Rumos da História. Vitória, v.2, n.7, jan./jul. 2019.

Expediente (1)

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Roundtable Review do livro “Juca Paranhos: o Barão do Rio Branco”, de Luis Cláudio Villafañe Gomes Santos | Meridiano 47 | 2019

O periódico Meridiano 47 (Journal of Global Studies) foi um dos primeiros periódicos científicos completamente digitais na área de humanas no Brasil. Criada em 2000 pelo Instituto Brasileiro de Relações Internacionais – IBRI, Meridiano 47 complementava a missão editorial da sua irmã mais velha, a consolidada Revista Brasileira de Política Internacional, estabelecida em 1958. Nos seus anos iniciais, a publicação funcionou como um boletim para a divulgação de peças de opinião, publicando também resenhas de livros e artigos de resenhas.

A revista fez parte de uma geração de experimentos editoriais digitais que floresceram no projeto RelNet (Rede Brasileira de Relações Internacionais), um grande projeto de divulgação científica estabelecido na Universidade de Brasília em 1998, nos primórdios da internet no Brasil. Meridiano 47 é a sobrevivente de uma geração de experimentos de publicação científica auspiciosa, pensada para veiculação exclusivamente on line e em RelNet, lançada anos antes da multiplicação de revista que foi facilitada e impulsionada pelo modelo de publicação do acesso aberto. Faziam parte desse conjunto de experimentos editoriais nascidos no contexto do RelNet a Revista Cena Internacional e o Boletim Via Mundi, ambas editadas no então Departamento de Relações Internacionais da UnB, e já extintas. Leia Mais

Rural e Urbano. Recife, v.4, n.1, 2019.

Editorial

  • Mariana Zerbone Alves de Albuquerque
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Resenhas

Rural e Urbano. Recife, v.4, n.2, 2019.

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Relato de Experiência

Imagem e Autoritarismo / Domínios da Imagem / 2019

É com muito prazer e gratidão que a Revista Domínios da Imagem vem a público trazer mais uma edição. É importante deixar claro o significado de todo esse prazer e gratidão, pois, em dias obscuros para a produção acadêmica e científica, o trabalho de produzir e divulgar os resultados de nossas pesquisas tornou-se cada vez mais uma atitude de resistência e de perseverança. Ao mesmo tempo, somos muito gratos por todos aqueles que dedicaram seu tempo para que essa edição se tornasse realidade. Agradecemos desde a colaboração dos autores que colocaram à disposição os magníficos trabalhos que compõem essa edição até nosso corpo editorial que conta com pessoas extremamente profissionais.

Quando foi gestada a ideia de produzir um novo dossiê para a revista, pensávamos sobre o alcance das imagens como comunicadores, tanto explícitos como implícitos, das mais diversas formas de violência e autoritarismo. Divagávamos sobre a importância da imagem no transcorrer da temporalidade para descrever e enunciar as mais diversas formas que a imposição de uma pessoa ou um grupo de pessoas pode ter sido realizada às custas de outras. Foi assim que “Imagem e Autoritarismo” ganhou vida e agora também ganhou fôlego.

Em “Como o mito das Amazonas se transformou na alegoria da América”, Adriano Rodrigues de Oliveira se debruça tanto sobre fontes literárias como também em fontes iconográficas para nos mostrar as transformações acerca da representação da mulher ameríndia como sendo uma mulher selvagem, com as vergonhas à mostra sempre portando seu arco e flecha. Imagens essas que se espalharam sobre a representação do próprio continente americano como local de hostilidade em detrimento de um homem europeu cristão e medieval. O trabalho de Oliveira se torna pertinente ao nos fazer olhar para a construção das narrativas e de mitos fundadores. Concomitantemente a isso, enfatiza a produção de preconceitos e hiatos que essas narrativas carregam em seu corpo semântico.

Nos transportando para o outro lado do mundo, Richard Gonçalves André nos proporciona um encontro com a censura no Japão pós-1945. Em “O Ogro e o Demônio: a representação fotográfica da devastação nuclear em ‘Hiroshima’, de Ken Domon (1945-1958), o autor problematiza tanto os textos como as fotografias do livro “Hiroshima” de Domon, muito marcados pela bomba nuclear de Hiroshima. Nesse trabalho, André investiga o olhar humanizador do fotógrafo e a representação da trajetória de pessoas que sobreviveram ao impacto da bomba. Por trás dessas narrativas, Domon tinha como interesse transformar o sofrimento pessimista e derrotista trazido com o fim da Segunda Guerra Mundial e consequentemente os ataques nucleares em “não-ditos” para que a atenção estivesse alinhada com a prosperidade e o crescimento econômico apresentados pela sociedade japonesa. Dessa forma, André traz à luz a utilização da imagem como ferramenta ideológica e acima de tudo como instrumento de negação de um passado não tão bem visto em detrimento de um possível futuro próspero.

Voltamos novamente para a América, mas uma América distante temporalmente daquela descrita por Oliveira. Dois trabalhos candentes são apresentados sobre o Brasil durante a Ditadura Militar (1964-1985). Maria Elisa de Carvalho Sonda nos presenteia com “Para além das fronteiras discursivas: uma análise desconstrutora de Iracema, uma transa amazônica (1974)”. Se utilizando de fontes audiovisuais, Carvalho Sonda analisa os efeitos negativos ocorridos na exploração predatória da Amazônia durante o crescimento econômico anunciado pelos militares durante a década de 1970. Contextualizado com a construção da rodovia Transamazônica, a ficçãodocumental que serve como fonte de pesquisa da autora faz parte da linguagem do cinema verdade, que tem como um de seus princípios fundantes produzir o efeito do real. O trabalho de Carvalho Sonda se torna extremamente candente com a realidade vivenciada em nossa atualidade. A autora nos permite entrar em contato com a visão dos idealizadores de Iracema uma transa amazônica, que há quase meio século já abordavam os problemas ambientais que ainda discutimos nos dias de hoje. Além disso, outro aspecto que torna o trabalho de Carvalho Sonda de grande importância diz respeito ao cinema como forma de resistência ao Regime Militar brasileiro e sua visão unilateral de desenvolvimento não sustentável.

A mesma relevância pode ser observada no trabalho “Fotojornalistas brasileiros em época de ditadura: entre a estabilidade e o compromisso”, de Carlos Alberto Sampaio Barbosa. Em seu artigo, Barbosa discorre sobre três fotojornalistas brasileiros, Pedro Martinelli, Juca Martins e Jesus Carlos. Ao analisar as transformações do fotojornalismo brasileiro durante a Ditadura Militar, Barbosa também nos descreve um continente Latino-Americano conflituoso, especialmente os casos da Nicarágua e El Salvador, países em que Martinelli e Martins tiveram maior contato, enquanto Jesus teve posição mais radical ao representar a luta contra a ditadura brasileira. Em momentos que observamos uma América Latina novamente efervescente, com os conflitos no Chile, na Venezuela, na Bolívia e a polaridade política no Brasil, o trabalho de Barbosa é um ótimo olhar retrospectivo de nossa história de lutas e violência que permeiam o povo latino.

Agora nos deslocamos para o eixo da América do Norte, em especial para os Estados Unidos. Os trabalhos de Mariana Furio, Danilo Pontes Rodrigues e José Rodolfo Vieira se entrelaçam para discutir as narrativas sobre o imperialismo estadunidense na perspectiva de três autores e ilustradores de histórias em quadrinhos distintos. Coincidência ou não, os três trabalhos trazem tanto a temática narrativa como a fonte de pesquisa muito semelhantes, o que nos faz pensar como as próprias HQ’s podem ser consideradas elementos importantes para se discutir a história de uma nação. Em “O Comediante em Watchmen: uma paródia premeditada para a retomada do nacionalismo estadunidense”, Furio traz à tona a narrativa de Alan Moore em um mundo distópico em que a ameaça de uma guerra nuclear entre Estados Unidos e União Soviética está à beira de ser iniciada. Com seu recorte, Furio analisa a representação da personagem Comediante, um veterano de guerra, na batalha de Saigon no Vietnam. O intuito da autora é estabelecer vínculos entre as características militaristas do Comediante com o crescimento dos valores conservadores e nacionalistas nos Estados Unidos com o advento do século XXI.

Mais adiante, o trabalho de Danilo Pontes Rodrigues, “Doutrina Bush e violência em In the Shadow of no Towers de Art Spielgeman” discute as representações artísticas de Art Spielgeman após os ataques contra as Torres Gêmeas em 2001. Nesse artigo, o autor realiza os paralelos entre as ações tomadas pelo governo Bush, também conhecidas como Doutrina Bush, e as representações na história em Quadrinhos Shadow of no Towers. Dentre os elementos alavancados por Rodrigues, é possível observar a implementação do Patrioct Act e a privação às liberdades dos cidadãos estadunideses e as guerras no Afeganistão e no Iraque.

José Rodolfo Vieira, em “Footnotes in Gaza: Representações sobre o Hamas durante as eleições na Palestina por meio das Histórias em Quadrinhos de Joe Sacco (2002-2010)”, foca em descrever e analisar as representações tanto no trabalho de Joe Sacco como também nas representações de grandes comunicadores sociais estadunidenses, tais como o The New York Times e o The Washgington Post, e averiguar a construção de narrativas acerca do grupo fundamentalista Hamas durante as eleições de 2006 para o corpo legislativo palestino. Em seu trabalho, podemos observar como os Estados Unidos articularam para que o Hamas não fizesse parte do pleito eleitoral e como foi realizado um movimento de negação após a vitória do grupo contra seus adversários do Fatah, esses últimos alinhados à política estadunidense.

Por fim, também contamos nessa edição com a resenha realizada por Jorge Edson, do livro “Guerra Civil e Super-Heróis: Terrorismo e contraterrorismo nas Histórias em Quadrinhos”, de Victor Callari. Tal como os textos de Furio, Rodrigues e Vieira, o trabalho apresentado também tem como objeto de estudo os Estados Unidos. Edson apresenta os pontos importantes da narrativa construída por Callari e seu levantamento sobre como as Histórias em Quadrinhos tiveram relações com a política, a cultura e a economia dos EUA. Com ênfase na editora Marvel Comics, o panorama construído por Edson é muito importante para aqueles que tem como fonte de pesquisa a arte sequencial e se interessa pelos estudos da história dos Estados Unidos. Portanto, podemos dizer que as expectativas e as hipóteses levantadas quando à gestação desse dossiê foram fartamente correspondidas. Não somente pela diversidade de temas que foram abordados, como também o entrelaçamento de trabalhos que discorrem sobre um objeto muito semelhante. O resultado desse trabalho não poderia ter sido melhor e, por isso, desejamos a nossos leitores uma boa leitura e bons momentos de reflexão.

Até a próxima e obrigado!

José Rodolfo Vieira –  Organizador do dossiê


VIEIRA, José Rodolfo. Apresentação. Domínios da imagem, v. 13, n. 24, jan. / jun., 2019. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Claves – Revista de Historia. Montevideo, v.5, n.9, 2019.

Afrodescendencia, cultura y sociedad en el Cono Sur, 1760-1960

Imagen de portada: Tapa de la revista Nuestra Raza, Año V, Núm. 55, Montevideo, Marzo 25 de 1938. Reproducción de una hoja de votación del Partido Autóctono Negro, Lista 61, con la lista de candidatos a la Cámara de Representantes para la Legislatura 1938-1942: Mario R. Méndez, Carmelo Gentile, Pilar E. Barrios, Rufino Silva González, Juan Carlos Martínez, Rolando E. Olivera, Victoriano Rivero, Cándido Guimaraes, Sandalio del Puerto y Roberto Sosa. (Fuente: Hemeroteca Biblioteca Nacional, Uruguay: http://bibliotecadigital.bibna.gub.uy:8080/jspui/handle/123456789/70077 )

Tema Central

Temática Libre

Foros y Eventos

Bibliográficas

Participantes en la edición

Claves – Revista de Historia. Montevideu, v.5, n.8, 2019.

Mundos del trabajo y clases trabajadoras en los siglos XIX y XX: nuevas perspectivas y aproximaciones

Imagen de portada: Entrada a la mina. Mural pintado por Diego Rivera (Guanajuato, 1886 – Ciudad de México, 1957), en uno de los corredores de la planta baja del edificio que ocupa la Secretaría de Educación Pública de México. Entre los años 1923-1928, respondiendo a una invitación del primer titular de esa repartición estatal recientemente creada, José Vasconcelos, el artista intervino los muros en los tres niveles de los dos patios del edificio, Principal y Juárez, a los que el artista denominó del Trabajo y de las Fiestas aludiendo a la temática muralista expuesta. En ellos plasmó su visión sobre las fiestas, los oficios, el reparto de tierras y las luchas del pueblo mexicano. La entrada a la mina representa el inicio de una jornada laboral, momento que los mineros pasan a través de un par de arcos para llegar a la bocamina, sin contar con indumentaria apropiada y llevando sobre sus hombros maderos, picos y palas, como si cumplieran una penitencia. (Fuente: Secretaría de Educación Pública de México, https://murales.sep.gob.mx/swb/demo/pb)

Tema Central

Temática Libre

Bibliográficas

Participantes en la edición

HAWÒ | UFG | 2019

Hawo Hawò

Hawò (2019-) é uma revista científica, publicada na versão eletrônica pelo Museu Antropológico da Universidade Federal de GoiásTem como objetivo fomentar e divulgar a produção científica realizadas por pesquisadores de instituições reconhecidas, nacional e internacionalmente, que venham contribuir para a geração, preservação e difusão de novos conhecimentos nas áreas relacionadas à Antropologia Social e Cultural, Antropologia Biológica, Arqueologia, Etnolingúistica, Museologia, Arte e Cultura Popular, Patrimônio Cultural, Educação e Etno-História, em seu caráter interdisciplinar.

A revista Hawò, desde sua criação, adotou a modalidade anual de publicação contínua. Essa modalidade permite a publicação dos artigos conforme sua aprovação, agilizando assim  o processo de comunicação e divulgação das pesquisas. Não há fascículos ou periodicidade definidas.

A revista Hawò oferece acesso online e aberto a todo o seu conteúdo, o que significa que todos os artigos estão disponíveis na internet para todos os usuários após sua publicação, sendo os autores responsáveis pelo conteúdo de seus artigos. Segue o princípio de disponibilizar gratuitamente as informações científicas ao público, de forma a contribuir com maior democratização ao conhecimento.

Acesso livre

Periodicidade contínua

ISSN  2675-4142

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Contemplating Historical Consciousness: Notes from the Field

CLARK, Anna; PECK, Carla L. (eds). Contemplating Historical Consciousness: Notes from the Field. Berghahn Books, 2018. Resenha de: APOSTOLIDOU, Eleni. International Journal of Research on History Didactics, n.40, p.253-263, 2019.

  1. Introduction

Contemplating historical consciousness: Notes from the Field, edited by Anna Clark and Carla Peck revises the effort of Peter Seixas (2004: 4) in analyzing this very interesting concept which ‘implicates historiography, collective memory and history education’. Before proceeding to the structure and the contents of the volume it would be useful to suggest a definition of the concept. Seixas (2004: 10) suggests that of McDonald and Fausser: ‘the area in which collective memory, the writing of history, and other modes of shaping images of the past in the public merge’. It is exactly this merit of historical consciousness that makes it that attractive: it is inclusive of equally disciplinary and ‘lay’ modes of thinking. The latter was appreciated also by the contributors of the 2018 volume, Chapman, Green, and Seixas. Rüsen himself in his 1987 article about history didactics in West Germany seeing historical consciousness as broader then history didactics, explains that: ‘the didactics of history now analyzes all the forms and the functions of historical knowledge and reasoning in daily, practical life’ (Rüsen, 1987: 281).

In relation to the methodology of historical consciousness studies, Rüsen in a 1993 article stated that ‘the proof of theory lies in amassing empirical evidence substantiating its theses’ (Rüsen, 1993: 79). On the same lines, contributors of the 2004 volume like Wertsch, Létourneau and Moisan and Lee exemplified the contribution of empirical research in the theorizing of historical consciousness while Lorenz urged for comparative approaches (Seixas, 2004: 14). Thus, the tradition of qualitative empirical research is adopted also by the contributors of the 2018 volume; all the fifteen contributions relate to empirical research making use of an array of research methods, instruments and types of samples. McCully and Burton conducted qualitative research using a set of images referring to the history of Ireland, and also interviewed students. Chapman used questionnaires for school students and trainee teachers including open questions, Van Nieuwenhuyse and Wils used written history exams, students essays and questionnaires also preferring qualitative approaches, van Boxtel conducted process studies among school students, Wanhalla and Green used oral history approaches, Peck paragraph writing in answer to an ‘open for self-definition’ question and interviews and Silverstein, interviews. The volume also includes research projects similar to the Rosenzweig and Thelen’s 1998 study, specifically Seixas’, Clark’s and Li’s. Finally, Lévesque and Létourneau ‘repeated’ the 2004 Létourneau and Moisan research methodology analyzing students’ narratives.

Clark and Peck distributed all the empirical wealth above in three sections: ‘Historical consciousness, curriculum and pedagogy’, ‘Historical consciousness within and beyond borders’, ‘Historical consciousness and cultural identity’. The distribution above is functional as education or pedagogy and identity constitute elements of historical consciousness. The second part ‘[…] within and beyond borders’ while it implies comparison between different countries and continents, proves to indicate a more intimate relationship of several peoples with their pasts: Canadians, Australians, Chinese.

Insisting on the structure of the volume and the content of the chapters, an editorial novelty was that the contributors responded to specific questions set by the editors. Reading the chapters through the lenses of the first two questions, ‘motives to conduct research in historical consciousness’ and contributors’ ‘conception of memory, history and historical consciousness’, I distinguished the following tendencies: research strategies that address mostly the cognitive part of historical consciousness, the articulation of methodologically valid historical narratives, and others that address existential and political orientation problems. I therefore display the several studies within the latter context which implies possible differences of the contributors in relation to memory. I must admit that despite the above attempted categorization, there are cases where one can only notice emphasis on different aspects of historical consciousness.

  1. Combining Cognitive and Orientational Approaches

The Dutch curriculum, as Boxtel described it, focuses ‘on the ability to apply – in a coherent way – historical thinking and reasoning skills and a chronological frame of reference […] and did not do much justice to Rüsen’s ideas about the practical function of historical interpretations; how historical knowledge and understanding is used to understand the present and to orientate […]’ (Boxtel, 2018: 62).

Boxtel herself, at the beginning of her contribution, states that she does not approach historical consciousness as a cultural or historical phenomenon, but as an individual’s understanding of the past and from a learning and teaching perspective (p. 61). She locates ‘collective memory’ in education, in students’ and teachers’ ideas about the past, and also in teachers’ and education specialists’ work in informal education and heritage places such as museums. Her earlier reference to the Dutch ‘dynamic heritage’ project (p. 63) exemplifies her attitude towards cultural heritage, the latter considered as a challenge for the students ‘to construct shared historical knowledge and acknowledge different past perspectives.’1 Van Nieuwenhuyse and Wils seem to have a different starting point: the contrast between the Belgian curriculum and teachers’ practices, and also, the transnational narrative templates located in Belgian students as opposed with ethnocentric narratives located in students’ speech internationally. More specifically, Belgian history teachers were found to be ‘past-oriented’ in contrast to the Belgian curriculum guidelines that define the development of historical consciousness as the principal goal of history education (p. 47).

Belgian teachers were also found ‘fostering students’ substantive knowledge rather than their strategic knowledge, and hence their historical consciousness’ (p. 56). The latter tendency developed despite the prevailing education culture in Belgium of following student-centered teaching methods and focusing on skills. Van Nieuwenhuyse and Wils end by suggesting a historical consciousness definition that would emphasize the need for the students to differentiate the past from the present while, at the same time, using the past to orientate in the present and the future. In this way historicist and historical consciousness tendencies would be synthesized.

Chapman admits that whilst the main characteristics of historical consciousness – ‘interests’, ‘needs for orientation in time’ ‘functions’ could be appealing – the English national curriculum has traditionally focused on the past. Nevertheless, historical consciousness research in England referred to students’ orientation in time (p. 35). As Shemilt (2009: 194) put it, ‘the possession of a ‘big picture’ of the human past is a necessary condition for the emergence of more sophisticated and socially productive manifestations of historical consciousness’. Additionally, Chapman refers to his own and his colleagues’ research conducted in 1999, 2009 and 2016. This focuses on the past’s usefulness for 16 to 19 years-old students, the purposes of school history teaching (trainee history teachers), finally on the modes of historical consciousness suggested by the English curricula.

He concludes that historical consciousness research could be rewarding in terms of illuminating problems that did not surface in different research contexts. In relation to the cognition-orientation opposition he finds that the concept of historical consciousness provides at least two affordances: the first is that with the four different types of historical consciousness, one overcomes the tension between heritage-memory and the discipline of history. The second is that, different types of historical consciousness help us to have insight to additional meaning making processes (p. 35).

  1. Traumatic, ‘Spatial’ and Identity Approaches

Four contributions in this volume seem to originate in the same motives on the part of authors: Wanhalla’s on ‘Mother’s darlings of the South Pacific’, King’s ‘What is black historical consciousness’, Silverstein’s, about teaching the Holocaust, and Marker’s contribution about the Coast Salish Territory. They all refer to processes of identity construction, which could count as processes to form historical consciousness, in cases where people experience trauma and marginalization.

‘Mother’s darlings of the South Pacific’ was a 2010 – mainly oral – history project that referred to the Second Word War experiences of indigenous women and their partners: American army officers that settled in South Pacific islands between 1942-1945. Wanhalla admits that the project above could belong to memory studies, though, ‘uncelebrated, not public, wartime memories’ (Leckie in Wanhalla, 2018: 92). Additionally, the project could be a historical consciousness project since it brought to the fore narratives (of indigenous women, American fathers, ex-soldiers, and their illegitimately born children, now grown-ups), that described a traumatic experience of social exclusion since American military authorities did not permit marriages between Americans and indigenous women, applying the US racial segregation laws extra- territorially. It is also a social history study that reveals unpredicted World War Two and militarization consequences on individuals’ personal lives.

King questions the way black history is being constructed at schools and generally in the public sphere, and consequently forms black historical consciousness and culture. He comments on the uses and misuses of history to construct identities as wished by the prevailing political voices. He focuses not on the space that black history occupies in history textbooks and curricula speaking in quantitative terms, but on the type of narrative developed in relation to the black people. It is a narrative of suffering and victimization, a disenfranchising one. Black people end up agentless while other ‘narratives involving the institutional aspects of racism that allowed racism to prosper for many decades in the U.S.A. remain silenced’ (p.

68). King reports what he calls ‘racial neutrality’ in public sphere that seems to create ‘collective memory ghettos’ (Traille, 2007: 36) for black people and especially youth that form relevant historical consciousness narratives.

Silverstein, starting from her own personal motive, being a Holocaust survivor descendant and having attended Jewish studies in her high school years, conducted research situated in twelve Jewish day schools in New York and Melbourne. Interviewing teachers, she identified common teaching strategies in the form of narratives relating to the future; as she puts it, the main and common concern of all these teachers is to form strategies that will ensure ‘that Holocaust education – a form of lieux de memoire – becomes public facing and acting’. There were teachers that perceived the maintenance of the Jewish traditions as an ‘obligation’ and others that transmitted to their students a chronologically developed narrative of the Holocaust ending with the founding of the state of Israel.

Nevertheless, the prevailing Holocaust narrative bore caveats as regards a possible Holocaust’s repetition even in the USA, a narrative that focused on the factors that made the Holocaust happen.

Silverstein notes that the study brought to the fore ‘how migrant groups, and post-genocide groups, negotiate their marginality, and we can thus grasp some of the pain – and some of the possibilities – imbricated in such marginality’ (p. 183).

Marker, Green and Carretero introduce another perspective as regards historical consciousness, that of space or landscape. Marker, having himself served as a teacher in a Coast Salish high school, referring to the people of Coast Salish. Its characteristics that differentiate it from the European or western historical consciousness are the following: it is articulated through space instead of time, it includes a metaphysical imperative, time is not developing in a linear but rather in a cyclical way, there is no distinction between categories of knowledge, instead a holistic view prevails. Land plays such an important role in the way Coast Salish people narrate their history that instead of referring to people’s history, we rather refer to the history of the land articulated by Coast Salish people. Apart from the space dimension I would count Marker’s contribution as another case of trauma and marginalization (like Wanhalla, King and Silverstein’s contributions): there were immense consequences that the colonization process had in the lives of indigenous people since the latter were alienated from their land and forced into another culture.

Green’s contribution bears no traumatic dimension like the previous ones: though it is similar to Marker’s contribution because of the space dimension, also to Wanhalla’s project because of the use of oral history. It also connects to Rosenzweig and Thelen’s work (the relevant contributions in this volume, too) because it focuses on family memories and their transgenerational transmission. The contribution is also interesting in relation to methodology and theory of historical consciousness. Green, like Chapman in the same volume, recognizes a certain affordance in the use of the historical consciousness concept as opposed to the collective memory one: it allows space for individual differentiation. Green also speaks in favour of the use of the term ‘consciousness’ as opposed to forms of memory that may not be conscious. Finally, she finds that the study of family memories refers to historical consciousness, since family memories are articulated in the form of narratives that connect past, present and future, also anchored to meaningful places as in the case of the Coast Salish people (p. 208).

Carretero, using as a starting point current politics, specifically the wish of Donald Trump to build a wall between the USA and Mexico to prevent prospective immigrants, notes the need for historization of current political problems to make sense of them, actually the creation of a narrative, the need to historize places, territories, displaying also the disputes about them (p. 79). The latter can be easily achieved by the use of historical maps that show political developments in an area. He finally explains how disastrous for the people historical consciousness can be, in terms of the fact that Trump wishes to replace symbolic walls, differentiated identities, as perceived by Americans and Mexicans, with concrete ones, imposing in that way a monolithic way of thinking that won’t allow individuals the possibility to discern other perspectives.

Levesque & Létourneau’s, McCully & Barton’s and Peck’s contributions originate in the relationship between people’s racial, ethnic, self-perception as opposed to school history. Levesque and Létourneau identify historical consciousness with narrative competence, thus their research question was ‘how can French Canadian students create usable stories of their collective past?’ (p.

143). They drew on previous Canadian studies in narrative competence conducted by Létourneau and Moisan and they themselves involved a sample of 635 students with an average age of 16 years and a half. Students were asked to narrate ‘the history of the French presence in Canada’. Influenced by the Howson & Shemilt’s (2011) work on students’ ‘big pictures’ of the past, Levesque and Létourneau found that ‘by the time students graduate from high school, they have acquired an important stockpile of historical information and little pictures of the collective past that vary from one region to another. Interestingly, these little pictures are part of “bigger” pictures organized in narrative templates such as la survivance’ (Levesque & Létourneau, 2018: 155). Unfortunately, students’ collective identification seems to affect the narrative template they finally select. Narrative templates despite being useful tools to organize the past have their limits too.

The latter remark about students’ commitment to their communities take us to McCully’s and Barton’s research question about ‘how history learned in school interacts with history encountered in families and the community’. In relation to motives, they both state that while being aware of several theoretical assumptions, it was school practice that contributed to the initiation of the specific research. Thus, they refer to Wertsch’s idea of ‘cultural tools’, Bakhtin’s understanding of ‘internally persuasive dialogue’, Halpern’s suggestions about how to increase empathetic understanding, ‘collective memory’, ‘imagined communities’, ‘historical consciousness’ (p. 22-23). All the above helped them to make sense of the data and to meditate on the development of a history curriculum that would help Irish students to overcome their country’s traditional political and religious division. As in Levesque & Létourneau study above, the main findings of their research were the constraining role of the communities’ narratives on students’ historical thinking, and teachers’ resistance as regards the teaching of the national controversial issues in history classes or their tendency to teach controversial topics in noncontroversial ways.

Likewise, Peck is interested in the connections between students’ ethnic identities and their historical thinking about Canada’s past (Peck, 2018: 216). Levesque & Létourneau, Peck and McCully & Barton seem to be interested in the relationship between school history and community narratives. Peck and Levesque & Létourneau, also share the experience of living in ‘settler’ states, where there are ethnic divisions and subdivisions, e.g. English speaking and French speaking Canadians, also a complex relationship with indigenous people, the ‘First Nations’. Her argument and thinking context remind me of Epstein’s ‘old’ research about ‘students’ racial identities and experiences and their historical perspective taking’ (Epstein, 1997: 29). In the same way Peck is interested in how students ‘situate’ themselves in the country, from the racial and ethnic point of view, and how they therefore connect to Canadian history, also its school version. In the end, she notes how important it is for teachers to know how students think of themselves (their identity) in order not to make teaching choices that may ‘exclude’ students not feeling any relevance to history.

  1. Intimate Approaches

Seixas, Clark and Li share similar historical consciousness and methodology approaches: they study the intimate, family and popular past of Canadians, Australians and Chinese people, as opposed to the formal, public past. Seixas referring to previous literature concerning the concept of progress in historical thinking exclaims, ‘Who we are to judge, how people understand and use the past […]’ (p. 105). Thus, in 2006 he conducted a 3419 participants telephone survey with the title ‘Canadians and their past’ drawing on the Rosenzweig and Thelen one ‘The presence of the past’. There were findings similar to the 1998 survey of Rosenzweig and Thelen.

Clark conducted the project ‘Private lives, public history’ in Australia, also inspired by the Rosenzweig and Thelen survey but following another methodology: she conducted small affinity group interviews from a sample of 100 participants originating in five different Australian communities and exercised ‘situational analysis’ (Clarke, 2005). Her research question was: how would the Australians engage with the nation and how would they articulate their own historical consciousness in the context of powerful public historical narratives? The findings indicated that official narratives did not speak to Australians’ experiences while they engaged with more intimate parts of the past.

Li drawing on all the above, USA., Canadian and Australian studies, conducted a similar survey in China under the title ‘Chinese and their pasts’. The sample comprised the main Taiwan sample of 425 participants and additional subsamples originating in different Chinese cities. The method of data collection was interview surveys.

Her findings were similar to the studies referred to above in the current section: places and sites of public history were highly evaluated in Chinese people’s learning about the past while there was ‘a strong push towards personal, family and local history’ (p. 138).

  1. Can We Discern Periods in Historical Consciousness?

Rüsen (1987: 281) saw in the turn of history education to historical consciousness in the 1970s’, the realization on the part of historians and history educators that if history were to remain in the curriculum, it should also serve extra disciplinary criteria. In Ahonen’s (2004) words ‘The progressive pedagogy of the 20th century required personal and social relevance from history. Thus, in addition to their pursuit of “literacy”, Americans have traditionally expected ethical and citizenship education from history’.

As for the 2004 volume about historical consciousness, Ahonen also notices that ‘the organization [of the chapters] reflects well the underlying idea – that people’s relation to the past is not only a matter of formal education but a broad social phenomenon’ (Ahonen, 2004: 3). The same is noted by Clark & Peck in the introduction of the 2018 volume (p. 2): ‘Taken together, this corpus of work into history-making, from the most powerful public narrative to the most intimate memoir, has come to be defined as “historical culture”’. On the other hand, according to Nordgen (2016: 481), ‘historical consciousness guides the use of history and is influenced by historical culture’. In a way historical culture facilitates historical consciousness, especially as the latter is seen as ‘uses of the past’ (Lévesque in Clark & Peck, 2018: 2).

In other words, and as Chapman and Green have also noted in this volume, historical consciousness was conceived to be something ‘more than historical literacy’ (Ahonen, 2005: 697). Despite the fact that Rüsen differentiated between disciplinary and non-disciplinary uses of the past, and even though Lee (in Clark & Peck, 2018: 4) noted that ‘Indeed, people may hold different types of historical consciousness in tension simultaneously’, one can note on the 2004 volume a tendency on the part of the authors to display their own stance as regards the dilemma historiography-memory. Thus, we have the dialogue among Simon, Lee, Rüsen and Seixas about historical consciousness and its relation with narrative and memory (Den Heyer, 2004).

In this volume, the focus rests on the different uses of the past, cognitive, political, intimate, while new dimensions occur as the ‘spatial’ one. The sections ‘Historical consciousness within and beyond borders’ and ‘Historical consciousness and cultural identity’ are indicative of the latter tendency. I would suggest that the contributors to this volume are immersed in different possibilities of making sense of the past, possibilities enabled by historical consciousness, while the contributors of the 2004 volume are more hesitant and yet focused in defining the concept, thus the references in memory’s relationship with historical consciousness and the discipline of history.

As for the ‘third period’ of historical consciousness, it may not have happened yet according to both Ahonen and Grever. Ahonen ends his 2005 review saying that ‘The culture of history is a strong shaper of people’s historical experience and consciousness: the structure and meaning-attribution in the culture deserve a coordinated study’. Grever instead refers to ‘the expanding field of virtual popular historical culture with huge audiences: video games, augmented reality, selfies, instagrams, and YouTube vloggers. These new media stimulate what Jerome de Groot calls historioglossia: a multiplicity of hybrid discourses accruing around a single historical person or event, with overlapping genres all of which might be simultaneously in operation’ (p. 228). Nordgen, when referring to ‘culture’, means the different ways and environments in which one comes in touch with the past. He therefore refers to Rosenzweig and Thelen’s research about the family experience. The latter more intimate relationship with the past is materialized in three different contributions of this volume (Seixas, Clark and Li). Grever’s reference to the means that nowadays allow contact with the past, and mediate it, the new technologies, would need another volume to discuss.

Notes

1 https://www.eur.nl/en/eshcc/research/centre-historical-culture/researchprograms- and-projects/nwo-program-heritage-education-1 (15.06.2019).

References

Ahonen, S. (2005) ‘Historical Consciousness: A Viable Paradigm for History Education?’, Journal of Curriculum Studies, 37 (6), 697-707.

Den Heyer, K. (2004) ‘A Dialogue on Narrative and Historical Consciousness,’ in P. Seixas (ed) Theorizing Historical Consciousness, Toronto: Toronto University Press, 203-211.

Epstein, T. (1997) ‘Sociocultural Approaches to Young People’s Historical Understanding’, Social Education, 66 (1), 28-31.

Lee, P. (2004) ‘Walking Backwards into Tomorrow: Historical Consciousness and Understanding History.’ International Journal of Historical Learning, Teaching and Research 4 (1), 1-46.

Nordgen, K. (2016) ‘How To Do Things in History: Use of History as a Link Between Historical Consciousness and Historical Culture’, Theory and Research in Social Education, 44 (4), 479-504.

Rüsen, J. (1987) ‘The Didactics of History in West Germany’, History and Theory, 26 (3), 275-286.

Rüsen, J. (1993) ‘The Development of Narrative Competence in Historical Learning’, Studies in Metahistory, Pretoria: Human Sciences Research Council, 63- 83.

Eleni Apostolidou

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Textbooks as Propaganda: Poland under Communist Rule: 1944-1989 – WOJDON (IJRHD)

WOJDON, Joanna. Textbooks as Propaganda: Poland under Communist Rule: 1944-1989. Routledge, 2018. Resenha de: VAJDA, Barnabas. International Journal of Research on History Didactics, n.40, p.265-260, 2019.

How did a Communist political system, the Polish one, deal with primary school textbooks? How did it try to influence teaching and learning through Marxist political messages? How did it deliberately distort the content of all school textbooks in order to make an impact on the minds and thinking of future generations? Joanna Wojdon’s Textbooks as Propaganda. Poland under Communist Rule, 1944- 1989 gives us a thorough and detailed explanation which goes well beyond Poland’s historical experience. Even if her starting point is that ‘schools were supposed to install communist ideology and a positive attitude toward the Soviet Union’ (p. 140), in fact, I am convinced that the lessons we can learn from this book stretch far beyond the post-Communist countries.

Certainly, we have already known many things. In fact, there is no need to prove that communist regimes wanted schools to indoctrinate young people even from the very first grades. And Joanna Wojdon’s book gives us a substantial amount of proof that neither the Polish nor other Eastern European communist regimes even tried to hide their intentions. On the contrary, they openly declared their ideological goals. She rightly touches upon a general rule as an overall context for communist textbooks: ‘The term “doing a textbook” was coined to characterize the flow of many lessons’, i.e.

to follow the book step by step, and she reaches an extremely important conclusion that ‘textbooks, not curricula, were what teachers and pupils actually “did”’ (p. 1).

It has also long been known that Eastern European communist school systems used to have a significant amount of teaching content in textbooks inserted purely for political reasons. Anybody with just the slightest experience form those pre-1989 years could remember the achievements of the Soviet natural sciences and especially space research, the presentation of workers’ achievements of those times – and not only in history textbooks! And this is one of the features that places Joanna Wojdon’s book on the top of our bookshelves, i.e. ‘She explores the ways in which propaganda was incorporated into each school subject, including mathematics, science, physics, chemistry, biology, geography, history, Polish language instructions, foreign language instructions, art education, music, civic education, defense training, physical education, and practical technical training.’ (p. i) Joanna Wojdon has rightly chosen primary textbooks as the source and subject of her research since she reconstructs the universal message of the communist regime aimed at ‘the youngest citizens’ who as the youngest readers are vulnerable and ‘therefore more susceptible to propaganda messages’ (p. 2). The author who is an Associate Professor of History at the University of Wroclaw, Poland, and who follows in the steps of her earlier book The World of Reading Primers: The Image of Reality in Reading Instruction Textbooks of the Soviet Bloc’(2015), nicely explores the most significant ideological strategy of the times, the all-present and omnipotent workers’ perspective which used to be the foundation of mass-oriented communist indoctrination. This one-sided world view, where the imaginative ‘worker’ was the alpha and the omega of all arguments, produced for instance ‘in the history of the Roman Empire the reason for its collapse was reduced to, the characteristics of its social classes and the rebellions of its slaves’ (p. 111).

Since Joanna Wojdon has researched almost all Polish textbooks of the selected time period (from 1944 to 1989), we can be curious to know if there was a special ideological stress in history textbooks? There certainly was. I regard as extremely fascinating how the author explores the great variety of distortions and biases in the books surveyed. Completely distorted topics such as ‘the imperialist First World War’ (p. 111) and the fact that WW I was dealt with from the universal perspective of the constant struggle of the working class rather than from the Polish national(ist) view, perfectly fits into a general pattern typical of most Eastern European communist textbooks. It is no surprise that in these textbooks, often written from the Soviet point of view (p. 118), little attention was paid to Polish national(istic) ideology (p. 114). More precisely, the nationalist layer in the textbooks was intentionally selective. One only needs to look at the fact that while on the one hand the Polish textbook omitted any trends of Russification, on the other hand they massively stress Germanization. But the most interesting discovery by Joanna Wojdon is the constant appearance of pictures of the enemy in communist Poland. It was ‘the Christian church as general, and Jesuits in particular, as exploiters of the workers’ society’ and as stubborn representatives of ‘retrograde conservativism’ (p. 115).

To measure the quality of propaganda is not an easy task, and to research the specific means and methods of propaganda in school textbooks is a huge scientific challenge. Many propaganda tricks are hidden in the language. Selective language (and branding) for national affiliation of some historical personalities was typical. It concerned for instance Charles Darwin as a ‘famous English biologist’, Dmitri Mendeleev as a ‘great Russian chemist’, and Wilhelm C. Roentgen who was left without a nationality (p. 117).

It is even more difficult to spot and identify latent language structures, i.e. deliberate omissions, or as I call them, the ‘structures of silence’. Let us be no naive, language tricks happened on purpose, deliberately and in a systematic way (p. 140). In Polish textbooks researched by Joanna Wojdon there are many well-known omissions, such as the system of Gulags or the Katyn massacre, eastern borders of Poland, as well as dozens of other ‘sensitive’ issues. As the author puts is: ‘The textbooks’ narratives […] did leave out certain historical facts, figures, processes and phenomena’ (p. 108). The same tendency to deliberate omission is true for the imagological apparatus. As a result one would rarely see church buildings as illustrations is many Eastern European textbooks. And I think that all these ‘structures of silence’ contribute to the general amnesia and harmful silence about social and historical problems.

Probably the greatest challenge for any researcher identifying the ideological burden in a history textbook is of a semiotic character, as the author puts it, ‘propaganda motives, topics and techniques intertwined in the text’ (p. 119). In other words, spotting covert messages, and especially those which are hidden not in the text but in the didactical apparatus (questions, tasks, photo captions, etc.) of the textbooks, that make both descriptive text and didactical apparatus almost cognitively indigestible. In this field Joanna Wojdon rightly states that in methodological terms, Polish communist ‘textbooks made clear judgements on everything from the past, and left children with no doubts or ambiguity’ (p. 109). It may sound weird but it is my own experience that the Marxist ideological burden was palpable in the text, nevertheless it is very, very difficult to prove it scientifically. And yet, it was a pre-calculated effect which contradicted the true nature of history as a science because for professional history ‘either – or’ situations, disquieting questions and constant doubts are fundamental. What can we say about a school textbook which entirely switches off critical thinking or multiperspectivity over people and their deeds in the past, and compels a one-sided worldview? No contradictory opinions were allowed (p. 143) in order to change societal opinion en masse, and in order to attempt to change cognitive structures from where divergent thinking is excluded (p. 143).

Since the time period selected by Joanna Wojdon is the era of the Cold War, it is worth asking how did these textbooks handle the superpower rivalry? To what extent did Polish communist textbooks present anti-Western orientation or indoctrination? What about anti- Americanism? As the author states, ‘The world as presented in geography textbooks was thus bipolar, black and white. It was an arena of battle between capitalism and socialism’ (p. 78), and there is no doubt that ridiculous comparisons between the USA and the USSR were present: ‘What monstrous amounts of pollution New York, Chicago and Los Angeles must produce each year!’ versus ‘On the wide and clean streets of Moscow there is much traffic at all hours of the day’ (p. 76). And this leads us to a contemporary question regarding current East-West cultural tensions. Was the Communist ideology in the textbooks intentionally anti-Western? If it was, has it contributed to the tensions that can be observed between current Western and Eastern Europe? Joanna Wojdon’s book is a very valuable contribution to general and international textbook research, reaching well beyond the Polish experience. In fact, she gives us a clear list of typology of the specific means of ideological indoctrination: Marxism, socialism, enemies of the system, presentist interpretations, politechnization, etc. (These are Joanna Wojdon’s expressions from pages 109-110.) I would be curious to know if these are common Eastern European patterns? There are surely subtle similarities that strongly offer themselves for international comparative textbook research. There is evidently much to offer for Eastern European readers, especially for those who are engaged in comparative analysis of history textbooks. Giving just one example: On the level of phraseology, for instance, in Poland the abbreviations ‘Before Christ’ and ‘Anno Domini’ were replaced with ‘before our era’ and ‘of our era’. The same kind of de-Christianized terminology in communist Czechoslovakia used ‘before’ and ‘after our time’. Joanna Wojdon’s typology is surely a useful ‘toolbox’ for coming-soon textbook researchers. Clearly the author is well aware of less of those textbooks research involving Tatyana Tsyrlina-Spady & Alan Stoskopf (2017), Milan Olejník (2017), Karina Korostelina (2009), Ibolya Nagy Szamborovszkyné (2013a, 2013b) and others, who have produced very valuable books and papers on textbook propaganda in the Soviet Union and its political orbit.

Joanna Wojdon’s book ends with a short and poignant Conclusion (p. 140-148) in which she raises one of the most neglected section of textbook research, i.e. ‘the question of the effectiveness of textbook propaganda is most problematic’ (p. 145). For many pupils textbooks are ‘boring’; formal schooling is not omnipotent; and education has never been only limited to schools. What’s more, we know that quite a lot of contemporary teachers did refuse to follow senseless ‘ideological rules’ (p. 147), and this kind of disobedience has had a rather strong impact on many pupils – as it is shown in some rare interview based research materials. If one considers the deep and general social apathy in Soviet bloc countries in the 1970s and 1980s (p. 145) (definitively in Czechoslovakia and Hungary), the failure of overwhelming indoctrination at schools seems to be quite clear.

There might be no doubt that the communist school textbook system, with its no-choice and competition-free textbook regime, all around Eastern Europe, was an integral part of a carefully designed social engineering system. Similar propaganda content and similar patterns ‘can be observed in other countries of the Soviet Bloc’ (p.

143) which leads us to a very contemporary problem: How should we consider those European countries where the state is the major (sometimes exclusive) sponsor of school textbooks; where there is a limited (if not entirely closed) textbook market; and where the teachers’ choice is limited to the one and only available textbook? And I think Joanna Wojdon knows this exactly. For in places she winks at us when she writes that ‘school history is notorious for being used as a tool of indoctrination, not only in Poland and not only under Communism’ (p. 108).

At least one extremely illuminating message of Joanna Wojdon’s book is clear: Democratic school systems have to maintain the power of schools (in fact, teachers) to choose their textbooks because this is the only real and significant professional force in and around schools that can compensate for any ideological push that may occur from time to time.

References

Korostelina, K. (2009) ‘Defining National Identities – The Role of History Education in Russia and Ukraine’, Lecture at Woodrow Wilson Institute, Washington, D.C., 9.02.2009.

Olejník, M. (2017) Establishment of communist regime in Czechoslovakia and an impact upon its education system, Košice: Centrum spoločenských a psychologických vied SAV, Spoočenskovedný ústav Košice.

Szamborovszkyné Nagy, I. (2013a) Oktatáspoitika és történelemtanítás a Szovjetunióban és Ukrajnában. I. rész, Szovjetunió 1945-1991 [Education policy and history teaching in the Soviet Union and Ukraine. Part 1., The Soviet Union 1945-1991], Ungvár: Líra Poligráfcentrum.

Szamborovszkyné, Nagy, I. (2013b) Oktatáspoitika és történelemtanítás a Szovjetunióban és Ukrajnában. II. rész, Ukrajna 1990-2010 [Education policy and history teaching in the Soviet Union and Ukraine. Part 2, Ukraine 1990-2010], Ungvár: Líra Poligráfcentrum.

Tsyrlina-Spady, T. & Stoskopf, A. (2017) ‘Russian History Textbooks in the Putin Era: Heroic Leaders Demand Loyal Citizens’, in: J. Zajda, T. Tsyrlina- Spady & M. Lovornet (eds) Globalisation and Historiography of National Leaders: Globalisation, Comparative Education and Policy Research, Dordrecht: Springer, 15-33.

Barnabas Vajda

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Escritas do Tempo | Unifesspa | 2019

ESCRITAS DO TEMPO Hawò

Transformar as experiências de homens e mulheres no tempo em “matéria histórica” requer inscreve-las em diferentes narrativas. Para representa-las – e domesticar o próprio tempo, por extensão -, homens e mulheres precisam contá-las e transformá-las em relatos, pois as experiências, assim como o tempo, tornam-se efetivamente humanas e sobrevivem à ação “amnésica do tempo”, apenas quando narradas.

É com esta missão de narrar e interpretar as experiências humanas no tempo em diferentes perspectivas de análise, através de distintas interrogações, reflexões, temas e temáticas de estudo, por diferentes ângulos teóricos e metodológicos, que a Revista Escritas do Tempo ([Marabá], 2019-) nasce com uma das primeiras ações do Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIST) da Unifesspa.

Periodicidade quadrimestral.

Acesso livre.

ISSN 2674-7758

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I Precetti della Dea: Non Essere e Contraddizione in Parmenide di Elea – GALGANO (RA)

GALGANO, Nicola Stefano. I Precetti della Dea: Non Essere e Contraddizione in Parmenide di Elea. Bologna: Diogene Multimedia, 2017. Resenha de: PRIVITELLO, Lucio Angelo. Revista Archai, Brasília, n.25, p. 1-7, 2019.

Nicola Stefano Galgano (2017), I Precetti della Dea: Non Essere e Contraddizione in Parmenide di Elea deserves to be seriously considered for translation into various languages. In this text, there resides a truly persuaded Parmenidean spirit, one that has lived by an inspired  vision,  while  having  demonstrated  the  courage,  and measured cr aft in carving out its fortune. Due to its length and its conjectures, dutiful scholarship, and engagement with many studies and scholars of Parmenides, this admirable text also deserves a substantially longer critical review, of which this can merely serv e as a short preface. To my delight, Galgano realizes how discussions in Parmenidean  scholarship  can  easily  slip  into  fields  of  battle (Galgano, 2017, p. 216), and yet, even though Galgano has wounded, or tried to wound, more than a few theoretical positio ns, or details therein, and suffered his own wounds, his overall strategy remains “un discourse affidabile”(a trustworthy discourse) (Galgano, 2017, p. 207). With atremes ētor, Galgano seeks to follow the maxims of the goddess.

Even though the field and s ubfields of Parmenidean studies receive careful tending, more than a few brambles, thorns, and brier impede the way to its fruits. The fields of battle of scholarship tend to proliferate their own ensnaring bittersweet vines and creepers. There is a tenden cy for this to hinder and haunt the very composition of scholarly texts, of which Galgano’s is no exception. These texts become greater puzzles than what has remained of Parmenides’ poem. Hope for a greater unanimity of interpretation (Galgano, 2017, p. 13) is impossible without first retranslating and resequencing the fragment citations. This applies to puzzles that are philosophical, purely textual-philological, or stylistic (Galgano, 2017, p. 28-29, 58). Galgano offers us some delightful and telling tran slations of various fragment lines, and the reader would hope for a full view of the poem. Though Galgano accepts and uses the DK order of the fragments (Galgano, 2017, p. 37, n. 22) with very few exceptions, he gives Diels-Kranz the lie by stating that th e division of the poem in two parts (alētheia and doxa) is purely and superficially (and justly, I might add), a “didactic cliché”(Galgano, 2017, p. 102). However, Galgano then waivers. He sees the two parts of the poem as Parmenides’ two separate respons es to inherent human cognitive distortion (Galgano, 2017, p. 169). Galgano should follow this text with a new translation and sequence of Parmenides’ poem.

