ, Rafael. Arqueología prehistórica en la localidad arroyo Catalán Chico: investigaciones pasadas, replanteo y avances recientes. [Sdt.]. Resenha de: QUADRADO, Chaiane Alves. Cadernos do LEPAARQ – Textos de Antropologia, Arqueologia e Patrimônio, Pelotas, v. 10, n.20, 2013.

Rafael Suárez é doutor em Ciências Naturais (UNLP, Argentina) e pesquisador do Museu de Arqueologia e Ciências Naturais de Salto, Uruguai. No livro Arqueología prehistórica em la localidade arroyo Catalán Chico, ele propõe uma nova interpretação da tecnologia lítica local – e por consequência, da cultura e vida social dos habitantes pré-históricos – além de buscar uma valorização dos sítios da região que sofrem degradação constante por consequência da atividade mineira sem, ao menos, terem sido reconhecidos como monumento de interesse cultural do país.

Desde 1999, o autor trabalha com os sítios arqueológicos de Catalán Chico, que atualmente são 123, e neste livro ele traz os resultados de todos esses anos de pesquisas e estudos.

No primeiro capítulo, Suárez trata das investigações passadas que aconteceram na região do arroio Catalán Chico, descobertos em 1955, por Antonio Taddei – pesquisador bastante entusiasta da arqueologia – logo atraíram atenção de préhistoriadores da Europa e ambas as Américas. Na época, Taddei trabalhou com 28 sítios, que estudados por diversos autores, tiveram sua indústria lítica (então chamada industria catalanense) classificada como bruta, primitiva e unifacial. A interpretação feita foi que esta seria uma cultura parada no tempo, supostamente iniciada em 10.000 AP e não sofrendo grandes mudanças desde então. Sempre que algum tipo de tecnologia diferenciada foi encontrado, classificou-se como de produção externa ou influência de algum grupo superior, usando sempre referências bastante evolucionistas ou difusionistas que buscavam uma “linha única” de evolução, classificando as sociedades em diferentes etapas entre os “menos desenvolvidos” e os “mais desenvolvidos” – no caso desta região, dos caçadores primitivos (com raros bifaciais) aos caçadores especializados (abundância de bifaciais e pontas de projétil).

O segundo capítulo, ainda abordando as interpretações de outros autores e pesquisadores, traz alguns problemas nas publicações feitas anteriormente sobre a indústria lítica local, como interpretação de origem das técnicas de lascamento utilizadas e idade atribuída aos sítios.

Dentro das interpretações difusionistas, alguns autores trabalharam com uma rota que teria se iniciado na Europa Central e chegado até Catalán Chico, passando pela China e Sibéria. Essa teoria baseia-se nos tipos de ferramentas encontradas em sítios que se localizam nos lugares citados, afirmando que se um mesmo tipo de tecnologia está presente em diversos lugares é porque teve uma origem comum. A grande maioria dos discursos baseava-se em intuições, sem apresentação de justificativas plausíveis. Suárez destaca a perda de objetividade na pesquisa e uma necessidade de comparação com padrões europeus. Numa tentativa de dar interpretações expressamente subjetivas à tecnologia lítica de Catalán Chico, chega-se a compará-la com tecnologias produzidas por espécies como Homo erectus ou Homo neanderthalensis, o que justificaria a classificação primitiva que a indústria lítica recebia.

Existe também uma grande variação nas datações apresentadas por pesquisadores como Taddei, Bórmida, Campá e etc.. Datas que variam de 25.000 AP a 8.000 AP, baseadas em amostras estratigráficas, formações minerais, entre outros métodos contestáveis. O esquema tipológico-cronológico baseado em sofisticação dos materiais encontrados esbarra em diversas problemáticas que os autores não souberam ou não se importaram em explicar.

A ideia de que todos os recursos de sobrevivência, como caça, pesca, moradia, produção de ferramentas e agricultura, estariam limitados a um pequeno raio de mobilidade – esquema apresentado pelos pesquisadores anteriores a Suárez, que consideram os grupos como estáticos, ou seja, um único sítio abrange todas as atividades – não condiz com as evidências materiais encontradas pelo autor, que destaca a possibilidade de sítios diferentes para funções diferentes.

Para Bórmida, as diferentes tecnologias encontradas em Catalán Chico e nos sítios do rio Cuareim explicavam-se porque se tratava de diferentes grupos sociais. Mas o contraste está no fato que em Cuareim a indústria lítica baseia-se em nódulos, enquanto em Catalán, em grandes lascas. Para Rafael Suárez isso não é suficiente para afirmar uma distinção étnica e sim que esteja provavelmente ligado a fontes diferentes de matéria-prima, tanto para produção como para uso como suporte na manufatura.

No terceiro capítulo, o autor trata das investigações atuais, feitas por ele e sua equipe, este consiste basicamente em três pontos referenciais: a) identificação de diferentes afloramentos minerais através de cortes petrográficos nas pedreiras; b) análises de perfis estratigráficos através da geoarqueologia; c) dar ênfase aos processos de redução e lascamento presentes nos sítios, sem a execução de novas escavações na região.

A paisagem do nordeste uruguaio é formada por colinas e montanhas – que chegam até 280msnm (metros acima do nível do mar). O vale do arroio Catalán Chico apresenta depósitos sedimentares, suas nascentes têm três formações basálticas e um banco de arenito silicificado que aflora ao longo do vale. Na desembocadura da sanga de los Tajas aparecem mais afloramentos semelhantes onde o arenito apresenta tonalidades verdes, avermelhadas, marrons e brancas – a diferença de cor se dá pela mistura de diferentes materiais como clorito, hidróxidos de ferro, etc.. Algumas unidades de solo analisadas apresentam terra preta, sem carbonato de cálcio (componente de rochas) e com materiais arqueológicos.

A presença de bifaciais é muito frequente, tendo sido encontrados, muitas vezes, na superfície e datados do Pleistoceno final/médio Holoceno. Há uma grande variedade de tamanho e formas podendo servir a diferentes propósitos. Utilizando materiais encontrados em três sítios de Catalán Chico foi feita uma análise das etapas de fabricação dos bifaciais, são ao todo 369 objetos, 214 inteiros e 155 fragmentados.

Baseado num esquema de cinco etapas, criado por Callahan, Suárez explica as quatro que foram usadas no processo de pesquisa feito por ele: ◊ obtenção da base – início da redução, uma etapa difícil de ser reconhecida nas peças já que muitas vezes é confundida com material não manipulado; ◊ redução inicial – etapa de obtenção de negativos, aproximadamente 29% de todos os bifaciais analisados encontravase nesse estágio; ◊ adelgaçamento primário – retirada de protuberâncias das peças, 50% dos bifaciais inteiros encontrados estavam nessa etapa, podendo ser frutos de fricção com percursor duro ou brando; ◊ adelgaçamento secundário – o momento de acertar as seções transversal e longitudinal das peças, cerca de 21% dos bifaciais inteiros estavam nesta etapa e 43% dos fragmentados.

No capítulo 4, o autor fala sobre investigações atuais que acontecem em outras regiões nas proximidades de Catalán Chico, como as nascentes do rio Arapey Grande. Até algum tempo atrás a atenção sempre foi dada aos afloramentos de arenito silicificado,271 recentemente, estudos mostram uma variedade de matérias-primas como ágata translúcida e calcedônia em sítios de lascamento.

Estes sítios contribuem para o entendimento de organização tecnológica e mobilidade de caçadores coletores. O transporte de longa distância de rochas silicificadas já havia sido reconhecido no século XIX por J.H. Figueira (importante arqueólogo uruguaio). Nas Américas do Sul e Norte, a ágata foi um recurso lítico muito usado para fabricação de artefatos, como citado por diversos pesquisadores como Bird, Núñez, Bamforth, etc.. Taddei, em 1964, chamou atenção para a calcedônia vítrea encontrada nos sítios de Catalán Chico, reconhecida posteriormente por outros pesquisadores como ágata ou calcedônia transparente. Tendo sido encontrado também fontes de opala e arenito silicificado.

Suárez traz um levantamento das matérias-primas encontradas nos demais sítios da região, demonstrando a grande diversidade mineral local. O sítio K87, escavado por arqueólogos estrangeiros, teve seu material perdido, mas baseado nos dados coletados por estes pesquisadores, sabe-se que foi encontrada uma grande variedade de matéria-prima manufaturada, como ágata, arenito, calcedônia e quartzo. Em Pay Paso (rio Cuareim), além dos materiais encontrados em K87, ainda havia opala, basalto e calcário.

Já o sítio Catalán Seco 1 é uma pedreira de ágata, já alterado pela extração mineira. O material arqueológico encontrado nesse, varia entre unifaciais e bifaciais nas etapas iniciais de lascamento.

As evidências de diversas matérias-primas nos sítios oficinas representam uma fácil adaptação e técnica em manufatura de materiais diferentes. A distância entre algumas fontes de minerais e os sítios onde os objetos foram encontrados chega a 170km para o transporte de ágata, e Flegenheimer chega a propor uma distância de 500km para o calcário.

O capítulo 5, que encerra o livro, é focado na interpretação atual dos sítios de Catalán Chico e na evidenciação da necessidade de uma valorização do patrimônio local. Em 2006 um trabalho que incluiu diversos estudiosos e pesquisadores das áreas de arqueologia e geografia, como o próprio Rafael Suárez, tinha por objetivo realizar um levantamento dos sítios arqueológicos da área do arroio Catalán Chico e da Zanga de los Talas, propondo medidas de proteção para os mesmos, mas o projeto não foi concretizado e hoje estes continuam sofrendo alterações.

É claro que Suárez não se opõe totalmente à atividade mineira, uma vez que esta é responsável pelo sustento de centenas de famílias pobres da área, além de prover investimentos ao país e gerar exportações. Sua proposta é que a atividade arqueológica trabalhe junto à extração de minerais, provendo o mínimo possível de impacto e destruição.

As últimas evidências encontradas apontam que os bifaciais encontrados foram manufaturados por diferentes indivíduos/grupos, utilizando técnicas sequenciais diferenciadas formadas por etapas de redução distintas. E não por um grupo primitivo, às vezes influenciado por caçadores mais evoluídos. As novas observações em relação à técnica de lascamento é que ela possui uma regularização na preparação, com retoques invasivos – similares à técnica utilizada em bifaciais do período Paleoíndio na América do Norte.

Em relação à funcionalidade, os sítios são interpretados como oficinas de lascamento – haveria uma divisão por função, onde sítios de pesca, caça e habitação seriam separados num raio maior do que o antes proposto por Taddei e Bórmida, por exemplo.

