História e literatura: diálogos possíveis / Intellèctus / 2019

As aproximações e dissonâncias entre a história e a literatura tem sido objeto de intensos debates e disputas nos últimos trinta anos, especialmente no que diz respeito à definição das fronteiras entre história e ficção, ou, dito em outras palavras, à possível trajetória autônoma da literatura em relação aos seus contextos de produção. Esse número da revista Intellèctus se propõe a aprofundar tal debate a partir de estudos de autores e / ou obras ficcionais que problematizem as fronteiras entre história e ficção. Acredita-se aqui que, se de um lado cabe historicizar a obra literária, seu autor e seus personagens, também é interessante indagar ao autor e à sua narrativa sobre os conteúdos que tensionam as determinações do tempo. Leia Mais

A visão em deslocamento: uma história de palavras, figuras e paisagens do São Francisco (1930/1970) | Elson Assis Rabelo (R)

O livro de Elson de Assis Rabelo, Visões em deslocamento, é um estudo sobre a produção de imagens, narrativas e espaços do rio São Francisco em contextos autoritários do Brasil do século XX. Produto de uma tese de doutoramento na Universidade Federal de Pernambuco, o livro analisa um conjunto de vestígios, reportagens, fotografias, periódicos, livros, revistas científicas, relatos de viagens, documentos oficiais, dialogando com teorias pós-estruturalistas, abordagens que investigam a história do campo científico da geografia, historicizam a tipificação das populações, a produção dos espaços, a construção de temporalidades arcaicas para esses tipos construídos e problematiza os interesses e conflitos envolvidos nessa realidade produzida. O objetivo dessa resenha é apresentar a obra e pensar, à partir de temas introduzidos pelo autor, sobre novas possibilidades de reflexão em torno do lugar-comum do rio da integração.

O livro se divide em duas partes, com dois capítulos cada, a primeira trata das paisagens e a segunda dos agentes sociais do espaço. No primeiro capítulo sobre a emergência de um novo espaço na geopolítica da integração, Rabelo reconstituiu a invenção do espaço regional são-franciscano desde a topografia dos engenheiros topógrafos nos anos 1930 até os geógrafos de influência estadunidense do final dos anos 1940, passando por importantes autores sobre o assunto como Geraldo Rocha, Jorge Zarur, Agenor Miranda, Orlando Carvalho, entre outros. O segundo capítulo investiga, partindo da análise de uma longa reportagem da revista Realidade, já nos anos 1960, as imagens de progresso e decadência da navegação, bem como a disputa de memórias da mesma, no contexto de desenvolvimento autoritário nacional. No terceiro capítulo, o autor investiga os processos de tipificação das populações do vale pela geografia e pela sociologia das comunidades, passando pela análise de fotografias. Essa área de imagem e história, na qual o autor se especializa desde então, domina o quarto e último capítulo, onde há uma análise de fotografias que contribuem para deslocar esses tipos e humanizá-los, desclassificá-los de uma taxonomia fixadora de caracteres folclorizantes.

Rabelo consegue muito bem analisar a produção espacial do Vale do São Francisco pelos saberes técnicos e pela imprensa. Sua análise das fotografias é perspicaz. Não é preocupação do autor, entretanto, lidar com a heterogeneidade dos discursos. Nesse sentido, o livro é muito útil para novos pesquisadores, pois estabelece um panorama de grandes linhas gerais da escrita sobre o São Francisco. Novas pesquisas permitirão preencher as lacunas deixadas pelo autor, tanto cronológicas, como o interregno entre o Estado Novo e a ditadura militar-empresarial iniciada em 1964, quanto bibliográficas, já que outros escritores se detiveram sobre a questão são-franciscana nesse período, não analisados pelo autor. Na ficção, especialmente, surgiram narrativas que, quando não contestavam diretamente as espacializações e tipificações descritas por Rabelo, desestabilizavam seus pressupostos. Os poucos trabalhos acadêmicos nessa linha são caracterizados ainda por um saudosismo romântico, que costuma reificar narrativas, tipificações e construir novas espacializações e memórias, sem problematizar a sua produção ou a artificialidade das mesmas. Rabelo consegue problematizar as tipificações e espacializações sem construir novas em seu lugar. Ele não disputa a definição do São Francisco e do sertanejo, não o romantiza ou o idealiza. Em algumas passagens, chega-se a duvidar que ele seja mesmo o objeto do trabalho do autor. A análise se concentra no discurso de tal modo que não há dúvida de que o autor trata dos vestígios, do arquivo e não da realidade dada a ver por eles.

A única lacuna que poderia ser destacada na análise é uma questão cara à história intelectual. Quanto Rabelo trata da espacialização do São Francisco pelos engenheiros e topógrafos dos anos 1930 e 1940, temos a impressão de que não há apropriação, reconfiguração e subversão interpretativa dos mesmos em relação às teses de João Ribeiro, Euclides da Cunha e Vicente Licínio Cardoso, mas uma continuidade e aplicação regional. A ideia de rio da unidade nacional e caminho da civilização, de João Ribeiro em seu livro História do Brasil no final do século XIX, retomada por Euclides da Cunha em Os Sertões no início do século XX, foi aprofundada e reformulada por Vicente Licínio Cardoso em conferências dos anos 1920, publicadas nos anos 1930 em edição póstuma, que serviram de referência básica para todos os escritores que lidaram com a questão são-franciscana até pelo menos os anos 1950, quando há um salto qualitativo em termos especializados e institucionalizados da produção do saber sobre o rio – muito bem documentado por Rabelo ao tratar do desenvolvimento de pesquisas de geografia regional científica e profissional sobre o Vale. Ocorre que aquilo que é apenas mencionado por João Ribeiro e citado em Cunha é aprofundado em Cardoso, transformado à luz de uma visão sobre o país e o papel da terra como sujeito, bastantes distintas daqueles dois autores. Por sua vez, Geraldo Rocha, Agenor Miranda e outros que se baseiam em Cardoso o fazem com uma reconfiguração ou mesmo o usam como recurso de autoridade para desenvolverem explicações outras, distintas das do engenheiro carioca. Rabelo destaca bastante a homogeneidade dos discursos sobre o rio São Francisco, sem se concentrar na heterogeneidade e nos conflitos e descontinuidades.

A força do livro está na análise da tipificação das populações e da espacialização das paisagens, mas também aponta a produção das temporalidades nesses texto. Trata-se da parte menos desenvolvida no campo de estudos sobre o assunto. Rabelo faz apenas alguns comentários breves sobre o tempo lento das populações rurais do Vale, característica das narrativas tanto dos topográfos, quanto da sociologia de comunidade de Pierson. Chega a tratar mesmo da falta dela, a tese de Licínio Cardoso do rio São Francisco ser um “rio sem história” escrita. Suas considerações limitam-se a apontar as narrativas como anacrônicas, naturalizadoras da história ou deterministas geográficas, sem entrar nos meandros das narrativas construídas e da intertextualidade dos autores com matrizes ou com outros textos dos próprios investigados. Além disso, há pouca ou nenhuma diversidade das temporalidades construídas pelos escritores investigados, dos aspectos híbridos entre técnica e memória na construção de narrativas e dos textos como produções identitárias. Alguns dos documentos analisados por Rabelo são verdadeiros discursos fundadores de regionalismos onde a abordagem técnica e produtora de espaços e tipos se mistura a relatos biográficos, narrativas épicas, memórias familiares e exaltação de personagens. A abordagem dada por alguns trabalhos acadêmicos que, como foi dito acima, reificam noções romantizadoras do rio e se não são capazes de artificializar essa produção discursiva, ao contrário, reforçam uma tradição que contribuem para produzir, é a continuação dessa produção de mitos. Rabelo trata bem dessa produção mítica em espaço e tipos, mas pouco trata do enredo. Isso se deve, possivelmente, pela sua busca por padrões discursivos, que podem ser construídos com espacializações e personagens comuns, mas é mais difícil de ser encontrada em um conjunto muito mais amplo de narrativas. É possível, aliás, que o único caminho viável seja uma taxonomia das temporalidades produzidas pelos mitos engendrados pelos escritores do São Francisco, especialmente em virtude de suas motivações ideológicas e dos projetos sociais aos quais se vinculam.

Sem dúvida, A visão em deslocamento é uma importante contribuição para um campo de estudos interdisciplinar muito vasto que tem o rio São Francisco como tema, cenário ou objeto. Ao contrário de outros trabalhos que buscam validar, quando na verdade instituem, uma tradição narrativa são-franciscana, o livro de Rabelo permite perceber a produção discursiva sobre esse tema, historiciza essa escrita e bagunça a tradição. Ironicamente, é possível que o livro venha a compô-la, ao refazê-la, abrindo novas possibilidades de estudos e desenvolvendo, verticalmente, discussões tratadas de forma panorâmica com fôlego. Bons estudos correlatos tem sido publicados, mas geralmente monográficos e bastante especializados. A vantagem do livro de Rabelo é que realiza uma síntese do campo, uma espécie de balanço da produção escrita, ainda que seja o livro tenha recorte de vestígios e cronologia muito bem definidos.

Numa época em que se matam rios que foram reificados discursivamente como espaços de progresso latente, uma obra que conta uma história desse “rio sem história” é muito bem-vinda.

Flávio Dantas Martins – Mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Atualmente é doutorando em História pela Universidade Federal de Goiás. Professor do Centro das Humanidades da Universidade Federal do Oeste da Bahia. E-mail: flaviusdantas@gmail.com  ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5275-5761


RABELO, Elson Assis. A visão em deslocamento: uma história de palavras, figuras e paisagens do São Francisco (1930/1970). Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2016. Resenha de: MARTINS, Flávio Dantas. A invenção do Rio São Francisco: configurações do espaço e dos tipos em contextos autoritários. CLIO – Revista de pesquisa histórica. Recife, v.37, n.2, p.462-465, jul./dez. 2019. Acessar publicação original [DR]

Educação a Distância. Batatais, v.9, n.3, jul./dez. 2019.

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Gênero e números: estudos sobre as mulheres em diferentes tempos e espaços / Revista Brasileira de História & Ciências Sociais / 2019

Em um país profundamente desigual como o Brasil, historicamente marcado pelas diferenças que separaram os distintos segmentos populacionais, é mais do que oportuna a publicação do Dossiê Gênero e Números. De fato, trata-se, mais do que nunca, de uma obrigação das historiadoras, dos historiadores, dos e das cientistas sociais refletir sobre a sociedade brasileira, do passado e do presente. Aliás, diga-se de passagem, estes pesquisadores e pesquisadoras, abraçaram com muita disposição, nestes tempos recentes e sombrios, o desafio de discutir questões candentesque atravessam e dividem o nosso país.

Especificamente, em relação ao tema do dossiê, pelo menos, desde a década de 1990, os estudos sobre as mulheres e as relações de gênero têm reveladosituações em que elas aparecemcomo sujeitos ativos, contrariando as imagens e as representações,teimosamente atreladas a elas,como a passividade, a ociosidade, o confinamento ao lar, sobretudo vinculadas ao nosso passado. Desde então, através do uso de conceitos caros à história e às ciências sociais em geral,as estudiosas e os estudiososvem debatendoa questão da diferença sexual, colocando em evidência as construções sociais sobre os papéis, que se esperava,fossemdesempenhados por homens e por mulheres.

A pertinência e a necessidade dessas análises mantêm-se, ainda no final da segunda década do século XXI, uma vez que os indicadores apontam que profundas diferenças persistem entre nós. Para ilustrar a recorrência das desigualdades que caracterizam a nossa sociedade, podemos trazer dados da Síntese dos Indicadores Sociais. Uma análise das condições de vida da população brasileira publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para o ano de 2019 (SIS) [1].

Alguns indicadores do SIS 2019 revelam o persistente quadro das desigualdades estruturais que marcam nossa sociedade, e que atingem mais duramenteos grupos populacionais considerados mais vulneráveis, como pretos ou pardos, mulheres e jovens. Através desses indicadores fica evidenciada a desigualdade, mostrando que ela podevariar muito (para pior, muitas vezes) dependendo da região brasileira a que se refere. Nesse quadro, as diferenças em relação às mulheres aparecem com muita intensidade, ainda nos tempos presentes.

Apesar disso, esses mesmos indicadores revelam que alguns avanços foram alcançados, especialmente no que diz respeito ao papel cada vez mais proeminente que as mulheres ocupam na atualidade, bastando lembrar, entre outros exemplos, sua inserção no mercado de trabalho, maior acesso à educação e, principalmente o fato de terem aumentado sua participação como “principais provedoras”, ao contribuírem com mais de 50% da renda familiar. Portanto, estudar o lugar das mulheres na sociedade brasileira, no presente e no passado, deve continuar a ser objeto de atenção dos estudiosos e das estudiosas.

Quando a chamada desse dossiê foi lançada, o objetivo era agregar estudos que tivessem como foco as relações de gênero e os novos (ou antigos) papéis assumidos pelas mulheres, em diferentes tempos e espaços, privilegiando a perspectiva quantitativa, por meio de análise de dados seriais no âmbito da história e das ciências sociais. A ideia central era dar uma contribuição para a discussão sobre a atuação e a inserção das mulheres na sociedade, explorando aportes teóricos, fontes e metodologias variadasque pudessem dar elementos para a discussão da temática. O desafio proposto era problematizar as tendências, as mudanças e, (por que não?), as permanências que os indicadores revelavam.

As expectativas das organizadoras foram contempladas. Os artigos que compõem o dossiê atingiram esses objetivos de maneira plena por diversas razões. Inicialmente, pela abrangência temporal e espacial dos trabalhos que integram o volume, acrescido do texto da sessão acadêmicos e pesquisa, que abordam distintas regiões, de norte a sul do país, no arco temporal que vai do século XVIII ao século XXI. De outra parte, a riqueza e diversidade dos temas e perspectivas teóricas para o estudo das mulheres e das relações de gênero no âmbito da política, da religião, da moda, debruçando-se sobre a participação das mulheres em partidos políticos, trajetórias e representações, mulheres que vivenciaram a prostituição, a escravidão e a liberdade, mulheres que no passado, como muitas que vivem no século XXI, estavam à cabeça e na chefia de seus domicílios. Valoriza ainda esse dossiê, o fato que muitos desses aportes foram trazidos por jovens investigadores / as, comprometidos / as com o uso de um aparato teórico-metodológico variado e que oferece evidências para uma estimulante reflexão.

Os artigos foram organizados considerando, inicialmente, o âmbito de cobertura espacial, secundado pelo recorte temporal. De fato, pode-se dizer que há dois conjuntos de trabalhos, que se organizaram em torno desses eixos. O primeiro conjunto integra textos que analisam o Brasil e / ou as regiões norte (Amazonas) e nordeste (Pernambuco). O segundo conjunto contempla os demais artigos que versam sobre o espaço meridional brasileiro, em momentos diferentes do tempo.

Assim, o primeiro conjunto composto por três trabalhos, dá uma ideia da amplitude das abordagens, da participação das mulheres na política, aos estudos relativos à prostituição, passando pela análise, através da religião, das relações de gênero. O primeiro texto, Notas sobre a participação partidária das comunistas no Brasil, de Theófilo Machado Rodrigues, discute as mulheres na política, através da inserção das mulheres no Partido Comunista do Brasil, que recentemente, segundo o autor tem sido identificado como o “partido das mulheres”. Enfocando a história do partido, dividida em quatro momentos, (dos anos 1920 à segunda década do século XXI), através de um conjunto muito rico e diverso de fontes, o autor analisa a participação das mulheres. Entre vários dados interessantes, revela que, desde o final da década de 1990 até o presente, o PC do B mantém uma bancada formada por mulheres que ultrapassa os 30%, se destacando assim de todo os demais partidos.

O texto seguinte, de Paulo Marreiro dos Santos Júnior, desloca o foco para o Amazonas, especificamente para a cidade de Manaus, nas duas primeiras décadas do século XX, analisando tema de grande interesse: a prostituição no período áureo da borracha. O artigo, intitulado, sugestivamente de Das ‘polacas’ e ‘francesinhas’ às ‘regateiras’ e ‘decantadas’. Crítica ao imaginário e historiografia da prostituição da Manaus da borracha, tem como fonte as ocorrências policiais, registradas no Jornal do Comércio, em um contexto de transformações várias na cidade, analisando a esquecida vida das prostitutas, no tempo em que a capital do Amazonas era conhecida como a „Paris dos Trópicos‟.

O terceiro estudo, que fecha que o conjunto inicial de textos que compõem o Dossiê, é da autoria de Rogério de Carvalho Veras e de Loyde Anne Carreiro Silva Veras. O artigo Castelos de Orquídeas: Rena Butler, as relações de gênero e a presença protestante no espaço público, analisa a trajetória de uma mulher, que viveu em Pernambuco, até meados do século XX. A experiência de vida de Mary Rena HumphreyButler, que foi empresária e missionária, casada com um médico e missionário protestante, coloca em evidência o papel desempenhado por ela no processo de consolidação do protestantismo no espaço público brasileiro. Sua trajetória lança luz sobre a, frequentemente, obscurecida participação de mulheres na missionação, abrindo perspectivas renovadas de interpretação para o campo de estudo das religiões no Brasil.

Os artigos que completam a segunda parte do dossiê têm como foco de estudo o Rio Grande do Sul e abrangem o arco temporal entre o período colonial e o século XXI. Formam um conjunto interessante, que reúne mulheres de condições muito variadas que viveram e vivem na região mais meridional do Brasil.

O artigo de Denize Terezinha Leal Freitas, Uma análise populacional dos domicílios no extremo sul da América portuguesa: mulheres chefes de fogos (Porto Alegre, século XVIII-XIX), analisa a atual capital gaúcha nos primeiros 50 anos de sua existência (1772-1822), quando a localidade ainda misturava elementos de caráter urbano e rural. A partir do uso de uma fonte muito preciosa, os Róis de Confessados e Comungados, elaborados pela Igreja Católica para controlar o sacramento da confissão / comunhão, a autora examina a presença das mulheres, colocando em evidência o protagonismo que elas tiveram, como chefes dos seus domicílios, posição desfrutada por não poucas mulheres, de várias „qualidades‟, desde as mulheres livres e brancas, passando pelas pardas e pretas, livres ou libertas, pelas ricas e pobres, em uma localidade em que havia mais homens que mulheres.

Do século XIX para o XXI. Esse é o salto temporal que o leitor fará, ao ler o artigo quetrata de tema atual e instigante, ligado ao estudo das indústrias criativas no segmento da moda. O foco é a região metropolitana de Porto Alegre, entre os anos de 2008 e 2017. Interessa ao trio de autores, Margarete PaneraiAraujo, Moisés Waismann e Judite Sanson de Bem, evidenciar a presença feminina nesse segmento profissional, analisando a pertinente questão das disparidades variadas que atravessam esse ramo de atividades, analisando o percentual de mulheres envolvidas, sua formação e escolaridade. Através do texto Indústria criativas no segmento da moda: distribuição dos vínculos por sexo e escolaridade na região metropolitana de Porto Alegre em 2008 e 2017, é interessante notar que, entre os resultados apresentados, embora as mulheres trabalhadoras sejam maioria no setor, são menos escolarizadas que os homens que dividem com elas esse segmento das indústrias criativas. Os dados utilizados são do Ministério da Economia, RAIS.

Também vinculado a esse dossiê, mas na sessão Acadêmicos e pesquisa o texto de Marina Haack, nos brinda com um estudo sobre Cachoeira do Sul, na segunda metade do século XIX, entre os anos de 1850 e 1888. A partir do aporte teórico da interseccionalidade, o artigoPensando mulheres escravizadas e libertas: um olhar interseccional para as cartas de Alforria de Cachoeira do Sul busca explorar as experiências femininas, privilegiando o segmento das escravizadas e libertas, que tinham sua vivência marcada não apenas pelo viés da cor, da idade e da naturalidade, mas, sobretudo por sua condição jurídica. A partir das fontes selecionadas, as cartas de liberdade, a autora adentra em temas fundamentais para essas mulheres, como o trabalho e a maternidade, lançando luzes sobre as diferenças que perpassam a experiência de escravidão que marcaram a vida daquelas mulheres.

O elenco dos textos que integram o dossiê, certamente, estimulará as leitoras e os leitores a desvendar e trilhar alguns dos instigantes caminhos de pesquisa que estão sendo explorados em nosso país e em nossas universidades. Trabalhos realizados com o esforço e a dedicação deinvestigadoras e investigadores, ainda que as condições de produção estejam prejudicadas com o contingenciamento / corte de verbas, e que esteja em causa o valor e a importância de suas contribuições, diante dos ataques perpetrados àqueles que dedicam sua vida e seu trabalho à produção de conhecimento de qualidade, a partir de bases científicas.

Boa leitura!

Nota

1. Essa publicação do IBGE foi lançada, pela primeira vez, em 1999, com o objetivo de traçar um quadro sintético das condições de vida da população brasileira e, desde então, dá subsídios para a construção de políticas públicas em todos os níveis do governo (SIS, 2019, p.9). Acesso em https: / / biblioteca.ibge.gov.br / visualizacao / livros / liv101678.pdf , janeiro de 2020

Ana Silvia Volpi Scott – Professora Doutora (UNICAMP)

Denize Terezinha Leal Freitas – Professora Doutora (UNIPAMPA / SEDUC-RS)

Organizadoras


SCOTT, Ana Silvia Volpi; FREITAS, Denize Terezinha Leal. Apresentação. Revista Brasileira de História & Ciências Sociais. Rio Grande, v.11, n. 22, jul. / dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Vestígios. Belo Horizonte, v.13, n.2, 2019.

Expediente

APRESENTAÇÃO

ARTIGOS

PUBLICADO: 2020-01-13

Viver o patrimônio  | Memória em Rede | 2019

Ao refletir sobre acrescente difusão e saturação de discursos da memória em nossa contemporaneidade, a historiadora Régine Robin (2016) questionou se haveria, de fato, alguma sociedade que estivesse “em paz” com o seu próprio passado, ou melhor, com os seus múltiplos e conflitantes passados. Para ela, uma dúvida paira no ar: “Onde encontrar uma sociedade que, consciente ou inconscientemente, não manipule, falsifique, reoriente, reconfigure seu passado, não oculte alguns de seus períodos?” (ROBIN, 2016, p. 169). O passado é, afinal, algo que nos toca de algum modo, pois nos comove e nos inspira a agir no presente. É, também, algo que desejamos tocar em seu lado de cá, em nosso presente, ao investir esforços para que os seus significados não se esvaneçam em silêncio ou em esquecimento e para que nunca se dê por encerrado o desafio de interpretá-lo e reinterpretá-lo. Se o passado é irreversível, pois é tempo que flui e nunca retrocede, suas interpretações são infindáveis, permanentemente abertas às possibilidades de um novo devir. O passado, por intermédio de seus vestígios que ainda perduram no seio de uma sociedade, é um recurso disputado em lutas contemporâneas, dentre as quais, lutas por um outro modo de viver o presente e de direcionar caminhos alternativos rumo ao futuro. Para além do fato bruto, lapidações do passado se dão em meio a concorrências memoriais e historiográficas, concorrências entremeadas por reivindicações individuais e coletivas pelos direitos de estabelecer laços de identificação e pertencimento e de exigir reconhecimento público das diferenças. Logo, ainda que se busque apaziguá-lo, o passado que nos toca e que tocamos, passado que se imiscui à vida, é um tempo agonístico. Leia Mais

Diálogos entre cultura, política e história social / Fatos & Versões / 2019

O que é a história social? Pergunta de difícil resposta, como lembram os autores do primeiro artigo deste dossiê (LANGARO e SILVÉRIO, 2019), que comporta múltiplas possibilidades de solução. Seria ela uma denominação ampla e vaga – características que teriam, inclusive, motivado sua escolha para figurar no primeiro nome da revista Annales (d’histoire économique et sociale) (LE GOFF, 2005) – para um campo vasto da investigação historiográfica, que abarca toda a existência humana e, portanto, uma oposição tão somente à história natural? Seria ela uma proposta de estudos dos seres humanos em uma perspectiva abrangente, como propôs Déa Ribeiro Fenelon (2009), que, ao invés de se separar o estudo das atividades humanas em diferentes compartimentos (história política, história econômica, etc.), buscaria estudar os sujeitos históricos de maneira mais abrangente, em suas múltiplas relações com o mundo em que vivem? Ou seria apenas mais um compartimento historiográfico, onde caberiam os estudos sobre movimentos sociais e de história do trabalho, concepção frequentemente repetida e vulgarizada?

Inquietos com tais questionamentos, os historiadores que compõem este dossiê, perseguiram respostas por meio de seus trabalhos de pesquisa. A ideia central deste exercício de convergência de investigações acadêmicas é contrapor o que a história social é hoje com o que ela pode ser, apostando no potencial de renovação da área. Para tanto, tomou-se como ponto de partida a preocupação fundamental da história social com a compreensão da desigualdade social, em suas relações e articulações com a diversidade cultural.

O resultado foi um dossiê amplo e diverso, com artigos que colocam em diálogo cultura, política e relações sociais. São estudos que evidenciam a vida cotidiana, as práticas culturais de grupos populares, a atuação de movimentos sociais, histórias de trabalhadores e de suas relações de trabalho, e as relações entre campo e cidade. Também 2 composto por investigações que dão conta das maneiras como círculos políticos e intelectuais compreendem o “povo” e o popular – particularmente o povo brasileiro e sua miscigenação étnico-racial – ou produzem reflexões teóricas, com apurados estados da arte, referentes à história social brasileira.

Dentro deste amplo espectro de contribuições, o dossiê foi organizado da seguinte maneira: o primeiro artigo, intitulado “Olhares sobre a história social no e do Brasil Contemporâneo: trabalho, trabalhadores / as e movimentos sociais”, escrito por Jiani Fernando Langaro e Leandra Domingues Silvério, problematiza a trajetória da história social do trabalho e dos movimentos sociais, com base na historiografia do Brasil Contemporâneo. Os autores discutem como, de uma perspectiva mais restrita de história operária, caminhou-se para uma proposta mais aberta, de estudos sobre trabalhadores(as) e movimentos sociais.

O segundo trabalho, de Eduardo José da Silva Lima, intitulado “A luta pela moradia e os Estudos Culturais: invisibilidade e silenciamento em Palmas –TO”, estuda a luta pela moradia empreendia por movimentos sociais na cidade de Palmas, estado do Tocantins. A cidade planejada para ser a capital do novo estado criado no final da década de 1980, durante a Assembleia Nacional Constituinte, não deixou de ser excludente com as populações trabalhadoras pobres. Em uma trama que envolve exclusão social, especulação imobiliária, grilagens de solo urbano, mas também resistências, ocupações e luta pela moradia, o autor problematiza as contradições da dinâmica urbana de Palmas.

Na sequência, Rafael Giovanetti Teixeira, em “Para discutir classe social, o caso da usina açucareira paredão”, discute as relações sociais e de trabalho dos operários dessa usina instalada na cidade de Oriente, estado de São Paulo. Outrora uma fazenda de café sob o sistema de trabalho de colonato, ao longo do século XX, tornou-se uma usina açucareira, transformando as colônias em vilas operárias. Diante desse quadro, o autor questiona como os trabalhadores viveram as transformações operadas nas relações de trabalho, que também implicaram em mudanças nas relações com os locais de moradia e com a dinâmica entre campo e cidade.

Lucas Rodrigues do Carmo, em “Alforrias nos livros de notas de Jatahy: estratégias na negociação da liberdade (1872-1888)”, trata de outro importante tema da história social: a escravidão e os escravizados. Tomando como recorte a cidade de Jataí no período que antecede a abolição, e como fonte de pesquisa documentos cartoriais, o autor trabalha as trajetórias de sujeitos escravizados na cidade, em suas lutas para obterem liberdade. Assim, busca compreender os significados plurais da escravidão no Sudoeste goiano, bem como humanizar a escrita da história sobre este período.

“O Patrimônio e a instituição: desafios na formação e no desenvolvimento das políticas culturais patrimoniais”, é o artigo escrito por Lucas Santana Coelho Fonseca, preocupado em pensar o patrimônio cultural sob a ótica da história social. Enquanto tal, tem como preocupação principal os grupos marginalizados pelas políticas patrimoniais brasileiras, as quais analisa em um estado da arte permeado por uma leitura crítica quanto aos seus (des)caminhos.

O artigo seguinte, de Lucas Rezende Cruz, “Plano diretor de Ewald Janssen: a representação de uma Goiânia dos anos 1950”, traça um caminho pouco usual na historiografia brasileira: ao invés de abordar as propostas para a cidade de Goiânia feitas pelo topógrafo, engenheiro e urbanista Edwald Janssen a partir da história urbana, o autor escolhe a história social como campo conceitual para operar a análise. Dessa maneira, Cruz reflete sobre o lugar dos trabalhadores na cidade industrial vislumbrada e projetada por Janssen, uma proposta de correção dos problemas urbanos da Goiânia dos anos 1950, produto de uma expansão desordenada verificada na década anterior.

Por fim, fechando o dossiê, temos o artigo “‘Miscigenação, arianismo e nacionalismo’: uma análise historiográfica das obras de Manoel Bomfim e Oliveira Viana sobre a formação da sociedade brasileira”. Escrito por Luana Dias dos Santos e Luiz Carlos Bento, o texto trata das formas como Bomfim e Viana concebiam o povo brasileiro, especificamente seu caráter miscigenado, passando por temas como a escravidão e a imigração europeia. Os autores também discutem os nacionalismos e as construções identitárias nacionais forjadas pelos intelectuais cujas obras foram analisadas.

O dossiê constitui-se, portanto, em uma pequena amostragem da diversidade de perspectivas e do amadurecimento das reflexões sobre história social, desenvolvidas após o intenso processo de expansão da pós-graduação no Brasil e as transformações operadas na área nos últimos anos, com a ascensão de novas questões e problemas de pesquisa. Sem pretensões de esgotar o assunto, procura apresentar uma história social renovada, em que temas clássicos se repaginam para dar conta de demandas contemporâneas, dividindo espaço com novas propostas de investigação, emergentes no novo momento histórico inaugurado pelo século XXI.

Referências

FENELON, Dea Ribeiro. O historiador e a cultura popular: história de classe ou história do povo? História & Perspectivas. Uberlândia / MG, UFU, n.º 40, pp. 27-51, jan. / jun. 2009.

LANGARO, Jiani Fernando e SILVÉRIO, Leandra Domingues. Olhares sobre a história social no e do Brasil Contemporâneo: trabalho, trabalhadores / as e movimentos sociais. Fato & Versões. Campo Grande, UFMS, vol. 11, num. 21, pp. 5-26, 2019

LE GOFF, Jacques. A história nova. In: LE GOFF, Jacques (org.). A história nova. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 32-84.


LANGARO, Jiani Fernando. Apresentação. Fatos e Versões. Campo Grande, v.11, n.22, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Arqueología del pasado contemporáneo: una mirada desde la Península Ibérica/Vestígios – Revista Latino-Americana de Arqueologia Histórica/2019

La arqueología del pasado contemporáneo es un campo emergente pero cada vez más consolidado dentro de la disciplina. En su forma actual, se puede situar su nacimiento en torno al año 2001, cuando se publica el libro ya clásico de Victor Buchli & Gavin Lucas (2001) Archaeologies of the Contemporary Past. En este volumen colectivo se recogían contribuciones procedentes de diversos países: además de las potencias académicas hegemónicas en arqueología (Estados Unidos y Reino Unido), había también capítulos de arqueólogos argentinos (Doretti & Fondebrider, 2001) y franceses (Olivier, 2001). Francia y los países sudamericanos, de hecho, han tenido un papel fundamental en la emergencia de las arqueologías contemporáneas y han contribuido decisivamente a su diversidad teórica, metodológica y temática. En el primer caso ha primado la reflexión teórica (Olivier, 2008) y la práctica arqueológica más convencional, sobre todo a través de la arqueología de gestión (Journot & Bellan, 2012), en el segundo caso las aproximaciones al pasado traumático más reciente, marcado por las dictaduras (Funari & Zarankin, 2006). Una de las características de la arqueología contemporánea ha sido, de hecho, la aparición de diferentes escuelas con sus propias agendas, determinadas en buena medida por las realidades históricas y políticas nacionales. Leia Mais

Estudos africanos: novas perspectivas historiográficas / Dimensões / 2019

Em meados do século XIX, Hegel (1995, p. 174), em sua Filosofia da História, exprimia uma percepção extremamente pessimista em relação à História da África: “[a África] não faz parte da história do mundo. Não tem […] progressos a mostrar, movimentos históricos próprios”. A visão de Hegel acerca do continente, sobretudo de sua parte subsaariana, negava a possibilidade de sua historicização, colocando-o na posição de figurante de um passado centrado na Europa. Ecos da perspectiva hegeliana ainda repercutiam nos meios acadêmicos em pleno século XX, como demonstra Fage (2011, p. 8-9), ao reproduzir a fala do famoso professor de Oxford, Sir Hugh Trevor-Roper, que afirmara, em 1963, não haver uma História da África, mas tão somente a dos europeus no continente.

Carlos Lopes (1995), em seu clássico artigo A pirâmide invertida: historiografia africana feita por africanos, explicita a existência de três grandes correntes historiográficas associadas aos Estudos Africanos, cada qual, segundo ele, ligada a um contexto político / acadêmico próprio: a denominada corrente da inferioridade, identificada com o período colonial em África; a da superioridade, associada ao pan-africanismo e à descolonização; e o que o autor guineense intitulou de novos estudos acerca do continente, que se aproximam, em grande medida, de perspectivas interpretativas pós-estruturalistas. Leia Mais

Catolicismo, poder e sociedade / Faces de Clio / 2019

Com muita satisfação, a Revista Faces de Clio lança o dossiê Catolicismo, poder e sociedade (Julho – Dezembro de 2019). O presente arquivo reúne artigos de historiadores e cientistas da religião sobre as relações do catolicismo para com as instituições políticas e sociais em diferentes contextos históricos, considerando não apenas os espaços oficiais ou teológicos da Igreja Católica, mas também as suas manifestações não oficiais ou populares.

Visando facilitar a difusão dos nossos artigos, damos início a uma nova fase da Revista, que agora se integra ao novo Portal de Periódicos da Universidade Federal de Juiz de Fora. Com nosso novo site (OJS 3), teremos todo o fluxo editorial administrado na plataforma, facilitando a comunicação entre autores, editores, pareceristas e leitores.

Iniciamos este número com o artigo de João Antônio Fonseca Lacerda Lima, que analisa a importância das cerimônias católicas nos vários âmbitos dos bispados do Maranhão e do Pará, desde a sua instalação até o modo de seleção dos clérigos nas dioceses. Assim, mediante o estudo da “pompa e circunstância”, o autor demonstra o lugar da Igreja e dos eclesiásticos naquela sociedade.

Em seguida, temos o artigo de Júnior Cesar Pereira, “Lágrimas no púlpito A morte de D. Pedro III na parenética de Teodoro de Almeida”, que explora a relação entre a esfera do político e do religioso a partir da oratória sagrada, entendida com prática cultural. No texto, o autor procurou demonstrar como a morte de Dom Pedro III foi refletida no púlpito, a partir da análise de um sermão pregado pelo padre Teodoro de Almeida (1722-1804).

Nívea Mendonça, doutoranda em História Social pela Universidade Federal Fluminense, analisa o processo de entrada de pessoas na Ordem Terceira do Carmo em Vila Rica e em Mariana. De acordo com a autora, tal processo era extremamente criterioso e, somente ao final de todas as etapas, os noviços eram reconhecidos como Irmãos Terceiros da Ordem do Carmo.

No artigo intitulado “A Igreja Católica e o Movimento de recatolização no início do século XX”, Allan Fernandes discorre sobre a Igreja Católica no contexto político das décadas de 1920 e 1930. No texto, o autor relaciona o movimento de Recatolização no Brasil, a crise dos anos 1920, a ascensão de Vargas ao poder com os Levantes comunistas de 1935.

O texto de Pedro J. Silva Reis, Mestre em história contemporânea pela Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa, retoma o debate em torno da problemática da observação do comportamento político dos católicos produzido no âmbito da historiografia francesa, confrontando e equacionando as vantagens e desvantagens do universo crente contemporâneo.

No artigo intitulado “O Social Catolicismo e a sua atuação no meio rural na segunda metade do século XX no Brasil”, Nilmar Carvalho analisa a atuação da Igreja Católica no meio rural brasileiro, na segunda metade do século XX, sobretudo em relação à reforma agrária. A pesquisa está circunscrita aos eventos que ocorreram entre os anos de 1950 e 1964 e analisa os documentos eclesiais e bibliografias sobre o assunto.

Leiliane Louise Lucena da Costa, por sua vez, investiga por meio de cartas e rabiscos deixados por suicidas nos processos policiais de 1920 e 1952, a busca pelo perdão do pecado cometido contra si mesmo. O suicídio, tema tabu e hodierno para sociedade, é trabalhado na perspectiva da Igreja Católica, que com o desenvolvimento da medicina e áreas afins, fez rever algumas de suas doutrinas e passou a permitir o cumprimento de todos os rituais necessários para encomendar o enterro destes sujeitos.

Ainda no século XX, o artigo “Orientando o voto católico sul-rio-grandense: a LEC (Liga Eleitoral Católica) e a propaganda político-partidária veiculada na imprensa escrita em 1950” tem como objetivo compreender a influência da Igreja Católica por meio dos ditames apregoados pela Liga Eleitoral Católicos (LEC) na propaganda político-partidária do Partido Social Democrático (PSD) e do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) veiculada nos jornais Correio do Povo e Diário de Notícias.

Finalizando a sessão do dossiê temático, trazemos o artigo de Rita Suriani Lamas, que apresenta uma revisão bibliográfica sobre a atuação da Igreja Católica durante o governo ditatorial militar brasileiro, entre as décadas de 1960 e 1980. Ao longo do texto, a autora analisa documentos oficiais emitidos por órgãos ligados à Igreja, examinando as transformações ocorridas no clero brasileiro relativas às posturas adotadas frente às ações dos militares no poder.

Quanto aos artigos livres, iniciaremos com as contribuições do historiador Aguiomar Rodrigues Bruno, que no artigo intitulado “Por tudo que é vivo morre: a morte negra numa freguesia do Recôncavo da Guanabara, Rio de Janeiro (Séc. XVIII)”, o autor analisou as representações e as práticas do bem morrer católico entre os indivíduos forros da freguesia de Nossa Senhora da Piedade do Iguaçu, no Recôncavo da Guanabara, ao longo do século XVIII.

Adentrando na segunda metade do século XIX e início do século XX, o Professor Doutor Antônio Gasparetto Junior explora as manifestações culturais da comunidade germânica em Juiz de Fora, município que recebeu elevado número de imigrantes alemães e em muito se destacou pelas manifestações culturais e profissionais que os mesmos empreenderam na cidade. Por meio de fontes provenientes de suas antigas associações, o autor avalia a relevância que elas tiveram para a proteção dos germanos na região.

Finalizando os artigos da revista, Geovano Chaves, professor de história do IFMS, apresenta o artigo intitulado “O cinema polonês nos trilhos da História: As 200 crianças do Doutor Korczac de Andrej Wajda”. Ao longo do texto, o autor analisa as afinidades entre política e religião através do cinema, refletindo sobre os aspectos do antissemitismo no território polonês. No artigo, o autor analisa o filme “As 200 crianças do Doutor Korczac” com o objetivo de exemplificar alguns “trilhos” da história da Polônia.

Agradecemos a todos(as) membros da equipe editorial, ao conselho consultivo, aos pareceristas, aos autores(as), que participaram ativamente da construção deste dossiê, e aos leitores que prestigiarão o nosso trabalho.

Ana Paula Dutra Bôscaro – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: anapaulaboscaro@gmail.com

Bárbara Ferreira Fernandes – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: barbaraffernandes@outlook.com

Jorge William Falcão Junior – Doutorando em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. E-mail: williamfalcaojr@gmail.com


BÔSCARO, Ana Paula Dutra; FERNANDES, Bárbara Ferreira; FALCÃO JUNIOR, Jorge William. Editorial. Faces de Clio, Juiz de Fora, v.5, n.10, jul / dez, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Os povos indígenas na história: agenciamentos, direitos e lutas/Cadernos de Pesquisa do CDHIS/2019

Embora o colonialismo tenha se esgotado formalmente na América a pelo menos dois séculos, a colonialidade, como a define Quijano1, persiste. Padrão de controle e classificação hierarquizante das populações, ela afeta todos os campos da vida social e reproduz, até hoje, relações de ser, pensar, fazer e poder que ainda são coloniais. A simples escolha semântica de América e Latina, ou de Novo Mundo, não só fortalece(u) a versão ocidental de nossa história e cultura, mas, ao silenciar outras tantas semânticas, exclui(u) também de um só golpe trabalhadores pobres, afrodescendentes e povos originários dos projetos de construção das nações dessa parte do mundo. Conduzidas por elites que, se não eram, queriam ou imaginavam ser europeias, as diferentes políticas de Estado, como por exemplo as indigenistas, sempre procuraram, de uma forma ou de outra, transformar essas populações em nacionais, sejam eles argentinos, peruanos, chilenos, mexicanos, brasileiros, bolivianos etc., ou o que quer que essas coisas representem. Como se não bastasse o fardo do peso histórico do genocídio, do etnocídio, da expulsão e da segregação cometidos contra os povos indígenas, sua face perversa e monstruosa se repete no atual momento político delicado pelo qual passa todo o continente, marcado não só pelo sucessivo retrocesso nos diretos sociais (transformados em serviços pelo ultra neoliberalismo de extrema direita que nos recoloniza), como no claro discurso de que essa parcela da população é prescindível, descartável; sina igualmente compartilhada por pobres e afrodescendentes. Leia Mais

Culture del consumo – CAPUZZO (BC)

CAPUZZO, Paolo. Culture del consumo. Bologna: Il Mulino, 2006. 334p. Resenha de: TIAZZOLDI, Livia. Il Bollettino di Clio, n.11/12, p.179-183, giu./nov., 2019.

Paolo Capuzzo, docente di storia contemporanea presso il Dipartimento di Storia Culture Civiltà  dell’Università di Bologna, ricostruisce in questo libro la nascita, lo sviluppo della società dei consumi e le modificazioni culturali che ne accompagnano l’espansione in Europa tra il Seicento e l’inizio del Novecento. L’esperienza europea è collocata all’interno del processo che dalle prime conquiste coloniali ha portato alla formazione dell’economia mondiale.

Si mettono a fuoco da un lato la progressiva acquisizione di forza politico-economica della società europea, in particolare di quella dell’Europa urbana del Nord, dall’altro la sua capacità di democratizzarsi, nel momento in cui le classi subalterne si appropriano di beni inizialmente appartenenti alla sfera del lusso.

Il libro è suddiviso in 5 capitoli preceduti da un’Introduzione nella quale vengono delineate le linee di forza dell’intero percorso e le tematiche centrali:  • il rapporto tra consumi europei e commercio mondiale  • la dimensione etica del consumo  • la costruzione della sfera privata  • la regolazione dei rapporti di classe  • la costruzione di uno spazio pubblico del consumo   “Ricostruendo la storia della diffusione dello zucchero, del caffè, del tabacco, del tè, della cioccolata è possibile- scrive l’autore- mettere in evidenza i rapporti tra la domanda europea, la conquista di basi e monopoli commerciali, l’organizzazione della produzione di questi beni.

La diffusione delle nuove bevande mostra poi come, una volta approdate nei grandi porti commerciali europei, queste merci subissero un variegato processo di appropriazione da parte dei consumatori […]. Le nuove culture del consumo che si costruiscono in Europa attraverso queste bevande non sono, insomma, un epifenomeno dell’espansione coloniale, ma rispondono a un processo di produzione della quotidianità, nella quale agiscono soggetti che si appropriano di tali risorse.” (p. 10).

Nel momento in cui la ricchezza e il potere non derivano più dall’appartenenza ad un ceto sociale, ma dal successo del mercato sono i modi del consumo a decidere dell’inclusione o dell’esclusione da una determinata cerchia sociale.

Il lusso si popolarizza sovvertendo le tradizionali gerarchie sociali. E’ dunque evidente il legame tra la diffusione dei liberi consumi e il progresso della democrazia.