A few irksome thorns are: under 2.5 Il frammento 4, on page 69, should read see 6.2 “Il frammento 4”page 189, not 187, but more importantly 2.5 should be expunged from the text. After 2.6.2 “I versi 6.4-9”, the table of contents must include the important subsections and titles from 2.6.2.1 through 2.6.2.6. The same applies for the important subsections 3.2.4.1, “La meditazione del non essere”through 3.2.4.5 that follow section 3.2.4 “Il secondo cammino (versi 5-8)”. Subsection 4.1.1.1 “I versi 6.3-4”is also missing from the contents page as is 4.2.2.1 “I versi 8.6b-7a”, 4.2.2.2 “I versi 8.7b-9a”, and 4.2.2.3, “Ripresa dei versi 8.7b-9a”. The table of contents for part 6 also requires 6.1.2.1 “Versi 12 e 13a”that should read “Versi 8.12 e 13a”and the same would apply to 6.1.2.2, read “Versi 8.13b-15a”, and 6.1.2.3 “Versi 8.15-18”. While these editoria l minutiae seem inconsequential, the puzzle pieces of a text should retain the utmost clarity   in   outline   and   comprehensiveness.   As   a   final recommendation, and due to firmly believing in the worth of Galgano’s text, and its hopeful lives in translation, or in a second Italian edition, there is need of a carefully crafted Index Locorum, Index of Authors, and a general index. These will greatly enhance the “cammino di ricerca”already provided.

Galgano’s focus is found, and gains its fascination, from the Par menidean theme of to me eon (that which is not). In tracking its many mentions through the poem, we confront the Eleatic aporia, and the object of the text, viz., to overcome the history of relegating nonbeing to a formal logic or linguistic operation, an d instead to see it as the very condition of the possibility of contradiction and the foundational comportment of human cognitive behavior. Galgano claims that the turning away from investigating to me eon (that which is not) derives from Plato, who was th e first to use and incorporate snippets of Parmenides’ poem. Galgano was justly bewildered at the vastness of his undertaking when embarking on this thematic journey (Galgano, 2017, p. 23), and more so in framing Parmenides as the first psychologist (p. 26). Nietzsche must be turning in his grave. Galgano also states that Parmenides is “the philosopher of non-being”(Galgano, 2017, p. 109), and “invented the notion of non being”(Galgano, 2017, p. 163). At this point, the reader’s lifeline appears taut betw een M. J. Henn’s category of “ontophobia”, and a quase eastern function of nihilphilia. This is due to the chase after contradictions (oute phrasais) and negative definitions that will inevitably point (phrazō) back to the subject’s cognitive operations; o r more realistically, their juridical/social Ecce Animus from the impasse of living in nots (Galgano, 2017, p. 131, n. 143, and p. 132).

Present in Galgano’s text is a highly speculative example of comparative philosophy that sneaks in (and is then brushed off) due to having sidestepped the everyday position of Parmenides as legislator, and healer to his Elean community. As a deeply respected lawgiver (in the spirit of Solon, Cadrondas, or Zaleucus), Parmenides would have plenty of examples, (and was an awe some example), with no need to import something new from the Chāndogya Upani ṣ had, to teach  an  Elean kouros of  their  social  and  juridical  duties  in trustworthy speech (Galgano, 2017, p. 151-153, 163, n. 163, p. 207). The realism Galgano is after is a social ontology, more than a gnosiological realism, or even a cosmology, and this is mentioned, but quickly glossed over, as “la dignità esistenziale di ogni essere, il che impone l’impossibilità di eliminare qualunque essere, anche quello che si giudica – in un modo o nell’altro, a torto o a ragione…”(the existential dignity of every being, that sets the impossibility to eliminate any being, even one which is judged – in one way or the other, whether wrong or right) (Galgano, 2017, p. 166). Here we see the  hard kernel  (zoccolo  duro),  and  distinctive  isonomy  of Parmenides’ approach, and perhaps the very reason for the poem’s existence, and a page out of the book of the concrete everydayness of a social setting. Parmenides’ poem has a pre-Epicurean undertone to it from being directed at his community as a way to secure conviction in their social/cultural setting, and the world/phenomena around them, while remaining free from the disturbance of contrived unthinkable paths and hearsay. Galgano timidly gestures toward s this, but overlooks it in his otherwise very commendable text (Galgano, 2017, p. 91, 171, 177-178, 213), and his own lived and supported “quotidianità dello sviluppo della ricerca del libro”mentioned on page 216. This would have answered Galgano’s searc h for the possibility of “un altra struttura cognitive”(Galgano, 2017, p. 177-178). Look no further than to the social/cultural being, and that would in turn answer to “natural”, “super-natural”, and cognitive eccentricities (p. 178). This is how the thre e precepts of the goddess (Galgano, 2017, p. 213) return as one, for “it is all the same/ from where I begin; from there I return back again”(DK 5.1-2, best placed as fragment 2).

What presents a deeper problem (inciting further rereading of the text) is Galgano’s view of Parmenides as psychologist. On a trivial level, of course he was. On a more profound level, certainly, but as an iatromantis. Recall, “Parmenide figlio di Pyrês, Ouliadês, medico”; sounds more Freudian with a touch of Rank, Jung, or Reik, if anything. Yet, it is not clear, nor explained in any detail, what type of cognitive psychology, or “cognitive operations”, (which is Galgano’s favorite and overused nomenclature), is at stake (Galgano, 2017, p. 84, 86-88, 92-93, 98, 179, 192, 210). Cog nitivist? No individual can internalize a total system of language, and this problematizes nativism. A system (or operation) is only lived as consensual practices by an entire society, culturally acquired and emergent  over  time,  and  afterwards  merely  appro ximated  by idealized theories in a general heuristic sense. Galgano does not point out what specific innate capacities are acquired, save perhaps the most basic laws of logic (Galgano, 2017, p. 168-177). The term polypeiron points in a direction of cultura l and socially acquired experiences, and should be further pursued (Galgano, 2017, p. 85, n. 88-89, and p. 86), and might even lead to an actual direction in a specific cognitivist methodology known as pattern recognition. In all, very general mentions on psychology are present throughout the text, beginning on page 14, through to page 100, then disappearing until page 168, and again mentioned up until page 210. There Galgano states that Parmenides the psychologist would “probably be what we today call cogn itivist”. Unlikely. All this is very unhelpful without actual details as to issues of attention, memory, consciousness, perception, and thinking. To substitute “operare cognitivamente”for noein does not cut the muster (Galgano, 2017, p. 70). We are not su re if Galgano is pointing towards an extreme, moderate, or a cognitivist position at all. Perhaps Galgano is wrestling with Parmenides as a social psychologist, but not enough is given to the reader for that methodology. We might be able to dig out some ex amples of cognitively innate (and unavoidable) competence from what Galgano presents from crucial terms in Parmenides fragment 6, that follow chapter 2.6.2 “I versi 6.4-9. Yet, could these not be purely socially acquired conceptual abilities, or social con tingencies of language acquisition? How particular and extensive are these possible innate competences? This would jeopardize, or at least problematize, any robust cognitivist or nativist reading.

Engaging these mentions would require a substantially longe r, and more detailed critical review. What remains to be questioned, and then developed by Galgano (as if he has not done enough already), is his claim that his is a study on the “psychology”in the work of Parmenides (Galgano, 2017, p. 26, 34-35, 39, 50, 70) that has not been previously undertaken in a sustained manner. We must then ask Galgano for a clear and distinct list of what he calls a “vocabolario psicologico”(Galgano, 2017, p. 68, 71, 83, 194). Without this list, we remain without the resources (amēchaniē) to conclude anything about Parmenides as psychologist. More than a cognitivist approach, the readings of specific terms, and fragments, especially fragment 6, could lead to an even more radical Lacanian approach, and stepping through  the  snares, registers  and  knots  of  the  Imaginary,  the Symbolic, and the Real (Galgano, 2017, p. 69-81). However, Lacan would side with Heraclitus. In all, Parmenidean studies is lucky to have Galgano on their side as a valiant scholar in the field.

ReferênciaS

GALGANO, N.S (2017). I Precetti della Dea: Non Essere e Contraddizione in Parmenide di Elea. Bologna, Diogene Multimedia.

Lucio Angelo Privitello – Stockton University – Galloway – NJ – USA. https://orcid.org/0000-0002-5875-6068. E-mail: lucioap57@outlook.com

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The Guardians in Action: Plato the Teacher and the Post-Republic Dialogues from Timaeus to Theaetetus – ALTMAN (RA)

ALTMAN, W. H. F. The Guardians in Action: Plato the Teacher and the Post-Republic Dialogues from Timaeus to Theaetetus. Lanham: Lexington Books, 2016. Resenha de: ENGLER, M. R. Revista Archai, Brasília, n.27, p 1-10, 2019.

Das Buch von William Altman ist als erster von zwei Bänden den sogenannten Spätdialogen gewidmet.  Es behandelt sieben Dialogein der folgenden Ordnung: Timaios, Kritias, Phaidros, Parmenides, Philebos, Kratylos und The aitetos. Der zweite Band, The Guardians on Trial: The Reading Order of Plato’s Dialogues from Euthyphro to Phaedo (Lexington Books, 2016), ist fokuss iert auf die Dialoge, welche nach Ansicht des Autors die Les e ordnung Platons abschließen: Euthyphron, Sophistes, Politikos, Apologie, Hipparchos, Minos, Kriton, Nomoi, Epinomis und Phaidon. In dieser zugleich pädagogischen und dramatischen Ordnung sei der Phaidon der letzte Dialog, weil auf seinen Seiten die heroische Geschichte über Sokrates zum Ende komme.

Schon aus dem Überblick auf diese Ordnung lässt sich erkennen, dass A. eine ganz eigene Auffassung der Entwicklung Platons besitzt. Tatsächlich setzt sich sein ganzes Projekt dem entgegen, was er den Eikos Mythos der Platonischen Entwicklung nennt (S.xiii). Anstatt der weltweit anerkannten Kompositionsordnung, die Platons Denken als ein evolutionäres versteht, bevorzugt A. eine Les e ordnung, die nicht nur Platons Lehrtätigkeit in der Akademie geleitet hat, sondern auch die heutige  Le ktüre lenken soll. Angesichts von Platons Gedanken ist die se Ordnung mithin theoretisch unitarisch, weil sie in de n mittleren Dialogen die doktrin elle Einheit fin det, die das gesamte Werk durchd ringt. Obwohl seine wichtigsten Voraussetzungen schon i n  der Aristotelischen Philosophie  verwurzelt  seien, sei  der Entwicklungsan satz ein klares Produkt des   neunzehnten Jahrhunderts, das man auf den Denker des aeì on nicht ohne schädliche hermeneutische Folgen anwenden könne. Im Gegenteil dazu  versu che  die  Les e ordnung  dem  Wesen  des platonischen Denkens treu zu bleiben, indem sie das Unveränderliche voranstelle (S.197; 424). A. schätz t seinen Vorschlag dennoch ganz realistisch ein: er erhebt keinen Anspruch auf eine unbedingte Wahrheit. Seine bescheidene Absicht beschränkt sich darauf, die Auf merksamkeit der Gelehrten wieder stärker auf diese antike Interpretationsmethode zu richten, die sich bereits in den Tetralogien des Thrasyllos mutatis mutandis be finde (S. xxiii). Indem er diesen Gesichtspunkt verficht, bahnter  e inen  dritten Weg zwischen den vor herr schenden Paradigmen der Gegenwart, näml ich der Tübinger Mailä nd er Schule und dem Paradigma der Kompositionsordnung. In Wirklichkeit aber visiert er vor allem die Kompositionsordnung an. Denn die erste Schule adoptiere ja das letzte Paradigma und hinsichtlich Platons angeblicher Entwicklung bleib e sie unitarisch, da sie vor dem Hintergrund der ungeschriebenen Lehren in der Lage sei, vor den vielen doktrinellen Wider sprüchen der Dialoge eine einheitliche metaphysis che Lehre a ufzubauen.

Darüber hinaus versucht A., wie bereits in seinem Buch Plato the teacher: the crisis of the Republic (Lexington Books, 2012), einen neuen Terminus  in  die Studia  Platonica  einzuführen,  nämlich „basanisti c“. Das ist wohl der wertvo llste Beitrag des Autors zu d em Feld. Im Einklang mit dem heutigen Zeitgeist legt er große n Wert auf die  dramatischen  Eigenschaften  der  Dialoge,  welche für  die Rekonstruktion  der  Les e ordnung  wichtiger seien als  die philologischen   Hinweise, wie etwa die Ergebnisse   der sprachstatistischen Methode. Dazu aber fügt er einen pädagogischen Ansatz hinzu, im Lichte dessen viele Passagen der Dialoge – und in der Tatalle Spätdialoge – als Tests konzipiert werden (S. xxiii). Das ist genau die Wende, die er gegen das Entwicklungsparadigma einbringt. Die ersten Dialoge sieht er auch als philosophische und pädagogische Vorbereitung auf die Politeia. D ie Politeia hingegen sei ni cht nur ein weiterer Dialog, sondern Platons unüberwindbares opus magnum, in dem er die Wahrheit offenbare. Die nachfolgenden Dialoge werden d emzufolge als Prüfungen a ngesehen, die das Verständnis der zentralen Thesen der Politeia erproben sollen (S.xviii). Deswegen sind die von der Politeia diplomierten Wächter, wie es sich aus dem Titel ablesen lässt, im Kampf gefordert. Konfrontiert mit den Lehrv erf ormungen und der Ablehnung des Zwei Welten Platonismus müssen sie, in Übereinstimmung mit dem Kriegs gesang der Politeia (534b8 d1), zu ihren dialektischen Waffen greifen.

Hier ist es wichtig zu beachten, dass A. eine produktive Allianz mit den schärfsten Kritikern des Platonismus bildet. Seines Erachtens haben sie volles Recht, nach der Politeia einen Bruch mit den mittleren Dialogen festzustellen (S. xxiv).Ein besonderer Vorzug seines Buches ist es, dass er zugl eich Platon und die Geschichte sein er Rezeption auf eine passionierte und gelehrte Weise erklärt. Das gilt sowohl für vergangene als auch für heutige Autoren, mit deren verschiedenen Ansichten er eine fruchtbare und demokratische Polyphonie schafft. In seiner Diskussion des Timaios, zum Beispiel, verwendet  er  ein  Triangulationsverfahren  zwischen John Cook Wilson, einem heftig en Kritiker Platon s, R. D. Archer Hind, einem Anhänger, und A. E. Taylor, dessen Stellungnahme die Lösung dieser Debatte sei, weil er zum ersten M al erkannt habe, dass der Timaios nicht für Platon spreche. Die entscheidende Differenz von A.s Perspektive besteht jedoch darin, d ass er die Wider sprüche der Spätdialoge mit Rücksicht auf die mittleren als vor aus geplante Tests versteht. Mit anderen Worten, Pl aton habe diesen B ruch und sogar seine scheinbare Rückkehr zur Naturphilosophie absichtlich so gestaltet, um die Treue seiner Leser und Studenten zur Politeia zu prüfen.

Wichtige Elemente dieses pädagogischen Ansatzes gründet A. letztendlich auf Parmenides, der auch seiner Wahrheitsphilosophie einen täuschend en Kosmos folgen lässt. Seine Interpretation des Timaios lautet wie folgt: der parmenid e i sche n Doxa hinsichtlich der Wahrheit  der Politeia entspreche nd, sei  die glaubwürdige und hochkreative Rede des Timaios die erste Prüfung, die Platons Le ser bestehen müsse (S. 93). Die abwesende vierte Figur des Dialogs, die kurz vorder Zusammenfassung der Politeia erwähnt wird (17a), sei gerade der aktive Leser, der schon an der Diskussion der Politeia teilgenommen habe und sie in seiner Seele wie ein lebendiges Gespräch hege. Nach A. ist der entscheidendste Faktor der Rezeption Platons die Tatsache, dass kaum jemand die absichtlichen Fehler des Philosophen erkannt habe. Taylor sei wie gesagt der erste gewesen, der den Timaios als unplatonisch begriffen habe (S. 34). Im Zuge von Aristoteles haben  die  anderen Gelehrten den  pythagoreischen Einfluss  auf  Platon sehr zum  Nachteil  der parmenid e ischen Komponente seines Denkens betont. D amit wurde es üblich zu glauben, dass Platon seiner mittleren Lehre ei n e kosmologische Naturlehre gegenübergestellt habe. Laut A. aber ist sowohl der Timaios als auch der Kritias die perfekte Gelegenheit für die Wächter, die durch den Unterricht der Politeia zur Dialektik angeregt wurden, die V erfälschung des Platonismus zu bekämpfen (S. 93). Die se vor sätzlichen Verformungen – wie etwa die These, dass aus den feigen Männern die Frauen geboren seien, die e ine völlig absurde Idee im Vergleich mit der Politeia (S. 92) ist – machen die „ basanistischen “Elemente der platonischen Pädagogik aus, die leider in der  Geschichte  des  Platonismus  übersehen  worden  seien. Üblicherweise habe man die vielen Widersprüche als unwichtig abgetan und versucht, das Gespräch zu rationalisieren und Timaios als Platon s Mundstück anzusehen. Deshalb trete Aristoteles nicht selten platonisch auf, und auch die Unterschiede zwischen Platon und dem Neuplatonismus würden durch diese Deutungstendenz geringer ausfallen,  da  es sich in  beiden  Fällen um  eine  monis tische Weltanschauung handle. Für  den Autor hingegen bleib t der Platonismus der „ weltfremden “Ideenlehre immer treu und soll deshalb weder mit Aristoteles noch mit Plotin verwechselt werden (S. 106).

Im Geiste dieser „ basanistischen “Pädagogik untersucht A. auch den Phaidros. In der Les e ordnung folge er dem Timaios und dem Kritias und stelle die rhetorischen Mechanismen vor, mit denen beide Dialoge kritisch analysiert werden können. Sokrates ‘ erste Frage, póthen kaì poî?, versteht A. als einen Hinweis auf die Les e ordnung: aus welchen Dialogen un d zu welchen Dialogen? (S.140). Zugl eich ein Gegengift und ein Gi ft (phármakon), leite der Phaidros den Leser in die Kunst der Antilogik und der Täuschung (apáte) ein, sodass er fähig werde, das Wahre vo m Falschen zu trenne n (S.171). Genauer gesagt  lege  Platon im Phaidros offen,  dass er selbst  zu  rein pädagogisc hen Zwecken s eine Leser betrüge, denn man könne nur die Wahrheit unterrichten, wen n man ebenfalls das Falsche kenne. Zwei weitere Ideen des Autors müssen in diesem Zusammenhang erwähnt werden. Erstens wird die aus Sammlung und Tren nung bestehende Methode des Phaidros, die man normalerweise für die echte  Dialektik hält,  von A. als  eine  Vorbereitung auf  den Parmenides und besonders auf den Sophistes aufgefasst, und somit ledig lich als ein dianoetischer Vorgang b z w.

eine alternative Art Dialektik beurteilt. A. gibt drei Gründe dafür an, diese Methode nicht als die echte Dialektik der Politeia anzusehen: a) sie unterteile ständig das Ein e in das Viel e und sammle das Viele in dem Einen; b) sie sei daher eher geeignet, die E ide als rein e Abstraktionen d er p hysikalischen Dinge zu diskutieren; c) und schließlich sei sie nicht imstande, die Leser von der sinnlichen Welt völlig zu entfernen, wie es die nach dem Guten orientierte aufsteigende Dialektik der Politeia tue (S.159-160). Deswegen wird der Phaidros als fair warning betrachtet. Zweitens wird die Schriftlichkeitskritik, ein hochaktuelles Thema, von A. als Platons Bekenntnis seiner eigenen Pädagogik verstanden. Eine Schrift sei bloß ein e hypómne s is für die Vision de s Gute n, die Platon bereits in der Politeia vorgestellt habe (S. 197-198). Und um dies zu leisten, bestehe Platons Kunst als Schri ftsteller gerade darin, das Gegenteil der Wahrheit zu behaupten, sodass der Leser dem Argument zu Hilfe kommen müsse, ganz gleich, wer es verteidige (S. 196). Phaidros ʼ Täuschungskunst lehre also den Leser, dass Platon der Meister einer Kunst sei, welche zu pädagogischen Zwecken betrügen könne, obschon sie die Wahrheit unbedingt voraussetze (S. 198).

Nach dem der Leser die Anti logik kennen gelernt habe, könne er sich dem Parmenides zuw enden, der der beste Ausfluss dieser Kunst sei. Die wichtigste  Idee des Autors für die Interpretation des Parmenides besteht  darin,  dass  dieser  Dialog eine Reihe von Übung en (gymnásia) zu r wahren Dialektik vorlege, da vor dem Gu ten jede Diskussion des Einen nur ein dianoetisches Drama sei (S. 239). In dies er Thematik sieht A. die Lösung für viele nachfolgende Probleme. Durch die erste Hypothese, die der Autor für die wahre nimmt, müsse der Leser beides lernen: dass die Existenz eines empirischen Einen unmöglich sei; und dass es nur, wie die ganze Mathematik, ein en Mittels tatus besitze. Das Eine aneu ousías sei weder ein Prinzip noch ein Gegebenes, sondern etwas, d as der Mensch durch seinen Intellekt erfinde (Parm. 143a7) (S. 248), und somit solle es nie mit dem unhypothetischen Guten konfundiert werden. Mit der Idee des Gute n und der Trennung zwischen Sein und Werden gehöre es zum Kern des Platonismus, und darüber hinaus habe es vor diesen Dogmen einen pädagogischen Vorrang (S. 252). Im Vergleich zu den wahren Ideen – es gibt für den Autor nur drei: das  Gute,  das  Gerechte  und  das  Schöne –,  dere n Definition Parmenides nach den Übungen mit dem Einen von Sokrates fordere (Parm. 135c8 d1),  sei das  Eine natürlich  die  weltfremdeste Konstruktion der Dianoia, die zwangsweise die Seele von dem Werden entferne, obwohl es, der Politeia gemäß (511b5; 531c9 d7), ledig lich ein  Sprungbett  zu  der realen Dialektik  bleibe.

Der Parmenides erweitere dadurch das Reich der Dianoia, während das Reich der Noesis streng beschränkt werde (S. 275). Der Eindruck, dass er den Platonismus der mittleren Periode zerstöre, oder dass Platon Parmenides im Sophistes abweise, entstehe durch den Fehler, die parm enid e ische Pädagogi kzu verkennen (S. 285).

Wie seine eigene Lehre, wird der Philebos als eine Mischung konzipiert. Und z war eine sehr gefährliche Mischung, da er die drei oben zitierten Fundamentald ogmen des Platonismus an greife und folglich  den  Bruch  mit  der mittleren Phase auf  eine unmissverständliche Weise vollziehe (S. 309). Weil er von Anfang an auf das Thema des Guten gehe, biete er dem Leser einen schwierigen Streit an (S. 343). Für den Autor gibt es also keinen Zweifel, dass der Dialog den Revisionismus bestätige (S.

297). Seine Verbindung zu m Timaios werde durch die pythagoreische Stimmung offenkundig, die Verbindung zum Parmenides durch die Problematik des Einen (S. 310-313). Eigentlich sei diese Problematik nicht bloß ein anderer Gegenstand, sondern vielmehr we rde der ganze Dialog absicht lich zu dem Zweck gestaltet, sie hervorzurufen (S.

298). Der Dialog füge eine Rehabilitierung des Werdens hinzu, und zwar eine sehr entschiedene, weil Sokrates selbst versuche, das Sein mit dem Werden (génesis eis ousían) zu mischen (S.315-316). Mit Bezug auf das Ei n e habe der Parmenides aber s chon durch die erste Hypothese dem Leser einerseits beigebracht, dass die He rstellung ein es „One out of the Many“, wie etwa Philebos ‘ Mischung des Einen und des Viel en, widersprüchlich und darum falsch sei. Mit Bezug auf den Timaios und das Werden haben die Politeia sowie der Phaidros und der Parmenides ander er seits den Leser angeregt, der Vermischung zwischen Sein und Werden zu widerstehen. D emzufolge gehe es um eine „ basanisti s che “Rehabilitierung des Werdens, die Platon, der Lehrer, für seine Studenten vorberei t et habe (S. 346-7).

Was den Kratylos angeht, bemüht sich der Autor, die vielen Verbindungen  zum  Naturalismus  des Philebos und  die  Rolle Heraklits zu unterstreichen. Zu diesem Punkt hebt er wieder hervor, dass man die Dialoge immer als Gesamtheit lesen müsse. Die Rekonstruktion der Les e ordnung erwarte von den Lesern, dass sie den vorherigen sowie den nachfolgenden Dialog in Erwägung ziehen (S. 353). Daher präsentiere der Kraty los zwei Thesen: erstens, dass die physikalischen Dinge, in Übereinstimmung mit dem Philebos, eine ousía haben; zweitens, dass die Namen diese ousía offenbaren können, eine Idee, der man in den Etymologien des Eut hyphron, der dem Theaitetos nachgeordnet sei, wieder begegnen werde (p. 355). Der Autor aber erklärt, inwiefern die Annahme der ersten These verantwortlich für die Widerle gung des Kratylos sei (S. 363). Daneben erhellt er, inwiefern beide Thesen auf der Lehre Heraklits beruhen. Heraklit werde noc h ein e sehr wichtige Rolle in der Les e ordnung spielen, da die R ü ckkehr zur Höhle, die sowohl im Exkurs des Theaitetos als auch in der Apologie diskutiert werde, zugleich das Sein von Parmenides und die Fluss Lehre von Heraklit voraussetze.

Diese Art Natur alismus taucht im Theaitetos wieder auf. Doch sein Hauptpunkt sei natürlich der Exkurs über den Philosophen, der genau in der Mitte des Dialogs stehe. Mehr noch, nach A. steh t der Theaitetos in der Mitte der gesamten Spätdialoge (S. 386). Da in der dramatischen Reihe der Euthyph ron dem Theaitetos folge, eine Verbindung, die das Kompositionsparadigm a vernachlässigt habe, sieht der Autor den Exkurs als ganz problematisch an, besonders was die  Angleichung  an Gott  betrifft.  Denn  Euthyph ron biete  ein peinliches und komisches Beispiel, wenn er sich nach dem Exempel des Zeus richte, um seinen eigenen Vater strafrechtlich zu verfolgen (S.392). Dieser Mangel an Mitleid und Selbstbewusstsein sei selbstverständlich etwas, das man nicht von einem Philosoph en erwarten würde. Aber das wichtigste Detail, das die Bedeutung des Exkurses aufschließe, sei Sokrates ‘ Behauptung im Prolog (144c5-8), er sei über das Leben des jungen Theaitetos informiert (S. 393). Weil der Philosoph des Exkurses sich nicht um die realen Menschen kümmer e, sondern nur um den Menschen selbst, sei d ie B ehauptung wahr, dass man Sokrates nicht mit ihm identifizieren solle. Und aus diesem Problem heraus ergibt sich die Debatte, ob Platon Sokrates hier  verlässt  oder  nicht.  A. identi fiziert  jedoch ein weite res wesentlic hes Problem des Exkurses, das das Rätsel löse. Da er die Rückkehr zur Höhle ausklammer e (S. 392), widerlege er nicht nur die Politeia, sondern auch die Apologie, welche mit dem Theaitetos und dem Euthypron klar v erbunden sei. Mit seinem nächsten Schrit t vor Augen, erklärt A. zum Schluss, wie der Theaitetos sich mit dem Politikos und vor allem mit der Apologie vereint.

Ich habe mich darauf beschränkt, oben einige der relevantesten Thesen des Autors skizzenhaft vor zustellen. In diesem Rahmen kann man natürlich k eine  begr ündete  Meinung über  so  viele grundsätzliche Punkte des Platonismus mitteilen. Aufgrund der bewundernswürdigen Gelehrsamkeit des Autors und der Neuheit seiner Perspektive wü rde ich jedoch dem Leser vors chlagen, dass er das  Buch im Sinne der  antike n Eunoia liest. Neben einer tief gründig en Diskussion erhellt A. Platons Werk mit offensichtl icher Begeisterung und verfügt dazu über viele fesselnde Hypothesen, die berühmte Probleme vielleicht lösen können. Ohne die Wahrheit ihrer vielfältigen Ideen zu bewerten, stellt A.‘s Buch insgesamt eine der gründlichsten und kreativsten nordamerikanischen Platondeutung en dar,  die wohl neben  den Werke n von Paul Shorey, Gregory Vlastos, H. F. Cherniss und Charles Kahn einen gleichrangigen Platz verdient. Schließlich hat uns A. als ehemaliger Lehrer einiges über Platon s Philosophie mitzuteilen. Darum kann sicherlich jed er undogmatische Leser von seinen intelligenten Einsichten profitieren, während die Dogmatische neinen  ehrenwerten  Kampf, und zwar  eine gigantoma khía perì tês gen éseō s Plátonos, auszufechten finden werd en. 1

Nota

1 Für ihre wertvo lle Hilfe mit dem Stil und den Sprachkorrekturen möchte ich hiermit meinen Freunden, Dr. Sven Meier und Dr. Werner Ludwig Euler, herzlich danken.

ReferênciaS

ALTMAN, W. H. F. (2016). The Guardians in Action: Plato the Teacher  and  the  Post-Republic  Dialogues  from Timaeus to Theaetetus. Lanham, Lexington Books.

R. Engler – Universidade Federal do Paraná – Curitiba – PR – Brasil. E-mail: reusengler@gmail.com

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Das Amazônias. Rio Branco, v.1, n.1, 2018.

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PUBLICADO: 2018-12-31

History of Education in Latin America. Natal, v.1, 2018.

EDITORIAL

  • Editorial
  • Olivia Morais Medeiros Neta, Dra., Maria Inês Sucupira Stamatto, Dra. e16421 PDF/A

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RESENHA

PUBLICADO: 30-12-2018

Revista Outrora. Rio de Janeiro, v.1, n.2 jul./dez. 2018.

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Dossiê 130 anos da Abolição

Resenhas e Ensaios

Publicado: 30/12/2018

Revista de Literatura, História e Memória. Cascavel, v.14 n. 24, 2018.

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DOSSIÊ CONFLUÊNCIAS E RELAÇÕES DA LITERATURA COM AS OUTRAS ARTES

PESQUISA EM LETRAS NO CONTEXTO LATINO-AMERICANO E LITERATURA, ENSINO E CULTURA

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História da Enfermagem. Brasília, v.10, n.1, 2019.

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História da Enfermagem. Brasília, v.9, n.2, 2018.

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Editorial

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Transversal: International Journal for the Historiography of Science. Belo Horizonte, n.5, 2018.

Dossier IDTC Special Issue | Methods and Cognitive Modelling in the History and Philosophy of Science–&–Education

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Published: 2018-12-09

Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais. São Cristóvão, v.18, n.3, 2018.

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Publicado: 2018-12-09

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História e Cultura. Franca, v.7, n.2, 2018.

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Revista de História da Arte e da Cultura. Campinas, v.7, n.2, 2018.

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Publicado: 2018-12-02

Bantu. Ibirité, v.1, n. especial, dez., 2018.

  • Bantu. Ibirité, v.1, n. especial, 2018.
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  • Trajetória Formativa dos Professores da EJA no contexto da rede estadual de educação de Ibirité | Ana Paula Ferreira Pedrosoe Letticia Paula de Araújo Velloso
  • Perfil   Anatômico   e   Histomínico   da   folha   de DaturastramoniumL. (SOLANACEAE): espécie usada na medicina popular como antiespasmódica, sedativa, antiasmática, dilatadora de pupilas e alucinógena | Reisila Simone Migliorini Mendese Sarah Luiza Almeida Carvalho
  • Anísio Teixeira traveller | Antonio  Carlos  Figueiredo  Costa,  Raquel  Nugas  e  Viviane  Silva  de  Oliveira  Fernandes Pinheiro
  • Educação Social: Lazer, valores e formação humana | Walesson Gomes da Silva e Carlos Roberto Silva de Araújo
  • Medicalização da aprendizagem: notas sobre a produção farmacológica da normalização do comportamento infanto-juvenil | Radamés  Andrade  Vieira,  Gabriella  Cristina  Rosa,  Quézia  de  Souza  Campos  e  Tamires Cardoso do Nascimento
  • Contribuições do Laboratório de Ensino de Matemática e suas ferramentas associado à prática docente no aprendizado dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental | Janaína da Conceição Martins Silva, Maria Cristina Gonçalves dos Santos e Gabriela Ribeiro de Azevedo
  • O uso do livro didático de História nos anos iniciais do ensino fundamental: por uma formação crítica e autônoma | Patrícia Karla Soares Santos Dorotéio e Raiany Aparecida Costa
  • Aspectos da Escatologia Cristã em O Hobbit, DE J.R.R. TOLKIEN | Delzi Alves Laranjeira, Israel Henrique dos Santos e Israel Rodrigues Pereira
  • Produção  de  mudas  como  estratégia  para  recuperação  de  áreas degradadas e nascentes sob vegetação de cerrado | Reisila Simone Migliorini Mendes, Patrícia Ferraz de Oliveira e Karine Paula dos Santos

Abertura política e redemocratização: igrejas, movimentos sociais e partidos políticos / Crítica Histórica / 2018

A proposta deste dossiê partiu da constatação de que, na produção acadêmica, sobressaem trabalhos dedicados à efervescência política do final dos anos 1950 e início dos anos 1960, aos acontecimentos que antecederam o Golpe de 1964 e ao período ditatorial que se estabeleceu no Brasil por mais de 20 anos. Entretanto, no que se refere particularmente a esse último período, priorizam-se a primeira década do Regime e, sobretudo, os seus contornos mais repressivos. Pouca atenção tem sido dada mais especificamente ao lento, controlado e controvertido processo de abertura implementado a partir de 1974, sob a presidência do General Ernesto Geisel, e, mais adiante, à redemocratização parcial e ao retorno à legalidade dos partidos.

Estes mais de 10 anos que se seguem à repressão mais intensa não devem, no entanto, ser deixados de lado. São marcados por uma importante mobilização e por um retorno à ação de muitos sujeitos e instituições, entre os quais igrejas, partidos e movimentos sociais. Todos eles são favorecidos por um contexto de maior abertura e procuram se reinserir nele e estabelecer suas práticas e estratégias.

Além disto, este interesse ainda incipiente tem se concentrado, principalmente, nas questões jurídicas e legais e nas mudanças políticas e institucionais ocorridas a partir de então. Fazem-se, inclusive, numa perspectiva mais panorâmica, apenas menções e breves referências a episódios marcantes, sem a devida análise e o aprofundamento necessário para entender a complexidade e a trama que envolvem todo o momento. É o caso, por exemplo, de alusões superficiais e insuficientes a respeito das tratativas que levaram à revogação do AI-5, da campanha pela Anistia, do retorno ao pluripartidarismo ou ainda da campanha pelas Diretas Já. Perscruta-se muito pouco a atuação dos atores os mais diversos possíveis neste cenário tão complexo que levou arduamente ao desmantelamento dos aparelhos de repressão e de censura e ao lento restabelecimento do sistema democrático.

Mais recentemente, algum esforço notório de produção historiográfica tem sido empreendido no sentido de preencher ou ao menos dirimir esta lacuna. As práticas e trajetórias dos atores sociais, neste contexto de abertura progressiva, têm sido reconstruídas e analisadas a fim de compreender os meandros da sua atuação e da sua subjetividade. Como puderam se reinserir neste novo cenário e nos debates travados então? Quais problemas enfrentaram? Quais estratégias puseram em prática? Quais as memórias e narrativas produzem a este respeito? Eis alguns dos inúmeros e importantes questionamentos que podem ser levantados para dinamizar os estudos e as pesquisas nesta direção. Pesquisas que revisitam temas clássicos da historiografia nacional, dando-lhes um enfoque muito mais direcionado ao período pós-1974 e, sobretudo, pós-1979.

Neste quesito, inúmeras são as fontes a serem mobilizadas sob este recorte temporal e sob este olhar, para além do contexto mais abrangente e ressaltando o papel dos sujeitos individuais e coletivos. Entre elas, pode-se destacar a imensa contribuição trazida pela metodologia da História Oral e toda a reflexão teórica que a acompanha a fim de compreender a complexa relação entre a história, a memória e a construção de narrativas referentes aos acontecimentos vivenciados, aos dilemas enfrentados e aos traumas sofridos. Cabe aqui ainda o recurso à memória herdada ou compartilhada, referente àqueles que estiveram bem próximos aos episódios e aos seus atores e que produzem igualmente narrativas sobre eles. Além disto, destacam-se também documentos escritos, como cartas, relatórios, atas de assembleias, reuniões, encontros, documentação produzida por organizações, partidos e movimentos sociais, sem contar os jornais, tradicionalmente mais recorrentes neste tipo de análise.

No bojo deste esforço mais recente, propõe-se, portanto, este dossiê com a finalidade de enriquecer o debate e a produção acadêmica em torno de temas nevrálgicos para a compreensão da história nacional. Destes resultaram, em grande medida, os contornos que assumiram posteriormente o sistema político e o regime democrático em construção. Destes ainda resultaram inúmeras e inestimáveis trajetórias e narrativas produzidas por sujeitos que vivenciaram e vivenciam estes acontecimentos passados, relembrando e tecendo memórias a seu respeito. Abordagens específicas podem, inclusive, ser propostas a fim de se fugir do olhar mais genérico e pautado exclusivamente na esfera política mais ampla, nas grandes manobras palacianas, legislativas e da magistratura ou ainda no grande clamor da sociedade por mudanças. É preciso, neste ponto, descer à escala do micro e perceber a complexidade e a subjetividade que gira em torno dela. Nesta perspectiva, a apreensão da historicidade do momento deve suplantar o olhar meramente macro-político e de cunho institucional. Deve voltar-se às bases regionais e locais a fim de perceber como nelas atuam partidos, organizações, associações, grupos, igrejas, mulheres, negros, indígenas, LGBTs, quilombolas, trabalhadores urbanos e rurais e os mais diversos sujeitos individuais ou coletivos.

Com base nestas reflexões iniciais, foram propostos artigos que procuram preencher essa lacuna historiográfica e fazer uma discussão mais direcionada sobre temas específicos deste momento histórico. Para a constituição do dossiê, optou-se então por fazer uma organização temática dos trabalhos selecionados.

Dos seis artigos que o compõem, os dois primeiros abordam a questão política e institucional e situam-na entre o início da transição democrática, em 1974, e a Constituinte de 1987 e 1988. “A Contrarrevolução Democrática: a transição pelo alto e a institucionalização das instituições (1974-1979)”, de Pedro Cardoso, analisa o governo do General Ernesto Geisel e o processo de abertura por meio do papel desempenhado pela Comissão Trilateral e pelo seu membro Samuel Huntington, cientista político estadunidense, na formulação do projeto de distensão. “Conflito intrapartidário e Reforma Agrária: o PMDB na Constituinte”, de Pedro Vicente Medeiros, ressalta o conflito existente no PMDB quanto à definição da Reforma Agrária na Constituinte entre 1987 e 1988. Aprofunda o debate e as divergências internas entre parlamentares do partido que compunham a Subcomissão de Política Agrícola e Fundiária. Embora estes dois primeiros artigos se somem a uma abordagem mais clássica da política institucional do período, ambos o fazem de forma mais aprofundada e levantando problemáticas específicas e centradas em alguns sujeitos e organizações.

O quatro artigos seguintes dedicam-se unicamente à Igreja Católica e a sua atuação ao longo da Ditadura e, sobretudo, a partir da segunda metade dos anos 1970. Como parte da instituição teve um engajamento político e social notório desde os anos 1960, a maior parte dos autores optou por remontar a esta década, enveredando em seguida nos anos 1970 e 1980, quando se fortaleceu a atuação católica nos conflitos e debates. “O caminho percorrido pela diocese de Propriá- SE até a redemocratização do país (1964-1985)”, de Osnar Gomes dos Santos, concentra-se na mudança de posição ocorrida na diocese sergipana de Propriá em meados da década de 1970. Sob a autoridade de Dom José Brandão de Castro, a mesma passou do apoio declarado aos militares ao engajamento em favor da luta pela terra e da organização de sindicatos rurais. A sua atuação foi desde então destacável e chegou, inclusive, a entrar em atrito com as elites da região, que pressionaram para a sua aposentadoria precoce. “Relações de trabalho, Igreja Católica e direitos na Zona Canavieira de Pernambuco: organização e mobilização de trabalhadores rurais no Regime Militar”, de Cristhiane Laysa Andrade Teixeira Raposo, também opta por uma abordagem mais abrangente da atuação da Igreja, desta vez em relação aos trabalhadores rurais e a sua luta por direitos na Zona Canavieira de Pernambuco. Ainda que de maneira breve, a autora destaca o período da abertura e o papel nele exercido pela instituição católica, quando se intensificam a sua oposição ao Regime e o seu pleito em favor do retorno à democracia. “A Ação Católica Rural: mudanças e desafios políticos de 1978 a 1985”, de Maria do Socorro de Abreu e Lima, analisa as práticas desempenhadas pela Animação dos Cristãos no Meio Rural-ACR no trabalho de conscientização dos trabalhadores rurais e o seu posicionamento diante do cenário e dos debates travados. Esse movimento católico passou a abordar cada vez mais questões não só religiosas, mas, sobretudo, políticas. “‘Comunistas na Igreja’: a atuação dos católicos progressistas no incentivo à participação popular na Região Sisaleira da Bahia nos anos finais do século XX”, de Cristian Barreto de Miranda, encerra o dossiê abordando o papel de católicos da cidade de Conceição do Coité, na Região Sisaleira da Bahia, no fomento à participação popular no período que se seguiu ao fim da Ditadura. Mais uma vez, ressaltam-se as práticas adotas pela Igreja em favor das camadas mais pobres e dos trabalhadores.

Desta maneira, espera-se estar contribuindo para o aprofundamento das discussões referentes à abertura política e à redemocratização situadas a partir de 1974 e estendendo-se até o final dos anos 1980, com os trabalhos da Constituinte de 1987 e 1988. Pelos importantes episódios vivenciados nesses mais de 10 anos e pela sua influência na configuração que assume posteriormente a democracia em construção, tal momento tem valor inestimável e merece, inclusive, que outros pesquisadores se interessem cada vez mais por ele e por leituras mais direcionadas e diversificadas a seu respeito.

Por fim, os textos do fluxo contínuo deste número trazem discussões importantes que circulam da história política, à história social do crime e história do catolicismo. O artigo “Classes populares, cultura política e Constituinte (1984-1988)” de Charleston José de Sousa Assis propõe-se a estudar a cultura política brasileira, com foco nos anos da transição democrática e “a partir das sugestões da população à Assembleia Nacional Constituinte, encaminhadas por carta ao Congresso Nacional”. Em seguida em “Instruir-se para instruir”: a Ação Católica Brasileira e a formação da Juventude Estudantil Católica no Brasil (1935-1966), Carolina Maria Abreu Maciel analisa a Ação Católica Brasileira a partir da experiência da JEC, suas influências teóricas para formação de quadros para a instituição religiosa. Já Patrícia Marciano de Assis no texto Reflexões sobre Chefatura de Polícia do Ceará enquanto instituição policial do Império historiciza o papel da chefatura tendo como perspectiva sua ação no controle da população pobre, como forma de manutenção das estruturas de poder. O artigo “O paraíso dos criminosos”: imprensa, política e crimes na cidade do Rio de Janeiro durante as eleições do início do século XX de Ana Vasconcelos Ottoni procura abordar como a imprensa retratava as “supostas relações entre política e as ocorrências de crimes na cidade do Rio de Janeiro durante as eleições do início do século XX”. Encerra o número a resenha intitulada “O símbolo histórico de um movimento pela terra: A desapropriação da Fazenda Annoni no Rio Grande do Sul” que apresenta a obra de Simone Lopes Dickel, Terras da Annoni: entre a propriedade e a função social, publicado em 2017, e defendida como dissertação de mestrado em 2016, no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo- RS. Nela Caroline da Silva aponta como a autora estabelece um diálogo entre a História e o Direito, apontando a questão fundiária e social da terra em uma construção histórica de luta no período 1972-1993.

Boa Leitura!

Samuel Carvalheira de Maupeou – Professor Adjunto da Universidade Estadual do Ceará-UECE.

Equipe Editorial Revista Crítica Histórica


MAUPEOU, Samuel Carvalheira de. Apresentação. Crítica Histórica, Maceió, v. 9, n. 18, dezembro, 2018. Acessar publicação original [DR]

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Arquivo – APCBH. Belo Horizonte, v.5, n.5, 2018.

  • REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 5, n. 5, dezembro de 2018- ISSN: 2357-8513 3
  • Sumário
  • AGRADECIMENTOS
  • Editorial . 06
  • ARTIGOS Violência contra as mulheres em Belo Horizonte: a Comissão Parlamentar de Inquérito no Legislativo Municipal (1992) . 10
  • Maria Cruz Ferraz Belo Horizonte e as neovanguardas: a inauguração do Palácio das Artes e as obras de Artur Barrio e Cildo Meireles .. 35
  • Rúbia Carla dos Santos Dias Thayná Miclos A gentrificação do discurso higienista: a formação urbana de Belo Horizonte e a construção da desigualdade . 53
  • Gabriel Esteves Campos Costa Patrimônio urbano entre políticas de revitalização e gentrificação: o Museu de Artes e Ofícios (BH-MG) . 79
  • Aline Damasceno Santana Luiz Henrique Assis Garcia “Perdi o bonde e a esperança”: mobilidade urbana, trabalho e sociabilidade na Belle Époque belorizontina .. 104
  • Bheatriz Alexsandra Rocha de Souza Tamires Celi da Silva Wemerson Felipe Gomes

La vaquerita y su canto: una antropología de las emociones: canciones rituales ganaderas en los Andes peruanos contemporáneos – RIVERA ANDÍA (EA)

RIVERA ANDÍA, Juan Javier. La vaquerita y su canto: una antropología de las emociones: canciones rituales ganaderas en los Andes peruanos contemporáneos. Buenos Aires: Asociación Civil Rumbo Sur, 2016. Resenha de: MARTÍN, Patricia Vicente. Estudios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.60, dic., 2018.

La simultaneidad es necesariamente equívoca en los escritos; esta característica se acentúa cuando se tra ta de textos etnográficos donde la alteridad, propia de la disciplina, se cruza con la presencia múltiple de acciones y significados en un mismo ritual. Este es el caso de la herranza -ritual ganadero de gran popularidad en el área andina- y de este libro, que constituye un triple comentario del mismo.

El autor, Juan Javier Rivera, es uno de los referentes más importantes en lo que concierne a rituales gana deros andinos. En esta ocasión aborda, además del sentimiento trágico de las canciones, dos posibles significados de la herranza: la mocedad y el desa rraigo. Menos evidentes éstos y sin ninguna relación con las reses.

De las dos partes que componen el libro, la primera queda reservada al desarrollo de esos dos sentidos velados en la herranza, además de abordar la visión que se tiene en los Andes de la puna, los espíritus tutelares de los cerros y el significado de los llakwash en el valle de Chancay.

La puna es el espacio donde habita el ganado y es contemplada por el pastor como un espacio inquie tante por estar repleto tanto de riquezas como de amenazas. El paisaje andino está habitado por un conjunto de entidades, como los awkillos o espíritus de los cerros, a quienes se les presupone un ca rácter ambivalente, que oscila entre una condición pletórica y proveedora y otra agresora y codiciosa; guardan, además, una estrecha vinculación con las reses y también con los manantiales de agua. Son, en definitiva, los dueños venerables de los recursos fun damentales para la vida agreste: la tierra, el agua y el ganado. Quedaría por apuntar brevemente algunas notas sobre la figura del llakwash. Actualmente en el valle de Chancay, el llakwash es aquel que cuida del ganado menor en las estancias, aunque es un térmi no que posee otras connotaciones; refiere también al forastero, a la gente arisca y poco refinada o a aque llos que hablan y se mueven de manera diferente. Es, en definitiva, la figura que ilustra las relaciones de la puna con el valle al ser considerado el afuerino digno de conmiseración.

Para el autor, analizar la herranza consiste en buscar los significados sociales de las acciones contenidas, en indagar las categorías simbólicas y en la delineación de la sensibilidad que ordena los gestos que la com ponen. En cuanto a su interpretación, aun cuando existen dos caminos posibles que son compatibles, el autor opta por desarrollar uno de ellos: el plano mo ral, aquel que trata de indagar acerca de los ideales expresados por el ritual. Así, la herranza se convierte en la expresión de unos valores que conciernen a la animalidad, la adolescencia y el desarraigo.

Pudiera parecerle al lector el primer sentido -el de la mocedad- más evidente que el segundo. La ma durez es un rasgo de valor a transmitir en el ritual por parte de los ganaderos adultos a los mozos, a quienes se aleja de las alturas para su ingreso en la sociedad. La consideración de la herranza como un comentario sobre la pertenencia o desarraigo frente a un grupo social constituye el dominio de signifi cación más esquivo, cuya lectura se hace a partir de silencios. La comercialización del ganado produce un fuerte malestar, pero las referencias a las reses en las canciones son -para el autor- un lenguaje retóri co que habla de otra cuestión: la necesidad de emi grar a áreas urbanas, proceso que fomenta el olvido parcial de lo propio.

La segunda parte de la monografía está dedicada a las canciones entonadas en la herranza. Éstas reci ben dos nombres: taki y anti, y aparecen en el mo mento que se humaniza a las reses. Las tonadas y otras situaciones como vestir, bautizar o casar a los animales buscan humanizarlos; el ritual rompe tem poralmente dos fronteras metafísicas y contribuye a la confusión entre los ámbitos de la animalidad y de la humanidad. Así, las canciones constituyen una prosopopeya constante, en la que se establece una metáfora filial que hace de la vaca, madre y del toro, padre. También se convierten en endechas al cantar los amores juveniles, cuya persona amada se convierte en algún animal de la puna.

Es en esta parte de la monografía donde el autor aborda el otro sentido: el del desarraigo. Éste se lee a través de silencios, al considerar la herranza y sus canciones como un comentario crítico de la situa ción actual. Para el autor, el drama de la comerciali zación de las amadas reses es, en realidad, el drama de los campesinos emigrantes. De esta manera, el ganado se convierte en “una suerte de idioma por medio del cual se expresan las emociones que pro ducen determinadas relaciones sociales”.

Los tres comentarios que suscita el ritual ganadero de la herranza son tres fronteras que corresponden a diferentes ámbitos de la condición humana: la frontera que separa la humanidad de la animalidad; aquella que distancia la madurez de la mocedad, y, por último, la relativa al desarraigo, que diferencia el ámbito campesino local del urbano nacional. Inter calar ambas fronteras en un escrito genera un texto que tan pronto pasa de cuestiones ontológicas a una crítica de la situación económica actual. Su lectura genera una sensación extraña, fruto de saborear la imposibilidad de escribir la simultaneidad de las co sas. Sobre esta desesperación escribió Borges cuando contempló el Aleph y mostró la incapacidad de la es critura de describir todas las imágenes del universo.

