História da Historiografia. Ouro Preto, v.12, n.30 2019.

Editorial

Publicado: 2019-08-27

Revista História e Culturas. Fortaleza, v.7, n.13, 2019.

História da Historiografia. Ouro Preto, v.12, n.30 2019.

Editorial

Publicado: 2019-08-27

Memória, ética e reparação | PerCursos | 2019

Verdadeira obsessão nas décadas finais do século XX, o tema da memória tem ocupado diferentes campos disciplinares e gerou expressões cuja circulação se deu nos mais variados estudos, tais como “cultura da memória”, “batalhas de memória”, “dever de memória” e “lugares de memória”. Grosso modo, o debate tem se concentrado, de um lado, na memória articulada a ações de mercantilização de representações sobre o passado (como em revivals e guinadas “retrô” que tomaram a indústria da moda e do entretenimento). De outro, rapidamente derivou para demandas por reparação que, ao viés estritamente político, agregaram o jurídico, resultando, inclusive, nas chamadas leis memoriais, que tentaram estabelecer se e como determinados momentos e processos históricos deveriam ser narrados. Afirmou-se, com isso, que o passado continuava vivo no presente, embora memórias difíceis sobre tempos e episódios sombrios por muito tempo ficassem ocultadas, recalcadas. Vindas à tona, em um esforço doloroso de continuada exposição e reexposição dos traumas vividos, buscaram − e ainda buscam − não somente o reconhecimento de crimes perpetrados contra determinados grupos como a punição dos responsáveis. No horizonte, a recomposição das relações sociais por meio de uma nova ordem ética, pós-traumas. Leia Mais

O Brasil Republicano (vol.5). O tempo da Nova República: da transição democrática à crise política de 2016: Quinta República (1985-2016) | Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves

É inegável que a História do Tempo Presente desponta como um dos campos que mais cresce na historiografia brasileira desde a última década. Ao contar com objetos de pesquisa até então poucos explorados e ao propor instigantes debates em torno da função social do historiador, esse campo vive um momento de intensa produção intelectual. Na sua busca por encontrar um espaço particular dentro de um campo historiográfico nacional já demarcado por correntes consolidadas, como a História Política, a História Cultural e a História Social, a História do Tempo Presente aparenta estar conquistando grande receptividade, tanto entre historiadores e historiadoras de gerações mais recentes, como entre nomes já consagrados da área que buscam tecer diálogos com essa vertente. Leia Mais

Percursos. Florianópolis, v.20, n.42, 2019.

Memória, Ética e Reparação

Editorial

Artigos Dossiê

Artigos Demanda Contínua

Resenha

Tradução

Publicado: 2019-08-21

ArtCultura – Revista de História Cultura e Arte. Uberlândia, v.21, n.38, 2019.

Apresentação

Dossiê: História & poesia épica

Polêmica

Artigos

Primeira mão

Resenhas

Outros

Publicado: 2019-08-21

Revista TEL. Irati, v.10, n.1, 2019.

A África na aula de história: experiências e possibilidades no Brasil e América Latina

Expediente | Editorial Board | Cuerpo Editorial

Editorial | Editor’s Note | Presentación

Artigos | Articles | Artículos

Publicado: 2019-08-13

El ámbito doméstico en el Antiguo Régimen: de puertas adentro | Gloria Franco Rubio

Gloria Rubio certamente não é unanimidade entre seus estudantes na Universidad Complutense de Madrid, onde leciona desde 1980 e a partir de 2011 tornou-se catedrática de História Moderna. Facilmente se encontra na web comentários pouco elogiosos a seu estilo inusitado de conduzir as aulas, exigindo silêncio absoluto, proibindo o uso de smartphones, tablets ou notebooks pelos alunos, demandando trabalhos manuscritos, sendo pouco receptiva a questionamentos e comentários ou mesmo fornecendo um cabedal gigantesco de detalhes difíceis de serem absorvidos a cada encontro semanal. No entanto, para quem já a assistiu apresentando suas pesquisas numa conferência, palestra ou mesa-redonda, o relato de tais idiossincrasias por seus ex-alunos parece só agregar certa peculiaridade a uma historiadora que prima pela análise aprofundada e arguta de seus temas de interesse, esmiuçando fontes e desvendando as relações subjacentes à superfície daquilo que, usualmente, se fazia mais perceptível no cotidiano ao longo da Idade Moderna europeia.

O presente livro é resultado de dois extensos projetos de pesquisa coordenados pela docente madrilena entre 2000 e 2008, ambos tratando da vida cotidiana na Espanha da Modernidade e financiados pela UCM e pelo governo espanhol1. Se em Cultura y mentalidad en la Edad Moderna, livro que publicou ainda em 1998, a pretensão de Rubio era construir um amplo panorama sobre a Europa ocidental entre os séculos XV e XVIII, a partir de enfoques da História Cultural e da análise da Cultura Material, a virada do século XX para o XXI levou-a a voltar o seu olhar cada vez mais para o ambiente doméstico e para o papel das mulheres neste espaço. Para aqueles que já conhecem os escritos da autora, fica fácil perceber essa trajetória em diversos de seus artigos e capítulos2 ou mesmo nos números temáticos (RUBIO, 2002; RUBIO, 2015) que organizou nos Anejos dos Cuadernos de Historia Moderna, periódico especializado que dirige há vários anos. Leia Mais

Os manuscritos medievais da Universidade de Brasília | História, histórias | 2019

Era uma vez três belos códices, certamente produzidos em algum mosteiro português entre os séculos XIV ou XV, que muitos anos depois, por volta de 1925, foram adquiridos na Vila do Conde, em Portugal, pelo Dr. Jorge de Faria. Nessa época, já não eram mais “códices”. Eram folhas de pergaminho soltas, pouco mais de 200, oriundas certamente de algum mosteiro ou casa religiosa de que saíram, ou por causa da extinção das ordens em 1834, ou por causa de atos violentos que se seguiram relacionados aos movimentos que levaram à proclamação da República em Portugal, em 05 de outubro de 1910.

Por volta de 1925 estavam emprestados à Biblioteca Nacional de Lisboa, onde foram lidos e copiados por Pedro de Azevedo.

Quem nos conta essa história é Serafim da Silva Neto (1956), ilustre filólogo brasileiro, no seu livro Textos medievais e seus problemas. Leia Mais

História, Histórias. Brasília, v.7, n.14, 2019.

Os manuscritos medievais da UnB (jul-dez)

DOI: https://doi.org/10.26512/hh.v7i14

Dossiê

Artigos

Resenhas

Publicado: 2019-08-11

Mare Nostrum – Estudos sobre o Mediterrâneo Antigo. São Paulo, v.10, n.2, 2019.

Dossiê “Trabalho no Mundo Antigo”

EDITORIAL

DOSSIÊ

RESENHAS

PUBLICADO: 2019-08-09

Revista de Literatura, História e Memória. Cascavel, v.15, n.25, 2019.

PÁGINAS INICIAIS

DOSSIÊ LITERATURA E SUAS FRONTEIRAS: DO LOCAL E DO GLOBAL

PESQUISA EM LETRAS NO CONTEXTO LATINO-AMERICANO E LITERATURA, ENSINO E CULTURA

PUBLICADO: 09-08-2019

História. Assis/Franca, v.38, 2019.

Dossiê: A imprensa francófona nas Américas nos séculos XIX e XX

La Presse Francophone dans les Amériques au XIXe Siècle : état des travaux, premières considérations
Cooper-Richet, Diana· abstract in French | Resumo · text in French · French (

La presse francophone d’Amérique du Nord au XIXe siècle: jalons et périodisation
Pinson, Guillaume· abstract in French | Resumo · text in French · French (

Les almanachs francophones dans les Amériques: transferts, structures, évolutions
Lüsebrink, Hans-Jürgen· abstract in French | Resumo · text in French · French (

Francophone printed press in Brazil: transnational circulation and media culture in 19th and 20th centuries
Guimarães, Valéria dos Santos·  | Resumo · Texto completo ·

La Presse Francophone au Pérou au XIXe Siècle: une Histoire en pointillé
Riviale, Pascal· abstract in French | Resumo · text in French · French (

La presse française en Argentine
Oteiza Gruss, Viviane Inés· abstract in French | Resumo · text in French · French (

La presse francophone au Mexique: signes de globalisation
Santiago Gómez, Arnulfo Uriel de· abstract in French | Resumo · text in French · French (

Juan Lasserre: french immigrant and Río de la Plata journalist (1826-1850)
Moyano, Julio Eduardo·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

Between neutrality and the patriotic commitment: the writings of Paul Groussac in Le Courrier de la Plata during the Great War
Sánchez, Emiliano Gastón·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

Francophone immigrants in the origins of visual communication in the Argentine periodical press (1827-1870)
Ojeda, Alejandra Viviana·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

Le feuilleton en tant que matrice du Patriote Français (Montevideo, 1843-1850)
Bolón, Alma· abstract in French | Resumo · text in French · French (

Criticism and sociability: the theatrical rubric of L’Écho de l’Amérique du Sud (1827-1828)
Gimenez, Priscila Renata·  | Resumo · Texto completo ·

Ambivalent Literature: Conceptual Challenges in The Study of Literature in Three Brazilian Francophone Newspapers (1857-1906)
Anjos, Yuri Cerqueira dos·  | Resumo · Texto completo ·

Mariátegui, Clarté’s subscriber
Tornquist, Carmen Susana·  | Resumo · Texto completo ·

Geografia: une expérience éditoriale transnationale aux premiers temps de L’Université de São Paulo et de L’Associação dos Geógrafos Brasileiros
Huerta, Antoine· abstract in French | Resumo · text in French · French (

Dossiê: Relações entre Crime e Gênero: um balanço

María Josefa De La Encarnación: Possessed and Mad before the Inquisitors of Lima, 1714-1719
Urra Jaque, Natalia·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

Assassins for Passion: Infanticides in Rio de Janeiro, 1841-1936
Prada Merchán, Jhoana·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

Accomplices and Executioners: Masculinities, Gender and Class in the Crimes of Infanticide (province of Buenos Aires, 1886-1921)
Calandria, Sol·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

Crazies and Criminals: Female Crimes and Social Control in European Colonization Communities in Rio Grande do Sul (20th century)
Vendrame, Maíra Ines·  | Resumo · Texto completo ·

But what is not a woman capable of, when she knows how to unleash the passions of men, and even put the stamp of religion and piety on crime? Gender and narrative in German immigration in Rio Grande do Sul
Gevehr, Daniel Luciano; Meyrer, Marlise Regina·  | Resumo · Texto completo ·

Neutral Territory: Juxtaposed Sovereignties and Duels of Honor at the Margins of The South American National States from the Middle of the 19th Century to the First Decades of the 20th Century
Thompson Flores, Mariana Flores da Cunha; Remedi, José Martinho Rodrigues·  | Resumo · Texto completo ·

Prostitution and police: women and men in the sights of the vice squad in Belo Horizonte, MG, Brazil (c. 1920/1930)
Pereira, Lucas Carvalho Soares de Aguiar·  | Resumo · Texto completo ·

Judges, doctors and the sick: Practices and meanings in the social construction of the crime of venereal disease contagion in Argentina during the first half of the 20th century
Biernat, Carolina·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

Notes on the Status of Black Women in Post-Abolition Barbados based on a case of Femicide
Rocha, Elaine·  | Resumo · Texto completo ·

On the (dis)value of Life: Feminicide and Biopolitics
Maia, Cláudia·  | Resumo · Texto completo ·

The Ethics of Monogamy and the Spirt of Feminicide: Marxism, Patriarchy and Adultery in Ancient Rome and in Current Brazil
Azevedo, Sarah Fernandes Lino de·  | Resumo · Texto completo ·

Women, Public Policies and Fight Against Gender Violence
Vigano, Samira de Moraes Maia; Laffin, Maria Hermínia Lage Fernandes·  | Resumo · Texto completo ·

Artigos Livres

“The time of the freedmen”: conflicts and Litigation around the Free Womb Law in the Rio de la Plata (1813-1860)
Candioti, Magdalena·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

Writing, Lights, Nation and Empire in the texts and paratexts of 18th Century Brazilian born writers and translators
DeNipoti, Cláudio Luiz·  | Resumo · Texto completo ·

Olga’s struggle for her rights: immigration, health and women’s labor in Pelotas, RS (in the 1940s)
Gill, Lorena Almeida·  | Resumo · Texto completo ·

Pirates vs. Press Gangs: The Battle for the Atlantic
Brunsman, Denver·  | Resumo · text in English | Resumo · English ( ) |

Representations on the biodiversity of the Atlantic Forest in the reports of nineteenth-century travelers and scientists
Schwarz, Maria Luiza; Coelho, Ilanil·  | Resumo · Texto completo ·

The Pan-Africanist debate in the journal Présence Africaine (1956 -1963)
Barbosa, Muryatan Santana·  | Resumo · Texto completo ·

A fighter journalist: Clovis Moura, Flama and the PCB’s cultural politics (1951-1952)
Malatian, Teresa·  | Resumo · Texto completo ·

Between tropical Yeomanry and colonial Trobrianders: origins and debates on the historiography of Brazil’s colonial background
Lopes, Gustavo Acioli·  | Resumo · Texto completo ·

The reception of the work and legacy of Gandhi in colonial Portugal: between peace and war
Melo, Daniel·  | Resumo · Texto completo ·

Nobody teaches History… but everyone learns a little with it: a reflection on the goals of History in High School
Mello, Ricardo Marques de·  | Resumo · Texto completo ·

L’Iride Italiana: Italianity in the nineteenth-century Brazil
Silva, Gisele Batista da·  | Resumo · Texto completo ·

Railway photography and technology: analysis of the photographic record of Brazilian railway in the 19th century
Oliveira, Eduardo Romero de·  | Resumo · text in English | Resumo · English

Continuity or disconnection regarding the 68 Movement and the incubation period of the far-left armed violence in Italy
Re, Matteo·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

There’s no flowers when women´s rights are disrespected: Purple Hibiscus, by Chimamanda Ngozi Adichie
Gomes, Márcia Letícia; Barbosa, Xênia de Castro·  | Resumo · Texto completo ·

German immigration, ethnicity and professional identity: colonization in Joinville (Dona Francisca), province of Santa Catarina. 1851-1889
Brepohl, Marion Dias; Nadalin, Sergio Odilon·  | Resumo · Texto completo ·

Contributions to the Study of the First World War, 1914-1918: Memories of the Fighter Pilots
Arguelhes, Delmo de Oliveira; Avila, Carlos Federico Domínguez·  | Spanish · text in Spanish · Spanish (

Records of an Exile: Subjectivity and Political Learning in the Travel Diary of Francisco de Paula Santander (1829-1832)
Fedrigo, Fabiana de Souza; Bittencourt, Libertad Borges·  | Resumo · Texto completo ·

Review

Novo Mundo e Modernidade: debates e estudos sobre a colonização das Américas na Idade Moderna
Sá, Charles Nascimento de· Texto completo ·

Document

The catalogue of Queen Carlota Joaquina´s library
Sousa, Moizeis Sobreira de·  | Resumo · Texto completo ·

Boletim Historiar. São Cristóvão, v.6, n.2, 2019.

Artigos

Resenhas

Publicado: 2019-08-08

Sankofa. São Paulo, v.12 n. 23, 2019.

ARTIGOS

RESENHAS

ENTREVISTA

PUBLICADO: 2019-08-08

Meridiano 47 – Journal of Global Studies. Brasília, v.20, 2019.

Artigos

Dossiê

Publicado: 2019-08-08

Come si diventa nazisti. Storia di una piccola città – ALLEN (CN)

ALLEN, Williams S. Come si diventa nazisti. Storia di una piccola città. Torino: Einaudi, 2005. (Ristampa a cura di L. Gallino). Resenha de: ORI, Giada. Clio’92, 7 ago. 2019.

ll titolo del libro di Allen di primo acchito ci comunica gli elementi caratterizzanti del libro:

  • salta subito all’occhio che Allen vuole spiegarci il processo attraverso il quale i tedeschi di una piccola città diventarono seguaci del nazismo;
  • il periodo storico è ben delineato, si tratta del breve sessennio dal 1930 al 1935;
  • il territorio di cui parla il libro è molto delimitato, si tratta infatti di una piccola città da lui chiamata Thalburg (in realtà Nordheim nell’Hannover)

Allen tenta col suo libro di metterci in condizione di capire come sia stato possibile che un partito quasi inesistente, in poco tempo sia divenuto il primo e successivamente l’unico di tutto il territorio. Prende in considerazione una piccola città come studio di caso per rendere più comprensibile il mutamento avvenuto in quegli anni in tutta la Germania, dall’arrivo dei nazisti sino alla loro salita al potere.

Il libro di Allen presenta sia una introduzione di Luciano Gallino, sia una prefazione dell’autore. Nella prefazione l’autore ci spiega che ha preso in considerazione una città piccola della Germania per il semplice motivo che mai nessuno si era occupato di una situazione locale per parlare del nazismo, precisando che le città piccole hanno come caratteristica la scarsa riservatezza e molti pettegolezzi.

Afferma che la città di Thalburg aveva una buona dose di documenti da poter consultare e ci mette a parte che molti cittadini si lasciarono intervistare con la promessa dell’anonimato anche della città stessa (ecco spiegato, quindi, il motivo del perché la città di Thalburg è inesistente sulle cartine).

Dunque, una molteplicità di fonti — tra cui quelle di memoria — è messa a frutto dallo storico statunitense.

L’introduzione invece ci riassume in poche pagine il ruolo della NSDAP (Partito Nazionalsocialista dei Lavoratori Tedeschi) e dell’SPD (Partito Socialisti di Germania) nella città di Thalburg: di come NSDAP si sia fatto strada tra i cittadini privando l’SPD di moltissimi voti lavorando sulla preoccupazione che i cittadini avevano del comunismo, di come il partito nazista abbia manifestato contro il trattato di Versailles colpendo nel vivo i cittadini che non si erano ancora ripresi da quella umiliazione, come l’SPD non abbia fatto nulla per cercare di fermare l’avanzata del partito hitleriano nella città.

L’autore, a questo proposito, alla fine del libro, analizza i vari dati raccolti nelle sue ricerche organizzandoli in tabelle statistiche e in grafici, rendendo possibile, attraverso la loro lettura, la comprensione immediata delle situazioni e dei processi, anche senza aver prima letto l’intero libro.

Grafici e tabelle esplicano perfettamente i dati riguardanti la disoccupazione, le elezioni e le frequenze delle riunioni dei vari partiti a Thalburg negli anni che il libro prende in considerazione.

Allen non propone una periodizzazione ragionata dei sei anni analizzati. Ma all’interno del suo libro, la si può trovare schematizzata nell’indice. Dapprima suddivide i sei anni da lui presi in considerazione in due parti: dal gennaio 1930 al gennaio 1933, poi dal gennaio 1933 a quello del 1935. All’interno delle due parti i capitoli creano un’ulteriore periodizzazione suddivisa in stagioni.

Allen articola il libro in due parti: la morte della democrazia, dal gennaio 1930 al gennaio 1933, e introduzione alla dittatura, dal gennaio 1933 al gennaio 1935.

La prima parte inizia col darci alcune informazioni sulla città: dov’era collocata, più o meno, sulla cartina, com’era “fisicamente”, quali erano le sue condizioni durante la depressione, quale il grado di disoccupazione, quali i lavori svolti dagli abitanti, quale il ruolo delle industrie. Il terzo capitolo “entrano i nazisti”,  ci spiega come nel giro di pochissimi mesi, il partito NSDAP sia riuscito a diffondersi nella città in cui il partito SPD era già ben attecchito.

Da questo terzo capitolo, sino al nono, Allen ci mostra come lentamente il partito di Hitler si sia impadronito della città, sfruttando la disoccupazione dilagante, manifestando contro il trattato di Versailles, utilizzando i giornali per la loro propaganda, e facendo presente come l’SPD, iniziò a perdere voti, smettendo di lottare contro un partito antisemita, violento e rivoluzionario.

La seconda parte del libro inizia con le ultime elezioni in Germania nel 1933, anno in cui Hitler divenne cancelliere e l’NSDAP iniziò a lavorare per istaurare una dittatura.

La città da quel momento fu totalmente soggiogata al partito, con ormai pochissime persone, totalmente emarginate, che militavano ancora per l’SPD.

Il capitolo “il regime del terrore” è incentrato sul tentativo dei nazisti di evitare qualsiasi minima reazione da parte di coloro che non erano militanti di Hitler, facendo boicottare i loro negozi, proibendo le armi al privato, mettendo fuori legge il partito socialista e sciogliendo i sindacati. In questo capitolo si inizia a parlare del campo di concentramento di Dachau, in cui venivano mandati gli avversari politici, e di cui gli abitanti di Thalburg erano a conoscenza. Le accuse per cui si poteva venire arrestati erano assai labili, ma come veniva scritto anche sui giornali, quando i nazisti mettevano gli occhi su qualcuno, in un modo o in un altro, lo prendevano.

Lentamente la società di Thalburg, fino a quel momento ben organizzata, iniziò a disgregarsi. I circoli cittadini iniziarono ad essere controllati dai nazisti che non lasciarono più nulla di intentato per evitare che ideologie diverse dalle loro attecchissero all’interno della città.

Nel quindicesimo capitolo “gli aspetti positivi” Allen, per darci una visione complessiva del periodo, ci mostra l’altra faccia della medaglia, ovvero la positività del nazismo nella città. I nazisti, infatti, trovarono la soluzione alle difficoltà economiche che imperversavano a causa della depressione. I soldi nelle casse della città, e anche quelli stanziati da Hitler, permisero di far diminuire la disoccupazione già dal luglio 1933. Nel 1935 tutti i segni della depressione erano scomparsi.

Il capitolo “disgregazione della società”, tratta in primis della questione ebraica.

Allen ci spiega che a Thalburg gli ebrei erano una minoranza e che da una generazione all’altra il numero cresceva minimamente. Essi erano ben integrati nella società: difatti, gli ebrei non abitavano in un quartiere ebraico, svolgevano piccole attività commerciali e non risentivano molto dell’antisemitismo ereditato dal medioevo, poiché era poco sviluppato nella città.

Ma con la salita al potere dei nazisti la situazione cambiò: le quasi inesistenti frasi antisemite comparse nei discorsi precedenti al 1933 divennero realtà il 29 marzo di quell’anno. L’antisemitismo dei nazisti si manifestò non solo nei discorsi, ma anche con i fatti: nell’aprile di quell’anno infatti il boicottaggio degli ebrei diede il via al processo che solo dieci anni dopo terminò con le camere a gas. Questo primo attacco diede come risultato il disgregarsi del rapporto con i non ebrei dal punto di vista sociale.

Ma era, come si sa, solo il primo passo verso qualcosa di molto più ampio. Inizialmente si voleva solo evitare che i rapporti umani ostacolassero la dittatura e le idee che erano alla base di essa. Thalburg e gli ebrei non si accorsero in tempo del problema che avrebbe creato l’ideologia antisemita all’interno della città, anzi, gli ebrei li ritenevano, inizialmente, innocui.

Ma il boicottaggio fu una catastrofe per la piccola cittadina: tutti iniziarono a capire che gli ebrei erano dei reietti nel regime nazista, che erano da evitare per salvaguardare la propria incolumità, e lentamente furono messi tutti ai margini. Molti ebrei appartenevano a dei club, soprattutto i più facoltosi, come il banchiere Braun, fiducioso e tutto intenzionato a non andarsene dalla sua città, a nessun prezzo, allontanandosi dai club solo per evitare questioni spiacevoli, ma non perché credeva che quella situazione non sarebbe durata a lungo. Era un uomo fiducioso. Molto meno lo fu Gregor Rosenthal, che all’opposto del suo compaesano, si chiuse in se stesso e ruppe tutti i contatti sociali. Venne allontanato da tutte le congregazioni e il suo modo di fare inquietò così tanto i thalburghesi che crebbe in loro l’idea che fosse poco conveniente farsi vedere anche solo parlare con un ebreo. Non fu sicuramente l’unico con un tale comportamento, anzi, era molto più facile che gli ebrei si comportassero in modo schivo e quasi da invisibili che non da uomini di mondo come il banchiere. Non solo le relazioni sociali degli ebrei si rovinarono in questo periodo: in poco tempo, attraverso il controllo dei club, con la creazione di nuovi, con la fusione o lo scioglimento di altri, a causa delle tensioni e delle paure dovute alla sfiducia che tutti avevano verso il prossimo, sentimento che cresceva giorno dopo giorno, le relazioni divennero minime. Non ci si fidava più nemmeno dei proprio amici intimi, in poco tempo nessuno desiderava più riunirsi per scambiarsi opinioni o semplicemente chiacchierare, tutti temevano di dire qualcosa di sbagliato e di finire nei guai.

È molto interessante il modo con cui Allen costruisce la conoscenza di come ci si trasforma in sostenitori di un partito antidemocratico e razzista.

Egli presenta le situazioni e svolge i processi del loro mutamento perciò nel libro sono alternati blocchi testuali descrittici con quelli narrativi.

I primi due capitoli: l’ambiente  anatomia della città hanno lo scopo di farci conoscere lo stato di cose della cittadina di Thalburg nel 1930. In essi troviamo la descrizione fisica della città, del territorio regionale, della situazione demografica, del clima religioso, delle classi sociali e dei loro club.

Il capitolo sugli ebrei leggiamo prima la descrizione di  come essi vivevano prima dell’avvento dei nazisti e negli anni successivi alla loro vittoria elettorale, poi i narrativi ci raccontano i giorni del boicottaggio, come certi facoltosi ebrei reagirono alle leggi antisemite di fronte agli amici e alla società e di come i cittadini si comportarono verso di loro: amichevolmente alcuni, andandoli a cercare nei loro negozi e per la strada proprio per parlarci, i socialisti in testa, oppure approfittandosi di loro, facendo spese folli nei loro negozi senza mai pagare un soldo.

Allen conclude il suo libro facendo una carrellata dei fatti successivi al 1935: di come i nazisti iniziarono a manifestare le loro vere intenzioni sulle questioni religiose, di come già nel 1937 il ritmo dell’espansione economica rallentò, di come nessuno si oppose ai nazisti nel 1938 nella “notte dei cristalli”.

Durante il 1944 i bombardieri americani colpirono in  parte la città, ma in tutti i casi i cambiamenti furono rilevanti: molti profughi si trasferirono in quella cittadina per fuggire agli orrori della guerra, la popolazione aumentò esponenzialmente e all’arrivo degli alleati si sottomisero senza combattere. Nel 1950 la popolazione dell’inizio degli anni trenta era raddoppiata.

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 La Terra è finita. Breve storia dell’ambiente – BELIVACQUA (CN)

BEVILACQUA, Piero. La Terra è finita. Breve storia dell’ambiente. Roma-Bari: Editori Laterza, 2009. 209p. Resenha de BRIONI, Germana. Clio’92. 7 ago. 2019.

Anche in questo libro, La Terra è finita, Bevilacqua coniuga il rigore della ricerca con la disposizione intellettuale alla domanda di senso, propria di chi appartiene a una cultura civile che cerca nuove e vecchie responsabilità per evitare la ripetizione degli errori in futuro. Il suo itinerario storico è sintetizzato dalle sue stesse parole nell’introduzione: “Come siamo arrivati fin qui?” ed egli intende svolgerlo procedendo alla ricerca e alla ricostruzione di quei fenomeni che, nel passato remoto e più recente, sono stati e sono all’origine delle gravi problematiche ambientali di oggi, nell’intento di individuare le cause e i responsabili dell’attuale situazione di alterazione della natura. L’autore è consapevole che già molti studiosi, in campi disciplinari diversi, hanno fornito ipotesi interpretative alla domanda che egli ripropone: interpretazioni di tipo culturale (tra cui il concetto di natura per il cristianesimo) e di tipo economico, come l’approccio liberistico, o quello capitalistico. Di tali interpretazioni egli formula argomentate critiche, introducendo l’accenno a una posizione ambientalista che svilupperà nel prosieguo del libro. La sua dichiarazione di intenti è una ricostruzione della storia dell’ambiente rivolta al passato e nel contempo al futuro, pertanto cerca di coniugare le due diverse esigenze, e ritiene necessario considerare da un lato i danni, le distruzioni, le alterazioni che negli ultimi due secoli hanno cambiato la faccia della Terra; dall’altro le iniziative a livello politico e legislativo, congiunte ai mutamenti di sensibilità e di cultura nei riguardi dell’ambiente, che hanno contenuto i danni e cercano di impedire il peggioramento della situazione ambientale, a livello italiano, europeo e mondiale.

Bevilacqua dichiara apertamente che lo storico non deve rinunciare a giudicare, ma deve cercare la risposta al problema posto all’inizio, tenendo conto dei processi, non dei singoli fenomeni o protagonisti. Avvia perciò una accuratissima analisi di un complesso di processi storici, responsabili della degradazione dell’habitat, in primis il processo storico che si è svolto soprattutto in età contemporanea. (pag. 27)

L’oggetto primo di analisi è un tema di particolare interesse per Bevilacqua: il lungo processo che dall’agricoltura preindustriale ha portato all’agricoltura contemporanea. Mentre denomina l’agricoltura una delle attività più pericolose per la salute umana (p. 77), lo storico individua le ombre della Modernità, principalmente nello sfruttamento, da sempre presente, ma in età contemporanea divenuto abnorme, in maniera finora impensabile, di territori europei e extraeuropei, di risorse energetiche non rinnovabili; infine, ma soprattutto, nello sfruttamento delle risorse umane, cioè di quel frammento di natura che è l’uomo, dominato dalla tecnica. Processi di alterazione e contaminazione anche in passato riscontrabili a livello locale, ma che nel XX secolo, a seguito del processo di industrializzazione, a cui attribuisce la responsabilità maggiore, diventano universali. La trattazione dello storico si allarga a una visione planetaria; analizza e offre innumerevoli significativi esempi dell’accelerazione su scala globale di processi che minacciano la sopravvivenza stessa del genere umano. Egli mette continuamente a confronto la situazione della natura e dell’ambiente antropico nell’età preindustriale con la situazione dell’età industriale, in un arco temporale di due secoli. Ne coglie i più significativi fattori destabilizzanti: per il Novecento, fornendo precisi dati quantitativi e geografici risalenti al 2008, pone l’accento sull’accelerazione demografica, sull’urbanesimo vertiginoso e la formazione delle megalopoli, sulla crescita del consumo di beni alimentari. Individuando la relazione tra questi fenomeni tuttora in crescita e i trasferimenti di popolazione, introduce il concetto di “profughi ambientali”, ai nostri tempi di assoluta attualità. Profughi in fuga da fenomeni naturali antichi e nuovi, in massima parte imputabili all’uso sconsiderato del territorio. Tra i molti esempi citati di tale uso/abuso, l’erosione della Terra; il diboscamento; la presenza di rifiuti tossici; la radioattività, alterazione invisibile quanto pericolosa; la contaminazione delle campagne; la desertificazione e la perdita di terra fertile. In merito a quest’ultima, il dato totale risulta terribilmente allarmante: oggi (2008) l’area degradata dall’azione dell’uomo è calcolata in un quarto delle terre coltivate.

Le varie iniziative a scala planetaria per il contenimento e la riduzione dei danni provocati dai fenomeni ricordati, spesso non vengono rispettate: il Protocollo di Kioto del 2005, uno dei primi esempi di accordo internazionale, non viene rispettato proprio dalle potenze industriali come gli Stati Uniti, o in avanzato grado di industrializzazione, ugualmente responsabili dei danni maggiori. Lo storico compie un’analisi approfondita della situazione agricola in età contemporanea: se già a inizio Novecento l’agricoltura industrializzata presenta degli evidenti vantaggi, assicurando un enorme incremento produttivo, per lo meno nei paesi dell’Occidente, presenta anche molti limiti: infatti la trasformazione nell’uso di concimi, di risorse energetiche sprecate, di modalità di allevamento degli animali del tutto disgiunto dalla coltura del terreno provoca infiniti danni al territorio e al paesaggio.

Bevilacqua vede nell’agricoltura biologica un’alternativa indispensabile per rimediare, per mantenere la biodiversità, nella convinzione che l’agricoltura biologica rappresenta il corrispettivo agricolo di una fase superiore del processo di civilizzazione (pag. 104). Informazioni sulle iniziative legislative e su accordi a livello planetario arricchiscono il saggio: sono azioni non di facile attuazione, ma che impegnano i governi di tutto il mondo a incrementare l’uso di risorse rinnovabili, a incrementare la biodiversità, lo sfruttamento sostenibile delle acque; a limitare i prodotti ad alta tecnologia, come gli OGM, di cui lo storico vede l’inutilità, e anzi evidenzia i danni provocati dal loro uso distorto; a riciclare e a limitare gli scarti e i rifiuti inquinanti industriali, con sistemi che già oggi nuove tecnologie, intelligentemente applicate, consentono.

Dopo aver identificato i caratteri specifici dell’ambiente naturale italiano e le trasformazioni in esso avvenute, denunciando gli errati interventi del passato e del presente su paludi, laghi, habitat selvaggi, e la disordinata proliferazione urbana e industriale, come cause della degradazione dell’ambiente e del paesaggio italiano, Bevilacqua sottolinea come, da parte delle classi dirigenti, ci sia ancora scarsa percezione di quella casa comune che è l’ambiente (pag. 191) e che esso ha meno difensori che altrove. Nonostante l’amarezza suscitata dalle considerazioni precedenti, con sguardo sempre rivolto al futuro, egli sostiene un nuovo ambientalismo, come reazione di portata globale agli squilibri prodotti dall’insipienza delle azioni umane, compiute solo nella logica di puro sfruttamento economico.

Come si legge nell’introduzione a una antologia di saggi a cura di Leandra D’Antone e Marta Petrusewicz e a lui dedicati (La storia, le trasformazioni. Piero Bevilacqua e la critica del presente, Donzelli, 2015), “la storia per Bevilacqua […] è sapere che si rigenera costantemente; è coscienza critica del presente, consapevolezza del passato, immaginazione del futuro; è fertile lezione trasmessa ininterrottamente dalla generazione più anziana a quella più giovane”.

Germana Brioni

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Novecento.org – (CN)

Novecento.org. Resenha de: COCILOVO, Cristina. La nuova edizione della rivista dell’Istituto nazionale per la storia del movimento di liberazione in Italia. Clio’92, 7 ago. 2019.

Torna in veste rinnovata Novecento.org,  la rivista on line di didattica della Storia dell’Istituto nazionale per la storia del movimento di liberazione in Italia e degli altri 68 Istituti italiani ad esso associati. È un bentornato a una rivista che ha avuto un illustre passato per il livello dei contributi e la partecipazione degli utenti, per lo più insegnanti e ricercatori,  interessati ai temi della didattica della Storia del 900. Appunto per questo, nella pagina di profilo della rivista , non manca un ampio ricordo  di Antonino Criscione che aveva progettato e curato la precedente versione, chiusa ormai da un decennio.

L’intenzione degli editori/autori è di continuare la tradizione, innovandola e adeguandola ai tempi.  La mission della versione  del 1999 è stata infatti ripresa in pieno: “L’ ambizione di questa rivista on line è quella di raccogliere, condividere e redistribuire saperi, conoscenze, risorse utili per la ricerca didattica e l’innovazione su questo terreno utilizzando a questo fine  le potenzialità di Internet e stimolando la nascita e lo sviluppo della comunità virtuale degli insegnanti-ricercatori di storia.” Ma l’aggiunta di un’indicazione significativa può permettere ora di ampliare lo sguardo dei docenti, grazie alla rete di relazioni scientifiche degli Istituti: “La rivista è stata quindi pensata e progettata come uno strumento affidabile per i docenti italiani che vogliano aggiornarsi dal punto di vista storico e didattico, … un punto di riferimento[… ] su quanto avviene in Europa in questo specifico ambito di insegnamento.

Sin dal numero 0 del giugno del 2013 la rivista si è confermata come un formidabile supporto per la didattica della Storia del ‘900, sia per le riflessioni metodologiche che per i materiali offerti e immediatamente fruibili.  Ben presto ci auguriamo che diventi uno strumento indispensabile per i docenti  che desiderano aggiornarsi.

Si assiste infatti da molti anni all’assenza di un serio processo di formazione pubblica degli insegnanti. Essa viene gestita, fra mille ostacoli, da associazioni disciplinari o appunto Istituti di ricerca come l’ISMLI, consapevoli di supplire a un compito fondamentale per l’educazione dei futuri  cittadini.

Diretta da Antonio Brusa, colonna portante della didattica della Storia, assistito a sua volta da una redazione che raccoglie i nomi di maggior esperienza dell’ISMLI e del Landis, la rivista ha avuto il suo battesimo in un riuscito convegno, tenutosi a Piacenza nel marzo 2013, sul tema “La Storia nell’era digitale”. Introdotto da una stimolante relazione di Antonio Brusa, il convegno ha visto succedersi  in due mattinate docenti e ricercatori esperti nell’utilizzo delle tecnologie digitali applicate alla storia. Nel corso del pomeriggio, tre laboratori didattici rivolti ai docenti della primaria (a cura di Paola Limone), secondaria di primo e di secondo grado (gestiti da Cristina Cocilovo e Patrizia Vajola), hanno messo a fuoco le modalità innovative di una didattica centrata sulla costruzione di conoscenze e di competenze storiche attraverso l’uso del digitale.

Gli atti del convegno sono pubblicati nella sezione “Dossier”, con la riproposizione in modo pressoché integrale di molti interventi (BrusaCigognettiFerriNoiretBiondiDi Tonto, Mattozzi, Facci, Formenti), seguiti dai materiali presentati nei laboratori.

Gli atti del convegno sono pubblicati nella sezione Dossier, con la riproposizione pressoché integrale degli interventi (Antonio Brusa, Luisa Cigognetti, Paolo Ferri, Serge Noiret, Giovanni Biondi, Ivo Mattozzi, Giuseppe Di Tonto, Carlo Formenti, Michele Facci), seguiti dai materiali presentati nei laboratori.

Sarebbe opportuno  guardare la sequenza degli interventi videoregistrati, sempre accompagnati da un fedele testo scritto: si affrontano temi chiave dell’uso di Internet da parte di allievi e docenti che affrontano la Storia, senza dimenticare che (citando Brusa) ” La disciplina storia è uno statuto di regolazione dei saperi, cioè un insieme di regole e operazioni da compiere per la specificità della formazione storica: la messa in prospettiva, la contestualizzazione, i lessici e le grammatiche fondamentali del sapere storico, la costruzione di grandi codici di senso.”

Il dibattito sull’uso della rete, che può essere spaesante, rischioso, e insieme un’inesauribile risorsa, ha accompagnato tutto il percorso del convegno nella consapevolezza che l’epistemologia, la grammatica e la sintassi della Storia sono da anteporre alle tecnologie, sebbene possano trarne reciproci vantaggi se messe in sinergia.

I materiali pubblicati in Laboratori – Storia e nuove tecnologie, offrono spunti per il docente che vuole affrontare la Storia secondo un approccio costruttivista, per attivare gli studenti secondo percorsi coerenti con la propria modalità cognitiva, approfittando dei vantaggi offerti dalla rete e dalle nuove tecnologie (ma fino a che punto sono nuove? Se lo domanda maliziosamente Facci).

Infine sono state attivate le altre sezioni nel Menù del sito. In Pensare la didattica viene recensito l’avvincente romanzo In territorio nemico, sulla maturazione di due giovani attraverso l’avventura partigiana. Scritto  secondo il metodo di Scrittura Industriale Collettiva (SIC), offre spunti operativi alle classi che vogliono cimentarsi nella produzione di un testo storicoIn Didattica in classe (un chiaro riferimento all’intenzione espressa nell’introduzione di  pubblicare riflessioni teoriche e percorsi di didattica praticata) è presentato “Lettere dall’America. Una storia d’amore e di emigrazione, affinità elettive“: un epistolario di M.G. Salonna, che, oltre ad essere una lettura stimolante in sé, si accompagna ad altri materiali che lo collocano nel contesto storico del suo tempo. Il tutto infine viene impiegato in un il bellissimo laboratorio didattico che consente agli studenti di rivivere la grande Storia attraverso la storia di gente “apparentemente” comune. In Uso pubblico della storia troviamo ricche riflessioni  per la valorizzazione del calendario civile, che può diventare uno strumento per il curricolo di Storia, a cominciare dalle giornate della memoria e del ricordo.

Una citazione a parte merita l’ultima sezione del Menù, Ipermuseo, dove sono pubblicate sotto forma di presentazione o slide share mostre realizzate dagli Istituti della Resistenza  in anni recenti su temi caldi del ‘900: avvento del fascismo, resistenza, deportazione, la  difficile convivenza sul  confine orientale nell’alto Adriatico, la realizzazione dell’esperienza pedagogica innovativa nel Convitto Rinascita di Venezia. L’uso della rete rende queste mostre fruibili a distanza di tempo, ancora spunto di riflessioni e di  possibili approfondimenti nelle classi.

La nuova versione del sito si presenta con una veste grafica molto  lineare, ben leggibile  e invogliante. La navigazione è semplice e immediata. I materiali facilmente scaricabili. Comodo poi è l’indice di ogni numero della rivista, che permette di consultarla in modo sequenziale come se fosse una pubblicazione cartacea (vedi alla voce Indici del Menù).

Un particolare prezioso: la vecchia rivista resta in consultazione ed è velocemente raggiungibile dalla pagina home d’apertura del sito. Di fatto è ancora un pozzo di informazioni. Inoltre la distanza temporale fra la vecchia e la nuova versione offre poi il vantaggio  di cogliere la dimensione storico-cronologica dello sviluppo della ricerca didattica.

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Marghera 1971: l’inizio di una fine. Un anno di lotta alla Sava – PUPPINI (CN)

PUPPINI, Chiara. Marghera 1971: l’inizio di una fine. Un anno di lotta alla Sava. Portogruaro (VE): Nuova dimensione editore, 2015. 191p. Resenha de: GUANCI, Enzo. Clio’92, 7 ago. 2019.

All’inizio del Novecento, cent’anni fa, il porto di Venezia era il secondo in Italia dopo quello di Genova, ma con spazi ormai insufficienti agli importanti traffici di petrolio e carbone necessari all’industria italiana da poco decollata. Di qui l’esigenza di creare un nuovo porto; si scelse l’area di Marghera. Si iniziò a scavare i canali per le navi e a costruire i collegamenti ferroviari con la vicina stazione di Mestre. Dieci anni dopo quell’area era diventata geograficamente strategica: un notevole porto industriale, con una buona rete ferroviaria e stradale alle sue spalle. Tra i protagonisti della realizzazione ci fu il conte Volpi, capitano d’industria e futuro ministro di Mussolini che nel 1926 riunì l’intero territorio nell’amministrazione comunale di Venezia. Era ormai nato quello che nel secondo dopoguerra diventerà il più grande polo industriale italiano, arrivando ad occupare, nel 1965, fino a 35 000 addetti, senza contare l’indotto.  Un polo chimico integrato, ma non solo: cantieri navali, vetrerie, fabbriche per fertilizzanti e materie plastiche, l’alluminio.

Stabilimenti enormi. Tanti.

Oggi, cinquant’anni dopo, “Marghera è un enorme spazio che pare senza confini, abbandonato (in apparenza), punteggiato da impianti lontani e spenti.” (Jacopo GilibertoPorto Marghera volta pagina. E prova a ripartire con l’industria ‘verde’, Il Sole 24ore, 8 gennaio 2015).

Qual è stato il processo che ha così trasformato questo territorio in solo mezzo secolo? Com’è successo?

Qualsiasi risposta rischia di essere semplificatoria. Chiara Puppini consegna con il suo libro l’inizio di questo processo. O meglio, uno degli inizi. E’ la crisi della Sava, un’azienda che nel 1966 produce il 36% dell’alluminio nazionale e possiede: 2 miniere di bauxite in Abruzzo e Puglia, 1 fabbrica di allumina, 2 fabbriche di alluminio, 1 centrale termoelettrica, 5 centrali idroelettriche, 3 navi da trasporto, 1 fabbrica per prodotti chimici, 50% di una fabbrica che produce polvere e pasta di alluminio, 1 istituto di ricerca.

Ebbene, nel 1971 “i dirigenti della Sava di Porto Marghera [comunicano alle organizzazioni sindacali] la decisione del Consiglio di Amministrazione della Alusuisse [proprietaria della Sava] di chiudere il 15 ottobre la fabbrica Allumina e di licenziare circa 800 lavoratori tra operai e impiegati” (p. 69) che, sommati ai 200 posti precedentemente in cassa integrazione, fanno 1000 licenziamenti!

Il libro racconta la lotta sindacale dei lavoratori per salvare l’azienda e con essa il loro posto di lavoro. La narrazione presenta gli avvenimenti attraverso le cronache giornalistiche dell’epoca, i volantini sindacali e i comunicati aziendali, le fotografie delle manifestazioni sindacali e quelle delle trattative tra sindacati e azienda, le interviste ai dirigenti aziendali e sindacali di allora. In quelle pagine si respira l’aria dell’epoca: la solidarietà operaia, la vicinanza effettiva delle istituzioni e delle forze politiche con chi lavora e produce ricchezza. Si sente – siamo agli inizi degli anni Settanta – una cultura che mette al centro il lavoro. Ciò nonostante, il 26 gennaio 1972 l’Allumina chiude. Nel 1973  l’area Sava di Marghera viene suddivisa con altre società e negli anni successivi l’intera produzione dell’alluminio a Marghera viene dismessa. Il 12 settembre 1991 ci sarà l’ultima colata di metallo.

Insomma.

La storia della Sava è paradigmatica: il primo episodio della crisi di Porto Marghera. Assistiamo in questi anni a cambiamenti rapidissimi: all’epoca si parlava di decenni, comunque un cambiamento era ineludibile. Lo stabilimento di Allumina di Marghera veniva rifornito di bauxite che proveniva dall’Istria, dalla Puglia, tutte miniere che negli anni Settanta non avevano più senso – se si pensa come veniva estratta la bauxite in Australia a cielo aperto. Era l’inizio di un certo tipo di globalizzazione.” (p.98)

Chi parla è Giorgio Berner, allora giovane dirigente della Sava.

“Allora c’era qualcuno che pensava che Porto Marghera per i successivi cinquant’anni potesse restare sempre così, invece purtroppo la realtà è in continuo movimento. Quando l’Alusuisse ha scoperto che in Australia non era più necessario andare sottoterra a ottocento metri per cercare quel minerale dal quale poi si ricavava l’allumina, ma c’erano miniere a cielo aperto, bastava andare con i bulldozer… da lì è incominciata ad andare in crisi … Porto Marghera” (p. 101)

Chi parla è Bruno Geromin, allora segretario dei metalmeccanici CISL a Marghera.

In conclusione.

La Puppini non vuole nascondersi dietro una falsa oggettività da ricercatrice ma prova a tirare delle conclusioni per il presente e per il futuro:

“Nell’ottica delle responsabilità occorre ripensare ai doveri/diritti di ciascuno; da una parte il dovere di rispettare l’ambiente e di garantire la produttività, dall’altra – cioè dalla parte operaia – il dovere di fare bene il proprio lavoro, ma il diritto di non morire sul posto di lavoro, il diritto di vivere in un ambiente sano, i cui tempi siano modulati sull’uomo e non sulla macchina, il diritto di trovare anche soluzioni migliorative, cioè di dare il proprio contributo di esperienze per un’umanizzazione dell’organizzazione del lavoro. Questo vuol dire riappropriarsi del proprio lavoro e responsabilità per le parti che competono a ciascuno; al finanziatore, al produttore, all’esecutore, al fruitore.” (p. 125)

La nostra autrice si accorge, però, che sta chiedendo tanto, forse troppo.

“Un sogno? Alle volte sognare aiuta a cambiare la realtà, poi, però, bisogna attrezzarsi per realizzare i sogni.”

Enzo Guanci

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Storia di donne e di uomini, di acque e di terre – BELLAFRONTE (CN)

BELLAFRONTE, E. Russo. Storia di donne e di uomini, di acque e di terre. Barletta: Editrice Rotas, 2009. Resenha de: GUANCI, Vincenzo. Clio’92, 7 ago. 2019.

Il sale non è solo l’ingrediente per rendere “saporita” la nostra alimentazione quotidiana. Il sale è assolutamente necessario nell’industria chimica, nella concia delle pelli e, naturalmente, per la fabbricazione dei prodotti agroalimentari. Pervade la nostra vita quotidiana. Ma non da ora; fin dal Neolitico i gruppi umani scoprirono l’importanza strategica di una materia prima necessaria all’alimentazione e che, per di più, consentiva la conservazione dei cibi. La storia dell’umanità è punteggiata da alleanze e conflitti per il controllo della produzione del sale, che, fino a pochi decenni or sono, era monopolio statale, e non solo in Italia.

Al museo della salina di Margherita di Savoia si impara la storia.  La storia del sale e delle saline, la storia di Margherita di Savoia, delle sue donne, dei suoi uomini, dei suoi bambini, del loro lavoro, della loro vita.

Questo ci dicono e ci fanno capire Francesca  Bellafronte ed Enzo Russo con il loro libro-catalogo del museo, Storia di donne e di uomini, di acque e di terre, editrice Rotas, Barletta, 2009.

La felice scelta degli autori è quella di dare al libro un’impostazione di tipo didattico.

Innanzitutto, la salina di Margherita di Savoia è raccontata secondo una struttura “presente-passato-presente”, che con tutta e immediata evidenza dà conto  dei motivi per cui oggi valga la pena di studiare la storia di una realtà importante come la salina.

In secondo luogo, le difficoltà del testo storiografico sono stemperate attraverso l’uso della domanda e della  risposta. Intendiamo dire, per esempio, che un testo descrittivo-argomentativo con un intrinseco rischio di forti asperità lessicali e concettuali,  come quello sulle innovazioni tecniche nel XIX secolo, viene invece smontato, tematizzato, problematizzato e risolto con risposte relativamente brevi e piane a dieci domande:

  • perché nel primo trentennio del XIX secolo prese corpo l’ipotesi di bonifica del lago Salpi?
  • Quali conseguenze produsse la riduzione della profondità del lago?
  • Quale problema destava più preoccupazione?
  • Come si intervenne per risolvere questi problemi?
  • Quale era il progetto di Afan de Rivera?
  • Gli obiettivi di Afan de Rivera furono raggiunti?
  • Come si presentava il nostro territorio a metà Ottocento?
  • Quali erano le vie di comunicazione a metà Ottocento?
  • Qual era la produzione della salina?
  • Come si spiega l’incremento produttivo di inizio Novecento?

In terzo luogo, le tantissime riproduzioni di documenti d’archivio, carte topografiche, fotografie d’epoca, non svolgono una mera  funzione esornativa bensì costituiscono, assieme ai testi, parte integrante del materiale per la costruzione della conoscenza storica di chi legge e studia.

Infine, due testi introduttivi e un glossario forniscono gli strumenti cognitivi e concettuali per seguire senza difficoltà, sia la visita al museo sia la  sola lettura del libro.

Si inizia con la descrizione della salina oggi, all’inizio del XXI secolo: dove si trova, come funziona, con quali macchine; ci si sofferma sui procedimenti di produzione del sale, si scopre come viene impacchettato, come viene trasportato nelle varie parti d’Italia e del mondo; si arriva fino alle innovazioni più recenti, quale, per esempio,  l’arricchimento con lo iodio  introdotto da una legge del 2005.

La seconda parte del volume racconta il passato, la storia della salina. Si va  dalla prima attestazione documentaria di una salina nella Tavola Peutingeriana, che nel XII secolo segnala la presenza di saline sulla costa adriatica già in epoca romana, fino  agli anni Sessanta del Novecento. Ma alcune tracce la fanno risalire al Neolitico; si tratta delle cosiddette “vasche napoletane”. Cosa sono? Ce lo spiegano  F. Bellafronte e E. Russo: “due canalette circolari, scavate su una piattaforma di pietra nell’età del Bronzo, rinvenute nei pressi del canale Carmosino. Probabilmente erano utilizzate per lo scolo dei sali di magnesio, più amari, dai cumuli di cloruro di sodio.”

La modernità irrompe nella salina in epoca illuminista con l’intervento del Vanvitelli, ingegnere e architetto, colui che aveva progettato la reggia di Caserta, chiamato dal re di Napoli, Carlo III di Borbone, ad ammodernare e riorganizzare la salina, per aumentarne la produzione. Nel XVIII secolo, ci ricordano gli autori, le “tecniche produttive erano rudimentali e basate sull’impiego di attrezzi manuali, per lo più azionati con la forza della braccia. L’energia animale era impiegata nel trasporto del sale: i cavalli trainavano i carretti carichi di sacchi di sale fino alla spiaggia, dove prendevano la via del mare. L’energia solare ed eolica, allora, come oggi, erano le principali protagoniste del processo di salinazione, attraverso l’evaporazione dell’acqua”. Vanvitelli risistemò le vasche, “attraverso l’eliminazione degli isolotti di terra, il livellamento del fondo e il consolidamento della base degli argini d’argilla, mediante l’inserimento di una fila di tufi.” Ma, naturalmente, non si limitò a questo; rese più vivibile l’ambiente, ampliò la base produttiva della salina e, soprattutto, introdusse le “coclee di Archimede”, chiamate volgarmente “trombe”, macchine che sostituivano i tradizionali “sciorni”.

