Guerra do lugares. A colonização da terra e da moradia na era das finanças | Raquel Rolnik

Há livros que chamam a atenção em uma primeira vista. Em 2016, quando ganhei o livro Guerra dos lugares – colonização da terra e da moradia na era das finanças, escrito por Raquel Rolnik e lançado em dezembro de 2015 pela editora Boitempo, me interessei logo por sua capa. A capa vermelha com uma foto do projeto “Mulheres são heroínas” – ação na favela do morro da Providência, Rio de Janeiro – já prenunciava um fato: a guerra dos lugares também é uma disputa de narrativas sobre as cidades, as políticas públicas territoriais e os rumos possíveis para a democratização do espaço urbano (1).

Sinal óbvio dessa disputa está logo na apresentação do livro, quando a autora narra uma das visitas oficiais que fez como relatora especial para o Direito à Moradia Adequada da Organização das Nações Unidas – ONU ao Reino Unido. A vista aconteceu em um momento de questionamento de políticas de austeridade fiscal e da reforma do sistema de bem-estar social do país. A visita de Raquel Rolnik representando a ONU, que tinha como foco análises de condições de moradia e direitos humanos, era vista como um apoio à campanha anti-bedroom tax, ação do governo que tirava subsídios e excluía indivíduos ativos que moravam em apartamento com quartos “sobrando”. Segundo a relatora quem sofria com isso eram “os mais pobres, doentes mentais, loucos, pessoas com deficiência física” (p. 10), que perderiam a estabilidade e segurança garantidos pela política de bem-estar social. Leia Mais

40 novelas | Luigi Pirandelo

“Pirandellismo, aquela espécie de furor delirante e lúcido”
Alberto Moravia, O homem como fim

Há clássicos da literatura universal que refletem sobre todos os dramas humanos, como a vingança (Hamlet), o ciúme (Dom Casmurro), o desejo incontrolável de ascensão social (O vermelho e o negro) etc. Na academia – como já fiz –, pode-se usar a Antígone para discutir, no direito, a relação entre direito natural e direito positivo; na ciência ambiental, Um inimigo do povo, de Ibsen, para analisar o papel social do ambientalista; um pequeno texto de Borges em Ficções (“Do rigor na ciência”) para refletir sobre as escalas geográficas que, quando equivocadas, fazem com que a carta seja abandonada “às inclemências do sol e dos invernos” etc.

Sobre as fake news ou os factóides políticos – que começam a inundar as redes sociais em ano de eleição – também há uma obra literária fundamental, que parece não ser muito lida hoje, o que é uma pena. Trata-se da peça do escritor italiano Luigi Pirandello (1867-1936) chamada Assim é (se lhe parece) (1) que discute verdade e aparência, mas, sobretudo, a interpretação subjetiva de fatos e a tirania da curiosidade pública sobre a intimidade alheia. Leia Mais

Iconografia da paisagem brasileira | Orlando Graeff

Classificar faz parte dos naturais anseios humanos. Em seu afã de entender a organização dos distintos mundos que compõem o mundo, o homem classifica animais, plantas, rochas. Classifica geoformas, solos e ambientes.

Com as paisagens não é diferente. Em seu esforço de definir – ou descobrir – como as paisagens podem ser distinguidas por algum perfil ou algum conjunto de características, em geral artificialmente estabelecido, ele busca critérios que possam trazer alguma coerência sistêmica. Na dinâmica que rege as correntes científicas, há propostas em evolução permanente para se poder definir o que é uma paisagem e o que é a outra! E, lógico, com o desenvolvimento científico-tecnológico, tais sistemas vão se tornando cada vez mais sofisticados. Existem formas antes impensáveis de se definir a taxonomia de uma determinada paisagem. Até mesmo a partir dos sons, bióticos e abióticos, que delas emanam. Sim, as paisagens têm uma assinatura sonora que as individualiza! Para nosso deleite, os novos métodos científicos não têm sido excludentes. Hoje, para um levantamento paisagístico se usa um drone altamente sofisticado, mas que pode ser considerado como uma câmera fotográfica convencional, só que voadora. Leia Mais

Lelé: diálogos com Neutra e Prouvé | André Marques

Um novo livro é sempre motivo para comemorar. Em tempos de cerco ferrenho à área da cultura, torna-se motivo para a reflexão. O livro que aqui se apresenta – Lelé: diálogos com Neutra e Prouvé, de André Marques – é fruto de pesquisa desenvolvida na FAU Mackenzie (1), que resultou em dissertação de mestrado (2). Coube a mim o privilégio de acompanhar sua confecção, oficialmente como orientador, na prática como interlocutor entusiasmado pelo tema. Os diálogos imaginários travados por João Filgueiras Lima com Richard Neutra e Jean Prouvé refletem a interlocução de bastidores entre pesquisador e orientador, mas também mediações variadas, como a discussão intertextual com outros pesquisadores, o diálogo frequente com o arquiteto transformado em objeto de estudo, o bate-papo descontraído com colegas, o debate apaixonado com os membros da banca de qualificação. Leia Mais

Por dentro do III Reich. Os anos de glória | Albert Speer

Creio ser a quarta vez que leio esse catatau em letras miúdas, intitulado Por dentro do III Reich, de Albert Speer, o arquiteto e depois ministro do armamento de Hitler. Não se pode confiar nesse livro que, mesmo sem exagero, procura dar uma visão positiva do autor. Esconde, por exemplo, que Speer expulsou 75000 judeus e que sabia do Holocausto.  O que me interessa, porém, não é a imagem que Speer constrói de si mesmo, imagem de um tecnocrata apolítico, ou do “bom nazista”, já que assim foi chamado, mas o modo como ele narra suas relações na ascensão de Hitler, e as intrigas internas da corte em volta do Fuhrer.

“Talvez ainda apareça alguém que pense de um modo simples. Atualmente, o pensamento está muito complicado. Um homem inculto, sem base, solucionaria esta situação de uma maneira muito mais fácil, justamente por não estar ainda corrompido. Esse homem disporia também da energia suficiente para concretizar suas concepções simples.” Essa observação, pragmática em seu fundo, parecia-nos poder ser aplicável, precisamente, a Hitler”. Leia Mais

Africanidades e Amazônia | Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Pará | 2020

 

[…] Contínuas a ser a mesma virgem de Loanda, Cantando e sapateando no batuque, correndo o frasco na macumba, quando chega o Ogum, no seu cavalo de vento, varando pelos quilombos

Quanto Sinhô e Sinhá-Moça Chupou teu sangue, Mãe Preta?!

Agora como ontem, és a festeira do Divino, a Maria Tereza dos quitutes com pimenta e com dendê. És, finalmente, a procreadora côr da noite, Que desde o nascimento do Brasil Te fizeste ‘Mãe de Leite’.

(BRUNO DE MENEZES 1,1956)

O Instituto Histórico e Geográfico do Pará desde a sua fundação em 1900 vem produzindo trabalhos e debates envolvendo a história e a cultura do Brasil e, de maneira mais efetiva da Amazônia, através de seus sócios. Reuniões, palestras, publicações, exposições e eventos são disponibilizados para a sociedade. Este ano, em comemoração ao mês da Consciência Negra e não podendo fugir dos debates correntes na sociedade acerca das questões relativas aos problemas raciais, lança um dossiê de trabalhos acadêmicos sobre a questão das africanidades. Leia Mais

Devastación. Violencia civilizada contra los indios de las llanuras del Plata y Sur de Chile (Siglos XVI a XIX) | Sebastián Leandro Alioto e Juan Francisco Jiménez

Cuando se intentaba un levantamiento contra los españoles, los impulsores enviaban a sus posibles aliados una flecha que simbolizaba la intención de iniciar la guerra; “la aceptación del envío implicaba el acuerdo en participar, y quien acordaba podía a su vez promover la adhesión de otras reducciones, haciendo circular el objeto del mismo modo”, explica Sebastián Alioto (Alioto et al., 2018: 353) en el decimoquinto capítulo de Devastación… En este sentido, se puede pensar a este libro como una flecha que circula sutilmente, de mano en mano, por universidades, bibliotecas, institutos, espacios de militancia y activismo indígenas, hogares de familiares de víctimas de la violencia Estatal y de personas ajenas a la academia interesadas en la Historia.

Coordinado por Daniel Villar, Juan Francisco Jiménez y Sebastián Alioto, este volumen aborda las distintas formas de violencia que tanto el Estado Imperial español, como aquellas formaciones políticas pos-coloniales emergidas de las luchas independentistas, y los Estados Nacionales, practicaron contra los pueblos indígenas de la Araucanía, las Pampas y la Patagonia Norte, entre los siglos XVI y XIX. Su objetivo consiste en realizar “un tributo al conocimiento de las maneras en que se desarrollaron y variaron los episodios de violencia inter-étnica” (Alioto et al., 2018: 18) en estas regiones dentro del rango temporal mencionado; con el “propósito adicional” de establecer si las prácticas llevadas adelante en dichas ocasiones pueden calificarse de genocidas, en tanto buscaban exterminar a un determinado grupo étnico, y “masivamente violentas, en el sentido de que las vidas de mujeres, niños y demás no combatientes fueron irrespetadas, algunas veces en desobediencia a las órdenes superiores, pero otras en cumplimiento estricto de las mismas” (Alioto et al., 2018: 18). Leia Mais

História Militar. [?] v.11, n.28,  nov. 2020

História Militar. [?] v.11, n.28,  nov. 2020

  • Procedimentos Militares na Segunda Guerra Púnica
  • A reforma militar dos EUA e do Exército Brasileiro, na década de 1980
  • A disputa pelo Amapá: o uso do poder militar e da diplomacia na definição da fronteira do extremo norte do Brasil
  • Um olhar histórico sobre o conflito russo-checheno
  • Aspectos e mitos da atuação da FEB na Itália
  • Livro em destaque: “O preço da destruição: construção e ruína na economia alemã”

Historia y justicia. Cultura/ política y sociedad en el Río de la Plata (Siglos XVI-XIX) | Darío Barriera

Darío Barriera escribió un libro sobre historia y justicia de los siglos modernos en tierras extensamente rioplatenses, y lo hizo tanto desde la objetividad científica como desde la subjetividad del investigador; un lujo que no cualquiera puede darse, solo quien esté en condiciones de respaldar cada palabra expresada.

La objetividad científica no está definida por un tema sino por un método. Como si fuera un científico decimonónico, de aquellos que tomaban diferentes puntos de abordaje porque el parroquialismo disciplinar todavía no existía, Barriera no se limitó a un recorrido o a una sola trama epistemológica sino que puso a prueba su objeto de estudio, abordándolo desde todos los ángulos posibles, formulando preguntas, desde las más -aparentemente- sencillas a las historiográficamente más complejas. Complejas, porque están construidas por sucesivas capas aluvionales de indagaciones dialógicas, en las que cada pregunta o cada formulación está atada a numerosos debates, trucos y retrucos de decenas de discusiones entre académicos de diferentes tiempos y latitudes. Sencillas, en apariencia, porque utiliza palabras corrientes con figurada candidez –¿cuánto es lejos?, ¿cuánto es cerca?– para poner a los discursos frente a sus propias contradicciones o, mejor dicho, frente a sus móviles no explicitados. El poder nunca muestra sus arcanos. Leia Mais

Matters of Justice: Pueblos/ the Judiciary/ and Agrarian Reform in Revolutionary Mexico | Helga Baitenmann

Resenhista

Kevan Antonio Aguilar – University of California. San Diego.


Referências desta Resenha

BAITENMANN, Helga. Matters of Justice: Pueblos, the Judiciary, and Agrarian Reform in Revolutionary Mexico. Lincoln: University of Nebraska Press, 2020. Resenha de: AGUILAR, Kevan Antonio. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 130-133, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

La cuestión agraria y los gobiernos de izquierda en América Latina. Campesinos/ agronegocio y neodesarrollismo | Cristóbal Kay e Leandro Vergara-Camus

Resenhista

Elisa Botella – Departamento de Economía e Historia Económica e Instituto de Iberoamérica. Universidad de Salamanca.


Referências desta Resenha

KAY, Cristóbal; VERGARA-CAMUS, Leandro (Compiladores). La cuestión agraria y los gobiernos de izquierda en América Latina. Campesinos, agronegocio y neodesarrollismo. Buenos Aires: CLACSO, 2018. Resenha de: BOTELLA, Elisa. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 134-137, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

Ciencia/tecnología y producción agropecuaria. Historia de la cooperación bilateral entre Alemania y Uruguay (1856-2018) | Gerardo Caetano

 

Resenhista

Eduardo Gallardo – Centro de Estudios de Historia Agraria de América Latina (CEHAL).


Referências desta Resenha

CAETANO, Gerardo (Org.). Ciencia, tecnología y producción agropecuaria. Historia de la cooperación bilateral entre Alemania y Uruguay (1856-2018). Montevideo: Editorial Planeta, 2019. Resenha de: GALLARDO, E. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 138-141, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

El Programa Indigenista Andino/1951-1973. Las mujeres en los ensambles estatales del desarrollo | Mercedes Prieto

 

Resenhista

Rosa Huayre Cochachin – FLASCO. Sede Ecuardor.


Referências desta Resenha

PRIETO, Mercedes (Comp.). El Programa Indigenista Andino, 1951-1973. Las mujeres en los ensambles estatales del desarrollo. Quito: FLACSO Ecuador-IEP, 2017. Resenha de: HUAYRE COCHACHIN, Rosa. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 142-145, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original

Agrarian Revolt in the Sierra of Chihuahua/ 1959-1964 | Elizabeth Henson

 

Resenhista

Sara Kozameh – Postdoctoral Research Fellow. Shelby Cullom Davis Center for Historical Studies Princeton University.


Referências desta Resenha

HENSON, Elizabeth. Agrarian Revolt in the Sierra of Chihuahua, 1959-1964. Tucson: University of Arizona Press, 2019. Resenha de: KOZAMEH, Sara. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 146-148, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

Tierra/ trabajo y formas de poblamiento agrario: Lobos en los siglos XIX y XX | Gloria Cucullu e Miguel Murmis

 

Resenhista

Rocío Pérez Gañán – Universidad de Olviedo y Universitat Rovira i Virgili.


Referências desta Resenha

CUCULLU, Gloria; MURMIS, Miguel. Tierra, trabajo y formas de poblamiento agrario: Lobos en los siglos XIX y XX. Bernal: Universidad Nacional de Quilmes, Argentina, 2017. Resenha de: PÉREZ GAÑÁN, Rocío. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 149-152, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

From the Grounds Up. Building an Export Economy in Southern Mexico | Casey Marina Lurtz

 

Resenhista

María Cecilia Zuleta – El Colegio de México.


Referências desta Resenha

LURTZ, Casey Marina. From the Grounds Up. Building an Export Economy in Southern Mexico. Stanford, California: Stanford University Press, 2019. Resenha de: ZULETA, María Cecilia. Historia Agraria De América Latina, v.1, n.2, p. 153-161, nov. 2020. Acesso apenas pelo link original [DR]

Historia Agraria de América Latina. Santiago do Chile, v. 1, n.02, november, 2020.

Artículos

Reseñas

Filosofia e História da Biologia | USP | 2006

Filosofia e Historia da Biologia 39 História da Biologia

Filosofia e História da Biologia (São Paulo, 2006-) é uma revista da USP com a parceria da Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia (ABFHiB). Ela integra as publicações do Centro Interunidades de História da Ciência (CHC) da Universidade de São Paulo. Criada em 2006, passou a ter periodicidade semestral a partir de 2010.

Publica artigos resultantes de pesquisas originais referentes a filosofia e/ou história da biologia e suas interfaces epistêmicas, como história e filosofia da biologia e educação científica.

[Periodização semestral].

Acesso livre.

ISSN 1983-053X (Impressa)

ISSN 2178-6224 (Online)

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Na lei e na guerra: políticas indígenas e indigenistas no Ceará (1798-1845) | João Paulo Peixoto Costa

O minado campo de disputas envolvendo o protagonismo da escrita e, consequentemente, as escolhas assumidas ao longo do percurso acadêmico, continua a colocar em “prova de fogo” a relevância histórica de diversas obras produzidas sobre os povos indígenas no Brasil, e, essencialmente, na Região Nordeste. O exotismo buscado por vários pesquisadores coloca em questão a legitimidade das mobilizações em busca de direitos, amparadas em legislações e vultosos eventos militares ocorridos entre os séculos XVIII e XIX, definidores do Estado nacional brasileiro.

Não faria sentido, pois, escrever uma história indígena ou tratar os índios na História, desvencilhando-a do presente, mesmo sendo remetida aos últimos dois séculos, diante da ausência de imparcialidade na escrita, em grande medida, utilizada como instrumento de denúncia às injustiças sociais ocorridas com os “silenciados” e “soterrados” pelas narrativas hegemônicas. A partir de “novas lentes”, o texto ora resenhado, procurou evidenciar a participação dos indígenas como protagonistas da/na história, através de um fecundo e frondoso caminho fragmentado, micro-histórico. Leia Mais

Museu de Arqueologia e Etnologia. São Paulo, n.34, 2020.

Dossiê VI Semana Internacional de Arqueologia Discentes

PUBLICADO: 2020-10-31

DOSSIÊ

Escritas do Tempo. [Marabá], v. 2, n.5, 2020.

Dossiê – Ensino de História, livro didático e formação docente

Editorial

  • Editorial
  • Erinaldo Vicente Cavalcanti, Geovanni Gomes Cabral, Karla Leandro Rascke, Marcus Vinicius Reis
  • PDF

Apresentação de Dossiê Temático

Entrevistas

Expediente

Publicado: 2020-10-29

História da Enfermagem. Brasília, v.11, n.2, 2020.

POSTED BY: HERE 25 DE OUTUBRO DE 2020

EDITORIAL

ARTIGOS ORIGINAIS

REVISÃO INTEGRATIVA

  • Resgate histórico dos avanços da Enfermagem Obstétrica brasileira | Historical rescue of the advances in Brazilian Obstetric Nursing | Rescate histórico de los avances en la Enfermería Obstétrica brasileña | Fernanda Alves dos Santos Carregal, Rafaela Siqueira Costa Schreck, Fernanda Batista Oliveira Santos, Maria Angélica de Almeida Peres

REFLEXÃO

  • História e processos de trabalho da enfermagem em Centrais de Material e Esterilização | Historia y proceso de trabajo de la enfermería en Centros de Material y Esterilización | History and work process of Nursing in Materials and Sterilization Centers | Djailson José Delgado Carlos, Cristiane Ribeiro de Melo Lino, Suênia Silva de Mesquita Xavier, Luciane Paula Batista Araújo de Oliveira, Kátia Regina Barros Ribeiro, Wanessa Cristina Tomaz dos Santos Barros

 

Escritas. Araguaína, v.12, n.1, 2020.

Envolvimentos em si e com as gentes

Dossiê

Seção Livre

Publicado: 2020-10-24

Escritas. Araguaína, v.11, n.1, 2019.

Artigos livres: História e Ciências Humanas.

Seção Livre

Publicado: 2020-10-24

Rites et religion à Rome – SCHEID (APHG)

SCHEID, John. Rites et religion à Rome. Paris: CNRS Editions, 2019. Resenha de: LAMNNAIS, Noémie. Association des Professeurs d’Histoire et de Géographie (APHG). 24 aoüt 2020. Disponível em: <https://www.aphg.fr/John-Scheid-Rites-et-religion-a-Rome-CNRS-Editions-Paris-2019>Consultado em 11 jan. 2021.

John Scheid, professeur émérite au Collège de France, responsable de la chaire « Religion, institutions et société de la Rome antique » de 2001 à 2016, est l’auteur de nombreux ouvrages qui ont marqué l’étude de la religion et de la pratique religieuse à Rome : Quand faire c’est croire. Les rites sacrificiels des Romains (2011) et Les dieux, l’État et l’individu. Réflexions sur la religion civique à Rome (2013). Depuis sa thèse d’État, publiée en 1990, Romulus et ses frères, la plus grande partie de son travail porte ainsi sur la religion et les rituels des Romains.

En 2019, John Scheid a publié un nouveau livre : Rites et religion à Rome aux éditions CNRS. Sa publication résonne avec la nouvelle question d’histoire romaine au programme de l’agrégation d’histoire : « Religions et pouvoir dans le monde romain de 218 av. J.-C. à 235 ap. J. C. ». Cela en fait un ouvrage intéressant pour les candidats aux concours. John Scheid offre au lecteur une analyse très fine sur l’univers rituel singulier de la Rome antique, en s’appuyant notamment sur les sources archéologiques, ce qui permet d’aller au-delà des sources littéraires, souvent reflets des élites. L’ouvrage de John Scheid a pour ambition d’abandonner l’approche traditionnelle du ritualisme romain qui vide les rites de leur sens. À la place, il offre une mise au point renouvelée et appuyée sur un corpus de sources diverses pour approcher au mieux « le rite qui constituait l’essence des systèmes religieux du monde gréco romain » (p.9).

La très riche introduction du livre propose d’utiles rappels historiographiques et étymologiques sur la place et le sens des rites dans la religion romaine.

Des pages 10 à 14, John Scheid offre une réflexion étymologique sur le mot ritus, dont le sens latin premier est difficile à percevoir, tant il a été dévoyé par le sens moderne. Il insiste sur l’apparente difficulté à traduire ce terme à cause de l’imprécision des dictionnaires. Si l’on suit Varron, il semble que « la notion de cérémonie religieuse, c’est-à-dire du rite au sens moderne, n’est pas contenue dans ritus, mais dans sacra ou des termes semblables (caerimoniaereligiones), et que ritus signifie « manière traditionnelle de faire, coutume » (p. 10). Le terme de « rite » est ainsi l’objet de discussions et de débats entre les historiens faisant émerger une opposition entre le rite de l’époque de Cicéron et le rite à l’époque primitive : le premier est assimilé à une idole ancienne, tandis que le deuxième est réalisé pour sa signification religieuse.

Dans la deuxième partie, intitulée « Rite et religion », John Scheid revient sur les changements historiographiques et plus précisément sur la construction d’une théorie générale de l’évolution religieuse faisant du rite un symbole vidé de son sens. Il commence par présenter les travaux des « primitivistes », alimentés par Georg Rohde notamment, qui ont pour point commun d’avoir évacué la question de la signification des rites vers l’époque primitive. Cette position, bien que combattue « en Allemagne par Walter F. Otto et ses élèves, ou par Karola Valhert, et en France par Georges Dumézil » (p.17), survit dans les études ultérieures de façon plus ou moins consciente. Il explique ensuite l’analyse évolutionniste proposée par Willima Fowler qui estime que le système rituel romain « était fossilisé et n’exprimait qu’un conservatisme exacerbé qui vidait la religion traditionnelle de toute substance » (p.18). À l’arrière-plan de cette théorie, on devine l’influence des théories romantiques, représentées par Ludwig Preller et Karl Otfried Müller, qui distinguent trois phases successives dans la formation de la religion romaine : la religion de la nature animée, l’institution par le roi Numa des règles cultuelles et une troisième phase introduite par les Tarquins et Servius Tullius. Dans cette théorie, les rites sont nés à l’époque la plus reculée de l’histoire romaine et ont perdu leur sens à mesure que se constituent les peuples.

Dans une troisième partie, John Scheid continue sa quête historiographique en interrogeant la primitivité du rite. Il présente donc l’analyse primitiviste de Kurt Latte qui conduit à une aporie : le problème du sens est renvoyé vers le passé, mais on le donne toujours vivant. Face à cette école, il y a la position des sociologues, représentée par James Ellen Harrison, qui va dans le sens d’une théorie symbolique des rites et du mythe. Cette approche très féconde, mais qui a connu un relatif échec à cause du mépris envers le rite, ouvre la « voie qui permet d’expliquer le ritualisme antique dans son présent historique, sans devoir projeter celui-ci dans les temps inaccessibles des origines en le privant ainsi de tout contenu spirituel » (p.25).

Dans la dernière partie, John Scheid revient longuement sur les travaux novateurs de Georges Dumézil, dont la « démarche a clairement rompu avec l’anti-ritualisme traditionnel » (p. 29), et ceux de Jean-Pierre Vernant, et de Walter Burkert. Les travaux de Georges Dumézil ont clairement révolutionné la perception et l’analyse du rite, grâce à son projet de recherche de structures idéologiques (trifonctionnelle ou non) « qui le poussait à accorder une grande importance aux actes et à leur interprétation » (p. 30). Dumézil conteste le fait que les Romains ne comprenaient plus du tout le sens de ce qu’ils faisaient, prenant le contre-pied de l’école primitiviste, en analysant en détail tout ce qui concerne le rite sacrificiel et le statut des animaux sacrifiés. Pour lui, « il existerait une homologie entre les énoncés des rites et ceux des mythes ou des théologies. Le rite ne transcrit pas le mythe, il n’est ni antérieur ni postérieur à celui-ci. Il existe à coté des récits […] » (p.33). On peut néanmoins s’interroger sur la capacité d’une société à conserver intacte pendant des millénaires la signification de ces rites. Les travaux de Dumézil sont rejoints par ceux de Jean Pierre Vernant sur le sacrifice grec, analysé comme un partage et constituant le groupe social tout en énonçant également le système des choses. Ces travaux ont participé au développement de l’anthropologie des images et donc des représentations des rites.

Ainsi, l’introduction de cet ouvrage, d’une très grande richesse, propose une mise au point scientifique bienvenue sur un sujet qui permet d’appréhender au mieux la piété romaine dans son ensemble. Il s’agit clairement de pages à lire et les candidats aux concours gagneront à s’en imprégner.

Plan du livre

La première partie du livre, intitulée « À la redécouverte du rite », dresse un tableau général des attitudes rituelles des Romains, ainsi qu’une explication du sens des rites. John Scheid rappelle que la religion des Romains est intrinsèquement différente des religions modernes, et non simplement « plus primitive ». Elle est différente parce qu’elle est fondée sur le rite, qu’elle n’exige aucune croyance explicite et conforme à une doctrine (p. 41). Toutes ces caractéristiques expliquent qu’il est plus pertinent de parler de « religions » au pluriel plutôt que de « religion » au singulier. Cette précision est utile pour les candidats aux concours puisque le sujet porte sur « les religions ». De fait, la pratique religieuse diffère en fonction du groupe social, de la cité, de l’unité militaire, de la famille, voire même du collège d’artisans. Il ne peut donc qu’être question de religions romaines et non de la religion romaine. Dans le deuxième chapitre, John Scheid cherche à savoir si un système religieux fondé sur le rituel peut générer des croyances, et si les rites des Romains avaient un sens pour eux mêmes. (p. 60).

Dans la deuxième partie, « Quand le geste compte », John Scheid défend l’idée d’une archéologie du rite en intégrant les avancées les plus récentes de l’archéologie dans ce domaine. De fait, les chances de voir apparaître un texte nouveau sont faibles, tandis que l’archéologie s’adapte aux nouvelles perspectives et permet d’apporter des témoignages neufs et consistants sur les ritualismes antiques (p. 86). John Scheid offre également une réflexion sur le ritus Graecus, perçu traditionnellement comme un nouveau rite et une nouvelle piété issue d’une influence étrangère qui aurait complètement transformé la religion traditionnelle. Néanmoins, cette analyse ne tient pas face à une étude attentive des sources, car « cette nouvelle manière de célébrer sacrifices et fêtes ne peut être ni dissociée du ritualisme romain, ni simplement rattachée au processus de l’hellénisation » (p. 98). De fait, les sources ne témoignent que de rites et d’une représentation traditionnelle des relations avec les dieux.

La troisième partie est celle qui pourrait intéresser le plus le candidat aux concours, puisqu’elle porte sur « Le rite, reflet de la hiérarchie sociale » à travers cinq chapitres qui rappellent les fondements du fonctionnement de la religion romaine : « Le sacrifice de l’animal et le système des êtres à Rome », « La mise à mort de la victime sacrificielle. À propos de quelques interprétations antiques du sacrifice romain », « Les offrandes végétales dans les rites sacrificiels des Romains », « Les espaces cultuels et leur interprétation », et enfin « Épigraphie et rituel. De quelques formulations ambiguës relatives au culte impérial ». Ces cinq chapitres enrichiront la réflexion de la relation entre « religions et pouvoir » en abordant l’organisation de la vie religieuse publique impliquant l’ensemble des citoyens dans la pratique rituelle, et sur les institutions civiques ayant contrôle et décision en matière religieuse. De fait, toute consommation de viande ou d’un végétal, organisée autour d’un banquet formel, était liée à un rituel de partage avec les dieux. Ces modalités sacrificielles donnaient pendant le sacrifice une illustration cohérente de la « hiérarchie « sociale » de ce monde-ci, et définissaient implicitement la nature de la divinité » (p.131). Enfin, les espaces cultuels offrent un témoignage intéressant des ces implicites du rite par leurs aménagements. L’intention de cette organisation est de représenter l’ordre des choses. Le dernier chapitre étudie l’épigraphie et les formulations relatives au culte impérial, chapitre qui sera d’une grande utilité pour les candidats. Les analyses de nombreuses sources dans cette partie permettront aux candidats de constituer une série d’exemples intéressants à reprendre dans la préparation du concours.

La quatrième et dernière partie s’interroge sur « Le culte dans le cadre privé » en articulant les pratiques collectives et personnelles dans le domaine religieux. Cette partie est composée de deux chapitres : « Les rites dans la famille des vivants » et « Contraria facere, faire le contraire de tout. Renversement et déplacements dans les rites funéraires ». Dans le cadre domestique, « c’est l’individu qui détient le pouvoir religieux et gère ces obligations qui en découlent » (p.193). John Scheid propose donc une analyse de ce pouvoir en revenant sur plusieurs étapes : le passage à l’âge adulte, le mariage, les vœux et le culte quotidien. Le dernier chapitre est réservé à l’attitude des Romains face à la mort, étudiée à l’origine dans une perspective évolutionniste et dont « la finalité consistait à éclairer l’apparition et le développement de la croyance à l’immortalité de l’âme » (p.233). Selon John Scheid, c’est une perspective qu’il faut dépasser en abordant l’attitude romaine face à la mort à travers le rituel funéraire et en mettant de côté l’idée de l’immortalité de l’âme, problème bien secondaire pour les Romains de cette période.

Conclusion

En définitive, le livre de John Scheid est essentiel pour qui s’intéresse à la religion romaine puisqu’il offre une description des principales conduites rituelles des Romains, mais aussi des réflexions sur le sens des rites dans la religion romaine. Il interroge également la manière dont il convient d’aborder les sources qui les décrivent. John Scheid livre une analyse des principaux rites romains, en commençant par les rites sacrificiels et leur arrière-plan théologique, dans le culte d’État et dans les cultes privés, en essayant aussi de démontrer, à l’aide des espaces cultuels, que tous les éléments du dispositif rituel entraient dans les sens transmis par les rites.

Enfin, ce livre intéressera tous les candidats aux concours de l’enseignement (CAPES et Agrégation) parce qu’il permet d’étoffer la réflexion sur la question d’histoire romaine « Religions et pouvoir dans le monde romain de 218 av. J.-C. à 250 ap. J.-C. (235 ap. J.-C. pour l’agrégation) ». Les différents chapitres explorent les interactions entre la religion publique, la religion privée, les différentes pratiques associées, et enfin les rapports des individus avec les dieux. La lettre de cadrage de la question mentionnant les « gestes pratiqués comme dans les relations codifiées, présidées et contrôlées par les magistrats et le sénat, sous la conduite des collèges sacerdotaux », il est donc important pour les candidats d’avoir une bonne connaissance de ce que sont concrètement les rites. Le glossaire et la bibliographie en fin d’ouvrage constituent des outils toujours utiles pour les candidats.

Noémie Lemennais – Professeure d’histoire-géographie au lycée Maxence Van der Meersch de Roubaix, doctorante en histoire romaine, HALMA – UMR 8164, Université de Lille.

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[História em Curso. Belo Horizonte] Caderno de Resumos – 2° Seminário do LAPHIS: O que é fazer história? Desafios do historiador no Brasil do século XXI

Caderno de Resumos do 2° Seminário do LAPHIS: O que é fazer história? Desafios do historiador no Brasil do século XXI, organizado pelo Departamento de História e Laboratório de Pesquisa Histórica (LAPHIS) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, realizado entre os dias 19 e 23 de novembro 2020.

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  • Simpósio Temático História e Educação
  • Apresentação do ST: História e Educação
  • Comunicações do ST .
  • Simpósio Temático: História e Literatura
  • Apresentação do ST: História e Literatura
  • Comunicações do ST .
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  • Apresentação do ST: História e Esportes
  • Comunicações do ST .
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  • Apresentação do ST: História e Resistência
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  • Apresentação do ST: História e Gênero .
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  • Simpósio Temático: Comunicação Livre .
  • Apresentação do ST: Comunicação Livre .
  • Comunicações do ST .

Publicado: 19-10-2020

Scripta Mediaevalia. Mendoza. v.13, n.2, 2020.

Artículos

Publicado: 08-10-2020

História, Histórias. Brasília, v.8, n.16, 2020.

Revista História, Histórias

Volume 8, número 16 – jul/dez. 2020. 

DOI: https://doi.org/10.26512/rhh.v8i16

Artigos

Publicado: 2020-10-16

The Identitarians: The Movement Against Globalism and Islam in Europe | José Pedro Zúquete

Em 2010, às vésperas da avalanche de protestos provocada pela crise econômica de dois anos antes, José Pedro Zúquete, pesquisador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, publicou Struggle for the World: Liberation Movements for the 21th Century (Zúquete e Lindholm 2010). Escrito em parceria com o antropólogo norte americano Charles Lindholm, o livro traça um grande panorama dos principais movimentos sociais e organizações políticas que se opunham ao que os autores chamam de globalização capitalista. Fossem de esquerda, como os zapatistas no México, ou de extrema direita, como o Front National francês, a publicação destaca como esses grupos operavam a partir de uma forte crítica ao estrangulamento dos modos de vida e de identidades locais.

As duas décadas que se seguiram ao fim da Guerra Fria foram marcadas pela integração do mundo em blocos regionais e pela criação de instituições supranacionais para administrá-los. Até que a expansão progressiva e desenfreada sofreu inesperadamente um grande choque. As fissuras na ordem estabelecida já existiam, é verdade, mas elas nunca ficaram tão claras quanto nos anos que se seguiram à crise de 2008. E foi seguindo personagens que viviam nessas fissuras que Zúquete passou a acompanhar a atuação de grupos políticos radicais contemporâneos. Em artigos e livros dedicados a grupos tão diversos como os praticantes da tática black block e skinheads portugueses, o sociólogo português construiu uma obra robusta sobre alguns dos principais movimentos de contestação no mundo hoje. Leia Mais

Intellectuals In The Latin Space During The Era Of Fascism: Crossing Borders | Valeria GAlimi e Annarita Gori

Na década de 2010, especialmente após a onda internacional de protestos que teve início com a Primavera Árabe em 2011, tornou-se clara uma ascensão de movimentos, ideologias, culturas políticas, partidos e governos de extrema-direita, alguns abertamente (neo)fascistas, com um poder de influência sobre a política europeia que não era visto desde os anos 1930 (Löwy 2015, 653). Nos Estados Unidos, o cenário das eleições presidenciais de 2016, em que foi eleito o candidato republicano Donald Trump, também se caracterizou pela emergência de grupos de direita radicais que vão desde a direita institucionalizada com o Tea Party do Partido Republicano, até discursos mais radicais na alternative right e nos movimentos neofascistas/neonazistas, que se tornaram atores da mais alta relevância sob o governo Trump (Alexander 2018, 1009). No Brasil, a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 demarcou essa guinada à direita radical, armamentista, evangélica e tecnológica que se difunde rapidamente pela internet.

