Jörn Rüsen: teoria/historiografia/didática | M. M. D. Oliveira, F. C. F. Santiago Júnior e C. R. C. Lima

O livro Jörn Rüsen: teoria, historiografia, didática, lançado em 2022, é uma coletânea que põe em diálogo diversos prismas da vasta obra do historiador alemão, especialista em Teoria e Didática da História1. A publicação resulta do evento I Seminário Jörn Rüsen, realizado entre os dias 21 e 25 de dezembro de 2015, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ao debater com a obra de Rüsen, os diversos autores evidenciam as relações entre Teoria da História, Didática da História e Ensino de História.

Para Arthur Alfaix Assis – autor do artigo História, teoria e liberdade: saudação a Jörn Rüsen2 – uma das principais linhas de pensamento de Rüsen refere-se à questão: “como, a partir de tradições e traumas herdados do passado, seria possível agir no presente, visando projetar um futuro no qual sejamos livres para criar algo novo?”. Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v. 14, n. 2, set. 2022/jan. 2023.

Temporalidades1

Expediente

Editorial

Apresentação

Dossiê Temático

Resenhas

Entrevistas

Publicado: 2023-02-07

 

História e Audiovisual: pode(res), discursos, linguagens, mitos e mitologias políticas | Temporalidades | 2022

Detalhe de capa de Historia Audiovisual de Rafael Rosa Hagemeyer Autentica 2012
Detalhe de capa de História & Audiovisual, de Rafael Rosa Hagemeyer (Autêntica, 2012)

Trata-se de uma experiência interessante refletir sobre o percurso da Revista Temporalidades, desde sua concepção até a sua atual edição, e perceber como os dossiês temáticos apresentados pela Revista dialogam com perspectivas de naturezas distintas em termos de fontes historiográficas. Por meio da diversidade de temas seus textos trazem, associados a historiografia e debates que proporcionam, percebe-se que, de fato, a Revista Temporalidades cumpre o papel que se propõe.

Fiz parte da equipe de concepção e produção da Revista entre os anos de 2013 e 2014, e hoje, quase uma década depois, me sinto lisonjeado de ser convidado a escrever a apresentação da Revista, sobretudo, diante de um dossiê que me compraz e que também faz parte de minha trajetória enquanto discente do Programa de Pós-graduação em História da UFMG e dos seguimentos de minhas pesquisas. Leia Mais

Percorrendo o vazio: intelectuais e a construção da Argentina no século XIX | José Alves Freitas Neto

Jose Alves de Freitas Neto Foto Diego Nigro Anjo da Historia
José Alves de Freitas Neto | Foto: Diego Nigro/ Anjo da História

O objetivo da presente resenha é abordar e discutir o mais recente livro do historiador José Alves de Freitas Neto, intitulado Percorrendo o vazio: intelectuais e a construção da Argentina no século XIX. Como resultado da tese de livre-docência do autor, a obra se destaca pela originalidade de repensar a dicotomia “civilização e/ou barbárie” utilizando a noção de “vazio”. O século XIX argentino foi marcado pelas tentativas de se constituir um projeto político para a nascente nação. Nesse sentido, para legitimar ou não esses projetos, discursos e ideias eram criados e propagados por diferentes grupos a fim de se afirmarem como representantes do progresso e da prosperidade, isto é, da civilização. A barbárie, por sua vez, simbolizava tudo aquilo – e também todos aqueles – que não contribuíam para o progresso e, por isso, não deveriam sequer existir. O apagamento de culturas era justificado pela necessidade de construir e manter uma suposta civilização. Uma das formas de se divulgar e legitimar os projetos de nação era as letras: como indica Jorge Myers (2008), o romantismo literário do século XIX contribuiu para a transformação do papel dos escritores latino-americanos em intérpretes das sociedades na quais estavam inseridos e profetas das nações emergentes.

Assim sendo, o ponto de partida da análise de Freitas Neto foi o incômodo com essas representações dualistas empregadas e atualizadas nas explicações da história argentina. Os objetivos do livro consistem, portanto, em estudar as obras do escritor Esteban Echeverría (1805-1851) – um dos expoentes da Geração de 1837 –, a circulação da revista La Moda (1837-1838) e questionar o discurso acerca do “vazio”, usado para silenciar projetos e ideais. A obra é formada por quatro capítulos e conta também com um apêndice dos conteúdos publicados em La Moda feito pelo autor. Importante ressaltar que o período estudado compreende os governos de Juan Manoel de Rosas (1829-1952), momento marcado pela perseguição e censura à oposição. Para a Geração de 1837, por exemplo, o rosismo era o representante da barbárie a ser combatida pelos portadores da civilização. Logo, as análises das obras de Esteban Echeverría, bem como o estudo de La Moda, se inserem no contexto dos anos rosistas e revelam como que as ideias de um grupo opositor foram construídas e divulgadas naquele período. Para Freitas Neto, as letras e a política estariam imbricadas de tal forma que a primeira legitimaria no plano das ideias aquilo que viria a acontecer historicamente. Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.14, n.1, 2022.

Temporalidades1

Edição 37 – Temporalidades, Belo Horizonte (Jan/ago.2022)

Expediente

Editorial

  • Editorial
  • Hellen Silvia Marques Gonçalves, Luiz Araújo Ramos Neto
  • PDF

Dossiê Temático

Artigos Livres

Resenhas

Entrevistas

Publicado: 2022-09-05

 

 

Mulheres, gênero, feminismos: a reescrita da história a partir do Sul global/ Temporalidades/2022

Em 2008, Joan Scott redigiu um ensaio introdutório para um conjunto de textos originalmente apresentados em um fórum promovido pela American Historical Review para marcar os 20 anos de publicação de seu influente artigo Gênero: uma categoria útil de análise histórica. 1 Sob um título que poderia ser traduzido como Perguntas não respondidas, a conhecida historiadora estadunidense se voltou para a própria trajetória e avaliou o impacto que suas teorizações sobre o gênero e a diferença sexual haviam tido ao longo dessas duas décadas – em um caso raro, diga-se de passagem, de reflexão teórica feita no âmbito da história disciplinar que foi “exportada” para outros setores das humanidades. Scott abriu o balanço crítico dos destinos de seu trabalho mais conhecido com uma expressão de descontentamento perante o fato de que, em 1986, quando submeteu ao mesmo periódico o artigo então celebrado, ela fora obrigada a alterar seu título. A autora queria que o texto se apresentasse ao público não com uma afirmação contundente, mas com um questionamento sobre a utilidade do conceito de gênero – um questionamento cuja resposta não poderia e não deveria ser conhecida de antemão. A revista alegou, porém, que não permitia o emprego de pontos de interrogação nos títulos, e o artigo terminou publicado despido de parte de sua força retórica (SCOTT, 2008, p. 1422), sob uma designação em certa medida contraditória com seus propósitos. Leia Mais

História e filosofia da ciência: Produção científica e circulação de repertórios | Temporalidades | 2021

A Revista Temporalidades, edição número 36 contempla o dossiê, “História e Filosofia da Ciência: Produção Científica e Circulação de Repertórios” e apresenta uma abordagem transdisciplinar conjugando as epistemologias científicas com o processo de produção, divulgação e circulação do trabalho científico, sobretudo para a sociedade em geral. Assim, entendemos a importância de buscar reflexões sobre tais eixos temáticos (ciência, história, epistemologia e divulgação científica), haja vista o entendimento de que, historicamente, a produção científica está associada a um projeto de divulgação do desenvolvimento tecnológico e técnico assim como da ampliação dos saberes científicos.

É neste processo, que percebemos a importância da linguagem na produção deste conhecimento e na sua divulgação, uma vez que a linguagem de cada pesquisador se encontra protegida pela especificidade de seus próprios códigos. Sobremodo, interrogar o uso e a finalidade dessa linguagem em seu desdobramento político e social torna-se imprescindível para perscrutar os sentidos do trabalho do pesquisador e de sua produção, assim como entender o alcance da contribuição desta atividade para a sociedade. Nesse caso, é preciso repensar a linguagem e a mobilização de repertórios do discurso científico articulado por meio de uma linguagem hermética e específica, a qual cria dificuldades de intepretação até mesmo para os seus principais interlocutores (membros da comunidade científica). Leia Mais

Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro | Valdei Lopes de Araujo, Bruna Stutz Klem e Mateus Henrique de Faria Pereira

Do fake ao fato: Des(atualizando) Bolsonaro” foi pensado e organizado pelos professores doutores Valdei Lopes de Araujo, Mateus Henrique de Faria Pereira – ambos vinculados à Universidade Federal de Ouro Preto – e por Bruna Stutz Klem, mestra em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Ouro Preto.

Escrito para aqueles que desejam entender a política brasileira contemporânea, bem como até onde essa onda1 bolsonarista pode nos levar, “Do fake ao fato: Des(atualizando) Bolsonaro” é um livro instigante e esclarecedor. Composto por artigos bem fundamentados e de leitura leve, a obra traz à tona importantes debates políticos e sociais. Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.13, n.2, 2021.

Edição 36 – Temporalidades, Belo Horizonte (jul./dez.2021)

Expediente

Pré-textuais

  • Elizabeth Rouwe de Souza; Arthur Marinho Silva Vargas, Bárbara Braga Penido Lima, Herbert Gler Mendes dos Anjos, João Marcos Veiga de Oliveira, Julia Amaral Amato Moreira, Maria do Rosário Gomes da Silva
  • PDF

Editorial

Apresentação

Entrevistas

Artigos Livres

Dossiê Temático

Resenhas

Publicado: 2022-01-29

Hegel e a liberdade dos modernos | Domenico Losurdo

LOSURDO D
Domenico Losurdo| Foto: Kyan Shokoui Dios

LOSURDO D Hegel e a liberdadeIntrodução

A despeito das piadas jocosas que encontramos em páginas de social medias relacionadas à filosofia, é inegável que Hegel continua sendo um autor que desperta respeito, ou, no mínimo, curiosidade para uma leitura. Disso, é difícil encontrar hoje alguém disposto a comentar sua obra. O italiano Domenico Losurdo (1941-2018) tomou consciência de tal empreendimento. Porém, não se absteve de contribuir com algumas ideias. O trabalho de anos de pesquisa e publicações diversas (LOSURDO, 2019, pp. 19-20), resultou no livro intitulado Hegel e a liberdade dos modernos. O foco de sua obra direciona-se ao Hegel sujeito-político, inserido no contexto de sua época. No entanto, Losurdo deu um passo adiante ao confrontar o estudo dos escritos de Hegel com a fortuna crítica coeva e hodierna de sua obra; é dessa relação entre escritos filosóficos e fortuna crítica que se pretende dar atenção nessa resenha crítica.

A importância da historiação dos escritos filosóficos

À primeira vista, Losurdo dá atenção à biografia intelectual como uma maneira de escapar de trabalhos historicista-jornalísticos e das obras que versam a comentários a partir de Hegel. Essa premissa pode parecer estranha àqueles que, acostumados com leituras de autores e autoras já consagrados, acabam por não questionar os cortes produzidos em torno do sujeito, separando, por vezes, a vida pessoal dos escritos publicados, como se não houvesse relação nenhuma entre eles (LUKÁCS, 2018, p. 44). Leia Mais

Doenças e cativeiro: um estudo sobre mortalidade e sociabilidades escravas no Rio de Janeiro, 1809-1831 | Keith Valéria de Oliveira Barbosa

BARBOSA Keith 2
Keith Barbosa | Foto: ufam.edu.br/notícias

BARBOSA K Doenca e catieiroO livro de Keith Valéria de Oliveira Barbosa, pesquisadora e professora da Universidade Federal do Amazonas, é fruto de sua pesquisa desenvolvida no seu mestrado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

A obra é dividia em quatro capítulos, no primeiro, “Escravidão e doenças: historiografia, fontes e métodos”, a autora buscou analisar como a mortalidade escrava não estava ligada apenas ao contato entre pessoas de diferentes continentes e, portanto, que o tráfico atlântico em si não dá conta de explicar a mortalidade escrava. Em outras palavras, embora o contato entre indivíduos de espaços geográficos distantes inevitavelmente tenha colocado patógenos em condições de causar doenças que eram desconhecidas para os africanos, a questão não pode ser analisada apenas por esse prisma.

As condições de vida da população cativa propiciavam “ambientes” para que enfermidades matassem muito. A falta de alimentos, os maus tratos, a insalubridade do trabalho, as condições higiênicas inadequadas das senzalas, entre outros aspectos, faziam com que a vida de escravo fosse abreviada muitas vezes pela morte. Leia Mais

Memórias de professores nordestinos de História: docência no contexto da pandemia de Covid-19 | Joaquim Tavares Conceição e Paulo Heimar Souto

O livro dos professores Joaquim Tavares da Conceição e Paulo Heimar Souto é uma reunião de textos acadêmicos resultantes de trabalhos finais da disciplina “Tópico Especial em Ensino de História. História, memória, identidade e a aprendizagem histórica”, ministrada no Programa de Pós-graduação em Ensino de História da Universidade Federal de Sergipe. Seus capítulos, em forma de artigos, são redigidos pelos mestrandos do programa, sobre orientação dos referidos professores.

A obra é estruturada em cinco capítulos que debatem as dificuldades e desafios enfrentados pelos professores de História durante o período de isolamento social provocado pela pandemia de COVID-19. Amparados pela metodologia da História Oral, os autores discutem o ensino remoto e o uso das tecnologias digitais pelos professores entrevistados, chamados de colaboradores. Algumas das experiências dos professores que serviram de base amostral são relacionadas e interpretadas junto aos conceitos de memória do teórico Michael Pollak e aos conceitos da história oral de José Meihy e Leandro Seawright. Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.12, n.3, 2020.

Edição 34 – Temporalidades, Belo Horizonte (set./dez. 2020)

Expediente

  • Pré-textuais
  • Carla Drielly dos Santos Teixeira; Anna Karolina Vilela Siqueira, Barbara De La Rosa Elia, Luiza Lima Dias, Felipe Augusto Souza, Samuel Antunes de Souza
  • PDF

Editorial

  • Editorial
  • Carla Drielly dos Santos Teixeira; Barbara De La Rosa Elia, Samuel Antunes de Souza
  • PDF

Apresentação

Artigos Livres

Dossiê Temático

Resenhas

Entrevistas

Publicado: 2021-01-31

Religiões e religiosidades: dinâmicas institucionais e práticas devocionais (Brasil e Portugal, séculos XVIII e XIX) | Temporalidades | 2021

Basta lermos o jornal ou assistirmos ao noticiário na TV para percebermos que a temática da religião é recorrente em nosso dia a dia. Quem nunca ouviu a expressão bancada evangélica ou escutou que grupos políticos alteraram seus discursos para não desagradar a determinados segmentos religiosos? Quem, nos últimos 20 anos, não se deparou com o conceito de fundamentalismo ou de guerra santa? Não há como negarmos a influência cultural das religiões ainda hoje. Além disso, percebemos uma constante tensão entre diferentes crenças no Brasil. Basta uma busca rápida no Google para localizarmos diversas informações sobre a violência e a intolerância religiosa. O jornal Correio Brasiliense divulgou, no ano de 2019, que as religiões afro-brasileiras são alvos de 59% dos crimes de intolerância no Distrito Federal [1]. O Relatório sobre intolerância e violência religiosa no Brasil (2011-2015) analisou a crescente violência noticiada na imprensa. Segundo os dados, 53% dos agredidos são de religiões afro-brasileiras [2]. O que explicaria toda essa violência? Por que as religiões afro-brasileiras sãos as que sofrem mais ataques? Não são questões simples de serem respondidas, mas são possíveis de serem analisadas à luz da História das Religiões. Marcelo Massenzio, ao analisar a obra de Angelo Brelich, lembra-nos que os fenômenos que atribuímos ao plano da religião podem ser percebidos em distintas sociedades, mas o conceito religião não. Este é uma construção própria do ocidente cristão (MASSENZIO, 2005, p. 179). Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.12, n.2, 2020.

