Sequência didática, como a própria locução encerra, é uma representação espaço-temporal dos atos de sujeitos envolvidos em processos de ensino-aprendizagem. Essa definição expressa o modo como a sequência didática aparece na mente de muitos de nós: uma linha do tempo. Uma reta interrompida por vários acontecimentos: “Primeiro faço isso, depois faço aquilo…”
Esse modo – sequencial –, como ressalta Ana C. L. Pessoa (s.d), é uma “forma de organização do trabalho pedagógico”, à qual, complementamos, bem poderia ser estruturada em tópicos isolados, em perguntas e respostas ou em trechos de lição para decorar.
Os atos didáticos, ou “série ordenada e articulada de atividades”, como afirma Antoni Zabala (2014, pos. 1077), já foram, metaforicamente, chamados de “passos” (os quatro passos formais de J. Herbart, por exemplo). Passos, sequências – etapas, momentos didáticos, “procedimentos”, “tomadas de decisão” etc. –, portanto, são objeto dos saberes responsáveis pelo ensino escolar, mesmo antes de a Pedagogia ser institucionalizada como Ciência da Educação, ao final do século XIX.
Observem este exemplo retirado de um manual indiano (Quadro 2.1), publicado em 2002. A estrutura da sequência didática (preparação, apresentação e recapitulação) é inspirada nos movimentos mentais, originalmente imaginados por J. Herbart, no início do século XIX, e adaptados a uma pedagogia centrada na autonomia da criança. Se vocês se identificaram com essa antiquíssima sugestão de prática, não fiquem constrangidos. Ela é a mais usada dentro (e provavelmente fora) do Brasil.
Quadro 2.1 – PLANO DE AULA 1 (Classe VI)Data ……………… Escola …………………………Assunto: Asoka (273 a.C. a 232 a.C.) Tempo: 35 minutosObjetivos Gerais – Desenvolver nos alunos a compreensão do passado e a capacidade de relacioná-lo…Objetivos Específicos – Capacitar os alunos a conhecer a ascensão de Asoka ao trono…Material de apoio – Mapa contemporâneo da Índia, mapa da Ásia, trechos de documentos…Conhecimentos prévios – Presume-se que as crianças saibam que Gandhiji foi um apóstolo da paz…[PASSO 1] PREPARAÇÃO1. Quem governou a Índia antes de 1947? …Declaração do objetivo da aula – Crianças, Gandhiji foi um apóstolo da paz e da não violência…[PASSO 2] APRESENTAÇÃOAssunto 1 – … Asoka herdou um vasto império (mostre no mapa)… O que, em sua opinião, um governante ambicioso, mas poderoso, pode fazer ao ver tal audácia de Kalinga? … (O professor pode se referir à guerra Iraque-EUA – 2003)…Resumo – A guerra de Kalinga provoca uma mudança em Asoka. Ele adota o budismo…[PASSO 3] RECAPITULAÇÃOAssunto 1. Qual foi o impacto da guerra de Kalinga em Asoka?…Questão – Como foi administrada Patliputra? (Pathak, 2003, p.134-138). |
A expressão “sequência didática”, em língua francesa, contudo, começou a inspirar a literatura educacional após a irradiação da pedagogia das competências, indicando ligações lógicas entre assuntos de uma mesma disciplina (Vaeremans, 2013), caso, por exemplo, do agrupamento de atos do ensino de ortografia e sintaxe.
Com essa vinculação ancestral, a sequência didática é objeto de uma velha matéria dos cursos de formação: o Planejamento educacional. Isso faz da sequência didática uma irmã do Plano de nível de ensino, do Plano anual e do Plano de unidade. Isso também faz da sequência didática um sinônimo do nosso conhecido “plano de aula”, como demonstram algumas iniciativas brasileiras de aplicação, transcritas ao final deste livro.
Postos em comparação – e tendo como critério básico o respeito à semântica da língua brasileira –, uma sequência é um plano (uma antecipação), mas nem todo plano contém uma sequência de atos.