Entre hoje e o século passado, as direitas radicais, e especialmente os fascismos e neofascismos, guardam em comum o nacionalismo chauvinista e xenófobo, articulado para a exploração dos “pânicos de identidade” que surgem nos campos conservadores, com a violência cultural com que o capitalismo transforma estruturas socioeconômicas e formas de vida, gerando sentimentos “antissistema”, “anti-cosmopolitas”, “antidemocráticos”, “anti-pluralistas”, “anticomunistas”, “anti-globalistas”, etc. Majoritariamente, são favoráveis a políticas autoritárias de segurança pública, como a introdução ou reabilitação da pena de morte. (Löwy 2015, 654). Em resumo, para utilizarmos uma expressão de Francisco Carlos Teixeira da Silva (2000, 179) inspirada na interpretação de Zeev Sternhell (Cf.: Sternhell 1995, 3-35) do fascismo como cultura política, a “negação do outro” continua a ser a tônica dos discursos e práticas fascistas ao longo do tempo. Leia Mais

História, catolicismo e educação | Pedro Vilarinho Castelo Branco e Maria Dalva Fontenele Cerqueira

O entendimento de que vivemos em uma sociedade marcada por experiências culturais que atribuem múltiplos sentidos e significados às vivências humanas constitui-se em expressão de reconhecimento dos fenômenos sociais existentes. A noção de pensar sobre os processos educativos institucionalizados no contexto brasileiro se deu, inicialmente, a partir da criação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), na década de 1930, junto ao movimento que ficou denominado como “Nova Escola” e como uma das primeiras tentativas de organização do sistema educacional brasileiro. A reflexão sobre as crenças, em especial as religiosas, adquire relevância, igualmente, a partir da ascensão desse tipo de estudos no campo da filosofia das religiões. O objetivo do presente texto é apresentar resenha da obra “História, catolicismo e educação”, escrita por muitas mãos de jovens e experientes pesquisadores e organizada pelos professores Pedro Vilarinho Castelo Branco e Maria Dalva Fontenele Cerqueira, publicada em 2019, pela Editora da Universidade Federal do Piauí (EDUFPI). A obra está dividida em onze capítulos que dialogam entre si, a partir dos temas centrais da proposta: história, educação e catolicismo. É a partir das relações estabelecidas entre os campos da História, da Educação e da História da Educação, portanto, que a obra preocupa-se em dirigir sua mirada, em especial para as relações estabelecidas entre o catolicismo na educação escolar ao longo da historiografia brasileira. Leia Mais

Memória ferroviária e cultura do trabalho: Balanços teóricos e metodológicos de registros de bens ferroviários numa perspectiva multidisciplinar | Eduardo Romero Oliveira

A obra aqui analisada é fruto de um trabalho coletivo na qual encontramos uma pluralidade de temas, profissionais, enquadramentos metodológicos e pesquisas concluídas e em curso. Seu organizador é Doutor em Filosofia pela USP (2003). Atualmente é Professor Assistente da Universidade Estadual Júlio Mesquita Filho, onde nos últimos anos tem se dedicado ao estudo do patrimônio, da história e da cultura dos transportes, especialmente do ferroviário. Vale ressaltar de antemão que esse é um livro multidisciplinar, especialmente pelas filiações de seus colaboradores; bem como um trabalho genuinamente interdisciplinar pelos diversos enquadramentos adotados ao longo de suas exposições.

Como salientado pelo Dr. José Manuel Lopes Cordeiro, autor do prefácio, esse empreendimento é o resultado da segunda edição do projeto PMF (Projeto Memória Ferroviária) cuja primeira obra foi publicada em 2017 (Balanço 2012-2015). O novo livro reúne resultados referentes ao triênio 2017-2019, beneficiado pelo apoio da FAPESP, CAPES e CNPq. Ainda de acordo com o investigador “[…] estamos perante um livro que amplia substancialmente a produção científica e, consequentemente, o conhecimento sobre os sistemas de transporte ferroviário do Estado de São Paulo, nas suas múltiplas vertentes” (Oliveira 2019, 19). Na apresentação, intitulada Memória Ferroviária: Esforço de revisão crítica da memória histórica sobre ferrovia e seu valor patrimonial, o organizador da obra reafirma a importância do empreendimento e atesta a longevidade desse projeto iniciado oficialmente em 2009, mas que remonta suas primeiras atividades ao ano de 2007. Leia Mais

A nova direita anti-sistema: o caso do Chega | Riccardo Marchi

O livro A nova direita anti-sistema: o caso Chega, de autoria de Riccardo Marchi é um estudo do partido que retirou Portugal da pequena lista de países europeus que não tinham representação parlamentar de partidos enquadrados como de extrema direita. Isto se deu com a eleição do deputado único do Chega, André Ventura, para a Assembleia da República nas eleições legislativas de 2019. Ventura se desponta não apenas como deputado único, mas também como principal liderança de seu partido, passando a ocupar importante parcela do debate público português, assim como da grande mídia de seu país.

Riccardo Marchi parte da história de vida de Ventura, iniciando o livro ao falar de sua infância e adolescência em Algueirão, no concelho de Sintra, uma freguesia de classe média baixa, marcada por construções decadentes, uma grande população de origem imigrante, e como tal cenário influenciou seu futuro posicionamento político. A criação católica e sua vivência na Faculdade de Direito também são elementos de destaque na parte inicial do livro. Ainda na adolescência, André Ventura deu início a suas atividades políticas, fazendo parte da seção juvenil do Partido Social Democrático (PSD), quando era aluno do Liceu. Leia Mais

Locus – Revista de História. Juiz de Fora, v.26, n.2, 2020.

Dossiê – Patrimônio e Relações Internacionais

Descrição da edição

. Dossiê: Patrimônio e Relações Internacionais (Vol. 26, n. 2, 2020);
. Organizadores: Rodrigo Christofoletti (Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil) e Maria Leonor Botelho (Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória», CITCEM, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal)
. Paul Klee – New Harmony, 1936, óleo sobre tela (93,7 x 66,4 cm). Wikimedia Commons;
. Nuvem de palavras: Marco Antônio Campos e Souza;
. Capa e Concepção gráfica: Dalila Varela Singulane;
. Designer da ilustração comemorativa aos 25 anos da Locus: Revista de História: Dalila Varela Singulane.

Editorial

Apresentação

Dossiê

Artigos

Resenha

Entrevista

Outros Tempos. São Luís, v.17 n. 30, 2020.

Dossiê: As relações nação-região e os espaços de fronteira no processo de institucionalização das ciências e da saúde no Brasil

Apresentação

Artigos

Dossiê

Estudo de caso

Entrevista

Publicado: 2020-10-13

Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, v.2, n.50, 2020.

Dossiê cultura escolar, cultura política educacional e comemorações no Brasil

Expediente/Ficha Catalográfica/Sumário

Editorial

Apresentação

Dossiê

Seção Livre

Seção Comemorativa

Resenhas

Publicado: 2020-10-05

Mudanças climáticas e problemas ambientais |  PerCursos | 2020

No livro The Uninhabitable Earth: A History of the Future − publicado em 2019 e no mesmo ano traduzido para o português e editado no Brasil −, o jornalista estadunidense David Wallace-Wells, com base em projeções científicas de um aquecimento global de 4º a 4,5ºC até o ano 2100, discorreu sobre os problemas necessariamente gerados por essa provável alteração. Com variações conforme distintos pontos do globo, podem ser vislumbradas diversas catástrofes: derretimento de calotas polares; ondas de calor com grande poder letal; secas; incêndios florestais; enchentes; crises alimentares e sanitárias; intensas imigrações provocadas pela impossibilidade de sobrevivência nas novas condições do ambiente. O jornalista não se furtou a arrolar decisões urgentes a tomar: “um imposto de carbono e o aparelhamento político para eliminar agressivamente a energia suja; uma nova abordagem de práticas agrícolas e uma guinada na dieta mundial de carne e laticínios; e investimento público em energia verde e captura de carbono.” (WALLACE-WELLS, 2019, p. 276). Contudo, na atual ordem econômico-política mundial, qual a probabilidade de que essas decisões sejam tomadas e efetivadas, em larga escala? Leia Mais

Historia Crítica. Bogotá, Núm. 78 (2020)

Dossier

Dossier

Publicado octubre 1, 2020

A descolonizar las metodologías: investigación y pueblos indígena | Linda Tuhiwai Smith

Professora de educação da Universidade de Waikato (Nova Zelândia), Linda Tuhiwai Smith dedica-se especialmente ao estudo das comunidades indígenas, em particular dos maoris, povos nativos da Nova Zelândia. Seu estudo sobre o papel da pesquisa ocidental voltada às comunidades indígenas no contexto da colonização e da neocolonização, aqui resenhado, foi traduzido para diversas línguas, tendo recebido o prêmio New Year Honours (2013), em seu país de origem. Publicado pela primeira vez, em inglês, em 1999, foi traduzido para o espanhol, nesta edição chilena, por Kathryn Lehman.

Sem se preocupar exatamente com o método, mas com o contexto em que os problemas de investigação são pensados e projetados, bem como com as implicações da pesquisa para o investigador e o investigado (em especial os indígenas), a autora propõe tratar das relações entre um conhecimento colonizador e povos colonizados. Daí entender, de início, a investigação como “um conjunto de ideias, práticas e privilégios que está embutido no expansionismo imperial e na colonização, e institucionalizado nas disciplinas acadêmicas, escolas, currículos, universidades e poder” (SMITH, 2016, p. 13). Desse modo, não se trata de ir contra a investigação ou o conhecimento, mas de propor novas maneiras de conhecer e descobrir, novas maneiras de pensar a investigação com povos indígenas. Leia Mais

Percursos. Florianópolis, v.21, n.46, 2020.

Mudanças climáticas e problemas ambientais

Editorial

Editorial

  • Janice Gonçalves
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Artigos Dossiê

Artigos Demanda Contínua

Resenha

Publicado: 2020-10-19

 


Revista do Arquivo. São Paulo, n.11, out. 2020.

PÁGINAS INICIAIS

EXPEDIENTE

EDITORIAL

APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO AO DOSSIÊ

ENSAIO

ARTIGOS

AUTORES CONVIDADOS

VERSÃO

INTÉRPRETES DO ACERVO

PRATA DA CASA

VITRINE

ARQUIVO EM IMAGENS

MEMÓRIAS NA PANDEMIA | Memórias de um futuro em duas expressões |

Rules and Rituals in Medieval Power Games. A German Perspective – ALTHOFF (FR)

ALTHOFF Gerd História da Biologia
Gerd Althoff /

ALTHOFF G Rules and rituals in medieval power games História da BiologiaALTHOFF, Gerd. Rules and Rituals in Medieval Power Games. A German Perspective. Leiden (Brill Academic Publishers) 2019. 282p. Resenha de: HUFFMAN, Joseph P. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

This collection of 15 articles from the prolific opus of Gerd Althoff represents yet another effort to provide Anglophone scholars access to his seminal concept of »Spielregeln« or »rules of the game« in the power politics of the East Frankish-German realm during the Ottonian, Salian, and early Hohenstaufen dynasties (ca. 800–1200). The volume is therefore designed to provide some German-language historiography on the »pre-state society« of medieval Germany. Yet since three of the articles are previously unpublished English-language conference papers (Oxford in 2005, Durham in 2015, and Rome in 2016) and another three of the articles had already been published in English elsewhere, only nine (or 60%) of this volume’s articles are peer-reviewed Althoff scholarship newly available in English. And as in all such reprint editions of scholarly articles and conference papers, there is much redundancy, periodic thinly sourced assertions, and an ex post facto opportunity to address his critics.

Nonetheless, this volume is a welcome contribution. Gerd Althoff is a major German historian of the early Middle Ages whose generation of scholars developed a new perspective on German political history. As a whole, they overturned long-held certitudes about an easily discerned formation and disintegration of a medieval German Staat (nation state), and replaced this Deutsche Kaiserzeit historiography with one that »others« medieval German society. The early medieval German kingdom appears instead to be an unfamiliar »pre-state society« with mentalities, beliefs, customs, and institutions that are actually quite foreign to the modern world of nation states and national historiographies. Indeed, medieval German society followed entirely different political rules than today. From an Anglophone (and French) perspective, one could describe this as a German version of the »cultural turn«, in which politics are no longer understood through the lens of legal historians and their constitutional preoccupations but rather through the lens of social and cultural phenomena.

As Althoff himself recognizes in the preface, even this late-20th-century historiographical movement has become historical, being now increasingly overshadowed by new turns toward trans-cultural and global historiographies. Yet he rightly sees a common thread between his generation’s cultural turn historiography and the new post-cultural-turn historiography: both have replaced nationalistic concepts of history by rewriting parts of Germany’s national history as social and cultural formations. And so for Althoff the origins of the medieval German kingdom are not to be found in constitutions and legal codes, but rather in the cultural code of conduct – the »rules of the game« – for power politics and political communication among its monarchs, aristocracy, and princely churchmen1. The articles in this volume therefore serve as a retrospective reiteration of the Spielregeln thesis, illustrated with studies of various illustrative passages in medieval German chronicles and letter collections. The volume is ordered with the following themes:

Part I: Rules

Part II: Rituals

Part III: Gregorian Revolution

Part IV: History in Literature

Part I begins with a fulsome reiteration of the Spielregeln thesis. Though not as explicit »rules« in the sense of games like chess or a sport, medieval German noble society still maintained and implicitly understood a set of cultural norms for power politics and the public communication of that power. These norms were never fixed in written or governmental forms any more than clothing style or good manners or deportment; rather, they were taught and sustained in oral communication. Such Spielregeln were more important for the maintenance of order in medieval society than in contemporary western society, as the latter contains a comprehensive, written legal basis for political gaming (i. e. constitutions) which are fully sanctioned by the power of the modern nation-state. Medieval German nobles instead held their society together with rules that reinforced trust through rituals of kinship, friendship, and status affirmation (i. e. rank and honor). Such Spielregeln were adaptable enough to be used not only to resolve conflicts but also to extend into novel conundrums by a process of collective counsel and judgment. Finally, the historian can discern the Spielregeln through rituals, accounts of which survive in chronicle sources and letter collections. And though these accounts are literary constructions, Althoff fully embraces them as »reliable evidence« since his focus is on the cultural norms themselves instead of the factual veracity of the narrative accounts. Again, this is cultural history, not narrative political history of events2.

Part II considers the rules of the game themselves, best expressed in rituals serving as a vehicle for symbolic communication of political acts which maintained or restored public order. Rituals therefore did not so much illustrate already existing reality, but rather they created it themselves by their performance. Such public performances at court reinforced and protected the order of rank (e. g. seating at table, order in processions, proximity to those with power – political or sacral). The fusion of noble warrior culture and Christian values were thus expressed in the code of chivalry, filled as it was with ritual acts and gestures of virtue (e. g. humiliatioclementia) defined by the unspoken Spielregeln.

The articles in Part II catalog the core purposes inherent in the unwritten rules or code of Spielregeln: regulation of the use of violence (both royal and noble); regulation of royal mercy and restoration of friendship as a means of preserving noble rank; regulation of conflict resolution through satisfactio and deditio to restore wounded honor; regulation of secret and/or open colloquia through familiares who lobbied for peaceful solutions acceptable to all; the evolving regulation of bishops from mediators to arbitrators between monarch and nobility. In essence, the Spielregeln provided a means to resolve conflict and preserve rank in order to save the honor of all – both those whose honor had been wounded as well as the peaceful return of those who had wounded. A peaceful equilibrium within the nobility was the ultimate goal of the Spielregeln.

Part III provides studies of specific rituals themselves that inscribed the reality of the long-for peace and restoration of rank. These included participation in convivia (public feasting together) as moments of bonding and alliance fashioning through ritual gestures and non-verbal signs (from smiles to eye contact) as well as verbal negotiations; the ritual of surrender (deditio) with all its theatrical expression of self-accusation and pleading for mercy (e. g. rent clothing, arriving barefoot, sometimes carrying a switch or sword for punishment), prostration; the equally theatrical ritual of pardon after deditio with its raising up of the prostrate penitent (with varying degrees of mercy thereafter); rituals of clementia, misericordia, and iustitia preceding the coronation ceremony of a king; the ritual of gift-giving with theatrical expressions of both honor and reciprocity (we find here the origins of wrapped gifts). We are reminded that in all these acts and gestures, »He who dominated the rituals also mastered the scene« (p. 111). Indeed, Althoff rejects the social scientific analyses of Weber, Habermas, Cassirer and others that rituals were »empty«, »dim«, and »irrational« cultural expressions. Rather, he sees elaborate staging and scripting of rituals with specific, rational acts tailored to specific needs of the moment (though again, there are no surviving accounts of such pre-event staging or scripting negotiations behind the scenes). Just how staged or spontaneous a particular ritual act was still remains a debated point though, since its performance unavoidably allowed for personal agency and »upstaging« others.

Such public rituals took on the cast of legally binding events (not unlike a marriage), as an audience had witnessed the ritual and its attendant gestures, words, and acts. No need for written documentation here, though by the 13th century such was indeed sought as a memorializing of the ritual (e. g. alliances of amicitia). In spite of this development, Althoff still concludes that »Ritual behavior had the same function and created the same obligations as an oath or a written treaty« (p. 141). Such public rituals have the hegemonic power to enable cross-cultural communication, as evidenced by the Polish and Bohemian nobility; yet what seems to have been missed here is that these Slavic communities had recently been Christianized and so had learned cultural cues of Christian Saxons and Bavarians. Other non-Christian Slavic peoples were not invited to participate in such cross-cultural communication in an effort to bind ethnic communities together in alliances and marriages.

Althoff’s final article in this section addresses the critical issue of the ambiguity of symbolic actions. Though rituals and symbols can and were interpreted differently by observers, there is no evidence anywhere that medieval folk felt this ambiguity was a problem; indeed, ambiguity provided the space necessary to establish a broad enough consensus to enable peace and to restore broken bonds between the powerful. Only when written documents from the mid-12th century onward demanded increasing specificity was this interpersonal space of ambiguity compromised and a formal governmental negotiating process entered into the ambiguous space with notions of diplomacy as a conversation of government power.

Part IV takes a major departure from the core theme of the volume, with its focus made clear in the title »Gregorian Revolution«. Here Althoff provides three articles exploring and explaining the radical Gregorian agenda (a preoccupation of German historians since Gerd Tellenbach), from the use of biblical texts as justification for Gregory VII’s claims to obedience of all bishops and monarchs, to the appearance and contested resilience of said claims in subsequent canon law collections (the libelli de lite as the primary conduit), to subsequent papal use of Gregorian claims (again not entirely unchallenged) to justify papal use of violence on behalf of the Church »to pursue their interests« (e. g. to call crusades and to punish recalcitrant kings, schismatics, and heretics). How these articles advance the volume’s avowed study of German noble Spielregeln remains unclear except to give the volume the needed size for publication.

Equally puzzling, though more rewarding, are the articles in Part V. This concluding set of two essays were originally published in German literary studies. Here we see the by now obvious affinity of Althoff’s cultural history approach to chronicle and letter narratives with the narratological and poetics of literary scholars. In the first essay Althoff poses the question, »Do Poets Play with the Rules of Society?« and concludes that indeed they do for dramatic narrative or poetic purposes. Here he considers literary fiction like the »Ruodlieb« and the »Nibelungenlied« as a »broader source base« for historiographical purposes. In the second article he assesses the fictive poem of Duke Ernst and his violent breach of the Spielregeln in an attempt to assassinate a rather tyrannical version of the emperor Otto I.

Then Otto himself breaks the rules of the game by publicly repenting of his harshness toward the duke once Ernst returns seeking restoration after years away on a crusading pilgrimage. What is most salient in Althoff’s analysis, however, is not an analysis of the literary work itself, but his assertion that – in real history – this peculiar poem had been sponsored by the bishop of Bamberg in 1208 just after the actual assassination there of the Hohenstaufen king Philip (of Swabia) by Count Palatine Otto of Wittelsbach. The poem appears to have been an episcopal attempt to legitimate the regicide of a tyrant. The line between literary fiction and historical reality remains smudgy in this section of the volume.

The inclusion of literary fiction as a source for the historical study of unwritten Spielregeln in actual noble society begs the perennial question inherent in Althoff’s thesis. How do we know if the chroniclers of noble rituals have played with them in the same fashion as the poets, and for the same type of rhetorical or political effects? Are we in fact observing actual Spielregeln at work in rituals, or are we reading a literary representation of them by chroniclers with an ulterior purpose in mind? In this volume and generally in all his individual articles Althoff does not systematically present a set of codified political rules as a coherent subject of historical study, but he has instead presented them as evocative yet incompletely unpacked vignettes of intriguing themes.

To his credit, Althoff acknowledges the unavoidable conditional clause for his entire source analysis methodology: »if the representations of many [chronicle] authors are not totally misleading« (p. 115). He then addresses Johannes Fried’s same critique of his methodology (one of many disputes between the two historians over the years), by concluding: »After much discussion about this question I here and now contend, without repeating the arguments for the position, that little or nothing speaks for the assumption that the world of descriptions should be fundamentally different from the world of real customs of communication« (p. 115).

But elsewhere he concedes much less confidently, »It may be doubtful that the [chronicle] authors describe the scenes as they happened, although it is not possible to prove this one way or another. Nevertheless, the stories told by medieval authors can be used in our questions about the forms and functions of public communication, because the authors telling these stories had to consider the common rules and customs governing behavior if they wanted their contemporaries to believe them. […] On the whole, the description had to correspond to the usual practices of communication. These stories can be used for the investigation of these practices, but not for the history of events« (p. 142). So for Althoff’s cultural history, the method serves only a formal analysis of political rules with the goal being »to strive to regain the point of view from which medieval contemporaries looked at ritual. This is a necessary first step, after which we should of course add our own evaluation« (p. 142).

Whether historians, Anglophone or otherwise, will be satisfied with relying on chronicle and letter narratives as sources for a narrowly crafted cultural history of the social history of medieval political history will depend on the type of history they prefer to pursue. The Spielregeln thesis is a fascinating starting point for navigating parts further removed, yet the fundamental source analysis of the discipline of history is different in kind from analysis of literary fiction and for good reason. Yet the value of the cultural turn as found in the work of Gerd Althoff and his generation of historians has provided a signal service – most especially in German historiography – of separating medieval German history from the awfully destructive legacy of an intense nationalistic modern historiography centered on the German state. For helping provide this specific »German Perspective« we are in his debt and can appreciate the import of this volume in his honor. Still to be done is testing the Spielregeln thesis beyond medieval Germany through a comparative study of other European kingdoms and their noble societies and cultures, both before and after the dawn of administrative kingship in the 12th century.

[Notas]

1 His Spielregeln thesis first emerged in the last chapter of: Gerd Althoff, Verwandte, Freunde und Getreue. Zum politischen Stellenwert der Gruppenbindungen im früheren Mittelalter, Darmstadt 1990, translated into English by Christopher Carroll: Family, Friends, and Followers. Political and Social Bonds in Early Medieval Europe, Cambridge 2004. It was then more fully articulated in: Gerd Althoff,Spielregeln der Politik im Mittelalter: Kommunikation in Frieden und Fehde, Darmstadt 1997; 2nd ed. 2014 – a collection of eleven papers and conference papers delivered between 1989–1996. Althoff then explored the historiographical implications of Spielgregeln in medieval political chronicles in his monograph: Inszenierte Herrschaft. Geschichtsschreibung und politisches Handeln im Mittelalter,Darmstadt 2003. He also applied this Spielregeln thesis to his analysis of the emperor Otto III in his biography: Otto III., Darmstadt 1996 (Gestalten des Mittelalters und der Renaissance); translated into English by Phyllis G. Jestice: Otto III, University Park 2003.

2 This thesis has sparked a controversial international discussion, and many have been the objections to this loosely defined »know it when you see it« anthropological methodology. See for example: Johannes Fried, Wissenschaft und Phantasie. Das Beispiel der Geschichte, in: Historische Zeitschrift 263 (1996), p. 291–316; Philippe Buc, The Dangers of Ritual. Between Early Medieval Texts and Social Scientific Theory, Princeton 2001; Warren Brown, The Use of Norms in Disputes in Early Medieval Bavaria, in: Viator 30 (1999), p. 15–40; and id., Violence in Medieval Europe, Harlow 2011, p. 137–139.

Joseph P. Huffman – Mechanicsburg, PA.

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Infectious change: reinventing Chinese public health after an epidemic | Katherine A. Mason

Between 2002 and 2003, a coronavirus epidemic broke out in China and spread across the world, infecting more than 8,000 people and causing approximately 10% of this contingent to die. In the months when the Severe Acute Respiratory Syndrome (SARS) was active in China, severe sanitary measures were adopted, such as quarantines, isolation, the closing of public places, the use of large-scale diagnostic tests, and the construction of isolated health units in record time. The world has witnessed very similar protocols in China’s current fight against the SARS-Cov-2 epidemic in 2020.

The 2002-2003 epidemic drastically changed the structure of China’s health services. And the book Infectious change: reinventing Chinese public health after an epidemic , by Katherine A. Mason, published in 2016 by Stanford University Press, was written to bring to light and analyze these transformations and their impacts on public health in that country. Leia Mais

Science and society in Latin America: peripheral modernities | Pablo Kreimer

La preocupación central de Science and society in Latin America: peripheral modernities , el último libro de Pablo Kreimer (2019) , es el estudio de las particularidades de los procesos de producción y uso del conocimiento científico y tecnológico en América Latina como región periférica. El texto es una síntesis, una rendición de cuentas, de 25 años de investigación en el campo de la sociología política e histórica de la ciencia.

Primero, el autor comparte confesiones y anécdotas personales como acertada excusa para pasar revista, en América Latina, a algunos de los tópicos más importantes de los estudios sociales de la ciencia y la tecnología – o campo Ciencia, Tecnología y Sociedad (CTS). A partir de su encuentro con Jean-Jacques Salomon, su director de tesis doctoral y un cómplice en sus preocupaciones políticas, estudia el rol de las políticas de ciencia y tecnología (PCT) en el desarrollo de la región. Lo también anecdótico es que para muchos de los recién llegados al campo CTS en América Latina las preocupaciones políticas y el estudio de las PCT han sido un punto de paso obligatorio o una suerte de rito de iniciación. Luego, bajo la inspiración de Latour y Woolgar (1979) , inicia un segundo gran momento de trabajo. El autor pasó por varios laboratorios de biología molecular de Francia, Londres y Argentina para observar cómo los científicos producen conocimiento. Es decir, para trabajar “a lo Latour”. Años después llega a un tercer encuentro crucial. Kreimer, bajo la inspiración de Hebe Vessuri, pionera del campo CTS en la región, inicia sus investigaciones sobre ciencia periférica. Leia Mais

Una historia de la verdad en Occidente: ciencia, arte, religión y política en la conformación de la cosmología moderna | Mauricio Nieto Olarte

Un destacado historiador de la ciencia es el autor de este libro, un colombiano quien previamente había producido valiosos análisis sobre las expediciones científicas y el naturalismo en España y América en las postrimerías del período colonial ( Nieto Olarte, 2006 , 2007 ). En este ambicioso trabajo analiza el desarrollo del conocimiento racional y la emergencia del eurocentrismo político, cultural y científico a partir del siglo XVIII. La mayoría de los 21 capítulos de este estudio se concentran en los saberes producidos en Europa durante la Edad Moderna (1492-1789). Es decir, se ocupan de temas como el Renacimiento italiano, la astronomía de Galileo, el empirismo de Francis Bacon y la física de Isaac Newton. Los capítulos iniciales se remontan a las discusiones filosóficas de Platón y Aristóteles sobre los límites y la esencia del conocimiento, así como a la noción de una única verdad del monoteísmo cristiano. En sus capítulos finales aborda la construcción del carácter enciclopédico de la obra de Alexander von Humboldt y hace un recuento del positivismo de Auguste Comte. Para encontrar una obra de envergadura parecida en América Latina es necesario remontarse a Aldo Mieli (1952) , el inmigrante italiano que publicó en varios volúmenes una historia de la ciencia europea en la Argentina de los años 1950. Luego de este esfuerzo, la mayoría de los historiadores latinoamericanos de la ciencia y de la medicina nos ocupamos de la recepción, la negociación y la participación de investigadores latinoamericanos en circuitos internacionales del conocimiento. Leia Mais

Genealogías de la reforma sanitaria en España | José Martínez-Pérez e Enrique Perdiguero-Gil

La reforma del sector de la salud hay que entenderla, en sus principios programáticos generales, como un proceso cuyo objetivo es mejorar la equidad, la calidad y la eficiencia mediante cambios en la organización y financiación de los servicios de salud. El análisis histórico de los sistemas sanitarios contemporáneos nos permite valorar y entender el modo como los distintos países se enfrentaron a los formidables retos planteados para hacer frente a la salud y enfermedad de las poblaciones. Este es el núcleo en torno al cual se articula el libro Genealogías de la reforma sanitaria en España, intentando responder a las preguntas del por qué, el cuándo y el cómo tuvo lugar ese proceso en el Estado español de la segunda mitad del siglo XX. El interés de una obra de estas características, coordinada por dos historiadores de reconocida valía y dilatada trayectoria investigadora, reside, en gran medida, en la singularidad de su enfoque, en la potencialidad de las fuentes utilizadas, en la novedad de muchos de sus contenidos, que hacen que su lectura rebase con mucho las fronteras de un estudio país para transformarse en un modelo de trabajo que sin duda va a ser de utilidad a nivel internacional. Examinemos brevemente el contexto político y social en el que el libro se desenvuelve. Leia Mais

Simon de Montfort (c. 1170–1218). Le croisé, son lignage et son temps – AUREL et al (FR)

AUREL, Martin; LIPPIATT, Gregory; MACÉ, Laurent (dir.). Simon de Montfort (c. 1170–1218). Le croisé, son lignage et son temps. Turnhout (Brepols) 2020. 286p. Resenha de: BALARD, Michel. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

Figure controversée de son temps et jusqu’au nôtre, Simon de Montfort méritait incontestablement que les historiens d’aujourd’hui reprennent en toute sérénité l’étude de son action dans la croisade albigeoise, de son lignage tant en France qu’en Angleterre, et des idéaux à la base de ses faits et gestes. Un colloque tenu à Poitiers en mai 2018 y pourvut et les communications qui y furent présentées constituent le présent ouvrage, conçu en trois parties: la croisade albigeoise, l’homme, son entourage et ses représentations, enfin le lignage et sa culture.

Jean-Louis Biget, spécialiste reconnu de l’histoire religieuse en Occitanie, analyse la croisade contre les Albigeois, à partir du 15 août 1209, date à laquelle Simon de Montfort en prend la direction. Ce fut une guerre sans merci, mue par un esprit de croisade, de réforme morale et de purification spirituelle, qui cherche à éliminer les hérétiques, jugés pires que les Sarrasins. L’auteur montre les difficultés de la conquête, dues au manque d’effectifs et de moyens financiers, rendant illusoire le gouvernement des villes et des territoires conquis. Aux années triomphales (1214–1215) conclues par le IVe concile du Latran qui accorde au vainqueur tout le pays conquis, succède l’échec marqué par l’incapacité d’occuper le territoire occitan, la révolte de Toulouse et la mort de Simon devant la ville qu’il assiégeait (1218). D’heureuses cartes permettent de suivre la marche des croisés et l’organisation de leurs conquêtes.

C’est à cette tâche que dès 1212 le vainqueur s’adonne en faisant publier par un parlement croisé les »Statuts de Pamiers«. Largement inspiré de la réforme morale néo-grégorienne, ce texte cherche à imposer au Midi occitan la coutume française en matière de fief, de mariage, de statut des clercs, de corvées et de taille, tout en interdisant l’ordalie, la vengeance privée et les exactions seigneuriales. Gregory Lippiatt en compare les clauses avec d’autres textes contemporains, les »Assises d’Antioche«(avant 1219), le »Livre au Roi« (vers 1200) la »Bulle d’or« promulguée en 1222 par le roi André II de Hongrie ou les »Assises de Capoue« dues à Frédéric II (et non à Frédéric Ier, p. 43). À la différence de ces derniers, les »Statuts de Pamiers« établissent avec la »Bulle d’or« une étroite connexion entre croisade et réforme morale, mais ils n’auront qu’une éphémère application.

Martin Alvira retrace les rapports entre Simon de Montfort et Pierre II d’Aragon, depuis leur première rencontre en novembre 1209, jusqu’à la bataille de Muret (13 septembre 1213) où le »comte du Christ«, comme le dénomment certains chroniqueurs, serait venu s’apitoyer sur le cadavre du roi d’Aragon, tué par des chevaliers croisés. Le désir de revanche animera désormais les vaincus, faisant de Simon le bourreau de leur peuple.

La mort de Pierre II fait de son jeune fils, Jacques, otage de Simon de Montfort dès avant Muret, l’héritier du trône d’Aragon. Le légat pontifical, Pierre de Bénévent, recueille le jeune prince et en assure la protection face au conseil de régence. Damian Smith montre comment les nobles aragonais vont se préoccuper plutôt de leurs intérêts dans le Sud de la péninsule, face aux Almohades, que de leur implication dans les affaires de l’Occitanie.

Les démêlés de Simon de Montfort en Angleterre font l’objet de l’exposé, quelque peu confus, de Nicholas Vincent. Comte de Leicester jusqu’en 1209, Simon est privé de ses droits sur son comté par Jean sans Terre, les retrouve en plusieurs occasions, les perd à nouveau, de sorte qu’il devient l’inspirateur des barons anglais hostiles au roi. L’engagement de Simon dans la croisade albigeoise serait la conséquence directe de ses déboires concernant le comté de Leicester. Son fils, Simon VI, bénéficie à son tour de la faveur des barons anglais, en cultivant le souvenir et les relations de son père.

Laurent Macé étudie ensuite les sceaux successifs du lignage des Montfort, dont il donne des descriptions précises, sans malheureusement montrer autre chose que deux petites illustrations. Son exposé ainsi que le précédent (p. 125–126), auraient nécessité plusieurs clichés des types sigillaires successivement adoptés par Simon de Montfort et ses descendants.

Que devient la croisade après la mort de son chef devant les murs de Toulouse en 1218? Daniel Power, déplorant des sources moins nombreuses sur les événements postérieurs, rappelle la mort de Guy de Montfort lors du siège de Castelnaudary en 1220, la prise de Montréal par les Toulousains en février 1221, la participation d’Hugues de Lusignan, la fondation de l’ordre de la Foi en Jésus-Christ, puis en 1224 la trêve conclue avec les comtes de Toulouse et de Foix, par Amaury de Montfort, laissant au roi Louis VIII le soin de poursuivre la croisade dans le Midi.