Lo sciorno, ci spiegano gli autori, “consiste[va] in una specie di parallelipedo aperto su un lato, della capacità di due secchi, fissato ad un treppiede per mezzo di una fune. Veniva azionato a braccia: ci voleva un movimento continuo e ripetuto dei salinieri, per trasferire tutta l’acqua da un vaso all’altro” (cfr. illustrazione a p. 61). Le coclee di Archimede permettevano di “sollevare più facilmente l’acqua, in tempi più veloci e con minore fatica, superando i dislivelli altimetrici tra gli scaldati ed i campi” (p. 65) comportando anche una notevole riduzione di manodopera.

E così via. Il racconto del passato della salina di Margherita di Savoia viene presentato prestando sempre molta attenzione al contesto storico del tempo, spiegando le trasformazioni locali nella salina con il quadro politico, economico, sociale e culturale italiano ed europeo. Insomma, un esempio di come si può studiare la storia locale senza scadere nel localismo sterile che non ci fa capire i veri movimenti della storia.

Il libro si conclude con una bella carrellata di fotografie sulla evoluzione delle tecniche nel XX secolo rispetto alle problematiche di sempre della salina:

  • raccolta e ammassamento del sale;
  • pesatura e confezionamento;

L’accelerazione novecentesca appare in tutta la sua evidenza dalle fotografie degli zappasale al lavoro nei primi anni del Novecento, alla prima introduzione degli elevatori meccanici negli anni Dieci, alla velocizzazione con i nastri trasportatori  negli anni Trenta,  alla foto del capannone Nervi in funzione fino agli anni Settanta.

Insomma una pubblicazione di storia locale e di storia generale, di storia della tecnica e di storia sociale; una guida per una visita al museo e un percorso di educazione al patrimonio culturale. Impreziosita, tra l’altro, dall’accuratezza della grafica che rende leggibili le riproduzioni cartografiche e godibili quelle fotografiche.

Del resto già Giorgio Nebbia nella sua ricca e impegnata presentazione iniziale ci ricorda che oggi – dati del 2007 – nel mondo si producono ancora circa 250 milioni di tonnellate di sale, a testimonianza della sua importanza economica.

“Esiste tutta una economia e fiscalità del sale, una merce così importante – scrive Nebbia – che tutti i potenti ne hanno approfittato per ricavare imposte e per instaurare monopoli sul suo commercio. Salaria, Salina, Sale, Saline… sono i nomi di località e strade associate alla produzione e al commercio del sale. Plinio ricorda le saline di Taranto, di cui oggi resta traccia soltanto in un toponimo. E al sale era associato anche il nome di Salapia, Salpi, la misteriosa città che sorgeva proprio alle spalle della più grande salina del Mediterraneo, quella di Margherita di Savoia.” (p. 6).

Appunto a questa è dedicato il Museo, a parere dello stesso Nebbia di grande interesse per almeno tre motivi:

costituisce un opportuno riconoscimento dell’importanza dell’energia solare, il cui impiego nella salina di Margherita ammonta su base annua all’equivalente energetico di tre milioni e mezzo di tonnellate di prodotti petroliferi.

Mostra la lenta formazione del sale nelle saline solari, la nascita di cristalli diversi, mano a mano che con l’evaporazione si separano i vari sali. “Uno spettacolo che meriterebbe un film, tanto più che simili fenomeni si verificano nelle pentole, quando bolle l’acqua per la minestra, sulle serpentine degli scaldabagni …”

Recupera  e valorizza la conoscenza di una peculiare industria chimico-mineraria, tipica del Mezzogiorno.

“Il recupero della storia e delle tecniche salinare di Margherita contribuirà – secondo Nebbia – a conservare e far crescere la conoscenza e l’orgoglio operaio e imprenditoriale proprio in Puglia, tanto più che le saline di Margherita sono state ricche di innovazioni sia meccaniche, sia chimico-industriali …”

Enzo Guanci – Membro della segreteria nazionale di Clio ’92, Associazione di insegnanti e ricercatori sulla didattica della storia. Ha insegnato Storia e ricoperto il ruolo di dirigente scolastico nella scuola secondaria di II grado. Recentemente ha curato, assieme a Carla Santini, il volume Capire il Novecento, FrancoAngeli editore, Milano, 2008. Svolge attività di formazione, ricerca e aggiornamento sulla didattica della storia.

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Il bisogno di pátria – BARBERIS (CN)

BARBERIS, Walter. Il bisogno di pátria. [Torino]: Einaudi, 2004 e 2010. 141p.. Resenha de: GUANCI, Vicenzo. Clio’92, 7 ago. 2019.

“Come figli di una famiglia senza armonia e senza memorie, gli italiani si sono spesso cresciuti da soli, superando la solitudine con cinismo, con opportunismo, con diffidenza, talvolta con esibizionismo. Ignorando le ragioni e l’utilità di una salvaguardia dell’interesse generale. E’ così che l’idea di patria si è di volta in volta caricata di significati che invece di tendere all’unità hanno accentuato visioni faziose, volte all’esclusione.” (p.7)

Con queste parole W. Barberis  ripropone la questione della patria, o meglio della mancanza  di un’idea di patria per gli italiani, partendo dalla sua considerazione che tale mancanza non ha inizio, come è stato scritto, l’8 settembre 1943, ma ben più in là, almeno cinque, se non quindici, secoli or sono. Egli sviluppa le sua argomentazioni  annodandole intorno a tre temi, o meglio, intorno a tre “bisogni”, a ciascuno dei quali dedica quarantadue pagine: il bisogno di Stato, il bisogno di storia, il bisogno di patria.

Quale patria?

“una patria che non disegni i confini di un’identità chiusa, esclusiva; ma che prenda valore dalla consapevolezza  della pluralità storica dei suoi volti. Una patria che non dimentichi di richiedere a chi appartenga alla comunità il rispetto delle tradizionali virtù civiche: l’obbligazione fiscale, l’esercizio della giustizia, la difesa delle istituzioni dello Stato.”  (p. 10)

Il libro guarda al futuro, sia pure riflettendo sul passato. Si tratta, infatti, di un libro di storia.  Perché, ricorda  l’autore, ” è la storia ciò di cui ha bisogno un popolo: qualcosa che rimetta in ordine, oltre lo spirito di parte, la dinamica degli avvenimenti e le loro molteplici ragioni.” La memoria ha uno sguardo parziale e, pertanto, non può nutrire che sentimenti  patriottici esclusivi; memorie differenti si contendono lo  spazio della patria “una” tendendo ciascuna a farsi storia. E’ proprio questa contesa che una società sana deve evitare. E la storia ha esattamente questa funzione: “affidata a protocolli riconosciuti da una comunità scientifica”, attraverso procedure di analisi e interpretazioni, ha il compito di fornire alla comunità intera uno sguardo generale. Barberis esemplifica tutto questo nelle pagine dedicate a sviluppare il tema del bisogno di storia  indicando le linee per la costruzione di una “dotazione storiografica comunitaria – se vogliamo nazionale – … [uscendo] dalle contingenze e dalle urgenze della contemporaneità. L’Italia ha una storia  millenaria, tutta utile alla definizione dei suoi caratteri attuali e alla possibilità di emendarli.” E qui vengono ricordati i soggetti necessari a costruire una storia d’Italia: la Chiesa innanzitutto, Roma, i municipi, il Mezzogiorno, la Repubblica, la Costituzione.

La storia ci conferma che una comunità priva di un apparato statuale efficiente e condiviso non è davvero tale, poiché ciascuno in misura più o meno grande inclina infine verso il proprio interesse privato, provocando proprio ciò che tanto spesso è stato incolpato agli italiani: opportunismo, trasformismo, dissimulazione, mancanza di senso dello Stato, appunto. Barberis mostrando la necessità di uno Stato per gli italiani ripercorre la storia della sua formazione a partire dalla risposta alla domanda: perché proprio il Piemonte (e non un altro tra gli Stati d’Italia) unificò la penisola fondando lo Stato italiano?

“Il Piemonte, selvatico e periferico, non aveva conosciuto gli splendori della civiltà comunale e signorile… La certezza delle istituzioni, la loro continuità, la prospettiva di durata della dinastia, il suo radicamento territoriale, fecero ciò che non conobbe il resto d’Italia: assicurarono i sudditi che le loro iniziative erano possibili, che avevano i requisiti minimi di riuscita, primo fra tutti il tempo, garante eccellente di ogni contratto…. non furono simpatia, garbo e cultura; ma senso dello Stato, tecnica amministrativa e militare, e anche un certo patriottismo, il bagaglio eccentrico con cui poi i piemontesi si disposero all’incontro con gli altri italiani.”(p. 21)

Il bisogno di patria, la coscienza di appartenere ad un’unica comunità, furono esigenze che si rappresentarono immediatamente dopo la fondazione dello Stato italiano e sono state preoccupazioni presenti finora nella classe dirigente per tutti i centocinquant’anni dal 1861. All’inizio fu soprattutto la letteratura a svolgere il ruolo più importante, si pensi solo alle poesie di Carducci e al Cuore di De Amicis, ma poi dopo la prova tremenda della Grande Guerra, fu il fascismo a forgiare l’idea di patria sovrapponendola alla retorica della guerra, aiutato in questo dalla letteratura futurista. Così si confuse patria con nazionalismo, aggressione e morte, con la guerra appunto.

Oggi, bisogna ricostruire per gli italiani un’idea di patria che escluda non solo guerra ma anche la sopraffazione degli altri popoli , i quali, al contrario, vanno inclusi in un’idea di patria meticciata, alla quale partecipano tutti coloro che hanno la fortuna di abitare un paesaggio unico al mondo, poiché, ricorda Berberis citando Settis, “il nostro bene culturale più prezioso è il contesto, il continuum nel quale si iscrivono monumenti, opere, musei, città e paesaggi, in un tessuto connettivo ineguagliabile… questo è il tratto identitario degli italiani” (p.111).  Se questo è vero, come è vero, vuol dire che insegnare storia d’Italia significa insegnare contemporaneamente geografia d’Italia, poiché ciò che conta imparare, va ribadito, è innanzitutto il contesto, di tempo e di spazio.

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Che storia! La storia italiana raccontata in modo semplice e chiaro – PALLOTTI (CN)

PALLOTTI, Gabriele; CAVADI, Giorgio. Che storia! La storia italiana raccontata in modo semplice e chiaro. Formello (Roma): Bonacci editore, 2012. Resenha de: GUANCI, Enzo. Clio’92, 7 ago. 2019.

A cura di Enzo Guanci.

“Mangiare non era l’unico intrattenimento. Nel Rinascimento infatti ci si divertiva in molti modi e anche questo ci fa capire come ci si sentisse più liberi. Nel Medioevo la Chiesa controllava tutta la vita delle persone e considerava i giochi come una specie di peccato: quindi non si giocava molto e chi lo faceva doveva un po’ vergognarsi. Invece nel Rinascimento il gioco diventa una parte importante della vita: tutti, ricchi e poveri, giocano in ogni luogo, in casa, nei negozi , nelle osterie, nelle strade e nelle piazze.” (p. 86)

Questa è una notizia tratta dalle ventisette pagine dedicate al Rinascimento nella “storia italiana raccontata in modo semplice e chiaro” da Gabriele Pallotti e Giorgio Cavadi.  L’informazione sui  giochi si trova nella pagina dedicata al “divertirsi ” nel paragrafo “La vita nel Rinascimento”, che costituisce la parte più corposa  del capitolo; gli altri paragrafi sono dedicati alla geopolitica (gli Stati nazionalile signorie, piccoli stati regionali) e a fornire informazioni di contesto che consentano di comprendere il Rinascimento italiano nel quadro europeo. La scelta degli autori è appunto quella di incentrare il loro manuale sulle condizioni di vita, sui costumi, sulle abitudini sociali degli italiani piuttosto che sugli avvenimenti della politica nel corso dei secoli. La selezione dei contenuti quindi affranca il manuale dalla congerie dei numerosissimi eventi del tempo breve della politica, concentrandosi sulla descrizione delle strutture delle società italiane presentate in cinque “epoche”, come programmaticamente esplicitato nell’introduzione:   Roma, il Medioevo, il Rinascimento, l’Ottocento, il Novecento.  Ciò consente di “raccontare” l’Italia dall’VIII sec. a. C.  alla fine del XX secolo in poco più di centoquaranta pagine! E per chi volesse approfondire ci sono tre pagine di riferimenti bibliografici.

In realtà, la storia non viene “raccontata”: non ci sono, per esempio, i personaggi  e gli episodi che tradizionalmente punteggiano la storia d’Italia dei nostri manuali scolastici, che generalmente fanno della storia politica e delle istituzioni un genere storiografico noioso e poco comprensibile agli studenti della scuola secondaria. Gli autori segnalano fin dal titolo lo sforzo di descrivere la carrellata dei ventotto secoli di storia italiana “in modo semplice e chiaro”. Non era facile. Loro ci sono riusciti. Sulla base di due idee-forza: costruire un linguaggio piano, controllato al punto da riuscire “semplice”; costruire un affresco del passato d’Italia sulla base delle conoscenze essenziali a comprendere le trasformazioni delle società e dei popoli italiani dall’epoca romana al Novecento. E, siccome il libro è pensato per comprendere l’Italia di oggi, l’intero testo è punteggiato frequentemente da riferimenti e riflessioni sull’attualità, anche con un apposita rubrica titolata “ieri e oggi” (Per esempio, nelle pagine in cui si parla della repubblica romana e della figura istituzionale del dictator la rubrica viene usata per sollecitare una riflessione sul mondo attuale:

“Anche in tempi più recenti qualcuno ha pensato che un dittatore solo con tutto il potere riesca a governare lo Stato meglio di un’assemblea di rappresentanti. Ad esempio in Italia, durante il fascismo, Mussolini…. Uno Stato in cui decide una persona sola si chiama assoluto o autoritario. Uno Stato in cui le decisioni sono prese dai rappresentanti eletti da tutti i cittadini si chiama democratico. Hai mai pensato cosa si guadagna e cosa si perde in ciascuno di questi sistemi?”).

Leggendo attentamente il libro a noi pare emerga chiara la difficoltà di raccontare la storia politica “in modo semplice e chiaro” senza cadere nella banalizzazione. Un esempio, a noi sembra, possa essere fornito dalle due-tre pagine dedicate al Risorgimento (L’Italia diventa un Paese unito, pp. 97-99) nelle quali Vittorio Emanuele II, Cavour, Garibaldi  si muovono come personaggi di un “racconto” dal quale sono espunte le problematizzazioni del fenomeno risorgimentale, perché i problemi non si possono “raccontare” e se lo si fa è quasi impossibile farlo con un “linguaggio semplice e chiaro”: si rischia appunto la “banalizzazione”. I nostri autori hanno intelligentemente evitato questo rischio proponendo una storia d’Italia dal punto  di vista economico e sociale, come espressamente dichiarato nell’introduzione.

Infine va anche sottolineato che il libro non dimentica la sua funzione di strumento per l’apprendimento della storia e pur non proponendo esplicitamente esercitazioni per sviluppare le abilità di base della disciplina, l’uso di linee del tempo, tabelle, cartine tematiche, illustrazioni non di carattere esornativo bensì inserite e commentate nel testo, e l’esortazione frequente a riflettere su analogie e differenze tra passato e presente (Ieri e oggiPensaci su) indica implicitamente a chi ha la responsabilità dell’insegnamento la strada migliore per interessare gli allievi a imparare la storia d’Italia.

Maggio 2012

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Elogio del politeismo. Quello che possiamo imparare dalle religioni antiche – BETTINI (CN)

BETTINI, Maurizio. Elogio del politeismo. Quello che possiamo imparare dalle religioni antiche. Bologna: Il Mulino, 2014. 155p. Resenha de: GUANCI, Vicenzo. Clio’92, 7 ago. 2019.

“La pluralità degli dèi  non costituisce l’essenza delle religioni politeistiche, come vorrebbe farci credere il nome che le designa, ma solo la condizione necessaria affinché esse possano esplicare la virtù che meglio le caratterizza: ossia la capacità di pensare in modo plurale ciò che ci circonda  e, nello stesso tempo, di fornire altrettanti modi d’azione per interpretarlo e intervenire su di esso” (pag. 111).

Maurizio Bettini,  antropologo del mondo antico, ci fa conoscere in questo libro la specificità e l’originalità delle religioni politeistiche dell’antichità attraverso la costruzione della concettualizzazione di “quadro mentale” che, per capirci,  è, nel nostro mondo, “quello costituito dalla convinzione profonda, e spesso talmente interiorizzata da risultare inconscia, che non possa esservi se non un solo e unico Dio.” (p. 21). Tale quadro mentale oggi connaturato a quella  buona parte del pianeta che professa religioni monoteiste viene opposto a quello delle società antiche politeiste, in particolare quelle greca e romana.  Beninteso, va subito sgombrato il campo da vecchie gerarchie evolutive di stampo colonialista, eurocentriche e cristianocentriche che considerano la religione greca e romana come una mitologia pagana e idolatra, “superata”  dal cristianesimo unica e vera religione. “Gli dèi che furono venerati  e onorati da [queste] due civiltà – ricorda Bettini – sono stati al centro di organizzazioni sociali, culturali e intellettuali molto complesse…” (p.9) che si fondavano, tra l’altro, su una concezione della cittadinanza considerata importantissima, al punto da coinvolgere perfino il mondo degli dèi.  Infatti, nel quadro mentale dei Romani gli dèi di un altro popolo, amico o conquistato, venivano cooptati all’interno della civitas romana. Tutt’altra cosa dalla tolleranza alla quale siamo esortati dal migliore cristianesimo dei nostri tempi.

In fondo tutto il libro di Bettini  costituisce una comparazione tra il quadro mentale delle religioni politeistiche e quello dei monoteismi ebraico-cristiano e islamico.

Innanzitutto, la questione della violenza.  Se è vero che Greci e Romani hanno combattuto guerre e perpetrato massacri non hanno mai fatto guerre “per affermare una religione sull’altra, come invece hanno fatto nei secoli successivi cristiani e musulmani” (p. 43).

Il fatto è, sostiene Bettini, che il politeismo è flessibile: “la messa in valore di alcune caratteristiche proprie di ciascuna divinità (il fornire alimento, il portar semi, la stabilità) [costituiscono un] tramite cui costruire inferenze che producono di volta in volta l’identificazione con un’altra divinità” (p.69) ovvero la traduzione di una divinità da una cultura ad un’altra. Gli esempi sono molteplici:  l’egizio Serapide diventa Esculapio o Iuppiter  a seconda delle caratteristiche del dio, il Wotan germanico è identificato con Mercurius, ecc.

Il monoteismo, al contrario, non può che essere rigido, costruito com’è su una verità scritta direttamente da Dio: le sacre scritture.

Se è vero che la Chiesa cattolica “produce” una quantità sterminata di santi e beati,  soddisfacendo le esigenze di “protezione divina” delle diverse attività umane, è vero altresì che il Catechismo della stessa Chiesa ribadisce l’esistenza di un solo  “Dio unico e vero”. Con l’aggiunta che “evangelizzando senza posa gli uomini la Chiesa si adopera affinché essi possano ‘informare dello spirito cristiano la mentalità e i costumi, le leggi e le strutture della comunità’ in cui vivono” (p.45). Di qui allo Stato confessionale il passo è (è stato?) breve.

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Revista de História da UEG. Morrinhos, v.8, n.2, 2019.

Dossiê: “Associações religiosas de leigos na América Portuguesa”: novas fontes e perspectivas de análise

Imagem de Capa: 
Festa da Congada. Pintura de Johann Moritz Rugendas, 1847.
Fonte: reddit.com 

Editorial

Dossiê Temático

Resenhas

Publicado: 2019-08-07

Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais. São Cristóvão, v.19, n.2, 2019.

Expediente Revista EDaPECI

Editorial Revista EDaPECI

Artigos Gerais

Publicado: 2019-08-06

Bram Stoker e a Questão Racial. Literatura de horror e degenerescência no final do século XIX | Evander Ruthieri da Silva

Proponho analisar o livro Bram Stoker e a Questão Racial. Literatura de horror e degenerescência no final do século XIX (2017), livro de estreia do jovem historiador Evander Ruthieri da Silva, e que teve como base sua dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Nele Ruthieri faz um trabalho primoroso de história social dos intelectuais, nos mostrando as redes de sociabilidade em que Bram Stoker circulava, a articulação entre seu projeto literário e o seu projeto intelectual.

Queremos com essa análise colocar em evidência essas categorias (redes de sociabilidade, circulação e projeto literário), apontando como hipótese o uso intuitivo delas, em outras palavras, evidencia que seu intento será ir além das simples verbalizações que dará novas possibilidades de ver o mundo literário. Gostaríamos de apontar nesse texto os caminhos escolhido pelo autor como uma possibilidade de pensar a história dos intelectuais a partir da relação autor-obra-leitor. Isto me permitirá, com mais liberdade, imaginar e compreender as formações discursivas que circulam nesse período, bem como aferir o movimento das categorias mencionadas acima. Leia Mais

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.5, n.9, 2019.

Múltiplos Olhares Sobre Política e Religião

Editorial

Dossiê

Resenha

Publicado: 2019-08-06

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.1, n.1, 2015 / v.4, n.8, 2018.

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.4, n.8, 2018.

Experiências Autoritárias: política, instituição e sociedade

Publicado: 2019-08-09

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.4, n.7, 2018.

Acordos e Tensões nos Séculos XIX e XX

Publicado: 2019-07-01

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.3, n.6, 2017.

Transições Políticas no Brasil

Publicado: 2019-07-01

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.3, n.5, 2017.

Liberalismo: Intelectuais e Instituições no Brasil

Publicado: 2019-07-01

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.2, n.4, 2016.

Direitas, História e Memória

Publicado: 2019-08-09

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.2, n.3, 2016.

Público e Privado: políticas públicas no Brasil

Publicado: 2019-07-01

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.1, n.2, 2015.

Mais Faces de Clio

Publicado: 2019-07-01

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.1, n.1, 2015.

As Múltiplas Faces de Clio

Publicado: 2019-07-01

 

Crítica Histórica. Maceió, v.10, n.19, 2019.

Dossiê História das Mulheres e das Relações de Gênero

Editorial

  • Editorial
  • Irineia Maria Franco dos Santos, Michelle Reis de Macedo
  •  PDF

Apresentação

Dossiê Temático

Resenha

Publicado: 04/08/2019

São Paulo restaurada: Administração/Economia e Sociedade numa capitania colonial (1765-1802) | Oller Mont Serrath

O livro de Pablo Oller Mont Serrath (2017), São Paulo restaurada: administração, economia e sociedade numa capitania colonial (1765-1802), com 316 páginas, publicado pela Editora Alameda, resulta da dissertação de mestrado do pesquisador, defendida em 2007 no Programa de Pós-Graduação em História Econômica da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).

Dividido em três partes, cada uma tratando dos aspectos indicados no subtítulo do livro, ou seja, administração, economia e sociedade, o autor discorre sobre esses temas com vistas a compreender os fundamentos da São Paulo Colonial da segunda metade do século XVIII. O recorte temporal vai do ano em que São Paulo retomou sua autonomia administrativa (1765), após 17 anos subordinada à Capitania do Rio de Janeiro, até o ano em que as reformas definidas pela Coroa Portuguesa para a capitania paulista foram finalizadas (1802). Leia Mais

Hydra. Guarulhos, v.3, n.6, 2019

Expressões Artísticas e a democracia nas Américas

Edição completa

Editorial

Dossiê

Artigos Livres

Notas de Pesquisa

Resenhas

Relato

Publicado: 2019-08-03

Povos, comunidades tradicionais e grupos populares latino-americanos: oralidades, memórias e imagens | História Oral | 2019

Travessias, “SERTÃO” e Águas Amazônicas

Aquilo era a tristonha travessia, pois então era preciso”.

Guimarães Rosa

Os organizadores do dossiê Povos, comunidades tradicionais e grupos populares latino-americanos: oralidades, memórias e imagens, não poderiam deixar, em estilo de apresentação, de prestar uma discreta, mas justa homenagem à professora, pesquisadora e, acima de tudo, Amiga, Jerusa Pires Ferreira, que fez a sua travessia, pelo testemunho de pessoas queridas ali presentes, em 21 de abril de uma tarde triste, com céu limpo rumo ao Orum. Pelo contexto, imaginamos também a presença viva dos sons dos tambores. Leia Mais

História Oral. Rio de Janeiro, v.22, n.1, 2019.

Povos, comunidades tradicionais e grupos populares latino-americanos: oralidades, memórias e imagens

· Expediente

  • Arthuro Grechi
  • PDF

APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ

ARTIGOS VARIADOS

RESENHAS

PUBLICADO: 2019-08-02

Projeto História. São Paulo, v.65, 2019.

MAI/AGO Diálogos com a História: Estudos interdisciplinares

Apresentação

Artigos Dossiê

Artigos livres

Notícia de Pesquisa

Entrevistas

Publicado: 2019-08-02

Alimentação: História, Cultura e Patrimônio | Revista Latino-Americana de História | 2019

Na chamada de artigos que publicamos e divulgamos para este dossiê, havíamos afirmado que “é notável que as discussões em torno dos hábitos e das culturas alimentares têm ganhado cada vez mais espaço na sociedade e na academia”. Podemos considerar o grande número de produções de pesquisadoras e pesquisadores [3] que recebemos para compor este número da Revista Latino-Americana de História um acontecimento que ajuda a comprovar aquela sentença. Hoje, no Brasil, os estudos sobre alimentação estão em vias de consolidação, sendo a perspectiva interdisciplinar um dos seus principais trunfos. Há poucos dias do lançamento desta publicação, experienciamos um evento ocorrido na Universidade de São Paulo que demonstrava justamente isso. O II Simpósio Internacional de Pesquisa em Alimentação [4] reuniu mais de uma centena de historiadores, sociólogos, antropólogos, museólogos, nutricionistas, gastrólogos, economistas – além de cozinheiros, produtores rurais e ativistas sociais –, compartilhando diferentes mesas, discussões e grupos de trabalho.

Por mais que tenhamos um caminho já trilhado por acadêmicas e acadêmicos que se debruçam sobre a história e a cultura da alimentação desde a década de 1990 [5], há uma nova geração de estudiosos que acabou por ampliar não só o número de projetos de pesquisas em programas de pós-graduação, mas as possibilidades de investigação em termos de objetos, perguntas e metodologias. Pode-se conjecturar que a procura pela temática da alimentação e o alargamento das perspectivas possíveis para abordá-la na academia sejam possíveis e estejam orientando-se pelas próprias demandas e reflexões da sociedade contemporânea. Leia Mais

Resgate – Revista Interdisciplinar de Cultura. Campinas, v.27, n.1, jan./jun. [37], 2019.

Dossiê Cidades Imaginadas, Cidades Reais

Organização: Prof. Dr. Sidney Piochi Bernardini (FEC-Unicamp) e Prof. Dr. Fernando Atique (EFLCH-UNIFESP).

CARTA AO LEITOR

APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ

ARTIGOS E ENSAIOS

PUBLICADO: 2019-08-01

The Metaphysics of Truth – EDWARDS (SY)

EDWARDS, D. The Metaphysics of Truth. New York:  Oxford University Press, 2018. Resenha de: PACHECO, Gionatan Carlos. Synesis, Petrópolis, v. 10, n. 2, p. 251-254, ago./dez., 2019.

Em The Metaphysics of Truth (2018), Douglas Edwards traz uma defesa de uma metafísica da verdade e um amplo ataque aos seus algozes, nomeadamente, os deflacionistas e primitivistas. Por um lado, os deflacionistas concedem à verdade um papel lógico e de forma de expressão, mas, para além disso, pouco teríamos a falar sobre a verdade. Por outro lado, os primitivistas, com efeito, afirmam que a verdade não é um conceito aberto para definição, de modo que não caberia investigá-la. Não obstante, Edwards defende uma teoria acerca da natureza da verdade que a caracteriza como substantiva, pluralista e fundamentada em propriedades.

Os desafios para uma metafísica da verdade são postos de tal modo pelas teorias deflacionárias, que os três primeiros capítulos deste livro se ocupam de uma resposta a elas. O primeiro capítulo trata de três visões “ultra deflacionárias”, a saber, teoria da redundância, teoria performativa e prosentencialismo. Com efeito, teorias da verdade geralmente estão interessados na relação entre os domínios da linguagem (conceitos e palavras) e da realidade (objetos, propriedades e eventos). Essas três visões negam que a verdade seja um propriedade, da seguinte forma. Há um argumento, na “visão padrão”, que relaciona predicados com propriedades que, quando formulado acerca das teorias da verdade, se expressa como se segue: (1) predicados referem a propriedades, se (2) “ser verdadeiro” é um predicado, então (3) “ser verdadeiro” se refere a uma propriedade (verdade). Sem embargo, estas visões negam que a segundo premissa  (2) seja válida (p. 8), ou seja, que ser verdadeiro/verdade não é um predicado, mas uma simples redundância que só afirma o que foi dito, ou que só performa uma ênfase, ou ainda uma prosentença, que meramente substitui o que foi dito antes. Deste modo, ao longo do capítulo Edwards apresenta objeções para cada uma das três teorias, se valendo de argumentos de Kunne e Strawson, e na sequência expõem as concepções de verdade como objeto (Frege) e como evento (William James), concluindo que mesmo nessas acepções “é difícil evitar” conceber a verdade como uma propriedade (p. 18).

O segundo e terceiro capítulos são dedicados às teses deflacionistas menos radicais e mais amplamente aceitas. De acordo com este espectro do deflacionismo a verdade é uma propriedade, no entanto, não é uma propriedade substancial. Aqui entra uma distinção entre propriedades esparsas e propriedades abundantes, a qual Edwards utilizará ao longo do livro. Propriedades abundantes seriam extensões dos predicados, ao passo que propriedades esparsas seriam análogas à universais objetivos que estabelecem similitudes explicativas acerca do estado de coisas. Essa distinção, além disso, é o centro do argumento contra o deflacionismo, apresentado no terceiro capítulo. Neste passo ao autor argumentará que assumir uma posição deflacionista sobre a verdade implica em assumir um deflacionismo sobre propriedades metafísicas. Contra deflacionistas como Horwich (1998) e  Damnjanovic (2010), Edwards sustenta que a verdade não é uma propriedade abundante, mas sim uma propriedade esparsa que possui um papel explicativo acerca da constituição causal acerca das coisas no mundo. Nesse sentido, o deflacionismo esvazia a relação entre a linguagem e realidade (mundo).

O quarto capítulo trata em especial sobre as conexões entre linguagem e mundo, em especial, a relação dos predicados com as propriedades. A ideia é que existem diferentes tipos de predicados (morais, científicos, estéticos, sociais, etc) que desempenham papéis distintos. Sobre cada predicado podemos constatar diferentes tipos de propriedades. Ainda neste capítulo, Edwards define o que entende por domínio. Cada domínio, com efeito, possui um componente semântico (linguagem) e um componente metafísico (realidade), dos quais o primeiro é “composto pelos termos e predicados singulares” e o segundo é “composto pelos objetos e propriedades aos quais os termos e predicados singulares se referem no aspecto semântico” (p. 77, traduções nossas). Não apenas termos e predicados singulares, mas também sentenças pertenceriam a domínios particulares. Isso também abre precedente para definirmos eventos ou estados de coisas como pertencentes a domínios particulares, no entanto, segundo o autor, “é o predicado que determina o domínio” (p. 78). Este capítulo acentua que a leitura de Edwards vai para além da teoria da verdade.

No quinto capítulo a verdade volta à pauta. O discurso acerca de diversos domínios no capítulo anterior fornece terreno para estabelecer o que Edwards chama de pluralismo sobre a verdade. No sexto capítulo esse pluralismo se desenvolve como pluralismo ontológico, isto é,  “a tese de que as coisas existem de maneiras diferentes” (p. 105). Aqui, o autor caracteriza uma espécie de paralelismo entre os debates acerca da verdade e acerca da existência. A concepção pluralista acerca desses dois temas se direciona a um pluralismo unificado entre realidade e linguagem, o “pluralismo global”. O capítulo sete discute uma variedade de modelos alternativos de pluralismo sobre a verdade o que, como que de forma paralela, é feito no capítulo oito, mas especificamente sobre pluralismos de existência. O pluralismo de Edwards, com efeito, é moldado em sua distinção entre propriedades abundantes e escassas.

Nos últimos capítulos, nono e décimo, é dado atenção às abordagens primitivistas que concedem poder explicativo a noção de verdade, mas negam que qualquer teoria da verdade seja de fato informativa. Os primitivistas afirmam que a verdade é uma noção primitiva e indefinível, alguns deles trabalham com a noção de veritadores (truthmakers). Com efeito, são duas as “ameaças” (p. 159) ao pluralismo da verdade que emergem da leitura primitivista. A primeira é que existem verdades para as quais não existem veritadores (cap. 9). A segunda é o compromisso com a existência de veritadores, pois uma vez que assumimos esse compromisso não precisamos nos questionar acerca da natureza da verdade (cap. 10). A primeira ameaça ao pluralismo vem de Trenton Merricks (2007), um primitivista que rejeita a teoria dos veritadores. Nesse passo, Edwards desenvolve uma argumentação onde mostra que a leitura pluralista possui recursos para evitar essa ameaça e, mais do que isso, na qual até outros partidários da teoria dos veritadores podem encontrar embasamento. Por outro lado, sobre a segunda ameaça do primitivismo, o autor afirma que os primitivistas partidários dos veritadores não podem falar de veritadores sem falar sobre a verdade, demonstrando assim a “peculiaridade da posição sustentada, na qual veritadores são doadores de papéis teóricos substanciais em um panorama no qual não há natureza substancial da verdade” (p. 176).

Em suma, o livro The Metaphysics of Truth é um livro de metafísica e epistemologia contemporânea que se esforça por resgatar um conceito de verdade que fique em pé por si só. O livro é beligerante, sempre expondo seu ponto enquanto troca golpes. Os alvos são muitos e o objetivo é original. Para além de uma teoria metafísica sobre a natureza da verdade, Edwards pretendeu estabelecer uma visão pluralista global acerca da relação entre realidade e linguagem. O autor leva a discussão sobre domínios metafísicos para diversas áreas, como moral, matemática, institucional, etc., e não se demora em áreas que muitos esperariam, devido a temática, mais atenção, como no caso da lógica e epistemologia. A brevidade da obra talvez justifique, ou talvez seu caráter de proposta monográfica a ser ainda escrutinada pela crítica.

Referências

DAMNJANOVIC, N. New Wave Deflationism. In PEDERSEN & WRIGHT (eds), New Waves in Truth. New York: Palgrave Macmillan,  2010. (pp. 45-58).

EDWARDS, D. The Metaphysics of Truth. New York:  Oxford University Press, 2018.

HORWICH, P. Truth. Oxford: Oxford University Press, 1998.

MERRICKS, T. Truth and Ontology. New York: Oxford University Press. 2007.

Gionatan Carlos Pacheco – Universidade Federal de Santa Maria, Brasil. Doutorando em Filosofia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Brasil. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/5505634981032665. E-mail: gionatan23@gmail.com

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[DR]

 

The Bloomsbury Encyclopedia of Utilitarianism – CRIMMINS (SY)

CRIMMINS, James E. (Ed.). The Bloomsbury Encyclopedia of Utilitarianism. London: Bloomsbury Academic, 2013. Resenha de: TRINDAD, Gabriel Garmendia da. Synesis, Petrópolis, v. 10, n. 2, p. 244-250, ago./dez., 2019.

A filósofa espanhola María Esperanza Guisán (1940–2015) celebremente observou que a doutrina utilitarista é “uma das teorias ético-políticas pior estudadas e compreendidas ao longo do tempo”.1 Podemos elencar entre as principais causas de incompreensões e dúvidas sobre tal abordagem a constante confusão acerca do que vem a ser, de fato, o utilitarismo. Frequentemente, é possível encontrar comentadores na literatura filosófica os quais descrevem “o utilitarismo” como um sistema moral único e definido. Tais caracterizações são, todavia, bastante problemáticas. Em realidade, poder-se-ia dizer que há tantos utilitarismos quanto utilitaristas – talvez até mais, pois não é incomum pensadores revisarem e proporem variações de suas próprias perspectivas ético-utilitárias no decorrer de suas carreiras.2 A Bloomsbury Encyclopedia of Utilitarianism (doravante, ‘BEU’) surge justamente para retificar este e muitos outros equívocos interpretativos acerca da tradição utilitarista e seus representantes.

Editada pelo cientista político inglês James E. Crimmins, a BEU é um monumento filosófico ímpar.3 As mais de seiscentas páginas desse formidável manuscrito configuram o que pode ser prontamente classificado – ao menos até o presente momento – como o compêndio definitivo sobre os estudos utilitaristas. Os leitores da obra em pauta dificilmente poderão concluir outra coisa. A razão disso é a riqueza e excelência de tal publicação. Como Crimmins faz questão de anunciar ao introduzir a BEU ao seu público alvo, esta é composta por mais de 220 verbetes elaborados por cerca de 120 pesquisadores do mais alto calibre acadêmico-científico. Tais verbetes abrangem os seguintes tópicos: figuras históricas e progenitores tardios do que viria a se tornar a filosofia utilitarista, utilitaristas clássicos e contribuintes recentes da literatura em voga, economistas políticos, scholars legais e juristas, objetores da ideologia ético-utilitária, historiadores e comentadores da tradição utilitarista, escolas de pensamento e teorias relacionadas aos frameworks utilitaristas, elementos significantes dos debates utilitaristas contemporâneos, diferentes tipos de utilitarismo, conceitos-chave, bem como problemas específicos da doutrina utilitarista – em especial, as dificuldades atinentes à avaliação e agregação das distintas manifestações da ideia de ‘utilidade’.4

Uma vez enumerados os conteúdos da BEU, Crimmins é rápido ao destacar que, a despeito da vasta constelação de assuntos ponderados, os possíveis críticos em vigília certamente questionarão a não inclusão de outras temáticas referentes ao utilitarismo. À vista disso, Crimmins esforça-se para justificar quaisquer ausências em termos de limitações de espaço – o que é compreensível. Decisões editoriais acerca daquilo que será abarcado ou deixado de lado em obras dessa magnitude são extremamente comuns. Ainda assim, levantar esse tipo de questionamento jamais poderia ser tomado como algo atípico ou desimportante. Afinal de contas, escritores utilitaristas são tradicionalmente conhecidos por empregar as suas abordagens e princípios na reflexão e tratamento filosófico das mais variadas problemáticas imagináveis. Limitar literariamente o dinamismo e versatilidade da doutrina utilitarista por intermédio de uma abundância de supressões textuais somente empobreceria o volume discutido. A construção de indagações dessa natureza deveria ser, então, fortemente encorajada – sobretudo se tivermos em mente a possibilidade de uma futura reedição do manuscrito. É precisamente por isso que a presente análise não hesitará em assinalar alguns dos temas mais relevantes que não foram incorporados nessa primeira versão da BEU. Comecemos, no entanto, pelo mais evidente acerto da publicação sob escrutínio, qual seja, o seu hábil detalhamento de múltiplas propostas morais utilitaristas.

Como mencionado há pouco, aquilo que é descrito como “o utilitarismo” deveria ser pensado, em realidade, como um vasto conjunto de abordagens ético-políticas de cunho consequencialista.5 A BEU reforça essa concepção ao trazer análises de mais de trinta subtipos diferentes de posturas utilitaristas desenvolvidas nos últimos dois séculos. Dentre as entradas com o maior número de informações e esclarecimentos, sobressaem-se as discussões sobre o utilitarismo do ato e da regra, utilitarismo ideal, utilitarismo de preferências (‘preferencialismo’), utilitarismo análogo e binário, utilitarismo expectabilista e ‘number-dampened utilitarianism’. Boa parte desses verbetes incluem investigações sobre as vantagens das vertentes utilitaristas comentadas em comparação direta a outras formas de utilitarismo e sistemas morais rivais – o que facilita significativamente a posterior construção de paralelos ainda mais aprofundados por pesquisadores. Além disso, são também consideradas variantes utilitaristas pouquíssimas vezes tratadas na literatura filosófica em pauta. Esse é o caso, por exemplo, do utilitarismo dos motivos, uma proposta esboçada, em meados da década de setenta, pelo filósofo norte-americano Robert Merrihew Adams. Tal teoria, como o seu próprio nome sugere, diz respeito à avaliação dos motivos segundo os quais as pessoas agem e como eles influenciam na determinação das condições da utilidade. Notavelmente, Gwen Bradford, autora do verbete em foco, complementa o seu exame do utilitarismo dos motivos ao abranger como essa perspectiva poderia ser retomada no cenário filosófico atual – o que demonstra, novamente, a quantidade de tópicos dignos de estudo contida nas páginas da enciclopédia.

Embora o grupo de correntes utilitaristas perscrutado na BEU seja bastante amplo, ele ainda assim acaba por não incluir diversos tipos e famílias de utilitarismos. Uma ausência particularmente questionável é a do chamado ‘utilitarismo negativo’. Utilitaristas negativos dão prioridade absoluta à minimização de experiências aversivas em contraposição à costumeira maximização de experiências agradáveis. Tal teoria foi originalmente delineada por Karl Popper em A Sociedade Aberta e Seus Inimigos (1945) e duramente criticada por J. J. C. Smart.6 A despeito dos ataques de Smart, a popularidade do utilitarismo negativo e suas variações cresceu consideravelmente no decorrer das duas últimas décadas. Muito disso se deve aos esforços de autores como o filósofo britânico David Pearce que, em seu livro The Hedonistic Imperative (1995), defende uma variedade da teoria a qual toma como propósito central da moralidade a abolição do sofrimento em toda a vida senciente.7 Além de ser retratado nos escritos de Pearce, o utilitarismo negativo tem sido utilizado ao longo dos anos no tratamento de uma multiplicidade de problemas no campo da ética prática e ética populacional. Dado à contínua aplicação do utilitarismo negativo na literatura filosófica atual, a falta de uma nota específica dedicada a essa perspectiva dificilmente poderia ser vista com bons olhos.

Outro ponto nitidamente forte da BEU é a apresentação e problematização dos indivíduos que auxiliaram a moldar a doutrina utilitarista ao longo do tempo. A obra contém mais de cento e trinta entradas dedicadas, como assinalado anteriormente, a defensores, objetores, comentadores, revisores e influenciadores do pensamento e abordagens utilitaristas. Tendo observado isso, é simplesmente impraticável destacar de modo apropriado a grandeza e pluralidade desses verbetes em especial. Como os possíveis leitores da enciclopédia podem imaginar, o tratamento dispensado pela BEU aos principais representantes do utilitarismo é incomparável. Discussões acerca de pensadores clássicos e expoentes iniciais das teses utilitaristas tais como Jeremy Bentham, James Mill, John Stuart Mill, William Paley e Henry Sidgwick se encontram entre as mais aprofundadas e extensas do volume inteiro. O detalhamento de contribuintes historicamente menos prestigiados também é digno de nota. Comentador algum é pequeno demais para ser ignorado por Crimmins. Mesmo John Rickards Mozley – matemático e educador inglês, cuja única contribuição aos estudos utilitaristas foi a publicação de uma breve resenha crítica de Os Métodos da Ética (1874) de Sidgwick – recebeu o seu devido lugar nas páginas da BEU. O impacto das ideias de Platão, Aristóteles, Epicuro, Hobbes, Locke e Kant sobre os valores utilitaristas é igualmente averiguado – o que resulta em uma apreciação histórica ainda mais rigorosa dessas visões na tradição filosófica ocidental.

Embora ocupem um espaço significativamente menor do que as entradas destinadas aos primeiros proponentes e opositores dos fundamentos utilitaristas, as considerações referentes a apologistas e arguidores contemporâneos (i.e., nascidos no século XX em diante) possuem grande relevância e merecem uma reflexão à parte. Os verbetes dedicados a contendedores das propostas utilitaristas são particularmente bons. Dentre esse grupo, evidenciam-se os apontamentos sobre H. L. A. Hart, John Rawls, Bernard Williams, Robert Nozick e Michel Foucault. É apenas quando examinamos o material concernente a utilitaristas contemporâneos que as coisas ficam mais complicadas.

A enciclopédia contém entradas sobre autores esperados, tais como R. M. Hare, Peter Singer, John Harsanyi e Brad Hooker. Porém, uma vez que o número de intelectuais que se identificam com as ideias utilitaristas hoje em dia é assombroso, muitos acabaram ficando fora da obra em pauta. Duas ausências em especial são simplesmente imperdoáveis. A primeira diz respeito a R. G. Frey (1941–2012). Uma figura polêmica no campo da ética aplicada, Frey foi conhecido por suas declarações incendiárias, ataques mordazes à considerabilidade moral dos animais não-humanos e por uma defesa do utilitarismo de preferências.8 A segunda tange ao filósofo sueco Torbjörn Tännsjö. Um escritor prolífico, Tännsjö tem feito importantes contribuições aos debates sobre o utilitarismo hedonista e empregado suas teorias para lidar com uma multiplicidade de temas difíceis da bioética e ética médica.9 Por enquanto, somente podemos esperar que essas e as demais ausências sejam reparadas em edições futuras da BEU.

Aqueles que optarem por consultar a BEU para alcançar uma compreensão mais diversificada do modelo utilitarista, e não apenas do seu impacto geral na literatura filosófica ocidental, não ficarão nem um pouco desapontados. Isso porque o livro é um verdadeiro poço de curiosidades acerca da doutrina estabelecida por Bentham. O volume editado por Crimmins traz, por exemplo, dados pormenorizados acerca da criação do famigerado ‘autoicon’ – o esqueleto de Bentham preservado, anexado a uma cabeça feita de cera e vestido em suas próprias roupas – que atualmente se encontra em uma pequena cabine exposta ao público na University College London. Há também comentários sobre os pensadores e publicações utilitaristas originalmente incluídos no index papal – i.e., a lista de livros proibidos pela Igreja Católica. Em suma, todo o tipo de informação acerca daquilo que Bentham se referia como “a seita dos utilitaristas”.10 É importante frisar, aliás, que todos os verbetes da BEU estão conectados uns aos outros por meio de um vasto índice, sugestões de leitura, bem como referências bibliográficas adicionais. Desse modo, é bastante interessante comparar, por exemplo, a entrada ‘Panopticon’ com a nota sobre Michel Foucault – autor que tomava o panóptico benthamiano como a manifestação última da sociedade de controle.11 Essa organização cuidadosa dos verbetes só vem para fortalecer ainda mais a sensação de estar lidando com uma obra dificilmente superável.

Para concluir, um breve apontamento de ordem monetária. Até muito recentemente, o maior problema da BEU era o seu custo abusivo – algo igualmente criticado por outros resenhistas do livro.12 Os atuais valores da versão em capa dura (‘Hardcover’) da antologia giram em torno de trezentas libras esterlinas (quase 1.300,00 Reais na cotação corrente). Felizmente, em 2017, a tão esperada edição em brochura do manuscrito foi enfim publicada. Esta, por sua vez, conta com um preço muito mais acessível, cerca de GBP45,00 – o equivalente a pouco mais de R$200,00. Uma transação que, muito possivelmente, paga a si mesma. Pois, aqueles que forem financeiramente afortunados para adquirir alguma das versões da BEU não levarão para casa uma mera compilação de verbetes acadêmicos, mas sim a mais completa e competente obra já publicada sobre a doutrina utilitarista desde os tempos de Bentham – o que é seguramente suficiente para estimular e nortear longos anos de pesquisa no campo da filosofia prática.

Notas

1 GUISÁN, E. Utilitarismo, justiça e felicidade. In: PELUSO, Luis Alberto (ed.). Ética & Utilitarismo. Campinas: Editora Alínea, 1998, p. 131.

2 Peter Singer, por exemplo, celebrado pela sua defesa do utilitarismo de preferências durante décadas, recentemente abandonou tal posição em prol de uma versão modificada do utilitarismo hedonista clássico de Henry Sidgwick. Tal mudança é explorada em: LAZARI-RADEK, K.; SINGER, P. The Point of View of the Universe: Sidgwick and Contemporary Ethics. Oxford: Oxford University Press, 2014.

3 Crimmins é especialista no pensamento benthamiano e atualmente ocupa a posição de Professor of Political Theory no Huron University College, University of Western Ontario. Dentre as suas principais publicações, destacam-se: Secular Utilitarianism: Social Science and the Critique of Religion in the Thought of Jeremy Bentham (1990), On Bentham (2004) e Utilitarian Philosophy and Politics: Bentham’s Later Years (2011). Para uma lista detalhada dos escritos de Crimmins, visite: <https://works.bepress.com/james_e_crimmins/>. Acesso em: 04 fev. 2019.

4 CRIMMINS, James E. Preface. In: CRIMMINS, James E. (ed.). The Bloomsbury Encyclopedia of Utilitarianism. London: Bloomsbury Academic, 2013, p. x.

5 O filósofo Harlan B. Miller relata que provavelmente existe mais de uma centena de variantes distintas de perspectivas utilitaristas. Como ele salienta, “o utilitarismo possui muitas formas, o que depende de se o princípio é aplicado a escolhas de fatos ou escolhas de regras, se ‘prazer’ e ‘dor’ são compreendidos em sentido abrangente ou estritamente, se aquilo a ser maximizado é prazer ou satisfação de preferências, quão amplo é o escopo de ‘todos os seres afetados’, se trata-se de consequências atuais ou esperadas, e assim por diante. Utilitarismo em todas as suas formas é uma teoria consequencialista: o que torna um ato correto é as suas consequências.” MILLER, Harlan B. On Utilitarianism and Utilitarian Attitudes. Between the Species, v. 6, n. 3, 1990, p. 128. Traduzido livremente do inglês pelo autor.

6 Para as críticas de Smart, veja: SMART, J. J. C. Negative Utilitarianism. Mind, v. 67, n. 268, p. 542-543, 1958. SMART, J. J. C. An Outline of a System of Utilitarian Ethics. In: SMART, J. J. C.; WILLIAMS, Bernard. Utilitarianism: For & Against. Cambridge: Cambridge University Press, p. 1-74, 1973. 7 Para o manifesto escrito por Pearce, visite: https://www.hedweb.com/hedethic/tabconhi.htm. Acesso em: 04 fev. 2019.

8 O filósofo norte-americano David DeGrazia chega a declarar que Frey é um dos dois mais puros e dominantes utilitaristas contemporâneos no debate acerca do tratamento ético a ser concedido aos demais animais, o outro sendo Singer. DEGRAZIA, D. The Moral Status of Animals and Their Use in Research: A Philosophical Review. Kennedy Institute of Ethics Journal, v. 1, n. 1, 1991, p. 48.

9 Recentemente, Tännsjö esteve envolvido em uma bizarra controvérsia online. O famoso portal de notícias Vox.com decidiu por não publicar um artigo escrito pelo sueco acerca da chamada “conclusão repugnante” – a ideia de que teríamos uma obrigação moral de procriarmos, pois, supostamente, um maior número de humanos implicaria em um aumento no montante de felicidade total – devido aos seus argumentos serem demasiado provocativos. Para maiores detalhes do ocorrido, assim como o texto rejeitado, visite: <https://gawker.com/heres-the-philosophy-essay-vox-found-too-upsetting-to-p-1727243459>. Acesso em: 04 fev. 2019.

10 Certa vez, em conversa com o político britânico William Petty, 1º Marquês de Lansdowne, Bentham comentou sobre um sonho que tivera no qual se via como “um fundador de uma seita; naturalmente, uma personagem de grande santidade e importância. Chamava-se seita dos utilitaristas”. MSS disponível na ‘Bentham Collection’ (University College London, Box 169/79, “Dream”) apud Crimmins, James E. Bentham on Religion: Atheism and Secular Society. Journal of the History of Ideas, v. 47, n. 1, 1986, p. 103. Traduzido livremente do inglês pelo autor.

11 Para uma excelente avaliação sobre o panóptico benthamiano, assim como da oposição foucaultiana a este, veja: GONÇALVES, Davidson Sepini. O Panóptico de Jeremy Bentham: Por uma Leitura Utilitarista. São Paulo: Blucher Acadêmico, 2008. 12 SCHOFIELD, P. James E. Crimmins, ed., The Bloomsbury Encyclopedia of Utilitarianism. Journal of Bentham Studies, v. 16, n. 1, 2014, p. 3.