I processi di consumo appartengono ad una sfera dotata di autonomia, ma sono in stretta relazione con la definizione delle identità, con la costruzione dei rapporti sociali e di genere.

Il consumatore non è visto come un terminale passivo di un processo di manipolazione dei suoi desideri, ma come individuo capace di attribuire un significato al consumo, pur all’interno di un habitus, cioè di un insieme di principi legati all’estrazione sociale e interiorizzati fin dall’infanzia che ne orientano l’azione attribuendo un determinato valore alle cose.

Tale habitus viene progressivamente messo in crisi dal processo di commercializzazione, dalla logica del profitto, che utilizza la moda e la pubblicità come criterio di valore di una merce.

“La forza semiotica della commercializzazione contemporanea, scrive ancora l’autore, è certamente un carattere inedito nella creazione dell’immaginario, cosa che distingue la nostra società da quelle precedenti […] tuttavia i consumatori continuano a far udire la loro presenza […]”. (p. 15 ).

Ciascuno dei cinque capitoli in cui si articola il volume offre una sintesi ragionata degli studi prodotti dalla storiografia internazionale sui vari temi, corredata da un’ampia bibliografia.

Capitolo 1. Consumi europei e globalizzazione del commercio tra XVII e XVIII secolo

Si analizza in queste pagine l’espansione del commercio europeo all’inizio dell’Età moderna, la nascita di una prima globalizzazione collegata al colonialismo e ad una grande disponibilità di risorse materiali.

Si sottolinea il fatto che gli sviluppi e il rinnovamento dei consumi in Europa sono intimamente connessi ad un nuovo assetto del potere mondiale ottenuto con la disponibilità finanziaria, la superiorità tecnologica, con la forza delle armi e con la deportazione della manodopera africana impegnata nelle miniere di metalli preziosi e nelle piantagioni americane.

Le colonie sono luogo da cui prelevare materie prime come zucchero, caffè, legname, tabacco, cotone da trasformare e rivendere poi come prodotti finiti a prezzi ben più alti.

Sulle tavole europee arrivano nuovi prodotti (patate, pomodori, cacao, fagioli, frutta tropicale, mais, zucche) inizialmente utilizzati solo dalle classi sociali più alte, ma accessibili poi anche ad altre classi sociali, quando la produzione col sistema delle piantagioni e la commercializzazione su larga scala ne abbassano i prezzi.

Caffè, tè e tabacco (il primo dei prodotti esotici ad essere consumato dalle masse) vengono subito apprezzati per la loro capacità di garantire lucidità, al contrario del vino.

Il consumo di questi prodotti si associa anche a una specifica ritualità praticata in nuovi spazi pubblici come le coffee e le tea houses, fattori formidabili di “sociabilità”, o nelle case private, nell’ambito di un mondo soprattutto femminile.

I primi locali detti caffè, dal nome della bevanda che vi si consumava, nascono a Venezia alla metà del Seicento e diventano di moda nel secolo successivo in tutte le grandi città europee. Sono frequentati da un’ élite di uomini d’affari che leggono i giornali, discutono di politica. Vi si aggiungono poi artisti e scrittori.

Capitolo 2. Lusso, moda e ordine sociale tra XVIII e XIX secolo

Il capitolo è dedicato nella prima parte ad una riflessione sul lusso, alla sua funzione nella società di corte, in particolare quella francese, e alla sua progressiva “popolarizzazione”.

Nelle società di corte il consumo designa un modello particolare di sociabilità, quello dei cortigiani e delle cortigiane, che si afferma poi come modello anche nelle grandi città europee come Parigi, la capitale del gusto, soprattutto per le donne che frequentano i salotti dell’alta società. Quello dell’apparire, grazie all’uso di cosmetici, gioielli, abiti eleganti, diventa un valore sempre più ricercato dai nuovi ricchi, da esibire sia nella sfera privata che in quella pubblica dei teatri, delle sale da musica, dei ristoranti.

Nei contesti cittadini è lo stile del consumo a decretare l’inclusione o l’esclusione da una certa schiera di persone. La ricchezza derivante dal mercato ha sostituito la nobiltà di nascita nella costruzione della posizione sociale e pubblica, soppiantando anche qualunque codice etico nell’accumulazione del reddito.

Nasce in questi anni la categoria di “povertà” dove la miseria materiale è strettamente connessa a quella morale.

La questione dell’apparire contrapposto all’essere è al centro di molti dibattiti nel Settecento: c’è chi critica il lusso in nome di un ideale di uguaglianza sociale, chi lo considera un’opportunità per scardinare un rigido ordinamento sociale.

Molti autori concordano sul fatto che la grandezza delle nazioni si fonda sul lusso, sulla forza economica, non sulle virtù dei cittadini: è impossibile controllare e organizzare una società in base a dei valori condivisi che restano appannaggio della sfera privata.

Il dibattito proseguirà nei secoli successivi accanto al filone della critica moralistica del lusso considerato responsabile della decadenza culturale.

La seconda parte del capitolo affronta la questione della moda come nuova dimensione del consumo a partire dalla fine del Settecento. L’ostentazione del lusso cede il passo alla sobrietà, alla scelta di un abbigliamento regolato da specifici galatei, diversificato in base all’età, alle differenze di genere e ai vari contesti.

La diffusione della moda è legata agli spazi urbani delle città, alle vetrine dei negozi, alle illustrazioni colorate e alla pubblicità sui giornali.

Essere bella, elegante, consona alle varie situazioni sociali è una precisa missione sociale per la donna borghese dell’Ottocento: è occasione di legittimazione sociale e anche indiretta dimostrazione del successo economico maschile.

Le classi sociali inferiori subiscono il fascino della moda e sono spinte a imitare quelle superiori che, dal canto loro, cambiano spesso abbigliamento per mantenere la distinzione.

Si innesca così un meccanismo di continua emulazione. Lo sviluppo della moda in Inghilterra alla fine del Settecento può essere considerato come una delle cause della rivoluzione industriale favorita anche dall’importazione del cotone, usato per produrre tessuti meno costosi.

Nel corso dell’Ottocento la produzione del vestiario si diversifica in base a due segmenti di mercato: quella industriale di massa sia per i lavoratori delle grandi città che per le uniformi dell’esercito e quella dei laboratori di sartoria che, grazie all’uso delle macchine da cucire, confezionano abiti su misura per la clientela più ricca.

Il Novecento vede poi l’allargamento della classe media e la nascita dei grandi magazzini che propongono abiti colorati, in fibre sintetiche, standardizzati, ma anche diversificati in base alle varie esigenze della vita moderna.

Capitoli 3 e 4. Culture del consumo delle classi medie e della classe operaia

Questa parte del libro è centrata sull’analisi e sul confronto fra queste due classi sociali in un periodo che va dal 1700 all’inizio del 1900.

Le descrizioni sono declinate al plurale tenendo conto delle variabili geografiche, delle trasformazioni nel corso del tempo, delle dinamiche di distinzione, conflitto, emulazione.

Della classe media si sottolinea l’importante funzione di separare lo spazio pubblico da quello domestico, luogo della convivenza familiare, al riparo dalla corruzione della città.

Le famiglie borghesi in Olanda e in Inghilterra hanno il compito di ricostruire una sfera morale che l’economia e la politica non sono in grado di proporre.

Il lavoro femminile si sposta all’interno della casa dove la moglie si dedica all’amministrazione, all’arredamento, alla cucina e alla cura dei figli lasciando al marito il compito di provvedere alle necessità economiche della famiglia.

La classe operaia valorizza molto meno la sfera privata della casa, dove molte donne non possono inizialmente svolgere un ruolo simile a quelle della borghesia. Sono spesso costrette a lavorare in fabbrica assieme ai mariti e ai figli, con i quali condividono anche momenti di tempo libero fuori casa: in spazi pubblici, pub e taverne, luoghi di consumo di alcol, gioco e scommesse.

Le tipologie abitative delle due classi sociali sono ampiamente descritte e messe a confronto per quanto riguarda il numero di stanze, l’arredamento, le spese destinate ai consumi domestici.

Tra la fine del Settecento e l’inizio del Novecento la classe media, fatta di commercianti, imprenditori, professionisti e funzionari statali, assume un ruolo sempre più importante nell’Europa nord-occidentale dove si affermano il capitalismo industriale e lo stato moderno.

Il processo di privatizzazione dello spazio abitativo diventa uno dei principi che regolano i consumi nel XX° secolo per quanto riguarda la tipologia delle case e l’arredamento: nasce l’industria di massa del mobile e dei beni durevoli.

La separazione fra spazio privato e pubblico è alla base anche dell’edilizia seriale del Novecento, secolo nel quale gli stili di consumo della classe operaia cominciano ad avvicinarsi a quelli della classe media.

La riduzione dei tempi di lavoro nelle fabbriche lascia spazio a partire dalla fine dell’Ottocento a momenti di divertimento: il gioco del calcio, le vacanze, favorite anche dai mezzi pubblici di trasporto come ferrovie e tram.

La Grande Guerra rappresenta un ulteriore momento di profonda trasformazione della società europea per quanto riguarda la massificazione degli stili di vita, trasformazione che si compie pienamente negli anni Cinquanta dello stesso secolo.

L’industria della cultura di massa è fondamentale nel Novecento: è strumento per regolare il tempo libero, ma anche terreno di eversione identitaria.

Capitolo 5. Lo spazio pubblico del consumo: geografia urbana e reincanto del mondo

Si affronta il tema del consumo come forma di evasione dalla quotidianità, momento da vivere in grandi città quali Londra e Parigi, negli spazi che allestiscono lo spettacolo delle merci dove è possibile sognare ad occhi aperti.

L’autore sottolinea in particolare le trasformazioni della geografia urbana e dei flussi di traffico provocati dalla nascita dei grandi magazzini, strutture sviluppate su più piani, dotate di grandi vetrine e insegne luminose. Questi nuovi spazi pubblici del consumo sono frequentati soprattutto dalle donne della classe media, libere di muoversi anche non accompagnate dagli uomini.

Interessanti le osservazioni a proposito della nuova figura delle commesse che anticipano stili di vita femminili del Novecento.

La commercializzazione dei prodotti riceve un grande impulso nella seconda metà dell’Ottocento dalle grandi esposizioni di Londra, Vienna, Parigi che nel 1900 totalizza quasi 50 milioni di visitatori.

Livia Tiazzoldi

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L’età del disordine. Storia del mondo attuale 1968-2017 – DETTI; GOZZINI (BC)

DETTI, T.; GOZZINI, G. L’età del disordine. Storia del mondo attuale 1968-2017. Bari-Roma: Laterza, 2018. 210p. Resenha de: PERILLO, Ernesto. Il Bollettino di Clio, n.11/12, p.190-192, giu./nov., 2019.

Cinque anni nel cuore del Novecento trasformano il XX secolo: dal 1968 al 1973 si manifestano o accelerano in modo significativo mutamenti strutturali che, spesso in modo graduale e in parte inavvertito, danno forma al mondo attuale. Questa è la tesi dei due autori: in quegli anni si sono poste le radici di uno stravolgimento economico, sociale e culturale che ha generato un grande disordine planetario, vissuto spesso con ansia e paura; una congiuntura che richiede l’elaborazione di coordinate orientative, al fine di affrontare le sfide globali che ci sovrastano: migrazioni, disuguaglianze, clima, finanza, povertà.

Lo shock petrolifero del ’73 pone per la prima volta in modo drammatico l’Occcidente di fronte al problema delle fonti di energia; il ciclo economico innescato determina un lungo periodo di stagnazione e di inflazione, accelerando processi ancora in atto. La globalizzazione acutizza fenomeni capaci di trasformare radicalmente gli equilibri mondiali. È l’”incubo dei nostri tempi”? Forse sì, se pensiamo alla finanza, quella “bolla di carta” sempre più svincolata e distante dalla ricchezza tangibile. Ma la globalizzazione, scrivono Detti e Gozzini, non è un complotto, è l’insieme dei movimenti internazionali di merci, persone, capitali e informazioni ed è tanto velleitario pensare di annullarla quanto necessario provare a controllarla. Certamente, tra le sue conseguenze ci sono l’approfondirsi del dislivello di ricchezza tra le parti del mondo industrializzato e le altre, così come disoccupazione e sotto-occupazione nei Paesi ricchi, migrazioni, sfruttamento incontrollato e distruzione dell’ambiente in quelli poveri. Tuttavia, i dati evidenziano che è condizione necessaria, anche se non sufficiente, per un possibile processo di convergenza. Riforme agrarie, scolarizzazione di massa, qualificazione, innovazione tecnologica hanno una forte potenzialità nell’aumento del reddito e nell’uscita dalla povertà: in Asia le grandi carestie sono state sconfitte; dal 1980 in poi i poveri di tutto il mondo sono considerevolmente calati. Permangono, però, forti fragilità nell’Africa subsahariana ed equilibri instabili sul piano sociale ed economico sia all’interno di un Paese, sia fra Paesi diversi. Ne sono emergenze ben visibili le tragedie umanitarie del Terzo mondo, la povertà persistente fra gli anziani e nelle famiglie numerose dell’Occidente avanzato, ma anche quel mutamento antropologico, indotto dai media e dai consumi, che si manifesta nell’individualismo acquisitivo di massa e nel prevalere delle ragioni della libertà economica sulla giustizia.

Nel ’68 si accesero i riflettori internazionali sulla prima grande crisi umanitaria nella regione nigeriana del Biafra, a seguito di una guerra civile. Migrazioni, carestie e profughi si sono drammaticamente replicati con andamento altalenante: segno che la politica e la diplomazia possono fare molto per contenerli e per indirizzare verso la pace, ma anche che raramente questa volontà si manifesta in maniera concorde nelle nazioni più potenti.

Le migrazioni sono, infatti, attualmente uno dei maggiori fattori di ‘disordine’ mondiale. Certo, è difficile e fuorviante accordare le tendenze demografiche con i tempi brevi dei cambiamenti economici e politici. Tuttavia, le legislazioni restrittive adottate l’indomani della crisi petrolifera del 1973, finalizzate a fornire risposte a un’opinione pubblica spaventata dalla recessione, hanno inciso sulle caratteristiche e sulla visione pubblica del fenomeno: da arrivo favorito dal bisogno di forza lavoro cento anni fa, a viaggi di fortuna e ingressi illegali e osteggiati, spesso sostenuti dalla delinquenza organizzata. L’andamento ondulatorio dei flussi è un segno che le crisi si possono limitare, se sono coordinate sul piano internazionale e se si elabora la complessità economica e sociale del problema: “Abbiamo di fronte esseri umani non interessati a prendere le nostre terre, ma alla ricerca di un futuro migliore. Ci si può intendere, basta che ci sia una politica con l’intento di farlo”.

Il quinquennio 1968-1973 si apre con un ciclo di mobilitazioni studentesche che, per la prima volta nella storia, assume una dimensione globale; una massa critica di giovani con aspirazioni e speranze molto maggiori di quelle dei genitori si scontra con una realtà che non corrisponde alle loro aspettative: società tradizionalista, strutture universitarie inadeguate, docenti distaccati e retrogradi. I loro sogni spesso si frantumano, ma nello stesso tempo si affermano due processi nuovi correlati: il potenziamento dei media, ancorché inegualmente distribuiti, tendenzialmente al servizio del potere e generatori di conformismo, ma dotati di dirompente potenzialità: “Ci furono foto pubblicate sui giornali che contribuirono a cambiare la storia”; la svolta sui diritti sociali e civili delle donne: sale percentualmente in modo significativo l’occupazione femminile, aumenta l’impiego in settori qualificati, crescono le iscrizioni all’Università. Negli anni Settanta, gli stessi movimenti rivendicano la parità ma chiedono il riconoscimento della differenza tra uomini e donne e la valorizzazione delle specificità. Si avvia così l’elaborazione del concetto di gender, una categoria interpretativa che supera il determinismo biologico di quella di sesso e privilegia gli aspetti sociali e culturali, storicamente variabili nello spazio e nel tempo.

Altri processi toccano il sistema politico democratico. Si afferma, in quegli anni, una forte proliferazione del numero degli Stati, ma si ridimensiona la loro sovranità a seguito dell’avvento di una governance sovranazionale. La speranza che il nuovo sistema riesca ad assicurare definitivamente una diffusione della democrazia, però, si rivela presto un’illusione: la democrazia appare un processo evolutivo, conflittuale e reversibile. Ne sono testimonianza i golpe in Uruguay e Cile, lo stato d’emergenza in India, la primavera di Praga, la rivoluzione dei garofani in Portogallo. Ma lo spirito dei tempi sembra decisamente a suo favore: molti regimi autoritari si rivelano incapaci di legittimarsi come modelli alternativi e migliori. Altrettanto lacerata è l’area mediorientale, dove, a seguito dello shock petrolifero del ’73 che rilancia il ruolo di alcuni Paesi esportatori di petrolio (in particolare l’Arabia Saudita), ha inizio un’era islamista. Nel difficile contesto della decolonizzazione, emergono gravi contraddizioni e si radica il fondamentalismo; l’11 settembre 2001 aprirà lo scenario a una serie di prolungati conflitti nel mondo musulmano, incapace di garantire benessere e libertà, che dimostrano quanto sia difficile la transizione di queste società alla democrazia.

Globalizzazione, disordine, democrazia: la dialettica fra i tre termini lancia numerosi spunti di riflessione e costituisce una buona base di partenza per comprendere il nostro tempo. Certo – scrivono Detti e Gozzini – la globalizzazione contemporanea non è molto diversa da quella di cento anni fa, quando movimenti umani, di merci e informazioni si spostavano in misure altrettanto consistenti. Allora la politica la fermò con i nazionalismi e due guerre mondiali, al prezzo di settanta milioni di morti. Per non ripercorrere quella strada c’è bisogno di una nuova politica che non ceda.

Enrica Dondero Acessar publicação original

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Storia della globalizzazione. Dimensioni, processi, epoche – OSTERHAMMEL; PETERSSON (BC)

OSTERHAMMEL, Jürgen; PETERSSON,  Niels P. Storia della globalizzazione. Dimensioni, processi, epoche. Bologna: Il Mulino, 2005 (2003). Resenha de: PERILLO, Ernesto. Il Bollettino di Clio, n.11/12, p.184-189, giu./nov., 2019.

Il saggio si snoda attraverso sette capitoli e una conclusione finale. Dopo aver precisato il concetto di globalizzazione nei due capitoli introduttivi, gli autori (insegnano storia contemporanea all’università di Costanza) ricostruiscono i processi che hanno portato all’attuale mondo globalizzato, a partire dall’età medievale e moderna, mostrando la progressiva interconnessione di rapporti economici, politici e culturali e al tempo stesso la profondità storica della globalizzazione.

Il presente è terreno elettivo delle scienze sociali che hanno assunto la globalizzazione (dagli anni Novanta circa del secolo scorso) come categoria interpretativa delle loro analisi, mettendone in luce le diverse caratteristiche. Che il mondo sia sempre più piccolo e interconnesso è d’altronde senso comune diffuso, esperienza quotidiana e concreta di un numero sempre maggiore di persone.

In questo scenario gli storici possono essere utili esercitando il loro mestiere: mettere in prospettiva temporale il tema (la globalizzazione), problematizzare ciò che appare come assoluta novità, verificare la tenuta euristica e interpretativa della concettualizzazione anche nel loro campo di indagine: la lettura del passato.

La storiografia che nasce come disciplina scientifica nell’Ottocento ha previlegiato la nazione come oggetto di ricostruzione e soggetto delle sue narrazioni: solo recentemente si sta affermando la necessità di una interrogazione trasversale rispetto alle storie nazionali, di una storia globale al cui interno la (storia della) globalizzazione rappresenta un campo specifico.

Il concetto di rete diventa allora essenziale: la globalizzazione è il processo di costruzione e intensificazione delle reti mondiali (ai diversi livelli, con diversa intensità e velocità di contatti e grado di integrazione). E processo significa dare conto di svolgimenti e cambiamenti che avvengono nel tempo, non in modo meccanico, regolare, scandito sulle canoniche tappe ed epoche della storia politica, ma con ritmi, accelerazioni, rallentamenti, riprese che sono proprie dei diversi ambiti coinvolti dalla globalizzazione: economico, tecnico, politico e dell’organizzazione dello Stato, sociale, culturale.

La periodizzazione è lo strumento concettuale che gli storici utilizzano per comprendere i fenomeni analizzati. Ogni periodizzazione è discutibile e provvisoria: Osterhammel e Petersson ne sono consapevoli. Ed è proprio la loro discutibilità il sale della storiografia e strumento di migliore comprensione della storia come ricerca.

Per i due storici tedeschi è possibile periodizzare il processo di globalizzazione,  dopo alcune forme di integrazione verificatesi già in età antica e medievale, nelle seguenti fasi:

  • 1450-1500: inizio della modernità e avvio della globalizzazione
  • 1750-1880: Imperialismo, industrializzazione e libero commercio
  • 1880-1945: Capitalismo mondiale e crisi mondiali
  • 1945-1975: La globalizzazione dimezzata

Dagli ultimi decenni del Novecento: La globalizzazione attuale  La preistoria della globalizzazione  Riguarda il mondo antico e premoderno. In esso l’integrazione macrospaziale si verificò in forme diverse (l’ aggregazione di unità politiche minori in grandi imperi sulla base essenzialmente della forza militare (l’impero romano, cinese, indiano, ottomano…), l’ecumene religiosa (cristianesimo, islam, buddismo…), il commercio a distanza (la via della seta che univa la Cina al Mediterraneo, le vie carovaniere del Vicino Oriente e del Nordafrica…), le migrazioni di popoli (gli insediamenti preistorici dell’America e dell’Asia, la diffusione di popolazioni di lingua bantu della regione del Niger-Congo tra il 500 a.C. e il 1000 d. C. …).

In epoca medievale, le spinte all’integrazione di ampi spazi si possono collocare nel VIII (fondazione e diffusione dell’Islam) e nel XIII (l’impero mongolo di Gengis Khan), mentre dal XIV secolo si rafforzarono processi differenti nella parte orientale dell’Eurasia (consolidamento di Cina e Giappone) rispetto a quella occidentale e meridionale (ripresa degli imperi plurinazionali accanto alla formazione degli “Stati territoriali”).

L’inizio della modernità

Il periodo tra il 1450 e il 1500 si conferma come profonda cesura nella storia della globalizzazione e l’inizio della “modernità” anche in una prospettiva di storia globale. Ne furono fattori decisivi e connessi la scoperta e la colonizzazione dell’America, l’avanzata degli Europei nell’Oceano Indiano e nel Pacifico, l’«imperialismo ecologico» (in primo luogo i virus e i batteri delle malattie europee), la rivoluzione delle tecnologie militari (polvere da sparo e artiglieria) e della comunicazione (la stampa).

Gli europei stabilirono sull’Atlantico un dominio incontrastato e nell’America si realizzò un’economia di piantagione (caffè, tè, cacao, caucciù…) coltivata da schiavi, che introdotta alla fine del Cinquecento si affermò come istituzione sociale dominante fino ai primi decenni del XIX secolo. Si intensificarono inoltre le reti commerciali transoceaniche: per il commercio di schiavi in primo luogo e delle merci preziose (spezie, tessuti, tè, pelli animali, argento).

1750-1880 Imperialismo, industrializzazione e libero commercio

Intorno alla metà del Settecento, ancora prima delle rivoluzioni politiche (americana e francese) e industriale, un altro impulso ai processi di globalizzazione venne dall’affermarsi di una politica mondiale legata alla necessità del controllo degli oceani (sia dal punto di vista militare che commerciale): il teatro dei conflitti non fu, come in precedenza, a scala locale/regionale, ma mondiale con una presenza egemonica dell’Inghilterra.

Le rivolte di coloni e schiavi delle Americhe tra il 1765 e il 1825 (le tredici colonie inglesi a Nord e le repubbliche del Sud e del Centroamerica) se da una parte indebolirono i legami della rete globale, dall’altra, superata la rottura politica, posero le basi per una diversa relazione tra Stati Uniti e Inghilterra.

La rivoluzione industriale fu ovviamente fattore decisivo per l’intensificarsi dell’interconnessione globale: gli autori mettono in evidenza da una parte le caratteristiche e le ragioni del caso inglese, dall’altro gli effetti a distanza in ambiti diversi dalla produzione di merci: armi e cannoni, trasporti, tecnologie della comunicazione (telegrafo).

Nel corso del XIX secolo l’Europa occidentale e in particolare l’Inghilterra si affermarono quali potenze dominanti e come modello di riferimento per lo sviluppo e il progresso di ogni altro stato del mondo: il futuro sarebbe stato possibile solo accostandosi almeno parzialmente al loro livello.

Gli autori parlano di una globalizzazione adattiva e ambivalente (tra ammirazione e disprezzo, vicinanza e distacco, assimilazione e preservazione della propria identità): si andava profilando un unipolarismo culturale ancora più che geopolitico, che vide nello Stato nazionale la forma ideale e desiderabile per le sfide del tempo.

Nella seconda metà dell’Ottocento la dimensione mondiale dell’economia trovò ulteriore impulso: accelerazione del commercio mondiale, migrazioni di massa (tra il 1850 e il 1894 circa 60/70 milioni di persone), nuova divisione internazionale del lavoro legata alla possibilità di inviare beni di massa a grande distanza, congiunture economiche con ripercussioni su scala planetaria (grande depressione del 1873, congiuntura favorevole del 1896).

Capitalismo mondiale e crisi mondiali (1880-1945)

Contrariamente alla vulgata corrente (soprattutto della storia economica) che racconta gli anni precedenti lo scoppio della Prima guerra mondiale come epoca di estesa globalizzazione seguita da una de-globalizzazione che durò fino al secondo dopoguerra, gli autori suggeriscono una lettura del periodo secondo la quale il contrasto tra queste due fasi è meno netto: gli stessi processi di de-globalizzazione sono descrivibili dentro uno spazio economico e politico mondiale.

Alla svolta del secolo il mondo era percepito come una comunità di destino: grazie anche ad una diversa esperienza (non solo nella coscienza delle élites) della dimensione del tempo e dello spazio nella vita quotidiana. La sempre maggiore diffusione dei mezzi di comunicazione, l’alfabetizzazione crescente, l’adozione di un sistema di computo del tempo suddiviso per fusi orari e basato sul meridiano di Greenwich, la maggiore frequenza dei viaggi transcontinentali furono tra i fattori di questo cambiamento. Tra Otto e Novecento l’economia mondiale può essere descritta come un sistema multilaterale caratterizzato da flussi internazionali interconnessi (di forza lavoro, capitali e merci), reti commerciali con centro a Londra e conseguenze anche per i paesi extraeuropei, infrastrutture (trasporti e comunicazioni) garantite dagli Stati nazionali.

Non che fossero assenti “buchi” nella rete (la maggior parte dell’Africa, le regioni interne della Cina e tutti i continenti non collegati dalle reti ferroviarie e dalle rotte delle navi a vapore): nel 1913 il divario tra i più ricchi centri del mondo (che non erano già più in Europa) e i più poveri era di 10:1 (nel 1820 era di 3:1).

La globalizzazione avveniva parallelamente alla costruzione delle nazioni. E il mondo divenne uno spazio di interazione tra Stati nazionali concorrenti (con l’aggiunta di nuovi attori, gli Stati Uniti e il Giappone): un mondo sempre più piccolo (nel 1911 quando R. Amundsen arrivò al Polo Sud, ogni parte del globo era conosciuta e cartografata) nel quale si realizzarono un sistema globale di alleanze, la spartizione coloniale del pianeta, processi di territorializzazione degli Stati nazionali, all’interno della dialettica tra globalizzazione e frammentazione.

Secondo J. Osterhammel e N. P. Petersson la Grande Guerra dal punto di vista delle cause fu una guerra europea che ben presto si allargò su scala globale con l’impiego di risorse globali. Segnò la fine del potere mondiale dell’Europa e l’assunzione dello Stato nazionale come modello di organizzazione politica generale. Negli anni successivi si assistette alla ideologizzazione della politica su scala mondiale: liberalismo, leninismo e fascismo furono esperimenti politici che si scontrarono in quella che può essere definita una guerra civile internazionale.

Il cosiddetto “regionalismo” dell’economia internazionale del periodo tra le due guerre con il privilegio accordato ovunque all’ambito “nazionale” conferma il primato della politica sulle interazioni economiche. Si possono anche leggere le politiche autarchiche degli anni Trenta come forme di regionalismo: la loro valenza globalizzante fu che condussero a una nuova guerra mondiale che divenne anch’essa globale, consacrando gli Usa potenza mondiale decisiva e fu punto di partenza di un ulteriore impulso alla globalizzazione economica, politica, e culturale del dopoguerra. Il 1945 può essere considerata una data decisiva (una data globale): per la fine della guerra e la volontà dei vincitori di creare un nuovo ordine mondiale.

Dal 1945 alla metà degli anni Settanta: la globalizzazione dimezzata

La divisione del mondo in due blocchi contrapposti fu la più importante struttura politica (non prevista) del secondo dopoguerra che condizionò anche gli spazi di interazione economica ai vari livelli. Diverse furono le conseguenze di questo assetto geopolitico bipolare nella sfera di influenza sovietica e in quella occidentale nella quale la priorità della riorganizzazione interna produceva, tra l’altro, una spinta all’integrazione regionale. Il processo di integrazione europeo, in transizione dalla federazione di Stati allo Stato federale, va inquadrato in questo contesto. Se da una parte tale processo può essere letto come limitazione del potere degli Stati nazionali, dall’altro si può pensare che la cooperazione realizzata nl quadro delle strutture europee sia stata funzionale al persistere dello stesso modello dello Stato nazionale.

L’ordine della guerra fredda pose fino anche agli imperi coloniali: dal 1950 al 1970 gli Stati nazionali indipendenti passarono da 81 a 134. Nacque quello che allora si chiamò il “Terzo Mondo” che non divenne uno spazio d’integrazione e di cooperazione di politiche sovranazionali. Un ruolo politico transnazionale importante, invece, ebbe la protesta studentesca della fine degli anni Sessanta che coinvolse paesi di gran parte del mondo e le cui ragioni sono comprensibili nel quadro delle trasformazioni socioculturali del secondo dopoguerra.

Gli accordi di Bretton Woods del 1944 avrebbero dovuto assicurare un nuovo ordine mondiale dell’economia, attraverso istituzioni (Banca Mondiale, Fondo Monetario Internazionale, Accordo generale sulle tariffe doganali e sul commercio) create per garantirne il funzionamento.

La pianificazione economica in realtà fallì ma navigazione, commercio, telecomunicazioni, traffico aereo e attività multinazionali crearono reti globali che aggregarono, a gradi diversi di intensità delle interdipendenze, anche il Terzo mondo e l’area di influenza sovietica, ad esclusione della Cina che seguiva una scelta rigidamente autarchica.

Dagli anni Sessanta si registrarono spinte verso una globalizzazione socioculturale: le migrazioni verso l’Europa con la creazione di megalopoli multiculturali, l’aumento dei flussi turistici legati alle vacanze di massa, l’omogeneizzazione globale dei riferimenti culturali e degli stili di consumo (dalla Coca-Cola che divenne un marchio mondiale alla diffusione dei jeans e delle t-shirt). Un processo che non fu privo di contraddizioni e resistenze: basti pensare ancora al movimento del ’68 e alla lotta contro l’omologazione culturale e ideologica che trovò nella mobilitazione contro la guerra del Vietnam uno dei suoi momenti più significativi.

Conseguenza della cultura della contestazione di quegli anni fu anche la consapevolezza politica che per la prima volta si ebbe sui temi del clima, dell’esauribilità delle risorse, dell’inquinamento e in generale dell’impatto dell’uomo sul pianeta. Non solo la guerra nucleare, ma anche lo sfruttamento incontrollato delle risorse del mondo potevano determinarne la fine.

La svolta del XX secolo

Può essere datata alla fine degli anni Sessanta con la trasformazione degli assetti complessivi del secondo dopoguerra. In una prospettiva storica, questa ultima (per ora) globalizzazione (per alcuni la vera globalizzazione) è caratterizzata, secondo gli autori, principalmente da questi aspetti: la fine del mondo bipolare con il crollo dell’Urss e del blocco sovietico, la crisi dello Stato sociale (conseguenza e causa al tempo stesso della globalizzazione), l’estensione delle relazioni internazionali e finanziarie internazionali (con l’affermazione delle imprese transnazionali e l’evoluzione dei paesi di recente industrializzazione, in particolare nel Sud-Est asiatico), i progressi delle reti di comunicazione e di informazione, la diffusione su scala globale di beni e modelli culturali (soprattutto americani) pur in presenza di spinte che vanno nella direzione opposta, la presenza, accanto alle reti internazionali legali di quelle illegali (droga, riciclaggio di denaro sporco, traffico di esseri umani) con un peso significativo all’interno dell’economia globale.

Per J.Osterhammel e N. P. Petersson “la sensazione diffusa a livello mondiale di vivere nell’epoca della globalizzazione ha validi fondamenti “ (p. 122), ma non si tratta di un unicum nella storia dell’umanità: la cesura fondamentale a partire dalla quale la globalizzazione è diventata tema centrale e decisivo va individuata, secondo gli autori, nella prima età moderna (epoca delle scoperte, del commercio degli schiavi, dell’«imperialismo ecologico») e non nel tardo Novecento. Spinte e tendenze alla globalizzazione si sono poi verificate in epoche precedenti, a partire dalla metà dell’Ottocento.

Nella riflessione conclusiva del saggio si sottolinea come nella storia delle modernità i processi di integrazione e di de-globalizzazione e frammentazione sono andati di pari passo e come la globalizzazione sia strettamente connessa con la modernizzazione.

Il concetto di globalizzazione, in conclusione, ha senso ed è utile se non viene usato come categoria astratta, essenzializzandone il contenuto, e senza dimenticare che dietro e dentro la globalizzazione e i legami globali ci sono attori e soggetti (Stati, imprese, gruppi, individui… con differenti visioni e strategie), conflitti di interesse, vincitori e vinti.

La globalizzazione è dunque una categoria interpretativa e un processo con una sua storia: che è compito degli storici indagare e far conoscere.

Ernesto Perillo

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La Repubblica inquieta. L’Italia della Costituzione 1946-1948 – De LUNA (BC)

DE LUNA, Giovanni. La Repubblica inquieta. L’Italia della Costituzione 1946-1948. Milano: Feltrinelli, 2019. 304p. Resenha de: GUANCI, Vicenso. Il Bollettino di Clio, n.11/12, p.191-196, giu./nov., 2019.

«Per risvegliarci come nazione, dobbiamo vergognarci dello stato presente. Rinnovellar tutto, autocriticarci. Ammemorare le nostre glorie passate è stimolo alla virtù, ma mentire e fingere le presenti, è conforto all’ignavia e argomento di rimanersi contenti in questa vilissima condizione».

Con questa citazione di Giacomo Leopardi, Giovanni De Luna concludeva nel 20131 il racconto di un’Italia che dall’iniziale trasformismo liberale all’attuale subalternità alle regole del mercato non sembra essere riuscita a darsi quella religione civile che l’autore già allora individuava nel “dare forza” alla nostra Costituzione.

Quattro anni dopo pubblica questo libro, riedito in edizione economica quest’anno, nel quale racconta come si fece la Costituzione. Come e perché dal 1945 al 1948 fu possibile costruire una sorta di “sacra scrittura” per una “religione civile”. La consolidata storiografia sull’argomento viene rivista alla luce dei diari di coloro che “vissero con passione e impegno gli anni di formazione della nostra Repubblica” – a cui infatti viene dedicato il libro – conservati presso l’Istituto storico della Resistenza “Giorgio Agosti” e soprattutto all’archivio diaristico di Pieve Santo Stefano. Ne scaturisce una narrazione appassionante e una dettagliata analisi del momento storico in cui vennero poste le basi della nostra moderna democrazia.

Furono due anni: dal 2 giugno 1946 al 18 aprile 1948. Un biennio cruciale. Che si comprende a fondo solo se si studiano bene le premesse: gli avvenimenti dei tredici mesi e sette giorni precedenti, dal 25 aprile 1945 al 2 giugno 1946.

Il libro è organizzato in tre parti. La prima ci mette di fronte ad un paese con strutture demografiche e produttive molto simili a quelle degli inizi del Novecento, con un Mezzogiorno ancorato al tempo quasi immobile della civiltà contadina e con un tasso di analfabetismo del 25-30%, e un Settentrione con il 60% del reddito nazionale e analfabetismo pressoché scomparso. E’ un’Italia disunita quella che esce dalla guerra. Per ricordarla De Luna rimanda alle immagini di Paisà di Rossellini, ché meglio non si potrebbero raccontare i drammi e gli entusiasmi nelle terre della penisola risalita dalla Sicilia alle regioni settentrionali; in più sottolinea la condizione delle donne che “rappresentarono allora l’icona simbolicamente più efficace dei guasti che l’arrivo degli eserciti alleati poteva causare” (pag. 39) e che, tra il 1943 e il 1945, si sommarono alle stragi naziste. Le due Italie in quegli anni si riconoscevano nella contrapposizione tra fascismo e antifascismo. Il 25 aprile 1945 vinse la Resistenza, che “si propose come la negazione di quei caratteri di passività e rassegnazione che sembravano pesare come una sorta di tara genetica sulla nostra identità collettiva” (pag. 57); vinse l’Italia viva e nuova, l’Italia dei prefetti del Cln, l’Italia del governo Parri. Iniziò il dibattito, o meglio, una vera e propria lotta politica, tra la “continuità” dello Stato a cui era favorevole il ministro Benedetto Croce (la “parentesi” fascista) e la “discontinuità” dallo Stato liberale e fascista per una nuova democrazia per la quale si batteva il Partito d’Azione. Si scelse la prima opzione. Parri fu sostituito da De Gasperi che, assieme a socialisti e comunisti, guidò il paese verso le nuove elezioni del 2 giugno 1946 a suffragio davvero universale (per la prima volta votavano le donne!) per la Costituente e il referendum tra la monarchia e la Repubblica. Furono giorni difficili. Le pagine di De Luna rendono bene il momento: “Che il rischio di una nuova guerra civile ci fosse davvero ce lo dice la cronaca delle giornate convulse seguite al referendum.” (pag. 106)

I partiti di massa nati dalla lotta partigiana, il governo, il Vaticano, soprattutto la Casa Reale, tutti si muovevano su un filo di rasoio. Il 12 giugno dopo un ultimo colloquio con Pio XII, dopo aver messo al sicuro i gioielli e il patrimonio di famiglia, Umberto II partì per l’esilio portoghese. Il 18 giugno la Cassazione ratificò il risultato delle elezioni, il 25 giugno l’Assemblea Costituente tenne la sua prima seduta. “La Resistenza aveva vinto, e con essa la democrazia. Una vittoria che chiudeva una pagina esaltante della nostra storia. […] Il 28 giugno, Enrico De Nicola fu eletto capo provvisorio dello Stato con 396 voti su 501: ‘Camminava come un impiegato che va all’ufficio, un signore qualunque che rientri a casa un po’ preoccupato’ annotava Alba de Céspedes. I 40 voti dei repubblicani andarono a Cipriano Facchinetti, i 30 dell’Uomo Qualunque a Ottavia Penna di Caltagirone, nata baronessa di Buscemi, una donna, a simboleggiare un’altra delle rotture sancite dal 2 giugno 1946.” (pag.118)

La seconda parte racconta e spiega come in due anni, un mese e dodici giorni nacque la repubblica dei partiti e fu scritta la Costituzione, Carta fondamentale della nostra democrazia.

Le elezioni dell’Assemblea Costituente sancirono la nascita dei partiti politici. E dei partiti di massa: la Democrazia Cristiana con il 35,1%, il Partito Socialista con il 20,6%, il Partito Comunista con il 18,9%; agli altri restarono le briciole. Eredi delle bande politicizzate della Resistenza, i “partiti dei fucili” – come li chiamano taluni storici – erano diventati “partiti delle tessere”; i partigiani erano diventati elettori e i capi dirigenti e militanti di partito. De Luna si rifà esplicitamente al pensiero di Norberto Bobbio con una sua citazione sul nesso vitale tra partiti e democrazia: «L’allargamento del suffragio ha reso inevitabile la formazione di grandi e bene organizzate associazioni politiche. E queste associazioni si sono consolidate applicando al loro interno le regole della democrazia […] così che il partito oggi non è soltanto l’organo motore dello stato democratico ma è anche per la sua stessa costituzione il principale coefficiente di una educazione politica democratica, perché stimola energie assopite, dirige volontà disordinate, porta sul piano di un’attività politica concreta e fattiva interessi sviati e incerti.» (pag. 142). Quanto importante e decisiva si dimostrò la loro funzione non solo di pedagogia politica ma anche e soprattutto di direzione e guida delle masse si vide nei momenti di crisi della neonata democrazia italiana. Per esempio, la firma del Trattato di pace nel febbraio 1947, che oltre alle perdite delle colonie e di territori al confine francese, dovette affrontare le questioni del confine italo-jugoslavo con Trieste e l’Istria, in piena “guerra fredda”, con il ricordo dell’occupazione italiana fascista della Slovenia, i morti delle foibe, i profughi istriani. E ancora, le rivolte partigiane contro la politica di “rappacificazione” portata avanti da Togliatti e De Gasperi, di cui quello più famoso è l’episodio di Santa Libera – una frazione di Santo Stefano Belbo nelle Langhe – dove nella notte del 20 agosto 1946 una sessantina di partigiani occuparono la zona e ci volle l’intervento di un dirigente del PCI e di Pietro Nenni – vicepresidente del Consiglio – per farli sloggiare. Soprattutto, la campagna elettorale per le elezioni del primo Parlamento della Repubblica del 18 aprile 1948 che fu davvero contrassegnata da forti contrasti e grande partecipazione di massa. I prestiti americani e il piano Marshall fecero ripartire l’economia e la politica economica deflattiva di Luigi Einaudi se favoriva industriali e ceto medio impiegatizio ma portò disoccupazione e licenziamenti tra gli operai. Tutto questo ovviamente aumentò molto le tensioni nel paese. La lunga guerra mondiale, e in più la guerra civile fascisti-antifascisti, da cui si era appena usciti, aveva comunque creato un’abitudine alla violenza, all’uso della violenza, quasi fosse un normale strumento di pressione e repressione. Le manifestazioni di protesta, gli scioperi, spesso finivano in scontri, anche cruenti, tra la Celere – reparto di polizia specializzato creato da Scelba, ministro degli Interni – e i manifestanti. Il primo maggio 1947, nelle campagne di Portella della Ginestra, in Sicilia, banditi assoldati dai latifondisti, spararono sulla folla di contadini che festeggiava il “Primo Maggio” nelle terre occupate. Il 31 maggio De Gasperi formò il suo IV governo, questa volta senza comunisti e socialisti. Era partita la crociata anticomunista, appoggiata dal Vaticano che mise in campo tutta la forza della Chiesa Romana. Le sinistre si presentarono unite sotto le insegne del Fronte popolare, convinti di vincere e instaurare il socialismo. Il 18 aprile la DC ottenne il 48,7% dei voti, il Fronte (PCI+PSIUP) il 31%. Per De Gasperi fu un trionfo, per socialisti e comunisti una delusione tremenda.

Tre mesi dopo uno studente fascista esaltato sparò a Togliatti mentre usciva da Montecitorio. Il paese si sentì e si trovò di nuovo sull’orlo della guerra civile. Dopo aver affrontato e superato una campagna elettorale difficile, appassionata e movimentata, dovette affrontare una prova ancora più aspra. Poche ore dopo l’attentato, con Togliatti in sala operatoria, le fabbriche del triangolo industriale si fermarono per scioperi spontanei, le piazze furono occupate da manifestanti, poliziotti e militari consegnati nelle caserme pronti a tutto. Il 16 luglio lo scontro si trasferì in Parlamento con i deputati comunisti che attaccarono il ministro Scelba. In quei tre giorni tuttavia non accadde nulla di irreparabile. Ci furono, è vero, 92.000 persone fermate dalla polizia, di cui 70.000 rinviate a giudizio; 11 morti tra i manifestanti e 6 tra le forze dell’ordine. Complessivamente negli anni dal 1948 al 1954 sono stati contati negli scontri tra polizia e manifestanti 75 morti e 3126 feriti, ai quali vanni aggiunti 28 persone uccise nelle campagne dai latifondisti. Nello stesso periodo risulta che in 38 province furono arrestati 1697 partigiani dei quali 884 condannati a complessivi 5806 anni di carcere. “Un bilancio pesante, il prezzo pagato nel difficile processo d’impianto della democrazia in Italia”, commenta De Luna (pag. 216).

