História do tempo no Brasil | Revista Hydra | 2018

Apontamentos para uma história do tempo no Brasil

“Ciência dos homens, no tempo”: eis a célebre definição de história oferecida há mais de sete décadas por Marc Bloch [1], e cuja primeira palavra permite maior discordância do que as demais. Pois se é controversa a condição científica da história, é unânime que seu foco deva estar em seres humanos e no tempo. Esta última palavra, aliás, também pode nos remeter a um fenômeno social: partindo-se de uma história de homens no tempo, é possível tomar o tempo como objeto da história [2]. Um objeto qualquer, como tantos outros? Não exatamente, na medida em que este apresenta potencial singular de requalificar uma reflexão teórica inescapável: o problema da dívida tanto da realidade social como de seu conhecimento para com aquilo que aquela palavra revela (ou encobre).

Com o avanço desse duplo tratamento de tempo – como condição da história, como objeto da história – logo o simples singular deve ensejar um singular coletivo. Afinal não há, a rigor, um único tempo da história, de uma época ou de uma sociedade. Sempre, como nos ensina Braudel, toda e qualquer história é sempre constituída por uma pluralidade de tempos simultâneos: uns mais lentos e longos, outros mais rápidos e curtos; mas todos dinâmicos, configurados pelas dimensões concretas da realidade social – estas transformadas segundo seus ritmos próprios – e ensejando entre eles relações: tensões, amálgamas, hierarquias e definições recíprocas [3]. Pode-se entender, a partir daí, tempo histórico ou tempo social como a síntese dessas relações, a criarem certas permanências que, segundo Koselleck, resultam em estruturas temporais, também elas presentes em toda e qualquer sociedade [4].

Em linhas gerais, a mesma forma de pensar aplica-se ao estudo do tempo como dimensão da realidade, parcialmente apreensível pelo conhecimento histórico. Toda e qualquer sociedade vive, sente, pensa, verbaliza e maneja seus tempos de formas plurais. Não se trata aqui apenas de formas de apreender a mudança da realidade em seus distintos níveis, mas também de criar uma ou várias imagens de tempo que, resultantes de demandas sociais concretas, interagem, redefinem e estabelecem as possibilidades historicamente determinadas da própria existência da sociedade. O estudo dos tempos de uma determinada sociedade é sempre o de uma pluralidade dinâmica e hierarquizada de formas que condicionam e traduzem aquela sociedade. E uma vez que a toda e qualquer sociedade necessariamente corresponde uma pluralidade desse tipo, estudá-la é forma privilegiada de entender sua história. Uma história dos homens no tempo, mas também pelo tempo.

Em perspectiva geral, não é de hoje que o tema vem sendo explorado por historiadores e muitos outros especialistas de diferentes áreas, resultando em uma enormidade de material bibliográfico [5]. A história social do tempo que se esboça em parciais convergências desse material é necessariamente interdisciplinar, e une, com distintos graus de aproximação, historiadores, antropólogos, sociólogos, psicólogos, estudiosos de filosofia, críticos literários, linguistas, historiadores da arte e da ciência, arqueólogos, físicos, químicos, biólogos e astrônomos, dentre outros. Todos estes especialistas podem explorar as numerosas entradas possíveis ao tema, tais como: reflexões a respeito de teorias da história e sua aproximação às demais ciências sociais [6]; a história da historiografia [7]; religiões, mitos e suas elaborações acerca da criação, da história e do fim do mundo [8]; formas de conceber e mensurar o tempo, como calendários, relógios e cronologias [9]; os ciclos da natureza, os ciclos biológicos dos seres vivos e suas muitas interfaces humanas [10]; os tempos coletivos do trabalho e da exploração econômica ao longo da história, inclusive no mundo contemporâneo [11] ; tempos psíquicos individuais, sobretudo a partir do advento de uma sociedade de indivíduos [12]; as muitas e múltiplas construções e manifestações de memórias coletivas [13]; elaborações filosóficas, sagradas e profanas, a respeito do tempo [14]; a história da morte, de expectativas de vida e de formas de perpetuação, com seus correspondentes ritos [15] ; ideias e projetos de transformação radical do mundo, invenções de futuros e utopias [16] ; conceitos, representações e dimensões do tempo na política, nas artes e em outras manifestações sociais [17] ; as relações entre espaço e tempo no conhecimento e transformação da natureza, e nas formas de sociabilidade [18]; e ideias de “encurtamento” e de “passagem acelerada” do tempo [19]. As possibilidades, aqui, são muitas.

