O IHGSE é uma das principais instituições culturais e científicas do estado de Sergipe. Possuidor de um acervo de valor inestimável, o sodalício consolidou-se como um espaço privilegiado na promoção da pesquisa acerca da sociedade sergipana. Prova disso é o elevado quantitativo de pesquisadores que diariamente visitam a Casa de Sergipe em busca de vestígios para a composição de suas investigações.
Instituição plural e complexa, o IHGSE atende a um público diverso. Entre seus principais pesquisadores estão leitores das camadas populares, estudantes da rede básica de ensino, graduandos e pós-graduandos. A riqueza do acervo possibilita a circulação de diferentes públicos e promove diariamente a redescoberta do passado sergipano.
Todavia, além de possuir um valioso acervo, a Casa de Sergipe também destaca-se pela notoriedade de possuir o mais antigo e importante periódico das ciências humanas em circulação no estado. A Revista do IHGSE tornou-se ao longo de sua primeira centúria um espaço privilegiado na difusão de novos olhares acerca da sociedade sergipana sob as lupas interpretativas da História, Geografia, Antropologia, Sociologia e Política.
Com isso, do mesmo modo que o IHGSE tornou-se “abrigo dos homens de letras” [1] da menor unidade da federação e promoveu o processo de emancipação cultural do povo sergipano,[2] como bem enfatizou o presidente do sodalício; a Revista do IHGSE ao longo dos últimos cem anos foi um veículo de grande relevância na difusão dos saberes acerca do passado local. A trajetória do periódico confunde-se com a própria historiografia local, pois revela a emergência de novas temáticas e enfoques de investigação.
Talvez essa seja uma das principais causas da vitalidade da Revista do IHGSE, que além de proporcionar a possibilidade de publicação de textos de novos pesquisadores, também possibilita a aglutinação de diferentes perspectivas teórico-metodológicas. Com isso, o periódico possibilita a difusão do conhecimento acerca do estado em vertentes plurais e polissêmicas, ao congregar intelectuais renomados, novos pesquisadores vinculados aos programas de pós-graduação e pesquisadores outsiders. Além disso, essa reunião de perspectivas analíticas diversas ocorre sem menosprezar o aspecto qualitativo das contribuições. Pelo contrário, dinamiza o campo investigativo com diferentes olhares acerca do passado local.
Uma temática que emergiu na historiografia sergipana através das páginas da Revista do IHGSE foi a história da educação.[3] Apesar da clássica “História da Educação em Sergipe” de Maria Thetis Nunes ser a obra de maior fôlego na historiografia educacional sergipana,[4] foi José Calasans o responsável pelas primeiras análises acerca do universo educacional em Sergipe.[5] Como asseverou Jorge Carvalho do Nascimento, os primeiros estudos acerca do universo educacional em Sergipe foram publicados na Revista do IHGSE, com o artigo inaugural de José Calasans, ainda em meados do século XX.[6]
Contudo, após um longo período de produção esparsa e fragmentada, na década de 90 do século XX a escrita da história da educação em Sergipe apresentou uma significativo avanço quantitativo e qualitativo. Se tomarmos como parâmetro a Revista do IHGSE, podemos perceber um processo gradativo de aumento das contribuições que versam sobre a esfera educacional, especialmente com estudos acerca das instituições escolares e das trajetórias biográficas.
Esse aumento sistemático do número de pesquisas no âmbito educacional pode ser entendido como reflexo da consolidação do ensino de pós-graduação stricto sensu em Sergipe, que atualmente possui dois programas com doutorados. Além disso, o aumento sistemático da porcentagem das contribuições expressam a consolidação da história da educação como um dos principais campos investigativos da historiografia sergipana, assim como a permanência da Revista do IHGSE como espaço privilegiado na difusão dos estudos de vanguarda em Sergipe.
Diante desse cenário, essa nova edição da Revista do IHGSE apresenta o dossiê com “História da Educação em Sergipe”. O título homônimo ao livro da consagrada historiadora Maria Thetis Nunes consiste em uma forma de reconhecer as suas contribuições para a historiografia local, pois muitas das pesquisas da renovada historiografia educacional sergipana tiveram início com as provocações interpretativas e vestígios documentais elencados pela mestra.
O primeiro artigo que compõe o dossiê discute um período pouco estudado da historiografia educacional sergipana. Leyla Santana, Solyane Lima e Simone Amorim analisam as continuidades e descontinuidades no âmbito da instrução primária na Província de Sergipe no período de 1827 a 1838. No segundo artigo, Suely Cristina Souza investiga as classificações e competências dos docentes do Atheneu Sergipense, a fim de confirmar a existência e pertinência dos ditames da Reforma Francisco Campos.
O terceiro texto, de autoria de Néviton Silva, busca traçar um paralelo da Associação Atlética de Sergipe como um clube voltado para a prática esportiva, por vezes confundida como um prolongamento da vida social dos seus frequentadores. No quarto texto, Maria de Lourdes dos Anjos investiga os embates no processo de implantação do Colégio Americano Batista em Aracaju, revelando frestas da educação batista em Sergipe desenvolvida por missionárias norte-americanas. Já Rita Barroso e José Adailton Silva buscam compreender o processo de construção de uma política de inserção e gestão das TIC a partir da formação continuada de professores dos Núcleos de Tecnologias Educacionais (NTE) de Aracaju e Lagarto.
Na seção de artigos livres, Vanessa Oliveira identifica as associações católicas de pretos na província de Sergipe e, de modo particular, evidencia a devoção a Nossa Senhora do Rosário como um aspecto relevante da experiência religiosa dos africanos e seus descendentes. Seguindo a mesma perspectiva do universo afrosergipano, Joceneide Cunha identifica as nações africanas nos registros de óbitos da Freguesia de Santo Amaro e aponta os locais que esses africanos foram sepultados, constituindo uma geografia da morte em Sergipe oitocentista.
Respaldada nos processos inquisitoriais de 1591, Andreza Mattos analisa as redes de sociabilidades entre os integrantes mamelucos das expedições no sertão. Claudefranklin Monteiro discute as divergências intelectuais entre os sergipanos Sílvio Romero e Manoel Bonfim.
Notas
1. RIBEIRO, J. Freire. Palavras do Acadêmico. Revista do IHGSE. Nº 26ª, Vol. 22. Aracaju, 1965, p. 30.
2. ALBUQUERQUE, Samuel Barros de Medeiros. Emancipação Cultural de Sergipe. Jornal da Cidade. Caderno B. Aracaju, 8 de julho de 2012, p. 7.
3. NASCIMENTO, Jorge. C. do; FREITAS, Itamar. A Revista em Sergipe. Revista de Aracaju, Aracaju, v. 9, 2002, p. 169-187.
4. NUNES, Maria Thetis. História da Educação em Sergipe. 2ª ed. São Cristóvão: EDUFS, 2008 [1984].
5. SILVA, José Calazans Brandão da. O ensino público em Aracaju (1830-1871). Revista do IHGSE, Aracaju, v. 15, n. 20, 1949-1951.
6. NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Historiografia Educacional Sergipana: uma crítica aos estudos de História da Educação. Aracaju: FAP; São Cristóvão: UFS, 2003.
Aracaju, julho de 2014
Magno Francisco de Jesus Santos – Editor da Revista do IHGSE.
SANTOS, Magno Francisco de Jesus. Apresentação. Revista do IHGSE. Aracaju, n.44, v.2, 2014. Acessar publicação original [DR]
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