Les relations des Montfort avec les Capétiens sont rendues difficiles par leur position ambivalente entre France et Angleterre. Lindy Grant retrace l’ascension du lignage depuis Simon Ier (entre 1060 et 1087): à partir d’une petite seigneurie dans la forêt royale des Yvelines (Montfort), la famille grâce à des mariages heureux acquiert le comté d’Évreux, puis celui de Leicester, mais est victime du conflit entre Capétiens et Plantagenêt. Renonçant à ses droits sur le Languedoc en 1224, Amaury, fils de Simon, est accueilli à la cour de Louis VIII, cède ses possessions anglaises à son frère Simon VI, et devient l’un des principaux conseillers de Blanche de Castille, durant sa régence. Il participe en 1239 à la croisade des barons dans le royaume de Jérusalem, est fait prisonnier en Égypte. Racheté, il meurt en Pouille sur la route du retour.

Sophie Ambler s’attache ensuite à décrire l’influence prépondérante de Simon V sur son fils Simon VI. Mu par les mêmes idéaux, faisant de la guerre sainte sa raison d’être, adoptant un sceau semblable à celui de son père (p. 199: pas d’illustration), Simon VI devient le leader de la révolution menée par les barons anglais contre le roi Henri III et son fils Édouard, mais est tué par les fidèles du roi à la bataille d’Evesham le 4 août 1265.

C’est à son expérience de gouverneur de la Gascogne anglaise que s’intéresse Amicie Pélissié du Rausas. Ayant épousé Éléanor, sœur d’Henri III, Simon VI en 1248 est dépêché par le souverain en Gascogne en pleine anarchie. Conscient d’une mission politico-religieuse et d’un souci de bon gouvernement, mais s’opposant avec violence aux coutumes et aux droits ancestraux des Gascons, Montfort se met rapidement à dos les seigneurs locaux, le peuple et l’archevêque de Bordeaux, Géraud de Malemort. Rappelé à Londres en 1252, à la suite des »dépositions gasconnes« rédigées contre lui, il est désavoué par le roi, ce qui explique sans doute son rapprochement avec les barons anglais hostiles au souverain.

Pendant moins d’un an (1265), le comté de Chester est devenu possession de Simon VI. Soutenu par des propriétaires terriens locaux, mais rejeté en raison de son gouvernement autocratique, comme le montre Rodolphe Billaud, Montfort le perd définitivement à sa mort en août 1265, au profit du futur Édouard Ier, suffisamment habile pour s’imposer en confirmant les droits et coutumes du comté.

Le dernier article, dû à Caterina Girber, étudie l’héraldique imaginaire des Montfort, oscillant entre flatteries et diffamations dans le roman arthurien ou dans deux manuscrits de l’Apocalypse.

Vient enfin une lumineuse conclusion de l’ouvrage par Martin Aurell qui développe trois thèmes illustrant la vie du lignage: Simon V et son fils représentent deux figures controversées qu’il convient de comprendre en les situant dans la société de leur temps. Mus par une ambition princière, écartelés entre Capétiens et Plantagenêt, ils échouent à garder un domaine de part et d’autre de la Manche. Aurell insiste enfin sur la ferveur religieuse du lignage, embu d’un idéal chevaleresque cléricalisé, mais aussi lieu de transmission de savoirs et de valeurs culturelles. L’extrême ambition de ses membres, pour lesquels la guerre sainte est une affaire de famille et un moyen d’expansion territoriale, les place dans une situation inconfortable, tantôt au service des souverains, tantôt à la tête d’une conjuration hostile au pouvoir royal.

De ce bel ouvrage émerge une image nuancée de Simon V et de ses descendants. Il est dommage qu’il y manque un exposé sur leurs participations aux croisades d’Orient (1204 pour Simon V, croisade des barons pour Amaury). Un tableau généalogique aurait été d’une grande utilité pour suivre la stratégie matrimoniale, moyen de leur ascension. On peut enfin déplorer la quasi absence de toute illustration et d’un index indispensable dans tout ouvrage de cette qualité.

Michel Balard – Paris.

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Troyes 1420. Un roi pour deux couronnes – BAUDIN; TOUREILLE (FR)

BAUDIN, Arnaud; TOUREILLE, Valérie (dir.). Troyes 1420. Un roi pour deux couronnes. Gand (snoeck), 2020. 408p. Resenha de: OBERSTE, Jörg. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

Am 21. Mai 1420 wurde in der Kathedrale von Troyes ein Friedensvertrag zwischen England und Frankreich besiegelt, der schon von den französischen Zeitgenossen mit gemischten Gefühlen aufgenommen und von der französischen Historiografie seit dem 18. Jahrhundert als »honteux traité« disqualifiziert wurde. Die Ergebnisse dieses Staatsaktes waren für alle Beteiligten, insbesondere die Königshäuser der Valois und Lancaster, aber auch für die Position Herzog Philipps des Guten von Burgund von unmittelbarer und einschneidender Wirkung: Der Dauphin verlor seinen Erbanspruch auf den französischen Thron; der in der Schlacht von Azincourt 1415 siegreiche englische Herrscher, Heinrich V., übernahm als »Regent in Frankreich« faktisch die Regierungsgeschäfte in Paris; die in Troyes vereinbarte und wenige Wochen darauf vollzogene Ehe Heinrichs mit Katharina von Valois sollte den Grundstein für eine neue Dynastie englisch-französischer Doppelmonarchen legen; der Herzog von Burgund schließlich gewann durch sein Bündnis mit den Lancaster eine bis dahin ungekannte und autonome Machtstellung in Frankreich.

Bis heute erfreuen sich der Vertrag von Troyes und die darauf folgende Phase der englischen Besetzung größerer Teile Frankreichs einschließlich der Hauptstadt Paris einer deutlich breiteren Resonanz in der englischen und internationalen Forschung als in der französischen. Daher ist es hervorzuheben, dass dieses Ereignisses am Ort des Geschehens unter der wissenschaftlichen Leitung von Valérie Toureille (Université de Cergy-Pontoise) und Arnaud Baudin (Université Paris 1) in einer großen Ausstellung (vom 4. September 2020 bis 3. Januar 2021) gedacht wird. Zu diesem Anlass wurde ein wissenschaftlicher Katalog vorgelegt, in dem die politischen, sozio-ökonomischen und kulturellen Kontexte des Vertrags von führenden französischen und internationalen Forscherinnen und Forschern aufgedeckt und zugleich die vielfältigen Exponate der Schau großformatig in beeindruckender Qualität gezeigt werden.

Während sich die drei einführenden Beiträge von Philippe Pichery, dem Präsidenten des Conseil départemental de l’Aube, den wissenschaftlichen Organisatoren sowie von Philippe Contamine mit der höchst unterschiedlichen Rezeption und Interpretation des Geschehens von Mai 1420 in seinen Auswirkungen auf das zeitgenössische Machtgefüge in Europa und in der langen Perspektive bis heute befassen, folgt die weitere Einteilung des über 400 Seiten umfassenden Bandes den Sektionen der Ausstellung: »Der politische Kontext (1407–1419)«, »Der Vertrag von Troyes«, »Leben in der Champagne in der ersten Hälfte des 15. Jahrhunderts«, »Krieg und Rückeroberung« sowie abschließend: »Die Erinnerung an den Vertrag von Troyes«.

Mit Anne Curry und Christopher Allmand sind zwei herausragende Vertreter der englischen Forschung an der Rekonstruktion der Kontexte beteiligt: Zunächst verfolgt Édouard Bouyé skizzenhaft die lang währende englische Obsession einer englisch-französischen Doppelmonarchie von der Zeit König Eduards III. (1327–1377) bis ins frühe 19. Jahrhundert. Vor diesem Hintergrund wird klarer, dass die Ereignisse von Troyes den Punkt in einer Jahrhunderte währenden Beziehung markieren, an dem zum einzigen Mal eine Realisierung dieser Idee greifbar nahe schien.

Bertrand Schnerb übernimmt es, die korrodierende Herrschaft in Frankreich in den späten Jahren König Karls VI. zu umreißen, die von Attentaten in der Königsfamilie, dem eskalierenden Bürgerkrieg zwischen Bourgignons und Armagnacs und von der zunehmenden Unfähigkeit Karls VI., seine Herrschaft auszuüben, geprägt war. Ein wichtiges Resultat dieses Beitrags liegt in der Erkenntnis, dass bereits vor der Niederlage von Azincourt der Herzog von Burgund zur bestimmenden Figur der französischen Politik avanciert war.

Christopher Thomas Allmand stellt in seinem Beitrag klar, dass bereits die zeitgenössischen Bewertungen der Ursachen der »guerre de Cent Ans« durchaus variierten: als Lehnskonflikt zwischen dem französischen Lehnsherrn und seinem rebellischen Lehnsmann auf dem englischen Thron, als Erbfolgekonflikt um den französischen Thron oder als Territorialkonflikt zweier aufstrebender europäischer Nachbarreiche. In seinem Fazit hebt er die besonderen militärischen Talente und Erfolge Heinrichs V. als Hauptursache für die dynamischen politischen Entwicklungen der Jahre 1415–1420 hervor. Alain Marchandisse verfolgt schließlich die Rolle der burgundischen Herzöge im Umfeld des Vertrags von Troyes. Dieser Teil wird abgeschlossen durch insgesamt 14 knappe Objektskizzen zu so unterschiedlichen Exponaten wie dem Schädel des 1419 ermordeten Herzogs Johann Ohnefurcht oder einem Portrait Heinrichs V. aus dem frühen 16. Jahrhundert.

Das eigentliche Geschehen im Mai 1420 in Troyes ordnen Cléo Rager, Anne Curry, Martin Kintzinger, Ghislain Brunel, Philippe Contamine und andere ein. Die Präsenz der unterschiedlichen Höfe, die aus Troyes die Kulisse für einen bedeutenden europäischen Staatsakt machte, wird hier ebenso beleuchtet wie das politische Tauziehen um einzelne Klauseln oder diplomatische und archivalische Aspekte der beiden überlieferten Vertragstexte (in französischer und lateinischer Sprache).

Unter den eindrücklichen Exponaten, die jeweils im Mittelpunkt eines Beitrags stehen, ragt unter anderem eine durch Anne Curry besprochene Truppenliste mit Verstärkungen für König Heinrich V. von Frühjahr 1420 hervor, die eindringlich klar macht, dass die englische Position trotz des Siegs von Azincourt und der burgundischen Unterstützung keineswegs unangefochten war. Ein anderes Leitobjekt stellt eine Goldmünze König Heinrichs VI. mit dem charakteristischen Doppelwappen aus fleurs de lys und den Lancaster-Löwen auf dem Revers dar. Zur Herrschaft dieses ersten und einzigen englisch-französischen Doppelmonarchen (1431–1435) gibt es außer einer kurzen Bildbesprechung leider keinen weiteren Beitrag.

Mit der regionalen Perspektive auf die burgundische Champagne im frühen 15. Jahrhundert führt der Band vom vorrangig politischen Interesse am Staatsakt von 1420 weg und leistet eine breite sozial-, wirtschafts- und kulturhistorische Einführung anhand einer großen Bandbreite von Exponaten und Dokumenten: Arnaud Baudin widmet sich der historischen Landschaft Champagne, Aurélie Gauthier der blühenden urbanen Kultur, Élisabeth Lusset der Kirchenorganisation, Véronique Beaulande-Barraud der Frömmigkeitspraxis und eine Reihe weiterer Beiträge und Objektskizzen der reichen materiellen Kultur und Schriftüberlieferung.

Auch die folgende Sektion zu »Guerre et Reconquête« geht von der besonderen Lage der Champagne zwischen den burgundischen Kernterritorien und der Île-de-France aus. Laurent Vissière, Olivier Renaudeau, Brice Collet, Alain Morgat und Aleksandr Lobanov beleuchten zunächst militärische Aspekte wie die Ausstattung der rivalisierenden Heere mit Waffen oder den Aufbau eines Netzes englischer Garnisonen in der Champagne. Zu den zentralen politischen Episoden in der Folge des Vertrags von Troyes zählen die Regentschaft des Herzogs Johann von Bedford in Frankreich, der in diesem Amt seinen 1422 in Vincennes verstorbenen königlichen Bruder beerbt, sowie das Auftreten Johannas von Orléans und das Wiedererstarken der Valois. Mit Anne Curry und Valérie Toureille kommen hier zwei der besten Kennerinnen der Materie zum Zuge. Unter den vielfältigen Exponaten beeindruckt der erhaltene Krönungsbaldachin Karls VII., dessen politische Ikonografie Élisabeth Antoine-König als »anti-traité de Troyes« charakterisiert.

Mit der Rezeption des Vertrags von Troyes schließlich befassen sich vier abschließende Beiträge, die so unterschiedliche Themenfelder eröffnen wie den Blick auf Heinrich V. im Werk William Shakespears (Line Cottegnies), den Frieden von Amiens im März 1802 zwischen Großbritannien und dem napoleonischen Fankreich (Patrice Gueniffey), das französisch-englische Bündnis von Juni 1940 (Jenny Raflik) oder den Hundertjährigen Krieg im Kino (François Amy de La Bretagne).

Ein etwa 100 Jahre altes Foto vom Vorplatz der Kathedrale von Troyes erinnert an die Feierlichkeiten zu Ehren von Jeanne d’Arc, die hier 500 Jahre zuvor begeistert empfangen worden war. Nach dem Ersten Weltkrieg trug die Pucelle zur Versöhnung von Republikanern und Katholiken in Frankreich bei, wie Nicolas Dohrmann ausführt. Sorgfältige Register und eine Bibliografie runden diesen aufwändig gestalteten Katalogband ab, der die wissenschaftlichen Perspektiven und materiellen Überlieferungen zu einem wichtigen Datum der europäischen Geschichte auf eindrucksvolle Weise zusammenführt.

Jörg Oberste – Regensburg.

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Logistics of the First Crusade. Acquiring Supplies Amid Chaos – BELL (FR)

BELL, Gregory D. Logistics of the First Crusade. Acquiring Supplies Amid Chaos. Lanham, Boulder, New York, London: Lexington Books, 2019. 226p. Resenha de: BALARD, Michel. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

La première croisade a fait l’objet d’une pléthore d’études. Était-il indispensable d’en publier une nouvelle? Oui, sans doute, car le thème choisi par l’auteur a trop longtemps été délaissé: comment une troupe disparate de plusieurs dizaines de milliers de combattants et de non-combattants a-t-elle pu s’approvisionner pendant un voyage de plus de 25 mois, à plusieurs milliers de kilomètres de son point de départ, et réussir à s’emparer de Jérusalem, alors que la faim et la soif la tenaillaient pendant de longues semaines et que tout au long de son parcours la maladie, la mort, la désertion amoindrissaient le nombre des croisés en état de combattre? Pour l’auteur, leur succès repose sur une logistique réfléchie et flexible: loin d’être désorganisés, avides et violents, les chefs de la croisade ont su prévoir les modes d’approvisionnement en marche et pendant les sièges de Nicée, d’Antioche et de Jérusalem.

Pour le démontrer, l’auteur organise son propos en dix chapitres qui suivent les principales étapes de la croisade. Il s’appuie sur une large palette de chroniqueurs, sur quelques lettres écrites par les croisés et sur les chartes et cartulaires faisant mémoire des financements obtenus par les participants, avant le départ de l’expédition. Le fait que le pape Urbain II ait promu celle-ci comme un pèlerinage vers Jérusalem aurait été fondamental pour calmer les ardeurs guerrières lors de la traversée des Balkans et même de l’Anatolie. Plutôt que de se livrer au pillage systématique pour trouver des approvisionnements, les chefs de la croisade auraient cherché à acheter leurs subsistances sur les marchés locaux, en ayant pris soin d’en avertir les responsables à l’avance. Pour ce faire, ils auraient emporté d’importantes sommes d’argent et aidé en cours de route les plus pauvres des croisés, dépourvus de moyens.

Cette méthode nécessite d’intenses préparations logistiques, dès que fut connu l’appel du pape à Clermont. Monastères et églises accordent des prêts aux participants ou leur achètent des biens fonciers, les juifs sont victimes d’extorsions d’argent, particulièrement dans les villes rhénanes, les villes portuaires sont invitées à préparer des flottes d’appui à l’expédition. Puis vient le départ, d’abord de la croisade populaire dont la violence et l’anarchie sont dues à l’absence d’un chef prééminent, puis des cinq troupes dirigées par des princes soucieux de négocier des transactions pacifiques et ne recourant au pillage qu’en dernier recours. Leurs relations avec Alexis Ier Comnène auraient mérité une étude plus précise, en ce qui concerne le serment exigé par le basileus ou les dons d’argent et d’aide que celui-ci offrait.

Le volume des approvisionnements nécessaires dépend bien sûr du nombre de croisés. À la suite des historiennes et historiens qui l’ont précédé, l’auteur discute les chiffres cités par les chroniqueurs, en acceptant non sans hésitation que l’armée ait compté près de 100 000 hommes lors du siège de Nicée, un maximum dans l’histoire de la croisade. L’aide byzantine décide alors de la victoire. La traversée de l’Anatolie, en terre ennemie, accroît les problèmes de subsistances: le ravitaillement, le fourrage et l’eau manquent et il faut recourir à des pillages systématiques, qui ne cessent qu’à l’arrivée des croisés dans des régions peuplées majoritairement d’Arméniens. L’armée se divise alors: Baudouin et Tancrède partent à la conquête des villes littorales de Cilicie, puis d’Édesse pour le premier, tandis que l’armée principale gagne difficilement Antioche et qu’une flotte anglaise ou byzantine (?) approche de Port Saint-Syméon, à quelques lieues d’Antioche. L’auteur penche pour une synchronisation entre forces terrestres et navales, sans vraiment le prouver.

La perspective d’un long siège pose à nouveau de redoutables problèmes d’approvisionnement. En comptant 60 000 hommes dans l’armée assiégeante et un bon millier de chevaux, l’auteur estime les besoins journaliers à 110 tonnes de grain pour les hommes, à plus de 10 pour les chevaux. Où les trouver? Les flottes nordiques, byzantines et génoises peuvent se fournir en Chypre et aborder à Port Saint-Syméon, mais le manque de charrettes et les attaques musulmanes empêchent la distribution des provisions. La disette s’installe dès la fin de l’année 1097, et ce n’est qu’après avoir construit au printemps 1098 trois fortifications pour empêcher les sorties des assiégés que les croisés peuvent enfin recourir aux ressources locales. Ils s’emparent d’Antioche au début juin, mais l’arrivée de l’armée de Kerbogha, atabeg de Mossoul, les enferme dans la ville et les condamne pendant 26 jours à une famine intense, jusqu’à ce qu’une sortie heureuse les délivre des assiégeants.

De juillet 1098 à mai 1099, les croisés restent sur place à Antioche, dans l’attente d’une aide navale les aidant à progresser vers le sud. Après quelques mois d’approvisionnements, de nouveau, dès l’hiver, la faim les tenaille. Ils effectuent quelques expéditions: conquêtes d’Albara, d’Arqa et de Ma’arrat-an-Numan où ont lieu des scènes de cannibalisme longuement analysées par Michel Rouche dans un article que l’auteur ignore.

Sous la pression des pauvres, les chefs décident au printemps de marcher rapidement vers Jérusalem, en suivant la route côtière, jalonnée de villes qui leur livrent des subsistances pour éviter d’être pillées. Le 7 juin 1099, l’armée arrive devant Jérusalem et doit agir vite sous une chaleur accablante, par manque d’eau et de provisions. Un premier assaut échoue. Une flottille génoise, arrivée à Jaffa, apporte subsistances et matériel de siège qui permettent la prise de la ville sainte le 15 juillet 1099.

Le récit, on le voit, ne s’écarte guère des nombreuses histoires de la première croisade disponibles à ce jour, sauf pour insister sur les difficultés de ravitaillement de l’armée croisée et sur les méthodes employées pour y faire face. Dire que les chefs auraient eu un plan d’action coordonné entre l’avance des troupes et l’arrivée des flottes de secours n’est guère démontré par les textes, et l’insistance de l’auteur sur la discipline et l’ordre imposés par les chefs pour contrôler la fourniture des approvisionnements me paraît bien optimiste, face à une pénurie empreinte de violences que les chroniqueurs évoquent constamment.

L’ouvrage de Gregory Bell n’est pas exempt de maintes imperfections: »Nance« pour Nantes (p. 9), »Turkic« pour Turkish (p. 84 et 90), »Meragone« pour Maragone (p. 152), »Mans et Puy« pour »Le Mans et Le Puy« (p. 159). Les cartes sont trop petites et peu lisibles, celle d’Antioche est mal orientée et contredit les directions indiquées par le texte (p. 126–128). Surtout la quasi-ignorance de toute bibliographie qui ne soit pas anglo-saxonne frappe le lecteur: six ouvrages en français cités, mais aucune mention des actes des deux colloques de Clermont en 1095, ni du livre de Guy Lobrichon; aucun ouvrage allemand, sauf l’étude de Carl Erdmann qui date de 1935, mais ici dans sa traduction anglaise (1977); de même Cardini et Musarra, spécialistes italiens des croisades, sont totalement ignorés. L’histoire des croisades serait-elle désormais une chasse gardée des Anglo-Saxons?

Michel Balard – Paris.

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La trace et l’aura. Vies posthumes d’Ambroise de Milan (IVe–XVIe siècle) – BOUCHERON (FR)

BOUCHERON, Patrick. La trace et l’aura. Vies posthumes d’Ambroise de Milan (IVe–XVIe siècle). Paris: Éditions du Seuil, 2019. 533p. Resenha de: HERBERS, Klaus. Francia-Recensio, Paris, v.4, 2020.

Patrick Boucheron legt unter dem zunächst kryptisch wirkenden Titel eine monumentale Geschichte Mailands und des Ambrosiuskultes vor. Erst am Ende seines Buches im »Post-Scriptum« enthüllt er mit Bezug auf Walter Benjamin, was es mit dem Titel auf sich hat. Die Spur (la trace) bedeutet die Erscheinung in der Nähe, und die Aura bedeutet die Erscheinung von etwas Entfernten. Damit ist zugleich das theoretische Spannungsfeld des Autors angedeutet. Patrick Boucheron, der vor allen Dingen mit Studien zum spätmittelalterlichen Italien hervorgetreten ist, will mit seinem Werk verständlich machen, wie die Mailänder im Laufe des gesamten Mittelalters ihre Identität mithilfe der Erinnerung an den heiligen Ambrosius konstruierten und rekonstruierten.

Insofern ist es verständlich, dass er sein Buch mit Fragen der Mailänder kommunalen Verwaltung im späten Mittelalter beginnt, um dann in literarisch brillanter Form auf verschiedene Aspekte der früheren Epochen einzugehen. Hierzu nutzt er vielfältige Methoden, zum Beispiel die klassischen Untersuchungsmethoden der Hagiografie von écriture und réécriture, aber auch Fragen zum remploi, zur Erinnerung in Monumenten, Schriften und Verhaltensweisen. Der Rückbezug auf viele philosophische und soziologische Größen durchzieht den Band. So spielen nicht nur Walter Benjamin und Roland Barthes, sondern auch Jacques Derrida und andere eine wichtige Rolle, um historische Phänomene immer wieder in umfassendere Zusammenhänge einzuordnen.

Mailand ist mit Ambrosius eng verbunden, Ambrosius ist eng mit Augustinus verbunden. Nach kurzen Bemerkungen zur Vita des Ambrosius nimmt Boucheron die Anliegen von Ambrosius und Augustinus, wie sie sich in den Jahren 384 bis 386 manifestierten, in den Blick. Etwas später datiert die wichtigste Vita des Bischofs Ambrosius, die von Paulinus von Mailand verfasst und später immer wieder herangezogen und verworfen, adaptiert und erneut verwendet wurde. Gab es hier also nur eine ganz normale Heiligenvita wie sonst auch?

In einem zweiten großen Abschnitt, den Boucheron mit der »Besetzung der Orte« (l’occupation des sols) überschreibt, geht es um die verschiedenen topografischen Punkte, die in Basiliken und sakralen Bauten das Andenken des Ambrosius dokumentierten, festigten und beispielsweise auch seinen Kampf gegen die Homöer deutlich machten. Basilika und Baptisterium, die Konstruktion eines christlichen Raums in der Stadt, entwickelten sich gleichsam in seinen Worten zu einer »Erinnerungsmaschine« (machine de mémoire). Vieles kulminierte in der Errichtung des goldenen Altars in karolingischer Zeit, der gleichsam die schriftlichen Erinnerungssplitter monumental verdichtete.

Der dritte Abschnitt, eine Geschichte der Zeit des 4. bis 12. Jahrhunderts, betrifft die sogenannten Phantome der Erinnerung an Ambrosius. Hier geht es in einer subtilen Weise zum Beispiel um die Frage, warum Ambrosius in Canossa nicht gegenwärtig und doch gegenwärtig war. Das vierte Großkapitel zeigt, welche verschiedenen Methoden Ambrosius immer wieder am Leben erhielten. Im 13. und 14. Jahrhundert war es die Figur des heiligen Ritters, außerdem die Gestalt des Vorkämpfers für die Freiheit und viele andere Dinge mehr.

In einem letzten (fünften) Abschnitt, der »ambrosianische Anamnesen« genannt wird, geht es um Fragen von Liturgie und die Bedeutung, die Karl Borromäus in der Frühen Neuzeit für Mailand und den ambrosianischen Kult einnahm. Der ambrosianische Ritus – einer der wenigen Sonderriten, die nicht romanisiert wurden – verkörpert bis heute das Selbstbewusstsein Mailands als eigenständiger Wurzelgrund des westlichen Christentums.

Mit dem Buch ist Patrick Boucheron sicher ein großer Wurf gelungen, die Geschichte einer Stadt und einer ganzen Landschaft vom Heiligenkult und dessen verschiedenen Facetten her zu rekonstruieren und zu entwerfen. Fragen der Auseinandersetzungen mit Rom, mit Nordafrika und Augustinus sowie mit der bedeutenden Königsstadt Pavia werden in den verschiedensten Abschnitten deutlich. Auch die einzelnen Parteiungen in der spätmittelalterlichen Kommune beriefen sich in vielfacher Weise allein durch ihre Namen auf den heiligen Ambrosius. Es gibt wenige Kulte, die dies vergleichend in ähnlicher Weise so breit verdeutlichen könnten, nimmt man einmal Petrus und Rom, Jakobus und Compostela, Markus und Venedig aus. Italien ist allein aufgrund der kommunalen Traditionen besonders reich an ähnlichen Beispielen, wie seit den Studien von Hans Conrad Peyer bekannt ist.

Natürlich musste Boucheron manchmal mit einem etwas größeren Pinsel zeichnen, denn die Beobachtungen über mehr als 1000 Jahre können nicht in vollem Maße immer auf eigener Forschung basieren. Der Autor bietet aber einen ausgesprochen erfrischenden Blick auf den ambrosianischen Kult, der von Fragen zur mailändischen Kommune im 14. und 15. Jahrhundert ausgeht. Insofern bietet das Mailand dieser Zeit dem Autor gleichsam eine Art Plattform, von der aus er die verschiedenen Sondierungen unternimmt und damit zeigt, was historische Arbeit bedeutet. Denn die Kontextualisierung eines Kultes in den verschiedenen Epochen zeigt eindrücklich, wie sehr das Mittelalter sich selbst durch diese Heiligenkulte verschiedene Identitäten konstruierte, verwarf und anverwandelte.

So liefert Boucheron auch einen Beitrag zur generellen Frage, wie lebendig und wie wirkmächtig Heiligenkulte waren. An einer Stelle bemerkt er gleichsam am Rande, dass die Humanisten die Antike als Vergangenheit erfunden hätten und damit das Material vernichteten, das im Mittelalter immer wieder verwendet, verändert, neu kontextualisiert und »konvertiert« worden sei (S. 28). Konversion bedeutet für ihn zugleich eine Form der Mission (S. 26). Diese und andere Facetten des Umgangs mit einem lebendigen Erinnerungsmaterial hat uns Boucheron in seinem monumentalen Werk bestens vorgeführt.

 Klaus Herbers – Erlangen

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¿Por qué funciona el populismo? El discurso que sabe construir explicaciones convincentes en un mundo en crisis | María Esperanza Casullo

Nunca son suficientes las figuras evocadas para hablar de populismo; ya sea como el fantasma que recorre el mundo, el eterno retorno de una anomalía, una tentación o, incluso, el más peligroso de los virus, un sinnúmero de experiencias política contemporáneas no dejan de ser caracterizadas como populistas. Como es sabido, muchos de estos tópicos han estado siempre a la orden del día, especialmente en Argentina, donde en años recientes la producción académica sobre el tema ha alcanzado un punto álgido de saturación. Es en el más reciente clivaje político argentino, en medio de la caída (electoral) del macrismo y del surgimiento político de Alberto Fernández en 2019, que María Esperanza Casullo cristaliza una particular contribución sobre la cuestión populista. Leia Mais

Medios/agendas y periodismo en la construcción de la realidade | Sandra Poliszuk, Ariel Barbieri

En Medios, agendas y periodismo en la construcción de la realidad, Sandra Poliszuk y Ariel Barbieri compilan una serie de trabajos que dan cuenta de la tarea de distintos investigadores y equipos de investigación en comunicación de universidades públicas de la Argentina, de una universidad de Chile y de la Defensoría del Público de Servicios de Comunicación Audiovisual de nuestro país. En este sentido, los artículos reunidos exponen avances y resultados de proyectos de investigación, las perspectivas de estudio y los desarrollos conceptuales que las sustentan, o con los que debaten, las metodologías y herramientas utilizadas para el abordaje y el análisis de los objetos, y comparten reflexiones de sus autores. Leia Mais

Gnarus – Revista de História. [?], v.8, n.11, out. 2020.

Apresentação (Fernando Gralha)

ARTIGOS:

  • A BAILARINA MERCEDES BAPTISTA: uma narrativa histórica que possibilita a compreensão e a importância das relações étnico-raciais na dimensão da dança no processo de construção identitária.  (Juvenal Alvaro Santos Filho e João Paulo Carneiro)
  • On-Line / PDF
  • A CONTRIBUIÇÃO DAS OBRAS DE JOSÉ CALASANS PARA A REVISÃO DA HISTÓRIA DA GUERRA DE CANUDOS (1896-1897) E PARA A BIOGRAFIA DE ANTÔNIO CONSELHEIRO E SEU SÉQUITO (Igor Farias Emerich)
  • On-Line / PDF
  • DA TROPICÁLIA PARA AS ANTROPOFOGIAS: Jomard Muniz de Britto e a “Ideologia da Cultura Brasileira”  (Francisco Adriano Leal Macêdo)
  • On-Line / PDF
  • DE NORTE A SUL: fundamentalismo religioso e intervenção na política nacional (Max David Rangel Cassin)
  • On-Line PDF
  • ANÁLISE DOS DEBATES SOBRE SENHORIO E FEUDALISMO NA PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA EUROPEIA: o caso ibérico (Cassiano Celestino de Jesus)
  • On-Line / PDF
  • NOTAS SOBRE OS HUMORES E A VERDADE EFETIVA NO PENSAMENTO POLÍTICO DE NICOLAU MAQUIAVEL (Lucas Barbosa Gomes)
  • On-Line / PDF
  • APAGAMENTO E ESTEREÓTIPOS DO REINO VÂNDALO NOS MANUAIS DE HISTÓRIA GERAL DA ÁFRICA DA UNESCO (Geraldo Rosolen Junior)
  • On-Line / PDF
  • DESENVOLVIMENTO DA ESCOLA DE MASSA: A NECESSIDADE DA SOCIEDADE INDUSTRIAL  (Renato E. de L. Oliveira)
  • On-Line / PDF
  • O ESTREITAMENTO DAS RELAÇÕES DE INTEGRAÇÃO REGIONAL E A FORMULAÇÃO DO BRICS DURANTE O GOVERNO LULA COMO INSTRUMENTO DO AUMENTO DA RELEVÂNCIA DO BRASIL NA COMUNIDADE INTERNACIONAL (Marcus Vinicius Vilanova Gralha)
  • On-Line / PDF
  • SANTA ISABEL DA HUNGRIA E SANTA HILDEGARDA: uma análise comparativa da trajetória da santidade feminina nos séculos XII E XIII (Leilane Araujo Silva)
  • On-Line / PDF
  • SOBRE A MAÇONARIA NA HISTÓRIA MODERNA E O GRAU DE MESTRE (Marcus Vinícius Teixeira dos Anjos e Adílio Jorge Marques)
  • On-Line / PDF
  • FUTEBOL E HISTÓRIA: o título intercontinental do Clube de Regatas Vasco da Gama (Adílio Jorge Marques e Fernando Gralha)
  • On-Line / PDF

COLUNA: NO ESCURO DO CINEMA

  • ÁFRICA NA TELA: o uso em sala de aula dos filmes “o último rei da Escócia” e “Hotel Ruanda” para retratar confrontos ocorridos no continente africano no decorrer do século XX (Edivaldo Rafael de Souza)
  • On-Line / PDF
  • ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO DA RELAÇÃO CINEMA-DOCUMENTÁRIO E HISTÓRIA: verdade, realidade estética, ética e discurso histórico (Renato Lopes Pessanha)
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  • O SERIADO HISTÓRICO NA CONTEMPORANEIDADE E A EXPERIÊNCIA DO PASSADO (Rafael Garcia Madalen Eiras)
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COLUNA: A HISTÓRIA NOS QUADRINHOS

  • DIMENOR: um retrato da vida de crianças e jovens moradores de rua (Aderaldo Januário de Almeida)
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  • MORT CINDER: suas muitas vidas e muitas mortes (Renato Lopes Pessanha)
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  • COLUNA: FOTOGRAFIAS DA HISTÓRIA
  • A COR DA PELE NUNCA É INVISÍVEL (Angélica Fontella)
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  • COLUNA: EDUCAÇÃO
  • A HISTÓRIA DA FÍSICA CONTADA EM SALA DE AULA: proposta interdisciplinar (Adílio Jorge Marques)
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ENTREVISTA

  • MESTRE BIMBA, DIRETOR DA BANDA HARMONIA DO SAMBA: quando o artista reflete a história. (Diego da Rocha Viana Muniz )
  • On-Line / PDF

 

Perda de informação e de bens em arquivos e instituições responsáveis por guarda do patrimônio / Revista do Arquivo / 2020

Sinistro, palavra comum no jargão arquivístico e também no vocabulário de seguradoras e órgãos de prevenção a desastres, em quaisquer dos sentidos indicados por sua sinonímia transmite ideia de negatividade.

Segundo o dicionário [1], no adjetivo, sinistro é tudo o que é de “mau agouro, que pressagia desgraças”, ou ainda que “infunde temor, ameaçador, assustador, temível”, ou “o que provoca o mal, perigoso, pernicioso… o que é trágico, calamitoso”. No caso específico do significado substantivo da palavra, sinistro é “qualquer acontecimento que acarreta dano, perda ou morte; acidente, desastre, soçobro”, ou “grande prejuízo material, dano …. sobre o qual se faz seguro”, e finalmente, “risco”.