De minha parte, propus uma exploração parcial e didática dessas possibilidades em um curso semestral voltado a estudantes de graduação, oferecido no Departamento de História da FFLCH-USP em 2013, 2014 e 2017, e intitulado “História Social do Tempo”. Durante as aulas, foi possível constatar a considerável escassez de materiais bibliográficos relativos ao Brasil, seu passado e sua posição no mundo no tocante a uma história de formas coletivas de viver o tempo. Não que se deva esperar, com algumas exceções temáticas pontuais, elaborações inteiramente específicas, exclusivamente brasileiras ou observadas no espaço histórico daquilo que hoje se chama “Brasil”, e que representassem absoluta singularidade em relação ao que se observa, ao menos nos últimos quinhentos anos, em outras partes do mundo. Se singularidades relativas – como tempos de sociedades indígenas, e tempos relativos ao imenso universo da escravidão – são de enorme interesse e vem resultando em obras importantes e inovadoras [20], os tempos socialmente vividos no Brasil ao longo de sua história podem representar eixos cruciais para o entendimento da posição dessa história em unidades mais amplas, valendo-se para tanto de dialéticas entre todo e partes e suas devidas mediações, todas elas essenciais para o entendimento de qualquer sociedade. Em muitos sentidos, uma história social do tempo é a história não apenas de elaborações específicas de grupos sociais, mas também de encontros, amálgamas e conflitos entre grupos e espaços de distintas características que, por variados motivos, estabeleceram relações (inclusive hierarquias) recíprocas. Isso desde muitos séculos atrás, como nos mostram, de modo exemplar, estudos a respeito dos antigos mundos hebraico, romano e mesoamericano [21]. A partir do século XVI, porém, uma tendência parece se desenhar, com a imposição mesma de tempos dominantes advindos da expansão política, geográfica e cultural da Europa e a configuração daquilo que poderíamos chamar, valendo-nos de um termo útil, de uma primeira globalização. Porém, mesmo a partir daqui, jamais haverá um único tempo da história; e jamais o Brasil (e suas muitas partes) será uma unidade histórica completamente independente do resto do mundo.

No entanto, se um número significativo de autores brasileiros colabora com essa história social do tempo em perspectiva geral e global, a oferta de temas específicos advindos do Brasil ainda é muito escassa, ou pelo menos muito desigualmente distribuída em subtemas. Mesmo assim, parece possível o diagnóstico de que uma história do tempo no Brasil avança. Não se trata aqui, evidentemente, de advogar a favor da atribuição de uma lógica de progresso inexorável a essa historiografia – o que implicaria dar-lhe um sentido de teleologia –, mas sim de constatar que temas relevantes, mas pouco estudados, demandam um volume de investigações que permita acúmulo de saberes, diversificações, divergências e convergências.

É nesse sentido de avanço que podemos incluir nessa incipiente – porém muito promissora – história do tempo no Brasil obras não só fortemente originais, mas também de alto nível acadêmico, cujos focos “brasileiros” (incluindo-se aqui lusoamericanos, indígenas e afrobrasileiros) encontram-se direcionados para questões como: a história da historiografia, que goza de considerável tradição em meios intelectuais brasileiros, e que nos últimos anos vem conhecendo notável proliferação [22] ; a história de conceitos temporalizados, ou mesmo conceitos de tempo, que, também cada vez mais numerosa, se vale de tradições vizinhas como a da história das ideias (mais antiga) e das linguagens políticas (mais recente) [23] ; a história de ideias e atitudes relativas à morte, geralmente com ênfase no mundo religioso, e que parece dotada de grande capacidade de estabelecer diálogos entre histórias passadas e o mundo atual, em uma já pujante produção historiográfica [24]; a história de vidas cotidianas com seus ritos e ritmos de forte implicação temporal, ou até mesmo suas formas próprias e diretas de lidar com o tempo [25] ; a história de “idades do ouro”, utopias, messianismos e projeções de futuro de diversa ordem [26] ; a história de instrumentos e recursos de marcação, medição e concepção de tempo, ainda escassa, mas com grande potencial de expansão, sobretudo em perspectiva interdisciplinar [27] ; e uma ainda mais incipiente história de relações sociais com a natureza, os céus, o clima e a noite, e que pode se beneficiar de uma já valiosa história ambiental produzida a respeito do Brasil, bem como de estímulos que não cessam de ser ofertados por muitos campos científicos do país [28] . Isso tudo sem desconsiderar, evidentemente, os quadrantes brasileiros de reprodução parcialmente modificada do tempo hegemônico no mundo atual: o do trabalho, da exploração econômica, da reificação do homem e da aceleração progressiva do tempo [29].

