Colegas, sejam bem-vindos!
Na aula anterior, revisamos e ampliamos nossos conhecimentos sobre modos de integração multidisciplinar e interdisciplinar. Agora, vamos nos concentrar sobre a integração transdisciplinar, como sempre, a partir das prescrições do Currículo de Sergipe (CS) para o ensino das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas (CHSA).
1. A integração interdisciplinar
A integração curricular transdisciplinar é a experiência mais radical. Neste tipo, as disciplinas colaboram simultânea ou sucessivamente com os seus métodos, conhecimentos e princípios para resolver um problema demandado a escola.
Contudo, mais que romper fronteiras disciplinares, esta modalidade inaugura o rompimento de fronteiras entre o mundo da ciência e o mundo da vida prática, ou seja, toda atividade escolar de estudantes e professores é destinada a aplicar conceitos, princípios, temas, problemas, habilidades, valores e atitudes disciplinares em “um contexto da vida real”. Considerando essa radicalidade e esse fim, a integração transdisciplinar se efetua eficazmente por método(s) ativo(s) (MA).
2. Emprego de metodologias ativas
Em geral, as MA são objetivados, dominantemente, em artefatos, conjunto de procedimentos dos professores a serem aplicados e habilidades dos estudantes a serem desenvolvidas. Na prática, artefatos, procedimentos e habilidades são hierarquizáveis, combináveis e interagentes.
Bons exemplos de conjunto de procedimentos ativos são: o Problem-Based Learning (PBL), o “Estudo de Caso”, “Sala de Aula Invertida” e “Ensino Híbrido”. A Sala de Aula Invertida, porém, pode ser considerada uma MA preparatória à MA Ensino Híbrido (Borges et al, 2021p.10).
As MA designadas pelos artefatos “telefone celular”, “filme” e “jogo de cartas” exigem a ordenação de processos (sequências didáticas) e habilidades, conhecimentos e/ou valores a serem introduzidos, desenvolvidos, expandidos ou consolidados. Por fim, entre as MA designadas por uma habilidade, citamos a “Simulação”.
Essa divisão mínima (em artefatos, procedimentos e habilidades) explicita a aleatoriedade do emprego da expressão “metodologias ativas” ou, se assim o preferirem, a liberdade com que os autores especialistas fazem uso da locução.
Na prática, reiteramos, todos exigem uma completa sequência didática que põem os estudantes no centro da aprendizagem e, no nosso caso, as demandas da vida prática como motivador principal.
3. Exemplos de resolução de problemas sob integração transdisciplinar
Assim, com a participação conjunta de escola e outras instituições epistêmicas (Aula 4) e visando à resolução de um problema da vida prática, podemos empregar diferentes padrões de integração transdisciplinar.
A qualidade da resposta pode ser um critério para classificá-los. Podemos ter, por exemplo, ações para explicar e denunciar algo ou construir uma ferramenta para atuar sobre algo. Nos dois casos, o fim é a transformação de determinado estado de coisas.
3.1. Explicando e denunciando um estado de coisas
Vejamos uma simulação que envolve as quatro disciplinas das CHSA, sugerida pelo vídeo acima. Com base na campanha “Mar de Luta” (nota e videodocumentário), que envolve instituições de defesa dos direitos humanos e do meio ambiente (pescadores, ambientalistas, extrativistas marinhos, mídia alternativa e procuradores federais), somos estimulados a construir uma sequência didática intermediada pela Aprendizagem Baseada em Projetos (PBL) que forneça respostas não maniqueístas sobre os derramamentos de óleo nas praias de Sergipe.
O PBL, em geral, reproduz as etapas do método científico moderno (R. Descartes e F. Bacon), que inspira regras de validação do conhecimento em CHSA: identificar problema; formular hipótese; reunir dados; dividir tarefas; analisar dados; testar hipóteses; dar respostas ao problema inicial reformulado em diferentes modos de representação. A grande diferença da aplicação acadêmica para a aplicação escolar está no protagonismo dos estudantes no planejamento, distribuição de trabalho, relato e avaliação.
Observem que o CS oferece um cluster de conceitos relacionáveis (consumo, sustentabilidade, impacto socioambiental e meio ambiente), mas a transdisciplinaridade se efetiva porque a expectativa de aprendizagem (quadro 2, coluna 3) responde diretamente a um chamamento da sociedade civil (exterior à escola) e da sociedade política.
O emprego do PBL, da mesma forma, entra em cena para modificar um estado de coisas, ou seja, para deixar claro aos estudantes que eles também, como cidadãos, são corresponsáveis pela conservação dos ambientes costeiros.