Nella terza parte l’autore tira le fila del suo lavoro di ricerca tra cronaca, letteratura e storiografia individuando “le Italie che finiscono e… quelle che cominciano”.

Le giornate dell’attentato a Togliatti costituirono per il movimento operaio “l’occasione di congedarsi definitivamente da quel tipo di lotta e dalla paralizzante alternativa integrazione-insurrezione; con i caroselli della Celere di Scelba si chiudeva una fase lunghissima della storia delle classi subalterne, aperta mezzo secolo prima dalle cannonate di Bava Beccaris a Milano; quella forse più epica, ma anche, senz’altro, la più cruenta e difficile. In quei tre giorni si bruciarono modelli politici e tradizioni culturali ai quali il mutare delle condizioni economiche avrebbe di lì a poco sottratto ogni parvenza di credibilità” (pag. 281)

Il miracolo economico negli anni Cinquanta avrebbe mutato la stessa antropologia degli italiani, non solo le dinamiche politico-economiche. Sarebbero cambiati usi e costumi, consumi e culture; elettrodomestici e televisione, scooter e automobili, avrebbero modificato le percezioni del tempo e dello spazio.

E i partiti? I partiti furono costretti al rinnovamento. Pur non avendo essi determinato la grande trasformazione del paese cercarono di farvi fronte. Con fatica, vi riuscirono. “La fiammata antipartitica che aveva animato le schiere di quelli che avevano votato per la monarchia nel referendum del 2 giugno 1946 […] si era spenta e gli elettori qualunquisti, a partire dal 1948, avevano indirizzato i loro voti verso la Democrazia Cristiana […]. E la Costituzione era diventata compiutamente e decisamente la Costituzione dei partiti.” (pag. 286)

La Costituzione sarebbe rimasta la consegna più importante e duratura che i partiti di massa hanno lasciato agli italiani. Nella Costituente si scrisse e operò solennemente un patto di cittadinanza condiviso fondato sul “grande compromesso” dell’intreccio tra le tre culture che fanno il nostro paese: “la tradizione democratico-liberale, che lasciò la sua impronta nel riconoscimento del valore assoluto dei diritti dell’uomo; l’accentuazione dei principi di giustizia sociale, che avevano animato larga parte del movimento operaio; lo slancio solidaristico e comunitario che da sempre aveva segnato le battaglie politiche dei cattolici.” (pag. 289)

Giovanni De Luna conclude il suo libro così. Ricordando che con la Costituzione i partiti della Resistenza hanno vinto. E, se è vero che vinse la “continuità” dello Stato con i suoi apparati più o meno fascisti, o almeno nostalgici di quel tempo, è vero che la Resistenza seppe forgiare una classe politica rivelatasi pienamente all’altezza dei suoi compiti.

“La Resistenza fu qualcosa di più grande dei Cln e dei partiti che la guidarono, perché la Resistenza fu soprattutto la ‘moltitudine delle vite concrete dei resistenti’, di quanti interpretarono l’8 settembre 1943 come la fine di una stagione di carestia morale e di avvelenamento delle coscienze, vivendola come il momento in cui non ci si doveva vergognare di se stessi e si potevano riscattare venti anni di passività e di ignavia. E fu quella scelta che contribuì a fare del 25 aprile 1945 una data fondamentale della nostra religione civile.” (pag.291)

Vicenzo Guanci

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Sindrome 1933 – GINZBERG (BC)

GINZBERG, Siegmund. Sindrome 1933. Milano: Feltrinelli, 2019. 192p. Resenha de: PILOSU, Mario. Il Bollettino di Clio, n.11/12, p.197-200, giu./nov., 2019.

Siegmund Ginzberg è nato a Istanbul nel 1948. La famiglia è giunta a Milano negli anni Cinquanta e i nonni furono sudditi dell’impero ottomano. Dopo gli studi in filosofia ha intrapreso l’attività giornalistica ed è stato una delle storiche firme dell’Unità, quotidiano per cui ha lavorato a lungo come inviato in Europa, Stati Uniti, Cina, India, Giappone, Corea del Nord e del Sud. Ha più volte girato il mondo portando con sé, nel corso degli innumerevoli traslochi, una biblioteca più adatta alla stanzialità che all’erranza.

Inizia come una cronaca giornalistica della giornata convulsa del 30 gennaio 1933, giorno in cui il capo del NSDAP giurò come cancelliere nelle mani del Presidente della repubblica Paul von Hindenburg, che lo aveva sconfitto al 2° turno nelle elezioni presidenziali del 10 aprile 1932. Da qui inizia il racconto dei 12 mesi successivi, a partire dalle reazioni, a posteriori assolutamente inappropriate, delle opposizioni, degli intellettuali e delle altre nazioni europee, racconto in cui via via si ripercorre, con un continuo ricorso a fonti e documenti, il percorso della giovane democrazia tedesca dopo il Trattato di Versailles.

Ma già nel secondo capitolo l’autore si ferma e offre ai lettori un breve testo in cui utilizzando categorie storiche, giustifica la ragione per cui ha scritto questo libro, proprio mentre si accingeva a scrivere un libro sulla Cina, come ha affermato in occasione della presentazione del volume al Palazzo Ducale di Genova il 18 settembre 2019. Alla base della decisione c’è la sensazione di déjà vu, che l’autore afferma non essere il solo a provare da qualche tempo di fronte alle notizie, ascoltando i discorsi sull’autobus, facendo zapping nei talk-show. Ma se la storia non si ripete mai allo stesso modo, e se non è vera la famosa frase attribuita a Karl Marx «La storia si ripete sempre due volte: la prima volta come tragedia, la seconda come farsa», perché occuparsi di come, 80 anni fa, la Germania precipitò quasi senza accorgersene, ma per molti con entusiasmo, nel Terzo Reich?  Una delle ragioni, afferma Ginzberg, è l’ignoranza diffusa su questo periodo della storia. In particolare, fa l’esempio delle risposte date nel corso del programma a quiz L’Eredità [dicembre 2013] sull’anno di nomina di Adolf Hitler a cancelliere del Reich. Solamente la quarta concorrente dice «1933», perché è rimasta una sola scelta, ed è impossibile sbagliare; risposte date da giovani, sicuramente almeno diplomati, se non con una laurea universitaria, che sicuramente hanno affrontato la prova di Storia all’Esame di stato, almeno al colloquio orale.

Analizzando quell’anno, e il prima e il dopo, l’autore afferma di essersi imbattuto in indizi, rassomiglianze, analogie insospettate; l’uso del termine di origine medica sindrome è giustificato proprio dal suo significato letterale di sintomi e segnali concausa di una malattia. Molti di questi sintomi e segnali, afferma Ginzberg, hanno somiglianze con quelli di oggigiorno. Interessante è il ruolo che Ginzberg assegna all’analogia: l’uso dell’analogia non come strumento di polemica e propaganda ma di comprensione; ovviamente le analogie sono per definizione imperfette e ‘superficiali’, ma la mente umana funziona per analogie, che ne fanno uno strumento di comprensione e distinzione, per non ‘fare di ogni erba un fascio’. Ginzberg afferma esplicitamente di aver fatto una scelta ‘faziosa’: fra fatti e argomenti privilegia quel che può richiamare alla mente del lettore vicende, cronache e polemiche della nostra attualità (p.24); è preoccupato da una sorta di coazione a ripetere involontaria, e dal riaffacciarsi di dinamiche e meccanismi che hanno portato al disastro la Germania di Weimar. «[…] temo il presente che imita il passato inconsapevolmente, senza volerlo, magari senza neanche accorgersene».

A differenza di altre crisi, questa sembra di più una catastrofe: tutto cambia in soli 30 giorni: Hitler cancelliere; il mese successivo elezioni politiche e poi (per il partito comunista KPD anche prima) eliminazione delle opposizioni con una raffica di decreti. Uno dei primi decreti riguarda la chiusura delle porte agli immigrati, in gran parte quegli Ost-Juden, gli ebrei orientali, che sono descritti, come ci dice Ginzberg, in maniera molto efficace nel saggio Ebrei erranti, (1927), di Joseph Roth. Fuggivano «guerre e povertà», e spesso consideravano la Germania soltanto come «stazione di transito» verso l’America o la Francia, ma ovviamente, essendo senza documenti (spesso già nel loro paese di origine), hanno la necessità assoluta di procurarseli, anche attraverso mezzi illegali. Da qui, anche prima del 1933, il sillogismo: «L’ebreo è uno straniero, è un immigrato. I migranti sono delinquenti. Quindi gli ebrei, tutti gli ebrei, sono criminali. Questo è il sillogismo che avrebbe portato allo sterminio» (p.38). Qui l’analogia scelta da Ginzberg è assolutamente evidente «Nella versione attuale basta sostituire ad “ebrei” l’espressione “migranti clandestini”, o anche solo “migranti”, per antonomasia indesiderati». E il ‘Decreto immigrazione’ è soltanto il primo degli atti che avranno lo scopo di sbarazzarsi di tutti gli ebrei, anche di quelli che avevano la cittadinanza (oltre l’80% degli ebrei residenti). Quindi chiusura delle porte. Poi l’inizio della repressione contro i comunisti, all’interno di un ‘decreto sicurezza’ che porterà all’allestimento dei primi campi di concentramento affidati alle SS; riservati prima ai comunisti e poi ai criminali, gli immigrati clandestini, poi in un crescendo, agli omosessuali, zingari, rom, sinti. Come scrive Ginzberg, «il catalogo degli indesiderabili è rimasto più o meno lo stesso» (p.43); qui si potrebbe vedere forse un riferimento alla poesia Poi vennero… del pastore Niemöller, talvolta erroneamente attribuita a Bertolt Brecht.

L’intero quinto capitolo è dedicato alle elezioni: «negli otto mesi precedenti la ‘presa del potere’, i tedeschi avevano votato 2 volte per la presidenza della Repubblica, 3 volte per il Reichstag (2 volte nel 1932, a distanza di 4 mesi), più varie elezioni locali. […] le libere elezioni sono il sale della democrazia. Ma troppe elezioni non le fanno per niente bene. Anzi, rischiano di ucciderla». Nella repubblica di Weimar degli anni ’30 votare e rivotare è un sintomo dell’incapacità di risolvere la crisi, perché nessun partito o nessuna possibile coalizione aveva la maggioranza. Dal 1928 al marzo 1933 si ebbero 5 elezioni politiche, in media 1 ogni anno. In questo periodo i voti per il NSDAP salirono da 800.000 a 17,3 milioni, di fronte a un incremento di votanti da 30,4 a 39 milioni. Il NSDAP cattura a poco a poco il voto degli astenuti, di quelli che erano disgustati dalla politica. Si calcola che circa la metà dei 16,5 milioni di voti che il partito guadagnò in quei 5 anni siano di “elettori nuovi”, cioè di giovani che non avevano mai votato o elettori che si erano astenuti nelle elezioni precedenti. Il caso della repubblica di Weimar, dice Ginzberg, è un esempio di come si può giungere alla catastrofe non per una disaffezione al voto, ma al contrario a causa di un più ampio coinvolgimento dell’elettorato. Una Repubblica che si era dovuta difendere, al suo nascere, da violenza rivoluzionaria e controrivoluzionaria, dai putsch (come quello di Monaco), dal timore di un intervento militare, fu invece distrutta da una serie di elezioni a suffragio universale, con una crescente partecipazione degli elettori.

Per analizzare le ragioni del crescente successo elettorale di Hitler, Ginzberg utilizza varie fonti, sia contemporanee (Gramsci), sia analisi successive dei movimenti dell’elettorato. Interessanti la tabella (molto simile a quelle che compaiono su Internet o in TV poco dopo la chiusura dei seggi), che sintetizza i cambiamenti (anche d’umore) del corpo elettorale tedesco dal 1919 al 1933, accompagnata da quella del susseguirsi delle coalizioni fino al 1932. L’autore fa notare, peraltro, che anche dopo le elezioni del 1932, la coalizione su cui poggiava il governo Hitler (nazisti e nazionalisti) non superava il 41,5% dei voti; molti degli oppositori erano convinti che la coalizione non sarebbe durata, come era accaduto in altre occasioni pochi anni prima. Ma non tenevano conto né della capacità di iniziativa politica dei nazisti (i decreti approvati pochi giorni dopo la nascita del governo), né del fatto che c’era un’ampia fascia di popolazione che non vedeva l’ora di trovare uno sbocco politico alle sue aspirazioni.

E’ proprio da qui che si sviluppa la seconda parte del libro, da questa sottovalutazione della situazione, evidenziata da una serie di riferimenti ad articoli di giornale, dichiarazioni di politici e intellettuali, anche ebrei, che non credono possibile l’avvento di un vero e proprio regime, che metta in atto quello che ha promesso durante la campagna elettorale. D’altro canto è molto interessante la parte del quinto capitolo dedicata all’elettorato di Hitler (Chi votava per Hitler?). L’autore cita il romanzo di Hans Fallada E adesso pover’uomo? (1932) in cui i dubbi su cosa votare (spurgati nell’edizione della Medusa del 1933, insieme a varie altre pagine osé, ma presenti nella traduzione italiana del 2009) da parte dei due protagonisti portano a presumere che ambedue abbiano poi votato per i nazisti. Vari studi hanno cercato di spiegare questa crescita esponenziale dei voti per i nazisti; e ultimamente sembra prevalere l’ipotesi che l’elettorato abbia seguito soprattutto i propri interessi economici; ma difficilmente i grandi spostamenti elettorali hanno una sola causa, dice Ginzberg. Qui c’è di nuovo un’analogia con l’attualità: propone un episodio vissuto in treno nel 1976, l’anno della maggiore avanzata elettorale del PCI. Nello scompartimento tutti dichiarano che avrebbero votato per il PCI, ma ognuno per una ragione diversa, talvolta diametralmente opposta; conclude amaramente che se sui treni non fossimo tutti perennemente attaccati allo smartphone capiremmo sicuramente molto di più sui flussi elettorali.

Un capitolo che mi è sembrato molto interessante, anche dal punto di vista della didattica, è quello sul linguaggio. Ginzberg utilizza a piene mani il libro del filologo ebreo Viktor Klemperer LTI (Lingua Tertii Imperii – la Giuntina, 1999), che attraverso l’analisi delle novità linguistiche del Terzo Reich cerca di capire cosa e come è successo. Dal linguaggio si passa all’uso dei mezzi di comunicazione (giornali, radio e poi cinema), che nell’arco di pochi mesi sono oggetto di una vera e propria appropriazione da parte di nazisti. Il ruolo di questi mezzi di comunicazione è importantissimo, sia per le grandi tirature dei giornali già prima dell’avvento di Hitler, sia per la capillare presenza di stretti rapporti tra lettori (e ascoltatori) e giornalisti. Le lettere dei lettori vengono pubblicate, ovviamente quando servono a denunciare le malefatte di un commerciante ebreo o di un impiegato ‘infedele’, e le lamentale degli ascoltatori sugli stessi temi riportate quasi in diretta. Questo argomento ci avvicina a un capitolo-chiave che permette di spiegare il crescente consenso di cui godrà il regime fino ai primi mesi del 1945; Ginzberg titola il nono capitolo Come fu comprato il popolo; e il secondo paragrafo, sempre usando il sistema dell’analogia, Il reddito di cittadinanza. Il riferimento in questo caso è al libro di Götz Aly Lo stato sociale di Hitler (Einaudi, 2007), una miniera di informazioni su come in pratica fu finanziato l’ottenimento e il mantenimento del consenso, anche attraverso una politica assistenziale, attuata con una vera e propria spoliazione, anche fiscale, della comunità ebraica e poi, in guerra, con un saccheggio vero e proprio di tutta l’Europa sottomessa.

Innumerevoli sono gli spunti che il testo, peraltro breve e scritto con un piglio ‘anglosassone’ e ironico (soprattutto nelle analogie ‘suggerite’ ma mai pienamente esplicitate), offre alle attività didattiche con gli studenti. Permette un efficace smontaggio di una serie di stereotipi del passato vicino e anche del presente, attraverso riferimenti e collegamenti che utilizzano sia fonti contemporanee (Gramsci, Klemperer, Fallada, Brecht ecc.), sia studi recenti che forniscono le basi del ragionamento e soprattutto del tentativo, a mio parere riuscito, di spiegazione e di attualizzazione della Sindrome 1933.

Il testo è seguito da un’efficace bibliografia tematica che si rifà, ma non completamente, alla divisione in capitoli e offre esempi sia di romanzi (oltre a quello di Fallada, anche le distopie Il complotto contro l’America di Philip Roth e Qui non è possibile di Sinclair Lewis) sia di fonti documentarie, sia di testi di saggistica.

Mario Pisolu

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Criminali del campo di concentramento di Bolzano – Di SANTE

DI SANTE, Costantino. Criminali del campo di concentramento di Bolzano. Bolzano: Raetia, 2019. 319p. Resenha de: SESSI, Frediano. Il Bollettino di Clio, n.11/12, p.201-203, giu./nov., 2019.

Il campo di concentramento di Bolzano, nel sobborgo di Gries, denominato ufficialmente Polizeilisches Durchgangslager (Campo di transito), istituito dapprima come campo di lavoro (15 maggio 1944) e successivamente come parte dei campi di smistamento italiani degli ebrei e dei prigionieri politici in Germania (probabilmente dai primi giorni di luglio del 1944), sorse lungo l’attuale via Resia, all’interno di un complesso di capannoni già adibiti a deposito dal Genio militare fin dal 1941. Di forma rettangolare, copriva un’area di circa 17.500 metri quadri, dei quali almeno 13.000 erano coperti da baracche. Circondato da un muro di cinta, venne messo in sicurezza anche con rotoli di filo spinato, atti a impedire eventuali fughe. In ciascuno dei quattro angoli, vennero poste delle torrette di guardia, in legno, all’interno delle quali stazionava in permanenza una guardia SS, munita di mitragliatrice.

La guarnigione SS era composta da uomini di diversa nazionalità arruolati nel corpo: sud-tirolesi, italiani, ucraini e tedeschi. Tra le baracche, un’area piuttosto ampia era riservata ai laboratori: falegnameria, sartoria, tipografia e officina meccanica. Oggi si calcola che i deportati nel Lager di Bolzano siano stati circa 11.000, dei quali, fino a 3.500 furono rilasciati il 3 maggio 1945, giorno della chiusura del campo.

I prigionieri erano costituiti da ebrei e politici, uomini e donne, provenienti a partire dall’estate del 1944, dal campo di Fossoli e dalle carceri maggiori dell’Italia del Nord.

Varcata la soglia del Lager, il prigioniero veniva registrato e classificato, come negli altri campi di concentramento tedeschi, con un numero di serie e un triangolo colorato che indicava lo statuto razziale e sociale del detenuto: politico, asociale ecc. Alcune testimonianze raccontano che per gli ebrei e gli zingari (prigionieri razziali) esisteva una serie di numeri a parte, per questo, ancora oggi risulta difficile ipotizzare quanti fossero i detenuti non politici. La stima più credibile è che non abbiano superato il 10% di tutti i deportati. Quanto alle donne, si calcola che non fossero più di 1.200, mentre i bambini che occupavano gli stessi locali baracca delle donne non erano più di venticinque. Tra le donne, numerose partigiane ma anche famigliari di politici ostaggio delle SS, per costringere i partigiani a consegnarsi. Nell’ottobre del 1944, nonostante la guerra per la Germania sia ormai perduta, il campo subisce degli ampliamenti in vista di un aumento del numero degli internati.

La storia del Lager di Bolzano, così brevemente sintetizzata, che viene ricostruita con precisione di particolari nelle prime 143 pagine del nuovo libro di Costantino di Sante, in apparenza sembra simile a quella di altri campi di transito sparsi nell’Europa occupata.

L’autore la arricchisce di documenti, carte geografiche che spiegano i transiti dei prigionieri deportati verso altri Lager, fotografie e storie individuali di prigionieri, la cui testimonianza rende consapevole il lettore della tragedia rappresentata dalla vita quotidiana in questo «piccolo Lager», in una parte d’Italia incorporata al Reich; vita quotidiana assai poco raccontata dai libri di storia italiana, che raccontano qualcosa del Lager, come se la sua breve durata e il suo essere prevalentemente un luogo di transito, fossero sufficienti a trattare con leggerezza questa parentesi violenta dell’occupazione tedesca e del sostegno alla Germania da parte della neonata Repubblica sociale.

La ricerca di Costantino di Sante, abituato a scoprire negli archivi documenti e storie dimenticati dell’Italia e degli italiani nel corso della Seconda guerra mondiale, ha ridato al Lager di Bolzano il posto che gli spetta nella storia e nella memoria nazionali. A contribuire al suo parziale oblio nella memoria collettiva, lo smantellamento del sito e le poche tracce di quella caserma-prigione hanno giocato un ruolo importante. Ma, prima del lavoro di Costantino di Sante sono stati pochi i saggi storici, e i libri di memorialistica che ne hanno reso possibile lo studio e la conoscenza.

La parte più rilevante del libro è costituita dalla ricostruzione meticolosa e documentata delle biografie e spesso delle azioni dei maggiori responsabili del Lager: gli aguzzini, i carnefici. A cominciare da Rudolf Thyrolf, vicecomandante della polizia di sicurezza tedesca, per proseguire con August Schiffer, direttore della Gestapo e tra gli altri Karl Titho, sottotenente SS e comandante del Lager, Hans Haage, responsabile della disciplina, Joseph König, maresciallo SS e responsabile delle squadre di lavoro. I nomi e le vite ricostruite sono molti di più e per ciascuno di loro, per la prima, volta viene raccontata la carriera militare e politica e i comportamenti in Lager, con fotografie, lettere, testimonianze che fanno entrare il lettore nella loro vita sociale e familiare.

Ne emerge, come è accaduto per il campo di Auschwitz, dopo la scoperta dell’Album fotografico di Karl Friedrich Höcker, un racconto grottesco di uomini e donne che mentre torturano, scherniscono e affamano centinaia di detenuti, vivono momenti di serenità con le loro donne e le loro famiglie, o tra commilitoni.

Il capitolo terzo, «Il tempo libero dei carnefici» è allora centrale alla comprensione della moralità dei nazisti e delle trovate psicologiche utili al sostegno del loro lavoro di assassini: anche così e non solo con il supporto dell’ideologia, i nazisti si convincevano che gli ordini che erano chiamati a eseguire non erano da considerarsi criminali, ma una necessità della storia Europea, per la costruzione di un «nuovo ordine europeo». Si capisce assai bene, leggendo queste pagine, come la nuova e vera moralità tedesca fosse nella «legge del sangue», garanzia di tutela del popolo ariano e conforto di verità contro gli inetti, i razzialmente impuri, gli oppositori: tutti esseri inferiori per i quali il diritto alla vita, nella nuova Europa, non era tutelabile e tollerabile, se non nella condizioni di schiavi del lavoro.

Straordinario il ritrovamento di documenti e di molto materiale a stampa, interpretato e organizzato da Costantino di Sante nelle pagine del libro e reso pubblico per la prima volta.

Un saggio storico, dunque, ricco di nuove scoperte d’archivio, sostenute da un racconto di fatti, di uomini e donne che, in questa storia, hanno vissuto nel bene o nel male (dalla parte giusta o dalla parte sbagliata) da protagonisti.

Un saggio da inserire nei programmi di storia contemporanea nei corsi universitari e nei laboratori delle scuole superiori, e non solo per non dimenticare.

Dal racconto delle vite dei carnefici emerge un monito: i peggiori torturatori erano uomini che avevano storie comuni a quelle di tanti altri e che a causa di un’ideologia totalitaria e razziale si sono trasformati in esecutori dei crimini più efferati del nostro recente passato, cancellando in loro ogni residuo di umanità e dignità.

La strada che hanno percorso per arrivare a compiere un simile Male radicale, sappiamo, che non è ancora chiusa.

Frediano Sessi

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Quercún | Sergio Mansilla Torres

¿Recuerda usted a Anthony Bourdain, el chef estadounidense y creador de varios programas de televisión sobre las modalidades de la gastronomía en diversas partes del mundo, que se suicidó el año 2018? O ¿lo asocia con el escritor chileno Pablo de Rokha, escritor de Epopeya de las comidas y las bebidas de Chile (1949), que se suicidó el 10 de septiembre de 1968? Parece ser que en ocasiones la melancolía se relaciona con la hiperbolización de las comidas en la historia de vida. Esta relación entre comida y melancolía articula el libro Quercún de Sergio Mansilla Torres, poeta chilote y doctor en literatura por la Universidad de Washington en Seattle (1996).

Desde el título del libro, Quercún, el lector es introducido en el espacio de lo local chilote. La palabra no figura ni en los diccionarios de la RAE ni en el Diccionario de uso del español de Chile (Academia Chilena de la Lengua, 2010). Es una palabra extraña, que ha permanecido preciada y cristalizada en el sujeto. Una palabra que no se deja ir, que es el título del libro, que lo sintetiza en un significante. Desde la primera página se nos indica que quercún es un término usado por los navegantes chilotes, que significa “resguardarse del mal tiempo en un lugar protegido y esperar que amaine la tormenta para entonces continuar el viaje. Ahí donde el aguacero y los vientos dejan espacio a la conversa, a la ensoñación, al fueguito, a la espera de un tiempo que nos permita continuar el derrotero” (Mansilla, p. 5). Quercún implica quedarse detenido, tal como la melancolía. En chilote la palabra melancolía es sinónimo de “quercún”. Leia Mais

Volta ao mundo em 13 escolas: sinais do futuro no presente | André Gravatá

Volta ao mundo em 13 escolas é um projeto do coletivo Educ-Ação sonho de Eduardo Shimahara (Shima), juntamente com André Gravatá, Camila Piza e Carla Mayumi, em compreender a educação contemporânea ao redor do mundo. Ao todo, foram visitadas 13 escolas distribuídas por nove países sendo eles por sua vez em Cinco continentes diferentes.

A ideia surge com Shima, que se pergunta se é possível existir um método de ensino além do conhecido tradicional. Essa ideia é incorporada por seus amigos que se juntam nessa empreitada de visitar várias escolas espalhadas pelo mundo a fim de compreender o método educacional vigente. Para isso o critério utilizado para seleção das escolas foi a diversidade. Passam cinco dias em cada escola para entender seu funcionamento e ações sejam de professores, estudantes ou até mesmo dos pais. Leia Mais

Antonio Fagundes no palco da história: um ator | Rosangela Patriota

A historiadora e professora Rosangela Patriota possui uma trajetória de destaque no âmbito da historiografia do Teatro Brasileiro. Desde 1995, quando a autora concluiu a sua Tese de Doutorado intitulada Fragmentos de Utopias: Oduvaldo Vianna Filho – um dramaturgo lançado no coração de seu tempo, 1 até o presente momento, Rosangela Patriota vem dando significativas contribuições para a escrita da História do Teatro Brasileiro por meio de pesquisas que resultaram em obras como A crítica de um teatro crítico, 2 História e Teatro: discussões para o tempo presente3 e Teatro Brasileiro: ideias de uma história, este último, diga-se de passagem, escrito a quatro mãos em parceria com o crítico, ensaísta, professor e editor Jacó Guinsburg.4

Para além de tais trabalhos, Rosangela Patriota produziu uma série de artigos acadêmicos, capítulos de livros, ensaios e palestras, bem como atuou na organização de diversas coletâneas, geralmente abordando não só as relações da História com o Teatro, mas também com as linguagens artísticas em uma perspectiva mais abrangente. Se tivermos em vista toda essa vasta produção intelectual da pesquisadora e se igualmente levarmos em conta que a mesma também orientou uma série de monografias, dissertações de mestrado e teses de doutorado de outros pesquisadores, não é exagero nenhum afirmarmos que, por todo o seu percurso acadêmico, o trabalho de Rosangela Patriota pode ser descrito, sem sombra de dúvidas, como um dos mais profícuos dentro da historiografia do Teatro Brasileiro. Leia Mais

Fênix. Uberlândia, v.16, n.1, 2019.

DOSSIÊ: HISTÓRIA, LITERATURA E RELIGIÃO

Editorial

Artigos

Dossiê

Resenhas

Publicado: 2019-06-30

Monções – Revista de Relações Internacionais. Dourados, v.8, n.15, 2019.

Dossiê Teoria das Relações Internacionais no Brasil

EXPEDIENTE

ENTREVISTA

ARTIGOS DOSSIÊ – TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NO BRASIL

TRADUÇÃO

ARTIGOS – SEÇÃO MISCELÂNEA

RESENHAS BIBLIOGRÁFICAS

PUBLICADO: 30/06/2019

Asclepio – Revista de Historia de la Medicina y de la Ciencia. Madrid, v.71, n.1, 2019.

Estudios

Reseñas

PUBLICADO: 2019-06-30

Escritas do Tempo. [Marabá], v.1, n.1, 2019.

Escritas do Tempo

Editorial

Artigos

Entrevistas

Expediente

Publicado: 2019-06-30

Transversal: International Journal for the Historiography of Science. Belo Horizonte, n.6, 2019.

Women in Sciences: Historiography of Science and History of Science

From the Editors

Dossiers (Issue-specific topics)

Articles

Interviews

Book Reviews

Obituary

Published: 2019-06-30

Revista Outrora. Rio de Janeiro, v.2, n.1, jan./jun. 2019.

Editorial

Desalinho

Entrevistas

Artigos Livres

Resenhas

Publicado: 30/06/2019

Ciencia Nueva – Revista en historia y política. Pereira, v.3, n.1, 2019.

Enero – Junio

Presentación

Estudios Históricos

Ciencias Políticas

Dossier

Reseñas

Publicado: 2019-06-30

Sophia Austral. Punta Arenas, n.23, 2019.

Primer Semestre 2019

Editores Sophia

Publicado: 2019-06-30

Trilhas da História. Três Lagoas, v.8, n.16, 2019.

SOBRE A INTOLERÂNCIA

Apresentação

Dossiê

Artigos livres

Ensaios de Graduação

Fontes

Historiar. Sobral. v.11, n.20, 2019.

Patrimônio e sociedade: as várias faces de um debate

Apresentação

Dossiê

Publicado: 2019-06-28

Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas. Londrina, v. 20, n.2, 2019.

Artigos

Publicado: 2019-06-27

Revista de Arqueologia. Pelotas, v.32, n.1, 2019.

Editorial

  • Daniela Klokler, Rafael Guedes Milheira, Sibeli Aparecida Viana
  •  PDF

Artigo

Publicado: 2019-06-25

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.40, 2019.

Editorial

Artí­culos

Reseñas

Publicado: 2019-06-24

História oral e memória na construção das narrativas sobre as representações político-culturais do Brasil atual | Faces da História | 2019

Este número de Faces da História traz o dossiê História oral e memória na construção das narrativas sobre as representações político-culturais do Brasil atual que se propõe refletir sobre assuntos que estejam amparados nessas representações memoriais resultantes da produção direta, a partir do diálogo entre entrevistador e entrevistado e de fontes que contemplam outros suportes. Em decorrência da natureza dessas fontes, as pesquisas baseadas em tais registros são inseridas no campo da história do tempo presente e estruturam-se em dimensões transnacionais (TREBITSCH, 1994; MORAES, 2002; ALBERTI, 2005), tornando-se sustentáculos do debate especializado do ponto de vista teórico e historiográfico e de definição dos protocolos de pesquisa e reflexões desse campo (JOUTARD, 2000).

Certamente, qualquer fonte traz suas peculiaridades e dificuldades que sinalizam desafios ao processo de execução para se chegar ao conhecimento sobre o passado, mesmo que esteja subordinado às visões de mundo do pesquisador do presente. As narrativas orais, entretanto, foram e são percebidas prenhe de significados e paixões decorrentes dos envolvimentos dos protagonistas nas querelas, compromissos e inserções dos embates conjunturais que modulam suas vivências. Nesse sentido, foram e continuam sendo recorrentemente arguidas por evidenciarem subjetividades que inicialmente estiveram definidas como empecilho para chegar ao conhecimento sobre os fenômenos submetidos, unicamente, aos relatos desses narradores. Segundo os seus arguidores, por serem fontes inscritas em passado recente, não permitem aos atores envolvidos (entrevistador/entrevistado) certo distanciamento para lidar com esses registros de testemunhas oculares que trazem as marcas de suas implicações nas querelas de seu tempo. Leia Mais

Faces da História. Assis, v.6, n.1, 2019.

História oral e memória na construção das narrativas sobre as representações político-culturais do Brasil atual

Equipe Editorial

Apresentação

Artigos para Dossiê

Artigos Livres

Resenha

Publicado: 2019-06-21

Contextos – Estudios de Humanidades y Ciencias Sociales. Santiago, n.45, 2020.

Edición especial: Aproximaciones a la Enseñanza de las Humanidades y de los Estudios Culturales a través del Teatro

Editora invitada:
Dra. Vilma Navarro-Daniels
Department of Foreign Languages and Cultures
Washington State University, USA.

Presentación

Artículos

Publicado: 2019-06-21

Jamaxi. Rio Branco, v.3, n.1, 2019.

Publicado: 2019-06-11

ENSAIO

CRÔNICA

ARTIGO

 

História e Literatura | Diálogos | 2019 

O presente dossiê teve como intuito selecionar artigos que propusessem diálogos tanto na metodologia do estudo quanto na análise da literatura considerada em suas dimensões históricas e culturais. Abordagens e perspectivas que desenvolvessem a análise de obras, formas e expressões literárias com atenção aos contextos subjacentes sejam do processo, da produção, da autoria, das práticas, do público e da recepção, da crítica e da teoria.

A seleção e organização foi um trabalho de grande aprendizagem e satisfação, pela diversidade e qualidade dos estudos apresentados. Desafio agradável e envolvente foi o de pensar uma ordem na disposição e sequência dos textos. As temáticas eram resistentes às formas mais convencionais de organização cronológica ou geográfica. A variedade também resistia a uma ordenação por categorias, tais como estudos sobre romances, teatro, relatos de viagens, memórias etc. Leia Mais

Diálogos. Maringá, v.23, n.2, 2019.

Dossiê: História e Literatura

Editorial

Dossiê

Artigos

Publicado: 2019-06-07

Historias de Ultramar: Antecedentes y proclamación de La Primera Cruzada. El camino y La conquista de Jerusalén | Guilherme de Tiro

Poucas obras na história se tornaram tão indispensáveis para a compreensão de determinados temas como fora Historia rerum in partibus transmarinis gestarum para análises acerca das cruzadas. Este trabalho se faz presente na bibliografia de qualquer livro que se propõe abordar o referido assunto; invariavelmente, a obra do cronista Guilherme de Tiro, descrito por Steven Runciman (2003, p. 409) como o maior dos historiadores cruzados e “um dos maiores historiadores medievais”, estará citada. Em diversas ocasiões, inclusive, o autor se torna ator da própria história que narra.

Não encontramos a referida crônica de Guilherme de Tiro em idioma português. Acreditamos que, de fato, não exista. Recorremos, dessa forma, a uma tradução em espanhol, intitulada Historias de Ultramar, elaborada por Lorenzo Vicente Burgoa, doutor em Filosofia, Teologia e Letras. Além de traduzir, Burgoa, que é professor emérito da Universidade de Múrcia, na Espanha, enriqueceu a obra ao inserir notas, apêndice e introdução. Leia Mais

Ofícios de Clio. Pelotas, v.4, n. 6, 2019.

Ofícios de Clio

Expediente

Apresentações

Dossiê “Intolerâncias, preconceitos e racismos na Era Moderna: entre permanências e rupturas”

Artigos Livres

Resenhas

 

Clio – Revista de Pesquisa Histórica. Recife, v.37, n.2, jul./dez. 2019.

Dossiê: Escravidão e comércio de escravos através da história.

Sobre a Revista

Apresentação

Dossiê

Artigos Livres

Resenhas

EmRede – Revista de Educação a Distância. Porto Alegre, v. 6, n. 1, 2019.

Educação em rede: construindo uma ecologia para a cultura digital

Expediente

Editorial

Artigos convidados

Artigos

Relatos

Publicado: 2019-06-01

Revista Brasileira do Caribe. São Luís, v.20, n.39, jul./dez. 2019

DOSSIÊ: Fronteiras, movimentos e conexões afro-atlânticas

Editorial

  • Jorge Chinea, Isabel Ibarra Cabrera
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Artigos

Cuadernos de Historia. Santiago de Chile, n.50, 2019.

EDITOR/A: Sergio Grez

Cuadernos de Historia. Santiago de Chile, n.50 (2019): Junio

IN MEMORIAM

ESTUDIOS

RESEÑAS

Virginia Artigas. Histórias de arte e política | Rosa Artigas

No final dos anos 1960, convivi mais com a personagem central deste livro do que com minha mãe. Nada contra dona Lia, mas a casa de dona Virgínia e do marido, o arquiteto e professor João Batista Vilanova Artigas, era uma espécie de imã para uma penca de adolescentes, secundaristas e universitários amigos dos filhos do casal, Júlio e Rosa, de quem fui colega de classe, de grêmio e de protestos contra a ditadura.

Atraídos pelas aulas informais que o velho Artigas nos proporcionava, feliz de manter contato com a juventude de que fora apartado ao ser cassado como professor da FAU pelo AI-5, mas de certo modo mais interessados na disposição de Virgínia para ocupar o papel de confidente e conselheira, sentíamos que a partir dali tomaríamos nosso rumo, sabendo muito bem o que o povo queria. Como alertava Virgínia e se verá a partir da página 239, não era bem assim. Leia Mais

A forma indelével. Um estudo sobre a persistência morfológica em Maruípe | Flávia Botechia

Num plano rosa claro (muito afetivo) corre um veio rubro. Este veio tem um nome: A forma indelével. Eu diria a Rua Indelével. O projeto gráfico deste livro de Flávia Botechia antecipa o quão afetuoso é o seu trabalho, o seu olhar para este veio rubro – a Avenida Maruípe, imerso na paisagem rosa, que, por licença poética, eu digo que é a cidade de Vitória.

Assim o vi, assim o li, pois, desde a capa, este livro antecipa a conclusão da atilada pesquisa da autora capixaba que já dedicou outros estudos à cidade de Vitória, Espírito Santo. Desta vez, Flávia nos apresenta as conclusões de sua tese de doutorado na forma de livro, o que também poderia ter acontecido com seu trabalho de graduação e sua dissertação de mestrado – queremos mais! Leia Mais

Women in Sciences: Historiography of Science and History of Science – on the Work of Women in Sciences and Philosophy | Transversal | 2019

Women’s participation in the advancement of science and the discussions of philosophical issues have a long history. In fact, their participation in the production of knowledge is as old as mankind itself, or in order to avoid the generic use of “man” and to use gender-neutral language, it would better to say that it is as old as humanity itself.

In 1690, Gilles Ménage published the first-ever history of women philosophers, Historia mulierum philosopharum (History of women philosophers), which provides an account of 65 female philosophers from the past 2,500 years. The Paris intellectual, Ménage, advocated for the appointment of women to the Académie française, arguing that their contribution had greatly enriched science and philosophy. Nearly 100 years later, in 1775, Christian August Wichmann wrote the German encyclopedia entitled Geschichte berühmter Frauenzimmer (History of famous women). Leia Mais

Boletim de História e Filosofia da Biologia. [?] v.13, n.2, 2019.

Volume 13, número 2 (junho de 2019)

  • Nova seção do Boletim de História e Filosofia da Biologia: Discussões contemporâneas de teorias e métodos da biologia
  • Discussões contemporâneas de teorias e métodos da biologia: “Tradução de artigo que defende a síntese evolutiva estendida”, por Renata de Paula Orofino
  • Encontro de História e Filosofia da Biologia 2019
  • Eleição da Diretoria e Conselho da ABFHiB
  • Periódico Filosofia e História da Biologia volume 14, número1, junho de 2019
  • Chamadas para publicação
  • Outros eventos da área
  • Livro publicado da área
  • Nova seção do Boletim de História e Filosofia da Biologia: Discussões contemporâneas de teorias e métodos da biologia
  • Discussões contemporâneas de teorias e métodos da biologia: “Tradução de artigo que defende a síntese evolutiva estendida”, por Renata de Paula Orofino

After American Studies: Rethinking the Legacies of Transnational Exceptionalism | Jeffrey Herlihy-Mera

After American Studies, by Jeffrey Herlihy-Mera of the Universidad de Puerto Rico, is a critical Cultural-Studies examination of the foundational theses in the Transnational Turn in American Studies. However, it is aimed, at the same time, to rethink and deconstruct some of the key tenets of the field. Indeed, After American Studies engages a post-national and post-cultural argument, the core of which provides important nuance to the transnational turn.

The book is comprised of an introduction and nine chapters, parts of which were previously published in academic journals. Herlihy-Mera’s purpose is made clear in the Introduction: “After American Studies is a critique of national and transnational approaches to community, their forms of belonging and patriation, and initiates a theoretical gesture toward new considerations of postgeographic and postcultural communities” (p. 1). Leia Mais

Travestis: carne, tinta e papel | Elias Ferreira Veras

Em sua segunda edição, o livro “Travestis: carne, tinta e papel” de Elias Ferreira Veras, nos aproxima do “universo trans” sob a ótica do pesquisador/ator/sujeito. Essa aproximação é feita por meio das narrativas das travestis entrevistadas, das revistas Manchete e Playboy e de periódicos cearenses. O objetivo de Veras é problematizar as condições de emergência do sujeito travesti na capital do Ceará, Fortaleza. De forma admirável, o autor cita a passagem do tempo das perucas para o tempo dos hormônios-farmacopornográficos (evocando Paul B. Preciado), o que demanda um processo de subjetivação, quando ser travesti passa a significar ser um novo sujeito, e não apenas uma prática clandestina e privada.

Para chegar a esse resultado, há uma travessia: o autor inicia sua jornada no curso de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), torna-se mestre pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e doutor em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É a tese de doutoramento de Elias que faz esse retorno às origens, temporal e geograficamente, saindo do Sul para voltar ao Nordeste e incidindo sobre a temática para então culminar no livro. Leia Mais

Do hábito à resistência: freiras em tempos de ditadura militar no Brasil | Caroline Jaques Cubas

Caroline Jaques Cubas é Doutora em História, pela Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, com estágio sanduíche na Université de Rennes II, e Mestre em História, também pela UFSC. É Especialista em História Social do Ensino Fundamental e Médio, pela Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC, e graduada em História, pela Universidade do Vale do Itajaí, UNIVALI.

A autora é Docente Adjunta no Departamento de História da Universidade do Estado de Santa Catarina, UDESC, onde também leciona no Programa de Pós-graduação em História e no Mestrado Profissional em Ensino de História. É pesquisadora nos grupos: “Memória e Identidade” e “ Ensino, Memória e Cultura”, nesta mesma instituição. Leia Mais

Patrimônio Cultural da Saúde | Memória em Rede | 2019

Este dossiê temático pretende trazer para o debate a reflexão acerca da identificação de um patrimônio cultural relacionado à área da saúde, a partir de textos elaborados por pesquisadores brasileiros e portugueses especialmente convidados para a Revista Memória em Rede. Os artigos aqui publicados procuram revelar o próprio esforço de trabalhar o tema de forma interdisciplinar e em rede, reunindo historiadores, artistas visuais, arquitetos e urbanistas de diferentes cidades brasileiras, mas também da Capital portuguesa.