E o que os cinco artigos ora apresentados por Hydra têm a acrescentar a essa historiografia do tempo no Brasil? Quatro deles – os de autoria de João Gabriel Covolan Silva, Larissa Albuquerque, Lucas da Costa Mohallem e Lievin Pontes Miguel – foram resultado de trabalhos de avaliação final da já referida disciplina “História Social do Tempo”, em sua edição de 2017; por isso, possuem um escopo temático estrategicamente limitado: todos analisam uma única fonte. No entanto, ao converterem essa fonte no próprio tema a ser analisado, oferecem não só exercícios metodológicos valiosos, mas também esboços de ampliação temática potencialmente exemplares. O quinto artigo a fechar o dossiê, de autoria de Mariana Ferraz Paulino, usa diversas fontes para a análise de um tema preciso, com ofertas metodológicas e de ampliação temática já equivalentes a um trabalho de pós-graduação. Em seu conjunto, este dossiê cobre dois momentos parcialmente desconectados, mas igualmente relevantes, de uma história do tempo no Brasil. De um lado, o século XVIII lusoamericano, onde é possível perceber a vigência de estruturas temporais assentadas em tradições cristãs ocidentais, na historia magistral vitae clássica, e na centralidade conferida ao continente americano pelos projetos reformistas ibéricos, a legarem ao futuro Brasil nacional – que ainda não existia, e nem vinha sendo preparado diretamente por nenhum processo histórico – certas noções, concepções, representações e conceitos de tempo que mostrar-se-iam pertinentes a demandas sociais de séculos vindouros. Por exemplo, as elaborações em torno de um passado “brasileiro” simultaneamente português (anti-holandês) e indígena, oferecido pelo poeta lusoamericano Santa Rita Durão em seu Caramuru, aqui analisado por Covolan Silva; ou das persistentes imagens de grandeza passada, descompasso presente, e futuro promissor, típicas do reformismo português e suas elaborações teóricas e programáticas relativas à América, aqui iluminadas por Ferraz Paulino. De outro lado, o Brasil de fins do século XX e começos do XXI, onde encontramos uma significativa elaboração artístico-musical a representar dinâmicas e expectativas de futuro de forte cunho geracionais a conectarem o Brasil dos anos 1970 com outros cantos do mundo da época, com a análise empreendida por Albuquerque do álbum Alucinação, de Belchior; questões de exclusão social, exclusão racial e violência urbana sob o prisma de uma pouco comum ficção-científica brasileira, presentes no filme Branco sai, preto fica, dirigido por Adirley Queirós e tratado no artigo de Miguel; e finalmente, uma análise do pensamento do grande geógrafo brasileiro Milton Santos, mais precisamente sua concepção de “história como possibilidade”.

Bem se vê que, seguindo-se os passos dos cinco artigos ora publicados por Hydra em um incomum, inovador e necessário dossiê historiográfico, bem como considerando-se valiosas obras já disponíveis como aquelas mencionadas nas páginas anteriores, as possibilidades de avanço na escrita de uma história do tempo no Brasil são numerosas. Tema amplo, quase inesgotável, é verdade; mas inescapável para o mundo atual, marcado persistentemente por acelerações temporais, encurtamentos espaciais, redefinições de identidades coletivas, esvaziamentos do passado, aproximações do futuro e outras dinâmicas temporais de impacto direto na vida de bilhões de pessoas. Uma história do tempo que, para reaproveitarmos a definição de Marc Bloch, pode contribuir significativamente não apenas para a reiteração da condição da história como ciência dos homens no tempo, mas também para um melhor entendimento da história de nosso tempo.