Em relação ao lascamento, utilizam técnicas e etapas semelhantes às utilizadas em produções de pontas de projétil (lembrando que as sociedades de Catalán Chico eram classificadas como primitivas por não incluírem este material). Apresentam etapas de redução bastante detalhadas, que significam ótimas habilidades técnicas. Os materiais antes classificados como toscos, seriam descartes inacabados, enquanto os que foram totalmente trabalhados foram transportados para outros sítios onde seriam utilizados. As fontes de matérias-primas poderiam ser usadas por diversos grupos que levavam suas ferramentas para outras regiões.273 Enfim, Rafael Suárez traz um grande apanhado de informações que demonstram que há muito ainda a ser revisto e estudado em relação à Catalán Chico, e defende que sem a devida atenção e cuidado com a região, não haverá tempo pra que isso seja feito.

Chaiane Alves Quadrado – Acadêmica do curso Bacharelado em Antropologia com Habilitação em Arqueologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Brasil.

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Stable Isotopes and Archaeology in Southern South America. Hunter-Gatherers, Pastoralism and Agriculture – BARBERENA (IA)

BARBERENA, R. (Ed.). Stable Isotopes and Archaeology in Southern South America. Hunter-Gatherers, Pastoralism and Agriculture. A. Gil, G. Neme y R. Tykot. International Journal of Osteoarchaeology, 19, p. 127-343. Resenha de: UGAN, Andrew. Intersecciones en Antropología, Olavarría, v.10 n.2, jul./dic., 2009.

El uso de los isótopos estables en la arqueología ha aumentado dramáticamente en la última década y la arqueología latinoamericana no ha sido la excepción. En la edición de marzo-abril del International Journal of Oestoarchaelogy, Ramiro Barberena y colegas presentan una colección de artículos fruto de la conferencia “Isótopos estables y arqueología en el sur de Sudamérica” realizada en el año 2005. Estos artículos se enfocan en el uso de isótopos estables para explorar cambios en la dieta y la adopción de la argricultura, el pastoralismo, la explotación de recursos marinos, la movilidad residencial, la biomecánica y la fi togeografía. De alcance internacional, estos artículos serán de interés para investigadores que estén trabajando en tópicos similares, en las mismas regiones, y para aquellos interesados en métodos de isótopos estables en general. El volumen, como un todo, será también de interés para aquellos que se encuentren buscando datos isotópicos en humanos y recursos consumidos por ellos en el cono sur.

Los artículos en este volumen se pueden dividir en cuatro grupos principales. Un primer grupo evalúa el consumo humano de recursos vegetales C4, particularmente en el contexto de la adopción de la agricultura del maíz. La presentación más completa es la de Tykot et al., que evalúa la dieta prehistórica en el centro de Chile usando datos de isótopos de C y N de colágeno y apatita. Su trabajo es el fruto de una extensa colaboración y usa una completa base de datos para discutir los problemas y el potencial del uso de isótopos estables de carbono para la reconstrucción de dietas. Los autores resaltan la gran variabilidad que se puede encontrar en los datos de isótopos humanos, la necesidad de tener suficiente información sobre los valores isotópicos de las fuentes, y discuten problemas de interpretación. Este artículo también está fortalecido por la cantidad de trabajo isotópico publicado por el autor y sus colaboradores en la región. Es por lo tanto un recurso valioso no sólo para aquellos interesados en la dieta humana en Chile central, sino también para aquellos involucrados en las aplicaciones de los estudios de C y N a las dietas en otras regiones.

Los otros tres artículos dentro de este tema, escritos por Gil et al., Calo y Cortés, y Laguens et al., son más variables en su presentación. Todos estudian diferencias en la composición de 13C de restos humanos para inferir la dependencia con respecto a la agricultura de maíz en el Holoceno tardío. Aunque estos artículos consideran tres regiones diferentes y muestran diferentes tendencias en el consumo del maíz, llegan a un consenso en que los valores isotópicos de carbono en humanos indican mucha más variabilidad espacial y temporal en el uso de la agricultura de maíz de lo que se pensaba anteriormente. Gil et al. profundizan más en esta inferencia al analizar la muestra más grande de restos humanos y proveer datos isotópicos para un conjunto de recursos animales y vegetales alternativos del sur de Mendoza. Asimismo, comparan sus resultados con datos bioarqueológicos de cambios de frecuencia de caries dentales.

El segundo grupo de artículos trata sobre diferentes aspectos de la explotación de recursos marinos. El artículo de Tessone et al. muestra que los valores humanos de C y N en la Patagonia y Tierra del Fuego pueden interpretarse en términos de la proporción de recursos terrestres y marinos consumidos. Las muestras de diferentes regiones (Península Valdés, Península Mitre, Canal de Beagle, etc.) forman un continuum entre los extremos de recursos marinos y terrestres. Más interesante aún, las muestras de la cuenca del lago Salitroso en el interior no solamente tienen la mayor influencia terrestre, sino que también caen en la misma línea. Borrero et al. proveen un análisis complementario al investigar los factores que determinan el consumo de recursos marinos en el sur de Patagonia. Basado en datos líticos e isotópicos de la costa Atlántica y el estrecho de Magallanes, los autores sugieren que las restricciones en la movilidad limitan el acceso a los recursos marinos y resultan en diferentes niveles de su uso. Finalmente, Martínez et al. consideran un contraejemplo de la costa sur de la provincia de Buenos Aires. Los datos isotópicos de humanos en sitios a lo largo del río Colorado y del río Negro difieren de los datos isotópicos terrestres, pero aún así muestran poco uso de recursos marinos. Al evaluar las causas de este patrón, se enfocan en la falta de pinnípedos y cetáceos en la dieta en esta zona y en el hecho de que la gente pudo haber explotado peces de hábitats estuarinos con valores de δ13C menos enriquecidos.

El tercer grupo de artículos incluye los trabajos de Llano e Izeta et al., quienes consideran la distribución de plantas C3 y C4 en el oeste argentino. Como estos dos grupos de plantas tienen señales de δ13C muy diferentes, las diferencias en su consumo influyen en los valores isotópicos de consumidores y se debe considerar su contribución potencial en cualquier estudio de dieta. Ambos autores proveen datos de presencia y ausencia de taxa de plantas comunes de ambos tipos de fotosíntesis, pero Llano agrega más detalles. Ella también explicita las distribuciones de plantas en una transecta altitudinal y provee información sobre qué plantas consumen los guanacos (Lama guanicoe) y el ñandú (Pteronemia pennata), componentes importantes en la dieta prehistórica de la región. Al reunir y presentar estos datos, los autores proveen un recurso útil para quienes trabajan en la dieta y la distribución del carbono en redes alimenticias terrestres. Esto incluye a aquellos investigadores trabajando en el oeste de Argentina y en otras áreas donde se encuentran las mismas especies de plantas.

El resto de los artículos constituye el grupo final. Estos incluyen un trabajo en patrones de residencia y movilidad en los Andes centrales por Knudson, la explotación de camélidos por Yacobaccio et al. e Izeta et al., la ecología isotópica del oeste de las Pampas por Berón et al., la dieta del Holoceno medio en las Pampas por Politis et al., y la biomecánica y dieta marina por Suby y Guichón. El trabajo de Knudson es parecido al de Tykot et al. en alcance. Tiene una base de datos muy amplia, pone atención a la variabilidad en el registro isotópico, enfatiza la necesidad de información sobre los valores isotópicos de los fuentes que contribuyen a la señal final (en este caso O y Sr de aguas y regiones geológicas), y considera problemas de interpretación. Por esto, también merece una atención cuidadosa.

Los otros trabajos son más preliminares. Todos presentan datos nuevos e identifican puntos o tendencias interesantes. Sin embargo, en la mayoría de los casos las muestras de taxa clave son demasiado pequeñas para inferir diferencias o tendencias seguras o hacen falta suficientes datos comparativos en los estudios para interpretar las tendencias observadas. Estos problemas conciernen a casi todos los trabajos, pero simplemente afectan a este último grupo en mayor grado. Casi todos los autores reconocen esta insuficiencia. No obstante esta observación, recomendamos la lectura de todos los trabajos, especialmente para aquellos investigadores que estén trabajando en áreas ligadas. Estos artículos subrayan la cantidad de trabajo interesante que se ha hecho hasta el momento, la potencialidad que tiene. Recomiendo que los lectores revisen el volumen para ver por qué.

Andrew Ugan – Museo de Historia Natural de San Rafael y Department of Anthropology, University of Utah. Email: andrew.ugan@anthro.utah.edu

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Tramas en la Piedra. Producción y Usos del Arte Rupestre – FIORE; PODESTÁ (C-RAC)

FIORE, Dánae; PODESTÁ, María Mercedes. Tramas en la Piedra. Producción y Usos del Arte Rupestre. Buenos Aires: AÍNA (Asociación Amigos del Instituto Nacional de Antropología), WAC (World Archaeological Congress) y Sociedad Argentina de Antropología, Altuna Impresores, 2006. 278p. Buenos Aires. Resenha de: OLIVERA, Daniel E. Chungara – Revista de Antropología Chilena, Arica, v.39, n.2, p. 287-290, dic. 2007.

El libro Tramas en la Piedra reúne una serie de trabajos presentados en las Secciones 3 y 4 del VI Simposio Internacional de Arte Rupestre (29 de noviembre al 4 de diciembre del 2003, Jujuy, Argentina), coordinadas por Dánae Fiore y Agustín Llagostera, respectivamente. Este Simposio, una de las más importantes reuniones científicas de la especialidad, convoca a especialistas del tema de todo el mundo, pero muy especialmente de Latinoamérica y constituye un campo fértil para debatir ideas y actualizar el estado de las investigaciones en arte rupestre.

Es auspicioso que se hayan editado estos trabajos, cuyos 26 autores poseen reconocida trayectoria en el tema y son verdaderos referentes para todo aquel que desee incursionar en el apasionante universo del Arte Rupestre.

Existen diversos aspectos a destacar sobre la obra. En primer lugar, que se trata de versiones de las ponencias revisadas y corregidas por los autores y evaluadas por destacados especialistas previo a su publicación. Por otra parte, la variedad de las temáticas tratadas convierten a esta obra en elemento de consulta permanente, con especial referencia al tema de producción y usos del arte rupestre. Finalmente, la cuidada edición, la prolijidad de los gráficos y fotos y la rica bibliografía citada en los trabajos son un mérito incuestionable que debe asociarse a buena medida a la seriedad y capacidad de las editoras Dánae Fiore y María Mercedes Podestá.

Desearíamos detenernos algo más en los contenidos de los diferentes aportes, ya que existen abundantes motivos de interés que merecen destacarse.

En primer lugar, la Introducción escrita por las editoras posee dos aspectos importantes. Primero realizan un apretado y profundo resumen histórico de las tendencias teóricas que sirvieron de marco a las investigaciones en arte rupestre en arqueología. Es destacable la rigurosidad, análisis crítico y capacidad de síntesis puesta de manifiesto por las autoras en este punto. A continuación, esbozan los contenidos de los diferentes capítulos destacando los aspectos más relevantes de cada uno de ellos.