A própria definição de saúde vem se ampliando nas últimas décadas, a partir do entendimento de saúde como qualidade de vida, em que aspectos sócios-culturais têm papel substancial. Para a Organização Mundial de Saúde, saúde é “um estado completo de bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doenças ou enfermidades” (DUHL & SANCHEZ, 1999: 7). Para essa organização o novo paradigma da saúde pública oscila entre o modelo médico, individual, e o modelo social que: “considera a saúde como um resultado das influências e dos efeitos provocados pelo status socioeconômico, pela cultura, condições ambientais, habitação, emprego e pela vida em comunidade” (IDEM). Leia Mais

Caminhos da Liberdade no Jovem Marx: da emancipação política à emancipação social – VIEIRA (EL)

VIEIRA, Júlia Lemos. Caminhos da Liberdade no Jovem Marx: da emancipação política à emancipação social. São Paulo: Anita Garibaldi & Fundação Maurício Grabois, 2017. Resenha de: ANTUNES, Jadir. Eleuthería, Campo Grande, v 4, n. 6, 193-196, jun./nov., 2019.

O livro Caminhos da Liberdade no Jovem Marx: da emancipação política à emancipação social de Júlia Lemos Vieira é um livro inédito que descreve a biografia intelectual libertária e democrática do chamado jovem Marx até seu ingresso, e mesmo durante,  a chamada fase da maturidade. O livro é resultado da Tese de Doutoramento em Filosofia da autora na Usp em 2014 sob a orientação do professor Sérgio Cardoso.

O que imediatamente nos atrai na leitura do trabalho de Júlia Lemos Vieira é sua desenvoltura para tratar de um tema caro, porém pouco compreendido pela tradição marxista: o da relação de Marx com a filosofia clássica – seja ela grega, latina ou alemã.

Não temos dúvidas do caráter original e crítico da teoria desenvolvida por Marx sobre a natureza contraditória e histórica da estrutura econômica, política, jurídica e ideológica da sociedade capitalista. Não temos dúvidas, ainda, da importância decisiva que tiveram na vida de Marx, pessoas geniais como Hegel, Feuerbach, Smith, Ricardo e mesmo Engels. O livro de Júlia Lemos Vieira, porém, vai além dessas certezas ao nos apresentar, de maneira clara e radical, a importância decisiva para Marx, para ela, maior ainda que Hegel e Feuerbach, do filósofo e materialista grego Epicuro.

É comum entre filósofos o debate e o questionamento sobre os princípios orientadores do pensamento propriamente filosófico. Em filosofia quem não tem princípios não tem pensamento e, por isso, não tem também filosofia. É comum atribuir aos gregos, ao platonismo e ao aristotelismo especialmente, o mérito de terem sido a grande matriz de todo o pensamento verdadeiramente filosófico do Ocidente, o mérito de terem compreendido que não se pode fazer filosofia sem a adoção de um princípio racional essencial para a realidade, da adoção de um princípio único capaz de unificar racionalmente a irracionalidade da pluralidade, da multiplicidade e da diferença.

A ideia de que haveria algo em-si, por-si e para-si na realidade, de algo totalmente autônomo e independente da realidade humana e natural, de algo único e essencial, dotado do poder de organizar, racionalizar e dar sentido e finalidade ao caótico mundo da pluralidade, da multiplicidade e da diferença esteve na base de todas as grandes doutrinas clássicas gregas – posteriormente adotadas por quase toda a história da filosofia.

Seria este sistema metafísico, racionalista, objetivo, hierárquico e desigual de pensar que estaria, segundo os críticos de Marx, na base de todas as tendências autoritárias, antidemocráticas, hierárquicas, monolíticas, estatistas, necessitaristas, deterministas, objetivistas, burocráticas, elitistas e violentas do marxismo. Teria sido a adesão de Marx, segundo esses críticos, ainda que de maneira nunca clara e explícita na sua própria letra, a esta filosofia de matriz teológica e metafísica que teria condenado o marxismo a não suportar a pluralidade, a multiplicidade, a autonomia, a liberdade e a diferença – sejam elas teóricas ou práticas.

O livro de Júlia Lemos Vieira desmistifica essa falsa interpretação do pensamento de Marx ao nos mostrar que ele, desde sua tese doutoral até a maturidade, sempre teria sido, ainda que nem sempre explícito e claro em seus textos, um epicurista e ardoroso defensor da democracia, da pluralidade, da liberdade, da autonomia, da subjetividade, da diferença, da contingência e da multiplicidade.

O mecanicismo epicurista, ao negar o finalismo aristotélico e o determinismo democritiano, ao negar a existência de um princípio único, necessário e autonomizado ordenando e dando sentido à realidade, ao pensar o deslocamento contingente e não necessário dos átomos através do clinamen, ao atribuir aos deuses um caráter não antropomórfico, não consciente e não ocupado com os destinos da vida humana, ao negar a existência de qualquer coisa ou realidade em-si, fora, independente e diferente da natureza e do homem, de uma coisa que organiza e dirige a vida natural e humana de maneira objetiva, impessoal, necessária e universal, teria produzido em Marx uma visão filosófica não somente antimetafísica, antiteológica e antiabstrata, mas, sobretudo, horizontalizada, igualitária, democrática e libertária.

O livro de Júlia Lemos Vieira ocupa-se, minuciosamente, em nos mostrar, desde sua tese doutoral até seus primeiros escritos filosóficos de juventude, chegando à maturidade da Ideologia Alemã e ao Capital, como Marx sempre teve em mente o sistema materialista aberto, múltiplo, livre, plural e não finalista de Epicuro, um sistema racionalista onde a verdade não pré-existiria ao debate, onde não pré-existiria um saber e uma verdade absolutos e essenciais só apreensíveis pelos especialistas do saber, mas, onde a verdade é uma coisa que se produz no interior do debate público entre as muitas verdades efetivamente existentes na realidade.

O livro de Júlia Lemos Vieira nos mostra como Marx sempre se preocupou em desenvolver uma filosofia não dogmática, não teológica, não finalista, não necessitarista, não determinista e não racionalista, mas sim, uma filosofia que condenaria toda pretensão filosófica de elevar-se ao púlpito da verdade única e em-si, daquela verdade separada e absoluta que pretende elevar-se acima de todas as verdades como sendo a Verdade.

O livro de Júlia Lemos Vieira é de leitura filosófica profunda e agradável, está organizado em quatro capítulos e nele viaja-se pela história da filosofia enquanto história da metafísica e da teologia, enquanto história da falsa concepção de que há uma razão universal, absoluta, autonomizada e livre que organiza a realidade segundo seus próprios princípios ideais, necessários e abstratos. Em cada capítulo o livro procura esclarecer os problemas filosóficos enfrentados por Marx, quase sempre ligados à história da filosofia enquanto história da razão como coisa em-si, e como Marx os resolve tomando como pressupostos os princípios elementares do atomismo epicurista.

O livro parte do estudo da Tese Doutoral de Marx de 1841, Sobre a Diferença entre Demócrito e Epicuro, e prossegue estudando todos os principais textos, e mesmo textos por nós desconhecidos, da juventude de Marx, textos como as cartas ao pai Heinrich, onde Marx relata sua insatisfação com o formalismo filosófico e jurídico de Kant e seu ceticismo em relação à capacidade do Direito de ser um efetivo promotor da justiça e da ética entre os homens; os artigos e polêmicas contra Hermes e Moses Hess da Gazeta Renana de 1842; a Crítica à Filosofia do Direito de Hegel de 1842; os Anais franco-alemães e sua polêmica com o idealismo de Arnold Ruge de 1844; os Manuscritos Econômico-filosóficos de 1844; a Ideologia Alemã de 1845 e seu rompimento definitivo com as abstrações do idealismo e com a fraseologia filosófica; o Manifesto Comunista de 1848 e O Capital de 1867; mostrando-nos quão profundamente democrática, aberta, libertária e não monolítica era a concepção filosófica de Marx desde seus primeiros trabalhos filosóficos até seu ingresso na maturidade e na velhice.

O livro de Júlia Lemos Vieira nos mostra, ainda, o papel positivo de Proudhon na formação do pensamento de Marx com sua crítica à propriedade privada em O que é a propriedade?; o papel positivo dos sentidos e da diferença para a formação da consciência humana no Emílio de Rousseau; o papel positivo do Contrato Social e a defesa rousseauniana de uma democracia direta, plural e aberta, de um Estado que seja o resultado não da vontade geral abstrata e alienada, mas da vontade geral real que se forma a partir da polêmica e do debate consciente entre as muitas vontades concretas e particulares.

Em todos os momentos de seu livro, Júlia Lemos Vieira nos lembra sempre da importância de Epicuro e da presença da Tese Doutoral nas diferentes etapas da crítica filosófica de Marx à teologia e à metafísica e de como a contingência, a liberdade, a pluralidade, a diferença, a autonomia e a democracia sempre foram tidas por Marx como valores fundamentais e que a verdadeira filosofia seria a filosofia fundada na racionalidade democrática, no debate e na pluralidade das argumentações que se apresentam publicamente.

O livro de Júlia Lemos Vieira é uma belíssima e profunda introdução ao pensamento e ao sentido político da crítica filosófica de Marx aos modelos de filosofia fundados na hierarquia do saber e da crença de uma verdade oracular em-si, necessária, objetiva, impessoal, abstrata e universal habitando fora e além da consciência humana real.

O livro também é uma crítica à falsa separação entre um jovem Marx filosófico, romântico e democrata e um Marx maduro científico, racional e revolucionário. O livro, por isso, é uma crítica rica e profunda ao chamado materialismo histórico dialético, que valoriza somente as chamadas obras da maturidade de Marx produzidas a partir da Ideologia Alemã e desmerecendo as anteriores, ao materialismo que abstrai tudo o que seja livre, consciente e subjetivo para valorizar somente as estruturas materiais objetivas, impessoais e racionais da realidade.

O livro de Júlia Lemos Vieira contribuirá, certamente, no desenvolvimento de um novo marxismo, mais vivo, trágico, dramático, radical e filosófico e que deve ser lido e apreciado até mesmo pelos mais experientes leitores de Marx.

Jadir Antunes – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE).

Acessar publicação original

[DR]

Passagens – Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica. Niterói, v.11, n.2, maio / ago., 2019.

Editorial

Artigos

Resenha

Colaboradores deste Número

Publicado: 2019-05-31

Temporalidades. Belo Horizonte, v.11, n.1, 2019.

Edição 29 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 11, n.1 (jan./abr. 2019)

Expediente

Pré Textuais

  • Luiz Felipe Anchieta Guerra
  • I-III
  • PDF

Editorial

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Entrevistas

Publicado: 2019-05-31

Cadernos de História. Belo Horizonte, v.19, n.31, 2018.

Temática Livre

Expediente

Apresentação

Temática Livre – Artigos

Resenhas

Publicado: 30-05-2019

Revista Nordestina de História do Brasil. Cachoeira, v.1, n.2, 2019.

Imagem da capa: BORGES, J. Forro dos bichos/ Mudança de sertanejo. Xilogravura.

Editorial

Artigo Livre

Tradução

Notas de Pesquisa

Documentos

Entrevista

Publicado: 2019-06-30

Epistemología e Historia de la Ciencia. Córdoba, v.3, n.2, 2019.

Epistemología e Historia de la Ciencia

Artículos

Traducciones

Reseñas

Publicado: 2019-05-28

Sankofa. São Paulo, v.12 n. 22, 2019.

ARTIGOS

PUBLICADO: 2019-05-23

Fronteiras – Revista Catarinense de História. Florianópolis, n.33, 2019.

Dossiê n. 33 – 2019/01 – “Gênero, Democracia e Direitos Humanos”

jan./jun. 2019

Editorial

Apresentação

Dossiês

Resenhas

Publicado: 23-05-2019

Urbana. Campinas, v.10 n. 3, 2018.

set./dez. [20] – Dossiê: Brasília II

EDITORIAL

PUBLICADO: 2019-05-23

Manduarisawa. Manaus, v.3, n.01, 2019.

Desigualdade, violência e relações de poder na História

APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ TEMÁTICO

Publicado: 2019-05-22

Membranas: intersecções entre arte, ciência e tecnologia | ARS | 2019

Não é tarefa simples explicar a escolha do título que nomeia este dossiê especial ao qual Ars dedica sua 35ª edição, tampouco dar conta da singularidade de que o termo membrana aí se reveste, uma vez que uma definição descontextualizada não atenderia às expectativas desta proposta. As duas principais referências que nos levaram a tal enunciado remontam aos anos 2000. A primeira é o livro The postdigital membrane – imagination, technology and desire1, de Robert Pepperel2 e Michael Punt. Para estes autores, membrana seria um conceito capaz de abranger tanto o estado contínuo da realidade – que não deveria ser sacrificado por conveniências conceituais – quanto as mudanças que vêm ocorrendo com a digitalização da informação. Adjetivaram ainda o conceito como membrana pós-digital, apesar de reconhecerem tratar-se de título polêmico, pois procuravam naquele momento reconhecer o estado da tecnologia e a necessidade de novos modelos conceituais que pudessem descrever/reconhecer as intersecções entre arte, computação, filosofia e ciência sem se deixar driblar por binarismos, determinismos ou reducionismos. A metáfora utilizada pelos autores refere-se a uma membrana biológica, que dá forma a fenômenos complexos, ao mesmo tempo que possibilita continuidade e trânsito entre eles. Seria algo como uma malha transparente capaz de conectar, dividir, separar e, ao mesmo tempo, integrar elementos3.

A segunda referência é o livro Information arts: intersections of art, science, and technology de Stephen Wilson4. Neste compêndio, o autor oferece uma pesquisa abrangente de artistas que trabalham nas fronteiras entre arte, investigação científica e tecnologias emergentes. Wilson, no prefácio de seu livro, relata que, em seu último ano na Antioch College (detalhe: cursava faculdade na área de Humanidades/ Ciências Sociais, em 1967, em Yellow Springs, Ohio, EUA), resolveu que, para fazer seu trabalho de conclusão, iria aprender como o rádio funcionava, mesmo não tendo nenhum conhecimento técnico prévio. Por fim, aprendeu algumas coisas que seriam até mais importantes:

That the mystification of science and technology was unjustified; that scientific principles were understandable, just like ideas in other fields; and that technological imagination and scientific inquiry were themselves a kind of poetry – a revolutionary weaving of ideas and a bold sculpture of matter to create new possibilities.5 Leia Mais

Ars. São Paulo, v.17, n. 35, 2019.

Dossiê Membranas: intersecções entre arte, ciência e tecnologia

Capa com conteúdo em Realidade Aumentada.

CAPA

EDITORIAL

ARTIGOS

PUBLICADO: 2019-05-22

Carta Internacional. Belo Horizonte, v.14, n.1, 2019.

Carta Internacional

Artigos

Publicado: 2019-05-21

Modos. Campinas, v.3, n.2, 2019.

EDITORIAL

ARTIGOS – COLABORAÇÕES

DOSSIÊ – O ARTISTA EM REPRESENTAÇÃO

EX-POSIÇÕES / RESENHAS

PUBLICADO: 2019-05-18

Cadernos do Tempo Presente. São Cristóvão, v.9 n.2, 2018.

Jul- Dez 2018: Revista Cadernos do Tempo Presente

Artigos

Resenhas

Publicado: 2019-05-16

Museologia & Interdisciplinaridade. Brasília, v.8, n.15, 2019.

Dossiê: Cinema, museu e patrimônio

Organizadores: José Quental (Doutorando em Cinema Université Paris 8/Cinemateca do MAM) e Alda Heizer (JBRJ)

Capa: Claudia Andujar, Gisele Motta e Leandro Lima, Yano-a, 2005, instalação (detalhe).

Acervo da Pinacoteca de São Paulo.

Foto: E.Dionisio, 2016.

Editorial

  • Editorial
  • Clovis Carvalho Britto, Monique Batista Magaldi
  • PDF

Dossiê Cinema, Museu e Patrimônio

Artigos

Resenhas

Publicado: 2019-05-15

O poder na aldeia. Redes sociais, honra familiar e práticas de justiça entre os camponeses italianos (Brasil-Itália) | Maíra Ines Vendrame

René Gertz, um dos maiores estudiosos da imigração e da colonização alemã no Rio Grande do Sul, recentemente elaborou uma catalogação e, com isso, tornou disponível on line a bibliografia científica editada no Brasil sobre seu principal objeto de pesquisa. Foram catalogados sobre o tema da imigração e colonização alemã em torno de 3750 publicações. iii

É muito provável que, se alguém se esforçasse para compilar uma bibliografia sobre a imigração e colonização italiana no estado do Brasil Meridional, o resultado seria análogo, ou o elenco de produções, quem sabe, ainda mais extenso. Frente a uma produção que poderíamos, sem dúvida, definir como “inacabada”, como fez alguns anos atrás Matteo Sanfilippo, referindo-se àquela relativa à emigração italiana tout court num único biênio iv, é justificável portanto perguntarmo-nos o que mais possa existir de um livro, como esse de Maíra Ines Vendrame, aprofundando un caso singular de estudo – o da Colônia Silveira Martins – num campo já amplamente discutido da historiografia, ou o que se pode dizer ainda da história da imigração italiana no Rio Grande do Sul? Leia Mais

Contextos – Estudios de Humanidades y Ciencias Sociales. Santiago, n.42, 2019.

Presentación

Artículos

Notas

Publicado: 2019-05-06

Exílio e Afastamento: considerações sobre uma hermenêutica da distância? / Tempo / 2019

A semântica dos deslocamentos é complexa: apátridas, deslocados, fugitivos, clandestinos, desenraizados, imigrantes, emigrados e muitos outros termos compõem um campo vasto. Uma avaliação terminológica rigorosa seria necessária para ordenar uma mescla de registros que descrevem situações jurídico-sociológicas, referências a condições existenciais e termos que remetem a contextos históricos. De todo modo, esse conjunto indica condições de profunda instabilidade e insegurança (Nouss, 2015).

Nessa galeria lexical, o termo exílio destaca-se. Consideramos que a amplitude de significados associados a essa categoria sustenta uma importância conceitual e metodológica específica: a experiência exílica representa um núcleo existencial / jurídico / social comum a todos os fenômenos de mobilidade forçada em nossa contemporaneidade, de tal modo que ela pode permitir a compreensão de outras terminologias sem recobrir suas especificidades.

Utilizar o termo exílio para tratar de milhões de trajetórias de deslocamento que balizaram a experiência coletiva e global do último século indica, por conseguinte, uma reconfiguração do sentido de exílio. A trajetória exilar trama uma relação tensa entre histórias e memórias, constitui biografias tocadas pela ruptura e pela descontinuidade e produz relatos que aspiram a uma coerência imaginária – esforços narrativos que lançam desafios às categorias de tempo, espaço e identidade.

Vivendo na crise dos Estados nacionais europeus depois de 1918, os exilados da contemporaneidade deslocaram-se por uma geografia instável, na qual o passado de suas existências desaparece para dar lugar a um futuro radicalmente novo, em que eles não têm pertencimento garantido, e sua tarefa de sobrevivência é um desafio físico e de produção de sentido. O presente dossiê conta com estudos sobre as diversas dimensões da experiência exilar contemporânea, trabalhos que analisam testemunhos, ações institucionais e campos de conhecimento surgidos como desdobramento dos eventos violentos associados ao fato exilar. No entanto, pensar o exílio é uma proposição que vai além do estudo de caso. Os trabalhos publicados nesta edição da revista Tempo partem da experiência do exílio para discutir as relações complexas da história com a literatura, com o campo psicanalítico e com práticas políticas diversas.

Possibilidades de análise

O exílio tem sua origem na velha prática do banimento, mas os exilados sem pátria são uma criação do Estado do século XX. Muitos pertencem à extensa galeria de personagens do deslocamento: os expatriados moram em outro país, geralmente por motivos pessoais ou sociais, sem sofrer as mais rígidas interdições; os emigrados gozam de uma situação ambígua, em que a possibilidade de escolha não lhes foi de toda retirada; funcionários coloniais, missionários, assessores técnicos, mercenários e conselheiros militares podem, em certo sentido, viver longe de sua pátria, mas não foram banidos. No entanto, o surgimento massivo de exilados sem pátria foi uma dimensão severa de sucessivas crises políticas, ideológicas e militares ocorridas nas primeiras décadas do século XX. Milhões de homens e mulheres movendo-se em uma extensão territorial global; esse é o cenário que configura a dimensão do contemporâneo.

Nesse sentido, ao considerar as transformações que marcam nosso presente, François Hartog (2013) observa que o homem deslocado foi uma figura importante na lenta construção de uma nova forma de historicidade. Atualizando o conceito de “brecha”, o autor afirma que a temporalidade vivida pelos deslocados de nosso tempo ocorre no interior de um gap temporal, em que o tempo histórico está suspenso, um tempo desorientado, situado entre dois abismos: um passado que não está abolido, mas que nenhuma orientação pode oferecer, e um futuro do qual não se faz ideia de como será. Vivendo em um tempo em trânsito, esse deslocado, exilado entre distintas temporalidades, será um observador agudo desse novo tempo.

Nesse sentido, os exilados foram os primeiros a transformar a experiência dos horrores do século XX em objeto de pensamento. Por isso, sua contribuição ao pensamento crítico foi, e ainda é, tão fundamental para a escrita da história. O desenraizamento nacional, a perda do trabalho, das ligações familiares, da língua e do contexto social e cultural transformam o exilado em um personagem dotado de uma condição fundamental para a construção de uma análise crítica do mundo contemporâneo: a condição do estranhamento e da distância.

Acompanhamos Traverso (2012) em sua proposição, ou seja, no que ele denomina hermenêutica da distância. Vivenciando o estranhamento proporcionado pelo afastamento que lhe foi imposto, os exilados e apátridas são obrigados a observar, sem nenhuma empatia, o mundo do qual foram expulsos e enfrentar eticamente o mundo para o qual se dirigiram. Crítica e compromisso (ético) são as bases da hermenêutica, quase existencial, que se tornam incontornáveis para o estrangeiro radical. A potência presente no exilado desse novo tempo é ao mesmo tempo sua tragédia, ou seja, sua impossibilidade de retorno, uma vez que o mundo material, jurídico, cultural ou pessoal foi aniquilado, transformando a distância em impossibilidade. Nesse caso, o lugar de exilio torna-se também espaço imaginativo. Diante do novo mundo de acolhida e com um futuro às vezes imprevisível pela frente, muitos reinventam suas identidades e trajetórias de vida. Um novo começo, com outro nome, religião e profissão, marca as histórias desses desenraizados.

Cabe, portanto, uma breve reflexão sobre as relações entre a experiência exilar e a escrita literária. Said (2002), ao ler Lukács, sustentou que o romance, forma literária criada a partir da fantasia, emana de uma realidade marcada pela instabilidade, na qual sujeitos comuns, mesmo os itinerantes e deserdados, pensam poder construir um mundo novo. No romance, diferentemente de na epopeia, o destino é desdito, e apresentam-se às personagens e aos leitores outros mundos possíveis. Podemos nos perguntar de que modo a literatura do exílio assumiu seu lugar como um topos da experiência humana. Ou ainda como se realiza a experiência dos intelectuais e escritores exilados, na medida em que o exílio impacta diretamente seu ofício, a saber, a produção da inteligibilidade sobre si e seu entorno. Essas questões mobilizam Federico Gerhardt na escrita de seu artigo “Decir (en) el exilio, en el siglo XX: cuestiones terminológicas, literarias y editoriales. Aproximaciones con vistas al exilio de la Guerra Civil española”, sobre os dilemas e impasses dos escritores espanhóis exilados a partir da derrota republicana e pelo início do governo franquista.

No campo dos estudos sobre trajetórias de intelectuais, publicamos os textos de Benedetta Calandra, “Cultural philanthropy and political exile: the Ford Foundation between Argentina and The United States (1959-1979)”, e de Luiza Nascimento dos Reis, “O exílio africano de Paulo Farias (África ocidental, 1964-1969)”. A partir de casos coletivos ou individuais, ambas trazem importantes contribuições para a compreensão da participação de pesquisadores latino-americanos na formação dos campos disciplinares nas áreas de ciências sociais.

Calandra faz uma análise das políticas de financiamento e apoio a intelectuais argentinos fomentada pela Fundação Ford, nos Estados Unidos. O artigo estuda a atuação da agência americana a partir de 1959, momento crítico das relações interamericanas durante a Guerra Fria. A pesquisa está baseada em fontes com informações sobre as ações que permitiram a diversos intelectuais escaparem das perseguições políticas iniciadas no final da década de 1950 na Argentina.

O trabalho de Luiza Nascimento, por sua vez, apresenta a trajetória de um intelectual negro brasileiro após o Golpe de 1964. Em seu artigo, a autora descreve, a partir da correspondência de Farias com Pierre Verger, não apenas um percurso exilar, mas principalmente elementos para compreendermos a construção do campo de estudos africanos no Brasil.

O sujeito exilado sai sem saber se retorna à sua pátria. Seu projeto político e de vida foi derrotado, e, a partir desse dado, ele poderá ou não se reinventar no exterior, ou simplesmente desistir. Suas perspectivas, entre elas a do fim do exílio, orientarão a forma com que ele se relacionará com seu passado, deixado na terra natal, e recriará seu presente e futuro. Fato é que o exílio impõe a ruptura com um mundo de referências basilares, obrigando o exilado à inescapável experiência do desenraizamento (Todorov, 1999). A diferença está no que fazer a partir dessa experiência, que, em um primeiro momento, expressa apenas perdas dolorosas.

O luto doloroso decorrente da sobrevivência e a dificuldade do retorno são um campo de estudos que radicaliza o compromisso ético dos historiadores e cientistas sociais com seu presente. A mobilização de testemunhos como fonte para a pesquisa e a atenção para as trajetórias individuais e coletivas em um contexto de reconstrução são problemas analisados por Mario Ayala em seu artigo “‘Reaparecer en el exilio”: experiencias de militantes argentinos sobrevivientes de desaparición forzada en Venezuela (1979-1984)”. O autor aborda com competência os problemas surgidos no processo de chegada a outro país e as relações, por vezes tensas, entre os diversos agentes presentes no processo exilar.

Em uma abordagem próxima, na qual sobressai o tema do pós-exílio, María Soledad Lastra analisa o processo de elaboração conceitual do termo “retorno”, relacionando-o com o campo dos direitos humanos e da saúde mental. Em seu texto “‘Dejar de ser síntoma con el silencio’: la inscripción del exilio-retorno en el campo de la salud mental en la posdictadura argentina (1983-1986)”, a autora criteriosamente analisa a produção teórica e clínica das equipes de saúde mental de instituições argentinas dedicadas à recepção de exilados argentinos nos anos 1980, trazendo uma abordagem original sobre o problema do retorno.

Ao editarmos este dossiê, acreditamos apresentar ao leitor a possibilidade de avaliar o tema tão incômodo quanto presente de forma complexa e múltipla. A experiência do deslocamento, que hoje atinge milhões de seres humanos, não é apenas um tema que desafia os conceitos legais ou a norma jurídica. Mais do que isso, como categoria trágica, o exílio / deslocamento é parte do lento e desafiador processo de nossa contemporaneidade de redefinição de nossas concepções de tempo, espaço e cultura.

Referências

AGAMBEN, G. O que é ser contemporâneo? E outros ensaios. Chapecó: Argos, 2009. [ Links ]

ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979. [ Links ]

HARTOG, F. Regimes de historicidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2013. [ Links ]

NOUSS, A. La condition de l’éxile. Paris: Editions de La Maison des Sciences de l’Homme, 2015. [ Links ]

QUADRAT, S. (Org.). Caminhos cruzados: história e memória dos exílios latino-americanos no século XX. Rio de Janeiro: FGV, 2011. [ Links ]

SAID, E. Reflexões do exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. [ Links ]

TODOROV, T. O homem desenraizado. Rio de Janeiro: Record, 1999. [ Links ]

TRAVERSO, E. L’histoire comme champ de bataille: interpréter les violences du XXe siècle. Paris: La Découverte, 2012. n. 359 [ Links ]

Silvina Jensen – Universidad Nacional del Sur (UNS) – Bahia Blanca- Buenos Aires, Argentina. Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas-CONICET – Buenos Aires, Argentina. E-mail: sjensen@criba.edu.ar
http: / / orcid.org / 0000-0002-9166-8852

Mauricio Parada – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil. E-mail: mauriciobparada@gmail.com http: / / orcid.org / 0000-0003-2959-5215


JENSEN, Silvina; PARADA, Mauricio. Apresentação. Tempo. Niterói, v.25, n.2, maio / ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

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História das Ciências Humanas e Sociais / Estudos Históricos / 2019

Ao escolhermos o tema “História das ciências humanas e sociais” para o número 67 da revista Estudos Históricos, sabíamos que receberíamos um volume considerável de boas contribuições, afinal se trata de um tema interdisciplinar e que dialoga com uma quantidade significativa de agendas de pesquisa de longa tradição na historiografia e nas ciências sociais brasileiras. De fato, foi difícil chegar à seleção final de artigos, mas os dez textos aqui publicados dão aos leitores um excelente panorama desse vasto campo.

O número é aberto com uma colaboração original da professora australiana Raewyn Connell sobre a construção do cânone na sociologia e sua vinculação com as dinâmicas históricas do colonialismo e do eurocentrismo. Seu artigo “Canon and colonies: the global trajectory of sociology” é uma excelente porta de entrada para uma discussão global do tema proposto para este número.

A sociologia paulista é, por sua vez, objeto de alentada investigação original de William Santos, Luiz Jackson e Max Gimenes, que destrincham aproximações e tensões entre escolas e discípulos dessa conhecida tradição intelectual brasileira no texto “Roger Bastide, Antonio Candido e a tese interrompida sobre o cururu”.

O questionamento da tradição eurocêntrica na historiografia das ciências humanas é tema para Marcelo Rosa, no seu texto “Sociologias indígenas ioruba: a África, o desconcerto e ontologias na sociologia contemporânea”, que reconstrói o debate iniciado por Akinsola Akiwowo sobre as indigenous sociologies, a fim de evidenciar sua rentabilidade teórica para a sociologia contemporânea.

A relação entre colonialismo e sociologia também surge no trabalho dos colegas portugueses Frederico Ágoas e Cláudia Castelo, que refletem sobre as iniciativas portuguesas de cooperação científica na África em “Ciências sociais, diplomacia e colonialismo tardio: a participação portuguesa na Comissão de Cooperação Técnica na África Subsaariana (CCTA)”.

A revista também selecionou textos que procuram repensar o legado de intérpretes clássicos do pensamento brasileiro. Lorenna Zem El-Dine revisita a fração “verde-amarelo” do modernismo paulista e suas conexões com o ensaísmo clássico brasileiro e latino-americano em “Ensaio e interpretação do Brasil no modernismo verde-amarelo (1926-1927)”, enquanto José Szwaco e Ramon Araújo lançam um olhar cuidadoso sobre a trajetória do conceito de populismo na sociologia paulista e questionam paradigmas explicativos de inspiração bourdieusiana no artigo “Quando novos conceitos entraram em cena: história intelectual do ‘populismo’ e sua influência na gênese do debate brasileiro sobre movimentos sociais”.

Por fim, Lidiane Rodrigues evidencia a força da análise sociologizante da vida intelectual em seu estudo a respeito dos modos de apropriação dos intérpretes do Brasil por parte dos acadêmicos marxistas, em artigo que tem por título “Amar um autor: os marxistas nas universidades brasileiras e os intérpretes do Brasil”.

A história da historiografia comparece com os dois textos que fecham o volume. Aryana Costa questiona o apagamento da atuação universitária dos profissionais do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo no seu “Um regime de transição: o papel do IHGSP no curso de história da Universidade de São Paulo (1934)”, enquanto Victor da Silva, em “History of the human sciences and Wallace’s scientific voyage in the Amazon: notes on historiographical absences”, reflete acerca das tensões entre história da ciência e outros campos historiográficos por meio de uma análise dos trabalhos que se debruçaram sobre a clássica viagem de Alfred R. Wallace pela Amazônia.

Acreditamos que este número da revista Estudos Históricos cumpra fielmente nossa vocação de apresentar conhecimento inovador e interdisciplinar sobre o Brasil e o exterior, apontando para a fertilidade de construirmos diálogos entre a história e as várias ciências sociais. Boa leitura!

Bernardo Borges Buarque de Hollanda – Professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC / FGV). Editor da Revista Estudos Históricos. E-mail: bernardo.hollanda@fgv.br

João Marcelo Ehlert Maia – Professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC / FGV). Editor da Revista Estudos Históricos. E-mail: joao.maia@fgv.br

Ynaê Lopes dos Santos – Professora da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC / FGV). Editora da Revista Estudos Históricos. E-mail: ynae.santos@fgv.br

Os editores


HOLLANDA, Bernardo Borges Buarque de; MAIA, João Marcelo Ehlert; SANTOS, Ynaê Lopes dos. Editorial. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.32, n.67, maio / ago. 2019. Acessar publicação original [DR]

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Pedidos, oferendas e ex votos / Revista Brasileira de História das Religiões / 2019

Esta é uma edição que traz à lume as súplicas, as oferendas e os ex-votos que evidenciam as várias formas de crer e de pedir intervenções sobrenaturais para enfrentar os desafios do cotidiano. O volume ora divulgado apresenta trabalhos que analisam práticas votivas e seus significados, simbologias, ações e objetos, assim como suas implicações na vida dos fiéis.

A edição inicia com um texto de Caroline Perrée que discute a sala dos milagres. A partir da elaboração das tipologias de ex-votos no contexto mexicano a autora explora a compreensão dos bens figurativos, metonímicos e simbólicos das peças depositadas pelos fiéis nas salas de milagres. Já Luís Américo Silva Bonfim lança-se a proposição de um sistema de registro e estudo taxonômico de expressões votivas no campo católico, em especial. Mapeando e analisando mais de duzentos sítios devocionais no Brasil e países sul-americanos, o autor produziu uma sinopse estilográfica e esquemas taxonômicos voltados à função da oferta votiva, ao índice canônico, às propriedades signicas e às formas expressivas dos ex-votos. Ambos os trabalhos que abrem a chamada temática, portanto, contribuem na proposição de elementos metodológicos para avaliação do rico arsenal votivo que encontramos em espaços sagrados voltados à adoração e ao agradecimento de fiéis.

Um segundo bloco de artigos traz estudos de caso. Maria Gargante Llanes avalia a presença de ex-votos na Catalunha partindo de registros escritos, quais sejam, uma topografia mariana do século XVII e uma novela do início do século XX. Lucas Bilbao, por sua vez, apresenta aspectos da religiosidade paroquial e de freguesias da região da campanha de Buenos Aires, na segunda metade do século XIX. O autor volta-se à análise de celebrações religiosas públicas, a materialidade das devoções e as evocações comunitárias.

O artigo de Wesley Fernandes Rodrigues aborda as representações das figuras santas em objetos votivos dos séculos XVIII e XIX no cenário luso-brasileiro, cotejando-as com as diretrizes do Concílio de Trento. Um olhar aos romeiros do Senhor dos Passos, em São Cristóvão / Sergipe, foi o foco do trabalho de Magno Francisco de Jesus Santos. A chamada finda com as discussões encetadas por Edilece Couto e Milton Moura sobre as práticas devocionais ao Caboclo e Cabocla, nos festejos de 2 de Julho, na Bahia, celebração esta que comemora a independência baiana. A integração entre uma festa civil e as idiossincrasias de oferendas legadas às entidades evidencia a fluidez, porosidades e complexidade do cenário sócio-cultural baiano.

O volume traz ainda artigos de Luiz Alexandre Solano Rossi e Érica Daiane Mauri sobre mitologias; de Alfredo dos Santos Oliva e Ricardo Mendes acerca das igrejas-base da Diocese de Apucarana; e de Edite Rocha e Vinicius Eufrásio sobre as práticas de sufrágio e cantoria dos cidadãos de Cláudio / MG. Findando a edição da RBHR temos duas resenhas, de Helmut Renders e de Karin Helena Antunes de Moraes.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Gizele Zanotto

Patricia Fogelman


ZANOTTO Gizele; FOGELMAN, Patricia Alejandra. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.12, n.34, maio / ago. 2019. Acessar publicação original [DR]

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Gritos de papel: las cartas de súplica del exilio español (1936-1945) | Guardalupe Adámez Castro

A obra é resultado da tese de doutorado defendida na Universidade de Alcalá de Henares/Espanha, sendo a autora, Guadalupe Adámez Castro, integrante do Seminario Interdisciplinar de estudos sobre Cultura Escrita (SIECE) e, do Grupo de Investigação Lectura, Escritura, Alfabetización (LEA)1. Orientado com um enfoque interdisciplinar, que parte da metodologia da História Social da Cultura Escrita, o material analisa as cartas de súplicas durante o período do exílio espanhol como um documento vivo, baseando-se na dimensão social e cultural desta prática. Organizada em cinco capítulos, prólogo e epílogo, a publicação objetiva dar visibilidade a uma parte da história particular dos refugiados, assim como compreender as relações que esses mantiveram com a escrita durante a experiência de retirada forçada para outro país.

Inicialmente, a autora aborda as diferentes fases do exílio espanhol, sendo a primeira ocorrida entre os meses de agosto e setembro de 1936, resultante da derrota do exército republicano na campanha de Guipúzcoa. Já o ano de 1939 marca o momento de maior êxodo, onde cerca de quinhentos mil espanhóis se deslocam para a França e para o norte de África. Outras levas de refugiados, nas décadas de 1940 e 1950, assim como as dificuldades de regresso, configuram o período longa duração do exílio, sendo que, em muitos casos, o retorno ocorreu somente com o decreto-lei 10/1969 2. Outros, voltaram ao País somente após a morte de Franco em 1975 e, alguns, jamais retornaram à sua terra natal. Leia Mais

Desarrollismo, franquismo y neohispanidad: historias conectadas entre España, América Latina y Argentina

El libro recientemente editado por Beatriz Figallo, integra resultados de investigación de una quincena de autores de diversos países, en un encomiable esfuerzo por aportar a la presentación de una mirada de conjunto sobre las vinculaciones entre desarrollismo, franquismo, hispanidad (y neohispanidad). Lo hace en una clave comparativa transnacional que conecta las historias de España, Portugal, Chile, Brasil y Argentina, sin dejar de tener en todo momento el marco global como referencial concreto.

Los capítulos construyen una historia en permanente dialogo entre las diversas experiencias nacionales, en las intersecciones entre la historia económica, la historia de las ideas, la historia cultural, las biografías intelectuales, la historia de las relaciones internacionales, etc. Leia Mais

Trabalhadores livres e escravizados no Mundo Atlântico / Revista Maracanan / 2019

O presente número da Revista Maracanan traz, primeiramente, o dossiê “Trabalhadores livres e escravizados no Mundo Atlântico”. Os estudos sobre os mundos do trabalho, produzidos no Brasil, têm passado por significativas transformações nos últimos anos.[1] Uma das mais significativas diz respeito às investigações incluírem, a partir principalmente dos anos 2000, os escravizados como parte fundamental da história do trabalho brasileira. Nesse sentido, as pesquisas ressaltaram a importância de questionar a formação da classe trabalhadora no nosso país como sendo composta unicamente por operários livres, homens, brancos, em sua maioria de origem europeia e apontam à necessidade de também serem analisadas as relações entre trabalhadores livres e escravizados, bem como as formas de organização e manifestação destes. Busca-se, assim, o diálogo necessário entre os historiadores da escravidão e os estudiosos das práticas políticas e culturais dos trabalhadores urbanos pobres e do movimento operário.[2]

Aliada a essa transformação na historiografia nacional, ressalta-se também uma mudança no cenário internacional, com a introdução da perspectiva da história global do trabalho. Essa propõe um conceito mais amplo de trabalhador, e expõe que o trabalho livre assalariado era apenas uma das formas de trabalho, que incluía ainda a escravidão. Outro ponto fundamental é apontar que os trabalhadores assalariados eram bem menos livres do que se supõe, e que as barreiras entre servidão e liberdade eram muito fluidas. A história global do trabalho busca ainda investigar a interação e conexão entre diferentes localidades.[3]

A ampliação do conceito de trabalhador possibilitou incluir aqueles e aquelas que labutavam fora das fábricas e haviam sido invisibilizados até então. Nesse sentido, o primeiro artigo deste dossiê trata das trabalhadoras ligadas ao serviço doméstico carioca na virada do século XIX para o XX, que, apesar da sua intensa participação no mercado de trabalho da cidade, não receberam atenção dos estudiosos até muito pouco tempo. O texto de Natália Peçanha apresenta uma multiplicidade de agentes – tais como libertos, livres, nacionais e imigrantes –, e aponta como as experiências deles se entrelaçavam no serviço doméstico em um momento histórico em que as noções de liberdade e de trabalho livre e assalariado ainda se conformavam.

Os debates em torno das relações entre trabalho livre e escravo também estiveram no cerne do surgimento da Escola Agrícola da Bahia, inaugurada em 1877, em São Bento das Lages, no interior da Bahia. Idalina Freitas, em seu artigo, promove um diálogo entre os estudos da escravidão, do pós-abolição e dos mundos do trabalho ao tratar do espaço da escola como o resultado de um projeto de instrução pública para o pós-abolição. A construção da escola e do seu projeto político envolveu a mão de obra livre e escravizada e a preocupação com a instrução pública voltada para o trabalho, principalmente no seu aprimoramento agrícola, visando a formação de um operariado agrícola modernizado e mais competente, contrapondo-se ao que seria a agricultura praticada por escravos e ex-escravos, entendida naquele momento como exercida de forma menos “profissional”.

Os dois últimos artigos têm a escravidão como ponto de partida para pensar os mundos do trabalho na sociedade do século XIX em dois locais: Alagoas e Rio de Janeiro. No texto de Fábio Castilho, a condenação à morte de um escravo é o ponto de partida para relacionar a representatividade da escravidão n’O jornal do Pilar, de Alagoas, em um contexto de avanço das ações abolicionistas, mas ainda marcado por violências e por leis que reforçavam o castigo físico e a pena de morte para os crimes cometidos por escravos. A condenação à morte ou penas mais violentas contra os escravizados que cometessem crimes ou revoltas foi resultado de ações escravas da década de 1830 e que marcaram a sociedade escravista. Na década de 1870, período estudado por Castilho, a unanimidade por esse tipo de execução já não existia e por isso o debate ocorreu no principal jornal da cidade, e analisado pelo autor, possibilitando uma visão sobre as relações escravistas de uma província distante da Corte. Castilho finaliza com a análise do Censo de 1872, e apresenta que os dados para a região possibilitam verificar que os escravos majoritariamente trabalhavam na agricultura e no serviço doméstico, tendo alguns poucos cativos realizado algum trabalho manual mais especializado.

Já o artigo de Iamara Viana & Flavio Gomes traz a representatividade do corpo africano diante do mercado de mão de obra escravizada no Rio de Janeiro na primeira metade do XIX. Entre tensões e expectativas sobre o uso dessa mão de obra para o trabalho escravo, os autores usam processos cíveis e outras descrições, principalmente nos jornais, para mostrar a complexidade do corpo africano e seu uso para o trabalho escravizado. Através da análise de uma rica documentação do Arquivo Nacional, referente aos africanos remetidos a casa de correção, eles conseguiram elencar características comuns a esses corpos que somados aos discursos médicos foi possível perceber a construção de uma retórica e outras normas para o uso desses homens e mulheres para o trabalho escravizado. Importante ressaltar que a descrição do corpo africano fez parte do processo de venda e anúncios de homens e mulheres para o trabalho escravo desde o XVIII e se intensifica no Brasil, principalmente nos anúncios de venda e de fugas de algum escravizado africano.

Finalizamos o dossiê com uma entrevista com Fabiane Popinigis, professora da UFRRJ e coordenadora do Grupo de Trabalho – Mundos do Trabalho (GT-MT). Nesta entrevista, debatemos principalmente a trajetória recente da historiografia dedicada aos mundos do trabalho no Brasil, cujo tema do presente dossiê, as relações entre trabalhadores livres e escravos, tem ganhado cada vez mais destaque.