Notas

1. BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p.55.

2. Aqui, conscientemente faço uma indistinção entre as possibilidades de grafar história e História, e que na língua portuguesa são usuais – mas não consensuais – para indicar, respectivamente, aquilo que ocorreu no passado, e o conhecimento desse passado. Como é sabido, os séculos XVIII e XIX trataram de amalgamar as duas coisas em um mesmo conceito de história. Espero ter deixado claro, nas páginas que se seguem, quando quis me referir a uma e a outra.

3. BRAUDEL, Fernand. História e ciências sociais: a longa duração. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1976, p.41-78; para avanços na reflexão: VOVELLE, Michel. “Um tempo mais longo”: resistências e longa duração nas mentalidades coletivas. Ideologias e mentalidades. 2ª.ed. São Paulo: Brasiliense, 1991, p.255-331; e TOMICH, Dale. A ordem do tempo histórico: a long-durée e a Micro-História. Almanack n.02, nov / 2011.

4. “En la vida cotidiana, en la política y en las relaciones sociales existen estructuras temporales que hasta ahora no han sido sobrepasadas por ninguna época” (KOSELLECK, Reinhart. “Historia, historias y estructuras formales del tiempo”. Futuro pasado: para una semántica de los tiempos históricos. Barcelona, Paidós, 1993, p.131- 132).

5. Obras abrangentes a respeito são: CHAUNU, Pierre. L’axe du temps. Paris: Julliard, 1994; ELIAS, Norbert. Sobre el tiempo. 2ª.ed. México: FCE, 2000; LEVINAS, Marcelo. La Naturaleza del tiempo. Usos y representaciones del tiempo en la Historia. Buenos Aires: Editorial Biblos, 2008; POMIAN, Krzysztof. L’ordre du temps. Paris: Gallimard, 1984; e WITHROW, G. O tempo na história: concepções do tempo da pré-história aos nossos dias. Rio de Janeiro, Zahar, 1993.

6. Duas elaborações brasileiras a respeito são: NOVAIS, Fernando & SILVA, Rogério Forastieri da. Introdução: para a historiografia da Nova História. Nova História em perspectiva. São Paulo: Cosac Naify, 2001, v.I, p.6-70; e REIS, José Carlos. Nouvelle histoire e tempo histórico: a contribuição de Febvre, Bloch e Braudel. São Paulo, Ática, 1994.

7. Dentre muitos: CARBONELL, Charles-Olivier. Historiografia. Lisboa: Teorema, 1987; FONTANA, Josep. História: análise do passado e projeto social. Bauru, Edusc, 1998; MAÍLLO SALGADO, Felipe. De historiografia árabe. Madrid: Abada, 2008; e MOMIGLIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. Bauru: EDUSC, 2004.

8. Bons exemplos dessas relações encontram-se em: ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins Fontes, 1992; ARNAU, Juan. Cosmologías de India: védica, sãmkhya y budista. México: FCE, 2012; e GLEISER, Marcelo. O fim da Terra e do Céu: o Apocalipse na ciência e na religião. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Uma elaboração pioneira em: HUBERT, Henri. Estudo sumário da representação do tempo na religião e na magia. São Paulo: EDUSP, 2016 (1905).

9. Sobre calendários: AVENI, Anthony. The Book of the Year: A Brief History of Seasonal Holidays. New York: Oxford University Press, 2003; CHERMAN, Alexandre & VIEIRA, Fernando. O tempo que o tempo tem: por que o ano tem 12 meses e outras curiosidades sobre o calendário. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2008 ; DONATO, Hernâni. História do calendário. São Paulo, Melhoramentos, 1976; HOLFORD-STREVENS, Leofranc. The History of Time: a Very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 2005; e o magnifico livro de STERN, Sacha. Calendars in Antiquity: Empires, States & Societies. Oxford: Oxford University Press, 2012. Sobre relógios, o clássico de CIPOLLA, Carlo. Las máquinas del tempo. México: FCE, 1998; e LANDES, David S. Revolución en el tiempo: el reloj y la formación del mundo moderno. Barcelona: Crítica, 2007. Sobre cronologias: NOTHAFT, C. P. E. Dating the Passion. The Life of Jesus and the Emergence of Scientific Chronology (200-1600). Leiden: Brill, 2011; e ROSENBERG, Daniel & GRAFTON, Anthony. Cartographies of Time. Princeton: Princeton Architectural Press, 2010.