Entretanto, o sinistro aqui é tratado como uma dimensão da preservação. Dito de outro modo, sob o astuto viés da dialética, o sinistro é a preservação em sua negatividade.

Nesta décima primeira edição da Revista do Arquivo, esse ‘mau agouro’, ou ‘acontecimento’ que incide na realidade dos arquivos, é o foco central de nossas preocupações.

Não é para gostar, é para ficar atento!

Introdução ao Dossiê

Desta vez, um pequeno e substancial mosaico de olhares sobre o tema. Cinco assinaturas em quatro textos a refletirem sobre o tema da preservação nas suas variadas dimensões.

Marcelo Chaves e Marcio Amêndola abrem o espectro da Revista com contundente grito de alerta sobre a cotidianidade e a invisibilidade dos sinistros nos arquivos brasileiros. Faltam números e estatísticas, mas sobram condições e motivações para o “mau agouro que pressagia desgraças” nos arquivos brasileiros. Buscam-se números nos silenciosos relatórios administrativos e também na barulhenta e nem sempre consequente imprensa. Leiam e reflitam com A perda de patrimônio cultural como negatividade da preservação.

Uma das maiores autoridades em conservação e preservação de patrimônio cultural e “alto funcionário” do ICCROM [2], Luiz Pedersoli nos deu a honra de sua entrevista que destila muito conhecimento, equilíbrio e assertividade: O gerenciamento de riscos é um processo contínuo e tem que constar entre as prioridades institucionais.

Tratando da Perda de informações e de bens em arquivos e segurança da informação e o viés digital, Vanderlei dos Santos reitera estudo realizado pelo Ministério da Justiça canadense, que conclui serem quatro os grupos que ameaçam a segurança da informação nos arquivos digitais: a) de natureza tecnológica; b) falha da instituição na adoção de medidas de segurança adequadas; c) ação de usuários autorizados; e d) ação de usuários não autorizados. Confiram!

“Então, é fundamental a visão da preservação digital sempre levando em consideração o que eu chamo do tripé do documento digital, que é o hardware, o software e o suporte, ou seja, onde a informação está registrada”. Com esse trecho da ótima entrevista que conclui o brilhante bloco introdutório, convidamos o leitor a ‘escutar’ com atenção as orientações de Humberto Innarelli em texto intitulado Sinistros em ambientes digitais de arquivos.

Artigos

Recomendações para acervos de arquivo após perdas causadas por incêndio é o título de artigo em que “apresenta-se parte dos resultados da pesquisa que teve como objetivo servir de orientação para o desenvolvimento de um plano de recuperação do acervo pós-desastre. Tudo isso baseado no caso da Seção de Memória e Arquivo do Museu Nacional (SEMEAR), sinistrado em setembro de 2018”. Os seus autores são Jorge Dias da Silva e Eliezer Pires da Silva.

Denise Aparecida Soares de Moura, no seu Montando as peças de um quebra-cabeças: dispersão de informações e bens em arquivos, trata de um dos fenômenos mais comuns e dos menos difundidos no rol de sinistros que causa perda de informações e fere pilares da ciência arquivística, como os princípios da proveniência e da organicidade dos documentos de arquivo: trata-se do pouco conhecido fenômeno da dissociação.

“Cada vez mais, obras de arte, artefatos arqueopaleontológicos, antiguidades, fauna/flora e obras bibliográficas são subtraídas, furtadas ou roubadas de seus lugares de salvaguarda para que sejam empregadas no mercado internacional…”. Este tema abordado por Rodrigo Christofoletti e Nathan Agostinho é de suma importância e remete-nos à reflexão sobre os sistemas de segurança das instituições de guarda de bens culturais. Leiam Tráfico ilícito de bens culturais: uma reflexão sobre a incidência do furto de patrimônio bibliográfico raro no Brasil.

Pablo Antonio Salvador Vasquez e Maria Luiza Emi Nagai são autores que nos apresentam a Contribuição da tecnologia de ionização gama na recuperação de acervos do patrimônio cultural, a partir de revisão bibliográfica e de exposição de práticas realizadas pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN). Um alento em meio às sombras.

Isis Baldini escreve ensaio em que arrola dados comparativos de diferentes fontes, de vários sinistros ocorridos no mundo, e no Brasil, em particular, chamando a atenção para o aumento significativo desses eventos nas instituições de patrimônio cultural. Suas análises são também baseadas em ocorrências experimentadas em sua vida profissional, com as quais ela se deparou “com inúmeras situações de emergências, sendo que algumas vieram a público, pela sua própria magnanimidade do evento, e outras não”.

Ainda dentro do tema do dossiê, esta edição nº 11 oferece aos seus leitores a oportunidade de acesso inédito em nossa língua pátria, ao excelente artigo do canadense Jean Tétreault, gentilmente cedido e autorizado pelo periódico Jornal da Associação Canadense para a Conservação e Restauro (J.CAC). Trata-se de verdadeira obra de referência sobre o assunto.

A subseção Autor(a) convidado(a) traz excelente texto coletivo que nos oferece a oportunidade de conhecermos Waldisa Rússio, sob a perspectiva apontada pelos complexos trabalhos de organização do arquivo pessoal dessa importantíssima museóloga brasileira. A assinatura é coletiva e multidisciplinar: Viviane Panelli Sarraf, Paula Talib Assad, Karoliny Aparecida de Lima Borges, Sophia Oliveira Novaes, Guilherme Lassabia Godoy, Carlos Augusto de Oliveira e Lia Cazumi Yokoyama Emi. O título do artigo é Museus, Arquivos Pessoais e Memórias Coletivas – uma análise baseada na experiência de sistematização do Fundo Waldisa Rússio no Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.

Tanto conteúdo de primeira qualidade é para encher de alegria e de orgulho a instituição e os editores da Revista do Arquivo.

Intérpretes do Acervo

Karoline Santana Moreira, assistente social e pedagoga, Katherine Cosby, historiadora e Joyce A. Martirani, comunicadora social. Pesquisadoras, cujos interesses abrangem distintas áreas do conhecimento e a busca por dados e contextos que agregam veracidade às suas respectivas linhas de pesquisa, tendo em comum a singularidade da presença no (do) Arquivo do Estado de São Paulo.

Prata da Casa

Desta vez, não é um setor em destaque, mas uma atividade coadjuvante e silenciosa para resguardar o trabalho dos diversos setores e fazeres técnicos de uma instituição arquivística. Convidamos o leitor a conhecer um pouco das estratégias utilizadas por profissionais responsáveis pela coordenação dos trabalhos de gerenciamento de riscos no Arquivo Público do Estado de São Paulo.

Vitrine

Os dramas para quem quer pesquisar arquivos da televisão brasileira; a riqueza dos documentos cartoriais para a escrita da História; a falta de visão patrimonial para manutenção de arquivos escolares e crônica de memórias de uma garagem. Esses são grandes assuntos tratados no formato ligeiro desta seção, assinados, respectivamente, por Eduardo Amando de Barros Filho, Mara Danusa Bezerra, Priscila Kaufmann Corrêa e Isaura Bonavita.

Arquivo em Imagens

O inverso (perverso) da preservação. O título já nos incita a um mergulho em imagens do “lado B” da preservação. Para quem tem sensibilidade e apreço pelo patrimônio cultural, são imagens chocantes, como uma arte em estado degenerado.

Memórias na Pandemia

Oferecemos duas distintas expressões do impacto da “pandemia” em nós. Camila Brandi, que condensou suas sensações relacionadas ao cotidiano do(s) arquivo(s), no exato dia 19 de junho; e Isaura Bonavita, em sua crônica lírica desaguada na poesia de Cora Coralina.

Atentem. Comentem. Critiquem!

Notas

1. Ver: http://michaelis.uol.com.br/busca?id=kLNdM

2. Centro Internacional de Estudos para a Conservação e Restauro de Bens Culturais (a sigla ICCROM é a original do Inglês)

Apresentação. Revista do Arquivo, São Paulo, Ano VII, N. 11, out., 2020. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

 

PolHis. Buenos Aires, n.25, 13, 2020.

Editorial

Dossiers Temáticos

Artículos

Ensayos Críticos de libros

Publicado: 2020-09-30

Temporalidades. Belo Horizonte, v.12, n.2, 2020.

Edição 33 – Temporalidades, Belo Horizonte, Vol. 12, n.2 (mai./ago. 2020)

Expediente

Pré-textuais

  • Carla Drielly dos Santos Teixeira; Felipe Augusto Souza, Luiza Lima Dias, Anna Karolina Vilela Siqueira, Barbara De La Rosa Elia, Samuel Antunes de Souza
  • I – IV
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Editorial

Apresentação

Dossiê Temático

Artigos Livres

Resenhas

Entrevistas

Publicado: 2020-09-30

Ingesta. São Paulo, v.1, n.2, 2019.

Caderno de Resumos do II Simpósio Internacional de Pesquisa em Alimentação

Editorial

Artigos

Caderno de Resumos

História Revista. Goiânia, v.25, n.1, 2020.

Religião, cultura e relações sociais na Península Ibérica

Dossiê

Publicado: 30-09-2020

Mare Nostrum – Estudos sobre o Mediterrâneo Antigo. São Paulo, v.11, n.1, 2020.

Dossiê “Gênero e Interseccionalidade na História Antiga”

EDITORIAL

ARTIGOS

RESENHAS

PUBLICADO: 2020-09-29

História, Debates e Tendências. Passo Fundo, v. 20, n. 2, 2020.

Dossiê – Conflitos agrários na América do Sul: história fundiária e agrária | Publicado: 2020-05-01

Editorial

Dossiê

Artigos Livres

Entrevistas

Resenhas

Archivos de historia del movimiento obrero y la izquierda. Buenos Aires, v.9, n.17, septiembre 2020 / febrero 2021.

Presentación

  • Hernán Camarero
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Dossier: Oposición de Izquierda y los albores del trotskismo en América Latina

Artículos libres

Reseñas

Publicado: 2020-09-25

História, Debates e Tendências. Passo Fundo, v. 20, n. 3, 2020.

Dossiê Brasil-Polônia: Diálogos Histórico-Culturais | Publicado: 2020-09-23

Editorial

Dossiê

Tradução

Artigos Livres

Hydra. Guarulhos, v.4, n.8, 2020.

História da Saúde e suas relações com a Sociedade

Expediente

  • ·                  Expediente
  • Revista Hydra
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Editorial

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  • Revista Hydra
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Dossiê

Artigos Livres

Entrevista

Publicado: 2020-09-22

Historia Global: Perspectivas y Tensiones / Carlos Rojas

livro História Global: perspectiva e Tensiones foi organizado por Carlos Riojas e Stefan Rinke com a seleção de autores que participam de grupos de trabalho voltados à História Global e à História da América Latina. Na introdução do livro, os organizadores relembram os grupos de estudos sobre História Global, bem como publicações, que juntas, articulam uma agenda. A ideia deles foi pensar quais eram as premissas básicas para reconhecer o que a bibliografia especializada chama de História Global. Delineia-se uma teoria que evita a história única, a história événementielle ou que tenta somar as partes para fazer o todo. Sem se inscrever numa geografia específica, trata-se de um enfoque que dá ênfase às redes, às conexões, ao mecanismo de sustentação ou difusão de constelações.

O primeiro capítulo dedicado a História Global, escrito por Sebastian Conrad, defende a abordagem enquanto uma tentativa de fugir da história da nação e da herança de uma matriz disciplinar fundada no século XIX. Para a sua superação propõe-se uma virada heurística a partir de objetos já pesquisados e documentos já descobertos (CONRAD, 2017, p. 36). Portanto, não se trata de buscar uma história ainda não descoberta, mas olhar de outra maneira para o mundo que já conhecemos.

Nesse sentido, o livro foi estruturado em oito capítulos com abordagens que problematizam narrativas amplamente difundidas no ambiente historiográfico. Por exemplo, categorizar a América Latina como periferia do mundo ou menosprezar este continente – e outros como Ásia –, no papel de globalização, ainda no século XVI.

A maneira como o livro traz a perspectiva global é uma revisão a partir de abordagens que vem sendo debatidas desde os anos 1950, como uma nova história política, uma nova história intelectual, as teorias desconstrutivistas, a crítica pós-colonial entre outras. Mas, em vez de destacar o acirramento entre tais teorias, há uma tentativa de conciliação. Por exemplo, para falar do equívoco do eurocentrismo, isto é, uma história feita a partir de uma visão sobre povos e culturas, que os classifica segundos uma hierarquia cujo ponto de chegada é a civilização europeia, com seus Estados, suas leis, sua urbanização, são retomadas questões sobre viajantes da modernidade (RIOJAS; RINKE, 2017, p. 16). Tais viajantes geralmente são entendidos como um instrumento do eurocentrismo, por viajarem pelas Américas a fim de explorar os continentes e produzirem o conhecimento necessário para a conquista. Além disso, esses relatos de viagem teriam sido usados exaustivamente por intelectuais residentes nas Américas para formar a própria visão do país, como na Literatura Indianista Brasileira. No livro não há a negação de tais fatos, mas a sugestão “de una dinámica intercultural la cual modificó paulatinamente el carácter de todos los actores inmiscuídos en estos viajes conforme los contactos se hicieron más estrechos y frecuentes” (RIOJAS; RINKE, 2017, p. 12). Portanto, tanto metrópole como colônia transformam-se pari passu uma a outra.

Alguns trabalhos, hoje clássicos, já problematizaram a relação entre metrópole e colônia, como Maria Sylvia Carvalho Franco em Homens Livres na Ordem Escravocrata (1969), em que evidencia os vínculos entre trabalhos escravo e homens livres, de modo que a escravidão colonial faz parte do desenvolvimento capitalista nascente das metrópoles. Este argumento contraria visões que postulam diferenças essenciais e dicotômicas que podem ser percebidas em nomenclaturas como metrópole e colônia, desenvolvidos e subdesenvolvidos, periféricos e centro (FRANCO, 1976). Dessas diferenças viriam uma causalidade de acontecimentos da economia agrícola à industrialização, do atraso ao desenvolvimento, da barbárie à civilização. As teses de Franco não estiveram sozinhas e fizeram escola em livros como O Nascimento das Fábricas (1993), de Edgar De Decca, que interpretou a organização da sociedade em torno do engenho como uma forma de modelo industrial; e Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza (1986), de Stella Bresciani, que enxergou a barbárie nos ditos civilizados. Perceba, portanto, que a História Global é um guarda-chuva de debates historiográficos sustentados por uma noção de totalidade que reformula a percepção sobre a história. Para Rinke e Riojas, “el todo es más que la soma de las partes” (RIOJAS; RINKE, 2017, p. 14).

A história total já foi proposta outras vezes, seja com uma variante de universalidade, como em Friedrich Schiller (2019), para quem as histórias da Ilustração eram um amontado de fragmentos faltado conexão entre os eventos; ou a História Total pensada por Hippolyte Taine, que em seu recorte deveria abarcar a raça, o meio e o momento (DE DECCA, 2002, p. 163). Hoje não restam dúvidas que essas ambições modernas e iluministas produziram formas de engajamentos pelo mundo, que, por exemplo, encontram lugar comum em Victor Hugo, Euclides da Cunha, Marc Bloch, Domingo F. Sarmiento entre tantos outros. Não por acaso, Rinke e Riojas citam O mediterrâneo (1949) de Fernand Braudel como pioneiro na História Global. Entretanto, será possível conseguir se distanciar da história nacional e sua matriz disciplinar do século XIX com uma proposta fundada nessa mesma matriz disciplinar?

Adentrando ainda mais no livro, percebe-se textos que procuram reinterpretar os acontecimentos históricos para dar um novo sentido. Há também outros textos que enfatizam a inescapável globalização do período contemporâneo. A exemplo da proposta de Bernd Hausberger, até mesmo alguns livros recentes como Globalization in World History, organizado por A. G. Hopkins, pecam por dedicar poucas páginas ao papel da América Latina. O objetivo Hausberger foi lembrar que o comércio e a indústria desenvolvida na Europa nos séculos XVIII e XIX só foi possível com o ouro, com a prata, com as mercadorias e com consumo das colônias, sobretudo da América Latina (HAUSBERGER, 2017, p. 57). Percebe-se, portanto, que a história global caminha para um eixo historiográfico de não apenas fazer síntese, mas ser crítica sobre a própria produção.

Outro exemplo de abordagem da história global foi ensaiado por Carlos Riojas, ao comparar a agenda da globalização no final do século XX entre Hungria, Argentina e México. Estes países tinham em comum alto grau de endividamento, ficando à mercê de mais empréstimos e regras ditadas internacionalmente por instituições financeiras. Porém, as reformas econômicas não necessariamente acompanhavam processos democráticos, como no caso do Chile, em que se justificava a ditadura do Pinochet para fazer as implementações solicitadas pelo mercado e pela imprensa internacional (RIOJAS, 2017, p. 147). Essa abordagem de história comparada é pertinente até para pensar o tempo presente, porque hoje, os países citados por Rojas, sofrem novamente por problemas econômicos, escaladas autoritárias e repressão a população civil.

A história global aparece como uma forma de mediar as diversas formas de escrita da história pelo mundo, investindo na pluralidade, na diversidade e na perspectiva. A história global ainda estará sob às críticas mais duras ao eurocentrismo no ofício do historiador, por deixar dúvidas em relação às ambiguidades presentes na terminologia história. Ainda assim, em um século XXI de nacionalismos, reinvindicações identitárias, aceleração do tempo, pandemia, uma historiografia de mediações é fulcral para estabelecer diálogos e agendas.

Referências

BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza. Brasiliense, 1982.

CONRAD, Sebastian. História Global – Agendas y Perspectivas. In: RIOJAS, Carlos; RINKE, Stefan (org). Historia Global: Perspectivas y Tensiones. Verlag Hans-Dieter Heinz: Akademischer Verlag Stuttgart, 2017.

DE DECCA, Edgar. Euclides e os Sertões: entre a literatura e a história. In: FERNANDES, Rinaldo de (Org). O Clarim e a Oração. Cem anos de os Sertões. São Paulo: geração editorial. 2002.

DE DECCA, Edgar Salvadori. O nascimento das fábricas. São Paulo: Brasiliense, 1982.

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. As ideias estão no lugar. Cadernos de debate. Vol 1. História do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1976.

FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. Unesp, 1969.

HAUSBERGER, Bernd. Consideraciones acerca del papel de América Latina para el arranque de la globalización. In: RIOJAS, Carlos; RINKE, Stefan (org). Historia Global: Perspectivas y Tensiones. Verlag Hans-Dieter Heinz: Akademischer Verlag Stuttgart, 2017.

RIOJAS, Carlos; RINKE, Stefan (org). Historia Global: Perspectivas y Tensiones. Verlag Hans-Dieter Heinz: Akademischer Verlag Stuttgart, 2017.

RIOJAS, Carlos Agendas Globales Agendas Locales. In: RIOJAS, Carlos; RINKE, Stefan (org). Historia Global: Perspectivas y Tensiones. Verlag Hans-Dieter Heinz: Akademischer Verlag Stuttgart, 2017.

SCHILLER, Friedrich. O que significa e com que fim se estuda a história universal? Trans/Form/Ação. Vol.42 no.3 Marília July/Sept. 2019  Epub Oct 07, 2019.

Alesson R. Rota – Historiador, doutorando pela Unicamp e entusiasta de tecnologias. Nas horas vagas dedico-me ao canal História da História.

RIOJAS, Carlos; RINKE, Stefan (org). Historia Global: Perspectivas y Tensiones. Verlag Hans-Dieter Heinz: Akademischer Verlag Stuttgart, 2017, 158p. Resenha de: ROTA, Alesson. A história global e a mediação das teorias. HH Magazine – Humanidades em Rede. 20 set. 2020. Acessar publicação original [IF].

História da Enfermagem. Brasília, v.11, Especial, 2020.

POSTED BY: HERE 20 DE SETEMBRO DE 2020

EDITORIAL

ARTIGOS ORIGINAIS

RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • Criação de Acervo Documental sobre acontecimentos no Ano Internacional da Enfermeira e Obstetrizes (2020) | Creation of a Documentary Collection on events in the International Year of the Nurse and Midwives (2020): experience report | Creación de Acervo Documental sobre eventos en el Año Internacional de los Profesionales de Enfermería y Obstetricia (2020): relato de experiencia | Rosa Maria Souza Braga, Ana Paula da Costa Lacerda Brandão, Davi Milleli Silva, Anamaria de Souza Fagundes, Pacita Geovana Gama de Sousa Aperibense, Maria Angelica de Almeida Peres

FAC SIMILE

  • A Influenza Espanhola | The Spanish Influenza | A Gripe Espanhola | Ana Paula da Costa Lacerda Brandão, Maria Angélica de Almeida Peres

REFLEXÃO

RESENHA

 

Boletim Historiar. São Cristóvão, v.7, n.02 (2020): Maio/Ago. 2020

Artigos

Resenhas

Publicado: 2020-09-14

Historiae. Rio Grande, v.10, n.2, 2019.

Estudos africanos: problemas de pesquisa e perspectiva de análise

  • ·                  Expediente
  • Rodrigo Santos de Oliveira
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  • ·                  Apresentação
  • Marçal de Menezes Paredes, Priscila Maria Weber
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Dossiê

Artigos

Publicado: 2020-09-11

Quinto Sol – Revista de História. Santa Rosa, v.24, n.3, 2020.

septiembre / diciembre

Fotografía de tapa: Carpa de auxilio de la Cruz Roja Argentina que actuó en Paysandú, República Oriental del Paraguay, s/f. Foto C.1662, Inventario 168149, Fichero 2. Departamento Fotográfico, Archivo General de la Nación, Ciudad Autónoma de Buenos Aires. Gentileza de Adriana Alvarez.

DOSSIER

ARTÍCULOS

RESEÑAS

PUBLICADO: 2020-09-10

The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith – Workers and Race before Liberation Theology | Ricardo Cubas Ramacciotti

O livro “The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884-1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology”, deRicardo D. Cubas Ramacciotti, publicado em 2018, chegou em boa hora. Abrange uma temática importante para o campo dos estudos sobre a história do catolicismo na América Latina na virada do século XIX para o XX.

Destacamos, ainda, a alta relevância que os temas relacionados à relação entre religião e política têm tido nas últimas décadas. Não se trata mais tão somente de conflitos localizados, na Irlanda, na Palestina, nos Balcãs, como o noticiário internacional tornara rotineiros no último quartel do século XX. Para compreender e analisar a conjuntura política internacional, nacional ou regional tornou-se indispensável nos despirmos das fantasias iluministas. As interpretações iluministas consideraram os espectros da irracionalidade produzidos por séculos de predominância da dominação religiosa e da sacralização do poder como superados, dado o avanço do desencantamento do mundo.

À relevância da obra que apresentamos aos leitores de Almanack, junte-se a qualidade de sua edição, publicado na coleção Religion in the Americas Series da prestigiada editora Brill, criada em 1683 em Lieden, nos Países Baixos, e que tem sede também em Boston, nos EUA [3]. Em português tem por título: “A política da religião e a ascensão do catolicismo social no Peru (1884-1935): Fé, Operários e Raça antes da Teologia da Libertação”. Tendo realizado estudos de mestrado e doutorado na Universidade de Cambridge na Inglaterra, o historiador havia feito sua graduação em História na Universidade Católica do Peru. Atualmente, é professor associado na Universidad de los Andes, em Santiago do Chile.

Ricardo Cubas optou pela metodologia e pelas técnicas de pesquisa da história das ideias (selecionando e organizando conteúdos temáticos). Estamos diante de um livro potente, que cobre uma lacuna para os estudos da história do pensamento católico na América Latina. E, diga-se de passagem, “Latina”, porque constituía a América que rezava em latim, na percepção dos maçons das lojas de Londres e da Filadélfia, tão atuantes que foram nos processos de independência dos países ao Sul do rio Grande (do México até a Patagônia). A nosso ver, mais importante do que destacar as disputas entre Inglaterra e França pelo espólio dos impérios ibéricos no século XIX, convém atentar para o olhar colonial dos agentes dos novos impérios, que levou os franceses a proclamarem suas afinidades com a latinidade para justificar suas ambições imperialistas. Entretanto, as associações entre a catolicidade da América Latina e o “atraso” e outras desqualificações intelectuais e morais se apresentaram no palco destas disputas e estão a produzir efeitos políticos e ideológicos que ecoam até o tempo presente. [4]

O livro aborda a problemática da relação entre religião e política no contexto mais amplo do conflito entre o catolicismo e os movimentos de secularização da sociedade peruana. Analisa o processo de renovação do mundo católico, face às transformações socioeconômicas da expansão global do capitalismo industrial a partir da década de 1860. A temporalidade enfocada vai de o fim da Guerra do Pacífico (1879-1884) até os anos imediatamente posteriores a crise mundial de 1929 e a queda do regime de Augusto B. Leguía em 1930. Neste período, a formação histórica peruana iniciou um processo de reconstrução nacional caracterizada pela aplicação de novos modelos de crescimento econômico e desenvolvimento urbano.

Entretanto, os processos históricos transnacionais não implicaram tão somente questões referidas à expansão econômica e modernização urbano-industrial. Em toda esta temporalidade abrangida pelo livro em tela, ocorreram disputas entre a reação conservadora (do fundamentalismo católico ultramontano) e o processo de modernização e reforma do catolicismo. Durante o papado de Pio IX (entre 1846-1878) ocorreu uma forte reação conservadora que promoveu a devoção ao Sagrado Coração e estimulou a revivificação [5] da teologia tomista, atualizando o neotomismo das reformas religiosas do século XVI (também conhecido como segunda escolástica). No papado seguinte, Leão XIII promulgou a encíclica Aeterni Patris que, mais do que qualquer outro documento, forneceu uma carta para a atualização histórica do tomismo – o sistema teológico medieval baseado no pensamento de Tomás de Aquino (século XIII) que fora atualizado no século XVI; e que se tornou oficial e tido como sistema filosófico e teológico da Igreja Católica na virada para o século XX. Deveria ser normativo não apenas no treinamento de padres nos seminários da igreja, mas também na educação dos leigos nas universidades. Por outro lado, introduziu na igreja de Roma, através da encíclica Rerum Novarum (de 1891), a reflexão sobre a “questão social”, que convocou os católicos a pensarem e agirem diante do avanço do movimento operário organizado internacionalmente (Associação Internacional dos Trabalhadores, de 1864, e II Internacional Socialista, de 1889, marcada pela reorganização após a forte repressão política aos movimentos operários depois da Comuna de Paris, de 1871). Estavam dadas as condições históricas de avanço e consolidação das duas posições políticas que dividem o campo político do catolicismo romano desde o último quartel do século XIX: o integrismo e o solidarismo.

Temos no livro de Ricardo Cubas um enquadramento da circulação de ideias entre Europa e América Latina, que foi tratada em sua complexidade e abrangência, envolvendo tanto um processo de expansão da internacionalização do capitalismo, quanto uma retomada vigorosa do catolicismo e do tomismo [6], que constitui também um processo inscrito no plano internacional. Afinal, “católico” é sinônimo de “universal”.

O livro de Cubas Ramacciotti analisa como ocorreram mudanças no catolicismo em termos globais e como manifestaram-se no caso peruano, onde a secularização do poder implicou um processo de transição de um governo confessional que proibia a culto público de credos não católicos ao reconhecimento legal de diferentes religiões, especialmente a partir de 1915, e, posterior à separação entre igreja e Estado. Também implicou uma influência eclesiástica decrescente sobre a legislação peruana, especialmente sobre temas relacionados à educação pública e à concepção católica de direito natural, família e casamento. O capítulo dedicado a estas questões está muito bem construído.[7] Ocorreram, ainda, a eliminação de tribunais corporativos especiais para o clero e o deslocamento gradual da Igreja de funções que passaram para o controle estatal, como o registro civil, o bem-estar social e a saúde pública. Outra característica, que não é o foco principal de estudo neste livro, mas está bem colocado no livro, foi a transformação das relações econômicas entre igreja e Estado, incluindo uma expropriação antecipada de algumas propriedades eclesiásticas e uma redução gradual – embora não a eliminação – de certos privilégios fiscais e subsídios públicos à Igreja.

Do ponto de vista sociopolítico, a secularização foi caracterizada pela influência de novos atores: liberais, maçons e positivistas, que, por razões muito diferentes, desafiaram a hegemonia cultural e social do catolicismo no Peru. Por outro lado, os protestantes visavam alcançar maior tolerância religiosa para expandir seus projetos pastorais e educacionais. Marxistas e apristas questionaram as estruturas econômicas e sociais do país como um todo e defendiam uma revolução radical. O livro aborda, portanto, um universo de três tópicos interconectados: a resposta eclesiástica à secularização da política, a revitalização interna da Igreja no Peru e a ascensão do catolicismo social. Paradoxalmente, essa situação permitiu à Igreja promover várias iniciativas pastorais, sociais, educacionais e políticas que, por sua vez, foram fundamentais para preservar e expandir a presença católica na sociedade peruana.

A interpretação de Ricardo Cubas é de que a aplicação do pensamento social católico no Peru teve que ser adaptada à realidade específica do país e apresentou respostas distintas daquelas implementadas na Europa. O livro analisa, assim, uma tendência dentro do catolicismo peruano algumas décadas antes do surgimento da Teologia da Libertação, que foi moldada por diferentes paradigmas teológicos e políticos. Tal situação avançou com uma agenda reformista, mas anti-revolucionária, que abordava a nova política social, incluindo os trabalhadores urbanos e as populações indígenas. Essa agenda englobava uma defesa dos direitos individuais e corporativos de trabalhadores e dos índios contra seus detratores e exploradores. Demandava também mudanças legais e institucionais para proteger esses direitos; iniciativas de bem-estar; uma reavaliação de culturas e línguas nativas; e esforços para integrar as populações indígenas.

Na organização dos capítulos, o livro inicia com informações históricas sobre o regalismo no mundo hispano-americano, de fins do século XVIII, que deu suporte à monarquia católica. Situou o Absolutismo Ilustrado e suas reformas até a independência política, provocando uma crise eclesial que ficou sujeita às pressões da Santa Aliança e tudo que implicou de afirmação da reação conservadora, na América Latina, tanto quanto na Europa.

As Parte II e III do livro são as melhores que o autor nos apresenta, seja pela pesquisa que aparece em sua plenitude na narrativa histórica empreendia pelo autor, seja pelas novidades que aporta. Nelas o livro se desprende da formatação de pesquisa de tese de doutorado que deixava transparecer até então. Os subtítulos são sugestivos: A revivificação católica (The Catholic Revival) [8] e Catolicismo Social (Social Catholicism) [9]. Nesta parte III, não podemos deixar de ressaltar o tratamento dado à criação dos círculos operários [10], uma estratégia global da igreja romana. Paralelamente à formação intelectual do laicato através de uma política educacional, o catolicismo social voltou-se para o operariado dos centros urbanos latino-americanos (no Peru, e no Brasil). [11]

Entre os pontos altos do livro está a forma como Ricardo Cubas pontua numa cadência bem distribuídas as forças políticas divergentes no interior do catolicismo romano. Analisa, por exemplo, o renascimento da educação católica, e aqui estamos traduzindo literalmente a expressão utilizada no original do texto de tese: “The rebirth of Catholic Education”.[12] No Brasil, a historiografia tem usado outra terminologia para referir-se à reforma católica do final do século XIX: recristianização pelo novo esforço de evangelização e repovoamento das diferentes regiões que compõem o país. A nosso ver, esta outra conceituação é mais adequada, pois, de fato, os episódios analisados envolvem a evangelização promovida durante o período colonial e a estratégia de conversão abrangente através dos colégios dos jesuítas. Com a expulsão dos jesuítas da Europa (que atingiu também as áreas colonizadas nas Américas), no século XVIII, e com o avanço do processo de secularização produzido pela radicalidade da revolução burguesa na França, mas não só, seria demasiado e historicamente impróprio denominar a reforma religiosa de modernização do catolicismo em fins do século XIX de “renascimento da Educação católica”. No Peru, como também no Brasil, ocorreu, desde então, uma pregação religiosa de que o Estado não é capaz de manter escolas públicas de qualidade [13]. De fato, a estratégia tão bem descrita por Ricardo Cubas, para o caso do Peru, mas que também ocorre em outras formações históricas da América Latina, foi o “repovoamento da Igreja”, com a vinda de educadores missionários para criação de colégios confessionais católicos, com motivações claras na direção de formação do laicato urbano, letrado e moderno.[14]

Para o caso do Peru, Ricardo Cubas destaca a força política da Educação católica, tendo em vista uma atuação política diante da separação entre igreja e Estado. Muitos colégios foram criados (tal como no Brasil), e ressalta a importância da Congregação dos Sagrados Corações (de Jesus e de Maria), que chegou no Peru em 188815, sendo muito prestigiada pela elite católica peruana. A Congregação havia sido criada em Paris, na Rue Picpus, em 1800.

Não por acaso, a efervescência política e excelência da produção intelectual peruana neste período é notável, pelas possibilidades de elaboração de uma reflexão marxista original e de peso teórico na pena de José Carlos Mariátegui (em seu livro, “Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana”, de 1924); tanto quanto a criação de condições históricas para a elaboração mais acabada da Teologia da Libertação de Gustavo Gutiérrez, monge dominicano de ascendência quéchua. Tanto o revolucionário, quanto o teólogo estudaram na mais antiga universidade das Américas, a Universidad Nacional de San Marcos. O livro mais conhecido de Gutiérrez, “A Teologia da Libertação: História, Política e Salvação”, de 1971, responde ao movimento mais amplo emergido no Segundo Pós-Guerra (décadas de 1950-60) que resultou na convocação das conferências episcopais latino-americanas16, cujos primeiros resultados influíram diretamente na inclusão da pauta de justiça social e opção preferencial pelos pobres.

Notas

3. CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology, Lieden/ Boston: Brill, 2018, 311 p.

4. NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Sobre o Conceito de América Latina: Uma Proposta para Repercutir nos Festejos do Bicentenário. Revista Pilquen. Sección Ciencias Sociales, v. XII, p. 1-7, 2010.

5. Empregamos aqui a expressão “revivificação” retirada do livro de Carl Schorske: SHCORSKE, Carl. A revivificação medieval e seu conteúdo moderno: Coleridge, Pugin e Disraeli, In Pensando com a História. Indagações na Passagens para o Modernismo, São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 88-107.

6. Temos referido a este movimento de revigoramento do tomismo que avança pelo século XX, como “terceira escolástica”. Nem tanto pela “revivificação” neotomista do medievalismo da reação conservadora e do conservadorismo romântico, mas, sobretudo, pela reforma religiosa de modernização e inclusão da “questão social” no pensamento católico, em sua incidência sobre o campo jurídico. NEDER, Gizlene. Duas Margens. Ideias Jurídicas e Sentimentos Políticos na Passagem à Modernidade no Brasil e em Portugal, Rio de Janeiro: Revan, 2011.

