Quem governa o mundo? | Noam Chomsky

Noam Chomsky, nascido em 1928, na Filadélfia, é linguista, filósofo, cientista, comentador e ativista político. Doutor pela Universidade de Harvard e professor emérito em Linguística pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, se destaca pelo ativismo contra a guerra do Vietnã, como se pode constatar em uma outra obra chamada “O poder americano e os novos mandarins”, publicada no ano de 1969, a qual avalia a intervenção norte americana na Ásia.

Conhecido desde a década de 1960 por frequentar o debate acadêmico sobre temas políticos, possui forte teor crítico em relação às políticas dos Estados Unidos da América, país dito como principal impositor no discurso global. Autor da Teoria Central da Linguística que diz que os humanos possuem uma capacidade inata de linguagem embutida no cérebro, o autor mostra apreço pela comunicação. Também se destaca como “o maior intelectual da esfera pública” segundo a Observer e de acordo com o New Statesman “quem quer conhecer melhor nosso mundo tem de ler Noam Chomsky”. Leia Mais

Mito, arquétipo e arte nas Performances Culturais / Revista Mosaico / 2020

Neste momento, em que estamos escrevendo a apresentação de um dossiê temático que há muitos meses nos ocupa e a humanidade está passando por uma pandemia grave, de proporções inimagináveis a nós todos há pouco menos de um mês atrás, temos que valorizar mais ainda o humano que existe em todos nós, e que desde tempos imemoriais atua como uma força propulsora de ações e pensamentos que, de uma forma ou outra, representa nossas dinâmicas mais profundas. Embora muitas epidemias tenham existido durante o trânsito da humanidade na superfície terrestre, essa em especial nos atinge quando somos todos adeptos de tecnologias virtuais instantâneas e podemos tanto difundir mais rapidamente doenças, ideias e ajudas, como transitar nos mundos pessoais e coletivos ao mesmo tempo. De forma simbólica, o mundo se aproximou, mas também é certo que as ajudas humanitárias viajam mais rapidamente de um lugar a outro. Pensar hoje o mote desse dossiê é pensar na atualidade de alguns mitos, expressões de dinâmicas arquetípicas, e dar vazão a uma das áreas humanas que mais ‘salvam’ o nosso espírito neste momento: a arte. Obviamente que os textos do dossiê não tratam desta pandemia, mas deixamos aqui uma pista para o leitor: pense esta época como o descortinar de problemas escondidos para debaixo do tapete da humanidade e das nações e que não mais poderemos negar daqui por diante. Várias dinâmicas arquetípicas e assuntos coletivos estão em pauta, como a questão do meio ambiente, a pobreza, a ganância, a solidariedade, o binômio saúde-doença e, não menos importante, a questão do amor (por si, pelo outro, pelo coletivo…).

O dossiê “Mito, arquétipo e arte nas Performances Culturais”, coordenado pelos doutorandos Luana Lopes Xavier, Ivan Vieira e pela professora Dra. Nádia Maria Weber Santos, do PPG em Performances Culturais da UFG, congrega 13 breves ensaios (12 nacionais e um internacional), relacionados à temática. Foi pensado inicialmente a partir da disciplina homônima cursada por mestrandos e doutorandos do Programa Interdisciplinar citado, em 2018-2. Porém, o dossiê vai além, uma vez que seu mote interdisciplinar dialoga perfeitamente com inúmeras disciplinas, o que fica óbvio a partir dos artigos publicados, configurando-se, assim, num campo de pesquisa profícuo em que a disciplina História é muito próxima de nossas discussões.

A reflexão principal deste conjunto de textos passa por apresentar e interpretar os diversos sistemas simbólicos em que se inserem os processos imagéticos contidos nas Performances Culturais. Estes sistemas são nomeados como mitologias ocidentais e orientais, contos de fada, folclore, cosmogonias e mitologias religiosas, astrologias, alquimia e outros sistemas culturais da representação humana. Os ensaios apresentam e discutem alguns sistemas simbólicos, incluindo os símbolos universais, isto é, arquetípicos, relacionando-os às temáticas e aos objetos de pesquisa de seus autores. As discussões teóricas dos textos são direcionadas a autores das Performances Culturais bem como a teóricos estudados na disciplina e aprofundados nos artigos, como o filósofo neo-kantiano Ernst Cassirer, o pensador da psique, original e revolucionário no século XX, Carl Gustav Jung e alguns historiadores, como por exemplo, Roger Chartier. Alguns conceitos são explorados pelos autores na inter-relação com seus objetos de estudo, entre eles: sistemas simbólicos, imagens míticas, mitologema, arquétipos e símbolos arquetípicos. Partindo da indagação “como pensar as imagens arquetípicas na produção imagética contemporânea e qual a relação entre imagem, ação e Performance”, os ensaios, embora breves, percorrem o caminho da tentativa de interpretação de algumas destas imagens, correlacionando sempre psique individual e psique coletiva.

Seria profícuo, aqui, esclarecermos, mesmo que rapidamente, nossos motes conceituais. Por Arquétipos, entendemos, a partir da definição feita pela psicologia junguiana, os constituintes (juntamente com os instintos) do inconsciente coletivo. Aparecem de forma mais pura nos contos de fada, mitos, lendas e folclore. Etimologicamente, a palavra arquétipo origina-se no grego archḗ (ἀρχή) e significa início, origem e num sentido mais amplo também arcaico, primitivo, primordial, elementar; e týpos (τύπος), cujo sentidos são impressão ou marca. Arquétipo é, assim, uma marca primordial do humano, dentro do humano (e não fora, não metafísica, como o querem alguns críticos da teoria…). É, sim, a disposição estrutural básica para produzir uma certa narrativa mítica. Ele é, além de “pensamento elementar”, também fantasia e imagem poética elementar, uma emoção elementar, um impulso elementar dirigido a alguma ação típica (situações típicas de vida). As dinâmicas arquetípicas, expressas simbolicamente na produção imagética da humanidade, revelam os dramas humanos mais típicos presentes em todas as sociedades.

Os mitos são a primeira expressão das formas arquetípicas e a linguagem essencial pela qual o conhecimento humano se manifestou por longos períodos, antes que a humanidade desenvolvesse o pensamento filosófico ou científico. Originalmente, a palavra mŷthos (μῦθος) descrevia qualquer tipo de relatos ou narrativas referentes ao presente e ao passado. Esta palavra se cristalizou na preferência de Homero e mais tarde os filósofos antigos preteriram os mŷthoi dos mitógrafos em favor de uma outra palavra: lógos (λόγος). O esforço era feito para desvencilhar a construção narrativa da Filosofia daquela realizada pela Mitologia.

Os filósofos categorizaram o mito e separaram a sua narrativa em funções, dentre as quais podemos destacar a função cosmológica ou teogônica, associadas ao ritual e ao culto religioso; a função etiológica, adequada a seu uso sociológico; a função mística, adquirindo um caráter consolatório para uma humanidade sem condições de desenvolver o pensamento filosófico; ou a função androgógica, estabelecendo uma relação de ensino e aprendizagem entre o mito e o indivíduo. Contudo, a maioria dos artigos reunidos nesse dossiê se interessam pelo que Mircea Eliade chamou de “mito vivo”, quer dizer, o mito que independente da função desempenhada se inseria num contexto de comunicação simbólica com as pessoas de um determinado lugar e contexto. Somente o “mito vivo” desempenha a última função do mito, que é a função psicológica belamente detalhada em muitos aspectos na obra de Carl Gustav Jung. O “mito vivo” apresenta a cada indivíduo da sociedade os modelos para a conduta humana e os velhos caminhos, percorridos uma e outra vez, pelos deuses e heróis da cultura na qual o indivíduo está inserido.

E mesmo na contemporaneidade, onde o mito parece ter perdido sua função explicativa e orientadora, ainda podemos sentir a sua força e perenidade quando descobrimos sua interação com as imagens simbólicas emanadas dos arquétipos. Afinal, os mitos contados e recontados, tantas vezes desde a aurora dos tempos, na infância da humanidade, cristalizaram em si as forças arquetípicas que até hoje conduzem o psiquismo humano.

A arte pode juntar-se a ambas definições acima. Nela encontramos possibilidades de romper com concretudes pré-estabelecidas, de nos reconhecer dentro de nossa condição humana. Somos sujeitos no mundo porque estabelecemos relações simbólicas e culturais que nos circundam.

A arte tem nos mostrado o espírito do nosso tempo e é por meio dela que podemos, sem necessidade racional, compreender a situação atual e os limites da própria existência. Somos corpos sensíveis e reincorporamos símbolos na medida em que criamos o tempo todo; a necessidade de criar se instaurou no ‘aqui e agora’ e é tempo de pensar o sentido da vida e a necessidade da arte. Nesse viés, frente ao capitalismo excessivo de nossa época e aos precipícios que a racionalidade nos impõe, por que não recorrermos a discussões sobre a natureza humana?

A arte, assim como os mitos, ou seja, o simbólico, nos propicia entrar em contato com as camadas primeiras, com as questões fundamentais. Ou seja, nos redirecionam ao ‘ser bruto’ e nos ligam indefinidamente à vida.

Desta forma, alguns exemplos práticos e analíticos foram pensados pelos autores, em suas temáticas e objetos de pesquisa, dialogando sempre com autores importantes. O que une a todos, assim como aos três conceitos sugeridos é a questão simbólica, sendo o símbolo a melhor forma de exprimir um estado de coisas que não pode ser expresso por outra coisa melhor do que por uma analogia.

Por fim, gostaríamos de agradecer à editora da Revista Mosaico da PUC de Goiás, Thais Marinho, que aceitou nossa ideia de publicar este dossiê. A proximidade do PPG de História da PUC Goiás, que esteve presente na formação deste PPG em Performances Culturais da UFG, nos é ainda muito cara e relevante. A disciplina História é um das que está na base desta área de diálogos interdisciplinares, assim com o Teatro, a Antropologia e as artes em geral. Agradecemos, também a todos autores, que se esmeraram em produzir ensaios que refletiram nossas preocupações em discutir o simbólico, através dos mitos, das tradições locais, arquetípicas e ou dentro dos mais diversos campos artísticos.

E que este momento de incertezas quanto à vida humana que estamos passando nos faça crescer em humanidade e em reflexões sobre o que realmente importa daqui para a frente em termos de coesão de propósitos para transformar o mundo em algo melhor.

Ivan Vieira Neto – Professor Assistente do Curso de História da Escola de Formação de Professores e Humanidades da PUC Goiás. Discente de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Performances Culturais da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás. Universidade Federal de Goiás. E-mail: vieira. pucgoias@yahoo.com

Luana Lopes Xavier – Doutoranda em Performances culturais (UFG). Mestre e Bacharel em Filosofia (UFG). Universidade Federal de Goiás. Universidade Federal de Goiás. E-mail: luanafilosofia@gmail.com

Nádia Maria Weber Santos – Doutora em História (UFRGS). Médica, psiquiatra junguiana desde 1986. Bolsista de produtividade em Pesquisa do CNPq. Professora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Performances Culturais (UFG). Universidade Federal de Goiás. E-mail: nnmmws@gmail.com


VIEIRA NETO, Ivan; XAVIER, Luana Lopes; SANTOS, Nádia Maria Weber. Apresentação. Revista Mosaico. Goiânia, v.13, n. especial, 2020. Acessar publicação original [DR]

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El peronismo obrero. Consideraciones a partir del devenir político y sindical de los trabajadores de los frigoríficos | Gustavo Nicolás Contreras

El peronismo obrero forma parte de la Colección La Argentina Peronista: política, sindicalismo, cultura. Gustavo Nicolás Contreras, licenciado en historia y docente de la Universidad Nacional de Mar del Plata, elabora un recorrido histórico a partir de la década de 1870 hasta finales de 1950 en el que revisa la lucha política y sindical de los trabajadores de la carne en la República Argentina, así como su reclamo por los derechos de los obreros y el surgimiento del movimiento peronista. Leia Mais

O crime da Galeria de Cristal: e os dois crimes da mala | Boris Fausto

Os chamados faits divers, ou seja, tudo o que é fora do comum, insólito ou inesperado, têm frequentado, desde o final do Oitocentos, as páginas da imprensa e assegurado o sucesso de várias publicações. A fórmula tem se adaptado a cada novo veículo, seja o rádio, a televisão ou a internet. Os crimes bizarros constituem-se em fonte inesgotável, como atesta, por exemplo, os programas das redes de televisão abertas, que cotidianamente esmiúçam detalhes de perversidades variadas. Para ficar apenas num exemplo, basta citar o caso ocorrido em fevereiro de 2020, no programa policialesco da TV Record de São Paulo, Cidade Alerta, apresentado por Luiz Bacci, que informou, ao vivo, para uma mãe que sua filha acabara de ser assassinada pelo namorado. O caso gerou fortes críticas, tendo em vista a espetacularização barata da dor alheia, regada por altas doses de falta de ética.

Tais práticas, é importante lembrar, remontam ao final do século XIX, momento em que os jornais, então os principais veículos de comunicação, narravam, não sem doses de sensacionalismo, a repercussão de crimes, conforme demonstra Boris Fausto no seu novo livro, O crime da Galeria de Cristal: e os dois crimes da mala. São Paulo, 1908-1928. O autor organizou a obra em duas partes: a primeira, intitulada “O crime da Galeria de Cristal”, contém dez capítulos [71] e outra, sob o título “Os crimes da mala”, divide-se em doze capítulos. [72] A obra abre-se com uma introdução e encerra-se com conclusão e anexo, que traz o diário de um dos réus, publicado originalmente em 1908 no jornal O Estado de S. Paulo. Leia Mais

Paulo Freire. Santiago, n.23, 2020.

Artículos de Investigación

Políticas públicas y procesos de enseñanza desde una mirada federal/Revista Pilquen. Sección Ciencias Sociales/2020

Este número especial de la Revista Pilquen Sección Ciencias Sociales de la UNCo, que presenta un dossier sobre Administración Pública, responde a la convocatoria realizada oportunamente por la Red Universitaria de Carreras de Administración y Política Pública (RUCAPP) Leia Mais

História da Saúde, das doenças e da Assistência / História em Revista / 2020

Constituída como área de pesquisa histórica, a saúde consolidou-se através de pesquisas que auxiliam a discussão acerca do contexto histórico e social.

Com o surgimento da Covid-19, o mundo precisou, novamente, aprender a conviver com uma doença global. A pandemia modificou hábitos que alteraram a economia e todas as demais dinâmicas sociais. Os serviços de saúde e seus profissionais passaram a ganhar destaque no combate ao vírus, como na prevenção e na busca da cura.

Pensando nessa perspectiva, ao voltarmos nosso olhar para as discussões que envolvem a história da saúde, das doenças e da assistência, podemos vislumbrar de forma apurada, as relações do passado frente às dificuldades sanitárias impostas ao longo do tempo.

Assim, este dossiê se propõe a discutir estes olhares sobre os diversos períodos de tempo e de espaço, bem como as conexões e interfaces com outros campos, buscando a interdisciplinaridade, sempre mediada pelo aprofundamento teórico e metodológico no diálogo com os acervos e a bibliografia pertinente.

Assim, pesquisas históricas vêm ampliando esse debate, ao promoverem o diálogo entre a saúde, as doenças e a assistência, a partir da compreensão dos seus objetos, problemas e metodologias, amparadas nas fontes.

A organização desse dossiê se apresenta em seções temáticas, reunindo autores com abordagens de diversos recortes.

Na primeira seção – “Saúde tem história” – comparecem autores nacionais e estrangeiros, trazendo contribuições significativas como atestam seus textos.

Entre diferenças e similaridades: um estudo comparativo a respeito dos olhares sobre a “saúde” e a “doença” em “manuais de medicina popular”, homeopáticos e alopáticos, de finais do oitocentos, escrito por André Portela do Amaral é resultado de uma investigação sobre o conteúdo de três “manuais de medicina popular”, publicados no final do século XIX e amplamente divulgado no período.

Escrito por Astrid Dahhur, Circulación, prácticas y medicina popular: una reflexión sobre el curanderismo en el siglo XIX argentino, o texto busca refletir sobre a importância da circulação da informação através da oralidade, nas sociedades rurais dos séculos XIX e XX na Argentina, especialmente na província de Buenos Aires, com foco em como as pessoas reuniam informações úteis para garantir o acesso à saúde para elas e suas famílias.

Paulo Staudt Moreira e Nikelen Acosta Witter, no texto: O exercício de curar supõe o hábito e costume de o fazer: boticas e boticários no oitocentos no Brasil meridional buscam, com base em processos-crime, inventários post-mortem, artigos de jornais, documentos da cúria e do governo do Rio Grande do Sul, em comparação com a rica historiografia brasileira sobre o tema, apresentar um quadro da dinâmica dessas boticas e dos seus boticários e sua inserção na capital da província mais meridional do império brasileiro.

O artigo intitulado Sobre as virtudes medicinais dos insetos na obra Paraguay Natural Ilustrado de José Sánchez Labrador S. J. (1776-1776), escrito pela historiadora Eliane Cristina Deckmann Fleck, apresenta a análise de um dos livros que compõem a quarta parte da obra Paraguay Natural Ilustrado, escrita pelo padre José Sánchez Labrador, a partir de suas observações da fauna e da flora das regiões que compreendiam a Província Jesuítica do Paraguai. Na obra, o autor descreve as virtudes terapêuticas e os modos de preparo de vinte e um insetos, como escorpiões, aranhas, cantáridas, grilos e piolhos.

As autoras Laura Schäfer e Maria Helena Itaqui Lopes trazem o artigo denominado Do transplante de órgãos à engenharia de tecidos: a história que tem revolucionado a medicina e salvado vidas que tem como objetivo apresentar a história das descobertas relativas ao transplante de órgãos, a pesquisa desenvolvida até a atualidade e o impacto da pandemia pela Covid-19 nesses procedimentos.

Em seguimento, são trazidas histórias de doenças, que ampliam os estudos neste recorte temático, reforçando o campo de pesquisa que vem granjeando vivo interesse nos últimos tempos.

O artigo As doenças e o atendimento aos enfermos nos primórdios da ocupação do Continente de São Pedro (século XVIII), escrito por Rogério Machado de Carvalho se popoem a mostrar, a partir da análise e cotejamento dos documentos transcritos nos Anais do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul com a bibliografia de referência sobre o tema, as causas que motivavam as doenças que acometiam os soldados e os primeiros colonos instalados na Vila de Rio Grande, no século XVIII. Apresentando ainda, através da trajetória de Sebastião Gomes de Carvalho, primeiro cirurgião do Rio Grande de São Pedro, as condições encontradas pelos colonos e soldados instalados em uma região fronteiriça da América portuguesa.

Mui Señor Mio, despues de hauer reconozido las medizinas, parese que ha encontrado de menos todo lo que parese su papel: um estudo sobre o tratamento de tumores no Paraguai Colonial (Séculos XVII E XVIII) é texto de autoria de Bernardo Ternus de Abreu. Ele investiga concepções dos jesuítas sobre tumores, através de sua documentação escrita na região da Província Jesuítica do Paraguai, no Setecentos, procurando levantar informações sobre os itens utilizados para os tratamentos, bem como algumas características das intervenções medicinais realizadas.

Leonor C. Baptista Schwartsmann apresenta o artigo intitulado O fenômeno imigratório e o controle do Tracoma: repercussões da doença. Ela busca identificar as relações entre imigração e tracoma, uma doença ocular de grande incapacitação que pode levar à cegueira. Procurou fazer uma abordagem da enfermidade a partir de autores que explicaram sua presença ligada à mobilidade humana pelo Brasil.

É de autoria de Bruno Chepp da Rosa o texto intitulado Páginas de um saber médico: a presença da tuberculose em trabalhos publicados no Archivos Rio-Grandenses de Medicina. O artigo está dividido em duas partes: na primeira, é comentado sobre a constituição de uma imprensa médica em Porto Alegre a partir da fundação do Archivos Rio-Grandenses de Medicina (1920-1943), periódico cujas páginas serviram aos interesses profissionais de médicos diplomados e atuaram como um canal de enunciação e difusão de um saber médico-científico no estado; na segunda parte, discute-se a presença da tuberculose em trabalhos publicados no Archivos. Para tanto, é obedecido um recorte analítico: sem dar conta da totalidade de estudos publicados a respeito dessa doença, são selecionados textos em que seus autores discutiam estratégias profiláticas, meios diagnósticos e recursos terapêuticos empregados contra a tuberculose em um período que antecedia o tratamento eficaz com antibiótico.

Concepção e desenvolvimento da exposição ‘Gripe Espanhola: a marcha da epidemia’ do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul”, escrito por Angela Beatriz Pomatti e Gláucia G. Lixinski de Lima Kulzer tem como objetivo apresentar o cotidiano da cidade de Porto Alegre, entre outubro e dezembro de 1918, período da eclosão da epidemia na cidade, abordada na exposição realizada pela instituição, além de apresentar a forma como foi pensada e organizada.

Janete Abrão escreveu o texto História, memória e comportamentos sociais em tempos de Covid-19 em que realiza uma reflexão sobre a pertinência da dimensão histórica e da memória coletiva no estudo das epidemias e pandemias. A perspectiva comparada proposta pela autora parte das narrativas históricas sobre os comportamentos sociais durante a gripe de 1918-1919, a cólera no século XIX, e a peste bubônica nos séculos XIV e XVIII, dentre outras epidemias e pandemias, e os contrasta com os comportamentos que foram evidenciados com a Covid-19.

As autoras Quezia Galarca de Oliveira, Milena da Silva Langhanz e Lorena Almeida Gill, no artigo intitulado “Sinto falta de abraços”: os impactos da pandemia de Covid-19 na vida cotidiana dos alunos e alunas da UFPel trata dos impactos que a pandemia do novo coronavírus trouxe para o cotidiano dos alunos e alunas dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A metodologia empregada foi uma análise quali-quantitativa, através da construção de um questionário on-line, com 46 perguntas, lançado nas redes sociais.

Verificando a historiografia, é notório o crescente interesse de pesquisa dirigido às instituições voltadas à assistência. Elas vêm recebendo a atenção de pesquisadores e aqui suas apresentações enfeixem esta publicação, reafirmando que as temáticas balizadas pela saúde se firmaram e se afirmam no cenário dos estudos históricos.

Nesta terceira seção dirigida à assistência, o artigo intitulado A superlotação do Hospital Psiquiátrico São Pedro: implicações na internação de crianças e jovens entre os anos de 1932 e 1937 (Porto Alegre / RS) de autoria de Lisiane Ribas Cruz expõe algumas considerações referentes à pesquisa em desenvolvimento sobre a internação de crianças e jovens no Hospital São Pedro, entre os anos de 1932 e 1937.

O texto Estigma da Lepra: o manequim Lázaro na exposição do Memorial do Hospital Colônia Itapuã, de autoria dos pesquisadores Helena Thomassim Medeiros, Juliane Conceição Primon Serres e Diego Lemos Ribeiro aborda a exposição do Memorial do Hospital Colônia Itapuã, localizado no município de Viamão (RS). Discute questões vinculadas ao histórico e estigma da lepra, hoje conhecida como hanseníase, que foi a razão da construção deste hospital, único leprosário do Rio Grande do Sul. A exposição inaugurada em 2014 traz informações sobre o local e sobre a história desta doença. Contudo, um elemento expográfico se destaca em meio a esta construção narrativa: o manequim Lázaro. A partir deste objeto cenográfico, os autores visam problematizar algumas questões em relação ao imaginário coletivo acerca da lepra no tempo presente.

André Mota e Rodrigo Otávio da Silva escreveram A alimentação hospitalar moderna e a (re) produção do viver social no Hospital Miguel Couto em Natal (1927-1955). O autor analisa a alimentação no Hospital Miguel Couto, na cidade do Natal (RN), entre 1927 e 1955, buscando capturar as representações e práticas alimentares na instituição no momento transicional de um modelo hospitalar caritativo para um modelo de “hospital moderno”, enfocando, no estudo, a materialidade da produção e do consumo alimentar no hospital a partir da abordagem de Jean-Pierre Corbeau e de seu conceito de “sequência do comer”.

Gabrielle Werenicz Alves escreveu o texto Centros de Saúde e Postos de Higiene: novas instituições de saúde para novas políticas públicas (Rio Grande do Sul – 1928-1945) versando sobre a trajetória de criação e o funcionamento de duas instituições criadas no Rio Grande do Sul na área da saúde pública, entre os anos de 1928 e 1945: os Centros de Saúde e Postos de Higiene. Inicialmente, descreve os antecessores destas instituições. Além disso, aborda a trajetória de sua criação no estado do Rio Grande do Sul, bem como analisa seus objetivos, os serviços prestados e as transformações que estas instituições sofreram ao longo do período pesquisado.

Os autores Caroline Pereira Damin Pritsivelis, Antonio Rodrigues Braga Neto, Antonio Carlos Juca de Sampaio, Jorge Fonte de Rezende Filho e Joffre Amim Junior apresentaram o artigo intitulado “A Maternidade do Rio de Janeiro: história, ensino e assistência no Rio de Janeiro”. Ele destaca a importância da criação da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro, fundada em 1904 com o nome de Maternidade do Rio de Janeiro. Também faz sua relação com a construção de um modelo de ações voltadas não apenas para a ampliação, como também para a consolidação da assistência e ensino médico, ainda carentes de espaços específicos para esses fins.

Cuidar de pobres doentes nas memórias de enfermeiras religiosas na Santa Casa de Porto Alegre (1956-1973), escrito por Véra Lucia Maciel Barroso contempla oralidades registradas com Irmãs que atuaram no processo criatório e de ensino da Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia Madre Ana Moeller, no mais antigo hospital do Estado. Trata também dos desafios que enfrentaram na Instituição, especialmente nos momentos de intermitentes crises e muitas carências no atendimento aos pobres.

Em breve tempo foi possível reunir um expressivo número de pesquisadores que aqui compartilham suas pesquisas, seus estudos e sua produção, cujo contributo demarca esta publicação com expressividade e proeminência.

Uma proveitosa leitura!

Angela Beatriz Pomatti

Éverton Reis Quevedo

Véra Lucia Maciel Barroso

Organizadores


POMATTI, Angela Beatriz; QUEVEDO, Éverton Reis; BARROSO, Véra Lucia Maciel. [História da Saúde, das doenças e da Assistência]. História em Revista. Pelotas, v.26, n.1, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Digital Humanities e o fazer histórico na contemporaneidade / Aedos / 2020

Ao adentrar a terceira década do século XXI, tornou-se um eufemismo apontar a emergência das Tecnologias de Informação e Comunicação como o grande fenômeno cultural dos nossos tempos. A obra Cibercultura, de Pierre Levy (1997), já conta mais de vinte anos desde sua publicação e, neste intervalo, foi seguida por extensa bibliografia que se dedicou a escrutinar as transformações produzidas pela cultura da informação em nosso cotidiano a partir de variados enfoques. Ainda assim, continuamos a sentir os impactos produzidos pelo advento do que alguns têm denominado como ‘quarta revolução industrial’ (SCHWAB, 2017), sendo constantemente atravessados pelas transformações que uma diversidade de novas plataformas, ferramentas e gadgets têm causado em nossa vivência cotidiana, em nossas formas de sociabilidade e em nossos processos de trabalho.

O campo acadêmico tem sido um dos pontos focais deste processo, posto que ocupa, simultaneamente, três papéis distintos nas dinâmicas que se produzem a partir da emergência de um novo paradigma tecno-cultural: é um espaço de criação – de concepção de novas tecnologias, de desenvolvimento de ferramentas, de inventividade, enfim; é um espaço impactado pelo desenvolvimento das novas técnicas, instrumentos, programas, recursos e métodos, à medida que incorpora estes ao seu próprio processo de produção do conhecimento; e, ademais, é um espaço que se propõe a refletir sobre os impactos e transformações que ditos processos produzem sobre a sociedade e sobre si próprio, bem como suas potencialidades e limitações.

Nesse contexto, é possível apontar que as Humanidades vêm incorporando progressivamente as novas tecnologias aos seus processos de produção, interpretação e crítica do conhecimento. Se bem que esta não seja exatamente uma novidade: como afirma o professor Daniel Alves – que participa de uma das entrevistas publicadas nesta edição da Aedos –, a convergência entre os computadores e investigadores das mais diversas áreas das humanidades (sejam historiadores, geógrafos, filólogos, linguistas, cientistas sociais, etc.) é algo presente desde o surgimento dos primeiros, nos (aparentemente) distantes anos 1950 ou 1960. Por outro lado, os últimos vinte ou trinta anos parecem ter produzido uma mudança qualitativa nesta relação, a partir da disposição desse campo em assumir e pensar sobre as transformações de caráter epistemológico produzidas pela interface entre humanidades e tecnologias – em outras palavras, a partir do momento em que reconhecemos que as tecnologias impactam nossa forma de produzir conhecimento e transformam o próprio conhecimento que produzimos.

No início dos anos 2000, o linguista John Unsworth, da University of Virginia, formaliza a utilização de uma nova categoria para pensar estas relações e seus desdobramentos: Digital Humanities, termo posteriormente traduzido como “Humanidades Digitais”. A obra A Companion to Digital Humanities, de 20042 , consistiu no primeiro esforço de discussão sistemática de trabalhos relacionados à área de humanidades que tinham como denominador comum justamente a incorporação das TIC’s ao seu fazer acadêmico, e os efeitos que se produziam a partir daí. Mais do que isso, a obra aspirava a constituição das Humanidades Digitais como uma nova disciplina acadêmica, o que, como ficaria demonstrado depois, está longe de constituir um consenso entre os pesquisadores que vêm se envolvendo neste debate desde então.

A partir desta primeira definição, outros autores viriam a tratar desta relação nos anos seguintes, propondo diferentes abordagens e interpretações. Daniel Alves, por exemplo, defende que o conjunto de pesquisadores que passam a se dedicar ao desenvolvimento de estudos na área de Humanidades Digitais constituem, antes do que uma disciplina ou área específica, uma “comunidade de práticas”, tendo em comum o emprego das tecnologias informáticas como ferramentas para produção do conhecimento (ALVES, 2016). Anaclet Pons, por sua vez, aponta que o “humanista digital” seria aquele que aposta em novos modelos interpretativos, não apenas por “hacer cosas de modo distinto” mas principalmente por “’pensar’ el mundo de manera diferente a través de las especificidades que definen el medio digital y el pensamiento computacional” (PONS, 2018, p. 38).

Já o historiador uruguaio Juán Bresciano, ao refletir sobre a atualização do campo historiográfico nesse processo, indica que a incorporação das novas tecnologias introduz novas formas de produção e comunicação do conhecimento histórico, que o autor classifica como rizomáticas, justamente em razão da centralidade que o hipertexto assume nas novas tecnologias de comunicação baseadas na Internet (BRESCIANO, 2015, p. 33). Para além disso, o autor destaca o fato de que “los acontecimientos históricos actuales se reflejan en una variada gama de registros digitales que modifican el concepto tradicional de fuente […] por sus estructuras, funciones y características, de aquellos a los que se encuentra habituado el historiador” (Idem, p. 20). Serge Noiret, por seu turno, destaca que “quase todas as problemáticas tradicionais do ofício de historiador […] sobretudo a comunicação da história e dos resultados de pesquisa […] passam agora, em parte ou no todo, pela tela do computador” (NOIRET, 205, p. 32-33), sinalizando a emergência de novos desafios para o exercício de nosso ofício.

A última década, em particular, assistiu a uma proliferação de produções acadêmicas das mais diversas áreas que se incorporaram a esta discussão, seja a partir de reflexões de cunho teórico, seja em estudos aplicados que incorporaram propriamente as ferramentas informáticas aos seus métodos de trabalho. E nessa leva podemos identificar que a História, enquanto disciplina dinâmica e em permanente processo de (re)construção, tem marcado presença, inclusive com uma significativa participação de jovens pesquisadores brasileiros que têm se dedicado a explorar um campo emergente que têm sido denominado por alguns como História Digital – especialmente em sua interface com os debates acerca da História Pública, como se verá. Aqui, sem nenhuma pretensão de dar conta da totalidade dos trabalhos e pesquisadores que têm se destacado nesta área, poderia apontar alguns nomes, tais como os de Anita Lucchesi, Bruno Laitano, Bruno Leal, Dilton Maynard, Fábio Almeida, Leonardo Barleta, Pedro Telles, Rafael Laguardia, Tiago Gil e Thiago Nicodemo, dentre outros nomes de uma geração – na qual muito modestamente me incluo – que tem contribuído para a construção de uma produção historiográfica qualificada e, quiçá, inovadora, a partir dos métodos, práticas e reflexões que vem propondo.

Torna-se muito pertinente destacar, neste sentido, o dado apresentado por Daniel Alves (2016), quando destaca que o português se consolidou como a segunda língua em termos de produção acadêmica no campo das Humanidades Digitais, ficando atrás apenas da produção em língua inglesa. Isto demonstra, a nosso ver, certa maturidade nos debates que vêm se desenvolvendo no campo acadêmico lusófono, e ao mesmo tempo indica o quanto podemos contribuir para o avanço do conhecimento em humanidades nessa área.

Partindo deste contexto, o presente dossiê da Revista Aedos teve por objetivo discutir a produção do conhecimento histórico e a constituição do próprio ofício do historiador contemporâneo a partir da abordagem das ditas Humanidades Digitais, em suas mais diferentes apresentações. Pensado a partir do Manifeste des Digital Humanities (2010), este número temático desafiou os colegas historiadores e historiadoras a incorporar tais ferramentas às suas reflexões teóricas e à construção de seus objetos e pesquisas. Assim, o presente dossiê se propõe a contribuir para a discussão a respeito da incorporação das tecnologias informacionais às práticas dos profissionais da área, bem como suas implicações teóricas, metodológicas e epistemológicas para a constituição de nossa disciplina. Cabe destacar, antes de adentrar a apresentação propriamente dita dos artigos que compuseram esta edição, o expressivo número de submissões recebido pela revista: foram mais de 20 trabalhos enviados para a composição deste dossiê temático, abrangendo os mais diversos recortes, abordagens teóricas e metodologias. Tivemos bastante trabalho até chegar a nossa seleção final, mas podemos afirmar que ficamos realmente felizes com o resultado.

A configuração do dossiê que ora se apresenta foi marcada por uma diversidade de temáticas e abordagens, trazendo para o debate diversas perspectivas possíveis da relação entre a História e as novas tecnologias. Dentre essas perspectivas, podemos notar que a relação entre a História Digital e a História Pública foi bastante presente, aparecendo de forma transversal nos artigos que compuseram este número. Exemplo disso é o trabalho de Bruno Constante, intitulado “O uso da mídia social Twitter como fornecedora de fontes primárias e sua utilização em um caso específico”. Nele, o autor discute o uso da rede social Twitter como fonte para o estudo de temas contemporâneos, utilizando como corpus um conjunto de tuítes publicados por lideranças políticas e empresariais brasileiras no ano de 2016. Pela própria temática abordada, o artigo dialoga diretamente com a construção de uma história política e socialmente engajada, nos moldes do que já foi defendido por autores como Eric Hobsbawm ou René Rémond. Desta forma, Constante analisa a polarização que se estabeleceu nas redes em torno do episódio da queda do governo petista de Dilma Rousseff, concluindo pela defesa de que o processo que levou a sua derrubada consistiu, efetivamente, em um golpe de Estado.

Outro trabalho que se debruçou sobre a relação entre História Digital e História Pública foi o artigo “Grupo ‘História de Guaíba’: uma iniciativa de História Pública Digital no Facebook”, de Karen Silva. A autora busca, em seu texto, estabelecer um diálogo com o conceito de História Pública Digital formulado por Serge Noiret para analisar as postagens realizadas na página que empresta seu nome ao título do artigo. A partir do exame das postagens realizadas, Silva discute as potencialidades que iniciativas similares têm de contribuir para a difusão do conhecimento histórico nas redes, além de colaborar para o engajamento de agentes diversos na construção desse conhecimento, extrapolando as fronteiras da academia e dialogando diretamente com as discussões sobre a produção de uma História Pública.

Já Ana Carolina Machado busca refletir sobre as relações entre o público, o digital e o conhecimento histórico a partir de uma perspectiva bastante atual no artigo “História digital em tempos de crise: as demandas do tempo imediato e suas implicações no trabalho dos historiadores”. Pensando as consequências ocasionadas pelo contexto de pandemia em que nos encontramos no momento desta publicação, Machado procura entender o papel que cumpre à História Digital em tempos em que a presença física se encontra impossibilitada. Desta forma, estabelece um diálogo privilegiado com a proposta original deste dossiê, ao discutir temas como “o ofício do historiador e seu papel social, a função da história diante das demandas do presente e do imediatismo, e os limites e potencialidades do ciberespaço como meio de divulgação e método de ensino da história”.

A constituição da rede mundial de computadores como um espaço de produção e divulgação da História também está presente nos trabalhos publicados nesta edição – como esperado, aliás. Um exemplo é o artigo “Produzindo e Difundindo Conhecimento Histórico no Youtube: O Canal ‘Nerdologia’ e os Conceitos de ‘Golpe’ e ‘Revolução’”, de Danilo Linard, que, também partindo das discussões a respeito da História Pública e das propostas metodológicas formuladas por Carneiro e Laitano (2019), busca compreender como conceitos históricos são apresentados e problematizados em um canal da plataforma de vídeos Youtube. Linard observa que o conteúdo produzido pelo canal “Nerdologia”, embora não seja voltado para um público acadêmico, não deixa de observar critérios pertinentes à pesquisa e à escrita da história. O autor conclui sugerindo que essa nova prática “historiográfica” (qual seja, a produção de conteúdo de divulgação científica para plataformas e ambiente virtuais) reafirma a “relevância do papel social do historiador e da contribuição do conhecimento histórico para a compreensão e intervenção na realidade que nos cerca”.

Outro trabalho que aborda o papel da Internet e as novas formas de produção do conhecimento é o artigo “Memórias afetivas na era digital: um passado não tão distante”, de autoria de Kelly Nepomucena e Lucas Pereira. Neste caso, o foco dos autores foi problematizar a noção de memória afetiva frente ao advento da cultura digital, discutindo o universo dos matches e o crescente mercado de aplicativos de relacionamento no Brasil – uma temática que, pela sua singularidade, contribui para demonstrar como o público e o digital contribuem para a abertura de novas perspectivas e abordagens de pesquisa, especialmente quando pensamos na história da própria Internet.

Na chamada original desta edição, também propúnhamos debater as variadas metodologias, abordagens e tipologias documentais que se apresentam para o historiador a partir da emergência das tecnologias informáticas, sendo este um tema que também se fez presente, grosso modo, em todos os trabalhos que reunimos. Contudo, para facilitar nossa apresentação, escolhemos destacar três artigos que, a nosso ver, discutem de forma mais sistemática a perspectiva metodológica relacionada a apropriação das tecnologias ao fazer acadêmico, apresentando diferentes enfoques que podem ser adotados quando se trabalha com as Humanidades Digitais.

O primeiro desses trabalhos é o artigo de Priscila Scoville, intitulado “As definições do tablete foram atualizadas: o Antigo Oriente Próximo e as Humanidades Digitais”, que explora o uso da metodologia de Análise de Redes Sociais (ou SNA, na sigla em inglês). Sendo esta uma técnica que se notabilizou nos últimos anos pelos estudos aplicados a redes sociais online, destacamos a inovação do trabalho apresentado por propor sua aplicação ao estudo de sociedades da Antiguidade Próximo-Oriental. Partindo da aplicação das ferramentas de Análise de Redes, Scoville apresenta um “mapa” em que são exploradas as interações diplomáticas entre diferentes reinos, propondo assim “revisitar o antigo oriente, desmistificando e recontextualizando aqueles povos em uma realidade mais integrada e interconectada”.

Pedro Nuñes, Marcia Vasquez e Bruno Martins, por sua vez, discutem a utilização de softwares de Realidade Virtual em pesquisas históricas e arqueológicas no artigo “Projeção tridimensional de uma estrutura funerária egípcia: implicações, formulações e análise espacial da tumba de Nakht (1401-1353 A.E.C.)”. Como se vê, ganha destaque mais uma vez o contraste entre uma temporalidade afastada e a aplicação de ferramentas normalmente pensadas em contextos contemporâneos, como no trabalho anterior. Os autores apresentam, em seu trabalho, uma reconstrução tridimensional de uma estrutura funerária egípcia, buscando discutir como o uso da Realidade Virtual pode auxiliar na compreensão do espaço e na análise de significados simbólicos e religiosos, de modo a facilitar a interpretação da agência dos objetos e imagens dispostos na tumba.

Já no artigo de Leandro Santos, intitulado “Entre o líder político e o mito religioso: a construção do perfil de Padre Cícero a partir de acervos de periódicos e arquivos digitais”, o foco da discussão recai sobre o uso de acervos digitais na pesquisa histórica, no caso, o acervo de jornais digitalizados e disponíveis na Hemeroteca Digital, sítio eletrônico mantido pela Biblioteca Nacional. A partir da pesquisa em 18 periódicos e jornais publicados no estado do Ceará na primeira metade do século XX, Santos analisa a construção do perfil público do padre Cícero Romão Batista, figura política de destaque na Primeira República, buscando refletir sobre as diferentes imagens construídas pela imprensa da época e como estas variavam de acordo com o posicionamento político-editorial de cada veículo.

O uso das novas tecnologias em sala de aula também é um tema debatido por alguns dos trabalhos do presente dossiê. No artigo “A História que queremos: uma proposta de ensino de História para as redes sociais”, por exemplo, Bruno Schlatter propõe-se a discutir o uso de redes sociais online em sala de aula a partir de um estudo de caso desenvolvido em sua prática docente no Ensino Fundamental. Trabalhando com o conceito de protagonismo juvenil, o autor parte das postagens realizadas pelos seus estudantes para analisar o engajamento e agência dos alunos na produção do conhecimento, demonstrando como as redes sociais podem se constituir como um espaço privilegiado para a construção das relações de ensino-aprendizagem, seja como espaço de expressão dos jovens, seja como apoio para produção e disseminação de novos saberes.

Por outro lado, Ana Gláucia Motta analisa a utilização de exposições museológicas disponibilizadas em formato digital como ferramentas pedagógicas no texto “Museus históricos no mundo digital e suas potencialidades em sala de aula”. O trabalho busca discutir o uso de exposições disponíveis na web como ferramentas didáticas e sua aplicação na construção do conhecimento histórico no âmbito escolar, partindo da análise de três importantes e tradicionais instituições de memória que disponibilizam parte de seu acervo para acesso online – o Acropolis Museum, de Atenas, o British Museum, de Londres, e o Museu Imperial, localizado em Petrópolis. A partir de um esforço de revisão bibliográfica e das reflexões propostas ao longo do trabalho, a autora destaca que, mais importante do que a simples incorporação dessas novas tecnologias ao cotidiano escolar, é o trabalho do professor na construção de uma didática que propicie a construção de um raciocínio crítico e autônomo por parte dos estudantes.

Por falar em museus na Internet, outro trabalho que busca explorar a relação entre as instituições de memória e a rede mundial de computadores é o artigo de Ian Marino, denominado “A história e as mídias digitais na experiência do Instituto Museu da Pessoa”. Neste trabalho, o foco recai sobre a análise de uma experiência singular de uma instituição que tem seu trabalho pensado em termos virtuais e colaborativos. Assim, Marino propõe-se a discutir o papel das tecnologias digitais na constituição deste museu, levantando importantes questionamentos a respeito dos métodos de construção do conhecimento histórico em meio ao advento das novas tecnologias digitais, além de destacar a experiência única desenvolvida pelo Museu da Pessoa em seus mais de 20 anos de existência, constituindo-se em uma instituição na qual o debate com a História Pública se dá também de forma privilegiada.

Concluímos o presente dossiê trazendo duas entrevistas internacionais com pesquisadores cujas produções constituem uma significativa contribuição para o desenvolvimento do campo das Humanidades Digitais. Na primeira delas, os integrantes do grupo de pesquisa Arqueologia Interativa e Simulações Eletrônicas (ARISE), da USP, reuniram-se para entrevistar Andrew Reinhard, professor do Departamento de Arqueologia da University of York, no Reino Unido, e especialista em um campo inovador do conhecimento arqueológico denominado Archaeogaming. Conforme apontam os autores, o objetivo central da entrevista foi “difundir a área de pesquisa que relaciona videogames com Arqueologia”, explorando, entre outros temas, a constituição dos softwares e jogos digitais como registros da cultura humana contemporânea, além de aspectos teóricos e metodológicos presentes na obra do professor Reinhard.

Na segunda entrevista, realizada por este que vos escreve, trazemos uma conversa com o professor Daniel Alves, do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa (UNL). Como um dos principais divulgadores do campo das Humanidades Digitais em nosso idioma, o professor Daniel tem desenvolvido um trabalho marcado por intensa colaboração interdisciplinar, sendo um dos fundadores da Associação das Humanidades Digitais (AHDig), que reúne grande número de pesquisadores brasileiros e portugueses vinculados a áreas bastante diversas do conhecimento acadêmico. A entrevista explora aspectos diversos da relação entre humanidades e tecnologias, como o surgimento do campo das Humanidades Digitais e os impactos das novas tecnologias para o trabalho do historiador, além de retomar o conceito de “comunidade de práticas” defendido pelo pesquisador em seus trabalhos.

Como apontamos, as contribuições para o presente número temático foram diversas e variadas, abordando a interface entre Humanidades e as novas tecnologias a partir de múltiplas perspectivas. Esperamos, assim, que a publicação deste conjunto de trabalhos possa contribuir para que se avance no debate a respeito das Humanidades Digitais no campo historiográfico brasileiro, fomentando cada vez mais a incorporação destas ferramentas no trabalho de jovens historiadores e historiadoras, como forma de ampliar as perspectivas do conhecimento histórico, alcançar novas fronteiras e atingir públicos cada vez mais diversos. Boa leitura!

Notas

1 Licenciado e Mestre em História. Doutorando no PPG em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Membro do Grupo de Pesquisa CNPq / SARAS – Sociedades de Antigo Regime no Atlântico Sul. Tem experiência na área de Tecnologias da Informação e Comunicação aplicadas à pesquisa e ao ensino de História, com interesse no campo das Digital Humanities. É colaborador do Portal de História Digital Cliomática, mantido pelo Laboratório de História Social da UnB. E-mail: israel.aquino@ufrgs.br

2 Embora o termo Digital Humanities possa ser identificado de forma esporádica em obras da década de 1990, ele só é formalizado e alcança certa popularização a partir da publicação da obra organizada por Unsworth, Schreibman e Siemens (2004).

Referências

ALVES, Daniel. As Humanidades Digitais como uma comunidade de práticas dentro do formalismo académico: dos exemplos internacionais ao caso português. Ler História, Lisboa, n. 69, p. 91-103, 2016. Disponível em: https: / / journals.openedition.org / lerhistoria / 2496. Acesso em: 05 / 08 / 2020.

BRESCIANO, Juán André. Los estúdios históricos em la sociedade de la información. In: BRESCIANO, Juán André; GIL, Tiago Luis (orgs.). La historiografia ante el giro digital: reflexiones teóricas e prácticas metodológicas. Buenos Aires: Ediciones Cruz del Sur, 2015.

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CHREIBMAN, Susan; SIEMENS, Ray; UNSWORTH, John (Ed.). A companion to Digital Humanities. Hoboken: Blackwell Publishing, 2008.

SCHWAB, Klaus. The Fourth Industrial Revolution. New York City: Crown Business, 2017.

Israel Aquino1 – Licenciado e Mestre em História. Doutorando no PPG em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Membro do Grupo de Pesquisa CNPq / SARAS – Sociedades de Antigo Regime no Atlântico Sul. É colaborador do Portal de História Digital Cliomática, mantido pelo Laboratório de História Social da UnB. E-mail: israel.aquino@ufrgs.br


AQUINO, Israel. Apresentação. Aedos, Porto Alegre, v. 12, n. 26, ago, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Music, informal learning and the school – GREEN (O-ASPOM)

DIABATÉ Toumani seu filho Sidiki e seu grupo Symmetric Orchestra no festival Akoustik Bamako RFI David Baché Informal learning
Toumani Diabaté, seu filho Sidiki e seu grupo Symmetric Orchestra no festival Akoustik Bamako RFI/David Baché

Music informal learning and the school Informal learningGREEN, Lucy. Music, informal learning and the school: a new classroom pedagogy. Sn: Ashgate, 2008. Resenha de: COUTO, Ana Carolina Nunes. Opus, v. 26 n. 1, p. 1-10 jan./abr. 2020.

O ano passado marcou uma década do lançamento do livro Music, informal learning and the school: a new classroom pedagogy, de Lucy Green (GREEN, 2008). Dentro de um crescente interesse da musicologia a respeito daquela música popular que se insere na cultura pop e rock anglo-americana, o livro de Green se inseriu de forma a contribuir com os debates que buscam reposicionar o papel da música e do fazer musical na sociedade ocidental contemporânea. Nesse emaranhado de discussões emergentes, que procuram novos modelos teóricos para compreender os fenômenos musicais contemporâneos, cujo surgimento, manutenção, reprodução e valorização não mais são suportados teoricamente pelos antigos e canônicos critérios de legitimação, o livro em questão soma-se ao debate, apresentando uma nova proposta pedagógica para a sala de aula. Ainda que o marco temporal que completa uma década do seu lançamento seja algo significativo do ponto de vista da circulação, o livro pouco aparece dentre as referências da produção da área da educação musical no Brasil, o que se poderia explicar por diferentes razões. Uma forte aposta talvez seja a barreira da língua, uma vez que o texto continua sem tradução para o português. Music, informal learning and the school: a new classroom pedagogy faz parte de uma agenda de pesquisa mais ampla de Green, como veremos na sequência.