Edição 33 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 12, n.2 (mai./ago. 2020)

Expediente

Pré-textuais

  • Carla Drielly dos Santos Teixeira; Felipe Augusto Souza, Luiza Lima Dias, Anna Karolina Vilela Siqueira, Barbara De La Rosa Elia, Samuel Antunes de Souza
  • I – IV
  • PDF

Editorial

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Resenhas

Entrevistas

Publicado: 2020-09-30

Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares | Laurentino Gomes

Laurentino Gomes, autor de 1808, 1822 e 1889, lançou em 2019 seu novo trabalho: Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares, volume 1. Trata-se do primeiro volume de uma trilogia, fruto de uma pesquisa de seis anos que passou por três continentes (África, América e Europa). Seu objetivo é narrar a história da escravidão pelo viés de longa duração, apresentando diferentes perspectivas historiográficas, a pluralidade de sujeitos históricos e polêmicas. A narrativa de Gomes é marcada pela comunhão de revisão bibliográfica temática com escrita jornalística, conectando apontamentos fundamentais do tempo historiográfico à fluidez narrativa. O foco territorial passa pelas histórias do continente africano (enfatizando Angola), Brasil e Portugal. Seu ponto de partida é o primeiro leilão de escravos em Portugal, em 1444, e finaliza com a mudança de ênfase do trabalho escravo no Brasil no século XVIII, o qual passou do cenário da lida com cana-de-açúcar para a mineração de ouro. Leia Mais

Ideias para adiar o fim do mundo | Ailton Krenak

O livro Ideias para adiar o fim do mundo (2019), resulta da adaptação de duas palestras e uma entrevista, realizadas em Portugal por Ailton Krenak. Detentor do título doutor honoris causa concedido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o autor, nascido na região leste do estado de Minas Gerais, possui uma importante trajetória na luta pelos direitos das populações indígenas no Brasil e pertence ao grupo étnico Krenak, que habita o Vale do Rio Doce. Os capítulos da obra receberam os títulos dos respectivos trabalhos em que foram baseados: “Ideias para adiar o fim do mundo”, ministrado em uma apresentação no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, em março de 2019; “Do sonho e da Terra”, apresentado em maio de 2017 no Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa – publicado inicialmente pela revista Flauta de luz (n. 6, 2019); e, por fim, “A humanidade que pensamos ser”, a partir de entrevista concedida também em maio de 2017, em Lisboa, cujo texto foi produzido inicialmente para o catálogo da conferência-dançada Antropocenas (2017). Leia Mais

Feminismos e Democracia | Joana Maria Pedro e Jair Zandoná

Publicado em 2019, o livro organizado por Joana Maria Pedro e Jair Zandoná conta com dezoito capítulos estruturados em sínteses-soma. Engloba temas diversos para repensarmos a amplitude entre os Feminismos, Democracia –ou na ausência dela- e a própria História. Discorre-se, com isso, o quão plural é o Feminismo -por isso Feminismos- (PAULA; GALHERA, 2019) e a importância das reivindicações e dos debates, tanto em períodos ditatoriais, como em períodos democráticos no sub- Continente. Assim, Dora Barrancos, Olga G. Duhart, Roselane Neckel, Mariana Joffily e Maurício Cardoso evidenciam a relação entre Feminismos e Democracia nos dias atuais. Cristina Scheibe Wolff, Soraia C. de Mello, Jair Zandoná, Heloneida Studart, Ana R. Fonteles Duarte e Lorena Zomer os analisam diante do cenário ditatorial na América Latina. Já Cintia Lima Crescêncio por meio da perspectiva do humor, Elias Ferreira Veras pela operação historiográfica, Claudia Regina Niching pelo Direito, Karina J. Woitowicz diante do Jornalismo, Silvana Maria Pereira pela Medicina, História e Gênero, Ana Maria Marques e Giseli Origuela Umbelino finalizam pela perspectiva do estudo das mulheres na História dentro das escolas. Uma obra que reflete, sem dúvidas, acerca dos Feminismos na História de ontem e de hoje, com debates dos mais diversos Feminismos existentes. Leia Mais

Marx Selvagem | Jean Tible

A relação entre o pensamento marxiano e as cosmopolíticas indígenas ainda não foi suficientemente escrutinada nas ciências sociais ou na historiografia brasileiras por um conjunto de razões: primeiro, as sociedades indígenas não foram levadas a sério durante muito tempo; segundo, o alegado caráter eurocêntrico das análises de Marx. Por fim, cabe observar que o marxismo não é uma base teórica usualmente empregada pelos historiadores da “Nova História Indígena”.

Mas é justamente este diálogo improvável que encontramos no livro Marx Selvagem, de Jean Tible. Originalmente tese de doutorado, Marx Selvagem foi publicado pela primeira vez em 2011, conhecendo acolhida positiva. Em 2018 foi publicada a terceira edição do livro, revista e ampliada. Leia Mais

História, mídias e culturas políticas | Temporalidades | 2020

Em 20 de janeiro de 2021, vemos o fim de um ciclo da política nacional-populista de direita azeitada pelo, agora, ex-presidente Donald J. Trump. Sem dúvida, um fato a trazer certo alívio aos defensores da democracia, quer estadunidenses quer no mundo. Entre outras mazelas derivadas de sua política interna e externa, o Governo Trump se notabilizou como um dínamo na produção e difusão, via redes sociais virtuais, das chamadas fake news – ou “fatos alternativos”, segundo preferência manifestada por assessora daquele governo em seu início.

Notícias e dados falsos, mentirosos e manipulados difundidos por aquele governo sob a ótica de culturas políticas nutridas em odioso revisionismo e torpe negacionismo, vazados em termos de patriotadas, xenofobia, fundamentalismo cristão, machismo, posições antiecológicas e contrárias ao multilateralismo. Aliás, expediente que já tinha sido empregado por Trump quando da sua campanha eleitoral, cuja consecução contou com estratégias do uso e da manipulação de logaritmos, o que em muito possibilitou a ele ascender à Presidência. Dinâmica comunicacional a ser repetida por políticos em vários países com iguais naipes político-ideológicos ao de Trump, quer em processos eleitorais quer em suas presidências nacionais, como é o caso do atual presidente do Brasil. Assim, a oposição de políticos antidemocratas e reacionários ao fazer da televisão, rádio, jornais e revistas avançava em forma e substância. Como em tempos de guerra, a primeira vítima fora a verdade. Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.12, n.1, 2020.

Edição 32 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 12, n.1 (jan./abr. 2020)

Expediente

Pré-textuais

  • Allysson Fillipe Oliveira Lima; Ana Luísa Ennes Murta e Sousa, Gisele Gonçalves Dias Pinto , Henrique Rodrigues Caldeira, Kelly Morato de Oliveira, Laura Jamal Caixeta
  • I – IV
  • PDF

Editorial

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Resenhas

Entrevistas

Publicado: 2020-05-31

Verdugos impunes. El franquismo y la violación sistemática de los derechos humanos | José Babiano, Gutmaro Gómez, Antonio Míguez e Javier Tébar

En España el debate académico sobre los derechos humanos y libertades ciudadanas no se produjo de forma real hasta finales de la década de 1970, el “decalaje” entre las instituciones españolas y su entorno europeo era más que evidente. La creación de un marco de investigación histórica sobre la vulneración de derechos humanos surgió en el contexto del debate de la aprobación de la (ominosa) Ley de Amnistía (46/1977, 15 de octubre). Ley por la cual se exoneraban toda la responsabilidad judicial a los crímenes de lesa humanidad cometidos durante la dictadura del general Franco. Esta publicación es una de las plataformas de lanzamiento de las corrientes de investigación comprometidas con las víctimas de la represión franquista. Verdugos impunes es una obra clave para comprender la naturaleza orgánica de la dictadura, los fundamentos ideológicos de las políticas de odio y la emanación de la jurisprudencia vulneradora de los derechos humanos más básicos.

La obra colectiva (Barcelona: Ediciones Pasado y Presente) alberga un compromiso claro con los valores del movimiento español de la Memoria Histórica. Los autores son especialistas en el campo de la historia política del siglo XX: José Babiano Mora (director del Archivo y Biblioteca de la Fundación 1º de Mayo), Gutmaro Gómez Bravo (Departamento de Historia Moderna y Contemporánea de la Universidad Complutense de Madrid), Antonio Mínguez Macho (Departamento de Historia de la Universidade de Santiago de Compostela) y Javier Tébar Hurtado (departamentos de Historia de la Universitat de Barcelona y la Universitat Autónoma de Barcelona). El cuerpo de la publicación se compone de cinco bloques temáticos y un apartado de conclusiones generales. En los epígrafes finales, destaca el índice alfabético, ya que es muy extenso y facilita mucho el rastreo de conceptos históricos, personalidades, siglas y referencias jurídico-legislativas. Leia Mais

A cruel pedagogia do vírus | Boaventura de Sousa Santos

Diante das incertezas, avanços e recuos no enfrentamento ao novo coronavírus no mundo, Boaventura de Sousa Santos elabora o livro publicado em 2020, intitulado “A cruel pedagogia do vírus”. Trata-se de um livro com poucas páginas para ler, com uma escrita simples e de fácil compreensão, onde o autor, em 32 páginas, apresenta suas opiniões sobre os ensinamentos que decorrem da pandemia do coronavírus, assim como da adaptação da sociedade diante da doença e de quem está em melhores condições para seguir as medidas de prevenção e recomendações da OMS perante a pandemia. No final da obra, o autor se permite, igualmente, a pensar o “futuro” que se apresenta vestido de uma utopia que ele chama “normalidade”.

No trabalho em questão, Boaventura de Sousa Santos não se esgota, uma vez que apresenta as entrelinhas, faz questionamentos e permite ao leitor a desenhar possíveis cenários diante da realidade que se vive atualmente. Partindo dessa premissa e da experiência vivida desde a declaração da pandemia e das distintas experiências da quarentena, “A cruel pedagogia do vírus” é uma proposta realista e hostil, uma vez que o vírus diante de vicissitudes cruéis e até fatais vai permitindo aos sobreviventes a compreender o mundo em que vivem e a pensar no tipo de sociedade que pretendem. Leia Mais

História e ciência em tempos de pandemia: reflexões e perspectivas | Temporalidades | 2020

Ciência, História e Sociedades: múltiplas possibilidades

A reflexão sobre História e Ciência em tempos de pandemia, tecida pelas múltiplas perspectivas e análises que compõem o presente dossiê temático da Revista Temporalidades, traz o convite para lançarmos novos olhares sobre a sociedade em que vivemos, seus códigos culturais e o papel da ciência e dos estudos das humanidades na compreensão de momentos de crises mundiais. A própria temporalidade da publicação acompanha um contexto de transformações nas estruturas econômicas, sanitárias e políticas, marcado pelo rápido alastramento de uma pandemia que trouxe como um dos grandes desafios o de se pensar o papel da ciência e do negacionismo como chaves de respostas às demandas sociais. A pandemia do COVID-19 apresenta suas peculiaridades pela complexidade do cená Leia Mais

Ganhadores: a greve negra de 1857 na Bahia | João José Reis

Vinte e seis anos depois da publicação de um artigo no dossiê na Revista USP intitulado “A greve negra de 1857 na Bahia”, o historiador baiano João José Reis lançou resultados mais amplos desta ambiciosa pesquisa em “Ganhadores”, livro de subtítulo homônimo ao texto do dossiê. No próprio artigo da década de 1990 foi pontuado que aquele era só parte de “um estudo mais amplo” (REIS, 1993, p.8) que ele estava realizando. Portanto, o livro é o produto deste esforço quase trintenário do historiador, que revela o aprimoramento da análise das fontes ao longo deste intervalo, além do enriquecimento da perspectiva acerca do seu objeto, seja pelas outras contribuições historiográficas que acompanharam o processo desta pesquisa até a conclusão da obra, seja pela adição de novas fontes ao trabalho iniciado anteriormente.

O exercício do ganho entre os escravizados e libertos era comum desde o século XVIII e em outras áreas além da Bahia. Ele consistia na prática de venda, por parte do proprietário ou do próprio liberto ou livre, do seu serviço para variadas atividades na cidade, como carregamentos, transportes de palanquins, venda de alimentos, entre outras atividades. Nesta lógica, mesmo o escravizado receberia uma remuneração pela função de ganho desempenhada. João José Reis outras especificidades desta dinâmica laboral fronteiriça entre a escravidão e a liberdade no espaço de Salvador oitocentista, onde há a particularidade dos “cantos de trabalho”. Eles consistiam em agrupamentos de trabalhadores, além de constituir também mais um espaço associativo negro. Inicialmente, se compunham exclusivamente de africanos que se reuniam em locais definidos onde ofereceriam seus serviços. Tal organização seguia critérios de gênero, etnicidade, normas internas e públicas, definidas por posturas. Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.11, n.3, 2020.

Edição 31 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 11, n.3 (set./dez. 2019)

Expediente

Pré-textuais

  • Allysson Fillipe Oliveira Lima; Ana Luísa Ennes Murta e Sousa, Gisele Gonçalves Dias Pinto, Henrique Rodrigues Caldeira, Kelly Morato de Oliveira, Laura Jamal Caixeta
  • I – IV
  • PDF

Editorial

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Resenhas

Entrevistas

Publicado: 2020-01-31

Nas tramas da “cidade letrada”: sociabilidade dos intelectuais latino-americanos e as redes transnacionais | Adriane Vidal Costa

O movimento das ideias na América Latina (sua produção, circulação e apropriação) e a atuação dos sujeitos que lhes dão forma, os intelectuais, são agentes importantes para a compreensão da história da região e têm recebido atenção dos estudiosos há pelo menos algumas décadas. Sujeitos forjadores de discursos, os intelectuais agem na cultura (muitas vezes de forma estreita com o poder, como críticos ou sustentadores de sua ideologia), mobilizando signos para a transmissão de mensagens a serem decodificadas e/ou apropriadas. Na dinâmica entre matéria e subjetividade, operam a partir de relações, conectando espaços e sujeitos por meio de práticas individuais ou coletivas. As redes por eles gestadas transpassam frequentemente o espaço nacional, contribuindo para o questionamento da gênese de um pensamento, ao mesmo tempo em que possibilitam uma abertura contextual ao pesquisador que se debruçar sobre elas.

Essas reflexões são proporcionadas ao leitor de Nas tramas da “cidade letrada”: sociabilidade dos intelectuais latino-americanos e as redes transnacionais. Organizada por Adriane Vidal Costa, docente do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Claudio Maíz, professor titular em Literatura Hispanoamericana Contemporánea na Universidad Nacional de Cuyo (UNCuyo), a obra é uma iniciativa do Núcleo de pesquisa em História das Américas (NUPHA) e do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, publicada no ano de 2018 como parte da coleção História da Editora Fino Traço. Leia Mais

Desaparecer de si: Uma tentação contemporânea | David Le Breton

A obra analisada é: “Desaparecer de si: Uma tentação contemporânea” sendo ela constituída por 223 páginas, e encontra-se dividida em 6 capítulos. David Le Breton é um professor de sociologia na Universidade de Strasbourg II e membro do laboratório “Culturas e sociedades na Europa”, do Instituto Universitário da França e do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Strasbourg. É um dos autores contemporâneos mais conhecidos por sua série de obras publicadas na França, como também por sua especialização em representações do corpo humano. Seu trabalho é sempre constituído por uma busca pessoal com raízes na adolescência, portanto, o autor tem grande influência nos estudos sobre o corpo e corporeidade (SOUZA, 2009).

Acredita-se que a obra de Le Breton a qual é tratada na presente discussão pode ser pensada na questão do indivíduo como um ser sem perspectiva e, portanto, fora dos movimentos de vínculos sociais. Isto é, o autor oferece uma compreensão do por que necessitamos do “desaparecer de si” temporariamente, para assim surgir a vontade de continuar viver, assim como desenvolvemos uma “paixão pela ausência”. Portanto, ao longo dessa resenha é perceptível uma referência as diversas formas do desaparecimento de si, perante a falta de desejos e da perca de perspectiva, isto é, as tentativas de fuga da realidade. Leia Mais

A trajetória de um libertário: Pietro Gori na América do Sul (1898-1902) | Hugo Quinta

Hugo Quinta publica sua obra como resultado de dissertação de mestrado defendida em 2017 no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latinoamericanos da Universidade Federal da Integração Latinoamericana (UNILA). O autor atribui ao italiano Pietro Gori (1865-1911) um papel de influência nos círculos intelectuais anarquistas, socialistas e da criminologia de Buenos Aires ao final do século XIX e início do século XX (2018, p.28-29), bem como de outros países da América Latina, quando veio da Itália em viagem que durou cerca de três anos. Vejamos um pequeno trecho da introdução da obra:

Um dos primeiros feitos de Gori ao chegar em Buenos Aires, em junho de 1898, é a fundação da CM [Criminalogía Moderna, revista]. Ele não abandona a militância e propaganda anarquista enquanto dirige a revista. Na verdade, a energia imprimida por ele está, supostamente, equacionada entre a militância, ciência e a arte. Ainda assim, o círculo de atuação não está restrito à cidade. Ele percorre o país a proferir conferências, a visitar prisões e a apresentar suas peças teatrais nos círculos filodramáticos anarquistas. Nesse viés […] buscamos compreender a polivalência de sua influência no campo intelectual e cultural anarquista em Buenos Aires (QUINTA, 2018, p.28-29). Leia Mais

A filosofia natural de Benjamin Franklin: traduções de cartas e ensaios sobre a eletricidade e a luz | Breno Arsioli Moura

Em A filosofia natural de Benjamin Franklin, Breno Moura (2019) traz sete traduções de cartas e ensaios redigidos ao longo do século XVIII pelo filósofo natural norte-americano Benjamin Franklin. Além de traduzir os escritos, Moura discute o contexto das produções, a sua importância para a filosofia natural e as implicações que tais textos tiveram na vida de Franklin. Após uma breve apresentação com a síntese biográfica do cientista, o livro conta com dois capítulos introdutórios que ajudam o leitor a situar a relevância de Franklin na filosofia natural do século XVIII e na política dos Estados Unidos da América (EUA), explicando também o contexto dos estudos sobre a eletricidade e a luz naquele século. Em seguida, o autor expõe as traduções de seis cartas e um ensaio, precedidas por uma breve explicação acerca do conteúdo encontrado em cada obra, de forma a auxiliar o leitor na compreensão dos escritos. Por fim, Moura faz algumas considerações finais sobre a importância de se estudar a história de Benjamin Franklin para além de sua carreira política, entendendo que a “filosofia natural de Franklin influenciou gerações de filósofos naturais do século XVIII” (MOURA, 2019, p.145), ainda que esse lado de sua biografia seja geralmente simplificado em prol de sua imagem como homem político. Leia Mais

Diálogos suburbanos: Identidades e lugares na construção da cidade | Joaquim Justino dos Santos, Raffael Mattoso e Teresa Guilhon

Pensar a construção da cidade a partir de seus espaços de exclusão social e marginalização das populações pobres, eis aqui o objetivo central e transversal da obra organizada em conjunto pelos pesquisadores e professores Joaquim Justino dos Santos, Rafael Mattoso e Teresa Guilhon e que conta com colaborações de diversos profissionais e estudiosos dos subúrbios cariocas, oriundos, esses últimos, dos mais variados campos de estudo e atuação profissional. Antes de começarmos a destrinchar a obra, gostaríamos de apresentar um pouco da trajetória dos idealizadores desse projeto. Joaquim Justino dos Santos é formado em História pela UFF, mestre e doutor em Urbanismo pelo PROURB/FAU-UFRJ, tendo atuado durante vários anos como gestor público; Raffael Mattoso é formado em História pela UFRJ, mestre em História Comparada pelo PPGHC-UFRJ, doutorando em História da Cidade pelo PROURB-UFRJ e professor das redes pública e privada do Rio de Janeiro; e, Teresa Gilhon é formada em Comunicação Visual pela UFRJ, mestre em Bens Culturais e Projetos sociais pela FGV e é atualmente pesquisadora associada ao Laboratório de Estudos Urbanos do Centro de Pesquisa e Documentação de História Comparada do Brasil (CPDOC). Além de artigos de alguns dos organizadores, a obra ainda traz colaborações de professores, arquitetos, geógrafos, historiadores e cientistas políticos. Com relação aos autores, destacaremos aqui apenas suas áreas de formação, a fim de clarearmos um pouco o local de fala dos respectivos colaboradores. Ressaltamos de antemão que, o caráter interdisciplinar, presente nesse empreendimento, não se dá apenas pela filiação intelectual e profissional de seus produtores, como também pela série de enfoques, conceitos e métodos que são empregadas nas construções das narrativas sobre os subúrbios cariocas. Leia Mais

Pensar e fazer cidades: história urbana e patrimônio cultural | Temporalidades | 2020

A cidade, na sua forma contemporânea, apresenta uma série de desafios à pesquisa histórica. Primeiramente pelas múltiplas e diversas realidades que ela concentra, densamente, em um mesmo recorte geográfico, mas também pelas complexas temporalidades que a atravessam, pelo seu modo veloz de expansão e transformação, marcado por uma sucessão ininterrupta de obras, demolições, reformas e remoções. O primeiro olhar direcionado ao centro de uma grande metrópole, neste início de século XXI, avista um amontoado de edifícios imponentes, andaimes e guindastes. Uma paisagem de concreto, luzes e vidraças que, como diria Walter Benjamin, parece em certos aspectos “já ser uma ruína” antes mesmo de começar a desmoronar (BENJAMIN, 2013, p. 195). Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.11, n.2, 2019.