10. Sobre relógios biológicos: GRUART, Agnès; DELGADO, José María; ESCOBAR, Carolina; AGUILAR ROBLERO, Raúl. Los relojes que gobiernan la vida. México: FCE, 2002. Sobre as ciências da natureza e o tempo, a bibliografia é imensa. Um bom exempo de como a discussão pode se integrar ao trabalho do historiador em: HAWKING, Stephen. Proteção cronológica : um mundo mais seguro para os historiadores. HAWKING, Stephen (et.all.). O futuro do espaço-tempo. São Paulo : Companhia das Letras, 2005, p.88-111. Sobre a história da noite: CABANTOUS, Alain. Histoire de la nuit, XVIIe.-XVIIIe. Siècle. Paris: Fayard, 2009; e KOSLOFSKY, Craig. Evening’s Empire: a History of the Night in Early Modern Europe. Cambridge: Cambridge University Press, 2011.

11. LE GOFF, Jacques. Para um novo conceito de Idade Média: tempo, trabalho e cultura no Ocidente. Lisboa : Estampa, 1979 ; THOMPSON, Edward P. Costumes em comum. São Paulo, Companhia das Letras, 1998; e DAMIÁN, Araceli. El tempo, la dimensión olvidada en elos estudios de pobreza y bienestar. México: El Colegio de México, 2014.

12. Como trabalhado por: ACHA, Omar. Freud y el problema de la historia. Buenos Aires: Prometeo, 2007; e KEHL, Maria Rita. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009.

13. A bibliografia a respeito é extenssíssima. Para as reflexões aqui desenvolvidas: FINLEY, Moses I. Usos e abusos da história. São Paulo: Martins Fontes, 1989; LE GOFF, Jacques. História e Memória. 7a. ed. rev. Campinas : Editora UNICAMP, 2013 ; LOWENTHAL, David. The Past is a Foreign Country. Cambridge: Cambridge University Press, 1985; MENESES, Ulpíano Bezerra de. A história, cativa da memória? Para um mapeamento da memória no campo das Ciências Sociais. Revista IEB, 34, 1992, p.9-24; RICOEUR, Paul. A memória, a história, o esquecimento. Campinas, Editora UNICAMP, 2007; e ROSSI, Paolo. O passado, a memória, o esquecimento: seis ensaios da história das ideias. São Paulo: Editora Unesp, 2010. Um bom survey é: OLICK, Jeffrey K. / VINITZKY-SEROUSSI, Vered / LEVY, Daniel (eds.). The Collective Memory Reader. New York: Oxford University Press, 2011.

14. Uma boa entrada para o tema: MELAMED, Yitzhak Y. (ed.). Eternity: a history. New York: Oxford University Press, 2016.

15. ARIÈS, Philipe. O homem diante da morte. São Paulo: EDUNESP, 2014; GODELIER, Maurice (org.). Sobre a morte: invariantes culturais e práticas sociais. São Paulo : SESC, 2017 ; SCHMITT, Juliana. O imaginário macabro : Idade Média – Romantismo. São Paulo: Alameda, 2017 ; e VOVELLE, Michel. Sobre a morte. Ideologias e mentalidades, cit., p.127-150.

16. Sobre revoluções e futuro, obra clássica é: ARENDT, Hannah. Da Revolução. São Paulo, Ática: 1990. Uma elaboração mais recente: ZERMEÑO, Guillermo. La cultura moderna de la historia. Una aproximación teórica e historiográfica. México, El Colegio de México, 2002. Sobre utopias: MUMFORD, Lewis. História das utopias. Lisboa: Antígona, 2007; e CLAEYS, Gregory. Utopia: a história de uma ideia. São Paulo: Edições SESCSP, 2013.