Professora e pesquisadora do Instituto de Educação de Londres (agora parte da University College London), Lucy Green foi integrante de um programa nacional de educação musical na Inglaterra chamado Musical Futures. Em 2001 publicou o livro How popular musicians learn (GREEN, 2002), no qual descreveu como 14 músicos populares adquirem suas habilidades e conhecimentos musicais. Neste livro, ela relata que os músicos populares aprendem por meio das chamadas “práticas informais de aprendizagem musical”[1] (GREEN, 2002: 5). Em suma, tais práticas evolvem a escolha do repertório a partir da preferência e identificação pessoal com a música que se deseja tocar; a prática de “tirar de ouvido”[2] essas músicas onde o recurso à partitura não é desejável e nem imprescindível; a aprendizagem através de grupos de amigos e/ou parentes, que interagem sem que ninguém exerça diretamente a função de professor; uma profunda integração das atividades tocar/compor/ouvir, com ênfase na criatividade; uma aprendizagem de natureza mais holística, ao invés daquela que é compartimentada em tópicos propositalmente organizados com intuitos explicitamente pedagógicos. Tudo isso ocorre dentro de um processo de “enculturação” no qual a “aquisição de habilidades e o conhecimento musical [acontecem] por imersão diária em música e em práticas musicais de um determinado contexto social” (GREEN, 2002: 22).

Tais práticas, que costumavam ficar à margem de ambientes formais de ensino de música, foram consideradas fundamentais para a aquisição de conhecimentos e habilidades pelos 14 músicos que Green investigou. A autora identificou que a utilização dessas práticas possibilita um melhor desenvolvimento da percepção auditiva de seus praticantes, uma vez que a tarefa de “tirar de ouvido” as músicas faz com que esta habilidade se aperfeiçoe. Além disso, outras habilidades, tais como flexibilidade, versatilidade, criatividade, desenvolvimento de um pensamento musical autônomo, foram identificadas como sendo comuns a todos aqueles músicos.[3]

A partir dessas informações, Green problematizou a inserção dessas práticas dentro de contextos formais de ensino, mais especificamente a escola,[4]dando início a uma pesquisa subsequente que resultou no livro objeto da presente resenha. Assim, Green se propôs a investigar como seria possível e desejável incorporar aquelas práticas informais de aprendizagem de música dentro do espaço escolar e conhecer como essa incorporação afetaria o processo de aquisição de habilidades e conhecimentos dos jovens, e também como elas poderiam modificar a forma com que eles ouvem, apreciam e compreendem música não apenas na sala de aula, mas também para além dela.

O livro está organizado em sete capítulos. Farei uma descrição sumária de cada um deles, para, em seguida, deter-me mais profundamente nos aspectos metodológicos do projeto de Green. A opção por esse caminho se dá por duas razões. Primeiramente, o livro traz diversos elementos diferentes que integram as discussões a respeito da pedagogia da música, e uma análise de todos eles numa resenha dessa natureza dificilmente escaparia à superficialidade. Segundo, a decisão pelo destaque dos aspectos metodológicos se faz considerando que a área de Música na academia ainda apresenta muitas dificuldades em relação às atividades envolvendo a pesquisa, como diversos autores já vêm apontando (BARROS, 2015; BORÉM; RAY, 2012; CAVAZZOTTI, 2003; COUTO, 2017; DEL BEN, 2010; DOMENICI, 2005, 2012; FIGUEIREDO; SOARES, 2012; GERLING; SOUZA, 2000; SANTIAGO, 2007; SANTOS, 2003; TOMÁS, 2015; TRAVASSOS, 2003). Desta maneira, a opção por construir a resenha dessa forma pode ser interessante, dentre outras coisas, do ponto de vista didático.

O capítulo 1 apresenta a problemática na qual surgiram a ideia do projeto e os procedimentos teórico-metodológicos de sua execução. O capítulo 2 descreve o primeiro estágio de execução do projeto, dando destaque para os cinco princípios que orientam as chamadas práticas informais de aprendizagem e sua inclusão dentro desse primeiro estágio. Relembrando, esses princípios são: a escolha do repertório pelos alunos, a partir de suas preferências; aprender através da prática “tirar de ouvido” as músicas, nos instrumentos de suas escolhas; aprender entre os colegas, seja através da imitação, troca de ideias e observações, sem que um professor esteja conduzindo e organizando as tarefas; construir os conhecimentos e habilidades holisticamente pela imersão na escuta e cópia da música escolhida, sem compartimentalização das tarefas ou conhecimentos; uma prática onde a escuta atenta, a performance, a improvisação e a criação estejam misturadas e integradas no processo da aprendizagem, com ênfase na criatividade pessoal (GREEN, 2008: 10). Um aspecto muito interessante deste capítulo, do ponto de vista da formação profissional, diz respeito à relação dos professores que participaram do projeto. Podemos acompanhar o processo de transformação da visão daqueles professores, que partiu do medo e receio iniciais e caminhou até um sentimento de entusiasmo provocado por novos insights didáticos. Assim, observamos como as modificações na metodologia do ensino de música podem suscitar conflitos internos e revelar as dificuldades de transposição de determinadas tradições enraizadas.

O capítulo 3 dá destaque ao processo de produção da música e, entrelaçadamente a este, ao desenvolvimento da escuta. As formas como os alunos manipulam diretamente os sons através dos seus instrumentos e/ou voz como decorrência das práticas de “tirar de ouvido” são analisadas, evidenciando a complexidade do fenômeno de aprendizagem por essa via. O capítulo 4 problematiza o quanto a educação musical tradicional valoriza os processos para aquisição e domínio da leitura e escritas da música em detrimento da habilidade de ouvir. Diante disso, Green retoma a centralidade que a escuta desempenha na trajetória de aprendizagem dos músicos populares e analisa detalhadamente como a experiência realizada com os alunos de seu projeto operou mudanças nos tipos de habilidades e conhecimentos que estes desenvolvem não apenas com os seus instrumentos, mas especialmente em relação à apreciação musical, inclusive para além da sala de aula.

O capítulo 5 destaca a subjetividade dos alunos em suas diferentes relações com música. O papel do envolvimento afetivo com o fazer musical aparece como determinante para a compreensão musical. Nesse sentido, as práticas informais de aprendizagem musical resgatam a importância do prazer e conduzem a uma autonomia da relação dos alunos com atividades musicais que ultrapassam aquelas realizadas no espaço da sala de aula.

O capítulo 6 analisa o aspecto coletivo desse tipo de aprendizagem. São examinados como os alunos se organizam, os processos de cooperação para o alcance da aprendizagem, bem como o surgimento de lideranças entre eles. Nesse sentido, o capítulo aponta caminhos para lidar com situações de diferenças nos níveis de habilidades e conhecimentos entre alunos de uma mesma turma.

O último capítulo do livro é o relato da mesma experiência com as práticas informais de aprendizagem de música, porém com um repertório diferente: a música clássica de tradição europeia. Com essa nova variável – a mudança do repertório –, Green pôde demonstrar como uma metodologia que insere as práticas informais, especialmente aquela de “tirar de ouvido” músicas de gravações, passa a ser o ponto de virada para repensarmos os modos de ensino da música. Ao verificar que os alunos melhoraram consideravelmente sua aprendizagem e sua relação com um repertório que não costumava agradá-los, Green ganha força em seu argumento de que, mais do que o repertório, o que importa é o método. A autora termina enfatizando que não se trata de uma proposta de abandono ou substituição das antigas metodologias, mas, sim, da inclusão de novas práticas que caminhariam conjuntamente em sala de aula.

Passaremos agora à análise metodológica da obra.

Questões metodológicas de Music, informal learning and the school: a new classroom pedagogy

Como argumento de problematização, Green afirma que, desde os anos 1960, os educadores musicais têm se empenhado em encontrar maneiras de aumentar a motivação e a participação dos alunos em sala de aula. Dentre as várias estratégias utilizadas, houve a tentativa de tornar o aprendizado musical mais significativo a partir da inserção de músicas que fossem familiares ao contexto social dos alunos. Com isso, novas músicas foram incorporadas às aulas, alterando-se o conteúdo dos currículos. No entanto, um aspecto importante teria sido negligenciado: o método. Isso levantou as suspeitas de que, mesmo após a inclusão de músicas populares nos currículos das escolas, a pedagogia utilizada em sala de aula pelos professores poderia ser o fator causador da permanência da indiferença e apatia dos alunos em relação às aulas de música, e não mais e unicamente o tipo de repertório utilizado (GREEN, 2008: 2-3). A partir dessa hipótese, Green propôs uma pedagogia alternativa que consistiu em incluir práticas informais de aprendizagem musical dentro da sala de aula, modificando não apenas o conteúdo, mas também o método de ensino.

Green delimitou cinco principais diferenças entre as metodologias empregadas nas aprendizagens formal e informal. Esquematicamente, tais diferenças estão sintetizadas no Quadro 1 a seguir:

 

Quadro 1: Características das aprendizagens formal e informal

Quadro 1 Característidas das aprendizagens formal e informaç Informal learning

Segundo Green (2008: 4), as habilidades promovidas pela prática informal foram negligenciadas dentro do ensino musical durante muito tempo. A autora afirma que o uso delas dentro da sala de aula poderia ser visto como uma atitude inclusiva, por oportunizar que diferentes habilidades musicais se façam presentes no desenvolvimento dos conteúdos, permitindo assim que mais alunos, muitas vezes rotulados de não musicais, também consigam se expressar musicalmente.

Identificada essa problemática e delineado o objeto, Green elaborou algumas questões de pesquisa:

  1. As práticas de aprendizagem informal de música (GREEN, 2002) poderiam aumentar a motivação para aprender música e ampliar a gama de habilidades musicais dos alunos?
  2. Essas práticas poderiam tornar a educação musical mais inclusiva, principalmente para aqueles alunos que tiveram suas capacidades embotadas nos ambientes formais?
  3. As práticas informais poderiam conduzir a uma ampliação da apreciação musical dos alunos, tanto do tipo de música presente em seus contextos de origem quanto do tipo de música existente além dele? (Adaptado de GREEN, 2008:4).

O objetivo, portanto, foi investigar se seria possível e benéfico trazer alguns dos aspectos das práticas de aprendizagem informal de música popular para dentro do ambiente da sala de aula escolar (GREEN, 2008: 9). Especificamente, o estudo visou:

  1. Possibilitar a emergência e descoberta de determinadas habilidades musicais dos alunos que até então não eram possibilitadas através da prática formal;
  2. Despertar nos alunos a capacidade de ouvir e compreender criticamente as músicas oriundas tanto de seus contextos quanto de quaisquer outros;
  3. Desenvolver nos alunos a autonomia para que eles mesmos sejam capazes de escolher estratégias que orientem a aprendizagem musical (GREEN, 2008: 13-14).

No total, participaram do projeto 21 escolas secundárias, 32 professores e aproximadamente 1.500 alunos. No entanto, para um estudo aprofundado, foram selecionadas 7 escolas localizadas nas cidades de Londres e Hertfordshire. A idade dos alunos variava entre 13 e 14 anos. Daquelas 7 escolas, foram selecionados um total de 200 alunos e 11 professores, dos quais foram extraídos os dados (GREEN, 2008: 14-15).

As escolas selecionadas concluíram os 2 primeiros estágios do projeto, que num total foi organizado em 7 estágios.[5] No entanto, Green afirma que o foco principal para levantamento dos dados se concentrava na realização do estágio 1 da pesquisa[6] (GREEN, 2008: 14). Tal motivo se explica pelo fato de que é “[…] nesse estágio em que se encontra o núcleo da abordagem, uma vez que é o estágio que mais se aproxima em replicar as práticas informais de aprendizagem musical da maneira que ocorrem fora da escola” (GREEN, 2008: 24). Ela contou com a colaboração de uma equipe de pesquisadores para a realização da pesquisa.

Para levantamento e coleta de dados, que durou um ano acadêmico em cada escola participante, Green utilizou uma multiplicidade de métodos, materiais empíricos, perspectivas e observadores em seu estudo. As ferramentas de coleta de dados foram: observação participante não estruturada dos estudantes trabalhando em pequenos grupos; observação das aulas; gravação de áudio do trabalho em grupo dos alunos; gravação de áudio e vídeo das performances e outras atividades com toda a turma; gravação de entrevistas semiestruturadas com alunos e professores em intervalos regulares; e gravação de reuniões da equipe de professores. Também foram feitas notas de campo de conversas nos corredores e salas de reuniões (GREEN, 2008: 14-15).

Green utilizou entrevistas semiestruturadas com os professores e também com alunos. Além das entrevistas individuais, também foram feitas entrevistas com grupos, tanto de professores quanto de alunos. A escolha de Green por realizar esse segundo tipo de entrevista se justificou como uma tentativa de esclarecer determinadas dúvidas e divergências particulares que surgiam nas entrevistas individuais realizadas ao longo do projeto. Além disso, para ela, “[…] todos os seres humanos formam suas visões e respostas para os fatos como fazendo parte de um grupo” (GREEN, 2008: 17).

As observações ocorreram desde o início do projeto, durante as atividades semanais dos alunos trabalhando em grupo e também nas aulas com a turma toda, e Green as considera como a principal fonte de coleta. Assim, essa estratégia foi tomada como “um bloco de construção central das estratégias do projeto, em relação não só aos papéis dos pesquisadores, mas também dos professores” (GREEN, 2008: 19). Após verificar que a naturalidade dos alunos estava comprometida pela presença dos pesquisadores, o grupo que trabalhou juntamente a Green no projeto optou pela utilização de equipamentos de gravação de áudio durante todo o tempo em que as atividades dos alunos ocorriam, com o consentimento dos alunos. As gravações eram transcritas logo em seguida.

Outras fontes de coleta de dados foram questionários, com respostas fechadas e abertas. Essa estratégia, além de ter servido como meio comparativo com as respostas fornecidas nas entrevistas, também foi um recurso utilizado para assegurar que os respondentes tivessem um espaço de expressão mais reservado, por se tratar de questionários anônimos. Assim, Green procurou garantir respostas individuais livres de uma possível pressão de colegas, e também para oportunizar que pessoas mais tímidas pudessem se expressar. Conversas informais ocorridas em corredores e em outros espaços, tais como sala de reuniões, também foram registradas em notas de campo.

A quantidade de dados coletados reúne cerca de 800 páginas de transcrições e notas de campo e cerca de 100 gravações de áudio, a maioria delas com mais de uma hora de duração.

Green (2008: 20) justifica que, numa pesquisa qualitativa, não é possível afirmar com completa exatidão os pensamentos e ideias dos participantes, considerando que o objeto é mutável. Consciente disso, os dados apresentados e discutidos não são generalizáveis para todo e qualquer contexto. Sempre que possível, as declarações foram ilustradas com excertos de falas ditas pelos atores. Além disso, há a recorrência aos dados obtidos das fontes quantitativas (questionários), como alternativa de checagem de suas afirmações.

Não existe um tópico específico no livro de Green que reúna descritivamente os resultados, considerando a opção da autora pela forma de construção cíclica em relatar o trabalho. Contudo, é possível reunir sumariamente os principais achados de seu estudo a partir do que foi analisado no decorrer dos capítulos, conforme a lista abaixo:

  • Todos os professores que responderam ao questionário final disseram que o uso das abordagens informais na sala de aula mudou positivamente suas maneiras de ensinar (GREEN, 2008: 22);
  • Os alunos aprenderam práticas que lhes possibilitaram a aquisição de uma consciência de suas próprias musicalidades, principalmente aqueles alunos que não tinham tido oportunidade de serem alcançados até então pela educação musical tradicional (GREEN, 2008: 22 e 64);
  • Os alunos adquiriram maior autonomia para direcionarem suas próprias práticas de aprendizagem; essa foi uma razão mencionada por eles para afirmar que essa forma de aprender foi mais prazerosa e mais eficiente pedagogicamente (GREEN, 2008: 102 e 117); OPUS v.26, n.1, jan./abr. 2020 8 COUTO. Resenha de Music, informal learning and the school
  • Os alunos mostraram uma melhora na compreensão e apreciação de músicas, não só daquelas que eles já conheciam, mas também de outras, tornando-os ouvintes mais críticos e com uma mentalidade mais aberta a novos estilos (GREEN, 2008: 22, 82-84 e 168).

Por fim, Green procura deixar claro que todo este trabalho não significou a sugestão pela substituição ou abandono do ensino tradicional de música. Segundo a autora, a utilização das práticas de aprendizagem informal de música seria uma pedagogia alternativa que poderia ocorrer como um complemento às abordagens já utilizadas.

Considerações finais

A música é um produto humano passível de ser investigado tanto pelas ciências empíricas – as naturais (enquanto fenômeno acústico) e as sociais (enquanto fenômeno sonoro-cultural) – como também através de uma abordagem não empirista, por meio de uma concepção formalista (matematizante), pois em música está implícito um pensamento lógico-matemático que possibilita a sua compreensão e transmissão através dos números. Talvez mesmo por tal multiplicidade, somando-se ao fato do pouco tempo de realização de pesquisa por músicos no Brasil, a maioria do conhecimento que produzimos nos cursos de Música ainda lançam mão de processos metodológicos e epistemológicos “emprestados” de outras áreas do conhecimento mais consolidadas no metiê da pesquisa acadêmica. Dentre as necessidades do músico que pretende enveredar-se pela atividade da pesquisa estão o conhecimento das diferentes metodologias e a capacidade de discernir qual delas utilizar, de acordo com a natureza de seu objeto.

Uma das possibilidades de aprendizagem destes aspectos está na observação e análise de trabalhos considerados referência para a área. Lucy Green possui ampla experiência como educadora musical, o que certamente lhe conferiu subsídios para compor seu perfil como intelectual e pesquisadora. Longe de pretender avaliar os méritos da adoção ou não da pedagogia que Green propõe como decorrência de seu estudo aqui descrito, a questão que interessou especificamente nesta resenha foi observar como uma pesquisadora reconhecida internacionalmente elaborou seu projeto de pesquisa e a metodologia para sua execução. A construção de sua problemática se deu a partir de uma trajetória ampla e de longa data, ou seja, a capacidade de Green para olhar a forma de se ensinar música nas escolas de seu país e a sua decorrente problematização só foi possível graças a uma série de conhecimentos práticos e teóricos que são frutos dessa trajetória e experiência.

Além dos conhecimentos sobre música e seu ensino, outro elemento que confere habilidade para sua prática enquanto pesquisadora é o diálogo com outras áreas do conhecimento. Notamos que o plano estratégico da autora para alcançar as respostas de suas questões de pesquisa demonstra perícia e domínio da metodologia de pesquisa amplamente empregada pelas Ciências Sociais. Este fato se dá não apenas pela natureza do objeto construído, mas também porque a autora sempre buscou, em sua trajetória, uma relação muito estreita entre a música e a sociedade (GREEN, 1988, 1997). Isso lhe permite domínio para escolher com conscienciosidade o melhor caminho metodológico para operacionalizar sua pesquisa. Pudemos verificar, então, a construção de um objeto bem delineado na área de educação musical e a escolha e aplicação de determinadas estratégias metodológicas que são facilmente encontradas em livros e manuais de pesquisa em Ciências Sociais. Tais elementos podem servir para os músicos iniciantes na OPUS v.26, n.1, jan./abr. 2020 9 COUTO. Resenha de Music, informal learning and the school atividade de pesquisa como um exemplo de realização de pesquisa sobre o ensino de música em contextos escolares.

Acredito que esse tipo de exercício analítico sobre trabalhos considerados referenciais, não só para a subárea da educação musical, mas também para outras subáreas da Música, pode contribuir para o aprimoramento da formação do músico pesquisador.

Referências

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TRAVASSOS, Elizabeth. Balanço da Etnomusicologia no Brasil. Opus, Campinas, v. 9, p. 66-77, 2003.

Notas

[1] Informal music learning practices.

[2] Nota da tradução: O termo utilizado pela autora é copy (copying by ear), conforme consta em todas as suas publicações sobre a aprendizagem dos músicos populares citados neste artigo. A autora destaca a centralidade dessa prática dentro dessa cultura: “By far the overriding learning practice for the beginner popular musician, as is already well known, is to copy recordings by ear” (GREEN, 2001: 60). No entanto, no Brasil o termo vernacular equivalente ao copy do inglês seria “tirar de ouvido”. Optei por mantê-lo da forma que utilizamos aqui, buscando coerência com traduções anteriores de textos da autora no Brasil (GREEN, L. Ensino da música popular em si, para si mesma e para “outra” música: uma pesquisa atual em sala de aula. Revista da Abem, Londrina, v. 20, n. 28, p. 61-80, 2012), onde o termo traduzido também foi “tirar de ouvido”.

[3] 3 Esclareço que a autora discorre sobre a prática de “tirar músicas de ouvido” como sendo o primeiro estágio de autoaprendizagem, formador da base para o desenvolvimento criativo que ocorre a posteriori. Detalhes deste processo podem ser encontrados no capítulo 3 de sua obra de 2002, citada no presente artigo. Abstive-me de entrar na discussão epistemológica sobre criação musical e problematizá-la aqui, por não ser o objeto tratado no artigo.

[4] 4 “Na maioria das salas de aula do Reino Unido, a educação musical assume a forma de uma educação geral ou liberal que é fornecida para todos os alunos até a idade de 14 anos, independentemente da capacidade ou escolha” (GREEN, 2008: 23-24, tradução minha). Original: “Music education in most UK classrooms takes the form of general or liberal education which is provided for all pupils up to the age of 14, regardless of ability or choice”.

[5] Para detalhes, ver Green (2008, Apêndice B).

[6] “Estágio 1: Os alunos trazem músicas de suas próprias escolhas. Em pequenos grupos formados por laços de amizade, eles ouvem e escolhem uma música. Então eles escolhem os instrumentos e tentam ‘tirar a música de ouvido’, direcionando sua própria aprendizagem” (GREEN, 2008, Apêndice B, tradução minha). Original: “Pupils bring in the own choice of music. In small friendship groups they listen to it, and choose one song. They then select instruments and attempt to copy the song by ear, directing their own learning”.

Ana Carolina Nunes do Couto – Doutora em Sociologia pela UFPE (2017), mestra em Música (2008) e especialista em Educação Musical (2004) pela Escola de Música da UFMG. Possui Graduação em Licenciatura em Música pela Universidade Estadual de Londrina (UEL, 2002). Atua como professora junto ao Departamento de Música do Centro de Comunicação e Artes da UFPE desde 2009, trabalhando com o ensino de piano em grupo e com pesquisas sobre música popular e epistemologia da música. É professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Música da UFPE, atuando na linha de pesquisa: Música, Educação e Sociedade. É membra do Grupo de Pesquisa Sociedade e Práticas Musicais. Tem artigos publicados em revistas especializadas e eventos científicos da Música. ana.carol.couto@gmail.com.

 

 

Educación para el siglo XXI. El desafío latinoamericano | Mario Waissbluth

Mario Waissbluth escoge un texto de Andrés Bello, escrito en 1836, para abrir su ensayo. Este epígrafe es interesante, ya que evidencia la coexistencia de dos modelos educativos: uno pensado para instruir a las clases menesterosas, y otro diseñado para educar a los sectores acomodados. Según la dialéctica que expone Bello, las escuelas que instruyen a las clases trabajadoras no debiesen ofrecer mayores proyecciones a sus estudiantes, pues una mejor preparación podría alejar a estos muchachos del trabajo productivo; a su vez, las clases acomodadas, cuyas profesiones requieren una instrucción más exigente, habrán de educarse en colegios que fueron diseñados para formar a las elites (Waissbluth, p.11).

El texto de Andrés Bello contextualiza la problemática que aborda Mario Waissbluth en Educación para el siglo XXI. El desafío latinoamericano [1] (2018). Este ensayo, de lectura amena y sencilla, analiza los niveles de exclusión y segregación educativa existentes en América latina, dificultades que impiden a los sistemas educativos de estos países enfrentar los desafíos del mundo globalizado. Leia Mais

Instituições Educativas / Mnemosine Revista / 2020

Reformas educacionais, relatórios, anuários, atas, livros de matrícula, livros de pontos, atas de fundação, revistas pedagógicas, jornais, boletins, cadernetas, livros didáticos, impressos de planejamento, cadernos escolares, atas de reuniões pedagógicas, eventos comemorativos, imagens, mobiliário, arquitetura… Ufa?! Quantas fontes são cartografadas para se inquirir a(s) história(s) de uma instituição, colocada como sinônimo e essência de educação, como é a escola.

Peter Gay [1] aponta que a educação foi sequestrada pela escola, dela se apossou e sobre ela se estabeleceu regimentos, currículos, formações, comportamentos, sensibilidades… A escola é produto da História, sofre mutações e se adéqua as necessidades que surgem no percurso de constituição e ressignificação de uma sociedade. Ela é ciência, é conteúdo e disciplina. Mas, também é vida que pulsa, que educa, que orienta sobre as diversas lentes que lêem o mundo, nós mesmos e o outro. Instituição presente nos longos anos da vida de um sujeito, em seus mais diversos níveis educacionais, a escola produz memórias, pensa a urbe tanto quanto é pensada por uma pedagogia da cidade. Ela tem um lugar de fala, de conformação, de instituição e normatização de saberes, mas também se conduz pela criatividade, pela reinvenção, pelas trocas e experiências sensíveis que formam tanto quanto transformam os indivíduos.

Posta pelo avesso pelos diversos domínios da História, a escola vem sendo pesquisada, mais enfaticamente, pela História da Educação, dentro do que se concebeu como História das Instituições Escolares. Mas tão complexo e híbrido é este espaço, que outros olhares e apropriações ainda são possíveis, como da História da Saúde, da Geografia e Psicologia Escolar, da Sociologia, Antropologia e Filosofia da Educação, entre outras áreas de pesquisa. Dentro da história das instituições escolares, estudiosos como Demerval Saviani e Justino Magalhães se dedicaram a pensar a escola por meio do que ela institui. Saviani (2007, p.5) concebe as instituições escolares como “[…] necessariamente sociais, tanto na origem, já que determinadas pelas necessidades postas pelas relações entre os homens como no seu próprio funcionamento, uma vez que se constituem como um conjunto de agentes que travam relações entre si e com a sociedade à qual servem”. Já Justino Magalhães (2004), por sua vez toma a definição de uma “Instituição educativa” de forma mais ampla, para além das fronteiras impostas pelos muros escolares.

Tais instituições são “um complexo organizado, uma totalidade em organização e devir; matriz conceitual e interdisciplinar que institui um modelo científico, orgânico-funcional” (MAGALHÃES, 2004, p.113). Segundo o autor uma epistemologia da instituição educativa compreende desde a materialidade (o instituído) – como condições materiais, espaços, meios didáticos e pedagógicos; à representação (o institucionalizado) – aspectos referentes a memórias e arquivos, estatutos e currículo. A apropriação (a instituição em si) compreenderia as aprendizagens, os ideários, as identidades do sujeito e da própria instituição. Nesta perspectiva, abre-se a possibilidade de pensar em uma cultura educacional mais ampla, para além dos muros da escola, que contemple as práticas educativas (re)configuradas nos mais diversos discursos, tanto de cunho econômico e político como higiênico, médico e também educacional, dando vazão a formulação de um modus vivendi que nossa sociedade exibe como normal, saudável e científico.

A instituição escolar e / ou educativa possui, assim, uma cultura própria. Faria Filho (2007, p.195), toma a cultura escolar [2] como um tipo específico de “[…] formação / organização cultural quando configurada pela escolarização. Ela permite articular, descrever, analisar, de forma complexa, os elementos-chaves que compõem o fenômeno educativo escolar”. As culturas escolares se situam nesse entrosamento entre os “macroprocessos” de escolarização e os “microprocessos” escolares, ou seja, na constituição das relações entre a escola, suas práticas e os sujeitos. Nesta mesma direção, porem agora pensando fora do âmbito do cotidiano escolar, Pinheiro (2009, p.108) amplia esta concepção, apontando a ideia de uma “cultura educacional” como aquela que é constituída pelos saberes que perpassam a produção de “[…] artistas, intelectuais e pessoas simples, do povo, que contribuem para a produção de leituras e de interpretações sobre o passado e o presente educacional”.

Vimos, neste contexto, que diversas são as formas de pensar e registrar a história (ou os fragmentos dela) de uma instituição educativa e de suas práticas. O historiador, em suas escolhas teórico-metodológicas, pode produzir uma narrativa que adentre a história da instituição, mas seus pares podem ainda optar, em produzir uma escrita histórica da instituição pelas suas vizinhanças, pelos os aspectos que acometem os atores sociais que passaram por ela. O prédio e seus espaços (arquitetura, releitura de espaços físicos, o uso do espaço para disciplina, apropriação dos espaços), a identidade institucional, sua cultura (material) escolar, a inserção e atuação da instituição no ambiente social são outras temáticas possíveis de se relacionar quando se intenta em pesquisar uma instituição educativa. Desde o contexto histórico às circunstâncias específicas de criação e instalação da escola, desde às reformas educacionais aos novos ambientes de educação que surgem no ciberespaço; desde os métodos à experiência das práticas educativas; desde as festas escolares às normas disciplinares que punem com castigos os corpos transgressores.

Discursos, experiências, regulações… Uma educação do corpo, mas também das sensibilidades perpassa a instituição escolar e / ou educativa. É para pensar este lugar que esse dossiê coloca o propósito de reunir trabalhos – frutos de pesquisas concluídas e / ou em andamento – com vistas a constituir um leque de possibilidades de leitura sobre as práticas educativas que perpassam essas instituições, sejam elas escolares ou organizacionais, dispersas, difusas, híbridas, ou em suas mais diversas nuances.

Neste contexto, o dossiê abre suas discussões com O COLÉGIO NOSSA SENHORA SANT’ANNA E AS PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO FEMININA, EM ARACAJU-SE, artigo de Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas que traz o objetivo de analisar as práticas escolares desenvolvidas pelo Colégio Nossa Senhora Sant’anna no processo de formação das jovens da elite sergipana. A autora contextualiza o cenário de escolarização da mulher, vinculando-a à modernização da sociedade, à higienização da família e à formação de futuros cidadãos nos primeiros anos da república brasileira.

Já no debate trazido pelo artigo DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDE A LER: DAS SALAS DE ESTAR DAS PROFESSORAS LEIGAS, AOS ACAMPAMENTOS ESCOLARES DE PALHA DE COQUEIRO (1961-1964), de Aliny Dayany Pereira de Medeiros Pranto, temos a discussão sobre o desenvolvimento da campanha “De pé no chão também se aprende a ler” na cidade de Natal | RN, durante a década de 1960. Por meio das narrativas de professoras e ex-alunas, a autora expõe desde a fase inicial da Campanha à sua expansão com os acampamentos escolares. Tal campanha, segundo a autora, visava a educação de crianças, jovens e adultos que habitavam as periferias de Natal e não tinham acesso à educação formal.

No texto de Adlene Silva Arantes, temos a discussão sobre o HIGIENISMO E EDUCAÇÃO EM GRUPOS ESCOLARES PERNAMBUCANOS, durante os anos de 1911 a 1930. A autora traz o intento de compreender quais as orientações dos médicos para a promoção de uma educação higiênica nos grupos escolares de Pernambuco. Para tanto, ela analisa documentos da instrução, relatórios de grupos escolares, legislação educacional e teses de medicina sobre higiene dentro do período estudado, e conclui que para higienizar a escola e, consequentemente, a sociedade era preciso que a educação e a medicina atuassem juntas no sentido de salvar a nação e a pátria brasileira que se queria como sadia e regenerada.

Seguindo esta mesma vertente higiênica está o artigo MORAL, HIGIENE E PROPAGANDA ESPORTIVA: OS FILMES FIXOS RELACIONADOS AO CORPO E À ATIVIDADE FÍSICA NOS ARQUIVOS DO CEDRHE (SÉCULO XX) do autor Jacques Gleyse. O texto foi traduzido por Avelino A. de Lima Neto e apresenta um estudo acerca de práticas corporais presentes em cento e um filmes produzidos entre os anos de 1932 e 1960. As películas fílmicas aqui analisadas pertencem ao arquivo do Centro de Estudos, de Documentação e de Pesquisa em História da Educação (CEDRHE), da Faculdade de Educação da Universidade de Montpellier, e costumam ser utilizadas como recursos didáticos nos mais diversos níveis de ensino, em colônias de férias e em outros espaços formativos. Esse conjunto de filme, segundo o autor, aponta para uma correspondência com as recomendações dos livros didáticos no que concerne às práticas de higiene e instruções morais e, bem como revela uma quase total invisibilidade das mulheres nas atividades físicas, sendo suas imagens fortemente associadas aos estereótipos de gênero.

No artigo O GRÃOZINHO: DE UNIDADE FEDERAL DE EDUCAÇÃO INFANTIL À LABORATÓRIO DE ENSINO DO CURSO DE PEDAGOGIA (1980-2013), as autoras Vivian Galdino de Andrade e Janiely da Costa Cunha produzem uma versão da história de uma instituição escolar infantil existente no Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA) da Universidade Federal da Paraíba, que nos anos de 1980 foi criada para atender os filhos dos funcionários públicos da instituição. Em 2013, tal espaço educativo deixa de funcionar como escola, sendo reformulado pedagogicamente para se constituir como Brinquedoteca e Laboratório de Ensino do Curso de Pedagogia do Campus III. O artigo contribui com o amplo debate em torno das pesquisas realizadas a respeito da história das instituições escolares no estado da Paraíba.

O texto de autoria de Joedna Reis de Meneses e Júlio César Miguel de Aquino Cabral traz um rico debate sobre as PEDAGOGIAS DO TEMPO: O JORNAL A IMPRENSA SOB A DIREÇÃO DO PADRE LUÍS GONZAGA DE OLIVEIRA (PARAÍBA, 1952-1965). Pensadas como “saberes historiográficos”, essas pedagogias são apresentadas pelos autores como imagens de um passado gestado a partir dos discursos de padre Luís Gonzaga de Oliveira, nas páginas do Jornal A Imprensa, entre os anos de 1952 e 1965.

Finalizamos este dossiê com o artigo O TUCA COMO INSTITUIÇÃO DE RESISTÊNCIA: EXPERIÊNCIA TEATRAL E MILITÂNCIA ESTUDANTIL NA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC SP (1964-1979), de autoria de Francisco de Assis de Sousa Nascimento. O texto problematiza o Teatro TUCA (casa de espetáculo da Pontifícia Universidade de São Paulo – PUC∕ SP) como um lugar de memória, de profissionalização e de compromisso com a luta democrática entre os anos de 1964 e 1979. Este espaço de resistência, segundo o autor, preserva os estigmas de incêndios criminosos, além de um moderno arquivo, repositório de vasta documentação, que evoca sensivelmente a vida de artistas que lá se apresentavam, como diretores, encenadores, cenotécnicos e o público em geral.

Fechando o dossiê, apresentamos o texto dos professores Azemar dos Santos Soares Júnior e Laelson Vicente Francisco intitulado “TRATANTO EFFICAZMENTE DE SUA EDUCAÇÃO’: A COMPANHIA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO RIO GRANDE DO NORTE (1872-1890), tem por objetivo analisar a formação e os primeiros anos de atuação da Companhia de Aprendizes Marinheiros que funcionou na Província do Rio Grande do Norte, com sede na cidade do Natal, na segunda metade do século XIX.

Acreditamos que estes artigos aqui trazidos, convidam o leitor a se aprofundar em figuras históricas e conceituais, que esboçam desde a história de instituições educativas, recortadas num dado tempo e espaço, como os colégios, teatros e grupos escolares, às práticas educativas vivenciadas e reguladas no interior dos discursos existentes em periódicos jornalísticos, filmes e narrativas orais. Eis o nosso convite e o desejo a uma boa e significativa leitura!

Notas

1 https: / / educacaointegral.org.br / reportagens / uma-breve-historia-da-educacao-da-escola /

2 Segundo Faria Filho (2007), quando mencionamos “cultura escolar” estamos nos referindo a um constructo teórico que permite, metodologicamente, organizar a pesquisa. Já quando citamos “culturas escolares” estamos fazendo referência a um objeto ou campo de estudo, são elas o processo e o resultado das experiências dos sujeitos, dos sentidos construídos, compartilhados e disputados pelos atores que fazem parte da escola.

Azemar dos Santos Soares Júnior – Professor Doutor. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGEd / UFRN) Universidade Federal de Campina Grande (PPGH / UFCG)

Vivian Galdino de Andrade – Professora Doutora. Universidade Federal da Paraíba (UFPB\Campus III) Universidade Federal de Campina Grande (PPGH / UFCG)


SOARES JÚNIOR, Azemar dos Santos; ANDRADE, Vivian Galdino de. Apresentação. Mnemosine Revista, Campina Grande – PB, v.11, n.1, jan / jun, 2020. Acessar publicação original [DR]

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História, Arqueologia e Ontologia / Oficina do Historiador / 2020

Esta introdução tem como objetivo apresentar e contextualizar os artigos que compõem este dossiê sobre História, Arqueologia e Ontologia, que reúne estudos que versam sobre os materiais e os seus múltiplos papéis sociais no tempo, com o foco estabelecido, portanto, nas disciplinas de História, Arqueologia e as questões ontológicas da Filosofia.

A atividade social, por mais abstrato que seu estudo e manipulação possa ser, é desempenhada e embasada sobre a sensibilidade da existência física e consequente relação com outras formas físicas estabelecidas – o que podemos conceituar, com a devida flexibilidade, como “coisas”.

A partir deste largo escopo, diversas abordagens se desenham, dado que o espírito do tempo exerce sua força incomensurável sobre tudo o que há no mundo. Isso nos obriga a reconsiderar algumas noções tradicionais do pensamento ocidental, onde a História registra a alteração da condição de “sujeito” para “coisa” em eterna atualização, e o resultado dessa atividade fica marcado na matéria humana e não-humana que nos rodeia.

Os estudos aqui reunidos cruzam, portanto, as experiências que pessoas, materiais e coisas atravessaram juntos diante de uma perspectiva crítica sobre a relação “natural” entre essas diferentes entidades que povoam a existência.

Não é surpresa que a Arqueologia é uma disciplina interdisciplinar. Mas o que exatamente isso quer dizer? Sempre foi muito claro para quem a pratica que é necessário deter um tanto do chamado “conhecimento enciclopédico”: noções básicas de Antropologia, Geologia e Geomorfologia, Linguística, Informática, Zoologia, Filosofia, Artes Plásticas, Matemática, Restauro, História, Química e Museologia podem ser necessárias a qualquer momento; tanto em meio aos livros e artefatos dentro de um laboratório, quanto debaixo do sol ou do dossel vegetal num dia de campo.

Há um paradoxo nisso; embora a Arqueologia não seja a única beneficiária da interdisciplinaridade, não é inadequado afirmar que apenas ela depende disso para existir propriamente. Quando recortamos um tema, um período e uma área de pesquisa, também se torna necessário para nós delimitarmos quais empréstimos teóricos e técnicos serão empregados. Por que essa noção não é falsa? Ora, porque sempre que um artefato atinge a condição de evidência – ou seja, quando ele se torna intelectual e materialmente sensível para nós – ele comprova de modo inequívoco que algo aconteceu, algo existe – o quê, exatamente, é o que procuramos descobrir e é para isso que serve o intercâmbio com as outras disciplinas. Desta forma, a conceituação do que é arqueologia pode ser bastante móvel e variar de acordo com a necessidade do contexto; sabemos que estudamos as relações entre as pessoas e as coisas; mas definir quem é quem tem se tornado cada vez mais difícil.

Seja, como enfatiza o sociólogo e economista indiano Arjun Appadurai (1986), estudar a vida social das coisas, ou, como sugere a antropóloga Mary Douglas (2002), parafraseando Claude Lévi-Strauss, que as coisas não apenas têm suas funções, mas, principalmente, são boas para pensar “good for thinking”. Coisas também são objetos biográficos, contam histórias da vida das pessoas, como nos demonstra Janet Hoskins (1998).

“Como andam as coisas?” Uma pergunta que deveria incentivar uma breve conversa entre duas pessoas, colegas de arqueologia, com genuíno interesse sobre como suas pesquisas estão se desenvolvendo. É uma pergunta estranha, as coisas andam, se movimentam, têm vontades próprias – tudo indica que sim. As coisas fazem coisas com a gente, pois, de certa forma, sempre estamos em contato com as coisas, dentro de uma perspectiva, arqueológica ou não. A Arqueologia não pretende se situar como um ponto privilegiado de perspectiva sobre as coisas em si mesmas, senão ser uma das formas possíveis de desvelar quais coisas existem e para quem.

Nessa toada, muitas atividades podem ser arqueológicas, mesmo que não pareçam à primeira vista. Usando um exemplo clássico, a Arqueologia do Saber de Foucault (1972) é mais do que apenas uma metáfora útil. De fato, é promovida uma regressão intelectual que escava um outro tipo de sítio arqueológico e busca um outro tipo de evidência, através de um método especificamente construído para aquilo – muito similar à necessidade que cada sítio arqueológico impõe a quem se interessa em escavá-lo. Claro, os seus artefatos são diferentes de uma Arqueologia “tradicional”; mas o filósofo francês, ao preferir usar o termo “arqueologia”, o fez justamente no sentido de que a noção de “Arqueologia” cria, ou estabelece, artefatos – em seu caso particular, os diferentes discursos da História das ideias:

[…] it’s problem is to define discourses in their specificity; to show in what way the set of rules that they put to operation is irreducible to any other; to follow them the whole length of his exterior ridges, in order to underline them the better. It does not proceed, in slow progression, from the confused field of opinion to the uniqueness of the system or the definitive stability of science; i’ts not a ‘doxology’; but a differential analysis of the modalities of the discourse (FOUCAULT, 1972, p. 139).

Assim, é evidente o favorecimento não apenas de outras histórias, senão, como em nosso caso, de outras Arqueologias. Aqui, diferentes estudos e perspectivas tentam abordar, assim como Foucault, outras espécies de Arqueologia. Algumas são mais tradicionais, enquanto outras favorecem uma distensão similar. Uma observação atenta, contanto, tornará flagrante a ambiguidade em considerar alguns estudos e metodologias aqui presentes como “tradicionais” ou “clássicos”; e outros como “modernos” ou “contemporâneos”: “Jamais fomos modernos”, diria a chamada de Bruno Latour (2013). Como se deve saber, Latour critica a distância construída pelo pensamento ocidental, que relativiza o conhecimento produzido fora das escalas e dos laboratórios que são o belo brasão do fazer científico atual (dos últimos 520 anos). Ao considerar sabiamente que não há apenas um ponto privilegiado de percepção na classificação deste ou daquele mundo, ele crê que:

O balanço deste exame não chega a ser desfavorável. Podemos conservar as Luzes [o Iluminismo e suas reflexões] sem a modernidade, contanto que reintegremos, na Constituição, os objetos das ciências e das técnicas, quase-objetos entre tantos outros, cuja gênese não deve mais ser clandestina, mas antes acompanhada passo a passo, dos acontecimentos quentes que os originam até esse resfriamento progressivo que os transforma em essências da natureza ou sociedade (LATOUR, 2013, p. 133).

Essa simetria não deve se iludir na percepção de que “há um caminho melhor”; todas estradas levam a Roma. Convém a nós, praticantes da Arqueologia, saber o que cada estudo e estrada traz como contribuição. Em suma, se é inútil perpetuar a divisão entre natureza e cultura, sujeito e objeto, primitivo e moderno – também é inútil condenar o passado pronapiano, por exemplo, sem entender qual era o seu contexto (HILBERT, 2007) – sem pensá-lo como uma coisa ainda viva em nós, da qual jamais nos desvencilharemos, senão antes, transformar a nossa prática para além de uma “Arqueologia negativa”.

Portanto, estudos que trabalham com quantificações puras e estatísticas, como é o caso da contribuição “Memória de pertencimento soterrada pelo tempo”, de Alexandre Matos e Joyce Macedo, onde os dados numéricos permitem notar uma variação na qualificação dos habitantes da cidade de Quevedos sobre qual é a importância real do seu patrimônio local.

Outro estudo revisita uma abordagem qualitativa que tem se escapado de uma visão teórica. Seria realmente fato que imagens fotográficas geoespaciais, tomadas por drones, representam uma realidade autoevidente, dada e imutável da paisagem? Assim, o uso da fotogrametria para produção documental fotográfica subitamente se transforma na assunção de um ponto de vista a partir da máquina; onde os processos de produção de documentação interagem de igual para igual com seus controles e controladores, nos céus do Forte Dunbeg, na Irlanda, como demonstra Sterling MacKinnon.

A troca de perspectiva também está em um sentido de reencontro com algo de aparência casual, como talvez a atividade artesanal de um pescador. Por trás da falsa ideia primeira de tranquila transparência, está a firme e fluida rede de relações tecida entre diferentes tipos de pescadores, tralhas, fainas e conhecimentos, se estende na maré – onde flutua sua própria noção de território como uma tarrafa. O artigo de Lucas Silva e Gustavo Wagner apresenta o movimento constante onde os nós dessa rede se tocam e distanciam juntos em direção do peixe, onde é possível observar a sua coesão social e identitária, trazendo um caráter inédito sobre a arte da haliêutica desenvolvida pelas comunidades pesqueiras ao longo do litoral meridional brasileiro.

A partir daí fica simples notar que a atividade artesanal também é um ponto onde conceitos prévios de identidade e visão de mundo estão imbricados a partir das condições de seu fazer. O estudo de Ana Paula Bezerra e Filipi Pompeu sobre o relato de um estilo único de olaria que combinava em si não apenas técnicas e formas de universos completamente diferentes, mas também reunia ali uma visão peculiar de mundo, também explora o fazer de aparência trivial. A moça surda-muda, anônima mesmo diante de todos os coadjuvantes do curto relato original, imprime como combinações insólitas diante da noção primeira de cerâmica, como excrementos, gordura e argila, a sua própria visão de mundo. A conexão íntima entre essas e outras características que aparentam forte repulsão à sociabilidade e o aguçamento de algumas sensibilidades em prol de outras, permite pensar a louça como uma outra forma de estar e interagir com um mundo onde ainda não existia a ideia de cultura Surda-Muda.

Outros dois textos apresentam diferentes implicações ontológicas da prática como substrato para a elaboração e intuição de um ponto de vista. Um deles, de Antônio Soares se volta para a construção de uma “casa de índio” como parte das atividades de educação patrimonial junto ao Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul, no município de Taquara. Após constatar que a casa Mbyá-Guarani erigida junto ao museu segue a forma usualmente descrita na literatura – mas não associa de igual modo alguns traços pertinentes, como orientação espacial e território, se torna claro que os Guaranis interpretaram a necessidade de conhecimento não indígena, adaptando a sua realidade no mundo do Outro através de uma casa que é funcional e prática para o branco no tocante ao contato com o ameríndio. A casa é um híbrido que engendra sob suas colunas, dois mundos.

A Arte, um conceito ocidental, também é pensada como algo antagônico à ciência, é aproximada e traz à tona o laboratório como ateliê. Segundo o autor, Felipe Tramasoli, ambas são pontos de partida distintos, mas poderiam apoiar-se no sentido da capacidade que tanto Arte quanto Arqueologia exigem uma reação discursiva – ou seja, são reativas no sentido de incitarem a diversidade criativa, mesmo que dentro de seus próprios termos e conceitos. Contanto, é possível fazer Arte da Arqueologia, assim como Arqueologia da Arte, buscando não apenas um referencial, mas um modo de trazer o sensível do passado para o presente, e vice-versa, negando a delimitação antes clara sobre onde começa o ontem, o hoje, a criatividade e o fazer científico.

A presença dos materiais e das substâncias como contentores de um mundo também é apreciada neste volume; inicialmente junto a vinte e duas garrafas de grés do século XIX, encontradas em plena Amazônia. Teriam elas pertencido ao biopirata inglês Henry Wickham, que contrabandeou sementes para a Ásia, quebrando o monopólio sul-americano? Teriam sido utilizadas para transportar as sementes, testemunhas diretas da usurpação? Ou seriam mero fruto da “coleção particular” de algum seringueiro influenciado pelo afluir de bens estrangeiros e / ou pelas “visagens” que habitam a floresta? As diversas possibilidades que se abrem diante da existência de algo trivial em um contexto incomum, favorecem a tomada de consciência para as narrativas não hegemônicas – fornecendo origens pouco óbvias que merecem ser investigadas, conforme comprova Tiago Muniz.

O fluxo das matérias e materiais, portanto, supera a forma, e deve ser pensado a partir de outros pontos de vista que não são humanos em sua origem primeira – como é o caso do drone e do estudo que versa sobre as coisas propriamente ditas e suas qualidades. Essas, como demonstrado, interferem constantemente nos assuntos “não coisas”, ou humanos, em uma percepção não apenas sociológica, mas arqueológica. Aí podem ser vislumbrados como uma constante mutável que aproxima a prática arqueológica de tudo aquilo que meramente existe, como uma forma ontológica essencial, como desperta no pensamento a contribuição de Klaus Hilbert.

