Educação a Distância e Práticas Educativas Comunicacionais e Interculturais. São Cristóvão, v.19, n.3, 2019.

Publicado: 2019-12-09

História e Cultura. Franca, v.8 n. 2 2019.

Dossiê História e Gênero: novos debates

EDITORIAL

APRESENTAÇÃO

ARTIGOS – DOSSIÊ

ARTIGOS – LIVRES

Publicado: 2019-12-07

Revista Brasileira de História da Educação. Maringá, v.20, n.1, 2020.

 

Das Amazônias. Rio Branco, v.2, n.2, 2019.

Dossiê: República brasileira e Autoritarismo

Capa: Wálisson Clister Martins

Editorial

Artigos

Resenha

Publicado: 2019-12-30

A metade que nunca foi contada: a escravidão e a construção do capitalismo norte-americano | Edward E. Baptist

Não há dúvidas de que a escravidão moderna tornou-se um tema clássico dos debates historiográficos, sobre o qual foram produzidos um sem-número de obras, e que atualmente segue como tema de dissenso de livros, teses e pesquisas. O que é incomum em A metade que nunca foi contada, do norte-americano Edward Baptist, são os debates que este livro gerou para além da esfera acadêmica. Lançado em 2014 nos Estados Unidos, um ano depois da estreia do filme 12 Anos de Escravidão, a obra recebeu uma resenha negativa no jornal The Economist, por não ser uma “história objetiva”, ou científica o suficiente, pois caracterizava senhores de escravos sulistas do século XIX – e outros brancos que lucraram com a escravidão nesse período – como “vilões”, e os negros como “vítimas”. A resenha gerou tamanha polêmica que fez o jornal publicar uma nota de desculpas em uma tentativa de retratação. No entanto, esse foi apenas o epicentro de uma série de debates subsequentes que levaram Baptist e sua obra ao centro das atenções nas discussões sobre o escravismo estadunidense. Não por acaso: o formato escolhido por Baptist para a construção de seu argumento gerou debates historiográficos, os quais comentarei mais adiante, e também atingiu noções consolidadas da memória nacional dos Estados Unidos, assim como da memória sobre a expansão do capitalismo industrial.

Utilizando como fio condutor relatos biográficos de pessoas escravizadas, e cruzando estes relatos com uma variedade de fontes e dados (como cadernos de contabilidade, jornais, debates parlamentares e dados quantitativos mais amplos), Baptist constrói uma narrativa sobre o fenômeno do acirramento da escravidão produtora de algodão no sul nos Estados Unidos após sua independência. Esse acirramento caracteriza um novo tipo de escravidão, uma segunda escravidão [2], moldada para a extração exitosa de excedentes cada vez maiores desse trabalho, que por sua vez, argumenta Baptist, tiveram um papel central na expansão territorial do país, em seu desenvolvimento e no fortalecimento de investimentos e lucros. Em um escopo mais amplo, a nova forma de escravidão algodoeira foi também um pilar fundamental para o surgimento do complexo industrial têxtil da Inglaterra.

A escolha por enfatizar relatos biográficos expõe uma face dura da produção exponencial de algodão oitocentista: as técnicas de tortura, o desmembramento de relações familiares em migrações forçadas e a transfiguração de pessoas negras em mercadorias foram métodos integrantes do desenvolvimento econômico e do progresso da nação das liberdades individuais. Tais relatos se assemelham à narrativa do filme 12 Anos de Escravidão, baseado nas memórias de Solomon Northup, homem livre que foi sequestrado para trabalhar como escravo na Luisiana, cuja história também é citada na obra de Baptist. O livro adentra linhas teóricas e temas clássicos da história econômica, como trabalho e capitalismo, com recursos da história oral e debates sobre temas socialmente vivos [3], como relações raciais e de gênero. Torna-se evidente também a habilidade do autor em trabalhar com a esfera das relações políticas intrincadas, as disputas e pactos entre grupos políticos do norte e do sul dos Estados Unidos. É provável que a opção do autor por esse formato científico-narrativo, junto ao conteúdo chocante dos relatos de escravizados, tenham suscitado a acusação de falta de objetividade por parte da resenha do The Economist. Ou talvez, a crítica tenha partido da ideia de que eventos tão significativos na trajetória do capitalismo, como o desenvolvimento dos Estados Unidos e a Revolução Industrial, só se concretizaram por meio da acumulação gerada pela crueldade do trabalho escravo. Essa ideia, no entanto, não pode ser vista como alheia ao âmbito científico, constituindo um tema de extensos debates acadêmicos.

Existe um argumento central em A metade que nunca foi contada: a relação simbiótica entre a exploração dos corpos negros – e as formas de tortura desenvolvidas para tal – e a ascensão do capitalismo estadunidense de fins do século XVIII até a Guerra Civil, na segunda metade dos oitocentos. Tal argumento implica em dois pontos a serem analisados à luz da produção científica sobre o tema. O primeiro, no nível nacional, diz respeito ao papel do escravismo sulista na expansão do território e no desenvolvimento econômico do país como um todo. O segundo ponto é a relevância deste escravismo para a expansão industrial inglesa, seguido da pergunta: esta escravidão é capitalista? Tais questões colocam o livro de Baptist no âmbito da chamada Nova História do Capitalismo (NHC), que propõe a revisão dos padrões da história do capitalismo a partir das relações políticas e das experiências dos grupos subalternizados. Outros trabalhos semelhantes da NHC, lançados na mesma época, são Empire of cotton de Sven Beckert (2014) e River of dark dreams de Walter Johnson (2013). [4] Estes três livros foram, por vezes, criticados conjuntamente, por partirem de premissas semelhantes e por terem construído o campo em torno da tríade algodão-escravidão-capitalismo. A maior parte das críticas ao campo atinge um ponto em comum: influenciados pelo trabalho de Eric Williams, bem como pelas reinterpretações de Kenneth Pomeranz e Joseph Inikori, os trabalhos da NHC, especialmente A metade que nunca foi contada, teriam ignorado os argumentos da Nova História Econômica baseados em estudos cliométricos e dados empíricos. [5]

As críticas de Alan Olmstead e Paul Rhode aos aspectos empíricos do livro são das mais extensas. [6] Baptist cita a afirmação de Olmstead e Rhode sobre a quadruplicação da produtividade das fazendas de algodão entre 1800 e 1860, porém invalida a importância da inovação biológica das novas sementes nesse aumento, argumento central dos autores. A calibragem da violência por meio de um sistema de cotas crescentes, que punia escravos por não manterem seu ritmo de colheita, seria o principal motivo da produtividade crescente. O papel da violência foi questionado não apenas por Olmstead e Rhode, mas também por James Oakes, que afirma que Baptist generaliza um cotidiano de torturas que não corresponde à realidade, mas nem por isso as relações do escravismo foram menos cruéis.[7]

Baptist teria também negligenciado que a tese da centralidade do algodão já estava presente no trabalho de Douglass North, e que a Nova História Econômica (NHE) já teria apresentado argumentos contrários: a baixa relevância das exportações de algodão para o PIB, a menor lucratividade em relação ao milho, entre outros.[8] No geral, os números de que Baptist lança mão para sedimentar suas afirmações sobre a centralidade do algodão no desenvolvimento dos Estados Unidos são superdimensionados ou de origem incerta. Ainda que as críticas da cliometria não levem em consideração a complexidade política ou as relações sistêmicas do capitalismo, um engajamento maior com a produção historiográfica deste campo fortaleceria os argumentos do livro.

Um outro ponto de análise em A metade que nunca foi contada é o caráter capitalista da escravidão, especificamente da segunda escravidão do sul estadunidense. Em uma leitura mais tradicional de modos de produção, Eric Hilt questiona a existência de uma relação de dependência do norte em relação ao sul, e Oakes aponta para uma ambiguidade entre a escravidão e o trabalho livre, entre o atraso e a modernidade.[9] Tal ambiguidade dentro das mesmas fronteiras, afirma Oakes, teria sido o próprio estopim da Guerra Civil. Já para John Clegg, a escravidão da qual Baptist fala é capitalista, mas em razão das motivações e mentalidade dos senhores (razões endógenas), e não pela vitalidade de sua produção para a industrialização.[10]

Na realidade, Baptist não se preocupa em definir o capitalismo, mas em mostrar o quanto a escravidão foi necessária para o seu desenvolvimento. Ainda que primordialmente sua leitura seja delimitada por um Estado-nação, é importante levar em consideração a relação subjacente do escravismo algodoeiro com a Revolução Industrial. Gavin Wright aponta que, no período pré-Guerra Civil, as exportações do algodão sulista foram de grande importância para alimentar a indústria têxtil britânica, mas após a abolição tal demanda foi atendida por exportações da Índia, Egito e Brasil e, posteriormente, pela produção do trabalho livre estadunidense. Wright afirma que a relevância da escravidão foi caindo no quadro do capitalismo global, aproximando-se da segunda tese de Williams.[11] Isto significa que a perspectiva de causalidade entre escravidão e Revolução Industrial é frágil. Nas palavras de Dale Tomich: “Essa ‘segunda escravidão’ se desenvolveu não como uma premissa histórica do capital produtivo, mas pressupondo sua existência como condição para sua reprodução”[12]. Aqui surge outra questão: se a escravidão foi relevante, mas findou não por ambiguidades internas, e sim porque perdeu espaço no quadro mais amplo do capital, como ocorreu essa virada?

Algo que tanto Baptist quanto seus críticos podem considerar para responder esta e outras questões é a literatura da segunda escravidão brasileira, além dos trabalhos que se centram na presença imperial britânica na Índia e no comércio oriental. Oakes questiona se as plantations de algodão seriam o melhor lugar para analisar o capitalismo; mas se apenas analisarmos o capitalismo oitocentista em condições “ideais”, nitidamente lucrativas, explicitamente modernizantes e criadoras de tecnologia, não há espaço para entendermos as desigualdades produzidas pelo sistema em nível global. Para Baptist, a segunda escravidão nos Estados Unidos é um fenômeno observado no âmbito nacional e referente à demanda inglesa. Mas se considerarmos os estudos da Segunda Escravidão de Rafael Marquese e Tâmis Parron, o fenômeno da escravidão oitocentista não pode ser compreendido apenas nos Estados Unidos: sua integração com os escravismos cubano e brasileiro formam uma unidade, uma nova divisão do trabalho. Consequentemente, a íntima relação entre o escravismo norte-americano e o escravismo cafeeiro brasileiro moldou preços, gerou impactos recíprocos e formou alianças e conflitos que auxiliam a compreensão da abolição nos Estados Unidos.[13] Tanto a questão do caráter capitalista da escravidão quanto a conjuntura do escravismo sulista ganham novas nuances a partir destes debates.

Em relação à empreitada britânica no Oriente, John Darwin afirma que o desenvolvimento do Império Britânico origina-se na diversidade de relações estabelecidas em diferentes regiões de influência e domínio. Em um quadro de pressões geopolíticas em que a Inglaterra não era hegemônica, a busca pela inserção no comércio com a Índia, China, a antiga Anatólia e o Cáucaso permitiram que o Império Britânico se consolidasse como o entreposto “do comércio do Novo Mundo com o Velho – assim como para o comércio transoceânico entre Europa e Ásia até a abertura do Canal de Suez em 1869” [14]. Assim, a expressividade do fornecimento de matéria-prima estadunidense para as indústrias inglesas deve ser colocada em perspectiva para pensarmos o êxito da Revolução Industrial, já que a presença do Império no Oriente reconfigura o papel dos Estados Unidos para os ingleses.

A importância da escravidão algodoeira do século XIX para a formação dos Estados Unidos e sua integração aos interesses do capitalismo industrial em expansão são pontos importantes trazidos por Baptist e, ainda que sejam necessários ajustes e considerações mais consistentes, sua tese não pode ser descartada tão facilmente. A força de seus argumentos não está apenas nas narrativas e no alcance de sua obra para além dos limites do público acadêmico. Sua exposição traz à tona as contradições de estudiosos liberais, que acreditavam que o fim da escravidão norte-americana era inevitável frente ao progresso, e expõe a falta de diálogo entre as esferas econômica e política em estudos historiográficos prévios. A ampliação dos horizontes de sua obra para além do nacionalismo metodológico será um passo importante para revelar outras partes da história que ainda não foram contadas.

Notas

2. O autor faz menção ao conceito de Segunda Escravidão, de Dale Tomich, sem se aprofundar no mérito de suas premissas teóricas. No entanto, a influência do trabalho de Tomich se faz presente no livro. TOMICH, Dale. Through the prism of slavery: labor, capital, and world economy. New York: Lanham, Rowman & Littlefield, 2004.

3. O termo faz alusão ao conceito de “questões socialmente vivas”, relativo a temas relevantes socialmente, assim como no campo de estudo historiográfico. LEGARDEZ, Alain; SIMONNEAUX, Laurence. L’école à l’épreuve de l’actualité: enseigner les questions vives. Paris: ESF, 2006.

4. BECKERT, Sven. Empire of cotton: a global history. New York: Alfred A. Knopf, 2014; JOHNSON, Walter. River of dark dreams: slavery and empire in the cotton kingdom. Cambridge: Harvard University Press, 2013.

5. Referência a tese sobre a centralidade do escravismo para a industrialização britânica em WILLIAMS, Eric. Capitalismo e escravidão. São Paulo: Companhia das Letras, 2012; e suas atualizações em POMERANZ, Kenneth. The great divergence: China, Europe, and the making of the Modern world economy. Princeton: Princeton University Press, 2000; e INIKORI, Joseph. Africans and the Industrial Revolution in England: a study in international trade and economic development. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

6. OLMSTEAD, Alan; RHODE, Paul. “Cotton, slavery, and the New History of Capitalism”. Explorations in Economic History, v. 67, jan. 2018, pp. 1-17.

7. OAKES, James. “Capitalism and slavery and the Civil War”. International Labor and Working-Class History, n. 89, mar.-jun. 2016, pp. 195-220.

8. OLMSTEAD, Alan; RHODE, Paul, op. cit.

9. OAKES, James, op. cit.; HILT, Eric. “Economic history, historical analysis, and the ‘New History of Capitalism’”. The Journal of Economic History, v. 77, n. 2, jun. 2017, pp. 511-536.

10. CLEGG, John. “Capitalism and slavery”. Critical Historical Studies, set.-dez. 2015, pp. 281-304.

11. WRIGHT, Gavin. “Slavery and Anglo-American capitalism revisited”. InEHS Annual Conference. Belfast, 2019. Disponível em <http://www.ehs.org.uk/multimedia/tawney-lecture-2019-slavery-and-anglo-american-capitalism-revisited>.

12. TOMICH, Dale. Through the prism of slavery: labor, capital, and world economy. New York: Lanham, Rowman & Littlefield, 2004, p. 87.

13. MARQUESE, Rafael Bivar de; PARRON, Tâmis. “Internacional escravista: a política da Segunda Escravidão”. Topoi, Rio de Janeiro, v. 12, n. 23, 2011, pp. 97-117; e MARQUESE, Rafael Bivar de. “Estados Unidos, Segunda Escravidão e a economia cafeeira do Império do Brasil”. Almanack, Guarulhos, n. 5, 2013, pp. 51-60; PARRON, Tâmis. A escravidão na era da liberdade: Estados unidos, Brasil e Cuba, 1787-1846. Tese. FFLCH-USP, 2015.

14. DARWIN, John. The Empire Project: the rise and fall of the British world-system, 1830-1970. Cambridge: Cambridge University Press, 2009, p. 37.

Referências

BAPTIST, Edward E. A metade que nunca foi contada: a escravidão e a construção do capitalismo norte-americano. São Paulo: Paz e Terra, 2019.

BECKERT, Sven. Empire of cotton: a global history. New York: Alfred A. Knopf, 2014.

CLEGG, John. “Capitalism and slavery”. Critical Historical Studies, set.-dez. 2015, pp. 281-304.

DARWIN, John. The Empire Project: the rise and fall of the British world-system, 1830-1970. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.

HILT, Eric. “Economic history, historical analysis, and the ‘New History of Capitalism’”. The Journal of Economic History, v. 77, n. 2, jun. 2017, pp. 511-536.

INIKORI, Joseph. Africans and the Industrial Revolution in England: a study in international trade and economic development. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

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MARQUESE, Rafael Bivar de; PARRON, Tâmis. “Internacional escravista: a política da Segunda Escravidão”. Topoi, Rio de Janeiro, v. 12, n. 23, 2011, pp. 97-117.

OAKES, James. “Capitalism and slavery and the Civil War”. International Labor and Working-Class History, n. 89, mar.-jun. 2016, pp. 195-220.

OLMSTEAD, Alan; RHODE, Paul. “Cotton, slavery, and the New History of Capitalism”. Explorations in Economic History, v. 67, jan. 2018, pp. 1-17.

PARRON, Tâmis Peixoto. A escravidão na era da liberdade: Estados unidos, Brasil e Cuba, 1787-1846. Tese. FFLCH-USP, 2015.

POMERANZ, Kenneth. The great divergence: China, Europe, and the making of the Modern world economy. Princeton: Princeton University Press, 2000.

TOMICH, Dale. Through the prism of slavery: labor, capital, and world economy. New York: Lanham, Rowman & Littlefield, 2004.

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WRIGHT, Gavin. “Slavery and Anglo-American capitalism revisited”. In: EHS Annual Conference. Belfast, 2019. Disponível em <http://www.ehs.org.uk/multimedia/tawney-lecture-2019-slavery-and-anglo-american-capitalism-revisited>.

Fernanda Novaes – Universidade Federal Fluminense. Niterói – Rio de Janeiro – Brasil.

BAPTIST, Edward E. A metade que nunca foi contada: a escravidão e a construção do capitalismo norte-americano. São Paulo: Paz e Terra, 2019. Resenha de: NOVAES, Fernanda. O capitalismo no quadro escravista dos EUA e a modernidade industrial. Almanack, Guarulhos, n.23, p. 500-508, set./dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

Ingesta. São Paulo, v.2, n.1, 2020.

Dossiê do II Simpósio Internacional de Pesquisa em Alimentação

Revista Ingesta

Editorial

Prisões em etnografias: perspectivas de gênero | Cadernos Pagu | 2019

Nos últimos anos, um número significativo de coletâneas e dossiês sobre etnografias em prisões foram publicadas (Bandyopadhyay et alii, 2013; Drake; Earle, 2013; Jewkes, 2013, Martin et alii, 2014; Ugelvik, 2014; Drake et alii, 2015; Godoi; Mallart, 2017; Frois, 2017). Essas publicações resultam de trabalhos desenvolvidos desde diversos campos disciplinares – psicologia, sociologia, criminologia, antropologia, entre outros – e fornecem inúmeros apontamentos e ideias voltadas para o desenvolvimento analítico sobre os desafios e possibilidades de produzir pesquisas no campo prisional, tendo a etnografia como prática privilegiada no trabalho de campo (Peirano, 2014). Este dossiê é tributário das contribuições desenvolvidas pelas publicações sobre etnografias e prisões, mas por meio dos artigos aqui elencados, propomos adensar as análises ao destacar a centralidade das relações e tecnologias de gênero no trabalho de campo elaborado desde as fronteiras entre dentro e fora das prisões.

Se, dezessete anos atrás, Loïc Wacquant (2002) se perguntava sobre a ausência de pesquisas sobre prisões na era do encarceramento em massa, atualmente há uma infinidade de estudos antropológicos voltados para o campo prisional e/ou para a experiência de encarceramento. Embora os antropólogos estejam cada vez mais engajados na pesquisa prisional, pouco se escreve sobre questões epistemológicas, éticas e metodológicas específicas dos compromissos antropológicos com esse campo específico (Rhodes, 2013). Este dossiê procura abordar essa importante lacuna na literatura, olhando para além da etnografia como prática de pesquisa e propondo refletir sobre os desafios e possibilidades de realização dos estudos antropológicos situados nos e sobre os estabelecimentos prisionais. Leia Mais

Canoa do Tempo | Manaus, v.11, n.2, 2019 / v.1, n.1, 2007.

 

 

Canoa do Tempo. Manaus, v.11, n.2, 2019.

Histórias de mulheres negras no pós-abolição

Apresentação

Dossiê

Artigos Livres

Resenha

Entrevista


Canoa do Tempo. Manaus, v.11, n. 01, 2019.

Fronteiras, trabalho e etnicidade

Apresentação

Dossiê


Canoa do Tempo. Manaus, v.10, n.2, 2018.

Experiências Missionárias em espaços africanos e amazônicos: perspectivas em diálogos contemporâneos

Apresentação

Dossiê

Artigos Livres

Entrevista


Canoa do Tempo. Manaus, v.10, n.1, 2018.

“Teoria da história e história da historiografia: debates e desafios do conhecimento histórico no século XXI”

Dossiê

Artigos Livres

Resenha

Entrevista

Homenagem póstuma ao Prof. Dr. Geraldo Sá Peixoto Pinheiro


Canoa do Tempo. Manaus, v.9, n.1, 2017.

TRABALHISMO, POPULISMO E DEMOCRACIA NA AMERICA LATINA

Apresentação

Dossiê

Artigos Livres

Resenha

Entrevista


Canoa do Tempo. Manaus, v.7/8, n.1, 2015 (2013/2014).

Histórias das mulheres e Poder e Cultura Política

Diário de uma mulher viajante do século XIX: a memória perpetuada na palavra escrita | Maria Ester de Siqueira Rosin Sartori

  • As primeiras expedições científicas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-Inpa (1954-1955): a contribuição feminina e imagens fotográficas | Ângela Nascimento dos Santos Panzu
  • A trabalhadora imigrante na cidade de Manaus, 1880-1920 | Valdirene Aparecida Pires Porto
  • Entre o labor e a dor: trabalho feminino na fábrica mineira de tecelagem – 1900/1920 | Mônica Maria Lopes Lage

DOSSIÊ PODE E CULTURA POLÍTICA

  • Manuel da Gama Lobo D’Almada e a defesa militar nos confins da Amazônia Portuguesa | Francisco Jorge dos Santos
  • Homens de “qualidade”: a nomeação dos oficiais da tropa regular do Estado do Maranhão e Grão-Pará no século XVII (1640-1684) | Rafael Ale Rocha
  • Entre procedimentos: os espaços de poder do governador e do ouvidor | Stephanie Lopes do Vale
  • De chefes tribais a índios principais: as representações sobre as lideranças indígenas no Estado do Maranhão na primeira metade do século XVII | Fernando Roque Fernandes

ARTIGOS LIVRES

  • Trabalhadores do comércio em Manaus: uma voz na multidão (1906-1929) | Kleber Barbosa de Moura
  • Ensaio sobre a cultura da magia no Grão Pará e Maranhão no século XVIII |Arthur Narciso Bulcão da Silva
  • “Galeras” e “galerosos”: ou, no tempo em que uma parte da juventude de Manaus era realmente violenta (1985-1995) | Marcos Roberto Russo de Oliveira

Canoa do Tempo. Manaus, v. 5/6, n.1, 2012 (2011/2012).

Trabalho e Movimentos Sociais

Editorial

  • Trabalho e movimentos sociais: velhas, novas, outras questões | Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro, Maria Luiza Ugarte Pinheiro
  • Dossiê: Trabalho e Movimentos Sociais
  • De Rebeliões a Sedições: protesto popular e construção do Estado no Brasil oitocentista | Monica Duarte Dantas
  • “Com muita e Diferente Gente” – entre experiências e territórios numa mesma Floresta: revisitando a memória histórica dos mocambos de índios e as nomenclaturas coloniais na Amazônia, século XVIII | Daniela Yabeta, Flávio Gomes
  • O Movimento Operário Brasileiro e a Inspiração Internacional (1870-1920) | Claudio H. M. Batalha
  • Trabalho, controle e resistência: os portuários de capatazia riograndinos na luta por direitos (1959-1969) | Edgar Ávila Gandra, Lidiane E. Friderichs
  • Violência contra os Povos Indígenas em Roraima e luta pela homologação da Reserva “Raposa Serra do Sol” (1970-2009) | Jaci Guilherme Vieira, Paulo Sérgio Rodrigues da Silva, José Victor Dornelles Mattioni
  • As Políticas de Reestruturação do Território na Amazônia Sul-Ocidental e o Desenvolvimento Sustentável | Márcio Roberto Vieira Cavalcante
  • Artigos e pesquisas
  • “Pacíficos e carentes de um Estado protetor e provedor”: os trabalhadores amazonenses na propaganda estadonovista | Hosenildo Gato Alves
  • A criança no mundo do trabalho na cidade de Manaus (1890-1920) | Alba Barbosa Pessoa
  • Educação para o trabalho: O caso do Instituto Benjamin Constant | Josali do Amaral
  • A construção da greve dos metalúrgicos de 1985 em Manaus | Célia Santiago
  • História, direito, cultura e relações de trabalho nos Seringais do Acre: uma abordagem teórico-metodológica | Francisco Pereira Costa

Edição completa | PDF


Canoa do Tempo. Manaus, v.3/4, n.1, 2010 (2009/2010).

História, Narrativa e Viagem

Apresentação | Sínval Carlos Mello Gonçalves

  • A Narrativa e as imagens da história | Jean-Claude Schmitt

Dossiê: História, Narrativa e Viagem

  • São Brandão, a Visão de Túndalo e o Purgatório de São Patrício: o paraíso perdido nas narrativas de viagens ao Além | Maria Eugenia Bertarelli
  • A viagem e a construção do saber no Islã Medieval | Beatriz Bissio
  • Elementos do maravilhoso na visão de Frei Gaspar de Carvajal sobre a Fauna Amazônica (séc. XVI) | Auxiliomar Silva Ugarte
  • A experiência de Omagua e Dorado nas crônicas de três sobreviventes da expedição Pedro de Ursua-Lope de Aguirre (1560-1561) | Lígia Maria Ferreira Amazonas
  • Alfred Russel Wallace: um viajante-naturalista em (trans) formação | Carla Oliveira de Lima

Artigos

  • O segundo coro das Troianas de Sêneca (vv. 371-408) | José Eduardo dos Santos Lohner
  • O discurso sexual num texto árabe do século XII | Marina Juliana de Oliveira Soares
  • Gregório de Tours e suas Histórias | Edmar Checon de Freitas
  • Mulheres “bem guardadas” e mulheres “de coração”: gênero, política e identidade na produção cronística de Fernão Lopes | Miriam Coser

Canoa do Tempo. Manaus, v.2, n.1, 2008.

O Antigo Regime no Império Atlântico Português

Apresentação  | Márcia Eliane de Souza e Mello & Patrícia Melo Sampaio

DOSSIÊ

  • O ANTIGO REGIME NO IMPÉRIO ATLÂNTICO PORTUGUÊS | As Cortes e o Reino: da União à Restauração | Antônio Manuel Hespanha
  • Nas ilhas de Cabo Verde: A pequena nobreza na construção do império atlântico português | Miguel Jasmins Rodrigues
  • O Apóstolo S. Tomé, o Império português e o lugar do Brasil | Maria Lêda Oliveira
  • O Direito como instrumento de colonização: Uma política para o Brasil no centro do Império | Rafael Ruiz
  • Poder e Burocracia nas Capitanias do Estado do Brasil – Perspectivas de um estudo: o caso da capitania do Rio de Janeiro, 1677-1735 | Maria de Fátima Silva Gouvêa
  • Reforma monetária e rapto de noivas: notas sobre a gestão numa monarquia pluricontinental lusa no século XVII | João Luis Ribeiro Fragoso
  • Os sertões do ouro e as estradas reais do Império luso-brasileiro | Anderson de Freitas Fonseca
  • A Amazônia Colonial e as Ilhas Atlânticas | Rafael Chambouleyron
  • Caminhos e “descaminhos” da colonização portuguesa em São José do Rio Negro no governo de Joaquim Tinoco Valente (1763-1779) | Fabiano Vilaça dos Santos
  • Os Limites da Igualdade: a inserção indígena na sociedade colonial paraense do Diretório dos Índios (1757-1798) | Mauro Cezar Coelho

NOTAS DE PESQUISA

  • Explorando Acervos | Otoni Mesquita
  • Um cenário plural para os Museus Históricos | James Roberto Silva

RESENHAS

  • Estudos sobre Fredrik Barth | Mônica da Silva Ribeiro
  • O Sol e a Sombra | David Salomão Feio

Canoa do Tempo. Manaus, v.1, n.1, 2007.

Dossiê Cidades

Artigos

  • Líderes indígenas no mundo cristão colonial | Almir Diniz de Carvalho Júnior
  • O olhar europeu: África no imaginário da Belle Époque e a “desafricanização” da sociedade paulistana (1890-1920)| Paulo Koguruma
  • O indivíduo: a perspectiva dos estudos medievais| Sínval Carlos Mello Gonçalves

RELATOS DE PESQUISAS

  • Por uma arqueogenealogia dos seringais: os seringueiros na historiografia regional| Davi Avelino Leal
  • Da arquitetura ordinária à cultura ordinária| André Neves, Armstrong da Silva Santos e Márcio Roberto Vieira Cavalcante

Edição completa  |  PDF

Revista de Historia y Geografía. Santiago, v.41, 2019.

Editorial

Artí­culos

Tribuna

Reseñas

Publicado: 2019-12-02

Caminhos da História | Montes Claros, v.24, n.2, 2019 / v.26, n. 1, 2021.

 

Caminhos da História. Montes Claros, v. 24, n. 2, 2019.

DossiêHistória, tempo e espaço“, sob a coordenação e organização do Dr. Emerson Costa de Melo

Editorial

  • Editorial
  • Ester Liberato Pereira, Rafael Dias de Castro | PDF

Dossiê

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.24, n. 1, 2019.

DossiêCulturas populares, gênero e diversidade sexual: interfaces, tensões e subjetividades“, sob a coordenação e organização do Dr. Daniel Roberto dos Reis Silva e do Dr. Fabiano Gontijo

Editorial

  • Editorial
  • Ester Liberato Pereira, Rafael Dias de Castro | PDF

Dossiê


Caminhos da História. Montes Claros, v.23, n. 2, 2018.

Dossiê “Memória: Questões teórico-metodológicas nas pesquisas historiográficas”, sob a coordenação da Dra. Rejane Meireles Amaral Rodrigues e do Dr. Gilberto Cezar de Noronha

Editorial

  • Editorial
  • Ester Liberato Pereira, Rafael Dias de Castro | PDF

Dossiê

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.23, n.1, 2018.

Editorial

  • Editorial
  • Ester Liberato Pereira, Rafael Dias de Castro | PDF

Artigos Livres

Resenha


Caminhos da História. Montes Claros, v. 22, n.2, 2017.

Dossiê “Novos objetos, novas abordagens”, sob a coordenação da Dra. Ilva Ruas de Abreu

Editorial

Dossiê

Artigos Livres

Resenha


Caminhos da História. Montes Claros, v. 22, n. 1, 2017.

Dossiê “História Tardo Antiga e Medieval”, sob a coordenação do Dr. Vinícius Cesar Dreger de Araújo (Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES)

Dossiê


Caminhos da História. Montes Claros, v.21, n.2, 2016.

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.21, n.1, 2016.

Dossiê “China: relações e história entre América Latina e China”, sob a coordenação do Dr. Gustavo Enrique Santillán (Universidade Nacional de Córdoba/Argentina)

Dossiê


Caminhos da História. Montes Claros, v. 20, n.2, 2015.

Editorial

Apresentação

  • Helena Amália Papa | PDF

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.20, n. 1, 2015.

Editorial

Apresentação

  • César Henrique Queiroz Porto | PDF

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.19, n.2 , 2014.

Editorial

Apresentação

  • Filomena Luciene Cordeiro Reis | PDF

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.9, n.1, 2014.

Editorial

Apresentação

  • Renato da Silva Dias | PDF

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.18, n.2, 2013.

Editorial

Apresentação

  • César Henrique Queiroz Porto | PDF

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.18, n.1, 2013.

Editorial

Apresentação

  • Filomena Luciene Cordeiro Reis | PDF

Dossiê

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.17, n.1 e 2, 2012.

Editorial

Apresentação

  • Márcia Pereira da Silva, Regina Célia Lima Caleiro | PDF

Dossiê

Artigos Livres

Resenha


Caminhos da História. Montes Claros, v.16, n.2, 2011.

Editorial

Apresentação

  • Marcia Pereira da Silva, Carlos Martins Junior | PDF

Dossiê

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.16, n.1, 2011.

Editorial

Apresentação

  • Laurindo Mekie Pereira | PDF

Artigos Livres


Caminhos da História. Montes Claros, v.15, n.2, 2010.

Editorial

Apresentação

Resenha

 


Obs.: Os volumes 1-14 estão indisponiveis no site da revista.

Relações entre crime e gênero: um balanço | História (Unesp) | 2019

O presente dossiê reúne artigos que discutem crime e gênero em diferentes perspectivas, espaços e temporalidades. Recentemente, estudos que buscam problematizar as questões de gênero nas pesquisas históricas com fontes criminais têm ganhado destaque, significando a retomada de trabalhos que foram pioneiros na década de 80 do século XX. A importância de análises sobre os delitos femininos no cotidiano dos grupos populares, os papéis femininos, a constituição das masculinidades e o controle por parte das instituições estatais foram temas que ganharam destaque em pesquisas que hoje são consideradas referências sobre crime e gênero.

Nesse sentido, um dos primeiros trabalhos que pensou a relação entre tais temas através das fontes criminais foi o de Martha de Abreu Esteves (1989), Meninas Perdidas. Este estudo, bastante inovador na utilização das fontes criminais, analisa os padrões normatizadores da conduta sexual sugeridos por juristas e médicos, bem como os valores e normas presentes no cotidiano das relações amorosas dos grupos populares no Rio de Janeiro do início do século XX. Além do citado livro, destacam-se também, no campo da história e antropologia, os estudos de Raquel Soihet, Sidney Chalhoub, Magali Gouveia Engel, Sueann Caulfield e Marisa Corrêa. Todos eles já indicavam para a participação das mulheres nas ocorrências criminais, centrando a análise nas situações de controle da sexualidade, uma vez que apareciam com mais frequência em fontes desta natureza. Soihet (1989), no clássico Condição feminina e formas de violência, aborda as mulheres pobres e a questão da ordem urbana nas primeiras décadas da República. Com uma proposta inovadora para a época, a autora buscou analisar os aspectos variados do cotidiano das mulheres trabalhadoras, prostitutas, homossexuais e criminosas, questionando os estereótipos e apontando novas dimensões do comportamento das mesmas. Para além de apenas apresentar as vítimas enquanto objeto de controle e dominação, Soihet aponta para o exercício de poder feminino, suas perspectivas e resistências cotidianas, colocando em xeque os conhecimentos “científicos” sobre as mulheres e “desmitificando” representações universais acerca da passividade, docilidade, dependência e a natureza maternal das mesmas. Leia Mais

Revista Brasileira de História. São Paulo, v.39, n.82, 2019 / v.36, n.71, 2016.

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.39 no.82 São Paulo set./dez. 2019

 Editorial

 Dossiê: Fronteiras Amazônicas

 Artigos

 Resenha

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.39 no.81 São Paulo maio/ago. 2019

 Editorial

 Dossiê: Rios e Sociedades

 Artigos

 Memória

 Resenhas

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.39 no.80 São Paulo jan./abr. 2019

 Editorial

 Artigos

 Resenha

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.38 no.79 São Paulo set./dez. 2018

 Editorial

 Dossiê: Por Escravos e Libertos

 Artigos

 Resenhas

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.38 no.78 São Paulo maio/ago. 2018

 Editorial

 Dossiê: História e Arquivo

 Artigos

 Resenhas

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.38 no.77 São Paulo jan./abr. 2018

 Editorial

 Artigos

 Memória

 Resenhas

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.37 no.76 São Paulo set./dez. 2017

 Editorial

 Dossiê: Centenário 1917: Grande Guerra, greves e revoluções

 Artigos

 Resenhas

 Erratum

  • Erratum: O pequeno, o grande e o pequeno: Entrevista com Giovanni Levi | | · texto em Português | · Português ( pdf )

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.37 no.75 São Paulo mai./ago. 2017

 Editorial

 Dossiê: O protagonismo indígena na história

 Artigos

 Resenhas

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.37 no.74 São Paulo jan./abr. 2017

 Editorial

 Artigos

 Entrevista

 Resenhas

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.36 no.73 São Paulo set./dez. 2016

 Editorial

 Dossiê: Sérgio Buarque de Holanda: 80 anos de Raízes do Brasil

 Artigos

 Resenhas

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.36 no.72 São Paulo mai./ago. 2016

 Editorial

 Dossiê: Perspectivas recentes da História Medieval no Brasil

 Artigos

 Resenhas

Sumário | Rev. Bras. Hist. vol.36 no.71 São Paulo jan./abr. 2016

 Editorial

 Artigos

 Resenhas

Arquivo – APCBH. Belo Horizonte, v.6, n.6, 2019.

  • REAPCBH – Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte, v. 6, n. 6, dezembro de 2019- ISSN: 2357-8513 3
  • Sumário
  • AGRADECIMENTOS
  • Editorial .. 07
  • ARTIGOS – Dossiê Reflexões sobre a história social dos rios no processo de produção do espaço de Belo Horizonte . 11
  • Ana Carolina Andrino de Melo Os esgotos e as águas pluviais na construção de Belo Horizonte: as análises e trabalho da CELINC e CCNC.34
  • Danilo de Carvalho Botelho Almeida Coleção João Gusman Júnior: registro das obras de saneamento em Belo Horizonte Álvaro Américo Moreira Sales . 62
  • A problemática sobre a ocupação da sub-bacia hidrográfica do córrego Acaba Mundo – Belo Horizonte/MG .. 84
  • Fernando Henrique da Silva Roque Jackson Junio Paulino de Morais Lana Marx de Souza Rafaela Cristina Cordeiro Regina Gonçalves Bastos Winnie Parreira Patrocínio Os rios como problema: política pública e a habitabilidade em uma perspectiva democrática . 104
  • Vitor Paulo Azevedo de Araújo Erika Caroline Damasceno Costa Contradições entre as ações públicas municipais de controle de inundações e as de proteção de sistemas hídricos em Belo Horizonte (MG): o caso do Parque Ecológico do Brejinho .. 138
  • Luísa Lima Borges Ferreira Cecília Siman Gomes Antônio Pereira Magalhães Jr

Ofícios de Clio. Pelotas, v.4, n. 7, 2019.

Ofícios de Clio

Revista Discente dos Cursos de História da Universidade Federal de Pelotas – 2019 – ISSN 2527-0524

Expediente

Apresentações

Artigos Livres

 

Mídia e Poder em Perspectiva Histórica / Crítica Histórica / 2019

A motivação para a organização do dossiê Mídia e Poder em perspectiva histórica partiu da observação de que, nos últimos anos, se intensificou o debate, em diferentes setores da sociedade, tanto no Brasil como no mundo em geral, a respeito do papel das mídias, ou meios de comunicação, tradicionais e novos. Tem sido enfrentadas questões do tipo se tais meios têm atuado como um elemento que atua no sentido do fortalecimento ou do enfraquecimento da democracia, como mecanismos de legitimação da ordem ou de incitação de agitações político-sociais, como ferramentas para articulação de demandas e estabelecimento de novos vínculos coletivos, ou como u catalisador de desagregações sociais, atomização e pulverização de condutas e ações. Tendo em vista a complexidade do cenário contemporâneo, pois, a proposta do dossiê foi compor um quadro variado de pesquisas que abordassem questões relevantes relativas aos meios de comunicação especialmente sob o ponto de vista de historiadores e historiadoras.

O objetivo, agora alcançado, é permitir um olhar mais amplo no tempo e no espaço que enfoque as transformações conjunturais ou as de mais longo prazo a respeito dos meios de comunicação, sua história, sua importância e suas relações com variadas concepções de história e configurações de poder. O resultado final, aqui materializado e trazido à público, expressa os anseios iniciais dos organizadores e sublinha este campo frutífero de pesquisas que se têm desenvolvido no país.

A problemática política e as relações de poder que perpassam os sujeitos políticos, as organizações de classe e partidárias, o imaginário social, a cultura, a religião e o mercado de consumo na contemporaneidade se destacaram no conjunto dos textos. Os artigos selecionados são exemplares tanto para os pesquisadores da área, como para uma leitura menos profissionalmente comprometida, mas interessada nas relações entre a política, partidária ou não, e a chamada grande mídia durante todo o século XX. Se a imprensa é parte inerente do jogo democrático, como ferramenta ela serve a diferentes interesses, disputados, por vezes, violentamente, podendo se transformar tanto em um agente catalisador e incentivador do fortalecimento das leis, instituições e grupos sociais os mais diversos em formação ou transformação, bem como se constituir em um agente perturbador para o aprofundamento de modos de vida livres, solidários e plurais.

Como elemento explicativo para o foco temporal das pesquisas aqui presentes, é importante destacar a facilidade cada vez maior para o acesso aos acervos e hemerotecas dos grandes jornais brasileiros, muitos agora disponíveis on-line, facilitando uma consulta mais ágil a series maiores de antigas edições de jornais e revistas. Os historiadores têm se aproveitado muito bem dessa nova oportunidade e, apesar de contínuos desafios técnicos e estruturais dos acervos, encontram-se devidamente equipados com um já sólido instrumental teórico-metodológico próprio de nossa disciplina para dar conta dessa tarefa exploratória.

Vamos aos textos! Optamos por apresentar os artigos em ordem cronológica, a partir dos temas que abordam, sem intenções de engessar as temporalidades, mas indicando um processo amplo, que percorre os contextos políticos e econômicos do Brasil republicano, durante o último século.

Abre o Dossiê o artigo de Gabriel José Brandão de Souza, intitulado “Entre disputas e negociações: a construção histórica da região cacaueira a partir do jornal Gazeta de Ilhéos (1901- 1904)”. Nele, o autor analisa “o processo de construção da narrativa histórica da região cacaueira, a partir das disputas políticas e ideológicas entre os grupos de elites na cidade de Ilhéus-BA no início do século XX”. Para isso, utiliza a Gazeta de Ilhéos como fonte principal. Segundo Souza, importa “perceber como esses grupos passaram a utilizar-se da imprensa não apenas como uma difusora de ideias e ideais, mas como um importante partido político de oposição, compondo assim, uma outra estratégia do jogo político para além da violência, voltada para a veiculação das suas opiniões e da disputa de espaços de poder.”

Na trilha da reflexão sobre os usos políticos da imprensa, Douglas de Souza Angeli, em “Deixar de votar é votar no inimigo”: Igreja e imprensa católica na construção do eleitor no Rio Grande do Sul (1945-1950)”, aborda o tema “propondo compreender a mobilização visando à construção do eleitor no período inicial da experiência democrática, ou seja, a construção de um interesse pelo ato de votar no momento de retorno das eleições, de criação de partidos políticos nacionais e de ampliação significativa do eleitorado inscrito”. Para Angeli, para isso foi fundamental “a atuação de agentes específicos […]: a Igreja Católica, a Liga Eleitoral Católica e a imprensa católica”. Utilizando-se dos jornais Correio Rio-Grandense, Jornal do Dia e o Unitas – boletim da província eclesiástica do Rio Grande do Sul, o autor, afirma que “a construção do eleitor católico” foi, naquele momento ,“impelida com base em um discurso marcadamente anticomunista, articulado às estratégias de posicionamento da Igreja perante o Estado e às práticas de mobilização do clero e da Liga Eleitoral Católica visando ao alistamento e ao voto”.

O artigo seguinte, trabalha o mesmo espaço geográfico e temporal, alterando o foco para a análise de discursos voltados não à política, mas à construção de um imaginário social sobre a cidade de Porto Alegre e as “classes perigosas”. Em “Uma cidade nas sombras”: O mundo dos bas-fonds (Porto Alegre – meados de 1950)”, Marluce Dias Fagundes estuda como o centro de Porto Alegre teve sua paisagem transformada naquele período. Para a autora, é perceptível nas fontes “um contraste de luz e de sombras. Na medida em que a “modernidade” avança pelas ruas da capital sul-rio-grandense, a “decadência social e moral” invade esses mesmos logradouros. Uma região que até a contemporaneidade está presente no imaginário social da cidade é a Rua Voluntários da Pátria – parte dela reconhecida como uma “zona de meretrício”. Para compreender esse “mundo dos bas-fonds”, Fagundes recorre “à análise da imprensa local, sobretudo o Jornal Diário de Notícias, entre os anos de 1954 e 1960, destacando também “alguns casos de crimes sexuais de sedução que chegaram até à Polícia e à Justiça”.

Saindo do Rio Grande do Sul, vamos ao Rio de Janeiro, ainda nos anos 1950. Letícia Sabina Wermeier Krilow, no artigo, “Favela representada: disputas em torno de nomeações e significações nas páginas de jornais cariocas (1951-1954)” analisa como parte da “grande imprensa carioca” – Correio da Manhã, Jornal do Brasil e Última Hora -representou as áreas habitacionais chamadas favelas durante o Segundo Governo Vargas (1951-1954)”. Segundo Krilow, a relevância do trabalho dá-se “ao considerarmos que, no pós 1945, o Brasil passou por um acelerado processo de industrialização e urbanização, entretanto, tais processos não ocorreram espontaneamente, bem como geraram diversas consequências, nem todas positivas, o que causou sérios questionamentos”. Nesse sentido, a autora considera que “um dos fenômenos mais impactantes foi o grande aumento das áreas habitacionais chamadas de favelas”, e, por isso, “se torna relevante analisar a forma como este espaço urbano foi representado nos jornais”. Para ela, “levando-se em consideração o grande poder de legitimação / deslegitimação de ideias que os meios de comunicação possuem, notamos que a forma pela qual a favela é representada pode interferir ou legitimar tomadas de decisões políticas – políticas públicas –, o que possibilita vislumbrar que projetos de sociedade estão sendo difundidas, estando tais representações inscritas no que Bourdieu chama de luta simbólica, evidenciando também disputas entre os referidos jornais”.

Na sequência, Marcelo Marcon discute em “O Globo e as disputas em cena: Brizola e a criação e uma sigla emblemática, o Partido Democrático Trabalhista”, “a forma como o jornal Globo elaborou seu discurso no processo de disputa pelo domínio da sigla PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) entre Leonel Brizola e Ivete Vargas, e a consequente criação do PDT (Partido Democrático Trabalhista)”. Segundo Marcon, “isso ocorreu no processo de abertura política do regime militar brasileiro e reorganização partidária” e, através da análise das fontes e da historiografia, entende “que O Globo apoiou Ivete Vargas e investiu na desqualificação política de Leonel Brizola, uma vez que o jornal e o político gaúcho possuíam diferentes visões acerca do rumo da política brasileira”.

Avançamos no período da ditadura militar com o artigo de Pricila Niches Müller, “Negócio da China: a relação entre mídia e poder na diplomacia do Governo Geisel (1974-1979)”. Nele, a autora estuda as “relações entre imprensa e política externa no Brasil, com foco na análise do posicionamento de órgãos da imprensa a respeito da política externa do governo Geisel (1974-1979), a qual buscou a diversificação de parcerias com o emprego de uma política dita “pragmática, responsável e ecumênica””. A ênfase de tal política, segundo Müller, deu-se “no estabelecimento inicial da parceria estratégica com a República Popular da China, inclusive em nível de Embaixadas entre ambos os países”. Objetivando “investigar de que maneira a formação de parceria entre Brasil e China está retratada na grande imprensa brasileira no contexto dos anos que compreendem o Governo Geisel”, o artigo aborda, especificamente, “a representação feita pela imprensa acerca da posse do General Ernesto Geisel e a política externa do governo, bem como uma análise da questão que envolve a imprensa e a “opinião pública”.

Já Luciana Rossato, em “Juventude e publicidade nas páginas das revistas semanais Veja e IstoÉ (década de 1980)”, estuda as relações entre mercado consumidor, juventude e imprensa. O instigante artigo elucida “como ideias sobre a juventude foram veiculadas pela mídia impressa através de peças publicitárias na década de 1980 no Brasil, período marcado pela abertura política e pela ampliação do mercado consumidor”. Rossato utiliza uma documentação “composta por 30 peças publicitárias publicadas nas revistas Veja e IstoÉ no decorrer dessa década”. A análise recorre “aos conceitos de juventude de Margulis e Urresti (1996) e Abramo (1997), aos conceitos de consumo de Feathersone (1995) e aos meios e mediações de Martin-Barbero (2008)”. Nas peças publicitárias a historiadora constata “que as revistas selecionadas eram voltadas a um grupo específico de jovens, pertencente a uma determinada classe social, e difundiam uma concepção de juventude e ser jovem ligada à liberdade e a uma vida marcada por múltiplas possibilidades de escolha”.

Fechando o Dossiê, Thaíse Ferreira da Luz, com o texto “O Bom, o Mau e o Feio: as representações do jornal O Estado de São Paulo sobre os três principais candidatos à Presidência da República nas eleições de 1989”, realiza uma análise “sobre a representação de figuras políticas na mídia impressa”. A intenção de Luz é “verificar como a construção da imagem dos três principais candidatos ao pleito presidencial de 1989, Fernando Collor de Mello, Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva, foi feita pelo jornal O Estado de São Paulo e, de que maneira essas representações elaboram uma construção simbólica desses candidatos”. Para tal, a autora observou “o uso das imagens nas páginas de O Estado de São Paulo e a construção discursiva do periódico, em uma mesma edição”.

Um Dossiê como este não se propõe a esgotar um conjunto de temas ou proposições de pesquisa, mas compor uma amostra, por pequena que seja, que pode auxiliar em desdobramentos posteriores, especialmente, apontando soluções teórico-metodológicas e novos temas e problemas de pesquisa. Tal diversidade e os encontros e desencontros eventuais demonstram que a riqueza da produção historiográfica brasileira está consolidada e extremamente viva e ativa.

Por fim, encerrando essa apresentação, nos parece ser importante nos situarmos como historiadores comprometidos com os problemas de nosso tempo. Por isso, foi inspiradora a imagem de capa selecionada para esta edição: Che lendo o jornal La Nación.

Ernesto Guevara de La Serna, o Che, foi um revolucionário argentino, combatente da Revolução Cubana de 1959, executado com auxílio de agentes da CIA na Bolívia em 9 de outubro de 1967. Che teve sua imagem veiculada mundialmente na grande mídia, impressa e televisiva, em estampas de camisetas, pôsteres e diferentes acessórios de moda, transformada inclusive em uma mercadoria, vinculada ao sistema político e econômico que passou a vida inteira combatendo e tendo sido por conta disso morto. Assim, não buscamos aqui a inspiração na “imagem” de Che, mas no agente teórico e prático que foi. A coerência entre pensamento e ação foi característica de sua trajetória, bem como a sua capacidade de agir no mundo visando transformá-lo de acordo com sua visão de como deveria ele ser.

Como profissionais de história, educadores e pesquisadores, que estão imersos em uma época marcada pelo ressurgimento de formas mais ou menos escancaradas de fascismo, nossa resposta ativa, nossa práxis, deve ser à altura. Desde nosso lugar, de nossa trincheira que são as universidades públicas, agora sob severo ataque, acreditamos que é um dever marcar a solidariedade e a ação que vá ao encontro dos interesses e necessidades dos povos pretos e periféricos, dos indígenas, das mulheres, dos LGBTs, da classe trabalhadora, enfim, daqueles cujas existências mesmas estão em vários sentidos ameaçadas.

E a universidade deve ser um espaço seu de direito! Falava Che aos estudantes cubanos em 1959:

Y, ¿qué tengo que decirle a la Universidad como artículo primero, como función esencial de su vida en esta Cuba nueva? Le tengo que decir que se pinte de negro, que se pinte de mulato, no sólo entre los alumnos, sino también entre los profesores; que se pinte de obrero y de campesino, que se pinte de pueblo, porque la Universidad no es el patrimonio de nadie y pertenece al pueblo de Cuba, y […] la Universidad debe ser flexible, pintarse de negro, de mulato, de obrero, de campesino, o quedarse sin puertas, y el pueblo la romperá y él pintará la Universidad con los colores que le parezca[1].

Que a luta antifascista em toda América Latina e no mundo seja vencedora!

Nota

1. Discurso en el auditorium de la Universidad Central de las Villas (al recibir el doctorado honoris causa) 28 de diciembre de 1959 In Ernesto Guevara. Obras Escogidas. CEME – Centro de Estudios Miguel Enriquez, Archivo Chile, p. 148.

Irinéia Franco

Luiz Alberto Grijó

Dezembro / 2019


FRANCO, Irinéia; GRIJÓ, Luiz Alberto. Apresentação. Crítica Histórica, Maceió, v. 10, n. 20, dezembro, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Coleção Arquitetura Moderna na Bahia | Nivaldo Vieira de Andrade

O arquiteto Nivaldo Vieira de Andrade Júnior enriquece a fortuna crítica da história da arquitetura brasileira com os cinco volumes da Coleção Arquitetura Moderna na Bahia (1947-1951), os quais devem ser apreciados com vigoroso reconhecimento. Os principais personagens e processos de configuração da arquitetura na cena mítica do Movimento Moderno são os focos desse exemplar estudo de Andrade Junior, o jovem presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil que é, também, professor da Universidade Federal da Bahia. Representante da nova geração de “arquitetos de projeto” que são, ao mesmo tempo, teóricos e historiadores da arquitetura, o autor aborda a complexidade do Modernismo em primorosa coletânea autoral.

A Coleção recorta e desdobra uma história da nossa arquitetura modernista que, idealizada, corria sem amarras, ou seja, “deitava o cabelo”. Particular interesse tem o reconhecimento e o diálogo transformador que Andrade Júnior impõe ao que define de “obras canônicas”. Ao denominar alguns dos roteiros sacralizados que tratam do Movimento Moderno brasileiro, ele utiliza estratégia sutil, pois a Coleção anuncia o propósito de romper com as regras que foram estabelecidas “a contrapelo” das realidades regionais. Portanto, na Coleção de Andrade Júnior, Objeto e Sujeito fundem História e Memória para trazer à cena elementos inéditos. Leia Mais

Nijinsky | Romola Nijinsky e Paul Claudel

Introdução

No mês de agosto de 1917, enquanto a Europa ardia em guerra, estavam no Rio de Janeiro – e conviveram por breve período – três figuras importantes da cultura: o poeta Paul Claudel, Ministro Plenipotenciário da França; o jovem Darius Milhaud, com 25 anos, seu secretário e adido da embaixada (1); e o genial bailarino russo/ucraniano Vaslav Nijinsky, com 28 anos, que vinha ao Rio pela segunda vez com os Balés Russos (Ballets Russes) de Serge de Diaghilev – empresário que, por sinal, nunca esteve na cidade em razão do seu terrível medo do mar.

Logo, a vida desses personagens iria mudar muito. Nijinsky, como se sabe, ficaria mentalmente doente, afastando-se dos palcos em 1919 após apresentação em Montevidéu, passando por internações em diversos sanatórios até a morte, em 1950. Ao piano, acompanhava-o Arthur Rubinstein – que também passara, antes, pelo Rio – nessa última apresentação. Milhaud se tornaria um compositor musical influente – integrante, nos anos 1920, do chamado Grupo dos Seis, com Poulenc, Honegger, Auric e outros – e, depois, professor do Conservatório de Paris. Sua principal composição orquestral, o balé sinfônico O boi no telhado (1920), apresenta ritmos e motivos relacionados ao samba, ao maxixe, ao tango brasileiro, decorrentes do contato que manteve, entre 1917 e 1918, com Donga e outros compositores populares. O Corta-jaca, por exemplo, de Chiquinha Gonzaga é facilmente identificável na peça. Leia Mais

O tecido do tempo: o patrimônio cultural no Brasil e a academia Sphan. A relação entre o modernismo e o barroco | Mariza Veloso

A contribuição de Mariza Veloso em seu livro O tecido do tempo – o patrimônio cultural no Brasil e a academia Sphan. A relação entre o modernismo e o barroco é relevante principalmente no entendimento de uma visão acerca do surgimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Sphan, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, instituição federal responsável pelo tombamento em nível nacional, com foco nas relações pessoais entre seus idealizadores que tiveram como resultado práticas de preservação no Brasil. A autora é cientista social com doutorado em antropologia, além de docente na Universidade de Brasília. A expressão Academia Sphan cunhada pela autora, de acordo com Maria Cecília Londres Fonseca (1), é adequada para caracterizar a função que o Sphan também exerceu no campo da produção do conhecimento sobre história do Brasil.