Edição 30 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 11, n.2 (mai./ago. 2019)

Expediente

Pré-textuais

  • Allysson Fillipe Oliveira Lima; Ana Luisa Ennes Murta e Murta, Douglas Lima de Jesus, Gisele Gonçalves Dias Pinto, Henrique Rodrigues Caldeira, Kelly Morato de Oliveira, Laura Jamal
  • PDF

Editorial

Dossiê Temático

Artigos Livres

Entrevistas

Publicado: 2019-10-07

Heterocronias: estudos sobre a multiplicidade dos tempos históricos | Marlon Salomon

[…] o tempo é quanto dura um pensamento –

Clarice Lispector, Água viva.

Heterocronias: estudos sobre a multiplicidade dos tempos históricos, lançado em 2018, é um livro que apesar de suas muitas vozes possui uma sintonia. Aliás, é uma obra que através de suas muitas vozes alcança a sintonia. O livro é composto por doze estudos, uma entrevista com o filósofo Jacques Rancière e a tradução de um texto de Bachelard, ainda inédito em língua portuguesa – um dos inauguradores deste problema da multiplicidade temporal. Ao todo, são quatorze vozes diferentes ressoando; de historiadores e filósofos, brasileiros e estrangeiros.

A obra contrapõe-se a uma imagem-identidade de tempo já criticada pela filosofia e pela história desde o entreguerras, no entanto, essa crítica será mais desenvolvida na história a partir das décadas de 1970 e 1980, e que persiste ainda em ser pensada em diversos campos do saber dessa mesma maneira: um tempo fluido, linear, contínuo, cumulativo, sincrônico, único, progressivo. Seus estudos evidenciam a realidade de um tempo pensado, sentido e vivido como um tempo múltiplo, plural, descontínuo, desordenado, não-homogêneo, não-linear. Leia Mais

A Ciência na História: construindo e desconstruindo fronteiras | Temporalidades | 2019

A História das Ciências enquanto disciplina e subcampo da História se institucionaliza, tomando a forma e o sentido como a entendemos hoje, principalmente, a partir da segunda metade do século XX.

No entanto, a obra pioneira de William Whewell (1794-1866), History of the Inductive Sciences, de 1837, já apontava na direção da criação de uma disciplina dedicada ao estudo da história das ciências, que o positivista Auguste Comte (1789-1857) já havia sugerido no início do século XIX. O próprio Whewell havia cunhado o termo “cientista” para ser referir àqueles que até então eram conhecidos como “filósofos naturais”, enquanto Comte havia criado a primeira classificação das “ciências positivas” até então conhecidas. Ernst Mach (1838-1916), por sua vez, lecionou a primeira cadeira de “história e filosofia das ciências indutivas”, entre 1895 e 1901, na Universidade de Viena. Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.11, n.1, 2019.

Edição 29 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 11, n.1 (jan./abr. 2019)

Expediente

Pré Textuais

  • Luiz Felipe Anchieta Guerra
  • I-III
  • PDF

Editorial

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Entrevistas

Publicado: 2019-05-31

Pensar a educação na História: intelectuais, práticas e discursos | Temporalidades | 2019

Um “falso problema, de uma questão circular”! Nesses termos que o pesquisador português Antonio Nóvoa, ainda no final da década de 1990, procurava se desembaraçar de um conjunto de questões aludidas como polêmicas no bojo de investimentos de avaliação que eram produzidos sobre o acúmulo de pesquisas em História da Educação, uma área de estudos então em expansão (CAMBI, 1999, p. 12). O ponto central da pretensa controvérsia estava em delimitar se as pesquisas histórico educacionais correspondiam a um dos domínios da História ou se estabeleceriam uma das especializações das Ciências da Educação; e, consequentemente, se a tarefa de investigar a historicidade dos fenômenos educativos caberia aos historiadores profissionais ou aos pesquisadores em Educação. Aquele era um momento sensível para a área. O acúmulo de um processo de renovação teórico-metodológico, possível pela intensificação do contato e dos esforços de assimilação dos movimentos de renovação historiográfica, aportaram contribuições que permitiram deslocamentos nas definições da especificidade e pertinência da História da Educação, e que, por consequência, impactaram nas expectativas em relação ao conhecimento e as respostas que era capaz de produzir. (NUNES e CARVALHO, 2005) Leia Mais

Ciência, História e Natureza: objetos e possibilidades | Temporalidades | 2019

“Todas as ciências são humanas!”

“Todas as ciências são humanas!”. Esta frase deu a tônica nas manifestações contra os cortes financeiros na área da educação brasileira no dia 30 de maio de 2019. Para além do sentido inclusivo, – por fazer referência explícita ao apoio à educação pública, gratuita, de qualidade e para todos – a frase carrega outros sentidos e um deles diz respeito a quem pratica a ciência. Se a ciência é praticada por humanos e a História se encarrega de estudar as ações do homem no tempo, logo as práticas científicas são objetos do campo disciplinar da História. De maneira semelhante à história tout court, a narrativa sobre a história das ciências por muito tempo esteve eivada pelo mito fundador e por escritas laudatórias, mas que em determinado momento serviu aos interesses de conformar uma visão específica dos acontecimentos. Na segunda metade do século XX e início do século XXI, o cenário acadêmico vem amadurecendo análises críticas dos processos de produção do conhecimento considerando os aspectos sociais no fazer científico. Os artigos que abordam recortes espaciais e temporais distintos neste dossiê fazem emergir essas questões a partir de pesquisas empíricas e teóricas, mas principalmente apontando diferentes perspectivas interpretativas. Leia Mais

Estranhos à nossa porta | Zygmunt Bauman

Zygmunt Bauman foi um filósofo e sociólogo polonês radicado no Reino Unido, tendo falecido em janeiro de 2017. Tornou-se um intelectual de ampla presença dentro e fora do meio acadêmico – fama esta que só veio surgir com o avançar da idade, devido a suas intervenções públicas e publicações de vários títulos de divulgação do seu pensamento, muitas delas com uma linguagem distante do hermetismo tão característico de alguns ciclos das humanidades, e distante até da escrita dos seus primeiros livros.

Os temas por ele abordados e os conceitos desenvolvidos tornaram-se referência para professores, estudantes, pesquisadores e analistas. O estudo da modernidade e suas características contemporâneas, marcadas pelo conceito de liquidez, pela finidade das certezas e por um mundo em movimento tão veloz que anularia qualquer alicerce de estabilidade são alguns dos exemplos mais reconhecidos e aplicados (BAUMAN, 2001; 2007). Leia Mais

Cultura Material e Impressa na construção da História | Temporalidades | 2018

O que se imprime e o que se lê?

Oportuna é a proposta deste dossiê da Temporalidades de evidenciar reflexões que privilegiem o diálogo temático da cultura impressa com a perspectiva de análise historiográfica que busca na leitura dos objetos o caminho instrumental da compreensão histórica. Os elementos materiais da cultura – como prefiro nominar o que normalmente se chama de “cultura material” – apresentam-se ao historiador como documentos de realidades sociais. Não são apenas simples reflexos da construção social, mas, repertórios de objetos criados e feitos pelo homem e integrados em sua constituição histórica. Os artefatos não são, ainda, simples detentores de sentidos sociais deslocados de seus usos: são enunciados que dão sentido às realidades, atribuem valor às coisas dos homens, induzem e instrumentalizam as práticas sociais. Leia Mais

Temporalidades | Belo Horizonte, v.7, n.1, jan./abr. 2015 / v.10, n.1, jan./abr. 2018.


Temporalidades. Belo Horizonte, v.10 n. 1, 2018.

Publicado: 2018-05-29

Expediente

  • Expediente
  • Ana Carolina Rezende Fonseca, Felipe Silveira de Oliveira Malacco, Gislaine Gonçalves Dias Pinto, Henrique Brener Vertchenko, Isabela Cristina Rosa, Jéssica Bley da Silva Pina, João Batista Teófilo Silva PDF

Editorial

  • Editorial
  • Ana Carolina Rezende Fonseca, Isabela Cristina Rosa, Jéssica Bley da Silva Pina |  PDF

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Resenhas

Traduções

Entrevistas


Temporalidades. Belo Horizonte, v.9 n.3, 2017.

Publicado: 2018-01-30

Expediente

Ficha Catalográfica, Expediente e Lista de Pareceristas

  • Jéssica Bley da Silva Pina, Felipe Silveira de Oliveira Malacco, Henrique Brener Vertchenko, João Teófilo, Gislaine Gonçalves Dias Pinto, Ana Carolina Rezende, Isabela Rosa PDF

Editorial

  • Editorial
  • Felipe Silveira de Oliveira Malacco, Gislaine Gonçalves Dias Pinto |  PDF

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Entrevistas


Temporalidades. Belo Horizonte, v.9, n.2, maio/agor. 2017.

Publicado: 2017-09-30

Expediente

Ficha Catalográfica, Expediente e Lista de Pareceristas

  • Jéssica Bley da Silva Pina, Henrique Brener Vertchenko, João Teófilo, Gislaine Gonçalves Dias Pinto, Ana Carolina Rezende, Isabela Rosa, Felipe Silveira de Oliveira Malacco PDF

Editorial

  • Editorial
  • Henrique Brenner Vertchenko, João Batista Teófilo Silva |  PDF

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Entrevistas


Temporalidades. Belo Horizonte, v.9, n.1, jan./abr., 2017.

Publicado: 2017-05-31

Expediente

Ficha Catalográfica, Expediente e Lista de Pareceristas

  • Revista Temporalidades PDF

Carta ao leitor

Editorial

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Resenhas

Entrevistas


Temporalidades. Belo Horizonte, v.8, n.3, set./dez., 2016.

Publicado: 2017-01-31

Editorial

  • Editorial
  • Átila Augusto de Freitas, Marcus Vinicius Reis, Natália Ribeiro Martins |  PDF

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Resenhas

Entrevistas

Expediente


Temporalidades. Belo Horizonte, v.8, n.2, maio/ago., 2016.

Publicado: 2016-09-30

Editorial

Editorial – Para além das fronteiras: histórias transnacionais, conectadas, cruzadas e comparadas.

  • Marina Helena Meira Carvalho, Thiago Henrique Oliveira Prates |  PDF

Apresentação

Dossiê Temático

Entrevistas

Artigos Livres

Resenhas


Temporalidades. Belo Horizonte, v.8, n.1, jan./abr., 2016.

Publicado: 2016-05-30

Editorial

EDITORIAL

  • Isabela de Oliveira Dornelas, Pedro Henrique Resende, Marina Helena Meira Carvalho |  PDF

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Entrevistas

Resenhas

Transcrição Documental Comentada


Temporalidades. Belo Horizonte, v.7, Suplemento, 2015.

Publicado: 2016-02-28

EPHIS – Editorial

  • Apresentação
  • Alexsandra França, Bruno Duarte Guimarães Silva, Bruno Vinícius Leite de Morais, Denise Aparecida Souza Duarte, Fábio Baião, Felipe Silveira de Oliveira Malacco, Gislaine Gonçalves, Luiza Rabelo Parreira, Maíra Nascimento, Pamela Naumann Gorga, Paulo Renato Silva de Andrade, Raquel Marques, Weslley Fernandes Rodrigues PDF

EPHIS – Simpósios Temáticos e Comunicações Livres

  • Simpósios Temáticos 01 a 20
  • Bruno Duarte Guimarães Silva, Denise Aparecida Sousa Duarte, Felipe Silveira de Oliveira Malacco, Paulo Renato Silva de Andrade, Alexsandra Pimentel França, Bruno Vinícius Leite de Morais, Fábio Eduardo de Araújo Baião, Gislaine Ginçalves Dias Pinto, Luiza Rabelo Parreira, Maíra Máximo Nascimento, Aderivaldo Ramos Santana, Raquel Marques Soares, Weslley Fernandes Rodrigues
  •  STs 01 a 05
  •  STs 06 a 10
  •  STs 11 a 15
  •  STs 16 a 20
  • Comunicações Livres
  • Bruno Duarte Guimarães Silva, Denise Aparecida Sousa Duarte, Felipe Silveira de Oliveira Malacco, Paulo Renato Silva de Andrade, Alexsandra Pimentel França, Bruno Vinícius Leite de Morais, Fábio Eduardo de Araújo Baião, Gislaine Gonçalves Dias Pinto, Luiza Rabelo Parreira, Maíra Máximo Nascimento, Pamela Emilse Naumann Gorga, Raquel Marques Soares, Weslley Fernandes Rodrigues  PDF

Temporalidades. Belo Horizonte, v.7, n.3, set./dez., 2015.

Publicado: 2016-01-30

Editorial

Editorial

  • Márcio Mota Pereira, Rafael Vinícius da Fonseca Pereira |  PDF

Artigos Livres

Resenhas


Temporalidades. Belo Horizonte, v.7, n.2, maio/ago., 2015.

Publicado: 2015-09-30

Editorial

Editorial

  • Cássio Bruno de Araújo Rocha, Valdeci da Silva Cunha |  PDF

Apresentação

Dossiê Temático

Entrevistas

Artigos Livres

Resenhas


Temporalidades. Belo Horizonte, v.7, n.1, jan./abr., 2015.

Publicado: 2015-05-30

Editorial

Editorial

  • Conselho Editorial |  PDF

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Entrevistas

Resenhas

Mitos e Imaginários Políticos na História | Temporalidades | 2018

A historiografia política (ou sobre o político) tem passado por importantes transformações desde o século XX. Essas mudanças começaram a se desenvolver principalmente a partir dos anos de 1960, quando as até então inabaláveis certezas de cunho sociológico ruíam. Nesse contexto, muitos historiadores começaram a questionar as interpretações que se fixavam nas grandes regularidades sociais analisadas de forma sincrônica.[1] Essas interrogações ajudaram a relativizar a concepção relativamente difundida até então, de que a história política seria superficial e anedótica, principalmente quando contrastada com as análises centradas nas questões sociais e econômicas. Estas, consideradas mais elaboradas, com explicações cientificamente validadas, ultrapassariam o imediatamente constatável, superando também as manipulações políticas típicas da estruturação e da manutenção do poder. Leia Mais

Provas de liberdade: uma odisseia atlântica na era da emancipação | Rebeca J. Scott, Jean M. Hébrard

Fruto de uma extensa pesquisa realizada ao longo de sete anos por Rebecca J. Scott e Jean M. Hébrard, Provas de liberdade: uma odisseia atlântica na era da emancipação, traz a saga da família Vincent/Tinchant, apresentada ao longo de nove capítulos e um epílogo de tirar o fôlego. Desde já, saliento que não consigo ver de outro modo senão como excepcional o modo como estes experientes pesquisadores conseguiram seguir os rastros deixados por estes “sobreviventes do Atlântico”.