Finalizando e amarrando estes trabalhos dentro de um apanhado teórico geral, estão as reflexões de John O’Donnell que permitem pensar, afinal, como a disciplina arqueológica tem se portado e absorvido as tensões e assimetrias perspectivas pós-modernas dentro de uma noção ideológica. Este balizamento ajuda a situar não apenas a onipresença de qualquer categoria dentro da Arqueologia, como permite notar suas consequências e desdobramentos lógicos.

Todos trabalhos aqui presentes possuem algum agregar que pode ou não ser útil para determinadas pesquisas. Mas, para o todo da Arqueologia, incorporando a noção de totalidade da disciplina, toda pesquisa arqueológica é um incremento para quem sabe ver que ela não pertence ao número ou a hipótese; senão se constitui permanentemente do atrito entre estes dois (dentre outros tantos) elementos.

Este Dossiê, bem como trabalhos e ramificações de pesquisas direta ou indiretamente ligados a ele, é uma homenagem póstuma ao querido colega Alexandre Pena Matos. Arqueólogo atuante na área de licenciamento, era graduado em História, especialista em Cultura Material e Arqueologia, mestre em História Regional e doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), fazendo parte de nossa equipe durante a sua pesquisa. Alexandre nos deixou aos 49 anos, cedo demais, e o artigo aqui publicado com a sua atual companheira, Joyce Macedo, é sua última obra acadêmica finalizada em vida. Que nossos votos de consolo fortifiquem a família e a todos que o rodeavam.

Referências

APPADURAI, Arjun. Introduction: Commodities and the Politics of Value. In: APPADURAI, Arjun (ed.). The Social Life of Things: Commodities in Cultural Perspective. Cambridge: Cambridge UP, 1986. p. 3-63. https: / / doi.org / 10.1017 / CBO9780511819582.

DOUGLAS, Mary. The World of Goods: Towards an Anthropology of Consumption. London: Routledge, 2002. https: / / doi.org / 10.4324 / 9780203434857.

FOUCAULT, Michel. Archaeology of Knowledge. New York: Pantheon Books. 1972.

HILBERT, Klaus. “Cave Canem!”: cuidado com os “Pronapianos”! Em busca dos jovens da arqueologia brasileira. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi: Ciências Humanas, Belém, v. 2, n. 1, p. 117-130, 2007. https: / / doi.org / 10.1590 / S1981-81222007000100009.

HOSKINS, Janet. Biographical Objects: How Things Tell the Stories of People’s Lives. London: Routledge, 1998.

LATOUR, Bruno. Jamais Fomos Modernos. Tradução de Carlos Irineu da Costa. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2013.

Klaus Hilbert – Doutor em Arqueologia pela Philipps Universität Marburg (Marburg, Hesse, Alemanha). Docente no Programa de Pós-Graduação em História PUCRS orcid.org / 0000-0002-7672-6540 E-mail: hilbert@pucrs.br

Filipi Gomes de Pompeu – Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Rio Grande do Sul, RS, Brasil); doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Porto Alegre, RS, Brasil)  orcid.org / 0000-0002-5929-3237 E-mail: filipi.pompeu@gmail.com

Ana Paula Gomes Bezerra – Mestra em História pela Universidade Estadual do Ceará (UECE, Fortaleza, CE, Brasil), Doutoranda em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Porto Alegre, RS, Brasil), Coordenadora do G.T. de Cultura Material e Arqueologia da ANPUH / RS. orcid.org / 0000-0003-0441-8925 E-mail: ana.bezerra.001@acad.pucrs.br

Carlos Eduardo Ferreira Melchiades – Doutorando em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS, Porto Alegre, RS, Brasil). orcid.org / 0000-0003-3904-6607 E-mail: carlos.arqueologia@gmail.com


HILBERT, Klaus; POMPEU, Filipi Gomes de; BEZERRA, Ana Paula; MELCHIADES, Carlos Eduardo Ferreira. Apresentação. Oficina do Historiador. Porto Alegre, v. 13, n. 1, jan. / jun., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Práticas Religiosas, Errância e Vida Cotidiana no Brasil (Finais do Século XIX e Inícios do XX) – WISSENBACH (PH)

WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Práticas Religiosas, Errância e Vida Cotidiana no Brasil (Finais do Século XIX e Inícios do XX). São Paulo: Intermeios; USP-Programa Pós-Graduação História Social, 2018, 256 p. Resenha de: PERES, Elena Pajaro. Religiosidade em trânsito. Práticas cotidianas do sagrado coração no Brasil da Primeira República. Projeto História, São Paulo, v.67, pp. 439-446, Jan.-Abr., 2020.

Em 1929 o imigrante italiano José Zarelli, depois de muito trabalhar em São Paulo como vendedor, comprou uma pequena propriedade rural nos arredores da cidade. Foi nesse pedaço de terra que resolveu recuperar uma antiga habilidade que trouxera da Europa: esculpir imagens de madeira inspiradas em figuras do mundo camponês. Com o tempo foi acrescentando a essas imagens atributos de matriz africana sobre os quais tomou conhecimento no Brasil. Essa modificação de sua arte levou Zarelli a ganhar fama como escultor feiticeiro. Suas criações, após os devidos rituais de consagração, passaram a ser consideradas objetos sagrados, ou, como seria mais apropriado denominá-las, ínqueces,

e começaram a integrar altares religiosos, tornando-se, o próprio artesão, um rezador.

Essa significativa história, narrada por Oswaldo Xidieh em artigo de 1944, foi retomada pela historiadora Cristina Wissenbach em seu livro Práticas Religiosas, Errância e Vida Cotidiana no Brasil (Finais do Século XIX e Inícios do XX), publicado em 2018 pela editora Intermeios, para nos introduzir de maneira exemplar no universo das interconexões entre o catolicismo de base popular, imbricado de práticas camponesas muitas vezes consideradas heréticas na Europa, as religiões de matrizes africanas e os saberes milenares dos povos indígenas. A partir daí, capítulo a capítulo, o leitor vai conhecendo como se deu historicamente esse entrecruzamento cultural recriador de formas de expressividade artística e religiosa.

Essa configuração cultural multifacetada vem sendo nas últimas décadas recuperada por estudos acadêmicos – como os da própria professora Wissenbach, do historiador Robert Slenes e do antropólogo estadunidense James Lorand Matory, entre outros – que têm demonstrado como elementos provenientes de diferentes tradições entrechocaram-se no Brasil, levando ao surgimento de novas e intrincadas práticas culturais.

O livro de Wissenbach traz à luz os quatro capítulos revisados da tese de doutoramento Ritos de Magia e Sobrevivência. Sociabilidades e práticas mágico-religiosas no Brasil (1890/1940), apresentada ao Departamento de História da Universidade de São Paulo em 1997. No processo de revisão dos capítulos, a pesquisadora incorporou sua experiência como professora de História da África na Universidade de São Paulo, ampliando diálogos e abrindo suas reflexões para novos horizontes, como ela mesma afirmou em um dos eventos de lançamento ocorrido no Centro Cultural São Paulo. Seguindo os mais recentes debates na área, Wissenbach atualizou bibliografia e conceitos, enfatizando pontos antes apenas mencionados em sua tese. Dessa forma utilizou o conceito de pós-emancipação no lugar de pós-abolição, práticas religiosas no lugar de magia, vida cotidiana em vez de sobrevivência. Acrescentou ainda o conceito de errância, que antes não estava explicitado no título ou definido teoricamente.

As memórias, as crônicas, os relatos de viagem e de expedições foram algumas das fontes utilizadas na pesquisa. Contudo, foi na documentação criminal e nas notícias impressas nos jornais que a historiadora descobriu o elo para se aproximar das vivências concretas das populações que se encontravam em trânsito e que, num período conturbado da passagem do século, nos primeiros anos da República brasileira, experimentavam novas formas de estar no mundo. Ao revelar a luta do poder instituído para tentar disciplinar essas populações e suas manifestações culturais e religiosas, a documentação policial também revela, mesmo que parcialmente, as táticas utilizadas pelos mais pobres para se desvencilhar desse poder. A autora explica como esses registros, pelo seu próprio caráter fragmentário, permitem a compreensão de práticas que também se davam fragmentariamente, permeadas pelo improviso e pelo aproveitamento das brechas. Práticas que assumiam formas fugidías para garantir a permanência e liberdade de expressão em um meio dominado cada vez mais pelo pensamento racial e evolucionista.

Assim, dialogando com as fontes, tendo como fio teórico condutor de seu método o perspectivismo e a hermenêutica, que alerta para a historicidade do próprio conhecimento histórico, Wissenbach mergulha e faz o leitor mergulhar no mundo das religiosidades populares, um mundo que não se atrela ao poder oficial e desafia constantemente as religiões institucionalizadas.

No primeiro capítulo – Ritos e crenças de homens livres no pós-emancipação – a autora revela, a partir de uma extensa pesquisa bibliográfica e de fontes, como a população economicamente pobre criou padrões de organização de moradia, trabalho e convivência, colocando em circulação ideias, práticas e mercadorias nos momentos das festas religiosas, dos encontros e das feiras. Quando movimentamos as páginas, seguindo os rastros deixados no texto, podemos acompanhar a versatilidade desses grupos na busca de um melhor terreno para plantio e caça, no trabalho de construção e reconstrução da moradia, na decisão de abandonar os poucos bens materiais que não seriam úteis ou que não poderiam ser carregados durante a mudança de um território a outro. Práticas essas sempre vistas com reprovação pelos detentores das terras e do poder, que pretendiam aprisionar essas populações pelo trabalho, quando necessário, ou, quando eram vistas como dispensáveis, eliminá-las ou isolá-las em alguma área em que permanecessem segregadas.

O estudo mostra como esses grupos sociais criaram vínculos com a natureza, realizando todas as tarefas em seu tempo certo. Era na mata que encontravam parte importante de sua alimentação, ervas medicinais e seu mundo espiritual. Tudo o que era considerado sinal de atraso pelo pensamento modernizador que adveio com a República adquire uma outra roupagem quando se busca, como fez Wissenbach, uma aproximação compreensiva dos valores e meios de vida dessas populações. Eram grupos que viviam dispersos, mas evitavam o isolamento por meio de uma hierarquia social bem configurada em um mundo paralelo ao poder oficial e por ele incompreendido. Nesse grupo se destacam os africanos e afro-brasileiros a quem a autora dedicou grande parte do estudo publicado nesse livro.

Importantes discussões são apresentadas nesse primeiro capítulo, incorporando novas abordagens sobre as manifestações culturais especialmente dos povos provenientes da África centro-ocidental, que, segundo reforçam pesquisas atuais, foram os grupos majoritários trazidos ao Brasil no século XIX pelos traficantes de escravizados.

No segundo capítulo – Dissonâncias sociais da cidade moderna – vislumbra-se como as expressões de cultura e religiosidade presentes no interior do país começam a se reconfigurar a partir do movimento dessas populações em direção às áreas urbanas, promovendo a ressocialização das camadas populares em novos espaços. Discursos políticos, médicos e higienistas, que acompanharam e legitimaram a chamada modernidade, passaram a considerar as práticas religiosas desses grupos como sinais de incultura, atraso e ignorância. A história de Canudos e seu crescimento demográfico explosivo em torno das pregações do beato é recuperada pela autora como uma referência importante para se compreender processos semelhantes que ocorriam nas cidades brasileiras. Essas práticas começaram a ser cada vez mais notadas, anotadas e perseguidas. Nesse cenário aparecem novamente com destaque os contingentes de africanos e afro-brasileiros que, nas cidades conturbadas por um processo de urbanização abrupta, dividiram o espaço com imigrantes pobres de diferentes nacionalidades. Sabe-se que essa convivência foi muitas vezes tensa e conflituosa, mas, como esse e outros estudos demonstram, também foi marcada pelo compartilhamento de tradições.

No capítulo 3 – Religiosidade e magia nas primeiras décadas do século XX – a autora leva o leitor pelos meandros da escrita de cronistas e romancistas, que descreveram as práticas religiosas, especialmente aquelas que se davam nas casas de homens negros e mulheres negras. Essas descrições em sua maioria traziam toques de exotismo, demonstrando a tentativa de distanciamento dos autores em relação àquela população encantada por feitiços, magia e tudo aquilo que pertencia ao mundo do secreto e do oculto. As camadas remediadas e as mais ricas temiam aqueles “cultos misteriosos”, reservados aos iniciados, e preferiam se aproximar do espiritualismo de base francesa ou americana, mais atrelado à ciência e às supostas comprovações.

Nesse terceiro capítulo acompanha-se ainda a história de como o espiritismo se disseminou rapidamente também entre as camadas mais pobres da população, combinado com as crenças de ascendência europeia e às religiões afro-brasileiras.

O ritmo da narrativa se intensifica até atingir o capítulo 4 – Espaços sociais das crenças religiosas na urbanização de São Paulo – onde se vê como o discurso que representa o medo pela perda de controle sobre esses grupos espiritualizados foi muito forte em São Paulo entre 1890 e 1900, período em que a população da cidade cresceu em 268%. Esse medo acompanhou de perto a disseminação de práticas religiosas diversas por todo espaço urbano.

Particularmente nesse capítulo final pode ser feita uma ponte entre esse estudo e as mais recentes concepções dos estudos africanos, que demonstram como a incorporação de novas crenças e sua recriação era uma prática comum na África central. Pesquisas de historiadores africanistas como Linda Heywood e John Thornton apontam enfaticamente na direção de que novos elementos sempre foram apreendidos e transformados quando considerados benéficos ou úteis à cosmologia dos povos africanos. A convivência no Brasil com curandeiros, pitonisas e adivinhos provenientes das mais variadas nacionalidades, como demonstra Wissenbach, ampliou ainda mais essa prática. Essa “mistura”, da qual nos fala a autora, permeava o extrato social e cultural onde essas populações viviam, nas pequenas casas de cômodos, nos quintais coletivos, no compartilhamento de atividades informais. Aos poucos as práticas chamadas de curandeirismo irmanaram-se aos novos campos da ciência, como a homeopatia.

Na conclusão Wissenbach mostra como as práticas religiosas populares eram mais perseguidas e, ao mesmo tempo, mais temidas, quando eram empreitadas por homens negros, os chamados mestres cumbas ou feiticeiros. Foi contra eles que a repressão policial agiu de forma mais intensa até seu ponto máximo nos anos de 1930. Mesmo temidos, eram eles que lançavam uma fagulha de esperança para aqueles que não tinham a quem recorrer ou que não acreditavam em qualquer ajuda que pudesse vir do poder estabelecido. Da mesma forma, segmentos negros da população eram perseguidos quando fundavam agremiações religiosas, como igrejas reformadas, grêmios de ocultismo e centros espíritas.

Nos processos criminais, analisados pela historiadora, um ponto chamou sua atenção de forma impactante, a presentificação das narrativas a partir do final do século XIX. Desapareceram os detalhes da vida pregressa, da África ancestral, que podiam ser encontrados nos depoimentos de escravizados e libertos. A cidade em processo de modernização parecia reservar espaço apenas para o novo. Essa importante reflexão da autora nos leva a indagar se a memória de fato fora perdida ou começara a ser acobertada como tática de proteção num momento de perigo, em que as perseguições a tudo que remetesse à África haviam se intensificado.

E aqui podemos voltar ao início do livro, quando, citando Xidieh, Wissenbach ressalta que há um momento certo para a narração, que não é o momento da noite ou do dia, mas é o momento social em que elas se justificam e funcionam. É preciso concordar que essa pesquisa, que demorou um longo tempo para ser publicada, chegou num momento preciso de narração, num tempo necessário, permitindo a lembrança e o estudo crítico de práticas que fogem das imposições oficiais e se afirmam em sua diversidade, em profunda conexão com o contexto histórico das camadas populares, seus conflitos e compartilhamentos. Nesse sentido o livro atende a um público amplo, formado não apenas por historiadores, estudiosos das religiões, da história urbana e do cotidiano, mas também por todos os interessados nos assuntos relativos à diversidade, ao direito de expressão, às dissonâncias culturais, ao compartilhamento e tensão entre tradições. O trabalho de Cristina Wissenbach é profícuo em ampliar caminhos de pesquisa e discussão.

Elena Pajaro Peres – Doutora e mestre em História pela FFLCH-USP. Pós-doutora pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Visiting Scholar no African American Studies Program da Boston University (2013-2014). É pesquisadora no grupo Trilhas e circuitos do riso no espaço público brasileiro (1880-1960)-DH-USP/CNPq.

Da Antropologia e Sociologia do corpo aos Estudos Corporais. Análise e quadro interpretativo / Albuquerque: revista de história / 2020

Estudios sociales, cuerpos y corporeidades

El cuerpo como lo que percibe, lo que toca o lo que ve, es fácil que a su vez sea lo no visto, lo rara vez tocado aunque a menudo trabajado, y como tal lo que se le ha escurrido hace tiempo a la percepción, lo no sentido. Esto llega incluso a lo normativo. La salud y el bienestar pueden definirse como el cumplimiento de la disposición de que el cuerpo no tiene que hacerse notar. Hans Blumenberg (2011)

En los últimos 30 años, y como resultado de un trabajo entrecruzado y permeable entre diferentes disciplinas (entre las cuales podemos mencionar la antropología, la comunicación, la historia, la sociología, el arte, la psicología o la educación), se ha desarrollado un amplio y novedoso campo interdisciplinario que podemos denominar con el término de habla inglesa: Body Studies (Estudios Corporales). Desde los trabajos iniciales de algunos autores que arrancaron con esta forma de investigar y de arropar el cuerpo como objeto de estudio (Marcel Mauss con su texto Techniques du corps; Michel Foucault y una amplia red de textos que han tejido escrituras corpóreas; Pierrre Bourdieu y su trabajo iniciático Remarques provisoires sur la perception sociale du corps) se creó un marco interpretativo sin la pretensión de generar un campo de estudio específico. A través de una segunda generación de investigadores dedicados todavía de forma más amplia y específica al estudio del cuerpo (Bryan Turner o David le Breton, ambos con infinidad de trabajos centrados en el cuerpo como objeto central de sus investigaciones), se han desarrollado diferentes contribuciones que, de forma casi definitiva, han permitido la posibilidad de transitar por caminos alternativos a la hermenéutica del cuerpo como algo biológico, fisiológico o biomecánico.

Es así como podemos aventurarnos a afirmar que los Body Studies nacieron, sin saberlo o sin ser plenamente conscientes de ello, como complemento o alternativa a la perspectiva anatómica y biológica del cuerpo humano. El cuerpo era (y en su esencia sigue funcionando de esta forma) asimilado a los órganos, a lo fisiológico, a lo biológico, pero muy pocas veces a su dimensión cultural o vivencial-experiencial. Desde hace más de 50 años el filósofo alemán Edmund Husserl hizo una distinción que se convirtió en algo fundamental para entender esta cuestión, y que consistió en diferenciar el concepto Leib (cuerpo vivido) de Körper (cuerpo físico).

Desde aquellos autores iniciales se ha tratado de arrojar luz sobre ciertas preguntas centrales sobre las formas de vivir la condición de humanidad. Diferentes escenarios y ubicaciones han desempeñado un papel relevante, pero de manera especial en los últimos 10 años han surgido grupos de investigación, proyectos, tesis, artículos, libros y congresos que ubican a países como México, Brasil, Colombia o Argentina como ejes globales de producción de conocimiento. El dossier que presentamos de la revista Albuquerque busca ofrecer a los lectores trabajos actuales centrados en la perspectiva de los Estudios Corporales con una amplia visión de temas y disciplinas interesados en ofrecer otras miradas sobre el cuerpo. Investigadores y académicos proponen trabajos que nos permiten seguir pensando en el ser humano y sus formas de interacción y circulación por el mundo desde su dimensión simbólica-corporal. Como hemos avanzado, se trata de un campo de intersección, de un espacio en el cual se puede discutir su ejercicio en forma de proyectos de investigación (artículos), resultados de proyectos, ensayos o artículos de revisión en los que se incorporan problemas que abordan la perspectiva de los estudios corporales desde diferentes dimensiones, inclinaciones teóricas o metodologías.

El dossier arranca con un artítulo titulado “O corpo na historia: reflexões sobre a historiografía do corpo, do gênero e das sexualidades”, que propone una profunda revisión de los estudios corporales desde la perspectiva historiográfica. El trabajo recorre distintos momentos, perspectivas, temas y metodologías que en el contexto de una disciplina como la historia han tomado forma en el cuerpo como objeto de estudio. Su propuesta consiste en analizar estos interrogantes con el telón de fondo del género y la sexualidad, verdaderos territorios de impacto social y personal del asunto corporal.

Un segundo trabajo, titulado “A morte no filme ‘Ventos de agosto’: os usos sociais do corpo”, apuesta por mostrar los estudios corporales aplicados al campo de las artes visuales. A partir de la película Ventos de agosto se despliega un conjunto de visiones sobre el cuerpo que lo trasladan hacia la muerte. ¿Qué es un cuerpo en estado final? ¿Cómo se traza una línea que separa la vida de la muerte, el cuerpo del cadáver? El trabajo apuesta por pensar y problematizar de forma dialógica la muerte como uno de los temas centrales de los Estudios Corporales. El tercer trabajo del dossier se presenta alrededor de los cuerpos que no son dóciles. Titulado “Corpos (não tão) dóceis: o rock e a juventude”, el texto transita por elementos no estándares de esta tipología de investigaciones. Se trata de pensar, o mejor dicho de repensar, los cuerpos jóvenes, productores de resistencias somáticas frente a una sociedad ultranormalizada; el rock es el hilo conductor que permite este análisis.

El cuarto trabajo lleva por título “As fronteiras de um corpo imaginário: o gênero e a identidade em ‘O menino que brincava de ser’” y propone estudiar esta obra de Georgina Martins (2000) desde la perspectiva de los estudios corporales. Ello se traduce en un recorrido analítico por las geografias del texto que confrontan las identidades, los géneros, los cuerpos y los imaginarios simbólicos que las envuelven.

Un quinto trabajo propone la recuperación de un término cada vez más en desuso frente a lo que podemos denominar “terminologías queer”. Con el título “A viacrucis do corpo travesti em ‘A Inevítavel Historia de Letícia Diniz’ (2006)”, nos adentramos en la mirada hacia la práctica del travestismo y su vinculación con la vida misma, con el dolor y el sufrimiento de las miradas y de los actos ajenos.

El sexto artículo con el título “‘Com sedas matei e com ferros morri’: o corpo em disputa (classificação, abjeção e violência no Brasil)” propone comprender la disputa de los cuerpos desarrollados a través de su clasificación, basada en la abyección y que tiene en consecuencia, la violencia dirigida a una gran parte de la población LGBT+ en Brasil.

Lo artículo “Concepciones del cuerpo en contextos multi e interculturales” habla de la importancia que reporta la multiculturalidad y la interculturalidad en el análisis de la diversidad cultural, la inclusión social, las identidades colectivas, para visibilizarlos en el cuerpo como auténtico artífice material y simbólico intercultural; el lugar de la intersección de flujos, tensiones y contradicciones del proceso intercultural, siempre precario.

El dossier cierra con un trabajo dedicado a la educación y a los estudios corporales: con el título “Los cuerpos en los procesos de formación inicial en Educación Física ¿Cómo se observan y comprenden?”, el artículo ofrece un análisis de cómo se forman, deforman o performan los cuerpos en uno de los grandes dispositivos sociales: la escuela.

Este conjunto de artículos sirve para abordar desde ángulos distintos y complementarios un marco de trabajo amplio que permite repensar un campo disciplinar todavía en proceso de construcción, y que necesita de aportes transdisciplinares que no se cierren en fronteras académicas y que fluyan por los distintos temas que forman el campo de los estudios corporales para insistir en su vigor.

Referências

BLUMENBERG, Hans. Descripción del ser humano. Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2011.

Jordi Planella Ribera (Universitat Oberta de Catalunya, España)

Héctor Rolando Chaparro (Universidad de los Llanos, Colombia)

Organizadores


RIBERA, Jordi Planella; CHAPARRO, Héctor Rolando. Apresentação. Albuquerque: revista de história, Mato Grosso do Sul, v.12, n.23, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Educación rural/experimentos sociales y Estado en México: 1910- 1933 | M. A. Calderón Mólgora

La obra de Marco Antonio Calderón que aquí se reseña, es una contribución para la historiografía sobre los proyectos educativos en el México rural de principios del siglo XX. La base documental del trabajo de Calderón proviene de importantes acervos tanto mexicanos como estadounidenses. El objetivo del libro está basado en el análisis de los programas de educación rural que el gobierno mexicano puso en marcha a través de la Secretaría de Educación Pública en las décadas de 1920 y 1930 tomando cuatro ejemplos diferentes de zonas rurales e indígenas. El objetivo planteado por Calderón permite entender como esas iniciativas contribuyeron en un cambio cultural, el cual involucró el sentimiento de ser mexicano y la formación de un Estado de posrevolución. Leia Mais

TransVersos. Rio de Janeiro, v. 20, 2020.

O PROTAGONISMO DAS MULHERES NEGRAS NA ESCRITA DA HISTÓRIA DOS BRASIS

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APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ

ARTIGOS LIVRES

EXPERIMENTAÇÕES

TransVersos. Rio de Janeiro, v. 19, 2020.

CINEMA E TERRITÓRIO NA HISTÓRIA AUDIOVISUAL DA AMÉRICA LATINA, ÁFRICA E DIÁSPORAS

EXPEDIENTE

APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ

ENTREVISTA

EXPERIMENTAÇÕES

ARTIGOS LIVRES

TransVersos. Rio de Janeiro, v. 18, 2020.

HISTORIOGRAFIA E ENSINO DE HISTÓRIA EM TEMPOS DE CRISE DEMOCRÁTICA.

EXPEDIENTE

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APRESENTAÇÃO

  • TEORIA, HISTORIOGRAFIA E ENSINO DE HISTÓRIA EM TEMPOS DE CRISE DEMOCRÁTICA
  • Daniel Pinha, Marcelo Rangel, Rodrigo Perez oliveira
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DOSSIÊ

ARTIGOS LIVRES

A chegada das trevas: como os cristãos destruíram o mundo clássico – NIXEY (AN)

NIXEY, Catherine. A chegada das trevas: como os cristãos destruíram o mundo clássico. Porto Salvo: Desassossego, 2018. Resenha de: SILVA, Paulo Duarte. Ecos de Gibbon: a s trevas cristãs revisitadas?  Anos 90, Porto Alegre, v. 27, 2020.

“A encantadora estátua de Atena [em Atenas, aproximadamente entre 529 e 532 e.C.], a deusa da sabedoria […] [n]ão foi só decapitada, como […] usada como degrau. […]. O ‘triunfo’ do Cristianismo estava completo” (NIXEY, 2018, p. 279). Assim Catherine Nixey encerra A chegada das trevas (The Darkening Age, Pan Macmillian, 2017).

Composta por 329 páginas, uma introdução e 16 capítulos, 1 mapa, 33 ilustrações referen­ciadas, 25 páginas de bibliografia e 6 de índice onomástico, a versão portuguesa possui poucos contratempos.1 Uma breve busca online mostra que o texto alcançou grande repercussão. Em linguagem acessível e amparada em novas — e tradicionais — referências, a jornalista recorre à sua formação em Estudos Clássicos em Cambridge e à sua experiência docente pregressa para discutir o papel do Cristianismo na “derrocada” do mundo clássico.

Segundo Nixey, tal ruína iniciou-se com a ascensão de Constantino, que teria inaugurado o “século I do domínio cristão” (p. 197, 201), desvirtuando um mundo em que religião e política não se misturavam (p. 243), já que eram civilizadamente regidos pelas leis (p. 255). Assim, embora reconheça a relevância de questões climáticas e demográficas (p. 157), das invasões “bárbaras” (p. 30-31, 264) e de suposta decadência moral romana (p. 37), a autora responsabiliza o Cristianismo.2

Ao considerar que muitos usa(ra)m “o monoteísmo e suas armas para fins terríveis” (p. 34, 129), a autora relaciona a temática ao debate público contemporâneo, pela alusão expressa à Palmira (p. 17-18, 29): sem citar a obra de Veyne (2015) dedicada à cidade síria, denuncia seu drama, arrui­nada pelos cristãos e, hoje, pelos muçulmanos.

Nixey argumenta que, após intensa contenda intelectual e a destruição de espaços e monu­mentos considerados “pagãos”, a pregação cristã voltou-se à moralização dos costumes sociais e sexuais (p. 28-29, 189-252).3 É difícil não tomar tal juízo como advertência às recentes discussões sobre televangelismo, movimentos antivacina e terraplanistas, “ideologia de gênero” e afins: pro­vavelmente esta é a principal contribuição da obra e, a um só tempo, seu grande risco.

Deste modo, o primeiro eixo da obra remete ao embate entre os escritos de “pagãos” e cris­tãos, com o amplo escopo de interesses e a complexidade investigativa dos primeiros contrastados à relativa simplicidade dos últimos: por exemplo, ao apresentar os tratados de medicina de Galeno (p. 61-65), para quem “[e]ra preciso provar […]. Fazer outra coisa era, para Galeno, o método de um idiota. Era o método de um cristão” (p. 64).4

Além das contribuições “científicas”, outro âmbito elogiado é o da poesia e do teatro, pelas obras de Calímaco e de tragediógrafos como Ésquilo, Sófocles e Eurípedes (p. 160-172). A estes se somam textos satíricos e/ou sexuais, como os de Ovídio, Marcial e, sobretudo, Catulo (p. 171-179).5 No plano religioso, a autora exalta a interpretação cética de Celso em relação aos dogmas cristãos (p. 64-73), e o relativismo politeísta de Luciano, Plínio o Velho, Plutarco, dentre outros (p. 70-81, 110-111, 121, 173-181, 305).

São aclamados ainda pensadores como Cícero, Sêneca, Plínio o Novo (p. 99-113), Libânio (p. 141-152, 189-228, 254-255), Damáscio (p. 23-26, 259-272) e Símaco, líder da chamada “reação pagã” de fins do século IV (153-154). Em termos científicos, literários e religiosos, seus nomes e obras são reunidos sob o epítome da “cultura clássica” e os cuidados do imperador-filósofo Marco Aurélio (m. 180) (p. 61).

À intelligentsia antiga opuseram-se os “grandes gigantes da Igreja” (p. 47). Neste grupo, figuram Tertuliano (p. 91-105, 174-183, 219-228), Orígenes (65-69), Cipriano, Jerônimo (227-241), Martinho de Tours (p. 143-151), Shenoute (p. 243-256) e Agostinho; além de Atanásio (p. 37-49), Teófilo (p. 141-144, 164) e Cirilo (p. 154-167), bispos de Alexandria (p. 157-167), e Crisóstomo, importante pregador cristão (p. 189-252).

Na disputa com os “pagãos”, estes contariam não somente com o apoio de imperadores,6 mas de hostes violentas e temerárias: além de monges que, segundo detratores, eram “vulgares, malcheirosos, mal-educados, violentos” e “falsos” (p. 141, 231-239), as fileiras eram compostas por maqueiros, coveiros, parabolanos alexandrinos (p. 167), além dos circunceliões africanos (p. 252-256).

Subentende-se que o Cristianismo só teria superado o “gênio” cultural clássico pelos favores imperiais e, sobretudo, por meio da violência. Como “todo um modo de vida […] desaparecia” (p. 201), Nixey enfatiza a destruição promovida pelos cristãos, dividindo-a em três ramos: das estátuas, dos monumentos e espaços urbanos e do citado patrimônio literário.

Quanto às estátuas, a autora destaca, dentre outras (p. 127-130, 138-139), as dedicadas à Atena em Palmira (p. 17-18, 280) e Atenas (p. 273), e a ateniense dedicada à Afrodite (p. 137), que ilustra a capa da versão portuguesa. Considera ainda tanto a reutilização dos materiais quanto associa suas castrações ao recrudescimento da pregação cristã (p. 143-153, 252). Centrando-se em Atenas (p. 27, 117, 267-273), e, principalmente, Alexandria, Nixey denuncia a devastação promovida pelos cristãos. Assim, lamenta a destruição da “maior biblioteca do mundo antigo” (p. 27, 157-167), bem como do Farol, do Serapeu e do Museu (p. 117-122). As referências dispersas pelo texto dão a entender que, em âmbito local, outros espaços sociais relevantes foram sendo destruídos ou abandonados, como os teatros, jogos, circos e banhos (p. 221-228).7

Daí resultaria a perda colossal de textos (p. 28, 30-31, 71), “combinação de ignorância, medo e idiotice” (p. 198) e, no campo artístico, correlata à “maior destruição […] que a história humana alguma vez assistiu” (p. 33, 71, nota 97). Tal estrago associou-se a dois processos: por um lado, e não sem problemas, as letras clássicas seriam adequadas ao filtro cristão, que lhes concedia pouca ou nenhuma brecha (p. 171-186); por outro, a censura e a queima de livros cresceriam, com a referida moralização dos costumes testemunhada nos sermões cristãos (p. 189-228).

A nosso ver, Nixey tem dois méritos: criticar contundentemente a interpretação histórica demasiado otimista sobre o “triunfo cristão” (p. 18, 25-26, 33, 273), ao recorrer parcialmente às recentes discussões historiográficas. Assim, ainda que concorde com a premissa dos pesquisadores tardo-antiquistas, pela qual a expansão cristã deva ser considerada um fenômeno histórico rele­vante e multifacetado, a autora critica o viés positivo que algumas interpretações assumiram (p. 130-134, 148-149), como a de Brown (1997, p. 212-213 apud NIXEY, 2018, p. 149, nota 322), que minimizaria a destruição de templos, ou mesmo a alegação de que o Cristianismo seria “prote­tor da tradição clássica” (p. 171).8 Para tal, recorre aos recentes argumentos de Drake (p. 129, nota 260) e Garnsey (p. 150, nota 327), e do próprio Brown (p. 158, nota 346) a respeito da “tolerância cristã”, além de Shaw e Gaddis sobre a “violência sagrada” cristã (p. 243-256).9

Contudo, em que pese reconhecer seus méritos, a leitura do texto promove diversos incômo­dos. Formalmente, a falta de um plano de capítulos e o fato de que os títulos de cada sessão nem sempre são esclarecedores criam uma sensação de repetição. Porém, mais embaraçoso é perceber que, mesmo ao incorporar importantes contribuições historiográficas, um juízo gibboniano per­meia o texto, pelas citações diretas ao historiador britânico (p. 65-66, 95, 121, 132, 192, 201, 264) e pelo tom pejorativo com que interpreta, ironicamente, o “triunfo cristão”.

A responsabilização do Cristianismo conduz a um indisfarçado senso de superioridade estética e cultural dos antigos frente aos seus rivais. Comparados a crianças (p. 126), os cristãos teriam erguido, sobre as ruínas dos templos antigos, edifícios de pior qualidade (p. 117-121, 261), e possivelmente só equiparariam o volume documental da biblioteca alexandrina em meados do século XIV (p. 161).

No texto, a ênfase da autora em um contraste caricato entre a ignorância destrutiva dos cris­tãos e a liberdade “iluminista” antiga é ressalvada de modo muito pontual (p. 31, 117, 137-138, 173-174, 225, 272). Pior: esbarra em frases categóricas como “quer o politeísmo greco-romano fosse verdadeiramente ‘tolerante’ ou não, não restam dúvidas de que os velhos hábitos eram, na sua base, liberais e generosos” (p. 153), ou, ao comentar sobre Plínio o Novo, indicar que este era “o romano perfeito: demasiado educado para se dedicar a uma fervorosa crença nos deuses” (p. 104).

Nixey subestimou a capacidade intelectual dos cristãos no embate com os “pagãos”, mas não apenas. Em um dos raros comentários sobre as contendas intelectuais entre cristãos, afirma que

[o]s heréticos eram intelectuais, portanto os intelectuais eram, se não heréticos, sem dúvida suspeitos. Assim era o silogismo. A simplicidade intelectual ou, para usar um nome menos elogioso, a ignorância, era largamente celebrada […]. A ignorância era poder. (p. 180).

Talvez por isso, também tropece em questões metodológicas e conceituais. Quanto aos docu­mentos, frisa-se o relativo cuidado em relação às fontes selecionadas (p. 31-33, 50, 55, 65, 86, 130-134, 139-143, 238): este, contudo, se ofusca por uma reflexão tardia sobre contingências materiais que então envolviam a produção textual (p. 196, cf. p. 64, 68, 80, 171-186) e pela discrepância com 4 de 5  que examina, minuciosamente, a variada documentação cristã10 em busca da “lente distorcida” (p. 107) e de sua “visão deturpada” (p. 185), e que não encontra equivalência no caso dos “pagãos” (cf. p. 85-90, 99-113).

Quanto aos conceitos, ainda que atente sobre o uso de termos como “nação”, “religião” e “pagão” (p. 33, 133-134), o mesmo não ocorre com outros termos decisivos, como “cristão” e correlatos, como “bíblia” (p. 57, 129, 197), “heresia” (p. 70), “herético” (p. 80, cf. p. 134, 180) e mesmo “judeus” (p. 164-165), indispensáveis em qualquer estudo sobre o assunto. Em verdade, à exceção da menção a bispos e à “elite cristã” (p. 203), não se oferece uma reflexão sobre igreja(s) e Cristianismo(s).

Nota-se que, embora recuse parte do otimismo de diversos estudos tardo-antiquistas, Nixey desconsiderou aspectos que, em conjunto, resultam em uma obra que não atenta devidamente às nuances que envolvem o estudo das relações entre cristãos e “pagãos”. É significativa a ausência de menções aos trabalhos seminais de Jaeger (2014, original de 1961) e Cameron (1991), que mostraram que as fronteiras entre os discursos de cristãos e pagãos eram muito mais porosas do que se supunha.

Assim, embora saudemos a iniciativa em trazer à tona assuntos delicados, com os quais a historiografia vem demonstrando certo embaraço e dificuldade no debate público, frisamos que a dispensa de importantes ressalvas pode apenas reforçar o clichê gibboniano sobre as “trevas” cristãs: corre-se o risco de os muitos lados se entrincheirarem ainda mais. Resta saber como o público lusófono vai tomá-la.11

Referências

CAMERON, Averil. Christianity and the Rhetoric of Empire: the development of Christian discourse. Berkeley: University of California, 1991.

JAEGGER, Werner. Cristianismo primitivo e paideia grega. Santo André: Academia Cristã, 2014.

NIXEY, Catherine. A chegada das trevas: como os cristãos destruíram o mundo clássico. Porto Salvo: Desas­sossego, 2018.

VEYNE, Paul. Palmyre: l’irremplaçable trésor. Paris: Albin Michel, 2015.

Notas  

1 Para além de erros de datação (p. 117), ortográficos (p. 185, 221, 234, nota 584), de concordância (p. 246, 254) e de tra­dução (p. 47, 72, 149), frisa-se a ausência dos títulos dos capítulos no sumário (p. 9).

2 Não à toa, ao defender que o citado “triunfo cristão” teria precipitado gradualmente a “Idade das Trevas” (p. 264), recorre a conhecidos episódios em que os cristãos teriam sobrepujado a “filosofia”, como no assassinato de Hipácia em 415 (p. 158-167) e na destruição da Academia ateniense (p. 30-32, 259-273). Ademais, ressaltam outros em que o “paga­nismo” teria sido suplantado, caso dos monumentos alexandrinos em fins do século IV, e da promulgação do Código de Justiniano, em 529 (p. 262-264).

3 Reconhecendo, timidamente, que tais reclames estivessem de acordo com ditames prévios de parte da aristocracia (p. 215-216).

4 Da mesma forma, é saudada a teoria atomista de Demócrito, além de físicos, matemáticos e astrônomos como Arqui­medes, Erastóstenes, Aristarco, Hiparco (p. 161-162, 272) e a citada Hipácia.

5 No caso deste, Nixey ressalta que o pudor editorial para com seus textos não se limitou aos oitocentos, chegando mesmo até traduções de fins do século passado (p. 176-177).5 de 5

6 Mesmo ambíguo e vacilante, Constantino teria aberto caminho ao “rugido do mundo” cristão (p. 55-57). Justiniano, por sua vez, é mencionado quando se aborda o ímpeto moralizador cristão (p. 211, 252-271).

7 Em compasso à superação das festas antigas (p. 228, 238, 261-262).

8 Além de expor o pudor com que se pode tratar, ainda hoje, a sexualidade em Catulo (p. 171-179) e Ovídio (p. 196), ou mesmo exibida em Pompeia (p. 205-212).

9 Outros temas relevantes remetem à destruição de estátuas por Kristensen (p. 138, nota 279) e à censura de livros por Chadwick e MacMullen (p. 186, nota 438) e Rohmann (p. 198-228).

10 Hagiografias (p. 143-147), epístolas (p. 152-153), histórias (p. 185-186) e, sobretudo, os relatos martiriais (p. 90-98) e de perseguição (p. 99-113), dentre outros.

11 Em 2018, Nixey concedeu uma entrevista ao semanário Expresso, de maior alcance em Portugal no mesmo ano. Disponível em: https://leitor.expresso.pt/diario/29-05-2018/html/caderno-1/cultura/catherine-nixey–o-meu-livro-mostra-como-os-cristaos-destruiram-estatuas-e-templos-e-queimaram-livros-1. Acesso em: 7 jul. 2019. Ao passo que historiadores como Cameron (2017) e Drake (2019) já produziram resenhas de amplo alcance em língua inglesa, a recep­ção do público lusófono continua ainda particularmente atrelada à blogosfera cristã, vide: https://logosapologetica.com/ critica-do-livro-a-chegada-das-trevas-de-catherine-nixey. Acesso em: 7 jul. 2019.

Paulo Duarte Silva – Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutor em História Comparada da mesma instituição (PPGHC-UFRJ). E-mail: pauloduartexxi@hotmail.com.

Políticas educativas y reformas pedagógicas en Santa Fe de los años treinta | Juan Cruz Giménez

Esta tesis propone demostrar que en la disputa entre la cultura política de la democracia progresista y la del antipersonalismo el sistema educativo fue un espacio de interpelación y de disputas por su sentido. Las aproximaciones al distrito provincial (santa Fe) resultaron previamente tensionadas por una vasta producción académica que permitió recorrer temas, teorías, conceptos, estratégicas metodológicas, periodicidades y problemas. Dialogando con los trabajos sobre historia de la educación en Nación y provincia, los aportes de los estudios sobre las culturas políticas junto con las lecturas vinculadas a la constitución de saberes pedagógicos, expertos y agencias estatales, nuestro objeto de estudio fue indagado en diferentes dimensiones. Los tres capítulos -y sus correspondientes apartados- que ordenaron la escritura permiten desarrollar un itinerario preciso que combina tres calendarios vinculados con las conmemoraciones a propósito del sistema educativo nacional (Ley n.° 1420, Ley Láinez), con una agenda propia del catolicismo integrista y una lectura retrospectiva patricia y notabiliar. El trabajo se ha sostenido en la constante búsqueda de diálogos posibles entre la historia, la educación y la política. Leia Mais

Pós-abolição no sul do Brasil: associativismo e trajetórias negras | J. M. Mendonça, L. Teixeira e B. G. Mamigonian

MAMIGONIAN Beatriz G Informal learning
Beatriz Gallotti Mamigonian. Foto: LEHMT |

MENDONCA J M N Pos abolicao no sul do Brasil Informal learningO paralelo que se faz a famosa obra de Fernando Henrique Cardoso, apesar de ser démodé, é inevitável. Muito se avançou nas pesquisas os múltiplos mundos da escravidão e da liberdade no sul do país, dando destaque para o evento que acontece bienalmente de mesmo nome. E, nesse intento que chega mais uma importante obra sobre o período pós-abolição no Brasil Meridional. O livro foi produto do seminário Negros no Sul: trajetórias e associativismo no pós-Abolição, ocorrido na UFSC em novembro de 2018, e recebeu financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) no Edital “Memórias Brasileiras: Biografias” (2017-2019). Cabe destacar que o projeto denominado Afrodescendentes no Sul do Brasil: trajetórias associativas e familiares foi desenvolvido em parceria entre as universidades UFSC e UFPel. E, busca essencialmente, discutir dois temas bem caros a historiografia recente: associativismos e trajetórias. E por que deveríamos colocar no plural no título do livro? A miríade de experiências de associativismos e de trajetórias é o grande trunfo do livro, e por isso deveria ser valorizada em seu título. Falar de uma única forma de associativismo e de trajetória não parece ser o indicado, uma vez que as múltiplas possibilidades de ação são traçadas por esse livro. Destacaria como principal qualidade do livro ir além do “apesar de”.

Convencionou-se adotar o racismo como contexto imperante, engessando as ações dos indivíduos, na qual a experiência do pós-abolição de São Paulo é imposta para as mais diversas regiões do país. Mas o livro, magistralmente, inverte a lógica. Todos os artigos se concentram nas ações desses indivíduos, no sul do país, e a partir delas que o contexto é (re)construído. São eles os balizadores das experiências limites, que ultrapassam fronteiras estruturalmente e artificialmente construídas pela historiografia, das décadas de 70 e 80. Portanto, a mudança teórica para a microanálise é o grande trunfo do livro.

Dentre os mais diversos temas de pesquisas existentes nos pós-abolição – dentre os quais destaco: saúde, migrações, expressão cultural, identidades, gênero, quilombolas, atuação política, entre outros – o livro foi certeiro em escolher dois: associativismos e trajetórias. Em primeiro lugar, encontra-se a importância de se demonstrar como a população negra não adentrou o pós-abolição de forma desorganizada, muito pelo contrário, as associações demonstraram a reunião em torno de projetos coletivos e racialmente orientados, constituindo grupos de apoio mútuo no combate ao racismo. Essa experiência compartilhada orientou e viabilizou projetos que colocavam na praça e na opinião pública a discussão sobre o processo de racialização que a sociedade passava, durante a Primeira República. A segunda grande contribuição do livro versa sobre as trajetórias. Apesar de a maior parte dos autores não realizarem uma boa discussão diferenciando trajetórias de biografias, as experiências individuais, coletivas, e, principalmente, familiares trazem uma ótima reflexão sobre o papel dessa parcela da população na construção da sociedade, do pós-abolição. A mudança de ótica da macroestrutura imobilizadora de ações individuais para a microanálise mostrou como eles usaram as incoerências dos sistemas normativos para ultrapassar as barreiras do racismo imperante para construir um novo contexto e impor também os seus projetos e desejos.

O primeiro artigo da coleção apresenta o estado da arte da discussão bibliográfica sobre os associativismos negros no período pós-abolição. Petrônio Domingues, em seu artigo, tenta atingir todas as múltiplas experiências de associativismos negros, no pós-abolição.

Verdade seja dita, os limites de páginas impostos ao autor não tiram o brilho e o trabalho empenhado para tentar acompanhar uma produção bibliográfica em ampla expansão. Petrônio elenca as associações voluntárias, tais como: agremiações beneficentes, clubes sociais, centros cívicos, sociedades carnavalescas, ligas desportivas que no seu entender são catalisadoras de laços de solidariedade e união em prol de um fim coletivo. Somado a isto também levanta a bibliografia referente as trajetórias de suas lideranças, formas de resistência, lutas, acomodações, as estratégias, as ações coletivas e o papel das mulheres. Lembra o autor que a maior parte dessas associações investiu fortemente na formação educacional de seus membros e parentes, principalmente através de cursos alfabetizantes e montando bibliotecas. Por fim, para além das atividades objetivas, muitas dessas associações foram responsáveis em oferecer uma gama importante de atividades recreativas, tais como: bailes, festas, competições, concurso de fantasias, desfiles, entre outros.

Na esteira da discussão sobre a importância dos clubes negros, uma das mais importantes contribuições do livro vem do artigo de Fernanda Oliveira. Fruto de sua Tese de Doutorado, intitulada As lutas políticas nos clubes negros: culturas negras, cidadania e racialização na fronteira Brasil-Uruguai no pós-abolição (1870-1960), o artigo condensa as principais conclusões. De longe, a mais importante foi a demonstração das trocas transnacionais de informações entre membros de clubes negros do Brasil e do Uruguai. Com isso demonstra belamente que os limites nacionais não foram impeditivos aos sujeitos de compartilharem experiências cotidianas de discriminação.

Nos capítulos seguintes conseguimos ter uma visão ampla sobre a quantidade e importância das associações negras. Racke e Luana Teixeira apresentam as agremiações em Florianópolis: o Centro Cívico e Recreativo José Arthur Boiteux (1915-1920), as Escolas de Samba “Os Protegidos da Princesa” e a “Embaixada Copa Lord”. Assim como no Paraná, Merylin Ricieli dos Santos pesquisa a existência do “Clube Treze de Maio” de Ponta Grossa, a partir de entrevistas. Em todos os trabalhos a tônica se mantêm quase a mesma, a de reforçar a existência de associações com uma identidade étnico-racial constituída e organizada politicamente com objetivos específicos.

Chegando a parte 2 do livro temos mais uma importante contribuição aos estudos do pós-abolição: as trajetórias. Nos capítulos que seguem fica claramente distinto tanto os aportes teóricos quanto a metodologia em diferenciar trajetórias individuais e coletivas.

Sobre a segunda, vale a pena reforçar nesses estudos o quanto o fortalecimento das famílias negras foi importantíssima estratégia para a manutenção da vida e consequente para a mobilidade social de seus integrantes. Logo, separaremos as pesquisas nos dois blocos: indivíduos e famílias.