A pesquisa é resultado de sua tese de doutorado de 1992 e foi publicado em 2018 como livro. O livro é caracterizado por uma visão antropológica da criação do Sphan, pois leva em consideração, além da conjuntura política e social da época – década de 1930 –, o grupo de intelectuais que se envolveu efetivamente no projeto, especificamente sua visão sobre o que deveria ser reconhecido como patrimônio e por quais motivos. Leia Mais

Ensino de história e relações étnico-raciais: diálogos afro-indo-latinos / Fronteiras – Revista Catarinense de História / 2019

Outros tempos, outros ensinos, outras histórias

Vivemos num tempo de golpes contra a democracia – Brasil, Equador, Bolívia, Chile, para enumerar os mais recentes – em que emergem projetos de Lei que criminalizam a prática docente; num tempo de uma base nacional curricular comum para o ensino centrada numa visão europocêntrica e que enfraquece a formação humana; num tempo da retirada da disciplina de História do Ensino Médio; num tempo de um poder judiciário que assume posições tendenciosas; num tempo de extermínio de direitos trabalhistas e previdenciários; num tempo de governantes que acabam com os planos de carreira do magistério e tantos outros trabalhadores; num tempo em que setores sociais e governamentais colocam sob litígio conquistas históricas como as leis que instituem o ensino de história e cultura dos povos de matriz africana e indígena; num tempo de extermínio de jovens negros; num tempo de assassinatos quase quotidianos de indígenas; num tempo de incêndios e destruição de florestas; num tempo de ódio ao saberes científicos, enfim num tempo de ódios e obscurantismos, especialmente contra negros e indígenas.

Apesar de tudo ser feito para calar as vozes daquelxs que se rebelam e rebelarão buscando viver num outro tempo aquele de busca, de esperanças, de lutas, de sonhos com e por outros ensinos de Histórias outras, de outras relações étnico-raciais pautadas no respeito, na igualdade e na diferença.

Na busca desses outros tempos construímos o dossiê Ensino de história e relações étnico raciais: diálogos afro-indo-latinos composto por 12 artigos e uma resenha, os quais de forma mais ou menos direta relacionam-se com a temática proposta. São produções que buscam amplificar o debate sobre a Educação das Relações Étnico Raciais, demarcando o campo do Ensino de História em que professores e estudantes / pesquisadores engajados nos estudos e pesquisas em pauta propuseram artigos e uma resenha que focam o diálogo intercultural pelo viés das experiências de ensino / pesquisa evidenciando a diversidade e complexidade que envolvem tais relações educativas no Brasil e Colômbia.

No artigo Etnoeducação, etnização afro-colombiana e forças decoloniais de autoria de Santiago Arboleda Quiñonez apresenta como um campo de gestão e produção de alteridade, bem como auto-representação positiva, no processo de um projeto de transformação e, até certo ponto, uma ruptura com o paradigma monocultural que prevalece na educação colombiana e em geral em nossos países da América Latina. O autor defende que o projeto etno-educacional estabelece propósitos abertamente decoloniais e libertadores, baseados na experiência e pensamento dos povos indígenas e afrocolombianos

Em Memória / identidade Xokó e a decolonização do ensino de História, os autores Lucas Wendell de Oliveira Barreto, Valéria Maria Santana Oliveira e Ilka Miglio de Mesquita propõe contribuir para o ensino de História indígena por lentes decoloniais. Para tal, utilizam como fontes de pesquisa as músicas autorais do povo Xokó, habitantes da cidade de Porto da Folha / Sergipe, reunidas e digitalizadas por meio do projeto extensionista “A aldeia vai à cidade”, desenvolvido na Universidade Tiradentes, em Aracaju.

No artigo Problematizando o eurocentrismo e desconstruindo o racismo por meio de práticas pedagógicas decoloniais e interculturais os autores Odair de Souza e Elison Antonio Paim problematizam o eurocentrismo derivado da colonialidade do poder, do saber e do ser como gerador do racismo estrutural e institucional. Apresentam o resultado da pesquisa “A educação para as relações étnicorraciais no ensino de história: memórias e experiências de professoras da educação básica” desenvolvida no âmbito do Mestrado Profissional em Ensino de História- Profhistória da Universidade Federal de Santa Catarina. Dialogamos com narrativas de professoras coletadas na forma de entrevistas orais gravadas e depois organizadas na perspectiva metodológica de Walter Benjamin construindo mônadas.

Os autores Antonio Dyego Vasconcelos Garcia e Edson Silva no artigo Discutindo os protagonismos indígenas na aula de História: diálogos sobre o povo Xukuru do Ororubá em Pesqueira / PE apresentam reflexões sobre uma experiência de protagonismo indígena nas aulas de história. Partindo dos diálogos com a participação de representantes do povo indígena em sala de aula. Evidencia-se que o ensino foi para além do livro didático, enfatizando suas mobilizações para a conquista e garantias de direitos, especificamente às terras onde habitam, para afirmação da identidade nas relações de convivência com os não índios.

Em Que História Pública é contada sobre os povos africanos no Museu Egípcio Itinerante? Cyntia Simioni França narra uma ação educativa desenvolvida em um Museu Egípcio Itinerante, na cidade de Londrina, no norte do estado do Paraná, com estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental. O museu é compreendido como lugar de trânsito, deslocamentos, transfigurações e ultrapassagens em que afloram relações dinâmicas e intricadas entre os sujeitos na experiência de aprender e sentir os enovelamentos temporais. Procurou conceber ações educativas que provocassem o estranhamento dos sentidos históricos propostos nos museus como uma prática de leitura a contrapelo do museu Egípcio.

No artigo O ensino da temática indígena nas escolas da Rede Pública de Ponta Porã – MS, Elizabeth Vieira Macena e Beatriz dos Santos Landa apresentam o resultado de pesquisa realizada com estudantes do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Buscaram compreender e avaliar como a Lei 11.645 / 2008 que estabelece a inclusão no currículo da História e cultura indígena vem sendo ou não implementada pelos / as docentes de História nas escolas selecionadas da rede pública da Educação básica do município de Ponta Porã / MS. Apoiadas nos estudos do grupo Modernidade / Colonialidade analisam como esta temática pode construir espaços interculturais e práticas decoloniais ao posicionar a História destes povos em igualdade de posição à História eurocentrada.

O PIBID / História na UNEB e as demandas identitárias do tempo presente, artigo de Adriana Silva Teles Boudoux analisa os subprojetos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência executados entre 2014 e 2017 pelas Licenciaturas em História da Universidade do Estado da Bahia. Para tanto, expõe o debate travado nos campos da História do Tempo do Presente e do Ensino de História sobre as relações destes com as demandas sociais. Na sequência, faz uma apresentação dos subprojetos selecionados para estudo, inserindo-os no cenário brasileiro, onde políticas foram sendo adotadas nos últimos quinze anos.

Em A presença ausente dos indígenas e dos negros nas histórias das fortalezas catarinenses e o ensino de História Pedro Mülbersted Pereira e Jéssica Lícia da Assumpção propõe evidenciar a presença ausente de indígenas e negros no processo de patrimonialização da Fortaleza de Anhatomirim. O processo de patrimonialização é compreendido em três movimentos: discursos, restauro, usos. Apresentam as narrativas provenientes de uma dada historiografia catarinense, marcadamente eurocêntrica, que privilegia as contribuições dos colonizadores europeus em detrimento dos povos indígenas, africanos e afrodescendentes para a formação social, econômica e cultural de Santa Catarina.

O artigo Narrativas sobre a Diáspora Africana: um site educativo para a construção do conhecimento histórico a partir da trajetória de africanos em sala de aula de autoria de Carolina Corbellini Rovaris apresenta uma proposta didática resultante da pesquisa intitulada “Narrativas sobre a Diáspora Africana no Ensino de História: trajetórias de africanos em Desterro / SC no século XIX”. Procura debater a construção do conhecimento histórico por meio da produção de narrativas sobre populações de origem africana em Desterro / SC no século XIX, possibilitando aos estudantes evidenciarem e conhecerem a agência destes sujeitos ao longo dos processos históricos. O artigo apresenta o desenvolvimento do site e suas possibilidades de trabalho em sala de aula.

Melina Kleinert Perussatto, Fábio Araújo e Taíse Staudt no artigo Por um ensino de História antirracista registra uma experiência de formação de professores / as ocorrida em uma disciplina optativa de um curso de Licenciatura em História, trazendo ganhos e desafios de um ensino de história antirracista. Visa contribuir para a descolonização curricular e a implementação dos marcos legais em torno do ensino de história e cultura africana, afro-brasileira e indígena e da educação das relações etnicorraciais no Brasil.

O artigo A História no Currículo Base do Território Catarinense de Núcia Alexandra Silva de Oliveira, Helena Alpini Rosa, Denize Aparecida da Silva apresenta o processo de escrita do componente curricular História no Currículo Base da Educação Infantil e Ensino Fundamental do Território Catarinense. Publiciza alguns dos movimentos que resultaram no texto como o processo de redação do texto; a revisão realizada com o grupo de profissionais de História; a estrutura apresentada para o Componente Curricular e, por fim, uma discussão sobre os limites e as possibilidades do texto redigido.

Em Intelectuais, ditadura e modernização em Santa Catarina, Michel Goulart da Silva debate a ideia de modernização elaborada por uma parcela dos intelectuais durante a ditadura civil-militar (1964-1985). Analisa a produção dos intelectuais Alcides Abreu e Nereu do Valle Pereira, vinculados aos governos de cunho militar. Evidencia-se a produção de uma cultura política compartilhada por escritores, professores e outros intelectuais, que colaboraram com a construção de um discurso de legitimação do regime ditatorial.

Na seção resenha Tatiana Oliveira Santana apresenta o livro Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico organizado pelos autores decoloniais Joaze Bernardino-Costa, Nelson Maldonado-Torres e Ramón Grosfoguel, publicado pela Editora Autêntica em 2019. A escrita da autora pauta-se em problematizações como Quais são as nossas contribuições num mundo afrodiaspórico? Como podemos escrever o livro de nossas vidas e nos libertar das amarras processuais de colonização do conhecimento iniciadas no período colonial? Como apreender com as resistências negras e indígenas sem deixar de invisibilizar os lócus de enunciação? Quem tem o direito de viver e quem não tem? O privilégio de conhecimento de uns tem como indução a negação ou a afirmação de um corpo-política do conhecimento?

Em tempos de golpes e múltiplos retrocessos, como explicitamos no início desta apresentação, faz-se necessário pesquisar, debater, ensinar, problematizar nas escolas, nas universidades, nas ruas, igrejas, terreiros, aldeias, nos mais diversos lugares, as temáticas relativas aos povos afro-indo-latinos. Para tanto, não basta a existência de Leis antirracistas se não houver vontade política institucional e de cada sujeito, especialmente professores(as), diretores(as), estudantes ou dirigentes governamentais no combate à discriminação racial, silenciamento ou apagamento de memórias que não são daqueles que a mais de 500 anos estão no poder em nossa afrolatinoamérica.

Elison Antonio Paim

Mônica Martins da Silva

Organizadores do Dossiê Ensino de história e relações étnico raciais


PAIM, Elison Antonio; SILVA, Mônica Martins da. Apresentação. Fronteiras: Revista catarinense de História. Florianópolis, n.34, 2019. Acessar publicação original [DR]

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Justiça de Transição, experiências autoritárias e democracia / Estudos Ibero-Americanos / 2019

Ao longo das últimas décadas, o debate sobre Justiça de Transição ganhou novos contornos e direcionamentos. Por se tratar de um campo reflexivo intrinsecamente interdisciplinar, envolvendo, entre outros, pesquisadores vinculados à História, às Ciências Sociais e ao Direito, a justiça de transição tem sido abordada a partir de perspectivas diversas, possibilitando uma compreensão multifacetada sobre a busca de verdade e de justiça em contextos democráticos de países que passaram por experiências de autoritarismo ou guerra.

No Brasil, em particular, a produção bibliográfica orientada pela busca de justiça em relação aos crimes da ditadura militar, ainda que relevante, é reduzida frente à importância do tema. Sob a sombra da Lei de Anistia de 1979, muitos anos transcorreram antes que a agenda da justiça de transição fosse nomeada e ganhasse fôlego no País. O olhar investigativo para o passado padecia – e ainda padece – do estigma do revanchismo. A partir de 2007, com a inflexão que Paulo Abrão imprimiu na Comissão de Anistia, o vocabulário e os enquadramentos da justiça de transição aportaram no Brasil. Temos ali uma primeira leva de estudos dedicados a compreender – em perspectiva comparada ou não – a trajetória transicional brasileira, fortemente ancorada no princípio de reparação. Mais recentemente, em 2012, com a Comissão Nacional da Verdade e a onda de outras comissões da verdade que a sucederam – municipais, estaduais, universitárias, sindicais, entre outras –, novo impulso foi dado às pesquisas sobre justiça de transição. Contudo, há ainda vasto território a ser explorado sobre o assunto.

Este dossiê se insere precisamente nessa agenda de reflexões, buscando preservar a sua vocação plural e interdisciplinar. Ele é composto por uma entrevista e cinco artigos. Na entrevista com Paulo Abrão, o leitor tem um precioso relato sobre a trajetória brasileira de institucionalização das políticas de memória e verdade. Nosso entrevistado foi presidente da Comissão de Anistia (2007-2016) do Ministério da Justiça, Secretário Nacional de Justiça (2011-2016), diretor do Instituto em Políticas Públicas dos Direitos Humanos do Mercosul (2015-2017) e, atualmente, exerce o cargo de Secretário Executivo da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (2016-2020). Em um impressionante exercício de articulação e síntese, ele percorre um grande arco temporal, partindo da primeira geração de ativistas, que enfrentaram as portas fechadas do Estado, até o evento mais recente das comissões da verdade, quando setores do Estado e da sociedade atuaram em redes de cooperação e conflito. Trata-se de um importante panorama da justiça de transição no País, de interesse para iniciantes e iniciados no assunto.

Quanto à seção de artigos, ela se inicia com texto de Pedro Rolo Benetti, intitulado “Excessos, exceção e ordem: entraves para a construção democrática póstransições”. Nele, o autor aborda de que maneira setores das Forças Armadas no Brasil buscaram construir uma retórica orientada para a legitimação da violência sistemática do Estado durante o período da ditadura militar no País, com ênfase nas noções de excessos, exceção e ordem. Para tanto, o autor se vale de duas fontes principais produzidas em contextos distintos: os debates em torno das Forças Armadas do Estado durante o processo da Constituinte de 1987-1988 e os depoimentos prestados por militares à Comissão Nacional da Verdade.

O segundo artigo do dossiê, de autoria de Maria Inácia Rezola, direciona o olhar para a justiça de transição no contexto português. Em seu texto “Punir ou perdoar? A difícil gestão do passado ditatorial no Portugal democrático – o caso dos seneamentos”, a autora chama a atenção para o fato de que, em Portugal, a conjuntura de transição da ditadura para a democracia abriu uma “janela de oportunidade” para a investigação de crimes cometidos durante o período autoritário. Para discutir esse cenário, Rezola analisa a legislação e a prática dos chamados “saneamentos”, que foram processos de exclusão do serviço público de funcionários considerados como autoritários ou corruptos.

San Romanelli Assumpção é autora do terceiro artigo do dossiê, com o título “Comissões da verdade e justiça de transição: problemas de fundações morais deliberativas para se pensar graves violações de direitos humanos massivamente praticadas”. Em diálogo com as obras de Amy Gutmann e Dennis Thompson, a autora busca refletir sobre as “fundações morais” das comissões da verdade, com o intuito de analisá-las tendo-se em vista a relação entre a normatividade da justiça de transição e as teorias deliberativas da democracia. Ainda que sustente as virtudes e os aspectos positivos dos requisitos e dos processos democráticos deliberativos, para a autora, eles não devem ser priorizados para se pensar normativamente acerca dos períodos de transição de regimes autoritários para democracias.

O quarto artigo do dossiê se intitula “Patrimônio, mudanças e memórias traumáticas: a Arqueologia da Repressão e da Resistência”, de autoria de Pedro Paulo Abreu Funari, Rita Juliana Soares Poloni e Darlan de Mamann Marchi. Ancorados na discussão teórica sobre os Estudos Patrimoniais e a Arqueologia da Repressão e da Resistência, os autores desse texto abordam novas interpretações da questão patrimonial e a sua relação com as memórias traumáticas no Brasil e na América Latina no contexto democrático. Ao colocar em diálogo diferentes campos do conhecimento, como a História, os Estudos Patrimoniais e a Arqueologia, o artigo contribui para uma reflexão ampla sobre as políticas patrimoniais e a justiça de transição em diferentes contextos.

O último artigo do dossiê, de autoria de Wallace Andrioli Guedes, intitulado “A freira, a tortura e a censura: um filme de Ozualdo R. Candeias entre a crítica política e a ofensa moral”, se dedica a analisar o filme A freira e a tortura, do diretor Ozualdo R. Candeias, lançado em 1983, que aborda a repressão sofrida por uma religiosa durante a ditadura militar brasileira. O autor busca refletir sobre a obra, censurada pela Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP) no período final do regime ditatorial, com o objetivo de refletir sobre os processos de censuras moral e política em um contexto de transição do período autoritário para a democracia.

A publicação de um dossiê sobre justiça de transição já se justificaria pela grande relevância do campo, sempre ocupado em depurar os lastros do passado autoritário no presente democrático. Em uma conjuntura marcada pela disseminação de discursos que buscam negar a ditadura ou relativizar os processos de repressão no País, esse dossiê também se propõe como um gesto político e uma afirmação da democracia qualificada pela devida compreensão e enfrentamento do passado autoritário e pela defesa dos direitos humanos.

Cristina Buarque de Hollanda – Doutora em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ); Professora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP / UERJ), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. Também é Secretária Executiva da Associação Brasileira de Ciência Política. E-mail: cristinabuarque@iesp.uerj.br https: / / orcid.org / 0000-0002-1600-4044

Fernando Perlatto – Doutorado em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ); Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. E-mail: fperlatto@yahoo.com.br  https: / / orcid.org / 0000-0003-4301-0826


HOLLANDA, Cristina Buarque de; PERLATTO, Fernando. Apresentação. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v. 45, n. 3, set. / dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

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Francesco de Sanctis: la scienza e la vita | Fulvio Tessitore

“Sono sempre stato colpito dalla singolare ripresa, a ben poca distanza, del gran tema della ‘utilità’ della storia da parte di due grandi e diverse personalità quali quelle di De Sanctis e di Nietzsche”.

É assim que Fulvio Tessitore conduz a publicação de suas páginas sobre Francesco De Sanctis: la scienza e la vita (il Mulino, 2019, pp. 107), nas quais, de acordo com as intenções programáticas da série que a acolhe, estão reunidos a preleção inaugural realizada por ele para o ano acadêmico de 2017-2018 do Istituto Italiano per gli Studi Storici e alguns de seus desenvolvimentos nos cursos do mesmo ano, seguidos ao fim, oportunamente, de um apêndice que reproduz o ensaio sobre de De Sanctis de 1972 e o comentário que Croce lhe dedicou na “Crítica” de 1924. Leia Mais

Memórias de Gustav Hermann Strobel. Relatos de um pioneiro da imigração alemã no Brasil | Sergio O. Nadalin

A imigração alemã no Brasil é significativa, principalmente nos três estados do sul do país. O livro “Memórias de Gustav Hermann Strobel” narra a história da família Strobel, que saiu de Glauchau, na Saxônia (região da atual Alemanha), e chegou ao Brasil, juntamente com outros imigrantes germânicos, em 20 de novembro de 1854. Os imigrantes foram levados para a colônia Dona Francisca, atual Joinville, à época província de Santa Catarina. Devido à precariedade da colônia, o pai de Gustav, Christian August Strobel, migrou para São José dos Pinhais, nos arredores da capital da recém-criada província do Paraná.

A história escrita por Gustav Hermann Strobel é uma importante fonte para quem estuda a inserção social dos imigrantes alemães na sociedade paranaense e brasileira de modo geral. O texto, originalmente escrito em língua alemã, recebeu uma primeira tradução em 1987 e foi publicado pelo Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. A tradução para a língua portuguesa foi realizada a partir de manuscritos reproduzidos ao longo do tempo, já que os descendentes de Gustav faziam cópias do texto para que este não fosse perdido.

Em razão de algumas disparidades nos manuscritos é que o professor Sergio Odilon Nadalin (UFPR), pesquisador do CNPq, e Egon Frederico Michells Ribeiro, descendente de Gustav, se empenharam em uma nova tradução para tentar resolver algumas dessas questões (três cópias dele chegaram ao século XXI). O texto original, muito provavelmente, foi escrito entre 1909 e 1928, não sendo possível datar de forma exata e, ao que tudo indica, não foi escrito de uma única vez (NADALIN, 2015, p.13).

A nova tradução é acompanhada de um posfácio em que a professora Cacilda da Silva Machado (UFRJ) e o professor Sergio Odilon Nadalin (UFPR) fazem uma análise da obra. Nessas considerações, os dois pesquisadores ressaltam como as lembranças individuais de Gustav Hermann Strobel são depositárias das memórias herdadas e/ou compartilhadas pelos pais (NADALIN, 2015, p.195). Muitos dos episódios narrados pelo imigrante alemão fazem referência a um período em que este era uma criança, como, por exemplo, a saída de Glauchau e a viagem de navio para o Brasil, quando Gustav contava apenas cerca de 5 anos de idade.

No posfácio os autores também tecem importantes considerações acerca das imagens do imigrante germânico e do nacional a partir das reminiscências de Gustav. Importante destacar que o texto original foi redigido de forma retrospectiva, ou seja, os fatos descritos dizem respeito a situações ocorridas várias décadas antes. Supondo que o manuscrito tenha sido concluído em 1928, e visto que a família desembarcou na colônia Dona Francisca em 1854, as memórias do autor cobrem mais de 70 anos. Portanto, Sergio Odilon Nadalin e Cacilda da Silva Machado destacam como o discurso de Gustav Hermann Strobel está ancorado na sua vivência em sociedade e na memória coletiva, seja para reforçar ou para negar pontos de vista (NADALIN, 2015, p.215).

As Memórias, propriamente ditas, estão divididas em dezoito capítulos, tendo um capítulo complementar que inexistia na edição em língua portuguesa publicada em 1987. O memorialista descreve não apenas fatos vivenciados por ele, mas também narra acontecimentos transmitidos principalmente por seus pais, Christian e Christiana (reforçando o que foi dito acima sobre o discurso social presente nas linhas grafadas). Assim, podemos entender como, grosso modo, os sete ou mesmo oito capítulos iniciais relatam fatos ocorridos na época em que Gustav tinha menos de 10 anos de idade.

A exposição dos motivos para a família deixar a Saxônia, as expectativas e a decepção ao desembarcarem em Dona Francisca, bem como a mortalidade a bordo do navio que cruzou o Atlântico trazendo a família e demais pessoas da Europa para o Brasil são lembranças que ajudam a compreender o processo (e)imigratório transatlântico. Os eventos narrados por Gustav, portanto, não se resumem ao processo vivido apenas pela família Strobel. Era difícil a decisão de deixar a Europa para embarcar numa aventura em direção à América, pois a possibilidade de regresso era mínima. Será, então, que os imigrantes estavam conscientes da quase nulidade da chance de regressar à Glauchau, ou qualquer outra região da atual Alemanha, caso o encontrado no Brasil não correspondesse às expectativas?

De acordo com o capítulo 4 das “Memórias de Gustav Hermann Strobel”, a maioria dos germânicos que chegaram no mesmo navio, não só estavam decepcionados com o cenário que encontraram em Dona Francisca como foram tomados de espanto

À medida que avançávamos rio acima, o silêncio tomava conta dos viajantes […] A decepção era visível nos rostos de cada um, pois a vegetação fechada que víamos nas margens era um tanto assustadora (NADALIN, 2015, p.40).

Concomitantemente à desolação, veio a revolta; os conterrâneos de Christian August Strobel se sentiram enganados. Porém, o regresso à Europa era algo deveras irreal para imigrantes que chegaram à América gastando as poucas economias que possuíam: “Todos estavam dispostos a retornar à Europa. Fácil dizer, mas difícil realizar” (NADALIN, 2015, p.42).

O contraste entre a expectativa do momento da partida com a realidade no desembarque obrigou o patriarca da família a migrar. Christian Strobel saiu a pé de Joinville em direção a São José dos Pinhais à procura de emprego; após um período de tempo providenciou para que a esposa e os filhos fossem ao seu encontro. Posteriormente a família ainda migrou para Campo Largo da Roseira e, depois, para Curitiba. Essas constantes mudanças demonstram como a vida do imigrante no Brasil não está marcada pela imobilidade espacial e muito menos à fixação definitiva em uma gleba de terra. Mas é necessário lembrar que o pai de Gustav era carpinteiro, portanto possuía um ofício que lhe permitia buscar trabalho em centros urbanos e não depender exclusivamente dos produtos da terra.

As Memórias desses pioneiros da imigração alemã ajudam a pensar as dificuldades dos imigrantes (não apenas de origem germânica), bem como também permitem analisar as táticas de sobrevivência em um novo espaço social. Enquanto Christian trabalhava longe de casa exercendo seu ofício de carpinteiro, sua esposa Christiana, junto com filhos menores, cultivavam alimentos no quintal, tanto para a subsistência como para gerar algum excedente que pudesse ser vendido ou trocado. Como o pai de Gustav passou a ser (re)conhecido entre a “comunidade” germânica, não raro a casa servia de hospedagem a alguns migrantes, de origem alemã principalmente.

A questão étnica está presente em todo o texto de modo implícito, mas em alguns pontos ela fica explícita. No capítulo 11 Gustav fala de uma corporação de escavadores, homens que abriam valetas para delimitar as propriedades, onde todos tinham origem germânica. O autor das Memórias sempre está relacionando a vida da família e o trabalho desta com o fluxo de novos alemães que chegavam e partiam (o capítulo 12 é exemplar a respeito disso). Claro que sempre sem desconsiderar os contatos culturais cada vez mais estreitos com os brasileiros e demais grupos imigrantes de outras origens.

Entre muitos episódios interessantes, um caso contado no capítulo 13 diz respeito à questão religiosa dos imigrantes. Gustav lembra que em determinada ocasião um imigrante, amigo da sua família, saiu dos arredores de Curitiba em direção à Joinville para conseguir um padre alemão que ouvisse sua Confissão. Embora houvesse padres latinos na região, o homem não conseguia ficar em paz se não confessasse com sacerdote da mesma origem que ele e na sua língua materna. A viagem não era simples, pois estradas entre a capital do Paraná e Santa Catarina eram praticamente inexistentes na segunda metade do século XIX, e o meio de transporte era basicamente o lombo de uma montaria (que poucos possuíam) ou as solas dos sapatos.

As memórias da família Strobel serviram também de fonte para que Sergio Odilon Nadalin (2007), a partir dos prenomes escolhidos para os membros da família, ao longo dos séculos XIX e XX no Brasil, pudesse analisar a identidade teuto-brasileira em Curitiba. A forma de nomear as pessoas pode trazer consigo elementos de distinção étnica:

ao optar por um nome de batismo, os pais de uma criança são ou estão influenciados por uma determinada herança, ou seja, os nomes são emprestados de um estoque cultural, e a maneira de grafá-los refere-se à língua falada e escrita (NADALIN, 2007, p.17).

Portanto, o fator língua é fundamental para o estudo da identidade teuto-brasileira em Curitiba. Por isso o esforço do imigrante alemão que viajou dezenas de quilômetros em busca de um confessor, conforme explicitado anteriormente, é compreensível na construção étnica no Brasil. Da mesma forma que as escolhas de nomes não são aleatórias, conforme ressaltado (NADALIN, 2007).

A endogamia também é um fator importante no estudo da identidade construída pelos imigrantes de origem germânica no Brasil. No período de 1870 a 1939 na Comunidade Evangélica Luterana da capital paranaense, chegava a 87% os casamentos em que os dois noivos eram de origem alemã (NADALIN, 2012, p.56). Mas, não podemos concluir que os imigrantes de origem alemã vivessem isolados, inclusive a etnicidade se constrói e é mais visível no contato com o diferente, conforme apontado por Fredrik Barth (2011). A percepção da marca étnica, seja pelos nomes de batismo ou pela endogamia nas uniões matrimoniais, só é possível de análise na comparação com quem não faz parte da comunidade teuto-brasileira.

Essa distinção étnica em face do “outro” pode ser vislumbrada no capítulo 13. Nele há menção à alegria que os carpinteiros da família Strobel sentiam por terem um ferreiro da mesma origem, com quem conseguiam seus instrumentos de trabalho: “Estávamos felizes por termos agora um ferreiro alemão que confeccionava boas ferramentas para nós” (NADALIN, 2015, p.115. Grifo original). A questão étnica fica explícita nessa informação, pois a qualidade de tais apetrechos estava diretamente ligada à origem de quem os fabricava/fornecia. Ainda no capítulo 13, Gustav narra a admiração dos brasileiros com as técnicas alemãs de construção.

Nos capítulos finais a narrativa de Gustav versa, entre outros aspectos, a respeito das construções executadas pelo pai, e por ele também, na capital paranaense, demonstrando as mudanças na urbe e a contribuição alemã nessas transformações. Também há no capítulo 16 menção à ineficiência brasileira e às hostilidades entre alemães e franceses devido à guerra franco-prussiana. Essas duas questões são descritas em razão dos problemas na gestão do Hospital da Misericórdia. Devido aos desmandos dos brasileiros no hospital, freiras enfermeiras da França foram chamadas para gerir a instituição. Apesar de pontuar as animosidades que as freiras tinham em relação aos pacientes de origem alemã, Gustav não deixa de ressaltar que elas em pouco tempo restauraram a ordem no hospital (NADALIN, 2015, p.163).

Mas essas questões não diminuem a riqueza do texto escrito por Gustav Hermann Strobel. São justamente esses posicionamentos do autor que permitem uma análise dos contatos culturais e da construção de uma identidade teuto-brasileira. As “Memórias de Gustav Hermann Strobel”, escritas pelo filho varão mais velho da família, Gustav, demonstram como a identidade e a cultura alemã no Paraná se formou e se transformou ao longo do século XIX e início do século XX, à medida que os contatos culturais aumentaram, às vezes de forma amistosa e às vezes de modo conflituoso.

As reminiscências de Gustav Hermann Strobel permitem que as análises tomem diversos caminhos: possibilita a conjugação de memórias individuais e coletivas; propicia a análise do passado e sua relação com o presente; dá ênfase na construção e transformação da sociedade paranaense; ressalta como as identidades se constroem no contato com o outro.

Portanto, a nova tradução coordenada pelo professor Sergio Odilon Nadalin não é esforço vão. As reminiscências de Gustav Strobel, relançadas em livro pelo Instituto Memória, cumpre o desejo do autor de perpetuar a história da família Strobel na memória das futuras gerações (ele mesmo havia incumbido seus descendentes de redigir cópias do manuscrito). Além disso, a nova edição amplia o acesso a uma fonte histórica que tem servido para problematizar aspectos da teuto-brasilidade.

Referências

BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUIGNAT, Philippe; STREIFFFENART, Jocelyne. Teorias da etnicidade: seguido de grupos étnicos e suas fronteiras de Fredrik Barth. 2ª ed. São Paulo: Ed. Unesp, 2011.

NADALIN, Sergio Odilon (Org). Memórias de Gustav Hermann Strobel. Relatos de um pioneiro da imigração alemã no Brasil. 2. ed. Curitiba: Instituto Memória, 2015.

______. A constituição das identidades nacionais nos territórios de imigração: os imigrantes germânicos e seus descendentes em Curitiba (Brasil) na virada do século XX. Revista Del CESLA, Varsóvia, n.15, p.55-79, 2012. Disponível em:. ______. João, Hans, Johann, Johannes: dialética dos nomes de batismo numa comunidade imigrante. História Unisinos, São Leopoldo, v.11, n.1, p.14-27, jan./abr. 2007. Disponível em:

Lourenço Resende da Costa –  Doutorando em História pela UFPR, Mestre em História pela UNICENTRO, professor de História pela SEEDPR. Bolsista CAPES.


NADALIN, Sergio Odilon (Org). Memórias de Gustav Hermann Strobel. Relatos de um pioneiro da imigração alemã no Brasil. 2. ed. Curitiba: Instituto Memória, 2015. Resenha de: COSTA, Lourenço Resende da. As memórias de um imigrante alemão no Brasil: a História da família. Aedos. Porto Alegre, v.11, n.25, p.603-608, dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

Viva la Revolución: a era das utopias na América Latina | Eric Hobsbawm

Introdução

Falecido em 2012, é (im)possível imaginar qual seria a reação de Eric Hobsbawm à situação atual da América Latina. O historiador “britânico” (nascido egípcio, de pai britânico e mãe austríaca, educado na Áustria, Alemanha e depois Inglaterra) deixou esse mundo quando o nosso continente tinha vários governos ditos ou considerados de esquerda [2]: Kirchner na Argentina, Chavez na Venezuela, Mujica no Uruguai, Morales na Bolívia, Correa no Equador, Rousseff no Brasil e – apesar de ser uma ilha caribenha –, Castro (Raul) em Cuba.

De lá pra cá se viu a volta do neoliberalismo na Argentina de Macri; uma ditadura traidora pelos sandinistas na Nicarágua; um conservadorismo que encontrou seu testa-de-ferro em Bolsonaro, presidente recém-eleito no Brasil; um socialismo em situação de reconsolidação, com a eleição de Miguel Díaz-Canel em Cuba, dando fim ao governo “direto” dos Castro (apesar de Raul ainda estar vivo); outros socialismos que precisam se reinventar pela parte de Morales na Bolívia, Tabaré Vázquez no Uruguai e Nicolás Maduro na Venezuela; e um presidente trabalhista recém-eleito no México, Andrés Manuel López Obrador.

Apesar de ser uma área de estudo pouco explorada (a América latina), Hobsbawm escreveu resenhas e ensaios sobre o continente por um período que abarca quarenta anos. Tal massa de trabalho acabou se transformando em livro póstumo, com um total de 31 artigos. Se fosse vivo até hoje, crê-se que esse recorte de 2012-2018 provavelmente chamaria a atenção do historiador para novos escritos. Como isso não é possível, essa resenha procura trazer a hipótese que a leitura da obra já ajuda a compreender não apenas uma parte da história latinoamericana do século XX, mas fornece igualmente alguns insights de entendimento, e até mesmo fôlego para refletir novas maneiras de encarar tanto o estudo de nosso país e continente, em uma dialética eterna de história “local” e “total” acadêmica, como social para atuação no dia-a-dia em sociedade.

Portanto, fazer resenha de um livro que é uma colcha de retalhos – além de póstumo – é desafiador e fadado a um fracasso parcial. Por conta da falta de uma “tese central” no livro, perder-se-ia muito tempo explorando as várias temáticas estudadas por Hobsbawm. Esse texto, deste modo, vai focar em dois pontos: a relevância da leitura do livro e os limites que ele traz.

A obra

Editado em 2016, sob o título Viva la Revolución: On Latin America, o livro foi traduzido para o Brasil em 2017 com um título mais chamativo e “propagandístico”: Viva la revolución: a era das utopias na América Latina. Apesar da manutenção da abertura original, o subtítulo já merece dois avisos (deixar-se-á o segundo para ser a conclusão): o primeiro é que a obra não pode ser considerada “uma das Eras” da coleção de Hobsbawm; e imagina-se que esse subtítulo fora utilizado se baseando (os editores) no conhecimento do Historiador no Brasil pela sua “tetralogia” [3]. Todavia, pode-se dizer que os artigos inseridos nessa coletânea ajudaram a encorpar alguns argumentos – e capítulos – de duas “Eras”, apesar do livro da América Latina se inserir no corpo cronológico da Era dos Extremos. Mas, para um leitor atento, Hobsbawm não escreveu “apenas” as “Eras”. Seu interesse sobre a América Latina apareceu em sua primeira obra Rebeldes Primitivos (1959), como depois em Bandidos (1969), e voltou com Pessoas Extraordinárias (1998).

No caso de Era dos Extremos, não foram gratuitos, por exemplo, os usos de expressões como “Suíça da América Latina” para o Uruguai (HOBSBAWM, 1995, p.115) e “candidato a campeão mundial de desigualdade econômica” para o Brasil (HOBSBAWM, 1995, p.397), que podem ser vistas em Viva la Revolución. Nessa mesma esteira de raciocínio, dois artigos são “copia-e-cola” mais ou menos costurados das “Eras”: O capítulo “A Revolução Mexicana” saiu de trechos da Era dos Impérios, enquanto o “A Revolução Cubana e suas consequências” adveio da Era dos Extremos. A “reciclagem” de textos não é apenas das “Eras”. Outro, também, é uma costura de trechos de Bandidos, enquanto dois estão presentes em Rebeldes Primitivos, dois em Pessoas Extraordinárias e um de Tempos Interessantes. Em suma, de 31 artigos, 8 são provenientes de outras obras, ou seja, 23 artigos são completamente inéditos no Brasil.

Isso não retira o mérito do livro. Ao contrário, demonstra tanto uma espécie de desmistificação em torno de um caráter eurocêntrico que pode pairar em torno de Hobsbawm — por sua preferência pela França e Inglaterra, presente na Era das Revoluções, bem como a Europa e Estados Unidos na Era do Capital e Era dos Impérios, e Estados Unidos e União Soviética na Era dos Extremos. O que se tem com a leitura de Viva la Revolución é a característica de uma história global que se interliga a todo o momento a partir de uma perspectiva “total”. Apesar de, em termos “escritos”, no papel, a América Latina figurar como coadjuvante ou sem muito espaço em vários livros e coletâneas, Hobsbawm sabia da importância do estudo do continente americano para uma melhor compreensão da história do mundo, principalmente no século XX. Não é à toa que, em vários artigos, o historiador “britânico” chama a atenção ao caráter displicente dos europeus em relação aos assuntos latino-americanos.

E que assuntos eram esses?

Vale dizer de início que, diferente das outras “Eras”, Hobsbawm não escreveu visando criar em um futuro uma obra com gavetas. O pesquisador não separou de maneira deliberada os temas da Política, Economia, Língua, Classes Sociais, Arte, Religião, Ciências etc. Portanto, tem-se o primeiro “limite” do livro de Hobsbawm: a circunscrição de temas. Esses variam, especialmente, nas temáticas dos camponeses, revolução política, industrialização e reforma agrária. Ou seja: a ideia de “progresso” (economia feudal versus industrial), de luta de classes (camponeses, bandidos, guerrilheiros socialistas e comunistas versus oligarcas, hacienderos, coronéis, latifundiários e ditadores estatais) e a disputa entre ideologia Capitalista e Socialista (influências do imperialismo norte-americano versus vários socialismos – cubano, leninista-stalinista e maoísta) perpassará todo o livro. Qualquer semelhança com as temáticas centrais das outras quatro “Eras” não é mera coincidência.

Esses temas invocam também a perspectiva historiográfica e ideológica de Hobsbawm. O capítulo 8, “Elementos feudais no desenvolvimento da América Latina”, é o que deixa mais latente suas reminiscências teóricas que transitavam entre o marxismo dito “estruturalista” e eurocêntrico, provenientes de leituras de obras como A Ideologia Alemã e Manifesto do Partido Comunista, além de a nova oxigenação metodológica, principalmente a partir das leituras dos Grundrisse e do filósofo italiano Antonio Gramsci (HOBSBAWM, 2011, 12-15). Mesmo não levando ao pé da letra o uso do conceito “feudal” e “feudalismo”, Hobsbawm não deixou de perceber o estilo de vida agrária na América Latina, e utilizou os termos muito mais como uma denúncia de “anacronismo” social e econômico de países que queriam se mostrar modernos e em vias de industrialização. Sua crítica era no sentido que, enquanto existissem relações de poder massacrantes entre os donos de terras e haciendas, e camponeses pobres e índios na América, era quase impossível levar a sério as tentativas de políticas burguesas que as classes citadinas e políticas queriam promover.

Porém, não há nos capítulos dos livros nenhuma tentativa de leitura estrutural vulgar em relação às sociedades. Vale dizer: se a América Latina não era “feudal” propriamente dita, também não o era “moderna”, com suas classes burguesas e proletárias bem “divididas” ou organizadas como na Europa desde finais do século XVIII. O próprio termo “classe” é quase inexistente no livro. Hobsbawm preferiu ainda diluir as camadas dominantes em políticos, hacienderos, oligarcas, empresários, grandes comerciantes; e as subalternizadas em camponeses, bandidos, operários de minas, mendigos, vagabundos, guerrilheiros etc. O historiador demonstrou finesse em analisar com cuidado as relações entre os diferentes grupos sociais nos momentos de traçar alianças ou explodir revoltas. Mesmo depois de várias décadas de apreciações, Hobsbawm continuaria receoso em dividir facilmente os estratos sociais americanos, optando por um exame mais inteligente no capítulo 30, Nacionalismo e nacionalidade na América Latina, publicado originalmente em 1995.

Cabe agora apresentar algumas “críticas”. Uma em especial é a falta de dois estudos que provavelmente Hobsbawm deve ter escrito, mas que não figuram na seleção da obra: arte e religião. Pensa-se que, apesar de referências a literatura de Gabriel Garcia Marquez e a Bossa Nova brasileira, é triste não ter uma análise, seja ensaística ou mais detalhada, em relação à arte latino-americana. A Bossa Nova tem um capítulo só dela, mas de apenas quatro páginas. Sua existência pode se dar pelo especial interesse que Hobsbawm tinha no “jazz brasileiro”, uma vez que sua paixão pelo Jazz norte-americano rendeu um livro, e lá também fez referência à Bossa Nova (HOBSBAWM, 2016). No quesito “Arte” (cinema, pintura, literatura, música, teatro etc.), sabe-se que o autor não era nenhum leigo. Seu livro (também póstumo) Tempos Fraturados dá mostra do fôlego e do tamanho de conhecimento e análise crítica que o historiador tinha e que a todo o momento era exposto em resenhas, artigos e conferências (HOBSBAWM, 2013). Nessa mesma linha de raciocínio, apesar da existência de algumas pontuações sobre a Igreja Católica, o leitor sente falta de colocações sobre os diferentes papéis dessa instituição, fosse por meios reacionários, ou por meios revolucionários. O máximo que aparece são alguns comentários mais ácidos à Igreja, chamando-a de Medieval (levando em consideração o que foi escrito acima sobre o caráter “feudal” da América Latina), e mais resguardados aos progressistas da Teologia da Libertação.

O tema da reforma agrária deve ser lido com cuidado. Em muitos momentos Hobsbawm se mostra esperançoso com os rumos que tomavam as revoltas camponesas na América Latina. Ao mesmo tempo, via com intensa desconfiança a maneira como a Reforma Agrária era administrada pelo Estado, principalmente aquele que se encontrava “longe” da população que ele julgava entender e atender. Allende no Chile e os Militares no Peru sofrem um misto de esperança e críticas severas de Hobsbawm. Julga-se que o “cuidado” da leitura sobre esse tema no livro Viva la revolución deve ser salientada por conta do tratamento que o historiador vai dar ao mesmo assunto nas suas quatro “Eras”.

Deixando de lado as três primeiras, mais caras aos finais do século XVIII e todo o século XIX, cabe chamar atenção à Era dos Extremos, em que Hobsbawm analisou a reforma agrária da Rússia e China. Em ambos os casos o historiador soltou críticas vorazes à maneira como os planos de agricultura e reforma agrária foram levados a cabo pelas duas potências comunistas. Fazer uma análise comparativa seria interessante para estudos futuros de quem se interessa pela temática.

Outro ponto em especial são as temporalidades e recortes geográficos dos escritos. Saber diferenciar “espaço e conjuntura” é essencial para não se perder em análises generalizantes sobre o livro. Pode-se dizer que o historiador escrevia de maneira mais profícua de acordo com os abalos socioeconômicos e políticos que apareciam vez ou outra no continente americano. O grosso dos artigos se concentra na temporalidade de 1959 (com a edição de Rebeldes Primitivos) e vai até 1977, mas com especial vantagem entre 1963-1973. Na década de 80, Hobsbawm escreveu um em 1986 e os trechos sobre a revolução mexicana em Era dos Impérios, de 1987. Depois, só voltou a dar atenção pós-Era dos Extremos, com um artigo em 1995 e outro em autobiografia de 2002 [4]. Soma-se a tudo isso a heterogeneidade de veículos e motivações para escrever algo sobre a América Latina. Os textos são de artigos de jornais, conferências acadêmicas, artigos de revistas científicas, capítulos de livros organizados por terceiros e capítulos de livros autorais já mencionados, e ainda as famosas resenhas críticas que o autor fazia para a New York Review of Books.

Além dos motivos de queda de escritos nos anos 80 e 90, ressalta-se a falta de interesse do historiador com outras localidades do continente. Pouco foi dito sobre o Uruguai, Paraguai, Argentina, Equador, Bolívia, Venezuela e até mesmo Brasil (tirando o tema dos camponeses bandidos-justiceiros de Lampião e sua passagem por Recife em 1963). Em contrapartida, Chile, Colômbia e Peru recebem especial atenção. Cuba e México aparecem menos, mas com força, provavelmente por conta de suas revoluções. Entretanto, a temática da revolução cubana (sua influência prática e ideológica sobre vários estratos sociais no restante do continente) dilui-se em todo o livro. Pode-se até mesmo arriscar a dizer que a revolução Cubana é uma das chaves principais para começar a estudar a América Latina continental da segunda metade do século XX, uma vez que ela ajudou a atrair as influências Soviética e Maoísta, bem como dos Estados Unidos.

Conclusão

Pode-se dividir a conclusão em duas partes. Apesar do termo “conclusão” estar errado, imagina-se que dois pontos dos escritos devam ser salientados.

O primeiro é o paralelo entre uma ideia de Hobsbawm e a do historiador brasileiro Caio Prado Jr. O segundo, ao falar do Brasil na época de colônia, colocou que “devemos abordar a análise da administração colonial com o espírito preparado para toda sorte de incongruências” (PRADO JR., 2011, p.320). Com uma visão da América Latina, Eric Hobsbawm (2017, p.56) chegou a um insight mais amplo:

No entanto, quando se começa a pesquisar sobre a América Latina, descobre-se imediatamente um obstáculo ainda maior do que a simples ignorância. Pelos nossos padrões – não apenas britânicos, mas, se quiserem, norte-americanos ou mesmo russos – e nos termos em que em geral analisamos os fenômenos políticos, a região simplesmente não faz sentido.

O segundo ponto é o retorno do que se falou no início desse texto em relação ao uso do termo “utopia”. Apesar do apreço de Hobsbawm em relação a Cuba pós-revolucionária, ao Chile de Allende, aos movimentos camponeses no Peru e na Colômbia, passando pelo banditismo social em México e Brasil, a leitura completa da obra demonstra que não havia, nem no historiador, e muito menos de maneira bem trabalhada naquelas sociedades estudadas, o que seria uma “utopia”. De fato, todos esses assuntos acima mencionados invocam a luta de classes, os descontentamentos políticos e socioeconômicos, os conflitos culturais e as inúmeras tentativas de mudanças (da guerrilha aos governos reformistas de esquerda e até mesmo militares, como o caso do Peru) que visassem uma sociedade melhor, mais igualitária e justa. No entanto, a escolha do subtítulo pela editora brasileira deixa o caráter ambíguo: 1) as utopias socialistas já se foram e agora temos que nos contentar com a vitória do neoliberalismo e do capitalismo encabeçado pela meritocracia do cada-um-por-si-e-ninguémpor-todos, alimentado pela concepção de livre-mercado a partir de um Estado Mínimo subalterno a interesses de empresas e governos estrangeiros? 2) será que estamos passando por uma nova fase que deve entender – a partir do estudo frio e racional – a “era das utopias” para não mais idealizar um passado que no papel e na teoria é revigorante, mas que na atual situação não se encaixa mais de maneira acrítica e que deve, portanto, ser reformulado para outros caminhos de ação?[5]

Eric Hobsbawm não era afeito a profecias e cuidava de fazer suas análises de maneira bem fundamentada para evitar escorregões e comentários mais apaixonados (HOBSBAWM, 2000). Ao fechar o livro, o leitor não terá respostas ou “linhas de ação” para traçar planos de mudança ou “revoluções”. Entretanto, estudar o “fracasso” de várias tentativas servirá como aprendizado tanto da história como da própria filosofia política (BERMAN, 2008, p.172-191; THOMPSON, 1987, p.13; BENJAMIN, 2016, p.9-20). Por outro lado, o impacto de sempre aprofundar o estudo da história do continente americano também surtirá efeito. Entretanto, o pesquisador “britânico”, fazendo jus à sua formação, deixou latente seu método de análise dialética onde as histórias da América Latina se conectam entre si e com o os outros continentes, nunca se sobrepondo (evitando, assim o provincianismo apaixonado), nem se subalternizando (impedindo a chamada “síndrome de vira lata”), mas sempre se retroalimentando – sem a ingenuidade de pôr na balança todo o mundo em pé de igualdade nos aspectos do poder. Seus artigos servem, portanto, para um mergulho mais aprofundado na nossa necessidade de não procurar um “homem latino-americano”, mas um latino-americano livre dos colonialismos, das explorações, e das desigualdades sociais. A ideia é antiga, presente igualmente no discurso do poeta chileno Pablo Neruda (2010, p.505) na entrega de seu Prêmio Nobel de Literatura, em 1971:

Nuestras estrellas primordiales son la lucha y la esperanza. Pero no hay lucha ni esperanza solitarias. En todo hombre se juntan las épocas remotas, la inercia, los errores, las pasiones, las urgências de nuestro tempo, la velocidade de la historia. Pero, qué sería de mí si yo, por ejemplo, hubiera contribuido em cualquiera forma al pasado feudal del gran continente americano? Cómo podría yo levantar la frente, iluminada por el honor que Suecia me ha outorgado, si no me sintiera orgulloso de haber tomado una mínima parte en la transformación actual de mi país? Hay que mirar el mapa de América, enfrentarse a la grandiosa diversidad, a la generosidad cósmica del espacio que nos rodea, para entender que muchos escritores se niegan a compartir el pasado de opróbio y de saqueo que oscuros dioses destinaron a los pueblos americanos.

Notas

2 Ou progressistas para os intelectuais frustrados, mas esperançosos; ou pequeno-burgueses para os críticos de esquerda; ou, ainda, populistas de esquerda para os críticos da direita; ou, ditaduras comunistas para a extrema direita que ainda revive a “guerra fria”.

3 Seriam elas: a era das revoluções; a era do capital; a era dos impérios; a era dos extremos.

4 A cronologia ficaria da seguinte maneira: 1959, 60, 62, 63(4), 65, 67, 68, 69(4), 70(2), 71(3), 73(3), 74, 76, 77, 86, 87, 94, 95, 2002. E um inédito, sem data.

5 Crítica parecida também já era esboçada por Edward Thompson (1978, p.207-208) contra o “stalinismo” na América Latina e na Índia.

Referências

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da História. In: ______. O anjo da história. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.

BERMAN, Marshall. Aventuras no marxismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

______. Como mudar o mundo: Marx e o marxismo, 1840-2011. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

______. Tempos Fraturados. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

______. História social do Jazz. São Paulo: Paz e Terra, 2016.

______. Viva la revolución: a era das utopias na América Latina. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

HOBSBAWM, Eric; POLITO, Antonio. O novo século. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

NERUDA, Pablo. Discurso de Estocolmo. In: ______. Antología General. Lima: Real Academia Española. Asociación de Academias de La Lengua Española, 2010.

THOMPSON. Edward. A miséria da teoria, ou um planetário de erros: uma crítica ao pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

Alex Rolim Machado – Doutorando em História pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).


HOBSBAWM, Eric. Viva la Revolución: a era das utopias na América Latina. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. Resenha de: MACHADO, Alex Rolim. Os filhos das Revoluções: a América Latina na Era dos Extremos. Aedos. Porto Alegre, v.11, n.25, p.609-616, dez., 2019.Acessar publicação original [DR]

A Ditadura na Tela: O Cinema Documentário e as Memórias do Regime Militar Brasileiro | Gabriel Amato, Natália Batista e Carolina Dellamore

RC Destaque post 2 11 A Ditadura na Tela: O Cinema Documentário e as Memórias do Regime Militar Brasileiro

Durante o século XIX, a constituição do ofício de Clio como uma disciplina universitária produziu a necessidade de profissionalizá-lo. A afirmação da História enquanto uma prática científica foi possível por conta de alguns pressupostos, tais como a separação radical entre sujeito e objeto, a primazia dos registros escritos em detrimento das fontes orais e o afastamento das questões do presente. Por conseguinte, os historiadores rejeitaram os acontecimentos recentes, que ainda contavam com partícipes vivos, sob o argumento de que seria preciso manter a escrita da história guiada pelos ditames da objetividade e da imparcialidade, o que implicava no tratamento do passado na condição de alteridade e no estabelecimento da dicotomia entre memória e história.

No entanto, esse descrédito atribuído à memória começou a mudar a partir do final da Segunda Guerra, quando várias obras produzidas a partir de relatos das testemunhas da violência política obtiveram uma enorme atenção por parte da esfera pública. Nesse sentido, a visibilidade conferida à uma dessas manifestações memorialísticas em particular, o testemunho, iniciada a partir da revelação e dos julgamentos dos crimes nazistas, foi impulsionada por conta de eventos que ocorreram quase que simultaneamente: as transições democráticas no Cone Sul e o surgimento das teses negacionistas do Holocausto na Europa.

Por conseguinte, os historiadores não passaram incólumes a esse fenômeno conhecido como boom da memória, que suscitou a “guinada subjetiva”, descrita por Sarlo (2007) como sendo uma mudança epistemológica que ocorreu no interior das ciências humanas: no lugar das estruturas econômicas e sociais, houve a revalorização do ponto de vista subjetivo. Deste modo, a emergência dos relatos amparados em experiências referentes a situações limite, que constituem um “passado vivo” (traz muitas inquietações e desafios para além do momento em que ocorreram) foi crucial para o desenvolvimento do campo da História do Tempo Presente [2].

É justamente nesse contexto de fortes críticas a alguns dos fundamentos da história dita “positivista” ou “tradicional”, que se iniciou uma percepção incisiva de que o cinema detém um potencial enorme para a investigação historiográfica. Desde o seu nascimento, no final do século XIX, a sétima arte consiste em uma testemunha da história e sempre registrou os fatos no “calor do momento”, sendo imprescindível para a compreensão do tempo presente [3]. Dessa maneira, conforme aponta Michèle Lagny (2012) se por um lado o cinema sempre se referiu à história, seja por meio da captura instantânea do que ocorreu, ou seja, pela recriação e romantização do passado em filmes ficcionais; por outro, a história só começou a se interessar tardiamente pelas produções audiovisuais. Essa historiadora francesa também indica que a emergência do estudo do tempo presente e a inclusão das fontes memorialísticas audiovisuais aconteceram simultaneamente no interior do fazer historiográfico. Por conseguinte, pode-se afirmar o seguinte:

[…] a apreensão audiovisual é considerada indiscutivelmente como testemunho porque ela ‘mostra’ o que se passa no momento em que a história acontece. Assim, o cinema revela de imediato um interesse pela história do tempo presente […] É justamente quando, nos anos 60-70, começa a ser formulada a noção de história do tempo presente que certos historiadores acabam, após um período de desprezo pelo audiovisual, percebendo que podem […] servir-se dele para interrogar a forma com que o momento presente é apresentado ou pela qual determinados atores querem que ele seja percebido (LAGNY, 2012, p.24-25)

Nesse sentido, a coletânea A Ditadura na Tela: O Cinema Documentário e as Memórias do Regime Militar Brasileiro, publicada pela Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG e organizada por três jovens pesquisadores, Carolina Dellamore, Natália Batista e Gabriel Amato, contribui substancialmente para os debates em torno dos vínculos que as memórias do nosso último período ditatorial mantém com a linguagem historiográfica e cinematográfica na sua vertente documental.