Logo no início do livro, os autores nos informam que não consideraram o itinerário dos Vincent/Tinchant como típico ou representativo, o que podemos constatar ao longo da leitura. O fio inicial para a investigação foi uma carta escrita por Édouard Tinchant, um fabricante de charutos residente da Bélgica, endereçada ao general Máximo Gómez, encontrada no Arquivo Nacional de Cuba, na qual ele solicita a autorização para pôr seu nome na marca de charutos que pretendia lançar e, para tanto, não se furtou em usar sua capacidade discursiva para relatar aspectos de sua vida familiar enfatizando uma conexão entre luta por direitos civis e igualdade racial no mundo atlântico do século XIX – a Guerra Civil e a Reconstrução dos Estados Unidos (1861-1877), a Revolução Francesa (1848) e a Revolução do Haiti (1791-1804). A trilha seguida por eles nos conduziu até o século XX abrindo uma janela para que pudéssemos ver os desdobramentos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na vida de pessoas que tinham “cor”, como Marie-José Tinchant. Leia Mais

Propósitos e Propostas para a História da Ciência | Temporalidades | 2018

A História da Ciência sempre foi um campo aberto à interdisciplinaridade, ao diálogo entre historiadores e demais pesquisadores e, sobretudo, ao diálogo e ao questionamento acerca de sua identidade, de sua função, de sua construção narrativa e de sua ação histórica. O dossiê que agora tenho a honra de apresentar trouxe, em sua proposta inicial, tais indagações: Qual a especificidade da História da Ciência? Qual sua metodologia? Quais seus questionamentos teóricos? Qual seu olhar diante das fontes? O que a História da Ciência é capaz de fazer pelo e com o conhecimento? Longe de configurar-se como uma simples crise disciplinar de pouca monta para a História e seus praticantes, esse debate sobre si, sobre o lugar, sobre sua função, sobre seus praticantes e sobre suas características é marca indelével do fazer histórico, do métier do historiador e, portanto, da disciplina História. Sendo História, se a identidade da História da Ciência é forjada na sua própria indagação, no debate, nada mais salutar do que apresentar novos trabalhos como forma de revisitar essa identidade em constante discussão. É exatamente esse o passo que o dossiê “Propósitos e Propostas para a História da Ciência”, preparado pela dedicada equipe da Revista Temporalidades, dá ao apresentar 10 artigos de gradua(n)dos e pós-gradua(n)dos em História, em Filosofia, em Ciências e em História da Ciência. Antes de qualquer análise, vale destacar o interessante e diversificado perfil de autores e autoras que o presente dossiê oferece, marca típica dessa área do conhecimento. O leitor também perceberá que o debate disciplinar fica evidente nas distintas grafias utilizadas para determinar a própria área do conhecimento. Assim, por vezes grafa-se História da Ciência, noutras vezes seu o objeto de análise histórica vai ao plural e temos História das Ciências. É possível verificar, também, os destaques em maiúsculas e minúsculas (história das ciências, por exemplo); discussão que parece trivial, mas que poderia, muito bem, oferecer indícios sobre os diversos posicionamentos no debate disciplinar anteriormente mencionado. De qualquer forma, o que se apresenta aqui, entre propósitos e propostas, são histórias, no plural, nos plurais.

No primeiro artigo desta breve apresentação, Alexander Lima Reis e Millena Souza Farias, por meio de análise historiográfica, transitam entre periódicos, publicações de associações, livros e verbetes biográficos do século XIX, obras canônicas do século XX e bibliografia do recente início do século XXI que modifica a característica difusionista da história das ciências no Brasil. O autor e a autora não apenas destacam as formas pelas quais as ciências foram | são compreendidas e narradas ao longo dos quase três séculos de abrangência do trabalho, como também apresentam um verdadeiro desenho de algumas das principais alterações metodológicas que possibilitam a compreensão atual de ciência como sendo uma produção humana, social, política, cultura. Outra discussão historiográfica presente no dossiê pode ser encontrada no trabalho de Douglas Braga sobre o processo de institucionalização da medicina no Brasil ao longo do século XIX. Em sua análise, o autor apresenta algumas perspectivas sobre o referido processo de institucionalização, destacando e indagando tanto a concepção que apontava a medicina oitocentista como pré-científica, quanto a tendência de reduzir a comunidade médica do século XIX em torno de um bloco homogêneo e coeso, rotulado de higienista. Em linha semelhante de análise, o trabalho de Marcio Luiz Miotto apresenta algumas conseqüências institucionais do processo que vai da formação do profissional à atuação no campo da Psicologia, além de expor, por meio de três estudos de caso, uma discussão da tênue relação entre a História da Psicologia e áreas mais abrangentes do conhecimento, como a História da Filosofia e a História das Ciências.

A muito discutida interface entre a Educação e a história das ciências também marca presença no dossiê, mais especificamente, no artigo intitulado “Entre educação e ciência: discurso e atuação ambientalista de Angelo Machado (1974-2008)”, de Gabriel Schunk, e em “A utilização da história das ciências como instrumento facilitador para o aprendizado da física clássica no ensino médio”, dos autores Renan Alencar e Sérgio Yury Almeida da Silva. Seja pelo viés dos diferentes discursos da educação ambiental ou pelo uso da história das ciências como ferramenta metodológica facilitadora para o ensino de Física, cada texto, a sua maneira, vai discutir as concepções e fundamentos escolares da clássica, relevante e sempre atual relação entre o humano e a natureza.

Já no artigo de Vitor Claret Batalhone Júnior intitulado “Sob Ruínas e Atlas”, o leitor encontrará uma instigante análise sobre a produção intelectual do erudito britânico Samuel Purchas, análise que discute alterações ontológicas, epistemológicas, e suas relações com as noções ocidentais de tempo e espaço. Também debruçado sob os trabalhos de um personagem europeu, Weslley Oliveira Kettle apresenta as descrições naturais da capitania do Grão-Pará elaboradas pelo arquiteto bolonhês Antônio José Landi, com intuito de demonstrar como tais trabalhos fizeram parte de um propício projeto político, e não meramente científico, no contexto da colonização portuguesa na Amazônia. Em diálogo com a temática que relaciona os processos de colonização e as ciências, mas utilizando tratados náuticos para sua análise, o trabalho de Amanda Cieslak Kapp apresenta a relação entre teoria e prática na produção de conhecimento no cenário da expansão marítima durante a constituição do império espanhol no além-mar.

O leitor também encontrará uma análise sobre os desdobramentos da republicação de práticas e métodos agrícolas descritos, originalmente, por portugueses e brasileiros entre o final do século XVIII e o início do XIX. No trabalho de Janaina Salvador Cardoso é possível verificar o modo como as republicações no impresso O Auxiliador da Indústria Nacional contribuíram com o objetivo de promover a instrução de lavradores por meio de divulgação de práticas que melhoravam o aproveitamento de recursos naturais. Por último, e também utilizando fonte de jornal impresso, apresentamos o trabalho de Caroline Lisboa dos Santos Lima em que a autora estuda o projeto de saneamento do município de Passo Fundo à luz das notícias das páginas do periódico O Nacional. Destaca-se, na análise de Caroline Lisboa, posicionamentos diversos, interesses e preocupações com os recursos hídricos durante a execução do projeto de saneamento, discussão que termina por impactar, ainda hoje, o rio que abastece a região.

Diante desse diversificado passeio por temas, fontes, métodos, abordagens, discussões, propósitos e propostas da(s) história(s) da(s) ciência(s), resta o desejo de uma leitura prazerosa do dossiê que vem na sequência. Uma boa leitura.

Itabuna – BA

Francismary Alves da Silva – Universidade Federal do Sul da Bahia.


SILVA, Francismary Alves da. Apresentação. Temporalidades. Belo Horizonte, v.10, n.1, Jan./abr. 2018. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

130 anos da Abolição: História, luta e resistência escrava no Brasil | Temporalidades | 2017

No começo do século XIX, Brasil e Estados Unidos tinham, cada um, cerca de um milhão de escravos. No icônico ano de 1808, os Estados Unidos se fecharam para o tráfico de africanos, enquanto a chegada da corte portuguesa ao Brasil enrobustecia a aquisição de cativos. Nos anos seguintes, o Brasil absorveu mais dois milhões de escravizados (cerca de 737 mil deles ilegalmente depois de 1831), porém, chegou a fins dos anos 1850 com cerca de 1,7 milhões de escravos. Já os Estados Unidos, ao eclodir a Guerra Civil, tinham uma população que já passava dos quatro milhões de cativos. Fora a diferença de natalidade escrava entre as duas regiões, a disparidade de suas populações escravas conta algo sobre a natureza de cada sociedade. Ao contrário dos Estados Unidos, no Brasil, o sistema escravista produzia continuamente libertos, especialmente mulheres e crianças que contribuíam com a sua fecundidade para o crescimento da população fora do cativeiro.[1] Assim, os livres no Brasil nunca foram homogeneamente brancos e a presença ubíqua de negros alforriados ou nascidos em liberdade acenava uma possibilidade factível para parte dos escravos. Porém, a porta da liberdade era controlada pelos senhores, sendo seu privilégio conceder a alforria ou distribuir benesses entre os cativos – e esse era o lastro moral da sua posição. Efetivamente, os cativos foram capazes de reconhecer essa estrutura de poder e rejeitá-la ou lidar com ela. As cada vez mais comuns histórias de ascensão de ex-escravos à libertos e senhores de outros escravos são um testemunho poderoso da capacidade de aliciamento dos subalternos na sociedade escravista brasileira, na qual os senhores brancos eram a minoria demográfica.[2] Leia Mais

Revoltas e Revoluções no Século XX | Temporalidades | 2017

“– Senhor, o povo tomou a Bastilha.

– É uma revolta? – Não, Senhor, é uma revolução.”

O diálogo entre o Duque de Liancourt e Luís XVI, na manhã do dia 15 de julho de 1789, nos remete diretamente às questões do presente dossiê: Revolta e Revolução. Ao longo dos últimos dois séculos, ambas foram constantes. Os séculos XIX e XX podem ser descritos como os séculos das revoltas e revoluções.

A ideia da revolta sofreu poucas modificações ao longo deste período. Grosso modo, pode ser descrita como ação de contestação de um estado de coisas ou autoridade, uma insurreição, um levante. Suas marcas seriam a contestação que, mesmo quando vitoriosa, não objetiva organizar uma nova ordem social ou sistema político pelo recurso da violência. Neste sentido, marcaria mais um descontentamento, uma recusa de uma situação dada e menos uma proposta de transformação ou de futuro. O que não nos autoriza a considerá-las como irracionais ou como não informadas por uma lógica de ação. Em “A economia moral da multidão”, Thompson demonstra a existência de noções legitimadoras nos motins de subsistência na Inglaterra do século XVIII.[1] A suposição e o resgate das convicções e concepções que informavam as revoltas também se fazem presentes nos estudos de Rudé e Hobsbawm [2] e são constitutivos da chamada História social.[3] Leia Mais

Brasil: uma biografia | Lilia Moritz Schwarcz

Brasil: uma biografia [1], obra escrita em conjunto pela historiadora Heloísa M. Starling [2] e pela antropóloga e historiadora Lilia M. Schwarcz [3], traz em si, como toda boa síntese propõe-se a fazer, um sentido outro para a história desse personagem conhecido pelo nome que vingou entre tantos outros, Brasil.

Com o auxílio de extensa bibliografia e documentos-chave para a compreensão de determinados acontecimentos e períodos que marcaram o desenrolar da história brasileira, as autoras optaram por uma narrativa na qual o Brasil aparece na categoria de personagem, dotado de interesses, vontades e dilemas. Sua história se inicia às vésperas da chegada dos europeus ao então chamado Novo Mundo, habitado pelos povos indígenas e coberto por uma exuberância tropical, até os idos de 1995, apesar das autoras concluírem com referências diretas aos governos Lula e Dilma e aos ocorridos de 2013, ano marcado por manifestações públicas em prol de maior amplitude dos direitos sociais e de uma política menos íntima da corrupção. Leia Mais

Nosso amplo presente – o tempo e a cultura contemporânea | Hans Gumbrecht

Formado em Literatura, Hans Ulrich Gumbrecht vem, nos últimos anos, sendo cada vez mais estudado por pesquisadores interessados pelas linguagens e, especificamente na história, pela estética e pela história do tempo presente. Autor de inúmeros textos e obras, possui traduzidos e publicados no Brasil algumas grandes obras, entre estas Elogio da Beleza Atlética [1], Produção de Presença – o que o sentido não consegue transmitir [2] e Depois de 1945 [3]. No tocando a suas obras, a problemática da presença foi corriqueiramente debatido, sendo a obra do Elogio da Beleza Atlética o primeiro ensaio publicado no país onde o autor exprime algumas reflexões a respeito do conceito.

De acordo com o autor, esta presença, poderia ser pensada em uma dimensão especial, e não temporal. Na obra Produção de Presença – o que o sentido não consegue transmitir (2010), Gumbrecht busca conceituar presença enquanto algo que só é possível de se percebida através dos sentidos. Nas palavras do próprio – “por “presença” pretendi dizer – e ainda pretendo- que as coisas estão a uma distancia de ou em proximidade aos nossos corpos; quer nos “toquem” diretamente ou não, têm uma substância”[4] . Leia Mais

Usos práticos do passado | Temporalidades | 2017

Em 1998, Carl Schorske editava pela Princeton University Press o livro que, na edição brasileira, publicada alguns anos depois, recebeu o nome de Pensando com a História. Indagações na passagem para o modernismo. O título do livro é bastante atraente e sugestivo, uma vez que Schorske não propõe pensar sobre a história. Diferentemente, a intenção dele era pensar com a história. Uma pequena mudança, mas que acaba nos conduzindo para outro tipo de reflexão. Convém, portanto, perguntar: o que vem a ser pensar com e de que maneira isto se difere de pensar sobre a história?

Ninguém melhor do que o próprio Schorske para tentar esclarecer a diferença. Segundo ele, pensar sobre a história significa um tipo de tarefa um tanto específica, realizada especialmente pelos filósofos e teóricos desta disciplina, interessados no que ele chama de “uma forma geral de produzir sentidos”.[1] Pensar com a história implica outra prática, cujo elemento central está na mobilização e emprego dos materiais do passado para nos orientarmos no presente. A palavra prática não aparece aqui por acaso. Na verdade, Schorske está se referindo, especificamente, a práticas culturais que configuram sentidos ao passado e formam imagens a partir das quais os homens se definem no presente. O universo abarcado pelos ensaios de Schorske perpassa a sociedade europeia na passagem do século XIX para o XX. Para ele, se no Oitocentos Clio esteve em ascensão, alimentando, pela reflexão histórica, as respostas dadas pelos homens daquele tempo ao processo de modernização pelo qual passavam os países europeus, no século seguinte, o modernismo propôs entender esse processo por ele mesmo, buscando-se, a partir de então, um afastamento e mesmo uma crítica ao historicismo.[2]

As reflexões trazidas por Schorske nesse livro, em especial a proposta de pensar com a história, nos remetem à compreensão do lugar da reflexão histórica numa dada cultura e às diversas maneiras pelas quais as sociedades se relacionam com o seu passado. Isso significa partir de um pressuposto que, embora possa parecer banal, é muitas vezes esquecido por nós, historiadores: o de que as representações que construímos do passado são apenas uma possibilidade dentre os variados usos e sentidos conferidos a ele numa dada sociedade. Isso significa dizer, em primeiro lugar, que o passado não é exclusivo do historiador. Sobre ele, se debruçam diversos agentes e instituições, como outros intelectuais, artistas, escritores e políticos que, de maneiras distintas, tomam o passado como referência para o presente e para a construção de projetos de futuro. Em segundo lugar, isso nos leva a problematizar a ideia de uma relação desinteressada com o passado (inclusive quando nos referimos ao passado dos historiadores), uma vez que esses usos nos apontam para interesses diversos e para o quê do passado é escolhido para ser significado pelos homens do presente.

O interesse por compreender as formas de dar sentido e utilidade ao passado certamente tem ocupado cada vez mais o universo de preocupações dos historiadores. Partindo de múltiplas referências teórico-historiográficas e mobilizando noções diversas – como “cultura histórica”, “usos do passado”, “passados práticos” –, os historiadores têm se debruçado, já há algumas décadas, não só sobre os produtos e procedimentos que caracterizam o seu próprio trabalho (isto é, o trato com a documentação, a narrativa, os pressupostos teóricos que conduzem as análises, o aparato conceitual mobilizado pelos historiadores profissionais quando “fabricam” história), como também têm se aberto para a compreensão das formas de divulgação, adaptação, mediação e vulgarização do passado produzidas por diversos agentes sociais e por meio de diferentes mídias. Tal movimento implicou também numa maior atenção por parte dos historiadores para os públicos que se interessam, consomem e se apropriam desses passados. Questão não menos importante, especialmente no momento atual, em que a maior facilidade de comunicação viabilizada pelas redes sociais faz com que diferentes discursos sobre o passado circulem de forma mais rápida. Discursos, em muitos casos, produzidos não por especialistas e com finalidades políticas muito claras. Tal movimento tem levado os historiadores a uma dupla interrogação: por um lado, acerca do lugar que a reflexão histórica ocupa hoje nas diversas sociedades e da capacidade que este discurso ainda tem de ensinar algo aos homens do presente. Uma velha e conhecida problemática que, a rigor, nos leva a toda a discussão acerca das transformações pelas quais passou o preceito da historia magistra vitae ao longo da Modernidade. A segunda questão pode ser sintetizada no interesse em compreender a relação (ou, talvez, as dificuldades existentes nesta relação) que os historiadores de profissão mantêm com uma audiência que extrapola o grupo dos pares universitários. [3] Como se vê, as duas interrogações se ligam, já que a constituição da história como conhecimento científico e especializado, produzido por um profissional, alterou também o público para o qual falava o historiador. Entretanto, é preciso considerar dois aspectos. Primeiramente, a constituição da história como conhecimento científico não anulou seu papel pedagógico, isto é, a ideia de que era possível aprender com a história. Além disso, o mesmo século XIX, que é reconhecido como o momento de disciplinarização do conhecimento histórico, foi também o período de emergência do historiador na “república das letras”, o que conferiu a ele um lugar de destaque na vida pública. Lugar este que certamente foi alterado e passou a ser ocupado por outros profissionais. Talvez seja por isso que essas questões estejam tão fortes hoje na agenda dos historiadores: qual a força e o impacto daquilo que produzimos para um público “geral”, de não especialistas? Como lidar com as diversas outras formas de dar sentido ao passado, existentes no vasto conjunto de uma cultura histórica, formas que, não raro, têm um alcance muito maior do que nossos trabalhos acadêmicos?