Debido al comentario anterior, evitaremos ser reiterativos en la descripción de los contenidos de cada capítulo, ya que estos han sido resumidos brillantemente por las editoras. Sin embargo, realizaremos algunas reflexiones generales que consideramos pertinente destacar sobre el valor de los mismos.

El primer bloque de tres capítulos se dirige a analizar producción y uso del arte en función de su relación profunda con el proceso creativo. Martí Mas Cornelia es el único autor que trata una temática europea sobre la andaluza Cueva del Tajo de las Figuras en Cádiz (España). Sin embargo, su aporte metodológico es muy valioso, ya que reúne diferentes vías analíticas combinando técnicas de campo, laboratorio y experimentales, consiguiendo aportar una proposición hipotética novedosa y sugerente: el interés de los autores del arte rupestre por comunicar información faunística que, además, muestra cierta diacronización en relación a los cambios de la misma en el ambiente. Dejamos a lectores más especializados la discusión sobre las interesantes implicancias de esta hipótesis.

El trabajo de Fiore acerca de la distribución espacio-temporal nos plantea interesantes reflexiones sobre cómo el análisis tecnológico y distribucional de sitios con arte pueden aportar importantes resultados para evaluar aspectos procesuales y poblacionales en el caso particular de la Patagonia Argentina, pero con implicancias metodológicas y teóricas que pueden ser útiles en su aplicación a otras áreas diferentes. Es llamativa la conclusión de la autora respecto de que técnicas distintas (pintura y grabado) mostrarían transmisión y reproducción espacio-temporal diferencial de acuerdo a sus características materiales y cualidades visuales.

Eminentemente relacionado en su orientación con el anterior, el trabajo de Crivelli Montero también apunta a considerar las diferencias en el aumento de sitios a través del tiempo y sus variaciones estilísticas en la cuenca media y superior del Río Limay Nordpatagonia, como relacionadas con diferentes intencionalidades en el mensaje al observador del arte. Al principio estarían orientados a ser compartidos por miembros corresidenciales para promover aspectos de cohesión social, mientras posteriormente se dirigirían hacia miembros de otros grupos con las implicancias étnicas y territoriales que ello conlleva. Es sugestivo el uso de variables cronológicas y cuantitativas en los trabajos de Fiore y Crivelli para su análisis, lo que, en mi opinión, abre perspectivas importantes acerca de la relación entre el arte rupestre y otros aspectos del registro arqueológico para analizar cuestiones de poblamiento, funcionamiento y territorialidad en los procesos sociales arqueológicos.

Los siguientes diez capítulos presentan una variada gama de intereses que tienen que ver con la producción de arte rupestre en relación al uso del arte y dinámica social. El primero de ellos, de Fernández, apunta al análisis del estilo de grecas en la misma área anterior (Cuenca del Río Limay) para discutir cronología a través de distintos indicadores incluyendo fechados radiocarbónicos de sitios unicomponentes, proponiendo la fecha más antigua para ese estilo (700 años a.p.) documentada en la región.

El trabajo de Belardi y Goñi, por su parte, aporta una rica discusión sobre la utilización de un modelo de circulación y uso del espacio entre las cuencas altas y bajas de la región de los lagos Strobel-Cardiel (Santa Cruz, Patagonia Argentina). El modelo utiliza el arte rupestre como un elemento central de evidencia, combinado con la tecnología lítica y equipamiento del espacio. El trabajo es realmente sugerente en lo que respecta a la interpretación de la estructuración logística de espacios diferentes por parte de las poblaciones y donde las imágenes del arte habrían sido usadas como mecanismos de circulación de información. Siguiendo la misma línea, Ferraro y Molinari analizan los componentes del arte rupestre de dos sitios en la meseta del Lago Strobel, y basándose en criterios estilísticos, tecnológicos y estructurales de los paneles rupestres concluyen que a partir de los últimos 2.500 años el espacio de la meseta sufre una jerarquización manifestada en el uso reiterado por parte de los grupos cazadores-recolectores durante la transición Holoceno Medio a Tardío.

Los siguientes tres trabajos tienen una relación importante entre sí, no sólo porque corresponden a la misma región, Antofagasta de la Sierra (Puna de Cata-marca, Argentina), sino porque se orientan teórica, metodológica y analíticamente dentro de los mismos parámetros claros y precisos que tienen que ver con la interacción entre las poblaciones humanas, su paisaje y los recursos de subsistencia con indudables repercusiones sociales y simbólicas. El primer trabajo, de Aschero, apunta al estudio de varios sitios que cubren un lapso de 4.500 a 2.500 años a.p. y cree notar la relación entre el arte y las crecientes actividades patoriles cuando aún continúan las de caza recolección. Estas modalidades parecen estar buscando su coexistencia frente al posible conflicto en un proceso inicial de mayor complejidad social y creciente circunscripción espacial.

A continuación, el mismo Aschero junto a Martel y López Campeny, presentan una propuesta audaz y novedosa respecto de ciertos motivos rectangulares con diseños geométricos internos en la misma región anterior. Estos denominados “cartuchos” los ubican entre el 0 y los 500 años a.p. en virtud de variadas evidencias contextúales y los relacionan a diversos aspectos de la vida social y económica de los grupos agropastoriles tempranos de la región. La sugestiva propuesta apunta a que dichos motivos, disímiles en cuanto al diseño, pero idénticos técnicamente, no solamente establecerían límites físicos de espacios (productivos, domésticos, funerarios, etc.), sino que estarían estableciendo diferencias identitarias de linajes sociales e, incluso, elementos simbólicos de vinculación con los ancestros. Agregan a la información arqueológica elementos etnográficos del mundo andino actual, lo que incrementa el interés de la propuesta.

Finalmente, también para Antofagasta de la Sierra, Martel propone una relación entre sectores con recursos básicos para las prácticas socioeconómicas y la producción de arte rupestre, para el período Formativo (3.000 a 1.500 años a.p.). Martel observa que existiría una relación proporcional entre la densidad de sitios con arte y la oferta de recursos entre las quebradas altas y los sectores intermedios de la cuenca. Debido a que los sectores intermedios serían los más ricos propone, apelando a conceptos de disminución del riesgo ambiental, que su control social sería más proclive a situaciones de conflicto. Los motivos de enfrentamiento en el arte rupestre, más abundantes allí que en las quebradas altas, avalarían esta proposición. La riqueza del trabajo se manifiesta en proponer una relación firme entre aspectos comunicativos del arte y variables socioeconómicas.

El siguiente trabajo, de Podestá et al., resulta novedoso en su tratamiento de evidencias rupestres históricas en Ichigualasto (San Juan, Argentina) relacionadas con el arreo de vacunos, actividad muy común a fines del siglo XIX y principios del XX. Esta actividad fue de gran importancia no sólo para las regiones del NOA, sino que establecía vínculos trasandinos con Chile. La información de los grabados asociados a los arrieros, donde sobresalen las marcas de ganado, se enriquece con el aporte de la documentación histórica y los relatos de los informantes que sobreviven de esa época. Los autores consideran a los grabados no sólo con aspectos de identidad, uso de caminos e información para los arrieros, sino incluso lo consideran una supervivencia de una expresión simbólica que los liga a una larga tradición indígena de más de 10.000 años de realizar grabados en las rocas.

El trabajo de Núñez et al. retoma el apasionante tema del arte rupestre como vinculado de manera directa con los contextos socioeconómicos del pasado. Analizan la variación en el uso del arte entre los períodos Arcaico Tardío (ca. 4.815-3.950 años a.p.) y el Formativo Temprano (ca. 3.200-2.400 años a.p.) en la Puna de Atacama (Chile). A partir de múltiples líneas de evidencia, que no excluye el cambio ambiental, analizan la variación desde el primer contexto cazador-recolector hacia las sociedades pastoriles formativas donde se evidencia una indudable complejización sociopolítica. Encuentran que las asociaciones entre los estilos representativos de ambos momentos muestran una serie de elementos transicionales que indican la derivación del uno al otro, donde se incrementa el carácter público de la representación icónica en los momentos pastoriles.

A continuación, el trabajo de Valenzuela et al. indaga en el vínculo entre el uso del arte rupestre y sus lugares de emplazamiento para los petroglifos y geoglifos del Valle de Lluta en el Norte de Chile. A través del análisis detenido de 29 sitios, correspondientes a los períodos Intermedio Tardío y Tardío (ca. 1.100-1.550 d.C), notan que el emplazamiento y las actividades desarrolladas varían según las dos modalidades de arte. Los geoglifos estarían orientados a una expresión pública asociada a zonas de tránsito este-oeste conectadas a redes de intercambio regional e interregional. Los petroglifos, por el contrario, se asocian a caminos locales de caravanas, contextos domésticos y ceremoniales con baja visibilidad y escasa exposición pública. Esto se altera en sólo dos casos donde se ubican en sectores polifuncionales que articulan áreas productivas, domésticas y caminos, lo que los lleva a la conclusión de que estas expresiones actuarían en la marcación y sacrali-zación de espacios sociales, al mismo tiempo que denotarían la jerarquización y el prestigio que adquirieron estos lugares.

El mismo apasionante tema del caravaneo andino abordan Núñez y Cartajena en su trabajo sobre el sitio Purilacti 1 y su arte rupestre. Asocian directamente este sitio con las rutas caravaneras que conectaban el oasis de San Pedro de Atacama con el sector del Río Loa durante el desarrollo de la cultura San Pedro (400-1.200 d.C). Son importantes las evidencias que asocian al sitio a la funcionalidad caravanera y a la tradición San Pedro. Pero más interesante aún es el vínculo con el sitio Inca e histórico Purilacti 2 que no sólo indicaría la continuación del uso de las rutas preincaicas, sino que la presencia de motivos grabados coloniales e históricas (siglos XIX y XX) muestran, más allá de la lógica variación icónica, la continuidad del uso de los sitios cuyo emplazamiento espacial ocupaba un lugar principal en el entramado de rutas y funcionalidades de la práctica caravanera a través del tiempo.

Los tres trabajos que cierran el volumen, referidos al ámbito de la Patagonia Argentina, son una conclusión importante del mismo, en relación a los usos que pueden tener las manifestaciones rupestres en el presente.

El primero de ellos, de Belelli y Podestá, aborda el tema de cómo los circuitos eco turísticos implementados en el valle del Río Manso Inferior incluyen el sitio “Paredón Lanfré”, el cual se convierte en un foco de atracción para los visitantes. Las autoras destacan cómo la intervención científica asegura tanto el respaldo de la información para el turista como los recaudos para la preservación del sitio. Asimismo, destacan al sitio como parte de la reconversión económica regional y auguran que en el futuro la incorporación de nuevos sitios abrirá excelentes perspectivas de desarrollo para la zona.