O livro contém 12 artigos divididos em duas partes (“As batalhas da memória no cinema documentário sobre a ditadura” e “O fazer e o guardar no campo do cinema documentário sobre a ditadura”) além de um prefácio assinado pela professora Miriam Hermeto, do departamento de História da supracitada instituição, e uma espécie de introdução denominada “A Ditadura na Tela: Questões Conceituais”, escrita pelos organizadores. Nessa seção, somos informados que a publicação é fruto de uma iniciativa anterior: o projeto de extensão “A Ditadura na Tela”, parceria entre o Núcleo de História Oral (NHO) dessa universidade, primeiro com o Centro de Referência da Moda e depois no Museu da Imagem e do Som (MIS), por meio do MIS Santa Tereza, ambos localizados na capital mineira. Tal projeto, que começou em 2014 e findou após três anos, ao longo das suas edições, promoveu a exibição de filmes documentais que tratam do regime autoritário iniciado em 1964 e encontros entre o público, cineastas e pesquisadores.

Um mérito desse projeto de extensão, que se traduziu na análise das películas dos artigos que compõem a coletânea, consiste na pluralidade de assuntos tratados em diferentes formatos cinematográficos. Ou seja, em relação à temática, foram escolhidas produções que vão desde o imaginário mais comumente atribuído ao período ditatorial que se refere, muitas vezes, aos jovens, geralmente homens de classe média ou alta, que aderiram ao movimento estudantil e à luta armada até as especificidades de grupos como as mulheres, as populações negras e os LGBT’s, que geralmente não são incluídos na escrita da história ou na memória social sobre a ditadura militar brasileira.

Ademais, os filmes eleitos também demonstraram igualmente uma variedade de formatos, sendo possível identificar filmes com características típicas dos chamados documentários ditos tradicionais, que se caracterizam por uma pretensão de objetividade, pela utilização de uma voz em off que procura tecer comentários distantes dos problemas suscitados pela realidade e pela presença de imagens apenas como ilustração para o que está sendo dito, mas também notamos que foram selecionados documentários com outros tipos de formato, nos quais o entrecruzamento entre as vivências do/a diretor/a e das personagens entrevistadas se torna um elemento central e as próprias fronteiras com o cinema ficcional são diluídas.

Assim, os organizadores afirmam que esses pressupostos permitem concluir que os filmes escolhidos, tanto para fazer parte do projeto de extensão quanto os analisados nos capítulos do livro em questão, se preocupam em valorizar não só a memória da esquerda armada, mas também aquela de outros personagens, isto é, a memória de “gays e lésbicas perseguidos pelo regime e a censura, artistas mais próximos da contracultura, sujeitos invisibilizados pela questão racial, entre outros” (AMATO, BATISTA, DELLAMORE, 2018, p.18). Em suma, através de um formato cinematográfico específico (caracterizado pela voz em off, de entrevistas e de imagens de arquivo) os documentários não apenas reproduzem memórias amplamente exploradas, mas evidenciam a pluralidade dos relatos dos vários grupos afetados pelos mecanismos repressivos. Além disso, também se inserem na luta desses grupos por visibilidade, reconhecimento de seus direitos na atualidade.

Não obstante à essa atenção a novos aspectos e testemunhas, a coletânea contém artigos que tratam de filmes que versam sobre objetos que, na historiografia e na memória coletiva sobre a ditadura, já são consagrados, a exemplo do movimento estudantil. No capítulo “A UNE Somos Nós: A Construção de Uma Memória Social Nostálgica da Resistência à Ditadura no Documentário Memória do Movimento Estudantil”, de Silvio Tendler (2007), Gabriel Amato realiza uma crítica ao filme citado no título. É uma produção idealizada por conta das comemorações dos 70 anos da própria União Nacional dos Estudantes, que é retratada como a unificadora dos embates dos jovens contra o autoritarismo nos anos 1960, apesar da multiplicidade de tendências no movimento estudantil da época. Deste modo, os estudantes seriam símbolos da defesa à democracia e representam o espírito da sociedade que resistiu bravamente aos abusos e desmandos. Entretanto, Amato faz menção aos trabalhos de Daniel Aarão Reis, que ressalta que as relações entre Estado e sociedade foram muito complexas e que não podem se resumir na polarização opressão e resistência. Assim, trata-se de um filme fortemente imbuído de uma memória oficial/institucional.

Nesse sentido, é importante enfatizar quatro capítulos da obra resenhada aqui que discorrem acerca de documentários que evidenciam as vivências de mulheres sob o jugo do regime ditatorial. São eles: “Repare Bem (2012) e as Estratégias de Construção da Memória em Diálogo com o Estado brasileiro: o caso da Comissão da Anistia”, escrito por Juliana Ventura de Souza Fernandes, “Censura, Homossexualidades e Resistências na Narrativa Cinematográfica de Cassandra Rios: a Sarfo de Perdizes (2013)”, assinado por Ana Marília Menezes Carneiro, “Uma Resposta de Vida à Ditadura Militar Brasileira: Memórias Femininas no Filme Que Bom Te Ver Viva (1989)” de Débora Raiza Carolina Rocha Silva e, por fim, “O Ato de Lembrar a Militância sob a Ótica Feminina: O Caso do Documentário Subversivas (2013)”, de Isabel Cristina Leite.

Se, por um lado, esses textos possuem a mesma matéria-prima, por outro lado, eles exploram aspectos distintos referentes a essa mesma temática. O primeiro se debruça sobre o filme Repare Bem, lançado em 2012 e dirigido pela portuguesa Maria de Medeiros, cuja trama focaliza as dores vividas por Denize Chrispim e Eduarda Leite, respectivamente viúva e filha do guerrilheiro Eduardo Collen Leite, assassinado em 1970 e conhecido pela alcunha de Bacuri. Somos apresentados, então, a duas gerações de mulheres atingidas pela perda de um ente querido vitimado pela violência política. Outro ponto a ser sublinhado é o fato de essa produção ser resultado do projeto “Marcas da Memória: História Oral da Anistia no Brasil”, desenvolvido pela Comissão da Anistia do Ministério da Justiça. Como se pode perceber, é um projeto que exemplifica a chamada “estatização da memória”, que consiste na apropriação por parte do Estado do quê e de como se deve lembrar, o que implica em um discurso oficial que, embora reconheça as graves violações de direitos humanos cometidas por agentes públicos durante a ditadura e a necessidade de se fomentar iniciativas que tocam nesse assunto sensível, possui demasiadas limitações devido à Lei da Anistia e da suavização, justificação e até mesmo negação das práticas repressivas apresentadas por membros das Forças Armadas, representantes deste mesmo Estado.

Já o segundo texto, escrito por Ana Marília Menezes Carneiro, trata do filme Cassandra Rios: a Safo de Perdizes de 2013, dirigido por Hanna Korich. É uma produção sobre a vida de Cassandra Rios (1932-2002), uma escritora que, desde o final dos anos 1940 até o início dos anos 2000, publicou diversos romances que possuíam como pano de fundo as relações homoafetivas, especialmente entre mulheres. Os livros da escritora obtiveram bastante sucesso no mercado editorial, não obstante o conservadorismo de cunho moral observável tanto em setores à esquerda quanto à direita na sociedade brasileira. Em consequência desses tabus, a liberdade de expressão de Cassandra era constantemente tolhida antes mesmo do golpe de 1964. Entretanto, com a censura prévia de instalada no começo dos anos 1970, houve a sistematização do cerceamento às publicações que se contrapunham à preservação dos bons costumes. A própria escritora chegou a ser submetida a interrogatórios, ameaças e até agressões físicas. Em suma, a obra de Cassandra Rios nos ajuda a complexificar o entendimento acerca da diversidade das práticas censórias e também conferiu “visibilidade à homossexualidade – notadamente a feminina – em contraponto não somente ao conservadorismo proveniente dos órgãos de censura e repressão, mas também presente na militância da esquerda” (AMATO, BATISTA, DELLAMORE, 2018, p.75).

A autora do próximo artigo dessa série, Débora Raiza Carolina Rocha Silva, já o inicia com indagações sobre a possibilidade de se afirmar a existência de uma memória feminina no que tange à resistência à ditadura e, se sim, porque essa memória foi escamoteada e porque ela deve receber visibilidade. A partir desses questionamentos, Débora analisa Que Bom Te Ver Viva, documentário que recolhe depoimentos de oito mulheres que narram o seu engajamento contra a ditadura e como elas lidam com os traumas causados pelo encarceramento e pelas múltiplas torturas, mas também por atitudes machistas e por silenciamentos acerca da atuação de mulheres dentro das organizações de esquerda. Lançado em 1989, este foi um dos filmes pioneiros a retratar o combate ao autoritarismo por parte do cinema durante a redemocratização.

A atriz Irene Ravache, que muitas vezes se dirige diretamente ao telespectador por meio de um monólogo, interpreta um álter ego da diretora, Lúcia Murat, que assim como as suas entrevistadas, também foi uma presa política. O filme em questão ainda apresenta outro aspecto que merece ser acentuado: a sua instigante linguagem cinematográfica que apresenta a forma de um docudrama: uma mescla entre elementos ficcionais, como a presença de uma atriz profissional, e elementos típicos de filmes documentais, como o uso de entrevistas com testemunhas de carne e osso e de imagens de arquivo. Por conseguinte, Que Bom Te Ver Viva não é um representante de uma narrativa tradicional e se aproxima dos documentários performáticos que, de acordo com Nichols (2016), são caracterizados justamente pela predominância das subjetividades e do engajamento do/da cineasta e dos seus entrevistados nos processos históricos.

Por fim, o último texto da coletânea, que busca esmiuçar documentários cuja tônica é a participação de mulheres na luta contra a ditadura, analisa Subversivas: Retratos Femininos de Luta Contra a Ditadura, produzido e dirigido por Fernanda Vidigal e Janaína Patrocínio. O audiovisual aborda a inserção feminina nos movimentos de resistência em Belo Horizonte. Embora esse artigo se refira à atuação de um determinado grupo em uma cidade específica, a autora do artigo, Isabel Cristina Leite, tece reflexões mais amplas, acentuando as relações entre a emergência de se narrar o trauma sofrido pelos sobreviventes e o desejo, expresso no grito de “nunca mais”, de que a exceção e a violência política não retornem: “narrar um trauma tornou-se um desafio e estava relacionado com a necessidade de […] não repetição do passado traumático” (AMATO, BATISTA, DELLAMORE, 2018, p.206).

Uma singularidade deste filme reside no fato de que uma das suas diretoras, Fernanda Vidigal, é filha de João Furtado e Thereza Aurélia (que inclusive é uma das entrevistadas), dois militantes que fizeram parte do grupo Ação Popular, ligado à juventude católica que foi uma das várias organizações de oposição ao regime militar. Sendo assim, tomados em conjunto, os filmes Subversivas, Que Bom Te Ver Viva, Cassandra Rios: a Safo de Perdizes e Repare bem possuem o mérito de se antecipar à historiografia e sobre a memória hegemônica sobre o período, uma vez que tornam públicas as especificidades de gênero da repressão e da resistência.

Outros dois artigos presentes na coletânea que no nosso entendimento são passíveis de destaque são “As Batalhas da Memória da Ditadura em Simonal – Ninguém Sabe O Duro Que Dei” (2009) e “Esquecidos, Celebrados, Geniais: Reconfigurações do Campo Historiográfico a Partir do Documentário Dzi Croquettes” (2009). O primeiro deles discute Ninguém Sabe O Duro Que Dei, de 2009. Esse documentário, produzido a partir da vida Wilson Simonal, que conviveu com a imensa popularidade, mas também com as acusações de que as suas canções seriam “apolíticas” e até mesmo que ele seria um informante do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). No entanto, o autor do capítulo, Bruno Vinícius de Morais argumenta que controvérsias sobre a colaboração ou não do cantor a um dos principais órgãos repressivos à parte, Simonal foi um dos artistas mais engajados na defesa do orgulho negro e do enfrentamento ao racismo, temáticas que atualmente são fundamentais, mas que, naquele período, eram bastante secundárias. Ou seja, a partir da tese sustentada pelo autor, podemos afirmar que assim como as questões de gênero, as pautas relacionadas à igualdade racial também foram escamoteadas e que, portanto, precisam ganhar cada vez mais espaço no cinema e na história.

Já o segundo, escrito por Natália Batista, investiga as possibilidades de análise contidas no documentário Dzi Croquettes, que levou para as telonas a trajetória do grupo de teatro homônimo, que construía espetáculos nos quais o binarismo entre elementos considerados como tipicamente masculinos e femininos era quebrado constantemente, o que levou a uma experimentação que explorava a desconstrução dos padrões dicotômicos de gênero e de sexualidade. Por conseguinte, percebe-se que contrariamente a outras agremiações teatrais do período, que realizava peças com um teor político tradicional, os integrantes do Dzi Croquettes, que embora não fossem alheios a esses debates corriqueiros na esquerda nos anos 1960 e 1970, militavam muito mais por uma revolução nos costumes e pela ruptura com os valores conservadores que desconheciam fronteiras ideológicas.

Se a primeira parte é escrita por historiadoras e historiadores, na segunda, encontramos dois textos de profissionais que lidam diretamente com produções audiovisuais. A cineasta Anita Leandro assina o artigo “Testemunho Filmado e Montagem Direta dos Documentários” que discorre acerca de Retratos de Identificação, de 2014, dirigido por ela e cuja trama é desenvolvida a partir de um conjunto de 60 fotos que mostram quatro presos políticos. Esses materiais provenientes de arquivos dos órgãos de repressão referem-se, sobretudo, ao tipo de imagem que nomeia o filme: fotografias em preto e branco, realizadas no momento da prisão, que registram o prisioneiro, de frente e de perfil, segurando um número de cadastro inserido em uma cartolina pendurada junto ao pescoço. O relato de Anita sobre o seu próprio filme é bastante instigante porque ele nos informa qual foi o método escolhido por ela. Em contraposição à montagem convencional (perceptível tanto em documentários quanto em obras de história oral) que utiliza entrevistas dirigidas àqueles que contam as suas vivências e que geralmente ficam ausentes da edição (no caso do cinema) e da escrita (no caso da historiografia), a diretora subverte esse processo, já que ao invés de recolher depoimentos cujos resultados dependem de perguntas feitas previamente, ela faz com que haja contato com o documento (nesse caso, as fotografias) e assim, a interpretação daquele passado se torne um diálogo entre as testemunhas e os rastros do passado, isto é:

[…] a associação dos arquivos à fala durante as filmagens oferece, tanto ao historiador quanto ao cineasta, a ocasião de observar os efeitos de um encontro entre a testemunha e as marcas do passado […] Esse compartilhamento […] favorece o diálogo entre o passado e presente, sem o qual não há elaboração possível de uma memória […] Contemporâneos um do outro […] testemunhas e documentos se complementam mutuamente (AMATO, BATISTA, DELLAMORE, 2018, p.222).

Por fim, há ainda o texto “BH Em Movimento: Memórias da Ditadura Militar na Capital de Minas Gerais Presentes no Acervo do Museu da Imagem e do Som (MIS)”, de Marcella Furtado, que possui como tópico uma breve descrição de um dos lugares onde aconteceu o já citado projeto de extensão, o Museu da Imagem e do Som (MIS) de Belo Horizonte, que possui cerca de 50 mil itens, sendo o maior acervo audiovisual de Minas Gerais. Por conta do tamanho do arquivo, o MIS é muito procurado por pesquisadores, já que lá há o registro fílmico de vários episódios relacionados à ditadura naquela cidade: o movimento pela anistia, greves estudantis, protestos, militares em comemorações e eventos oficiais, dentre outros.

Por fim, esse livro (que possui ainda capítulos que versam sobre documentários com outros assuntos: as relações do futebol com as ditaduras no Brasil e nos outros países do Cone Sul, o movimento operário no ABC Paulista e a Tropicália) por mais que abordem filmes documentais bastante distintos entre si, partem de uma mesma premissa: os/as partícipes do regime ditatorial são múltiplos, e consequentemente, a historiografia deve incorporar essa diversidade de memórias.

Os autores e as autoras dessa coletânea tecem críticas incisivas à noção de que memória e história são antagônicas e ao conceito de memória coletiva que fazem parte do trabalho de Halbwachs (2006): um elemento de tons oficiais no qual todos se identificam e em contraposição a esse conceito, eles evidenciam as memórias subterrâneas, descritas por Pollack (1989) como sendo aquelas pertencentes aos grupos minoritários e silenciados. Então, pode-se afirmar que o livro, através da análise de obras do cinema documentário, sublinha que não é apenas preciso, mas urgente, conferir notoriedade às memórias subterrâneas não só em relação ao aparato repressor, mas também na própria esquerda revolucionária das décadas de 1960 e 1970, cujas perspectivas de ação política não contemplavam devidamente a luta contra a misoginia, o patriarcado, a LGBTfobia e o racismo. Dessa forma, o livro contribui significativamente para pensarmos as relações profícuas que o cinema documental e a historiografia mantêm com as muitas memórias em torno do período ditatorial de 1964 a 1985 que, infelizmente, ainda é um passado doloroso e traumático e que, portanto, coloca muitos desafios para o tempo presente.

Notas

2 De acordo com Seligmann-Silva (2000), depois de Auschwitz, houve a percepção nítida de que a história não deve ser tomada como radicalmente oposta à memória e que o ofício de Clio deve questionar com afinco não só os pressupostos de cunho positivista típicos do século XIX, mas igualmente as noções de temporalidade linear e progressista advindas do Iluminismo. Portanto, diante dessa notável acolhida das manifestações memorialísticas, especialmente àquelas que possuem como pano de fundo experiências dos vitimados durante essas situaçõeslimite, houve a percepção de que seria preciso desenvolver um novo campo historiográfico. Então, em 1978, surgiu na França o Instituto de História do Tempo Presente (IHTP) Conforme aponta Dosse (2012), um dos fundadores do Instituto, François Bédarida, afirmava que a existência deste campo se devia justamente a dois fatores: as fortes críticas às noções positivistas de objetividade e de “verdade” históricas e as mudanças epistemológicas dentro do interior do fazer historiográfico, provocadas pela ascensão da memória. Nesse sentido, conforme apontam Franco e Levín (2007) muitos historiadores afirmam que esse é um campo historiográfico marcado pelos seguintes aspectos: a presença daqueles que vivenciaram um determinado passado e que podem oferecer os seus relatos para o historiador; uma memória social bastante intensa sobre esse passado e a proximidade e até mesmo a coincidência entre o tempo de vida e de atuação do historiador e o tempo alvo da pesquisa.

3 Uma definição sucinta, mas instigante do que seria essa temporalidade é a seguinte: o presente corresponderia a “aquele conjunto de experiências que não se tornaram ainda uma alteridade para nós” (LÜBBE, 2003, p.402 apud MATA; PEREIRA, 2012, p.15). O presente, de acordo com essa acepção, pode ser entendido como sendo a temporalidade na qual as fronteiras entre o passado e o tempo corrente são estreitas. Então, o pretérito não é considerado como “um outro”, uma vez que as suas questões frequentemente irrompem e desafiam as pretensas estabilidade e distância do hoje em relação às insistentes cobranças realizadas pelo ontem.

Referências

AMATO, Gabriel; BATISTA, Natália; DELLAMORE, Carolina. A Ditadura na Tela: O Cinema Documentário e as Memórias do Regime Militar Brasileiro. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2018.

DOSSE, François. História do Tempo Presente e Historiografia. In: Tempo e Argumento, Florianópolis, v.4, nº 1, jan/jun. 2012, p.5-22. Disponível em: . Acesso em 24 mar. 2019.

FRANCO, Marina; LEVÍN, Florencia. El Pasado Cercano En Clave Historiográfica. In: ______ (orgs). Historia


Reciente: Perspectivas y Desafíos Para Un Campo En Construcción. Buenos Aires, Editorial Paidós, 2007, p.31-65.

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. Trad. de Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2006.

LAGNY, Michèle. Imagens Audiovisuais e História do Tempo Presente. In: Tempo e Argumento, Florianópolis, v.4, nº 1, jan/jun. 2012, p.23-44. Disponível em: . Acesso em 16 set. 2019.

MATA, Sérgio da; PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Transformações da Experiência do Tempo e Pluralização do Presente. In: ______; MOLLO, Helena Miranda; ______; VARELLA, Flávia (orgs). Tempo Presente & Usos do Passado. Rio de Janeiro: FGV, 2012, p.9-30.

NICHOLS, Bill. Introdução Ao Documentário. Trad. de Mônica Sandy Martins. 6ª ed. Campinas, SP: Papirus, 2016

POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. In: Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.2, n.3, jun. 1989, p.3-15. Disponível em: . Acesso em: 16 set. 2019

SARLO, Beatriz. Tempo Passado: Cultura da Memória e Guinada Subjetiva. Trad. de Rosa Freire D’aguiar. São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007

SELIGMANN-SILVA, Márcio. A História Como Trauma. In: ______; NESTROVSKI, Arthur. Catástrofe e Representação: Ensaios. São Paulo: Escuta, 2000, p.73-98

Samuel Torres Bueno – Mestrando em História pelo Programa de Pós-graduação em História na Universidade Federal de Ouro Preto. E-mail: samueltorresbueno@gmail.com


AMATO, Gabriel; BATISTA, Natália; DELLAMORE, Carolina. A Ditadura na Tela: O Cinema Documentário e as Memórias do Regime Militar Brasileiro. Belo Horizonte: Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 2018. Resenha de: BUENO, Samuel Torres. Memória, História do Tempo Presente e Cinema: Representações da Ditadura Militar no Gênero Documental. Aedos. Porto Alegre, v.11, n.25, p.617-626, dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

O fio perdido: ensaios sobre a ficção moderna | Jacques Rancière

No início dos anos 1970, Hayden White causara grande agitação entre os historiadores ao demonstrar o recurso destes aos procedimentos e elementos poéticos na construção da narrativa e da interpretação histórica (WHITE, 1992). Trinta anos depois, François Hartog evidenciava, a partir de seus regimes de historicidade, não somente outra faceta da historiografia oitocentista, como também, de modo mais geral, da relação da sociedade ocidental com o tempo histórico. De acordo com Hartog (2013), o regime historicista moderno, marcado por uma concepção de tempo futurista, não se limitava às narrativas historiográficas – ia além, perpassando diversas formas de relação social com a temporalidade, inclusive a literatura.

Contemporâneo de White e Hartog, Jacques Rancière, filósofo francês, foi gradativamente afastando-se do marxismo althusseriano [2] – que marcou o início de seu trabalho – até se aproximar, sobretudo nos anos 1990, das discussões em torno da relação entre estética e política, e mesmo entre a ficção e a historiografia. No âmago dessas reflexões, Rancière (2005) identificou a existência, no Ocidente, de três regimes na produção das artes: um regime ético, cuja base é a filosofia platônica; um regime representativo, orientado pela poética aristotélica; e, finalmente, um terceiro regime, o estético, que é propriamente moderno, e cuja origem encontra-se no questionamento e na subversão da poética representativa. Esses regimes implicam não somente concepções e relações poéticas, mas igualmente políticas, uma vez que o filósofo identifica certa indissociabilidade entre essas esferas. Desse modo, esses regimes são fundamentais na compreensão, tanto da composição poética quanto dos seus desdobramentos críticos em sua recepção. As implicações de sua reflexão, no entanto, não se limitam à ficção e à política, permitindo recolocar em questão a relação entre estas e a história, compreendendo sua articulação, especialmente, no momento da constituição da disciplina ou ciência histórica no século XIX.

Em O fio perdido, um conjunto de ensaios sobre a ficção moderna, Rancière percorre, ao longo de três capítulos, diversos nomes consagrados do romance, da poesia e do drama com o intuito de identificar mecanismos e indícios específicos que demarcam em cada obra e em cada segmento a decadência do regime representativo, centrado no modelo orgânico e na lógica da ação, e a emergência do regime estético que caracteriza propriamente essas ficções como modernas.

O primeiro capítulo da obra, O fio perdido do romance, é aberto por um texto sobre Gustave Flaubert, O barômetro da Sra. Aubain. Nele, Rancière tenta dar conta da novidade contida na obra flaubertiana, identificando-a, primeiramente, a partir das críticas tecidas ao romancista. Logo no início do prólogo do livro, o filósofo recorre à sentença de Barbey d’Aurevilly sobre a Educação sentimental: “não há livro ali dentro; não há essa coisa, essa criação, essa obra de arte de um livro, organizado e desenvolvido, que vai em direção a um desfecho” (1869 apud RANCIÈRE, 2017, p.7). A crítica é sintomática, ela evidencia a cisão que o filósofo identifica na obra do romancista. Conforme afirmava Michel de Certeau (1998, p.91-106; p. 266-268), a crítica pertence ao terreno das táticas, consiste em um instrumento de controle, no caso, não somente das leituras, mas também das práticas de escrita literária. Ela demarca, segundo a própria reflexão rancieriana, uma concepção de ficção literária vigente. Nesse caso, trata-se do regime representativo, presente na poética aristotélica, que define a ficção, positivamente, como uma “intriga de saber” que implica na construção poética o estabelecimento de uma ordem temporal (começo, meio e fim), de uma ordem causal regida pela verossimilhança, pela necessidade, pela subordinação dos detalhes e das partes ao conjunto da obra e também por certa proporcionalidade e correspondência entre a descrição, o pensamento e a ação.

Desse modo, para o crítico de Flaubert, sua obra transgredia esses princípios, logo ela era carente de elementos necessários para qualificá-la enquanto ficção. No entanto, para Rancière, não se trata de uma carência, mas sim do efeito da emergência de um novo “paradigma estético”, que não deixa de ser um “novo paradigma da vida”. Nesse sentido, o excesso descritivo presente no romancista – encarnado na presença do barômetro da sra. Aubain, em Um coração simples –, demarcaria não a deficiência de um elemento destoante e desnecessário, muito menos um efeito de real pelo qual Roland Barthes e a crítica estruturalista estipulavam o lugar da descrição inútil e demarcavam a tentativa burguesa de petrificação e naturalização da ordem social, mas um aspecto próprio ao regime estético.

Essa descrição inútil é, para Rancière, primeiramente a recusa à progressão do relato, e consequentemente uma recusa à ação, à submissão das partes – inclusive do detalhe – ao todo, ou seja, ao desfecho, que marca a poética representativa e seu modelo orgânico. A multiplicidade desses detalhes que antecedem ao ato, à ação, também são sintomas da ampliação e da complexificação das relações causais.

No entanto, segundo o autor, a poética aristotélica não é somente uma estrutura de racionalidade, mas “uma categoria organizadora de uma divisão hierárquica do sensível” (RANCIÈRE, 2017, p.21). Em outras palavras, a ordem representativa, na qual a ficção constrói-se como um corpo no qual os membros se submetem a um centro e as ações se ordenam pela necessidade ou pela verossimilhança, é também a metáfora de uma concepção do ordenamento social, segundo a qual os homens dividem-se hierarquicamente entre ativos e passivos. Nessa ordem, os aristocratas são ativos, pois podem conceber grandes fins ou outros fins e buscar sua realização, enquanto os demais – a grande maioria, o povo – são considerados passivos, não por sua inação, mas porque sua ação não pode conceber outro fim senão a mera reprodução da vida cotidiana (RANCIÈRE, 2017. p. 21). Essa distinção limitava, portanto, o acesso dos passivos à ficção, da qual não eram dignos devido às suas supostas capacidades sensíveis inferiores. É como contraponto a essa “política representativa” que o filósofo propõe sua leitura da obra flaubertiana. Desse modo, não somente o barômetro da sra. Aubain, mas principalmente Emma Bovary, são anunciadores de uma democracia ficcional própria ao regime estético. A presença do barômetro produz um “efeito de igualdade” entre os elementos da ficção, ele não está a serviço do real, nem da ação e muito menos do todo, enquanto Emma marca a igualdade sensível de todos: “a descoberta de uma capacidade inédita dos homens e das mulheres do povo de obter formas de experiência que lhes eram, até então, recusadas” (RANCIÈRE, 2017, p.19). Essa afirmação da capacidade sensível dos anônimos proporciona, de acordo com Rancière, um poder de desidentificação em relação à velha ordem representativa que articulava posições sociais, identidades e capacidades sensíveis. No entanto, esse poder dos anônimos é deles afastado para forjar o “poder impessoal da escrita” (RANCIÈRE, 2017, p.33). Dessa forma, segundo o autor, Flaubert incorpora em sua escrita o poder da “igualdade sensível dos anônimos” e dos “estados sensíveis coexistentes”, mas acaba por submetê-los à “velha lógica da ação” (RANCIÈRE, 2017, p.37).

No texto seguinte, A mentira de Marlow, dedicado à obra de Joseph Conrad, Rancière observa a radicalização desse novo regime da ficção. Se a obra flaubertiana evidenciava a debilidade dos encadeamentos causais orientados pelo necessário e pelo verossímil, próprios a uma concepção orgânica de totalidade (ta katholou), mas também subordinava a ordem das sucessões (kath’hekaston) e das coexistências ao curso de uma intriga ainda causal, os romances de Conrad recusam totalmente qualquer controle que tente se impor à verdade da ficção – que é também a verdade da vida –, ou seja, à ausência de qualquer ordem ou qualquer sentido.

Consequentemente, na obra de Conrad, a ordem que orienta a composição das ficções advém do kath’hekaston, não tomado como mera sucessão de fatos da vida cotidiana, mas como uma ordem das coexistências que não pode ser reduzida a qualquer ordenamento. Uma temporalidade das coexistências substitui, portanto, os encadeamentos possíveis. Mas não somente isso, para Rancière, o ceticismo do romancista inglês conduz a uma indistinção entre a ficção e o real, de modo que este real passa a englobar tudo, inclusive a ficção e o sonho. Dessa concepção ampliada do real decorre a destruição da verossimilhança, e toda a lógica da ação tradicional torna-se o indício de uma mentira. Mentira não somente sobre a ficção, mas principalmente sobre a própria vida.

Por conseguinte, de acordo com o filósofo francês, a narrativa de Conrad compõe-se, contrariamente à escrita de Flaubert, de modo a ampliar os círculos das coexistências, revelando-as e evidenciando a tirania mentirosa das intrigas bem construídas. Portanto, a ficção não deve mostrar a progressão rumo a um desfecho, mas tão somente esse “meio sensível” que é a própria vida, cuja única temporalidade é o presente, um presente que engloba tanto resquícios do passado quanto antecipações do futuro. Ela torna-se, desse modo, palco “de um encontro aleatório e inevitável entre um ser de desejo e de quimera, e uma realidade cuja síntese escapa a qualquer cálculo das causas e dos efeitos” (RANCIÈRE, 2017, p.54).

Contudo, Rancière indica que essa temporalidade das coexistências que recusa qualquer sentido, controle ou finalidade encontra certos limites impostos pela ficção. Um deles é o “fim”. Desse modo, se a mentira dos inícios é contornada por Conrad ao iniciar suas ficções com algum equívoco ou acaso desdobrando-o, a necessidade do ponto final, sempre mentiroso, não faz o romancista recuar em sua convicção. Pelo contrário, para o filósofo, os fins das ficções do capitão Conrad sempre reafirmam sua concepção mesmo quando mentirosos. Esses artifícios para encerrar o livro são basicamente dois: o recurso a um deus ex machina ou à mentira necessária (como no caso de O coração das trevas) que deixam transparecer, no entanto, a verdade da ficção.

O último texto do primeiro capítulo do livro aqui resenhado, A morte de Prue Ramsay, analisa a obra de Virginia Woolf. A romancista partiria, segundo a leitura rancieriana, dos mesmos pressupostos de Conrad. Dessa forma, a imagem que lhe traduz a verdade da vida e, conseguintemente da própria ficção, é a da “chuva sempre cambiante de acontecimentos sensíveis” e impessoais (RANCIÈRE, 2017, p.39). A verossimilhança e a necessidade não podem, portanto, regular a ficção, pois tanto a vida quanto a ficção pertencem à ordem do kath’hekaston (entendido como coexistência). Consequentemente, a intriga torna-se, para Woolf, uma tirania, que pode ser: paterna, em sua forma clássica; ou materna, em sua forma contemporânea, aquela que “ordena a grande rede das coexistências” e reduz a “chuva anárquica dos átomos às pequenas coisas e aos pequenos milagres da vida cotidiana” (RANCIÈRE, 2017, p.60).

Entretanto, o autor observa que a forma desta “chuva anárquica de átomos” é incompatível com a forma narrativa da ficção que precisa de uma mínima organização de ações. Nesse caso, a saída encontrada nos romances de Woolf consiste na prática de instaurar no próprio romance a “tensão entre várias maneiras de inscrever a chuva de átomos” (RANCIÈRE, 2017, p.64). Nessa prática, o filósofo distingue dois procedimentos complementares: por um lado, a multiplicação, pela qual se ampliam as redes das coexistências que conservam sua autonomia escapando a tirania de uma intriga que busca apropriar-se dessa multiplicidade; por outro lado, opera-se uma divisão, pela qual se separa a multiplicidade que evidencia o amor e a vida universais dos “prazeres conhecidos e das virtudes familiares” (RANCIÈRE, 2017, p.69) que compõem a tirania materna da intriga, mas também do equívoco dos que confundem toda multiplicidade da vida impessoal com mensagem individual, apropriando-se dela e submetendo-a a qualquer pessoalidade. Septimus Warren Smith, personagem de Mrs. Dalloway, vítima dessa segunda indistinção que se torna loucura, é também, aos olhos do filósofo, uma figura essencial da nova ficção, pois seu sacrifício resolve a “relação entre a verdade da chuva de átomos e a lógica mentirosa das intrigas” (RANCIÈRE, 2017, p.72), e impede igualmente que “o halo luminoso da vida universal” seja confundido com as “aspirações pessoais dos filhos do povo semieducados” (RANCIÈRE, 2017, p.74).

O segundo capítulo do livro, A República dos poetas, é composto por dois textos. O primeiro deles, O trabalho da aranha, é dedicado à obra de John Keats. Keats encarna, aos olhos de Rancière, uma das novidades do regime estético, pois ele é antes de tudo, como Emma e Septimus, um “filho do povo” que, no entanto, recusa a posição e a identidade que, de acordo com a ordem clássica, o nascimento lhe impunha. Contudo, a política de sua poesia, conforme assinala o filósofo, não se encontra na articulação do poema com as agitações sociais, os posicionamentos políticos, ou em seu sentido, mas em uma “identidade dos contrários” (RANCIÈRE, 2017, p.81).

Essa identidade dos contrários não os relaciona como “antípodas”, mas como “equivalentes”. Ela subverte a lógica da ação tradicional ao equiparar a atividade com a passividade, mais precisamente, ao fazer perceber na ação o seu contrário, a passividade, e nesta última um caráter ativo, liberto, no entanto, da necessidade dos fins ou da função utilitária que caracteriza a ação na ordem clássica. Essa subversão é observada por Rancière na “negative capability” forjada por Keats, a qual consiste em uma “‘capacidade de não’: não buscar uma razão […], não concluir, não decidir, não impor” (RANCIÈRE, 2017, p.85). Tal recusa à determinação é uma marca da própria estética e sua disponibilidade a todos destrói a “diferença sensível entre duas humanidades”, aquelas que orientavam o regime representativo e a “distribuição dos corpos em comunidade” (RANCIÈRE, 2017, p.86).

Na leitura rancieriana, essa identidade é produzida pelo estabelecimento de três formas de comunidade: a primeira é aquela estabelecida “entre os elementos tecidos pelos poemas: as palavras e a presenças que elas suscitam”; a segunda comunidade se constitui “entre os poemas e outros poemas: os que o poeta escreve e os que ele não escreveu”; a terceira forma de comunidade é “aquela que o modo de comunicação sensível próprio do poema projeta como possível comunicação entre os humanos”. A política do poema consiste, portanto, na “configuração de um sensorium específico que mantém juntas essas três comunidades” (RANCIÈRE, 2017, p.81-82).

Desse modo, a imagem que define, em grande medida, a interpretação que Rancière faz de Keats é da teia de aranha, pois ela pressupõe uma igualdade horizontal, a qual desconhecia qualquer superioridade, e que se opunha, a seu tempo, à igualdade vertical ou cristã, proclamada por Willian Wordsworth, que a reconhecia como concessão ou presença divina comum, o que evidenciaria, segundo Rancière, uma superioridade do poeta que a proclama. A igualdade da teia liberta, dessa forma, as sensações de qualquer identificação pessoal e faz da obra poética uma disponibilidade acessível a cada um, pela igualdade sensível, para integrar suas teias.

O outro texto desse segundo capítulo, O gosto infinito pela República, é dedicado a Baudelaire. A expressão que dá título ao ensaio, tomada do próprio poeta que a utiliza para caracterizar a obra de Pierre Dupont, serve igualmente a Rancière para caracterizar uma categoria estética ou uma política estética presente na obra baudelairiana, que marca a participação de todos na Vida Universal, esta compreendida como um poder que perpassa e iguala a todos.

Entretanto, para compreender esse “republicanismo estético” é preciso, afirma o filósofo, distanciar-se da “interpretação benjaminiana”, demasiadamente centrada no “dado antropológico constitutivo da modernidade: o da perda da experiência, produzida pela reificação mercantil e pelo encontro da cidade grande e da multidão” (RANCIÈRE, 2017, p.103). Desse modo, essa interpretação que percebia nos escritos do poeta a substituição do modelo orgânico por um modelo inorgânico é incapaz de perceber a novidade contida em sua obra ou, mais precisamente, o “tecido estético” dentro do qual esse republicanismo ganha sentido.

Para apresentar esse “paradigma poético” da época, Rancière analisa os temas do heroísmo e da beleza modernos. O que ambos evidenciam e que permeia toda a época romântica é a falência da ação, da ação como modo de pensamento e racionalidade que normatiza os “comportamentos sociais legítimos” e a “composição das ficções” (RANCIÈRE, 2017, p.108). Essa falência é, para o filósofo, fruto do excesso, da ampliação e complexificação do mundo e do conhecimento, pois a ação demandaria “um mundo finito”, “um saber circunscrito”, “causalidades calculáveis” e “atores selecionados” (RANCIÈRE, 2017, p.108). A leitura rancieriana de Baudelaire é, consequentemente, tributária de Balzac, pois seria dele que o poeta teria tomado não somente a característica da beleza moderna, ou seja, o “flutuante”, a fugacidade, mas, sobretudo, a percepção do divórcio entre o saber e a ação. Em outras palavras, desde Balzac o mundo social perdera-se gradativamente em “infinitas ramificações”, e o tema perdera-se, igualmente, em uma “rede infinita de sensações” (RANCIÈRE, 2017, p.111-112), tornando o tecido sensível incompatível com a ação clássica. Essa ampliação também produziria um efeito de desidentificação, positivado pelo filósofo. A multidão, portanto, não igualaria a todos, mas, pelo contrário, o olhar sobre ela abrir-se-ia para a sua multiplicidade.

No último capítulo de O fio perdido, O teatro dos pensamentos, Rancière analisa a relação entre “o pensamento, a palavra e a ação no teatro moderno” (RANCIÈRE, 2017, p.123) ou, mais precisamente, no chamado teatro popular. Sua análise parte do diagnóstico, dado por Barthes, de “aburguesamento” do Théâtre National Populaire (TNP), de Jean Villar, sobretudo pela atuação de Gérard Philippe, seu maior astro nos anos 1950, para retomar a longa história do teatro moderno.

O primeiro protótipo do teatro popular é encontrado por Rancière no princípio do “palco aberto”, formulado por Victor Hugo. Este consistiria não somente na destruição das convenções ligadas aos gêneros, mas na “mistura de tudo” como na vida, “um igualitarismo radical” (RANCIÈRE, 2017, p.126). Esse palco aberto ao povo celebrava, no entanto, algo maior que ele. Celebrava, segundo tal leitura, a vida universal que ultrapassa todas as individualidades, constituindo uma dramaturgia da coexistência.

Porém, a reflexão de Hugo detém-se aí. O teatro representa, contudo, não apenas uma metáfora do ordenamento social, mas é também uma metáfora do pensamento, afirma o filósofo. Nesse sentido, duas imagens governaram historicamente a relação entre pensamento e teatro: uma negativa ou platônica opõe um ao outro, fazendo do teatro o reino da imagem, da mentira do poeta e do ator, da ilusão e da passividade, do excesso e da paixão, o contrário do pensamento; e há uma imagem positiva, a aristotélica, que faz do teatro uma “intriga de saber”, um “modelo de racionalidade”, ou do “pensamento em ato”, no qual “o espaço visível da representação é dado como o lugar de efetuação de um esquema” e a palavra adere e expressa o pensamento, controlado por uma vontade, anunciando o ato (RANCIÈRE, 2017, p.128-29). A subversão da segunda imagem dessa relação é encontrada por Rancière nos trabalhos de George Büchner. Em sua obra o modelo orgânico é substituído por um modelo vivo, resultado de uma nova concepção do meio da ficção, não mais entendido como intervalo entre um início e um fim, mas como uma rede infinita que ultrapassa qualquer forma de unidade, seja a do organismo seja a da ação.

O pensamento torna-se desse modo, sinônimo do excesso, afirma o filósofo. Suas operações infinitas excedem o corpo, a palavra, o gesto e o ato, e a sua origem e fim imprecisos impedem que qualquer vontade possa controlá-lo. Isso não significa que ele não age, mas que o modelo de sua ação verdadeira, aquele que desconhece suas origens e fins, opõe-se à forma da ação racional controlada do modelo aristotélico, e a sua nova forma será, pelo contrário, a do sonho ou do sonambulismo. Essa nova imagem do pensamento faz da imagem aristotélica do teatro como “intriga de saber” uma mentira, um equívoco sobre a natureza, a forma e a origem do pensamento, bem como sobre o modo como ele ganha corpo e age.

Como consequência dessa nova concepção do pensamento no palco, Rancière observa o surgimento de uma “arte da direção” que compreende duas modalidades: a primeira, presente nas reflexões de Maurice Maeterlinck, faz da direção a “arte da disposição das palavras no espaço” (RANCIÈRE, 2017, p.142), atribuindo à palavra não uma função de anunciar o pensamento ou o ato, mas de evidenciar o meio sensível, o “fora-do-espaço”, que é o lugar desse pensamento tomado como excesso. Ela demarca, dessa forma, a distância entre o verdadeiro pensamento e as pretensões da intriga clássica. Asegunda modalidade é proveniente, entre outros trabalhos, das atuações de Jean-Gaspard Deburau no Théâtre dês Funambules, e “consiste em bordar na trama ficcional das causas e efeitos um cenário de pura atuação”, uma atuação que consiste não na representação, mas na pura ação dos corpos (RANCIÈRE, 2017, p.144-45).

O teatro moderno que culmina no TNP é, portanto, marcado por essa disjunção entre o pensamento, caracterizado pelo excesso, a palavra, cuja função é evidenciar a distância que marca o meio seio sensível do palco, e o ato, tomado como pura atuação dos corpos. Para Rancière, essa longa história é ignorada no juízo de Barthes, que toma por base a oposição brechtiana entre um teatro da identificação e um teatro do distanciamento, pela qual Brecht buscava restabelecer o vínculo entre o prazer estético e o saber necessário para a ação revolucionária. Essa oposição omite essa história, pois, como concepção “revolucionária”, ela busca restabelecer a velha lógica da ação em crise desde o século XVIII. Desse modo, a “questão pela qual a política está ligada ao teatro não é saber como sair do sonho para agir na vida real; é a de decidir o que é o sonho e o que é a vida real” (RANCIÈRE, 2017, p.149).

Embora O fio perdido de Rancière consista em um livro dedicado à ficção, sua leitura inquietante não se limita aos interesses do crítico literário ou do ficcionista, indo além desses limites. Ao reconhecer, como White, que a constituição da História, e mesmo, das Ciências Sociais, enquanto saberes e disciplinas modernas ou ciências é tributária do modelo da poética tradicional, centrado na lógica da ação e da intriga causal, e que a própria poética representativa é igualmente uma concepção de comunidade ou de um ordenamento social, Rancière fornece novos elementos para a compreensão de aspectos que permeiam a constituição do campo de trabalho e das práticas dos historiadores. Desse modo, cabe também questionar, a partir desses indícios da falência da ação e desses deslocamentos nas práticas da escrita ficcional, suas possíveis consequências no campo da historiografia e das ciências da sociedade.

É intrigante, igualmente, refletirmos acerca dos contrastes entre, de um lado, essa emergência de um regime estético na ficção desde o final do século XVIII, identificada nesse conjunto de ensaios de Rancière, cuja marca fundamental consiste em uma crescente abertura, pluralização ou multiplicação heterogênea do social, da noção de acontecimento e de pensamento, e do próprio vínculo entre pensamento, palavra e ação. Por outro lado, no que tange à historiografia, mas também à ampla parcela do pensamento filosófico, sociológico e antropológico, observamos, nesse mesmo período, um crescente processo de unificação, homogeneização e hierarquização da temporalidade histórica e do conjunto dos recursos conceituais de análise histórica, sociológica e antropológica. Portanto, trata-se de uma leitura fundamental, pois implica um conjunto de problemas cruciais às ciências humanas tanto em sua origem quanto na contemporaneidade.

Nota

2 Rancière participou inclusive do primeiro volume da obra Ler O capital, coordenada por Louis Althusser (1979).

Referências

ALTHUSSER, Louis; RANCIÈRE, Jacques; MACHEREY, Pierre. Ler O Capital. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979. 1v.

CERTEAU, Michel de. Fazer com: usos e táticas. In: ______. A invenção do cotidiano: Artes do fazer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 91-106

. ______. Ler uma operação de caça. In: ______. A invenção do cotidiano: Artes do fazer. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. p. 259-276.

HARTOG, François. Regimes de historicidade: presentismo e experiências do tempo. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

RANCIÈRE, Jacques. O fio perdido: ensaios sobre a ficção moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2017.

______. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo: Editora 34, 2005.

______. O conceito de anacronismo e a verdade do historiador. In: SALOMON, Marlon (Org.). História, verdade e tempo. Chapecó: Argos, 2011. p. 21-49.

WHITE, Hayden. Meta-História: a imaginação histórica no século XIX. São Paulo: Editora da USP, 1992.

Cássio Guilherme Barbieri – Mestrando no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humana da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Erechim. Graduado em História pela UFFS – Campus Chapecó. É membro do Laboratório Escrita, Memória e Arte (LEMA) e do Grupo de Estudos Teoria da História, ambos vinculados ao Curso de História da UFFS. E-mail: cassiobarbieri@hotmail.com


RANCIÈRE, Jacques. O fio perdido: ensaios sobre a ficção moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2017. Resenha de: BARBIERI, Cássio Guilherme. Estética, política e historiografia: indícios da emergência do regime estético na ficção moderna. Aedos. Porto Alegre, v.11, n.25, p.627-636, dez., 2019. Acessar publicação original [DR]

Cuadernos de Historia. Santiago de Chile, n.51, diec. 2019.

EDITOR/A: Sergio Grez

Cuadernos de Historia. Santiago de Chile, n.51 (2019): Diciembre

ESTUDIOS

DOCUMENTOS

RESEÑAS

 

Trabalho e trabalhadores no Nordeste – Análises e perspectivas de Pesquisas Históricas em Alagoas, Pernambuco e Paraíba | Tiago Bernardon de Oliveira

A noção de “experiência” concebida por Edward Thompson na sua célebre obra A Formação da classe operária inglesa, publicada pela primeira vez em 1963, foi cara para o desenvolvimento da História do Trabalho no mundo e no Brasil [1]. No país, desde sua ascensão no departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), nas últimas décadas do século XX, pesquisadores tentam deslocar temas e objetos historiográficos que ligam a história de trabalhadores com, apenas e necessariamente, seus órgãos organizadores – partidos, sindicatos e líderes políticos –, mas juntando estes com suas próprias tradições, culturas, ideias, pensamentos, ideologias e construções sociais.

Não obstante, uma tendência ainda forte parece perdurar no país, embora com embates significativos e pesquisas já consolidadas em sua contramão – a narrativa de uma História do Trabalho e de trabalhadores centrada no eixo Rio-São Paulo ou, quando não, tomando exemplos destes estados e suas experiências como centros de referências e moldes a serem seguidos pelos agentes, organismos e instituições de outras regiões. A historiadora Silvia Petersen, em meados dos anos 1990, já havia alertado que “a história operária brasileira poderia alcançar outro patamar político se houvesse a articulação dos resultados das pesquisas regionais”[2], mas o fato é que o “Rio de Janeiro e São Paulo foram constituídos como centros definidores de sentido para a história operária do Brasil”[3] e que, no caso de seu objeto de estudo,

[…] as pesquisas acadêmicas sobre o movimento operário no Rio Grande do Sul, que aparecem nos anos 70, também tiveram por horizonte o que aconteceu no centro do país, tomado como padrão. Há uma preocupação correta em buscar referências nas regiões política e economicamente hegemônicas, mas estes trabalhos tiveram via de regra o viés de fazer aproximações na ausência de investigações mais precisas, de transferir explicações para suprir lacunas na investigação local.[4]

O símbolo do anarquista italiano de São Paulo ou do trabalhismo carioca, assim como a industrialização dessas cidades, não parecia encaixar-se em uma população marcada pela perduração do coronelismo, uma industrialização incipiente, uma menor onda de imigração e a permanência de trabalhos análogos à escravidão, como no Nordeste e Norte. Só cabia ao examinador dessas regiões tratar qualquer manifestação política ou social como exógena ao movimento operário brasileiro do período. Focos de estudos das relações de trabalho como no Ceará e na Bahia, a partir da Universidade Federal do Ceará (UFC), por exemplo, estão descentralizando tal visão. As reflexões de Marcel Van der Linden sobre a História Global do Trabalho e a ideia de que as considerações e experiências do hemisfério sul apresentam diferentes performances, igualmente sintomáticas para entendermos o capitalismo mundial e suas resistências, também tiveram papel fundamental neste processo[5].

É nesse ínterim, que o livro Trabalho e trabalhadores no Nordeste – Análises e perspectivas de Pesquisas Históricas em Alagoas, Pernambuco e Paraíba, organizado por Tiago Bernardon de Oliveira, e que conta com a colaboração de diversos especialistas e estudiosos de tais regiões, está alocado. Ele é resultado do I Ciclo de Debates sobre História do Trabalho, realizado no Centro de Humanidades da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), entre os dias 12 e 14 de agosto de 2013, onde, de acordo com seu organizador,

[…] cerca de 300 estudantes e professores dos cursos de Licenciatura em História, Geografia, Pedagogia, Letras e Direito debateram perspectivas de análise histórica sobre o trabalho e os trabalhadores do Nordeste com painelistas vindos da Paraíba, de Pernambuco e de Alagoas, que se dirigiram ao Brejo paraibano com recursos praticamente inexistentes e desprendida generosidade, baseada no compromisso de fazer expandir o conhecimento histórico como forma de ação política.[6]

Percebe-se, tanto nessa intenção bem como na escolha dos capítulos do livro, a ação política e social que seus autores e idealizadores estavam buscando, incluindo aí desde o escrever sobre o tema nestas regiões, quando divulgar tais pesquisas, ainda mais em universidades e centros educacionais sem tantos recursos, quanto no sudeste do país. Nisso, é perpassado também a relação dos estudos do trabalho com a questão racial. Muitas pesquisas da temática desconsideram o peso da escravidão e da diferença de cor de trabalhadoras e trabalhadores que ocupavam os mesmos postos de trabalho, assim como a relevância de discutir o tema da escravidão como fator considerável para a constituição das relações trabalhistas no Brasil. O livro traz importantes contribuições nesse sentido, ainda mais no Nordeste, onde a tese do “imigrante branco do trabalho livre” substituindo o negro no período republicano cai por terra.

É necessário citar que esse projeto tem relação com a construção do Núcleo de Documentação Histórica do Centro de Humanidades (NDH-CH) da UEPB, “cujo início remonta a meados de 2010, quando começaram as negociações que resultaram em um convênio firmado entre a UEPB e o Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região (TRT-13)”[7] , no qual está se tentado o impedimento “às ordens de descarte dos autos findos arquivados por mais de cinco anos pelas instâncias superiores daquele tribunal”[8] , o que revela a dificuldade em conseguir documentos para tais pesquisas. Mesmo diante disso, Tiago Bernardon de Oliveira, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em História do Trabalho, atuante principalmente no tema da construção do anarquismo e do sindicalismo revolucionário no Brasil, para além dos eixos comuns, mas também interessado na história do reformismo sindical e do socialismo e ultimamente na História do Trabalho no Nordeste, encabeçou a organização da obra, que foi publicada também no SciELO books, mostrando a preocupação com a divulgação e leitura democráticas de tal livro.

Na realidade, numa duração um pouco maior, também podemos alocar o livro dentro dos esforços do GT Mundos do Trabalho, projeto no interior da Associação Nacional de História (ANPUH), organizado durante o XX Simpósio Nacional de História (Florianópolis, 1999), onde um grupo de historiadores resolveu encabeçar um espaço de debate particular dentro dos encontros e congressos propostos pelo organismo, que tem as renovações da história do trabalho em âmbito global e brasileiro como eixo norteador. Desde aí, este GT contribui para reunir pesquisadores de todo o Brasil, além de favorecer iniciativas que descentralizem a história do trabalho e dos trabalhadores além de seus polos mais estudados.

O livro em questão foi dividido em 14 capítulos, além de uma apresentação, que envolvem diversos temas correlatos ao fenômeno do trabalho em Alagoas, Pernambuco e Paraíba, como as relações escravistas, o pós-abolição e suas características nestas regiões, o movimento operário e suas performances, cotidiano, cultura e repressão, além da reflexão sobre as fontes utilizadas – fato que evidencia seu lugar nos recentes debates da História do Trabalho. O primeiro capítulo, O mundo do trabalho na sociedade escravocrata brasileira: um panorama sobre a Paraíba escravista, escrito por Solange Pereira da Rocha e Matheus Silveira Guimarães, versa sobre a escravidão indígena e a africana nos princípios da colonização do Brasil, que embora seja alocada aos séculos XVI e XVII, nos dá indícios sobre as relações estruturais trabalhistas na longa duração que foi construída no Brasil. O segundo capítulo, O homem livre e pobre no Brasil oitocentista, de Cristiano Luís Christillino, continua, nesse sentido, num período depois, no século XIX, analisando os pobres numa sociedade escravocrata e as conexões entre este processo no Rio Grande do Sul e na Paraíba.

O terceiro capítulo, Para o estudo das origens da organização dos trabalhadores em Alagoas: periodizando o mutualismo, de Osvaldo Batista Acioly Maciel, abre no livro as pesquisas sobre as relações trabalhistas de caráter livre, no período republicano brasileiro, embora nas regiões estudadas, e em boa parte do país, a linha entre o trabalho escravo e livre era bem tênue como ressaltada na obra. O autor faz uma análise atenciosa do mutualismo de Alagoas e suas transformações particulares, marcadas pelas relações clientelistas, e sua transição para o sindicalismo. Já em Reformistas e revolucionários: as lutas internas do movimento operário pernambucano e a formação do Grupo Comunista de Recife (1917-1922), de Frederico Duarte Bartz, é mostrada a dinâmica do movimento operário num momento tido como ápice na historiografia, que teve, nas regiões estudadas, influência do reformismo, embora com tensionamento do anarquismo e, com a Revolução Russa, a construção do comunismo. Nesse período, nem sempre houve resistências explícitas e somente políticas, mas culturais e versadas no cotidiano, fato estudado por Waldeci Ferreira Chagas em Cotidiano de trabalhadores urbanos na Parahyba moderna.

Avançando para além da fase da Primeira República, em Vigilância e ações de furto: estratégias de resistência operária na Companhia de Tecidos Rio Tinto (Paraíba-1959), de Eltern Campina Vale, é analisado o processo de repressão e resistências de trabalhadores com características próprias da região estudada, que, mesmo na fase convencionada como “redemocratização”, usava, por parte da classe dominante, uma linguagem e atitudes bastante repressivas e de controle social, a fim de controlar o trabalho e os trabalhadores na Paraíba. Em Golpe civil-militar e repressão ao movimento sindical no imediato pós-golpe no estado da Paraíba, Paulo Giovani Antonio Nunes aborda também o tema da repressão, neste caso, sobre os trabalhadores, a partir do Golpe de 1964. Neste estudo, utilizam-se a legitimação da violência e a repressão enquanto métodos que viriam a ser seguidos para conter a organização e a resistência à disciplina do trabalho na região estudada.