O dossiê temático Usos práticos do passado, que compõe a edição 23 da Revista Temporalidades, insere-se nesse universo de questões, reunindo artigos que debatem os usos e funções conferidos ao passado em momentos distintos e por diferentes sociedades. Como o leitor verá, este número da revista reúne análises bastante variadas, com enfoques e objetos instigantes. Subjacente a essa diversidade, há uma questão maior, que talvez sirva para alinhavar todos os trabalhos, e que diz respeito à mobilização do passado pelos múltiplos “presentes”.

O artigo de Luis Cláudio Palermo, Tempo e temporalidade: transformações semânticas modernas e alguns desdobramentos na produção do conhecimento histórico, abre o dossiê tratando de algumas noções centrais para o campo do conhecimento histórico. São elas: tempo, temporalidade e aceleração do tempo. Dividindo a análise em dois momentos, o autor pretende, inicialmente, fazer uma discussão conceitual, discutindo os novos sentidos dados a esses conceitos na Modernidade à luz das contribuições trazidas por escritores como Heidegger, Norbert Elias e Edward Thompson. Em seguida, aborda o impacto da transformação dessas noções na produção do conhecimento no campo da história.

Carmem Lúcia Druciak, no artigo A obra Songe du Vieux Pèlerin de Philippe de Mézières e sua proposta de reforma da cavalaria francesa na Baixa Idade Média, leva a discussão sobre as apropriações e sentidos dados ao passado para a Europa do século XIV. Tomando o espelho de príncipe que Philippe de Mézières, diplomata e conselheiro real, escreveu para o jovem monarca Carlos VI, a autora evidencia como aquele autor elaborou uma crítica ao estado da cavalaria de sua época e procurou entender uma sociedade em transformação, buscando nos valores do passado uma proposta de reforma para esta instituição.

O artigo La figura del Dr. Francia en la historiografía paraguaya posbélica: la batalla por los héroes, de Bárbara Natalia Gómez, nos conduz ao Paraguai de fins do século XIX para compreender o debate em torno de quais personagens deveriam ser escolhidos para compor o panteão dos heróis nacionais, uma discussão que envolveu os intelectuais, e que ocorreu em um momento central de reconstrução do país após a guerra contra a Tríplice Aliança. A batalha mencionada no título do artigo se deu entre dois historiadores, Manuel Dominguez e Blas Garay, e em torno da figura de Gaspar Rodrigues de Francia, ditador da República paraguaia entre 1814 e 1840 e um dos participantes do movimento que levou à independência do país em 1811. O artigo, além de tratar de algumas questões próprias ao processo de conformação da disciplina histórica no país latino-americano, aponta para as profundas disputas que envolvem a narrativa em torno da independência paraguaia e os valores que seus heróis deveriam representar. Além disso, o artigo de Bárbara Gómez evidencia as intricadas relações tecidas entre o trabalho do historiador e os interesses políticos subjacentes à construção das identidades nacionais.

As íntimas relações entre memória e história e as disputas em torno da memória nacional também constituem pontos centrais do artigo seguinte, Memórias conflituosas no Oeste estadunidense, de Lucas Henrique dos Reis. O espaço estudado desloca-se para o Oeste dos EUA, lugar de intensos conflitos territoriais. Dialogando com os trabalhos de Michel Pollak, o autor parte do memorial construído em uma das famosas montanhas das Black Hills, entendendo-o como representante por excelência de uma memória oficial enaltecedora da Revolução Americana e da Guerra Civil. Entretanto, como mostra Reis, essa memória oficial, alimentada pelas interpretações formuladas por intelectuais e políticos, não anula (e mesmo se choca com) as memórias ditas “periféricas”, ou subterrâneas, produzidas por outros grupos, que, nas palavras de Pollak, “teimam em venerar justamente aquilo que os enquadradores de uma memória coletiva em um nível mais global se esforçam por minimizar ou eliminar”.[4]

A dimensão da memória nacional também está presente no artigo de Thiago de Souza Júnior, Dimensões raciais e políticas educacionais: usos do passado na conformação dos valores estadonovistas. Entretanto, dessa vez o olhar se volta para a dimensão do ensino e para um objeto bastante especial, o livro didático, que ganha relevo na análise. Entendendo a escola como espaço central para a realização dos projetos políticos e culturais do Estado Novo, o autor circula pelos campos dos estudos da memória e do ensino de história, evidenciando o papel ocupado pela história como disciplina escolar na promoção de um discurso identitário, cujo principal veículo de divulgação eram livros didáticos como História do Brasil, de Basílio de Magalhães. Assim, o livro didático de história é tomado aqui como um suporte a partir do qual se difunde uma interpretação acerca do passado, bem como valores característicos de certos projetos políticos.

Em seguida, temos o artigo Repetir para inventar: A recepção dos clássicos na França Ocupada, de Rafael Guimarães Tavares Silva. Aqui, o autor se vale do conceito de falsificação, entendendo-o na sua multiplicidade de sentidos, para pensar como, em uma circunstância histórica específica, escritores franceses como Sartre, Camus, Simone de Beauvoir, Paul Valéry e Jean Anouilh retomaram textos e figuras da Antiguidade Clássica, apropriando-se deles. Isso em um período especialmente crítico, quando a França foi ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

Encerramos o dossiê com o artigo Black Mirror e a cegueira moral da Modernidade, de Maria Visconti. Por meio dele, o leitor, seja conhecedor ou não da série televisiva que dá título ao texto, vai se deparar com uma análise do episódio “Engenharia reversa”, exibido na 3ª temporada da produção. Lançando mão das ideias apresentadas por Hannah Arendt e Zygmunt Bauman, a autora se interroga sobre as lições promovidas por episódios traumáticos do século XX, como o Holocausto, e até que ponto estaríamos, hoje, livres de outro acontecimento como esse. Mas o texto vai além, nos levando a pensar como uma série de grande sucesso, como é Black Mirror, apropria-se de elementos do passado para chamar a responsabilidade dos homens do presente para com o futuro.

Como é possível perceber, o leitor terá aqui a possibilidade de conhecer artigos (em muitos casos, frutos de pesquisas de mestrado e doutorado) que buscaram analisar as implicações políticas, sociais e identitárias de determinadas leituras do passado. Mas as contribuições trazidas pelos textos que compõem esse dossiê não me parecem ficar apenas nisso. Eles também apontam para uma questão central para os historiadores de hoje e que diz respeito a assumir que o profissional da história, ligado atualmente a uma universidade, não tem (e nunca teve) o monopólio sobre o passado, o que nos obriga a aguçar nosso olhar para outras formas de dar sentido ao passado, produzidas por agentes diversos, e que atingem a amplos públicos. Isto é, outras formas a partir das quais as sociedades pensam com a história. Certamente, há aí uma abertura interessante para análises que circulam por campos diversos, como o estudo das memórias, dos intelectuais, da história da historiografia, do ensino e da teoria de história. Os trabalhos publicados aqui são uma amostra desses caminhos.

Notas

1. SCHORSKE, Carl E. Pensando com a História. Indagações na passagem para o modernismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 13.

2. SCHORSKE, Carl E. Op. Cit. p. 13-28.

3. Duas reflexões interessantes nesse sentido foram propostas recentemente por Arthur Lima de Ávila e Jurandir Malerba. Cabe ressaltar que este último autor, ao tratar da questão da recepção para o caso da produção historiográfica, lança mão da noção de “audiência”, compreendendo que ela traria para o centro do debate o “leitor comum”, isto é, “qualquer leitor que não tenha a leitura como profissão”. MALERBA, Jurandir. Os historiadores e seus públicos: desafios ao conhecimento histórico na era digital. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.37, n. 74, 2017; ÁVILA, Arthur Lima de. (In)disciplinando a história: do passado histórico ao passado prático. Disponível em: https: | / www.academia.edu | 17902409 | _In_disciplinando_a_hist%C3%B3ria_do_passado_hist%C3%B3rico _ao_passado_pr%C3%A1tico; acessado em 28 de maio de 2017

4. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 2, n. 3, 1989, p. 10.

Ana Paula Sampaio Caldeira – Departamento de História | UFMG.


CALDEIRA, Ana Paula Sampaio. Apresentação. Temporalidades. Belo Horizonte, v.9, n.1, Jan./abr. 2017. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

 

Tempo bom, tempo ruim: identidades, políticas e afetos | Jean Wyllys

Em entrevista a Antônio Abujamra em 2013, o Deputado Federal pelo PSOL – Partido Solcialismo e Liberdade – do Rio de Janeiro, Jean Wyllys, afirmou que sua ida para o programa Big Brother Brasil, da Rede Globo em 2005 foi resultado das leituras que fez sobre as ideias do italiano Antonio Gramsci, acerca do posicionamento estratégico dentro do sistema: “mudar de dentro”. Importa afirmar que Gramsci foi um combatente contra o avanço do fascismo na Europa da primeira metade do século XX e elaborou uma espécie de manual sobre como o enfrentamento das questões e contradições da sociedade capitalista podem ser encaradas. Ao sujeito que se coloca na luta (ou na militância) dentro de um partido político ou outra instituição de cunho engajado, deu o nome de intelectual orgânico. Mal poderia imaginar o grande filósofo que, décadas depois de tombar na batalha, o fascismo ainda seria o inimigo a ser vencido. Leia Mais

(In) Tolerâncias Religiosas: práticas Modernas e problemáticas Contemporâneas | Temporalidades | 2016

Por que, afinal, e ainda, a Intolerância? Ou de como pode ler a História as fraquezas humanas diante da fé…

Passados quinhentos anos, comemorados neste calendário cristão de 2017, desde que Martinho Lutero afixou suas 95 Teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, um dos momentos-ápice que marcam o advento da Reforma Protestante, talvez nem o próprio monge agostiniano pudesse imaginar os rumos doravante tomados pelo cristianismo e os desdobramentos de sua proposta.

Também, pudera: a História nunca se caracterizou por ser ciência do “se”, afirmando-se mais pelo que julga tangível do que embasada por suposições mais ou menos críveis, nem tampouco aventurou-se seriamente a concluir sobre o que ainda não ocorreu, apesar do interessante título de uma das mais famosas obras de outro religioso de renome e muitíssimo conhecido entre nós – a História do Futuro, do Padre António Vieira – esta, apesar da designação, não era o que entendemos em essência como obra de História, voltada para questões outras, preocupada com o Quinto Império, que teria Portugal como raiz de uma árvore de infinitos galhos, potência cristã a disseminar o Evangelho pelo mundo. Um sonho que não se cumpriu. Leia Mais

Republicanismo Inglês: Uma Teoria da Liberdade | Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros

No dia 31 de dezembro de 1958 Isaiah Berlin, em uma aula inaugural na Universidade de Oxford, retomaria de forma contundente as duas conceitualizações de Benjamin Constant sobre liberdade, a saber: a liberdade negativa e positiva. A primeira, tendo Thomas Hobbes como ídolo maior, se referiria à liberdade como ausência de restrição, em que o agente, mesmo podendo sofrer forças externas de persuasão, poderia agir sem coação. Já a segunda emanaria de Aristóteles e contagiaria filósofos como Immanuel Kant, Jean-Jacques Rousseau e Hegel. Nela, a liberdade seria a capacidade de determinar a própria ação, sem ser influenciado por forças externas. Os dois conceitos, conclui Berlin, seriam indispensáveis para a modernidade.

A essa interpretação, publicada imediatamente como panfleto pela Clarendon Press e como livro onze anos depois na coletânea Four Essays on Liberty, Quentin Skinner rebateu os argumentos de Berlin com o seu livro-panfleto Liberdade Antes do Liberalismo (1998), em que resgatava um terceiro conceito de liberdade, este muito caro à tradição republicana, a liberdade neorromana. Para Se utilizar da própria metodologia de Skinner, o livro de Alberto Barros vem justamente em direção a essa contenta, atacando as pretensões liberais de Isaiah Berlin e corroborando com o republicanismo de Philip Pettit e Quentin Skinner. Leia Mais

Para além das fronteiras: histórias transnacionais, conectadas, cruzadas e comparadas | Temporalidades | 2016

O presente dossiê de Temporalidades, revista discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, confirma a qualidade desta que já se firmou como uma das mais importantes revistas discentes na área de História publicadas no Brasil, cujo número inaugural foi lançado no primeiro semestre de 2009, estando em seu oitavo ano de existência. Inicialmente semestral, a revista passou a ser, a partir de 2013, quadrimestral. O Conselho Editorial é constituído integralmente por doutorandos e mestrandos do PPGH-UFMG, que têm demonstrado uma dedicação e empenho indiscutíveis e louváveis para manter a periodicidade e a qualidade da revista, que publica artigos recebidos de pesquisadores de instituições de todo o Brasil e, inclusive, de outros países.

O processo de globalização do capitalismo, acentuado após a Segunda Guerra Mundial, praticamente impôs à produção historiográfica, em todos os continentes, ir além da perspectiva nacional, dominante desde o século XIX, e intensificar as perspectivas transnacionais. Leia Mais

Historiografia da revolução científica: Alexandre Koyré, Thomas Kuhn e Steven Shapin | Franscismary Alves da Silva

A institucionalização da Ciência Moderna, como a conhecemos hoje, tem a sua origem associada às transformações conceituais e metodológicas pelas quais o desenvolvimento científico passou, essencialmente, entre os séculos XVI e XVII. Tais transformações com o tempo passaram a ser trabalhadas pela historiografia sob a designação de “revolução científica”. A dinamicidade e a amplitude com que este conceito foi problematizado ao longo do século XX é o foco central da pesquisa realizada pela professora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) Francismary Alves da Silva em sua dissertação de mestrado, Historiografia da Revolução Científica: Alexandre Koyré, Thomas Kuhn e Steven Shapin, defendida junto ao Departamento de História da UFMG em 2010 e publicada recentemente (2015) com o mesmo título. Nesse estudo a autora discute de maneira didática, a partir de uma perspectiva histórica, as principais questões com que a História da ciência se deparou com relação aos conhecimentos humanos sobre a natureza, fundamentalmente, em três momentos específicos: na consolidação, no apogeu e o declínio da expressão “revolução científica”. Leia Mais

História e Historiografia da Ciência: abordagens e Diálogos Possíveis | Temporalidades | 2016

A histografia é uma reflexão sobre a história escrita. Ou seja, a história da história deveria ajudar os historiadores a refletir sobre sua prática. E refletir aqui, significa voltar-se sobre si mesmo. A história das ciências também tem como seu principal desafio fazer com que os cientistas, e toda a sociedade, sejam capazes de refletir sobre essa prática basilar da sociedade moderna que é a ciência.

Thomas S. Kuhn, em 1962, na introdução de sua obra seminal: “A estrutura das revoluções científicas”, apontava tal papel fundamental que a história das ciências pode desenvolver ao afirmar que: “Se a história fosse vista como um repositório para algo mais do que anedotas ou cronologias, poderia produzir uma transformação decisiva na imagem de ciência que atualmente nos domina.” [2] Leia Mais

A Inquisição Contestada: críticos e críticas ao Santo Ofício português (1605-1681) | Yllan Mattos

[…] Passar um homem infortúnios Ruínas, perdas, naufrágios, por acaso, ou por desastre no mundo é ordinário. Mas não há maior desgraça, nem mais lastimoso caso, do que um triste nascer, por herança, desgraçado. Que um morgado de misérias, É mui triste morgado, ainda mal, ainda negro, que por seu mal vêm tantos! Como estou de posse dele, de dor e de pena estalo. E o coração me faz dentro do peito pedaços […].1

O Tribunal da Santa Inquisição em Portugal foi criado em 1536, com o intuito de zelar pela pureza da fé católica dando início a um processo de perseguição àqueles que de alguma forma cometeram, pronunciaram ou defenderam heresias, na qual os cristãos-novos seriam suas principais vítimas. Em um segundo momento, os sodomitas, bígamos, blasfemos, luteranos e feiticeiros (em menor número), se tornaram alvos constantes por parte do Tribunal. Leia Mais

O cordel e o migrante nordestino: companheiros de viagem | Júlia Constança Pereira

O cordel e o migrante nordestino: companheiros de viagem é um livro de Júlia Constança Pereira Camelo, professora do curso de História da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará (UFPA). A obra é uma versão da dissertação de mestrado em História defendida pela autora na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Assis), no ano de 2000. O livro se relaciona à trajetória de vida da autora, “nordestina, pernambucana, de origem rural, após trilhar um longo caminho permeado por algumas migrações”.[1]

O objetivo da obra é analisar como os poetas migrantes do Nordeste, radicados no Rio de Janeiro, desenvolveram a produção de cordel no período entre 1960 e 1990, em função do público.[2] O recorte é explicado da seguinte maneira: parte-se da década de 60, “que apresentou uma crise [na produção de folhetos de cordel] observada por todos aqueles que compararam 60 com 50” [3] ; e estende-se até as décadas de 80 e 90, porque nesse período “encontra-se a principal tendência do cordel urbano”: produção de folhetos e biografias de personagens ilustres, políticos, escritores, cientistas, pensadores e até pesquisadores voltados para a cultura popular.[4] Leia Mais

As Irmandades de São Miguel e as Almas do Purgatório: culto e iconografia no Setecentos mineiro | Adalgisa Arantes Campos

A obra As Irmandades de São Miguel e as Almas do Purgatório: culto e iconografia no Setecentos mineiro é a publicação aprimorada da tese de doutoramento defendida por Adalgisa Campos em 1994, junto ao Departamento de História da Universidade de São Paulo. Engavetada durante considerável tempo, a autora mobilizou sua publicação somente em 2013. Ao longo do livro, a historiadora coteja a documentação levantada com trabalhos consagrados sobre devoção cristã, representação dos lugares do além-mundo, etc. (destaque para os estudos dos historiadores Jacques Le Goff e Michel Vovelle).