Contrasta en parte con lo anterior el caso presentado por Belelli en el siguiente trabajo, referido a los sitios del Valle Medio del Río Chubut, donde la fuerte presión para la incorporación de los sitios con arte a los circuitos turísticos se realiza sin la suficiente planificación ni tomando las medidas adecuadas de protección del ambiente y el registro arqueológico y paleontológico. Los numerosos años de investigación en la región autorizan a la autora a llamar la atención sobre el rol jugado en este proceso por los diferentes actores sociales en el uso del patrimonio. Más allá de los intentos de los investigadores y algunas autoridades provinciales por implementar una gestión sustentable, la autora advierte que la falta de control adecuado pone en riesgo el patrimonio del arte rupestre al acelerarse los procesos de degradación del mismo.

Finalmente, el trabajo de Onetto analiza el proceso que se desarrolló en el sitio Cueva de las Manos (Río Pinturas, Santa Cruz, Argentina) que a través del interés científico inicial y los prolongados esfuerzos del recordado arqueólogo Carlos Gradín, llevó a la puesta en valor del sitio y a su uso como atracción turística al ser declarado Patrimonio Mundial por la UNESCO debido a sus cualidades excepcionales. La autora, partícipe directa de las actividades de manejo implementadas, relata los mitos y realidades resultantes de las tareas de gestión y administración de Cueva de las Manos, que se convirtió en un sitio de alto valor tanto social como académico.

El apretado resumen de las páginas anteriores es sólo un pálido reflejo de las emociones y el interés que recibí al leer esta obra. Fue para mí una oportunidad excelente para poner al día mis informaciones e ideas sobre la problemática y redescubrir su importancia como registro para la interpretación acabada de los procesos sociales y económicos del pasado.

No me caben dudas que se ha de convertir en una lectura imprescindible tanto para los expertos en el arte rupestre, en especial de la región andina y patagónica, como para todo arqueólogo que indague en sus investigaciones sobre el pasado prehispánico de Sudamérica.

Las cualidades de este volumen son variadas y todas de gran importancia, pero deseo destacar muy especialmente dos de ellas. Primero, la contribución al terreno metodológico, que muestra el avance permanente en metodologías cada vez más confiables para el estudio del arte rupestre indígena donde confluyen aportes que van desde la arqueología a la etnografía y, en segundo término, la riqueza de ideas que a través de contribuciones hipotéticas sólidas apuntan a jerarquizar la discusión científica sobre las sociedades prehis-pánicas. Esto muestra que la tantas veces sostenida y controvertida afirmación de acusar a los estudios de arte de estar al límite de la especulación y carecer del rigor científico necesario, si es que alguna vez tuvo sustento, hoy está lejos de reflejar la realidad de este tipo de estudios.

Los colegas que han aportado sus esfuerzos para conformar esta obra echan definitivamente por tierra esa veleidosa afirmación anterior y colocan al arte rupestre como un registro riguroso y fundamental para aportar a los estudios del pasado humano. Se trata de un libro que no sólo aporta utilidad científica, sino que produce un innegable placer en su lectura. Recorriendo sus páginas recordé al autor Henry James, ya que sentí que iba atravesando ese entramado pétreo del título para ir descubriendo esa evasiva “figura en el tapiz” que sólo se hace visible cuando se posa en ella la mirada constante y sistemática.

Daniel E. Olivera – CONICET-INAPL y Universidad de Buenos Aires; Buenos Aires. E-mail: deolivera@gmail.com

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El Argentino Despertar de las Faunas y de las Gentes Prehistóricas: Coleccionistas, estudiosos, museos y universidad en la creación del patrimonio paleontológico y arqueológico nacional (1875-1913) | Irina Podgorny

Recentemente, Martin Rudwick, historiador da Paleontologia, parafraseando Bruno Latour e Steve Woolgar, considerou que, comparadas à vida social dos laboratórios, as ciências de campo e os museus são terra semi-incógnita. A obra de Irina Podgorny, nos últimos anos, vem desbravando o terreno, pontuando os caminhos por que percorreram, na Argentina, a História Natural e a Arqueologia. Escritora prolífica, Podgorny dedica-se a uma variedade de temas: Arqueologia e Educação, recepção da New Archaeology na Argentina etc. Todos os temas relacionam-se, quase sempre, à compreensão da formação histórica de la argentinidad.

Sua obra comporta, pelo menos, duas vertentes teóricas. Primo, os estudos históricos, iniciados desde meados de 1970, sobre a função da Arqueologia e da cultura material em geral para a formulação de identidades sociais. De outro lado, ela partilha dos aportes da História social das ciências, definidos, nos anos 1980, na Europa, América do Norte e América Latina. Estuda como os enunciados científicos conformam habitus sociais e cognitivos, arranjos em permanente transformação, negociação e conflito. Examina as práticas científicas concretas abrigadas por instituições de pesquisa, os projetos políticos que as recobrem, a ação social, alianças e lutas entre cientistas. O ponto de partida, pois, é a interpretação de como as ciências, em articulação aos grupos sociais e contextos históricos, inventam uma ordem. Leia Mais

Arqueologia | Pedro Paulo Funari

O livro de síntese e divulgação de alto nível é fundamental para o desenvolvimento científico. Por um lado, contém os recortes didáticos dos conteúdos teóricos e metodológicos mais significativos da sua época. Por outro, pode atrair novos adeptos, ajudando a ampliar a comunidade acadêmica. Também é importante para informar o público leigo, contribuindo para disseminar o conhecimento e para reduzir os mal-entendidos e as distorções corriqueiros ao senso comum.

Com a publicação de Arqueologia passamos a ter no Brasil o mais completo e atualizado manual de divulgação da disciplina. Ele preenche uma lacuna importante, pois são raros os manuais em português, sem contar com as dificuldades existentes no país para a tradução/publicação ou para importar de obras similares escritas em outros idiomas. Aliás, em meio século de profissionalização, é apenas o terceiro trabalho do gênero publicado por brasileiros, sendo precedido pelo Manual de Introdução à Arqueologia, de Pedro Augusto Mentz Ribeiro (Sulina, 1977) e pelo Arqueologia, do próprio Pedro Paulo Funari (Ática, 1988). Apesar do mesmo título de 1988, a obra em questão não é uma reedição ou simples ampliação, mas um novo livro com uma seleção de tópicos que se destacam por apontar com precisão qual é o campo mais contemporâneo de atuação do arqueólogo. O sumário, em suas oito partes, logo apresenta os propósitos da obra: 1) O que é arqueologia?; 2) Como pensa o arqueólogo; 3) Como atua o arqueólogo; 4) Formas de pesquisa; 5) A arqueologia e as outras áreas do conhecimento; 6) Arqueologia e poder; 7) Ser arqueólogo no Brasil; 8) Questões profissionais. No fim sugere leituras, filmes, sites e cds. Leia Mais

Arqueologia da Amazônia – NEVES (RHAA)

NEVES, Eduardo Góes. Arqueologia da Amazônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 86p. Resenha de: SCHIAVETTO, Solange Nunes de O. Revista de História da Arte e Arqueologia, Campinas, n.6, p.178-180, dez., 2006.

O livro de Eduardo Góes Neves, Arqueologia da Amazônia, parte da coleção Descobrindo o Brasil, vem somar-se ao quadro de publicações recentes de arqueólogos dispostos a apresentar para o grande público as várias possibilidades (temáticas e teórico-metodológicas) que a disciplina propõe em solo brasileiro.

A exemplo deste volume, podemos citar, da mesma coleção: A arte rupestre no Brasil, de Madu Gaspar, e Palmares, ontem e hoje, de Pedro Paulo Funari e Aline Vieira de Carvalho. Fora da coleção Descobrindo o Brasil, mas ainda da Jorge Zahar, há o recente O Brasil antes dos brasileiros: a pré-história do nosso país, de André Prous. A editora Contexto também tem publicado obras que seguem a mesma linha, como, por exemplo, a Pré-História do Brasil, de Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noelli (2002). São obras importantes para pesquisadores, professores, estudantes e interessados em Arqueologia brasileira, sobretudo porque lançam por terra o caráter pretensamente unilateral do discurso científico, apresentando muitas possibilidades de abordagem da cultura material do passado. No que diz respeito ao livro Resenhado, seu grande desafio reflete-se em sua delimitação geográfica: a extensão de terras amazônicas e o reduzido número de pesquisas arqueológicas realizadas até o momento naquele espaço, dado salientado pelo autor já na introdução.

Neves introduz suas idéias alertando para a necessidade de se resgatar o caráter cultural da Amazônia, afirmando que há um grande desconhecimento da história de sua ocupação milenar, com uma visão propagada de “natureza intocada”. Esta visão, segundo o autor, reflete-se atualmente nas mentalidades que propõem estratégias voltadas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Ele chama a atenção, baseado em dados arqueológicos, para a diferença entre a ocorrência de sítios que demonstram ocupação densa no passado e a distribuição atual de terras indígenas.

Segundo uma nova vertente de interpretação da história cultural da Amazônia, essa diferença foi provocada pela colonização do local no século XVIII, intensificada pelo ciclo da borracha, ao fim do século XIX e início do XX.

Há, no livro, a proposta de se olhar para o passado remoto buscando parâmetros para as políticas do presente. Nessa linha, o autor sugere três ações importantes: (1) reconhecer a ocupação densa da bacia amazônica por diferentes povos indígenas no final do século XV; (2) perceber continuidades entre esses povos do passado no presente (apesar dos processos de mudança cultural); (3) reconhecer que a ocupação précolonial guia processos de ocupação no presente.

No tópico que apresenta “O meio físico”, Neves desenvolve suas idéias defendendo a diversidade como conceito-chave para a compreensão da Arqueologia amazônica, questionando a visão que geralmente se tem de um ecossistema homogêneo, ocupado por grupos também homogêneos. Constrói o quadro físico da área pesquisada a partir de alguns temas, tais como a formação do rio Amazonas e seus afluentes, a variação anual das chuvas e do nível dos rios, propiciando dois períodos bem definidos (cheia e seca), a falsa idéia de que os solos amazônicos são totalmente férteis, o contraste entre áreas ribeirinhas (onde os sítios são mais densos) e áreas de terra firme. Todos esses elementos físicos, segundo o arqueólogo, influenciam nos padrões de ocupação da Amazônia, revelando quatro compartimentos: (1) faixa paralela à Cordilheira dos Andes (Bolívia, Peru, Equador e Colômbia); (2) áreas ribeirinhas e alagadas; (3) áreas de interflúvio (ou “de terra firme”); (4) zonas de estuário e litoral (partes dos estados do Amapá, Pará e Maranhão). Neste último compartimento, onde floresceu a civilização marajoara, foram encontrados sítios com a cerâmica mais antiga da América do Sul.