Debruçando-se em reflexões sobre fontes, personagens e temas atuais, Ana Beatriz Ribeiro Barros Silva, em Acidentes, adoecimento e morte no trabalho como tema de estudo da História, também trata sobre a exploração da força de trabalho no capitalismo, e, em particular, nestas regiões que têm acidentes de trabalho, e nas doenças ocupacionais desenvolvidas nas atividades produtivas como forma de controle social e disciplina. Com essa mesma linha, n’A indústria dos corpos exauridos na plantation açucareira no Nordeste do Brasil, de José Marcelo Marques Ferreira Filho, é analisada a relação entre as doenças ocupacionais e os acidentes de trabalho, provenientes da exploração nas plantations canavieiras da Zona da Mata de Pernambuco, entre 1963 e 1973.

Mariângela de Vasconcelos Nunes, em Uma cultura da esperteza: histórias de ócios, táticas e astúcias no ofício do agave, revela algumas formas de resistência dos trabalhadores – longe de serem passivos a estes processos – da manufatura do agave, na região dos Velhos Cariris, no sertão da Paraíba. Fundindo a análise de resistências culturais e políticas, baseada, substancialmente, em depoimentos orais, emergem táticas desenvolvidas pelos trabalhadores da região como o ócio e outros mecanismos, que agiam como uma verdadeira forma de trabalho “moral”, construída pelos seus agentes. No capítulo seguinte, Maria do Socorro de Abreu e Lima, em Trabalhadores rurais diante da violência, defende que, apesar do uso de uma brutal violência dos latifundiários e do Estado diante das mobilizações e movimentos de Pernambuco, entre a década de 1960 e fins da de 1980, os trabalhadores rurais conseguiram forjar formas de organização, e de bastante complexidade, inclusive com disputas na construção do sindicalismo rural pernambucano. Essa tradição construiu e também se chocou com o período da redemocratização abordado por Marcela Heráclio Bezerra, intitulado “Com muita vara é que se levanta uma casa e com muita lenha é que se levanta o fogo”: greves e conquistas trabalhistas da classe canavieira em Pernambuco durante os anos 1980, no qual é investigado o processo de construção das lutas dos trabalhadores canavieiros do Estado de Pernambuco, na fase de abertura política – inclusive debatendo essa conjuntura e adicionando temas relevantes como os da violência de gênero entre trabalhadores.

No penúltimo capítulo, Christine Rufino Dabat n’A rica história dos trabalhadores segundo os arquivos da Justiça do Trabalho: incitação à pesquisa apresenta alguns trabalhos acadêmicos realizados ao longo da última década, feitos pelo Grupo de Estudos “Trabalho e Ambiente na História das Sociedades Açucareiras – UFPE”, coordenado pela autora, juntamente com Maria Socorro de Abreu e Lima, no qual se reflete sobre o uso de fontes, a partir de um debate historiográfico internacional sobre o tema. No último capítulo, Francisco Fagundes de Paiva Neto utiliza-se de um estudo micro-histórico n’A biografia de Monsenhor Luigi Pescarmona e as lutas sociais na Diocese de Guarabira-PB para revelar as conexões entre imigração, religião, e a construção da consciência de classe, a partir de elementos culturais e formas de resistência diversas, tal como encontrada na trajetória do personagem.

A diversidade dos temas, embora buscando uma unidade – a construção da consciência de classe, a operação do capitalismo e do Estado Nacional brasileiro e suas formas de controle – na Paraíba, Pernambuco e Alagoas, mostra que, longe de ser um assunto sem nada para garimpar da História do Trabalho no Brasil, tem muito a ser feito, inclusive se levarmos em conta a proporção continental do nosso país, que está além das áreas tipicamente estudadas. Olhar além das fronteiras usualmente definidas – não deixando de ignorar aspectos fundantes e estruturais, já que, de fato, a questão da imigração em massa e das relações de trabalho, em áreas tipicamente mais industrializadas, são importantes para compreendermos muito dos processos e construções das relações de trabalho no Brasil – pode nos dar respostas sobre a experiência particular da nossa classe trabalhadora se juntarmos todos esses casos, o regional, o nacional e o global, ou seja, uma história que precisa ser alocada na história dos trabalhadores do mundo. Ademais, esses trabalhadores contidos no livro, ao estarem mais próximos aos trópicos, também podiam estar –mesmo com seus projetos e sonhos perdidos e esmagados – com respostas mais próximas ao sol, da redenção.

Notas

1. Ver MATTOS, Marcelo Badaró. E. P. Thompson no Brasil. Outubro, São Paulo, v. 14, n. 6, p. 81-110, 2006. Disponível em: http://outubrorevista.com.br/e-p-thompson-no-brasil/. Acesso em: 27 ago. 2019.

2. PETERSEN, Silvia. Cruzando fronteiras: as pesquisas regionais e a história operária brasileira. Anos 90, Porto Alegre, v. 3, n. 3, p. 129-153, 1995. p. 132. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/anos90/article/view/6150/3644. Acesso em: 26 ago. 2019.

3. Idem.

4. Idem.

5. Ver LINDEN, Marcel Van der. Trabalhadores do Mundo: ensaios para uma história global do trabalho. São Paulo: Editora Unicamp, 2013.

6. OLIVEIRA, Tiago Bernardon de. Trabalho e trabalhadores no Nordeste – Análises e perspectivas de Pesquisas Históricas em Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Campina Grande: Eduespb, 2015. p. 10.

7. Idem.

8. Idem.

Kauan Willian dos Santos –  Doutorando em História pela Universidade de São Paulo (USP) São Paulo, SP, Brasil. E-mail: kauanwillian09@gmail.com  Orcid: https://orcid.org/0000-0003-3677-9397

OLIVEIRA, Tiago Bernardon de. Trabalho e trabalhadores no Nordeste – Análises e perspectivas de Pesquisas Históricas em Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Campina Grande: Eduespb, 2015. Resenha de: SANTOS, Kauan Willian dos. Trabalho e trabalhadores mais próximos ao sol. Revista Nordestina de História do Brasil. Cachoeira, v.2, n.3, p.158-164, jul./dez. 2019. Acessar publicação original [DR]

De Atauhalpa a Guevara: nossos ilustres desconhecidos | Marcos Antônio Caixeta Rassi

O professor Marcos Antônio Caixeta Rassi é graduado em História pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Patos de Minas (1982), graduado em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Patos de Minas (1991) e mestre em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia (2006).

Em “De Atahualpa a Guevara: nossos ilustres desconhecidos”, o Prof. Me. Marcos Antônio Caixeta Rassi problematiza o ensino da História da América no Brasil, partindo do pressuposto de que a América (“rico, múltiplo e complexo mosaico cultural” segundo suas próprias palavras) é um lugar onde nós ainda não produzimos uma cultura de pertencimento, sendo importante romper com o silêncio e o desconhecimento da História da América em nosso país, olhando para o passado latino-americano como um meio de nos encontrarmos. Leia Mais

Pedagogia Universitária: aprender a profissão, profissionalizar a docência | G. O. Melo

Geovana Melo, autora da obra Pedagogia Universitária: aprender a profissão, profissionalizar a docência, com 207 páginas, lançado pela editora CRV, em 2018, na cidade de Curitiba, que está com sua primeira edição encerrada e caminha para a segunda, projeta a perspectiva de sua vivência diante de sua pesquisa acerca da formação de professores para o ensino superior mediante sua trajetória. Geovana é pedagoga, mestre, doutora e pós-doutora em Educação, docente na Universidade Federal de Uberlândia, atuando nos cursos de Pedagogia, licenciatura e no Programa de Pós-Graduação em Educação, onde também possui um cargo gestacional, podendo aproximar-se com fidelidade de suas colocações.

Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Pedagogia Universitária, Didática, Avaliação da Aprendizagem e atua trabalhando com os seguintes temas: formação de professores para a educação básica e superior, educação escolar, processos de formação, estágio supervisionado e profissionais da educação. Geovana é coordenadora do GEPDEBS – Grupo de Estudos e Pesquisas em Docência na Educação Básica e Superior do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, onde também é diretora da Faculdade de Educação. Leia Mais

Fascismo: definição e história | Luce Fabbri, Fernanda Grigolin e Rodrigo Millán

Lucce Fabbri A Ditadura na Tela: O Cinema Documentário e as Memórias do Regime Militar Brasileiro
Luce Fabbri | Imagem: Diccionario Biográfico de las Izquieras LatinoAmericanas

A tarefa de definir o fascismo esbarra quase sempre na capacidade do fenômeno de se articular entre a indefinição que o caracteriza enquanto projeto e a rispidez da coação que o materializa. Vitalismo e indiferença, desprezo pelas “massas” e medo de insurreição, burocratização e ilicitude: as oscilações de um fascismo que se propõe pensamento e ação encerram contradições, disputas e aporia.

Como, então, definir aquilo que aparenta ser insondável e estarrece? Em Fascismo: definição e história, ensaio escrito em 1963, a anarquista de origem italiana Luce Fabbri desce para as linhas de choque da reflexão para trazer uma visão sóbria, engajada e densa do fenômeno. Leia Mais

Educação Histórica. Curitiba, n.19, 2019 / n.1, 2012.

 

REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 19 / julho – dezembro 2019.

APRESENTAÇÃO

  • HISTÓRIA AMBIENTAL EM SALA DE AULA: O PROFESSOR DE HISTÓRIA E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Albano Gabriel Giurdanella 12
  • “APRENDER TRANSCENDE AS PAREDES DE UMA SALA DE AULA”: A APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA EM MUSEUS CURITIBANOS Juliana Santos de Matos 22
  • O TRABALHO INFANTIL: DO GUETO DE LODZ AOS DIAS DE HOJE Luzilete Falavinha Ramos; Simone Marquito Caetano Ribas; Araci Asinelli da Luz 33
  • NARRATIVAS DE PROFESSORAS NO COLETIVO: A EXPERIÊNCIA E OS SENTIDOS CONSTITUÍDOS SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA Magda Madalena Tuma 45
  • O PAPEL DOS JOGOS NA HISTORIOGRAFIA E SEU USO COMO FONTE EM SALA DE AULA E EM PESQUISAS ACADÊMICAS Mateus da Cruz Leal Nunes Vitorino 58
  • EDUCAÇÃO HISTÓRICA ATRAVÉS DA HISTÓRIA DOS REINOS AFRICANOS: A TENTATIVA DE UMA ABORDAGEM AMBIENTAL E USO DE TECNOLOGIAS COM O ENSINO MÉDIO Mayla Louise Greboge Montoia 68
  • CINEMA E HISTÓRIA: PROPOSIÇÕES DE USOS DA PRODUÇÃO AUDIOVISUAL NOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM Vanessa Maria Rodrigues Viacava 76

RESENHA BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2018. Dioury de Andrade Bueno; Ana Claudia Urban 83


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 18 / janeiro – junho 2019

APRESENTAÇÃO

  • OS INTERESSES SOCIAIS E AS RELAÇÕES DE PODER VOLTADAS AS QUESTÕES INDÍGENAS Cristina Elena Taborda Ribas; Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt 13
  • BRINQUEDOS E BRINCADEIRAS: UMA REFLEXÃO SOBRE O TRABALHO COM FONTES HISTÓRICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Dioury de Andrade Bueno; Ana Claudia Urban 25
  • A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL: APRENDIZAGEM HISTÓRICA E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA Geraldo Becker 39
  • O ENSINO DE HISTÓRIA E A EDUCAÇÃO HISTÓRICA: APRENDIZAGENS HISTÓRICAS MOBILIZADAS POR FILMES NO ENSINO MÉDIO Janete Cristiane Jarczeski 47
  • ENTRE MEMES E MEMÓRIAS: HISTÓRIA PÚBLICA E O ENSINO DA HISTÓRIA DA DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA João Guilherme Züge 58
  • ENTRE FICÇÃO E HISTÓRIA: A LITERATURA FICCIONAL COMO FONTE NO ENSINO DE HISTÓRIA Rafaella Baptista Nunes; Ana Claudia Urban 69
  • DO PÚBLICO AO PRIVADO, DO ENSINO FUNDAMENTAL À UNIVERSIDADE: O QUE É HISTÓRIA? Uirys Alves de Souza 81

RESENHA RÜSEN, Jörn. Razão Histórica – Teoria da História: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: Editora UnB, 1ª reimpressão, 2010. Fernanda Almeida de Souza; Ana Claudia Urban 94


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUC – LAPEDUC Número 17julho – dezembro 2018.

APRESENTAÇÃO

  • UM LEVANTAMENTO SOBRE A HISTÓRIA DA GUERRILHA DO VALE DO RIBEIRA A PARTIR DE FONTES DOCUMENTAIS: JORNAIS E PESQUISAS ACADÊMICAS Amanda Pfitzner Cabral; Gabriela Sonda Vieira; Ana Claudia Urban 11
  • MASSA CRÍTICA: UMA ANÁLISE DAS POTENCIALIDADES DE UMA EDUCAÇÃO HISTÓRICA ALIADA A UM SISTEMA DE RPG André Victor Falcade Pereira 22
  • TEMAS CONTROVERSOS NA HISTÓRIA DO BRASIL: AS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA Camila Chueire Caldas; Ana Claudia Urban 35
  • A FOTOGRAFIA NA APRENDIZAGEM HISTÓRICA: POSSIBILIDADES DE MOBILIZAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA POR MEIO DA LINGUAGEM FOTOGRÁFICA Fabio Ferreira; Maria Auxiliadora M. S. Schmidt 45
  • ENSINO DE HISTÓRIA: PESQUISAS E EXPERIÊNCIAS NA ESCOLA BÁSICA Lilian Costa Castex 57
  • CONSCIÊNCIA HISTÓRICA E AS DEMANDAS SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS: LITERATURA E EDUCAÇÃO HISTÓRICA Solange Maria do Nascimento; Maria Auxiliadora Schmidt 71

ARTIGO DE DEMANDA CONTÍNUA CUSCO, ATRAÇÕES E TRADIÇÕES DA CULTURA INCA Marcia Moreira 81

RESENHA SCHMIDT, Maria Auxiliadora M. dos S.; URBAN, Ana Claudia. O que é Educação Histórica. Curitiba: W.A. Editores, 2018. Nikita Mary Sukow; Ana Claudia Urban 86


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 16 / janeiro – junho 2018.

APRESENTAÇÃO

  • LACUNAS E POSSIBILIDADES DA APRENDIZAGEM HISTÓRICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Andressa G. Pinheiro de Oliveira; Maria Auxiliadora M. dos Santos Schmidt 11
  • CONSCIÊNCIA HISTÓRICA NO CIBERESPAÇO: ANÁLISE DE FONTES HISTÓRICAS E AS MUDANÇAS DE COGNIÇÃO DE PENSAMENTO EM ALUNOS DE ENSINO MÉDIO Antonio Diogo Greff de Freitas; Ana Claudia Urban 29
  • USO DO TEATRO NO ENSINO DE HISTÓRIA: UMA PRÁTICA CONSTRUTIVA DE CONHECIMENTO ATRAVÉS DA ARTE Dhyandra Montani Schactai; Geyso Dongley Germinari 49
  • BURDENING HISTORY NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: O QUE PENSAM AS CRIANÇAS MBYÁ GUARANI SOBRE AS NARRATIVAS DE COLONIZAÇÃO DO BRASIL? Juliane Nascimento das Neves; Ana Claudia Urban 57
  • TEMPORALIDADE E APRENDIZAGEM HISTÓRICA NAS PROPOSTAS CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO NO BRASIL Leslie Luiza Pereira Gusmão; Maria Auxiliadora M. dos Santos Schmidt 69
  • A COMPREENSÃO DE JOVENS ESTUDANTES ACERCA DAS FONTES HISTÓRICAS NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO ESCOLAR Luana Zucoloto Mattos Moreira; Ana Cláudia Urban 82
  • HISTÓRIA DIFÍCIL: A PRESENÇA DAS EMOÇÕES NAS NARRATIVAS ORAIS Sergio Antônio Scorsato; Maria Auxiliadora Schmidt 87

RESENHA SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Aprender a ensinar: contribuição de materiais destinados a professores. Curitiba: W.A Editores, 2017. Gabriela Sonda Vieira; Ana Claudia Urban 99


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 15 / julho – dezembro 2017.

APRESENTAÇÃO

  • NAZISMO E NEONAZISMO NO BRASIL COMO QUESTÕES CONTROVERSAS DA HISTÓRIA E O APRENDIZADO HISTÓRICO DOS ESTUDANTES Alecsandro Danelon Vieira 11
  • A EDUCAÇÃO HISTÓRICA E OS DIREITOS HUMANOS NAS AULAS DE HISTÓRIA Cláudio Aparecido de Souza; Lindamir Zeglin Fernandes; Telmary Kazmierczak 24
  • JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO E A CONSTITUIÇÃO DE SENTIDOS EM RELAÇÃO À HISTÓRIA DA CIDADE DE CURITIBA Geraldo Becker; 38
  • CONFLITO DE ESCRAVOS E EX-ESCRAVOS DURANTE O PERÍODO DA ESCRAVIDÃO AFRICANA NO BRASIL: O QUE DIZ (E O QUE NÃO DIZ) A NARRATIVA DO MANUAL DIDÁTICO DE HISTÓRIA Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd 52
  • APRENDIZAGEM HISTÓRICA E NARRATIVAS HISTÓRICASDE JOVENS ESTUDANTES SOBRE A GUERRA DO PARAGUAI:UMA EXPERIÊNCIA PDE Daniele Sikora Kmiecik; Ana Claudia Urban 75
  • O SIGNIFICADO DIDÁTICO DOS ARQUIVOS DIGITAIS Vaneska Mezete Pegoraro 88

RELATO DE EXPERIÊNCIA HISTÓRIA DO PARANÁ: CONHECENDO FONTES HISTÓRICAS NO MUSEU PARANAENSE Lídia Teresinha Ferreira de Paula; Sandra Regina Habinoski Drusz 108

RESENHA COSTA, Marcella Albaine Farias da. Ensino de História e Games: Dimensões práticas em sala de aula. Curitiba: Appris, 2017. 125 p. Amanda Pfitzner Cabral; Ana Claudia Urban 114


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 13 / setembro – dezembro 2016.

APRESENTAÇÃO 

  • A INVISIBILIDADE DA MULHER NO PERÍODO DO RENASCIMENTO Darcylene P. Domingues 14
  • O ENSINO DE HISTÓRIA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: CONSTRUINDO SABERES E DESPERTANDO O INTERESSE À APRENDIZAGEM Alessandra Farias Rodrigues 29
  • A APRENDIZAGEM HISTÓRICA NOS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO FUNDAMENTAL: A PERSPECTIVA DE PROFESSORES Fernanda Aparecida Germano de Chagas; Leslie Luiza Pereira Gusmão; Maria Cristina Maestrelli Rutyna; Maria Eliane Toledo de Ramos 42
  • EVIDÊNCIAS DA HISTÓRIA DE CURITIBA NA VISÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO Geraldo Becker; Ana Claudia Urban 55
  • APRENDIZAGEM HISTÓRICA, ENSINO DE HISTÓRIA TEMÁTICA DA REFORMA: A REPRESENTAÇÃO DE MARTINHO LUTERO NOS LIVROS DIDÁTICOS Lúcio Antônio Felipe; Júlia Silveira Matos 65
  • A DIDÁTICA DA HISTÓRIA E A FORMAÇÃO DO/A PROFESSOR/A DE HISTORIA Maria Caroline A. da Silveira 80 NEUROPSICOLOGIA: A COMPREENSÃO COGNITIVA DOS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM HISTÓRICA Sergio A. Scorsato 97
  • O MANUAL DO PROFESSOR DE HISTÓRIA E EXPERIÊNCIAS PEDAGÓGICAS: DIÁLOGOS ENTRE OS EDITAIS DO PNLD 2012-2015 Virginia da Silva Xavier; Júlia Silveira Matos 108
  • EDUCAÇÃO HISTÓRICA E A CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO: REFLEXÕES INICIAIS DE UMA PROPOSTA DE ESTUDO Juliano Mainardes Waiga; Ana Claudia Urban 121
  • JOVENS HISTORIADORES EM FORMAÇÃO: O QUE E COMO ELES PERCEBEM A INGLATERRA DO SÉCULO XVII Júlia Silveira Matos; Uirys Alves de Souza 129

REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 14 / janeiro – junho 2017.

APRESENTAÇÃO

  • A GUERRA DO CONTESTADO COMO HISTÓRIA DIFÍCIL E A NARRATIVA HISTÓRICA DOS ESTUDANTES Alecsandro Danelon Vieira 12
  • MOVIMENTOS CULTURAIS, POLÍTICOS E SOCIAIS DURANTE A DITADURA CIVIL-MILITAR Cristina Elena Taborda Ribas; Maria Auxiliadora dos Santos Schmidt 21
  • HISTÓRIA INDÍGENA: ENTRE O ESQUECIMENTO E O TRAUMA Daniel Jacob Nodari; Dayane Rubilla Lobo Hessmann 33
  • GPEDUHSC- GRUPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO HISTÓRICA SÃO CRISTÓVÃO- UMA EXPERIÊNCIA SOBRE HISTÓRIA DIFÍCIL COM ESTUDANTES Jucilmara Luiza Loos Vieira 42
  • BURDENING HISTORY E AS NARRATIVAS DE COLONIZAÇÃO DO BRASIL: DIÁLOGOS ENTRE A EDUCAÇÃO HISTÓRICA E O ENSINO DE HISTÓRIA EM CONTEXTO ESCOLAR INDÍGENA Juliane Nascimento das Neves; Ana Claudia Urban 52
  • MANICÔMIO EM BARBACENA: QUANDO A MORTE FAZ HISTÓRIA Renata Luiza Wiechetek Silva; Bruna Thays Silva Muniz 67
  • ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA LEI 10.639/03 E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES EM RELAÇÃO À TEMÁTICA Franciele de Fátima Kososki do Prado 77
  • IDENTIDADE E AUTONOMIA ATRAVÉS DE JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL Marcia Cristina de Abreu 86

RESENHA Borries, Bodo Von. Jovens e Consciência Histórica. Curitiba: W. A Editora, 2016. Juliano Mainardes Waiga; Ana Claudia Urban 92


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUC – LAPEDUH – Número 13 / julho – dezembro 2016.

APRESENTAÇÃO

  • CONCEPÇÕES DE EVIDÊNCIA E EMPATIA HISTÓRICA EM SALA DE AULA A PARTIR DAS REPRESENTAÇÕES DE ITALIANITÀ NO JORNAL LA PROVINCIA DI BOLZANO Ana Paula Rodrigues Carvalho 11
  • A HISTÓRIA DA CIDADE, IDENTIDADES E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DE ESTUDANTES DO 9º ANO DO COLÉGIO ESTADUAL DOM PEDRO II, DE CAMPO LARGO, PARANÁ Marcos Roberto Barbosa 25
  • EMPATIA HISTÓRICA DE JOVENS ALUNOS DE PERIFERIA URBANA A PARTIR DE UM RAP: PREMISSAS PARA UMA HISTÓRIA SENTIDA Heleno Brodbeck do Rosário 41
  • A MEMORAÇÃO NO ENSINO DE HISTÓRIA COM CRIANÇAS NA ESCOLA Humberto Silvano Herrera Contreras 51
  • JOVENS E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA: UM ESTUDO DE IDENTIDADE Geyso D. Germinari 73
  • A REVOLTA DO CONTESTADO NA SALA DE AULA: UMA ANÁLISE SOBRE A SIGNIFICÂNCIA HISTÓRICA Gerson Luiz Buczenko 89
  • EM BUSCA DO LIVRO DIDÁTICO IDEAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DO REFERENCIAL TEÓRICO DE JÖRN RÜSEN Anderson Fagundes de Moura 105

ARTIGO DE DEMANDA CONTÍNUA COMO TRABALHAR COM VÍDEOS DE INTERNET: A CONSTRUÇÃO DE UMA METODOLOGIA Jackes Alves de Oliveira 128

RESENHA URBAN, Ana Claudia; LUPORINI, Teresa Jussara. Aprender e ensinar História nos anos iniciais do Ensino Fundamental. São Paulo: Cortez, 2015. Cristina Elena Taborda Ribas 138


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 12 / maio – agosto 2016.

APRESENTAÇÃO

  • DITADURA MILITAR BRASILEIRA E A UTILIZAÇÃO DA MÍDIA: A BURDENING HISTORY PRESENTE NA NARRATIVA HISTÓRICA DOS ESTUDANTES Alecsandro Danelon Vieira 13 CONFLITOS MUNDIAIS: UM OLHAR SOBRE AS MULHERES E AS CRIANÇAS Cristina Elena Taborda Ribas 25
  • A PERCEPÇÃO DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA EM JOVENS DO ENSINO MÉDIO NOTURNO: UM ESTUDO NO CASO A PARTIR DO TRÁFICO NEGREIRO Jhiones de Arruda Mazeto; Luzinete Santos da Silva 35
  • HISTÓRIA DIFÍCIL: CONCEITO HOLOCAUSTO NO BRASIL E HISTÓRIA LOCAL – A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO A PARTIR DO RELATO ORAL E INVESTIGAÇÕES Jucilmara Luiza Loos Vieira 48
  • ABORDANDO O CONCEITO SUBSTANTIVO IMIGRAÇÃO COM ESTUDANTES DO 8° ANO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Nikita Mary Sukow 66
  • ASPECTOS REGIONAIS NA FORMAÇÃO DA IDENTIDADE PONTA GROSSENSE: ENSINO DA HISTÓRIA LOCAL A ALUNOS DE SÉTIMO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Cintia Santos de Lima; Isabele Fogaça de Almeida; Lucas Eduardo de Oliveira 81
  • O MUSEU HISTÓRICO DE LONDRINA: EDUCAÇÃO HISTÓRICA EM ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES Giovana Maria Carvalho Martins; Raquel de Medeiros Deliberador; Rebecca Carolline Moraes da Silva 91
  • OUTROS OLHARES: OS CAMINHOS DO PATRIMÔNIO A PARTIR DA EDUCAÇÃO POPULAR Leticia Chilanti 103
  • O ENSINO DA HISTÓRIA SOBRE O VIÉS DA CATEDRAL DE SÃO PEDRO NA CIDADE DO RIO GRANDE: A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COMO METODOLOGIA DE APRENDIZAGEM NA ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO MÉDIO BIBIANO DE ALMEIDA William Adão Ferreira Paiva 119
  • MUSEUS VIRTUAIS E O SEU USO EM SALA DE AULA PELOS PROFESSORES DE HISTÓRIA DO ENSINO FUNDAMENTAL: RESULTADOS POSSIVEIS Carla Gomes da Silva; Maria Auxiliadora Schmidt 136

REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 10 / setembro – dezembro 2015.

APRESENTAÇÃO 

  • O CICLO DE VIDA PROFISSIONAL E A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS DE ENSINO SUPERIOR EM CURITIBA. Alexandra Ferreira Martins Ribeiro; Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira 15
  • A CIÊNCIA HISTÓRICA É NEUTRA? AS RELAÇÕES ENTRE EXPERIÊNCIAS DE VIDA E A PROFISSÃO DE HISTORIADORAS BRASILEIRAS Carmem Silvia da Fonseca Kummer Liblik 32
  • A ESTRADA 47, A FONTE FÍLMICA EMERGENTE PARA O ENSINO DA HISTÓRIA Carmen Lúcia Rigoni 47
  • A APLICAÇÃO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA NAS ESCOLAS DO ESTADO DE SÃO PAULO Elston Américo Junior; Cezar Bueno de Lima 57
  • DE FORA PARA DENTRO: O MOVIMENTO HIP HOP NA ESCOLA Isabele Fogaça de Almeida 68
  • HISTÓRIA EM FOCO: REFLEXÕES SOBRE O CICLO DE PALESTRAS EM DIDÁTICA DA HISTÓRIA Isaias Holowat; João Elter Borges Miranda; Natália Junkes Rodrigues 74
  • ENSINO DE HISTÓRIA, UM PÉ NO MICRO E OUTRO NO MACRO: UM EMBATE ENTRE TEORIA RÜSENIANA E A BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Juliano Mainardes Waiga; Audrey Franciny Barbosa; Mariana Schulmeister 84
  • ENSINO DE HISTÓRIA COMO UM PRODUTO TEMPORAL: A ANÁLISE DOS DESLOCAMENTOS INTERPRETATIVOS DA GUERRA DO PARAGUAI PRESENTES EM LIVROS DIDÁTICOS DO BRASIL Leonildo José Figueira; Anna Mary Guariza 94
  • PRODUÇÃO DE VÍDEO NA ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR Marcio Marchioro; Maria Cláudia Gorges 106
  • ENSINO DE HISTÓRIA NAS SÉRIES INICIAIS: ABORDANDO A CULTURA MATERIAL E A MEMÓRIA POR MEIO DA HISTÓRIA LOCAL. Simone Aparecida Dupla 118
  • O ENSINO DE HISTÓRIA DA ÁFRICA NOS ANOS INICIAIS: UMA REFLEXÃO COMO PRAXIS FORMADORA Valéria Becher 130

RESENHA SCHMIDT, Maria Auxiliadora, et al. (Orgs.). Humanismo e didática da história: Jörn Rüsen. Curitiba: W. A. Editores, 2015. Carla Gomes da Silva 138


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 09 / maio – agosto 2015.

APRESENTAÇÃO

  • PROPEDÊUTICA DA CIÊNCIA NO ENSINO DA HISTÓRIA Jörn Rüsen 16
  • APRENDIZAGEM HISTÓRICA ENTRE A ARTE E A CIÊNCIA Alexandre Rodrigues de Frias Barbosa 20
  • DITADURA MILITAR NA SALA DE AULA: PROPOSTA DE DESENVOLVIMENTO DE CONSCIÊNCIA HISTÓRICA E SOCIAL Ana Carolina Santos Prohmann 43
  • POR UMA EDUCAÇÃO CONVERGENTE: A RELEVÂNCIA DO CIBERESPAÇO PARA O ENSINO DE HISTÓRIA Antonio Diogo Greff de Freitas 51
  • O TEATRO ÉPICO: DE BRECHT PARA A SALA DE AULA Aquiles Kauê George Zin 60 TRABALHANDO O QUINHENTISMO LITERÁRIO POR MEIO DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Cleia da Rocha Sumiya 74
  • O PROCESSO DE AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Cristina Elena Taborda Ribas 87
  • CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO DE JÖRN RÜSEN PARA A FORMAÇÃO DOCENTE EM HISTÓRIA E OS REFLEXOS NA PRÁTICA DE ESTÁGIO Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski 94
  • A LUTA E AS CONQUISTAS DAS MULHERES PELO DIREITO DE IGUALDADE NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Geraldo Becker; Ana Claudia Urban 106
  • MEMÓRIA, INTERCULTURALIDADE E PATRIMÔNIO: UTILIZANDO OS CONCEITOS DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA NAS AULAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA. Jaqueline Ap. M. Zarbato; Caio Vinicius dos Santos 116
  • O TEMPO ATÉ VER APRAZADO ASSOMA NO HORIZONTE: COMENTÁRIOS SOBRE O COMPROMETIMENTO DA HISTÓRIA COM AS EXPERIÊNCIAS DE VIOLÊNCIA HISTÓRICA NA OBRA DE JÖRN RÜSEN Johnny Roberto Rosa 129
  • USOS DO PASSADO E EDUCAÇÃO HISTÓRICA: TEMAS SOBRE A ANTIGUIDADE EM EVIDÊNCIA Leandro Hecko 139

REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 08 / janeiro – abril 2015.

APRESENTAÇÃO 

  • FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA A PARTIR DAS IDEIAS DE PROGRESSÃO DO LIVRO DIDÁTICO: UMA PROPOSTA DE PESQUISA COM ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL II Aaron Sena Cerqueira Reis e Katia Maria Abud . 18
  • A PESQUISA HISTÓRICA EM EDUCAÇÃO E A ESCOLA COMO LUGAR DE MEMÓRIA: EXPERIÊNCIAS DO LABORATÓRIO DE ENSINO DE HISTÓRIA – LABHIS – DE DOURADOS, MS. Adriana Aparecida Pinto; Marlei Venilda Petry Sutil Idei; Cleyson Martins Maciel; Andressa Porangaba 32
  • A APRENDIZAGEM HISTÓRICA DE PROFESSORES MEDIADA PELAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Cláudia Senra Caramez 53
  • CULTURA HISTÓRICA E APRENDIZAGEM HISTÓRICA: RELAÇÕES COMPLEXAS ENTRE APRENDIZAGEM CONCEITUAL E ORIENTAÇÃO TEMPORAL A PARTIR DE FILMES HISTÓRICOS Éder Cristiano de Souza 70
  • DIDÁTICA DA HISTÓRIA: UMA CIÊNCIA DA APRENDIZAGEM HISTÓRICA? Edinalva Padre Aguiar 91
  • CONCEPÇÕES DE JOVENS SOBRE A DISCIPLINA DE HISTÓRIA: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Geyso Dongley Germinari 107
  • O ENSINO SOBRE A ESCRAVIDÃO AFRICANA NO BRASIL: APONTAMENTOS A PARTIR DO CONCEITO DE CONSCIÊNCIA HISTÓRICA Henrique Ferreira Pacini 114
  • ENSINO DE HISTÓRIA REGIONAL E LIVRO DIDÁTICO: ABORDAGENS E PROBLEMAS Jackson James Debona 126
  • CULTURA HISTÓRICA E INTERCULTURALIDADE: A PRESENÇA DO ISLÃ EM MANUAIS DIDÁTICOS IBERO AMERICANOS João Luis da Silva Bertolinie; Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt 150
  • A APRENDIZAGEM HISTÓRICA E OS JOVENS NA FORMAÇÃO DOS PROFESSORES REALIZADA PELO PACTO NACIONAL PELO FORTALECIMENTO DO ENSINO MÉDIO Lidiane Camila Lourençato; Maria auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt 168
  • NARRATIVAS DE CAMPO HISTORIOGRAFIA PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DE HISTÓRIA DE SANTA CATARINA Luciano de Azambuja 183
  • A CONSTITUIÇÃO DE UMA DIDÁTICA DA HISTÓRIA COMO FUNDAMENTO PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO ESTADO DE MATO GROSSO Marcelo Fronza 200
  • O RECORTE LOCAL NAS PESQUISAS SOBRE A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA: CONTRIBUIÇÕES PARA PENSAR O CURRÍCULO Maria Cristina Dantas Pina; Marciglei Brito Morais 216
  • A BIOGRAFIA COMO UM INSTRUMENTO NO ENSINO DE HISTÓRIA: ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA NA LEITURA DE UMA BIOGRAFIA SOBRE D. PEDRO II Mauro Henrique Miranda de Alcântara 226
  • JOGANDO EM SALA DE AULA: A FORMAÇÃO LÚDICA DE NARRATIVAS HISTÓRICAS Rafael Vicente Kunst 244
  • CONCEITO DE SEGUNDA ORDEM E CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DE PROFESSORES DE HISTÓRIA Rita de Cássia G. P. Santos 259
  • APRENDIZAGEM HISTÓRICA DE PROFESSORES E ALUNOS: RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd 273
  • A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL ESCOLAR E O DOCUMENTÁRIO Thiago de Faria e Silva 287

ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

  • UMA REFLEXÃO SOBRE OS USOS PÚBLICOS DA HISTÓRIA E USOS POLÍTICOS DA MEMÓRIA A PARTIR DOS MONUMENTOS Alecsandro Danelon Vieira 313
  • O USO DE FONTES FÍLMICAS POR PROFESSORES DE HISTÓRIA DA REDE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PARANÁ Cristina Elena Taborda Ribas; Adriane Fila 323
  • ICONOGRAFIA PICTÓRICA HISTÓRICA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A PRÁTICA DO ENSINO DE HISTÓRIA Jucilmara Luiza Loos Vieira 333

RESENHA WITTMANN, Luisa Tombini. (Org.). Ensino (d)e História Indígena. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015. Everton Carlos Crema 345


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 07/ setembro 2014 – dezembro 2014.

APRESENTAÇÃO 

  • EL PASADO FRENTE ATUS OJOS UNA REFLEXIÓN SOBRE LA “HISTORIA DEL TIEMPO PRESENTE”, EL CINE Y LA ENSEÑANZA DE LA HISTORIA EN ARGENTINA Gonzalo de Amézola . . 16
  • INVESTIGAÇÃO SOBRE OS DESDOBRAMENTOS DA DITADURA MILITAR NO PARANÁ –“OS 11 DE CURITIBA,TODOS NÓS” Adriano Luiz Favero; Cleia da Rocha Sumiya 32
  • A UMBANDA NA SALA DE AULA: DISCURSO NACIONALISTA NO ESTADO NOVO (1937-1945) Amanda Cristina Zattera; Camila Chueire Caldas 41
  • MITOS E LENDAS – HERÓIS E DEUSES – UM MERGULHO NO IMAGINÁRIO Eliane Pereira da Rocha 50
  • A VILA TORRES E A CIDADANIA Flavia Regina de Carvalho Valerio 59
  • NARRATIVAS DE JOVENS ESTUDANTES SOBRE A ESTRADA DE FERRO CURITIBA-PARANAGUÁ Geraldo Becker 69
  • O USO DAS FONTES FÍLMICAS E DE HISTÓRIA EM QUADRINHOS COMO METODOLOGIA NAS AULAS DE HISTÓRIA Izabel Mazurkevicz 79
  • FILME DOCUMENTÁRIO E EDUCAÇÃO HISTÓRICA: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO Kátia Andréia Vieira de Melo 91
  • O IMAGINÁRIO FANTÁSTICO DA IDADE MÉDIA E AS LENDAS URBANAS CONTEMPORÂNEAS Marcelo de Oliveira Souza; Valmir de Souza 107
  • REVOLUÇÃO DE 30: INVESTIGAÇÃO E O CINEMA NO COTIDIANO ESCOLAR Marcia Ambrósio da Silva; Marileusa Kublitski 119
  • O SALVADOR DA PÁTRIA: GETÚLIO VARGAS EM CURITIBA A REVOLUÇÃO DE 30 NA SALA DE AULA Marcio Marchioro; Vandré Tomazi Segantini 126
  • A LENDA URBANA DA LOIRA FANTASMA EM CURITIBA: UM ESTUDO DE CASO Delza Marina; Helena Ribas; Maybel Sulamita 145
  • O RETORNO DA MISS PARANÁ A CURITIBA: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A APRENDIZAGEM HISTÓRICA DOS ALUNOS A PARTIR DE DOCUMENTÁRIOS Nívia Celine da Silva 156
  • O ANARQUISMO VISTO PELOS ALUNOS ATRAVÉS DO FILME PÃO NEGRO: UM EPISÓDIO DA COLÔNIA CECÍLIA – UMA ABORDAGEM NA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Mari Lúcia Polese; Patrícia Nóvak 168
  • FILME COMO APOIO NA AULA DE HISTÓRIA Paulo Jorge de Souza Santos 180 RELAÇÃO CONQUISTADOR/CONQUISTADO – PERSPECTIVA HISTÓRICA Sirlei de Fátima Nass 191
  • FILME DOCUMENTÁRIO E A CONSTRUÇÃO DA EMPATIA HISTÓRICA: UMA EXPERIÊNCIA A PARTIR DO DOCUMENTÁRIO XETÁS NA SERRA DE DOURADOS Welson Luiz Pereira 201
  • INVESTIGAR A COGNIÇÃO HISTÓRICA A PARTIR DOS FILMES: A OPÇÃO PELO GRUPO FOCAL COMO INSTRUMENTO DE PESQUISA Éder Cristiano de Souza; Maria Auxiliadora M.S. Schmidt 214

RESENHA NÓVOA, Jorge; FRESSATO, Soleni Biscouto; FEIGELSON, Kristian. (Orgs.). Cinematógrafo: Um olhar sobre a História. Salvador: EDUBRA; São Paulo: Ed. Da UNESP, 2009, 494 p. Maria Auxiliadora Schmidt 228

TESE CINEMA E EDUCAÇÃO HISTÓRICA: JOVENS E SUA RELAÇÃO COM A HISTÓRIA EM FILMES Éder Cristiano de Souza 231


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 06/ Maio 2014 – agosto 2014.

APRESENTAÇÃO 

  • EDUCAÇÃO HISTÓRICA: CULTURA ESCOLAR E PATRIMÔNIO CONTRIBUTOS DA EDUCAÇÃO PATRIMONIAL PARA A APRENDIZAGEM Helena Pinto 14
  • MANUAL ESCOLAR E PRÁTICA DE COMPETÊNCIAS: CONCEPÇÕES DE ALUNOS PORTUGUESES DO ENSINO SECUNDÁRIO Isabel Afonso 35
  • HISTÓRIA DE UMA ESCOLHA, ESCOLHA DE UMA HISTÓRIA: ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE ELEMENTOS DO NOVO HUMANISMO E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE HISTÓRICA Lucas Pydd Nechi & Maria Auxiliadora M. S. Schmidt 58
  • FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE HISTÓRIA: EDUCAÇÃO HISTÓRICA, PESQUISA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO Adriane de Quadros Sobanski & Maria Auxiliadora M. S. Schmidt 76
  • CULTURA HISTÓRICA E INTERCULTURALIDADE: A PRESENÇA DO ISLÃ EM MANUAIS DIDÁTICOS IBERO AMERICANOS João Luis da Silva Bertolini & Maria Auxiliadora M. S. Schmidt 86
  • A APRENDIZAGEM HISTÓRICA E OS JOVENS NOS DOCUMENTOS ORIENTADORES DO PROGRAMA ENSINO MÉDIO INOVADOR Lidiane Camila Lourençato & Maria Auxiliadora M. S. Schmidt 108
  • EDUCAÇÃO HISTÓRICA E LITERATURA: APROXIMAÇÕES JÖRN RÜSEN E ANTONIO CANDIDO Solange Maria do Nascimento 123
  • CULTURAS HISTÓRICAS E NARRATIVAS DIDÁTICAS: UMA COMPARAÇÃO DA COLEÇÃO DIDÁTICA DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA COM RAÍZES DO BRASIL Alesson R. Rota 141
  • NOVOS HORIZONTES A PARTIR DA HISTÓRIA Maria Aparecida Nunes Azzolin, Cleo Roberto Matick Malheiros & Maria Medianeira Padoin 153 NARRATIVA E ENSINO DE HISTÓRIA: UMA PROPOSTA DE JONATHAS SERRANO Michele Borges Martins 161
  • A LITERATURA E A CONSTITUIÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA Sabrina Meirelles Macedo 173

RESENHA “SCHMIDT, Maria. Auxiliadora.; ABUD, Kátia. 50 ANOS DA DITADURA MILITAR: CAPÍTULOS SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA NO BRASIL. Curitiba: W&A editores, 2014. 216 páginas.” João Luis da Silva Bertolini 186


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 05/ Janeiro 2014 – Abril 2014.

APRESENTAÇÃO

  • LEVANDO A SÉRIO A PERSPECTIVA DO OUTRO: COMPREENDENDO A ARGUMENTAÇÃO HISTÓRICA Arthur Chapman 16
  • DOSSIÊ: EDUCAÇÃO HISTÓRICA E A PRÁTICA DE SALA DE AULA
  • PRÁTICAS DE PESQUISA NAS AULAS DE HISTÓRIA A PARTIR DAS VIVÊNCIAS DOS ALUNOS Beatriz Hellwig Neunfeld & Adriana Senna 29
  • CONSCIÊNCIA HISTÓRICA E LIVROS DIDÁTICOS: O QUE PENSAM OS JOVENS EM SANTA VITÓRIA DO PALMAR SOBRE A DITADURA MILITAR Dinorah Amaral Matte 40
  • ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO HISTÓRICA: UM BREVE RECONHECIMENTO DAS IDEIAS DOS JOVENS SOBRE ESTUDAR HISTÓRIA Giane de Souza Silva & Magda Madalena Tuma 49
  • CONSCIÊNCIA HISTÓRICA: COMO AS CRIANÇAS APRENDEM HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Keli Avila dos Santos 61
  • CONCEPÇÕES HISTÓRICAS DE ALUNOS DE 3º ANO DO ENSINO MÉDIO: o que o professor ensina é realmente o que aluno quer aprender? Um estudo das narrativas dos alunos Kellen Mendes Freitas 73
  • UMA ABORDAGEM LITERÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DE JOVENS DO TERCEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO Lisiane Sales Rodrigues & Vera Lucia Trennepohl 85
  • RELATO DE EXPERIÊNCIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS, TENDO COMO ÊNFASE A EDUCAÇÃO HISTÓRICA Luana Ciciliano Tavares 95
  • VESTINDO MÁSCARA DE CAVEIRA: FONTES DE IML (CURITIBA, DÉCADA DE 1930) E A TEMÁTICA DA MORTE EM SALA DE AULA Marcio Marchioro 105

ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

  • LITERACIA HISTÓRICA NOS LIVROS DIDÁTICOS: CULTURAS HISTÓRICAS DO ABSOLUTISMO Debora Fernandes & Júlia Silveira Matos 124
  • ENSINO DE HISTÓRIA DA AMÉRICA: PERCEPÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DE UMA IDENTIDADE HISTÓRICA Gerson Luiz Buczenko 140
  • EDUCAÇÃO HISTÓRICA E MUSEUS: UM OLHAR SOBRE O MUSEU COMO FORMA DE APRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO Leandro Hecko 153
  • REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 05/ Janeiro 2014 – Abril 2014 –
  • OS JOVENS NAS PESQUISAS DO CAMPO DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Lidiane Camila Lourençato & Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt (orientadora) 163
  • NARRATIVAS SOBRE A CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA: PERSPECTIVAS DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA Luíza Vieira Maciel & Clarícia Otto 174
  • COMO OS PROFESSORES DE HISTÓRIA APRENDEM HISTÓRIA? Marilsa Casagrande 187

RESUMOS DE DISSERTAÇÃO

  • GUSMÃO. Leslie L. P. Orientação temporal e formação da consciência histórica: estudo de caso em propostas curriculares para o Ensino Médio. 108f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2014. 197
  • CARAMEZ, Cláudia Senra. A aprendizagem histórica de professores mediada pelas Tecnologias da Informação e Comunicação: perspectivas da Educação Histórica. 128 folhas. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2014 199

RESENHA SCHMIDT, M. A. M. S.; CAINELLI, M. R. Ensinar História. São Paulo: Editora Scipione, 2009. (Coleção Pensamento e ação na sala de aula). 200 páginas. Leslie Luiza Pereira Gusmão 200


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 04/ Setembro 2013 – Dezembro 2013.

DOSSIÊ – “EDUCAÇÃO HISTÓRICA: O TRABALHO COM FONTES E A APRENDIZAGEM HISTÓRICA”

  • PARA A EDUCAÇÃO HISTÓRICA, OS CONFLITOS NO ALDEAMENTO DO PIRAPÓ SÃO RESISTÊNCIAS À ESCRAVIDÃO? Alecsandro Danelon Vieira p.16
  • AS QUESTÕES AGRÁRIAS NO BRASIL ENTRE NAÇÕES INDÍGENAS, LATIFUNDIÁRIOS E GOVERNO SOB A VISÃO DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Cristina Elena Taborda Ribas p.25
  • A PROPAGANDA NAZISTA NO PARANÁ (1934-1942) E O ENSINO DE HISTÓRIA Dayane Rúbila Lobo Hessmann p.32
  • DE CURITIBA A CURITYBA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO HISTÓRICA Geraldo Becker p.44
  • A IMIGRAÇÃO NO PARANÁ NO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX: CONFLITOS ENTRE INDÍGENAS E IMIGRANTES COMO TEMÁTICA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA Jucilmara Luiza Loos Vieira p.54
  • LITERACIA HISTÓRICA: TEORIA E PRÁTICA SOBRE A HISTÓRIA DOS TIMES DA CAPITAL PARANAENSE NA ESCOLA Marcos Ancelmo Vieira & Paulo Rubens Brito de Lima p.66
  • O CINEMA COMO RECURSO DIDÁTICO NAS AULAS DE HISTÓRIA Vanessa Maria Rodrigues Viacava p.75
  • ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA – HUMANISMO E IDENTIDADE HISTÓRICA: CONTRIBUIÇÕES PARA ANÁLISE DE NARRATIVAS HISTÓRICAS Lucas Pydd Nechi Orientadora: Maria Auxiliadora dos Santos Schmidt p.84
  • A EDUCAÇÃO HISTÓRICA NA PERSPECTIVA DA PRÁXIS: UM ESTUDO REALIZADO NO IFPR – CAMPUS CURITIBA Thiago Augusto Divardim de Oliveira Orientação: Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt p.96
  • A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DE JOVENS HISTORIADORES EM FORMAÇÃO: COMO ALUNOS UNIVERSITÁRIOS CONCEITUAM HISTÓRIA? Uirys Alves de Souza p.112
  • LUGARES DE MEMÓRIA: MUSEOLOGIA COMUNITÁRIA E AS PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES COM A EDUCAÇÃO HISTÓRICA Wagner Tauscheck p.122
  • PROTONARRATIVAS DA CANÇÃO: A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA ORIGINÁRIA DE JOVENS ALUNOS BRASILEIROS E PORTUGUESES A PARTIR DAS LEITURAS E ESCUTAS DE UMA CANÇÃO POPULAR ADVINDA DOS SEUS GOSTOS MUSICAIS Luciano de Azambuja p.134

RESENHA – NEM SÓ A FICÇÃO SALVA! – A FORMAÇÃO (BILDÜNG) NA LITERATURA E NA HISTÓRIA Thiago Augusto Divardim de Oliveira p.151


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – LAPEDUH Número 03/ Maio.2013 – Agosto.2013.

  • SENGULANE, Hipólito. Ensino e Educação Histórica: Construção da Consciência de Pertença nas Escolas da Periferia em Moçambique. 15
  • ALCÂNTARA, Lilian. Sobre las Dificultades de Trabajar Cuestiones Raciales en Aula: Reflexiones sobre el abordaje didáctico de la cuestión étnico-racial a partir de un estudio de caso 33
  • SILVA, André Luis Batista da. Os jovens e a Internet: usos e domínios a se considerar no processo de Ensino Aprendizagem da História 60
  • BECKER, Geraldo. Invisibilidade Cultural Africana e Indígena. 73
  • TREVISAN, Graziela Hochscheidt., GODOY, Marina de. O arquivo público na sala de aula: Revolução Industrial, nascimento do movimento operário e a greve de 1917 em Curitiba a partir do Estudo de Fontes Históricas. 81
  • AFONSO, Isabel., BARCA, Isabel. O manual escolar como recurso em educação histórica: estudo com professores portugueses do ensino secundário. 93
  • JULIANI, Mariana S. da Cruz Gallo., TUMA, Magda Madalena Perusin. A construção do conhecimento histórico de crianças da 4ª série do Ensino Fundamental na interação com artefatos tecnológicos (computador e internet). 104
  • LAGARTO, Mariana., BARCA, Isabel. “Antes de fazerem isto eles desenham as imagens?”: Práticas de ensino e aprendizagem nas aulas de história do 8º ano. 118
  • SANTOS, Rita de Cássia Gonçalves Pacheco dos. O passado para professores de história e sua significância histórica. 133
  • CARDOZO, Lisliane dos Santos, CUNHA, Jorge Luiz da. Memória, ensino de história e formação de professores: Elementos para uma pesquisa narrativa (auto) biográfica 145

RESENHA. NASCIMENTO, Solange Maria do. COOPER, Hilary. Ensino de História na Educação Infantil e Anos Iniciais: um guia para professores. Curitiba: Base Editorial, 2012, 261 páginas. 159


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – NÚMERO 02/ DEZ. 2012 – ABR. 2013 – DOSSIÊ: APRENDIZAGEM HISTÓRICA DE JOVEN E CRIANÇAS.

Dossiê Aprendizagem Histórica de Jovens e Crianças Apresentação Tiago Costa Sanches / 14

  • Possibilidades da Aprendizagem Histórica na Educação Infantil: Perspectivas da Educação Histórica Andressa Garcia Pinheiro de Oliveira / 16
  • Educação Histórica e Multiperspectividade: Uma Proposta de Trabalho com o Conceito Substantivo Nazismo a partir de Fontes Fílmicas Diversificadas Éder Cristiano De Souza, Maria Auxiliadora Schmidt / 31
  • A Presença da Temporalidade no Pensamento Histórico dos JovensAlunos Lidiane Camila Lourençato / 44
  • Educação Histórica no Ensino Fundamental: Reflexões TeóricoMetodológicas a partir do Uso de Fontes Históricas em Sala de Aula Tiago Costa Sanches, Maria Auxiliadora Schmidt / 53
  • O Ensino de História Local na Formação da Consciência Histórica de Alunos do Ensino Fundamental Flávio Batista Dos Santos, Marlene Rosa Cainelli / 62
  • Educação Histórica: Um Estudo Com a História Local e a Narrativa Histórica em Aulas de História no Ensino Fundamental Giane de Souza Silva, Marlene Rosa Cainelli / 75
  • A Consciência Histórica e Significância Histórica em Alunos Portugueses: Um Estudo de Caso Longitudinal com Alunos do 1.º CEB Glória Solé / 90
  • Uso De Fontes Patrimoniais e Consciência Histórica de Alunos e Professores Portugueses Helena Pinto, Isabel Barca / 111
  • Compreensão Histórica em Estudantes Brasileiros e Portugueses Ronaldo Cardoso Alves / 129 A Ideia de África Como Conteúdo Escolarizado Adriane Sobanski / 145
  • A Formação o Pensamento Histórico de Crianças em Ambiente de Museu Alamir Muncio Compagnoni / 158
  • A Constituição do Código Disciplinar da Didática da História nas Propostas dos Cursos de Formação de Professores Ana Claudia Urban / 169
  • Manuais Didáticos, Fontes e Orientações para o Professor: Questões para a Pesquisa em Educação Histórica Anne Cacielle Ferreira da Silva / 181
  • Diálogos entre Paulo Freire e Jörn Rüsen: A Consciência Histórica CríticoGenética Como Possibilidade para o Ensino de História Thiago Augusto Divardim de Oliveira / 194

Resenha Aprendizagem Histórica: Fundamentos e Paradigmas Marcelo Fronza / 211

Resumos de Dissertações e Teses / 219


REVISTA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA – REDUH – NÚMERO 01/ JUL. -NOV. 2012.

Dossiê: Educação Histórica, Teoria, Pesquisa e Prática Apresentação Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt e Rita de Cássia Gonçalves Pacheco dos Santos / 09

  • Laboratório de Pesquisa em Educação Histórica: uma Experiência de Investigação Colaborativa Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt /12
  • Manual Didático de História: O Processo de Escolha em Escolas Municipais de Curitiba Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / 27
  • As Histórias em Quadrinhos e a Educação Histórica: Uma Proposta de Investigação Sobre as Ideias de Objetividade Histórica dos Jovens Marcelo Fronza / 39
  • Relação Teoria e Prática na Formação de Professores de História Marilu Favarin Marin / 58
  • A Ideia de Islã na Cultura Escolar João Luis da Silva Bertolini / 64
  • Consciência Histórica de Jovens Alunos e Conceitos Históricos de Temas Religiosos Lucas Pydd Nechi / 80
  • Unidade Temática Investigativa Como Procedimento na Construção da Narrativa Histórica em Sala de Aula Cláudia Senra Caramez / 95
  • O Movimento Estudantil Estudado A Partir De Fotografias Pesquisadas On-Line Leslie Luiza Pereira Gusmão / 104 Narrativa Histórica: Uma Nova Perspectiva em Sala De Aula Tatiana Cabreira Conci / 117
  • Patrimônio Imaterial e Educação Histórica: Possibilidades no Processo de Ensino E Aprendizagem no Ensino Médio. Evandro Cardoso do Nascimento / 127
  • “Que País É Esse?” O Brasil dos Jovens do Ensino Médio no Exercício da Democracia com o Voto aos 16 Anos. Ellen Terezinha Padilha Carneiro / 143
  • Competência do pensamento histórico, domínio de um panorama histórico, ou conhecimento do cânone histórico? Bodo Von Borries / 155
  • Una Epistemología Y Una Metodología De La Historia Para La Didáctica Ivo Mattozzi / 179 RESENHA Jörn Rüsen e o Ensino de História Rita de Cássia Gonçalves Pacheco dos Santos / 194

A Filosofia Natural de Benjamin Franklin: Traduções de Cartas e Ensaios sobre a Eletricidade e a Luz | Breno Arsioli

Breno Arsioli Moura is a Professor at the Federal University of ABC (Universidade Federal do ABC – UFABC), at the Centro de Ciências Naturais e Humanas [Natural and Human Sciences Center] (CCNH), Santo André, SP, Brazil, and a faculty member of the graduate program PEHCM (Pós-Graduação em Ensino e História das Ciências e da Matemática2 [Graduate Program in Teaching and History of Science and Mathematics]). Moura, both a historian of science and science educator, is known for his contributions to the history of science in the 18th century, history of optics from Newton to early-19th century, and the utilization of science studies in science teaching and education. His book, A Filosofia Natural de Benjamin Franklin: Traduções de Cartas e Ensaios sobre a Eletricidade e a Luz (2019) [The Natural Philosophy of Benjamin Franklin: Translations of Letters and Essays on Electricity and Light], is a work of scholarship on the scientific achievements in electricity by Benjamin Franklin (1706-1790), famous American statesman, publisher, scientist, and diplomat. Leia Mais

A relação da cidade com os rios | Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte | 2019

A relação da cidade com os rios. Revista Eletrônica do Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte. Belo Horizonte, v.6, dez. 2019. Acesso apenas pelo link original.

