Tormenta. O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos / Thaís Oyama

OYAMA Thais governo Bolsonaro
Thaís Oyama / Foto: João Henrique Moreira /

OYAMA T Tormenta O governo Bolsonaro governo BolsonaroNo início de 2020 foi lançado o livro Tormenta: o governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos, no qual a jornalista Thaís Oyama analisa o primeiro ano do governo Bolsonaro. Dada a velocidade com que a política se movimenta no atual contexto e, principalmente, o impactante acontecimento da pandemia de Covid-19 que se alastrou pelo Brasil e no mundo ao longo de 2020 – e que continua a afetar drasticamente nosso cotidiano −, o livro de Oyama pode parecer, a princípio, um apanhado de notícias velhas, um acúmulo de fatos registrados que parecem perder seu sentido no tempo, ainda mais quando o protagonista da trama é um presidente que, sem competência suficiente para tratar dos assuntos de Estado, faz de sua boca uma metralhadora verborrágica, cuja munição são afirmações negacionistas em meio à maior crise da saúde desde o advento da Gripe Espanhola, no início do século passado.

Mas esse não é o caso do livro de Oyama. Após quase um ano de sua publicação, ele parece um importante registro das ações, dos bastidores e da personalidade do atual presidente, Jair Bolsonaro. Na verdade, o poder de um livro encontra-se mais nas suas possibilidades de leitura que nos eventos que ele relata. Sendo assim, proponho um ensaio a partir de Tormenta, pensando o texto como um ponto chave entre o passado que leva Bolsonaro ao poder e seu primeiro ano de governo, o nosso presente, marcado pela pandemia, e nossas possibilidades de futuro, que não parecem ser as melhores. Leia Mais

Revista TEL. Irati, v 11, n.1, 2020.

Expediente | Editorial Board | Cuerpo Editorial

Editorial | Editor’s Note | Presentación

Artigos | Articles | Artículos

Ensaios | Essays | Ensayos

Entrevista | Interview | Entrevista

Resenhas | Book Reviews | Reseñas

Publicado: 2021-01-27

Ponta de Lança. São Cristóvão, v.14, n.27, 2020.

Ponta de Lança: Revista Eletrônica de História, Memória & Cultura.

Artigos – Fluxo Contínuo

Resenhas

Revista História e Culturas. Fortaleza, v.8, n.16, 2020.

Burning the Books / Richard Ovenden, The lost library / Dan Rabinowitz

OVENDEN Richard governo Bolsonaro
Richard Ovenden – Foto: Library of Congress /

OVENDEN R Burning books governo BolsonaroThe burning of books is a highly emotive subject. The Nazis’ bonfires of Jewish books and other ‘degenerate’ literature in 1933 horrify, and not only because they presaged the incinerators of the Holocaust. From the paradigmatic (and, we learn, probably apocryphal) conflagration of the ancient library of Alexandria, which consumed most of the corpus of Classical literature, to the torching of the Baghdad National Library following the invasion of Iraq in 2003, the destruction of books (and archives) seems to shock more than the loss of any other form of material culture. Why should this be? Although Richard Ovenden does not directly address the question in his excellent Burning the Books, the answer may lie both in the unparalleled capacity of books and archives to preserve the past—they constitute our collective memory—and in their limitless potential to generate new knowledge, Milton’s ‘potencie of life’. Perhaps, as Sappho’s enigmatic ‘you burn me’ fragment intimates, something of ourselves perishes in the destruction of books.

Burning the Books, which has justly garnered considerable critical and popular attention, eloquently and powerfully describes numerous attacks upon knowledge across four millennia, from the destruction of Ashurbanipal’s cuneiform library in 621 BCE to the ‘Windrush’ scandal of 2010 when Home Office officials were revealed to have destroyed records that would have proved migrants’ entitlement to British citizenship. While Burning the Books may not break new ground in the scholarship on libraries and book history—it largely draws upon existing literature—it is meticulously researched and referenced, compellingly argued, and likely to prove a landmark in the history of libraries and the preservation of knowledge.

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Revista Fontes Documentais. Aracaju, v. 3, n.3, 2020.

Publicado: 2021-01-22

Expediente

Editorial

Artigos

Sophia Austral. Punta Arenas, n.26, 2020.

Sophia Austral. Punta Arenas, n.do Semestre (julio-diciembre)

Editores Sophia Austral

Publicado: 2021-01-21

 

 

 

 

Revista de História. São Paulo, n.180, jan./dez. 2021.

Historia USP governo Bolsonaro

DOSSIÊ: DIREITAS NOS ESTADOS UNIDOS E BRASIL DURANTE A GUERRA FRIA

ARTIGOS

RESENHAS

PUBLICADO: 2021-01-19

Madness in Cold War America | Alexaner Dunst

Alexander Dunst é professor assistente de Estudos Americanos na Universidade de Paderborn, na Alemanha, atuando no Departamento de Inglês da referida instituição. Intitula-se “historiador cultural da América do século XX” com foco de pesquisa sobre o período da Guerra Fria, utilizando como fontes os discursos e as narrativas culturais presentes na literatura e cinema. Em 2010, Alexander Dunst concluiu seu doutorado em Teoria Crítica na Universidade de Nottingham, com a tese intitulada Politics of madness: Crisis as Psychosis in the United States 1950 – 2010, publicada em 2017, por meio da editora Routledge, com o título Madness in Cold War America. Essa obra, composta por 6 capítulos e 173 páginas, está resenhada no presente texto com criticidade a partir da minha leitura. Leia Mais

Diásporas imaginadas: Atlântico Negro e histórias afro-brasileiras | Kim D. Butler e Petrônio Domingues

Os temas relacionados ao período pós-abolição abarcam um campo de pesquisa que tem se consolidado vigorosamente na historiografia brasileira nas últimas décadas. Em trabalho publicado recentemente, o historiador Petrônio Domingues – um dos principais especialistas – apresentou um importante balanço acerca das novas abordagens, problemas, perspectivas teóricas e metodológicas abrangendo esse ascendente ramo da historiografia. Domingues evidenciou que – nesse amplo e diversificado campo temático – uma das principais tendências é composta pelos estudos das experiências da comunidade negra dentro de uma configuração transnacional. (DOMINGUES, 2019, p.119).

Desse modo, na esteira dessas pesquisas em desenvolvimento, a obra Diásporas imaginadas: Atlântico Negro e histórias afro-brasileiras oferece um valioso panorama das novas perspectivas analíticas. Petrônio Domingues e Kim D. Butler começaram a idealizar essa obra em conjunto, por volta de 2012, quando o historiador brasileiro realizou estágios de pós-doutoramento na Universidade de Rutgers, em Nova Jersey (Estados Unidos). A partir dos contatos no Departamento de Estudos Africanos, Domingues e a prestigiada historiadora estadunidense iniciaram uma fecunda interlocução intelectual, ensejando uma colaboração acadêmica que resultaria nessa obra recentemente publicada. Leia Mais

Uma história das leishmanioses no novo mundo: fins do século XIX aos anos 1960 | Jaime Larry Benchimol e Denis Guedes Jogas Junior

O livro Uma história das leishmanioses no novo mundo: fins do século XIX aos anos 1960, de Jayme Larry Benchimol e Denis Guedes Jogas Júnior, publicado em 2020 pelas editoras Fino Traço, de Minas Gerais, e Fiocruz, do Rio de Janeiro, não é bem um livro, mas uma enciclopédia especializada. Desde a apresentação, Jayme Benchimol nos informa que haverá um próximo volume sobre a história de uma doença que tem características desafiadoras, seja por sua amplitude e singularidades geográficas, seja pela sua epidemiologia ou pela epistemologia dos fatores que interferiram nas explicações sobre sua classificação nosológica.

A dimensão épica do presente livro não é surpresa, dada a tradição de grandes empreitadas a que Jayme Benchimol se dedica, sempre na seara da história da saúde pública e da biomedicina no Brasil, especialmente a partir do Rio de Janeiro. Em publicações anteriores já vimos pesquisas de grande fôlego, tais como a divulgação da obra de Adolpho Lutz – este em parceria com Magali Romero Sá, em vários volumes, publicados entre 2004 e 2006 – ou a coordenação de publicação sobre a história da febre amarela, de 2001. Leia Mais

Melancolia de esquerda: marxismo, história e memória | Enzo Traverso

Na história oficial do marxismo, tornou-se comum a celebração dos triunfos conquistados das revoluções socialistas. Ressaltar a dimensão redentora dos seus êxitos, seja de personagens “heroicos” e ou de movimentos “gloriosos”, parecia assegurar a concretização de uma “etapa” previsível, objetiva e petrificada na locomotiva linear do “progresso”.

Uma contrapartida dessa odisseia de vitórias repousa justamente no outro lado da moeda: o prisma das derrotas e seus efeitos políticos e epistemológicos na história do socialismo e do marxismo. Eis aqui a proposta da coletânea de ensaios Melancolia de esquerda: marxismo, história e memória, de Enzo Traverso (2018), originalmente publicado em francês, em 2016, com edições em inglês, alemão, espanhol e, finalmente, uma cuidadosa edição em português, organizada pela editora ítalo-brasileira Âyiné. Embora seja seu primeiro livro traduzido no Brasil, o autor construiu uma sólida agenda de pesquisa nas últimas três décadas e é considerado um dos maiores especialistas em história política e intelectual contemporânea. Leia Mais

From Revolution to Power in Brazil: How Radical Leftists Embraced Capitalism and Struggled with Leadership. Notre Dame: University of Notre Dame Press, 2019. Resenha de: SOARES, Dayane. Percursos e reflexões da esquerda armada de outrora. Revista de História. São Paulo, n. 180, 2021. Aces | Kenneth P. Serbin

Intensificadas as investidas repressivas do Estado, centenas de brasileiros, cuja maioria ainda na flor da juventude, optou pelas armas na luta contra a ditadura vigente no país (1964-1985). Como não nos é estranho, essa aposta, iniciada com uma série de ações guerrilheiras espaçadas, se seguiria de um punhado de sucessos, mas de uma subsequente onda repressiva e do inevitável desmantelamento dos agrupamentos de esquerda armada poucos anos após o pontapé inicial. Entre as resultantes negativas desse processo, sabe-se que a maior parte de seus quadros vivenciaria a experiência de prisão e o horror das torturas, e uma parcela seria posteriormente listada entre os nomes dos milhares de mortos e “desaparecidos” políticos sob a responsabilidade do Estado brasileiro. Os sobreviventes, porém, reconstituiriam suas vidas tomando cursos distintos. Passadas cinco décadas do massacre lançado à oposição de esquerda2 e mais de trinta anos desde o final do regime, mesmo com uma extensa literatura desenvolvida sobre o campo temático3, é certo que algumas questões ainda pairam no ar, inclusive a que indaga sobre o futuro daquela geração de revolucionários. É nesse sentido que se insere From Revolution to Power in Brazil, o mais recente livro de autoria do historiador Kenneth P. Serbin. Leia Mais

Latin America and the Global Cold War. The New Cold War history

Latin America and the Global Cold War foi publicado na coleção The new cold war history, dirigida por Odd Arne Westad, autor também do curto posfácio do texto. O objetivo dessa coletânea é publicar livros que proponham novas interpretações do período da Guerra Fria a partir de pesquisas em arquivos da China ou dos países da antiga URSS, entre outros. De forma mais geral, a new cold war history, é uma tentativa, formulada no final dos anos 90 do século passado, de repensar o paradigma que estava na base da maioria das pesquisas sobre o período que começa no pós-guerra e que o considera como caraterizado exclusivamente pelas principais tensões em termos militares e econômicos entre o bloco ocidental e soviético. Entre as várias implicações dessa perspectiva tem o fato de considerar tudo que aconteceu fora desses dois blocos, na “periferia” da Guerra Fria, como sendo sem importância para a compreensão histórica do período. Com relação a esse ponto, a perspectiva da Global Cold War mostra como, ao contrário, os países do Terceiro Mundo, ou mais recentemente, do Sul Global, foram os palcos de alguns dos principais conflitos do pós guerra, e como, ao mesmo tempo, é impossível entender as transformações políticas, econômicas, sociais e culturais nesses países sem levar em conta as intervenções internacionais das duas superpotências. Isso não significa, no entanto, considerar esses países como meras peças no tabuleiro da Guerra Fria. As políticas e iniciativas desses países eram, ao invés disso, fruto da articulação entre interesses nacionais, estratégias políticas dos governos locais e o contexto de tensão internacional. Nessa linha de pesquisa, o trabalho de Westad e seu livro, de 2005, The Global Cold War foram sem dúvida seminais (WESTAD, 2005). Leia Mais

A Campanha Abolicionista na Revista Ilustrada (1876-1888): Ângelo Agostini e a educação do povo | Mônica Vasconcelo

A obra é resultado da dissertação de mestrado defendida em 2017 no Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. No livro, Mônica Vasconcelo analisa as caricaturas de Ângelo Agostini (1843-1910) publicadas na Revista Illustrada (1876-1888), na província do Rio de Janeiro, com a temática da defesa do fim da escravidão. O objetivo dessa obra é compreender a totalidade social e histórica bem como as contradições presentes no discurso da escravidão. A ação política e educativa inerente ao próprio discurso e aos interesses da classe dominante sombreava a participação de Ângelo Agostini nos embates sobre a abolição do regime escravocrata.

Ângelo Agostini nasceu na província de Alessandria, na Itália, em 1843. Viveu sua infância e adolescência em Paris, onde aprendeu a arte do desenho litográfico. Em 1859, Agostini chega ao Brasil e, anos mais tarde, insere-se no debate político abolicionista. Fundou a Revista Illustrada em 1876 com o ideal de que o periódico servisse como uma publicação política, abolicionista e republicana, temas tratados de forma satírica e irônica. Leia Mais

Patricio Cariola Barroilhet: Jesuíta Innovador en Educación y Creador de Consensos | Josefina Rossetti, Francisco Álvarez e Cecilia Cardemil

El texto en comento es una obra que ha surgido por la unión de dos esfuerzos académicos: (i) La investigación sobre la vida y obra del sacerdote jesuita -Premio Nacional de Educación 1999-, iniciada hace algunos años por el Dr. Jaime Caiceo Escudero quien “ha escrito sobre todos los Premios Nacionales de Educación y recibió del propio padre Patricio, poco antes de su muerte, el encargo de escribir su biografía; ya en 2005 había plasmado una investigación científica sobre la vida y la obra del jesuita” (ROSSETTI ET AL., 2019, contratapa). (ii) Un grupo de académicos que trabajaron con el fundador del Centro de Investigación y Desarrollo de la Educación -CIDE- en la misma institución en diversas labores de investigación y publicación; ellos son Francisco Álvarez Martín, Cecilia Cardemil Oliva, Leonor Cariola Huerta, Josefina Rossetti Gallardo, Rosa Saavedra Díaz, quienes deseaban dejar por escrito el significado y la importancia en favor de la educación por el sacerdote de la Compañía de Jesús, “un innovador en la educación chilena” (IBIDEM). Ellos, a su vez, invitaron al académico de la Universidad Alberto Hurtado, Pablo Andrés Toro Blanco, a fin de que escribiera el “marco sociocultural y político de la época en que vivió el padre Patricio” (IBIDEM).

Esta obra consta tres capítulos. El primero, denominado “El Chile que le tocó vivir”, escrito por el Dr. Toro, quien describe y analiza con bastante propiedad histórico-cultural-educacional el período que abarca 73 años del acontecer chileno (1928-2001) en 22 páginas; una síntesis de sus reflexiones apuntan a que “Cariola acompañó con su trayecto vital el tránsito desde un Estado que buscó garantizar la educación como un derecho y como un insumo central para la transformación de la sociedad, de acuerdo a proyectos colectivos de profundas raíces históricas y utópicos propósitos (el desarrollo, el socialismo), hacia una revolución capitalista que frustró esos proyectos para depositar la soberanía de las decisiones educacionales en el mercado” (IBID, pp. 33-34). Leia Mais

Sujeitos e Artefatos: territórios de uma história transnacional da educação | Diana Gonçalves Vidal

Nos últimos anos, é crescente o interesse por abordagens transnacionais no campo historiográfico. Diante da frequência com que o termo tem aparecido em títulos de livros, artigos e palavras-chave, Struck, Ferris e Revel (2011) levantam a possibilidade de a história transnacional representar uma mudança metodológica significativa na historiografia, tal como aconteceu com a história social, a partir dos anos de 1950, e com a micro-história, nos anos de 1970 e 1980. Não surpreende, portanto, que venha recebendo atenção de pesquisadoras e pesquisadores do campo da História da Educação, que, pelo menos desde os anos oitenta, têm buscado o alinhamento e o diálogo com a historiografia.

Demonstrando o potencial das abordagens transnacionais para investigações que tomam como tema a educação e a escola, em suas múltiplas perspectivas e interfaces, foi recentemente publicado, em formato E-book, pela Fino Traço Editora, o livro Sujeitos e Artefatos: territórios de uma história transnacional da educação, organizado por Diana Vidal. A obra é parte da Coleção Estudos Brasileiros, do Instituto de Estudos Brasileiros, e resultado de um conjunto de pesquisas que, desenvolvidas no âmbito do projeto temático Saberes e práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação (1810-…), privilegiam os movimentos, a circulação, os intercâmbios de sujeitos e objetos elucidativos de experiências e processos educacionais, ao longo dos séculos XIX e XX [1]. Leia Mais

Cadernos de História da Educação. Uberlândia, v.20, 2021.

 

Tecnopolíticas de gênero | Cadernos Pagu | 2020

As relações entre tecnologias, gênero e ativismos contemporâneos constituem o tema central que guiou a organização do dossiê Tecnopolíticas de Gênero. Os artigos propõem desdobrar as associações entre técnicas, artefatos, tecnologias, informação, corpos e gênero. Inspiradas por uma noção aberta de técnica e de tecnologia, que incorpora e expande sua acepção restrita às tecnologias de informação e comunicação (TICs), propomos discussões que levam em conta as ações técnicas e agenciamentos de corpos, linguagens, coisas e artefatos em conexão com as diversas redes que os constituem, e as questões de gênero que emergem com esses processos.

Interessa-nos pensar e explicitar esses processos em sua dimensão tecnopolítica, seguindo a intuição de Donna Haraway (1991) ao propor o ciborgue como um mito-ficção política possível para um feminismo “de esquerda” no contexto da “informática da dominação”. Nesse sentido, importam as formas como máquinas e organismos se articulam na constituição das redes de poder, informação e comunicação. Leia Mais

Inky Fingers: The Making of Books in Early Modern Europe – Antony Grafton

GRAFTON Anthony 1 governo Bolsonaro

Anthony Grafton / Foto: Princeton University /

GRAFTON A The making books governo BolsonaroIf it is hard to write a book review, then it is much harder to make a book. Anthony Grafton’s latest monograph, Inky Fingers, puts the difficulties of labour at the centre of this engaging study of book production in early modern Europe and North America (the latter included despite the expected limitations of the subtitle). He directs our attention to a cast of players more usually relegated to the wings of humanistic scholarship: printers, copyeditors, translators, compilers and other ‘native-born son[s] of the new city of books that printing created’ (p. 38).(1) In so doing, he reminds us that the life of scholarship ‘could cramp the hands and buckle the back’ (p. 4), to say nothing of the strain of texts and handwriting on the eyes. Building on the work of scholars including Anne Goldgar and William Sherman, and on Grafton’s own extensive contributions to the intellectual and textual history of humanistic scholarship, Inky Fingers provides a stimulating account of the back-and-forth of making books, and how this process shapes texts’ meanings and reception. Leia Mais

História, Sujeitos Marginalizados e Alteridades | História Revista | 2020

O dossiê História, Sujeitos Marginalizados e Alteridades que apresentamos na História Revista da Faculdade de História e do Programa de Pós‐Graduação em História da Universidade Federal de Goiás traz para a reflexão, no campo das ciências humanas e sociais, a partir da relação dialógica entre a exclusão e a indiferença, a problemática da alteridade e da marginalização na história e na historiografia. Partindo da crítica às epistemologias das narrativas hegemônicas que privilegiaram a manutenção do status quo e a interpretação factual e determinista do contexto sócio‐histórico, os autores apoiam‐se nas contribuições críticas que remontam às contribuições dos Annales, dos estudos culturais e da decolonialidade.

A teoria da enunciação de Bakhtin nos ensinou que é a partir do dialogismo e da alteridade que nos relacionamos com o outro, nos constituindo e transformando, constantemente, nessa interação. Portanto, somente através das relações dialógicas com outros sujeitos, discursos, saberes, que podemos nos constituir. Existimos a partir do diálogo com o outro, como afirma o autor: “Eu só pode se realizar no discurso, apoiando‐se em nós” (BAKHTIN, 1926, p.192). Partindo dessas reflexões, reunimos nesse dossiê produções narrativas das ciências humanas que rompem com as perspectivas hegemônicas acadêmicas que obliteram as vozes e/ou narrativas dos interlocutores, quase sempre marginalizados, e os reconhecem como coautores da pesquisa numa relação dialógica entre os sujeitos pesquisador/interlocutor, possibilitando assim a produção de vozes polifônicas em suas escritas. Os textos trazem para o centro as visibilidades dos sujeitos e seus saberes em relação a suas regiões, espaços, lugares e não‐lugares, e trânsitos imersos nas práticas socioculturais das diferenças. Refletindo sobre os processos de marginalização dos sujeitos, dos marcadores da diferença que operam exclusões, das resistências, da produção/diluição de identidades, aspectos necessários para compreensão da sociedade local‐global contemporânea. Leia Mais

História Revista. Goiânia, v.25, n.3, 2020.

História, sujeitos marginalizados e alteridades

  • Apresentação
  • Aguinaldo Rodrigues Gomes , Magdalena López , Murilo Borges Silva
  • PDF

Dossiê

Artigos

Publicado: 15-01-2021

Mundos do Trabalho. Florianópolis, v.13, 2021.

Editorial

Artigos

Resenhas

Dossiê

Avaliadores ad hoc, 2019-2021).

Equipe Editorial..

Equipe Editorial..

Publicado: 2021-01-13

Le travail en Europe occidentale 1830-1939 / Marion Fontaine, François Jarrige e Nicolas Patin

FONTAINE Marion1 governo Bolsonaro
Marion Fontaine /

FONTAINE M Le travail en Europe occidentale governo BolsonaroLa nouvelle question d’histoire contemporaine au CAPES et aux agrégations porte pour 2021 sur « Le travail en Europe occidentale des années 1830 aux années 1930. Mains-d’œuvre artisanales et industrielles, pratiques et questions sociales ». Les éditions Atlande, indispensables compagnons des candidats depuis plus de vingt ans, consacrent deux volumes au sujet, l’un faisant office de manuel et l’autre proposant de multiples documents. Sous la direction de Marion Fontaine, François Jarrige et Nicolas Patin, ce ne sont pas moins de vingt plumes différentes qui participent au premier ouvrage. Après une présentation sémantique, l’introduction revient rapidement sur une « histoire du travail [qui] est fondamentalement une histoire située » et explique les contours thématiques et chronologiques du sujet.

Son architecture complexe de ce livre en fait aisément le recueil de trois ouvrages différents et complémentaires. Comme les directeurs l’expliquent en introduction, la première partie vise à mettre en place les principaux éléments « dessinant les trajectoires globales de l’évolution du travail des années 1830 aux années 1930 ». En une quarantaine de pages, François Jarrige dresse d’abord un tableau des « mondes du travail et de l’industrie dans l’Europe des années 1830 ». Alors que l’industrialisation se fait à des rythmes décalés, précoce en Grande-Bretagne, plus tardif en Europe du Sud, les contours du monde ouvrier restent flous en 1830 et les statistiques incertaines tant « domine le foisonnement des formes intermédiaires entre l’atelier artisanal et l’entreprise industrielle » (p.37). Le travail à domicile et les « nombreuses nébuleuses proto-industrielles » (p.43) jouent un rôle majeur dans le tissu productif des années 1830, y compris en Angleterre, et, si de nouveaux bâtiments industriels apparaissent, il s’agit surtout de lieux permettant « l’empilement de métiers regroupés sous un même toit, sans division profonde du travail ni mécanisation » (p.49). Le statut et la rémunération des ouvriers sont alors envisagés dans un monde du travail qui voit les corporations remises en cause sans disparaître partout immédiatement. Dans ce moment 1830, la question sociale tend de plus en plus à rencontrer « les enjeux politiques » (p.69), participant à « la prise de conscience des intérêts collectifs des travailleurs » (p.73).