7. Parte I, capítulo 2: The Secularisation Process during the Aristocratic Republic (1884–1919), p. 49-68. O tema é importantíssimo. O debate sobre o casamento civil no Brasil arrastou-se por longos anos onde a confrontação entre o catolicismo ultramontano (que concebia o casamento como um sacramento, indissolúvel) e o catolicismo ilustrado (defensor da modernização do direito de família) criou impasse que resultou no uso dos dispositivos legais das Ordenações do Reino (livro IV, Ordenações Filipinas de 1603) por quase um século depois da independência do país de Portugal (1822) e 27 anos depois da república proclamada. NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO, Gisálio. Ideias Jurídicas e Autoridade na Família, Rio de Janeiro: Revan, 2007.

8. CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology, Parte II, p. 99-168.

9. Ibidem, Parte III, p. 169-200.

10. Ibidem, p. 184.

11. Os círculos operários no Brasil foram pesquisados e interpretados no trabalho pioneiro de Jessie Jane de Sousa Vieira. SOUSA, Jessie Jane Vieira de. Círculos Operários- a Igreja Católica e o mundo do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2002.

12. Ibidem, p. 144-145.

13. Ibidem, p. 145.

14. GOMES, Francisco José. Le projet de néo-chrétienté dans le diocèse de Rio de Janeiro de 1869 à 1915. Tese de Doutorado. Toulouse: UTM, 1991. GOMES, Francisco José Silva. De súdito a cidadão: os católicos no Império e na República,.In: MARTINS, Ismênia de Lima; IOKOI, Zilda Márcia Grícoli e SÁ, Rodrigo Patto de. (Orgs.). História e Cidadania. São Paulo: Humanitas Publicações/FFLCH-USP, ANPUH, 1998. pp. 315-326.

15. No Brasil, a Congregação dos Sagrados Corações chegou em 1911.

16. Rio de Janeiro (1955), seguida da de Medellín, Colômbia (1968) e Puebla, no México (1979), as mais importantes.

Referências

CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884-1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology, Lieden/ Boston: Brill, 2018, 311 p.

GOMES, Francisco Jose Silva. De sudito a cidadao: os catolicos no Imperio e na Republica, In: MARTINS, Ismenia de Lima; IOKOI, Zilda Marcia Gricoli e SA, Rodrigo Patto de. (Orgs.). Historia e Cidadania. Sao Paulo: Humanitas Publicacoes/FFLCH-USP, ANPUH, 1998. pp. 315-326.

GOMES, Francisco Jose. Le projet de neo-chretiente dans le diocese de Rio de Janeiro de 1869 a 1915. Tese de Doutorado. Toulouse: UTM, 1991.

NEDER, Gizlene. Duas Margens. Ideias Juridicas e Sentimentos Politicos na Passagem a Modernidade no Brasil e em Portugal, Rio de Janeiro: Revan, 2011.

NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO FILHO, Gisalio. Ideias Juridicas e Autoridade na Familia, Rio de Janeiro: Revan, 2007.

NEDER, Gizlene; CERQUEIRA FILHO, Gisalio. Sobre o Conceito de America Latina: Uma Proposta para Repercutir nos Festejos do Bicentenário. Revista Pilquen. Seccion Ciencias Sociales, v. XII, p. 1-7, 2010.

SHCORSKE, Carl. A revivificacao medieval e seu conteudo moderno: Coleridge, Pugin e Disraeli, In Pensando com a Historia. Indagacoes na Passagens para o Modernismo, Sao Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 88-107.

SOUSA, Jessie Jane Vieira de. Circulos Operarios- a Igreja Catolica e o mundo do trabalho no Brasil. Rio de Janeiro: EdUFRJ, 2002

Gizlene Neder1;2 – Universidade Federal Fluminense (UFF). Niterói – Rio de Janeiro – Brasil. Professora Titular de História da Universidade Federal Fluminense. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). E-mail: gizlene.neder@gmail.com


CUBAS RAMACCIOTTI, Ricardo D. The Politics of Religion and the Rise of Social Catholicism in Peru (1884–1935): Faith, Workers, and Race before Liberation Theology. Lieden/ Boston: Brill, 2018. Resenha de: NEDER, Gizlene. Secularização e reforma católica no Peru na virada para o século XX. Almanack, Guarulhos, n.26, 2020. Acessar publicação original [DR]

El Trienio Liberal. Revolución e independencia (1820-1823)

O bicentenário do triênio liberal (1820-1823-2020-2023) espanhol ensejou comemorações e lançamentos menores do que o impacto dos eventos de duzentos anos atrás. Se ninguém mais afirma, como Menéndez Pelayo, que foi um tempo “patológico” na história espanhola [3], a atenção concedida ainda é pequena, principalmente se comparada aos conflitos atlânticos da década anterior.

A “Espanha de Fernando VII” voltou a ser estudada com afinco ao menos desde a célebre obra de Artola, [4] mas o triênio liberal ainda tinha como seu livro mais conhecido um opúsculo do começo da década de 80, a síntese de Alberto Gil Novales [5]. Desde então, houve uma renovação historiográfica gigantesca, principalmente na história política. Ganharam maior fôlego os estudos sobre territórios específicos, sobre a imprensa, novas sociabilidades e, principalmente, aqueles que “desnacionalizavam” os episódios [6].

Dentro dessa perspectiva “internacionalista”, o triênio liberal tem dois atrativos únicos. O primeiro é seu inegável impacto europeu, pois o levantamiento de Riego foi feito numa Europa que, no começo de 1820, era dominada pela Santa Aliança e pelas monarquias restauradas. Ao impulso espanhol, houve também revoluções importantes em Portugal e nos territórios italianos. O segundo é sua faceta atlântica. Se no começo da década de 20 se concretizaram as independências na América, também foi naqueles anos que mais uma vez se colocou em jogo a possibilidade de uma nação atlântica, experiência fundamental tanto para o mundo hispânico quanto para oportuguês [7]:

La revolución española de 1820 tuvo desde el inicio una repercusión que trascendía al espacio peninsular. En primer lugar, porque habiendo estallado en el seno de las tropas reunidas en Andalucía para combatir la insurrección de los territorios de ultramar, su triunfo supuso la paralización de la política de expediciones militares que pretendía devolver los territorios de América a la obediencia de la monarquía española. (…) Y, en segundo lugar, porque el triunfo del movimiento en España colocó en el primer plano de la actualidad el valor de la Constitución de 1812 como instrumento para transformar las monarquías en regímenes liberales. (p. 155)

É justamente no esforço de desnacionalizar o período que a nova obra de Pedro Rújula e Manuel Chust faz sua maior contribuição ao condensar em poucas páginas um apanhado das últimas contribuições historiográficas dos dois lados do Atlântico. A envergadura espacial da obra também resulta, em parte, das trajetórias individuais dos dois autores. Ao passo que Chust tem enveredado pelo tema americano, Rújula é especialista nas questões aragonesas entre o triênio liberal e as guerras carlistas [8].

O resultado é um livro único que atualiza o objetivo de Gil Novales nos anos 80, o de fazer uma obra de referência para os estudos do triênio liberal, agora juntando a questão americana, antes ausente. De fato, não apenas adiciona o tema das independências, mas o toma como um dos mais importantes para definir os rumos do Triênio.

Há um esforço de distanciamento dos antigos preconceitos acerca do Triênio, de ter sido um intervalo liberal de pouca profundidade, com baixa popularidade entre as classes populares e tomado pelo caos das facções. Para isso, enfatiza principalmente a experiência política que significou, extrapolando o caráter parlamentar e difundindo novas culturas políticas tanto entre os liberais – exaltados e moderados [9] – como entre os absolutistas:

el marco constitucional establecido por la revolución de 1820 permitió la aparición de una esfera pública donde los ciudadanos comenzaron a participar según sus posibilidades y sus intereses. El Gobierno moderado hubiera deseado que la política se hiciera en el seno de las instituciones, pero existían otros actores que habían experimentado la posibilidad de actuar en el terreno político y que no estaban dispuestos a renunciar a potenciales parcelas de poder. El debate fue muy intenso. (p. 46)

Como é negada a tese reacionária de que a Constituição de 12 e o primeiro liberalismo eram ideias importadas, exógenas à Espanha, resta aos autores pincelar respostas a questões inevitáveis para o triênio. Por que fracassou? Qual a relação entre os liberais e as independências na América?

A resposta que os autores oferecem para explicar o “fracasso liberal” passa pela atuação do rei Fernando VII e pela reação estrangeira. A tentativa liberal de reformar a monarquia, desde as propostas moderadas de instituir uma segunda câmara, tendo os exemplos ingleses e franceses como mote, até as mais revolucionárias, com as Sociedades Patrióticas e a diminuição do poder da nobreza e da Igreja, criava uma ameaça institucional permanente às monarquias mais absolutistas. Daí que foi justamente a Rússia a dar maior apoio a Fernando VII para abolir qualquer tipo de Constituição. Ao mesmo tempo, a invasão francesa de 1823 servia para reposicionar a monarquia bourbônica na balança internacional de poder, enfraquecida como estava após as derrotas napoleônicas.

É perceptível que a resposta de Chust e Rújula nega a própria ideia de “fracasso liberal”. O triênio acabou não por seus erros internos, mas por um verdadeiro golpe reacionário europeu. A inversão procedida pelos autores também é uma negação da historiografia que visava mais as questões socioeconômicas da época, muitas vezes crítica à ineficiência prática das medidas liberais. [10]

Quanto à questão americana, os autores também se alinham com a nova história política, principalmente na negação das nacionalidades pré-existentes [11]. Logo, não se poderia explicar as independências como luta da nação mexicana para se libertar da Espanha. Com a tomada do poder pelos liberais, os autores também negam que houvesse uma arbitrariedade por parte da Espanha em relação aos americanos, visto que a igualdade estava concedida pela Constituição, que transformava o Império num gigantesco Estado-Nação. Essa tese igualitária tem mais oponentes historiográficos, como Portillo Váldes.[12]

Recusando as explicações tradicionais, os autores mais uma vez se voltam às questões políticas, pensando principalmente o caso novohispano, o de maior repercussão ao longo do Triênio e também aquele sobre o qual Manuel Chust tem mais familiaridade.[13] Com base na análise do Plano de Iguala [14], a conclusão do livro é que um dos principais motivos para a independência foi o caráter revolucionário da Constituição de Cádis, que tirava poder da elite Criolla para distribuir a outros setores sociais, com destaque para o voto indígena. Sendo assim, a independência ganhava contornos moderados e até reacionários, em perspectiva já ensaiada também para o caso brasileiro:

Para la insurgencia fue mucho más difícil enfrentarse políticamente al liberalismo doceañista que al monarquismo absolutista, dado que ahora podían participar de los mismos presupuestos ideológicos, pero no políticos ni nacionales. Y además estaban los intereses particulares de las diversas fracciones del criollismo, cada vez más proclives a la independencia. No porque esta solo estaba ganando por las armas, sino porque su creciente moderantismo le podía asegurar un control social y político que el liberalismo doceañista podía poner en duda al ser más progresista en bastantes medidas políticas y sociales como, por ejemplo, dar voto a los indígenas universalmente (p. 112).

Livro de entrada nos estudos do período e de síntese de uma nova perspectiva política, El Trienio Liberal é uma defesa do período do liberalismo espanhol do início do século XIX. É notável a simpatia dos autores com os protagonistas estudados, como se escrever a história deles fosse também escrever a defesa de sua luta. Poucas épocas hispânicas foram vividas tão passionalmente quanto aqueles anos, daí que esse resgate histórico não deixa de ser um tributo àqueles sonhos e ilusões.

Notas

3MENÉNDEZ PELAYO, Marcelino. Historia de los heterodoxos españoles. Alicante: Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 2003, p. 1362. Vide DURÁN LÓPEZ, Fernando. “Menéndez Pelayo contra Blanco White, o la heterodoxia como patología.” TEJA, Ramón; ACERBI, Silvia. (org.). Historia de los heterodoxos Españoles”. Estudios. Santander: PubliCan, Ediciones de la Universidad de Cantabria, 2012.

4. ARTOLA, Miguel. La España de Fernando VII. Madri: Espasa, 1999 [1968].

5. GIL NOVALES, AlbertoEl trienio liberal. Madri: Siglo XXI, 1980.

6. ROCA VERNET, JordiPolítica, liberalisme i revolució. Barcelona, 1820-1823. 840 f. Tese (Doutorado em História Moderna e Contemporânea). Universitat autònoma de Barcelona, Barcelona, 2007; El argonauta español, nº 17, 2020. Exemplar dedicado a “El trienio liberal en la prensa contemporánea (1820-1823); RUIZ JIMÉNEZ, MartaEl liberalismo exaltado. La confederación de comuneros españoles durante el trienio liberal. Madri: Fundamentos, 2007. LA PARRA, Emílio. RAMÍREZ ALEDÓN, Germán (coord.) El primer liberalismo: España y Europa, una perspectiva comparada. Valencia: Colección literaria, 2003.

7. BERBEL, Márcia Regina. “A constituição espanhola no mundo luso-americano (1820-1823). Revista de Indias, vol. LXVIII, nº 242, 2008.

8. HUST, Manuel. La cuestión nacional americana en las Cortes de Cádiz. Valencia: Centro Francisco Tomás y Valiente UNED Alzira-Valencia. Fundación Instituto Historia Social/ Instituto de Investigaciones Históricas de la Universidad Nacional Autónoma de México, 1999; Pedro Victor Rújula. Constitución o muerte: el Trienio Liberal y los levantamientos realistas en Aragón (1820-1823). Zaragoza: Edizións de l’Astral, 2000.

9. pesar dos nomes já consagrados, os estudos específicos sobre cada um desses “liberalismos”, inclusive para apontar seus muitos pontos de fricção internos, são bastante recentes. Vide MORANGE, ClaudeEn los Orígenes del moderantismo decimonónico. El Censor (1820-1822): promotores, doctrina e índice. Salamanca: Universidad de Salamanca, 2019; e BUSTOS, SophieLa nación no es patrimonio de nadie. El liberalismo exaltado en el Madrid del trienio liberal (1820-1823): Cortes, Gobierno y Opinión Pública. Tese (Doutorado em História). Universidad Autónoma de Madrid, Madri, 2017.

10. A crítica vinha desde os próprios liberais exilados, passando depois por Marx e sua famosa análise: “en la época de las Cortes, España se encontró dividida en dos partes. En la Isla de León, ideas sin acción; en el resto de España, acción sin ideas”. New York Daily Tribune, 27/10/1854. Disponível em MARX, Karl; ENGELES, Friederich. La Revolución española. Artículos y crónicas, 1854-1873. Madri: AKAL, 2017. A crítica foi atualizada para os termos mais técnicos da historiografia na influente visão de FONTANA, JosepLa crisis del Antiguo Régimen, 1808-1823. Barcelona: Crítica, 1979.

11. As referências para o assunto, por vezes em vieses muito diferentes, são GUERRA, François-XavierModernidad e independencias. Ensayos sobre las revoluciones hispánicas. Cidade do México: Fondo de Cultura Económica e Fundación MAPFRE, 1992; e RODRÍGUEZ, JaimeThe independence of Spanish America. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

12. PORTILLO VÁLDES, José MaríaCrisis Atlántica – Autonomía e independencia en la crisis de la monarquía. Madri: Marcial Pons Historia, 2006.

13. Embora Chust tenha organizado livros sobre a independência em toda a América, nos artigos costuma trabalhar mais com a do México, como emCHUST, Manuel; SERRANO, José Antonio. “El ocaso de la monarquía: conflictos, guerra y liberalismo en Nueva España. Veracruz, 1750-1820”. Ayer, nº 74, 2009.

14. Sobre o Plan de Iguala, em abordagem também bi-hemisférica, vide FRASQUET, Ivan. Las caras del águila. Del liberalismo gaditano a la república federal mexicana. Castellón: Universitat Jaume I – Instituto Mora – Universidad Autónoma de México – Universidad Veracruzana, 2008.

Referências

ARTOLA, Miguel. La Espana de Fernando VII. Madri: Espasa, 1999.

BERBEL, Marcia Regina. “A constituicao espanhola no mundo luso-americano (1820-1823). Revista de Indias, vol. LXVIII, nº 242, 2008.

BUSTOS, Sophie. La nacion no es patrimonio de nadie. El liberalismo exaltado en el Madrid del trienio liberal (1820-1823): Cortes, Gobierno y Opinion Publica. Tese (Doutorado em Historia). Universidad Autonoma de Madrid, Madri, 2017.

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GUERRA, Francois-Xavier. Modernidad e independencias. Ensayos sobre las revoluciones hispanicas. Cidade do Mexico: Fondo de Cultura Economica e Fundacion MAPFRE, 1992;

LA PARRA, Emílio RAMIREZ, ALEDON, German(coord.) El primer liberalismo: Espana y Europa, una perspectiva comparada. Valencia: Coleccion literaria, 2003.

MORANGE, Claude. En los Origenes del moderantismo decimononico. El Censor (1820-1822): promotores, doctrina e indice. Salamanca: Universidad de Salamanca, 2019.

PORTILLO VALDES, Jose Maria. Crisis Atlantica – Autonomia e independencia en la crisis de la monarquía. Madri: Marcial Pons Historia, 2006.

ROCA VERNET, Jordi. Política, liberalisme i revolucio. Barcelona, 1820-1823. 840 f. Tese (Doutorado em Historia Moderna e Contemporanea). Universitat autonoma de Barcelona, Barcelona, 2007.

RODRIGUEZ, Jaime. The independence of Spanish America. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.

RUIZ JIMENEZ, Marta. El liberalismo exaltado. La confederacion de comuneros espanoles durante el trienio liberal. Madri: Fundamentos, 2007.

Lucas Soares Chnaiderman1;2 – Possui graduação em História – Universidade de São Paulo, mestrado em história pela mesma universidade (2015) e atualmente cursa o doutorado. Universidade de São Paulo. São Paulo – São Paulo – Brasil.


RÚJULA, Pedro; CHUST, Manuel. El Trienio Liberal. Revolución e independencia (1820-1823). Madri: Catarata, 2020. Resenha de: CHNAIDERMAN, Lucas Soares. Em defesa da experiência liberal. Almanack, Guarulhos, n.25, 2020. Acessar publicação original [DR]

Regalismo no Brasil colonial: a Coroa portuguesa e a Ordem do Carmo – Rio de Janeiro 1750-1808 | Leandro F. L. Silva

Superando a tradicional concentração de estudos nas atividades da Companhia de Jesus, as historiografias portuguesa e brasileira produziram nas últimas décadas uma quantidade significativa de trabalhos sobre a atuação de outras ordens religiosas na Época Moderna.[3] Apesar disso, no que tange ao impacto das medidas adotadas na segunda metade do século XVIII para reforçar a autoridade da Coroa face às corporações regulares, o caso paradigmático da expulsão dos jesuítas dos territórios lusitanos em 1759 continua a ser visto como evento quase exclusivo da prática regalista naquela esfera. Nesse quadro, o trabalho de Leandro Ferreira Lima da Silva oferece novas luzes para a compreensão mais ampla das medidas de controle da Coroa portuguesa sobre as ordens religiosas daquele período. Defendida originalmente em 2013 como Dissertação de Mestrado no Programa de Pós-graduação em História Social da Universidade de São Paulo, a obra foi contemplada em 2016 com o prêmio História Social do referido Programa.

Duas características se destacam na investigação do autor: a abrangência da análise e o caráter minucioso da reconstituição de diferentes contextos que atravessam o período em exame. A consequência é o ambicioso plano da obra, desdobrando-se em quinze capítulos divididos em cinco partes, num total de 556 páginas. A matéria-prima para a análise proveio de diferentes acervos documentais. Devido à perda de grande parte da documentação da antiga Província Carmelitana Fluminense, o autor montou um repertório documental procurando recompor um quebra-cabeça cujas fontes estavam dispersas em arquivos tão distintos e distantes como o Arquivo Central da Província Carmelitana de Santo Elias, em Belo Horizonte; o Arquivo Nacional, o Arquivo Geral da Cidade e o Arquivo da Cúria Metropolitana, no Rio de Janeiro; e diferentes fundos documentais digitalizados do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. A impressão que fica é que o autor praticamente esgotou as fontes disponíveis no Brasil, restando por analisar apenas os arquivos europeus.

A historiografia também recebeu cobertura extensiva no livro. Dialogando com as obras de Evergton Sales Souza e José Pedro Paiva, para mencionar apenas alguns, Leandro Silva se mostra atualizado com relação à produção luso-brasileira sobre as questões da Igreja católica, da Ilustração, da Coroa e da colonização portuguesas no século XVIII. Com base na historiografia, Leandro Silva define o regalismo praticado nos domínios portugueses na segunda metade do século XVIII segundo uma dupla dimensão: a subordinação da Igreja e do clero aos poderes temporais da Coroa, “erradicando privilégios e imunidades”; e a manutenção do catolicismo como religião oficial do Estado, livrando-se, não obstante, das pressões da Santa Sé (p. 27). O tema da reforma regalista na Província do Carmo do Rio de Janeiro não é novo na historiografia. Inaugurado por Francisco Benedetti Filho, foi continuado por Sandra Rita Molina, cuja leitura o rigoroso escrutínio do autor deixou escapar.[4] As questões da administração dos bens da Província, da limitação do quantitativo de religiosos e do relaxamento moral dos carmelitas atravessam as três investigações sobre o tema. Mais recentemente, outro trabalho de Sandra Molina estendeu a análise dos referidos pontos até o final do período imperial, mostrando a continuidade da política regalista do Império do Brasil em relação às medidas adotadas anteriormente pela Coroa portuguesa.[5]

O diálogo com a historiografia internacional é relativamente pequeno na obra de Leandro Silva. Em que pese a lembrança do importante livro coletivo organizado por Ulrich Lehner e Michael Print, como também do já clássico estudo de Samuel Miller, o trabalho carece de referências mais amplas sobre o impacto de medidas de teor regalista que, adotadas por diferentes monarquias europeias na segunda metade do Setecentos, tiveram consequências diretas sobre as atividades das ordens religiosas em seus territórios.[6] Por fim, não existe a tentativa de efetuar um balanço historiográfico das mudanças estimuladas pelas reformas bourbônicas no campo da administração eclesiástica dos domínios hispano-americanos, cujo exame comparativo poderia constituir uma frutífera via de análise para o autor.Mesmo assim, o trabalho possui abrangência e profundidade incomuns para um projeto desenvolvido no âmbito do Mestrado. É o momento de se retomar essa dupla característica, aproximando-se agora do objeto. Trata-se de uma pesquisa que tem como objetivo assinalar os efeitos de diferentes medidas regalistas tomadas pela Coroa portuguesa com relação à Província do Carmo do Rio de Janeiro. Fundada em 1720, a Província do Carmo do Rio de Janeiro constituía desde 1595 uma vice-província que se encontrava até então dependente da Província de Portugal. A fundação fluminense abrangia os conventos do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, de Angra dos Reis, de Santos, de São Paulo e de Mogi das Cruzes, bem como o hospício de Itu. Em informação remetida à Corte em 1763, o bispo do Rio de Janeiro denunciava que a própria fundação da Província ocorrera “com o dinheiro angariado através de negociações nas Minas e em outras regiões do Brasil”, com cujos recursos fr. Francisco da Purificação, o primeiro provincial, “soube merecer o agrado dos religiosos de Roma, onde tudo se compra” (p. 146, grifos do autor).

O recorte necessariamente monográfico da pesquisa não impede comparações com outros contextos. O autor traz à análise a recepção de medidas de teor análogo ocorridas nas províncias do Carmo da Bahia e na reformada de Pernambuco. Paralelamente, no que tange à capitania do Rio de Janeiro, o autor discute seu tema à luz de outros quadros, como as medidas de reforma empreendidas pela Coroa junto aos frades capuchos da Província Franciscana da Imaculada Conceição e o papel de carmelitas e franciscanos no mencionado território após o afastamento dos missionários jesuítas. A primeira parte da obra, abrangendo um único capítulo intitulado “A mentalidade regalista setecentista e o clero regular no Império Português”, anuncia o caráter amplo da abordagem do autor. Nessa parte, busca em textos basilares da Ilustração portuguesa, como o Testamento político de D. Luís da Cunha, um conjunto de argumentos que depois seriam postos em prática, ao longo dos reinados de D. José I e de D. Maria I, para o controle das corporações regulares. No discurso dos estrangeirados, a ênfase recai sobre o acúmulo de bens efetuado pelas ordens religiosas, quase sempre pela via de legados testamentários; o ingresso muito numeroso de noviços nas fundações conventuais; a ociosidade dos religiosos; as isenções relativas aos poderes seculares; e a falta de observância das regras. No processo da reforma dos frades carmelitas do Rio de Janeiro, tais pontos reapareceram com força nas ações das autoridades da Província.

A fina reconstituição dos contextos representa o que há de mais valioso no trabalho de Leandro Silva. A segunda parte, a maior da obra e que abrange seis capítulos, intitula-se “A Província de Nossa Senhora do Carmo do Rio de Janeiro e o ‘tímido’ regalismo pombalino (1750-1778)”. Na verdade, o material tratado no capítulo é mais amplo do que o indicado no recorte cronológico. O autor examina inicialmente a sublevação ocorrida no Convento do Carmo do Rio de Janeiro em 1743, quando lutas de facções davam o tom da administração da Província, dividindo ocupantes dos cargos em dois grupos opostos: os “filhos do Rio”, que abrangiam os religiosos naturais da referida capitania, e os “filhos de fora”, que, em sua maior parte, agrupavam os religiosos nascidos em Portugal e nas demais capitanias da Colônia (p. 106). Ao longo da segunda parte, o autor desenvolve um argumento muito convincente. Apesar da existência de sérios conflitos na Ordem, e da edição de numerosas medidas que, idealizadas por Sebastião José de Carvalho e Melo na década de 1760, destinavam-se a limitar a entrada de noviços e a diminuir o volume dos bens que ingressavam nas corporações regulares, ao longo do reinado de D. José I as diferentes autoridades coloniais não tomaram medidas rígidas de controle sobre os frades carmelitas do Rio de Janeiro. No contexto em pauta, os poderes coloniais sediados na capitania encontravam-se inteiramente envolvidos nas disputas de limites com a Espanha na região sul da Colônia, que foram apenas solucionados com o Tratado de Santo Ildefonso, em 1777.

A terceira parte da obra abrange dois capítulos. Conforme o seu argumento principal, “se o consulado pombalino deu embasamento teórico às políticas regalistas e aos poderes dos bispos na Igreja nacional e frente à Santa Sé, no reinado mariano a Coroa aprofundou essas posições”. (p. 378). Seguindo, assim, as tendências da historiografia mais recente, o autor não identificou mudanças significativas na política regalista após a saída do Marquês de Pombal, em 1777. Além disso, as autoridades coloniais encontravam-se na ocasião já desembaraçadas dos problemas nas fronteiras do sul. Após a suspensão das eleições da Província em 1783, o vice-rei do Estado do Brasil apresentou à rainha D. Maria I um dossiê, “para fazer conceito do miserável estado em que se acha uma Corporação Religiosa que só serve de descrédito à Religião e de peso e mau exemplo ao Estado” (p. 259). No documento, que pautou os rumos da reforma que seria iniciada dois anos depois, acusa-se uma sucessiva quebra das regras religiosas e dos fundamentos da economia da Província: religiosos adquiriam em Roma ou em Lisboa privilégios honoríficos, afastando-se dos atos litúrgicos e do trabalho em comum; possuíam grande número de escravos pessoais para lhes servir, em contrariedade aos votos de pobreza; e tinham até concubinas, por vezes estabelecidas publicamente em residências próximas às sedes dos conventos, contrariando os votos de castidade. O vasto patrimônio imobiliário da Província, constituído por dezenas de moradias urbanas e fazendas, era mal administrado, chegando ao ponto de não produzir alimento suficiente para os próprios religiosos.

A quarta parte da obra estende-se por cinco capítulos. Após o envio da denúncia do vice-rei à Corte, D. José Joaquim Mascarenhas Castelo Branco, o bispo do Rio de Janeiro, foi nomedo como visitador e reformador da Província do Carmo. A atuação reformadora deste se direcionou principalmente a combater as irregularidades já apontadas pelo vice-rei. Suas ações visaram aprimorar o rendimento econômico das fazendas dos conventos, combater a concessão de distinções pessoais de caráter honorífico e regulamentar as atividades da comunidade, obrigando os frades à celebração dos atos litúrgicos e à assistência no refeitório coletivo. Além da intervenção direta de poderes externos à Ordem, a reforma na Província do Carmo do Rio de Janeiro se distinguiu por sua longa duração se comparada a iniciativas semelhantes introduzidas em outras ordens regulares. Após a resistência dos religiosos, e em aliança com poderes locais, como a Câmara do Rio de Janeiro, a reforma foi encerrada em 1800. A atuação do bispo promoveu um verdadeiro expurgo nos quadros da Província. Seu quadro de religiosos passou de 180 para 47 entre 1780 e 1799.Da perspectiva metodológica, a obra leva em conta que as inúmeras cartas produzidas pelos agentes administrativos envolvidos na reforma da Província Carmelita Fluminense – tais como o bispo do Rio de Janeiro, o vice-rei, os frades representantes da Província, o Senado da Câmara e o Conselho Ultramarino – podem ser vistas simultaneamente como instrumento de dominação da Coroa e como veículo “de negociação de súditos instalados nos mais longínquos pontos do ultramar” (p. 47). Recentemente, essa linha de estudos se revelou importante para um expressivo conjunto de historiadores, que sistematizou o funcionamento dos canais de comunicação política que uniam os diferentes poderes em funcionamento na monarquia portuguesa, nos dois lados do Atlântico.[7]

Introduzida na América Portuguesa em 1580 para cuidar da catequização do gentio e atender demandas espirituais dos colonos moradores na capitania de Pernambuco8, a Ordem do Carmo estabelecida no Rio de Janeiro não foi mais considerada capaz de realizar aquelas tarefas na segunda metade do século XVIII. Analisando os avanços e recuos das iniciativas de reforma, as relações estabelecidas entre os agentes seculares e eclesiásticos, bem como as bases teológicas e canônicas que fundamentaram a iniciativa da Coroa, a obra de Leandro Silva merece figurar ao lado de outras que constituem pontos de partida obrigatórios para o tema, como o clássico trabalho de Caio César Boschi, ou a recente coletânea organizada por Francisco Falcon e Cláudia Rodrigues.9

Notas

3. Com relação à América Portuguesa, a título ilustrativo: AMORIM, Maria Adelina. Os franciscanos no Grão-Pará e no Maranhão: missão e cultura na primeira metade de Seiscentos. Lisboa: Centro de Estudos de História Religiosa: Universidade Católica Portuguesa, 2005; SOUZA, Jorge Victor de Araújo. Para além do claustro: uma história social da inserção beneditina na América portuguesa, c. 1580 – c. 1690. Niterói: Eduff, 2014.

4. BENEDETTI FILHO, Francisco. A reforma da Província Carmelitana Fluminense (1785-1800). 1990. 190f. Dissertação (Mestrado em História), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1990. MOLINA, Sandra Rita. (Des)obediência, barganha e confronto: a luta da Província Carmelita Fluminense pela sobrevivência (1780-1836). 1998. 338f. Dissertação (Mestrado em História), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998.

5. MOLINA, Sandra Rita. A morte da tradição: a Ordem do Carmo e os escravos da Santa contra o Império do Brasil (1850-1889). Jundiaí: Paco Editorial, 2016. Esta obra foi resenhada por BARBI, Rafael José. Catolicismo, escravidão e a resistência ao Império: Um outro olhar. Almanack, n. 15, 2017, pp. 366-370.

6. LEHNER, Ulrich L.; PRINT, Michael (Dir.). A Companion to the Catholic Enlightenment in Europe. Leiden: Brill, 2010; MILLER, Samuel J. Portugal and Rome (c. 1748-1830). An Aspect of the Catholic Enlightenment. Roma: Universitá Gregoriana Editrice, 1978; BEALES, Derek. Prosperity and Plun der. European Catholic Monasteries in the Age of Revolution, 1650-1815. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

7. FRAGOSO, João; MONTEIRO, Nuno Gonçalo. Um Reino e suas repúblicas no Atlântico: comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola nos séculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2017.

8. HONOR, André Cabral. Envio dos carmelitas à América portuguesa em 1580: a carta de Frei João Cayado como diretriz de atuação. Tempo, v. 20, 2014, p. 1-19.

9. BOSCHI, Caio César. Os leigos e o poder: irmandades leigas e política colonizadora em Minas Gerais. São Paulo: Ática, 1986; FALCON, Francisco; RODRIGUES, Cláudia (Orgs.). A “época pombalina” no mundo luso-brasileiro. Rio de Janeiro: FGV: Faperj, 2015.

Referências

AMORIM, Maria Adelina. Os franciscanos no Grao-Para e no Maranhao: missao e cultura na primeira metade de Seiscentos. Lisboa: Centro de Estudos de Historia Religiosa: Universidade Catolica Portuguesa, 2005.

BARBI, Rafael Jose. Catolicismo, escravidao e a resistência ao Imperio: Um outro olhar. Almanack, n. 15, 2017, pp. 366-370.

BEALES, Derek. Prosperity and Plunder. European Catholic Monasteries in the Age of Revolution, 1650-1815. Cambridge: Cambridge University Press, 2003.

BENEDETTI FILHO, Francisco. A reforma da Provincia Carmelitana Fluminense (1785-1800). 1990. 190f. Dissertacao (Mestrado em Historia), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de Sao Paulo, Sao Paulo, 1990.

BOSCHI, Caio Cesar. Os leigos e o poder: irmandades leigas e politica colonizadora em Minas Gerais. Sao Paulo: Atica, 1986.

FALCON, Francisco; RODRIGUES, Claudia (Orgs.). A “epoca pombalina” no mundo luso-brasileiro. Rio de Janeiro: FGV: Faperj, 2015.

FRAGOSO, Joao; MONTEIRO, Nuno Goncalo. Um Reino e suas republicas no Atlântico: comunicacoes politicas entre Portugal, Brasil e Angola nos seculos XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Civilizacao Brasileira, 2017.

HONOR, Andre Cabral. Envio dos carmelitas a America portuguesa em 1580: a carta de Frei Joao Cayado como diretriz de atuacao. Tempo, v. 20, 2014, p. 1-19.

LEHNER, Ulrich L.; PRINT, Michael (Dir.). A Companion to the Catholic Enlightenment in Europe. Leiden: Brill, 2010.

MILLER, Samuel J. Portugal and Rome (c. 1748-1830). An Aspect of the Catholic Enlightenment. Roma: Universita Gregoriana Editrice, 1978.

MOLINA, Sandra Rita. A morte da tradicao: a Ordem do Carmo e os escravos da Santa contra o Imperio do Brasil (1850-1889). Jundiai: Paco Editorial, 2016.

MOLINA, Sandra Rita. (Des)obediência, barganha e confronto: a luta da Provincia Carmelita Fluminense pela sobrevivência (1780-1836). 1998. 338f. Dissertacao (Mestrado em Historia), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998.