17. Sobre conceitos políticos, é notável a contribuição advinda da releitura da obra de Koselleck. Uma boa amostragem em: FERNÁNDEZ SEBASTIÁN, Javier (ed.) – Politics concepts and Time. Santander: Cantabria University Press / McGraw Hill, 2011. Também POCOCK, J. A. Tiempo, instituciones y acción: un ensayo sobre las tradiciones y su comprensión. Pensamiento político y historia. Madrid: Akal, 2009, p.199-228. Sobre formas de tempo nas artes: DIDI-HUBERMAN, Georges. Ante el tiempo. Historia del arte y anacronismo de las imágenes. Buenos Aires, Adriana Hidalgo, 2008; AUMONT, Jacques. O olho variável, ou a mobilização do olhar. O olho interminável: cinema e pintura. São Paulo: Cosac & Naif, 2004; BISMARCK, Beatrice von / FRANK, Rike / MEYER-KRAHMER, Benjamin / SCHAFAFF, Jörn / WESKI, Thomas (eds.). Timing. On the Temporal Dimension of Exhibiting. Berlin: Sternberg Press, 2014; GAVILÁN, Enrique. Otra historia del tiempo: la música y la redención del pasado. Madrid: AKAL, 2008; e MEYERHOFF, Hans. O tempo na literatura. São Paulo: McGraw-Hill, 1976.

18. Aqui são profícuos os diálogos entre Geografia e História, tais como os encontrados em: BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo séculos XV-XVIII. Lisboa, Teorema, s.d., 3 v.; HARVEY, David. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992; e KOSELLECK, Reinhart. Los estratos del tiempo: estudios sobre la historia. Barcelona, Paidós, 2001.

19. KOSELLECK, Reinhart. Existe una aceleración de la historia? BERIAIN, J. & AGUILUZ, M. (eds.). Las contradicciones culturales de la modernidade. Barcelona: Anthropos, 2007, p.319-345; HALÉVY, Daniel. Essai sur l’accéleration de l’histoire. Paris: Fayard, 1961; PALTI, Elias José. Aporías: tiempo, modernidad, historia, sujeto, nación, ley. Buenos Aires, Alianza, 2001; e FERNÁNDEZ SEBASTIÁN, Javier. “Cabalgando el corcel del diablo”. Conceptos políticos y aceleración histórica en la era de las revoluciones hispánicas. Lenguaje, tiempo y modernidad. Ensayos de historia conceptual, Santiago de Chile: Globo Editores, 2011, pp. 21-59.

20. Algumas delas são: ALONSO, José Luis Ruiz-Peinado; CHAMBOULEYRON, Rafael (org.). T(r)ópicos de história: gente, espaço e tempo na Amazônia: (séculos XVII a XXI). BelémPará: Açaí; BEZERRA NETO, José Maia (2008). De Porto de Moz a Ponte Seca. Gente, espaço e tempo no Xingu oitocentista. In: SOUZA, C. M. de & CARDOZO, A. (org.). Histórias do Xingu. Fronteiras, espaços e territorialidades (Sécs. XVII-XXI). Belém: Editora da Universidade Federal do Pará, p. 97-120; NEPOMUCENO, Nirlene. Celebrações negras do ciclo natalino: teias da diáspora em áreas culturais do Brasil e do Caribe. São Paulo: PUC-SP / Programa de Estudos Pós-graduados em História, 2011 (tese); PEREIRA, Márcia Leila de Castro. “Rios de História”: guerra, tempo e espaço entre os Mura do Baixo Madeira (AM). Brasília: UnB, 2009 (tese em Antropologia Social); TORRES, Luiz Henrique. A natureza da temporalidade na experiência civilizatória missioneira. Saeculum, n.4-5, 1998-1999; e VELLOSO, Gustavo. Ociosos e sedicionários: populações indígenas ee os tempos do trabalho nos Campos de Piratininga (século XVII). São Paulo: Intermeios, 2018. Deve-se ainda destacar os excelentes trabalhos de Eduardo dos Santos Neumann sobre as práticas de escrita (incluindo concepções de tempo) entre os Guarani nas fronteiras iberoamericanas do século XVIII, como: NEUMANN, E. S. Os Guarani e a razão gráfica: cultura escrita, memória e identidade indígena nas reduções. KERN, Arno; SANTOS, Maria Cristina dos; GOLIM, Tau (org.). História Geral do Rio Grande do Sul. Passo Fundo: Méritos, 2009, v. 5, p. 229-270.

21. STERN, Sacha. Calendars in Antiquity…, cit.; SANTOS, Eduardo Natalino dos. Tempo, espaço e passado na Mesoamérica: o calendário, a cosmografia e a cosmogonia nos códices e textos nahuas. São Paulo: Alameda, 2009.