Esse número da Revista também conta com três contribuições na seção de artigos livres. O primeiro, de Daniel Venâncio & Euclides Freitas, diz respeito à fundação do Oliveira Sport Club, do Oeste de Minas em 1916, e a relação entre a elite e os eventos festivos ocorridos no clube. O texto seguinte, de Sandro Gomes, trata das eleições para deputado federal entre os anos de 1915 e 1918 no Estado do Paraná no que se refere às campanhas e ao desempenho eleitoral dos candidatos ao cargo. O terceiro texto, por Francisco Monteiro & Amanda Leal, constitui-se enquanto uma exposição de metodologia da pesquisa e de organização de acervos, a partir do trabalho realizado com os manuscritos eclesiásticos guardados na Paróquia de Nossa Senhora da Vitória, Diocese de Oiras, no Piauí. O último texto da seção, de autoria de Nívia Pombo, é uma interessante análise sobre as nomeações portuguesas para os cargos administrativos nas conquistas portuguesas entre 1796 e 1803, o perfil dos que ocuparam esses postos e o impacto da valorização dos saberes universitários na escolha para o exercício do cargo. Finaliza o presente número a nota de pesquisa de José Lúcio Nascimento Júnior, referente ao Congresso Internacional de História da América realizado pelo Instituo Histórico e Geográfico Brasileiro em 1922.

Notas

1.Para um panorama de quais foram essas mudanças, ver: BATALHA, Cláudio H. M. Os desafios atuais da história do trabalho. Anos 90, Porto Alegre, v. 13, n. 23-24, 2006.

2. A presença de análises sobre as relações entre trabalhadores livres e escravizados na historiografia do trabalho no Brasil recente foi debatida pelos seguintes textos: TERRA, Paulo Cruz; POPINIGIS, Fabiane. Classe e raça na história do trabalho no Brasil (2001-2017). Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 32, n. 66, 2019; NASCIMENTO, Álvaro Pereira do. Trabalhadores negros e o “paradigma da ausência”: contribuições à história social do trabalho no Brasil. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 59, 2016.

3. A principal obra a apresentar a proposta da história global do trabalho é: LINDEN, Marcel van der. Trabalhadores do mundo: Ensaios para uma História Global do Trabalho. Campinas, Ed. Unicamp, 2013. No que diz respeito a alguns desdobramentos dessa perspectiva, ver: DE VITO, Christian. New perspectives on global labour history. Introduction. Workers of the World, v. 1, n. 3, 2013

Renata Figueiredo Moraes – Professora Adjunta de História do Brasil, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Doutora em História Social da Cultura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; Mestre e graduada em História pela Universidade Federal Fluminense. E-mail: renatafm2003@yahoo.com.br CV Lattes: http: / / lattes.cnpq.br / 7422043520205798

Paulo Cruz Terra – Professor Adjunto de História do Brasil, do Instituto de História, da Universidade Federal Fluminense. Doutor e Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense; graduado em História pela Universidade Estadual de Campinas. E-mail: pauloterra@gmail.com CV Lattes: http: / / lattes.cnpq.br / 3005228142189797


MORAES, Renata Figueiredo; TERRA, Paulo Cruz. Apresentação. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, n.21, 2019. Acessar publicação original

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A literatura infantil e juvenil em língua espanhola: história, teoria, ensino – CARDOSO (EA)

CARDOSO, Rosane Maria (Org.). A literatura infantil e juvenil em língua espanhola: história, teoria, ensino. Campinas, SP: Pontes Editores, 2018. 407 p. Resenha de: MONTEMEZZO, Luciana Ferrari. Literaturas para o ensino de língua espanhola. Em Aberto, Brasília, v. 32, n. 105, p. 205-210, maio/ago. 2019.

Em 2018, a Pontes Editores brindou-nos com a publicação da obra A literatura infantil e juvenil em língua espanhola: história, teoria, ensino. Organizada pela professora Rosane Maria Cardoso, da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), vem cumprir o importante papel de trazer à tona reflexões acerca do papel dos professores de línguas adicionais perante grupos discentes variados: desde o ensino básico até a formação de professores e seus cursos de licenciatura.

A preocupação com o tema, conforme conta a organizadora na apresentação da obra, surgiu das inquietudes internas dos alunos do curso de licenciatura em Letras. Ansiosos pelo ingresso em sala de aula, esses alunos projetam novas possibilidades para o ato de ensinar. Durante esse processo, percebem que, via de regra, a literatura que aprendem na universidade acaba ficando de fora da sala de aula, no ensino básico. Ali, por questões que se referem sobretudo às exigências de avaliações em que a literatura não é contemplada, há espaço apenas para o ensino de língua adicional, em escassas horas semanais.

Identificado o desafio, surge o grupo de pesquisa “Didáticas de Língua e de Literatura: leituras na educação básica”, que busca pensar, em conjunto, alternativas para essa lacuna. E, das reflexões do grupo, nasce o livro aqui resenhado.

A inserção da literatura em aulas de língua não apenas pode ser implementada, como tende a ser um de seus braços mais destacados. Quando se trata especificamente de literatura em língua espanhola, o farto material e a qualidade da literatura produzida no mundo hispânico favorecem a seleção de textos que podem estimular os alunos a conhecer a língua, por conseguinte, sua literatura e, por meio desta, também a cultura e a história dos países que têm o espanhol como língua oficial.

Isso significa, para os alunos brasileiros, a oportunidade de ampliar o conhecimento sobre os países fronteiriços, com os quais compartilhamos hábitos e paisagens. Por exemplo, lendo os contos do uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937), o estudante brasileiro perceberá a existência de paisagens e costumes muito semelhantes aos do Sul do Brasil. Tal reconhecer-se no outro poderá provocar um importante movimento identitário, de fundamental relevância para despertar o interesse do discente, que seguirá estudando e descobrindo com autonomia.

Ciente desse quadro e buscando propor respostas às inquietações de professores e alunos, a coletânea organizada pela professora Rosane Maria Cardoso conta com artigos de pesquisadores de vários países de fala hispânica: Espanha, Peru, Uruguai, Colômbia, Guatemala e Venezuela. Inclui também artigo de autora brasileira cuja pesquisa lança um olhar estrangeiro sobre o objeto, ressignificando-o.

Tal fato demonstra não apenas a capacidade de integração e articulação entre pesquisadores, mas também a pertinência de seus estudos.

Além disso, esta obra marca posição em uma área que, infelizmente, ainda carece de estudos, sobretudo no Brasil. Se a literatura, em termos gerais, vem merecendo cada vez menos atenção das políticas culturais no âmbito brasileiro, o que se pode esperar da fatia dedicada aos pequenos leitores? Como muito bem assevera Gretel Eres Fernández, no prefácio que acompanha a publicação, nosso país atravessa um momento delicado, em que o ensino da língua espanhola é visto com certo desprestígio. Nesse sentido, trazer à luz essa obra anima e revigora todos aqueles que acreditam que o ensino de uma língua adicional é primordial, não apenas para a comunicação, mas também para a ampliação de horizontes do ser humano, no sentido mais incondicional de sua existência. Nada melhor do que a literatura para estabelecer essa ponte entre o que é próprio e o que é alheio (Carvalhal, 2003).

A obra está dividida em três partes: “Sobre a literatura infantil em língua espanhola”, “Literatura infantil e práticas de leitura” e “Leituras da literatura infantil em língua espanhola”. Essa organização responde a perspectivas distintas, mas não excludentes, uma vez que o principal objetivo da publicação é ampliar o diálogo sobre o tema. Diante da impossibilidade de resenhar cada um dos capítulos, destacarei brevemente apenas um de cada parte, à guisa de exemplo.

O segundo capítulo da primeira parte, de autoria de Elvira Cámara Aguilera, “Panorama general de la LIJ y su traducción en España: evolución y tendências”, oferece ao leitor um panorama da produção literária em literatura infantil e juvenil (LIJ) na Espanha, a partir de seus processos tradutórios. Remontando aos primórdios da literatura nesse país, ao citar Gonzalo de Berceo, poeta do século 13, a autora recompõe a trajetória da produção literária para crianças e destaca também as relações que a referida produção estabelece com obras estrangeiras.

El origen de la LIJ española está intrínsecamente ligado a la traducción. Así, la obra Kalila wa-Dimna (Calila e Dimna), que serviría de inspiración a Don Juan Manuel para escribir El Conde Lucanor, llega hasta nosotros desde toda una serie de traducciones y cuyo punto de partida es la obra hindú Panchatantra, del 200 a. C. (Cámara Aguilera, 2018, p. 38).1 A consequência de uma tradição fundada na diversidade pode resultar na intensificação desse processo, como conclui a própria autora, quando menciona o boom da literatura infantil e juvenil na Espanha dos anos 1980. Segundo ela, o fato de que, paralelamente ao espanhol, convivem no país outros idiomas cooficiais, – catalão, vasco e galego – certamente contribuiu para o incremento da produção de obras infantojuvenis. Tal diversidade gerou, por conseguinte, uma posição de destaque para a área, no que se refere a traduções.

Hay que destacar que fue el segundo subsector con mayor porcentaje de traducciones (37,5 %), solo por detrás y a una escasa diferencia de Tiempo Libre (38,8 %). La principal lengua de traducción fue el inglés (50,2 %), seguido por el francés (16 %), el castellano (10,4 %) y el italiano (6,8 %). (Cámara Aguilera, 2018, p. 43).2 Esse panorama somente é possível graças ao apoio de políticas educacionais que fomentam a leitura, a educação e a formação cidadã. Além dessas, merecem destaque as atividades promovidas pela Asociación Nacional de Investigación en Literatura Infantil y Juvenil (ANILIJ), que articula pesquisadores e promove intensos diálogos entre pares. Com base em tais observações, a autora explicita avaliações e processos tradutórios desenvolvidos em aula, com vistas a melhor abordar o público infantil. De acordo com a pesquisadora, as investigações que reúnem tradução e literatura infantil e juvenil precisam levar em conta a opinião – ainda que empírica – das crianças, embora essa ainda não seja uma prática efetiva. Afinal, são elas o objetivo final do trabalho de autores e tradutores.

Na segunda parte, o capítulo intitulado “Literatura eletrônica em língua espanhola: seleção e aplicabilidade de obras na escola”, de Naiane Carolina Menta Três, do Brasil, discute os novos desafios de (…) investigar sobre o ensino da língua espanhola na cibercultura. Sendo assim, define-se a problemática: “Como a literatura eletrônica, voltada ao público infantil, pode ser lida na escola e auxiliar na formação de leitores em língua espanhola?” (Menta Três, 2018, p. 254).

A pesquisadora chama a atenção para os espaços internos das escolas, como laboratórios de informática e bibliotecas, considerando-os ambientes privilegiados para a formação de novos leitores na era digital. Ressalta, nesse sentido, a fundamental importância da escola, uma vez que esta poderá orientar as leituras do público infantojuvenil, tendo em vista a diversificada – e nem sempre confiável – oferta virtual. Contudo, a autora apresenta um problema relevante: a formação de professores ainda é restrita à literatura impressa. Diferencia a segunda – que apenas foi digitalizada –, da primeira, que foi produzida por meio digital, o que a caracteriza como “um objeto digital” (Menta Três, 2018, p. 257).

A pesquisadora ressalta, por outro lado, as desigualdades das escolas brasileiras: em algumas, há acesso irrestrito à tecnologia, enquanto em outras, professores e alunos ainda estão limitados a técnicas rudimentares. Entretanto, em sua opinião, o telefone celular – tido como vilão em sala de aula – pode transformarse em um aliado, desde que tenha seu uso mediado por um profissional. Sob essa perspectiva, a autora conclui seu texto com a esperança de que todos os alunos possam ter acesso à literatura digital e, por conseguinte, motivar-se ante essa arte tão importante e transformadora.

Na terceira parte da obra, o texto intitulado “El paraíso perdido de la infancia en Paulina de Ana María Matute”, de autoria de Sara Núñez de la Fuente (Espanha), trata do livro, publicado em 1960, por Ana María Matute (1925-2014). A partir da contextualização da obra e da autora no âmbito da literatura espanhola contemporânea, a pesquisadora enfatiza suas relações com outros autores espanhóis que a crítica convencionou chamar filhos da guerra: “niños asombrados por la perplejidad con que tuvieron que asumir la guerra civil [en] el tránsito de la infancia a la adolescencia”.

Refere-se, portanto, àqueles autores que começaram a publicar na década de 1950, em plena ditadura franquista, para os quais a metáfora representou muito mais do que um recurso expressivo e acabou tornando-se uma forma de resistência.

Nesse contexto, surge a infância como símbolo de paraíso perdido, que pode ser interpretado como a perda da liberdade e dos direitos individuais e coletivos de uma sociedade que vive sob forte repressão. A autora relaciona, também, a obra infantil de Matute com sua obra para público adulto, evidenciando que as fronteiras, no caso matuteano, não são assim tão inflexíveis. Ao mencionar a obra adulta Paraiso inhabitado (2008), a pesquisadora destaca o papel que teve a infância na vida da protagonista Adriana e a compara com protagonistas de outros romances de Matute: Sol Roda, de En esta tierra (1955), Mónica, de Los hijos muertos (1958), e Matia, de Primera memoria (1959).

De acordo com a autora, há muito de autobiográfico em Paulina, sobretudo no que se refere à condição de saúde da protagonista, que, assim como aconteceu com Matute na infância, se recupera de longa enfermidade em companhia de seus familiares, em espaço rural. Ali, a literatura é a melhor companhia para a menina que precisa aliar-se ao tempo para obter a cura de sua enfermidade.

Siguiendo un esquema literario que presenta los tópicos de Heidi (1880), como el amor por la naturaleza y la relación de la niña con su abuelo, la escritora ambienta su historia en el espacio real de Mansilla de la Sierra, un pueblo de La Rioja donde solía veranear con su família. (Núñez de la Fuente, 2018, p. 373).3 3 Seguindo um esquema literário que apresenta os tópicos de Heidi (1880), como o amor pela natureza e o relacionamento da garota com seu avô, a escritora ambienta sua história no espaço real de Mansilla de la Sierra, uma cidade de La Rioja onde ela costumava passar o verão com sua família (Núñez de la Fuente, 2018, p. 373). (Traduzido por Jessyka Vásquez).

A vigorosa e bem fundamentada análise simbólica do romance demonstra, uma vez mais, os objetivos peculiares da obra matuteana voltada para a infância: o duplo destinatário e a multiplicidade de significações. Levando em conta que, em alguns casos, os adultos “participam” da leitura de seus filhos, Matute constrói narrativas que servem para ambos os públicos. Quando um adulto lê para um filho, não o faz de forma passiva. Se se envolve com a narrativa – o que é comum quando se trata da literatura de Matute – certamente aprofundará, a partir dela, muitas reflexões e será, ele também, mais um leitor.

Por outro lado, um texto baseado em relações simbólicas tende a dificultar o trabalho de censores que, em regimes de exceção, costumam identificar na arte um de seus mais importantes inimigos. A autora conclui seu texto destacando a influência que teve Elena Fortún (1886-1952) na obra de Ana María Matute. Esse tema, ao que tudo indica, merece pesquisas mais aprofundadas, uma vez que a autora madrilenha, exilada na Argentina, foi importante referencial para vários autores da geração de 1950.

É preciso enfatizar, diante do exposto, sem medo de ser redundante, que a obra organizada pela professora Rosane Maria Cardoso é de suma importância no contexto atual. Além de tudo o que já foi dito, vale ressaltar que a referida obra apresenta textos escritos originalmente em português e em espanhol. O que pode, de início, parecer um descuido é, na verdade, parte da proposta investigativa: que nos entendamos sem barreiras, ou melhor, que não avaliemos as diferenças como obstáculos ao entendimento. Todos somos diferentes e, a partir de nossas diferenças – que são constitutivas –, podemos nos irmanar, se nos une um objetivo comum.

Nesse caso, o amor pelas palavras, pela arte literária, pelo ensino de língua espanhola (e suas respectivas literaturas) e, por fim, pela esperança do que as crianças e os adolescentes significam neste mundo já um pouco corrompido pelos adultos: um futuro melhor, em que reinem a paz e a tolerância entre todos.

Referências

CÁMARA AGUILERA, Elvira. Panorama general de la LIJ y su traducción en España: evolución y tendências. In: CARDOSO, Rosane Maria (Org.). A literatura infantil e juvenil em língua espanhola: história, teoria, ensino. Campinas, SP: Pontes Editores, 2018. p. 37-56.

CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio. São Leopoldo, Ed. Unisinos, 2003.

MATUTE, Ana María. Paulina, el mundo y las estrelas. Barcelona: Editorial Garbo, 1960.

MENTA TRÊS, Naiane Carolina. Literatura eletrônica em língua espanhola: seleção e aplicabilidade de obras na escola. In: CARDOSO, Rosane Maria (Org.). A literatura infantil e juvenil em língua espanhola: história, teoria, ensino. Campinas, SP: Pontes Editores, 2018. p. 253-268.

NÚÑEZ DE LA FUENTE, Sara. El paraíso perdido de la infancia en Paulina de Ana María Matute. In: CARDOSO, Rosane Maria (Org.). A literatura infantil e juvenil em língua espanhola: história, teoria, ensino. Campinas, SP: Pontes Editores, 2018. p. 365-387.

Notas

1 A origem do LIJ espanhol está intrinsecamente ligada à tradução. Assim, a obra Kalila wa-Dimna (Calila e Dimna), que inspiraria Dom Juan Manuel a escrever O Conde Lucanor, chega até nós em toda uma série de traduções e cujo ponto de partida é a obra hindu Panchatantra, de 200 a. C. (Cámara Aguilera, 2018, p. 38). (Traduzido por Jessyka Vásquez).

2 Cabe destacar que foi o segundo subsetor com a maior porcentagem de traduções (37,5%), só ficou atrás e a uma ligeira diferença de Tempo Livre (38,8%). O principal idioma da tradução foi o inglês (50,2%), seguido pelo francês (16%), espanhol (10,4%) e italiano (6,8%). (Cámara Aguilera, 2018, p. 43).( Traduzido por Jessyka Vásquez).

Luciana Ferrari Montemezzo – Professora de Literatura Espanhola e Tradução na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), desde 1996, e, atualmente, em estágio pós-doutoral na Facultad de Traducción e Interpretación da Universidad de Granada, Espanha. E-mail: lucesfm@gmail.com.

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Literatura infantil brasileira: uma nova / outra história – LAJOLO; ZILBEREMAN (EA)

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: uma nova / outra história. Curitiba: PUCPress; FTD, 2017. 152 p. Resenha de: SILVA, Raquel Souza da; CAMPOS, Cleide de Araúo. Revisitando a história da literatura infantil e juvenil brasileira. Em Aberto, Brasília, v. 32, n. 105, p.199-203, maio/ago. 2019.

A leitura do livro Literatura infantil brasileira: uma nova / outra história, de Marisa Lajolo e Regina Zilberman, traz à tona outros olhares para o universo da literatura infantil e juvenil brasileira, centralizando uma produção diferenciada nos últimos trinta anos. A obra possui caráter de continuidade da história literária já registrada, entretanto, com uma perspectiva que ultrapassa a menção cronológica de obras e de autores, objetivando ampliar os conhecimentos sobre esse gênero literário em contexto nacional de modo mais analítico. Estruturalmente, o livro está dividido em quatro grandes eixos. O primeiro deles diz respeito à natureza da literatura infantil e juvenil além-livro impresso: há o detalhamento das discussões sobre o futuro do texto literário em papel, o que é o livro, o que constitui a arte literária, as novas perspectivas e os nomes representativos da produção para crianças e jovens na era digital e sobre as relações entre o tradicional e a novidade, entre o impresso e o digital. O segundo eixo trata da força que as instituições têm sobre a literatura infantil: são discutidas as influências do mercado editorial sobre esse gênero literário, bem como a adequação e a capacitação das figuras que compõem uma obra – como o escritor, o ilustrador, o designer gráfico etc.; faz-se ainda debate sobre a intervenção da escola e do Estado no processo de formação leitora de crianças e jovens. No terceiro eixo, há um grande arcabouço de exemplos e breves análises de autores e obras que caminham sob um novo viés estético da criação literária, em que novas temáticas são pensadas, como a figura  não estereotipada do indígena, havendo também o destaque para a linguagem não verbal nas obras destinadas a crianças e jovens. Por fim, o último eixo está relacionado à questão da possibilidade de haver livro e leitura além-universo escolar, com discussões e menção a autores que estão à margem das paredes escolares, mas que se revelam muito próximos do gosto do público mirim.

De maneira geral, as autoras trazem reflexões e questionamentos especialmente para pensar o futuro do livro, o mercado editorial, o avanço das técnicas oferecidas pelo mundo digital, a função da escola e o papel do Estado nesse processo. Elas apontam possíveis explicações para a disseminação de obras cada vez mais interativas e de materialidades diversas nas produções para o público infantil e juvenil, como a corrida da indústria do livro, em que a lógica neoliberal predomina.

Para as pesquisadoras, é “nesse cenário globalizado e economicamente vicejante que escritores e ilustradores têm produzido muitos e belos livros” (Lajolo; Zilberman, 2017, p. 77). Seja ela impressa ou em ambiente virtual, os profissionais que produzem a obra literária procuram atender os diferentes gostos do público leitor ao qual ela se destina e têm forte reconhecimento quando recebem prêmios, distribuídos nacional e internacionalmente. Além disso, a proximidade com o público tem se solidificado cada vez mais, se pensarmos que os autores frequentam as mesmas feiras literárias que os consumidores, visitam escolas, promovem encontros de diversas naturezas, a fim de estreitar essa relação. Tais movimentos permitem conhecer e entender as crianças e os jovens mais de perto, fato que há poucas décadas não era visto como tão importante.

Diante das dinâmicas e das múltiplas alternativas para ler livros de literatura infantil e juvenil, as autoras convidam o leitor a adotar “uma nova e uma outra” posturas em relação à leitura literária nos dias atuais, que são definidas conforme a necessidade do público e das rápidas mudanças que um mundo globalizado impõe a ele. Assim, o suporte e o destino do livro ultrapassam a tradição, saltando do patamar do impresso e da linguagem uniformizada para as hipermídias e para as múltiplas formas de expressão, bem como rompendo cada vez mais com paradigmas que estigmatizam as histórias ficcionais ao longo da tradição literária.

Nesse contexto, é compreensível que constituir um arcabouço da novíssima história da literatura endereçada ao público infantil e juvenil siga uma linha cronológica e restrita a nomes específicos. O movimento que o grupo produtor e receptor dessa literatura realiza é tão acelerado, que torna efêmera qualquer proposição de listagem de autores e de obras, por isso destacamos a escolha e a justificativa das autoras logo na introdução do livro aqui discutido. As estudiosas seguem, portanto, analisando alguns títulos de nomes representativos para falar do tema proposto, mostrando que conhecer autores e suas obras é importante, mas que entender o contexto de produção e de recepção deles também é essencial. Tudo isso pode minimizar o risco de se continuar a pensar em gêneros literários apresentados de uma única maneira, como se o leitor também fosse uniforme, quando na verdade sabemos que sua diversidade é imensa e considerar sua subjetividade é indispensável.

Levando em consideração alguns dos desafios impostos pela contemporaneidade, a literatura infantil e juvenil vem se reinventando na busca por mercados e leitores nascidos em plena era digital. Nesse sentido, procurando estabelecer algumas considerações acerca dos últimos trinta anos de produção para o público mirim, são apresentados alguns autores que ocupam o cenário das plataformas virtuais. Há, ainda, menção a autores que abordam a temática indígena sob um olhar diferenciado do que comumente se propagou até agora. Também recebem destaque reflexões sobre a linguagem visual, com sua importância cada vez mais reconhecida.

Em relação às obras multimidiáticas, as pesquisadoras atentam para a possibilidade de autores menos visados circularem por gêneros que ainda encontram resistência para serem publicados, como o texto poético. Sobre “um novo indianismo”, mencionado na obra, é possível realçar que todos os autores apresentados por Marisa Lajolo e Regina Zilberman prezam pelo reconhecimento próprio da cultura narrada, afirmando as identidades locais e rompendo com os estereótipos fortemente marcados sobre a figura do indígena ao longo da tradição literária como um todo, não só da infantil e juvenil. No que diz respeito ao texto não verbal, o diferencial são as inovações proporcionadas pelo universo virtual, em que, transgredindo “as técnicas sugeridas pelos meios de comunicação do mundo do impresso, a tecnologia digital suscitou novas possibilidades de expressão que repercutem positivamente na produção de livros para crianças” (Lajolo; Zilberman, 2017, p. 101-102). Assim, reconhecemos a importância de diálogo entre os suportes, lembrando que diversificálos pode possibilitar o interesse e a ampliação de repertório leitor para crianças e jovens.

Como mencionado anteriormente, as autoras também se preocupam em discorrer sobre em que medida a escola atual (não) realiza a mediação das novidades da produção literária destinadas a crianças e a adolescentes. Além do mais, a intervenção estatal, que gerencia o movimento escolar, também é apresentada como forte influenciadora sobre como se entende a produção literária infantil e juvenil.

Elas problematizam essa força institucional, por vezes negativa, pontuando que, no Brasil do século 21, “livros para crianças e jovens continuam, salvo em fugidios momentos de intervenção e vanguarda, gerenciados pelo discurso didático e ideológico de órgãos centrais da Educação e da Cultura” (Lajolo; Zilberman, 2017, p. 68).

Percebendo o cenário exposto, ainda que ações exitosas aconteçam, a figura do Estado sobre a escola caminha contramão quando, por exemplo, ele ainda mantém a prática de destinar para as instituições de ensino obras encomendadas ao seu gosto pragmático e distante das possibilidades de constituição de sujeitos que repensem seu papel social. Muitas editoras, nesse caso, não ficam para trás, priorizando sua lógica mercadológica e atendendo à demanda estatal, sem necessariamente prezar as obras que centralizem a natureza estética como indispensável na formação de leitores. Sabemos que isso não acontece por acaso, pois os encaminhamentos dessas instituições são pensados com vistas à tentativa de formar um público que não questione a sua hegemonia.

Feito esse contexto, voltamos à proposição inicial das autoras e destacamos que, de acordo com o prefácio escrito por Roger Chartier, desde o século 18, a definição do objeto livro é associada à ideia de “originalidade da escritura” e de “propriedade literária de seu autor”. Diante dos excertos, constatamos que o objeto livro ainda mantém a sua especificidade inicial, mas que vem se reformulando a cada época. É por isso que uma das propostas discutidas na obra é a relação entre o impresso e o digital, pois, no mercado editorial do livro, é evidente o cenário de mudanças de suportes que a literatura infantil e juvenil vem passando. Tais desdobramentos não poderiam ser muito diferentes, afinal, as crianças e os jovens estão cada vez mais imersos na era tecnológica desde muito cedo, e negar o contexto sociocultural do público ao qual uma obra se destina é também negar a matéria viva que constitui a literatura: o tempo, o espaço e as vivências de seus autores e de seus receptores. Logo, quando a proposta maior é formar leitores, o menos ideal a se fazer é restringir ao público a diversidade de linguagens em que, cada vez mais acelerada, caminha a produção literária infantil e juvenil.

O suporte, a materialidade do livro, vem resistindo e se ressignificando perante as diversas possibilidades de funcionalidades e de expansão tecnológica. Marisa Lajolo e Regina Zilberman pontuam em suas análises que escritores e editoras acompanham uma diminuição da cultura impressa e investem na modernização de suas produções literárias para crianças e jovens. Estes são os pontos cruciais para as autoras quando elas conceituam o que é o livro, suas implicações e suas pluralidades. Ao longo de toda a obra aqui discutida, reforça-se a constituição da literatura infantil e juvenil brasileira nas três últimas décadas, pontuando as evoluções mais significativas ocorridas no decorrer dos últimos tempos.

As estudiosas salientam que as obras infantis são produzidas em múltipla autoria (escritores, ilustradores, designers gráficos, editores e outros). Elas chamam atenção para o Ciberespaço, definido como um ambiente virtual que pode servir de suporte para a criação e a circulação das obras literárias. Esse espaço torna as fontes de informação cada vez mais acessíveis e mais rápidas, facilitando o digital, mas sem negar o suporte impresso, podendo, inclusive, dialogar com ele.

Em virtude do acesso às tecnologias digitais de informação e das múltiplas plataformas, os textos que circulam na sociedade são cada vez mais multimodais, favorecendo as variadas formas de leituras entre crianças e jovens. Assim, o modo de ler um livro digital é diferente, tanto pelo fato do público ser diversificado quanto pelas inúmeras formas de comunicação, que inevitavelmente a era tecnológica proporcionou.

Por fim, realçamos o diferencial que Marisa Lajolo e Regina Zilberman deram ao tratar da história da literatura infantil nas últimas décadas. Desta vez, elas nos convidam a atentar para o fenômeno das rápidas mudanças em relação às obras destinadas para crianças e jovens, justificando que essa aceleração decorre principalmente por conta do avanço das tecnologias, da corrida do mercado editorial e da própria sociedade, que anseia por novidade e está cada vez mais dinâmica no processo leitor. Nesse sentido, cabe reforçar que mais vale um diálogo entre o impresso e o digital do que uma disputa entre os dois, pois, como mostrado pelas autoras, essa pode ser uma maneira exitosa para formar leitores de literatura infantil e juvenil.

Raquel Souza da Silva – Mestranda em Educação na Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente. E-mail: raquelsousadasilva02@gmail.com.

Cleide de Araújo Campos – Doutoranda em Educação na Universidade Estadual Paulista (Unesp), Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente. E-mail: emaildacleide6@gmail.com Recebido em 21 de junho de 2019

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O artista em representação: imagens de artistas através da História da Arte | MODOS. Revista de História da Arte | 2019

De que modo as transformações da percepção sobre os artistas e suas significações (sociais, culturais, simbólicas e políticas) marcam as escritas da história da arte? Foi essa indagação que nos motivou a propor para a revista Modos o dossiê O Artista em Representação: Imagens de artistas através da História da Arte.

Tomando de empréstimo o título “o artista em representação” da exemplar exposição e publicação organizadas por Alain Bonnet (L’artiste en représentation: images des artistes dans l’art du XIXe siècle, 2012), interessou-nos pensar as construções históricas da imagem do artista e sua inscrição específica nos contextos brasileiro e latino-americano. Leia Mais

Pensar a educação na História: intelectuais, práticas e discursos | Temporalidades | 2019

Um “falso problema, de uma questão circular”! Nesses termos que o pesquisador português Antonio Nóvoa, ainda no final da década de 1990, procurava se desembaraçar de um conjunto de questões aludidas como polêmicas no bojo de investimentos de avaliação que eram produzidos sobre o acúmulo de pesquisas em História da Educação, uma área de estudos então em expansão (CAMBI, 1999, p. 12). O ponto central da pretensa controvérsia estava em delimitar se as pesquisas histórico educacionais correspondiam a um dos domínios da História ou se estabeleceriam uma das especializações das Ciências da Educação; e, consequentemente, se a tarefa de investigar a historicidade dos fenômenos educativos caberia aos historiadores profissionais ou aos pesquisadores em Educação. Aquele era um momento sensível para a área. O acúmulo de um processo de renovação teórico-metodológico, possível pela intensificação do contato e dos esforços de assimilação dos movimentos de renovação historiográfica, aportaram contribuições que permitiram deslocamentos nas definições da especificidade e pertinência da História da Educação, e que, por consequência, impactaram nas expectativas em relação ao conhecimento e as respostas que era capaz de produzir. (NUNES e CARVALHO, 2005) Leia Mais

Memórias da Violência Colonial: reconhecimentos do passado e lutas pelo futuro / Estudos Ibero-Americanos / 2019

Memórias da Violência Colonial: reconhecimentos do passado e lutas pelo futuro*

O crescente interesse sobre a memória dos colonialismos tem tornado cada vez mais evidente a necessidade de se confrontarem os legados das violências instauradas pelos impérios modernos. Nesse sentido, este dossiê reúne artigos que contribuem para uma reflexão sobre a atualidade do passado colonial português em uma perspectiva que privilegia o peso das heranças da violência colonial. Pretende-se, por um lado, avaliar uma realidade social invadida pelas implicações das lógicas que instauraram genocídios, escravidões, elisão de culturas ancestrais, guerras coloniais, deslocamentos, trabalhos forçados e todo um rol de opressões quotidianamente reiteradas. Por outro lado, pretende-se reconhecer de que modo o presente é também, e significativamente, o resultado de resistências e lutas anticoloniais que, inscritas historicamente, contribuíram para o fim do colonialismo político e que legaram ao tempo presente inspiradoras narrativas de dignidade humana. É esse o sentido mais amplo dos artigos aqui reunidos.

Em “As múltiplas vidas de Batepá: memórias de um massacre colonial em São Tomé e Príncipe (1953-2018)”, Inês Nascimento Rodrigues examina as reverberações memoriais produzidas por um evento disruptivo ocorrido na ilha de São Tomé em fevereiro de 1953, quando um número indeterminado de são-tomenses foi massacrado a mando do poder colonial. Posteriormente conhecido como o “Massacre de Batepá”, ele viria a transformar-se em um marco paradigmático da violência, mas também em um dia comemorativo que, a partir de 1975, permitirá conectar o imaginário de sofrimento e resistência ao colonialismo com a legitimação da nova nação independente. A autora analisa diacronicamente as três vidas do “Massacre de Batepá”, mostrando como a sua evocação é sensível a mudanças políticas e socioculturais e como o evento se mantém em uma relação espectral com o percurso pós-colonial da nação são-tomense.

Rosa Cabecinhas, por seu turno, compara representações sociais sobre o passado colonial em Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor Leste. Socorrendo-se do conceito de Mia Couto de “luso(a)fonias” – implicitamente denunciador de desencontros entre antigos países colonizadores e colonizados e recorrendo a uma noção como a de lusofonia, ela própria problemática nas suas emanações neocoloniais –, a autora analisa um amplo conjunto de dados que denotam diferenças substanciais no modo como se caracterizam e valorizam as histórias nacionais ligadas a um “passado comum” colonial. Não obstante as diferenças de percepção detetadas entre os jovens participantes nos estudos, denota-se uma distinção essencial entre os participantes portugueses, que de forma dominante referem-se positivamente ao passado dos “Descobrimentos” e secundarizam a violência colonial e os jovens dos países africanos, que valorizam as lutas de libertação e tendem a visibilizar o peso e o carácter desestruturante dos modos de violência intrínsecos à experiência colonial.

No texto de Clodomir Cordeiro Matos Júnior, “A perspectiva das vítimas e a teoria social contemporânea: entre memórias do passado e futuros alternativos”, é explorada a centralidade da figura da vítima para a compreensão da violência colonial. Nessa perspectiva, a partir das contribuições de Enrique Dussel, Aníbal Quijano e Boaventura de Sousa Santos, o autor procura aprofundar a importância do processo de reconhecimento das vítimas do colonialismo na produção de uma teoria social comprometida com a superação de políticas de esquecimento. Debruçandose sobre as críticas que envolvem a versão eurocêntrica e hegemônica da Modernidade (DUSSEL, 1993), as heranças materiais e subjetivas dos arranjos coloniais (QUIJANO, 2005) e as possibilidades das Epistemologias do Sul (SANTOS, 2018), o artigo faz emergir o reconhecimento da figura da vítima e suas experiências dentro de processos significativos para a validação de memórias silenciadas e a imaginação de futuros impensados.

Em “Escrita e cicatriz: da colonização à prisão”, de Ivete Walty, são colocadas em diálogo algumas imagens da série Cicatriz, de Rosângela Rennó, com a escrita de / sobre a prisão em diferentes momentos da história da literatura brasileira, à luz do conceito de colonização em seu sentido lato, em relação com os conceitos de biopolítica (Foucault) e necropolítica (Mbembe). Representando momentos ditatoriais diversos, a autora analisa, sob o enfoque da imagem da cicatriz / tatuagem associada à da escrita, cenas de Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos (1954), Cartas da Prisão (1977), O canto na fogueira (1977) e Batismo de Sangue (2006), de Frei Betto, para além da trilogia de Luis Alberto Mendes: Memórias de um sobrevivente (2001), Às cegas (2005) e Confissões de um homem livre (2015).

No artigo “Existências deslocadas pelo colonialismo e pela guerra”, Fátima da Cruz Rodrigues toma como pano de fundo a experiência da guerra colonial combatida, entre 1961 e 1974, pelo Estado português e por movimentos de libertação africanos. Depois de uma guerra, os que lhe sobrevivem têm de se reconstruir e de recompor as suas vidas em articulação com a realidade que o fim do conflito inaugura. É de algumas dessas heranças que trata esse texto que apresenta uma reflexão sobre a forma como a guerra colonial interferiu nas existências de antigos combatentes africanos que integraram as Forças Armadas Portuguesas (FAP) e que passaram a residir em Portugal após a libertação dos territórios onde nasceram. Com base em um trabalho de pesquisa de caracter qualitativo, com recurso a histórias de vida, reconstroem-se os percursos de alguns desses homens e procura-se perceber o sentido que os mesmos atribuíram às suas existências marcadas por descontinuidades e momentos particularmente fraturantes no que toca a construção dos seus projetos de vida. Nesse texto, caracterizam-se os diversos tipos de percursos que resultaram dessa análise, bem como os principais eixos discursivos que esses homens mobilizaram para justificar as diversas opções tomadas. A análise desses percursos e discursos permitiu, por sua vez, interpelar a problemática da construção de identidades marcadas por descontinuidades e por posicionamentos múltiplos, ambíguos e aparentemente contraditórios.

Este volume conta ainda com uma detalhada entrevista a Mustafah Dhada, professor na California State University e um estudioso da violência colonial no Império português. Percorremos, nessa entrevista, aspectos relacionados com o seu último livro sobre o massacre de Wiriyamu, perpetrado pelas tropas portuguesa em 1972, em Moçambique, no contexto da guerra colonial. Dhada revela-nos desafios associados ao trabalho com entrevistas, examina a articulação entre violência e colonialismo e traz-nos uma cuidadosa autorreflexão sobre o posicionamento do historiador na escrita da história. Ao mesmo tempo, levanta um pouco o véu sobre o seu próximo livro – que terá ainda como tema o massacre de Wiriyamu – e faz um balanço, mais de quinze anos depois, sobre a originalidade e também os limites da sua obra Warriors at Work, um trabalho seminal sobre o PAIGC e a guerrilha anticolonial na Guiné.

Os textos aqui reunidos colocam ao centro a violência colonial e se posicionam ante os quadros de sentido complacentes com políticas do esquecimento e com versões triunfalistas dos mundos que o colonialismo criou. Olhar o futuro a partir das tensões, discriminações e lutas instauradas pelo passado-presente da imaginação eurocêntrica, racista e imperial convida, nessa perspectiva, a uma imaginação política renovada e ampliada por um dever cívico da memória, ou seja, por um imperativo ético que conecte o necessário reconhecimento do passado com as lutas por futuros questionadores das heranças de violência instauradas pelos colonialismos.

Nota

* O presente dossier foi organizado no âmbito do projeto CROME – Crossed Memories, Politics of Silence. The Colonial-Liberation Wars in Postcolonial Times, financiado pelo Conselho Europeu para a Investigação (StG-ERC-715593).

Referências

DUSSEL, Enrique. Eurocentrism and modernity: Introduction to the Frankfurt lectures. Boundary 2, Durham, v. 20, n. 3, p. 65-76, 1993. Disponível em: https: / / doi.org / 10.2307 / 303341 . Acesso em: 7 maio 2019.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2005.

SANTOS, Boaventura de Sousa. O fim do império cognitivo. Coimbra: Almedina, 2018. Recebido em: 1 / 4 / 2019.

Sheila Khan – Socióloga, é atualmente investigadora do Centro Estudos de Comunicação e Sociedade, da Universidade do Minho. Doutorada em Estudos Étnicos e Culturais pela Universidade de Warwick, tem, no seu percurso académico, centrado a sua atenção nos estudos pós-coloniais, com especial enfoque nas relações entre Moçambique e Portugal, incluindo a questão dos imigrantes moçambicanos em Portugal. De entre os temas que tem trabalhado inclui-se a história e a literatura moçambicana e portuguesa contemporâneas, narrativas de vida e de identidade a partir do Sul global, autoridades de memória e de pós-memória. É de destacar os seus recentes livros, “Portugal a Lápis de Cor: A Sul de uma pós-colonialidade” (Almedina, 2015); “Visitas a João Paulo Borges Coelho: leituras, diálogos e futuros” (et al., 2017, Colibri); “Mozambique on the Move: Challenges and Reflections” (com Paula Meneses e Bjorn Bertelsen, Brill, 2018). Atualmente, investigadora doutorada do projeto financiado pelo Conselho Europeu de Investigação, EXCHANGE e membro da equipa de investigação do projeto FCT / Aga Khan sobre as relações interculturais entre Moçambique e Portugal. E-mail: sheilakhan31@gmail.com  https: / / orcid.org / 0000-0002-8391-8671

Bruno Sena Martins – Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES / UC). É Co-coordenador do Programa de Doutoramento Human Rights in Contemporary Societies e Co-coordenador no Programa de extensão académica “O Ces vai à Escola”. É docente no Programa de Doutoramento “Pós-colonialismos e cidadania global”. Com trabalho de campo em Portugal, India e Moçambique, tem pesquisado e publicado sobre o colonialismo, o corpo e os direitos humanos. E-mail: bsenamartins@gmail.com https: / / orcid.org / 0000-0003-3367-9155

Miguel Cardina – Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES). Foi Presidente do Conselho Científico do CES (2017-2019) e membro da coordenação do Núcleo de Humanidades, Migrações e Estudos para a Paz (NHUMEP) (2013-2106). Recebeu em 2016 a bolsa Starting Grant do European Research Council (ERC – Conselho Europeu para a Investigação) na qualidade de coordenador do projeto de investigação “CROME – Crossed Memories, Politics of Silence. The Colonial-Liberation Wars in Postcolonial Times” (2017-2022). É autor ou coautor de vários livros, capítulos e artigos sobre colonialismo, anticolonialismo e guerra colonial; história das ideologias políticas nas décadas de 1960 e 1970; e dinâmicas entre história e memória. E-mail: miguelcardina@gmail.com https: / / orcid.org / 0000-0001-5428-457X


KHAN, Sheila; MARTINS, Bruno Sena; CARDINA, Miguel. Apresentação. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v. 45, n. 2, maio / ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

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El pensamiento político medieval / História Revista / 2019

El pensamiento político medieval es un argumento definido desde la historia medieval por autores como Ullmann, Kantorowicz, Nederman, Weckmann, Burns, Guinot o Nieto Soria. En los últimos años las reflexiones se han enriquecido con algunos proyectos muy completos. Uno encabezado por Janet Coleman y con título A History of political thought: from the Middle Ages to the Renaissance (Oxford : Blackwell, 2000), otro es el libro Aspects de la pensée médiévale dans la philosophie politique moderne (Paris: Presses Universitaires de France, 1999), y por último nos encontramos con el volumen coordinado por Pedro Roeche Arnas, El Pensamiento político en la Edad Media (Madrid: Centro de Estudios Ramón Areces, 2010). Más allá de estas novedades, debemos de precisar que aunque parezca extraño el pensamiento político medieval no existe como tal, puesto que el pensamiento en la edad media está diseminado dentro de lo que podemos denominar como “macrocosmos” cristiano, que impregna de forma viscosa todos los elementos prácticos, ideológicos, políticos, religiosos y escriturales de la Edad Media. Es por ello que podemos encontrar elementos de pensamiento político en las gestualidades (coronaciones, ceremonias, etc.), en el ejercicio mismo del poder del rey o de los nobles, en diferentes autores (Eguinardo, Salisbury, Padua, Cusa, LLul, Ockam o Scoto entre otros), en los distintos manuales o espejos de príncipes, en el estudio de las diferentes leyes, en los diversos renacimientos medievales, o en las propuestas universitarias a partir de la escolástica o los debates teológicos de cada momento. Pero no solo ahí, muchas obras encargadas desde ámbitos cortesanos o por el mismo rey o en el recurso a narraciones ficcionales. Con lo que tenemos extractos de poder en libros de viajes, libros dialogados o en poemas y textos apocalípticos.

Tomando este marco como referencia, nos proponemos en este dossier reflexionar sobre el pensamiento político en todas las vertientes arriba indicadas y concretadas en líneas de trabajo como la reflexión sobre el ejercicio de poder en sus diferentes geografías y personaje, el estudio de las imágenes y los imaginarios vinculados al pensamiento político, el abordaje de autores o textos que tengan vinculación con el pensamiento político medieval, las investigaciones historiográficas sobre pensamiento político medieval o las cuestiones teóricas sobre algún concepto o debate medieval.