O estudo de Adalgisa Campos tem como escopo a análise do culto às “Almas Santas” através de uma rica análise documental, sobretudo iconográfica. Esta fecunda gama documental permite ao leitor uma abordagem mais ampla sobre o tema, especialmente no tocante à religiosidade. Ainda que voltada para a realidade das Minas nos séculos XVIII e XIX, a autora não deixa de examinar as representações das Almas na iconografia portuguesa. Nesse sentido, o trabalho oferece uma comparação sobre a representação das Almas supliciadas no Purgatório em ambas as localidades. Leia Mais

Gênero e Sexualidade | Temporalidades | 2015

“É que o saber não é feito para compreender, ele é feito para cortar”

Michel Foucault

Não é demais insistir sobre a importância que os estudos do gênero e da sexualidade adquiriram nas últimas décadas, no Brasil e no mundo, nem é demais destacar que o sucesso dos instigantes trabalhos desenvolvidos nas universidades e em diferentes centros de pesquisa e educação respondem, sem dúvida alguma, a necessidades crescentes suscitadas pelas profundas transformações nos modos de vida, na produção das subjetividades, nas formas da sociabilidade e no imaginário cultural, na contemporaneidade.

Em nosso país, em especial, essas mudanças podem ser facilmente constatadas na maneira pela qual as mulheres se autonomizaram em grande parte, conquistaram o espaço público, questionaram a arraigada “ideologia da domesticidade” e o confinamento na esfera familiar e privada, o que também se evidencia na maneira como têm alcançado importantes postos de direção em várias frentes, demostrando enorme capacidade criativa e de gestão. Essas transformações também podem ser percebidas nas próprias definições da masculinidade construídas pelos jovens – e não apenas por eles -, que trazem novos modos de existir masculinamente e reinventam a cultura masculina, e ainda, na visibilidade que os grupos gays, lésbicos, transgêneros, entre outros, com suas demandas e inquietações têm adquirido ao longo das últimas décadas, em sua luta para desfazer oposições binárias que cristalizam identidades sexuais e normatizam o comportamento de todos e todas, enfim, em sua luta para viver sem terem de renunciar a si mesmos. Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.10, n.3, 2018 / v.7, n.1, 2015,

Temporalidades. Belo Horizonte, v.10, n.3, 2018.

Edição 28 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 10, n.3 (set./dez. 2018)

Publicado: 2019-01-31

Temporalidades. Belo Horizonte, v.10, n.2, 2018.

Edição 27 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 10, n.2 (mai./ago. 2018)

Publicado: 2018-09-28

Temporalidades. Belo Horizonte, v.10, n.1, 2018.

Edição 26 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 10, n.1 (jan./abr. 2018)

Publicado: 2018-05-29

Temporalidades. Belo Horizonte, v.9, n.3, 2017.

Edição 25 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 9, n.3 (set./dez. 2017)

Publicado: 2018-01-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.9, n.2, 2017.

Edição 24 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 9, n.2 (mai./ago. 2017)

Publicado: 2017-09-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.9, n.1, 2017.

Edição 23 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 9, n.1 (jan./abr. 2017)

Publicado: 2017-05-31

Temporalidades. Belo Horizonte, v.8, n.3, 2016.

Edição 22 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 8, n.3 (set./dez. 2016)

Publicado: 2017-01-31

Temporalidades. Belo Horizonte, v.8, n.2, 2016.

Edição 21 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 8, n.2 (mai./ago. 2016)

Publicado: 2016-09-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.8, n.1, 2016.

Edição 20 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 8, n.1 (jan./abr. 2016)

Publicado: 2016-05-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.7, n.3, 2015.

Edição 18 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 7, n.3 (set./dez. 2015)

Publicado: 2016-01-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.7, n.2, 2015.

Edição 17: Temporalidades, Belo Horizonte, v. 7,, n.2 (mai./ago. 2015)

Publicado: 2015-09-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.7, n.1, 2015.

Edição 16: Temporalidades, Belo Horizonte, v. 7,, n.1 (jan/abr. 2015)

Publicado: 2015-05-30

A jaula de aço: Max Weber e o marxismo weberiano | MIchael Löwy

Publicado no Brasil pela editora Boitempo em 2014, A jaula de aço, do cientista social Michael Löwy, corrobora relacionar duas correntes sociológicas – a weberiana e a marxista –, muitas vezes entendidas como defensoras de proposições opostas, impossíveis de serem alocadas de forma amistosa na formulação de um quadro conceitual ou mesmo teórico-metodológico, mas que também, segundo o autor, têm sido frequentemente pensadas guardando convergências entre si.

De ascendência judaica, Michael Löwy nasceu em 1938 no Brasil, formou-se em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo em 1960, doutorando-se sob orientação de Lucien Goldmann em 1964 pela Sorbonne. Atualmente reside na França e é diretor de pesquisa no Centre National de la Recherche Scientifique. Löwy tem expressiva bibliografia sobre a história do pensamento de esquerda, desenvolvendo trabalhos sobre Karl Marx, György Lukács, Lucien Goldmann e Walter Benjamin. Nesse sentido, o presente livro, o qual se resenha, é instigante, uma vez que propõe pensar os usos da sociologia de Max Weber – considerado por Löwy um pensador liberal – por autores reconhecidamente marxistas, formando assim, uma “corrente” sociológica referida como webero-marxista. Leia Mais

Linguagens, artes e política: interseções | Temporalidades | 2015

A 16ª edição da revista Temporalidades traz o dossiê “Linguagens, artes e política: interseções”, com a finalidade de contribuir para um profícuo debate acerca do tema e colocar em destaque propostas metodológicas e reflexões teóricas ligadas à arte e à política em interface com a história. A escrita da história está em constante movimento e se adaptando às “demandas” e transformações do seu tempo. A introdução de novos temas, novos objetos e o uso de novas fontes, permitiu aos historiadores a construção de novas metodologias de investigação histórica e novos métodos de produção do conhecimento. O alargamento do caráter interdisciplinar – ou a aproximação com outras áreas do saber – permitiu ao historiador aprimorar ainda mais a produção historiográfica. O presente dossiê, nessa perspectiva, coloca em destaque uma multiplicidade de análises e de fontes a “serviço” da escrita da história e amplia o entrecruzamento de temas, ideias e fronteiras. O dossiê apresenta, em suma, uma pluralidade de enfoques e diversidade de aparatos conceituais nos artigos que o integram. Leia Mais

Ensaios de um percurso: estudos e pesquisas de teatro | Esther Priszkulnik

A editora Perspectiva contribui, já há algumas décadas, de forma decisiva para os debates sobre a arte teatral no país. Não é diferente com o livro Ensaios de um percurso: estudos e pesquisas de teatro, lançado em junho de 2013. Nessa obra, a pesquisadora Esther Priszkulnik, falecida em 2009, lança luz e estabelece um diálogo entre três universos teatrais distintos: o da Rússia do início do século XX, o do mundo judaico e o do Brasil dos imigrantes e do modernismo. Baseado em textos apresentados no curso de Pós-graduação do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e na dissertação de mestrado da autora, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, o livro é organizado por J. Guinsburg e Luiz Henrique Soares e dividido em três partes: Ensaios, Projeto de uma encenação e O teatro ídiche em São Paulo. Leia Mais

Circulação do conhecimento na ciência moderna | Temporalidades | 2014

O Departamento de História da UFMG tem assumido um papel de destaque entre as pós-graduações de história no Brasil. A avaliação da Capes concede-lhe, desde 2010, o grau de excelência internacional distinguindo-a com a nota 6. Essa premiação, que recai especialmente sobre a qualidade do trabalho desenvolvido pelos seus professores, foi acompanhada pela competência de seus pós-graduandos. Em 2009, foi fundada por esses estudantes a revista Temporalidades, um periódico voltado para as pesquisas do corpo discente. Hoje, cinco anos passados, a continuidade e seriedade da revista já lhe garante a qualificação Qualis B3 e chega agora à sua 13ª edição. Diferentemente do quadro de professores que é razoavelmente fixo, os alunos encontram-se em um fluxo permanente, o que torna ainda mais notável a continuidade que diferentes grupos de pós-graduandos estabeleceram no gerenciamento da revista. A cada ano, os responsáveis pela edição da Temporalidades são renovados e o trabalho desenvolvido cresce sem perder qualidade. Essa constância de edições e coerência qualitativa tornam o processo de produção da revista um ingrediente fundamental na institucionalização do trabalho de seu corpo discente. Tal esforço, de professores e alunos, ratifica o mérito alcançado pela história da UFMG no cenário nacional. Leia Mais

Moça educada, mulher civilizada, esposa feliz: Relações de Gênero e História em José de Alencar | Ana Caroline Eiras Coelho Soares

Publicada originalmente no Brasil em 2012, a obra expõe, em seus 4 capítulos, as representações femininas presentes nas obras literárias do século XIX, mais especificamente, da autoria de José de Alencar, lançadas no Rio de Janeiro. Os romances Lucíola, Diva e Senhora demonstram os elementos que Soares pretende analisar, dos quais se ressalta o papel do amor e da felicidade conjugal como atribuições da mulher necessárias para a solidez do casamento. A autora analisa também o papel que a mulher desempenhava na sociedade no período em que a obra foi escrita e o caráter pedagógico dessas obras. Cumprindo esses objetivos, a autora relaciona a literatura com o “espírito da época” e a transformação do conceito “civilização” desde aquele momento histórico.

O momento histórico Brasil Império, especificamente a partir de 1860, data da primeira publicação de José Alencar analisada nesse trabalho, é marcado por homens da “elite dominante” que absorveram, refletindo no país, hábitos e costumes europeus. Deste modo, a elite imperial acabou por criar uma série de pontos de semelhança que ficarão marcados na literatura: educação, vida profissional, indumentária, regras de etiqueta e bens. Essa homogeneização será relacionada com a construção e modificação do conceito de “civilização”, e será cobrada da mulher que pretender ser civilizada como pré-requisito para tornar-se uma mulher feliz através do casamento. Leia Mais

Cativos do Reino: A circulação de escravos entre Portugal e Brasil, séculos 18 e 19 | Renato Pinto Venâncio

Renato Pinto Venâncio é doutor pela Universidade de Paris IV – Sorbonne, onde defendeu, em 1993, a tese intitulada “Casa da Roda: instituition d´assistance infantile au Brésil, XVIII – XIX siècles”. Atualmente é professor da Escola de Ciência da Informação na Universidade Federal de Minas Gerais.

Em seu livro Cativos do Reino, o autor analisa casos em que escravos circulavam de uma região a outra, sendo responsáveis por transmitir valores e tradições nas diversas partes do reino português e suas colônias. Embora reconheça que esses casos não eram comuns, o autor consegue nos mostrar como essa circulação de cativos é importante para compreendermos a complexidade da escravidão da Idade Moderna, muitas vezes analisada de forma simplificada pela historiografia sobre o tema. Leia Mais

A fotografia amazônica de George Huebner | Andreas Valentin

O livro que temos em mãos, resultado de tese de doutorado defendida na UFRJ, é uma bem-vinda contribuição que interessará especialmente aos estudiosos da história da Amazônia e da fotografia brasileira. Seu autor, Andreas Valentin, persegue, desde uma abordagem da história social, os feitos de George Huebner. Tal era um exímio fotógrafo alemão que, nos últimos anos do século XIX, estabeleceu-se em Manaus, legando importante conjunto de imagens da Amazônia da era da borracha.

Antes de falar mais do fotógrafo, Valentin prepara o terreno, fornecendo elementos que contribuem para uma avaliação minuciosa da atuação de Huebner. O autor demonstra como na cidade natal desse personagem, Dresden, estabeleceu-se uma sólida indústria da fotografia. Tais empresas desenvolveram desde muito cedo atividades de ensino e pesquisa, estimulando assim a formação de profissionais e o aperfeiçoamento dos artefatos. De modo concomitante à popularização da imagem fotossensível, um grande número de fotógrafos partiu para todos os cantos do mundo, propagando assim retratos e vistas de povos e locais os mais longínquos da Europa. Desde a consolidação do Estado alemão os profissionais daquele país se lançaram à captura dessas imagens. As técnicas fotométricas – relacionadas intimamente à mentalidade racista, ao domínio colonial, e à formação de uma ciência nascente, a etnologia – foram a linguagem corrente na constituição dos retratos desses outros. Os de Huebner cujo foco é a população ameríndia que encontrou na Amazônia não escapariam, na maior parte das vezes, desse tipo de enquadramento. Leia Mais

Arautos do progresso: o ideário médico sobre a saúde pública no Brasil na época do Império | Alisson Eugênio

O século XIX no Brasil é marcado, dentre outros fatores, por ser o período em que finalmente a saúde é colocada na agenda dos interesses públicos. Nesse contexto, começa a se consolidar uma literatura médica progressivamente distanciada da visão hipocrática da doença como fenômeno individual, estabelecendo-se a ideia de que as doenças são fatos sociais e dando, por sua vez, um tom cada vez mais normativo à medicina. Trata-se de uma ambiência de ampla utilização do conhecimento científico por parte do Estado em que se destaca no presente trabalho a ciência médica. Desta forma, a resenha que se segue tem como objetivo apresentar as principais discussões e temáticas da História da Medicina no Brasil Imperial, tomando como base a obra Arautos do Progresso: o ideário médico sobre a saúde pública no Brasil na época do Império, de Alisson Eugênio.

Em Arautos do Progresso, Alisson Eugênio realiza um cuidadoso exame dos principais fatores que permeavam o cotidiano do Brasil oitocentista no que diz respeito à saúde da população. O autor expõe um completo estudo dos esforços da elite médica do período em tentar orientar as legislações e fiscalizações do governo, bem como instruir os povos sobre as principais doenças e insalubridades que se manifestavam nas vastidões territoriais do país. Leia Mais

As margens da liberdade: Estudo sobre a prática de alforrias em Minas colonial e provincial | Andréa Lisly Gonçalves

Reconstituir as trajetórias de mulheres e homens africanos, crioulos e mestiços que experimentaram a transição da condição de escravo para liberto: esta é a pretensão de Andrea Lisly Gonçalves no livro As margens da liberdade. Apresentado como tese de doutorado em 2000 na USP, o volume se insere na produção historiográfica que desde a década de 80 do século XX busca compreender as variadas dinâmicas envolvidas no passado escravista colonial e imperial brasileiro. As ideias de Gonçalves foram concebidas ao longo dos anos de 1990 contemporaneamente e em diálogo com algumas obras que se tornaram referência para o estudo da escravidão.

O ponto central do trabalho é a análise da prática de alforria em Minas Gerais, com ênfase na Comarca de Ouro Preto. O estudo empreendido para o século XVIII usa uma base de documentação por amostragem correspondente aos anos de 1735 a 1740 para o Termo da Vila do Ribeirão do Carmo e 1770 a 1775 para o Termo de Mariana. Já para o século XIX há um aprofundamento maior com o uso de fontes em série produzidas nos âmbitos dos Termos de Mariana e de Ouro Preto. Leia Mais

Instituições, poderes e magistrados no mundo luso-brasileiro. Séculos XVIII e XIX | Temporalidades | 2014

Iniciativa dos alunos do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais, a revista Temporalidades chega ao seu 12º número, consolidando mais um espaço de debate acadêmico. Afinado com as mais novas tendências teórico-metodológicas, este número traz o dossiê “Instituições, poderes e magistrados no mundo luso-brasileiro. Séculos XVIII e XIX”. Depois de um longo ostracismo, relegado a um lugar secundário nos estudos históricos, o tema da administração conquistou definitivamente o centro das atenções dos estudiosos. Já não se trata mais de privilegiar a administração como mera descrição do funcionamento das instituições, consideradas de uma perspectiva funcionalista, mas, ao contrário, de problematizá-las como instâncias de reprodução do poder, fundamentais para o entendimento das relações políticas no âmbito do Império português. Se durante muito tempo, elas foram vistas como vetores-chave para a execução das políticas emanadas de Lisboa, curvando-se passivamente a elas, hoje, as instituições apresentam outra feição: a exemplo das câmaras municipais, tiveram um papel ativo no diálogo entre centro e periferia, expressando os interesses dos grupos locais, posicionando-se ativamente em favor desses interesses. Leia Mais

História da África no Brasil: ensino e historiografia | Temporalidades | 2012

Neste ano de 2013 completam-se 10 anos do estabelecimento da Lei 10.639 | 2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da História da África e dos africanos no currículo escolar do ensino fundamental e médio, em todo território nacional. Portanto, este dossiê faz parte de uma nova guinada nos estudos africanos no Brasil, que passaram a ter mais contundência nos debates acadêmicos após 2003.