Patricia Vicente Martín – Universidad Complutense de Madrid, ESPAÑA. Email: patriciavm@ucm.es

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Memória, patrimônio e democracia / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2018

O Número 32 da Fronteiras: Revista Catarinense de História apresenta o Dossiê Memória, Patrimônio e Democracia, traz textos que se articulam ao conjunto de debates promovidos durante o XVII Encontro Estadual de História, realizado entre os dias 21 e 24 de agosto de 2018, na Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), em Joinville, Santa Catarina.

Ao propor a combinação dos termos memória, patrimônio e democracia, o Dossiê visa oportunizar o compartilhamento de resultados de pesquisas interessadas em compreender as maneiras pelas quais bens culturais são (re)convertidos em patrimônios por meio do trabalho de agentes sociais de natureza diversa (individuais, coletivos, públicos, privados, entre outros).

À sua maneira, os textos que integram este Número evidenciam que os entrecruzamentos entre patrimônio, memória e democracia precisam ser pensados para além da mera contemplação de ícones considerados valiosos e relevantes para um determinado grupo ou para uma sociedade como um todo. Antes disso, é preciso ter em mente que o patrimônio se inscreve em um campo de lutas e reivindicações sociais mais ou menos democráticas, muitas das quais se utilizam do patrimônio para reforçar ou contestar significados atribuídos a bens que, presumidamente, constituem-se enquanto referências na complexa trama de políticas de memória na contemporaneidade. Em outras palavras, os autores desta edição, a partir de diferentes enfoques e abordagens teórico-metodológicas, problematizam complexidades políticas e culturais que atravessam processos contemporâneos de fabricação, ativação, uso e difusão de patrimônios culturais.

O Dossiê constitui-se de oito artigos, uma tradução e uma resenha. O artigo intitulado A memória fardada: a criação do Museu Histórico Nacional e as relíquias do Contestado, de autoria de Rogério Rosa Rodrigues, investiga o processo de coleta de vestígios materiais por parte de oficiais militares que atuaram na repressão ao movimento do Contestado, vestígios que foram incorporados ao acervo da reserva técnica do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. No desenvolvimento de suas análises, o autor procura debater a valorização da história militar do Brasil em um período em que tensas disputas foram travadas em torno da reconstrução de uma suposta memória nacional (primeiras décadas do século XX).

No escrito Fortalezas abandonadas, saqueadas, redescobertas, restauradas, patrimonializadas: da democratização à pluralização do patrimônio, Pedro Mülbersted Pereira e Elison Antonio Paim analisam como agentes envolvidos com a gestão das Fortalezas de Anhatomirim, Ratones e Ponta Grossa, situadas em Florianópolis / SC, historicamente envidaram esforços no sentido de elaborar e disseminar uma narrativa palatável acerca do passado dessas edificações. Apoiados em um conjunto diversificado de fontes (bibliografias, entrevistas, reportagens digitais e documentos oficiais), os autores problematizam retóricas patrimoniais que seguem dando força para um “discurso sobre a ruína”, negligenciando, em suas formas de expressão, narrativas de memória que não se afinam à versão glamourizada que certos órgãos encarregados da gestão das Fortalezas procuram manter e propalar.

No escrito Patrimônios difíceis, demanda social e reparação nos Asilos Colônias em São Paulo, Gabriela Lopes Batista aciona a noção de “patrimônios difíceis” para refletir sobre as representações relacionadas ao tombamento de espaços que, no transcurso do século XX, funcionaram como instâncias de isolamento compulsório de pessoas acometidas pela hanseníase.

O artigo Tombamentos, processos, disputas e tensões nas histórias do patrimônio cultural de Joinville – outras questões para o debate público, de Cristiano Viana Abrantes, Dietlinde Clara Rothert e Giane Maria de Souza, constitui-se como um estudo sobre estratégias político-institucionais ligadas à gestão do patrimônio cultural em uma cidade de médio porte (Joinville). No desenvolvimento do texto, os autores procuram refletir sobre tensões que se fazem presente no campo patrimonial do município de Joinville, atentando para o papel exercido por agentes e agências da administração pública encarregados de assessorar, monitorar e acompanhar o cumprimento de requisitos legais que são diretamente relacionados com a patrimonialização ou não de determinado bem cultural.

No artigo intitulado Diálogos arriscados: do direito de participação cidadã na patrimonialização ao direito cidadão de aparecer no patrimônio cultural, o historiador Diego Finder Machado reflete sobre relações tensas e conflituosas que se desdobram de perspectivas divergentes acerca do lugar, da função e dos modos de interação com o patrimônio nas sociedades do presente. A partir da análise de processos de patrimonialização que perpassaram a história de Joinville, o autor discute como cidadãos comuns, de maneira mais ou menos declarada, apropriaram-se do patrimônio cultural para reivindicar espaços de aparecimento na vida pública das cidades contemporâneas.

Em A UNESCO, o patrimônio e o turismo cultural: uma abordagem inicial (1960- 1980), Valéria Fernanda Serpa Steinke, Fernando Cesar Sossai e Ilanil Coelho apresentam um histórico da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), bem como examinam algumas das discussões sobre patrimônio que atravessaram o processo de elaboração da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural (UNESCO, 1972). Em seguida, os autores refletem a respeito de como essa Organização, durante a década de 1970, atuou de maneira a aproximar entre si os termos patrimônio e turismo cultural.

No artigo Desenvolvimentismo, industrialização e ensino superior em Chapecó: bases para a criação de um movimento estudantil, Vinicius de Almeida Peres e Monica Hass problematizam os interesses envolvidos com a oferta do Ensino Superior em Chapecó, bem como discutem como se deu a constituição de um movimento estudantil junto ao Centro de Ensino Superior da Fundação Universitária do Desenvolvimento do Oeste de Santa Catarina. Vale a pena destacar que os autores fazem uso de fontes que integram o acervo do Fundo Documental do Diretório Central dos Estudantes, um acervo custodiado pela equipe técnica do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM / UnoChapecó).

Em Campos entre taipas e aramados: novos olhares sobre a paisagem serrana catarinense, a autora, Cristiane Fortkamp Schuch, busca elaborar uma escrita histórica a respeito de experiências culturais e modos de vida que impactaram a paisagem dos campos de altitude do planalto catarinense. Em seu texto, a autora dispensa atenção à análise da paisagem histórica da região, procurando diferenciar e ampliar o conceito de paisagem para além de sua vertente imagética.

Na seção Resenha, Adriano Denovac explicita algumas das discussões presentes no livro O que pode a biografia, obra organizada pelos historiadores Alexandre de Sá Avelar e Benito Bisso Schimidt. Trata-se de uma obra interessante para o campo da História, uma vez que aprofunda o debate sobre os possíveis lugares da biografia no campo da História, em especial nos domínios da História Pública.

Esta edição da Fronteiras conta ainda com a tradução do texto intitulado A fabricação do patrimônio, de autoria de Nathalie Heinich, socióloga e diretora de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, Paris). Elaborada pelos historiadores Diego Finder Machado e Fernando Cesar Sossai, a tradução é uma contribuição importante para os estudiosos que atuam no campo do patrimônio cultural no Brasil, uma vez que Heinich desenvolve em seu escrito questões bastante espinhosas: como um determinado objeto adentra o conjunto do patrimônio cultural nacional? Sob quais critérios? Sob quais dinâmicas de atribuição de valores? A tradução também é uma oportunidade de conhecer as proposições de Nathalie Heinich para o desenvolvimento de pesquisas mais pragmáticas a respeito do patrimônio cultural.

Esperamos que este Número da Revista Fronteiras seja uma contribuição relevante para os que, assim como nós, procuram investigar as complexidades contemporâneas que emergem dos entrecruzamentos entre Memória, Patrimônio e Democracia.

Boa leitura a todas e a todos!

Fernando Cesar Sossai

Ilanil Coelho

Samira Peruchi Moretto

Organizadores do Dossiê Memória, Patrimônio e Democracia


SOSSAI, Fernando Cesar; COELHO, Ilanil; MORETTO, Samira Peruchi. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.32, 2018. Acessar publicação original [DR]

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História e Patrimônio: questões teóricas e metodológicas / Anos 90 / 2018

O presente dossiê pretende contribuir para os debates recentes acerca das interfaces entre história e patrimônio. Para tanto, agrega artigos que enfocam questões teóricas e metodológicas referentes a três possibilidades de interface entre história e patrimônio. A primeira delas trata das investigações acadêmicas sobre os processos de patrimonializacão e usos do passado, cuja acolhida não se estabeleceu apenas em programas de pós-graduação stricto sensu em História, mas em uma miríade de programas interdisciplinares criados no Brasil nas últimas décadas. A segunda possibilidade envolve a atuação do profissional historiador em um campo de disputas, onde estão em jogo os embates em torno de práticas e representações sobre os bens culturais e sobre o passado. Finalmente, a terceira interface está relacionada ao ensino de história e envolve especialmente as políticas educacionais que, no Brasil, tem colocado o patrimônio como eixo de abordagens transversais no currículo escolar. Em qualquer destes lugares de produção histórica sobre o patrimônio, o aprofundamento teórico e metodológico constitui-se em prerrogativa para o avanço da reflexão sobre a especificidade das contribuições do conhecimento histórico para a questão, bem como para o compartilhamento e debate interdisciplinar com outras áreas envolvidas. Desse modo, o Dossiê História e Patrimônio agrega reflexões de ordem teórica e metodológica relacionadas às possibilidades de interface acima elencadas, discutindo autores e conceitos utilizados, bem como metodologias postas em ação para elucidação de problemas.

A ideia da proposição desse dossiê partiu de debates acerca da importância das questões teórico-metodológicas desenvolvidos no GT História e Patrimônio Cultural da ANPUH e foi aprovada pela Comissão Editorial da Anos 90 no primeiro semestre de 2017. Foi feita uma chamada ampla no dia 31 de julho de 2017 para que todos os doutores que investigam acerca dessa temática interessados em publicar artigos no dossiê fizessem as submissões. O prazo para submissão estendeu-se até o dia 30 de abril de 2018, quando iniciou a busca por outros doutores especialistas no tema para que fizessem gratuitamente a avaliação dos artigos submetidos, conforme as normas da revista. Agradecemos a esses avaliadores anônimos que muito contribuíram para a seleção e qualidade dos textos aqui publicados.

Ao final do processo de avaliação, foram aprovados os artigos que seguem:

“O lugar do patrimônio na operação historiográfica e o lugar da história no campo do patrimônio”, de Zita Rosane Possamai, mapeia a história do patrimônio no Brasil a partir da contribuição dos museus e destaca a presença da produção historiográfica nesses espaços. Problematiza as aproximações e distanciamentos desse saber nesse campo e finaliza com a análise de dados recentes sobre a produção em nível de pós-graduação sobre patrimônio em diversas áreas, com ênfase na história.

“Patrimônio cultural na contemporaneidade: discussões e interlocuções sobre os campos desse saber”, de Elis Regina Barbosa Angelo e Euler David de Siqueira, discute, a partir dos aportes conceituais da História e da Antropologia, as relações entre o patrimônio, como elemento de diálogo com o passado, e os processos vinculados à memória, à identidade, ao tempo e à cultura. Situa a configuração do patrimônio associado ao Estado-nação e problematiza os movimentos identitários mais recentes, presentes em diversas regiões do mundo, que reivindicam a valorização dos patrimônios locais no contexto da globalização.

“Memórias e identidades: a Patrimonialização e os usos do passado”, de autoria de Sandra C. A. Pelegrini, busca mostrar os “perigos” aos quais estão sujeitos os profissionais de diversas áreas atuantes em comissões ou conselhos ligados à preservação dos bens culturais. O estudo de caso do processo de tombamento e de registro de bens patrimoniais, na Estância Balneária de São Vicente (São Paulo), permitiu à autora relacionar aportes teóricos e metodológicos na abordagem da questão.

“Patrimônio cultural e turismo: tensões contemporâneas”, de Fernando Cesar Sossai e Ilanil Coelho, enfrenta os tensionamentos decorrentes da relação entre patrimônio e turismo, ao ter como foco a cidade de Barcelona, Espanha. Os autores mostram como bens culturais ativados como patrimônios mundiais constituíram-se como suportes para contestações contra a presença dos turistas na cidade e contra a expansão desenfreada do turismo internacional na região. Através das imagens fotográficas chega-se a vozes / imagens dissonantes produzidas por sujeitos individuais ou coletivos, contrários à presença desses visitantes na cidade.

“Patrimônio e performance cultural: experiência e territorialidade na conquista do espaço”, de Eloísa Pereira Barros, através dos conceitos de território, performance cultural e sua relação com o patrimônio, propõe refletir sobre as ideias de memória, performance, cultura e identidade. Considera o patrimônio cultural como prática social que performa o movimento realizado pelos grupos sociais ao materializar os aspectos simbólicos e codificados da cultura nos espaços sociais, seja ele material ou imaterial.

“O registro do Cordel como patrimônio imaterial e as políticas de preservação da cultura popular no Brasil”, de Antonio Gilberto Ramos Nogueira, aborda os desafios da preservação dos aspectos culturais intangíveis e percorre as mudanças conceituais e metodológicas nas políticas públicas sobre essa problemática. Trata do processo de construção dos sentidos de patrimônio cultural imaterial e da patrimonialização do Cordel no Brasil. Através da trajetória da Literatura de Cordel, o autor mapeia os deslocamentos de sentidos, indo do folclore ao patrimônio imaterial, nas políticas públicas no que se refere à noção de cultura popular.

“A patrimonialização e suas contradições: o patrimônio prisional na França do tempo presente”, de Viviane Trindade Borges, aborda os embates em torno das práticas de patrimonialização de espaços prisionais na França, tendo como foco o caso da Prison de La Santé. A autora analisa os destinos contraditórios desses patrimônios monumentais, obsoletos na atualidade, e problematiza a atuação de intelectuais franceses nesse processo, entre os quais alguns historiadores, que debatem a emergência do conceito de patrimônio carcerário ou patrimônio prisional.

“Entre a sala de aula e o gabinete do museu: as primeiras coleções do Museu Histórico de Londrina / PR na gestão do Padre e Professor Carlos Weiss (1970-1976)”, de Cláudia Eliane P. Marques Martinez e Angelita Marques Visalli, analisa o processo de constituição das primeiras coleções no Museu Histórico de Londrina, a partir das iniciativas de seu primeiro diretor, Pe. Carlos Weiss (1970 a 1976). A atuação desse diretor determinou a escolha e prioridade dada a alguns objetos específicos, sobretudo artefatos arqueológicos e etnográficos. A quantificação do acervo por meio de um banco de dados com os registros do Primeiro Livro de Registro do Museu Histórico de Londrina permitiu analisar a recorrência nessas coleções de artefatos arqueológicos e etnográficos, provenientes da região.

Finalmente, “Goiânia: dinâmicas do patrimônio e da memória entre a instituição da cidade-monumento e a cidade-praticada”, de Edmar Aparecido de Barra e Lopes, aborda a discussão acerca dos usos sociais do passado e suas relações com a dinâmica da patrimonialização a partir da análise de narrativas dominantes sobre o urbano e a cidade de Goiânia / GO.

Essa variedade de problemas, objetos e casos empíricos apresentados demonstra, por um lado, a fertilidade das investigações sobre o patrimônio desenvolvidas no âmbito dos estudos históricos. Por outro lado, essas pesquisas demonstram a necessidade de diálogo com outras áreas de conhecimento e como essas permitem apreender a complexidade dessas questões. Finalmente, apontam para a problematização e legitimação da atuação do profissional de história e de outras áreas nesse campo. Sem exaurir as possibilidades, certamente inesgotáveis, desejamos que esse dossiê venha a contribuir para a reflexão e inspiração para novas pesquisas. E, especialmente nesse momento em que o patrimônio brasileiro sofreu uma perda inestimável com o incêndio do Museu Nacional, renove nossas esperanças em seguir agindo na defesa da preservação dos traços de nossas memórias e dos nossos passados.

Zita Possamai – Professora associada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio da UFRGS. Doutora em História com pós-doutoramento na Universidade Paris 3 Sorbonne Nouvelle (França). Bolsista de Produtividade do CNPq. E-mail: zitapossamai@gmail.com , http: / / orcid.org / 0000-0003-4014-5389

Alessander Kerber – Professor associado do Departamento de História e do PPG em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Doutor em História com pós-doutoramentos na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidad Nacional de Cuyo (UNCUYO, Argentina). E-mail: alekerber@yahoo.com.br , https: / / orcid.org / 0000-0002-7604-7484


POSSAMAI, Zita; KERBER, Alessander. Apresentação. Anos 90, Porto Alegre, v. 25, n. 48, dez., 2018. Acessar publicação original [DR]

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Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018.

Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018.

IMPRESSÕES DE UM VIAJANTE OITOCENTISTA SOBRE O NILO E O AMAZONAS | Anna Carolina de Abreu Coelho | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018. | |

José Coelho da Gama e Abreu, o Barão de Marajó, político e intelectual amazônico, em suas inúmeras viagens refletiu sobre o espaço urbano durante o século XIX. Comparando as cidades de diversas partes do mundo, ele percebia “diferentes grandezas” relacionadas à natureza e à civilização. Neste artigo, pretendemos analisar o olhar comparativo do viajante amazônico a respeito dos rios Amazonas e Nilo.
Palavras-chaves: Viagens; Amazonas; Nilo

| A IGREJA TENRIKYO AMAZÔNIA: A HISTÓRIA E A CULTURA DA RELIGIÃO | Vitor Moises Nascimento Therezo | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018.

Este artigo destaca algumas características distintivas, da forma como a religião é vivida na Igreja Tenrikyo Amazônia, localizada em Ananindeua, zona metropolitana de Belém (Pará). As características percebidas na Tenrikyo na Amazônia contrastam com os padrões estabelecidos no Ocidente, principalmente em perspectivas de tempo e espaço, que acabam por unificar os conceitos de tradição e cultura. Mesmo com uma estrutura e doutrina bem definida e uma carga de ocidentalização muito forte, a religião não é uma categoria autônoma da cultura e da história. Isso permite o estabelecimento e a percepção mais clara de fins sociais neste contexto religioso nipo-amazônico, o que acaba por poder ser um fator útil para qualquer pesquisa que se debruce sobre a religião e a cultura. Assim, pode-se haver proveito dessas análises para construção de outras perspectivas de interpretação do cenário religioso ocidental, que hoje é tão plural e heterogêneo.
Palavras Chave: Igreja Tenrikyo; Amazônia; Religiosidade no Brasil

A CULTURA ÁRABE MUÇULMANA E O CINEMA: O RETRATO DO ÁRABE MUÇULMANO GERADO PELO CINEMA HOLLYWOODIANO | Débora Dorneles Uchaski | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018.

Este artigo traz uma perspectiva sobre como o cinema hollywoodiano têm representado a cultura árabe muçulmana e como o cinema tem sido utilizado como uma ferramenta ideológica para a legitimação de projetos políticos e econômicos norte-americanos. Baseados na teoria da Nova História Cultural e nos métodos de Marc Ferro, analisaremos vinte e um (21) filmes criados entre a década de 1970 e os dias atuais, partindo do contexto em que havia sido criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e o mundo estava sendo acometido com a crise do petróleo, atingindo primariamente os Estados Unidos. Fundamentado em interesses políticos e econômicos, os Estados Unidos tem utilizado do cinema hollywoodiano como um instrumento para atingir o inconsciente coletivo das massas. Aumentando consideravelmente a utilização da figura do árabe muçulmano em seus filmes, criando um retrato de tal cultura sob uma ótica orientalista. Além disso, dedicamo-nos a estudar a representatividade da cultura árabe muçulmana no cinema salientando a forma como é estampada, os estereótipos arremetidos a tais sujeitos e analisar se houve alterações e degradações de sua imagem com o decorrer da história. Enfatizando a importância de trabalhar em sala de aula a desconstrução dessa ótica eurocêntrica e orientalista a fim de despertar no educando um olhar crítico ao que lhe é ofertado pela mídia de massas. Portanto, com o objetivo de trazer novas perspectivas e visões a fim de romper com estereótipos e com o estranhamento a culturas diferentes das quais este se insere, visando que alcance um pensamento mais ambíguo e tolerante.
Palavras-chave: Cinema; Representação; Orientalismo; Estereótipos; Racismo.

A IMIGRAÇÃO JAPONESA VISTA PELO CINEMA BRASILEIRO: APONTAMENTOS SOBRE “GAIJIN, CAMINHOS DA LIBERDADE”, DE TIZUKA YAMASAKI (1980) | Diogo Matheus de Souza | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018.

A Lei 13.006/2014 determina a exibição de duas horas mensais de filmes de produção nacional em todas as escolas de educação básica do país. Buscando refletir sobre possibilidades acerca do cinema brasileiro na escola, e mobilizando temáticas,

O presente artigo pretende analisar o filme “Gaijin, Caminhos da Liberdade” (1980), da cineasta nipo-brasileira Tizuka Yamasaki. Por meio do filme, de notícias de jornal que circularam no contexto de seu lançamento, de entrevista com a diretora e da bibliografia existente, pretende-se compreender como “Gaijin” mobiliza e produz memórias acerca da imigração japonesa, e quais os indícios que nos fornece sobre a construção de uma identidade japonesa no Brasil.
Palavras Chave: Imigração Japonesa; Cinema; Educação

REMINISCÊNCIAS DE MILTON HATOUM: ORIENTE E AMAZÔNIA COMO VETORES DA ARTE LITERÁRIA | Heraldo Márcio Galvão Júnior | Arcângelo da Silva Ferreira | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018. | Com

O presente artigo buscamos esboçar sobre a trajetória intelectual do escritor amazonense Milton Hatoum, elucidando, essencialmente, a Amazônia e o Oriente, real e imaginário. Estes motes literários herdeiros das experiências vividas pelo literato desde sua infância. As lembranças, as memórias e seus espaços se tornaram vetores da arte literária de Hatoum.
Palavras Chave: Milton Hatoum; Literatura; Oriente.

NARRATIVAS ORAIS DE MULHERES CHINESAS EM MANAUS 1980-2017 | Raphaela Martins Pereira | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018. |

Este artigo é fruto de uma pesquisa de Iniciação Cientifica vinculada ao Laboratório de História Oral e Audiovisual do Amazonas (LABHORA-AM) do Departamento de História da Universidade Federal do Amazonas e seu objetivo é refletir sobre memórias de mulheres chinesas que migram/migraram para Manaus no interstício de 1980-2017. Para isso nos utilizaremos fundamentalmente dos diálogos estabelecidos com as fontes orais, obtidas através de entrevistas que realizamos com três chinesas migrantes e que versaram sobre suas Histórias de vida, seu trabalho e o processo de migração. Entendemos que o modo de migrar de homens e mulheres são diferentes e que refletindo acerca das memórias e experiências desses sujeitos históricos podemos ter dimensões da História da imigração chinesa para o Brasil.
Palavras – Chave: mulher chinesa; imigração; história oral.

LENDO O OCIDENTE A PARTIR DO ORIENTE: O NARRADOR MACHADIANO EM QUESTÃO | Nelson de Jesus Teixeira Júnior | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018. |

O ensaio visa, através de uma perspectiva ficcional e histórica, discutir como o Ocidente era lido através dos acontecimentos no Oriente, isso, por meio de uma crônica datada de “1 de julho de 1876”, assinada por Machado de Assis, que circulou no espaço carioca do Oitocentos. Esse escritor brasileiro operacionalizava ideias diversas em favor da formação informativa do seu leitor, apesar de não ter precisão acerca da composição desse leitorado. Essa narrativa machadiana viabiliza ampliar, para nós, a forma de compreensão sobre o cronista e seu processo de apreensão do cotidiano.
Palavras-chave: Machado de Assis; Oriente; Literatura

“FAÇA-SE O QUE SE QUISER – OS CHINESES POVOARÃO O BRASIL”: A PRIMEIRA MISSÃO BRASILEIRA NA CHINA | Kamila Rosa Czepula | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018. |

Nesse breve texto, analisaremos a primeira missão brasileira realizada na China em 1881, que tinha por objetivo estabelecer acordos comerciais e viabilizar a vinda de imigrantes chineses para o Brasil Império.
Palavras-chave: Imigração Chinesa; Brasil Império; China Imperial

A CONTRIBUIÇÃO DOS ESTUDOS DECOLONIAIS PARA O ORIENTALISMO DE EDWARD SAID | Pepita Afiune | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018. |

O artigo propõe um debate teórico a respeito da importância dos estudos orientalistas do palestino Edward Said e a contribuição que os estudos decoloniais podem oferecer às suas discussões. Quando Said atribui às significações criadas sobre o Oriente por parte do Ocidente como uma reminiscência da herança colonial, atribuímos aos estudos decoloniais o protagonismo de uma crítica análise cujas raízes estão na pós-colonialidade. A Decolonialidade emerge como um enriquecimento dos estudos pós-coloniais, sem deixar de mostrar a importância que eles tiveram no âmbito de seu contexto histórico. Autores que contribuem para este debate fazem parte deste grupo de pensamento que propõe um desprendimento epistemológico, como Alejandro Haber, Walter Mignolo, Santiago Castro-Gómez, Aníbal Quijano e Boaventura Santos. A linha de pensamento dos referidos autores entende o orientalismo de Said como uma perpetuação da academia norte-americana, o que fez com que o Oriente continuasse sendo pesquisado a partir de matrizes de pensamento imperialistas e metropolitanas.
Palavras-chave: Orientalismo; Decolonialidade; Pós-Colonialidade.

DE TRANSNACIONALISMO TIBETANO À UM LOCAL DE PEREGRINAÇÃO: O CASO DO TEMPLO BUDISTA KHADRO LING DE TRÊS COROAS-RS | Jander Fernandes Martins e Vitória Duarte Wingert | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018.

O presente trabalho é fruto de uma Etnografia realizada no Templo Budista Khadro Ling, localizado na cidade de Três Coroas-RS a 91km da capital gaúcha Porto Alegre. O objetivo desse trabalho foi perscrutar os motivos que levavam inúmeros sujeitos de diversas localidades e distintas cosmovisões religiosas a visitar esse ambiente. A coleta de dados se deu por meio de entrevistas semidirigidas. Estas, foram realizadas durante dois finais de semana culminando em um total de 30 entrevistas. Partindo da Antropologia da Religião. Nesse sentido, compreender como uma religião oriunda de uma cultura oriental milenarmente constituída, instaurou-se em outro país, o qual é culturalmente distinto, especialmente, em seus processos e manifestações (religiosas) se demonstraram relevantes. Os resultados desse estudo nos convidam a abrir discussão e reflexão sobre a o papel do budismo em uma região, histórica e culturalmente, constituída de uma identidade germânica protestante. Além disso, constatou-se que, mais do que uma questão de migração étnica, trata-se em nosso entendimento de uma questão de “transnacionalismo religioso”.
Palavras-chave: Antropologia da Religião; Budismo; Etnografia; Transnacionalismo Religioso.

OS PROCESSOS MIGRATÓRIOS JAPONESES ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX | Ronaldo Sobreira de Lima Júnior | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, volume especial, dez. 2018.

Uma série de mudanças aconteceu no Japão durante o século XIX, e a maior parte delas foi proveniente do período conhecido como “Restauração Meiji”, onde o país se abriu ao Ocidente, após séculos de isolamento estabelecido pelo shogunato Tokugawa. Este momento da história japonesa é crucial para entendermos como e porque o país enfrentou ondas migratórias de seus cidadãos em seu próprio território e para fora dele. O século XIX se caracterizou por estes grandes deslocamentos populacionais internacionais, principalmente vindos da Europa, da China e do Japão. A presença dos nipônicos nos países em que se instalaram causou fenômenos que fomentam inúmeras reflexões, mas a maior e a primogênita destas é aquela que objetiva entender o que os levou a buscar uma nova vida em várias nações pelo mundo, principalmente no continente americano. Este trabalho se propõe a sistematizar e a fundamentar a discussão sobre este momento histórico do Japão que se iniciou no século XIX e adentrou pelo século XX, resultando em várias ondas de deslocamento de nipônicos em diversas direções, com destaque ao Brasil.
Palavras-chave: História; Japão; Imigração.

300 años: masonerías y masones, 1717-2017 – ESQUIVEL et al (RE)

ESQUIVEL, Ricardo Martínez; POZUELO, Yván; ARAGÓN, Rogelio (Ed). 300 años: masonerías y masones, 1717-2017. Cinco volúmenes: Migraciones, Silencios, Artes, Exclusión y Cosmopolitismo. Ciudad de México: Palabra de Clío, 2017-2018. Resenha de: MARCO ANTONIO, García Robles. Revista Estudios, v.37, Diciembre 2018-Mayo 2019.

Desde la investigación histórica, desentrañar las sociabilidades de los masones permite agregar una capa de comprensión o explicación a las narraciones consideradas como canónicas o inobjetables. No es que hubiera omisiones intencionales en los seguidores de Clío; más bien, estaban en desarrollo las herramientas para interpretar las afiliaciones a los ritos masónicos existentes en el país o lo más frecuente, se disponía de escasa o nula información al respecto, lo que, de hecho, sigue siendo uno de los principales retos para los historiadores por la pérdida de archivos o el difícil acceso a los que existen.

Con relación a los cinco volúmenes de 300 años: Masonerías y masones (1717-2017),1 disponibles en formato electrónico,2 sin duda podemos afirmar que es la única iniciativa académica de esta dimensión en Iberoamérica, quizás con alguna competencia en el mundo anglosajón. Se trata para empezar, de la reedición de años de trabajo de una revista científica internacional, arbitrada e indexada con sede en la Universidad de Costa Rica, la Revista de Estudios Históricos de la Masonería Latinoamericana y Caribeña (REHMLAC+). Es de destacar la selección y actualización de artículos bajo ejes temáticos, la traducción de textos publicados en otros idiomas, además del diseño y las gestiones propias de la labor editorial, a cargo de Ricardo Martínez Esquivel, Yván Pozuelo Andrés y Rogelio Aragón.

Quizás una de las principales aportaciones de la serie, es el desmonte de mitos históricos, teorías de la conspiración, aclaración de información errónea o incluso, de las leyendas propaladas por las propias logias alrededor del mundo. Por supuesto, también se observan las aportaciones de la francmasonería en diversos ámbitos o mejor dicho, de algunos y algunas de sus integrantes, como parte fundamental en la transición del antiguo al nuevo régimen; aunque también este orden de carácter iniciático pueda entenderse más bien como un fenómeno paralelo o consecuencia de la modernidad.

Aunque quisiéramos, no disponemos del espacio para comentar los 44 artículos de la serie, además de las introducciones a cada libro, hechas por un colaborador diferente, que por sí mismas también revisten aportaciones adicionales. Así pues, señalaremos algunas de las aportaciones de cada ejemplar, con la advertencia de que en ocasiones se trata de verdaderos spoilers del contenido, lo que esperamos también sea una invitación para adquirirlos y leerlos.

Así pues, en el tomo I, Migraciones, señala José Antonio Ferrer Benimeli, que la promulgación de la Constitución de Cádiz consumó la invención del mito masónico-liberal, donde, pro-franceses, radicales, etc., se constituyeron en enemigos del trono y el altar. Señala el decano de la investigación masónica:

En este tránsito del antiguo al nuevo régimen, del absolutismo al liberalismo, de la tradición al reformismo o a la modernidad, el espacio masónico cobró una inusitada importancia a ambos lados del Atlántico cuando en realidad hoy día nos replanteamos el protagonismo que en gran parte está todavía por demostrar.3

En ese mismo sentido, el investigador español califica como leyenda la pertenencia a la masonería de la mayor parte de los próceres independentistas de América, incluyendo México, surgida en parte por la propaganda inicial anti-insurgente, como la citada por él en la Contestación del fray José Ximeno, del colegio de crucíferos de Querétero, al manifiesto del señor Hidalgo del año 1811, donde se acusa a Hidalgo de haber recibido de sus “hermanos los francmasones” la “perniciosa” idea de la igualdad que disolvía las diferencias que daban orden a la sociedad y generaban la anarquía, de donde concluía que Hildago era o libertino, o materialista, o apóstata de la religión, o todo junto, y por lo tanto francmasón como Napoleón, su amo.4

Por su parte, María Eugenia Vázquez Semadeni, en “Del mar a la política. Masonería en Nueva España/México, 1816-1823”, coincide en que no está demostrada la existencia de logias masónicas en el siglo XVIII en el actual territorio mexicano, además de cuestionar el mito fundacional de la masonería mexicana con el relato de la logia en la calle de las Ratas en la capital novohispana en 1806.5 Empero, documenta la existencia de talleres masónicos en Luisiana en 1793 con apoyo francés y norteamericano, aunque posteriormente este territorio es devuelto a Francia, quien lo vende a Estados Unidos. Luego refiere que surgida una gran logia en el nuevo estado del vecino país, otorga carta patente para fundar logias en Veracruz en 1816, al año siguiente en Campeche y en 1820 en Yucatán.6

En cuanto al tomo II, Silencios, abre magistralmente con el artículo de Vázquez Semadeni, “La teoría de la conspiración masónica en Nueva España/México, 1738-1949”, que parte de la idea de los detractores de esta forma de sociabilidad en el sentido de que existe un plan masónico para dominar el mundo. Nos dice la autora:

La teoría de la conspiración puede definirse como la creencia de que una organización formada por individuos o grupos actúa subrepticiamente para alcanzar un fin malévolo. En un sentido más amplio, las teorías de la conspiración consideran que la historia está controlada por fuerza malignas o incluso demoniacas.7

Explica la masonóloga que estas especulaciones generalmente están vinculadas a la Iglesia católica, gobiernos monárquicos y grupos conservadores. Otro de los asuntos que alentó la teoría de la conspiración, aún vigente para los no historiadores de profesión, es la liga de algunos insurgentes con sociedades secretas como la de los “Caballeros racionales”, cuyas ramificaciones desde Sudamérica fueron descubiertas en México, pero que los investigadores desestiman como masonería.

Por su parte, Felipe Santiago del Solar, en “Secreto y sociedades secretas en el mundo hispánico en la crisis del antiguo régimen”,8 clarifica algunas de las “leyendas negras” sobre la masonería, como lo relacionado con los “Iluminados de Baviera” o las logias “Lautaro”, que si bien, usaban estructuras y métodos similares a la masonería, perseguían otros fines, políticos o revolucionarios.

El tercer tomo reviste particular interés para los estudiosos de la literatura, la música y las creaciones visuales, pues está dedicado a las Artes. Por ejemplo, Andrew Pink, en “‘Cuando cantan’: la interpretación de canciones en las logias inglesas del siglo XVIII”, aborda el uso informal y ceremonial de la música en los talleres masónicos.9 En temas conexos se encuentran los artículos “Y la lira volvió a sonar: breve estudio sobre las relaciones semánticas entre música y masonería” de Fernando Anaya Gámez;10 y “La tercera columna: la música como herramienta mediática de la masonería en la Venezuela del siglo XIX” de Juan de Dios López Maya.11

David Marín López, en “Arte y masonería: consideraciones metodológicas para su estudio”,12 plantea un concepto de trabajo para analizar las creaciones artísticas vinculadas con la masonería. Se trata el de “estética masónica”, aunque se trata de una categoría relativamente debatible. Empero, constituye un ensayo que da pauta a la creación de un modelo de interpretación, que necesariamente tendrá que ir de la mano una contextualización de los realizadores, los comitentes, los usos, etc.

Un texto de gran erudición es “La masonería en la literatura. Una panorámica general” de José Antonio Ferrer Benimeli,13 que, en términos sintéticos, enlista una considerable cantidad de títulos y autores, que el propia autor clasifica en cuatro apartados:

  1. Literatos de renombre que al mismo tiempo fueron masones pero no reflejan directamente su compromiso con la masonería en sus escritos literarios.
  2. Masones que sí manifiestan su dualismo masónico-literario.
  3. Estudios críticos sobre dichos autores y sus obras.
  4. Autores no masones que aluden a la masonería en sus obras y que incluso la elevan a categoría de protagonista.14

Por cierto, podríamos incluir en la categoría tercera, aunque se trate de un texto académico, el de Yván Pozuelo Andrés, quien en “Kipling y su sorprendente primera novela”,15 analiza la obra El Hombre que quiso ser Rey, quizás más conocida por su versión cinematográfica con el actor Sean Connery como protagonista. En el artículo, el investigador español aborda la biografía del escritor indio, sus escritos relacionados con la masonería, e incluso, el debate si trabajos como El libro de la selva, tienen un trasfondo masónico, que él descarta, pero que otros investigadores sí observamos, como el paralelismo entre el perfil de algunos personajes y los grados de la masonería simbólica (aprendiz, compañero y maestro).

El cuarto tomo, Exclusión, tiene como principal enfoque el estudio histórico de la masonería desde el género. Como dice el autor del texto introductorio, Guillermo de los Reyes, “la integración de las mujeres en la sociabilidad masónica creo un gran conflicto con la intolerancia de ciertas masonerías, particularmente las de tradición anglosajona”, que permanece y que podría definirse como “tolerante intolerante” o “fraternidad sin sororidad”.16

De este mismo investigador de la Universidad de Houston, escrito junto con Paul J. Rich, extraigo un fragmento de su texto “Problemática racial, de sexualidad y de género: encrucijadas de la masonería norteamericana en el siglo XXI”, que proporciona referencias de la existencia de mujeres masonas antes de la fecha emblemática de 1717, que se tiene como el punto de inicio de la masonería moderna, inglesa y masculina:

Existe un registro de 1408 en el que los masones que acababan de ser invitados juraban obediencia al “maestre o dama o cualquier otro masón dirigente”. En los registros de la logia de la capilla de María de Edimburgo, con fecha de 1683, la logia estaba presidida por una dama o señora. Los registros de la Gran Logia de York en 1693 hablan acerca de iniciados masculinos y femeninos.17

Adicionalmente, este tomo resulta de gran interés por las aportaciones de investigadoras de varias universidades del mundo, que llevan a desmontar la visión de una predominancia masculina en la sociabilidad de estudio. Aquí viene perfectamente al caso una cita de Maria Deraismes, fundadora de la gran logia francesa mixta “Le Droit Humaine” (El Derecho Humano). Ante la pregunta en su iniciación en 1882, ¿cuál es vuestro objetivo al entrar en la francmasonería?, respondió: “…poner fin al prejuicio que ha excluido a las mujeres, pues tengo el firme espíritu de que gracias a su admisión podrá complementarse en el seno de las logias una obra de mejora general de las conciencias”.18

Por último, con respecto al tomo V, Cosmopolitismo. La introducción de este número a cargo de Ricardo Martínez Esquivel, posee un tono un tanto irónico y nostálgico de la cultura popular, que no se contrapone al rigor académico de la historia. El también director de la Revista de Estudios Históricos de la Masonería Latinoamericana y Caribeña de la Universidad de Costa Rica, nos recuerda los imaginarios mediáticos que nos remiten a la práctica masónica, como la hermandad de los “búfalos mojados” en los Picapiedra, la logia de los “magios” (stonecutters) en los Simpson, donde Homero, el famoso personaje de la icónica serie, es iniciado; o el rito de los “cefalópodos” en Bob Esponja, a los que se podrían añadir más ejemplos no mencionados, tanto de cartoons clásicos, como de emisiones contemporáneas de dibujos animados, con amplia audiencia.

La masonería es un fenómeno global, que se extendió a muchas latitudes del mundo desde su institucionalización en el Londres de 1717. Así, Margaret C. Jacob, en “La ilustración radical y la masonería”,19 comenta el detonante de la emigración protestante a Inglaterra y Holanda, por la intolerancia religiosa francesa y otros países católicos, así como los escritos y prácticas producidos en ese contexto. Quizá haya que mencionar que los redactores de las Constituciones de los Francmasones en 1723, James Anderson y Jean Théophile Désaguliers, eran precisamente protestantes.

Pierre-Yves Beaurepaire, en “Sociabilidad y masonería. Propuestas para una historia de las prácticas sociales y culturales en el siglo de las luces”,20 plantea un estudio de la masonería desde las prácticas de sus miembros, basado en teóricos como Maurice Agulhon, George Simmel, Jürgen Habermas y otros, que ven en los masones a nuevas formas de convivencia en la sociedad burguesa europeas.

Jessica Harland-Jacobs, en “Fraternidad global: masonería, imperios y globalización”,21 reflexiona sobre la rápida expansión que tuvo la masonería especulativa moderna, y cómo esta fue un factor del fenómeno que ahora conocemos como globalización, incluyendo la construcción de redes internacionales, el uso de cartas de presentación que se convirtieron en el antecedente del pasaporte, y otras cuestiones aparejadas a las prácticas comerciales, de colonialismo y militares.

Ricardo Martínez Esquivel, en “Imperialismos, masones y masonerías en China (1842-1911),”22 realizó un detallada análisis sobre la implantación de la sociabilidad masónica en el país asiático. Esta temática se vincula con la emergencia de algunas logias de inmigrantes chinos en países como México y los Estados Unidos de América, asunto del que recientemente ha surgido evidencia documental de gran interés y que con certeza dará lugar a nuevas investigaciones y escritos.

El artículo con el que cierra el tomo V es por demás interesante, Andrew Prescott, con “En busca del Apple Tree: una revisión de los primeros años de la masonería inglesa”,23 pone en entredicho la fecha fundacional de la institución teóricamente tricentenaria, para ubicarla con mayor probabilidad en 1821, ello a partir de la búsqueda de la famosa taberna donde se celebró la primera reunión de la Gran Logia de Londres, así como de las biografías y testimonios de la época.

La serie bibliográfica 300 años: Masonerías y masones (1717-2017), además de un lenguaje accesible, integra en cada número una sección iconográfica y fotográfica, con imágenes que complementan a la perfección los temas vertidos en sus páginas, además de brindar elementos para continuar con la indagación sobre la historia de la masonería.

Adicionalmente, para las personas interesadas en el estudio histórico del fenómeno masónico, se presentan entreveradas en los escritos, las pautas teórico-metodológicas que se siguieron para lograr los productos académicos de alta calidad. En algunos casos, se invita a proseguir con trabajos multi o transdisciplinarios, como la “lectura” o interpretación de objetos decorativos o parafernalia masónica en la reconstrucción de un momento específico en la vida de una logia, o incluso, en la biografía de un iniciado.

En la lectura anticipamos polémica, sorpresas, erudición y claro, disfrute intelectual. Con certeza, algunas versiones contenidas en las páginas de la serie conmemorativa no gustarán a las personas iniciadas en algún rito masónico o incluso, de los “altos cuerpos” de algunas obediencias, como tampoco serán del aprecio de los todavía existentes detractores de esta sociabilidad. En todo caso, creo que serán valoradas por las y los amantes de la verdad histórica, que nunca deja de estar en construcción.

Notas

1 Ricardo Martínez Esquivel, Yván Pozuelo Andrés y Rogelio Aragón (editores). 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017) (México: Palabra de Clío, 2017 y 2018).

2 Pueden descargase gratuitamente en: www.palabradeclio.com.mx

3 José Antonio Ferrer Benimeli, “Utopía y realidad del liberalismo masónico. De las cortes de Cádiz a la Independencia de México”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo I, Migraciones (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 12-13.

4 Ferrer, “Utopía y realidad…”, p. 21.

5 María Eugenia Vázquez Semadeni, “Del mar a la política. Masonería en Nueva España/México, 1816-1823”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo I, Migraciones (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 128-130.

6 Vázquez, “Del mar a la política”, pp. 131-133.

7 María Eugenia Vázquez Semadeni, “La teoría de la conspiración masónica en Nueva España/México, 1738-1949”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo II, Silencios (México: Palabra de Clío, 2017), p. 9.

8 Felipe Santiago del Solar, Secreto y sociedades secretas en el mundo hispánico en la crisis del antiguo régimen”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo II, Silencios (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 150-167.

9 Andrew Pink, “‘Cuando cantan’: la interpretación de canciones en las logias inglesas del siglo XVIII”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo III, Artes (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 9-18.

10 Fernando Anaya Gámez, “Y la lira volvió a sonar: breve estudio sobre las relaciones semánticas entre música y masonería”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo III, Artes (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 19-39.

11 Juan de Dios López Maya, “La tercera columna: la música como herramienta mediática de la masonería en la Venezuela del siglo XIX”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo III, Artes (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 40-60.

12 David Marín López, “Arte y masonería: consideraciones metodológicas para su estudio”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo III, Artes (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 71-84.

13 José Antonio Ferrer Benimeli, “La masonería en la literatura. Una panorámica general”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo III, Artes (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 110-128.

14 Ferrer, “La masonería en la literatura”, p. 128.

15 Yván Pozuelo Andrés, “Kipling y su sorprendente primera novela”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo III, Artes (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 129-157.

18 María José Lacalzada de Mateo, citada en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo IV, Exclusión (México: Palabra de Clío, 2017), p. 90.

19 Margaret C. Jacob, “La ilustración radical y la masonería”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo V, Cosmopolitismo (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 9-21.

20 Pierre-Yves Beaurepaire, en “Sociabilidad y masonería. Propuestas para una historia de las prácticas sociales y culturales en el siglo de las luces”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo V, Cosmopolitismo (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 22-30.

21 Jessica Harland-Jacobs, “Fraternidad global: masonería, imperios y globalización”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo V, Cosmopolitismo (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 65-81.

22 Ricardo Martínez Esquivel, “Imperialismos, masones y masonerías en China (1842-1911)”, en 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo V, Cosmopolitismo (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 94-119.

23 Andrew Prescott, “En busca del Apple Tree: una revisión de los primeros años de la masonería inglesa”, 300 años: Masonerías y Masones (1717-2017), tomo V, Cosmopolitismo (México: Palabra de Clío, 2017), pp. 168-191.

Marco Antonio García Robles – Universidad Autónoma de Aguascalientes, México. E-mail: marcogarciarobles@gmail.com

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Vestidas e afeitas para serem virtuosas: as mulheres na Castela dos séculos XIV e XV | Thiago H. Alvarado

Sustentar uma aparência foi, durante alguns séculos no Ocidente, um meio de pertencer a determinado estado social e fazer valer algumas regras que lhes eram próprias. Dessa maneira, as normas de conduta que circularam na Castela dos séculos XIV e XV expunham as preocupações de homens e mulheres cristãos que desejavam, por meio da razão natural, manter a ordem no reino. Entretanto, ainda que os letrados castelhanos tenham concedido maior espaço em seus escritos para aplicar correções nos trajes e nos desvios das mulheres, as mudanças na forma das vestimentas e de que maneira as práticas dos súditos e fiéis mudavam conjuntamente não deixaram de fazer parte de suas prédicas, conselhos ou leis. À vista disso, debruçar-se sobre essas transformações e sobre os modos com os quais os homens daquela época descreveram seus contemporâneos torna-se fundamental para a compreensão da composição social, ou seja, o lugar e o direito que cada estado dispunha dentro dessa sociedade.

Os homens de saber da Castela dos séculos XIV e XV procuraram narrar a postura que os súditos do reino deveriam manter dentro e fora de suas casas. De modo geral, malgrado a preocupação que tinham as famílias de assegurar seus estados e proteger seus bens, o regramento sobre os panos, toucas e sapatos difundiam saberes sobre os pecados em que poderiam cair todos aqueles que se vestissem ou se afeitassem de modo errado. Dessa maneira, se durante os séculos XVI e XVII os legisladores se apoiariam sobre a ideia de que as vestes expunham primeiramente o direito ou o ofício – como propôs, em alguma medida, Norbert Elias em A sociedade de corte 2 ao observar os comportamentos e a mentalidade que ordenavam a sociedade do Antigo Regime e ao considerar as roupas como parte dessa estrutura –, até o século XV as vestimentas e a aparência deveriam, acima de tudo, demonstrar a verdade e a honestidade que a alma carregava. Assim, lançando mão de tratos canônicos, cadernos de cortes, ordenamentos, leis e outros documentos de cunho normativo e moralizante, um passo em direção a essas reflexões é o que dá Thiago Henrique Alvarado em seu livro lançado em 2017, Vestidas e afeitas para serem virtuosas: as mulheres na Castela dos séculos XIV e XV.[ 3]

Alinhando-se a trabalhos recentes da historiografia que abordam costumes e regras na península Ibérica, Thiago Alvarado busca, entre outros objetivos, mostrar como uma ordem estamental pôde ser afirmada a partir do regramento e cuidado com o vestir-se. Ainda que muitos estudos atuais versem principalmente sobre as diferenciações sociais e a intenção da coroa e da Igreja em manter o equilíbrio entre os estados, [4 ]Alvarado concede igual importância para as descrições das condutas morais e dos conselhos para uma vida virtuosa. Como ilustrativo dessa ideia, o autor lança mão, entre outros documentos, do Tratado provechoso que demmuestra como en el vestir e calçar comunmente se cometen muchos pecados, [5]escrito pelo frei da Ordem de São Jerônimo, Hernando de Talavera, durante o século XV. Mais que observar a maneira como Talavera definia e normatizava os estados e seus lugares sociais, o autor aponta que os prelados e os regedores daquela época deveriam ordenar os trajes dos súditos para que os povos fossem justos, virtuosos e bons.[6]

Descritas como necessárias “para a salvação dos homens” ou como um “meio de salvaguardar os corpos” das intempéries e da natureza, as vestes que os homens e mulheres carregavam e com as quais cobriam suas vergonhas ganham, aos olhos dos reis e clérigos, dimensões teológicas. Preocupado com tais narrativas, que em determinados momentos divergem uma das outras, Alvarado se pauta pelos escritos que reconheceram os panos como proteção indispensável para todos aqueles que necessitavam cobrir suas fragilidades. Se por um lado o destaque à vestimenta é feito quando os castelhanos tratavam do momento da “queda do homem”, quando ele se descobre nu e tem vergonha de suas partes; por outro, também é dado o destaque para a função que assumia quando expunha no homem a “formosura e pureza da alma”.[7] Dessa forma, as vestes assumem, na voz de Talavera, um caráter transitório, pois, a graça da qual o homem se despiu ao desobedecer a Deus no paraíso seria retomada no Juízo Final, quando, em um ato de reconciliação com Ele, o homem seria revestido pela graça divina uma vez mais. O vestir-se e o cobrir-se ganham, mais que um significado literal, um sentido metafórico. Durante a vida, enquanto os homens transitavam do pecado original ao Juízo Final, o corpo deveria ser coberto pela castidade, penitência e mortificação da carne.