São variadas e importantes trajetórias individuais externadas pelos pesquisadores. Zubaran, por exemplo, ressaltou as vidas de médicos negros, a saber: Alcides Feijó das Chagas Carvalho – graduado em 1916, defendia o “saneamento moral” obtido por meio da educação que levantaria a “moral” da comunidade negra; Arnaldo Dutra, diretor dos jornais O Imparcial, entre 1916-1918, e da Gazeta do Povo, entre 1920-1922, ambos de Porto Alegre. Assim, como o autor José Bento da Rosa que nos apresenta a belíssima trajetória de Firmino Alfredo Rosa e Manoel Ferreira de Miranda. São trabalhos aparentemente ainda em fase de execução e ao seu final com certeza serão uma ótima contribuição à historiografia.

Ao analisar as ações dos indivíduos é possível perceber as estratégias construídas ao longo de sua vida, sendo a busca pela educação uma importante engrenagem para a mobilidade social. Naomi Santos nos mostra a experiência de duas pessoas que passaram pela escravidão: Barnabé Ferreira Bello e João Baptista Gomes de Sá. O primeiro, escravizado, nasceu no ano de 1845, em Curitiba, e fora sapateiro. De acordo com a autora com o letramento e o fim do Império foi possível encontrá-lo no alistamento eleitoral de 1889. Já João matriculou-se aos 50 anos na escola noturna, sendo livre e empregado público. Essas histórias tinham por objetivo mostrar a busca por educação no processo de construção de liberdade e de lutas por cidadania, no pós-abolição. Apesar de belíssima contribuição desses trabalhos, de colocar à luz da história essas trajetórias de negros importantes, não há nesses artigos uma discussão que diferencie biografia de trajetórias, e muito menos fazem uma reflexão que diferencie “trajetórias negras” das demais.

Para além das trajetórias individuais, o livro se debruça sobre a importância das trajetórias coletivas, para ser mais preciso às famílias negras. Perussatto analisa a Família Calisto, grupo fundador do Jornal O Exemplo. Utilizando uma gama de fontes – tais como: alistamentos eleitorais, anúncios e notas diversas publicadas no jornal A Federação; habilitações e registros de casamento religioso e civil; registros de batismos e de óbitos; testamentos e inventários post-mortem; relatórios e almanaques – brilhantemente consegue traçar toda a genealogia e, principalmente, a atuação familiar na arena pública.

Calisto construiu uma ampla rede de sociabilidades entre homens de cor que lhe conferiu mobilidade e respeitabilidade, e sua atuação nos ajuda a compreender melhor o papel e a importância das famílias negras na mobilidade social, no período pós-abolição. É na trajetória familiar de Maria Teresa Joaquina que temos uma maravilhosa discussão sobre a importância das famílias negras no pós-abolição do Brasil Meridional.

Através de uma miríade de fontes, Rodrigo Weimer dá sentido e importância a trajetória da Rainha Jinga ao enfatizar o seu papel na congada e na atuação política para o reconhecimento da Comunidade Quilombola a que pertence. E sua maior contribuição é a do fortalecimento das pesquisas sobre famílias negras através de dois prismas: o primeiro se refere a percepção de que os sujeitos das famílias foram capazes de colocar suas marcas na história com autonomia superando a vitimização que normalmente lhes são imputados; e, por conseguinte; afirma ser as famílias negras a melhor unidade de observação, e não as trajetórias individuais, uma vez que as estratégias de vida não eram pensadas de forma individual, mas sim vividas e pensadas coletivamente.

Na continuidade de observar as ações coletivas e familiares de negros do pós-abolição, a História Oral se mostrou como um dos principais caminhos. Joseli Mendonça e Pamela Fabris reconstruíram as experiências das famílias Brito e Freitas, a partir da entrevista de Nei Luiz de Freitas. Descendente de escravizados, o seu depoimento abriu as portas para a realização de mais entrevistas com os seus familiares e permitiu a reconstrução de uma rede imbricada vivenciada por Vicente e Olympia. Vicente Moreira de Freitas acumulou recursos durante o período da escravidão, exercia a profissão de pedreiro, tinha instrução e obteve cargos que conferiam status e dignidade na Sociedade Protetora dos Operários –, fundada em 1883. Apesar da preocupação dos autores ser a análise das memórias e das identidades dos entrevistados, a pesquisa tem por principal contribuição a demonstração de que famílias negras, no pós-abolição, buscavam por diferentes redes de sociabilidades numa clara estratégia para diminuir as incertezas em relação ao futuro.

O último artigo dessa coletânea nos agracia com uma profunda pesquisa de microanálise em uma história de família. Henrique Espada Lima coloca em prática a redução de escala de análise de forma primorosa, buscando, ações, estratégias, incertezas e valores da família de Maria do Rosário. De acordo com a documentação, a família apostou, em primeiro lugar, na aproximação por alianças e construção de redes de solidariedade com pessoas brancas. As alianças com mulheres brancas frequentemente viúvas ou solteiras, de acordo com o autor, era conectada com “a própria vulnerabilidade a que se expunham essas mulheres – de outro modo, privilegiadas – que tentavam proteger-se de algum modo das incertezas da velhice solitária”. Mesmo que diante da possibilidade de se construir alianças, Henrique não percebe, pelo menos nesse texto, que essas relações eram construídas de modo a manter a população ex-escravizada em situação subalterna.

Em seguida, outra estratégia tomada pela família é a procura por ocupar diversos ofícios e isso permitiu o alistamento ao voto e o pertencimento à Guarda Nacional. Esses eram elementos que distinguiam homens pardos da maior parte dos seus pares, isto é, dando acesso ao exercício da cidadania. E, por último, uma das principais estratégias de mobilidade social foi a busca incessante pela educação. A trajetória da família, e principalmente de Olga Brasil, bisneta de Maria do Rosário, é marcada desde o início pelo investimento na educação formal, combinado com a participação em atividades ligadas à igreja católica. Contudo, a maior contribuição, e mais polêmica, do artigo é a de analisar uma família “parda” da escravidão ao pós-abolição. De início Henrique retoma uma discussão sobre o “silenciamento da cor” na documentação como estratégia para diminuir o horizonte de vulnerabilidade imposta aos ligados, mesmo que minimamente, à escravidão. Para o autor, à medida que a família se ascendia socialmente, a família de libertos “pardos” conseguiu se desfazer da associação com o passado escravista. E aponta, mesmo que sem aprofundamento, que o branqueamento pode ter sido um sucesso.

Verdade é que a documentação analisada não permite observar como a população ao entorno observava a família, assim como não é possível acompanhar os impedimentos de acesso a burocracias do estado ou mesmo a postos de poder. Apostar na estratégia (in)consciente de “branqueamento” da população negra, que perpassou pela escravidão e guardou em seu corpo as marcas desse passado, é muito arriscado na atual realidade da produção historiográfica a qual aposta na racialização como marco definidor dos lugares de poder e decisão, mesmo sem precisar falar de cor.

Essa é uma obra que ocupará um espaço importante na historiografia, não somente regional, do pós-abolição, mesmo que tenha altos e baixos, com artigos de historiadores ainda em formação. O livro contribui com importantes marcos, como as associações, as trajetórias individuais e familiares para a história nacional. E, desse modo, convido a todos a ler essa obra que incentivara novas pesquisas pelo Brasil todo.

Carlos Eduardo Coutinho da Costa – Professor Adjunto da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, docente do Programa de Pós-Graduação em História e do Programa de Pós-Graduação Profissional em Ensino de História da mesma instituição.


MENDONÇA, J. M. N; TEIXEIRA, L.; MAMIGONIAN, B. G. (Org.). Pós-abolição no sul do Brasil: associativismo e trajetórias negras. 1. ed. Salvador: Sagga, 2020. 293p. Resenha de: Carlos Eduardo Coutinho da. O pós-abolição no Brasil meridional. Revista Ágora. Vitória, v.31, n.2, 2020. Acessar publicação original [IF].

III Jornadas Académicas (HEAR -UNR). Historia de la Educación Argentina Reciente: investigaciones y enseñanzas

Los días 7 y 8 de noviembre de 2019, la Universidad Nacional de San Luis fue sede de las III Jornadas Académicas (HEAR-UNR) Historia de la Educación Argentina Reciente: investigaciones y enseñanzas. El encuentro estuvo organizado por la Facultad de Ciencias Humanas de la UNSL, a través del Proyecto de Investigación “Hacer la historia, construir la memoria. Su impacto en las Ciencias Humanas”, el Programa de Historia y Memoria y el Archivo Histórico y Documental UNSL y el Centro de Estudio e Investigación en Historia de la Educación Argentina Reciente (HEAR) de la Facultad de Humanidades y Artes de la Universidad Nacional de Rosario. El evento fue coordinado por la Dra. Carolina Kaufmann y la Dra. Sonia Riveros en el que participaron importantes referentes de diferentes campos disciplinares e investigadores que compartieron sus producciones. Leia Mais

Proyectos y concreciones. Obras y políticas públicas durante el primer peronismo en Mendoza (1946-1955) | Cecilia Raffa e Ivana Hirschegger

La ampliación del campo de estudios sobre el peronismo ha permitido densificar las miradas sobre un fenómeno que ha resultado clave, qué duda cabe ya, para el proceso histórico argentino de la segunda mitad del siglo XX. El libro que aquí se reseña se integra en ese campo historiográfico, atendiendo a aspectos que, si en apariencia se vincularían solo con la urbanización y la arquitectura, dan cuenta, en cambio, de la fuerza ideológica que tuvo en sus distintas aristas un proyecto de país tal como el pergeñado por ese movimiento político. En tal sentido, la compilación aborda una serie de propuestas y acciones de obra pública en el marco del gobierno de Juan Domingo Perón, enfocadas en un espacio micro dado por la provincia de Mendoza, aunque aportando elementos interpretativos que pueden enriquecer los ejercicios comparativos con otras experiencias provinciales y la trayectoria de la gestión nacional.

Con una excelente calidad de edición, lo que resulta fundamental dada la cantidad y diversidad del material gráfico incorporado a lo largo del texto, se inicia con un prólogo elaborado por la dra. Anahí Ballent, en el cual la especialista inserta este trabajo colectivo dentro de las discusiones actuales en torno de las relaciones entre estatalidad, técnica y política, como una línea de investigación que ha encontrado notable desarrollo en la última década en nuestro país, pero también a escala iberoamericana. A continuación, las directoras de la publicación introducen los vectores principales, presentando al lector los puntos nodales que han permitido articular sus secciones más allá de la especificidad temática abordada en cada una. En tal sentido, el primer capítulo, a cargo de Laura Ortega, se ocupa de la infraestructura vinculada a la gestión hídrica; en el segundo, Verónica Cremaschi realiza lo propio con la vivienda popular; en el tercero, Ivana Hirschegger aborda la problemática de la edificación conectada con la salud; en el siguiente, Isabel Durá Gúrpide reconstruye la proyectiva y elabora un balance acerca de las construcciones para educación; y en el séptimo, Cecilia Raffa da cuenta de los esfuerzos por “democratizar” el bienestar condensados en el concepto y acción del turismo social. Como cierre se incluye un último capítulo, también redactado por Raffa, que en tanto se dedica a la planificación de un centro cívico para el gobierno provincial, apuntando con ello al corazón y motor de la gestión local, cumple bien la función de completar una mirada de conjunto de los planes y los logros del período peronista respecto de la obra pública mendocina. Leia Mais

Construcciones de alteridades y escuela primaria. La educación escolar e infancia indígena y migrante en la configuración de la educación pública argentina (1880-1930) | Sofía Irene Thisted

La tesis doctoral indaga acerca de la construcción del mandato de homogeneidad de la escuela argentina en su período fundacional (1880-1930), estructurante de la escolaridad básica, así como también los procesos de inclusión y exclusión escolar. Para explorar lo uniforme se propone analizar detenidamente aquello que se construye como diverso, como alterno y subalterno, como Otro. En el desarrollo del texto, la autora, profundiza y estudia, a través de distintos registros, la construcción de infancias subalternas, en particular, migrantes e indígenas, los debates en torno a ellas, los proyectos diversos en relación con su escolarización. En este sentido, propone una serie de interrogantes iniciales: Leia Mais

Palabras claves en la historia de la educación argentina | Flavia Fiorucci, José Bustamante Vismara

De la A a la Z es un criterio de clasificación conocido para lectores modernos familiarizados con artefactos culturales tales como diccionarios o enciclopedias. Como afirma Robert Darnton (2002), el afán por reordenar la manera de pensar, de delinear las fronteras entre lo conocido y lo desconocido, puede rastrearse desde la época de Aristóteles, pero fue a partir del siglo XVI que con el “debate acerca del “método” y la “disposición” correcta del ordenamiento del conocimiento (…) surgió la tendencia a comprimir el conocimiento en esquemas” (Darnton, 2002: 194), lo que fundamentaría las manifestaciones del enciclopedismo, desde Ramus, Bacon, Comenius hasta Diderot y d’Alambert, entre otros. Leia Mais

Um papel para a história: o problema da historicidade da ciência | Mauro Lúcio Leitão Condé

A ciência tem história? É dessa questão aparentemente singela e por que não óbvia, que o autor procura resolver e/ou apontar possíveis caminhos para discussão acerca do “problema da historicidade”. O livro em questão surgiu a partir de um curso ministrado pelo autor em 2013 na Escola Paranaense de História e Filosofia da Ciência por ele classificado como uma “análise de episódios importantes da historiografia da ciência produzida ao longo do século XX” (p. 19).1 Segundo o autor, não seria propriamente um livro de história da ciência, mas uma reflexão sobre como pensar filosoficamente a escrita da história da ciência (linguagem, narrativa, discurso), uma vez que, a “historiografia da ciência” situa-se entre a história da ciência e a filosofia da ciência, pois, “pressupõe sempre uma concepção epistemológica por trás de seus modelos” (p. 19), em que os paradigmas epistemológicos são também históricos, partindo da premissa kuhniana de que “a ciência tem história” (p. 20). Leia Mais

Cuerpos/ géneros/ sensibilidades y emociones. La propuesta pedagógica de Leticia Cossettini (Rosario, 1935-1950) | Micaela Pellegrini Malpiedi

Esta tesis de doctorado se enmarca dentro de una historia de la educación de/con mujeres en perspectiva de género. Es esta una línea historiográfica incipiente que viene a cuestionar, entre otras cosas, el sustantivo universal genérico “maestros”, con el que se pronunció hasta no hace muchos años y a veces sigue pronunciándose en la historia de la educación. Hasta la década del 90’ del siglo XX, en Argentina, ríos de tinta impregnaron las páginas de libros, paper y artículos científicos interpretando el pasado de la educación en clave masculina y androcéntrica, sin siquiera cuestionar ese universal genérico. Estas interpretaciones desconocieron que las prácticas educativas escolarizadas se distinguieron por un alto protagonismo femenino. Es esta, una deuda contraída por generaciones de historiadoras e historiadores que imposibilitó la formulación de preguntas que desentrañen las hebras femeninas que entraman la historia de la educación. Leia Mais

Justicia, seguridad y castigo. Concepciones y prácticas cotidianas en Patagonia (1884-1955) | Marisa Moroni, Fernando Casullo e Gabriel Carrizo

El libro editado por Marisa Moroni, Fernando Casullo y Gabriel Carrizo constituye un aporte valioso por un conjunto de razones que esperamos poder reflejar en estas páginas. En primer término, se trata de un estudio de imprescindible lectura para quienes se interesen por los tópicos analizados: justicia, instituciones de seguridad y castigo, enmarcados entre fines del siglo XIX y la primera mitad del siglo XX. La obra indaga en profundidad los modos diversos y contradictorios en los que el Estado central y luego, los Estados provinciales –en un recorrido inverso que el de buena parte del territorio que formó la República Argentina–, se establecieron y funcionaron en el espacio patagónico. En este sentido, no puede menos que coincidirse con Osvaldo Barreneche, a cargo del prólogo de la obra, cuando sostiene que el libro implica una “oxigenación” en la historiografía local.

El texto abreva en diferentes líneas de análisis y enfoques que aportaron a la elaboración de contribuciones densas para pensar los diversos objetos de investigación. Una de estas líneas es la que proviene de los estudios históricos a partir de una perspectiva regional. Esta resulta relevante en el marco de los estudios patagónicos por la prolífica producción resultante, que contribuyó a poner en cuestión cierto consenso historiográfico sobre el carácter centralizante de los procesos históricos, donde los casos territorianos y provinciales no constituyeron casos “atrasados” respecto de otros “modernos”, sino que deben estudiarse desde su propia especificidad. Una segunda perspectiva –que no está disociada de la anterior–, es la que aborda la conformación del Estado considerando su “rostro humano” o “desde adentro”, lo que implicó analizar agencias, figuras y prácticas sociales antes que estructuras consolidadas, difíciles de encontrar en buena parte del territorio argentino. Leia Mais

Base Nacional Comum Curricular: dilemas e perspectivas – CURY etc. al (EA)

CURY J BNCC dilemas e perspectivas Informal learning

CURY, Carlos Roberto Jamil; REIS, Magali; ZANARDI, Teodoro Adriano Costa. Base Nacional Comum Curricular: dilemas e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2018. 144 p. Resenha de: PEDRO, Gabriel; MARSICO, Juliana. Explorando limites epistemológicos e políticos da BNCC para pensar possibilidades. Em Aberto, Brasília, v. 33, n. 107, p. 225-230, jan./abr. 2020.

No campo da pesquisa educacional, em um contexto sociopolítico de 225 desarticulação de conquistas e bandeiras importantes à educação pública no Brasil, uma discussão que se dedique à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é imprescindível e potente. Argumentamos que conhecer o que vem sendo enunciado sobre a Base é importante para melhor delinear seus efeitos como documento normativo para a educação básica e discurso que reorganiza valores e sentidos para os sujeitos escolares.

A obra Base Nacional Comum Curricular: dilemas e perspectivas, dos autores Carlos Roberto Jamil Cury, Magali Reis e Teodoro Adriano Costa Zanardi, traz uma discussão atenta aos processos de formulação e efeitos da BNCC, propondo reflexões “[…] imprescindíveis para prosseguir com essa discussão, acalorada e interminável, como é a própria experiência do currículo, um campo de tensões e disputas contínuas” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 8). Propomos neste texto a apresentação dessa obra a fim de estimular o debate e instigar futuros leitores. Nesse momento de disputas em torno da educação básica escolar, consideramos o livro de Cury, Reis e Zanardi uma leitura necessária ao debate.

Na apresentação do livro – “Debates em torno da Base Nacional Comum Curricular” –, os autores fazem um mapeamento do que consideram as publicações mais relevantes a tratar da temática nos últimos anos, explorando uma série de artigos e dossiês publicados entre os anos de 2012 e 2018, nas revistas Teias (Uerj), e-Curriculum (PUC-SP), Currículo sem Fronteiras, entre outras. Apresentando as diversas perspectivas nelas publicadas, buscam elucidar os debates acadêmicos

sobre o assunto. A seção encerra-se com a afirmação de que “a aprovação da BNCC não esgotou os debates como também não resolveu os problemas e lacunas nela observados durante sua elaboração” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 15). Com isso, estabelecem a tônica do livro como crítica à BNCC, que nos remonta à ideia de crítica proposta por Judith Butler (2013) no diálogo com Michel Foucault, rejeitando seu objeto enquanto finalizado e buscando entender seus limites epistemológicos e políticos.

Nesse livro, portanto, os autores fazem uma crítica não apenas ao documento normativo publicado, mas também ao processo de elaboração da BNCC, em um movimento que atua no sentido de “colocar fundamentos em questão, de desnaturalizar hierarquias sociais e políticas e, inclusive, de estabelecer perspectivas a partir das quais uma certa distância com o mundo naturalizado pode ser tomada” (Butler, 2013, p. 161).

Os autores, no primeiro capítulo – “Por uma BNCC democrática, federativa e diferenciada” –, organizam documentos históricos normativos relativos à defesa da necessidade de um conjunto de conhecimentos comuns a todos no Brasil. Nele, argumentam como tal defesa se relaciona com as noções de cidadania e federalismo, culminando em um capítulo na Lei de Diretrizes e Bases (LDB – Lei n° 9.394/1996).

Se, por um lado, o adjetivo “comum” é um descritor para formação indispensável ao exercício da cidadania na LDB/1996, por outro, destaca-se que o próprio Conselho Nacional de Educação (CNE) “enfatizou que as diretrizes tinham dimensões gerais, tendo estas muito mais a prevalência de um rumo, de uma direção, de um caminho tendente a um fim do que de fixação de conteúdos mínimos” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 47). Ademais, os autores salientam que, por via da Emenda Constitucional nº 59/2009 e da Lei nº 13.005/2014, o Plano Nacional de Educação (PNE) tem previsão para configuração de uma base nacional comum curricular mediante instância permanente de negociação e de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (Art. 7º, § 5º), alertando que o debate precisa desaguar no “diálogo que a Constituição denomina de regime de colaboração sob a égide da gestão democrática” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 50). Assim, estabelecem limites dentro dos quais acreditam ser necessário que a elaboração da BNCC aconteça, ejetando do campo do desejável outras formas de organizá-la que não seja democrática, federativa e diferenciada.

No segundo capítulo – “BNCC e a universalização do conhecimento” –, são tensionadas questões nos planos normativo e conceitual que levaram à formulação da BNCC tal como aprovada em 2018, buscando analisá-la criticamente para expor sua legitimidade e suas possibilidades a partir do campo de estudos curriculares, em específico,perante uma “concepção comprometida com a teoria freireana como forma de promover uma educação para emancipação” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 55). Aqui, uma importante discussão é travada, problematizando o que significa um conhecimento ser básico e comum, salientando que a neutralidade pretendida não existe de fato, o que resulta num problema difícil de resolver, a afirmação inequívoca de qual é a formação desejada em um território tão extenso e plural como o brasileiro. Desse modo, os autores apontam que adotar uma compreensão curricular pautada em descritores de conteúdos, competências e habilidades, casados com prescrições fixistas, é também assumir um projeto universalizante de conhecimentos comprometidos com a homogeneização, o que os coloca em explícito contraste com uma compreensão de currículo construído democraticamente, do qual decantam práticas que respeitam a pluralidade e as diferenças sociais.

A noção de uma base nacional comum curricular tem, em sua raiz, “o sonho iluminista de universalização de direitos no tocante ao acesso ao conhecimento acumulado e à qualidade de educação que se realizaria pela distribuição igualitária e isonômica dos conhecimentos” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 53). Tal argumento vai ao encontro da noção de cosmopolitismo de Popkewitz (2009), em que se lança mão da razão e de um modo comparativo de raciocínio para planejar transformações no mundo, visando a uma sociedade mais igualitária e justa. Entretanto, para Popkewitz (2009), esse mesmo modo comparativo de raciocínio produz um duplo gesto, uma vez que, ao buscar a inclusão gradativa de todos na sociedade cosmopolita, é preciso definir quem são aqueles sujeitos que a ela pertencem e estão incluídos, simultaneamente, definindo os que não pertencem e estão excluídos, reinscrevendo a exclusão no tecido do planejamento e das práticas escolares.

O terceiro capítulo – “Base Nacional Comum Curricular é Currículo?” – argumenta em duas direções. Na primeira, focaliza-se a discussão sobre algumas concepções de currículo em diálogo com José Gimeno Sacristán, Roberto Macedo e Paulo Freire, a fim de desestabilizar a narrativa do Ministério da Educação (MEC), que posiciona a BNCC como um documento meramente norteador de currículos, revelando sua ação como um currículo prescritivo, tecnicista e meritocrático. A segunda direção diz respeito à BNCC como um objeto não acabado, que constitui um campo de disputa, e as diferentes forças, que atuam no sentido de mobilizar e/ou reificar seus sentidos. Discutem-se os argumentos legitimadores em favor da definição de conteúdos básicos comuns, como, por exemplo, as pesquisas de Michael Young e Demerval Saviani, que defendem a necessidade dessa definição. Para os autores, tal ideia revitaliza “o gerenciamento científico característico das teorias tradicionais do currículo e fortalece a manipulação da educação escolarizada”, além de desconsiderar o “papel dos professores e alunos como sujeitos produtores de conhecimentos valiosos para o currículo” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 89-90).

A partir desse ponto, os autores estabelecem relações entre as organizações internacionais, tais como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as fundações privadas e o próprio Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), a elite capitalista neoliberal e o esforço epistemológico e político, visando à fixação de conhecimentos “básicos” como um objetivo da educação escolarizada. Nesse movimento, os autores contrapõem argumentos daquelas organizações e setores da sociedade civil com o posicionamento de associações brasileiras de estudos curriculares, a saber, a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) e a Associação Brasileira de Currículo (ABdC). Para essas associações, algumas questões são colocadas a favor da não publicação de uma base nacional comum curricular, como o fato de não contemplar as dimensões da diversidade na educação brasileira, a problemática centralização no desempenho e na avaliação, a desqualificação do trabalho docente, para dar alguns exemplos. Em grande medida, é pontuado nesse capítulo o posicionamento de tais associações de pesquisa diante do Golpe de 2016, que trouxe “seu autoritarismo, conservadorismo e claro compromisso com a lógica do capital para dentro do processo de elaboração da terceira versão da BNCC” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 98). Nessa direção, os autores mantêm a tônica da obra e apresentam diversos entendimentos sobre o processo de construção da BNCC, em um movimento que busca desnaturalizar os fundamentos e não se exime de pontuar a necessidade do enfrentamento contínuo, sob o risco de homogeneização das diferenças, aprisionamento da educação pública por uma lógica mercadológica e desumanização dos processos dialéticos de construção do conhecimento.

No quarto capítulo – “BNCC e educação das novas gerações: limites conceituais” –, os autores abrem um espaço para problematizar a educação de novas gerações, entendendo a primeira etapa da educação básica também como um campo de disputas e tensões que se expressaram nas diferentes versões do documento curricular. Tal disputa se situa na tensão entre “modelos assistencialistas, de um lado, e escolarizantes, de outro, presentes nas políticas que determinam abordagens de currículo, pedagogia e avaliação para a educação de crianças e jovens” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 101), em torno do que se pensa sobre a educação infantil.

Para os autores, há lacunas na BNCC no que se refere a aspectos considerados importantes para a educação na primeira infância, como brincar, experimentar, realizar atividades de livre escolha para a satisfação de diversas necessidades das crianças. Nesse contexto, criticam o modo de afirmar genericamente noções de cuidado, educação e campos de experiência, presentes na BNCC, documento que, conforme alegam, apresenta, quanto à forma de educar crianças, uma ruptura entre a educação infantil e o ensino fundamental. Em contrapartida, trazem argumentos para pensar uma educação infantil que não se concretiza com um currículo mínimo padronizado, em um movimento presente ao longo da obra.

No quinto e último capítulo – “Habemus Base, mas Habemus Freire” –, são retomadas questões problemáticas acerca da BNCC trabalhadas ao longo do livro, para assim afirmar a necessidade de se buscar alternativas a essa proposta curricular com articulações “necessárias à transformação social e ao desvelamento das causas da desigualdade” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 119). Desse modo, dialogam com a obra de Paulo Freire, que corrobora a ideia de transmissão de conhecimentos padronizados para a libertação e emancipação, sem abrir mão do compromisso com a criticidade. Assim, “sob uma perspectiva freireana, não há o desprezo ao conhecimento acumulado historicamente, mas um cuidado democrático e dialógico na construção da proposta curricular” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 121), salientando a potência da rejeição de uma concepção de currículo como doação/imposição aos sujeitos escolares.

Em todo o livro, os autores se dedicam a problematizar a ideia de conhecimentos que qualificam sujeitos para a atuação no mundo neoliberal, afirmando que a terceira versão da Base tornou-se o “local através do qual conteúdo, coerência e controle estão sendo articulados” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 104). Assim, ao refletirem sobre pesquisas que respaldam a necessidade de uma base nacional comum curricular, que afirmam ser a escola, e a educação escolar, o espaço para a construção de uma cidadania democrática e menos desigual, argumentam que tais estudos ignoram a desigualdade produzida socialmente e na qual a escola é incluída. Ao dar visibilidade a essa discussão sobre escola e sociedade, vão ao encontro de autores como Daniel Friedrich, Bryn Jaastad e Thomas S. Popkewitz (2010), quando estes afirmam que a “missão” empreendida pela escola, ao buscar promover uma sociedade mais igualitária, abre espaço para reforçar epistemologicamente a desigualdade como condição ontológica para pensar sobre e planejar o futuro da sociedade, problema que o campo educacional vem confrontando historicamente.

Argumentam os autores do livro, finalmente, que, se “a escola abraçar a BNCC como prescrição a ser detalhadamente cumprida, colocamos em sério risco os princípios estabelecidos pela Constituição de 1988 no que diz respeito à pluralidade, diversidade e não discriminação. Princípios que se constituem em essência de nossa (frágil) democracia” (Cury; Reis; Zanardi, 2018, p. 129). Ao, aparentemente, tomarem certos pressupostos do campo educacional por certezas no início do livro – os objetivos da educação escolarizada como distribuição igualitária e isonômica do conhecimento visando à construção de uma sociedade menos desigual –, assumiram um risco. De maneira não intencional, poderiam por meio de duplos gestos (Popkewitz, 2009) reforçar epistemologicamente as desigualdades que procuram combater enquanto condição ontológica para pensar e, portanto, construir um certo tipo de educação escolarizada (Friedrich; Jaastad; Popkewitz, 2010).

Entretanto, de forma robusta, contornam esse risco ao explorarem a existência e os limites de outras maneiras de pensar a educação, distintas das suas. Assim, rejeitam não apenas a BNCC como terminada e cristalizada, mas também seus próprios pressupostos, realizando algo afeito àquilo que Butler (2013) chamou de crítica enquanto prática de exposição dos limites do horizonte epistemológico de determinado objeto. Buscando entender os limites da BNCC e dos próprios objetivos e estratégias defendidos na obra, os autores não os assumem como verdades a priori, operacionalizando-os antes como posicionamentos epistemológicos e políticos que foram conscientemente construídos e, desse modo, úteis na luta por outra base nacional comum curricular, democraticamente constituída e que pontue práticas que respeitem a pluralidade e as diferenças sociais.

Referências

BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 26 jun. 2014. Seção 1, p. 1.

BUTLER, J. O que é a crítica? Um ensaio sobre a virtude de Foucault. Traduzido por Gustavo Hessmann Dalaqua. Cadernos de Ética e Filosofia Política, São Paulo, v. 1, n. 22, p. 159-179, 2013.

FRIEDRICH, D.; JAASTAD, B.; POPKEWITZ, T. S. Democratic education: an (im) possibility that yet remains to come. Educational Philosophy and Theory, Oxford, v. 42, n. 5-6 p. 571-587, 2010.

POPKEWITZ, T. S. The double gestures of cosmopolitanism and comparative studies of education. In.: COWEN, R.; KAZAMIAS, A. M. (Ed.). International handbook of comparative education. Dordrecht: Springer Science, 2009. p.385-401.

Gabriel Pedro – Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é doutorando no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e atua no Grupo de Estudos em História do Currículo, no âmbito do Núcleo de Estudos do Currículo (NEC/UFRJ). E-mail: gabriel.brasil.88@gmail.com.

Juliana Marsico – Doutora em Educação, é professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), integra o corpo de pesquisadores do Grupo de Estudos em História do Currículo, no âmbito do Núcleo de Estudos do Currículo (NEC/UFRJ). E-mail: jumarsico@gmail.com.

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A emergência da escola | José Gonçalves Gondra

En julio del 2018 se publicó la obra A emergencia da Escola de autoría del profesor brasileño José Gonçalves Gondra2 lo que representa un gran aporte para la historia de la educación de Latinoamérica en términos de análisis sobre el surgimiento de un determinado modelo escolar. Dando visibilidad a un conjunto de mecanismos que conforman una compleja red de relaciones de poder, dispersos en una superficie de configuración de escolarización institucionalizada en el Brasil Imperial del siglo XIX que, junto con sus particularidades, nos ayuda a pensar en esas emergencias escolares en los diferentes contextos de la América en procesos de emancipación. Leia Mais

The Clay World of Çatalhöyük. A fine-grained perspective – DOHERTY (DP)

Catalhoyuk Anatolia Turquia Experimental firing of an oven inside a reconstructed building Photo Jason Quinlan Catalhoyuk com Informal learning
Experimental firing of an oven inside a reconstructed building. Çatalhöyük/Turquia. Photo: J. Quinlan. Catalhoyuk.com.

DOHERTY C The clay world of catalhoyuk Informal learningDOHERTY, Chris. The Clay World of Çatalhöyük. A fine-grained perspective. Oxford: BAR Publishing, 2020. Resenha de: GASPARIC, Zibrat. Documenta Praehistorica, v.42, 2020.

Chris Doherty’s study focuses on the role of clay in the development of Çatalhöyük, the famous and largest Neolithic settlement in the Konya Plain in central Anatolia. The author offers a holistic approach to understand the interrelationship between all clay materials used at the site and the landscape. Çatalhöyük lies on the clay-rich bed of the former Pleistocene Lake Konya, which lacked local sources of stone, and this makes its position interesting as clay plays a dual role here, i.e. as the main landscape component and a raw material for different types of material culture at the site. The book is divided into 10 chapters and is supported with many illustrative figures and tables.

In the first chapter, The clay world of Catalhoyuk, Doherty first introduces the questions regarding the need to study clay in the Neolithic and presents the analysed archaeological site and its regional context.

At Çatalhöyük, the community was clearly familiar with the use of clay from the earliest building levels, and could skilfully exploit clay for a wide variety of domestic and symbolic uses. A lot of the related issues have already been studied in detail, but Doherty attempts to combine this data and answer a series of questions on topics such as: How was clay used at the site? What were the resources and how did these change? What was the nature of the landscape around the site? What was the relationship between the material culture and landscape? Was the site successful due to its clays? The research also is framed by Tim Ingold’s term taskcape, i.e. a socially constricted space defined by related human activities (Ingold T. 1993. The Temporality of the Landscape. World Archaeology 25(2): 152–174), although Doherty proposes a new term and tries to work with a ‘clayscape’, i.e. a clay-oriented taskscape for Çatalhöyük.

In the second chapter, Clay-based material culture studies at Catalhoyuk: a review, the author presents us with a brief review of publications that relate to the four main aspects of living with clay at Çatalhöyük: materials (clay artefacts), the technology of production, the resources available, and the clay-rich landscape of the site. Here, details on artefacts and materials such as mudbricks, plaster, pottery, clay balls, geometric clay objects, stamp seals, and figurines are presented with information and results on studies that focused on these individual types, as well as with a comment on problems that arouse from them. Doherty sees the major problem with these studies in the fact that each of these materials was researched singularly, and the clay material culture was mostly interpreted without any consideration of the raw materials and their distribution in the landscape.

In the third chapter, titled The clay landscape of Catalhoyuk, the author presents the results of landscape studies at the site and focuses mostly on the multi-year KOPAL project and its results (e.g., Roberts N. et al. 1999. Chronology and stratigraphy of Late Quaternary sediments in the Konya Basin, Turkey: Results from the KOPAL Project. Quaternary Science Reviews 18(4–5): 611–630). The project proposed a view of Çatalhöyük and its surrounding that were in stark contrast to Mellaart’s (Mellaart J. 1967. Catal Hoyuk: a Neolithic town in Anatolia. McGraw- Hill) and Cohen’s (Cohen H. R. 1970. The palaeoecology of south central Anatolia at the end of the Pleistocene and the beginning of the Holocene. Anatolian Studies 20: 119–137) visions of the site as centred on a grass steppe. The KOPAL project envisioned an area filled with backswamps and river channels in the Neolithic, and a drier landscape only at the end of the Neolithic, with the nearest area suitable for agriculture more than 10km away from Çatalhöyük. These results prompted Ian Hodder (Hodder I. 2006. The Leopard’s Tale: Revealing the Mysteries of Catalhoyuk. Thames & Hudson. New York), the excavator of the more recent excavations, to suggest that the site was chosen for its availability to clay more than for its agriculture potential.

The KOPAL project results were mostly disproven with archaeobotanical, faunal and other biogenic studies, as well as from clay studies conducted in previous work by Doherty (Doherty C. 2013. Sourcing the Lower Alluvium) to re-interpret Çatalhöyük’s local environment and that of the Southern Konya Plain. The alluvial system proposed by the KOPAL project is inappropriate for this physiographic setting.

An alternative alluvial system is thus proposed which, together with an acknowledgment of changes due to soil formation, presents a truer picture of the landscape context for the Neolithic clay deposits.

Here a view emerges that the landscape around the site was much drier than that proposed by the KOPAL model, and brings the narrative back to the wellwatered grassland setting already proposed by Mellaart and Cohen.

In chapter six, The Holocene alluvium – a clay for all purposes, the Holocene alluvium, i.e. a silty calcareous clay, is explored in more detail. Special focus is put on early mudbricks vs. mudbricks in the later occupation phases. The alluvium was used initially as it was a readily available surface clay, and as such an attractive raw material. After the South M phase these dark alluvial clays were no longer used for mudbricks, and the conflict arising between the continued use of this material and its corresponding fertile soils is seen as the probable cause for the sudden abandonment of dark clay mubricks.

In chapter seven, A common ground: the white marls and lake clays of the Konya Plain, the white marls are explored in more detail. This material was used for the final plaster layers of floors and walls and has already been extensively studied, but the burnt lime plaster technology, an obvious PPNB connection, that was proposed for the earliest layers at Çatalhöyük is questioned here. Doherty presents firm evidence that burnt lime plaster was more labour intensive to produce and complicated to use compared to the readily available white marl (which is strikingly obvious from the comparison of the operational sequences of both processes in Figure 7.5).

Next a micro-textural analysis is presented that proves the use of softlime, found in weathered Neogene limestone outcrops west and southwest of the settlement, was present at Çatalhöyük from the formation of the site onwards. As such, there is no solid archaeological evidence for burnt lime technology at Çatalhöyük.

Additionally, non-white marls are also presented in this section of the book, and these became more important after the South M phase, with the author arguing that the diversity of clays around the site was more important than white marl availability alone, as argued by Hodder (2006).

Çatalhöyük’s Clays. In I. H. Hodder (ed.), Substantive technologies at Catalhoyuk: reports from the 2000–2008 seasons. Cotsen Institute of Archaeology Press: 51–66). These results suggest that Çatalhöyük was located in a landscape with localized wetlands, not in a continuous seasonal wetland with only a few dry areas.

The fourth chapter, Establishing the sequence of clay use, presents the clays identified by the artefact timelines to reconstruct the actual clay deposits that might have been present in Çatalhöyük’s landscape or have been brought from elsewhere. The main observed patterns of clay use include the use of alluvial dark clays in the earliest levels (i.e. Lower Alluvium in the KOPAL stratigraphy) for making mudbricks, and this then changes in the South M phase.

A similar observation can be made for mortars and plasters, clay balls, pottery, and geometric clay objects.

Only figurines were made from whatever clay was available at all occupation layers, while stamp seals show a lack of fabric variations and have a fixed composition.

Doherty also proposes using clay colour as a useful investigative approach as people at Çatalhöyük made full use of this in their material culture. Although colour is systematically recorded in excavation and post-excavation, it has not been interpreted in landscape terms (except in the KOPAL stratigraphy). Clay colour, as argued by Doherty, can provide the essential link between clay material culture, raw materials and landscape that allows clay use to be examined on all levels of engagement.

The author then presents the four fundamental clay groups identified at Neolithic Çatalhöyük, of which the first three are local materials (the dark alluvial clays, the white marls and the local calcareous red clays as a continuous sedimentary sequence, the colluvial clays), but the fourth is of non-local character (non-local non-calcareous red clays) and implies the transport of clays or finished artefacts. As these four groups also have different temporal ranges they provide the most logical framework for exploring life with clay at Çatalhöyük.

The following five chapters deal with these four clay groups and their interpretation in more detail.

Starting with Reinterpreting the Holocene alluvium: challenging Catalhoyuk’s clay foundation (Chapter 5), the author details the first of these four fundamental clay groups, the Holocene dark clays (i.e.

Chapter eight, Colluvium: the rise of new clay, looks at a new clay source recognized at Çatalhöyük, i.e. the colluvium which is an unconsolidated earth material that has been transported down the tell by gravity and accumulates at its base. The composition of the colluvium is a direct reflection of the material brought onsite, as it is a mixture of degraded mudbricks, plaster and mortar. This type of material, as argued by Doherty, was not only the dominant clay for mudbrick building after the South M phase at Çatalhöyük, but also had beneficial effects on the local landscape. The concept of a clay cycle is proposed and explored in more detail, as the dynamic link between clay material culture and landscape was fully developed only with the colluvium phase.

The proposed ‘clay cycle’ explains most of the high volume clay transitions at Neolithic Çatalhöyük.

In the ninth chapter, Arrivals from a distant clayscape, the only non-local clays used at Çatalhöyük are presented. These were used only for a single group of artefacts, specifically the pottery that appeared at South M and which then dominated until the later levels. These clays are the only departure from a full reliance of the Çatalhöyük people on nearby local clays. This change corresponds to the first use of mineral-rich ‘gritty’ clays that were first recorded by Mellaart, but their non-local character was not appreciated until the Hodder excavations.

Doherty presents the pottery forms as well as the full fabric sequence, established after petrographical examination of thin sections. Here convincing results are presented as the mineral inclusions in gritty wares clearly point to the use of non-local noncalcareous raw materials, as these inclusions are not present in the local calcareous clays. However, it is not clear whether clay or readily made pottery was transported to Çatalhöyük.

The final chapter, Conclusions, brings together the main topics discussed in the book as well as all the results which provides a more holistic approach to the clay-based material culture at Çatalhöyük and its place in the context of the local landscape. Even more importantly, Doherty shows how the site’s favoured location on the Konya Plain afforded both raw materials and an environment suitable for early farming, against the view presented by the prevailing KOPAL landscape model. This change to the landscape model will of course have major implications on how all aspects of life at Çatalhöyük are seen, as rightly pointed out by the author.

The factors behind non-local clay use have not been clearly established by this research, as Doherty notes himself, and it is therefore not clear whether pottery made from gritty clays was appreciated because it fitted a new preferred style, or whether technological superiority was a factor – only further work will be able to fully interpret what this variation points to. Nevertheless, Doherty’s book is an interesting multidisciplinary view of clay, clay material culture, and landscape, as well as the different variations that bind them. The book would benefit from some more figures of higher quality, but apart from this it is a well-researched, well-documented, thought-provoking, and inspiring book for any researcher dealing with clay raw materials, pottery, and landscape studies.

Andreja Zibrat Gasparic – Faculty of Arts, University of Ljubljana.

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Survivor Memorials: Remembering Trauma and Loss in Contemporary Australia – ATKINSON-PHILLIPS (PHR)

ATKINSON-PHILLIPS, Alison. Survivor Memorials: Remembering Trauma and Loss in Contemporary Australia. Crawley: University of Western Australia Publishing, 2019. 338p. Resenha de: SWAIN, Shurlee. Public History Review, v.27, 2020.

As debate rages about memorials from the past Alison Atkinson-Phillips’ monograph, Survivor Memorials, is particularly timely. However, its focus is not on the past, but on a recent shift in memorial making, the commemoration of trauma amongst the living rather than a focus on the dead. She dates this shift to the 1980s and documents eighty memorials constructed across Australia over the following thirty years. The first half of the book situates these memorials within the wider context of griefwork, memory making and public art. The second explores these theoretical considerations through six case studies. These range from the celebratory memory trail at the site of the Enterprise Migrant Hostel in Springvale, Victoria, through several memorials for Forgotten Australians and bushfire survivors and one remembering a homophobic rape.

These new memorials, Atkinson-Phillips argues, are both personal and political. They offer the opportunity for public performances of mourning, but also bring ‘difficult knowledge’ into public view in the hope that it will be inscribed into community memory. Initially they arose as a result of collaboration between survivor groups and individual artists. But in the wake of inquiries into various categories of historical institutional abuse they have become an integral part of government reparation packages.

This shift, the author suggests, has not been without its complications. Survivors find local site-based memorials more meaningful than the national ones. In part this is because local memorials provide a space for more effective ‘memory work’, creating opportunities for gathering and sharing of stories both in official commemorations and more casual visits. Survivors are only one voice amongst many in the planning of national memorials and often harbour suspicions that the money being directed to commemoration could be being diverted from more practical reparation measures and financial redress that continues to be subject to debate.

Atkinson-Phillips is also concerned with memorials as art, looking at the processes by which they are created, and the toll this sometimes takes on the artist. Collaboration and consultation are key. But consensus is not always possible. The artists who undertake this work often come with experience of similar projects and invest them with additional meaning. Those interviewed for this study all reported spending much more on the project than they were paid. Many also talked of the psychological toll and the need to seek help to avoid secondary trauma.

In the short term, the effectiveness of a memorial depends on its acceptance by the group whose trauma it commemorates. In the long term, however, it needs to be embraced by the wider community amongst which it sits. Controversy as to the experience being commemorated can see the memorial neglected or even attacked. The diminution in the survivor group over time can see the significance of the memorial lost, unless there is a public commitment to keeping the uncomfortable story alive.

Survivor Memorials will be of interest to scholars across a range of disciplines from art through to memory studies. It will also be invaluable for people involved in commemoration projects. Atkinson-Phillips’ study ends in 2015, a point at which she suggested that this trend may have reached its peak. However, in the years since there have been more of the inquiries and natural disasters to which these memorials respond. Those involved in developing commemorative projects will learn much from this study.

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Digital Community Engagement: Partnering Communities with the Academy – WINGO et al (PHR)

WINGO, Rebecca S.; HEPPLER, Jason; SCHADEWALD, Paul (eds). Digital Community Engagement: Partnering Communities with the Academy. Cinncinati: Cinncinati University Press, 2020. 225p. Resenha de: FOSTER, Ann-Marie. Public History Review, v. 27, 2020.

This collection of essays, edited by Rebecca S. Wingo, Jason Heppler and Paul Schadewald, introduces readers to digital community engagement, or DiCE, as they call it. The acronym is not only a useful one, but one which situates the book among the intellectual forerunners of the field. As they explain in the introduction, they created this volume because when they needed it, it did not exist. The result is an open access collection of nine case studies, written by people involved in community/academy partnerships, most of which are co-authored, which offer an insight into the collaborative projects with a digital element.

This volume is designed to be read by both academics interested in creating a DiCE project and by partners who are thinking about working with the academy. At times, this seems a little more geared towards the academic side of this partnership. However, all of the chapters are written in an accessible manner and show the competing demands of collaborators. The pedagogy of doing digital community engagement projects with students is often touched upon, showing potential partners how their projects can be aided by those studying in formal educational settings. All case studies are from the US, and while it is recognised that this perhaps narrows the scope of the volume, there is more than enough within its (digital) pages to make up for this.

The overwhelming theme of the collection is how DiCE projects can help enact social change, and all projects have their roots in activism, disrupting the historical status quo. Hubbard’s chapter neatly shows how digital archives can establish resistance to structural racism. Anderson and Wingo’s chapter demonstrates how History Harvests can record the experiences of Black neighbourhoods destroyed by historically racist town planning policies. Beaujot’s chapter discusses how the Hear, Here project in La Crosse helped to pressure local authorities as part of a campaign by the Ho-Chunk Nation to remove an offensive statue from the downtown area. Sullivan’s chapter considers how students can be involved in projects which have their roots in trauma, building empathy with the communities worked with. It is a strength of this volume that all writers touch upon power dynamics and consider them as ongoing issues. It is stressed repeatedly that when formulating a digital engagement project an understanding of the position of various collaborators must be at its core, permeating through all layers of engagement, from project meetings to the licences applied to digitised material.

Contributors stress the community aspects of DiCE, in particular the amount of face-to-face work involved in setting up projects. As Brock, Hunter, Morris and Murrian’s chapter highlights, digital output is not necessarily the most important outcome from a community/academy partnership. This is accompanied by practical guides to setting up a project. And the chapter by Augusto, Bragg, Chafe, Cobb, Cox, Crosby, Deal, Forner, Gartell, Hogan, Jeffries, Lawson, Nelson, Richardson, Sexton and Tyson, aside from being impressively co-written, offers a set of advice for any potential collaborators to consider before entering into a working arrangement.

Chapters discuss the digital side of the projects in varying levels of detail. One of the most involved discussions about this was by Collier and Connolly. They discussed having to use two sites – one to add metadata to the digitised diaries at the core of their project; the other a simpler version which was more user-friendly. While many chapters touch on digital inequalities, Schuette, Telligman and Wuerffel are particularly keen to stress that when doing digital engagement projects thought must be given to those without internet access. Their project, which focused on homelessness, would have excluded those it sought to draw attention to if the digital project was not accompanied by a physical one. It is also in the digital where the open access version of the text shines, with embedded links to all of the projects mentioned. Thompson and Carlisle-Cummins use this to particularly good effect, enmeshing their text with the podcast that inspired the chapter.

Taken together, this collection is a welcome addition to the field of community engagement and one which is designed to stimulate discussion. The editors encourage readers to see the volume as a prompt for further conversations and readers are encouraged to highlight, annotate and connect through it. This volume opens up a conversation about DiCE which is long overdue, with the digital format of the text suggesting it is one that will continue for some time to come.

Notas

1. See <https://ucincinnatipress.manifoldapp.org/projects/digital-community-engagement>.

Ann-Marie Foster – Queen’s University Belfast.