Arroz negro: as origens africanas do cultivo de arroz nas Américas | Judith Carney

Finalmente é publicada em língua portuguesa a obra Arroz negro: as origens africanas do cultivo de arroz nas Américas , de Judith Carney (2018) . A versão editada em inglês ( Carney, 2001 ) atraiu a atenção de leitores mundo afora pela originalidade e abrangência multidisciplinar na mais clara representação da tradição na qual a autora se insere. Seu trabalho reflete a tradição da geografia cultural de Carl Sauer em Berkeley. Esse background pode ser percebido de forma significativa na transposição de barreiras disciplinares e na utilização de modelos metodológicos que hoje são norteadores de muitas práticas investigativas no campo das humanidades ambientais ( Carney, 2016 , 2017 ). Nessa obra, Carney revive essa importante tradição ao transitar com fluidez e pertinência científica em diferentes campos do conhecimento.

O leitor atento perceberá a forma confortável como a autora utiliza as explicações culturalistas e a interação entre sociedade e natureza. Dessa forma, a interação entre os ambientes sociais e naturais foi fortemente considerada na produção de manifestações e patrimônios culturais. No caso específico de Arroz negro , destacamos a forma como a autora aborda as evidências de uma cultura específica, que ela chama de “cultura do arroz”, fundamentada em relação a um contexto geográfico distinto na África Ocidental e sua transposição para outros territórios e paisagens nas Américas. O roteiro metodológico em construir a “cultura do arroz” e suas origens africanas nas Américas, sobretudo na região da Carolina do Sul, revela práticas e processos históricos do comércio atlântico e do complexo intercâmbio colombiano ( Crosby, 1972 , 2009 ), que envolvia uma troca biológica e cultural de sementes, culturas, etnias e saberes, entre outras. Nesse sentido, a autora procura dar ênfase a essa faceta do intercâmbio colombiano nas Américas, abordando, além dos EUA, exemplos na América Central e no Brasil. Leia Mais

História da saúde no Brasil: uma breve história | Luiz Antonio Teixeira, Tânia Salgado Pimenta e Gilberto Hochman

A obra História da saúde no Brasil: uma breve história , organizada por Luiz Antonio Teixeira, Tânia Salgado Pimenta e Gilberto Hochman (2018) chega em momento marcante do país, em meio às ameaças que cercam, de forma profunda e decisiva, a democracia brasileira. Como um espelhamento de si, aprendemos pelas análises tratadas que, se os poetas podem ver na escuridão, os estudiosos da história da saúde podem ver através da neblina dos sofrimentos humanos e dos diversos modos de se tentar aplacar essas aflições, indicando o entrelaçamento de saberes, tecnologias, políticas e práticas que moldam o Brasil e o brasileiro.

O livro aqui examinado possui valores distintos, exatamente por deixar registrado o empreendimento de décadas, fundamentalmente, dos pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz, da Fundação Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), em sua conjunção de esforços desde 1986. Isso pode ser acompanhado pelo leitor que reconhecerá, por meio das notas biográficas dos autores, desde os que participam da criação da Casa até os mais recentes, numa comprovação evidente da consolidação do trabalho desse grupo nesses mais de 30 anos da COC, considerada referência na produção de conhecimento e formação em história da saúde e medicina do país. A obra está dividida em 11 capítulos com dois eixos fundamentais – temporal e temático –, abarcando perspectivas que envolvem a própria trajetória profissional desses pesquisadores. Leia Mais

The scramble for the Amazon and the lost paradise of Euclides da Cunha | Susanna Hecht

Essa obra merece uma crítica inicial: trata-se de “vários livros” encadernados sob título e capa únicos. Além da descontinuidade entre seus componentes, a obra é um conjunto de livros enorme e heterogêneo, difícil de ler. Ainda assim, o conteúdo é valioso para quem se interesse por Euclides da Cunha e/ou pelo prolífico trabalho de Hecht sobre a Amazônia; no entanto, a obra não é para iniciantes.

Hecht é doutora em geografia pela University of California (Berkeley) e professora da University of California (Los Angeles). É veterana estudiosa do Brasil e da América Latina, sobre os quais publicou livros e artigos, especialmente a respeito de questões socioambientais, como The fate of the forest: developers, destroyers, and defenders of the Amazon (com Alexander Cockburn; edição atualizada em 2011) e Soy, globalization, and environmental politics in South America (com Gustavo L.T. Oliveira, 2017 ). Leia Mais

A História vai ao público: universidade, sociedade e o negacionismo | Revista Hydra | 2019

A Revista Hydra tem a alegria de tornar pública mais uma de suas edições, reafirmando seu compromisso com a divulgação de pesquisas científicas da área de humanidades. Essa preocupação tem ainda mais urgência em nosso tempo presente. Esse tempo, em que tudo corre mal e as inseguranças aumentaram, tornou imperativo que a ciência precise provar o seu valor diariamente diante de um ataque constante e calculadamente destruidor por parte do próprio Governo deste país.

Os cortes orçamentários e a diminuição dos números de bolsas para as pesquisas de pós-graduação, as tentativas de controlar internamente as Instituições de ensino e pesquisa e as calúnias lançadas, ao que parecem, fazem parte de um mesmo propósito: enfraquecer essas instituições, que são sólidas e democráticas, diante da sociedade de modo que os questionamentos por elas levantados não ofereçam nenhum risco imediato. É o caso de negar, de forma autoritária e sem dados de contra prova, as informações apresentadas pelo Inpe sobre o crescimento do desmatamento. E de acusar, sem provas, as Universidades Públicas de fugirem de seu papel ao manterem vínculos irregulares com determinados tipos de plantações. Uma acusação tão vergonhosa que é até mesmo difícil descrevê-la neste texto. Leia Mais

Filosofar: Da Curiosidade Comum ao Raciocínio Lógico – WILLIAMSON (RFMC)

WILLIAMSON, Timothy. Filosofar: Da Curiosidade Comum ao Raciocínio Lógico. Lisboa: Gradiva, 2019. Resenha de: PACHECO, Gionatan Carlos. Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, Brasília, v.7, p. 339-341, n.3, dez. 2019.

Uma Nova Introdução à Filosofia

Em Filosofar: Da Curiosidade Comum ao Raciocínio Lógico, Timothy Williamson oferece uma introdução à filosofia acadêmica. É um livro com notável potencial didático. Por exemplo, Williamson começa com um exemplo de como Jean-Pierre Rives, uma lenda do rugby, aplicava em seu arsenal tático as Regras para Direção do Espírito: “ter uma ideia clara e distinta daquilo que se procura alcançar. Então há que decompor cada jogada complexa nos seus componentes mais simples, torná-los intuitivos, e reconstituir tudo a partir daí” (p. 11). O livro se inicia então apontando que a filosofia pode apresentar as aplicações mais inesperadas.

Na introdução o autor aborda rapidamente uma grande gama de assuntos, passa do exemplo citado acima, que evoca Descartes, para a dúvida hiperbólica, da dúvida hiperbólica para a ciência natural, desta para a política internacional. Mas a ideia principal desta introdução, que fará eco no restante da obra, é a relação entre os primórdios da filosofia e os primórdios da ciência. O autor nos lembra que Newton e Galileu reclamavam o título de filósofos naturais, de modo que a ciência é como que uma filha da filosofia. No entanto, alguns desdobramentos no pensamento contemporâneo tendem a mostrar a ciência como uma matricida em potencial.

O segundo capítulo é sobre o senso comum. O senso comum é um ponto de partida. Uma anedota contada por Williamson é muito ilustrativa acerca deste ponto. Digamos que estamos tentando chegar em algum lugar, estamos em uma praça, perguntamos a um sujeito onde fica o tal lugar que queremos ir, e ele nos responde: daqui desta praça é difícil chegar lá. O senso comum é a nossa praça, não importa o quão deslocado ele é, é dele que partimos, não temos opção. Essa “metafísica dos selvagens” – Williamson nos lembra dessas palavras de Russel – obteve notáveis defensores entre os filósofos e possui inclusive um potencial refutatório. Como exemplo, o autor afirma que o senso comum refutou teses como, por exemplo, a da irrealidade do tempo de McTaggart (p. 21). O senso comum, em um certo aspecto, funcionaria como um “freio” da filosofia.

É em grande parte sobre refutações e debates que gira em torno o capítulo três. Willianson nos dá um panorama de um clima potencialmente beligerante nos eventos acadêmico da área de filosofia, seus prós e seus contras. Os apresentadores se “defendem” das ofensivas dos arguidores e o júri seria encarnado na comunidade dos filósofos em geral. Como sói acontecer, o autor aponta que muitas disputas acabam por concordarem em conteúdo e divergir em nas palavras. Com efeito, este fenômeno é o tema do quarto capítulo. Aquim Williamson apresenta uma espécie de paradoxo da clareza, pois, de certa forma, ela não pode aspirar “um padrão mítico de indubitabilidade” , visto que para esclarecermos uma palavra, lançamos mão de outras palavras e, além disso, estariam os presos em questões como a possibilidade de se conceitualizar o conceito de “conceito”.

Este Filosofar também pode ser considerado uma introdução à metodologia filosófica. Assim, os capítulos seguintes apresentam uma série de ferramentas filosóficas. O capítulo cinco discorre acerca de experiência mentais. Aqui ele nos apresenta uma experiência mental do autor budista do século VII, Dharmottara (740-800), onde este antecipou os epistemologicamente revolucionários exemplos de Gettier, e, entre outros exemplos, como do experimento mental acerca do aborto de Judith Jarvis Thomson, o experimento mental dos zumbis de Chalmers e, além disso, nas ciências naturais, os experimentos mentais das esferas de Galileu e a hipotética “cavalgada” sob um raio de luz de Einstein. O livro de Williamson é extremamente imagético, repleto de exemplos e tabelas. Os exemplos exemplos citados, por si só, constituem ferramentas metodológicas do pensar filosófico e reforçam o caráter pedagógico do livro. Além disso, ao passo que apresenta esta série de experimentos mentais, alguns conceitos, mesmo sem ser nomeados são apresentados, como a modalidade e os contrafactuais.

A filosofia é colocada lado a lado com a ciência natural durante toda obra. Assim, muitos tópicos são compartilhados, como as questões dos vieses cognitivos, do sobreajuste em teorias, da dedução e dos princípios lógicos. Williamson discorre sobre a história da filosofia, de uma forma quase amarga, com aqueles acadêmicos que estudam “um filósofo”, claramente defendendo seu “estilo Oxford de filosofar”, isto é, tratar de problemas filosóficos e não de filósofos. “A questão controversa é saber se os filósofos precisam ou não de muito mais conhecimento da história menos recente do seu assunto do que precisam os matemáticos e cientistas naturais nas suas áreas” (p. 114). Williamson irá conceder importância, sim, mas uma importância do que ele chamade“genealogiaintelectual” (p. 115). Assim, para ele há teorias filosóficas que mesmo sendo falsas, possuem sua importância. Em termos gerais, segundo o autor, a história da filosofia estaria para a filosofia atual, como a história da arquitetura está para quem está atualmente visitando uma obra arquitetônica.

Enfim, Filosofar: Da Curiosidade Comum ao Raciocínio Lógico é certamente um fruto do pensamento filosófico contemporâneo de nossa época que poderá ter muita influência na geração futura de pesquisadores. Isto pois, ele se destina a um público amplo, em especial estudantes de graduação em filosofia, mas, ainda assim, por possuir um caráter de divulgação filosófica, pode destinar-se a comunidade em geral. É um livro com viés oxfordiano, o que pode causar desconforto para certos leitores, no entanto, é um livro com uma visão tanto ampla, quanto coerente sobre a atividade filosófica.

Gionatan Carlos Pacheco – Mestre e Bacharel em filosofia pela Universidade Federal de Maria (UFSM). Atualmente realiza doutorado em filosofia na UFSM. E-mail: gionatan23@gmail.com

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Nietzsche: filosofo della libertà – LANGONE (RFMC)

LANGONE, Laura. Nietzsche: filosofo della libertà. Pisa: Edizioni ETS,2019. Resenha de: PAULA, Marcio Gimenes de. Revista de Filosofia Moderna e Contemporânea, Brasília, v.7, p. 335-338, n.3, dez. 2019.

Laura Langone, jovem pesquisadora italiana, nos apresenta em seu trabalho Nietzsche: filosofo della libertà os desafios de nos debruçarmos sobre a filosofia do pensador alemão como uma filosofia da liberdade. Para tanto, ela começa por caminhos já bastante explorados, a saber, o seu primeiro capítulo trata exatamente da famosa passagem de Zaratustra anunciando o segredo da liberdade na obra Assim falou Zaratustra. Contudo, parece errar quem aposta aqui que a filosofia é algo que se faz apenas com abordagens supostamente inovadoras ou, ainda pior, que pensa que visitar passagens já conhecidas (ou supostamente conhecidas) é algo reprovável ou de menor significado. Assim, revisitando a popular- ao menos em tese- passagem em que Zaratustra anuncia a morte de Deus, a pesquisadora nos apresenta sua leitura e interpretação, fruto não apenas de uma exegese de Nietzsche, mas também dos interpretes com os quais escolhe dialogar.

Nota-se aqui claramente a crítica nietzschiana aos aspectos metafísicos e morais construídos pela filosofia e pela religião no decorrer dos séculos. Tal caminho é bastante explorado e até mesmo exaustivamente explanado pela autora, o que nos prepara para compreender Nietzsche como um grande crítico da metafísica e da moral, fato que já atraiu a atenção de inúmeros pesquisadores da mais alta qualidade como, por exemplo. Heidegger e o compatriota de Langone, Gianni Vattimo, o que parece provar, desde os dias da edição de Giorgio Colli e Mazzino Montinari, o quanto os estudos nietzschianos devem ao pensamento italiano do século XX. Aqui, entretanto, penso que a autora nos apresenta outro importante pensador: o norte-americano Ralph Waldo Emerson, filósofo e poeta que viveu, tal como Nietzsche, no século XIX e, segundo relatos que se pode observar, teria exercido alguma influência também no pensamento nietzschiano. Como se trata de um autor pouco conhecido entre nós, e talvez até mesmo na academia italiana, penso que Laura Langone possui o grande mérito de apresenta-lo e de discutir suas teses lado a lado com as teses de Nietzsche, a saber, suas implicações para a metafísica e para a moral. Seria significativo também se, de algum modo, o nome do pensador norte-americano viesse agregado ao título principal da obra ou, talvez, num subtítulo, pois tal coisa ajudaria na localização do leitor que, a rigor, só percebe a presença de Emerson ao ler efetivamente a totalidade do texto.

O capítulo segundo segue discutindo o problema metafísico em Nietzsche e agora aprofunda a discussão ao tomar a metafísica como uma espécie de erro de linguagem, o que parece inserir Nietzsche dentro de outra fronteira, isto é, o pensador pode ser tomado também como um filósofo da linguagem. A autora trabalha de modo exegético, mas selecionando aspectos, passagens importantes das obras A Gaia Ciência e Assim falou Zaratustra. Aqui o texto é bastante apropriado para quem deseja aprofundar em Nietzsche (e em Emerson) a discussão sobre verdade e linguagem e também para a realização efetiva de uma crítica da ciência, notadamente nos seus aspectos metafísicos.

A moral escrava será o tema do capítulo terceiro. Especialmente por uma leitura de Humano, demasiado humano, a autora faz interlocução com as teses de Nietzsche e de Emerson. Desse modo, aprofundando a crítica da metafísica e da moral, Langone explicita de modo mais categórico que a moral escrava é, na verdade, consequência do equívoco metafísico. Assim, o capítulo quarto possui intrínseca relação com o capítulo que lhe antecede e, por isso, a cisão metafísica entre alma e corpo será tão importante para a exploração intelectual da temática de Laura Langone, mas também se poderá percebê-la não apenas na obra de Nietzsche, mas nos aspectos naturais discutidos por Emerson, o que totaliza um quadro significativo e cheio de profundidade.

Outro tema nietzschiano bastante conhecido – ou ao menos citado – é retomado pela pesquisadora em seu capítulo quinto, isto é, o tema do espírito livre e a compressão da liberdade como consciência de si. Aqui novamente, com uma seleção especialmente feita de passagens de Aurora e A Gaia Ciência, a autora não apenas aproxima Nietzsche de temas tão significativos para a filosofia da vida (Lebensphilosophie), igualmente explorada por autores como Simmel e Arendt, como é capaz de perceber a relação do pensador alemão com Darwin, o que o aproxima de uma significativa discussão muito atualizada sobre a natureza. Desse modo, há aqui um vasto campo para os que se desejam aprofundar em tal investigação.

Já o capitulo sexto visitará outro tema bastante mencionado nos estudos nietzschianos: a vontade de potência. Aqui Langone é novamente exegética, no melhor sentido da palavra, e o aborda enfrentando diretamente A Gaia Ciência e Assim falou Zaratustra, além, é claro, dedialogar com ótima bibliografia de comentadores da obra nietzschiana. O mesmo ocorrerá no capítulo sétimo sobre a morte de Deus. A rigor, trata-se de um tema imenso para todo o pensamento moderno. Contudo, a autora sabiamente percebe que poderá explorá-lo melhor a partir da pista do niilismo ocidental e assim o desenvolve de maneira clara, sóbria, o que abre o campo para futuras investigações e indagações de toda a sorte, o que é profundamente filosófico.

Por fim, o capítulo oitavo dissertará sobre o eterno retorno do igual e aqui, ainda que se trate também de um tema bastante discutido por especialistas de Nietzsche, Langone consegue uma qualificação ao aprofundá-lo em consonância com as teses de Emerson. O mesmo sucederá no nono capítulo, quando o tema da liberdade como consciência poderá ser compreendido em modo ampliado e, assim, a afirmação da vida, a potência, o tema do além do homem e a transvaloração de todos os valores, passa a ter uma nova possibilidade de leitura e interpretação, o que fica ainda mais claro na conclusão de Laura Langone entre Nietzsche e Emerson.

Destaque-se ainda o fato da autora ser a primeira intérprete de Nietzsche a afirmar que o eterno retorno é uma teoria da consciência da filosofia pós-metafísica, tal como é argumentado por ela no último capítulo. Até então, pelo que se pode constatar, inúmeros outros estúdios os nietzschianos tenderam a tomar o eterno retorno como uma ontologia ou uma ética. A título apenas de sugestão, os capítulos, talvez, pudessem ter sido agregados e, desse modo, o texto se mostraria ainda mais claro e compacto. De todo modo, o trabalho da autora é apenas o início de um percurso. Elogiável início visto que nos ajuda a pensar.

Marcio Gimenes de Paula – Professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Brasília (UnB). E-mail: marciogimenes@unb.br ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5991-5710

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A conquista da opinião pública: como o discurso manipula as escolhas políticas – CHARAUDEAU (A-RL)

CHARAUDEAU, P.. A conquista da opinião pública: como o discurso manipula as escolhas políticas. Corrêa, Angela M. S.. São Paulo: Contexto, 2016. 192p. Resenha de: SPARAS,  Marcelo, IKEDA, Sumiko Nishitani; A manipulação do discurso político. Alfa, Revista de Linguística, São José Rio Preto, v.63 n.3, São Paulo Sept./Dec. 2019.

A obra A conquista da opinião pública: como o discurso manipula as escolhas políticas apresenta, em 192 páginas, além da Introdução, três capítulos, assim, intitulados: “O que é a opinião pública?”, “A manipulação da opinião pública” e, finalmente, “Crise da opinião, crise da democracia: os sintomas de uma crise política da pós-modernidade”.

(1) “O que é a opinião pública?” divide-se em (a) “Um pré-requisito: como se constrói a identidade coletiva”, (b) “Da opinião coletiva à opinião pública”, (c) “A fabricação da opinião pública”, (d) “Uma confusão a evitar: a opinião não é o eleitorado” e (e) “A consciência cidadã: O difícil paradoxo”.

(2) “A manipulação da opinião pública” abrange: (a) “A manipulação no mundo político”, (b) “A manipulação no mundo midiático” e (c) “Conclusão”.

(3) A “Crise da opinião, crise da democracia: os sintomas de uma crise política da pós-modernidade”, trata dos seguintes assuntos: (a) “A questão da soberania num regime democrático”, (b) “A questão do contrapoder”, (c) “As razões de uma crise política da pós-modernidade” e (d) “Entre democracia de opinião e democracia participativa”.

A maneira como o autor explica conceitos complexos que cercam a construção da opinião pública, por meio de uma linguagem acessível, mesmo aos iniciantes ao assunto, acrescida de exemplos (na maioria, franceses) do mundo atual é que proporcionam uma leitura fluente e de fácil compreensão.

Por outro lado, para os pesquisadores – tanto da análise do discurso como de outras áreas como sociologia, política e comunicação – o livro vem mostrar e esclarecer os conteúdos implícitos que jazem nas subjacências do texto, fatos que contribuem no processo persuasivo do discurso.

O primeiro capítulo – “O que é a opinião pública?” – relata a construção da identidade coletiva, que se constitui no que Rimbaud (2009) resumiu em Eu é o outro, ou seja, só existo porque existe um outro diferente de mim. O grupo se constrói segundo fatores sociais (e.g., posição que ocupamos e papéis que desempenhamos) e culturais (e.g., conjunto de práticas de vida dos membros do grupo; representações que fazem do mundo).

A identidade coletiva é frágil e deve ser constantemente defendida (processo de diferenciação). Nesse processo de construção, há grupo que se isola e grupo que domina outro (tentativa de assimilação). A assimilação (ou integração) pode ser verificada, por exemplo, no caso da imigração vista pelo país de acolhida, que a exigirá em troca da permissão de entrada.

Uma opinião é um julgamento pessoal ou coletivo, uma avaliação, que um indivíduo faz sobre os seres ou os acontecimentos do mundo, e é, por conseguinte, subjetiva e relativa. O mesmo não acontece com os saberes de crença, que contemplam explicações objetivas.

No momento da enunciação, não há palavra coletiva (um coro, por exemplo, para proferir a mesma palavra), mas um indivíduo que a pronuncia e que pretende que sua opinião seja compartilhada. Uma vez compartilhada, a opinião poderia ser considerada verdadeira. A opinião coletiva não é, pois, a soma de opiniões individuais, assim como a identidade de um grupo não é a soma das identidades individuais.

A opinião pública necessita de motivos: acontecimentos que se apresentam a ela e ao grupo que a sustenta (políticos, pesquisas de opinião, mídias), e emerge por reação de indivíduos em situação que eles julgam insustentáveis. Assim, para que a opinião pública se manifeste, é necessário que surja um acontecimento suscetível de tocar muitos indivíduos. Um acontecimento que cause problemas e que não esteja resolvido. Charaudeau alerta para a confusão a se evitar: opinião com eleitorado. Ele trata de vários acontecimentos que abalaram a opinião pública francesa e finaliza o capítulo com o difícil paradoxo que cerca a consciência cidadã. Para ele, é preciso distinguir pertencimento e sentimento identitário: pertence-se a um grupo por nossa identidade social de idade, sexo, meio familiar, etc. O sentimento identitário procede de uma idealização; ele se constrói subjetivamente em referência a um grupo no qual desejamos nos reconhecer, ao qual nos ligamos por intermédio de crenças. A consciência cidadã é “um condensado do querer estar juntos e do querer viver juntos e é de ordem simbólica.” (CHARAUDEAU, 2016, p.63).

No segundo capítulo – “A manipulação da opinião pública” – o autor trata da manipulação da opinião pública no mundo político que pode ser feita por meio de manipulação do discurso se utilizando da sedução. Para tanto, Charaudeau assevera que um líder carismático tende a manipular a opinião pública com mais desenvoltura e especifica alguns tipos de carisma, como por exemplo, o carisma messiânico, que, segundo Max Weber, está relacionado com o dom da graça. Para Weber (2003), ao contrário de boa parte da corrente de especialistas no assunto, o mérito não deve ser dado ao tipo de carisma em si, mas à sua dominação e seus efeitos. Numa linha de raciocínio mais sociológica e histórica, Weber vê a dominação carismática como a essência para se compreender esses fenômenos sem necessariamente se deter na substância, ou elemento, que faz de uma figura um líder, em contraponto a seus prosélitos. Embora Weber foque prioritariamente no indivíduo carismático, a relação deste com o coletivo chamava também sua atenção, uma vez que somente a partir do reconhecimento do seguidor, e mesmo da comunidade em que ele vive, a existência do carisma é formada. O referido dom da graça não é necessariamente de ordem divina; pode ser uma força interior. No caso do ator político, Charaudeau cita Cristo como exemplo de alguém que possuía o dever kantiano do tipo faça o que deves, além de figuras menos relacionadas à religião, como é o caso do general Charles De Gaulle que, segundo o autor, era dotado de uma grandiosidade tal, que possuía a missão de salvar a França.

Há, na opinião do autor, outros líderes carismáticos como os que exploraram as raízes fundadoras de um povo, apelando para a revolta, como fez Hugo Chaves em seus discursos ao se referir a Simon Bolívar e às árvores das três raízes2.

Um outro tipo de carisma, a que se refere Charaudeau, é o carisma cesarista, que está relacionado com o ethos de potência que pode ser expresso através de diferentes figuras. Elas aparentemente são figuras de virilidade exacerbada, podendo até ser expressas por aventuras sexuais como era o caso do ex-presidente norte americano John Fitzgerald Kennedy e do ex-presidente italiano Sílvio Berlusconi. Há também figuras de energia, que se manifestam por hiperatividade como acontecia com Fidel Castro e Che Guevara. Entretanto, existe um ethos menos relacionado à potência, porém mais relacionado à coragem, como pode se observar no discurso do ex-presidente argentino Juan Domingos Perón sobre o Peronismo. Charaudeau deixa claro que o carisma político é de outra natureza em relação aos outros tipos de carisma, pois parece haver duas forças antagônicas que permeiam essa relação: de um lado, há o poder – um lugar indeterminado – mas com força de dominação; do outro, um povo – uma entidade global um tanto amorfa – sem limites definíveis, mas um suposto lugar de contrapoder.

Esse mesmo capítulo, iniciado pelo subcapítulo “A manipulação do mundo político”, traz outros subcapítulos sobre manipulação da opinião pública intitulados: “A manipulação do discurso de sedução dramatização”, “A manipulação pela exaltação de valores”, “O discurso populista como reciclagem dos discursos extremistas”, “O discurso como fator de embaralhamento das oposições políticas”, “A manipulação no mundo midiático”.

Em a “A manipulação do mundo político”, Charaudeau, faz um apanhado sobre política e sobre atores políticos. Ele trata da ideia de que a palavra política circula num espaço público e está sujeita às suas restrições, ou seja, nesse espaço as trocas ocorrem não entre indivíduos, mas entre entidades ou instâncias coletivas, que se definem por meio de estatutos e de papeis sociais. É nesse espaço político que existem as duas instâncias mencionadas pelo autor, que são as instâncias política e cidadã.

A seguir, encontramos uma subseção sobre a manipulação pelas pesquisas de opinião, que se subdivide em: “A pesquisa da opinião pública que é um discurso”, “Diferentes tipos de pesquisa de opinião”, “Um espelho deformante da sociedade”, “Análise de uma pesquisa de opinião que causa complexidade”, “Um bom exemplo de manipulação” e “As pesquisas formatam a opinião pública”, seguida de uma conclusão sobre a manipulação.

Em “A manipulação do discurso de dramatização”, o autor defende que o discurso político, longe de ser uma verdade absoluta, procura interpelar o outro por meio de apelos aos sentimentos e fazendo encenações, como num palco teatral no qual se apresentam dramas e tragédias a fim de manipular a opinião pública. Esse discurso pode despertar um movimento de protesto, como alguma injustiça causando indignação, e um estado de angústia na opinião pública. Há episódios na história em que esse discurso justificava, por exemplo, intervenções militares em países estrangeiros onde se estigmatizavam os inimigos absolutos como Saddam Hussein, Slobodan Milošević e Osama Bin Laden.

Já em “A manipulação pela exaltação de valores”, tem-se uma questão subjetiva a ser pensada que seria a noção ou o significado do termo valores. Todos os políticos declaram defender valores de suas nações, a democracia, a república, etc. Entretanto, a questão é que determinados valores podem ser julgados pela utilidade e bom funcionamento da vida social em determinada época e, esses mesmos valores, podem ser tidos como valores que são obstáculos para o desempenho da economia e, até mesmo, do bem estar social, como ironiza Luís Fernando Veríssimo em seu texto Silogismo, publicado no jornal O Globo:

[…] A nossa estabilidade e o nosso prestígio com a comunidade financeira internacional se devem à tenacidade com que homens honrados e capazes, resistindo a apelos emocionais, mantêm uma política econômica solidamente fundeada na miséria alheia e uma admirável coerência baseada na fome dos outros. O país só é viável se metade da sua população não for3.

Neste mesmo bloco, em “O discurso populista como reciclagem dos discursos extremistas”, Charaudeau lida com as matrizes ideológicas francesas tanto de direita como de esquerda para, na sequência, tratar do discurso populista como sendo uma reciclagem dos discursos extremistas. O discurso populista consistente com a tradição dominante na ciência política comparativa, define o populismo como uma forma de política baseada no “aviltamento moral de elites e uma veneração concomitante das pessoas comuns” (KRIESI, 2004, p.362, tradução nossa)4. Segundo o autor, o populismo é denunciado como uma antecâmera do totalitarismo. Ele apregoa a vitimização de um povo, exaltação de determinados valores desse povo e a satanização dos culpados feita por meio da figura do bode expiatório. O discurso populista como fator de embaralhamento das oposições políticas traz exemplos da história ocorridos tanto na Europa como nos países latino-americanos, africanos ou do Leste. Para o autor, o discurso populista tem origem histórica na extrema direita, porém pode se alinhar, para fins estratégicos, ao discurso da extrema esquerda.

Nessa linha de pensamento, o populismo de esquerda almeja um Estado forte, sem economia de mercado, mas a serviço do povo para o qual deve redistribuir a riqueza. Do mesmo modo, o populismo da direita defende as classes menos favorecidas, mas sem a intervenção estatal. No caso da França, essas classes são representadas por uma população do interior agrário acrescida de uma pequena burguesia de comerciantes e artesões. Já o populismo de esquerda luta pelo conjunto de integrantes da classe dita popular como operários, proletários e os ilegais. Como inimigos, os populistas de direita têm não só o establishment, mas uma hipotética aliança socialista comunista. Os inimigos, no caso dos populistas de esquerda, seriam as forças ditas reacionárias, chamadas em outras épocas de fascistas.

A seção intitulada “A manipulação no mundo midiático” essa parte apresenta uma subdivisão que trata de uma característica do discurso que vai desde a superdramatização da informação à peopolização do político. A estratégia que os políticos usam para alcançar eleitores indecisos, por meio de argumentação não política, contribui não apenas para a personificação, mas também para a predominância da propaganda televisiva. Além disso, “a publicidade negativa ao atacar o oponente direciona a atenção do eleitor à característica pessoal dos candidatos com mais intenção de votos” (ANSOLABEHERE; IYENGAR, 1995, p.258, tradução nossa)5. Como consequência, as personalidades com maior intenção de votos se tornam o principal motivo de votos, em detrimento dos programas políticos ou dos temas de campanha, tendo como um efeito colateral duvidoso a celebrização da política, ou seja, a peopolização. Segundo o autor, a peopolização se distingue do populismo por ter uma característica no discurso que fala da vida privada dos famosos como celebridades, ídolos do cinema, esporte, arte, etc. Este é o apanágio das revistas de fofocas. Esse fenômeno é uma faca de dois gumes, pois dessacraliza o(a) político(a) pela aproximação com o eleitor(a), tirando-o(a) de seu pedestal, porém ressacralizá-lo(a) “pelo fato de introduzir humanidade numa função que, por definição, é desumanizada” (CHARAUDEAU, 2016, p.124).

Sob o título “A manipulação pelas pesquisas de opinião”, Charaudeau analisa a pesquisa de opinião afirmando que esta é na realidade um discurso, pois, para ele, uma pesquisa é um ato de linguagem que traz em seu bojo um conjunto de perguntas e respostas. Desse modo, a pesquisa de opinião pode induzir uma resposta, pois, de maneira geral, toda pergunta impõe um esquema de fala no qual é inserido aquele que é perguntado. Outrossim, pode-se pensar no interrogador como alguém que quer saber algo com determinado objetivo.

O autor faz um apanhado geral dos vários tipos de pesquisa e argumenta que elas podem ser um espelho deformante da sociedade (palavras do autor), pois alimentam a dramaturgia eleitoral, ou seja, permitem que comentaristas políticos, com suas próprias ideologias, comentem os resultados das pesquisas dentro de seus próprios vieses. Assim as pesquisas podem manipular a opinião pública, uma vez que constituem, por sua vez, atos de formatação de um pensamento do qual não se sabe o que representam.

Em conclusão, o autor vê, nas pesquisas de opinião, a falta de limite entre estratégias legítimas de persuasão ou a amostragem de um cenário por meio das pesquisas e a intenção de manipulação das mentes.

Por fim, no terceiro capítulo – Crise de opinião, crise da democracia: os sintomas de uma crise política da pós-modernidade – o autor aborda os fenômenos muito discutidos nos dias de hoje que são as crises de opinião e da democracia. Nos regimes monárquicos, devido ao poder supostamente ter uma origem divina, a voz que representa um povo adquire sua soberania por um regime absoluto de crenças; no entanto, num regime democrático, “a voz vem de baixo, ou seja, da opinião pública” (CHARAUDEAU, 2016, p. 152) e isso, nem sempre, se traduz por um alinhamento entre a opinião pública e o(s) representante(s) dessa opinião. Se tomarmos como exemplo uma, dentre várias instâncias que ocorreram na política brasileira, podemos citar o caso do julgamento pela Câmara dos Deputados de Brasília, que isentou o atual Presidente da República Michel Temer de ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) apesar de a grande maioria dos brasileiros, fato revelado por algumas pesquisas de opinião, ser a favor da autorização para que o STF pudesse decidir se abriria ou não um processo criminal contra o mandatário.

Em seguida, pode-se ler sobre as possíveis noções relacionadas a essas crises da democracia e do poder como o contrapoder, que advém da opinião pública na forma de alguma reivindicação, serem ignoradas. Segundo Charaudeau, uma democracia plena sem um contrapoder inexiste. O grande princípio democrático é o da delegação provisória do poder de um povo a um representante, que em teoria vai representá-lo em decisões vitais que afetarão de modo contundente a vida desse mesmo povo. O contrapoder tem, nesse caso, um papel importante na regulação da soberania de um representante para que a política de um país não seja feita apenas em nome de uma maioria ou uma minoria ativa sem nenhuma justificativa.

No livro em referência, Charaudeau amplia essas ideias aqui discutidas e circunstancia sua análise acerca da construção da opinião pública. Ele constrói uma atividade discursiva sobre como se pode manipular as pesquisas de opinião. A obra tenta detalhar como ocorrem os discursos manipuladores, levando em conta os processos de construção identitária individual e coletiva trazidos à tona por sentimentos, valores, teatro político e o carisma.

Vale ressaltar a importância social da leitura do livro tanto para quem quer pensar sobre estratagemas utilizados para a conquista da opinião pública como para a compreensão de estratégias discursivas existentes no atual momento histórico. Em regimes democráticos, são os políticos que representam a voz do povo, mas para que cheguem ao poder, eles precisam usar o discurso para conquistar os cidadãos. E é por meio da palavra que se seduz, que se persuade, que se manipula e que se regula a vida social e política

Referências

ANSOLABEHERE, S; YIENGAR, S. Going Negative: How Attack Ads Shrink and Polarize the Electorate. Michigan: Free Press, 1995. [ Links ]

KRIESI, H. The populist challenge. West European Politics. Abingdon, v. 37, p. 361-378, 2004. [ Links ]

RIMBAUD, A. Correspondência. Tradução de Ivo Barroso. Rio de Janeiro: Topbooks, 2009. [ Links ]

VERISSIMO, L. F. Silogismo. O Globo, Rio de Janeiro, 24 mar. 2000. [ Links ]

WEBER, M. Le savant e le politique. Paris: La Découverte/Poche, 2003. [ Links ]

2 Alusão às figuras históricas Simón Bolívar, Simón Rodriguez e o general Ezequiel Zamora.

3 VERÍSSIMO, L. F. O Globo, 24/03/2000, citado pelos autores.

4 No original: “[…] moral debasement of elites and the concomitant veneration of ordinary people” (KRIESI, 2004, p. 362).

5 No original: “[…] negative publicity in attacking opponents directs the attention of voters to the personal characteristics of the candidates with the most votes” (ANSOLABEHERE; IYENGAR, 1995, p.258).

Marcelo SAPARAS – Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Faculdade de Comunicação, Artes e Letras. Dourados – MS – Brasil. marcelosaparas@ufgd.edu.br.

Sumiko Nishitani Ikeda – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes. São Paulo – SP – Brasil. Departamento de Linguística. sumiko@uol.com.br.

…como se fosse um deles: Almirante Aragão. Memórias, silêncios e ressentimentos em tempos de ditadura e democracia | Anderson da Silva Almeida

En el año de 1996 Ánderson da Silva Almeida ingresó en régimen de internado al Cuerpo de Fusileros Navales de Brasil, donde posteriormente pasaría a componer el cuadro de músicos en la misma institución como intérprete de Bombardino.

Paralelo a su carrera como marinero y músico, Ánderson da Silva Almeida hizo su graduación en Historia con la Universidad Católica de Salvador, Bahía; y posteriormente adelantó su especialización, maestría y doctorado en Historia en la Universidad Federal Fluminense UFF donde se destacó en el año 2012, con el premio Memorias Reveladas del Archivo Nacional por su disertación de maestría que daría origen al libro “Todo o leme a bombordo: marinheiros e ditadura civil – militar no Brasil: da rebelião de 1964 à anistia” [1] . Leia Mais

Educar em Revista. Curitiba, v.35, n.78, nov./dez. 2019 //v.35, n.73, jan./fev. 2019.

Educar em Revista. Curitiba, v.35, n.78, nov./dez. 2019.

Dossiê – Pesquisas ibero-americanas em Educação Matemática: formação de professores, ensino e aprendizagem

 Demanda Contínua

 Errata


Educar em Revista. Curitiba, v.35, n.77, set./out. 2019.

Dossiê – Manuais Escolares e Mídias Educativas: temas e perspectivas de investigação

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Educar em Revista. Curitiba, v.35, n.76, jul./ago. 2019.

 Dossiê – Cultura Material em História(s): Artefatos Escolares e Saberes

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 Documentos

 Entrevistas


Educar em Revista. Curitiba, v.35, n.75, maio/jun. 2019.

DOSSIÊ – Fronteiras da Universidade Contemporânea: interpelando políticas e práticas em contextos emergentes

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Educar em Revista. Curitiba, v.35, n.74, mar./abr. 2019.

Dossiê – Metodologia da pesquisa em Educação Histórica

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 Entrevistas


Educar em Revista. Curitiba, v.35, n.73, jan./fev. 2019.

Dossiê – Educação e Arte: projetos, debates e ações em perspectiva histórica

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Antrope. Tomar, n.11 . dez. 2019.

Artigos

Editorial

  • Ana Cruz
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  • ESTRANHA EPÍGRAFE NO CONCELHO DE TABUAÇO
  • José d’Encarnação, José Carlos Santos
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  • PESOS DE TEAR ROMANOS, COM GRAFITOS, PROVENIENTES DE TORRES VEDRAS
  • Isabel Luna, José d’Encarnação, Luísa Batalha, Guilherme Cardoso
  • Resumo | Download (pdf) >>
  • ANÁLISIS POR DIFRACCIÓN DE RAYOS X DE TERRA SIGILLATA PROCEDENTE UN YACIMIENTO URBANO DE VIGO (PONTEVEDRA)
  • Lantes Suárez, R. M. Rodríguez Martínez, J. M. Vázquez Varela
  • Resumo | Download (pdf) >>
  • INTERVENÇÃO ARQUEOLÓGICA NA MURALHA MEDIEVAL/MODERNA DO CASTELO DE MIRANDA DO DOURO 2018/2019: RESULTADOS FINAIS
  • Rui Pinheiro, Pedro Dâmaso
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  • UN ARCANGELO COME LIMEN: IL SANTUARIO MICAELICO DEL MONTORFANO TRA STRUTTURA ARCHITETTONICA, RAPPRESENTAZIONE FIGURATIVA E SIMBIOSI DEL SEGNO GRAFFITO
  • Gianfranco Massetti, Georgios Dimitriadis, Marise Campos de Souza
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  • IGREJA DE NOSSA SENHORA DAS NEVES DO CONVENTO DE SÃO FRANCISCO DE OLINDA – PE: ASPECTOS HISTÓRICOS, ARTÍSTICOS E CARACATERIZAÇÃO DO MATERIAL CONSTRUTIVO
  • Fernando Antônio Guerra de Souza, Henry Socrates Lavalle Sullasi
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  • TIJOLOS ARQUEOLÓGICOS AMARELOS INCOMUNS NO BAIRRO DO RECIFE, PERNAMBUCO, BRASIL, SÉC. XVII-XVIII
  • Maria Aparecida da Silva Oliveira, Sergio Francisco Serafim Monteiro da Silva, Ana Catarina Peregrino Torres Ramos
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  • LA DINÁMICA DE LOS CAMBIOS EN EL CENTRO ALFARERO DE GUNDIVÓS (LUGO, GALICIA, ESPAÑA)
  • Alexandre Luis Vázquez-Rodríguez, José Manuel Vázquez Varela
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  • ACTUACIONES ARQUEOLÓGICAS EN BIENES CULTURALES DE DAIMIEL (CIUDAD REAL) Y SU PROYECCIÓN PARA LA GESTIÓN DEL PATRIMONIO
  • Miguel Torres Mas
  • Resumo | Download (pdf) >>

Pergaminho. Patos de Minas, n.10, dez. 2019.

Pergaminho, n.10, dez. 2019.

ARTIGOS

  • A Oradora como fotografia pública: ou por uma história visual do anarquismo…..09
  • Fernanda Grigolin
  • Os impactos da Revolução Russa na imprensa anarquista de São Paulo………………23
  • Vitor Ahagon
  • O baixo índice de enjeitamento de recém-nascidos na freguesia da Cidade do Natal,
  • séculos XVIII e XIX…………………………………………………………………………………………….33
  • Thiago do Nascimento Torres de Paula
  • Et verba mvsica facta svnt: imagens do feminino na música de Hildegard Von
  • Bingen…………………………………………………………………………………………………………….44
  • Matheus Cardoso de Almeida
  • Generificação da docência: uma análise sobre as representações sociais de gênero
  • no Curso de Pedagogia do Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM…….54
  • Amanda Gomes de Brito
  • A história da educação dos negros em Uberlândia: memórias, dilemas e
  • resistências (1950-1970)…………………………………………………………………………………….67
  • Alexandre Bianchi de Souza
  • Desafios da educação: experiências do ensino de cultura afro-brasileira na Escola
  • Estadual Abner Afonso em Patos de Minas……………………………………………………….86
  • Geison Neves da Cruz
  • O fazer-se do patrimônio, da memória e da identidade: um estudo de caso sobre a
  • cidade de Patrocínio……………………………………………………………………………………….104
  • Luís André de Freitas Araújo
  • O parque e o povo: história ambiental do Parque Municipal do Mocambo/Patos de
  • Minas…………………………………………………………………………………………………………….. 124
  • Alison Luiz de Oliveira
  • José Aurélio Nascimento Souto
  • Pablo Vinicius Alves
  • Raissa Gonçalves Galvão
  • Pergaminho, n. 10, dez. 2019
  • A Ponte do Arco Submersa: as consequências da enchente de 1992 em Patos de
  • Minas……………………………………………………………………………………………………………..142
  • Daniel José de Almeida
  • Izabela Cristina de Lima Santos
  • Luis Fernando Barbosa
  • Mateus Dias Soares
  • Do sambódromo para a sala de aula: algumas possibilidades do uso do samba
  • enredo “História Pra Ninar Gente Grande (2019)” da Estação Primeira de
  • Mangueira em aulas de História………………………………………………………………………154
  • Edivaldo Rafael de Souza

ENSAIOS

  • Esquecimento de Dever de Memória na animação Viva – A Vida é uma Festa……..167
  • Dayane Cristina de Freitas
  • Educação política e sociedade: a importância da formação crítica para mudanças
  • sociais…………………………………………………………………………………………………………….173
  • Géssika Mendes Vieira
  • POESIAS
  • Canção do Homem do Balaio……………………………………………………………………………177
  • Paulo César Nunes

RESENHAS

  • Fascismo: definição e história………………………………………………………………………….178
  • Arthur Willian Soares Alves
  • De Atahualpa a Guevara: nossos ilustres desconhecidos……………………………………181
  • Gabriel dos Santos Birkhann
  • A construção da Pedagogia Universitária e sua relação com contextos políticos e
  • sociais…………………………………………………………………………………………………………….183
  • Diego Assunção Cunha
  • Géssika Mendes Vieira

Los exilios y el mundo intelectual. Una introducción / Intellèctus / 2019

El dossier que aquí presentamos se ubica en el cruce de dos grandes campos de conocimiento: los estudios referidos al exilio y a los exiliados y el campo intelectual y de transformación de las ideas y lenguajes políticos en la historia del siglo XX.

Los intelectuales han sido conceptualizados de múltiples formas y sus características han sido subrayadas de distinta manera de acuerdo a los contextos históricos en los cuales se inscribieron. Enzo Traverso (2014) ha destacado el papel del intelectual como el de un outsider a la vez que como aquel pensador capaz de “tomar un fusil” y expresar un compromiso político público, saliendo del acto de la escritura para confundirse en las calles con la gente en una protesta o movilización. Pero, por otro lado, la figura del intelectual también ha convivido con las imágenes de los “expertos” o “asesores” que, de algún modo, han convocado un carácter neutral u objetivo del intelectual, refiriéndose a alguien con la facultad de elaborar una opinión crítica sobre un hecho o proceso sin atender a su inscripción personal en ese contexto. En este sentido, consideramos importante retomar los trabajos de Edward Said (2005), para quien la práctica intelectual no puede ser pensada por fuera de las condiciones subjetivas e históricas de cada persona y mucho menos en el caso de los exiliados. El exilio, que conlleva momentos de tristeza, de desdoblamiento y rabia con la patria a la que se debió abandonar, conduce también a un estado de “sospecha” sobre el orden de las cosas, a una instancia de desnaturalización de los sentidos comunes sobre el mundo, a un momento de interrogación y de propuesta para la transformación. Leia Mais

História Oral e Patrimônio Cultural: potencialidades e transformações | Letícia B. Bauer e Viviane Trindade Borges

Quando ouvimos o patrimônio cultural, quais vozes são possíveis? As historiadoras Leticia Bauer e Viviane Trindade Borges, organizadoras desta publicação, contribuem nos debates recentes desenvolvidos no campo do patrimônio e da história oral no Brasil, com a seleção de diferentes percepções sobre o tema, ampliando as possibilidades teórico metodológicas de análise do patrimônio cultural a partir do trabalho com fontes orais, e das discussões sobre a história oral na problematização do patrimônio cultural. Este trabalho está inserido na coleção “História oral e dimensões do público”, da Editora Letra e Voz, que é dirigida por Juniele Rabêlo de Almeida, divulgando pesquisas voltadas para o uso das fontes orais e a relação com seus públicos, trazendo outras perspectivas sobre a história oral a partir de temas como migrações, mídia e os movimentos sociais.

Para além de ouvir a potencialidade das vozes nas narrativas sobre o patrimônio, as organizadoras buscam divulgar ações que possibilitem a transformação com a participação cidadã na construção de suas memórias. Esse intuito se relaciona com as trajetórias acadêmicas destas historiadoras, que privilegiaram em suas pesquisas e na sua atuação profissional as experiências com patrimônios não convencionais de maneira colaborativa, em consonância com as discussões desenvolvidas pela História Pública. Leia Mais

Teoria da História em Jörn Rüsen: sentido e consciência histórica | Itamar Freitas

Um caminho para a compreensão das ligações indicadas pelo título desta aula (Teoria da História – TH e Metodologia de Ensino – ME) é apresentar as categorias mais gerais do seu novo livro: “sentido”, “consciência histórica” e “competência narrativa”. Na apresentação desta última, descreveremos as proposições sobre métodos de ensino, que, por sinal, são raras na Teoria da História: uma teoria da história como ciência (2015). Vale lembrar que essa meta de transformar a da TH de Rüsen em Didática da História é efetivada com maior competência por vários outros profissionais, na Europa e nas Américas, que vocês podem acessar com facilidade pela Internet. Registramos, entretanto, que entre os desenvolvedores das suas teses para o ensino, Rüsen destaca o alemão Bodo von Borries.

A TH de Rüsen não é, prioritariamente, como informa o subtítulo, uma Teoria da Ciência da História. Ela ultrapassa os temas clássicos das TH anunciadas como Epistemologia ou Filosofia Crítica da História. Estas últimas discutem questões de método de investigação e estratégias de validação dos resultados da pesquisa. As questões com as quais Rüsen inicia a exposição da sua TH, ao contrário, estão presentes nos teóricos classificados como filósofos especulativos da História, que produziram entre o final do século XVIII e o início do século XX, como já vimos no semestre passado: (1) “A História tem sentido (lógica)?” “De onde vem o sentido da História (auto realização)?” “O que é um ser humano (experimentação, interpretação, orientação e motivação)?” “Como um ser humano é constituído (exercício da competência narrativa)?” “Para onde caminha a humanidade (alteridade)?”

Isso não significa dizer que ele despreze a Ciência Histórica. Pelo contrário: Rüsen faz sim epistemologia quando discute “as regras do método histórico” e as “formas de processos da historiografia”. Esses capítulos constituem a parte central do seu livro, que ao final, inclui questões típicas dos especialistas no ensino de História do nosso tempo. E ele próprio se transforma em teórico da Didática da História, quando expressa a crença de que um novo humanismo pode ser cultivado, mediante o emprego dos métodos e dos resultados da Ciência Histórica como componente curricular da formação básica. Nesse sentido, como teórico do ensino, apresenta as seguintes questões: “Qual a finalidade do conhecimento histórico na escolarização básica (constituição de identidades individual e coletiva em perspectiva genética)?” “Qual a contribuição do conhecimento histórico para a constituição das identidades individual e coletiva dos sujeitos históricos (desenvolvimento da competência narrativa):”

Vejamos, inicialmente, as respostas ao primeiro grupo de questões, que tratam de sentido e ser humano. Nos dois tópicos seguintes, exploramos as ideias de consciência histórica e de competência narrativa (onde estão as proposições de método de ensino de História.


A História tem sentido

A vida faz sentido. A vida é lógica. Rüsen contesta o ceticismo manifesto por filósofos como Nietzsche em relação à experiência humana (vida) e ao valor do conhecimento histórico como interpretação dessa experiência. Podemos até avançar dizendo que Rüsen despreza teses de existencialistas como Albert Camus. Este filósofo francês contemporâneo afirmou que a razão do sofrimento dos humanos estaria no choque entre a crença desses humanos em supostos sentidos para o universo e a teórica negação desse suposto sentido por parte do próprio universo. Na crítica às teses sobre a ilogicidade da vida, ele nos lembra de imediato as proposições de Immanuel Kant e Friedrich Hegel. Guardadas as respectivas diferenças, os seus compatriotas defendiam que a vida humana era sinônimo de ordem. No caso de certa interpretação de Hegel, a finalidade e direção da vida seriam produzidas pelos próprios humanos, o que significava dizer, produzidas sem a interferência de um Deus judaico-cristão.

Seguindo implicitamente semelhante direção, Rüsen afirma que o sentido da vida é produzido pelos próprios humanos. Humanos são seres sofredores e seres livres para agir. São seres suscetíveis à mudança quando percebem que “as coisas do mundo próprio não acontecem como deveriam”. São também seres agentes da mudança quando afirmam “controlar o curso da [sua] vida segundo critérios que valham como [seus]”) (Rüsen, 2015. p.55), seja para superar uma mudança, seja para efetivar “uma aspiração à felicidade”. A superação do sofrimento ou a concretização de uma “demanda utópica” são promovidos pela mobilização de funções mentais que lhe são inerentes: “percepção”, “interpretação”, “orientação” e “motivação.” Esses poderes mentais (que nos lembram a concepção de faculdades mentais da idade moderna) são também universais antropológicos da sua TH ou seja, capacidades válidas para todos os humanos em qualquer tempo e lugar (2015, p.210). São esses universais que [manipulam] memórias e esperanças (ou espaços de experiências e horizontes de expectativa – de R. Koselleck). São essas capacidades que viabilizam a articulação de presente, passado e futuro na superação de um obstáculo ou na satisfação de um sonho. Descrevamos cada uma dessas capacidades com exemplos caricatos de uma situação de desemprego para facilitar a sua intelecção.

A primeira dessas funções ou atos mentais nós realizamos quando identificamos (ou experimentamos) as diferenças entre passado e presente. Há percepção dessa dessemelhança quando nos defrontamos com uma mudança na vida prática e anunciamos: “No ano passado, tive condições de comprar presentes para a família, aproveitando as promoções do Shopping Rio Mar. Este ano, desempregado, nada posso comprar, nem mesmo na Rua José do Prado Franco.” A segunda função ou “operação” mental realizamos quando circunscrevemos essa mudança (essa diferença temporal – presente/passado) em uma sequência de eventos mais abrangente (a vida de uma pessoa, a vida de uma instituição ou a vida de um país), transformando-a em acontecimento histórico (conhecimento histórico). Há interpretação quando dizemos: “Segundo consta neste artigo escrito por um historiador na Folha de São Paulo, grande parte desse desemprego reflete as a ampliação do poder do capital financeiro sobre o capital produtivo, que ocorreu no Brasil, durante as décadas de 90 e de 2000.” A terceira função ou competência realiza-se quando empregamos o conhecimento histórico (o ato transformado em acontecimento, no interior de uma sequência temporal mais ampla) com o objetivo de reforçar ou modificar uma norma de vida. O uso pode se dar em nível social e ou em nível pessoal. Há orientação em nível social quando mobilizamos o conhecimento histórico para afirmar: “Devo votar nos candidatos trabalhistas porque (com a informação que tenho sobre as relações históricas entre desemprego e dominação do capital financeiro) esses futuros deputados são a chance de os trabalhadores resistirem como classe às políticas neoliberais implantadas pelo atual governo.” Paralelamente, há orientação em nível pessoal quando dizemos: “Eu sou eletricista e gosto (não gosto) dessa profissão. Fui iniciado no ofício quando adolescente por vontade dos meus avós”. A última função mental nós realizamos com a mobilização de emoções que ligam o pensamento à ação. Há motivação quando afirmamos: “É revoltante saber que a recente reforma trabalhista obriga mulheres grávidas a trabalhar em condições insalubres. Por isso, vou às ruas protestar contra a aprovação desse projeto de lei.”