Referências

CRIMMINS, James E. Bentham on Religion: Atheism and Secular Society. Journal of the History of Ideas, v. 47, n. 1, p. 95-110, 1986.

CRIMMINS, James E. (ed.). The Bloomsbury Encyclopedia of Utilitarianism. London: Bloomsbury Academic, 2013.

DEGRAZIA, D. The Moral Status of Animals and Their Use in Research: A Philosophical Review. Kennedy Institute of Ethics Journal, v. 1, n. 1, p. 48-70, 1991. Disponível em: https://muse.jhu.edu/article/245599. Acesso em: 04 fev. 2019.

GUISÁN, E. Utilitarismo, Justiça e Felicidade. In: PELUSO, Luis Alberto (ed.). Ética & Utilitarismo. Campinas: Editora Alínea, p. 131-143, 1998.

MILLER, Harlan B. On Utilitarianism and Utilitarian Attitudes. Between the Species, v. 6, n. 3, p. 128-129, 1990. Disponível em: https://digitalcommons.calpoly.edu/bts/vol6/iss3/10/. Acesso em: 04 fev. 2019.

SCHOFIELD, P. James E. Crimmins, ed., The Bloomsbury Encyclopedia of Utilitarianism. Journal of Bentham Studies, v. 16, n. 1, p. 1-3, 2014. Disponível em: https://www.ucl.ac.uk/ucl-press/browse-books/journal-of-bentham-studies. Acesso em: 04 fev. 2019.

Gabriel Garmendia da Trindad– University of Birmingham, United Kingdom. Doutorando em Global Ethics no Centre for the Study of Global Ethics, Department of Philosophy, University of Birmingham. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/6770358458457650. E-mail: garmendia_gabriel@hotmail.com

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Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

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RECORTES DO MEDIEVO: TECENDO COMENTÁRIOS | Giovanni Fernandes Abreu de Oliveira e Wesley dos Santos Lima | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

O presente artigo que se estrutura em forma de ensaio crítico, busca analisar três obras de autores consagrados no campo da Historia Medieval. Perpassando por Jean-Claude Schimtt, Witold Kula e Henri Pirenne, buscamos trazer nesta abordagem textual um apanhado de informações que apresenta um recorte curioso dos textos encontrados nas obras desses autores. Destarte, a discussão em questão tece comentários que transcorrem entre o imaginário, a produção simbólica, a formação das cidades e a estrutura econômica destas.
Palavras-chaves: Medievo, Economia, Cidades.

O FOTÓGRAFO ENQUANTO INTELECTUAL: JOÃO BAPTISTA GROFF E A “ILLUSTRAÇÃO PARANAENSE”, 1927-1930 | Audrey Franciny Barbosa | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

O presente artigo buscou analisar uma pequena parte da produção fotográfica de João Baptista Groff, partindo da perspectiva que o mesmo pode ser analisado enquanto uma figura da intelectualidade paranaense do início do século XX e cuja obra fotográfica foi potencial para a discussão da dimensão visual e das relações culturais do período em que foi produzida. Para tal, teve como objetivos: ressaltar de que maneira JB Groff pode ser entendido como uma figura intelectual; propor quais os motivos inserem a obra fotográfica de JB Groff no campo da produção intelectual; e compreender alguns dos aspectos que permeavam a produção visual de Groff – seus imperativos de produção, estética, consumo e circulação – e indícios do seu círculo cultural. Diante disso, a discussão pautou-se, sobretudo, nos estudos de Leclerc (2004) e Silva (2002) acerca da História Intelectual e dos intelectuais; Essus (2016), Kossoy (2014) e Rouille (2009) no que se refere aos usos e estatutos da fotografia; e Vieira (1998) e Galiginiana (2016) para as discussões relacionadas a figura de JB Groff.
Palavras-Chave: História Intelectual; Cultura visual; Fotógrafo-Intelectual; Representações visuais.

APELOS PRINCESINOS: AS CAMPANHAS DO DIÁRIO DOS CAMPOS PELO DESENVOLVIMENTO DA ESTRUTURA SANITÁRIA EM PONTA GROSSA | Isaias Holowate | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

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O FILME COMO FONTE, NARRATIVA E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA | Bruno José Yashinishi | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

O presente artigo elucida a relação entre Cinema e História refletindo sobre as possibilidades de se tratar as narrativas cinematográficas como narrativas históricas. O objetivo principal é demonstrar que um filme pode ser tomado como fonte e objeto da História e sua narrativa pode ser tratada como uma narrativa histórica, ao passo que a linguagem cinematográfica pode organizar a consciência histórica. Os métodos adotados nessa pesquisa correspondem a revisões bibliográficas que tratam da relação entre o Cinema e a História, das narrativas históricas e cinematográficas e de suas possíveis aproximações. Este texto objetiva traçar possibilidades de se compreender a linguagem do cinema como discurso e representação que produza conhecimento histórico e intervenha no processo de ensino/aprendizagem da História, bem como novos sentidos à própria consciência histórica. Pretende-se também encarar as dificuldades e resistências quanto ao uso das fontes audiovisuais pelo historiador, oferecendo possibilidades teórico-metodológicas no ofício de fazer e compreender a História.
Palavras-chave: Cinema-História. Ensino de História. Consciência histórica.

INDIVÍDUO, MEMÓRIAS E IDENTIDADES: DIMENSÕES HISTÓRICAS COGNITIVAS NO FAZER BIOGRÁFICO | Leandro Braz da Costa | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

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Palavras-chave: Biografia, memórias, identidades.

SEMINÁRIO DE OLINDA: A ORGANIZAÇÃO FINANCEIRA PRESENTE NOS ESTATUTOS DO SEMINÁRIO EPISCOPAL DE NOSSA SENHORA DA GRAÇA | Estevam Henrique dos Santos Machado, Jéssica Santos da Silva e Mesaque Noronha da Silva do Nascimento | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

O presente artigo tem o objetivo identificar os dados acerca da organização financeira da educação do Seminário de Olinda, instituição religiosa que teve sua atuação no século XIX. Para tais fins, foi realizada uma pesquisa qualitativa do tipo bibliográfica, por meio de produções que foram realizadas sobre a instituição, e documental, a partir dos Estatutos do Seminário Episcopal de Nossa Senhora da Graça da Cidade de Olinda, 1798, analisando- a organização e estrutura do Seminário.
Palavras-chave: Seminário de Olinda. Recursos Financeiros. História da Educação. Pernambuco

AS DIFICULDADES FINANCEIRAS EM UMA VIDA DE CANDOMBLÉ: OS ESFORÇOS NECESSÁRIOS EM NOME DA FÉ | Fabiano Pio da Silva | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

O presente trabalho faz referência às relações entre o Candomblé e o dinheiro no universo dos Barracões ou Terreiros, bem como a relação entre aqueles que integram o seio de uma família de santo, sejam estes pai ou mãe de santo e seus respectivos filhos. Assim sendo, foi colhida uma entrevista com uma senhora de 65 anos de idade que foi iniciada aos 18 anos por motivos de saúde e, desde então, ela, assim como a maioria dos adeptos da religião, se viu em situações as quais a fizeram caminhar por uma jornada de sacrifícios pessoais, negociando com patrões, a fim de ter condições financeiras para cumprir com suas etapas dentro do mundo do Candomblé.
Palavras chave: Candomblé, dinheiro, fé.

FERNANDES FIGUEIRA E O “LIVRO DAS MÃES”: MATERNIDADE E ASSISTÊNCIA À INFÂNCIA NA PRIMEIRA REPÚBLICA | Fernanda Loch | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

O presente artigo tem por objetivo analisar, com base nos pressupostos da história de gênero, e da historiografia sobre a maternidade e o amor materno, a obra “Livro das Mães”. O livro escrito pelo médico Fernandes Figueira se tornou uma espécie de manual para o “bom exercício” da maternidade nas primeiras décadas do século XX. Lançada em 1910, teve ampla circulação no meio médico tornando-se uma referência para um novo modelo de maternidade e de infância no Brasil. Fernandes Figueira, médico formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, especializado em pediatria, teve um grande papel na construção de políticas públicas de auxílio à maternidade e à infância na Primeira República. Assim, através do livro analisado, busca-se refletir de maneira introdutória, sobre o sofrimento supostamente recompensador da maternidade a partir de dois capítulos desta mesma obra. Ao tratar do debate médico acerca da maternidade e da gestação, também tratamos de uma articulação estabelecida entre a medicina e os discursos de modernidade. Nesse sentido, um modelo específico de mãe e de maternidade é criado e consolidado afim de promover um novo modelo de família e de sociedade.
Palavras-chave: Fernandes Figueira; Infância; Maternidade.

O LÚDICO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: AS DINASTIAS CHINESAS | Arthur Caetano | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

O presente artigo busca discutir o uso de jogos como recurso lúdico ao processo de ensino-aprendizagem. Na presente proposta, buscaremos desenvolver a percepção temporal-espacial de nossos alunos sob parte da perspectiva “Oriental”. A atividade proposta para os alunos a partir do 6° ano do Ensino Fundamental e está delimitada na compreensão da cronologia tradicional chinesa com abordagens a partir das dinastias Xia, Shang, Zhou e Qin.
Palavras-chave: Ensino de História; Jogos; Oriente; Cronologia Chinesa. | Clique aqui para ver o anexo com o tabuleiro e fichas do jogo.

O CINEMA E SUAS ESCOLAS: DAS ORIGENS À CONSOLIDAÇÃO NO SÉCULO XX | Fernando Rodrigues Oliveira | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019. |

Com o passar dos tempos, a linguagem cinematográfica passou de mero entretenimento das massas a importante instrumento de conscientização e crítica. Diversos movimentos cinematográficos, como o neo-realismo italiano, o cinema revolucionário soviético, o expressionismo alemão e a nouvelle vague francesa conseguiram mostrar que, a partir de diversas proposições ideológicas que compõem a temática de determinadas produções, é possível apontar e difundir uma série de questionamentos referentes às mais variadas questões, principalmente as de ordem social.
Palavras-chave: cinema; escolas cinematográficas; rupturas.

APONTAMENTOS SOBRE O PATRIMÔNIO CULTURAL NO CONTEXTO BRASILEIRO: O CASO DA LITERATURA DE CORDEL  | Maria Joedna Rodrigues Marques e José Rodrigues Filho | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

Este trabalho tem como objetivo refletir sobre as concepções de patrimônio cultural no cenário brasileiro do século XX assim como problematizar as mudanças realizadas nas perspectivas das políticas patrimoniais no século XXI. Para isso, elencamos como exemplo o processo de patrimonialização da literatura de cordel pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Ainda enquanto forma de contribuição acadêmica, destacamos a iniciativa da pesquisa “Sementes de Poesia: ações para registro e salvaguarda da literatura de cordel como patrimônio imaterial” que propõe articular o cordel ao ensino, pesquisa e extensão. A pesquisa em desenvolvimento na Universidade Federal de Campina Grande atua no registro da memória dos cordelistas, fortalecimento dos grupos representativos, aquisição de folhetos de cordel para a formação da Cordelteca do Centro de Formação de Professores da UFCG e realização de documentário com poetas, editores, xilografos e pesquisadores. Neste artigo dialogamos com a perspectiva do patrimônio, com autores como Ulpiano Toledo Bezerra de Menezes, Lucia Lippi Oliveira, e bibliografia complementar. – PALAVRAS-CHAVE: Literatura de Cordel; Patrimônio Cultural; Memória.

DISCURSOS DE PODER SOBRE OS CORPOS E AS SEXUALIDADES | Renata Santos Maia | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

Questionar por que os corpos são alvo de tanto interesse e do investimento de tantos discursos, é o começo para tentarmos entendê-los e enxergarmos as frestas pelas quais eles escapam do controle. Neste artigo são apresentadas algumas formas pelas quais os corpos podem ser percebidos e estudados, e as combinações de perspectivas que resultam na produção de “verdades” sobre eles. – PALAVRAS-CHAVE: Corpos; gênero; sexualidades.

NO RASTRO DO CANGAÇO: A CONSTITUIÇÃO REPRESENTATIVA DO NORDESTE E O PROTAGONISMO DE LAMPIÃO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX | Maykon Albuquerque Lacerda | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019. |

O presente artigo versa sobre às distintas concepções e problemáticas concernente ao Cangaço, bem como o protagonismo de Lampião e seu ingresso na vida de cangaceiro, constituído a partir da historiografia regional: influências, contradições e revisionismo, direcionado as temáticas sob a égide de construções místicas, estrutura coronelística, práticas discursivas, políticas raciais, produções histórico-culturais, além de um conjunto de representações do Nordeste; sobretudo, no que tange às relações de poder e redes de sociabilidades tecidas na espacialidade nordestina. Uma invenção regionalista-tradicionalista que visa legitimar uma tentativa de unidade e identidade de uma sociedade patriarcal, com suas peculiaridades e tipologias histórico-geográficas. Uma gestação articulada politicamente pelas elites agrárias do Norte do país, em prol da manutenção da ordem e hierarquia social na primeira metade do século XX. A própria(re)configuração do Cangaço e suas múltiplas dimensões, perpassam pelo viés de exaltação versus condenação frente aos dispositivos de repreensão da precoce República Brasileira, cuja jurisdição e atuação estatal era ausente ou inerte em terras inóspitas, hegemonicamente atrelada ao mandonismo senhoril.
Palavras-chaves: Cangaço; Lampião; invenção regionalista-tradicionalista

A REPRESENTAÇÃO DA AMERICA LATINA EM PROGRAMAS RELIGIOSOS TELEVISIVOS | Kamile Aparecida Lemes de Lima de Almeida | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

Está pesquisa está inserida no campo historiográfico da Nova História Cultural, utilizando-se da religião como a representação de um produto cultura. Está inserida também no campo historiográfico da Didática da História (pensar e pesquisar os conhecimentos históricos em todo o tecido social), permite-nos assim; entender a nossa problematização central: como a América Latina é representada em programas religiosos televisivos. Possuindo também como objetivo: compreender como a Cultura Histórica é apresentada para a sociedade em espaços sociais diversos, como família, escola, movimentos sociais, mídia (neste caso, especificamente os programas religiosos televisivos). Acompanhamos no período de 24 de agosto a 24 de setembro de 2017, os seguintes programas religiosos: Novena dos Filhos do Pai Eterno, Show da Fé, e Palavra amiga do Bispo Edir Macedo. Utilizamos como metodologia à análise de conteúdo proposta por Àrostegui, e como referencial teórico a noção de representação de Chartier.
Palavras chaves: Religião; programas televisivos; didática da história.

COSTUMES E IDENTIDADES: ESTUDOS SOBRE OS GRAFISMOS CORPORAIS JIRIPANKÓ | Vinícius Alves de Mendonça | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

Está produção tem por objetivo realizar uma série de discussões sobre os grafismos corporais utilizados entre os indígenas Jiripankó, habitantes no município de Pariconha, alto sertão do Estado de Alagoas. A pintura corporal desenvolve no meio cultural do grupo um papel de contato entre seus membros e os espaços sagrados que lhes são comuns; sendo, portanto, passível de uma análise historiográfica junto a contribuição na escrita da história Jiripankó, através dos moldes da História Cultural e de uma História do tempo presente. Durante o desenvolvimento da pesquisa utilizamos as metodologias vinculadas à pesquisa de campo (OLIVEIRA, 2000), coletas de relatos orais na comunidade (ALBERTI, 2004), anotações em diários de campo e produção de fotografias complementando, em seguida, esse processo metodológico por uma descrição de caráter etnográfico explicativo (MALINOWSKI, 1976). Teoricamente o trabalho está embasado em autores como Candau (2016), Pollack (1992), Peixoto (2018) junto à revisão bibliográfica de pesquisadores como, Mendonça (2019), Silva (2015) e outros, logo buscamos possibilitar uma análise da pintura corporal enquanto parte da religiosidade dos indígenas e fonte de pesquisa.
Palavras-chave: História Cultural. Indígenas. Pintura corporal.

“A MANIA DE TORCER AUTORES”: OS DEBATES ENTRE O MÉDICO FRANCISCO BARBOSA MACIEL E OS COLABORADORES DO JORNAL DIÁRIO DOS CAMPOS | Isaias Holowate | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019. |

O presente artigo analisa a disputa discursiva entre o médico Francisco Barbosa Maciel e a redação do jornal ponta-grossense Diário dos Campos no Paraná, ocorrida no final de 1915 e primeira metade de 1916. Nessa disputa, concepções divergentes sobre o aprimoramento racial brasileiro foram colocadas em pauta. Publicadas em um meio noticiativo próprio, as representações defendidas apontam tanto para relações de poder entre os indivíduos que colaboravam e que se relacionavam no periódico quanto para apropriações próprias de textos científicos da daquele período pelos colaboradores do jornal e entusiastas do aprimoramento humano brasileiro. – PALAVRAS-CHAVE: Apropriação; Diário dos Campos; Racialismo.

BRASIL CONTEMPORÂNEO, NOVA DIREITA E MOVIMENTO BRASIL LIVRE: REFLEXÕES EM UM MUNDO EM CRISE  | João Elter Borges Miranda | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

O presente trabalho tem o objetivo duplo de analisar o processo histórico que perpassa o Brasil contemporâneo e, conjuntamente, situar historicamente o Movimento Brasil Live (MBL), apontando também alguns elementos da sua atuação e de suas premissas político-ideológicas. Através da investigação das transformações no capitalismo e no sistema político brasileiro, com atenção especial para o Golpe de 2016, buscou-se contextualizar o MBL na constelação de aparelhos privados de hegemonia que, no debate acadêmico progressista e crítico, tem analisado esse fenômeno entendendo-o como uma “nova direita” no Brasil; buscou-se, ainda, compreender os motivos pelos quais surgem na atual fase do capitalismo esses movimentos políticos de cunho conservador, dando enfoque no MBL. Assim, à luz do referencial gramsciano, objetivamos situá-lo teórica e historicamente, de modo a compreender o processo histórico de constituição desse aparelho de ação doutrinária, assim como alguns elementos das suas estratégias e táticas de atuação e as suas ligações nacionais e transnacionais. – PALAVRAS-CHAVE: Movimento Brasil Livre; Aparelho privado de hegemonia; Ação doutrinária.

MÁRTIR DA RELIGIÃO PROIBIDA: O CASO DA CRISTÃ-NOVA MOR ÁLVARES (1627-1629) | Ronaldo Manoel Silva | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

Este artigo tem por objetivo analisar o processo inquisitorial da cristã-nova Mor Álvares, 65 anos de idade (em 1627), condenada pelo Tribunal do Santo Ofício à pena de morte pelo fogo, por crime de judaísmo. A partir de uma abordagem micro-histórica investigamos as peças judiciais do processo, centrando-nos nas acusações que pairavam sobre a ré e na sua defesa. Por fim, ressaltamos que a cristã-nova foi queimada na fogueira, tão somente, por afirmar que tinha “fé na Lei de Moisés”. – PALAVRAS-CHAVE: Inquisição portuguesa; Cristãos-novos; Crime de judaísmo.

APONTAMENTOS SOBRE HISTÓRIA E CULTURA MATERIAL | Bruno José Yashinishi | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

O presente artigo tem como objetivo geral traçar alguns apontamentos sobre a relação entre História e Cultura Material, tomada em sua dimensão historiográfica. Para tanto, no primeiro momento o texto propõe reflexões sobre os conceitos de “cultura”, entendido como modos de vida e de “experiência”, que se constrói no espaço das tensões da vida cotidiana, sendo que essas noções são fundamentais para compreender a transformação do ambiente e construção do mundo material pelo homem. No segundo momento serão apresentados fundamentos teóricos e metodológicos específicos sobre a Cultura Material e sua possível relação com a História. – PALAVRAS-CHAVE: Cultura. Experiência. História e Cultura Material.

CANÇÃO, INDÚSTRIA FONOGRÁFICA E UMA POSSÍVEL HISTÓRIA GLOBAL DA MÚSICA POPULAR | Daniel Henrique França Lunardelli | Sobre Ontens. Paranavaí-Rio de Janeiro, v.2, ago./dez. 2019.

Esse artigo tem como proposta pensar as possibilidades teórico-metodológicas para se produzir uma história global da canção. A princípio é possível vislumbrar uma história global da canção partindo de dois eixos: o primeiro é a própria canção, tendo em vista que as particularidades de sua estrutura e sua capacidade de transpor fronteiras possibilitam formas de consumo deslocalizadas e mundializadas. O segundo eixo diz respeito à indústria fonográfica. Acompanhar o seu desenvolvimento, as mudanças na estrutura e na organização da produção fonográfica nos permite verificar seu entrelaçamento com o movimento da globalização. – PALAVRAS-CHAVE: Canção; História Global; Indústria Fonográfica

História e gênero: novos debates / História e Cultura / 2019

Neste segundo dossiê sobre História e Gênero, reunimos pesquisas que discutem e analisam referenciais teóricos aplicados a estudos de caso, que denotam os anseios contemporâneos debruçados sobre as perspectivas de como o gênero transcende no cotidiano. Assim como no primeiro dossiê, as formas de representação narrativa dos sujeitos em seus contextos e campos sociais demonstram uma extensão de cada pensamento do indivíduo e de como ele intenciona ser compreendido dentro desses contextos. Nessa perspectiva, esse dossiê busca através da reunião de textos de especialistas perceber como temas gênero e História são desvelados e ressignificados por seus agentes sociais.

Assim cada pesquisa proposta, enaltece o propósito da ciência no do Brasil e no mundo, pois fortalece caminhos para o entendimento de gênero, não como uma categoria definitiva, mas que carece de estudos constantes, dentro de referenciais e conceitos tidos como definitivos.

Portanto, o dossiê apresenta artigos diversos que dialogam entre si por articularem debates sobre História e gênero. O primeiro artigo do dossiê traz a novela O exílio do tempo, da venezuelana Ana Teresa Torres, como tema. Essa novela apresenta a lembrança e a memória de uma saga familiar onde as vozes enunciativas são as mulheres e a sua vida privada dentro do lar, que transcorrem numa passagem de tempo durante o século XX, em uma sociedade masculina e uma relação de poder imposta.

Compreender o discurso da mídia empresarial na construção da mulher executiva na contemporaneidade, fez do segundo artigo do dossiê, uma proposta de discussão e sobre a liderança da mulher, o artigo debruçou-se em duas reportagens da revista empresarial HSM Management, o estudo aponta a relação competitiva entre o homem, a mulher, os novos papeis que se apresentam tendo como referencial análise do discurso em Michel Foucault.

Entender a contribuição que os impressos tiveram para a trajetória do comportamento feminino destacou o artigo evidenciando, a forma de ação das mulheres durante as décadas de 1920 e 1930 em Belo Horizonte, Minas Gerais. Tais publicações denotaram a normatização de comportamento para o feminino que não só eram estabelecidas, mas também como eram reconhecidas socialmente.

No artigo seguinte, podemos conhecer parte das relações estabelecidas entre as mulheres açorianas e seus descendentes na Vila Carrão em São Paulo, tendo como metodologia a história oral, o estudo apontou a importância e a sua ressignificação na gastronomia, nas festas, na religiosidade, nas atividades lúdico-recreativas da Casa dos Açores, e a importância de salvaguardar as tradições.

A película Boi Neon, destacada em outro artigo, tem por objetivo refletir as masculinidades no contexto nordestino destacando a principal contribuição de João Silvério Trevisan sobre a crise do masculino – (re)pensar performatividades criadas sobre o corpo masculino e a relação histórica entre “novos” padrões e a construção histórica das relações de gênero discutida, aqui, pela produção de Durval Muniz de Albuquerque Júnior sobre a “invenção” da virilidade do nordestino em torno de arquétipos violentos e rurais.

O sexto artigo apresenta as representações criadas por Francisco Brennand tanto no desenho quanto na pintura, e assinala todo o campo simbólico que se comunica dentro desses contextos que estão os gêneros e as sexualidades. Enquanto isso, outro artigo de nosso dossiê traz à cena a análise da tragédia, tendo o Teatro, uma das principais expressões artísticas e culturais na cidade grega de Atenas. Medeia escrita pelo poeta Eurípides que apresenta uma personagem feminina que se distancia do ideário comportamental desejado para uma mulher na época desafia propostas de ensino, no âmbito escolar a compreender a realidade multifacetada do gênero.

No Rio Grande do Sul, seis processos-crime da fronteira durante a Primeira República (1889-1930) em que mulheres agrediram outras mulheres, seus amásios, ex-amásios e policiais, desafiam ao nosso entendimento, as formas de manifestação feminina, entendidas como “adequadas” ou não, e principalmente o valor do papel social da mulher diante do homem, e a relação de poder estabelecida por uma sociedade patriarcal.

Novas tecnologias, novas relações, apegadas ainda a valores masculinizados, assim o artigo discute as disputas entre homens e mulheres, a divisão sexual no trabalho e tem como pano de fundo o filme Boi Neon. Ao encontro dessa discussão, outro artigo discutirá a importância do Iluminismo, e como esse movimento mudou a forma de pensar sobre antigos valores, que delimitavam os espaços de aprendizagem, culturais e a atuação feminina nesses espaços. E em contrapartida a esses dois artigos, entre o contemporâneo e a modernidade, observamos um panorama da presença das mulheres de classe média em seus espaços domésticos e sua interação com o espaço urbano de São Paulo em meados do século XX, momento em que a independência está na ocupação dos espaços urbanos, e isso não só como entretenimento mas como formação profissional e acadêmica.

Por fim, teremos um artigo que discute a violência na Paraíba, os raptos consentidos, datados entre as décadas de 1920 e 1940, onde foram analisados os cordéis, processos-crimes e música do mesmo período, reforçam a discussão da violência de gênero como um assunto ainda contemporâneo, e apesar de se consentido, ele demonstra a relação de poder e domínio, não de um indivíduo pelo outro, mas de valores sociais e familiares sobre o indivíduo. Cabe ressaltar, que os raptos consentidos ocorriam em outros lugares fora da Paraíba.

Gianne Zanella Atallah – Doutora em Memória Social e Patrimônio Cultural (PPGMP / ICH-UFPEL / RS -2018). Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural (PPGMP / ICH-UFPEL / RS – 2011). Especialista em Patrimônio Cultural: Conservação de Artefatos (ILA-UFPEL / RS-1997). Graduada em História – Licenciatura Plena (FURG / RS-1993). Dirigente do Núcleo de Patrimônio – SECULT / Prefeitura Municipal de Rio Grande / RS (Fototeca Municipal Ricardo Giovannini e Pinacoteca Municipal Matteo Tonietti). Docente em História da Rede Municipal – SMED / Prefeitura Municipal do Rio Grande / RS. E-mail: gizaatallah@gmail.com

Júlia Silveira Matos – Pós-doutoranda em Educação UFPEL. Professora de História da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, coordenadora do Laboratório Independente de pesquisa em Ensino de Ciências Humanas – LABEC, formada em História Licenciatura pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2002), possui especialização em Teologia com habilitação para Ensino Religioso, mestrado em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2005) e doutorado pelo Programa de Pós-graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2008). E-mail: julsilmatos@gmail.com


ATALLAH, Gianne Zanella; MATOS, Júlia Silveira. Apresentação. História e Cultura. Franca, v. 8, n. 2, ago-nov, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Da senzala aos palcos: Canções escravas e racismo nas Américas, 1870-1930 | Martha Abreu

Num formato ainda raro entre nós, este livro digital que integra a Coleção História Illustrada explora as possibilidades que esta mídia oferece de conjugação de texto, som e imagem. Além das mais de 200 fotos, ilustrações de partituras, anúncios de espetáculos, notícias de jornais – o e-book traz dezenas de fonogramas e alguns vídeos com gravações de canções e espetáculos musicais do início do século XX que permitem ao leitor/ouvinte uma extraordinária experiência de interação com as fontes que sustentam o empreendimento historiográfico. A narrativa é leve, mas muito potente, favorecendo a recepção do trabalho por um público mais amplo que o acadêmico.2

A autora é Professora Titular de História das Américas da Universidade Federal Fluminense e consagrada pesquisadora da cultura popular, música negra, memória da escravidão e relações raciais no pós-abolição nas Américas. Além de inúmeros livros e artigos, já havia produzido, também de forma pioneira, vários vídeos de pesquisa que nos fazem refletir sobre novos suportes para o discurso historiográfico e ensino de História. Leia Mais

Territórios ao Sul: escravidão, escritas e fronteiras coloniais e pós-coloniais na América | María Verónica Secreto e Flávio dos Santos Gomes

O livro Territórios ao Sul organizado por Verónica Secreto e Flávio Gomes foi criado com o propósito de conectar histórias e historiografias de africanos e afrodescendentes no Atlântico sul diante da falta de diálogo sobre a influência mútua entre os processos históricos afro-latinos americanos. Os autores discorrem acerca dos silêncios comuns sobre América negra e o quanto são necessárias colaborações intelectuais para romper com os afastamentos entre os processos históricos negros nas Américas. Além do já consagrado Gilberto Freyre que desde a década de 1930 marcou o campo de estudos com seus esforços na tentativa de comparar histórias, também podemos incluir os organizadores dessa obra enquanto autores que se dedicam a relacionar os territórios negros na América Latina.

Desde 1998 Verónica Secreto vêm pensando no mundo rural brasileiro e argentino, sob a perspectiva comparada, o que deu origem ao livro Fronteiras em movimento: História comparada – Argentina e Brasil no século XIX (SECRETO, 2012), em sua obra a autora não deixa de incluir a população negra que é abordada em um capítulo denominado “Páginas de miséria e suor” sobre a mão-de-obra usada nos campos do Oeste Paulista e de Buenos Aires. Já Flávio Gomes, em trajetória enquanto intelectual negro é um estudioso de diversas faces da história dos africanos e afrodescendentes, seja sobre mentalidades ou as diversas formas de lutas políticas e sociais para a resistência ao sistema escravista e a obtenção de igualdade e cidadania. As histórias comparadas e conectadas se incluíram nas metodologias adotadas pelo autor em suas pesquisas desde o ano de 2003, se dedicando principalmente a afro-latino-América. Dentre suas diversas publicações, gostaria de destacar seu artigo sobre a formação de mocambos como uma forma de resistência escrava no Brasil e na Guiana Francesa (GOMES, 2003). Leia Mais

Utopias e experiências operárias: ecos da greve de 1917 | Clóvis Gruner e Luiz Carlos Ribeiro

Em junho de 1917, em contexto de formação de uma cultura operária no Brasil, uma greve geral foi deflagrada, convocada e liderada principalmente por trabalhadores. O movimento paralisou, de início, a cidade de São Paulo, logo se espalhando para diversas cidades brasileiras e tornando-se, assim, o maior movimento paredista da história brasileira até aquele momento. Em 2017, no centenário da Greve, os historiadores e professores do curso de História da Universidade Federal do Paraná Clóvis Gruner e Luiz Carlos Ribeiro organizaram uma coletânea de textos escritos por diversos historiadores e sociólogos estudiosos de temas como os Mundos do Trabalho e os movimentos operários e anarquistas. Publicado em 2019 e subdividido em três partes, Utopias e experiências operárias: ecos da greve de 1917 busca explorar a experiência, as lutas e as utopias pretéritas e posteriores à Greve de 1917.

A primeira parte do livro, intitulada “Greves”, é focada diretamente nos movimentos paredistas de julho e agosto de 1917. No capítulo inicial, Christina Lopreato parte da noção, antes consolidada na historiografia, a respeito do caráter espontâneo e explosivo do movimento para explorar justamente o contrário. Em trabalho de doutorado prévio à publicação do capítulo, a autora estudara o tema e o caráter especialmente anarquista dos movimentos, que, no lugar de espontâneos e sem organização, são demonstrados enquanto planejados e frutos do intenso trabalho de duas décadas de ação direta, trabalho de base e encorajamento de autonomia e de identidade de classe no movimento operário.

Além disso, em 1917 não havia partido ou sindicato para representar os interesses dos trabalhadores, que se mobilizaram em cerca de 100 mil nas ruas de São Paulo para reivindicar melhores condições. Nessa ocasião, o sapateiro José Ineguez Martinez morreu baleado em confronto com forças policiais. O que seguiu foi aquilo que a autora chamou de vida no movimento, o qual acompanhou o cortejo fúnebre do jovem e aproveitou o momento para reivindicar liberdade pelos grevistas presos e protestar contra a violência policial. Segundo Lopreato, demonstrar solidariedade significava aderir ao movimento; daí o título e subtítulo de seu capítulo, “A greve geral anarquista de 1917: militância anarquista e redes de solidariedade”. Por fim, a autora expõe a expulsão das principais lideranças estrangeiras de forma inconstitucional e explora o legado da Greve e as rupturas e continuidades nas estratégias de auto-organização, observadas até 2017.

Já em “Greve geral 1917: organização e luta operária em Curitiba”, Luiz Carlos Ribeiro analisa, a partir de fontes historiográficas, quantitativas e de periódicos da época, o movimento grevista em Curitiba. Com alinhamento teórico marxista, o autor trabalha com os conceitos de classe e de lutas sociais para expor as condições e as práticas dos trabalhadores naquele contexto, investigando a tensão entre as classes no conflito e chegando à conclusão de que a luta se fez na negociação de interesses.

O historiador expõe uma clara participação de diferentes setores das elites, seja por motivos de ordem positivista, para imbuir o espírito civilizatório nas classes pobres, ou porque temiam sua influência e auto-organização. Embora não se deva supervalorizar o papel dessas elites, deve-se ressaltar que as vozes conservadoras tiveram papel político importante nas reivindicações por liberdade de presos e deportados em 1917. Segundo Ribeiro, é uma armadilha dizer que um ou outro grupo liderou os movimentos paredistas e resumi-los a ele. No fim das contas, houve interferência da elite e, igualmente, autonomia dos setores operários – que escolhiam ora se opor, ora não, à participação dos primeiros, já que essa era também uma forma de obter conquistas. Assim, aos poucos, o autor demonstra o esgotamento dos espaços políticos do anarquismo, que deram lugar a propostas socialistas de organização centralizada e apoio na política, enquanto do outro lado o Estado acumulava cada vez mais prerrogativas de controle social. Paradoxalmente, ele argumenta, o anarquismo fora forte enquanto predominava o modelo liberal e individualista de governo. A crise do liberalismo, para Luiz Carlos Ribeiro, foi também a do anarquismo.

A segunda parte do livro tem como objetivo tratar das experiências de grupos específicos na Greve de 1917: as mulheres, a população negra, e as crianças. Em “Silenciosas ou insurgentes? Mulheres trabalhadoras no contexto da Greve de 1917 em Curitiba”, a historiadora Roseli Boschilia procura refletir acerca do silêncio das e sobre as mulheres trabalhadoras no contexto da Greve em Curitiba. No Brasil, a mão de obra feminina esteve presente nas fábricas desde a industrialização no século XIX, um período de escassez de força laboral que abriu espaço para mulheres no ambiente fabril. Para muitas delas, o trabalho era como uma fase transitória entre o fim da escolaridade e o início do casamento, ingressando nele por volta dos 14 anos de idade e saindo aos 24.

As trabalhadoras exerciam diversas funções, geralmente as que exigissem delicadeza e atenção, nas seções de embalagem e acabamento, porém recebiam a metade do salário dos homens. Utilizando como fonte histórica jornais do período, Boschilia afirma que são raros, mas não inexistentes, os vestígios sobre a participação ou ausência das mulheres durante a Greve, destacando a crônica de Gastão Faria, publicada no Diário da Tarde. Nela, o autor narra que as telefonistas não iriam aderir à Greve pois ganhavam muito pouco e se parassem de trabalhar passariam necessidades. Dentre as pautas defendidas pelo comando de greve estava a proibição do ingresso de moças com menos de 21 anos no mercado de trabalho, sendo essa uma clara estratégia de retirá-las desse espaço. A autora finaliza seu texto questionando se o comportamento de pouca aderência ao movimento grevista pelas mulheres não foi uma forma de resistência ao poder masculino, uma vez que suas pautas eram desfavoráveis a elas.

Em “Os trabalhadores têm cor: militância operária na Curitiba do pós-abolição”, as pesquisadoras Joseli Maria Nunes Mendonça e Pamela Beltramin Fabris procuram problematizar a História do Trabalho em Curitiba do final do século XIX e início do XX, abarcando a perspectiva de raça e das experiências da escravidão. Para isso, criticam a interpretação da História do Trabalho no Brasil feita aos moldes europeus, que minimiza e desconsidera a pluralidade de experiências de trabalho e militância vivenciadas em regiões além de São Paulo e por trabalhadores que fugiam ao padrão do homem adulto, branco, predominantemente imigrante, em ambiente fabril, que se organizava em sindicatos e manifestava suas demandas por meio de greves.

Assim, as autoras destacam a importância das sociedades mutualistas do século XIX, ligadas principalmente à luta dos trabalhadores negros, como a Sociedade Protetora dos Operários e o Clube 13 de Maio. Ao trazer à tona esse associativismo, que tinha como objetivo ressignificar a presença negra na cidade a partir de experiências e expectativas dos seus próprios membros, as autoras concluem que, apesar do ocultamento da cor nos registros e interpretações historiográficas a respeito do trabalho na Primeira República, essas organizações mostram que muitos trabalhadores em Curitiba tinham cor, e ela não era branca.

Já em “Lutas sociais, trabalho infantojuvenil e direitos (Brasil, 1889-1927)”, a historiadora e docente da Universidade do Estado de Santa Catarina, Silvia Maria Fávero Arend, busca tratar a respeito da conquista dos direitos sociais na área trabalhista pelas pessoas consideradas menores de idade. Sua análise, que abarca o início da República até o ano de 1917, é centrada na legislação federal do período e nos recenseamentos populacionais de 1920 e 1940.

A questão do trabalho infantojuvenil era pauta do movimento grevista de 1917, que tinha entre as suas demandas a proibição tanto do trabalho noturno para menores de 18 anos, como do trabalho nas fábricas e oficinas para os/as menores de 14 anos. Assim, a autora faz um histórico das legislações que buscavam proteger e regulamentar o trabalho dos indivíduos menores de idade, e conclui que a legislação brasileira procurou garantir minimamente os direitos sociais para eles, porém encontrou entraves na cultura autoritária dos patrões, nas condições de pobreza dos responsáveis e na ausência de instituições estatais que aplicassem a lei.

A última parte do livro contém contribuições de quatro autores que enfocam em seus escritos principalmente as utopias e os ideais anarquistas, disseminados através de escritos e experiências. Em “Folletos anarquistas en papel veneciano”, o sociólogo argentino Christian Ferrer pauta-se em um conjunto de 14 publicações, dentre elas impressos espanhóis e argentinos de 1895 e 1896 agregados em uma brochura. Ferrer narra o conteúdo de tais livretos de forma descontínua, dividindo seu trabalho em seções. Essas expõem, para além dos ideais libertários percebidos nos escritos em questão, as relações políticas e sociais entre os escritores e seus jornais, os autores expoentes do anarquismo e suas trajetórias de vida, bem como destacam o contexto de escrita, editoração e a circulação, inclusive internacional, das obras e dos autores analisados por ele.

Ademais de levantar as ideias anarquistas presentes nesses materiais, também são apontadas as características da escrita anarquista, como o uso de pseudônimos pelos contribuintes e a importância dos impressos em seu ideal revolucionário. Ao dar enfoque ao escrito Um Episódio de Amor na Colônia Socialista Cecília, de Giovanni Rossi, que foi publicado na Argentina com cerca de 3 mil cópias, o autor expõe as tensões e contraposições entre os ideais libertários concernentes ao amor e a experiência empírica ocorrida na Colônia Cecília. Além disso, aponta para a recuperação da memória dessas experiências através de canções, peças de teatro, documentários e filmes. Aborda-se a obra memorialística de 1979 de Zélia Gattai e de seu marido Jorge Amado, autor do romance Dona Flor e seus dois maridos, que, de acordo com Ferrer, foi baseado na experiência da família de colonos anarquistas de sua esposa.

Já em “Cenas do agir anárquico”, o sociólogo Nildo Avelino defende, através de uma análise comparativa entre as greves de 1917 e 1918 e os movimentos de 2013 no Brasil, que há uma regularidade na atuação dos sujeitos desses confrontos. A performance de todos eles contribui com a ação coletiva por meio da horizontalidade, da organização anti-hierárquica por redes ou ligas e da ação direta, a última sendo um traço característico do “agir anárquico” dessas três insurreições. Baseando-se em anarquistas como Pierre-Joseph Proudhon, Émile Pouget, Piotr Alexeyevich Kropotkin e Fernand Pelloutier, o autor compreende a horizontalidade empregada nesses movimentos como alicerçada em um pensamento anarquista para se evitar a concentração do poder político. De maneira análoga, entende que a negação do princípio da legalidade – materializada pela rejeição da representação na Greve de 1917 e pela aversão às instituições nas manifestações de 2013 – foi o elemento original desses fenômenos históricos. Esses acontecimentos, segundo o autor, levaram à transformação da subjetividade desses indivíduos e de sua capacidade política, proporcionando a eles uma energia revolucionária.

Em “Um Snob anarquista: O maximalismo libertário de Lima Barreto” o historiador Clóvis Gruner aborda o modo como as críticas à República se desenvolveram para além da imprensa libertária. Isso porque caracteriza a produção ficcional de Barreto como uma literatura militante que nutre aproximações com os ideais do movimento anarquista, uma vez que estabelece críticas em sua obra à burguesia, ao Estado republicano e às desigualdades e violências perpetradas por ele. Gruner demonstra que a aproximação de Lima Barreto com as ideias libertárias não se estende à atuação militante, mas centra-se na produção intelectual, sendo esta entendida também como engajada, pois apresenta um cenário de denúncia indignada ao seu presente.

Entretanto, ele aponta que tal postura não é meramente uma resignação do autor frente à sua contemporaneidade, mas uma crítica à pretensa modernidade, que mascara uma tradição política autoritária e excludente. Gruner demonstra como Barreto compreende os acontecimentos do seu período, inclusive as greves de 1917 e 1918, por meio de críticas ao poder estatal, à polícia e à imprensa, buscando, assim, construir uma sociedade mais igualitária ao se basear na intervenção da realidade que sua escrita poderia produzir.

Em “Utopía, técnica e historia: tiempo y espacio de la división social del trabajo”, o sociólogo chileno Jorge Pavez Ojeda faz uma crítica à modernidade e às divisões do trabalho em diálogo com a teoria marxista. Quebrando as linhas temporais e espaciais, o autor parte da realidade material do Chile para expandir a reflexão a respeito da experiência operária pretérita, presente e futura, indicando como principal desafio para os movimentos que buscam a unidade, caso da Greve geral, a existência de um lumpemproletariado. Esse, ele explica, seria caracterizado por um forte apego às afinidades, em lugar das outrora importantes identidades. Em outras palavras, são pessoas integrantes da classe proletária que não se veem enquanto parte de um sistema estrutural e que, pelo contrário, pautam suas ações pelos processos políticos. Por isso, citando Fanon, aponta que sua existência contribui para a auto-organização social. De forma análoga, elas podem, como fizeram no Chile, participar de movimentos fura-greve e contribuir para a desestruturação dos movimentos militantes.

Antes de chegar a isso, Ojeda traça um longo contexto do capitalismo no Chile e estende o padrão de atuação para outras regiões colonizadas. Partindo de diferentes utopias, encontra um elemento comum: um movimento teleológico da história orientado a um futuro. Essa ideia foi questionada pelo citado Walter Benjamin, para quem o progresso histórico só deixava ruínas para trás e cuja concepção de história universal do progresso é essencialmente de uma história de catástrofes. Para o chileno, enquanto a espacialidade utópica orientou teleologicamente o processo histórico moderno, é a dimensão temporal da utopia, chamada de ucronia, que constitui o lugar onde pode-se pensar a emancipação, agora como redenção à razão instrumental moderna.

Tendo em vista a pluralidade das discussões, abordagens e visões da Greve de 1917, é evidente que a obra resenhada é de alto valor epistemológico não apenas para a História, mas para as Ciências Humanas em geral. Ao mobilizar discussões teóricas importantes e distintas entre si, o volume consegue ainda sim ser coeso e intertextual no que tange à Greve de 1917, à sua historiografia, à teoria e ao trabalho com fontes. As contribuições abordam esse fenômeno histórico apresentando recortes, interpretações e sujeitos distintos, além de ampliarem as possibilidades de trabalho com o tema. Por agregar ao seu conjunto textos de historiadores e sociólogos, alguns deles estrangeiros, a obra apresenta novas abordagens e análises, ao mesmo tempo em que estabelece diálogos com a produção de países que passaram e passam por processos históricos semelhantes aos brasileiros, o que a enriquece ainda mais. Em suma, para além da contribuição elucidada acima, os debates – que englobam estudos comparativos com outras temporalidades e movimentos insurrecionais – enriquecem o campo de pesquisa dos movimentos paredistas e as amplas possibilidades de explorá-lo.

Referência

GRUNER, Clóvis; RIBEIRO, Luiz Carlos (org.). Utopias e experiências operárias: ecos da greve de 1917. São Paulo: Intermeios, 2019. 194p.

Cassiana Sare Maciel – Estudante do 7º período do curso de História (Licenciatura e Bacharelado) na Universidade Federal do Paraná. É bolsista do grupo PET História UFPR. E-mail para contato: cassiana.maciel@gmail.com . Endereço para o Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3210157518477759.

Kauana Silva de Rezende – Graduada em História (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade Federal do Paraná. Atuou como bolsista do grupo PET História UFPR de 2018 a 2020. E-mail para contato: kauanarezende87@gmail.com . Endereço para o Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/2149264497539586.

Mariana Mehl Gralak – Graduada em História (Licenciatura e Bacharelado) pela Universidade Federal do Paraná. Atuou como bolsista do grupo PET História UFPR de 2016 a 2020. E-mail para contato: marigralak@gmail.com . Endereço para o Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1555033953635717


GRUNER, Clóvis; RIBEIRO, Luiz Carlos (Org.). Utopias e experiências operárias: ecos da greve de 1917. São Paulo: Intermeios, 2019. Resenha de: MACIEL, Cassiana Sare; REZENDE, Kauana Silva de; GRALAK, Mariana Mehl. Cadernos de Clio. Curitiba, v.10, n.2, p.104-114, 2019. Acessar publicação original [DR]

História e Ficção em Paul Ricoeur e Tucídides | Martinho T. M. Soares

Em sua tese de doutoramento na Universidade de Coimbra, Portugal, Martinho Soares aborda uma lacuna relevante na história da teoria contemporânea da historiografia: o papel do paradigma historiográfico de Tucídides nas reflexões do filósofo Paul Ricoeur; o primeiro uma referência clássica que resiste pertinente e atual há milênios, o segundo talvez quem melhor sintetizou a polêmica sobre a relação entre histórica e ficção ao longo do séc. XX. O objetivo é em si problemático: Soares está ciente que Ricoeur cita Tucídides apenas em notas, não dedica nem uma página para análise específica de sua obra, e não apresenta indícios de conhece-la a fundo, para além de alguns de seus comentaristas modernos mais ilustres (SOARES, 2014, p.23). No entanto, Tucídides é um marco inaugural, exercendo inegável influência em intelectuais com quem Ricoeur dialoga, principalmente historiadores e teóricos modernos que o viam como paradigma de historiografia antiga. Se o filósofo moderno foi a pedra angular nos intensos debates do séc. XX sobre história e ficção, os estudos sobre a fortuna crítica da obra História da Guerra do Peloponeso extrapolam o próprio ambiente acadêmico, como demonstram os constantes apelos às lições tucideanas em situações geopolíticas contemporâneas2. Para cumprir tal tarefa Soares divide seu livro em duas partes: a primeira, mais longa, dedica-se exclusivamente à Ricoeur; a segunda aborda Tucídides, mas seguindo uma estrutura organizacional estabelecida com base na leitura da obra ricoeuriana.

A primeira parte é a própria sistematização da contribuição do filósofo francês que, nas palavras de Soares (2014, p.18), serviu de “pretexto para uma compilação, inédita em Portugal, de teorias (e pensadores), ora complementares ora antagônicos, sobre história e ficção”. Em quatro capítulos, Soares refaz o longo percurso da contribuição ricoeuriana: começa em Histoire et Vérité (1964) no capítulo I, passando pelos três volumes de Temps et Récit (1983- 1985) nos capítulo II e III, e finalmente se concatena em La mémoire, l’histoire, l’oubli (2000) no último capítulo desta primeira parte do livro de Soares.

No capítulo I são abordadas as primeiras reflexões de Ricoeur sobre objetividade e subjetividade na interpretação histórica, que desembocam no capítulo II sobre a dialética entre explicação e compreensão histórica. Este segundo capítulo refaz o percurso duplo de Ricoeur que perpassa, de um lado, o eclipse da narrativa histórica, o qual envolve tanto a historiografia francesa dos Annales quanto o modelo nomológico de língua inglesa; e de outro lado, as teses narrativistas que, oriundas da filosofia analítica e da crítica literária, focam no papel da narrativa na historiografia, cujos nomes mais conhecidos são Hayden White e Paul Veyne.

A concepção narrativista, que pode ser simplificada na máxima “narrar já é explicar”, torna opaca a fronteira entre história e ficção, o que certamente serve de gatilho para a maior parte das reflexões de Paul Ricoeur. Contra ambas tendências – rejeitar a narrativa histórica em prol de seu caráter científico ou ofuscar seu caráter veritativo por conta da sua dimensão narrativa – Ricoeur interpôs sua dialética sobre o papel da compreensão narrativa à explicação histórica, restaurando a função da ficção na configuração narrativa histórica. O saber histórico procede da compreensão narrativa, resguardando seu caráter investigativo alicerçado na interpretação dos traços do passado, prática na qual a intenção do historiador não deixa de ter sua marca subjetiva, sem negar seu caráter epistêmico (SOARES, 2014, p.53, 76). Assim, Soares revisita as teses de Ricoeur de forma a sedimentar os instrumentos de análise com o qual abordará a obra tucideana.

Se a história precisa de narrativa para ser compreendida, a última não deixa de definirse pela sua relação com o tempo. O capítulo III de Soares concentra-se no itinerário de Ricoeur sobre o tempo desde a dimensão fenomenológica (tempo vivido) até histórica (tempo histórico e narrado). Soares sintetiza ideias já conhecidas de Ricoeur sobre a distentio animi de Agostinho de Hipona, a teoria das três mimeses e as abordagens da ficção do século XX sobre as aporias do tempo vivido, de forma a desembocar no axioma de que o tempo se torna humano na medida em que é articulado de modo narrativo. Deste longo percurso, Soares retém a narrativa enquanto tríplice mimese da prefiguração ética, configuração narrativa e refiguração receptiva (ou leitura). Tal tríplice noção de narrativa organiza a leitura que Soares faz da História da Guerra do Peloponeso na segunda parte da obra. Na fase final da vida intelectual de Ricoeur, o prestígio da narrativa havia se restabelecido na historiografia francesa, devido a fatores que vão do ressurgimento da história política, e perpassa a micro-história e principalmente a predominância do conceito de representação histórica. Daí que Soares concentre-se no capítulo IV sobre os conceitos de representação e representância, especialmente se a narrativa histórica e seu encadeamento do tempo resolve (ou não) as aporias da representação mnemônica enquanto presença do ausente. A questão envolve debates éticos intensos sobre a possibilidade de representação do holocausto judeu e o risco do fortalecimento do negacionismo histórico, com as teses narrativistas que ofuscam a fronteira entre histórica e ficção. Até aqui, pode-se parabenizar a leitura industriosa que Soares faz de Paul Ricoeur, mas não sem notar o longo percurso percorrido até finalmente concatenar tais reflexões com o texto tucideano.

A segunda parte volta-se para Tucídides em dois capítulos. O primeiro se preocupa com a noção de história e verdade na obra, revisitando discussões já consagradas sobre a noção de “ktema es aei” (tesouro para sempre) e sobre o procedimento de composição dos discursos na História da Guerra do Peloponeso. O segundo capítulo se desdobra na aplicação dos três estádios ricoeurianos da operação historiográfica na obra: a fase documental (prefiguração compreendida como testemunhos, indícios e prova documental), a fase narrativa, (explicaçãocompreensão e configuração narrativa), e a fase da refiguração ou leitura, que concentra-se nas estratégias retórico-persuasivos e seus efeitos de “fazer ver” (SOARES, 2014, p.405-406). Em contraste com Heródoto, Tucídides é lacônico e reticente ao expor suas fontes e procedimentos de investigação, logo Soares admite e enfatiza as dificuldades em abordar a metodologia histórica da obra, bem como sua inadequação para os parâmetros modernos (2014, p.502-504, 545-549). A leitura de Soares, portanto, desenvolve-se melhor quando aborda as estratégias persuasivas do autor ateniense, de forma a encontrar nelas ecos das teses de Ricoeur.