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História e epistemologia da Educação Profissional / História Revista / 2020

O presente dossiê reúne contribuições de abordagens teórico‐metodológicas históricas, historiográficas e/ou epistemológicas cujos objetos são os tempos, os espaços, as memórias e as experiências da Educação Profissional e Tecnológica, no Brasil e alhures.

Os artigos estão vinculados a dois eixos. No primeiro, dedicado a uma reflexão sobre a Epistemologia da Educação Profissional, os textos abordam os processos epistemológicos da constituição do campo, bem como o engendramento histórico das relações trabalho‐educação. No segundo eixo, voltado à História e Memória da Educação Profissional e Tecnológica, estão presentes contribuições acerca da história de instituições educativas  ‐ sobretudo na esfera do mundo do trabalho  ‐, dos agentes e dos sujeitos da Educação Profissional (gestores, docentes, técnico‐administrativos e discentes).

Ainda nesse eixo, os pesquisadores apresentaram estudos sobre os processos de produção, circulação e adoção de memórias em experiências relacionadas ao campo da Educação Profissional. Por fim, outros manuscritos se detêm mais particularmente na história da política educacional brasileira, apontando as mudanças e tensões socioeconômicas e políticas em desenvolvimento na sociedade contemporânea. Face a esse cenário mais amplo, apresentamos abaixo, em linhas gerais, o conteúdo dos artigos e suas possíveis articulações.

Os autores Julie Thomas, Olivia Morais de Medeiros Neta e Avelino Aldo de Lima Neto, no texto Educação Profissional e Técnica na França e no Brasil: histórias cruzadas, estabelecem uma comparação, em sentido histórico, entre as concepções e a organização da Educação Profissional na França e no Brasil a partir do século XIX. Para tanto, foi adotada a abordagem da história cruzada, num rico entrelaçamento bibliográfico entre estudiosos de ambos os países. Como ponto de encontro dessas histórias, assinalaram‐se    as tensões entre, de um lado, os defensores de uma profissionalização a serviço do capital e, de outro, os educadores que postulavam a possibilidade de uma formação integral das classes operárias.

Maria Augusta Martiarena de Oliveira escreveu sobre Memórias de uma instituição em construção: a narrativa imagética do IFRS‐Campus Osório (2010‐2013). Com uma abordagem metodológica na qual a fotografia é empregada como fonte de pesquisa, o texto revela possibilidades outras de escrever, com riqueza, a história da Educação Profissional. Ao explorar as potencialidades das imagens, o olhar aguçado da historiadora das instituições educativas indica caminhos teórico‐metodológicos para a preservação da memória da formação profissional e tecnológica no Brasil, sobretudo através da articulação com o Núcleo de Memória do IFRS.

Ainda no contexto do recurso à imagem em nossas investigações, a autora Renata Reis, no artigo Imagem e história: desafios metodológicos para o campo trabalho‐educação, problematizou o uso da fotografia como fonte para a pesquisa histórica no campo trabalho‐ educação, a partir do diálogo com alguns autores que pensam o objeto fotográfico, seu caráter monumental e documental, o estatuto e valor da fotografia como fonte arquivística disponível para uso.

O autor José Mateus do Nascimento no texto Ensino profissional brasileiro no século XIX: ações assistencialistas e de reeducação pela aprendizagem de ofícios escreveu sobre ensino profissional brasileiro no século XIX, abordando as ações assistencialistas e de reeducação pela aprendizagem de ofícios. São reflexões sobre a existência do ensino profissional pela organização de instituições de amparo e de aprendizagem de ofícios, sob a ótica do assistencialismo e da reeducação de menores.

É com esse contexto que dialoga a contribuição de Renan Santos Mattos, no texto O amparo à infância como projeto social: educação e trabalho no Espiritismo de Santa Maria/RS (1930‐1945). O autor enfatizou a atuação de grupos espíritas da cidade gaúcha de Santa Maria, no que se refere às preocupações com a infância entre 1930 a 1945. O tema da profissionalização aparece concatenado à vulnerabilidade social e à consolidação das instituições voltadas a acolher e a instruir meninos e meninas. O manuscrito revela, com originalidade, a importância do Espiritismo no seio das reflexões sobre a educação profissional no Brasil, uma vez que a formação para o trabalho emerge como tema no contexto mais amplo das práticas filantrópicas espíritas e das políticas educacionais da época.

Francisco das Chagas Silva Souza e Karla da Silva Queiroz, no artigo Processos formativos na Unidade de Ensino Descentralizada da ETFRN/Mossoró: uma história de expectativas, adesões e resistências, objetivaram analisar os processos formativos realizados na Unidade de Ensino Descentralizada (UNED) da Escola Técnica Federal do Rio Grande do Norte (ETFRN). A partir de fontes orais construídas através de entrevistas com servidores que atuaram à época da instalação da UNED, em 1995, bem como recorrendo a jornais e outros documentos publicados naquele momento, os autores enfatizam o desejo institucional de formar pedagogos e docentes para a inovadora proposta curricular da escola recentemente instalada na cidade de Mossoró. Souza e Queiroz ressaltam, ademais, as críticas e resistências, por parte desses servidores, a esse processo de formação continuada.

Num contexto similar  ‐  centrada, porém, de modo mais direto na prática pedagógica entre o professor e o aluno  ‐  localiza‐se a contribuição de Rogério Chaves da Silva. O manuscrito, intitulado A história na interseção entre o ensino e a pesquisa: reflexões sobre uma experiência docente na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, compartilha o percurso de uma experiência de docência em História, no contexto do Ensino Médio Integrado à Educação Profissional. Num entrelaçamento rico e criativo entre vivências de cunho pedagógico e historiográfico, o autor apresenta uma possibilidade de convergência entre o ensino de história ‐ com ênfase na história regional e local ‐ e a prática da pesquisa histórica. Trata‐se de uma contribuição cujos desdobramentos poderão ser explorados por inúmeros licenciandos e docentes em seus processos de formação inicial e permanente para atuação na Educação Profissional.

Natália Conceição Silva Barros Cavalcanti e Gustavo Barbosa, no artigo Ser Professor na Escola Técnica Federal do Pará – ETFPA nos tempos da Ditadura Civil‐Militar investigaram, no período que compreende as décadas de 1970 e 1980 no Instituto Federal do Pará, a construção e o desenvolvimento da carreira docente e das relações políticas e sociais tecidas dentro de uma instituição centenária, voltada para formação profissional da juventude trabalhadora. Ao longo do texto, notamos as interlocuções entre o momento histórico vivido pelo país e as políticas e práticas pedagógicas postas em marcha na então ETFPA.

Tiago Martins da Silva Goulart e Isabel Bilhão, no texto Cursos Técnicos em Agropecuária Integrados ao Ensino Médio: aspectos de sua implementação no Instituto Federal do Rio Grande do Sul – IFRS, analisaram aspectos da criação dos cursos técnicos em Agropecuária integrados ao Ensino Médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS. Ao lançar mão dos Planos de Curso dessas ofertas enquanto documento, os autores cotejam os pressupostos legais e pedagógicos do Ensino Médio Integrado. Ao mesmo tempo, trouxeram à tona contribuições de autores da área sobre essa experiência formativa, articulando essa reflexão às realidades de implementação dos cursos nos campi Bento Gonçalves, Ibirubá e Sertão do IFRS. Os resultados apontam para uma ampliação das formas de interpretação, apropriação e embasamentos das políticas educacionais no campo da Educação Profissional.

Os últimos dois manuscritos dialogam fortemente com o texto assinado por Irlen Antônio Gonçalves. Em Chaves de leitura para a análise do discurso político sobre o ensino profissional, apresenta uma interlocução fecunda entre os campos da Educação Profissional e da Análise do Discurso. Embrenhando‐se no discurso político do senador Virgílio Martins de Mello Franco enquanto prática linguageira mediadora da produção histórica, o pesquisador oferece‐nos chaves de leitura para a compreensão das relações entre educação e trabalho na virada do século XIX para o XX. Ao pôr a noção de discurso em diálogo com a História Política, a História dos Conceitos e a História da Linguagem, o autor faculta‐nos tensionar os modos tradicionais da escrita historiográfica da Educação Profissional no Brasil.

Ricardo dos Santos Batista, no artigo Bolsas da Fundação Rockefeller para estudo na Johns Hopkins University: o caso do sanitarista Heraclídes Cesar de Souza Araújo, analisa a viagem internacional do médico Heraclídes César de Souza Araújo para os Estados Unidos, com o objetivo de se aperfeiçoar profissionalmente. Explorando documentos epistolares, o cartão do médico quando bolsista, o periódico O Brazil‐Médico e uma entrevista, o autor perscruta minuciosamente um modelo educacional voltado à saúde pública. A contribuição mostra‐se relevante para a compreensão da história dos intelectuais brasileiros, mormente àqueles que exercerão influência significativa sobre o campo da Educação Profissional em Saúde.

Em direção semelhante se situa o texto assinado por José Geraldo Pedrosa e Nívea Maria Teixeira Ramos, intitulado A educação profissional brasileira dos anos 1920 aos 1950 na escrita de Francisco Montojos (1900–1981). Os autores discorreram sobre a Educação Profissional (EP) no Brasil dos anos 1920 a 1950. Ao longo da argumentação, puseram em relevo a atuação, a escrita e as representações do engenheiro‐educador Francisco Montojos, que atuou no Governo Federal de 1927 a 1961. Forneceram‐nos, dessa maneira, elementos nevrálgicos para a história dos intelectuais da EP.

Um conjunto de textos do dossiê toca questões hoje centrais à história e à epistemologia da Educação, a saber, o gênero e a sexualidade. O primeiro deles é assinado por Francinaide de Lima Silva Nascimento e Andrezza Maria Batista do Nascimento Tavares e intitula‐se Gênero, Sexualidade e Educação Sexual: apontamentos sobre um campo epistemológico em ascensão. Nele, as autoras dialogam com autores da educação e do trabalho para enfatizar o fortalecimento das pesquisas em torno de temáticas pouco usuais no campo da História e da Epistemologia da Educação Profissional.

As investigadoras recorreram a repositórios públicos brasileiros e, a partir de parâmetros bibliométricos, constituíram um corpus documental de 821 produções acadêmicas. Os resultados apontam que as categorias Gênero, Sexualidade e Educação Sexual mostram‐se cada vez mais presentes na comunidade científica brasileira, em diversas matizes epistemológicas, cujos interlocutores em destaque são Michel Foucault, Joan Scott, Guacira Lopes Louro e Judith Butler. Registra‐se ainda um aumento no interesse dos pesquisadores por historicizar, delimitar, demarcar e refletir sobre o campo em diferentes perspectivas, assim como tensões e esforços por sua consolidação em seus diversos âmbitos.

No interior dessa temática insere‐se a contribuição de Raul Velis. No texto La feminización de la universidad y su relación con la filosofía feminista en Europa, analisou o processo de feminização das instituições de ensino. Em sua análise, o autor evidenciou variados processos, envolvendo não só dimensões pedagógicas e didáticas, mas também aspectos sociais, antropológicos e filosóficos.

Na esteira das reflexões anteriores se encontra a autora Ana Cristina Pereira Lima, no artigo Meninas órfãs, irmãs vicentinas e profissionalização feminina no século XIX em Fortaleza (CE). O manuscrito trata do contexto de instalação do Colégio da Imaculada Conceição no Ceará. Na metade do século XIX, vários discursos e práticas sobre a educação feminina viraram pauta importante na imprensa e na legislação, indicando a atuação de diferentes agentes na fabricação ideal de mulher e de mãe. A partir de periódicos da época, fontes oficiais, regulamentos do Colégio, romances e livros de memória, a pesquisadora de debruçou sobre o cotidiano de meninas pobres que recebiam educação profissional e religiosa no recolhimento organizado pelas Irmãs de São Vicente de Paula.

Por fim, encerrando o conjunto de contribuições em torno do gênero e/ou da sexualidade na história e na epistemologia da Educação Profissional, encontra‐se a contribuição das pesquisadoras Ilane Ferreira Cavalcante e Sebastiana Estefana Torres Brilhante, no artigo Mulheres no ensino de Química: questões de gênero no discurso de professoras do IFRN. Inicialmente, as autoras põem em relevo as discrepâncias estatísticas entre homens e mulheres na formação superior em Química e no acesso aos cargos de docentes. Em seguida, por meio de entrevistas com professoras dessa disciplina do Instituto Federal do Rio Grande do Norte, apresentam nuances relativas à influência do gênero no desempenho de papéis sociais, na estruturação de desigualdades em relação as homens e no exercício profissional.

Com a organização e publicização do Dossiê História e epistemologia da Educação Profissional, esperamos que as pesquisas sobre Educação Profissional nas Ciências Humanas e Sociais se ampliem em duas direções: no campo epistêmico, através da mobilização de investigações sobre novos temas, objetos e problemas; no campo das parcerias acadêmicas, por meio da expansão das reflexões para além dos limites brasileiros, mobilizando pesquisadores(as) da América Latina e da Europa e fecundando a Educação Profissional e Tecnológica com outros olhares.

Desejamos uma boa leitura!

Avelino A. de Lima Neto –  Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte Programas de Pós‐Graduação em Educação Profissional (PPGEP/IFRN) e em Educação (PPGEd/UFRN). E-mail: ave.neto@hotmail.com

Julie Thomas –  Université Jean Monnet – Saint Étienne/França Centre Max Weber – UMR 5283.

Olívia Morais de Medeiros Neta –  Universidade Federal do Rio Grande do Norte Programas de Pós‐Graduação em Educação Profissional (PPGEP/IFRN) e em Educação (PPGEd/UFRN). E-mail: olivianeta@gmail.com

Organizadores (as)


LIMA NETO, Avelino A. de; THOMAS, Julie; NETA, Olívia Morais de Medeiros. Apresentação. História Revista, Goiânia- GO, v. 25, n. 2, p. 1‐6, mai/ago, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Ensino de História e Educação em Tempos de Incerteza / História em Revista / 2020

A ideia de que os brancos europeus podiam sair colonizando o resto do mundo estava sustentada na premissa de que havia uma humanidade esclarecida que precisava ir ao encontro da humanidade obscurecida, trazendo-a para essa luz incrível. Esse chamado para o seio da civilização sempre foi justificado pela noção de que existe um jeito de estar aqui na Terra, uma certa verdade, ou uma concepção de verdade, que guiou muitas das escolhas feitas em diferentes períodos da história.” (KRENAK, 2019, p. 3).

Assim como Ailton Krenak nos informa e nos questiona sobre a noção de “que existe um jeito de estar aqui na Terra”, também existe uma concepção e um jeito de ensinar, e de ensinar História, a priori, independente do tempo, dos sujeitos, dos territórios, das sociabilidades e dos pertencimentos. Essas concepções de História, de conhecimento e de verdade também são frutos da colonialidade do ser e do saber, como é posto e problematizado por Krenak.

Já se vão duas décadas do século XXI, século que nos trouxe muitas interrogações acerca da validade de nossos conhecimentos, da aceleração do tempo, concreta ou imaginária, e  que nos colocou, como nunca,  diante da obsolescência das coisas, do conhecimento e,  por que não,  da obsolescência  de em torno de três quartos da humanidade. Seres humanos que estão incluídos na sociedade capitalista e do consumo desenfreado nas franjas, nas ocupações temporárias, na catação de rebotalhos dos grandes consumidores, das elites, em sociedades marcadas pelo racismo estrutural – conceito criado pelo filósofo e jurista brasileiro Silvio Almeida (2018). Mas incluídos na engrenagem capitalista, como nos ensina Francisco de Oliveira (2008).

Esses grandes contingentes humanos, no caso do Brasil, especialmente os afro-brasileiros e indígenas, continuam a ser, continuam a resistir e continuam a se organizar, como é o caso da Central Única das Favelas, que se articulou sem a ajuda dos poderes públicos para fazer frente à pandemia da Covid 19. A população negra, as  pessoas que vivem nas periferias das cidades, os indígenas brasileiros, foram, mais uma vez, as vítimas preferenciais da pandemia e da política genocida do estado brasileiro. Um genocídio que só foi amenizado pela auto-organização dessas comunidades.

No contexto de uma sociedade profundamente desigual, desta sociedade pluriétnica, multicultural, etnocêntrica e racista, e diante da emergência de uma série de discursos negacionistas e de tentativas de controle sobre o currículo e o fazer docente, o que significa ensinar, aprender e pesquisar História na escola básica e na formação inicial de professores e professoras?

Pensando nesses desafios, o GT de Ensino de História e Educação da ANPUH/RS organizou sua XXIV Jornada de Ensino de História e Educação: “Ensino de História e Educação em Tempos de Incerteza“, realizada de 7 a 10 de outubro de 2019 na Universidade Federal da Fronteira Sul – UFFS/Erechim/RS.

A Jornada oportunizou espaços de reflexão acerca das profundas transformações e disputas no campo da educação e do Ensino de História, buscando compreender a dimensão destas mudanças e seus desdobramentos na escola, na formação docente e nas práticas educativas que professores e professoras desenvolvem cotidianamente em sala de aula.

Este conjunto de artigos que ora apresentamos são oriundos de trabalhos apresentados durante a XXIV Jornada de Ensino de História e Educação e fazem parte das reflexões e dos debates que pautaram nosso encontro.

O artigo Formação de Professores: Rompendo as fronteiras históricas sobre o fazer docente, de Shirlei Alexandra Fetter, Raquel Karpinski e Denise Regina Quaresma da Silva, trata da formação de professores e professoras no Brasil. As autoras apresentam uma breve síntese do processo histórico de formação docente, no sentido de ampliar a compreensão sobre a qual se constituiu a profissionalização dos/as professores/as, entrecruzando problemas históricos com questões que marcam o tempo presente. O artigo objetiva, assim, discutir sobre as possibilidades de formar professores/as-pesquisadores/as através da composição dialógica entre o campo docente, teórico e prático. No texto Ser professor de História em tempos de criminalização do fazer docente, Elvis Patrik Katz e Andresa Silva da Costa Mutz abordam os desafios no fazer docente de professores e professoras de História, especialmente no que se refere às tentativas de controle presentes no cenário atual, entre as quais se destacam as ações do Escola Sem Partido. Para tanto, se amparam nas discussões do campo dos Estudos Culturais e nas contribuições de Michel Foucault, no sentido de explicitar esses desafios e as estratégias de resistência que tem sido mobilizadas por professoras e professoras de História.

Este dossiê apresenta também importantes contribuições no que se refere a ensinar História em uma perspectiva antirracista. Luciana da Veigaem seu texto O ensino de história da África e da cultura afro-brasileira: os desafios de uma educação antirracista na região de Erechim, apresenta resultados de uma pesquisa que teve como objetivo compreender a representação de estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental, de 10 escolas da região do Alto Uruguai do Rio Grande do Sul, sobre pessoas negras. A autora discute o caráter dessas representações e os estereótipos reproduzidos pelos/as estudantes, evidenciando os desafios que se colocam para o cumprimento da Lei 10.639/03 e para a construção de uma educação antirracista.

Em outro artigo intitulado História da África e afro-brasileira: autonomia no ensinar e aprender, Aristeu Castilhos da Rocha também aborda as inquietações e percalços encontrados para a aplicação da Lei 10.639/2003 na Educação Básica. Amparado em uma pesquisa bibliográfica e documental e em suas vivências enquanto docente e pesquisador, o autor apresenta proposições didáticas para o estudo de Histórias da África e Afro-brasileiras a partir de um entrelaçamento do ensino de História com a Literatura, o Cinema e a Música. Deste modo, propõe caminhos para uma reconfiguração curricular e para a inserção dessas temáticas na sala de aula e nas práticas educativas.

O artigo Ensino de História Afro-Brasileira através de maquetes do LASCA-UFSM, de Valeska Garbinatto e André Luis R. Soares, trata do uso de maquetes produzidas pelo Laboratório de Arqueologia, Sociedades e Culturas das Américas – LASCA, ligado ao Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria, nas aulas de História do Colégio Estadual Elpídio Ferreira Paes, localizado em Porto Alegre. Tais maquetes, que tratam de diferentes temáticas vinculadas à história da África e dos africanos e seus descendentes no Brasil, foram apresentadas e discutidas com estudantes do Ensino Fundamental e Médio. Assim, o texto discute sobre as potencialidades do uso de maquetes enquanto uma ferramenta didática para o ensino de História e para a aplicação da Lei 10.639/03.

Saberes e valores das pessoas negras em movimento: ensinar história em coletividades emancipatórias, de Carla Beatriz Meinerz e Maurício da Silva Dorneles, aborda o ensino de História a partir de uma perspectiva experimentada nas coletividades negras agremiadas em Porto Alegre, com suporte no pressuposto curricular que estabelece uma estreita relação de aprendizagem com os saberes produzidos pelo movimento negro, regulado pelas Diretrizes para a Educação das Relações Étnico-Raciais.

No artigo Como trabalhar com a educação patrimonial produzida nos museus e em outros espaços? Uma experiência entre o Memorial da Resistência de São Paulo e o Curso Pré-Universitário Popular UP, Capão do Leão-RSMilena Rosa Araújo Ogawae Amanda Nunes Moreira discutem sobre os usos de materiais educativos produzidos por museus como ferramentas para a educação patrimonial. Para isso, apresentam um relato de experiência sobre a utilização do “Material de Apoio ao Professor” produzido pelo Memorial da Resistência de São Paulo nas aulas do Curso Pré-Universitário Popular UP. O Memorial, que está localizado nas antigas instalações do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS-SP), se constitui em um dos mais importantes espaços de preservação das memórias da resistência e da repressão ditatorial no Brasil. O texto relata então quais os materiais disponibilizados pelo Memorial e quais suas potencialidades no que se refere à educação patrimonial.

O texto Aprendizagem histórica e gênero: uma experiência com aula oficina, de Amanda Nunes Moreira, apresenta uma investigação sobre a construção da consciência histórica de alunos/as de uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública estadual, na cidade de Pelotas/RS. Esse estudo está fundamentado nas concepções dos estudos sobre Educação Histórica, Ensino de História e Consciência Histórica, utilizando como cenário para a análise a presença, ou não, do sujeito feminino em narrativas sobre a Revolução Russa.  No artigo “Não é preciso queimar sutiãs em praça pública”: o Dia Internacional da Mulher através do Jornal Pioneiro, de Rúbia Hoffmann Ribeiro e Eliana Gasparini Xerri, as autoras discutem o Dia Internacional da Mulher, a forma como a data é tratada historicamente e como é apresentada no Jornal Pioneiro, de grande circulação na serra gaúcha. O artigo está integrado ao Projeto Narrativas Presentes no Jornal Pioneiro – Caxias do Sul (HISENSPI).

Uma imagem vale mais do que mil palavras: considerações acerca do uso da fotografia no ensino da História, de Isabella Czamanski Rota, visa apresentar as mudanças ocorridas na maneira de se entender o conhecimento histórico e como isto afeta a maneira que a História pode ser ensinada em sala de aula, com foco no uso da fotografia e suas possibilidades no ensino de acontecimentos dos últimos dois séculos, bem como nas mudanças ocorridas na paisagem urbana, nas relações sociais e quaisquer outras informações que os/as historiadores/as sejam capazes de ler a partir das fotografias.

Esperamos que a leitura dos artigos traga novas interrogações e que também contenha uma potência transformadora. Ensinar História em tempos de incerteza requer comprometimento com o/a outro/a, com as gerações em formação. Ensinar História em tempos de incerteza solicita uma pequena pausa para reflexão; olhar para nós mesmos, para os fundamentos teóricos e epistemológicos que acreditamos, revisitar as nossas posturas políticas, nossas perspectivas de futuro, a nossa relação com a docência, para mais uma vez, planejarmos as nossas aulas. E ter consciência que a ação docente é um ato político, um exercício que contribui para a formação das pessoas, da cidadania, da humanidade; é semear esperanças no chão das salas de aula.

Pelotas, Primavera de 2020.

Referências

ALMEIDA, Silvio. O que é racismo estrutural. Belo Horizonte: Letramento, 2018.

OLIVEIRA, Francisco. Ornitorrinco: Será esse um objeto de desejo? Entrevista Café Filosófico, TV Cultura. 2008.

KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

Sirlei Teresinha Gedoz

Halferd Carlos Ribeiro Junior

Alessandra Gasoarotto

(Organizadores)


GEDOZ, Sirlei Teresinha; RIBEIRO JUNIOR, Halferd Carlos; GASOAROTTO, Alessandra. [ Ensino de História e Educação em Tempos de Incerteza]. História em Revista, Pelotas- RS, v.25, n.2, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Histórias da educação institucionalizada dos corpos / History of Education in Latin America / 2020

Historizar no significa apenas mirar el pasado, sino observar e interpretar las huellas transitadas. Con esa afirmación como telón de fondo, pensar una historia en particular cobra especial significación cuando se percibe que es posible interpelarla desde distintas aristas, y que todas ellas arrojan elementos para comprender sus singularidades y recurrencias. La historia de la educación institucionalizada de los cuerpos, como es el objeto de este dossier temático, es un buen ejemplo de ello: entre los distintos análisis que cada artículo desarrolla se tejen relatos comunes, puntos de conexión, discursos análogos o interrelacionados. Esto es, son investigaciones que abordan sucesos de Argentina, Brasil, Colombia y Uruguay, aunque de ninguna manera sus significaciones pueden restringirse a estos contextos. Leia Mais

Hayden White: apropiaciones actuales/Historia y Grafía/2020

Este expediente es en memoria de Hayden V. White, quien falleció del 5 de marzo de 2018, a los 89 años. Autor importante en más de un sentido para la reflexión historiográfica, colaborador en varios números de esta revista y persona querida y respetada en el Departamento de Historia de la Universidad Iberoamericana, al cual asistió en diversas ocasiones, en 1998 y 2008. Ésta es sólo una pequeña muestra de reconocimiento por parte de algunos de los miembros cercanos de la revista, si bien hay más integrantes del grupo nuclear de Historia y Grafía –Alfonso Mendiola, Ilán Semo, Luis Vergara– que han estado por años siguiendo personal o escriturísticamente la producción del profesor White. Leia Mais

Um porto no capitalismo global: desvendando a acumulação entrelaçada no Rio de Janeiro | Guilherme Leite Gonçalves, Sérgio Costa

Durante a administração de Eduardo Paes como prefeito do Rio de Janeiro (2009-2016), a prefeitura empreendeu um ambicioso projeto de revitalização da Zona Portuária da cidade, realizado sob a midiática alcunha de Porto Maravilha. O projeto consistiu na implantação de uma nova rede de infraestrutura viária e de serviços, que tinha por objetivo lançar a região como novo polo empresarial, fomentando ali um processo de adensamento demográfico e verticalização. Para tanto, em um gesto polêmico que suscitou um acalorado debate público, foi demolido o Elevado da Perimetral, que margeava o Cais do Porto e a região do Centro. A demolição foi apresentada como a obra-chave para a revitalização urbana proposta e, justamente na faixa de terrenos liberada com a remoção do elevado, foram construídos os espaços e equipamentos públicos que se transformariam nos principais símbolos da operação Porto Maravilha. Leia Mais

Entrecruzamientos del tiempo/Historia y Grafía/2020

Este expediente da un salto del siglo XVI al XVIII. La periodización clásica de la historia nos diría que se trata de la primera modernidad. Pero los lectores verán que los ensayos nos demuestran que hay niveles evolutivos diferentes en cada periodo. No toda la sociedad evoluciona al mismo ritmo. Hay marcos de acción y representación que prevalecen más allá de lo que las periodizaciones nos dicen. Ya Le Goff nos hablaba de una larga Edad Media. Hoy diríamos que las rupturas o continuidades dependen del estrato de la sociedad que se estudia. En un mismo siglo se viven distintas épocas. Si la historiografía de los setenta insistió en las rupturas, la de los sesenta resaltó las continuidades. Me gustaría que los lectores vieran, en la lectura de este expediente, que las nociones de ruptura o continuidad, con respecto a la historia, no son realidades en sí. Afirmar una o la otra depende del tema que cada investigación problematiza. No hay rupturas ni continuidades, lo que hay son preguntas. Leia Mais

Historia y Turismo: una perspectiva rio-platense | Claves – Revista de Historia | 2020

Escribir historias del turismo es todavía una práctica bastante desconocida en el escenario latinoamericano. El interés de los historiadores por estas problemáticas es relativamente reciente y, por tanto, su conocimiento resulta incipiente. No obstante, en las últimas dos décadas es factible admitir un cambio de rumbo, en una agenda de la nueva historiografía que excede los grandes relatos anclados en causalidades políticas y económicas, sino en procesos sociales y culturales sustentados en las problemáticas que hacen a la historia de la vida privada, del consumo, de los imaginarios y las emociones vinculadas al ocio, el tiempo libre y las prácticas culturales. Sin desatender aquellos que refieren a las políticas públicas y los ejercicios de la sociedad civil con su multiplicidad de actores, en espacios diversos —los tradicionales y los emergentes— alterados o no por el turismo como actividad, fenómeno o práctica social, en la producción latinoamericana.

En ese sentido, el dossier pretende contribuir al conocimiento de estos nuevos estudios turísticos representativos del, como decimos, un campo historiográfico todavía en construcción: la historia del turismo.1 La emergência del turismo en Latinoamérica a principios del siglo XX formó parte de un complejo proceso de transformaciones sociales y económicas que implicó la difusión de nuevas prácticas, discursos y representaciones, también en los territorios a ambas márgenes del Río de la Plata. Leia Mais

O racismo e o negro no Brasil: questões para a psicanálise | Noemi Kon, Maria Lucia da Silva, Cristiane Abdul

“Já que é preciso, de qualquer modo, não lhes pintar unicamente um futuro cor-de-rosa, saibam que o que vem aumentando, o que ainda não viu suas últimas consequências e que, por sua vez, se enraíza no corpo, na fraternidade do corpo, é o racismo. Vocês ainda não ouviram a última palavra a respeito dele”.1 Com essas palavras que hoje assumem ares proféticos, o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981) terminava um dos seus seminários em 1972. Leia Mais

Os mundos do trabalho e suas interfaces com a ciência, a saúde e a doença | Mundos do Trabalho | 2020

Vivemos um presente distópico, de pandemia e mudança repentina de hábitos, paradigmas, maneiras de compreender a realidade e lidar com suas consequências em nossa vida cotidiana. Uma realidade que foi pincelada, de maneira mais ou menos próxima ao que vivenciamos, por autores de ficção do século passado. O historiador Sidney Chalhoub se referiu ao momento que enfrentamos neste ano de 2020, com a pandemia da covid-19, como uma distopia neoliberal. Uma doença desconhecida, um vírus novo, e em poucos meses o mundo inteiro parou – e se trancou em casa. Ao menos quem pode. A pandemia obrigou os mercados a reduzir sua atividade, forçou o isolamento, encerrando viagens locais e internacionais, fechando fronteiras, na contramão da defesa exagerada do consumo e das propostas de um neoliberalismo privatista de extrema direita que se instalou em grande parte do mundo neste começo de século. A tão ovacionada globalização que, como descreveu Frederick Cooper, é sempre invocada para incentivar os países ricos a diminuir o Estado social e os países pobres a reduzir as despesas sociais, sofreu um forte abalo com a covid-19.1 Mais do que nunca, ficou explícita a importância de um sistema de saúde público e eficiente, de um Estado consistente que centralize a organização de todas as forças possíveis para salvar vidas. Leia Mais

Educação Museal | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020

Em 2018 celebraram-se os sessenta anos da realização do Seminário Regional da Unesco sobre a função educativa dos museus, sediado no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, em setembro de 1958. O evento e o seu relatório [1] produzido por Georges Henry Rivière representam um marco internacional para a educação museal, que mereceu ser destacado em seu sexagésimo aniversário, especialmente por manter-se ainda atual.

Por sugestão da Rede de Educadores em Museus e Centros Culturais do Rio de Janeiro (REM-RJ), que comemorou seus quinze anos de fundação, esse tema pautou a realização de dois seminários em uma parceria que envolveu a REM-RJ, o Museu Histórico Nacional e o Museu da República. Sendo parte das atividades da 12a Primavera dos Museus, as celebrações começaram com o seminário A Função Educacional dos Museus 60 anos depois, realizado no Museu da República, no Museu Imperial, no Museu de Arte Moderna, no Museu das Remoções e no Museu Histórico Nacional, incluindo mesas redondas, conferências e visitas técnicas, entre os dias 18 e 21 de setembro de 2018. Leia Mais

Do Rio para o mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete) | Anais do Museu Histórico Nacional | 2020

No intuito de realizar um encontro de pesquisadores interessados na história do café no Segundo Reinado, o Polo de Pesquisas Luso-Brasileiras (PPLB), vinculado ao Centro de Estudos do Real Gabinete Português de Leitura, promoveu nos dias 12 e 13 de setembro de 2019, o seminário Do Rio para o mundo: na rota do café (com escala no Real Gabinete).

O Real Gabinete Português de Leitura conserva importante acervo documental relativo às exposições nacionais e internacionais de café organizadas pelo Centro da Lavoura e Comércio (1881-1884), sediado no Rio de Janeiro. O centro era uma associação não-governamental, considerada o principal elo entre os cafeicultores brasileiros e os consumidores internacionais. Tal acervo pode ser explicado pelo fato de os comerciantes portugueses Eduardo Lemos e Joaquim Ramalho Ortigão terem sido membros fundadores do Centro da Lavoura e Comércio e, ao mesmo tempo, presidentes do Real Gabinete Português de Leitura. Ambos foram, também, responsáveis pela construção do atual prédio desta biblioteca, cujo teto traz em relevo ramos de café. Dentre as obras relativas à história do café no Brasil cabe destacar os Relatórios da primeira e segunda exposição de café (1881-1882), publicados pelo referido centro, bem como o Catálogo da Exposição de Amsterdã (1883), de autoria de Eduardo Lemos, e que serviu de modelo para Paranhos Júnior, futuro Barão do Rio Branco, quando da exposição de café, em São Petersburgo. Leia Mais

Trabalhadores de construção: por estradas, ferrovias, açudes e outras obras | Mundos do Trabalho | 2020

De fato, como podia

um operário em construção

compreender por que um tijolo

valia mais do que um pão?1

Em várias partes do mundo, ao longo do tempo, grandiosas obras e empreendimentos desafiaram a capacidade humana, exigiram vultosos materiais e recursos e, sobretudo, demandaram o recrutamento de extensa força de trabalho. As construções de estradas, ferrovias, linhas telegráficas, canais, açudes, portos e usinas compõem algumas dessas expressões de engenhosas intervenções humanas, e se constituiu a base do desenvolvimento e dos processos de modernização econômica da maioria dos países, promovendo sensíveis impactos sociais e ambientais.

É comum que as cerimônias de lançamento e de inaugurações dessas grandes obras e empreendimentos sejam marcadas por pomposas celebrações festivas, com o objetivo de construir uma narrativa oficial em reconhecimento da importância e do prestígio de empresários, de engenheiros, das autoridades e dos governantes, reservando ao esquecimento e à invisibilidade personagens fundamentais: a classe trabalhadora. Leia Mais

Ganhadores: a greve negra de 1857 na Bahia | João José Reis

O autor João J. Reis em seu livro, Ganhadores: A greve negra de 1857 na Bahia, apresenta-nos um retrato social dos chamados “ganhadores”, que ocuparam as ruas de Salvador ao longo do século XIX. A greve de ganhadores ocorreu em Salvador, no ano de 1857, e com ampla mobilização social da categoria colapsou o funcionamento da cidade. Em uma leitura fluída, agradável e densa as páginas conduzem para o dia a dia da lida desses trabalhadores africanos empregados ao ganho em Salvador na década de 1850. A maioria deles era composta por homens africanos nagôs, libertos ou escravizados, empregados ao ganho, responsáveis, principalmente, por carregar pessoas e mercadorias entre as ruas enladeiradas da capital baiana. Como indica o autor, “esse livro busca descrever e entender o que foi o primeiro movimento grevista envolvendo todo um setor sensível da classe trabalhadora urbana no Brasil, trabalhadores responsáveis pelo transporte, por toda cidade, de pessoas livres de vária ordem e objetos de todo tipo.” (p.17). Leia Mais

Ominíbú – maternidade negra em Um defeito de cor | Fabiana Carneiro da Silva

Um projeto de nação só é legítimo se reconhece todos os elementos que historicamente constituem os elos que formam aquilo que se pode compreender como povo. Essa é uma premissa ainda distante da realidade – especialmente no caso brasileiro –, onde a democracia é solapada por projetos obscurantistas, engendrados por falsos messias e apoiados por expressiva massa obnubilada por fake news, engenhosamente a serviço de quem sempre esteve em posição de mando. Leia Mais

Inhuman Traffick: The International Struggle against the Atlantic Slave Trade: A Graphic History – BLAUFAB; CLARKE (TH-JM)

CLARKE Liz Informal learning
Liz Clarke Foto: NewHouseSports /

BLAUFAB e CLARKE Inhuman Traffick Informal learningFueled by the success of Trevor Getz’s award-winning Abina and the Important Men, Oxford University Press has signaled its commitment to the genre of “graphic history” by publishing six works in the series bearing that name. In Inhuman Traffick, the eminent French revolutionary and Atlantic historian, Rafe Blaufarb, teamed with the talented illustrator, Liz Clarke, to produce a remarkable example of how graphic history can engage students by combining the undeniable power of images as a form of storytelling with traditional components of a valuable pedagogical tool.

Inhuman Traffick revolves around the Neirsée incident in 1828-29, a complex tale hitherto unknown before Blaufarb’s skillful archival research. A slaving vessel of indeterminate nationality, the Neirsée was captured off the African coast as part of the British Navy’s suppression of the Atlantic slave trade. After retaking the ship, slavers sailed it to the Caribbean islands where they released Europeans at British Dominica and sold African passengers into slavery at French Guadeloupe. Because the latter group included not only the 280 survivors among the 309 original slaves but also several African Krumen (Royal Navy personnel) and Sierra Leoneans (British subjects), authorities in the UK demanded from French officials the freedom of its British African subjects. In return, the French objected to both British violation of French territory on Guadeloupe and the original confiscation of the Neirsée, which (falsely) flew under the French flag and was theoretically off limits to searches by British warships. Thus, the Neirsée incident precipitated a diplomatic imbroglio in 1829. Leia Mais

Forty Autumns: A Family’s Story of Courage and Survival on Both Sides of the Berlin Wall – WILNER (TH-JM)

WILNER, Nina. Forty Autumns: A Family’s Story of Courage and Survival on Both Sides of the Berlin Wall. New York: HarperCollins, 2016. 391p. Resenha de: SHIELDS, Trevor. Teaching History – A Journal of Methods, v.45, n.2, p.55-57, 2020.

On June 26, 1963, President John F. Kennedy, on a visit to West Berlin, eloquently lamented, “The [Berlin] Wall is…an offense not only against history but an offense against humanity, separating families, dividing husbands and wives and brothers and sisters, and dividing a people who wish to join together.” All too often, the humanity of those impacted by the events of the Cold War gets lost in the background of the larger narrative of communism versus democracy—the Soviet Union versus the United States. Nina Willner’s work, Forty Autumns: A Family’s Story of Courage and Survival on Both Sides of the Berlin Wall (2016), successfully and vividly injects much needed humanity into the Cold War.

Written as primarily a family memoir, Forty Autumns tells the story of just one of the families divided by the Berlin Wall. Willner’s book chronicles the life of her mother, Hanna, and grandparents, Erna and Karl (Willner regularly only refers to Erna and Karl as Oma and Opa, or Grandma and Grandpa.) The book, which is divided into roughly four sections, begins with several maps of Europe during the Cold War. From there, one of the greatest features of the book appears, a family and historical chronology as Willner pairs the events of the Cold War physically right alongside their impact on her family. Seeing the history of the Cold War linked to the impacts of particular historical events on real people makes the vivid narrative of Forty Autumns difficult to put down. In 1946 the Soviets occupied East Germany and imposed Soviet law. That same year, Opa, who fought for the Germans during WWII, was forced to begin teaching Soviet doctrine to his many students in East Germany.

The Cold War had more physically terrifying consequences on the people of East Germany than being forced to learn and love communism. Not wanting to take any chances of people inciting dissent, many East Germans were thrown into prison with little idea why they had been arrested. The Hoheneck Castle, which was known around the world for its Gothic and Renaissance architecture, was converted to house women. In eloquent yet terrifying prose, Willner paints the picture: “There, skin to skin, in total darkness, with no room to sit, they were made to stand in knee-deep freezing water for days on end in dank, poorly ventilated chambers until they simply passed out” (72). The inhumanity of what happened at Hoheneck Castle, although known to historians, is often missing from more traditional narratives. Since Forty Autumns was written in such an accessible way, more people today will understand the realities of life behind the Iron Curtain.

Willner’s book could be used in the classroom in a variety of ways. The most obvious, though, would be to use the story of her family to both introduce and to potentially teach the entirety of the Cold War. This would be particularly doable since Willner interjected the major events of the Cold War throughout the many pages of Forty Autumns. On the family level, for example, East German authorities harassed Opa at the same time the Warsaw Pact was being formed and dissent was being silenced. Forty Autumns definitely brings to life the impact of many Cold War developments on both individuals and Germany as a whole.

While not all of Millner’s family lived to see Germany reunified in 1990, all the individuals discussed helped make true a few of President Ronald Reagan’s words: “What is right will always triumph” (324). Although much of Forty Autumns detailed the horrors of life under communism in East Germany, it ended on a positive note, with Willner’s extended family reuniting in a united Germany in 2013. Anyone interested in learning more about the Cold War or about one family’s brave attempt at enduring the unthinkable should give Forty Autumns a read. Beyond that, in a more contemporary moment where construction of a wall is regularly discussed as a way to make life better for so many, the history within Forty Autumns should be seen as a foreboding tale.

Trevor Shields – Minooka High School.

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Beyond Freedom: Disrupting the History of Emancipation – BLIGHT; DOWNS (TH-JM)

BLIGHT, David W.; DOWNS, Jim. eds. Beyond Freedom: Disrupting the History of Emancipation. Athens, GA: The University of Georgia Press, 2017. 190p. Resenha de: GIFFORD, Ron. Teaching History – A Journal of Methods, v.45, n.2, p.57-60, 2020.

Students of Emancipation need no better reason to pick up Beyond Freedom than it emerged from a 2011 conference held at the Gilder-Lehrman Center for the Study of Slavery, Resistance, and Abolition, of which David Blight is now the director, and has chapters by a veritable who’s who in Emancipation Studies. It is also a thoughtful reminder that historians are continually grappling with what freedom was in the nineteenth century, who defined it, and whether it was enough to make a difference in African Americans’ lives.

The title might seem misleading to many readers, as the book is entirely about emancipation; however, the subtitle clarifies that historians are trying to disrupt the “freedom paradigm,” which focused on freedom in zero sum fashion, by emphasizing the painful process of emancipation, and in the process abandoning the traditional periodization and adopting different lenses to analyze the citizen’s relationship to the state. In sum, the authors remind us, emancipation was messy, it was never preordained to end in perfect freedom, and Black voices, freed and enslaved, still offer the best avenue to revise our understanding of emancipation, its promises, and its limits.

The collection is organized in three parts, though one could argue there should only be two: those pieces written in a traditional academic format and those written as ruminations on how historians have failed to adequately interrogate the sources, at best, or have ignored or misused the terror and suffering Black people faced in the nineteenth century. Parts one and two, “From Slavery to Freedom” and “The Politics of Freedom,” take the more traditional approach and emphasize a process of emancipation that was not restricted to the period following the Civil War and was anything but progressive. According to Richard Newman, Black emancipation and responses to it during Reconstruction took place in the wake of earlier emancipations, in and beyond the United States. As a result, Black and White Americans alike were familiar with the “grammar” of emancipation and understood this was not a story with a preordained conclusion. As a result, we need to apply different lenses that challenge the when, where, and how emancipation happened. More importantly, we need to recognize Black people—enslaved and free, male or female, adult or child—as “fully realized political people” (27). If we do so, a more complex and less celebratory portrait of emancipation emerges. Part three, “Meditations on the Meaning of Freedom,” deviates from the traditional format, possibly to avoid the lack of “human touch” that may characterize for laymen the problems with academia, but is a welcome glimpse into historians reflecting upon their craft and taking seriously Susan O’Donovan’s claim, “if [B]lack lives matter today, then so should the whole of the [B]lack past”(29). As a result, readers will find greater attention paid to the circumstances and actions of African Americans, specifically women and children, and the political nature of their torture, suffering, and grief.

In general, Beyond Freedom, will be a valuable tool for faculty and graduate students interested in a refresher concerning the state of the conversation concerning emancipation. The books the contributors have produced in the last decade constitute an essential reading list for scholars of the period. At the undergraduate level, this volume would be a good edition to a seminar, in which students fashion independent theses within the context of a larger conversation, employ primary sources in some fashion, and question the epistemological problems associated with a vague concept like freedom. Jim Downs’s focus on “the Ontology of the Freedmen’s Bureau Records” is an apt reminder that sometimes the “records [and historians] assign a particular narrative logic to a process that lacks order and efficiency,” and, as a result, “What freedom meant to freed people has only been partially told” (175). Even in that context, however, the volume will require a skilled teacher, already familiar with the existing historiography, to make sense of it for students. If there is any criticism, it might be the omission of any focus on emancipation beyond the United States, except in the preface by Foner.

As historians come to grips with the suffering, abuse, and terror Blacks faced, emancipation, as Thavolia Glymph notes, has the potential to “break your heart” (132), but this collection may also give students the hope that by abandoning the traditional periodization or models we so often rely upon and pa

Ron Gifford – Illinois State University.

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The Second Line of Defense: American Women and World War I – DUMENIL (TH-JM)

DUMENIL, Lynn. The Second Line of Defense: American Women and World War I. Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 2017. 360p. Resenha de: SCREWS, Raymond D. Teaching History – A Journal of Methods, v.45, n.2, p.60-62, 2020.

When considering American women’s role during a large twentieth century war, many do not think of the First World War. Outside of the Red Cross or the YWCA, the story many of us learned about the Great War does not include women. We do not have that powerful image of Rosie the Riveter of World War II to connect us to the strong woman of World War I. But Lynn Dumenil closes that gap of knowledge in her outstanding book, The Second Line of Defense: American Women and World War I.

Dumenil is careful not to use “American Women in World War I,” (emphasis mine) in the subtitle because she covers so much more than American women in the war. For example, she effectively weaves the women’s suffrage movement into the larger context of the story. Women’s involvement in the war effort was not only beneficial to a country at war, but also impeccably important to women’s suffrage and women’s rights in general, and the image of women in America less than two decades removed from the end of the nineteenth century. Dumenil is masterful in her coverage of the suffrage movement and the Great War in the first chapter. So this book is so much more than a study about American women working in the war industry, although that is a crucial element as well.

In a general sense, Dumenil succeeds in addressing the social and political climate of a century ago in the United States with war as a backdrop while also in the forefront, and how women.

were both plagued by American gender norms in the late teens, and how women shaped the country during a difficult time for them. But she is especially sharp in her coverage of African American women during World War I throughout The Second Line of Defense. Of course, African American women had to fight harder than white women, and organizations such as the YWCA, and the National American Woman Suffrage Association, among many others, discriminated against them. Overall, White women were just as prejudiced against African Americans as White men.

The book covers women’s issues, roles, and the war domestically and in Europe. Dumenil also includes the wonderful chapter, “Visual Representations of Women in Popular Culture,” in which she evaluates war posters and the cinema. The book’s epilogue places women’s gains during the war years into the larger context of the 1920s. There is most assuredly something missing, but it does not feel that way. If there is one criticism, it is that Dumenil includes too much. But that is also the book’s strength. She embraces several areas of a complex topic encompassing a number of organizations, characters, and issues, while effortlessly meshing them into a singular story.

Dumenil’s research is broad and inclusive, with many vital primary sources cited including papers from the organizations covered in the book. She also lists a plethora of secondary sources in the bibliography. Those teaching undergraduate and graduate students should find The Second Line of Defense valuable in class, including survey courses. In introductory courses, the book can be used as a valuable tool to explain women’s roles in war, instead of the more traditional World War II studies. But it can also be utilized in American history classes from freshman courses to graduate seminars so students gain a deeper understanding of the women’s suffrage movement during the touchy and sensitive years of the First World War. And, of course, it is valuable as a study about American society during the first twenty years of the twentieth century and how women challenged the status quo in the era of the Great War.

The Second Line of Defense adds to the library of an outstanding scholar, in which she introduces new insights from her impressive use of primary and secondary sources. But it is much more that. Dumenil provides an enriched understanding of what might be considered the beginning of the modern women’s movement. That can be debated, but there is little doubt, as Dumenil so keenly illustrates, that American women during the First World War played a richly crucial role in the war effort and utilized their role to gain the constitutional right to vote.

Raymond D. Screws – Arkansas National Guard Museum.

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They Called Us Enemy – TAKEI (TH-JM)

TAKEI, George et al. They Called Us Enemy. Marietta, GA: Top Shelf Productions, 2019. 205p. Resenha de: HUGHES, Richard. Teaching History – A Journal of Methods, v.45, n.2, p.62-65, 2020.