Consciência histórica

Quando observadas estaticamente, essas quatro funções (operações, capacidades ou competências mentais) são sintetizadas didática, esquemática e até ficcionalmente com a expressão “consciência histórica”. Rüsen nos induz a afirmar, assim, que todos os humanos são portadores de consciência histórica. Todos os humanos são o que são, no tempo. Todos os humanos estão conscientes da sua natureza eminentemente temporal. Aqui (nesse “todos”) está a terceira demonstração da valência dos universais antropológicos da TH de Rüsen.

Consciência histórica é um modelo teórico (um tipo ideal) que serve para viabilizar o exame dos modos pelos quais os humanos se relacionam com o tempo, ou seja, os modos pelos quais as pessoas constroem suas identidades (individual e coletiva) e orientam as suas ações para enfrentarem a mudança ou realizarem seus planos de melhoria de vida. Assim, para abranger a diversidade de situações nas quais os humanos mobilizam presente, passado e futuro, Rüsen estabelece teoricamente quatro possibilidades ou quatro “formas” de consciência histórica (consciência de estarem no tempo). As duas primeiras refletem a permanência e as duas últimas refletem a mudança. Na relação de permanência, há uma situação onde os humanos não percebem diferenças entre presente e passado. Suas ações estão inscritas em uma “eternidade intratemporal” (2015, p.207). Aquelas pessoas ou grupos que assim convivem são portadoras de uma consciência histórica “tradicional”. Na relação de permanência há também a situação onde pessoas ou grupos diferenciam presente de passado (o presente é a outra coisa), mas agem a partir de regras instituídas no passado. Tal relação com o tempo, conhecida por todos nós como vida por imitação (Historia magistra vitae), caracteriza a consciência histórica “exemplar”. Quando a relação dos humanos com o tempo é de mudança (o presente é diferente do passado e o futuro pode ser o que o agente quiser), a consciência histórica é designada como “genética”. Há, por fim, um último tipo de “consciência histórica” que é marcado pela mudança, mas funciona como pura negação dos três citados. É a consciência onde predomina a “negação” do passado.

Esses tipos de consciência formam uma progressão (também ideal). Em provável história da espécie humana e, ainda, em hipotética história de um indivíduo humano, essas consciências são apresentadas em progressão. No plano da espécie, teríamos migrado de uma consciência estruturada na permanência para uma consciência que priorizou a mudança; de uma identidade pessoal que espelhava o passado para uma identidade pessoal que respeita o passado como um outro, mas que, a partir desse “outro” constrói a sua própria regra para agir; de uma relação de mesmidade, enfim, para uma relação de alteridade com os diferentes passados.

No plano individual, a tipologia da consciência histórica rüseniana oferece mais uma proposição para a Didática da História e, consequentemente, para o planejamento dos métodos do ensino de História. Rüsen sugere que os indivíduos se desenvolvem ao longo do tempo vital, experimentando cada uma das etapas comentadas acima. No novo livro, ele não detalha essa “hipótese ontogenética”. Nos textos traduzidos nas duas primeiras décadas do nosso século, porém, essa hipótese é defendida com clareza. Rejeitando, por exemplo, os estágios da Teoria do Desenvolvimento Psicológico de Jean Piaget, Rüsen conjectura que os indivíduos em formação escolar experimentam as consciências tradicional, exemplar e genética (no livro anterior eram quatro). Crianças e adolescentes modificavam progressivamente o seu modo de relacionar-se com o tempo (de constituir suas identidades etc.), migrando da imitação (da ação conforme regras estabelecidas pelos pais, comunidade, isto é, relações inscritas no passado) à negociação (da ação mediada pela alteridade, ou seja, do respeito à regra do passado, combinado ao sentimento de autonomia em seu agir).

Cabe ao professor, em sua tarefa de planejar currículos e aulas, conhecer as formas predominantes de consciência dos seus alunos. Isso significa dizer que a primeira potencial operação de método de ensino é o diagnóstico dos modos pelos quais os alunos articulam presente, passado e futuro. É a medição do quanto esses alunos estão mais próximos ou mais distantes da consciência compatível com a vida contemporânea. E Rüsen não nega que exista esse modelo: a consciência genética de sentido. Marcado pelos traumas gerados pela participação do seu país na Segunda Guerra Mundial, entre outros motivos, Rüsen defende a efetivação de uma sociedade onde o respeito à diversidade cultural seria a tônica. Isso inclui a autocrítica em relação ao eurocentrismo e a efetivação de uma convivência global fundada em direitos individuais de alcance universal. O ensino de História estaria justificado nesse contexto. A ele caberia a função de viabilizar essa utopia, mobilizando as funções mentais na construção de consciências históricas compatíveis com o que ele entende ser a tendência da sociedade contemporânea.

Evidentemente, a adoção do diagnóstico sobre o pensamento histórico dos alunos e a aceitação da consciência genética como tipo adequado implicam na incorporação da sua utopia (sua ideia de sociedade e de humanidade) no estabelecimento dos fins do ensino de História e do desenvolvimento da competência narrativa como principal caminho (método) para atingi-los.[…] 


Referências

RÜSEN, Jörn. As formas elementares da constituição histórica de sentido. In: Teoria da História: Uma teoria da história como ciência. Curitiba: Editora da UFPR, 2015. p.41-55. Tradução de Estevão C. de Rezende Martins. Revisão Técnica de Arthur Alfaix Assis.

RÜSEN, Jörn. Direitos humanos e civis como orientação histórica: sugestões para interpretação e para análise didática. In: Aprendizagem histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W.A., 2012. p.193-220.

RÜSEN, Jörn. História prática – aprender, compreender, humanidade. In: Teoria da História: Uma teoria da história como ciência. Curitiba: Editora da UFPR, 2015. p.247-273. Tradução de Estevão C. de Rezende Martins. Revisão Técnica de Arthur Alfaix Assis.

RÜSEN, Jörn. O desenvolvimento da competência narrativa na aprendizagem histórica: uma hipótese ontogenética relativa à consciência moral. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão de Rezende (org.). Jörn Rüsen e o ensino de História. Curitiba: Editora da UFPR, 2010. p.51-77.

RÜSEN, Jörn. O livro didático ideal. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão de Rezende (org.). Jörn Rüsen e o ensino de História. Curitiba: Editora da UFPR, 2010. p.109-127.

RÜSEN, Jörn. Tipologia da narrativa histórica II: os quatro tipos da constituição histórica de sentido. In: Teoria da História: Uma teoria da história como ciência. Curitiba: Editora da UFPR, 2015. p.247-273. Tradução de Estevão C. de Rezende Martins. Revisão Técnica de Arthur Alfaix Assis.


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Teoria da História em Marc Bloch: excertos | Itamar Freitas

O texto de Marc Bloch que analisamos neste curso é exceção em termos de público por resultar de uma fala aos alunos do “Lycée d’Amiens”, onde trabalhava como professor do secundário. Critique historique et critique du témoignage” (Crítica histórica e crítica de testemunho – 1914) foi apresentada em uma solenidade de entrega de prêmios. As teses, contudo, foram conservadas na póstuma Apologia pela História ou sobre o ofício do historiador (Apologie pour l’histoire ou métier d’historien – 1949): o objeto do seu trabalho é o passado; sem fontes não há conhecimento sobre o passado; e a verdade do historiador é obtida com o “método crítico”. Mas há diferenças em relação à Apologia (além das dimensões do texto, é claro). Uma está no autoreconhecimento como “professor de História” e “historiador”:

Meus caros amigos, como vocês sabem, eu sou professor de história. O passado constitui a matéria de meu ensino. Eu narro a vocês batalhas às quais não assisti, descrevo-lhes monumentos desaparecidos bem antes do meu nascimento, falo de homens que jamais vi. E meu caso é o de todos os historiadores. Nós não temos dos acontecimentos de outrora um conhecimento imediato e pessoal, comparável, por exemplo, àquele que seu professor de Física tem da eletricidade. Sobre os acontecimentos, sabemos somente o que as narrativas dos homens queos testemunharam revelam. Quando essas narrativas nos faltam, nossa ignorância é completa e sem remédio. (Bloch, [1914] 2019, p.57).

Outra diferença está na exemplificação e na finalidade. Bloch preenche os seus argumentos com acontecimentos e narrativas, provavelmente, curriculares. Mas abusa das alegorias, metáforas, analogias, envolvendo juiz de instrução, jurado, operação matemática simples e conflito de trânsito com a intenção de demonstrar que o método serve à vida prática. É um antídoto ao “espírito de maledicência” e ao “espírito de desconfiança”, ou seja (como diríamos a respeito da crítica documental nos séculos XVII e XVIII), é o bom senso entre o dogmatismo e o ceticismo. Isso significa dizer que os liceanos, municiados do método crítico, evitarão “acusar de mentira o amigo que se confunde” e a aceitar “uma causa rapidamente julgada”, sem submetê-la a “um novo exame” (Bloch, 2019, p.67).

Ele não se demora em demonstrar o ceticismo. Mas explicita a proveniência do dogmatismo: as pessoas tendem a acreditar imediatamente naquilo que lhe chega aos olhos e ouvidos. Esse diagnóstico e o respectivo remédio, contudo, não é remetido às palavras dos seus mestres Langlois e Seignobos (ação instintiva), nem ao cético Descartes (dúvida metódica) que se ocuparam da mesma discussão. Ele recupera Tucídides (o prejuízo da verdade diante da opinião), afirmando que o homem “é naturalmente preguiçoso”. (Bloch, 2019, p.58-59). As operações de método que prescreve também já eram de domínio público naquele 1914. O (1) “recolher”, (2) o “comparar” e o (3) “pesar testemunhos” (Bloch, 2019, p.67).

Não estavam formalmente distantes, por exemplo, do que afirmava outro noviço professor de História, na Estônia, no longínquo 1868. Referimo-nos a W. Maurenbrecher, que recebeu a habilitação em Bonn (1867) e foi professor na Universidade de Dorpat (1868), Königsberg (1969), Bonn (1877) e em Leipzig (1884) (Berg, 1968, p.233). No seu primeiro emprego docente (Dorpat), Maurenbrecher apresentou em preleção as suas estratégias de ensino para o curso de História Geral, publicados um ano depois com o título: Sobre o método e a tarefa da pesquisa histórica (Ueber die Methode und Aufgabe der historischen Forschung – 1868). No texto, ele disseminava as “leis” ou os “princípios” do “historiador científico”, reunidas em seu tempo de formação com Leopold von Ranke (1795-1886) e Heinrich Karl Ludolf von Sybel (1817-1895), nas Universidades de Berlin e de Munique. Suas proposições (ele dizia não obedecerem a um cânone) prescreviam as operações de (1) “encontrar as fontes” e “determinar os fatos” mediante “crítica”, (2) “concebê-los” e “julgá-los” segundo “leis eternas da ordem moral do mundo” (Maurenbrecher, 1868, p.25, p.28). […]


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Teoria da História | Charles Seignobos

Em 1898, na França, Langlois e Seignobos publicavam suas teorias sobre investigação e interpretação, separadamente, usando um conhecido metodólogo como alvo. Tratava-se do já comentado jesuíta C. Smedt. Ele teria apresentado regras imprecisas e ingênuas sobre crítica de fontes, além de reservar espaço para o exame dos “milagres”. Não era, enfim, um “tratado metódico” (Seignobos, 1887, p.2; Langlois, 1888, p.618; Langlois; Seignobos, 1998, p.134, p.170). As críticas foram registradas por Seignobos, na Revue Philosophique de la France et de l’Étranger (1887) e por Langlois na Bibliothéque de l’École des Chartes (1888). Os dois textos, um de ensino de “ciências auxiliares da História da Idade Média” e outro sobre “as condições psicológicas do conhecimento em História” constituiriam a espinha dorsal do mais citado impresso francês na matéria: Introdução aos Estudos Históricos (Introduction aux études historiques – 1898). Observem o título do artigo (originado de uma conferência na Sorbonne) e verão que a locução “História da Idade Média” foi designada apenas “História”, transformada em etapa analítica do método. A parte sintética do “método” ficava a cargo do citado artigo de Seignobos (Seignobos, 1887, p.1).

Langlois e Seignobos (principalmente Seignobos) estavam preocupados com a transposição “do método histórico” para o ensino de História nas escolas secundárias. Os apêndices da Introdução contêm um projeto de reforma para as faculdades de Filosofia e Letras e, também, uma Teoria para o ensino de História nos liceus franceses. O elemento textual, contudo, privilegiou o exame das “condições e os procedimentos”, do “caráter” e dos “limites do conhecimento em história”. Era um “ensaio sobre o método das ciências históricas” para combater o autodidatismo e esclarecer aos trabalhadores da História sobre o método da sua ciência (Langlois; Seignobos, 1992, p.1, 21-22). Ele afirmava que a tarefa bem poderia já estar cumprida com o Lehrbuch de Bernheim (1894), mas, havia problemas nesse livro que justificam a escrita de um novo manual. Para os franceses, Bernheim tratava muito de Metafísica e pouco de questões práticas (certamente, um exagero de Seignobos). Era pouco original e restringia-se aos especialistas e escrito em língua alemã. O público da Introdução era constituído, principalmente, por jovens candidatos a um emprego estatal como professores de História nos liceus (Langlois; Seignobos, 1992, p.24-25).

Após a publicação da Introdução, Langlois fez avançar o seu projeto de bibliografia histórica e Seignobos simplificou sua teoria da compreensão histórica. Durante três anos, ele ministrou aulas no Collège Libre des Sciences Sociales e publicou os resultados no livro O método histórico aplicado às Ciências Sociais (La méthode historique appliquée aux sciences sociales – 1901). O texto era endereçado aos especialistas das Ciências Sociais e da História, embora o próprio autor acreditasse que o maior interesse viria dos primeiros (e com muita razão). O objetivo estava explícito no título (Seignobos, 1901, p. i-ii). Implicitamente, porém, queria controlar as emergentes Ciências Sociais. Não se tratava, pois, da oferta de uma simples ferramenta (o método histórico), e sim, da elaboração de uma Teoria (no sentido Droyseano), ou seja, das questões, o objeto, o método e os limites do conhecimento das Ciências Sociais. Aplicada integralmente, a lição de Seignobos transportaria as Ciências Sociais do âmbito do positivismo/naturalismo ao mundo das representações subjetivas.

Vejamos, agora, um excerto que sintetiza sua Teoria, transcrito da sua obra mais conhecida, escrita em parceria com Charles-Victor Langlois: Introdução aos estudos históricos (1898).

“CAPÍTULO I

Condições Gerais do Conhecimento Histórico [p.65]

Já dissemos que a história é feita com documentos e que os documentos são traços de eventos passados. Este é o lugar para indicar as consequências de esta declaração e nesta definição.

Os fatos podem ser conhecidos empiricamente apenas de duas maneiras: diretamente, se forem observados enquanto estão acontecendo, ou indiretamente, estudando os traços que restam. Um evento como um terremoto, por exemplo: eu tenho consciência direta se eu testemunho o fenômeno. Por outro lado, tenho consciência indiretamente, se, sem experimentá-lo, vejo os efeitos materiais que ele deixou (rachaduras, paredes destruídas). Se esses efeitos forem apagados, leio a descrição escrita por alguém que viu o fenômeno ou experimentou os seus efeitos. Mas a característica dos “fatos históricos” deve ser conhecida apenas indiretamente, de acordo com traços. O conhecimento histórico é, em essência, conhecimento indireto. O método da ciência histórica deve, portanto, diferir radicalmente do das ciências diretas, isto é, de todas as outras ciências, exceto a Geologia, que se baseia na observação direta. A ciência histórica não é de todo, não importa o que se tenha dito, uma ciência da observação.

Os fatos passados ​​nos são conhecidos apenas pelos traços que foram preservados. Esses traços, chamados documentos, o historiador observa diretamente, é verdade. Porém, depois disso ele não tem mais nada a observar. Procede, então, pelo raciocínio, para tentar concluir, o mais corretamente possível, os traços dos fatos. O documento é o ponto de partida; o passado é o ponto de chegada. Entre esse ponto de partida e esse ponto de chegada, devemos cruzar uma série complexa de raciocínios, encadeados entre si, onde as chances de erro são inúmeras; o menor erro, cometido no início, pela manhã ou no final do trabalho, pode viciar todas as conclusões. O “método histórico”, ou indireto, é visivelmente inferior ao método de observação direta; mas os historiadores não têm escolha: é o único a alcançar fatos passados, e será visto mais tarde como ele pode, apesar dessas condições defeituosas, levar ao conhecimento científico.

A análise detalhada do raciocínio que leva do reconhecimento material dos documentos ao conhecimento dos fatos é uma das partes principais da Metodologia Histórica. Este é o domínio da crítica.

Os sete capítulos seguintes são dedicados a ele. Vamos tentar esboçar primeiro, muito brevemente, as linhas gerais e as grandes divisões.

  1. Dois tipos de documentos podem ser distinguidos. Às vezes, o fato passado deixou um rastro material (um monumento, um objeto fabricado). Às vezes, e na maioria dos casos, o traço do fato é psicológico: é uma descrição ou um relacionamento escrito. O primeiro caso é muito mais simples que o segundo. Existe, de fato, uma relação fixa entre certas impressões materiais e suas causas, e essa relação, determinada pelas leis da física, é bem conhecida. O traço psicológico, pelo contrário, é puramente simbólico: não existe. Não é o fato em si; não é nem a impressão imediata do fato na mente da testemunha; é apenas um sinal convencional da impressão produzida pelo fato na mente da testemunha. Documentos escritos, portanto, não têm valor por si mesmos, como documentos materiais; eles têm valor apenas como sinais de operações psicológicas, complicadas e difíceis de desvendar. A grande maioria dos documentos que fornecem ao historiador o ponto de partida de seu raciocínio são, em suma, apenas traços de operações psicológicas.

Dito isto, para concluir de um documento escrito o fato causal distante, ou seja, para conhecer a relação que vincula esse documento a esse fato, é necessário reconstruir toda a série de causas intermediárias que produz o documento. É necessário representar toda a cadeia de atos praticados pelo autor do documento, desde o fato observado por ele até o manuscrito (ou o impresso) que temos hoje sob os olhos. Essa cadeia é tomada na direção oposta, começando com a inspeção do manuscrito (ou impressão) para chegar ao fato antigo. Esses são o objetivo e o curso da análise crítica.

Primeiro, observamos o documento. É o que era quando foi produzido? Não foi danificado desde então? Estamos procurando como ele estava determinando a procedência. Esse primeiro grupo de pesquisas anteriores, que trata de redação, idioma, formas, fontes, etc., é o campo específico da CRÍTICA EXTERNA ou dos estudos críticos. Depois dessa operação, intervém a CRÍTICA INTERNA: funciona, por meio de raciocínios por analogia dos quais os principais são emprestados da psicologia geral, para representar os estados psicológicos vivenciados pelo autor do documento. Sabendo o que o autor do documento disse, alguém se pergunta: (1) O que ele quis dizer? (2) Ele acreditava no que disse? (3) Ele estava fundamentado para acreditar no que acreditava? Nesta última fase, o documento volta ao ponto semelhante a uma das operações científicas pelas quais toda a ciência objetiva está constituída: torna-se uma observação; resta apenas trabalhar de acordo com o método objetivo da ciência. Todo documento tem valor exatamente na medida em que, depois de ter sido estudado em sua gênese, é reduzido a uma observação bem feita.

  1. Duas conclusões emergem do exposto: a extrema complexidade e a necessidade absoluta de crítica histórica.

Comparado a outros estudiosos, o historiador se encontra em uma situação muito infeliz. Não só nunca é dado a ele, como ao químico, observar os fatos diretamente; mas é muito raro que os documentos que ele é obrigado a usar sejam observações precisas. Não possui esses relatórios de observações cientificamente estabelecidos que, nas ciências constituídas, podem substituir as observações diretas. Ele está na condição de um químico que conheceria uma série de experimentos apenas pelos relatórios de seu técnico de laboratório. Assim, o historiador é obrigado a tirar proveito de relatórios muito grosseiros, dos quais nenhum estudioso ficaria satisfeito.

Tanto mais necessárias são as precauções a serem tomadas ao usar esses documentos, que são os únicos materiais da ciência histórica: é obviamente importante eliminar aqueles que não têm valor e distinguir em outros o que é corretamente observado. Tanto mais necessárias são, ao mesmo tempo, as advertências sobre esse assunto, de que a inclinação natural da mente humana é não tomar precauções e prosseguir naqueles assuntos em que a precisão mais exata seria indispensável, confusa.”

Fonte: LANGLOIS, Charles-Victor; SEIGNOBOS, Charles. Introduction aux études historiques. Paris: sn., 1898.


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Teorias da História em Leopold von Ranke | Itamar Freitas

Textos de Ranke estão presentes em qualquer coletânea de Teoria da História que explore o século XIX, mas não somente porque os nossos teóricos do período 1870-1940, a exemplo de Karl Lamprecht e Ernst Bernheim, requisitaram-no, respectivamente, como concorrente e como autoridade fundadora de Teoria. Justificativas brasileiras recentes que elegeram, por exemplo, “O conceito de História universal” (1831) como peça representativa de Teoria da História enfatizam a sua notoriedade de “maior historiador do século XIX” (BENTIVOGLIO, 2010, p.137) ou consideram tal adjetivação como empecilho à compreensão do seu “legado e importância efetivos” (DA MATTA, 2010, p.189). O texto é escolhido também por comportar testemunhos sobre a “meta da história” e as “qualidades do historiador” (BENTIVOGLIO, 2010, p.139-140) ou sobre a transição do seu pensamento entre a indistinção história-processo / história-disciplina, típica da primeira metade do século XVIII, e a significação de história-disciplina, consolidada no termo Geschichte, no século XIX. “O conceito de história universal”, por fim, é traduzido e comentado para negar a adjetivação de “historiador positivista” (BENTIVOGLIO, 2010, p.137) ou a consideração do trabalho de Ranke como “arquétipo” a “perpetuar ou a questionar” (DA MATTA, 2010, p.189).

Nas coletâneas dedicadas especificamente ao trabalho de Ranke, as justificativas são repetidas em maior detalhe. Seus editores oferecem uma visão de conjunto do trabalho do historiador, enfatizando as “concepções”, os seus “princípios” e “métodos de trabalho” (RANKE, 1979, p.7). Outros comentadores se esmeram na correção da “imagem de Ranke” como um historiador “hostil à teoria”, explorando o seu papel de “adaptador do método crítico aos estudos históricos” e a prevalência da sua concepção de Estado na historiografia alemã da primeira metade do século XX (IGGERS, 2011, posição [540]).

Nas duas situações acima descritas (exposição de texto isolado ou conjunto de textos autorais), os comentadores esboçam sínteses que são contraditadas pelos documentos que eles mesmos transcrevem, demonstrando que as tentativas de didatização ou o esforço taxonômico dos editores e críticos de Ranke, em geral, obscurece a diversidade de concepções de História em sua condição de processo e também de ciência. É o que podemos perceber quando comparamos algumas descrições de concepção de História nos textos de Ranke e as concepções apresentadas por seus comentadores no que diz respeito, por exemplo, às ideias de método e de objeto (quadro 1).

E isso acontece porque as demandas diferenciadas, durante longeva carreira, originaram diferentes modos de teorizar e, consequentemente, diferentes resultados em termos de proposição, sobretudo de “método”, elemento acerca do qual é bastante lembrado como contribuidor destacado. Entre 1824, marco do conhecido prefácio à História dos povos latinos e germânicos, e 1880, ano da última versão em vida de sua História Universal, Ranke consumiu grande parte da sua vida acadêmica na definição de coisas designadas como “História da Humanidade” e “História universal”. Mesmo quando escrevia (sobre) e definia “povos latinos”, “povos germânicos”, “grandes potências”, “Europa”, “épocas”, “os grandes acontecimentos” que marcaram as relações exteriores de diferentes Estados, “Inglaterra” e “França”, exemplos destacados de extrapolação da experiência de Estado e povo para além das particularidades nacionais, era a coisa História Universal que Ranke estava a inventar.

Ocorre que tais iniciativas de teorização – a apresentação de um conjunto de proposições relativas aos fins da “ciência da História Universal” ou simplesmente da “ciência Histórica”, a definição da coisa “História Universal” e o estabelecimento de methodus para a descoberta dos secretos caminhos para a sua realização – nem sempre foram condicionadas pelos mesmos atos, materiais ou situações. Seguindo a ordem cronológica dos seus escritos mais traduzidos, percebemos que os antagonismos expressos nas sentenças definidoras de História revelam diferentes personagens e motivações. Em 1824, vamos encontrá-lo fazendo oposição à história Magistra Vitae e às ideias “cristandade geral”, “unidade da Europa” e “cristandade latina” (p.38). Este antagonismo é o gerador da famosa assertiva do prólogo à História dos povos latinos e germânicos: “apenas contar o que efetivamente aconteceu”. Em 1831, a oposição se dá em relação à Filosofia especulativa de Hegel e à compreensão unilateral da Ciência da História como Arte (p.203), disposta na Ideia de História Universal. No ano 1833, a queixa se dirige aos Iluministas (p.69) que caracterizaram a época moderna como como o tempo da desintegração das instituições medievais e da instauração das instituições democráticas e das liberdades (p.95-96). Esse esforço politicamente conservador e revisionista da historiografia do seu tempo está exposto em um artigo: “As grandes potências”. Em 1836, como anuncia o título da conferência – “Sobre as relações e distinções entre História e Política” –, a oposição de Ranke se dirige aos que confundem a natureza da [Ciência Política] e a natureza da Ciência Histórica. Mas em 1852, os reparos apresentados em prefácio são endereçados aos escritores contemporâneos que narram o período XVI/XVII da França (Guerras civis e monarquia na França no século XVI e XVII: Uma história da França, sobretudo durante esse período), focando partes da História nacional ou a vida de personagens privados.

 

Quadro 1 – Fins e métodos na teorização de Leopold von Ranke sobre História

Ano / Proposições de fins Proposições de methodus
1824 / Demonstrar que as nações latinas e germânicas formam uma unidade (37) Caminhos” – empregar memórias, diários…, memoriais de embaixadores e relatos diretos de testemunhos presenciais e indicar literatura secundária em rodapé; “Método” – criticar narrativas; “Forma”/ “Leis” – expor rigorosamente os fatos, a unidade e da trajetória dos acontecimentos [e em] “ideais”, centrando-se “nos fatos, em sua compreensibilidade, unidade e plenitude” (38-39)
1831 / “Promover a síntese das forças espirituais atuantes na poesia e na Filosofia. Ater-se à realidade, ao passado, ao finito e ao particular (que incorpora Deus) (205-206) Princípio” – dedicar-se ao estudo do concreto (além do abstrato nele contido); “Exigências para a pesquisa histórica” – manifestar amor à verdade, investigar a partir de documentos, interessar-se pelo universal (ciência, política, arte etc.), fundamentar-se [idealmente] no nexo causal, ser apartidário e compreender a totalidade (208-213)
1833 / “Repassar” os resultados” de um período de 150 anos e orientar a ação em termos de Ciência Histórica [e da Ciência Política] no século XIX (69) [Tarefa do historiador] – Demonstrar que a HU é guiada por “energias morais” (religião e o direito); escrever a história da própria nacionalidade, frente à ameaça de imposição de outra nacionalidade (promover a “harmonia” universal mediante a “independência” nacional) (97)
1836 / Estabelecer os limites entre as ciências da Política e da História, convergências, divergências e diferenças entre as mesmas.

 

Objetivo/Tarefa” – reunir fatos, organizá-los, compreendê-los criticamente; observar causas, premissas, resultados e efeitos dos eventos, distinguindo intensões e erros; esboçar uma imagem da natureza (investigando as “metas” e “leis eternas”), apresentar sucessão nítida e precisa dos eventos (em sua cor e forma); “Tarefa” – extrair dos eventos a natureza do Estado e dar a compreendê-los; “Objetivo” da HU – fornecer compreensão dos séculos e monarquias
1852 / Narrar a História da França, considerando-a por sua importância para a História nacional e a História Universal (relativas ao Estado e a Igreja). [Tarefa] – examinar a “verdade dos fatos” mediante documentação original (correspondência, atos e legislação) que determinam a “convicção histórica” do pesquisador; apresentar uma “visão da natureza objetiva dos grandes fatos, baseando-se em relatos originais”, em oposição aos antigos e modernos mestres da narrativa.
1854 / Demarcar ponto de partida e conceitos fundamentais (progresso e ideias diretoras) da História Universal e caracterizar a ideia de “época” [Procedimentos] do historiador – “fixar-se no modo de viver e de pensar dos homens de um determinado período”; observar “a diferença entre as distintas épocas para compreender a necessidade interior de sua conexão e sucessão” (59); “Missão do historiador” – desvendar as grandes tendências dos séculos e desenvolver a grande História da humanidade” (60)
1859 / Narrar a história da Inglaterra nos séculos XVI e XVII, considerando sua “influência no desenvolvimento da humanidade” [Trabalho] – investigar fontes originais, compreender evento como um todo político e religioso, visualizar esse todo na História Universal; empregar fontes originais, comparar fontes e representações independentes com as fontes nativas; Dever – comunicar “nova visão do conhecido ou informações adicionais aos fatos”.
1860s / Caracterizar as investigações do universal (humanidade) e do particular (local, país, pessoa, evento, instituição ou época). [Dever do historiador] – investigar as “forças efetivas que estão por trás dos acontecimentos e perceber a sua conexão geral”;

Requisitos da pesquisa” – criticar fontes, conceber objetivamente, elaborar ampla síntese; relacionar visões geral e particular

1880 / Definir “História Universal” e tornar científico o tratamento dos eventos da História Universal Tarefa – “reconhecer a conexão entre as coisas, traçar a sequência dos grandes eventos que ligam todas as nações e controlam seus destinos”; “investigar e compreender” a vida da humanidade e as “peculiaridades das mais proeminentes nações”; Princípios – “investigação crítica” e “síntese inteligente”.

Fonte: Produzido pelo autor, a partir de Ranke, 1979, 2010, 2011.

Em 1854, na conferência “As épocas na história”, Hegel e (agora) os hegelianos são os personagens criticados (p.57). Ranke deixa nítida a sua oposição ao desenvolvimento lógico-dialético da ideia, configurado em progresso que, para ele, era somente aplicável ao mundo natural/material (p.61-62). Em 1859, Ranke volta a escrever história nacional. Desta vez, sobre a Inglaterra. A oposição, contudo, diferentemente daquela anunciada em relação aos [historiadores franceses], se dirige aos ingleses que privilegiam o estilo (harmonia e simpatia) em detrimento do emprego de fontes originais ou que escrevem “por ódio ou amizade”, para a “defesa ou o ataque” (História da Inglaterra, sobretudo do século XVII). Na década de 1860, em manuscrito, Ranke novamente volta à carga contra Hegel, criticando a ideia de unidade (necessária) preconizada por um “sistema filosófico” como fundamento para a unidade da história (processo). História é simultaneamente liberdade (humana) e necessidade (força [direito e religião ou Estados e reinos?]). E em 1880, por fim, no prefácio da História Universal, Ranke se opõe aos que limitam a ideia de História Universal à experiência dos “quatro grandes impérios do mundo” ou de uma simples coleção de histórias nacionais.

Em virtude das coisas às quais se empenha em inventar, como também das demandas de ocasião e dos constrangimentos materiais aos quais seus textos são submetidos, Ranke apresenta diferentes proposições que são transcritas nas coletâneas de Teoria como exemplares das suas concepções de História e, sobretudo, de uma suposta ideia de método, decisiva para o caráter científico da matéria. Assim, quando o seu discurso visa (em oposição a Hegel) demarcar o objeto e os conceitos fundamentais da escrita para a História Universal, o caminho prescrito é traduzido como “missão do historiador” e consiste em observar e distinguir épocas. Quando visa distinguir Ciência Histórica de Ciência Política, a “tarefa” da História “segue o exemplo das ciências naturais”: esboçar uma imagem da natureza, estruturada em “metas” e “leis” que governariam o mundo. Quando visa designar uma escrita da história inglesa ao modo científico (em oposição às unilaterais história-Arte e história político-partidária) as proposições significadoras da palavra “história” reúnem deveres apontados por ocasião da oposição a Hegel e à escrita politicamente engajada. Nesse caso, os requisitos da “pesquisa” seriam a “crítica” e a “síntese” e/ou a “exatidão na pesquisa” e a universalidade da “visão”. Quando visa, por fim, designar “História Universal (em oposição à unilateral história-Arte e à história especulativa de Hegel), as proposições que justificam/realizam a Ciência Histórica ganham a forma de “princípio” (o concreto, além do abstrato), desdobrados em “exigências para a pesquisa histórica”: os já citados “investigação documental” e “interesse universal”, acrescidos do “amor à verdade”. 


Conclusões

Lembrando os argumentos apresentados até aqui, reafirmamos uma outra possibilidade formular introduções à Teoria da História, ampliando ao máximo a definição dessa expressão, focada em termos ideais típicos de objeto e método ou propósitos e caminhos. Com ela, podemos asseverar que os autores não escreveram Teorias exclusivamente para especular sobre o curso e o fim da humanidade ou, ainda, transformar, defender ou legitimar finalidades, objetos, questões e métodos de investigação e de escrita da História como ciência. Ao menos no período comentado por Megil, historiadores se engajaram na representação de processos em níveis local, nacional e mundial na representação de trajetórias de vidas e na descrição e caracterização de épocas, artefatos e níveis de experiência humana e acontecimentos, a exemplo da Revolução Francesa, das lutas por independência nacional e do movimento transnacional provocado pelas Revoluções de 1848. Essas diferentes situações comunicativas resultam no emprego de diferentes elementos de teoria e, ainda, de distintos significados empregados para esses elementos.

Com as referências aos textos de Ranke, por fim, quisemos demonstrar essas variações, determinadas por particulares situações comunicativas e injunções materiais que envolveram a produção e a publicação dos seus textos. Nada impede, contudo que coletemos e façamos sínteses de proposições extraídas de diferentes situações. Nesse caso, o que se impõe para nós é o dever de indicá-las, situando-as na obra de Ranke. Esse procedimento pode evitar que apontemos indevidas contradições ou incompletudes nas formulações teóricas de Ranke e, o que é mais grave: que infiramos (em comparações e classificações) a partir de apenas um desses textos que Ranke, por exemplo, teria continuado a Teoria da História Iluminista, teria originado a Teoria da História Historicista, a Teoria Positivista da História ou, ainda, que determinado teórico deva ser classificado como tal pelo fato de fundamentar sua teoria em determinada passagem de um desses textos de Ranke, sem que tenhamos definido a priori os significados das nossas ideias de iluminismo, historicismo e de positivismo. 


Referências

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STUHR, Peter Feddersen. Der Untergang der Naturstaaten: Dargestellt in Briefen über Niebuhr’s Römische Geschichte. Berlin: Salfeld, 1812.

WEBER, Max. The Methodology of the Social Sciences. Illinois: The Free Press of Glencoe, 1949.


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O conteúdo substantivo e dialética na História Universal de Hegel | Itamar Freitas

Se a Ideia de História de um ponto de vista Cosmopolita, de Kant, incorporava elementos da Crítica da razão pura e as Lições de História Universal, de Hegel estavam apoiadas em princípios da sua Lógica e na sua Fenomenologia do espírito, é também importante registrar que não há consenso entre os especialistas de que a narrativa da História Universal hegeliana espelhasse a ideia de conhecer dialético (a história da consciência pensando a si e por si mesma), ou seja, que a escrita da História Universal (dos chineses aos germânicos) fosse a reprodução da auto-constituição do conceito, ou seja, da trajetória do saber-certeza ao saber absoluto.[1] Teshale Tibebu, contudo, afirma que o estabelecimento e a hieraquização entre as faculdades do conhecer (sensação, compreensão e razão), princípio básico da Fenomenologia, estaria diretamente relacionada à hieraquização das raças e à consequente criação do eurocentrismo. Ao compreender a representação do mundo concreto hegeliano (sociedade e natureza) como a expressão do movimento da consciência, o historiador etíope, radicado nos EUA, denuncia o eurocentrismo desse sistema mundo, demonstrando que o filósofo classificou os africanos, asiáticos e os europeus, respectiva e progressivamente, como povos das sensibilidades, povos da compreensão e povos da razão.[2]

E não parou por aí. O esquematismo lógico de Hegel, segundo Tibebu, fundamentou a classificação dos continentes africano e asiático como exemplos desviantes (contrários) de relevo: homogêneo o primeiro e heterogêneo e sem mediação, o segundo. O continente europeu, ao contrário, era a correção e a harmonia (síntese): possuía terras altas e terras baixas equilibradas por mediações [passagens, rios etc.]. [3] Embora denote ambiguidade (o físico determinando o espiritual ou o espiritual determinando o físico?), Hegel afirma que as marcas do terreno foram transferidas para as formas de organização política (o despotismo entre os africanos e a liberdade para todos, garantida por leis, entre os europeus), mediante as etapas de realização (dialética) da consciência: universalização, particularização e singularização. Assim, seguindo esse processo dialético de constituição do objeto Mundo, Hegel sentencia que os africanos não teriam avançado além da universalização (identidade de raça africana) devido à uniformidade do terreno em que habitavam. Os mongóis (asiáticos), sob fortes contrastes de relevo, teriam constituído apenas algumas nações. Quanto aos caucasianos (europeus), com seu terreno variado e equilibrado, seriam os únicos a migrar da universalização (identidade de raça) à particularização (diferenciação entre nações) e desta à singularização (o gozo da liberdade individual sob a organização de um Estado moderno).[4] O esquematismo também se dava em termos estéticos. Adotando modelos grego de beleza, Hegel interpretava o nariz afilado do caucasiano como indicador de “intelecto perspicaz” e o nariz largo do africano como indicador de “estupidêz”.[5]

A hierarquização hegeliana das raças, povos e continentes também valia para o interior da Europa, onde os Eslavos eram considerados povos inferiores aos germânicos e mais aparentados com os asiáticos.[6] A hierarquização valia, ainda, para os povos do mundo recém descoberto. A América do Norte era próspera, em relação à América do Sul (incluindo o México). A religião protestante, a ocupação por colonização e a liberdade civil, segundo Hegel, explicavam a [riqueza] do Norte, enquanto a religião católica, a ocupação por conquista e saque e a dominação militar (com revoltas constantes) caracterizavam e explicavam a inferioridade das repúblicas sul-americanas.[7]

Nas Lições de História Universal, em síntese, Hegel reforçou a supremacia europeia quando distribuiu historicidade aos povos segundo as determinações mesológicas e jurídicas anunciadas acima. Na figura 1, podemos acompanhar a representação desse atributo, onde o espaço entre as linhas paralelas horizontais corresponde à região propícia à experiência da liberdade e os espaços entre as paralelas verticais, lidos da esquerda para a direita, correspondem, respectivamente, ao futuro, presente, passado e à situação atemporal. Segundo tal distribuição, o “Velho mundo” mediterrâneo/greco-romano fôra “palco da História”, o “Velho Mundo” germânico era “palco da História”, a “América” [EUA] seria esse mesmo palco e o [Novo Mundo], constituído pela África, [Ásia] e América do Sul, estariam desprovidos de historicidade.

Historia Universal Hegel A Ditadura na Tela: O Cinema Documentário e as Memórias do Regime Militar Brasileiro

Figura 1. Historicidade e territorialidade na História Universal de J. F. W. Hegel (1820-1830).

Fonte: Produzido pelo autor a partir de Hegel (2005).

Até aqui, oferecemos uma síntese do conteúdo substantivo, [8] ou seja, do objeto pensado como realidade, quando submetido prioritariamente aos princípios lógicos de representação do passado. Agora, é tempo de destacar a originalidade de Hegel em relação à Ideia de Kant, explorando as proposições de fins e as proposições de método para a escrita da História. […] 


Métodos e dialéticas

Conhecemos em largos traços a “divisão” (periodização) [9] e o “fundamento” geográfico da História Universal. Mas deixamos para o final a demonstração dos vários usos da dialética na construção daquele texto. Vamos explorar essa resposta, sob o ponto de vista dos conteúdos substantivos porque ela nos ajuda a entender as variações de objeto e propósito dos escritores quando anunciam Teorias da História e fornecem uma base para a comparação dos próximos teóricos explorados adiantee, como K. Marx, João Ribeiro e Karl Lamprecht.

O termo “dialética” (derivado de diálogo) é empregado em diferentes situações, gerando significações distintas na obra de Hegel.[10] Para o que nos interessa neste livro (e como sugere Nicola Abbagnano), é bastante retermos, em primeiro lugar, uma definição ideal-típica para o termo: “processo resultante do conflito ou da oposição entre dois princípios, dois momentos ou duas atividades quaisquer”. Em seguida, devemos buscar os significados e as relações estabelecidas entre esses “princípios”, “momentos” ou “atividades”[11] nos próprios textos de Hegel.

Nos textos que examinamos até aqui, as proposições de methodus variam em designação e definição, entre outras razões, por causa dos propósitos de cada escrito. Na Fenomenologia do Espírito (1812-1816), onde o propósito é captar os fins e os meios do desenvolvimento da consciência (p.11, 69), o methodus é compreender a experiência da consciência como um “movimento dialético” (71), explorando as sucessivas oposições: certeza sensível, percepção e entendimento (na primeira parte) e etnicidade, cultural e moralidade (na segunda parte) ou no interior de cada uma dessas partes, como ocorre na descrição da “liberdade da consciência de si” (Estoicismo, Ceticismo e Consciência infeliz). Nos Princípios da Filosofia do Direito, cujo propósito, já vimos, é definir o objeto desta ciência, o methodus empregado é abordar o conceito como desenvolvimento a partir de si mesmo. Essa orientação deve ser seguida para a abordagem da “vontade livre” (personalidade, moralidade subjetiva, moralidade objetiva) (35) e para o “Espírito Universal” (personalidade, moralidade subjetiva, moralidade objetiva e conciliação moralidade subjetiva/moralidade objetiva) (312).

São essas mesmas fases (ou princípios) que Hegel emprega na construção de sua História Universal. Cada povo histórico é portador de um desses princípios ou fases de desenvolvimento dialético (310). Contudo, os usos da palavra são raros.

As referências diretas – traduzidas por estágios, gradações, seriações e transformações – não encerram os empregos da dialética. A demonstração dos usos desse modo de conhecer, isto é, da mobilização de coisas que apresentam a dinâmica dialética ou o resultado dialético estão dispersos em quase todos os capítulos de modo tópico, em forma de elementos antagônicos dispostos em díades ou tríades, sendo estas também integráveis em sequências cronológicas. Um exemplo dos conflitos geofísicos, morais e étnicos, apresentados em díades, está na descrição do “espírito” grego, comparável, segundo Hegel, ao desenvolvimento dos vegetais: nada de calma e homogeneidade. A planta “só vive por meio da atividade antitética da luz, do ar e da água.” (p.192).

Quadro 1 – Demonstrações da Dialética na Filosofia da História de Wilhelm G. F. Hegel (I) 


Categorias Textos Dialética
Natureza

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Moralidade objetiva

 

 

Conflito

 

 

 

Os elementos do espírito grego

[…] O país em questão é uma terra que se espalha pelo mar de diversas maneiras; em uma série de ilhas e em uma terra firme que por si já apresenta semelhanças com uma ilha. Só por meio de uma estreita faixa de terra é que o Peloponeso se liga à terra; toda a Grécia é recortada várias vezes por baías. Tudo está retalhado em pequenas partes e ao mesmo tempo interligado pelo mar. Encontramos nesse país montanhas, pequenas planícies, vales e rios. Lá não existe nenhum grande rio, e nenhuma planície simples; o solo é diversificadamente constituído por montanhas e rios, de tal forma que nenhuma massa grandiosa aparece. Não encontramos aqui a exibição de grandiosidade física oriental; nenhum rio como o Ganges ou o Indo – em cujas planícies um povo entregue à monotonia não é estimulado a nenhuma mudança, porque seu horizonte sempre mostra a mesma forma –, mas sim aquela dispersão e diversidade que correspondem totalmente à diversidade dos povos gregos e à agilidade do seu espírito.

Este é o caráter elementar do espírito dos gregos que dá a entender a origem da cultura deles a partir de individualidades independentes; uma situação na qual cada um se mantém por conta própria, não estando unido desde o início por laços naturais, patriarcais; uma condição segundo a qual eles se associam por outro meio – pela lei e pelo costume, com a sanção do espírito, pois a nação grega é o resultado de um processo de crescimento. Na origem de sua unidade nacional está a própria divisão, o estranhamento interno, o elemento principal que deve ser considerado. A primeira fase da superação disso determina o primeiro período da cultura grega, e só por meio de tal estranhamento e de tal superação é que surgiu o belo e livre espírito grego. (Hegel, 1992, p.191-192).

 

 

 

 

 

Oposição de características geofísicas

 

 

 

 

 

 

 

Oposição de características morais

 

Oposição de características étnicas

 

 

 

Bom exemplo de conflito disposto em tríade (figura 2) está também no interior de um acontecimento, como a Guerra do Peloponeso, e na participação de um personagem, o filósofo Sócrates e na importância da Filosofia.

Por fim (figura 3), a dinâmica e o resultado dialéticos são apresentados em tríades progressivas, onde Hegel faz uso dos mesmos personagens, explorando diferentes acontecimentos na experiência de cada um. Os primeiros povos históricos, já vimos, são os Persas, os Gregos e os Romanos. Eles formam uma sequência (uma tríade) progressiva no que diz respeito à realização da liberdade. Em um momento da narrativa, Hegel aplica o mesmo modelo de desenvolvimento para cada um deles, sobretudo os gregos e os romanos. Assim, cada um deles teria passado pelos estágios da formação (unificação de povos), da autonomia política (expansão) e da decadência (desorganização interna). (p.189-190).

Em outra passagem, os mesmos povos são encaixados em outro modelo, onde cada um deles representa um princípio (estágio): o império persa e a sua unidade religiosa corresponde ao “Reino do Pai”, o mundo grego e a sua unidade jurídica corresponde ao “Reino do Filho” e o mundo romano, mediante a unidade universal entre Estado e religião (sustentados em conceitos) correspondem ao “Reindo do Espírito”.

Quadro 1 – Demonstrações da Dialética na Filosofia da História de Wilhelm G. F. Hegel (III) 


Categorias Textos Dialética
 

 

Pensamento-

realidade

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Pensamento/

realidade

 

 

A Guerra do Peloponeso

Na beleza, como princípio dos gregos, a unidade concreta do espírito estava ligada à realidade, à pátria, à família, etc. Nessa unidade, ainda não estava compreendida nenhuma posição definida no âmbito do espírito, e o pensamento que surgiu acima dessa unidade ainda tinha o arbitrário como traço determinante. […]

Foi em Sócrates que, no início da Guerra do Peloponeso, o princípio da interioridade, da independência absoluta do pensamento em si, obteve uma livre manifestação. Ele ensinou que o homem deve se descobrir e reconhecer em si mesmo o que é justo e bom, e que e isso, segundo a natureza do justo e do bom, seria universal. Sócrates ficou célebre com o mestre da moralidade; antes de mais nada, ele é o inventor da moral. Os gregos possuíram a moralidade objetiva; mas do que virtudes morais, deveres, etc., era isso que Sócrates queria ensinar. O homem moral não é aquele que apenas almeja e faz o que é justo, não é o homem inocente, mas sim aquele que tem consciência dos seus atos.

Sócrates colocou o sujeito como algo decisivo em oposição à pátria e aos costumes, pelo fato de que ele deixou ao juízo e à convicção a determinação da ação humana, tornando-se o oráculo no sentido grego. Dizia ele que teria dentro de si um [xxx] que o aconselhava sobre o que deveria fazer e lhe revelava o que era útil para os seus amigos. Com o nascimento do mundo interior da subjetividade, surgiu o rompimento com a realidade. Mesmo que o próprio Sócrates tenha cumprido seus deveres como cidadão, para ele não era esse Estado e sua religião, mas o mundo do pensamento, a verdadeira pátria. Questiona-se agora se existem deuses e o que eles são. Platão, discípulo de Sócrates, expulsou de seu Estado Homero e Hesíodo, os autores da representação religiosa dos gregos, pois ele exigia uma representação mais sublime, que admitisse o pensamento daquilo que deve ser venerado como Deus. Muitos cidadãos retiraram-se da vida prática e dos negócios públicos para viver o mundo ideal. O princípio de Sócrates comprovou-se revolucionário perante o Estado de Atenas, pois a característica desse Estado é que o costume constitui a sua forma, ou seja, a inseparabilidade do pensamento da vida real. Se Sócrates instiga seus amigos para a meditação, o diálogo é sempre negativo, isto é, ele os conscientiza de que eles não sabem o que é justo. Se agora ele é condenado à morte, porque enuncia o princípio do qual tem que se aproximar, encontram-se aí, ao mesmo tempo, uma justiça sublime – o povo ateniense condenou o seu inimigo absoluto – como também o fato mais trágico que os atenienses vivenciaram: o que eles condenaram em Sócrates já estava bastante enraizado neles, devendo eles, assim, ser igualmente julgados culpados ou inocentes. Foi com esse sentimento que consideraram os acusadores de Sócrates, declarando-o inocente. Em Atenas, desenvolveu-se cada vez mais esse sublime princípio, que era o próprio declínio da existência e da substância do Estado ateniense:  o espírito tinha tendência a se auto-satisfazer, a refletir.  (Hegel, 1999, p.228-229).

 

 

 

Antes de Sócrates e da Guerra do Peloponeso, a realidade constitui o pensamento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Com Sócrates, o pensamento ganha autonomia em relação à realidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Depois de Sócrates, o pensamento autônomo [provoca a decadência da realidade [Estado] ateniense.

Periodização da História dos Povos Germânicos segundo Wilhelm G. F. Hegel


1º Período 2º Período 3º Período
Surgimento das nações germânicas no império romano (até Carlos Magno) Autonomia da Igreja para si como teocracia e autonomia do Estado para si como monarquia feudal (governo de Carlos Magno) Surgimento da consciência do direito de si mesmo pelo restabelecimento da liberdade cristã (governo de Carlos V)

 

3.1 A eclosão da Reforma (que surge da decadência da Igreja e prega que o homem está determinado por si mesmo a ser livre)

3.2 A instituição do Estado moderno (a transformação dos direitos das dinastias em funções estatais

3.3. Vitória das leis da natureza contra as superstições e da ideia de que o direito e a moralidade são fundamentados na vontade humana (interna) e não apenas no mandamento de Deus (imposição externa)

Fonte: Hegel (1999, p.292-294, p.343, p.361-362)

Uma outra possibilidade de uso da dialética está demonstrada na periodização de um indivíduo histórico – os Povos Germânicos. Observem que Hegel apresenta os conflitos em tríades, nos modos horizontal (em duração secular) e horizontal (em duração conjuntural). No modo horizontal, os estágios correspondem ao surgimento, autonomia da Igreja e a autonomia do Direito. De modo vertical, ele estabelece os estagios pelos quais os germânicos chegaram ao que são no tempo em que escreve a História Universal, o que vem a ser a síntese de todo o processo de realização da liberdade. Aqui podemos perceber os empregos anteriores em um único cenário: unificação e autonomia (com excessão da decadência) e tese, antítese e síntese (ou a realização do espírito de liberdade). […] 


Fontes

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HEGEL, Georg Wlhelm Friedrich. Discurso del 29 de septiembre de 1809. In: Escritos pedagógicos. Tradução e introdução de Arsenio Ginzo. México: Fondo de Cultura Económica, 1991. p.73-85.


Notas

[1] Por um lado, o espírito teria passado, presente e futuro no seu processo de autodesenvolvimento, constituindo, portanto, uma temporalidade. Por outro, a fenomenologia (um saber sobre o saber da consciência ou a história do desenvolvimento da consciência, desde o tempo das cavernas ao tempo da ciência), não coincidiria com a História do Mundo. Para Jean Hypollitte, na primeira parte da Fenomenologia do Espírito (que trata da consciência, autocosciência e razão), os fatos e períodos históricos são usados como ilustração e exemplos. Na parte posterior (que trata do Espírito, Religião e Saber absoluto), há coincidências (cidade antiga, Revolução Francesa), mas há muitas lacunas (como o Renascimento) e afirmações discutíveis sobre Reforma e Revolução Francesa. Hyppolitte (1974, p.35-37). José Carlos Reis reconhece a divergência sobre a relação entre dialética e História do mundo no conjunto da obra de Hegel: elas seriam independentes (dialética como método de conhecimento da verdade e História como vir a ser da experiência alemã e europeia na Idade Moderna) ou seriam elementos intercomplementares (a dialética como o método para compreensão da realidade presente alemã)? Reis (2011, p.59, p.64-65).

[2] Tibebu (2011, posição 40-45).

[3] Tibebu (2011, posição 1247).

[4] Tibebu (2011, posição 1282, 1409, 1447).

[5] Tibebu (2011, posição 1524).

[6] “Hegel articula a supremacia branca em tres níveis: Caucasianos são superiores aos aos não caucasianos; caucasianos europeus são superiores a caucasianos não europeus; e caucasianos europeus germânicos são superiores a caucasianos europeus não germânicos.” Tibebu (2011, posição 1468).

[7] Hegel (1971, p.107-108).

[8] Não encontramos comentários sobre suas posições acerca do ensino de História que indicassem se o seu pensamento sobre o componente curricular seguiria ao pé da letra o seu pensamento como filósofo especulativo, ao ponto de orientar o currículo do ensino secundário com suas ideias sobre o processo histórico. Nos escritos pedagógicos, série de discursos, cartas e relatórios que produziu como Reitor do Ginásio de Nuremberg e nos relatórios sobre ensino, remetidos ao Ministério do Culto, Ensino e Saúde da Prússia, ele concorda com o caráter secundário da História (e da Álgebra, Geometria, Geografia, Fisiografia e as Ciências Filosóficas) diante do aprendizado das línguas, literaturas e gramáticas do [grego] e do latim. (Hegel, [1809] 1991, p.84). Registra a doação de uma coleção de moedas, segundo ele, de utilidade ao ensino de História (Hegel, [1810] 1991, p.91) e informa a insuficiência dos candidatos, em História, que desejam frequentar a Universidade (Hegel, [1822] 1991, p.147), e denota ser o conteúdo básico do secundário que dirigia “a leitura dos antigos historiadores” (Hegel, [1810] 1991, p.172).

[9] Hegel sugere divisões em várias etapas: três, quatro ou mais períodos. Aqui, optamos pela indicação do percurso da liberdade. Hegel, 1999, p.93.

[10] “É muito importante o papel desempenhado pela dialéctica no sistema de Hegel. Contudo, são consideráveis as dificuldades para compreender o significado preciso da dialéctica neste filósofo. Com efeito, dialéctica significa, em Hegel, para já, um momento negativo de qualquer realidade. Dir-se-á que, por ser realidade total de carácter dialéctico—em virtude da prévia identidade entre a realidade e a razão, identidade que faz do método dialéctico a própria forma em que a realidade se desenvolve –, esse carácter afecta o mais positivo dela. [A dialéctica não é] a forma de toda a realidade, mas aquilo que lhe permite alcançar o carácter verdadeiramente positivo.” Mora (1978, p.72). Grifos nossos.

[11] Abbagnano (2014, p.315).


Referências

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2014.

BEISER, Frederick C. Hegel’s historicism. In: BEISER, Frederick C. (ed.). The Cambridge Companion to Hegel. Cambridge: Cambridge University, 1999. p.270-300.

BEISER, Frederick C. Trials and tribations of Clio. In: After Hegel – German philosophy 1840-1900. Princeton: Princeton University, 2014.p.133-157.

MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Lisboa: Dom Quixote, 1978.

PINKARD, Terry. Does History make sense? Hegel on the historical schapes of justice. Cambridge: Harvard University, 2017.

PINKARD, Terry. Hegel – A biography. Cambridge: Cambridge University, 2000.

TIBEBU, Teshale. Hegel and the third World: The making of eurocentism in Word History. Syracuse: Syracuse University Press, 2011.

TOEWS, John Edward. Hegelianism – The path toward dialectical humanism, 1805-1841. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.