Como se explica que o interesse pela História da África no Brasil só foi despertado nas últimas décadas? Quais foram as razões que levaram à instituição da Lei que obriga o ensino dos conteúdos relativos à História da África? O fato de essa legislação ter sido criada para obrigar o ensino de determinado conteúdo revelou os silêncios e afastamentos em torno desse tema nos diversos níveis de ensino e respondeu às demandas dos movimentos sociais, principalmente do Movimentos Negros, que reivindicavam havia décadas a inclusão dos estudos africanos na grade curricular.

Após a extinção oficial do tráfico atlântico (1850), o Brasil suspendeu as relações políticas formais e as conexões comerciais com as antigas áreas africanas fornecedoras de escravos. As independências das colônias inglesas e francesas nos anos 1950 e 1960 levaram o Brasil a retomar os interesses políticos com o continente. O reflexo disso foi a abertura de representações consulares, as quais utilizavam jornalistas, intelectuais, escritores e personalidades famosas para atuarem nos Estados pós-coloniais, conforme registrou Raimundo Souza Dantas no seu livro África Difícil, baseado em sua “complicada” experiência como embaixador em Gana.

Durantes os anos 1960-75, a relação cultural e política contemporânea do Brasil com os países de colonização portuguesa (Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique), foi restabelecida através de ações não-governamentais em prol das lutas anticoloniais (lideranças de esquerdas africanas) e também pró-coloniais (do lado do governo brasileiro), como relata Jerry Dávila em Hotel Trópico.

Entende-se também que foi com a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em 1996, que o Brasil deu início a uma nova fase de reaproximação com os países africanos de língua oficial portuguesa, baseada em relações culturais e cooperação técnica voltada para a preservação de uma herança cultural compartilhada.

Como bem observou a historiadora Beatriz Mamigoniam, os estudos sobre os africanos no Brasil podem ser resumidos em quatro fases. A primeira foi inaugurada pelo médico Nina Rodrigues (escreveu sua obra em 1906, mas somente publicada em 1932), o qual tinha o objetivo de identificar, através de pesquisa etnográfica junto aos remanescentes de africanos em Salvador, as marcas culturais deixadas pela presença africana no Brasil. Para tanto, indicou as regiões de embarque dos africanos escravizados, a distribuição deles no Brasil, inventariou língua, grupos étnicos e suas formas de organizações religiosas, apesar de influenciado pelas “teorias raciais”, pelas ideias de inferioridade dos negros e pela visão negativa da miscigenação.

A segunda fase foi marcada pela perspectiva do relativismo cultural de Gilberto Freyre, difundida nos anos 30, a qual reconhecia o caráter positivo da miscigenação e a valorização da herança africana, como pontos basilares da formação da identidade nacional brasileira. Essa perspectiva contribuiu para a visão de uma escravidão benevolente no Brasil. Por outro lado, também influenciou no surgimento do estudos “afro-brasileiros”, (anos 40 e 50) cujos principais expoentes foram Arthur Ramos, Manuel Querino e Edison Carneiro, dedicados aos temas das práticas religiosas afro-brasileira e suas origens africanas.

Nos anos 1960 e 70, a terceira fase foi marcada por estudiosos como Emília Viotti da Costa, entre outros, que combateram a ideia de “democracia racial” presente na obra de Freyre, e se preocuparam com as relações raciais e as experiências das populações africanas e seus descendentes no Brasil.

A quarta fase foi fortemente inspirada pelos estudos da história social da escravidão. Os historiadores brasileiros dos anos 1980-90 passaram a analisar novos tipos de fontes e outras formas de sociabilidade na escravidão. Os “escravos” deixaram de ser uma massa uniforme a partir dos estudos sobre identidades, tais como gênero, idade, ocupação, origem (africanos ou crioulos). Os trabalhos mais expressivos deste período foram os de Silvia Hunold Lara, Laura de Mello e Souza, Sidney Chalhoub e Manolo Florentino, entre outros.

Para esses autores, no entanto, a História da África não constituía um objeto próprio de estudo ainda.

A produção acadêmica no Brasil sobre a história da África remonta à década de 1960 com a publicação de José Honório Rodrigues Brasil e África: outro horizonte (1963) e a criação de três importantes centros de estudos africanos ligados às universidades: em Salvador, o Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), criado em 1959; no Rio de Janeiro, o Centro de Estudos Afro-Asiáticos (CEAA), em 1973; e em São Paulo, o Centro de Estudos Africanos (CEA), em 1979. Os pesquisadores eram de várias áreas: linguistas, antropólogos, sociólogos e historiadores, entre outros.

Nos Anos 1980, a tese de João José Reis (1982) representou um novo olhar para a História da África, porque foi um dos primeiros trabalhos que considerou a dimensão Atlântica da escravidão ao analisar as sobrevivências e recriações culturais dos africanos do Golfo do Benin no Brasil. Nos Anos 1990, mais espeficamente na área de História, os estudos sobre África avançaram quantitativamente. As teses de Leila Leite Hernandez, Selma Pantoja e Valdemir Zamparoni, respectivamente defendidas em 1993, 1994 e 1998, foram as primeiras produzidas no Brasil, cujo tema era exclusivamente a história da África.

O livro A enxada e a Lança (1992) do embaixador brasileiro Alberto da Costa e Silva foi outro marco desse novo momento. Na mesma década, outros pesquisadores que pensavam a escravidão no Brasil passaram a reorientar suas análises para a dimensão Atlântica dos estudos africanos, de certo modo, voltadas para as tradições africanas no Brasil como as teses de Mariza Carvalho Soares (1997) e Marina de Mello e Souza (1999), e as publicações de Robert Slenes (1992).

Nos Anos 2000, predominou a tendência do final da década anterior, em que a obra O Trato dos Viventes (2000) de Luís Felipe de Alencastro é a grande referência. Nessa mesma perspectiva atlântica Brasil-África, menciono também as investigações de Juvenal Carvalho Conceição (2002), Lucilene Reginaldo (2005), Gabriela Segarra Martins Paes (2007) e Vanicléia S. Santos (2008), dentre outras. Ademais, outras pesquisas significantes retomaram as análises de sociedades africanas sem conexões com o Brasil, como as teses e dissertações de Patrícia Teixeira Santos (2000), Marcelo Bittencourt (2002), Anderson Ribeiro Oliva (2002), Alexsander Gebara (2006), Jacimara Souza Santana (2006), Gabriela Aparecida dos Santos (2007), Juliana Ribeiro da Silva (2008) e Rosana Andréa Gonçalves (2008), dentre outras.

No momento atual, pode-se pontuar um incremento de mais de cinquenta teses produzidas entre 2003 e 2013. Pode-se atribuir três fatores a esse aumento significativo de pesquisas: 1) o impacto dos historiadores que formaram uma nova geração de pesquisadores na graduação e nas pós-graduações em História na última década, principalmente em três Estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia; 2) essa recente produção acadêmica na pós-graduação brasileira é um dos resultados imediatos da Lei 10.639; 3) os concursos específicos para a área de História da África, que passaram a existir após 2003, geraram um novo perfil de professores no Ensino Superior e nas pós-graduações.

O dossiê História da África no Brasil: ensino e historiografia pretende contribuir para o fortalecimento dos estudos africanos no Brasil e do tema do ensino de história da África nas escolas. Criada em 2008, a Revista Temporalidades se tornou um importante veículo de divulgação das investigações de jovens pesquisadores, produzidas a partir das reflexões desenvolvidas pelos programas de iniciações científicas e nos diversos programas de pós-graduação do Brasil e exterior. Desse modo, essa revista permite que as reflexões de seus autores sejam incorporadas aos debates em curso na comunidade acadêmica.

Acompanhei o rigor dos editores deste dossiê para que as normas fossem cumpridas em toda as etapas. Portanto, é por mérito que a Temporalidades tem avançado vertiginosamente no conceito dos órgãos avaliadores.

Agradeço ao Conselho Editorial da Revista Temporalidades pelo convite para organizar o dossiê História da África no Brasil: ensino e historiografia, especialmente a Taciana Garrido, sempre tão engajada com o tema. Assim como agradeço aos colaboradores. Espero que o leitor aprecie a entrevista da professora Leila Leite Hernandez que abre esse dossiê, o conjunto de artigos que abrange várias temporalidades das histórias da África e a resenha que aborda tema atual às relações Brasil-África.

Vanicléia Silva Santos

SANTOS, Vanicléia Silva. Apresentação. Temporalidades. Belo Horizonte, v.4, n.2, ago./dez. 2012. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Teoria – Metodologia da História – Historiografia | Temporalidades | 2013

REIS José Carlos (Org d), Teoria – Metodologia da História – Historiografia | Temporalidades | 2013, Teoria da História (d), Metodologia da História (d), Historiografia (d), Temporalidades (Tpd)

Os membros do Conselho Editorial da revista do corpo discente do Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, Temporalidades, queriam produzir um número com um dossiê sobre a área de Teoria e Metodologia da História e Historiografia, e procuraram-me para sugerir-lhes alguns temas. Eu sugeri a eles três temas:

1º) O que é teoria-metodologia da História? O lugar da teoria-metodologia no conhecimento histórico

Podem ser incluidos artigos sobre: as contribuições de Koselleck, Ricoeur, Hartog, Rüsen, Annales, Roger Chartier, François Dosse, Hayden White, Thompson, Foucault, Ranke, Dilthey, Nietzsche, Marx, enfim, dos clássicos do pensamento histórico.

2º) Teoria-metodologia e historiografia brasileira: tendências e referências

Quais teóricos-metodólogos têm sido mais citados, como são apropriados pelos historiadores brasileiros e por quê? Quem produz e publica pesquisas sobre teoriametodologia no Brasil? Quais as linhas de pesquisa da pós-graduação, os grupos de pesquisa, os autores isolados?

3º) História e Verdade: novas abordagens

Este é um tema clássico, mas que precisa ser sempre recomeçado, refeito. As relações entre as palavras e as coisas, entre a linguagem historiográfica e o passado, entre texto e realidade, como estão sendo abordadas, hoje? É o famoso Castigo de Sísifo, que não deixa de ser sempre agradável, instigante. Eles hesitaram muito, mas acabaram escolhendo o primeiro tema. Pediram-me também a indicação de um historiador reconhecido nesse domínio, para uma entrevista. Eu procurei na memória os nomes da “geração madura” de historiadores | as brasileiros | as: Jurandir Malerba, Temístocles César, Marieta de Moraes Ferreira, Ângela de Castro Gomes, Márcia D’Aléssio, Margareth Rago, Durval Muniz, José d’Assunção Barros, outros, e indiquei um deles. Eu pensei em historiadores brasileiros porque acho que precisamos ouvir a nossa própria voz, conversar entre nós mesmos, apesar da forte pressão pela internacionalização da universidade, que nos obrigará em breve a dar aulas em inglês!

Acredito que, dentro em pouco, o “entre nós” já será objeto de pesquisa histórica. Mas, como sempre, a “temporalidade” soprou a história desse número em um rumo diferente. Não apareceram artigos para o primeiro tema, mas apareceram bons artigos para o segundo. Tivemos de abandonar a primeira opção para adotarmos a segunda, mas não foi tanta mudança assim, porque estava também previsto e, talvez, devesse ter sido a primeira opção. Quanto à entrevista, não teremos um | a historiador | a brasileiro | a, porque os nossos “ambiciosos” alunos preferiram entrevistar o maior especialista no domínio da história da história, o professor François Hartog, da École des Hautes Études em Sciences Sociales, que generosamente os acolheu. O professor Hartog já recebeu dezenas de historiadores brasileiros na EHESS, em seus seminários, como orientador de doutorado e supervisor de pós-doutorado, em agradáveis conversas em seu gabinete, e a sua escolha para a entrevista foi perfeita.

Eis o percurso sinuoso, imprevisto, desse número da Temporalidades. Apesar das incertezas e linhas tortas, os “alunos escreveram certo”, fizeram um ótimo trabalho, produziram um belo número, que, agora, os leitores brasileiros e do planeta poderão desfrutar. Cordialmente,

José Carlos Reis – Professor do PPGHIS | UFMG.


REIS, José Carlos. Apresentação. Temporalidades. Belo Horizonte, v.5, n.2, maio | ago. 2013. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

 

 

E. P. Thompson e a crítica ativa do materialismo histórico | Marcelo Badaró Mattos

A formação da classe operária inglesa (The Making of the English Working Class) [1] é considerado, pela comunidade acadêmica, uma das mais importantes obras do século XX, inspirando diferentes gerações de historiadores e cientistas sociais. A obra de Edward Palmer Thompson atacaria “duas ortodoxias ao mesmo tempo, a história econômica quantitativa e a marxismo dogmático” [2] tão presentes na intelectualidade da época. Publicado há 50 anos, este clássico teve sua primeira edição em língua portuguesa somente em fins dos anos 1980, causando um grande impacto na historiografia brasileira (assim como nas demais ciências sociais) por suas novas propostas teórico-metodológicas e, principalmente, pela prática de historiador proposta e vivenciada por Thompson.

E justamente a influência da obra de Thompson na historiografia brasileira é um dos pontos altos do livro E. P. Thompson e a crítica ativa do materialismo histórico. Marcelo Badaró Mattos – autor de livros sobre os sindicalismos e a formação da classe trabalhadora brasileira e fluminense, além de ter ministrado uma série de cursos na Universidade Federal Fluminense, onde atua como professor do departamento de história – apresenta não somente a obra do historiador inglês, mas aspectos importantes da tradição de crítica ativa proposta pelo materialismo histórico, tão presente nos escritos de Thompson, e problematiza a recepção e a influência da obra do intelectual britânico na historiografia brasileira. Leia Mais

Pontes sobre o Atlântico: ensaios sobre relações intelectuais e editoriais luso-brasileiras (1870-1930) | Giselle Venancio Martins

Lançado no último ano pela editora carioca Vício de Leitura, Pontes sobre o Atlântico, de Giselle Venancio, revela sinteticamente o percurso de pesquisas realizado pela autora ao longo de seu período de pós-doutorado na UFMG e na Universidade de Évora.

A obra é composta de sete capítulos divididos em duas partes, Pilares de uma ponte ultramarina: Intelectuais portugueses e relações editoriais luso-brasileiras e O Tricentenário de Camões no Rio de Janeiro: Comemorações como pontes, respectivamente, que se propõem a tratar das práticas editoriais e intelectuais tecidas entre Portugal e Brasil nos séculos XIX e XX. Por meio da análise de publicações compreendidas entre periódicos e coleções circulantes pelos anos de 1830 e 1930 foi possível evidenciar a existência dessas relações luso-brasileiras. Além disso, tal averiguação estabeleceu o desafio para a autora de buscar o surgimento e a constituição da ideia de uma comunidade cultural especificamente luso-brasileira através da existência de uma produção e circulação de impressos com expressiva periodicidade, como já citado, e ainda trouxe à luz as razões que justificam a difusão de conteúdos que procuravam reafirmar os laços de amizade existentes entre Portugal e Brasil em eventos de caráter comemorativo. Leia Mais

África parceira do Brasil Atlântico. Relações internacionais do Brasil e da África no início do século XXI | José Flávio Sombra Saraiva

África parceira do Brasil atlântico compõe uma das coleções da editora Fino Traço (Belo Horizonte), coleção designada de “Relações Internacionais”, tal coleção nos aparece em meio ao crescimento da importância do tópico que a nomeia, em razão de uma maior inserção, nos últimos anos, do Brasil nos problemas internacionais contemporâneos [1].

O autor da obra África parceira do Brasil atlântico, José Flávio Sombra Saraiva, possui um currículo versado no assunto, pois além da experiência com a temática no ensino superior em diversas universidades estrangeiras e ainda como professor titular de Relações Internacionais na UnB, também dirige o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI). O livro marca o interesse do professor e pesquisador acerca da diplomacia e economia na História do presente. Leia Mais

O Brasil contado às crianças: Viriato Corrêa e a literatura escolar Brasileira (1934- 1961) | Ricardo Oriá

O Brasil contado às crianças: Viriato Corrêa e a literatura escolar Brasileira – 1934-1961 do historiador José Ricardo Oriá Fernandes traz um conjunto de ideias que aludem ao universo escolar de crianças e jovens dos anos 1930, através da revalorização da obra História do Brasil para crianças, de Viriato Corrêa, reeditada entre os anos de 1930 e 1960.

Os seis capítulos que integram o livro, divididos em três partes – “A literatura escolar para a infância brasileira: livros de leitura e ensino de História”; “Viriato Corrêa e a Companhia Editora Nacional” e “História do Brasil para crianças e o ensino primário” – têm por propósito explorar a produção historiográfica escolar brasileira. Inicialmente o historiador centra as análises nas propagandas feitas pela Companhia Editora Nacional e no processo de divulgação dos livros de História do Brasil para o público infanto-juvenil, com destaque para a História do Brasil para as crianças, sucesso entre os jovens leitores e assinado por Corrêa. Além disso, Oriá propõe discutir a denominação feita entre a literatura escolar e a literatura infantil ressaltando as dificuldades em se estabelecer as devidas diferenças. Referenciando-se nas análises realizadas por Leonardo Arroyo que destaca o exemplo de Monteiro Lobato, Oriá apresenta-nos o panorama editorial dos primórdios republicanos e o florescimento de uma literatura infantil, calcada nas “modernas” propostas educacionais da Escola Nova. Ainda no primeiro capítulo intitulado História do Brasil para crianças: que livro é esse?, o autor traceja os contornos do aparecimento dos primeiros livros para crianças no Brasil, no início do século XX, com o advento da República, associado a uma preocupação veemente em modernizar o país. Leia Mais

Água, poder urbano y metabolismo social | Rosalva Loreto López

O livro Agua, poder urbano y metabolismo social, organizado por Rosalva Loreto López, inaugura a coleção Estudios Urbanos y Ambientales. Loreto López é membro do Instituto de Ciências Sociais e Humanidades da Benemérita Universidade Autônoma de Puebla (México) e pesquisadora responsável pelo Corpo Acadêmico Sociedad, Ciudad y Território, siglos XVI- XXI.