Toujours sous la plume de François Jarrige, un deuxième chapitre s’intéresse à un long milieu du XIXe siècle, période d’accélération de l’industrialisation autant que de l’« irruption dans l’arène publique » (p.79) des travailleurs. Si on excepte l’Europe du Sud, 1848, que l’auteur qualifie de « révolution européenne du travail », s’apparente à l’épicentre de cette « politisation des mondes ouvriers » (p.83). La mécanisation et la concentration des activités de production s’affirment davantage à partir du milieu du siècle, à des rythmes variés selon les pays, l’Angleterre et la Belgique faisant figure d’« ateliers du monde » (p.89), quand l’Italie et l’Espagne sont à classer parmi les « pays « retardataires » et « archaïques » » (p.91). La période est caractérisée par l’ « émergence très lente de la grande industrie » (p.95), à l’origine d’un tissu ouvrier complexe, dont ne sauraient être exclus les femmes et les enfants, comme de paysages d’autant plus marqués par des pollutions atmosphériques majeures que l’utilisation du charbon y est souvent massive. Enfin, à la suite de Charles Tilly, l’auteur souligne que les années 1850 sont celles du « basculement d’un régime d’action ancien, essentiellement local et patronné, consistant en destructions et soulèvements populaires, vers un répertoire « moderne » de plus en plus national et autonome, composé de grèves, de réunions politiques et de meetings, encadré par des organisations et associations en cours d’institutionnalisation. » (p.101)

En s’intéressant aux années 1880 à 1914, Marion Fontaine dessine la perspective d’un « nouveau monde ouvrier » (p.109), que les mineurs et surtout les « métallos » symbolisent désormais davantage que les ouvrier.e.s du textile. La période voit « une véritable recomposition du système technique, autour de l’électricité et du moteur à explosion à base de pétrole » (p.112), qui étend considérablement l’industrialisation et modifie sensiblement l’organisation du travail. Désormais, et malgré le maintien de formes de production plus traditionnelles, le modèle de la grande usine se développe, surtout dans certains types d’industrie, et a, pour de nombreux ouvriers, « l’allure d’un carcan, voire d’un bagne » (p.118). Dès lors se met en place un nouveau prolétariat qui, derrière l’apparente homogénéisation que permettrait la concentration de l’usine moderne, n’est pas sans hiérarchie. C’est dans ce cadre que s’organise le mouvement ouvrier, dont le rôle croissant, dans un contexte de « relative dynamique de démocratisation » (p.135) poussent les gouvernements des différents États à prendre davantage en compte les conditions de vie des travailleurs.

La Première Guerre mondiale constitue « un tournant pour la main d’œuvre et les relations de travail » et « change le monde du travail en profondeur » (p.139). L’État tient une place essentielle dans les économies de guerre qui se mettent en place à partir de l’été 1914, autant dans le financement industriel que dans l’organisation de la production. Les États se montrent aussi, selon les cas et selon les périodes, tantôt « arbitres et négociateurs », tantôt « régulateurs » dans les relations de travail (p.147). Le conflit est aussi l’occasion d’un emploi massif des femmes dans l’industrie, mais « leur place demeure subordonnée » (p.149), comme l’est celle de la main d’œuvre coloniale utilisée par la France et le Royaume-Uni. Dans un contexte industriel de développement de « nouvelles formes d’organisation du travail », la recherche d’une production croissante s’appuie « sur la dérégulation et la contrainte » (p.160), ce qui n’est pas sans expliquer, en partie, le « retour des conflits » du travail en 1917.

Le dernier chapitre de cette première partie s’intéresse à l’entre-deux-guerres, « période frappée du sceau de l’ambiguïté, entre avancées sociales massives […] et répression du mouvement ouvrier » (p.165). Dans un climat révolutionnaire qui voit naître un État communiste, les années de sortie de guerre sont l’occasion de conquêtes sociales importantes, telle la journée de huit heures (sauf au Royaume-Uni). La « grande vague de rationalisation » (p.171) déferle alors sur le monde du travail, au risque de « l’aliénation des ouvriers face à la machine » (p.175). La crise de 1929 voit émerger un chômage de masse inédit, mais aussi de grands conflits sociaux. La question du monde du travail dans l’Italie fasciste et dans l’Allemagne nazie est évidemment posée.

Le sujet est ensuite envisagé sous des angles thématiques. Dans « les mécanismes de l’industrialisation européenne », François Jarrige revient sur l’expression « révolution industrielle » pour lui préférer « industrialisation », qui dit mieux « sa lenteur, son caractère inégal et progressif » (p.196). Marco Saraceno et François Vatin abordent « les savoirs du travail » et montrent le passage de la machinerie du début du XIXe siècle à la quête de « rationalisation psychologique, technique et économique ». Alain Chatriot pose rapidement la question du commandement et s’intéresse aux patrons et aux ingénieurs, avant que Thomas Le Roux n’envisage « les corps ouvriers », entre soumission d’une part, et reconnaissance des risques et des maladies professionnelles d’autre part. Michelle Zancarini-Fournel conclut sa stimulante partie consacrée au « genre au travail » par trois éclairages successifs, sur la proto-industrialisation, sur la Première Guerre mondiale et sur la question de la protection sociale et des organisations syndicales. « Les migrations de travail », présentées par Fabrice Bensimon, sont l’occasion de multiplier les échelles, de temps (des migrations saisonnières aux déracinements définitifs) comme d’espace (des bassins démographiques régionaux aux mouvements transnationaux, voire transcontinentaux). Marion Fontaine étudie les cultures ouvrières, tant celle des métiers et de l’usine, que celles qui voient le jour « hors-travail » et qui ne sont nullement « des entités isolées » (p.338). Dominique Pinsolle s’intéresse aux conflictualités ouvrières et propose une indispensable mise au point sur des militantismes multiples. Ceux-ci sont indissociables de la mobilisation politique du travail, abordée par Emmanuel Jousse, qui donne naissance aux partis ouvriers. Laure Machu précise le rôle de l’État comme protecteur et régulateur des rapports de travail, soumis finalement, avec la dépression des années 1930, à une forte déstabilisation. Enfin, du Champathieu des Misérables de Victor Hugo à Tonine Gaucher de La ville noire de George Sand, de La Forge d’Adolph von Menzel au Débardeur de Constantin Meunier, de La Belle équipe de Julien Duvivier au lambeth walk, Gilles Candar évoque la représentation du « travail et travailleurs en littérature et dans les arts ».

La troisième partie entend mettre à disposition des outils, qu’il s’agisse de cartes, d’une chronologie ou d’une série de monographies collectives. Les notices biographiques, pourtant fréquentes dans les manuels de cet éditeur, sont écartées, les auteurs invitant à juste titre à se référer au richissime Maitron. Ils leur préfèrent de courts portraits de groupes consacrés aux métiers, les couturières, les tisserands, les dockers ou les ouvriers du livre ou de la chaussure. Chaque métier s’inscrit dans des temporalités et des problématiques qui traversent l’ensemble du thème du travail. Les cinq pages consacrées aux mineurs permettent ainsi de comprendre comment les « gueules noires », deviennent des « icônes du prolétariat », alors que le travail au fond de la mine s’industrialise très lentement et que l’extraction du charbon « se fait longtemps par la seule force physique, le mineur arrachant avec son pic le charbon de la veine » (p.450).

Un recueil de documents, introduits et présentés par Florent Le Bot et Audrey Millet, constitue le deuxième volume de l’ensemble. L’ouvrage ne vise évidemment pas l’exhaustivité mais ambitionne « la variété de documents (de textes et d’iconographie […]), inscrits dans la pluralité des séquences chronologiques et des espaces considérés » (p.19). Si certains documents appartiennent à « la sphère des représentations » (p.20), d’autres, tels les témoignages et les enquêtes, permettent en revanche d’entrer davantage « dans le cœur de l’espace du travail, dans l’atelier, dans le domicile, dans l’usine même » (p.21).

Ce sont au total plus de cent-quatre-vingt documents ou ensembles de documents qui sont proposés, répartis en cinq parties : « paysages du travail », « travailler pour vivre, travailler à en mourir ? », « encadrer des main d’œuvre », « sociabilités, engagements et conflits » et « représentations du travail ». Chacune est divisée en chapitres qui répondent, pour certains, aux chapitres du premier volume. Ainsi, les six documents de « mobilités et immigrations » répondent au point sur « les migrations de travail » ou les dix-sept documents et ensembles documentaires sur « les corps ouvriers au risque du travail » permettent de nourrir la lecture du court chapitre sur le même sujet.
Chaque document ou ensemble documentaire est présenté de façon plus ou moins complète par un texte permettant de le replacer dans un contexte plus large et complété non seulement des indications précises de la source mais aussi d’une utile (et courte) orientation bibliographique permettant d’approfondir le sujet. Ainsi, en croisant le manuel et des documents, ce sont de véritables dossiers que peut se constituer la lectrice ou le lecteur.
Dans le premier volume, on regrettera néanmoins la pauvreté du cahier cartographique, dont plusieurs cartes reproduisent celles publiées dans le volume Industrialisation et sociétés. Europe occidentale 1880-1970, paru en 1998, faisant fi de l’apport des représentations territoriales dans le processus d’explication et de mémorisation d’un phénomène, comme d’une « histoire du travail [qui] s’est donc réinventée dans les dernières décennies » (p.28).
Malgré la grande variété du deuxième volume, il est dommage que les reproductions photographiques du document ne soient pas toujours d’une qualité permettant leur exploitation (par exemple, le complexe du Grand-Hornu, p.259, ou les grévistes des Aciéries de Sambre et Meuse, p. 534). On pourra également regretter que, lorsque le document et son introduction n’occupent que deux pages, ils ne soient pas systématiquement placés face à face, même si on comprendra les nécessités techniques qui poussent à les mettre dos à dos. Enfin, de très rares choix sont peu compréhensibles : la photographie de l’équipe de football du Havre Athletic Club (p.271) dit assez peu du travail ou de la place de ce sport dans les cultures ouvrières. D’autres documents auraient été à cet égard bien plus parlants et auraient éventuellement permis de sortir des exemples français, qui dominent légitimement dans ce recueil.

Ce ne sont évidemment là que des réserves minimes tant les deux ouvrages sont riches. Bien sûr très utiles aux candidat.e.s des concours d’enseignement devant travailler des questions pour lesquelles ces volumes sont spécialement conçus, ils le seront également aux professeur.e.s pour renouveler leurs connaissances et leurs approches d’un sujet malheureusement trop peu présent dans les programmes actuels du secondaire. De fait, ce « Travail » en deux volets en est un très beau !

François da Rocha Carneiro – Professeur d’histoire-géographie à Roubaix, Docteur en histoire contemporaine et chargé de cours à l’Université d’Artois, Vice-Président de l’APHG.


FONTAINE, Marion; JARRIGE, François; PATIN, Nicolas (dir.). Le travail en Europe occidentale 1830-1939. Paris: Atlande, 2020. LE BOT, Florent; MILLET, Audrey (dir.). Le travail en Europe occidentale 1830-1939 – documents. Paris: Atlande, 2020. Resenha de: CARNEIRO, François da Rocha. Association des Professeurs d’Histoire et de Géographie (APHG). 10 jan. 2021. Consultar publicação original

Utopian Universities / Jill Pellew e Miles Taylor

TAYLOR Miles Telegraph India governo Bolsonaro
Milles Taylor. Foto: Telegraph India /

PELLEW e TAYLOR Utopian Universities A Global History of the New Campuses of the 1960s governo BolsonaroThe most remarkable feature of the mould-breaking expansion of higher education that took place across the world in the 1960s was the foundation of some 200 entirely new universities. In most countries, growth had previously been confined largely to existing institutions or to lesser colleges of various kinds which were required to undergo a long period of tutelage and development before they could be considered for university status. But, in the 1960s, campuses were started from scratch, nearly always funded by the state, usually promising new institutional structures and innovative curriculum design, often boasting eye-catching new buildings by star architects. Examples of this phenomenon can be found across the world, especially in the countries of the former British empire, but, both at the time and since, developments in the UK attracted most attention, providing the models for what was to follow elsewhere. In the space of four years, seven new universities were opened in England: Sussex (1961), East Anglia [UEA], York (both 1963), Lancaster (1964), Essex, Kent, and Warwick (all 1965). Belatedly, and without either the brio or the funding of ‘the magnificent seven’, they were joined by the University of Stirling (1967) and the New University of Ulster (1968); the latter remains the last entirely new publicly-funded university to be established in the UK. Utopian Universities brings together twenty contributions on aspects of the new universities of the 1960s; two thirds of them concentrate on developments in the UK, with the rest addressing selected examples elsewhere, both in the former British dominions and in Europe. Leia Mais

Le Connessioni Mondiali e l’Atlantico 1450-1850 | Marcello Carmagnani

As conexões mundiais e o Atlântico: título sugestivo para um livro que se propõe a tratar de tema tão amplo. Como fazê-lo, contudo, é questão proeminente. O percurso escolhido nos é explicitado na introdução:

Será necessária uma profunda revisão dos instrumentos analíticos, elaborando os dados históricos até então utilizados apenas descritivamente, para traçar os modelos, os esquemas e as constantes do processo histórico. Fernand Braudel dizia que a história é a representante de todas as ciências sociais no passado: a ampliação da visão de história atlântica aqui proposta depende também da capacidade de elaborar conceitos analíticos que considerem os processos históricos em âmbito econômico, sociológico, político e cultural, sem os quais a história não pode ser nada além de uma mera coleção de conhecimentos [3].

Portanto, como ambicionado, a abordagem das esferas de existência histórica do mundo atlântico depende de uma elaboração conceitual e de uma revisão dos instrumentos analíticos que dê conta das constantes de seu processo formativo. O que, dentro da produção italiana sobre o tema, é de grande significado. Como em países europeus e americanos, os estudos atlânticos ganharam relevo nos últimos anos dentro dos cursos de graduação e pós-graduação. A publicação deste livro, por exemplo, vem cinco anos depois do ótimo Il Mondo Atlantico: una storia senza confini (secoli XV-XIX), de Federica Morelli. Porém, em muitos casos, o Atlântico acaba sendo fortemente concebido como um prolongamento temporal da ordem geopolítica norte-atlântica pós-1945, sendo representado pelos países membros da OTAN (deixando pouco ou nenhum espaço para o Leste Europeu e a Península Ibérica), e excluindo em grande medida o Atlântico Sul, concebendo o ocidente a partir de um interesse que projeta uma interpretação de escopo reduzido.

Portanto, a tarefa assumida requer não apenas amplo conhecimento bibliográfico e documental, como também uma perspectiva metodológica que seja totalizante, por adição ou por relação. Neste campo historiográfico, Bernard Bailyn afirmara que fazer uma história atlântica implica a agregação do conhecimento de histórias locais e suas extensões ultramarinas, bem como as relações desse agregado, operando no campo da descrição de suas dinâmicas e elementos fundamentais e processuais [4]. Apresentando estes aspectos, o presente livro, além de vir em boa hora, é também fruto de uma carreira construída a partir de pesquisas de fôlego sobre a Europa e as Américas. Nos últimos anos, os estudos de Marcello Carmagnani vão da relação intrínseca entre o consumo de produtos extra-europeus e as transformações materiais e imateriais em suas sociedades [5] à formação e plena inserção da América Latina nas sendas do mundo ocidental [6]. E neste livro, como bem descrito, o enquadramento atlântico dos processos históricos e suas relações são delineados plenamente.

Dividindo a obra em cinco capítulos, Carmagnani inicia explorando seus pontos de partida. Pontos que não necessariamente levaram desde o princípio à sua formação, mas que foram determinantes para a estruturação de suas dinâmicas. Neste quesito, as técnicas de navegação e o delineamento das primeiras ocupações atlânticas merecem destaque. Encontramo-nos diante de um processo definido pela experiência e apresentado do seguinte modo: a adoção de técnicas originárias de contatos anteriores, em especial com a Ásia, são, junto com as técnicas locais, adaptadas para a uma realidade que posteriormente se transforma a partir da experiência prática adquirida. No que se refere à busca e ocupação de pontos intermédios no oceano Atlântico, verdadeiras pontes oceânicas, seus papéis são salientados pelas potencialidades como locais de troca e abastecimento/restauração de embarcações, e como primeira experiência de povoamento no além-mar. Com a instalação de estruturas produtivas baseadas no uso do trabalho escravo africano que engendrariam posteriormente o comércio e produção das colônias europeias na América, é ressaltado o desenvolvimento de uma rede mercantil europeia em torno do comércio açucareiro. Juntando estes dois fatores ressaltados, o desafio representado pelo Atlântico vê um número reduzido de agentes envolvidos e possui como seus mecanismos de propulsão a busca de ouro africano e o início do tráfico negreiro em direção às ilhas produtoras de açúcar, que acenavam à conexão entre comércio, técnica e experiência que simbolizam um círculo vicioso.

No segundo capítulo, os efeitos da conquista e o processo de territorialização de espaços americanos são centrais. A catástrofe demográfica americana, o consequente repovoamento e a transposição integral do tráfico negreiro ao mundo atlântico são ressaltadas por duas razões. A primeira diz respeito ao nascimento da articulação entre a costa, o interior e a fronteira aberta, ligando o comércio, as estruturas produtivas e político-jurídicas instaladas na América, tendo a prata e o açúcar como eixos indissociáveis. A segunda é a formação de sociedades específicas, que apesar das divergências locais, eram marcadas por conflitos e violências que visavam a dominação e subordinação da mão de obra. Deste modo, o repovoamento e a instalação produtiva nas Américas representa o nascimento de conflitualidades que levam os poderes coloniais a criarem mecanismos de limitação de contestações e perda de controle sobre o tecido social e produtivos cujas estruturas ainda reverberam.

O terceiro e quarto capítulos devem ser abordados em conjunto, pois enquanto dedica o primeiro à consolidação deste mundo, no outro descreve minuciosamente as plantações, a “originalidade atlântica”. Taxativamente, Carmagnani nos diz que o período entre 1650-1850 é o da afirmação atlântica como principal ator das conexões mundiais. O que era delineado anteriormente passa à concretude: não mais momentos fundamentais e de processos socioeconômicos formativos, mas de ação e projeção dos agentes históricos dentro e a partir deste mundo. Assim ocorre a mudança nos padrões de consumo dentro da Europa, com a oferta maciça de produtos extra-europeus, como café, tabaco, cacau e açúcar. Igualmente, a renda e acumulação de capital dos países europeus norte-atlânticos neste período atingiu índices de crescimento inimagináveis, levando-o, em referência à Eric Williams, a afirmar que o fluxo de capitais ingleses derivantes do comércio mundial, gerado no mundo atlântico e posteriormente na Ásia, permitiu em boa medida os investimentos à Revolução Industrial. Na África, o vínculo entre os mercadores locais e a ampla rede atlântica impulsiona a monetização das regiões costeiras. No Daomé, o equilíbrio entre sociedade, mercados locais e a administração monárquica nos ajuda a compreender por que o comércio atlântico em determinadas localidades africanas podia coexistir com as vicissitudes locais sem criar um mercado único, mas sim uma forte vinculação. No caso da Senegâmbia, o poder local foi ainda mais fortalecido por meio do comércio negreiro.

Tema que merece maior atenção, pois Carmagnani afirma que a expansão do trato transatlântico de escravos é conectada com as mudanças ocorridas não apenas na Europa, mas também na África, e com as estruturas produtivas americanas. Com isso, em um período de queda na oferta europeia de mão de obra, concomitante com a expansão produtiva nas Américas, o comércio de escravos, responsável por uma catástrofe demográfica na África, adquire amplas proporções e desencadeia um fenômeno de grandes dimensões. Diversas redes de comércio se aderiam aos portos de trato que leva ao incremento na demanda africana de tecidos, tabaco, e cachaça, ligando as economias ao ponto de, em determinados períodos do século XVIII, 40% dos produtos ingleses desembarcados na África serem usado para este comércio, enquanto no mundo português foi a sua quase totalidade, inclusive mudando profundamente seu circuito atlântico responsável por 41,8% do escravos desembarcados na América, quando o controle passa de mercadores não mais estabelecidos na Europa, mas sim no Rio de Janeiro e Bahia. Concomitante a essas redes de comércio, o incremento da produção de açúcar após a entrada em cena dos impérios do noroeste europeu aumenta a concorrência produtiva, levando áreas até então açucareiras a diversificarem suas produções.

Por fim, no que se refere ao trabalho e à produção, à parte as importantes considerações sobre as técnicas que favorecem o incremento produtivo, como o sistema de irrigação adotado em meados do século XVIII em Saint-Domingue e investimentos em vias de comunicação e meios de produção que permitiram o aumento da produtividade na Baía de Chesapeake, há um aspecto contraditório originado por uma questão semântica. Em uma passagem, o autor nos diz que escravos africanos, uma vez nas plantações, tinham um duro período de adaptação ao trabalho e de ambientação, aliado às parcas condições materiais, em sociedades que se formavam a partir de pressupostos raciais, dando vida a um sistema produtivo dividido entre um horizonte hierárquico e outro orientado ao lucro. Essa organização do trabalho apresentava tensões latentes, devido ao ritmo e ao controle produtivo. A formação de quilombos e comunidades maroons são exemplos de que esta adaptação não ocorria de fato. A busca de regulamentações e de controle por parte das sociedades coloniais nos leva a pontuar um fator que, em um leitor desatento, pode induzir a um erro de compreensão.

No último capítulo, dedicado às revoluções, a abordagem se baseia principalmente na recente produção historiográfica, dividindo-a em fases ascendente e descendente: a primeira compreende o período entre 1763 e 1815, e a segunda, até 1848. Analisemos as linhas gerais. Sobre a Revolução Americana, Carmagnani reitera que, diferentemente do que afirmam outros autores no cotejo dos eventos revolucionários nos Estados Unidos e na França, sugerindo certo disciplinamento e moderação na história norte-americana, ocorreram sim conflitos civis de monta e também se intensificou o massacre indígena. Ao mesmo tempo, parte significativa dos escravos participou diretamente no conflito, fato que influenciou aspirações de liberdade alhures, formando parte do processo que desembocou na grande rebelião escrava de 1791 na colônia francesa de Saint-Domingue (atual Haiti).

Na Revolução Francesa, se ressaltam suas idas e vindas bem como a leitura da situação política norte-americana. As relações com Saint-Domingue e o papel dos representantes caribenhos na abolição da escravidão em 1794 são cruciais pois sua inserção dentro da política revolucionária demonstra que, diferentemente da Jamaica, a contestação alcançou outra dimensão: não houve apenas uma influência advinda do processo francês, mas esta foi uma experiência que contribuiu ativamente na liberdade dos escravos e na superação, com a declaração de independência de 1804, do restabelecimento escravista decidido pelo governo imperial.

O êxito haitiano, contudo, é em parte responsável pelo caráter mais contido de diversas revoluções liberais posteriores. A moderação se deveu aos temores da classe proprietária e às revoltas eclodidas nas áreas escravistas atlânticas, sem abrir mão, contudo, dos ideais de cidadania e de governo representativo, como se vê na América ibérica, onde as classes dirigentes eram favoráveis à ampliação das reformas que ampliassem a participação política da elite colonial. Como exemplo, a independência brasileira deu luz à uma constituição liberal que centrou mais na organização do Estado que nos direitos dos cidadãos, reiterando o máximo possível a dinâmica da organização social advinda da ordem colonial. Portanto, Carmagnani é cético em afirmar que dessas revoluções nasce a democracia moderna: a representação não dependia da vontade direta da maioria dos cidadãos, e o peso dos interesses das elites foi preservado.

À guisa de conclusão, a obra faz um apanhado bibliográfico geral suficiente e amplo, apresentando os leitores a produção dos últimos 40 anos e instigando um campo de pesquisa promissor em âmbito italiano – os minúsculos erros de digitação na bibliografia não impedem a compreensão da citação, como A Costruçao do Orden. Em Connessioni Mondiali, Marcello Carmagnani, estudioso de projeção internacional, dá um passo importante em direção à “atlantização” da historiografia europeia em geral e italiana em particular.

Notas

1. Università degli studi di Torino. Turim – Itália.

2. Mestrando em Scienze Storiche na Università degli studi di Torino, Torino (TO), Italia. E-mail para contato: joao.covolansilva@edu.unito.it.

3. CARMAGNANI, Marcello. Le Connessioni Mondiali e l’Atlantico, 1450-1850. Torino: Einaudi, 2018, p.5.

4. BAILYN, Bernard. Atlantic History: concepts and contours. Cambridge: Harvard University Press, 2005, pp.60-61.

5. CARMAGNANI, Marcello. Le Isole del Lusso: prodotti esotici, nuovi consumi e cultura economica europea, 1650-1800. Torino: Utet, 2010.

6. CARMAGNANI, Marcello. L’Altro Occidente: l’America Latina dall’invasione europea al nuovo millennio. Torino: Einaudi, 2003.

