História Cultural / Revista de História Bilros: História(s) Sociedade(s) e Cultura(s) / 2017

É com enorme satisfação que anunciamos a 10ª edição da “Revista de História Bilros: História(s), Sociedade(s) e Cultura(s)”. Fruto, inicialmente, do interesse conjunto de discentes da graduação em História e do Mestrado Acadêmico em História (MAHIS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), este periódico eletrônico chega ao seu quinto volume e ao seu número dez composto de doze textos inéditos de acadêmicos e acadêmicas de Universidades de todo o Brasil. Esta edição está sendo lançada composta por oito artigos no Dossiê Temático História Cultural, três artigos na seção Artigos Livres e uma Entrevista com a atual presidenta da ANPUH nacional.

A caminhada desta complexa empreitada não foi fácil. A Revista de História Bilros surgiu ainda em 2012 como proposta de gestão de Centro Acadêmico, passou por instâncias e colegiados para garantir sua aprovação e foi encampada por discentes da graduação e da pós-graduação em História da Universidade Estadual do Ceará. Aprender regras básicas de editoração, manutenção de sistema, bem como a necessidade de manter um núcleo articulado de editores (as) e pareceristas se constituiu como uma árdua, mas saborosa e intrigante tarefa. Aprendizados diversos foram surgindo durante o caminho, assim como novos(as) integrantes que se propuseram a somar cada vez mais.

Mesmo com diversas dificuldades – dentre elas a falta de recursos financeiros, a sobrecarga de atividades necessárias aos membros e normas acadêmicas que contribuem cada vez mais para um produtivismo exacerbado e com a exclusão das etapas iniciais da graduação –, a equipe editorial da Revista Bilros se manteve firme e vêm se esforçando para mediar regras de excelência exigidas pelas instituições ligadas aos periódicos eletrônicos – como a avaliação de pares as cegas, a inserção em indexadores nacionais e internacionais e a manutenção de um status exogâmico – com a efervescência temática, metodológica e teórica, sem assim realizar distinção por titulação ou qualquer outra forma.

Assim, continuamos com a caminhada para que o periódico se afirme enquanto espaço de formação e disseminação de saberes na área da história, das ciências humanas e afins. Nesse sentido, busca-se contribuir para a ampliação e fortalecimento de debates desse campo de estudos, através da divulgação de pesquisas e pesquisadores, das mais variadas formações. A cada edição, seguimos com a missão de estimular uma pluralidade de discussões que envolvem abordagens, métodos, objetos e teorias diversos, contribuindo, assim, com a transdisciplinariedade e com a interdisciplinaridade na construção do conhecimento.

É no seio desse processo de busca e autoconhecimento que publicamos nove edições, dentre elas um dossiê temático – História e Educação – e agora caminhamos para a edição de número dez. Uma edição que chega para coroar o esforço, a abdicação e o trabalho da equipe editorial – os que passaram e os que ainda estão – dos (as) pareceristas, mas principalmente dos autores e autoras dos textos submetidos, tenham sido eles publicados ou não.

Para contribuir com esta décima edição e fechar, talvez, um primeiro ciclo do periódico, a História Cultural foi escolhida como norteadora dos debates a serem feitos nessa edição. Com realização, organização e apoio do Grupo de Trabalho em História Cultural – Secção Ceará, esse dossiê foi minunciosamente planejado com o intuito de debater e reverberar novas e antigas discussões inseridas dentro do campo da História Cultural. As possibilidades temáticas, teóricas e metodológicas nos surgem como uma discussão necessária e possível dentro, principalmente, da proposta inicial da Revista de História Bilros: História(s), Sociedade(s) e Cultura(s). Nesse sentido, o interesse aqui é trazer debates diversos, que ultrapassem as fronteiras da História, dialogando com a Antropologia, a Literatura, as Artes, a Sociologia, entre outras áreas de conhecimento, buscando refletir sobre práticas, costumes, tradições, identidades, as relações entre a cultura e a sociedade, assim como próprio fazer historiográfico.

Seguimos, então, com nossa apresentação e iniciamos este número com o artigo “Nos rastros da história cultural e das sensibilidades: o acervo Sandra Jatahy Pesavento e sua produção historiográfica”. Nele, Nádia Maria Weber Santos, doutora em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisadora do IHGRGS e curadora do Acervo Sandra Jatahy Pesavento, e Maximiano Martins de Meireles, doutorando em Educação pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) refletem sobre o campo da História Cultural, seus temas e fontes preferenciais, passando assim por suas questões teóricas e metodológicas de base, desta maneira, aprofundado a discussão em torno do campo da História das Sensibilidades e do acervo da historiadora Sandra Jatahy Pesavento, que está sob custódia do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Dessa forma, iniciamos nosso dossiê realizando uma caminhada transdisciplinar pelas múltiplas possibilidades da História Cultural.

Em “História da capoeira na região de Imbituva-PR: cultura negra entre brancos”, Jeferson do Nascimento Machado, mestrando em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), passeia o seu olhar, por meio de fontes orais e de fotografias, sobre a pluralidade cultural da capoeira no Paraná, vislumbrando a prática cultural como elemento agregador da nação e, portanto, constitutivo da identidade imbituvense.

José Bento de Oliveira Camassa, mestrando em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), em “Papilas modernistas: alteridade e identidade nacional no diário de viagem O Turista Aprendiz, de Mário de Andrade”, produz uma densa análise dos percursos de viagem do modernista Mário de Andrade pelo rio Amazonas, em 1927, tendo como central em sua análise a questão da identidade e da cultura nacional, o que teria permitido ao autor a constituição de uma definição sincrética do Brasil.