Ainda neste tópico, o autor chama a atenção para o fato de que a biodiversidade do contexto amazônico, além de fornecer alimentos para as sociedades indígenas, também inspirou fortemente suas culturas.

A essa biodiversidade Neves acrescenta a sociodiversidade presente na Amazônia, em termos lingüísticos (com povos falantes de tupi-guarani, arawak, carib, gê e línguas isoladas) e socioeconômicos (povos nômades – caçadores/pescadores/coletores – e sedentários – agricultores), lembrando que a Arqueologia evidencia essa variabilidade no passado. Finaliza o tópico indicando a Amazônia como um contexto de grande variabilidade geográfica, o que teria influenciado o processo de sua ocupação pelos grupos humanos.

No tópico “O início da ocupação humana”, o autor apresenta os principais registros arqueológicos que sugerem a antiguidade da presença humana na bacia amazônica, fixando o início da ocupação em 11 mil anos atrás, apesar de ressaltar que os dados são escassos e que maiores investigações podem modificar o quadro temporal de ocupação da Amazônia. Salienta um padrão de subsistência desses primeiros habitantes (valorização da biodiversidade, não capturavam grandes animais, eram pescadores, coletores e caçadores de animais pequenos). Há, também, a confirmação, a partir de dados arqueológicos, da ocupação da Amazônia antes do advento da agricultura, apontando para tipos de economia diversificados na época pré-colonial.

O tópico tem como discussão central a ocorrência de variações climáticas e ecológicas durante o Holoceno. Tais mudanças, de acordo com Neves, podem ter ocasionado o esvaziamento demográfico de algumas regiões amazônicas constatado pelo registro arqueológico. Curiosamente, os sítios anteriores a 6000 a.C. são mais conhecidos do que aqueles que poderiam evidenciar ocupação entre 6000 e 1000 a.C., mas os vestígios mais abundantes são aqueles com datações a partir de 3 mil anos atrás, período em que os dados disponíveis demonstram ter havido um aumento nas condições gerais de precipitação e umidade. As mudanças refletem no vestígio arqueológico, apresentando para este último período sítios muito mais densos. O autor diz, porém, que esta lacuna pode não estar relacionada a um relativo esvaziamento demográfico gerado por modificações climáticas, o que leva a uma segunda hipótese, que diz respeito a problemas nas estratégias de levantamento utilizadas pelos arqueólogos.

No tópico “A transição para a agricultura e o início da produção cerâmica”, Neves desenvolve suas idéias sobre domesticação de plantas, agricultura e advento da cerâmica defendendo uma não-linearidade nos processos de adaptação, sendo a ocupação, segundo ele, muito mais baseada em economias diversificadas, tais como caça, pesca e coleta, do que apenas na agricultura. No que concerne à domesticação de plantas, algumas áreas são vistas como centros e as demais, receptoras de inovações. A Arqueologia postula para as Américas dois principais centros: a Mesoamérica e os Andes centrais. Atualmente, segundo o autor, a Amazônia também tem sido vista como um desses centros de domesticação (da mandioca e da pupunha) na bacia do alto Madeira e seus afluentes (atual Rondônia).

Aqui, Neves levanta um problema referente à técnica agrícola da “coivara”, conhecida também como “de toco” ou “de corte e queima”. Alguns autores defendem a impossibilidade de se manter populações sedentárias com o cultivo realizado por meio da coivara, dada a necessidade constante de mudança de lugar. No entanto, Neves diz que esse argumento é baseado na observação de sociedades contemporâneas, as quais utilizam, para a abertura de roças, machados e facões de metal. Segundo o arqueólogo, pode haver uma diferença entre os padrões de cultivo em roças de coivara do passado e do presente, sugerindo para o passado uma menor mobilidade dos grupos, principalmente pela utilização de machados de pedra, que tornariam mais lento o trabalho de abertura de roças.

No que diz respeito ao início da produção da cerâmica e sua associação ao desenvolvimento da agricultura, Neves diz que os dados amazônicos são mais complexos, pois as cerâmicas mais antigas (5000 e 3500 a.C.) fazem parte de contextos em que a agricultura não havia sido plenamente adotada. Este fator poderia indicar uma não-ruptura com modos de vida anteriores, fortalecendo a idéia de economias diversificadas e de mudanças não lineares.

No penúltimo tópico, “Ascensão e queda das sociedades complexas da Amazônia”, o autor retoma uma das principais hipóteses do livro. Sugere que a ocupação humana da Amazônia não foi um processo regular e cumulativo, podendo a alternância “entre períodos de aparente estabilidade e outros de mudanças relativamente bruscas nos padrões de organização social, econômica e política” ser percebida nos vestígios arqueológicos. A hipótese vai ao encontro das transformações nos padrões ocupacionais notáveis a partir de 2 mil anos atrás (aumento no tamanho, densidade e duração de ocupação nos sítios arqueológicos).

Acrescenta-se a isso o que o autor chama de “verdadeira explosão cultural”, refletida nas diferentes “tradições” arqueológicas definidas pelos pesquisadores que trabalham em contexto amazônico.

Unindo os dados arqueológicos aos paleoclimáticos, Neves considera viável postular uma correlação entre as mudanças climáticas ocorridas a partir de 1000 a.C. e as transformações nos vestígios arqueológicos.

Modos de vida plenamente agrícolas foram possíveis graças a um aumento no índice de chuvas e expansão das florestas.

A partir dessa hipótese, o autor apresenta o que é conhecido como “terra preta”, estabelece suas conexões com assentamentos sedentários e descreve as principais tradições ceramistas já pesquisadas, que correspondem a esse período em que os dados arqueológicos evidenciam grandes aldeias: Pocó, Marajoara, Polícroma, Incisa e Ponteada (cujas cerâmicas mais conhecidas são a Tapajônica e a Santarém) e Maracá.

Ainda dá exemplos de trabalhos de campo que fizeram uso da tradição oral a partir do contato com indígenas da região (com os índios Palikur, no rio Urucauá, Tariano, rio Uaupés, bacia do alto rio Negro, e Kuikuru, no alto Xingu), alertando para a importância da estreita ligação entre antropólogos, arqueólogos e as comunidades que se sentem diretamente afetadas pelas pesquisas acadêmicas.

O autor finaliza o tópico ponderando sobre o impacto da colonização nessas sociedades indígenas, sugerindo aos pesquisadores que evitem interpretações simplistas quanto à história da Amazônia pré-colonial.

Exemplifica uma dessas interpretações, de que as sociedades indígenas do passado estariam caminhando para um tipo de organização complexa, como um Estado, e que esse “desenvolvimento” teria sido rompido pelo contato com os não-índios. Afirma ainda que os registros arqueológicos evidenciam bases econômicas centradas no grupo doméstico, com autonomia econômica e, conseqüentemente, instabilidade política de longo prazo, ocasionando ocupação e abandono de grandes assentamentos. Finaliza o livro argumentando mais uma vez que os resultados são provisórios e carecem de mais pesquisas na região, além de defender o conhecimento da Amazônia “a partir de seus próprios parâmetros culturais e ecológicos”.

Como colocado no início da Resenha, o livro de Eduardo Góes Neves faz parte de um interessante movimento, por parte dos arqueólogos, dirigido à sociedade em geral e ao público leigo que se interessa pelo passado de seu país. Apresenta, de forma clara, as principais discussões em torno do registro arqueológico pesquisado na Amazônia e demonstra uma preocupação ao esclarecer que o que temos são resultados parciais, resultantes do número reduzido de pesquisas em região tão ampla. Além de mais pesquisas arqueológicas de campo – que, com certeza, são ainda necessárias em várias partes do Brasil –, é também imprescindível criar uma consciência profissional coletiva, entre arqueólogos, para a importância de múltiplas interpretações advindas de variadas vertentes teóricas. Assim, propostas de tornar públicos resultados de pesquisas científicas, como este livro de Eduardo Góes Neves, serão cada vez mais viáveis e muito bem-vindas.

Solange Nunes de O. Schiavetto – Doutoranda em História Cultural, IFCH/Unicamp Docente da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG/Poços de Caldas) Pesquisadora do NEE/Unicamp.

Acesso somente pelo link original

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Quaternário do Brasil – SOUZA et al (Ge)

SOUZA, C. R. G. et al. (Ed.). Quaternário do Brasil. Ribeirão Preto: Holos, 2005. 378p. Resenha de: VALADÃO, Roberto Célio. Geografias, Belo Horizonte, v.2, n.2, p.123-126, jul./dez., 2006.

A segunda metade do século XX assistiu ao recrudescimento de esforços da ciência na sistematização de seus saberes com vistas à sua aplicação na prevenção e mitigação de problemas de ordem ambiental. As décadas de 198 0 e 199 0 foram especialmente profícuas nesse contexto, inclusive no Brasil. Os diversos ramos da ciência despertaram, de forma consciente, para as crises ambientais em suas mais diversas perspectivas escalares e temporais. Esse despertar revelou-se, de início, por meio do engajamento e do compromisso social de diferentes saberes científicos ainda hermeticamente fechados em si mesmos para, mais tarde – particularmente ao final dos anos de 199 0 –, dar-se conta da urgência na adoção de procedimentos metodológicos e na aquisição de conhecimentos advindos de outros campos do saber. As abordagens inter- e transdisciplinares, até então meramente filosóficas, ganharam terreno na prática de uma multiplicidade de especialistas, que passaram a se unir em torno de interesses comuns de forte demanda social.

Iniciava-se a materialização da sonhada integração de saberes e abordagens, em grande parte até então suprimida mediante especialização extrema, embora necessária, da ciência.

A obra intitulada Quaternário do Brasil, publicada sob os auspícios da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário (ABEQUA), tem por mérito a iniciativa de congregar grande número de especialidades em torno de objeto comum: nossa própria casa, a Terra. As obras até então publicadas no país a respeito do Quaternário vinculam-se, em sua maioria, com abordagens e bases referenciais teóricas oriundas de leque bastante reduzido de disciplinas. Na obra em perspectiva, somam-se esforços não só de geocientistas – geólogos e geógrafos – como também de biólogos, engenheiros, agrônomos, antropólogos e oceanógrafos, dentre outros. Esses esforços resultaram na publicação de obra até então inédita no país, ao congregar reflexões e sínteses resultantes da intensa atividade dos principais e mais consolidados grupos de pesquisa quaternarista nacionais.

As temáticas abordadas na obra são apresentadas em 17 capítulos, cuja autoria é bastante diversificada e, mais ainda, plural no que se refere à especialidade de seus autores. O Capítulo 1 – a Introdução – apresenta as generalidades do arcabouço geológico no qual o território brasileiro está inserido: o continente sul-americano.