STERN, Robert. Hegel contra Kant. In: Hegel, Kant and the structure of the object. London: Routledge, 1990. p.31-41.

 


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O que é Teoria da História? | Itamar Freitas

Ministrando cursos de pós-graduação, sou frequentemente questionado sobre títulos que eu indicaria para a leitura, em situações de formação continuada, acerca de Teoria e Método da História. Veiculados em livros e escritos ou organizados por autores brasileiros, os títulos desse tipo não chegariam a duas dezenas. No ano passado, reuni metade representativa desse conjunto e encarei a tarefa de resenhá-los como indicação de leitura de formação básica.

Não alimento a esperança de que os alunos adotem de imediato a compreensão historicista como estratégia de conhecimento da matéria, ou seja, que ao invés de questionar “o que é Teoria da História” (como ironicamente intitulei essa seção) interroguem sobre “o que vem sendo ou o que as pessoas tem dito, ao longo do tempo, sobre o que deveria ser Teoria da História”. Mas, continuo insistindo na estratégia que pode ser bem-sucedida a longo prazo, na carreira de cada profissional.

Nos dois textos que se seguem demonstro essa minha intenção. No primeiro, produzido em maio de 208, exploro diacronicamente algumas relações entre Teoria da História e Método Histórico, tal como são apresentadas em manuais brasileiros de formação de historiadores. No segundo, produzido em novembro de 2018, acrescento algumas referências de historiadores estrangeiros (abonados no Brasil) sobre a mesma matéria de modo comparado e apresento a urgência de abordamos uma definição operatória de Teoria da História. Uma definição operatória não prescreve o “ser” da Teoria da História”. Ela apenas oferece uma definição, limitando tal significação à determinada situação, auxiliando qualquer interessado na efetivação da sua respectiva pesquisa.

Darei por cumprida a empreitada dessa escrita se vocês se sentirem estimulados a refletir sobre as questões anunciadas ao final de cada texto.

Boa leitura!


Teoria da História e Método Histórico em manuais brasileiros

Neste texto, exploramos os significados Teoria da História e de Método Histórico quando postos em relação as duas conhecidas locuções em manuais produzidos com este fim. Como se trata de indicação de litura básica, evitamos a (fundamental) crítica ideológica sobre os impressos e o inventário de limitações ou contradições dos textos que seguem expostos em ordem cronológica de publicação.

Tomemos por suposto que a cientificidade da história deva ser justificada pela emergência do “método histórico”, presente em, praticamente, todos os livros didáticos de História para a escolarização básica em circulação na última década e positivado ou parcialmente negado nos manuais de Teoria da História destinados aos jovens universitários, publicados nos últimos 50 anos: que relações podemos capturar entre essas duas expressões? Qual o lugar “do Método Histórico” na “Teoria da História”? O que os autores querem significar ao escreverem “Teoria da História” e “Método Histórico” em seus manuais propedêuticos? Qual a contribuição dessas possíveis respostas para a formação continuada do professor de História? Tentemos recolher indícios para as respostas diacronicamente e a partir de títulos da literatura nacional especializada, publicada em livro.

Na década de 60 do século XX, dois manuais de Teoria da História disputavam espaço entre os poucos universitários de História, futuros, advogados, professores secundários de História, jornalistas e diplomatas que passavam por faculdades de Filosofia, Ciências, Letras ou Economia. De um lado estava José Piragibe da Fonseca,[1] que estruturou o seu Manual de Teoria da História em duas disciplinas da Filosofia: Metafísica e Lógica – ambas realizavam a Teoria da História stricto senso. A Metafísica professada era a “concepção católica da História”.[2] A Lógica, método de obtenção da “verdade” (para o ensino superior), seguia, de perto, mas não exclusivamente, as operações de heurística, análise e síntese de Langlois e Seignobos.[3] José Honório Rodrigues,[4] por seu turno, já não mais se ocupava de Filosofia especulativa da História, quando publicou a sua Teoria da História do Brasil. Ele preferiu discutir a “natureza da verdade histórica” e os “meios para descobri-la”, ou seja, “a técnica ou o método histórico”. Essa segunda parte da Teoria reproduzia as operações da heurística, análise e síntese, colhidas junto aos manuais de metodologia e de Introdução à História de Ernst Bernheim, Wilhelm Bauer e C. Langlois e C. Seignobos.[5]

Nos anos 70, duas concepções concomitantes tomariam distância da Teoria da História como objeto da (ou mesmo sinônimo de) Filosofia da História. Uma é prescritiva e tem caráter totalizante. Outra é apenas sugestiva e problematiza a existência de algo como “a Ciência”, a partir da qual muitos historiadores costumavam construir seus argumentos em defesa do caráter científico da História. A visão prescritiva foi divulgada por Ciro Flamarion Cardoso e Héctor Pérez Brignoli[6] que declaram não fazer um livro de “Teoria ou de Filosofia da História.[7] De fato, seu impresso ganhou o título: Os métodos da História. Com essa rubrica, Cardoso e Brignoli tomaram distância dos não citados manuais de Rodrigues e Piragibe, qualificados, indiretamente, como positivistas e anacrônicos. Tal crítica, herdada de Henry-Irinée Marrou e de Lucien Febvre, principalmente, deixa vazar para nós os autores descartados por Brignoli e Cardoso (os puros empiristas da crítica histórica de Langlois e Seignobos) e, também, os seus prováveis parceiros (os autores que seguiam a “escola francesa” de Marc Bloch e Lucien Febvre, dominantes entre as décadas 30 e 60 do século passado). O compromisso entre a “escola francesa” e o “marxismo” promoveria, segundo os autores, a renovação das visões de História na América Latina. Seria, agora, uma História nomotética, no interior das ciências Humanas (J. Piaget), dotada de novos campos de interesse e novos conceitos.[8] Novos métodos – quantitativos, estatísticos e comparativos –, por fim, selariam a configuração da nova ciência da História, sob o “progresso” atingido pelas Ciências Sociais, notadamente, a História Econômica, História demográfica e à História Social.

Em paralelo ao trabalho de Cardoso e Brignoli, Maria Beatriz Nizza Silva[9] divulgou a sua visão sugestiva da História na coletânea Teoria da História, que reunia mais de uma dezena de autores estrangeiros. Silva não define teoria, mas deixa indícios do seu entendimento: trata-se do estudo que reflete sobre a cientificidade da História. Teoria, portanto, ganha a forma de epistemologia. A discussão sobre “método”, a “técnica”, “Tecnologia” e “metodologia”, entretanto, está distribuída nas três partes do impresso, abordando, por exemplo: unicidade do método (1a parte), método da história serial (2a parte) e metodologia como “lógica do processo científico” que atravessa várias disciplinas científicas[10] (3a. Parte). A motivação de Silva é idêntica à motivação de Piragibe: combater o ceticismo em relação à cientificidade (e, consequentemente, à validade da Ciência da História para a vida prática). O distanciamento a ser estabelecido, ainda que marginalmente citado, se estabelece em relação à Literatura (velha inimiga do século XIX).[11] Mas a resposta à questão, segundo a autora (acompanhando as desconfianças do Michel Foucault da Arqueologia), deve ser mediada por outros parâmetros: 1. a  discussão do significado de ciência (A ciência em abstrato ou à ciência sob o modelo da Física?); 2. a sua tipificação de ciência (Ciências nomotéticas ou ideográficas?); 3. a natureza do objeto (critérios de historicidade, ênfase no evento ou ênfase na série); e 4. as definições de conceito, teoria e paradigma (principalmente, na Sociologia e na História Econômica).[12]

Uma década e meia depois, a mediação da “Epistemologia Histórica” (ou Filosofia Analítica da História) é reforçada com o livro Paradigmas do estudo da História – os modelos de compreensão da ciência histórica no pensamento contemporâneo (1991), de Francisco Ricardo Rüdiger.[13] Para ele, Epistemologia é o estudo da “estrutura lógica e conceitual” da produção do conhecimento histórico. Seu outro nome é “Metodologia”. Teoria da História e Filosofia da História tratam da interpretação do processo histórico, com a diferença que a Teoria o faz hipoteticamente e com base na empiria e a Filosofia procede ontologicamente, ou seja, determina “o sentido geral da História”, independentemente da empiria.[14] Rüdiger tenta enxergar a floresta de possibilidades de produção do conhecimento histórico e não as árvores. Situa-se em uma espécie de mirante, não se deixando (ao menos teoricamente) pautar por nenhum paradigma (ou modelo epistemológico de compreensão). Tal condição lhe possibilita classificar: 1. os três paradigmas fundamentais, emergentes na segunda metade do século XIX: o historicismo (G. Droysen, W. Dilthey), o positivismo (J. B. Buchez, S. Mill, D. Xenopol, H. Berr, Teggart) e o historicismo positivista (C. Langlois, C. Seignobos, E. Bernheim e W. Bauer); e 2. os paradigmas de compromisso com a ciência (K. Marx e M. Weber) e o que nada espera de tal ciência – o presentismo (B. Croce).[15]

Ao final da mesma década, duas coletâneas são lançadas para orientar professores e noviços atordoados, por exemplo, com a queda do Muro de Berlim, o fim do socialismo real da União Soviética, o anúncio do “fim da história” e o sucesso ou “a moda” da “nova história” no Brasil (eventos aparentemente apocalípticos). Uma das respostas à crise, segundo, Jurandir Malerba, seria o aprimoramento teórico das investigações centradas nos novos temas da nouvelle histoire, em suas interações com a Antropologia e, também, na ampliação do conhecimento sobre o labour history da Inglaterra.[16] Explícito no título, mas ausente na apresentação, o termo “método” está disperso nos artigos da coletânea, sem preocupação doutrinária, como nesse exemplo que discute as relações entre Antropologia e História:

Coloca-se aqui também um problema metodológico para o investigador ao lidar com as ‘teorias nativas’ ou se quisermos usar um termo mais familiar aos historiadores, as versões dos agentes de época, no que se convencionou chamar de “análises de discurso”. Sejam frutos de explicações e conceitos dos grupos estudados, sejam discursos produzidos com diferentes objetivos e enfoques, cabe refletir sobre a relação entre as representações aí mobilizadas e a construção da análise pelo investigador. Tomar essas representações da forma como veiculadas pelos que delas partilham leva a assumir suas próprias concepções como explicativas do que se observa, como aponta Mauss para o caso do dom. Construir uma nova versão, cunhada sob os cânones dos métodos científicos, ou para usar o termo consagrado por Geertz, propor-se a interpretar seus significados, implica desconstruir este ‘ponto de vista nativo’ através do contraste com as práticas observadas e mesmo com uma possível divergência de interpretações locais.”[17]

Método ou metodologia, portanto, é discussão do plano epistemológico. Já a Teoria, por sua vez, é matéria dispersa em “tópicos” dos quais Malerba seleciona os “itens clássicos” (fontes, espaço, tempo, estrutura/sujeito) e “as “entradas à questão da cultura e adjacências” (mito, imaginário, representação, narrativa e história da historiografia brasileira).[18]

Na coletânea de Malerba, observamos que a Teoria se ocupa de questões relativas aos paradigmas de compromisso ou das soluções à disputa entre as alternativas historicista e positivista apresentadas por Rüdiger. Marxismo inglês, nova história estão em confronto. Não sem razão, um dos mais respeitados representantes do marxismo no Brasil é o homenageado de Malerba na dedicatória da obra. É também esse mestre – Ciro Flamarion Cardoso –, quem vai oferecer a resposta, digamos, fluminense ao referido atordoamento de meados dos anos 90. Ele coordena coletânea intitulada Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia.[19] Mas não trabalha sozinho. Divide o espaço com vários autores fiéis ao paradigma rival, coordenados por Ronaldo Vainfas, empenhado defensor da nova histórica cultural. A Teoria está no subtítulo e ocupa, formalmente, dois terços da obra: 1) territórios do historiador (econômico, social, político, ideias, mentalidades, cultural); 2) objetos e problemas (nas áreas de história agrária, urbana, das paisagens empresarial, da família, demografia, cotidiano e vida privada, mulheres, sexualidade, etnia, religiões e religiosidades). A Teoria aparece explicitamente na descrição do marxismo – “teoria marxista do conhecimento” (p.5) e da “tendência” dos Annales (até 1969) que juntas constituem o “paradigma iluminista” ou “moderno” – opositor do historicismo de Collingwood, Croce… e do seu “método hermenêutico” (p.3). A metodologia, referida no título, recebe o mesmo tratamento reservado na coletânea de Malerba. Os autores, entretanto, deixam fugir a seguinte informação: a parte três “é uma seção, por assim dizer, prática” (p.vi), que orienta sobre “novos métodos”, “novas fontes”, “novos instrumentos de pesquisa” e (ironicamente), “modelos teóricos”. (p.vii).

A última coletânea do gênero foi lançada quase imediatamente após o impresso de Cardoso e Vainfas. Em Questões de teoria e metodologia da História (2000),[20] não há inventário de teorias. Em um dos textos, Carlos Fico aponta maior preocupação dos historiadores da década de 90 com a reflexão sobre o saber, a exposição de quadros teóricos, algo bem diferente dos anos 80, quando a teoria era demonizada como Filosofia da História e, também, como tentativa de a História ser considerada uma ciência.[21] Por vias diferentes das de Cardoso, mas chegando ao mesmo ponto, J. C. Reis inventaria as “macroteorias que orientaram a reflexão e a ação históricas do século XVIII ao XX”: o “projeto moderno” iluminista e o projeto “pós-moderno” (estruturalista e pós-estruturalista).[22]“Método” não figura como objeto específico em texto algum. Está disperso como relato de experiência na execução de uma pesquisa ou no planejamento de um programa de Teoria e Metodologia da História para alunos de graduação ou, ainda, revisão da literatura – a renovação da ideia de documento e investigação com a genealogia de Foucault.[23] Método também referido como “abordagem metodológica”, sinônimo de “especialidade” – História econômica, História cultural etc.[24]

O mais recente manual do gênero foi produzido por José D’Assunção Barros.[25] Ele define Teoria é como “modo de ver as coisas” e a remete a conceitos, campos (correntes e paradigmas):[26] positivismo, historicismo e materialismo histórico. Teoria é um “conjunto de proposições ligadas logicamente entre si e que possuem referentes em comum” (Bunge). Teoria da História difere de Filosofia da História. Para o autor, a primeira seria produzida coletivamente, demonstrando maior preocupação com a realidade e as fontes e com “menor carga de especulação filosófica”, enquanto a segunda nasceria e se encerraria no âmbito do seu criador individual, ocupando-se dominantemente do sentido e com maior “carga de especulação filosófica.”[27] Metodologia, por fim, é vista como “modo de fazer algo” que remete a métodos e técnicas e operações de delimitação do tema e constituição das fontes.[28] Para Barros, a principal diferença entre o historicismo e o positivismo está no fato de o segundo pregar a unicidade do método entre ciências humanas e ciências naturais e o primeiro defender a singularidade dos métodos de cada uma das ciências.

Depois dessa breve revisão dos modos de abordar Teoria e Método nos manuais de Teoria da História, você já se sente capaz de responder às questões iniciais? O que os autores querem significar quando grafam “Teoria da História” e “Método Histórico”? Qual o lugar do Método Histórico na Teoria da História? Aliás, o que vocês pensam ser o definidor da história como saber científico? Qual a contribuição dessas possíveis respostas para a formação continuada do professor de História?


Sobre os significados de “Teoria da História”

 O que os nossos contemporâneos produtores de livros-tese e de coletâneas sobre a matéria querem significar com o emprego dessa categoria?

A resposta aponta dispersão. Teoria da história é concebida como uma hipótese ou uma proposta de intervenção sobre os fatores e a mudança na experiência de determinado país ou do mundo;[29] um tipo-ideal que viabiliza a análise da obra histórica;[30] uma disciplina universitária fundamental à formação do profissional de História;[31] um campo de estudos sobre a realidade e o pensamento histórico e o uso que as pessoas fazem do seu passado;[32] e uma ciência sobre a Ciência da História.[33] E a dispersão aumenta quando questionamos aos estudiosos de Teoria da História sobre as coisas que privilegiam. Eles respondem: conceitos, matrizes, temas, questões, objetos, regras de pesquisa, métodos, critérios de validação, critérios de cientificidade, formas de representação, funções da história na vida prática, pensamento sobre o domínio,[34] especulação sobre o processo histórico, história da Historiografia e relação da História com outros domínios.

Em alguns casos, esses objetos reinam sozinhos, como métodos,[35] princípios ou fundamentos que constituem “a problemática epistemológica da História”.[36] Também isolados ou agrupados, no mesmo campo semântico, são referidos os conceitos, as concepções, as ideias ou matrizes,[37] em oposição ao “empirismo rústico”,[38] às “técnicas”,[39] à “Filosofia da História, à Epistemologia e à Metodologia”[40] ou associados aos domínios da Epistemologia, Lógica ou Ética.[41] Na maioria das iniciativas, entretanto, formam díades e tríades, explicitando novos domínios e revelando o caráter compósito da coisa designada. Assim, Teoria da História é realizada mediante conceitos / temas,[42] conceitos/história da historiografia,[43] método / temas, método / premissas,[44] especulação sobre o processo histórico / função na vida prática,[45] desafios / relação com outros domínios / estabelecimento de fronteiras,[46] critérios de cientificidade / objetos / problemas[47] e recursos de Erudição / Filosofia / Literatura.[48] Os textos que excedem a três objetos assumem os modelos e as matrizes como configuradores da Teoria da História. Esse é o caso muito particular de H. White,[49] que apresenta uma matriz para a obra histórica e outra correlata para a concepção de história dos autores analisados. São também os casos de J. Rüsen[50] e de W. Blanke,[51] que partem das ideias de “revolução científica” e “paradigma”, de T. Kuhn, e montam conjuntos semelhantes de objetos para a Teoria da História. Isso é o que conhecemos sobre a matéria no nosso tempo.

Quem lê os “teóricos” do século XIX não tem dificuldade de notar a semelhança na dispersão interna da configuração dos objetos e de estruturas de exposição de Teoria da História, no passado distante e no passado recente, mesmo considerando a institucionalização da Teoria da História, hoje, configurada como domínio de pesquisa, disciplina acadêmica e objeto exclusivo de Revistas, Associações e de congressos científicos (algo não generalizado na passagem do século XIX para o século XX). Sendo bem sensatos, deveríamos (mesmo hoje) conceber “teoria da História” apenas como reflexões sobre o “que fabrica o historiador quando faz história.[52] Contudo, tentando fugir à incômoda imprecisão dessa definição, vamos sedimentando proposições que convergem para um uma espécie de senso comum de que a Teoria da História é algo que completa 150 anos: “a Teoria da História é objeto disciplinar da formação de historiadores, desde que os cursos de licenciatura em História foram instituídos na Europa e nas Américas”; “a Teoria da História nasce em meados do século XIX, quando os historiadores desenvolvem sistematicamente a reflexão sobre a natureza do seu domínio”; “as teorias da História são originárias da Alemanha e da França”; “as teorias da História são um gênero designado pela palavra Historik”; “as teorias da História foram codificadas em tratados epistêmicos”; e, ainda, “a Teoria da História legitima a Ciência da História mediante a exclusão de domínios como a Retórica, a Filosofia e a Sociologia”. Para fazer frente a esse senso comum (e minimizar o estranhamento provocado pelas semelhanças entre objetos e configurações de discursos sobre o tema, no passado e no presente), é necessário pensar as classificações como resultante da maior ou menor ênfase atribuída a determinado critério e evitar unilateralidade da escala (macro).

Se nos afastarmos das proposições básicas de cada Teoria, pondo os olhos nos objetos, por exemplo (como sugerimos nesse exercício de experimentação do passado, efetuado entre o primeiro e o segundo parágrafo desta conclusão), perceberemos que os teóricos da História enfrentam os mesmos macroproblemas há 150 anos: a natureza de uma suposta capacidade humana de conhecer, as definições de realidade e de conhecimento sobre a realidade.[53] Apenas recentemente a relevância desses temas tem sido problematizada, sobretudo com as incipientes tentativas de historicização das ciências a partir de perspectivas não antropologizantes.[54] Sem esse exercício de alternância de escalas (permanecendo apenas em dimensão macro e desprezando as situações comunicativas sob as quais os escritores prescrevem as suas teorias), dificilmente poderemos formular juízos sobre Teoria da História em termos transnacionais diacrônicos para o período em análise (como teses sobre transnacionalização ou expansão do “modelo alemão” ou “modelo francês” de historiografia).

Em perspectiva sincrônica a dificuldade ainda é maior. Os exemplos bem-sucedidos de tipos ideais para o exame de iniciativas que tomam distância da transposição de modelos são de caráter nacional e, portanto, inadequados ao exame em escala continental ou mundial, por exemplo, quando importados integralmente.[55] Os tipos, apesar de construtos intelectuais, sabemos bem, são elaborados com elementos da experiência a ser analisada. Se quisermos, por exemplo, examinar as mudanças em termos de Teoria da História (sempre em significado ideal-típico),[56] teremos que considerar elementos do lugar (dos domínios, das comunidades linguageiras etc.). [57] Desprezando-os, correremos sempre o risco de concluir, pejorativamente, que os escritores de teorias de tal país foram “ecléticos”, “compiladores” ou usuários de “literatura de segunda classe” (quando encontramos, exatamente – ainda que não consideremos negativamente – essas mesmas características em muitos clássicos textos estrangeiros).

Depois dessas considerações demasiadamente abstratas, chegou a hora de pensarmos nos nossos problemas e objetos de pesquisa. O que queremos designar como quadro teórico do nosso projeto de pesquisa? De que maneira comunicar o que entendemos ser a Ciências Histórica e o que poderíamos elencar como elementos da mesma pelos quais o nosso projeto de investigação se orienta?


Notas

[1] Fonseca era professor de “propedêutica da História” na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, desde 1946. O manual foi destinado aos futuros professores de História e, também, aos jornalistas, advogados, legisladores e diplomatas, todos formadores de opinião pública. Faz relações de difícil compreensão, dado o esforço para somar verdades extraídas da crítica histórica e do desígnio da Providência.

[2] Fonseca, 1967, p.42, p.101.

[3] Piragibe cumpria, assim, uma demanda comum aos cursos de História de São Paulo, na década anterior. Há depoimentos de Jean Glenisson e de Jean Van den Besselaar de que os alunos de Introdução à História, na Pontifícia Universidade Católica e na Faculdade de Filosofia e Letras, ansiavam por preleções sobre Filosofia Especulativa da História.

[4] Rodrigues escreve para estudantes universitários de História e para professores da escola secundária. A primeira versão é fruto do aprendizado em cursos de metodologia da História nos EUA, com Charles W. Cole e Henry S. Commager. As notas de aula e, também, do curso que escreveu para o curso de aperfeiçoamento em História do Brasil, demandado pelo Instituto Rio Branco. Sua ideia era “mostrar como se investiga, como se manejam as fontes, como se aplicam os métodos e a crítica, como se doutrina e interpreta o material colhido e criticado, na tentativa de recriar o passado numa composição ou síntese histórica.” Rodrigues, 1967, p.15-16.

[5] Rodrigues, 1967 p.441-442.

[6] Cardoso e Brignole dedicaram o livro aos alunos de História e Ciências Sociais e, também, aos professores formados na “visão positivista e anacrônica da História” (crítica histórica e ciências auxiliares de Langlois e Seignobos – negativismo importado de Febvre e Marrou. (Cardoso, 1977, p.15-16). Eles identificam pontos comuns entre o marxismo (Marx) e a “escola francesa” (Febvre e Bloch): história total (não somente a política), estrutura, evolução distinta dos níveis da estrutura, história total (síntese explicativa) e engajamento do historiador com os problemas do seu entorno. Cardoso, 1977, p.478-479.

[7] Cardoso; Brignoli, 1997, p.41

[8] Cardoso; Brignoli, 1997, p.15-16, p.41-42.

[9] Beatriz Silva, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de São Paulo, destinou sua coletânea ao “futuro historiador” e ao “pesquisador que nunca se preocupou com os problemas teóricos da sua prática” (Silva, 1976, p.7). São três as novidades: a tradução de textos completos (até então, os manuais de teoria e método sintetizavam posições), o entendimento de teoria da História como Epistemologia, e a inclusão de “não historiadores” entre os teóricos e a qualificação de Michel Foucault como “historiador”. A autora, contudo, não se posiciona a respeito, além da descrição acima.

[10] Como pensa R. Merton

[11] Silva, 1976, p.7-8.

[12] Silva, 1976, p.5.

[13] Na década de 1990, Rüdiger era professor da Pontifícia Universidade Católica e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Parece estar no meio do fogo cruzado entre cientificistas e pós-modernos, em relação à História. Busca sair da situação, enxergando a floresta, mas lamenta o afastamento dos historiadores em relação às questões filosóficas e epistemológicas que explicam a sua prática (Rüdiger, 1991, p.189-190).

[14] Essa exposição bem mais didática foi publicada seis anos após o livro, em formato de artigo, intitulado “Propedêutica à Teoria da História. Rüdiger, 1997, p.155-156.

[15] Para a segunda metade do século XX, Rüdiger apresenta três soluções epistemológicas que tentam dar respostas à oposição entre positivismo e historicismo: o materialismo dialético, o neo-historicismo e o paradigma crítico-dialético. Rüdiger, 1991, p.147-148.

[16] Malerba, 1996, p.11-14.

[17] Lima e Vianna, 1996, p.142.

[18] Malerba, 1996, p.12.

[19] A coletânea reúne textos de professores da UFF e da UFRJ e foi destinada aos alunos de graduação e pós-graduação em História, alunos de ciências sociais e docentes do ensino médio. Trata-se de uma versão do antigo “Os métodos da História”, com autoria ampliada. Mas a ênfase na mudança de métodos como fator de renovação no ofício do historiador na América Latina desaparece. Com a generalizada crise da razão histórica pós queda do muro e socialismo real etc., Cardoso tenta conciliar “paradigmas rivais” naquele período: paradigma moderno ou iluminista vs. paradigma pós-moderno ou irracionalista.

[20] O livro reúne as falas de professores universitários de uma dezena de instituições, durante evento sobre teoria e metodologia, promovido pelo programa de Pós-Graduação em História da UFRGS.

[21] Fico, 2000, p.29.

[22] Reis, 2000, p.182-183.

[23] Rago, 2000, p.44-45.

[24] Fico, 2000, p.30-31.

[25] Barros é professor universitário (UFRRJ/UFRJ) e escreveu para iniciantes na Ciência da História. Obra em cinco volumes, o primeiro é dedicado aos conceitos básicos de Teoria da História. Ele acredita que existe “a ciência”, caracterizada como “um conhecimento a ser produzido sistematicamente, com rigor metodológico”. Embora fale, às vezes, em “várias ciências”, refere-se a “posturas metodológicas que se singularizam nas várias ciências: a observação e a experimentação” (Barros, 2013, p.81). É incoerente com a posição anterior, quanto remete às “condições de possibilidade” e, também, quando usa a expressão “pensamento ocidental”. Outro problema está na frágil diferenciação entre teoria da História (positivismo, historicismo e materialismo histórico) e Filosofia da História (Voltaire, Kant, Hegel).

[26] Barros, 2013, p.68-69.

[27] Barros, 2013, p.106, p.126.

[28] Barros, 2013, p.68-69.

[29] Zhao, 2015, p.29; Heller, [1981] 1993, p.337-339.

[30] White, 1975, p.18.

[31] Rodrigues, 1969, p.440, p.444.

[32] Paul, 2015, p.14.

[33] Rüsen, 2015b, p.31-32.

[34] Megill, 2013.

[35] Método dialético, método genealógico e método hermenêutico em sequência. (Reis, 2011, p.23, p.25).

[36] Rüdger, 1991, p.11.

[37] Vainfas, 2010, p.7-9; Lopes, 2007, p.16-17.

[38] Fico, 2000, p.36-37.

[39] Guazzelli, 2000, p.11.

[40] Malerba, 2010, p.11.

[41] Reis, 2010, p.14; Wehling, 1994, p.98-99, p.101.

[42] Em composições como temas / ideias e temas / questões. (Malerba, 1996, p.14; Lopes; Munhoz, 2010, p.11-12).

[43] Dosse, [2010] 2012, p.2.

[44] Koselleck, 2006, p.112-115; Bentivoglio; Avelar, 2016, p.8-9.

[45] Martins, 2010, p.8-10.

[46] Vasconcelos, 2005, p.25, p.235-136.

[47] Silva, 1976, p.8, p.10, p.15.

[48] Dosse, 2010, p.21

[49] O objeto da teoria é a “estrutura típico-ideal da obra histórica” (p. 20). Toda obra histórica é estruturada em níveis de conceptualiação (crónica, estória, modo de elaboração de enredo, modo de argumentação e modo de implicação ideológica) no relacionamento entre dois fatos para responder “o que aconteceu?”, “como:” e “por que aconteceu?” Quanto o historiador trabalha com a “estória” concluída ou relaciona “estórias”, buscando responder “o que significa isso?” ele é classificável em três possibilidades: os tipos de elaboração de enredo (tragédia, comédia…), a argumentação nomológica e a implicação ideológica. (White, 1975, p.121-23).

[50] Na última versão portuguesa da sua Teoria da História, Rüsen define teoria da História como uma ciência sobre a ciência da história – uma metateoria (em alemão é Historik e em língua inglesa é metahistory). “Teorias são formas de saber com um alto grau de generalização enquanto proposições de fatos particulares” (p.31). Para Rüsen, o historiador faz história e o teórico da história diz como se faz história. (p.32). Essa versão apresenta ligeiras modificações em relação aos modelos empregados por Blanke e ao que empregou, junto a Blanke e Feischer, em 1984: carências/perspectiva de interpretação/conteúdos experienciais/forma historiográfica/motivação para a ação. (Rüsen, 2015b, p.31-36.

[51] Historik é o gênero de teoria da História. O termo indica “as reflexões que os historiadores fazem acerca da escrita da história, pesquisa da história e [história da] historiografia”. (p.331). Droysen é um modelo exemplar do gênero. Os livros de Histork de Chladenius, Gervinus, Burckhardt e Droysen (de teoria da História) “explicam sistematicamente os princípios metodológicos da pesquisa histórica; discutem a singularidade e função da historiografia; definem seu assunto, a história e assim por diante.” Blanke classifica os livros de Historik em tradições: “humanístico-retórica”, “auxiliar enciclopédica”, “histórico-filosófica” e “epistemológica ou histórica”. (Blanke; Fleischer; Rüsen, 1984, p. 335-336, p.339-340). Uma década depois, Blanke publicou sua tese de doutorado, onde expõe o modelo analítico de Teoria (que significa, consequentemente, a sua ideia de teoria): matriz disciplinar. Essa categoria, identificadora de uma obra de Historik, é composta por cinco elementos: função de orientação, interesse, teoria, método e forma de representação. (Blanke, 1991, p.29, p.37).

[52] De Certeau, 1982, p.65.

[53] É curioso, por exemplo, que as definições de dois professores de Teoria da História e também produtores de manuais sobre a matéria sejam tão semelhantes, apesar da distância temporal e cultural que os separa: José Honório Rodrigues, então professor do Instituto Rio Branco, em 1969, e Herman Paul, professor da Universidade de Leiden (Holanda), em 2015. O que difere nos dois enunciados dos dois escritores é a preocupação de Paul com os usos que as pessoas fazem do passado (Paul, 2015, p.14). No restante, são as questões do processo e do conhecimento sobre o processo que predominam: “Os problemas da interpretação do processo histórico, da natureza do conhecimento histórico, das explicações, das leis, das relações da história e das ciências sociais, dos problemas da convicção histórica, do julgamento histórico, da aceitação ou não da causalidade, entendida em termos físicos, das definições conceituais de fenômenos históricos gerais, constituem a temática da teoria da história como disciplina universitária.” (Rodrigues, 1960, p.144).

[54] Ver sobre o tema o recente trabalho de Victor Nascimento (2016) que recupera a possibilidade por meio da análise de parte da obra de Michel Foucault.

[55] As teses de C. Charbonell e de W. Blanke (teoria iluminista, historicista e da ciência social), respectivamente sobre a França e a Alemanha são inadequados ao exame em escala continental ou mundial, por exemplo, quando exportados integralmente. Do mesmo modo, são inadequados ao exame do nacional, quando transpostos da Alemanha, da França ou dos Estados Unidos para o Brasil. É algo óbvio, mas necessário repetir.

[56] A exemplo do que fez D. Lingelbach, quando examinou “Profissionalização” e “Institucionalização” entre França, Alemanha e Estados Unidos.

[57] Para o caso brasileiro, por exemplo, com os discursos de Silvio Romero, Capistrano de Abeu, Euclides da Cunha.


Referências

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ZHAO, Dingxin. The confucian-legalist state: a new theory of chinese history. Oxford: Oxford University Press, 2015.


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Programa do Curso de Teoria da História (URCA)

Objetivo

Seguindo o objetivo geral da Especialização em História do Brasil, este curso de Teoria da História tem por meta rememorar e, em alguns casos, aprofundar conhecimentos de Filosofia da História, Epistemologia da História e Metodologia da História e ampliar habilidades de investigação e escrita da História, exigidas na construção das monografias necessárias à obtenção do correspondente grau.


Calendário e conteúdo

Sexta-feira à noite (29/11/2019)

  • Avaliação diagnóstica Link
  • Definições de Teoria da História – Preleção
  • Teorias da história como campo e conjunto de proposições dependentes de situações comunicativas Link

Sábado pela manhã (30/11/2019)

  • Teorias da História em G. Hegel Link
  • Teorias da História em L. von Ranke Link

Sábado à tarde (30/11/2019)

  • Teorias da História em C. Seignobos Link
  • Teorias da História em M. Bloch Link

Domingo (31/11/2019)

  • Teorias da História em J. Rüsen Link
  • Avaliação final Link

Metodologia

  • Preleção dialogada
  • Leitura silenciosa individual
  • Leitura coletiva e discussão de textos

Recursos

  • Relatos de experiência
  • Projeção de slides
  • Textos impressos fornecidos no início das atividades.

Avaliação

  • Avaliação diagnóstica Link
  • Autoavaliação Link

Bibliografia básica (Listada ao final de cada texto indicado como leitura em sala).


Universidade Regional do Cariri (URCA)

Crato-CE

29 de novembro de 2019.

Ingesta. São Paulo, v.1, n.2, 2019.

Caderno de Resumos do II Simpósio Internacional de Pesquisa em Alimentação

Editorial

Artigos

Caderno de Resumos

Publicado: 2019-11-29

Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v. 18 n. 3, 2019.

Editorial

Artigos

Resenhas

Publicado: 2019-11-28

Revista de História Regional. Ponta Grossa, v.24, n.2.

Ficha Técnica

Artigos

Publicado: 2019-11-25

 

Boletim Historiar. São Cristóvão, v.6, n.3, 2019.

Artigos

Publicado: 2019-11-24

Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo, n.32, 2019): Anais do II Simpósio do Laboratório de Arqueologia Romana Provincial

PUBLICADO: 2019-11-22

APRESENTAÇÃO

Dinâmicas no mundo rural | PerCursos | 2019

Frente a uma cíclica e recorrente crise na produção bibliográfica sobre o mundo rural, aceitamos no início de 2019 o desafio de organizar um dossiê que reunisse diferentes visões e abordagens decorrentes de pesquisa sobre aspectos da vida e da existência nos espaços fora do mundo urbano. “Dinâmicas do mundo rural” traz aqui um apanhado de oito artigos oriundos de diferentes regiões do país enfocando aspectos do pensamento sobre a vida no mundo rural abordados a partir de diferentes e muito distintas disciplinas. Complementam o dossiê uma longa entrevista com Maria Ignez da Silveira Paulilo, socióloga que dedicou sua vida ao feminismo e ao mundo rural, e uma resenha acerca de uma recente obra oferecida como subsídio à organização dos jovens do campo.

O dossiê inicia com o artigo “Decadência dos sistemas agrícolas tradicionais e a urbanização da cidade de São Paulo”, escrito por Cristina de Marco Santiago, que aborda as transformações do espaço rural da lavoura caipira no estado de São Paulo mostrando como as transformações no sistema de abastecimento da capital paulista levaram à decadência da lavoura caipira do seu entorno. Leia Mais

Percursos. Florianópolis, v.20, n.43, 2019.

Dinâmicas no mundo rural

Editorial

Artigos Dossiê

Entrevista

Resenha

Artigos Demanda Contínua

Publicado: 2019-11-21

Moçambique em perspectiva. Histórias conectadas, interdisciplinaridade e novos sujeitos históricos | Revista de História | 2019

Uma possível perspectiva analítica para o devir dos estudos africanos no Brasil é pensá-los a partir de suas inflexões, uma vez que o desenvolvimento do campo parece ter dado saltos qualitativos nos últimos anos. Nessa direção, a configuração e a própria concepção do dossiê Moçambique em perspectiva: histórias conectadas, interdisciplinaridade e novos sujeitos históricos, desde o diálogo estabelecido entre as organizadoras até a publicação dos artigos, estão relacionadas à trajetória de implantação e consolidação da área cujos marcos políticos, legais e institucionais são retomados no escopo desta apresentação.

Um marco relevante para os estudos africanos no Brasil foi a aprovação da Lei 10.639/2003 que reformou a Lei de Diretrizes e Bases, introduzindo a obrigatoriedade do ensino da história e cultura da África e afro-brasileira nos currículos escolares.1 Fruto da intensa luta dos movimentos negros de nosso país, e contando com a liderança de figuras expressivas do meio intelectual negro brasileiro, a começar por sua relatora,2 a lei significou um momento de inflexão na maneira pela qual se contava nas instituições de ensino brasileiras a história social, política e econômica do Brasil. Leia Mais

A história na moda, a moda na história | Paulo Debom, Camila Borges e Joana Monteleone

A convergência para estudos históricos que têm a moda e o consumo como foco central é um denominador comum na trajetória acadêmica de Camila Borges, Joana Monteleone e Paulo Debom. Parceiros na organização do simpósio temático “Moda, imagem & poder”, que desde 2012 integra o programa da Semana de História Política-Seminário Nacional de História: Política, Cultura e Sociedade, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, atualmente em sua 13ª edição, Paulo Debom e Camila Borges estenderam a bem-sucedida colaboração à organização, com Joana Monteleone, do livro A história na moda, a moda na história, publicado em 2019 pela Alameda Editorial. Trata-se de uma coletânea de trabalhos de pesquisadores brasileiros provenientes de áreas e formações diversas, norteados pelo tema da moda em suas abordagens investigativas.

Se, nos anos 1980, poderia se afirmar que a questão da moda não causava furor no mundo intelectual e quase não aparecia “no questionamento teórico das cabeças pensantes” (LIPOVETSKY, 2002, p. 9), na década seguinte já se podia afirmar que “a roupa e a moda se tornaram finalmente veículos para debates que agora estão no centro dos estudos em cultura visual e material” (BREWARD, 1998, p. 301-313). No ensaio Fashion and the postmodern body, a historiadora inglesa Elizabeth Wilson atestou uma virada no panorama acadêmico no início da década de 1990, com o crescente interesse por estudos relacionados à moda: “The postmodernism debate helped rescue the study of dress from its lowly status, and has created – or at least named – a climate in which any cultural and aesthetic object may be taken seriously”1 (WILSON, 1992, p. 6). Leia Mais

Plínio Salgado: um católico integralista entre Portugal e o Brasil (1895-1975 | Leandro Pereira Gonçalves

Desde os trabalhos pioneiros de Hélgio Trindade (19742007) na década de 1970 a respeito do Integralismo brasileiro, diversos outros estudos procuraram apresentar novas abordagens sobre o tema (CHASIN, 1999CHAUÍ, 1985VASCONCELOS, 1979). Também a produção acadêmica comparativa dos autoritarismos português e brasileiro, iniciada no trabalho organizado por José Luiz Werneck da Silva (1991), prosperou em análises diversas, fortalecendo aos poucos este campo de investigação (PINTO; MARTINHO, 2007).

O trabalho de Leandro Pereira Gonçalves, Plínio Salgado: um católico integralista entre Portugal e o Brasil (1895-1975), vem, portanto, contribuir com uma tradição importante e já consolidada de pesquisas a respeito do integralismo e das direitas radicais. O livro tem, como objeto de análise, o pensamento e a produção intelectual do mais importante político do movimento integralista brasileiro: Plínio Salgado. Ao mesmo tempo, o autor lança luz sobre as possibilidades de investigações acadêmicas comparativas acerca de Portugal e do Brasil. Longe, entretanto, da mera repetição, seu estudo acrescenta novidades ao complexo universo das direitas no século XX, não só no Brasil como também na Europa. Leia Mais

O velho Marx: uma biografia de seus últimos anos (1881-1883) | Marcello Musto

Karl Marx seguramente figura entre os autores mais debatidos e analisados nos últimos cem anos. A vasta bibliografia que toma o pensamento de Marx por objeto poderia sugerir que falta pouco a ser dito de forma original. No entanto, a produção intelectual em torno de Marx parece escapar a este itinerário lógico e surge como uma fonte inesgotável de reflexões que, de diferentes maneiras, segue instigando e propiciando um renovado debate. É esta capacidade de constante atualização que alimenta as diversas tradições no âmbito das culturas marxistas e, mesmo, o renovado (e variado) interesse do pensamento crítico de forma geral.

Se é inegável, por um lado, que a vida e obra de Marx jamais deixaram de ser objeto de pesquisa ao redor do mundo, por outro, no período aberto após o fim da União Soviética e o ocaso do chamado “socialismo real”, o legado do pensador alemão parecia encontrar-se numa encruzilhada fatal. A crise econômica de 2008 mudou sensivelmente este cenário, renovando o interesse em Marx e o afirmando como um dos autores mais debatidos no século XXI. Não apenas suas análises e elaborações teóricas ganharam um novo impulso junto ao grande público, mas também sua trajetória de vida desperta curiosidade, como atesta o sucesso do filme O jovem Karl Marx, dirigido por Raoul Peck e lançado em 2017. Neste contexto, o livro O velho Marx: uma biografia de seus últimos anos (1881-1883), escrito por Marcello Musto e publicado em 2018 pela editora Boitempo, surge como uma importante contribuição na busca por preencher lacunas e por aprimorar a nossa compreensão do legado de Marx. Leia Mais

Arte e conhecimento em Leonardo da Vinci | Alfredo Bosi || Leonardo da Vince | Walter Isaacson

A tarefa do historiador

Historiadores visam compreender eventos passados. Restos de colunas sugerem um templo que eles tentam imaginar utilizando elementos preservados. Entretanto, às vezes, nem restos existem. Em sua Institutio oratoria, Quintiliano discute Virgílio e Ovídio, comenta que Macer e Lucrécio valem a leitura e, então, menciona Varrão Atacino, Cornélio Severo, Saleio Basso, Gaio Rabírio, Albinovano Pedo, Marco Fúrio Bibáculo, Lúcio Ácio, Marco Pacúvio e outros poetas que admirava. Desses autores, hoje só existem obras de Virgílio, Ovídio e Lucrécio (GREENBLATT, 2011, p. 59). Historiadores não podem imaginar autores que sequer sobreviveram enquanto nomes. Então, ao escrever, eles tentam encaixar peças fragmentadas de um quebra-cabeças cujo amplo desenho conhecem vagamente, e desconhecem suas dimensões.

Existem inúmeras abordagens para estudar fragmentos de épocas passadas. No caso de documentos escritos, a História Conceitual talvez seja uma das abordagens mais importantes, pois conceitos estruturam questões de época e permitem relacionar momentos distintos. Matteo Palmieri, humanista e embaixador florentino, escreveu entre 1431 e 1438 o Libro della vita civile [Livro da vida civil], no qual fala a respeito da formação para viver dignamente em uma “ótima república”: Leia Mais

Ruptura: a crise da democracia liberal | Manuel Castells

Manuel Castells é doutor em sociologia pela Universidade de Paris, onde leciona nas áreas de Sociologia, Comunicação e Planejamento Urbano e Regional. Estudioso da era da informação, Castells avalia a influência da comunicação em rede nas sociedades conectadas e suas principais transformações no final do século XX. Das suas obras principais, destaca-se a coleção A era da informação, composta por três livros (A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim de milênio). Nesta resenha, apresenta-se uma de suas mais recentes contribuições para o debate acerca da Democracia e dos inimigos que a rodeiam, oferecendo uma perspectiva de interpretação que aponta para a ruptura no processo de consolidação das democracias no mundo.

“Sopram ventos malignos no planeta azul”. Assim, Castells abre seu livro de cinco capítulos, montando, inicialmente, o panorama no qual sua contribuição se inscreve. Crises múltiplas, precariedades no mundo do trabalho, fanatismos de toda ordem, restrição das liberdades em nome de uma segurança vigiada – “Fomos transformados em dados” (CASTELLS, 2018, p. 4), diz o autor. A era da comunicação foi convertida em uma era da pós-verdade, em que mentiras são torpedeadas por diversos mecanismos de comunicação e alçadas à categoria de verdades absolutas. Existe, porém, segundo o autor, uma crise ainda mais significativa: o colapso das instituições representativas, que se configura enquanto crise cognitiva e emocional. Nosso modelo de representação e governança, a democracia liberal caiu em descrença e enfrenta hoje a fúria das ruas. Dessa rejeição, surgem figuras políticas que negam a estrutura partidária e aprofundam a desordem mundial ao promover o segregacionismo e o protecionismo. De modo geral, o autor aborda nesse livro a crise da democracia liberal; a ruptura da representatividade entre cidadãos e governos; e os desafios da procura por instrumentos legítimos capazes de sanar esse “furacão sobre nossas vidas”. Leia Mais

Amazônia global: espaços de circulação e representação da fronteira | Revista de História | 2019

Os textos que compõem esse dossiê foram gerados em grupos de pesquisa e programas de pós-graduação que têm, sistematicamente, se dedicado à historiografia da Amazônia. Esse exercício implica em alguns desafios intelectuais. Em primeiro lugar, compreender processos e transformações sociais ocorridos até o século XIX fora da chave interpretativa fornecida pela associação entre plantation, mineração e escravidão africana, que domina a historiografia brasileira e que já vem sendo questionada há algum tempo como inadequada para a região. Em seguida, dar visibilidade e protagonismo a sujeitos de máxima importância para a história da Amazônia, como os povos indígenas e os ribeirinhos, de diferentes culturas, línguas e estratégias de aproximação e negociação com a sociedade nacional; os numerosos e diversificados agentes coloniais e servidores do Estado, em geral de baixo escalão; os pequenos proprietários e os comerciantes que dominavam a economia regional, centrada no extrativismo e na agricultura e que se organizou a partir do controle de acesso às zonas de exploração e cultivo, localizadas nas várzeas dos grandes rios; os missionários e demais membros do clero, peças ativas na expansão europeia e no processo de urbanização da região; e mesmo os afro-brasileiros ali residentes, com suas culturas e identidades, não redutíveis a ‘escravos’. Vemos, nas fontes, todos eles circulando pelo território amazônico e colocando em movimento a fronteira que se estabelece desde o início do período colonial e que se amplia à medida que novos espaços e povos são incorporados no sistema global de intercâmbios políticos, econômicos e culturais. Leia Mais

Unidos perderemos: a construção do federalismo republicano brasileiro | Cláudia Maria Ribeiro Viscardi

Dizer que “Não há na História do Brasil nada mais velho que a ‘República Velha’” (VISCARDI, 2017, p. 18) é uma feliz escolha para propor a revisitação da política de transição entre a Monarquia e a República e discutir os impactos do federalismo na organização política nacional. Este é um dos enfoques de Cláudia Maria Ribeiro Viscardi, professora titular do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora. Autora de Teatro das Oligarquias (VISCARDI, 2001), obra enraizada na historiografia para oferecer uma leitura concisa sobre a participação dos estados-atores na política da primeira fase republicana, Viscardi apresenta uma nova proposta a respeito das consequências do federalismo na conjuntura do início da República e particularmente do governo Campos Sales. Unidos perderemos, como reconhece a autora, é uma continuação de discussões específicas sobre a descentralização política à época dos debates republicano-federativos. Leia Mais

Revista de História. São Paulo, n.178, 2019.

EDITORIAL

RESENHAS

DOSSIÊ: MODA E HISTÓRIA

DOSSIÊ: AMAZÔNIA GLOBAL: ESPAÇOS DE CIRCULAÇÃO E REPRESENTAÇÃO DA FRONTEIRA

DOSSIÊ: MOÇAMBIQUE EM PERSPECTIVA: HISTÓRIAS CONECTADAS, INTERDISCIPLINARIDADE..

PENSAR A HISTÓRIA, ESCREVER HISTÓRIA

ARTE E HISTÓRIA

CULTURA ESCRITA E PRÁTICAS COTIDIANAS

ESCRAVIZADOS, ESCRAVIZAÇÃO

HISTÓRIAS DE PORTUGAL

CIRCULAÇÃO, EXPLORAÇÃO

OLHAR O OUTRO

 

Arqueologia Pública. Campinas, v.13, n.2, 2019.[23].

Dossiê: Formação e atuação inter e multidisciplinar na gestão, valorização e proteção do patrimônio arqueológico

  • A inter e a multidisciplinaridade estão presentes na maioria das pesquisas desenvolvidas sobre o patrimônio arqueológico. Observa-se em cada projeto uma integração com outras áreas disciplinares, tanto do ponto de vista metodológico como do ponto de vista conceitual. Em particular no campo da gestão, valorização e proteção desses bens, a relação com outras áreas de conhecimento tem colaborado substancialmente na construção de novas percepções e abordagens.  A proposta do presente dossiê objetiva reunir reflexões sobre as especificidades e os desafios concernentes à formação e à atuação dos agentes do patrimônio dedicados ao complexo, inter e multidisciplinar processo de proteção de sítios e bens arqueológicos, que compreende toda uma sorte de ações racionalmente concatenadas com vistas à preservação e à socialização dessas referências culturais.
  • Editorial
  • Alejandra Saladino , Luana Campos
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ENSAIOS

ARTIGOS

PUBLICADO:2019-12-19

Crítica Histórica. Maceió, v.10, n.20, 2019.

Dossiê Mídia e Poder em Perspectiva Histórica

Editorial

Dossiê Temático

Fluxo Contínuo

Resenha

Publicado: 13/12/2019

Das Amazônias. Rio Branco, v.2, n.1, 2019.

Dossiê: República brasileira e Autoritarismo

Capa: Wálisson Clister Martins

Editorial

Artigos

Resenha

Publicado: 2019-11-13

Em Tempo de Histórias. Brasília, v.1 n.34, 2019.

Editorial

Artigos

Resenhas

Publicado: 2019-11-11

História, literatura e religião | Fênix – Revista de História e Estudos Culturais | 2019

A reunião de um grupo de historiadores para discutir das relações entre literatura e religião, ou as múltiplas possibilidades envolvidas na presença referente da religião na literatura afirma-se como uma possibilidade importante para pensarmos o métier do historiador nos dias de hoje.

A história não se contenta mais com as divisões estanques do passado, nas quais a sociedade, a economia e as relações de poder ocupavam lugar proeminente, capazes de relativizar a importância das religiões/religiosidades enquanto motivações de pesquisa. A religião passa hoje por uma revisão qualitativa do seu papel na estrutura social, em oposição ao ranço objetivista e materialista do passado, o qual mesmo quando reconhecia o seu papel operativo na sociedade, a subordinava a critérios de validade, que muitas vezes a depreciavam ou a negavam simplesmente. Leia Mais

Contextos – Estudios de Humanidades y Ciencias Sociales. Santiago, n.44, 2019.

Presentación

Artículos

Notas

Publicado: 2019-11-06

Educação democrática: antídoto ao Escola sem Partido – PENNA et al (TES)

PENNA, Fernando; QUEIROZ, Felipe; FRIGOTTO, Gaudêncio (Orgs.). Educação democrática: antídoto ao Escola sem Partido. Rio de Janeiro: UERJ, LPP, 2018. 192p. Resenha de: AFFONSO, Cláudio. Pilares firmes contra a Arquitetura da Destruição.  Revista Trabalho, Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v.18, n.2, 2020.

Ao apresentar seu filme, em 1989, o sueco Peter Cohen nos convidava a um voo rasante sobre uma aldeia na qual, segundo ele, as pessoas ansiavam por um mundo mais puro e harmonioso, rejeitando as ameaças da decadência, o caos espiritual e intelectual que, segundo elas mesmas, conduziriam sua amada pátria à escuridão. Purificada do mal, protegida da degeneração moral e estética da cultura bolchevique e da degradação dos débeis, inúteis e parasitários, a nação renasceria bela, limpa e forte. Segundo Gerhard Wagner, médico-chefe do Bureau de Beleza no Trabalho, criado nos anos 1930 e retratado no filme, “se ao proletariado fosse mostrado como ele deveria se lavar e se elevar ao nível da burguesia, ele – o proletariado, entenderia que não havia porque lutar”. Um verdadeiro despertar estético libertaria os trabalhadores de sua classe e a sociedade superaria o conflito de classes. Ditas e repetidas, orquestradas e estampadas, articuladas às condições de existência daquela Alemanha, estas verdades serviram de base para a Arquitetura da Destruição que se seguiu. Para o cineasta, a tarefa de evidenciar e denunciar esta ‘arquitetura’ fundamentaria o repúdio aos regimes antidemocráticos e seu banimento da História da humanidade.

No mesmo ano de 1989, do outro lado do Atlântico, a República parecia reinaugurar-se. Na esteira dos avanços prometidos pela Constituição de 1988 e ansiados por boa parte dos brasileiros, respirava-se a noção de direito público universal, a defesa de princípios democráticos e a valorização das liberdades individuais e coletivas, abandonando os duros anos da ditadura civil militar das décadas anteriores. Se é verdade que não havia consenso em torno dos conteúdos da democracia e da cidadania, podemos afirmar com alguma convicção que cidadão – fosse o portador de direitos civis e sociais, fosse o de direitos do consumidor –, e cidadania foram os substantivos mais repetidos do período.Neste contexto, e não sem muita luta, a educação pública, laica, de qualidade e para todos parecia um projeto possível. A ressurgência de antigos movimentos sociais e o nascimento de novas formas de organização e mobilização, tanto de cunho popular quanto elitistas, dotavam a sociedade civil de feição estonteantemente dinâmica. Esperava-se a construção de uma democracia substantiva, independente do que isto quisesse dizer para os diversos grupos em disputa.

“A democracia em vertigem”, documentário lançado por Petra Costa, em 2019, testemunha um dos pontos de chegada desta disputa. Capturadas no tempo presente, as imagens emolduradas pela narrativa da própria diretora conduzem o expectador a momentos de angústia e desolação: a democracia brasileira em frangalhos.

A frase: “A bandeira do Brasil jamais será vermelha”, pronunciada no discurso de posse do atual Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, em 1º de janeiro de 2019, talvez sirva de síntese metafórica daquilo que se instalou no Brasil nos anos recentes e que, como farsa – “um passado disfarçado voltando pela porta dos fundos” ( Konder, 1995 ), repete a Arquitetura da Destruição. Baseado numa espécie de milenarismo míope, ou salvacionismo débil, o regime de ódio político e intolerância, parece sustentar-se em concepções éticas, morais e estéticas que em muito fazem lembrar o irracionalismo fascista. A repulsa à Educação Democrática, e de resto, às instituições democráticas como um todo é, certamente, uma das bases fortes desta construção. Não é sem razão que a disputa pela Escola se tornou o centro aglutinador do movimento/programa/projeto/partido que, nos anos 2000, lançou-se ao combate em defesa de um Deus opressor e da Teologia da Prosperidade, da família parental, da moral machista e das ideologias ultrareacionárias e ultraliberais, autonomeando-se Escola Sem Partido (EsP) 1 .