El artículo vértice del dossier es el de Israel Sanmartín (Universidad de Santiago de Compostela) de título “Los elementos del pensamiento político medieval como un sistema cristiano”. En él, se establecen las reflexiones sobre el pensamiento político temporal y eclesiástico, la creación del espacio público en el pensamiento político medieval, y la importancia del humanismo y el individualismo. Además de abordar la cuestión de la configuración de la soberanía en el pensamiento medieval, es decir, los poderes ascendente y descendente. Todo desde el siglo XI a XIII pero con un carácter global y desde un posicionamiento periférico.

También de aproximación holística y periférica es el trabajo de Claudio Canaparo de la Universidad de Quilmes, quien en “El pensamiento politico medieval y el pensamiento del presente” discute la noción de idiota de uno de los grandes pensadores medievales, que es Nicolás de Cusa. Se reflexiona sobre el “idiotismo” medieval y su ayuda a la construcción de la idea hoy en día. El concepto de experiencia le sirve al autor para mostrar su dimensión tecnológica. Entre la tecnología y el pensamiento también está el artículo “La Representación del Poder en los Videojuegos sobre la Edad Media en los años 80”, escrito por Brenda Rodríguez Seoane (Universidad de Santiago de Compostela). La autora, desde una perspectiva “neomedieval” aborda el poder, las relaciones sociales y sus símbolos a partir de tres juegos de los años ochenta españoles. Son Nonamed, Defender of the Crown e Iron Lord. El análisis trata de discernir la forma en la que se entrelazan los elementos actuales con otros propiamente medievales. La representación que se nos presenta en cada uno de los juegos viene marcada por una visión distorsionada del período histórico medieval. Ofrece un desconocimiento de la época misma para el consumidor medio y produce una desinformación y manipulación en la narración de la historia medieval.

En otro sentido, nos encontramos con la investigación de Terezinha Oliveira de la Universidade Estadual de Maringá (UEM) profundiza en tres cartas contenidas en el Chartularium Universitatis Parisiensis (siglo XIII) y que fue motivo de conflicto. El trabajo analiza el posicionamiento del rey a través de los historiadores François Guizot y Jacques Le Goff. El título de la investigación es “Luís XI e o embate entre os mestres universitários: diálogos com a fonte e a historiografía”. A continuación podemos leer “El rey molinista pensado por don Juan Manuel en El libro de los estados” es el texto que aporta Ángel Salgado Loureiro (Universidad de Santiago de Compostela) a este dossier. El artículo parte del estudio de El libro de los estados de Don Juan Manuel, texto que fue escrito entre 1327 y 1330. El investigador nos muestra a un Don Juan Manuel imbuido de referencias culturales molinistas y como un actor político intrigante y de posición ambigua entre los diferentes banderías de nobles y los reyes Fernando IV y Alfonso XI. En la misma tenemos el trabajo de Felipe Augusto Ribeiro (Universidade Federal de Minas Gerais ‐ UFMG) aporta a este dossier el artículo “Da virtude à política: a moral do governante no pensamento do Franciscano Paulino de Veneza (c. 1314)”. En él, explora el pensamiento del siglo XIV a través del tratado De regimine rectoris del franciscano Paulino de Veneza. El autor utiliza un análisis conceptual para reflexionar sobre el buen gobernante y las relaciones entre moral y política.

Roque Sampedro López (Universidad de Santiago de Compostela) nos ofrece un ejercicio muy parecido al anterior en “El Libro de Gracián como discurso político en la Castilla de Juan II (1405‐1454)”. Sampedro toma como referencia el llamado Libro de Gracián para entresacar el discurso político de la primera mitad del siglo XV castellano y mostrar la idea de príncipe y gobernante en un envoltorio de historia intelectual tejido a partir de autores como Quentin Skinner y John G.A. Pocock. Misma estructura pero diferente temática presenta André González Mayo (Universidad de Santiago de Compostela) en “El pensamiento político en la narrativa historiográfica medieval. El caso de la Crónica Najerense”. En base a determinados autores postmodernos como Spietel o White analiza bajo los preceptos del “nuevo medievalismo” la Crónica Najerense, una narración compuesta a finales del siglo XII, entre los años 1185 y 1194, en el reino de Castilla. La idea nuclear del análisis de González Mayo es que el texto habría surgido de la necesidad de prestigiar la monarquía castellana y de la preeminencia política del rey frente a sus principales adversarios políticos, tomando como eje central el neogoticismo. Entre los dos textos anteriores está el del Héctor Alaminos (Universidad de Santiago de Compostela), quien aporta al volumen “El viaje al Purgatorio de Ramon de Perellós. Análisis de la resignificación del pensamiento político medieval a la luz de la estética de la recepción”. El viaje de Perellós es de la baja edad media y en él se estudiará el pensamiento a partir de los diferentes manuscritos, influencias y textos a parir de la teoría de la recepción.

Por último, ofrecemos dos textos de la Inglaterra bajomedieval. Por un lado tenemos el texto de “La relación entre pecado original y dominio político en un tratado de John Wyclif” escrito por Cecilia Devia de la Universidad de Buenos Aires. En él se estudia la relación entre entre pecado original y dominio político en el Tractatus de statu innocencie (1376) de John Wyclif. Con una metodología comparativa y contrafáctica se abordarán los diferentes tipos de dominio, pecado original, propiedad y uso en el tratado estudiado. En cronologías y espacios similares se mueve el texto de Pablo Fernández Pérez de la Universidad de Santiago de Compostela en la investigación “Del “mundo del texto” al “mundo del lector”: piers plowman en las cartas de John Ball”. El texto toma como referencia el contexto del levantamiento inglés de 1381 para estudiar imágenes y textos reflejados en el poema de Piers Plowman. El autor toma como clave explicativa el imaginario apocalíptico para, mediante la historia intelectual analizar el texto en base a las ideas ricoeuianas de “mundo del texto” y el “mundo del lector”.

Como vemos, tenemos un ramillete de trabajos conectados por la preocupación política y bajo el prisma de la historia intelectual. Acontecimientos, ideas e historiografía pivotan alrededor de gran parte de estos artículos con la idea de ofrecer una matriz explicativa útil para su estudio. El dossier necesita un posicionamiento en el tiempo y en el espacio. La temporalidad de los textos es el mundo pleno y bajomedieval castellano e inglés. En cuanto a la tipología de los materiales utilizados, también es variada. Son libros, capítulos de libro, artículos de revistas científicas, así como artículos de internet o videojuegos. Para manejar esta variedad de años y documentación muchos de los trabajos han optado por la llamada “nueva historia intelectual”. Desde ella estudiaremos y ordenaremos los contextos en los que se desarrollan estos trabajos. El objetivo de este particular es ofrecer el estudio de ideas y conceptos insertados en la sociedad y en el momento en el que suceden, para alcanzar su descripción, explicación y análisis.

La gran tarea que nos proponemos es estudiar la evolución del pensamiento político pleno y bajomedieval, reconstruir parte de su debate internacional y reflejar la opinión que emana de algunos de sus textos. En definitiva, se tratará de realizar, como resultado de la propuesta metodológica y del propio desarrollo de la investigación una tarea de historiografía teniendo en cuenta a la vez los presupuestos historiográficos y los contextos, los acontecimientos y el pensamiento. Aparte de todos estos objetivos, nos planteamos también en inicio otras metas menores:

a) Demostrar que el pensamiento político medieval no tiene una construicción unívoca ni un sentido predeterminado

b) Mostrar que el pensamiento político medieval no es necesariamente compatible con el concepto actual de ideología.

c) Argumentar que se puede realizar estudios de pensamiento político desde el punto de vista del historiador, teniendo en cuenta ideas acontecimientos y la investigación de la historia.

d) Afirmar que el pensamiento político medieval ha influido en los historiadores y que éstos han estado presentes en el debate.

e) Reflejar la importancia de la historia en la política y viceversa.

f) Indagar el pensamiento político en sus textos, sus influencias y sus resignificaciones.

Israel Sanmartín – Universidad de Santiago de Compostela. E-mail: israel.sanmartin@usc.es


SANMARTÍN, Israel. Presentación. História Revista. Goiânia, v. 24, n. 2, maio / ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Nietzsche et le relativisme – STELLINO; TINLAND (V-RIF)

STELLINO, Paolo; TINLAND, Olivier (Org.) Nietzsche et le relativisme. Bruxelles: Éditions OUSIA, 2019. Resenha de: NASSER, Eduardo. Voluntas – Revista Internacional de Filosofia, Santa Maria, v.10, n 2, maio/ago., p, 158-161, 2019.

Relativismo não constitui realmente uma corrente ou escola filosófica. E não obstante prestigiados pensadores, como Galileu ou Comte, falarem em princípio da relatividade ou relativo, com um sólido lastro teórico, o termo é muito frequentemente utilizado no ambiente intelectual contemporâneo com a intenção de desmoralizar ou expor falhas latentes de sistemas e doutrinas. Contudo, a fim de enfrentar desafios de nosso tempo, como inclusão social e cultural, é também preciso destacar a emergência de um interesse renovado pelo relativismo, agora movido pela convicção de que o conceito dispõe de uma gama de frutíferos e pouco conhecidos significados que passam ao largo da percepção vulgar, como vem revelando, especialmente, Maria Baghramian.

É no interior desse cenário filosoficamente mais estimulante que Nietzsche et le relativisme é concebido. Organizado por Paolo Stellino e Olivier Tinland, e dividido em três partes, o livro consiste na reunião de artigos apresentados por reputados estudiosos no colóquio internacional com título homônimo, realizado em 2016 na Université Paul Valéry – Montpellier III. De forma geral, o propósito é confrontar a atribuição largamente difundida, de viés injurioso, de relativismo ao pensamento nietzschiano, sem, contudo, deixar de examinar possíveis contribuições de Nietzsche para uma melhor compreensão dos debates mais atilados sobre o tema (e vice-versa).

Redigido por Olivier Tinland, o texto introdutório confere estruturação ao livro. Seguindo a linha dos estudos mais recentes sobre relativismo, Tinland polemiza com as visões trivializadas de modo a evidenciar a complexa teia de conceitos que enseja a adequada interrogação de teses relativistas. “Simplificando ao extremo, pode-se distinguir três maneiras de caracterizá-las, segundo o objeto de relativização, o contexto de relativização, e o modo de relativização” (p. 17). E esses domínios estão sujeitos a divisões e subdivisões: os objetos relativizáveis estão separados em campos de saber (cognitivo, moral, jurídico, político, estético, religioso, etc.) que, por sua vez, possuem ramificações internas (relativismo cognitivo, por exemplo, pode se fragmentar em relativismo epistêmico, alético, racional e conceitual); os contextos de relativização dividem-se em subjetivo e cultural e/ou histórico; os modos de relativismo, atinentes aos tipos de enunciação, distinguem-se pelo enfoque moderado e forte, e pelas enunciações relativistas mesmas, que podem ser restrita (ou de primeira ordem) e total (ou de segunda ordem).

De posse desses instrumentos conceituais, os textos tangenciam pelo menos três objetos de relativização (cognitivo, moral e estético), oferecendo apreciações nem sempre congruentes sobre o contexto e o modo de relativização constatáveis em Nietzsche.

No decurso do livro, é manifesta certa prevalência de discussões de cunho epistemológico. Englobam a primeira e segunda parte, e são abalizadas por duas linhas de leitura: (i) Nietzsche enquanto um relativista antirrealista, filiado a Kant e ao neokantismo, que radicaliza a modernidade, pavimentando o caminho para o pensamento pós-moderno; (ii) Nietzsche como um relativista realista que promove uma reforma da ontologia substancialista.

A primeira propensão interpretativa pode ser observada nos trabalhos de Helmut Heit, João Constâncio, Luca Lupo e Pietro Gori. No artigo que inicia o livro, “Nietzsche et « le relativisme épistémique »”, Heit almeja mostrar de que modo é possível enxergar em Nietzsche um relativismo epistêmico oriundo de sua frequentação de autores ligados à tradição kantiana. Não obstante a irrelevância do termo relativismo para o filósofo – cuja única ocorrência está localizada na terceira Consideração extemporânea –, e apesar de seu desinteresse por debates mais técnicos sobre epistemologia, é razoável afirmar que “Nietzsche propõe uma versão específica do relativismo, entendido como virtude epistêmica” (p. 41). Após travar contato com Schopenhauer e, sobretudo, Lange, ele desenvolve uma teoria do conhecimento construtivista, movido pelo objetivo mais audacioso de delinear condições para a elevação da cultura. Em “« La vérité relative ». Remarques sur la négation langéenne et postkantienne de la vérité absolue chez Nietzsche”, Constâncio propõe demonstrar que “desde o início, e em numerosas passagens decisivas de seus escritos, Nietzsche subscreve uma concepção de « verdade » que Friedrich Albert Lange retirou de sua leitura da Crítica da razão pura de Kant, a saber, a concepção de « verdade relativa »” (p. 69). Guiando-se por cinco teses basilares daquilo que denomina de póskantismo de Nietzsche (1- caráter transcendental das categorias; 2- mundo estruturado por conceitos e juízos; 3- incognoscibilidade da coisa-em-si; 4- rejeição da verdade no sentido metafísico; 5- impossibilidade da metafísica após Kant), conta apontar de que forma a filosofia nietzschiana está alinhada ao neokantismo naturalista e psicologista de Lange, culminando na concepção de verdade relativa, restringida à experiência, e emancipada de qualquer finalidade prescritiva. Para Lupo, em “Pour une généalogie du relativisme nietzschéen: Schopenhauer”, é “no quadro de uma triangulação com Kant e Schopenhauer que se pode identificar uma possível inclinação do pensamento nietzschiano em direção a posições relativistas” (p. 126). Nietzsche utiliza o termo Relativismus na terceira Consideração extemporânea tendo em conta os impasses éticos e existenciais decorrentes da interdição kantiana e schopenhaueriana do acesso epistêmico à verdade absoluta. Por fim, Gori, em “Le pragmatisme et la pensée perspectiviste: des programmes comportementaux pour faire face au relativisme”, entende que Nietzsche, assim como William James, redefine o significado da verdade – que passa, então, a possuir valor operatório, condizente com um tipo de relativismo –, à medida que se ampara nos resultados da epistemologia moderna. Antirrealista, Nietzsche deve ser acolhido como um representante do fenomenalismo que, por seu turno, “se apresenta como um desenvolvimento do kantismo no sentido antimetafísico” (p. 158).

Num outro extremo, deparamo-nos com as abordagens de Yannick Souladié e Dorian Astor. Em “Un scepticisme de la force contre le relativisme”, Souladié traz à baila um Nietzsche envolvido com uma forma branda de relativismo (conhecimento condicionado pela educação, alimentação, saúde, etc.) que não se dedica a anular o valor do conhecimento ou “a possibilidade de um conhecimento autêntico, de uma « verdade »” (p. 95). O perspectivismo nietzschiano não incorre na defesa da igualização alética das perspectivas – que, a propósito, deve ser tratada como um sinal de declínio –, pois vislumbra a vontade de potência enquanto referente último. Com efeito, o nível do conhecimento exprime uma forma mais superficial de relativismo que é antecedido por uma ontologia relacional: “a vontade de potência apreendida em seu interior, fora de toda perspectiva relativa (exterior), é relação” (p. 97). Essa subsunção da epistemologia à ontologia é também aventada por Astor em “Relativisme ou relationnisme? Le concept de réalité chez Nietzsche et Whitehead”. Ao propor uma comparação oportuna entre as concepções de realidade em Nietzsche e Whitehead, Astor pretende exibir de que maneira esses filósofos, em oposição à atitude preponderante na ciência e na metafísica, estão empenhados na defesa de uma realidade relativa; consiste numa “ontologia da relação fundada sobre o caráter processual do Ser, quer dizer, do Devir” (p. 172).

A tendência predominante nas discussões epistêmicas se estende para os artigos que se ocupam do relativismo ético e estético em Nietzsche; reproduz-se a disputa entre realismo e antirrealismo no campo dos valores. Contudo, o problema adquire uma feição manifestamente distinta do quadro apresentado acima. Trata-se, fundamentalmente, de aclarar se Nietzsche suprime total ou parcialmente o relativismo quando se serve de expedientes realistas para efetuar uma crítica dos valores.

Essa segunda espécie de problematização é preparada pelo texto de Scarlett Marton, “De Foucault à Nietzsche: pluralité d’interprétations et importance des critères”. A proposta de Marton é defender a tese de que Foucault imprime uma deformação no pensamento nietzschiano quando nele reconhece o marco de uma nova hermenêutica. Para Foucault, Nietzsche não estaria preocupado em inquirir o significado, mantendo-se na superfície das interpretações. Visto por este prisma, somos levados à enganosa suposição de que Nietzsche promove uma equivalência de interpretações, ou um relativismo, quando, a bem da verdade, a sua meta é acomodar criticamente as interpretações em disposições hierárquicas; mediante a eleição de um critério – a vida ou a constante luta de forças –, pretende-se entabular um processo judicativo com a finalidade de apartar boas e más interpretações. O critério de avaliação deveria ser fixo, apesar de exprimir o vir-a-ser, e transcendente ao nível interpretativo (e, se assim é, imune aos relativismos identificados nos debates epistêmicos?). Em razão de não ter considerado esse intento mais genuíno que Foucault enseja a introdução de “um certo relativismo na filosofia nietzschiana” (p. 225). O desacordo entre o caráter inclusivo do relativismo e o intuito hierarquizante de Nietzsche é também tratado por Isabelle Wienand e Janske Hermens em “Nietzsche et le relativisme: la conception nietzschéenne de la santé”. Inserindo-se no sinuoso terreno da filosofia da medicina, o artigo coloca a hipótese de que “a concepção nietzschiana de saúde ilustra de maneira eloquente a posição nuançada ante a questão do relativismo” (p. 244). Malgrado ser um relativista ontológico, visto que se recusa a oferecer uma definição de saúde, Nietzsche não pode ser designado um relativista axiológico. Quando alude à grande saúde, ele admite que se trata de um estado subordinado ao vir-a-ser, sem, no entanto, deixar de se servir do conceito com pretensões avaliativas e normativas. Ainda que os autores não considerem ser um resultado inconsequente, assinalam que “Nietzsche defende duas posições diferentes ou mesmo contrárias” (p. 245). Na mesma esteira, Paolo Stellino, em “Projectivisme et relativisme moral chez Nietzsche”, considera que Nietzsche apoia um tipo de relativismo moderado na esfera dos valores; a filosofia nietzschiana pode ser aproximada de um projetivismo moral sem redundar num relativismo total. Beneficiando-se de recursos da ética contemporânea, Stellino salienta que apesar de ser um relativista moral descritivo, Nietzsche seguramente não pode ser chamado de um relativista moral meta-ético – pois exige um critério de avaliação dos valores extrínseco às perspectivas – ou um relativista moral normativo – pois estimula que o indivíduo crie a sua própria tábua de valores. Destarte, não se pode acolher “o perspectivismo moral nietzschiano no sentido de um relativismo radical” (p. 275). Contestando igualmente a atribuição precipitada de relativismo a Nietzsche, mas no âmbito da estética, temos o artigo de Maria João Mayer Branco, que encerra o livro, “La tâche du joueur. Jeu et crise des valeurs chez Nietzsche”. Branco revela que o concepção nietzschiana de jogo, subtraída de valor e de incumbências prescritivas, “suspende os efeitos da relativização geral dos critérios de validade que regulam, não somente a criação artística, mas a totalidade da vida humana até a modernidade” (p. 278). Atento aos perigos produzidos pela autonomização da arte na modernidade, Nietzsche fala em jogo, uma concepção autorreferida que viabiliza, tanto para a arte, como também para a filosofia, a criação do novo.

Como foi possível constatar, a virtude de Nietzsche et le relativisme é fornecer um mapeamento escrupuloso dos desafios que cercam a compreensão da natureza e do alcance do relativismo nietzschiano e, no limite, indagar se de fato é legítimo classificar Nietzsche como um filósofo relativista.

Eduardo Nasser – Doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo e pela Ernst-Moritz-Arndt-Universität Greifswald. Professor na Universidade Federal do ABC. E-mail: eduardo.nasser@philosophie.uni-freiburg.de

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Escolarização, livros escolares e movimentos migratórios / Cadernos de História da Educação / 2019

A Itália, assim como Alemanha, Polônia e Espanha, para mencionar apenas alguns europeus, se constituíram em países de emigração e o Brasil de imigração, acentuadamente entre meados do século XIX e primeiras décadas do século XX. A presença de movimentos migratórios nos provoca a pensar a transnacionalidade e a necessária suspensão de recortes de pesquisa que se pautem exclusivamente no contexto das fronteiras nacionais. Pensar as relações entre processos de escolarização e produção de livros escolares, permenado pelo olhar dos movimentos migratórios é o intuito principal deste dossiê. Atentamos para as ideias que circularam por meio dos materiais escolares que foram produzidos em épocas distintas e com intuitos diferenciados. Compreendemos que no interior das escolas se encontram e confrontam culturas e, por meio de olhares históricos, é possível compreender a diversidade étnica, bem como a pluralidade de práticas e de itinerários. Tal movimento investigativo também é importante para os interessados em compreenderem a história das instituições escolares. Especial atenção reside nos materiais escolares produzidos pelo governo italiano e distribuídos entre imigrantes no contexto brasileiro.

Para tal, consideramos que os livros são portadores de valores morais, sociais e éticos, são expressões dos modos de pensar e compreender o que a educação escolar deve ensinar às novas gerações. Percorrer as páginas de manuais e livros escolares significa, para os historiadores da educação, compreendê-los na sua produção, interrogá-los na sua circulação, apropriação e nos modos como foram preservados e nos chegam até a contemporaneidade. Livros escolares podem ser pensados como guias que buscaram conduzir professores e alunos em suas práticas pedagógicas ao serem portadores de conteúdo, reveladores de intenções e projetos políticos de formação sociocultural. Os livros, quadros murais e impressos analisados nesse Dossiê são entendidos como mediadores culturais que permitem pensar concepções políticas para a educação escolar produzida pelo Governo Italiano para regular as escolas italianas do exterior, aqui investigadas especialmente aquelas do Brasil. Ou produzidos no Brasil para promover renovação pedagógica por meio de quadros murais ou ensino de disciplinas como a de Trabalhos Manuais. Atentar para a similaridade de algumas práticas e pensar como os materiais escolares, em especiais os livros e impressos escolares, são portadores e difusores de modos de ser, pensar e viver, constituem o fio condutor dos artigos aqui reunidos.

O primeiro artigo, “Patria, razza e civiltà. Le istruzioni per um’emigrazione di sucesso nei manuali scolastici di Geografia Italiani tra fine ‘800 e inizio’900” (Pátria, raça e civilização: as instruções para a emigração de sucesso nos manuais de Geografia italianos entre o final do 800 e início do 900) de Paolo Bianchini analisa um conjunto de livros escolares de geografia que circularam na Itália em escolas primárias e secundárias e que tratam a questão da emigração italiana, referindo o papel da escola e dos manuais escolares de geografia, em especial, na construção de conceitos centrais como pátria, raça e civilização, que ainda hoje são fortemente influenciados pelas imagens e ensinamentos constituídos nos séculos passados.

O segundo artigo do dossiê, intitulado “Uma impronta di italianitá”: os livros didáticos para escolas étnicas italianas no Brasil entre liberalismo e fascismo de Alberto Barausse aprofunda a análise do processo histórico das políticas empreendidas pelo Governo Italiano no processo de seleção dos livros escolares a serem produzidos e adotados nas escolas no exterior. Atenta para as dinâmicas e complexas relações de acompanhamento e desenvolvimento da escolarização, dos processos culturais e formativos, sobretudo identitários, dos colonos italianos no Brasil, entre a segunda metade do século XIX e a fim dos anos 30, do século XX. Considera que os livros didáticos foram, desde o começo da experiência da unificação italiana, um instrumento fundamental para as classes dirigentes que tinham por finalidade modernizar e, sobretudo, homogeneizar e uniformizar o ensino nas escolas em sentido nacional. Ressalta a italianidade como objetivo a ser difundido, como sentimento de interligação com a Pátria-Mãe, as estratégias mobilizadas variaram e o entendimento de italianidade também.

O texto “Scuole Italiane all´estero: livros de leitura para as escolas italianas no Brasil (São Paulo / SP, 1911 – 1931) de Claudia Panizzollo analisa um dos livros produzidos na Itália e publicado pela Editora Bemporad que circulou intensamente pelo Brasil. O livro Piccolo Mondo, letture per Le scuole elementar, de 1910, de autoria de Fanny Romagnoli e Silvia Albertoni atravessou o oceano e chegou à Escola Principe di Napoli. Escrito para as escolas da península italiana circulou também nas escolas all’estero, e merece destaque a longevidade da publicação, sendo sua última edição no ano de 2011. Piccolo Mondo conforme Panizzollo apresenta uma preocupação com o ensino científico e valoriza as Ciências Naturais. O livro apresenta um conjunto de historietas que abordam temáticas voltadas à higiene, à saúde, à morte adulta e infantil e à nutrição, aos remédios e vacinas e às plantas. Na análise de Panizzollo, Romagnoli e Albertoni destinaram significativo espaço para o aprendizado da civilidade, buscando disciplinar as almas dos pequenos italianos ou seus filhos, por meio de coerção exercida sobre o corpo, além de impor à coletividade de crianças uma mesma norma de comportamento considerado adequado e aceitável, o que se faz por meio da transmissão de valores como bondade, caridade, paciência, trabalho, respeito aos mais velhos, ao mesmo tempo em que se busca distanciar as crianças do orgulho, do apego aos valores materiais, da preguiça, da cobiça, entre outros sentimentos. Em suas páginas emerge um projeto, ao mesmo tempo, civilizatório e de constituição da italianidade.

No quarto artigo, “‘E não nos deixeis cair em tentação’: livros de leitura religiosa do governo fascista para as escolas italianas no Brasil (anos 20 e 30 do século XX), Terciane Ângela Luchese atenta para a produção, a circulação e as estratégias de (con)formação postos em jogo pelos dois volumes do livro Letture di Religione, distribuídos gratuitamente aos alunos das escolas italianas do Brasil. Os livros foram escritos e compilados por Giuseppe Fanciulli, também conhecido como Maestro Sapone. Italiano nascido em Firenze, com formação em Filosofia, Psicologia e Direito, publicou inúmeros livros para as escolas italianas recomendados pelas comissões no período fascista abordando temáticas diversificadas como História e Leitura. As duas obras de Letture di Religione contavam com páginas inteiras ilustradas por Beryl Tumiati. Eram portadores de uma proposta educativa ligada à ideologia fascista que não deixou de considerar e construir a relação entre pátria (fascista), conduta moral, religião e família. O texto analisa as aproximações entre fascismo e catolicismo no contexto italiano e sua repercussão na produção e envio de livros escolares para as escolas étnicas italianas no Brasil, destacando-se que se trata de dois dos poucos manuais publicados para ensino religioso para as escolas italianas no exterior.

O quinto artigo, intitulado “O ethos do trabalho como signo de modernização pedagógica: artes de fazer prescritas na imprensa pedagógica (Minas Gerais, 1925 – 1934)” de Marcus Aurélio Taborda de Oliveira entrelaça a noção de economia moral, de Edward Thompson e trabalho desenvolvida por Hannah Arendt, para discutir a presença dos Trabalhos Manuais no contexto das Minas Gerais nas décadas de 1920 e 1930, tendo como referência a Revista do Ensino, publicada a partir de 1925, mas com destaque ao livro Trabalhos Manuaes Escolares, de Manuel Penna, de 1934. O autor considera que essas publicações representam como intelectuais e agentes públicos buscaram estabelecer parâmetros para a escola pública brasileira, objetivando renovar pedagogicamente a escola, a par da urbanização, industrialização e combate ao desprezo pelo trabalho manual no Brasil.

O último artigo, “Um olhar alemão para a escola brasileira: Carl Ernest Zeuner desenhando quadros murais (1963 – 1969)” de Maria Helena Camara Bastos analisa os suplementos didáticos ou quadros murais, encartados mensalmente e destacáveis, também denominados “Material Didático para as Classes do Curso Primário” e que circularam junto à Revista do Ensino no Rio Grande do Sul. Esses quadros murais foram desenhados pelo imigrante alemão Carl Ernest Zeuner, formado na Academia de Artes Gráficas de Leipzig / Alemanha e que chegou ao Brasil em 1922, radicando-se em Porto Alegre. Foi pintor, desenhista e ilustrador, permanecendo por quatro décadas na Livraria e Editora Globo. Na década de 1960, seus desenhos ilustraram os quadros murais, a partir das orientações da direção do periódico. A observação e experimentação visual possível pelos quadros murais produziram representações que puderam ser lidas e fomentaram uma formação moral, cívica, religiosa e patriótica.

Chartier (1990) afirma que o livro, mas também outros impressos como jornais e revistas, são materialidades que colocam em circulação ideias sobre os quais podemos questionar processos de produção, conteúdos e discursos de que são portadores. Podemos, a partir desses documentos perscrutar a distribuição e a apropriação em diferentes espaços e tempos, além de sua preservação. É em torno dessas questões e da compreensão dos movimentos migratórios e sua relação com a escolarização que os pesquisadores se articulam para pensar a História da Educação. No conjunto, os textos desse dossiê permitem compreender as políticas de seleção e produção de livros escolares pelo governo italiano e destinados às escolas no exterior, atentando para a circulação e a distribuição dos livros, bem como a compreensão, a partir da análise de alguns dos exemplares – vinculados à leitura, ao ensino histórico-geográfico, à ciências e à religiosidade – dos modos como se buscou educar os italianos e seus descendentes no interior das escolas étnicas italianas no Brasil, entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX. Também atenta para a inserção de Trabalhos Manuais na escolarização percebendo as relações cruzadas entre trabalho, economia moral e renovação pedagógica, além de atentar-se para a produção e a circulação dos quadros-murais na Revista de Ensino do Rio Grande do Sul, outra materialidade educativa do olhar que produziu representações e resultou do trabalho do imigrante alemão Carl Zeuner. Caminhos interpretativos cruzados sobre o passado da escola e suas materialidades em circulação e que buscaram educar, mobilizando memórias sobre processos identitários, civismo e patriotismo.

Referências

CHARTIER, R. (1990). A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa, Portugal: DIFEL.

Terciane Ângela Luchese – Universidade de Caxias do Sul (Brasil) https: / / orcid.org / 0000-0002-6608-9728 http: / / lattes.cnpq.br / 7640634913198342 E-mail: taluches@ucs.br

Alberto Barausse – Università degli Studi del Molise (Italia) https: / / orcid.org / 0000-0002-8326-046X E-mail: barausse@unimol.it


LUCHESE, Terciane Ângela; BARAUSSE, Alberto. Apresentação. Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 18, n.2, maio / ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Expressões do Nazismo no Brasil: partido, ideias, práticas e reflexos – CARVALHO; LUCAS (RTA)

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de; LUCAS, Taís Campelo (orgs.). Expressões do Nazismo no Brasil: partido, ideias, práticas e reflexos. Salvador: Saga, 2018, 220 p. Resenha de: OLIVEIRA NETO, Wilson de. A suástica sobre o Brasil. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v.11, n.27, p.517-522. maio/ago., 2019.

“O debate acerca do estatuto da Segunda Guerra Mundial no campo historiográfico tem se mostrado incessante e com bastante abertura tanto no âmbito teórico quanto metodológico”, afirmou Karl Schurster (2015, p. 257), em uma resenha a respeito de um livro sobre a propaganda antissemita nazista durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945).

Quatro anos após sua publicação, a citação continua válida, pois, o Nazismo e a Segunda Guerra Mundial continuam a ser temas estudados por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, dentro e fora da universidade, por meio de diferentes fontes e métodos, com resultados variados, a exemplo dos trabalhos recentes produzidos por Denise Rollemberg (2017) e Richard J. Evans (2018).

O livro Expressões do Nazismo no Brasil reforça essa tendência de renovação dos estudos históricos sobre o Nazismo, pois reúne trabalhos inéditos acerca da experiência nacional-socialista no país, a partir de recortes temáticos inéditos, a exemplo das interferências da ideologia nazista na escolha e no envio de professores universitários alemães ao Brasil, ou, de fontes primárias e secundárias consultadas em arquivos e bibliotecas alemãs, tais como os documentos relativos à Organização para o Exterior do partido nazista.

A obra é formada por nove capítulos, assinados por Luis Edmundo de Souza Moraes, Taís Campelo Lucas, Rafael Athaides, Vinícius Liebel, Priscila Perazzo, Mariana Lins Prado, Sergio Luiz Marlow, Igor Gak, Bruno Leal Pastor de Carvalho e René Gertz. Os capítulos foram divididos em três partes que conferem coerência e coesão aos textos, respectivamente: “O Partido”; “Ideias e Práticas”; “Reflexos”. Há também uma apresentação redigida pelos organizadores e um prefácio de João Fábio Bertonha, segundo o qual a experiência histórica nazista continua a ser um tema atraente para a indústria cultural, além dos seus usos políticos ao longo do tempo. Ainda no prefácio, foi destacada a relevância dos trabalhos nacionais e a necessidade de sua internacionalização.

As origens dos estudos sobre o Nazismo no Brasil estão situadas nas décadas de 1970 e 1980. Com a liberação de arquivos nacionais e alemães, a partir do fim de década de 1990, a exemplo do material do extinto Departamento de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo, o tema ganhou novo impulso, o que permitiu a revisão e ampliação da bibliografia produzida, além da formulação de novos problemas de pesquisa, como por exemplo, a complexa relação entre o governo alemão e os núcleos do NSDAP no Brasil.

No capítulo de abertura, Luis Edmundo de Souza Moraes explica que as atividades do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães1 no exterior foram orientadas pela Auslandorganisation – AO, a organização do NSDAP para os cidadãos alemães residentes no estrangeiro. As origens da AO estão situadas em 1931, quando o líder nazista Gregor Strasser criou o Departamento para o Exterior do NSDAP, sob a direção do então deputado Hans Nieland. Em fevereiro de 1934, após avanços e retrocessos, a organização foi consolidada através do status de Gau, além de receber a denominação pela qual ficou historicamente conhecida, informa Moraes.

Em seguida, Taís Campelo Lucas narra a trajetória do Landesgruppe Brasilien, a maior seção partidária do NSDAP no exterior, com 2.903 membros registrados, além de ser o Landesgruppe mais antigo, que funcionou entre os anos de 1928 e 1937. O Landesgruppe foi dividido em grupos locais (Ortsgruppen) espalhados pelos estados da federação. Porém, a filiação ao NSDAP era somente para os cidadãos alemães residentes no exterior, fato este que deixou de fora os descendentes de alemães nascidos no Brasil. Segundo Lucas, a adesão formal ao NSDAP foi ínfima, 1 em cada 26, um percentual de 3,87%, entre 75 mil pessoas.

Ainda no capítulo de Lucas, o primeiro grupo local do NSDAP no Brasil foi fundado em 1928, no município de Timbó, em Santa Catarina. Os primeiros militantes nazistas no país eram agressivos e despertaram grande antipatia. Embora o NSDAP, dentro e fora da Alemanha, adotasse o “princípio de liderança”, nem sempre as diretrizes e as orientações de Berlim, através da AO, foram seguidas pelos seus militantes residentes no Brasil. Durante seus nove anos de existência, o Landesgruppen Brasilien promoveu diversas atividades de propaganda do Nazismo e do regime nacional-socialista, especialmente entre as comunidades de origem alemã localizadas nas regiões Sudeste e Sul do país. Além disso, seus militantes mantiveram relações ambíguas e complexas com a Ação Integralista Brasileira – AIB, o poder público e a Igreja Luterana.

No Brasil, a propaganda nazista foi veiculada através de diferentes tipos de publicações impressas, a exemplo do guia oficial da Semana Alemã de 1937, na cidade de Curitiba, cujos textos foram organizados pelo grupo local do NSDAP. Em seu capítulo, Vinícius Liebel examinou essa publicação, na qual constatou a veiculação de propaganda nazista através de escritos sobre “raça”, “sangue” e outros conceitos relevantes para ideologia nacional-socialista.

Outro alvo da propaganda nazista nas regiões de colonização alemã foram as “escolas alemãs”. Segundo o estudo feito por Priscila Perazzo e Mariana Lins Padro, durante a década de 1930, as escolas alemãs localizadas na microrregião do ABC Paulista foram abastecidas de brochuras, livros, partituras e panfletos nazificados, destinados a alunos, pais e professores.

Ao estudar as relações entre os militantes nazistas e a AIB no Paraná, Rafael Athaides explica que, até o fim da década de 1930, em um contexto de aproximação diplomática e econômica entre Brasil e Alemanha, o NSDAP não foi incomodado pelo poder público. Inclusive, o então interventor federal no estado, Manoel Ribas (1873 – 1946), prestigiou celebrações nazistas, assim como outro interventor, Flores da Cunha (1880 – 1959), no Rio Grande do Sul. No tocante às relações com a AIB, Athaides (2018, p. 83) constatou a existência de “certas zonas de interface entre a NSDAP e a AIB”. Porém, nada igual ao que foi denunciado pelos órgãos de segurança do regime estadonovista (1937-1945) como uma conspiração nazi-integralista, cujas denúncias foram recorrentes na imprensa brasileira da época.

Contudo, a situação do NSDAP, dos cidadãos alemães e das comunidades teuto-brasileiras mudou radicalmente após a instalação do Estado Novo, em novembro de 1937. Governando como um autocrata, Getúlio Vargas outorgou uma Constituição nova e aboliu os partidos políticos no país, entre os quais o NSDAP. O desencadeamento da Campanha de Nacionalização, em 1938, o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, e a deterioração das relações diplomáticas entre Brasil e Alemanha transformaram alemães e teuto-brasileiros em nazistas, sendo considerados ameaças à segurança do país, especialmente, com base na retórica do “perigo alemão”. Nesse contexto, instituições de origem alemã, a exemplo da Igreja Luterana, foram perseguidas pelas autoridades públicas civis e militares, conforme mostra o capítulo escrito por Sergio Luiz Marlow.

A obra é encerrada com dois capítulos que abordam alguns dos reflexos da experiência nazista no Brasil, a partir do pós-guerra. O primeiro, escrito por Bruno Leal Pastor de Carvalho, examina a repercussão na imprensa brasileira dos casos de criminosos de guerra do Eixo descobertos no Brasil, a exemplo de Herberts Cukurs (1900-1965). Já o segundo, de autoria de René Gertz, discute as formas com as quais comunidades de origem alemã no Rio Grande do Sul procuraram superar a associação ao Nazismo e as perseguições sofridas durante a Campanha de Nacionalização e a Segunda Guerra Mundial. Segundo Gertz, a partir do pós-guerra, foi iniciada uma operação de produção de memórias que valorizaram as contribuições dos imigrantes alemães para o país e de tentativas de apurar e punir os abusos cometidos pelas autoridades públicas rio-grandenses durante o período.

Os efeitos do Nazismo e da Segunda Guerra Mundial afetaram de forma incisiva as comunidades teuto-brasileiras do Rio Grande do Sul. Nessas comunidades, a cicatrização das feridas abertas durante as décadas de 1930 e 1940 ocorreu ao longo da segunda metade do século passado, tendo na memória e na história dois dos seus meios.

Ao encerrar uma conferência denominada “O Fascismo eterno”, realizada nos Estados Unidos, em 1995, Umberto Eco (2018, p. 56-57) afirmou que, em nosso futuro, “desenha-se um populismo qualitativo de TV ou internet, no qual a resposta emocional de um grupo selecionado de cidadãos pode ser apresentada e aceita como a ‘voz do povo’”, como nas experiências históricas da Itália (Fascismo) e da Alemanha (Nazismo). No Brasil contemporâneo, os “salvadores da pátria”, o apelo à emoção e a hostilidade contra os intelectuais estão na ordem do dia, características estas que lembram os fascismos históricos.

Esta resenha não tem o objetivo de avaliar o risco do país em sofrer uma “fascistização”, embora o problema já faça parte do repertório de discussões acadêmicas em cursos universitários e periódicos, conforme sugere o artigo assinado por Eduardo Rebuá (2019). O livro Expressões do Nazismo no Brasil examina a experiência histórica do Nazismo em terras brasileiras durante a década de 1930 com inegável relevância historiográfica. Ademais, seus capítulos também contribuem para o entendimento do nosso tempo presente e os riscos que ele envolve. Afinal, como certa vez escreveu o historiador Caio Boschi (2004), estudamos a história para conhecer e transformar a vida, motivados pelas indagações e perplexidades do presente.

Referências

BOSCHI, Caio. História: por que e para quê? Nossa história, Rio de Janeiro, v. 1, n. 11, p. 98, set. 2004.

ECO, Umberto. O Fascismo eterno. Rio de Janeiro: Record, 2018.

EVANS, Richard J. Terceiro Reich na história e na memória: novas perspectivas sobre o nazismo, seu poder político, sua intrincada economia e seus efeitos na Alemanha do pós-guerra. São Paulo: Crítica, 2018.

REBUÁ, Eduardo. Fascistização no Brasil do tempo-de-agora. Le Monde Diplomatique Brasil, São Paulo, v. 12, n. 138, p. 22-23, jan. 2019.

ROLLEMBERG, Denise. Revoluções de direita na Europa do Entre-guerras: o Fascismo e o Nazismo. Estudos históricos, Rio de Janeiro, v. 30, n. 61, p. 355 – 378, maio/ago. 2017.

SCHURSTER, Karl. A construção do inimigo judeu: uma análise da obra de Jeffrey Herf. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 7, n.15, p. 256 – 261, maio/ago. 2015.

1 Doravante, identificado através da sigla NSDAP, do alemão Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei.

Wilson de Oliveira Neto Doutorando em Comunicação e Cultura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professor da Universidade da Região de Joinville (Univille). Joinville, SC – BRASIL. E-maio: wilson.o@univille.br.

História, memória e violência de Estado: tempo e justiça | Berber Bevernage

“Por que é tão difícil entender o passado assombroso e irrevogável na perspectiva da historiografia acadêmica e do pensamento histórico moderno ocidental em geral?” A pergunta que guia História, Memória e Violência de Estado: tempo e justiça, de Berber Bevernage (2018), pressupõe a angústia da incompletude e do inacabamento (MBEMBE, 2014), da indeterminação e instabilidade do objeto “tempo presente” (DELACROIX, 2018). O autor nos oferece um mergulho na história da crítica à noção de tempo construída pela modernidade para mostrar toda a sua potência e enraizamento enquanto engenhosa forma de “não ver” certos mundos, grandemente incorporada pela disciplina histórica. Por entre as brechas desse olhar pretensamente universal, América Latina e África emergem como que alçadas à categoria de experiências (i)morais – porque marcadas pela violência e injustiça –, da luta política que marca o século XXI periférico: o direito ao tempo.

Entre as referências mais conhecidas pelo universo acadêmico brasileiro dedicado à História do Tempo Presente e que constituem a base da argumentação de Tempo e Justiça estão o crítico literário alemão Hans Gumbrecht e o historiador francês François Hartog. Por caminhos diferentes, ambos chamam atenção para o crescimento ao longo do século XX de uma nova sensibilidade temporal marcada por uma assimétrica concentração na esfera de um presente repleto de simultaneidades (GUMBRECHT, 2014), demarcando a emergência de um novo “regime de historicidade” chamado presentista (HARTOG, 2013). No interior dessa discussão, o livro apresenta os anos de 1980 como período de evidência dos embates entre formas distintas de experienciar o tempo (com suas diferentes articulações entre passado, presente e futuro), expressas pelo desaparecimento da linguagem do esquecimento e da anistia do vocabulário político global. Leia Mais

A violência de gênero nos espaços do Direito: Narrativas sobre ensino e aplicação do direito em uma sociedade machista – SCHINKE (RTA)

SCHINKE, Vanessa Dorneles (Org.). A violência de gênero nos espaços do Direito: Narrativas sobre ensino e aplicação do direito em uma sociedade machista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017. 388 p. Resenha de: REIS, Jade. Relações de Gênero nos espaços do Direito: experiências compartilhadas. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v.11, n.27, p.523-529, maio/ago., 2019.

