Os Programas de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília e da Universidade Federal de Goiás e o Centro de Pesquisa c Pós-Graduação sobre as Américas — Ccppac — da Universidade de Brasília desenvolveram conjuntamente o projeto “Fronteiras: Espaços Imaginados, Lugares Concretos” nos quadros do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad), entre 2001 e 2005.
Esta experiência de cooperação acadêmica tinha como preocupação teórica mais geral as regiões de fronteira e os imaginários construídos sobre elas e, em particular, as problemáticas postas pelo chamado mediterrâneo caribenho. Dentre os objetivos do projeto, destacava-se a contribuição para a criação do curso de doutorado em história da Universidade Federal de Goiás.
Como equipe líder do projeto, o PPGHIS da UnB passou a receber um número significativo de estudantes de mestrado e de doutorado com projetos voltados para os referenciais espaciais, teóricos c metodológicos do projeto Fronteiras. Cuba, Jamaica, o Haiti, as Güianas, as regiões caribenhas do México, da Colômbia e da Venezuela, bem como as dinâmicas e complexas relações entre o Caribe, a África, os Estados Unidos, o Brasil e a Europa, tornaram-se questões recorrentes em nossos seminários, especialmente na área de concentração em história cultural.
Este dossiê apresenta uma nova contribuição aos estudos caribenhos, na esteira de uma série de publicações articuladas ao projeto Fronteiras} O ensaio ” O conceito de fronteira em Deleuze e Sarduy” do professor Luís Sérgio Duarte, da UFG, indica um dos mais fecundos caminhos que vêm sendo trilhados pelos pesquisadores reunidos no referido projeto: a reflexão crítica acerca das múltiplas dimensões do fenômeno fronteira. Relacionando as obras de Gilles Deleuze e de Severo Sarduy, a partir do conceito de fronteira, Luís Sérgio Duarte procura definir as características de uma epistemologia neobarroca (“o método da fronteira”), mostrando sua validade para uma teoria pós-moderna da história.
Olga Cabrera, também da U FG e principal responsável pelo dinamismo do projeto Fronteiras, expressa, com o artigo ” E l proyecto pedagógico de Ias lecturas de tabaquerías: de la búsqueda de la igualdad a la consolidación de la diferencia”, uma inquietação que já estava presente na sua dissertação de Mestrado,2 e que permanece evidente em meio à grande variedade de projetos que tem orientado e coordenado: a investigação dos processos de construção e reconstrução de identidades, explorando as fronteiras entre escritura e oralidade, entre discursos hegemônicos e subalternos, entre a história e a literatura.
O historiador haitiano Vertus Saint-Louis visitou Brasília pela primeira vez em 2005, quando participou do seminário internacional Saídas da Escravidão e Políticas Públicas, aproveitando para estabelecer contato com o Departamento de História da UnB. A conclusão de seu texto, intitulado “A Guerra do Sul c as apostas do comércio internacional”, conserva o t om e o estilo adequados ao momento em que foi apresentado ao público haitiano: durante as comemorações do bicentenário da morte de Toussaint Louverture (e dois anos antes do bicentenário da independência do Haiti).3 É muito reconfortantc a oportunidade de reconhecer um certo “ar de família” neste artigo, que renova o diálogo da historiografia c om a opinião pública, trazendo, da pesquisa sistemática em arquivos, a evidência da necessidade de uma postura crítica frente aos mitos construídos pelo sistema político haitiano.
O professor Dinair Andrade da Silva, que atuou por muitos anos na área de História da América do curso de História da UnB, e que agora colabora como pesquisador associado ao programa de pós-graduação, na área de concentração em história social, apresenta um extenso e criterioso painel, construído em torno de um personagem emblemático: “Aproximação a Félix Varela, fundador da nacionalidade cubana e reformador social nos Estados Unidos”. O padre Félix Varela, cuja ação internacionalista deixou marcas indeléveis na sua pátria, na América Latina, na Espanha e nos Estados Unidos, como aponta com propriedade Dinair Andrade da Silva, merece a atenção de todos os que acompanham a inquietação contemporânea das comunidades cubana, latino-americana, e mesmo norte-americana, em relação ao futuro imediato da nacionalidade e da cultura cubanas.
Esperamos que este dossiê amplie o círculo de leitura que, até o presente momento, vem acompanhando a produção historiográfica da equipe de professores e estudantes vinculados ao projeto Fronteiras: espaços imaginados, lugares concretos, e também que estimule novos projetos, intensificando a inserção da pós-graduação brasileira no cenário internacional.
Notas
1 CABRERA, Olga, CORTÊS ZAVALA, Maria Teresa; UR1BE SALAS, José Alfredo (org.). Región, frontera yprácticas cnltnrales en la historia de América Latinay el Caribe. Morelia: Universidad Michoacana dc San Nicolás de Hidalgo; Goiânia: Cecab, 2002. ALMEIDA, Jaime de; CABRERA, Olga; CORTÊS ZAVALA, Maria Teresa (org.). Cenários Caribenhos.
Brasília: Paralelo 15, 2003. CABRERA, Olga; ALMEIDA, Jaime dc (org.). Caribe, sintonias e dissonâncias. Goiânia: CECAB, 2004. Alem dessas três coletâneas, cabe ressaltar a também a Revista Brasileira do Caribe, publicada regularmente desde 2000, pelo Centro de Estudos do Caribe no Brasil (CECAB), dirigido por Olga Cabrera.
2 CABRERA, Olga. Historia dei movimiento obero cubano. La Habana, Universidad de la Habana. Dissertação de Mestrado, 1968.
3 Cf., a propósito, ALMEIDA, Jaime de. Há duzentos anos, o Haiti: a historiografia diante da comemoração. In ALMEIDA, Jaime de; CABRERA, Olga (org.), op. cit. p.
312-332. Acerca da relação histografia/comemoração, v. também SÁ, Antônio Fernando Araújo. “Canudos Plural: memórias em confronto nas comemorações dos centenários de Canudos (1993-1997)” in Textos de História vol. 5, n. 1, 1997; e ANKERSMIT, Franck.
“Commemoration and national identity” in Textos de História vol. 10, n. 1/2, 2002.
Jaime de Almeida
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