O estudo é industrioso e pertinente, mas desmembrar a análise em duas partes acaba por ser simultaneamente uma qualidade e um defeito da pesquisa. Sua exposição sobre Ricoeur revela excelência e domínio das discussões, por outro lado, alonga-se demasiadamente divorciada do seu segundo objeto de pesquisa. Isto significa que não teremos notícias de Tucídides pelas 360 páginas e 4 capítulos que compõem a primeira parte da obra. Da segunda parte, somente o segundo capítulo propõe interpelação direta entre Ricoeur e Tucídides, ou seja, de um volume de 600 páginas o leitor pode esperar tal confronto apenas na última centena, e ainda assim de forma tímida, ao que se segue uma conclusão extremamente sucinta.

No entanto, as sendas abertas pela pesquisa de Soares são profícuas, por exemplo, na abordagem do método de composição de discursos de Tucídides (I. 22.1-2) à luz das teses ricoeurianas. Desde Heródoto a dramatização (no sentido de “representação da ação”) de discursos e debates oratórios são conectores de acontecimentos que conferem sentido a estes tanto progressivamente (antecipam fatos ainda não narrados) como regressivamente (julgam e explicam fatos já narrados), assim o historiador revela ao leitor as disposições dos agentes históricos frente a uma ação inacabada, bem como expectativas frustradas ou não pelos acontecimentos desenrolados (SOARES, 2014, p.454-455). Ainda que construção subjetiva, os discursos ligam-se à interpretação dos acontecimentos, na medida em que funcionam como narração-explicação do sucesso ou insucesso das ações (SOARES, 2014, p.479). Tucídides na sua escrita não procura a descrição asséptica de acontecimentos, mas enreda-os narrativamente. Tal procedimento revela ressonância evidente com a tríplice mimese ricoeriana, na medida em que exige do historiador uma prefiguração ética na avaliação e seleção das fontes e traços do passado, bem como uma configuração narrativa na forma de ação (discurso e acontecimento), e por fim, subscreve a intenção deste em elementos persuasivos que visam alcançar a refiguração do leitor capaz de reconhecer o que foi ali prefigurado e configurado.

Soares desdobra-se com competência na apresentação destas questões, no entanto, lidar simultaneamente com a tradição milenar da hermenêutica tucideana e a profundidade das discussões de Ricoeur é, de fato, muito trabalhoso, e a pertinência destas fontes acaba por ofuscar a marca autoral de Soares. O diálogo entre duas referências fundamentais para a historiografia, no qual consiste a originalidade da obra, acaba ficando frágil na separação rígida das duas partes do livro.

Soares ressalta especialmente o papel da narrativa como uma forma da história “cativar o público”, “se dar a ler” (2014, p.30), em suma, “uma forma estilizada de apresentar a verdade”, sendo esta a “tese maior” que pretende expor (2014, p.483), e defende enfaticamente a fronteira entre história e ficção, e talvez por isso privilegia a função ornamental e persuasiva da narrativa. Afirmar isto parece subestimar o papel da narrativa na configuração do tempo histórico: as reflexões de Ricoeur e a metodologia de Tucídides apontam que a ficcionalização dos fatos está para além da persuasão e do elemento imagético (ou cor local) da história: ela é a forma privilegiada de expressar o pensamento e a compreensão do historiador sobre as ações humanas no tempo, resolvendo poeticamente o embaraço da distentio animi agostiniana e a própria noção aristotélica de história enquanto narrativa episódica, sem vínculo com o provável e o necessário. Sua discussão do confronto entre a Poética aristotélica com a obra de Tucídides (2014: p.552-565) faz excelente balanço bibliográfico da questão, mas não responde se Tucídides almejava configurar um tempo histórico nos moldes ricoeurianos a partir das suas generalizações, ou se ele de fato tentava se aproximar do cronista imaginado por Aristóteles que narra indiscriminadamente o que “Alcibíades fez ou sofreu”. Soares opta por descrever Tucídides como parte poeta e parte historiador (2014, p.561-565), e por fazer eco às teses que Aristóteles não reconhecia nele um historiador, mas sim um pensador político (2014, p.552- 558).

Esta indefinição, no entanto, tem implicações. Por exemplo, Soares afirma, com base em A. W. Gomme (1954), que os contrastes dramáticos de Tucídides residem nos próprios acontecimentos que “se sucedem no tempo, sem nada de relevante entre eles” (SOARES, 2014, p.492), o que faz parecer que o historiador apenas revela os acontecimentos sem precisar configurá-los narrativamente. Isto deixa em segundo plano a configuração narrativa que Ricoeur extrai da Poética de Aristóteles (“um por causa do outro” ao invés de “um depois do outro”) e faz parecer que Tucídides seguia uma sucessão natural dos eventos, e nãos os compôs e enredou numa síntese do heterogêneo. Tucídides poderia ter apresentado outros eventos menores entre a sucessão, poderia ter-se dado às digressões tipicamente herodoteanas, mas é na disposição das ações que reside o efeito dramático alcançado, que não se pode atribuir aos próprios acontecimentos sem subestimar o papel da configuração narrativa, que Soares claramente não ignora de todo, mas ao longo do texto dá mais ênfase ao seu papel ornamental e persuasivo, especialmente na sua discussão sobre o “fazer ver” o passado, sua exposição sobre os conceitos de enargeia e ekphrasis (2014, p.582-595).

Em conclusão, Soares faz justíssima representação das teses ricoeurianas e das principais discussões em torno da obra de Tucídides, mas na hora de enredá-las em conjunto na sua própria configuração narrativa, oferece ao leitor uma interpretação que, por vezes, subestima a complexidade da configuração narrativa histórica enquanto síntese do heterogêneo e ordenador do tempo humano e histórico, ao menos no que diz respeito na sua interpelação das teses ricoerianas com o texto tucideano. Esta característica não apaga o brilho das conquistas de Soares, pois o leitor da sua obra pode esperar excelente abordagem da contribuição de Ricoeur sobre história e ficção, bem como uma expedição competente aos debates em torno da obra tucideana, cuja sombra projetou-se desde as teorias positivistas e metódicas da história do séc. XIX até as teses narrativistas que agitaram o debate historiográfico no séc. XX.

Nota

2. Para um estudo de dois casos relevantes nos quais o paradigma tucidideano foi invocado em contextos geopolíticos contemporâneos ver PIRES, Francisco Murari. “O General Marshall em Princeton, Tucídides na Guerra Fria”. História da Historiografia n. 2, 2009, pp. 101-115.

Referências

GOMME, A. W. The Greek atitude to poetry and history. Berkeley: University of California Press: 1954

RICOEUR, Paul. Histoire et Vérité. Paris: Seuil, 1964 (2003).

______. Temps et Récit – Tome I. Paris: Seuil, 1983 (2005).

______. Temps et Récit – Tome II. Paris: Seuil, 1984 (2005).

______. Temps et Récit – Tome III. Paris: Seuil, 1985 (2005).

______. La mémoire, l’histoire, l’oubli. Paris, Seuil, 2009.

SOARES, Martinho T. M. História e Ficção em Paul Ricoeur e Tucídides. Fundação Eng. António de Almeida: Porto, 2014, 638 pp.

Denis Renan Correa – Professor Adjunto II na área de História Antiga e Medieval na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e estudante de doutoramento da Universidade de Coimbra.


SOARES, Martinho T. M. História e Ficção em Paul Ricoeur e Tucídides. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, 2014. Resenha de: CORREA, Denis Renan. História e Ficção em Paul Ricoeur e Tucídides por Martinho Soares. Aedos. Porto Alegre, v.11, n.24, p.388-393, ago., 2019.Acessar publicação original [DR]

Leandro Gomes de Barros: vida e obra | Arievaldo Vianna

No dia 19 de setembro de 2018 a literatura de cordel foi reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pelo Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). [2] Trata-se, sem dúvida, de um importante reconhecimento do poder público dessa manifestação literária e cultural e motivo de orgulho para poetas cordelistas e amantes dessa literatura. O ano de 2018 também representa o centenário de morte daquele que é considerado o “pai da literatura de cordel” nordestina brasileira e principal influência dos poetas cordelistas: Leandro Gomes de Barros (1865-1918). Esses acontecimentos nos estimulam a fazer uma reflexão sobre a história e a trajetória da literatura de cordel no Brasil. Uma obra que trouxe contribuições importantes para essa discussão é: Leandro Gomes de Barros: vida e obra, de Arievaldo Vianna, lançada em 2014, que buscou realizar uma biografia de Leandro, o fundador desta literatura.

Arievaldo Vianna Lima é poeta cordelista, radialista, ilustrador e publicitário. Nasceu em Quixeramobim, no Ceará, em 1967, sendo alfabetizado por sua avó com o auxílio da literatura de cordel. Publicou mais de 70 folhetos de cordel[3] e livros. Arievaldo é também um militante pela utilização da literatura de cordel em sala de aula por meio do projeto Acorda Cordel na sala de aula, publicando em 2006 um livro homônimo [4], com diversas sugestões para os professores (LIMA, 2006, pp. 83-84). Arievaldo faz parte da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, ocupando a cadeira número 40, cujo patrono é João Melquíades Ferreira [5]. Arievaldo participa de vários eventos pelo Brasil, como feiras do livro e divulga suas atividades de poeta no blog Acorda Cordel. [6]

Leandro Gomes de Barros: vida e obra é resultado de uma pesquisa de vários anos, iniciada pela aproximação de Arievaldo, com folhetos de Leandro, ainda em sua infância, como Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, Juvenal e o Dragão, Cachorro dos mortos e Cancão de fogo. Assim, a obra é uma homenagem ao poeta que o ajudou em sua alfabetização e que continua sendo a sua principal inspiração na composição de folhetos. O livro conta com 13 capítulos, mais dois apêndices [7], e com textos de apresentação de Marco Haurélio [8] e Gilmar de Carvalho [9]

, além de ilustrações de Jô Oliveira [10].

O fato de Arievaldo não ser historiador de formação pode fazer com que alguns acadêmicos com visões mais fechadas para estudos de fora do ambiente acadêmico “torçam o nariz” e não deem o valor devido à obra. Ao contrário dessas visões hierárquicas em nosso entendimento, a aproximação de Arievaldo com a literatura de cordel traz uma sensibilidade maior ao seu trabalho de investigação, explorando nuances que os acadêmicos que apenas se ligam ao cordel por meio da pesquisa não conseguiriam identificar. Sendo poeta cordelista e militante pela causa da poesia popular, Arievaldo demonstra ser um pesquisador do cordel comprometido com o levantamento bibliográfico e análise de fontes com rigor. Dessa forma, o trabalho de Arievaldo Vianna pode ser visto como uma biografia histórica.

Segundo Mary del Priore, “a moda da biografia histórica é recente”, já que até a metade do século XX, sem ser de todo abandonada, “ela era vista como um gênero velhusco, convencional e ultrapassado por uma geração devotada a abordagens quantitativas e economicistas.” (PRIORE, 2009, p.7). Marc Ferro debitava esse desinteresse pela biografia a dois fatores: a valorização do papel das massas e a diminuição do papel dos ‘herois’ inspirada no determinismo ou no funcionalismo, das análises marxistas e estruturalistas que marcaram a produção europeia dos anos 1960(PRIORE, 2009, p.7).

Na primeira metade do século XX, vários escritores se tornaram grandes biógrafos, como Guy de Portalés, Michel de Leiris, André Maurois, Lytton Strachey, dentre outros. Mary del Priore aponta que o gênero é um “convite à viagem artificial no passado, fortemente ligada aos fatos, a maior parte das biografias era acrítica e lançava suas raízes no terreno das paixões coletivas.” (PRIORE, 2009, p.8). Um dos pioneiros em colocar as bases de uma biografia histórica renovada foi Lucien Febvre, que ao fazer as biografias de Lutero e Rabelais, “deu vida a personagens tributários de uma utensilagem mental que os ultrapassava e os permitia se situar numa dada época e sociedade.” (PRIORE, 2009, p.9). A rejeição da biografia histórica só teve fim nos anos 1970 e 1980, conforme Priore:

O fenecimento das análises marxistas e deterministas, que engessaram por décadas a produção historiográfica, permitiu dar espaço aos atores e suas contingências novamente. Foi uma verdadeira mudança de paradigmas. A explicação histórica cessava de se interessar pelas estruturas, para centrar suas análises sobre os indivíduos, suas paixões, constrangimentos e representações que pesavam sobre suas condutas. O indivíduo e suas ações situavam-se em sua relação com o ambiente social ou psicológico, sua educação, experiência profissional etc. O historiador deveria focar naquilo que os condicionava a fim de fazer reviver um mundo perdido e longínquo. Esta história “vista de baixo” dava as costas à história dos grandes homens, motores das decisões, analisadas de acordo com suas consequências e resultados, como a que se fazia no século XIX. (PRIORE, 2009, p.9).

Dessa maneira, embora não dialogue diretamente com obras do campo da biografia histórica, Arievaldo Vianna acaba por realizar um estudo biográfico com foco em Leandro Gomes de Barros sem perder de vista o contexto histórico em que o poeta viveu, além das pistas deixadas pelo próprio poeta em seus folhetos de cordel, que também trazem marcas de sua vida e que foram exaustivamente analisados por Vianna.

Em Leandro Gomes de Barros: vida e obra, o autor defende o pioneirismo de Leandro Gomes de Barros na produção de folhetos de cordel, concordando com Francisco das Chagas Batista, que já indicava isso em sua obra Cantadores e poetas populares, de 1929. Embora já existissem alguns folhetos publicados antes de Leandro, Vianna ressalta que “foi coisa esparsa, sem um programa editorial consistente” (VIANNA, 2014, p.22), diferente do que foi feito por Leandro, que produziu de forma sistemática. Vianna também aponta a originalidade do poeta paraibano na forma poética do cordel:

Leandro não se limitou a reaproveitar os temas correntes, oriundos do romanceiro medieval e dos ABCs manuscritos compostos em quadra, que já circulavam aos montes pelo Nordeste narrando a gesta do boi e do cangaceiro. Ele foi mais longe. Criou um tipo de poesia cem por cento brasileira, versejou em diversas modalidades (sextilha, setilha e martelo), utilizando a redondilha maior (sete sílabas) e o decassílabo. (VIANNA, 2014, p.20).

Utilizando fontes como certidões de nascimento, casamento, de óbito, registros de batismo, além do depoimento de Cristina da Nóbrega, sobrinha-neta de Leandro Gomes de Barros, Arievaldo conseguiu trazer à tona algumas pistas da vida de Leandro. Embora nascido em Pombal, na Paraíba, Leandro passou boa parte de sua infância e adolescência na Vila do Teixeira, também na Paraíba, sendo criado pelo seu tio materno, o Padre Vicente Xavier de Farias, pois se tornou órfão muito jovem. Esse momento foi crucial para sua formação de poeta, pois, em primeiro lugar, a Vila do Teixeira foi o berço dos grandes cantadores do passado, como Francisco Romano Caluête e o famoso glosador Agostinho Nunes da Costa. Vianna ressalta que esses poetas antigos “tinham o costume de escrever cadernos com as melhores glosas de sua produção poética.” (VIANNA, 2014, p.29). Além disso, já circulavam nessa época cópias manuscritas de poemas em quadras, como Obra de Ricarte (que deu origem ao Soldado Jogador), Rabicho da Geralda e Cantiga do Vilela (que deu origem ao folheto História do Valente Vilela) (VIANNA, 2014, p.29).

Em segundo lugar, a Vila do Teixeira foi uma terra de “grandes valentões, com destaque para os Guabirabas, família de celerados cuja bravura Leandro imortalizaria em versos, muitos anos depois.” (VIANNA, 2014, p.29). Os conflitos políticos e a presença dos cangaceiros na região estavam marcados na memória dos moradores, sendo a infância de Leandro “povoada por mirabolantes histórias de lutas, muitas delas narradas em quadras pelos cantadores do Teixeira.” (VIANNA, 2014, p.36).

Em terceiro lugar, a vida na Vila do Teixeira foi importante pela educação que Leandro recebeu do Padre Vicente Xavier de Farias [11]. Leandro teve acesso a diversas leituras, como as Escrituras Sagradas e a História de Carlos Magno e os Doze Pares de França. Além disso, várias irreverências de Leandro na juventude e seus conflitos com o Padre Vicente, que o levaram a fugir de casa, inspiraram, segundo Vianna, personagens de folhetos como Cancão de Fogo. (VIANNA, 2014, pp. 41-44).

Mudando-se para Pernambuco [12], onde passou a viver unicamente da venda de folhetos de cordel, Leandro se casou com dona Venustiniana Eulália de Sousa e teve quatro filhos: Rachel, Esaú, Julieta e Herodias. Arievaldo também identifica algumas influências do convívio familiar nos folhetos de Leandro, a exemplo da convivência com a sogra. Segundo Vianna, “uma análise da obra de Leandro demonstra a sua constante ojeriza pela figura da sogra, o que leva a crer que o poeta mantinha uma relação tumultuada com a mãe de sua esposa.” (VIANNA, 2014, pp. 47-48).

Analisando os próprios folhetos de Leandro, que trazem pistas biográficas sobre o poeta, e relatos de contemporâneos, como Eustórgio Vanderley e Câmara Cascudo; Arievaldo também identifica algumas informações importantes: Leandro era “um homem cosmopolita, pois se mudara ainda adolescente para as imediações do Recife, uma das mais prósperas capitais do Brasil”; “lia regularmente, além dos livros úteis à sua pesquisa, jornais e revistas”, “andava constantemente de trem, hospedava-se em hotéis quando viajava e andava regularmente calçado de sapatos ou botinas” (VIANNA, 2014, p.62); “tinha um espírito aventureiro, gostava de viajar sertão afora, ora em lombo de burros e cavalos, ora nos trens da Great Western, percorrendo os estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte.” (VIANNA, 2014, p.65).

O pioneirismo do poeta paraibano também se deu na questão da comercialização e distribuição dos folhetos de cordel. Vianna afirma que “nada se compara ao tino comercial, ao estro prolífico e a persistência de Leandro Gomes de Barros”, que fez com que “fossem criados pontos de venda em vários Estados brasileiros, fazendo com que sua produção se espalhasse por todo o país, sobretudo nos estados do Norte-Nordeste.” (VIANNA, 2014, p.72). Além da venda direta, Leandro também utilizava os serviços do correio para venda, o que era divulgado na própria contracapa dos folhetos.

O capítulo mais polêmico é o décimo, intitulado “Leandro x Athayde”, no qual Vianna discute a apropriação que João Martins de Athayde fez das obras de Leandro. Após a morte de Leandro, em 1918 [13], Athayde adquiriu os direitos autorais sobre a obra do poeta paraibano em um negócio realizado e registrado em cartório com a viúva de Leandro. Quando Athayde passou a publicar os folhetos de Leandro, ele retirou o nome do poeta da autoria, colocando o seu próprio como editor-proprietário e, depois, como autor dos folhetos. Soma-se a isso, o fato de Athayde em alguns folhetos alterar o acróstico na última estrofe, de forma a apagar as pistas da autoria de Leandro.

Arievaldo Vianna ataca Athayde de várias formas. Primeiramente, aponta que o seu biografado tinha mais qualidade poética, afirmando que Athayde “não tinha a mesma verve criativa de Leandro”, “não tinha o senso crítico, a sátira mordaz e afiada do velho poeta de Pombal nem sua habilidade para extrair romances inéditos da própria cachola” (VIANNA, 2014, pp. 88-89). Em segundo lugar, afirma que a apropriação e a adulteração da obra de Leandro não foi algo inocente, pelo contrário, “foi um ato pensado, medido e bem calculado”, Athayde “jamais agiu dessa maneira por ingenuidade, desinformação ou desejo de preservar a sua ‘propriedade literária’”, pois, para isso, bastava colocar seu nome como Editor-Proprietário, mantendo o nome do autor e respeitando os acrósticos no final do poema (VIANNA, 2014, pp. 99-100).

Vianna também questiona alguns pesquisadores “simpatizantes do poeta João Martins de Athayde”, que tentam atribuir a ele a autoria de alguns folhetos “comprovadamente escritos e editados por Leandro, baseados em informações nebulosas, que nas mãos de um leitor mais atento e informado são facilmente dissipadas.” (VIANNA, 2014, p.93). Vianna critica autores como Umberto Peregrino, Átila de Almeida, Liêdo Maranhão de Sousa, Waldemar Valente e Mário Souto Maior. A título de exemplo, iremos apontar o comentário que ele faz a Umberto Peregrino na obra Literatura de cordel em discussão, de 1984. Peregrino, baseado em Átila de Almeida, aponta que o folheto Meia-Noite no Cabaré é de autoria de Athayde, que teria se inspirado na obra A noite na taverna, de Álvares de Azevedo. Leandro não teria sido o autor da obra porque, conforme Almeida, “jamais se daria a leituras como a de Camões ou de Álvares de Azevedo.” (VIANNA, 2014, pp. 93-95). Para rebater essa afirmação, Vianna indica que Leandro era leitor assíduo de vários livros que eram fonte de inspiração para seus folhetos, citando estofes do folheto História da Donzela Teodora, além de apontar vários outros que eram inspirados em livros: Batalha de Oliveiros com Ferrabrás, inspirado no livro Carlos Magno e os Doze Pares de França; Juvenal e o Dragão, que vem do conto “Os três cães” de Figueiredo Pimentel; A vida de Pedro Cem, que é inspirado num livro de origem lusitana; Os Martyrios de Christo, inspirado em O Mártyr de Gólgotha, do romancista espanhol Enrique Pérez Escrich; A filha do pescador, inspirado num conto das Mil e uma noites. (VIANNA, 2014, p.94). Além disso Leandro certamente frequentava a livraria de seu genro, Pedro Batista, que possuía clássicos da Literatura portuguesa e brasileira. A defesa que Arievaldo Vianna faz de seu biografado na autoria de folhetos atribuídos a Athayde é tanta que, curiosamente, ele critica até mesmo o seu irmão, o seu poeta Klévisson Viana, que teima em atribuir o romance História de Roberto do Diabo à Athayde (VIANNA, 2014, p.96).

Essa “campanha” para restituir a Leandro Gomes de Barros a autoria de folhetos identificados como sendo de Athayde também foi feita por Aderaldo Luciano em seu livro Apontamentos para uma história crítica do cordel brasileiro, de 2012 [14]. Contudo, ao contrário de Vianna, que identifica autores “simpatizantes” de Athayde, Luciano aponta que a insistência de atribuir folhetos de Leandro a Athayde são resultados de “pesquisadores e estudiosos que não têm vivência e se recusam a conhecer as nuanças, os detalhes, do cordel” (LUCIANO, 2012, p.75), da “falta de averiguação das informações recebidas por alguns pesquisadores” e, “muitas vezes, a preguiça de pesquisar de certos estudiosos” (LUCIANO, 2012, p.77).

Por fim, Arievaldo Vianna analisa uma crônica de Carlos Drummond de Andrade, intitulada “Leandro, o poeta”, publicada no Jornal do Brasil em 1976; na qual Drummond elogia o poeta cordelista afirmando que ele deveria ter recebido o título de Príncipe dos Poetas Brasileiros, ao invés de Olavo Bilac. Este artigo, “tem sido utilizado exaustivamente pelos admiradores de Leandro como uma prova incontestável de seu talento, afinal de contas, trata-se do reconhecimento de um medalhão das nossas letras.” (VIANNA, 2014, p.113). Contudo, Vianna questiona alguns termos que Drummond utiliza para se referir a Leandro, pois este “não era totalmente ‘inculto’ e ‘iletrado’.” (VIANNA, 2014, p.117). Drummond também se equivoca, segundo Vianna, quando considera a obra de Leandro “pobre de ritmos, isenta de lavores musicais, sem apoio livresco”, pois Leandro tinha sim “métrica, ritmo, conhecimento de gramática e apoio livresco.” (VIANNA, 2014, p.120).

Logicamente, Leandro Gomes de Barros: vida e obra ainda deixa algumas lacunas acerca da vida do “pai da literatura de cordel”. A impressão que dá ao leitor é que o livro termina rápido demais comparado a outras biografias. Contudo, há de se mencionar a dificuldade no acesso às fontes. Em certo trecho, Vianna menciona que “se já era difícil” para pesquisadores como Sebastião Nunes Batista e Ruth Terra, que conviveram com descendentes diretos de Leandro, “mais difícil ainda é para o pesquisador de hoje, com poucos recursos financeiros e nenhum incentivo à sua pesquisa (VIANNA, 2014, p.27). Assim, é importante relembrarmos de Jacques Le Goff, que observa que é a documentação que dita a ambição e os limites de investigação do historiador na escrita de uma biografia histórica (LE GOFF, 1999, p.22). Diferente do romancista, por exemplo, que não raras vezes vai além do que diz as fontes e abusa da criação e da imaginação. Já o historiador deve “saber respeitar aqui as falhas, as lacunas que a documentação deixa” (LE GOFF, 1999, p.21). Assim, Arievaldo Vianna age como um verdadeiro historiador.

Ao pensar teoricamente a biografia histórica, Le Goff questiona a oposição entre o indivíduo e a sociedade. Esse é um “falso problema”, pois “o indivíduo não existe a não ser numa rede de relações sociais diversificadas”, sendo necessário o conhecimento da sociedade “para ver nela se constituir e nela viver uma personagem individual.” (LE GOFF, 1999, p.26). No caso de Leandro Gomes de Barros: vida e obra, Arievaldo Vianna consegue pensar a produção cordelística de Leandro articulada com o contexto histórico em que viveu e perscrutar a teia de relações sociais e culturais que possibilitaram o sucesso do poeta paraibano na divulgação de seus folhetos no Norte e Nordeste do Brasil no início do século XX. Em nosso entendimento, é uma obra fundamental para quem quer conhecer e se aprofundar na história da literatura de cordel no Brasil; e importante de ser retomada neste momento de festejos pelo reconhecimento do cordel como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.

Notas

1. Doutorando em História Social da Amazônia pela UFPA. Professor da Secretaria Municipal de Educação (SEMEC) de Belém-PA, e da Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC).

2. Ver “Literatura de cordel recebe título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro”. Portal G1 PE. 19 set. 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2018/09/19/literatura-de-cordelrecebe-titulo-de-patrimonio-cultural-imaterial-brasileiro.ghtml. Acesso em: 20 set. 2018.

3. Dentre os folhetos, podemos citar , A mulher fofoqueira e o marido prevenido, A raposa e o Cancão, As proezas de Broca da Silveira, Atrás do pobre anda um bicho, Brasil – 500 anos de resistência popular, Encontro com a consciência, Encontro de FHC com Pedro Álvares Cabral, Galope para Patativa e Castro Alves, História da Rainha Ester, Luiz Gonzaga o rei do baião, O príncipe Natan e o cavalo mandingueiro.

4. Segundo Arievaldo Vianna Lima, “o Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula propõe a revitalização do gênero e sua utilização como ferramenta paradidática na alfabetização de crianças, jovens e adultos e também nas classes do Ensino Fundamental e Ensino Médio, a partir do lançamento de uma caixa de folhetos, contendo 12 obras de diferentes autores, para ser trabalhada nas escolas acompanhadas deste livro.” (LIMA, 2006, p.14).

5. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC) foi fundada no dia 7 de setembro de 1988, e tem como presidente o poeta Gonçalo Ferreira da Silva. Sua sede é no Rio de Janeiro, e possui 40 cadeiras que são ocupadas pelos “imortais”, que são poetas cordelistas ou pesquisadores do cordel. Ver Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Disponível em: http://www.ablc.com.br/  Acesso em: 20 set. 2018.

6. Ver o blog Acorda cordel. Disponível em: http://acordacordel.blogspot.com/  Acesso em: 20 set. 2018.

7. Os apêndices são: “Fatos importantes da vida de Leandro por ordem cronológica” e “Entrevista de Arievaldo Viana ao jornal Diário de Pernambuco, nos 90 anos de morte de Leandro.”

8. Marco Haurélio é poeta popular, editor e folclorista. Em cordel, tem vários títulos editados, dentre os quais: Presepadas de Chicó e Astúcias de João Grilo; História da Moura Torta e Os Três Conselhos Sagrados (Luzeiro). Possui um blog intitulado Cordel Atemporal. Disponível em: http://marcohaurelio.blogspot.com/  Acesso em: 21 set. 2018.

9. Gilmar de Carvalho é Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo. Autor de diversas publicações, dentre as quais destaca-se Patativa do Assaré − Uma biografia, já em terceira edição, Lyra Popular: o cordel do Juazeiro, em segunda edição, e A xilogravura de Juazeiro do Norte.

10. Jô Oliveira foi aluno da Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Durante seis meses estudou desenho animado no Stúdió Pannónia, e depois frequentou a Academia Húngara de Artes Aplicadas (Magyar Iparmüvészeti Föiskola, hoje conhecida como Universidade Moholy-Nagy de Arte e Design), onde concluiu o curso de Artes Gráficas. Os seus primeiros trabalhos, livros e quadrinhos, foram impressos nos anos 70 na Itália. Publicou também livros na França e Alemanha, e seus quadrinhos tiveram edições na Espanha, Itália, Grécia, Sérvia, Dinamarca, Argentina e Brasil. Jô participou em exposições de ilustração em várias partes do mundo. Desenhista de selos postais, criou mais de 50 peças filatélicas para os Correios. Ver o site O Brasil de Jô Oliveira. Disponível em: Acesso em: https://www.obrasildejooliveira.com.br/  Acesso em: 21 set. 2018.

11. O Padre Vicente Xavier de Farias também foi um líder político influente chegando a eleger-se deputado ainda no tempo da Monarquia. Por conta disso granjeou a antipatia de alguns adversários que lhe dirigiam pesadas críticas através dos jornais da capital da Paraíba do Norte. (VIANNA, 2014, p.37).

12. Em Pernambuco, Leandro Gomes de Barros residiu em Vitória de Santo Antão, Jaboatão e em Recife.

13. Em relação à morte de Leandro, Arievaldo Vianna cita a certidão de óbito do poeta, que fora encontrado pela sua sobrinha-neta Cristina da Nóbrega nos cartórios do bairro de São José, no Recife. A morte do poeta se deu às 21:30 do dia 04 de março de 1918, tendo como causa mortis aneurisma. As informações da certidão de óbito foram prestadas por seu filho, Esaú Eloy de Barros Lima, que tinha então 17 anos. (VIANNA, 2014, p.109).

14. Para uma resenha da obra de Aderaldo Luciano, ver MENEZES NETO, Geraldo Magella de. Questionamentos à historiografia do cordel brasileiro. História da historiografia. Ouro preto, n.13, dez. 2013, p.220-225.

Referências

LE GOFF, Jacques. São Luís. Rio de Janeiro: Record, 1999. LIMA, Arievaldo Viana (org.). Acorda cordel na sala de aula. Fortaleza: Tupynanquim /Queima-Bucha, 2006.

LUCIANO, Aderaldo. Apontamentos para uma história crítica do cordel brasileiro. Rio de Janeiro; São Paulo: Edições Adaga; Luzeiro, 2012.

PRIORE, Mary del. Biografia: quando o indivíduo encontra a história. Topoi. v. 10, n.19, jul.-dez. 2009, p.7-16.

VIANNA, Arievaldo. Leandro Gomes de Barros: vida e obra. Fortaleza: Edições Fundação Sintaf/ Mossoró-RN: Queima-Bucha, 2014.

Geraldo Magella de Menezes Neto – Doutorando em História Social da Amazônia pela UFPA. Professor da Secretaria Municipal de Educação (SEMEC) de Belém-PA, e da Secretaria de Estado de Educação do Pará (SEDUC).


VIANNA, Arievaldo. Leandro Gomes de Barros: vida e obra. Fortaleza: Edições Fundação Sintaf. Mossoró-RN: Queima-Bucha, 2014. Resenha de: MENEZES NETO, Geraldo Magella de. Uma biografia de Leandro Gomes de Barros (1865-1918), o “pai da literatura de cordel”. Aedos. Porto Alegre, v.11, n.24, p.389-399, ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

Sensible Moyen Âge: une histoire des émotions dans l´Occident medieval | Damien Boquet e Piroska Nagy

Quando Gaia Ciência foi publicada pela primeira vez em 1881, Friedrich Nietzsche afirmou:

Quem quiser estudar de agora em diante as questões morais terá diante de sí um imenso trabalho. Existe toda uma série de paixões que devem ser levadas em consideração, observadas separadamente e através das épocas e dos povos nos grandes ou pequenos indivíduos, temos que lançar luz em sua forma de raciocinar, valorizar e esclarecer as coisas. Até hoje nada do que da cor a existência tem todavia sua história, pois quando foi feita uma história do amor, da ganância, da consciência, da piedade, da crueldade? (NIETZSCHE, 1981, p.25)

A citação de Nietzsche é mais que uma simples análise do campo científico ocidental. É um chamado a pensadores, filósofos e cientistas das mais diversas áreas do conhecimento para formular histórias, perguntas e questionamentos acerca dos modos de sentir dentro das questões humanas.

De certo modo, as palavras do filósofo alemão ficaram adormecidas ao longo das décadas. Isso não significou, no entanto, que as emoções não tivessem sido problematizadas nas páginas de livros de historiadores, sociólogos e antropólogos. Podemos destacar dentro desse cenário, títulos como Outono da Idade Média de Johan Huizinga (1919), Sexo e repressão na sociedade selvagem, de Bronislaw Malinowski (1927) e O processo civilizador de Norbert Elias (1939). Estas obras, no entanto, não tinham por pretensão estabelecer um campo autônomo do conhecimento que tratasse as emoções como uma propriedade e que trouxesse à luz os fenômenos culturais mais profundos, que a linguagem e os múltiplos filtros dos códigos sociais não conseguiram conter. Diferentemente do livro aqui resenhado, as emoções ainda eram pouco destacadas ou ocupavam um lugar secundário frente a outras dimensões da vida social. Sensible Moyen Âge: une histoire des émotions dans l´Occident medieval é um exercício de pesquisa histórica que tem nas emoções e suas expressões, exatamente os protagonistas do processo, de tal forma que enxergamos e compreendemos a dinâmica dos processos sociais a luz das emoções retratadas.

É na década de 1990, com o advento da neurociência, por exemplo, que as emoções são “convidadas” a ocupar um lugar de destaque nas páginas da historiografia, ao lado de conceitos como luta de classes, mentalidades, cultura etc. No campo historiográfico é impossível deixar de citar a produção dos historiadores estadunidenses, Barbara Rosenwein e William Reddy que exploram a relação entre emoção e cognição, desenvolvendo uma teoria de expressões emocionais e buscando codificar as emoções e suas manifestações. Para Rosenwein (1998), por exemplo, que cunhou o termo comunidades emocionais para estabelecer a íntima relação entre a vida social e a dimensão emocional, o historiador das emoções não deve apenas atentar para a emoção em si, mas para o produto social (discurso). Isso implica na ideia de emoção como uma ancora entre signo e o mundo, encontrando as emoções nos gestos e palavras.

Desse modo, é a partir destes marcos fundacionais que é possível situar o livro Sensible Moyen Âge: une histoire des émotions dans l’occident medieval dos medievalistas Piroska Nagy, professora da Universidade de Quebec e pesquisadora vinculada ao Centro de Excelência para a História das Emoções entre 2014-1017 e que também escreveu Le don des larmes na Moyen Âge. Un instrument spirituel in aqueleuse d’institution, Ve-XIIIe siècle (2000) e Damien Boquet, mestre de conferência da Universidade de Aix-Marseille e ex- membro do Institut Universitaire de France e coordena juntamente com Nagy o programa “EMMA” (Emoções na Idade Média).

A obra lança um olhar que se ancora dentro do desafio de apresentar e explicar o papel, as representações e especialmente a evolução das emoções, que são entendidas como processos e manifestações dentro de um dispositivo cultural. As emoções não são consideradas como inerentemente irracionais, como se não seguissem padrões racionais. Elas são demonstrativos significativos que justificam e legitimam publicamente os atos praticados. Os historiadores não negam os aspectos biológicos da dimensão emocional, mas reforçam os sentidos sociais da emoção, reforçando as mesmas como zonas de interação e conflito entre o individuo e a sociedade. Mais especificamente na obra em questão, o que chama a atenção é que a emoção é compreendida por meio de aspectos culturais e é expressa em termos de sensibilidades e afetos no interior da sociedade medieval entre os V e XV século.

A obra esta dividida em nove capítulos, com cerca de quatro a cinco subtítulos e cobrem aproximadamente os 10 séculos tidos como tradicionais da História dita Medieval. O livro está organizado tanto cronologicamente – no qual acompanhamos século a século – quanto tematicamente – pelo qual as emoções são agrupadas em temas.

Nas palavras dos autores, “este livro propõe uma história cultural da afetividade do Ocidente medieval” (BOQUET e NAGY, 2015, p.17. Tradução nossa)2. A emoção surge em imagens e textos da cultura medieval e “reside no coração da antropologia da Idade Média Ocidental” (BOQUET e NAGY, 2015, p.17. Tradução nossa) [3]. Somos convidados, nas páginas do livro, a conhecer uma história que associa processos cognitivos (imaginação, memória, etc.) e se articula com aspectos psicológicos e de uma história social.

Interessar-se pela história das emoções não significa promover uma história do indivíduo, a microscópica, uma história segmentada; pelo contrário, é uma história antropológica, no auge do homem, de todo o ser humano e de singularidades compartilhadas (BOQUET e NAGY, 2015, p.17. Tradução nossa) [4].

Uma boa parte da concepção medieval das emoções e da vida afetiva no Ocidente foi elaborada entre o século III e VI como os autores demonstram no capítulo La christianisation des affects. Os afetos são cristianizados e adquirem novas e originais concepções. Existe com o cristianismo, uma integração da alma humana, entre passio e ratio. A emoção faz parte, agora, da dimensão racional. Para os antigos, a emoção diz respeito à irracionalidade da natureza humana. Platão e Aristóteles, por exemplo, afirmavam que a emoção é um valor ontológico da natureza humana e está ligada a alma irracional. Os Estoicos assim como Santo Agostinho, veem na emoção um movimento da alma que provoca mudança corporal.

A Bíblia é um exemplo. Ela está saturada de emoções. O Antigo Testamento mostra um Deus zangado e misericordioso com seu povo e que oferece (Novo Testamento) um filho dotado de emoções virtuosas: amor, paixão e sofrimento. Deus enviou seu Cristo que sofre por amor para salvar a humanidade. Deste modo, a Bíblia não é apenas um depósito de emoções humanas, mas também de emoções que são de Deus. Desde então, a humanidade é dominada pela vida emocional e busca direciona-las ou afasta-las de Deus, na medida em que participam do sistema de vícios e virtudes que fazem parte da base da educação monástica, que compõe uma elite da sociedade cristã ideal. Converter as emoções em direção a Deus significa orientar-se para a salvação, adotando um comportamento que une uma disposição interior que está em consonância ao movimento espiritual (La cité du désir: le laboratoire monastique, capítulo II). O principal laboratório e matriz gestacional das emoções no Ocidente é o mosteiro. Os monges seguem uma orientação vertical da afetividade, controlando seus afetos e o contato com Deus substitui a solidão e instaura a amizade como um valor que produz boas emoções.

Entre os séculos V e X os textos normativos e morais escritos por monges e clérigos mapearam um processo de conversão de emoções, que foi primeiro dirigido ao mundo dos claustros, voltado para o mundo dos ambientes monásticos e posteriormente passando a ser dirigido para a sociedade laica (Des émotions pour une société chrétienne: Francie, v-x siècle, capítulo III). Um novo projeto de sociedade toma forma na base do laço social cristão por excelência, o amor da caridade e da amizade genuína, formulada no tempo de Carlos Magno e novamente na época daquilo que a historiografia convencionou chamar de Reforma Gregoriana.

No capítulo IV, L`apogée de l´affecct monastique, os autores centram suas análises no contexto da renovatio cristã para analisar o conjunto de processos que influencia a cultura emocional das sociedades do século XI. A reforma do monaquismo alimenta a possibilidade de contato direto com Deus através da expressão sincera de certas emoções.

Em estreita relação, e às vezes em conflito com a valorização religiosa do desejo e a ofensiva clerical para espiritualizar o amor conjugal e enquadrar a vida interior, uma literatura da corte em língua vernácula torna visível uma cultura complexa e refinada dos afetos, expressão dos valores e tensões que atravessam círculos aristocráticos e burgueses, como atesta o capítulo V, Éthique et esthétique des émotions aristocratiques à l´âge féodal. A partir do final do século XI, nos círculos de mosteiros e escolas urbanas, a ascensão de um espírito naturalista leva à integração de emoções na natureza humana, (La nature émotive de l´homme, capítulo VI).

Esses diferentes discursos traduzem e difundem um fenômeno de valorização crescente das emoções no final da Idade Média, cujos usos religiosos e sociais parecem mais do que nunca ricos e diversificados (Politiques des émotions princières, capítulo VII). Nós vemos isso na teoria política e nas práticas do governo principesco, que dão orgulho às emoções. As emoções, contrariando a máxima de muitos cientistas sociais que as vincula como uma dimensão irracional e universal da natureza humana apoiam-se, como vemos nesse capítulo, as estratégias de governabilidade e integram as artes de governar. O jovem príncipe deve aprender muito cedo a dominar um código de emoções – que diz respeito à expressão de raiva e tristeza – que lhe é ensinado nos Espelhos de Príncipe.

Em outro nível, a extraordinária promoção da Encarnação e da Paixão de Cristo, na Idade Média, aumenta ainda mais a eficácia emocional religiosa, ligando-a indefinidamente à sua dimensão incorporada: esses são os fundamentos do misticismo afetivo dos séculos XIII XIV, que mantém relações ambíguas com a instituição eclesiástica (La conquête mystique de l´émotion, capítulo VIII). Como atestam os autores, Francisco de Assis “inaugura por meio de seus valores e de seus atos uma nova comunicação com o sagrado, um novo paradigma religioso” (BOQUET e NAGY, 2015, pp. 268-269. Tradução nossa) [5]. O santo de Assis é no relato hagiográfico centro de uma emoção encarnada, permitindo uma nova forma de manifestar a presença divina na Terra. A emoção encarnada é constituída pela tensão entre o corpo e sua expressão emocional. Se antes a paixão era sinônimo de algo vicioso, a virada do ano 1000 a torna um auto sacrifício para seguir Deus, de forma a espiritualizar o carnal e material, tendo o afeto o veiculo de incorporação.

As emoções também têm seus ritos no campo religioso: rezar juntos, procissão, assistir a sermões, ir a peregrinações ou cruzadas, se esforçar para expiar suas faltas ou as de todos os cristãos, etc. Essas expressões, que nos parecem excessivas, não são histéricas e descontroladas. Pelo contrário, eles se expressam em rituais que visam canalizá-los. Os santos místicos foram, sem dúvida, os que impulsionaram as mais profundas explosões de emoções, ligadas a uma nova devoção à humanidade de Cristo. Eles têm visões e espasmos, choram, jejuam ou buscam se satisfazer com Deus de uma maneira bulímica, entram em êxtase, experimentam levitações, vivem uma fusão amorosa com Deus.

A característica mais marcante desse grupo místico, sem duvidas é o fato de existiram um numero considerável de mulheres, tais como freiras, leigas e membras das Terceiras Ordens Mendicantes que experimentaram fenômenos indistintamente espirituais, tanto afetivos quanto corpóreos; os efeitos textuais que fluem através das fontes, portanto, são responsáveis pela ampla circulação de modelos de várias origens. O caminho tomado por essas mulheres, às próprias modalidades de seu caminho permitem explicar não apenas o sucesso, mas também a eficácia religiosa e social da devoção emocional e incorporada. A imaginação, uma função cognitiva a meio caminho entre a inteligência racional e os sentidos corporais – em primeiro lugar, a visão – desempenha um papel muito importante na devoção emocional. Atuando diante de imagens tão onipresentes em igrejas do final da Idade Média, a imaginação atua como um trampolim poderoso na prática da piedade meditativa que recorre à afetividade, às metáforas corporais ou ao próprio uso do corpo. “As emoções engendram experiências corporais, de incorporação, de identificação ou de união dos corpos de Cristo e da Virgem ou de um santo” (BOQUET e NAGY, 2015, pp. 275. Tradução nossa) [6].

E finalmente, as fontes mais numerosas e diversificadas dos últimos séculos da Idade Média possibilitam abrir uma janela para as emoções das populações anônimas, principalmente nas cidades, ressaltando não só a diversidade das culturas emocionais, em especial as apostas do uso da cultura emocional no relacionamento social (L´émotions commune, capítulo IX).

Qual é a imagem criada da Idade Média Ocidental paginas do livro? É um período histórico marcado por uma hipersensibilidade, como atestou Huizinga? Um momento de transição marcado pelo controle das pulsões emocionais como observou Elias? A resposta dos autores é mais simples: os homens e mulheres que viveram entre os séculos V e XV construíram um modelo cristão de afetividade, que penetrou nas mais diversas camadas sociais interagiu com diferentes grupos sociais, dando origem a uma sociedade que não se situa entre dois momentos históricos diferentes, mas que reforça a própria vitalidade e força de suas particularidades.

Em um balanço geral, a obra apresenta um ponto positivo que merece ser destacado: a articulação entre a expressão emocional e os contextos sociais evidenciam os vínculos existentes entre a dimensão cognitiva e o mundo que cerca os homens. No entanto, em minha opinião, o livro possui um ponto fraco: a organização cronológica confere a obra uma visão fragmentada do todo. Existe pouca relação entre os temas dos capítulos. O conteúdo de um não comunicasse com os demais, dando a impressão e que os mesmos funcionam de forma independente. Outro ponto negativo que merece ser destacado é o fato de que para cada século analisado, existe uma expressão emocional correspondente, de forma que elas parecem hegemônicas no cenário social. Essa abordagem dos autores permite tecer algumas indagações: a sensibilidade expressa num período é hegemônica? Existem emoções “eclipsadas” no tecido social? As emoções atuam como normalizadoras da vida social, impedindo a manifestação conflitante ou não de outras emoções?

“A história das emoções nos leva a nos conscientizar da infinita maleabilidade cultural dessa estranha questão afetiva da qual somos feitos” (BOQUET e NAGY, 2015, p.347. Tradução nossa)[7]. O estudo atento das emoções medievais ajuda a compreender a constante fabricação social e a construção de identidades, fundindo o vinculo de suas expressões com Deus. As emoções agem na história em vários níveis: por sua dimensão cognitiva ou moral, por sua relação com o corpo que as impulsiona; as emoções criam linhas de força e de solidariedade. A emoção, a sensação, o pensamento e os atos manifestados criam vínculos entre os grupos e os indivíduos; a emoção modifica e participa tanto na formação quanto nas mudanças históricas.

A análise atenta das emoções como um modo de comunicação social descortina possibilidades até então pouco consideradas pelos historiadores e funciona como uma chave explicativa para as dinâmicas das relações sociais. Desse modo, o presente livro é um convite a todos aqueles – leigos ou especialistas – que se interessam sobre o tema e o resultado de um exercício criterioso e minucioso de erudição histórica.

Notas

1. Doutorando do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Mato Grosso. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).

2. Tradução nossa: “Ce livre propose une histoire culturelle de l’ affectivité de l´Occident médiéval.” (BOQUET e NAGY, 2015, p.17)

3. Tradução nossa: au coeur de l´antropologique du Moyen Âge” (BOQUET e NAGY, 2015, p.17).

4. Tradução nossa: “S` intéresser à l´histoire des émotions ne veut donc pas dire promouvoir une histoire de l´individu, du microscopique, une hisire segmenté, au contraire, c´est une histoire anthropologique, à hauteur d´homme, de l´être humain entier et des singularités partagées.” (BOQUET e NAGY, 2015, p.17).

5. Tradução nossa: “François inaugure par se valeurs et ses actions um nouveau modedu communication du sacré, um nouveau paradigme religieux”(BOQUET e NAGY, 2015, pp. 268-269).

6. Tradução nossa: “Ces émotions engendrent à leur tour des expériences corporeççes, sinon des expériences d´incorporation, d´identification ou d´union au corps du Christ, de la Vierge ou d´um saint” (BOQUET e NAGY, 2015, pp. 275).

7. Tradução nossa: “L´histoire des émotions nous conduit à prendre conscience de l´infinie malléabilité culturelle de cette étrange matière affective dont nous sommes faits.” (BOQUET e NAGY, 2015, p.347).

Referências

MALINOWSKI, Bronilaw. Sexo e repressão na sociedade selvagem. Petrópolis: Editora Vozes, 1973.

ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1990.

HUIZINGA, Johan. O outono da Idade Média. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. São Paulo: Hemus, 1981.

REDDY, William M. Sentimentalism and Its Erasure: The Role of Emotions in the Era of the French Revolution. In: The Journal of Modern History, 72, march 2000.

ROSENWEIN, B. H (Ed). Anger’s past: the social uses of an emotion in the Middle Ages. Ithaca: Cornell University Press, 1998.

Douglas de Freitas Almeida Martins – Doutorando do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Mato Grosso. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).


BOQUET, Damien; NAGY, Piroska. Sensible Moyen Âge: une histoire des émotions dans l´Occident medieval. Paris: Éd. Le Seuil, 2015. Resenha de: MARTINS, Douglas de Freitas Almeida. Por uma antropologia do afeto: emoções, afetos e Idade Média. Aedos. Porto Alegre, v.11, n.24, p.400-407, ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

O Estado na teoria política clássica: Platão, Aristóteles, Maquiavel e os contratualistas | Doacir Gonçalves de Quadros

Doacir Gonçalves de Quadros tem graduação em Ciências Sociais, mestrado em Sociologia Política e doutorado em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), atualmente é professor do Centro Universitário Internacional (UNINTER) nos cursos de Ciência Política, Relações Internacionais, Direito, Comunicação Social e Secretariado Executivo. Como pesquisador atua nos seguintes temas: Teoria Política, Estado, Sociologia Política.

A obra intitulada O Estado na teoria política clássica: Platão, Aristóteles, Maquiavel e os contratualistas, contendo 139 páginas, se divide em três capítulos. O primeiro, nomeado O Estado na teoria política grega clássica, se fixa em levantar os pressupostos iniciais para pensar o Estado. Para tanto, retorna-se às formas de governo aplicadas pelas propostas dos filósofos Platão e Aristóteles, abordando de início a obra A república de Platão, em que são examinados os contornos de sua teoria e a posterior classificação das formas de governo. Leia Mais

La enseñanza de la historia: Entre viejos y nuevos paradigmas: el estudio de los movimientos sociales desde el Siglo XX como “procesos de construcción social de la realidade” – BRUÑAS; CEJAS (REH)

SIQUEIROS David Alfaro Siqueiros Mural Del Porfirismo a la Revolucion 1957 1966 La enseñanza de la historia
Detalhe do Mural “Del Porfirismo a la Revolución” (1957-1966), de David Alfaro Siqueiros. http://mediateca.inah.gob.mx/

BRUNAS e CEJAS La Ensenanza de la historia La enseñanza de la historiaBRUÑAS, Ana Maria; CEJAS, Elvira Isabel Cejas (Editoras). La enseñanza de la historia: Entre viejos y nuevos paradigmas: el estudio de los movimientos sociales desde el Siglo XX como “procesos de construcción social de la realidade”.[Sn.]: APEHUN, 2019, 240p. Resenha de: PARRA, Erwin. Reseñas de Enseñanza de la Historia, n.17, p.207-214, ago. 2019.

Promediando la segunda década del siglo XXI, aparecen en la escena pública una serie de demandas que se van visibilizando a partir de la ocupación de los espacios públicos. ¿Son nuevos movimientos sociales? o son ¿Nuevas demandas en donde se recuperan los antiguos repertorios de protesta? Sin dudas son interrogantes que penetran en las aulas de historia y que necesitan ser abordadas como objeto de enseñanza. Este desafío es recuperado por APEHUN que nos presenta en este libro una serie de trabajos para su abordaje desde la didáctica de la historia.

Abordar desde la enseñanza de la historia a los movimientos sociales del siglo XX y XXI considerando los aportes de la historiografía, permite trabajar en las aulas de las escuelas secundarias la realidad social. Por su polisemia y sus propias lógicas se transforman en una fuente inagotable de herramientas para el abordaje de la historia escolar, posibilitando al estudiantado pensar en futuros posibles de ser construidos. Es a partir de este desafío que los miembros de la asociación se movilizan para ofrecer una serie de herramientas para el profesorado que permita recuperar las demandas del estudiantado que se ve interpelado en la construcción de sus propias ciudadanías.

Este libro invita a sus lectores a pensar el presente desde una perspectiva de la movilización social y hacia lo conquista de derechos. Se presentan propuestas, ensayos y narrativas que dan cuanta de los fenómenos sociales de repercusión nacional y de movilizaciones em las provincias del interior del país, algunas de ellas poco conocidas y que se pierden en los avatares de la historia Argentina.