Referências

BAILYN, Bernard. Atlantic History: concepts and contours. Cambridge: Harvard University Press, 2005.

CARMAGNANI, Marcello. L’Altro Occidente: l’America Latina dall’invasione europea al nuovo millennio. Torino: Einaudi, 2003.

_____. Le Isole del Lusso: prodotti esotici, nuovi consumi e cultura economica europea, 1650-1800. Torino: Utet, 2010.

_____. Le Connessioni Mondiali e l’Atlantico, 1450-1850. Torino: Einaudi, 2018.

MORELLI, Federica. Il Mondo Atlantico: una storia senza confini (secoli XV- -XIX). Roma: Carocci, 2013.

João Gabriel Covolan Silva1;2 – Università degli studi di Torino. Turim – Itália. Mestrando em Scienze Storiche na Università degli studi di Torino, Torino (TO), Italia. E-mail para contato: joao.covolansilva@edu.unito.it


CARMAGNANI, Marcello. Le Connessioni Mondiali e l’Atlantico, 1450-1850. Torino: Einaudi, 2018. Resenha de: SILVA, João Gabriel Covolan. A afirmação do Atlântico na historiografia italiana. Almanack, Guarulhos, n.26, 2020. Acessar publicação original [DR]

História de Roma | Mikhail Ivanovich Rostovtzeff

História de Roma – cujo título original é Rome – foi publicado pela primeira em 1927 e, desde então, passou por cinco revisões. A obra foi escrita pelo historiador russo Mikhail Ivanovich Rostovtzeff, o qual, em 1918 – à luz da Revolução de Outubro de 1917 -, fugiu da Rússia a fim de evitar ser perseguido pelos bolcheviques. Essa informação é de extrema valia para a possível compreensão do livro, uma vez que, indubitavelmente, o autor foi influenciado pela Revolução Russa, de modo a transportar os efeitos dela para sua análise sobre as causas da queda de Roma.

Contudo, antes de partir para as razões da queda, o escritor busca trabalhar os motivos da ascensão. Ele estabelece isso logo na página 11: “como foi possível em solo italiano […] criar um poder único […] enquanto Atenas e Esparta não conseguiram?”. Em outras palavras, por que Roma, uma cidade-Estado assim como outras, tornou-se uma potência tão formidável, e as poleis gregas não? Diante desse questionamento, ele utiliza o primeiro capítulo para fazer uma história comparativa entre Roma e Grécia. Disso, pode-se destacar o fato de Rostovtzeff expor o problema das fontes usadas para se estudar Roma. Isso porque boa parte das informações sobre o passado romano ou é escassa ou sofreu influências políticas. Portanto, a forma mais adequada de se alcançar o conhecimento a respeito da sociedade que floresceu no Lácio seria por meio da arqueologia, a qual o autor faz amplo uso. Leia Mais

A mulher na sociedade de classes: mito e realidade | Heleieth Saffioti

Na segunda metade do século passado, as mulheres passam a reivindicar seu lugar na História, no sentido de questionar as produções intelectuais que até então privilegiavam um homem universal e abstrato, que era sujeito e objeto de sua história. Esse homem representaria a noção de humanidade, o que muito foi questionado, visto que existem dentro das relações sociais diferenças entre os grupos de pessoas, ou seja, estratos sociais, camadas que identificam, separam e excluem as pessoas. Portanto, hoje é impensável falarmos em um homem que represente todas as diferenças de raça, classe e gênero.

Assim, nos anos sessenta do século XX, a mulher passou a ser percebida pela historiografia como um sujeito necessário na elaboração de sua própria história. Segundo Michelle Perrot (2007), uma das referências no campo de estudo da história das mulheres nos dias atuais, até a referida década as narrativas estavam centradas nos personagens participantes do espaço público e como a mulher tinha como seu ambiente “natural” apenas o lar, sua vida não importava para os historiadores tradicionais. Leia Mais

Tendências Historiográficas na Revista Brasileira de História: 1981-2000 | Ricardo Marques de Mello

Os anos 1980 e 1990 são usualmente considerados momento de inflexão da historiografia em nosso país, com a falência das metanarrativas iluminista e marxista e das teses de longa duração. Ao promover diálogo interdisciplinar com a antropologia e a teoria literária, os historiadores brasileiros teriam propiciado a ascensão da micro história e da história cultural. Muitos se valeriam de novas fontes para meditar sobre representações, e privilegiariam recortes temporais recentes e recortes espaciais em território nacional, regionais ou locais. A mudança de bases teóricas, com inspiração na Nova História e em autores como Michel Foucault, Edward Thompson, Walter Benjamin e Clifford Geertz, alavancaria o enfoque de temas, objetos e sujeitos históricos até então apagados. Todavia, a apropriação superficial desses pensadores, somada à presença tímida, no Brasil, da produção e do conhecimento de obras de teoria, teria favorecido uma prática empirista da escrita da história.

À vista disso, seria possível determinar a validade destes pressupostos nas fontes da história da historiografia do período referido? Se sim, como? Se não, por quê? Poderiam os historiadores empregar estas formulações para definir tendências historiográficas estaticamente? Leia Mais

Revista de História da UEG. Morrinhos, v.10, n.01, 2021.

Dossiê “Teoria da História e História da Historiografia”

Imagem de Capa:
Busto de Tiradentes. Autoria: Décio Villares, s.d. 
Fonte: Acervo Alerj. Fotografia: Adriano Lückmann, 2019.

Editorial

Dossiê “Teoria da História e História da Historiografia”

Conselho Editorial

Dossiê Temático

Notas de Pesquisa

Resenhas

Publicado: 2021-01-08

Revoluções no Atlântico: Brasil e Portugal na década de 20 do Oitocentos | Revista Ágora | 2020

No ano do bicentenário da Revolução de 1820, organizamos junto à Revista Ágora o dossiê “Revoluções no Atlântico: Brasil e Portugal na década de 20 do Oitocentos”. O decênio de 1820 foi marcado por diversos movimentos revolucionários em Portugal e no Brasil. A Revolução do Porto inaugurou a agenda de sublevações no mundo português, configurando-se acontecimento que influenciaria nos rumos políticos nos dois lados do Atlântico.

Inspirada em princípios liberais, o movimento iniciado na cidade de Porto, em poucas semanas alcançaria Lisboa e não tardaria a ser notícia também no Brasil. Verdadeira guerra literária fora travada na imprensa no Brasil e em Portugal. Periódicos e folhetos difundiam nova pauta política, ressignificando conceitos e divulgando novo vocabulário constitucional. Leia Mais

Ágora. Vitória, v.31, n.3, 2020.

Revoluções no Atlântico: Brasil e Portugal na década de 20 do Oitocentos

Ágora de debates

Artigos

Resenha

Pareceristas

Publicado: 07-01-2021

História, Natureza e Espaço. Rio de Janeiro, v.8, n.1, 2019.

Artigos Científicos

Entrevista

História Unisinos. São Leopoldo, v.25, n.1, jan./abr., 2021

Artigos

Notas de Pesquisa

Resenhas Críticas

Acervos e Fontes

Publicado: 2021-01-04

Estado, sociedade e educação profissional no Brasil: desafios e perspectivas para o século XXI | Eraldo L. Batista, Isaura M. Zanardinie e João C. da Silva

O livro tem por objetivo, segundo seus organizadores, apresentar “resultados de pesquisa focalizando questões teóricas e metodológicas e empíricas, trazendo ainda aspectos histórico-conceituais da Educação Básica, particularmente do ensino profissional” de nível médio (Batista, Zanardini e Silva, 2018, p. 13). Trata-se de coletânea de 13 capítulos, escritos por 19 pesquisadores.

Maria Ciavatta, no Prefácio, já nos indica que “o conjunto de textos, sobre vários aspectos do Estado, sociedade e educação no Brasil, é exemplar sobre a questão educacional da população nos cinco séculos de existência conhecida pelo mundo europeu, a terra brasilis, e na atualidade desta segunda década do século XXI” (p. 9). Leia Mais

Trabalho Educação e Saúde. Rio de Janeiro, v.19, jan./dez. 2021.

Editorial

  • Uberização: Informalização e o trabalhador just-in-time
    Uberization: informalization and the just-in-time worker
    Uberización: informalidad y el trabajador just-in-time
  • Ludmila Costhek Abílio
  • Ler

Ensaio

  • Trabalho remoto, saúde docente e greve virtual em cenário de pandemia
    Remote work, teaching health and virtual strike in a pandemic scenario
    Trabajo remoto, salud docente y huelga virtual en el escenario de la pandemia
  • Katia Reis de Souza, Gideon Borges dos Santos, Andréa Maria dos Santos Rodrigues, Eliana Guimarães Felix, Luciana Gomes, Guilhermina Luiza da Rocha, Rosilene do Carmo Macedo Conceição, Fábio Silva da Rocha, Rosaldo Bezerra Peixoto
  • Resumo | Abstract Resumen Texto Completo
  • A atenção primária à saúde integral é parte da resposta à pandemia de Covid-19 na América Latina?
    Is comprehensive primary health care part of the response to the COVID-19 pandemic in Latin America?
    ¿Es la atención primaria de salud integral parte de la respuesta a la pandemia de Covid-19 en Latinoamérica?
  • Ligia Giovanella, Román Vega, Herland Tejerina-Silva, Naydú Acosta-Ramirez, Mario Parada-Lezcano, Gilberto Ríos, Daisy Iturrieta, Patty Fidelis de Almeida, Oscar Feo
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  • A educação em direitos humanos como suporte às políticas antimanicomiais: história e memória
    Human rights education as a support for anti-asylum policies: history and memory
    La educación en derechos humanos como soporte a la política antimanicomial: historia y memoria
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  • Resumo | Abstract Resumen Texto Completo
  • Negacionismo da Covid-19 e educação popular em saúde: para além da necropolítica
    Negationism of the COVID-19 and popular health education: to beyond the necropolitics
    Negacionismo de la Covid-19 y educación popular en salud: más allá de la necropolítica
  • Ana Paula Massadar Morel
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  • As dimensões da precarização do trabalho em face da pandemia de Covid-19
    The dimensions of job insecurity due to the COVID-19 pandemic
    Las dimensiones de la precarización del trabajo en virtud de la pandemia de Covid-19
  • Diego de Oliveira Souza
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  • Desafios para a Atenção Primária à Saúde no Brasil: uma análise do trabalho das agentes comunitárias de saúde durante a pandemia de Covid-19
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  • Entre o enclausuramento e a desinstitucionalização: a trajetória da saúde mental no Brasil
    Between cloistering and deinstitutionalization: the mental health trajectory in Brazil
    Entre el enclaustramiento y la desinstitucionalización: la trayectoria de la salud mental en Brasil
  • Mariá Lanzotti Sampaio, José Patrício Bispo Júnior
  • Resumo | Abstract Resumen Texto Completo
  • Ansiedade e depressão em atendimento presencial e telessaúde durante a pandemia de Covid-19: um estudo comparativo
    Ansiedad y depresión en la atención presencial y de telesalud durante la pandemia de Covid-19: un estudio comparativo
  • Gabriel Trevizani Depolli, Jéssica Nascimento Brozzi, Andressa de Oliveira Perobelli, Bruno Lima Alves, Carmen Barreira-Nielsen
  • Resumo | Abstract Resumen Texto Completo
  • Disparidades e heterogeneidades das medidas adotadas pelos municípios brasileiros no enfrentamento à pandemia de Covid-19
    Disparities and heterogeneities in the measures adopted by Brazilian municipalities when dealing with the COVID-19 pandemic
    Disparidad y heterogeneidad de las medidas adoptadas por los municipios brasileños en el enfrentamiento a la pandemia de Covid-19
  • Lizandro Lui, Carla Estefania Albert, Rodrigo Marques dos Santos, Luan da Cruz Vieira
  • Resumo | Abstract Resumen Texto Completo
  • Formação da classe trabalhadora em tempos de pandemia e crise do capital: a agenda dos aparelhos privados de hegemonia
    Formation of the working class in times of pandemic and capital crisis: the agenda of private hegemonic apparatus
    Formación de la clase trabajadora en tiempos de pandemia y crisis del capital: la agenda de aparatos privados de hegemonía
  • Mariléia Maria da Silva, Aline Inácio Decker, Juliana Matias Faust, Mariano Moura Melgarejo
  • Resumo | Abstract Resumen Texto Completo

Notas de Conjuntura

  • Crise econômica e a Covid-19: rebatimentos na vida (e morte) da classe trabalhadora brasileira
    Economic crisis and COVID-19: impact on the life (and death) of the Brazilian working class
    Crisis económica y Covid-19: los golpes en la vida (y muerte) de la clase trabajadora brasileña
  • Sara Granemann
  • Resumo | Abstract Resumen Texto Completo

Resenhas

  • Políticas de educação profissional: contexto socioeconômico e político no Brasil
  • Texto Completo

Pareceristas

  • Agradecimentos aos Pareceristas ad hoc do volume 18 (ano 2020)
  • Listagem

Errata

Publicado em (04/01/2021)

Quinto Sol – Revista de História. Santa Rosa, v.25, n.1, 2021.

enero / abril

Fotografía de tapa: Cámara de Diputados de la provincia de Corrientes, 1955. Legisladoras: primera fila, Eloísa Ramona Chico (izquierda) y Paula Ángela Chamorro (derecha); en segunda fila, Florencia Goyeneche de Sosa (izquierda) y Emilia Rizzo (derecha). La foto fue proporcionada por Eloísa. Gentileza de Carolina Barry.

ARTÍCULOS

RESEÑAS

PUBLICADO: 2021-01-04

Almanack. Guarulhos, n.29, 2021.

La niñez desviada. La tutela estatal de niños pobres, huérfanos y delincuentes | Claudia Freidenraij

En su trabajo La niñez desviada, editado por Biblos, Claudia Freidenraij presenta la investigación que tiene origen en su tesis de doctorado. Avanzando en una línea tradicional de la autora, el texto aborda un grupo particular de la infancia porteña durante la última década del siglo XIX y las dos primeras del XX. Para ello apela a la idea de niñez desviada para identificar a un núcleo proveniente de los sectores populares: niños pobres, sin hogar o con un control paterno alejado del ideal establecido, con un vínculo frágil con la escuela y una permanencia en la calle rotulada como inconveniente. A partir del estudio de un conjunto de prácticas vitales, en la cambiante realidad de la capital argentina, se detiene en el proceso que llevó a una asociación con el mundo del delito que provocó que estas conductas recibieran un tratamiento propio de la infracción penal. Una suerte de estado peligroso, diría el criminólogo Adolfo Prins, que los ponía en la pendiente del crimen legitimando así la intervención desde el Estado. En este sentido, el trabajo elude las tentaciones homogeneizadoras, considerando el tema en su complejidad, tanto en lo que hace a la niñez como a las tensiones en torno a la participación de un conjunto de actores estatales que es leída en su diversidad. Freidenraij se propone como objetivo central reconstruir la transformación de un sujeto preocupante y punible que es identificado como infancia abandonada y delincuente, rastreando las intervenciones de una serie de operadores (policía, defensores públicos, autoridades). Leia Mais

História, Ciências, Saúde-Manguinhos. Rio de Janeiro, v.28, n. 3, Publicado: 2021.

Historia Ciencia Saude1 governo Bolsonaro

Revista Estudos Feministas. Florianópolis, v.29, n.3, 2021

Bilros. Fortaleza, v.9, n.19, 2021.

Apresentação

Artigos

Tradução

Almanack. Guarulhos, n.28, 2021.

  • Publicado: 2021
  • ¿El constitucionalismo popular tiene una historia latinoamericana? A vueltas con sus orígenes decimonónicos Palabras Para Debate
  • Garriga, Carlos
  • Texto: PT
  •  PDF: PT
  • LAS NUEVAS GRAMÁTICAS DE LA MOVILIZACIÓN POLÍTICA LOCAL Dossier
  • Ayrolo, Valentina; Hébrard, Véronique
  • Texto: ES
  •  PDF: ES
  • “CON ARREGLO A LA COSTUMBRE”: LAS TRANSFORMACIONES DEL CABILDO ABIERTO EN AREQUIPA (1780-1824) Dossier
  • Valenzuela, Fernando Calderón
  • Resumo: EN ES
  •  Texto: ES
  •  PDF: ES
  • PRÁCTICAS ASAMBLEÍSTAS EN LA PROVINCIA DE JUJUY (ARGENTINA) ENTRE 1835-1852: DIRIGENCIA, DEFINICIONES POLÍTICAS Y LEGITIMACIONES DE PODER Dossier
  • Medina, Federico
  • Resumo: EN ES
  •  Texto: ES
  •  PDF: ES
  • QUAND LES ACTEURS PRENNENT LA PLUME. PRONUNCIARSE DANS LE VENEZUELA INDÉPENDANT (1828-1858) Dossier
  • Hébrard, Veronique
  • Resumo: ES FR
  •  Texto: FR
  •  PDF: FR
  • VIVA O REI DE PORTUGAL E A CISPLATINA ORIENTAL: IMPRENSA E A LINGUAGEM POLÍTICA DO LIBERALISMO LUSITANO NO RIO DA PRATA (1817-1824) Dossiê
  • Winter, Murillo Dias
  • Resumo: EN PT
  •  Texto: PT
  •  PDF: PT
  • LAS RELACIONES EXTERIORES DE LAS PROVINCIAS ARGENTINAS COMO ELEMENTO DE DISPUTA: EL CASO DE LOS PRONUNCIAMIENTOS DE 1840 Dossier
  • Kloster, Mariano
  • Resumo: EN ES
  •  Texto: ES
  •  PDF: ES
  • UNA LECTURA DEL PRONUNCIAMIENTO DE JUSTO JOSÉ DE URQUIZA DE 1851: CIRCULACIÓN, ADHESIONES Y RECHAZOS Dossier
  • Nicolini, Giuliana
  • Resumo: EN ES
  •  Texto: ES
  •  PDF: ES
  • LA ANTIGUA CONSTITUCIÓN Y LA CONSTITUCIÓN TRADICIONAL EN LA MONARQUÍA HISPANA DEL SIGLO XVIII Artigo
  • Agüero, Alejandro
  • Resumo: EN ES
  •  Texto: ES
  •  PDF: ES
  • O CAFÉ DE NEUVILLE: SOCIABILIDADE, POLÍTICA E INFRAÇÃO NO COMÉRCIO DO RIO DE JANEIRO (1833-1841) Artigo
  • Santana, Kátia Luciene de Oliveira e Silva
  • Resumo: EN PT
  •  Texto: PT
  •  PDF: PT
  • O CULTO E A INSTRUÇÃO PÚBLICA E SUAS INTENÇÕES MORALIZADORAS: O OLHAR DOS PRESIDENTES DA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX Artigo
  • Aguiar, Patrícia Figueiredo
  • Resumo: EN PT
  •  Texto: PT
  •  PDF: PT
  • NA CONTRAMÃO DO IMPÉRIO: O CLUBE DA LAVOURA E DO COMÉRCIO DE 1871 Artigo
  • Miranda, Bruno da Fonseca
  • Resumo: EN PT
  •  Texto: PT
  •  PDF: PT
  • A imprensa de Montevidéu (1814-1825) como fonte histórica Resenhas
  • Botafogo, Paula
  • Texto: PT
  •  PDF: PT
  • A LIBERDADE NO JOGO JUDICIÁRIO DO BRASIL IMPERIAL Resenhas
  • Azevedo, Larissa Biato de
  • Texto: PT
  •  PDF: PT
  • Uma história de construção destrutiva: as origens revolucionárias do campesinato haitiano Resenhas
  • Souza, Isabela Rodrigues de
  • Texto: PT
  •  PDF: PT

 

Teoria da história e história da historiografia / Revista de História da UEG / 2021

Apresentamos mais uma edição da Revista de História da UEG. Este é um volume especial, pois se trata do décimo volume lançado desde o início da revista. Ao longo dos últimos anos temos nos dedicado com afinco à tentativa de consolidar a Revista de História como um importante canal de publicação e veiculação da pesquisa histórica no país, o que temos conseguido fazer com sucesso. Julgamos que a Revista cresceu muito nestes anos de existência, o que pode ser percebido pela quantidade de artigos que temos recebido e pelo nível e qualidade dos textos publicados, de autores(as) de todas as partes do país, o que sempre foi nosso objetivo principal.

Nesta edição trazemos um importante dossiê sobre “Teoria da História e História da Historiografia”, que procura refletir sobre os conceitos teóricos da pesquisa histórica, assim como a história da historiografia, não só nacional como da historiografia clássica. Segundo os professores que idealizaram o dossiê [1]: “o presente dossiê reuniu trabalhos que abordam as diferentes perspectivas de produção e circulação do conhecimento histórico. A História, enquanto disciplina, reflete sobre seus fundamentos teóricos e epistemológicos conectada com suas formas de organização curricular e modalidades de intervenção na sociedade. Portanto, foram acolhidas questões relativas aos conceitos, métodos, objetos e sujeitos envolvidos na escrita da história, da mesma maneira que reflexões sobre instituições de pesquisa, divulgação e ensino de História de modo geral.

O intuito maior é contribuir para a reflexão urgente sobre os diferentes modos de fazer História e se relacionar com ela em diferentes épocas e contextos. Diante disso, além dos enfoques que incidem na escrita da história, como as relações e tensões entre história e verdade, história e memória, história e representação, história e ficção, história e temporalidades, abrimos espaço para debates em torno do papel social do historiador, dos horizontes de divulgação da história ensejadas pela história pública, pela história do tempo presente ou pela relevância interseccional dos conceitos de raça, classe e gênero na escrita e recepção da história enfatizados pelas teorias feministas, giro decolonial e o pensamento afrodiaspórico, entre outros”.

Desejamos a todos(as) uma ótima leitura!

Nota

1. O presente dossiê foi idealizado por Ana Lorym Soares (UFJ) e Eduardo Henrique Barbosa de Vasconcelos (UEG), que avaliaram grande parte dos artigos submetidos, e foi finalizado e organizado pelo Conselho Editorial da Revista de História da UEG


Conselho Editorial. Editorial. Revista de História da UEG, Morrinhos – GO, v.10, n.1, 2021. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Revista de Ensino de Geografia. Uberlândia, v. 9, n. 16, jan./jun. 2018.

APRESENTAÇÃO

Editoria

ARTIGOS

RELATOS DE EXPERIÊNCIAS E PRÁTICAS

RESENHA

Recorde. Rio de Janeiro, v.14, n.2, 2021.

Artigos

Entrevistas

Resenhas

Revista Brasileira de Política Internacional. Brasília, v.64, n.2, 2021.

·        The Copenhagen School in South America: the (de)securitization of UNASUR (2008-2017) Article

Vozes, Pretérito & Devir. Teresina, v.13, n.1, 2021.

História Medieval: experiências do passado, perspectivas contemporâneas.

Apresentação

  • PDF
  • Carlos Eduardo Zlatic

Dossiê Temático

Artigos

Seção Especial

Signum – Revista da ABREM. Londrina, v.22, n.2, 2021.

Dossiê: Homenagem a Maria do Amparo Tavares Maleval

Artigos

Documentos

Revista Estudos Feministas. Florianópolis, v.29, n.2, 2021

Mosaico. Goiânia, v.14, n.2, 2021.

HISTÓRIA DA LOUCURA

Editorial

Apresentação / Presentation

Artigos de Dossiê / Dossier

Artigos Livres / Articles

Resenhas / Reviews

O triunfo da persuasão: Brasil/ Estados Unidos e o Cinema da Política de Boa-Vizinhança durante a II Guerra Mundial / Alexandre B. Valim

Bandeiras Brasil x EUA governo Bolsonaro
Bandeiras – Brasil x EUA

VALIM governo BolsonaroNa obra “O triunfo da persuasão: Brasil, Estados Unidos e o Cinema da Política de Boa- Vizinhança durante a II Guerra Mundial”, o autor Alexandre Busko Valim nos apresenta uma discussão sobre o uso do cinema na política de aproximação entre Brasil e Estados Unidos no contexto da Segunda Guerra Mundial. Buscando estabelecer influência tanto no Brasil quanto em outras repúblicas da América Latina, os Estados Unidos desenvolveram a Política da Boa- Vizinhança, que foi aprofundada e inovou nos métodos de controle e dominação durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse novo quadro essa política era relevante pois visava garantir aos Estados Unidos: o potencial mercado latino-americano, o apoio do Brasil que possuía posição estratégica no cone sul durante o conflito bélico e por último – e importante – garantir o acesso a matérias primas essenciais para o esforço bélico dos Aliados.