Se você redige um esboço de aula e reserva espaços apenas para as expectativas de aprendizagem, o objeto do conhecimento, as estratégias de exposição da matéria e as estratégias de avaliação, não está necessariamente explicitando uma sequência de atos de aprendizagem. Declarações de objetivos e de objetos de conhecimento são exatamente isso: declarações, informações, dados de que a coisa é ou de que a coisa existe. Não são indicadores de ação, como nesses dois exemplos: 1. “descreva…, discuta com os colegas…, junte-se novamente à turma…”; 2. “distribuo os objetos de descrição…, estimulo a discussão em grupos…, coordeno uma plenária de debates sobre os resultados de cada grupo…”.
O inverso, por outro lado, pode ser verdadeiro. Podemos fazer um instrumento de orientação da prática diária docente, designada por “plano de aula”, que contenha uma sequência de atos. Aqui, novamente, o exemplo é o Quadro 3.1.
Vimos que alguns colegas professores de História ficam no critério “tempo” para distinguir sequência e plano. Aqui, novamente, não designamos sequência ou plano pela maior ou menor quantidade de horas-aula que ele ou ela prescreve. Se o traço diferenciador da sequência é a presença da lógica da aprendizagem, podemos ter sequência (ou plano) para uma aula, sequência ou plano para uma unidade de ensino, sequência ou plano para um bimestre ou um ano de curso (Phillips, 2008, p.55-56).
Correlatamente, podemos ter sequências didáticas ou planos de aula focados em substantivos (um acontecimento histórico) ou reforçando determinada habilidade. De modo contrário, podemos ter sequências didáticas ou planos de aula que se restrinjam a certo processo histórico de longa duração, atravessados por distintas habilidades metahistóricas ao longo do ano.
Por outra classificação, podemos ter sequências cujo objeto de aprendizagem são os conhecimentos declaratórios (algo para rememorar ou compreender) ou os conhecimentos funcionais (algo para executar). Por fim, pela tipificação do Portal do Professor (http://portaldoprofessor.mec.gov.br), podemos ter sequências para apenas uma aula de 50 minutos e para uma “coleção de aulas”, agrupadas em três, cinco, dez ou mais unidades do tipo”.
Quadro 3.1 – PLANO DE AULA 1 (Classe VI)· Por que os historiadores enfatizaram razões diferentes para a Guerra Civil Inglesa?· Quando ocorreu a Revolução Inglesa?· O título de “A Revolução Inglesa” é uma boa representação para os acontecimentos do período 1640-60?· Por que as imagens populares e dos historiadores acadêmicos sobre Carlos II são tão diferentes?(KITSON, Alison; HUSBANDS, Chris; WTEWARD, 2011, p.83) |
No quadro 1.2 temos uma lista de questões que podem ser sequenciadas em um lapso de cinquenta minutos, com o objetivo de desenvolver a habilidade de interpretação de textos.
Para efeito de padronização da nomenclatura, deste ponto em diante, trabalharemos com a expressão “sequência didática”. Reiteramos também que trabalhamos com a ideia de que “sequência didática” é uma representação espaço-temporal e é uma previsão teórica e explicitamente orientada. Ela projeta o que deve acontecer com o comportamento do docente e, sobretudo, o comportamento do discente dentro de determinada lógica de aprendizagem, a partir de determinada expectativa de aprendizagem (ou objetivo educacional). Nos próximos tópicos, expandimos a compreensão sobre essa “previsão teórica e objetivamente orientada”.
Referências
PESSOA, Ana Cláudia Gonçalves. Sequência didática. In: CENTRO de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE). Termos de Alfabetização, Leitura e Escrita para Educadores. Belo Horizonte: CEALE/FAE-UFMG, sd. Disponível em<http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/sequencia-didatica>Acesso em 25 mar. 2021.
PHILLIPS, Ian. Teaching History: Developing as a reflextive secondary teacher. Los Angeles: Sage, 2008.
VAEREMANS, Élodie. L’activité de préparation de cours chez les enseignants d’histoire du secondaire: Constats de terrain et état des recherches. In: DE KESEL, Myriam; BOUHON, Mathieu; DUFAYZ, Jean-Louis et al. La planification des apprentissages: comment les enseignants des différentes disciplines programment-ils et préparent-ils leurs cours ? Sdt. p.103-11
Para citar este texto:
FREITAS, Itamar; OLIVEIRA, Maria Margarida Dias de. In: Sequências didáticas para o Ensino de História. Ananindeua: Cabana, 2022. p.12-18. Disponível em <https://www.resenhacritica.com.br/a-cursos/sequencia-didatica-e-plano-de-aula/>
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