De outra maneira, Alvarado salienta principalmente duas ideias de vestimenta não necessariamente distintas: aquela que cobre o corpo, esconde as vergonhas e protege os homens das ações naturais; e outra que recobre a alma, garante a pureza e a limpeza do espírito. É fundamental, sob o olhar de Thiago Alvarado, que ambas as características das vestes fossem prescritas e assimiladas corretamente por cada estado, pois, tanto as regras morais, quanto as recomendações de proteção eram difundidas entre as mulheres de baixa linhagem, as damas e a rainha. Dando voz a letrados que tiveram grande importância no período – entre outros Afonso de Madrigal e Frei Martin de Córdoba – o autor parte de regras gerais à vestimenta e das funções que essa tinha no cotidiano de cada súdito do reino e acaba por clarificar o papel que as vestes assumiam na vida de mulheres de diferentes estados.

É por meio da mulher e de seu papel na família que o autor observa as condições financeiras e hierárquicas dos grupos dos séculos XIV e XV. Lançando mão de um período em que o reino castelhano passava por uma crise financeira e lidava com os mouros e os judeus, Alvarado mostra que a importância das mulheres é percebida quando os documentos prescrevem diversas regras para que, quando fossem se adornar e se vestir, os fizessem correta e virtuosamente. Enquanto o homem era descrito como vinculado a um ofício, as mulheres carregavam as marcas do estado e de seu vínculo familiar, ou seja, por meio delas, Thiago Alvarado pôde dar a conhecer a condição dos estados nos reinos e as organizações jurídicas sobre eles. Em relação aos outros povos que se instalaram no reino, partindo das leis dos reis Afonso X e Afonso XI, o autor procura debater a importância das cristãs se diferenciarem das hereges e das fiéis de outros credos e priorizarem transparecer, acima de tudo, a honestidade e a lealdade ao reino e à Igreja.

O estudo de Thiago Henrique Alvarado ganha mais destaque pelo mapeamento que se propõe a fazer. As funções que as vestes assumem nos séculos XIV e XV e a maneira das mulheres castelhanas se cobrirem e se adornarem são expostos ao leitor por meio de uma série de documentos legados por tratadistas, cronistas, prelados, teólogos e outros moralistas. Podese observar que para compreender a situação no reino e a produção de leis a todos os estados, Alvarado elenca, entre outras obras, Las Siete Partidas de Afonso X,[8] e o livro dos ordenamentos das cortes de Castela e Leão, Cortes de los antigos reinos de Castela y León.[9] Para observar os padrões morais cristãos que eram cobrados a todos os estados, o autor lança mão da obra de Ludolfo de Sajonia, Vita cristi…;[10] de Jacopo de Varazze, Legenda áurea; [11] além dos tratados e escritos de Afonso Madrigal, Martín Pérez, Clemente Sanchez de Vercial, Hernando de Talavera, e dos concílios de Valladolid e Toledo. Ainda que muitos desses documentos não abordassem unicamente um assunto, mas buscassem compilar os saberes necessários para que os homens e mulheres vivessem sob as regras divinas e reais, o autor ainda destaca alguns que tratavam propriamente das vestes e dos estados, são eles: Virtuosas e claras mugeres,[12] de Alvaro de Luna; La reina Doña Isabel la Católica…¸[13] da rainha Isabel; Carro de las donas,[14] de Francesc Eiximenis; entre outras obras que traziam regramentos sobre a castidade e a pureza das mulheres.

É, portanto, por meio desses escritos e de outros da época que Thiago Henrique Alvarado procura descrever certas práticas do período em questão que foram expostas nas prescrições de autoridades eclesiásticas e laicas. Tendo como objetivo principal mapear os hábitos e costumes e descrever as práticas associadas aos trajes, o autor perpassa por três questões fundamentais. No primeiro capítulo, trata das queixas que as autoridades faziam a respeito da vestimenta e como transgredir as regras sobre a roupagem afetava a organização dos estados presentes no reino. No segundo, Alvarado procura debater sobre os valores morais que permeavam as normativas. Também aqui é de interesse do autor entender de que modo as leis foram criadas, com a finalidade de ordenar o cotidiano de mulheres e homens castelhanos.

Por fim, o terceiro capítulo debruça-se sobre as características “tidas por naturais” de cada vestimenta. Na visão do autor é fundamental entender, juntamente com as regras e os valores morais, como as mulheres foram aconselhadas em práticas virtuosas e alertadas sobre as pecaminosas ao vestirem-se e afeitarem-se. Por meio desse mapeamento e dos debates levantados por Alvarado, o trabalho monta um panorama de alguns principais costumes presentes no reino de Castela nos séculos XIV e XV.

Ao final do trabalho, conclui-se que as mulheres deveriam afastar-se da imagem de Eva, primeira pecadora e que instigou ao pecado também o homem, e aproximar-se do exemplo de Maria, virgem, comedida e fiel a Deus. As vestes seriam, então, uma importante ferramenta para observar se as mulheres seguiam os conselhos e se tornavam a imagem de pureza e castidade, ou se fugiam das regras e vestiam-se de forma desvirtuosa e com excessos de enfeites e chamativos. A fim de mostrar tanto as peculiaridades das vestes das mulheres, como a maneira com que a sociedade castelhana foi ordenada e descrita, Thiago Alvarado questiona: havia lugar para formosura e afeites nos hábitos das mulheres? De que modo as autoridades daquele período buscaram ordenar os costumes por meio das mulheres e suas vestimentas? Vale ressaltar que tanto nas palavras de Alvarado, como pelo suporte historiográfico que apresenta, a ordenação dos costumes não era uma forma de imposição de classes ou uma maneira de controle, ao contrário, observar as regras que circularam e ordenaram o cotidiano das mulheres e homens nos séculos XIV e XV é tido por Alvarado como uma forma de compreender os valores que aqueles mesmos homens descreveram como indispensáveis para a época.

Notas

1. Mestre em História (2018) pelo Programa de Pós-graduação em História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (UNESP), campus Franca. Atualmente, doutorando em História vinculado ao Programa de Pós-graduação em História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (UNESP), campus Franca.

2. ELIAS, Norbert. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

3. ALVARADO, Thiago Henrique. Vestidas e afeitas para serem virtuosas: as mulheres na Castela dos séculos XIV e XV. São Carlos: EdUFSCar, 2017.

4. ALVAREZ-OSSORIO ALVARIÑO, Antonio. Rango y apariencia. El decoro y la quiebra de la distinción en Castilla (SS. XVI-XVIII). Revista de historia moderna, n.17 (1998-1999); pp. 263-278, 1999. p. 264-265

5. TALAVERA, Hernando de. Tratado provechoso que demuestra como en el vestir e calçar comunmente se cometen muchos pecados. In: CASTRO, Teresa de. El tratado sobre el vestir, calzar y comer del arzobispo Hernando de Talavera, Espacio, Tiempo, Forma, Serie III, Historia Medieval, n.14, 2001.

6. ALVARADO, Thiago Henrique. op. cit., p.17-18

7. ALVARADO, Thiago Henrique. Vestidas e afeitas para serem virtuosas: as mulheres na Castela dos séculos XIV e XV. São Carlos: EdUFSCar, 2017, p.80.

8. LAS Siete Partidas del Rey Don Alfonso el Sabio…. Madrid: Imprenta Real, 1807, 3 tomos.

9. CORTES de los antiguos Reinos de León y de Castilla. Madrid: Imprenta y Estereotipia de Rivadeneyra, 1863

10. LUDOLFO DE SAJONIA. Vita cristi cartuxano romãçado por fray Ambrosio. Alcalá de Henares: Lançalao Polono, 1502-1503, 4 vols.

11. DE VARAZZE, Jacopo. Legenda áurea: vidas de santos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

12. LUNA, Álvaro de. Virtuosas e claras mugeres (1446). Edición, introducción y notas de Lola Pons Rodríguez. Segovia: Fundación Instituto Castellano y Leonés de la Lengua, 2008

13. LA Reina Doña Isabel la Católica. Á su confesor, don fray Hernando de Talavera. In: EPISTOLARIO Español. Tomo 2. Madrid: M. Rivadeneyra, 1870

14. EIXIMENIS, Francesc. Carro de las Donas. Valladolid, 1542. Estudio y edición de Carmen Clausell Nácher. Madrid: Fundación Universitaria Española/ Universidad Pontificia de Salamanca, 2007, 2. vols.

Referências

ALVARADO, Thiago Henrique. Vestidas e afeitas para serem virtuosas: as mulheres na Castela dos séculos XIV e XV. São Carlos: EdUFSCar, 2017.

ALVAREZ-OSSORIO ALVARIÑO, Antonio. Rango y apariencia. El decoro y la quiebra de la distinción en Castilla (SS. XVI-XVIII). Revista de historia moderna, n.17 (1998-1999), pp. 263-278, 1999.

CORTES de los antiguos Reinos de León y de Castilla. Madrid: Imprenta y Estereotipia de Rivadeneyra, 1863

DE VARAZZE, Jacopo. Legenda áurea: vidas de santos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

EIXIMENIS, Francesc. Carro de las Donas. Valladolid, 1542. Estudio y edición de Carmen Clausell Nácher. Madrid: Fundación Universitaria Española/ Universidad Pontificia de Salamanca, 2007, 2. vols.

ELIAS, Norbert. A sociedade de corte: investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

LA Reina Doña Isabel la Católica. Á su confesor, don fray Hernando de Talavera. In: EPISTOLARIO Español. Tomo 2. Madrid: M. Rivadeneyra, 1870

LAS Siete Partidas del Rey Don Alfonso el Sabio…. Madrid: Imprenta Real, 1807, 3 tomos.

LUDOLFO DE SAJONIA. Vita cristi cartuxano romãçado por fray Ambrosio. Alcalá de Henares: Lançalao Polono, 1502-1503, 4 vols.

LUNA, Álvaro de. Virtuosas e claras mugeres (1446). Edición, introducción y notas de Lola Pons Rodríguez. Segovia: Fundación Instituto Castellano y Leonés de la Lengua, 2008.

TALAVERA, Hernando de. Tratado provechoso que demuestra como en el vestir e calçar comunmente se cometen muchos pecados. In: CASTRO, Teresa de. El tratado sobre el vestir, calzar y comer del arzobispo Hernando de Talavera, Espacio, Tiempo, Forma, Serie III, Historia Medieval, n.14, 2001.

Rodolfo Nogueira da Cruz – Mestre em História (2018) pelo Programa de Pós-graduação em História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (UNESP), campus Franca. Atualmente, doutorando em História vinculado ao Programa de Pós-graduação em História da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais (UNESP), campus Franca.


ALVARADO, Thiago Henrique. Vestidas e afeitas para serem virtuosas: as mulheres na Castela dos séculos XIV e XV. São Carlos: EdUFSCar, 2017. Resenha de: CRUZ, Rodolfo Nogueira da. Lei e costume na Castela dos séculos XIV e XV: Vestidas e afeitas para serem virtuosas. Aedos. Porto Alegre, v.10, n.23, p.374-379, dez., 2018. Acessar publicação original [DR]

Oriente, Ensino e História / Sobre Ontens / 2018

Car@s Leitor@s;

Nessa edição especial, apresentamos alguns textos selecionados sobre a questão dos Estudos Orientais no Brasil. Os artigos aqui presentes nesta coletânea foram apresentados no 2º Simpósio Eletrônico Internacional de História Oriental [www.simporiente2018.blogspot.com], e reproduzidos igualmente no livro ‘Extremos Orientes’ *2018, publicado pelo site de nossa revista]

Os autor@s convidados para essa seleção trazem alguns estudos interessantes sobre como estudar e ensinar temáticas relativas às histórias orientais pelos mais diversos meios. Essa dimensão plural e interdisciplinar que nos incentivou a construir um volume especial da revista sobre o tema.

Agradecemos aos autor@s e leitor@s!

Saudações,

André Bueno –  C. Dir. Sobre Ontens


BUENO, André. Apresentação. Sobre Ontens. Apucarana, v.1, n.1, Esp. dez. 2018. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Methods and Cognitive Modelling in the History and Philosophy of Science–&–Education | Transversal | 2018

In order to inquire into the foundations of the History and Philosophy of Science & its connection to Education, more specifically, teaching science-NoS, the Inter-Divisional Teaching Commission (IDTC)3 reached high-level researchers to share their most recent works and findings in methods and cognitive modelling as the IDTC Special Issue on HPS-&- Education. By combining approaches of natural sciences & humanities in the investigation of the topics and promoting the cooperation between teaching educators, historians of science, historians and philosophers of science and specialist, the following articles offer an interesting influence on the actual debate from scientific, educationally and culturally standpoints.

In the context of nowadays constraints and technological progress regarding the teaching of physical and mathematical sciences, the investigation of the relevant scientificeducational questions is becoming more and more emergent. As such, and since science is synonymous with modernity and progress, research has to be evolving with its time as well as Nature of Science, Scientific Mediation, Popularization of Science and Technique, and Teaching methods and contents. Moreover, physics (Pisano 2009; Pisano and Capecchi 2015), mathematics (Dhombres 1992) and science education (Pisano and Bussotti 2015a, 2015c) are also a complex social phenomenon (Pisano 2016) since they are influenced by the labour market and the elementary knowledge of sciences required by anyone in the social-economic daily life. Leia Mais

Flávio Koutzii: biografia de um militante revolucionário – SCHMIDT (AN)

SCHMIDT, Benito Bisso. Flávio Koutzii: biografia de um militante revolucionário. Porto Alegre: Libretos, 2017. Resenha de: LAPUENTE, Rafael Saraiva. Traços de uma biografia “revolucionária”: Flávio Koutzii por Benito Schmidt. Anos 90,  Porto Alegre, v. 25, n. 48, p. 411-418, dez. 2018.

Caminhos, contextos e trajetórias: Flávio Koutzii como um “revolucionário” na América Latina

Há por parte da bibliografia vinculada à Ciência Política a alegação de que o PT é a agremiação mais estudada da área (SAN­TIN, 2005; AMARAL, 2013), haja vista possuir uma quantidade numérica significativa de estudos com diferentes abordagens.1 Mas, se isso é relativamente consistente por parte da Ciência Política, é bem verdade que sua “irmã” – a História Política – ainda caminha com vagar sobre a história política e partidária do Brasil pós-democratização e, mais especificamente, sobre o PT e as demais agremiações.  Ainda que os historiadores frequentemente fracassem na tarefa de prever o futuro (HOBSBAWM, 2013), penso que esse contexto é temporário. E ponto chave para isso é buscar entender a trajetória daqueles que vieram a fundar e dar sustentação ao Partido dos Trabalhadores, por meio de sua militância anterior ao Colégio Sion, onde o PT foi oficialmente fundado.

Ainda que Benito Schmidt não se dedique à tarefa de enten­der os anos de Flávio Koutzii como membro do PT e ativo na política institucional, a biografia que o autor traça sobre uma das principais figuras da esquerda gaúcha nos ajuda a conhecer um dos membros mais ilustres da sigla no Rio Grande do Sul.2 Para isso, Benito Schmidt dividiu o trabalho em cinco capítulos, encerrando sua biografia quando o personagem estudado retorna ao Brasil em 1984. E somente entre 1943 e 1984 resultou em um extenso trabalho de 543 páginas, fruto de sete anos de pesquisas. O autor, contudo, convoca desde o início outros pesquisadores a se debru­çarem sobre o recorte posterior, chamando a atenção para o fato de que o período “em branco” do trabalho possui particularidades relevantes a serem analisadas por novos pesquisadores. Isto é, que a opção por não incluir esse período não está no fato de este ser, supostamente, menos relevante do que o estudado.

A introdução do livro chama a atenção para esse ponto, destacando que o pós-1984 “trata-se de um período riquíssimo” (SCHMIDT, 2017, p. 14), bem como dos bastidores em que chegou ao biografado e os conflitos em torno de “convencê-lo” ao recorte temporal. A introdução, sem dúvidas, é a parte do livro onde o autor provoca uma série de curiosidades e inquietudes, fazendo com que o leitor se sinta instigado a prosseguir a obra. Fugindo, assim, das introduções “burocráticas” que, por vezes, possuem os trabalhos acadêmicos.

Ter o biografado vivo, o que é pouco usual, é peça chave nisso, haja vista que a introdução vai narrando parte dos “basti­dores” dos sete anos de pesquisa, em especial sobre a relação entre pesquisador e pesquisado. Ao longo do livro, Schmidt vai deixando claro, direta ou indiretamente, que Koutzii teve papel fundamental no desenvolvimento da pesquisa não apenas como entrevistado, mas sendo partícipe em todo o processo do trabalho, indicando, cedendo fontes e intermediando entrevistas. E também divergindo de Schmidt, embora o autor assinale poucas vezes no decorrer do livro os momentos em que isso ocorreu.

Essa participação de Koutzii, mais “direta”, aliada com a explícita identificação do autor com as bandeiras defendidas pelo biografado, evidentemente que deixam o leitor, como se diz popu­larmente, com o “pé atrás” em relação ao trabalho. Mas no decorrer do texto, à medida que Schmidt vai analisando a trajetória e, em especial, os contextos políticos nos quais Koutzii estava inserido, fica claro que não se trata de um texto chapa branca ou heroificante, comumente observado pelas biografias ditas “comerciais”.3.

Chama a a Chama a atenção no livro também o vasto material consultado pelo autor. Schmidt, para “seguir os passos” de Koutzii, frequentou dez arquivos diferentes, localizados em Porto Alegre, Buenos Aires, Rio de Janeiro, São Paulo, assim como o acervo pessoal de Koutzii. Apesar disso, o que predomina durante o livro são as entrevistas orais. Schmidt realizou 48 delas, algumas na França, Argentina e Alemanha, com figuras que estiveram próximas de Koutzii ao longo da trajetória analisada, sendo obviamente a maioria delas com o próprio biografado. Essas entrevistas deixaram o livro com uma narrativa estimulante. Elas, aliadas com a boa escrita do autor, transformaram as densas 543 páginas em uma leitura fluida. É fácil constatar que a biografia foi escrita pensando em atingir um público maior do que aquele que possui interesses acadêmicos.4t

Naquilo que concerne à organização do livro, ele foi dividido em cinco capítulos, cada um abordando uma fase diferente da vida de Koutzii. No primeiro, Benito Schmidt busca conhecer Koutzii antes de Koutzii, traçando o contexto de sua infância e adolescência no bairro Bom Fim, em Porto Alegre, bem como a estrutura familiar do biografado. Nesta, dando especial atenção a Jacob Koutzii, pai de Flávio e cuja trajetória estava vinculada ao PCB, ao judaísmo e à crítica de cinema. Nesse ponto em particular, Schmidt utilizou amplamente o livro A Tela Branca, escrito por Jacob Koutzii. A trajetória de Flávio Koutzii nesse capítulo também contempla sua vida escolar no Instituto de Educação General Flores da Cunha e no Colégio de Aplicação, dando ênfase especial às consequências de sua posição enquanto judeu e comunista quando estudava no primeiro; no segundo, Schmidt busca analisar a influência daquele ambiente para a formação política do biografado.

Como durante toda a biografia, Schmidt não se ateve apenas às atividades políticas. Esteve atento às relações pessoais de Koutzii, tanto com a família como também amorosas. Nesse capítulo, em particular, abre um fio que só terá desfecho no final do livro: o encontro entre Koutzii e Sônia Pilla, que, entre tantas idas e vindas, seria marcado por um reencontro em 1984, união que se mantém, destacando que as relações afetivas e familiares se misturavam com a ação militante em todo o período estudado.

Essas relações pessoais também por vezes trouxeram, no decor­rer do livro, tanto a distensão como a angústia. No capítulo dois, o leitor pode dar boas gargalhadas quando o autor questiona, “com alguma maldade”, se “‘o Flávio jogava [futebol] bem?’. Ele respondeu o que eu pressentia: ‘não’” (SCHMIDT, 2017, p. 145). Por outro lado, quando o autor se debruça sobre a prisão na Argentina, é necessária muita frieza e abstração para não se colocar no lugar de Clara Koutzii nos dias de cárcere do filho, principalmente no momento em que ela tem que optar entre visitar Flávio ou ir ao enterro do marido Jacob. O livro também possui o mérito de ressaltar por diversas passagens que, apesar das muitas dificuldades, medos, angústias e incertezas, o biografado e seus pares também abriam brechas para brincadeiras e descontrações mesmo nos momentos mais aflitos de suas respectivas trajetórias.

Depois de Benito Schmidt buscar compreender as “raízes” de Koutzii, no capítulo seguinte estuda o início da militância do biografado em Porto Alegre no PCB. Abordando o período de retorno a Porto Alegre depois de uma malsucedida tentativa de estudar em São Paulo, Schmidt destaca o papel da UFRGS na atuação política de Koutzii: “perguntei-lhe: ‘e na Universidade, o que é que vocês faziam concretamente?’, ao que ele respondeu sem pestanejar: ‘política! [risos]. Política o tempo todo’” (SCHMIDT, 2017, p. 99-100), destacando sua atuação dentro do Movimento Estudantil da UFRGS. Um dos pontos para o qual Schmidt cha­mou a atenção foi a vitória de Koutzii como presidente do Centro Acadêmico Franklin Delano Roosevelt, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.

Característica importante desse capítulo, que estará presente nos demais, é o fato de o autor dar ênfase especial ao contexto em que está inserido o seu personagem. Isto é, por meio da busca dos passos de Koutzii, Benito Schmidt vai traçando sempre um importante paralelo contextual, transformando o livro em uma ferramenta para compreender o Brasil dos anos 1960 – e os impactos da Ditadura Militar no Movimento Estudantil – nesse capítulo, e também as ditaduras latino-americanas pelas quais Koutzii passou em função do exílio nos capítulos seguintes. A dedicação do autor aos contextos explica o porquê de a biografia ter ficado extensa, mas garante uma leitura mais rica do que só “seguir os passos” de Koutzii, ressaltando as decisões tomadas pelo biografado dentro do que é chamado de campo de possibilidades.

Finaliza o capítulo 2 com a Geração de 1968 e a decisão tomada por Flávio Koutzii e membros do Partido Operário Comunista de sair do Brasil para a França clandestinamente antes que fossem presos. Assim ele sintetiza o biografado no período abordado, dizendo que “[…] Flávio vivenciou com intensidade os acontecimentos políticos do seu tempo: o movimento estudantil, o golpe de 64, os debates que sacudiram e reconfiguraram a esquerda brasileira nos primeiros anos da ditadura, a luta armada”. Para Schmidt, “[…] a política, aliás, parece ter se tornado a partir de então o eixo central de sua existência, abarcando inclusive suas relações que normal­mente chamaríamos de privadas, como as amizades e os amores”. Por isso, compreende sua atuação política “no sentido de agir para transformar a sociedade e tomar o poder” (SCHMIDT, 2017, p. 186).  O Capítulo argentino é o título do capítulo três. Ainda que a parte mais “pesada” da biografia fosse dedicada ao capítulo seguinte e também ocorresse na Argentina, é compreensível a divisão do autor para uma parte destinada à militância de Koutzii na Argen­tina e, no quarto capítulo, destinando-se aos pedaços da morte no coração. Dessa forma, denota-se que existe um antes e depois na vida de Koutzii com a prisão e tortura durante a ditadura militar argentina, destacando ainda o fato de as organizações de esquerda também terem sido perseguidas nos governos de Peron e Isabelita. Embora, há de se ressaltar que o capítulo argentino abranja a atuação de Koutzii no Chile e na França.

É possível perceber, por meio do capítulo três, os artifícios dos militantes de esquerda para driblar as ditaduras latino-americanas, como a utilização de passaportes e identidades falsos, traçando, por exemplo, o trabalhoso processo empreendido por Flávio Koutzii para ir ao Uruguai e, de Montevidéu, ir de barca a Buenos Aires e, da capital argentina, se deslocar de ônibus a Santiago, para o Chile de Allende (SCHMIDT, 2017, p. 194-197). Ponto interessante do trabalho é poder observar a militância internacionalizada de Koutzii, identificando a atuação do personagem em múltiplos contextos, por vezes também ilustrando os choques provocados por essas diferenças.

Além disso, o livro explora a aproximação de Flávio Koutzii com a IV Internacional ainda na França e, na Argentina, sua mili­tância no Partido Revolucionário dos Trabalhadores, na Fracción Roja, uma dissidência que teve no biografado uma das principais lideranças dos rojos, e na Liga Comunista Revolucionária.

Se o capítulo três muito lembra um “filme de ação”, haja vista as estratégias lançadas pela esquerda para confrontar e burlar as ditaduras latino-americanas, em especial a argentina, no capítulo quatro, No ‘coração das trevas’, o autor prenuncia o que virá em um depoimento pessoal: “certas vezes, depois de realizar as entre­vistas, tive que caminhar pelo parque, tomar um sorvete, ver um filme alegre a fim de recuperar certa confiança na humanidade” (SCHMIDT, 2017, p. 312). Nesse capítulo a prisão de Koutzii é analisada, tanto por meio de entrevista oral como pelo jornal La Razón, que definia o biografado como “o responsável pelos grupos armados na América Latina da IV Internacional” (SCHMIDT, 2017, p. 315). Junto a isso, há a análise do contexto de desaparecimentos e sequestros de membros da esquerda naquele país, ilustrando a tensão da apreensão de Koutzii nesse cenário.

As práticas de tortura são pouco analisadas em si, mas ScAs práticas de tortura são pouco analisadas em si, mas Schmidt busca compreendê-las mais como um ato organizado, estruturado e articulado do Estado argentino visando à destruição física, mas principalmente psicológica dos presos políticos. Não é à toa que o maior capítulo é o mais tenso, embora Schmidt consiga “quebrar” essa narrativa ressaltando eventuais momentos de lazer e resistências simbólicas contra o sistema prisional argentino pelos presos políticos.

O capítulo finaliza com a extensa campanha em defesa da liberdade de Flávio Koutzii, cuja presença intensa de sua mãe possui localidade central, bem como a mobilização de figuras políticas, como o deputado federal Airton Soares, intermediando sua soltura, a campanha realizada pelo Comitê Brasileiro pela Anistia e o abai­xo-assinado internacional com importantes adesões da esquerda. Também foi muito destacado pelo autor o apelo embasado nas condições de saúde de Koutzii, com problemas cardíacos e a perda de 25 quilos no cárcere. Schmidt, para isso, usou ampla gama de materiais primários, com a cobertura que a campanha pela libertação de Flávio Koutzii possuiu, em especial na imprensa.

Para mim Paris não foi uma festa. O título do último capítulo, trecho de uma fala de Koutzii, induz o leitor a imaginar que os dramas vividos na Argentina iriam persistir na França. Mas não é o que acontece. Nesse momento, quando o biografado retorna à França, Schmidt aborda quatro fases naquele novo contexto: os pri­meiros contatos de Koutzii, sua relação com a psicanálise para lidar com os traumas que passou na Argentina, seu trabalho intelectual na École des Hautes Études en Sciences Sociales que resultou no livro Pedaços da morte no coração, analisando o sistema carcerário argentino e seu ingresso gradual no debate político brasileiro, posi­cionando-se pelo PT e participando de sua construção em Paris. Para essa fase, Schmidt foi à França entrevistar alguns integrantes da IV Internacional. Assim, buscou conhecer o período em que Koutzii esteve no país. Além dessas, Schmidt entrevistou seu psicanalista na França, que também havia saído do Brasil por motivos políticos.

A biografia termina destacando a participação, ainda que indireta, de Koutzii na fundação do PT e seu retorno em 1984. Ela é, portanto, uma biografia que estuda a atuação de Koutzii como um militante revolucionário no sentido literal da palavra. A finalização do livro conta com dois curtos textos que não são de Schmidt. O primeiro, de Guilherme Cassel, busca fazer uma breve síntese da atuação política de Koutzii como vereador e deputado estadual. Cassel, é importante destacar, foi assessor de Flávio Koutzii5, uma informação ausente do livro, mas de suma importância para aquele que não é familiarizado com a história recente da esquerda gaúcha. Uma síntese que carrega traços dessa aproximação, cujo formato é mais de um testemunho do que de uma análise, como a de Benito Schmidt.

O breve texto de Koutzii é uma síntese sobre sua vida, a experiência de participar de uma biografia em vida e um chamado. Chamado de esperança, para a reversão dos tempos sombrios decor­rentes do golpe de estado de 2016. Chamado que é carregado de simbolismo, como a biografia explicita.

Notas

1 Embora, pessoalmente, eu venha defendendo que existe uma lacuna muito grande sobre os “PTs regionais”, bem como das demais siglas que não possuem praticamente maiores estudos com recortes geográficos menores.

2 Há de se ressaltar, entretanto, que Benito Schmidt chegou a redigir um livro chamado História e memórias do PT gaúcho (1978-1988), onde aborda esse pro­cesso inicial do PT. A obra, contudo, nunca foi publicada. O autor desta resenha teve acesso ao “borrão” do livro, cedida por Schmidt, ao qual agradeço por isso.

3 Refiro-me a biografias escritas normalmente por pesquisadores “independentes” e jornalistas, cujo apelo comercial descompromissa de maior aprofundamento e de rigores teóricos e metodológicos inerentes à pesquisa acadêmica.

4 De fácil constatação foi a positiva recepção da obra por parte de diversos mili­tantes do PT e da esquerda do Rio Grande do Sul, observando-se que, no dia do lançamento do livro, boa parte dela esteve reunida. No local do lançamento, ocorrido no Santander Cultural, um número considerável do público ficou do lado de fora da sala, impedido de assistir à fala de Koutzii, pela superlotação.

5 Koutzii, inclusive, atribuiu, em entrevista, a sua atuação parlamentar destacada pela escolha de sua equipe. Perguntado sobre ela, disse: “Era o Guilherme Cassel e o Paulo Muzell, esses dois praticamente como os caras que ajudavam a pensar e a escrever essas coisas”. Entrevista de Flávio Koutzii para César Filomena. Disponível em: <https://www.dropbox.com/sh/3cfi97dfs93zfic/AADGZ5A1D pcfdN9KZVtc0E0ya?n=421284457&oref=e>. Acesso em: 16 nov. 2017.

Referências

AMARAL, Oswaldo E. do. As transformações nas organizações internas do Partido dos Trabalhadores (1995-2010). São Paulo: Alameda, 2013.

ENTREVISTA de Flávio Koutzii para César Filomena. Disponível em: <https:// www.dropbox.com/sh/3cfi97dfs93zfic/AADGZ5A1DpcfdN9KZVtc0E0ya?n =421284457&oref=e>. Acesso em: 16 nov. 2017.  HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

SANTIN, Ricardo. Construção de um partido político: a trajetória e a estabili­dade política do PP gaúcho. Porto Alegre: Editora Berthier, 2005.

SCHMIDT, Benito Bisso. Flávio Koutzii: biografia de um militante revolucio­nário. Porto Alegre: Libretos, 2017.

Rafael Saraiva Lapuente –  Doutorando em História pela PUC-RS. Bolsista CAPES. E-mail: faelvocal@gmail.com

Boletim de História e Filosofia da Biologia. [?] v.12, n.4, 2018.

Bantu | Ibirité, v.1, n.2, 2018, 2018.

  • Bantu. Ibirité, v.1, n.2, dez. 2018.
  • Artigos
  • A diferença na subjetividade de um poeta | Margareth Maria Mendes Carvalho
  • A importância  da  Formação  Continuada  e  a  valorização  do  saberdocente | Janaina da Conceição Martins Silva
  • Considerações sobre a figura do autor | Delzi Alves Laranjeira
  • Perfil   e   trajetória   social   dos   estudantes   das   licenciaturas:   uma proposta de pesquisa | Shirley de Lima Ferreira Arantes
  • Karl Marx, Friedrich Engels e a gênese do materialismo histórico | Antonio Carlos Figueiredo Costa54AExperiência   Estética   do   Teatro–uma   vivência   no   Curso   de Pedagogia da Universidade do Estado de Minas Gerais | Marilene Oliveira Almeida 

Pierre Duhem, cent ans plus tard (1916 – 2016) | Jean-François Stoffel e Souad Ben Ali

The studies on Pierre Duhem’s work has come of age. After a number of publications laying out the ground, we encounter now a series of texts that are in a position to take such a “tradition” for granted. The essays presented at Tunis, some of them at least, open up new areas of investigation and they do so with enough historical care and intelligent analysis to broaden the horizon of the scholarship dedicated to the French author.

The themes of “moving tensions” and “unresolved conflicts” seem to characterize all of them. The present review outlines very succinctly the content of each article and, occasionally, indulges in a brief remark. Leia Mais

História dos esportes e lazer | Revista Hydra | 2018

Neste momento em que opiniões conservadoras, preconceituosas e autoritárias vem sendo cada vez mais propagadas e defendidas. A Revista Hydra vem por meio deste editorial reafirmar seu compromisso com a democracia, com a educação pública de qualidade, com os direitos humanos e com a luta por uma sociedade igualitária.

A Revista Hydra, dando continuidade em seu trabalho de divulgação de pesquisas, vem a público com mais uma edição. O Dossiê ora apresentado se propõe a discutir a história dos esportes e lazer, considerando que estes são produtos de manifestações socioculturais que devem e podem ser tomados historicamente em sua relação com a política, economia, cultura e sociedade. O tema é discutido tendo em vista as distintas perspectivas que a questão abarca, seja pela interdisciplinaridade do campo, variedade das fontes e mesmo pelos métodos rigorosos de análise. Leia Mais

Resenhas Online. São Paulo, 2011-2018.

Terras da Annoni: entre a propriedade e a função social | Simone Lopes Dickel

Simone Lopes Dickel é doutoranda em História pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (PPGH/UPF), é mestre em História, também, pelo PPGH/UPF. Sua graduação foi em História – Licenciatura Plena, pela UPF no ano de 2009 e atualmente é professora de História da Rede Pública Estadual do Rio Grande do Sul, na Escola Estadual de Ensino Médio Zumbi dos Palmares e Escola Estadual de Ensino Fundamental 29 de Outubro, ambas localizadas no município de Pontão/RS, berço da desapropriação da Fazenda Annoni. Leia Mais

Intelectuais e cristianismo / Intellèctus / 2018

Como ao Judaísmo, que lhe deu origem, e ao Islã, alguns séculos mais jovem, ao Cristianismo é associada a expressão “religião do Livro”. Religião da palavra ou, para os fiéis, da Palavra inspirada; credo no qual, desde seus tempos primitivos, crer é também interpretar. Busca de sentido que se desdobra, fazendo-se, ela própria, discurso.

Busca de sentido que extrapola o debate sobre o Cânon bíblico e suas múltiplas interpretações. Procura de significado que visa obter adesões e consensos, criando também dissensos. Ponto particularmente polêmico é aquele que diz respeito aos papéis social e político da fé e dos fiéis. E o credo, petrificado em palavras, posto em movimento por discursos e práticas, “transborda”, como rio fervente, para a praça pública. Leia Mais

História das doenças e artes de curar / Khronos – Revista de História da Ciência / 2018

Este número 6 de Khronos traz um dossiê derivado do 1º Simpósio Nacional de História das Doenças e das Artes de Curar. Realizado em São Paulo ao final de junho de 2018, o encontro resultou de uma feliz iniciativa do Museu Histórico da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e da Casa de Oswaldo Cruz-Fiocruz, do Rio de Janeiro.

Deste Simpósio foram selecionados cinco trabalhos de alta relevância historiográfica. Inicialmente, André Mota discorre sobre a modernização da cidade de São Paulo, intensificada na década de 1930, em meio a um crescimento urbano e populacional que se tornaria vertiginoso, inclusive pela migração interna nordestina. O quadro de doenças com que se defrontam as autoridades nas décadas seguintes inclui a esquistossomose, a epidemia de meningite pouco divulgada na época e doenças cardiorrespiratórias. A saúde pública reflete as divisões de classe já pronunciadas e que, infelizmente, permanecem de grande atualidade.

Dilene Nascimento, Eliza Vianna, Monica Moraes e Danielle Silva discutem o conceito de representação social das doenças, baseando-se na relação entre indivíduo e sociedade. Para tanto, discutem a relação entre o conceito de representação social e o da experiência da doença, que ocorre tanto em termos subjetivos quanto concretos, na busca do entendimento do que é permanente na estrutura social de doenças crônicas e epidêmicas. Iniciando-se com uma discussão do indivíduo Galileu Galilei no contexto da trama social da corte em que vivia, o texto mobiliza diversos referenciais para abordar algumas doenças antigas, como a lepra, tifo e peste bubônica, chegando ao caso contemporâneo da AIDS.

Liane Bertucci estuda aspectos da narrativa construída pela imprensa paulistana sobre a epidemia de gripe espanhola que grassou no mundo no ano de 1918. Textos de publicação diária no auge da doença eram pautados por elogios ou críticas, considerações médicas sobre a epidemia e iniciativas médico-governamentais para socorrer os doentes. Segundo os dados oficiais em um mês morreu um por cento da população paulistana. Em meio ao sofrimento individual e coletivo os jornais difundiam as ações de moradores da cidade para auxiliar os enfermos e suas famílias.

Tânia Pimenta volta-se para o tema da diversidade das relações entre terapeutas com formação acadêmica no Rio de Janeiro e aqueles que exerciam a arte de curar e eram de origem negra humilde, nas primeiras décadas do século XIX. A partir da documentação da Fisicatura-mor, responsável pela fiscalização do exercício das profissões de curandeiro, parteira e sangrador, mostra-se o conflito entre as duas tradições.

Simone Silva e Sebastião Franco realizaram pesquisas num antigo leprosário, a Colônia de Itanhenga, em Cariacica, Espírito Santo, cujo funcionamento data de 1937. O projeto foi desenvolvido em visitas ao local, hoje denominado Hospital Pedro Fontes, com o intuito de fazer o levantamento de documentação como correspondências, relatórios, prontuários médicos, fotografias e jornais, a fim de organizar e disponibilizar um catálogo de fontes. É discutida uma entrevista dos autores com um ex-interno da Colônia, colaborando para uma análise histórica acerca das experiências coletivas dos indivíduos afetados pela hanseníase e pelas ações de internamento compulsório infligidas aos pacientes.

Optamos por encerrar o dossiê com um texto que, embora não tenha sido apresentado no referido Simpósio e esteja situado em época histórica bem diferente, se enquadra no mesmo tema. Carlos Roberto Nogueira apresenta a partir de textos portugueses do século XIV uma análise das rações garantidas pelo governo aos leprosos. A situação de escassez se impôs então a um Portugal debilitado por uma balança comercial desfavorável. O século foi marcado por crises de abastecimento e pestes, em meio ao seu envolvimento constante nas guerras contra Castela. Parece surpreendente que em um século de falta de pão, de devastações e pilhagens, os chamados gafos escapassem à carestia generalizada, uma postura caritativa resultante da imagem medieval de horror e atração exercida pela corrupção da carne e a ameaça de danação eterna.

Após o dossiê há dois artigos gerais. No primeiro deles, aborda-se um aspecto da história da tecnologia brasileira. Em comemoração ao centenário da imigração japonesa em São Paulo (2008), Marcel Mendes fez um levantamento dos cem primeiros engenheiros nikkeis formados em São Paulo. Com isso, propõem-se algumas questões que visam a refletir sobre a trajetória desses profissionais, suas aspirações de realização profissional e a recuperação de sua memória.

Em seguida, Sara Albieri e Ana Paula Nobile fazem um oportuno retorno ao debate Popper-Kuhn acerca do progresso da ciência. Intensa ao final da década de 1970, essa interlocução seguiu caminhos diversos no ambiente acadêmico. Nas humanidades, inclusive entre nós, predominaram as referências às posições de Thomas Kuhn isoladas de seu contexto intelectual. Na recepção brasileira é recorrente a referência ao mesmo tempo vaga e dogmática ao falsificacionismo de Karl Popper. A recuperação dos principais argumentos dessa polêmica pode lançar luz sobre questões ainda presentes em história e filosofia da ciência, dentre as quais sobressai a construção de um mítico “método científico”.

Encerramos a edição com um trabalho de Edgar Zilsel (1891-1944), autor cujas obras não encontraram interesse dos editores brasileiros, embora seja um clássico. De fato, a chamada “tese de Zilsel” é um dos pilares da visão “externalista” da história da ciência, em que o autor coloca a origem da chamada “Revolução Científica” na aproximação renascentista entre pensadores universitários, humanistas seculares e artesãos. O texto “As raízes sociais da ciência”, em tradução de Flávio Santos, apresenta de forma sucinta as bases do pensamento do pensador austríaco.

Desejamos aos leitores um bom proveito desta publicação.

Gildo Magalhães – Editor


MAGALHÃES, Gildo. Editorial. Khronos – Revista de História da Ciência. São Paulo, n.6, dez., 2018. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

studios Históricos. Rivera, n.01, 2009 / 20, dic. 2018.

Estudios Históricos. Rivera, n.20, dic. 2018.

  • EDICIÓN Nro. 20 Revista Digital. Diciembre 2018
  • PRESENTACIÓN
  • Dr. Eduardo R. PalermoEditor – Director responsable
  • 01 – Los fines de la historia en el siglo XXI
  • Dr. Carlos Barros (ESPAÑA)Red Académica Internacional Historia a DebateUniversidad de Santiago de Compostela
  • 02 – Entre Cila e Caribdes. Hegemonia aliancista e revisionismo lopistaA Luta pela Memória
  • Dr. Mário Maestri (BRASIL)
  • 03 – Algumas reflexões sobre a demografia histórica e seu desenvolvimento no Brasil
  • Dr. Iraci del Nero da Costa (BRASIL)
  • O4 – Visiones agrarias valdenses en Colonia durante la segunda presidencia de J. Batlle y Ordóñez (1911-1915)El caso de “La Unión Valdense”
  • Prof. Mag. Sebastián Rivero Scirgalea (URUGUAY)
  • 05 – Conflictividad, faccionalismo y eleccionesEl caso de una nación africana en Buenos Aires durante la época rosista
  • Dr. Gustavo Javier Giménez (ARGENTINA)
  • 06 – La Generación del Diez: Generación de Transición Filosófica en Cuba
  • Msc. Kenia Abreu Cuenca, Msc. Yohannia Ochoa Ardite, Dra. María del Carmen Quiñones Pantoja. (CUBA)
  • 07 – A violência e a criminalidade como heranças da colonização e dos períodos ditatoriais: a segurança pública como refém da história do BrasilViolence and criminality as heritages of colonization and ditatorial periods: public security as a hostage to history of Brazil
  • Mtre. Jessica Silva Facio, Dra. Angela Quintanilha Gomes (BRASIL)
  • 08 – Arqueoturismo em sítios pré – coloniais e históricos missioneiros: perspectivas de desenvolvimento sustentável em São Borja
  • Dra. Viviane Pouey Vidal, Dra. Carmen Regina Dornelles Nogueira (BRASIL)
  • 09 – Curandeiros no banco dos réus: Curandeirismo nos processos-crime de Mallet-PR-(1949-1962)
  • Mtre. Angelica Stachuk, Dr. Oséias de Oliveira. (BRASIL)
  • 10 – Conte-me quem sou: a fundação da identidade de Novo HamburgoTell me who i am: the construction of identity in Novo Hamburgo.
  • Mtre. Emerson Ranieri Santos Kuhn, Dr. Luiz Antonio Gloger Maroneze, Dr. Ernani Mügge (BRASIL)
  • 11 – O (não) lugar da História: uma análise sobre o emprego da historicidade e da narrativa no trabalho do historiador
  • Mtre. Jeremyas Machado Silva, Dr. Ronaldo Bernardino Colvero, Lic. Tiara Cristiana Pimentel do Santos (BRASIL)
  • 12 – Ordem de Malta entre a história e o direito internacional
  • Order of Malta between history and international law
  • Dr. Dirceu Marchini Neto (BRASIL)
  • 13 – A saúde como direito fundamental no Brasil: da reforma sanitária à implementação do SUSHealth as fundamental right in Brasil: from sanitary reform to SUS implementation.
  • Mtre. Larissa Zanela Mendes, Dra. Angela Quintanilha Gomes (BRASIL)
  • 14 – As giras, o transe e as noções tempo
  • Mtre. Chaline de Souza (BRASIL)
  • CONTRIBUCIÓN DOCUMENTAL
  • 15 – Africanos y afro-descendientes en Buenos Aires (1750-1756)Esbozo de un estudio sobre fuentes inéditas y publicadas
  • Miguel Á. Rosal (ARGENTINA)CONICET – Inst. Ravignani, UBA
  • RESEÑA DE LIBRO
  • 16 – Di Liscia, María Silvia y Soprano, Germán (editores) Burocracias estatales. Problemas, enfoques y estudios de caso en la Argentina (entre fines del siglo XIX y XX). Rosario: Prohistoria Ediciones, 2017, 221 páginas.
  • Giuliana Nicolini (ARGENTINA)

Estudios Históricos. Rivera, n.19, jul. 2018.

  • EDICIÓN Nro. 19 Revista Digital. Julio 2018
  • 1 – Revolución de Octubre, historia y memoriaContribución especial en el 10º aniversario de la revista Estudios Históricos
  • Dr. Carlos Barros (España)
  • 2 – A reconstrução da ordem: os aldeamentos e a territorialização da fronteira
  • Bárbara Helena de Araujo Guimarães, Marcos Guimarães Sanches. (Brasil)
  • 3 – Visión de Keynes frente a los intentos hegemónicos del dólar
  • Julio Cesar César Valdés (Venezuela)
  • 4 – A América Latina no período 1914-1929: aspectos da vida política, econômica e social
  • Iraci del Nero da Costa (Brasil)
  • 5 – Historias y huella comercial de un vasco en Santiago de Cuba
  • Elianne César Ofarrill (Cuba)
  • 6 – Notas acerca do desenvolvimento da educação superior nos Estados Unidos e no Brasil: cronologia dos aspectos históricos, sociais e educacionais
  • Gianezini, Kelly, Allen, Walter R. (Brasil)
  • 7 – David Canabarro, o antiherói imperial na guerra contra o Paraguai
  • Wagner Cardoso Jardim (Brasil)
  • 8 – O processo histórico das cooperativas de eletrificação do Brasil
  • João Vânio Mendonça Cardoso, Sílvio Parodi Oliveira Camilo. (Brasil)
  • 9 – As exposições industriais em Novo Hamburgo e sua relação com a constituição da cidade e seus valores
  • Claudia Schemes (Brasil)
  • 10 – Las intervenciones de la Real Audiencia de Charcas y su influencia sobre diversos asuntos de interés público municipal en Santa Fe colonial (Gobernación del Río de la Plata, 1617-1627)
  • Mg. Mauro Luis Pelozatto Reilly (Argentina)
  • Contribuciones documentales: Dr. Miguel Á. Rosal, CONICET – Inst. Ravignani, UBA, Argentina
  • 11 – Africanos y afro-descendientes en Buenos Aires (1710 – 1719). Esbozo de un estudio sobre fuentes inéditas y publicadas
  • 12 – Africanos y afro-descendientes en Buenos Aires (1720 – 1729). Esbozo de un estudio sobre fuentes inéditas y publicadas
  • 13 – Africanos y afro-descendientes en Buenos Aires (1730 – 1739). Esbozo de un estudio sobre fuentes inéditas y publicadas
  • 14 – Africanos y afro-descendientes en Buenos Aires (1740 – 1749). Esbozo de un estudio sobre fuentes inéditas y publicadas
  • Reseñas:
  • 15 – Más Allá de la Guerra: Perspectivas de futuro.
  • Fábio Luiz de Arruda Herrig (Brasil)

Estudios Históricos. Rivera, n.18, dic. 2017.

  • EDICIÓN Nro. 18 Revista Digital. Diciembre 2017
  • EDITORIAL
  • Prof. Msc. Eduardo R. Palermo – Director
  • 1-Recuerdos autobiográficos
  • Walter Rela
  • 2-Como bien lo indica Ortega y Gasset – Homenaje a Walter Rela.
  • Raul Iturria
  • 3-Recordación de Walter Rela
  • Maturo (Argentina)
  • 4-Géneros de la literatura rioplatense. Homenaje a Walter Rela
  • F. Obermeir (Alemania)
  • 5-A banha no Rio Grande do Sul – final do século XIX e primeira metade do século XX
  • Paulo Adam (Brasil)
  • 6- A implantação da lavora de café em Vassouras
  • Thiago de Souza dos Reis (Brasil)
  • 7 – A possibilidade do incomum: as desilusões de Aníbal em a geração da utopia, de Pepetela
  • Daniel Conte, Marinês Andréa Kunz, Jéssica Schmitz. (Brasil)
  • 8- A universidade federal do pampa e a discussão entre território e territorialidade
  • Danilo Pedro Jovino, Ronaldo Bernardino Colvero (Brasil)
  • 9 – Blocos Regionais e Pan-Americanismo na crise política brasileira de 1954.
  • Ana Luiza Setti Reckziegel (Brasil)
  • 10 – Críticas ao humanismo burguês e a produção norte-atlântica
  • Alencar Rampelotto da Silva,  Júlio Ricardo Quevedo dos Santos (Brasil)
  • 11- “Educador, poeta y escritor santaclareño”
  • Adela D. González Álamo (Cuba)
  • 12-A escrita da história de São Borja: primeiras observações
  • Anderson Romário Pereira Corrêa, Rafael Sides. (Brasil)
  • 13- La Constitución de 1940 y la producción simbólica pública de Cumanayagua a mediados de la pasada centuria
  • Dariel Mena Méndez (Cuba)
  • 14 – Contradicciones del Desarrollo: el caso de La Venta, Municipio de Juchitán de Zaragoza, Oaxaca, México
  • Carlos Garcia Medina (Rusia)
  • 15 – Martín Morúa Delgado y la integración nacional en Cuba
  • Yoel Rodríguez Ochoa. (Cuba)
  • 16 – Mujer holguinera; comercio y República
  • Ana Leonor González Sánchez. (Cuba)
  • 17 – A Nossa África: a Mãe Expoliada
  • Dr. Mário Maestri (Brasil)
  • 18 – O capital escravista-mercantil nas Américas e sua superação
  • Iraci del Nero da Costa, Julio Manuel Pires. (Brasil)
  • 19 – O prata, poder e guerra: reflexões sobre o conceito de região na história
  • Jeremyas Machado Silva (Brasil)
  • 20 – O Priorado do Crato e o Convento Central da Ordem do Hospital nos Tempos do Prior D. Vasco de Ataíde
  • Dirceu Marchini Neto (Brasil)
  • 21 – O “time do povo”:Vantagem competitiva na construção e na manutenção da identidade de uma organização esportiva.
  • João Malaia Santos, Ary José Rocco Junior. (Brasil)
  • 22- MILITARES NA POLÍTICA: O Visconde de Pelotas e a questão militar nos anos finais do Império do Brasil
  • André Fertig (Brasil)
  • 23 – Os processos de acidentes de trabalho dos mineiros na capital brasileira do carvão: a luta pelo direito à saúde
  • Bruno Mandelli (Brasil)
  • 24 – Os retratos de Juan Manuel Blanes: Algumas considerações
  • Cyanna Missaglia de Fochesatto (Brasil)
  • 25- Para crime semelhante, diferentes sentenças: a condenação de trabalhadores escravos de Rio Pardo acusados de assassinar seus amos ou prepostos durante o século XIX
  • Roberto Radünz, Olgário Paulo Vogt. (Brasil)
  • 26 – Para o que serviu um referendo dos trabalhadores? Notas de pesquisa sobre a democracia industrial na Itália
  • Davide Carbonai (Brasil) , Carlo Drago (Italia)
  • 27 – Privilégio familiar ou estratégia política: a permanência de Salvador Correa de Sá e Benevides no governo do Rio de Janeiro (ca.1637 – ca.1643)
  • Helena de Cassia Trindade de Sá, Bruno Corrêa de Sá e Benevides. (Brasil)
  • 28 – Relação, circulação e recrutamento dos governos interinos no Rio de Janeiro (séculos XVII e XVIII)
  • Victor Hugo Abril (Brasil)
  • 29 – Relações de trabalho nas indústrias do setor cerâmico de Criciúma – 1960 – 1980
  • João Henrique Zanelatto, Antonio Luiz Miranda, Ismael Gonçalves Alves (Brasil)
  • 30 – Saturnino de Brito e a modernização do abastecimento de água no Rio Grande do Sul da Primeira República
  • Fabiano Quadros Rückert. (Brasil)
  • 31 – Tão importante ao trânsito geral do comércio da província”: os rios na análise dos ofícios enviados pela câmara municipal de Taquari/RS (1850-1852)
  • Márcia Solange Volkmer, Cibele Caroline da Rosa. (Brasil)
  • 32 – Uma miragem sobre o processo de formação do município de Bagé no contexto riograndense e fronteiriço
  • Alessandro Carvalho Bica. (Brasil)

Estudios Históricos. Rivera, n.17, dic. 2016.