Diversos relatos de mulheres advogadas sobre o seu ofício diário mostram que durante sua trajetória jurídica lhes são apresentados empecilhos e violências simbólicas que envolvem as relações de gênero. Não coincidentemente, a coletânea de artigos organizada pela professora e doutora em Direito Vanessa Dorneles Schinke, objeto desta resenha, aborda experiências de mulheres da área do Direito, em carreiras absolutamente marcadas pelos estereótipos historicamente construídos nas relações de gênero.

O livro, lançado no ano de 2017, é dividido em três partes, sendo a primeira delas o “Prelúdio”, na qual estudantes de Direito narram suas trajetórias e experiências da vida universitária, bem como expressam as relações complexas de poder que permeiam estes espaços. O exercício de questionar e historicizar a situação das mulheres está presente nesta parte, assim como em todo o livro, bem como o de refletir sobre o papel de educadoras e operadoras do Direito em uma sociedade machista. Para as autoras, partindo da perspectiva de que, por muito tempo, este campo científico foi essencialmente masculino em termos de representatividade, e tendo em vista a luta das mulheres pela democratização do ensino superior e do mercado de trabalho, sua presença nestes espaços e no espaço público de maneira geral, estudando, profissionalizando-se, adentrando carreiras e cargos públicos, se apresenta como um avanço no que se refere ao árduo processo de ocupação dos espaços considerados pela norma patriarcal como “masculinos”.

A segunda parte, intitulada “Andante”, conta com doze artigos escritos por professoras, estudantes de graduação, pós-graduação e operadoras do Direito. Esta tem como foco temático questões que, como afirmam, não encontram espaço na circulação acadêmica do campo do Direito, mas fazem parte das experiências e cotidianos destas mulheres no âmbito universitário, como, por exemplo, nas salas de aula e instâncias politicamente deliberativas do meio universitário. As autoras buscam, por meio da narrativa de suas experiências, problematizar a naturalização de práticas violentas e machistas no ensino do Direito.

Segundo estas autoras, a condição de gênero expressa nas relações sociais no campo do ensino do Direito é definida historicamente a partir da socialização e das definições impostas pela sociedade patriarcal, gerando assim o problema da ausência de reconhecimento e a descrença no seu potencial de desenvolvimento na área jurídica. Roberta Baggio, professora do curso de Direito da UFRGS relatou em seu artigo que, na banca de um concurso público que prestou, ouviu de um membro a seguinte frase “como pode você ser mulher e ter um currículo com tantas experiências acadêmicas ao mesmo tempo?” (BAGGIO, 2017, p. 66), demonstrando assim o grau de incapacitação destinado às mulheres em suas avaliações de emprego, o que é por vezes um fator determinante em suas trajetórias profissionais. A autora afirma que na medida em que o ensino do Direito contribui para tais práticas, formam-se juristas que naturalizam as violências de gênero, culpabilizam e responsabilizam as mulheres pela cultura machista em casos de opressão.

As violências físicas e simbólicas existentes nos “trotes” nos cursos de Direito são, também, tema de abordagem nesta parte do livro. Violências estas que, muitas vezes advindas dos professores, envolvem provocações e incitações machistas, homofóbicas, transfóbicas e racistas, nas quais os corpos femininos são objetificados. Estudantes e professoras se organizam em ações contra os episódios de extremo machismo e preconceitos na universidade através de cartas de repúdio, escrachos, atos e movimentações, criação de coletivos e meios de solidariedade e articulações via internet e redes sociais. No entanto, denunciam as poucas oportunidades de debater gênero e violência nos cursos de Direito, bem como nos demais cursos de graduação e pós-graduação. A pesquisa realizada pela advogada Luana Pereira com estudantes da faculdade de Direito da UFRGS revela que 69% destas afirmaram já ter sido vítimas de práticas machistas na academia, 52% afirmaram ter passado por situações de assédio moral e 19,4% assédio sexual (PEREIRA, 2017, p. 94). Muitos dos casos de extrema violência de gênero que ocorrem nestes espaços têm repercussão em nível público, atingindo assim um maior número de mulheres, formando uma rede de sociabilidades e luta contra tais práticas. Todavia, o silenciamento dos assédios continua sendo uma realidade para as mulheres, professoras, estudantes e funcionárias técnicas e terceirizadas. Segundo a advogada Alice Abelar, na PUCRS, dentre 126 professores de graduação, 26% são mulheres. Apenas 20% na Pós-graduação em Direito e 10% na Pós-graduação em Ciências Criminais. Estes dados evidenciam a dificuldade do acesso das mulheres ao cargo de professora universitária, enquanto que não há discussão e questionamento sobre o assunto que não sejam impulsionados pelas mulheres, e daí a importância de sua representatividade.

A partir da leitura da obra é possível observar que entre as décadas de 1970 e 1990, com a crescente expansão das universidades, as mulheres passam a ter maior expressão neste campo, ainda que com as demarcações de classe e raça. Problematizar a violência de gênero nestes espaços deve considerar a gritante ausência de mulheres negras, indígenas e deficientes no ensino superior, que tem se democratizado processualmente a partir das lutas dos Movimentos Sociais e dos incentivos governamentais, como, por exemplo, a Lei n.º 12.711 de 2012 (Lei de Cotas).

O machismo dentro da militância do movimento estudantil também é apontado pelas autoras, na medida em que os estudantes homens ocupam cargos de representatividade, interrompem as falas de companheiras do movimento, não levam em consideração suas boas ideias, considerando-as apenas auxiliares de determinadas funções dentro das organizações.

As mulheres encontram-se em árduo combate político na academia, espaço que durante muito tempo fora homogeneizado pela presença masculina. Por isso a importância dada às professoras e militantes deste espaço na construção de diferentes futuros para estas mulheres. A terceira parte da coletânea, intitulada “Adagio”, reúne o total de onze artigos que apresentam criticamente a disputa de gênero no interior do judiciário, no qual a presença das violências simbólicas se destaca sobremaneira. Nesta parte da obra em questão, são narrados diversos casos que apresentam a naturalização e o descaso com as violências de gênero expressas no campo.

Marta Machado e Fernanda Matsuda, em seu estudo sobre a representação das mulheres nos processos judiciais no Sistema de Justiça Criminal, apontam que o discurso sobre as mulheres apresenta figuras dicotômicas idealizadas de mulher, sendo a “boa mulher” de família, boa esposa, dedicada, trabalhadeira, e a “mulher desafiadora, festeira, nervosa” (MACHADO e MATSUDA, 2017, p. 196), enquanto que os homens são sempre representados como pais de família, honestos e trabalhadores. As violências cometidas por estes, segundo as autoras, são rotineiramente justificadas nas salas de audiência pelo “mau comportamento” das mulheres, e apontadas como comportamento isolado dos homens. Estas demarcações interferem sobremaneira nos desfechos processuais das ações, legitimando, por vezes, danos irreparáveis às vidas de mulheres que são vítimas das violências de gênero, raça, etnicidade e demais preconceitos.

Segundo as autoras, os órgãos do Sistema Judiciário não reconhecem tais violências, e portanto não incidem os dispositivos legais específicos para os respectivos casos. Neste sentido, percebemos a desigualdade de gênero do exercício de poder nas instâncias do Judiciário brasileiro, o que está expresso, também, na baixa representatividade das mulheres nas esferas de decisão das organizações jurídicas, igualmente abordadas nesta parte do livro. Da mesma forma, ocorre nos escritórios de advocacia, nos quais a pesquisadora Patrícia Bertolin observou alto número de evasão de mulheres, ainda que nas entrevistas realizadas com os advogados homens que trabalham nestes espaços tenha sido frequente a negação de qualquer tipo de discriminação de gênero. A maternidade nesta profissão parece ser um dos principais problemas aparentes que obstacularizam a ascensão das mulheres no meio, como um “problema a ser resolvido”. Nesse sentido, é consenso entre as autoras que a advocacia é uma profissão que vem se femilinizando, mas ainda nos padrões machistas excludentes, obrigando as mulheres a afirmar e provar o tempo todo sua competência e eficiência profissional.

O livro “A violência de gênero nos espaços do Direito” é uma obra sobre experiências cotidianas. Um manifesto de mulheres feministas. Mulheres que lutam pela igualdade e promoção de direitos. Trata-se de pesquisadoras guiadas pela epistemologia feminista, que buscam problematizar seus posicionamentos e lugares de fala de forma interseccional, considerando os diferentes tipos de opressão decorrentes dos diversos marcadores sociais historicamente constituídos em nossa sociedade. Suas narrativas expressam uma série de subjetividades, com as quais se identificam o tempo todo as mulheres que as leem. Estas narrativas, como afirmam diversas vezes as autoras, saem da posição estritamente acadêmica, na medida em que tratam de experiências de mulheres que vivenciam as violências e demarcações de gênero não apenas nos espaços do Direito, mas na sociedade como um todo. A pesquisadora e organizadora da obra, Vanessa Dorneles Schinke, apontou ao encerrar as discussões realizadas no livro: “Aqui não há linha clara entre sujeito e objeto, empiria e teoria. O resultado é uma complexa composição que se retroalimenta da colaboração entre diversas pessoas – verbais e de carne e osso” (SCHINKE, 2017, p. 367) São diversos os arcabouços teóricos sobre Relações de Gênero e Teoria Feminista, específicos de cada temática abordada, utilizados nos 23 artigos que compõem a obra. Dentre eles, estão os que possibilitam articular as categorias como gênero e poder, através dos escritos de Michel Foucault e Joann Scott, por exemplo, gênero, raça e interseccionalidade, através dos estudos das teóricas Kimberlé Crenshaw e Helena Hirata, por exemplo, gênero e classe social, utilizando como referencial teórico os escritos da socióloga Heleieth Saffioti, dentre outras. Bem como referenciais teóricos clássicos dos estudos de gênero, como Simone de Beauvoir, Judith Butler e Bell Hooks, por exemplo. As autoras partem, em comum, da já mencionada epistemologia feminista, na medida em que têm como proposta a mudança do paradigma referencial das experiências compartilhadas pelos sujeitos e abordadas nas pesquisas científicas. A lógica da narrativa de suas experiências vivenciadas no campo alinha-se na epistemologia feminista, na medida em que justamente descola a figura masculina como detentora principal das discussões acerca das relações no meio jurídico.

A universidade e os demais campos do Judiciário são entendidos por estas pesquisadoras como espaços privilegiados da reprodução de uma cultura machista e sexista, mas são também expressos como espaços de luta e resistência de mulheres pela democratização dos espaços do Direito.

Jade Liz Almeida dos Reis – Mestranda em História na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Florianópolis, SC – BRASIL. E-mail: jjadeliz@gmail.com.

O palácio da memória – DIMEO (Topoi)

DiMEO, Nate. O palácio da memória. Galindo, Caetano W.. 1. edição. São Paulo: Todavia, 2017. 256 pp. Resenha de: SANTOS. O palácio da memória, ou: da arte de contar histórias. Topoi v.20 n.41 Rio de Janeiro May/Aug. 2019.

O palácio da memória, de Nate DiMeo (Todavia, 2017), pode ser descrito como uma obra de caráter transdisciplinar, no âmbito acadêmico-escolar – como leitura obrigatória em aulas relacionadas à História e/ou ao Ensino de História, bem como à escrita ou processos de escrita, tanto no ensino superior como na educação básica – e para além dele – como uma leitura não obrigatória, selecionada sem uma finalidade pedagógica específica.

O fato de se enquadrar de modo peculiar nesses dois espaços formativos que muitas vezes parecem tão distantes um do outro (o acadêmico-escolar, com suas normas e saberes sistematizados, e o do cotidiano, que não estabelece uma rotina tão rígida e apresenta outra relação com os saberes, na sua transmissão e recepção) possibilita ao livro de DiMeo algo que poucas obras conseguem: articular o saber histórico formal com o saber histórico do dia a dia.

Seja para amantes da História ou de histórias, O palácio da memória traz registros históricos contundentes, utilizando uma narrativa autoral que faz da leitura uma experiência no mínimo singular e recomendável.

Nate DiMeo, natural de Providence, em Rhode Island, nos Estados Unidos, é um ex-músico que trabalhou como repórter de rádio por mais de dez décadas, segundo relata Fernanda Ezabella (2017), que realizou uma entrevista com o autor antes de a obra chegar às livrarias brasileiras.1 Nessa entrevista ele explica seu interesse por temas relacionados ao século XIX, ou, mais especificamente, aos anos entre 1880 e 1920, período em que “a vida moderna estava sendo inventada”, como afirma.

É diante do excesso de informação de nossa cultura contemporânea – descrito desde a primeira metade do século passado por Walter Benjamin,2 salientado por Ítalo Calvino3 na metade da década de 1980 e também por Georges Balandier4 no final daquela época – que DiMeo encontra seus personagens e constrói (ou tenta reconstruir, a partir da perspectiva histórica) suas histórias. Diante desse excesso algo sempre surge lhe chamando a atenção, fazendo-o voltar posteriormente para checar a veracidade e pesquisar em museus e arquivos de jornais, para em seguida pensar sobre a forma de contar mais uma de suas histórias.

O que impressiona em seu trabalho, realizado desde 2008, quando estreou o podcast “The Memory Palace”,5 é a sua capacidade de contar histórias e de demonstrar suas potencialidades, bem como a força dessa prática por vezes tão esquecida em nossa era digital-informativa, em que muitas vezes a multiplicidade midiática retira nosso tempo de reflexão sobre determinado conteúdo, nos privando da “riqueza de significados possíveis”, como expressou Ítalo Calvino, pois a superabundância de imagens e de informações muitas vezes “se dissolve imediatamente como os sonhos que não deixam traços na memória”.6

Mas é da adversidade que conseguimos enxergar e criar alternativas, como analisa Marcelo Yuka.7 Nesse sentido, Nate utiliza desse excesso de informação para pegar aquilo que lhe toca e trabalhar em cima do que foi selecionado com a prudência e o cuidado de um historiador de ofício, dando o seu devido tempo e atenção. Desse modo, ele consegue deixar muitos traços das memórias que narra em nossas mentes-corpos – uma vez que estes são elementos indissociáveis de nossa percepção sensorial do mundo -, nos atingindo física e emocionalmente diante de seus relatos.

Se Georges Balandier (1999) ressaltava sobre o processo de banalização e de sobrecarga do imaginário social por meio da constante repetição de imagens e informações sem uma orientação crítica de seus usos, temos em O palácio da memória uma experiência muito diferente. Experiência, a propósito do ato de narrar, de contar histórias surpreendentes, que Walter Benjamim afirmava, em 1936, ser uma arte em vias de extinção.8 Segundo o filósofo alemão:

São cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente. É cada vez mais frequente que, quando o desejo de ouvir uma história é manifestado, o embaraço se generalize. É como se estivéssemos sendo privados de uma faculdade que nos parecia totalmente segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências.9

Essa crise no ato de contar histórias, de intercambiar experiências significativas, é justificada por Benjamin ao afirmar que os fatos reportados em sua época, vindos de todas as partes do mundo, não favoreciam a narrativa – a experiência da narrativa -, pois vinham impregnados de explicações sem a necessidade da escuta atenta e sensível, do processo de efetuar relações e de refletir sobre o ocorrido; em contrapartida, isso favorecia o excesso de informação, que ainda hoje é um dos temas mais abordados por pesquisadores em diferentes áreas e campos do saber, como História, Educação, Sociologia, Comunicação, Mídia, Filosofia, Cinema, entre outros.

E por que a leitura de O palácio da memória é uma experiência narrativa diferenciada? Justamente porque Nate DiMeo consegue manifestar nosso desejo de ler/ouvir histórias, servindo como antídoto a todo o excedente informativo que permeia nossos dispositivos móveis e nossas vidas. Não obstante, ele demonstra que a História, deveras considerada um peso sem significado aparente na vida de muitos jovens estudantes, pode sim ser mais atrativa e carregada dos mais diversos significados.

Este é outro grande mérito desse artista estadunidense, de nos instigar -professores/formadores da educação básica ou do ensino superior – a rever nossos métodos e nossas próprias práticas pedagógicas, a ponto de podermos utilizar O palácio da memória em nossas aulas como um ponto de partida, um meio para elaborar novas possibilidades de ensino, de envolver nossos alunos com os conteúdos curriculares prescritos institucionalmente.

Não há outro meio de se conhecer mais a História e seus acontecimentos se não mergulhando naquilo que ela tem a nos oferecer. DiMeo faz isso, ele mergulha nas histórias que nos conta de modo a se aproximar das práticas relativas aos historiadores que atuam no campo da História Oral, contribuindo nesse terreno do “estudo da subjetividade e das representações do passado tomados como dados objetivos, capazes de incidir (de agir, portanto), sobre a realidade e sobre nosso entendimento do passado”, como sintetiza Verena Alberti10 a respeito dessa metodologia e abordagem historiográfica.

Essa aproximação com a História Oral está presente ao longo de toda obra, quando Nate toma como protagonistas de muitas de suas histórias sujeitos/personagens “comuns”, de “carne e osso” como todos nós, que não fazem parte daquela História seletiva e oficial – ou por muito tempo oficializada – que costumamos aprender nos bancos escolares, mas que, de acordo com Lucília Delgado,11 “anônima ou publicamente deixam sua marca, visível ou invisível, no tempo em que vivem, no cotidiano de seus paí ses e também na história da humanidade”.

Há também algumas grandes figuras conhecidas da História, sobretudo da história estadunidense, onde se passam as narrativas; mas nem por isso perdem seu valor, pois, quando contextualizados com a história social e coletiva da humanidade, conseguimos identificar sua importância e até mesmo relacionar a equivalentes de nossa própria esfera sociocultural.

Alguns desses nomes são de indivíduos que se consagraram em seus respectivos campos de atuação. Todavia, não se busca enaltecer e divinizar, nem tampouco condenar e demonizar tais sujeitos. Suas histórias são transcritas a partir de um contexto histórico-cultural maior, no qual o que importa, no fim das contas, não é reconhecer aqueles considerados e tratados como protagonistas, e sim ter consciência de que a história contada, por si só, teve (e, de certa maneira, continua tendo) uma relevância suficientemente expressiva em determinado tempo e espaço onde elas aconteceram – na verdade para além disso, uma vez que muitas delas cruzaram oceanos e continentes, inscrevendo-se na narrativa da história humana.

O palácio da memória está estruturado em 50 breves narrativas que abordam desde as desventuras de Samuel Finley Breese Morse – que, após perder a esposa e sequer conseguir estar presente ao seu funeral, “passou os quarenta e cinco anos seguintes inventando o telégrafo. […] E desenvolvendo o código Morse” (Distância, p. 9-10), na tentativa de que mais ninguém passasse por aquilo que ele viveu -, ao dia em que muitos nova-iorquinos quase enlouqueceram quando em uma manhã de novembro de 1874 uma alarmante notícia – inventada e publicada pelo jornal New York Herald – trouxe à tona muitos “monstros imaginários”, dando uma lição “que vale a pena recordar de vez em quando” (Enlouquecidos, p. 245-248), sobretudo diante de uma época em que as fake news estão ganhando cada vez mais destaque.

Entre as duas histórias, há muitas outras que emocionam, que chocam, que nos atingem de modo peculiar, nos fazendo pensar sobre o ocorrido ou sobre situações semelhantes que aconteceram também em tempos remotos e em outros lugares, distintos daquele que DiMeo descreve, ou que aconteceram recentemente; ou que acontecem ainda hoje, perto de nós, às vezes conosco, nessa sociedade em que muitos governos gostam de se autoproclamar democráticos, ainda que a democracia seja conhecida por poucos e distante de muitos.

Dentre alguns desses casos, que podem se relacionar de uma forma ou de outra, podemos trazer como exemplo o caso dos meninos de 9 anos que morriam simplesmente por serem crianças e por efetuarem um trabalho perigoso demais (Nipper, p. 17-18). De Minik Wallace, um inuíte de 7 anos de idade que vivia em um pequeno vilarejo na Groenlândia e viu o pai e outros conterrâneos morrerem quando saíram pela primeira vez de seu lugar de origem, convencidos por homens brancos a partirem para a cidade de Nova York, onde foram apresentados como artefatos e atração exótica, e que seriam estudados por cientistas do Museu de História Natural. Após a morte do pai, ele quis realizar um enterro conforme as tradições de sua cultura, descobrindo anos depois que fizera uma cerimônia sagrada inuíte para um saco de pedras, pois o corpo do pai havia sido mantido no museu, onde cientistas o dissecaram, fizeram estudos com o cérebro e deixaram os ossos em exposição (Algumas palavras para os responsáveis, p. 44-47). Das cobaias utilizadas durante o período da corrida espacial entre os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (Cobaias, p. 103-105). De James Powell e sua mãe, bem como de Odessa Bradford, de Perfecto Bandalan, de Eugene Williams, de Robert Bandy e de outros afro-americanos ou imigrantes esquecidos (Esquecemos, p. 120-122). Da coragem de amar de Charlie Zulu e Anita Corsini (Zulu Charlie Romeu, p. 150-155). Da trágica história de Lucy Bakewell (Um pintor na paisagem, p. 173-181). Do filhote de leão capturado no deserto da Núbia para ser transformado numa das mais conhecidas imagens do cinema – ainda que a imagem não descreva as situações pelas quais ele teve que passar (Vulgo: Leo, p. 198-202). Do simbolismo para a comunidade LGBT do White Horse, o mais antigo bar gay dos Estados Unidos (Um cavalo branco, p. 206-210). Das 77 pessoas que se tornaram mais de 8 mil, numa jornada de 500 quilômetros, na busca dos trabalhadores do campo pelo direito de se organizarem em sindicatos para que pudessem exigir dignidade humana (Peregrinar, p. 233-237). Entre tantas outras…

São histórias inspiradoras que nos levam a rever o momento presente por outra perspectiva, a repensar certos conceitos e a valorizar as potencialidades contidas nas ações humanas, sejam elas realizadas por grandes nomes ou por desconhecidos/as, pessoas que se inscrevem na e escrevem a História, tanto quanto aqueles a quem os livros oficiais mais costumam demarcar como os nomes a serem lembrados (ou, como muitas vezes acontece, decorados) para a realização de uma prova, para a escrita de uma redação ou para a encenação de uma peça teatral escolar.

Nesse contexto, O palácio da memória insere-se como uma importante e necessária ferramenta educativa, ao desmistificar acontecimentos históricos e ao contribuir, no âmbito historiográfico, a dar “inteligibilidade ao vivido e ao narrado”, como destaca Carla Rodeghero.12

O principal ponto de ligação do trabalho de Nate DiMeo com a História Oral se dá por ele trabalhar com memórias, o que Alessandro Portelli13 destaca – neste trabalho entre a História Oral e a Memória – como um “campo de possibilidades compartilhadas, reais ou imaginárias” (1996, p. 72), ajudando-nos a compreender cada fragmento (cada pessoa, cada ação) desse mosaico que compõe a sociedade humana.

“Dizem que a memória pode ser um parque de diversões estranho e tortuoso, cheio de viagens em montanha-russa e salas de espelhos deformadores”, recorda o cineasta Michael Moore.14 Nesse parque de diversões que ilustra a memória, a força narrativa presente nos casos que DiMeo menciona nos prende na leitura do livro (ou na audição dos podcasts) de modo bastante satisfatório; como se ganhássemos as entradas para uma diversão previamente garantida – diversão que não se traduz somente em entretenimento, mas que faz pensar para além do habitual, promovendo reflexão.

Destarte, esse é o tipo de obra que eu recomendaria para os historiadores de ofício, profissionais, acadêmicos e para aqueles que não são, porém apreciam uma boa narrativa literária e gostam de ler/ouvir histórias. “Tudo que dizemos tem um ‘antes’ e um ‘depois’ – uma ‘margem’ na qual outras pessoas podem escrever”, acentuou Stuart Hall.15 Essa margem é onde Nate se ancora, utilizando-a com esmero.

Gostaria de finalizar este texto destacando duas questões: primeiro, parabenizar a editora Todavia pela publicação. Olhando em perspectiva, do ponto de vista qualitativo e deixando de lado os dados referentes ao número de exemplares vendidos – que no mercado editorial muitas vezes equivale a dizer se a obra foi ou está sendo um sucesso ou um fracasso -, posso afirmar que essa foi uma aposta significativa, pois permite que diferentes indivíduos (historiadores em formação, profissionais e leigos da área) reconheçam o valor contido nas histórias e no ato de narrar, na experiência que ela possibilita, naquele que talvez seja, como descreve Caetano W. Galindo ao final do livro, “o maior de todos os mecanismos de geração de empatia, de interesse, de comunidade e compaixão. Histórias. Narrativas” (p. 252).

Em segundo lugar, e não menos importante, convém destacar o trabalho de Caetano W. Galindo, responsável por traduzir a obra direto do áudio e apresentar o trabalho aos editores da Todavia. Até o momento, ela está em sua primeira edição impressa em nível mundial – nem em seu país de origem ela foi publicada, pois segundo DiMeo, na entrevista a Fernanda Ezabella mencionada no início do texto, os editores que lhe procuram têm interesse em um livro temático, enquanto ele prefere o formato curto de suas histórias, como faz em seu podcast.

Nate DiMeo, esse colecionador de memórias,16 vai encontrando novos fatos e personagens históricos para continuar compondo seu palácio da memória, compartilhando conosco os feitos de pessoas extraordinárias em tempos conturbados. Até o momento, o último podcast, o do episódio 144, foi publicado no dia 21 de junho de 2019. Se considerarmos que Nate continua realizando seu trabalho e que a edição da obra impressa reúne 50 de suas histórias, ainda há um bom número de casos a serem trabalhados e, quem sabe, publicados em edições futuras. Que as portas do palácio se mantenham abertas para nós!

1 EZABELLA, Fernanda. Ex-repórter de rádio, Nate Dimeo cria podcast que vai virar livro no Brasil. Folha, Los Angeles, 30 de julho de 2017. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2017/08/1904465-ex-reporter-de-radio-nate-dimeo-cria-podcast-que-vai-virar-livro-no-brasil.shtml. Acesso em: abril 2018.

2 BENJAMIN, WalterMagia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 2012. (Obras Escolhidas, v. 1)

3 CALVINO, ItaloSeis propostas para o próximo milênio: lições americanas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

4 BALANDIER, GeorgesO dédalo: para finalizar o século XX. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

5Que pode ser conferido em: http://thememorypalace.us/.

6 CALVINO, ItaloSeis propostas para o próximo milênio: lições americanas. op. cit. p. 73.

7 YUKA, Marcelo. Sua relação especial com o corpo. TEDxSudeste, 30 out. 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=WLlN_Xf4CFk. Acesso em: abril 2018.

8É importante situar que o contexto histórico em que Benjamin escreve sobre experiência é o do perío do entre guerras (Primeira e Segunda Guerra Mundial), quando os soldados voltavam dos campos de batalhas sem conseguir narrar sobre o que acontecera, afetando-os de modo permanente.

9 BENJAMIN, WalterMagia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura, op. cit., p. 213.

10 ALBERTI, Verena. O lugar da história oral: o fascínio do vivido e as possibilidades de pesquisa. In: ALBERTI, Verena. Ouvir contar: textos em história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. p. 13-43. p. 10.

11 DELGADO, Lucília de Almeida Neves. Memória e história: multiplicidade e singularidade na construção do documento oral. Cadernos CERU, série 2, n. 12, p. 23-30, 2001. p. 24. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ceru/article/view/75083/78649. Acesso em: março 2018.

12 RODEGHERO, Carla Simone. História oral e história recente do Brasil: desafios para a pesquisa e para o ensino. In: RODEGHERO, Carla Simone; GRINBERG, Lúcia; FROTSCHER, Méri (Orgs.). História oral e práticas educacionais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016. p. 61-84. p. 80.

13 PORTELLI, Alessandro. A filosofia e os fatos. Narração, interpretação e significado nas memórias e nas fontes orais. Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 59-72, 1996.

14 MOORE, MichaelAdoro problemas: histórias da minha vida. São Paulo: Lua de Papel, 2011.

15 HALL, StuartA identidade cultural na pós-modernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 41.

16Como a revista Piauí o retratou na edição 129, de junho de 2017, na seção Vozes da América.

Referências

ALBERTI, Verena. O lugar da história oral: o fascínio do vivido e as possibilidades de pesquisa. In: ALBERTI, Verena. Ouvir contar: textos em história oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. p. 13-43. [ Links ]

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HALL, Stuart. A identidade cultural na pósmodernidade. 10. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. [ Links ]

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José Douglas Alves dos Santos – Doutorando da Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Ciências da Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, Florianópolis/SC – Brasil. E-mail: jdneo@hotmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7263-4657.

Entre a religião e a política: Eurípedes e a Guerra do Peloponeso – MOERBECK (Topoi)

MOERBECK, Guilherme. Entre a religião e a política: Eurípedes e a Guerra do Peloponeso. Curitiba: Prismas, 2017. Resenha de: SILVA, Uiran Gebara. Conflito social, política e culto na Atenas de Eurípedes. Topoi v.20 n.41 Rio de Janeiro May/Aug. 2019.

O livro Entre a religião e a política: Eurípedes e a Guerra do Peloponeso é um importante trabalho sobre a relação da tragédia com a dimensão política e religiosa da sociedade ateniense do V a.C. Há no Brasil uma grande quantidade de estudos dedicados à poética da tragédia, mas poucos voltados para a investigação histórica por meio das tragédias, não sendo incomum que muitos dos estudantes só possam recorrer ao clássico conjunto de estudos sobre essa intersecção de Jean Pierre Venant e Pierre Vidal-Naquet.1 O autor do livro, Guilherme Moerbeck, já tem um conjunto respeitável de estudos que lida com a intersecção entre política e tragédia na Grécia Antiga. Esse conjunto de investigações se expressa em vários artigos e no livro Guerra, política e tragédia na Atenas Clássica.2 Enquanto no trabalho anterior o propósito foi perseguir a hipótese de que a relação entre política, guerra e a tragédia seria mais bem compreendida por meio da noção de “gerações”, nesta nova obra há um estudo mais interessado em Eurípedes, que põe no centro de suas preocupações a hipótese de que a dinâmica da participação política em Atenas no século V a.C. pode ser entendida como a configuração de um campo político, noção tomada de Pierre Bourdieu.

Para desenvolver essa ideia, na primeira parte do livro Moerbeck articula de maneira bastante competente uma série de questões teóricas. No primeiro capítulo, “Poder simbólico e habitus: aproximações teóricas para a análise das tragédias nas Grandes Dioni síacas”, o autor apresenta e delimita o emprego que faz da teoria dos campos (pensando a distribuição de bens simbólicos, distinções sociais e poder simbólico) e da noção de habitus (produção e reprodução e práticas no interior dos campos), ambas de Bourdieu. Seu ponto de partida é o teatro ateniense como uma prática engastada ou incrustada (seguindo a terminologia de Moses Finley), isto é, uma prática social integrada em outras práticas sociais. Como o teatro está incrustrado tanto na política quanto na religião, no segundo capítulo, “Espaço, ritual e performance na cidade das Grandes Dionisíacas”, o autor busca, por um lado, compreender a dimensão ritual do teatro em sua espacialidade na cidade de Atenas na sua relação com o festival das Grandes Dionisíacas, e, por outro, apreender as conexões com o desenvolvimento das práticas políticas atenienses entre a sua constituição democrática e sua vocação imperial. Isso resulta em intuições significativas no que diz respeito à hipótese da formação de um campo político (e talvez até mesmo de um campo artístico, associado) na Atenas do século V a.C. e ao papel do conflito social como elemento constitutivo da formação desse campo. A contraparte dessa perspectiva atenta à existência integrada das práticas sociais está nas dificuldades oferecidas pelas práticas religiosas na Antiguidade para com as interpretações modernas. O instrumental intelectual desencantado da modernidade3 tem muita dificuldade em compreender adequadamente o lugar do conflito dentro das práticas religiosas (em geral pensadas como homogeneizantes), em lidar com o grau de integração da religião com outras práticas sociais, e em pensar a força do religioso em relação ao político.

Na segunda parte do livro, Moerbeck analisa de modo sistemático duas tragédias de Eurípedes, As suplicantes e As fenícias. Aqui, ao se observar a relação do teatro ora com o campo político, ora com as práticas religiosas (um campo? O autor não o articula nesses termos), aquelas dificuldades se fazem presentes. No terceiro capítulo, “Política, posição social e guerra em As suplicantes de Eurípedes”, o autor demonstra como a recriação de Eurípedes do episódio mítico em que Teseu interfere no ciclo tebano se articula com temáticas políticas e religiosas prementes para a Atenas do V a.C. Do ponto de vista das relações da tragédia com a política, a interferência remete ao próprio debate ateniense sobre a guerra contra a Liga do Peloponeso, ainda em sua primeira fase. Aqui Moerbeck dá destaque aos significados da representação dramática do caráter democrático do governo de Teseu, com especial destaque para a configuração de um discurso de oposição à tirania e para a elaboração da voz do camponês como o representante do bom senso do conjunto dos cidadãos. Já ao observar a relação da tragédia com as práticas religiosas, a análise de Moerbeck adentra o território dos costumes enraizados em um passado distante, o pressuposto religioso por trás do tabu desrespeitado por Creonte ao não permitir o sepultamento devido dos invasores mortos no conflito entre Etéocles e Polinices. Há um conflito de contornos religiosos servindo de motivação para a ação de Atenas em Tebas, uma vez que o estatuto de Atenas e seu rei como responsáveis por zelar por esse costume na Ática é um dos elementos que entram no debate na assembleia presente na tragédia

Já no quarto capítulo, “Ambição, poder e política em As fenícias”, a tragédia que é analisada tem como conteúdo mítico episódios cronologicamente anteriores, mas foi composta posteriormente a As suplicantes. Aqui, Moerbeck reflete sobre como o conflito aristocrático entre Polinices e Etéocles, nela representado, também pode ser articulado com temáticas políticas e religiosas associadas a uma fase tardia da Guerra do Peloponeso. Por um lado, o das conexões com as temáticas políticas, o debate sobre a rotatividade de governantes e a invasão de Tebas por estrangeiros é remetido aos conflitos entre os legisladores e estrategos atenienses da última década do século V, com um papel de destaque para Alcebíades. Essa operação ilumina a dimensão sofística e demagógica dos discursos de Etéocles em favor da tirania na tragédia. Por outro, no que diz respeito às relações da tragédia com as práticas religiosas, o contexto de guerra e o imperialismo ateniense colocam em relevo os vários juramentos quebrados em As fenícias, que Moerbeck remete à problemática da recente destruição de Melos pelos atenienses e a justificativa do poder pelo poder.

Ao abordar nesses dois últimos capítulos a articulação entre esses três conjuntos de práticas sociais, Moerbeck se preocupa em não reduzir uma coisa à outra, buscando integrar da melhor maneira possível tanto as posições de Julian Gallego4 quanto as de Christiane Sorvinou-Inwood.5 O resultado da sua investigação não é transformar a tragédia em metáfora da política, nem reduzi-la a uma forma racionalizada de rituais dionisíacos, mas mostrar como essa tríplice articulação permite ver a formação do campo político em Atenas. E, por isso, o conflito social tem um papel muito importante na sua economia argumentativa. É, porém, exatamente essa centralidade do conflito social que nos reenvia às previamente mencionadas dificuldades da interpretação moderna no que tange às práticas religiosas.

Quando se trata de analisar o conflito social em termos políticos, as ciências humanas têm um instrumental teórico bastante apurado. A História, em particular, uma vez que a observação do conflito social sempre está associada às temáticas da permanência e da transformação de uma sociedade. Na investigação de Guilherme Moerbeck o conflito social com contornos políticos é, sem nenhuma surpresa, definido de várias maneiras em relação às cidades, à polis: há conflito dentro das cidades, fora das cidades, entre cidades. Nesse sentido, na análise de Moerbeck das relações entre o teatro e o campo político em formação, adentra-se numa esfera de observações que a hermenêutica moderna tende a ver como mais dinâmico no que diz respeito à observação dos conflitos sociais. Enquanto o autor busca resguardar a autonomia relativa da prática dramática, há também um esforço de interpretação da relação e do desvelamento das conexões com o conflito. Há uma dificuldade de fundo que se apresenta a interpretações desse tipo, que é o estatuto do mito recriado em cada tragédia específica, de modo que a investigação pode resultar em leituras redutoras que tratam o mito como metáfora ou alegoria do conflito social, da história. A solução de Moerbeck é pensar a própria historicidade da produção do mito (recusando tacitamente visões unitaristas do mito), preocupando-se em incluir na sua análise a diversidade de interpretações concorrentes e as reescritas do mito. Isto é feito por meio da análise tanto intra quanto extradiscursiva das duas tragédias de Eurípedes, principalmente no que diz respeito à observação dos contextos de encenação e as ambiguidades do conceito de performance (e suas implicações em termos de reprodução e criação do mito e das próprias tragédias). Assim, o conflito não é encontrado na metáfora, mas no contrapelo do texto.

A relação do teatro com as práticas religiosas cria dificuldades diferentes, pois, como já dissemos, aquela hermenêutica moderna configura o religioso como um campo mais estático: os ritos são primariamente pensados como tradição e permanência (uma derivação teórica persistente da atenção durkheimiana para com a coesão social). Aqui o risco é a redução do teatro à alegoria moral do costume tradicional, agora como rito que encena o costume. Nesse contexto interpretativo, a associação das tragédias de Eurípedes com uma moralidade pan-helênica pode levar a uma visão a-histórica dessa moralidade, ou tornar certas passagens incompreensíveis, como é o caso da nossa dificuldade em decifrar o sentido do ritual que leva ao sacrifício de Meneceu. A solução de Moerbeck é novamente pensar a produção histórica dos fenômenos, isto é, historicizar o rito.6 O tratamento dado pelo autor à dimensão espacial da produção e reprodução das relações sociais das Grandes Dionisíacas na Atenas do século V a.C. tem como resultado explicitar a interpenetração do político, do econômico e do religioso nos festivais. Outro importante resultado é que aquela moralidade pan-helênica com a qual as tragédias dialogam é vista como algo que é criado, transformado, que se consolida ou se enfraquece, isto é, em termos propriamente históricos. As tragédias de Eurípedes se revelam como um território de observação da contestação constante que se ofereceu a essa moralidade no contexto da Guerra do Peloponeso.

O lugar do religioso em meio às guerras contra os persas e à Guerra do Peloponeso remete necessariamente às regras de comportamento entre as cidades gregas nesse contexto belicoso. Do mesmo modo, a efetividade dessas regras conecta-se à efetividade da dimensão religiosa que lhes dá suporte. A análise de Moerbeck demonstra que tanto as tragédias de Eurípedes quanto a narrativa histórica tucidideana (como no caso de Mitilene e Melos) denunciam a falha sistemática em se cumprir tais regras. E, nesse sentido, uma das poucas lacunas que se pode apontar ao trabalho de Moerbeck é a de não ter explorado mais o quanto sua abordagem de historicizar essa moralidade permite colocar em questão a homogeneidade da identidade pan-helênica, uma homogeneidade que até pouco tempo era tida como consolidada nesse momento da história das cidades da Grécia. Ainda assim, seu estudo é um excelente ponto de partida para os futuros pesquisadores interessados em desenvolver essa linha de investigação.

1 VERNANT, Jean-Pierre, & VIDAL-NAQUET, Pierre. Mito e tragédia na Grécia Antiga. São Paulo: Perspectiva, 2005.

2 MOERBECK, GuilhermeGuerra, política e tragédia na Atenas Clássica. Jundiaí: Paco Editorial, 2014.

3Cf. PIERUCCI, Antônio FlávioO desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber. São Paulo: Editora 34, 2013.

4 GALEGO, Julian. La democracia em tiempos de tragédia: asamblea ateniense y subjetividad política. Buenos Aires: Miño y Davila, 2005.

5 SOURVINOU-INWOOD. ChristianeTragedy and Athenian religion. Lanham, MD: Lexington Books, 2003.

6Para uma colocação precisa destes problemas, cf. VERSNELL, H. S.Inconsistencies in Greek and roman Religion 2. Transition and Reversal in Myth & Ritual. Leiden: Brill, 1994.

Referências

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MOERBECK, Guilherme. Guerra, política e tragédia na Atenas Clássica. Jundiaí: Paco Editorial, 2014. [ Links ]

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PIERUCCI, Antônio Flávio. O desencantamento do mundo: todos os passos do conceito em Max Weber. São Paulo: Editora 34, 2013. [ Links ]

SOURVINOU-INWOOD. Christiane. Tragedy and Athenian religion. Lanham, MD: Lexington Books, 2003. [ Links ]

VERNANT, Jean-Pierre, & VIDALNAQUET, Pierre. Mito e tragédia na Grécia Antiga. São Paulo: Perspectiva, 2005. [ Links ]

VERSNELL, H. S. Inconsistencies in Greek and roman Religion 2. Transition and Reversal in Myth & Ritual. Leiden: Brill, 1994. [ Links ]

Uiran Gebara da Silva – Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco/Instituto de História, Programa de Pós-Graduação em História, Recife/PE – Brasil. E-mail: uirangs@hotmail.com.

Fenícios / Hélade / 2019

Os fenícios: para além de uma visão eurocêntrica do mediterrâneo antigo

Passados mais de dois séculos do início moderno dos estudos sobre os fenícios, eles ainda possuem uma aura de mistério. Para o senso comum, são vistos como intrépidos navegantes, hábeis comerciantes, os inventores do alfabeto e são mormente associados ao território moderno do Líbano, no Oriente Médio.

Para a academia, ainda se configuram como uma questão historiográfica complexa, sobre quem restam mais dúvidas que certezas, a menor delas não sendo a exaustivamente debatida questão da existência ou não do sacrifício infantil entre fenícios e seus descendentes [2].

Em um texto meu de 2012, Novas abordagens no mundo colonial antigo: um estudo de caso em Arqueologia da Paisagem na Sardenha púnica, mostrei como estudiosos consagrados da área acreditam que o primeiro caminho a ser percorrido é o da criteriosa reconstrução historiográfica dos estudos fenícios. Assim, Corinne Bonnet e Véronique Krings, em 2006, discutiram os caminhos históricos da ciência ocidental moderna mostrando que esta, na verdade, vinha reproduzindo, principalmente a partir do século XIX, concepções estabelecidas em contextos históricos distintos.

Mais recentemente, Josephine Quinn (2018) [3] retomou a questão abrindo o leque para a análise da construção conceitual e imagética dos fenícios desde a própria Antiguidade, a partir de Homero.

Os Estudos Clássicos iniciam sua trajetória no limiar do Renascimento. É preciso dizer que se passarão séculos até estes alcançarem os povos ao Oriente, mas vejamos como essa história começa e se desenrola, e quando, finalmente, os fenícios surgem como tema de estudo da academia moderna.

No século XIV, as cidades são cada vez mais numerosas e povoadas, a nova classe burguesa e nova nobreza ascendente “patrocinam” os estudos humanistas (TRIGGER, 2011 (1989)). Procuram justificar as mudanças sociopolíticas da época e suas pretensões valorizando o passado glorioso que a Itália teria tido na Antiguidade Clássica. Os estudos mostram que muita coisa havia mudado: social e culturalmente. Passou-se a tentar entender o passado sem julgá-lo a partir dos padrões do presente. A apreciação dos antigos modos- -de-vida da Grécia e de Roma, vista por meio da literatura, avançou para os campos da arte e da arquitetura. Nobreza e mercadores italianos rivalizavam uns com os outros em termos de patronos das artes (MOMIGLIANO, 2019 (1990)).

Em 1493 foi aberta à visitação, em Roma, os ambientes da fabulosa Domus Aurea, o “palácio de ouro” de Nero, repleta de afrescos decorativos. Até hoje é considerado um dos complexos mais ricos de pintura antiga. Essas pinturas foram copiadas, no início do séc. XVI, por inúmeros artistas renascentistas: Pinturicchio; Marco Polmezzano; Michelangelo; e Rafael, que criou as modernas “grotescas” (grottesche).