In 1946, Miné Okubo, a Japanese American from California who spent much of World War II in the Topaz Relocation Center, an internment camp in Utah, published Citizen 13660. An accomplished artist, Okubo included almost 200 black line drawings in her memoir which she described as a rare glimpse of daily life inside an internment camp. Citizen 13660 debuted just 12 months after Japan’s surrender and, while many American readers may not have been ready to face the disturbing realities of American wartime decisions, the book review in the New York Times described the memoir as an “objective and vivid” account of the impact of “hysteria that finally led the Federal Government into acceptance of racial discrimination as an instrument of national policy.”

George Takei, most well-known as an actor on the television show Star Trek, was only four years old when Japan attacked Pearl Harbor. Seventy-eight years later, Takei, along with Justin Eisinger, Steven Scott, and artist Harmony Becker, provides a comparable visual memoir to Citizen 13660 in the form of a powerful graphic novel entitled, They Called Us Enemy. While Takei struggled as a young man to find any information about Japanese internment in his formal education, much has changed since Okubo’s memoir. The last fifty years have included a growing historiography on internment, the creation of the Japanese American museum in Los Angeles, and the inclusion of the history of Japanese Americans during the war in textbooks, content standards, documentary films, art exhibits, and even children’s literature. In 1988 the same federal government that enforced Executive Order 9066 in 1942 formally apologized for the internment camps through the Civil Liberties Act which included minimal restitution to surviving victims such as Okubo and Takei.

Despite the age of its author during the war, They Called Us Enemy provides a surprisingly comprehensive account of the experiences of Japanese Americans during the period. Takei’s father was an Issei, born in Japan before immigrating to California, while his mother was a Kibei, a Japanese American born in the United States but, in part due to the realities of racial discrimination in California at the time, educated in Japan. Born in Los Angeles, George and his younger brother and most individuals sent to camps were Nisei and therefore American citizens. Takei’s accessible family history takes the reader from life in Los Angeles in the 1930s, a feature often missing from wartime narratives, to temporary housing at a makeshift assembly center at the Santa Anita racetrack, where George started first grade in 1942. After a long train ride across the West that thrilled the children while their parents and other adults remained terrified, the Takei family arrived in Camp Rowher in Arkansas only to return to California in 1944 as inmates at the Tule Lake War Relocation Center. Along the way Takei illustrates some of the period’s unique cultural conflicts through families who faced additional challenges because family members taught Japanese language or served as a Buddhist minister.

Two specific aspects of They Called Us Enemy are especially valuable to students in understanding how Japanese Americans navigated the dangers and unknowns of war, race, and persecution. First, George’s parents were labeled “No-Nos” in 1944 because they refused to volunteer for U.S. military service or to renounce any allegiance to the Japanese emperor. This decision led to the family’s forced reassignment to Tule Lake in northern California and a community that included an array of political positions ranging from principled nonviolent resistance in the face of American hypocrisy to the dramatic role of protesters, some of whom completely rejected the United States and Takei describes as “radicals.” Fearful of postwar violence, George’s mother even renounced her American citizenship in the hope of keeping the family relatively safe in the camps and, after deportations started, joined other internment survivors in successfully reversing the decision and reclaiming their American citizenship. All of these and other features of the graphic novel provide students with a more diverse portrait of the many ways Japanese Americans navigated the period.

Second, not unlike Art Spiegelman’s groundbreaking graphic novel Maus which explored the history and legacy of the Holocaust, Takei’s family history sheds light on enduring generational conflicts within Japanese American communities. In contrast to many histories that focus exclusively on the war years, Takei’s narrative, not unlike the documentary film Rabbit in the Moon (1999), includes important later discussions between George and his father as the family attempts to deal with the trauma of internment. George’s father dealt with personal guilt over his relative passivity during the ordeal while George used his formative experiences to shape a larger activism that included sharing the stage with Reverend Martin Luther King, Jr. at a civil rights rally in 1961. George and his family’s struggles with cultural assimilation, identity, and social change in the years after 1945 provide an accessible complement to both Citizen 13660 and many of the issues raised in Greg Robinson’s After Camp: Portrait in Midcentury Japanese American Life and Politics (2012).

Of course, Takei’s memoir is incapable of addressing all the issues that have emerged in the historiography. There is no hint of the important political discussions from California to Washington, D.C. between Pearl Harbor and February 1942, nor does Takei address the significant political divisions associated with the Japanese American Citizens League. Although the graphic novel includes brief references to historic documents such as Executive Order 9066, evacuation posters from California, and the controversial loyalty oath in 1944, failing to fully include these seminal primary sources in the book is a lost opportunity for students and teachers. Elsewhere, readers may find themselves wishing for more historical context in such as areas as the larger history of conscientious objectors or, because They Called Us Enemy includes an intriguing image of African Americans sitting near the railroad tracks in Arkansas, a broader discussion of internment and race that includes the Jim Crow South. Regardless, They Called Us Enemy succeeds in providing a compelling graphic narrative of life in the internment camps and the ongoing journey, of both Takei and his nation, to make sense of the complex intersection of race, public policy, and historical memory.

Richard Hughes – Illinois State University.

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Why Learn History (When It’s Already on Your Phone) – WINEBURG (TH-JM)

WINEBURG, Sam. Why Learn History (When It’s Already on Your Phone). Chicago: The University of Chicago Press. 2018. 241p. Resenha de: FISCHER, Fritz. Teaching History – A Journal of Methods, v.45, n.2, p.50-52, 2020.

In discussing the role of his most recent project in history education, Sam Wineburg insists “nor can I say as we approach six million downloads that our work has ‘changed the field”(137). All of us who teach and research in the field of history education would beg to differ. Wineburg’s seminal work on historical thinking over the past three decades has changed how we think about teaching history. Over his lengthy and productive career, Professor Wineburg has changed the field, and for the better.

His most recent book, Why Learn History (When It’s Already on your Phone), provides a “greatest hits” examination of his work. Some chapters rework his previous writings, while others move into new territory. Such an organizational choice results in a choppy structure. While many chapters illustrate Wineburg’s insights, others ironically reflect his weakness as an historian. Despite its flaws, the book provides important new insights in the field of history education.

Wineburg’s discussions of his most recent projects at Stanford are informative and fascinating. He provides thought-provoking ruminations on the valuable websites, “Reading Like a Historian” and “Beyond the Bubble.” His mind-bending analysis of the differences between science and history education posits that the past, unlike science, “bequeaths jagged fragments that thwart most attempts to form a complete picture.” He concludes that “parsimony in historical explanation often flirts with superficial reductionism”(109). Such articulate nuggets, sprinkled throughout Why Learn History, force the reader to put the book down for valuable self-reflection.

Wineburg is at his best when providing windows into new thoughts on teaching and learning in history. One example comes in Wineburg’s examination of newly popular quick-fix courses in media literacy as the antidote to “fake news.” Arguing that such courses are insufficient, Wineburg insists on “a fundamental reorientation of the curriculum.” He then poses a number of brilliant and provocative questions, concluding that if we are to avoid the victory of tyranny, students must have a deep understanding of how to ask and answer historical questions (158). The book’s biggest strength is Wineburg’s ability to push the envelope regarding the purposes and methods of teaching history in the K-12 curriculum.

However, in this book Wineburg acts as a historian and at times falls short. The early chapters recount a variety of battles over history education in the past 30 years, battles in which Wineburg himself has been a consistent historical actor. In discussing the testing and standards movement, Wineburg recounts many of his earlier criticisms to great effect. In his chapter, “Committing Zinns,” Wineburg rightly criticizes Howard Zinn for lack of context, ahistorical cherry picking, and asking “yes-type” questions. My book, The Memory Hole: The U.S. History Curriculum Under Siege (2013), criticizes Zinn for the same failings.

Yet in other chapters Wineburg returns to earlier topics but fails to live up to his own standards. Wineburg commits his own “Zinn” in the chapter on the Teaching American History (TAH) professional development program. Wineburg begins with the supposition that the TAH program failed—a view reflecting his initial opposition to the program due to its political roots in outdated dogmas about learning history. He concludes with the argument that the program had “no national impact” (47).

The formal assessment programs for TAH were a disaster, and some of the programs failed. But Wineburg’s outline is incomplete and inaccurate. In fact, many of the programs moved far beyond the “sit and get” model of historical content knowledge he criticizes. I participated in more than two dozen professional development workshops for the National Council for History Education (NCHE) that went far beyond “putting the knowledge into the heads of teachers who would in turn pour it in the heads of students”(37). Teachers were not typically “left alone to work amongst themselves” (44). They engaged in multiple discussions and interactive activities—often based on Wineburg’s own work. These programs changed the way they taught and the way their students learned. Wineburg knows about these very programs— he was on the Board of NCHE—but neglects to discuss them. Wineburg ignores too much and asks too many “yes-type questions” that support his conclusion that the program was an utter failure.

Wineburg also fails to explore the TAH program’s impact on professional development goals in history education. He rightly commends the work of a committee convened by the American Historical Association in 2002 that crafted the “Benchmarks for Professional Development in History Education“ (48), but does not consider that those who wrote that document (myself included) drew ideas from work in the TAH program.

We also owed our ideas to the work Sam Wineburg. Uneven as it may be, this book provides an invaluable reminder of the value of historical thinking and of the ways in which this thinking might help students navigate a challenging civic landscape. In the end, Wineburg’s work always forces the reader to think and reflect on how to improve the teaching and learning of history. In a world where so much that is written on education is not helpful to teachers, his insights make this book a valuable read.

Fritz Fischer – University of Northern Colorado.

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Citizenship/inequality and difference: Historical perspectives | Frederick Cooper

Publicado em 2018 pela Princeton University Press, Citizenship, Inequality and Difference, de Frederick Cooper, torna-se um importante ensaio para refletirmos a respeito da constituição e implantação da cidadania em diferentes temporalidades, contextos e espaços. Professor da University of New York e especialista em “colonialização”, “descolonialização” e História africana, Cooper parte da crise humanitária imigratória contemporânea, resultado do colapso dos impérios na África e na Ásia, para fazer a necessária constatação de que cidadania não é sinônimo de igualdade, nem de justiça. O livro está estruturado em três capítulos: “Imperial citizenship from the Roman Republic to the Edict of Caracalla”, “Citizenship and Empire – Europe and beyond” e “Empires, nations and citizenship in the twentieth”, além de Introdução e Conclusão. Leia Mais

Bahia: escravidão/pós-abolição e comunidades quilombolas – estudos interdisciplinares | Maria Fátima Novaes Pires, Napoliana Pereira Santana, Paulo Henrique Duque Santos

Organizar uma coletânea com vários/ as autores/as não é tarefa fácil no meio acadêmico. Exigirá, no mínimo, lidar com os diferentes tempos de produção dos textos, leitura dos originais, às vezes sugerir cortes, acréscimos, revisões para enquadrá-los nos padrões acadêmicos e no limite de páginas estabelecido. Juntas as partes para compor o todo, é a vez da burocracia editorial. Passada a fase de produção é a hora de lançar a obra. Organizadores/as e autores/as esperam boa recepção das suas contribuições, especialmente entre os pares, ávidos por encontrar no novo livro informações valiosas para suas pesquisas e novas interpretações sobre temas já discutidos. Leia Mais

Gilberto Freyre e o Estado Novo: região/nação e modernidade | Gustavo Mesquita

O trabalho de Gustavo Mesquita2 pode ser entendido como uma busca pelo vocabulário político de uma determinada época. Sua narrativa está alicerçada na perspectiva interdisciplinar da História Social ligada à História dos Conceitos, e sua pesquisa situa-se na oposição da abordagem intelectualista e internalista, recorrendo às categorias elementares da Sociologia para concluir acerca do objeto delimitado, a saber: “intelligentsia”, “ideias sociológicas”, “uso político das ideias”, “negociação de interesses”, etc. (MESQUITA, 2018: 20). Ele tenta afastar-se da tradição de história intelectual inaugurada por Arhur Lovejoy (1936-2001), uma tradição, segundo ele, gradualmente incorporada pela historiografia brasileira, e que “insiste em desconsiderar o vínculo de dependência entre a produção das ideias e a dimensão mundana da vida no tempo e no espaço, ou seja, o mundo dos interesses dos agentes coletivos” (MESQUITA, 2018: 20). Uma das saídas que enxergamos para este contextualismo reducionista é a proposta de Dominick LaCapra, que afirma que que o processo de intepretação dos textos chamados clássicos compreende sua contextualização em diferentes camadas ou dimensões, que ele enumera como sendo seis: a intenção autoral, a vida do autor, a sociedade, a cultura, o corpus bibliográfico do autor e os modos de discurso (disciplinas, áreas do conhecimento, etc.) (LACAPRA, 1998). Mesquita estuda as modificações que a definição e as possibilidades semânticas do verbete “região” sofreram durante a vigência do Estado Novo, e o papel de Gilberto Freyre no processo dessas mudanças de sentido: regionalismo deixaria de ser algo identificado a sectarismo e separatismo, passando a significar a contemporização das diferenças locais; diferenças que, integradas, passariam a compor o nacional. Moema Selma D’Andrea já havia afirmado que Leia Mais

História do Esporte e das Práticas Corporais / Caminhos da História / 2020

Prezadas (os) leitoras (es),

É com enorme satisfação que publicamos o primeiro número do volume 25 da Caminhos da História, Periódico do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes-MG). Empenhados com a produção de dossiês que possam proporcionar ricos subsídios para os debates vigentes na História, apresentamos, aqui, o dossiê História do Esporte e das Práticas Corporais, atenciosamente refletido e organizado pela professora e pesquisadora Janice Zarpellon Mazo, Doutora da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (ESEFID) e do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A proposta dessa coletânea de artigos agrega textos de pesquisadorxs que tratam da conexão entre os esportes e as práticas corporais com as particularidades locais e sua ligação com o que é geral e universal, até mesmo na área da História. Entre tais, destacamos: a prática esportiva em colônia de imigrantes; representações da construção da identidade torcedora no futebol; os percursos de atletas femininas paralímpicas; a presença das mulheres no esporte no início do século XX; e a ocorrência e as características de reportagens sobre o futebol feminino em programas de televisão.

Ora… Estes consistem, absolutamente, em temas caríssimos para auxiliar-nos a decifrar nosso panorama sociocultural e político-econômico. Isto porque se tratam de pesquisas que abarcam olhares a respeito do embricamento do assunto com diferentes campos científicos. Estas investigações têm se deparado com um frutífero espaço de debate com a consolidação do estudo em História do esporte e das práticas corporais a partir da concepção de múltiplos centros, núcleos e grupos de pesquisa por todo o Brasil. É nesta conjuntura que destacamos a relevância do dossiê temático proposto, o qual emergiu como ação das articulações entre pesquisadorxs do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais, a partir de parcerias estabelecidas entre grupos de pesquisa de instituições de ensino superior de ambos os estados.

Para ilustrar a edição com este importante dossiê, a Caminhos da História conta com uma pintura do italiano Giovanni Battista Tiepolo, denominada Polichinelo e os acrobatas, de 1797, período em que a ginástica reaparecia em manifestações públicas.

Na seção que agrega artigos livres, expomos três preciosas contribuições. O primeiro texto apresenta um estudo sobre o exercício da Justiça criminal na cidade de Mariana-MG, a partir dos processos envolvendo escravos, no século XIX. Outro artigo debate sobre a figura de Silvio Romero, importante interprete do Brasil, na passagem do século XIX para o século XX: instigado pelas ideias naturalistas, oriundas da Europa, combateu a visão nacional em voga do romantismo brasileiro, alegando ser esta uma visão irreal, mística e fantasiosa. Por fim, apresentamos um estudo que debate as práticas preservacionistas da cidade de Belo Horizonte, apontando os desafios impostos ao poder público, entre as décadas de 1990 e 2000, quando se trata de ações voltadas para a salvaguarda de bens culturais vinculados à identidade e memória negra.

Boa leitura!

Atenciosamente,

Ester Liberato Pereira,

Rafael Dias de Castro

e Comissão Editorial!


PEREIRA, Ester Liberato; CASTRO, Rafael Dias de. Editorial. Caminhos da História, Montes Claros, v. 25, n.1, jan / jun, 2020. Acessar publicação original [DR]

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Poder e gênero nas relações políticas / Caminhos da História / 2020

A década de 2010 se encerra com o crescimento dos populismos de direita, e o forte caráter extremista é um aspecto saliente. A perseguição a valores progressistas, ou mesmo pautas que dialoguem com os Direitos Humanos, pressiona pela necessidade de uso do conceito de política de forma permanente, atuante, militante, engajada, mantendo a coerência e a seriedade. É entender que o fazer História (como quem escreve e como quem faz) é inevitavelmente permeado por ideologias, e a neutralidade é a utopia dos tolos, ou daqueles que camuflam as posições já tomadas – geralmente do lado hegemônico.

Assim, a política não deve ser vista como terreno restrito aos assuntos institucionais, ou elitistas, pois esse é masculina, eurocêntrica, falocêntrica, remetendo a um histórico de dominação colonial e imperialista e, por isso, obsoleta. Porém, embora decadentes, as estruturas dominantes não falecem em silêncio, mas reagem com violência que é típica dos grupos em hemorragia de poder. Assim, política e poder devem fugir das esferas restritamente partidárias e factuais. Uma vez tributária da sociologia, psicologia, direito público, psicanálise, linguística, matemática, informática, como afirma René Remond (1997, p. 29), a História Política tem a obrigação de se fazer plural, compreendendo os fenômenos ações coletivos como organizações extra-partidárias e movimentos sociais, sem esquecer das ações subjetivas e identitárias que marcam a pós-modernidade.

Por outro lado, não se deve ignorar que o aparato repressivo estatal existe, e continua vigorosamente utilizado como instrumento normatizador e regulador sendo, portanto, nas palavras de Mbembe, um mecanismo de instrumentalização da vida humana e destruição (literal e metafórica) de corpos humanos e populações que não se encaixam (MBEMBE, 2018, p. 10-11). O nacionalismo oficial se torna imperativo na contemporaneidade, torna o grupo hegemônico o modelo inalcançado do retrato esperado para o país. Revelador, portanto, do descompasso entre o país legal e o país real na fala do ex-ministro da Educação Weintraub, na fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020: “Esse país não é… odeio o termo ‘povos indígenas’, odeio esse termo. Odeio. O ‘povo cigano’. Só tem um povo nesse país. Quer, quer. Não quer, sai de ré…”. Implicitamente se reforçou ali a imagem de um povo existente apenas de forma ideal, avessa à materialidade e a existência física e concreta de populações marginalizadas, excluídas, despidas de direitos básicos e fundamentais. Na ótica apresentada pelo ex-ministro, as minorias devem se incorporar, perdendo a identidade que lhes são definidoras ou, inevitavelmente, serão exterminadas. Dominação e / ou extermínio são as únicas escolhas permitidas àqueles externos às instâncias de decisão política em um Estado repressivo e tomado por grupos de elite despidos de representação popular.

Tal discurso afeta grupos distintos que tem como divisor comum tão somente o ícone da exclusão e da indiferença: mulheres, gays e trans; índios, retirantes, posseiros. Na lógica estreita e dicotômica dos integrantes de um Estado excludente, para somente assim construir a nação ideal, tal diversidade e pluralidade, típica das democracias saudáveis, estão desamparadas, exiladas dentro do próprio país, por não serem aceitas e incluídas ao que se espera ser “um povo nesse país”.

O dossiê “Poder e Gênero nas relações políticas” repercute as distorções e desproporcionalidades nos arranjos de poder, forçando grupos não-hegemônicos a elaborarem mecanismos e estratégias alternativos de atuação e manifestação não apenas de presença, mas de existência política e física. Tal preocupação é uma regularidade na revista Caminhos da História, conforme podemos visualizar em seus números anteriores, por exemplo, através das aproximações políticas entre América Latina e China no contexto da Guerra Fria (como no artigo de Maria Strabucchi, 2016) ou nos debates sobre intolerância e preconceito através da visão de intelectuais brasileiros da década de 1930 (Costa Filho, 2017).

Com o intuito de manifestar e repercutir esse objetivo, o atual dossiê sublinha temáticas sensíveis com relação às manifestações de poder. A decolonialidade como estratégia para romper com o modelo tradicional de historiografia, é uma das abordagens trabalhadas por Ana Paula Jardim Afonso. Em seu artigo se ressalta a importância de se combater a historiografia eurocêntrica que legitima o discurso e a narrativa do colonizador, e assim, se eleva em importância o papel das ações políticas decorrentes do “terrorismo de gênero”.

Carlos António Aguirre Rojas retoma o conceito de economia moral de E. P. Thompson, inicialmente lançado em A Formação da Classe Operária Inglesa. Nesta obra, o autor inglês buscava evidenciar a maneira de reagir às transformações impostas pela modernização e pelo capitalismo, através da associação entre tradição, identidade e as novidades que eram inseridas ao cotidiano do operariado em vias de formação. De maneira original Aguirre Rojas busca o emprego do conceito na América Latina, seja através do Movimento dos Sem Terra (MST) no Brasil, com os indígenas neozapatistas mexicanos na Marcha del Color de la Tierra em 2001, ou pelos bloqueios e a paralização em diversas cidades estratégicas da Bolívia.

De maneira correlata, está o artigo “Um debate sobre a atuação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no campo entre os anos de 1948 e 1964”, de Rafael Sandrin. Neste, há a análise das formas de atuação do partido de Luiz Carlos Prestes contra a violência do latifúndio durante o período democrático anterior ao Golpe Militar. Através do periódico “Terra Livre”, Sandrim percebe o esforço por mobilizar os trabalhadores agrários em torno de direitos já garantidos ao operariado, como, por exemplo, o acesso ao décimo terceiro salário. Deste modo, é abordado dentro do recorte de 1948 a 1964, temática sensível e contemporânea, ainda não resolvida no século XXI no Brasil.

A desigualdade de renda e das formas de subsistência tornam a violência meio de reação, e o crime como elemento marcante da institucionalização dos desníveis de acesso aos direitos, políticas públicas e acesso a renda. Em locais onde o Estado se manifesta de maneira negligente e atribui suas responsabilidades a iniciativa particular, há o espaço para a disputa do poder, conquistado por aquele que tem maiores recursos e potencial de manifestação da força e da violência em suas mais variadas configurações. Deste modo, Rejane Meirelles Amaral Rodrigues apresenta a trajetória do fazendeiro sertanejo marcado por essas disputas em “Literatura e banditismo social: Antônio Dó retratado por Saul Martins e Petrônio Braz”.

Por fim, Yôkissya Coelho e Monalisa Pavonne Oliveira fazem o rastreamento familiar e trajetória política de mulheres na política. Dentro da metodologia prosopográfica, o artigo “O perfil social de mulheres eleitas em Roraima (2014–2016)” se vincula a História do Tempo Presente. Portanto, tem como proposta detectar a possibilidade de ascensão social das mulheres na e pela política institucional em diferentes colorações políticas. No entanto, é ressaltada a participação das teias familiares no processo de criação do capital político para lançamento de campanhas eleitorais. Dentro dessa dinâmica familiar, o poder político se mantém limitado a determinados grupos.

Deste modo, encerramos o dossiê ancorado na atuação política em seus mais diferentes cenários e configurações. A proposta dos artigos, por mais diversas que possam parecer, tem como elemento unitário o anseio por manifestar o descontentamento através do registro, análise e investigação das desigualdades e suas marcas em seus diversos níveis sociais e econômicos, sendo manifestos desde a luta por terra, até no esforço por reconhecimento identitário subjetivo. Torcemos, que diante da conjuntura pessimista, possamos despertar o otimismo na ação e superação do conservadorismo, do reacionarismo e do proto-fascismo que germina em terreno fértil.

Referências

COSTA FILHO, Cícero João. ‘Raízes raciais’ do Projeto integralista (nacional) de Gustavo Barroso: o preconceito, a intolerância e o racismo para com a figura do judeu no Brasil da década 1930. Revista Caminhos de História, v.22, nº2, jul / dez, 2017, PPGH, Unimontes.

MBEMBE, Achile. Necropolítica: biopoder, soberania, estado de exceção, política da morte. São Paulo: n1 edições, 2018.

MONTT STRABUCCHI, Maria. Writing about China’ Latin American Travelogues during the Cold War: Bernardo Kordon’s ‘600 millones y uno’ (1958), and Luis Oyarzún’s ‘Diario de Oriente, Unión Soviética, China e India’ (1960). Revista Caminhos da História, vol. 21, no. 1, jan / jun., p. 93–124, 2016, PPGH, Unimontes.

REMOND, René. Uma história presente. In. REMOND, René (org.). Por uma história política. Rio de Janeiro: Editora UFRJ / Fundação Getulio Vargas, 1997.

Felipe Azevedo Cazetta – Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor de História Moderna e Contemporânea da Universidade Estadual de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. E-mail: felipecazetta@yahoo.com.br ORCID: http: / / orcid.org / 0000-0002-2110-7531


CAZETTA, Felipe Azevedo. Apresentação. Caminhos da História, Montes Claros, v. 25, n.2, jul / dez, 2020. Acessar publicação original [DR]

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The People of the River: Nature and Identity in Black Amazonia/1835-1945 | Oscar De La Torre

Em 2020, The People of the River ganhou o prêmio de melhor livro do GT Amazônia da LASA (Latin American Studies Association). Publicação baseada na tese de doutorado em História do autor, este livro já havia obtido, em 2019, um prêmio (Outstanding First Book Prize) da ASWAD –Association for the Study of the Worldwide African Diaspora. Sem dúvida, a obra é instigante e fascinante, com uma narrativa fluente, às vezes com doses de ironia bem aplicadas ao longo do texto. Leia Mais

The Yellow Demon of Fever: Fighting Disease in the Nineteenth-Century Transatlantic Slave Trade | Manuel Barcia

Não é necessário ser especialista para saber que o tráfico de pessoas escravizadas entre o continente africano e as Américas, ao longo dos séculos, foi um mar de horrores em termos sanitários, dentro e fora das embarcações. Nem é coincidência que os navios que transportavam esses africanos e africanas para a venda na outra costa do Atlântico fossem chamados de tumbeiros. Mas, além da dor e da desumanização de suas vítimas, a viagem negreira foi também uma experiência sobre o conhecimento das doenças que se manifestavam durante a travessia. Foi também o terreno em que diferentes tratamentos daquelas enfermidades puderam se desenvolver para salvar vidas. Leia Mais

Ordem Imperial e Aldeamento Indígena: Camacãs, Gueréns e Pataxós no sul da Bahia | Ayalla Oliveira Silva

Por muito tempo, a história relegou aos índios um lugar estritamente demarcado pela passividade ou condição de vítima. Os povos indígenas foram concebidos pela historiografia a partir de categorias genéricas, que invisibilizaram as inúmeras diferenças étnicas e culturais. Lidos como incapazes de agir diante das suas realidades, a tendência de análise era a do desaparecimento ante uma sociedade em expansão. Todavia, nas últimas duas décadas, é possível afirmar que essa condição dos índios na historiografia brasileira mudou a partir da emergência da denominada “nova história indígena” que, por meio de significativas mudanças teóricas, metodológicas e empíricas, redimensionou o papel dos índios na história, dotando-os de protagonismo. Leia Mais

Salazar e Franco. La alianza del fascismo Ibérico contra la España republicana: diplomacia, prensa y progaganda | Alberto Pena Rdríguez

No sentido político, as coleções históricas contemporâneas produzidas em Espanha e Portugal mantiveram-se isoladas. As questões relacionadas a Portugal são muito subdesenvolvidas na historiografia española, assim como os estudos sobre as relações bilaterais entre os dois países. Felizmente, esta tendência está sendo revertida em decorrência da geração de estruturas comuns de pesquisa, de novas relações acadêmicas e do surgimento de múltiplas publicações históricas. O livro do Dr. Alberto Pena Rodríguez é, neste contexto, uma contribuição fundamental à abordagem dos desenvolvimentos político-econômicos e das interações socioculturais entre Espanha e Portugal nas décadas centrais do século XX. O livro Salazar e Franco. A aliança do fascismo ibérico contra a Espanha republicana: diplomacia, imprensa e propaganda é composto por dez capítulos, distribuídos em três blocos temáticos, e abriga uma extensa seção de fontes documentais.

O livro destaca a importância das ações políticas de Salazar no sentido de solapar o projeto político da Segunda República Espanhola (1931-1939), ações que podem explicar a similaridade de direitos nos países ibéricos durante os duros anos de isolamento espanhol, sob a ditadura de Franco. A investigação aponta para a existência de desenvolvimentos semelhantes e paralelos entre Espanha e Portugal e, ao mesmo tempo, chama a atenção para os elementos de rejeição e para as principais diferenças culturais e funcionais entre os dois países. Leia Mais

Na saúde e na doença: História, Crises e Epidemias.  Reflexões de História Econômica na época da Covid-19 | Rita de Cássia da Silva Amico

Diante da crise pandêmica que se alastra no Brasil e no mundo, os estudos sobre a COVID-19, nas mais diferentes áreas das ciências, ganharam forças no meio acadêmico. Nesse cenário, foi produzida a obra Na saúde e na doença: História, Crises e Epidemias, Reflexões de História Econômica na época da Covid-19. O livro foi organizado por Rita de Cássia da Silva Almico, docente da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), por James William Goodwin Jr., professor de História do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) e por Luiz Fernando Saraiva, professor adjunto do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF).

O prefácio faz menção a Eric Hobsbawn e às suas análisessobre a saúde e as doenças. O falecido historiador deu sua contribuição no sentido de pensar as complexas relações entre as doenças e as sociedades; destacar as formulações da ciência e das pessoas a respeito do corpo e sobre os conflitos que existiam (e existem) decorrentes de visões distintas; refletir sobre as causas das doenças e dos condicionantes sociais que as propagam e combatem. Todas essas questões permanecem atuais.

Na saúde e na doença é escrito por profissionais de diferentes áreas, tais como História, Geografia, Economia e Sociologia. A primeira parte do livro, intitulada “Pandemia vem do grego”, se inicia com o texto do historiador Alexandre Santos Moraes, “Apolo e as marcas de sua epidemia na Ilíada”, texto no qual o autor procura sintetizar as marcas das epidemias na Ilíada, de Homero. Moraes faz menções à peste ateniense, ocorrida em 429 a.C., que levou a óbito Péricles, como descrito por Tucídides, na guerra do Peloponeso, e enfatiza, inclusive, as disputas entre Aquiles e Agamêmnon naquele contexto. No capítulo “A peste em Atenas de Péricles”, o historiador Alexandre Carneiro Cerqueira Lima analisa a peste em Atenas descrita por Péricles e o elogio aos mortos, realizado em um funeral coletivo representando o corpo social.

A segunda parte do livro tem por título “Conhecimento é poder (I): doenças, saberes médicos e ordem política”. O capítulo incial, “Cirurgiões e seus saberes práticos em Minas setecentistas”, escrito pela museóloga Ethiel Mizrahy Cuperschmid e por Maria do Carmo Salazar Martins, é parte de um estudo sobre a saúde dos escravos, no século XVIII, que eram submetidos a maus tratos e pouca alimentação e desprotegidos de doenças e pragas. As autoras abordam como, diante das adversidades das doenças, a medicina religiosa se espelhava na vida dos santos e dos mártires e em sua devoção para rogar ao todo poderoso a cura ou a solução de problemas. O historiador mineiro José Newton Coelho Meneses é autor do capítulo “’Águas passadas […] movem moinhos’, água, abastecimento, higiene e o processo saúde-doença na modernidade”, que procura analisar os processos de saúde e doença na modernidade. Ainda nesta segunda parte, Glauber Miranda Florindo, em “Epidemia e Estado: um “jogo” antigo ainda jogado”, analisa o Brasil do século XIX, em especial a atuação das câmaras municipais frente às epidemias.

Na terceira parte, intitulada “Gente vendida, doenças circulando: daquilo que não se quer ver”, o historiador Roberto Borges Martins, em “Gripes, micróbios e lombrigas: nota sobre a primeira globalização da era moderna”, afirma que, quando os espanhóis chegaram à América, as populações do México e do Peru tinham, há muitos séculos, densidade suficiente para sustentar as epidemias transmitidas de pessoas para pessoas. Já Luiz Fernando Saraiva, no capítulo “O fim do tráfico, o fim de um mundo e o início de outro”, sintetiza o fim do tráfico e o início de um novo mundo”. Nesse texto, o autor retoma uma das primeiras discussões historiográficas, sobre o porquê de o Brasil se manter coeso no processo de independência do final do século XVIII, ao contrário da América espanhola, que se fragmentou em dezenas de países. Elione Silva Guimarães, em “As pandemias e as populações invisíveis: do Brasil do século XIX ao Brasil da COVID-19”, procura fazer comparações entre as epidemias que afetaram as populações do Brasil no século XIX e no ano de 2029, enquanto Silvio Humberto Passos Cunha, em “Negro drama: um olhar sobre Salvador nesses tempos de pandemia Covid-19”, analisa os espaços sociais de Salvador diante do tema do “Negro drama”.

A quarta parte do livro tem por título “O perigo mora ao lado: doenças no espaço urbano”. Para Pedro José de Oliveira Machado, autor do capítulo “Economia, saúde e comportamento social em dois momentos da história de Juiz de Fora”, o ano de 2020 ficará marcado por pandemias que afetarão as relações sociais e pessoais na cidade de Juiz de Fora. O autor remonta, ainda, aos séculos XIX e XX para abordar as relações entre economia e salubridade. Carlos Henrique Carvalho Ferreira Jr. e Fania Fridman, no texto “Epidemias e ordem pública: a cidade do Rio de Janeiro no século XIX”, tratam de aspectos das epidemias que afetaram o Rio de Janeiro no século XIX. No capítulo “São Paulo na década de 1890 e em 2020: epidemias, enfrentamentos e reprodução de desigualdades”, Fábio Alexandre dos Santos analisa as epidemias nos anos 1890 e em 2020, bem como as reproduções das desigualdades nesses contextos. A quarta parte se conclui com o texto de Maria Alice Rosa Ribeiro, “História que as epidemias nos contam”, que analisa os questionamentos que não estavam presentes na documentação sobre as epidemias de febre amarela no final do século XIX.

Na quinta parte do livro, “A peste, a fome, a guerra e a morte: os quatro cavaleiros da crise”, Jorge Prata de Souza escreve “Epidemias e condições de saúde: a cólera durante a guerra do Paraguai”, texto no qual analisa as epidemias durante a guerra do Paraguai. Marcos Lobato Martins, em “Tifo murino, cólera-morbo e o declínio da Companhia do Mucuri”, analisa as doenças nas terras da bacia do Mucuri durante o período colonial. Já James William Goodwin Jr., em “A peste e a fome: dois cavaleiros visitam Diamantina, MG”, analisa a questão das epidemias na cidade de Diamantina em Minas Gerais. Teresa Cristina de Novaes Marques, em “Epidemia e cerveja: um paralelo entre 1918 e 2020”, compara dois diferentes tipos de epidemias ao longo de cem anos. Rita de Cássia da Silva Almico, em “A morte sem pudor: reflexões sobre duas gripes”, analisa as mortes diante da gripe espanhola e as mortes provocadas pela COVID-19.

Na sexta parte do livro, intitulada “A bolsa ou a vida: política econômica para pensar as crises”, João Felippe Cury Marinho Mathias, no capítulo “Não há alternativa? Uma breve reflexão sobre o falso dilema ético e os efeitos da pandemia”, analisa as questões que envolvem os efeitos morais e éticos da epidemia. Ivan Colangelo Salomão, em “Crise econômica, aprendizado político: a repetição trágica e farsesca da história”, analisa as crises econômicas presentes nos momentos em que as pandemias surgem. Victor Leonardo de Araujo, em “Crise econômica e ajuste fiscal: o que o Paeg nos ensina?”, sintetiza seu pensamento sobre o que o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG) representa nas crises econômicas e sobre os ajustes fiscais promovidos pelo governo Brasilero. Fábio Pensavento conclui a sexta parte do livro com o capítulo “As crises financeiras do século XX e a COVID-19: comparar para medicar?”, no qual analisa as crises econômicas que cercam a pandemia de COVID-19.

Na sétima parte do livro, “Conhecimento e Poder (II): solidariedade em tempos doentes”, Luiz Eduardo Simões de Souza escreve “A epidemia de meningite da ditadura militar”, texto no qual analisa a crise de meningite durante o regime militar, demonstrando como o golpe de 1964 e a ditadura que a ele sobreveio representaram uma ruptura no direcionamento das políticas de saúde. O alinhamento político dos golpistas com o interesse externo e em benefício de setores detentores dos meios produtivos no país demandou que, uma vez no poder, se realinhasse a distribuição do produto em favor dos partícipes do butim. Aline Cristina Laier e Fernando Gaudereto Lamas, em “Acesso desigual ao conhecimento científico e seus recursos: uma breve análise sobre a epidemia do ebola na África”, analisam as epidemias de ebola no continente africano. O vírus que ganhou o nome de ebola já havia sido identificado desde a década de 1970, mais especificamente em 1976, mas só ganhou notoriedade mundial na década de 1990, quando a imprensa internacional noticiou não somente a propagação do surto da doença em países africanos, como também a possibilidade de sua expansão para outros países, especialmente da Europa. No capítulo “Resistências nos tempos de pandemia no Brasil e na Argentina”, Flávia Braga Vieira e Javier W. Ghibaldi indicam que há tempos os historiadores têm apontado a solidariedade e o comunalismo como valores que marcam e definem as lutas dos oprimidos. Os autores apontam para as propostas de organização de relações de trabalho mais igualitárias e de ajuda mútua, em oposição às mercantis capitalistas, reivindicadas hoje por cooperativas populares e redes de ajuda mútua, mas que já apareciam, de forma explícita, nos países centrais no sáculo XIX, justamente quando o projeto capitalista triunfava como sistema global. No Brasil, o momento mais expressivo da conjunção destas duas influências se deu no final da ditadura militar, mais especificamente no final dos anos 1970 e ao longo de toda a década de 1980, em um contexto de redemocratização pela base. Já na Argentina, as lutas nos bairros e nas fábricas fazem parte de uma forte identidade de classe operária e da própria formação urbana ao longo do século XX.

O livro Na saúde e na doença: História, Crises e Epidemias, Reflexões de História Econômica na época da Covid-19 representa uma tentativa de se pensar a história das epidemias dentro de um contexto global e de refletir sobre ações adotada por cada sociedade analisada e sua devida importância para o presente.


Resenhista

Douglas de Castro Carneiro – Mestre em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Doutorando em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Bolsista CAPES-FAPEG. E-mail: douglascarneiiro229@gmail.com


Referências desta Resenha

ALMICO, Rita de Cássia da Silva; GOODWIN, James William; SARAIVA, Luiz Fernando (Org.). Na saúde e na doença: História, Crises e Epidemias.  Reflexões de História Econômica na época da Covid-19. São Paulo: Hucitec, 2020. Resenha de: CARNEIRO, Douglas de Castro. Politeia: História e Sociedade. Vitória da Conquista, v. 19, n. 1, p. 164-167, jan./jun. 2020. Acessar publicação original [DR]

“Não somos bandidos”: a vida diária de uma guerrilha de direita: a Renamo na época do Acordo de Nkomati (1983-1985) | Michel Cahen

O nascimento de Moçambique como país foi resultado de uma luta armada, chamada de “luta de libertação nacional”, guerra de uma década desenvolvida pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) contra a ocupação colonial portuguesa. A independência conquistada não trouxe paz aos povos moçambicanos. Logo foram estes arrastados para um novo e trágico conflito que, durante 16 anos, destruiu vidas, famílias e infraestrutura, bloqueando as condições de desenvolvimento do país que estava nascendo.1 Leia Mais

Science and Society in Latin America. Peripheral Modernities | P. Kreimer

Pablo Kreimer en Science and Society in Latin America reúne una serie de trabajos, que, si bien han circulado previamente en distintas publicaciones, al ser conectados entre sí nos proponen comprender la historia de la ciencia en los países latinoamericanos a partir de su desarrollo en el marco de “modernidades periféricas”. En ese sentido, el autor nos invita a reconocer la especificidad de la experiencia de quienes han desarrollado investigación científica en el contexto de América Latina, pero adoptando “los valores, prácticas, creencias e ideas de ‘ciencia’” propias de sus pares europeos y norteamericanos. Para Kreimer, estos científicos han vivido la aparente paradoja de ser modernos y periféricos al mismo tiempo y, por ese medio, constructores de una “ciencia periférica”, con sus dinámicas, problemáticas y trayectorias singulares. Leia Mais

La Enseñanza de la Historia de Venezuela en la Escuela Básica – ARANGUREN (RTDCS)

Universidad de los Andes By Leandro Neumann Ciuffo CC BY 2.0 Informal learning
Universidad de los Andes. Edifício Mario Laserna – Bogotá, Colombia. Foto: Leandro Neumann Ciuffo. httpscommons.wikimedia.org.

ARANGUREN, Carmen. La Enseñanza de la Historia de Venezuela en la Escuela Básica. Mérida. Universidad de Los Andes. Consejo de Publicaciones / Caracas. Editorial Los Heraldos Hegros, 1997. Resenha de: LÓPEZ, Alí Enrique. Revista de Teoría y Didáctica de las Ciencias Sociales, v.3, n.3, p.204-207, ene./dic. 1998.

Desde hace varios años hemos venido escuchando voces de protesta sobre la calidad de la enseñanza de la Historia de Venezuela, en la que ahora se conoce como Escuela Básica. Entre ellas la de la destacada profesora de la Universidad de Los Andes, Carmen Aranguren, quien ha dedicado gran parte de su actividad docente y de investigación a llamar la atención sobre la crítica situación del proceso de enseñanza-aprendizaje en lo que a la Historia de Venezuela se refiere. Actividad que tiene su expresión reciente en el libro La Enseñanza de la Historia en la Escuela Básica. Los programas de Historia de Venezuela en la Educación Básica: Un análisis teórico, didáctico y psicopedagógico (Mérida, ULA/Consejo de Publicaciones/ Ediciones Los Heraldos Negros, 1997, 159 p.).

Se trata de un trabajo que no vacilamos en calificar de excepcional y oportuno. Lo primero, por el vigoroso sentido científico de su análisis y contenido. Lo segundo, porque aparece en el momento en que en el país se hace pública una encuesta de la Fundación Polar, mediante la cual se ha evidenciado la ignorancia de nuestros estudiantes sobre el proceso histórico venezolano, cuya responsabilidad debe aclararse para que los entes y sujetos responsables y actores directos de este teatro, que se ha llamado enseñanza de la Historia de Venezuela, definitivamente dediquen el tiempo requerido para corregir una realidad que se hace recurrente cada cierto tiempo, pero a la que definitivamente no se le da el tratamiento que exige su importancia. Oportuno también porque actualmente se discute la aplicación de los nuevos programas en la primera etapa de la Escuela Básica; y es precisamente este libro el que podría orientar la reforma que requieren no sólo los contenidos programáticos, sino también la enseñanza misma, referida ésta a los dos sujetos involucrados en tan importante acto de creación de conciencia e identidad nacional: el maestro y el alumno.

El texto mencionado, está integrado por tres capítulos que desentrañan y desmenuzan el Plan de Estudio de Educación Básica del Sistema Educativo venezolano, en lo que a la Historia de Venezuela corresponde. Mediante el análisis y la valoración de los objetivos de etapa, generales y específicos; los contenidos, las estrategias de evaluación, las estrategias metodológicas y la bibliografía básica, la autora va evidenciando las diferencias, señalando en su debida oportunidad algunos aportes, e indicando las orientaciones ideo-políticas de los programas de Historia de Venezuela en las tres etapas de Educación Básica, para llegar a conclusiones que seguramente no sorpenderán a quienes conscientemente han sido, por años, responsables de la orientación de esos programas,pero sí a quienes sólo han pensado que se trata de un mero problema de aprendizaje de las nociones históricas requeridas para los niños venezolanos en esas etapas de la educación.

Así, la profesora Carmen Aranguren considera que la enseñanza de la Historia de Venezuela en el Primer Grado es “una historia sin sociedad”. La del segundo Grado tiene “un enfoque político para justificar la democracia representativa” y la del tercero “mediatiza la conciencia histórica acerca de nuestros origenes”. En el Cuarto Grado se estudia una “Historia más para comprender a Europa que 206para explicar a América”; mientras que la del Quinto sólo presenta la “Historia Cronológica” que incide en la memorización; en el séptimo la Historia “está vista a retazos”, como etapas desconectadas en el tiempo y en el espacio; y en el Octavo se insiste en la enseñanza y la comprensión de la “Historia de Venezuela para el aprendizaje democrático”.

En cada uno de los análisis de los programas se hacen observaciones críticas sobre los objetivos y estrategias utilizadas para lograr que los contenidos alcancen su proyección en el concepto de “identidad nacional”. El estudio se complementa con once gráficos que demuestran el número de páginas por asignaturas en los Planes de Estudio de los seis primeros grados y la distribución porcentual de la carga horaria por áreas en los planes del primero al octavo, así como también en una tabla que muestra la distribución de las asignaturas del area de Estudios Sociales en la Educación Básica. Todo ello para evidenciar la desconexión de los programas, la incoherencia de los objetivos y contenidos, y la discontinuidad del proceso de enseñanzaaprendizaje en la escasa importancia que se le otorga al conocimiento y comprensión de la Historia de Venezuela.

Si bien a través del libro se aprecia la responsabilidad que en el problema tienen los programas y, por supuesto quienes los diseñan y ponen en práctica, no menos significativa es la que concierne al maestro o al profesor y, particularmente, a los libros-textos utilizados para la enseñanza de la Historia de Venezuela en la Escuela Básica.

Ambos aspectos, por su relevancia, son dignos de recibir la atención que la autora concedió a los programas, y que, en algunos momentos de su trabajo deja planteado; reto que debería asumir conjuntamente con su equipo de investigación, para reforzar aún más los planteamientos formulados en el libro que analizamos.

Consideramos que docente y libro representan un binomio de primer orden que, en cierta medida, pudiera ser una solución a este grave problema de la educación venezolana, pero las condiciones actuales demuestran también que la formación del educador y la calidad de los textos que utiliza para desarrollar el área de Historia de Venezuela, no avizoran un futuro inmediato halagador. Por el contrario, esa situación agudiza mucho más la problemática, claramente denunciada en esta investigación. Tal es la cualidad de este trabajo que el jurado calificador del Area de Ciencias Sociales de Fundacite-Mérida acordó por unanimidad solicitar el conferimiento del premio como mejor libro de esa área publicado en 1997 y recomendó a esa institución remitir el libro al Ministerio de Educación, a fin de que sean considerados los planteamientos formulados por la profesora Aranguren. Sólo nos resta cerrar esta reseña invitando a los lectores, especialistas o no, a penetrar en las páginas de esta obra, pequeña en tamaño, pero sustanciosa en contenido y sentido científico, dándole la bienvenida a la ya extensa historiográfia sobre la enseñanza de la historia venezolana.

Alí Enrique López – Profesor de la Escuela de Historia. Coordinador del Grupo de Investigaciones Sobre Historiografía de Venezuela. Universidad de Los Andes . Mérida.

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Médicas-sacerdotisas: religiosidades ancestrais e contestação ao sul de Moçambique (c. 1927-1988) | Jacimara Souza Santana

As contestações anticoloniais das populações rurais africanas, por vezes categorizadas como “pré” ou “protonacionalistas”, foram postas numa relação de hierarquia evolutiva com aquelas protagonizadas por frentes e partidos políticos orientados por ideologias “modernas”. A oposição tradicional versus moderno, organizada como teleologia, que deduz a superação linear da modernidade sobre a tradição, tem sido felizmente repensada. Os próprios termos utilizados, oriundos de uma visão modernista, têm sido ressignificados, sugerindo uma dinâmica muito mais complexa entre continuidade e mudança. As contestações rurais, informadas por cosmologias próprias e, via de regra, associadas a uma linguagem religiosa, passaram a ser vistas, a partir de então, menos como fenômenos conservadores e mais em toda a sua complexidade criativa. Leia Mais

Ferreiros e fundidores da Ilamba. Uma história social da fabricação de ferro e da Real Fábrica de Nova Oeiras (Angola/segunda metade do século XVIII) | Crislayne Gloss Marão Alfagali

A obra Ferreiros e fundidores da Ilamba, da historiadora Crislayne Alfagali, analisa de forma minuciosa a história social dos ferreiros e fundidores no contexto da instalação e funcionamento da fábrica de ferro de Nova Oeiras, em Ilamba, Angola, na segunda metade do século XVIII. Mas se engana quem acha que este é mais um trabalho sobre a fábrica de ferro, tida por muito tempo pela historiografia estadonovista portuguesa como o grande feito do governador d. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho (1764-1772).1 Aqui os protagonistas são os trabalhadores da Ilamba, quer dizer, trata-se de uma história social de trabalhadores africanos. Segundo a autora, seu interesse é inverter o foco da análise ao abordar o “tema da fábrica de ferro a partir das determinações locais, das escolhas das lideranças africanas” (p. 26). Leia Mais

Revista Izquierdas. Santiago, n.49, 2020.

A contar del presente número, la aparición de artículos y demás contenidos en Izquierdas, asume la Modalidad de Publicación Continua. De esta manera, los textos se pondrán en acceso público inmediatamente terminado el proceso de validación científica (peer review) y de correcciones respectivas. En la práctica, esto implica que el actual número 49 año 2020, mantendrá su vigencia hasta diciembre próximo.