SOUZA, Jorge Victor de Araujo. Para alem do claustro: uma historia social da insercao beneditina na America portuguesa, c. 1580 – c. 1690. Niteroi: Eduff, 2014.

William de Souza Martins – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro – RJ – Brasil. Professor Associado da Área de História Moderna do Instituto de História da UFRJ, onde atualmente ocupa a função de vice-diretor. Membro permanente do Programa de Pós-graduação em História Social da UFRJ, atuando como editor associado da Topoi: Revista de História. Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (2001) com a tese Membros do corpo místico: ordens terceiras no Rio de Janeiro (c. 1700 – 1822), que foi publicada em 2009 pela Edusp. Participa dos grupos de pesquisa Ecclesia (UNIRIO), ART (Antigo Regime nos Trópícos – UFRJ) e Sacralidades (UFRJ).


SILVA, Leandro Ferreira Lima da. Regalismo no Brasil colonial: a Coroa portuguesa e a Ordem do Carmo, Rio de Janeiro, 1750-1808. São Paulo: Intermeios/USP; Brasília: CAPES, 2018. Resenha de: MARTINS, William de Souza. Monarquia portuguesa e política regalista: ordens religiosas no final do setecentos. Almanack, Guarulhos, n.25, 2020. Acessar publicação original [DR]

Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Aracaju, v.1 n.50, 2020.

Dossiê Rememorar a Independência de Sergipe

Expediente/Ficha Catalográfica/Sumário

Editorial

Artigos

Apresentação

Dossiê

Seção Livre

Seção Comemorativa

Publicado: 2020-10-05

Revista de Fontes. São Paulo, v. 7, n.12, 2020.

Documentos, Instrumentos de Pesquisa e Traduções | 

Documentos

Instrumentos de Pesquisa

Publicado: 2020-09-03

Folia Histórica del Nordeste. Resistência, n. 39, 2020.

Artículos

Notas y documentos

Reseñas Bibliográficas

  • Reseña bibliográfica de la obra de Lucas Poy (2020). El partido Socialista Argentino (1896-1912): Una historia social y política. Santiago de Chile: Ariadna Ediciones. (287 pp).
  • Carlos Alberto Alvarez
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  • Reseña bibliográfica de la obra de Cristian Vázquez (2020). Campesinos de pie: La formación del movimiento campesino en Formosa. Los Polvorines/La Plata/Posadas: Universidad Nacional de General Sarmiento/Universidad Nacional de La Plata.
  • Dario Machuca

El clero secular iberoamericano en la Época Moderna / Tempo / 2020

El clero secular iberoamericano en la Época Moderna. Institucionalidad, carrera eclesiástica y conexiones sociales

Una de las caracterizaciones de las sociedades iberoamericanas que más consenso sigue teniendo sostiene que estuvieron constituidas por estamentos y calidades sociales. Este fuerte sentido de las personas de aquella época por diferenciarse y pertenecer a una jerarquía social más alta, sin duda permeó en todos los grupos, corporaciones e instituciones. En este sentido, la historiografía sobre la Iglesia, ha hecho hincapié desde el siglo XIX al menos, en el gran poder, la influencia y la riqueza del clero colonial, derivado en buena medida del papel tan relevante de esa institución múltiple y compleja en el gobierno monárquico español y portugués. Derivado de este proceso histórico de encumbramiento del clero secular se han escrito múltiples libros, artículos y capítulos a lo largo del tiempo que lo reafirman en cada región, provincia u obispado iberoamericano. Para ello, los y las historiadoras han echado mano de variadas fuentes de archivos eclesiásticos o extra-eclesiásticos, así como de diversas metodologías y ópticas.

La historiografía ha tenido tres formas de estudiar al clero secular a lo largo del siglo XX: en las historias generales de la Iglesia, en el análisis de coyunturas importantes, o bien, como objeto central de estudio. En las historias generales se ha concebido al clero secular de forma global pues, aparte quizá del alto clero, el resto de sus miembros son anónimos. Igualmente, en otros trabajos la clerecía ha sido sólo una especie de “escenario” eclesiástico para la actuación del alto clero o de los obispos. En algunos incluso la historia de una diócesis se ha reducido a la gestión de los prelados. Además de las historias generales, en estudios específicos sobre coyunturas históricas o gestiones de obispos, el clero ha sido analizado como un gran colectivo que acompañaba o se oponía a los objetivos de su prelado, cuando participó de algún movimiento importante, fundó alguna nueva institución o como receptor de alguna reforma impulsada por las autoridades. Aunque en este tipo de obras se superan las generalizaciones o los juicios de valor, también es cierto que no se profundiza más.

Dentro de ese universo historiográfico podemos destacar dos tendencias actuales. Una, que a pesar de la multiplicidad de estudios monográficos sobre el clero secular de distintos obispados, siguen faltando estudios de conjunto o de síntesis que brinden visiones globales de la clerecía, a nivel diocesano o de cada provincia eclesiástica. En este sentido, hay algunas excepciones notables que nos muestran un camino viable y enriquecedor. Dos pertenecen al clero español. La obra La sociedad española en el siglo XVII, de Domínguez Ortiz (1970), tuvo una gran influencia por las líneas de investigación que inspiró, tales como la población clerical y su distribución geográfica, la crítica social y política por el excesivo clero o sobre la mala formación educativa de los clérigos. La imagen que construyó Domínguez Ortiz sobre el clero peninsular, analizando aspectos que hasta entonces poco se habían estudiado, inspiró variados estudios de corte prosopográfico o de biografía colectiva (Morgado, 2007). Tiempo después otra obra notable fue la de Barrio Gozalo, El clero en la España moderna (Barrio, 2010) en donde se hace una muy útil síntesis descriptiva de ese estamento desde la era de los reyes católicos hasta el siglo XIX, recogiendo los resultados de múltiples estudios monográficos de las últimas décadas. Esta gran aportación ya había sido precedida por otro artículo importante referido solo a los obispos de Castilla la Vieja (Barrio, 1982). Otra importante contribución ha sido el estudio de las élites eclesiásticas, sus características y su vínculo con el poder. Un trabajo importante es el de Terricabras (2000) sobre la recepción del Concilio de Trento por Felipe II y la política de control ejercida por la Corona sobre el clero que por medio del Patronato Real logró alcanzar ciertas condiciones para disciplinar el clero secular. De los estudios generales también resultaron aquellos basados en el interés por las carreras eclesiásticas. Aún para la península, sobresale la investigación de Chacón (1993) sobre las formas de promoción en el estamento eclesiástico secular para la Sevilla rural del siglo XVIII a partir principalmente de los libros de visitas pastorales, expedientes de congruas y patrimonios.

Para el caso de la historiografía portuguesa hay que mencionar tanto por su importancia como por la influencia que tuvo posteriormente el estudio de Paiva (2006) sobre el episcopado en Portugal y en el imperio, dónde analiza los procesos de elección de los individuos para el cargo de obispo, los modelos del munus episcopal y las carreras de dichos eclesiásticos a partir del abordaje prosopográfico. [1] En los mismos años Olival y Monteiro (2003) hicieron un balance de la historiografía sobre el clero analizando por consiguiente las cuestiones del estatuto y de la movilidad social para las carreras del clero diocesano, considerando las estrategias familiares y el tema del patrimonio delante del problema del mérito. Además, llama la atención la investigación desarrollada por Silva (2013) con el objetivo de explicar las disputas de poder en el cabildo catedralicio entre 1564 y 1670, subrayando en particular los mecanismos formales y informales que disponían los clérigos seculares frente a las presiones de toda orden – en particular fiscales – impuestas por la Corona como también por el episcopado.

Para Iberoamérica, a su tiempo, vale mencionar el estudio de Delgado y Fernández (1992) que se ocupó de un esbozo prosopográfico de los obispos de Indias y además, dos otros trabajos de referencia: el de Bayle (1950), El clero secular y la evangelización de América, así como la síntesis general de Valpuesta (2008), El clero secular en la América hispana del siglo XVI, obra que viene a compensar la falta de una visón de conjunto, más allá de las limitaciones o alcances de interpretación historiográfica del estudio.

La segunda tendencia es la atomización de los estudios en múltiples investigaciones monográficas, en muchas ocasiones más descriptivas que analíticas y que prescinden de una vinculación con problemas o procesos históricos más generales. Pueden ser ricos en información de archivos locales pero pobres en metodología e hipótesis historiográficas bien sustentadas. Junto a estas también se ha publicado diferentes libros y artículos que han buscado problematizar y enriquecer la interpretación historiográfica del clero secular. Aquí sólo haremos un esbozo de las líneas generales que, desde nuestro punto de vista, han marcado su rumbo historiográfico en las últimas décadas, al mismo tiempo que haremos referencia a algunos trabajos que siguieron las tendencias de investigación abiertas.

Una de las líneas recurrentes ha sido la de las carreras eclesiásticas y la formación académica y sacerdotal de la clerecía. Cabe resaltar la investigación de Schwaller (1987), quien publicó un estudio específico sobre el clero secular del siglo XVI, planteando un análisis de los diferentes estratos clericales de acuerdo a su jerarquía, así como su papel en la sociedad temprana novohispana. Este autor realizó un trabajo de corte prosopográfico abarcando todos los segmentos de la jerarquía eclesiástica y estableciendo una tipología de las carreras emprendidas por el clero en el siglo XVI. Para otras latitudes se han elaborado igualmente estudios importantes sobre la carrera eclesiástica del clero desde una perspectiva prosopográfica. Uno de ello es de Enríquez sobre la clerecía chilena entre 1650 y 1850, en donde analizó la conformación de la jerarquía del clero secular (Enríquez, 2006). Para el caso de la formación de los sacerdotes, el análisis de Velázquez (2013) a partir de la diócesis de Nicaragua y Costa Rica entre los siglos XVI y XIX representa un buen ejemplo del abordaje de los nombramientos del clero secular teniendo en cuenta el papel de los seminarios en su educación y el acceso a las capellanías en zonas no tan centrales del mundo americano.

Paul Ganster dedicó algunos trabajos sugerentes sobre los integrantes de los cabildos eclesiásticos de México y Lima, un grupo de 280 individuos, en el siglo XVIII, examinando sus estilos de vida y sus familias, así como sus trayectorias clericales: prebendas y dignidades catedralicias, y como ellas se relacionaban con sus familias, proponiendo que: “…la situación de cada clérigo se comprendía mejor dentro del contexto multigeneracional de la familia extensa a que pertenecía” (Ganster, 1991, p. 149). Partiendo del peso de la familia, Wanderley (2013) ha examinado la trayectoria de dos presbíteros descendientes del patronímico Portugal en la Nueva España a comienzos del siglo XVIII para comprender sus estrategias alternativas frente al estrechamiento de las condiciones de movilidad en la carrera eclesiástica basadas tradicionalmente en los méritos.

Mazín (1996), por su parte, dedicó un estudio novedoso sobre los miembros del cabildo eclesiástico del obispado de Michoacán a lo largo de tres siglos. Con base en una amplia documentación de repositorios eclesiásticos, de la Corona y de notarías, el autor realizó la prosopografía de trescientos prebendados de los siglos XVI a inicios del XIX. En esta misma línea de los cabildos novohispanos se halla el estudio de Jaramillo sobre el mismo cabildo michoacano, si bien referido al periodo de transición de 1790 a 1833, ya en el México independiente (Magaña, 2014). En este caso, el autor realizó la prosopografía de 65 prebendados en torno a sus orígenes geográficos, su formación académica y sobre todo su trayectoria eclesiástica, con base en una gran variedad de fuentes eclesiásticas y de otros repositorios de la época. En esta misma perspectiva, poco después Castillo (2018) dedicó un libro a estudiar a los miembros del cabildo eclesiástico de México entre 1530 y 1612, profundizando en su carrera eclesiástica y su participación en la política eclesiástica de esa era fundacional.

Pero también el clero diocesano y parroquial ha sido objeto ya de importantes estudios. Cabe resaltar las investigaciones de Taylor sobre los curas, o como él les llama “ministros de lo sagrado”, en donde los vinculó al proceso de aplicación de las reformas borbónicas (Taylor, 19951999), logrando una renovada visión historiográfica, partiendo de la premisa sobre que: “La religión y los sacerdotes fueron parte integral de la cultura política colonial” (Taylor, 1999, tomo I, p. 19). Esta concepción de los sacerdotes permitió al autor insertarlos en problemáticas sociales, culturales y políticas que en la historiografía anterior están ausentes, y con ello fue más allá de la simple descripción, al analizarlos como verdaderos actores sociales.

Siguiendo los pasos de Taylor, Lundberg (2011) realiza su investigación sobre la vida parroquial o local a partir del clero secular en el México Central, o sea, la arquidiócesis de México y el obispado de Puebla, con particular referencia a Tlaxcala. Teniendo en cuenta las parroquias rurales administradas por los padres seculares en la primera mitad del siglo XVII, ha buscado analizar la interacción entre los feligreses indígenas y los curas como un esfuerzo de comprender la influencia del poder local en dicha relación. Por lo tanto, no solamente observa como las poblaciones indígenas entienden la Iglesia, si no también como los párrocos de indios sirven a nivel parroquial como enlaces con la Iglesia Metropolitana (centro de México, Puebla o mismo Roma), evidenciando así las complejas relaciones entre el “centro eclesiástico” y lo que llama “periferia”, concretamente traducidas en los procesos de aplicación de las orientaciones canónicas en las zonas rurales. El trabajo está fundado en un abanico amplio de fuentes, como los documentos conciliares, las visitas pastorales, manuales sacramentales, informes de extirpaciones de idolatrías, peticiones indígenas y, principalmente, en las relaciones de méritos y servicios de los clérigos.

Burciaga (2012) es autor de un amplio estudio sobre el clero secular en la región de la Nueva Galicia, concentrándose en las acciones y relaciones de los poderes eclesiásticos situados en la capital del obispado, Guadalajara y, en la Audiencia de Zacatecas, este último un expresivo centro económico virreinal del siglo XVII. Este estudio fue precedido por el de Alanís (1997) sobre los orígenes del clero michoacano en el siglo XVI. Desde una perspectiva regional amplia, Burciaga examina la problemática de cómo este clero jugó un papel fundamental en el lento desarrollo de la autonomía de la zona que tuvo como principal consecuencia generar el deseo de una identidad regional propia, o mejor dicho, de una “cultura religiosa” específica. Cierto de que las libertades fueron logradas a partir de la práctica religiosa, lanza mano del concepto de “pertenencia sociorreligiosa” para delimitar entre otras cosas el motor de dicho proceso: “los sentimientos de solidaridad o lealtad para con su núcleo de pertenencia social”. Burciaga explica entonces como tanto los intereses globales del imperio como locales – ambos complementarios – son articulados por medio de aquella cultura religiosa. El autor propone que los clérigos seculares fueron los mediadores o “comunicantes” de aquella pertenencia, que además implicaba el reconocimiento del valor del grupo, su honor y los principios clericales defendidos. El carisma de la economía minera de Zacatecas produjo un visible interés de los obispos y presidentes de la Audiencia por controlar el nombramiento de los curas, de modo a evitar la oposición a las directrices de Guadalajara. En este sentido, dos de los puntos más importantes del trabajo son el reconocimiento de dos tipos de poblaciones clericales – estables y transitorias – y de sus esfuerzos, en particular de los clérigos más modestos, por garantizar sus derechos personales frente a los abusos cometidos por las autoridades eclesiásticas.

Las estructuras eclesiales locales y el clero secular son además objetos de reflexión para el caso del mundo andino. Desde la tesis doctoral de Ganster (1974) sobre las carreras eclesiásticas en Lima en el siglo XVIII, la historiografía se ha caracterizado por el desarrollo de estudios inclinados a delimitar las tendencias clericales más allá del centro limeño. El trabajo de Bellido (1996) sobre el clero diocesano en el Perú del siglo XVI ha representado uno de los primeros esfuerzos desde la perspectiva de la historia eclesiástica por ofrecer un cuadro general sobre las dichas estructuras. Teniendo en cuenta la instalación de los curatos en ciudades como Cuzco, Trujillo, Arequipa e Quito entre otras (Obispados de Lima y Cuzco), el autor da cuenta de abordar la progresiva importancia del clero diocesano y los problemas de su organización a partir de la conversión de las doctrinas de naturales de las primeras encomiendas en curatos, tales como la insuficiencia de clérigos, las interdicciones cuanto a la ordenación de criollos y mestizos, el crecimiento del número de ordenados a partir de mediados del siglo. Mas allá del rol del clero secular por contener el retorno de las idolatrías como en el caso del Taqui Onqoy, el punto a destacar son los enfrentamientos de los clérigos con las estructuras de poder a partir de la noción de “clérigos políticos”. Bellido enseña como estuvieron involucrados en los conflictos entre Gonzalo Pizarro y la Corona, en las guerras civiles, como se enfrentaron con el virrey Toledo y con las autoridades eclesiásticas por hacer valer ciertos derechos y libertades. El análisis de Guerreira (1990) también ha tratado de las opciones políticas del clero secular a partir de los conflictos generados por las guerras civiles en el siglo XVI, ubicando así su tormentosa actuación en la evangelización a partir de su inserción en las doctrinas de indios.

El análisis de Ganster que apunta una tendencia de acercamiento de los clérigos a los centros urbanos en la búsqueda de cargos o doctrinas más prestigiosos es discutido para el caso de Charcas por Draper (2000). Desde la óptica de la historia cultural subraya la presencia de un “modelo alternativo de conducta clerical” enmarcado por un hiato entre los “valores sociales defendidos” y la conducta real. Ha examinado los seculares en el sistema eclesiástico andino del siglo XVII, según él, en un área marginal frente a la centralidad de Lima, la Arquidiócesis de la Plata. A partir de una muestra biográfica de sesenta sacerdotes y de un conjunto de datos consistente, analiza la composición del clero, sus actitudes ministeriales, su “marco ideológico” y las formas como interactúan con las estructuras sociales. Según el autor, el clero de Charcas era dominado por una composición de jóvenes sacerdotes limeños – que buscaban escapar a la intensa competencia verificada para la carrera en Lima – y los charqueños que van creciendo numéricamente a lo largo del XVII. El universo eclesiástico de la zona poseía un perfil sobre manera parroquial y, en el clero convivían muy claramente dos grupos: uno formado por los estratos de hijos de las familias notables y otro más bien pobre – que sólo había recibido las órdenes menores – y que subsistía de una modesta capellanía o de la caridad. A partir del cruce de cinco tipos de mentalidades (evangelizadora, profesional, culta, parental y extirpadora), deducidas teniendo en cuenta la tipificación de los valores indicados como más significativos en su carrera, Draper ofrece una idea de los aspectos que caracterizan el clero de Charcas: un tercio formado por sujetos con amplia formación; en general con bajo nivel de disciplina y responsabilidad clerical, de mentalidad profana o proclive a los intereses mundanos; algo que impacta sobre su comprensión del sacerdocio: un camino de ascenso social. Los trabajos de García (2007) sobre el clero secular en el norte de Perú a comienzos del período Republicano, como los de Robins (2009) y de Huarcaya (2018) analizando los conflictos de los sacerdotes con la comunidad, así como la cuestión de la inmunidad personal de los curas seculares doctrinarios durante las rebeliones indígenas del Alto Perú en la segunda mitad del siglo XVIII, son además buenos ejemplos de la diversificación de los problemas y del avance de los estudios hacia otras regiones del mundo andino.

Para el Río de la Plata y Argentina independiente se han escrito en las últimas décadas trabajos muy importantes sobre el clero secular (Di Stefano, 2007). Los trabajos de Di Stefano (19982000), en particular el capítulo “El clero Rioplatense y la revolución” (Schmidt, Dorsch, Herold-Schmidt, 2011); Ayrolo (20062007Ayrolo, Oliveira, 2016), Barral (20062016) y Caretta (2016) han abordado sobre todo el siglo XVIII y la transición al periodo independiente, en especial a partir de las reformas borbónicas. A partir de una amplia gama de fuentes eclesiásticas y coloniales, estas obras han profundizado en el conocimiento de los distintos sectores del clero secular, la evolución de sus poblaciones, así como su vinculación al cambio político. Sin duda, ha marcado valiosas pautas para futuras investigaciones de esa región.

Por lo que respecta al estudio de las poblaciones clericales en Indias, hay pocos estudios aún, a diferencia de lo que sucede para Europa. Para Nueva España, Aguirre (2012) dedicó parte de un estudio al análisis de la población de clérigos seculares del arzobispado de México, con base en el tratamiento de las matrículas sacerdotales, fuentes muy poco estudiadas todavía. En 2017, Cano publicó El clero secular en la diócesis de México (1519-1650), el cual, sin ser sólo una investigación prosopográfica estricta, sin embargo, el autor usó del método para caracterizar en varios sentidos a la clerecía del centro de la Nueva España, valiéndose de amplias e importantes fuentes históricas, de archivos nacionales y extranjeros.

A su vez, el estudio realizado por Pereira das Neves sobre el tribunal de la Mesa da Consciência e Ordens se ha revelado como uno de los más significativos para la historia social del clero secular en el mundo luso-brasileño, sobre todo por permitir analizar los efectos a mediano plazo de los cambios implementados por las políticas reformistas del siglo XVIII en el ámbito eclesiástico (Neves, 1997). En términos generales, la investigación ha planteado analizar el papel de la religión y del clero secular en la formación de la nación en el primer tercio del siglo XIX, período todavía, como afirma, caracterizado por la persistencia de las estructuras del Antiguo Régimen. Neves concentra su análisis en el cotidiano y los intereses variopintos de este clero, en particular, el segmento más cercano a los feligreses, los vicarios de las parroquias, considerando las peticiones presentadas por los sacerdotes – sin despreciar a de los sujetos pertenecientes a la alta jerarquía eclesiástica – y los dictámenes de aquel tribunal sobre lo requerido por ellos. De ahí provienen los muchos temas asociados al cosmos de los eclesiásticos: las condiciones de realización del culto, los salarios, la estabilidad de posiciones en sus carreras, disputas intereclesiásticas, conflictos con feligreses, comportamiento de las poblaciones frente a los sacerdotes y por fin las condiciones generadas por la política regalista. La imagen del clero secular brasileño que emerge de la investigación, sobre todo a partir de las condiciones para el ejercicio de su oficio, constituye una importante referencia para hacer comparaciones con el mismo clero hispanoamericano y, por consecuencia sirve para comprender las formas distintas que ha asumido el catolicismo en los contextos del mundo iberoamericano. Se trataba, según él, de un clero carente, por lo tanto, ávido por distinciones; sin medios adecuados para su formación; disperso territorialmente y aún sujeto al desorden de las divisiones eclesiásticas; administrando en zonas empobrecidas; azotado por el retraso de sus congruas; involucrado en negocios mundanos y con tendencias a burlar el celibato clerical.

Además, la investigación doctoral de Gama Lima ha contribuido para entender los comportamientos delictivos de la clerecía colonial (Lima, 1990). Su trabajo que se enfoca en el crimen de solicitación practicado por los padres durante la confesión – a partir de la política de persecución por parte del Santo Oficio – subraya no sólo su fragilidad en cumplir las reglas del modelo tridentino, pero también las dificultades de hacer observarlas por parte de las autoridades eclesiásticas. La autora advierte aún los problemas cuanto a la formación del clero y principalmente los esfuerzos reformistas llevados a cabo por los obispos con el beneplácito de la Corona de Portugal durante el siglo XVIII para revertir dicha situación. La reforma consistió en crear condiciones para ampliar la red parroquial, estrechar conexiones con la jerarquía eclesiástica y reformar el clero desde el punto de vista intelectual y moral (Lima, 19932014). Las conclusiones de Gama Lima enseñan que las condiciones coloniales redujeron por fin el alcance de las medidas reformistas. La investigación de Neves centrada en los decenios posteriores como se vio confirma que los problemas aún persistían y que en particular la política de ampliación del número de parroquias tuvo reflejos negativos sobre el ejercicio del oficio del clero secular en razón de la desproporción entre el número de parroquias-población global de feligreses-cantidad de párrocos.

El camino abierto por tales investigaciones, que ponderan los efectos de las políticas regalistas en las reformas eclesiásticas del siglo XVIII, es analizado por Barral (2013) tomando en cuenta el conjunto de las dos Coronas ibéricas. A su tiempo, los estudios generados en las últimas décadas que tienen por objeto el clero secular, desarrollados sobre todo en los programas de posgrado brasileños, estuvieron bajo el influjo de las preocupaciones con aquel siglo y marcadamente desde una perspectiva regional. Se destacan los trabajos de Zanon (1999), sobre la acción de los obispos en São Paulo con un capítulo dedicado a los clérigos seculares; de Ferreira (2016) sobre el clero secular en el obispado de Rio de Janeiro durante un gobierno episcopal; de Lima (2016) sobre los seculares y la Inquisición en la Amazonia; de Poletto (2010), sobre los sacerdotes en la diócesis de Curitiba (XVII-XIX); de Santos (2008) sobre los conflictos entre la sociedad y el clero en las villas de Curitiba e Paranaguá de 1718 hasta 1774; de Santos (2013) sobre la transgresión de los clérigos del hábito de São Pedro en las feligresías de Pernambuco entre 1750 y 1800; de Nunes (2010) acerca de la política regalista y el clero secular en Minas Gerais; de Duarte (2017) que trata de la clerecía secular y sus sociabilidades en la misma Minas Gerais; de Castro (2010) sobre la trayectoria de un padre secular entre los indígenas de los sertões de las Gerais; y por fin el de Mendonça (2011) sobre el obispado del Marañón .

En particular la investigación doctoral de Mendonça sobre la justicia eclesiástica y los comportamientos desviantes del clero secular es buen ejemplo y, se destaca no solamente por el rico manantial de fuentes archivísticas explotadas, pero, sobre todo, por tratarse de observar la actuación del clero secular en el Noroeste de Brasil. Aunque su preocupación esté centrada en el juicio eclesiástico bajo el mando episcopal, pondera además sobre la comprensión jurídico-procesal acerca del cotidiano clerical desde el punto de vista de los juicios inquisitorial y secular. Mendonça establece sus características desde la documentación del Auditorio eclesiástico, entrecruzando las trayectorias con una perspectiva de conjunto que ha permitido profundizar en su formación, sus perfiles, sus estrategias de carrera y las redes familiares de protección o apoyo, los crímenes practicados, los castigos aplicados, las reformas de las costumbres, la defensa del privilegio de foro, las disputas políticas por los beneficios y, lo más característico del contexto maranhense: la gran flexibilidad durante los periodos continuos de vacancia en el obispado, que se reflejó en amplios procesos de ordenación sacerdotal.

El interés por las ordenaciones sacerdotales ha permitido ampliar el abanico de investigaciones, en las últimas dos décadas, a segmentos como el clero indígena. Por ejemplo, el libro de Menegus y Aguirre, para Nueva España, abrió una perspectiva de larga duración para el estudio de la formación de indios letrados y su estrecha vinculación con el sacerdocio. A partir de fuentes del archivo de la Real Universidad de México, del archivo del Seminario Conciliar de México y del archivo del arzobispado de México, principalmente, propusieron varias etapas históricas para entender por qué solo hasta el siglo XVIII se pudo conformar un sector de indios sacerdotes, al amparo de la Corona. Sobresale la segunda mitad de esa centuria debido a que ya no solo se ordenaron hijos de caciques sino también de tributarios, además de que algunos indios obtuvieron grados de doctor e hicieron una carrera eclesiástica notable, llegando uno de ellos, Luciano Páez de Mendoza, a ser canónigo de la colegiata de Nuestra Señora de Guadalupe (Menegus, Aguirre, 2006). Por su parte, Lundberg (2008) publicó un artículo donde propone algunas cuestiones a considerar para el estudio del clero indígena en Hispanoamérica, tomando en cuenta los avances historiográficos, los usos de la categoría de clero indígena y los posibles niveles de análisis para el tratamiento del tema: como las legislaciones, las polémicas teológico-jurídicas y conciliares, la formación y las carreras de los curas. A despecho de las prohibiciones impuestas y de la escasa ordenación de dichos clérigos en tiempos de “fundación”, a partir del siglo XVII la Corona apoyó a la idea de constitución de un sacerdocio nativo y a mediados del siglo XVIII se impuso la necesidad de contar con más clérigos seculares que supieran lenguas nativas – debido a la expulsión de los jesuitas y a las reformas secularizadoras – abriendo las puertas de la Iglesia a un contingente más numeroso de indios, destinados ser ayudantes de los curas titulares en parroquias rurales de pocos recursos. Sin embargo, en algunas zonas del mundo andino, llama la atención para el hecho de que algunos llegaron a tener carreras notables en los cabildos catedrales.

En la historiografía brasileña los trabajos de Resende (2014) y Oliveira (2018) son representativos de dicha vertiente acerca del clero autóctono. Como para el caso hispánico, Resende subraya las restricciones a la formación y admisión a la carrera eclesiástica, impuestas a los indígenas y la rareza de su presencia – además de los mestizos – en los procesos de ordenación realizados en los territorios de la Corona de Portugal hasta el siglo XVIII. Discute las posiciones esgrimidas en las polémicas sobre la idoneidad canónica de los indios para el oficio clerical y como en el siglo XVIII, con la implantación del Directorio de los Indios y con la política secularizadora del marqués de Pombal, las ordenaciones fueron favorecidas, si bien esto no se tradujo en incremento sustancial de nativos en la carrera. A partir del examen de casos, en particular de Pedro da Motta – sacerdote indio de la etnia Cropó – destaca la especificidad del caso de Minas Gerais, dónde los seculares jugaron un papel protagónico en la evangelización de los indios de los sertões. Ya Oliveira se dedica al estudio de las trayectorias de los africanos y sus descendientes considerando el problema del “defecto de color” en los procesos de habilitación al sacerdocio entre 1669 y 1823. Aunque reconozca la fuerza de las interdicciones, cuestiona la tesis de que la Iglesia colonial se cerraba a tales segmentos y demuestra como la ordenación se convirtió en una promesa de movilidad social durante el Antiguo Régimen. Contrasta el examen de la legislación, como las Constituciones Sinodales de Lisboa y las Constituciones Primeras de Bahia, estas últimas analizadas por Feitler e Souza (2011), con los documentos de los procesos de habilitación (de generevita et moribus y patrimonio) buscando comprender la lógica de la dispensación de los defectos de origen o nacimiento prevista por las mismas reglas canónicas. Oliveira señala el sentido orgánico de los procesos, sugiriendo la ordenación como un “proyecto” del grupo y el catolicismo como un elemento que favorece a la distinción social.

El presente dossier busca abonar a algunas de las líneas de investigación antes expuestas. Los tres trabajos que lo componen se articulan alrededor de un eje situado en el campo de la historia social del clero que problematiza su trayectoria en los marcos de la organización eclesiástica y parroquial en tres zonas geográficas de los imperios ibéricos. En los estudios hay un elemento común: la carrera se vuelve una estrategia con medidas precisas que exigían de los promotores una buena red, local o extra local, de contactos y de protección familiar. El estudio de Enríquez, por ejemplo, analiza los caminos del proceso de presentación a la Corona – en razón del Patronato Regio – de aquellos pretendientes aptos para obtener dignidades o beneficios eclesiásticos en la Iglesia de Indias. Tomando en cuenta las carreras eclesiásticas en Chile, la autora considera pertinente el cruce de dos grupos documentales para explicar la lógica del derecho de ocupar las plazas vacantes de los cabildos eclesiásticos: las colecciones de cartas privadas y los papeles de las consultas hechas al Consejo de Indias. Enríquez reafirma como el derecho a presentarse engendró distintas concepciones en la marcha de su aplicación, subrayando una visible transición de ser un privilegio papal a una regalía a cargo casi exclusivo de la monarquía, con moderadísima intervención procesal por parte de la curia romana, ya que por ejemplo, para el caso de los obispos, al final cabía al Papa solamente confirmar la presentación real por medio de una bula, trámite distinto de la institución canónica de los canónigos a cargo de los obispos y sin la exigencia del sello papal. Sin embargo, la autora advierte que ese peso relativo de Roma en la delimitación de los procesos no implicó un fenómeno de alejamiento del gobierno de la Curia en relación a las cuestiones de la organización jerárquica de la Iglesia indiana. Superada dicha visión, ofrece al lector un cuadro de la compleja dinámica aspiración-concesión, dónde actuaban las razones familiares y sus mediadores, se componían redes de contactos, se configuraban estrategias para lograr alcanzar el nombramiento y, además se percibían los márgenes de acción de los agentes. Teniendo en cuenta estudios de caso bien documentados plantea dos cuestiones fundamentales. La primera: que a partir de la institución de la “vía reservada de Indias” en el comienzo del siglo XVIII, cuando el curso de los asuntos eclesiásticos pasó a ser competencia directa de las secretarías del despacho en “forma paralela a la Cámara de Indias”, se impuso una clara división entre los sujetos capaces o no de movilizar las redes y los medios para acceder a la dicha vía. La segunda: el papel central jugado por los agentes y mediadores en el curso de las provisiones, quienes al fin y al cabo decidían la vía de ascenso más pertinaz cuanto a sus méritos y a sus pretensiones.

A su vez, el trabajo de Anderson Oliveira aborda las estrategias de movilidad social de los descendientes de esclavos y libertos al buscar acceder al clero secular en el obispado de Rio de Janeiro en la primera mitad del siglo XVIII. En términos puntuales, su análisis se concentra en las estrategias familiares para promocionar sus miembros a la carrera eclesiástica y buscar así trascender las barreras impuestas por las jerarquías y sus consecuentes efectos funcionales cuando se trata de considerar la herencia del cautiverio. Incursiona, a partir del problema de los orígenes de los candidatos, en el universo de las prácticas procesales de la Cámara Eclesiástica del obispado, considerando las peticiones de habilitación o solicitudes de órdenes sagradas, para examinar las formas de comprensión y los juicios expedidos acerca de los defectos provenientes de la ilegitimidad y del color. Oliveira enseña cómo, muchas veces, la suma de cierta reputación con buenas relaciones locales superaba las interdicciones formales, garantizando así la recomendación apostólica y la posibilidad de ser nombrado para el ejercicio del oficio eclesiástico en la diócesis. En efecto, aunque el nombramiento siguiera caminos ajustados por los reglamentos canónicos, se quedaba en manos de la prelacía la decisión de admisión, hecho confirmado por distintas vertientes historiográficas al discutir la composición de redes clientelares por parte de los obispos y el papel que juegan como importantes palancas del sistema político imperial, piezas que terminan por articular – no sin conflictos o polémicas – los intereses globales y locales de la monarquía y de la propia Iglesia. Además de los procesos de ordenación sacerdotal, el autor se vale también de las fuentes notariales – en particular los testamentos – para comprender el valor del patrimonio como garantía de la dotación de recursos para el mantenimiento de los futuros sacerdotes. Para el caso del clero de Rio de Janeiro, el autor subraya en este sentido ser las redes de protección familiar y la condición social de la línea paterna las piezas clave para hacer valer la pretensión. Por lo tanto, dedica una parte importante del estudio a analizar múltiples datos concernientes a dicha línea, corroborando ser el aspecto por excelencia de la selectividad y de cierto modo una garantía para acceder a la carrera sacerdotal, permitiendo así el ascenso de los hijos ilegítimos o marcados por los estigmas del defecto de color.