22. Uma significativo repositório de parte dessa produção é a revista História da Historiografia (on-line). Um estudo valioso a respeito da historiografia lusoamericana é: KANTOR, Iris. Esquecidos e renascidos: historiografia acadêmica luso-americana (1724- 1759). São Paulo, Hucitec, 2004.

23. As equipes brasileiras do Projeto Iberconceptos foram responsáveis por parte dessa produção nos últimos anos, como percebe-se em: FERES JR., João (org.). Léxico da história dos conceitos políticos do Brasil. Belo Horizonte: EDUFMG, 2009. Outras obras e destaque, dentre várias, são: ARAUJO, Valdei Lopes de. A experiência do tempo: conceitos e narrativas na formação nacional brasileira (1813-1845). São Paulo, Hucitec, 2008; COSTA, Wilma Peres. (2010). “Entre tempos e mundos: Chateaubriand e a outra América.”. Almanack Braziliense, São Paulo, n. 11, mai.; FANNI, Rafael. Temporalização dos discursos políticos no processo de independência do Brasil (1820-1822). São Paulo: FFLCH-USP, 2015 (mestrado); HANSEN, João Adolfo. Para uma história dos conceitos das letras coloniais luso-brasileiras dos séculos XVI, XVII e XVIII. FERES JR., J. & JASMIN, M. (org.). História dos conceitos: diálogos transatlânticos. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio / Loyola, p.253-266; NEVES, Lúcia Pereira das. Revolução: em busca de um conceito no império luso-brasileiro (1789-1822). FERES JR. & JASMIN, História dos Conceitos…, cit.; PEREIRA, Luísa Rauter. “Substituir a revolução dos homens pela revolução do tempo”. Uma história do conceito de povo no Brasil: revolução e historicização da linguagem política (1750- 1870). Rio de Janeiro: UERJ / IESP, 2011; e SANTOS, Cristiane C. dos. Escrevendo a história do futuro: a leitura do passado no processo de independência do Brasil. São Paulo: Alameda, 2017.

24. CAMPOS, Adalgisa A. Notas sobre os rituais de morte na sociedade escravista. Varia Historia v.4, n.6, 1988; COE, Agostinho H. (2005). “Nós, os ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”: o século XIX e as atitudes diante da morte e dos mortos. Outros Tempos, v. 1, p. 97-111; FARIA, Sheila de Castro. Viver e morrer no Brasil colônia. São Paulo, Moderna, 1999; NASCIMENTO, Mara Regina do. Irmandades religiosas na cidade: entre a ruptura e a continuidade na transferência cemeterial em Porto Alegre, no século XIX. Estudos Iberoamericanos, v.30, n.1, 2004, p.85-103; e REIS, J. J. (1991). A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século XIX. São Paulo: Companhia das Letras; RODRIGUES, Cláudia. A arte de bem morrer no Rio de Janeiro Setecentista. Varia História, v. 24, 2008, p. 255-272; e VAILATI, Luiz. A morte menina: infância e morte infantil no brasil dos oitocentos (Rio de Janeiro e São Paulo). São Paulo: Alameda, 2010.

25. ABREU, Martha. (1999). O império do Divino. Festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro, 1830-1900. Rio de Janeiro: Nova Fronteira / FAPESP; BOSCOV, Sarah Tortora. Vivências e experiências do tempo: a capitania de São Paulo, c.1750-c.1808. São Paulo: FFLCH-USP, 2018 (mestrado); CAPONERO, Maria Cristina (2014). Festas paulistanas em perspectiva histórica de longa duração: produção e apropriação social do espaço urbano. Permanências e rupturas (1711-1935). São Paulo: FAU-USP (tese); CHAMON, Carla Simone. (2002). Festejos imperiais. Festas cívicas em Minas Gerais (1815-1845). Bragança Paulista: Edusf; COSTA, Suely Gomes (1996). Metáforas do tempo e do espaço doméstico (Rio de Janeiro: século XIX). Niteroi: UFF (tese); LEMES, Fernando Lobo Os tempos da história: ritmo, temporalidade e projetos coloniais nas minas de Goiás. Dimensões, v. 28, 2012, p. 247-269; LOPEZ, Emilio C. R. (2004). Festas públicas, memória e representação: um estudo sobre manifestações políticas na Corte do Rio de Janeiro, 1808-1822. São Paulo: Humanitas; MARTINS, William de Souza (1996). De arraial a corte: festas e civilizações na cidade do Rio de Janeiro, 1828-1860. Niteroi: UFF (dissertação); e PRIORE, Mary del. Festas e utopias no Brasil colonial. São Paulo, Brasiliense, 1994. Além de vários trabalhos em: JANCSÓ, I. & KANTOR, I. (orgs.) – Festa: cultura e sociabilidade na América portuguesa. São Paulo, Imprensa Oficial / Hucitec / Edusp / Fapesp, 2001, 2 v.