3.2. Construindo instrumentos para a modificação de um estado de coisas
Nesse segundo exemplo, o plano de integração é pré-formatado, ou seja, as habilidades, conhecimentos, valores e atitudes são estabelecidos no exterior das disciplinas e/ou turmas. Cada responsável de disciplina é convidado a colaborar para o cumprimento desse plano da melhor forma possível, embora (repitamos) a expectativa de aprendizagem central já esteja dada.
Considere a seguinte questão, trazida à classe pela Secretaria Municipal de Agricultura de um município do semiárido sergipano, aqui ilustrada e justificada com textos jornalísticos e vídeos promocionais: “O bioma da caatinga em Sergipe: obstáculo ou solução para a sobrevivência do catingueiro?” Agora, leia um trecho da reportagem que se segue.
SE: Caatinga tem 18% das espécies ameaçadas de extinção, aponta IBGE
A segunda publicação da edição de Contas de Ecossistemas, linha editorial inaugurada em setembro deste ano, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que, em Sergipe, cerca de 18% da fauna e flora da caatinga estão ameaçadas de extinção. Dentre as espécies avaliadas, mais de 2.000 casos de ameaça ocorrem na Caatinga, bioma mais presente no estado de Sergipe. (Infonet, 5, nov. 2020).
A questão tem origem na dificuldade de os técnicos agrícolas convencerem os moradores da região a conservarem determinadas espécies de plantas que, não apenas garantem o equilíbrio ecológico da caatinga, como evitam processos de desertificação. Eles chegaram à conclusão que uma ação junto aos filhos dos agricultores poderia surtir melhor efeito.
A exemplo do tópico anterior, aqui também a Filosofia, Geografia, História e Sociologia podem responder positivamente à questão, e abonadas pelo CS (quadro 4). Mas a demanda envolve o transbordamento das fronteiras científicas. Sem o esforço conjugado da escola e do Sindicato de Trabalhadores Rurais e da Pastoral da Terra, a Secretaria da Agricultura não poderia cumprir os objetivos da sua campanha.
3.3. Investigando e modificando um estado de coisas
A integração transdisciplinar pode ser mais eficiente na intervenção social direta, com vistas a modificar um estado de coisas.
Considere o conteúdo do vídeo acima. Ele aborda os confrontos violentos entre torcidas de futebol. Instados, hipoteticamente, por clubes de futebol, Federação Sergipana de Futebol, Secretaria de Segurança Pública, Ong Sou da Paz, como também pelos próprios pais de alunos torcedores, o ensino das CHSA pode muito contribuir para diminuir a intensidade dessas lutas com ações regulares e cooperadas. Esse tipo de ação também está abonada pelo CS (quadro 3).
Conclusões
Nesta última aula, apresentamos a integração transdisciplinar como a mais radical irrupção de fronteiras. Fruto de cooperação entre escola e agentes do entorno (público, privado ou do terceiro setor), ela emerge como intervenção direta na realidade, sem que os conhecimentos disciplinares científicos e os saberes tácitos ou dispositivos jurídicos imponham, por si sós, a agenda de pensamento e ação.
Obrigado pela companhia e até outra oportunidade!
Atividade
Como atividade sugerida, convido vocês a produzirem sequência(s) didática(s) que exemplifiquem integrações transdisciplinares. Tentem fazer em pares, empregando ao menos uma das estratégias ativas disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem. Em seguida, compartilhem o trabalho com a turma.
Referências
SANTOS, Isabela Silva dos; SOARES, Mariana Fátima Muniz (Org.) Currículo de Sergipe: Integrar e construir — Ensino Médio. Aracaju: Secretaria de Estado da Educação do Esporte e da Cultura, 2022.
BORGES, Rosimeire Aparecida Soares; CASTILHO, Ana Elisa Cunha Anderi; SASSAKI, Márcia Aparecida Caetano; SANTOS E VITOR, Stanley; ROSA JUNIOR, Luis Claudio Dala. Ensino Superior a Distância: Metodologias ativas com uso de tecnologias digitais. EmRede — Revista de Educação a Distância. Porto Alegre, v.8, n. 1, 2021.
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Para citar este texto:
FREITAS, Itamar. Integração transdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Resenha Crítica. Aracaju/Crato, 28 mar. 2023. Disponível em <https://www.resenhacritica.com.br/a-cursos/integracao-transdisciplinar-em-ciencias-humanas-e-sociais-aplicadas/>.
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