Otra una línea de investigación que sigue siendo muy socorrida es el de la fundación de las corporaciones eclesiásticas en el Nuevo Mundo. En la historiografía tradicional se abordó normalmente acudiendo a fuentes legislativas y decretos fundacionales, pretendiendo con ello zanjar el análisis histórico. Pero fue una línea que tarde o temprano se agotó y no tuvo mucho ya que agregar después de los trabajos pioneros. Sin embargo, surgió nuevamente la necesidad de volver a abordar los inicios de las instituciones, como las eclesiásticas, para explicar más claramente el desarrollo de la Iglesia en sus distintos ámbitos temporales y geográficos. Un buen ejemplo es el artículo de Miranda y Ponce, que cierra el presente dossier, en el cual muestran la importancia de estudiar los inicios de las instituciones eclesiásticas en el Nuevo Mundo, no desde la normatividad, sino enfocándose en las primeras generaciones de clérigos que les dieron vida. Los autores muestran los complicados inicios del cabildo eclesiástico de la diócesis de Yucatán, región periférica con poca población española en el siglo XVI, de la cual dependía la recaudación del diezmo. Esto implicó que había poca renta para las canonjías y dignidades del cabildo de la catedral. Igualmente, Yucatán tampoco ofrecía buenas perspectivas de promoción a mejores prebendas catedralicias, ya sea en el mismo obispado o en otros. Al faltar recursos del diezmo y razonables expectativas de ascenso, se provocó un cabildo permanentemente incompleto en donde, los pocos capitulares que había, buscaban salir pronto o residir en otros obispados que les ofreciera mejores posibilidades. Igualmente, hubo prebendados nombrados en España para Yucatán, pero que se negaron a trasladarse, buscando un mejor destino. Es claro entonces que para un buen desarrollo y consolidación de las instituciones eclesiásticas en Indias era necesario también garantizar a sus miembros buenas rentas y posibilidades de ascenso en la jerarquía.

Nota

1. Por supuesto el estudio contempla además los clérigos regulares que fueron obispos.

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WANDERLEY Marcelo da Rocha; SALVADOR, Rodolfo Aguirre. Presentación. Tempo. Niterói, v.26, n.3, set. / dez., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Artificios – Revista Colombiana de Estudiantes de Historia. Bogotá, v.17, 2020.

Dossier: Violencia y Sociedad

Editorial

Artículos dossier

Artículos tema libre

Reseñas

Publicado: 2020-09-01

Revolução de 30 / Estudos Históricos / 2020

A Revolução de 1930 e o regime instalado a partir de então foram examinados nas décadas de 1960 e 1970 por um conjunto de autores que nos legaram uma valiosa visão abrangente. Pertencentes às primeiras gerações de cientistas sociais profissionalizados no Brasil, esses autores realizaram trabalhos de grande fôlego empírico e densidade teórica. Uma parte significativa dessa produção derivou de doutorados cursados nos pioneiros programas de pós-graduação em Ciências Sociais do país ou em prestigiadas universidades estadunidenses e europeias. Os historiadores chegaram mais tarde a esse campo de estudos, e apenas na passagem para a década de 1980 sua produção tomou volume. Constituída por trabalhos de alto nível acadêmico, a historiografia acerca da Era Vargas empenhou-se pouco em oferecer análises generalizantes. Ainda assim, contribuiu para o conhecimento mais aprofundado de determinados aspectos do período, destacadamente as condições de vida, a organização política e o relacionamento com o Estado dos grupos subalternos urbanos. Não tendo sido capaz de oferecer uma interpretação de conjunto alternativa à literatura proveniente das Ciências Sociais, a historiografia fez alguns reparos pertinentes e matizou determinadas análises. O artigo de Elizabeth Cancelli, publicado nesta edição de Estudos Históricos, faz um inventário dessa produção.

A grade de leitura que recorre ao livro de Barrington Moore (1967) para compreender o significado histórico da Revolução de 1930 e a natureza do regime varguista continua a provar sua grande capacidade heurística. Assim, 1930 constitui um marco decisivo na passagem da sociedade tradicional (agrário-rural) para a sociedade moderna (urbano-industrial). Tratou- -se de incentivar o desenvolvimento do capitalismo brasileiro cuidando para que a ordem social fosse mantida a mais preservada possível. O Estado, que já atuava na Primeira República como agente de amparo à cafeicultura, alçou o seu intervencionismo na economia a outro patamar e passou a dar guarida a um leque mais amplo de interesses. A política econômica de Vargas é estudada no artigo de Antonio Lassance.

Há um bloco de artigos que exploram tensões, impasses e soluções criadas no âmbito da modernização conservadora, premida entre a necessidade de, por um lado, atrair e, por outro, de controlar os trabalhadores das cidades. A postura ambivalente do Estado pós-1930 perante a questão social é explorada tanto no artigo de Marly Vianna quanto no de Marcelo Sevaybricker Moreira e Ronaldo Teodoro dos Santos. Já o artigo de Andrei Koerner e o de Douglas Souza Angeli analisam as elaborações ideológicas que enfrentaram a questão da extensão de direitos aos pobres. Antonio Luigi Negro e Jonas Brito demonstram a capacidade de ação política dos de baixo, que colocava em risco a revolução pelo alto no Brasil. Prosseguindo a apresentação deste número da revista, há um trio de artigos que oferecem uma contribuição importante para a compreensão da reestruturação do poder político a partir de 1930. Jaqueline Porto Zulini e Paolo Ricci vislumbram o Código Eleitoral de 1932 como um recurso de poder a serviço do novo regime, enquanto Eliana Evangelista Batista investiga a incorporação de chefes locais baianos ao compromisso que se formou em torno de Vargas. Finalmente, Carolina Soares Sousa, ao centrar-se na figura de Paulo Duarte, ilumina o movimento de aproximações e distanciamentos de parte da oligarquia paulista em relação ao governo central.

Referências

MOORE, B. Social origins of dictatorship and democracy. Beacon Press: Boston, 1967.

Marco Aurélio Vannucchi Leme de Mattos – Professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC / FGV). Editor Convidado E-mail: marco.vannucchi@fgv.br https: / / orcid.org / 0000-0002-6481-8720


MATTOS, Marco Aurélio Vannucchi Leme de. Editorial. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.33, n.71, set. / dez.2020. Acessar publicação original [DR]

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Rio legal. Ensaios sobre uma cidade em movimento | David Cardeman e Rogerio Goldfeld Cardeman

Ao andar por cidades brasileiras, um observador atento perceberá edificações de diferentes épocas, formas, tamanhos e tipologias. Um urbanista poderá reconhecer que esta diversidade não é aleatória, mas sim resultado da sucessão de planos e regras vigentes em cada momento em cada região da cidade. E, na cidade do Rio de Janeiro, ninguém melhor do que David e Rogerio Cardeman para explicar os detalhes desta transformação ao longo do tempo, explicando a história do desenvolvimento urbano da cidade através das suas leis urbanísticas, arquitetônicas e construtivas.

O olhar apurado e o entendimento profundo dos autores sobre a evolução da regulação urbana na cidade do Rio de Janeiro nos permitem entender como a sucessão de planos e leis interferiram na forma edificada em todas suas nuances que, por sua vez, impactou retroativamente no desenvolvimento da cidade. Como surgiram os grandes embasamentos para automóveis? Os afastamentos frontais separando as edificações das calçadas? As varandas em balanço? As áreas de recreação nos condomínios? Ao contrário da imaginação popular, tais resultados formais não se devem necessariamente às decisões individuais de arquitetos ou incorporadores, e algumas das respostas são desvendadas no histórico legislativo da cidade. Leia Mais

Brasil Arquitetura. Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz, projetos 2005-2020 | Abilio Guerra, Marcos Grinspum Ferraz e Silvana Romano Santos

Taí um livro que não carece de resenha. Dado que se constitui em si mesmo, sem necessária tradução ou reforço teórico, crítico ou explicativo; vamos começar pelo começo, por puro e respeitoso apreço e deleite.

É um lindo corpo físico – que bom poder sentir o peso do volume nas mãos e folheá-lo, percorrendo página a página, composta cada uma a sua vez de texto e imagem com medida apurada. Quase, mas não perfeitamente quadrado – a proporção nos atinge de primeiro, sem racionalização, não é mesmo? – e assim ele fica de pé, posto que tem um tantinho mais de altura do que largura. Mas se deita, também, sobre um plano qualquer e nos espera, ao expor seu rosto de chofre, claro, sincero. Um ser encarnado. Leia Mais

Rolê pela CEI. Um Guia Afetivo De Ceilândia. Primeiro Volume | Elane Ribeiro Peixoto e Julia Mazzutti Bastian Solé

Este é um guia atípico. Não foi feito pensando em turistas que desejam curtir um lugar em seu período de férias ou viajantes que pretendam aumentar seu nível cultural colecionando conhecimento de obras e monumentos já de reconhecido valor histórico ou artístico (que receberam o selo do tombamento patrimonial, por exemplo). É claro que tais turistas e viajantes com interesses culturais poderão aprender muito com o “rolê pela CEI”. Mas, propõe-se aqui algo distinto: revelar tanto um lugar usualmente não contemplado por guias como também vivências e percepções pouco conhecidas, provenientes de alunos e professores da Ceilândia. Leia Mais

Violencia y Sociedad | Artificios – Revista Colombiana de Estudiantes de Historia | 2020

El presente dossier, Violencia y Sociedad, fue pensando originalmente a finales del 2019, sin tener en cuenta las condiciones de violencia actual por las cuales atraviesa Colombia. Hasta el 25 de agosto de 2020, han ocurrido 33 masacres, más de 20 en el octavo mes del año e, incluso, tres en tan solo 24 horas en diferentes departamentos. Estas cifras demuestran que la violencia en el país es algo vivo, actual y álgido. Mucha de la opinión popular gira en torno a recordar la coyuntura presente frente al periodo más difícil del Conflicto armado en Colombia, 1998-2002, cuando, al igual que ahora, se presentaba una sangrienta lucha por territorios, hegemonías, ideologías, etc.

Entender las diferentes morfologías que ha tomado la violencia en Colombia es complejo. Las formas, motivos, lugares, actores, etc., han ido cambiando y/o evolucionando en otras estructuras. Así, si bien la periodización en torno a la violencia es algo que levanta muchas discusiones. Podemos situar una violencia sistemática a partir de 1948, comenzando a visibilizarse, en los sectores urbanos, a principios de la década del 60. Esto nos lleva a considerar que la sociedad colombiana actual ha crecido y vivido en la violencia. Claramente, la afección de ella es mas directa y ruin para algunos; para otros meramente simbólica. Pero ello no invalida la huella imborrable que ha dejado aquel fenómeno en la sociedad en general. Leia Mais

Cuerpos al límite: tortura, subjetividad y memoria en Colombia (1977-1982) | Juan Pablo Aranguren Romero

La tortura pretende desdibujar al sujeto, anhela escindirle de su cuerpo y reducirle a un objeto de represión que muestre su implacabilidad. Sin embargo, aun en condiciones de sufrimiento, el lazo social que conforma su identidad corporal, muchas veces, le permite resistir e incluso vencer. Este es el principal postulado que expone el psicólogo e historiador Juan Pablo Aranguren en Cuerpos al límite, un libro sobre la disposición de los cuerpos ante las prácticas de tortura en Colombia a finales de los años setenta y principios de los ochenta. Para su estudio el autor utiliza diversas fuentes entre las cuales incluye leyes, decretos, periódicos, revistas militares, manuales de contrainsurgencia, informes de Amnistía Internacional y entrevistas con personas que fueron torturadas. La publicación no se concentra únicamente en el cuerpo torturado y doliente, pues Aranguren profundiza en la experiencia corporal y subjetiva. Por tanto, analiza de forma paralela el cuerpo social y político, el cuerpo militante y el cuerpo militar. Así, Cuerpos al límite muestra cómo el gobierno de la época concibió a la sociedad a partir de una lógica inmunológica que pretendía defender al país del virus del comunismo, lo cual provocó la criminalización de la protesta, la represión de los movimientos sociales y la militarización de la vida cotidiana.

Aranguren se plantea tres objetivos principales por desarrollar en su trabajo. El primero, y más evidente, es indagar por la relación entre cuerpo, subjetividad y memoria, estableciendo una conexión entre estos conceptos. El segundo, es analizar la constitución del marco en el que se inscribió la práctica de la tortura, estudiando cómo se conformó un aparato que propendía por la escisión entre cuerpo y sujeto. El tercero, y quizá el más importante, es rescatar al sujeto, pues para el autor la separación entre análisis de tipo macro y micro, en los estudios sobre violencia política, ha llevado a que este sea desdibujado y borrado de las investigaciones. De esta forma, el autor, siguiendo la línea investigativa propuesta por Michel de Certeau en La invención de cotidiano1, considera que no solo basta con analizar el marco o el aparato en el que se inscribe el sujeto, sino que también es necesario rescatar sus prácticas cotidianas, pues la estructura no siempre ha sido exitosa; es decir, los sujetos han escapado a los marcos en que estaban inscritos a partir de formas particulares de actuar. Por ende, los “modos de hacer” presentados por Aranguren en Cuerpos al límite, bien sea desde la resistencia o desde la duda y el desamparo, son la evidencia de “un sujeto que no se narra aquí como cuerpo sufriente ni se reduce a los actos infligidos contra su ser”2. En ese sentido, el autor analiza la constitución de un sujeto que se enuncia más allá de la lógica determinada por la maquinaria y emprende un recorrido por los cuerpos en el que pretende revelar la forma en que la tortura se inscribió en ellos. Leia Mais

História das Romarias no Mundo Ibero-Americano / Revista Brasileira de História das Religiões / 2020

Rezar com os pés. Nas palavras de romeiros que palmilham o chão em busca dos espaços sagrados, esta é uma das assertivas mais comuns e contundentes na definição da romaria. Ser romeiro incide em constituir-se enquanto sujeito que busca o sagrado a partir do deslocamento dos espaços, que experimenta a sacralidade em cada passo, que transmuta o corpo em epicentro de sensibilidades sensoriais. O corpo do romeiro emerge como evidência da prática e esta, por sua vez, como testemunha de sonhos e desejos. São vestígios tingidos no espaço e no tempo, que sinalizam para a história dos de baixo, das camadas populares.

Esta chamada temática da Revista Brasileira de História das Religiões tem como escopo a história das romarias no mundo ibero-americano. Como prática devocional dos de baixo, experiência social das camadas populares, historicamente marginalizadas, as romarias foram, durante muito tempo, vistas como expressões imóveis, uma penumbra de passado superado que insistia em continuar no presente. Uma presença incômoda do outro: o maltrapilho, o pobre, o sujeito tido por uma elite (clerical, política ou intelectual) como desviante, ultrapassado, desvirtuado ou agonizante. Uma experiência de outrora, engessada e incapaz de se reinventar. Um desvio das camadas populares que para o clero necessitavam de reforma litúrgica; para os folcloristas remetiam a um passado anônimo e atemporal; e, para os políticos, exigiam vigilância e controle, enquanto para a esquerda católica demandava-se a conscientização. Entre esses múltiplos sujeitos que teceram uma polifonia discursiva, responsável pela tessitura de um emaranhado de leituras, havia em comum a certeza de que os romeiros, entendidos como “os outros”, existem para serem “corrigidos”. Em outras palavras, os romeiros formariam um grupo social explicitado pelo desvio.

Neste sentido, a proposta dessa chamada temática consistiu em reunir trabalhos que explicitassem as romarias em duas perspectivas: primeiramente foi pensar as romarias historicamente, superando a frágil ideia de que se trata de um eterno imutável, ou seja, é o desafio de entender as especificidades de cada momento histórico da romaria, pautada na valorização do protagonismo de seus romeiros interpretados a partir de seu contexto. A segunda perspectiva implica no desafio de pensar as rupturas e reinvenções acerca dos espaços sagrados e das experiências romeiras, a partir dos valores atribuídos aos sujeitos protagonistas de tais práticas. O que pensam os romeiros sobre os santuários e seus santos de devoção? Quais hierarquias são tecidas em suas experiências de deslocamento? Em suma, é o desafio de pensar a história a partir do emergir de novos protagonismos.

No mundo ibero-americano, em grande medida, as romarias passaram a se constituir como um dos principais eixos norteadores das identidades nacionais, regionais e locais. Identidades forjadas em contextos específicos, como a emblemática década de 30 do século XX, momento no qual governos nacionalistas passaram a constituir políticas culturais a partir do uso de romarias como símbolos da nação. Esse foi o caso de Nossa Senhora de Fátima (Portugal), Nossa Senhora Aparecida (Brasil), Nossa Senhora de Coromoto (Venezuela), Nossa Senhora de Guadalupe (México) ou Nossa Senhora de Luján, na Argentina. Se em alguns casos, a devoção é usada politicamente como símbolo da nação, também é notória a força popular de devoções regionais, que explicitam a polifonia devocional do multifacetado mundo religioso ibero-americano, como as multitudinárias romarias de Nossa Senhora del Rocío (Almonte, na Andaluzia, Espanha), Nossa Senhora Divina Pastora (Barquisimeto, na Venezuela) e Nossa Senhora de Nazaré (em Belém do Pará, no Brasil). Expressões devocionais visualmente impactantes e que referendam a complexidade da dinâmica intrínseca e extrínseca das romarias.

Neste sentido, a chamada temática reuniu textos que tiveram como foco as romarias em diferentes contextos espaciais e temporais, assim como em suas múltiplas dimensões em âmbito cultural, social, econômico e político, bem como as tensões envolvendo clero, intelectuais, políticos e romeiros. Expressões devocionais lidas a partir de elementos epistemológicos da História, Antropologia e Turismo.

Com isso, publicamos quatro leituras acerca das romarias. O primeiro texto, intitulado “Tradição e história de uma devoção católica no norte peruano (Santíssima Cruz de Chalpón)”, tem como escopo a festa religiosa da Santíssima Cruz de Chalpón, na cidade de Motupe, analisando-a como uma devoção católica específica a partir da perspectiva da tradição oral e da história. Trata-se de uma interessante leitura que articula as memórias de romeiros com experiências devocionais no sul do Brasil, a partir da figura de Juan Agustín de Abad. Com isso, interpreta-se como a festa a Santíssima Cruz de Chalpón, em sua essência, é semelhante a outras manifestações religiosas católicas espalhadas pela América Latina.

O segundo texto, intitulado “Romarias a lugares sagrados no sertão da Bahia: leituras e memórias em Monte Santo”, tem como cerne um dos mais notáveis espaços devocionais do Brasil. O artigo analisa as romarias ao Santuário da Santa Cruz, o antigo no Brasil que representa a Via Crucis de Jesus, desde o seu surgimento em 1785, na Serra do Piquaraçá na cidade de Monte Santo na Bahia. A Via Crucis de Monte Santo começou a ser construída sob a supervisão direta do Frei Apolônio de Todi. Com isso, o texto explicita com no Sertão do Estado da Bahia, as práticas do catolicismo popular são encontradas em diversas cidades, vilarejos ou mesmo no campo, destacando-se Monte Santo, para onde acorrem as romarias ao Santuário da Santa Cruz.

O terceiro texto também mobiliza uma leitura acerca de um centro de romaria na Bahia. Trata-se do artigo “Razões para peregrinar: experiências devocionais no santuário do Sagrado Coração de Jesus da Gruta da Mangabeira (Ituaçu – BA, 1900- 1950)”, que se propõe a investigar a vivência religiosa em Ituaçu – BA, cidade da Chapada Diamantina, na primeira metade do século XX. Assim, a pesquisa elucida o espaço sacralizado, no qual os fiéis rendem graça, renovam seus votos e promessas. Assim, anualmente, entre os meses de agosto e setembro, os devotos e romeiros ocupam a Gruta da Mangabeira com seus cantos, benditos, rezas, ladainhas, novenas e procissões.

O quarto e último artigo da chamada temática provoca outro olhar acerca das romarias. Trata-se do texto “Romaria na Música Popular Brasileira” que desenvolve uma análise reflexiva da temática romaria na Música Popular Brasileira, tendo como aporte as devoções marianas de norte a sul do país. É uma leitura na qual explicita a linha tênue entre sagrado e profano na cultura religiosa e musical dos brasileiros.

Com isso, convidamos os leitores a se deslocarem pelas páginas da Revista Brasileira de História das Religiões e mergulharem em diferentes experiências atinentes ao complexo universo das romarias no mundo ibero-americano. Boa leitura!

Magno Francisco de Jesus

Maria Teresa Arcila


JESUS, Magno Francisco de; ARCILA, Maria Teresa. Apresentação. Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v.13, n.38, set. / dez. 2020. Acessar publicação original [DR]

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Las guerras de la agricultura colombiana: 1980- 2010 | Darío Fajardo

Si existiera reforma agraria en Colombia, la hacienda [El Ubérrimo]

podría repartirse y albergar sin problemas a 300 familias campesinas,

cada una con un lote de cinco hectáreas.

Salomón Kalmanovitz, “La riqueza de Álvaro Uribe”

En agosto de 2013, el expresidente Juan Manuel Santos afirmó que “el tal paro nacional agrario no existe” y que, por el contrario, se trataba de una protesta de ciertos sectores del campesinado colombiano en la que se habían infiltrado vándalos y criminales1. Lo que empezó como bloqueos, marchas y asesinatos tanto a líderes campesinos como a miembros de la fuerza pública, se convirtió en una verdadera crisis del sector agrario, que puso en evidencia, no sólo su capacidad de agencia, sino la debilidad y la ineficacia del Estado y sus aparatos institucionales para llevar a cabo reformas agrarias, aún en deuda hoy.

Este es el marco político y social en el que se desarrolla Las guerras de la agricultura colombiana 1980-2010, del antropólogo e investigador colombiano Darío Fajardo, uno de los primeros gestores de la política denominada zonas de reserva campesina que el gobierno central, a finales de la década de los noventa, trató de impulsar con la Ley 160 de 1994. ¿Cuál es, en efecto, el tema principal del libro? Podría decirse que se divide en dos partes: en primer lugar, se trata de “las transformaciones ocurridas en la agricultura colombiana durante el periodo comprendido entre finales de la década de 1980 y 2012”2 , que ponen en escena la fallida serie de intentos por implementar reformas agrarias en el contexto de una elevada concentración monopólica de la propiedad rural, la carencia de una infraestructura sólida en materia de transporte, comercio y tecnificación de la producción agrícola y la exacerbación del conflicto armado a raíz de las medidas neoliberales asumidas por el Estado a finales del siglo pasado. En segundo lugar, se analizan “las políticas públicas dirigidas hacia el agro y sus efectos en el abastecimiento alimentario, los conflictos que han rodeado a estas transformaciones agrícolas y las expresiones de resistencia de las poblaciones rurales a estas políticas”3 . Leia Mais

Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares | Laurentino Gomes

Laurentino Gomes, autor de 1808, 1822 e 1889, lançou em 2019 seu novo trabalho: Escravidão: do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi dos Palmares, volume 1. Trata-se do primeiro volume de uma trilogia, fruto de uma pesquisa de seis anos que passou por três continentes (África, América e Europa). Seu objetivo é narrar a história da escravidão pelo viés de longa duração, apresentando diferentes perspectivas historiográficas, a pluralidade de sujeitos históricos e polêmicas. A narrativa de Gomes é marcada pela comunhão de revisão bibliográfica temática com escrita jornalística, conectando apontamentos fundamentais do tempo historiográfico à fluidez narrativa. O foco territorial passa pelas histórias do continente africano (enfatizando Angola), Brasil e Portugal. Seu ponto de partida é o primeiro leilão de escravos em Portugal, em 1444, e finaliza com a mudança de ênfase do trabalho escravo no Brasil no século XVIII, o qual passou do cenário da lida com cana-de-açúcar para a mineração de ouro. Leia Mais

Ideias para adiar o fim do mundo | Ailton Krenak

O livro Ideias para adiar o fim do mundo (2019), resulta da adaptação de duas palestras e uma entrevista, realizadas em Portugal por Ailton Krenak. Detentor do título doutor honoris causa concedido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), o autor, nascido na região leste do estado de Minas Gerais, possui uma importante trajetória na luta pelos direitos das populações indígenas no Brasil e pertence ao grupo étnico Krenak, que habita o Vale do Rio Doce. Os capítulos da obra receberam os títulos dos respectivos trabalhos em que foram baseados: “Ideias para adiar o fim do mundo”, ministrado em uma apresentação no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, em março de 2019; “Do sonho e da Terra”, apresentado em maio de 2017 no Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa – publicado inicialmente pela revista Flauta de luz (n. 6, 2019); e, por fim, “A humanidade que pensamos ser”, a partir de entrevista concedida também em maio de 2017, em Lisboa, cujo texto foi produzido inicialmente para o catálogo da conferência-dançada Antropocenas (2017). Leia Mais

Feminismos e Democracia | Joana Maria Pedro e Jair Zandoná

Publicado em 2019, o livro organizado por Joana Maria Pedro e Jair Zandoná conta com dezoito capítulos estruturados em sínteses-soma. Engloba temas diversos para repensarmos a amplitude entre os Feminismos, Democracia –ou na ausência dela- e a própria História. Discorre-se, com isso, o quão plural é o Feminismo -por isso Feminismos- (PAULA; GALHERA, 2019) e a importância das reivindicações e dos debates, tanto em períodos ditatoriais, como em períodos democráticos no sub- Continente. Assim, Dora Barrancos, Olga G. Duhart, Roselane Neckel, Mariana Joffily e Maurício Cardoso evidenciam a relação entre Feminismos e Democracia nos dias atuais. Cristina Scheibe Wolff, Soraia C. de Mello, Jair Zandoná, Heloneida Studart, Ana R. Fonteles Duarte e Lorena Zomer os analisam diante do cenário ditatorial na América Latina. Já Cintia Lima Crescêncio por meio da perspectiva do humor, Elias Ferreira Veras pela operação historiográfica, Claudia Regina Niching pelo Direito, Karina J. Woitowicz diante do Jornalismo, Silvana Maria Pereira pela Medicina, História e Gênero, Ana Maria Marques e Giseli Origuela Umbelino finalizam pela perspectiva do estudo das mulheres na História dentro das escolas. Uma obra que reflete, sem dúvidas, acerca dos Feminismos na História de ontem e de hoje, com debates dos mais diversos Feminismos existentes. Leia Mais

Marx Selvagem | Jean Tible

A relação entre o pensamento marxiano e as cosmopolíticas indígenas ainda não foi suficientemente escrutinada nas ciências sociais ou na historiografia brasileiras por um conjunto de razões: primeiro, as sociedades indígenas não foram levadas a sério durante muito tempo; segundo, o alegado caráter eurocêntrico das análises de Marx. Por fim, cabe observar que o marxismo não é uma base teórica usualmente empregada pelos historiadores da “Nova História Indígena”.

Mas é justamente este diálogo improvável que encontramos no livro Marx Selvagem, de Jean Tible. Originalmente tese de doutorado, Marx Selvagem foi publicado pela primeira vez em 2011, conhecendo acolhida positiva. Em 2018 foi publicada a terceira edição do livro, revista e ampliada. Leia Mais

Pan-americanismo: novos olhares sobre as relações continentais | Estudos Ibero-Americanos | 2020

A criação da União Internacional das Repúblicas Americanas (1889), depois renomeada União Pan-americana (1910), e a realização das chamadas Conferências Internacionais Americanas, que acabaram ficando muito mais conhecidas simplesmente como Conferências Pan-americanas – Washington (1889-1890), Cidade do México (1901-1902), Rio de Janeiro (1906), Buenos Aires (1910), Santiago de Chile (1923), Havana (1928), Montevidéu (1933), Lima (1938), Bogotá (1948) e Caracas (1954) – marcou de forma profunda o estabelecimento de novos canais e formas de relacionamento econômico, político, diplomático e cultural dos Estados Americanos, entre si e com as nações de outros continentes.

Ainda que muitos estudos remontem suas origens ao Congresso do Panamá, convocado por Simon Bolívar, em 1826, é certo que o Pan-americanismo da União Pan-americana (UPA) em nada lembra o ideal bolivarista de formação de uma Confederação dos novos Estados americanos recém independentes. Ao contrário, remete muito mais às ideias esboçadas pelo Presidente James Monroe na sua célebre mensagem ao Congresso dos Estados Unidos em 1923 e que se tornaram os pilares da chamada Doutrina Monroe. Leia Mais

¿Pactos de sumisión o actos de rebelión? – Rolf Foerster

FOERSTER, Rolf. ¿Pactos de sumisión o actos de rebelión?
Rolf Foerster (centro) e Camilo Rapu (direita) / twitter.com/rapucamilo/status.

FOERSTER R Pactos de sumision o actos de rebelion História da BiologiaFOERSTER, Rolf. ¿Pactos de sumisión o actos de rebelión? Una aproximación histórica y antropológica a los mapuches de la costa de Arauco. Santiago de Chile: Pehuén Editores, 2018. Resenha de: GONZÁLEZ, Damián Gálvez. Estudios Atacameños, San Pedro de Atacama, n.65, set., 2020.

Varios años tuvieron que pasar para que este libro finalmente se volviera a publicar. En el intervalo, numerosas fueron las intervenciones en las que Foerster expuso un sólido trabajo intelectual respecto a la situación de los pueblos indígenas en Chile, colocando especial énfasis en las relaciones interculturales y en la problemática mapuche actual. Las funciones del parentesco, las organizaciones políticas, las luchas por el reconocimiento y el colonialismo del Estado chileno sobre los mapuche son los temas principales que le dan cuerpo a su programa de investigación, así como a este indispensable volumen que la editorial Pehuén ha hecho bien en publicar. Análisis, observación y convivencia con los mapuche lafkenche de la costa de Arauco grabados en una excelente reedición de su tesis de doctorado.

Los cruces entre antropología e historia son obligados en toda la lectura del libro. En ese gesto resalta la potencia de una tradición que se funda y se define en la profundidad del tiempo, entre la fragilidad del presente y la fragmentación del pasado. Probablemente, el núcleo de esta voluntad analítica se condense en la hipótesis de trabajo que propone el autor:

en primer lugar, se trata de una reflexión diacrónica que parte del supuesto que los actuales conflictos con el Estado nacional -que generan las demandas de reconocimiento por parte de los mapuche- están en una relación de continuidad con el pasado colonial y con la peculiar forma con que la sociedad indígena ha encarado el asunto del poder (p. 20).

En mi opinión, el mérito más importante de esta conjetura, clara y precisa en su formulación, es que aborda las “transformaciones y las continuidades históricas de la sociedad mapuche” (p. 26), y junto con ello, desvela procesos de largo aliento que tratan de explicar la dinámica política que ha desplegado el movimiento mapuche, en las diversas modalidades de su gama, para relacionarse con el poder estatal, las fuerzas del capital y la sociedad chilena en general.

El libro consta de cinco capítulos y de un prólogo firmado por Fernando Pairican. En el capítulo primero, el autor construye un argumento profusamente bien documentado en torno a la estructura social de los mapuche antes de mezclarse con la administración colonial española. Leamos el siguiente pasaje que ilustra con exactitud el sentido de este apartado. “Hemos configurado una imagen de la sociedad reche-mapuche, previa al contacto, que nos debería servir para lograr una mejor comprensión de lo que va a acontecer en el siglo XVI y XVII, cuando los reche se enfrentan por segunda vez a una sociedad con Estado” (p. 88). Podríamos decir que su análisis es, sobre todo, para explicar desde el pasado remoto las conexiones más actuales entre identidad, cultura y territorio.

Otro aspecto relevante del libro es el lúcido tratamiento historiográfico con el que Foerster describe las continuidades y rupturas que se dieron al interior de las comunidades mapuche lafkenche, antes y después de la construcción de una nueva comunidad política en forma de república. Respecto al objetivo general del capítulo segundo, Foerster dice:

Aquí el centro de nuestro interés es, por un lado, analizar la política hispana en el mundo mapuche con especial énfasis en la zona de Arauco, y por otro, ver cómo la sociedad reche reacciona vía la aculturación negativa. Se trata de observar el peso o solidez de sus reestructuraciones territoriales (los ayllarehue, el butalmapu) y el efecto especular del ‘pacto colonial’ como forma de poner fin a la guerra y al establecimiento de la frontera (p. 21).

La vida social y cultural mapuche se transformó de manera irreversible luego de la ocupación militar del Wallmapu en la segunda mitad del siglo XIX. Como lo muestra Foerster en el capítulo tercero, el proceso de colonización que impulsó el Estado-nación chileno produjo un quiebre en lo que atañe a las relaciones interétnicas que se habían cultivado durante el régimen colonial español.

Dos hechos grafican esta situación. En primer lugar, el abandono de una política de regulación de la frontera, es decir con esa suerte de pacto que se sellaba en los parlamentos, en las que intervenían tanto las autoridades hispano criollas como indígenas […]. En segundo lugar, se transitó de un reconocimiento del territorio indígena al sistema reduccional, que si bien entregó medio millón de hectáreas, prácticamente pulverizó la propiedad indígena en un amplio archipiélago a lo largo de la región de La Araucanía (p. 224).

He aquí otro elemento importante que permite visualizar el flujo de los cambios en la vasta frontera del sur y que culminará con la “subordinación de los mapuche al Estado chileno como campesinos” (p. 27).

A partir de un marco temporal que abarca casi todo el siglo pasado, en los capítulos cuarto y quinto Foerster profundiza en una constelación de temáticas destinadas a desvelar el mundo de las reducciones, la pérdida del territorio, la reforma agraria en la provincia de Arauco, las violaciones a los derechos humanos durante la dictadura cívico-militar, la expansión de las empresas forestales en un momento de globalización económica, los conflictos ambientales y las diferentes modalidades de acción colectiva que ha adoptado el movimiento mapuche una vez iniciada la transición a la democracia. Este último aspecto es significativo para abordar dos dimensiones que están profundamente conectadas. Por una parte, los procesos de articulación política que los mapuche lafkenche han desplegado para reivindicar su derecho al territorio y a la autodeterminación como pueblo autónomo. Y por otra, los alcances y las limitaciones del multiculturalismo y las políticas de reconocimiento en un contexto de hegemonía neoliberal.

¿Pactos de sumisión o actos de rebelión?, en definitiva, es un libro que merece ser leído con atención para poder comprender mejor una larga y compleja historia de conflictos no resueltos entre la sociedad mapuche y el poder estatal que siguen estando presentes en el Chile de hoy.

Damián Gálvez González – Lateinamerika Institut, Freie Universität Berlin, ALEMANIA. Email: dgalvezfu@zedat.fu-berlin.de. Centro de Estudios Interculturales e Indígenas (CIIR), Santiago, CHILE.

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Poderes, trajetórias e administração no Império português (séculos XVI-XVIII) / Revista Maracanan / 2020

O presente dossiê tem como objetivo promover a produção científica e o debate sobre as relações de poder, as trajetórias e os conflitos entre os diversos representantes, oficiais e agentes régios no Império português entre os séculos XVI e XVIII. Relações essas que vão se dar a partir das dinâmicas presentes no âmbito das representações políticas, econômicas e socioculturais das instituições administrativas na América portuguesa.