Artículos

Monográfico Educación, reproducción y alternativas contrahegemónicas

Monográfico China: influencias, debates y perspectivas desde la Revolución de 1949 hasta el presenteChina: influences, debates and perspectives from the 1949 Revolution to the present

Entrevista

Ensayos Académicos

Documentos

Reseñas de libros

El continente vacío. La conquista del Nuevo Mundo y la conciencia moderna – SUBIRATS (A-EN)

SUBIRATS, Eduardo. El continente vacío. La conquista del Nuevo Mundo y la conciencia moderna. Guadalajara: Editora da Universidad de Guadalajara, 2019. Resenha de SUBIRATS, Eduardo. An intellectual journey through the Americas. Notes on El Continente Vacío. Alea, Rio de Janeiro, v.22 n.1, jan./apr. 2020.

Quiero contarles la historia sumaria de El continente vacío aprovechando su edición este año de 2019 por la Universidad de Guadalajara, México. Tratándose de un libro altamente polémico de análisis filosófico de la “conquista” española de América presentar esta cuarta edición no es un evento cualquiera. La primera, publicada en Madrid en 1993, fue destruida por la propia editorial que la publicó después de que capital ligado a la Iglesia católica española la adquiriese, destituyendo a su director Mario Muchnik. La segunda edición fue publicada, unos meses más tarde, por la editorial mexicana Siglo XXI. Su director rechazó una reedición por motivos ideológicos. La tercera edición aumentada fue publicada por la Universidad del Valle en Cali, Colombia, en 2011.

Pero también deseo aprovechar esta ocasión para explicarles lo que me indujo a escribir este libro en 1988. También deseo contarles mis andanzas por las Américas que siguieron a la primera presentación de este ensayo de interpretación del colonialismo europeo en un Madrid que celebraba el V Centenario de un Descubrimiento de América para ocultarse el continuo proceso de destrucción y decadencia de los pueblos y las civilizaciones del continente americano y de la propia metrópoli que este llamado “descubrimiento” ha traído consigo.

Yo decidí estudiar y escribir sobre el proceso de colonización de América en uno de los muchos viajes a México que entonces realizaba como joven conferenciante, profesor de estética y autor de complicados ensayos filosóficos. Llevaba tiempo vagando y morando entre New York y Cusco, Buenos Aires y Manaos, São Paulo y La Habana. A lo largo de estos viajes me iba distanciando de mis años de aprendizaje en Barcelona, París y Berlín. Yo iba ampliando el horizonte de mi conciencia. Y lo que era más importante: iba reconociendo progresivamente los límites intelectuales y las riendas mentales de una arrogante, pero decadente, conciencia europea. Y un bello día, en el Zócalo de la ciudad de México, me dije: tienes que hacer algo con esos años de aventuras y experiencias en las Américas.

Decidí comenzar por el origen y el principio del nombre y la realidad histórica de estas Américas. Es decir, decidí empezar por el largo proceso de su descubrimiento, conquista, destrucción, sometimiento y conversión, que los estructuralistas franceses habían escamoteado bajo el anodino título de una “invención de América”. El continente vacío nació de una voluntad de analizar la colonización americana a partir de sus fundamentos teológicos y teológico-políticos.

Les contaré un par de anécdotas chuscas que ponen de manifiesto el ambiente que me asediaba en el Madrid del Centenario. Un bello día, en una fiesta madrileña que ofrecía el editor de la primera edición de este libro, Mario Muchnik, la entonces ministra de educación del gobierno socialista español me espetó con una inconfundible insolencia: “¡Usted ha escrito un libro terrible, Sr. Subirats!” Meses más tarde el editor fue defenestrado y destituido. Y una de sus consecuencias fue que mi libro se liquidó por “no vender”, de acuerdo con el veredicto de los nuevos propietarios de la editorial Anaya vinculados a corporaciones nacional-católicas. Todo ese proceso estaba empañado, además, por un resentimiento antisemítico.

Este mismo año tuvo lugar la solemne presentación de la edición mexicana en la Universidad Autónoma de México bajo la presidencia de dos destacados intelectuales mexicanos: Margo Glantz y Roger Bartra. Les mencionaré uno de los temas que se debatieron en esta ocasión. Margo subrayó el punto de partida implícito en el Continente vacío: las destruidas tradiciones espirituales islámicas y hebreas de la Península ibérica. Sólo esta perspectiva histórica permite comprender el proceso colonial americano, que el intelectual judío Bartolomé Casaus o de Las Casas denominó “destruycion de las Indias”, desde sus raíces constituyentes: su principio de guerra santa cristiana y su ferocidad genocida. En otras palabras, reconstruí la eliminación sistemática de dioses, templos, ciudades y vidas, de Tenochtitlán a Cusco, a partir de las cruzadas contra las memorias, las lenguas y los pueblos hebreos e islámicos de la península ibérica.

Les contaré todavía otra anécdota que personalmente me parece curiosa. Apenas comenzando mi nueva vida estadounidense en la Universidad de Princeton, en 1994, entregué un ejemplar de El continente vacío a Princeton University Press con el objeto de su edición inglesa. Lo leyeron atentamente e hicieron elogios de su scholarship, pero dijeron que no podían publicarlo porque citaba a demasiados autores latinoamericanos, de Garcilaso y Las Casas a Bonfil Batalla, que sólo conocían aquellos lectores de habla castellana ya familiarizados con la edición mexicana del Continente vacío. Además, me señalaron explícitamente en una carta que mi punto de vista era eurocéntrico, porque partía de la lógica de las cruzadas y de la teología política del Imperio Romano y Cristiano.

No tengo que subrayarles mi opinión sobre semejante veredicto. Pero añadiré que la ignorancia y la falsificación del proceso colonial de Ibero-América sigue siendo amparado, si más no por simple omisión, limitación y pereza intelectuales, por el eje militar del Atlántico Norte en las más significativas instituciones académicas y editoriales de Berlín, Princeton o Madrid: hoy lo mismo que en el siglo dieciséis.

Con eso creo que ya puedo dar por explicado de qué trata este libro. Es la reconstrucción de la teología política de la colonización que recorre las cartas de San Pablo y los tratados de Las Casas; que recorre la destrucción sistemática de lenguas, memorias y espiritualidades a lo largo del continente americano; y que recorre la esclavitud y el genocidio de millones de seres humanos como una de sus últimas consecuencias. Pero tengo que añadir un breve comentario a esta definición minimalista del proyecto que subyace a este ensayo.

En El continente vacío seguí al pie de la letra el mantra que pronuncio el Inca Garcilaso en sus Comentarios reales: América, antes destruida que conocida y reconocida por el Occidente cristiano. Por consiguiente, decidí reconstruir la teología de la destrucción y definir la hermenéutica de restauración de las memorias y el esclarecimiento de la noche oscura de las sucesivas cruzadas de las Américas. Lo que quiere decir que es tan importante la primera parte de El continente vacío, en la que analizo desde una perspectiva netamente negativa la teología de la sujeción y subjetivación coloniales, como su segunda parte, que es afirmativa. En esta segunda parte pongo de manifiesto un vínculo ocultado entre el Inca Garcilaso y el filósofo sefardí Leone Ebreo, y señalo la alternativa hermenéutica y el nuevo humanismo que se desprende de este encuentro espiritual desde una perspectiva rigurosamente filosófica y precisamente actual; una perspectiva explícitamente crítica con la lógica del suicidio instaurado en los poderes corporativos globales.

Pero les iba a contar la historia del viaje filosófico por las Américas que siguió a la realización de este libro, y me he quedado en México. El siguiente paso, después de México, me llevó a los Estados Unidos. Y en el departamento de Literaturas Romances de Princeton University me encontré con la memoria viva de dos profesores exiliados de la dictadura española de 1939: Américo Castro y Vicente Lloréns. El título del libro que resume esta nueva aventura intelectual es Memoria y exilio, que, en su segunda edición aumentada y revisada, modifique por el de La recuperación de la memoria. En realidad, la colección de ensayos que reúnen estos libros tratan de ser ambas cosas: define la memoria exiliada como una constante del nacionalcatolicismo español hasta el día de hoy; asimismo expone una estrategia de recuperación de estas memorias impunemente negadas y clausuradas desde el siglo de la Inquisición hasta la era de Internet.

Un libro es la continuación del otro. La reconstrucción de la teología colonial en El continente vacío se abre, en Memoria y exilio, a la crítica del absolutismo monárquico, de la arrogancia nacional-católica y de los excesos doctrinarios en la historiografía moderna de la Península Ibérica e Iberoamérica. Y el análisis de la destrucción colonial de las altas civilizaciones americanas desemboca, como su última consecuencia, en una crítica de las culturas de América Latina perenemente sometidas al atraso moral, económico y político, y a la continuidad sin fisuras de las dependencias coloniales y neocoloniales. El mundo hispánico no ha tenido humanistas (los que lo fueron eran, en su mayoría, conversos, como Luis de León o los hermanos Valdés, y fueron encarcelados y exiliados, cuando no torturados y asesinados por la Inquisición). Este pequeño mundo hispánico tampoco ha tenido un pensamiento esclarecedor (los llamados “ilustrados” nunca cuestionaron el sistema autoritario que recorría la tradición escolástica ni la autoridad de la Inquisición en el Siecle des lumières); no ha conocido el liberalismo moderno (fue asesinado o exiliado con la restauración Borbónica a comienzos del siglo diecinueve); y ha cerrado sus puertas a la construcción de un pensamiento crítico en las situaciones cruciales del siglo veinte. Esos son los problemas que debatí en Memoria y exilio.

Pero quiero regresar al relato de mis viajes panamericanos. Y cerraré esta brevísima relación con un tercera y última estación. La titulé Paraíso. Esta colección de ensayos posee múltiples ediciones con títulos ligeramente diferentes, desde una optimista A penúltima visão do Paraíso, publicado en São Paulo en 2001, hasta la más sobria visión en su edición electrónica bajo el título escueto de Paraíso, en el Fondo de Cultura Económica, de 2013.

Paraíso es un cuaderno de viaje intelectual. Y, por consiguiente, es un libro más versátil que versado. Más bien me parece una rapsodia de los motivos y las motivaciones que encontraba en mi camino, guiado por la mano de andanzas y aventuras fortuitas. Y es, con todas sus torpezas, un libro de encuentros con arquitectos como Oscar Niemeyer o Lina Bo Bardi, con artistas y poetas populares, con manifiestos de la música, la pintura, la poesía y la literatura americana como los de Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Villa Lobos y Mário de Andrade. Y un libro que me abrió las puertas a los estudios posteriores sobre momentos cruciales de la cultura latinoamericana moderna como el Muralismo mexicano o Yo el Supremo de Augusto Roa Bastos.

Permítanme concluir con unas palabras sobre el concepto de esclarecimiento. Su importancia en la historia moderna no puede subrayarse lo suficiente. Sin esclarecimiento no habría existido la Independencia de los Estados Unidos ni la Revolución francesa. Sin esclarecimiento tampoco hubiera tenido lugar la independencia de las naciones iberoamericanas, con todas las ambigüedades que esta translatio imperii de la escolástica y la contrarreforma españolas al esclarecimiento de Francia, los Países Bajos, Inglaterra o Alemania ha llevado consigo. Sin esclarecimiento no existirían joyas arquitectónicas y artísticas como la ciudad de San Petersburgo. Sin esclarecimiento no tendríamos una Novena Sinfonía de Beethoven. Tampoco podríamos contar con la crítica del capitalismo de Marx y la crítica del cristianismo de Nietzsche. En fin, sin esclarecimiento seriamos capaces de citar la máxima por excelencia del psicoanálisis de Freud y Jung: “Donde era Ello debe devenir Yo”, o más exactamente, donde reinaba lo inconsciente debe venir el proceso luminoso de la individuación autoconsciente. Esclarecimiento es también la finalidad suprema de la meditación en sus formas védicas, tántricas, budistas y taoístas. Y sin esclarecimiento no tendríamos el canto prometeico a un desarrollo humano en el medio de una tierra fecunda que Diego Rivera plasmó en los murales de la ex-iglesia católica de Chapingo.

A lo largo de los últimos años he organizado una serie de eventos con otros intelectuales de las Américas en torno a la idea de “esclarecimiento en una edad de destrucción”. Hemos tratado de redefinir el concepto filosófico, educativo y político de esclarecimiento desde una serie de perspectivas diferenciadas, tanto filosóficas como pragmáticas, en Sofía, Ouro Preto, Bogotá y Lima, y en New York y Santiago de Chile. Y hemos hecho público este último proyecto a lo largo de una serie de ensayos y artículos. Finalmente, también cristalizamos estas discusiones en un libro colectivo: Enlightenment in an Age of Destruction (“Esclarecimiento en una edad de destrucción”)

Pero antes de definir el significante esclarecimiento o enlightenment tengo que explicar el concepto de destrucción. Hoy vivimos amenazados bajo una gama amplia de fenómenos industriales que tienen a esta destrucción o autodestrucción como denominador común: la carrera armamentista del complejo tecnológico-industrial-militar, el envenenamiento químico de ecosistemas y el calentamiento global, y no en último lugar, los desplazamientos y el encierro en campos de concentración de decenas de millones de humanos. Paralelamente nos confrontamos con una serie de fenómenos de fragmentación política, segregación social y violencia. Y nos enfrentamos con sistemas electrónicos de manipulación y control corporativos totales sobre la vida individual de centenares de millones.

En cuanto al concepto de esclarecimiento podemos definirlo, negativamente, por lo que no es. En primer lugar, esclarecimiento no significa “ilustración”, una palabra castellana que define el lustre y el brillo de la ciudad letrada hispánica como epítome del eterno anti-esclarecimiento nacional-católico español. En segundo lugar, esclarecimiento no significa información; ni tampoco la robotización de esta información por los softwares académicos. Su fundamento es la experiencia individual de conocimiento y las posibilidades de un diálogo público sobre nuestra experiencia en el mundo. Este diálogo social esclarecedor parte de una premisa: el desarrollo de nuestras capacidades intelectuales y, por consiguiente, de los sistemas, discursos y estrategias educativas.

Nuestros sistemas educativos, en México, en Brasil o en la Península ibérica se encuentran en un estado ruinoso perfectamente administrado a través de sus salarios miserables, sus deplorables medios técnicos, la escasez de becas, y unas alternativas laborales y sociales mediocres. En los Estados Unidos las humanidades se desmoronan ostensiblemente bajo el dogmatismo antihumanista, antiestético y antifilosófico de las corporaciones académicas. Por encima de todo ello el intelectual independiente capaz de criticar, esclarecer y movilizar a una masa electrónicamente embrutecida brilla por su más obscena ausencia. Las tiranías y gobiernos corruptos dan por sentado que no es necesario investigar, ni pensar, ni esclarecer, puesto que ya tenemos smartphones.

La reivindicación del esclarecimiento y la renovación de su proyecto intelectual, referido específicamente a América Latina en la constelación del colapso completo de sus organizaciones de resistencia anticolonial, es el hilo de oro que recorre mi último ensayo Crisis y crítica. Con este proyecto, que significa revertir el proceso de regresión política y decadencia cultural impuesto por nuevas formas totalitarias de gobierno en el mundo entero, deseo poner punto final a esta presentación. A semejante tarea nos debemos todos nosotros.

Eduardo Subirats. Autor de El continente vacíoMito y LiteraturaParaíso, La existencia sitiada, entre otras decenas de libros y ensayos. Ha vivido en España, México, Brasil y en los Estados Unidos, donde fue profesor de la Universidad de Princeton. Trabaja actualmente en la New York University. E-mail: eduardosubirats@msn.com.

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Peuples exposés, peuples figurants – DIDI-HUBERMAN (A-EN)

DIDI-HUBERMAN, Georges. Peuples exposés, peuples figurants. Paris: Les Éditions de Minuit, 2012. Resenha de: EDUARDO, Jorge. Alea, Rio de Janeiro, v.22 n.1, jan./apr., 2020.

Um dos percursos possíveis para entendermos a presença de Aby Warburg nas operações críticas de Georges Didi-Huberman é seu estudo intitulado L’image survivanteHistoire de l’art et temps de fantômes selon Aby Warburg,1 de 2002. Podemos marcar a importância desse estudo para a exposição Atlas, ¿cómo llevar el mundo a cuestas?, montada inicialmente no Museu Reina Sofía, em Madrid, entre 26 de novembro de 2010 e 28 de março de 2011. Nessa exposição, o Atlas Mnemosyne, de Warburg, é um lugar, mais precisamente uma “mesa de orientação”,*1 onde a relação topográfica entre “tableau” (quadro) e “table” (mesa) marca a diferença entre aquilo que já está previamente fixo, designado pelo quadro, e uma possibilidade heurística de um trabalho em via de fazer-se, apontada pela mesa.

Mesmo sendo um topos importante para o pensamento de Georges Didi-Huberman ao longo de outros livros, a orientação de Warburg ficou ainda mais precisa na exposição Histoires de fantômes pour grandes personnes, exibida no Le Fresnoy entre 5 de outubro e 30 de dezembro de 2012. Nessa exposição, Georges Didi-Huberman faz um recorte do Atlas Mnemosyne, especificamente a prancha 42. O movimento do filósofo e historiador da arte francês atinge uma precisão, seguramente. Dessa precisão, observam-se ainda dois aspectos em ambas as exposições: como expor as fontes, que é também como pôr a história em cena, e ainda como apresentar o mecanismo museológico da montagem. Isso fica mais evidente no ensaio fotográfico de Arno Gisinger intitulado Atlas, suite e disposto na instalação Mnémosyne 42, concebida por Didi-Huberman, que faz parte de Histoires de fantômes pour grandes personnes. Sobre os dois primeiros aspectos, o texto de apresentação introduz uma discussão em torno das “fontes” e da “história”:

Mnémosyne 42 é uma prancha de atlas desmesurada (mais ou menos mil metros quadrados) e animada. Ela está “posta” sobre o chão da grande proa do Fresnoy e pode ser observada do corredor como o mar pode ser observado da popa de um navio. Seu tema é idêntico, mas os exemplos escolhidos foram o caminho que vai dos exemplos clássicos caros a Warburg até o cinema moderno (Eisenstein ou Dreyer, Pasolini ou Glauber Rocha) e contemporâneo (Paradjanov ou Jean-Luc Godard, Harun Farocki ou Zhao Liang), incluindo também alguns documentos tirados da atualidade política mais recente.*2

A medida é a desmesura. Nesses termos, ao abordar a escala do espaço expositivo, Didi-Huberman exibe um tema que lhe é caro e que se oferece como um fio condutor entre as imagens por ele expostas em Mnénosyne 42: a questão do excesso, do pathos, do sofrimento. Mas cada um desses momentos traz consigo suas nuances, que serão discutidas ao longo da leitura de Peuples exposés, peuples figurants, quarto volume da série intitulada O olho da história (L’œil de l’histoire). Essa série a qual pertence Peuples exposés, peuples figurants também compreende os livros Quand les images prennent position (2009), Remontages du temps subi (2010) e Atlas ou le gai savoir inquiet (2011).

Em Peuples exposés, peuples figurants, de 2012, Georges Didi-Huberman toma como démarche o valor de exposição dos povos. Uma vez colocada a questão da utilização de palavras isoladas como “homem” e “povo”, surge uma reflexão com a referência a Hannah Arendt: trata-se de os homensos povos. Além de uma história já manifestada nas mudanças econômicas, nas exigências sociais e nas maquinações políticas, existe uma história secreta nas próprias disposições interiores de um povo, como no caso do povo alemão evocado por Siegfried Kracauer, em De Caligari a Hitler.*3

Existe, no entanto, uma dinâmica que envolve o desaparecimento dos povos e sua manifestação sob as formas de vida expostas no cinema, seja por Eisenstein, seja por Charles Chaplin, historicamente discutidas como apostas estéticas distintas. Na leitura de Georges Didi-Huberman, os povos ganham as telas não apenas para ser um motivo nos filmes de ambos os cineastas citados, mas porque eles escolheram a autoexposição como o gesto revolucionário das manifestações ao longo do século XIX. (Ibidem: 30-31.) Isso nos leva a dizer que esse foi um lugar “conquistado”. Dessas manifestações, o autor escolhe um ponto crucial: trata-se das fotografias de Philippe Bazin, cujo conjunto de retratos possui um movimento elíptico da humanidade entre velhos e recém-nascidos. Se todo um aspecto do ciclo vital e biológico fica exposto, o fotógrafo, que é médico de formação e cuja prática profissional o conduziu a trabalhar o paradoxo da distância e da proximidade na fotografia, chama esse movimento de “animalidade”. Georges Didi-Huberman, ao tomar os retratos feitos por Bazin, toma essa palavra em meio ao conjunto de imagens para afirmar que existe um gesto que permanece em potência: “o que Bazin chama de ‘animalidade’ talvez seja esta humanidade concentrada na espécie do minimum vital no qual cada intensidade se bate contra a amorfia, cada gesto com sua própria impossibilidade de realização”. (Ibidem: 46.) Esse movimento acontece de forma sutil, quer dizer, é dos povos expostos que o filósofo e historiador da arte passa para os rostos, isto é, para os retratos feitos por Bazin, que ele chama ainda de “uma comunidade de rostos”.*4

Em uma espécie de arqueologia do popular, Peuples exposés, peuples figurants pode ser lido como uma investigação sobre o que é a espécie humana sob suas manifestações de comunidade, de pobreza contraposta mesmo às dimensões cívicas de um retrato de grupo ou do culto à personalidade do retrato, na qual é preciso recorrer a poemas, a gravuras que fazem dos povos formas de expressão que são, enfim, uma política de sua própria exposição. Nesse sentido, as mudanças entre diversos retratos de grupos “ameaçadores” exibem um encadeamento que vai da paranoia medieval das bruxas e feiticeiras, passando pelos contaminados pela peste até chegar atualmente a esses crimes escondidos ou anônimos na própria multidão, chamados de “terrorismo”.*5 Se isso de fato acontece com os grupos, acontece também com a exposição dos povos no que também já foi chamado de “arte degenerada”, ante os próprios totalitarismos da raça. Evidentemente, a cultura possui seus equívocos, como já escreveu Georges Bataille. No entanto, isso faz da tarefa de expor os povos algo ainda mais delicado; trata-se, ainda, de uma busca incessante de uma comunidade. Expor os povos é uma busca interminável da comunidade em que a partilha é um dom, isto é, uma dádiva, no sentido dado por Marcel Mauss até que uma partilha dos olhares e das vozes passa por uma alteração notada por Didi-Huberman como uma alteração do sentido e do aspecto que se desencadeia em uma desidentificação. Assim, a partir de Jean-Luc Nancy, Georges Didi-Huberman argumenta que “o dom do outro é, por essa razão, que faz com que a comunidade não se instaure por uma soma de ‘eus’, mas por uma partilha do ‘nós'”.*6

Em Peuples exposés, peuples figurants, existe a exposição de um mecanismo sutil que é como o espaço da imagem, antes predominado pelo culto da personalidade e pelo retrato cívico de grupo, passa a ser tomado pela presença dos povos com as revoluções e, mais precisamente, com a pobreza urbana, como a da Inglaterra do século XVII, nas pinturas e gravuras de Marcellus de Laroon. Mas será, enfim, Goya aquele que melhor expressará essa pobreza. Seus desenhos, gravuras e pinturas estão voltados para uma catalogação de gestos feita pelo pintor: desde o modo como as crianças brincam com os cães, passando pelos enterros, festas de casamento, pelos párias nos hospitais, pelos jogos de cartas, pelos risos até chegar aos fuzilamentos de pobres, enfim, esse “espaço de clamor” também é “sua grande cólera libertária”. (Ibidem: 120.) Em meio a essa passagem, tal estado de “desgraça” visto nas imagens de Goya, por exemplo, pode ser visto como uma “deformação patológica” naturalizada mais tarde, no fim do século XIX, por Jean Martin Charcot e Paul Richer, época inclusive em que a histeria surge como o marco de uma enfermidade, libertando o mundo de toda uma imagerie de possessões e de bruxarias.2

Na primeira metade do século XX, a exposição dos povos teria ainda toda uma topografia cara a Eugène Atget, próxima de uma erotização dos trajetos urbanos, como o faz André Breton com Nadja, (Ibidem: 130.) e com esse efeito o “documentário” se aproxima do “estilo”, que, ao contrário de propostas exclusivamente formais, ambos não se separam. Assim, é nesta lógica que as fotografias dos abatedouros do Parque da Villette feitas por Eli Lotar estão muito próximas não apenas do artigo “Abattoir“, de Georges Bataille, para a revista Documents, em 1929, como também podem ser vistas como a própria encarnação da imagem da carniça evocada nos versos de Charles Baudelaire.

Se Didi-Huberman se valeu de formas de sofrimento ou, para sermos mais coerentes com o vocabulário do filósofo, das “fórmulas de pathos” (Pathosformeln), de Aby Warburg, para a composição de sua prancha desmesurada no Le Fresnoy, em Peuples exposés, peuples figurants, após as fotografias de Bazin, é o trabalho de Pier Paolo Pasolini que ganha relevo. Prosseguindo com sua leitura do cineasta feita em Survivances des lucioles (2009),3 a parte “Poèmes des peuples” (“Poemas dos povos”) retoma a figuração de La sortie des usines Lumière, de 1895, em que desde as origens do cinema os atores estão na própria condição de povo, mais precisamente como os trabalhadores da fábrica onde os próprios patrões, os irmãos Lumière, se encarregam de pô-los em cena. Sobre esse filme, o cineasta alemão Harun Farocki (cuja obra é analisada no segundo volume de L’œil de l’histoireRemontages du temps subi) desenvolveu um filme-ensaio intitulado Arbeiter verlassen die Fabrik, de 1995, expondo politicamente todo o mecanismo emocional dos trabalhadores ao final de um dia de expediente.

Afinal, o que são os figurantes? E ainda de modo mais conciso: quem são os figurantes? Sobre esse estudo que marca a passagem dos povos em cena à sua simples figuração, isto é, o movimento de fundo, lemos que “o cinema não expõe os povos, ao que parece, senão pelo estatuto ambíguo de ‘figurantes’. Figurantes: palavra banal, palavra para ‘homens sem qualidade’ de uma cena, de uma indústria, de uma gestão do espetáculo dos ‘recursos humanos'”.*7 São eles, os figurantes, que constituem um movimento de fundo para a ênfase nos protagonistas, os heróis que seriam os atores da história. Os figurantes situam-se como uma massa humana informe, em movimento, emprestando seus rostos, seus gestos, enfim, seus corpos. O desafio, ao perguntar quem são os figurantes, é se aproximar daqueles que não são efetivamente os atores, observar seus gestos e ouvir suas palavras. O desafio posto no livro é uma repentina mudança de foco, onde um olhar estrangeiro como o do espectador pode discordar do movimento das lentas da câmera para ganhar autonomia no quadro, na cena, sendo esse um primeiro passo para aproximar-se dos não atores. Sendo assim, as formas sociais de exposição dos povos mudam assim como a estética dessa apresentação: se antes a “documentação” confrontava-se com o “estilo”, é com Pasolini que a exposição dos povos desafia todo o projeto de relegá-los ao pano de fundo.

De fato, a partir da leitura de Peuples exposés, peuples figurants, Pasolini possui um movimento dialético, pois ele expõe os povos ao mesmo tempo em que se expõe aos povos, onde o desejo e o perigo estão misturados, fato que realmente interferiu na sua vida: “expor os povos supõe expor-se à alteridade, quer dizer, uma afronta de si mesmo – enquanto se é poeta ou cineasta – em um ‘gueto’ no qual não se será protegido de modo algum”.*8 Assim, é no viés de uma exposição de si mesmo aos “povos” que se baseia toda a experiência na obra de Pasolini, que pode ser resumida em uma “beleza da resistência”, da sobrevida e da sobrevivência.*9 Pasolini assumia o risco do criador não apenas no plano experimental, mas no fato que ele se incluía na exposição dos povos, sendo ainda um cineasta que resistia dentro de fora da linguagem, afrontando o real, digamos, com um cinema de poesia, valendo-se no nível de catalogação dos gestos de Goya, com clamor e glória libertária. Não à toa ele tenha sintetizado esse risco no título de um artigo que diz que “fazer cinema é escrever sobre um papel que queima”. Isso seria ainda um outro modo de expor o que Gilles Deleuze escreveu em “Imanência, uma vida…”: “minha ferida existia antes de mim” ou próximo ainda do que Maurice Blanchot, a partir de Kafka, fala da “terceira pessoa”, o “ele” que destitui o sujeito.*10 Assim, o ato de expor os povos é também o risco de se expor ao perigo, gesto que está, inclusive, no étimo da palavra “experiência” e que está no limite do que Bataille escreveu em A experiência interior: “é preciso viver a experiência, ela não é facilmente acessível, e mesmo, considerada de fora pela inteligência, seria preciso ver aí uma soma de operações distintas, algumas intelectuais, outras estéticas, outras enfim morais, e todo o problema a retomar”.*11

Essa forma distinta de exposição dos povos encontra uma força de expressão, além de Pasolini, em filmes e obras de Chantal Aakerman, Béla Tarr, Glauber Rocha e ainda Wang Bing, a quem Georges Didi-Huberman dedica o epílogo do livro ao filme L’homme sans nom (O homem sem nome). E, nessa dinâmica entre o aparecer e o desaparecer, a exposição dos povos segue de forma incessante, praticamente dialética: “assim segue a exposição incessante dos povos, entre a ameaça de desaparição e a necessidade vital de aparecer, apesar de tudo”.*12

*1 (DIDI-HUBERMAN, Georges. Atlas, ¿cómo llevar el mundo a cuestas? Madrid: Reina Sofía, 2010: 187.         [ Links ])
*2 (Impresso da exposição Histoires de fantômes pour grandes personnes, concebida por Georges Didi-Huberman e Arno Gisinger para o Le Fresnoy – Studio national des arts contemporains – de 5 outubro a 30 de dezembro de 2012 –, Tourcoing, França.)
*3 (DIDI-HUBERMAN, Georges. Peuples exposés, peuples figurants. Paris: Les Éditions de Minuit, 2012: 26.         [ Links ])
*4 (Ibidem: 51.)
*5 (Ibidem: 67.)
*6 (Ibidem: 102.)
*7 (Ibidem: 149.)
*8 (Ibidem: 198.)
*9 (Ibidem: 211.)
*10 (Ibidem: 211.)
*11 (BATAILLE, Georges. A experiência interior. Trad. Celso Libânio, Magali Montagné, Antonio Ceschin. São Paulo: Ática, 1992: 16.         [ Links ])
*12 (DIDI-HUBERMAN, Georges. Peuples exposés, peuples figurants, op. cit.: 231.

1 Editado recentemente em português, História da arte e tempo de fantasmas segundo Aby Warburg. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto, 2013.
2 Quanto a esse aspecto, ver Invention de l’hystérie, de Georges Didi-Huberman, reeditado em 2012 pela Macula.
3 A edição brasileira Sobrevivência dos vagalumes (trad. de Vera Casa Nova e Márcia Arbex) foi publicada em 2011 pela Editora da UFMG.

Eduardo Jorge é mestre em Teoria Literária pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e doutorando em Literatura Comparada pela UFMG e pela École Normale Supérieure – ENS.

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Women and Work Feminism/Labour/and Social Reproduction | S. Ferguson

Esta obra de Susan Ferguson forma parte de la serie sobre feminismos y reproducción social editada por Tithi Bhattacharya (2017), y es un aporte sustancial para pensar los alcances y limitaciones de la “teoría de la reproducción social”, que volvió a llamar la atención de la academia y de los movimientos feministas a finales de la década del 2000 por su potencial para abordar y explicar las nuevas dinámicas de explotación y discriminación a nivel global generadas a partir de la crisis económica desatada en 2008. El tema central del libro indaga en las diferentes formas en las que los feminismos han entendido al trabajo de las mujeres y su relación con la opresión. La investigación hace un recorrido de las posiciones feministas asociadas con diferentes tradiciones políticas –desde la democracia radical de 1790, pasando por el socialismo utópico del siglo XIX, hasta la campaña del colectivo internacional de salarios por el trabajo doméstico en la década de 1970 y el actual proyecto de un “feminismo para el 99%” (2019)– para dar cuenta de los puntos de encuentro y de desencuentro entre las que Ferguson llama las “tres grandes trayectorias” de los feminismos de los siglos XVIII, XIX y XX. Leia Mais

Escravidão contemporânea | Leonardo Sakamoto

No Brasil, desde os anos 1990, nos acostumamos a ver na TV, nos jornais e posteriormente na internet, notícias de trabalhadores encontrados pelo Estado em condições de extrema exploração, que incluem alojamentos compartilhados com animais e seus excrementos, insuficiência de alimentação, jornadas incompatíveis com a resistência do corpo humano, dentre outras situações que chocam qualquer observador minimamente empático. Inicialmente, esses fatos pareciam circunscritos a locais distantes e de difícil acesso, particularmente em zonas rurais e no norte do país. Com o passar do tempo, começamos a assistir esses episódios nas grandes cidades e nos mais diferentes setores econômicos. Leia Mais

Formação docente, Gênero e Sexualidade na (e para a) Formação Docente / Formação Docente / 2020.

A Revista Formação Docente – Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores (RBPFP) – é uma publicação do Grupo de Trabalho Formação de Professores (GT8), da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) publicada em parceria da Autêntica Editora. Esta publicação refere-se ao segundo quadrimestre de 2020 – número 24, do volume 12 maio – agosto de 2020.

Este segundo número de 2020 apresenta uma discussão inédita nas páginas da RBPFP – trata-se do dossiê com um tema palpitante abrindo um debate sobre os temas de Gênero e Sexualidade na/para a Formação Docente. Organizado por duas pesquisadoras de renome internacional nos seus respectivos campos de estudos. Margareth Diniz (no campo da Psicanálise e Educação) nossa colega do GT8 e a Dra Ana Guil da Universidade de Sevilla (pesquisadora no campo dos Estudos de Gênero).

Os artigos referentes ao Dossiê que abrem este número conta com a colaboração de colegas da América Latina e Europa e serão apresentados oportunamente no artigo introdutório que contextualizam as temáticas (Gênero e Sexualidade) no campo da Formação Docente da autoria das pesquisadoras convidadas para coordenar o referido Dossiê.

Chamamos a atenção do leitor para este número porque ele traz para dentro do campo de pesquisa sobre a formação do professor, temas com pouca densidade nossos debates e nas pesquisas, os quais vêm recebendo ecos na área mãe – a Educação.

Não se pode dizer que está totalmente ausente, a exemplo disso que se pode indicar esforços aqui e ali da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. A questão de gênero na formação docente foi registrada em um importante livro produzido pelo grupo de Estudos da Faculdade de Educação da USP “Docência, memória e gênero” (1997), do qual participaram as professoras Denice Catani, Belmira Bueno e Cynthia Souza, que se constituiu em material de um mini curso oferecido pelo GT 08 responsável pela RBPFP.

Uma das temáticas entra pela segunda vez em pauta da RBPFP, a primeira veio com esforço da mesma pesquisadora que assina este dossiê, no vol.3, n4 de 2011. Que informava: A profusão de estudos sobre as bases do processo de feminização do magistério, suas implicações na representação social sobre essa categoria e em sua desvalorização no mercado das profissões, assim como as análises sobre a origem social e as discussões em torno do empobrecimento do/a professor/a, têm sido mais consideradas nas propostas oficiais destinadas a formar docentes.

Embora esses aspectos sejam extremamente relevantes, é necessário pensar a formação de professores/as considerando também as diferentes formas pelas quais homens, mulheres, negros, brancos, índios, heterossexuais, homossexuais e indivíduos formados em tradições religiosas diversas experenciam o mundo. Além desses fatores, sua experiência de vida e o modo como se integram e participam da sociedade têm profundas implicações nas formas de ser e agir dos/ as docentes, portanto não se pode desconsiderar as influências dos ambientes socioculturais em que circulam, os bens culturais a que tiveram e têm acesso, enfim, o capital cultural que podem mobilizar no exercício da docência (Diniz, el.al. 2011, p.17).

É importante considerar que ao falar de gênero estamos nos referindo à feminilidades e a masculinidades (sempre no plural) de acordo com Louro (2006) e a potencialidade do conceito talvez resida exatamente nesta noção, a de que se trata de uma construção cultural contínua, sempre inconclusa e relacional, atualmente bastante usual, permitindo-nos avançar das análises binaristas e polarizadoras entre homens e mulheres, buscando interrogar análises das pesquisas no campo da formação docente que, por vezes, reiteram posições hierarquizadoras, cuja polaridade masculina sai em vantagem.

Outro ponto que o dossiê destaca e a busca de inserção dessas categorias conceptuais tais como gênero e sexualidade, tendo em vista sua vertente relacional, pois, estas categorias de forma geral no campo da educação, e, em especial no campo da formação docente, ainda percebemos um ausência destes temas no campo, conforme demonstram as autoras em seu artigo de introdução ao dossiê. Em fim, esperamos que este dossiê, seja para o campo da pesquisa sobre a Formação de Professores (as) um tema provocador e quiçá, desperte jovens pesquisadores para estas temáticas.

Este número conta também com quatro artigos da demanda de submissão geral. Dois internacionais que vem da comunidade acadêmica de Língua Portuguesa. O primeiro da lavra de três colegas da Universidade de Aveiro em Portugal – Jane Machado, Ana Isabel Andrade e Rui Neves que trazem para o debate “Os planos curriculares de cursos em supervisão: um contributo para uma epistemologia da prática” e o segundo dos colegas das universidades de Licurgo e Rovuna em Moçambique. África, Geraldo Deixa e Rosalino Chicote que abordam sobre a formação inicial dos professores no artigo intitulado “A influência da indução de professores principiantes na qualidade de ensino no 1º grau do Ensino Básico em Moçambique”.

Na sequência se publica dois artigos nacionais também de demanda geral: um da região sul, de Suelen A.

Felicetti e Irinéa de Lourdes Batista, colegas de Universidade Estadual de Londrina (UEL), sobre a formação de professores para a educação inclusiva de alunos com deficiências. Um artigo de revisão na literatura. E por último, contamos com um artigo de professoras da Universidade Federal do Ceará sobre a “Docência na educação infantil: Diálogo entre Filosofia e Pscicomotricidade relacional” da lavra das professoras Rosalina R.A Morais; Silvana M.S.Morais e Ana M.M.C Frota.

Esperamos que este número que ora apresentamos da Formação Docente –Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de Professores, seja relevante para o debate no campo, e possibilite a reflexão para os investigadores que atuam pesquisando sobre a Formação de Professores na América Latina.

Agradecemos atenção do leitor e o convidamos à leitura.

Referências

DINIZ, Margareth. A formação e a condição docente num contexto de complexidade e diversidade. In. Revista Brasileira de Pesquisa sobre a Formação de Professores. Belo Horizonte, v. 03, n. 04, p. 13-22, jan./jul. 2011.

REVISTA BRASILEIRA DE PESQUISA SOBRE FORMAÇÃODE PROFESSORES. volume 3., n.4. Belo Horizonte, 2011.

CATANI. D.B.; BUENO, B.O.; SOUSA, C.P.; SOUZA, MCCC. Docência, Memória e Gênero. Estudos sobre a formação. São Paulo. Ed. Escrituras, 1997.

José Rubens Lima Jardilino – Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Belo Horizonte, Minas Gerais – Brasil.


JARDINLINO, José Rubens lima. Apresentação. Formação Docente. Belo Horizonte, v. 12, n. 24, p. 9-12, mai./ago. 2020. Acessar publicação original [IF]

Vozes, Pretérito & Devir. Teresina, v.11, n.2, 2020.

Sociedade, Cultura ,Trabalho: Diálogos sobre fronteiras no Mundo Rural (PARTE – II)

Dossiê Temático

Artigos

Chamada de Artigos

Vozes, Pretérito & Devir. Teresina, v.11, n.1, 2020.

Sociedade, Cultura ,Trabalho: Diálogos sobre fronteiras no Mundo Rural (PARTE I)

  • Vozes, Pretérito & Devir

Editorial e Sumário (Parte I)

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  • Antonio Alexandre Isídio Cardoso, Cristiana Costa da Rocha, José da Cruz Bispo de Miranda, Robson Carlos da Silva, Salania Maria Barbosa Melo

Dossiê Temático

Artigos

Seção Especial

Vozes, Pretérito & Devir. Teresina, v.10, n.1, 2020.

História Militar, Historiografia e Caminhos de Pesquisa

Dossiê Temático

Artigos

Resenhas

Revista de História Comparada. Rio de Janeiro, v.14, n.2 2020.

Dossiê Temático

Vozes, Pretérito & Devir. Teresina, v.9, n.1, 2020.

História e Criminalidade

  • Vozes, Pretérito & Devir

Editorial

Dossiê Temático

Artigos

Revista de História Comparada. Rio de Janeiro, v.14, n.1 2020.

Artigos

Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília, v.63, n.1, 2020.

·        Limits and paradox of TeleSUR: the media as a political agent of regional (dis)integration Article

  • Lessa, Mônica LeiteFontes, Pablo Victor
  • Resumo: EN
  • Texto: EN
  • PDF: EN
  • ·        Compliance in “exceptional” trade disputes: a set-theoretical approach Article
  • Cezar, Rodrigo Fagundes
  • Resumo: EN
  • Texto: EN
  • PDF: EN
  • ·        Gagarin in Brazil: reassessing the terms of the Cold War domestic political debate in 1961 Article
  • Caterina, Gianfranco
  • Resumo: EN
  • Texto: EN
  • PDF: EN
  • ·        Exploring Brazilian foreign policy towards women: dimensions, outcomes, actors and influences Article
  • Salomón, Mónica
  • Resumo: EN
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Torcidas Organizadas na América Latin – HOLLANDA; AQUILAR (DSSC)

HOLLANDA, Bernardo Borgues Buarque de; AQUILAR,  Onésimo Rodríguez (eds.). Torcidas Organizadas na América Latina. Rio de Janeiro: 7Letras, 2017, 232 pp. Resenha de: FERREIRA, Daniel Vinícios. Diacronie Studi di Storia Contemporanea v. 42, n. 2, 2020.

L’America Latina comprende buona parte del continente americano: il suo concepimento teorico, tuttavia, sarebbe sorto solamente nel XIX°secolo; una differenza radicale che si riscontra non soltanto rispetto all’Europa, ma anche guardando agli Stati Uniti1. Nell’ambito della cultura sportiva il calcio si sarebbe reso protagonista tra i latino-americani e da esso sarebbero sorte a partire dalla seconda metà del Novecento formazioni di tifosi associate alle sottoculture giovanili.

Nel campo scientifico brasiliano sono dei pionieri degli studi sul tifo Roberto Da Matta (riguardo alla rappresentazione di politica e democratica) e Simoni Guedes. Per quel che riguarda gli studi più recenti vale la pena menzionare quelli di Ronaldo Helal, Victor de Andrade Melo, Arley Sander Damo, Gilmar Mascarenhas, Irlan Simões e Bernardo Borges Buarque de Hollanda, i quali si occupano della storia del tifo, delle identità e configurazioni delle tifoserie (come nel caso delle tifoserie organizzate), degli stadi (e delle loro trasformazioni) in Brasile.

È in questo tentativo di pensare in maniera critica il tifo latino-americano che ci si presenta il lavoro Torcidas Organizadas na América Latina, curato dai ricercatori Bernardo Buarque de Hollanda (Brasile) e Onésimo Rodriguez Aguilar (Costa Rica), entrambi autori di riferimento per il tema. L’opera in oggetto è anche il risultato di alcuni incontri accademici sulla questione, a riprova dello sforzo tuttora in atto di colmare una lacuna di opere sul tema e favorire la reciproca conoscenza tra i ricercatori che si occupano di calcio in America Latina.

Il libro riunisce nove articoli, frutto di ricerche sviluppate in contesti differenti, ma raccolte in una pubblicazione collettanea pensata per il pubblico brasiliano. Gli autori differiscono quanto alla formazione scientifica, benché a prevalere nelle analisi sia uno sguardo storico-antropologico. A partire da questioni specifiche (come la violenza), essi cercano di svelare i complessi significati socio-culturali implicati nel tifo organizzato presso i gruppi giovanili in diversi paesi del subcontinente.

Sílvio Aragón, antropologo e professore dell’Universidade Nacional do Mar de Plata (Argentina), analizza il rapporto tra i mutamenti politici in Argentina e la trasformazione delle soggettività e dei processi di socializzazione delle tifoserie, avendo come focus la comprensione della violenza in questi collettivi. L’esperienza considerata da Aragón è quella della barra2 brava La Gloriosa Butteler, legata al Clube Atlético San Lorenzo del quartiere Almagro (Buenos Aires). Il contesto neoliberale avrebbe contribuito ad esacerbare l’individualismo sul piano sociale corrodendo i vincoli tradizionali, esacerbando nella contesa le differenze/alterità, condizione, questa, che diviene maggiormente drammatica per quegli individui in difficoltà sul piano sociale o economico. Per quel che riguarda i clubs, questi avrebbero gradualmente perduto il loro carattere associativo per promuovere sempre più la logica consumista. Tra i tifosi, invece, i vecchi vincoli ed impegni collettivi più ampi, che favorivano generalmente il legame con la sinistra peronista, avrebbero ceduto il passo a sempre più intense ed aggressive lotte per il potere all’interno della tifoseria. In tale contesto la violenza all’interno o tra gruppi di barras sarebbe gradualmente divenuta sempre più naturale e banale. Questa violenza – associata a identità plasmate da una certa idea di mascolinità – rimetterebbe a concetti razionali (come l’idea di aguante3), e renderebbe possibile l’acquisizione di uno status all’interno della barra, non riflettendo così qualcosa di accidentale o irrazionale.

Marcelo Faria Guilhon, scienziato sociale e laureato in Giurisprudenza, svolge un’analisi circa la traiettoria storica delle tifoserie organizzate in Brasile attraverso la considerazione della violenza e del trattamento legislativo riservato a questi gruppi da parte dello Stato. Guilhon mette in risalto il modo in cui la forma-tifoseria si origina durante gli anni in Brasile con la popolarizzazione e massificazione del calcio nei principali centri del Paese (anni Venti e Trenta). Proprio dalle tifoserie avrebbe cominciato a prevalere, tra le tribune del Paese, un ethos più attivo e performativo. Per quel che riguarda invece le tifoserie organizzate, queste avrebbero avuto la loro origine negli anni Trenta per poi toccare l’apice negli anni Ottanta, quanto i collettivi sarebbero divenuti numerosi e avrebbero cominciato ad esercitare un’influenza politica nei clubs. Tali

3 Il termine è traducibile come “resistenza, sopportazione”. Il concetto di aguante è fondamentale per comprendere l’ethos del tifoso delle cosiddette barras-bravas in América Latina. Tale concetto ritrova la sua matrice nelle tifoserie argentine – la più influente ed estesa in America Latina (in Brasile a prevalere è invece il modello delle tifoserie organizzate). Aguante sarebbe dunque um concetto polisemico dalla connotazione positiva, in generale associato al corpo e alle varie forme assunte dalla capacità del tifoso di donarsi al suo club collettivi risulterebbero intimamente associati alla cultura popolare (come il samba e il carnevale). Nel contesto della dittatura militare anche queste tifoserie fecero proprie strutture gerarchizzate e burocratizzate. La violenza (che era sempre esistita nel calcio) si sarebbe ulteriormente intensificata con l’emergere di un’estetica e di un comportamento più aggressivi tra i gruppi, un fenomeno in seguito rafforzato dal contesto neoliberale e dalla diffusione di «tribù urbane» (nell’intero paese), note per l’uso della corporeità nelle loro espressioni (fatte di musica e danza, come nel punk e nell’hip-hop). Osservando la legislazione Guilhon afferma che lo Statuto del Tifoso4 ha normato la concezione del tifoso in quanto cittadino e consumatore. In una nuova legge (del 2010, precedente alla Coppa del Mondo e alle Olimpiadi brasiliane) sono stati inseriti nuovi dispostivi che avrebbero trattato direttamente delle tifoserie organizzate, rendendo peraltro possibile che le responsabilità ricadessero sui gruppi (e non sugli individui) per quegli atti che si fossero verificati all’interno della tifoseria. Il ricercatore pone l’accento sul disaccordo di questa legge con i princìpi costituzionali (e coi diritti fondamentali) del paese, oltre a metterne in risalto la probabile inefficacia. Arriva quindi alla conclusione per cui la legislazione rivela presupposti ingannevoli in un contesto di caro biglietti, nuovo formato degli stadi e in cui viene imposto una nuova modalità di tifare contrapposta alla tradizione culturale di tifo delle classi popolari.