É de interesse desse capítulo apresentar as grandes linhas estruturais e as megaunidades morfológicas a elas associadas, com destaque para os depósitos e as formas do Quaternário. O Capítulo 2 apresenta elementos para discussão da variabilidade e das mudanças climáticas ocorridas durante o Quaternário no Brasil. Para tanto, enfatiza o papel da dinâmica atmosférica no contexto das mudanças climáticas, com recorte espacial que permite, inclusive, a discussão sobre aspectos dinâmicos do clima e seus impactos regionais no território brasileiro. Trata, em abordagem final, da simulação matemática do clima aplicada sob a perspectiva não só da espacialidade mas, sobretudo, da temporalidade.

Uma vez lançadas as bases para a compreensão da dinâmica climática e paleoclimática verificada no país – Capítulo 2 –, o Capítulo 3 aborda a paleovegetação e os paleoclimas do Quaternário do Brasil.

Seus autores discorrem a respeito dos resultados procedentes do desenvolvimento e da aplicação de técnicas palinológicas em materiais obtidos em registros sedimentares, bem como sobre seu significado e sua contribuição na compreensão do complexo padrão de alterações das diferentes formações vegetais brasileiras decorrentes das mudanças climáticas globais e do antropismo desencadeado no Quaternário Tardio. A reconstrução de paleoambientes quaternários no Brasil tem sua continuidade de análise no Capítulo 4, a partir de indicadores decorrentes da aplicação de estudos dos isótopos de carbono e de seu emprego simultâneo com a antracologia e a palinologia de sedimentos lacustres.

A geologia e a geomorfologia das regiões costeiras no Brasil são objeto de discussão nos capítulos 5, 6, 7, 8 e 9. No Capítulo 5 é apresentada síntese histórica e evolutiva dos conhecimentos a respeito das regiões costeiras de alguns estados brasileiros e dos fatores que condicionaram a sua evolução, ligados, de um lado, à geodinâmica global – tectônica de placas, clima e variações do nível do mar – e, de outro, à dinâmica costeira – ação de ondas, marés, correntes litorâneas e tempestades. A par dessa síntese os autores desse capítulo procuram demonstrar que as planícies costeiras, no Brasil, têm se comportado, nos últimos séculos, como costas de recuo afetadas por processos de submersão e/ou erosão.

O Capítulo 6, de modo complementar às abordagens introduzidas no capítulo anterior, trata dos paleoníveis do mar e das paleolinhas de costa verificadas na região costeira do Brasil. As reconstruções paleogeográficas apresentadas nesse capítulo são balizadas por numerosas datações de radiocarbono. A erosão costeira atual, particularmente aquela verificada em praias arenosas, é objeto de análise do Capítulo 7, no qual os autores buscam caracterizar o sistema praial, bem como reconhecer seus processos costeiros modeladores e sua morfodinâmica. Apresentam, ainda, síntese acerca dos indicadores de erosão costeira, contemplando suas causas e seus efeitos e os processos a ela associados, para, em seguida, discorrerem a respeito de métodos de proteção, contenção e recuperação de praias. O Capítulo 8, que encerra as discussões mais pormenorizadas das regiões costeiras brasileiras, aborda a oceanografia geológica e geofísica da Plataforma Continental Brasileira. Essa megafeição da margem continental é analisada com ênfase nos seus processos dinâmicos, no transporte sedimentar, no relevo e na composição do fundo marinho atual. Os principais métodos geológicos, geofísicos e oceanográficos utilizados na investigação da plataforma continental são apresentados e discutidos.

A microfauna recente das regiões costeiras é foco de análise do Capítulo 9, o qual traz significativa exposição e síntese dos resultados das principais contribuições sobre foraminíferos, tecamebas e ostracodes encontrados no Brasil – seus padrões de distribuição em diferentes ecossistemas e províncias biogeográficas e suas principais espécies bioindicadoras.

Os demais capítulos da obra – capítulos 10 a 17 – tratam de feições e fenômenos de interesse dos estudos do Quaternário que têm lugar, sobretudo, no interior continental do país. A neotectônica da Plataforma Brasileira é objeto de análise no Capítulo 10, no qual os autores abordam, de início, aspectos conceituais de relevante interesse para a temática – neotectônica, sismotectônica e morfotectônica –, como subsídio às discussões acerca da mobilidade litosférica recente verificada nas regiões Nordeste, Sudeste, Sul, Norte e Centro-Oeste do país.

A neotectônica da região costeira é também tratada, com destaque para a importância dos processos de sedimentação do Grupo Barreiras. O capítulo é finalizado com discussão acerca dos campos de tensões neotectônicos e do mapa da neotectônica do Brasil.

Aos campos de dunas livres e dunas vegetadas que ocorrem no Brasil é dedicado o Capítulo 11. Seus autores apresentam detalhada caracterização dos depósitos eólicos ativos brasileiros, sua classificação, distribuição espacial e, mais ainda, seu significado frente à evolução quaternária de algumas áreas litorâneas e interiores. A análise dos processos, produtos e agentes morfogenéticos continentais tem continuidade no Capítulo 12, o qual, referindo-se ao interior continental, enfatiza a relação entre as formas da paisagem e os depósitos quaternários, particularmente por meio do emprego de abordagens morfo- e aloestratigráficas que subsidiam a compreensão da evolução de encostas e vertentes. Técnicas e métodos empregados pela cartografia são discutidos como instrumentos da gestão ambiental, notadamente naqueles recortes espaciais em que os processos e os produtos morfogenéticos têm papel fundamental. A geologia, a geomorfologia e a paleo-hidrologia de grandes sistemas fluviais brasileiros são apresentadas e discutidas no Capítulo 13, cujo foco recai essencialmente sobre a evolução quaternária das mais importantes bacias hidrográficas brasileiras – Amazonas, Paraná, Paraguai, Tocantins-Araguaia, Uruguai e São Francisco –, seus depósitos sedimentares e as morfologias fluviais associadas às calhas de seus eixos de drenagem principais.

O Capítulo 14 realiza estudo geoquímico de sedimentos e solos ao propor uma análise multielementar na caracterização de uma região qualquer, realçando a compreensão da interação espaciotemporal entre sua herança natural e a interferência antrópica a ela imposta. São apresentados e discutidos alguns estudos de caso em que a geoquímica multielementar foi utilizada como ferramenta, com destaque para algumas áreas na Amazônia, no Rio Grande do Norte, no Distrito Federal, no Quadrilátero Ferrífero e na Bacia Hidrográfica do Paraná.

Uma vez que as feições superficiais e subterrâneas que integram os ambientes cársticos têm sua gênese e evolução associadas ao Quaternário, a obra reserva seu Capítulo 15 para discussão desses ambientes no Brasil.

São discutidos, a partir de estudos de caso diversos, o controle estrutural e tectônico da carstogênese, sua evolução morfopedológica e o contexto paleoambiental no qual estiveram inseridos.

O Capítulo 16 traz, de início, o debate e a aplicabilidade dos modelos paleoambientais comumente empregados pela arqueologia como subsídio à compreensão do processo de ocupação do território brasileiro desde o Pleistoceno terminal. Em seguida, os autores discutem o histórico da ocupação humana no Brasil durante o Holoceno, quando os sambaquis e os sambaquieiros passaram a desempenhar papel fundamental.

Os registros da ação geológica do homem têm continuidade de abordagem no último capítulo da obra – Capítulo 17 –, voltado para os estudos do Tecnógeno. São apresentados alguns estudos de caso sobre o Tecnógeno no Brasil, com destaque para o oeste do estado de São Paulo, a Região Metropolitana de São Paulo, o Vale do Paraíba do Sul, a zona urbana de Goiânia e a região da Chapada Diamantina (BA).

Ao final da leitura do livro em perspectiva, certamente se conclui por sua grande relevância, em razão de seu conteúdo e de sua abordagem interdisciplinar imprimirem a ele valor como obra de referência. Quaternário do Brasil é obra que devidamente preenche os requisitos necessários para figurar no acervo bibliográfico das principais instituições de pesquisa e ensino das geociências no país. É guia seguro para pesquisadores e, sem dúvida alguma, para discentes de graduação e pós-graduação, tendo em vista a clareza conceitual emitida por seus autores, a seqüência lógica na estruturação de suas temáticas, a seleção precisa de seus estudos de caso e a expressividade de suas ilustrações.

Roberto Célio Valadão – Professor do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências, UFMG.

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Los Cazadores Después del Hielo – MASSONE (C-RAC)

MASSONE, Mauricio. Los Cazadores Después del Hielo. Santiago: Centro de Investigaciones Diego Barros Arana, 2004; pp. 173, Santiago. Resenha de: PÉREZ, Christian García.. Chungara – Revista de Antropología Chilena, Arica, v.37, n.2, p.272-274, dic. 2005.

Después del retiro de los hielos durante el Pleistoceno final y antes de que se formara completamente el estrecho de Magallanes por el alza de los niveles marinos, animales y seres humanos alcanzaron Tierra del Fuego y dejaron trazas materiales de su paso en la cueva de Tres Arroyos 1, ubicada en el norte de la actual Isla Grande. Hasta esta apartada región arribó, en 1981, el arqueólogo Mauricio Massone Mezzano, entonces parte del Instituto de la Patagonia, con la esperanza de elegir un área de la isla y un tema de investigación. Estas tareas lo llevaron a realizar prospecciones en la estancia Tres Arroyos, cerca de la localidad fronteriza de San Sebastián, lugar que le depararía años de fructíferas investigaciones, cuyos resultados más importantes se entregan en el libro que aquí reseñamos.

Organizada en diez capítulos, esta obra es el resultado de la tesis de Magíster en Arqueología (Universidad de Chile) del autor, quien a través de sus páginas nos presenta las evidencias e interpretaciones que señalan que los materiales arqueológicos de Tres Arroyos 1 son una manifestación cultural de la modalidad de cazadores tempranos, denominada Fell 1, originalmente descubierta en la zona volcánica oriental de Pali Aike por Junius Bird y más tarde en la provincia de Última Esperanza por Hugo Nami.

Tal como se explica en el capítulo I, las excavaciones arqueológicas llevadas a cabo en 1983 y más tarde en 1986 en Tres Arroyos 1, proporcionaron al autor las primeras dataciones radiocarbónicas para un contexto arqueológico de cazadores tempranos en Tierra del Fuego, así como evidencias que podían relacionarlo con otros sitios arqueológicos de Patagonia meridional. De paso, los resultados obtenidos renovaron el interés por discutir el cambio cultural y la continuidad, en un ambiente donde la existencia de un antes y un después en la formación del estrecho y de la isla de Tierra del Fuego, ofrece un laboratorio para la puesta a prueba de diferentes hipótesis.