O objetivo de Valim, possuindo como base teórico-metodológica a História Social do Cinema, é analisar os usos do cinema que objetivava o estreitamento das relações entre Brasil e Estados Unidos no contexto da Segunda Guerra Mundial. Uma das originalidades do livro é a abordagem escolhida pelo autor para tratar do tema; ele não busca fazer uma análise dos filmes produzidos, ou seja, reconhecer seus significados e representações, que é o comum dentro da bibliografia que trata do cinema na Política de Boa-Vizinhança. Indo além, busca se explicitar como se deu a estruturação da OCIAA (Office of the Coordinator of Interamerican Affairs) e a implantação das regionais no Brasil, e mais a frente à fundação da Brazilian Division (a sessão brasileira do Office). Abrangendo a parte burocrática da ação, analisando também o papel do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) no período. Focando sua discussão em apresentar como se deu a criação e o planejamento das atividades do Office no Brasil, analisando como os grupos dirigentes se decidiam, quais eram seus objetivos e suas ações, mais que isso, quais foram os entraves burocráticos encontrados no Brasil e quais foram as soluções realizadas. Chama atenção para a necessidade de se conhecer os processos de concretização do Office para dessa forma não colocarmos o período como uma mera consequência do imperialismo onipotente norte-americano.

Outro ponto original da obra se remete as fontes utilizadas pelo autor, sendo elas documentos depositados na National Archives em College Park, nos Estados Unidos (NARA II).

Essas fontes são um conjunto de memorandos, relatórios, cartas que circulavam entre as instituições (regionais, Brazilian Division, Office). O conteúdo delas variavam, desde aviso sobre decisões tomadas, relatórios qualitativos e quantitativos, preocupações compartilhadas pelos grupos, demandas, interesses, impasses e etc. Sendo assim, essas fontes são cruciais para se entender como se deu a idealização, organização e ação das atividades do Office no Brasil.

Utilizando o conceito de “zona de contato”, Valim também contribui originalmente ao propor uma análise onde observa os conflitos culturais existentes nos espaços sociais conjuntos construídos durante o contexto estudado. Dirigindo atenção a atores sociais que não possuíam destaque dentro das instituições oficiais, atores esses que foram peças chaves dentro da estruturação do Office e realização de suas atividades. Dessa forma, ele coloca sob o holofote estes que por muito foram ignorados pela historiografia do tema, mas que tiveram papel essencial no período.

Partindo para a estruturação da obra, tirando a introdução e as considerações finais, o livro apresenta seis capítulos no total, e em cada um deles os argumentos são articulados para com sua ideia principal. Na introdução são apresentados os objetivos gerais do livro, como também é explicitada qual metodologia será utilizada e qual documentação foi acessada para construção da obra. Em linhas gerais é abordado o contexto da Política da Boa-Vizinhança, suas bases e seus ideais, e também é apresentado um breve debate historiográfico sobre as produções que abordam esse período. Um breve histórico da criação do Office e da Motion Picture Division é exposto, além de apontar o porquê do interesse dos Estados Unidos na América Latina, em específico o Brasil. O autor segue e explicita os conceitos de persuasão e propaganda, e argumenta do porquê da escolha do cinema como instrumento de aproximação entre os países. Outro ponto importante abordado é sobre os entraves causados pelo governo brasileiro, no âmbito do DIP, que serão mais bem analisados nos capítulos seguintes.

No primeiro capítulo, intitulado “The Brazilian Division: a chegada do Office no Brasil”, o autor foca em apresentar como se deu a estruturação do Office no Brasil e a criação da Brazilian Division. Aponta as limitações legais encontradas no país e as ações tomadas para burlar o governo varguista que era lido possuindo um teor “muito nacionalista”, que não agradava o Office. Seguindo, é apresentado dados sobre quem seriam os responsáveis do Office, da Brazilian Division e das regionais instaladas. O capitulo é uma extensa explicação sobre a estrutura política do Office, suas divisões, cargos e tarefas; é a apresentação da parte técnica e burocrática do mesmo. O segundo capítulo, “Aliados precisam ter atitudes amigáveis: propaganda, oportunidade e lucro”, é desenvolvido a parte do embate entre a legislação brasileira e os desejos do Office, nesse caso, em relação à taxação dos filmes estrangeiros. São elencados quais eram as obrigatoriedades da Brazilian Division em relação à produção e divulgação dos filmes. Discorre-se sobre os esforços de se extinguir os filmes do Eixo. Por fim, ele pincela um pouco sobre a tentativa de se conseguir ajuda da Motion Picture Division para produzir filmes nacionais, e também sobre os esforços da Brazilian Division em treinar com eficácia os técnicos para produção e divulgação dos filmes.

Já o terceiro capítulo, intitulado “O show precisa continuar: o cinema da boa-vizinhança adentra o país” é focado em discutir sobre as dificuldades de expansão das exibições para o interior do Brasil. É explicada as dificuldades técnicas que envolviam disponibilidade de material, equipe treinada e transporte, por exemplo. Para, além disso, o capítulo aborda a recepção dos filmes no interior a partir de relatórios das equipes envolvidas. Aponta algumas situações onde ocorreram impasses com as autoridades locais no que tange permissão para as exibições, e debate sobre como esses embates eram retirados dos relatórios que eram enviados ao Offiice, numa tentativa de não manchar a atuação do mesmo no país o que poderia pôr em risco a continuação das suas atividades.

A argumentação sobre a recepção dos filmes pelo interior segue no quarto capítulo, “Acenando as cabeças para filmes extraordinários: os maiores hits do cinema da boavizinhança”.

É abordada a preocupação no quesito mensagem do filme vs. receptor, ou seja, a atenção dispendida em relação aos efeitos que as histórias dos filmes causavam no público, onde houve casos que não eram agradáveis porque não se identificavam com a realidade apresentada nas obras. Ainda nesse capitulo, é discutido sobre alguns requisitos relacionados a filmagens realizadas no Brasil, como por exemplo, o ponto de evitar pobres e negros nas cenas gravadas. Um pouco mais a frente, é abordado um pouco sobre a relação de Disney e a política da boa-vizinhança, abordando alguns filmes que o mesmo realizou no período diretamente relacionado a política de aproximação. Por fim, discute também a censura realizada pelo DIP aos filmes que seriam exibidos no país, as diretrizes para o cinema no Brasil, e elenca filmes proibidos que eram considerados simpáticos aos alemães e a URSS.

O quinto capítulo, “Caçando com os melhores cães: os projetos de cinema do Office”, a partir de três projetos chamados: William Murray Project, John Ford Project e o Production of 16mm in Brazil, o autor aborda as ideias do Office no que tange exibição e produção cinematográfica em âmbito nacional. Analisa toda a parte burocrática, que seria o orçamento, equipe técnica, parcerias privadas e públicas que permeavam essa empreitada de se investir na produção cinematográfica brasileira. Aponta também os argumentos daqueles que foram a favor e contra ao investimento estadunidense na indústria cinematográfica local e quais foram os desfechos. O sexto e último capítulo, chamado “Mais dramático que qualquer ficção as múltiplas fronteiras exploradas pelo cinema da boa-vizinhança”, analisa as ações para incentivar a produção da borracha para os esforços de guerra a partir da relação entre cinema e a “batalha da borracha”, além disso, também discute os estereótipos que associavam o Brasil a um local exótico e selvagem, e por último aborda novamente a discussão sobre a construção de uma indústria cinematográfica nacional a partir de investimentos norte-americanos.

Como é possível ver a partir das sínteses dos capítulos, o autor desenvolveu sua ideia principal de acordo com a evolução da obra. Utilizando as fontes da NARA II, Valim destrincha uma parte que até então não recebia muita atenção da bibliografia, que é a idealização e estabelecimento do Office no Brasil. As questões burocráticas que se desenrolaram, os impasses entre governo estadunidense e brasileiro. Salienta o embate entre ideais do governo varguista e os ideais propagados do ‘american way of life’, de liberdade e democracia pelos estadunidenses.

Para, além disso, destrincha a imagem estereotipada e até mesmo idealizada produzida sobre o Brasil, ressaltando inclusive o interesse do governo nacional nessa retratação que ignorava as desigualdades e mazelas sociais. Um fator interessante levantado na obra é sobre como em alguns casos funcionários estadunidenses se compadeceram mais pela causa brasileira e passaram então defendê-las, como por exemplo, dentro do projeto John Ford, onde os funcionários possuíam interesse de produzir filmes sobre a cultura do Brasil, sobre as músicas, o samba, mas foram inibidos porque isso ia de encontro com os interesses do Office.

A obra de Valim, lançada em 2017, se posiciona em um momento onde se faz muito necessário reconhecer a força e influência que os canais de comunicação possuem sobre a formulação da opinião pública. Como dito anteriormente, a obra não foca em analisar os signos representados nos filmes da época, mas se propõe a um estudo mais aprofundado sobre a natureza das atividades do Office e da sua relação com os grupos dirigentes do país. A partir de sua argumentação, é possível perceber como a Política da Boa-Vizinhança aprimorou os métodos de controle e dominação. “O Triunfo da Persuasão” não se mostra original apenas nos documentos que utiliza como fontes primárias, mas na abordagem que busca observar a relação entre dois países com poderes assimétricos, conseguindo, dessa forma, demonstrar as limitações da suposta onipotência norte-americana no contexto. Este livro se coloca enquanto leitura essencial para aqueles interessados em História Social do Cinema, sobre uso do cinema no contexto da aproximação do Brasil e dos Estados Unidos durante a Política da Boa- Vizinhança, além de abrir inúmeras possibilidades de pesquisas dentro da temática que aborda.

Carolina Machado dos Santos – Graduanda pela Universidade Federal Fluminense no curso de História (Licenciatura).


VALIM, Alexandre Busko. “O triunfo da persuasão: Brasil, Estados Unidos e o Cinema da Política de Boa-Vizinhança durante a II Guerra Mundial”. 1. Ed. São Paulo: Alameda, 2017.Resenha de: SANTOS, Carolina Machado dos. Cinema e política da boa-vizinhança. Cantareira. [Niterói], v.34, p.675-678, jan./jun. 2021. Acessar publicação original [IF].

Folia Histórica del Nordeste. Resistência, n. 40, 2021.

In Memoriam

Dossier

História do Direito. Curitiba, v.2, n.3, 2021.

Dossiê Direito e Autoritarismo: juristas e cultura jurídica em regimes de exceção e ditaduras.

APRESENTAÇÃO

DOSSIÊ

RESENHAS

Sítio Roberto Burle Marx | Cláudia Storino e Vera Beatriz Siqueira

Maria do Carmo Nabuco, amiga e membro do primeiro Conselho Consultivo instituído por Roberto Burle Marx como corpo auxiliar da gestão de seu Sítio na Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro, resumiu numa frase o significado da doação daquele acervo ao Governo Federal do Brasil: “Roberto, você não tem consciência do tamanho da sua generosidade!”

O então Sítio Santo Antônio da Bica, agora Sítio Roberto Burle Marx, foi doado em 1985 ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, à época vinculado ao Ministério da Cultura (1), com tudo que nele se continha! E é aí que cresce de importância a publicação da qual faremos, nas linhas seguintes, uma breve descrição. Leia Mais

A grande cidade. Um retrato de Paris no começo do Século XIX | Paul de Kock

Esta deliciosa crônica chamada “Os passeios das ruas” (“Les trottoirs”) – publicada abaixo na íntegra – é um documento histórico que demonstra a novidade dos passeios ou calçadas na cidade de Paris. Ela foi publicada em 1842 no livro La Grande Ville Nouveau. Tableau de Paris – comique, critique et philosphique (1) do esquecido escritor francês Paul de Kock (1793-1871), que era muito popular no século 19 (2). Como Sue, como Dumas, ele se alinha a autores que escreviam para o novo leitor que se formou em razão do crescimento da educação, procurando narrativas simples. Escritor prolífico, que publicava em folhetins, naquela obra ele observa e descreve o quotidiano pequeno burguês de Paris, cidade que já se transformava rapidamente durante a primeira metade do século 19. Leia Mais

Lelé: diálogos com Neutra e Prouvé | André Marques

Ô Abilio Guerra!

Você me pede o impossível. Confesso que não consigo resenhar o livro de André Marques com a isenção e objetividade apreciadas pelos leitores do portal Vitruvius. Digo isso porque fui abduzido pelo talento e dedicação desse jovem pesquisador que, findo o mestrado sobre a obra de Lelé (1), sentiu necessidade de estudar, em sua tese de doutorado, a obra do arquiteto Aldary Toledo (2), meu pai, a quem Lelé chamava de mestre.

Lendo o livro voltei à 1963, ano em que, guiado por Lelé, conheci Brasília. Em sua companhia, me emocionei ao entrar na Catedral, obra prima de Oscar Niemeyer, seu amigo e mentor. Nesse mesmo dia visitei os prédios da Superquadra Sul 109, projetados por papai para o Instituto de Aposentados e Pensionista Bancários – IAPB, e o Conjunto Colina, o maior projeto de Lelé na UnB. Encantado com a articulação e acabamento dos componentes pré-fabricados, aplicados sem revestimento, e a perfeição de cada detalhe, deixei de ver em Lelé apenas o discípulo que tocava acordeom lá em casa, antes das aulas semanais que ele e alguns colegas de faculdade tinham com papai, varando a noite falando sobre arquitetura, artes plásticas, música e literatura. Depois da ida ao Colina, vi nele o grande arquiteto que viria a ser, talvez o maior de sua geração. Leia Mais

Revista Brasileira de História da Mídia. São Paulo, v.10, n.1, 2021.

Capa

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Expediente/Sumário

  • Expediente
  • Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia
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Editorial

  • Editorial
  • Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia
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Dossiê Temático: História da mídia e saúde (parte 2, v. 10, n. 1, 2021)

Artigos Gerais

 

História das mulheres, das relações de gênero e das sexualidades dissidentes / Estudos Ibero-Americanos / 2021

A pesquisa sobre História das Mulheres, relações de gênero e sexualidades dissidentes da cisheteronormatividade vem rendendo muitos textos publicados na forma de livros, capítulos e artigos. Essa trajetória de pesquisa que, em 1989, rendeu o primeiro dossiê intitulado “A mulher no espaço público”, publicado na Revista Brasileira de História e organizado por Maria Stella Martins Bresciani,[3] tem crescido significativamente, ampliando seus debates, incorporando novas discussões e enfrentando novos desafios.

Quando fomos convidadas a propor uma chamada de artigos para o dossiê, sabíamos que havia no campo uma grande quantidade de resultados merecendo ser divulgados. Foi com agradável surpresa que recebemos 43 artigos. Desses, 12 estavam fora das normas e foram devolvidos; e 31 foram enviados para avaliação. Da lista dos que tiveram pareceres ad hoc favoráveis, escolhemos apenas 12, como constava das regras da revista.

Essa experiência foi gratificante, mas nos causou preocupação. Muitos artigos com grande qualidade e bons pareceres não puderam ser publicados aqui, nesse dossiê. No entanto, demonstram a potencialidade do campo, resultado de recursos investidos na pesquisa, especialmente entre 2005 e 2016, da criação de grupos de estudos nas universidades e da vitalidade de movimentos sociais. Mostra, também, que a chamada “onda conservadora” antifeminista e homofóbica na América Latina, apesar dos seus ganhos eleitorais, não tem conseguido implantar seu “pânico moral”[4] na academia. Ao contrário, observa-se resistência, crescimento e diversificação.

Os artigos escolhidos para publicação neste dossiê se concentram, principalmente, na discussão sobre História das Mulheres. Apenas um dos artigos focalizou as sexualidades dissidentes da cisheteronormatividade. Pelo menos três artigos fizeram balanços historiográficos. O debate com a mídia, tendo como fontes livros, novelas e jornais, foi o principal suporte para a discussão sobre as subjetividades e a prescrição de normas para mulheres em diferentes momentos.

Abrindo o dossiê, o artigo “Relações de gênero, capitalismos afetivos, literatura ‘Chick-lit/Soft Porn’ e a ‘nova’ escrita contemporânea de/para mulheres”, escrito por Ana Carolina Eiras Coelho Soares, focaliza a literatura recente, sucesso de vendas, voltada para mulheres. A autora mostra como, apesar de essa literatura partir do pressuposto de que o prazer no sexo é um direito das mulheres, muitas imagens antigas são revisitadas. Nos pares que se formam, nessa literatura, os homens são sempre brancos, bem-sucedidos profissionalmente e muito mais ricos que as mulheres. Essas, possuem empregos insignificantes e nunca têm carreiras de sucesso. Elas se submetem “livremente” aos desejos do homem, por mais violentos que esses sejam. Uma cinderela contemporânea?

Raquel de Barros Pinto Miguel, no artigo “Fotonovelas: prescrevendo normas, modos e modas”, analisou as fotonovelas publicadas na revista Capricho nas décadas de 1950 e 1960. Nelas, as mocinhas, em geral pobres e órfãs, sofriam até encontrar a felicidade, casando-se com homem rico e lindo. A autora analisa essa “literatura de escape” e mostra o sucesso que obteve, observando a constituição das subjetividades engendradas.

O artigo “Modernidad, cultura y vanguardia feminista: Concha Méndez, una adelantada a su tiempo. De la voluntad emancipadora al exilio trasatlántico”, de Esmeralda Broullón, trata de analisar a trajetória pessoal e cultural da poetisa da geração de 1927, Concha Méndez, destacando o seu papel como escritora, editora e promotora cultural na Espanha nos anos 1920 e 1930, juntamente com o conhecido poeta Manuel Altolaguirre. Enfoca o período caracterizado pela grande efervescência política, pelo avanço do feminismo no país ibérico e por instituições de estudos como o Lyceum Club, um influente círculo cultural do qual Concha Méndez fez parte e onde se conheceram destacadas feministas que, pouco depois, em 1931, defenderam a conquista do voto feminino. A trajetória da autora no exílio mexicano, após a derrota da república espanhola em 1939, é, também, rapidamente delineada no artigo.

As discussões que articulam gênero e decolonialidade ou, como dizem as autoras, as “perspectivas contra coloniais” estão presentes no texto de Cintia Lima Crescêncio e Gleidiane de Sousa Ferreira, intitulado “Da História das Mulheres às perspectivas Contra-Coloniais? Reflexões sobre a historiografia do gênero no Brasil (2001-2019)”. Buscando, em eventos promovidos pela Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) e pelo Fazendo Gênero a presença da discussão contra-colonial entre pesquisadoras/es que discutem História das Mulheres e gênero, as autoras constatam que esse é um tema iniciante e com pouca presença, o que demonstra um pouco de resistência do campo da historiografia para essa questão.

Utilizando com principal fonte o periódico argentino Brujas, Júlia Glaciela da Silva Oliveira, no artigo “’Sin senderos prefijados’: a defesa da autonomia feminista nas páginas de Brujas (1981-1996)”, discute a autonomia do movimento feminista. Além de apresentar a historicidade desse debate nos anos 1970, a autora articula o tema com o avanço neoliberal na América Latina.

Também usando periódicos como a principal fonte, o artigo “As mulheres e suas tramas impressas: um repensar historiográfico das produções sobre a sociedade carioca e portenha dos anos iniciais da segunda metade do século XIX”, escrito por Bárbara Figueiredo Souto, mostra como a historiografia da imprensa e a que focaliza intelectuais ainda não deu a devida visibilidade às mulheres que escreveram e dirigiram periódicos em Buenos Aires e no Rio de Janeiro no século XIX. No artigo, Joanna Paula Manso de Noronha, por sua trajetória como editora e escritora, tanto na Argentina como no Brasil, é classificada como uma intelectual-mediadora-feminista-transnacional.

Patrícia Lessa e Claudia Maia, no artigo “Feminismo, vegetarianismo e antivivisseccionismo em Maria Lacerda de Moura”, trazem do início do século XX uma discussão que tem ganhado força neste início do século XXI: o antiespecismo. No caso de Maria Lacerda de Moura, tratava-se de um feminismo que se articulava com a questão da classe, com a luta pelo vegetarianismo e contra a vivissecção. Importante destacar como questões que hoje ganham destaque eram alvo de discussões e de publicações por Maria Lacerda de Moura e, no entanto, ficaram esquecidas.

O artigo “Algunas reflexiones sobre género y memoria en las narrativas sobre los años setenta en Argentina”, de Ana Laura Noguera, levanta questões importantes sobre a memória e a História do Tempo Presente na Argentina. A autora aponta as discussões teórico metodológicas que articulam gênero e memória na história recente. Mostra a importância da história oral para a pesquisa em História das Mulheres e do Gênero. Destaca, também, a forma como homens e mulheres narram suas histórias de vida e o impacto historiográfico das diferentes histórias para a noção de agência.

Caroline Pereira Leal, no artigo “’Mais bela do que o sol, mais bela do que o céu’: representação feminina no discurso carnavalesco da Porto Alegre do início do século XX (1906-1914)”, nos leva de volta ao início do século passado para mostrar as tentativas de definir, nas elites e com repercussões duvidosas, como deveriam se comportar as mulheres nas festas de carnaval.

O artigo “Memória em disputa: Inah Costa e os desafios da história das mulheres artistas”, escrito por Rebecca Corrêa e Silva, discute a invisibilidade, as dificuldades e o impacto do gênero na vida das mulheres que atuam no campo da arte. Ela traz a história de uma artista que passou da pintura figurativa para a moderna e abstrata.

O único artigo que discute sexualidades dissidentes é o de Marina Leitão Mesquita, intitulado “Gênero, dissidência e tradição na (re)invenção da feminilidade em concursos de beleza gay”. Trata- -se de uma etnografia sobre concursos de beleza gay em Fortaleza, Ceará. A discussão sobre as hierarquias, formas de feminilidades aceitas, assim como a memória de momentos em que a polícia interferia, marcam a narrativa. A discussão sobre a “feminilidade espetacular”, como padrão de beleza, ajuda a questionar as configurações de gênero.

O artigo de María Laura Osta Vázquez, intitulado “Manos que mecen la cuna: las nodrizas uruguayas bajo el control del discurso médico en el siglo XIX”, mostra o fim de uma profissão assumida por muitas mulheres pobres, negras, mestiças e estrangeiras: as amas de leite. Na segunda metade do século XIX, o discurso médico passou a questionar as mulheres que entregavam seus filhos para amas de leite e a discutir a saúde e a moral dessas profissionais. Toda essa campanha foi feita pela imprensa e pelo discurso médico higienista que – em nome da redução da mortalidade infantil – passou a cobrar das mulheres o “amor materno”.

Temos a honra que encerrar este dossiê com a entrevista de Maria Odila Leite da Silva Dias, professora emérita da Universidade de São Paulo (USP). Autora, entre outros, do livro Quotidiano e Poder, que abriu caminhos para a história das mulheres no Brasil, focalizando mulheres pobres, escravizadas e forras nas suas lidas para prover a existência no início do século XIX, ela é responsável pela formação de pesquisadoras que trouxeram inúmeras contribuições para o campo da História das Mulheres, do gênero e das sexualidades dissidentes.

Boa leitura.

Notas

3. BRESCIANI, Maria Stella Martins (org.). A Mulher no Espaço Público. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 9, n. 18, p. 7-8, ago./ set. 1989.

4. MISKOLCI, Richard; CAMPANA, Maximiliano. “Ideologia de gênero”: notas para a genealogia de um pânico moral contemporâneo. Sociedade e Estado, Brasília, v. 32, n. 3, p. 725-744, set./dez. 2017

Joana Maria Pedro –  Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo, SP, Brasil; pós- doutora na França, na Université d’Avignon e, também, nos Estados Unidos, na Brown University; professora titular da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, SC Brasil. Coordenadora do Instituto de Estudos de Gênero (IEG), Florianópolis/SC, Brasil. Atuou como Presidenta da Associação Nacional de História (ANPUH), na gestão 2017-2019. orcid.org/0000-0001-5690-4859 E-mail: joanamaria.pedro@gmail.com

Pilar Domínguez Prats –  Doctora en Historia por la Universidad Complutense de Madrid (UCM), en Madrid, España. Profesora honorífica del área de Historia del Pensamiento Político y Movimientos Sociales de la Universidad de Las Palmas de Gran Canaria, España. En la actualidad es investigadora del proyecto: Redes de Cooperación Interuniversitaria Canarias-Africa en Políticas de Igualdad desde metodologías colaborativas” y del Centro de Estudios y Difusión del Atlántico, CEDA. Socia fundadora del Seminario de Fuentes Orales de la Universidad Complutense de Madrid y del Instituto de Investigaciones Feministas de la UCM; presidenta de la Asociación Internacional de Historia Oral, IOHA (2008-2010) y miembro del Consejo de IOHA (2004 a 2012). orcid.org/0000-0002-8829-2508 E-mail: dominguezprats@gmail.com


PEDRO, Joana Maria; PRATS, Pilar Domínguez. Apresentação. Estudos Ibero-Americanos. Porto Alegre, v. 47, n. 1, jan./ abr. 2021. Acessar publicação original [DR]

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Germán Colmenares | Artificios – Revista Colombiana de Estudiantes de Historia | 2021

Pero la construcción es piedra a piedra

y parece que la tumba no avanzara

¿Alcanzaré —se pregunta Micerino— a morir a tiempo?

