Definindo resenhas – I

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Carregador de livros resenhados em cenário bucólico | IF/NM/IA-Gencraft

 

Colegas, bem-vindos ao curso de produção de resenhas acadêmicas.

Neste primeiro encontro, conheceremos categorias básicas que configuram gênero textual resenha, iniciando pelos problemas de definição.


Como definimos as coisas?

No mundo acadêmico, é comum definirmos os objetos com os quais trabalhamos, selecionando apenas um critério, dentre vários à nossa disposição. É mais confortável, concordamos, definir resenha como “um gênero de opinião, cuja arquitetura da informação inclui uma apresentação de autor e obra, um resumo dos capítulos ou partes, uma crítica das ideias centrais e uma destinação ou oferecimento da obra para a leitura”. Essa tipológica definição está presente em vários manuais de introdução à metodologia científica.

Ocorre, porém, que nem sempre queremos dar opinião sobre um livro, nem sempre somos demandados a fazer uma apreciação do livro, nem sempre temos convicção sobre a quem deve interessar a obra lida quando estamos a fazer resenhas e, ainda, nem sempre o modelo apresentado pelo professor que demanda a resenha coincide com o tipo dominante citado acima.

Em síntese, o gênero resenha não deve ser definido apenas a partir da sua função – emitir uma opinião a outrem sobre a obra lida –, somente a partir da estrutura retórica – apresentação de autor, obra, síntese das ideias, avaliação das ideias e oferecimento – ou somente a partir da combinação desses dois critérios.

Essa é a orientação que seguimos neste capítulo. Aqui, recomendamos combinar critérios sem perder de vista as singularidades das situações comunicativas nas quais nos envolvemos cotidianamente (sobretudo, no ensino superior), como também os sentidos etimológicos do étimo “resenhar”, que são: “descobrir” coisas e “rever” coisas (Houaiss, sd.).

Esperamos que, ao final da leitura deste capítulo, vocês estejam capacitados a relacionar diferentes modelos de resenhas a diferentes situações comunicativas e compreender que devemos conviver com esses diferentes modelos no mundo acadêmico, sem hierarquizá-los a priori.


Determinantes da definição de resenha

Nos manuais de metodologia científica, em geral, a resenha é entendida como “síntese” ou “comentário” de livro que tem papel de vulgarização científica, de atribuição de valor, servindo à atualização ou a “triagem” de material para a pesquisa. Os elementos de definição, como citados por Joaquim Severino (2016, p.188-189), aparecem desta forma, integrados, assim como os elementos da sua estrutura: “cabeçalho”, “informação sobre o autor”, “exposição sintética do conteúdo do texto” e “comentário crítico.”

Em outro domínio científico, o da linguística aplicada, Désirée Motta-Roth e Graciela H. Hendges definem a resenha como um “gênero discursivo” acadêmico que cumpre a função de “elogiar ou criticar” a “produção intelectual em uma área do conhecimento”, cuja estrutura retórica compreende quatro movimentos ou habilidades que o resenhista deve mobilizar: “apresentar, descrever, avaliar e (não) recomentar o livro.” (2020, pos.494-521).

Para a Maria Aparecida Monteiro Bessana, que examinou resenhas publicadas em suplementos literários dos jornais O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo e El Pais, as habilidades que o escritor John Updik elencou para o resenhista ideal servir bem ao seu trabalho de analista: entender o que o autor diz, transcrever trechos da obra resenhada para que o leitor forme opinião por si mesmo, transcrever para demonstrar a precisão do resumo, não “entregar o fim” e não se comportar como um “guardião da tradição.” (Bessana, 2013, p.108-109).

Depois de ler essas três prescrições sobre a natureza da resenha, é possível que vocês estejam se perguntando: “Afinal, a resenha deve ser definida pela integralidade dos elementos listados ou já pode ser distinguida apenas por um deles, a função, por exemplo?” “Optando pela função, é a resenha um instrumento para a ‘atualização’ do resenhista, para a ‘triagem’ do pesquisador ou serve para ‘criticar o resultado da produção intelectual?’”

Essas respostas já foram dadas por especialistas em gêneros textuais sob corte sociointeracionista: a resenha é um gênero discursivo e, como tal, modifica-se conforme modificam-se os seus usuários e as situações nas quais é mobilizada.

No cotidiano do ensino superior, contudo, os pequenos conflitos que geram tais questões se mantêm por desconhecimento ou incapacidade de pensar o múltiplo, tanto da parte do professor, como da parte do aluno.