Tudo isso para dizer: Educação Democrática: antidoto ao Escola Sem Partido, organizado por Fernando Penna, Felipe Queiroz e Gaudêncio Frigotto, é um livro imprescindível. E não apenas para quem se interessa por Educação. Lançado em 2018, reúne artigos de pesquisadores que àquela ocasião tinham assistido ao Golpe de 2016, mas não às eleições de outubro de 2018 e os primeiros meses do (des)governo Bolsonaro. Como o leitor logo perceberá, e talvez possa concordar, nem mesmo investigadores metódicos e criteriosos puderam antever o ritmo, a intensidade e a extensão da destruição que se seguiria. Aleatoriamente, mencionemos a Reforma Trabalhista, a subordinação do Ministério do Meio Ambiente ao Ministério da Fazenda, a liberação de um sem número de agrotóxicos, a extinção do Programa Mais Médicos e a ‘expulsão’ dos médicos cubanos em atividade no Brasil, o Decreto das Armas, os gigantescos cortes no financiamento da Educação Pública, a nomeação de Sérgio Moro Ministro da Justiça e da Segurança Pública e a avalanche de denúncias contra ele e, agora mesmo, a Reforma da Previdência. Ou, algum detalhe mais sutil, mas igualmente significativo, como a estratégia negacionista em relação ao Golpe Militar de 1964 e à Ditadura Militar que tem suscitado mecanismos de autocensura entre renomados autores e professores de História e Sociologia; ou a defesa que fez o Presidente da República ao afirmar que quer um futuro ministro do STF “terrivelmente” cristão, leia-se evangélico.

Se o livro ‘não viu tudo isto’ e, portanto, não traz a análise desta dramática conjuntura e suas implicações na fórmula do “Antídoto ao Escola sem Partido”, o que faz o livro? Aqui situa-se o ponto de inflexão mais importante que podemos tomar neste momento, segundo me parece. A obra faz ‘formação de base’, fundamenta pilares teóricos e, por que não dizer, ético-políticos para o enfrentamento que está em questão. Numa frase, tomada de empréstimo à Marise Ramos que assina a Introdução e inspirada na obra de Ellen Wood, Democracia contra capitalismo 2003, oferece muitas pistas para os que pensam que a democracia “em sua plenitude é incompatível com o capitalismo e odiada pela oligarquia dominante, não se pode lográ-la. Isto porém, não elide – ao contrário exige – a luta por sua conquista.” (p. 8).

Tomada como tarefa coletiva, a construção de pilares para o enfrentamento da desdemocratização do Brasil se faz de forma generosa e abundante ao longo dos textos. Em seu conjunto, o livro pode ser lido como resultado de três movimentos articulados: a delimitação criteriosa do ‘fenômeno’ Escola sem Partido, identificando e analisando suas bases materiais, institucionais e sua estratégia discursiva; a busca metódica das determinações históricas que conduziram à regressão das relações sociais capitalistas com a negação de seus postulados de integração dos indivíduos na diversidade social e do papel da escola no processo de socialização dos indivíduos nos valores do convívio coletivo e, a proposição de táticas de enfrentamento desta regressão, notadamente, o fortalecimento do Movimento Escola Democrática com perspectiva de gênero emancipatória. O ‘antídoto’ está, para os autores, na luta por democracia e escola democrática.

A análise do ‘fenômeno’ EsP, para o qual “O que verdadeiramente está acontecendo é que o conceito de ‘gênero’ está sendo utilizado para promover uma revolução sexual de orientação neo-marxista com o objetivo de extinguir da textura social a instituição familiar” (p.101), encontra-se em praticamente todos os textos. A diferença de ênfase talvez particularize as contribuições. Assim, os aspectos institucionais do EsP podem ser lidos em “Liberdade para a democracia: considerações sobre a institucionalidade da Escola sem Partido”, de Felipe Queiroz e Rafael Oliveira e “Direito à educação democrática: conquistas e ameaças”, de Russel da Rosa. Os aspectos discursivos são perscrutados em “Como o discurso da ‘ideologia de gênero’ ameaça o caráter democrático e plural da escola”, de Giovanna Marafon e Marina Souza; “O Movimento Escola sem Partido e a reação conservadora contra a discussão de gênero na escola”, de Fernando de Moura; “É que Narciso acha feio o que não é espelho: o ensinar e o aprender pela ótica do EsP”, de Carina Costa e Luciana Velloso e “A EsP na desdemocratização brasileira”, de Diogo Salles e Renata Silva. A análise do problema do ponto de vista das disputas históricas em torno da Escola, daquilo que Carlos Jamil Cury nomeou como “Educação e Contradição” ( 1995 ), encontra-se em “A disputa por educação democrática em sociedade antidemocrática”, de Gaudêncio Frigotto e “ Instrutio ou Educatio”, de Zacarias Gama. O centro da formulação tática encontra-se, segundo minha leitura, em “Construindo estratégias para uma luta pela educação democrática em tempos de retrocesso”, de Fernando Penna, mas também, e fortemente, no já citado texto de Giovana Marafon e Marina Souza.

Aos que sentem o ânimo combalido diante de tamanha avalanche, sirvo-me de duas imagens para concluir esta recomendação de leitura. A primeira está no Prólogo do também imperdível A era do cometa, do historiador alemão Daniel Schönpflug (2018) . Apropriando-se da tela “O cometa de Paris” (1918), de Paul Klee, ele descreve um contexto que “mirava exatamente esse limiar entre o passado e o futuro, entre a realidade e as projeções” ( Schönpflug, 2018 , p. 13). Tratava-se do ano de 1918, final da Primeira Grande Guerra Mundial e ano um da Revolução Russa. Usado como metáfora para definir um sinal do imprevisível, um arauto de grandes acontecimentos, de transformações profundas e, até mesmo, de catástrofes, o cometa representa o alvorecer de novas e impensadas possibilidades no horizonte, e futuros desconhecidos. Lembremo-nos que, percebidos ou não, cometas seguem cruzando o céu 2 .

A segunda, não menos importante, e que devemos a Gramsci, reafirmar o pessimismo da inteligência, otimismo da vontade. As diversas sínteses, organizadas em artigos independentes, nos permitem avançar rapidamente na fixação de pilares firmes para a luta por democracia radical e plural.

Eis o antídoto. Eis a tarefa.

Boa leitura!

Referências

CURY, Carlos Jamil. Educação e contradição: elementos metodológicos para uma teoria crítica do fenômeno educativo. SP, Cortez, 1995. 7ª ed [ Links ]

KONDER, Leandro. O novo e o velho. O Globo. 27/05/1995 [ Links ]

SCHÖNPFLUG, Daniel. A era do cometa: o fim da primeira guerra e o limiar de um novo mundo. São Paulo: Todavia, 2018, p.13 [ Links ]

Notas

1 O esforço analítico empreendido por FRIGOTTO, Gaudêncio (Org). Escola “sem” partido: esfinge que ameaça a educação e a sociedade brasileira . Rio de Janeiro: UERJ, LPP, 2017 merece ser considerado pelos que desejam compreender melhor o fenômeno.

2 CÁSSIO, Fernando (org.). Educação contra a barbárie: por escolas democráticas e pela liberdade de ensinar. São Paulo: Boitempo, 2019. é mais uma luz no céu escuro.

Cláudia Affonso Colégio Pedro II , Rio de Janeiro , RJ , Bras. E-mail: professoraclaudiaaffonso@gmail.com

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(P)

[História em Curso. Belo Horizonte] Caderno de Resumos – 1° Seminário Afroancestralidades: Debates para além do tempo

Caderno de Resumos do 1° Seminário Afroancestralidades: Debates para além do tempo, organizado pelo Departamento de História e Laboratório de Pesquisa Histórica (LAPHIS) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), realizado entre os dias 18 e 19 de novembro 2019.

Edição completa

Apresentação

  • ALVES, Rogéria Cristina; MARTINS, Andréia. Descolonizar o currículo através da História da África e da Educação Escolar Quilombola
  • ARCANJO, Matheus Lucas; ARAÚJO, Vitor Paulo Azevedo de. Memória, História e Identidade: limites e possibilidades da ação sóciopolítica arqueológica no Cais do Valongo
  • AZEVEDO, Letícia Silva. O sangue na lousa: afrodescendência na escola sob o prisma da violência
  • BERNARDI, Ricardo Fernandes Di. O banto na formação da classe operária em Belo Horizonte (1895-1919)
  • COSTA, Fhilippe Ribeiro da; SANTOS, Fernanda Mendes; CRUZ, Mariana Brescia. Imperialismo, racismo e eurocentrismo: uma leitura das Aventuras de Tintim .
  • CRUZ, Mariana Brescia. História, Literatura e Trauma: uma análise de Hibisco Roxo (2003)
  • CRUZ, Walace Alexsander A. O Pentecostalismo negro de Willian Seymour: Um cristianismo segregado como mecanismo de resistência e inclusão social .
  • DORNELAS, João Pedro Gonçalves; FURTADO, Felipe Pereira. Capoeira: O Mestre e as suas referências aos Griots .
  • FRANCK. Helena Meireles. As perspectivas de uma mediadora de leitura preta inserida em uma biblioteca comunitária
  • FURTADO, Felipe Pereira: LAMANNA, Christian. Capoeira Angola: resistência e emancipação através do corpo
  • INÁCIO, Matheus Morais. O desvelamento do Mundo-Periferia na perspectiva do “Vida Loka” através das músicas do grupo de rap Racionais MC’s .
  • JESUÍNO, Matheus Jesus. O Racismo estrutural como instrumento de dominação a partir da formação identitária aos países da Ilha de São Domingos .
  • JORDÃO, Luiz Antonio. A Fotografia e a questão racial: A lei n° 10.639/03 e o ensino de artes
  • MENDES, João Victor Virtuoso. Afrocentralidade e sua importância do afrocentrismo nas narrativas gregas sobre os “etíopes”
  • MILEIB, Vinícius Augusto. A construção do Discurso Colonial por Bhabha e Mbembe .
  • MINISTÉRIO, Ana Carolina de Vasconcelos. Representação e Autoria Negras nas Artes Visuais no Brasil: uma proposta de mediação
  • MOREIRA, Gabriella Figueiredo do Carmo; AMPARO, Erika Silva. Mulheres negras no teatro
  • OLIVEIRA, Letícia Marcela Ferreira de; SILVA, Lorena Cruz e; TAVARES, Mariana. Formação de espaços civilizatórios africanos: reinos de Luba e Lunda
  • OLIVEIRA, Lucas Henrique; TORQUATO, Ana Maria Santos. Enfrentando a lógica eurocentrista da produção do conhecimento
  • PACHECO, Gabriela Barbosa; BELMIRO, Dalila Maria Musa. A ABL não merece Conceição Evaristo: reconhecimento e estruturas de opressão no processo de escolha do novo imortal
  • PAULA, Nilda Silva Carvalho. As meninas negras .
  • SANTOS, Fernanda Mendes. Em nome da mãe: as obras de Scolastique Mukasonga a partir do genocídio tutsi em Ruanda (1994)
  • SILVA, Ana Clara Gonçalves. Afrorreligiões e suas cosmovisões: heranças e inuências na história da agricultura e agroecologia no Brasil
  • SILVA, Mateus Roque da. Cenas da abolição: a questão negra expressa em “Memorial de Aires” (1908) de Machado de Assis
  • SILVA, Mauro Luiz da. Os 200 anos da Igreja do Rosário de Belo Horizonte: Negligências, Silêncios e Resistências!

Publicado: 19-02-2020

Os brasileiros e a Segunda Guerra Mundial | Francisco César Ferraz

Após 77 anos da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, a obra de Francisco César Ferraz – Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Londrina – nos mostra como foi intenso, impreciso e incerto enviar cidadãos brasileiros à guerra. Apesar de pouco valorizada, a atuação direta desses homens através da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e do grupo de caça brasileiro conhecido como “Senta Pua”, foram determinantes no cenário de guerra dos campos de batalha italianos, em vitórias como a tomada do Monte Castelo e Montese.

O livro é dividido em dez capítulos, além da cronologia, referências, fontes – como o ensaio de Francisco Ruas Santos, Fontes para a história da FEB, e o livro de Cesar Campiani Maximiano, Onde estão os nossos heróis? Uma breve história dos brasileiros na 2ª Guerra – sugestões de leitura e o último sobre o leitor. As divisões são feitas de forma cronológica onde o autor retrata os motivos e a preparação que culminaram na presença brasileira. Leia Mais

História Militar. [?], v.10, n.26, nov. 2019.

História Militar. [?], v.10, n.26, nov. 2019.

  • A moeda cunhada: uma antiga inovação militar
  • Daniel Kosinski
  • Pivot para a Ásia: uma análise da política externa dos EUA e seu legado
  • Letícia Cordeiro Simões de Moraes Lima e Vitor Deccache Chiozzo
  • A influência de Clausewitz no Alto Comando Alemão durante a Segunda Guerra Mundial
  • Douglas Guimarães Siqueira
  • Guerra das Malvinas – uma visão sobre as fases do conflito
  • Felipe Malachini Maia
  • Um cirurgião no front: a participação de Juscelino Kubitschek na Batalha do Túnel
  • Jamicel Francisco Rocha da Silva
  • Reações da Marinha do Brasil em face aos ataques dos submarinos alemães na Segunda Guerra Mundial
  • Albertini Luiz de Souza Rodrigues
  • O Atlântico Sul e a Crise no Golfo da Guiné: desafios e oportunidades para o Brasil
  • Luiz Guilherme Oliveira Tosta Montez
  • Resenha — A participação das forças armadas brasileiras na Segunda Guerra Mundial
  • Rafaelle Torres Pereira da Silva
  • Livro em destaque: “Criméia: a história da guerra que redesenhou o mapa da Europa no século XIX”

 

Pequenos acasos cotidianos. Presentes e desastres da vida cotidiana | Juliana Russo

Toda vez que abro um livro da Juliana Russo recebo de cara um convite. Nesse Pequenos acasos cotidianos não seria diferente (ela também é autora do livro São Paulo infinita). Mas este convite não é formal nem explícito. É um convite velado, sutil, sensível, subterrâneo, palavra tornada desenho. É um convite imediato, mas que precisa ser composto, combinado e descoberto pelo leitor ao virar página por página. Nesse passo a passo das folhas o convite emerge… um caminhar convidando o leitor a caminhar! Um caminhar pelo livro, um caminhar pela cidade.

Juliana nos apresenta esses desenhos, belos e às vezes desengonçados e imprecisos traços, como um convite a acompanhá-la numa caminhada qualquer de um dia qualquer por uma cidade que poderia ser qualquer. Calhou de ser São Paulo (Perdizes ao Centro e de volta), calhou de ser dia 9 de agosto de 2017. O que vemos nesse livro é um relato de viagem, um “mapa de percurso” como queria Michel de Certeau – o cara da Invenção do cotidiano (1), um mapa mentalizado de um caminhar pela cidade observando e lembrando, recordando, recortando, resgatando rastros de um tempo que passa, de um cotidiano que continua. Juliana segue os rastros do cotidiano, anota-os, resgatando-os e colecionando-os. Os presentes (tanto o adjetivo quanto o substantivo) e os desastres desenhados pelo simples desejo de torná-los presente, fixos e eternos. “Os lugares têm uma lembrança própria” sussurra Juliana em algum momento do relato, do mapa, da caminhada. Leia Mais

Museologia & Interdisciplinaridade. Brasília, v.8, n.16, 2019.

Museus e Educação: História e Perspectivas Transnacionais

Foto: Mão de Rosella Andreassi – Autor: Giorgio Calabrese  – Università degli Studi del Molise Local: Museo della Scuola e dell’Educazione popolare – Campobasso  Data: 23/05/2017 Evento: “Vite maestre tra libri, registri e quaderni. La dimensione locale della ricerca e il patrimonio storico educativo” 

Editorial

  • Editorial
  • Ana Lúcia de Abreu Gomes, Clovis Carvalho Britto, Monique Batista Magaldi
  • PDF

Dossiê Museus de Educação: histórias e perspectivas transnacionais

Artigos

Dossiê Especial – IV Sebramus

Publicado: 2019-11-01

Machado de Assis: a poética da moderação – BASTOS (MAEL)

BASTOS, Alcmeno. Machado de Assis: a poética da moderação. Rio de Janeiro: Batel, 2018. 315 pp. Resenha de: AZEVEDO, Sívia Maria. Machado Assis Linha v.12 n.28 São Paulo Sept./Dec. 2019  Epub Nov 25, 2019.

Se a expressiva e longa atuação de Machado de Assis no exercício da crítica teatral vem recebendo importante recepção entre os estudiosos (FARIA, 2008), ainda são relativamente poucos os trabalhos que se debruçam sobre a crítica literária machadiana, comparados aos estudos voltados à prosa de ficção (romances e contos) e, mais ultimamente, à crônica. Por isso mesmo, é muito bem-vindo o livro de Alcmeno Bastos (2018, p. 11), Machado de Assis: a poética da moderação, no qual o autor se propõe “[…] identificar a poética pela qual se guiou Machado de Assis no exercício da crítica literária e teatral, ofício que desempenhou no decurso de grande parte de sua vida intelectual”.

Bastos chama de “poética da moderação” a poética da crítica machadiana pautada pelos princípios defendidos em “O ideal do crítico” (1865) – “ciência”, “consciência”, “coerência”, “independência”, “tolerância”, “urbanidade” -, em relação aos quais, segundo o autor, “[…] Machado de Assis se manteve fiel […], exercendo uma crítica ‘ciente’ e ‘consciente’, marcada pela recusa à agressividade (com raríssimas exceções), sob o império da moderação […]” (BASTOS, 2018, p. 14).

Assim, a “poética da moderação” é o princípio condutor por meio do qual Bastos empreende o rastreamento dos principais textos de crítica literária e teatral de Machado de Assis, na promoção de um diálogo em que, sem deixar de reconhecer especificidades de ambas as áreas, privilegia a coerência de Machado aos postulados estéticos e éticos no exercício da crítica.

Agrupados em blocos temáticos, os textos de crítica literária e teatral de Machado de Assis são submetidos a leituras minuciosas, a começar por aqueles que atendem ao título “profissões de fé”, nos quais Machado identifica as qualidades necessárias para o exercício da crítica, que deveria ter função reguladora e normativa, explorados no capítulo “As profissões de fé: o ideal do crítico e o crítico ideal: ‘ciência’ e ‘consciência’, pilares da crítica machadiana”. Aqui foram selecionados os textos “Ideias sobre o teatro” (1859), “A crítica teatral. José de Alencar: Mãe” (1860) e “O ideal do crítico” (1864), ao lado de alguns pareceres que Machado de Assis exarou, enquanto censor do Conservatório Dramático, atividade que exerceu em 1862-1864 e 1886-1887. Cabe ainda mencionar as duas cartas do Dr. Semana, dirigidas ao Presidente do Conservatório Dramático Brasileiro, Antônio Félix Martins, publicadas em 3 e 17 de abril de 1864, na Semana Ilustrada, nas quais o cronista, em tom irônico, convida a autoridade censória a visitar o Alcazar Lírico para constatar a decadência moral do público e a baixa qualidade das peças encenadas naquele teatro. Bastos atribuiu essas cartas a Machado de Assis por coincidirem com o período em que o escritor atuou como censor- quando “Inúmeras vezes […] externou o ponto de vista de que o teatro tinha função social civilizadora e, portanto não podia aceitar peças que ofendessem a moral” (BASTOS, 2018, p. 46) -, crítica endereçada às peças levadas no Alcazar Lírico, o que vai ao encontro do teor das missivas do Dr. Semana.

O segundo eixo temático responde pelos “balanços críticos”, textos nos quais Machado de Assis empreende uma visão de conjunto da produção literária e dramatúrgica da época, objeto do capítulo “Os balanços críticos: a quantas andavam a literatura e o teatro no Brasil nos anos 1860/70”. Essa seção é contemplada com os textos “O passado, o presente e o futuro da literatura brasileira” (1858), “Notícia da atual literatura brasileira. Instinto de nacionalidade” (1873), “A nova geração” (1878) e “O teatro nacional” (1866), seleção que, como se vê, descarta a linha evolutiva, e com isso a divisão da obra machadiana em duas fases. Ao longo desses quase vinte anos, se Machado de Assis imprimiu nuances a seu pensamento crítico, ao tratar de questões como o indianismo, a cor local na aferição da nacionalidade, a adesão dos escritores às novas tendências estéticas oriundas da Europa, tais como o teatro “realista”, nem por isso houve “[…] uma mudança acentuada em suas convicções crítico-teóricas, sempre marcadas pela consideração ponderada das razões em choque” (BASTOS, 2018, p. 58).

As resenhas de Machado de Assis sobre o movimento teatral no Rio de Janeiro, publicadas nas seções “Revista de Teatros” (O Espelho, 1859-160) e “Revista Dramática” (Diário do Rio de Janeiro, 1860-1861), e os estudos, produzidos de forma esparsa, sobre a obra dramática de Gonçalves Dias, Joaquim Manuel de Macedo, Antônio José, Quintino Bocaiúva, Oliveira Lima, entre outros, integram o capítulo “Machado de Assis vai ao teatro: a militância crítica no estudo (preferencial) de autores e peças contemporâneos e alguns estudos singulares”. Nesses textos, Bastos reconhece a fidelidade de Machado de Assis ao princípio de independência, ao criticar os desempenhos de João Caetano e Eugênia Câmara, aquele, pelo exagero na representação, esta, por estar mais afinada com a comédia do que com a tragédia. A defesa da função social do teatro justificaria a referência de Machado pelo teatro realista, mais adequado à representação da realidade, embora sem deixar de reivindicar a liberdade na criação artística.

Os textos mais propriamente de crítica literária de Machado de Assis, sobre poetas e ficcionistas, sobretudo os contemporâneos, receberam capítulo à parte: “Na crítica literária, um Machado mais atento à poesia (e aos poetas) que à prosa de ficção (ao romance, aos romancistas e aos raros contistas)”. Neste título-resumo (como em outros do livro), Bastos não apenas informa o leitor sobre o perfil do capítulo, mas também, no caso, a preferência de Machado pelos poetas em vez dos romancistas e contistas, o que talvez tenha passado despercebido, mesmo entre os machadianos. Outra novidade foi extrair de várias crônicas de “A Semana”, publicadas na Gazeta de Notícias, com base em obra anterior (AZEVEDO; DUSILEK; CALLIPO, 2013), os rápidos comentários de Machado acerca de ficcionistas, alguns dos quais, Coelho Neto, Raul Pompeia, Aluísio Azevedo, José Veríssimo. Em relação aos poetas de seu tempo, nenhum nome importante deixou de receber a atenção de Machado de Assis, que se manifestou tanto sobre os que o tempo consagrou, como Gonçalves de Magalhães, Junqueira Freire, Fagundes Varela, Álvares de Azevedo, quanto sobre os que ficaram esquecidos (Bruno Seabra, Alberto Zaluar, Adélia Fonseca etc.), sem deixar de contemplar os estrangeiros (Garrett, Gomes de Amorim, Guilherme Malta).

Os paratextos escritos por Machado de Assis para os seus romances, livros de contos, poemas e peças teatrais foram analisados no capítulo “Machado de Assis se apresenta ao leitor: a função metadiscursiva dos prefácios, prólogos, das advertências”. A inclusão desses textos no livro em pauta significa que Bastos os compreende como integrantes da bibliografia machadiana sobre crítica literária, o que é mais outra novidade trazida pela obra. A defesa de um “realismo seletivo”, a conformidade das ações das personagens às motivações interiores, o consórcio entre dados procedentes da realidade e a invenção do autor são princípios norteadores da crítica literária e teatral, a repercutir nos paratextos machadianos, com ressalvas em relação ao prólogo de Memórias póstumas de Brás Cubas, por já integrar o tecido ficcional, e aos de Esaú e Jacó e Memorial de Aires, pela ambiguidade quanto à autoria dos textos apresentados ao leitor.

Os últimos capítulos do livro foram dedicados a Eça de Queirós e José de Alencar, respectivamente, “Uma polêmica logo descontinuada (por ‘tédio à controvérsia’?): Eça de Queirós e a questão do realismo” e “José de Alencar: o romancista e o dramaturgo lidos e admirados pelo crítico Machado de Assis”. No primeiro, Bastos aborda a célebre querela em torno d’O Primo Basílio, em 1878, sobre o qual Machado de Assis se manifestou em artigos, nos quais reiterou suas convicções acerca da representação ficcional da realidade. Essa foi das raras ocasiões em que Machado se pronunciou mais duramente como crítico literário; ainda assim, o tom severo da sua crítica ficou muito distante do acirrado debate travado na imprensa carioca da época, do qual participaram vários nomes de peso (NASCIMENTO, 2008). No capítulo sobre José de Alencar, localizado não por acaso no fecho do livro, que se abrira com ele como epígrafe, na carta enviada em 1868 a Machado de Assis, apresentando-lhe Castro Alves, o pesquisador carioca resenha três modalidades de intervenção crítica de Machado acerca da obra de Alencar: a crítica literária (Iracema, 1866), a crítica teatral (Verso e reverso, O demônio familiar, As asas de um anjo, Mãe, O que é o casamento?, 1866) e o prefácio (edição comemorativa de O guarani, 1887, que acabou não acontecendo), sem esquecer as provas de admiração manifestadas em várias ocasiões, em crônicas e discursos.

Como balanço geral, o livro de Alcmeno Bastos vem trazer importante contribuição aos estudos machadianos, quanto à atuação de Machado de Assis no exercício da crítica literária e teatral, ao promover frutífero diálogo entre essas duas áreas de militância crítica, norteadas pelos princípios da “poética da moderação”.

Referências

AZEVEDO, Sílvia Maria; DUSILEK, Adriana; CALLIPO, Daniela Mantarro (Orgs.). Machado de Assis: crítica literária e textos diversos. São Paulo: Editora UNESP, 2013. [ Links ]

BASTOS, Alcmeno. Machado de Assis: a poética da moderação. Rio de Janeiro: Batel, 2018. [ Links ]

FARIA, João Roberto (Org.). Machado de Assis: do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2008. [ Links ]

NASCIMENTO, José Leonardo. A recepção de O Primo Basílio na imprensa brasileira do século XIX: estética e história. São Paulo: Editora UNESP , 2008. [ Links ]

Sílvia Maria Azevedo – É professora adjunto de Teoria Literária e Literatura Comparada, do Departamento de Literatura, UNESP/Assis, tendo publicado artigos e livros sobre Machado de Assis, dentre os quais a organização das seguintes antologias Badaladas Dr Semana (São Paulo: Nankin, 2019, t. I e II), História de quinze diasHistória de trinta dias (São Paulo: Editora UNESP, 2001), Machado de Assis: crítica literária e textos diversos (São Paulo: Editora UNESP, 2013), em colaboração com Adriana Dusilek e Daniela Mantarro Callipo. É autora da reedição de O Momento Literário, de João do Rio (São Paulo: Editora Rafael Copetti, 2019), com Tania Regina de Luca, e da obra Brasil em imagens: um estudo da revista Ilustração Brasileira (1876-1878) (São Paulo: Editora UNESP, 2010). https://orcid.org/0000-0001-7679-1919. E-mail: silrey@uol.com.br.

Pesquisas ibero-americanas em Educação Matemática: formação de professores, ensino e aprendizagem | Educar em Revista | 2019

O dossiê reúne artigos decorrentes de pesquisas que abordam sobre a formação de professores que ensinam matemática e os diferentes aspectos da docência em universidades ibero-americanas. A proposta de dossiê potencializa o diálogo de autores que apresentam diferentes aspectos da formação inicial e continuada.

Temos visto que nos últimos anos muitos têm sido os esforços para o desenvolvimento de investigações que contribuam com o ensino e aprendizagem em matemática. Alguns estudos, como os de Plaza e Cury (2012), apresentam levantamentos sobre as pesquisas que buscaram os equívocos mais comuns de aprendizagem da matemática ou de sua utilização como reflexão em formações continuadas no Brasil. Em se tratando da preocupação com a formação de professores, Bernadete Gatti tem sido, no Brasil, uma das pesquisadoras que veem se debruçando para compreender as dificuldades e avanços da formação inicial e continuada de professores, em específico podemos constatar parte desses resultados em seu artigo Gatti (2010). Com relação às especificidades da formação de professores que ensinam matemática, podemos citar também os esforços de investigação acadêmica de um grupo de pesquisadores coordenados por Oliveira e Fiorentini (2016). Leia Mais

Escritas do Tempo. [Marabá], v.1, n.2, 2019.

Escritas do Tempo

Editorial

  • Editorial
  • Marcus Vinicius Reis, Erinaldo Cavalcanti, Karla Leandro Rascke, Geovanni Gomes Cabral
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Artigos

Entrevistas

Resenhas

Expediente

Publicado: 2019-10-31

Escenarios de família: trayectorias, estratégias y pautas culturales, siglos XVI–XX | Juan Francisco Henarejos López e Antonio Irigoyen López

O livro Escenarios de família: trayectorias, estratégias y pautas culturales, siglos XVI–XX é resultado dos trabalhos empreendidos pela Red de Estudios de Familia de Murcia (REFMUR), um grupo de estudos promovido pela Universidad de Murcia e pela Fundación Séneca. A REFMUR tem por objetivo oferecer reflexões, sugestões e pesquisas sobre a família, um elemento que podemos considerar como uma das problemáticas históricas mais atuais e, ao mesmo tempo, mais complexas. O livro, ao longo de suas páginas, visa a demonstrar como a família pode representar uma importante ferramenta teórica e metodológica para que se possa adentrar na análise da complexidade da realidade social.

Todavia, antes de mergulharmos mais a fundo nos temas abordados na obra em questão, consideramos fundamental apresentar ao leitor o local de produção desse livro: o grupo de estudos REFMUR. Como já mencionado, esse grupo está vinculado à Universidad de Murcia; contudo, esse não tem a intenção de ser apenas mais um grupo acadêmico que realiza pesquisas dentro da universidade e que acaba por se manter somente no campo da reflexão acadêmica. Tampouco mantém o isolamento que os estudos históricos costumam observar com relação às continuidades e mudanças sociais contemporâneas. Pelo contrário, o REFMUR demonstra que compreender a família, como objeto de estudo, reflete as formas de organização e de vida da sociedade, uma vez que que a família tem suas raízes no tempo histórico plenamente. Leia Mais

Língu@ Nostr@. Vitória da Conquista, v.6, n.1, 2019.

Apresentação

Artigos – Dossiê

Resenhas

Publicado: 2019-10-31

Epistemología e Historia de la Ciencia. Córdoba, v.4, n.1, 2019.

Epistemología e Historia de la Ciencia

Artículos

Traducciones

Publicado: 2019-10-28

Projeto História. São Paulo, v.66, 2019.

SET/DEZ: Política, Cultura e Sociedade: temas e abordagens do Brasil Contemporâneo

Apresentação

Artigos Dossiê

Artigos livres

Resenhas

Notícia de Pesquisa

Entrevistas

Publicado: 2019-11-28

 

Revista Brasileira de Filosofia e História. Pombal, v.8, n.1, 2019.

Artigos

Publicado: 2019-10-24

EmRede – Revista de Educação a Distância. Porto Alegre, v. 6, n. 2, 2019.

Ensino Híbrido ou Blended Learning

Expediente

Capa e expediente

Mára Lúcia Fernandes Carneiro | PDF

Editorial

Dossiê Ensino Híbrido ou Blended Learning

Artigos

Publicado: 2019-10-22

Mundos do Trabalho. Florianópolis, v.11, 2019.

Editorial

Artigos

Dossiê 2019.1 – “Trabalhadores e Segunda Guerra Mundial”

Dossiê 2019.2 – “Beatriz Ana Loner: Mundos do Trabalho e Pós-Abolição”

Resenhas

Expediente

EE Equipe Editorial..

Publicado: 2019-10-22

Formar novos rurais | Valério Alécio Turnes, Wilson Schmidt e Thaíse Costa Guzatti

“Formar Novos Rurais”, escrito em parceria por Valério Alécio Turnes, Wilson Schmidt e Thaíse Costa Guzzatti, constitui-se num livro de ensino-aprendizagem destinado a orientar a formação empreendedora de jovens no campo como parte do Programa Novos Rurais. Constituído por 189 páginas, inclui imagens, mapas, gráficos, quadros e notas que contribuem para uma apresentação textual muito didática. O prefácio, escrito pelo oficial de Programas da FAO, Carlos Antônio Ferraro Biasi, assinala a importância da agricultura familiar e do estímulo aos jovens rurais e pontua o conteúdo que está estruturado didaticamente em quatro módulos: as recentes mudanças no meio rural; os novos horizontes para os jovens; as fontes de financiamento para o empreendimento; as possibilidades e o planejamento de um empreendimento agrícola ou não agrícola. Leia Mais

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.5, n.10, 2019.

Catolicismo, poder e sociedade

Editorial

Dossiê

Artigos

Expediente

  • Expediente
  • Bárbara Ferreira Fernandes, Ana Paula Dutra Bôscaro
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Publicado: 2019-10-21

Faces de Clio. Juiz de Fora, v.5, n.10, 2019.

 

Temporalidades. Belo Horizonte, v.11, n.2, 2019.

Edição 30 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 11, n.2 (mai./ago. 2019)

Expediente

Pré-textuais

  • Allysson Fillipe Oliveira Lima; Ana Luisa Ennes Murta e Murta, Douglas Lima de Jesus, Gisele Gonçalves Dias Pinto, Henrique Rodrigues Caldeira, Kelly Morato de Oliveira, Laura Jamal
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Editorial

Dossiê Temático

Artigos Livres

Entrevistas

Publicado: 2019-10-07

Oficina do Historiador. Porto Alegre, v.12, n.1, 2019.

APRESENTAÇÃO

ARTIGOS

RESENHAS

Publicado: 2019-10-04

Revista de Ensino, Educação e Ciências Humanas. Londrina, v. 20, n.3, 2019.

Artigos

Publicado: 2019-10-02

The New Brazilian University – A busca por resultados comercializáveis: para quem? – SILVA JUNIOR (TES)

SILVA JUNIOR, João dos R. The New Brazilian University – A busca por resultados comercializáveis: para quem?. São Paulo: Canal 6 Editora, 2017. 288 pp. Resenha de: ALVES, Giovanni. A ideologia da New Brazilian University. Revista Trabalho, Educação e Saúde, v.17, n.3, Rio de Janeiro,  2019.

O livro de João dos Reis Silva Júnior intitulado “The New Brazilian University – a busca por resultados comercializáveis: para quem?” (Projeto Editorial Praxis/RET, 2017), é uma importante contribuição para o entendimento da nova ofensiva do capital sobre as universidades públicas no Brasil. O livro possui uma introdução: “As tendências da universidade estatal no Brasil em face das influências dos Estados Unidos da América” e quatro capítulos nos quais o autor trata do capitalismo acadêmico na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); elementos de uma teoria do capitalismo acadêmico; a mundalização financeira, Estado neoliberal e as mudanças nas universidades em âmbito mundial (World Class University); e o novo papel da universidade estatal brasileira. É um livro interessante (e necessário) que preenche a lacuna de uma crítica da nova organização neoliberal da instituição ‘universidade estatal’ com impactos na natureza da produção do conhecimento e na atividade de trabalho do professor-pesquisador (o que nos ajuda a entender uma nova dimensão da precarização do trabalho docente).

O autor disseca o histórico e a natureza do ‘capitalismo acadêmico’, como ele denomina uma academia que busca resultados comercializáveis. Ao colocar-se no seio do capitalismo acadêmico por excelência, os Estados Unidos da América (Silva Júnior realizou este estudo durante sua estadia na Arizona State University), o autor situou-se num território privilegiado para exercer a crítica de um paradigma acadêmico que se disseminou pelo mundo global.

O título em inglês do livro, tal como a imagem mitológica da capa (Saturno devorando seus filhos), possuem candentes significados: a imagem da capa intitulada “Saturno” (de Peper Paulo Rubens, 1577-1640), é a metáfora suprema do capital devorando a civilização que no século XXI assume seu patamar histórico mais elevado, com o capitalismo neoliberal. O título em inglês do livro de Silva Júnior não é gratuito – é a expressão da colonização neoliberal da universidade, uma das instituições mais caras da civilização humana. No caso do Brasil, pelo menos desde a década de 1990, o capitalismo neoliberal significou o aprofundamento de tendências instauradas pela ditadura militar (1964-1984). O capítulo 1 do livro, no qual o autor tratou do capitalismo acadêmico na UFMG, expõe a visada histórica desde 1967. A miséria neoliberal no Brasil é, de certo modo, uma herança maldita da ditadura militar.

O autor abre o capítulo 1 com um estudo sobre a UFMG, o concreto com base no qual o autor disseca teoricamente – nos capítulos seguintes – as múltiplas determinações do capitalismo acadêmico e as perspectivas da universidade brasileira no século XXI. Silva Júnior reconhece o primado do objeto concreto segundo o qual ele vai expor a totalidade histórica da mundialização financeira, o Estado neoliberal no Brasil e as profundas mutações do processo de produção do conhecimento na era do capitalismo global que leva a forma-mercadoria do conhecimento à sua dimensão exaustiva – ou melhor, adequando a formulação à imagem mitológica da capa do livro, à sua dimensão autofágica.

O capital como sujeito automático da autovalorização do valor devora sua própria cria. A autofagia do capital expõe uma densa (e íntima) contradição que percorre a própria natureza do processo: valor de uso versus valor de troca, processo de trabalho versus processo de valorização, natureza e capital. Silva Júnior busca dissecar o processo de transformação da produção do conhecimento nas condições históricas da mundialização financeira do capital. O professor-pesquisador tornou-se trabalhador industrial – especializado – no sentido de estar mais próximo dos interesses da grande indústria (ou fazer parte da complexa cadeia de produção de valor na era das revoluções tecnológicas).

A forma-mercadoria complexa exige a adequação da cultura institucional das universidades como polo de produção de conhecimentos, um conhecimento que busca resultados comercializáveis. A nova forma institucional que a universidade brasileira deve adotar é o que Silva Júnior denomina “The New Brazilian University”. O nome é a marca. O foco do estudo no polo historicamente mais desenvolvido – as universidades estadunidenses – permite afirmar o preceito metodológico marxiano: “a anatomia do homem é a chave para a anatomia do macaco” (Marx, 2011, p. 58); ou seja, o mais desenvolvido explica o menos desenvolvido. Foi nos EUA que Silva Júnior descobriu o DNA da nova cultura institucional da universidade brasileira. A New Brazilian University ou a cultura institucional do capitalismo acadêmico no Brasil, que se corporifica nas universidades públicas que produzem conhecimento em parceria com a empresa privada.

A parceria da empresa privada com a universidade pública é o modo institucional de espoliação do fundo público pelo capital. A ‘New Brazilian University’ é a cultura do regime de acumulação por espoliação, adequado não apenas à mundialização financeira do capital que encontra nos EUA seu polo mais desenvolvido, mas a tradição oligárquica do capitalismo brasileiro na qual o público, desde as priscas eras do capitalismo colonial-escravista, confunde-se com o interesse do privado oligárquico.

A nova cultura institucional da universidade brasileira tem um impacto no processo de trabalho do professor pesquisador. Na verdade, ela explica – em última instância – a precarização do trabalho docente nas universidades públicas e privadas que incorporam as formas derivadas da lógica do valor, ou aquilo que Marx denominou trabalho abstrato (a forma do trabalho que produz valor, e, portanto, o fundamento da forma-mercadoria). Silva Júnior tem uma vasta reflexão sobre o trabalho alienado (ou estranhado) do professor nas universidades públicas, tendo portanto investigado as formas de degradação do trabalho do professor-pesquisador nas universidades no mundo do capital na sua cotidianidade. Não podemos esquecer que o estranhamento (Entfremdung) – como categoria lukacsiana – é, “em grande medida, também um fenômeno ideológico, [e] que em particular a luta individual-subjetiva de libertação do estranhamento possui um caráter essencialmente ideológico” (Lukács, 2013, p. 637). A ‘New Brazilian University’ é uma poderosa ideologia do capital no mundo acadêmico brasileiro. Ela move corações e mentes da vaidade e labor acadêmicos tendo, como telos efetivo, a busca por resultados comercializáveis. Portanto, a ideologia da ‘New Brazilian University’ é um componente ineliminável de “precarização da pessoa humana que trabalha” como professor pesquisador nas universidades brasileiras (Alves, 2016, p. 210).

Diante da crise estrutural de financiamento público das universidades brasileiras, a elite dirigente do ensino superior no Brasil proclama o modelo da ‘New Brazilian University’. Não poderia ser diferente – de FHC a Bolsonaro, passando por Lula, Dilma e Temer, a lógica do capitalismo acadêmico se impõe como modo de produção do capital em sua etapa de declínio histórico (o que explica sua dimensão autofágica).

Silva Junior tem uma formação marxista de base ontológica que lhe permite enriquecer o veio crítico, evitando reducionismos e determinismos mecanicistas. Neste livro, o autor nos conduz a entender as determinações estruturais e institucionais do estranhamento do trabalho nas universidade brasileiras, com o conceito de ‘New Brazilian University’, operando com riqueza, a crítica do capitalismo acadêmico. A análise da Reforma do Estado na era neoliberal no Brasil, o complexo jurídico-institucional que regulamenta a educação superior brasileira, os caminhos da commodification da produção do conhecimento na universidade brasileira, coloca o livro de Silva Júnior como sendo a crítica mais contundente da manifestação histórica da lógica capitalista na instituição universitária no Brasil – e quiçá, no mundo global. Mas, Silva Júnior não perde a particularidade concreta. Embora analise a universidade nos Estados Unidos, seu interesse é a crítica do trabalho na universidade brasileira, o que credencia a sua análise crítica com a força da dialética.

Referências

ALVES, Giovanni. A tragédia de Prometeu: a degradação da pessoa humana que trabalha na era do capitalismo manipulatório. Bauru: Praxis editorial, 2016. [ Links ]

LUKÁCS, György. Para uma ontologia do ser social II. São Paulo: Boitempo editorial, 2013. [ Links ]

MARX, Karl. Grundrisse – Manuscritos econômicos de 1857-1858: esboços da crítica da economia política. São Paulo: Boitempo editorial, 2011. [ Links ]

Giovanni Alves – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Marília, São Paulo, Brasil. <alvesgiovanni61@gmail.com>

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(P)

Negação e poder: do desafio do niilismo ao perigo da tecnologia – OLIVEIRA (RFA)

OLIVEIRA, J. R. Negação e poder: do desafio do niilismo ao perigo da tecnologia. Caxias do Sul: Educs, 2018. Resenha de: VIOLA, Geovani. Revista de Filosofia Aurora, Curitiba, v.31, n.54, p.986-992, out./dez, 2019.

As ideias de Hans Jonas não representam “apenas” o pensamento de um filósofo clássico do século XX, mas remetem a uma das vozes mais importantes da ética contemporânea. O inventário de sua filosofia demonstra que seu interesse, no âmbito teórico, esteve voltado para a filosofia da religião e à filosofia da natureza (a partir dos interesses em torno da vida), e, em âmbito prático, para os efeitos da técnica e o despertar de uma nova ética.

No Brasil, o interesse pela obra de Jonas decorre inicialmente de sua proposta ética e pode ser demarcado pela tradução precursora do capítulo Por que a técnica moderna é um objeto para a ética? da obra Technik, Medizin und Ethik. Zur Praxis des Prinzips Verantwortung (Frankfurt a/M, Insel, 1985, pp. 42-52, mais tarde traduzido pelos membros do GT Hans Jonas da ANPOF), realizada pelo professor Oswaldo Giacoia Júnior. Posteriormente, a tradução da obra O Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica (Contraponto, PUCRio, 2006) abriu caminho para uma série de publicações acerca do autor. Outros trabalhos de divulgação e interpretação foram se somando às traduções, mas é com a obra Negação e Poder, o “fascinante livro de Jelson Oliveira”1, que o pensamento de Jonas tem um novo e significativo capítulo impresso no cenário nacional.

O texto é fruto de pesquisa de pós-doutorado realizada na Universidade de Exeter, no Reino Unido, em 2016, sob supervisão do professor Michael Hauskeller. Sua publicação em 2018, estabelece definitivamente um marco no cenário filosófico brasileiro, sobretudo pelo protagonismo das conexões feitas por Oliveira entre o tema da técnica com os desafios do niilismo, atrelando o pensamento jonasiano ao de Nietzsche e de Heidegger. Se Jonas não explicitou a unidade teórica de seus textos, Oliveira demonstra que o conceito de niilismo é o traço característico e ao mesmo tempo um fio condutor da obra de Jonas (p. 24).

É sabido que as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial e o crescimento exponencial da tecnologia impactaram e redirecionaram o interesse de Jonas, pois representavam um problema que advinha, sobretudo, de um âmbito eminentemente prático. A obra Negação e Poder segue as pistas de Jonas para demonstrar que, embora tais fatos fossem novos como fenômenos da modernidade, eles partilham com a Antiguidade o mesmo sentido daquela negação do mundo já identificada por Jonas nos movimentos gnósticos do cristianismo primitivo. Se na tradição gnóstica tal negação era expressa na forma hostil com a qual o homem se relacionava com o mundo, segundo a tradição existencialista, tal negação era revelada pela via da indiferença, cujo resultado é o mesmo — e talvez até mais grave: o antinomismo, o amoralismo, o libertinismo, o ascetismo, a crise da temporalidade e a abertura para a exploração da natureza como resultado daquela indiferença (p. 24

Se o uso de armas químicas e biológicas já tinha sido razão para preocupação na ocasião da Primeira Guerra Mundial, o desfecho da Segunda Grande Guerra deixou um legado ainda mais ameaçador com relação ao emprego da técnica para fins nocivos: as explosões das duas bombas atômicas no Japão e os experimentos com seres humanos nos campos de concentração alemães alertaram o mundo quanto ao descompasso que havia sido perpetrado pelas ações humanas. Esse contexto conservou o tema do gnosticismo, tratado como uma tipologia existencial, no horizonte das análises jonasianas durante toda sua vida. Oliveira evidencia que os textos sobre o assunto continuaram sendo revistos e produzidos, uma vez que a “forma existencial gnóstica” assumiu uma “dimensão paradigmática” no seu pensamento, tanto do ponto de vista teórico, quanto ético. Mais do que isso, o niilismo moderno é apresentado por Oliveira como chave de leitura para o diagnóstico jonasiano da era moderna, pois uma vez que a ciência esvaziou o sentido que antes era oferecido pelas crenças e superstições, ela própria seria um desdobramento do niilismo. Eis uma marca relevante da sociedade ocidental.

Digno de nota é o argumento de Oliveira acerca da diferença do homem gnóstico com o homem técnico. Se o primeiro lutava contra o mundo para fugir dele, o segundo trabalha no mundo para explorá-lo como fonte de recursos, amparado em um avanço do progresso que cresce proporcionalmente ao distanciamento do homem em relação à natureza (p. 25), um distanciamento tomado não apenas em relação ao mundo, mas também do ser humano perante si mesmo e em relação à sua imagem. O que a análise alcança é precisamente o despertar para o fato de que a posição de distanciamento que adviria, sobretudo do antropocentrismo moderno, teria por consequência um tratamento com a vida que não passaria por uma “inclusão”, mas, ao contrário, seria marcado por uma intensa “exclusão”.

Se o primeiro tipo de niilismo negava o mundo, o segundo exerce um poder sobre ele: negação e poder, por isso, antes de serem pares contrapostos, devem ser entendidos como elementos confluentes e intercomplementares (p. 25), pois conforme já havia indicado Jonas, em The phenomenon of life (p. 250), a filosofia existencialista — com seu “gnosticismo moderno” — produziu uma separação abissal entre o homem e a natureza. Para Oliveira, as duas formas de niilismo representam o modus operandi da cultura ocidental, segundo o qual a civilização cresce em sentido proporcionalmente contrário à natureza. Coadunando, assim, com a análise de Jonas quando afirma que essa separação chegou ao ponto em que “nunca uma filosofia preocupou-se tão pouco com a natureza quanto o existencialismo, para quem ela não conservou nenhuma dignidade” (PV, p.250), a obra Negação e Poder elucida com a acuidade peculiar do autor, como a natureza, na modernidade, foi destituída de qualquer dignidade quanto a fins e valores e transformada em um grande laboratório de experimentações. Desse modo, na medida em que a perda da dignidade humana ocorre como desligamento do homem em relação à natureza, ou seja, um erro avaliativo sobre o seu próprio lugar no âmbito da vida, tal situação “leva-nos mais uma vez de volta ao dualismo entre ser humano e physis, como fundo metafísico da situação niilista” (PV, p.251).

Negação e Poder está metodologicamente estruturada em cinco partes, sendo que cada novo capítulo representa, segundo o próprio autor, “um incremento aprofundado da abertura teórica anterior” (p. 30). No primeiro, Oliveira demonstra que Jonas, embora parta de suas próprias perspectivas teóricas acerca do niilismo, retoma o conceito a partir de Nietzsche e Heidegger, sobretudo na sua associação ao diagnóstico de decadência e declínio da civilização ocidental (p. 34), processo que culminará com a ruptura entre homem e o mundo. Mais do que isso, na concepção do mundo como um lugar inóspito e a natureza como um corpo morto, o que faz com que a ciência moderna se apoie em uma “ontologia da morte” (PV, p.30) e o homem defina-se enquanto ser, negando seu pertencimento ao âmbito da vida. Oliveira demonstra, no primeiro capítulo, que há um fio condutor na obra de Jonas em torno do tema do niilismo que pode ser organizada em três eixos temporais e temáticos (p. 125-126): a dimensão cósmica-gnóstica com seus estudos acerca da natureza, a dimensão onto-antropológica com seus estudos acerca do homem e a dimensão ética com seus estudos acerca da tecnologia. Em cada dimensão há em comum o diagnóstico de um dualismo latente. O niilismo, derivado desse dualismo, torna-se uma rejeição do mundo físico, que, pela via da ciência moderna, trouxe um afã de exploração humana da res extensa tida como inerte, sem preocupação e responsabilidade, sendo essa também a marca da ciência e da tecnologia moderna, as quais, legitimadas pela filosofia existencialista, compreendem o mundo pela vida da indiferença.

Oliveira finaliza o primeiro capítulo demonstrando que, embora Jonas tenha recebido influências de Nietzsche e Heidegger acerca da análise do niilismo, ele possui uma formulação própria do problema, ligada à atitude de negação do mundo na forma da hostilidade, da indiferença ou da exploração tecnológica. Em seguida, no segundo capítulo, o autor aborda três Formas do niilismo, sendo eles o niilismo cósmico, compreendido como negação do mundo; o niilismo antropológico, isto é, a negação da “imagem” do homem ou da própria ideia do que seja o homem propriamente dito; e o niilismo ético, amparado no diagnóstico do niilismo técnico, que deixou a humanidade sem um critério moral capaz de orientar a técnica. A técnica, nesse contexto, promove muitos êxitos, mas, desamparada eticamente, não é capaz de “julgar a sua eficácia do ponto de vista do bem da espécie”, apresentado por Oliveira como uma nova versão da ideia de “bem comum”, posto que ampliado para o âmbito extra-humano (p. 247).

O tema do terceiro capítulo é justamente O niilismo da técnica, que teria como característica a “desumanização e a desominização na forma de um acosmismo” (p. 260) e tratado por Oliveira a partir de quatro aspectos que demonstram como a técnica se apresenta em sua forma niilista: a sua dinâmica formal, a sua “vontade de ilimitado poder”, a ignorância dos fins e dos valores e a utopia do progresso. Esses quatro aspectos evidenciam, como produto da utopia tecnológica, a negação do caráter autêntico da humanidade atual em função de uma nova humanidade, culminando com uma “natureza desnaturalizada e um homem desumanizado” (p. 340). Dessa forma, o capítulo cumpre o objetivo de demonstrar os resíduos niilistas da técnica, movida por uma dinâmica própria e impulsionada por uma perspectiva utópica.

No quarto capítulo, denominado O transumanismo é um niilismo, Oliveira apresenta o transumanismo como último reduto das utopias e herdeiro do niilismo por três razões (p. 341): partem de uma “neutralização da imagem de homem” (SDD, 120); [2] que o ser humano, tal como ele foi até agora, permaneceu preso aos limites impostos pela natureza, portanto, a natureza ou mesmo a condição humana devem ser superadas para que o homem seja melhor no futuro — trata-se ainda de uma “ontologia do ‘ainda não’”; [3] a tecnologia ofereceria a possibilidade de melhoramento, mas sua ação permanece sempre atirada a si mesma, dado que lhe falta uma imagem ou modelo e mesmo um objetivo claro capaz de orientar o seu fazer. Embora Jonas não utilize o termo transumanismo, Oliveira elucida que sua reflexão inaugura a possibilidade de uma análise desse fenômeno, principalmente a partir da atividade reconfiguradora da biotecnologia, eis que o chamado movimento transumanista coloca-se no cerne no debate a respeito da reconfiguração do ser humano (e da vida em geral), posto que pretende corrigir e alterar (melhorar) a performance e obter total controle sobre a natureza, mesmo diante da ausência de um modelo (ou mesmo de objetivos claros) para tal. O quarto capítulo é finalizado demonstrando que as promessas do transumanismo, de prolongamento da vida ou cura da morte, acabam assumindo ares religiosos, na medida em que um dos pontos centrais da religião sempre foi a promessa da imortalidade.

No quinto e último capítulo, Oliveira detalhará que “ao pensar o niilismo como marca principal da história ocidental” (p. 395), a proposta de Jonas se apresenta, portanto, tanto como um diagnóstico de suas consequências, quanto como uma tentativa de formulação de três perspectivas esboçadas por Hans Jonas para o Enfrentamento do niilismo, sendo elas: a articulação de uma nova ontologia, uma nova antropologia e uma nova proposta ética baseada na responsabilidade. Sua ontologia é constituída a partir de uma compreensão biológicofilosófica do fenômeno da vida, o que seria uma nova interpretação do fenômeno da vida, por meio de um monismo de terceira via, ou de um monismo integral. A partir de tal ontologia, Oliveira explana como Jonas, embora não tenha desenvolvido uma nova antropologia, aponta para essa perspectiva a partir de um religamento do homem com a natureza/mundo/cosmos. Por fim, a terceira forma apresentada para o enfrentamento do niilismo está constituída em sua proposta ética, que é baseada na responsabilidade e seu fundamento é declaradamente metafísico, uma vez que se apoia em uma nova formulação para a pergunta sobre o Ser. Nesse sentido, o princípio responsabilidade nasce tanto de uma nova visão a respeito do homem (uma nova antropologia), quanto de uma nova perspectiva a respeito dos seus poderes tecnológicos, sendo que o princípio ético fundamental, do qual o preceito extrai sua validade, é o seguinte: “a existência ou a essência do homem, em sua totalidade, nunca podem ser transformadas em apostas do agir” (PR, p.86).

O Epílogo, por sua vez, resgata, na forma ensaística, um personagem tornado central por Camus na interpretação existencialista da condição humana. Diferente de Camus, o interesse de Oliveira é pelo Sísifo que ergue a pedra. “O que me interessa em Sísifo não é a sua tomada de consciência sobre o absurdo, mas o fato de que, diante da falta de sentido, ele continue trabalhando” (p. 473). Sísifo serve de fonte mítica para a interpretação do tecnologismo, que revela a condição existencial de nossa era, que da mesma forma, ao fazer, deixa de pensar e sem pensar, “seu fazer é redundante, sem finalidade, fechado no ato presente e, por isso, irresponsável diante do futuro” (p. 473). A condição de Sísifo serve de metáfora para a moderna tecnologia, na qual a atividade se torna obrigação por excelência, e, nesse caso, serve como uma espécie de conclusão do livro, na qual Oliveira, mais do que analisar o niilismo e seu desdobramentos, apresenta uma tarefa à filosofia: encontrar meios de contribuir para construir uma convivência que minimize as suas consequências. Aqueles que se interessam pela obra de Jonas certamente encontrarão neste livro um valioso subsídio para o melhor entendimento desse autor, pois se trata de um texto criterioso e original. Jelson Oliveira sempre desenvolveu intensa e extensa publicação de cunho filosófico, com grande dedicação à pesquisa. Essa é sua 31ª obra publicada. Se a quantidade impressiona, é a egrégia qualidade de sua pesquisa e maturidade de seu texto que lhe proporcionam respeito e reconhecimento junto à comunidade da área. Negação e Poder, sem a menor dúvida, posiciona o autor, no cenário nacional e internacional, entre o rol de experts dos estudos jonasianos.

Nota

1 Expressão utilizada por Michael Hauskeller, professor da Universidade de Liverpool, no prefácio (p. 15) da obra Negação e Poder.

Geovani Viola – Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutor em Filosofia. E-mail: geovani.moretto@pucpr.br

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