Raúl Gómez Jattin

Los lectores de Artificios. Revista de colombiana de estudiantes de Historia encontrarán a continuación 28 textos —de épocas, extensión y temas diversos— del historiador Germán Colmenares, textos que esperamos sean una contribución útil para quienes se interesan por la investigación histórica sobre la sociedad colombiana, y de manera más particular para quienes trabajan sobre temas semejantes o relacionados con los que abordó el notable historiador a lo largo de tres décadas de intenso trabajo (1960-1990) dedicado a la reflexión sobre la historia de Colombia y a la consideración de problemas historiográficos concernientes a la disciplina histórica y a su relación con las ciencias sociales y la filosofía. Estos textos también pueden ser de interés para observar algunas de las evoluciones de Colmenares, los puntos ciegos de sus búsquedas, las reiteraciones de ciertos temas, en fin, el carácter abierto y no dogmático de su trabajo.

Los materiales que presentamos están organizados de manera temática y cronológica, pero no hay que tomar muy en serio tales divisiones temáticas: son simplemente una forma cómoda de agrupar una serie de textos que son muy desiguales desde el punto de vista de su elaboración, y que tienen diversos “estatutos”, si se piensa en sus propósitos, temas, género, y lugares y fechas de publicación. Leia Mais

Ditadura militar: mecanismos de repressão e construção de consenso / Tempo Amazônico / 2021

Ditadura Militar Abaixo a ditadura UOL governo Bolsonaro

Para o historiador francês Henry Rousso, os grandes conflitos mundiais da primeira metade do século XX levaram ao “enraizamento de uma história do tempo presente no campo científico e no espaço público”.[1]

Referia-se ao fato de que rememorar a tragédia das guerras, do Holocausto, tornou-se uma espécie de imperativo. Entre historiadores, não caberia a pretensão de neutralidade diante do horror das catástrofes, mas, antes, o engajamento em um ofício crítico estreitamente atrelado às questões de seu tempo, tanto entre pares, quanto diante de um público mais amplo.

Em raciocínio análogo, podemos afirmar que a ditadura militar foi uma das catástrofes brasileiras do último século. A violenta experiência de mais de duas décadas de autoritarismo deixou profundas marcas na sociedade brasileira. Para melhor compreendê-las, especialistas têm de enfrentar uma intrincada composição de memórias individuais e coletivas, uma volumosa gama de documentos de variadas origens, além de uma série de indagações que surgem da discussão política cotidiana.

A presente edição de Tempo Amazônico, revista eletrônica semestral da seção amapaense da Associação Nacional de História (ANPUH / AP), traz o dossiê “Ditadura militar: mecanismos de repressão e construção de consenso”, que reúne produções originais sobre o golpe de 1964 e a ditadura. Trata-se de contribuição oportuna para a historiografia especializada no tema,seja pelo especial enfoque nos estudos sobre a região amazônica, seja pela variedade de perspectivas possibilitada pelo conjunto dos textos que seguem.

O primeiro texto traz o estudo de Vanessa Cristina da Silva Sampaio sobre o mundo do trabalho e as greves do Distrito Industrial da Zona Franca de Manaus nos anos de 1985 e 1986, quando a transição para a democracia ainda se consolidava. O segundo é um texto de Tiago Francisco Monteiro que tematiza as relações bilaterais Brasil-África do Sul durante os primeiros dois governos da ditadura militar, com foco particular nas relações raciais em ambos os países.

Na sequência, há a proposta de Gustavo Feital Monteiro de discutir o nazismo a partir do conceito de religião política, apontando limites e possibilidades de tal perspectiva. Depois, Danilo Mateus da Silva Pacheco trata das práticas curriculares do ensino de História da ditadura no estado do Amapá, evidenciando a experiência de professores.

Em seguida, temos o artigo de Caio Vinícius de Carvalho Ferreira que traz a avaliação histórica dos acontecimentos na região do Pontal do Triângulo Mineiro na ocasião do golpe de 1964. Ainda sobre o evento que iniciou a ditadura, há o texto de Francisco Bento da Silva e Jadson da Silva Bernardo intitulado “Ecos do golpe de 1964 no Acre: ditadura, intolerância e perseguições políticas”.

O artigo de Thiago Rocha de Queiroz reúne algumas das impressões do chargista amazonense João Miranda sobre as eleições indiretas de 1974, revelando aspectos da dinâmica política do estado do Amazonas naquela conjuntura. Já no texto de Priscila Oliveira Pereira, aborda-se a participação dos governadores no golpe de 1964 e nos primeiros anos da ditadura, com ênfase nas movimentações de Petrônio Portella, que governava o estado do Piauí.

Fernanda Fernandes da Silva analisou a trajetória do diretório estadual amazonense do Partido Comunista do Brasil (PCB), dando conta dos desafios enfrentados por seus militantes quando colocados na clandestinidade. Por último, há uma resenha de autoria de Dimas Brasileiro Veras e Rebeca Santos de Amorim Guedes sobre o filme “Amores de chumbo”, dirigido por Tuca Silveira, que nos convida a pensar sobre o direito à memória e sobre as consequências que sofremos, até os dias de hoje, do modelo de transição para a democracia que prevaleceu em nosso país.

Em tempos de negacionismo, fake news e proliferação de usos políticos do passado, o papel da reflexão profissional do historiador tem seu significado renovado.

Esperamos que este dossiê sirva aos intuitos reflexivos de seus leitores e os leve a novos questionamentos.

Notas

1. ROUSSO, Henry. A última catástrofe: a história, o presente e o contemporâneo. Tradução de Fernando
Coelho e Fabrício Coelho. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2016, p. 219.

Diego Knack – Doutor (SME-RJ)

César Augusto Queirós – Doutor (PPGH-UFAM)


KNACK, Diego; QUEIRÓS, César Augusto. Apresentação. Tempo Amazônico, Macapá, v.8, n.2, 2021. Acessar publicação original [DR]

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Mundos do Trabalho / Cantareira / 2021

Cantareira Mundos do Trabalho 1 governo Bolsonaro

A tradição da temática do trabalho na historiografia não impediu que apenas após 18 anos da sua primeira edição, a Revista Cantareira trouxesse entre suas publicações o seu primeiro dossiê inteiramente dedicado ao tema da História do Trabalho. Esta ausência se torna ainda mais surpreendente quando nos deparamos com a grande procura de pesquisadoras e pesquisadores não só de todo o Brasil, como também de outras partes do globo. De fato, as pesquisas de História do Trabalho e dos Trabalhadores e Trabalhadoras nas últimas décadas vem cada vez mais ampliando seu escopo e seus debates, mostrando que a experiência do homem branco, adulto e operário, que por muito tempo figurou na historiografia como o trabalhador ideal, não é a experiência universal dos mundos do trabalho.

Com um número recorde de artigos submetidos e aprovados, os trabalhos deste Dossiê mostram uma História do Trabalho dinâmica, plural, e que extrapola os grandes centros urbanos e as fronteiras nacionais. Ao mesmo tempo que os temas clássicos da História do Trabalho são revistos com novos olhares, abordagem e fontes, demonstrando a riqueza das pesquisas produzidas e a sua diversidade.

Refletindo os objetos discutidos pela sociedade atual, pesquisas abordando a convergência de classe, raça, gênero, identidade, orientação sexual aparecerem em diversos artigos do Dossiê. A ruptura dos paradigmas que segmentavam as investigações historiográficas entre trabalho e trabalhadores livres e não livres ajuda na formação de um complexo mosaico do Mundos do Trabalho. Dentro dessa seara, destacamos os artigos de Thompson Alves e Antônio Bispo, Ferreiros, “escravos operários” e metalúrgicos: trabalhadores negros e a metalurgia na cidade do Rio de Janeiro e na microrregião Sul Fluminense (Século XIX e XX) e de Karina Santos, Composição de trabalhadores na Fábrica de Ferro de Ipanema (1822-1842).

Para operacionalizar o rompimento da separação entre as análises sobre o trabalho livre e cativo, a ferramenta metodológica da interseccionalidade se mostra fundamental para pensar as complexidades do processamento da dominação e opressão de diversos grupos sociais dentro da classe trabalhadora. É o que podemos ver no artigo de Caroline Souza, Giovana Tardivo e Marina Haack, Localizando a mulher escravizada nos Mundos do Trabalho, bem como no de Caroline Mariano e Lígya de Souza, Mulheres úteis à sociedade: gênero e raça no mercado de trabalho na cidade de São Paulo (fim do século XIX e início do século XX), que mostram como a análise sobre o lugar social de mulheres escravizadas e os mundos do trabalho pode refinar a análise historiográfica. Ainda sobre a importância da interseccionalidade com o objetivo de pensar os trabalhadores, o artigo de João Gomes Junior, A “indústria bagaxa”: prostituição masculina e trabalho no Rio de Janeiro e na constituição da ordem burguesa aborda questões sobre a experiência de homens, trabalhadores sexuais que desviam do padrão heteronormativo, como parte formadora da classe trabalhadora carioca do início da República.

A utilização dos processos da Justiça do Trabalho emergiu como importantes fontes documentais há alguns anos e continuam rendendo pesquisas inovadoras: Tatiane Bartmann em Eles querem menos, elas querem mais: as reivindicações por trabalho na 1ª JCJ de Porto Alegre (1941-1945) e Vitória Abunahman, Trabalhadoras ou esposas? Um estudo sobre reclamações na Justiça do Trabalho de mulheres que trabalhavam para seus companheiros na década de 1950, trazem a luz as reivindicações das trabalhadoras, e Paulo Henrique Damião, A Justiça do Trabalho enquanto palco de disputas: entre estratégias e discursos, e Arthur Barros, Márcio Vilela, Fernanda Nunes, Marmelada de tomate: as relações de trabalho a partir do “sistema de parceria” na Fábrica Peixe (Pesqueira / PE), discutem as diversas estratégias e relações de trabalho a partir da instância judicial.

A cidade e a geografia nos mundos do trabalho se cruzam com diferentes fontes, temas e análises teórico-metodológicas, apresentando uma nova visão sobre o espaço urbano. Sob essa lente, podem ser lidos os trabalhos de Gabriel Marques Fernandes em A vida urbana em Tudo Bem (Arnaldo Jabor, 1978): a figuração dos “operários” durante a decomposição do “milagre” econômico brasileiro, de Amanda Guimarães da Silva em Lavadeiras na cidade: trabalho, cotidiano e doenças em Fortaleza (1900-1930), e de Aline Crunivel e Claudio Ribeiro em Memória, trabalho e cidade: contribuições para o debate contemporâneo sobre o lugar da classe trabalhadora.

Fora dos centros urbanos, a relação dos trabalhadores rurais, indígenas e migrantes com suas lideranças, com os empregadores e o Estado, suas lutas e representações, são temas dos artigos de Leandro Almeida, Os comunistas e os trabalhadores rurais no processo de radicalização da luta pela terra no pré-1964, de Idalina Freitas e Tatiana Santana, Entre campos e máquinas: histórias e memórias de trabalhadores da Usina Cinco Rios – Maracangalha, Bahia (1912-1950), e de Pedro Jardel Pereira, “A legião dos rejeitados”: trabalhadores migrantes retidos e marginalizados pela política de mão-de-obra em Montes Claros / MG, na década de 1930, e de Eduardo Henrique Gorobets Martins, As denúncias de trabalhadores indígenas do cuatequitl no códice Osuna durante a visita de Jerónimo de Valderrama na Nova Espanha.

Temas cânones dos estudos sobre o trabalho, como suas entidades representativas e seus discursos, o contato com o mundo da política, suas estratégias de luta e a organização burocrática, são discutidos sob novas perspectivas teóricas, metodológicas e bibliográficas nos artigos de Bruno Benevides, “Eu não tenho mais pátria!”: a primeira guerra mundial à luz da propaganda libertária de Angelo Bandoni, de Igor Pomini, As Jornadas de Maio de 1937, o antifascismo e o refluxo da Revolução Espanhola, de Eduard Esteban Moreno, Manifiestos políticos para la acción del movimiento obrero: Brasil y Colombia durante las primeras décadas del siglo XX, de Frederico Bartz, Os espaços da luta antifascista em Porto Alegre (1926-1937), de Pedro Cardoso, A atuação militar contra a greve do Porto de Santos em 1980, e de Guilherme Chagas, O corporativismo na construção do discurso da Revista Light (1928-1940).

Extrapolando os limites da História e da historiografia e nas suas interseções, o Dossiê também conta com contribuições de distintas áreas das Ciências Humanas e Sociais, o que mostra a importância do diálogo constante e como o tema do trabalho continua provocando discussões interdisciplinares sobre o sistema capitalista e os novos regimes de trabalho e explicação, de acordo com os artigos de Leonardo Kussler e Leonardo Van Leeuven, Da alienação em Marx à sociedade do cansaço em Han: fantasia e realidade dos trabalhadores precarizados, de Evandro Ribeiro Lomba, As estruturas históricas da formação para o trabalho no sistema capitalista e de Gustavo Portella Machado, Entre desemprego e freelance: a atual configuração do mundo do trabalho na cultura a partir da ocupação de produtores culturais como microempreendedores individuais. Ainda dentro dessa temática, este número também conta com a resenha de Regina Lucia Fernandes Albuquerque sobre o livro de Tom Slee, Uberização: a nova onda do trabalho precarizado.

Finalizando o Dossiê Mundos do Trabalho, apresentamos a entrevista concedida pelos professores Paulo Fontes (PPGH / UFRJ) e Victoria Basualdo (COCINET / FLACSO) para as organizadoras, Clarisse Pereira e Heliene Nagasava. Na conversa, os professores discutem suas formações acadêmicas, trajetórias de pesquisa, transformações no campo da história do trabalho e a importância do pensamento e da atuação dos historiadores, em especial os historiadores do trabalho e trabalhadores, fora dos muros da Universidade.

Desejamos a todas e todos uma ótima leitura!

Clarisse Pereira – Mestra e licenciada em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolve pesquisa na área de História do Brasil Republicano, atuando principalmente no tema sobre trabalhadores rurais na ditadura civil-militar. Atualmente é doutoranda em História Social pela Universidade Federal Fluminense, com bolsa CAPES, e desde 2019 faz parte da Comissão Editorial da Revista Cantareira. E-mail: clarissepereira.snts@gmail.com

Heliene Nagasava – Doutoranda em História pelo Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC / FGV), pesquisadora do Laboratório de Estudos de História do Trabalho (LEHMT / UFRJ) e funcionária do Arquivo Nacional. E-mail: hnagasava@gmail.com


PEREIRA, Clarisse; NAGASAVA, Heliene. Apresentação. Revista Cantareira, Niterói- RJ, n.34, jan / jun, 2021. Acessar publicação original [DR]

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Fontes. Guarulhos, v.8, n.14, 2021.

Documentos e traduções

Documentos

Traduções

 

What is Global History? | Sebastian Conrad

El historiador alemán Sebastian Conrad (1966) a lo largo de su carrera ha trabajado en los campos de la historia transnacional y de la historia global. Ello tanto desde la refl exión teórica como mediante la aplicación de sus metodologías en el análisis de casos de estudio concretos. Actualmente detenta la cátedra de historia moderna en la Freie Universität de Berlín, donde también dirige la maestría en Historia Global. En 2018, su trayectoria académica fue reconocida al nombrársele miembro de la Academia Europaea y de la Academia de ciencias de Berlín-Brandemburgo1. En su libro, What is Global History, Conrad se propuso realizar una discusión de alcance teórico sobre este tipo de historia y su práctica, discutiendo, por ejemplo, la política implícita en su ejercicio y los efectos del enfoque global en las categorías utilizadas por los historiadores, como las nociones de espacio y tiempo2.

En su texto, Conrad plantea una defi nición heurística de esta práctica historiográfi ca, concibiéndola como un enfoque diferenciado que exploraría “alternative spatialities, is fundamentally relational, and is self-refl ective on the issue of Eurocentrism”3. Leia Mais

La restauración en la Nueva Granada (1815- 1819) | Daniel Gutérrez

La llegada de Pablo Morillo, acontecimiento nombrado tradicionalmente como la Reconquista, cuenta con unas particularidades que permite ver, más que una acción de reconquista, las implicaciones que este término contiene: una experiencia de intento y fracaso por aplicar castigos y absoluciones con fines de restaurar el poder monárquico. Los levantamientos y dificultades que los Borbones habían vivido no son comparables con la revolución que estaba teniendo lugar en Hispanoamérica después de la abdicación de Bayona y el interregno, razón por la cual la realidad comprendida entre 1815 y 1819, a partir de la vuelta del rey, va más allá de una simple reconquista, habiendo no solo “justicia” y represalias por la deslealtad a la Corona, sino también acciones de perdón y reconciliación que deberían ser entendidas en el proceso de las restauraciones, iniciado en 1815. El fin de la temporalidad sugerida por el autor, que sí dista del sugerido para las restauraciones europeas, responde a que ese año, 1819, fue el año en que se derrotó defi nitivamente al régimen español en la Nueva Granada.

El anterior es el argumento central de La restauración en la Nueva Granada, texto escrito por Daniel Gutiérrez como resultado de su estancia en Francia. El libro invita a reinterpretar renovando la conceptualización y, con ello, a renovar también la perspectiva de la restauración, para así entender que el proceso que se dio en la Nueva Granada no fue simplemente una pugna entre pacificadores y revolucionarios. En otros términos, la invitación del texto es a ver en los hechos las formas de perdón y castigo, junto con las formas de representación que se desarrollaron en torno a ellas, para así dilucidar las resistencias a la restauración y las contradicciones en el accionar del gobierno de Fernando VII para restablecerse en la Nueva Granada. Alejarse de la perspectiva que castiga a unos, los pacificadores, y glorifica a otros, los revolucionarios, es uno de los logros de esta investigación. Leia Mais

La paz olvidada. Políticos, letrados, campesinos y el surgimiento de las FARC en la formación de la Colombia contemporánea | Robert Karl

Robert A. Karl es historiador del Darmouth College. Por medio de su tesis titulada “State Formation, Violence, and Cold War in Colombia, 1957-1966”, obtuvo su doctorado en Historia por la Universidad de Harvard. Además de la obra aquí reseñada, Karl ha publicado artículos tales como “From ‘Showcase’ to ‘Failure’: Democracy and the Colombian Developmental State in the 1960s”1, “Century of the Exile: Colombia’s Displacement and Land Restitution in Historical Perspective, 1940s-1960s”2 y “Reading the Cuban Revolution from Bogotá, 1957-62”3 . Karlha sido maestro de historia moderna de América Latina en las universidades de Princeton, Harvard y Dartmouth.

Publicado inicialmente en 2017 bajo el título Forgotten Peace: Reform, Violence, and the Making of Contemporary Colombia, la presente edición es una traducción realizada al español por la escritora y filósofa Carolina Sanín Paz. Esta obra se compone de siete capítulos, un epílogo, un posfacio y un prólogo a la edición colombiana. Es un libro que intenta, de acuerdo con su autor, traer al debate público y académico el esfuerzo de pacificación que vivió el país una vez finalizó el régimen de Gustavo Rojas Pinilla (1953-1957) y se dio inicio al Frente Nacional en cabeza de Alberto Lleras Camargo. A la par, el autor establece que es de su interés reconstruir “la genealogía de la violencia a partir de los encuentros entre los colombianos de la ciudad y el campo”4 . El “país letrado”, como lo denomina, se constituye como otro actor principal en la construcción de la paz colombiana en un periodo donde el bandolerismo y las guerrillas se consolidaron. Leia Mais

Luisa de Venero, una encomendera de Santafé. Microhistoria de las mujeres encomenderas en el Nuevo Reino de Granada, siglo XVI | Camilo Alexander Zambrano Cardona

En el texto Luisa de Venero, una encomendera de Santafé. Microhistoria de las mujeres encomenderas en el Nuevo Reino de Granada, siglo XVI, el historiador Camilo Zambrano se centra en dar a conocer y entender la participación de las mujeres en la Colonia debido a que esta ha sido vista convencionalmente desde una perspectiva androcéntrica —como él mismo lo menciona—, condenando lo femenino a la invisibilidad. En el texto se expone la vida de una mujer encomendera en la sociedad colonial de la Nueva Granada, doña Luisa de Venero. El objetivo del escrito es mostrar a la mujer colonial en un rol activo en la sociedad partiendo de las mujeres encomenderas.

El texto tiene un enfoque microhistórico de la vida de la encomendera Luisa de Venero. A través del análisis de su vida, y en especial de un conflicto judicial que afrontó sobre su encomienda, se reconstruye el papel de la mujer en otros aspectos de la vida colonial que suelen dejarse de lado: “Las investigaciones históricas colombianas sobre las mujeres coloniales se dirigían a cuestiones acerca del género y la etnicidad, dejando por fuera la interacción de aquellas con las instituciones económicas, políticas y sociales”1 . El libro está dividido en tres capítulos. En el primero, Zambrano expone un estudio general de la ciudad de Santafé desde su fundación en 1538 y su posterior organización, para mencionar en dónde estaba ubicada la casa de la encomendera Luisa de Venero2, pues esta propiedad no era la única que poseía. Se presentan, además, las condiciones climáticas que había en la tierra de esta encomendera y, posteriormente, se dedica un apartado sobre el contexto político y económico, mencionando a la Real Audiencia y la Real Hacienda junto con su organización y funcionamiento, información que permite obtener una contextualización que, aunque se torna extensa, busca explicar por qué, según Zambrano, la mujer no tuvo cabida en el mundo de las instituciones coloniales. Leia Mais

Maria Graham: Uma inglesa na independência do Brasil | Denise Porto

Fazer uma resenha é um ato de amor. De crença, de prazer.

É ler um trabalho ou um livro e jogar seus sonhos para um monte de sentimentos, de imagens, boas e ruins.

É imaginar-se em um outro local.

E essa crença me acompanha no trabalho de Denise G. Porto quando nele descreve a inglesa que aqui viveu na cidade colonial, observando e sentindo as ruas com o cotidiano da cidade, conhecendo ricos e pobres, vivendo na floresta ou vivendo no palácio da Quinta da Boa Vista. Um prazer também quando tomamos conhecimento quanto aos documentos oficiais sobre a Guerra da independência no Nordeste, principalmente na Bahia e Maranhão. Leia Mais

O Brasil resiliente: estímulos criativos para sua reconstrução | Manoel José de Miranda Neto

Manoel José de Miranda Neto – membro do Instituto Histórico Brasileiro, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Academia Paraense de Letras e da Academia Paraense de Jornalismo, participante ativo de Congressos e Seminários sobre “Globalização, Cidadania e Qualidade de Vida” e autor de renomados livros de pesquisa histórica, como por exemplo, o conceituado A Utopia Possível: Missões Jesuíticas e seu suporte econômico-ecológico, publicado em Brasília, pela Funag, em 2012 – traz à luz neste ano de 2021 seu último trabalho de fôlego: O Brasil Resiliente. Estímulos criativos para sua reconstrução.

A obra em tela possui 332 páginas, dividida em três partes temáticas: I – Colonização Séculos XVI e XVII; II – Consolidação Séculos XVIII e XIX; III – Globalização Séculos XX e XXI. As seções temáticas são desenvolvidas em treze capítulos cronologicamente contextualizados e enriquecidos com notas explicativas que remetem às referências bibliográficas completas. O autor apresenta, também, os Créditos das Ilustrações e as instituições basilares da documentação pesquisada – Arquivos, Fundações, Institutos Históricos – abrindo caminho epistemológico para futuras pesquisas e orientações para outros pesquisadores. Leia Mais

Bilros. Fortaleza, v.9, n.18, 2021.

Apresentação

Artigos

AbeÁfrica. Rio de Janeiro, v.5, n.5, 2021.