En la primera parte del libro el lector se encontrará con tres ensayos que abordan diferentes temáticas sobre la movilización de la sociedad en Argentina. El primero de ellos aborda el conflicto de los pueblos originarios y su demanda por una educación que respete su propia cultura. El segundo ensayo busca dar cuenta de la movilización social a partir de la década de los noventa y los conflictos sociales que se producen, haciendo hincapié en las dinámicas propias de cada uno de estos movimientos para dar cuenta de posibles cambios y continuidades. Por último se podrá leer en la sección de ensayos reflexiones sobre la crisis institucional que se produce a partir del 2001 y las posibles salidas institucionales que se presentan en particular en la ciudad de Río Cuarto.

La segunda parte del libro plantea dos narrativas que recuperan propuestas de enseñanza presentadas en 2017 y 2018 respectivamente.

En la primera de ellas se plantea a la reforma universitaria como contenido a enseñar, recuperando tensiones y conflictos al momento de pensar en la práctica áulica. La segunda narrativa da cuenta de la puesta en práctica de la secuencia presentada en el Simposio de APEHUN en 2017, que busca trabajar la Revolución Mexicana y como es aprendida por el estudiantado. En la tercera sección del libro se presentan diez propuestas de enseñanza para el abordaje de los movimientos sociales del siglo XX y XXI. Estas propuestas están pensadas y construidas poniendo como centralidad como se constituyen estos movimientos, el repertorio de protestas y la emergencia de nuevos sujetos y sujetas sociales que emergen en el siglo XXI.

Sin dudas el lector se encontrara con una lectura sugestiva que le permitirá pensar y construir sus propias propuestas en la enseñanza de la historia.

En el capitulo uno, Paula Karina Carrizo Orellana, presenta en este ensayo las demandas de los pueblos originarios por el respeto a su identidad. Esta demanda se focaliza en la educación intercultural donde el movimiento indígena reclama y exige a partir de hacer visible sus reclamos para que sean considerados al momento de establecer las estructuras institucionales de las escuelas primarias en el noroeste argentino. El trabajo nos invita a pensar entre lo que se plantea en la ley y las formas en que las jurisdicciones no consideran a los pueblos originarios como sujetos de derecho. A su vez que presenta cuales son los actuales desafíos, tensiones y patencias del movimiento indígena para construir una verdadera educación intercultural.

En el capitulo dos, Elvira Isabel Cejas y Ezequiel Omar Sosa, plantean en su ensayo una serie de cambios en la conceptualización y categorización teórica sobre los movimientos sociales, poniendo en tensión la idea de movimientos tradicionales. Para poder ser pensados desde la multiperspectividad. A la luz de esas nuevas lecturas analizan los movimientos sociales de la década de los noventa, haciendo foco en los contextos donde se materializan, identificando a los sujetos que se manifiestan, las demandas que se presentan en plena etapa del neoliberalismo. A partir de este análisis se podrá leer una serie de categorizaciones que se materializan en prácticas y repertorios de protesta, que serán sin dudas una fuente de debates y diálogo con el ensayo. Considerando a los mismos como una forma de abordar la enseñanza de la historia reciente, para proyectar futuros posibles.

En el capitulo tres, Eduardo José Hurtado, reflexiona sobre el modelo de exclusión y desigualdad neoliberal, en el cual amplios sectores quedan marginados durante la crisis desatada en el 2001. Para ello recupera las formas organizativas de estos sectores en la ciudad de Río Cuarto, permitiéndole establecer paralelismo con otras formas de organización que se pueden observar a nivel nacional. De esta manera analiza los procesos de crisis institucional y como esta impacta sobre la vida de los riocuartenses. Considerando los fenómenos de organización local en este caso, la Coordinadora de desocupados “Agustín Tosco” y el Movimiento de Ciudadanos Autoconvocados. A la luz de ambos movimientos busca dar cuenta de cómo es que las demandas de la sociedad civil se institucionalizan. Considerando los momentos de gran visibilidad y movilización y otros en las cuales dichas organizaciones mutan hacia otras formas de prácticas políticas.

En el capitulo cuatro, David Checa, presenta una narrativa sobre la reconstrucción de clase en un aula de Educación Superior Terciaria, en donde el eje esta puesto en la reforma Universitaria del 1918. En su narrativa se destaca la posibilidad de pensar a la secuencia didáctica como una hipótesis que al momento de desarrollarse, que en palabras del autor, necesariamente debe ser modificada. El trabajo a su vez tiene una impronta reflexiva sobre la práctica áulica, y como los estudiantes conciben a la Educación Superior y el derecho a la educación de toda la sociedad. A su vez que rescata la posibilidad de pensar en las futuras prácticas docentes de quienes están en formación.

El eje esta puesto en la reforma del dieciocho pero con una clara visión de futuro. El trabajo de la realidad social pensada en clave problematizadora es el eje rector de la secuencia didáctica, construida, pensada y reformulada en su implementación.

En el capitulo cinco, Arturo Dábalo presenta en su narrativa un análisis reflexivo al momento de abordar una clase de historia en la escuela secundaria. En esta narrativa toma como eje la revolución mexicana para ser trabajada en aulas del ciclo básico. A partir de poner en práctica una secuencia que el recupera sobre esta temática, la repiensa considerando el contexto en el cual va ser llevada adelante. Lo primero que destaca son sus propios estereotipos construidos sobre el estudiantado, a su vez que indaga sobre las formas en que fluye el aprendizaje en el aula. Es en la reflexión profesoral que logra identificar las potencialidades y dificultades que se presentan al momento de abordar fuentes históricas, ya que considera en su etapa reflexiva que no todos los estudiantes construyen aprendizajes de la misma manera ni en los mismos tiempos. La narrativa se presenta como una instancia del aprendizaje en el oficio de ser docente.

En el capitulo seis, Miguel Jara, Erwin Parra y Alicia Garino, abordan la historia escolar considerando a los nuevos movimientos sociales en Argentina y América Latina poniendo el foco en el caso de las movilizaciones de las mujeres como sujeto protagonista. El trabajo se desarrolla desde un análisis sobre lo que se entiende como nuevos movimientos sociales considerando las diferentes perspectivas teóricas. En una segunda instancia se indaga sobre los nuevos movimientos sociales y la cuestión de género para poder pensar la relación existente entre los denominados viejos y nuevos movimientos sociales. La propuesta se centra entonces en la introducción de temas socialmente candentes que atraviesan las aulas de las instituciones educativas. La finalidad de la propuesta es dotar al estudiantado de un andamiaje teórico que le permita indagar sobre los actuales procesos de movilización y reivindicación de los derechos de las mujeres a decidir.

En el capitulo siete, Marcelo Andelique, Lucrecia Álvarez y Mariela Coudannes, también nos invitan a trabajar la demandas de las mujeres, teniendo en cuenta el repertorio de protestas y sus demandas. Esta propuesta se inicia con los marcos teórico-metodológico y didáctico para el abordaje, en primer lugar como se concibe a los movimientos sociales, para enfocarse en el movimiento de mujeres, para luego pensarlo desde una perspectiva problematizadora considerando que son problemas sociales candentes o socialmente vivos. Para ello proponen trabajar a partir de una secuencia didáctica, la violencia de la legalización del aborto y la huelga internacional de mujeres. Para ello ofrecen una serie de recursos potentes para el desarrollo de una propuesta que permite abordar temas que interpelan a la sociedad toda.

En el capitulo ocho, Beatriz Angelini, Susana Bertorello y Silvina Miskovski se plantean la posibilidad de trabajar los problemas socio ambientales en la ciudad de Rio Cuarto. En la propuesta analizan las perspectivas de los movimientos sociales y como estos son abordados en la curricula de la provincia de Córdoba. Recuperando lo que se plantea desde lo ministerial adoptan como estudio de caso para trabajar en el aula de historia la Asamblea de Río Cuarto sin Agrotóxicos. Esta propuesta pone el eje en el análisis del desarrollo tecnológico y su impacto en la calidad de vida de los habitantes de la ciudad. A partir de una serie de estrategias y recursos presentados proponen al estudiantado problematizar el impacto ambiental así como la posibilidad de pensar en posibles soluciones que mejoren la calidad de vida de la ciudadanía.

En el capitulo nueve, Mariano Campilia, Florencia Monetto y Victoria Tortosa proponen trabajar el rol de las mujeres en la movilización social. Considerando su lugar de invisibilidad pero a su vez la centralidad que ellas ocupan en dos momentos centrales de la historia, el Cordobazo y el surgimiento del movimiento ni una menos. Para desarrollar su propuesta lxs autores se ubican en el lugar del conflicto, como eje estructurarte para pensar el rol de las mujeres en ambos fenómenos. La construcción de las nuevas ciudadanías del siglo XXI, motiva la necesidad de trabajar al movimiento de mujeres y visibilizarlas como una demanda de las nuevas generaciones. Para ello trabajan una serie de recursos que ponen como centralidad las demandas de derechos que colectivos diversos de mujeres exigen para ellas.

En el capitulo diez, Roxana Gutiérrez y Mónica Olivera abordan el análisis de los enfoque sobre los movimientos sociales que circulan en los textos del nivel medio. La propuesta presentada está pensada para ser trabajada por docentes en formación. Tiene como finalidad el análisis sobre como la industria editorial presenta en los textos escolares a los movimientos sociales. Lo que se ofrece es la posibilidad que los estudiantes en formación profesoral incorporen en sus futuras prácticas, el plano teórico y metodológico y que sea parte de la formación pedagógica, pensando desde el lugar del que enseña y del que aprende.

El capitulo once, Verónica Huerga, María Laura Sena y Ana María Cudmani, proponen trabajar en las aulas de historia las luchas obreras tras los cierres de los ingenios azucareros tucumanos durante el Onganiato. La secuencia recupera el cierre del Ingenio San José como elemento disparador para analizar las luchas sociales de los sesentas, desde una perspectiva del presente considerando el contexto del estudiantado. Esto permite la posibilidad de ser pensada en un trabajo desde la Historia Reciente, recuperando la memoria e indagando sobre los procesos de luchas, y de los sujetos sociales que participaron. Una de sus finalidades es dar voz a los invisibilzados y que el estudiantado conozca, interprete, reflexione y se apropie de la historia de su lugar.

El capitulo doce, Pedro Andrés Juan, Camila Lenzi y Marcelo Sotelino ¿Por qué lucha el movimiento feminista en Argentina? En esta pregunta sugerente se presenta una propuesta que se plantea en clave comparada. Este trabajo se propone historizar las demandas del movimiento de mujeres, partiendo desde la invisibilización para hacerlas visibles. Es pensar en la historia de las mujeres, y en su presente como una construcción de generaciones que lucharon y luchan. La secuencia busca aportar a la construcción del pensamiento histórico del estudiantado y como este permite construir nuevas identidades y ciudadanías.

En el capitulo trece, Matías Druetta, Violeta Ehdad y Rocio Sayago plantean a los movimientos sociales desde las mujeres, es decir, incorporar la perspectiva de género para analizar a los nuevos movimientos sociales. De esta manera abordar la Educación sexual Integral como eje. La estrategia seleccionada se da a partir de la comparación lo que permitiría construir por parte de los estudiantes el pensamiento histórico habilitando espacios de debate y reflexión. Para ello se puede observar en la propuesta el rol central que cumplirán las mujeres durante los acontecimientos ocurridos en las ciudades de Cutral- Có y Plaza Huincul, durante las puebladas de 1997. A su vez que toman como otro caso el conflicto del agua en Cochabamba. Esto permite poder complejizar la explicación histórica y visibilizar los repertorios de protestas que permiten las transformaciones sociales.

En el capitulo catorce, Ana Maria Brunas, David Checa y Evelyn Gutiérrez nos proponen trabajar desde una historia conceptual en la cual se plantean dos dimensiones, la primera de ellas problematizar el conocimiento histórico y una segunda ligada a la ética. Estas dimensiones son desarrolladas a partir de três casos, “El farallonazo”, “El Catamarcazo” y las  Marchas del Silencio. Se possibilita a partir de un binomio analítico, problematizar/conceptualizar. Teniendo como finalidad recuperar la realidad social, como objeto de estudio. Esta propuesta está pensada para el estudiantado de escuela secundaria y un tercer año del Nivel superior.

El capitulo quince, Nancy Aquino, Desirée Toibero y Romina Sánchez se plantean la necesidad de recuperar en el trabajo escolar, el desarrollo conceptual las estrategias ligadas a la comprensión lectora, al pensamiento creativo, a la resolución de problemas y la posibilidad de poder comunicar. En definitiva aportar al pensamiento crítico, para ello proponen trabajar a los nuevos movimientos sociales en América Latina. En la síntesis de opciones hacen referencia a dos conflictos, la Guerra del Agua en Bolivia y la disputa de las tierras en la Patagonia. Poniendo en tensión la construcción de las democracias latinoamericanas.

Erwin Parra – Docente e investigador en la Facultad de Ciencias de la Educación de la Universidad Nacional del Comahue.

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Investigación y prácticas en didáctica de las ciencias sociales: tramas y vínculos – FUNES; JARA (REH)

FUNES, A.G.; JARA, M.A. (comp.). Investigación y prácticas en didáctica de las ciencias sociales: tramas y vínculos. Neuquén: Educo, 2019. 250p. Resenha de: MISKOVSKI, Silvina. Reseñas de Enseñanza de la Historia, n.17, p.215-222, ago. 2019.

El libro Investigación y prácticas en didáctica de las ciencias sociales: tramas y vínculos, compilado por Graciela Funes y Miguel Jara presenta una selección de conferencias y trabajos que se desarrollaron en el marco de las XVII Jornadas Nacionales y VI Internacionales de Enseñanza de la Historia; II Jornadas Nacionales Red de Docentes e Investigadores en la Enseñanza de la Geografía y IV Encuentro Iberoamericano de Investigación en Didáctica de las Ciencias Sociales: Los aportes de la didáctica de las ciencias sociales, de la historia y de la geografía a la formación de la ciudadanía en los contextos iberoamericanos1.

El texto organiza las participaciones de diversos docentes, especialistas e investigadores en didáctica de las ciencias sociales de América Latina y España en capítulos que responden a tres ejes temáticos vinculados, en primer lugar, a la formación, investigación, innovación y colectivos profesorales; en segundo lugar, a los aprendizajes, prácticas, memorias y lugares, y en tercer lugar, a las ciudadanías desde las disciplinas, contextos y formaciones. Esta distribución que no presenta temáticas excluyentes se podría entender como operativa para organizar la presentación de los capítulos, debido a que los análisis están vinculados, como indica el nombre el libro, en una trama constituida por la enseñanza y el aprendizaje de las ciencias sociales en diversos niveles educativos.

En la primera parte se presentan reflexiones que tienen que ver con la formación profesional docente, con la investigación en didáctica de las ciencias sociales y con propuestas de innovación educativa en ese campo. Así, el trabajo de Graciela Funes, Víctor Salto y María Esther Muñoz (UNCO) titulado “Formación, investigación y colectivos profesorales” propone articular los tres núcleos temáticos mencionados. Los autores conciben la formación docente en Ciencias Sociales e Historia como un campo de intersección de diferentes dominios disciplinares que va construyendo una orientación epistemológica desde la cual pensar la práctica profesional. En este primer capítulo, los autores presentan algunos aspectos fundamentales de esa orientación que tienen que ver con prácticas de enseñanza situadas, colaborativas, cuya finalidad sea la emancipación y la igualdad. Constructos sobre los que han orientado desde la década de los noventa su investigación educativa en un contexto caracterizado por la diversidad, la fluidez y la hibridación de formas de posicionarse y vincularse con el conocimiento.

En el segundo capítulo, titulado “Tems, problemas y desafios en la formación didáctica de las ciências sociales, geografia e historia” de Víctor Salto se hace referencia a la formación docente en Ciencias Sociales, Historia y Geografía. El autor realiza una síntesis de las producciones que fueron presentadas con relación a la temática en el marco del encuentro iberoamericano indicado al comienzo de esta reseña. Este trabajo propone un estado de la cuestión actualizado de problemas que se plantean investigadores y docentes de diversas latitudes y están organizados en tres núcleos analíticos: diseños y planes para la formación del profesorado, líneas y perspectivas para la formación del profesorado y dispositivos para la formación del profesorado. Entre los problemas de investigación que se enuncian, algunos refieren a: la reorganización de diseños y planes de estudio que asuman la necesidad de una mayor articulación entre la formación y la realidad escolar en las que se inscriben las prácticas de enseñanza; la urgencia de propuestas epistémicas que promuevan una educación para la ciudadanía democrática.

En cuanto al tema referido a la investigación en Didáctica de las Ciencias Sociales el trabajo de María Celeste Cerdá y Fabiana Ertola: “La investigación en la enseñanza y el apredizage de las ciências sociales, geografia e historia en Iberoamérica: una cartografia desde el sur del sur” ofrece al lector una recopilación de temas y problemas que se plantearon en el encuentro iberoamericano mencionado anteriormente. Como indica el título de este capítulo, las autoras trazan una cartografía que permite visualizar y sistematizar las producciones que se están desarrollando en el campo de la Didáctica de las Ciencias Sociales. Entre ellas se mencionan: la enseñanza de las Ciencias Sociales e Historia y TICs; la evaluación; libros de textos, cuadernos y carpetas de los estudiantes; las regulaciones sobre la enseñanza.

Puntos de interés que constituyen un corpus orientado a promover alternativas en los procesos de enseñanza y aprendizaje.

Con respecto a estas demandas el capítulo que presenta María Esther Muñoz, “Preocupaciones y ocupaciones en la Enseñanza y Aprendizaje de las Ciencias Sociales, Geografia e Historia, Experiencias en y desde la práctica”, ofrece una vista panorámica de propuestas de innovación de profesores e investigadores de diversos niveles educativos y de distintos países iberoamericanos.

La autora presenta propuestas alternativas a la enseñanza tradicional no solamente en cuanto a metodologías sino también en cuanto a contenidos y materiales que son seleccionados a partir de problemas sociales relevantes.

El quinto capítulo de esta primera parte corresponde al trabajo de Joan Pagés, “Qué formación en didáctica de las ciências sociales necesitan los y las docentes del siglo XXI? Reflexiones a la luz de diferentes situaciones”. Allí, convoca a pensar sobre lo que está sucediendo en la enseñanza escolar de las Ciencias Sociales, la Geografía y la Historia y sobre los desafíos que asume la formación docente frente a una realidad educativa que exige prácticas reflexivas desde el punto de vista de las finalidades, es decir, desde el para qué aprender estas disciplinas y el qué aprender de ellas.

A partir de la presentación de noticias que hacen referencia a la enseñanza escolar de la Historia, el autor acerca de manera interesante ejemplos que permiten pensar la formación docente relacionada a la enseñanza y aprendizaje de contenidos sociales.

En la segunda parte del libro, el eje de los trabajos se vincula al aprendizaje en distintos contextos y desde diversos lugares, prácticas y memorias. En este sentido, Beatríz Aisenberg revisa algunos supuestos que tienen que ver con la puesta en juego de ideas previas de los estudiantes a la hora de aprender contenidos escolares vinculados a las Ciencias Sociales. En su capítulo “Razones para no explorar los conocimientos prévios de los alunos al iniciar um proyecto de enseñanza en Ciencias Sociales”, cuestiona la práctica habitual de comenzar las propuestas didácticas con la indagación de las ideas previas de los estudiantes. A partir de contar con un amplio trabajo empírico ha podido evidenciar que los marcos de referencia con los que cuentan los estudiantes, elaborados a través de la experiencia social, les permiten construir significados sobre nuevos contenidos, tal como propone el constructivismo. Según Aisenberg, los estudiantes ponen en juego sus conocimientos previos cuando están abordando nuevos contenidos con lo cual entiende que esos en las situaciones de aprendizaje desde una anterioridad lógica y no temporal.

Otro de los trabajos de esta sección es escrito por Antoni Santisteban y se titula “Investigación y cambio em la enseñanza de las ciências sociales”. Allí plantea la relación fundamental entre la investigación en Didáctica de las Ciencias Sociales y las transformaciones en favor de una mejora en la enseñanza y el aprendizaje de las mismas y la innovación en las prácticas de formación del profesorado. El autor ofrece una descripción de algunas investigaciones que permiten visualizar problemas relacionados con el aprendizaje de las Ciencias Sociales como por ejemplo, la temporalidad, la conciencia histórica, la comprensión sobre problemas sociales, las capacidades básicas del pensamiento social.

El tercer capítulo de esta segunda parte del libro: “Qué no nos disse la investigación sobre enseñanza de la historia?” de Paulina Latapí invita a pensar sobre la responsabilidad que asumen los investigadores e investigadoras en enseñanza de la historia frente a las situaciones presentes que refieren a la pérdida de derechos y libertades ciudadanas. Para ello, la autora expone de manera detallada un estado de la cuestión acerca de las producciones más recientes del contexto iberoamericano en las que se abordan muchos de los problemas que se expresan en los capítulos reseñados hasta aquí. Sin embargo señala algunos puntos que todavía no han sido suficientemente indagados y que tienen que ver con la relación entre cognición y emoción y el abordaje transdisciplinario.

Jéssica Ramírez Achoy, presenta un trabajo que aporta a la discusión sobre el aprendizaje de las Ciencias Sociales por parte del profesorado en formación y sobre la manera en que puede impactar de forma crítica en las clases de secundaria. Este capítulo, “Aprender a enseñar ciências sociales: reflexiones en torno a la investigación”, propone una revisión bibliográfica sobre investigaciones en torno a la formación inicial docente y destaca aquellas experiencias que constituyen una ruptura con la enseñanza magistral y positivista.

Con referencia a las prácticas de formación docente, se presenta el Capítulo “Qué se enseña del espacio rural en la escuela primaria? Una investigación en el marco de una propuesta de integración de funciones universitárias” de Oscar Lossio. En él se relata una interesante experiencia en la que confluye investigación, formación docente y extensión universitaria. Se indaga en las prácticas de enseñanza de la Geografía del espacio rural en la escuela primaria a partir de una experiencia conjunta con docentes de la misma. El carácter extenso de la investigación permitió comprender las concepciones de los docentes de primaria acerca del espacio rural y visualizar cómo se fueron transformando a través de los aportes teóricos y metodológicos que se desarrollaron durante la experiencia.

Augusta Valle Taiman, en su trabajo”La importancia de la reflexión sobre las representaciones de la enseñanza y de los contenidos en la formación inicial del professorado” parte de la pregunta acerca del impacto de las investigaciones en didáctica de Ciencias Sociales y de la Historia en la formación de los docentes. La autora plantea que contribuyen a conocer las representaciones iniciales de los profesores y ofrecen la posibilidad de repensarlas epistemológicamente a la luz de las prácticas de enseñanza.

En los tres últimos capítulos de esta segunda parte se presentan las relaciones entre lugares y memorias en la enseñanza y el aprendizaje de las Ciencias Sociales. Así, el trabajo de Celeste Cerdá: “Lugares, historias y memorias en didáctica de las ciências sociales: una interpelación desde la Historia Reciente Argentina” entrelaza tres categorías: lugares, historias y memorias en una trama conceptual que permite problematizar la tensión deber de memoria/derecho a la memoria con relación a la última dictadura militar en la Argentina. La autora propone un modelo heurístico que permite analizar la enseñanza del pasado reciente desde dos categorías contrapuestas, es decir, desde una singularidad relativa o en contrapartida, desde una singularidad absoluta que vinculan desde distintas perspectivas epistemológicas la relación entre memoria e Historia.

A continuación Karina Carrizo presenta”Enseñar en contextos de diversidade cultural. El lugar de la Historia y ‘las historias’ “. Allí reflexiona, a través del relato de algunas experiencias, sobre los diseños curriculares en los que los saberes populares no son reconocidos para su enseñanza. Saberes, como indica la autora, deberían ser parte de la formación docente si es que se piensa en la preparación de maestros en clave intercultural para enseñar en contextos de diversidad.

El último capítulo de esta segunda parte es escrito por María Amalia Lorda, “Aportes desde la Didáctica de la Geografía para la construcción de una acción educativa situada”. En él desarrolla la tensión que se presenta en la práctica educativa entre una escuela pensada en el siglo XIX con docentes formados en el siglo XX y alumnos del siglo XXI. La autora reflexiona sobre los modos posibles de esa coexistencia desde algunas bases de construcción de una Didáctica de la Geografía para una educación situada.

La tercera parte de esta obra está estructurada en cuatro capítulos que comparten el interés por problemas vinculados a la construcción de la ciudadanía. En el primero de ellos “Qué apota la didáctica de la historia a la formación de la ciudadanía?” enseñanza de contenidos escolares. Advierte que desde el advenimiento de la democracia en Argentina las propuestas ministeriales hacen foco en la formación de una ciudadana democrática aunque en la selección de contenidos aún persista una mirada tradicional. Situación que plantea el desafío de pensar la formación inicial desde problemas socialmente relevantes, con una proyección hacia la construcción de una ciudadanía global.

En el segundo capítulo de esta sección, “¿Qué aporta la didáctica de la geografia a la formación de la ciudadanía?”, Viviana Zenobi reflexiona acerca de las finalidades de la geografía escolar de acuerdo a los contextos históricos. La autora considera que es fundamental en las instancias de formación docente reflexionar en el para qué enseñar Geografía en la actualidad y aporta algunos ejemplos didácticos que contribuyan a una Geografía que forme ciudadanos y ciudadanas democráticos.

Lucía Valencia Castañeda, en su artículo “Formar professoras y professores para formar ciudadanas y ciudadanos “¿Qué contextos, qué ciudadanías?” invita a pensar la formación docente desde el propósito de construir el pensamiento social en los estudiantes. Para ello aborda los supuestos epistemológicos de las disciplinas y cómo debieran contribuir con la construcción de una ciudadanía crítica, global y democrática.

En “Historia urgentes para ciudadanías mestizas”, Sonia A. Bazán propone analizar a los jóvenes que habitan las escuelas desde el concepto de ciudadanías mestizas. Este concepto habla de las identidades de las y los jóvenes, que en palabras de la autora, son menos largas, más flexibles también, más elásticas que permiten amalgamar ingredientes que provienen de otros mundos culturales.

Estas características tensionan con una enseñanza escolar para formar una ciudadanía nacional y homogénea.

Finalmente, Selva Guimarães y Maria da Conceição Martins escriben “Formarse professor de historia: ciudadanía y arte en las tramas curriculares”. En este artículo se propone vislumbrar la relación entre los derechos de ciudadanía, arte y formación cultural de los docentes de Historia así como considerar estas dimensiones en su formación profesional para contribuir con una práctica creativa.

Investigación y Prácticas en Didáctica de las Ciencias Sociales: tramas y vínculos, un libro que condensa actualizadas investigaciones, propuestas, reflexiones en torno a la enseñanza y el aprendizaje de la Historia, la Geografía y las Ciencias Sociales que renueva la convocatoria a seguir pensando alternativas posibles para la construcción de una ciudadanía democrática y global.

Notas

1 El encuentro se desarrolló en la Universidad Nacional del Comahue, sede Bariloche en el mes de octubre de 2018.

Silvina Miskovski – Prof. en Historia. Magister en Ciencias Sociales. Cátedra Didáctica de los procesos Históricos. Universidad Nacional de Río Cuarto.

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O jardineiro de Napoleão. Alexander von Humboldt e as imagens de um Brasil, América (sécs. XVIII e XIX) | Thiago Costa e Adriadne Marinho

Não resta dúvida de que o naturalista alemão Alexander von Humboldt representa um marco fundamental na história das ciências no século XIX. Lido e adorado por quase todos os homens cultos de sua época, Humboldt serviu de inspiração intelectual para ninguém mais ninguém menos que Charles Darwin e despertou os ciúmes de um megalômano Napoleão Bonaparte. Foi comparado à Aristóteles, Arquimedes, Copérnico e Newton, e considerado um “segundo Colombo”, o “redescobridor da América”. De acordo com Laura Dassow Walls, a popularidade do pesquisador alemão era tão generalizada no interior dos Estados Unidos em meados do oitocentos que acabou por consolidar o que a pesquisadora chamou de “fenômeno Humboldt”. Leia Mais

Paris and The Cliché of History: The City and Photographs, 1860-1970 – CLARK (THT)

CLARK Catherine La enseñanza de la historia
Catherine Clarke. Foto: Comparative Media Studies – MIT /

CLARK C Paris and the cliche of history La enseñanza de la historiaCLARK, Catherine E.. Paris and The Cliché of History: The City and Photographs, 1860-1970. New York: Oxford University Press, 2018. 328p. Resenha de: KERLEY, Lela F. The History Teacher, v.52, n.4, p.717-718, ago., 2019.

In this social history of photography, Catherine E. Clark demonstrates that the visual discourses and methodologies used to document the historical and urban landscape of France’s capital were constantly being reconceptualized over the course of the nineteenth and twentieth centuries. Journalists, curators, city officials, amateur and professional photographers, and societies contributed to a history of Paris that was inextricably linked with a history of photography. Woven into the book’s narrative is an institutional history of the Bibliothèque historique, the Musée Carnavalet, the Fédération nationale d’achats des cadres (FNAC), and the Vidéothèque de Paris vis-à-vis the local/national initiatives and photography contests they sponsored that punctuated, but also commemorated, larger historical shifts such as Haussmannization, the Occupation and Liberation of Paris, Americanization, and “les trente glorieuses.” By examining photographic collections spawned by these events, Clark presents a colorful portrait of how the French, but also foreign tourists, saw the city and interpreted its past, present, and future amid urban transformation.

The book begins with the overarching question: What is the history of preserving, writing, exhibiting, theorizing, and imagining the history of Paris photographically? (p. 1). These concerns are deftly addressed together in each of the five chapters, tracing the way in which understandings of the photographic image—its purpose, function, and the history it purported to communicate— shaped and were shaped by commercial and non-commercial interests. Building on earlier scholarship produced by cultural theorists such as Guy DeBord, Roland Barthes, and Susan Sontag, who view visual spectacle as a metaphor for changing relationships within the city, Clark adds her own original interpretation, arguing that the production, preservation, and use of photographs influenced, informed, and determined how people thought about Paris as a museum city and engaged with it physically (p. 216).

Chapter 1 focuses on Haussmannization, a city works project that precipitated the first major effort to document the destruction of “Vieux Paris.” Through the process of modernization, municipal authorities, archivists, and museum directors slowly shifted their reliance on more traditional forms of visual historical documentation (e.g., maps, paintings, and sketches) to the photograph as they discovered its inherent value as a piece of “objective” historical evidence. A method of scientific visual history, as Chapter 2 illustrates, came to the fore and introduced new “modes of seeing history” by the turn of the century (p. 2). Now considered “an objective eyewitness to history,” the photograph gave rise to photo-histories that were more didactic in their narration of historic events, providing explanations to viewers of how they should interpret the image.

Chapter 3 shows how the Occupation and Liberation of Paris engendered different “mode[s] of reading the photo” (p. 3). Through the practice of repicturing, heavily censored yet seemingly innocent photo-histories of famous Parisian landmarks kept the French revolutionary tradition alive by including a combination of visual forms that would recall acts of resistance embedded in viewers’ historical imagination. Seven years later, the Bimillénaire de Paris of 1951 reduced the photographic image to a visual cliché, and the subjects who figured in those pictures to typologies. Celebrating the last 2,000 years of French history, the Bimillénaire assumed a political bent and “appealed to those who sought to promote Paris as the commercial capital of Europe, backed by centuries of culture and history, not as an intellectual capital of revolutionary political thought” (p. 132). Chapter 4’s discussion of the city’s attempt to promote Paris as modern and futuristic in promotional posters, traveling exhibits, and magazines depended upon older models of seeing history and reading representations that attested to both change and continuity. Chapter 5 examines “C’était Paris en 1970,” a photo contest commissioned by the store FNAC that involved over 15,000 amateur photographers photographing everyday life within Paris (p. 174). Yet the very title of the contest underscored more of what had changed in the last 110 years of photographic documentation and collection rather than what remained the same. Whereas the historical value of a nineteenth-century photograph had taken decades to appreciate, historical value was immediately conferred the moment the photo was taken by the last third of the twentieth century.

This well-researched book will be of interest for those studying urban history, the history of Modern France, visual culture, and archival management. With over eighty illustrations, there is no lack of material with which to engage students. Its slim size and readily accessible prose is appropriate for both upperlevel undergraduates and graduate students, as it complements more in-depth theoretical discussions and debates on the politics of memory and the effects of technology in shaping national and local identities. Its interdisciplinary treatment of photography, publishing, the history of Paris, and the recording, preservation, and promotion of that history makes this an intriguing and indispensable text.

Lela F. Kerley – Ocala, Florida.

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Porous Borders: Multiracial Migrations and the Law in the U.S.-Mexico Borderlands – LIM (THT)

LIM, Julian. Porous Borders: Multiracial Migrations and the Law in the U.S.-Mexico Borderlands. Chapel Hill, NC: The University of North Carolina Press, 2017. 320p. Resenha de: BELL-WILSON, Chloe. The History Teacher, v.52, n.4, p.719-720, ago., 2019.

Borderlands history, already a crowded field, has found a new, multiracial, multinational narrative in Julian Lim’s Porous Borders: Multiracial Migrations and the Law in the U.S.-Mexico Borderlands. In her introduction, Lim sets out clearly what she intends to do: mitigate the history about erasure and reveal the history of the multiracial past that “has become so hidden, erased from geographical and historical landscape of the borderlands and the nation itself” (p.5). Spanning the 1880s to the 1930s and using rich archival sources from both sides of the Mexican-American border, she shows how the borderlands was never just a space where people of two opposing nationalities vied for dominance. Instead, it was a complicated place that saw the intersection of Native Americans, white (or more white) Mexicans and Americans, black peoples, and Chinese peoples.

Lim looks mainly at the border town of El Paso, Texas, tracing its foundation as a small backwater to its growth into a thriving commercial metropolis, thanks to the arrival of the train. As a border town, El Paso proves an effective window into larger ideations of race, class, and nationalities from both the United States and Mexico. She also examines the sister city of Ciudad Juárez, just on the other side of the border, to illuminate similarities and differences in the two countries.

For a large portion of her work, Lim draws upon legal evidence to substantiate her claims. Some of what she draws upon is well known, like the Treaty of Guadalupe Hidalgo and the Chinese Exclusion Act. But in her assessment, she adds a layer of complexity by showing not only how those in power expected their legislation to function, but also how everyday people circumvented them or, indeed, used them to their own advantage. The Chinese, she explains, were able to flout the Exclusion Act by trickling into El Paso through Mexico. They also used, for a time, racial blending to avoid detection, successfully masquerading as Mexican to cross into the United States. She also makes use of more everyday court cases, like those of miscegenation, workers compensation, and race classification. Though the prohibition of black/white relationships in twentiethcentury America is well known, Lim adds to the interrogation of interracial relations by investigating the way the courts attempted to regulate intermarriage between Chinese, Mexican, and African Americans. In doing so, she shows how socio-cultural norms translated into legal proceedings, and vice versa.

Additionally, Lim’s commitment to showing a well-rounded, inclusive narrative produces an analysis that shows how racial and national identity intersect to create complicated lives. One of her strongest points to this effect is her analysis of how African Americans, after finding themselves rejected by Mexico as either immigrants or tourists, identified even more strongly as proud Americans, even as conditions in the Jim Crow South continued to deteriorate for them. She also carefully traces agency for each group across the entire period she assesses. She opens her work with a detailed assessment of the role Native Americans had in constructing the borderlands, showing that their patterns of commerce, travel, and living in fact set the stage for how the borderlands developed. Rather than abandoning their narrative after both Mexico and the United States forcibly displaced them, however, she then follows their story through the rest of her work.

For example, in 1916, the Apache acted as scouts for the U.S. military during the retaliatory Punitive Expedition in response to the feared invasion of Pancho Villa. Thus, importantly, Lim asserts the continued presence and role of Native Americans at the border.

With clear, well-written prose, Porous Borders provides an illuminating narrative that would be useful for both undergraduate and graduate students looking to understand more about the evolvement of the Mexican-American border into what it is today. For secondary school teachers, Lim’s complex understanding of landmarks in history, like treaties and major immigration legislation, can be used to help students understand the difference between intentions of those in power and the realities of everyday life. Overall, Lim provides a fascinating insight into a period and a narrative that too often faces neglect in borderlands history. Her balance of cultural and legal history in the borderlands provides insight into how large-scale events play out at the local level—a useful conceptualization neatly applied and worth copying.

Chloe Bell-Wilson – California State University, Long Beach.

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Unredeemed Land: An Environmental History of Civil War and Emancipation in the Cotton South – MAULDIN (THT)

MAULDIN, Erin Stewart. Unredeemed Land: An Environmental History of Civil War and Emancipation in the Cotton South. New York: Oxford University Press, 2018. 256p. Resenha de: SCHIEFFLER, G. David. The History Teacher, v.52, n.4, p.720-722, ago., 2019.

Erin Stewart Mauldin’s Unredeemed Land is the latest addition to the vast body of literature that explains how the Civil War and emancipation transformed the rural South. Whereas previous scholars have highlighted the war’s physical destruction, economic consequences, and sociocultural effects, Mauldin, an environmental historian, examines the profound ecological transformation of the Old South to the New. Using an interdisciplinary methodological approach, she argues that the Civil War exacerbated southern agriculture’s environmental constraints and forced farmers—“sooner rather than later”—to abandon their generally effective extensive farming practices in favor of intensive cotton monoculture, which devastated the South both economically and ecologically (p. 10).

Mauldin contends that most antebellum southerners practiced an extensive form of agriculture characterized by “shifting cultivation, free-range animal husbandry, slavery, and continuous territorial expansion” (p. 6). Although the South’s soils and climates were not suitable for long-term crop production, most farmers circumvented their environmental disadvantages by adhering to these “four cornerstones” (p. 6). Ironically, however, these very practices made the South especially vulnerable to war. When the Civil War came, Union and Confederate soldiers demolished the fences that protected southern crops, slaughtered and impressed roaming livestock, razed the forests on which shifting cultivation and free-range husbandry hinged, and, most significantly, destroyed the institution of slavery on which southern agriculture was built. Mauldin’s description of the Civil War’s environmental consequences echoes those of Lisa M. Brady’s War Upon the Land (2012) and Megan Kate Nelson’s Ruin Nation (2012), but with an important caveat: in Mauldin’s view, the war did not destroy southern agriculture so much as it accelerated and exacerbated the “preexisting vulnerabilities of southern land use” (p. 69).

After the war, southern reformers and northern officials urged southern farmers, white and black, to rebuild the South by adopting the intensive agricultural practices of northerners—namely, livestock fencing, continuous cultivation, and the use of commercial fertilizers as a substitute for crop and field rotation. Most complied, not because they admired “Yankee” agriculture, but because the “environmental consequences of the war—including soldiers’ removal of woodland, farmers’ abandonment of fields because of occupation or labor shortages, and armies’ impressment or foraging of livestock—encouraged intensification” (p. 73). Interestingly, many southerners initially benefited from this change. Mauldin contends that the cotton harvests of 1866-1868 were probably more successful than they should have been, thanks to the Confederacy’s wartime campaign to grow food and to the fact that so much of the South’s farmland had lain fallow during the conflict. In the long run, however, this temporary boon created false hopes, as intensive monoculture “tightened ecological constraints and actively undermined farmers’ chances of economic recovery” (p. 73). Mauldin argues that most of the southern land put into cotton after the war could not sustain continuous cash-crop cultivation without the use of expensive commercial fertilizers, which became a major source of debt for farmers. At the same time, livestock fencing exacerbated the spread of diseases like hog cholera, which killed off animals that debt-ridden farmers could not afford to replace. Finally, basic land maintenance—a pillar of extensive agriculture in the Old South—declined after the war, as former slaves understandably refused to work in gangs to clear landowners’ fields and dig the ditches essential to sustainable farming. Tragically, many of those same freedpeople suffered from planters’ restrictions of common lands for free-range husbandry and from the division of plantations into tenant and sharecropper plots, which made shifting cultivation more difficult. And, as other scholars have shown, many black tenants and sharecroppers got caught up in the crippling cycle of debt that plagued white cotton farmers in the late nineteenth century, too.

Mauldin’s story of the post-war cotton crisis is a familiar one, but unlike previous scholars, she shows that the crisis was about more than market forces, greedy creditors, and racial and class conflict. It was also about the land. Despite diminishing returns, southerners continued to grow cotton in the 1870s, not only because it was the crop that “paid,” but also because ecological constraints, which had been intensified by the war, encouraged it. Instructors interested in teaching students how the natural environment has shaped human history would be wise to consider this argument. They should also consider adding “ecological disruptions” to the long list of problems that afflicted the New South, as Mauldin persuasively argues that the era’s racial conflict, sharecropping arrangements, and capital shortages cannot be understood apart from the environmental challenges that compounded them (p. 9).

In the 2005 Environmental History article, “The Agency of Nature or the Nature of Agency?”, Linda Nash urged historians to “strive not merely to put nature into history, but to put the human mind back in the world.” With Unredeemed Land, Erin Stewart Mauldin has done just that and, in the process, has offered one way in which history teachers might put the Civil War era back in its natural habitat in their classrooms.

David Schieffler – Crowder College.

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Jim Crow Capital: Women and Black Freedom Struggles in Washington, D.C., 1920-1945 – MURPHY (THT)

MURPHY, Mary-Elizabeth B.. Jim Crow Capital: Women and Black Freedom Struggles in Washington, D.C., 1920-1945. Chapel Hill, NC: The University of North Carolina Press, 2018. 280p. Resenha de: HYATT, Marshall. The History Teacher, v.52, n.4, p.722-723, ago., 2019.

The recent historiography of the Civil Rights Movement has closely examined the extent to which that struggle for equality had its origins in the nineteenth century. Those studies transcended the traditional focus on the active phase years after Brown v. Board of Education (1954) by returning to the roots in the aftermath of the Civil War, Reconstruction, and the early 1900s. Jim Crow Capital is a welcome addition to that scholarship, providing an in-depth history of the activities of African American women in the nation’s capital in the formative years of what became the twentieth-century civil rights protests. At the same time, the book places important emphasis on the intersectionality of race and gender, delineating that nexus as articulated by critical race theorists.

In doing so, the author brings to light the contributions of women in combating all forms of discrimination and segregation, thus expanding the contours of that history.

Fittingly, the work centers on the nation’s capital, where segregation and racism were rampant both locally and federally. The title of the book itself is a direct reference to the perceptions of African Americans living in Washington, who argued “that the discrimination in their city resembled the worst practices of the U.S. South” (p. 144). There were many manifestations of abuse that supported their contentions. Murphy begins with organized protests in support of the Dyer Anti-Lynching Bill, which started in the 1920s and culminated during the Depression decade. She underscores the critical importance of the Silent Parade of 1922 and the Rope Protests of 1934, in which “African American women succeeded in generating national attention to the crisis of lynching” (p. 71). Significantly, she argues that women in Washington were ideally suited for these types of protest activities, because “their charged location” allowed them to focus on local and national issues at the same time, and with direct access to the federal government.

Beyond those forays into anti-lynching campaigns, black women also organized protests against police brutality in the city, rioted for economic justice at a time when they were discriminated against in employment, petitioned for voting rights, and engaged in sit-ins and boycotts of department stores that maintained segregationist policies. Surprisingly, in that regard, Murphy only mentions in passing the critical work of women after Woodrow Wilson’s 1913 decision to segregate all offices of government civil service. Early on, she notes that “while activists worked tirelessly with the NAACP to protest segregation, they were unable to integrate the federal government” (p. 6). Yet women, such as Mary Church Terrell, were deeply involved in that effort. Working with Neval H. Thomas, American history teacher at Dunbar High School and NAACP branch president in Washington, D.C., they fought an intensified desegregation campaign in the 1920s and 1930s. The pressure they brought to bear on the federal government achieved some small victories, such as the integration of the Department of the Census and the Bureau of Pensions in the late 1920s. Murphy acknowledges that U.S. Secretary of the Interior Harold Ickes desegregated his bureau in the late 1930s, which created the impetus for the full government civil service desegregation to come, but does not contextualize that achievement within the earlier activism of the Washington branch.

Jim Crow Capital represents an important addition to the “long history of the civil rights movement” revisionism, appropriate for any course on the struggle for black equality. Reaching back into the immediate post-World War I period, when disillusionment among African Americans was fueled by segregation, lynching, and the Red Summer of 1919, it underscores the birth of the “New Negro,” so poignantly described by Howard University philosophy professor Alain Locke. The black women in Washington, D.C. epitomized his belief that African Americans adopted a “vibrant new psychology” that made civil rights activism a sacred mission. Accordingly, Murphy’s contribution is critical in teaching that African American women were major actors on the stage of civil rights organizing, protesting, and leadership, well before the active phase. They navigated the boundaries of race and gender in their pursuit of racial justice.

Mary McLeod Bethune, Nannie Helen Burroughs, Mary Church Terrell, and countless others in the nation’s capital were significant forerunners in the critical crusade for racial justice. It was their inspiration and commitment that passed the torch to Fannie Lou Hamer, Jo Ann Gibson Robinson, Ella Baker, Diane Nash, and others, whose collective activism was a fitting tribute to their legacy.

Jim Crow Capital brings that critical significance to light, while also confirming Martin Luther King Jr.’s belief that “the moral arc of the universe is long, but it bends toward justice.” Marschall Hyatt – Geffen Academy at UCLA.

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Accounting for Slavery: Masters and Management – ROSENTHAL (THT)

ROSENTHAL, Caitlin. Accounting for Slavery: Masters and Management. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2019. 312p. Resenha de: MUHAMMAD, Patricia M. The History Teacher, v.52, n.4, p.724-725, ago., 2019.

Scholars have written extensively concerning the Trans-Atlantic slave trade’s intricate financial regime promoted through multi-lateral treaties, slaving licenses, nation states, private companies, and slavers, proprietors, and bankers who financed and insured this barter in human commodities. In Accounting for Slavery, Professor Caitlin Rosenthal outlines municipal slavery business structures primarily in the West Indies; with slaveowners at the highest rank, followed by overseers and attorneys who were property managers. Using the terms “proprietor,” “balance,” “tally,” “middlemen,” and “employees,” Rosenthal transposes this verbiage with “plantation owner,” “bottom line,” “slaves,” “skilled workers,” “overseer,” and “watchmen”—demonstrating the level of accounting practices slaveowners developed.

Interlaced with technical nomenclature, the author includes historical events that affected plantation operations, such as the Maroon Rebellion in Jamaica and more frequent occurrences of sabotage of production output and plots to escape slavery’s brutality. She furthers her analysis by discussing crimes against humanity such as branding and torture as false incentives to increase labor production and compliance. Thus, enslaved people were forced to work against their will and were also chastised for fighting against a system in which human rights violations were systemically committed against them.

The author also discusses how slave codes encouraged plantation owners to maintain accurate records of their slaves’ whereabouts. Local authorities fined slaveowners for failure to abide by these laws, which only complemented their accounting practices. Both municipal and transnational law reflected Europeans’ desire to maintain control of their extended empire through hierarchies that negotiated with established Maroon communities of formerly enslaved people.

Although these communities were not acknowledged as a nation state, they had authority to enter a bi-lateral treaty with England in 1739 to preserve their autonomy with a condition precedent to not accept any additional runaway slaves.

Rosenthal then examines the impact of absentee proprietorship, in which plantation owners returned from the West Indies to England, seeking to maintain accountability of both land and slave. Consequently, these slavers authored plantation manuals (accounting guidelines) to track slaves, harvest, land, and productivity, referred to as “quantification.” Arguably, these standards were the financial antecedent to generally accepted accounting practices used to evaluate professional standards of modern bookkeeping for Western corporations. The slavers also furthered transnational law through lobbying with the British Parliament, securing their interests in sugar markets and a form of anti-dumping preventative measures under international trade law, as well as opposing the nascent trend in public international law to abolish the slave trade. The author argues that their records had a mitigating effect on the regulation of plantation slavery enforced by local officials, requiring slavers to adhere to graduated punishments that they recorded as evidence in their own defense.

Thereafter, Rosenthal dissects the methodology of plantation accounting, including ledgers, balance sheets, sticks used by slaves to account for livestock tallied annually, and eighteenth-century slaveowners’ advent of pre-formatted forms and double bookkeeping. These written records became evidence for British abolitionists to use against West Indian slavers since they not only detailed the loss of productivity, but also the loss of slaves’ lives resulting from the violence and torture they bore at the hands of slave masters.

Rosenthal then assesses rating systems based on historical records that affected the price of slaves as further evidence of their commodification. For instance, she employs the usage of “depreciation” in relation to an enslaved person’s decline due to disobedience, age or health. Value and (human) capital reinforced the disparity of rights between the enslaved and the master, with one person determining the other person’s worth based on what could be extracted by force or used as collateral for purchase of other tangible property.

Lastly, the author discusses the effects of the Civil War and Reconstruction on both slavers and enslaved. Slavers had the ability to quit the land and negotiate.

However, the agreements enslaved people signed were usually under duress, and former slaveowners had a greater bargaining position due to literacy, land ownership, prior financial gain from their former slaves, and the use of black codes to keep freed peoples subordinate.

The author uses primary sources to illustrate the development of accounting practices, through organization, law, and politics, making the text valuable for historians and graduate students specializing in those matters. With assiduous care, Rosenthal successfully depicts municipal slavery’s evolution from scattered processes to maintain control of slaves and land into a sophisticated, individual business venture that documented crimes against humanity and ironically supported the institution’s inevitable extinction.

Patricia M. Muhammad – Independent Researcher.

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The Mexican Press and Civil Society 1940-1976: Stories from the Newsroom, Stories from the Street – SMITH (THT)

SMITH, Benjamin. The Mexican Press and Civil Society 1940-1976: Stories from the Newsroom, Stories from the Street. Chapel Hill, NC: The University of North Carolina Press, 2018. 382p. Resenha de: CUDDY, Zachary. The History Teacher, v.52, n.4, p.725-727, ago., 2019.

Benjamin T. Smith’s The Mexican Press and Civil Society examines three and a half decades of journalism in mid-twentieth-century Mexico. Smith makes the argument that press readership increased significantly in the 1940s and 1950s, culminating in the 1960s, which saw a more literate Mexico of all classes read the press. In addition, Smith argues that control of the press was often heavy-handed and corrupt. Nevertheless, it varied regionally, and geography played a bigger role than previous historical accounts have posited. The press, Smith argues, was never truly free, but it was not controlled completely by a centralized Partido Revolucionario Institucional (PRI) in Mexico City either. Rather, numerous individuals and organizations worked within the rigid and corrupt system to reach out to many different types of social classes in civil society. Like most historians, Smith pays homage to past works, but he argues that some literature does not go far enough in truly explaining the nuances of the press. For example, Smith argues that Daniel Cosío Villegas’s idea of Mexican newspapers having unimportant, national news is inaccurate because it ignores tabloids and the decentralized nature of the regional press (p. 6).

Smith’s eight-chapter, 282-page book has three major sections and begins with “Part One: The Reading Public.” The only chapter in this section is an important foundational piece, for it traces political, economic, and social elements of how newspaper readership rose in Mexico from 1940-1976. Smith brings up the role of Mexican presidents, U.S. surveys, censorship, specific national and regional newspapers, and important government bodies like Productora e Importadora de Papel (PIPSA). Smith then pivots to “Part II: The Mexico City Press.” The three chapters in this section detail themes of how to control the press, how and why satire declined in newsprint, and how Mario Menéndez and the radical press functioned in and out of the capital. Smith’s last major section, “Part III: The Regional Press,” encompasses four distinct chapters, the first of which comes back to the theme of controlling the press (badly) from a regional perspective.

The author then explores “gangster journalism” in context with Mexican press baron José García Valseca, and concludes the book with two specific geographic case studies in Oaxaca and Chihuahua.

Smith’s book is highly recommended for upper-division and graduate students of history or journalism. However, it might be too much for 100-level students, for it is quite dense at times due to Smith’s extensive research. For example, in “Chapter 2: How to Control the Press,” Smith has almost eight pages on financial incentives. From a pedagogical perspective, this works, but an inexperienced student might get lost in all of the numbers. Conversely, Smith’s book is most effective when driven by significant and interesting characters, which help attach the reader to a region or time. For example, in “Chapter 6: The Real Artemio Cruz,” Smith breaks down the life of José García Valseca, examining themes of gangster journalism, government killings, shifting ideologies, and extortion. But the chapter also introduces potential historical connections to today’s underworld of journalism and the “deep state” in Mexico, while bringing up unanswered questions such as how involved the Mexican government was in engineering García Valseca’s bankruptcy. Moreover, the relationship “between business and journalism, regional editors and state governors,” is very much alive today as well (p. 189). Therefore, Smith’s book could arguably be more effective when used one chapter at a time, due to the fact that there is so much information to soak up in each chapter. At the very least, the book should be available in the library as a resource reference because of the thorough geographic nature of Smith’s work.