  • EDICIÓN Nro. 17 Revista Digital. Diciembre 2016
  • 1-A memória organizacional: cenografia e ethos nos relatos da história empresarial
  • Eliane Davila dos Santos, Ernani Cesar de Freitas (Brasil)
  • 2 – Histórias de agressores de mulheres julgados por violência doméstica da comarca de Pelotas (RS)Histories of perpetrators of women judged by domestic violence in the court of Pelotas (RS)
  • Elisiane Medeiros Chaves, Lorena Gill (Brasil)
  • 3 – “A aristocracia do sebo”: Riqueza, prestígio social e estilo de vida entre os charqueadores de Pelotas (Rio Grande do Sul, 1850-1890)
  • Jonas Vargas (Brasil)
  • 4 – La modernización capitalista de la industria azucarera en la región de Holguín entre 1899-1920, sus efectos en la movilidad de las relaciones de propiedad rústica en Cacocum.
  • María del C Quiñones Pantoja, Barbara Márquez Montoya, Nuvia Artigas Almarales (Cuba)
  • 5 – Unidades productivas y sociedad rural en el partido de La Matanza (Buenos Aires), 1726-1758
  • Prof. Esp. Mauro Luis Pelozatto Reilly (Argentina)
  • 6 – A história da colônia Ijuhy: a acusação de alcoólico como uma forma de preconceito
  • Alison Droppa (Brasil)
  • 7 – La génesis y el desarrollo de la idea de civilización en Europa
  • André Nunes de Azevedo (Brasil)
  • 8 – Do populismo à experiência democrática: a incorporação dos trabalhadores urbanos ao cenário político brasileiro. From populism to democratic experience: the incorporation of urban workers in the Brazilian political scenario.
  • Douglas Souza Angeli (Brasil)
  • 9 – O antifascismo nas páginas da imprensa anarquista – A Plebe e o Spartacus (c.1919-c.1922)
  • Bruno Corrêa de Sá e Benevides (Brasil)
  • 10 – “Extender e impulsar las ideas por las que ofrendó su vida”: a construção de Nilton Rosa da Silva como um mártir da esquerda revolucionária chilena
  • Mauricio Brum (Brasil)
  • 11 – Eric Hobsbawm, por ele mesmo, em Tempos Interessantes: uma vida no século XXEric Hobsbawm, by himself, in Interesting Times: A Twentieth-Century Life
  • Mauro Marques (Brasil)
  • 12 – Sindicalismo Revolucionário e Anarco-sindicalismo: um estudo dos Congressos Operários no Rio Grande do Sul (1898 – 1928) Revolutionary syndicalism and anarcho-syndicalism: a study of Congress workers in the Rio Grande do Sul (1898 – 1928)
  • Anderson Romário Pereira Corrêa (Brasil)
  • 13 – Representações e poder: análise da vinheta da Revue de Deux Mondes
  • Luis Fernando Tosta Barbato (Brasil)
  • 14. Procedimentos de pesquisa: novos cultivos e ocupação de novas áreas
  • Iraci del Nero da Costa, Agnaldo Valentin (Brasil)
  • 15 – Africanos y afro-descendientes en Buenos Aires (1700-1709). Esbozo de un estudio sobre fuentes inéditas y publicadas
  • Miguel Á. Rosal (Argentina)

Estudios Históricos. Rivera, n.16, jul. 2016.

  • EDICIÓN Nro. 16 Revista Digital. Julio 2016
  • 1. Mobilidade espacial Guarani e concepções de natureza
  • Salvadora Caceres Alcântara de Lima (Brasil)
  • 2.Africanos y afro-descendientes en Buenos Aires (1690-1699). Esbozo de un estudio sobre fuentes inéditas y publicadas
  • Miguel Á. Rosal (Argentina)
  • 3. A polêmica entre Cecilio Báez e Juan O’leary e sua contribuição para a historiografia paraguaia
  • Silvânia de Queiróz (Brasil)
  • 4. História e literatura: possibilidades de pensar a construção do feminino em “Madame Bovary” de Gustave Flaubert.
  • Prof. Ms. Tiago Silva, Dra. Magna Lima Magalhães, Dr. Daniel Conte (Brasil)
  • 5. Registros de batismo e inventários post mortem como fontes para o estudo da estrutura de posse de escravos no sul do Brasil (século XIX): possibilidades e limites
  • Marcelo Santos Matheus, Dr.Luís Augusto Farinatti (Brasil)
  • 6. Experiências constitucionais no Uruguai de 1830 e no Rio Grande do Sul  de 1843: um ensaio de liberalismo caudilho
  • Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel, Felipe Cittolin Abal (Brasil)
  • 7. Administrando la Ciudadanía: el rol de las Juntas Electorales en Uruguay (1887-1924)
  • Mag. Alexandre Bazilio (Brasil)
  • 8. Bem aventurada é a serva do senhor: a construção da feminilidade através do discurso Mariano. ​Well blessed is the Lord´s servant: The feminity construction through Marian speech​
  • Dr.Ismael Gonçalves Alves (Brasil)
  • 9. La muerte no pudo con él”: el desarrollo de la figura de Tarragó Ros como patrimonio local de Curuzú Cuatiá, Corrientes.La muerte no pudo con él”: the development of Tarragó Ros as local cultural heritage of Curuzú Cuatiá, Corrientes
  • José A. Curbelo Knutson, Dr. Ronaldo Bernardino Colvero (Argentina – Brasil)
  • 10. Regulação e institucionalização das atividades pesqueiras no BrasilRegulation and institutionalization of fishing activities in Brazil
  • Dr. Alcides GoulartiFilho (Brasil)
  • 11. Nepotismo e práticas clientelísticas: uma visão histórica do poder local no BrasilNepotism and patronage practices: a historical overview in the local government in Brazil
  • Dr. Janaína Rigo Santin, Leonardo Cardoso (Brasil)
  • 12. Migraciones regionales y conformación de un poblado rural en el Litoral Rioplatense. El caso de Los Arroyos y sus alrededores, 1726-1748Regional migration and formation of a rural Litoral Rioplatense town. The case of Los Arroyos and surroundings , 1726-1748
  • Dr. Luis Pezzolato (Argentina)
  • 13. El candombe en el Río de la Plata: evolución y espectacularización de ambos lados
  • Andrea Añón (Uruguay)
  • 14. O Estado novo foi uma mãe…, para o Villa-Lobos!The new state was a mother…, for the Villa-Lobos!
  • Msc. Carlos dos Passos Paulo Matias, Dr. João Henrique Zanelatto (Brasil)
  • 15. Sobre a integração das Minas Gerais à vida económica da colônia
  • Dr. Iraci del Nero da Costa (Brasil)
  • 16. Dimensões da propriedade no contexto das guerras pela Colônia do Sacramento (1762 – 1777)
  • Msc. Hevelly Ferreira Acruche (Brasil)
  • 17. O déficit de capital social e a questão dos indígenas em Dourados (MS)
  • Msc. Fabio Anibal Goiris (Brasil)
  • 18. Um imperador estoico: o dom Pedro II de Heitor LyraA stoic emperor: dom Pedro II from Heitor Lyra
  • Dr. André Átila Fertig, Augusto Castanho da Maia Petter (Brasil)
  • 19. A cidade de Ercílio Rosa: crônica e imaginário de Novo Hamburgo na década de 1940The city of Ercílio Rosa: chronicle and imaginary Novo Hamburgo in the 1940
  • Luiz Antonio Gogler Maroneze, Cleber Cristiano Prodanov, Cristina Ennes da Silva
  • 20. “A construção da brasilidade”: os discursos nacionalistas nas páginas do jornal A Voz de Chapecó (1939 – 1941)“The construction of Brazilianness”: the nationalist discourses in the journal pages The Voice of Chapecó(1939 – 1941)
  • Ms. Leandro Mayer, Dra. Rosane Marcia Neumann (Brasil)
  • 21. Paraguai: A Primeira Revolução Popular nas Américas
  • Dr. Mário Maestri (Brasil)
  • 22. Recensiones: Literatura: Entre a Fonte e a Escrita
  • Fábio Luiz de Arruda Herrig (Brasil)

Estudios Históricos. Rivera, n.15, dic. 2015.

  • EDICIÓN Nro. 15 Revista Digital. Diciembre 2015
  • 1. A cidade de Campo Grande nas adjetivações de autores memorialistas
  • Campo Grande city in the designations of memorialist authors
  • Nataniél Dal Moro (Brasil)
  • 2. Africanos y afro-descendientes en Buenos Aires (1680-1689). Esbozo de un estudio sobre fuentes inéditas y publicadas
  • Miguel Á. Rosal (Argentina)
  • 3. Arautos do “admirável mundo novo”: engenheiros e engenharias de poder nas fronteiras ocidentais do Brasil (1870-1915)
  • Carlos Martins Junior, Paulo Marcos Esselin (Brasil)
  • 4. O caso Taforó: conflito entre igreja e estado e o rompimento das relações diplomáticas entre Chile e a Santa Sé em 1883
  • The case Taforó: conflict between church and state and the rupture of diplomatic relations between Chile and the holy see in 1883.
  • Adelar Heinsfeld (Brasil)
  • 5. O estado português entre 1640 e 1777: estrutura, funcionamento e ação no sul do Brasil colonial.
  • Álvaro de Souza Gomes Neto (Brasil)
  • 6. As organizações, o exército e os motins militares: o caso das tropas portuguesas na Montevidéu de Carlos Frederico Lecor
  • Fábio Ferreira (Brasil)
  • 7. A geopolítica e a política externa do império brasileiro na região platina no século XIX (1844 – 1864)
  • Edson Romario Monteiro Paniagua, Ronaldo Bernadino Colvero, Muriel Pinto (Brasil)
  • 8. A milonga e as narrativas na região do Pampa
  • Jeremyas Machado Silva (Brasil)
  • 9. El rol intelectual de José Luis Busaniche en el cambio de paradigma de la historia nacional argentina durante la segunda década del siglo XX
  • Joaquín E. Meabe (Argentina)
  • 10. La iglesia Parroquial Mayor: símbolo identitario de la ciudad santaclareña
  • MSc. Adela D. González Álamo (Cuba)
  • 11. Etnoarqueologia dos  Charrua do Rio Grande do sul:  história, Construção  e Ressignificação Étnica
  • Viviane M. Pouey Vidal (Brasil)
  • 12. O Rio de Janeiro na União Ibérica: uma análise da Alfândega no contexto social e econômico colonial (c.1580-c.1640)
  • Helena de Cassia Trindade de Sá, Prof.ª Dr.ª Maria Isabel de Siqueira (Brasil)
  • 13. Os afrodescendentes e o futebol pelotense no pós-abolição (1925-1938)
  • Christian Ferreira Mackedanz, Dra. Lorena Gill, Dr. Luiz Carlos Rigo (Brasil)
  • 14. “Club GumersindO Saravia”: estratégia política, crédito e crença na constituição da liderança de Aparício Saraiva.
  • DOBKE, Pablo, PADOIN, Maria Medianeira (Brasil)
  • 15. En el filo de  una nueva comprensión de las relaciones internacionales de la República  Cubana hasta 1925: Cosme de la Torriente y el andamiaje diplomático republicano.
  • MS.c. Paul Sarmiento Blanco, MS.c. Leidiedis Góngora Cruz. (Cuba)
  • 16. “Sem ofensa das leis, com seu direito”: a prática social do direito no mundo colonial.
  • “With no offense of the law, with your right”: the social practice of law in the colonial world
  • Marcos Guimarães Sanches (Brasil)
  • 17. Potosi: nas alturas do céu e nas profundezas do inferno
  • Potosi: the heights of heaven and the depths of hell
  • Cleber Cristiano Prodanov , Magna Lima Magalhães (Brasil)
  • 18. As transformações do fenômeno morte no contexto das práticas de ritos funerários na sociedade pós-moderna
  • La transformation du phénomène de la mort dans le contexte de pratiques en rites funéraires dans la société post-moderne
  • Cristian Leandro Metz, Ana Luiza Carvalho da Rocha (Brasil)
  • 19. Censo de propiedades sulriograndenses en la frontera con el Estado Oriental en 1850.
  • Msc. Eduardo R. Palermo
  • 20. NOVEDAD EDITORIAL :
  • Guarinihape tecocue – Lo que pasó en la guerra (1704-1705) – Memoria anónima en guaraní del segundo desalojo de la Colonia del Santo Sacramento / Uruguay.

Estudios Históricos. Rivera, n.15, ago. 2015.

  • EDICIÓN Nro. 14 Revista Digital. Agosto 2015
  • Editorial agosto 2015
  • Nota de denuncia del Lic. Gustavo Javier Giménez
  • Nota de disculpa del Dr. Jean Arsene
  • 1-Região revolucionária em uma área de fronteira internacional.
  • Ana Luiza Setti Reckziegel (Brasil)
  • 2- Significación histórica de la Constitución de 1812, el tratamiento al problema colonial y su impacto en Cuba.
  • René Reinier Hidalgo Ramírez (Cuba)
  • 3- La educación colonial en Montevideo y la banda oriental. ¿Quién enseñaba, cómo y para qué? (1726 – 1814).
  • Nelson Pierrotti (Uruguay)
  • 4- A circulação de impressos pragmáticos publicados pela tipografia literária do arco do cego na capitania de Minas Gerais
  • Márcio Mota Pereira (Brasil)
  • 5 – ¿Continuidad del orden o des-orden? El recurso de las armas en la conservación y en la alteración del orden social en Buenos Aires, 1809-1812
  • Gustavo Javier Giménez (Argentina)
  • 6- Arte, cultura e identidade: análise etnossemiótica de traços da pintura Kadiwéu
  • Elza Sabino da Silva Bueno, Rosangela Villa da Silva. (Brasil)
  • 7- La enseñanza de la historia en Cuba durante la República Neocolonial
  • Olga Mercedes Armas Blanco, Bárbara Lisett Marquez Montoya. (Cuba)
  • 8- Diretrizes da Administração Alfandegária do Rio de Janeiro (1700-1750)
  • Valter Lenine Fernandez (Brasil)
  • 9- El Cabildo, los vecinos y la utilización de la ‘‘otra banda’’ como territorio alternativo en la economía rural colonial. Buenos Aires y Santa Fe durante la extinción del ganado cimarrón y las vaquerías tradicionales (1720-1750)
  • Mauro Luis Pelozatto Reilly (Argentina)
  • Luján). Actualmente se encuentra finalizando la Maestría en Ciencias Sociales con mención en Historia Social en la Universidad Nacional de Luján.
  • 10- “Hoy soy pueblo”: a poesia militante de Nilton Rosa da Silva, um brasileiro exilado no Chile de Salvador Allende
  • Maurício Marques Brum (Brasil)
  • 11- Crises da razão histórica – Crisis of historical reason
  • José D’Assunção Barros (Brasil)
  • 12- La División Oriental “olvidada” en la guerra de la Triple Alianza. Desde el retorno del general Flores a la repatriación de la División. Octubre 1866 – diciembre 1869.
  • José María Olivero Orecchia (Uruguay)
  • 13- Pranchada Infamante Resistência ao Castigo Físico do Soldado Imperial na Guerra contra o Paraguai
  • Mário Maestri (Brasil)
  • 14 – El Proyecto Kuatia Ymaguare (PEKY) – “Libros del pasado”
  • Harald Thun, Leonardo Cerno, Franz Obermeier. (Alemania)
  • 15- Defesa e segurança (inter)nacional no âmbito do Mercosul
  • Kelly Gianezini, Sílvio Parodi Oliveira Camilo, Miguelangelo Gianezini (Brasil)

Estudios Históricos. Rivera, n.13, dic. 2014.

  • EDICIÓN Nro. 13 Revista Digital. Diciembre 2014
  • 1 -Historiografía de valores
  • Dr. Carlos Barros, Universidad de Santiago de Compostela. (España)
  • Conferencia plenaria en el IV Congreso Internacional Historia a Debate, Santiago de Compostela, 16 de diciembre de 2010. Versión escrita, actualizada y ampliada en mayo de 2014.
  • 2 -Redescubierta de un manuscrito perdido del Padre Pedro de Lozano, un tomo de su Diccionario historico-índico de 1748.
  • Dr. Franz Obermeier (Alemania)
  • 3 -Desplazamientos interpretativos y autocríticas. La conformación de una oposición política a la Revolución Libertadora (1955-1958)
  • Carlos Hudson (Argentina)
  • 4 -A imprensa como integrante da oposição política a joão goulart: o ministro do trabalho – 1953-1954
  • Dilossane Vargas da Silva (Brasil)
  • 5 -A importância pedagógica do diretor de educação física na primeira república na praça de desportos: primeiras aproximações, o caso de Bagé/RS.
  • Alessandro Carvalho Bica, Berenice Corsetti (Brasil)
  • 6 – Contatos imediatos de fronteira: correspondência entre oficiais militares portugueses e espanhóis no extremo sul da América (séc. XIX)
  • Adriano Comissoli (Brasil)
  • 7 – Capital Social e Políticas Municipais. Um estudo comparativo no Vale do Rio dos SinosSocial Capital and  local public policies. A comparative study in the Vale do Rio dos Sinos
  • Everton Rodrigo Santos, Honor de Almeida Neto,Cristina Ennes da Silva, Claudia Schemes. (Brasil)
  • 8 – Em busca de um lugar na história: viúvas, órfãos e mutilados vítimas da Guerra do Paraguai
  • Marcelo Santos Rodrigues (Brasil)
  • 9 – Escravizações ilegais e reescravizações na fronteira da província do rio grande do sul (1842-1862)
  • Jônatas Marques Caratti (Brasil)
  • 10 – Líderes platinos na guerra civil farroupilha –Platinos leaders in the farroupilha civil war.
  • Janaíta da Rocha Golin (Brasil)
  • 11 – O lugar de Nelson Werneck Sodré no pensamento político brasileiroPlace of Nelson Werneck Sodré political thought in Brazil
  • Daniel de Souza Lemos, Louise Lanes Lemões (Brasil)
  • 12 – O Rei servo da nação: a imagem de D. Pedro II na obra de Pedro Calmon.
  • Neandro Vieira Thesing, André Átila Fertig (Brasil)
  • 13 – O terrorismo de estado (TDE) e a luta armada no Rio grande do Sul: 1970 State terrorism and armed struggle in Rio Grande do Sul: 1970
  • Cristiane Medianeira Ávila Dias (Brasil)
  • 14 – Políticas de Desarrollo en Zonas Indígenas (México)Policy Development in Indigenous Areas
  • Carlos García Medina (Rusia – México)
  • 15 – Partidos Políticos en el Término Municipal de Holguín desde la ocupación norteamericana hasta Alfredo Zayas.
  • MSc. Celia del Carmen Hernández Arias (Cuba)
  • 16 – Dos décadas cruciales para el afianzamiento de la cultura económica moderna en la sociedad holguinera: 1899-1920.
  • Rafael Ángel Cárdenas Tauler (Cuba)
  • 17 – Entre o desejo de expansão e os litigios pueblerinos: a província do Paraguai como paradigma do conflito  (séc. XVII – XVIII)
  • Rodrigo F. Maurer (Brasil)
  • 18 – RESEÑAS:
  • Dra. Margaret M. Bakos.
  • MATTOS, Jane Rocha (org.). Museus e africanidades. Porto Alegre, RS. – Edições Julio de Castilhos, 2013, 184 p.

Estudios Históricos. Rivera, n.12, jul. 2014.

  • EDICIÓN Nro. 12 Revista Digital. Julio 2014
  • A aplicação da legislação sesmarial em território brasileiro
  • Nelson Nozoe (Brasil)
  • A prática da Capoeira enquanto patrimônio cultural: Trajetórias afrodescendentes e multiculturais no Brasil.
  • Silva, Jorge Silveira, Santos, Júlio Ricardo Quevedo dos, Milder, Saul Eduardo Seiguer (Brasil)
  • Reflejo de tradición y ruptura: arquitectura neocolonial y arquitectura de la modernidad en la primera mitad del siglo xx en la ciudad de Córdoba.
  • Arq. Ana María Rodríguez de Ortega (Cuba-Argentina)
  • Aculturación del pueblo indígena Mixe, Oaxaca, México. The Acculturation of the Indigenous Mixe People, in the state of Oaxaca, Mexico
  • Carlos García Medina (México-Rusia)
  • “La frontera del Paraguay en el siglo XVIII: Relaciones y disputas entre Curuguaty e Ygatimi
  • Herib Caballero Campos (Paraguay)
  • CANOEING DOWN: O sertão do rio São Francisco sob o olhar do estudioso-aventureiro Richard Burton
  • Antônio Fernando de Araújo Sá (Brasil)
  • As instituições locais no processo de construção dos Estados Nacionais modernos: A República Riograndense na vila de Alegrete (1837-1843), no sul do Brasil.
  • Alessandro de Almeida Pereira, Michele de Oliveira Casali (Brasil)
  • A crônica e o fazer histórico na crise da modernidade: reflexões e possibilidades.The chronicle and the making of history in the crisis of modernity: reflections and possibilities.
  • Luiz Antonio Gloger Maroneze (Brasil)
  • URUGUAIANA: SUAS FRONTEIRAS E SUA IDENTIDADE
  • Ronaldo Bernardino Colvero, Edson Romário Paniagua, Davide Carbonai (Brasil)
  • Historiografia, Escravidão e Luta de Classes no Brasil
  • Mário Maestri (Brasil)
  • Carvão e Ferrovia: ecos de progresso e disputas políticas no Sul Catarinense na Primeira República
  • João Henrique Zanelatto, Alcides Goularti Filho (Brasil)
  • Río Paraguay: El mejor rio del mundo: Reflexões sobre o papel histórico e geoestratégico dos caminhos fluviais.
  • Maria do Carmo Brazil (Brasil)
  • A FAMÍLIA ESCRAVA NO BRASIL DESCRITA POR VIAJANTES ESTRANGEIROS
  • Iraci del Nero da Costa (Brasil)
  • Contribuciones documentales: Fuentes parroquiales de Quilmes – Índice onomástico de Quilmes. 2da. parte.
  • Dra. Nora Siegrist (Argentina)
  • Um olhar sobre a presença árabe na Fronteira
  • Liane Chipollino Aseff

Estudios Históricos. Rivera, n.11.

  • EDICIÓN Nro. 11 Revista Digital
  • De Yatay a Cerro-Corá: Consenso e dissenso na resistência militar paraguaia.
  • Mario Maestri
  • A gênese do universo político-partidário no município de Bagé/RS.
  • Alessandro Carvalho Bica – Berenice Corsetti (Brasil)
  • O perigo além-fronteira e a hegemonia do prata
  • Janaíta da Rocha Golin (Brasil)
  • “Entre Jaguarão e Tacuarembó”: Os charqueadores de Pelotas (RS) e os seus interesses políticos e econômicos na região da campanha rio-grandense e no norte do Uruguai (c. 1840- c. 1870)
  • Jonas Moreira Vargas (Brasil)
  • El ayer no podrá ser destruido: a decadência da excepcionalidade chilena
  • Silvia Simoes (Brasil)
  • Construcciones de lo negro: una lectura ideológica de las representaciones de los “los bufones de Rosas”
  • Dr. Jean-Arsène Yao (Costa de Marfil)
  • Epidemias e quarentenas no Brasil e no rio da Prata no século XIX
  • Cleide de Lima Chaves (Brasil)
  • Um conto chinês: um olhar sobre a cultura e a identidade – A Chinese Tale: looking into culture and identity
  • Sabrina Martins – Cleber C. Prodanov (Brasil)
  • Aproximações metodológicas à imprensa periódica oitocentista: o caso dos periódicos sul-rio-grandenses.
  • Álvaro Antonio Klafke (Brasil)
  • Nos tempos da “petit paris”: a urbanização em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, no auge da economia cafeeira (1880-1930)
  • Rodrigo Ribeiro Paziani (Brasil)
  • Distribuição e concentração da riqueza com base em inventários post mortem na presença de casos de riqueza líquida negativa
  • Agnaldo Valentin, José Flávio Motta, Iraci del Nero da Costa (Brasil)
  • Entre cor e hierarquia: apontamentos sobre ascensão social de mulatos e a carreira militar no Brasil da primeira metade do século XIX.
  • Letícia Rosa Marques (Brasil)
  • Manumisiones de esclavos en Buenos Aires (1600-1670)
  • Miguel Á. Rosal (Argentina)
  • O porto carvoeiro na formação do complexo carbonífero catarinense: a disputa entre Laguna e Imbituba.
  • Fabio Farias de Moraes, Alcides Goularti Filho (Brasil)
  • O Uruguai blanco: a divisão política uruguaia e a autonomia do Partido Nacional frente ao governo de Montevidéu. (1902 – 1904).
  • DOBKE, Pablo. PADOIN, Maria Medianeira.(Brasil)
  • A colonização açoriana e a fundação de San Carlos
  • Letícia Vieira Braga da Rosa, Claudia Schemes. (Brasil)
  • “Vivir en cadenas, ¡que triste vivir!, Morir por la Patria, ¡que belo morir!” – o conceito de Pátria nas páginas da imprensa periódica da Província Cisplatina (1821-1828)
  • Murillo Dias Winter  (Brasil)
  • OS BENZEDORES DE SÃO MIGUEL DAS MISSÕES-RS: ASPECTOS DE MEMÓRIA E IDENTIDADE
  • Juliani Borchardt, Ronaldo Bernardino Colvero (Brasil)
  • El lenguaje piadoso en el valle de Toluca durante el siglo XVII a través del testamento: Una expresión de la religiosidad barroca
  • Marco Antonio Peralta Peralta (Mexico)
  • Afroargentinos, guerra y política, durante las primeras décadas del siglo XIX. Una aproximación hacia una historia social de la revolución
  • Florencia Guzmán (Argentina)
  • Contribuciones documentales:
  • Fuentes parroquiales de Quilmes – Índice onomástico de Quilmes. 1era parte.Dra. Nora Siegrist (Argentina)

Estudios Históricos. Rivera, n.10.

  • EDICIÓN Nro. 10 Revista Digital
  • 1 – Trabalho e Justiça no Norte Gaúcho (1959-1960) –  Labor and Justice in Northern Gaucho (1959-1960)
  • Janaína Rigo Santin, Ana Luiza Setti Reckziegel,  José Renato Stangler,  Alex Faverzani da Luz (Brasil)
  • Articulo Completo
  • 2 – Crecimiento urbano de  Ciudad Ixtepec, Oaxaca, México –  Urban Growth in Ixtepec City, Oaxaca, México.
  • Carlos García Medina (México)
  • 3 – Identidad étnica e identificación política. Los afroporteños durante el rosismo
  • Gustavo Javier Giménez (Argentina)
  • 4 – Zero Hora, seus editoriais e as greves na educação pública estadual no Rio Grande do Sul durante o ocaso da ditadura militar-civil brasileira (1979, 1980 e 1982)
  • ZERO HORA, their editorials and the strikes on the estate public education at Rio Grande do Sul during the exhaustion of the Brazilian military-civil dictatorship (1979, 1980 e 1982)
  • Mauro Luiz Barbosa Marques (Brazil)
  • 5 – Portales: Mito, tradición y revisión. Una lectura a la figura de Diego Portales en la historiografía chilena del siglo XX.
  • Luis S. Reyes Konings (Chile)
  • 6 – Carimba. Las marcas de los esclavos en el Buenos Aires colonial
  • Miguel Á. Rosal (Argentina)
  • 7 – Taunay e a frustrante ação militar brasileira em território paraguaio – A Retirada da Laguna
  • Gabriel Schäfer (Brasil)
  • 8 -O General Câmara na Guerra do Paraguai através de suas correspondências
  • André Atila Fertig, Guilherme de Mattos Gründling  (Brasil)
  • 9  – Asimilación musical y crítica política en la obra de Fela Kuti
  • Agustín Haro (Argentina)
  • 10 – La Virgen de la Caridad en la cultura santaclareña
  • MSc. Adela D. González Alamo (Cuba)
  • 11 –  Dissídios da Justiça do Trabalho: Uma nova Fonte a ser Historiada
  • PIEPER, Jordana Alves, SILVA, Eduarda Borges da, GILL, Lorena Almeida

Estudios Históricos. Rivera, n.9.

  • EDICIÓN Nro. 9 Revista Digital
  • 1. Elementos teóricos para uma perspectiva interpretativa: escravidão e forma de produção.
  • Dr.Agostinho Mario Dalla Vecchia (BRASIL) .
  • 2. El Estado mexicano y su población indígena – The Mexican state  and its Indigenous population
  • Carlos García Medina (México)
  • 3. Las modalidades de participación femenina durante el levantamiento de Aparicio Saravia en 1904.
  • Prof. María Natalia Leiva Silvera (Uruguay)
  • 4. Experiencias empresariales en la región platina: espacios de comercialización y vínculos personales (sur de la provincia de buenos aires y  rio grande  do sul a principios del siglo XX).
  • Dra. Valeria Palavecino  (Argentina) – Mag. Márcia Volkmer  (Brasil)
  • 5. Contato linguístico na fronteira Brasil – Bolívia: hibridações étnicas, culturais e sociais.
  • Stael Moura da Paixão Ferreira (Brasil)- Rosangela Villa da Silva (Brasil)
  • 6. O Uruguai conflagrado: blancos x colorados e o  preâmbulo da revolução de 1897
  • Ana Luiza Setti Reckziegel (Brasil)
  • 7. Una específica aplicación para la revisión de los modelos y taxonomías de los análisis líticos.
  • Mario Consens, Verónica Etchart y Sandra Bauzá (Uruguay)
  • 8. Imágenes multiculturales. origen, significado y uso de imaginería jesuítico misionera a partir de un enfoque interpretativo
  • Carmen Curbelo,  Luis Bergatta
  • 9. O singular relato do cônego João Pedro Gay sobre a Invasão Paraguaia da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul
  • Mário Maestri (Brasil)
  • 10. Nuances nos depoimentos da pesciana e da moranesa: mulheres imigrantes em Porto Alegre/RS (1945-1950)
  • Egiselda Brum Charão (Brasil)
  • 11. O uso da fotografia em processos de identificação e o método Bertillon – século XIX
  • Helen Scorsato
  • 12. Los peronistas y las armas entre 1955 y 1966.
  • Marcelo Raimundo (Argentina)
  • 13. Diario de la Guerra del Brasil, llevado por el ayudante Jose Brito del Pino, agosto de 1825, noviembre de 18286.
  • Contribución documental

Estudios Históricos. Rivera, n.8.

  • EDICIÓN Nro. 8 Revista Digital
  • La Guerra contra el Paraguay: los países de la Triple Alianza y las condicionantes de la guerra.
  • Dr. Walter Rela.
  • Articulo Completo
  • A Singularidade do Estado Francista: A Leitura de Oscar Creydt.
  • Dr.Mário Maestri
  • Articulo Completo
  • A complexidade produtiva nas estâncias da campanha do Rio Grande do Sul.
  • Bruno Gato da Silva, Jaqueline Ferreira Pes, Saul Eduardo Seiguer Milder
  • Articulo Completo
  • Commercio e assicurazioni a Cadice tra età moderna e contemporanea: la presenza dei Lloyd’s.
  • Amedeo Lepore (Italia).
  • Articulo Completo
  • Fronteiras negras, espaço de interlocuções regionais: o caso de São Miguel.
  • Jandira Elohá Lopes
  • Articulo Completo
  • Histórias sobre o cotidiano da tuberculose.
  • Lorena Gil
  • Articulo Completo
  • El olvidado MAM ES y los espacios expositivos de Vitória, Brasil.  Reencontrar la historia.
  • Renata Ribeiro
  • Articulo Completo
  • Particularidades históricas e culturais dos Charrua e dos Minuano do Pampa Sul-americano.
  • Anderson Marques Garcia-
  • Dr.Saul Eduardo Seiguer Milder
  • Articulo Completo
  • O patrimônio cultural no município de Bossoroca/ RS.
  • Júlio Ricardo Quevedo dos Santos
  • Cosete Nascimento do Nascimento
  • Articulo Completo
  • Cartografia da Guerra Guaranítica.
  • Dr.Tau Golin
  • Articulo Completo
  • Familias esclavas y compadrazgo en la feligresía de Guanajay (1773 -1806).
  • Rebeca Figueredo Valdés (Cuba)
  • Articulo Completo

EDICIÓN EXTRAOIRDINARIA Nro. 3 Revista Digital

Estudios Históricos. Rivera, n.7.

  • EDICIÓN Nro. 11 Revista Digital
  • Los comienzos de la diplomacia oriental, 1814-1815. La Mision Redruello y Caravaca ante la corte imperial en Rio.
  • Dr. Walter Rela.
  • El Centro de Documentación Histórica del Río de la Plata y Brasil agradece a los Dres. Julio Rappa (h) y Claudio Aristoff por los servicios profesionales brindandos en Casa de Galicia durante el transe de salud del Dr. Walter Rela. Por voluntad del autor este articulo esta dedicado a dichos profesionales.
  • Articulo Completo
  • Documento: Misión José Bonifacio Reduello y José Maria Caravaca.
  • Documento
  • Ruínas da estância Santa Clara-Quaraí/RS: as primeiras intervenções arqueológicas e a análise da cerâmica histórica
  • Jaqueline Ferreira Pes, Saul Eduardo Seiguer Milder
  • Articulo Completo
  • Políticas sociales: la mujer y la bisectriz del trabajo en el primer peronismo
  • Carolina Barry (UNTREF/ CONICET)
  • Articulo Completo
  • HISTORIA Y CULTURA AFRO-BRASILEÑA Y LA CONTRIBUCIÓN DE LAS POBLACIONES DE MATRICES AFRICANAS EN BRASIL.
  • Mag.Benjamin Xavier de Paula
  • Articulo Completo
  • Repensado la “Carrera de la Revolución”. Aportes a la discusión sobre las trayectorias políticas entre la Revolución y la Confederación (Argentina. 1806-1861)
  • Valentina Ayrolo, Ana Laura Lanteri, Alejandro Morea
  • Articulo Completo
  • “Los rostros del conflicto. Mediación política y orden social en el nordeste bonaerense, 1862-1874. El caso de Juan Moreira”
  • Pedro Berardi
  • Articulo Completo
  • Modalidades del comercio de esclavos en Buenos Aires durante la tercera década del siglo XVII
  • Miguel Á. Rosal
  • Articulo Completo
  • Augusto Comte e o positivismo no Brasil
  • Dra. Margaret Bakos
  • Articulo Completo
  • Elementos teóricos para uma perspectiva interpretativa: totalidade, mediações e formação social
  • Prof. Dr.Agostinho Mario Dalla Vecchia
  • Articulo Completo

Estudios Históricos. Rivera, n.6, jul. 2011.

  • EDICIÓN Nro. 6 Revista Digital
  • Editorial
  • A posse de escravos em uma paróquia da capital do império do Brasil, 1870
  • José Flávio Motta, Nelson Nozoe, Iraci del Nero da
  • Articulo Completo
  • Os Positivistas Ortodoxos e a Guerra do Paraguai
  • Dr. Mário Maestri
  • Articulo Completo
  • A precisão e a distorção: diálogos entre Diego Velázquez e Francis Bacon.
  • Prof. Antonio Gasparetto Júnior
  • Articulo Completo
  • Elementos teóricos para uma perspectiva interpretativa: modo de produção, conhecimento histórico.
  • Prof. Dr. Agostinho Mario dalla Vecchia
  • Articulo Completo
  • Ordem em colônias: legislações para os índios no período filipino.
  • Profa. Dra. Maria Isabel de Siqueira
  • Articulo Completo
  • Mundo afro e os afro-descendentes no Uruguai: decontrução dum processo etno-genético.
  • Lic. Adriana Pérsia
  • Articulo Completo
  • LIBRO: Mercado y empresas em Europa: la empresa González de la Sierra en el comercio gaditano entre los siglos XVIII y XIX. 
  • AMEDEO LEPORE
  • Presentación del libro
  • Libro Completo

Estudios Históricos. Rivera, n.5, nov. 2010.

  • EDICIÓN Nro. 5 Revista Digital
  • “Montonera artiguista”
  • Luis Ferrer (1947).Paysandú, Uruguay.Crayola sobre cartón,100 x 80. 2009.
  • Agustín de Bolívar: el  hermano “oculto” del libertador.
  • Juan Carlos Morales Manzur  (Venezuela)
  • Articulo Completo
  • La Cuestión Social en Chile: Concepto, problematización y explicación. Una propuesta de revisión historiográfica.
  • Luis S. Reyes Konings (Chile)
  • Artigo Completo
  • A diplomacia do presidente Abraham Lincoln: a política no período pré-guerra.
  • Alex Guedes de Moraes (Brasil)
  • Articulo Completo
  • Conmemoración del Centenario de la “Creación del Chaco”: Conjunción de imágenes en la conformación de una memoria histórica provincial.
  • Lic. María Alejandra Zurlo (Argentina)
  • Articulo Completo
  • Cristóvão de Mendonza: o mártir do Ibia descrito pelo Pe. Antônio Ruiz de Montoya.
  • Lisiane da Motta (Brasil)
  • Artigo Completo
  • Vestígios arqueológicos de um antigo comércio: A faiança fina na Uruguaiana do século XIX.
  • Ronaldo Bernardino Colvero – Jeremyas Machado Silva (Brasil)
  • Artigo Completo
  • Sobre a estrutura de posse de escravos em Sao Paulo e Minas Gerais nos albores do século XIX
  • Francisco Vidal Luna – Iraci del Nero da Costa – (Brasil)
  • Articulo Completo
  • “Em parte alguma do mundo fazerem-se novas povoações sem casais”: a colonização dirigida e a o recrutamento forçado no povoamento da Colônia do Sacramento”
  • Paulo César Possamai (Brasil)
  • Artigo Completo
  • Fisiognomias: Walter Benjamin e a escrita da história através de imagens.
  • Dra. Denise Marcos Bussoletti (Brasil)
  • Artigo Completo
  • José Martí a través de su ensayo político.
  • Dr. Elio Alba Buffill (Estados Unidos)
  • ArtigoCompleto
  • Contribución documental:
  • “The Black Death”, (La Peste) Ole J. Benedictow  articulo traducido del inglés por la Prof. Susana Suarez.Curriculo: Licenciada en Historia por la Ucudal, Profesora del Centro Regional de Profesores del Norte-Rivera
  • Articulo Completo
  • Tratado de Folklore.
  • Ficha bibliográfica: ITURRIA, Raúl. Tratado de Folklore. Montevideo: Tierra Adentro, 2006. pp.456 – ISBN:9974-7770-3-8
  • Estudios Históricos del Centro de Documentación Histórica del Rio de la Plata – Prof. Dr. Walter Relaweb: jjvieraa@gmail.com

Estudios Históricos. Rivera, n.4, mar. 2010.

  • EDICIÓN Nro. 4 Revista Digital
  • “Cabildo abierto del 22 de mayo de 1810” en Buenos Aires. Óleo sobre tela. Autor: Juan Manuel Blanes (1830-1901) – 1870. Colección Museo Histórico Nacional. Argentina.
  • Historia a Debate, un paradigma global para la escritura de la historia
  • Carlos Barros (España)
  • Articulo Completo
  • Aparício Saravia : um caudilho de duas pátrias
  • Ana Luiza Setti Reckziegel (Brasil)
  • Artigo Completo
  • El teatro documento de Reinaldo Arenas
  • Esther Sánchez-Grey Alba (Cuba – USA)
  • Articulo Completo
  • Entre lo público y lo privado. La continuidad de las expresiones culturales afroporteñas (1820 – 1852)
  • Gustavo Javier Jiménez (Argentina)
  • Articulo Completo
  • Relações, intrigas e interesses: O governador e capitão-general dom Diogo de Souza em sua árdua missão na Banda Oriental em 1811
  • Alex Jacques da Costa (Brasil)
  • Artigo Completo
  • Organização Geopolítica da Região do Povo da Cruz: O Itaqui De 1629 à 1801
  • Helenize Soares Serres (Brasil)
  • Artigo Completo
  • Eduardo Gutiérrez y la frontera. Un recorrido por los fortines y los toldos.
  • Melina Yuln (Argentina)
  • Articulo Completo
  • Mulheres mal faladas: a prostituição em Buenos Aires em fins do século XIX
  • Álvaro de Souza Gomes Neto (Brasil)
  • Artigo Completo
  • Sete Povos das Missões: história, terra e trabalho
  • Helen Scorsatto Ortiz (Brasil)
  • Artigo Completo
  • A Província Cisplatina do ponto de vista brasileiro
  • Helio Leoncio Martins (Brasil)
  • ArtigoCompleto
  • En busca de un enclave esclavista. La expedición colonizadora a las islas de Fernando Poo y Annobon, en el Golfo de Guinea. (1778 – 1782)
  • Liliana Crespi
  • Articulo Completo

Estudios Históricos. Rivera, n.3.

  • EDICIÓN Nro. 3 Revista Digital
  • “Boleando avestruces” Balling Ostriches – Acuarela, (ca.1816-18) Emeric Essex Vidal – (1791 – 1861) – Inglaterra.
  • Proyectos Monárquicos en el Río de la Plata- 1808 – 1816
  • Dr. Walter Rela (Uruguay)
  • Articulo Completo
  • Articulaciones históricas y culturales en zonas de frontera, difundidas en la prensa del Río de la Plata (XIX)
  • Tatiana Novallo (Canada)
  • Articulo Completo
  • La junta de Montevideo en 1808, una situación interna con repercusiones internacionales: algunos aspectos de los intereses y acciones portuguesas
  • Lic. José M. Olivero Orecchia (Uruguay)
  • Articulo Completo
  • Portos e cidades: comércio, política e sociedade no Rio de Janeiro colonial
  • Valter Lenine Fernandes –  Victor Hugo Abril (Brasil)
  • Artigo Completo
  • Dois caricaturistas entre a memória e o esquecimento: Angelo Agostini (1843-1910) e Eduardo Chapon (1852-1903)
  • Aristeu Elisandro Machado Lopes (Brasil)
  • Artigo Completo
  • Uruguaiana: a estância como fronteira.
  • Ronaldo Bernardino Colvero – Luiz Francisco Matias Soares (Brasil)
  • Artigo Completo
  • El campo historiográfico argentino en la democracia. Transición, profesionalización y renovación.
  • Elias Zeitler (Argentina)
  • Articulo Completo
  • Una reflexión en torno al significado de la democracia en el proceso de formación del estado en la historia de Chile.
  • Luis S. Reyes Konings (Chile)
  • Articulo Completo
  • Las  misiones jesuíticas y los indígenas misioneros en la historiografía del Uruguay.
  • Lic. Oscar Padrón Favre (Uruguay)
  • Articulo Completo
  • Hogares, familias, género y jefaturas de hogar en dos poblaciones Latinoamericanas (Punilla, Córdoba, Argentina; Campinas, São Paulo, Brasil) a fines del siglo XVIII
  • Claudio F. Küffer – Paulo Eduardo Teixeira – Sonia E. Colantonio – (Argentina-Brasil)
  • ArticuloCompleto
  • Por que Lilián Celiberti e Universindo Rodríguez foram sequestrados? Resistência uruguaia em Porto Alegre no final da década de 1970.
  • Ramiro Reis (Brasil)
  • Artigo Completo
  • “Montevideo fortificado es otro Gibraltar”: As tentativas dos portugueses em ocupar Montevidéu no século XVIII
  • Dr. Paulo Possamai (Brasil)
  • Artigo Completo
  • Relações entre o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, os reis de Portugal e demais poderes laicos (séculos xii a xv): análise da documentação publicada por Saul António Gomes.
  • Dirceu Marchini Neto (Portugal)
  • Artigo Completo
  • 1915: A seca e o sertão sob o olhar de raquel de queiroz.
  • Kárita de Fátima Araújo – Profa. Dra. Rita de Cássia Martins de Souza Anselmo
  • Artigo Completo
  • Reseña y evaluación del Seminario La Ruta del Esclavo en el Río de la Plata: aportes para un diálogo intercultural.
  • Buenos Aires, 26 y 27 de octubre de 2009 – UNESCO – UNTREF – MNBA
  • Articulo Completo

Estudios Históricos. Rivera (Edición extraordinar), set. 2009.

  • “Un siglo de confrontaciones por la Colonia del Sacramento – 1678 – 1778”
  • Dr. Walter Rela – Ensayo
  • Articulo Completo
  • Estudios Históricos del Centro de Documentación Histórica del Rio de la Plata – Prof. Dr. Walter Relaweb: jjvieraa@gmail.com

Estudios Históricos. Rivera, n.2, ago. 2009.

  • EDICIÓN Nro. 2 Revista Digital
  • Posta del Chuy, Cerro LargoFotografía: Marcelo Puglia
  • A Guerra Contra o Paraguai: História e Historiografia: Da instauração à restauração historiográfica [1871-2002]
  • Mário Maestri
  • Artigo Completo
  • Presencia histórica de la lengua portuguesa en documentos del siglo XIX en la frontera Artigas – Quaraí
  • María Luján Oronoz
  • Articulo Completo
  • O Congresso Cisplatino e seus desdobramentos políticos no Brasil e na região do Prata.
  • Fábio Ferreira
  • Artigo Completo
  • Reflexiones: Tiempos líquidos sobre el Patrimonio Cultural y sus Valores.
  • María del Carmen Díaz Cabeza
  • Articulo Completo
  • Montevideo desde la perspectiva del Atlántico sur tráfico y presencia de africanos y afrodescendientes.
  • Dr. Luis Ferreira
  • Articulo Completo
  • Os quilombos contemporâneos maranhenses e a luta pela terra.
  • Adelmir Fiabani
  • Artigo Completo
  • Um caso mal resolvido: os sete povos das missões e o julgamento de 1759.
  • Rodrigo Ferreira Maurer – Ronaldo B. Colvero
  • Artigo Completo
  • O povoamento do território do Rio Grande do Sul / Brasil o oeste como direção.
  • Véra Lucia Maciel Barroso
  • Artigo Completo
  • La ciudad y la urbanización.
  • Profa. Rosario Bottino Bernardi
  • Articulo Completo
  • O sagrado e o profano nos cemitérios de Bagé/RS
  • Egiselda Brum Charão
  • Artigo Completo
  • El lenguaje de las balas.Una aproximación a la guerra de guerrillas en Brasil y Uruguay desde Carl Schmitt
  • Esteban Campos
  • ArticuloCompleto
  • El Bajo Río Uruguay: territorio-frontera. Completo escenario de la agroproducción sudamericana.
  • Prof. Rene Boretto Ovalle – Prof. María Julia Burgueño Angelone
  • Articulo Completo
  • Contribuciones Documentales.
  • Luis Morquio Blanco
  • Articulo Completo

Estudios Históricos. Rivera, n.1, 2009.

  • Edición Nº1 Revista Digital
  • Bienvenidos a la Revista Estudios Historicos
  • Rivera, Uruguay, 25 de mayo de 2009
  • Prof. Mag. Eduardo R. Palermo
  • A perseguição além da fronteira: os órgãos de repressão e espionagem da ditadura brasileira para o controle dos exilados brasileiros no uruguai
  • Ananda Simões Fernandes
  • Artigo Completo
  • A cultura do contrabando e a Fronteira como um Lugar de Memória
  • Adriana Dorfman
  • Artigo Completo
  • Uma experiência acadêmica de pesquisa: a história dos 150 anos do município de santa maria mostrada por meio de uma exposição.
  • Dra. Maria Medianeira Padoin
  • Artigo Completo
  • Los procesos y la larga duración en la historia regional. Nuevas miradas para la construcción de una historia regional en el departamento de colonia
  • Sebastián Rivero Scirgalea
  • Artigo Completo
  • A construção do imaginário da mulher brasileira na fronteira oeste do rio grande do sul: o que revelam os jornais do período de 1890 a 1910
  • Marilene da Cunha Ribeiro
  • Artigo Completo
  • Abrir puertas a la tierra: el puerto de aguas profundas en la coronilla, un proyecto de desarrollo regional del S. XIX para el S. XXI.
  • Prof. Walter Viera
  • Artigo Completo
  • O Golpe de 1964 no Brasil: problematizando discursos políticos e historiográficos
  • Rafael Fantinel Lameira – Diorge Alceno Konrad
  • Artigo Completo
  • Uruguai “verde-amarelo”: brasileiros presos em terra estrangeira
  • Gissele Cassol
  • Artigo Completo
  • A oposição federalista na Primeira República no Rio Grande do Sul através do jornal “O Maragato”
  • André Fertig
  • Artigo Completo
  • As Origens Missioneiras de Santa Maria
  • Júlio Ricardo Quevedo dos Santos
  • Artigo Completo
  • El vuelo del cóndor en la frontera uruguayo-brasileña: la conexión represiva internacional y el operativo zapatos rotos
  • Enrique Serra Padrós
  • Artigo Completo
  • Presencia indígena misionera en el Uruguay: movilidad, estructura demográfica y conformación familiar al norte del río negro en el primer tercio del siglo XIX*
  • Isabel Barreto – Carmen Curbelo
  • Artigo Completo
  • El metal y la escoria: patrimonio, legitimación, patrimonización. Reflexiones desde un trabajo de campo en Minas de Corrales.
  • Fernando Acevedo
  • Artigo Completo
  • El revés de la trama: contextos y problemas de la historia local y regional
  • Dra. Sandra Fernández
  • Conferencia magistral desarrollada en la inauguración del III Encuentro Regional de Historia y Ciencias Sociales y I Encuentro de Geo-Historia. Rivera, octubre 2008.
  • Artigo Completo
  • Sobre límites y fronteras.
  • María del Rosario Bottino Bernardi
  • Artigo Completo

 

Frei Betto, biografia – FREIRE; SYDOW (VH)

FREIRE, Américo; SYDOW, Evanize. Frei Betto, biografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. 448 p. BOHOSLAVSKY, Ernesto. Frei Betto, uma vida entre a Igreja e a política. Varia História. Belo Horizonte, v. 34, no. 66, Set./ Dez. 2018.