Expediente

Dossiê

Artigos

Resenhas

Traduções

Criação literária

  • O Mosquito
  • José D’Assunção Barros
  • PDF
  • A Inversão da Hipótese
  • José D’Assunção Barros
  • PDF

Narrativas de la historia en el audiovisual colombiano. Controversias sobre el pasado en cuatro estudios de caso comparados | Isabel Restrepo Jaramillo

El libro Narrativas de la historia en el audiovisual colombiano parte de la idea de que ha existido una conexión entre la historia en cuanto disciplina y las representaciones del pasado que han sido vertidas en el audiovisual colombiano con enfoque retrospectivo. Con la intención de comprender la filigrana de lo anterior, la historiadora Isabel Restrepo Jaramillo ha optado por la comparación de cuatro casos: Garras de oro, los documentales de Marta Rodríguez y Jorge Silva; El profesor Super O histórico y los documentales que integran la Caja Viajera del Grupo de Memoria Histórica (GMH). La investigación adelantada por la autora le permite sostener que los audiovisuales con intencionalidad retrospectiva dialogan con argumentos desarrollados por la historiografía y los actualizan de acuerdo con las coyunturas del entorno de producción de las obras, al tiempo que transmiten una comprensión de la historia ligada tanto a corrientes historiográficas como a proyectos políticos o reivindicaciones sociales. En consecuencia, los productos audiovisuales emplean el pasado para hablar del tiempo en que vieron la luz. Leia Mais

Sins Against Nature. Sex and Archives in Colonial New Spain | Zeb Tortorici

Desde 1986, cuando Serge Gruzinski publicó su novedoso estudio “Las cenizas del deseo”, no se publicaba una investigación histórica tan desafiante sobre la homosexualidad durante el periodo colonial novohispano.1 Es cierto que habían aparecido distintas investigaciones que ampliaban y enriquecían nuestra comprensión del campo de la sexualidad durante el periodo, especialmente porque analizaban muchas transgresiones a la doctrina establecida por la Iglesia. Sin embargo, conviene admitirlo, estas transgresiones tenían relación, casi siempre, con el matrimonio católico. Es decir, se trataba de relaciones heterosexuales prematrimoniales o al margen del matrimonio. Sins Against Nature, es bueno decirlo, no es sobre homosexualidad, pero es indiscutible que es uno de sus principales focos de atención. Leia Mais

Todos estos años de gente. Historia social, protesta y política en América Latina | Andrea Andújar e Ernesto Bohoslavsky

La relación entre pasado y presente es inherente a la disciplina histórica desde sus inicios. En América Latina, y antes en Europa, el proceso de profesionalización e institucionalización de la historia fue, en gran medida, impulsado y modelado por las necesidades de su presente. Las aspiraciones de cientificidad fueron indisociables de los usos políticos, especialmente los vinculados a contribuir a la consolidación de los Estados y las identidades nacionales. A lo largo del tiempo esa tensión inherente a la disciplina se resignificó en múltiples sentidos y direcciones. Así, en el espacio latinoamericano, la privilegiada interlocución de la historia profesional con el Estado fue complejizándose al calor de las protestas y demandas de diversos actores colectivos, principalmente desde el último cuarto del siglo XX. Las reivindicaciones por derechos impulsadas por las luchas feministas, los pueblos originarios, los homosexuales o el movimiento negro interpelaron de diversa forma a la comunidad de historiadores. Los vasos comunicantes fueron complejos, fluctuantes y, a veces, esquivos. Este nudo de preocupaciones en el cual pasado y presente se atan, solapan y retroalimentan es el que articula los textos que Andrea Andújar y Ernesto Bohoslavsky reunieron en Todos esos años de gente. Leia Mais

Tendências Historiográficas na Revista Brasileira de História: 1981-2000

MELLO R M Tendencias Historiograficas na RBH governo Bolsonaro
Ricardo Marques de Mello / Foto: Unespar-Campo Mourão /

Os anos 1980 e 1990 são usualmente considerados momento de inflexão da historiografia em nosso país, com a falência das metanarrativas iluminista e marxista e das teses de longa duração. Ao promover diálogo interdisciplinar com a antropologia e a teoria literária, os historiadores brasileiros teriam propiciado a ascensão da micro história e da história cultural. Muitos se valeriam de novas fontes para meditar sobre representações, e privilegiariam recortes temporais recentes e recortes espaciais em território nacional, regionais ou locais. A mudança de bases teóricas, com inspiração na Nova História e em autores como Michel Foucault, Edward Thompson, Walter Benjamin e Clifford Geertz, alavancaria o enfoque de temas, objetos e sujeitos históricos até então apagados. Todavia, a apropriação superficial desses pensadores, somada à presença tímida, no Brasil, da produção e do conhecimento de obras de teoria, teria favorecido uma prática empirista da escrita da história.

À vista disso, seria possível determinar a validade destes pressupostos nas fontes da história da historiografia do período referido? Se sim, como? Se não, por quê? Poderiam os historiadores empregar estas formulações para definir tendências historiográficas estaticamente?

É sobre aquele cenário e estas questões que Ricardo Marques de Mello se debruça no livro Tendências Historiográficas na Revista Brasileira de História: 1981-2000. Nas cento e oitenta e três páginas que o compõem, Mello almeja identificar tendências historiográficas existentes na historiografia brasileira das duas últimas décadas do século XX, por meio das publicações da Revista Brasileira de História (RBH). A obra é fruto de sua tese de doutorado (2012), que venceu, em 2014, o concurso de teses da Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia (SBTHH). O livro conta com prefácio de Carlos Fico, um dos primeiros historiadores brasileiros interessados na identificação de inflexões deste tipo para composição de balanços.

É pertinente registrar que a RBH é vinculada à Associação Nacional de História (ANPUH) e surgiu em 1981, como produto da reformulação da entidade num contexto de expansão acadêmica e “necessidade de ampliar a troca de experiências entre os praticantes do ofício” (MELLO, 2016, p. 47). Logo, o periódico materializou os interesses e as orientações dos historiadores publicados e dos grupos envolvidos direta e indiretamente na instituição, atuando na divulgação dos propósitos desta e na construção do cenário historiográfico da época.

A seguir, resenharei os procedimentos e as soluções encontradas por Mello, buscando expor as contribuições de sua obra para as discussões sobre as particularidades da historiografia brasileira do final do século passado. Destarte, entendo que é preciso definir o conceito expresso no título do livro, assim como o autor o faz em seu primeiro capítulo.

Segundo Mello, tendências historiográficas devem ser entendidas como conjuntos resultantes da propensão ao emprego gradual e frequente de certas opções historiográficas. Estas, por sua vez, estão pautadas em elementos comuns a todos os artigos, de forma a viabilizar a interpretação das fontes mesmo em sua heterogeneidade. São eles: “área historiográfica, recorte temporal, delimitação espacial, orientação teórica, perspectiva predominante na interpretação e tipos de fontes” (p. 48). Deste modo, Mello pratica um estudo interno da revista, valendo-se, como instrumento metodológico de identificação e investigação das opções historiográficas, de uma Ficha de Análise por ele mesmo elaborada a partir das características dos artigos. Nesta primeira etapa, o emprego da ficha é importante para garantir que sejam aplicados os mesmos critérios de exame para todos os textos. Ela tem como categorias: “RBH”, “Autor(a)”, “Âmbito de interesse”, “Orientações Teóricas”, “Perspectiva predominante na interpretação”, “Fontes” e “Observações”.

Sinteticamente, “RBH” se refere aos dados técnicos do artigo; “Autor(a)” a informações sobre quem escreveu o texto, obtidas, sobretudo, por meio da Plataforma Lattes; e “Âmbito de interesse” insere o artigo em determinada área historiográfica, recorte espacial e temporal. Aqui, é imprescindível uma pausa para alguns esclarecimentos.

As classificações de áreas historiográficas foram feitas com base na preponderância de certo âmbito, mensurável mediante critérios de definição presentes nas fontes mesmas, bem como nas acepções fabricadas pelos pensadores e/ou pela comunidade acadêmica no momento de escrita dos artigos. Mello identificou cinco grandes áreas: História Social, História Cultural, História Política, História Econômica e História das Ideias; e três “especialidades de cunho metateórico”: Historiografia, Teoria/Filosofia/Metodologia da História e Ensino de História (p. 67-68). Da mesma forma, recortes espaciais e temporais seguiram as determinações dos próprios textos. O autor explica: “Se o recorte dizia respeito aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, preenchi o campo pertinente, precisamente, com os dados do artigo: São Paulo e Rio de Janeiro” (p. 78). Posteriormente, tais dados foram coligidos em divisões maiores, como regiões e continentes. Quanto ao recorte temporal, adotou-se a periodização em séculos: “se em um texto, por exemplo, o recorte cronológico abrangia as duas últimas décadas do século XIX e a primeira década do século XX, classifiquei-o como ‘século XIX e XX’” (p. 78).

Já em “Orientações Teóricas”, Mello não se ateve apenas a menções diretas para distinguir dispositivos analíticos, demonstrativos e explicativos que orientam de um modo especial a compreensão, construção, caracterização e explicação do objeto de análise da pesquisa. Elas podem ser de duas naturezas: abrangentes [generalizantes, como as filosofias da história] ou pontuais [pertencem a pesquisas específicas] (p. 78-79, grifos do autor).

“Perspectiva predominante na interpretação” divide-se entre perspectiva factual e representacional, e trata de concepções de compreensão e apropriação de objetos no que diz respeito aos modos de reconhecer a realidade e o trabalho do historiador. Em semelhança com o que ocorre com as áreas historiográficas, um artigo é rotulado como portador de uma ou outra perspectiva por critério de preeminência, já que o factual e o representacional estão vinculados e se mesclam nos textos. Neste tópico, as especialidades de cunho metateórico representam uma categoria a parte, denominada “discussão bibliográfica” (p. 87).

Por fim, “Fontes” permite a identificação do uso (ou desuso) de fontes oficiais nos estudos em questão, e “Observações” reúne aquilo que não se enquadra nos itens anteriores, como resumo do artigo, curiosidades e informações relevantes de caracteres diversos.

Apesar de encontrar dezenove tipos de textos na RBH e ler todo o conteúdo dos números elencados, Mello prefere usar exclusivamente os artigos, “tanto por questões quantitativas – maioria dos textos da RBH –, quanto qualitativas – uma vez que são espaços privilegiados nos quais é possível identificar mais facilmente as opções historiográficas adotadas por cada autor” (p. 57-58). Ao todo, eles perfazem o número de trezentos e quarenta e três.

Mello quantificou a presença e frequência das opções historiográficas tanto em perspectiva diacrônica quanto em números totais, calculando e comparando, ao fim, as porcentagens. Assim, obteve duas periodizações a partir dos próprios atributos da revista: a primeira se estende de 1981 a 1990, e a segunda, de 1991 a 2000. Isso porque a passagem entre as duas décadas é ponto de mudança de opções favoritas dos historiadores. Os resultados, reunidos e apresentados em tabelas no segundo capítulo, são surpreendentes; demonstram a preferência, na RBH dos anos 90, por recortes espaciais definidos como “Brasil” e pela ausência de orientação teórica. Assim,

[…] o artigo “típico” do primeiro período – 1981-1990 – seria, ao mesmo tempo, de história social, recortaria seu objeto cronologicamente entre o século dezenove e vinte, versaria sobre o Brasil ou especificamente sobre São Paulo, não teria orientação teórica, teria perspectiva predominante da interpretação factual e usaria algum tipo de documento oficial e bibliografia pertinente como fontes privilegiadas. Por seu turno, o artigo que melhor representaria o período seguinte – 1991-2000 – seria de história cultural, sem orientação teórica, sobre o século XX, o Brasil ou São Paulo, representacional e com bibliografia pertinente (p. 133).

Entretanto, Mello não considera possível, nem oportuno, construir um padrão hermético dos artigos veiculados pela RBH, porque a elaboração de um modelo omitiria a diversidade, as nuances e a riqueza das fontes. Isso quer dizer que estabelecer uma tendência historiográfica homogênea para cada um dos períodos trabalhados seria, na verdade, fabricar um retrato distorcido e despropositadamente dualista sobre a historiografia produzida a partir deste periódico. Aliás, as porcentagens dos artigos que corresponderiam perfeitamente aos arquétipos traçados são baixíssimas: pouco mais de 5% para o do primeiro período e 3,9% para o do segundo. O autor indica que seria viável apurar tendências apenas em sua singularidade, pois cada uma delas teria um tempo único de mudança e propagação, não ocorrendo, portanto, simultaneamente; e relata, inclusive, que existem diversos casos de “coexistência de opções em decadência com outras em ascensão em um mesmo artigo” (p. 134).

Por conseguinte, no terceiro capítulo, Mello interpreta as informações produzidas de forma a significar as transformações nas opções historiográficas individualmente. Abordaremos a seguir somente aquelas que diferiram do esperado.

O crescimento dos recortes espaciais definidos como “Brasil” (como um todo) e “Sem-identificação” foi tendência imprevista na RBH no segundo período pela ênfase que a história da historiografia brasileira dá ao predomínio dos recortes locais e regionais a partir dos anos 1980. Mello explica que fatores condicionantes deste quadro advêm do emprego de termos generalistas; do aumento de artigos de “Discussão Bibliográfica” (textos que, muitas vezes, dispensam delimitação espacial); de alusões imprecisas dos autores aos recortes balizados; e da multiplicação da perspectiva representacional. Este último elemento faz com que o espaço perca a importância atribuída a ele pela perspectiva factual, que dependia do físico como argumento de convencimento. Para o autor, a representação não necessariamente está fundamentada em um espaço concreto: o que tem maior relevância, nesses casos, é ela mesma e sua historicidade. Por isso, há margem para limites espaciais abstratos, ou mesmo ausentes, nas pesquisas publicadas no periódico entre 1991 e 2000.

Ainda falando de tendências inesperadas, temos que poucos artigos da RBH, de 1981 a 2000, apresentam orientação teórica. A apropriação de pensadores como Foucault, Benjamin, Thompson e Geertz foi baixíssima, perfazendo aporte de menos de 7% dos trezentos e quarenta e três artigos eleitos; especialmente na década de 1990, diminuíram sua participação na revista, representando apenas 2,6% das escolhas dos publicados. Também é significativo que

Entre aqueles artigos que utilizaram alguma orientação teórica, foi comum o uso de mais de um autor no mesmo trabalho, como combinações entre Marx/Foucault, Thompson/Ginzburg e Freud/Lacan/Arendt; e, dos últimos quatro números da RBH, apenas dois artigos, entre quarenta e dois, se valeram de orientação teórica (Bourdieu), sugerindo que o final do século XX se encerra com um sintomático desapego às teorias (p. 124-125, grifo do autor).

Sobre este assunto, o autor entende que tal decréscimo relaciona-se à descrença na similaridade como via de pesquisa dos fenômenos históricos. Encontrar correspondências entre presente e passado e fazer delas possibilidade de análise seria relativamente incompatível com o pensamento dos historiadores da RBH deste período; aplicar teorias surgidas em outros contextos e estudos aos seus próprios, menos ainda. Não obstante, Mello conclui que os autores dos textos em questão ponderam teoricamente sobre seus objetos, por meio de sua escrita e argumentação, bem como apoiando-se em uma “lógica interna” das fontes, por exemplo (p. 148). Com isso, compreendemos que a ausência de orientação teórica não se equivale a falta de reflexão teórica.

Ao final, Mello não nos dá uma imagem totalizante apaziguadora acerca da historiografia veiculada na RBH naquele momento. Outrossim, o autor não pôde mensurar a aplicabilidade das afirmações que iniciam esta resenha (acerca de um panorama historiográfico brasileiro das décadas de 1980 e 1990) em suas fontes. Sobretudo, porque o material empírico e as definições das opções historiográficas nas obras disponíveis para comparação eram “supostamente diferentes” das suas e também entre si (p. 166). Contudo, além das conclusões já apresentadas (algumas, podemos dizer, inusitadas), Tendências Historiográficas vem confirmar que, na década de 1990, houve uma “ênfase concedida às diferenças” (p. 157). Isso significa que, em comparação com o período anterior, os artigos publicados entre os anos de 1991 e 2000, em geral, contêm opções historiográficas que prezam pelo foco nas descontinuidades, trazendo à tona novos sujeitos históricos e negando hierarquias entre grupos, sociedades e culturas. Segundo Mello, este movimento sinaliza uma mudança nas formas de conceber a função do trabalho dos historiadores, e em como estes se veem; uma alteração nas maneiras que enxergam a história e captam a realidade, e nos modos como se relacionam com ambas, mudando sua escrita sobre elas. Em suas palavras, “parece-me que a ênfase nas diferenças é uma tendência do nosso tempo que se manifesta no nosso ofício[…]” (p. 159).

Ademais, os conceitos de opções e tendências historiográficas como colocados pelo autor, o esmiuçamento de seu percurso de investigação e o reconhecimento da inconstância das tendências vêm auxiliar os pesquisadores da história da historiografia. Este certamente é um estudo que pode servir de inspiração teórico-metodológica a muitos outros, desde que sejam levadas em conta, como o próprio Mello ressalta e sabiamente toma para si, as especificidades de cada fonte.

Carolina Maria Donegá Teodoro – Mestranda em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Franca – São Paulo – Brasil. E-mail: cteodoro73@gmail.com.


MELLO, Ricardo Marques de. Tendências Historiográficas na Revista Brasileira de História: 1981-2000. 1. ed. Curitiba: Prismas, 2016. 183p. Resenha de: TEORODO, Carolina Maria Donegá. Revista de História da UEG, v.10, n.1, p.1-6, 2021. Acessar publicação original [IF].

Ágora – Arquivologia em Debate | Florianópolis, v.31, n.62, 2021.

Edição v.31 n.62 (2021) | Publicado: 2021-01-01

Editorial

Artigos

Relato de experiência

Expediente | Aline Carmes Krüger |  PDF/A |

Cronistas do Rio | Revista IHGRJ | 2021

Na opinião de Machado de Assis, o cronista seria uma espécie de historiador do cotidiano, que transita entre as fronteiras imprecisas da literatura com a história, a registrar acontecimentos corriqueiros que dificilmente renderiam manchetes nos jornais, mas que permitem ao historiador contemporâneo compreender as ideias que circulavam na sociedade durante uma determinada época, além de conhecer suas práticas e costumes1. Pois bem, este número da Revista é aberto pelo dossiê “Cronistas do Rio”, que contempla a obra de três escritores, que perscrutaram, cada qual a seu modo, a “vida ao rés-do-chão”2 da urbe carioca: o flâneur João do Rio (1881-1921), o rebelde Lima Barreto (1881-1922) e o “anjo pornográfico” Nelson Rodrigues (1913-1980), estudados respectivamente por Antonio Edmilson Martins Rodrigues, Luiz Ricardo Leitão e Marco Santos.

Como de costume, além do dossiê, a Revista se organiza em dois segmentos. O primeiro está voltado para contribuições acadêmicas, enquanto o segundo apresenta uma síntese da vida social do IHGRJ, eventos e informações de natureza institucional. Leia Mais

Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, n.28, 2021.

2021 Edição 28

Sumário

APRESENTAÇÃO

  • Lená Medeiros de Menezes
  • Lucia Maria Paschoal Guimarães
  • Olinio Coelho (in memoriam)

DOSSIÊ – CRONISTAS DO RIO

  • JOÃO DO RIO EM PERSPECTIVA: UM FLÂNEUR-PEDESTRE E A CIDADE DO RIO DE JANEIRO
  • Antonio Edmilson M. Rodrigues
  • LIMA BARRETO: UM CRONISTA MULTIFACETADO E REBELDE DO RIO DE JANEIRO
  • Luiz Ricardo Leitão
  • O MUNDO TRÁGICO SUBURBANO CARIOCA DE NELSON RODRIGUES
  • Marco Santos
  • ARTIGO
  • “AS FAVELAS DO DISTRITO FEDERAL” (NO CENSO DE 1950), UM ESTUDO DE ALBERTO PASSOS GUIMARÃES
  • Nelson de Castro Senra
  • AS MORADAS DO REI
  • Vera Lúcia C. de Queiroz Andrade
  • A SOCIEDADE DOS ARTISTAS NACIONAIS
  • Maria de Fátima Castro Neves
  • HERANÇAS JUDAICAS
  • Neusa Fernandes
  • LUIZ PALMIER (1893-1955) E A CONFORMAÇÃO DA SÃO GONÇALO MODERNA..
  • Luís Reznik Rui Aniceto Fernandes
  • MEMÓRIA E PATRIMÔNIO EM VASSOURAS-RJ
  • Roselene de Cássia Coelho Martins
  • O MONUMENTO-ALTAR DE SÃO SEBASTIÃO: A SAGA CÍVICO-RELIGIOSA DE UMA DEVOÇÃO
  • Carlos Augusto Nobre
  • SANTO ANTONIO DO RELENTO.
  • Magaly Oberlaender
  • ESBOÇO TEMÁTICO
  • CARLOS CHAGAS NÃO RECEBEU O PRÊMIO NOBEL
  • Naftale Katz
  • RIO SÃO JOÃO E O LINDO MUNICÍPIO DE CASIMIRO DE ABREU
  • Miridan Britto Falci
  • RESENHAS DE LIVROS
  • MARIA GRAHAM: UMA INGLESA NA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL
  • Miridan Britto Falci
  • O BRASIL RESILIENTE: ESTÍMULOS CRIATIVOS PARA SUA RECONSTRUÇÃO
  • Vera Lucia Cabana de Queiroz Andrade
  • PORTUGUESES NO RIO DE JANEIRO: NEGÓCIOS, TRAJETÓRIAS E CENOGRAFIAS URBANAS
  • Paulo Knauss
  • DISCURSOS E SAUDAÇÕES SAUDAÇÃO À SÓCIA EFETIVA ELISABETH SORIANO PLETSCH
  • Olínio Gomes Paschoal Coelho
  • DISCURSO DE POSSE DA SÓCIA EFETIVA ELISABETH SORIANO PLETSCH
  • Elizabeth Soriano Pletchs
  • DISCURSO DE RECEPÇÃO À SÓCIA CORRESPONDENTE MARIA IZILDA SANTOS DE MATOS
  • Paulo Knauss
  • PALAVRAS DE MARIA IZILDA SANTOS DE MATOS POR OCASIÃO DE SUA POSSE COMO SÓCIA-CORRESPONDENTE
  • Maria Izilda Santos de Matos

O INSTITUTO MÊS A MÊS O INSTITUTO MÊS A MÊS NO ANO DE 2021

QUADRO SOCIAL QUADRO SOCIAL

(Des)Arquivar: arquivos pessoais e ego-documentos no Tempo Presente / Maria Teresa S. Cunha

Historia da Educacao ASPHE governo Bolsonaro

CUNHA M DesArquivar governo Bolsonaro“O trabalho com esse material ao longo de minha trajetória e o encantamento pelos seguros indícios de vida ali presentes e nunca abandonados acabaram por fazer de mim uma historiadora dessas coisas ditas ordinárias” (CUNHA, 2019, p. 12). É assim que Maria Teresa Santos Cunha anuncia os propósitos do livro de sua autoria e declara suas afinidades historiográficas.

Essas palavras, que estão logo nas primeiras páginas de “(Des)Arquivar”, incitam à leitura da obra que reúne produções acadêmicas representativas dos percursos da autora.

Ao apreciar cada capítulo, como não se deixar comover pelas abordagens sensíveis e fecundas desenvolvidas por Maria Teresa? Como não se emocionar ao perceber os frutos de pesquisas de muitos anos em que guardou, garimpou, manuseou, leu e examinou papeis da ordem do comum, outrora desprezados pela historiografia? Leia Mais

A evolução improvável / William von Hippel

Von HIPPEL William 2 governo Bolsonaro

William von Hippel / Foto: UQ School Psychology /

HIPPEL W A Evolucao improvavel governo BolsonaroEm seu primeiro livro publicado, o psicólogo social William von Hippel (1963-) consegue se inserir na recente e já tão marcante coleção de obras que articulam os resultados de inumeráveis experimentos de laboratório, pesquisas em psicologia social e teoria da evolução. Com a primeira publicação no final de 2018 e tradução para o português em 2019, “A evolução improvável”[2] (“The Social Leap”, no original) busca utilizar as recentes descobertas da ciência evolutiva e pesquisas relacionadas para compreender vários aspectos da vida cotidiana e da história do ser humano, passando por questões aparentemente banais como o arremesso de pedras e chegando à grandes perguntas sobre a felicidade e as contradições da existência humana.

Professor de psicologia e pesquisador da Universidade de Queensland, Austrália, von Hippel estruturou seu livro de modo didático, partindo de questões mais abrangentes nos primeiros capítulos, e, aos poucos, a obra irá filtrando temas e situações específicas da vida humana que demandam mais atenção e cuidado na análise. Tais construções tornam-se nítidas já no prólogo, quando o autor utiliza três estudos de caso para responder, de antemão, uma pergunta que ele mesmo se coloca (imaginando, acertadamente, que os leitores em algum instante perguntariam), “como sabemos o que sabemos?”.