The Mexican Press and Civil Society is well organized, has clever chapter titles (e.g., “The Taxi Driver”), and has useful acronyms at the beginning of the book for non-Spanish speakers. On the other hand, there were a few instances where Smith could have used more clarity. For example, in “Chapter 4: From Catholic Schoolboy to Guerilla,” Smith begins by saying the Mexican government “probably bombed” the offices of Roger Menéndez (p. 114). The reader is left wondering what evidence there is of this “probable” bombing. However, for the most part, Smith does a fine job interweaving primary and secondary sources with his own insight. Despite the fact that there are no pictures and very few graphs, Smith’s use of songs and humorous quotes add flavor to each chapter.

For example, when delving into the alcoholic male world of journalism, Smith quotes an editor telling a journalist, “You write much better when you’re drunk” (p. 53). Overall, Smith’s book leaves one with a much greater understanding of the struggles and triumphs journalism went through, and gives the reader a desire to begin pouring over the archives of newspapers like Por Qué?

Zachary Cuddy – Southwestern College (California).

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An Empire of Print: The New York Publishing Trade in the Early American Republic – SMITH (THT)

SMITH, Steven Carl. An Empire of Print: The New York Publishing Trade in the Early American Republic. University Park, PA: The Pennsylvania State University Press, 2017. 264p. Resenha de: ARENDT, Emily J. The History Teacher, v.52, n.4, p.727-728, ago., 2019.

New York City has long been considered the center of the American publishing industry. Although scholars have examined the mid-nineteenth-century figures— titans like George Palmer Putnam and the Harper Brothers—who are often credited with establishing the Big Apple’s preeminence in the book trade, Steven Carl Smith offers a rewarding glimpse into the lesser-known figures who preceded them and laid the crucial groundwork for print culture to flourish in the United States. Tracing the rise of New York’s publishing industry from the 1780s through the 1820s, Smith demonstrates how those involved in the book trade (printers, publishers, and booksellers) built local, regional, and national networks that allowed them to supply domestically manufactured books to a “population that had an insatiable appetite for knowledge” (p. 5).

Smith accomplishes this task through five extraordinarily well-researched case studies, most of which are organized around a key figure in the industry. The first looks at Samuel Loudon, an on-again, off-again state printer, to illustrate how printers helped rebuild political communication networks following the Revolution. Next, Smith uses William Gordon’s history of the American Revolution and its roundabout path to publication in the United States to argue that the domestic publishing industry played a vital role in the project of nation building. His next chapter reveals the power of printers to divide rather than unite Americans by exploring the bookshop politics of John Ward Fenno, a devoted Federalist who challenged Republican competitors and reflected the growing partisan spirit gripping the country by the late 1700s. The next case study focuses on the literary fairs that proved pivotal in crafting the trade into a movement for national self-sufficiency, as printers and publishers convinced booksellers and consumers to buy American-made rather than imported texts. The final chapter surveys the emergence of a national book trade as exemplified in the work of Evert Duyckinck, an enterprising capitalist involved in the sale and distribution of texts—especially cheap schoolbooks—that he solicited based on a keen understanding of what American readers wanted and needed. These examples demonstrate the key role played by early printers, publishers, and merchants in making New York’s publishing trade nationally significant.

Although An Empire of Print primarily offers an in-depth look at some major players in the emergence of a domestic publishing industry, Smith also provides a useful contribution to bigger debates over the rise of the market economy and the creation of a national print culture that connected Americans together through the act of reading. Indeed, he very successfully shows that the distribution networks built by men like Fenno and Duyckinck helped shape a national market for printed works well before 1830. Although it is intuitive that the creation of a national print market would entail the emergence of an “imagined community” of diverse readers, further examination of reception alongside distribution is warranted. In all, however, Smith’s impressive use of newspapers, personal correspondence, estate inventories, account books, and other financial records offers ample evidence to support his contentions.

While this monograph will prove essential reading to scholars interested in the history of the book in early America, it is probably not appropriate reading for most students at the secondary level or in college survey courses. I can imagine, however, that motivated educators would find much of interest and use in preparing lessons on the early republic. In particular, the chapters on print and ideology could be used as background for really excellent lessons incorporating primary sources into the classroom. For instance, Gordon’s History of the Rise, Progress, and Establishment, of the Independence of the United States, the topic of Chapter 2, is readily available in digitized forms and could be excerpted for students to explore how printers in the late 1700s “helped shape the new nation’s understanding of its history and its possibilities for the future by creating a national reading public attentive to its recent past” (p. 46). The third chapter on Federalist John Ward Fenno could likewise provide inspiration for educators interested in helping students explore the rancorous partisan print culture of the 1790s so readily apparent in periodicals from the time. Well-written and meticulously researched, this volume offers an important look at how New York’s publishing industry helped shape the social, economic, and political life of the early republic.

Emily J. Arendt – Montana State University Billings.

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Frontiers of Science: Imperialism and Natural Knowledge in the Gulf South Borderlands, 1500-1850 – STRANG (THT)

STRANG, Cameron B. Frontiers of Science: Imperialism and Natural Knowledge in the Gulf South Borderlands, 1500-1850. Williamsburg, VA: Omohundro Institute of Early American History and Culture and Chapel Hill, NC: The University of North Carolina Press, 2018. 376p. Resenha de: CLUXTON, Hadley Sinclair. The History Teacher, v.52, n.4, p.728-730, ago., 2019.

On the cusp of the nineteenth century, astronomers employed by Spain and the United States set out to survey the boundary between Spanish Florida and the United States as negotiated in the 1795 Treaty of San Lorenzo. Armed with a variety of scientific apparatus and a bevy of enslaved black men, the two imperial parties—both, ironically, headed by men of British descent—began the arduous task of making the astronomical observations that would establish the new line between nations. Each side boasted of their astronomical prowess, and each side denigrated the other’s supposed failures. However, it was not these imperially funded astronomers who ultimately decided the fate of this expedition. By their own admission, the surveyors never could have hacked their way through the dense foliage or persevered through the Mississippi River’s swamplands without the involuntary assistance of the enslaved black men rented out from nearby plantations. Furthermore, the entire expedition came to a screeching halt in 1800, when the armed resistance of Creek and Seminole peoples forced the empires to abandon their boundary survey. This is but one of many fascinating case studies that historian Cameron B. Strang presents on the production of natural knowledge in the Gulf South in Frontiers of Science: Imperialism and Natural Knowledge in the Gulf South Borderlands, 1500-1850.

Taking cues from one of his mentors, the inimitable historian Jorge Cañizares- Esguerra, Strang joyously exhumed from the archives rich and entangled narratives on the production of natural knowledge in the Gulf South borderlands and presented these histories in all their glorious complexity. The positive influence of other mentors can also be seen in Strang’s work: Jan Golinski’s constructivism, James Sidbury’s work on race, and Julia Rodriguez’s histories of science in Latin America. In Frontiers of Science, Strang presents a mosaic of case studies highlighting a diversity of Gulf South borderlands places, voices, and branches of natural knowledge. Incorporating a variety of knowledge practices—including astronomy, cartography, conchology, now-debunked phrenology, botany, and ethnography—these case studies defy the myth that only Anglo-Americans in the original thirteen colonies participated in the production of natural knowledge in America, or that scientific knowledge merely diffused outward from metropole to periphery. Rather, Strang argues that “natural knowledge and imperialism evolved together” (p. 21) and that indigenous peoples; free and enslaved blacks; Europeans from France, Spain, and Britain; Anglo-Americans; and creoles all formed part of a rich, polycentric network of intellectual exchange often characterized by loyalties as malleable as political boundaries.

The case studies in Frontiers of Science could make worthwhile readings for undergraduate or graduate classes in the history of science, intellectual history, U.S. history, Latin American history, indigenous history, or black history, just to name a few. Although Strang regularly emphasizes the interconnectedness between imperialism and the production of knowledge, he also builds a strong case demonstrating the importance of free and enslaved blacks in the history of natural knowledge that could (and should) be included in any classroom, given appropriate professorial curating. Until U.S. imperialism ossified the United States’ control over the region, blacks in the Gulf South participated at nearly every level of natural knowledge production. In addition, Anglo-American plantation owners who generously supported the advancement of science did so with wealth created through the labor of enslaved blacks—blacks who were actively oppressed intellectually as well as physically. To this end, Strang presents evidence that white supremacists in the Gulf South wielded science to actively construct the lie of black intellectual “inferiority” in order to justify slavery. As Strang stated, “the routes that supported slavery and science were often one and the same throughout the greater Caribbean” (p. 178). Students at every age deserve to learn about the historical ways in which Anglo-Americans created and perpetuated the structural inequality that persists to this day.

One challenge with incorporating this book into a pre-existing curriculum is the fact that it defies easy categorization. While the book flows well through a variety of case studies, Strang does not oversimplify his narratives. Furthermore, the histories stretch from 1500 to 1850 and include multiple imperial, indigenous, and African or African-descended groups, which poses serious issues of periodization.

This (much-needed) presentation of the entangled nature of knowledge production creates problems when trying to squash a round story into a square framework.

If a curricular rewrite is not feasible, one suggestion might be to excerpt case studies where they fit into a pre-existing outline. Another suggestion is to change the frameworks within which we study and teach history.

Strang calls for diversity in places and voices, as well as a more inclusive understanding of what constitutes “science.” Apart from a dearth of female perspectives, this book achieves that goal. Frontiers of Science is an intellectual love song to the Gulf South’s forgotten histories of natural knowledge, a quilt of intriguing case studies that relish in their inability to be readily categorized and constrained within our narrow historiographic frameworks. Strang’s book is a solid contribution to a burgeoning field—the history of natural knowledge in the Atlantic World—a field perhaps not in the process of consolidation, but rather in the process of decolonization.

Hadley Sinclair Cluxton – Odyssey School (Asheville, North Carolina).

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Memória da amnésia. Políticas do esquecimento | Giselle Beiguelman

Hoje, nem o tempo é mais o que era. Antigamente, reconhecia-se o passado como algo que dizia respeito ao que havia acontecido, o presente ao que estava acontecendo e o futuro ao que iria acontecer. Como aqui demonstra a artista e pensadora Giselle Beiguelman, a partir de ensaios textuais e visuais, a presumida linearidade do tempo explodiu, e a temporalidade parece estruturar-se numa nuvem de fragmentos com espessuras e velocidades distintas e em direções desencontradas. Sobre esse caráter essencialmente contraditório, a autora lembra que a mesma cidade onde foi inaugurado o Museu do Amanhã, instituição que quer nos fazer crer que o amanhã já é hoje, transformou em cinzas o Museu Histórico Nacional, um patrimônio de 20 milhões de itens. Rasurou irreversivelmente uma parte significativa do passado não só brasileiro e português, mas da humanidade.

Nunca se produziu tantos registros como atualmente, ao mesmo tempo em que nunca foi tão difícil ter acesso ao passado recente. O tsunami de informações tem o esquecimento como efeito colateral. Não é isso o que sentimos quando, na inspeção arqueológica de gavetas e armários, encontramos disquetes obscuros? Leia Mais

Vazou. Crônicas do urbanismo carioca | Carlos Fernando Andrade

A ficção, em livros ou no cinema, nos brinda com imagens ora de caos, ora de extrema beleza estética e poética. Em meio à desordem urbana das cidades brasileiras, que se agrava tanto pelo inchaço desordenado da migração rural quanto pela crise de desemprego causada por uma economia disfuncional e incapaz de absorver mão de obra despreparada, pelo descaso das elites para com a Educação de qualidade, a palavra de urbanistas nos traz uma sensação de esperança.

Além da leveza poética, os textos de Carlos Fernando Andrade, alguns dos quais foram publicados na volta do Jornal do Brasil às bancas, em 2018, têm o dom de oferecer, junto com o olhar arguto de quem escreve flanando pelas ruas da cidade, uma luz de esperança. Leia Mais

Sambo, logo penso: afroperspectivas filosóficas para pensar o samba – SILVA (V-RIF)

SILVA, Wallace Lopes (Org.). Sambo, logo penso: afroperspectivas filosóficas para pensar o samba. Rio de Janeiro: Hexis/Fundação Biblioteca Nacional, 2015. Resenha de: SÁVIO, Nilton José Sales. É possível pensar o samba por meio da filosofia? Voluntas – Revista Internacional de Filosofia, Santa Maria, v.10, set, p.261-264, 2019.

E se pensássemos o samba por meio da filosofia? Uma análise possível? Bom, talvez estranharíamos um pouco, na medida em que parece não ser algo da alçada do pensamento filosófico como o conhecemos. Ora, provavelmente nunca diríamos algo desse gênero, se no lugar do samba estivesse a música erudita, por quê? Existiria um limite do que podemos ou não pensar filosoficamente? Alguns até argumentarão que seria possível, pouco provável, mas possível, estudar o samba, desde que fosse por meio da estética. E se quiséssemos mais? Ir mais longe? Pensar a ética pelo/no samba? Com certeza, isso não seria possível se ficássemos restritos a formação que a academia nos proporciona, aos sistemas que nos apresentam. Devemos nos questionar sobre esses sistemas: por que o grupo de autores não poderia ser expandido? Por que os temas não são ampliados? Por que temos dificuldade em encontrar uma filosofia legitimamente brasileira?

A obra organizada por Silva é precisamente uma resposta a esse modo de se fazer filosofia, que propõe considerar inclusive a forma como são construídos os sistemas, como as regras são dadas e de onde elas vêm. Ao longo dos seus onze capítulos, compostos por artigos de diversos autores, a filosofia afroperspectivista é apresentada, de forma dinâmica, séria e muito original, mesmo incômoda. Um projeto de alta magnitude como este é incômodo, não tem saída, por quê? Porque propõe repensar a forma como fazemos filosofia, indo até as origens: a filosofia é mesmo grega? A história é recomposta, o universal torna-se pluriverso, “o reconhecimento de várias possibilidades, de muitas perspectivas”1, não somente europeus, soma-se africanos, indígenas e povos ameríndios.

Por consequência, olhar o mundo por meio do afroperspectivismo, nos permite falar do samba, porque reivindica que todo o jogo seja revisto: o europeu dominava as regras, o árbitro, o campo e toda a torcida estava ao seu favor. Desse modo, continuaríamos blasfemando se cogitássemos uma filosofia brasileira, se olhássemos nossas particularidades e quiséssemos refletir sobre elas, não haveria espaço: o Brasil também é negro e indígena. Quando esquecemos isso nunca seremos originais, o jogo naquele universo é deles, entramos em campo derrotados, sem direito a questionarmos as instâncias superiores. Não obstante, e se buscássemos encontrar quem somos? Não com a intenção de que eles nos aprovassem – o que não mudaria o quadro, seria o mesmo jogo, as mesmas regras. Segundo esta compreensão, aparentemente acredita-se que a filosofia tradicional é excluída, pelo contrário, o pluriverso não a despreza, ele busca evidenciar a multiplicidade de perspectivas, de atores, de lugares de fala, isso inclui o pensamento europeu. Como demonstração é interessante observar as referências dos capítulos da obra: Nietzsche, Deleuze, Guattari, Lacan, dentre outros. A diferença é que nessa roda também são convidados: Molefi Asanti, Théophile Obenga, Mogobe Ramose, Maulana Karenga, dentre muitos outros. A partir desse panorama, seria enganoso crer que é procurada a supremacia desta filosofia, o mesmo quadro, apenas com regras novas, outro árbitro, campo e torcida. Não existe a intenção de centralização cultural, o próprio uso de uma bibliografia que inclui autores tradicionais serve como início da defesa.

Fatalmente, em torno dessa construção indenitária realizada pelo afroperspectivismo, as suspeitas são enormes, dado a dimensão dos preconceitos, as acusações serão variadas: falta de rigor e critérios, racismo às avessas, pseudofilosofia etc. Seria improfícuo responder a essas acusações, quando partem, na maioria das vezes, de um senso comum transvestido de ciência, critica-se antes de estudar, é um criticismo a priori. Por outro lado, muito proveitoso seria a dedicação à leitura da obra, pois o “rigor e critério” passam pela análise do contraditório, algo bem esquecido pelos “críticos a priori”: se embasam em informações gerais, no “ouvir falar”, sem sequer darem ao trabalho da leitura, do conhecimento da proposta, de seu estudo. O próprio receio – ou a acusação – acima referido, do estabelecimento de uma supremacia afroperspectivista, seria facilmente distanciado com a simples leitura.

Um dos primeiros aspectos que saltam aos olhos analisando a obra, consiste no enraizamento dos temas às vidas dos pesquisadores e pesquisadoras, sem que isso seja fator preponderante para suposta falta de “rigor e critério”. Todos e todas têm suas experiências com o samba, seja porque são frequentadores assíduos dos espaços onde ele é feito, seja ainda por uma vinculação afetiva. Ao contrário de ser um problema, indubitavelmente é uma virtude do trabalho.

Os onze capítulos da obra, em nossa concepção, podem ser divididos em dois grupos: I) fundamentos afroperspectivistas e do samba (capítulos de 1 a 4): nessa primeira parte os assuntos são mais extensos, abordam aspectos mais pluriversais da temática, procuram falar de origens, expondo ainda os fundamentos conceituais de toda a obra, a afroperspectividade; II) Rostos e vozes do samba (capítulos de 5 a 11): esta parte é mais restrita, na medida em que trata, em cada capítulo, de um/uma grande sambista, no qual procura-se aplicar, em análises muito originais, os conceitos e fundamentos expostos na primeira parte.

O primeiro capítulo intitulado Praças negras: territórios, rizomas e multiplicidade nas margens da Pequena África de Tia Ciata (Wallace Lopes Silva e Renato Noguera) considera o enraizamento do samba no sentido espacial (Pequena África e outras localidades), bem como seus limites originários, a saber, as relações entre o espaço, as pessoas e o samba; Sambando para não sambar, afroperspectivas filosóficas sobre musicidade do samba e a origem da filosofia é de Renato Noguera é um verdadeiro manifesto da afroperspectividade, expondo suas origens, suas múltiplas possibilidades e princípios fundadores; em Arqueologia do samba enquanto arqueologia do poder, Filipi Gradim, com referencial nietzschiano, pensa a distinção entre começo e princípio em face do advento do samba, com o escopo de entender “de onde vem o samba? Ou melhor: o que é o samba desde que o samba é o que é?”2, posteriormente analisa variáveis que compunham as manifestações na casa de Tia Ciata; no último capítulo da primeira parte, Roda de Samba “Mandala” que (en)canta o samba: um território de anunciação, Sylvia Helena de Carvalho Arcuri propõe que olhemos as rodas de samba em seu potencial espacial, simbólico e criativo, não somente no que diz respeito à arte, contudo, no plano geral da cultura, e além, no próprio pensamento: filosofar na roda de samba, com ela e sobre ela.

A segunda parte do livro é um convite para que possamos vivenciar o samba, conhecer sua poesia e seus poetas, ou ainda, seus filósofos: Noel Rosa, Wilson Batista, Dona Ivone Lara, Bezerra da Silva, Leci Brandão, Jovelina, Zeca Padodinho e Almir Guineto. O trabalho realizado pelos autores, não é simples análise das letras, é isto e muito mais. Os sambistas são mostrados por seu discurso, poética e pensamento, sem que tenhamos somente uma análise estética, em muitos momentos emerge a ética e a própria metafísica. Noel Rosa e Wilson Batista: Intensidade e cartografia na embriaguez de um andar vadio e delirante de Felipe Ribeiro Siqueira e Wallace Lopes, nos apresenta a ressignificação da figura do malandro e do próprio conceito de vagabundo; Marcelo de Mello Rangel no capítulo Dona Ivone reencanta o tempo no sonho, no amor e no samba, analisa o conceito de tempo na poética de Dona Ivone Lara, no qual permite o estabelecimento de um espaço ético que fornece ferramentas para enfrentarmos os problemas concretos da existência; Felipe Ribeiro Siqueira em Bezerra da Silva, a máquina de guerra do samba, critica o lugar subalterno da imaginação em relação à razão, abrindo caminho para pensar a obra de Bezerra da Silva, com determinante presença da política; A força de Leci Brandão de Marcelo José Derzi Moraes aduz a força da criação da sambista, que passa por um pensamento estético-político, sendo intérprete dos marginalizados e minorias; Eduardo Barbosa no seu trabalho intitulado Jovelina: pérola do espírito partideiro, realiza singela e cuidadosa homenagem à Jovelina Perola Negra; Felipe Ribeiro Cerqueira no capítulo Zeca Pagodinho e o tempo rubato, com muitos relações conceituais com o capítulo sobre Bezerra da Silva – também de sua autoria –, desenvolve o problema do tempo, segundo a poética de Zeca Pagodinho; Almir Guineto: o moralismo do samba diante dos impasses do gozo, trata do moralismo interpretado por Almir Guineto, a partir de uma análise lacaniana realizada pelo autor Guilherme Celestino.

O cuidadoso leitor e crítico poderá ter percebido que ao longo do texto, não é realizada críticas diretas nem ao afroperspectivismo, tampouco aos trabalhos contidos na obra, seria simples omissão de nossa parte? Não, ao contrário, decidimos que não as apresentaríamos, com a finalidade de que elas não tivessem mais atenção do que o convite ao estudo da obra. Afinal, para aqueles que dão de ombros para os temas aqui abordados, que estão confortáveis na forma como a filosofia é feita em geral, qualquer crítica serviria de pretexto para que ignorassem a obra, ou mesmo, argumentassem ardilosamente quanto a suposta desnecessidade de seu estudo. Nosso principal objetivo consistiu em divulgar o trabalho, fruto de inumeráveis esforços, que apresenta um caminho original para que pensemos velhos temas da filosofia tradicional. A obra também pode ser vista como excelente material para a formação de professores, visto que propõe um caminho para abordagens da disciplina na sala de aula, em ambientes no qual a “filosofia universal” pouco atinge ou não ressoa, principalmente em realidades socioeconômicas de vulnerabilidade e de risco. Os temas que esta filosofia desenvolve estão próximos dos jovens, falam diretamente do que eles vivenciam cotidianamente. Isso não nos levaria a uma proposta exclusivista de estudo da filosofia – amplamente praticada desde sempre nesses espaços, com ampla conveniência dos formadores, sem nenhum incômodo geralporém, abriria espaço mesmo para os próprios pensadores tradicionais, sem querer que o afroperspectivismo se torna apenas uma “isca”, que acabe por levar novamente aos universais.

Notas

1 SILVA, Sambo, logo penso: afroperspectivas filosóficas para pensar o samba, p. 16.

2 Ibidem, p.57.

Nilton José Sales Sávio – Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos. Bolsista CNPq. E-mail: niltonsavio@hotmail.com

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Dizendo-se autoridade: polícia e policiais em Porto Alegre (1896-1929) – MAUCH (RTF)

MAUCH, Cláudia. Dizendo-se autoridade: polícia e policiais em Porto Alegre (1896-1929). São Leopoldo: Oikos; Editora Unisinos, 2017. Revista Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v. 12, n. 2, ago.-dez., 2019.

O trabalho desenvolvido por Cláudia Mauch se apresenta como uma importante referência para o estudo da História da polícia. Nele o leitor encontrará uma análise minuciosa sobre a história policial e o trabalho dos policiais na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, entre os anos de 1896 e 1929. Embora não seja a pretensão dessa obra, ela preenche uma lacuna deixada pela historiografia que versa sobre a temática, sobretudo devido a perspectiva escolhida pela autora para discutir o papel dos policiais no processo de policiamento desse universo.

Logo no início dessa obra, a autora desempena um balanço historiográfico a respeito da história da polícia, pontuando nesse processo algumas considerações que sugerem novas possibilidades de trabalho referente à temática. Para tal, a pesquisadora aponta um conjunto muito diversificado de documentos, cuja variedade de fontes e as metodologias utilizadas no seu tratamento se traduzem numa riqueza em detalhes do universo sociocultural analisado. Nesse sentido, o volume documental utilizado para a realização do trabalho, juntamente com a capacidade de análise da autora é algo invejável a qualquer pesquisador.

As considerações presentes no livro, a respeito da história da polícia, nos ajudam a pensar que a decisão tomada por um policial acerca do que deveria ser feito na sua prática cotidiana estava prevista não só na lei e nos regulamentos. Amparada em algumas referências importantes sobre essa questão, a obra nos leva ao entendimento que essa prática era balizada tanto pela lei e regulamentos da instituição a qual os policiais pertenciam, quanto pelas avaliações que os mesmos faziam dos acontecimentos e dos indivíduos neles envolvidos.

Com certa maestria, a autora nos induz ao melhor entendimento acerca do estudo da História da polícia. E amparada num referencial bibliográfico temático atual e muito rico, Cláudia Mauch desenvolve uma significativa contribuição, envolvendo discussões teóricas, reflexões conceituais muito pertinentes à temática. Além disso, seu trabalho apresenta um amadurecimento metodológico que possibilita novos horizontes aos estudiosos dessa área.

A obra é organizada em três capítulos, com os quais a autora apresenta uma argumentação mais sistematizada sobre a história da polícia e do trabalho dos policiais na cidade de Porto Alegre, entre os anos de 1896 e 1929. A autora analisa mais especificamente o sistema policial organizado e montado pelo governo do estado do Rio Grande do Sul a partir de 1896. Para além dessa tarefa, o objetivo é nos mostrar o funcionamento desse sistema policial montado no final do século XIX, sobretudo os seus desdobramentos na Primeira República. Nesse sentido. Longe de fazer uma história puramente descritiva, Cláudia Mauch aponta alguns elementos muito importantes para melhor entender como ocorreu esse processo, pois as tensões políticas da época estavam circunscritas nessa implantação. Isso induz o leitor ao entendimento das dificuldades vivenciadas pelas autoridades para a implantação das polícias dessa capital, bem como dos limites orçamentário e outros problemas que foram enfrentados nesse projeto, tendo em vista as disputas políticas daquele contexto.

Esta análise aponta como as instituições policiais de uma forma mais ampla e os policiais em suas particularidades eram vulneráveis aos conflitos políticos da sociedade na qual estavam cincunscritos. Na realidade por ela estudada, a polícia se inseria num jogo político local, o que, em alguns momentos, tornava o ambiente de trabalho muito tenso e, de certa forma, pode ter comprometido a função das instituições policiais no que diz respeito ao zelo pela segurança pública.

A argumentação da autora sugere que naquele contexto, os governantes e as autoridades policiais definiam algumas prioridades específicas para atuação das polícias estadual e municipal. E neste caso, tais prioridades se definiam a partir dos interesses políticos do grupo que governava. Em meio a uma explanação dos esforços para se montar esse sistema policial, a obra destaca como ele buscou responder aos desafios que a urbanização e sua transformações impunham a esse projeto de policiamento. Além dessas questões urbanísticas, o livro mostra as tensões enfrentadas no relacionamento entre Polícia Judiciária e Polícia Administrativa, como algo que limitava o policiamento local.

A sugestão dos argumentos apresentados ao longo o primeiro capítulo, indica que o sistema policial projetado pelas lideranças republicanas do final do século XIX não era algo estático. Esse projeto de policiamento, embora influenciado por toda carga ideológica e política das elites locais, fora implantado com alguns objetivos específicos, mas se reformulou e adaptou aos desafios impostos naquele contexto.

Cláudia Mauch constrói uma história social dos policiais, enfatizando esses sujeitos como um grupo de trabalhadores. Ao fazer isso, a autora sugere uma perspectiva historiográfica que se baseia em novas interpretações referente aos sujeitos históricos. Para tal, ela recorre a um estudo quantitativo dos registros pessoal da Polícia Administrativa de Proto Alegre, tomando como ponto de partida para sua investigação histórica, os registros contidos nos livros de matrícula desses indivíduos. E com base nessa documentação, mais especificamente em alguns aspectos fornecidos pela fonte referente à vida desses sujeitos, a saber, procedimentos de recrutamento, percentual de renovação dos quadros, punições e promoções, bem como o tempo de permanência de seus ingressantes, a historiadora, de forma muito competente, traça um perfil social dos policiais municipais, bem como da instituição em questão.

Em meio a um vasto universo numérico, o leitor se depara com uma articulação entre uma análise quantitativa muito substancial e um um conjunto de críticas sobre esse universo quantitativo. Suas explanações quantitativas são conectadas a alguns casos que a autora busca mostrar ao leitor como algumas questões se davam na prática. Longe de ser um capítulo meramente descritivo sobre o perfil social dos policiais municipais e das ações da instituição, Cláudia Mauch nos presenteia com uma bela articulação entre uma perspectiva quantitativa e uma análise mais reflexiva sobre esse universo. Para tal, a autora recorre à alguns gráficos e tabelas que destacam o universo numérico que ela encontrou, sobre idade, escolaridade, origem, estado civil, profissão anterior, conduta profissional na polícia, tempo de permanência na instituição, dentre outras questões que são pontuados no livro.

Ao logo do texto, a autora nos mostra uma proeza muito importante para os estudos da história da polícia, quando a mesma destaca a trajetória desses policiais, seus dramas, indisciplina, relações de apadrinhamento, personalidades. Elementos estes que apontam para perfis dos homens que compunham aquela polícia; indivíduos que formavam o corpo policial de Porto Alegre no contexto em análise. Com base numa vastidão numérica, a historiadora enfatiza os limites e incongruências que faziam parte do corpo policial dessa cidade, destacando que poucos faziam da polícia uma carreira ou profissão.

Nesse sentido, o livro proporciona ao leitor, compreender como funcionava o recrutamentos daqueles “agentes da ordem”, suas origens sociais, bem como a trajetória de muitos deles. A partir desse perfil mais amplo desenhado pela obra sobre esses indivíduos, é possível identificar algumas trajetórias de certos policiais.

Baseada nos relatórios judiciais, registros de ocorrências e inquéritos administrativos, Cláudia Mauch discorre sobre os inúmeros conflitos e situações em que os policiais se envolveram. Seu propósito é analisar as condições de vida e trabalho desses sujeitos. Em meio a essa questão, a autora discute elementos que fundamentavam as representações policiais sobre “autoridade” e masculinidade. Para tal, Cláudia Mauch recorre a uma gama de referências para discutir questões referentes à ambiguidade da posição de classe dos policiais e da cultura policial, sobretudo a partir das relações que esses policiais estabeleciam com a vizinhança. A obra destaca que era muito comum os conflitos envolverem questão da honra masculina, algo que catalizava as relações desses indivíduos.

Uma das intensões da autora é entender até que ponto as relações estabelecidas pelos policiais refletiam distanciamento daqueles grupos que as autoridades buscavam vigiar. Ela salienta que em meio a esse suposto distanciamento havia uma forte aproximação, pois, geralmente, eles faziam parte do mesmo universo sociocultural policiado. Vigiar a vizinhança não era uma tarefa tão simples, pois é possível que os problemas desse universo mais aproximavam os policiadores que os afastavam dos grupos menos privilegiados. Circunscrito em meio aos problemas cotidianos, a honra se tornava um elemento que impulsionava a violência e dificultava mais as relações. Em alguns momentos, a noção de “autoridade” é apontada pela autora como algo que acirrava essas relações, motivando confusões e mortes.

“Dizendo-se autoridade” é uma obra na qual o leitor encontrará uma mescla entre rigor acadêmico e leveza na escrita. No término da leitura, temos o entendimento que se trata de uma grande contribuição para a História da polícia, presente numa obra de fácil compreensão para a o público em geral. Portanto, fica o convite para que o leitor tire suas próprias conclusões referente a este significativo livro.

Wanderson B. de Souza – Mestre em História pela Universidade do Estado da Bahia-UNEB; Possui graduação pela UNEB. Tem experiência na área de História, com ênfase nos seguintes temas: História da Polícia e da Criminalidade, Identidade, Violência Urbana, Relações de Poder, Diversidade e Cidadania; Tenho atuado como formador em cursos de capacitação/atualização de professores para ao Ensino de História, com ênfase em História da África e Cultura Afro-Brasileira. Colaborador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Africanos e Afro-brasileiros – AFROUNEB/UNEB.

Projeto Político de um Território Negro: memória, cultura e identidade quilombola em Retiro, Santa Leopoldina – ES | Osvaldo M. Oliveira

A historiografia brasileira há algum tempo entende a formação do Brasil e a diáspora africana, entre os séculos XVI e XVII, como um mesmo processo histórico que uniu os dois lados do Atlântico Sul em um único sistema de exploração colonial. A colonização portuguesa na América, alicerçada no escravismo, integrou uma zona de produção escravista no litoral brasileiro a uma zona de reprodução de escravos situada em Angola. A especificidade desse processo de formação ainda impacta profundamente o Brasil.

A despeito da importância do negro na formação nacional, a realidade dos afrodescendentes continua marcada por resistência e luta pelo acesso à cidadania. Foram necessários cem anos após a abolição da escravidão, para que a Constituição Federal de 1988 introduzisse o direito de acesso aos bens materiais e imateriais dos remanescentes das comunidades de quilombos, entre os quais, o título definitivo da propriedade de suas terras, fruto da participação ativa das organizações do movimento negro. Leia Mais

Grupos de Pesquisa Sobre Formação de Professores no Brasil (II) / Formação Docente / 2019

Esse Dossiê reúne artigos de grupos de pesquisa sobre formação de professores, resultado do III Simpósio de Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores do Brasil, que ocorreu entre os dias 3 e 4 de outubro de 2016, na cidade de Guarulhos, evento vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. O III Simpósio de Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores do Brasil foi organizado pelos membros do Grupo de Trabalho (GT) 8 – Formação de Professores, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPEd. O evento contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, da ANPEd e da Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo – FAP Unifesp.

Os membros do GT 8 têm como principal preocupação oportunizar aos pesquisadores, de todo o Brasil, a apresentação de seus estudos e pesquisas para a comunidade científica, durante as reuniões nacionais, em uma perspectiva de ampliar o debate e socializar a produção de conhecimento do campo da educação e da formação de professores. Os relatórios emitidos pela coordenação do GT, tendo por base processos de avaliação ocorridos durante as reuniões nacionais da ANPEd, apontam de forma recorrente à necessidade de continuidade dos debates entre os inúmeros Grupos de Pesquisa do campo da Formação de Professores, para além do evento. Essa necessidade se firmou no propósito de acompanhar as tendências investigativas das pesquisas nacionais e internacionais, ampliando a compreensão sobre o campo.

Essa necessidade de contínuo debate e trocas de pesquisas resultou na organização dos Simpósios dos Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores, que já está na iminência de sua quarta edição. Destacase que a primeira edição do Simpósio dos Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores ocorreu em 2006, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC SP. A segunda edição, realizada em 2011, aconteceu na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC PR, e, sua terceira edição, como mencionado anteriormente, ocorreu em 2016, no Teatro Adamastor, no centro da cidade de Guarulhos, local cedido pela Secretaria Municipal de Educação para a Universidade Federal de São Paulo.

Os pesquisadores do GT 8, ao pensarem na organização do Simpósio, desde sua origem em 2006, destacaram como finalidades deste evento: a) favorecer a interação e intercâmbio entre grupos de pesquisa brasileiros e estrangeiros/internacionais; b) contribuir para o debate consubstanciado sobre a pesquisa em formação de professores na constituição da área; c) analisar, junto aos grupos de pesquisa, o movimento em que se situa a investigação sobre a formação de professores, visando a compreensão do campo e as tendências investigativas; d) colaborar com a organização e constituição de redes de pesquisa sobre o campo e a articulação da pesquisa com a educação básica e superior, fortalecendo a formação de profissionais da educação; e) avaliar a contribuição social da pesquisa sobre formação de professores para a produção de conhecimento na área da educação e para o sistema educacional brasileiro; f) discutir formas de indução de debates orientadores para a formulação de políticas públicas referentes ao campo de formação de professores.

Por ser a formação de professores um campo de pesquisa relativamente novo (DINIZ-PEREIRA, 2013; ZEICHNER, 2009), essas finalidades se firmam naquilo que os estudos sobre o campo vêm apontando. Embora haja um avanço nas pesquisas que tem como foco este tema, ainda há muito que fazer para consolidá-lo. Sua maior fragilidade encontra-se nos processos de análise e interpretação dos dados, o que indica a necessidade de “aprofundamento teórico e metodológico” para “gerar um conhecimento mais abrangente e consistente” (ANDRÉ, 2010, p.180). Para os integrantes do GT 08 da ANPEd, uma saída para enfrentar esses desafios é conhecer a produção que tem sido desenvolvida sobre o campo e problematizá-la. Uma forma de efetivar essa demanda é a propositura de eventos como os simpósios e a manutenção da Revista Formação Docente.

A dimensão política da ideia de assegurar a interação entre os grupos de pesquisa durante os intervalos entre as reuniões nacionais da ANPEd se alicerça na intenção de manter acesa a discussão sobre os principais enfrentamentos impostos pela contemporaneidade à pós-graduação e pesquisa no Brasil e, especificamente, ao campo de formação de professores. A aposta é investir em uma rede de pesquisadores que, ao dar visibilidade ao conhecimento produzido, poderá colocá-lo a serviço da busca por uma educação escolar pública de qualidade.

Nessa direção, o público-alvo dos três Simpósios realizados (2006, 2011 e 2016), foram grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores do Brasil; pesquisadores da área de Educação – Formação de Professores dos Programas de Pós-Graduação em Educação; mestrandos e doutorandos na área da Educação – Formação de Professores; alunos da graduação; e, professores da Educação Básica da Rede Pública da cidade em que ocorre o evento.

No III Simpósio de Grupos de Pesquisa sobre Formação de Professores do Brasil, que ocorreu em 2016, foram efetivadas 50 inscrições de grupos de pesquisa. Desse total, 47 compareceram ao evento e apresentaram suas pesquisas. Grupos de diversas regiões brasileiras marcaram presença, entre os quais, trinta e três da Região Sudeste; seis da Região Sul; cinco da Região Centro-Oeste; e três da Região Nordeste. Como resultado dessas apresentações dos grupos de pesquisas sobre formação de professores é que se pensou na organização deste Dossiê, de forma que contemplasse convite aos coordenadores dos grupos de pesquisa, seguindo os seguintes critérios, essenciais para a representativa de um periódico científico em Educação, segundo a avaliação da CAPES: trabalhos aprovados e apresentados no III Simpósio com representação das cinco diferentes regiões do Brasil; com inserção de pesquisadores estrangeiros; grupos/núcleos de pesquisa com um mínimo de cinco anos de experiência; pesquisas com financiamento; dados realmente articulados ao campo da formação de professores; grupo coordenado por doutores na área da educação e vinculados à pós-graduação Stricto Sensu.

Desse modo, após análise dos 47 trabalhos apresentados, de acordo com os critérios mencionados anteriormente, foram encaminhados 21 convites, por e-mail, para os coordenadores dos grupos de pesquisa que estiveram presentes em Guarulhos (Unifesp). A organização do Dossiê recebeu 18 aceites para (re)elaborar o artigo para publicação no periódico Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores Os artigos que compõem este Dossiê foram organizados por Região do Brasil: Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Essa amostra representa a presença quantitativa dos grupos de pesquisa no evento, indicando maior incidência de trabalhos das Regiões Sudeste e Sul, e uma menor participação de grupos de pesquisa das Regiões Centro-Oeste e Nordeste. Nenhum grupo da Região Norte se apresentou no evento. Essa configuração é condizente com o número de Programas de Pós-Graduação existentes nas diferentes regiões do Brasil.  Em seu conjunto, os artigos revelam a produção do conhecimento que vem sendo produzido no campo da formação de professores no Brasil, assim como configuram um retrato das tendências investigativas nesse campo. O que, para as organizadoras do Dossiê, de certo modo, provoca nos leitores pesquisadores a necessidade de enfrentamento dos desafios impostos.

Desejamos que a leitura dos artigos de alguns dos grupos de pesquisa sobre formação de professores amplie os conhecimentos sobre as pesquisas realizadas no Brasil, bem como, desperte o interesse para participar dos próximos Simpósios organizados pelos membros do GT 8 – Formação de Professores.

Márcia de Souza Hobold

Magali Aparecida Silvestre  


HOBOLD, Márcia de Souza; SILVESTRE, Magali Aparecida. [Apresentação]. Formação Docente. Belo Horizonte, v.10, n.19, p.9, jan./jul. 2019. Acessar publicação original [IF].

l Sitio Chenque I. Un cementerio prehispánico en La Pampa occidental. Estilo de vida e interacciones culturales de cazadores recolectores del Cono Sur americano – BERÓN (IA)

BERÓN, Monica (Comp.). El Sitio Chenque I. Un cementerio prehispánico en La Pampa occidental. Estilo de vida e interacciones culturales de cazadores recolectores del Cono Sur americano. Buenos Aires: Sociedad Argentina de Antropología, Buenos Aires, sd. 532p. Resenha de: DILLEHAY, Monica. Violencia, salud y vida social expresada en patrones mortuorios de cazadores y recolectores de La Pampa. Intersecciones en Antropología, Buenos aires, v.20, n. 2, ago./ dic., 2019.

Mónica Berón y sus colegas presentan un excelente análisis interdisciplinario de las prácticas de entierro para explorar las relaciones de salud, sociales y demográficas de los cazadores y recolectores en el cementerio de Chenque I en el Parque Nacional de Lihué Calel en La Pampa occidental.

El sitio data de hace 1050 a 290 años, con un hiato entre 700 y 400 AP, probablemente debido a la sequía y el abandono en la zona. Los datos son únicos en calidad y detalle debido al énfasis en el uso a largo plazo, pero intermitente, del cementerio comunal. Al ver los entierros en el cementerio como elementos activos de distintos grupos sociales a lo largo del tiempo, los autores analizan un conjunto de datos locales que demuestran el uso de ciertas tradiciones de entierro y las diferencias socioculturales, y cómo ciertos factores afectaron la deposición y preservación del entierro. Además, las prácticas mortuorias expresan una igualdad social abierta y una membresía comunitaria más inclusiva a medida que los niños se incorporaban al cementerio.

En general, los datos de entierro sugieren los cambios diacrónicos en el género, las definiciones de grupos sociales y la salud, aunque en tiempos históricos tempranos se muestran estados sociales ligeramente diferentes, pero no tanto entre los sexos como entre las edades.

Más específicamente, el diseño espacial de los entierros –principalmente en forma de paquetes discretos temporalmente– y el tratamiento de cuerpos en Chenque I demuestran varias fases de desarrollo. En las fases iniciales, los entierros eran primarios simples, secundarios simples y múltiples y disposiciones simples. Para las fases posteriores, los entierros más complejos están presentes en forma de primarios dobles y presentan diferentes formas de tratamiento de los cuerpos. Los entierros posteriores se agrupan, mientras que los más tempranos se colocan al azar, y los posteriores muestran una progresión hacia una mayor complejidad social.

Uno de los períodos más interesantes de la práctica mortuoria es entre 400 y 290 AP, el período histórico, cuando hay más violencia evidenciada en los huesos y cuando los muertos, en su mayoría, estaban envueltos con pieles pintadas adornadas con cuentas de materias primas malacológicas. También, la falta de entierros intrusivos de periodos sucesivos y la separación espacial de los grupos de entierros en diferentes paquetes sugieren que el cementerio representa un lugar de memoria y posiblemente un conocimiento de dónde se ubicaron los entierros anteriores.

Berón examina bienes y adornos (e.g., tocados, cuentas, metales) asociados con los cuerpos, que en ocasiones incluyen materiales exóticos importados como turquesa, cobre nativo, cobre estannífero y plata, derivados a través de adquisiciones directas y, más probablemente, “down-the-line”, intercambio presumiblemente de los Andes del noroeste de Argentina o del sur de Bolivia. La presencia de metal a partir de 1000 años es la más temprana en las regiones pampeana y patagónica. El estudio de Cimino y Pastorino (pp. 263-284) sobre la malacología de las cuentas demuestra la importación de conchas de los océanos Pacífico y Atlántico. Hay tocados que demarcan a ciertos individuos, en un caso especial tal vez un guerrero. Diferentes tratamientos de entierro y adorno están presentes para niños y adultos. En resumen, se analiza el papel de los tipos de bienes y adornos para la identificación sociocultural, y el análisis de los bienes y sus asociaciones con cuerpos de diferentes sexos y edades es especialmente exitoso. El estudio detectó algunas pruebas de estatus de individuos y mostró diferencias en los que recibieron un tratamiento de entierro ligeramente especial, como el posible guerrero.

El análisis de la salud es algo diferente de otros temas examinados, ya que señala con poca frecuencia las diferencias de edad y sexo entre los cuerpos.

El estudio de Luna (pp. 101-136) sobre el perfil de mortalidad revela lo que parece ser un número excesivo de jóvenes enterrados, con un gran número de muertes antes de los 10 años. Aunque casi la mitad de la población total nunca llegó a la edad adulta, muchos otros murieron entre los 20 y 40 años de edad, en concordancia con los perfiles de mortalidad de otras sociedades de cazadores-recolectores prehistóricos de todo el mundo. La edad promedio en el momento de la muerte no cambió drásticamente con el tiempo o incluso difirió mucho entre hombres y mujeres adultos.

El análisis de hipoplasia del esmalte, caries, hiperostosis porótica / cribra orbitalia, periostitis y, en particular, trauma / fracturas, produjo algunos resultados interesantes. La cantidad de daño post mortem a los esqueletos, especialmente en el ambiente seco del desierto del sitio, es algo sorprendente. Los estudios de Di Donato (pp. 137-164) y Oliva (165- 176) sobre los huesos, la entomología y otros análisis revelan daños significativos en algunos casos. El estudio de Aranda y Araujo de paleoparásitos (pp.

327-340) también indica alteraciones considerables de los huesos. Además, Diana (pp. 341-365) estudió el estrés físico en los huesos adultos, que mostró diferencias por edad y sexo que se relacionan principalmente a diferentes tareas de trabajo. Luna y Aranda (pp. 419-452) también revelaron diferentes patrones bucales a lo largo del tiempo y por edad y sexo. El estudio de Musaubach y Babot (pp. 397- 418) de los microrresiduos en los dientes reveló el consumo de Bromus y otras plantas comestibles.

Uno de los patrones más notables del registro de entierros de Chenque I, especialmente en los últimos tiempos, es la evidencia de violencia y guerra. Al parecer, hubo dos períodos de conflicto mayor: 1050-700 AP, cuando dicho conflicto pudo haber sido más restringido y regional, y 435-290 AP, cuando hubo una interacción intergrupal más intensa y una contienda interétnica más amplia, que es el período colonial. En esta última etapa, la violencia puede haberse asociado con una mayor movilidad, la llegada de nuevos grupos y la disputa por las rutas de intercambio en los Andes hacia el oeste, con un mayor contacto entre diferentes grupos de diferentes áreas (especialmente la región de Araucanía y Chubut). Los estudios de Barberena et al. (367-395) sobre los isótopos confirman la presencia de entierros locales y no locales y sugieren un movimiento transandino entre el este u oeste durante el último período. La presencia de adornos de concha marina de los océanos, tanto del Pacífico como del Atlántico, también sugiere un movimiento y/o intercambio entre el este u oeste. Sin embargo, como se señaló anteriormente, debe haber habido algún intercambio y movimiento hacia el norte, como lo sugiere la presencia de turquesa y cobre.

El estudio de los artefactos líticos por Velárdez (pp.173-223) y Carrera Aizpitarte (pp. 225-262) revela la diversidad tecnológica y las materias primas derivadas de fuentes locales y no locales; también evidencia la movilidad y el intercambio entre áreas.

En un capítulo al principio del libro, Molinari (pp. 49-74) analiza la comunidad moderna de Lihué Calel y su participación en la arqueología del parque nacional y en el patrimonio cultural en general.

El libro termina con una larga discusión entre Guastavino, Berón y Di Biase (pp. 497-525) acerca de temas similares, que muestra que el sitio del cementerio no solo es para los muertos prehistóricos sino también para la sociedad actual.

Este estudio mostró que la sociedad de cazadores- recolectores de la Pampa occidental no era tan simple como podríamos haber imaginado. Con la metodología interdisciplinaria y la base de datos presentada para Chenque I, los arqueólogos pueden comparar el sitio con diferentes características de entierro en otros sitios, utilizando una variedad de factores y períodos de tiempo para obtener una imagen más clara respecto de si otras sociedades de cazadores y recolectores en el Cono Sur y en otros lugares osciló en composición social y complejidad a lo largo del tiempo. A lo largo de la historia, muchas sociedades de cazadores y recolectores en todo el mundo parecen haber pasado de niveles más bajos a niveles más altos de complejidad social.

La metodología del libro también es útil por su configuración intertemporal, que permite a los investigadores de Chenque I ajustar bien las identificaciones temporales y culturales de las diferentes fases de uso del sitio. En resumen, el libro pretende ser una nueva línea de base para los estudios de enterramiento en el Cono Sur (y en otros lugares), en los que los académicos pueden usar los datos resumidos y las tendencias de enterramiento para explorar estos problemas y analizar de manera más sistemática los diferentes sitios, períodos y culturas.

Al final, al igual que con cualquier estudio a gran escala, hay problemas y nuevas preguntas sin respuestas. Por ejemplo, me gustaría haber visto más información sobre los patrones de asentamiento locales o regionales que relacionen el cementerio con otros tipos de sitios, especialmente con cualquier sitio residencial conocido posiblemente vinculado a Chenque I. También pensé que debería haber un análisis más comparativo del sitio con otros cementerios de cazadores-recolectores en todo el continente, especialmente con respecto a la violencia doméstica e intergrupal. También se necesita más explicación del significado de los paquetes de entierro separados. Finalmente, quizás en el futuro se puedan realizar análisis genéticos en una muestra de individuos de diferentes paquetes para probar sus afinidades locales y no locales.

A pesar de estas pocas preocupaciones, el libro de Berón y sus colegas trata sobre uno de los mejores y más minuciosamente investigados sitios de cementerios de cazadores-recolectores prehistóricos e históricos en América del Sur. Es una lectura obligada para profesionales y estudiantes interesados en este nivel de la sociedad indígena y específicamente en los patrones mortuorios. Este volumen establece un nuevo estándar para investigaciones científicamente rigurosas que se acompañan de interpretaciones intuitivas de la base de datos y asociaciones con la comunidad viva local. Todos los capítulos están bien concebidos y repletos de datos empíricos. Berón y sus colegas también son diligentes en revelar cualquier sesgo y el contexto dentro del cual se acercan al registro arqueológico.

Sería refrescante si presenciáramos mucho más de este tipo de arqueología.

Tom D. Dillehay – Universidad de Vanderbilt, EEUU, Department of Anthropology / Universidad Austral de Chile, Puerto Montt, Chile, Nashville, TN 37325, Estados Unidos. E-mail: tom.d.dillehay@vanderbilt.edu.

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Desafios Contemporâneos / Khronos – Revista de História da Ciência / 2019

O número 7 de Khronos apresenta o dossiê “Desafios Contemporâneos”, que traz uma seleção de trabalhos apresentados no Segundo Congresso de História da Ciência e da Técnica”, ocorrido na Universidade de São Paulo de 8 a 10 de abril de 2019. Mais de duas centenas de trabalhos de docentes, alunos de graduação e pós-graduação foram discutidos, em meio a uma intensa programação que incluiu atividades culturais, bem como conferências e mesas-redondas – estas podem ser vistas em sua íntegra no canal de vídeos do Centro de História da Ciência da USP, acessível em sua página de internet.

Dentro do dossiê, o primeiro trabalho é de Fabíola Durães, Adriano Oliveira e Paulo Monteiro que, a partir do tema da primeira vacinação administrada por Edward Jenner, fazem uma certeira crítica quanto à necessidade de incrementar a contextualização e a discussão de história da ciência, o que pode ser estendida pari passu à maior parte da expografia adotada nos museus de ciência, geralmente parca nesse quesito.

Fábio Andreoni revisita as propostas futurológicas de Hermann Kahn, fundador do Instituto Hudson, conhecido thinktank estadunidense, e famoso no Brasil por sua proposta mirabolante na década de 1960 de inundar uma grande área da Amazônia. O autor reconta como esse tipo de exercício antecedeu a controversa “história do futuro”, em que o desenvolvimento tecnológico desempenha papel importante, e que veio a influenciar diversos teóricos da historiografia contemporânea.

Um dos pilares sobre os quais se construíram as modernas ciências da biblioteconomia e da arquivologia é a obra de Paul Otlet sobre informação e comunicação. George Sarton, o pioneiro da institucionalização da História da Ciência no começo do século 20 estava atento para as bases propostas por Otlet e há mais de cem anos as utilizou em sua revista Isis de forma interdisciplinar, como analisa Márcia Rosetto.

A talidomida é certamente um dos exemplos funestos de como a tecnologia pode ter consequências indesejáveis. Promovida como solução para o enjôo da gravidez, o remédio logo se tornou um pesadelo pelas malformações causadas a membros superiores e inferiores, levando o desespero às mães vítimas desse erro. Dones Janz Jr. analisa como na Espanha esse medicamento continuou a ser comercializado mesmo depois da sua retirada do mercado mundial, com consequências que se estendem aos dias de hoje.