O recente livro de Freire e Sydow é uma contribuição extremamente valiosa para a compreensão de alguns fenômenos políticos do último meio século do Brasil. A biografia nos permite perceber a profunda interligação entre as atividades intelectuais e pastorais e as práticas políticas de Frei Betto, desde meados da década de 1960 até hoje. Frei Betto parece ter estado presente sempre que algo novo aconteceu na política brasileira: ele foi a ponte entre a Igreja paulistana e o líder guerrilheiro clandestino Carlos Marighella no final dos anos 60, tendo passado quatro anos na prisão durante a ditadura por causa dessas tarefas; participou das comunidades eclesiais de base em vários estados depois de sair da cadeia; morou em uma favela em Vitória; fez parte das greves dos metalúrgicos do ABC em 1980; posteriormente, permaneceu próximo ao Partido dos Trabalhadores (PT) e a Lula e, finalmente, acabou envolvido na execução do Programa ‘Fome Zero’ nos governos do PT. Enquanto fazia tudo isso, tornava-se uma das figuras intelectuais brasileiras mais lidas e reconhecidas fora do Brasil, juntamente com Leonardo Boff e Paulo Freire, com os quais teve inúmeros contatos e intercâmbios e compartilhava o pertencimento à galáxia do catolicismo brasileiro em diálogo com tradições marxistas e críticas.

A primeira parte da biografia é organizada de acordo com uma rota cronológica, que começa com referências aos avós do frade e termina com suas últimas iniciativas políticas e literárias na segunda década do século XXI. A segunda metade do livro, contém capítulos temáticos: sobre a participação na imprensa, sua produção literária, suas amizades e sua vida cotidiana atual. Uma interessante seleção de fotografias nos permite ver algumas das trajetórias e ligações de Betto dentro e fora do Brasil e dentro e fora da Igreja Católica. O trabalho baseia-se na consulta da ampla produção intelectual e política do biografado, cartas pessoais, documentação jornalística e jurídica e, claro, dezenas de testemunhos recolhidos no Brasil, Argentina, Cuba, França e Nicarágua, produzidos por homens e mulheres que tiveram ligações com o dominicano em suas numerosas iniciativas políticas, eclesiásticas e educacionais. Nesse sentido, o livro oferece pistas para uma reconstrução das redes editoriais, jornalísticas, políticas e religiosas (principalmente latino-americanas) nas quais participou Frei Betto desde finais dos anos 60.

Trata-se de um livro explicitamente favorável a Frei Betto: os entrevistados são unanimemente solidários, coincidentes na avaliação e nas memórias sobre o biografado. Isso impede que o leitor perceba as dissidências interpretativas que possam existir sobre Frei Betto, suas práticas políticas e seu nível de participação e envolvimento políticos (com a exceção do capítulo 20, que inclui as críticas e amarguras geradas por sua saída do primeiro governo Lula, em 2004, e a publicação do livro A mosca azul, em 2006). Essa impressão é confirmada pelo fato de que o prefácio do livro foi escrito por Fidel Castro, explicitamente amigo do frade: em 1985, como resultado de longas conversas gravadas em Havanna, Frei Betto publicou o livro Fidel e a Religião, que fazia parte da longa lista de seus esforços feitos para aproximar as posições teóricas e organizacionais do marxismo e do catolicismo (Betto, 1985). Talvez uma consulta a ocasionais detratores políticos, sindicais ou dentro da Igreja teria contribuído para detectar ou destacar algumas facetas ou avaliações mais críticas ou negativas sobre sua trajetória. A figura de Frei Betto torna-se neste livro, então, passível de leituras apologéticas. Em parte, isso é o resultado também da relevância do próprio biografado neste projeto editorial, no qual teve um envolvimento entusiasmado desde o início.

Os autores mostram vários elementos da vida econômica e social da família do frade que tiveram um papel crucial na trajetória de Frei Betto: um tio general do Exército e um pai juiz ajudaram a evitar a tortura física que sofreram outros clérigos sob o AI-5; pertencer a altos estratos profissionais da sociedade mineira foi fundamental para sua formação intelectual e para a posse de recursos retóricos que ajudaram construir uma carreira muito bem sucedida no mercado literário no Brasil. Vale considerar, por exemplo, que os próprios autores agradecem à agente literária de Betto (Freire; Sydow, 2016, p.405). Quantos autores da esquerda e frades têm um “agente literário”? Isto não é para apontar essas questões como se fossem estigmas, mas porque fatores como a estrutura da Igreja, do campo literário ou a distribuição desigual de bens simbólicos e materiais ao longo de linhas étnicas, de gênero e regionais no século XX no Brasil contribuem muito para uma compreensão mais precisa da impressionante carreira de Frei Betto. Isso ajudaria a compensar a importância que os autores atribuem a fatores mais individuais e contingentes, como as enormes virtudes pessoais do sujeito biografado.

Este livro será de enorme interesse para um público não especializado, interessado em conhecer os elementos centrais da evolução histórica do Brasil desde a ditadura até o presente. Aqueles que desejam conhecer mais a radicalização dos católicos nos anos 60 vão encontrar chaves sobre o rapidíssimo processo pelo qual muitos jovens passaram da Juventude Estudantil Católica para a resistência armada. Mas também vão achar pistas sobre os movimentos populares nos anos 70 e as ligações com a Teologia da Libertação e com projetos educativos radicais. Muitas das características da política durante o começo da Nova República nos anos 80 e da política pública dos governos do PT são mais bem compreendidas a partir desta biografia, que consegue mostrar que Frei Betto foi uma figura animada, inteligente e criativa, não escapando nunca ao engajamento em relação aos problemas de seu tempo.

Referências

FREIRE, Américo; SYDOW, Evanize. Frei Betto, biografia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira: 2016. [ Links ]

BETTO, Frei. Fidel e a religião. São Paulo: Brasiliense, 1985. [ Links ]

Ernesto Bohoslavsky – Universidad Nacional de General Sarmiento, Oficina 5111, J. M. Gutiérrez 1150, (1613) Los Polvorines, Província de Buenos Aires, Argentina. ebohosla@ungs.edu.ar.

 

Marx e o fetiche da mercadoria: contribuição à crítica da metafísica – ANTUNES (EL)

ANTUNES, Jadir. Marx e o fetiche da mercadoria: contribuição à crítica da metafísica. Jundiaí: Paco Editorial, 2018. Resenha de: PRADO, Carlos. Eleuthería, Campo Grande, v. 3, n. 5, p. 115 – 118, dez. 2018/mai., 2019.

O Capital de Karl Marx é ainda hoje uma obra atual e necessária para interpretação e crítica da sociedade capitalista. Não obstante, trata-se de um texto longo e denso. A obra é composta por três livros divididos em cinco volumes. Vale lembrar ainda que apenas o Primeiro Livro foi publicado por Marx, em 1867, os demais foram editados por Engels e publicados em 1885 e 1894, respectivamente.

Esta é reconhecidamente a obra fundamental de Marx, a qual ele dedicou a maior parte de sua vida para elaboração e a que melhor representa o seu pensamento maduro. Porém, é preciso destacar que não se trata de uma leitura rápida e simples. Sua interpretação exige dedicação e esforço que podem se arrastar por meses, anos e décadas. Por conseguinte, não são muitos os pesquisadores que se arriscam nessa difícil empreitada.

Uma das grandes dificuldades, reconhecida por diversos interpretes e pelo próprio Marx, reside na exposição abstrata da Primeira Seção, intitulada “Mercadoria e dinheiro”, e que compreende os três primeiros capítulos. Esta é considerada a parte mais difícil. Prova disto é que Marx a reelaborou sucessivas vezes. A exposição sobre o problema da interpretação teórica do dinheiro aparece em Contribuição à crítica da Economia Política de 1859, nos Grundrisse, e em O Capital. Na 2ª edição desta última, de 1872, edição revisada, Marx apresentou um posfácio, no qual demonstrou seu descontentamento com o texto original de 1867 e o modificou, suprimiu passagens, sempre buscando aprimorar a exposição, tornando-a mais acessível e compreensível. Todavia, as dificuldades persistiram.

É justamente sobre essa difícil e espinhosa Primeira Seção que o livro de Jadir Antunes se debruça. O autor vem estudando O Capital de Marx desde a sua graduação em Economia, concluída em 1999, passando por mestrado (2002) e doutorado (2005) em Filosofia. O livro Marx e o fetiche da mercadoria: contribuição à crítica da Metafísica é resultado destes 20 anos de estudos e pesquisas dedicados ao pensamento econômico e filosófico.

A proposta do livro de Antunes é desvendar o problema em torno da mercadoria dinheiro e, nessa empreitada, apresenta uma interpretação filosófica d´O Capital, demonstrando que a crítica de Marx não é apenas à Economia Política, mas, fundamentalmente, uma crítica à Metafísica. Como salienta o autor: “A crítica de Marx à Economia Política deve ser interpretada de maneira mais crítica, mais radical, mais ampla e filosófica como crítica da Metafísica Moderna, da Metafísica agora encarnada no mercado, na mercadoria e no dinheiro”. (2018, p. 17).

Ao longo de cinco capítulos, a interpretação de Antunes evidencia que a crítica que Marx apresenta em O Capital é uma crítica à Metafísica, ou melhor, aos poderes metafísicos que as relações capitalistas adquirem e se revelam desde a análise da mercadoria. A concepção de que o mundo industrial, racional e científico teria fechado as portas para as especulações metafísicas é rejeitada por Marx. No mundo em que a riqueza aparece na forma de mercadorias e dinheiro, a Metafísica não foi liquidada. Pelo contrário, a Metafísica apenas abandonou o terreno da religião e do pensamento para, sob o domínio da sociedade capitalista, reaparecer pela ação humana sob novas formas. Dessa forma, Antunes nos apresenta uma interpretação original e audaciosa.

Já no início da exposição, ao se discutir o duplo caráter da mercadoria, revela-se a realidade metafisicamente duplicada, invertida e cindida da mercadoria. Para além dos seus aspectos econômicos, materiais, sensíveis e concretos, a investigação sobre a Teoria do valor, apresenta as “tramoias Metafísicas” da mercadoria que arranca o pensamento do mundo visível e concreto, levando-o ao mundo de categorias abstratas e misteriosas. O valor é a realidade destituída de qualquer visibilidade, sensibilidade e naturalidade.

O valor de uso revela um o mundo sensível, material, concreto, da natureza perceptível. O valor de troca e o valor revelam o mundo inteligível, suprassensível, não natural, abstrato e não sensível. A Metafísica duplica essa realidade e a inverte, transformando o além e todos os conceitos suprassensíveis em princípios da realidade que explicam a realidade concreta. A Metafísica ainda autonomiza o mundo inteligível. Cria a ideia de que há um ente abstrato que governa toda a realidade concreta e material.

E assim, desde o duplo caráter da mercadoria, avançando pelo duplo caráter do trabalho, revelando a forma do valor, Antunes, seguindo a letra de Marx e cotejando as duas primeiras edições d´O Capital, avança até a forma dinheiro. Este é entendido como a superação das formas equivalente menos desenvolvidas, como aquele que deu ao mundo das formas relativas da riqueza a sua forma mais acabada.

O dinheiro, enquanto mercadoria das mercadorias, adquiriu poderes misteriosos e fantásticos. De acordo com Antunes: “O ente dinheiro instaura um cosmos no mundo do ente mercadoria, aparentemente ausente na forma geral e desdobrada de valor. O ente dinheiro instaura a vitória completa da Metafísica sobre o vivido, a phisis, a arte e o sensível”. (2018, p. 208). Antunes busca revelar que para Marx, o dinheiro é a expressão mais desenvolvida da Metafísica do capital.

Ao discutir o problema do fetiche, Marx, de acordo com Antunes, busca evidenciar que os homens têm uma relação dupla com o mundo. Ao longo de toda a exposição, o autor elucida que a realidade capitalista está divida sob uma dupla dimensão: a dimensão sensível e natural e a suprassensível e social. A mercadoria e o trabalho apresentam esta dupla e contraditória determinação. Com efeito, é deste caráter duplo, relativo, metafísico e contraditório que surge o fetiche.

O grande objetivo de Antunes em seu livro é demonstrar que O Capital de Marx é um estudo lógico, conceitual, abstrato e filosófico e, em certo sentido, Metafísico. Desta maneira, Marx não estaria interessado em apresentar um estudo empírico sobre o desenvolvimento do capitalismo, mas sim, em investigar e expor sua gênese lógica, ontológico e conceitual. Antunes busca demonstrar que para Marx, o dinheiro surge como resultado necessário e racional da própria mercadoria, como uma forma desenvolvida do ente mercadoria, como forma sensível e desdobrada da antítese entre valor de uso e valor contida no interior da forma mercadoria. O dinheiro aparece então como figura autonomizada e reificada do valor.

Na perspectiva apresentada por Antunes, a análise de Marx não pode ser inteiramente compreendida se resumida aos seus aspectos econômicos. É preciso trazer à superfície o seu conteúdo filosófico. Trata-se de desvendar o enigma da mercadoria e do dinheiro a partir do seu sentido filosófico e metafísico. Assim, a crítica à Economia Política é também uma crítica à Filosofia Metafísica. O livro se destaca por trazer à luz o problema filosófico que, muitas vezes, parece ser menosprezado. Nessa perspectiva, a obra apresentada por Antunes merece a atenção dos estudiosos de Marx. Trata-se de um livro que merece ser lido, discutido e comentado.

Carlos Prado – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Professor do curso de História da UFMS/FACH.

Acessar publicação original

[DR]

Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas. Londrina, v. 19, n.3, 2018.

Artigos

Publicado: 2018-11-30

Outros Tempos. São Luís, v.15 n. 26, 2018.

Dossiê: Patrimônio, Identidades e Lugares de Memória

Apresentação

Artigos

Dossiê

Estudo de caso

Entrevista

Resenhas

Publicado: 2018-11-24

Ciencia Nueva – Revista en historia y política. Pereira, v.2, n.2, 2018.

Julio – Diciembre

Presentación

Estudios Históricos

Ciencias Políticas

Reseñas

Anales y Memorias

Publicado: 2018-11-23

Mundos do Trabalho. Florianópolis, v.9, n.18, 2017.

Cidadania, política e história do trabalho

Apresentação

Artigos

Dossiê

Resenhas

Publicado: 2018-11-23

Revista de Fontes. São Paulo, v.5, n.9, 2018.

Os papéis da Inquisição. Conservação e dispersão na Europa, América e Ásia |

Artigos

Publicado: 2018-11-18

Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 17 n. 3, 2018.

Editorial

Dossiê: Educação e Espaço Público em experiências históricas latino-americanas (Séculos XIX-XX)

Artigos

Publicado: 2018-11-17

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.29, 2013 / v.39, 2018.

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.39, 2018.

Publicado: 2018-11-13

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.38, 2018.

Publicado: 2018-06-26

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.37, 2017.

Publicado: 2018-01-31

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.36, 2017.

Publicado: 2017-09-14

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.35, 2016.

Publicado: 2017-03-19

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.34, 2016.

Publicado: 2016-09-13

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.33, 2015.

Publicado: 2016-04-14

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.32, 2015.

Publicado: 2018-05-24

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.31, 2014.

Noviembre 2014

Publicado: 2015-05-15

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.30, 2014.

Publicado: 2015-05-15

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.29, 2013.

Publicado: 2014-07-02

 

Horizontes Históricos. São Cristóvão, v.1, n.1, 2018.

Primeira edição da Revista Discente do PROHIS – Temas Livres

Publicado: 2018-11-12

Apresentação

Artigos

Cadernos de Pesquisa do CDHIS. Uberlândia, v.31, n.1, 2018.

Editorial

Apresentação

Dossiê: “História, Historiografia e Ensino de História”

Artigo Livre

Publicado: 08-12-2018

EmRede – Revista de Educação a Distância. Porto Alegre, v. 5, n. 3, 2018.

Educação a Distância em cenários em transição

Expediente

Editorial

Artigos

Relatos

Publicado: 2018-11-05

História Militar. Rio de Janeiro, Edição 24, Ano IX, Novembro de 2018.

Edição 24 (Ano IX, Novembro de 2018)

  • A Batalha do Atlântico: A luta pela sobrevivência dos comboios na Segunda Guerra Mundial
  • Leonardo da Costa Ferreira
  • Os submarinos do Eixo e a entrada do Brasil na Segunda da Guerra Mundial
  • Cesar Machado Rodrigues
  • Homero e a doutrina militar da antiguidade
  • Wellington José Gomes Freire
  • Teorias sobre nacionalismo: um debate conceitual e teórico das relações entre Nação e História
  • Rafael Macedo da Rocha Santos
  • A Exploração de Coltan e os Conflitos no Leste da República Democrática do Congo
  • Marcelle Christine Bessa de Macedo
  • A filha livre de mãe escrava: Companhia de Navegação e Comércio do Rio Amazonas e a política imperial brasileira (1850-1866)
  • Bruno de Seixas Carvalho
  • A Nova História Militar: possibilidades teóricas, metodológicas e temáticas
  • Bárbara Tikami de Lima e Kelvin Emmanuel Pereira da Silva (Mestrando/UFRGS)
  • Livro em Destaque: Bruxas da Noite, de Carlos e Ana Daróz

Tecnologias e ensino presencial e a distância | Vani Moreira Kenski

O livro é um resultado de pesquisas acadêmicas, vivências pessoais e de palestras proferidas pela autora, composto de diversos textos que se interligam, objetivando colaborar para “o melhor desempenho dos professores”. É uma obra literária composta por nove capítulos.

A autora inicia o primeiro capítulo desmistificando a ideia redutora sobre tecnologia, vista como algo aterrorizante, ameaçador, esclarecendo que a tecnologia já está presente no cotidiano como algo totalmente integrado aos hábitos diários, não sendo, portanto, um fato recente. Kenski (2010) afirma que a chamada “era tecnológica” já é algo real desde o início da civilização, pois desde que o ser humano passou a construir objetos para enfrentar os desafios da vida a tecnologia existe; compreende-se então que a tecnologia não surge na sociedade industrial ou nos novos tempos da era virtual. À medida que a tecnologia vai evoluindo, percebem-se mudanças no comportamento das pessoas. Afirma ainda que a tecnologia não se restringe a ferramentas, máquinas, equipamentos, pois há as chamadas tecnologias da inteligência (linguagens oral, a escrita e a digital), que são uma articulação mental em busca de novos conhecimentos. Referindo-se à relação dos usuários com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), a autora conclui que “as novas tecnologias de informação e comunicação, caracterizadas como midiáticas, são, portanto, mais do que simples suportes. Elas interferem em nosso modo de pensar, sentir, agir, de nos relacionarmos socialmente e adquirirmos conhecimentos. Criam uma nova cultura e um novo modelo de sociedade” (KENSKI, 2010, p. 23).

A autora ressalta a importância de despertar uma visão crítica sobre a informação, o conhecimento e a inovação, fato desafiador para a escola e seus professores. Ainda sobre a visão crítica diante da evolução tecnológica, salienta o cuidado com o aspecto democrático do conhecimento diante da exclusão socioeconômica. A escola precisa estar aberta a mudanças e à absorção de novos conceitos e formatações para acompanhar o ritmo da era da velocidade, a exemplo do ensino a distância. Os educadores devem buscar mudar as suas concepções, usando ou não as TIC, concebendo o ensino de uma forma inovadora e diferenciada daquela anteriormente utilizada. Expõe ainda que um professor que manuseia adequadamente as TIC poderá, inclusive, intervir na instalação de programas e softwares em sua escola, além de usá-las de forma crítica. Todavia, não basta o acesso a sofisticados meios tecnológico sem a necessária reformulação total do sistema de ensino, como a valorização da carreira docente e a garantia de qualidade na formação do professor.

Kenski (2010) caracteriza o espaço escolar presencial realizando um paralelo ao espaço virtual de aprendizagem dominado pelas linguagens audiovisual e midiatizada, ampliando assim o alcance da escola frente aos estudantes e à sociedade. A autora delineia também os contornos de uma aula virtual, descrita em uma tela de computador, sua estrutura é a linguagem em um campo que permite a distribuição de conhecimentos sem que, necessariamente, todos os estudantes estejam presentes em um mesmo local, é uma “nova forma de linguagem e de cultura” (KENSKI, 2010, p. 56). Para acompanhar todo esse ritmo ditado pela nova era, a escola precisa gestar sua atuação a partir dessas inovações tecnológicas e o professor transforma-se em pesquisador, tendo um conhecimento em permanente estado de ebulição, sendo preciso também a formulação de políticas públicas adequadas. Portanto, dentro desse universo, as aulas presenciais já não são as únicas possibilidades de ensino. As aulas virtualmente ministradas já se mostram como alternativas para um grande universo de pessoas impossibilitadas de responder às exigências de uma aula presencial. Além da inclusão social que o ensino a distância permite, estabelece-se também, a partir dele, uma relação interinstitucional, o que contribui para a formação de um cidadão participativo. Todas as mudanças decorrentes da interatividade virtual interferem na forma de pensar, raciocinar e interagir, os espaços virtuais ocupados pelos internautas passam a fazer parte do seu mundo, mexem com sua estrutura mental e sua personalidade. É o ciberespaço que surge e se mostra como outra possibilidade de territorialização. As comunidades mediadas pelo computador também interferem nas relações políticas e nas participações democráticas e possuem capacidade para enfrentar o monopólio dos meios de comunicação.

A interação e o ensino sempre se interligaram e as tecnologias em nada diminuem esse elo, portanto os novos espaços virtuais de interação em busca de aprendizagem são formas diferentes e diversificadas de comunicação voltadas para o ensino, no entanto, o que poderá revolucionar o ensino é a forma de utilização das tecnologias, seja o livro, o giz ou computadores em rede. No entanto, é o dinamismo da aula e a participação cooperativa que fará a diferença. Para tanto, é necessário ter clareza da importância do sistema cooperativo na elaboração de cursos em rede e também em cursos presenciais e semipresenciais. Para que se tenha uma aprendizagem envolta na colaboração, é necessário que alguns princípios básicos sejam observados, conforme cita a autora: a interdependência do grupo, a interação, o pensamento divergente e a avaliação. São novos mecanismos de aprendizagem que vão exigir novos métodos radicalmente diferentes de ensinar, nos quais o professor é o maestro e “a música é feita por todos”.

Dessa maneira, o texto percorre o universo das tecnologias e sua relação com o ensino, focando nos desafios atuais para a integração da escola com as inovações tecnológicas. É um livro que apresenta, com precisão, as indispensáveis reformulações que o ensino deve obter, a partir de políticas públicas sérias e realmente comprometidas com a democratização do conhecimento. A autora ratifica os imprescindíveis investimentos na qualificação do professor, sintonizada com os novos tempos, que seja eficaz e que ofereça condições para enfrentar os desafios de uma sociedade tecnológica, globalizada e, portanto, dinâmica, veloz e em contínuo movimento de mudanças. Em todo o livro, a autora fala com autoridade de quem conhece o ambiente educacional e tece opiniões procedentes. As análises apresentadas no livro, se levadas em consideração nas reformulações das políticas públicas voltadas para o ensino, em muito poderão contribuir para efetivas mudanças na educação. Apresenta, ainda, textos objetivos e de fácil leitura, possibilitando ao leitor compreender o universo das tecnologias, e ajuda a construir uma relação mais crítica com o contexto virtual. Em alguns momentos, as definições e ou pequenos trechos parecem repetitivos, ou seja, parecem apresentar em alguns capítulos definições já lidas em outros capítulos; algo justificável, já que o livro é uma coletânea de diversos artigos produzidos e publicados pela autora em eventos, periódicos e capítulos de outros livros. A leitura é sugerida para profissionais da educação de todos os níveis e, principalmente, para aqueles que trabalham com a inclusão tecnológica e buscam compreender e apreender sobre o novo mundo permeado pelo uso das Tecnologias da Informação e Comunicação.

Referência

KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas: 8ª Ed. Papirus, (2010).


Resenhista

Irabel Lago de Oliveira – Professora de Português do Ensino Fundamental II e do Ensino Médio da escola pública estadual. Licenciada em Letras com Inglês pela Universidade da Cidade do Salvador (UNIFACS), especialista em Educação de Jovens e Adultos (EJA), Educação a Distância, Tecnologias e Educação e Mestre em Educação e Sociedade pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. E-mail: irabel.irabel@gmail.com


Referências desta Resenha

KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 8ª Ed. Campinas: Papirus, 2010. Resenha de: OLIVEIRA, Irabel Lago de. Revista Aprendizagem em EAD. Taguatinga, v.7, n.1, novembro, 2018. Acessar publicação original [DR]

Historicidade e objetividade – DASTON (HU)

DASTON, L. Historicidade e objetividade. Tradução: Derley Menezes Alves e Francine Iegelski (org. Tiago Santos Almeida). São Paulo: LiberArs, 2017. 143 p. Resenha de: SOUSA, Raylane Marques. Por uma história dos ideais e práticas da objetividade científica. História Unisinos 22(4):702-707, Novembro/Dezembro 2018.

A coletânea de artigos intitulada Historicidade e objetividade, de Lorraine Daston, historiadora das ciências e diretora do Instituto Max-Planck de História das Ciências de Berlim, publicada no segundo semestre de 2017 e correspondente ao primeiro lançamento da “Coleção Epistemologia Histórica”, da Editora LiberArs, constitui-se num desafio de historicização das ciências e num projeto de epistemologia eminentemente histórica. O livro em tela congrega um prefácio, uma apresentação e sete artigos e persegue o propósito que desvelaremos a seguir.

No prefácio, Lorraine Daston anuncia-nos a proposta da obra 1. A autora esclarece-nos que os artigos, com a ressalva de um, enquadram-se numa perspectiva de historicização das ciências e num programa de “epistemologia histórica”.  Se a intenção de Daston é construir um programa de epistemologia histórica, isto é, “a história das categorias e práticas que são tão fundamentais para as ciências humanas e naturais que parecem muito autoevidentes para ter uma história” (p. 9-10), o itinerário argumentativo que ela desenha nas sete investigações em pauta revela-o de forma coerente e original, uma vez que o objetivo embrionário da coleção desses artigos, tendo em conta o excelente esteio bibliográfico em que se sustentam, é justamente mostrar que a objetividade nas ciências, a atividade de observação, a elaboração de um fato científico e as formas de quantificação têm uma história e pensar sobre as especificidades dessa história nos leva “a repensar a história de como sabemos o que sabemos” (p. 10).

Na apresentação, intitulada “História das Ciências, Teoria da História e História Intelectual”, Tiago Almeida e Francine Iegelski (2017) apontam-nos os motivos que os levaram à tradução, à organização e à publicação de Historicidade e objetividade. Os autores esclarecem-nos que a execução desse projeto tem dois objetivos: o primeiro é de colocar o público brasileiro em contato com os debates mais fecundos da historiografia das ciências; e o segundo é de discutir o já consolidado “programa historiográfico” ou a “epistemologia histórica” de Lorraine Daston para a história das ciências. Os autores evidenciam igualmente que o programa ou a epistemologia histórica de Lorraine Daston se distingue dos programas historiográficos anteriores e contemporâneos porque foi capaz de incorporar as contribuições e se desviar dos defeitos das três principais escolas da história das Nas relações que estabeleciam entre o conhecimento e seus objetos, a primeira escola tinha o defeito de ser idealista, a segunda de ser estruturante, e a terceira de se aprisionar ao particular. Desse modo, como frisam os autores, em seu programa ou epistemologia histórica, Daston recusa a ideia, bem acolhida e propagandeada por essas escolas, segundo a qual “historicizar equivaleria a relativizar ou, o que é pior, invalidar” (p. 12), ao mesmo tempo em que recupera o método de comparação entre as ciências, apesar de suas diferentes especialidades. De acordo ainda com os autores, a originalidade da abordagem de Daston para a história das ciências reside no fato de ser um projeto de trabalho conciliador, favorável à reunião de pesquisadores de diversas áreas, dedicado ao estudo de categorias, conceitos, ideias, objetos e práticas basilares da ciência moderna. Além disso, a apresentação retrata que certo número de pesquisadores chegou ao campo da História das Ciências via Teoria e Metodologia da História e História das Ideias e Intelectual, e vice-versa. Tanto o campo da História das Ciências quanto os campos da Teoria e Metodologia da História e História das Ideias e Intelectual se interessam pela historicidade das ciências, pelas relações entre conceitos, ideias, discursos, textos e contextos, e pelas temporalidades e escritas da história. Assim, o fascínio por esses temas acabou por aproximar essas áreas de conhecimento e por favorecer o contato dos historiadores da história com os historiadores da ciência, além de familiarizar os primeiros com os trabalhos de Daston, principalmente aqueles textos que versam sobre a objetividade e seus significados e múltiplas formas de manifestação.

No artigo 1 da obra Historicidade e objetividade, intitulado “Objetividade e fuga da perspectiva”, Daston esforça-se por traçar uma história não linear e contingente da objetividade científica, história essa que vai do fim do século XVIII ao início do século XIX3. O texto inicia com uma explanação concernente aos múltiplos sentidos da palavra objetividade e suas variantes nos idiomas francês (objectivité) e alemão (Objektivität). Nessas duas línguas, a autora explica que a palavra é confusa e refere-se a um só tempo à metafísica, aos métodos e à moral. A primeira referência diz respeito à busca dos cientistas por uma verdade objetiva no conhecimento, a segunda diz respeito aos procedimentos objetivos que sustentam toda pesquisa científica, e a terceira diz respeito à conduta objetiva, imparcial e desapaixonada do investigador. Daston assinala, na continuação do debate do texto 1, que os pesquisadores dos Science Studies têm se interessado bastante pelo conceito de objetividade na atualidade, mas eles continuam focando nos problemas de existência e legitimidade, em vez de problemas históricos. De maneira efetiva, como a autora argumenta, a objetividade tem uma história, e um dos episódios que lhe permite falar de tal história é a emergência, no século XIX, do que ela chama de ideal de “objetividade aperspectivística”, isto é, a tentativa de eliminação de características individuais do conhecimento científico. Assim, é no esforço de compreender o ideal de objetividade aperspectivística que a autora tece uma história crítica desse conceito no primeiro texto. Lorraine Daston sugere também que é possível visualizar o desenvolvimento desse conceito na literatura estética e moral do século XVIII, como no caso dos autores Shaftesbury, Hume e Adam Smith. A autora nos diz que as discussões a respeito da “perspectiva” no século XVIII e XIX procuram a supressão e o distanciamento emocional do indivíduo e colocam afirmações morais e estéticas em lado oposto às afirmações científicas, a exemplo dos pensadores mencionados. Seguindo o seu raciocínio, a autora também procura investigar a situação do conceito nas ciências naturais, opondo as tentativas dos homens de ciência do século XIX de sacrificar os traços pessoais a práticas precedentes. A autora esclarece que as investidas desses homens de ciência de supressão de traços individuais eram como que uma precondição para a criação de uma comunidade científica justa, harmoniosa e coerente, assim como uma garantia de alcançar a verdade científica.

Finalmente, a autora conclui o texto 1 com uma breve reflexão sobre como e por que a história do conceito de objetividade aperspectivística ganhou uma camada moral. Segundo a autora, a objetividade aperspectivística prescrevia certa indiferença e desapego por tudo o que é pessoal. Os cientistas deveriam não apenas abandonar tudo o que lhes é próprio, mas também esquecer todo e qualquer reconhecimento de si mesmos. Ademais, os valores da objetividade aperspectivística contribuíram para que os cientistas pautassem a sua conduta em métodos mecânicos e observações morais. A par dessas informações, o primeiro artigo do livro diz-nos que a objetividade que Lorraine Daston nos apresenta como tendo uma história tem como base as seguintes críticas: em primeiro lugar, a objetividade nas ciências não é um “dado trans-histórico” (p. 16) e que busca “a estrutura última da realidade” (p. 17); e, em segundo lugar, a objetividade não é mecânica e que visa suprimir “a propensão universal humana de julgar e estetizar” (p. 17).

O artigo 2 da obra Historicidade e objetividade, intitulado “A economia moral da ciência”, procura avaliar e desbancar uma antiga tradição que opõe fatos a valores. A espinha dorsal do presente texto é a ideia de que a ciência tem o que Lorraine Daston chama de “economia moral” e esta economia moral constitui o modo de conhecimento científico. Mais especificamente, a autora assevera que a ciência tem “certas formas de empirismo, quantificação e objetividade que não apenas são compatíveis com economias morais, elas exigem economias morais” (p. 38).

Segundo Daston, muito embora a ciência seja um exemplo de racionalidade e facticidade, ela não está isenta de afetos e emoções, valores, ideologias, normas e regularidades institucionais. Consoante a autora, “economias morais, ao contrário, são partes integrais da ciência: de suas fontes de inspiração, suas escolhas de temas e procedimentos, a peneira da evidência e seus padrões de explicação” (p. 42).

Embora as economias morais existam na ciência, para que elas servem e como elas estruturam as ideias-força de como os cientistas vêm a conhecer? Acerca dessas questões, Daston explica que uma economia moral é boa para a quantificação, o empirismo e a própria objetividade. As várias formas de quantificação têm economias morais. Os historiadores da ciência quantificam cientificamente, mas nem todos aspiram à exatidão matemática de suas mensurações, embora a precisão seja uma das virtudes mais observadas e louvadas entre eles. O empirismo também é um elemento fecundo em economias morais. Os três principais aspectos do empirismo da filosofia natural do século XVII, o testemunho, a facticidade e a novidade, apoiam-se e entrelaçam-se em valores e afetos. A objetividade, entretanto, é já uma economia moral. De acordo com Daston, duas de suas variantes mais importantes, ambas oriundas do século XIX, são: a “objetividade mecânica” e a “objetividade aperspectivística” (p. 59). A objetividade mecânica fundamenta-se em uma epistemologia da autenticidade e exige a eliminação de qualquer interferência pessoal no conjunto de observações da natureza. Já a objetividade aperspectivística assenta-se no lema “a visão a partir de lugar nenhum” de Thomas Nagel e combate as idiossincrasias de indivíduos e até de coletivos de pesquisadores em prol da verdade científica. Portanto, o elemento fundamental da discussão de Daston sobre as economias morais do conhecimento científico baseia-se na ideia de que o núcleo da ciência é moral e ressoa a voz do dever moral.

No artigo 3 da obra Historicidade e objetividade, intitulado “Uma história da objetividade”, Daston começa pontuando aspectos das três escolas que dominaram a história das ciências, a saber: a escola filosófica, a escola sociológica e a escola histórica. A escola filosófica é idealista e pensa a história das ciências como “a história da emergência e desaparecimento dos conceitos de natureza, dos sistemas metafísicos e dos quadros epistemológicos” (p. 69). Os historiadores filósofos da ciência associados a essa forma de pensar direcionam sua atenção para as teorias científicas e para a interlocução dessas teorias com outras áreas do conhecimento, como a filosofia e a teologia.

A escola sociológica concentra seu olhar sobre as estruturas sociais (tanto as microscópicas quanto as macroscópicas) da pesquisa científica. Os historiadores sociólogos da ciência que compartilham dessa tendência enxergam a ciência como uma instituição importante inserida na sociedade e que espelha a divisão dos poderes e a produção dos significados culturais. Já a escola histórica foca no local e no singular, aspectos que as outras duas escolas deixaram de lado. Os historiadores aliados a essa forma de pensar a ciência primam não apenas pelas teorias, mas também pelas práticas científicas e pelo trabalho nos arquivos. Outro aspecto basilar desse texto 3 é a apresentação do novo programa de Daston para a história das ciências. A autora finalmente explica o que entende por “epistemologia histórica” (Historical Epistemology): “a história das categorias que estruturam o nosso pensamento, que modelam nossa concepção da argumentação e da prova, que organizam nossas práticas, que validam nossas formas de explicação e que dotam cada uma dessas atividades de um significado simbólico e de valor efetivo” (p. 71). A singularidade da epistemologia histórica de Daston é que ela se relaciona à história das ideias, das práticas, dos afetos e emoções, dos valores e significados que organizam as economias morais das ciências. Daston estabelece novas perguntas para velhas questões. É principalmente nesse aspecto que a abordagem da autora se diferencia das demais que ordinariamente tomam a objetividade científica como desprovida de história.

No artigo 4 da obra Historicidade e Objetividade, intitulado “O que pode ser um objeto científico? Reflexões sobre monstros e meteoros”, Daston explica o que é e o que pode se tornar um objeto de pesquisa científica. A resposta da autora para esse questionamento é uma crítica construída com base na afirmação de Aristóteles de que as ciências se fazem a partir de regularidades: “daquilo que é sempre ou pelo maior período de tempo” (p. 79). Para Daston, porém, somente a regularidade não é suficiente para destacar um item do cotidiano ordinário e torná-lo objeto de investigação científica. É necessário ir além e observar “se uma classe de fenômenos é quantificável, manipulável, bela, experimentalmente repetível, universal, útil, publicamente observável, explicável, previsível, culturalmente significativa ou metafisicamente fundamental” (p. 79). Segundo Daston, esses critérios se justapõem e demonstram que a escolha dos objetos científicos vai além do simples critério de regularidade. Assim, um estudo sério do que é e do que não é objeto para a ciência deve levar em consideração esses critérios e como eles se sobrepõem à experiência normal do cotidiano e destacam alguns fenômenos como objeto de investigação e outros não. O objetivo de Daston nesse texto 4 é exatamente examinar, por meio de exemplos históricos, como e por que os objetos da filosofia preternatural se tornaram objetos de investigação da ciência em meados do século XVI e foram esquecidos no século XVIII. Segundo a autora, os objetos da categoria preternatural/além da natureza (sintetizados em dois grupos, monstros e meteoros) continuaram a existir nesse período, mas não despertaram mais interesse dos cientistas, porque os três princípios (ontológico, epistemológico e sensitivo) que mantinham tal categoria unida e em evidência foram desvelados. Daston defende que os objetos preternaturais foram escolhidos, em primeiro lugar, pelo princípio ontológico, que significa coisas e eventos fora da ordem cotidiana da natureza. Em segundo lugar, eles foram escolhidos pelo princípio epistemológico, que exige um trabalho mais pesado de coleta, explicação e fundamentação.

Em terceiro lugar, eles foram escolhidos pelo princípio da sensibilidade, que dá conta das maravilhas e, até mesmo, dos milagres e prodígios. De acordo com a autora, no entanto, a filosofia preternatural não teve morte espontânea. Os três princípios que a fundamentavam foram incorporados pela filosofia natural do final do século XVII e início do século XVIII. Além disso, a emergência de uma nova metafísica e uma nova sensibilidade dissolveu sua lógica, embora sem eliminar seus componentes, tornando-a irrelevante para os estudos científicos.

No artigo 5 da obra Historicidade e objetividade, intitulado “Sobre a observação científica”, Daston apresenta-nos a observação científica como um gênero epistêmico dotado de historicidade. A autora explica-nos que a observação é a prática científica basilar das ciências humanas e naturais. Embora tal prática não desperte o interesse das ciências enquanto objeto de investigação, alguns filósofos e positivistas lógicos se dedicaram a examiná-la no século XX, mais precisamente com intuito de fortalecer “a visão científica da observação como primitiva e passiva” (p. 91). Já os críticos da postura adotada por tais filósofos e positivistas lógicos defendiam a ideia de que as observações eram inevitavelmente entremeadas de juízos de valor e, por isso, não poderiam oferecer um julgamento imparcial quando entrassem em conflito. Segundo a autora, nas duas situações, a preocupação dos filósofos da ciência era epistemológica e estava assentada na filosofia de Kant, a saber: “haveria ou não haveria algo como uma observação científica não contaminada pela teoria?” (p. 91). No fundo, a preocupação desses filósofos era como higienizar a observação, evitando que ela fantasiasse e distorcesse os dados objetivos. Nesse texto 5, o objetivo de Daston é discutir as bases ontológicas da observação científica especializada, especialmente como esta reconhece e seleciona objetos para uma comunidade de cientistas.

Com efeito, como nos diz a autora, esta discussão ocupa algum espaço “entre epistemologia (que estuda como observadores científicos adquirem conhecimento acerca dos objetos por eles escolhidos) e metafísica (que investiga a realidade última das entidades observadas)” (p. 92). Assim, na perspectiva de Daston, a ontologia é algo como os cientistas preenchem o universo com percepções, retirando objetos do cotidiano comum, classificando-os e tornando-os objetos de investigação científica, e traduzindo- os em formas (textos-imagens-tabelas) ou numa linguagem popular a um coletivo ou a uma comunidade. De acordo com a autora, uma tentativa de historicização da observação científica pode ajudar a trazer à superfície práticas científicas tomadas até então como a-históricas e autoevidentes e conectar a história das ciências à história das sensibilidades e do eu, como também expandir o espaço das experiências científicas. Nesse sentido, o que constitui o mote desse texto 5 é a ideia que assim pode ser sintetizada: não existe ciência sem a prática da observação, e tampouco mundo articulado visível, audível ou táctil.

O artigo 6 da obra Historicidade e objetividade, intitulado “Science Studies e História das Ciências”, constitui-se como um desvio nessa coletânea, como afirma Lorraine Daston no Prefácio. Esse capítulo não explora episódios históricos, mas a situação de aproximação e estranhamento entre duas disciplinas que abordam o mesmo tema, neste caso, “ciência e tecnologia” (p. 109). O objetivo de Daston, nesse texto, é rastrear a situação de interdisciplinaridade e intercâmbio entre os Science Studies e a História das Ciências, bem como o presente e o futuro de ambos os campos. Assim, o texto divide-se em duas partes. A primeira parte traz um curto relato das conexões entre Science Studies e História das Ciências desde 1970. A segunda parte examina como seus caminhos se separaram na década de 1990 à medida que a História das Ciências se aproximava da História e os Science Studies se afastavam. A partir do relato sucinto da conexão entre os dois campos, com foco nos Science Studies, Daston destaca que os objetivos deste último campo se sintetizavam em “humanizar a ciência tornando-a mais social (ou pelo menos sociável) ou domesticá-la, também tornando-a mais sociável (ou pelo menos sociológica)” (p. 111), e se afastar de tudo o que “cheirasse a psicologia” (p. 111). De acordo com a autora, esses objetivos se apoiavam em dois princípios: em primeiro lugar, “a ênfase nas instituições e estruturas, não nos indivíduos e ações” (p. 111); e, em segundo lugar, o destaque de que “o social se baseava fortemente nas estratégias marxistas desmistificadoras da ideologia” (p. 112). Esses dois princípios sugerem, segundo Daston, que os Science Studies seguiram correntes distintas de pensamento: Karl Marx e Émile Durkheim, mas também a sociologia do conhecimento de Karl Mannhein, a filosofia-sociologia de Fleck, entre outras. Mas o componente-chave que estabeleceu o afastamento entre os Science Studies e a História das Ciências foi a leitura da obra A estrutura das revoluções científicas, de Thomas S. Kuhn, lançada em 1962. Assim, enquanto os Science Studies interpretaram a obra de Kuhn como uma exposição do relativismo, os historiadores das ciências, em contrapartida, extraíram lições diferentes e mais próximas da argumentação de Kuhn, a saber, que a História das Ciências não poderia mais ser entendida como progresso constante em busca de um télos e uma verdade última, mas deveria afastar-se das narrativas teleológicas. O ponto de aproximação entre os dois campos seria a crítica a uma visão positivista da história, que se definia por um método mecânico e apartado do social.

A outra metade do artigo 6 é dedicada à exposição dos motivos que levaram ao distanciamento entre os Sciences Studies e a História das Ciências. A começar com o esclarecimento do que é ciência e de como estudá-la, essa segunda parte prolonga a discussão a respeito do estranhamento entre os dois campos. Segundo Daston, os Science Studies se recusavam a aceitar a doutrina científica atual e concebiam as ideias de verdade e falsidade das proposições como insuficientes para sua aceitação. Além disso, eles achavam que uma explicação para ser completa deveria levar em consideração aspectos sociais, políticos e cognitivos. O motivo do distanciamento dos Sciences Studies com relação à História das Ciências foi a transparência dos relatos dos cientistas. Por meio de uma discussão pormenorizada sobre como os historiadores da ciência viam a ciência atual, Daston evidencia que eles eram menos desconfiados no que diz respeito às verdades e às falsidades das proposições, embora fossem extremamente descrentes quanto às narrativas da ciência do passado em relação à ciência presente. De acordo com Daston, talvez o principal motivo que levou ao distanciamento dos Science Studies da História das Ciências na década de 1990 tenha sido o debate acerca da “contextualização da ciência”. Enquanto o primeiro campo levantava a bandeira da “ciência em contexto” e contribuía para o fim da autonomia da ciência no que concerne à sociedade, o segundo campo também hasteava essa bandeira, mas explorava de forma mais detida o contexto histórico e trabalhava para sua ampliação e aprofundamento, incorporando novos conceitos, categorias e práticas das ciências sociais e, principalmente, da história.

No artigo 7 da obra Historicidade e objetividade, intitulado “Objetividade e imparcialidade: virtudes epistêmicas nas humanidades”, encontramos a desmistificação das relações entre as humanidades e as ciências que, por mais de um século, foram marcadas pelas oposições “Geistes versus Naturwissenschaften, ideográficas versus nomotéticas, interpretativas versus exploratórias, orientadas para o passado versus orientadas para o futuro” (p. 127). De acordo com Daston, desde pelo menos o século XVI, as humanidades e as ciências compartilham “métodos, instituições, ideias e virtudes epistêmicas” (p. 127). Imparcialidade e objetividade são duas das virtudes epistêmicas amplamente compartilhadas no século XIX2. Começando com uma sentença lapidar do jovem Nietzsche em sua II Consideração extemporânea: “Objetividade e justiça não tem nada a ver uma com a outra” (Nietzsche, 2017, p. 90), Daston apresenta-nos a crítica que o filósofo fez aos valores da imparcialidade e da objetividade, assim como aos estabelecimentos de ensino de seu tempo que supervalorizaram tais virtudes epistêmicas e as trouxeram para as humanidades. Segundo a autora, quando a história se tornou uma ciência empírica no século XIX, esses valores entraram em concussão e Nietzsche foi quem melhor percebeu os choques. O objetivo de Daston, nesse texto, é mostrar que os valores da imparcialidade e objetividade têm histórias próprias e precisam ser problematizadas.

Assim, Daston faz um esboço dos objetivos da imparcialidade e da objetividade na história, evidenciando como a imparcialidade foi difundida e praticada por historiadores ao longo dos séculos XVIII e XIX, especialmente em favor de uma história dos estados-nação. A autora assinala que, no século XVIII, a história consistia em narrativas dos eventos e das vidas dos grandes homens apresentadas como exemplos para formação do julgamento e do caráter do leitor. Nesse modelo de história, a imparcialidade não significava neutralidade de valor por parte do historiador, mas sim não tomada de partido de nenhuma das partes envolvidas na história – não engajamento político –, com objetivo de alcançar conclusões sólidas acerca de guerras e conflitos políticos do passado. Assim, por exemplo, Leopold von Ranke é um dos mais importantes historiadores associados a essa doutrina da imparcialidade. Heinrich von Sybel e Georg Gervinius, posteriormente, criticaram Ranke por sua imparcialidade e neutralidade. O jovem Nietzsche também teceu duras críticas ao historiador prussiano por sua imparcialidade e autoimposta “objetividade de eunuco”.

A sequência do texto 7 apresenta as técnicas da objetividade aplicadas à história, bem como certos aspectos do historiador objetivo. No centro do sentido de objetividade dos historiadores do século XIX está “o forte sentimento de restrição científica” (p. 133), que julgava até que ponto a evidência em mãos poderia ir. Daston constata que tanto os métodos e as técnicas da crítica histórica quanto certas atitudes objetivas do historiador diante de seu objeto assentam- se na polêmica entre filólogos clássicos e historiadores da antiguidade a respeito das declarações metodológicas de Tucídides em seus discursos. Segundo Daston, as duas principais questões que mobilizaram os estudos acadêmicos sobre Tucídides foram estas: “primeiro, em que medida o próprio Tucídides estava conscientemente aspirando ao padrão de história objetiva?; segundo, ele se manteve fiel a esse padrão, especialmente ao relatar discursos?” (p. 136). A autora explica que as palavras objetividade e subjetividade são produtos de meados do século XIX, logo a importação desses termos para as análises da obra e do método histórico de Tucídides é um equívoco. Daston recupera ainda a crítica de Nietzsche à religião ascética da objetividade que dominou e formatou os historiadores no século XIX. A autora está preocupada em entender como, em tão pouco tempo, o valor da objetividade se tornou uma virtude superestimada entre os historiadores. Nietzsche é a chave interpretativa para essa questão. O filósofo alemão farejou no culto da objetividade um ar de “autoengano”, “superstição” e “mitologia”, uma falsa religião e uma falsa fé. Nietzsche encarava a religião da objetividade e seus sectários como um verdadeiro problema, porque tal religião pregava a autorrestrição, o autossacrifício e exalava um odor desagradável de ascetismo que rapidamente se espalhara pelas instituições de ensino da Alemanha de seu tempo.