Essa pergunta, que pode parecer trivial, dialoga com o estado em que se encontra a Psicologia evolutiva no cenário acadêmico. Criada recentemente, nas décadas de 1980-1990 (com pesquisas no Brasil a partir de 2004), a Psicologia Evolutiva [3] vem enfrentando desde seu nascimento muitas críticas relacionadas a seus limites explicativos e especulativos [4], além das questões de rigor científico e de suas problemáticas interpretações morais [5]. Algumas dessas dúvidas, porém, são logo retiradas de cena quando von Hippel demonstra como a “contagem de mutações no código genético” de piolhos de diferentes tipos pode sugerir quando começamos a usar roupas (há 70 mil anos); ou como fontes históricas de registros de casamentos e mortes feitas por igrejas luteranas servem de evidência para analisar o papel das avós na história evolutiva dos humanos; e por fim, como a utilização de análises da presença de diferentes composições de estrôncio em dentes fossilizados sugerem que as fêmeas dos Australopithecus africanus abandonavam seu grupo de origem em certa idade para evitar a reprodução entre parentes próximos (evitando a endogamia).

A partir dessa breve elucidação metodológica, o livro se divide em dez capítulos, que estão, por sua vez, organizados em três partes. A primeira parte [“como nos tornamos quem somos”], será um esforço de releitura da trajetória evolutiva do Australopithecus até o Homo sapiens, destacando situações marcantes que influenciaram nossa formação evolutiva.

A nossa descida das árvores para as savanas, causada pela mudança gradual da vegetação a partir do movimento de placas tectônicas que elevou as regiões do Quênia, Tanzânia e Etiópia, secando boa parte do Vale do Rift, é um evento em destaque, pois mudou completamente a forma como convivíamos uns com os outros e com a natureza ao nosso redor, tornando a cooperação e o fortalecimento de grupos as nossas principais armas evolutivas.

O arremesso de pedra, por exemplo, dos Australopithecus afarensis, possibilitou nossas primeiras experiências de cooperação e trabalho coletivo. A evolução da esclerótica branca dos nossos olhos possibilitando uma “atenção partilhada” mais forte entre membros de um grupo, e a criação da divisão de trabalho pelo Homo erectus na produção das pedras acheulianas (mais pontiagudas e com dois gumes) fortaleceu os laços cooperativos e colaborativos humanos. Com o Homo erectus também vemos o alvorecer da maturidade evolutiva dos humanos, porque é partir de então que o ‘amanhã’ importará mais que o ‘hoje’ em nossas vidas, fato que ainda hoje nos caracteriza com ansiedades e preocupações quase sempre associadas às incertezas do “amanhã”, mas que em suas origens correspondiam à planejamentos e a uma consciência de estocar e carregar coisas para um uso futuro.

Assim, a hipótese do cérebro social é um dos principais conceitos da primeira parte, e de todo o livro, pois sugere que a nossa evolução cognitiva se deve a nossa crescente sociabilidade adquirida depois que passamos a viver nas savanas, dando margem para desenvolvermos a Teoria da Mente, a compreensão de que o outro pensa diferente de mim. Isso possibilitou maior capacidade de ensinar e aprender, como também aprimorou nossa habilidade de abstração e imaginação.

Salta aos olhos a quantidade de experiências que o autor cita ao longo do livro, o que representa uma estratégia argumentativa de nunca levantar hipóteses explicativas sem ter em mãos algumas evidências concretas para corroborá-las. Desse modo, na segunda parte [“usando o passado para compreender o presente”] von Hippel torna inteligível as vantagens evolutivas do autocontrole, mas também do autoengano, destaca nossa capacidade inventiva (Homo innovatio), inerentes a todos nós, mas que em geral se dão em inovações sociais (resolver problemas a partir de relações sociais) e com menos frequência em inovações técnicas (resolver problemas com criação de técnicas/tecnologias); e isso se explica pela nossa história evolutiva de hipersociabilidade, que nos ensinou a valorizar tanto as interações sociais com membros de nosso grupo (Homo socialis), mas não com outros grupos.

William von Hippel analisa como os riscos da interação entre grupos há milhões de anos pode ter evoluído à uma tendência de evitarmos a interação entre grupos, mesmo que valorizássemos a coesão interna do nosso grupo. Isso possui, segundo o autor, origens patogênicas além das rivalidades territoriais. Nosso organismo se adapta aos patógenos com os quais toma contato ao longo da vida do indivíduo e da história de sua genealogia, dessa maneira, o contato com grupos isolados pode trazer sérias consequências [6]. O autor amplia a análise e sugere até mesmo que essa seria a possível explicação de existir nos trópicos uma quantidade tão grande de religiões e línguas distintas, pois nessas localidades a grande quantidade de doenças gera uma maior resistência relacionada ao contato entre grupos; e continua: “Dessa forma, é provável que ameaças de patógenos sejam a fonte subjacente do que é conhecido como preconceito simbólico, ou a animosidade com grupos com práticas e crenças diferentes das nossas” [7].

Ainda na segunda parte, von Hippel estuda as implicações políticas da nossa evolução, apresentando o elefante e o babuíno como metáforas dos “tipos” de políticos mais democráticos e abnegados, e aquelas mais autoritários e individualistas, respectivamente. Esses “tipos” políticos ganham significados mais definidos com a ruptura político-social e psicológica que foi a Revolução Agrícola (estudada na primeira parte do livro).

A Revolução Agrícola transformou nossa psicologia, dando ensejo a uma série de armadilhas constituintes da nossa realidade como a propriedade privada, a desigualdade de gênero e a “normalização” da desigualdade econômica, porque só com a agricultura tais mudanças e acúmulos possuíam algum sentido e vantagem evolutiva. Assim, tal como o historiador Yuval N. Harari [8], von Hippel enxerga a Revolução Agrícola como um engodo ou a “grande fraude da história humana”, que nos trouxe vários benefícios, mas também inúmeros problemas [9].

Apesar disso, von Hippel utiliza os estudos de Steven Pinker para afirmar que a violência humana diminui significativamente ao longo dos séculos, e hoje apresenta seu menor índice em termos mundiais, em função da acelerada industrialização das cidades e do poder crescente de intervenção do Estado nas relações sociais dos indivíduos e seus conflitos.

Na última parte, denominada “usando o conhecimento do passado para construir um futuro melhor”, o autor coloca a “felicidade” no centro da discussão, e arrisca refletir sobre como podemos usar todos os conhecimentos que foram apresentados ao longo do livro para vivermos melhor. E por alguns instantes o autor parece escrever um capítulo de autoajuda, dando algumas ‘dicas’ e sugerindo ‘passos’ para uma vida mais feliz. Esse caminho é apenas uma escolha de estilo, pois desde o início von Hippel propõe ser bastante acessível e didático em sua construção intelectual, e nos últimos capítulos ele se esforça em reunir tudo que já foi dito para sintetizar as descobertas científicas recentes em lições que podem de fato nos ajudar no cotidiano, alertando principalmente para o que chama de indulgências fenotípicas, que “embora prazerosos, são apenas substitutos para nossas preferências evoluídas” [10] (p. ex.: filmes, drogas, masturbação etc.).

Desse modo, o autor não faz uso de clichês ou caminhos fáceis, e logo afirma que a felicidade não pode ser permanente, além de que, em nossa história evolutiva, sua razão de ser corresponde a sua finitude; e não só isso: a conquista da felicidade é relativa a cada pessoa, grupo e sociedade, mas todos possuem certas características biológico-evolutivas que podem ser úteis para nos conhecermos mais e assim vivermos de forma mais proveitosa. E essas características constituintes de nossa espécie são reunidas pelo autor em “dez passos fáceis”, abordando em forma de “lições” os principais pontos trabalhados nos dez capítulos do livro: (1) Permaneça no presente; (2) Busque momentos doces; (3) Projeta sua felicidade para permanecer saudável; (4) Acumule experiências, não coisas; (5) Dê prioridade a comida, amigos e relações sexuais; (6) Coopere; (7) Entranhe-se na comunidade; (8) Aprenda coisas novas; (9) Use suas forças (suas habilidades específicas); e (10) Busque a fonte original (não se satisfaça apenas com as indulgências fenotípicas) [11].

Por fim, percebemos que von Hippel foi bem sucedido em seu objetivo de apresentar uma história evolutiva humana que fosse capaz de fornecer conceitos explicativos sobre nossas vidas na contemporaneidade, permitindo-nos acessar um conhecimento prático-reflexivo, demonstrando assim a grande aplicabilidade dos estudos da evolução e da genética nas ciências sociais e humanas12, proporcionando uma compreensão dos comportamentos e das culturas humanas sob a perspectiva biológica, mas sem deixar de lado as influências e determinações associadas ao ambiente em que vivem os indivíduos e as sociedades florescem.

Notas

2. Infelizmente, a tradução do título para o português não resgatou o sentido do original, que, numa tradução livre, poderia ser “O salto social”, mais próximo do ponto central da obra que é demonstrar a importância seminal da sociabilidade para a evolução da nossa espécie; e com “salto” poderíamos interpretar a descida das árvores para as planícies das savanas, que nos obrigou a sermos mais cooperativos e sociais, marcando a separação definitiva entre nós e os outros primatas.

3. Que tem sua origem mais distante nas obras de Darwin a partir de 1859, mas surgiu como campo de estudo definido a partir da matriz da Sociobiologia de meados do século XX.

4. Ver: VERNAL, Javier. As explicações da psicologia evolutiva. Investigação Filosófica: vol. E1, artigo digital 4, 2011.

5. HATTORI, Wellisen Tadashi; YAMAMOTO, Maria Emília. Evolução do comportamento humano: Psicologia evolutiva. Estud. Biol., Ambiente Divers. 2012 jul./dez., 34(82), p. 101-112.

6. O que para a história do continente americano não é nenhuma novidade, vide o genocídio dos autóctones pela invasão dos europeus ser principalmente causado pela transmissão de patógenos não existentes neste continente. (HARARI, Yuval Noah. Homo Deus: uma breve história do amanhã. São Paulo: Companhia das Letras, 2016, p. 16-19).

7. HIPPEL, William von. A evolução improvável. – Tradução de Alexandre Martins. – 1. Ed. – Rio de Janeiro: Haper Collins, 2019, p. 207.

8. HARARI, Yuval Noah. A Revolução Agrícola. In: _____. Sapiens: uma breve história da humanidade. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2018, p. 113-219.

9. “Quando comparamos os custos e benefícios, vemos que a agricultura permitiu a nossos ancestrais algumas garantias contra a fome, mas ao custo de diversas novas doenças, menos estatura e longevidade, uma halitose repulsiva e com frequência um dia de trabalho muito mais longo. O resultado final foi que os primeiros fazendeiros trabalhavam mais para ter uma vida pior que a de seus antepassados” (HIPPEL, op. cit., 73).

10. Ibidem, p. 265-268.

11. Ibidem., p. 238.

12. Um exemplo seria a recente obra de Francis Fukuyama, As origens da ordem política, que na primeira parte do livro utiliza os resultados de pesquisas em genética e teoria da evolução para explicar certos estágios e eventos fundamentais de nossas história política, usando também conceitos e raciocínios próprios da antropologia e da arqueologia socio-evolutiva. (FUKUYAMA, Francis. Antes do Estado. In:______. As origens da ordem política: dos tempos pré-históricos a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Rocco, 2011, p. 17-115).

Agenor Manoel da Silva Filho – Graduando em Licenciatura em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Correio eletrônico: manoel0agenor@gmail.com.


HIPPEL, William von. A evolução improvável. Tradução de Alexandre Martins. 1. Ed. Rio de Janeiro: Haper Collins, 2019. 304, p. Resenha de: SILVA FILHO, Agenor Manoel. A revolução diferenciada. História.Com. Cachoeira, v.7, n.13, p.125-129, 2020. Acessar publicação original [IF].

Boletim de História e Filosofia da Biologia. São Paulo, v.15, n.2, set. 2021.

2021 – Volume 15

As Formas de Adaptabilidade do Neopentecostalismo Brasileiro à Mídia | Cézar de Alencar Arnaut de Toledo e William Robson Cazavechia

As Formas de Adaptabilidade do Neopentecostalismo Brasileiro à Mídia | Cézar de Alencar Arnaut de Toledo, William Robson Cazavechia | Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v. 13, n.39, 2021.

 

Engajamento político e Renovação Carismática Católica em Londrina-PR (2014-2016) | Fabio Lanza, Luiz Ernesto Guimarães, José Neves Jr e Raíssa Rodrigues

Engajamento político e Renovação Carismática Católica em Londrina-PR (2014-2016) | Fabio Lanza, Luiz Ernesto Guimarães, José Neves Jr, Raíssa Rodrigues | Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v. 13, n.39, 2021.

 

Entre a articulação e a desproporcionalidade: relações do Governo Bolsonaro com as forças conservadoras católicas e evangélicas | Marcelo Ayres Camurça e Paulo Victor Zaquieu-Higino

Entre a articulação e a desproporcionalidade: relações do Governo Bolsonaro com as forças conservadoras católicas e evangélicas | Marcelo Ayres Camurça, Paulo Victor Zaquieu-Higino | Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v. 13, n.39, 2021.

 

O campo político e o campo religioso a partir dos jovens ligados a International Fellowship of Evangelical Students na América Latina | Aldimar Jacinto Duarte e Vinicius Seabra

O campo político e o campo religioso a partir dos jovens ligados a International Fellowship of Evangelical Students na América Latina | Aldimar Jacinto Duarte, Vinicius Seabra | Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v. 13, n.39, 2021.

 

A trajetória de Marcelo Crivella: de cantor gospel a prefeito da segunda maior cidade brasileira em 2016 | Dora Deise Stephan Moreira

A trajetória de Marcelo Crivella: de cantor gospel a prefeito da segunda maior cidade brasileira em 2016 | Dora Deise Stephan Moreira | Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v. 13, n.39, 2021.

 

Pela “família tradicional”: campanha de candidatos evangélicos para a ALEP nas eleições de 2018 | Frank Antonio Mezzomo, Lucas Alves da Silva e Cristina Satiê de Oliveira Pátaro

Pela “família tradicional”: campanha de candidatos evangélicos para a ALEP nas eleições de 2018 | Frank Antonio Mezzomo, Lucas Alves da Silva, Cristina Satiê de Oliveira Pátaro | Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v. 13, n.39, 2021.

 

Apresentação – Os cristãos e a política no Brasil contemporâneo: laicidade em disputa, Estado em colapso, religião em efervescência | Fábio Py, Emerson Sena da Silveira, Marcos Vinicius Reis Freitas

Apresentação – Os cristãos e a política no Brasil contemporâneo: laicidade em disputa, Estado em colapso, religião em efervescência | Fábio Py, Emerson Sena da Silveira, Marcos Vinicius Reis Freitas | Revista Brasileira de História das Religiões. Maringá, v. 13, n.39, 2021.

Religiões na grécia e roma antigas: contatos, encontros e trocas / História – Questões & Debates / 2021

RELIGIÃO NA GRÉCIA E ROMA ANTIGAS: CONTATOS, ENCONTROS E TROCAS [1]

A natureza fragmentária e variada do Mediterrâneo foi estudada por pesquisadores que se dedicaram, de fato, a entender a região. As ideias revolucionárias da obra pioneira de Fernand Braudel, La Méditerranée et le Monde méditerranéen à l’époque de Philippe II (1949), mudaram o foco do espaço mediterrânico, deslocando-o de suas fronteiras continentais para a bacia marítima, bem como reorientaram a pesquisa histórica da região, encaminhando-a da política para a cultura e a economia. É certo que, depois de Braudel, foram necessários muitos anos para que os estudos na escala mediterrânica se tornassem tendência. A nova contribuição significativa foi feita por Peregrine Horden e Nicholas Purcell, com a publicação The Corrupting Sea: A Study of Mediterranean History (2000), que identificou elementos comuns ao longo dos mais de três mil anos de história no Mediterrâneo. Explorando a extrema fragmentação da região em suas paisagens terrestres e marinhas, os autores produziram uma análise inovadora das relações entre suas diferentes microecologias. Horden e Purcell evidenciaram o peso do elemento da incerteza nos microcosmos mediterrânicos, seja quanto ao clima e à quantidade de precipitação, seja quanto à direção e a intensidade do vento, e ainda quanto à possibilidade de catástrofes vulcânicas e sísmicas. Por outro lado, se o Mediterrâneo passa então a ser pensado enquanto uma área de incerteza, entende-se que ele se constituiu também como região de grande mobilidade, dados seu elevado número de ilhas e a extensão de sua área costeira, a maior do planeta. Com efeito, o fato de seus navegadores raramente perderem de vista a terra e do sol brilhar durante todo o ano fez do Mediterrâneo um espaço de oportunidades, o que encorajou os homens a diversificarem, produzirem e explorarem.

Esse poder que o Mediterrâneo tem de conectar mundos é explorado num outro livro monumental do século XXI, The Making of the Middle Sea (2014). Seu autor, Cyprian Broodbank, utiliza uma vasta quantidade de dados arqueológicos para desvelar a história da região, de um milhão e oitocentos mil anos atrás até o Período Clássico, demonstrando como o mundo mediterrânico, facilmente navegável e ecologicamente fragmentado, evoluiu para uma oecumene através da agência dos habitantes de suas ilhas e costas.

A natureza fragmentária da região mediterrânica é, com efeito, uma de suas características mais distintivas. Ela atua como estímulo histórico para a formação de redes de transporte complexas, responsáveis por ligarem lugares de tamanhos e importância desiguais, da família aos estados imperiais, e por envolverem todo tipo de atores, do comerciante ao monarca (MALKIN; CONSTANTAKOPOULOU; PANAGOPOULOU, 2011). O Mediterrâneo, por isso, permitiu o movimento de multidões em torno da sua vasta área, não só devido à proximidade dos seus locais costeiros e suas ilhas, mas também devido às condições climáticas (ou seja, um verão semi-árido e um inverno úmido) amplamente favoráveis à disseminação de produtos e técnicas (agricultura, perfumaria, cerâmica, navegação) (BROODBANK, 2014). A extensa circulação de pessoas e bens no Mediterrâneo reflete-se também na natureza das práticas religiosas da região. Objetos provenientes de todo o mundo antigo eram apresentados como ofertas em túmulos e santuários pela região mediterrânica. As práticas religiosas, por sua vez, eram transmitidas durante diferentes ciclos de convulsões sociais e migrações, o que envolvia o contato tanto de habitantes de áreas próximas entre si quanto daquelas situadas a grandes distâncias, cuja comunicação se dava por meio da rede de rotas.

Este dossiê apresenta então estudos de caso que enfatizam a diversidade cultural e os intercâmbios religiosos no mundo greco-romano, centrando-se nas relações entre fragmentos da região mediterrânica (MALKIN, 2011). Com nove artigos em múltiplas áreas temáticas, os primeiros cinco se desenvolvem no campo da Arqueologia Clássica, e os quatro seguintes em História e Literatura. As contribuições (feitas em português, inglês e francês) provêm de pesquisadores que trabalham sobre diferentes aspectos da religião no mundo greco-romano. Iniciamos com uma investigação sobre trocas e práticas de culto no coração das Cíclades, onde se deu uma das mais importantes descobertas arqueológicas realizadas na Grécia nos últimos dez anos. Yannos Kourayos e Kornilia Daifa, que dirigem as escavações em Despótiko, apresentam em seu texto um panorama deste que é um importante santuário cicládico, só conhecido a partir de evidências arqueológicas. Localizado no centro da região cicládica, o santuário em questão foi erigido pela poderosa ilha de Paros e revelou uma quantidade impressionante de oferendas votivas originárias de múltiplos pontos das Cíclades e também de partes mais afastadas do Mediterrâneo. O segundo trabalho deste volume, escrito por Elena Korka e membros de sua equipe, divulga alguns dos recentes resultados das escavações em Tenea, situada nos arredores da aldeia de Chiliomodi em Corinto, um local cuja cultura material e ciclo de mitos estão ligados à Guerra de Tróia. Depois de sumarizar o trabalho arqueológico realizado até agora, os autores discutem a principal divindade adorada em Tenea, o deus Apolo, e os artefatos encontrados ali, importantes para a interpretação e o entendimento do antigo culto. Vale destacar que alguns dos objetos escavados têm suas imagens publicadas pela primeira vez neste dossiê. O próximo artigo, escrito por Michael Fowler da East Tennessee State University, examina os quatro monumentos tumulares arcaicos tardios da Necrópole Setentrional do povoado grego de Istros. O autor explora as características desses monumentos comparáveis à descrição das cerimônias heroicas de cremação, tal como narradas na poesia épica (particularmente, no caso do funeral de Pátroclo na Ilíada) e discute, ainda, a possibilidade surpreendente de sacrifício humano. Para além dos hábitos religiosos incomuns entre os gregos e das reconsiderações sobre a Pira A em Orthi Petra (Eleutherna, Creta), a discussão de Fowler inclui também em seu estudo um sítio arqueológico situado no Mar Negro, região que segue pouco estudada fora dos círculos acadêmicos russos. Do Mar Negro, nosso dossiê retorna para Corinto, desta vez às margens do golfo. Dora Katsonopoulou, diretora das escavações em Helike, discute o culto de Poseidon Helikonios com ênfase nos antigos altares ancestrais dos jônicos. Ela examina o estabelecimento do culto de Poseidon Helikonios, trazido pelos aqueus para a costa da Ásia Menor, transmitido em seguida para a já mencionada região do Mar Negro. O próximo trabalho, escrito por Lilian Laky da Universidade de São Paulo, explora a interconectividade do Mediterrâneo examinando a iconografia das moedas com imagens de águias e relâmpagos, atributos de Zeus. A autora utiliza como fontes moedas cunhadas por Crótone na Magna Grécia e por Olympia no Peloponeso para discutir a difusão do culto de Zeus Olympios. Contribuindo para o tema da relação entre Olympia Sicília, o artigo, ademais, dá um importante aporte para os estudos sobre a disseminação regional dos epítetos locais, tema pouco abordado que, porém, está lentamente ganhando a atenção necessária.

Os próximos quatro textos de nosso dossiê examinam os contatos e as trocas entre as religiões gregas e romanas pelas lentes da História e da Literatura antiga. Esta seção é aberta com um artigo de Pierre Ellinger, da Université de Paris. O autor analisa os raptos de estátuas divinas de santuários à beira-mar, a partir de mitos gregos, especialmente o de Ártemis Táurida, tal como elaborado pela tragédia euripideana, enfatizando-o. O texto explora a presença do mar nesses registros antigos, dando destaque às rotas mediterrânicas e sua articulação com determinados pontos, à experiência de partida e de chegada e ao contexto em que tais estórias teriam sido narradas. Ao ressaltar a dimensão marítima dessas fontes, o autor põe em questão a nossa familiaridade com o espaço grego, reorientando nossa perspectiva da visão da cidade para a visão do mar ao longo de suas margens. O artigo, portanto, não só lança luz sobre o culto enigmático de Ártemis Táurida, cujo culto continua a confundir e intrigar os estudiosos modernos, como apresenta uma grande contribuição para os estudos emergentes sobre as religiões mediterrânicas.

Em seguida, o texto de autoria de Lucio Maria Valletta da École Pratique des Hautes Études, discute novos cultos da região do Mar Negro. O autor examina uma passagem de Heródoto sobre o povo cita para refletir sobre a existência de elementos culturais que seriam próprios a povos que viveram e se deslocaram nas regiões circundantes da bacia do Mediterrâneo, incluindo o Mar Negro. O dossiê segue com o trabalho de Júlia Avelar, da Universidade Federal de Uberlândia, que aborda cultos romanos e festivais religiosos do início do Império por meio do trabalho do poeta romano Ovídio. Avellar examina as intersecções entre cultos privados e festivais públicos na Roma antiga. A autora demonstra de que forma os cultos religiosos da poesia ovidiana seriam recriações poéticas que, através de elementos religiosos, provocam reflexões sobre as relações de poder na Antiguidade. Voltando às Cíclades e a Paros, o último trabalho deste volume, escrito por Rafael Silva e Teodoro Rennó Assunção da Universidade Federal de Minas Gerais, parte de fragmentos ditirâmbicos atribuídos a Arquíloco (fr. 120 W, fr. 96 Lasserre) para desenvolver considerações sobre a relação entre o culto de Dioniso e a difusão do ditirambo.

Juntos, os artigos apresentados neste volume expõem a riqueza das trocas religiosas no Mediterrâneo, particularmente no mundo greco-romano. Enquanto alguns revelam pesquisas arqueológicas originais sobre regiões sócio-políticas estratégicas, outros apresentam autênticos quadros teóricos, capazes de iluminar a complexidade dos intercâmbios culturais observados pela disseminação tanto da cunhagem oficial quanto dos mitos vernáculos.