A obra composta por seis artigos se propõe a tratar o tema da água na cidade de Puebla e seu entorno, assim como as relações sociais estabelecidas a partir de seu uso em diversas atividades, entre os séculos XVI e XX. Como pressupostos, privilegia a história ambiental e, mais especificamente, o conceito de metabolismo social. Este conceito é sistematizado por Manuel González de Molina no capítulo que fecha a coletânea, Sociedad, naturaleza, metabolismo social: sobre el estatus teórico de la historia ambiental.O metabolismo social apresenta-se como uma analogia ao metabolismo celular, com seus processos de absorção, transformação e excreção de materiais. O autor defende que o metabolismo social engloba o conjunto de processos em que os seres humanos – organizados em sociedade, independentemente da sua formação social e momento histórico – realizam ações que transformam, consomem e excretam materiais e/ou energias provenientes do mundo natural. Molina considera que a historia ambiental é o estudo histórico da evolução e da mudança das sociedades humanas, e os processos naturais e sociais agentes ativos em permanente e mútua determinação. Ressalta também a importância de reconciliar sociedade e natureza. Entretanto, esse capítulo não se afina completamente aos outros que integram a coletânea, por ser estritamente teórico e não abordar o tema da água como acontece nos demais. Leia Mais

História intelectual, impressos e culturas políticas na América Latina | Temporalidades | 2012

O nome da revista, Temporalidades, expressa uma das problemáticas centrais do trabalho do historiador: as temporalidades históricas. Umas das tarefas do historiador é problematizar o tempo histórico ou como diria Fernand Braudel, “os ritmos do tempo”. A revista Temporalidades, a cada número, tem se mostrado como um importante espaço de divulgação de novas pesquisas promovendo importantes reflexões históricas em suas páginas. Em seus três anos de existência, a revista constituiu-se como um espaço de publicação que permite a jovens pesquisadores de diversas regiões e instituições, inclusive internacionais, divulgarem seus trabalhos para seus pares e para a sociedade em geral. Leia Mais

Genética: escolhas que nossos avós não faziam | Mayana Zatz

O aforismo 248 do livro A Gaia Ciência de Friedrich Nietzsche traz esta indagação: “De que vale um livro que não nos transporte para além dos livros?”. Partindo desse critério, o recente trabalho Genética – escolhas que nossos avós não faziam1 da consagrada cientista brasileira Mayana Zatz possui um enorme valor. Afinal, desde as primeiras páginas dele nos sentimos impelidos a buscar novas informações (em livros, claro, mas não apenas…) e a travar diálogos com amigos, professores e familiares a respeito das inusitadas situações e dos difíceis casos relatados pela geneticista. Nas suas pouco mais de duzentas páginas o estudo de Zatz tanto coloca o leitor instruído frente a dilemas éticos inquietantes quanto obriga o apreciador leigo a pensar os rápidos e irreversíveis achados atuais das ciências biomédicas. Leia Mais

Ciências, Saúde e Historiografia | Temporalidades | 2011

Dando prosseguimento à ideia de dossiê temático, apresentada na edição passada, a Temporalidades traz, nesse número, um dossiê com foco na História da Ciência. Com efeito, é importante destacar que se apresentam aqui trabalhos de qualidade não apenas de jovens historiadores, mas de jovens historiadores da ciência, isto é, de uma área relativamente recente entre nós. Este fato é de especial importância porque serão jovens historiadores os responsáveis pela pavimentação definitiva, no Brasil, dessa importante área de pesquisa.

Completando os artigos com o enfoque na História da Ciência, o periódico traz ainda uma entrevista com o veterano Historiador da Ciência, professor Carlos Alvarez Maia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

A cada número, a Temporalidades consolida mais e mais o seu caminho mostrando a que veio jovens historiadores ávidos de realizarem suas pesquisas, bem como mostrar o resultado alcançados por elas. A grande qualidade desses textos mostra a importância de veículos para a apresentação de trabalhos discentes.

Na qualidade de editor, reconheço aqui que esse número não seria possível sem todo o trabalho e esforço, em sua montagem, dos membros editoriais da Temporalidades.

Por fim, possa o leitor ter, mais que as informações e reflexões trazidas por esses textos, o prazer da leitura.

Mauro Lúcio Leitão Condé


CONDÉ, Mauro Lúcio Leitão. Apresentação. Temporalidades. Belo Horizonte, v.3, n.2, ago./dez. 2011. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

 

Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII: estratégias de resistência através dos testamentos | Eduardo França Paiva

A partir dos anos 1980 a historiografia brasileira passou por um processo de renovação, revisitando a história do Brasil sob um novo enfoque e trazendo à tona elementos que antes eram quase invisíveis para ela. Essa nova historiografia passou a dar visibilidade a diversos agentes sociais enquanto participantes de processos históricos, observando suas dinâmicas cotidianas que, por sua vez, evidenciam a complexidade das relações entre os mais diversos grupos sociais. É, portanto, a partir de uma nova perspectiva teórica e metodológica, de um novo olhar e de novas questões que tais agentes, até então desconsiderados ou considerados irrelevantes para os processos históricos e identitários, foram visibilizados pela historiografia.

O livro Escravos e Libertos nas Minas Gerais do Século XVIII: Estratégias de Resistência Através dos Testamentos, de autoria do historiador Eduardo França Paiva, apresenta agora sua terceira edição, e é caudatário dessa transformação na perspectiva historiográfica. A primeira edição da obra resultou de pesquisa de mestrado desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em História e defendida ainda na década de 1990 na Universidade Federal de Minas Gerais – instituição em que, atualmente, o autor é professor do Departamento de História. Estudando o sistema escravista, o autor focaliza três aspectos que seriam peculiares às Minas Gerais do XVIII: “o processo de libertação do escravo, o papel desempenhado pelo elemento forro – sobretudo a mulher – na organização socioeconômica da capitania e o exame das relações sociais retratadas nas nossas principais fontes de pesquisa, isto é, os testamentos” (PAIVA, 2009, p.34). Leia Mais

Arte e Cultura na História | Temporalidades | 2011

Este novo número da Revista online Temporalidades apresenta não somente mais um vasto número de artigos de especialistas e alunos atentos ao estudo da história, mas em especial a edição do primeiro volume em forma de dossiê totalmente endereçado ao campo de investigação da história da arte, intitulado Arte e cultura na história. A organização e disposição dos textos no referido dossiê seguiram uma ordem alfabética, pois dado a ampla diversidade de assuntos não seria possível reuni-los numa escala temática.

Neste sentido, novas problemáticas são abordadas ou reativadas. Dentre elas a questão específica da arte sob o ponto de vista técnico-formal, mas também as questões histórico-culturais como os estudos pertinentes à conservação e ao restauro. O campo de análise investido neste dossiê é amplo e permite criar uma visão panorâmica da história da arte disponibilizando possibilidades de pesquisas num campo pouco investigado, mas nem por isso menos importante. É nesta área de estudos, rica e próspera, as vezes mal compreendida porque não suficientemente investigada, que se vêm alguns textos mais reveladores e inovadores da historiografia da arte geral. Muito tem sido descoberto e quase tudo tem sido repensado e reavaliado. Leia Mais

Uma Gota de Sangue: história do pensamento racial | Demétrio Magnoli

Certamente, não é fácil comentar um assunto tão polêmico quanto apaixonante como esse. As temáticas raciais já há bastante tempo ganharam a mídia e têm influenciado o senso comum de pessoas dos mais diferentes estratos sociais. Grupos de pesquisa e opinião têm propagado o resultado de suas crenças por todos os meios de comunicação, além do papel (um tanto preocupante) desempenhado pelo Estado na promoção desses ideais. Talvez o maior problema dentro dessa perspectiva seja a tentativa de se recriar uma nova História, um tanto tendenciosa, em que os que pensam diferente assumem o papel de hereges frente aos clérigos que criaram conceitos um tanto dogmáticos. É por esse viés que vejo a obra de Demétrio Magnoli, Uma gota de sangue.

A principal intenção do autor ao longo de seu trabalho é mostrar como foram construídas as principais ideias acerca do conceito de “raça” ao longo dos últimos séculos. Partindo sobretudo do homem europeu, tais conceitos foram usados nos séculos XIX e XX para explicar a suposta superioridade do europeu/eurodescendente frente a outros grupos humanos com pele e traços físicos diferentes ao redor do mundo, como o negro africano, o amarelo asiático e o indígena americano. A maneira como esses conceitos nasceram e se desenvolveram ao longo do tempo é, em minha opinião, denominada corretamente pelo autor como “mito”. Esses mitos tiveram papel fundamental no passado para justificar a dominação de um povo sobre outro. Leia Mais

Desenvolvimento, justiça e meio ambiente | José Augusto de Pádua

O livro Desenvolvimento, justiça e meio ambiente, concebido sob a orientação de Eliezer Batista e do professor Ignacy Sachs, é parte da coleção Humanitas, da Editora UFMG, e foi organizado por José Augusto Pádua, doutor em Ciências Políticas pelo Iuperj e professor de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena o Laboratório de História e Ecologia. Pádua é ainda autor de O que é ecologia e Ecologia política no Brasil, e de vários artigos em livros, periódicos científicos, revistas e jornais publicados no Brasil e no exterior.

O livro reúne dez artigos de autores de diversas áreas do conhecimento – Economia, Direito, Arquitetura, Pedagogia, Relações Internacionais, Filosofia e Ciências Políticas. Entre os autores, há professores universitários, gestores públicos e diplomatas, além de uma promotora de Justiça do Ministério Público do Distrito Federal e um ativista, sócios do Instituto Socioambiental (ISA). A variedade de perspectivas se adéqua bem ao eixo central do livro – desenvolvimento e sustentabilidade social e ambiental –, que convida a um olhar trans, multi e interdisciplinar e interessa ao conjunto da sociedade, não apenas a uma ou outra especialidade. Esse olhar se reflete no estilo dos artigos, que podem ser compreendidos por qualquer leitor leigo. Leia Mais

A Invenção da Argentina: História de uma Idéia | Nicolas Shumway

Ao analisar as fronteiras do Brasil, percebe-se rapidamente que este possui um número expressivo de vizinhos, fato que sugere uma maior acessibilidade a estes países e, porque não, a necessidade do estabelecimento de relações de variados tipos. Com efeito, a proximidade territorial e o contexto geopolítico acabam por vezes determinando as grandes linhas de relacionamento externo, já que é a realidade da qual não se pode e nem se deve fugir.

Nessa perspectiva, alguns países emergem com maior relevância no conjunto das expectativas brasileiras relacionadas à sua realidade geográfica, seja por questões de high politics ou low politics. Dentre esses, a Argentina representa historicamente o principal eixo do país na América do Sul. Portanto, entender sua história e aqueles elementos que caracterizam sua cosmovisão é uma tarefa necessária ao Brasil e aos brasileiros. Leia Mais

Temporalidades. Belo Horizonte, v.6, n.3, 2014 / v.1, n.1, 2009.

Temporalidades. Belo Horizonte, v.6, n.3, 2014.

Edição 15 – Temporalidades, Belo Horizonte, v. 6,, n.3 (Set/Dez. 2014)

Publicado: 2015-01-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.6, 2014.

Edição 14 – Temporalidades, Belo Horizonte, v. 6 (Suplemento, 2014)

Publicado: 2014-10-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.6, n.2, 2014.

Edição 13 – Temporalidades, Belo Horizonte, v. 6,, n.2 (maio/ago. 2014)

Publicado: 2014-09-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.6, n.1, 2014.

Edição 12 – Temporalidades, Belo Horizonte, v. 6,, n.1 (jan/abr. 2014)

Publicado: 2014-04-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.5, n.3, 2013.

Edição 11 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 5,, n.3 (Set./Dez. 2013)

Publicado: 2014-01-31

Temporalidades. Belo Horizonte, v.5, n.2, 2013.

Edição 10 – Temporalidades, Belo Horizonte Vol. 5, n.2 (Mai./Ago. 2013)

Publicado: 2013-08-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.5, n.1, 2013.

Edição 09 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 5,, n.1 (Jan./Abr. 2013)

Publicado: 2013-04-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.4, n.2, 2012.

Edição 08 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 4,, n.2 (Ago./Dez. 2012)

Publicado: 2012-12-31

Temporalidades. Belo Horizonte, v.4, n.1, 2012.

Edição 07 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 4,, n.1 (Jan./Jul. 2012)

Publicado: 2012-08-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.3, n.2, 2011.

Edição 06 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 3,, n.2 (Ago./Dez. 2011)

Publicado: 2011-12-31

Temporalidades. Belo Horizonte, v.3, n.1, 2011.

Edição 05 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 3, n.1 (Jan./ Jul. 2011)

Publicado: 2011-08-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.2, n.2, 2010.

Edição 04 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 2,, n.2 (ago./dez. 2010)

Publicado: 2010-12-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.2, n.1, 2010.

Edição 03 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 2, n.1 (jan./jul. 2010)

Publicado: 2010-07-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.1, n.2, 2009.

Edição 02 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 1 N.2 (ago./dez. 2009)

Publicado: 2009-12-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.1, n.1, 2009.

Edição 01 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 1 N.1 (jan./jul. 2009)

Publicado: 2009-08-30

Senhores da história e do esquecimento: a construção do Brasil em dois manuais didáticos de História na segunda metade do século XIX | Ciro Bandeira de Melo

Introdução

Senhores da história e do esquecimento é a tese de doutoramento de Ciro de Melo, defendida na Universidade de São Paulo em 1997. Esse estudo imprescindível para todos os que se interessam pela história do ensino de História no Brasil finalmente foi publicado pela Editora Argvmentvm. A obra enfoca a disputa política pela representação do passado brasileiro na segunda metade do oitocentos.

O próprio título sintetiza bem a principal questão do texto: o que faz um acontecimento se tornar um fato histórico? Quem escolhe – e a partir de que critérios – o que será lembrado e o que será esquecido pela posteridade? Essas perguntas nos levam ao pressuposto que antecede à discussão: não há uma “verdade histórica”, mas construções históricas do passado. Leia Mais

Temporalidades | UFMG | 2009

Temporalidades1

Temporalidades (Belo Horizonte, 2009-) é um periódico quadrimestral dos alunos de Pós-Graduação do Departamento de História da UFMG.

Trata-se de um espaço voltado para a publicação de trabalhos originais produzidos por pesquisadores da área de História, ou que com ela dialoguem, sem restrição de titulação, apesar de voltar-se, preferencialmente, para um público constituído por alunos de pós-graduação de todo o Brasil e também do exterior.

Temporalidades está vinculada ao Departamento de História da UFMG e à revista Varia História, que, através dos seus representantes, apoiaram e financiaram o projeto de criação da revista discente, juntamente com o Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, a Faculdade de Filosofia e Ciência Humanas (FAFICH) e a Reitoria dessa instituição.

Apesar de vinculada institucionalmente, Temporalidades conta com um Conselho Editorial composto exclusivamente por alunos da pós-graduação da UFMG, coordenados por um professor do Departamento. A revista goza de total independência editorial, tendo sido concebida e concretizada pelos editores discentes, que, através de um trabalho sério e constante, levaram a cabo este projeto, demonstrando que o alunado é capaz de assumir a dianteira de grandes empreendimentos, com responsabilidade e autonomia intelectual.

O aprimoramento das capacidades acadêmicas dos discentes de todo o país passa, certamente, pelo exercício criativo da escrita, que pode resultar em trabalhos científicos de excelente qualidade. Temporalidades visa abrir um novo campo para a publicação de pesquisas discentes, que, muitas vezes, apesar de sua inquestionável distinção, não têm a oportunidade de serem divulgadas, dado que a maioria dos periódicos institucionais se fecha para a produção dos alunos. Foi pensando nas carências desse público, que os discentes do Conselho Editorial se esforçaram para constituir um periódico dotado de credibilidade, cumpridor de todos aqueles requisitos que garantem excelência, e reconhecimento institucional, às publicações científicas sérias.

Ao entregar a revista Temporalidades para a comunidade acadêmica, os alunos do Conselho Editorial demonstram que os discentes das universidades, em particular aqueles que integram a pós-graduação em História da UFMG, devem ser considerados como parte da solução para os problemas que afligem as instituições públicas de ensino; desafio comum que precisa ser enfrentado no exercício do respeito mútuo entre profissionais formados, e no diálogo franco e fecundo entre o corpo docente e o alunado.

Graças à realização de um trabalho coletivo, forjado na convivência democrática entre iguais, assumindo uma postura ativa e independente, os alunos puderam concretizar o projeto de criação da revista Temporalidades. Estamos certos de termos contribuído para o aprimoramento acadêmico do Departamento de História da UFMG, e esperamos que, a partir de agora, este periódico se consolide como um espaço aberto a todos aqueles que desejarem colaborar para a renovação do conhecimento histórico.

Periodicidade trimestral.

[Acesso livre]

SSN 1984-6150 (Online)

Acessar resenhas

Acessar dossiês

Acessar sumários

Acessar arquivos