Neste número 13, a Revista Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade, nos convida a continuar problematizando a história das mulheres com a temática intitulada: “Mulheres na História – Vol. 2”.
Partindo dessa abordagem, os artigos com seus recortes específicos, percorrem diversos espaços dentro e fora do Brasil, bem como, distintas temporalidades e metodologias de pesquisa. Iniciativas como estas são fundamentais para compreendermos e ampliarmos ainda mais, os estudos sobre a história das mulheres numa perspectiva de gênero, uma área de pesquisa que vêm se consolidando na historiografia desde a década de 60, e alcançando desde então, novas abordagens e desdobramentos conceituais. Uma temática atual frente a tantos desafios das mulheres na política, na educação, na conjugalidade, nas representações sociais e na violência de gênero, para citarmos algumas das questões tratadas pelos autores / as neste novo número. É a experiência de mulheres que vivem em capitais e em áreas quilombolas, no tempo atual e num tempo passado que o leitor vai encontrar neste número.
Os artigos iniciam com o trabalho de Everton Vieira Barbosa “A estrutura física e pessoal de um periódico escrito por / para mulheres em meados do século XIX no Brasil”, que analisa sob diversos aspectos, o Jornal das Senhoras, que circulou no Rio de Janeiro, entre os anos de 1852 e 1855, e era escrito “por e para mulheres”. Na sequência, seguindo para Manaus, Paulo Marreiro dos Santos Júnior, discute no artigo “Glamour e agonia na prostituição da Manaus da borracha”, a história de mulheres prostitutas pobres cuja experiência contrastava com o glamour das cocotes e dos barões da sociedade da borracha.
Ipojucan Dias Campos, em seu trabalho “Solteirismo e tempo matrimonial, Belém (1916-1925)” perscruta o consórcio na cidade de Belém, entre os anos de 1916 a 1925, compreendendo os significados dados ao solteirismo e ao tempo pensado como próprio aos matrimônios de homens e mulheres.
Saindo do Brasil e caminhando para a Argentina, o artigo “La madre dos descamisados. Eva Perón: vida e trajetória política”, de Yvone Dias Avelino, analisa a vida de Eva Perón, primeira-dama da Argentina, na segunda metade do século XIX, evidenciando “as relações entre mito e história, e memória e história”.
De volta ao Brasil, já em Campo Grande, Fernanda Reis com seu trabalho “A representação feminina na pintura de Lídia Baís: limites entre o sagrado e o profano”, também nos permite conhecer a vida de uma mulher, desta vez, trata-se da artista plástica, Lídia Baís. A partir da análise de sua obra, a autora discute as representações femininas e o lugar da mulher, em um diálogo entre arte e história. Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade.
Teresinha de Jesus Araújo Magalhães Nogueira e Maria do Amparo Borges Ferro, investigam as histórias de vida de professoras em escolas confessionais, seus desafios na vivência da profissão. Utilizam para tanto, fontes orais e escritas, no artigo que intitularam “O ser / estar professora nos anos de 1940-1960: desafios de mulheres na história da educação”.
A discussão da violência de gênero, com seus desafios e representações sociais pautadas em valores tradicionais e dicotômicos, é o tema do artigo de Vera Lúcia Puga, “Violências diárias, violências de gênero: amar ou odiar? qual é o verbo?”. Nele, a autora examina o emblemático assassinato de Angela Diniz, a Pantera de Minas, por Doca Street, nos idos dos anos 1970, em Minas Gerais.
A diversidade espacial e de vivências continua neste número com o trabalho de Carmélia Aparecida Silva Miranda, sobre “As mulheres quilombolas de Tijuaçu-BA: vivências cotidianas, trabalho e enfrentamentos”. Neste artigo a autora discute os papéis sociais atualizados pelas mulheres daquela comunidade, seu desafios e conquistas, utilizando, principalmente, a metodologia da história oral.
No artigo que encerra a revista, os autores João Alberto Mendonça Silva, Dolores Pereira Ribeiro Coutinho e Amanda Ramires Guedes, percorrem a memória dos moradores do parcelamento Parque dos Laranjais em Campo Grande (MS), sobre o Caso Motel e, ainda, o que eles chamaram “a relação ontológica entre as Boates Enigma e Mariza’s”, examinada através de entrevistas e observação empírica.
Com este breve painel, o leitor pode ter ideia da diversidade temática, espacial e temporal dos artigos que irá encontrar neste volume, os quais, para além da diversidade, dispõem de um eixo de análise comum, o desafio de pensar as Mulheres na História em sua diversidade e a história em sua relação com várias linguagens, metodologias e disciplinas. Ao mesmo tempo, os artigos somam-se aos trabalhos que vêm consolidando esta área de estudo na historiografia, abraçando uma temática cuja visibilidade nos ajuda a problematizar e desnaturalizar as relações assimétricas de gênero.
Cristina Donza Cancela – Doutora. Professora da Faculdade de História da UFPA, do Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia.
CANCELA, Cristina Donza. Apresentação. Cordis – Revista Eletrônica de História Social da Cidade, São Paulo, n. 13, jul. / dez., 2014. Acessar publicação original [DR]
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