Nota

1. Nós gostaríamos de agradecer o convite para organizarmos este dossiê e toda a assistência durante a confecção do número à Renatta Garraffoni (UFPR) e Priscila Vieira (UFPR), agora à frente da editoria da Revista História: Questões & Debates. Somos também enormemente gratas a Yannos Kourayos, que cedeu os direitos de uso da foto de capa, com o recém-restaurado edifício A do santuário de Despótiko. Estendemos nosso agradecimento ainda a Andrew Gipe Lazarou (Diakron Institute) que produziu a capa e fez a revisão do texto em inglês desta introdução. Qualquer erro que persista é, no entanto, de nossa inteira responsabilidade.

Erica Angliker (Institute of Classical Studies, University of London).

Lorena Lopes da Costa (Universidade Federal do Oeste do Pará).


ANGLIKER, Erica; COSTA, Lorena Lopes da. Introdução. História – Questões & Debates. Curitiba, v.69, n.1, jan. / jun., 2021. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

La destrucción de una república Bogotá / Francisco Gutiérrez Sanín

SANIN Francisco 1 governo Bolsonaro

Francisco Gutiérrez Sanín / Foto: Marcela Becerra/Julián Mojica /

SANIN F La destrucion de una Republica 1 governo BolsonaroLa República Liberal, concebida como un periodo de fuertes rupturas de los procesos políticos colombianos, ha sido un laboratorio de estudio, a diferentes intensidades, de la historiografía. Francisco Gutiérrez Sanín, un politólogo con lupa de historiador, realiza un valioso análisis interdisciplinar de este periodo de la historia caracterizado por el surgimiento de un régimen que pretendía modernizar el aparato estatal, amplió las formas de hacer política e intentó democratizar una tipología de representación censitaria heredada del siglo xix. Sin embargo, para hacerlo, Gutiérrez no acude a los textos de manual, y tampoco apela de manera determinante a otros estudios que han marcado paradigma en el tema como los de Tirado Mejía (1991), Melo (1991) o Pécaut (2001). Propone, en su lugar, una historia de los partidos políticos entendiendo sus mecanismos tecnológicos de acción, que estaban determinados por el choque de intereses, por la ruptura y surgimiento de poderes y por la aparición de tensiones que parecían medianamente resueltas durante las primeras décadas del siglo XX.

Para el profesor Gutiérrez, la Hegemonía del Partido Conservador iniciada en 1886, adquirió una mayor relevancia en 1910, y aunque gobernó con matices hasta 1930. en esta última etapa acudió a un tímido cogobierno. Por tanto, una latente pacificación del escenario político posibilitó unas cuotas mínimas, o según los liberales, un techo de votación a la oposición, para así mantener los poderes públicos bajo el partido azul, a cambio de aceptar la legitimidad del Gobierno y con ello, de las elecciones, el papel preponderante de la Iglesia, y la politización de las Fuerzas Armadas. Gutiérrez Sanín plantea una novedosa y fluida historia de los partidos políticos, no tanto desde el modelo cuantitativito norteamericano, tan de moda en las últimas décadas, sino que desde su perspectiva reinterpreta la propuesta de Maurice Duverger en la cual se analiza la ruptura del marco normativoestructural y la praxis cotidiana, así como la teoría de Schumpeter, donde claramente desentraña la democracia en cuanto una lucha por el poder entre líderes políticos, y no necesariamente una búsqueda del “bien común”. En conjunción, se crean estructuras de acción colectiva que una vez ligadas a lo consuetudinario, crean un modelo que permite, pero también aprisiona, el desarrollo del sistema democrático. El académico también presenta, de manera acertada, un debate historiográfico sobre las características comunes que llevarían a pensar en una convergencia tácita entre los dos partidos históricos en Colombia, esto es: su carácter multiclasista, oligárquico, y clientelar. Allí, Gutiérrez hábilmente argumenta la necesidad de tener en cuenta los mecanismos de tecnología política y espectro ideológico que los diferenciaba. Vistos desde sus bases, el Partido Conservador poseía un caudal electoral cuasi estático, angosto, que podría ser compartido, en su vertiente moderada, por el Partido Liberal. A su vez, este último, tenía un campo ideológico ancho, que englobaba desde la izquierda moderada, pasando por la socialdemocracia, hasta algunas posturas de derecha. Es decir, en la práctica, la mecánica electoral del liberalismo planteaba luchas faccionales amplias por su diversidad ideológica, que eran más fácilmente matizadas en el conservadurismo, aunque es de anotar que la vertiente laureanista de este último provocó verdaderas pugnas internas, por sus propuestas que invitaban a una postura antidemocrática.

En el desarrollo del libro, Gutiérrez analiza las fisuras de ambos modelos, pero hace hincapié en las consecuencias de las pugnas intra-partidistas del liberalismo como una de las claves para entender la destrucción de la república, además de la radicalización conservadora y la incapacidad de promover un candidato de consenso que continuara con el dominio del partido rojo.

Para entender la línea argumentativa, el autor analiza en un primer capítulo la Hegemonía conservadora, que, como señalamos anteriormente, presentó uma moderación en 1910, cuando la vertiente republicana domesticó la política, imprimiéndole mecanismos que brindaran una pacificación del país, necesaria después de la Guerra de los Mil Días. Esta pasaba por la modificación del régimen electoral y la incorporación del Partido Liberal al juego político, con garantías constitucionales, que fueron aceptadas por estos últimos. Sin embargo, la crisis económica de 1929, los eventos represivos como la masacre de las bananeras y las incapacidades para conseguir un candidato que no produjera escozores en alguno de los sectores del conservadurismo, abonó el terreno de la República Liberal, que llegó con la victoria de Enrique Olaya Herrera. Este contó además con la presencia de algunos conservadores, quienes veían en su nombre a una figura no necesariamente rival frente al Partido Conservador. El Partido Liberal, en cabeza de Alfonso López Pumarejo, comenzó a plantearse la candidatura de este último con la que en las elecciones de 1934 salió victorioso. López Pumarejo, un hombre reformista, despertó diversos enemigos al interior de su partido como también en las toldas conservadoras que veían en su política modernizadora y de ampliación de derechos sociales una amenaza frente a la autoridad que la Iglesia, el Partido y las Fuerzas Militares ejercían en sus bases electorales. Llegadas las elecciones de 1938, el liberalismo presentó el nombre de Eduardo Santos, candidato moderado, no continuista de la “Revolución en Marcha” de López y quien buscó una pacificación de los ánimos mediante tímidos acuerdos con los conservadores. A pesar del resquemor que despertaba López, tanto en las toldas opositoras como en las propias facciones liberales, y gracias a su cercanía con los movimientos de base obrera y sindical, retornó al poder, aunque sin mucho margen de maniobra, cosa que provocó su prematura salida del gobierno. Gutiérrez señala principalmente los siguientes ejes explicativos: primero, la recurrente abstención del Partido Conservador, que se complementaba con un alegato de falta de garantías electorales; segundo, la ampliación de derechos políticos, tales como el sufragio universal masculino, la expansión de libertades individuales a las mujeres, la incorporación de nuevos partidos sin mucha fuerza electoral y la legalización de los sindicatos; tercero, el fraude como un mecanismo vivo y practicado, por ejemplo en las elecciones de 1934; y cuarto, la incapacidad de un mandatario en ejercicio de darle continuidad a sus formulaciones en el periodo inmediatamente posterior.

Las elecciones y su efecto en los movimientos partidistas también son objeto de estudio del profesor Gutiérrez. Por ello, analiza la legitimidad del liberalismo, flanqueada gracias al desconocimiento de las elecciones, la negación del gobierno liberal, la incapacidad de utilizar los mecanismos de inclusión política planteados en 1910, y la nula aceptación del sistema electoral por parte del Partido Con servador. Seguidamente, utilizando el marco conceptual Duverger-Schumpeter, demuestra el idilio de llevar el campo de las normas a la realidad. La República Liberal, según analiza Gutiérrez, insertó algunas disposiciones para evitar el fraude como la cedulación, que resultaron siendo engorrosas e improductivas para un Estado como el colombiano. El fraude, no solo como la capacidad de manipular los números finales, sino como los mecanismos que impedían la llegada de los votantes a las urnas, así como la trashumancia electoral, empañaron los comicios tanto nacionales como regionales. Asimismo, la ampliación de las bases electorales ocasionó una transformación de la forma de hacer política. Gutiérrez muestra a través de algunas fuentes periodísticas y epistolares las correrías de los candidatos por las regiones del país, buscando llegar a las nuevas bases del partido, el uso de nuevos mecanismos tecnológicos, y la crítica que, desde sectores conservadores, acostumbrados a una política de notables, se emprendió contra los liberales.

Allí, Gutiérrez señala la necesidad de investigar con mayor detenimiento sobre el fraude en este periodo, hecho reconocido incluso por López Pumarejo.

Uno de los desarrollos analíticos más ricamente demostrados es el que plantea sobre los partidos y el clientelismo; explorando sistemáticamente este fenómeno como herramienta de engranaje de la burocracia estatal, lo somete a una profunda comprobación a partir de la correspondencia que fluía entre algunos actores de diferentes estratos en el país. Así, Gutiérrez plantea la capacidad limitada que la República Liberal tenía frente al control del pago de favores políticos, que, a pesar de no ser extraños en Colombia, ya que fueron heredados parcialmente de la Hegemonía conservadora, recobraron un poder especial en el contexto de la ampliación del universo de sufragantes. Gutiérrez argumenta que desde 1910 el Pacto de Pacificación garantizaba una cuota burocrática del partido opositor en el Gobierno.

Con la llegada de Olaya Herrera, parecía mantenerse así, dentro del eslogan de “concentración nacional”, que fue puesto en duda rápidamente después de la alianza con el conservador antioqueño Román Gómez, lo que desequilibró las cargas de los conservadores en el Congreso, fortaleciendo, aunque mínimamente, a los liberales. A partir de allí, los azules vieron la necesidad de modernizar un partido no acostumbrado en su historia próxima a ser oposición. Por el contrario, los liberales percibieron la incapacidad de dotar al Estado de una burocracia que cumpliera con dos parámetros mínimos: la defensa política del liberalismo y la capacidad tecnocrática de asumir la modernización deseada. Gutiérrez evidencia algunas cartas que mezclaban intereses personales difíciles de distinguir de las necesidades colectivas. Frente a ello, esgrime tres tipos de clientelismo: el primero, entre un círculo pequeño de amigos y conocidos, una especie de parentela que agrupaba a los sectores privilegiados. Un segundo clientelismo es descrito en el ámbito de los directorios, a partir de un mayor énfasis territorial, en su intento de ocupar la nómina del Estado regional y local, para mantener aceitado el aparato electoral. Y el tercer horizonte de clientelismo, denominado menesteroso, posiblemente cobijaba a un sector periférico de la población, es decir, permitía una especie de inclusión social que posibilitaba ganar adeptos a las bases liberales, lo cual se traduciría posteriormente en réditos electorales. Ahora, como esta máquina burocrática-clientelar requería una milimetría inalcanzable, produjo deterioros en la unidad del partido y aumentó las fracturas de las facciones. Además, sirvió de argumento estratégico del conservatismo laureanista para acusar a los liberales de clientelares y corruptos, bandera que valió para socavar la estructura de la República Liberal. Sin embargo, la descripción del clientelismo en el libro de Gutiérrez no plantea un orden sistemático de ese fenómeno ni señala a los actores que más se fortalecían llenando sus aparatos burocráticos; tampoco dice cuáles redes estaban mejor engrasadas, ni identifica el criterio del poder central fijado para destrabar la cantidad de solicitudes que llegaban, incluso, desde los rincones más recónditos del país. Asimismo, no contempla la estructura de las solicitudes, entendiéndolas como un capital social conseguido no solo desde la práctica política cotidiana, sino en razón del cúmulo de herencias parentales, económicas o sociales, en un país de élites.

La destrucción de una república invita a la reflexión de los métodos historiográficos, de tal manera que apostándole a las fuentes epistolares mantiene la riqueza de un tratamiento teórico, que en ocasiones pareciera esquivo a los trabajos de la disciplina de Clío. Este libro saca de los anaqueles las normas, para entenderlas bajo una especie de sociología partidista, que no desprende los azarosos caminos de la realidad que las confronta de los análisis históricos. Es claro en señalar la diferencia entre los modelos liberal y conservador, que ideológicamente competían en un país diferente. Es una historia que hace hincapié en la ruptura social que antecedió a La Violencia. Una convulsión que no se entiende sin las luchas faccionales, la pérdida de poder de algunos sectores, la incapacidad de construir modelos democráticos igualitarios y la fuerte presencia de tradiciones que no resistían el rompimiento del statu quo. Este no un libro más, sino un ejemplo más, de cómo ampliar las fronteras de la historia.

Juan David Restrepo-Zapata – Universidad Nacional de Colombia, sede Medellín. Correo electrónico: juandrestrepozapata@gmail.com.


GUTIÉRREZ SANÍN, Francisco. La destrucción de una república Bogotá. Universidad Externado de Colombia-Taurus, 2017. 650p. Resenha de: RESTREPO-ZAPATA, Juan David. Memorias – Revista Digital de Historia y Arqueología desde el Caribe. Barranquilla, n.43, p.175-179, ene./abr., 2021. Acessar publicação original [IF]

História Medieval: experiências do passado, perspectivas contemporâneas | Vozes, Pretérito & Devir | 2021

Não diga jamais

Poderá parecer estranho para muitos, talvez mesmo abusivo, o fato de nossas Universidades dedicarem grande parte de seus cursos de História à Idade Média, sobretudo se atentarem para a circunstância de não termos no Brasil nem arquivos nem problemáticas pertinentes e, muito menos, o passado medieval. Assim sendo, de uma Universidade Brasileira jamais surgirá um medievalista, o que não importa em dizer que seja impossível fornecer cursos sérios e honestos sobre o passado medieval de importância primordial para a formação de professores de História e historiadores brasileiros.

[…]

Não deixa de ser com alegria que acolhemos a edição desses documentos, a primeira assim cremos, a ser feita no Brasil. […] os estudantes serão os maiores beneficiados com essa iniciativa e, com eles, aumentará, em substância, a possibilidade de termos melhores historiadores do Brasil (LINHARES, 1979, p. 11; 13-14).

Com essas palavras, Maria Yedda Leite Linhares apresentou a obra O Modo de Produção Feudal, de Jaime Pinsky. Ao invocar esse conteúdo para apresentar um dossiê dedicado exclusivamente às problemáticas acerca da Idade Média, não se pretende levantar uma bandeira de vitória sobre o monte da revanche, mas marcar um ponto de chegada do campo dos estudos medievais no Brasil, com potencial ainda latente e capacidades de inovação que não devem ser subestimadas.

A trajetória dos estudos históricos no Brasil se entrelaça à dos estudos medievais. Em 1942, Eurípedes Simões de Paula defendeu a primeira tese doutoral em História do Brasil (SILVA; ALMEIDA, 2016), justamente dedicada a uma problemática acerca da Idade Média. Intitulado O comércio varegue e o grão-principado de Kiev, o trabalho analisou a atuação dos escandinavos em regiões orientais no contexto medieval, propondo reflexões sobre as relações comerciais entre Oriente e Ocidente (de PAULA, 2009).

Depois de atuar junto à força brasileira na Segunda Guerra Mundial, entre 1942 e 1945, Eurípedes Simões de Paula assumiu a cadeira de História da Civilização Antiga e Medieval na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP) (LOMÔNACO, 2019). Quinze anos depois, esteve à frente das discussões que deram origem à Associação Nacional dos Professores Universitários de História (ANPUH) (SILVA; ALMEIDA, 2016).

O protagonismo de um indivíduo não representava, contudo, a proeminência de um campo. No final de 1970, poucas universidades apresentavam uma separação entre História Antiga e História Medieval – reflexo da escassa especialização desses dois campos no Brasil (SILVA; ALMEIDA, 2016). Foi principalmente da década de 1990 em diante, que os estudos medievais ganharam fôlego e cresceram no Brasil. A partir de então, historiadores voltaram seus olhares à Idade Média, alguns desenvolveram parte de seus estudos em países europeus e muitos se tornaram professores universitários, a orientar, dessa forma, futuros medievalistas. Assim cresceu a medievalística brasileira, impulsionada pela maior presença de especialistas e pelo crescimento das pesquisas em História Medieval nos Programas de Pós-Graduação – formando novos mestres e doutores –, até chegar à fundação da Associação Brasileira de Estudos Medievais (ABREM), em 1996 (BASTOS, 2016).

A abertura do século XXI trouxe também mudanças significativas para os estudos medievais no Brasil e no mundo. O avanço acelerado da internet foi acompanhado da abertura de arquivos digitais a partir de um esforço de digitalização e disponibilização de documentos em alta resolução, de modo a emular a presença física do pesquisador diante de seu suporte e proporcionar acesso crescente a bases de dados antes muito distantes. A entrada das grandes livrarias e a internacionalização das vendas on-line ampliou o acesso – embora muitas vezes custoso – às obras de referência e às novas publicações da medievalística. Tanto quanto ou mais significativo, foi a ampliação do acesso aos periódicos e aos artigos que passaram a circular cada vez mais nas universidades brasileiras, ao que se soma a iniciativa de docentes, discentes, Programas de Pós-graduação e grupos de pesquisa, em organizar revistas especializadas sobre problemáticas ligadas à Idade Média.

Nesse mesmo contexto, enquanto o mundo dava passos largos no desenvolvimento de novas tecnologias da informação, o Brasil deu saltos sociais e educacionais por meio de uma política de governo, a qual, entre os anos de 2004 e 2014, ampliou os investimentos na área educacional em cento e trinta por cento (MENDES, 2015). Essa iniciativa promoveu um avanço quantitativo e qualitativo das investigações sobre a Idade Média no país. A oferta de oportunidades de estudo e pesquisa no exterior durante a graduação e a pós-graduação, ampliou as possibilidades da formação de medievalistas brasileiros em universidades, arquivos e núcleos de pesquisa de diversos países do mundo, marcadamente da Europa. Os estudos medievais brasileiros se internacionalizaram ainda mais a partir de novos diálogos e parcerias com instituições de ensino e investigadores estrangeiros.

A nova geração de medievalistas favorecida por esse ambiente, aprofundou os estudos das problemáticas suscitadas pelos mestres das gerações anteriores, enveredando pela senda de perspectivas teóricas renovadas que também apontaram outros temas, outros objetos e outras preocupações diante do presente. Concomitantemente, a expansão das Instituições de Ensino Superior da oferta de cursos de graduação e pós-graduação, abriu as portas das universidades a essa geração de medievalistas por meio de concursos públicos. Assim, novos pesquisadores passaram a aprender os ofícios do historiador e do medievalista.

Os desdobramentos desse brevíssimo itinerário dos estudos medievais no Brasil podem ser vislumbrados neste dossiê, que reúne trabalhos de pesquisadores das diversas regiões do Brasil, a oferecer reflexões sobre os mais variados temas a respeito da Idade Média, tais como a atuação e relação dos poderes régio, senhorial e eclesiástico; produções literárias e narrativas; criação das universidades; representações e modelos femininos; e demais problemáticas, como se poderá constatar pela leitura das páginas que seguem.

Essas problemáticas foram analisadas a partir do uso das mais diversas tipologias documentais – registros régios e eclesiásticos, ordenações legais, tratados teológicos, crônicas, hagiografias, entre outras –, oriundos de arquivos físicos e digitais, e também do trabalho de transcrição, tradução e publicação de obras originais levado a cabo pela iniciativa editorial. Tudo isso em uma revista acadêmica inteiramente on-line e gratuita, mantida por uma instituição pública de excelência.

À parte do dossiê, mas relacionado ao tema da Idade Média, esse volume da Vozes, Pretérito & Devir traz também uma entrevista com o professor Dr. Carlile Lanzieri Júnior, que ofereceu suas reflexões sobre as mudanças experimentadas pela medievalística brasileira, bem como a importância do estudo da Idade Média no Brasil, as perspectivas teóricas para os estudos medievais e os usos políticos desse passado que, dizem alguns, não nos pertence, embora nos seja tão presente – basta saber olhar!

Como toda iniciativa nutre uma expectativa, a organização deste dossiê não é despretensiosa. A primeira dessas intenções diz respeito ao incentivo à ampliação dos estudos sobre a Idade Média, quer seja por estudantes da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), cujos docentes organizam essa revista, mas também pelos futuros historiadores nordestinos.

Enquanto as universidades e programas de pós-graduação do Sul e do Sudeste, e em menor medida do Centro-Oeste, têm seus quadros integrados por especialistas em História Medieval, o mesmo não ocorre no Norte e no Nordeste. Tratando-se dessa última região, a condição tardia do desenvolvimento de Programas de Pós-Graduação e a concentração das linhas de pesquisa em problemáticas locais ou regionais, são fatores que explicam a pouca presença de estudos ligados à Idade Média (ALVARO; MOTA, 2019).

A organização deste dossiê busca também oferecer um espaço de publicação – palavra entendida aqui em seu sentido lato, isto é, de tornar público – dos resultados obtidos pelo esforço investigativo de alguns dos pesquisadores brasileiros que se debruçam sobre a Idade Média para escrutiná-la com o devido rigor exigido pelo ofício do historiador.

Em um contexto de atritos políticos e curriculares, quando saltam vozes a desqualificar e desmerecer diversos temas e problemáticas, a reunião desses artigos visa ratificar a importância dos estudos medievais no Brasil e chamar atenção para o fato de que a História é uma área composta por campos, e a inabilitação ou eliminação de um deles, não representa a possibilidade de ampliação dos outros, mas antes o enfraquecimento e o encolhimento da própria área; por consequência, seu descrédito e desmerecimento já tão acelerados em tempos de negacionismo e certezas anticientíficas. A quem duvida desse perigo ou julga-o menor, sugiro: não diga jamais.

Uma excelente leitura a todos.

Referências

ALVARO, Bruno Gonçalves; MOTA, Bruna Oliveira. Grandes Sertões do Nordeste Brasileiro: o Horizonte dos Estudos Medievais nos Programas de Pós-Graduação em História. In: AMARAL, Clinio; LISBÔA, João. A Historiografia Medieval no Brasil: de 1990 a 2017. Curitiba: Editora Prismas, 2019, p. 93-127.

BASTOS, Mário Jorge da Motta. Quatro décadas de História Medieval no Brasil: contribuições à sua crítica. Diálogos, Maringá, v. 20, n. 3, p. 2-15, set. 2016. Disponível em: < http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/Dialogos/article/view/33600>. Acesso em: 02 mar. 2021.

DE PAULA, Eurípedes Simões. Concessão de título de doutor honoris causa ao professor Eurípedes Simões de Paula. Extraído do Boletim da Universidade de Toulouse, nº V, 1965. Trad. de SOUZA, Joceley Vieira; GOMES, Rodolfo de V. Revista de História, São Paulo, n. 160, p. 85-91, 2009. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/19103/21166.  Acesso em: 02 mar. 2021.

LINHARES, Maria Yedda Leite. Apresentação. In: PINSKY, Jaime. O modo de produção feudal. São Paulo: Editora Brasiliense, 1979.

LOMÔNACO, José Fernando Bitencourt. Vida e Obra de Eurípedes Simões de Paula. Boletim Academia Paulista de Psicologia, São Paulo, v. 39, n. 97, p. 294-295, jul./dez.

Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-711X2019000200016 . Acesso em: 02 mar. 2021.

MENDES, Marcos. Boletim Legislativo nº 26, de 2015: a despesa federal em Educação: 2004-2014. Brasília: Senado Federal, 2015. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/boletinslegislativos/bol26. Acesso em: 02 mar. 2021.

SILVA, Marcelo Cândido da; ALMEIDA, Néri de Barros. Apresentação. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 36, n. 72, p. 13-16, mai./ago. 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/TbLWnvgHd6fp8qSD5KnQvTN/?lang=pt. Acesso em: 02 mar. 2021.

Carlos Eduardo Zlatic.

 


ZLATIC, Carlos Eduardo. Apresentação. Vozes, Pretérito & Devir. Piauí, v.13, n.1, p. 5- 9, 2021. Acessar publicação original [DR]

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Grecorromana, Revista Chilena de Estudios Clásicos. Santiago, v.3, n.3, 2021.

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Globalists: the end of empire and the birth of neoliberalismo

Quinn Slobodian, professor na Wellesley College, é historiador com foco em história internacional, política norte-sul, movimentos sociais e história intelectual do neoliberalismo. É ligado a esse último tema que escreveu sua nova obra, “Globalists: the end of empire and the birth of neoliberalism”.

O objetivo inicial de Slobodian é quebrar com o senso comum de que os neoliberais acreditariam em um laissez-faire global, ou seja, em mercados que se autorregulem, em um Estado mínimo e na redução das motivações humanas ao interesse pessoal do homo economicus. Esses neoliberais imaginados confluiriam para um capitalismo de mercado livre conjugado com democracia e teriam fantasias de um mundo sem fronteiras. Leia Mais