O dossiê se encerra com a apresentação do processo de digitalização do jornal estudantil da Faculdade de Medicina da Unicamp, que seguiu preceitos recomendados pela arquivologia. A sua disponibilização se revela uma fonte valiosa para estudos acadêmicos, como contam Ivan Luiz Amaral, Rodrigo Souza, Raíssa Antunes e Rosana Poderoso.

A seguir esta edição de Khronos contém artigos de fluxo contínuo, começando com o texto de Ricardo Canale sobre formas de encarar a construção do pensamento e das práticas científicas. O objetivo maior do autor é contribuir para com a alfabetização e letramento científicos, que deveriam se manifestar desde o início da escolarização, passando pelas práticas laboratoriais e a divulgação jornalística.

Em extenso texto sobre a deflexão gravitacional einsteiniana da luz a partir das medições durante o eclipse de Sobral em 1919, Oscar Matsuura refaz o contexto científico das controvérsias que cercaram os resultados obtidos e suas interpretações. Torna-se fascinante perceber como havia também componentes sociológicos e políticos nas disputas que se travaram entre grupos de astrônomos, e mais surpreendente é que as controvérsias se mantiveram ou ressurgiram neste primeiro século após o eclipse. Elementos racionais e outros nem tanto compõem essa trajetória de ideias, que comprovam como a história da ciência é importante para se adquirir uma visão equilibrada de como as teorias e fatos são interpretáveis, sem cair num excesso triunfalista, como costuma ser ensinado que é a marcha da ciência, nem um niilismo descrente do sucesso e da validade do conhecimento.

A partir da questão da técnica discutida principalmente por Milton Santos, Leandro Pereira apresenta os questionamentos deste pensador e outros sobre sua dimensão geográfica. A aceleração da financeirização do capital coloca o tema no eixo das crises econômicas presentes.

Cláudio Galeno e seus estudos de anatomia tiveram uma longevidade notável. Camille Stülp e Samira Mansur investigam o contexto social e cultural da Grécia Antiga que propiciou essa obra e apresentam dados da biografia galênica, enfatizando sua formação hipocrática. Sua originalidade e seus acertos (e erros) influenciaram a medicina europeia e islâmica até o Renascimento, sendo, portanto, figura obrigatória nos estudos de história da ciência.

Domingos Vandelli foi o iniciador da Academia Real das Ciências, de Lisboa, tornando-se importante para a modernização portuguesa empreendida a partir das reformas pombalinas da segunda metade do século 18. Ricardo Dalla Costa nos mostra a dimensão técnica das academias científicas, a partir das memórias de Vandelli sobre o carvão como combustível, e suas propostas de usar turfa e materiais betuminosos de importância para a calafetagem naval.

O último artigo se insere nas pesquisas que Carlos Fioravanti vem empreendendo sobre o estudo e tratamento do câncer feito por médicos brasileiros, em geral pouco conhecidos. Pimenta Bueno no início do século 20 especulou numa base interdisciplinar que vários fenômenos poderiam gerar acidose no interior de células, ligando esse resultado à hipótese de origem do câncer. Suas teorias foram confirmadas apenas bem posteriormente.

Fechando a edição temos uma entrevista com Mario Taddei. Este pesquisador italiano fez com grande sucesso de público a conferência de abertura do Segundo Congresso de História da Ciência e da Técnica, apresentando suas pesquisas originais acerca do pensamento de Leonardo da Vinci e as análises que tem levado a cabo em Milão, que têm revelado resultados surpreendentes sobre os artefatos e experimentos de Leonardo.

Esperamos que o leitor partilhe conosco o entusiasmo despertado por uma história da ciência e técnica bem atuantes no Brasil – e desejamos uma leitura prazerosa!

Gildo Magalhães – Editor


MAGALHÃES, Gildo. Editorial. Khronos – Revista de História da Ciência. São Paulo, n.7, ago., 2019. Acessar publicação original [DR]

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An Introduction to Zooarchaeology – GIFFORD-GONZALEZ (IA)

GIFFORD GONZALEZ Diane E Elizabeth Reitz La enseñanza de la historia
Diane Gifford-Gonzalez (esquerda) e Elizabeth Reitz (direita) https://en.wikipedia.org.

GIFFORD-GONZALEZ, D. An Introduction to Zooarchaeology. (Sn.): Springer, 2018. 604p. Resenha de: MONDINI, Mariana.  Mucho más que una introducción a la zooarqueología. Intersecciones en Antropología, Buenos Aires, v.20, n.2, ago./dic., p.283-285, 2019.

GIFFORD GONZALEZ D An introduction to Zooarchaeology La enseñanza de la historia

El reciente volumen de Diane Gifford-Gonzalez (2018) es una referencia fundamental para la zooarqueología. Se trata de una obra muy abarcativa, que estuvo en preparación por veinticinco años, según cuenta la propia autora (Grad 2018), y que trata una multiplicidad de temas de diferente nivel de generalidad. Uno de sus principales valores consiste precisamente en que aborda desde cuestiones epistemológicas que subyacen a todo análisis hasta otras más prácticas con las que el zooarqueólogo debe lidiar. En este sentido, es uno de los trabajos más originales y completos de la literatura zooarqueológica moderna.

Contribuye a ello que se nutre de ejemplos de todo el mundo, incluida la región neotropical y específicamente Argentina, lo que suma cierta familiaridad al tratamiento de los diferentes temas. Además, el libro contiene numerosas ilustraciones que contribuyen a transmitir la información, lo que lo vuelve muy claro y de fácil lectura. El hecho de que cada capítulo incluya sus propias referencias bibliográficas facilita la búsqueda de las fuentes referidas. Además, el volumen cuenta con un detallado índice temático al final.

Diane Gifford-Gonzalez (Department of Anthropology, University of California, Santa Cruz, EEUU) es una de las principales referentes en la zooarqueología y la tafonomía. Ha publicado numerosos trabajos, entre los que se incluyen muchas contribuciones fundamentales sobre la teoría y los métodos de estas disciplinas. Es una de las primeras arqueólogas formadas en el estudio de restos faunísticos, y su perspectiva es ampliamente internacional. Ha llevado a cabo investigaciones en África y Norteamérica, ha brindado seminarios en diversos países y se ha nutrido de las investigaciones realizadas en todos ellos. La influencia de sus siempre renovadas ideas es altamente significativa en la zooarqueología y tafonomía globales, en particular en Argentina, país que visitó en 2007 ( International Council for Archaeozoology [ICAZ] 2007).

El libro consta de cinco secciones que contienen un total de 26 capítulos. Las primeras secciones consisten en una introducción a la zooarqueología y a su historia. Desde aquí se evidencia la perspectiva internacional de la autora, que incluye una historización de la disciplina en diferentes países. Además, es destacable la perspectiva de la zooarqueología en el marco de las grandes preguntas de la arqueología. Otro aporte significativo de esta parte del libro –y que constituye una de las contribuciones más valiosas de la obra– es la síntesis de las consideraciones filosóficas y epistemológicas subyacentes a las investigaciones zooarqueológicas. Además de abordar la naturaleza de la causalidad en los sistemas biológicos y de sistematizar conceptos clave como los de analogía y uniformismo, aquí Gifford-Gonzalez desarrolla su concepción de un abordaje basado en los productos, que es uno de los aportes fundamentales de la autora a los campos de la zooarqueología y la tafonomía. Dicho abordaje es relevante a diferentes modelos y marcos teóricos, ya que el contexto más general, o sea, el nivel inferencial de mayor amplitud, puede ser de diferente naturaleza de acuerdo con la perspectiva que adopte el investigador.

La segunda sección del volumen trata sobre la naturaleza de las evidencias, en particular de los vertebrados. Esta sección incluye un capítulo sobre cuerpos y restos de vertebrados como materiales uniformes, donde se tratan las propiedades de huesos, dientes y otros tejidos animales, y otros capítulos sobre las propiedades intrínsecas de los huesos. Uno de ellos aborda la cuestión de por qué los animales comen animales, y trata temas tales como los requerimientos nutricionales que aportan los alimentos de este origen y sus variaciones. En esta sección también se trata de cómo podemos determinar taxones e inferir tamaño corporal, sexo y edad de los animales a partir de sus huesos y dientes, y la relevancia de estas cuestiones para la zooarqueología, considerando aspectos tales como la distinción de animales silvestres versus domésticos y la inferencia de la estacionalidad de las ocupaciones arqueológicas a partir de los recursos animales utilizados. Atravesando esta sección, como en toda la obra, se tratan los distintos aspectos tafonómicos que condicionan los patrones inferidos en el registro arqueofaunístico.

La siguiente sección trata sobre los abordajes prácticos del análisis zooarqueológico, desde el campo hasta el laboratorio y más allá. Incluye un capítulo sobre recuperación en campo, métodos de laboratorio, registro de datos y curación, donde se abordan todos los pasos, desde el diseño de una investigación hasta la generación de datos y su archivo. Luego se tratan temas centrales en todo compendio sobre zooarqueología, como lo son la identificación, incluidas las decisiones de clasificación y sus consecuencias analíticas, y las unidades básicas de cuantificación y su relación con las preguntas de investigación.

Sigue una sección que presenta una descripción muy detallada de la identificación de procesos causales, efectores y actores (sensu Gifford-Gonzalez 1991), a partir del abordaje basado en los productos. Esta parte incluye un capítulo sobre la fragmentación ósea de origen antrópico, animal y geológico. Otros dos capítulos tratan sobre los efectos de los actores naturales sobre los huesos, incluyendo mamíferos carnívoros, ungulados y roedores, además de reptiles y aves. Aparte de considerar en detalle las trazas de estos diferentes actores, la autora aborda las condiciones bajo las cuales ellas varían. De este modo trasciende los tratamientos meramente descriptivos o metodológicos del tema, como lo hace a lo largo de todo el trabajo. Los dos capítulos siguientes versan sobre los efectos del comportamiento humano en los huesos, y abarcan todas las actividades, desde el corte y la percusión hasta el procesamiento culinario y la conservación, y sus implicancias. Aquí dedica un apartado al omnipresente problema de la equifinalidad, y también uno a la posibilidad de discernir arqueológicamente el descarte derivado de actividades culinarias domésticas. Luego aborda los efectos de invertebrados, de plantas y de procesos geológicos, tanto bioestratinómicos como diagenéticos, en el registro faunístico.

Finalmente, una última sección incluye un rico análisis sobre la inferencia de los contextos de comportamiento, sociales y ecológicos, enfocada en los niveles inferenciales de mayor generalidad. Esta, junto con la tercera, conforma una de las partes más originales de esta comprehensiva obra, e incluye un capítulo sobre el análisis de conjuntos formados por múltiples agentes, un desafío al que todo zooarqueólogo y tafónomo deben enfrentarse. La utilidad de este capítulo yace no solo en que trasciende la más clásica descripción de los efectos de cada actor, o bien de las diferentes trazas más allá del actor que las produce (Fernández-Jalvo y Andrews 2016), para evaluar la complejidad de conjuntos reales, sino que además lo hace con ejemplos concretos. Otro capítulo se centra en el uso de unidades de cuantificación y estadística. Mientras que estos aspectos son tratados en profundidad en otros volúmenes (e.g., Lyman 2008), este trabajo se centra en sus usos en el marco del razonamiento zooarqueológico, en función de los objetivos de la investigación. Los siguientes capítulos de esta sección abordan las problemáticas de la desarticulación de los vertebrados, su dispersión, desmembramiento y transporte selectivo, y específicamente el transporte selectivo mediado por la nutrición; la durabilidad ósea; los perfiles de mortalidad; abundancia de especies y diversidad taxonómica; y las perspectivas de los estudios de isótopos, genética, ecología histórica y conservación, incluyendo las implicaciones de la zooarqueología aplicada. Estos capítulos se nutren, también, tanto de consideraciones teóricas, como de ejemplos concretos que los enriquecen. Los últimos capítulos de esta sección atañen a los marcos interpretativos más generales, y tratan de la relación de la zooarqueología con la ecología del comportamiento y con el estudio de las relaciones sociales, salpicados de cuestiones concretas sobre cómo abordar las grandes preguntas, así como del presente y futuro de la zooarqueología, donde la autora aporta su perspectiva más personal y su visión a partir del largo camino recorrido. En este sentido, su apelación a una documentación exhaustiva de los materiales arqueofaunísticos que estudiamos, que está en la base de cualquier análisis más sofisticado, así como a una descripción explícita de los métodos que empleamos para su análisis, asumen una gran relevancia como criterios que iluminen la zooarqueología de las próximas décadas.

En suma, tal como enuncia el título del volumen, esta comprehensiva obra brinda una introducción a la zooarqueología o, más bien, mucho más que una mera introducción. Ofrece una revisión crítica y bien documentada de la historia y teoría de la disciplina, así como también de una serie de actores y procesos que generan modificaciones óseas, tanto naturales como antrópicas, y sus trazas. Contiene asimismo un compendio actualizado de las estimulantes ideas sobre la naturaleza del registro zooarqueológico y los abordajes más productivos para su estudio desarrolladas por Diane Gifford-Gonzalez a lo largo de décadas, y esta es, en mi opinión, su contribución más valiosa. La autora ha trabajado como pocos la cadena inferencial desde las trazas observables en el registro fósil hasta los niveles inferenciales más generales, incluso desde diversos marcos teóricos, y esa riqueza analítica y claridad argumental atraviesan este volumen. Estos aportes de Gifford-Gonzalez han sido fundamentales en el desarrollo de la zooarqueología y la tafonomía, y constituyen una de las contribuciones más valiosas de esta obra indispensable en la biblioteca de todo laboratorio zooarqueológico.

AGRADECIMIENTOS

Quisiera expresar mi gratitud a Diane Gifford-Gonzalez por compartir su obra conmigo, a Atilio Zangrando por su invitación a escribir esta reseña y a Milena Sesar por contribuir a mejorarla con la edición del manuscrito.

REFERENCIAS CITADAS

 

Fernández-Jalvo, Y. y P. Andrews 2016 Atlas of Taphonomic Identifications: 1001+ Images of Fossil and Recent Mammal Bone Modification (Vertebrate Paleobiology and Paleoanthropology). Springer, Dordrecht. [ Links ]

Gifford-Gonzalez, D. 1991 Bones are not enough: Analogues, knowledge, and interpretive strategies in zooarchaeology. Journal of Anthropological Archaeology 10 (3): 215-254. [ Links ]

Gifford-Gonzalez, D. 2018 An Introduction to Zooarchaeology. Springer, Cham. [ Links ]

Grad, R. 2018 Prof. Gifford-Gonzalez Releases Text “Twenty-Five Years in the Making”. https://anthro.ucsc.edu/news/news-articles/gifford_gonzalez_textbook.html (22 de junio 2019). [ Links ]

International Council for Archaeozoology (ICAZ) 2007 Newsletter of the International Council for Archaeozoology 8 (2): 3. [ Links ]

Lyman, R. L. 2008 Quantitative Paleozoology. Cambridge University Press, Cambridge. [ Links ]

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História e Historiografia da Educação. Curitiba, v.3, n.9, 2019.

Expediente / Initials pages

FLUXO CONTÍNUO

RESENHAS

Ícone. Porto Alegre, v.4, n.4, 2019.

Expediente

Publicado: 2019-07-31

História Revista. Goiânia, v.24,, n.1, 2019.

As dinâmicas entre o sagrado e o profano: uma perspectiva de longa duração (Século V ao XVI).

Dossiê

Artigos

Publicado: 31-07-2019

Revista M. Rio de Janeiro, v.4, n.7, 2019.

Dossiê 7: Suicídio, seus sentidos histórico-sociais e o sofrimento humano

Editorial

  • Editorial
  • Claudia Rodrigues, Mara Regina do Nascimento
  • PDF

Dossiê

Artigo Livre

Em campo

Resenha

Publicado: 2019-07-30

Arqueologia Pública. Campinas, v.13, n.1[22], 2019.

Temática: Arqueologia Queer

ENSAIOS

ARTIGOS

PUBLICADO: 2019-07-30

Mnemosine. Campina Grande, v.10, n.1, 2019.

História e Ciências Ambientais

História e Ciências Ambientais

APRESENTAÇÃO

  • Revisitando o Dossiê
  • José Otávio Aguiar 06 – 07

DOSSIÊ: HISTÓRIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS

  • História Ambiental e Impactos Antrópicos na Estação Ecológica do Pau-Brasil, Mamanguape – PB.
  • Daniel B. P. Araújo e Veneziano G. de Sousa Rêgo 08 – 25
  • Água sem fronteiras: O Açude Saulo Maia e Sua Função Estratégica no Abastecimento do Agreste Paraibano nos Anos de 2017 e 2018.
  • Mara Karinne Lopes Veriato Barros e Patrícia Herminia Cunha Feitosa 26 – 43
  • Análise da Sustentabilidade do Município de Barra de São Miguel-PB a partir do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável do Cariri Oriental.
  • Maria Aparecida Gomes Sousa e Sérgio Murilo Santos de Araújo 44 – 77
  • História das Ciências e o uso do Processo Oxidativo Avançado H2O2/UV para degradação de micropulente ambiental: ivermectina nas águas destinadas ao abastecimento humano.
  • Andreza Costa Miranda e Paula Mikacia Umbelino Silva 78 – 94
  • Aspectos históricos e geográficos da pesca no Brasil: contexto, cenários e perspectivas
  • Cleber Vasconcelos de Oliveira e Janaina Barbosa da Silva 95 – 129
  • História Ambiental Urbana e a qualidade de vida em Campina Grande sob a ótica do “residir e viver” na última década.
  • Elisângela Silva Porto e Ângela Maria Cavalcanti Ramalho 130 – 155
  • Ensaios de História Ambiental Urbana: As Transformações na Terra Indígena de Umariaçu a partir do Crescimento do município de Tabatinga
  • Taciana de Carvalho Coutinho e José Otávio Aguiar 156 – 183

ARTIGOS

  • A Documentação Colonial Brasileira nos Arquivos Europeus: Projeto Resgate “Barão do Rio Branco” e seu Impacto na Historiografia sobre Administração Colonial Antônio César Caldas Pinheiro 184 – 199
  • Degustando a História do Uso, Sabores e Saberes da Mandioca na Culinária Brasileira Através de Discursos de Cronistas e Viajantes.
  • Alberto Montenegro Lima e Juciene Ricarte Apolinário 200 – 215

Publicado: 2019-07-30

Revista Brasileira de História. São Paulo, v.39, n.81, 2019.

I sommersi e i salvati – LEVI (Nv)

LEVI Primo e SANVITALE Francesca La enseñanza de la historia
Primo Levi con la scrittrice Francesca Sanvitale in occasione di un’edizione del Premio Streg. Foto dii sconosciuto – http://www.corriere.it/

LEVI P I sommersi e i salvati La enseñanza de la historiaLEVI, Primo. I sommersi e i salvati. 2015. Resenha de: MENGONI, Martina. Isommersi e i salvati. Prima edizione scolastica commentata dell’opera di Primo Levi. Resenha de: MENGONI, Martina; MORI, Roberta. Novecento.org – Didattica dela storia in rete, 25 giu. 2019.

ANALISI LETTERARIA E MEDIAZIONE DIDATTICA

Obiettivo principale del lavoro di editing è stato la ricerca di risposte didatticamente soddisfacenti alle molte esigenze poste da una materia delicata e complessa come quella affrontata da Levi: come aiutare gli studenti a comprendere tutti i riferimenti presenti nel testo senza appesantire la pagina con note troppo estese? Come favorire una lettura  attiva e partecipe? Come stimolare la riflessione sui concetti-chiave? Infine, e soprattutto: come far capire ai ragazzi che I sommersi e i salvati non è un testo “imbalsamato”,  ma è capace di interrogare senza sosta il lettore, mettere in scena davanti ai suoi occhi contraddizioni insolubili, scandagliare con lucidità gli anfratti più dolorosi della storia del Novecento senza consegnare verità apodittiche?

Nel concepire la fisionomia generale del volume e il commento al testo, preziosi suggerimenti indiretti sono venuti dalle scelte compiute dall’autore in occasione dell’edizione scolastica del 1973 di Se questo è un uomo[1], curata dallo stesso Primo Levi e accolta nella collana einaudiana “Letture per la scuola media”. In quel frangente, lo scrittore aveva messo a punto, oltre alle note, una serie di strumenti allo scopo di rendere  l’opera pienamente accessibile al pubblico degli studenti delle scuole medie: una Prefazione ai giovani; due carte geografiche che mostravano rispettivamente la disposizione dei campi di concentramento nei territori occupati dalla Germania e l’insieme dei sottocampi presenti nella regione di Auschwitz; una bibliografia essenziale nella quale erano consigliate opere di carattere generale sul nazionalsocialismo e sulla persecuzione degli ebrei, insieme a documenti e testimonianze. In un’Appendice  ̶ aggiunta all’edizione scolastica nel 1976  ̶ Levi aveva raccolto le domande più frequenti che gli venivano rivolte dagli studenti durante gli incontri nelle scuole, formulando per ciascuna risposte che ancora oggi costituiscono una indicazione di metodo per quanti vogliano accostarsi alla didattica della Shoah.

L’ESEMPIO DI PRIMO LEVI: LE NOTE

Le note curate da Levi per l’edizione scolastica di Se questo è un uomo possono essere raggruppate in cinque diverse tipologie: note di traduzione delle espressioni in lingue straniere; note di spiegazione di termini tecnici desunti da lessici specialistici (medico, militare, scientifico, letterario, filosofico etc.) e dal gergo del campo; note storiche e geografiche; note che illustrano il funzionamento del Lager; note di auto-commento delle scelte lessicali e dei riferimenti intertestuali. Il programma di storia delle scuole medie degli anni Settanta si fermava alla prima guerra mondiale; l’apparato di note, la prefazione, la bibliografia dovevano quindi fornire ai giovani lettori sintetiche quanto indispensabili informazioni sulla geografia e sulla storia europee tra il 1918 e il 1945 aiutandoli nel contempo a comprendere le condizioni di vita all’interno di un Lager nazista.

L’EDIZIONE SCOLASTICA DE I SOMMERSI E I SALVATI

LE NOTE

Possono essere sussunte sotto sei diverse tipologie, alcune delle quali ricalcano quelle dell’edizione scolastica di Se questo è un uomo:

  1. note di traduzione dei termini stranieri;
  2. note di spiegazione di termini desunti da linguaggi specialistici e di vocaboli di derivazione colta e letteraria, oggi di uso raro (ad esempio “scherani”, “turpi”, “mendaci”, etc.);
  3. note storiche che coprono un arco cronologico che si estende dalla Prima Guerra Mondiale fino agli anni Ottanta del Novecento;
  4. note storico-biografiche che ricostruiscono nei tratti salienti la biografia dei tanti personaggi storici citati;
  5. note di spiegazione delle citazioni esplicite riconducibili alla cultura classica, ai testi biblici e alle fonti letterarie;
  6. note che chiariscono i diversi riferimenti culturali (libri, film, opere d’arte) cui l’autore ricorre per supportare alcuni passaggi argomentativi e per mettere in luce ulteriori sfaccettature del discorso.

Non sono state aggiunte al testo note di tipo critico-interpretativo per non sovrapporre la voce delle curatrici alla voce dello scrittore, e per non limitare le capacità interpretative degli studenti incanalandole in un’unica direzione.

L’INTRODUZIONE

Intende offrire agli studenti un resoconto accessibile delle ultime ricerche sulla genesi, la struttura, gli stili e l’impianto retorico de I sommersi e i salvati. L’ultimo libro di Levi è innanzitutto ricondotto alla sua prima gestazione, negli anni Sessanta, quando l’autore intratteneva uno rapporto vivo e diretto con i suoi lettori tedeschi. Al contempo, il libro non avrebbe visto la luce senza il dialogo ininterrotto con gli studenti delle scuole medie inferiori e superiori: “Sono stato in più di centotrenta scuole” scrive Levi nel 1979. Gli studenti sono dunque il destinatario ideale de I sommersi e i salvati; l’ultimo e forse il più importante lascito analitico di Primo Levi è per loro, ed è questa la chiave per comprendere le scelte retoriche e argomentative del libro: un testo che fonde l’impianto saggistico con l’andamento narrativo, ricco di “figure” memorabili e insieme inesauribili, che rilanciano gli interrogativi filosofici, morali e storici posti dall’autore; un libro dal carattere socratico, concepito come un tentativo di ripristinare la complessità di una vicenda storica, sociale, culturale: “una segnaletica di problemi”, come lo ha definito la storica Anna Bravo.

LA BIOGRAFIA E L’APPENDICE DI APPROFONDIMENTO

Abbiamo inoltre assunto l’idea, già presente nella curatela di Levi, che per aiutare il pubblico scolastico a orientarsi nella storia dello sterminio non sia sufficiente annotare tutti i termini che richiedono un supplemento di spiegazione, ma siano indispensabili supporti specifici: per questa ragione, oltre all’introduzione e all’apparato didattico, il volume comprende una sintetica biografia di Levi ed è completato da un’appendice di approfondimento sui campi di concentramento e di sterminio. Nell’appendice è stata inserita una delle due carte geografiche comparse nell’edizione scolastica del 1973 di Se questo è un uomo, nella quale  appaiono evidenziati i  Lager citati ne I sommersi e i salvati.

GLI ESERCIZI SUL TESTO

Agli esercizi presenti nel volume è affidata la funzione interpretativo-critica, non assolta da specifiche note al testo. Suddivisi per capitoli, sono pensati per mettere a fuoco i nodi fondamentali dell’argomentazione di ciascun tema, per proporre possibilità interpretative grazie alla giustapposizione con altri testi della tradizione letteraria e filosofica e per stimolare su di essi una riflessione attiva sotto forma di analisi lessicale e stilistica, di rielaborazione dei contenuti, di confronto intertestuale.

L’ANALISI LINGUISTICA

Gli esercizi di analisi testuale mirano  ad ampliare il bagaglio linguistico degli studenti attraverso la riflessione sulle scelte dell’autore e l’approfondimento dei lessici specialistici; sul versante stilistico sono proposte soprattutto analisi di figure retoriche notevoli (similitudini, metafore, ossimori etc.) grazie alle quali è possibile pervenire a una comprensione piena delle stratificazioni semantiche presenti nel testo. Tra gli esercizi linguistici ne segnaliamo uno relativo al capitolo Comunicare, che promuove una riflessione sul fenomeno della “violenza fatta al linguaggio” nella Germania hitleriana e in particolare sul Lagerjargon, il gergo degradato parlato nei campi al quale il filologo ebreo Victor Klemperer dedicò pagine imprescindibili nel suo studio sulla lingua del Terzo Reich intitolato LTI (Lingua Tertii Imperi)[2]. Si richiede agli studenti di fare un piccolo “esperimento Klemperer” usando come libro-serbatoio I sommersi e i salvati  e di costruire un glossario dei termini del Lagerjargon che potrà poi essere ampliato prendendo in esame anche altri testi, ad esempio Arcipelago Gulag[3] o lo stesso libro di Klemperer.

LA RICERCA STORICA

Alcuni esercizi comportano invece da parte degli studenti lo svolgimento di una vera e propria attività di ricerca storica. È questo il caso di un esercizio del capitolo La memoria dell’offesa in cui si  propone di stilare una lista delle testimonianze scritte dai carnefici nazisti, distinguendo fra quelle pubblicate prima del 1986 e quelle pubblicate successivamente, e di due esercizi riferiti rispettivamente ai capitoli Intellettuale ad Auschwitz e Lettere di tedeschi. Il primo suggerisce di compiere una breve ricerca su tre intellettuali che, in misura diversa e con diversi gradi di colpa, si resero complici del Terzo Reich, quali Martin Heidegger, Johannes Stark e Micheal von Faulhaber; nel secondo si chiede di ricostruire la biografia di Albert Speer, “l’architetto di Hitler”.  Quando possibile, negli esercizi si consiglia di far seguire all’attività di ricerca, individuale o di gruppo, un momento di restituzione condivisa e di discussione in classe, affinché il confronto fra pari consolidi e fissi le conoscenze acquisite e alleni alla discussione.

CONFRONTI E COLLEGAMENTI

La  storia del Novecento non è l’unico ambito a cui approdano le consegne degli esercizi: infatti l’apertura interdisciplinare de I sommersi e i salvati permette di spaziare fra saperi diversi e di stabilire collegamenti per nulla scontati fra ambiti apparentemente lontani fra loro. Un gruppo di esercizi disseminati nei sette capitoli dell’opera mette in contatto I sommersi e i salvati  con testi di altri autori o con opere diverse dello stesso Levi; gli accostamenti interessano generi ed epoche differenti: ad esempio la riflessione sull’uomo come animale gregario nel capitolo La zona grigia offre il pretesto per un confronto con le nozioni di animale sociale, gregario e monadico contenute nella Politica di Aristotele[4], mentre in un esercizio riferito al capitolo Stereotipi il fulcro dell’attenzione si sposta sul rapporto fra reduci e racconto del passato attraverso l’analisi delle figure di Ulisse nell’Odissea e di Francesca da Rimini nella Divina commedia.

LA RIFLESSIONE SUL PRESENTE

Nello stesso capitolo è presente una proposta di attività in classe il cui obiettivo è quello di avvicinare le questioni dibattute nel libro al presente degli studenti. Si richiede infatti di compilare un elenco di domande che si vorrebbero rivolgere a Levi oggi e poi di discuterne in classe. In seguito i ragazzi sono invitati a leggere l’Appendice all’edizione scolastica di Se questo è un uomo del 1976 e a confrontare le domande formulate da loro e quelle poste dagli studenti degli anni Sessanta e Settanta.  L’esame comparato  delle due liste di domande consente di mettere a fuoco i tratti salienti della diversa ricezione degli stessi contenuti da parte di generazioni di lettori differenti e al tempo stesso di studiare, per mezzo di un esempio concreto,  l’evoluzione delle forme culturali che determinano sia le modalità di lettura e di rielaborazione individuale sia l’approccio didattico ai testi, trasmesso  dai docenti.

IL FASCICOLO PER L’INSEGNANTE

Al volume annotato de I sommersi e i salvati si accompagna un fascicolo omaggio riservato agli insegnanti. Il fascicolo si compone di tre sezioni: 1) una serie di percorsi di apprendimento cooperativo, cinque in tutto, su alcuni temi chiave del libro; 2) undici percorsi di analisi guidata di testi di Primo Levi, sul modello delle prove di tipologia A e B dell’esame di stato; 3) una ricognizione bibliografica e sitografica sulla figura di Primo Levi, sulla storia della Resistenza e della deportazione e sulla didattica della Shoah.

L’APPRENDIMENTO COOPERATIVO

Nella prima sezione sono proposti cinque percorsi di apprendimento cooperativo aventi ciascuno un tema che prende spunto da un capitolo de I sommersi e i salvati: tre sono incentrati sulla memoria, in tre differenti accezioni (memoria biologica, memoria collettiva, metafore della memoria); uno è dedicato alla zona grigia; l’altro allo stereotipo del prigioniero. Si è pensato a un lavoro a gruppi improntato su ricerca, azione e restituzione, da svolgersi direttamente sui testi, sulle immagini, sui video. I testi scelti spaziano dalla tradizione letteraria (Montale, Borges, Shakespeare, Dostoevskij), filosofica (Platone, Cicerone, Agostino, Bergson, Freud, Arendt), scientifica (Alexander Lurija) e storico-memorialistica (Massimo Mila, Luciana Nissim) con incursioni nel fumetto (Maus di Art Spiegelman, ma anche le vignette di prigionia di Ernesto Rossi) e nell’arte figurativa (il memoriale di Berlino, le Stolpensteine). Si propone anche la visione e la discussione di film e serie tv (Prison BreakBlack Mirror[5]) per riflettere sull’uso, stereotipato o originale, di alcuni dei temi scelti. I cinque percorsi si propongono come altrettanti itinerari interpretativi, costruiti però dagli studenti attraverso un rapporto attivo con il materiale testuale e audiovisivo.

Ciascun percorso è scandito in tre fasi: nella prima, la classe fruisce di un testo o di un video collettivamente; nella seconda fase, gli studenti sono divisi in gruppi, e ad ognuno è affidato un testo o un’immagine (o serie di immagini) da analizzare e approfondire. Nella fase finale, ciascun gruppo restituisce alla classe il proprio approfondimento, per innescare una discussione complessiva sul tema.

L’obiettivo è quello di far reagire alcuni brani di Levi – tratti dai Sommersi, ma anche da altre sue opere meno battute – con alcuni dei testi e degli autori più importanti della tradizione, ma anche di ibridarli con nuovi linguaggi contemporanei.

I CAPITOLI, I TEMI, I CONFRONTI

Il percorso dedicato alla zona grigia, ad esempio, assegna a sei gruppi di studenti sei temi presenti nell’omonimo capitolo de I sommersi e i salvati (l’isolamento e la mancanza di solidarietà, il contagio del male, la vicenda di Chaim Rumkowski, il decano del ghetto di Łódź, il giudizio morale sulla condotta dell’individuo, il male burocratico, il potere vicario) e li sviluppa arricchendo il punto di vista su di essi attraverso il confronto con voci provenienti dalla filosofia, dalla storia, dalla tradizione letteraria, dal fumetto. Gli studenti che si occupano della riflessione sull’isolamento e la mancanza di solidarietà approfondiscono un brano de Le origini del totalitarismo[6] di Hannah Arendt; il gruppo che affronta il discorso sul privilegio in Lager basa il suo ragionamento sugli input provenienti da una vignetta tratta da Maus[7] di Art Spiegelman e da un brano di un’intervista a Vladek Spiegelman, padre di Art; un estratto dell’intervista fatta dal regista Claude Lanzman a Benjamin Murmelstein[8], ultimo Decano del Consiglio degli Ebrei di Theresienstad, aiuta il gruppo che si occupa della figura di Chaim Rumkowski a osservare la storia del decano di Łódź da un’angolazione diversa rispetto a quella adottata da Levi; per indagare il problema del giudizio morale sulla condotta dell’individuo alcuni studenti si confrontano con la favola della vecchia e della cipollina tratta da I fratelli Karamazov[9] di  Fedor Dostoevskij, a cui Levi stesso fa riferimento nel suo libro; un brano de La banalità del male[10] di Hannah Arendt pone i ragazzi faccia a faccia con il concetto del male “burocratico”, quello perpetrato dai funzionari pronti a mettere la loro firma in calce a qualsiasi provvedimento emanato dallo Stato nazista; la forza di corruzione del potere, fenomeno presente in tutte le collettività umane, è esemplificata da alcuni versi dell’opera Misura per misura di William Shakespeare citati dallo stesso Levi.

Un altro esempio utile per comprendere lo sforzo di collocare il testo leviano al crocevia di linguaggi e discipline diverse è offerto dal percorso di apprendimento cooperativo sulla figura del prigioniero,  che forse più di altri si fa portatore manifesto dell’intento ambizioso che percorre l’intera edizione scolastica: gli studenti, opportunamente guidati, possono imparare attraverso la lettura delle opere di Levi a interpretare e a interrogare il presente e non soltanto il passato. Il percorso si ricollega ai contenuti del capitolo Stereotipi, in cui l’autore riflette sul fatto che, con il passare del tempo, i giovani che incontra nelle scuole non riescono più a immaginare le condizioni fisiche e psicologiche dei deportati, l’annientamento del corpo che andava di pari passo con quello del pensiero; a questa immagine di tragica impotenza, con la quale le generazioni nate negli anni Sessanta e Settanta non sanno più rapportarsi, si contrappone  il mito del prigioniero che “spezza le catene”, diffuso dalla letteratura e dal cinema.  Per il  percorso di apprendimento cooperativo è stato affiancato a un testo tratto da Oro – (Il sistema periodico[11]) in cui Levi racconta la sua prigionia in Valle d’Aosta – un brano tratto da Ricordi della casa dei morti[12] di Luciana Nissim Momigliano sulla “morte interiore” dei prigionieri; insieme ad essi, è proposto un estratto da Le loro prigioni[13] di Massimo Mila, in cui l’intellettuale antifascista racconta – con una certa disincantata ironia – il periodo di prigionia a Regina Coeli, la difficoltà nello scrivere lettere che eludessero la censura, la noia, la lettura, le conversazioni, l’avidità di notizie sul presente. Il testo è accompagnato da una vignetta di Ernesto Rossi, che con Mila condivideva la cella in quegli anni. A questi testi si aggiunge la proposta di analizzare e commentare un film che Levi cita nel capitolo, Io sono un evaso[14] (1932), accostandolo a un altro film sullo stesso filone, uscito negli anni settanta, Fuga da Alcatraz[15] (1979), e a una serie tv recente, Prison break[16] (2005-2017). In modo diverso tutti e tre alimentano lo stereotipo del prigioniero forte e padrone di sé, che riesce a liberarsi e a fuggire, spezzando i propri vincoli. La scelta di autori come Nissim e Mila, così come della vignetta di Rossi, ha come obiettivo quello di far incontrare gli studenti con autori che probabilmente non conoscono; la proposta di Prison break, serie tv piuttosto conosciuta dagli adolescenti nati negli anni Duemila, è dettata invece dall’esigenza di creare un ponte fra contenuti eterogenei per abituare gli studenti a riconoscere non solo gli stereotipi storici, ma anche le costruzioni simboliche e i miti letterari che popolano l’immaginario contemporaneo, e a compiere un esercizio di analisi e di lettura del presente.

I PERCORSI DI ANALISI TESTUALE

I brani scelti per i percorsi di analisi del testo sono tratti da Il sistema periodico (racconti Zinco, Potassio, Nichel, Fosforo, OroVanadio), da La chiave a stella, da  Racconti e saggi, dalla raccolta di poesie Ad ora incerta, dall’Appendice Se questo è un uomo. Si è voluto infatti presentare agli studenti un ritratto a tutto tondo dello scrittore, che valorizzasse le molteplici sfaccettature della sua opera e mettesse in discussione la vulgata che considera Primo Levi esclusivamente un testimone – anzi, il testimone per eccellenza – passando sotto silenzio la straordinaria ricchezza di un percorso umano e intellettuale ramificato in molte direzioni e, proprio per questo, fuori dagli schemi.

I TESTI E LA PROSPETTIVA INTERDISCIPLINARE

La maggior parte dei testi tratti da Il sistema periodico ci mostra un Levi poco più che ventenne alle prese con le amicizie, con lo studio della chimica, con le prime esperienze lavorative, con le scelte che segnarono il suo destino e quello della  sua generazione, sullo sfondo dell’Italia del fascismo e della Seconda Guerra Mondiale. Per il pubblico scolastico questo è, per certi versi, un Primo Levi inedito con il quale è possibile stabilire un rapporto di maggiore vicinanza e forse anche di identificazione.

Se si prova a passare brevemente in rassegna alcuni esempi fra quelli contenuti nella sezione, ci si accorge che anche nei percorsi è adottata una prospettiva interdisciplinare che fonde letteratura, storia del Novecento e storia del costume, studio del pensiero scientifico e  riflessione sull’attualità.  La sezione si apre con un brano del racconto Zinco  in cui Levi, studente di Chimica nell’anno accademico 1938-39, dall’osservazione del comportamento della materia che ha tra le mani in laboratorio, trae alcune considerazioni sui concetti di “purezza” e di “impurezza” ricollegandoli alla propaganda antisemita dell’Italia fascista. Dopo aver svolto un’analisi guidata del brano, lo studente è invitato a sviluppare i concetti di “impurezza” e “diversità” mettendoli in relazione con le conoscenze scientifiche attuali.

Due analisi testuali  hanno come fulcro il tema del lavoro, declinato da due punti di vista differenti: la riflessione sui sentimenti individuali che legano l’uomo al suo lavoro quotidiano, sollecitata dalla lettura del brano di Nichel che racconta del primo vero impiego di chimico trovato da Levi; il confronto storico fra gli antichi mestieri artigianali, assai diffusi fino alla metà del secolo scorso, e il lavoro nella società contemporanea, condotto a partire dalla figura del padre di Tino Faussone,  protagonista del capitolo “Battere la lastra” de La chiave a stella.

Un altro percorso propone l’analisi della poesia Partigia, nella quale lo scrittore nel tracciare un bilancio dell’esperienza resistenziale sua e della sua generazione allarga il discorso dalla sfera storico-politica a quella esistenziale e invita quanti hanno combattuto la lotta contro il nazifascismo a tener saldi i valori che li hanno ispirati in quella stagione ormai lontana.

I due percorsi di analisi sul modello della prova d’esame di tipologia B (analisi e produzione di un testo argomentativo) hanno come oggetto due brani dell’Appendice a Se questo è un uomo. I temi portati all’attenzione degli studenti sono le radici storiche dell’antisemitismo tedesco e i motivi per cui l’opinione pubblica tedesca non “volle sapere” quanto stava accadendo nei campi di prigionia e di sterminio.

BIBLIOGRAFIA E SITOGRAFIA SULLA FIGURA DI PRIMO LEVI, SULLA STORIA DELLA RESISTENZA E DELLA DEPORTAZIONE E SULLA DIDATTICA DELLA SHOAH

Nella parte dedicata a Levi si è preferito suggerire, anziché contributi critici in senso stretto, testi che offrissero un punto di vista originale sulla biografia intellettuale dell’autore e che potessero essere proposti agli studenti, come ad esempio il graphic novel Una stella tranquilla: ritratto sentimentale di Primo Levi[17], di Pietro Scarnera, e l’Album Primo Levi[18], curato dal Centro Studi Primo Levi. Oltre ai testi, sono descritti siti nei quali si trovano materiali e approfondimenti su Primo Levi, come il “Laboratorio Levi”[19] (su Raiplay), una serie di interviste rilasciate dallo scrittore ai microfoni della Rai. La sezione sulla storia della Resistenza e della deportazione elenca e descrive le risorse on line messe a disposizione dagli istituti, dagli enti e dalle associazioni, italiani e internazionali, che si occupano di questi due temi e, più in generale,  di storia del Novecento. L’ultima parte della bibliografia ricostruisce per grandi linee il dibattito sulla didattica della Shoah che si è sviluppato a partire dagli anni Novanta del Novecento. Mentre nelle altre due sezioni i contributi citati sono disposti in ordine alfabetico, nell’ultima parte si è optato per un elenco in ordine cronologico per permettere ai docenti di orientarsi fra le diverse fasi del dibattito. Una riflessione preliminare sulla didattica della Shoah da parte dei docenti di Lettere e di Storia appare oggi più che mai necessaria: la bibliografia vorrebbe quindi facilitare l’acquisizione di una formazione specifica in materia, la quale va di pari passo con un incremento della consapevolezza delle implicazioni educative, cognitive e metodologiche connesse all’adozione di un determinato approccio didattico. Avere l’opportunità di vagliare l’ampia gamma di posizioni assunte dagli studiosi e le tante proposte di attività didattiche sul tema significa già, per il docente, iniziare a compiere quelle scelte che sente più congeniali rispetto alla sua sensibilità, alle sue competenze  e agli obiettivi formativi, al fine di trasmettere non un semplice insieme di nozioni, bensì un bagaglio di conoscenze complesse.

Note

[1] Primo Levi, Se questo è un uomo, Torino, Einaudi 1973, collana “Letture per la scuola media”.

[2] Victor Klemperer, LTI. La lingua del Terzo Reich. Taccuino di un filologo [1946], Firenze, Giuntina, 1998.

[3] Aleksandr Solzenicyn, Arcipelago Gulag, 1918-1956: saggio di inchiesta narrativa [1973], Milano, Mondadori, 2013.

[4] Cfr., in particolare, Aristotele, Historia Animalium, I, 488a e Politica, I, 1253a.

[5] Black Mirror, serie TV, di Charlie Brooker, Regno Unito, 2011- in produzione, cinque stagioni.

[6] Hannah Arendt, Le origini del totalitarismo [1951], Torino, Einaudi, 2004.

[7] Art Spiegelman, Maus [1972-1991], Torino, Einaudi, 2010.

[8] Claude Lanzmann, L’ultimo degli ingiusti. Intervista con Benjamin Murmelstein, ultimo Decano del Consiglio degli Ebrei di Theresienstadt, Milano, Skira, 2014

[9] Fedor Dostoevskij, I fratelli Karamazov [1878-1880], a cura di Igor Sibaldi, voll. I-II, Milano, Mondadori, 1994.

[10] Hannah Arendt, La banalità del male: Eichmann a Gerusalemme [1963], Milano, Feltrinelli, 2008.

[11] Per tutte le opere di Primo Levi citate si rimanda alle Opere complete, a cura di Marco Belpoliti, voll. I-III, Torino, Einaudi, 2016-2018.

[12] Luciana Nissim Momigliano, Ricordi della casa dei morti [1946] in Ricordi della casa dei morti e altri scritti, a cura di Alessandra Chiappano, Firenze, Giuntina, 2008.

[13] Massimo Mila, Le loro prigioni. Da Regina Coeli a Ventotene, «Il Ponte», V, 3, marzo 1949; ora in Scritti civili, a cura di Alberto Cavaglion, Milano, Il Saggiatore, 2011.

[14] Io sono un evaso, film, regia di Mervyn Le Roy, USA 1932.

[15] Fuga da Alcatraz, film, regia di Don Siegel, USA 1979.

[16] Prison Break, serie TV, di Paul Scheuring, USA 2005-2017,cinque stagioni.

[17] Pietro Scarnera, Una stella tranquilla: ritratto sentimentale di Primo Levi, Bologna, Comma22, 2013.

[18] Album Primo Levi, a cura di Roberta Mori e Domenico Scarpa, Torino, Einaudi, 2017.

[19] Cfr. https://www.raiplay.it/programmi/laboratoriolevi/   (URL consultato il 18/06/2019)

Martina Mengoni e Roberta Mori

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Fronteiras – Revista de História. Durados, v.21, n.37, 2019.

DOSSIÊ 15: SOCIEDADES EM FRONTEIRAS: ABORDAGENS E PERSPECTIVAS

(janeiro-junho/2019)

EXPEDIENTE

  • ·                 Expediente
  • Leandro Baller, Fabiano Coelho
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APRESENTAÇÃO

  • ·                 Apresentação
  • Fábio André Hahn, José Carlos dos Santos, Leandro Baller
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DOSSIÊ 15: SOCIEDADES EM FRONTEIRAS: ABORDAGENS E PERSPECTIVAS

ARTIGOS LIVRES

PUBLICADO: 23/07/2019

História ambiental: configurações do humano e tessituras teórico-metodológicas | Ilsyane do Rocio Kmitta, Suzana Arakaki e Tânia Regina Zimmermann

A história ambiental fornece lentes teóricas com as quais podemos observar a constituição dos saberes sob um novo olhar. Compreender a natureza como uma categoria humana e desnaturalizar certas posturas em relação ao que é associado ao “Natural” ou “Ambiental” traz luz para as ambivalências dessas categorizações. Envolve criticar desde os jogos de força em torno de recursos naturais, aos problemas epistemológicos que dificultam o enfrentamento da atual trajetória de colapso ambiental.

História Ambiental: configurações do humano e tessituras teórico-metodológicas é fruto e símbolo de esforços para construir tal paradigma. O livro foi publicado em outubro de 2020 pela Coordenação do Grupo de Trabalho Nacional de História Ambiental da Associação Nacional de História (ANPUH) e organizado por Ilsyane do Rocio Kmitta, Tânia Zimmermann e Suzana Arakaki – docentes do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul ∕ UEMS, unidade de Amambai. Trata-se de uma coletânea de reflexões teórico-metodológicas e resultados de pesquisas no campo. Pensado para um público amplo, sobretudo de estudantes de graduação e professores, ele apresenta modos de fazer pesquisa na História Ambiental e suas contribuições em diferentes frentes. O livro é também vocativo: desde as primeiras páginas, ficam evidentes a urgência dos debates e o sentido da História Ambiental. Leia Mais

Outros Tempos. São Luís, v.16 n. 28, 2019.

Dossiê: ”História Antiga pra quê?” Questões antigas para problemas contemporâneos

Apresentação

Artigos

Dossiê

Estudo de caso

Entrevista

Resenhas

Publicado: 2019-07-21

Insegnare storia: Il laboratorio storico e altre pratiche ative – MONDUCCI (Nv)

MONDUCCI, Francesco (a cura di). Insegnare storia: Il laboratorio storico e altre pratiche ative. Guida alla didattica del laboratorio storico. Resenha de: PAGANO, Enrico. Dalla parte dela Didattica ativa. Uno sguardo dentro al volume “Insegnare Storia”. MASTRETTA, Elena. Hanna non chiude mai gli occhi. Un libro per appassionare i ragazzi. Novecento.org – Didattica dela storia in rete, 29, lug.. 2019.

DALLA PARTE DELLA DIDATTICA ATTIVA

A dodici anni dalla prima e sei dalla seconda, nel 2018 è stata pubblicata la terza edizione di Insegnare storia curata da Francesco Monducci, che già aveva collaborato alla precedente con Paolo Bernardi. La novità del lavoro è annunciata dal sottotitolo, “Il laboratorio storico e altre pratiche attive” al posto di “Guida alla didattica del laboratorio storico”. L’architettura dell’opera propone una parte teorica, in continuità con le precedenti pubblicazioni, e due parti ampiamente rinnovate dedicate l’una agli strumenti e l’altra ai metodi e alle applicazioni.  Il testo, come afferma il curatore nella nota introduttiva, «entra senza ritrosie nella questione del come – e dunque inevitabilmente del cosa – insegnare e partecipa attivamente al dibattito in corso, stando dalla parte di chi esprime la necessità di una didattica attiva che guardi ai contenuti come oggetti da maneggiare».

LA PARTE TEORICA

Introduzione all’insegnamento della storia e funzione del laboratorio

Fra i contributi della parte teorica troviamo il saggio di Scipione Guarracino su “Le questioni dell’insegnare storia”, che affronta temi generali (perché e come insegnare storia, le finalità politiche ed etiche, le regole del mestiere di storico, i manuali messi in discussione, la storia che vale la pena di insegnare), e quello di Aurora Delmonaco focalizzato sul “laboratorio di storia”. Le ragioni della scelta di questa pratica rimandano a istanze didattiche, pedagogiche e storiografiche di indubbia efficacia; tuttavia oggi la sua fortuna – o la sua disgrazia – dipende dall’essere posto o meno in stretta connessione con la nozione di competenza e, più nello specifico, con le competenze-chiave per la cittadinanza.

Rientra in questa sezione teorica, benché collocato all’inizio della parte dedicata a metodi e applicazioni, il saggio “La mente laboratoriale” di Ivo Mattozzi. L’autore distingue la didattica genericamente operativa, vale a dire la “suggestione del laboratorio”, dall’adozione di un progetto consapevole di didattica laboratoriale; infatti questa strategia operativa, oltre a rinnovare la formazione storica degli studenti e degli insegnanti, consente di attualizzare il principio della trasmissività del sapere, nella convinzione che si possa giungere al pensiero astratto e alla sua formalizzazione anche attraverso la pratica e il saper fare.

La didattica per competenze

Un’importante novità della parte teorica è il saggio di Mario Pinotti su “La didattica per competenze nell’insegnamento della storia”, che ricostruisce in forma essenziale la plurima stratificazione semantica del concetto di “competenze”. Pinotti propone un percorso storico che va dall’attivismo pedagogico delle origini all’influenza esercitata sulla scuola novecentesca, fino all’esame delle potenzialità che i principi educativi derivati da questa tradizione mantengono nella didattica del nuovo millennio. Secondo Pinotti, la didattica delle competenze può diventare una prassi condivisa nella scuola italiana a condizione che dimostri di garantire l’apprendimento dei saperi meglio della didattica tradizionale, non essendo sufficienti alla sua affermazione le ragioni della psicologia e della pedagogia, né i riconoscimenti istituzionali o le condizioni normative. Inoltre l’autore, riferendosi alle competenze metodologiche delle Indicazioni nazionali del 2010, presenta un’articolata scheda di valutazione delle competenze di storia, adattabile ai vari livelli di istruzione. Infine analizza le parti relative alle competenze chiave di cittadinanza, accolte nelle Indicazioni nazionali del 2012, che hanno un più stretto contatto con il sapere storiografico. Il saggio è apprezzabile anche perché fornisce, con stile e linguaggio improntati alla massima comunicatività, un quadro sintetico ma completo dei percorsi legislativi fino alla Legge 107 del 2015 e un valido contributo orientativo per la progettazione didattica.

GLI STRUMENTI

Il manuale

La sezione si apre con il saggio di Francesco Monducci intitolato “Il manuale, per una didattica attiva”, in cui si esamina l’evoluzione ipertestuale e la compatibilità del manuale di storia con le esigenze di un insegnamento innovativo e partecipato e si forniscono indicazioni generali sui criteri della scelta. Un altro paragrafo è dedicato al lavoro con il libro di testo e quello conclusivo approfondisce il tema delle estensioni digitali dei manuali e della loro effettiva utilità didattica.