No quarto artigo a mestra em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Joyce de Freitas Ramos, oferece-nos um denso artigo, intitulado “Construindo um discurso de santidade: a obra de Santa Teresa de Ávila como autobiografia espiritual em sua produção e recepção”, no qual se propõe a revisar autobiografias espirituais da Espanha moderna, a fim de investigar a obra de Santa Teresa de Ávila, remetendo desde a escrita a sua práxis religiosa, que foi construtora de um discurso de santidade e de um possível percurso espiritual.

Os Festivais Internacionais da Canção também compõem o arsenal de temas deste Dossiê. Reflexões sobre este movimento cultural ocorrido na Cidade do Rio de Janeiro, entre os anos de 1966 e 1972, foram produzidas por Thiago Rafael Souza, Juliane Roberta Santos Moreira e Tayná Gruber, mestrandos em História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que em “Os festivais internacionais da canção (1966-1972): de atração turística à vitrine da indústria fonográfica brasileira” problematizam a fase Nacional das sete edições do Festival, revelando que esta funcionava como um espaço de produção e de experimentação de mercadorias para a indústria fonográfica brasileira.

A Mestra em História pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Marta Regina da Silva Amorim, nos apresenta em “O teatro amador nas primeiras décadas do século XX: entre a capital e o interior” inquietações, por meio de memórias, periódicos e peças, acerca do teatro antes de sua profissionalização na cidade do Crato – CE, identificando trânsitos entre o rural e o urbano e a influencia de uma elite intelectual, difusora de valores cratenses, no desenvolvimento desta arte.

No artigo intitulado “Materializando conceitos: por uma busca da identidade amazônica nas joias paraenses”, a graduada em Artes pela Universidade Federal do Pará (UFPA), especialista em Design (IESAM) e mestra em Antropologia Amanda Gatinho Teixeira aborda a joalheria paraense produzida, exposta e comercializada no Polo Joalheiro no município de Belém-PA. A autora busca analisar as questões da construção da identidade dos sujeitos pós-modernos, a fim de compreender as especificidades da chamada identidade amazônica. Desta forma, ao se aproximar da temática da identidade a partir de um viés de sujeitos pós-modernos, a autora nos apresenta um dos múltiplos e costumeiros debates realizados dentro da História Cultural.

Por fim, encerrando nosso dossiê temático História Cultural, temos o artigo intitulado “Da revolta contra o tempo histórico à potência do anacronismo na escrita da História”, no qual professora titular em História Cultural, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisadora do CNPq doutora Maria Bernardete Ramos Flores realiza um debate a cerca do tempo na história, seja ele o tempo vivido, da pesquisa ou da escrita. Dessa forma, a autora continua no encalço das “pegadas” de Walter Benjamin e discute a crítica à história linear, o terror aos anacronismos e a montagem de múltiplos tempos históricos na pesquisa. Assim, a autora realiza uma forte e complexa discussão teórica acerca do tempo, suas dificuldades, os medos em lidar com ele e as possibilidades diversas quando bem sedimentado e justificado.

Nossa seção artigos livres inicia com o artigo intitulado “Corpos com história: pensando o movimento travesti e transexual através da trajetória de Marcelly Malta” busca, por meio da trajetória de uma militante do Rio Grande do Sul, desconstruir identidades e modos de ser travesti e transexual, pontuando a existência de similitudes, mas, sobretudo, de pluralidades que, constantemente, não são reconhecidas pelos movimentos sociais.

A graduanda em História pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) Mirella Ribeiro Pinto, no artigo “Um “gênero menor” como fonte histórica: análise da santificação da mulher na crônica de Olavo Bilac”, busca discutir as possibilidades e a importância do uso da crônica como fonte histórica. Assim, a partir da maneira como a mulher era retratada durante o período da Primeira República na crônica de Olavo Bilac publicada na revista Kosmos, a autora pretende realizar este debate teórico-metodológico.

Por fim, encerrando nossa seção artigos livre, temos o artigo intitulado “Revista Visão e sua a perspectiva acerca de memória e patrimônio (década de 1980)”. Escrito pela graduanda em história pela Universiade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Maria Fernanda das Chagas, o artigo busca analisar como a revista Visão retratou as questões relacionadas ao patrimônio e a memória, bem como analisar quais as concepções acerca da História que veicularam para o público leitor. Dessa forma, a autora busca sedimentar sua análise a partir de reflexões feitas por Pierre Nora, David Lowenthal e Alzira Abreu.

Encerrando esta maravilhosa edição, temos a entrevista realizada pela doutoranda Maria Adaiza Lima Gomes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com a professora doutora Joana Maria Pedro. Intitulada “Sobre História Cultural e Estudos de Gênero: Uma entrevista com a historiadora Joana Maria Pedro” a entrevistadora buscou abordar questões sobre a História Cultural, tema do nosso dossiê temático, e sua relação com os Estudos de Gênero, área de atuação da entrevistada. A trajetória acadêmica da pesquisadora é delineada em conjunto com suas reflexões sobre o peso da cultura na História das sociedades, e sobre como seus aspectos econômicos e políticos estão ancorados nas relações de gênero. Assim, nos indaga: “como se pode escrever história sem levar em consideração gênero, raça, classe?”

Boa leitura!

Camila Mota Farias

Reverson Nascimento Paula

Conselho Editorial


FARIAS, Camila Mota; PAULA, Reverson Nascimento. Apresentação. Revista de História Bilros: História(s), Sociedade(s) e Cultura(s). Fortaleza, v. 5, n. 10, set. / dez., 2017. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Deixe um Comentário

Você precisa fazer login para publicar um comentário.