Miguel Cornejo, professore presso la Facoltà di Educazione dell’Università di Concepción (Cile), ci offre un articolo che si concentra sulla natura socio-identitaria delle barras in Cile e sulla questione della violenza. Sarebbe proprio quest’ultima ad essere aumentata sino a salire alla ribalta a partire dalla fine del XX secolo. Il comportamento radicale dei barristas (maggioritariamente giovani uomini di classe bassa) sarebbe complesso e dovrebbe essere inteso quale espressione all’interno di una configurazione di relazioni complesse, della quale fa parte l’atomizzazione degli individui in un contesto più ampio di globalizzazione e corrosione del concetto di cittadinanza. In Cile spiccano due barras principali, Los de Abajo (Universidad Catolica) e Garra Blanca (Colo-Colo). Cornejo sostiene che i giovani barristas, socialmente emarginati, si sarebbero appropriati degli stadi di calcio, potendosi sentire lì protagonisti e liberi, accolti in una comunità. Il calcio avrebbe così rivestito un ruolo centrale nelle loro vite, definendone identità, alterità, gruppi di appartenenza e linee di conflitto. I clubs e i dirigenti si sarebbero avvalsi di questo appoggio senza però conferire alle barras una responsabilità istituzionale. Per quel che riguarda la legislazione, il ricercatore mette in rilievo leggi e programmi atti ad impedire e punire la violenza a partire dal 1994, ma che non avrebbero compiuto grandi passi in avanti. Per il 2012 sono messe in rilievo nuove modifiche normative, ispirate a modelli europei, con le quali si proibisce ai tifosi di portare oggetti (quali estintori5, striscioni e fumogeni) e si promuove il collettivi risulterebbero intimamente associati alla cultura popolare (come il samba e il carnevale). Nel contesto della dittatura militare anche queste tifoserie fecero proprie strutture gerarchizzate e burocratizzate. La violenza (che era sempre esistita nel calcio) si sarebbe ulteriormente intensificata con l’emergere di un’estetica e di un comportamento più aggressivi tra i gruppi, un fenomeno in seguito rafforzato dal contesto neoliberale e dalla diffusione di «tribù urbane» (nell’intero paese), note per l’uso della corporeità nelle loro espressioni (fatte di musica e danza, come nel punk e nell’hip-hop). Osservando la legislazione Guilhon afferma che lo Statuto del Tifoso4 ha normato la concezione del tifoso in quanto cittadino e consumatore. In una nuova legge (del 2010, precedente alla Coppa del Mondo e alle Olimpiadi brasiliane) sono stati inseriti nuovi dispostivi che avrebbero trattato direttamente delle tifoserie organizzate, rendendo peraltro possibile che le responsabilità ricadessero sui gruppi (e non sugli individui) per quegli atti che si fossero verificati all’interno della tifoseria. Il ricercatore pone l’accento sul disaccordo di questa legge con i princìpi costituzionali (e coi diritti fondamentali) del paese, oltre a metterne in risalto la probabile inefficacia. Arriva quindi alla conclusione per cui la legislazione rivela presupposti ingannevoli in un contesto di caro biglietti, nuovo formato degli stadi e in cui viene imposto una nuova modalità di tifare contrapposta alla tradizione culturale di tifo delle classi popolari.

Miguel Cornejo, professore presso la Facoltà di Educazione dell’Università di Concepción (Cile), ci offre un articolo che si concentra sulla natura socio-identitaria delle barras in Cile e sulla questione della violenza. Sarebbe proprio quest’ultima ad essere aumentata sino a salire alla ribalta a partire dalla fine del XX secolo. Il comportamento radicale dei barristas (maggioritariamente giovani uomini di classe bassa) sarebbe complesso e dovrebbe essere inteso quale espressione all’interno di una configurazione di relazioni complesse, della quale fa parte l’atomizzazione degli individui in un contesto più ampio di globalizzazione e corrosione del concetto di cittadinanza. In Cile spiccano due barras principali, Los de Abajo (Universidad Catolica) e Garra Blanca (Colo-Colo). Cornejo sostiene che i giovani barristas, socialmente emarginati, si sarebbero appropriati degli stadi di calcio, potendosi sentire lì protagonisti e liberi, accolti in una comunità. Il calcio avrebbe così rivestito un ruolo centrale nelle loro vite, definendone identità, alterità, gruppi di appartenenza e linee di conflitto. I clubs e i dirigenti si sarebbero avvalsi di questo appoggio senza però conferire alle barras una responsabilità istituzionale. Per quel che riguarda la legislazione, il ricercatore mette in rilievo leggi e programmi atti ad impedire e punire la violenza a partire dal 1994, ma che non avrebbero compiuto grandi passi in avanti. Per il 2012 sono messe in rilievo nuove modifiche normative, ispirate a modelli europei, con le quali si proibisce ai tifosi di portare oggetti (quali estintori5, striscioni e fumogeni) e si promuove il questi vengono

controllo delle relazioni tra barras e clubs. L’autore conclude argomentando le ragioni per cui il problema della violenza è più complesso e richiederebbe altre misure per essere affrontato meglio, come ad esempio ripensare il ruolo delle barras, la promozione di politiche pubbliche di inclusione e il miglioramento delle infrastrutture degli stadi.

Alejandro Villanueva Bustos, sociologo con una formazione pedagogica, sviluppa invece un’analisi critica sulle barras colombiane e sulla questione della violenza. Bustos afferma che se la relazione barras/violenza in Colombia risale al 1990, soltanto dieci anni dopo lo Stato decise di proporre delle politiche su questo tema. La violenza nel calcio si verificherebbe al di là del contesto degli stadi e delle partite, dal momento che è presente anche nei quartieri e può essere legata ad altri problemi come le bande criminali urbane. Nel 2004 il governo lanciò un progetto (“programmi di convivenza”) a Bogotá per occuparsi del problema. Tale progetto ha visto riuniti vari attori sociali, tra cui alcuni rappresentanti delle barras, avente per base un comitato il cui scopo era la condivisione della responsabilità nella risoluzione del problema a partire dalla convivenza/tolleranza tra le barras e dall’inclusione dei suoi membri. Il già citato decreto sarebbe divenuto, nel 2009, la base per un’altra legge – questa volta applicata all’intera Colombia – che estese il modello delle commissioni e dei “programmi di convivenza” all’intero Paese (agendo in maniera integrata e preventiva). Questo comportò peraltro nuove limitazioni e regole per gli spettacoli sportivi con l’emergere di un protocollo nazionale per standardizzare e regolamentare la gestione delle tifoserie, dando così origine a El estatuto del Hincha o el aficionado (2012). Il ricercatore valuta positivamente questi progetti, in quanto avrebbero reso possibile una diminuzione della violenza. Ciononostante il lavoro dovrebbe essere intensificato, sia attraverso un maggiore impegno dei clubs e delle barras, sia rivolgendo l’attenzione ad altre istanze sociali (come un’educazione di buon livello, il lavoro e l’offerta per il tempo libero dei giovani).

Onésimo Rodríguez Aguilar, antropologo e professore presso la Scuola di Antropologia dell’Università della Costa Rica, conduce un’analisi socio-storica sulla barra della Costa Rica (La Ultra Morada) sorta nel 1995 ed associata al club Deportivo Saprissa (Prima divisione). Egli tratta dei conflitti (l’uso e le pratiche di potere) verificatisi all’interno della barra nel corso degli anni per il suo controllo. I suoi principali leaders (8), che sostenevano la presidenza, si denominavano “cavalieri della tavola rotonda” e provenivano da due grandi aree della città di San José: Los del Sur (area più popolare) e Los del Norte (area più di classe media). In tali conflitti il bene comune e la lotta di classe avrebbero dominato i repertori retorici delle due fazioni in lotta, il cui fine comune era il dominio autoritario e il controllo soggettivo della massa dei tifosi, a vantaggio di un gruppo dirigente. Queste contese avrebbero avuto come sfondo una formazione eterogenea ed instabile di collettività, ma anche di appartenenze, lealtà e identità. Aguilar conclude affermando che la barra era un collettivo con un’organizzazione politica complessa, con rivalità complesse (al di là degli spazi ludici) e perciò molto distante da qualsiasi presupposto di omogeneità.

Jacques Ramírez Gallegos, professore dell’Instituto del Altos Estudios Nacionales (IAEN) dell’Ecuador, tratta delle barras dell’Ecuador (sorte nell’ultimo trentennio del XX secolo e che guadagnarono forza negli anni Novanta) soffermando la sua attenzione sul tema della violenza. Egli fa qui riferimento ad alcune barras legate ai principali clubs del Paese (a Quito e Guayaquil). Gallegos mette in risalto il fatto che la comprensione della violenza nel calcio ecuadoriano non può prescindere dal prendere in considerazione il tema del regionalismo: il bipolarismo politico-economico (ed urbana) tra le due principali città dell’Ecuador (Quito e Guayaquil) e la stessa difficoltà storica del paese di consolidarsi in uno Stato-nazione centralizzato, cosa ha avuto ripercussioni sul mantenimento di forti regionalismi (e per estensione sull’organizzazione provinciale del calcio). Oltre a ciò, l’autore analizza l’ascesa stessa delle barras ed i contenuti sociali che coinvolgono i giovani barristas, come la simbologia della mascolinità, del successo, del sessismo, dell’omofobia e del razzismo contro gli afroamericani e/o indios. Un simile percorso sarebbe stato più volte trascurato dal potere pubblico ecuadoriano che, a partire dal XXI secolo avrebbe cercato di promuovere misure per combattere la violenza (come punizioni più rigorose e miglioramento degli stadi), seppur sulla base di proposte superficiali.

Gli antropologi Roger Magazine (professore dell’Universidad Iberoamericana di Città del Messico) e Sergio Fernández Gonzállez (professore dell’Universidad Autónoma Metropolitana di Xochimilco) ci offrono un’analisi sulla trasformazione delle tifoserie in Messico tra il 1995 ed il 2014, quando le tradizionali porras6 vennero gradualmente sostituite dalle barras. Sottolineano il fatto che, in tale processo, vi fu un mutamento nelle forme di potere all’interno dei gruppi di tifosi e una barrificazione dei quartieri messicani: in altri termini, la territorialità di queste località cominciò ad essere permeata dalla simbologia e perfino dalle contese tra le barras. Magazine e González affermano inoltre che la trasformazione del tifo in Messico si era verificata parallelamente (venendone a sua volta influenzata) alla transizione stessa della società messicana, storicamente associata al corporativismo clientelare statale, nella direzione di una società più autonoma – ma anche atomizzata e caratterizzata da un maggiore iato tra ricchi e poveri – in un contesto che era già quello della globalizzazione e delle politiche neoliberali. I ricercatori arrivano a considerare le barras alla stregua di spazi alternativi per l’espressione della cultura popolare in Messico – ed anche del divenire plurale e della democratizzazione dell’urbe – e che tuttavia finirono per essere stigmatizzate come icone della violenza da parte di vari settori della società, il cui giudizio risente di una prospettiva classista. Un’interpretazione errata ed eccessiva, giacché la violenza nel calcio sarebbe legata alla complessità di tanti altri fattori.

I sociologi Aldo Panfichi, professore presso la Pontificia Università Cattolica (Perù) e Jorge Thieroldt, professore presso l’Università del Kansas (Usa), offrono un’analisi (comparativa e storica) della relazione tra calcio e identità in Perù. L’esperienza analizzata è quella del club Alianza Lima e del Clube Universitário de Deportes. Gli studiosi sottolineano come l’Alianza Lima sia storicamente legata ai neri, ai meticci e ai settori popolari e consacrata all’immaginario di un calcio più estetico. L’Universitário sarebbe invece il club degli universitari e della classe medio-alta, dedito a un calcio più muscolare nel gioco. Il classico avrebbe conosciuto la sua ascesa alla fine degli anni Venti, diventando da allora sempre più importante. Nell’ultimo trentennio del Novecento sorsero le barras associate ai clubs. In uno scenario segnato da convulsioni politiche, autoritarismo, impoverimento e corruzione, il calcio avrebbe canalizzato le rivalità sociali e sarebbe servito anche all’esercizio di distinte forme di violenza fisica e simbolica da parte dei gruppi giovanili emergenti. Nel contesto delle barras, la vecchia dicotomia che rappresentava le identità e le rivalità tra i clubs sarebbe stata risignificata a partire da alcune persistenze.

La collettanea si chiude con un articolo di Leonardo Mediondo, professore di sociologia presso l’Università Ort (Uruguay). Mediondo tratta delle barras e dei tifosi uruguaiani, concentrandosi su due clubs: il Clube Atlético Peñarol ed il Clube Nacional de Futebol. In un breve testo non suddiviso per tematiche egli esplora varie possibilità e aspetti di approfondimento delle tematiche dell’identità, delle soggettività e dell’appartenenza sportiva nella realtà (eterogenea) della società uruguaiana. In tale prospettiva interpreta anche il coinvolgimento dei differenti tipi di tifosi e di barras nelle rappresentazioni simboliche e nelle attività legate agli assembramenti.

Il libro Torcidas Organizadas na América Latina si rivela essere un opera di riferimento sulla tematica, apportando una varietà interessante e rilevante di esperienze e questioni presentate e delineate in modo chiaro. Può inoltre vantare una certa originalità in virtù del taglio che propone. Per quanto già esistessero dei lavori sul tifo nel sub-continente – e tra questi merita una menzione speciale il pionerismo del ricercatore argentino Pablo Alabarces7 – vi sono molte questioni ancora poco esplorate all’interno di quest’ambito. Tra queste quella della violenza, che preoccupa sempre più le autorità e le figure coinvolte nello sport nella regione (e che spesso viene ancora combattuta in maniera errata). L’opera ha come merito principale quello di offrire al lettore (non soltanto latino-americano e/o accademico) uno sguardo panoramico e introduttivo sulle relazioni tra calcio e società secondo una prospettiva che permette di pensare oltre il prisma limitante dello Stato-nazione o delle norme del senso comune.

Notas

1 BURKE, Peter, A ideia de América Latina, in BURKE, Peter, O historiador como colunista, Rio de janeiro, Civilização Brasileira, 2009, pp. XX-XX.

2 Con il termine barra l’Autore si riferisce ad un tipo di tifoseria perlopiù giovanile e più animato della norma [ N.d.T.]

4 Legislazione promulgata in Brasile nel 2002 con la quale si è cominciato a trattare specificamente degli spettatori delle partite di calcio.

5 Tra le tifoserie latinoamericane è invalsa l’usanza di introdurre estintori caricati con i colori della squadra;  questi vengono impiegati in alternativa (o assieme) ai fumogeni per i festeggiamenti [NdT].

6 Le porras si distinguono dalle barras in quanto si configurano più come “confraternite” di amici ed eventualmente dei rispettivi parenti e presentano uno “stile di tifo” meno violento [N.d.T.]

Pablo Alabarces è uno dei più importante intellettuali dell’America Latina, specialista nell’indagine sulle connessioni tra calcio e società. L’autore è considerato in questo campo um pioniere per opere come ALABARCES, Pablo (comp.), Futbologías. Fútbol, identidad y violência en América Latina, Buenos Aires, CLACSO, 2003; ma anche per lavori di riferimento sul tema come: ID., Fútbol y Patria, Buenos Aires, Prometeo Libros, 2002; ID., Hinchadas, Buenos Aires, Prometeo Libros, 2005.

Daniel Vinícius Ferreira – È titolare di un dottorato di ricerca binazionale in Storia presso l’Università Federale del Paraná (UFPR) e l’Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). Si occupa del tema delle identità e delle appartenenze nella globalizzazione del calcio riservando una particolare attenzione ai clubs spagnoli e brasiliani. Attualmente è ricercatore presso l’UFPR nel Nucleo di Studi “Futebol e Sociedade” (NEFES).

Graziano Mazzocchini – Dottorando in Filosofia Contemporanea presso l’Università Federale di Minas Gerais (UFMG), Brasile, ha conseguito la laurea triennale e la laurea magistrale in Filosofia presso l’Università degli Studi di Bologna. Si occupa perlopiù del pensiero di Michel Foucault e di teoria critica tedesca.

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Lazos rotos. La inmigración/el matrimonio y las emociones en la Argentina entre los siglos XIX y XX | M. Bjerg

En las últimas décadas, la inmigración europea ha constituido un tópico recurrente en la historiografía local, especialmente en lo que refiere a los procesos de conformación del estado nacional en las postrimerías decimonónicas. Sendos abordajes pusieron de relieve la arista cuantitativa de la afluencia ultramarina, su impacto demográfico y el impulso en la modelización de una economía moderna a las puertas de la nueva centuria. Sin embargo, tanto la experiencia colectiva y subjetiva de la migración como la vida cotidiana de quienes emigraron no devinieron en igual objeto de interés para el campo de estudios históricos. Leia Mais

Igualitária. Belo Horizonte, v.1, n.15, 2020.

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Professoras primárias: profissionalização e feminização do magistério capixaba (1845-1920) | Elda Alvarenga

Em 2017, o Brasil registrou 1.683.772 de mulheres professoras na rede básica de ensino, número que representa 81% do total de docentes.[1] A supremacia feminina no universo escolar brasileiro, no entanto, não se configurava regra no século XIX. Pelo contrário, em grande parte do Oitocentos, a profissão de professor era exercida majoritariamente por homens. A obra “Professoras Primárias: profissionalização e feminização do magistério capixaba (1845-1920)” traz esse debate percorrendo a história da inserção das mulheres no magistério na Província do Espírito Santo. O livro é a publicação da tese de doutoramento de Elda Alvarenga, defendida em 2018, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo. Elda Alvarenga, semelhante as protagonistas de seu estudo, se dedica à educação. Professora do ensino superior e pesquisadora da História da Educação, a autora desenvolve estudos nas áreas de gênero, história e educação.

O livro em tela se desenvolve em torno de três eixos analíticos, tendo como referência a realidade histórica da Província do Espírito Santo. O primeiro elemento da análise constituiu a expansão do acesso à escolarização para ambos os sexos, efetivada, sobretudo, na segunda metade do Oitocentos. O segundo eixo da investigação se volta para as políticas públicas contemplando discussões sobre as principais reformas provinciais da época que buscaram reordenar a instrução elementar capixaba, com destaque para as Reformas Moniz Freire (1892) Gomes Cardim (1908). Por fim, o estudo focaliza sua análise sobre a atuação da Escola Normal (criada em 1869, como Instituto Feminino Secundário) no processo de ocupação feminina do magistério público e da sua posterior feminização. Leia Mais

Guilherme Mansur – MELLO (HU)

MELLO, S.H. Guilherme Mansur. São Paulo: Edusp/Com-Arte, 2018. 144 p. (Editando o Editor, 9). Resenha de: QUINTA, Hugo. O caleidoscópio telúrico de Guilherme Mansur: tipógrafo-editor-poeta e artista gráfico. História Unisinos 24(1):157-160, Janeiro/Abril 2020.

Editando o Editor é a coleção idealizada por Jerusa Pires Ferreira, dirigida por ela e por Plinio Martins Filho, e editada desde 1989, ano em que a Prol Editora Gráfica e a Com-Arte (editora laboratório dos alunos de Editoração da Escola de Comunicação e Artes da USP) publicaram o primeiro livro da coleção com o relato de Jacó Ginsburg. A partir de 1991, ano de lançamento da segunda obra com o testemunho de Flávio Aderaldo, a Edusp substituiu a Prol e passou a publicar os livros da coleção em parceria com a Com-Arte. Desde a obra inaugural, a proposta que norteia a Editando o Editor parte de um esforço coletivo: os organizadores de cada título da coleção convidam os editores a serem entrevistados e orientam os estudantes de editoração no trabalho “de escutar, gravar, selecionar e, finalmente, editar o pensamento nuclear de cada um desses profissionais, respeitando o fluxo de seu discurso, seu ritmo próprio, seus saberes peculiares, suas formas de expressar a vida, experiência e trabalho” (Ferreira, 2013, p. 10). O livro com o depoimento de Cláudio Giordano (2003) foi editado por Magali Oliveira Fernandes, Sonia Montone, Carla Fernanda Fontana e Fábio Larson. A obra com o testemunho de Samuel Leon (2010) envolveu duas etapas: primeiro utilizaram a entrevista do editor, feita por Raquel Maygton Vicentini, e, depois, a edição do depoimento foi levada a cabo por Jerusa Pires Ferreira e a Com-Arte. O oitavo número foi organizado por Marcelo Yamashitta Salles e apresentou o relato de Plínio Coêlho (2013), o libertário editor de obras anarquistas.

A aura da coleção abarca o trabalho de profissionais que desenvolveram um amplo leque de projetos editoriais, desde a edição de livros populares realizada por Arlindo Pinto de Souza (1995), passando pelas edições de títulos progressistas sob a direção de Ênio Silveira (2003), além da valiosa contribuição de Jorge Zahar (2001), notável editor de livros universitários. Em cada obra, a idealizadora da coleção evidencia as idiossincrasias de editar os depoimentos dos editores, “[…] situar persona, personagens e observar sua inserção na história cultural do nosso país reunindo, sem discriminar, editores de vários tipos” (Ferreira, 2001, p.10). A coleção empregou a história oral com o propósito de esboçar as diversas maneiras como o trabalho do editor contribui para a história do livro no Brasil, são memórias editoriais que dependem do “rigor de quem colhe, interpreta e divulga entrevistas” (Alberti, 2005, p.170). Na abertura do livro sobre Plínio Coêlho, Jerusa Pires Ferreira (2013, p. 16) afirma que a ênfase dos depoimentos pode ser significada pela palavra paixão, “[…] mesmo porque diante de histórias de vida e profissão, de relatos que mergulham na memória reconstruída e na força da vivência presente, não podemos manter o ânimo frio”.

A tônica da paixão é reluzente no último número da Editando o Editor, a obra que ressoa a voz do editor que extrapola o ofício. Guilherme Mansur (2018) executa diversas etapas da cadeia de produção de um livro, trabalha com conhecimentos tradicionais – inaugurado por meio do sistema de Johannes Gutenberg (1398-1468), o impressor que revolucionou a produção editorial por ter desenvolvido um método de cópias iguais e simultâneas de um manuscrito, inovação que provocou maior participação do editor no processo de concepção de um livro (Bragança, 2005, p. 225) – e projetos inovadores de edição e publicação de palavras, poesias, livros, esculturas, instalações e poemas-objeto com lixo tipográfico.

O caleidoscópio telúrico de Guilherme Mansur simboliza a nossa percepção das entrevistas que ele concedeu a Simone Homem de Mello (2018), uma das responsáveis por também editar os depoimentos do tipógrafo- editor-poeta e artista gráfico. A fala de Mansur corrobora a força artística do editor que atua em distintas camadas de ofícios e saberes, aproveitando sucatas de tipos gráficos descartáveis, manuseando impressoras com o rigor de tipógrafo-editor, integrando o movimento Arte Correio, publicando poemas em cartões aos 18 anos de idade. A trajetória profissional de Mansur abarca diversas pessoas do campo intelectual, artístico e editorial, como os irmãos Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari, José Mindlin, Alice Ruiz, Paulo Leminski, Arnaldo Antunes, Laís Correia de Araújo, e personalidades míticas de sua terra natal, como Bené da Flauta e o pintor Takaoka.

Ao longo do livro é notória a capacidade do personagem em atrair pessoas na formulação e criação de seus trabalhos, bem como atesta a internacional loquacidade ouro-pretana fundida à versatilidade de sua obra. A Ouro Preto de Guilherme Mansur nos remete às cidades invisíveis arquitetadas por Ítalo Calvino (1990, p. 14) e descritas por Marco Polo: “A cidade não é feita disso, mas das relações entre as medidas de seu espaço e os acontecimentos do passado.

[…] A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata”. O livro sobre o editor é um amálgama de suas descrições sobre o passado, a cidade, as parcerias e as imagens de sua produção artística, retratos que sugerem a dimensão imagética de seu trabalho.

Guilherme Mansur (2018) é dividido em 14 capítulos. O primeiro traça um breve comentário sobre a coleção e o segundo, de autoria de Jerusa Pires Ferreira, apresenta um esboço desse mineiro editor de múltiplas faces. Palavras em trânsito: a arte editorial de Guilherme Mansur é o título do terceiro capítulo, um ensaio escrito por Simone Homem de Mello (2018), a escritora e tradutora que conviveu e dialogou com Mansur entre os anos de 2012 e 2015, e que depois selecionou os trechos do depoimento, definindo os capítulos e a ordem do livro. Ela não somente o descreve como um editor e artista gráfico, tipógrafo, autor, inventor, como também sustenta que “[…] a estrutura deste livro procura espelhar a multidirecionalidade de sua atuação como editor. Como editor? Sim, pois sua arte da palavra […] sempre prioriza a veiculação da palavra, seja qual for o meio e o suporte” (Mello, 2018, p. 20). A atitude polivalente do editor tem a ver com sua prática e seus saberes de tipografias de caixa, conhecimentos que fazem parte de seus trabalhos digitais e são responsáveis por criar uma ampla gama de produtos editoriais, a exemplo de uma revista-saco e das chuvas de poesia. A partir do “[…] trânsito da palavra como eixo de concepção da obra […]” (Mello, 2018, p. 21), Mansur multiplicou os meios e as formas de publicação, o que não se contrapõe à proposta da coleção, idealizada como uma via de memória oral.

O quarto e o quinto capítulo traçam a polivalência do mineiro nascido em 1958 na cidade de Ouro Preto. No quarto capítulo, o editor relata as vivências inventivas da infância e adolescência, como trabalhar na pequena oficina tipográfica de seus pais, a única tipografia de Outro Preto entre 1965 e meados dos anos 1970, local que emana uma memória afetiva e onde ele foi alfabetizado por uma miríade de tipos gráficos. Nesse período, ele conta que estabeleceu uma relação lúdica com as letras e estranhava o modo como “[…] as palavras eram apresentadas pela professora no quadro negro, com giz. Fiquei chocado com aquilo, porque no meu universo, as palavras tinham volume, tinham peso, tinham cheiro. Letra para mim era tipo móvel, não era letra feita com giz” (Mello, 2018, p.27). Arte e Correio é título do quinto capítulo e o nome do movimento que deu início à primeira publicação de Mansur em 1976, construída por meio de uma intensa troca de experiências cujas práticas envolveram artistas de diversas localidades do Brasil, além de proporcionar a participação do editor, em 1980, na primeira Bienal Internacional de Arte Correio na Itália. O trabalho apresentado na Bienal se integra ao conjunto de pequenos poemas impressos em cartões e enviados via correios entre 1980 e 1983.

O sexto capítulo trata da Poesia Livre, a revista- saco que ele criou no final dos anos 1970. Em uma trivial manhã de 1977, o poeta foi comprar pães para os funcionários da tipografia e se deu conta de que o saco de papel pardo a abrigar os pãezinhos poderia ser um recipiente para uma revista de poesias. Segundo Mansur, “o saco resolvia economicamente duas questões: a capa e a encadernação. Dei o nome de Poesia Livre2, porque pensava numa revista com estilos diversos de poemas” (2018, p. 43). Esse projeto se inseria no bojo de um movimento independente intitulado Poesia Marginal, uma publicação à margem das grandes editoras. Durante o desenvolvimento desses trabalhos, Mansur conheceu amigos e pessoas que o auxiliaram na autoria, edição e divulgação da revista-saco, impressa em tiragem de mil exemplares.

O projeto ampliou o horizonte do mineiro a ponto de ele desenvolver habilidades ligadas à artesania tipográfica, publicando, em 1985, o primeiro empreendimento como editor de livros, nomeado Hai Tropikai: “[…] um estojo com folhas soltas de papel Canson […], uma edição de haicais de Paulo Leminski e Alice Ruiz” (2018, p. 51).

Tipografia do Fundo de Ouro Preto é o sétimo (e mais longo) capítulo do livro, o nome do estabelecimento fundado por Guilherme Mansur em 1986. A tipografia foi um meio para ele publicar livros no formato tradicional e ampliar o arco de personalidades que publicaram poesias através do estabelecimento do tipógrafo-editor. Para ele, o livro é um objeto no sentido próprio e semântico: “Quando pego originais para que sejam transformados em livro, os textos me provocam a fazer uma releitura na forma tipográfica, na forma do livro como objeto” (2018, p. 55), o que revela a sua preocupação com a materialidade do livro (definição do formato, peso, volume e papel escolhido). Ele também fala sobre o labor como artista gráfico, possível graças à confiança dos poetas em seu trabalho, autores que deram liberdade para ele definir a concepção da edição. Às vezes Mansur recebia a visita do bibliófilo José Mindlin, como no momento em que ele editava “[…] o Caderno de Traduções, de Laís Corrêa de Araújo: o miolo em linotipo e a capa com lixo tipográfico. Doutor Mindlin se encantou pela capa e eu dei a ele a matriz de presente” (2018, p.58). Cada livro idealizado pelo editor mineiro considera a forma presente em cada poesia, seja horizontal ou vertical, e esse era o ponto de partida para ele definir o formato do livro. Além de Mindlin, merece destaque a relação longa e profícua entre Haroldo de Campos e Mansur. O poeta concreto apareceu na tipografia pela primeira vez em 1987, acompanhado do poeta Carlos Ávila. Em uma das visitas, Haroldo contou sobre o projeto que estava a desenvolver sobre a viagem de Ulisses, intitulado Finismundo. Decidiram que o tipógrafo-editor ficaria responsável pela edição da obra, o que aconteceu em 1990, ano em que Haroldo enviou os originais e Mansur criou um poema visual no centro da capa, nomeado Quadriláxia e produzido com lixo tipográfico. Em seguida, o ouro-pretano narrou não apenas a saga para encontrar a vinheta tipográfica que queria inserir no centro da folha de rosto de Finismundo, como também sobre os lançamentos do livro em Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo, onde teve a oportunidade de conhecer Arnaldo Antunes, Antônio Risério, Augusto de Campos e o casal Jerusa Pires Ferreira e Boris Schnaiderman. A multifuncionalidade de Mansur é percebida através de outros relatos, parcerias e projetos concluídos no decorrer da década de 1990, como a ocasião em que conheceu Cléber Teixeira, editor da Noa Noa: “Divido com o Cléber o ofício de poeta-tipógrafo-editor, e isso é diferente de ser apenas um editor. O que interessa a mim, e naturalmente ao Cléber, é o processo do trabalho à frente do livro acabado […]” (2018, p. 81). O mineiro deixa claro a sua opção por editar o trabalho de poetas com os quais se identifica, optando por investir na poesia de vanguarda e em artistas populares, como Bené da Flauta e Takaoka. Nos momentos em que Mansur se sentia em transe diante da falta de ideias, ele subia (na companhia da cachorra Rebeca) ao cume dos morros de Ouro Preto para se “[…] desligar completamente da ideia fixa em tipografia” (2018, p. 85).

O oitavo e o nono capítulo destrincham a relação que ele estabeleceu com a tipografia e a poesia em diferentes suportes. No oitavo, Poesia em papel, Mansur relata que a tipografia de caixa não permite malabarismos durante o processo de criação e edição da poesia, pois a impressão dos tipos gráficos é cercada por um retângulo de ferro, o que provoca uma escrita enxuta, de versos curtos, sintéticos, breves, uma poesia adequada à fôrma tipográfica. Seus trabalhos indicam essa permanente preocupação com a materialidade do livro, como Bahia Baleia: “Esse caderno com espiral e capa de papelão impressa em serigrafia surgiu da realização do desejo que eu tinha desde criança de ver uma baleia ao vivo” (2018, p. 91). Outro exemplo é o poema Barcolagem, “[…] que era uma encomenda para a peça Erwartung, de Schönberg, executada pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, no teatro do Palácio de Belas Artes em Belo Horizonte, em dezembro de 2009” (2018, p.92). O projeto Bandeiras, Territórios e Imaginários, de 2008, reforça a adaptação de Mansur a diferentes suportes, um trabalho inteiramente digital, ainda que as bandeiras tenham sido desenhadas em 1997 e posteriormente redesenhadas no computador, que para ele significa “[…] um encontro, o cruzamento de um país rico com um pobre, para surgir um terceiro território mais equilibrado” (2018, p. 93-94). Poesia em outros suportes é o tema do nono capítulo, instante em que ele narra o modo como aproveita pedaços de tipos para compor os poemas-objeto, a exemplo da série Quadriláxia: “A instalação consistia numa lona preta quadriculada de 4 x 4 m esticada no chão, 49 folhas de papel branco, com o lixo tipográfico impresso, dispostas simetricamente sobre a lona de meia tonelada de hematita […] espalhada em cima” (2018, p. 98). Mansur diz que existem situações em que o poema abandona o papel, vira escultura, objeto e projeta-se no asfalto, como é o caso de Batuque, um poema-escultura montado no Instituto Federal de Minas Gerais, localizado em Outro Preto. O fecho do capítulo trata as chuvas de poesia que ele promove desde o Carnaval de 1993, um evento onde pequenos livros de poesias são arremessados a partir das torres das igrejas, invadem as casas e proporcionam uma atividade lúdica que se tornou famosa na sua cidade.

Do décimo ao último capítulo, o editor manifesta as suas influências, suas reflexões sobre tipografia e seus projetos na contemporaneidade. O entendimento tipográfico de Mansur foi influenciado por Amilcar de Castro, escultor e artista gráfico que o auxiliou a perceber o quanto uma peça gráfica deve ser agradável aos olhos.

Ele foi aluno de Amilcar na Fundação de Arte de Outro Preto e recebeu as orientações do mestre no Suplemento Literário de Minas Gerais, onde trabalhou como paginador e participou da reforma ortográfica realizada durante os anos 1990. Essas experiências ocorreram em paralelo com outros projetos, tais como o Tipocines, obra que conjugou títulos de filmes às fontes tipográficas que tivessem alguma semelhança com as películas. Bamboletras é a designação do trabalho desenvolvido em parceria com Ivar Siewers, designer de móveis e objetos que transformou o bambolê de letras em descanso de mesa. E desde 2012 ele está a expor o Tipogrampo, obra realizada por intermédio de um grampeador de mão e uma folha de papel, “[…] uma espécie de exercício de tipografia ao alcance das mãos” (2018, p. 114).

Para Guilherme Mansur, um livro bem editado é aprazível ao olhar: “Tipografia é letra reunida. E letra é um desenho que se lê e não que se apenas vê” (2018, p. 120). Ele considera a tipografia uma arte da tradição e o tipógrafo um trabalhador que tem o propósito exclusivo de atender o leitor: “A elegância e harmonia de uma fonte tipográfica estão na simplicidade e no rigor do desenho de cada letra.

A boa tipografia pode ser vista na economia do uso de fontes” (2018, p. 123). A profissão de editor-tipógrafo é solitária, demanda um alto nível de concentração e de luta contra o mercado: “Numa mínima editora tipográfica, a tiragem das edições é pequena e o tempo que se gasta é grande” (2018, p. 126). Ao final do livro ele comenta sobre sua reinvenção tipográfica em face da distrofia muscular que o impediu de compor tipos móveis. A tecnologia tem sido aliada de suas últimas criações, a exemplo de Poemas Estalactites, obra cuja concepção partiu de dez poemas do alemão August Stramm (traduzidos por Augusto de Campos) e da utilização tipos art nouveau, posteriormente fotografados e digitalizados por Cláudio Santos e Leonardo Dutra. O profícuo trabalho de Guilherme Mansur está em marcha e almeja novas veredas, como o desejo de fundar um instituto tipográfico em Ouro Preto.

A escritora e tradutora Simone Homem de Mello colheu o relato de um editor que vivenciou as transformações da cultura em nível nacional, desde a década de 1970 até o tempo de agora. Ela comenta que o grande trunfo do livro é a capacidade de “[…] reunir materiais e informações que não estão acessíveis em nenhuma outra fonte […]” (Mello, 2018, p. 22). Nesse sentido, acreditamos que a obra em tela é importante para os pesquisadores da história do livro no Brasil, uma contribuição para futuros trabalhos que dissequem a peculiar trajetória do versátil mineiro, um profissional que trabalha em diversas paralelas do ofício, da tipografia à autoria, um personagem que afirma nunca ter sido um artesão das palavras e da edição, a despeito de seu depoimento comprovar o contrário.

Referências

ALBERTI, V. 2005. Fontes orais: histórias dentro da História. In: C.

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BRAGANÇA, A. 2005. Sobre o editor: notas para a sua história. Em Questão, 11(2):219-237.

CABRINI, C.A.; GUEDES, M.C. (org.). 1991. Flávio Aderaldo. São Paulo, Edusp/Com-Arte, 64 p. (Editando o Editor, 2).

CALVINO, I. 1990. As cidades invisíveis. Trad. Diogo Mainardi. São Paulo, Companhia das Letras, 150 p.

FERREIRA, J.P. (org.). ALMEIDA, M.A.; FERNANDES, M.O.; SENRA, M. (editoras). 2003. Ênio Silveira. 1ª reimpr. São Paulo, Edusp/Com-Arte, 168 p. (Editando o Editor, 3).

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FERREIRA, J.P. (org.). 2001. Jorge Zahar. São Paulo, Edusp/Com-Arte, 96 p. (Editando o Editor, 5).

FERNANDES, M.O.; MONTONE, S.; FONTANA, C.F.; LARSON, F. (editores). 2003. Cláudio Giordano. São Paulo, Edusp/ Com-Arte, 96 p. (Editando o Editor, 6).

MELLO, S.H. 2018. Guilherme Mansur. São Paulo, Edusp/Com-Arte, 144 p. (Editando o Editor, 9).

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VICENTINI, R.M. 2010. Samuel Leon. São Paulo, Edusp/Com-Arte, 88 p. (Editando o Editor, 7).

Hugo Quinta – Universidade Estadual Paulista(UNESP), campus de Assis, Avenida
Dom Antonio, 2100 – Parque Universitário. 19.806-900 Assis, São Paulo,
Brasil. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP).Email: hugo.quinta@unesp.br.

Una corte en femenino. Servicio áulico y carrera cortesana en tiempos de Felipe II | E. García Prieto

El trabajo realizado por la doctora Elisa García Prieto, profesora de la Universidad Complutense de Madrid, representa un aporte relevante para conocer desde una nueva arista a la corte hispana durante el reinado de Felipe II. En este caso, se estudia la vida de las mujeres que integraron la casa de la reina consorte Ana de Austria, entendida como un espacio social dinámico y con una notable capacidad de adaptación a las diferentes coyunturas políticas y familiares. Este elemento resulta central, ya que el servicio doméstico regio tuvo que reconvertirse tras la muerte de la soberana en 1580, cuando Felipe II quedó viudo por cuarta y última vez. A partir de ello, tanto el espacio vacante que dejó,así como así como también sus servidores, fueron ocupados lentamente por el príncipe heredero (futuro Felipe III) y por las infantas Isabel y Catalina. Leia Mais

História social e mundos do trabalho no Brasil | Revista Piauiense de História Social e do Trabalho | 2020

Referências

[História social e mundos do trabalho no Brasil]. Revista Piauiense de História Social e do Trabalho. Parnaíba, ano VI, n. 10. Jan./jul. 2020. Acessar dossiê [DR]

 

Revista Piauiense de História Social e do Trabalho. Parnaíba, n.10, 2020.

Expediente

DOSSIÊ “HISTÓRIA SOCIAL E MUNDOS DO TRABALHO NO BRASIL”

  • BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO TRABALHO INFORMAL NO NORDESTE: considerações pontuais para a compreensão do desenvolvimento neste território [04-24]
  • Mylena Serafim da SILVA
  • RESUMO | TEXTO COMPLETO
  • CAMINHOS DA HISTÓRIA SOCIAL DO TRABALHO NO AMAZONAS  (1890-1920) [25-58]
  • Luís Balkar Sá Peixoto PINHEIRO 
  • RESUMO | TEXTO COMPLETO
  • CAPITALISMO DISFARÇADO: trabalho uberizado e precarização [59-85]
  • Gustavo Ruiz da SILVA Matheus Lima Gonçalves de OLIVEIRA
  • RESUMO | TEXTO COMPLETO
  • GANGUES, CARECAS E HEADBANGERS: violências na história social dos mundo artísti-co e circuito do heavy metal paraense (1990-1993) [86-115]
  • Bernard Arthur Silva da SILVA
  • RESUMO | TEXTO COMPLETO
  • A IGREJA DE CRATEÚS E A “OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES” [116-138]
  • Monyse Ravenna de Sousa BARROS
  • RESUMO | TEXTO COMPLETO
  • “PÁTRIA E DEVER”: tradição e modernidade no litoral piauien-se a partir da Colônia de Pescadores Z-7 de Morros da Mariana (1929-1945) [139-158]
  • Ana Catarina da Costa NASCIMENTO e Pedro Vagner Silva OLIVEIRA
  • RESUMO | TEXTO COMPLETO
  • GÊNERO E TRABALHO: desigualdades sócio históricas  no sul do Brasil [159-189]
  • Elizardo Scarpati COSTA e Iviliane Gautério da SILVA
  • RESUMO | TEXTO COMPLETO

 

Trabalho e Migração- Parte 2/Tempos Históricos/2020

Apresentamos a edição do 2º semestre de 2020 da Revista Tempos Históricos, periódico científico do Programa de Pós-Graduação em História e do Curso de Graduação em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Neste número, temos o prazer de publicar mais uma importante seleção de artigos científicos no campo das Ciências Humanas, majoritariamente da área de História; tal produção é fruto, essencialmente, de docentes e pós-graduandos de universidades brasileiras que estão em constante combate contra a perda de recursos pela educação pública, a deterioração das condições de trabalho e o descrédito enfrentado pela Ciência. Leia Mais

Trabalho e Migração- Parte 1 /Tempos Históricos/2020

Este Dossiê que entregamos aos leitores é também, em nossa compreensão, um documento histórico a respeito de assuntos, de abordagens, de métodos e de questões que ajudam a problematizar o Trabalho e a Migração. Os artigos selecionados ocupam dois volumes deste número da Tempos Históricos, fato que atesta o interesse pelo tema. Em boa medida, ele caracteriza o estado da discussão nas duas primeiras décadas do século XXI. A sua qualidade, como sempre, estará sob o julgamento criterioso do público interessado. Por isso, não resenharemos cada um dos artigos, como de praxe. Ao invés disso, apresentaremos uma visão dos pontos aludidos pelos autores. Fazemos um destaque especial a duas traduções inéditas publicadas neste número, os textos de John Steinbeck e Michael Merrill, que são precedidos de introduções específicas que dispensam comentários nesta apresentação. Leia Mais

Os estertores da Guerra da Tríplice Aliança: momentos finais e repercussões | Navigator | 2020

O presente dossiê, referente ao sesquicentenário do final da Guerra da Tríplice Aliança, é de suma importância por trazer à tona reflexões inovadoras acerca daquele conflito numa tão importante efeméride. As preocupações centrais aqui foram preservar o rigor científico e a diversidade historiográfica. Para tanto, este dossiê conta com a presença de historiadores(as) independentes ou ligados às mais diversas instituições de ensino superior no Brasil e no exterior, e juristas, tratando de temas os mais variados, como tática, estratégia, logística, direito internacional, antropologia, historiografia, tecnologia (naval e terrestre, civil ou de emprego mais propriamente militar). Leia Mais

El seguro social: evolución histórica, crisis y perspectivas de reforma | Miguel Ángel González Block

El libro de Miguel Ángel González Block (2018) es un estudio crítico y propositivo, con un sólido sustento teórico e histórico, que analiza con detenimiento las múltiples causas de las problemáticas, rezagos, desigualdad y desafíos a los que se enfrenta la seguridad social en México. Para realizar lo anterior, el libro está organizado a partir de una serie de preguntas clave, entre las que destacan las siguientes: el seguro social ¿fue una conquista de los trabajadores? ¿Se trató de una respuesta a las necesidades de desarrollo? ¿Se puede realmente hablar de seguridad social? ¿Proporciona protección de la cuna a la tumba? ¿Tiene un gasto eficiente? ¿Finanzas sanas? ¿Es equitativo? Las respuestas a esas y a otras interrogantes son en todos los casos negativas y se sustentan en un detallado y riguroso análisis de los orígenes, retos, desafíos y problemas políticos, económicos e institucionales que formaron y que forman parte de la seguridad social en el país. Además, González Block enuncia una serie de posibles reformas para evitar que la seguridad social continúe perpetuando una protección social crecientemente estratificada, fragmentada e ineficaz. Leia Mais

Piedra, papel y tijera: instrumentos en las ciencias en México | Laura Cházaro, Miruna Achim e Nuria Valverde

Piedra, papel y tijera: instrumentos en las ciencias en México (Cházaro, Achim, Valverde, 2018) es un conjunto de estudios que se centran en la historia de los diversos objetos que se han utilizado para construir, comunicar y aplicar conocimientos científicos. El libro se divide en 15 capítulos, que siguen tres ejes temáticos: “tecnologías de papel”; “prácticas y conocimientos médicos, materialidad in-corporada”; e “instrumentos, disponibilidad y objetividad en el México del siglo XX”. Se indaga por los usos, los mercados, el trabajo manual y las habilidades de los objetos y artefactos de las ciencias, así como por la dimensión política de la creación, producción y circulación de éstos. Los objetos que aparecen en este libro muestran una flexibilidad y ambigüedad que dificulta una fijación espacial y temporal: los mismos objetos, al igual que las interpretaciones de ellos, dependen de sus relaciones con otros objetos, decisiones políticas, y de las personas que interactúan con ellos. En ese sentido, los objetos que se discuten se constituyen por un continuo devenir que es difícil de definir de antemano. Leia Mais

1989: história da primeira eleição presidencial pós-ditadura | Cássio Augusto Guilherme

O livro intitulado “1989 história da primeira eleição presidencial pós-ditadura”, de Cássio Augusto Guilherme narra os acontecimentos políticos ocorridos no ano de 1989. Inicialmente a obra busca mostrar alguns episódios que a Europa enfrentava, especificamente, a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, o que representava uma nova reconfiguração geopolítica entre os países do Leste europeu e uma reorganização deles, gradualmente em nações capitalistas “livre agora, do perigo comunista” os Estados Unidos passam a ter as Américas central e do Sul como área de influência mais direta impondo o seu modelo neoliberal de política econômica. Isso é o que veremos no livro ora resenhado que apresenta pelas páginas do jornal O Estado de S. Paulo (OESP) a defesa desse tipo político e econômico para o Brasil.

A obra estuda como foi possível um presidente civil, José Sarney, permitir que a abertura política brasileira tenha sido tutelada pelos militares; intelectuais, trabalhadores, artistas, mas também à classe política. Revela que o ex-presidente José Sarney “ganha” a presidência da República dos militares para aos poucos implementar algo como uma democracia, mas sempre vigiada e coercitiva com os tanques às portas dos quartéis e os generais ameaçando a nova ordem. Sarney cumpre seu papel histórico de passar a faixa presidencial a Fernando Collor de Mello, o candidato do jornal OESP. Leia Mais

Revista Brasileira de História da Ciência. Rio de Janeiro, v.13, n.1. 2020

Revista Brasileira de História da Ciência (RBHC)

ARTIGO

RESENHA

ENSAIO

DOCUMENTOS

História e Literatura / História, histórias / 2020

Apresentação

O dossiê História e Literatura: diálogos e interações apresenta um corpus meditativo cujas reflexões procuram estabelecer pontos de contatos entre a criação ficcional e a realidade histórica nela representada. Não é de hoje que história e literatura andam de mãos dadas, as interações e divergências entre as duas encontram ecos no pensamento ocidental desde a Antiguidade.

Aristóteles talvez tenha sido o primeiro a notar a relevância desta intersecção, conferindo-lhe legitimidade ao reformular a noção de mimese proposta no pensamento platônico. Isto porque a importância atribuída ao poeta na filosofia aristotélica resulta do reconhecimento das experiências humanas no mundo sensível, algo anteriormente negado pelo idealismo platônico. Na Poética de Aristóteles, a imitação ganhou novo status por meio da noção de verossimilhança e da experiência daquele que se relaciona com o objeto artístico, bem como os efeitos sobre ele também adquiriram novos contornos, caso das reflexões acerca da catarse. Leia Mais

De brava a dura. Policía de la Provincia de Buenos Aires. Una historia (1930- 1973) | Osvaldo Barreneche

La aparición de la obra de Osvaldo Barreneche, publicada por la editorial Prohistoria, testimonia el vigor de las investigaciones sobre las policías que vienen siendo desarrolladas por la historiografía latinoamericana. Buen ejemplo de ello son los trabajos de Diego Galeano, Marcos Bretas y Claudia Mauch, Daniel Palma Alvarado y Vania Cardenas, Max Hering Torres, Diego Pulido Esteva, Alfredo Alpini y Nicolás Duffau para Argentina, Brasil, Chile, Colombia, México y Uruguay respectivamente. La progresión en estos estudios ha contribuido a la superación y ruptura con el tradicional carácter apologético de la historia institucional proveniente del seno de la propia administración lo que, por otra parte, le ha posibilitado un generoso acceso a las fuentes.

Investigar a la/las policía/s implica sin duda explorar un «territorio», por decirlo en palabras de Marcos Luiz Bretas, 1 que despierta múltiples «resistencias». Seguramente ligadas en el caso del sur del continente con las provocadas por sus vínculos con el accionar represivo de las dictaduras militares. El propio Barreneche dará cuenta del problemático acercamiento académico para el abordaje del tema ante la alarma que puede generar que estos estudios sean percibidos como un medio de justificación del accionar policial o eventualmente como una tentativa de «suavizar» las aristas más graves de sus abusos. Por el contrario, el autor confía en que esta producción pueda «arrojar algo de luz» sobre una serie de prácticas que forman parte de su recorrido. Precisamente, en De brava a dura se aborda el proceso de transformaciones de la policía bonaerense permitiendo entender la institucionalización de un conjunto de procedimientos y acciones que frecuentemente han sido limitadas a las llevadas adelante durante el período del terrorismo de Estado en Argentina. De esta manera, como es observable en otras policías de la región (que procuraron coordinar actividades por lo menos desde el congreso policial de Buenos Aires de 1905) estas prácticas tienen un origen mucho más temprano del que frecuentemente se ha señalado. Leia Mais