Producto de la importancia de los hallazgos y comprendiendo que había pesquisado los restos materiales de una antigua curva en el tiempo, el autor interrumpió los estudios de campo por diez años, a la espera de constituir un proyecto de investigación integral sobre el hombre temprano y el paleoambiente, reunir un equipo de investigadores y gestionar los recursos necesarios. Dicho proyecto, que fue llevado a cabo entre 1996 y 1999, generó resultados que permitieron no sólo entregar una interpretación del contexto de la ocupación inicial del sitio, sino también inscribirlo dentro del proceso de poblamiento temprano de América y puntualmente de Patagonia, tal como se expone a lo largo de toda esta obra.

Una muestra del papel que le caben a las ocupaciones tempranas de Tres Arroyos 1 en el proceso del poblamiento inicial del territorio patagónico, puede obtenerse de la lectura del capítulo 2, donde se ofrece al lector una actualizada síntesis de la historia de la investigación paleoambiental y arqueológica del Pleistoceno final en Magallanes y Tierra del Fuego, con especial referencia a la modalidad de cazadores tempranos Fell 1. De particular interés para el autor son los avances en la investigación arqueológica y paleoambiental de la zona durante la década de los ochenta y noventa del siglo recién pasado, debido a que permitieron el planteamiento de nuevos temas de investigación, como la exploración de la presencia de fauna pleistocénica extinguida y grupos paleoindios en Tierra del Fuego. Sin embargo, el escaso acercamiento existente entre los estudios paleoambientales y arqueológicos, hacía necesario establecer puentes que aproximaran ambos conocimientos con el objeto de emprender la exploración del poblamiento temprano de la región, labor que llevaría a cabo el autor con su proyecto de investigación entre los años 1996 y 1999 sobre “Hombre temprano y paleoambiente en Tierra del Fuego”.

Una revisión de las posiciones teóricas y de los conceptos utilizados en la arqueología americana en la investigación del poblamiento temprano del continente, se entrega en el capítulo III, con el objeto de situar la discusión acerca de este proceso en Tierra del Fuego. Teniendo presente que las ocupaciones humanas de las que trata esta obra se circunscriben al período anterior a la formación del estrecho de Magallanes, en algún momento de la transición Pleistoceno-Holoceno, la elección del autor de algunos tópicos teóricos resultan interesantes de considerar, debido a que plantean nuevas interrogantes para futuras investigaciones. Entre estos destacan la discusión en torno a si el poblamiento de Tierra del Fuego resultado del arrinconamiento de las poblaciones en el extremo del mundo o de la elección a través de decisiones adaptativas, o si las ocupaciones de Tres Arroyos 1 se inscriben en la dinámica de territorios de borde.

Considerando que el objetivo central de este libro es dar cuenta del contexto cultural y paleoambiental de las primeras ocupaciones del sitio Tres Arroyos 1, en el capítulo IV, el autor expone sus objetivos específicos de investigación, su estrategia de estudio y la conformación de un equipo multidisciplinario que estuvo a cargo del análisis e interpretación de los materiales culturales y de la evaluación de las condiciones paleoambientales, elementos que le permitieron a la postre plantear dicho contexto en este libro.

El capítulo V sobre los cazadores tempranos de Tres Arroyos 1, constituye la exposición sintética de los antecedentes ambientales y culturales relacionados a las ocupaciones tempranas del sitio, los que son más tarde expuestos con mayor detalle por el autor. Particularmente, los datos arqueológicos aquí presentados sobre fogones, artefactos líticos y óseos, restos faunísticos y de materiales colorantes, sus características y el conjunto de dataciones radiocarbónicas a los que están asociados, constituyen el núcleo de la argumentación en relación a su participación en la modalidad cultural de cazadores tempranos Fell 1.

El capítulo VI, titulado “En torno al fuego”, presenta un análisis espacial intrasitio basado en cinco estructuras de combustión registradas en Tres Arroyos 1, el que sin duda representa el aspecto más relevante y novedoso del libro. Relevante, por los alcances interpretativos que su ejercicio permitió al autor, así como por la información inédita que se entrega, y novedoso, debido a que los análisis de las plantas de excavación de los fogones tienen el mérito de ensayar una metodología imaginativa (definiendo áreas de influencia cercana, radios intermedios y zonas alejadas), para vislumbrar qué tipo de actividades se llevaron a cabo en torno al fuego y cómo se estructuran espacialmente los restos culturales en relación a cada uno de los fogones. Los análisis espaciales en los planos vertical y horizontal de los materiales culturales asociados a las estructuras de combustión, plantean, a su vez, elementos para discutir la conservación y alteración de los depósitos, las asociaciones de artefactos y basuras con los fogones, así como vislumbrar muy someramente la segregación de actividades temporalmente diferenciadas y múltiples ocupaciones, aun cuando el autor descarta la posibilidad de identificar eventos singulares en el tiempo. Finalmente, estos análisis son complementados con la integración y comparación con datos arqueológicos sobre los fogones de otros sitios tempranos participantes de la modalidad cultural Fell 1, como son Fell, Pali Aike, Cueva del Medio y Lago Sofía 1, ofreciendo la posibilidad de observar similitudes y diferencias en estos rasgos arqueológicos.

En el capítulo VII, se exponen los resultados de los análisis de los artefactos líticos y óseos, así como de restos de colorantes. De particular importancia resultan los análisis de la industria lítica, labor realizada por el arqueólogo Donald Jackson, debido no sólo a que proporcionan antecedentes sobre fragmentos de puntas del tipo cola de pescado (reconocidas como indicadores diagnósticos del Paleoindio sudamericano y de la modalidad cultural Fell 1), sino que muestran la presencia en las ocupaciones de aprendices de talla lítica y la utilidad del análisis de remontado de piezas líticas para la inferencia de las actividades en el espacio interior del alero.

Igualmente importante, la información respecto a los artefactos óseos, muestra una temprana producción de adornos, como cuentas de collar, lo que, sumado al registro de colorantes, ofrece una mirada a posibles prácticas de ornamentación, las cuales tendrían entonces una larga presencia en la zona.

El capítulo dedicado a los materiales arqueológicos no sólo informa y discute la organización espacial de los materiales al interior del sitio, sino también los pone en el contexto de los datos arqueológicos obtenidos en otros sitios relacionados a la modalidad Fell 1 de Magallanes y de la provincia de Santa Cruz en Argentina, ofreciendo de esta manera una visión general de las similitudes y diferencias en la cultura material de estas poblaciones.

Por otra parte, el capítulo VIII, donde se exponen los resultados de los análisis faunísticos, no sólo resulta interesante por la presencia de fauna extinguida, como el caballo (Hippidion saldiasi) o el milodón (Mylodon sp.), sino también por la presencia de otros animales menos conocidos pero igualmente extinguidos, como una especie de zorro (Dusicyon avus) y un camélido de mayor tamaño que el guanaco actual (Paleolama sp.). En este sentido, resulta muy valiosa la presentación de fechas taxón en varias de estas especies, debido a que permiten precisar no sólo su relación con el contexto cultural, sino también su posición cronoestratigráfica en Tierra del Fuego. Igualmente interesante resulta la discusión con respecto a la posibilidad de caza del milodón, que se opone a otras opiniones (como la de Saxon y Borrero) y plantea una alternativa de caza y consumo de este animal.

En el siguiente capítulo IX, una vez que se ha revisado los antecedentes arqueológicos de Tres Arroyos y las posibles relaciones con otros sitios de Patagonia meridional, se da cuenta de los elementos que componen la tradición cultural Fell 1 en Magallanes y Tierra del Fuego. Probablemente, este es otro de los grandes méritos de este libro, el definir geográfica, temporalmente y materialmente una tradición cultural temprana de cazadores recolectores en Patagonia y Tierra del Fuego.

La definición de esta unidad cultural, más allá de las diferencias de los contextos arqueológicos, permite generar expectativas sobre el registro arqueológico, así como plantear nuevas hipótesis sobre diferentes aspectos de esta tradición cultural que deberían incidir, desde mi opinión, en la incorporación y explicación de la variabilidad de estas poblaciones tempranas, tema que no es abordado en este libro.

Finalmente, en el capítulo X se exponen las proyecciones futuras de investigación, particularmente relacionadas con la investigación de temas sobre los cuales no se dispone de mucha información en la actualidad, tal como la complementación alimenticia por medio de la recolección de vegetales y moluscos, el papel de los roedores en la dieta, la necesidad de contar con sitios abiertos que muestren la variabilidad de las actividades de las poblaciones tempranas, la discusión de cuáles son los criterios para abordar el poblamiento de una zona de borde, la necesidad de contar con técnicas de excavación y registro de grano fino que puedan ser comparables, etc.

Tal vez el único tema futuro no sugerido por el autor sea el relacionado a la calibración de las dataciones radiocarbónicas con el objeto de normalizar el tema de la temporalidad en los estudios de la prehistoria patagónica. En síntesis, se trata de una obra que expone claramente los procesos naturales y culturales que han actuado en la formación del sitio de Tres Arroyos 1, entregándonos los elementos para juzgar como lectores los alcances de las interpretaciones del autor. En este sentido, constituye un aporte al conocimiento y discusión sobre las poblaciones de cazadores recolectores tempranos de Patagonia, así como del poblamiento americano. Sólo resta felicitar al autor por su trabajo y recomendar la lectura de esta obra a todos aquellos interesados en el proceso de poblamiento humano de este confín de la Tierra.

Christian García Pérez – Programa de Magíster en Antropología, Universidad de Tarapacá-Universidad Católica del Norte, Arica, Chile. E-mail: korgull69@yahoo.es

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Arqueologia dos buracos de bugre: uma Pré-História do Planalto Meridional | José Alberione dos Reis

O ponto de partida de José Alberione dos Reis, uma proposta que ganha força entre os arqueólogos que estão revisando e reorganizando dados acumulados por décadas em diversas regiões do Brasil, visa realizar “um trabalho de propostas, de sugestões, de sistematização, de apontar problemáticas”. O cumprimento deste objetivo foi possível graças a uma ampla organização e sistematização das informações contidas nos trabalhos sobre os sítios arqueológicos do tipo “buracos de bugre”, incluídos nas tradições Taquara, Itararé e Casa de Pedra presentes na Região Sul. O resultado é uma síntese balizada com rigor pelos parâmetros da Arqueologia Processual, que ordena os dados publicados e que realmente aponta para novos caminhos, a partir de uma minuciosa análise das informações coletadas desde a década de 1960. Ao mesmo tempo, o livro apresenta de forma didática os conceitos e a seqüência de passos necessários para análise de aspectos ambientais, tecnológicos, econômicos e sociais a partir da abordagem processual. Além disso, também mostra um histórico das pesquisas realizadas, examinando os itinerários intelectuais de onde saíram as idéias e as práticas daqueles que formataram a maior parte do conhecimento arqueológico sobre o sul do Brasil. Leia Mais

Pré-História do Brasil: As origens do homem brasileiro; O Brasil antes de Cabral; Descobertas arqueológicas recentes | Pedro Paulo Funari e Francisco Noelli

Até princípios do século XX, a história das populações pré-históricas aborígenes que habitaram o atual território brasileiro era um tema pouco conhecido e sobre o qual não existia interesse maior. Afortunadamente, estas concepções, que silenciavam a rica e complexa História desses povos, paulatinamente foram ficando para trás. Precisamente, “Pré-história do Brasil…”, escrita por dois importantes arqueólogos brasileiros, resulta ser uma obra clara e simples que permite ao leitor obter uma idéia geral sobre o processo de ocupação humana do território onde hoje está o Brasil. Por sua vez, possui uma linguagem amena, que evita terminologias complexas, próprias do jargão arqueológico, fazendo com que o livro possa chegar a um público amplo e heterogêneo. Leia Mais

Geologia do quaternário e mudanças ambientais – SUGUIO (C-RMAX)

SUGUIO, Kenitiro. Geologia do quaternário e mudanças ambientais. São Paulo: Editora Paulo’s Comunicações e Artes gráficas, 1999. 366p. Resenha de: FONTES, Aracy Losano. Estudos arqueológicos e do quaternário. Canindé – Revista do Museu Arqueológico de Xingó, Xingó, n.1, dez., 2001.