É nesse contexto que se iniciam as primeiras escavações sistemáticas. Muito mais “cavações” a procura de objetos com alto valor artístico e comercial. Na Itália, artistas como Mantegna passaram a desenhar edifícios, relevos, sarcófagos e outros monumentos que ainda eram visíveis sobre a terra. Tais desenhos eram gravados em placas de cobre e, depois, vendidos pela Europa (TRIGGER, 2019 (1989)). Surgem os Gabinetes de Curiosidades. O alto valor monetário atribuído às peças permitia que apenas pessoas com posses, como os nobres, e os estudiosos por eles patrocinados, tivessem acesso a este tipo de investigação e coleção.

Assim, Sir William Hamilton (1730-1803), embaixador britânico em Nápoles, formou uma imensa coleção de cerâmica grega pintada, a qual foi adquirida pelo Museu Britânico. Seu livro Antiquités Etrusques, Grecques et Romaines, publicado em 1766-1767, inspirou o ceramista Josiah Wedgewood a fabricar peças baseadas nos vasos gregos, etruscos e romanos, os quais até hoje podem ser comprados online por preços que facilmente alcançam as dezenas de milhares de dólares!

Afora as cidades do mundo grego e romano que estavam sendo redescobertas no séc. XIX com a Arqueologia, ocorre, igualmente, uma pequena revolução com relação a sociedades conhecidas até então quase exclusivamente pela Bíblia, especialmente a egípcia e a assíria.

Desde o início do antiquariato, pequenas descobertas acidentais, como a que ocorre em 1654, da tumba de um rei franco, ou os estudos sobre os etruscos, patrocinados pela Academia de Crotona, na Itália, deixam entrever um mundo antigo para além dos gregos e dos romanos (cf. TRIGGER, 2011 (1989)).

Alguns poucos viajantes se aventuravam, no século XVII, a atravessar o deserto da Síria, em terras otomanas. O viajante italiano Pietro della Valle, em 1626, levou à Europa alguns tijolos com inscrições cuneiformes. Mas será apenas a partir do século XVIII que veremos a ascensão do desenvolvimento de estudos paralelos ao romano e ao grego. Assim é que:

Retomando o desenvolvimento dos estudos fenício-púnicos, temos que, em relação à egiptologia, à assiriologia, e mesmo aos estudos gregos e romanos, que se iniciam com grande força já na virada do século XVIII para o XIX – no campo da exploração arqueológica, a Fenícia surge em 1860 junto com a Mission de Phénicie de E. Renan, o “primeiro grande homem” desta disciplina; uma missão que se enquadra no conjunto da intervenção militar de Napoleão III em favor dos cristãos maronitas ameaçados pelos drusos, em um contexto histórico onde temos as potências ocidentais ativamente atuando dentro do Império Otomano. Renan interpreta as realidades fenícias que ele encontra a partir de categorias emprestadas aos estudos bíblicos, ou, o que é ainda pior, se inspirando nos textos bíblicos que fustigam a “religião cananéia”, seus ídolos grosseiros, seus locais elevados, seus cultos obscenos e sua prostituição sagrada. Este prisma deformante não ficou totalmente relegado ao passado. A marca de um projeto calculado, um modelo de pensamento escolhido, que lança em segundo plano a história dos e os próprios fenícios, aparece mais claramente ao vermos falhar a ascensão dos estudos fenícios, enquanto campo autônomo, ainda no século XVIII, antes, portanto, de Renan, quando em 1758, o abade J. J. Berthélemy decifrou, a partir de uma inscrição bilíngue greco-fenícia de Malta (CIS I 122-122 bis) o alfabeto fenício (KORMIKIARI, 2012, p. 279-80)

A virada do século XVIII para o XIX, marca, assim um conjunto de escolhas acadêmicas que, na verdade, refletem escolhas sociopolíticas de construções identitárias dos nascentes Estados-Nação europeus. As culturas grega, romana e mesmo egípcia (apesar de ‘estrangeira’ à Europa) foram as marcadas como essenciais, uma vez que se constituíram como inspiração, ideológica, conceitual e estética. É notória a paixão e a entrega romântica dos círculos cultos e elitistas do norte europeu em prol da luta pela independência grega frente o Império Otomano, nas primeiras décadas do século XIX. Neste momento tão conturbado, um povo, uma cultura restrita a um pequeno pedaço de terra oriental, sem grandes monumentos ou objetos considerados, então, como da primeira classe artística, como as esculturas de mármore e bronze, ficaram relegados a um papel secundário. São os fenícios: “o próprio Renan não deixa de se queixar da extrema pobreza do que ele encontra no solo fenício e evoca até os oráculos bíblicos contra Tiro para explicar a evanescência de um sítio que escapa à procura” (KORMIKIARI 2012, p. 280).

Na opinião de duas das maiores especialistas da área Corinne Bonnet e Veronique Krings:

A arte e a arquitetura fenícias resistem à apreensão histórica: ecléticas, bastardas, quase inexistentes. A cultura híbrida ou mestiça dos fenícios e púnicos, em oposição à “pureza” do “milagre” grego, é considerada pouco definida, exposta a processos de “porosidade” com as culturas indígenas, ainda mais menosprezadas (KORMIKIARI, 2012, p. 280).

O pós II Guerra Mundial trouxe novos ares à academia. Um dos trabalhos mais citados como seminal para o desenvolvimento de novas correntes teóricas foi o livro Orientalism, de 1978, de Edward Said.

O grande tema que se desenvolveu, então, e que até hoje tem sido reformulado e modulado na Academia, gira em torno da crítica aos discursos produzidos na Academia a partir da contextualização histórica destes [4]. A análise desses discursos alimentou, no campo da Arqueologia do Mediterrâneo Antigo, a percepção da não existência de culturas superiores e inferiores, da não existência de culturas ‘puras’, intocadas:

…..a semente plantada por Said germinou na redefinição de conceitos como colonização e colonialismo. Alguns pesquisadores, como Peter Van Dommelen …… aponta que apesar dos fenômenos coloniais receberem muita atenção na Arqueologia Clássica e Mediterrânica, a própria noção de colonialismo quase não tem sido questionada. ……

Ao mesmo tempo, este fato não livraria pesquisadores, principalmente os ocidentais, formados na cultura européia dos séculos XIX e XX, de um ‘contágio’ das noções implícitas ao movimento colonialista moderno, em seus tratamentos do fenômeno na Antiguidade…. De maneira análoga, a visão dualista de dois blocos homogêneos e estanques, o dos colonizadores e o dos colonizados, foram revistas, e hoje tenta-se trabalhar com categorias individuais e plurais, dentro das diversas dimensões sociais (classe, gênero, idade), políticas, econômicas e religiosas existentes nas duas ou mais sociedades que entraram em contato durante tais processos coloniais. Assim, as diversas identidades criadas e recriadas em contextos específicos passaram a fazer parte deste novo discurso acadêmico (VAN DOMMELEN e KNAPP, 2010, p. 4-7) (KORMIKIARI, 2012, p.281).

No entanto, gostaríamos de ressaltar aqui que no campo da Arqueologia, podemos citar vários arqueólogos italianos, como Luigi Bernabó Brea, e Rosa Maria Albanese Procelli, que deu importante continuidade à escola estabelecida por Brea, e, nos estudos fenício-púnicos, Sabatino Moscati, Sandro Filippo Bondì, entre outros, que vinham trabalhando estas importantes questões já desde os anos de 1950. Lembramos ainda que, no começo da década de 1960, o Instituto da Magna Grécia, que vem sistematicamente publicando seus encontros na importante coleção Atti de Taranto, na Itália, teve como tema de seu primeiro congresso Greci e italici in Magna Grecia (1962), lançando um olhar renovado sobre a questão do contato entre povos na Antiguidade.

Aqui no Brasil, entre bons exemplos de abordagens inovadoras, saliento o trabalho do Labeca (Laboratório de estudos sobre a cidade antiga), sediado no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, do qual faço parte e no qual vimos, há quase 15 anos, trabalhando nessa linha, preocupados em entender o mundo antigo a partir do todo. Nosso projeto de pesquisa atual versa justamente sobre a questão do contato entre povos distintos, gregos, indígenas e fenícios [5].

Entender o contato implica o trabalho com questões essenciais, como relações de poder, de resistência, de cooperação, de afastamento [6]. A Arqueologia do mundo mediterrânico vem enfrentando esses desafios, procurando se situar no e responder aos questionamentos modernos de seu nascimento e desenvolvimentos iniciais. Em particular, a Arqueologia fenício-púnica, que investiga os grupos orientais e as consequências históricas de seu espalhamento pelo Mediterrâneo, com a fundação de dezenas de cidades e estabelecimentos, é uma das áreas que mais tem crescido.

O presente dossiê traz ao público brasileiro um conjunto significativo de textos, de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, que apontam para novos caminhos de pesquisa, trazem resultados de grandes projetos, recuperam documentos textuais pouco investigados. Esperamos que sua leitura seja prazerosa e que instigue novos investigadores!

Notas

2. Para uma análise detalhada e atualizada da questão, ver (KORMIKIARI, 2017).

3. Vide resenha neste volume.

4. Edward Said, na verdade, trabalha com o discurso construído sobre o outro, o oriental, nos meios de comunicação ocidentais de massa.

5. Ver, por exemplo, Florenzano (2017).

6. Um estudo ainda extremamente atual e instigante é o trabalho de Serge Gruzinski e Agnés Rouveret, ‘Ellos son como niños’, de 1976.

Referências

BONNET, C. & KRINGS, V. Les pheniciens, Carthage et nous: histoire et representations. In: VITA, J. P. e ZAMORA, J. A. (eds.) Cuadernos de Arqueología Mediterránea, vol. 13, 2006, p. 37-47.

CRAWLEY QUINN, J. In Search of the Phoenicians. Princeton University Press, 2018.

FLORENZANO, M. B. B. Cidades Gregas na Calábria Antiga: A configuração dos territórios de Lócris e Régio (sécs. VII-V a.C.). In: Atas do II Congresso Histórico Internacional As Cidades na História: Sociedade. Minho, Portugal, 2017, p. 263-280 (versão on line).

GRUZINSKI, S. e ROUVERET, A. ‘Ellos son como niños’, histoire et acculturation dans le Mexique colonial et l’Italie méridionale avant la romanisation. Mélanges de l’École Française de Rome (MEFRA), n. 88, vol. 1, 1976, p. 160-219.

KORMIKIARI, M. C. N. Novas abordagens no mundo colonial antigo: um estudo de caso em Arqueologia da Paisagem na Sardenha púnica. In: ZIERER, A. e VIEIRA, A. L. B. (orgs.), História Antiga e Medieval. Viagens e viajantes: cultura, imaginário e espacialidade. São Luís: Editora UEMA, 2012, p. 279-292.

_________. O papel de Cartago no debate acerca do sacrifício humano fenício-púnico. Romanitas, Revista de Estudos Grecolatinos, n. 10, 2017, p.100-122.

SAID, E. Orientalism. Nova Iorque: Pantheon, 1978.

VAN DOMMELEN, P. e KNAPP, A. B. (eds.) Material Connections in the Ancient Mediterranean: Mobility, Materiality and Identity. Abingdon e Nova Iorque: Routledge, 2010.

Maria Cristina Nicolau Kormikiari – Docente em Arqueologia Clássica no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, pesquisadora e co-coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (Labeca-MAE / USP). No seu pós doc realizou estágio no Centre Camille Julian, da Université de Provence, em Aix-en-Provence, França. Para consultar demais publicações da autora: https: / / usp-br.academia.edu / CristinaKormikiari. E-mail: tanit@usp.br


KORMIKIARI, Maria Cristina Nicolau. Editorial. Hélade. Rio de Janeiro, v.,5, n.2, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Armed in America: A History of Gun Rights from Colonial Militias to Concealed Carry – CHARLES (THT)

CHARLES, Patrick J. Armed in America: A History of Gun Rights from Colonial Militias to Concealed Carry. New York: Prometheus Books, 2019. 558p. Resenha de: BABITZKE, Cari S. The History Teacher, v.52, n.3, p.524-526, may., 2019.

Patrick J. Charles opens this new synthesis of the history of firearms rights and advocacy with a warning to scholars: if historians of firearms and gun rights politics in the U.S. adhere to the accepted principles of scholarly inquiry, the contours of the debate and the field must shift. According to Charles, far too much historical work on firearms has been “principled on legal advocacy, political activism,” and “expanding the meaning and the scope of the Second Amendment as broadly as possible” (p. 15). Rather than abandon the field to these alternative histories, Charles draws on his own lengthy career in legal history alongside new research into source materials such as hunting and shooting magazines, newspapers, and manuscript collections to understand the evolution of gun rights politics and rhetoric and the rise of the “Standard Model” interpretation of the Second Amendment.

Charles begins by narrowing the temporal boundaries of the debate over the Second Amendment. After the Civil War, the majority of Americans reached a consensus regarding access to arms—namely, that “state and local governments maintained broad police powers to regulate dangerous weapons in the interest of public safety…so long as they did not utterly destroy the armed citizenry model of the Second Amendment,” without encroaching on the individual’s right to armed self-defense in “extreme cases” (p. 313). This consensus fractured during the second half of the twentieth century, as firearms advocates—notably in organizations like the National Rifle Association (NRA)—pushed for a more expansive reading of the Second Amendment. According to Charles, from 1970 to 1980, a substantial amount of this advocacy included the active recruitment of academic scholars to develop and promote a literature reworking the historical meaning of the Second Amendment. This academic push culminated in a new “Standard Model” of the amendment, claiming protection for personal firearms ownership uncoupled from its longstanding connections to militia service and civic republicanism. From 1980 to 1999, Charles argues, studies funded by the NRA and other gun rights organizations effectively revised the field, substituting the Standard Model for the militia-centric understanding of the Second Amendment (p. 280).

At the turn of the twenty-first century, proponents of the Standard Model received a major boost when Attorney General—and NRA member—John Ashcroft modified the Department of Justice’s longstanding position on the Second Amendment.

According to Charles, once the DOJ shifted its position on the Second Amendment, the Standard Model became accepted in federal courts. In United States v. Emerson (2001), the Fifth Circuit Court of Appeals became the first appellate court to adopt the Standard Model. In 2008, the Supreme Court waded into the debate, taking up District of Columbia v. Heller. In its majority opinion, the Court sided with the Standard Model, interpreting the Second Amendment as protecting an individual right to own firearms. And finally, in McDonald v. City of Chicago (2010), the Supreme Court applied the Standard Model of the Second Amendment to the states.

Armed in America makes two important contributions to scholarship and teaching on the gun rights debate. In his chapter, “The Birth of the Gun-Rights Golden Age,” Charles examines the late twentieth-century rise in advocacy, offering a concise yet thorough timeline for the interpretive shift in the Second Amendment and important changes in the national legal structure regarding individual firearms ownership. This chapter provides integral information to students interested in the evolution of the legal right to arms in the United States.

But Charles offers a second teaching tool. While presenting this history, he keeps the process of scholarly inquiry front and center. To educators engaged in scholarly training, this book serves as a keen example for budding scholars.

Charles’ research project is front and center—developing a research question; understanding the state of the field and his place therein; locating and using primary sources—and he acknowledges his challenges in working with such a contentious subject and the ever-present reality of today’s gun politics.

Cari S. Babitzke – Boston University.  Acessar publicação original

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In the Shadow of Authoritarianism: American Education in the Twentieth Century – FALLACE (THT)

FALLACE, Thomas D.  In the Shadow of Authoritarianism: American Education in the Twentieth Century. New York: Teachers College Press, 2018. 215p. Resenha de: OROMANER, Mark. The History Teacher, v.52, n.3, p.525-526, may., 2019.

In the Shadow of Authoritarianism is a timely contribution to the understanding of how American primary and secondary elite educational thinkers responded to perceived threats from approximately World War I to the 1980s. These perceived internal and external threats (the “Other” against which American educational philosophy evolved) are: Prussianism, propaganda, collectivism, dictatorship, totalitarianism, the space race, mind control, and moral relativity. A chapter is devoted to each of these chronologically ordered episodes. Thomas D. Fallace covers this almost century-long period in a clearly presented and well-documented 149 pages of text. The book is suited as an overview in undergraduate and graduate courses in the History of Twentieth-Century American Educational Philosophy and in other courses in education, sociology, political science, and history that focus on the relationship between politics and education. For students who wish to pursue a particular thinker, time period, school of thought, or social/political movement, Fallace has provided thirty-two pages of Notes and eighteen pages of Bibliography.

During the twentieth century, authoritarianism was used “to depict the outlook… characterized by social hierarchy, ideological homogeneity, and intolerance for dissent” (p. 1). Schools were central for the transmission of authoritarian ideology and values to young people. Under such a system, students were taught to be docile, obedient, intolerant, and compliant. In contrast, under a democratic system (e.g., the United States), students were taught to be open-minded, balanced, and skeptical. These contrasts are, of course, ideal types—however, they are “what most U.S. educators told themselves and one another repeatedly between World War I and the 1980s” (p. 1). Regardless of the changing geopolitical realities, listed above, the reaction of “most leading American educators remained constant” (p.1). That is, to teach students how to think, not what to think. Thus, the avoidance of propaganda and indoctrination in the classroom.

The general agreement that the emphasis in schools should be on the how rather than the what to think left U.S. intellectuals to debate the meaning of this phrase and to adjust to the various challenges the American system faced. Should the curriculum be based on liberal arts, on social issues, on discipline inquiry, on exploration of students’ values and morals? Fallace is well aware that the Constitution of the United States delegates authority over education to the states, and that it is an error to assume that the rhetoric of reform of educational leaders “reflected what was actually going on in the majority of U.S. classrooms at any given time” (p. 3). Throughout most of the twentieth century, the most prominent and influential educational thinker was the Teachers College, Columbia Universitybased philosopher John Dewey. In a 1916 address, Dewey argued that the U.S.

should no longer emulate the German system of education (Prussianism) with its emphasis on bureaucracy, centralization, and regulation. Rather, the American system should emphasize persuasion, expert knowledge, and a student-centered philosophy and pedagogy that stressed how to think. World War I also gave rise to a perceived domestic threat to democratic education; government propaganda to gain support for the war. Given current and recent fears over the contents of textbooks, social media, “fake news” in the traditional media, and the concentration of media channels, Chapter 2, “In the Shadow of Propaganda,” is of particular relevance today.

The reactions of educational leaders to Prussianism and propaganda set the stage for later reactions to fascism, Nazism, and communism, and to post-World War II threats from mind control and technological challenges symbolized by Sputnik. Limitations of space prevent me from describing the nuanced job that Fallace does in presenting the often conflicting views of anthropologists, psychologists, sociologists, and philosophers in attempting to ensure that the American educational system is student-oriented and continues to emphasize the how rather than the what to think. In the final chapter (Chapter 8), Fallace argues that the liberal consensus after World War II “collapsed under the weight of domestic turmoil brought on by the Civil Rights Movement and the Vietnam War” (p. 136). One influential reaction was the emergence of Lawrence Kohlberg’s developmental framework as a guide to moral growth in a democracy. The pressing question now was: How do we teach values and morality and still say that in a democratic society, education will stress how to think and not what to think? The answer appears to be that the importance of schools as sites building free-thinking citizens has been marginalized by a view of the schools as sites that prepare students for college and careers. I know of no better source to engage students in analyses of where American educational philosophy has been during the past century, and where it may be in the near future than In the Shadow of Authoritarianism: American Education in the Twentieth Century.

Mark Oromaner – New York City

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The Mongols and the Islamic World: From Conquest to Conversion – JACKSON (THT)

JACKSON, Peter. The Mongols and the Islamic World: From Conquest to Conversion. New Haven, CT: Yale University Press, 2017. p. Resenha de: IGMEN, Ali. The History Teacher, v.52, n.3, p.527-529, may., 2019.

It is an intimidating if not impossible task to review Peter Jackson’s book, The Mongols and the Islamic World: From Conquest to Conversion. First and foremost, Jackson is one of the founders of the study of the Mongol, and Central Eurasian history in general. The second reason is the encyclopedic breadth of this book, which may be regarded as is an extensive accompaniment to his seminal 2005 book, recently published in second edition, The Mongols and the West. Jackson begins his book by referring to the new corrective scholarship that does not focus solely on the destructive force of the Mongol invasions with a clear statement that he is “concerned equally to avoid minimizing the shock of the Mongol conquest” (p. 6). He also acknowledges the superior siege technology of these “infidel nomads” as opposed to the urbanized societies of Central Eurasia (p. 6). His book tells the story of these infidel masters over the Muslim subjects, mostly from the view of the latter, especially because Jackson examines the role of Muslim allies, or client rulers of the Mongols. One of the main goals of this book is its emphasis on the Mongol territories in Central Asia as opposed to more extensively studied Jochid lands (the Qipchaq khanate or the Golden Horde) and the Ilkhanate. Despite this particular goal, Jackson makes sure we do not forget about Chinggis Khan’s offspring such as Qubilai Khan, who ruled lands as far away as China.

Jackson’s book investigates how the Mongols came to rule such large Islamized territories in such a short time. It also examines the sources, including the wars between Mongol khanates and the extent of destruction of the Mongol conquest, while describing their relationships between the subjugated Muslim rulers and their subjects. The introductory chapter on Jackson’s sources provides detailed information on the writings of mostly medieval Sunni Muslim authors along with two Shī’īs, refreshingly relying on those who mostly wrote in Persian and Arabic, including the newly discovered Akhbār-i mughūlan by Qutb al-Din Shīrāzī (p.145), as opposed to Christian and European travel accounts.

The book is divided into two parts: the first part explores the Mongol conquest to ca. 1260, and the second covers the period of divided successor states with an epilogue that elaborates on the long-term Mongol impact on the Muslim societies of Central Eurasia as late as to the nineteenth century. Although the intricate if occasionally dense first part on the conquest is necessary, educators like myself will find it most useful. It is intriguing to learn about the extent of interconnectedness of the conquered Muslim societies in Eurasia and their Mongol rulers, while understanding the limitations of commercial, artistic, and religious exchanges.

We also learn about the strategic regional Muslim leaders’ relations with the Mongol conquerors. The account of the evolution of the linguistic conversions makes the story even more fascinating. The negotiations between those local rulers who kept their thrones and the Mongol victors tell a more interesting story than the existing accounts of Mongol despotism. The case in point is Jackson’s discussion of the potential of Muslim women in gaining agency under the Mongol rule. Jackson’s analysis of the extent of the repressive laws and taxes provide possible new explanations of the Mongol rule. Furthermore, his analysis of the relationship between the Tājīk bureaucrats and the Mongol military seemed particularly enlightening to me, who is interested in the dynamics of civilian and military interactions. Jackson points out that “the fact that civilian and military affairs were not clearly differentiated added to the instability,” referring to the late thirteenth-century Ilkhanate era (p. 412). The final two chapters complicate the Islamization processes in the Mongol successor states, explaining the lengthy and sporadic nature of conversions.

Without giving away Jackson’s conclusions on Islamization, I can say that he provides a highly nuanced history that challenges any linear and teleological accounts of the Mongol conquest of the Islamic lands. In addition to the breadth and wealth of information, Jackson’s book is generous to the scholars of the Mongols, including younger scholars such as Timothy May. The mostly thematic character of the book results in a shifting chronology, which assumes that the readers possess some previous knowledge of this complex history. Most of the book provides an insight to the intricate history of Mongol politics in conquered lands. The exquisite maps, images, chronologies, and glossary make the book more legible to those readers who may pick it up without prior knowledge of this history. The particular military strategies, coupled with the political intrigue of the Mongols led to a fusion of Muslim, Mongol, and other indigenous cultures, not always destroying what existed before the conquest. Peter Jackson’s book is a worthy reflection of this sophisticated history that is suitable for advanced and graduate students and scholars who possess the basic knowledge of the Mongol conquest and Islamic societies and cultures of the region.

Ali Igmen – California State University, Long Beach.

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The Crime of Nationalism: Britain, Palestine, and Nation-Building on the Fringe of Empire – KELLY (THT)

KELLY, Matthew Kraig. The Crime of Nationalism: Britain, Palestine, and Nation-Building on the Fringe of Empire. Oakland, CA: University of California Press, 2017. 264p. Resenha de: SCHONK JR., Kenneth. The History Teacher, v.52, n.3, p.529-530, may., 2019.

Matthew Kraig Kelly argues that the long-held conception that Palestinian nationalism is equal to criminality was a conscious construct by British and Zionist (“Zionist” is used here to represent Israeli nationalists) agents to marginalize and negate Arab agency in the Middle East. At its core, The Crime of Nationalism is the story of how ideas, opinions, and biases become discourse. Specifically, Kelly reconstructs the evolution of what he calls the construction of a “crimino-national” narrative of the Great Revolt of 1936 and its immediate and long-term aftermath (p. 2). At the onset of this era, Palestinian insurgency was taken by the British at face-value: a burgeoning nationalist movement seeking political agency in the years after Sykes-Picot, when British interests in southwest Asia were increasingly influenced by Zionist leaders. As tensions flared in 1936, the British began to categorize Palestinian action as criminal and terrorist, thereby associating any and all action by the latter as irrationally violent and dissolute. Within a period of just a few years, Arab transgression—whether it was conducted through political negotiation or in public protest—was defined as violence intent on undermining the ascendant Anglo-Zionist social order.

Kelly queries as to who has the right to use force. Through the use of letters, political missives, and newspaper accounts of all sides involved in this conflict, he convincingly argues that the British came to undermine Palestinian efforts to utilize violent—and peaceful—tactics in their nationalist endeavors. Such efforts yielded myriad results for the British. Primarily was that Arab action in Palestine was saddled with a discourse of violence, thereby negating any nationalist outcome.

Relatedly, such a discourse has had the effect of creating a global consensus that Palestinian nationalism was—and is—tantamount to criminal and terrorist activity.

Moreover, this direct involvement by the British in defining Palestinian action helped to justify any violent actions by the British and Zionists as being done in the name of justice and the maintenance of social order. In sum, these actions enabled the British and Zionists to self-justify their own use of force against Palestinians. This narrative transgresses both the historiography and conventional wisdom of the era that, Kelly argues, has been constructed by the British and has been incorrectly reified in scholarly works on the history of Palestine. As such, Kelly serves to correct this historiography, shedding light on how an ahistorical narrative becomes cemented.

This book has many applications for syllabi in myriad undergraduate and graduate courses on the modern Middle East, as well as those on the British Empire.

Adopters should not be dissuaded by the relatively brief time period covered in The Crime of Nationalism, as the implications of the events in question have relevance up through the present day. Less obvious is the teaching applicability in global history courses on nationalism, crime and criminality, and historical theory. Kelly consistently and effectively demonstrates how events in Palestine were influenced by and had connections to historical events and agents abroad. One such example regards the specter of recent events in Ireland, and how this shaped Britain’s response to the Great Revolt of 1936 and the events that followed in its wake. Thus, the book has a transnational aspect that provides a point of entry—and value—for those who may not be experts in the history of the Middle East. Moreover, Kelly’s arguments regarding the discursive construct of criminality will be of great interest and use for courses on the history of law and order. Additionally, the book has applicability in courses on historiography and historical methods. How Kelly corrects the narrative of the Great Revolt demonstrates the value of an applied empiricism that employs a post-modern analysis of the construction of historical discourse. As noted above, Kelly rightfully intends this as a work that corrects a historiography that has long perpetuated mistruths about the events of 1936. In this regard, The Crime of Nationalism teaches to transgress—that is, how to skillfully and tactfully provide voice to the historically marginalized.

Kenneth Schonk Jr. – University of Wisconsin–La Crosse.

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The Injustice Never Leaves You: Anti-Mexican Violence in Texas – MARTINEZ (THT)

MARTINEZ, Monica Muñoz. The Injustice Never Leaves You: Anti-Mexican Violence in Texas. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2018. 400p. Resenha de: WEBER, John. The History Teacher, v.52, n.3, p.530-532, may., 2019.

In her remarkable book, The Injustice Never Leaves You, Monica Muñoz Martinez examines the prevalence of anti-Mexican violence in Texas in the early twentieth century, and the importance of the lingering memories and scars created by those campaigns of violence on those who survived. Beyond highlighting episodes of racialized violence in the 1910s and their importance in solidifying a segregated society in the Texas-Mexico border region, this book also focuses on the efforts by those affected by racial violence to understand and record their own version of this history that has long been denied by both officials and academics in Texas.

Martinez has produced an enormously important history of extralegal violence that demands its readers confront past crimes and their continued resonance today.

The book’s first three chapters examine three infamous episodes of anti-Mexican violence and the struggles by survivors to challenge the presumption that wanton killing of Mexicans was justified. The lynching of Antonio Rodríguez in 1910, the murder of Jesus Bazán and Antonio Longoria by Texas Rangers in 1915, and the killing of fifteen ethnic Mexicans at Porvenir by a separate group of Texas Rangers in 1918 yielded no criminal convictions or punishments. They were all justified by state officials and local law enforcement as appropriate, if brutal, punishment for bandits or people deemed inherently criminal. Beyond these justifications that shielded Texas Rangers or lynch mob members from facing any punishment for their crimes, the families of the murdered and community members in each of these places fought against official versions of the past with a determined effort to maintain and cultivate their own understanding of history based in preserved community memories. In these alternate portrayals of the past that still circulate near the sites of these century-old murders, the Texas Rangers and white vigilantes were the criminals, preying on innocent, law-abiding locals. “Preserving memories,” writes Martinez, “became a strategy of resistance against historical inaccuracies and social amnesias” (p. 126).

Beyond just recounting these moments of violence, in other words, Martinez shows the continued resonance of these extralegal murders and the efforts by those affected to “insist that the state and cultural institutions stop disavowing this history and instead participate in the long process of reckoning” (p. 29).

The book’s next two chapters delve into efforts by the state of Texas and generations of historians to hide the brutal reality of racist violence and the Texas Rangers in the early twentieth century. Martinez shows that in 1919, the Texas government held off two efforts to punish state violence and mob violence. State Representative José Tomas Canales held a much-publicized investigation of the Texas Rangers in an attempt to both record their misdeeds and force their reform.

While the investigation produced thousands of pages of testimony and revealed the racist violence that animated Ranger activities in the border region, the state legislature, the adjutant general’s office, and the governor all resisted efforts to condemn past actions or reform the Rangers. Instead, Ranger activities were justified by Anglo state officials as necessary protections against endemic and inevitable banditry in the border region. As Martinez points out, the governor and the legislature also rejected efforts by civil rights advocates to pass anti-lynching legislation after a particularly brutal and public lynching in Hillsboro in early 1919. These simultaneous failures to confront both state and mob violence were, the author argues, clear proof that these forms of extralegal violence were selfreinforcing and “had a state-building function” (p. 6).

Martinez closes the book with an examination of recent efforts to use public history as a means to tell this more violent and complicated history. The author and other historians of the Texas-Mexico border region have worked to tell the true history of the Texas Rangers and vigilante violence through historical markers and, most ambitiously, through an exhibit at the Bullock Texas State History Museum in Austin in 2016 that revealed the history of racial violence that the state had tried to justify and then hide a century earlier.

The Injustice Never Leaves You is an important and timely book that should be read and taught widely. Martinez not only reveals the centrality of racial violence in Texas history, but also makes clear that the events of the past continue to bleed into the present through memory and through the unhealed wounds of contested history.

John Weber – Old Dominion University.

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From Asylum to Prison: Deinstitutionalization and the Rise of Mass Incarceration after 1945 – PARSONS (THT)

PARSONS, Anne E.. From Asylum to Prison: Deinstitutionalization and the Rise of Mass Incarceration after 1945. Chapel Hill, NC: The University of North Carolina Press, 2018. 240p. Resenha de: HALL JR., Clarence Jefferson. The History Teacher, v.52, n.3, p.532-533, may., 2019.

In From Asylum to Prison: Deinstitutionalization and the Rise of Mass Incarceration after 1945, Anne Parsons shows how a renewed commitment to human rights and individual liberty after the horrors of World War II helped spur a movement against the long-term confinement of individuals diagnosed with mental illness. Using the state of Pennsylvania as a case study, Parsons highlights how pressure from mental hospital residents and employees, investigative journalists, civil rights attorneys, and progressive advocacy groups yielded significant improvements in the treatment, care, and living conditions of people with mental illnesses both inside institutions and in new, community-based settings. Inadequate funding and political support for these initiatives, however, quickly imperiled the newly won freedoms of many formerly institutionalized men and women. Sadly, as Parsons demonstrates, the convergence of increasing national crime rates, the violence and uprisings of the Civil Rights Era, and the growing public visibility of individuals diagnosed with mental illness fueled a bipartisan politics of fear. With involuntary hospitalization no longer a readily available option, many men and women exhibiting behaviors associated with mental illness—regardless of diagnosis—often found themselves arrested, jailed, and imprisoned in order to calm the anxieties of white, middleclass voters. In this way, Parsons argues, the post-war deinstitutionalization of mental health care aided in driving the late twentieth-century growth of mass incarceration, both in Pennsylvania and across the United States.

From Asylum to Prison joins a rich and growing literature on the history of the American carceral state. By centering the post-World War II expansion of the U.S. prison system squarely within the history of deinstitutionalization, Parsons reminds readers that mass incarceration, far from being a distinct historical phenomenon, has deep historical roots outside the halls of the criminal legal system. In this case, efforts to improve the care and treatment of those with mental illnesses in non-institutional settings ultimately drove many former patients back into institutional settings (and in some cases, as Parsons shows, into prisons that had once served as mental hospitals). At the same time, however, as Parsons is contending with an ongoing social and political problem in the U.S., From Asylum to Prison demonstrates—if policy makers and elected officials care to pay attention—the potentially life-changing value of historical research for the present and future. As Parsons writes, “History can be a great healer. I write about the deinstitutionalization of mental hospitals and the rise of prisons in order to learn from these cycles of confinement and to work to create a more inclusive and equitable society” (p. 19). Accordingly, each chapter is replete with lessons on the countless dangers of viewing involuntary, long-term confinement in institutional settings as a remedy for the nation’s social ills. Thus, Parsons has made an important historiographical contribution that simultaneously serves as a valuable cautionary tale for public officials now and into the future.

The clear, linear narrative of From Asylum to Prison makes it an ideal text for teaching the history of deinstitutionalization and mass incarceration in the seven decades since World War II. Though Parsons focuses her study on communities and institutions across Pennsylvania, she does so without sacrificing the context that is crucial to understanding how the experiences of one state can be representative of the entire nation. Further, Parsons’ research—combining a thorough assemblage of government documents, popular literature and film, academic research studies, journalistic accounts, patient correspondence, and advocacy organizations’ records—reinforces the value of rigorous interdisciplinary scholarship. Finally, Parsons underscores the importance of understanding past choices and developments for making improvements to a criminal legal system that, at least in the case of From Asylum to Prison, remains in bad need of improvement. For these reasons, Parsons’s book would be appropriate for use with students. However, as the book does at times assume some pre-existing knowledge of broad historical context, From Asylum to Prison would best be used in either upper-division undergraduate history courses or in graduate-level seminars. Nevertheless, teachers of undergraduate survey courses in U.S. history, and possibly even Advanced Placement high school history teachers, may find particular portions of the book useful for constructing their own lessons on the tangled politics of mental health care and imprisonment in post-war America.

Clarence Jefferson Hall Jr. – Queensborough Community College / CUNY.

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Raza Sí, Migra No: Chicano Movement Struggles for Immigrant Rights in San Diego – PATIÑO (THT)

PATIÑO, Jimmy. Raza Sí, Migra No: Chicano Movement Struggles for Immigrant Rights in San Diego. Chapel Hill, NC: The University of North Carolina Press, 2017. 356p. Resenha de: RODRÍGUEZ, Elvia. The History Teacher, v.52, n.3, p.533-535, may., 2019.

In his book, Jimmy Patiño analyzes how the United States’ immigration policies became a focal point for Chicano Movement activists, particularly in San Diego.

San Diego, being a borderland region, emerges as a site of unity between Chicanos and Mexican nationals, as both groups were often victims of brutality from Border Patrol agents and/or experienced the negative effects of immigration laws (family separations, wage suppression, etc.). This unity is a “raza sí, migra no” stance that propels social and political action.

Part I of the book addresses activism around immigration through the 1930s-1950s with groups like El Congreso del Pueblo que Habla Español (Congress of Spanish-Speaking People) and Hermandad Mexicana (Mexican Brotherhood). Chicanos’ activism in the 1960s and 1970s is the focus of Part II.

Here, readers learn about the efforts of organizations such as CASA Justicia and La Raza Unida Party to resist what Patiño calls the “deportation regime” and how individuals in these organizations bring about a shift in the Chicano Movement’s agenda, not only by taking on the issue of immigration, but in so doing, adopting a transnational identity that unites Chicanos and Mexicans. “Raza sí, migra no” activists then focused on appealing to both the United States and Mexico to address the root causes of illegal immigration. The final chapter in Part II momentarily moves away from immigration to look at another form of persecution that people of color encountered—police brutality. Part III deals with San Diego organizations, especially the Committee on Chicano Rights (CCR), protesting the Carter and Reagan administrations’ oppressive immigration procedures. Patiño uses Herman Baca, who headed many of those efforts, as a connecting thread throughout the narrative. For decades, Baca and his print shop served as the center of resistance against the deportation regime.

Raza Sí, Migra No is a book that could be assigned in an upper-division course dealing with American, immigration, or Chicano history. A discussion on labor history would also benefit from the information presented by Patiño. Chapter 2, one of the strongest sections of the book, would be a valuable addition to any women’s history class. Here, Patiño discusses how white Border Patrol agents asserted their dominance over the Mexican/Chicano community by sexually harassing and/or assaulting women of Mexican ancestry. Patiño also demonstrates the patriarchal norms of Mexican culture as women were usually seen only as wives and mothers. Due to its very specific scope, the best place for this book, however, may be in a graduate seminar. Students would certainly receive greater insights into the debates and aims of the Chicano Movement, such as organizations’ diverging stance on support for amnesty or who is a member of la raza and who is not (many Chicano individuals excluded Mexicans from this community). Raza Sí, Migra No could also be used in a seminar on social movements, as Patiño does a masterful job at tracing the evolution and sometimes collapse of organizations seeking rights for minorities. Aside from students, educators may also find the book useful, especially when discussing the Carter administration as well as immigration policies of the late twentieth century.

Patiño’s critical look at Chicano activism makes his book a fine addition to the field. He does not shy away from presenting fractures and even failures within the Chicano movement. Moreover, Patiño’s examination of the coalition between Chicanos and African Americans (against police brutality in San Diego) is not typically found in this scholarship, but is a welcome contribution. While Raza Sí, Migra No presents fascinating issues, in some instances, the reader is left wanting more. For example, in Chapter 7, Patiño brings up the Ku Klux Klan’s plan to start a patrolling program on the U.S.-Mexico border, and he goes on to discuss the press coverage the Klan received over their plan, but then readers do not get more information on this very intriguing matter. Similarly, Patiño raises the idea that “the amnesty provisions of [the Reagan administration’s] IRCA co-opted social movement forces that could have focused on uprooting the deportation regime” (p. 265), but does so in the conclusion and devotes only a few sentences to this assertion. These exceptions aside, Raza Sí, Migra No absolutely furthers the scholarship of Chicano activism, but in addressing immigration policies, this book also sheds light on a matter that is at the forefront of today’s political climate.

Elvia Rodríguez – California State University, Fresno.

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Object Lessons: How Nineteenth-Century Americans Learned to Make Sense of the Material World – CARTER (THT)

CARTER, Sarah Anne. Object Lessons: How Nineteenth-Century Americans Learned to Make Sense of the Material World. New York: Oxford University Press, 2018. 216p. Resenha de: BICKFORD III, John. The History Teacher, v.52, n.3, p.523-524, may., 2019.

Imagine a class exploring and classifying objects like archivists in a museum. Students’ thinking shifts from observation to inference as items are considered and reconsidered; the teacher guides attention towards concealed, unnoticed, or misunderstood aspects. Sarah Anne Carter’s Object Lessons details how nineteenthcentury American teachers used common items as catalysts for learning.

Object lessons, in their simplest form, appear as the teacher positions students to analyze and organize. Heuristics were taught and scaffolded, with the intent to teach how to think, not what to remember. Students scrutinized the minutiae for meaning and systematized their findings: natural or assembled, animal or plant, organic or inorganic, to list a few. Learners’ abstract thinking generated multifaceted understandings about the origins and avenues of familiar, overlooked objects (Chapters 1 and 2). The history and iterations of this interdisciplinary, inquirybased pedagogy are traced from Old World Europe to antebellum New York and the postbellum South; the reader follows the evolution of object lessons from classrooms into fictional stories and the trade cards, magazine advertisements, and street posters of political campaigns and business adverts (Chapter 3). Carter’s book is accessible, evocative, and engaging, much like the objects that form the book’s footing.

Object Lessons has import for scholars and teachers of distinct disciplines. Carter’s work contributes to the fields of American Studies, American history, and the history and foundations of American education. Education foundations researchers will recognize the ingenuity of having students interrogate windows, ladders, chairs, granite, tin, and other everyday objects for interconnections and manifest labor in their construction and relocation. Educational philosophy scholars will appreciate the epistemological and ontological assumptions in an ancestor of cognitive constructivism and sociocultural theory—prior knowledge impacts interpretations of new information; understandings are contextually contingent and emergent; evocative catalysts coupled with age-appropriate scaffolding sparks criticality; and through observation and reflection, teachers can better understand how students construct, organize, and articulate understandings. English teachers will identify a myriad of critical thinking and literacy opportunities, like close readings, text-based writing, and intertextual connections between diverse sources. Early childhood experts will spot the elicitation of curiosity in the hands-on, minds-on inquiry of a forebear of the Reggio Emilia approach and Montessori education. Educational psychologists will identify the cognitive tasks—analysis, synthesis, and evaluation— as students’ schema is refined with new experiences and understandings. Teachers will be reminded of education’s cyclical nature: inquiry, criticality, disciplinary literacy, interdisciplinary themes, and a relevant curricula that refine students’ prior knowledge all appeared within nineteenth-century object lessons and in twentyfirst- century educational initiatives. History teachers, especially, will likely find a treasury of new ideas. History students can engage in object lessons to experience the novelty, to recognize the austerity of nineteenth-century American schooling, and to illumine nineteenth-century America’s racial and social hierarchy (Chapter 4).

To highlight one example, the book features a detail-laden photograph of a white teacher leading a class of African American students examining a Native American. Carter unpacks this living object lesson to consider the accompanying ethical considerations along with a myriad of misrepresentations and anachronisms (pp. 113-114). Modeling how teachers were to guide scrutiny through interjection of obscure yet important details at opportune times, Carter points out how the school name of Hampton Institute, located in the photograph’s title, would mean little to students. The Hampton Institute was founded to train newly freed African Americans for service for which its most famous alumnus, Booker T.

Washington, would later be synonymous. Not grounded in literacy, object lessons complemented Hampton students’ training in gardening, farming, washing, and ironing. Photographs of Hampton’s newly freed African Americans learning to labor can offer an aperture through which twenty-first-century inhabitants can view America’s nineteenth-century past.

Object lessons ebbed, as Carter details, towards the nineteenth century’s end as new trends with differing emphases emerged. Traces of object lessons have remained or have reemerged at times. As Carter argues, “That some nineteenthcentury Americans learned and believed that things and pictures could stabilize or even crystallize ideas, however simple, should be part of the history of ideas in the United States” (p. 137).

John H. Bickford IIIEastern Illinois University

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Narrativas LGBTIQ | Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)Biográfica | 2019

“L’homosexualité dans ce monde, c’est possible tant qu’on n’en parle pas.”

Hervé Guibert (1990, p. 34)1

“Ce n’est pas grave si tu ne te réveilles pas tout seul Si à côté de toi c’est un gars et que t’as la larme à l’œil”

Eddy de Pretto (2017)2

Nous tenons, tout d’abord, à remercier la Revue Brésilienne de Recherche (Auto)Biographique d’avoir accepté notre proposition de diriger ce dossier, réunissant des recherches sur des récits LGBTIQ3 , et à féliciter son Conseil éditorial de son accueil face aux résonances de cette thématique dans l’actuel contexte politique brésilien. Leia Mais