Insegnare e apprendere con il web

Segue un saggio scritto a quattro mani da Chiara Massari e Igor Pizzirusso, “Insegnare storia con il web”, che si rivela particolarmente utile per la proposta di un quadro di sintesi dei più recenti sviluppi tecnologici e per un’analisi delle modalità attraverso cui il web può diventare strumento ed ambiente di apprendimento. Corroborato da una seria analisi in chiave pedagogica e didattica e da importanti indicazioni per la ricerca, la selezione critica delle informazioni e l’uso delle fonti disponibili in rete, il contributo offre inoltre al lettore un repertorio aggiornato di metodologie e strumenti disponibili per la didattica laboratoriale. Tra questi, particolare attenzione è rivolta ai webware, accessibili per realizzare linee del tempo, carte tematiche o grafici, video, giochi, mappe e presentazioni.

Le fonti, dalla storiografia alla didattica

Chiude la sezione il saggio di Ermanno Rosso, prematuramente scomparso, su “Le fonti, dalla storiografia al laboratorio di didattica”. Il contributo è riproposto integralmente dalla prima edizione, fatti salvi gli aggiornamenti bibliografici e sitografici. Al centro c’è l’idea di un insegnamento della storia che sappia tenere unite e coerenti l’informazione storica, la conoscenza e il rispetto per l’epistemologia disciplinare, senza mai prescindere dall’utilizzo delle fonti che trovano la massima valorizzazione nella pratica laboratoriale. Particolare attenzione è dedicata alla fonte storica, esaminata dal punto di vista della sua origine, del concetto e della polivalenza che la caratterizza. L’autore si concentrata sul delicato passaggio dalla storiografia alla didattica, segnalando però l’opportunità – nelle sue pratiche – di guardarsi da eccessi e ritrosie. Si sofferma quindi sulle motivazioni, la tempistica e le modalità di utilizzo delle fonti: procede illustrando modelli di uso e di analisi e proponendo schemi di classificazione, sequenze analitiche e operazioni inerenti alla ricostruzione documentata del passato. Rosso sostiene che a scuola è possibile fare anche ricerche originali e indica negli archivi scolastici una risorsa importante che può essere utile allo scopo.

I METODI E LE APPLICAZIONI

La terza e ultima parte, preceduta dal saggio di Mattozzi di cui si è già parlato, si articola in otto contributi, nell’ordine: Tre modi di fare storia nella scuola primaria (Gianluca Gabrielli); Geostoria. Studiare lo spazio e il tempo (Emanuela Garimberti); Le fonti letterarie (Eugenia Corbino); Luoghi della memoria (Maria Laura Marescalchi); Fare storia con il CLIL (Paolo Ceccoli); Fare storia con l’EsaBac e Lo studio di caso con documenti di varia tipologia (Francesco Monducci); L’Alternanza scuola-lavoro e il laboratorio storico: temi problemi, proposte (Agnese Portincasa e Filippo M. Ferrara). Nelle precedenti edizioni questa sezione era organizzata secondo criteri molto più didascalici, nel senso che venivano proposte le varie modalità laboratoriali distinte per tipologia di fonti: materiali documentari, iconografici, letterari, cinematografici, testimonianze orali e luoghi della memoria, web e nuove tecnologie, giochi didattici, ecc. L’attuale impostazione, come spiega Monducci nella nota introduttiva, è stata pensata

«per dare ragione delle nuove opportunità offerte da settori in continua evoluzione […], per fare spazio ad attività riguardanti ambiti precedentemente non coperti […], per conferire agli esempi proposti un taglio più immediatamente spendibile nella pratica scolastica quotidiana».

Diamo sinteticamente conto dei contributi di questa sezione, prendendoci la licenza di non seguire precisamente l’ordine di pubblicazione.

Fare storia nella scuola primaria

Il saggio di Gianluca Gabrielli è l’unico appositamente dedicato alle modalità di didattica della storia nella scuola elementare. L’autore propone di mettere in atto tre distinte pratiche: l’uso delle fonti per trarne indicazioni sul passato; la conoscenza storica di una tra le prime e più importanti civiltà umane (l’antico Egitto), con attenzione alle connessioni sociali dell’epoca e i loro mutamenti nel tempo; infine, un percorso di conoscenza contestualizzata storicamente su una ricorrenza del calendario civile.

Fare storia con il CLIL[1]

Nel suo articolo, dopo una disamina degli aspetti normativi, Paolo Ceccoli illustra le caratteristiche della metodologia CLIL, che prevede l’insegnamento di una materia non linguistica in lingua straniera e promuove la convergenza didattica delle due discipline, senza prevalenza dell’una sull’altra. Successivamente, dopo avere affermato che una didattica della storia CLIL non può che avere un’impostazione laboratoriale molto vicina alla didattica degli EAS, propone alcune riflessioni indispensabili per la progettazione di un modulo specifico, ossia: la scelta dei materiali, lo sviluppo di una lezione, la misurazione e la valutazione. Infine, offre due esempi dettagliati di programmazione: l’uso di fonti letterarie inglesi per lo studio della prima guerra mondiale e i processi di decolonizzazione.

Fare storia nei programmi EsaBac[2]

Il contributo di Francesco Monducci ha per oggetto il percorso triennale EsaBac che dal suo avvio, nel 2009, ad oggi ha evidenziato una crescita costante di adesioni e consensi. Tra le sue caratteristiche didattiche si distinguono il costante lavoro con le fonti, modulato dai programmi francesi, e la naturale predisposizione all’interdisciplinarità. A titolo esemplificativo, l’autore propone un dossier documentario di approfondimento dedicato al tema della religiosità e delle credenze popolari fra XI e XIV secolo, che prevede un lavoro molto simile alle attività didattiche connesse con gli studi di caso.

Lo studio di caso

In un altro articolo, lo stesso Monducci, riprendendo la codificazione proposta da Antonio Brusa, si sofferma sullo studio di caso, strumento didattico sperimentato in varie edizioni della Summer School organizzata dall’Istituto nazionale “Ferruccio Parri” e ampiamente diffuso grazie alla rivista novecento.org e al lavoro dei responsabili della didattica della rete nazionale degli istituti. Monducci propone un esempio di lavoro pensato per una classe terza di scuola secondaria di primo grado e incentrato sul tema dell’alimentazione in Italia durante la seconda guerra mondiale. L’esemplificazione didattica è arricchita dall’assegnazione agli studenti di un compito di realtà attraverso la metodologia del webquest. Una volta terminata l’attività dello studio di caso, agli studenti si dà la consegna di sviluppare una ricerca autonoma e di realizzare un prodotto, ad esempio una presentazione in power point, da illustrare in una determinata occasione. Riprendendo la formalizzazione di Dodge e March (Università di San Diego, California, 1995), l’autore esamina le varie fasi dell’attività: la motivazione, la descrizione del risultato atteso, le indicazioni di lavoro, le risorse da utilizzare, la valutazione e il bilancio conclusivo dell’esperienza.

La geostoria

Il più ponderoso capitolo della terza parte è scritto da Emanuela Garimberti ed è dedicato alla geostoria, termine che, prima della declinazione didattica, fu proprio di una nobile tradizione storiografica che ebbe inizio con gli studi di Fernand Braudel. Purtroppo, nella scuola italiana, la geostoria continua ad essere percepita come la mera conseguenza della contrazione delle ore dedicate alla storia e alla geografia. Anche per questo motivo non pare aver prodotto grandi risultati sul piano della complementarietà tra le due discipline e dell’unitarietà dell’insegnamento. Eppure, come afferma l’autrice,

«un percorso di geostoria ben costruito può riuscire a tenere insieme la contemporaneità dell’approccio geografico e la diacronia di quello storico [restituendo] la percezione dell’alterità del passato, così spesso perduta nell’appiattimento sul presente contemporaneo o, viceversa, proiettata all’indietro in un passato a-storico».

L’ambiziosa proposta didattica che correda il saggio è dedicata alla storia sociale del paesaggio storico e consiste in una serie di attività laboratoriali sui paesaggi rurali tra tarda Antichità e pieno Medioevo.

Le fonti letterarie

Eugenia Corbino pubblica un saggio dedicato all’utilizzo della narrativa come fonte storica. L’autrice ravvisa in essa “uno strumento per avvicinare gli studenti alla storia in quanto conoscenza razionale del passato, indagata secondo metodi e tecniche storiografiche”, ma a condizione di tenere separati eventi ed elementi passionali della narrazione. Gli aspetti relativi alla progettualità illustrati nel saggio sono desunti dall’offerta didattica dell’Istituto storico di Firenze e attengono a percorsi realizzati da Paolo Mencarelli e dalla stessa Corbino. Essi hanno per oggetto l’analisi del rapporto tra la Resistenza e una narrativa che scaturisce da ricostruzioni di autori che non ne sono stati protagonisti o testimoni e che, a loro volta, hanno dovuto misurarsi con la ricerca e l’interpretazione dei documenti. Tali percorsi prevedono anche un laboratorio di scrittura collettiva che parte proprio dalla lettura delle fonti.

I luoghi della memoria

Maria Laura Marescalchi, già autrice nelle due precedenti edizioni di un saggio sui luoghi della memoria e i testimoni scritto con Marzia Gigli, ritorna a riflettere con taglio innovativo su questo tema. Il saggio, sul piano del metodo, ribadisce la funzione essenziale della mediazione dell’insegnante che, sola, è in grado di evitare la sovrapposizione tra il piano storico e quello della memoria. Sul piano didattico la proposta – pensata per la scuola superiore ma, secondo l’autrice, adattabile anche alla scuola primaria – verte sulla progettazione di una visita a un luogo della memoria. Viene quindi esemplificata una visita guidata a Monte Sole, supportata dall’esplicitazione dei prerequisiti, delle finalità, degli obiettivi e delle competenze di carattere generale connessi con il noto e prolungato eccidio avvenuto tra il 29 settembre e il 5 ottobre 1944.

L’Alternanza scuola-lavoro e il laboratorio storico

L’ultimo saggio della terza parte, scritto da Agnese Portincasa e Filippo M. Ferrara, riguarda l’Alternanza scuola-lavoro. Il tema è controverso. Sin dalla sua introduzione ha generato difformi valutazioni sulla sua opportunità formativa, originate in buona parte dalla tradizionale difficoltà di comunicazione fra scuola e mondo del lavoro. Aldilà delle questioni divisive di fondo, gli autori si pongono la domanda se e in che modo il modello del laboratorio storico risponda efficacemente alle esigenze dell’Alternanza scuola-lavoro. Quindi, a partire da esperienze realizzate presso l’Istituto per la storia e le Memorie del Novecento Parri E-R di Bologna, propongono un dettagliato piano di lavoro, che può essere assunto come traccia applicabile anche a progetti provenienti da altri contesti ed arricchito da una pregevole scheda individuale di valutazione delle competenze.

CONCLUSIONI E VALUTAZIONI

Siamo di fronte a un prodotto molto interessante per l’equilibrata balance fra aspetti teorici, adeguatamente aggiornati, ed esemplificazioni utili e, in buona parte, riproducibili in ambiente didattico a diversi livelli di istruzione. Certo, un bilancio complessivo delle indicazioni operative contenute nel manuale con particolare riguardo ai potenziali destinatari e fruitori non può ignorare il ruolo preponderante assunto in fase esemplificativa dall’istruzione superiore. Del resto, è proprio a questo livello che la pratica laboratoriale incontra le principali resistenze. Tuttavia, lo sforzo di tenere insieme i vari livelli di istruzione è davvero apprezzabile. Inoltre, i docenti della scuola primaria e secondaria inferiore vi potranno trovare elementi utili e spendibili in svariati contesti didattici. Ma, sempre sul piano della formazione, potranno trovare altrettanti elementi significativi anche tutti coloro che sono motivati all’insegnamento della storia e desiderano affrontarla con consapevolezza, convinti che, in una moderna azione didattica, i metodi e le pratiche non possano prescindere dalle finalità. Tra i vari pregi del manuale occorre infine ricordare anche le generose bibliografie e sitografie che corredano ciascun saggio.

Insomma, si tratta di un libro che stimola riflessioni e interrogazioni sul senso dell’azione didattica e sulla coerenza tra il mestiere di insegnante di storia e le sue finalità formative implicite ed esplicite; nel contempo invita a sperimentare, o quantomeno a misurarsi con gli esempi e le proposte presentate. Il volume dunque se – per un verso – costituisce un punto di partenza per successive ricerche, nello stesso tempo, offre un repertorio completo, sia teorico sia sperimentale, per chi vuole dedicarsi alle pratiche didattiche attive.

Note

[1] L’acronimo CLIL, introdotto da D. March e A. Maljers nel 1994, sta per Content and Language Integrated Learning (apprendimento integrato di contenuti disciplinari in lingua straniera veicolare) ed è stato introdotto nell’ordinamento scolastico italiano dalla Legge di Riforma della Scuola Secondaria di secondo grado avviata nel 2010.

[2] EsaBac è il duplice diploma di istruzione secondaria superiore istituito il 24 febbraio 2009 grazie all’Accordo tra il Miur e il Ministero francese per l’istruzione.  L’accordo prevede che l’Italia e la Francia nei loro sistemi scolastici promuovano un percorso bilingue triennale, attivo nel secondo ciclo di istruzione. Tale percorso permette di conseguire contemporaneamente il diploma di Esame di Stato italiano e il Baccalauréat francese.

Enrico Pagano

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[IF]

Revista Latino-Americana de História. São Leopoldo, v.8, n.21, 2019.

Dossiê: As cidades entre a memória, o imaginário e o patrimônio

Expediente

Editorial/Apresentação

Dossiê

Artigos

Publicado: 2019-07-17

Cadernos de Pesquisa do CDHIS. Uberlândia, v.32, n.1, 2019.

Apresentação

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  • Profº. Ms.º Caio Vinicius de Carvalho Ferreira, Profª. Drª. Regma Maria dos Santos
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Artigos

Resenha

Publicado: 17-06-2019

Revista Eletrônica da ANPHLAC. São Paulo, n. 26, 2019.

As Américas em tempos de Colônia

Apresentação

Dossiê

Entrevistas

Publicado: 2019-07-13

História & Ciências Sociais. Rio Grande, v.11, n.21, 2019.

Vol. 11, N. 21: Pena de morte e penalidade carcerária no mundo Ibero-Americano – séculos XVI-XX (Jan-Jun/2019)

Apresentação

Apresentação ao Dossiê

Dossiê

Artigos Livres

Publicado: 2019-07-10

Literatura e suas fronteiras: do local e do global | Literatura, História e Memória | 2019

A Revista de Literatura, História e Memória tem o prazer de abrir o seu vigésimo quinto número com as reflexões em torno da Literatura e suas fronteiras: do local e do global.

Para dar início às discussões, o texto “La (im)posibilidad del diálogo en la tierra de nadie: el problema de la frontera en Texas, de Carmen Boullosa”, de Claudia Macías, analisa as possibilidades e os limites do diálogo entre raças e culturas no romance de Boullosa a fim de mostrar como a obra questiona os fatos históricos a partir do problema da memória coletiva frente à memória manipulada proposto por Paul Ricoeur. Leia Mais

As Américas na primeira modernidade | Jorge Cañizares-Esguerra, Luiz Estevam de Oliveira Fernandes e Maria Cristina Bohn Martins

Uma das qualidades que se busca na produção acadêmica é a capacidade de cativar e prender a atenção de seu leitor. Ao longo de séculos, escritores e suas obras têm tido sucesso ou insucesso nesse sentido: conseguir produzir um texto que seja interessante, que produza reflexões no ledor e que estimule a busca por mais conhecimento, seja para seu interesse pessoal ou para sua área profissional, é prova inequívoca de que o trabalho atingiu seu objetivo.

Em um romance publicado pela Editora Record, intitulado A livraria mágica de Paris, de autoria da francesa Nina George, a autora, por meio de seu personagem Jean Perdu, define a função da livraria similar à de uma farmácia literária. Perdu nega-se a vender um livro quando percebe que não é aquele que a pessoa necessita. Por meio dos livros, o indivíduo, com seus problemas, dores, tristezas e incertezas, pode aí encontrar sua cura, ou, pelo menos, um paliativo (GEORGE, 2016). Leia Mais

 Teatro e universidade: Cena. Pedagogia. [Dialogismo] – GONÇALVES (B-RED)

GONÇALVES, Jean Carlos. Teatro e universidade: Cena. Pedagogia. [Dialogismo]. São Paulo: Hucitec, 2019, 172p. Resenha de: FOMIN, Carolina Fernandes Rodrigues. Bakhtiniana – Revista de Estudos do Discurso, v.14 n.3 São Paulo July/Sept. 2019.01

O livro Teatro e universidade: Cena. Pedagogia. [Dialogismo] compõe a coleção Teatro, Série Pedagogia do Teatro, da Hucitec Editora, e traz um olhar investigativo que interliga diferentes campos do conhecimento: educação, teatro e estudos da linguagem. A obra valoriza o encontro e o diálogo dessas esferas, à medida que articula os conceitos advindos das formulações teórico-filosóficas do Círculo de Bakhtin sobre a linguagem com as vozes do teatro que ecoam na educação e as vozes da educação que ecoam no teatro.

O autor, Jean Carlos Gonçalves, é teatrólogo, diretor de teatro e professor de Práticas Teatrais na Universidade Federal do Paraná (UFPR), e vem traçando uma importante trajetória de reflexões acerca da linguagem, com base em pressupostos bakhtinianos. O livro, conforme o autor nos conta, foi concebido a partir de pesquisas anteriores: a tese de doutorado defendida no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR e revisões realizadas nos dois estágios de pós-doutoramento no Programa de Estudos Pós-Graduados da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (LAEL/PUC-SP). Teatro e universidade: Cena. Pedagogia. [Dialogismo] corrobora a trajetória de reflexão de Gonçalves, que tem como pressuposto o dialogismo e não pretende categorizar ou engessar nenhum dos conceitos apresentados; ao contrário, o pesquisador busca aproximações e novas frentes de discussão.

A apresentação escrita por Beth Brait, supervisora dos Pós-Doutoramentos de Jean Carlos Gonçalves no PEPG em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem da LAEL/PUC-SP, destaca o livro como uma forte contribuição à Análise Dialógica do Discurso (ADD) e como “uma encenação possível do texto referência, constituindo-se como única e irrepetível” (BRAIT, 2019, p.12). A expressão texto referência refere-se a “um universo vivo, movente, que não cessa de se expandir, exigindo dos que dele se aproximam (ou dos que são por ele atraídos…) muito estudo, muita dedicação, técnica, método, disciplina e, acima de tudo, uma excepcional capacidade de interpretação criativa” (BRAIT, 2019, p.11). Ao apresentar sua pesquisa, Gonçalves é protagonista dessa interpretação criativa, que se abre à vertente interdisciplinar do conhecimento ao mobilizar dialogicamente as vozes da cena e da pedagogia.

Sobre o referencial teórico da obra, Gonçalves convoca ao diálogo autores dos três campos disciplinares que se propõe a investigar em interconexão: linguagem, educação e teatro. As vozes são múltiplas e, especialmente no que se refere aos estudos da linguagem, o autor extrapola o âmbito dos textos de Bakhtin e do Círculo, evocando outros comentadores e pesquisadores dessa perspectiva teórica. O diálogo acontece também com outros autores da coleção Teatro, Série Pedagogia do Teatro, como Beatriz Cabral (2002), Flavio Desgranges (2006) e Gilberto Icle (2009).

Os enunciados objeto das análises – denominados memoriais – situam-se na esfera educacional e são produzidos por alunos-atores a partir dos processos de montagem de espetáculo, vivenciados durante sua formação como Bacharéis em Teatro-Interpretação da Universidade Regional de Blumenau (FURB). Tendo como fundamento a ADD, que Brait (2019) indica no livro ser “uma perspectiva teórica que se apresenta, principalmente no Brasil, como uma possibilidade de interpretação dos estudos filosóficos-artísticos-discursivos desenvolvidos por Mikhail Bakhtin e o Círculo” (p.12), Gonçalves analisa como os alunos-atores se enunciam, a quem enunciam e quais vozes ecoam nesses enunciados. Ele lê as entrelinhas dos enunciados, as vozes discursivas, os embates valorativos, as posições dos sujeitos que apontam para um horizonte social mais próximo (o da sala de aula e o das relações aluno/professor) ou mais distante (educação e teatro), e suas análises remetem a imaginários sociais que circulam nesses espaços. Contudo, não é objetivo do livro classificar o aluno, o professor ou o diretor de teatro em modelos teatrais ou acadêmicos. O autor busca compreender as vozes que constituem os enunciados dos memoriais que analisa.

O livro está inserido em uma cadeia discursiva que dialoga com elos precedentes e posteriores das esferas que investiga, a cujos enunciados responde ativamente. Alguns desses enunciados estão explícitos e referenciados; outros, implícitos nas diferentes vozes e imaginários sociais presentes na sociedade em geral e nos memoriais analisados no livro. Lembrando Volóchinov (2017, p.219; itálicos no original) “um livro, ou seja, um discurso verbal impresso também é um elemento da comunicação discursiva” e está imerso em uma “discussão ideológica em grande escala: responde, refuta, ou confirma algo, antecipa as críticas possíveis, busca apoio e assim por diante”. E, para o pensador russo, a partir de uma determinada situação de um problema científico, “esse discurso verbal é inevitavelmente orientado para discursos anteriores tanto do próprio autor quanto de outros”.

Como um enunciado, elemento de uma comunicação discursiva, chama-nos a atenção a forma como Gonçalves apresenta e intitula cada uma das partes dessa obra. Primeiramente, destacamos o fato de que a introdução e a conclusão são nomeadas Ensaiando uma introdução e Ensaio aberto, respectivamente. Ao fazer analogia com os ensaios no teatro, Gonçalves aponta para o não acabamento e a não necessidade de se encerrar discussões. Tal qual um ensaio, a obra se coloca como diálogo aberto e aberta a diálogos.

Em Ensaiando uma introdução, Gonçalves nos aproxima do primeiro ensaio de uma apresentação cênica, em que vivências, objetivos e aproximações teóricas são postos em jogo, inaugurando caminhos. Nesse preâmbulo, o autor objetiva compreender o processo de criação teatral na universidade, assume que as relações entre teatro e universidade serão pensadas a partir da ADD e manifesta o diálogo com seu objeto, com o leitor, com os autores que leu e consigo mesmo.

A primeira parte do livro, em que Gonçalves situa as análises e faz acordos teóricos com o leitor, contém dois capítulos, intitulados Pesquisar o teatro feito na universidade e Pesquisar em perspectiva bakhtiniana, respectivamente. No primeiro, antes de trazer as vozes de outros autores, Gonçalves declara o seu lugar teórico e prático e se coloca como “um sujeito intérprete, que analisa seus dados a partir de sua visão única, de seu lugar no mundo, unindo os resultados da sua análise ao seu próprio gesto interpretativo” (p.29). Lembrando Bakhtin (2017, p.36), “não se pode separar interpretação e avaliação: elas são simultâneas e constituem um ato único integral. O intérprete enfoca a obra com sua visão de mundo já formada, de seu ponto de vista”. Consciente disso, além de apresentar um contexto maior, o da criação teatral na esfera acadêmica, Gonçalves conta seu percurso na universidade e assume que suas análises serão permeadas por posições valorativas, um pressuposto de análises em perspectiva bakhtiniana. O autor salienta a impossibilidade de categorizações ou caracterizações estritas para análises que têm como objeto o teatro ou o fazer teatral, pois, nas palavras de Gonçalves, “narrar, descrever o processo de criação teatral, é debruçar-se sobre ele de forma que se possa refletir sobre vivências” (p.31). Com isso, o próprio processo de análise se transforma em um enunciado.

Para o capítulo seguinte, Pesquisar em perspectiva bakhtiniana, Gonçalves faz um levantamento de autores que se dedicaram a essa aproximação entre as artes da cena e as formulações de Bakhtin, Volóchinov e Medviédev e afirma que a pesquisa dessa relação “parece ainda não ter tido seu momento de acontecimento. No Brasil, pouquíssimos pesquisadores têm-se dedicado com afinco a estudar as aproximações possíveis entre o pensamento bakhtiniano e as artes da cena” (p.45), motivo pelo qual essa obra se mostra tão importante. Dentre os principais conceitos apresentados nesse capítulo, estão: alteridade, interação, campo/esfera, vozes discursivas, multivocalidade, posições axiológicas e autoria. Esses conceitos são premissas e dão sustentação às análises que atravessam todo o livro.

A segunda parte da obra também se divide em dois capítulos: Vozes da educação no teatro e Vozes do teatro na educação. Neles, Gonçalves instiga o leitor a refletir sobre o jogo de vozes e a multivocalidade presentes nas esferas que se propõe a analisar a partir da perspectiva dialógica: educação e teatro.

Em Vozes da educação no teatro, o primeiro tópico está relacionado aos imaginários sociais referentes ao professor enquanto condutor de práticas teatrais na universidade. “Seria ele um professor-diretor?” é a pergunta que instiga a discussão. O próximo tópico vai ao encontro de questões relacionadas à autoridade docente. Por meio da pergunta “quem decide?”, o autor discute a heteroglossia, o encontro sociocultural de vozes sociais e os jogos dialógicos de dizeres que se cruzam. A questão da avaliação em teatro é provocada pela pergunta “Vai ter nota?” e o capítulo se encerra com a problematização do espaço físico da sala de aula como espaço de ensaios. Novamente, chama a atenção a forma de apresentação dos enunciados, pois cada um desses subitens, ao invés de nomear conceitos ou categorias de análises, são, na verdade, perguntas pelas quais o autor busca provocar o leitor e mobilizar discussões. Ou seja, perguntas que convocam o leitor ao diálogo.

Em Vozes do teatro na educação, segundo capítulo da Parte II, os subitens seguem apresentados em forma de perguntas. Primeiro, Gonçalves questiona se os processos de criação cênica a partir do modelo de processos colaborativos seriam uma utopia, distinguindo conceitos como coletividade e processos colaborativos. Na sequência, aborda a autoria nos memoriais analisados e a “multivocalidade constituinte dos sujeitos e seus enunciados” (p.127). Já no segundo tópico, debate o modelo de encenação teatral (ou se haveria um modelo) e as acepções da figura do diretor teatral. Nesse ponto, o autor ressalta as principais diferenças entre ensaiador, encenador e diretor teatral, bem como a figura do professor. Os memoriais analisados apontam para os imaginários sociais, uma vez que “as vozes estão imbricadas, sobrepostas, gerando outros sentidos, outras possibilidades de significação na própria situação comunicativo-discursiva” (p.143). No último subitem, a partir da noção de teatro de grupo correlata à formação em teatro na universidade, Gonçalves destaca o conceito de forças enunciativas centrípetas (que tendem a centralizar o poder) e centrífugas (que resistem a um poder imposto). Antes de finalizar o capítulo, entretanto, ainda discorre sobre o conceito de alteridade.

Percebemos que a distinção entre vozes do teatro na educação e vozes da educação no teatro tem caráter didático e necessário, mas uma voz não poderia ser analisada sem a outra, pois, como indica o autor, há uma “amálgama de vozes” (p.125) e os enunciados (os memoriais analisados) apontam para vozes “conversando entre si, se reconhecendo num mesmo espaço dialógico” (p.125).

A conclusão do livro é intitulada Ensaio aberto, referindo-se a prática de grupos de teatro de convidar pessoas para assistir a um ensaio, antes da estreia, e, nesse ensaio, o público é convidado à interlocução. Ao escolher esse título para as considerações finais do livro, o autor explicita que seu olhar é um dentre outros possíveis e convida o leitor a novas proposições para a criação teatral a partir da perspectiva dialógica de Bakhtin e do Círculo. Em perspectiva dialógica, “um texto, assim como uma voz, é algo que sempre chama outros, que sempre faz com que outras vozes cheguem, seja por intenção, seja por efeito. […] as vozes são múltiplas e múltiplos são os momentos e os modos em que elas se fazem ouvir” (AMORIM, 2004, p.155). O autor, à vista disso, dialogicamente convida o leitor a ouvir e se fazer ouvir do primeiro ao último ensaio do livro, da introdução às considerações finais.

Teatro e universidade: Cena. Pedagogia. [Dialogismo] é uma importante contribuição aos pesquisadores interessados tanto nas Artes Cênicas (e Artes do Corpo), como em Educação e Linguagem. Essa obra, enquanto enunciado, modifica as pesquisas nessas esferas e incita novas reflexões a respeito dos campos disciplinares que propõe investigar por meio do objeto de análise: os memoriais dos alunos em formação em teatro. Ao apresentar um estudo que articula e inter-relaciona esses campos de estudo, Gonçalves nos instiga a perceber que as fronteiras entre teatro, educação e linguagem não são absolutas, mas, ao contrário, estão em diálogo – e as vozes de um campo atravessam as do outro, refletindo e refratando outras vozes discursivas.

Referências

AMORIM, M. O pesquisador e seu outro: Bakhtin nas ciências humanas. São Paulo: Musa Editora, 2004. [ Links ]

BAKHTIN, M. Fragmentos dos anos 1970-1971. In: BAKHTIN, M. Notas sobre literatura, cultura e ciências humanas. Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2017, p.21-56. [ Links ]

BRAIT, B. Entre a cena e a pedagogia, o dialogismo. In: GONÇALVES, J. Teatro e universidade: Cena. Pedagogia. [Dialogismo]. São Paulo: Hucitec, 2019, p.11-15. [ Links ]

CABRAL, B. Avaliação em teatro: implicações, problemas e possibilidades. Revista Sala Preta, n.2, p.213-220, 2002. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/salapreta/article/view/57093/60081. Acesso em: 28/02/2019. [ Links ]

DESGRANGES, F. Pedagogia do teatro: provocação e dialogismo. São Paulo: Hucitec, 2006. [ Links ]

ICLE, G. Pedagogia teatral como cuidado de si. São Paulo: Hucitec, 2009. [ Links ]

VOLÓCHINOV, V. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução, notas e glossário de Sheila Grillo e Ekaterina Vólkova Américo; ensaio introdutório deSheila Grillo. São Paulo: Editora 34, 2017. [ Links ]

Carolina Fernandes Rodrigues Fomin – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC SP), Programa de Estudos Pós-Graduados em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, SP, Brasil; CAPES PROSUC, Proc. 88887.314270/2019-00; https://orcid.org/0000-0001-5120-049X; carolfomin@gmail.com.

 

Saeculum. João Pessoa, n.40, jan./jun. 2019.

EXPEDIENTE

PUBLICADO: 2019-07-06

Crônica/memória e história: formação historiográfica dos sertões da Bahia | Erivaldo Fagundes Neves

O livro Crônica, memória e história: formação historiográfica dos sertões da Bahia1 do professor da Universidade Estadual de Feira de Santana Erivaldo Fagundes Neves, a principal referência para pesquisa em história dos sertões da Bahia, é um livro esperado para aqueles que acompanham a produção do autor. Erivaldo Neves já havia abordado o tema de teoria e metodologia da história regional2, que complementava e desenvolvia argumentos apresentados em texto sobre corografia e historia regional3. Crônica, memória e história abrange estes estudos e contempla as incursões do autor aos temas da escravidão4, ocupação territorial5, caminhos coloniais6, história regional e local7, cultura8, sertão9, história da família, pecuária10 e historiografia11 desde o período colonial, passando pelo império e república, até a produção contemporânea. Além de um exaustivo levantamento bibliográfico, o trabalho é um comentário desenvolvido para o longo percurso de textos históricos apresentados.

A obra tem um prefácio do professor Paulo Santos Silva da UNEB, uma introdução, considerações finais e se divide em três partes, i) leituras sobre a colonização dos sertões baianos, ii) as crônicas, memórias e histórias sobre os mesmos no império e primeira república e iii) as perspectivas historiográficas posteriores a 1930, todas subdivididas em seções. Crônica, memória e história se justificaria por várias razões, mas julgamos duas de vulto: a tipologia apresentada para um extensivo levantamento de textos sobre os sertões baianos que abrange cinco séculos e a história do pensamento histórico sobre um tema que se desenvolve desde crônicas e memórias até uma historiografia técnica e disciplinar produzida em programas de pós-graduação em história de universidades. A polissemia do livro revela a paciência com a qual o mesmo foi gestado: o livro é resultado de um projeto de 25 anos que se desdobrou em outros trabalhos do autor, cuja obra é referência para uma geração de historiadores dos sertões baianos que lhe seguiram e que retornaram ao livro como exemplares de novas perspectivas historiográficas. Leia Mais

Revista de História Regional. Ponta Grossa, v.24, n.1, 2019.

Ficha Técnica

Artigos

Notas de Pesquisa

Notas de Leitura

História das Mulheres e das Relações de Gênero: diálogos e desafios contemporâneos / Crítica Histórica / 2019

Local: País das ideias.

Época: 2019.

Personagens: Seis mulheres, de diferentes países / cidades e gerações. Três delas, renomadas historiadoras conversam entre si, enquanto são escutadas (e interpeladas) por três jovens estudantes do curso de história. Um estudante do mesmo curso, escuta com atenção.

MICHELLE PERROT: As mulheres têm uma história?

JOAN SCOTT: Sim! Você foi uma das primeiras a nos ensinar que as mulheres têm uma história, Michelle. Esta historiografia, que se constituiu em um novo domínio de Clio, se expandiu e se diversificou – não sem conflitos e disputas – desde aquele seu curso inaugural, realizado em Paris, em 1973, com Pauline Schmitt e Fabienne Bock.

JOANA MARIA PEDRO: Joan, se Michelle foi importante para questionar a exclusão das mulheres da historiografia, não podemos nos esquecer do seu papel na discussão do gênero como categoria de análise histórica. No Brasil, suas reflexões foram fundamentais para a emergência da pesquisa das Relações de Gênero. Minha amiga Raquel Soihet, que não pôde comparecer ao nosso encontro de hoje, certamente concordaria comigo.

ADRÍCIA BONFIM: Professoras, qual o lugar das experiências das mulheres negras nessa historiografia?

JULLY ANA: E as mulheres lésbicas, também já têm uma história? ELOÍSA COSTA: Bem, a história das mulheres trans ainda está por ser feita. PAÚLO ARAÚJO: [Escuta com atenção].

MICHELLE PERROT: Minhas amigas Joan e Joana, estimadas Adrícia, Jully, Eloísa, Paulo… “A historia das mulheres mudou. Em seus objetos, em seus pontos de vista. Partiu de uma história do corpo e dos papéis desempenhados na vida privada para chegar a uma história das mulheres no espaço público da cidade, do trabalho, da política, da guerra, da criação. Partiu de uma história das mulheres vítimas para chegar a uma história das mulheres ativas, nas múltiplas interações que provocam a mudança. Partiu de uma história das mulheres para tornar-se mais especificamente uma história do gênero, que insiste nas relações entre os sexos e integra a masculinidade. Alargou suas perspectivas espaciais, religiosas e culturais”.1 Contudo, ainda temos muito a fazer.

O diálogo imaginário acima foi inspirado no diálogo, também imaginário, criado por Natalie Zemon Davis no prólogo do livro “Nas margens”.2 Nesta obra, uma história das mulheres à maneira de Davis, a autora analisa a trajetória de três mulheres do século XVII, Glikl bas Judah Leib, uma judia negociante de Hamburgo, Marie de l’Incarnation, mística que se torna ursulina em Tours e Maria Sibylla Merian, pintora e entomologista protestante de Frankfurt que viaja para trabalhar na América do Sul, para problematizar as margens sociais, religiosas e geográficas que marcavam as experiências das mulheres seiscentistas. Nas páginas de Davis estas mulheres se encontram com o que têm de semelhança e de diferença entre si. Se, parafraseamos a inventividade narrativa de Davis, colocando em diálogo contemporâneo, renomadas historiadoras do campo da História das Mulheres e das Relações de Gênero com jovens alunas / o3 do curso de História da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), é para revelar que, assim como no livro “Nas margens”, as experiências históricas das mulheres estão no centro da análise historiográfica da tradução, artigos e resenhas reunidos no atual dossiê da “Crítica Histórica”.

Os textos que o / a leitor / a encontrará nas próximas páginas estão atravessados pela tradição e (re) invenção que o encontro entre as historiadoras (mestras e aprendizes) simboliza. A pergunta feita por Michelle Perrot (“As mulheres têm uma história?”), que deu nome ao curso ministrado pela historiadora, em parceria com Pauline Schmitt e Fabienne Bock, no início da década de 1970, continua ecoando hoje e atravessa as páginas dos textos que compõem este dossiê.

Em “A desobediência epistêmica e as mulheres como sujeitos historiográficos”, Stella Ferreira Gontijo problematiza a relação entre desobediência epistêmica e os estudos que consideram o gênero como uma categoria de análise histórica, destacando como a Teoria Descolonial e o Feminismo Latino-Americano têm transformado a História das Mulheres e das Relações de Gênero.

Regina Trindade, por sua vez, em “Gênero, trabalho e raça: um tripé insidioso de uma precarização histórica” discute a presença e a singularidade das mulheres no processo de produção e reprodução do capital, chamando a atenção, a partir de uma abordagem interseccional, para o caráter cíclico, sexista e racista do capitalismo.

No artigo “Emília Soares do Patrocínio e as pretas minas do mercado do Rio de Janeiro, século XIX”, Juliana Barreto Farias toma a trajetória de Emília Soares do Patrocínio, para discutir como africanas / os da Costa da Mina, conhecidos como pretas / os minas, se inseriam e se organizavam no principal centro de abastecimento de gênero alimentícios do Império brasileiro no século XIX.

Caroline Pereira Leal, no texto “O positivismo e as mulheres no carnaval de Porto Alegre nas primeiras décadas do século XX”, historiciza as transformações no carnaval de Porto Alegre, no início do século XX, a partir da perspectiva de gênero. De acordo com a autora, a participação das mulheres nos festejo mominos está relacionada à influência do positivismo entre a elite da cidade.

O artigo “Prostitutas e Bebuns: o espaço urbano e os modelos de gênero presentes na Folha do Norte do Paraná (1965-1973)”, de Gessica Aline Silva aborda a constituição das feminilidades e masculinidades transgressoras, a partir dos discursos presentes na coluna policial da Folha do Norte do Paraná entre os anos de 1965 a 1973. A historiadora mostra que prostitutas e bebuns, considerados indesejados, foram os principais alvos dos discursos moralizadores e normatizadores da imprensa.

Cecilia M. B. Sardenberg, em “Mulheres em movimentos de bairro, conscientização feminista e feminismo popular em Salvador, Bahia – anos 1980 e 1990” questiona a dupla invisibilidade (ausência das mulheres e da região Nordeste), que caracteriza a historiografia sobre os movimentos sociais, chamando a atenção em seu texto para a atuação das mulheres do Subúrbio de Plataforma nos movimentos de bairro e de mulheres em Salvador nos anos 1980 e 1990.

A seção de artigos do dossiê é encerrada com o texto “‘A aparência que dá o tom’: gênero, corpo e beleza nas cenas dos filmes Shrek”, de Renata Santos Maia. Nele, Renata Maia investiga algumas temáticas presentes nos filmes Shrek, que abordam as polaridades criadas nos roteiros dos contos de fadas, por exemplo, feiura versus beleza, personagens maus em contraposição aos personagens bons, revelando sua associação às concepções normativas sobre o corpo e a beleza.

Além dos artigos e, como veremos a seguir, da tradução do texto “Outras Reflexões sobre Gênero e Política”, de Joan Scott, este dossiê é composto ainda por duas resenhas de obras historiográficas que discutem, a partir de uma perspectiva de gênero, as experiências travestis em Fortaleza (CE) e a participação de freiras na resistência à ditadura civil-militar. Na resenha de “Travestis: carne, tinta e papel”, de Elias Ferreira Veras, Augusta da Silveira de Oliveira aponta como o historiador problematiza as condições de emergência do sujeito travesti na capital do Ceará, como indício e efeito de um processo subjetivo-temporal, denominado pelo autor, de tempo das perucas e tempo dos hormônios-farmacopornográficos. Por sua vez, na resenha do livro “Do hábito à resistência: freiras em tempos de ditadura militar no Brasil”, da historiadora Carolina Jaques Cubas, José Edson da Silva Santos Junior mostra que não foram poucas as ações de resistência das freiras na ditadura: esconder procurados pela polícia, guardar material considerado subversivo, facilitar fugas de perseguidos, transportar bilhetes e cartas de opositores a dar assistência psicanalítica aos militantes, curar feridos de ações revolucionárias foram algumas delas, investigadas por Cubas e lembradas por Santos Júnior.

Esses trabalhos traduzem os debates4 entre a História das Mulheres e das Relações de Gênero, suas aproximações, distanciamentos, solidariedades e conflitos. Como lembra Joan Scott, se a categoria “mulheres” deve ser objeto de investigação, então o gênero, ou seja, os múltiplos e contraditórios significados atribuídos à diferença sexual pode ser um instrumento útil de análise histórica.5 A presença das categorias “gênero” e “mulheres” nos títulos e abordagens dos textos reunidos no presente dossiê revela que, apesar das tensões, a emergência da História das Mulheres no Brasil está intimamente ligada ao estudo das relações de gênero.6

A leitora e o leitor das páginas seguintes, contudo, não encontrarão somente um conjunto de pesquisas historiográficas recentes, que problematizam as experiências de gênero a partir de temas, abordagens, recortes históricos e geográficos plurais, mas, a tradução de um texto de Joan Scott, publicado originalmente em inglês, em 1999, uma década depois da publicação (em inglês) de “Gênero: uma categoria de análise histórica”.7 Em “Outras Reflexões sobre Gênero e Política”, a historiadora faz uma “reavaliação crítica, ou, ao menos uma revisão e reconceitualização, dos termos que têm sido mais utilizados em nossas análises”, questionando a dicotomia sexo-gênero. Agradecemos à autora pela autorização da tradução neste dossiê, assim como também à Paula Granato, pelo trabalho de tradução. Somos grato / a, especialmente, à revisão técnica realizada por Joana Maria Pedro, que ao ter como horizonte a compreensão do pensamento de Scott por alunas / os da graduação, tornou-o mais próximo de todas / os nós.

Como lembra Joana Maria Pedro, no diálogo imaginário que inaugura esta Apresentação, Michele Perrot e Joan Scott foram (e continuam sendo) importantes para que historiadoras / es questionassem / questionem a exclusão das mulheres da escrita da história e incorporassem / incorporem o gênero como categoria de análise.

Ora, ainda que a História das Mulheres tenha mudado, em seus objetos, em seus pontos de vista. Ainda que tenha se tornado mais especificamente uma história do gênero, que insiste nas relações entre os sexos e integra a masculinidade, como lembra Michelle Perrot,8 tal alargamento permanece marcado por limites temáticos. A interpelação das estudantes Adrícia Bonfim, Jully Ana e Eloisa Costa, respectivamente, sobre as experiências das mulheres negras, lésbicas e trans (travestis e transexuais) simboliza, justamente, tal limite, presente, inclusive, no presente dossiê. A atenção e o silêncio de Paulo Araújo, por sua vez, pretendem significar os desafios – ainda não suficientemente explorados pela historiografia brasileira – da escrita de uma história das masculinidades e do novo (?) lugar dos homens, especialmente, dos historiadores diante da interpelação da universalização e do privilégio do masculino pela História das Mulheres e os estudos de gênero.

O dossiê “História das Mulheres e das Relações de Gênero”, portanto, está atravessado por diálogos e desafios contemporâneos sobre a (re) escrita historiográfica, o (re) dimensionamento do entendimento da mulher como sujeito, a (re) conceitualização do gênero como relação de poder que atravessa a política, a economia, a cultura e o lugar da historiografia como instrumento de justiça e emancipação.

Dona Deise Nunes, mulher negra, professora, militante que, gentilmente, cedeu sua imagem9 participando da marcha #elenão, realizada na capital alagoana em 26 de setembro de 2018 para estampar a capa do nosso dossiê, não teria muito a dialogar com as mestras e as aprendizes de Clio? Questionaria sobre a histórica relação entre História das Mulheres e das Relações de Gênero e os feminismos? Perguntaria sobre como essas pesquisas históricas, desenvolvidas no entremuros das universidades, afeta a vida das mulheres “comuns”? Convocarias as historiadoras para marcharem juntas, de modo que o diálogo se daria não em uma possível sala de aula, palestra ou curso, mas na rua?

As historiadoras, as estudantes, Dona Deise Nunes, as autoras dos textos deste dossiê não nos deixam esquecer de que a crítica feminista, cuja emergência dos estudos sobre as mulheres e o gênero é herdeira, além de contribuir para a reescrita da historiografia, também pretende redistribuir os espaços de justiça de gênero no presente, imaginando outros futuros. Tarefa urgente, particularmente no atual contexto brasileiro, marcado pelo avanço do ultraconservadorismo político-religioso, pela ascensão do modelo mulher “mulher bela, recata e do lar” e “princesa” que veste rosa, pelo reforço de discursos e práticas machistas, racistas e LGBTfóbicas, pela demonização da militância (feminista, negra, LGBT) e da Universidade, especialmente dos cursos de ciências humanas, como a História. Tarefa necessária, que esperamos, os encontros promovidos neste dossiê possam, de algum modo inspirar e fortalecer.

Por fim, não podemos deixar de agradecer às professoras Irinéia Franco e Michelle Reis, editoras da “Crítica Histórica”. O trabalho delas possibilitou que você, leitora / leitor tenha em mãos os diálogos e desafios contemporâneos da História das Mulheres e das Relações de Gênero no Brasil.

Boa leitura!

Notas

1. PERROT, Michele. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2019, pp. 13-14.

2. DAVIS, Natalie Zemon. Nas margens: três mulheres do século XVII São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

3. As / o estudantes citadas / o no diálogo integram a graduação dos cursos de História (Licenciatura e Bacharelado) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), fazendo parte também do Grupo de Estudos e Pesquisas em História, Gênero e Sexualidade (GEPHGS), da mesma instituição. Suas pesquisas de conclusão de curso, atualmente em andamento, analisam o movimento feminista, as experiências lésbicas, travestis e transexuais e as relações entre (homo) sexualidade e classe, a partir de uma perspectiva interseccional (gênero, sexualidade, raça e classe).

4. Referência ao artigo: PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o debate: o uso da categoria gênero na pesquisa histórica. História, 2005, vol.24, n.1, pp.77-98.

5. Para uma abordagem da História das Mulheres e da categoria gênero como possibilidades de transformação da historiografia, ver da autora: SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v.16, n.2, jul / dez., 1990, pp.5-22; SCOTT, Joan. História das mulheres. In: BURKE, Peter. (org.) A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo, Unesp, 1992, pp.64-65.

6. Para uma análise da emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero no Brasil e das apropriações das categorias “mulher”, “mulheres”, “gênero” e “sexo”, conferir: SOIHET, Rachel; PEDRO, Joana M. A emergência da pesquisa da história das mulheres e das relações de gênero. In: Revista Brasileira de História, n.54, v. 27. 2007; PEDRO, Joana Maria. Traduzindo o debate… Op. Cit.

7. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria de análise histórica… Op. Cit.

8. PERROT, Michele. Minha história das mulheres… Op. Cit., pp. 13-14.

9. Não conseguimos identificar o / a autor / a da foto até a publicação do dossiê. Qualquer informação sobre a mesma, escrever para o e-mail da revista: revista.criticahistorica@gmail.com

Maceió, 04 de agosto de 2019.

Elias Ferreira Veras – Departamento de História – Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Raquel de Fátima Parmegiani – Departamento de História – Universidade Federal de Alagoas (UFAL)


VERAS, Elias Ferreira; PARMEGIANI, Raquel de Fátima. Apresentação. Crítica Histórica, Maceió, v. 10, n. 19, julho, 2019. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

História e Cultura. Franca, v.8, n.1 2019.

Dossiê História e Subúrbio

EDITORIAL

APRESENTAÇÃO

ARTIGOS – DOSSIÊ

ARTIGOS – LIVRES

Publicado: 2019-07-03

Revista de Ensino de Geografia. Uberlândia, v. 10, n. 19, jul./dez. 2019.

APRESENTAÇÃO

Editoria

ARTIGOS

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS E PRÁTICAS

RESENHAS

Dimensões – Revista de História da UFES. Vitória, n.42, 2019.

Dossiê “Minorias, poder, saberes e trocas culturais: do Império Romano ao medievo”

Artigos

Publicado: 2019-07-02

Madhouse: psychiatry and politics in Cuban history | Jennifer Lambe

This history of Cuba’s main psychiatric asylum, Mazorra – named after the owner of the slave plantation upon which the hospital was built – aims to be much more. Impressive in scope, historical detail, and thoughtful analysis, Madhouse largely meets its two parallel, if overlapping goals: to trace the history of attitudes towards and the experience of mental illness in Cuba, and to introduce a set of new historically-informed concepts for understanding Cuban mental states. Lambe evokes the latter in a line on the very first page of the book’s Introduction: “In the borderlands of indifference and on the margins of meaning lies Mazorra, primordial laboratory of the fifth dimension” ( Lambe, 2017 , p.1) The book fulfills the first goal well and provides a lot of insight into the second.

Lambe’s goal is not just to reconstruct Cuba’s attempts to deal with mental illness, but to understand the contours and effectiveness (or lack thereof) of the Cuban state through three or four very different eras. From the late nineteenth and early twentieth centuries, with its two US occupations, to the years of corruption, the Revolution, and beyond, Lambe documents the tremendous changes in the Cuban psych fields, as well as some continuities. The first sixty-plus years of Mazorra’s existence were marred by brutal levels of neglect; the mid-twentieth century attempts at reform had minimal effect. After the revolution, the government harnessed the power of a strong, centralized state and clear sociological objectives to broaden and deepen the treatment of social pathologies. Throughout, Lambe argues, Mazorra remained an enduring symbol of the island, including its best and worst images. Leia Mais

A ordem do tempo | Carlo Rovelli

O livro A ordem do tempo foi lançado originalmente em 2017, pelo renomado físico teórico italiano Carlo Rovelli, e traduzido para diversos idiomas. Seus dois livros anteriores, Sete breves lições de física ( Rovelli, 2015 ) e A realidade não é o que parece ( Rovelli, 2017 ), também foram publicados no Brasil, tendo sido o primeiro um bestseller internacional com mais de um milhão de exemplares vendidos, o que configura um fenômeno para um livro de divulgação da física e rendeu ao autor a alcunha de “novo Stephen Hawking”.

Assim como em suas obras literárias anteriores, o objetivo de A ordem do tempo é trazer para o grande público uma análise retrospectiva da compreensão humana a respeito dos mistérios que compõem o tempo, desde um passado remoto até o estado da arte atual. A abordagem metodológica é praticamente a mesma dos livros anteriores: resumir conceitos contemporâneos da ciência, evitar detalhamentos e focar no essencial ( Rovelli, 2015 , 2017 ). Contudo, dada a natureza complexa e densa do tema escolhido, resta a sensação que dificilmente compreenderão a obra, ao menos em sua totalidade, os leitores não familiarizados com os conteúdos acadêmicos do ciclo básico de física comum a diferentes carreiras universitárias (física, química, engenharia, entre outras), assim como aqueles que não possuam conhecimentos prévios de filosofia, epistemologia ou história da ciência. Leia Mais

As “novas” políticas sociais brasileiras na saúde e na assistência: uma produção local do serviço e das relações de gênero | Isabel Georges e Yumi Garcia dos Santos

O livro apresenta uma análise teórica, histórica e social sobre o lugar central ocupado pelas mulheres nas políticas públicas voltadas para o controle dos pobres em regimes liberais ou progressistas. Baseia-se em extenso material coletado pelas autoras em suas pesquisas individuais e em conjunto, realizadas na zona leste da cidade de São Paulo ao longo das primeiras décadas do século XXI. O trabalho envolve observação em organizações sociais (OS) e nos serviços por elas oferecidos em parceria com o Estado, e entrevistas com gestoras, agentes de saúde e usuárias dos programas.

A primeira parte da obra recupera o histórico de desenvolvimento, em níveis internacional, nacional e local, de uma “gestão sexuada” da pobreza que orienta a elaboração de políticas públicas para determinada parcela da sociedade. As autoras se debruçaram sobre a construção da ideia de proteção social desde o século XVIII e seu trânsito entre a caridade, a filantropia e o mercado. A figura feminina emerge como a mediadora na concretização dos objetivos do Estado, na gestão da população pobre. A partir da figura moral da mãe-mulher com cuidadora “natural”, responsável pelo bem-estar da família, as políticas de proteção social familistas do século XX mostram-se herdeiras dessa caracterização. Seja em contextos liberais, neoliberais “humanizados” ou progressistas, a família constitui-se como categoria consensual, e a mulher como responsável por sua saúde. Leia Mais