Isso ocorre porque, em geral, os definidores de gêneros outros (a exemplo do livro didático e da monografia) consideram vários determinantes para distingui-lo: as finalidades (como explicitado acima), o objeto manipulado (livros, partes de livros etc.), os meios de produção da coisa, as habilidades (ou as práticas) de produção deste objeto, os públicos-alvo, as fronteiras e/ou as relações entretidas por este objeto com outros objetos e o lugar institucional no qual se insere este objeto.

Em revistas acadêmicas de História, por exemplo, além das finalidades de informar e avaliar, referidas acima, as resenhas são identificadas pela última (ou penúltima) posição que ocupam na estrutura do sumário: após as seções de artigos e antes das listagens de avaliadores.

Resenhas são também distinguidas pela extensão e pela titulação do autor. Em média, correspondem a 1/3 do espaço ocupado por um artigo e são produzidas por pesquisadores iniciantes ou de titulação inferior à de doutor, interditados de publicar o segundo gênero.

Independentemente da extensão e da graduação da autoria, resenhas são identificadas, ainda, por sua mutável designação. O nome do gênero pode variar, inclusive, no ciclo vital de um mesmo periódico: “resenha”, “resenha crítica”, “resenha bibliográfica”, “revisão de livros”, “crítica de livros”, “avaliação de livros”, “crítica bibliográfica” e “crítica historiográfica.”

Resenha, por fim, pode ser identificada pelo objeto de avaliação: um livro, dois ou três livros, uma dezena de livros, um capítulo do livro ou apenas um conceito veiculado nesse capítulo de livro, um livro-tese, um livro-coletânea autoral ou um livro-coletânea que contempla textos de vários autores. Se o resenhista avalia mais de três livros sob determinado aspecto teórico-metodológico, por exemplo, seu texto pode deixar de ser resenha e passar a ser designado como “crítica historiográfica”.

Tudo isso nós sabemos por experiência. Mas pouco nos damos conta da variedade de situações nas quais a resenha é exigida e de que cada uma dessas situações pode legitimar o nome que designa o seu texto. Neste capítulo, nós a identificamos a partir de funções atribuíveis em quatro das várias situações comunicativas que experimentamos no ambiente acadêmico: coleta de dados, exercício de produção textual, divulgação acadêmica e atribuição de valor para a consequente reprodução do domínio científico.

Em cada uma dessas funções comunicativas, a resenha é caracterizada por diferentes fatores, a exemplo da estrutura de composição, finalidade da resenha. Também servem como características do gênero, o grau de autonomia do resenhista e a audiência que o resenhista tem em vista.

Vamos conhecer brevemente quatro situações que geram quatro definições: instrumento de coleta de dados, exercício de produção textual, instrumento de divulgação de livro e instrumento de atribuição de valor científico para o campo e de reprodução deste campo. [Continua]

Aula 1 – Leitura (capa, apresentação, sumário, introdução e conclusão) e construção do primeiro, segundo e último parágrafo.

Aula 2 – Leitura (capítulo) e crítica (vícios e virtudes) e construção dos parágrafos centrais.

Aula 3 – Construção dos parágrafos de crítica, revisão do parágrafo final e criação do título.

Para finalizar o texto:

Ler “Medindo as palavras.

Reler “Roteiro para iniciantes do gênero resenha acadêmica.”

Postar resenha aqui.


Para citar este texto

FREITAS, Itamar; OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. Definindo resenhas. Resenha Crítica. Aracaju/Crato, 18 abr. 2023. Disponível em <https://www.resenhacritica.com.br/todas-as-categorias/definindo-resenhas/>.


Mais fotos de alunos da Universidade Regional do Cariri (URCA) durante o primeiro dia da oficina “Produzindo resenhas acadêmicas”, promovido pelo LAPEC/URCA. Crato-CE, 18 de abril de 2023 | Fotos: IF

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Da esquerda para a direita: Maria Heloisa França dos Santos, Maria Josevânia, Clarissa Benjamim, Wellison David Santos do Nascimento, Anna Larissa Alves Frade, Jamile Barbosa de Moraes, Marcos Severiano e Ana Márcia Alves Monteiro. Alunos da Universidade Regional do Cariri (URCA) durante o primeiro dia da oficina “Produzindo resenhas acadêmicas”, promovido pelo Laboratório de Pesquisas em História Cultural (LAPEHC/URCA). Crato-CE, 18 de abril de 2023.

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Da esquerda para a direita: Janizi Rodrigues, Aparecida Ferreira, Josefa Cecília Borges Clementino, Ilza Maria Ferreira. Á frente: Gabriela Cruz.

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Alex Willamy monitor da oficina Resenha

Alex Willamy (monitor da oficina).

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