Por meio da exposição sistemática dos sete artigos que integram a obra Historicidade e objetividade, concluímos que Lorraine Daston compreende a objetividade de forma distinta daquela comumente compartilhada pelas doutrinas objetivistas, que associam à postura objetivista a ideia de que é possível “ver os fatos como eles realmente são”, isto é, conhecer a realidade em si e por si mesma. Daston consegue distanciar-se dessa tendência ao inserir a objetividade em uma perspectiva histórica, em um modo por meio do qual a objetividade não pode ser vista desvinculada de uma interpretação pluralista e multiforme da realidade. Nos sete artigos que constam nessa coletânea, interessa a Daston principalmente dissociar a objetividade – na área da História das Ciências, em particular – de concepções que a tomam como um dado a-histórico. Nesse sentido, no programa epistemológico dastoniano, à noção de objetividade é adicionada uma faceta interpretativa, já que a sua epistemologia histórica se relaciona à história das ideias e das práticas, dos afetos e das emoções, da moral e dos valores. Assim, Daston demonstra que a objetividade da ciência é tanto mais histórica quanto mais ela se mostrar relacionada aos muitos pontos de vista e às interpretações humanas.

Dessa maneira, consideramos essa obra como uma importante contribuição não só para os estudos pertinentes à historiografia, história, filosofia e sociologia das ciências e relacionados à historiografia, filosofia e teoria da história, mas também para clareamento de questões que envolvem o complexo e multifacetado conceito de objetividade científica, abrindo e iluminando o caminho para outras pesquisas, discussões e questionamentos sobre esse tema.

Referências

ALMEIDA, T.; IEGELSKI, F. 2017. História das Ciências, Teoria da História e História Intelectual. In: L. DASTON. Historicidade e objetividade. Tradução: Derley Menezes Alves e Francine Iegelski (org. Tiago Santos Almeida). São Paulo, LiberArs, p. 11-14.

DASTON, L.; GALISON, P. 2007. Objectivity. New York, Zone Books, 501 p.

DASTON, L. 2016. The Truth in the Leaves. Max Planck Research.

ViewPoint_History of Science. Berlin, 26 Apr., p. 10-15. Disponível em: https://www.mpiwg-berlin.mpg.de/content/daston. Acesso em: 18/05/2018.

NIETZSCHE, F. 2017. Segunda consideração extemporânea: Sobre a utilidade e a desvantagem da História para a vida. Organização e tradução: André Itaparica. São Paulo, Hedra, p. 29-146.

Notas

2 A título de esclarecimento, a escolha dos sete artigos que integram a obra em análise não foi feita por Lorraine Daston, mas pelo historiador brasileiro Tiago Santos Almeida. No prefácio, Daston explica que os sete títulos agrupados na coletânea foram escritos em diferentes momentos de sua trajetória intelectual e profissional e que alguns deles não trazem respostas satisfatórias a uma série de desconfortos teóricos e interpretativos suscitados pelo problema da objetividade nas ciências. No entanto, exatamente por essa razão, ela espera que os leitores brasileiros compreendam cada artigo como evidência de uma mente em ação, que se esforça para entender aspectos da história do conceito de objetividade científica.

2 Sobre a certeza, a precisão, a verdade e a objetividade como virtudes epistêmicas fundamentais da ciência, como características particulares que definem a identidade da ciência e a prática científica, ver também Daston (2016).

Raylane Marques Sousa  – Universidade de Brasília. Programa de Pós-Graduação em História. Campus Darcy Ribeiro, Instituto Central de Ciências, Norte, Bloco A, Subsolo (ASS 679-690), 70910-900, Brasília, DF, Brasil.

Navegantes, bandeirantes, diplomatas: Um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil – GOES FILHO (HU)

GOES FILHO, S.S. Navegantes, bandeirantes, diplomatas: Um ensaio sobre a formação das fronteiras do Brasil. Brasília: Ed. FUNAG, 2015. 412 p. Resenha de: MENDES, Marcos Vinícios Isaias. Fronteiras e Relações Internacionais: notas históricas sobre o caso brasileiro. História Unisinos 22(4):697-701, Novembro/Dezembro 2018.

Introdução A origem do livro do diplomata brasileiro Synesio Sampaio Goes Filho remonta à tese Aspectos da ocupação da Amazônia: de Tordesilhas ao Acordo de Cooperação Amazônica, aprovada pela Banca Examinadora do Curso de Altos Estudos (CAE) do Instituto Rio Branco (IRBr), em 1982. Já no prefácio do livro, elaborado por Arno Wehling, presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1999, tem-se a ideia da grande relevância do livro para a história do Brasil. De acordo com o embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima (p. 6), presidente da FUNAG (Fundação Alexandre de Gusmão), o “livro é um clássico da nossa História Diplomática”. Tanto no prefácio quanto na apresentação do livro, sua importância é reiterada inúmeras vezes como obra imprescindível para estudantes da área de Relações Internacionais, diplomatas e pesquisadores da História do Brasil.

Nesses termos, o título do livro sugere não apenas o seu conteúdo como também a estrutura e organização da obra. Os Navegantes referem-se às figuras que, ao “descobrirem” o território brasileiro na época das grandes navegações, configuraram as etapas iniciais da colonização. Na prática, serão destacados, ao longo da obra, Cristóvão Colombo, Américo Vespúcio e Pedro Álvares Cabral como os navegantes de maior relevo na história do Brasil e, sem dúvida, da América. Aos navegantes é dedicada a primeira parte do livro: “A descoberta do continente”. Em uma segunda etapa de ocupação e exploração do território, destacaram- se os bandeirantes, quer seja através das tradicionais (e iniciais) bandeiras, com finalidades duplas de caça ao índio e pesquisa de metais preciosos, quer seja através de sua evolução natural, as monções, que predominaram na expansão para o Centro-Oeste e para o Norte e região amazônica. Aos bandeirantes é dedicada a segunda parte do livro: “A ocupação do território brasileiro”. Em um desenvolvimento natural da ação bandeirante, surge a necessidade do traçado das fronteiras. É quando a figura do diplomata se consolida como fundamental. “A formação das fronteiras do Brasil concebida como um diálogo entre o bandeirante e o diplomata, tipos emblemáticos, respectivamente, da ação privada e da etapa, o livro trata dos três mais proeminentes diplomatas brasileiros no que tange ao tema das fronteiras: Alexandre de Gusmão, Duarte da Ponte Ribeiro e o Barão do Rio Branco. A eles é dedicada a terceira e última parte do livro: “As negociações dos limites terrestres”. Nesta resenha, que está dividida em três partes, além desta introdução, serão tratados em linhas gerais os principais temas em debate no livro de Goes Filho. Sempre que viável, serão feitos comentários acerca das implicações dos temas tratados para a área de Relações Internacionais.

Em termos de organização, cada parte desse texto segue exatamente a denominação apresentada no referido livro. Parte I: a descoberta do continente O capítulo 1 do livro é dedicado às viagens de Cristóvão Colombo. São apresentados dados biográficos deste navegador, como aspectos de sua personalidade e origem, por exemplo, sua extrema religiosidade. Descrevem-se alguns pormenores de como surgiu a ideia de “chegar ao oriente navegando pelo ocidente”, crucial para a descoberta do continente americano. Dentre as causas de tal ideia, o autor explora dois possíveis argumentos: primeiro, a crença de Colombo na esfericidade da Terra; segundo, a possibilidade de que o navegador já tivesse viajado à América (anteriormente), tendo sido o único sobrevivente na embarcação que lá estivera. São tratados ainda aspectos do relacionamento de Colombo com a Coroa espanhola, que o abandonou em seus últimos dias de vida. Colombo faleceria em 1506, praticamente “esquecido pelos divulgadores das descobertas” (p. 59).

No capítulo 2, são tratadas as primeiras desavenças entre os reinos da Espanha e de Portugal pela posse das novas terras. Narram-se as negociações e origem do famoso Tratado de Tordesilhas, “a peça mais importante da nossa história diplomática” (p. 70). Na expressão de Capistrano de Abreu, “o primeiro ato relevante da diplomacia moderna, porque negociado entre Estados, e não, como era normal na Idade Média, decidido pelo Papa” (p. 70). O texto relata em detalhes as visões de ambos os reinos e suas implicações para a negociação do tratado. Ressalta-se a grande dificuldade em fazer medições exatas nessa época, motivo que, por um lado, fez com que esse tratado apresentasse grandes doses de amadorismo técnico e, por outro, motivou a evolução de disciplinas como a Geografia e a Cartografia. Em resumo, o texto aborda as inúmeras modificações na posição da linha de Tordesilhas e os desentendimentos envolvidos nessas negociações.

O capítulo 3 trata de um dos personagens mais controversos da época dos descobrimentos, Américo Vespúcio. De acordo com o livro, “Seu mérito […] está na segurança do julgamento, no conhecimento da geografia antiga que lhe fizeram ver e lhe permitiram afirmar em primeira mão que o mundo descoberto por Colombo era um mundo inteiramente distinto da Ásia. Esta visão genial o coloca acima de todos os navegadores de seu tempo” (p. 78). Vale ressaltar que Vespúcio viveu em Florença, na época em que a cidade era um dos grandes centros culturais do mundo, berço de nomes como Botticelli, Leonardo da Vinci, Michelangelo e Maquiavel. O capítulo também se concentra nas cartas de Vespúcio, que descreviam as novas descobertas, i.e., o Brasil. O livro trata da riqueza dessas cartas que se tornaram “best-sellers de seu tempo”. Outra questão colocada por Goes Filho diz respeito à autenticidade de tais cartas, sendo que a maioria dos acadêmicos considera hoje “serem hábeis falsificações históricas as cartas publicadas no século XVI, a Mundus Novus e a Lettera” (p. 84). Por fim, nesse capítulo também são narrados alguns relatos das chegadas dos espanhóis à costa norte da América, precisamente à Flórida.

O último capítulo da parte I aborda Pedro Álvares Cabral. O capítulo inicia com uma breve análise sobre o período de dominação árabe sobre a Península Ibérica, até a conquista de Ceuta pelos portugueses, em 1415, por D. João I, pai de D. Pedro I. Também trata de Pero Vaz de Caminha, o “escritor” a bordo do navio de Cabral: “Caminha, vereador no Porto, era um bom exemplo do burguês culto e atualizado de seu tempo” (p. 101). Nesse capítulo, fica claro um dos grandes esforços de Goes Filho: a riqueza descritiva, observada, por exemplo, pelo número e profundidade dos detalhes apresentados, não apenas em datas, como também como também dos atores históricos, de suas funções na chegada de Cabral ao Brasil e de historiadores antigos e contemporâneos que trataram do tema. Ou seja, um esforço narrativo-interpretativo bastante singular. Segundo o autor, se alguém pisara naquele território antes de 22 de abril de 1500, “o fato tem importância histórica muito diminuta perante o desembarque bem documentado de Cabral em Porto Seguro: aí nasce o Brasil”. A partir desse capítulo, o autor passa a se utilizar corriqueiramente de documentos históricos para enriquecer e robustecer o caráter historiográfico da obra.

Parte II: a ocupação do território brasileiro O capítulo 5 faz um longo estudo sobre as bandeiras e analisa como essa prática superou gradativamente os limites da linha de Tordesilhas. Entre os historiadores, há ras), mas costuma-se considerar “entradas” as expedições organizadas pelo governo e “bandeiras” as incursões de caráter puramente particular; apesar disso, o autor prefere adotar somente o termo bandeiras, haja vista que muitas vezes o caráter público e privado dessas expedições se confundia. Segundo Goes Filho, houve fortalecimento da prática das bandeiras no período na União Ibérica, de 1580 a 1640, pois basicamente os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas estavam eliminados. Novamente, aqui o autor faz referência a um grande número de documentos, como cartas, mapas, livros e leis, datados do período que está descrevendo, para justificar seu texto.

Sobre a historiografia das bandeiras, vale a pena analisar o excerto:

Apesar de boa parte da expansão geográfica do Brasil ter-se feito em torno das bandeiras, esse movimento, o “único aspecto original de nossa história”, segundo Euclides da Cunha, produziu pouquíssima historiografia até a década de 1920. Duas razões principais explicam essa situação. Em primeiro lugar, os bandeirantes não documentavam suas viagens, nem escreviam memórias; […] Depois, por serem em geral obscuras jornadas de mamelucos, não podiam as bandeiras atrair a historiografia oficial do período colonial (p. 128).

Ou seja, em vista da falta de material de pesquisa historiográfica produzido pelos bandeirantes, foi a “literatura jesuítica antibandeirante que se constituiu em fonte básica para muitos historiadores” (p. 129). Em termos práticos, um dos elementos que essa literatura sugeriu foi a importância das bandeiras para o desenvolvimento/ enriquecimento da região de São Paulo. A prática das bandeiras também contribuiu para a ideia de fronteiras naturais (que seguem o curso de rios ou acidentes geográficos e montanhas) no delineamento do mapa brasileiro, tema que será tratado mais adiante. Em resumo, o bandeirismo teve duas funções: (1) espontânea, provocada por razões econômicas locais (caça ao índio e pesquisa de metais preciosos) e (2) política, a fim de reconhecer e ocupar territórios, alargando as fronteiras. A segunda é considerada por Goes Filho como a função “mais nobre” da prática.

O capítulo 6 aborda o delineamento das fronteiras em torno do Rio da Prata. Ainda que este rio tenha sido descoberto pelos portugueses, o domínio espanhol na região vigorou desde muito cedo, especialmente a partir da fundação de Buenos Aires em 1536. Um dos resultados das tentativas portuguesas de conquista de Buenos Aires foi a fundação da atual cidade uruguaia Colonia del Sacramento. “A armada de D. Manuel Lobo (português) partiu com cerca de quatrocentas pessoas, em cinco embarcações. Em janeiro de 1680, quase em frente a Buenos Aires, desembarcou na margem oposta e deu início às primeiras construções da Nova Colônia do Santíssimo Sacramento” (p. 163). Em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri, Portugal trocaria essa fortificação pela região dos Sete Povos das Missões (no oeste do Rio Grande do Sul). Além disso, esse tratado “legalizou a posse das grandes áreas ocupadas, o Centro- Oeste e o Norte na atual divisão regional do Brasil” (p. 164). Ainda haverá divergências entre Espanha e Portugal nessa região, inclusive entre 1821 e 1828, na disputa pela chamada “Província Cisplatina”, que neste último ano se converteria no Uruguai.

O capítulo 7 antecipa a definição das fronteiras na Bacia Amazônica. Na realidade, “o rio Amazonas foi descoberto em 1499 ou 1500 por navegantes a serviço da Espanha” (p. 167) e, a partir daí, sobretudo com o advento das monções do Norte, a região passou a ser progressivamente explorada, com o consequente avanço das ocupações portuguesas para bem além da linha de Tordesilhas.

Além disso, “nas proximidades da grande reentrância amazônica, havia estabelecimentos holandeses, ingleses, franceses […]. Só por volta de 1645, conseguiu-se expulsar todos os estrangeiros das proximidades do delta marajoara” (p. 171). Na terceira parte do livro, serão abordadas com mais detalhes as negociações fronteiriças com todos os vizinhos hispânicos do Brasil. No capítulo final desta segunda parte, Goes Filho analisa as monções, ou movimentos para Oeste. Enquanto as bandeiras foram o fenômeno de entrada marcante dos anos 1600, as monções foram o fenômeno característico dos anos 1700. “Diferente das bandeiras, as monções eram exclusivamente fluviais; seguiam roteiros fixos, passando por pontos conhecidos, onde, com o tempo, formavam-se arraiais; e tinham um único objetivo: chegar às minas de ouro dos rios Cuiabá e Guaporé” (p. 177). Porém, há também pontos de convergência entre as práticas: “são basicamente movimentos de expansão territorial: as bandeiras levaram ao conhecimento da terra em várias regiões do Brasil; as monções, garantiam o povoamento do centro do continente” (p. 178). O grande motivo que incentivou as monções − “que interessa mais do ponto de vista da formação das fronteiras − foi a descoberta de ouro no rio Guaporé, a cerca de 600 quilômetros a oeste de Cuiabá […] em 1734”.

Em 1742, estabeleceu-se a ligação fluvial com Belém, pelos rios Guaporé, Madeira e Amazonas, e, quatro anos depois, criou-se a capitania de Mato Grosso, com a determinação de se fundar um povoado à margem do Guaporé, por razões que hoje chamaríamos geopolíticas” (p. 183). A partir dos anos 1800, as monções começam a ser substituídas pelo ciclo do muar: “as viagens pelo Tietê, o Paraná e o Camapuã foram substituídas por outras que não são menos penosas, mas deixam maiores lucros. Parte-se de São Paulo com mulas carregadas; passa-se por Goiás, chegando-se a Mato Grosso, onde as mercadorias transportadas são vendidas” (p. 183). As monções do Norte e do Centro-Oeste acabam em simultâneo na 2ª metade do século XIX.

Parte III: As negociações dos limites terrestres O capítulo 9, intitulado “O mapa da colônia”, é um dos mais longos do livro. Em uma evolução cronológica, aborda-se o Tratado de Madri e suas negociações, para as quais o diplomata Alexandre de Gusmão foi o grande nome. Em seguida, é feita uma extensa biografia do diplomata, que é seguida pela didática apresentação dos interesses de Portugal e da Espanha no referido tratado.

Após isso, são apresentados os princípios gerais do Tratado de Madri, para, depois, ser apresentado o tratado que o substituiu, i.e., o Tratado de Santo Ildefonso, de 1777. Para as Relações Internacionais, talvez o aspecto mais importante do capítulo seja a cuidadosa descrição do método de trabalho e das características de Gusmão, que se cristalizaram na base da diplomacia brasileira, marcando até hoje as suas características: “Alexandre de Gusmão – o avô dos diplomatas brasileiros” (Araújo Jorge, 1916, Embaixador Brasileiro) […] não só desenhou o mapa do Brasil, na expressão de Synesio, como também consagrou, num mundo onde prevalecia a força, os valores da pesquisa, da diplomacia e do direito, que viriam marcar o início do pensamento diplomático brasileiro” (p. 8). Dentre os princípios do Tratado de Madri, observam- se dois mais relevantes: “as colunas estruturais do acordo seriam os princípios do uti possidetis (‘cada parte há de ficar com o que atualmente possui’) e das fronteiras naturais (‘os limites dos dois Domínios […] são a origem e o curso dos rios, e os montes mais notáveis’)” (p. 226). Gusmão é tratado ao longo de todo o capítulo como o principal articulador e negociador do Tratado de Madri. Sobre a evolução do Tratado de Madri, aborda-se o principal motivo da assinatura do Tratado de Santo Ildefonso: acabar de vez com as disputas entre Portugal e Espanha pelo controle dos Sete Povos das Missões, no sul do Brasil.

O capítulo 10 é denominado “As fronteiras do império” e se propõe a tratar as negociações de fronteiras após o Tratado de Santo Ildefonso. O autor descreve os vários conflitos existentes entre os países hispânicos sul- -americanos sobre a demarcação de suas fronteiras, a que ele chama “incertezas intra-hispânicas”, que podem ser ilustradas pelo excerto: “entre 1811 e 1824, o recém-instaurado Império do Brasil teve dificuldade em identificar qual era, em cada trecho da imensa fronteira amazônica, o seu vizinho” (p. 242). É aí que entra em jogo outro grande nome da diplomacia brasileira: Duarte da Ponte Ribeiro, diplomata português naturalizado brasileiro, profundo conhecedor e estudioso dos limites brasileiros. Para Goes Filho, esse diplomata era “um estudioso das questões de limites, um hábil negociador, talvez o diplomata que mais contribuiu para a formulação e execução da bem-sucedida política de fronteiras do Império” (p. 249), especialmente por “aconselhar o uso do uti possidetis para resolver questões de fronteira com nossos vizinhos” (p. 251). São apresentadas, então, as justificativas jurídicas para as negociações de fronteiras, segundo as quais se justifica por que o Brasil não apresentou tantos problemas nessas negociações (pois usou o uti possidetis de facto) quanto seus vizinhos hispânicos (que usaram o uti possidetis juris), nas negociações entre eles.

(1) uti possidetis juris (de derecho) – significaria comparar os documentos possuídos sobre certa região, por cada um dos Estados em que foram transformadas as antigas unidades administrativas dos Vice-Reinados […] deriva dos documentos territoriais que cada nação pudesse produzir, quando de sua independência (p. 247) – Princípio aplicado pelos países da América do Sul hispânica na negociação de fronteiras entre eles; (2) uti possidetis de facto (ou de hecho) – Baseado na ideia de que “cada parte há de ficar com o que atualmente possui”; “o princípio adapta-se como uma luva aos interesses da nação mais expansionista; é a resposta diplomática dinâmica a uma política territorial também dinâmica (p. 248) – Princípio aplicado pelo Brasil na negociação de fronteiras com seus vizinhos.

Segundo Goes Filho, “na América do Sul o Brasil é hoje o único país que não tem problema de limites. Seria o princípio mais prático do que o do uti possidetis juris, utilizado pelos nossos vizinhos; teria sido a diplomacia brasileira mais habilidosa; ou estaria o país em mais forte posição negociadora? É possível justificar resposta positiva a cada indagação; provavelmente houve concorrência dos três fatos” (p. 248). Ainda neste capítulo, são descritas em detalhes as negociações fronteiriças com Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Argentina, Uruguai (que passou por uma guerra civil interna) e Paraguai (inclusive abordando a Guerra do Paraguai e suas consequências para os envolvidos).

O capítulo 11 encerra o livro, tratando da importância do “Barão da República”, ou Barão do Rio Branco, sobretudo para a resolução de várias questões pendentes no que tange às fronteiras brasileiras. Dentre elas: a “Questão de Palmas” (1895), sobre a demarcação da fronteira com a Argentina. Arbitrada por um norte-americano, a decisão foi favorável ao Brasil. Em seguida, aborda a “Questão do Amapá” (1900), em que houve impasses com a França dada a incerteza quanto à borda Brasil-Guiana Francesa. Aborda ainda a “Questão do Pirara” (1904), com a Guiana Inglesa.

Dois outros tratados são discutidos nessa parte final do livro: o tratado de 1904 com o Equador, e o de 1907 com a Colômbia. A negociação dessas fronteiras não foi problemática, especialmente se comparadas às outras fronteiras do Brasil. Também se aborda o Tratado de 1909 com o Peru: “na República, nosso maior problema de limites na Amazônia, pela extensão do território envolvido, foi com o Peru, e não com a Bolívia, como se poderia pensar pela gravidade que chegou a assumir a questão acreana” (p. 341). Além disso, o capítulo aborda o Tratado de 1909 com o Uruguai. Através dele, o Brasil cede ao vizinho os domínios sobre a lagoa Mirim e o rio Jaguarão, o que muitos consideraram um gesto generoso de Rio Branco, mas ele também levou em consideração um racional geopolítico, uma vez que a Argentina também tinha interesse na região, i.e., “queria domínio total da boca do Prata” (p. 346).

Por fim, há uma ênfase no “Método de Rio Branco para negociação”: “as defesas arbitrais e as exposições de motivos em que justifica os acordos de limites assinados são bem pensadas e bem escritas: não há palavras inabituais nem jargão técnico. Historiam a questão, tornam inteligíveis as negociações, explicam o texto acordado.

Os livros brasileiros que tratam de questões de fronteira o que fazem é repetir, resumir ou glosar o que o Barão redigiu” (p. 347). O livro de Goes Filho é, portanto, um excelente ilustrativo da importância do corpo de diplomatas brasileiros para a defesa dos interesses e, no caso específico, definição das fronteiras da nação. É imprescindível a qualquer historiador do Brasil, diplomata, estudante ou pesquisador de Relações Internacionais.

Marcos Vinícius Isaias Mendes – Doutorando em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília. Instituto de Relações Internacionais (IRel-UnB). Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, 70904-970, Brasília, DF, Brasil. Este trabalho foi produzido com o auxílio de bolsa de doutorado fornecida pela CAPES. E-mail: mvinicius.imendes@gmail.com.

Rumos da História. Vitória, v.1, n.9, nov. 2018 / mai. 2019.

APRESENTAÇÃO

Leonardo Bis Santos

Artigos

 

Cadernos do Tempo Presente. São Cristóvão, v.9 n.1, 2018.

jan- jun 2018: Revista Cadernos do Tempo Presente

Artigos

Publicado: 2018-11-28

Resgate – Revista Interdisciplinar de Cultura. Campinas, v.26, n.2, jul./dez. [36], 2018.

Dossiê Fotografia, Arte e História na atualidade: relações praticadas

Organização: Profa. Dra. Sylvia Helena Furegatti e Profa. Dra. Iara Lis Franco Schiavinatto (Instituto de Artes – Unicamp).

APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ

RELATO DE EXPERIÊNCIA

ENTREVISTA

PUBLICADO: 2018-10-16

Passagens – Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica. Niterói, v.10, n.3, set./dez., 2018.

Editorial

Artigos

Resenha

Colaboradores deste Número

Publicado: 2018-10-15

Vestígios. Belo Horizonte, v. 12 n. 1 (2018)

ARTIGOS

PUBLICADO: 2018-10-15

Vestígios. Belo Horizonte, v.12 n.1, 2018.

Expediente

ARTIGOS

PUBLICADO: 2018-10-15

Boletim Historiar. São Cristóvão, v.5, n.03, 2018.

Artigos

Resenhas

Publicado: 2018-10-10

Manduarisawa. Manaus, v.2, n.2, 2018.

Revoluções e revoltas no século XX

DOSSIÊ TEMÁTICO “HISTÓRIAS DAS VIOLÊNCIAS DE GÊNERO CONTRA AS MULHERES”

ARTIGO LIVRE

PESQUISA EM EXPERIÊNCIA EM DOCÊNCIA

Publicado: 2018-10-03

 

Manduarisawa. Manaus, v.2, n.2, 2018.

Revoluções e revoltas no século XX

DOSSIÊ TEMÁTICO

ARTIGO LIVRE

PESQUISA EM EXPERIÊNCIA EM DOCÊNCIA

Publicado: 2018-10-03

Governança dos Arquivos: desafios para a Gestão e para a Memória / Revista do Arquivo / 2018

Governança Arquivística: um território a ser explorado

A teoria e a prática arquivísticas ganharam novas dinâmicas nas últimas três décadas. Esse processo, diverso na sua intensidade e complexidade, é mais evidente em algumas realidades sociais do que em outras. Porém, perpassa várias “tradições arquivísticas” com impactos na gestão de instituições e serviços arquivísticos, na produção científica em Arquivologia e na formação e perfil do arquivista.

Esses redesenhos na Arquivologia ocorrem sob forte influência das tecnologias da informação, da emergência de novos modelos organizacionais, dos princípios do governo aberto e das crescentes demandas sociais pelo direito à informação, à memória e à privacidade.

Diversas interpretações apontam para uma ideia de Arquivologia como ciência ou disciplina científica calcada em princípios e técnicas voltados à produção, avaliação, aquisição, classificação, descrição, preservação e difusão dos arquivos. Cada uma dessas funções abordadas por Couture e Rousseau (1998) requer várias ações por parte do arquivista. Subjacente a todas elas, podemos reconhecer um ato incontornável à sua viabilidade: a gestão.

A gestão é um processo inerente ao fazer arquivístico. A gestão arquivística pode ser visualizada como o conjunto de aspectos teórico-operacionais mobilizados pelo arquivista e outros profissionais que atuam em um serviço ou uma instituição arquivística com vistas à eficiência e eficácia dessas organizações. Pressupõe um diálogo frequente com uma Ciência que é fundamental para a Arquivologia: a Administração.

O planejamento, execução e avaliação das diversas funções arquivísticas requer, em variados graus, métodos e técnicas da Ciência da Administração. Apesar de a Administração perpassar aspectos macro e microarquivísticos, a Arquivologia parece atualmente dialogar menos com essa área do que com outras que também lhe são próximas. Talvez a dimensão gerencial tão visceralmente presente na prática arquivística tenha, por isso mesmo, se tornado um pouco “naturalizada” na cultura profissional de grande parte dos arquivistas.

A literatura de Arquivologia, dentro e fora do Brasil, apresenta várias lacunas quando o tema é a gestão arquivística. A área carece, de modo geral, de um conjunto de noções consistentes e sistematizadas que sustentem – amparadas em métodos e técnicas da Administração – as práticas da gestão arquivística.

Reside aí uma certa contradição já que o arquivista é inevitavelmente um gestor de um determinado tipo de recurso vital às organizações: as informações registradas nos documentos que derivam das suas ações. A gestão desses recursos arquivísticos transcende a uma concepção redutora de organização dos arquivos, seja qual for o seu momento no ciclo documental. Gerenciar serviços e instituições arquivísticos é também administrar pessoas, tecnologias da informação, infraestrutura física, legislação, orçamento, ademais de requerer um grande conhecimento do contexto contemporâneo das organizações e suas alterações ao longo do tempo.

Gerenciar implica gestos de poder. A gestão arquivística, o “governo dos arquivos”, insere-se no exercício da autoridade do serviço ou da instituição arquivística para o cumprimento da sua missão. A autoridade arquivística legal, se não legitimada por uma adequada gestão arquivística, tende a ser fragilizada.

Em termos de administração pública, serviço e instituição arquivísticos podem ser visualizadas mediante o que apresentam de comum assim como as suas singularidades.

“consideram-se instituições arquivísticas públicas aquelas organizações cuja atividade-fim é a gestão, recolhimento, preservação e acesso de documentos produzidos por uma dada esfera governamental … diferenciam-se dos serviços arquivísticos governamentais… que se referem às unidades administrativas incumbidas de funções arquivísticas nos diversos órgãos da administração pública, no âmbito dos quais se configuram como atividades-meio …” Jardim (2012, p.403),

A noção de Governança é historicamente recente. Data do início dos anos de 1990, impulsionada pelo Banco Mundial, sob a perspectiva de novas formas de exercício da capacidade dos governos para produzir, implementar e avaliar políticas públicas. Nas três últimas décadas ganhou mais contornos teóricos, sendo aplicada em diversos cenários organizacionais, tanto da administração pública quanto no setor privado. Como tal, é frequente encontramos termos como Governança Corporativa, Governança de Tecnologia da Informação, Governança informacional, Governança ambiental, Governança Fiscal e Tributária etc.

Conforme Gonçalves (2006, p.14), Governança “diz respeito aos meios e processos que são utilizados para produzir resultados eficazes” e tem um amplo espectro:

Pode englobar dimensões presentes na governabilidade, mas vai além. Veja-se, por exemplo, a definição de Melo (apud Santos, 1997, p. 341): “refere-se ao modus operandi das políticas governamentais – que inclui, dentre outras, questões ligadas ao formato político-institucional do processo decisório, à definição do mix apropriado de financiamento de políticas e ao alcance geral dos programas”. Como bem salienta Santos (1997, p. 341) “o conceito (de governança) não se restringe, contudo, aos aspectos gerenciais e administrativos do Estado, tampouco ao funcionamento eficaz do aparelho de Estado” (Gonçalves, 2006, p.3).

Além dos avanços no setor privado, a Governança ganha cada vez mais espaço em várias instâncias do setor público. Uma das instituições públicas com grande comprometimento com o tema é o Tribunal de Contas da União (TCU). Ao fundamentar o seu “Referencial Básico de Governança”, o TCU distingue e correlaciona duas categorias intrinsecamente relacionadas: Gestão e Governança.

Enquanto a gestão é inerente e integrada aos processos organizacionais, sendo responsável pelo planejamento, execução, controle, ação, enfim, pelo manejo dos recursos e poderes colocados à disposição de órgãos e entidades para a consecução de seus objetivos, a governança provê direcionamento, monitora, supervisiona e avalia a atuação da gestão, com vistas ao atendimento das necessidades e expectativas dos cidadãos e demais partes interessadas. (2014, p.32)

Apesar de ganhar mais densidade teórica e muitos relatos de “boas práticas” que sustentam sua pertinência teórica, Governança é uma categoria analítica e um conjunto de métodos a ser mais aprofundado em diversas áreas de conhecimento. Porém, essas limitações não impedem a busca por modelos de governança aplicáveis a instituições e serviços arquivísticos.

Da mesma forma que Gestão Arquivística, Governança Arquivística não é um tema contemplado frequentemente na literatura da área. No entanto, vem sendo objeto de interesse recente. Predominam as abordagens sobre a gestão de documentos como instrumento de apoio à governança. Não são, porém, muito evidentes os estudos sobre a governança como referência teórica e operacional para a gestão arquivística.

As possibilidades de construção de modelos de Governança Arquivística requerem pesquisas e maior conhecimento de “boas práticas” nos diversos lócus do fazer arquivístico.

No cenário macroarquivístico, especialmente das políticas públicas, a noção de Governança pode favorecer novos modos de concepção e implementação por parte das instituições arquivísticas e outros atores.

Os atuais cenários arquivísticos e organizacionais são muitos distintos, por exemplo, daqueles formulados nos anos de 1970. Naquele período, a UNESCO patrocinou o modelo de Sistemas Nacionais de Arquivos que foi experimentado em diversas realidades sem alcançar, de maneira geral, o sucesso pretendido. Não por acaso, após os anos de 1980, a ênfase se deslocou, inclusive nos textos da UNESCO, da ideia de sistemas nacionais de informação para a noção de políticas públicas de informação. Políticas arquivísticas e seus recursos de instrumentalização como os sistemas e redes merecem ser (re)discutidos à luz dos desafios arquivísticos atuais. A perspectivas sugeridas pela noção de Governança podem favorecer essas discussões e promover inovações nos balizamentos teóricos e desdobramentos operacionais de políticas e sistemas / redes arquivísticos.

A noção de Governança Arquivística, no contexto das instituições arquivísticas, envolve um conjunto de diálogos, processos e produtos relacionados a vários atores e agências no Estado e da sociedade. Inclui não apenas aqueles segmentos diretamente relacionados a dimensões especificamente arquivísticas, mas também os atores, cujas ações perpassam, direta ou indiretamente, as políticas e práticas dos serviços e instituições arquivísticos. É o caso, entre outros, de políticas e ações relacionadas a Governo Aberto, Dados Abertos, Proteção de Dados Pessoais, Programas de Digitalização das Administrações Públicas, Patrimônio Cultural, Ciência e Tecnologia, Acesso à Informação Governamental, Controle Social, Educação, Bibliotecas, Museus etc. A interação entre esses atores e suas interfaces com políticas arquivísticas não se plasmam exclusivamente no marco da burocracia hierárquica tradicional ou nos limites da autoridade arquivística legalmente conferida às instituições arquivísticas. Tampouco poderiam ter lugar sob a lógica dos lineares desenhos sistêmicos tão frequentes nas concepções de sistemas nacional e estaduais de arquivos.

A Governança Arquivística sugere a formulação de estratégias e o desenvolvimento de um um conjunto de acões em rede e de forma colaborativa. Ultrapassa, portanto, o tradicional “governo do arquivos”. Não substitui a Gestão Arquivística. Ao contrário, reforça o seu papel e sugere inovações que podem torná-la mais consistente. Um modelo de Governança Arquivística não se sustenta sem as “boas práticas” inerentes à Gestão Arquivística.

A construção de modelos de Governança Arquivística requer um maior conhecimento e debate sobre o tema por parte dos arquivistas em geral, além de análises aprofundadas de experiências nacionais e internacionais de gestão de serviços e instituições arquivísticas.

Gestão e Governança Arquivística merecem ser contempladas nas agendas de pesquisa e inovação em Arquivologia, devidamente enfatizadas na formação de graduação e pós-graduação de arquivistas e outros profissionais que atuam na área.

Referências

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial básico de governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública. Brasília: TCU, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, 2014.

GONÇALVES, Arlindo. O conceito de governança. Disponível em; . Acesso em: 12.08.2017

JARDIM, José Maria. Em torno de uma política nacional de arquivos: os arquivos estaduais brasileiros na ordem democrática (1988-2011). In: MARIZ, Anna Carla Almeida; JARDIM, José Maria; SILVA, Sérgio Conde de Albite (org.). Novas dimensões da pesquisa e do ensino da arquivologia no Brasil. Rio de Janeiro: Móbile; Associação dos Arquivistas do Estado do Rio de Janeiro, 2012.

ROUSSEAU, Jean-Yves; COUTURE, Carol. Fundamentos da disciplina arquivística. Lisboa: Dom Quixote, 1998

José Maria Jardim – Doutor em Ciência da Informação. Professor Titular do Departamento de Arquivologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).


JARDIM, José Maria. Apresentação. Revista do Arquivo, São Paulo, Ano IV, n.7, outubro, 2018. Acessar publicação original [DR]

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Habilidades para la vida: Aprender a ser y aprender a convivir en la escuela – GIRÁLDEZ HAYES; PRINCE (I-DCSGH)

GIRÁLDEZ HAYES, A.; PRINCE, E.-S. Habilidades para la vida: Aprender a ser y aprender a convivir en la escuela. Madrid: SM, 2017 (Biblioteca Innovación Educativa) Resenha de: ÂNGULO, Araceli. Íber – Didáctica de las Ciencias Sociales, Geografía e Historia, n.93, p.82, oct., 2018.

Ambas autoras son docentes y se mueven en el mundo de la consultoría y del coaching en el ámbito internacional. La razón fundamental que les ha movido a escribir este libro tan práctico es que consideraban que no existía nada publicado, ni en inglés ni en castellano, ningún libro referido específicamente al desarrollo de habilidades para la vida en educación.

Son conscientes de que el primer paso para enseñar habilidades para la vida es haberlas aprendido e incorporado en el día a día. Han hecho un gran esfuerzo por seleccionar, definir, categorizar y analizar las habilidades que ellas consideran más importantes. Estas son la autoconciencia y el autoconocimiento, como habilidades básicas que dan soporte a todas las demás; la adaptabilidad, la resiliencia, la integridad y el optimismo, como habilidades intrapersonales; la empatía y la escucha activa, que se encuentran entre las habilidades interpersonales; y, por último, las habilidades relacionadas con el pensa-miento, la organización y/o la acción, que son el pensamiento crítico y creativo, así como la proactividad.

En la introducción explican las razones para escribirlo y una pequeña definición de cada habilidad. Posteriormente, van desarrollando las nueve seleccionadas. Salvo el ca-pítulo 2, dedicado al autoconocimiento y la autoconciencia, la organización del resto es muy similar: una definición de la habilidad, ahondando en sus claves y las razones para trabajarla en el mundo educativo, desde infantil hasta la universidad, para terminar con ejercicios y herramientas para la práctica y la reflexión. El último capítulo es una invitación a la autoevaluación.

Como señala Miguel Ángel Santos Guerra en el prólogo, es un libro para leer y hacer, para pensar y sentir, para comprender y compartir, para hablar y escuchar. Podría ser de gran utilidad para educadores y educadoras, tanto en el ámbito familiar como escolar, es decir, para todas aquellas personas a quienes les preocupe el desarrollo emocional de las criaturas que tienen a su cargo.

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Escape Book 2: La amenaza invisible – TAPIA; LINDE (I-DCSGH)

TAPIA, I.; LINDE, M. Escape Book 2: La amenaza invisible. Barcelona: Lunwerg, 2017. Resenha de: LÓPEZ GARCÍA, Camino. Íber – Didáctica de las Ciencias Sociales, Geografía e Historia, n.93, p.81-82, oct., 2018.

Estamos respirando vientos de renovación y creatividad en educación, muchas veces en forma de TIC y en otros casos bajo el nombre de «nuevas metodologías» o «estrategias educativas». Esta reseña versa acerca de uno de esos nuevos métodos que provienen del mundo comercial, pero que están encontrando un hueco en los centros educativos. Estamos hablando de los escapes room. Sin embargo, este escape no es uno cualquiera: dentro de su novedad es uno de los más originales.

Una de las «modas» actuales es el escape room o escape classroom, juegos físicos de habilidad mental en los que se encierra a un grupo de personas en una habitación de la cual deben escapar en un tiempo determinado, normalmente sesenta minutos. Cada vez son más los docentes que quieren aventurarse a crear una intervención en el aula de este tipo para motivar a sus estudiantes. De este modo, pueden demostrarles que saber los contenidos de su asignatura les servirá para resolver una acción práctica. No obstante, existen algunos obstáculos para crear un escape room en clase, como son la disponibilidad del espacio adecuado o la consecución de los atrezos físicos y el tiempo necesarios no solo para idearlo, sino para montarlo y resolverlo.

El libro Escape Book 2 ofrece una experiencia ambientada en los escapes room en la que se puede prescindir del espacio y las limitaciones del tiempo, sin menoscabo para disfrutarlo tanto en grupo como en solitario. Se trata de una original propuesta de Iván Tapia, diseñador de enigmas y fundador de la empresa Cocolisto, que, además, ha trasladado esta temática al teatro en forma de escape show.

Esta propuesta es una fuente de creatividad inmensa para el profesorado que quiera empezar a integrar en su aula metodologías activas tan novedosas como la gamificación o la técnica del BreakOut.

Nada más abrir el libro, nos encontramos con un mapa en el cual hay un acertijo, pero… ¿es este el primer reto? No precisamente. La obra tiene una dinámica propia que rompe con el orden de lectura tradicional marcando un ritmo de misterio que no se ve limitado con el típico final de libro. Pocos son los capítulos de este que se leen en orden, y dicho orden solo se puede descubrir al superar los retos que se van planteando desde el principio.

Escape Book 2: La amenaza invisible está ambientado en un espacio-tiempo donde el dueño de los personajes principales es un lector activo que nunca sabe qué capítulo del libro será el próximo que debe leer. Se trata de una lección práctica de cómo idear una dinámica de escape room: desde el ritmo, los enigmas, la narrativa, el misterio hasta llegar a imaginar la ambientación que esta historia tendría en un contexto real, en un escape room en nuestra aula.

Sin duda, es una forma diferente de consumir literatura: el libro y sus personajes se mantienen vivos, y el actor principal no es el protagonista del relato, sino el lector. En esta lectura nunca se podrá saber el final leyendo la última página del libro: solo el lector, a través de su tesón, podrá llegar a conocer el final de la historia, una vez haya resuelto todos los enigmas.

Cuenta con una serie de pistas para ajustar la dificultad de las pruebas hacia el final de la obra, así como un listado de soluciones para aquellos que se sientan atascados en un reto. Si bien el desafío principal está en la portada, desvelado a través de este mensaje: «¿Conseguirás escapar de este libro?». Es un riesgo que habrá que asumir, ya que la trama mantiene al lector constantemente intrigado.

Camino López García – E-mail: caminologa@gmail.com

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Working the System. A Political Etnography of the New Angola | Jon Schubert

A relação das pessoas comuns, seja um feirante usando transporte público, seja um professor universitário do alto de seu gabinete, com a estrutura de um Estado autoritário – esse é o tema do recente estudo de Jon Schubert “Working the System. A political etnography of the New Angola” sobre a Angola do pós-guerra civil. Procurando mapear a partir de uma pluralidade de sujeitos de diferentes estratos sociais da sociedade luandense a relação com o Estado, corporificado materialmente e simbolicamente no que os informantes chamam de “o sistema”, Schubert procurou tocar em várias questões sensíveis da história recente de Angola para ir além de análises mais generalizantes que se detém aos grandes movimentos da política e da economia da reconstrução do país: a estabilização autoritária da política interna, o crescimento econômico vertiginoso do país por causa do petróleo, a concentração de poder nas mãos do maior partido político, o lado vitorioso da guerra civil, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

Seus questionamentos são em torno de como esse “sistema” funciona no cotidiano das relações sociais, retomando reflexões gramscinianas de como pessoas que estariam excluídas da participação do processo decisório – que estariam às margens do sistema – acionam essa estrutura política de forma criativa e até subversiva, negociando espaços e tencionando o sistema vigente. Como sugere o título em inglês, o termo “working” no gerúndio sugere o estudo do funcionamento cotidiano do sistema assim como do que faz o sistema funcionar, seja estudando os grupos políticos que se consolidam no poder material e discursivamente após o fim da guerra, seja entendendo os termos de negociação da sociedade civil frente a esse regime e suas características. Leia Mais

Água: uma novela rural | João Paulo Borges Coelho

Água, uma novela rural é o décimo primeiro livro de João Paulo Borges Coelho (JPBC), nome que vem ganhando notoriedade tanto na literatura africana quanto nos estudos literários. Evidência neste sentido é a crescente produção crítica de sua obra, a exemplo do congresso intitulado: O cartógrafo da Memória: A poética de João Paulo Borges Coelho, realizado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em julho de 2017, a publicação da coletânea de artigos: Visitas a João Paulo Borges Coelho: leituras, diálogos e futuros (Editora Colibri, 2017) e o Dossiê: Passados antecipados, futuros empoeirados: os caminhos da ficção de João Paulo Borges Coelho, da Revista Mulemba (UFRJ, 2018) . Importa situar que os prêmios José Craveirinha da Literatura (2004) pelo romance As Visitas do Dr. Valdez, o Leya de romance histórico (2010) com O Olho de Hertzog contribuíram para o reconhecimento de sua obra literária composta por dois livros de contos, três novelas e sete romances.

Além de escritor, JPBC é historiador e professor no Departamento de História da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique. Sua produção acadêmica é constante, sendo sua tese de doutorado, até hoje, uma das principais referências no tocante aos processos de deslocamento na região de Tete1. Em outra ocasião, argumentei que o aprofundamento de sua contundente experiência acadêmica incentivou sua escrita literária pois foi precisamente em Tete, província central circundada pela Zâmbia, Zimbábue e Malaui, o cenário escolhido para sua primeira obra literária, As duas sombras do rio (2003), que versou sobre a guerra civil moçambicana (1976-1992)2. Contudo, vale ressaltar, que os dois espaços de produção textual, a literatura e a história, são para JPBC complementares, segundo suas próprias palavras: “Assumo-me como eu próprio, uno e indivisível, embora com as contradições e conflitos que, de uma maneira ou de outra, nos atravessam a todos. Não estou dentro do acadêmico ou do escritor, eles é que estão dentro de mim”3. Leia Mais

Mare Nostrum – Estudos sobre o Mediterrâneo Antigo. São Paulo, v.9, n.2, 2018.

EDITORIAL

DEBATE

RESENHAS

PDF

PUBLICADO: 2018-09-24

Cadernos do Tempo Presente. São Cristóvão, v.8 n.04, 2017.

ISSN: 2179-2143

Artigos

Publicado: 2018-09-23

Língu@ Nostr@. Vitória da Conquista, v.6, n.1, 2018.

Apresentação

Artigos – Dossiê

Resenhas

Publicado: 2018-09-14

Mnemosine. Campina Grande, v.9, n.1, 2018.

Histórias e experiências (entre) cruzadas: sobre a escravidão, relações étnico-raciais e colonialismo

Histórias e experiências (entre) cruzadas: sobre a escravidão, relações étnico-raciais e colonialismo)

APRESENTAÇÃO

  • Apresentação ao Dossiê – Histórias e experiências (entre) cruzadas: sobre a escravidão, relações étnico-raciais e colonialismo
  • Sérgio Luiz de Souza Janailson Macêdo Luiz 06 – 08

DOSSIÊ: HISTÓRIAS E EXPERIÊNCIAS (ENTRE) CRUZADAS: SOBRE A ESCRAVIDÃO, RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E COLONIALISMO Do norte da África ao norte da América Portuguesa (1755-1815)

  • Marley Antônia Silva da Silva 09 – 26
  • Para libertar o meu filho: Estratégias utilizadas por forras e escravas ao alforriarem na segunda metade do século XVIII em Minas Gerais
  • Carlo Guimarães Monti 27 – 44
  • Para além da alforria: Mobilidade e sobrevivência de libertos no Brasil (Grão-Pará, 1800-1888)
  • Marcelo Ferreira Lobo 45 – 73
  • Escravidão e pecuária na Paraíba: um estudo sobre São João do Cariri (1870-1888)
  • Pedro Nicácio Souto 74 – 91
  • Em defesa da classe: Pós-abolição, racismo e Imprensa Negra em Campinas e Piracicaba
  • Willian Robson Soares Lucindo 92 – 120
  • A Docência como missão na América Latina: Reflexões sobre a formação professores e professoras de história na Amazônia Oriental
  • Maria Clara Sales Carneiro Sampaio 121 – 141
  • As vozes escritas de Pepetela: Identidade angolana, literatura e colonialismo em “Mayombe” e “A geração da utopia”
  • João Matias de Oliveira Neto 142 – 163

Publicado: 2018-07-09

Monções. Coxim, v.4, n.6, 2017.

História e Migrações

Publicado: 2018-06-09

Afro-Ásia. Salvador, n.58, 2018.

Editores: Jocélio Teles dos Santos e Wlamyra Albuquerque.

Capa: Zeo Antonelli.

Imagem da capa: Princesa Ìsa Bàulê (2012), de Renato da Silveira sobre foto de Hans Silvester.

Artigos

Resenhas

Publicado: 2018-09-05

Revista de História da UEG. Morrinhos, v.7, n.1, 2018.

Dossiê “África e Diáspora: 15 anos da Lei Federal 10.639/03 e os desafios do campo de estudos no Brasil”

Imagem de Capa:
Negra com Turbante. Fotografia de Alberto Henschel, Rio de Janeiro, 1870;
Fonte: pt.wikipedia.org.

Editorial

Dossiê Temático

Tradução

Resenhas

Publicado: 2018-09-04

História das mulheres e das relações de gênero / Revista de História Bilros: História(s), Sociedade(s) e Cultura(s) / 2018

É com enorme satisfação que anunciamos o décimo terceiro número da “Revista de História Bilros: História(s), Sociedade(s) e Cultura(s)”. Esse periódico é resultado da iniciativa e do trabalho conjunto de discentes da graduação em História e do Mestrado Acadêmico em História (MAHIS) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), além de doutorandos / as egressos / as desta mesma instituição, que agora atuam em outros Programas de Pós-Graduação do país. O décimo terceiro número, volume 6, foi composto por 19 textos enviados para o Dossiê Temático História das Mulheres e das Relações de Gênero e mais 3 textos na secção Artigos livres, totalizando o número de 22 trabalhos inéditos nesta publicação.