O desenvolvimento das geociências no Brasil ganhou intensidade maior com a instalação dos cursos de Geologia, a partir do segundo lustro da década de 50. A formação de sucessivas turmas de geólogos propiciou pessoal habilitado para acelerar o conhecimento sobre o território brasileiro e favorecer a expansão da dinâmica Sociedade Brasileira de Geologia (SBG).

Os estudos do Quaternário embora fossem realizados em algumas áreas específicas das geociências, como a geomorfologia e a geotecnia, as primeiras tentativas de integração dessas pesquisas foram iniciadas com o Primeiro Simpósio do Quaternário do Brasil que ocorreu juntamente com o XXV Congresso Brasileiro de Geologia, em 1971 na cidade de São Paulo.

O Professor Doutor kenitiro Suguio é conhecido como autor de vários livros, docente e conferencista de temas ligados às geociências. O compêndio intitulado “Geologia do Quaternário e Mudanças Ambientais” oferece ampla revisão sobre os vários registros do Quaternário – paleoclimático, geológico, geomorfológico, biológico e arqueológico, e apresenta considerações específicas do período em termos de Brasil. Ao tratar do passado e do presente, o Professor se remete a considerações acerca do futuro neste último período do Cenozóico.

A seqüência de treze capítulos trabalhados com a necessária individualidade e a devida interdependência abordam, didaticamente, um Quaternário geológico e antrópico, não descuidando das bases científicas que suportam os fatos ocorridos nesse período da história recente da Terra.

Dando ênfase ao “Período Quaternário”, o autor inicia a obra com noções gerais sobre os seus vários significados a partir do século XVI, subdivisão e duração. Observa-se o cuidado do autor em assinalar as técnicas e os métodos de estudo do Quaternário. A teoria do uniformitarismo, cujo enunciado “O presente é a chave do passado” e a pesquisa integrada são consideradas básicas para estabelecer o elo de ligação entre o passado geologicamente pouco remoto e o presente levando, em situações favoráveis, a tentar estabelecer cenários futuros. Ainda no primeiro capítulo fez um retrospecto histórico dos estudos do Quaternário no Brasil desde a sua descoberta até os dias atuais. Neste item, o enfoque está em apresentar fatos cronológicos ligados ao desenvolvimento dos trabalhos de pesquisadores estrangeiros e nacionais de cunhos multi e interdisciplinar, que constituem uma das características marcantes dos estudos do Quaternário.

“As Grandes Glaciações , os Seus Depósitos e as Suas Causas” constituem o tema do segundo capítulo. Após breve caracterização sobre os processos de formação e os tipos principais de geleiras, com indicação de algumas terminologias mais comumente utilizadas, são sucessivamente analisados a topografia glacial (fiordes, circos glaciais, estrias glaciais), os depósitos sedimentares (till, morenas, drumlins e eskers) e a distribuição das geleiras no presente e no passado atribuídas, principalmente, a expansão e retração das geleiras Escandinava, Cordilheirana, Laurenciana e Alpina. São analisados os efeitos múltiplos das variáveis de Milankovitch nas mudanças paleoclimáticas que deixaram inúmeras evidências sobre a Terra.

Assim, segue-se o capítulo III sobre as “Mudanças Paleoclimáticas Quaternárias e os Seus Registros”. Ao lado das glaciações quaternárias outros fenômenos periglaciais pretéritos foram relatados como permafrost, crioturbação molde de cunha de gelo e solifluxão, assim como evidências de fases pluviais na África e no Oeste dos Estados Unidos . As pesquisas biológicas dos estádios glaciais e interglaciais do Quaternário, onde incluem-se as mudanças florísticas e faunísticas, constituem temas de subitens. O autor finaliza o capítulo demonstrando as evidências utilizadas na reconstituição dos climas passados, que vão desde os registros históricos até às feições geomórficas e discorrendo sobre o clima no Holoceno e as questões relativas ao futuro do Homem e de outras espécies de seres vivos quanto ao clima global.

O capítulo IV “As Mudanças de Nível do Mar no Quaternário e os Seus Registros” explicita as bases conceituais – eutasia, isostasia, movimentos crustais – para analisar as variações de nível do mar desde o Último Máximo Glacial (UMG) no Pleistoceno, passando pela fase tardiglacial e terminando no pós-glacial. Focaliza as regiões do mar das Caraíbas onde foram obtidas numerosas datações situadas no intervalo entre 60.000 e 66.000 anos A.P da série de urânio e o litoral da Península de Huon (Nova Guiné) onde foram também reconstruídas as variações dos paleoníveis do mar durante os últimos 120.000 anos, baseadas nas faciologias de recifes de coral. Finaliza díscutindo os indicadores de níveis do mar pretéritos – geológicos, biológicos e arqueológicos.

Ao tratar da “Geomorfologia e dos Depósitos Quaternários” no capítulo V, a preocupação inicial é conceituar e classificar as superfícies geomorfológicas de acumulação e de erosão, enfatizando os processos fluviais e marinhos na formação dos terraços. Mostra que a classificação morfoestratigráfica é uma metodologia muito importante nos estudos estratigráficos do Quaternário porém adverte que se não for devidamente acompanhada por dados fornecidos pelas camadas – chave e informações geocronológicas, pode-se chegar a um quadro equivocado da evolução geomorfológica da área. Finaliza mostrando a relevância da aloestratigrafia na identificação e classificação dos dépositos quaternários.

O capítulo VI versa sobre a “Neotectônica e a Tectônica Quaternária”, iniciando pela exploração dos conceitos do termo neotectônica. Considerações são apresentadas sobre os cinturões móveis, ou seja, as áreas de rochas geologicamente mais novas onde os movimentos crustais pósterciários são intensos, núcleos continentais, fundos submarinos e cadeias mesoceânicas A seguir são discutidas as peculiaridades dos movimentos crustais quaternários em faixas móveis, as fontes de dados para estudos da neotectônica de natureza geológica, geomorfológica, geodésica e histórica ou arqueológica e os métodos de datação usados em estudos neotectônicos.

O capítulo VII direciona-se para a “Estratigrafia do Quaternário”, iniciando por analisar as técnicas de datação relativa – estudo paleontológico, técnicas geomorfológicas e grau de intemperismo químico – e as de datação absoluta – dendocronologia, varvecronologia e radiocronologia. O autor focaliza, ainda nas correlações estratigráficas, a tefrocronologia, a edafoestratigrafia, a bioestratigrafia baseada em microorganismos e a estratigrafia isotópica. Os problemas dos limites estratigráficos do Quaternário são discutidos no final do capítulo.

A temática relacionada com a “Reconstituição de Cenários do Quaternário” ocupa o capítulo VIII. Iniciando por tratar dos registros de fundos submarinos de águas profundas, o autor prossegue analisando a estratigrafia do loess e as pesquisas ambientais desenvolvidas pelo Projeto CLIMAP (Climate Long Range Investagion Mapping and Prediction), a partir de 1971.

O capítulo IX sobre “Relevo Cárstico e a Geoespeleologia”, transmite ensinamentos básicos como definições, tipos de carstes, condições para formação do relevo cárstico e morfologias características. A inserção deste capítulo encontra-se justificada por chamar a atenção para as mudanças paleoambientais, principalmente as de natureza paleoclimática, durante o Quaternário.

“As Mudanças do Nível Relativo do Mar e Paleoclimáticas Durante o Quaternário Tardio no Brasil e a Neotectônica” são temas dos três capítulos seguintes, em 81 páginas. No capítulo X ganham realce as variações relativas do nível do mar e suas conseqüências na sedimentação costeira, as reconstruções e evidências de paleoníveis marinhos na costa brasileira. Os principais estágios da construção das planícies da costa brasileira encerram o capítulo. As mudanças paleoclimáticas durante o Quaternário tardio no Brasil representa o tema do capítulo XI, abordando os estudos palinológicos, antracológicos e arqueológicos, em diferentes áreas do país. Um exemplo citado por Suguio assinala que os dados obtidos na serra de Carajás (PA) podem ser comparados com as informações obtidas sobre a evolução paleoclimática da África Ocidental, nos últimos 20.000 anos, isto é, entre o Último Máximo Glacial e o início do estágio interglacial atual. A neotectônica na Amazônia, na região sudeste e na costa brasileira constituem temas de subitens sobre a Tectônica Quaternária no Brasil, no capítulo XII.

“As Pesquisas Aplicadas do Quaternário” representam o tema do último capítulo, abordando os conceitos fundamentais da geologia ambiental, encarada como uma disciplina destinada a encontrar soluções para os conflitos resultantes da interação do Homem com o ambiente físico.

Diversos aspectos denunciam o cuidadoso preparo da obra. O texto surge com clareza e a preocupação didática também transparece na estrutura dos capítulos e encadeamento dos temas. Vários quadros são apresentados reunindo e sumariando conceitos, as fontes de referência e a aplicabilidade dos mesmos; gráficos e figuras esclarecem, devidamente, muitas das noções expostas. Nos finais dos capítulos encontram-se referências orientando sobre as contribuições importantes e pertinentes ao assunto versado.

Não só pelo aspecto formal, mas principalmente pela amplitude e riqueza de abordagem, a obra “Geologia do Quaternário e Mudanças Ambientais”, de Kenitiro Suguio surge como de grande importância para os cursos de Geografia, Geologia, Biologia e Arqueologia e a muitos outros interessados nos problemas ambientais do Quaternário.

Aracy Losano Fontes – Professora do NPGEO/UFS.

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