26. ALCIDES, Sérgio. Expectativa e metamorfose: saudades da Idade de Ouro na América portuguesa. In: JANCSÓ & KANTOR, Festa…, cit.; p.775-798; AZEVEDO, André Nunes de. As noções de progresso do Império à República: transformações recônditas em uma mesma terminologia. Outros Tempos, v.13, n.22, 2016; CAMARGO, Patrícia de Freitas. Discurso e decurso: tempo e retórica no Livro Anteprimeiro da História do Futuro, do Padre Antônio Vieira. São Paulo: FFLCH / USP, 2015 (tese); HANSEN, João Adolfo. Vieira: tempo, alegoria e história. Brotéria Lisboa v.145, n.4 / 5. Lisboa, out. / nov.1997, p.541-556; HERMANN, Jaqueline. No reino do desejado. São Paulo: Companhia das Letras, 1999; LIMA, Luís Filipe S.. O império dos sonhos: narrativas proféticas, sebastianismo e messianismo bragantino. São Paulo: Alameda, 2010; e ROMEIRO, Adriana. Um visionário na corte de D. João V: revolta e milenarismo nas Minas Gerais. Belo Horizonte, Edufmg, 2001.

27. ALGRANTI, Leila Mezan – “Dias Gordos” e “Dias Magros”: calendário religioso e práticas alimentares católicas em São Paulo e no Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). FEITLER, B. & SOUZA, E. S. (orgs.). A igreja no Brasil: normas e práticas durante a vigência das Constituições primeiras do Arcebispado da Bahia. São Paulo: Editora UNIFESP, 2011, p.269-288; BOSISIO, Izabella D. A religião no calendário oficial: um mapeamento da legislação sobre feriados no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ, 2014 (mestrado em antropologia); BRAGA, Maria de Fátima A. (2011). Livros, folhetos, jornais, calendários e folhinhas, tudo à venda na botica de Padre Tezinho: práticas sociais e práticas de leituras nos anúncios dos jornais do século XIX (1821-1831). Rio de Janeiro: UERJ (tese); LEAL, Elisabete da Costa. O calendário republicano e a festa cívica do descobrimento do Brasil em 1890 : versões de história e militância positivista. História, v.25, n.2, 2006 ; LUZ, Sabina (2014). O estabelecimento da hora legal brasileira: o Brasil adota o meridiano de Greenwich. Niterói: UFF (mestrado); MACIEL, Laura A. Cultura e tecnologia: a constituição do serviço telegráfico no Brasil. Revista Brasileira de História, v.21, n.41, 2001; MAIA, Tatyana de A. Entre a memória histórica e a prática cívica: os calendários culturais do MEC (1969-1974). Saeculum, n.23, jul / dez, 2010; PARK, Margareth. Histórias e leituras de almanaques no Brasil. Campinas, Mercado de letras, 1999; e PITREZ, Maria M.. O Feriado de São Jorge e o Dia do Evangélico. Disputas políticas e religiosas em torno dos calendários cívicos do Rio de Janeiro. Debates do NER, v. 21, p. 151-180, 2012.

28. Três bons exemplos são: CONSTANTINO, Núncia Santoro de (1994). A conquista do tempo noturno: Porto Alegre moderna. Estudos Ibero Americanos. PUCRS, v. XX, n.2, dez., p. 65-84; DUARTE, Regina Horta. Noites circenses – espetáculos de circo e teatro em Minas Gerais no século XIX. Campinas: Unicamp, 1995; e GÓIS, Marcos Paulo Ferreira. “Na calada da noite”: Modernidade e conservadorismo na vida noturna carioca (1760- 1950). Espaço Aberto, PPGG-UFRJ, v. 5, n.2, p. 45-60, 2015.

29. ARANTES, Paulo Eduardo. O novo tempo do mundo. São Paulo: Boitempo, 2014.

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