Ratificamos aqui a satisfação em lançar um Dossiê que versa sobre as complexas relações de gênero e seu papel estruturante das relações sociais, e consequentemente dos processos históricos, em um contexto de esfacelamento da democracia brasileira, do crescimento do autoritarismo do Estado, das tentativas de implantação do famigerado projeto Escola Sem Partido, do ataque aos direitos humanos, da necessidade de autoexílio de congressistas e militantes dos Direitos Humanos, feministas, militantes LGBTI+, bem como da acentuada violência contra as mulheres, LGBTI+, povo negro, indígena e do campo. Leia Mais

Associativismo e movimentos sociais / Estudos Históricos / 2018

Nesta edição de número 65, a revista Estudos Históricos traz aos leitores artigos relacionados a um tema caro à tradição interdisciplinar, que é marca constitutiva do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC): associativismo. No campo das Ciências Sociais, tal conceito pode ser rastreado até os trabalhos clássicos de Alexis de Tocqueville sobre as virtudes (e os perigos) da democracia norte-americana, passando por obras seminais da sociologia política mais recente, como “Comunidade e Democracia”, de Robert Putnam. Entre os historiadores, as formas encontradas por homens e mulheres para produzir vida em comum também foi tema crucial de pesquisa, em especial nas vertentes analíticas inspiradas pela obra seminal de E.P. Thompson sobre a formação da classe trabalhadora na Inglaterra. A fertilização mútua entre História e Ciências Sociais tornou quase impossível delimitar com precisão onde começam e terminam suas respectivas jurisdições sobre as artes da associação humana. Thompson, por exemplo, foi fonte recorrente para sociólogos interessados em transformar o “fazer-se” específico estudado pelo autor em instrumento para decifrar processos mais amplos de formação de classes nas sociedades capitalistas. E o conceito de “capital social”, por sua vez, percorreu itinerários complexos nos trabalhos de historiadores interessados em desvendar redes e laços entre grupos, comunidades, irmandades e clãs.

Esses debates e cruzamentos teóricos estão bem representados no dossiê que o leitor tem em mãos. Há artigos que retomam o clássico tema do associativismo dos grupos subalternos, em especial dos trabalhadores, como no caso dos textos de Samuel de Oliveira sobre trabalhadores favelados no Rio e em Belo Horizonte, durante a República de 1946, e de Mário Brum sobre a Pastoral de Favelas e sua conexão com a Teologia da Libertação. Elis Angelo e Maria Izilda de Matos, por sua vez, revisitam as relações entre imigração e formas associativas por meio de estudo sobre a Casa dos Açores de São Paulo. As variáveis étnico-raciais que estruturaram as formas de ação coletiva no Brasil são abordadas no texto de Petrônio Domingues, centrado na história da Frente Negra no Rio de Janeiro, evidenciando novas frentes de investigação sobre a articulação entre raça, classe, cidadania e associativismo.

A cidade, como não poderia deixar de ser, figura com destaque em vários artigos, por se constituir no espaço por excelência para a invenção de novas formas de vida em comum de homens e mulheres. Pode-se aprender sobre esse associativismo urbano no texto de Lia Rocha sobre a história recente da criminalização do associativismo nas favelas cariocas, no artigo de José Bortolucci sobre as redes entre arquitetos e movimentos populares em São Paulo no processo de redemocratização e no trabalho de Jonatha Santos e Wilson de Oliveira sobre o Coletivo Debaixo e suas práticas comunicativas na esteira dos movimentos de 2013 em Aracaju. Finalmente, se o nexo entre democracia e associativismo parece ser tomado como pressuposto em muitos debates, o artigo de Reginaldo Sousa nos permite repensar tal relação ao investigar o associativismo feminino em apoio à ditadura civil-militar no Paraná.

Acreditamos que o conjunto de textos disponível nesta edição irá interessar não apenas aos estudiosos do associativismo, mas a toda a comunidade de historiadores e de cientistas sociais que veem na construção de formas de vida em comum não apenas um tema de pesquisa disciplinar, mas também um credo fundamental para o revigoramento de nossa combalida democracia.

Referências

PUTNAM, Robert D. Comunidade e Democracia – a experiência da Itália moderna. Rio de Janeiro: FGV, 2008.

THOMPSON, Edward. P. A Formação da Classe Operária Inglesa: A árvore da liberdade. vol. I, 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

Bernardo Borges Buarque de Hollanda – Professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC / FGV). Editor da Revista Estudos Históricos. E-mail: bernardo.hollanda@fgv.br

João Marcelo Ehlert Maia – Professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC / FGV). Editor da Revista Estudos Históricos. E-mail: joao.maia@fgv.br

Ynaê Lopes dos Santos – Professora da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC / FGV). Editora da Revista Estudos Históricos. E-mail: ynae.santos@fgv.br

Os editores


HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de; MAIA, João Marcelo Ehlert; SANTOS, Ynaê Lopes dos. Editorial. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.31, n.65, set. / dez. 2018. Acessar publicação original [DR]

Estranhos à nossa porta | Zygmunt Bauman

Zygmunt Bauman foi um filósofo e sociólogo polonês radicado no Reino Unido, tendo falecido em janeiro de 2017. Tornou-se um intelectual de ampla presença dentro e fora do meio acadêmico – fama esta que só veio surgir com o avançar da idade, devido a suas intervenções públicas e publicações de vários títulos de divulgação do seu pensamento, muitas delas com uma linguagem distante do hermetismo tão característico de alguns ciclos das humanidades, e distante até da escrita dos seus primeiros livros.

Os temas por ele abordados e os conceitos desenvolvidos tornaram-se referência para professores, estudantes, pesquisadores e analistas. O estudo da modernidade e suas características contemporâneas, marcadas pelo conceito de liquidez, pela finidade das certezas e por um mundo em movimento tão veloz que anularia qualquer alicerce de estabilidade são alguns dos exemplos mais reconhecidos e aplicados (BAUMAN, 2001; 2007). Leia Mais

Une autre science est possible! Manifeste pour un ralentissement des sciences – STENGERS (BMPEG-CH)

STENGERS, Isabelle. Une autre science est possible! Manifeste pour un ralentissement des sciences. JAMES, William. Apresentação de Thierry Drumm., Paris: Les Empêcheurs de Penser en Rond/La Découverte, 2013. 215p. Resenha de: SARTORI, Lecy. Outra ciência? Conhecimento, experimentos coletivos e avaliações. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. Belém, vol.13, n.3, set./dez. 2018.

“Une autre science est possible! Manifeste pour un ralentissement des sciences” (Uma outra ciência é possível! Manifesto por uma desaceleração das ciências) é o último livro da filósofa da ciência Isabelle Stengers, professora da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica. Filósofa, graduada em química e pesquisadora da história da ciência, Stengers é uma importante intelectual que reflete sobre a relação entre política, ciência e economia capitalista, e também discute sobre uma antropologia implicada em questionar os saberes, as disciplinas e as instituições.

Stengers participou do colóquio intitulado “Os mil nomes de Gaia: do Antropoceno à idade da terra”, ocorrido em 2014 no Rio de Janeiro, evento que, de forma geral, discutiu os temas da catástrofe ambiental e da mudança climática global. A catástrofe ecológica global é analisada por meio do conceito de Gaia. Para Stengers (2014), Gaia não é apenas outra forma de nominar a Terra como um recurso a ser explorado de forma sustentável, mas sim um “[…] novo campo científico […]” ou “[…] um complexo conjunto de modelos e dados interconectados […]” (Stengers, 2014, p. 2, tradução nossa), produzindo novos sentidos e respostas ao capitalismo globalizado. Seu último livro publicado em português tem como título “No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima” (Stengers, 2015). Suas análises fazem-nos pensar em possibilidades criativas de ações de resistência política e de lutas anticapitalistas.

No livro ora resenhado, Stengers (2013, p. 8, tradução nossa) explora uma possibilidade de “[…] reconciliação do público com sua ciência […]”, no sentido de produzir saberes a partir das preocupações, das hesitações, das consequências e das opiniões sobre determinada ideia ou solução científica.

Aqui, “[…] produzir saberes […]” aproxima-se, como aponta Stengers (2013, p. 9, tradução nossa), daquilo que Latour (2004, p. 235) denominou de “[…] matter of fact […]” ou “[…] matter of concern […]”, para criticar a objetividade científica, ou do que Guattari (1987, p. 8) chamou de “[…] matière à préoccupation […]”. Stengers (2013) propõe não apenas produzir um campo de comunicação, mas discussões acerca das respostas dos cientistas para situações que nos dizem respeito, como os problemas sociais e econômicos (por exemplo, o desemprego, a poluição, o esgotamento dos recursos naturais, o efeito estufa, o câncer, as patentes de medicamentos). O livro apresenta a importância da elaboração de uma inteligência pública das ciências, por meio da noção de compreensão, que seria o mesmo que produzir em conjunto (com diferentes atores, cidadãos, especialistas e pesquisadores) ações que impliquem soluções sem ignorar as preocupações econômicas e sociais. A ideia principal é possibilitar o encontro entre uma multiplicidade de pessoas e os conhecimentos capazes de criar de forma inteligente propostas para grandes problemas. A partir dessa ideia, Stengers (2013, p. 83, tradução nossa) propõe a “[…] desaceleração das ciências […]” ou slow science (que apresenta a mesma lógica de iniciativas como slow foodslow cityslow economy). Ela fala, dessa forma, de uma ciência produzida de maneira lenta e em conjunto com outras pessoas e saberes, que ativam conhecimentos experimentais e criativos na formulação de novos modos de existência e de resistência, opondo-se à captura de regimes de subjetividade capitalista.

Este livro é composto por cinco capítulos e pela tradução de um texto do filósofo americano, médico e psicólogo William James (1948-1910). A tradução é antecedida por uma apresentação feita pelo pesquisador Thierry Drumm. A capa do livro exibe ilustração de Milo Winter, publicada no livro de Verne (2011), “20 mil léguas submarinas”. A publicação foi organizada pela editora Les Empêcheurs de Penser em Rond – La Découverte. O livro agrega artigos de Isabelle Stengers anteriormente publicados, uma conferência e um artigo inédito. Pode-se afirmar que esta obra apresenta reflexões e discussões muito mais amplas do que a ideia apontada no título, trazendo à tona temas como as avaliações de produções acadêmicas, a elaboração de uma ciência coletiva e experimental, assim como discussões sobre objetivos e funções dos experts.

Em seu manifesto, Stengers (2013) expõe o corporativismo referente ao financiamento acadêmico, bem como as contradições que sujeitam as pesquisas e as produções científicas. No primeiro capítulo, “Pour une intelligence publique des sciences” (Por uma inteligência pública das ciências), Stengers (2013) questiona a autoridade das ciências, por meio de discussões coletivas e da participação dos cidadãos na exposição dos problemas sociais. Essa forma coletiva de refletir sobres os problemas e de elaborar soluções foi denominada pela autora de “[…] inteligência pública das ciências […]” (Stengers, 2013, p. 10, tradução nossa). Desse modo, a autora resiste às “[…] pretensões dos saberes científicos […]” (Stengers, 2013, p. 15), participando da produção do que Haraway (1995, p. 18) denominou de “[…] saberes localizados”.

Nesse sentido, Stengers (2013) propõe a construção de um espaço de discussão com entusiastas que não fazem parte da academia para compor uma produção em conjunto. Isso, no entanto, não significa a popularização da ciência, a qual é entendida como a divulgação das produções científicas para um público amplo. O objetivo dessa popularização é conscientizar os cidadãos sobre direitos, deveres e responsabilidades sociais. Os cidadãos são educados a fim de que produzam reflexões e informações para os pesquisadores desenvolverem as análises científicas. Diferentemente dessa ideia, Stengers (2013) propõe a formação de grupos que sejam capazes de produzir conhecimento (ou uma ciência experimental) e desenvolver formas de ação junto aos elementos dos contextos sociais em que os próprios atores estão inseridos.

No subtítulo do livro, Stengers (2013) destaca a ideia de desaceleração da ciência ou de uma ciência lenta, feita no tempo necessário para a elaboração de suas questões, e não sujeita ao mercado do capital e aos indicadores de produção. A autora mostra como a ciência que está sujeita às necessidades do capital é elaborada de forma rápida, não refletindo sobre suas consequências futuras. Como exemplo, ela dispõe no segundo capítulo, intitulado “Avoir l’étoffe du chercheur” (Competências do pesquisador), as consequências das descobertas científicas como o uso de organismos geneticamente modificados (OGM). Segundo a autora, as descobertas científicas foram produzidas visando os interesses econômicos, ao invés de terem sido analisadas as suas consequências, buscando-se evitar a destruição do planeta. Para ela, as soluções deveriam ser produzidas de forma criativa, sem serem subestimados as dificuldades e os saberes locais. Nesse sentido, as lutas políticas não acionam a ideia de representação, mas devem produzir “[…] caixas de ressonância […]” (Stengers, 2015, p. 148) que explicitem as experiências, fazendo com que as pessoas reflitam sobre formas de ação e as produzam.

Uma interessante contribuição do livro é a discussão sobre a lógica econômica capitalista. Em seus efeitos, esta lógica diminui o tempo necessário para produzir questões e para analisar as consequências de determinadas ações científicas. Nesse contexto, as regras de financiamento à pesquisa direcionam a produção científica e diminuem a autonomia do pesquisador, o qual fica sujeito aos temas interessantes ao poder econômico e à indústria que investem em suas análises. Stengers (2013) explicita a regulação da produção científica por meio da “[…] fórmula de excelência […]” (Stengers, 2013, p. 52, tradução nossa), que dirige o comportamento para o “[…] conformismo, oportunismo e flexibilidade […]” (Stengers, 2013, p. 52, tradução nossa), exigências da nova forma de gestão do conhecimento.

No terceiro capítulo, “Sciences et valeurs: comment ralentir” (Ciências e valores: como desacelerar), Stengers (2013) apresenta uma análise da forma como o conhecimento científico é atualmente avaliado, procurando-se uniformizá-lo, sem se considerar a pluralidade e a qualidade da produção. Neste cenário, o que importa é o número de publicação, e não a qualidade do que está sendo produzido como conhecimento. Para exemplificar, ela expõe a produção científica do filósofo Gilles Deleuze, o qual, segundo o formato atual de exigência de publicação, seria um pesquisador com pouco êxito ou baixo desempenho em avaliações1 científicas. Conforme Stengers (2013), devemos questionar esse formato de produção rápida de conhecimento e formular ferramentas para resistir aos critérios de avaliação das universidades.

Outra contribuição do livro é a tradução de um texto de William James, apresentado por Thierry Drumm. O artigo de William James, “Le poulpe du doctorat” (ou The Ph.D. Octopus), foi publicado, pela primeira vez, em 1903, na revista Harvard Monthly. No texto, o filósofo apresenta, de forma jocosa, uma crítica à política acadêmica e à regra que torna o doutorado obrigatório para os professores universitários. A universidade, por sua vez, é comparada a uma máquina de produção de títulos. A contribuição do texto está na descrição crítica do modo de funcionamento da produção acadêmica de sua época. James mostra-se contrário ao status e ao prestígio daqueles que possuem um diploma, como o de doutorado. O título de doutor, segundo o autor, incentiva o esnobismo acadêmico e a publicidade individual. Acionar o título como uma ferramenta resulta no conformismo e na institucionalização de uma lógica quantitativa. Para James (1903), o objetivo da universidade é instruir as pessoas, e não valorizar um título concedido ao pesquisador que se dedica por um tempo a um determinado assunto.

Infelizmente, não existe uma versão em português do texto de William James. Recentemente, a editora da Universidade de São Paulo (Edusp) publicou um livro organizado pela historiadora Maria Helena P. T. Machado com as cartas que William James escreveu ao participar de uma expedição ao Brasil, em 1865-1866 (Machado, 2010). Ele apresenta o jovem William James questionando a ciência da época e a produção criacionista de seu professor e chefe da Expedição Thayer, Louis Agassiz. William James, mais simpático à teoria da evolução de Charles Darwin, criticou a posição política (com interesses americanos na exploração da Amazônia) e ideológica de Louis Agassiz, que defendia o racismo e as teorias da degeneração. Os escritos de William James explicitam os interesses políticos e o financiamento da coleta de dados prevista na Expedição Thayer, bem como a sua perspectiva de análise. Como William James, Isabelle Stengers analisa a produção científica, a política de financiamento à pesquisa e as formas de avaliação da sua época.

No penúltimo capítulo, “Plaidoyer pour une Science ‘Slow’” (A defesa de uma ciência “lenta), Stengers (2013, p. 83, tradução nossa) destaca a fabricação de uma “[…] economia do conhecimento […]” que produza vínculos de cooperação crítica e de produção coletiva. Trata-se de modificar o foco das avaliações para destacar o conteúdo das produções de conhecimentos, e não o número de artigos publicados ou patentes adquiridas. A slow science, antes de ser uma exigência de mais tempo e de autonomia para a formulação de questões importantes, procura estabelecer outras articulações, além dos vínculos firmados com o mercado e com o Estado.

O livro de Stengers (2013) é instigante ao analisar a forma como a produção científica atual é insustentável. A autora aponta o modo como os pesquisadores acreditam que as soluções dos problemas serão elaboradas de forma racional ou científica, ao mesmo tempo em que ignoram a opinião, as preocupações e os saberes daqueles que são afetados pelos problemas sociais. Ao afirmar que “[…] uma outra ciência é possível […]”, Stengers (2013, p. 6, tradução nossa) explicita no último capítulo, “Cosmopolitique: civiliser les pratique modernes” (Cosmopolítica: civilizar as práticas modernas), que não é uma questão relacionada à qualidade da informação que está em jogo, mas sim a necessidade de os pesquisadores serem capazes de produzir ciências a partir de uma inteligência coletiva, que conecte diferentes modos de elaboração de saberes e reative outras formas de resolver os problemas e de resistir às demandas impostas pelo mercado à produção científica.

Notas

1Algumas referências sobre o modo como as avaliações (ou ‘cultura de auditoria’) limitam as produções de saberes e as ações criativas são Strathern (2000)Shore (2009)Power (1994) e Giri (2000).

Referências

GIRI, Ananta. Audited accountability and the imperative of responsibility: beyond the primacy of the political. In: STRATHERN, Marilyn (Ed.). Audit cultures: anthropological studies in accountability, ethics and the academy. London: Taylor & Francis, 2000. p. 173-195. [ Links ]

GUATTARI, Félix. Les schizoanalyses. Chimères, Bedou, Paris, n. 1, p. 1-21, 1987. [ Links ]

HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial. Cadernos Pagu, Campinas, n. 5, p. 7-41, quad. 1995. [ Links ]

JAMES, William. The Ph.D. Octopus. Harvard Monthly, Cambridge, v. 36, n. 1, p. 1-9, 1903. [ Links ]

LATOUR, Bruno. Why has critique run out of steam? From matters of fact to matters of concern. Critical Inquiry, Chicago, v. 30, n. 2, p. 225-248, Winter 2004. [ Links ]

MACHADO, Maria Helena P. Toledo (Org.). O Brasil no olhar de William James: cartas, diários e desenhos, 1865-1866. São Paulo: Edusp, 2010. [ Links ]

POWER, Michael. The audit explosion. London: Demos, 1994. [ Links ]

SHORE, Cris. Cultura de auditoria e governança iliberal: universidades e a política da responsabilização. Mediações, Londrina, v. 14, n. 1, p. 24-53, jan.-jun. 2009. DOI: http://dx.doi.org/10.5433/2176-6665.2009v14n1p24. [ Links ]

STENGERS, Isabelle. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. Tradução Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, 2015. (Coleção Exit). [ Links ]

STENGERS, Isabelle. Gaia, the urgency to think (and feel). In: COLÓQUIO INTERNACIONAL OS MIL NOMES DE GAIA DO ANTROPOCENO À IDADE DA TERRA, 2014, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos… Rio de Janeiro: Departamento de Filosofia/PPGAS/Museu Nacional/UFRJ, 2014. Disponível em: <https://osmilnomesdegaia.files.wordpress.com/2014/11/isabelle-stengers.pdf>. Acesso em: 1 ago. 2018 [ Links ]

STRATHERN, Marilyn. New accountabilities: anthropological studies in audit, ethics and the academy. In: STRATHERN, Marilyn (Ed.). Audit cultures: anthropological studies in accountability, ethics and the academy. London: Taylor & Francis, 2000. p. 1-6. [ Links ]

VERNE, Jules. 20 mil léguas submarinas. Tradução e notas de André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. [ Links ]

Lecy Sartori – Universidade Federal de São Paulo. E-mail: lecysartori@gmail.com

Acessar publicação original

[MLPDB]

 

História Intelectual / Boletim Historiar / 2018

É com prazer que apresento este Dossiê sobre História Intelectual organizado por mim a convite da Revista Boletim Historiar. Os textos apresentados aqui são frutos das discussões promovidas durante o primeiro semestre de 2018 na disciplina História Intelectual latino-americana entre os séculos XIX e XX. Esta foi ministrada por mim no Programa de Pós- Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro como uma das atividades do estágio pós-doutoral que realizei nesta instituição.

O objetivo principal do curso era estimular o debate sobre as possibilidades de análise no campo da História Intelectual, sobretudo no âmbito da América Latina e Brasil e em diálogo com áreas afins. Com o mesmo intuito reuni os textos que agora apresento. Estes artigos foram elaborados por alguns dos alunos da referida disciplina a partir de uma proposta de trabalho final. Somado a estes textos, apresento também o artigo de uma colega que realiza reflexões acerca de um diálogo entre a História Intelectual e o Pensamento Social Brasileiro. Leia Mais

O garoto selvagem e o dr. Jean Itard: história e diálogos contemporâneos – BAKS-LEITE et. al. (B-RED)

BANKS-LEITE, Luci; GALVÃO, Izabel; DAINEZ, Débora (Eds.). O garoto selvagem e o dr. Jean Itard: história e diálogos contemporâneos. Campinas, SP: Mercado de Letras. 2017. 282 p. Resenha de: UCHÔA, Raphael. Bakhtiniana – Revista de Estudos do Discurso, v.13 n.3 São Paulo Sept./Dec. 2018.

O “selvagem” é um dos principais temas da história intelectual no Ocidente. Desde o medievo até a modernidade, o imaginário europeu foi habitado pelos wild men em suas diversas representações. Na arte, na literatura e no folclore, o selvagem aparece, por exemplo, na forma dos sátiros e faunos. Na ciência, ele se faz presente nas elaborações de naturalistas e médicos do século XVII e XVIII, como é o caso do homo sylvestris, trazido a público pelo anatomista Edward Tyson (1651-1708) e do homo ferus, que aparece na décima edição de influente Systema naturae de Carl von Linné (1707-1778). Na filosofia, a abordagem mais conhecida desse tema está nas elaborações de filósofos como J. J. Rousseau sobre o bon sauvage.

É nesse amplo contexto histórico e conceitual de construção da figura do “selvagem” e de investigação de uma ciência da natureza humana no Setecentos que emergiram os dois influentes relatórios do médico francês Jean Itard (1774-1838), que tinham como objeto o caso de Victor de Aveyron, o menino encontrado em um bosque no sul da França em 1798 e caracterizado como “selvagem”. Esse é o tema da obra O garoto selvagem e o dr. Jean Itard, organizada pelas pesquisadoras Luci Banks-Leite, Izabel Galvão e Débora Dainez.

Os relatórios de Itard foram traduzidos pela primeira vez em 2000 e publicados sob o título A educação de um selvagem: experiências pedagógicas de Jean Itard. Esse primeiro trabalho de publicação dos relatórios resultou de encontros e debates sobre os escritos de Itard entre as organizadoras, Luci Banks-Leite e Izabel Galvão, e outros colaboradores do Brasil e do exterior. Nesse sentido, o livro em análise traz ao público o resultado de quase duas décadas de constantes debates e reflexões entre pedagogos, linguistas, psicólogos, psicanalistas, filósofos e historiadores sobre os significados do caso de Victor de Aveyron.

A discussão basilar que percorre a obra O garoto selvagem é a relação entre linguagem e pensamento, particularmente articulada em um contexto de aprendizagem, analisada a partir do caso de Victor. O livro se divide em duas partes, a primeira com sete ensaios e a segunda com dois documentos históricos. Na primeira, os autores analisam, sob diversos prismas, os problemas epistemológicos latentes no caso de Victor. Na segunda, apresenta-se a tradução de dois textos de Jean Itard (um mémoire e um relatório) que serviram de base documental – juntamente com a película do cineasta francês François Truffaut (1932-1984) – para as análises contidas na primeira parte do livro.

O primeiro ensaio, O selvagem do Aveyron: aspectos históricos e debates para o século XXI, escrito por duas das organizadoras da coletânea, Luci Banks-Leite e Izabel Galvão, apresenta as linhas gerais do trabalho: a abordagem conceitual (intelectual e científica) e contextual do caso Victor, incluindo a localização espacial – o lugar em que Victor foi encontrado e o lugar onde foi (des)tratado e (des)educado. A ambiguidade dos termos indica precisamente uma das discussões centrais do livro: as dimensões epistemológicas do sucesso/fracasso do dr. Itard. As autoras apresentam também o material que serviu de base para as análises ao longo do livro, isto é, (1) o primeiro Relatório (mémoire) de 1801, o qual expõe os objetivos que pautaram o programa de ensino de Jean Itard; (2) um Relatório de 1806, destinado a prestar contas da situação de Victor ao Ministro do Interior da França e (3) o filme de Truffaut.

O segundo ensaio, intitulado O silêncio do homem natural, Carlos R. Luis, o autor, leva o leitor diretamente para uma rede de problemas filosóficos profundamente debatidos no século XVIII (por exemplo, a natureza da linguagem e do pensamento) que permearam o caso de Victor – apenas uma dentre as várias crianças encontradas em “estado selvagem” no século XVIII – que se tornou objeto de estudo no período. Carlos Luis identifica um conjunto de estudiosos Setecentistas (principalmente, Christian Wolff, J. J. Rousseau e Condillac) que informavam o debate médico e científico sobre o estatuto do “selvagem” diante de problemas como “natureza” e “sociedade” e que, por sua vez, informaram as práticas científicas de Jean Itard e Philippe Pinel (1745-1826), ambos, segundo Carlos Luis, em desacordo sobre o caráter sensualista ou inatista da natureza humana – como teorias mais amplas para se pensar a relação natureza e sociedade no processo de formação humana no geral, e de Victor em particular.

O terceiro ensaio da obra, O projeto científico de educação do selvagem do Aveyron: perspectiva histórica e reflexões para o presente, é assinado por Luci Banks-Leite e articula conceitos como sensibilidade, fala/pensamento e aprendizagem a partir do caso Victor. Tais conceitos são articulados num intricado e complexo contexto político e filosófico da França do final do Setecentos. Nessa conjuntura, a autora insere em sua análise figuras parametrizadoras de uma ciência do homem no período: além dos já citados Itard e Pinel, Banks-Leite discute as contribuições de Pierre Cabanis (1757-1808), Georges Cuvier (1769-1832) e do sueco Carl von Linné. A autora demarca assim o campo conceitual dentro do qual se estruturou o debate mais amplo sobre a relação entre natureza e cultura, subjacente ao caso específico sobre a natureza da deficiência de Victor, isto é, se ela era inata ou adquirida.

Nesse recorte, Banks-Leite destaca dois dos objetivos de Jean Itard: (1) despertar a sensibilidade nervosa de Victor e (2) conduzi-lo ao ato da fala. Trata-se de objetivos assentados na discussão teórica entre o sensualismo e o inatismo do período. Do ponto de vista fisiológico, além de filosófico, a autora destaca a relação entre o estímulo nervoso, portanto físico, e a fala, almejada neste contexto não apenas para sinalizar a cura do garoto, mas para potencializar debates do período sobre a relação entre civilização, linguagem e pensamento, e sobre a formação das ideias, para tomar a menção direta da autora à Étienne Bonnot de Condillac (1715-1780).

O quarto ensaio, A educação de Victor do Aveyron: do isolamento da floresta ao isolamento em sociedade, analisa a relação entre o contato social e o desenvolvimento humano, a partir do caso de Victor. Nesse sentido, as autoras Izabel Galvão e Heloysa Dantas colocam em evidência as contraposições entre as visões de Pinel e Itard. Pinel via em Victor uma debilidade orgânica, o que tornava, sob esse ângulo, inviável qualquer ação educacional ou de socialização do garoto; Itard, por outro lado, mais próximo da epistemologia empirista-sensualista de Condillac, entendia que o processo de socialização tinha um lugar privilegiado nesse caso. Num segundo nível, as autoras introduzem uma divisão entre o Itard cientista e o educador e argumentam que o estudioso francês haveria se equivocado nas duas funções. Como cientista, Itard teria “coisificado” o garoto e, portanto, isentado de subjetividade a sua relação com Victor, o que, por sua vez, o teria levado à sua falha primordial no papel de educador.

O quinto ensaio, O selvagem poderia ter falado? Ou das condições estruturais de uma educação, escrito por Leandro de Lajonquière, introduz uma importante reflexão sobre o contexto científico de busca pelo “homem natural” e a maneira pela qual Victor satisfez, pelo menos por um período, a busca de tal ideal. Todavia, a principal intenção do ensaio é fazer paralelos entre os procedimentos médicos e pedagógicos conduzidos por Itard, no caso Victor e aqueles conduzidos por Anne Sullivan (1866-1936), no caso Helen Keller (1880-1968). Nesse sentido, Lajonquière discute o que denomina de as “condições necessárias” ou as “condições estruturais” para o sucesso do empreendimento educacional em ambos os casos; falho, na visão do autor, no caso de Itard, uma vez que o estudioso nunca abandonou a ideia de uma medicina moral, isto é, de que estava resgatando Victor de um estado selvagem e de uma tábula rasa. O contrário disso teria ocorrido no caso de Helen Keller; bem sucedido em função da devida ênfase dada por Anne Sullivan ao vínculo afetivo com a garota surda e cega, o que criou as condições para a emergência da fala.

No sexto ensaio, Itard e Vigotski: um diálogo possível, Ana Luiza Smolka e Débora Dainez retomam um dos fios condutores da obra, a saber, a relação entre cultura e natureza, particularmente direcionada para o problema da gênese das funções psicológicas e para uma das derivantes de tal problema: a emergência da própria linguagem humana. Nesse sentido, as autoras aludem a dois lados de um debate contemporâneo, um liderado pelo linguista Noam Chomsky, que propõe a linguagem como um dispositivo inato e o outro, representado pelo psicólogo Michael Tomasello, que defende a cognição social, filogeneticamente produzida, como condição para a emergência da linguagem.

As autoras analisam ainda a relação entre Itard e Vygotsky, objetos do ensaio, seja pelos pontos de convergência entre eles, isto é, de que a “humanização” só se adquire pela cultura e educação; seja pelos de divergência, o lugar da fala como condição de pensar e conhecer. Nesse sentido, as autoras exploram alguns dos problemas cardinais da obra: “Como o signo, a palavra/língua(gem) afeta e constitui o psiquismo humano? Como as funções da linguagem se relacionam com as funções psicológicas?” (p.115). Do ponto de vista histórico, científico e filosófico, o problema parece ser mais viável de ser elaborado do que respondido. De qualquer maneira, as autoras pressionam possibilidades de encaminhamento da questão traçando paralelos entre o caso de Victor e o de Guilherme, um garoto com síndrome de Down no contexto de uma escola pública na década de 2010 que, assim como Victor, não falava. Dessa forma, permanecem as questões de mesma natureza: “Se há impossibilidade de falar, há impossibilidade de pensar? De compreender? De significar?” (p.118).

O sétimo ensaio, Olhares cruzados sobre a educação de um jovem selvagem: Itard (1801) – Truffaut (1970), traz uma análise conjunta do filme de Truffaut e dos escritos de Itard. As autoras, Anne Goliot-Lété e Sophie Lerner-Seï, dispensam maior atenção ao filme O garoto selvagem enquanto apropriação e reinterpretação do caso de fins do século XVIII. Nesse sentido, as autoras exploram o saber de Jean Itard num espelhamento semiótico entre os textos e o conteúdo do filme e evidenciam como determinadas imagens da película enunciam um complexo quadro psíquico do qual emergem as figuras espelhadas de Itard e Truffaut, Victor de Aveyron e Jean-Pierre Cargol e a atriz Françoise Seigner e a Madame Guérin, a governanta que auxiliou no projeto educativo de Itard. Nesse limiar, criado entre os dois suportes de análise, as autoras analisam o protagonismo dos diferentes atores na educação de Victor e os limites e avanços que o filme apresenta enquanto interpretação dos escritos de Itard.

Convém sublinhar que a obra em análise apresenta uma proposição metodológica ao mesmo tempo ousada e, do ponto de vista da análise histórica, com uma potencial limitação. Tal limitação se traduz em perguntas como: “O selvagem poderia ter falado?”, (p.79) ou em afirmações como “Itard errou” (p.77). Tanto a pergunta quanto a afirmação pressupõem um olhar comparativo do presente em direção ao passado e, portanto, um olhar informado por teorias de verdade contemporâneas. Nesse sentido, embora seja tentador perguntar se Itard poderia, de fato, ter adotado procedimentos médicos e educacionais diferentes, a resposta a essa pergunta parece estar limitada ao regime de pensamento do seu tempo.

Para além dessa potencial limitação na abordagem do caso, isto é, resguardado o historicismo metodológico indicado por historiadores da ciência como Georges Canguilhem,2012 resta-nos retomar a ousadia metodológica e o aspecto profundamente provocativo do livro: a análise de um caso histórico no qual estão em jogo projetos educativos e científicos e o esforço de refletir comparativamente epistemologias do passado e do presente, particularmente, epistemologias ligadas a relação entre linguagem e pensamento. As reflexões advindas daí são, como fica claro nos sete ensaios primorosamente redigidos do livro, profundamente instigantes e inesgotáveis. Instigam, ainda, o leitor ao exame da segunda parte da obra, os Escritos de Jean Itard.

Referências

CANGUILHEM, G. Estudos de História e Filosofia das Ciências: concernente aos vivos e à vida. Trad. Abner Chiquieri. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2012. [ Links ]

Raphael Uchôa – Centro Simão Mathias de Estudos em História da Ciência (CESIMA), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil; https://orcid.org/0000-0003-3484-8336; rbsuchoa@gmail.com.

Nobrezas e Hierarquias sociais, séculos XV-XIX / Revista Maracanan / 2018

O presente dossiê foi concebido com o intuito de reunir estudos sobre o papel da nobreza e das hierarquias sociais de maneira mais ampla. Congrega, portanto, textos que versam sobre as formas como essas hierarquias e o próprio conceito de nobreza eram pensados entre os séculos XV e XIX, bem como análises sobre as estratégias, redes e trajetórias de grupos ou indivíduos na mesma temporalidade.

Na Época Moderna, a desigualdade era naturalizada, constituindo-se em elemento central do ordenamento social, jurídico e ideológico europeu. Os diferenciais de renda e riqueza eram muito marcados e crescentes, 1 mas os discursos dominantes sobre a estrutura social enfatizavam o nascimento e a honra para justificar as disparidades que separavam o nobre de província do camponês que lavrava sua terra ou a aristocrata da criada que lhe vestia. 2

Tais atos de fala não são meras cortinas de fumaça, mas sim, como escreveu Barbara Fields, “o vocabulário descritivo da existência cotidiana, [configurando uma ideologia,] através da qual as pessoas compreendem a realidade em que vivem e que criam no dia a dia”. 3 Afinal, como indagou Marc Bloch, “uma hierarquia social é algum dia outra coisa que um sistema de representações coletivas, móveis por sua própria natureza?”. 4 Nesse sentido, trabalhos como as notas de pesquisa de Marcone Aroucha no presente dossiê, “Nobreza ibérica na Alta Idade Moderna: o mérito, a linhagem, os discursos” e de Nara Maria de Paula Tinoco, “Nobres e magistrados: uma discussão sobre o conceito de nobreza”, que analisa a relação entre nobreza e magistratura, são contribuições relevantes à compreensão de concepções coevas sobre nobreza e seus impactos sobre as escolhas das elites dos dois lados do Atlântico em sua busca por legitimidade social. A importância da honra estamental para a sociedade do Antigo Regime levava os agentes a buscarem o estatuto de nobreza através de estratégias diversas, termo, aliás, muito frequente nas análises sobre os processos de nobilitação como podemos perceber no artigo de Marcia Eliane Alves de Souza e Mello, “A trajetória de uma rede familiar no Pará setecentista: O caso da família Góis” e na nota de pesquisa de Maria Beatriz Gomes Bellens Porto, “Estratégias sociais nas festas de São Sebastião: o exemplo do financiador José Antônio de Freitas Guimarães no Rio de Janeiro (1795-1810)”.

Os dois princípios de hierarquização – classe e estamento – estavam intimamente ligados, pois recursos financeiros eram necessários para “viver a lei da nobreza”, como se dizia na Península Ibérica, e endinheirados costumavam ao longo de uma ou duas gerações transformar seu capital econômico em simbólico através da compra de terras, cavalos e (quando disponíveis) títulos e ofícios nobilitantes, afastando-se das atividades comerciais e manufatureiras, no processo batizado por Fernand Braudel, talvez com excesso de severidade e teleologismo, de “traição da burguesia”. 5

Pode-se dizer, portanto, que a Europa era, e o mesmo é válido com ainda mais razão para as sociedades coloniais em formação nas Américas, “uma sociedade estamental tendencialmente classista, um mundo ordenado teoricamente pelo sangue e nascimento; distribuído em grupos em realidade graças ao dinheiro e às relações pessoais e familiares. Neste sentido, a nobreza é antes de tudo um ideal, um modo de vida, uma aspiração”. 6

A história da nobreza europeia não é, portanto, uma inverossímil sobrevivência das mesmas linhagens da Idade Média até a Era das Revoluções, mas sim um constante processo de nobilitação e decadência, em que plebeus se tornavam nobres, a nobreza de província ascendia à Corte e cortesãos tornavam-se aristocratas, ao mesmo tempo em que famílias antes proeminentes desapareciam. Em Portugal, como no restante da Europa, o período que vai da segunda metade do século XIV até finais do Quinhentos foi de significativa mobilidade social, constituindo-se justamente nessa época a nobreza moderna. 7 Essa dinâmica também esteve profundamente ligada à monarquia pois, diferente do que defendera a historiografia tradicional, não havia uma oposição entre poder aristocrático e poder régio, mas sim uma relação umbilical, como se depreende da análise da professora Mafalda Soares da Cunha na entrevista que fecha esse dossiê.

Como aponta a historiadora portuguesa em sua fala, a especificidade lusitana está, porém, na importância que as possessões extra-europeias assumiram nesse processo, como se vê no artigo de Nuno Vila-Santa, “Do Algarve ao Império e à titulação: estratégias de nobilitação na Casa dos Barretos da Quarteira (1383-1599)”. Este trabalho é exemplar por demonstrar várias questões centrais nas historiografias sobre a nobreza: destaca, em primeiro lugar, tanto a importância do serviço ao monarca na ascensão de uma família provincial quanto o papel cada vez mais central assumido pelo império na reprodução social nobiliárquica desde o século XV. Também ilustra o ponto de Mafalda Soares da Cunha de que não é recomendável cindir de maneira exageradamente abrupta o final da Idade Média do início da Época Moderna, pois, especialmente no tocante à formação do grupo nobiliárquico, há muitas continuidades. Por último, evidencia a importância das estratégias familiares de longo prazo para a consolidação e exaltação do estatuto nobiliárquico.

Em razão do processo de atlantização do império português, o serviço no Estado do Brasil assumiu uma importância crescente a partir do século XVII e ainda mais no seguinte. 8 Devido à relevância política dos governadores e vice-reis, um estudo cuidadoso de suas origens e relações sociais pode iluminar sua relação com os vassalos ultramarinos. Reside aí a importância do artigo de Érica Lôpo de Aráujo sobre o início da trajetória de um aristocrata e militar que viria a se tornar um dos mais polêmicos governantes da América Portuguesa, o Conde de Óbidos: “D. Vasco de Mascarenhas: nobreza e trajetória de serviços (1626-1640)”.

O estudo das nobrezas lusoamericanas ainda é, mesmo depois das obras de fôlego de Evaldo Cabral de Mello, João Fragoso e Ronald Raminelli, 9 tema merecedor de mais atenção. Uma das áreas em que restam territórios a serem explorados é sua relação com os grupos subalternos dos quais dependiam seu poder, seguindo o exemplo de Mafalda Soares da Cunha em sua tese de doutoramento para a maior Casa aristocrática de Portugal, como destaca em sua entrevista. No Brasil, Fragoso tem estudado a relação com os cativos através do compadrio, 10 mas o artigo de Israel Silva Aquino & Fábio Kuhn, “Redes, hierarquia e interdependência social nas relações de compadrio do século XVIII (Viamão – 1747-1769)”, busca identificar as relações sociais de duas poderosas famílias do extremo sul do Estado do Brasil. Recorrendo à metodologia da análise de redes sociais, tem como uma de suas contribuições mais interessantes a descoberta da centralidade feminina nessas relações, sugerindo que os estudos sobre elites e nobreza devem esforçar-se mais para refletir sobre o papel das mães, esposas e filhas na constituição e reiteração das nobrezas locais.

Para além disso, cabe ressaltar a carência de estudos sobre a nobreza imperial brasileira tal como se configurou após a independência. Embora a concepção de nobreza já estivesse em processo de transição desde o período moderno, incorporando a variante do mérito, com a difusão dos critérios liberais, os debates políticos que se afirmaram nas primeiras décadas do Império independente apresentaram uma reflexão sobre a nobreza, tendo muitas vezes questionado sua existência ou, mesmo quando a tomaram como dada, buscando incorporar novos sentidos a ela. Nesta perspectiva, o modelo liberal que atentava para a figura do indivíduo, e não do pertencimento ao corpo social tal como existente no Antigo Regime, e, consequentemente, para a ideia de mérito, permeou a reformulação que muitos grupos faziam da sociedade. É preciso repensar, portanto, a ideia de nobreza e atentar para as formas como ela passou a ser concebida pelos atores políticos da época, para além do aprofundamento dos estudos sobre as relações entre nobreza e elite política e nobreza e poder econômico, aspectos os quais a análise de Luiz Fernando Saraiva, no artigo “O espaço da nobreza: hierarquia do poder em Minas Gerais no século XIX”, adiciona contribuição fundamental.

A manutenção de títulos e distinções no Império do Brasil não implicava necessariamente na manutenção dos sentidos construídos ao longo do Antigo Regime. Embora também nos séculos anteriores eles fossem múltiplos, fato é que a transição por que passou o novo Império que se criava, após os debates liberais e constitucionalistas, não poderia deixar de produzir uma grande aceleração nas maneiras de conceber as hierarquias sociais. Evidentemente, não se quer aqui afirmar que a nobreza imperial brasileira fosse completamente distinta daquela existente no período moderno, mas sim atentar para o fato de que os agentes históricos construíam e reconstruíam os sentidos atribuídos a ela, de modo que coexistiam percepções que a ligavam aos sentidos do Antigo Regime, e outras que as relacionavam aos sentidos liberais.

Compreender os sentidos atribuídos a esses títulos é fundamental porque permite o entendimento das ações e estratégias a que estavam dispostos os sujeitos históricos para alcançá-los. A legitimidade conferida por um título ou pela ocupação de um cargo valorizado na sociedade permite a compreensão das relações sociais, políticas ou econômicas traçadas antes do “prêmio”, mas também daquelas traçadas posteriormente a ele, visto que a legitimidade conferida pela titulação ou cargos colocava o agente em uma posição privilegiada para adquirir outras vantagens sociais. Com isso, quer-se dizer que essas posições não eram apenas o “fim” da trajetória, mas também representavam a abertura de outras possibilidades para o sujeito.

Para além do debate sobre a nobreza e sobre hierarquias sociais stricto sensu, percebemos no texto “A distância entre a cidade efêmera e a memória das pedras: arquitetura e hierarquia no Rio de Janeiro do período joanino” de Carlos Eduardo Pinto de Pinto como se pode pensar a ideia de hierarquização em seu aspecto mais amplo, isto é, expressa nas modificações urbanas sofridas pela cidade do Rio de Janeiro após a chegada da corte. O autor analisa o contraste entre uma cidade real ou material e uma cidade ideal que era erguida especialmente nos momentos de festividades na Corte através de uma arquitetura efêmera a qual era somada às gradações sociais dos participantes.

Outros textos complementam esse número, como o excelente artigo “Disputas pela história contemporânea de Portugal: a polêmica político-historiográfica entre José Agostinho de Macedo e Hipólito da Costa” de André da Silva Ramos & Valdei Lopes de Araújo, no qual é tematizada a produção historiográfica no Império português entre os séculos XVIII e XIX e a resenha de Tania Regina de Luca, que nos brinda com reflexões sobre a obra Como era fabuloso o meu francês! Imagens e imaginários da França no Brasil (séculos XIX-XXI), organizada por Anaïs Fléchet, Olivier Compagnon e Silvia Capanema de Almeida.

Dito isso, resta-nos apenas desejar: Boa leitura!

Notas

  1. Ver, para o caso inglês, o importante livro de: WRIGHTSON, Keith. Earthly Necessities: Economic Lives in Early Modern Britain. New Haven: Yale University Press, 2000, p. 182-201.
  2. BURKE, Peter. The language of orders in early modern Europe. In: BUSH, Michael L. (ed.). Social Orders & Social Classes in Europe since 1500: Studies in social stratification. Harlow: Longman, 1992, p. 1-12; THOMPSON, Irving. Hidalgo and pechero: the language of “estates” and “classes” in early-modern Castille. In: CORFIELD, Penelope (ed.). Language, History and Class. Oxford: Basil Blackwell, 1991, p. 53-78.
  3. FIELDS, Barbara Jeanne. Slavery, Race and Ideology in the United States of America. New Left Review, n. 181, 1990, p. 110. Tradução nossa.
  4. BLOCH, Marc. Les caractères originaux de l’Histoire rural française. Paris: Armand Collin, 1968 [1931], vol. I, p. 89. Tradução nossa.
  5. BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o Mundo Mediterrâneo na Época de Filipe II. São Paulo: EDUSP, 2016 [1949 / 1966], vol. II, p. 83-93.
  6. SORIA MESA, Enrique. La nobleza en la España moderna: cambio y continuidad. Madri: Marcial Pons, 2007, p. 319; Cf. também: p. 38-9 e 213-5.
  7. Ver, para a França, a síntese de: BEIK, William. A Social and Cultural History of Early Modern France. Cambridge: Cambridge University Press, 2009, p. 74-76.
  8. MONTEIRO, Nuno; CUNHA, Mafalda Soares da. Governadores e capitães-mores do império atlântico português nos séculos XVII e XVIII. In: MONTEIRO, Nuno; CUNHA, Mafalda Soares da; CARDIM, Pedro (eds.). OptimaPars: Elites Ibero-Americanas do Antigo Regime. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2005, p. 191-252.
  9. Cf., dentre outros: MELLO, Evaldo Cabral de. Rubro Veio: o imaginário da Restauração Pernambucana. São Paulo: Alameda, 2008 [1986], 3ª ed. rev., p. 155-80; FRAGOSO, João. À Espera das Frotas: microhistória tapuia e a nobreza principal da terra (Rio de Janeiro, c. 1600 – c. 1750). 2005. Tese (Concurso para Professor Titular de Teoria da História) – Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro; Idem. Nobreza principal da terra nas repúblicas de Antigo Regime nos trópicos de base escravista e açucareira: Rio de Janeiro, século XVII a meados do século XVIII. In: FRAGOSO, João; GOUVÊA, Fátima (orgs.). O Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014, vol. III (1720-1821), p. 159-240; RAMINELLI, Ronald. Nobrezas do Novo Mundo. Rio de Janeiro: FGV, 2015.
  10. FRAGOSO, João. Elite das senzalas e nobreza da terra numa sociedade rural do Antigo Regime nos trópicos: Campo Grande (Rio de Janeiro), 1704-1741. In: FRAGOSO; GOUVÊA (orgs.). O Brasil Colonial. Op. cit., p. 241-305.

Camila Borges da Silva – Professora Adjunta, na área de História do Brasil, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). É doutora em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); mestre e graduada em História pela UERJ e graduada em Moda pela Universidade Cândido Mendes (UCAM); além de ter realizado estágio pós-doutoral no Departamento de História da Universidade Federal Fluminense. É autora de artigos em periódicos nacionais e internacionais e dos livros O símbolo indumentário: distinção e prestígio no Rio de Janeiro (1808-1821) (AGCRJ, 2010) e As ordens honoríficas e a Independência do Brasil: O papel das condecorações na construção do Estado Imperial brasileiro (1822-1831) (AN, 2018).

Thiago Krause – Professor Adjunto, na área de História Colonial, do Departamento de História e membro permanente do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Possui Doutorado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Mestrado e graduação em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É autor dos livros Em busca da honra: a remuneração dos serviços da guerra holandesa e os hábitos das Ordens Militares (Bahia e Pernambuco, 1641-1683) (Annablume, 2012) e A América portuguesa e os sistemas atlânticos na época moderna: monarquia pluricontinental e Antigo Regime (Ed. FGV, 2013), este último publicado em conjunto com João Fragoso e Roberto Guedes.


SILVA, Camila Borges da; KRAUSE, Thiago. Apresentação. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, n.19, 2018. Acessar publicação original [DR]

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Arte, Imagem, Política: Curadoria, Circuitos e Instituições | MODOS. Revista de História da Arte | 2018

As relações entre os termos Arte e Política são complexas e por vezes, paradoxais. Durante o longo processo histórico de constituição do campo artístico em sua forma moderna, posições divergentes têm defendido tanto a total autonomia entre arte e política, quanto a indissociabilidade de suas conexões. Entre um extremo e outro, seguimos com Jacques Rancière, quando argumenta que “arte e política tem a ver uma com a outra como formas de dissenso, operações de reconfiguração da experiência comum do sensível” (2012: 63). Nestes termos, entendemos que as relações entre arte e política passam pelos temas abordados pelos artistas em suas obras, assim como por suas opções formais, estéticas, por seus processos de trabalho e de exibição. Os projetos de curadoria e de exposição, por sua vez, podem ser considerados como tomadas de posições políticas, tanto em relação às questões específicas do mundo da arte, quanto aos limites sobre o que é aceito socialmente como arte em um momento dado ou às transgressões das fronteiras da moral ou do “bom-gosto”. A atuação de historiadores e críticos de arte também pode ser pensada nestes termos, se consideramos suas narrativas como construções de poder simbólico. Por fim, as relações de poder entre os agentes, as instituições – museus, academia – e a lógica contemporânea de funcionamento do mercado produzem e conectam diferentes circuitos, gerando impactos diversos nos papeis e no lugar ocupado pela arte na sociedade contemporânea. Leia Mais