Os estudos historiográficos acerca do estabelecimento de instituições (administrativas, religiosas, militares, etc.) e as relações de poder constituídas nas mais diversas escalas ganharam, nas últimas décadas, novos olhares a partir do constante diálogo com pesquisas desenvolvidas por historiadores estrangeiros, a incorporação de novas fontes documentais, aportes teórico-metodológicos e a constituição de bases de dados por grupos de pesquisas nas universidades brasileiras.[1] Desta maneira, este dossiê pretende aprofundar o debate sobre os poderes e as instituições constituídas na América portuguesa, enfocando: as redes de alianças políticas e econômicas, os espaços de poder, a fixação de instâncias administrativas, jurídicas e religiosas, regulação legislativa e a dinâmica local, comunicação e correspondência no império português, poder local e hierarquia administrativa, agentes coloniais / metropolitanos e suas trajetórias, poder e distinção social, disputas de jurisdição, fiscalidade e justiça. Estas temáticas estão presentes nas pesquisas que compõem este dossiê e nos permitem a compreensão dos múltiplos poderes constituídos a partir das diversas experiências particulares e coletivas vivenciadas no espaço colonial.

Neste sentido, o primeiro artigo do dossiê de autoria de Hugo André Flores Fernandes Araújo, “Casa, serviço e memória: origens sociais, carreira e estratégias de acrescentamento social dos governadores-gerais do Estado do Brasil (Século XVII)” propõe uma reflexão sobre as trajetórias sociais de sujeitos históricos que serviram a Coroa portuguesa em diversos territórios, problematizando o perfil característico deste grupo por meio das fontes e do diálogo com a historiografia.

As trajetórias sociais e administrativas também compõem o eixo de reflexão proposto por Tânia Maria Pinto de Santana para analisar a administração do Hospital de São João de Deus. A autora de “Império português, poderes locais e a administração do Hospital de São João de Deus da Vila de Cachoeira (Bahia, séc. XVIII)” investiga as práticas administrativas na referida instituição com vistas a perceber a importância deste espaço de poder para as elites locais.

Seguindo o eixo de análise acerca das trajetórias, o artigo intitulado “A trajetória de Pedro Barbosa Leal e as redes de conquistas no sertão da capitania da Bahia, 1690-1730” de Hélida Santos Conceição, evidência a trajetória do coronel e sertanista Pedro Barbosa Leal por meio do arrolamento de seus serviços prestados no processo de conquista dos sertões da Bahia. Ademais, a autora aponta o caso singular deste agente inserido nos espaços da nobreza e na atividade sertanista.

A constituição de um correio mensal entre São Luís e Belém por volta de 1730 é investigada por Romulo Valle Salvino em “Um correio pelo caminho de terra: as comunicações no estado do Maranhão e Grão-Pará nos princípios do século XVIII”. Para o autor, a instituição deste canal de comunicação pelo Governador do Estado do Maranhão e Grão-Pará, Alexandre de Sousa Freire, desenvolveu-se como um pioneirismo. A análise deste caso particular é realizada a partir da historicidade do sistema de correios do período moderno.

O artigo, “A Restauração de A gola e os pedidos de mercês o século XVII”, de Ingrid Silva de Oliveira Leite finaliza a seção de artigos do dossiê. A autora busca analisar o processo de requisição de mercês a Coroa portuguesa no contexto da Restauração de Angola, objetivando compreender a prestação dos serviços no conflito frente aos holandeses, a solicitação das mercês, o mapeamento destes sujeitos e se os mesmos foram agraciados em suas demandas.

As entrevistas realizadas com o professor Dr. George Felix Cabral e com a professora Dra. Laurinda Abreu também compõem o presente dossiê. A primeira delas, realizada pelos organizadores desta edição com o professor de História da Universidade Federal de Pernambuco, procura debater as percepções da História e seus desafios na contemporaneidade. A segunda entrevista, realizada por Thiago Enes com a professora da Universidade de Évora, aborda a “A controversa trajetória de Diogo Inácio de Pina Manique, Intendente-Geral da Polícia da Corte e do ei o”, conforme título.

A seção Notas de Pesquisa é composta por três estudos. A publicação do excelente estudo de Wanderley de Oliveira Menezes sobre “Administrar a justiça d’El ei o ei o e no Ultramar: a trajetória do bacharel José Álvares Ferreira (1772-1810)” abre a seção dialogando com o eixo temático proposto neste dossiê acerca dos poderes, trajetórias e administração no Império português. Em seguida, os trabalhos de Sheila Hempkemeyer sobre “Cidades e corpos – Histórias e movimentos” e o de Amanda Peruchi, intitulado “Abelhas ou Zangões: as primeiras normas para o profissional da farmácia do Brasil o início do século XIX” finalizam as notas de pesquisa.

A seção artigos conta com alguns estudos de temáticas diversas e importantes para contribuir com essa publicação, a saber: “Visitando obras historiográficas do Império Lusitano na Oceania: Um recorte da história de Timor-Leste”, de Hélio José Santos Maia & Urânia Auxiliadora Santos Maia de Oliveira; “Os artífices do poder: mecanismos de ascensão social em Guarapiranga (MG), 1715-1820”, de Débora Cristina Alves; “No fio da navalha: a questão do tráfico internacio al de escravos o Conselho de Estado” de Ricardo Bruno da Silva Ferreira “Tráfico de escravos e escravidão na trajetória do Barão de Nova Friburgo – Século XIX”, de autoria de Rodrigo Marins Marretto “O que a cidade de Ipásia tem a nos dizer sobre pixação? Leituras possíveis de As Cidade Invisíveis, de Ítalo Calvino, e São Paulo / SP ”, de Bianca Siqueira Martins Domingos, Fabiana Felix do Amaral & Silva e Valéria Regina Zanetti; “Imagens em versos e acordes: a represe tação da cidade de Feira de Santana através do seu hino”, de autoria de Aldo José Morais Silva; “A cidade ‘perigosa’ e sua instituição ‘tranquilizadora’: o Recife no contexto da reforma prisional do Oitocentos”, de Aurélio de Moura Britto; e, “As cidades e suas contribuições para o do ativo do dote e paz”, de autoria de Letícia dos Santos Ferreira.

Por fim, a edição conta ainda com a resenha de Igor Lemos Moreira sobre o livro A formação da coleção latino-americana do MoMA: Arte, cultura e política (1931-1943), publicado em 2019 pela Paco Editorial. Boa leitura!

Nota

1. Cf.: FRAGOSO, J.; BICALHO, M. F.; GOUVÊA, M. de F. (orgs.). Antigo Regime nos Trópicos: A Dinâmica Imperial Portuguesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001; SAMPAIO, A. C. J.; ALMEIDA, C. M. C.; FRAGOSO. J. Conquistadores e negociantes: histórias de elites no Antigo Regime nos trópicos: América lusa, séculos XVI a XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007; FRAGOSO, J.; GOUVÊA, M. F. (orgs.). Na trama das redes: política e negócio no império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010; FRAGOSO, J.; SAMPAIO, A. C. J. (orgs.). Monarquia pluricontinental e a governança da terra no ultramar atlântico luso: Séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Mauad X, 2012; VENÂNCIO, R. P.; GONÇALVES, A. L.; CHAVES, C. M. D. G. (orgs.). Portugal e Brasil os séculos XVIII e XIX. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012; FRAGOSO, J.; GOUVÊA, M. (orgs.). O Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. 3 vols.; dentre outros

Referências

FRAGOSO, J.; BICALHO, M. F.; GOUVÊA, M. F. (orgs.). Antigo Regime nos Trópicos: A Dinâmica Imperial Portuguesa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

FRAGOSO, J.; GOUVÊA, M. (orgs.). O Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014. 3 vols.

FRAGOSO, J.; GOUVÊA, M. F. (orgs.). Na trama das redes: política e negócio no império português, séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

FRAGOSO, J.; SAMPAIO, A. C. J. (orgs.). Monarquia pluricontinental e a governança da terra no ultramar atlântico luso: Séculos XVI-XVIII. Rio de Janeiro: Mauad X, 2012.

SAMPAIO, A. C. J.; ALMEIDA, C. M. C.; FRAGOSO. J. Conquistadores e negociantes: histórias de elites no Antigo Regime nos trópicos: América lusa, séculos XVI a XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

VENÂNCIO, R.P.; GONÇALVES, A. L.; CHAVES, C. M. D. G. (orgs.). Portugal e Brasil nos séculos XVIII e XIX. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012.

Rafael Ricarte da Silva – Professor Adjunto do curso de História da Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros. Doutor e Mestre em História Social e licenciado em História pela Universidade Federal do Ceará; Especialista em Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância pela Universidade Federal Fluminense. E-mail: rafa-ricarte@hotmail.com https: / / orcid.org / 0000-0003-4085-5401 http: / / lattes.cnpq.br / 1472762122361574

Reinaldo Forte Carvalho – Professor Adjunto do curso de História da Universidade de Pernambuco, Campus Petrolina. Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco; Mestre em História e Culturas pela Universidade Estadual do Ceará; Licenciado em História pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: reinaldoforte@yahoo.com.br https: / / orcid.org / 0000-0001-7930-8670 http: / / lattes.cnpq.br / 4435223781591585


SILVA, Rafael Ricarte da; CARVALHO, Reinaldo Forte. Apresentação. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, n.25, 2020. Acessar publicação original [DR]

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História, mídias e culturas políticas | Temporalidades | 2020

Em 20 de janeiro de 2021, vemos o fim de um ciclo da política nacional-populista de direita azeitada pelo, agora, ex-presidente Donald J. Trump. Sem dúvida, um fato a trazer certo alívio aos defensores da democracia, quer estadunidenses quer no mundo. Entre outras mazelas derivadas de sua política interna e externa, o Governo Trump se notabilizou como um dínamo na produção e difusão, via redes sociais virtuais, das chamadas fake news – ou “fatos alternativos”, segundo preferência manifestada por assessora daquele governo em seu início.

Notícias e dados falsos, mentirosos e manipulados difundidos por aquele governo sob a ótica de culturas políticas nutridas em odioso revisionismo e torpe negacionismo, vazados em termos de patriotadas, xenofobia, fundamentalismo cristão, machismo, posições antiecológicas e contrárias ao multilateralismo. Aliás, expediente que já tinha sido empregado por Trump quando da sua campanha eleitoral, cuja consecução contou com estratégias do uso e da manipulação de logaritmos, o que em muito possibilitou a ele ascender à Presidência. Dinâmica comunicacional a ser repetida por políticos em vários países com iguais naipes político-ideológicos ao de Trump, quer em processos eleitorais quer em suas presidências nacionais, como é o caso do atual presidente do Brasil. Assim, a oposição de políticos antidemocratas e reacionários ao fazer da televisão, rádio, jornais e revistas avançava em forma e substância. Como em tempos de guerra, a primeira vítima fora a verdade. Leia Mais

O retorno a Aby Warburg no discurso historiográfico artístico contemporâneo | MODOS. Revista de História da Arte | 2020

Com as palavras “Um, dois, três, mas, a propósito, caro Timeu, onde está o quarto (…)?” (17a) começa o Timeu de Platão, recordava há pouco um músico pitagórico dessas terras. O eco dessas vozes não nos chega por acaso, pois trata-se, aqui também, de sintetizar uma experiência protagonizada por quatro atores, sob a queixa da evanescência, precisamente, do quarto. Igualmente, em chave geométrica ou musical: Aby Warburg, a Kulturwissenschaftliche Bibliothek Warburg – KBW, o Warburg Institute e o warburguiano em todos os lugares, como quatro estratos de um todo, podem ser representados, espacialmente, como um ponto e três círculos concêntricos cada vez mais amplos, ou, musicalmente, como um gongo, cuja vibração empurra o ar em um processo ondulatório de expansão. Pareceria, em princípio, que as obsessões emanadas do ponto, assimilável à hénada1 plotiniana, assentado apenas em um ser humano, o pequeno Aby Warburg, grande estudioso das culturas da Antiguidade e do Renascimento, fluíram, por superabundância, primeiro à biblioteca alemã, depois à inglesa2, e finalmente, à transdisciplinar república universal das letras. Leia Mais

Modos. Campinas, v.4, n.3, 2020.

EDITORIAL

ARTIGOS – COLABORAÇÕES

DOSSIÊ: O RETORNO A ABY WARBURG NO DISCURSO HISTORIOGRÁFICO ARTÍSTICO

PUBLICADO: 2020-09-01

La diffusion numérique des données en SHS: guide des bonnes pratiques éthiques et juridiques | Véronique Ginoves, Isabelle Gras

Em um artigo intitulado “Comment s’élabore la mémoire collective sur le web”, a socióloga francesa Valérie Beaudouin, ao estudar sites, blogs e fóruns on-line sobre a Primeira Guerra mundial, constata que a memória coletiva é escrita na internet pelos mais diversos atores e se apoia majoritariamente em documentos (textos, fotos, filmes) provenientes, em sua grande maioria, de fundos de arquivos públicos (Beaudouin, 2019). O estudo demonstra que a digitalização de documentos de arquivo e sua difusão na internet é, hoje, um fato que revela, igualmente, a diversificação dos usos e usuários dos arquivos. Ainda que esses documentos sejam descontextualizados, como conclui o estudo de Leyoudeck (2015). Leia Mais

Pan-americanismo: novos olhares sobre as relações continentais / Estudos Ibero-Americanos / 2020

A criação da União Internacional das Repúblicas Americanas (1889), depois renomeada União Pan-americana (1910), e a realização das chamadas Conferências Internacionais Americanas, que acabaram ficando muito mais conhecidas simplesmente como Conferências Pan-americanas – Washington (1889-1890), Cidade do México (1901-1902), Rio de Janeiro (1906), Buenos Aires (1910), Santiago de Chile (1923), Havana (1928), Montevidéu (1933), Lima (1938), Bogotá (1948) e Caracas (1954) – marcou de forma profunda o estabelecimento de novos canais e formas de relacionamento econômico, político, diplomático e cultural dos Estados Americanos, entre si e com as nações de outros continentes.

Ainda que muitos estudos remontem suas origens ao Congresso do Panamá, convocado por Simon Bolívar, em 1826, é certo que o Pan-americanismo da União Pan-americana (UPA) em nada lembra o ideal bolivarista de formação de uma Confederação dos novos Estados americanos recém independentes. Ao contrário, remete muito mais às ideias esboçadas pelo Presidente James Monroe na sua célebre mensagem ao Congresso dos Estados Unidos em 1923 e que se tornaram os pilares da chamada Doutrina Monroe.

A conferência inaugural, realizada em Washington sob os auspícios do Secretário de Estado James G. Blaine, marca definitivamente a nova orientação que ele buscou imprimir à política exterior estadunidense. Convoca-se a conferência no momento em que os Estados Unidos estão em transição, deixando atrás a fase de isolamento e iniciando uma era mais intervencionista. O projeto desse Pan-americanismo estava intimamente ligado ao desejo dos Estados Unidos de se firmar como potência, substituindo a influência europeia e buscando estabelecer sua hegemonia política e econômica no continente.

É inegável o sucesso alcançado nesse sentido. A hegemonia política e econômica dos Estados Unidos sobre a UPA e depois sobre sua sucessora, a atual Organização dos Estados Americanos (OEA), chegou a matérializar-se inclusive em intervenções militares em diferentes países membros. Entretanto, também não restam dúvidas de que essas organizações se constituíram, e ainda se constituem, em importantes espaços de manifestação e negociação de interesses os mais variados, trocas culturais e de ideias e até mesmo de projeção dos seus países membros como atores mais ou menos relevantes no xadrez continental. Nestes foros, às vezes, é também possível que os países latino-americanos alcancem certo protagonismo, como nos casos de Argentina, Brasil e México, por exemplo.

A esse respeito, dada sua grande diversidade, complexidade e o caráter naturalmente relacional ou comparado dos estudos sobre o Pan-americanismo e das relações intercontinentais em seus mais variados aspectos, são também muitos e variados os trabalhos já publicados. Há uma rica diversidade de áreas do conhecimento que se dedicam à temática, representadas por pesquisadores de diferentes áreas de formação e atuação profissional, como historiadores, cientistas políticos, economistas, sociólogos, internacionalistas, diplomatas, entre outros.

Segundo Carlos Marichal Salinas, em entrevista publicada neste dossiê, pode-se classificar esses trabalhos em três grandes tendências de abordagem e análise do objeto: realismo clássico, teoria da dependência e anti-imperialismo. No primeiro caso, em acréscimo à classificação de Marichal, se incluiriam aqueles estudos que privilegiam a análise centrada na atuação do Estado no seu papel mais tradicional como ator nas relações internacionais, tais como a celebração de acordos diplomáticos e comerciais, e nas disputas de poder e de hegemonia regional; no segundo, os estudos com ênfase em questões relacionadas às desigualdades econômicas e de desenvolvimento entre Estados Unidos e América Latina e o Pan-americanismo como meio e forma de manifestação do imperialismo norte-americano; e, no terceiro caso, os estudos que veem o Pan-americanismo sob a ótica dos países latino-americanos, de suas ações e estratégias de resistência à hegemonia e ao imperialismo do grande irmão do Norte.

De volta à entrevista de Marichal Salinas, é novamente ele quem nos aponta as mais recentes tendências nos estudos de Pan-americanismo, sendo a primeira de ordem mais cultural e a segunda sobre o que o autor chama de outridades e de cooperação. Esse enfoque vai afastar o olhar dos interesses do governo e dos grupos de interesse tradicionais dos Estados Unidos para a América Latina e destacar o papel de um grande número de atores diversos – diplomatas, juristas, acadêmicos, trabalhadores, feministas, engenheiros e cientistas – no debate e na definição de projetos Pan-americanos. Os trabalhos ora publicados nesse dossiê orientam-se em grande medida nesse sentido, debruçando-se, por exemplo, tanto sobre questões de ordem cultural sobre folclore e literatura e a construção do passado, quanto sobre o discurso Pan-americanista entre os liberais brasileiros e o protagonismo mexicano na discussão de um Código de Paz na década de 1930.

Em “A Pan-americanização do Trabalho no período entreguerras: a relação da Organização Internacional do Trabalho com os países americanos e a criação do Instituto Interamericano do Trabalho”, Norberto Osvaldo Ferreras analisa as diferenças entre as duas instâncias paralelas em que se desenvolviam as relações dos países do continente com a OIT: as Conferências Internacionais de países membros da OIT e as Conferências Pan-americanas. O autor trata das formas em que se produz o reconhecimento mútuo no âmbito das organizações internacionais e de como pautas de comportamento comum para América Latina são estabelecidas nesses espaços.

Ana María Serna Rodriguez aborda a história do Pan-americanismo tomando um caso particular em “La National Paper and Type Co. y el negocio del Pan-americanismo (1900-1930)”. A partir do estudo das atividades comerciais e do discurso publicitário da empresa, Serna Rodriguez conclui que a National Paper and Type Co. atuou ativamente como divulgadora do discurso pan- -americanista para conquistar clientes, cultivar uma mentalidade pró-consumo e, ultimamente, promover na América Latina uma cultura de negócios típica da sociedade estadunidense.

Alexandra Pita González também elegeu um caso específico como objeto em “El Código de Paz y la trama del Pan-americanismo en la década de 1930”. Utilizando a pouco conhecida documentação de Alfonso Reyes para o período, a autora busca observar o papel desempenhado pelo México na triangulação entre as aspirações hegemônicas dos Estados Unidos e da Argentina. Revela-se, assim, o pan-americanismo como uma trama complexa e multifacetada, o que desafia a ideia de que os países latino-americanos tinham pouca ou nenhuma influência e capacidade de negociação.

“Do declínio Conservador e ascendência Liberal: o Pan-americanismo no pensamento liberal brasileiro (1860-1890)”, de Elizeu Santiago Tavares de Sousa, analisa o Pan-americanismo no pensamento liberal brasileiro nas décadas finais do século XIX. Utilizando como fontes os anais parlamentares, diplomáticos e do Conselho de Estado, além de fontes jornalísticas, o autor argumenta que existe uma diferenciação axiológica entre liberais e conservadores. Ele conclui ainda que o discurso pan-americanista foi incorporado de maneira recorrente ao pensamento dos primeiros.

O artigo de Gabriela Correa da Silva, “O Pan- -americanismo e o projeto de construção de um passado comum para os países da América: uma análise das atividades da União Pan-americana através da coleção Pan-American Patriots (1926)”, está inserido na área da história da historiografia e dos estudos decoloniais. Analisando alguns números especiais do boletim da União Pan-americana, a autora argumenta que através da publicação, a UPA buscou fomentar a ideia do pan-americanismo e criar um passado comum que passaria a incluir grande parte dos países do continente.

“Entre cores e luzes: a Exposição Internacional Pan-americana de 1901”, de Mônica de Souza Nunes Martins e Teresa Cribelli, analisa as ideias sobre o Pan-americanismo que estiveram presentes na organização e execução da exposição, marcada pelo assassinato do presidente William McKinley. As autoras apontam que o evento foi um espaço para a exibição das ideias imperialistas presentes na perspectiva pan-americana, ao mesmo tempo em que demonstrou os seus limites.

Finalizando o dossiê está “Folklore, Literatura y Pan-americanismo. Reflexiones a partir de dos visitas académicas estadunidenses a la Argentina (1940-1945)”, de Matias Emiliano Casas. Casas analisa as viagens de dois promotores da “unidad panamericana”, Ralph Steele Boggs Edward Larocque Tinker, para entender como os discursos pan-americanos se articularam com as representações identitárias nacionais então em ascensão e quais foram os efeitos dessas visitas na sociedade estadunidense.

Boa leitura!

Nathalia Henrich – Doutora em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre em Ciência Política pela Universidad de Salamanca e mestre em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi pesquisadora pós-doutoral (PNPD / CAPES), professora colaboradora no Programa de Pós-graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), e pesquisadora visitante no Colégio de México e no Center for Latin American Studies (CLAS) da Georgetown University. É diretora da Oliveira Lima Library e professora do Departamento de Sociologia na Catholic University of America. orcid.org / 0000-0001-7691-2477 E-mail: henrich@cua.edu

Luciano Aronne de Abreu – Doutor em Estudos Históricos Latino Americanos pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, RS, Brasil. Mestre em História do Brasil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, RS, Brasil. Professor titular do Programa de Pós-graduação em História da PUCRS e Editor-chefe da Editora Universitária da PUCRS (Edipucrs), em Porto Alegre, RS, Brasil.orcid.org / 0000-0002-5375-694X E-mail: luciano.abreu@pucrs.br


HENRICH, Nathalia; ABREU, Luciano Aronne de. Apresentação. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v. 46, n. 3, set. / dez., 2020. Acessar publicação original [DR]

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História, Sujeitos Marginalizados e Alteridades / História Revista / 2020

O dossiê História, Sujeitos Marginalizados e Alteridades que apresentamos na História Revista da Faculdade de História e do Programa de Pós‐Graduação em História da Universidade Federal de Goiás traz para a reflexão, no campo das ciências humanas e sociais, a partir da relação dialógica entre a exclusão e a indiferença, a problemática da alteridade e da marginalização na história e na historiografia. Partindo da crítica às epistemologias das narrativas hegemônicas que privilegiaram a manutenção do status quo e a interpretação factual e determinista do contexto sócio‐histórico, os autores apoiam‐se nas contribuições críticas que remontam às contribuições dos Annales, dos estudos culturais e da decolonialidade.

A teoria da enunciação de Bakhtin nos ensinou que é a partir do dialogismo e da alteridade que nos relacionamos com o outro, nos constituindo e transformando, constantemente, nessa interação. Portanto, somente através das relações dialógicas com outros sujeitos, discursos, saberes, que podemos nos constituir. Existimos a partir do diálogo com o outro, como afirma o autor: “Eu só pode se realizar no discurso, apoiando‐se em nós” (BAKHTIN, 1926, p.192). Partindo dessas reflexões, reunimos nesse dossiê produções narrativas das ciências humanas que rompem com as perspectivas hegemônicas acadêmicas que obliteram as vozes e / ou narrativas dos interlocutores, quase sempre marginalizados, e os reconhecem como coautores da pesquisa numa relação dialógica entre os sujeitos pesquisador / interlocutor, possibilitando assim a produção de vozes polifônicas em suas escritas. Os textos trazem para o centro as visibilidades dos sujeitos e seus saberes em relação a suas regiões, espaços, lugares e não‐lugares, e trânsitos imersos nas práticas socioculturais das diferenças. Refletindo sobre os processos de marginalização dos sujeitos, dos marcadores da diferença que operam exclusões, das resistências, da produção / diluição de identidades, aspectos necessários para compreensão da sociedade local‐global contemporânea.

Esses estudos são de suma importância pois fraturam a fronteira entre cultura de elite e cultura de massas e favorecem a visibilidade de outros sujeitos nas narrativas histórico‐ sociais. Permitem‐nos pensar como a construção do “outro”, que ocupou e ocupa a outra margem das imaginárias linhas abissais, pôde em um espaço ambivalente e intersticial construir estratégias de (re) existência e sobrevivência. Nesse espaço da produção da diferença e da diferenciação como sinalizou Homi Bhabha, nos é possível refletir nestes textos: o agenciamento de sujeitos e movimentos sociais que se articulam a partir do gênero e da sexualidade; uma história a contrapelo dos sujeitos indígenas; as relações de alteridade entre colonizadores e nativos que resistem em terras africanas e ou palestinas. Ainda, no local da cultura e da resistência, podemos refletir sobre como a lógica colonizadora se imiscuiu nas sociedades contemporâneas que, a partir de processos de racialização dos corpos que habitam a preferia do Maranhão, dos homens e mulheres encarcerados na Guiana francesa, vítimas da necropolítica estatal, ou dos trabalhares candangos que foram e são sistematicamente apagados da memória pública do Distrito Federal, cobram da história uma luta pela humanização num sentido freiriano.

É possível pensar ainda como a diferença se manifesta nas representações culturais seja para analisar a exclusão dos negros e latinos nas políticas educacionais dos EUA ou as experiências de reconstrução da democracia no Chile pós‐ditadura por meio do cinema. Em perspectiva semelhante, as contribuições de Raymond Williams para uma revisão da leitura marxista sobre a cultura atestam a possibilidade de pensar culturas alternativas ou de oposição no interior da cultura dominante, como no caso dos sujeitos marginais das “subculturas” jovens das grandes cidades, a exemplo da cena heavy metal do ABC paulista. Pelo viés decolonial os estudos se voltam, ainda, para necessidade de pensar os corpos da juventude negra brasileira e das mulheres negras e trabalhadores na sociedade brasileira.

Assim, Aguinaldo Rodrigues Gomes, Robson Pereira da Silva e Antônio Ricardo Calori de Lion em Educação & emancipação pela agência dos movimentos sociais de sexualidade e de gênero refletem sobre uma pedagogia da diferença que desafia a “machocracia” e indica a capacidade de agenciamento dos movimentos sociais pautados pelo gênero e pela sexualidade. Tiago Duque apresenta um percurso semelhante em uma sensível leitura sobre um regime de (in)visibilidade (reconhecimento) que envolve pessoas trans e não trans, utilizando a categoria analítica da “passabilidade” no texto Epistemologia da passabilidade: dez notas analíticas sobre experiências de (in)visibilidade trans”. Bruno Rodrigues, no texto O contrapelo da história: os negros e indígenas nos caminhos fluviais até o Mato Grosso nas narrativas elaboradas pelos viajantes (séculos XVIII e XIX), valendo‐se das contribuições benjaminianas, analisa a menção e abordagens dos negros e povos indígenas em obras produzidas por viajantes que transitaram pelo Mato Grosso entre os séculos XVIII e XIX, especialmente através das rotas fluviais. Refletindo sobre a colonialidade das relações e seus impactos na construção da alteridade em Moçambique, o texto A missão civilizadora como factor de construção da alteridade colonial em Moçambique, de Denisse Omar, demonstra como os portugueses conseguiram o direito de civilizar os povos considerados atrasados ignorando / silenciando suas histórias. Fabio Bacila Sahd, em Edward Said e os paralelos entre a ocupação da Palestina e o apartheid na África do Sul, analisa as obras saidianas pela chave do colonialismo, estabelecendo comparações recorrentes entre a ocupação israelense e o apartheid sul‐africano. Ainda pensando as apropriações contemporâneas da colonialidade do poder os textos de Vinícius Pereira Bezerra e Luiz Eduardo Lopes: O “Comando Organizado do Maranhão” (C.O.M) e a guerra de facções na periferia maranhense; de Dinaldo Silva Junior: Enseigner en prision: Un devoir d’histoire; de Karolline Santos: Entre a cidade imaginária e a cidade sensível: breve análise da imaginação museal no Distrito Federal; de Pedro Barbosa: A violência social e o genocídio da juventude negra do Brasil, focalizam de maneira competente e acurada como essa lógica produz a violência, o encarceramento, o apagamento das memórias e o genocídio da população negra e pobre no Brasil contemporâneo.

No espectro de uma pedagogia cultural que capta sentidos produzidos na educação histórica ou aprendida nas representações culturais cinematográficas ou musicais, os autores e títulos que apresentamos a seguir se propuseram a refletir sobre as relações entre o pensamento intelectual, as linguagens e o campo histórico / político / cultural. Assim, Rodrigo de Oliveira Soares, em O papel do aprendizado histórico na construção do sujeito na obra de Paulo Freire: desenvolvimento da consciência histórica, dedica‐se às contribuições de Paulo Freire para o processo de aprendizagem pela via da historicidade enquanto ferramenta de conhecimento que permite pensar a história dos excluídos. Leandro Candido de Souza, em seu texto Cartografias da cultura underground: o surgimento da subcultura heavy metal no ABC paulista e os deslocamentos da identidade suburbana, inspirado pelos Estudos Culturais, pensa a cena heavy metal como uma “subcultura” e sua relação com a consolidação da indústria cultural no Grande ABC. Ao lado disso Flávio Trovão e Roberto Moll Neto, no artigo Conservadorismo e política nos Estados Unidos no filme “Curtindo a vida adoidado”, discutem, principalmente no campo da educação, como as políticas conservadoras da década de 1980 atingiram as comunidades negra e latina no país. Também refletindo sobre a relação cinema e história, Thais Vieira e João Pedro Rosa Ferreira, em Política cool, humor fun: o código humorístico e a perda da dimensão coletiva no filme No, de Pablo Larraín, discorrem sobre o papel do humor nas relações da sociedade do espetáculo e do consumo na política latino‐ americana, a partir do filme “No”, de Pablo Larraín, no qual se apresenta uma leitura sobre o plesbicito de 1988, quando os chilenos decidiram não perpetuar a ditadura de Pinochet. Cleonice Elias da Silva, em Mulheres negras em cena, analisa os documentários “Mulheres Negras: Projeto de Mundo” (Day Rodrigues; Lucas Ogasawara, 2016) e “Sementes: Mulheres Pretas no Poder” (Éthel Oliveira; Júlia Mariano, 2020), refletindo sobre o feminismo negro e as experiências cinematográficas de construção de outras narrativas por mulheres negras brasileiras.

Em A Hidra nos trópicos: trabalhadores britânicos nas margens da ordem, Rute Andrade Castro desconstrói a imagem idealizada dos trabalhadores europeus e da imigração, evidenciando, a partir da documentação de época, um processo de resistência ao trabalho por parte desses trabalhadores que “estavam nas ruas das cidades, nas áreas rurais do país, nas praias, nos bares ou em qualquer lugar onde desejassem estar”. Finalmente, também na esteira das contribuições de feministas negras, no texto Ela era doméstica: trabalhadoras domésticas e donas de casa no Triângulo Mineiro‐MG, Jorgetânia Ferreira da Silva nos traz reflexões sobre experiências de trabalhadoras domésticas e donas de casa da região do Triângulo Mineiro, indicando a importância de compreender as trajetórias dessas sujeitas.

Transpondo a linha artificial, pós‐abissal, já aludida por Boaventura de Sousa Santos e Maria Paula Menezes, que invisibiliza os corpos das mulheres negras, seja na vida ou nas representações cinematográficas – ou simplesmente apaga e elimina os corpos da juventude negra brasileira e subalterniza os corpos das mulheres trabalhadoras domésticas – buscamos apresentar uma história revista pelo viés da alteridade. Esperamos que os leitores apreciem, desfrutem e divulguem!

Aguinaldo Rodrigues Gomes – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul / Aquidauana. E-mail: aguinaldorod@gmail.com

Magdalena López – Universidade de Buenos Aires / CONICET. E-mail: lopezmagdalena@gmail.com

Murilo Borges Silva – Universidade Federal de Jataí. E-mail: muriloborges.historia@gmail.com


GOMES, Aguinaldo Rodrigues; LÓPEZ, Magdalena; SILVA, Murilo Borges. Apresentação. História Revista. Goiânia, v. 25, n. 3, set. / dez., 2020. Acessar publicação original [DR]

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Histórias de uma constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores II / HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática / 2020

Neste ano tão diferente, tão inédito, trazemos à luz mais um número da HISTEMAT. O último de 2020 e também o derradeiro dessa forma de publicação. Considerando os novos modos de edição das revistas científicas, também a HISTEMAT terá publicação contínua, tendo um número por ano, a partir de 2021. E que ele seja para todos nós, um Feliz Ano Novo!

Em meio à pandemia e às suas nefastas consequências, encerrados em suas casas e apartamentos, os pesquisadores muito vêm trabalhando, elaborando artigos e colocando os resultados de seus estudos à apreciação da comunidade, da seara da História da educação matemática. Haja vista a enorme quantidade de artigos que foram submetidos sob a temática da constituição de saberes matemáticos no ensino e na formação de professores em perspectiva histórica. O número de contribuições excedeu em muito as expectativas. Assim, seguindo as normativas da quantidade de artigos por número em torno de 12, foram recebidos mais do dobro desse limite. Dessa forma, esta edição da HISTEMAT reúne textos aprovados para publicação na edição anterior, mas que por excesso, foram trazidos para este Volume 6, número 3, de 2020.

A Editoria da HISTEMAT muito agradece o trabalho realizado pelos Editores Convidados Professores Eliene Barbosa Lima, da UEFS, Bahia e David Antonio da Costa, da UFSC, Santa Catarina. O empenho desses professores, em grande parte, explica a grande quantidade de artigos submetidos.

Em específico este número reúne estudos de pesquisadores estrangeiros e brasileiros que se dedicaram a temáticas diversas sob a ótica da História da educação matemática. Formação de professores é assunto dominante dos estudos; há, ainda, pesquisas que trouxeram à vista o papel de determinados personagens na produção de novos saberes – os experts; também é dominante nos artigos, as apropriações de bases teórico-metodológicas vindas da Universidade de Genebra. Em razão disso, o último artigo deste número da HISTEMAT reproduz texto em tradução para o português de pesquisadores daquela universidade.

Boa leitura!

O Editor


VALENTE, Wagner Rodrigues. Editorial. HISTEMAT – Revista de História da Educação Matemática. São Paulo, v.6, n.3, 2020. Acessar publicação original [DR]

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